Avaliação Integrada de Matemática, Habilidades
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Avaliação Integrada de Matemática, Habilidades
Avaliação Integrada de Matemática, Habilidades Socioemocionais e Resolução Colaborativa de Problemas Abril de 2014 Sandra Regina Rezende Garcia Anita Lilian Zuppo Abed Tadeu Aparecido Pereira da Ponte Realização: Metodologia: Tecnologia: PLATAFORMA DE AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGENS "O bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: pois cada um pensa estar tão bem provido dele, que mesmo aqueles mais difíceis de se satisfazerem com qualquer outra coisa não costumam desejar mais bom senso do que têm. Assim, não é verossímil que todos se enganem; mas, pelo contrário, isso demonstra que o poder de bem julgar, e de distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se denomina o bom senso ou razão, é por natureza igual em todos os homens; e portanto que a diversidade das nossas opiniões não decorre de uns serem mais razoáveis do que outros, mas unicamente do fato de nós conduzirmos os nossos pensamentos por vias diversas, e de não considerarmos as mesmas coisas." René Descartes, Discurso sobre o Método: para bem dirigir a razão e buscar a verdade nas ciências. Primeira parte. 1637. 2 Sumário Introdução..................................................................................................................... 4 Estrutura ....................................................................................................................... 6 Dimensão: Matemática .............................................................................................. 6 Dimensão: Motivação e Estratégias para Aprendizagem........................................... 9 Dimensão: Resolução Colaborativa de Problemas .................................................. 10 Perguntas de Investigação ......................................................................................... 13 Validação .................................................................................................................... 15 Análise Confirmatória.................................................................................................. 16 Modelos com a dimensão Matemática (Y) como variável dependente das variáveis das outras dimensões ............................................................................................. 17 5º ano .................................................................................................................. 17 Análise ................................................................................................................. 17 Ensino Médio ....................................................................................................... 18 Análise ................................................................................................................. 18 Modelos com a dimensão Resolução Colaborativa de Problemas (Ric) como variável dependente das variáveis das outras dimensões .................................................... 19 5º ano .................................................................................................................. 19 Análise ................................................................................................................. 19 Ensino Médio ....................................................................................................... 20 Análise ................................................................................................................. 20 Interpretação Consolidada ...................................................................................... 21 Análise Exploratória .................................................................................................... 22 Discriminações para Matemática - 5º ano ............................................................... 23 Discriminações para Matemática - Ensino Médio .................................................... 24 Discriminações para Resolução Colaborativa de Problemas - 5º ano ..................... 25 Discriminações para Resolução Colaborativa de Problemas - Ensino Médio .......... 26 Considerações Finais .............................................................................................. 27 Bibliografia .................................................................................................................. 30 Anexo 1 ...................................................................................................................... 31 Anexo 2 ...................................................................................................................... 32 3 Introdução Desde 2009, os resultados dos estudos realizados anualmente pela Mind Lab1 indicam que a utilização do “Programa MenteInovadora”, que já beneficiou milhares de professores e alunos em todo o mundo, desenvolvendo habilidades e competências, provoca impactos positivos no incremento da proficiência dos estudantes em diferentes áreas do conhecimento, no desenvolvimento de suas habilidades cognitivas e socioemocionais, e na prática pedagógica dos professores. Além disso, os estudos trouxeram evidências de benefícios da Metodologia no clima da escola, tanto nos processos de ensino e aprendizagem como no desenvolvimento de todos os sujeitos envolvidos – alunos, familiares, professores e gestores. A “Plataforma de Avaliação de Aprendizagens – Mind Lab”, suporte para o Estudo 2014, está sendo construída com o objetivo de viabilizar processos de avaliação em larga escala, totalmente online, contemplando aspectos da Matemática e do desenvolvimento de outras habilidades. A estrutura da Plataforma permite o fornecimento de feedback sobre cada aspecto avaliado, tanto para a escola como para cada estudante. No relatório individual, o aluno tem a possibilidade de conhecer o seu desempenho em relação aos demais sujeitos participantes e receber recomendações personalizadas sobre como desenvolver as suas habilidades. No Estudo 2014, os instrumentos destinados aos alunos são aplicados em dois momentos (1ª e 2ª aplicações) e focam o nível de proficiência em Matemática em relação a habilidades de raciocínio lógico (análise, síntese, inferência) e quantitativo (algébrico-numérico, espacial-geométrico e tratamento da informação). Os instrumentos de avaliação das habilidades socioemocionais focam a autopercepção dos estudantes quanto à motivação (ansiedade em relação a avaliações, valor intrínseco, autoeficácia) e às estratégias para aprendizagem (autorregulação, planejamento, uso de estratégias, execução). Para avaliar as habilidades em resolução colaborativa de problemas, foram elaborados itens situacionais que retratam quatro tipos de ação que combinam “resolução de problemas” e “trabalho em equipe”. O presente artigo tem por objetivo: descrever o instrumento construído para essa investigação junto aos alunos; argumentar sobre a relevância das variáveis latentes escolhidas para compor o instrumento; 1 Artigos completos disponíveis em: www.mindlab.com.br. 4 apresentar e discutir os resultados obtidos pelos estudantes de 5º ano do Ensino Fundamental e dos três anos do Ensino Médio na primeira fase do Estudo 2014. Com a finalidade de promover detalhamentos que permitam aprofundar a coleta e a análise dos dados, o Estudo 2014 tem as seguintes