BASE INDUSTRIAL DE DEFESA, BANDEIRA DO CLUBE NAVAL

Transcrição

BASE INDUSTRIAL DE DEFESA, BANDEIRA DO CLUBE NAVAL
Issn 0102-0382 • ano 121 • Nº 368 • out/nov/dez • 2013
base
industrial
de defesa,
bandeira
do clube
naval
Revista do Clube Naval • 368
1
Nesta edição:
cenários
prospectivos •
Pág. 8 • Dando
continuidade às palestras
do seminário “Guerra
Naval do Futuro: Desafios
e Perspectivas”, realizado
na Escola de Guerra
Naval (EGN), em junho
deste ano • Prof.
Eduardo Italo Pesce
4 editorial
a coluna central da defesa
6 EM PAUTA
• Notas sobre eventos e comemorações do CN
8 poder naval (guerra naval do futuro)
cenários prospectivos
• Prof. Eduardo Italo Pesce.
14 defesa (base industrial de defesa)
medidas viabilizadoras
• V Alte (Ref-EN) Marcílio Boavista da Cunha
a vitória
de copenhague •
Pág. 30 • A divergência
entre Bohr e Einstein
quanto à interpretação
da Macânica Quântica
• CMG (Ref) Paulo
Roberto Gotaç
17 defesa (base industrial de defesa)
desenvolvimento nacional:
a contribuição da Rockwell collins do brasil
• Eng. Fernando Ykedo
20 defesa (base industrial de defesa)
o líder militar (Vencedor do concurso “Liderança 2013”)
• Asp Pedro Henrique de Barros Moraes
22 história naval
os submarinos do brasil:
dos primórdios até o submarino nuclear
(Vencedor do concurso “História 2013”)
• Asp João Herbert Pontes Teixeira
26 economia
finanças do município do rio:
suporte ao novo modelo de gestão
• Econ. Marco Aurelio Santos Cardoso
barcelona. arte a
céu aberto • Pág.
40 • A viagem dessa
edição nos mostra a
maravilhosa capital da
comunidade autônoma
da Catalunha • CC (T)
Rosa Nair Medeiros
30 física
a vitória de copenhague
• CMG (Ref) Paulo Roberto Gotaç
37 alocução
71 anos da criação da força naval do nordeste
• CMG (RM1) Francisco Eduardo Alves de Almeida
40 viagens
barcelona. arte a céu aberto
• CC (T) Rosa Nair Medeiros
48 crônica
viajar ou não viajar: eis a questão
• V Alte (Ref) Luiz Sérgio Silveira Costa
Viajar ou não
viajar: eis a
questão • Pág. 48
• Duas matérias
seguidas sobre os prós,
os contras e as peripécias,
comuns às viagens •
V Alte (Ref) Luiz Sérgio
Silveira Costa
53 espaço cultural da marinha
um passeio pela história
• Jorn. Ray dos Anjos
56 conto histórico
o poder (minhas pratas!)
• C Alte (Ref) Domingos Castello Branco
62 reflexão
gentileza gera gentileza
• Claudio Fabiano de Barros Sendin
64 marinhagens
flagrantes da vida naval
• CF (Ref) Celso de Mello Franco
66 serviços da mb
sorria. você está sendo identificado
• CMG (CD) Harley Pessanha Santos
70 serviços da mb
caixa de construções de casas para o
pessoal da marinha (cccpm)
• CF (S) Orília de Oliveira Silva
73 governos militares
você sabia?
• CC (Ref-IM) Antônio Tângari Filho
2
Revista do Clube Naval • 368
74 última página
opinião do leitor – Cartas dos leitores
Revista do Clube Naval • 368
3
o poder (minhas
pratas!) • Pág. 56
• Um conto de
conteúdo essencialmente
verdadeiro, sobre a
prepotência do poder •
C Alte (Ref) Domingos
Castello Branco
A COLUNA
CENTRAL DA
DEFESA
A
s Forças Armadas não são
responsáveis por assegurar
a Defesa Nacional. É o que
consta no Artigo 21 da Constituição Federal.
É chegado o momento
histórico de trazer a nação brasileira
para o debate acerca da Defesa. Não
há Defesa possível sem aviões, navios,
foguetes, comunicações, alimentos,
transporte, hospitais, tecnologia, procedimentos, estruturas. Tudo isso está
muito além das Forças Armadas.
Não há Defesa possível sem indústria de Defesa, sem tecnologia, e sobretudo sem vontade nacional.
A Defesa Nacional é responsabilidade da União, e toda a Nação Brasileira dela participa. Não há lugar para a
•••
ingenuidade nesse campo.
O nosso momento histórico é de
emergência. Temos imensas vulnerabilidades em todos os aspectos relativos à
Defesa. Da indiferença à incompetência,
passando pela corrupção.
O recente episódio de espionagem
sofrido pelo Brasil é um importante alerta
para todos.
Há, todavia, excelentes iniciativas
em andamento no nosso país, e esta
revista tem feito um bom trabalho para
informá-las com motivação. Temos entusiasmo em documentar os esforços na
solidificação da Base Industrial de Defesa, no debate sobre a Guerra Naval do
Futuro, e no esforço que a Marinha vem
fazendo para desenvolver e gerenciar
seus grandes projetos.
As Forças Armadas, em verdade, são
a coluna central na Defesa do Brasil.
Zelemos por elas.
Clube Naval
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•••
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•••
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ALMOÇO ANUAL DE CONFRATERNIZAÇÃO DA AVIAÇÃO NAVAL • Realizado no dia 10
de outubro, no Salão dos Conselheiros da Sede Social, o tradicional almoço anual contou com a presença
do mais antigo Aviador Naval, Alte Esq (Ref-FN) Carlos Albuquerque. Prestigiando também o evento, o Alte
Esq (Ref) Mauro César Rodrigues Pereira, ex-Ministro da Marinha, o Maj Brig do Ar Wilmar Terroso Freitas,
Presidente da ABRAPAT, além de ex-Comandantes da Força Aeronaval, Esquadrões de Helicópteros e representantes de empresas do setor de aviação. O Capitão-de-Fragata Augusto José da Silva Fonseca Júnior,
apresentou o programa de modernização das aeronaves A-1, que está sendo realizado pela EMBRAER.
eventos e
comemorações
do clube naval
GRUPO DE INTERESSE EM MÚSICA • Com
uma exibição em DVD do musical/balé O Quebra Nozes, o CMG (Ref-IM) Haroldo Belém, Coordenador do
Grupo de Interesse em música, encerrou as atividades
de 2013. Durante o ano, foram realizadas várias palestras: Comemoração de 150 anos de Ernesto Nazareth, O Fantasma da Ópera, 200 anos de Wagner e
Giuseppe Verdi, e outras.
Programa Cultural • O programa cultural realizado no dia 4 de dezembro no Salão dos Conselheiros, reapresentou os Jovens Há Mais Tempo, com "Natal Cigano", sob a
direção de Theca de Castro.
Na segunda parte do evento, o diretor e ator Antunino organizou um jogral com convidados. Momento de agradável convívio, com a presença de numeroso público, que dançou, cantou
e se encantou com a beleza da Sede Social.
Bacalhau do Presidente • Dia
10 de dezembro, o Presidente do Clube Naval V Alte (Ref-FN) Paulo Frederico Soriano
Dobbin, na foto acompanhado do Presidente do Conselho Fiscal, CMG (Ref-IM)
Haroldo Rodrigues da Cunha Fonseca e do
Presidente do Conselho Diretor, V Alte (Ref)
Mario Augusto de Camargo Ozório, celebrou
com os sócios a tradicional confraternização
de final de ano, o “Bacalhau do Presidente”,
brindando a todos com votos de felicidades
e de próspero Ano Novo.
eventos e
comemorações
do clube naval
Doação de Espadas a aspirantes da Escola
Naval • A cerimônia de Doação de Espadas foi realizada dia 25 de
novembro, no Salão dos Conselheiros da Sede Social, presidida pelo
V Alte (Ref-FN) Paulo Frederico Soriano Dobbin, Presidente do Clube Naval. Foram entregues espadas aos aspirantes da turma 2013.
Almoço GEDA • Contando
com as presenças do atual Presidente do Clube Naval, V Alte (Ref-FN)
Paulo Frederico Soriano Dobbin e do
seu antecessor V Alte (Ref) Ricardo
Antonio da Veiga Cabral, foi realizado
no dia 25 de novembro, o almoço de
confraternização anual pelo 17º aniversário do GEDA (Grupo de Estudos
para o Desenvolvimento da Administração), coordenado pelo CMG (Ref)
José da Cunha Faria, no Salão Nobre
da Sede Social.
Encontro de corais natalinos “Clássicos
de Natal de todos os tempos” • Dia 12 de dezem-
bro aconteceu o I Encontro de Corais Natalinos, no Salão Nobre.
Na abertura, apresentou-se a harpista Dharana Marum, logo após
o anfritião – o Coral do Clube Naval – regido pela maestrina CMG
(RM1-S) Sylvia Orazen, seguido do Coral Feminino de Oficiais da
Marinha e do Coral Sagrada Família da paróquia de Nossa Senhora
de Copacabana e Santa Rosa de Lima. Fechando a noite, apresentou-se o Coral da Associação de Mantenedores da Petros do Rio de
Janeiro – AMBEP-RIO. O encerramento do evento se deu com um
parabéns pelo 3° aniversário do Coral do Clube Naval.
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77
FuTuRO
poder naval
GUERRA
GUERRA
NAVAL
NAVAL
DO
DO FUTURO
FUTURO
guerra naval: presente e futuro
CENÁRIOS
PROSPECTIVOS
EDUARDO ITALO PESCE*
Este artigo apresenta um resumo da palestra proferida pelo
autor no seminário “Guerra Naval do futuro: Desafios e
Perspectivas”, realizado na Escola de Guerra Naval (EGN) no
dia 7 de junho de 2013, cuja síntese foi recentemente publicada
nesta Revista, em artigo do Vice-Almirante (Ref-EN) Marcílio
Boavista da Cunha (ver RCN nº 366, abr./jun. 2013, págs. 14-17).
O trabalho preparado pelo autor para aquele seminário,
que serviu de base a este artigo, encontra-se disponível no
sítio oficial da EGN no endereço http://www.egn.mar.mil.br/.
C
onsidera-se um horizonte de 20
anos no futuro, abrangendo o
período que se seguirá ao Plano
de Articulação e Equipamento de
Defesa (PAED), que consolida os
projetos estratégicos das Forças
Armadas para o período 2012-31. O planejamento orçamentário da Marinha do Brasil
visa a coordenar os esforços de aplicação de
recursos para renovação do Poder Naval, de
acordo com perspectivas de curto (até cinco
anos), médio (cinco a 20 anos) e longo prazo
(20 anos ou mais). Para designar tais perspectivas, empregam-se as denominações
“Marinha atual”, “Marinha do amanhã” e
“Marinha do futuro”. O escalonamento de
prioridades de planejamento, dentro destes
três horizontes temporais, não é exclusividade de nossa Marinha. Na Marinha dos
Estados Unidos, por exemplo, é empregada
metodologia análoga.
A figura da página ao lado (mesma
usada na RCN nº 366) procura mostrar, de
forma ilustrativa, tal metodologia de planejamento, visando ao preparo do Poder Naval.
