Humanização e qualidade ambiental em territórios

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Humanização e qualidade ambiental em territórios
Humanização e qualidade ambiental em territórios habitacionais
Raquel R. M. Paula Barros (1) e Sílvia A. Mikami G. Pina (2)
(1) Deptº. de Arquitetura e Construção, FEC, UNICAMP, Brasil. E-mail: [email protected]
(2) Deptº. de Arquitetura e Construção, FEC, UNICAMP, Brasil. E-mail: [email protected]
Resumo: Introdução: Projetos de Arquitetura e Urbanismo que promovam plenamente o bem-estar
humano e reduzam o impacto aos sistemas de suporte à vida constitui tema relevante para o projeto do
ambiente construído na produção das cidades, principalmente da habitação coletiva, tipologia de
reconhecida importância para a qualidade de vida urbana. Este trabalho apresenta e discute resultados
parciais de pesquisa na qual os conceitos e parâmetros humanizadores e mais sustentáveis relacionados
à qualidade dos espaços da moradia e seus territórios formam a base referencial teórica que deve
interpor o processo de projeto a fim de conduzí-lo a decisões mais consistentes. Para tanto, são
apresentados projetos de habitação coletiva selecionados e que exemplificam derivações conceituais e
parâmetros projetuais com vistas ao incremento qualitativo do habitar, estruturados por eixos temáticos
que abrangem a relação com o lugar e as pessoas, incluindo suas necessidades de convívio, proteção e a
perspectiva da diversidade. Objetivo: O trabalho tem por objetivo identificar, em projetos exemplares de
habitação coletiva, derivações conceituais e parâmetros para a análise, reflexão e prática projetual
relacionados à humanização e à maior sustentabilidade. Método: A partir dos fundamentos teóricoconceituais de potencial humanizador para o ambiente construído habitacional, buscou-se identificar
projetos da habitação coletiva já construídos exemplares daquela abordagem. Dentre os projetos
selecionados, procedeu-se, então, à análise sob os enfoques identificados, de maneira que eles pudessem
também suscitar outros conceitos e parâmetros relevantes para o aprimoramento do processo de projeto.
Resultados: Apresenta-se coletânea inicial de projetos exemplares, análise de estudos de caso e
oportunidades para o aprimoramento da base teórico-conceitual. Contribuições: O estudo permite a
retroalimentação e o aprimoramento conceitual vinculado ao projeto da habitação coletiva e de seus
territórios com vistas ao habitar mais humano e mais sustentável.
Palavras-chave: Humanização, Habitação coletiva, Sustentabilidade, Processo de projeto.
Abstract: Introduction: Architectural and urban design that promotes and fulfills human well-being
while also reducing the impact to life support systems constitutes a relevant theme for the design of the
built environment in the production of cities, especially that of multifamily housing for its known
importance for urban life quality. This paper presents and discusses partial research results in which
humanizing and more sustainable concepts and parameters related to housing design quality and its
territories form the theoretical basis that can support the design process in order to steer it towards more
consistent decisions. The study selects multifamily housing designs that demonstrate conceptual
derivations and design parameters framed by themes related to place and people, including their needs to
conviviality and protection and in view of diversity. Objective: The study intends to identify conceptual
derivations and design parameters for design analysis, reflection and practice as related to humanization
and sustainability. Method: The study searched for built housing projects that could demonstrate the
theoretical basis of humanizing potential and proceeded to the analysis of selected designs under the
lenses of the identified approaches considering they could as well inspire other relevant design concepts
and parameters for the improvement of the design process. Results: The results are an initial exemplary
design collection, study case analyses and opportunities for the improvement of the theoretical basis.
Contributions: The study allows for the conceptual retrofit and improvement as related to multifamily
housing design and its territories towards more humane and sustainable housing.
Key-words: Humanization, Multifamily housing, Sustainability, Design process.
VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino‐americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis ‐ Vitória – ES ‐ BRASIL ‐ 7 a 9 de setembro de 2011 1. INTRODUÇÃO
Atingir o amplo escopo do projeto da habitação coletiva mais humana e sustentável demanda a efetiva
consideração de condicionantes locais que norteiam princípios da sustentabilidade social e ambiental que,
em colaboração, deveriam permear o projeto urbano-arquitetônico a partir do entendimento das pessoas e
do lugar. Entretanto, pode-se constatar em conjuntos de Habitação de Interesse Social-HIS existentes e
em outros locais também, características tais como a falta de harmonização entre a edificação e o local de
implantação, a inadequação às atividades relativas ao habitar e à rotina da vida diária, unidades
Habitacionais-UHs indistintas que não refletem (e não abrigam) uma diversidade de moradores e espaços
externos residuais que se encontram desconectados do entorno. No agravamento dessa situação, ainda
identificam-se assentamentos em áreas ambientalmente frágeis ou periféricas da cidade com deficiências
de infraestrutura e equipamentos e, por vezes, empreendimentos de escala excessiva, bem como a
padronização do projeto para sua repetição em outras áreas. Especialmente naqueles projetos para os
demais níveis de renda, constata-se a ênfase no privado descolado do ambiente urbano, negando seu
contexto de inserção na cidade. São raros os projetos que efetivamente se empenham pela qualidade de
vida das pessoas e do planeta e pela vida urbana. No que concerne às questões intrínsecas à atividade
projetual, acredita-se no grande potencial e no esperado compromisso das soluções projetuais para com o
aprimoramento contínuo da qualidade do ambiente habitacional.