características, que o diferenciam das edições anteriores: acontece 100% no mundo digital, universo em que crianças e adolescentes são os participantes mais ativos. Toda a coleta de dados é feita por computador, em um sistema proprietário da “EBAE – Primeira Escolha”, que funciona diretamente pela internet; tem finalidade diagnóstica para os alunos participantes e implica a geração de um relatório individual e personalizado para cada aluno. O termo “diagnóstico”, neste contexto, reforça o caráter formativo do Estudo 2014 como programa de avaliação para os alunos, pois em cada relatório, além do estado atual de desenvolvimento do aluno em cada atributo, constam sugestões de aprimoramento personalizadas; aprofunda a mensuração das habilidades em Matemática, separando as dimensões do raciocínio lógico e do raciocínio quantitativo; detalha aspectos das habilidades socioemocionais relacionadas à motivação, às estratégias para aprendizagem e à resolução de problemas; investiga e aprofunda relações entre as habilidades socioemocionais e o desempenho em Matemática; inclui a competência de Resolução Colaborativa de Problemas, tendo como base a tabela proposta pelo Draft do PISA 2015 (OECD, 2013), ampliada por três habilidades abrangendo o posicionamento pessoal em relação aos processos colaborativos. 5 Estrutura O Estudo 2014 é composto de duas fases, de modo que os instrumentos de avaliação, constituídos de modelos distintos, complementares e balanceados, são aplicados em dois momentos, configurando uma estrutura de avaliação “pré e pós”. Esses instrumentos visam a avaliar três dimensões principais: Matemática, Motivação e Estratégias para Aprendizagem, e Resolução Colaborativa de Problemas. Como participam alunos do 5º ano do Ensino Fundamental e das três séries do Ensino Médio, cada dimensão a seguir se concretiza em dois instrumentos distintos de avaliação, um para cada um destes dois níveis de ensino. Dimensão: Matemática A investigação feita no Estudo 2014 contempla o desempenho dos alunos em Matemática. No entanto, mais do que avaliar as habilidades e os conhecimentos fundamentais relacionadas ao raciocínio quantitativo, descritos nas matrizes oficiais (Prova Brasil e ENEM), a avaliação abrange também habilidades de raciocínio lógico, mais especificamente: capacidade de análise (dividir o todo em partes), capacidade de síntese (integrar as partes, recompondo o todo) e capacidade de inferência (reconhecer um padrão e reproduzi-lo)2. As habilidades de raciocínio lógico, que são entendidas no contexto educacional como ferramentas para a resolução de problemas, têm se revelado como condições necessárias para recrutamento e seleção de profissionais para cargos cujas funções envolvem trabalho cognitivo e tomada de decisão. De 2008 a 2013, a “EBAE – Primeira Escolha” aplicou testes envolvendo tais habilidades em processos seletivos para mais de 200 cargos de 34 organizações (nacionais e multinacionais no Brasil), envolvendo mais de 400 mil pessoas. Os requisitantes desses testes justificam sua utilização pelo objetivo de avaliar capacidades necessárias para a resolução de problemas, que possam ser avaliadas sem demandar conhecimentos específicos de Matemática, pois estes, segundo eles, favorece pessoas com formação na área de exatas. Estudando a relação entre formação e desempenho nos testes, a “EBAE – Primeira Escolha” não encontrou relações estatisticamente significativas em diferentes processos seletivos. Um dos estudos emblemáticos nessa direção foi realizado com 2 Ver no Anexo 2 as definições. 6 candidatos brasileiros a bolsas de pós-graduação em renomadas instituições internacionais, para cujo processo seletivo os testes de raciocínio lógico foram aplicados: postulantes a programas de Legal Law Master (LLM), com formação em direito, obtiveram uma distribuição de desempenho nos testes equivalente à de candidatos a programas de Master of Business Administration (MBA), tanto com formação em engenharia como em administração ou ciências econômicas. Contudo, a relevância dos componentes aqui escolhidos para avaliação do raciocínio lógico (análise, síntese e inferência) se expressa pela sua presença nas matrizes e testes acadêmicos e profissionais ao longo dos últimos cem anos. A habilidade de inferência se relaciona, em parte, com a capacidade de fazer associações, e sua mensuração surgiu com os primeiros testes de QI e potencial de aprendizagem. Segundo Jensen (1998), no início do século XX, essa capacidade foi chamada de “fator g” pelo psicólogo britânico Charles Spearman, que a entendia como algo hereditário e estrutural dos indivíduos. No entanto, Cattell (1963) define a inteligência fluida e argumenta (1978) que se trata de algo que pode ser desenvolvido, não apenas ao longo das diferentes idades dos indivíduos, mas também em função do contexto e das intervenções. As habilidades de análise e síntese estão tradicionalmente associadas às capacidades exigidas por tarefas nos níveis mais elevados da taxonomia proposta em Bloom (1956). Mais recentemente, tais habilidades têm sido relacionadas ao exercício do pensamento crítico, estando presentes em diferentes testes para investigar essa competência, como afirma Ennis (1993). Os itens de raciocínio lógico compuseram, em conjunto com os de raciocínio quantitativo, o instrumento de avaliação de Matemática. No entanto, foram elaborados de modo que não fossem requeridos para nenhum deles conhecimentos específicos de Matemática ou de modo que o entendimento do contexto substituísse, para o aluno, a necessidade de lançar mão de conhecimentos específicos, conforme ilustra o item a seguir, presente no instrumento do Ensino Médio para avaliar a habilidade de análise. 7 Certa noite houve um roubo, praticado por apenas uma pessoa, e os suspeitos Marcos, André e João foram detidos para interrogatório. Os suspeitos fizeram as seguintes afirmações: Marcos: eu sou inocente. João: André é o culpado. André: eu sou inocente. O delegado não sabia se o culpado estava entre os detidos, porém certamente nenhum inocente mentiu. A partir dessas informações, o delegado pode concluir que3: a) b) c) d) e) João é inocente. Marcos é inocente. André é inocente. o culpado não pode ser João e nem Marcos. o culpado não está entre os suspeitos. O instrumento de avaliação de Matemática foi elaborado em dois modelos de prova complementares (A e B), por nível de ensino. Os modelos A e B foram construídos de maneira balanceada, com a mesma quantidade de itens de cada habilidade e com níveis de dificuldade equivalentes. Os alunos são alocados aleatoriamente no modelo A ou no modelo B na primeira fase do estudo, recebendo o outro modelo na segunda fase. Os itens de cada modelo são agrupados em três níveis de dificuldade, e cada aluno é exposto primeiro às questões mais fáceis e por último às mais difíceis. Além disso, dentro de cada bloco, a ordem em que os itens são apresentados varia, gerando milhares de submodelos com ordens diferentes das questões e viabilizando a aplicação em larga escala. Essa estrutura visa a produzir resultados intercambiáveis na escala construída, possibilitando a comparabilidade em todos os níveis de agrupamento de dados. 