As três curvas no gráfico mostram que os
planejamentos de curto, médio e longo prazo
devem ser superpostos e integrados, a fim
8
de assegurar a continuidade do processo. No
curto prazo (forças de hoje), a ênfase será no
aprestamento dos meios disponíveis ou em
vias de ser incorporados. No médio prazo
(forças do amanhã), será nos programas de
obtenção e aquisição de meios. No longo
prazo (forças do futuro), terá que ser em
Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I).
Atualmente existem no mundo dois
modelos conceituais de defesa. O primeiro,
característico dos Estados Unidos e de seus
principais aliados anglo-saxões, baseia-se
na supremacia militar sobre quaisquer possíveis adversários. O segundo, que pode ser
associado à França e a países sem ambições
hegemônicas, baseia-se na dissuasão e visa
a desencorajar agressões pelo aumento do
patamar de risco, para um possível adversário, de qualquer ação militar. Uma postura
estratégica baseada na dissuasão é adequada a uma potência média com interesses de
âmbito mundial, como o Brasil. Entretanto, a
salvaguarda da soberania e a promoção dos
interesses nacionais de um Estado soberano
requerem flexibilidade e adaptabilidade.
Os interesses do Brasil no mar não
estão limitados à área vital, constituída
pela “Amazônia Azul”. A área primária de
influência do Poder Naval brasileiro abrange
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esforço
A Escola de Guerra Naval, acatando assessoria do Conselho do Centro de Estudos Político-Estratégicos
(CEPE), decidiu incluir na sua grade de estudos o tema “Guerra naval do futuro”.
Nesse sentido, promoveu no dia 7 de junho de 2013, no Auditório Tamandaré, o primeiro seminário sobre
o assunto, intitulado “Guerra naval do futuro: desafios e perspectivas”, nomeando o autor deste artigo como
moderador. O Clube Naval publica, no interesse do programa do Departamento Cultural para assuntos
de cultura profissional, a síntese do que foi tratado no seminário.
como em outras áreas marítimas de interesse
curto prazo
Médio prazo
futuro
forças atuais
Programas de aquisições
ciência e tecnologia
forças de
hoje
forças de
amanhã
forças do
futuro
se tornarão multidimensionais, podendo
nacional, dissuadindo ameaças e atuando na
opor os meios navais a simultâneos
segurança
marítima
ou em apoio
inimigos
de superfície,
submarinos,
ter- à política
externa.
Entretanto,
a
sua
verdadeira
“razão
restres, aéreos e espaciais, disputando
de ser”
sempre o emprego da
o controle
do deverá
espectro ser
eletromagnético.
Em linhas
o controle da informaforça gerais,
em combate.
ção se tornará cada vez mais importante, dando
margemIMEDIATO
à “dissuasão pela
FUTURO
informação”, a atividade de comando e
As tendências da Guerra Naval no futuro
controle aumentará em complexidade
imediato
pelo quadro gee a segurançasão
da determinadas
logística se tornará
opolítico
atual,
caracterizado
complexa e difícil, especialmente pela
a incerteza
e
pela
assimetria
do
poder.
proteção dos múltiplos componentesDesde o fim
da base
industrialFria”,
de defesa.
da “Guerra
a conjuntura estratégica
mundial caracteriza-se pela ausência de
segunda palestra
um antagonismo global dominante e pelo
A segunda palestra coube ao Copredomínio dos conflitos regionais, locais
mandante Brick, que esclareceu, inicialou irregulares,
envolvendo
atores estatais e
mente,
a estreita ligação
entre ciência,
não estatais.
A inexistência
de antagonismos
tecnologia,
inovação
(CTI) e capacidade
navaisedominantes
industrial,
alertou que: vem deslocando a ênfase
hoje
5 anos
20 anos
“Tecnologia
suficiente
para
no
empregonão
doéPoder
Naval
da guerra no
inovar!!!!
Ela
necessita
do
complemento
mar para a “guerra litorânea”, em operações
de recursos especiais (máquinas, ferrade tipo expedicionário.
mentas, instalações) que compõem uma infraestrutura produtiva!!!
construção/aquisição; e a guerra do futuro com os recursos ainda
O apoio a operações de paz ou a interA finalidade de uma
Marinha
é o comtodoemoprocesso
Atlântico
entre
a América do
Não existe
Inovação
sem forte capacidade industrial.”
de Sul,
pesquisa
e desenvolvimento.
venções
“humanitárias”
em países conflagrabate,do
ainda
que os meios
operativos
que sobre
a
Sul e aAÁfrica,
bem
parte
dodoOceano
A seguir,
discorreu
a aceleração
do desenvolvimento
noção de
quecomo
é preciso
cuidar
hoje sem descurar
amanhã
dos,
sob
os
auspícios
da
Organização das
da
CTI
e
a
dificuldade/impossibilidade
de
prever
o
futuro,
citando
e
do
futuro
não
é
nova
na
MB.
Já
a
incorporamos
no
planejamento
constituem tenham capacidade para atuar
Antártico. A área secundária, por sua vez,
Nações
Unidas
(ONU)
passou
a fazer parte do
os
fatos
de
que
“em
cada
oito
cientistas
que
já
existiram
desde
naval
há
bastante
tempo.
Antes
do
hoje,
há
uma
tradição
e
um
passaem situações nas quais o emprego da força
inclui o Mar do Caribe e parte do Pacífico Sul,
o
início
da
humanidade,
sete
ainda
estão
vivos
e
em
atividade”
do
a
ser
respeitado,
período
cuidado
pelos
historiadores.
Nos
tempos
dia
a
dia
das
Marinhas
de
inúmeros
países,
não ocorre. Sem prejuízo de sua capacitação
nas proximidades do litoral sul-americano.
e “a produção científica cresce,ao
hoje,
a do
uma
taxa anual
de cerca no mar, à
de hoje, dominam os operadores e mantenedores; na construção do
lado
combate
ao
terrorismo
para a Guerra Naval clássica, o Poder Naval
É essencial que o Brasil disponha de meios
7%, dobrando a cada 10 anos”.
amanhã, os gerentes de projetos e os engenheiros de construção; e
pirataria e a ilícitos transnacionais como tráfibrasileiro deve estar apto
a atuar
confli- tecnológicas
diversificados,
para
exercer
a
vigilância
e
a
Quanto
àsnos
tendências
com impacto na guerra
na preparação do futuro, os cientistas e pesquisadores.
co de drogas, armas ou pessoas. O emprego
assimétricos
XXI,
nosprevisão,
quais o apontou
defesa Sobre
da “Amazônia
Azul”,
além
de manter
naval, de
difícil
inicialmente para o acelerado
as tendências
para
a guerra
naval num tos
futuro
de 20 ou do Século
elementos do
Naval
“inimigo”
pode não ser
um Estado organizaa segurança
linhas marítimas
de que
comudesenvolvimento
da robótica,de
especialmente
emPoder
veículos
não pode incluir
mais anos,das
o professor
Pesce apontou
as operações
de combate
também
a
fiscalização
da
pesca
e a proteção
do. Nos períodos de paz, deve ainda garantir
nicação. Nosso país necessita de uma verRevista
do
Clube
Naval
•
366
15
dos
recursos
naturais
e
do
meio
ambiente,
a presença do Brasil nas águas jurisdicionais
dadeira Marinha oceânica, capaz de operar
nas
águas
jurisdicionais
de
cada
país.
que constituem a “Amazônia Azul”, assim
em toda a extensão do Atlântico Sul, assim
como em outros oceanos. Para justificar a
RCN
366 (Arte-final).indd
01.08.13 20:32:18
manutenção
de 15
uma Marinha com capaciO Navio-patrulha
dade oceânica, é preciso que suas unidades
oceânico Araguari,
efetivamente operem no exterior, em ações
recentemente incorporado
de emprego político do Poder Naval.
ao 3º Distrito Naval
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9
O predomínio das “novas ameaças” em
futuro imediato e dos conflitos assimétricos
não elimina a possibilidade de conflitos interestatais, motivados por interesses nacionais
em disputa. A escassez cada vez maior de
recursos naturais vitais poderá motivar conflitos pela posse de tais recursos, em terra
ou em áreas marítimas. No mar, poderão
ocorrer ações de emprego de força, em
decorrência de controvérsias a respeito de
limites de jurisdição sobre a Zona Econômica
Exclusiva (ZEE) e a Plataforma Continental, a
fim de obter acesso ao petróleo ou a outros
recursos naturais aí existentes.
As possibilidades e tendências citadas terão que ser consideradas pelo planejamento
estratégico de nossa Marinha. As tecnologias, os meios e os sistemas para a Guerra
Naval, com aplicação no futuro imediato, já
se encontram ou deverão estar em breve disponíveis. Fazendo uso de tais tecnologias, os
meios atualmente em fase de obtenção para
Marinha do Brasil provavelmente terão índice
de nacionalização modesto, incorporando
poucas inovações. Ainda assim, a perspectiva
de encomendas regulares, durante um período de tempo relativamente longo, deverá
facilitar a obtenção de uma economia de
escala e contribuir para a capacitação dos
diversos segmentos industriais de interesse
do Poder Naval.
A continuidade dos investimentos em
programas de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) de novas tecnologias com aplicação
militar permitirá ao Brasil obter a desejada
autonomia tecnológica, em setores estratégicos ligados à Defesa Nacional. Tais
tecnologias podem ser consideradas críticas,
pois delas depende o desenvolvimento de
diversas outras. Algumas tecnologias são
de duplo emprego (militar e civil), enquanto
que outras podem servir de base ao desenvolvimento de aplicações civis, por meio do
“arrasto tecnológico”. As indústrias de material de defesa são essenciais à renovação ou
manutenção de uma capacidade industrial
moderna e diversificada.
Uma escolta (acima)
e um navio de
propósitos múltiplos
(NPM), ambos
previstos no
PAEMB
cronogramas e os quantitativos de meios
previstos possam sofrer algumas alterações.
Tais programas deverão ter continuidade a
partir de 2032, quando estiverem disponíveis novas tecnologias aplicadas à Guerra
Naval, que afetarão as características e o
emprego dos meios operativos.
O controle da informação, estando aí
incluída a capacidade de Comando, Controle,
Comunicações, Computadores e Inteligência
(C4I), se tornará cada vez mais importante.
Talvez possamos até falar numa “dissuasão
pela informação”, do mesmo modo que, durante o período da “Guerra Fria”, se falava em
dissuasão nuclear. A capacidade de empregar
diferentes meios, para obter informação sobre
possíveis adversários e de negar-lhes acesso
à informação, poderá levar tais adversários a
desistir de ações militares, optando por meios
pacíficos para a solução de controvérsias.
A capacidade de obtenção e negação de
informação, à disposição da superpotência
hegemônica, vem sendo amplamente ilustrada pela imprensa internacional.
A Tecnologia da Informação (TI) aumenta
de modo exponencial com inúmeras aplicações militares a capacidade de atuação de
uma força que disponha de superioridade
neste setor. O comando e o controle das
forças tendem a se tornar mais complexos.
Todos os componentes de uma força naval
que opere dentro do conceito de “Guerra Centrada em Redes” (Network-Centered Warfare)
estão interconectados, sendo capazes de se
comunicar entre si em tempo real ou quase
real, para trocar dados ou informações. Esta
“rede” tanto pode incluir os navios de uma
força-tarefa como uma Marinha inteira, ou
até o conjunto completo das Forças Armadas
de um país ou de uma coalizão.