A importância da cidade tem sido reconhecida e não mais prevalece a idéia da cidade como o caos a ser
evitado, mas sim a idéia de que é necessário administrar a cidade em conjunto com seus processos sociais
que a modificam continuamente. Assim, se de um lado a cidade é responsável por intensificar
desequilíbrios de diferentes ordens, por outro demonstra potencial de contribuição em direção ao
desenvolvimento sustentável pela oportunidade de congregar diversidade de pessoas e ambientes. Embora
a existência de alguns documentos importantes de orientação para o desenvolvimento de assentamentos
humanos mais sustentáveis tenham contribuído para alguns avanços, suas recomendações ainda são
genéricas e pouco operativas para o projeto do ambiente construído. Assim, as ações no ambiente da
cidade e nos assentamentos habitacionais ainda pouco demonstram a aplicação dessas recomendações
sobre sustentabilidade, especialmente na amplitude do seu conceito. É comum ocorrer empreendimentos
que se propõem mais sustentáveis quando, de fato, as ações se reduzem à incorporação de alguns
materiais ou tecnologia denominadas de sustentável. Ainda são raros os exemplos onde a sustentabilidade
é considerada desde seu processo de projeto, devido especialmente à carência de estudos aprofundados e
acessíveis da sustentabilidade voltados para as especificidades e necessidades do projetista. Daí a
importância de uma coleção de bons exemplos de projetos, ainda que não totalmente abrangentes.
Considerando a importância da habitação coletiva na cidade para a sustentabilidade urbana, ambiental e
humana, enfoca-se o tema da humanização e qualidade ambiental nos territórios habitacionais. Conceitos
e parâmetros humanizadores e mais sustentáveis devem formar a base referencial teórica que deve
interpor o processo de projeto a fim de conduzi-lo a decisões mais consistentes. Este trabalho apresenta
resultados parciais de pesquisa em andamento e tem por objetivo identificar a contribuição de projetos
exemplares de habitação coletiva para o aprimoramento de base referencial de derivações conceituais e
parâmetros projetuais relacionados à humanização e qualidade ambiental em territórios habitacionais para
o processo de projeto.
2. IDENTIFICAÇÃO DE ABORDAGENS TEÓRICO-CONCEITUAIS
Valorizando a compreensão e interpretação do aspecto específico de cada situação do projeto do habitar,
Barros (2011) propõe conceitos humanizadores que buscam contribuir para o melhor atendimento de
necessidades psicossociais e ambientais na moradia e territórios habitacionais, incluindo uma relação
mais amigável e responsável com a natureza e o lugar; a vivacidade urbana; os diferentes graus
envolvimento comunitário e privacidade, senso de proteção, identidade, legibilidade, variedade e
estímulos sensoriais. Foram caracterizados parâmetros projetuais para o projeto de habitação coletiva com
VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino‐americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis ‐ Vitória – ES ‐ BRASIL ‐ 7 a 9 de setembro de 2011 enfoque ora mais diretamente no arranjo territorial, ora na escala da edificação, e em perspectiva
complementar, sendo arranjados em duas categorias principais: Senso de Urbanidade e Senso de
Habitabilidade, abrigando por sua vez subcategorias. O Senso de Urbanidade visa proporcionar: a
vivacidade urbana que pressupõe o combate à setorização excessiva de usos, à segregação social e à
dificuldade de locomoção; a percepção de um sentido de lugar em sintonia com o entorno a partir da
conformação e articulação dos espaços externos; as funções psicológicas de orientação e identificação. A
sensibilidade ao ambiente construído e natural existente aliada a recursos espaciais específicos e a
parâmetros para a sustentabilidade social (diversidade de usuários e de faixas de renda, uso misto,
valorização da circulação de pedestres) contribui para a conectividade espacial, a legibilidade e a
identidade. O Senso de Habitabilidade busca proporcionar, a partir do atendimento de necessidades
básicas de conforto ambiental e de adequação às atividades domésticas, um sentido de habitar que
preencha as necessidades de refúgio, isolamento, convivência, ordem e variedade. Para tanto, os conceitos
propostos enfocam as seguintes questões: relação entre tipologias de UHs e de agregação entre elas e
aspectos de conforto ambiental e privacidade; relação entre estrutura física e espaços de convívio de
modo que a forma e as proporções dimensionais horizontais e verticais dos ambientes priorizem a
adequação às necessidades de uso, convívio e proteção e não uma racionalidade construtiva reducionista;
zonas de transição e agenciamento entre ambientes internos almejando um gradiente de intimidade
doméstico eficiente, legível e permeável; o caráter e atributos sensoriais da iluminação natural e artificial,
materiais de acabamento e cobertura; e, por fim, a oferta de opções de moradia para usuários diversos e
suas implicações para o sistema construtivo, aspectos da manutenção (reparos), adaptabilidade e
expansão. Os conceitos foram estruturados por eixos temáticos inter-relacionados que abrangem a relação
com o lugar e as pessoas, incluindo suas necessidades de convívio, proteção e a perspectiva da
diversidade, constituindo os percursos teórico-conceituais a que se tem dado continuidade na presente
pesquisa. O Quadro 1 ilustra os eixos temáticos.