3 A alternativa correta é a b. Apenas uma pessoa cometeu o roubo, portanto há um culpado e dois inocentes. Partindo-se do pressuposto de que quem é inocente está dizendo a verdade, expresso no enunciado do problema, duas afirmações precisam ser verdadeiras. Como as afirmações de João e André são interligadas, pois ambas falam sobre André, deve-se analisar a inocência ou culpa de Marcos. Assim, o problema deve ser divido em duas partes: Primeira: como o crime foi cometido por uma única pessoa, se Marcos fosse o culpado, João e André seriam inocentes e estariam dizendo a verdade, o que não é possível, pois suas afirmações são conflitantes. Segunda: se Marcos fosse inocente, João poderia ser o culpado e estar mentindo, o que é coerente com a inocência de André. Ou, então, se João fosse inocente, ele estaria dizendo a verdade, André seria culpado e, portanto, estaria mentindo ao declarar a própria inocência, o que também é coerente. Assim, a única conclusão possível é a inocência de Marcos. 8 Dimensão: Motivação e Estratégias para Aprendizagem No campo das habilidades socioemocionais, o Estudo 2014 contempla a motivação e as estratégias para aprendizagem dos estudantes. A avaliação desses atributos e de seus respectivos componentes foi desenvolvida com base no “Questionário sobre Motivação e Estratégias para Aprendizagem – MSLQ” de Pintrich (1991). O MSLQ original, desenvolvido para estudantes em fase universitária, conta com seis componentes para motivação e nove componentes para estratégias. Em 1989, os autores do MSLQ desenvolveram uma versão para estudantes de sétimo ano (o K12 estadunidense), com três componentes para motivação – ansiedade em relação a avaliações, autoeficácia e valor intrínseco (da tarefa) – e dois componentes para estratégias para aprendizagem – autorregulação e estratégias de estudo, como consta em De Groot (1990). Na elaboração do instrumento da Plataforma de Avaliação de Aprendizagens, a equipe pedagógica da Mind Lab identificou mais alguns itens essenciais à avaliação das estratégias para aprendizagem, dando origem a mais dois componentes: planejamento (comportamentos relacionados à preparação do aluno para aprender algo) e execução (comportamentos identificáveis no ato de estudar algo). O instrumento de avaliação sobre motivação e estratégias para aprendizagem se baseia em itens que apresentam uma afirmação, a qual deve ser julgada pelo aluno, em termos de quanto ela é verdadeira para ele, por meio de uma escala Likert4 de sete pontos. Em De Groot (1990), são apresentadas correlações estatisticamente significantes entre os componentes motivação e estratégia e o desempenho de alunos em diferentes atividades escolares (provas, atividades de sala de aula, trabalhos e testes rápidos). Em Ghyasi (2013), foram analisadas as relações entre os componentes da versão original do MSLQ e as cinco variáveis latentes do Big Five Inventory (Abertura a Novas Experiências, Consciência, Extroversão, Cooperatividade e Estabilidade Emocional), descritas em Goldberg (1990). No contexto do ensino de inglês como língua estrangeira, constataram-se, em Ghyasi (2013), relações estatisticamente significantes entre o uso das estratégias para aprendizagem e a Consciência e Abertura a Novas Experiências. 4 Padrão de opções de resposta em cinco, sete ou nove pontos, no qual indivíduos atribuem seu nível de concordância com enunciados propostos. 9 Esses estudos, entre outros, revelam a validade e o impacto da motivação e das estratégias nos processos de aprendizagem nas diferentes etapas da vida escolar e acadêmica de indivíduos. No entanto, conforme meta-análise presente em Artino Jr. (2005), os resultados dos mesmos indivíduos em diferentes aplicações do MSLQ não são invariantes, apesar da validade das escalas presentes nos dois atributos principais do questionário. Por exemplo, o mesmo aluno, matriculado em duas disciplinas diferentes em um curso universitário, pode apresentar diferentes níveis de motivação e de uso das estratégias para aprendizagem nessas duas disciplinas. Trata-se, então, da influência do contexto sobre esses atributos. Se podem variar de acordo com o contexto, os atributos avaliados no MSLQ podem, portanto, ser desenvolvidos. Considerando que as variáveis do contexto relacionadas à escola estão aproximadamente no mesmo estado na primeira e na segunda fase do Estudo 2014, emerge a hipótese de que parte significativa da variação nos resultados dos alunos entre essas duas fases pode ser creditada aos impactos da Metodologia do Programa MenteInovadora. Dimensão: Resolução Colaborativa de Problemas No mundo do trabalho, duas competências (usualmente denominadas “trabalho em equipe” e “resolução de problemas”) constam, com frequência, na lista de requisitos para o recrutamento de novos funcionários, bem como nos planos de desenvolvimento de pessoas das áreas de Recursos Humanos. Se, individualmente, essas competências são tão almejadas por toda sorte de organizações, projeta-se como de importância fundamental à sociedade atual a capacidade de aliar os comportamentos expressos no exercício de cada uma delas de maneira integrada para abordar problemas cujas soluções não dependem do desempenho (por melhor que seja) de um único indivíduo. Em Johnson (1989), as situações de interdependência social são definidas como aquelas em que os resultados dos indivíduos não dependem das características individuais, mas do contexto em que estão inseridos e das ações dos demais sujeitos. Evidentemente, há contextos que são marcados pela interdependência social e outros que não são. Naqueles em que existe interdependência social, a cooperação, entendida pelos mesmos autores como o trabalho conjunto com a finalidade de atingir objetivos compartilhados, constitui um comportamento observável em indivíduos. Definiremos aqui a capacidade de cooperação ou de colaboração como a habilidade de um indivíduo de reconhecer os contextos de interdependência social e colocar em prática a cooperação. Em OECD (2013), destaca-se a diferenciação entre essa 10 habilidade e a simples interação social, que é uma condição necessária, mas não suficiente, para a cooperação ou colaboração. As competências para a resolução de problemas são definidas em OECD (2010) como (...) a capacidade do indivíduo de empenhar processos cognitivos para compreender e resolver situações-problema em que o método de solução não é imediatamente óbvio. Ela inclui a disposição para se engajar em tais situações para atingir o próprio potencial como um cidadão reflexivo e construtivo. (OECD, 2010, p. 10, traduzido) Para a edição 2015 do PISA, define-se a resolução colaborativa de problemas como (...) a capacidade do indivíduo de engajar-se em processos em que dois ou mais agentes agem para solucionar um problema compartilhando o entendimento e o esforço requerido para solucioná-lo e empenhando seus conhecimentos, habilidades e esforços para obter a solução. (OECD, 2013, p. 6, traduzido) A resolução de problemas é abordada nesse documento (OECD, 2013) a partir de uma matriz que cruza os processos individuais para resolução de problemas (explorar e compreender; representar e formular; planejar e executar; monitorar e refletir), daqui em diante denominados simplesmente habilidades de resolução de problemas, e os processos colaborativos (estabelecer e manter uma compreensão compartilhada; atuar de maneira apropriada; estabelecer e manter a organização do grupo), que denominamos, neste estudo, processos de trabalho em equipe. Os quatro processos de resolução de problemas, combinados aos três processos de trabalho em equipe resultam em doze habilidades, sombreadas na tabela do Anexo 1. Para o Estudo 2014, a equipe pedagógica da Mind Lab subdividiu o processo “monitorar e refletir”, de modo a contemplar tanto as habilidades relacionadas ao locus de controle externo do indivíduo (denominada “eu no grupo”), quanto as habilidades relacionadas ao locus de controle interno do indivíduo (denominada “eu e o grupo”), apresentadas na última linha da tabela do Anexo 1. O instrumento elaborado para investigar as habilidades de resolução colaborativa de problemas contém 15 itens (um para cada habilidade dessa matriz - Anexo 1) compostos por situações-problema com um enunciado e quatro opções de resposta, padronizadas por meio do cruzamento entre “baixa ou alta prioridade” para os processos de resolução de problemas e “baixa ou alta prioridade” para os processos de trabalho em equipe. O item a seguir, formulado para o 5º ano, exemplifica o modelo. 