As redes e os sistemas se tornarão alvos
compensadores, pois bastará desabilitá-los,
por meio de ataques cinéticos (hard kill)
ou eletrônicos e cibernéticos (soft kill), para
incapacitar uma força. O emprego de redes
distribuídas e descentralizadas possibilitará
otimizar a estrutura das forças navais, e a
ênfase tradicionalmente atribuída às plataformas tenderá a diminuir. Os submarinos,
os navios de superfície e as aeronaves,
assim como os meios de fuzileiros navais,
constituirão “nós” de uma rede de dados
integrada. Essa rede deverá ser capaz de
continuar operando, mesmo degradada pela
perda de um ou mais nós.
A segurança da logística tende a se
tornar mais complexa e difícil. Isto incluirá a
proteção física da cadeia logística, constituída
por depósitos de suprimentos; infraestrutura
de transporte e distribuição; centros de manutenção e reparos; e fábricas de material.
Entretanto, deverá incluir também a proteção
da propriedade intelectual e do conhecimento. Os valiosos recursos humanos qualificados
também devem ser preservados.
poderão ser controlados de forma cooperativa, por diversos tipos de plataformas.
Ataques remotos (inclusive empregando
meios não tripulados) à distância se tornarão regra. Com a digitalização das forças, a
rede de informações do inimigo se tornará
alvo. A ênfase nas ações conjuntas e na integração resultará numa reestruturação das
forças navais. Alguns componentes (como
centros de comando e comunicações) que
hoje se localizam em terra poderão funcionar a bordo de navios. Mísseis balísticos
ou de cruzeiro de longo alcance, baseados
em terra, poderão ser empregados para
atacar alvos distantes no mar. O emprego
de plataformas de sensoriamento remoto,
baseadas no espaço ou no leito marinho,
se tornará indispensável.
Elementos da Força Aérea e do Exército
terão maior participação nas operações em
áreas marítimas no futuro. Em decorrência
disso, deverão ser aperfeiçoados os mecanismos de integração das forças num Teatro
de Operações (TO) marítimo, procurando
manter estruturas leves e ágeis. Para triunfar
nos combates da “guerra de informação”,
haverá necessidade de pessoal altamente
qualificado e motivado. Para um país como o
Brasil, a formação e o aperfeiçoamento desse
pessoal representarão enormes desafios.
MEIOS E SISTEMAS DE ARMAS
Entre as tecnologias inovadoras, de
interesse do Poder Naval, estão incluídas:
INFORMAÇÃO
NA GUERRA NAVAL DO FUTURO
Talvez tenhamos de falar em “controle
da informação” no futuro do mesmo modo
como falamos em controle de área marítima
ou em superioridade aérea. Uma força naval
que opere em rede poderá concentrar poder
de fogo sem concentrar meios. Seus navios
e submarinos poderão estar em pontos distantes de um oceano, ou mesmo em oceanos
diferentes. Suas aeronaves sobrevoarão mares
e continentes distantes, e seus satélites monitorarão o movimento das forças a partir do
espaço. O disparo e a direção de tiro de mísseis e outros armamentos de longo alcance
GUERRA NAVAL DO FUTURO
As tendências para a evolução da Guerra Naval num futuro de 20 anos ainda não
são claras, mas as mudanças que ocorrerão
deverão se refletir também no Brasil. Até
2031, os projetos estratégicos de articulação e equipamento de nossa Marinha são
aqueles que constam do PAEMB e do PAED,
embora os valores gerais estimados, os
10
Revista do Clube Naval • 368
propulsão nuclear de navios e submarinos;
sistemas de propulsão por supercavitação;
microeletrônica; “frtividade” (stealth); sensoriamento infravermelho; guiagem precisa de
mísseis e torpedos; satélites de vigilância e
comunicação; supercondutores; novos materiais; e laser de alta energia. Em nosso país,
o êxito no desenvolvimento das tecnologias,
dos meios e dos sistemas para a Guerra Naval
do futuro dependerá do acerto das decisões
de curto e médio prazo que vierem a ser
tomadas, para viabilizar a continuidade dos
investimentos na renovação e ampliação do
Poder Naval. Mesmo com restrições orçamentárias, os programas estratégicos de obtenção
de meios e de P&D devem ser preservados.
É desejável no futuro que os meios flutuantes de nossa Marinha sejam caracterizados
pela versatilidade, simplicidade e robustez,
assim como por um “custo de vida útil” compatível com a realidade orçamentária. Isto é igualmente válido com relação aos meios aéreos
e de fuzileiros navais. Talvez uma maneira de
conciliar quantidade e qualidade fosse adotar
um “high-low mix”, constituído por um número
limitado de meios sofisticados, capazes de desempenhar missões mais exigentes, apoiados
por um número maior de meios mais simples,
para missões menos exigentes.
O papel dos submarinos, especialmente
os dotados de propulsão nuclear, será ampliado no futuro. Armadas com mísseis e
torpedos capazes de realizar ataques precisos
contra alvos no mar ou em terra, tais unidades
Revista do Clube Naval • 368
Concepção do submarino
nuclear brasileiro e a comparação
a um convencional
11
serão complementadas por veículos submarinos não tripulados (Unmanned Underwater
Vehicles) para emprego em diversas missões.
Operados a partir de navios de contramedidas, tais veículos já vêm sendo usados há
algum tempo na remoção de minas. Os navios
de casco convencional serão complementados por diferentes meios de superfície não
convencionais. Isto incluirá navios multicasco,
hidrofólios e embarcações de colchão de ar,
além de veículos de superfície não tripulados
(Unmanned Surface Vehicles).
Além de aviões e helicópteros, os
meios aeronavais disponíveis no futuro
provavelmente incluirão veículos aéreos não
tripulados (Unmanned Air Vehicles), assim
como dirigíveis e outras aeronaves não convencionais. Conhecidos em português pela
sigla VANT, veículos aéreos não tripulados
de asa fixa ou rotativa, baseados em terra
ou a bordo de navios, são atualmente empregados na vigilância marítima e em várias
outras missões de apoio a forças navais.
No futuro, sistemas aéreos de combate não
tripulados (Unmanned Combat Air Systems)
poderão até mesmo integrar os grupos
aéreos embarcados nos navios-aeródromo
(NAe) das principais Marinhas.
Entre os meios empregados pelos
fuzileiros navais já estão incluídos vários
tipos de veículos terrestres não tripulados
(Unmanned Land Vehicles), que são empregados em diversas missões, inclusive na localização e remoção de artefatos explosivos.
O uso de meios não tripulados pelas Forças
Armadas, em especial para desempenhar
missões demasiadamente perigosas, longas
ou cansativas, é uma tendência que tende
a se ampliar. Os futuros armamentos e sistemas de armas incorporarão tecnologias
de ponta, cujo desenvolvimento requer
grande esforço e recursos consideráveis.
Não devemos esquecer que o acesso a tais
tecnologias, por países que não as possuem,
costuma ser negado pelos países detentores
desse conhecimento, lançando mão de
diversos mecanismos.
12
Revista do Clube Naval • 368
Revista do Clube Naval • 368
OUTRAS CONSIDERAÇÕES
Os investimentos na renovação e ampliação do Poder Naval brasileiro devem enfatizar
a área de CT&I, num horizonte temporal de 20
anos ou mais. O êxito dessa iniciativa dependerá do acerto das decisões que vierem a ser
tomadas nos próximos anos, para garantir a
continuidade dos programas de P&D de longo
prazo, assim como dos programas de médio
prazo para a obtenção de meios. No futuro
imediato, tais meios incorporarão tecnologias
disponíveis ou em fase final de desenvolvimento, mas sua construção no país deverá
contribuir para a consolidação da BID.
A possibilidade de confrontações armadas entre Estados soberanos não desapareceu. A escassez de recursos naturais poderá
resultar em conflitos interestatais, em terra
ou no mar, pelo controle de tais recursos. No
Século XXI, o Poder Marítimo continuará a
desempenhar papel fundamental, uma vez
que a economia mundial circula basicamente
pelo mar. Ao Poder Naval, cuja “razão de ser”
continuará a ser o emprego da força em combate, caberá garantir a segurança dos demais
componentes do Poder Marítimo.
Além dos meios navais, aeronavais e
de fuzileiros navais tradicionais, no futuro
o Poder Naval contará com diversos outros
componentes baseados em terra, no leito
marinho ou no espaço, e o domínio da informação será cada vez mais determinante.
Os meios e sistemas aplicados à Guerra
Naval do futuro incorporarão tecnologias
inovadoras, cujo desenvolvimento dependerá de recursos humanos qualificados,
assim como materiais e financeiros. Para
que países como o Brasil sejam capazes
de atuar com independência no cenário
internacional, será essencial que estes
obtenham um grau razoável de autonomia
estratégica, em setores de alta tecnologia
ligados à Defesa Nacional. Em tal contexto,
as tecnologias críticas de interesse naval
ocupam lugar de destaque.
A renovação do Poder Naval brasileiro,
nos dois séculos anteriores foi um processo
descontínuo, com períodos de expansão
moderada e de encolhimento. Para construir
um Poder Naval capaz de atuar em áreas
marítimas distantes, na defesa da soberania
e dos interesses nacionais no decorrer do
século XXI, o Brasil terá que superar barreiras
e restrições internas, assim como externas.
No campo externo, é dificultado ao máximo
o acesso de países ditos periféricos a novas
tecnologias. Já no campo interno, o principal
“gargalo tecnológico” talvez esteja associado
à questão dos recursos humanos. No Brasil,
faltam cientistas, engenheiros, técnicos e
outros profissionais qualificados. Não apenas
no nível superior, mas em todos os níveis,
a melhoria da qualidade da educação em
nosso país é mais que urgente. n
*Pós-graduado em Relações Internacionais, professor no Centro de Produção da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (CEPUERJ), colaborador permanente do Centro de Estudos Politico-Estratégicos
da Escola de Guerra Naval (CEPE/EGN) e colaborador assíduo da Revista Marítima Brasileira,
da revista Segurança & Defesa e do jornal Monitor Mercantil.
13
DEFESA
BASE INDUSTRIAL DE
DEFESA
Armadas e subordinada diretamente ao Ministro da Defesa. Na Itália, Alemanha e Inglaterra
a logística recebe atenção semelhante. Índia
e África do Sul, países que formam conosco o
IBAS, dão tratamento similar ao assunto8.
A logística de defesa, no Brasil, ainda não
é tratada no mesmo nível. Em geral, ficamos
limitados ao “apoio logístico”, despendendo
tempo e recursos em busca de sobressalentes descontinuados para equipamentos obsoletos, recebidos com os meios de combate
obtidos em compras por oportunidade.
A ABIMDE propõe, como medida prioritária, a criação de estrutura capaz de coordenar a logística de defesa em nível mais
elevado. Tal estrutura centralizará a gestão
dos programas estratégicos, integrando as
MEDIDAS
VIABILIZADORAS
O
Marcílio Boavista da Cunha*
s associados do Clube Naval
compreendem a importância da
Base Industrial de Defesa (BID) e
a necessidade de que ela cresça
e assuma seu papel fundamental
no desenvolvimento e na defesa
do País. Esse entendimento é compartilhado
pelo governo, pelo Congresso e pelos executivos das empresas e instituições da BID.
