História da América Colonial

Transcrição

História da América Colonial
História da América séculos XVI-XVIII
Aula V
Objetivo: estudar a civilização Inca.
A) Os antecedentes.
Tal como a civilização asteca, os Incas se encontravam em uma fase de expansão
quando da chegada dos espanhóis ao Peru, em 1532. Esta expansão havia começado em
meados do século XV, sob o reinado de Pachacuti, nono soberano de Cuzco. De uma
forma mais intensa do que os Astecas, também, os Incas se apropriaram dos
conhecimentos e da organização social de culturas antecedentes que foram conquistadas.
A ocupação na região andina se iniciou cerca de 14.000 a.C., quando grupos de
caçadores e coletores chegaram a este local. Por volta de 3.000 a.C. o desenvolvimento
da agricultura, tanto nos Andes, como na área costeira, e a domesticação de animais,
como a lhama, permitiram o desenvolvimento de um processo de sedentarizarão, e um
crescimento demográfico.
No primeiro milênio a.C. surgiria na região andina do Peru a civilização Chavin,
caracterizada por centros cerimoniais, compostos de pirâmides e templos, e pelo culto do
jaguar. Sob um regime teocrático, a civilização Chavin representou uma ação unificadora
na região, integrando sob sua influência as comunidades aldeãs.
No início da era cristã a unidade proporcionada pela civilização Chavin desapareceu,
surgindo uma dispersão de domínios, onde os grandes centros urbanos exerciam
influências sobre as áreas adjacentes. Somente entre 600 e 1.000 d.C. surgiria uma nova
força unificadora, representada pela expansão militar das cidades de Tiahuanaco e Huari.
As duas cidades apresentavam grandes semelhanças na organização social, política
e religiosa, sendo especulada a existência de uma aliança entre elas. A cultura de
Tiahuanaco-Huari se caracterizava pela escultura de grandes blocos de pedra, alguns
pesando até 100 toneladas, como a famosa Porta do Sol, localizada na cidade de
Tihuanaco.
Por volta do ano 1.000 surgiria a partir da cidade de Chanchan a expansão do
Império Chimu, caracterizado pela forma absoluta com que os seus soberanos exerciam o
poder, e pela organização de grandes trabalhos hidráulicos, para a irrigação das terras
secas do litoral peruano. A expansão do Império Chimu se chocaria com a expansão dos
Incas, realizada a partir dos planaltos andinos.
B) A expansão Inca.
A origem dos Incas é incerta, o que se sabe é originado de explicações mitológicas.
Um dos mitos de origem Inca conta que quatro irmãos haviam surgidos da gruta de
paqariqtampu e fundado as etnias, e as cidades, que habitavam a região de Cuzco. Manko
Cápac era o ancestral fundador da etnia Inca, e da cidade de Cuzco.
A expansão Inca se iniciou por volta de 1438, quando a confederação Chanka, outra
força emergente na região, invadiu o seu território. Pachacuti, filho preterido de Wiraqocha
Inca, não só derrotaria os invasores, como conquistaria, após tomar a Maskapaicha (coroa)
de seu pai, todo o território Chanka.
Durante o reinado de Pachacuti, os Incas se expandiriam a sul e a norte,
conquistando o Império Chimu com os guerreiros liderados por Túpac Yupanqui, filho do
soberano, e seu posterior sucessor. A cultura Chimu seria uma forte influencia na formação
da cultura Inca.
Túpac Yupanqui expandiria o império em direção ao sul, alcançando as regiões da
Argentina e do Chile, e em direção ao norte. Seu filho e sucessor Wayna Cápac
continuaria a expansão até a sua morte em 1528, vítima de uma doença desconhecida
pelos Incas, introduzida pelos europeus, a varíola. Os últimos anos do reinado de Wayna
Cápac foram marcados pela inquietação provocada pelos relatos de seres estranhos
vindos do mar e pelas epidemias.
C) Economia e sociedade.
As aldeias incas eram construídas nas terras altas. Cada aldeia andina era ocupada
por um grupo de famílias, unidas por laços de parentesco ou aliança, que formavam um
ayllu. Cada ayllu possuía um chefe, o kuraka, geralmente o fundador do ayllu, ou um de
seus descendentes. Cabia ao kuraka distribuir as terras, organizar os trabalhos coletivos, e
regular os conflitos.