11 Sua turma resolve fazer um torneio de videogame e cada um fica responsável por uma tarefa. Para tudo dar certo, você acha que: o o o o Cada um sabe o que tem que fazer e não precisa haver reuniões entre vocês. Vocês devem se reunir sempre para trocar ideias e sugestões. Cada um deve cuidar da sua parte com responsabilidade. Vocês devem se reunir de tempos em tempos para ver como está o trabalho de cada um e pensar em soluções se aparecerem problemas. A tabela abaixo apresenta o mesmo item com a categorização das opções respostas. Sua turma resolve fazer um torneio de videogame e cada um fica responsável por uma tarefa. Para tudo dar certo, você acha que: Baixa prioridade para trabalho em equipe Alta prioridade para trabalho em equipe Baixa prioridade para resolução de problemas Cada um sabe o que tem que fazer e não precisa haver reuniões entre vocês. Vocês devem se reunir sempre para trocar ideias e sugestões. Cada um deve cuidar da sua parte com responsabilidade. Vocês devem se reunir de tempos em tempos para ver como está o trabalho de cada um e pensar em soluções se aparecerem problemas. Alta prioridade para resolução de problemas Nos instrumentos aplicados (diferentes para o 5º ano e para o Ensino Médio), a posição da resposta de cada uma das quatro categorias variava ao longo da avaliação, balanceando o instrumento e evitando o preenchimento dos alunos por meio do reconhecimento do padrão estabelecido para as categorias. O Anexo 2 contém um glossário síntese dessas dimensões e habilidades conforme foram definidas e entendidas para o Estudo 2014. 12 Perguntas de Investigação A figura a seguir sintetiza as três dimensões do estudo com suas respectivas subdimensões componentes. Raciocínio Quantitativo 5º ano: Prova Brasil Ensino Médio: ENEM Resolução de Problemas + Trabalho em Equipe Raciocínio Lógico Análise Síntese Inferência Motivação Estratégias Ansiedade em relação a Avaliações Autoeficácia Valor Intrínseco Autorregulação Estratégias de Estudo Planejamento Execução Motivação e Estratégias para Aprendizagem 13 Para a primeira fase do estudo, a pergunta de investigação e suas respectivas derivações são: Existe relação estatisticamente significante entre as variáveis que representam as componentes dessas três dimensões? Quais são essas relações? Quais itens da motivação e das estratégias para aprendizagem têm relação significativa com o desempenho em Matemática? Há relação entre a preferência por combinar os processos de resolução de problemas e trabalho em equipe com o desempenho em Matemática? E com os atributos de motivação e estratégias para aprendizagem? Obviamente, os testes de confiabilidade e de validade dos instrumentos antecedem as perguntas acima na apuração dos resultados da primeira fase. Os dados foram submetidos a Análise Confirmatória, mas também foi feita Análise Exploratória, com o objetivo de encontrar nos dados relações que transcendam as hipóteses formuladas para a primeira fase do Estudo 2014. Na segunda fase do estudo, permanece a pergunta de investigação, mas acrescentam-se perguntas relacionadas à variação nos resultados entre as duas aplicações: Existe relação estatisticamente significante entre os diferenciais nas variáveis entre a primeira e a segunda fase? O progresso dos alunos em Matemática está acompanhado da evolução em motivação e estratégias para aprendizagem? Quanto à resolução colaborativa de problemas, como a diferença comparativa de resultados nesta dimensão se relaciona com as diferenças comparativas das demais variáveis? É possível identificar fatores determinantes para as relações que serão encontradas? Em que medida as intervenções no contexto, especificamente a exposição dos alunos à Metodologia do Programa MenteInovadora, são componentes desses fatores? 14 Validação Todos os itens nas três dimensões apresentaram índices de discriminação (medidos por correlação do ponto bisserial) válidos em suas respectivas subdimensões. Para cada uma das dimensões foram determinados os coeficientes de confiabilidade conforme a tabela a seguir. Dimensão Matemática Instrumento do 5º ano N = 2.224 de 39 escolas diferentes* Índice de Número Confiabilidade de Itens ( de Cronbach) 22 0,57 Instrumento do Ensino Médio N = 639 de 10 escolas diferentes* Índice de Número Confiabilidade de Itens ( de Cronbach) 0,93 30 Motivação para Aprendizagem 15 0,30 15 0,57 Estratégias para Aprendizagem 16 0,68 16 0,72 Resolução Colaborativa de Problemas 15 0,50 15 0,45 *Participantes que completaram todos os instrumentos. Os índices em negrito indicam confiabilidade dentro dos padrões aceitáveis usuais. Os índices em itálico revelam instrumentos com confiabilidade aceitável, relativizando-se as simplificações e adaptações que se fizeram necessárias para adequá-los aos respectivos níveis de ensino. O instrumento de motivação para aprendizagem apresentou um baixo índice de validade, que, apesar de positivo, sugere problemas, que podem estar relacionados à interferência do contexto na motivação dos alunos dessa faixa etária. Como os alunos são provenientes de muitas escolas diferentes, a influência do contexto sobre a motivação pode ter gerado um problema de dimensionalidade. Especificamente, os índices de confiabilidade para as subdimensões de ansiedade em relação a avaliações ( = 0,61), autoeficácia ( = 0,45) e valor intrínseco ( = 0,19), cada uma avaliada por meio de cinco itens, não contradizem esta hipótese, dado que o valor intrínseco atribuído às tarefas pode ser significativamente impactado pelo contexto dos alunos. 15 Análise Confirmatória De acordo com a pergunta de investigação dessa primeira fase, pretende-se identificar se há relações estatisticamente significantes entre as variáveis das dimensões avaliadas. Por meio de modelos de regressão linear múltipla5, foram testadas as relações entre as seguintes variáveis: Y Y1 Y2 M1 M2 M3 E1 E2 E3 E4 Ri Rc Ric Desempenho em Matemática Desempenho em Raciocínio Quantitativo Desempenho em Raciocínio Lógico Média dos itens de Ansiedade em relação a Avaliações (Motivação) Média dos itens de Autoeficácia (Motivação) Média dos itens de Valor Intrínseco (Motivação) Média dos itens de Autorregulação (Estratégias) Média dos itens de Estratégias de Estudo (Estratégias) Média dos itens de Execução (Estratégias) Média dos itens de Planejamento (Estratégias) Quantidade de respostas do aluno com alta prioridade aos processos de resolução de problemas e baixa prioridade aos processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Quantidade de respostas do aluno com baixa prioridade aos processos de resolução de problemas e alta prioridade aos processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Quantidade de respostas do aluno com alta prioridade aos processos de resolução de problemas e alta prioridade aos processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Esses modelos foram aplicados com o objetivo de testar a existência de relações entre as variáveis. Não se pretende, nessa primeira fase do estudo, usá-los de forma preditiva, para obter valores estimados de uma variável com base nas demais. 