Refletindo tal entendimento, o fortalecimento da BID tornou-se um dos objetivos
comuns de documentos importantes do
País1. Para que esse objetivo seja atingido,
entretanto, uma série de medidas viabilizadoras precisa ser tomada pelo governo e
pela sociedade em geral.
Uma medida viabilizadora importante
foi tomada em 2012, com a lei que estabelece normas especiais para compras,
contratações e desenvolvimentos e dispõe
sobre incentivos à área estratégica de defesa2. Nova medida ocorreu recentemente,
com a formalização da Comissão Mista da
Indústria de Defesa (CMID)3.
Medidas viabilizadoras complementares
são necessárias. A Associação Brasileira de
desejada da BID e o plano de carga estimado
para a indústria nacional.
Medidas de menor prioridade abordam a
criação de instrumentos e mecanismos para
o acompanhamento da BID, sua avaliação
e identificação de dificuldades, distorções
e problemas. Outras tratam de legislação
para correção dos problemas identificados
e do apoio aos centros de estudo de defesa
e inteligência estratégica.
As últimas medidas relacionadas à gestão governamental propõem a criação da carreira profissional de gestão de defesa, com
funcionários de alta qualificação e dedicação exclusiva, para atuar junto com os profissionais da carreira militar nos processos
de desenvolvimento e obtenção de meios,
a priorizarem a produção nacional.
A proteção contra a importação “inocente” requer a definição de regras claras
a serem incluídas nos contratos de compra
de produtos e sistemas do exterior, com exigências de conteúdo nacional, de garantia
de manutenção e abastecimento de consumíveis e sobressalentes, por toda a vida útil,
e de compensação tecnológica, industrial e
comercial, como estabelecido em Lei.
É proposta, ainda, a criação de mecanismos e normas governamentais que promovam a exportação e orientem militares,
servidores públicos e governantes a participar e contribuir na conquista de clientela
estrangeira para os produtos nacionais, como
fazem nos países desenvolvidos. A assi-
Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE)
editou um livreto 4 reunindo cerca de sessenta medidas, organizadas em dez temas5.
Os principais temas e medidas da proposta da ABIMDE, comentados a seguir,
apontam o caminho que está sendo seguido
pela BID para assumir, fortalecida com o
apoio do Governo, suas responsabilidades.
GESTÃO GOVERNAMENTAL
O governo investe na reestruturação
de sua área de defesa, atendendo às determinações da Constituição e Leis Complementares e às orientações da Estratégia
Nacional de Defesa. O próprio Ministério
da Defesa está sendo preparado para gerenciar a defesa tanto na área operacional
quanto na área logística6.
Não é difícil entender que a Defesa
requer capacidade operacional equilibrada
com a capacidade logística. Esse entendimento é comum nos países desenvolvidos e
em desenvolvimento, fruto, provavelmente,
da amarga experiência de guerra que muitos vivenciaram.
A logística de defesa, na França, é de responsabilidade da Direção Geral do Armamento
(DGA)7, organização fora do controle das Forças
14
capacidades hoje distribuídas entre os Ministérios da Defesa, da Ciência, Tecnologia
e Inovação, do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior, e os Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
Recomenda, ainda, a elaboração de
um plano integrado de investimentos de
longo prazo, que leve em consideração, não
só as necessidades em meios, sistemas e
produtos (como o atual Plano de Articulação e Equipamentos de Defesa – PAED),
mas também, o orçamento disponível
para investimento e custeio, a capacidade 9
Revista do Clube Naval • 368
sistemas e produtos de alta complexidade
ou valor.
MERCADO INTERNO
E MERCADO EXTERNO
A Constituição estabelece, em seu Artigo
219, que o mercado interno integra o patrimônio nacional, e que sua exploração deve visar
o desenvolvimento, o bem-estar da população
e a autonomia tecnológica do País. A melhor
forma de atender a essa determinação é criando legislação objetiva, tipo “Compre Brasil”,
que instrua, oriente e motive os responsáveis
Revista do Clube Naval • 368
natura de acordos bilaterais facilitará a venda
de governo a governo, atendendo àqueles
países desejosos de comprar produtos de
defesa e segurança do Brasil que, porém,
exigem uma “garantia do Estado”.
A promoção comercial por meio de visitas de Estado, com o convite às empresas de
defesa para participar das comitivas oficiais
do Governo brasileiro em visita ao exterior
e da recepção a comitivas estrangeiras em
visita ao Brasil, é uma medida eficaz. A
compra de material de defesa é assunto de
Estado e dificilmente será tratada em visitas
15
de caráter exclusivamente comercial.
Uma série de medidas trata de assuntos
mais conhecidos, como: o credenciamento
das Empresas Estratégicas de Defesa (EED);
a participação da União no capital dessas
empresas; a blindagem à sua desnacionalização; o aumento da qualidade e da competitividade dos produtos nacionais no mercado
internacional; o apoio ao produto exportado;
a estrutura de inteligência capaz de identificar oportunidades e desafios; a proteção às
empresas e instituições nacionais frente a
contenciosos no comércio internacional; e a
extensão, aos setores de segurança pública,
da legislação e dos conceitos aplicados aos
produtos e às empresas do setor de defesa.
ÁREA TRIBUTÁRIA E
ÁREA FINANCEIRA
A maior prioridade foi atribuída ao desenvolvimento de programa de divulgação
das ações em curso destinadas a garantir
isonomia fiscal e tributária para os produtos
estratégicos de defesa e segurança, como
a criação e regulamentação do Regime
Especial Tributário para a Indústria de Defesa (RETID). Tal isonomia impedirá que os
itens de produção nacional, especialmente
nas compras feitas pelo Governo brasileiro,
continuem sendo inexplicavelmente mais
gravados que os itens importados.
Desoneração fiscal e tributária, especialmente a relativa à folha de pagamento das
empresas, é outro ponto abordado. Com essa
desoneração será possível dar maior proteção
e competitividade ao setor que depende
extraordinariamente de mão-de-obra especializada, aplicada em produtos com longos
ciclos de desenvolvimento, e que, em geral,
não conta com encomenda regulares.
O comprometimento de recursos orçamentários de longa duração, plurianuais
e em volumes compatíveis com as necessidades nacionais de investimento em
programas de defesa e segurança é o
objetivo a alcançar com o aperfeiçoamento
da legislação orçamentária10.
Medidas complementares propõem: a
migração dos programas de investimento
do Ministério da Defesa para o Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC); a
definição de novas fontes de recursos para
financiamento; a criação de linhas especiais
de crédito 11; a formulação de processos
expeditos de cobertura de garantia do
seguro de crédito à exportação, como previsto em lei; e o reconhecimento do acervo
defesa
tecnológico das empresas de defesa, como
um bem a ser oferecido em contragarantia
nas operações financeiras do Governo, com
a justificativa de que o maior patrimônio dessas empresas é o sofisticado conhecimento
por elas acumulado.
CIÊNCIA, TECNOLOGIA,
INOVAÇÃO E RECURSOS HUMANOS
Medida prioritária aponta a necessidade
de ampliação dos esforços de formação,
treinamento, especialização e reciclagem
de recursos humanos. Cobre os estágios e
cursos de nível superior e médio, no país e
no exterior, nas especialidades essenciais
ao projeto, pesquisa, desenvolvimento, inovação, produção e manutenção de produtos
de defesa e segurança.
A atualização da Política de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa Nacional,
sua aprovação pelo Legislativo federal, e a
edição dos instrumentos normativos decorrentes é esperada com ansiedade. Investimentos em capacitação para a defesa não
estão sujeitos às regras restritivas da Organização Mundial do Comércio (OMC), e, usados
corretamente, podem se tornar importantes
e eficazes instrumentos políticos.
Medida especial trata dos chamados “Programas Mobilizadores”, aqueles capazes de
arregimentar e aglutinar o potencial necessário
ao desenvolvimento de novos e sofisticados
produtos e tecnologias. Esses programas são,
normalmente, compostos por um conjunto
articulado de projetos, conduzido cooperativamente por empresas e instituições12.
Outras medidas referem-se:
• à necessidade de preservação da capacitação científica e tecnológica conquistada
e de gerenciamento do conhecimento acumulado no País;
• à importância da oferta de estágios, tanto para pessoal das empresas e instituições da
BID nas organizações públicas13, quanto para
servidores de órgãos públicos e estudantes
nas empresas e instituições da BID; e
• ao valor da integração entre os órgãos
de pesquisa e desenvolvimento14.
CADEIA PRODUTIVA,
LOGÍSTICA E MOBILIZAÇÃO
Os produtos de defesa e segurança utilizam
materiais sofisticados, tecnologias modernas
e serviços especializados, fornecidos por um
grande número de empresas e instituições. É
preciso identificar esses participantes da cadeia
produtiva, integrá-los, protegê-los e avaliá-los
continuadamente, tanto em seus desempenhos quanto em suas competências.
A constituição de comitê permanente,
com membros experientes e compromissados, destinado a realizar o acompanhamento da cadeia produtiva da BID, estabelecerá bases sólidas para sua integração
e para o aperfeiçoamento de políticas
públicas para o setor.
É importante a criação de mecanismos
que garantam, aos componentes da BID,
acesso às estruturas destinadas aos testes
e avaliações de produtos, à certificação e
metrologia oficiais, à catalogação e à homologação e certificação de produtos, com
credibilidade no mercado internacional.
O fortalecimento do sistema nacional
de logística de manutenção, reparo e assistência técnica especializada em produtos
de defesa é essencial para que os meios de
combate das Forças alcancem a condição de
pronto emprego. Assim como o preparo da
mobilização de material, serviços e pessoal,
respeitando os anseios do Estado brasileiro
e as possibilidades e interesses da BID.
SALVAGUARDAS E
CERCEAMENTO TECNOLÓGICO
Países detentores de tecnologias avançadas exercem forte controle sobre o fluxo de
conhecimentos, alegando diversas razões.
Costumam declarar que agem para prevenir a
proliferação de armas de destruição em massa,
mas se beneficiam, muito, ao manter supremacia tecnológica e proteger sua própria base
industrial. Os países vítimas desse cerceamento
são prejudicados em seu desenvolvimento e
sofrem incalculáveis prejuízos.
Uma das medidas viabilizadoras propõe
a criação de estrutura capaz de registrar os
casos de cerceamento sofridos pelas instituições e empresas brasileiras, de analisá-los,
de estimar os prejuízos causados ao País e de
propor eventuais processos de indenização
e retaliação aplicáveis.
Foram incluídas, por fim, medidas sobre salvaguardas. Em resumo, sugere-se o
estabelecimento de responsabilidades para
os envolvidos na guarda de informações
sensíveis. Propõem-se, também, a criação
de estrutura que se encarregue, em nome
do Estado brasileiro, da supervisão dos compromissos internacionais no que diz respeito
à transferência de tecnologias sensíveis e às
suas salvaguardas. n
*Vice-Almirante (Ref-EN) • Membro do Conselho Consultivo da ABIMDE.
16
BASE INDUSTRIAL DE
NOTAS
Como a Política Nacional de Defesa (PND),
a Estratégia Nacional de Defesa (END), o Livro
Branco da Defesa Nacional (LBDN), o Plano Brasil
Maior (PBM) e a Política Nacional da Indústria
de Defesa (PNID).
2
Lei n° 12.598, de março de 2012, regulamentada pelos Decretos n° 7.970 e n° 8.122, de 2013.