Dentro do ayllu as famílias se organizavam de forma nuclear, compostas pelo casal
e os filhos solteiros. O acesso às terras cultiváveis, o tupu, se dava a partir das famílias,
tendo cada nova família direito a ocupar um tupu. A atividade do pastoreio era
desenvolvida nas terras comuns, a marka, a partir da domesticação de dois tipos de
camelídeos, a alpaca e a lhama.
Durante as épocas de plantio e colheita os membros do ayllu se ajudavam
mutuamente, através da prática do ayni. O beneficiário de um ayni ficava obrigado a
retribuir, na mesma forma, a ajuda que havia recebido.
O ayllu era, portanto, a unidade básica da sociedade andina, acima dele constituíase uma rede de relações que englobavam novos ayllu. Desta forma, cada ayllu com seu
kuraka e seu waka (divindade tribal, normalmente o ancestral do kuraka) estavam inseridos
em uma rede hierárquica de relações. Cada kuraka extraía do ayllu ou grupo de ayllu sobre
o seu controle um tributo na forma de trabalho, a mita. Cada ayllu, ou grupo de ayllu,
colocava a disposição de seu kuraka um contingente de trabalhadores que ficava obrigado
a cultivar a terra do kuraka e executar os trabalhos para a sua família. A contrapartida era,
além da organização do ayllu, a obrigação de apoiar os necessitados dentro do ayllu com a
distribuição dos bens gerados pelo trabalho coletivo.
Essa distribuição poderia ser eventual, como no caso de más colheitas, secas, etc.,
ou regular, pois o kuraka tinha obrigação de manter os muito pobres, os órfãos e as viúvas,
aqueles conhecidos como waqcha. Não existia nos ayllus a cobrança de tributos em
espécie, somente o imperador, dono de todas as terras, era beneficiado de tributo em
espécie.
A distribuição não atingia todo o conjunto dos bens gerados pela mita, o que permitia
ao kuraka acumular uma riqueza que o distinguia dos demais homens. Constituíam assim
uma classe de poderosos, que se distinguiam dos demais pela poligamia, pelos
ornamentos e pelas vestimentas. Formavam uma categoria restrita, cujo acesso somente
era possível por descendência. As famílias dos kurakas também formavam grupos, sob
uma liderança maior, reproduzindo a estrutura do ayllu que eles englobavam. Os mais
poderosos dentro desta estrutura eram as famílias panakas. Um panaka ocupava os
cargos de governadores, constituindo uma nobreza logo abaixo do imperador.
Assim como os grupos de chefes se sobrepunham e reproduziam a estrutura do
ayllu, o império se sobrepunha e reproduzia a estrutura dos grupos de chefes. Deste modo,
o imperador e o deus sol, assim como o kuraka e a waka em relação ao ayllu,
configuravam o poder de organização da sociedade, cobrando a mita em suas terras, de
cultivo e pastoreio, existentes em cada região, e em cada ayllu. Assim como o kuraka, o
imperador era obrigado a contrapartida em relação àqueles que trabalhavam em suas
terras, e em relação aos territórios submetidos sob o seu poder.
Neste mundo o principal recurso era, portanto, a força de trabalho da população, o
que tornava imprescindível o conhecimento do montante da população. Surgiriam então
grandes censos populacionais, pois para a realização das corveias, a mita, era preciso
saber com quantos braços se poderia contar para a administração, para as obras públicas
(estradas, irrigação) e para a guerra.
Além do trabalho realizado no ayllu havia outras formas de exploração da mão de
obra como o mitimaq, composto de movimentações forçadas para a realização da mita.sua
função era aumentar a capacidade de produção em uma determinada área e o contingente
passível de ser recrutado para a guerra, em uma região estratégica.
Havia também o yana: oriundo do costume dos kurakas em recrutar “dependentes
perpétuos”. No império o yana era recrutado nas províncias, principalmente, entre os
prisioneiros de guerra. Não era um escravo típico, pois podia possuir terras e bens, ocupar
cargos elevados na hierarquia administrativa, de acordo com a vontade do imperador. A
sua condição, apesar de hereditária, somente seria herdada por um dos seus filhos.