5 Os modelos de regressão linear simples estabelecem a hipótese de uma relação entre duas variáveis ( e ), dada pela equação . Trata-se, portanto, de um teste de hipótese estatístico, em que se verifica, efetivamente, a probabilidade de , que é o coeficiente que potencialmente estabelece uma relação, ser diferente de zero (o que indica a existência de uma relação). O intercepto representa o valor desta variável quando . Os modelos de regressão linear múltipla funcionam da mesma maneira, mas consideram a relação entre uma variável ( ) e um conjunto de outras variáveis ( ). Os valores p apresentados ao final das tabelas que representam os modelos a seguir indicam a probabilidade de que a existência da relação indicada pelos coeficientes obtidos seja uma característica particular da amostra de alunos avaliados. Por isso, p<0,05 representa uma probabilidade para este eventual “viés da amostra”, confirmando a existência das relações. 16 Modelos com a dimensão Matemática (Y) como variável dependente das variáveis das outras dimensões Os modelos construídos tendo Matemática (Y) como variável dependente, bem como os modelos tendo Raciocínio Lógico (Y1) ou Raciocínio Quantitativo (Y2), apresentaram relações estatisticamente significantes com as mesmas variáveis. Constam, portanto, nas tabelas que se seguem os resultados apenas dos modelos considerando Matemática (Y) como a variável dependente 5º ano Variável Y M1 M2 Descrição Desempenho em Matemática Média dos itens de Ansiedade em relação a Avaliações Média dos itens de Autoeficácia M3 Média dos itens de Valor Intrínseco E1 Média dos itens de Autorregulação E2 E3 Média dos itens de Estratégias de Estudo Média dos itens de Execução E4 Média dos itens de Planejamento Quantidade de respostas do aluno com alta prioridade aos processos de resolução de problemas e baixa prioridade Ri aos processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Quantidade de respostas do aluno com baixa prioridade aos processos de resolução de problemas e alta prioridade Rc aos processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Quantidade de respostas do aluno com alta prioridade aos processos de resolução de problemas e alta prioridade aos Ric processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Intercepto Os coeficientes apresentados são significantes para p<0,05. Coeficiente -0,130 0,207 não significante não significante -0,389 0,543 não significante não significante 0,565 1,004 22,908 Análise A Ansiedade em relação a avaliações (M1) e o uso das estratégias de estudo (E2) apresentaram uma relação negativa com o desempenho em Matemática. Isso significa que quanto maior o resultado do aluno nestas variáveis, menor tende a ser o resultado em Matemática. A relação negativa da ansiedade com o desempenho em Matemática é esperada e coerente com resultados anteriores: quanto maior nível de ansiedade em relação a avaliações, pior o desempenho nessas avalições. Na direção oposta, o uso de estratégias de estudo deveria, em princípio, apresentar relação positiva. Entretanto, o desempenho em Matemática, especialmente nos itens de raciocínio lógico, requer que se construa ou adapte uma estrutura ao problema 17 apresentado. Alunos que aprimoraram estratégias de estudo podem tê-lo feito para balancear certa dificuldade em estruturar soluções de acordo com o contexto. Em particular, as correlações entre os resultados nos quatro itens que compõem as estratégias de estudo se mostraram negativas (e significantes) em relação à pontuação na subdimensão de Raciocínio Lógico em Matemática. De maneira oposta à ansiedade, que pode deixar o aluno menos confiante em relação ao próprio potencial, a autoeficácia (M2) apresenta uma relação positiva com o resultado em Matemática. O mesmo vale para a execução (E3), as quantidades de respostas que priorizam o trabalho em equipe (Rc) e o trabalho em equipe combinado com a resolução do problema (Ric). As demais variáveis não apresentaram, neste modelo, relações com o desempenho em Matemática. Ensino Médio Variável Y M1 M2 Descrição Desempenho em Matemática Média dos itens de Ansiedade em relação a Avaliações Média dos itens de Autoeficácia M3 Média dos itens de Valor Intrínseco E1 Média dos itens de Autorregulação E2 Média dos itens de Estratégias de Estudo E3 Média dos itens de Execução E4 Média dos itens de Planejamento Quantidade de respostas do aluno com alta prioridade aos processos de resolução de problemas e baixa prioridade Ri aos processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Quantidade de respostas do aluno com baixa prioridade aos processos de resolução de problemas e alta prioridade Rc aos processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Quantidade de respostas do aluno com alta prioridade aos processos de resolução de problemas e alta prioridade aos Ric processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Intercepto Os coeficientes apresentados são significantes para p<0,05. Coeficiente -0,460 0,241 não significante não significante -0,237 não significante não significante não significante não significante 0,782 36,083 Análise Assim como no 5º ano, a ansiedade em relação a avaliações (M1) e o uso das estratégias de estudo (E2) apresentaram uma relação negativa com o Desempenho em Matemática, o que torna possível levantar para esse grupo as mesmas hipóteses do anterior (vide os comentários da análise do 5º ano). 18 Relações positivas foram encontradas para as variáveis autoeficácia (M2) e trabalho em equipe combinado com a resolução do problema (Ric) em relação à Matemática. As demais variáveis não apresentaram, neste modelo, relações com o desempenho em Matemática. Modelos com a dimensão Resolução Colaborativa de Problemas (Ric) como variável dependente das variáveis das outras dimensões 5º ano Variável Y M1 Descrição Quantidade de respostas do aluno com alta prioridade aos processos de resolução de problemas e alta prioridade aos processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Desempenho em Matemática Média dos itens de Ansiedade em relação a Avaliações M2 Média dos itens de Autoeficácia M3 E1 Média dos itens de Valor Intrínseco Média dos itens de Autorregulação E2 Média dos itens de Estratégias de Estudo E3 Média dos itens de Execução E4 Média dos itens de Planejamento Ric Intercepto Os coeficientes apresentados são significantes para p<0,05. Coeficiente 0,023 -0,036 não significante 0,051 0,030 não significante 0,084 não significante 2,182 Análise A ansiedade em relação a avaliações (M1) apresentou uma relação negativa com a quantidade de respostas dos alunos que priorizaram a combinação entre o trabalho em equipe e a resolução do problema (Ric). O desempenho em Matemática (Y), o valor intrínseco (M3), a autorregulação (E1) e a execução (E3) apresentaram relações positivas com essa variável (Ric). As demais variáveis não apresentaram relações significantes. 