3
Pela Portaria n° 2.640-MD, de 10 de setembro de
2013, a CMID tem a finalidade assessorar o Ministro
em processos e proposições relacionados à
indústria nacional de defesa, e é composta por
representantes do MD, do CM, do CEx, do CAer,
do MF, do MDIC, do MCTI e do MPOG.
4
Textos disponíveis em http://www.abimde.org.br/
medidas_viabilizadoras.pdf
5
Os temas propostos pela ABIMDE são:
Gestão Governamental, Mercado Interno,
Mercado Externo, Área Tributária, Área Financeira,
Recursos Humanos, Ciência, tecnologia e Inovação,
Cadeia Produtiva, Logística e Mobilização,
e Salvaguardas e Cerceamento Tecnológico.
6
Lei Complementar n° 97/2009, alterada pela
de n° 136/2010, Artigos 11 e 11-A, prevê o
“planejamento do emprego conjunto das Forças
Armadas” e a “formulação de política e diretrizes
referentes aos produtos de defesa empregados
nas atividades operacionais”.
7
Com um efetivo de mais de dez mil servidores,
a DGA é responsável pela logística de defesa e
gestão dos meios e sistemas das Forças Armadas.
8
A Índia tem dois setores na logística de defesa:
um cuida da área produtiva e outro, da pesquisa e
do desenvolvimento. A África do Sul conta com
a organização ARMSCOR (The Armaments
Corporation of South Africa), entidade pública
responsável por todas as atividades ligadas
aos ativos de defesa.
9
Capacidade industrial, científica, tecnológica,
de infraestrutura e de apoio logístico.
10
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), Orçamento
Plurianual de Investimentos (PPA), Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária
Anual (LOA).
11
Tanto para ciência, tecnologia e inovação,
quanto para desenvolvimento pré-competitivo,
investimento produtivo e internacionalização
de empresas.
12
Como exemplo, os programas de
desenvolvimento da Aeronave de Transporte
Militar KC-390, do Sistema de Vigilância da
Fronteira (SisFron), do Sistema de Gerenciamento
da Amazônia Azul (SisGAAz), além dos
programas nuclear e espacial brasileiros.
13
Organizações de pesquisa, desenvolvimento,
teste, avaliação, engenharia, estudos estratégicos
e gerenciamento de produtos de defesa,
especialmente as das Forças Armadas.
14
Promovendo a realização de projetos
cooperativos, utilização compartilhada de
laboratórios, redução da duplicidade de esforços,
disseminação do conhecimento, organização
de redes temáticas e objetividade no atendimento
às reais necessidades do setor.
1
Revista do Clube Naval • 368
DEFESA
DESENVOLVIMENTO NACIONAL:
A CONTRIBUIÇÃO DA ROCKWELL
COLLINS DO BRASIL
O Legacy 500
Fernando Ykedo*
A Rockwell Collins do Brasil (RCB) é
uma empresa brasileira que muito contribui
para o desenvolvimento nacional. Pertence
ao grupo Rockwell Collins Inc., pioneira no
desenvolvimento e emprego de soluções
inovadoras de comunicações e eletrônica,
tanto para aplicações comerciais em aviação quanto para emprego militar. A RCB
está presente no Brasil desde 1974, ano em
que foi criada e iniciou suas operações no
Rio de Janeiro. Atualmente está localizada
em São José dos Campos, principal polo
aeroespacial brasileiro, a partir de onde
Revista do Clube Naval • 368
também provê todo o apoio e manutenção
dos equipamentos eletrônicos para suportar
as operações de seus clientes civis e militares em todo o território nacional através do
seu Centro de Serviços, o único em toda a
América Latina.
A empresa se orgulha de fazer parte da
pujante história da indústria aeronáutica
brasileira. Afinal, o pioneiro avião Bandeirante, primeiro turboélice desenvolvido
pela Embraer, já contava com os rádios da
Rockwell Collins, mantidos até hoje pela RCB.
E diversas outras aeronaves projetadas e
17
produzidas no Brasil levam os equipamentos
e sistemas de navegação e comunicação da
empresa, entre os quais o treinador Tucano,
o turboélice Brasília e o avião de ataque e
treinamento avançado Super Tucano.
A Rockwell Collins do Brasil está presente
também nos modernos jatos em desenvolvimento pela Embraer, através do seu sofisticado sistema aviônico, o Pro Line Fusion®,
que integra os mais avançados sistemas
de comunicação, navegação e vigilância.
Equipa o jato executivo Legacy 500 (e posteriormente seu derivativo, o Legacy 450) e
A Pro Line
Fusion®
também fará parte da cabine de pilotagem
do cargueiro e reabastecedor da Força Aérea
Brasileira, o EMBRAER KC-390. Este será
o maior avião já projetado pela indústria
aeronáutica brasileira e é considerado um
dos mais importantes projetos estratégicos
de Defesa do país.
Não se pode deixar de mencionar a sua
presença na Aviação Naval da Marinha do
Brasil, bem como nas aeronaves de asas rotativas fabricadas ou modernizadas pela Helibras, incluindo os rádios Talon selecionados
recentemente pela Aviação do Exército para
ser o sistema de comunicação tática padrão
da Aviação, garantindo pela primeira vez a
comunicação segura entre seus helicópteros
e suas tropas em solo.
A estratégia da Rockwell Collins do Brasil
é muito simples. Há quatro décadas radicada
no Brasil, ela é uma empresa brasileira com
o diferencial de ter acesso privilegiado a
tecnologias americanas de última geração,
produzindo localmente e provendo suporte
local aos seus clientes, gerando emprego
e renda no Brasil, com corpo técnico e de
gestão composto por brasileiros e futuramente realizando atividades de pesquisa e
desenvolvimento, bem como atividades mais
amplas de engenharia no Brasil.
Muito já tem sido feito nesse sentido: a
Rockwell Collins do Brasil tem sido presidida
por brasileiros desde a década de 1980;
apresentou crescimento do seu quadro
funcional de 35% nos últimos dois anos,
adicionando lideranças e profissionais nas
áreas de gerenciamento de projetos, desenvolvimento de negócios , engenharia de
municação desenvolvido pela então Collins
Radio – atual Rockwell Collins –, que permitiu a transmissão desse histórico feito entre
o módulo lunar e a estação terrestre. Como
uma inovadora empresa de engenharia e de
tecnologia, ela é uma grande incentivadora
da educação com foco em ciências exatas
nas comunidades em que está inserida. E,
recentemente, a Rockwell Collins do Brasil
deu as boas-vindas ao estagiário Guilherme
Campos Camargo, que se encontra nos Estados Unidos através do Programa Ciência
Sem Fronteiras do Governo Federal. Ele está
trabalhando com um time de engenheiros
da Rockwell Collins e da Rockwell Collins
do Brasil, e também com um time da Embraer responsável pelos testes do sistema
aviônico do KC-390, onde está aprendendo
a disponibilizar ao piloto as informações na
também atende à área de Defesa. Dessa forma, esses produtos podem ser customizados
e adaptados para atender às necessidades
operacionais das Forças Armadas brasileiras,
contribuindo para o desenvolvimento da
Base Industrial de Defesa através de parcerias, produção e desenvolvimento locais.
Soluções de comunicação e eletrônica
ambiente favorável à absorção de conhecimento e sua aplicação no desenvolvimento
de novos produtos e novas tecnologias.
A empresa está chegando a 40 anos de
presença no Brasil e iniciando uma nova fase
no país, através de forte expansão e investimentos, de forma a fortalecer também a sua
presença no mercado de defesa brasileiro.
O KC-390
em operação de
reabastecimento e
sua cabine de
pilotagem
Por conta de produtos e serviços já contratados em projetos de elevada importância
estratégica para o país, e em consonância
com as principais diretrizes da Estratégia
Nacional de Defesa, a Rockwell Collins do
Brasil reitera seu compromisso de continuar
sendo um parceiro de confiança do Ministério da Defesa e das Forças Armadas brasileiras, bem como das principais empresas
brasileiras atuantes no setor. Afinal, construir
confiança todos os dias é o seu lema.
Para mais informações, acesse: www.
rockwellcollins.com.br n
vendas e engenharia de sistemas – somando
atualmente cerca de 40 funcionários; seu
Centro de Serviços vem expandindo sua
atuação e aumentando as capacidades para
reparo de novos equipamentos – hoje são reparados mais de 500 tipos de equipamentos
–, através de novos investimentos e de um
corpo técnico brasileiro altamente especializado; e a montagem final, teste e reparo de
18
rádios de alta freqüência aeroembarcados,
bem como a futura produção dos displays
e caixas de controle da aviônica Pro Line
Fusion®, tudo no Brasil.
Como curiosidade, a célebre frase “um
pequeno passo para o homem, um grande
salto para a humanidade” de Neil Armstrong,
o primeiro homem a pousar na Lua, foi
ouvida na Terra graças a um sistema de coRevista do Clube Naval • 368
cabine de pilotagem necessárias em suas
mais diversas fases do voo.
A Rockwell Collins do Brasil estabeleceu
ao longo desses últimos anos uma sólida
reputação e referência no mercado, com
serviços de suporte ao cliente e soluções
eletrônicas para aviação para o demandante mercado aeronáutico. Seu amplo e rico
portfólio de produtos e serviços, no entanto,
Revista do Clube Naval • 368
de superfície para atender às forças terrestres e navais, tais como sistemas de guerra
eletrônica, sistemas de vigilância marítima e
de proteção de fronteiras, além de sistemas
de simulação e treinamento, são exemplos
de áreas em que a Rockwell Collins do Brasil
pode exercer um importante papel de empresa brasileira com acesso a tecnologias de
ponta e de última geração, permitindo um
19
*Fernando Ikedo é brasileiro,
engenheiro eletrônico pelo ITA
(Instituto Tecnológico de Aeronáutica),
com MBA em gestão de negócios pelo
ITA/ESPM, membro do Conselho
Consultivo da ABIMDE (Associação
Brasileira das Indústrias de Materiais
de Defesa e Segurança), e diretor
de desenvolvimento de negócios da
Rockwell Collins do Brasil.
DEFESA
BASE INDUSTRIAL DE
DEFESA
Essa nova estrutura de defesa tem
também por motivação capacitar todos os
recursos humanos necessários para o bom
funcionamento das Forças Armadas, bem
como a 13ª Diretriz da END e, para acontecer, se faz necessária a presença de líderes
capacitados nos teatros de operações, sejam
estes de crise ou não.
Antecedentes
A lei complementar nº 97, de 9/6/1999
dita regras gerais para organização, preparo
e emprego das nossas Forças Armadas, revogou a lei complementar nº 69, de 23/7/1991,
sobre as mesmas disposições, e teve como
consequência a criação do Ministério da
O Líder
Militar
e a 13ª Diretriz da
Principais implicações da Estratégia
Nacional de Defesa e da 13ª Diretriz da
Estratégia Nacional de Defesa
A END foi pautada tendo também por
missão o auxílio à política externa do Brasil,
principalmente no quesito das Forças Armadas e sua atuação, seja ela em fronteiras
nacionais, através do monitoramento/controle, da grande capacidade de mobilidade
e da presença das mesmas, ou em missões
de peacekeeping, que o Brasil participa atualmente e participou no passado.
Tendo também por objetivo auxiliar a
garantia da lei e da ordem temos como
implicação principal nestas áreas, política
externa e interna, o aumento efetivo da
segurança nacional e da manutenção da paz
em território nacional.