RELAÇÃO COM O LUGAR
CONVÍVIO E PROTEÇÃO
DIVERSIDADE
EDIFICAÇÃO MELHORANDO TERRENO
ESPAÇO EXTERNO POSITIVO
DIVERSIDADE DE USUÁRIOS
QUADRO 1: Categorização de parâmetros-chave nos eixos temáticos. Fonte: Barros (2011)
A diversidade social (de pessoas, de graus de autonomia, de níveis de renda), de promoção das
intervenções (pública, privada, mista), de usos e também a ambiental (sensorial) interage com as
especificidades do lugar, podendo dotar-lhe de significado e garantir vida à cidade, a exemplo dos
processos naturais (serviços dos ecossistemas) que dão suporte à vida. As diferentes necessidades de
convívio e proteção no ambiente construído refletem aquela diversidade. As abordagens expostas a seguir
perpassam os eixos temáticos em investigação.
Para Lyle (1994), a relação homem – ambiente, mais especificamente a maneira como este tem sido
moldado e explorado pelo homem, consiste justamente no maior problema a ser enfrentado com vistas à
maior sustentabilidade: uma falha estrutural construída ao longo dos últimos dois séculos. Aquela relação
é intimamente relacionada à cultura humana e manifesta-se na tecnologia, atualmente ainda resultante da
abordagem linear e determinística da era industrial. Visto que ações paliativas já se mostraram
insuficientes para reverter o atual quadro de degradação, Lyle propõe o projeto regenerativo para o
restabelecimento da conexão entre as pessoas e a natureza no ambiente construído de modo a manter a
integridade dos processos naturais que dão suporte à vida, abordando-os de maneira inter-relacionada a
exemplo de como funcionam na natureza. O processo de projeto regenerativo toma o ecossistema humano
como conceito e adota os princípios relacionados -- Estrutura, Funcionamento e Fatores locais – para a
VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino‐americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis ‐ Vitória – ES ‐ BRASIL ‐ 7 a 9 de setembro de 2011 garantia da consistência, resiliência, fluxo de energia e materiais e diversidade. No contexto nacional,
Sattler (2007) entende que alternativas para edificações e comunidades mais sustentáveis devem ser
buscadas em diferentes escalas e segundo uma nova ótica, ética e estética. O projeto de lugares mais
sustentáveis sugere às pessoas uma nova forma de se viver: como ser mais eficiente em termos de energia
e recursos hídricos; como empregar materiais de baixa energia incorporada ou de mínima emissão de
carbono; como utilizar madeiras de manejo sustentável; como evitar e descartar materiais tóxicos e como
fazer a compostagem de materiais orgânicos; como evitar a destruição da paisagem circundante e da
diversidade biológica; como produzir alimentos no próprio local da moradia e em harmonia com os
espaços de convivência. Os temas Materiais, Habitação, Energia, Resíduos, Produção de alimentos,
Implantação, Água e Aspectos socioeconômicos e de educação são permeados por princípios
permaculturais.
O International Living Building Institute (2010) disponibiliza o Living Building Challenge 2.0,
instrumento unificador para o projeto transformador que enfrentará o desafio de reconciliação do
ambiente construído com o natural numa civilização capaz de abrigar maior biodiversidade, resiliência e
oportunidades para a vida em contínua adaptação e evolução. Categorias conceituais representadas pelas
pétalas Lugar, Água, Energia, Saúde, Materiais, Equidade, Estética, abrangem imperativos que são
relacionados às diferentes escalas de intervenção (Quadro 2).
INSPIRAÇÃO + EDUCAÇÃO
ESTÉTICA
BELEZA + ESPÍRITO
DIREITO À NATUREZA
DEMOCRACIA + JUSTIÇA SOCIAL
ESCALA HUMANA + LUGARES
EQUIDADE
CONSERVAÇÃO E REUSO
FONTES APROPRIADAS
INDÚSTRIA RESPONSÁVEL
ZERO CO2 INCORPORADO
LISTA DAQUELES A RECUSAR
MATERIAIS
BIOFILIA
AR SAUDÁVEL
SAÚDE
AMBIENTE CIVILIZADO
ENERGIA
ENERGIA LIMPA
FLUXOS ECOLÓGICOS
ZERO CO2 INCORPORADO
ÁGUA
VIDA SEM AUTOMÓVEL
TROCAS NO HABITAT
AGRICULTURA URBANA
LIMITAR EXPANSÃO
LUGAR
QUADRO 2: Classificação dos imperativos por categorias (pétalas). Fonte: ILBI (2010)
A proposta intenciona reverter a tendência degenerativa de ocupação e uso territorial a fim de que as
funções naturais sejam gradualmente restabelecidas em relação mais saudável com o ambiente construído.