19 Ensino Médio Variável Y M1 Descrição Quantidade de respostas do aluno com alta prioridade aos processos de resolução de problemas e alta prioridade aos processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas Desempenho em Matemática Média dos itens de Ansiedade em relação a Avaliações M2 Média dos itens de Autoeficácia M3 Média dos itens de Valor Intrínseco E1 Média dos itens de Autorregulação E2 Média dos itens de Estratégias de Estudo E3 Média dos itens de Execução E4 Média dos itens de Planejamento Ric Intercepto Os coeficientes apresentados são significantes para p<0,05. Coeficiente 0,022 -0,044 não significante não significante 0,054 não significante 0,061 não significante 3,488 Análise A ansiedade em relação a avaliações (M1) apresentou relação negativa com a quantidade de respostas dos alunos que priorizaram a combinação entre o trabalho em equipe e a resolução do problema (Ric). O desempenho em Matemática (Y), a autorregulação (E1) e a execução (E3) apresentaram relações positivas com essa variável (Ric). As demais variáveis não apresentaram relações significantes. 20 Interpretação Consolidada Os quatro modelos revelam uma relação entre o desempenho dos alunos em Matemática e a contagem de respostas que aliam os processos de resolução de problemas com os de trabalho em equipe, indicador do domínio das habilidades relacionadas à Resolução Colaborativa de Problemas. Para essas duas variáveis: a ansiedade em relação a avaliações apresenta uma relação negativa (quanto maior a média em ansiedade, menor tende a ser o resultado do aluno em Matemática e em Resolução Colaborativa de Problemas); as habilidades de execução em estratégias para aprendizagem apresentam relação positiva com Resolução Colaborativa de Problemas e com o desempenho em Matemática (no 5º ano); a autorregulação apresenta relação positiva com a Resolução Colaborativa de Problema, mas não com Matemática; as estratégias de estudo apresentam uma relação negativa com o desempenho em Matemática, mas não com a Resolução Colaborativa de Problemas. Foi testado também o efeito escola sobre os resultados dos alunos e não foi encontrada qualquer relação significante do ponto de vista estatístico, o que sugere, neste momento, que o fato de o aluno frequentar uma escola específica, dentro do universo de escolas pesquisadas, não constituiu elemento de contexto suficiente para explicar seus resultados. 21 Análise Exploratória O uso da média para consolidação de resultados obtidos por meio de instrumentos baseados em escalas Likert permite identificar relações entre as variáveis, mas é passível de críticas. A distância entre os pontos da escala pode não ser uniforme para diferentes respondentes, o que pode criar uma distorção na média que não pode ser verificada e, portanto, não pode ser corrigida. No entanto, escalas Likert com uma quantidade ímpar de pontos permitem diferenciar o grupo de respostas abaixo e acima do ponto central da escala, conforme mostra a figura a seguir. totalmente falso para mim 1 2 3 grupo de respostas abaixo do ponto central da escala (GI) 4 ponto central da escala totalmente verdadeiro para mim 5 6 7 grupo de respostas acima do ponto central da escala (GS) Essa separação de grupos permite categorizar, para cada item de motivação e de estratégias para aprendizagem, os resultados em Matemática e em Resolução Colaborativa de Problemas. Em seguida, verificam-se as diferenças dos resultados entre os alunos que marcaram, para esse item, respostas nesses dois grupos. Por exemplo: o item “O mais gratificante para mim é entender o conteúdo o melhor possível” compõe a avaliação do valor intrínseco, em motivação para aprendizagem; os alunos que marcaram 1, 2 ou 3 neste item (GI) obtiveram, em Matemática, uma média de 32,1; os alunos que marcaram 5, 6 ou 7 neste item (GS) obtiveram, em Matemática, uma média de 38,6; a diferença de desempenho entre os grupos GS e GI em Matemática é de 6,5 pontos na escala utilizada; trata-se de uma diferença bastante significativa nesta escala, o que evidencia uma relação importante entre esse item e o desempenho em Matemática. No Ensino Médio, por exemplo, a média de desempenho em Matemática dos alunos que escolheram 1, 2 ou 3 (GI) para o item abaixo (do componente “autoeficácia”) foi 26,14 e para os que escolheram 5, 6 ou 7 (GS) nesse mesmo item foi 32,57, perfazendo uma diferença de 6,43 pontos da escala. Se eu estudar de forma adequada, serei capaz de aprender os conteúdos ensinados. Nenhum outro item discriminou positivamente os resultados em Matemática por uma diferença maior do que 6,43 entre os dois grupos, para o Ensino Médio. No entanto, no item a seguir (do componente “ansiedade em relação à tarefa”), os alunos que 22 marcaram 1, 2 ou 3 obtiveram média 37,20 e os que marcaram 5, 6 ou 7 ficaram com média 28,74. Eu fico tão nervoso nas provas que não consigo lembrar coisas que eu já havia aprendido. Esse tipo de comparação nos permite identificar os itens que mais discriminam o desempenho em Matemática, tanto positivamente quanto negativamente, conforme mostram as tabelas a seguir (com as diferenças mais significativas para cada faixa etária). Discriminações para Matemática - 5º ano Média_1_2_3 Média_5_6_7 Diferença Componente 32,1 38,6 6,5 Valor Intrínseco 33,0 39,0 6,0 Execução 33,0 38,7 5,7 Autoeficácia 32,8 38,4 5,6 Execução 33,8 38,9 5,1 Execução 35,7 40,8 5,1 Execução 33,6 38,5 4,8 Autoeficácia 40,1 37,1 -3,0 39,2 35,9 -3,3 39,6 35,7 -3,9 39,9 35,8 -4,0 Ansiedade em relação a Avaliações Ansiedade em relação a Avaliações Ansiedade em relação a Avaliações Ansiedade em relação a Avaliações 23 Item O mais gratificante para mim é entender o conteúdo o melhor possível. Quando a matéria é difícil, eu desisto ou estudo apenas as partes fáceis. (Código Reverso) Trabalho duro para ir bem nas avaliações, mesmo que não goste da matéria. Compreender a importância dos conteúdos que estou estudando e o objetivo da tarefa me ajuda a aprender. Eu sempre tento entender o que o professor está explicando, mesmo que não faça muito sentido para mim. Eu raramente encontro tempo para rever minhas anotações antes da prova. (Código Reverso) Estou confiante em que posso aprender os conceitos básicos apresentados na escola Eu fico preocupado com as provas. Eu me sinto mal quando tenho que fazer uma prova. Durante as provas, eu acho que não estou indo bem. Eu fico tão nervoso nas provas que não consigo lembrar coisas que eu sabia. Discriminações para Matemática - Ensino Médio Média_1_2_3 Média_5_6_7 Diferença 26,1 32,6 6,4 29,2 33,3 4,1 29,0 33,1 4,1 31,4 35,0 3,5 29,3 32,8 3,5 33,2 30,8 -2,3 35,3 31,5 -3,8 35,6 30,3 -5,3 37,2 28,7 -8,5 Componente Item Se eu estudar de forma adequada, Autoeficácia serei capaz de aprender os conteúdos ensinados. Tenho certeza de que posso Autoeficácia dominar as habilidades e conteúdos ensinados na escola. Estou confiante de que posso me Autoeficácia sair bem nos trabalhos e provas. Durante as aulas, muitas vezes eu perco pontos importantes porque Autorregulação estou pensando em outras coisas. (Código Reverso) Acho importante conhecer um Valor pouco de cada assunto tratado na Intrínseco escola, para poder escolher meus objetivos futuros. Ao estudar, costumo reservar um Planejamento tempo para discutir o conteúdo com colegas de classe. Ansiedade em Eu sinto meu coração bater forte relação a quando estou sendo avaliado. Avaliações Ansiedade em Quando faço uma prova, penso se relação a estou me saindo pior do que os Avaliações colegas. Ansiedade em Eu fico tão nervoso nas provas que relação a não consigo lembrar coisas que eu Avaliações já havia aprendido. A mesma análise foi feita para relacionar os itens de motivação e estratégia com a quantidade de respostas do aluno com alta prioridade aos processos de resolução de problemas e alta prioridade aos processos de trabalho em equipe em Resolução Colaborativa de Problemas. As duas tabelas a seguir mostram os resultados dessa análise. 