A execução da END no tangente ao
aumento da mobilidade para responder
prontamente qualquer ameaça ou agressão, através da capacidade de se chegar
de maneira expedita e com alto nível de
destreza no percurso, acaba por implicar
num aumento sensível do poder dissuasório
da nação brasileira, uma vez que estará
os anseios nacionais ao desenvolvimento
do país, anseios tais, fortemente atrelados
à Estratégia Nacional de Defesa.
A liderança militar
A liderança muitas vezes é definida por
ser o processo de influenciação de pessoas
para alcançar um objetivo específico ou
diversos. Às vezes sendo indispensável para
o funcionamento de vários setores da economia, mas certamente indispensável para
as Forças Armadas, vem há tempos sendo
estudada e aprimorada em suas teorias,
resultando num engrandecimento de conhecimento de extrema utilidade e eficiência na
contemporaneidade.
O líder militar, no entanto, precisa de
características que vão bem além das necessárias em qualquer outro setor, uma vez que
esse tipo diferenciado de líder tem que encarar
adversidades das quais não bastam apenas
conhecer teorias de liderança ou buscar as virtudes necessárias a um líder. É primordial para
ele, que haja um comprometimento inabalável
com sua instituição e a motivação de tentar se
superar periodicamente, e isso é plenamente
Conclusão
Estratégia Nacional
de Defesa
A real execução de um plano, estratégia ou mesmo tática impõe o treinamento
e o preparo que antecedem a sua prática,
e nessa parte o líder se encaixa, sendo o
preparador de seus subordinados e de si
próprio, para conquistar os objetivos de
sua instituição.
Ao ser supervisor e incentivador, o líder
militar consegue atingir não só as metas
prédeterminadas mas também motivar
seus homens, o que torna palpável a END
por completo. n
Trabalho vencedor do
concurso do Clube Naval
Liderança • 2013
Pedro Henrique de Barros Moraes*
A
Estratégia Nacional de Defesa
(E N D), aprovada em 2008
lei 6703/, de 18/12/2008,
para reorganizar, reorientar ,
determinar os rumos do desenvolvimento militar, político
e estratégico nacional. Visa propiciar que
o Brasil possa exercer com excelência
seu papel no cenário internacional e de
constante ascendência no mesmo.
Planejado sob a égide das tradições
e costumes brasileiros, que se mostram e
continuam se mostrando pacíficos desde
seus primórdios como nação consolidada,
a END tem como objetivo alcançar/cumprir
o PDN (Plano de Defesa Nacional), o qual
vislumbra a garantia da soberania, do patrimônio nacional e da integridade territorial¹
e outros objetivos como a estruturação das
Forças Armadas.
20
e pela real significância da liderança militar
não abrangida por ela, é peça fundamental
no cumprimento da Estratégia Nacional de
Defesa e sem dúvida importantíssimo para realizar a 13ª Diretriz, uma vez que é exigido por
ela um alto nível de dedicação profissional,
que somente um líder capaz de motivar suas
tropas consegue fazer seu grupo atingir.
Sem o supervisionamento e orientações
adequadas, também se torna inviável para
qualquer fração de homens cumprir objetivos e metas, em especial as que tratam do
aprimoramento intelectual e tático de grupos
para a defesa da pátria.
Um comando inadequado, um estilo de
liderança não compatível com a situação
conjuntural, ou mesmo qualquer outro fator
que possa influir para uma má gestão dos
recursos humanos disponíveis, deixa de ter
um bom rendimento, visto que o líder não
consegue gerir as frustrações do grupo ou
mesmo controlar o estresse, para que este
último esteja em estado ótimo², quando a
eficiência do grupo é máxima. A presença
do indivíduo capaz , como chefe militar,
é de importância ainda maior quando se
tratam de áreas peculiares onde são encontradas dificuldades acima das usuais,
lugares como fronteiras ou mesmo regiões
de risco de morte, que necessitam da presença militar. Essa necessidade é exaltada
na 13ª Diretriz da END.
Notas
Defesa, em substituição aos ministérios de
cada Força Armada. Através dela subordinouse todas as forças a um comando de um
ministério único com maior facilidade em
auxiliar o Comandante Supremo das Forças
Armadas na tomada de decisões atinentes em
seu mais alto nível, na Defesa Nacional.
Revista do Clube Naval • 368
plenamente preparada para adversidades.
É válido ressaltar que uma maior
atenção ao setor de produção bélica, seja
ele de alta tecnologia e desenvolvimento
de projetos estratégicos ou de guerra
convencional, estimula o crescimento da
economia brasileira e também faz cumprir
Revista do Clube Naval • 368
exigido dos líderes militares brasileiros.
A influência do líder militar capacitado no cumprimento da 13ª Diretriz da
Estratégia Nacional de Defesa
O líder militar brasileiro capacitado, isso
é, dentro das conformidades exigidas pela lei
21
Referência à Presidência da República,
Decreto nº 6703, de 18/12/2008 –
Citação parcial do documento.
2
Referência ao Livro “Liderança Militar”,
General Belchior Vieira p. 75
1
*Aspirante da Escola Naval.
HISTÓRIA NAVAL
OS SUBMARINOS DO BRASIL
DOS PRIMÓRDIOS ATÉ O SUBMARINO NUCLEAR
Trabalho vencedor do concurso do Clube Naval • História • 2013
João Herbert Pontes Teixeira*
Dissuasivo por si, um submarino é uma excelente e imprescindível arma de guerra, e com o
desenvolvimento tecnológico que toma conta do mundo atual. Essa arma se torna cada vez
mais sofisticada e capaz de preservar sua ocultação com sucesso. Novos sensores e armamentos
frequentemente ratificam o poder de um submarino, porém, o que está em pauta no momento
nas discussões de estrategistas
grupo de apenas seis países que dominam
m acordo firmado entre Brasil
e autoridades civis e militares
a tecnologia nuclear em suas marinhas.
e França promete a construção
Porém, a história dos submarinos na
de quatro novos submarinos
da área de defesa nacional,
Marinha
do Brasil remonta a um período
convencionais
e
um
submarino
é a questão da construção do
anterior, e antes de falarmos sobre o primeiro
nuclear, todos da classe Skorpéprimeiro submarino nuclear
submarino nuclear brasileiro, devemos pasne, além da construção de um
brasileiro. Um projeto adorme- estaleiro e uma base naval em Itaguaí, no sar por seus precursores.
Rio de Janeiro. Esse acordo, estabelecido
cido desde a década de 1970
História dos submarinos
através de transferência de tecnologia frandespertou agora com todo
na
Marinha
do Brasil
cesa para o Brasil, possibilitará um grande
vapor, e o desenvolvimento
e qualitativo aperfeiçoamento dos profissioQuem iniciou a discussão sobre aquisinais
envolvidos
no
projeto
e
a
autonomia
ção
de submarinos pela Marinha do Brasil
do submarino nuclear já
brasileira no que tange a um futuro desenfoi o então Primeiro-Tenente Felinto Perry
é uma realidade nacional.
volvimento de novos submarinos e outros
que, em 1891, iniciou uma campanha para
U
meios navais movidos a energia nuclear,
além de grande mudança no cenário de
defesa nacional, insere o Brasil no seleto
aquisição de submarinos para o Brasil. Seus
trabalhos, publicados nos periódicos da
época, foram motivos de reflexão e de ampla
discussão, despertando o interesse público e
motivando a alta administração naval.
Passados 13 anos, o Ministro dos Negócios da Marinha, Almirante Júlio César
de Noronha, incluía três submersíveis no
Programa de Construção Naval, em 1904.
O início da vida dessa nova categoria
de navios na MB se concretizou em 1911,
quando o Ministro da Marinha, Vice-Almirante Joaquim Marques Baptista de Leão,
criou a Subcomissão Naval na Europa, em
La Spezia, Itália, para fiscalizar a construção de três submersíveis encomendados
ao Governo Italiano.
Foi nomeado para o cargo de Chefe dessa Subcomissão o então Capitão-de-Corveta
Felinto Pery.
Esses submarinos, de origem americana,
eram dotados de equipamentos e sistemas
muito mais avançados do que aqueles até então conhecidos pelos nossos submarinistas. A
Flotilha de Submarinos passou a ser chamada
de Força de Submarinos em 1963.
Foram adquiridos nos anos 70, junto
aos EUA, sete submarinos da classe Guppy
(Greater Underwater Propulsion Power) e o
Navio de Salvamento Submarino Gastão
Moutinho (K10). Posteriormente foram
construídos na Inglaterra, três submarinos
da classe Oberon, que eram mais modernos
do que os da classe Guppy.
S32 Tapajós entrando
no dique do AMRJ
Foi introduzido no Brasil com os
submarinos Guppy o sistema de esnorquel, que permite renovar o ar ambiente,
recarregar as baterias e os grupos de ar
comprimido com o submarino imerso. O
primeiro submarino brasileiro a operar
esse sistema foi o Rio Grande do Sul.
http://www.naval.com.br/blog/wp-content/
uploads/2009/03/humaita.jpg
Foi na década de 80 que ocorreu o início
da busca brasileira pela auto-suficiência para
projetar e construir submarinos e na capacitação de nossa Marinha para o salvamento
de submarinos sinistrados.
Ainda nessa década o contrato assinado
com o estaleiro alemão HDW iniciou a capacitação técnica brasileira para a construção
do primeiro submarino no Brasil. Fruto desse
contrato engenheiros e técnicos de diversos
setores realizaram estágios no HDW, acompanhando a construção do submarino Tupi
(S30), incorporado em 1989.
A construção do primeiro submarino
totalmente construído no Brasil ocorreu na
década de 90, com a construção e incorporação, em 1994, do Submarino Tamoio (S31).
Consolidados os conhecimentos e a
capacidade para a construção de submarinos, a Marinha do Brasil decidiu incrementar o seu Programa de Reaparelhamento,
com a construção dos submarinos da
classe Tikuna, selando a independência
tecnológica na área de projeto e de construção desse tipo de navio.
http://www.naval.com.br/blog/wp-content/
uploads/2009/03/tikuna-s34.jpg
O país então pôde pensar em projetar seu
submarino de propulsão nuclear para melhor
equipar sua Marinha e aumentar seu poder de
dissuasão e negação do mar territorial.
Assim tiveram origem os programas brasileiros para projetar e construir um submarino
de propulsão nuclear, que serão apresentados
de forma mais detalhada devido a sua magnitude e importância para o Brasil.
Programa Nuclear Brasileiro
Recebe o nome de programa nuclear
brasileiro o projeto estatal de obtenção
22
Revista do Clube Naval • 368
Revista do Clube Naval • 368
23
de energia elétrica a partir de usinas cujo
combustível que as sustentam é a energia
nuclear, obtida a partir da fissão do átomo de
urânio ou plutônio. Desde a sua implantação,
o projeto esteve envolto em polêmica, tanto
pelo fato do combustível atômico ser potencialmente danoso à natureza e ao homem
por sua alta radioatividade, mas também
pelos atrasos de cronograma, paralisação
e certo mistério por parte das autoridades
quanto a diversos aspectos dos projetos.