Valoriza comunidades compactas e conectadas e, sobretudo, dependentes da energia humana (caminhar e
pedalar), de sistemas de transporte coletivo eficientes bem como da agricultura local e regional,
contrapondo a tendência atual de ocupação (urban sprawl) e de produção de alimentos globalizada.
A espécie humana depende fundamentalmente do fluxo dos serviços dos ecossistemas. Importante
avaliação coordenada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (MILLENNIUM
ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005) examinou como as mudanças nos serviços dos ecossistemas -provisão (alimentos, água, madeira e fibras, combustíveis), controle (clima, enchentes, doenças,
purificação da água) e culturais (estéticos, espirituais, educacionais, lazer) -- influenciam a qualidade de
vida e o bem-estar humano. Entende-se que o bem-estar humano seja constituído de múltiplos elementos,
incluindo materiais básicos para uma vida salutar, onde a moradia se insere, saúde, boas relações sociais,
segurança e liberdade de escolha e de ação, que inclui a oportunidade de se alcançar o que se almeja. A
perda já detectada de parte daqueles serviços constitui a maior ameaça à biodiversidade e às metas de
desenvolvimento do milênio de reduzir a pobreza, a fome e as doenças. Para Newman (2007), faz falta
ainda um enfoque mais direto sobre as cidades, onde políticas-chave podem alavancar mudanças
expressivas dada a dependência daqueles serviços. Enfatiza, também, a necessidade urgente de se pensar
soluções habitacionais para bio-regiões urbanas. A partir do reconhecimento do impacto das cidades nas
VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino‐americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis ‐ Vitória – ES ‐ BRASIL ‐ 7 a 9 de setembro de 2011 mudanças climáticas, Newman et al. (2009) entendem que as mudanças necessárias para o desejado
cenário das cidades resilientes – que suportam os serviços dos ecossistemas e a equidade social – não são
meras substituições tecnológicas e sim mudanças paradigmáticas nas esferas econômica, dos sistemas de
infraestruturas e dos modos de gestão urbana, entre outras.
Para Downton (2007), o propósito das cidades com vistas ao suporte e restauração continuada dos
processos que mantém a vida no planeta deve ser o de minimizar a pegada ecológica (biofísica) e
maximizar o potencial humano (ecologia humana). Este propósito encontrar-se-ia embutido no termo
“ecopolis” ou cidade ecológica e, sob esta perspectiva, a criação de ambientes urbanos sustentáveis e em
equidade social requer que as cidades reflitam as especificidades das pessoas, lugares e tempos, ou seja,
abriguem a cultura humana que conscientemente ofereça aquele suporte. Para o desenvolvimento das
ecopolis, Downton propõe princípios classificados nas realidades biofísica e biossocial dos lugares
(Quadro 3).
PRINCÍPIOS BIOFÍSICOS
PRINCÍPIOS BIOSSOCIAIS
RESTAURAR TERRITÓRIOS DEGRADADOS
CONTRIBUIR PARA ECONOMIA LOCAL
ADEQUAR-SE À BIO-REGIÃO
PROPORCIONAR SAÚDE E SEGURANÇA
EQUILIBRAR DESENVOLVIMENTO
INCENTIVAR SENTIDO COMUNITÁRIO
CRIAR CIDADES COMPACTAS
PROMOVER JUSTICA E EQUIDADE
APERFEIÇOAR DESEMPENHO ENERGÉTICO
ENRIQUECER HISTÓRIA E CULTURA
QUADRO 3: Classificação dos princípios biofísicos e biossociais. Fonte: Downton (2007)
Neste sentido, situar o projeto do ambiente construído verdadeiramente na ótica das realidades biofísica e
biossocial dos lugares requer maneiras mais sustentáveis de se viver e de se fazer cidades. Downton
(2007) propõe ainda quatro proposições que resumem as condições necessárias para o alcance das
ecopolis e que esclarecem as relações entrelaçadas entre cidade, lugar e cultura, e ecologia humana e
biofísica:
(1)Cidade-região: projetar de modo conscientemente relacionado ao contexto regional;
(2)Conhecimento integrado: conceitos, princípios e técnicas necessários já existem, falta apenas serem
efetivamente considerados sob visão holística;
(3)Mudança cultural: fortes estruturas culturais devem reconhecer interdependência social e ecológica a
fim de vencer a inércia profunda no poder público;
(4)Fractais culturais (urbanos): projetos demonstrativos, ainda que pequenos, podem catalisar mudança
cultural, mas dependem de comunidades conscientes e democráticas para traduzir ideias na prática, por
meio de um alto grau de participação no processo de projeto, implementação e manutenção.