24 Discriminações para Resolução Colaborativa de Problemas - 5º ano Média_1_2_3 Média_5_6_7 Diferença 4,67 6,21 1,54 4,98 6,24 1,27 5,14 6,30 1,17 5,12 6,23 1,11 5,22 6,23 1,01 6,40 5,84 -0,56 6,50 5,93 -0,57 6,39 5,62 -0,77 6,55 5,63 -0,93 Escala Item Compreender a importância dos conteúdos que estou estudando e Execução o objetivo da tarefa me ajuda a aprender. O mais gratificante para mim é Valor Intrínseco entender o conteúdo o melhor possível. Quando a matéria é difícil, eu Execução desisto ou estudo apenas as partes fáceis. (Código Reverso) Em geral, quando tenho de resolver um problema, penso Planejamento antes em qual seria a melhor forma de resolver. Quando estou lendo, às vezes volto para algum trecho anterior Autorregulação para compreender melhor o conteúdo. Ansiedade em Quando faço provas, penso nas relação a consequências do fracasso. Avaliações Ansiedade em relação a Eu fico preocupado com as provas. Avaliações Ansiedade em Eu me sinto mal quando tenho relação a que fazer uma prova. Avaliações Ansiedade em Eu fico tão nervoso nas provas que relação a não consigo lembrar coisas que eu Avaliações sabia. 25 Discriminações para Resolução Colaborativa de Problemas - Ensino Médio Média_1_2_3 Média_5_6_7 Diferença 5,36 6,15 0,78 4,95 5,62 0,67 4,94 5,58 0,64 5,33 5,84 0,51 5,73 5,36 -0,37 5,70 5,32 -0,38 5,81 5,30 -0,51 5,94 5,16 -0,78 Escala Item Eu quero me sair bem na escola ou Valor no trabalho porque é importante Intrínseco mostrar a minha capacidade para a família e os colegas. Quando leio ou escuto uma Execução afirmação, penso sobre outras possíveis perspectivas. Ao estudar, costumo fazer perguntas a mim mesmo para focar Autorregulação minha atenção e verificar minha compreensão sobre o conteúdo. Durante as aulas, muitas vezes eu perco pontos importantes porque Autorregulação estou pensando em outras coisas. (Código Reverso) Ansiedade em Eu sinto meu coração bater forte relação a quando estou sendo avaliado. Avaliações Ao estudar, costumo reservar um Planejamento tempo para discutir o conteúdo com colegas de classe. Ansiedade em Quando faço uma prova, penso se relação a estou me saindo pior do que os Avaliações colegas. Ansiedade em Eu fico tão nervoso nas provas que relação a não consigo lembrar coisas que eu Avaliações já havia aprendido. 26 Considerações Finais Em 2014, optou-se por realizar um estudo na modalidade “pesquisa-ação”. Segundo Chizzotti (2006), essa modalidade caracteriza-se pelo caráter colaborativo entre o pesquisador e os “atores sociais” envolvidos, uma vez que inclui a preocupação com a compreensão de uma situação no seu contexto e a proposição de alternativas de solução para o problema em estudo. Apesar desta primeira fase do Estudo 2014 possibilitar apenas análises estáticas do ponto de vista temporal, puderam ser observadas relações estatisticamente significantes entre as variáveis das três dimensões investigadas. No entanto, tendo em vista que o contexto tem influência considerável sobre todos os atributos investigados, a progressão nos resultados das variáveis entre a primeira e a segunda fase do estudo deve trazer relações ainda mais significativas, dados os prováveis impactos da Metodologia do Programa MenteInovadora, que atua como intervenção intencional no contexto, conforme evidenciado nos estudos anteriores. Os resultados desta primeira fase foram consolidados na forma de dois tipos de relatórios, disponibilizados aos sujeitos: para cada aluno, um relatório individual; para cada escola, um consolidado da escola e de cada uma das turmas avaliadas. O relatório da escola, distinto para cada nível de ensino, contempla a distribuição dos resultados de todos os seus alunos e de cada uma de suas turmas. O acesso a esses documentos foi liberado para cada escola, ficando a seu critério a disponibilização dos relatórios individuais aos alunos. O material disponibilizado traz uma descrição compreensível e acessível dos instrumentos utilizados. No relatório dos alunos, símbolos de uso corrente na cultura (“smile” feliz, triste e médio) e mensagens explicativas comunicam os resultados, situando-os na distribuição dos desempenhos dos sujeitos avaliados. Completam o relatório recomendações e dicas, personalizadas de acordo com o resultado de cada um, indicando possibilidades de caminhos para desenvolver as habilidades. Estudos anteriores evidenciaram que a Metodologia do Programa MenteInovadora tem impactos positivos no desenvolvimento de habilidades e no incremento da proficiência, uma vez que colabora na construção de ferramentas internas para lidar, de maneira 27 mais eficiente, com as demandas do cotidiano6. Nesse sentido, as recomendações foram elaboradas considerando os conceitos, temas, jogos, estratégias e métodos que os alunos estudarão ao longo do ano letivo, nas aulas do Programa. Por exemplo, um aluno de 5º ano que obteve um resultado abaixo da média na habilidade lógica de análise, recebeu a seguinte recomendação: “Dividir um problema em partes pode ajudar você a entendê-lo melhor. Procure investigar cuidadosamente as situações. Faça boas perguntas, tente captar todas as informações e anotar cada uma delas de maneira organizada. Jogue bastante, procure usar os métodos e as estratégias, participe das discussões durante as aulas... Você vai ver que aos poucos vai ficar cada vez mais fácil”. Nas aulas do Programa7, os alunos irão construir o Método do Detetive, que irá explorar habilidades de fazer boas perguntas e dividir o problema em partes. Isso significa que estudarão ferramentas, ou seja, jogos de raciocínio, métodos metacognitivos e estratégias, com as intervenções intencionais do professor-mediador, a fim de desenvolver as habilidades necessárias8 para que possam colocar em prática as recomendações que receberam. A segunda fase do Estudo 2014 prevê a investigação com professores e gestores. Para professores, estão em foco quatro competências: conhecimento pedagógico (nível conceitual), fazer pedagógico (nível procedimental), relação professor-aluno (nível atitudinal) e desenvolvimento profissional (formação continuada). Para gestores, habilidades relacionadas às suas tarefas enquanto dirigentes e orientadores do processo educacional na escola: liderança, gestão curricular, gestão de recursos e gestão do clima e convivência. Essas dimensões, pesquisadas também no Estudo 2013, serão aprofundadas por meio de itens situacionais referentes à prática pedagógica e de gestão, no que se refere a trabalhar em equipe e resolver problemas, seguindo as mesmas diretrizes dos questionários elaborados para os alunos. Esperamos que essa pesquisa-ação possa não só lançar luz sobre as inter-relações entre o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e a aprendizagem da Matemática, como também reverberar em ações efetivas, por parte das escolas e dos 6 Ver a respeito: Projeto Pedagógico da Mind Lab, Mind Lab do Brasil (2012). Disponível em: www.mindlab.com.br. 7 Essas aulas são ministradas por professores das escolas, acompanhados pela equipe gestora da escola e pelos profissionais da Mind Lab, que oferecem apoio por meio do processo de formação inicial e continuada. 