O Programa Nuclear Paralelo teve
início em 1979, desenvolvido pela Marinha e apoiado pelo IPEN/CNEN-SP com o
objetivo de desenvolver um submarino de
propulsão nuclear. O objetivo do programa
era assegurar ao país o domínio completo
do ciclo do combustível nuclear, preferencialmente através do uso de tecnologias
desenvolvidas no país. As três armas
dedicaram-se a opções diversas, mas só
a Marinha pareceu estar em condições de
realizar atividades em escala industrial.
http://infosurhoy.com/cocoon/saii/
images/2010/05/28/photo1A.jpg
PROSUB
O Programa de Desenvolvimento de
Submarinos (PROSUB) é um empreendimento
naval que, por meio da parceria com a estatal
francesa DCNS e a empresa privada brasileira
Odebrecht estão tornando possível o sonho
de o Brasil projetar submarinos convencionais
e nucleares, em território nacional.
O reaparelhamento da Marinha do Brasil
avançou neste ano com a abertura da Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas
(UFEM), inaugurada pela presidente Dilma
Rousseff, em Itaguaí, no Rio de Janeiro, em
março. A UFEM, que faz parte do PROSUB,
é uma das células de fabricação do primeiro
submarino brasileiro de propulsão nuclear e
de mais quatro submarinos convencionais
diesel-elétrico.
O PROSUB é o maior contrato militar
internacional do Brasil e envolve recursos da
ordem de 6,7 bilhões e a geração de cerca de
40 mil empregos diretos e indiretos.
A Marinha contratou para execução do
PROSUB a francesa Direction des Constructions Navales et Services (DCNS), uma
das líderes mundiais na área de construção naval, que, por sua vez, se associou à
Odebrecht para formar a Itaguaí Construções Navais (ICN), consórcio responsável
pela construção dos submarinos.
Atualmente, para proteger o território
marítimo nacional, a Marinha conta com
cinco submarinos, segundo o Ministério da Defesa. O PROSUB é uma das
ações que integram o Programa
de Reaparelhamento da
Marinha (PRM), que visa
adequar os atuais meios
operacionais às novas
demandas do país.
movido a diesel que carregam as baterias
que alimentam o navio.
Essa energia gerada é responsável por
recarregar as baterias do submarino (que
compõem a parte da propulsão elétrica).
Na ocasião do descarregar das baterias, o
submarino necessita ascender à cota periscópica, onde fica numa condição de vulnerabilidade, para poder fazer a troca dos gases,
atividade conhecida como esnorquel, onde
o submarino coleta ar puro da atmosfera
para que este seja utilizado no processo do
motor a diesel.
Propulsão Nuclear
O reator nuclear consiste,
basicamente, na transformação da
energia térmica em energia cinética. O
reator gera diversas reações com o urânio
enriquecido e devido à agitação das partículas, a energia térmica formada serve para
aquecer a água. Os elementos utilizados
nessa parte do processo são: reator, pressurizador, bomba de circulação e gerador
de vapor. Depois, o vapor d’água formado
é usado para movimentar as turbinas, e
assim, é gerada a propulsão ao submarino.
Logo após, o vapor é condensado e a água
formada (já em estado líquido) volta para dar
continuação ao ciclo, os elementos usados
para o processo são: turbina auxiliar, gerador
auxiliar, condensador, gerador de propulsão,
bomba de extração, bomba de resfriamento,
painel de propulsão e turbina de propulsão.
Esse tipo de processo proporciona que o
reator funcione constantemente, sem necessidade de interromper a geração de energia
do submarino por um longo período de
tempo o que, consequentemente, faz com
que o submarino tenha capacidade de permanecer alimentado por muito mais tempo
sem necessidade de subir a superfície para
recarregar as baterias, como no convencional. Dessa forma, as limitações do submarino
nuclear se tornam apenas a fadiga humana
e a quantidade de gêneros alimentícios a
bordo. Isso o torna mais eficiente do que o
submarino convencional.
Escolha do Modelo Francês
Efetuando o acordo com a França, o Brasil encontrou algumas vantagens para a produção dos novos submarinos convencionais
e nuclear. No caso específico dos convencionais, vários de seus elementos, tais como
casco e sensores são compatíveis, ou até
mesmo derivados, do submarino nuclear.
Um dos lados positivos disso será, por
exemplo, a familiarização do pessoal com o
novo modelo nuclear, que poderá se iniciar
mesmo estando a bordo dos novos convencionais. Outro detalhe importante é a certeza do bom desempenho dos submarinos
nucleares franceses, que ao longo dos anos
foram se mostrando excelentes máquinas de
guerra em constante operação.
O acordo com a França inclui também
parcerias e facilidades na construção do
estaleiro e da nova base de submarinos
em Itaguaí, no Rio de Janeiro. Porém, a
principal vantagem é a disponibilidade
da França de transferir para o Brasil a tecnologia necessária para a construção do
submarino nuclear, o que provavelmente
24
não aconteceria se o acordo fosse fechado
com outro país. Com essa transferência, o
Brasil passa a ter autonomia na construção
de possíveis outros submarinos nucleares,
além de evoluir sobremaneira a capacitação técnica de seus profissionais e gerar
milhares de empregos.
Diferenças entre
submarino nuclear e convencional
Podemos destacar entre os submarinos
nucleares e convencionais, significativas
diferenças que de maneira contundente reafirmam a importância de se investir nesse,
que provavelmente é nos dias atuais, o meio
bélico mais letal existente.
A principal diferença entre os dois tipos
de submarino é quanto a sua propulsão.
Os submarinos convencionais são caracterizados pela propulsão diesel-elétrica, onde
a energia é gerada por meio de um motor
Revista do Clube Naval • 368
O tempo de duração até que suas baterias descarreguem é proporcional a alguns
fatores como a velocidade, a profundidade
e o uso dos diversos sistemas de bordo,
como por exemplo, o de detecção. Um
submarino classe Tupi descarrega suas
baterias em 400 milhas a 4 nós de velocidade em imersão, enquanto um submarino
de propulsão nuclear pode percorrer uma
distância compatível a 40 circunavegações
à 20 nós de velocidade.
A propulsão nuclear, derivada de um
pequeno reator de urânio enriquecido,
possui capacidade de permanecer gerando
energia ao submarino por tempo indeterminado, concomitante até mesmo a altas
velocidades e profundidades que esse possa
assumir. Estima-se que o submarino nuclear
possa permanecer até 6 meses em plena
atividade, tendo que parar somente pela
falta de mantimentos e a preocupação com
o confinamento de seus tripulantes. Devido
a essa capacidade de permanecer submerso por tempo indeterminado, o submarino
Revista do Clube Naval • 368
nuclear torna-se ainda mais imprevisível,
menos vulnerável e difícil de ser detectado
por outros meios navais, pois ao contrário
do convencional, este não necessita ir à
superfície para prover energia.
A principal vantagem em possuir um
submarino nuclear consiste no advento do
poder de persuasão. A fim de exemplificar
a importância de um país em possuir um
submarino nuclear, e o papel crucial que a
dissuasão causada por ele tem em combate,
vale ressaltar o caso da guerra das Malvinas,
onde, o envio do submarino nuclear britânico S-48 HMS Conqueror, ocasionou diversas
alterações na tática argentina, que passou a
destinar uma grande soma de recursos no
intuito de se defender dessa ameaça em
potencial, enquanto poderia empregar seus
meios em outros fins. Até os dias atuais, o primeiro ataque de um submarino nuclear, foi o
que sucedeu o naufrágio do navio argentino
ARA General Belgrano, acontecimento este,
extremamente relevante nas consequências
da Guerra das Malvinas e fundamental para
a posterior vitória britânica, revelando assim
a imensurável importância desta arma de
guerra e todo o seu poder de dissuasão,
capaz de alterar os cursos de uma guerra
de maneira sem precedentes.
Agregando todos esses fatores que
tanto diferem os dois tipos de submarinos,
podemos concluir o quanto é grandioso esse
avanço não só para a Marinha do Brasil,
como para todo o país, que projeta para seu
futuro um reforço tecnológico jamais visto
em sua história e que traz como consequência a reafirmação da soberania de suas
águas jurisdicionais, aumentando a capacidade de negar o uso do mar ao inimigo
de forma mais contundente, contribuindo
assim, sobremaneira, para o cumprimento
da estratégia nacional de defesa e o avanço
da nação brasileira.
25
http://www.naval.com.br/blog/wp-content/
uploads/2008/07/maquete_submarino_
nuclear-brasileiro.jpg
CONCLUSÃO
O Brasil é culturalmente um país pacífico em se tratando de relacionamento
internacional, ou seja, dificilmente nos
envolveremos em conflitos com outras
nações. Por este motivo, a postura militar
brasileira é apenas de defesa e dissuasão,
almejando simplesmente a negação do mar
e do território nacional a qualquer força que
se apresente hostil a nós. Por adotar esse
tipo de comportamento político, a sociedade
brasileira muitas vezes questiona e critica o
investimento financeiro na área militar. O
próprio submarino nuclear não deixou de
ser alvo de críticas de diferentes origens, de
pessoas comuns ou mesmo de estrategistas.
Algumas pessoas ainda julgam certo desperdício investimentos como estes e alegam que
os mesmos valores seriam bem mais úteis
se injetados em outras esferas da administração pública, tais como saúde e educação.
Analisando-se por esse lado, os argumentos
possuem consistência, porém se perdem ao
vento ao incitarem que um submarino
nuclear pode ser supérfluo. A partir
do momento que se conhece um
pouco mais sobre um submarino
nuclear e tudo de positivo que ele
pode trazer consigo para um país,
fica evidente que investir em desenvolvimento tecnológico militar
representa inteligência e visão de futuro.
Enriquecimento acadêmico dos especialistas
da área, maior respeito ao país pelos olhos
de outros países e geração de emprego são
só algumas das inúmeras vantagens que
acompanham o PROSUB.
Fica fácil reconhecer que o Brasil está no
caminho certo e em uma marcha muito bem
cadenciada para um futuro de excelência
em soberania. n
BIBLIOGRAFIA
Palestras motivacionais ministradas por
oficiais da FORSUB.
www.ecen.com
www.inb.gov.br
www.forsub.com.br
www.naval.com.br
(todos acessados em 14/08/2013).
* Aspirante da Escola Naval.
economia
Financas
do Município
Suporte
do Rio:
ao Novo
Modelo de Gestão
Marco Aurelio Santos Cardoso*
E
ste artigo tem o propósito de
apresentar a experiência do novo
modelo de gestão pública implementado na cidade do Rio de
Janeiro, sob a ótica da Secretaria
Municipal de Fazenda (SMF). Ou
seja, será apresentada a contribuição da
SMF para a abertura do espaço orçamentário
(fiscal) que permitiu à administração iniciada
em 2009 implementar sua estratégia para
o Município.
Destaque-se que esse modelo é inovador
para a cidade do Rio de Janeiro, embora
algumas experiências tenham sido implementadas nos estados de Minas Gerais, São
Paulo e Pernambuco.
Assim, os elementos básicos desse modelo, liderado pela Secretaria Municipal da
Casa Civil, são: Planejamento Estratégico e
Meritocracia. O Planejamento Estratégico,
como ferramenta de gestão, visa pensar a
cidade em prazos mais longos para agir no
curto prazo. Neste contexto, foram fixadas,
pela primeira vez, metas anuais e objetivas
para cada área de gestão (saúde, educação,
infraestrutura urbana, transportes, etc.), que
foram institucionalizadas por meio de Contratos de Gestão/Acordos de Resultados.