Por fim as acllas, “mulheres escolhidas”, eram separadas de suas famílias ainda
muito jovens, e educadas no aclla huasi. Serviam como esposas secundárias do
imperador, podiam ser dadas por ele como esposas para pessoas importantes, e,
principalmente, dedicavam-se nos monastérios a um trabalho de fiação e tecelagem.
D) O poder imperial.
Para os Incas não existia o “império inca”, mas sim o Tawantinsuyu (as quatro partes
do mundo). Inca era o título dado ao soberano do império. Para os incas todos os que
habitavam além das fronteiras dos seus domínios não possuíam civilização.
A constituição do poder no Império Inca não se dava diretamente através de
linhagens hereditárias. O imperador se apresentava como órfão e pobre, um waqcha, que
não possuía ligações familiares. Reproduzindo a origem mítica da própria etnia inca. Desta
maneira, com cada novo imperador surgia uma nova família real, que deveria ser
abandonada pelo pretendente ao trono.
Quando da morte do soberano instaurava-se um período anárquico, onde os
membros da família do governante morto e membros da elite panaka lutavam entre si pela
maskapaicha. Durante as lutas pelo trono muitas áreas do império se emancipavam,
fazendo com que o vitorioso tivesse de refazer o império. Coroando este processo, o
vitorioso refazia a marcha de Manko Cápac até Cuzco, sendo recebido em triunfo na
cidade.
O poder real era legitimado por uma investidura divina. Ao soberano inca era
atribuído pelos sacerdotes o título de “filho do sol”, o que os investia de poderes
sobrenaturais, como a comunicação com os deuses, e a intervenção nos fenômenos da
natureza.
O imperador somente se deslocava em uma liteira, e o povo deveria se prostrar
diante dele, com os rostos voltados para o chão. Mesmo os mais altos dignitários deveriam
ficar de joelhos. Quando Wayna Cápac morreu, mais de quatro mil pessoas, entre esposas
e servidores, imolaram-se para acompanhá-lo.
E) Aspectos culturais da civilização inca.
A cultura inca era fruto de uma síntese feita a partir de várias influências oriundas
das expressões culturais das etnias andinas, principalmente, do Império Chimu.
Os incas não desenvolveram a escrita, configurando-se em uma cultura de tradição
oral. Utilizavam também a pintura como forma de registro dos acontecimentos. A literatura
inca (relatos das vidas dos soberanos e religiosos), era transmitida pelos amawta, que
recitavam as histórias em reuniões, e transmitiam-nas para os seus descendentes
formando uma categoria social distinta.
Os incas demonstravam um grande interesse pela observação dos astros.
Utilizavam um ano solar, dividido em doze meses lunares que marcavam as atividades
rituais e socioeconômicas. A ausência da escrita não permitiu a elaboração de calendários
complexos, como os produzidos na Mesoamérica. Contudo, a influência dos astros na vida
das pessoas era tida como um fato certo. A astrologia inca acreditava na influência dos
astros nos eventos cotidianos.
Os incas utilizavam um sistema numérico decimal, e realizavam as operações
matemáticas através de uma espécie de ábaco, chamado yupana, composto por cinco
fileiras de quatro casas, onde distribuíam séries de um a cinco grãos de milho. Como não
havia a escrita, os resultados dos cálculos eram registrados no quipu.
O Quipu era um conjunto de cordões com nós, possuindo torções e cores variadas.
As posições dos nós no cordão representavam unidades, dezenas, centenas ou milhares.
Havia uma categoria social cuja única função era elaborar e interpretar o quipu, os
quipucamayoc. Somente eles eram capazes de entender o sistema.
Ao contrário da América Central a metalurgia foi desenvolvida pelos povos andinos.
Existem inúmeros vestígios arqueológicos que demonstram o domínio da técnica de
elaboração de estatuetas, máscaras, armaduras simples e facas cerimônias. Produziam
ligas de ouro, prata, cobre e platina (desconhecida na Europa), contudo não conheciam o
uso do ferro. Os artefatos metalúrgicos eram utilizados apenas pela elite, pelos sacerdotes
e pelos governantes, não tinham uso difundido entre as pessoas comuns, em seu trabalho
cotidiano. Mesmo na guerra, não utilizavam metais, mantendo a madeira e a pedra como
principais matérias-primas das armas.

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