8 As habilidades priorizadas em cada ano de escolaridade estão expressas no livro do Professor e na Coleção Teórica da Mind Lab, no volume intitulado “Habilidades Priorizadas por Ano de Escolaridade”. 28 educadores, para aprimorar a aprendizagem e a preparação de nossas crianças e jovens para a construção de um mundo melhor. 29 Bibliografia ARTINO Jr., A. R. (2005). A Review of the Motivated Strategies for Learning Questionnaire. Connecticut: University of Connecticut. BLOOM, B. S. (1956). Taxonomy of Educational Objectives: The Classification of Educational Goals. New York: Longmans, Green & Co. CATTELL, R. B. (1963). Theory of Fluid and Crystallized Intelligence: A critical Experiment. Journal of Educational Psychology, 1-22. CATTELL, R. B. (1978). A Check on the Theory of Fluid and Crystallized Intelligence with Description of New Subsets Designs. Journal of Educational Measurement, Vol 15, No. 3, 139-164. CHIZZOTTI, A. (2006). Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Vozes. DE GROOT, E. V. (1990). Motivational and Self-Regulated Learning Components of Classroom Academic Performance. Journal of Educational Psychology, Vol. 82, No. 1,33-40. ENNIS, R. H. (1993). Critical Thinking Assessment. Theory into Practice, Volume 32, Number 3, 179-186. GARCIA, S. &. (2014). Contribuições da Metodologia Mind Lab na transformação dos protagonistas da escola do Século XXI. São Paulo: Mind Lab Brasil & INADE. Disponível em: www.mindlab.com.br. GARCIA, S. A. (2013). O Prazer de Ensinar e de Aprender: Contribuições de uma Metodologia no Aprimoramento das Práticas Pedagógicas. São Paulo: Mind Lab Brasil & INADE. Disponível em: www.mindlab.com.br. GHYASI, M. Y. (July de 2013). The Relationship between Personality Types and Self-Regulated Learning Strategies of Language Learners. International Journal of Applied Linguistics & English Literature, Vol. 2 No. 4 (online). GOLDBERG, L. R. (1990). An Alternative "Description of Personality": The BigFive Factor Structure. Journal of Personality and Social Psychology, Vol. 59, No. 6, 1216-1229. JENSEN, A. R. (1998). The g Factor: The Science of Mental Ability. Wesport, CT: Praeger Publishers. JOHNSON, D. W. (1989). Cooperation and Competition. Edina, MN: Interaction Book Company. MIND LAB DO BRASIL (2011). Habilidades Priorizadas por Ano de Escolaridade: Desenvolvimento de Habilidades Cognitivas, Sociais, Emocionais e Eticas para a Vida Moderna. São Paulo: Disponível em: www.mindlab.com.br. MIND LAB DO BRASIL (2012). Projeto Pedagógico. São Paulo: Disponível em: www.mindlab.com.br. OECD. (2010). PISA 2012 Field Trial Problem Solving Framework. OECD. OECD. (2013). PISA 2015 -Draft Collaborative Problem Solving Framework. PINTRICH, R. &. (1991). A Manual for the Use of the Motivated Strategies for Learning Questionnaire (MSLQ). Washington, DC.: Office of Educational Research and Improvement (ED). 30 Anexo 1 Matriz ampliada das habilidades de resolução colaborativa de problemas. (1) Estabelecer e manter uma compreensão compartilhada (2) Atuar de maneira apropriada (3) Estabelecer e manter a organização do grupo (A) Explorar e compreender (A1) Identificar as perspectivas e habilidades dos membros do grupo. (A2) Identificar o tipo de interação colaborativa para resolver o problema, de acordo com os objetivos do grupo. (A3) Compreender os papéis de cada um para resolver o problema. (B) Representar e formular (B1) Construir uma representação compartilhada; negociar o significado do problema, até chegar a um acordo. (B2) Identificar e descrever as tarefas a serem realizadas. (B3) Descrever os papéis e a organização do time (protocolo de comunicações /regras de engajamento). (C) Planejar e executar (C1) Comunicar todos os membros do time sobre as ações realizadas e a realizar. (C2) Estabelecer e cumprir os passos do planejamento. (C3) Seguir as regras de engajamento; promover ações para que todos estejam cumprindo sua parte. (D) Monitorar e refletir (eu no grupo) (D1) Monitorar e compartilhar a compreensão de cada membro, corrigindo possíveis falhas. (D2) Monitorar os resultados das ações e avaliar o progresso na resolução do problema. (D3) Monitorar, promovendo feedbacks e adaptando a organização do time e os papéis de cada um, quando necessário. (E) Monitorar e refletir (eu e o grupo) (E1) Perceber a própria contribuição, disponibilidade e competência para com o grupo. (E2) Posicionar-se de maneira assertiva e comprometida para argumentar sobre os próprios pontos de vista. (E3) Disponibilidade de recursos internos para entrar no grupo e fazer parte dele. As células sombreadas indicam as habilidades originais propostas no Draft para o PISA 2015, conforme OECD (2013). 31 Anexo 2 Glossário Síntese das Dimensões Ansiedade em relação à Tarefa Motivação Valor Intrínseco Autoeficácia Autorregulação Estratégias para Aprendizagem Planejamento Estratégias de Estudo Execução Resolução Colaborativa de Problemas Análise Raciocínio Lógico Síntese Inferência Habilidade de manter o controle emocional para não se desestruturar e permanecer na tarefa, mesmo diante da dificuldade ou do medo que ela possa despertar. Habilidade de engajamento em uma atividade pelos objetivos relacionados à própria tarefa, e não a outros interesses (realizar uma tarefa como fim em si mesmo). Habilidade de autoavaliação; reconhecimento e confiança nas condições pessoais para a realização das tarefas; investimento de esforços no desenvolvimento dos recursos internos mais fragilizados. Habilidade de tomar consciência do próprio funcionamento diante das tarefas, para administrar o tempo e os recursos pessoais da melhor maneira possível para atingir os objetivos. Habilidade de antecipar possibilidades de caminhos para a execução de uma tarefa, reconhecendo prioridades e organizando sequências de ações para atingir os objetivos. Habilidade de reconhecer e utilizar maneiras organizadas e eficientes para atingir um objetivo. Habilidade de atuar de maneira organizada, sistemática e eficiente, otimizando a utilização dos recursos internos e externos para atingir os objetivos. Capacidade de integrar as habilidades necessárias para a resolução de problemas (coleta de informações, compreensão do problema, planejamento, execução e monitoramento) com as habilidades envolvidas no trabalho em equipe (compreensão compartilhada, execução colaborativa, formação e manutenção harmônica do grupo). Habilidade de resolver um problema complexo por meio da divisão do problema em subproblemas mais simples, cujas soluções sejam imediatas, e de modo que a recomposição dessas soluções constitua a solução da situação-problema mais complexa. Habilidade de unir informações e dados de naturezas distintas propostos em uma situação-problema, avaliar a suficiência desses objetos para sua solução ou perceber a ausência de outros que seriam necessários, priorizar e ordenar a utilização desses elementos de modo a construir um encadeamento para a solução. Habilidade de reconhecer um ou mais padrões em conjunto de dados ou informações e replicá-los de modo a construir uma extensão desse conjunto que preserve a mesma estrutura de padrões. 32