Considera-se que os critérios do ILBI (2010) e as proposições de Downton (2007), tomados de modo
complementar, resumem as intenções das demais abordagens aqui apresentadas e agregam aos conceitos
humanizadores em Barros (2011) com vistas ao aprimoramento conceitual almejado. Procede-se, a seguir,
à apresentação de projetos exemplares e análise de estudos de caso sob as referidas abordagens.
3. OS PROJETOS EXEMPLARES E ESTUDOS DE CASO
Buscou-se por projetos exemplares daquelas abordagens e derivações conceituais que pudessem também
suscitar outros conceitos e parâmetros relevantes para o processo de projeto. A busca se deu no âmbito
nacional e internacional e não se restringiu àqueles que necessariamente tenham sido premiados, mas sim
àqueles que tenham sido efetivamente construídos. Até o momento, foram identificados e levantados os
VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino‐americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis ‐ Vitória – ES ‐ BRASIL ‐ 7 a 9 de setembro de 2011 dados de projetos exemplares nos seguintes países: Portugal, Inglaterra, França, Áustria, Dinamarca e
Austrália. Dentre eles, foram selecionados para o presente trabalho os conjuntos habitacionais Slagelse
Kommune na Dinamarca e Christie Walk na Austrália, apresentados e analisados na seqüência.
3.1. Projeto Slagelse Kommune
Em área central e extensa de cerca de 13 ha, o projeto urbano de renovação ecológica Slagelse Kommune
teve sua origem em 1984 quando a área foi designada pelo governo local para a iniciativa pioneira na
cidade. O distrito onde se insere o projeto apresenta uso misto consolidado e integra alto grau de
variedade tipológica. O projeto inclui novas edificações, algumas demolições e a renovação de existentes
totalizando cerca de 700 UHs (54UHs/ha), com a inserção de moradias para idosos, escola e outros
equipamentos comunitários, horta comunitária com compostagem do lixo orgânico e com a transformação
de espaços externos individuais residuais e de uma rua (antes usada para estacionamento) em ricos
espaços para convivência comunitária e educação ambiental. De promoção público-privada, a iniciativa
contou também com o apoio de outros órgãos governamentais federais. Equipes multidisciplinares
coordenaram iniciativas ecológicas diversas incorporando tecnologias, métodos e experiência acumulada
em conservação e fornecimento de energia, renovação de edifícios, manejo de resíduos e melhoramento
do tráfego, entre outros. A implementação em fases mostrou-se benéfica visto que as diferentes iniciativas
puderam ser testadas em diferentes momentos. A publicação de um catálogo de idéias estimulou a
discussão sobre ecologia urbana entre moradores, proprietários e empreendedores, ilustrando as várias
possibilidades e focando especialmente em: áreas privativas (energia, água, resíduos, materiais, jardins),
áreas públicas (arranjo geral, resíduos, espaços verdes, edificações para uso comum) e ruas (tráfego e
divisas), com o objetivo de: acumular conhecimento e experiência para futuras renovações; reforçar usos
diferentes e combinados já existentes na área; assegurar a preservação de edificações; assegurar projeto e
escolha de materiais apropriados às edificações existentes; desenvolver áreas urbanas para uso comum;
criar condições para traffic calming (SLAGELSE, s.d.).
FIGURA 1: Projeto Slagelse Kommune, Slagelse, Dinamarca. Fonte: SLAGELSE (s.d.)
3.2. Projeto Christie Walk
A vila urbana Christie Walk insere-se em área adensada na parte sudoeste do centro de Adelaide e foi
projetada e construída entre os anos de 1999 e 2006 com o objetivo de demonstrar os processos e
princípios da Urban Ecology Australia-UEA (associação para educação ambiental sem fins lucrativos),
compondo estrutura conceitual estratégica maior para a futura ecocidade Whitmore Square. A iniciativa
teve a intenção de estabelecer parâmetros para um projeto capaz de demonstrar aspectos físicos e
organizacionais de empreendimentos comunitários e ecológicos. A vila totaliza 27 UHs em 0,2ha
(135UHs/ha) e inclui: sobrados agregados de 3 pisos, apartamentos em blocos de 3 e 5 pisos com salão
multiuso no térreo e casas individuais, e abriga uma diversidade de faixas etárias. O programa pautou-se
na conservação da água e energia, reciclagem e reuso de materiais e alto desempenho geral aliado à
criação de espaços públicos saudáveis e amigáveis, sempre com a participação dos usuários no processo
de projeto e de implementação (CHRISTIE WALK, s.d.; CHRISTIE WALK ECOCITY, s.d.).
VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino‐americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis ‐ Vitória – ES ‐ BRASIL ‐ 7 a 9 de setembro de 2011 N
RUSSELL STREET
STURT STREET FIGURA 2: Projeto Christie Walk, Adelaide, Australia. Fonte: CHRISTIE WALK (s.d.)
3.3. Análise dos estudos de caso
SAÚDE
ENERGIA
ÁGUA
LUGAR
A seguir, apresenta-se a avaliação do Slagelse Kommune (Quadro 3) segundo os critérios do ILBI.
Rede de espaços externos foi configurada a partir da extração de trechos de lotes privativos descontínuos a fim
de proporcionar áreas para atividades externas, lazer e interação da comunidade. Ao longo do processo, a
comunidade incorporou uma variedade de funções e soluções para o local. Série de caminhos interligados
proporciona acesso aos fundos de lotes privativos ao mesmo tempo em que cria a rede de espaços externos para
o desfrute de todos os moradores, providos de jardins que contrastam de modo agradável com os edifícios.
Aquela rede conecta ambientes cada qual com seu caráter e atividades próprios. Portais treliçados e pérgulas
indicam transição para espaços coletivos. Foram criadas oportunidades para produção de alimentos: estufa
comunitária; galinheiros; hortas comunitárias e privativas; aglomerados de árvores frutíferas; plantas
controladoras de pragas e outras variedades comestíveis. Circulação de pedestres é elemento organizador.
Atividade da rua é captada para interior dos espaços externos por caminhos, e atenção significativa foi dedicada
à estética e deleite dos pedestres. Sistema público de transporte eficiente diminui dependência no carro
individual (proximidade estação trem), bem como a proximidade a serviços e oportunidades de trabalho. Rua
antes usada como estacionamento é remodelada para interação humana.
Redução do consumo e facilitação da infiltração e captação de água da chuva foram implementadas apesar da
conexão pré-existente ao sistema municipal de água e esgotos. Tanques para armazenamento e coleta a partir
das coberturas para uso na irrigação, lavagem de carros e lazer; parte dessa água é direcionada a lago (80m3)
próximo à estufa; nível do lago é regulável conforme necessidade; água do lago é bombeada na cascata, corre
por riacho e é filtrada pelo solo.
Energia relativamente eficiente e econômica proporcionada pela conexão pré-existente à rede municipal
desencorajou investimento maior em sistemas renováveis. Redução consumo energético desde construção à
manutenção das áreas comuns: lâmpadas econômicas e timers; massa térmica paredes e piso da estufa com
ventilação induzida por calor gerado por painéis fotovoltaicos; iluminação externa e de caminhos energizada
por painéis fotovoltaicos; bomba d’água da cascata energizada por células solares; ponto para recarga de carros
elétricos subsidiado pela municipalidade. Edificações: metais de fluxo reduzido; esquadrias de alto desempenho
térmico; isolamento adicional para coberturas; aquecimento passivo por meio da adição de balcões
envidraçados, que também aumentam área interna e contato com exterior; UHs tem aquecimento solar de água.
Criação de micro-clima em pátio melhora condições de crescimento para plantas e proporciona ambiente mais
agradável. Vegetação foi escolhida e posicionada para reduzir velocidade dos ventos e estabilizar umidade do ar
e temperaturas. Diversos biótipos foram criados: riacho e lago, grupos frutíferos, ninhos para pássaros,
recuperação de espécies nativas para atrair vida, e interligados para estabilizar o habitat. Vegetação existente foi
mantida e nova vegetação nativa adicionada, incentivada pelo uso de pérgulas, treliças e cobertura vegetal.
VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino‐americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis ‐ Vitória – ES ‐ BRASIL ‐ 7 a 9 de setembro de 2011 ESTÉTICA
EQUIDADE
MATERIAI
S
Materiais do local foram cuidadosamente reciclados: estruturas demolidas proporcionaram agregados e tijolos
para preenchimento e revestimento; tijolos e concreto moídos foram aproveitados como contrapiso para
caminhos; paredes da estufa receberam isolamento de poliestireno reciclado. Materiais novos foram
selecionados por durabilidade e facilidade de reciclagem. Programa comunitário para resíduos inclui triagem,
compostagem local e alto grau de reciclagem: containeres e áreas (grande e pequena) para compostagem,
triturador e moedor, estações para triagem de vidro, plástico e papel.
Diversidade social reflete-se na variedade tipológica: moradia individual, para idosos, jovens, portadores de
desvantagens e famílias. Parte das UHs comporta home offices e são flexíveis. Moradia é apoiada por
comodidades que sustentam sentido de comunidade e permitem economia de tempo e gastos. Arranjo compacto
permite maior acessibilidade e identidade para conjunto e espaços comuns. Espaços sociais integrados, como o
centro para idosos, facilitam interação entre idades. Participação e entendimento dos moradores desde o
processo de projeto possibilitou sucesso na execução bem como na pós-ocupação e refletem-se no uso,
manutenção e eventuais expansões e modificações dos espaços, edificações e biótipos. Gestão comunitária
reflete mistura de pessoas, níveis de renda, idades, relação de posse. Áreas de uso comum são flexíveis.
Experiência sensorial no distrito foi aprimorada: remodelação da Rua Valdemarsgade; túneis verdes sobre parte
dos caminhos que levam aos espaços coletivos; séries conectadas de ambientes verdes, cada qual com seu
caráter, dimensão e função. Priorizar lazer e interação humana na rua remodelada requereu: repavimentação,
canais drenantes e diferenciação nas divisas para maior identidade; redução do limite de velocidade; plantação
de árvores para acalmar tráfego; redução de vagas do estacionamento ao sul, favorecendo luz natural ao norte
para lazer e interação humana; inserção de protetores removíveis para controlar tráfego; inserção de treliças
entre edificações para reforçar limites e enquadramento verde. Entendimento dos aspectos ecológicos do
projeto foi alcançado por programa intenso de informação e instruções de manutenção, aconselhamento e
participação cidadã. Manutenção da rua remodelada é de responsabilidade coletiva e os custos rateados
proporcionalmente à metragem das propriedades. Locatários não votam, porém participam das atividades.
QUADRO 3: Avaliação do Slagelse Kommune segundo os critérios do ILBI.
SAÚDE
ENERGIA
ÁGUA
LUGAR
A seguir, apresenta-se a avaliação do Christie Walk (Quadro 4) segundo os critérios do ILBI.
O projeto cria espaços externos para uso coletivo que privilegiam os pedestres e o paisagismo produtivo.
Produção local de alimentos em horta comunitária.
Redução da dependência do automóvel individual dada a inserção urbana central: proximidade a transporte
público eficiente e a diversos equipamentos públicos e serviços.
Reciclagem da água da chuva reduz dependência da rede municipal de abastecimento. Água é armazenada
em tanques de 20 mil litros no subsolo e canalizada para as UHs, onde é utilizada para descarga dos vasos e
irrigação dos jardins.
Tratamento inovador de efluentes interligado à irrigação de parque nas proximidades.
Estratégias bioclimáticas incluem aquecimento, resfriamento e controle da umidade por meio do
aproveitamento de ventos, luz solar e vegetação. Projeto solar passivo, aquecimento solar da água, painéis
fotovoltaicos, uso de materiais de alta capacidade de isolamento e baixa energia incorporada e tetos verdes
diminuem demanda energética das UHs.
Vegetação local contribui para a agradabilidade ambiental. Jardim com horta na cobertura do bloco de UHs
agrega espaço externo para os moradores, coleta água da chuva e proporciona isolamento do calor da
cobertura para as UHs abaixo. Videiras nas varandas proporcionam sombra no verão e, no inverno, permitem
entrada da luz do sol nas UHs. Ventilação das UHs é controlada por correntes de ar natural. Ar fresco
resfriado pela vegetação próxima circula através das janelas posicionadas próximas ao piso forçando o ar
interno para as aberturas altas (efeito chaminé), proporcionando ar interno saudável e dispensando o ar
condicionado. Todavia, algumas UHs utilizam ventiladores no teto. A recusa por produtos contendo toxinas
nocivas à saúde humana e ambiental e a diminuição do condicionamento artificial do ar contribuem
sobremaneira à saudabilidade dos espaços interiores.
VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino‐americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis ‐ Vitória – ES ‐ BRASIL ‐ 7 a 9 de setembro de 2011 MATERIAIS
ESTÉTICA EQUIDADE
Na Austrália as edificações são projetadas para durar 25 anos, enquanto em Christie Walk foram projetadas
para durar 100 anos. Internamente, materiais são livres de formaldeído e pisos das UHs são cobertos com
linóleo ambientalmente correto, enquanto outros são de bambu. Uso de PVC é mínimo e madeira usada é de
reflorestamento. Todas as esquadrias e portas são de madeira reciclada e possuem vidro duplo. Paredes
externas e internas são de concreto poroso de densidade que permite alta inércia térmica, reduzindo
flutuações de temperatura e conseqüente consumo energético. Este concreto utiliza grande quantidade de
cinzas (resíduos de estações de energia), reduzindo um maior consumo de cimento. Paredes utilizam palha
local que retém calor acumulado por revestimento externo. Todos os pisos são de concreto com alta
capacidade térmica, possibilitando aos moradores o máximo proveito do efeito do aquecimento solar passivo.
Porção da cidade onde se insere a vila urbana caracteriza-se por mistura de usos, diversidade cultural e baixo
nível de renda familiar. Moradores participaram do processo de projeto incorporando suas diversas
necessidades individuais e coletivas, sendo que todas as decisões integraram considerações ambientais.
Projeto conseguiu abrigar diversidade social. Planejamento, execução e manutenção das hortas comunitárias
foram e são conduzidos pelos moradores, estabelecendo processo de ajuda mútua.
Todos os envolvidos no projeto, execução e manutenção da vila puderam e podem adquirir a consciência de
que preservar, criar e conservar ambientes sustentáveis requer a integração de todos os aspectos: sistema de
ventilação não é fator vital apenas no projeto da fachada das edificações, e vegetação não é apenas uma
camada extra, ambos os aspectos interagem no projeto bioclimático e foram considerados desde o início.
QUADRO 4: Avaliação do Christie Walk segundo os critérios do ILBI.
O projeto Slagelse Kommune apresenta sintonia aos critérios do ILBI (2010), sendo que todas as pétalas e
boa parte dos imperativos foi contemplada. No que diz respeito aos imperativos relacionados à água e
energia, apesar do grande empenho na redução do consumo de ambos e na facilitação da drenagem da
água pluvial, não se constatou uma ênfase e investimento ao ponto de se alcançar autonomia em relação
às redes municipais. A iniciativa confirma as proposições de Downton (2007): a renovação ecológica
harmoniza-se às pré-existências do distrito e especificidades da região; o conhecimento interdisciplinar
existente é utilizado no projeto de modo holístico; o programa intenso de informação e participação
cidadã foi determinante para o sucesso da implementação; o projeto constituiu iniciativa pioneira e
influenciadora de propostas subseqüentes naquele país podendo, portanto, ser considerado um fractal
urbano (fração de ecocidade). Sob a ótica humanizadora (BARROS, 2011) constata-se sintonia aos
conceitos do Senso de Urbanidade: Sensibilidade ao ambiente construído e natural existente é
significativa visto que o projeto de renovação ecológica aprimorou o sítio ao transformar espaços
residuais de pouco uso em espaços coletivos dinâmicos e mais verdes, bem como ao intensificar o
entrelaçamento ao lugar por meio de caminhos e espaços de transição no nível do solo. Caminhos
estruturantes captam a atividade das ruas incrementando a Conectividade e a Legibilidade, e são
diferenciados materialmente e por demarcações de entrada que contribuem para a Identidade (com
especial ênfase à Rua Valdemarsgade remodelada). Identidade também é aprimorada pela maior definição
dos quarteirões agora mais adensados e pela vegetação que caracteriza os novos espaços coletivos, e a
identificação das pessoas com o lugar também se dá pela efetiva inclusão da diversidade social aqui
alcançada. Faltam mais dados para considerações acerca do Senso de Habitabilidade (escala das UHs).
Em outra escala de intervenção, também se pode constatar no Christie Walk a contemplação dos critérios
do ILBI (2010) bem como das proposições de Downton (2007), visto que o projeto exemplifica: que uma
fração de cidade pertence à sua região; que já existe o conhecimento necessário para o projeto que integra
tecnologias sustentáveis (construção saudável, manejo da água, energia renovável, inovação no
tratamento de efluentes), incentiva a vida em comunidade por meio da forma urbana e densidade bem
como a redução do uso do transporte individual; que a força propulsora para ecocidades depende de
processos democráticos e cidadãos conscientes e ativos; que um pequeno fractal urbano pode demonstrar
aspectos essenciais que contagiam novas propostas. Sob a ótica humanizadora (BARROS, 2011) Christie
Walk apresenta sintonia aos conceitos da categoria Senso de Urbanidade: a Sensibilidade ao ambiente
construído e natural existente se expressa na busca pela autonomia bem como na contribuição para a
regeneração ambiental. O projeto também intensifica o entrelaçamento ao lugar ao garantir o contato das
pessoas do lado interno com a cena exterior por meio de ambientes semi-abertos ao longo dos limites das
VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino‐americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis ‐ Vitória – ES ‐ BRASIL ‐ 7 a 9 de setembro de 2011 edificações. Materiais de acabamento, cores e uso da vegetação destacam o conjunto em relação ao
entorno. Aliados à inclusão de diversidade social e ao significado emblemático da iniciativa conduzida
pela UEA, que contou com a efetiva participação dos moradores, dotam o conjunto de excepcional
Identidade. Ainda que faltem dados para a análise conceitual do Senso de Habitabilidade, a escala das
UHs se caracteriza por notável diversidade tipológica, pela ênfase no uso de materiais apropriados e no
conforto ambiental das UHs, todas dotadas de dupla orientação.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tomados de modo complementar, os critérios do ILBI (2010) e as proposições de Downton (2007)
agregam aos conceitos humanizadores em Barros (2011) com vistas ao aprimoramento conceitual
vinculado ao projeto da habitação coletiva e de seus territórios. Os percursos teórico-conceituais interrelacionados em investigação abrangendo a relação com o lugar e as pessoas, incluindo suas necessidades
de convívio, proteção e a perspectiva da diversidade, encontram respaldo nas abordagens identificadas.
Por sua vez, aqueles percursos se refletem em projetos da habitação coletiva amigos da natureza e das
pessoas no desenvolvimento das cidades, reunindo preceitos sustentáveis da ecologia à vida em
comunidade. Os projetos exemplares em investigação, especialmente os estudos de caso aqui analisados,
contribuem para o incremento e ilustração das abordagens teóricas. Muito embora as especificidades e
diferentes escalas de intervenção, Slagelse Kommune e Christie Walk demonstram diferentes soluções de
projeto que se adicionam às identificadas nos demais projetos em investigação contribuindo, assim, para a
ilustração e aprimoramento das abordagens em estudo com vistas ao habitar mais humano e sustentável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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AGRADECIMENTOS
R.R.M.P.B. agradece à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo-Fapesp pelo apoio a esta pesquisa.
VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino‐americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis ‐ Vitória – ES ‐ BRASIL ‐ 7 a 9 de setembro de 2011 

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