Os Acordos de Resultados/Contratos de
Gestão com órgãos e entidades municipais
são ferramentas de gestão usadas na administração pública para: (I) garantir um maior
comprometimento de toda a máquina pública municipal com os resultados da Prefeitura;
(II) institucionalizar uma nova cultura que
privilegie o planejamento com metas claras;
(III) motivar a participação dos servidores
com um modelo que avalie e premie aqueles
que atingirem bons resultados; e (IV) antecipar problemas e apontar soluções através
do acompanhamento formal dos resultados
obtidos. Valendo mencionar que as metas
devem ser, preferencialmente, quantitativas,
relevantes, mensuráveis e auditáveis.
O outro elemento do modelo de gestão, ao lado do Planejamento Estratégico:
a Meritocracia. Conforme mencionado,
implementá-la pressupõe avaliação e premiação. Assim, resumidamente, cada acordo
de resultados é avaliado conforme as metas
pactuadas, recebe uma nota, e, correspondendo a essa nota, recebe uma bonificação.
Ou seja, um bônus que varia de acordo com
o desempenho – em uma estrutura conceitual totalmente aderente à moderna teoria
econômica de incentivos.
Dentro desse modelo a Secretaria
de Fazenda tem dois objetivos básicos e
interconectados: ajudar a melhorar o ambiente de negócios na cidade e otimizar a
arrecadação de recursos, tentando impor
o mínimo de ônus adicional à sociedade.
O primeiro objetivo se relaciona à geração
de emprego e renda pelo setor privado e o
26
Fachada da Nave do Conhecimento, no Parque Madureira
consequente deterioração do bem-estar da
sua população.
Finalmente, não se pode deixar de
mencionar a importância, fartamente documentada na literatura, dos dispêndios com
saúde e educação sobre a produtividade da
força de trabalho – condição essencial para
um crescimento econômico sustentável.
Apresentada a estrutura conceitual que
embasa o novo modelo de gestão, serão
abordadas nas seções subsequentes: I) o problema do espaço para investimentos; e II) a
Parque de Madureira
segundo, à elevação da taxa de investimento
público – dada a urgência em recuperar a
infraestrutura urbana do município e ampliar
e melhorar a oferta de serviços públicos,
valendo destacar a influência positiva de
uma boa infraestrutura urbana sobre as
ações empresariais privadas. É importante
lembrar que a deficiência na infraestrutura
fez com que a cidade perdesse, consistentemente, espaço para outros municípios como
destino de negócios e investimentos, com a
Revista do Clube Naval • 368
atuação da SMF no encaminhamento da sua
solução. Por uma questão de objetividade,
não serão apresentadas todas as ações da
SMF, foram escolhidas duas que acreditamos
sintetizar bem o trabalho da Secretaria: I)
uma na área financeira – a operação de
reestruturação da dívida municipal com a
União; e II) e outra na administração tributária, cujo emblema é a Nota Fiscal de Serviços
Eletrônica – NFSe, a Nota Carioca.
Cabe mencionar que a solução para o
problema do pouco espaço para investimento envolveu não só ações do lado tributário
e financeiro – áreas de atuação da SMF –,
mas também do lado da despesa corrente
– abrangendo a racionalização dos gastos
de toda a Prefeitura.
O ESPAÇO PARA INVESTIMENTO
O principal desafio da Secretaria de Fazenda no início da atual administração era
ampliar o orçamento disponível para investimentos – que girava no patamar de 8,0%
das Receitas Totais – para um patamar mais
próximo das necessidades da cidade.
A soma dos esforços iniciais – notadamente do lado da despesa corrente – foi
Revista do Clube Naval • 368
27
importante suporte para que, já em 2010,
os gastos municipais com investimentos
atingissem R$ 1,6 bilhão, correspondendo a
10,8% das Receitas Totais daquele ano e a
quase o dobro do volume gasto em 2008.
Em relação aos dispêndios com investimentos no ano de 2009, vale mencionar que seu
baixo volume – R$ 400 milhões ou 3,6% da
Receita Total – se relaciona basicamente à
necessidade de avaliação inicial da situação
da Prefeitura e à preparação para implantação dos projetos.
Neste momento, é preciso lembrar que o
primeiro ano da nova administração coincidiu
com o primeiro e mais agudo ano da grave
crise que se abateu sobre a economia mundial,
e se constituiu em um momento de particular
incerteza sobre a arrecadação municipal –
fortemente dependente das condições de sua
economia e da economia nacional.
Empréstimo de Política de Desenvolvimento
(Development Policy Loan - DPL), que elencaria uma série de iniciativas estratégicas a
serem desenvolvidas pelo Município como
pré-condição para a liberação dos recursos
em duas parcelas. O contrato foi assinado
em agosto de 2010, e os recursos foram desembolsados nas duas parcelas acordadas:
a primeira naquele mesmo mês (US$ 545
milhões ou R$ 958,7 milhões), e a segunda
em novembro de 2011 (US$ 500 milhões ou
R$ 886 milhões).
As iniciativas contidas em seu cunho
estratégico no DPL estavam perfeitamente
alinhadas aos objetivos definidos no Plane-
Vista aérea da região do Porto do Rio
REESTRUTURAÇÃO
DA DÍVIDA MUNICIPAL
Observando-se a estrutura de gastos do
Município percebia-se que ela destinava um
percentual maior ao serviço da dívida do
que aos investimentos. De fato, em 2008
as obrigações com endividamento consumiam cerca de 9,0% da Receita Corrente do
Município e os investimentos 8,2% de sua
Receita Total – um padrão que se mantinha
há muitos anos .
Mais de 90% da dívida financeira, em
2009 era fruto do acordo de renegociação
com o Governo Federal realizado na década
de 90, e seguia as regras da Medida Provisória
2185-35. Os encargos pagos correspondiam à
indexação pelo IGP-DI mais juros básicos de
9% ao ano – que poderiam ser reduzidos para
7,5% ou 6,0%, caso ocorresse amortização
extraordinária de, respectivamente, 10% ou
20% do seu saldo a qualquer tempo. Neste
contexto, aparecia o primeiro potencial de
economia de gastos.
Foi dentro deste quadro que surgiu o
Banco Mundial (BIRD), provendo recursos
financeiros para estruturar uma operação
inédita para um município em todo o mundo
– cujo caráter era, a um só tempo, financeiro
e estratégico. A estrutura era a seguinte: de
um lado, o BIRD proveria um empréstimo
de US$ 1,045 bilhão, destinado a amortizar
antecipadamente no mínimo 20% da dívida
com a União, permitindo o fim do saldo
residual e a redução do juro real sobre o
saldo remanescente para 6,0%. De outro
lado, a transação seria formatada como um
atingem metas preestabelecidas e a criação
de um marco institucional para parcerias
público-privadas.
Do ponto de vista financeiro, essa troca
de dívida junto à União, por dívida “mais
barata” com o BIRD, já proporcionou ao município uma economia de R$ 1,0 bilhão – um
valor maior, por exemplo, do que os cerca
de R$ 900 milhões gastos na construção do
BRT Transoeste.
O equacionamento da dívida reduziu o
peso do serviço da dívida sobre as Receitas
Correntes para 4,7% em 2012, abrindo espaço, em conjunto com as demais medidas
do lado da receita e da despesa, para a
elevação do investimento
para 18,9% da Receita Total – uma mudança radical
na estrutura dos gastos
públicos. Isso corresponde a um volume total de
investimentos, em 2011 e
2012, de mais de R$ 3,3
bilhões por ano, mais de
quatro vezes o volume
de 2008.
GESTÃO FAZENDÁRIA
A Via Binária e o túnel da Transoeste
jamento Estratégico Municipal, e se beneficiariam da economia fiscal gerada pela
operação. Resumidamente, as iniciativas
contidas no DPL referiam-se ao: i) aumento do espaço fiscal para investimentos; ii)
apoio às transformações nos serviços aos
cidadãos, especialmente em Saúde e Educação; e iii) incentivo a práticas modernas de
gestão pública – como o estabelecimento
da meritocracia, com o pagamento de
bônus aos servidores das secretarias que
28
Revista do Clube Naval • 368
Revista do Clube Naval • 368
Como dito anteriormente, os principais objetivos desta gestão fazendária são ajudar a melhorar o
ambiente de negócios na
cidade e otimizar a arrecadação de recursos. Em
outras palavras: redução
da burocracia e elevação
da arrecadação em direção
ao seu potencial.
Concernente à melhoria da gestão fazendária, a
Nota Carioca é um exemplo
emblemático. Seus objetivos gerais são: i) do ponto
de vista do contribuinte,
trazer maior justiça fiscal
e modernidade ao sistema de administração
tributária do município, através da informatização da emissão de notas fiscais sobre serviços;
e ii) do ponto de vista da Fazenda Municipal,
elevar as receitas do Imposto Sobre Serviços
– ISS e otimizar a fiscalização.
Uma discussão completa de todo o
processo de implantação da Nota Carioca
e de todos os seus benefícios (financeiros
e não financeiros) pode ser encontrada em
uma série de notas técnicas produzidas pela
29
SMF e disponibilizadas em seu site . Porém,
não podemos deixar de mencionar que, no
tocante à abertura de espaço fiscal via elevação da arrecadação, estudo recém-concluído
pela SMF mostra que a introdução da Nota
Carioca produziu uma elevação nas receitas
com o ISS de quase R$ 700 milhões, entre
julho de 2010 e junho de 2013.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A estratégia financeira adotada pela
Prefeitura do Rio e operacionalizada pela
Secretaria Municipal de Fazenda tem sido
exitosa e mostra como se soube aliar gestão
fazendária ativa com um ciclo econômico
favorável pelo qual vem passando a cidade.
E isso não só do ponto de vista da autoavaliação, mas também do ponto de vista da
análise independente realizada pelas três
principais agências internacionais de crédito
(Fitch, Moody´s e Standard & Poor´s) que continuam classificando o Município do Rio com os
mesmos ratings (investment grade) da União
(BBB, Baa2 e BBB, respectivamente), fato atualmente único para os governos subnacionais
brasileiros (estaduais e municipais).
Quanto às perspectivas dos ratings do Município, conforme publicadas pelas agências, o
toutelo é estável em todas. Um fato importante
é que o Município, ao contrário de vários
bancos nacionais e empresas estatais, não
teve sua perspectiva rebaixada para negativa
pela S&P quando tal movimento foi realizado
para a União no início de junho de 2013.
Assim, quando da finalização desse artigo, o
conjunto completo de ratings do Município,
considerando todas as notas e suas perspectivas, encontra-se até superior à própria União,
fato bastante raro em todo o mundo. n
NOTAS
Neste artigo serão utilizadas as
Receitas Totais subtraídas das Receitas
Intra-orçamentárias.
2
O endividamento é relacionado à
Receita Corrente pois a Receita Total
inclui valores que não podem ser
utilizados para pagamento de dívidas
(operações de crédito e transferências
de capital).
3
http://www.rio.rj.gov.br/web/smf/
notas-tecnicas
1
*Economista e Secretário de Fazenda
do Município do Rio de Janeiro
FÍSICA
A Vitória de
Copenhague
Paulo Roberto Gotaç*
O
Heisenberg e sua incerteza
“Deus não joga dados” – Einstein, 1927,
Princípio da Incerteza, formulado
em 1927 por Werner Heisenberg,1 revolucionou a Física ao
estabelecer o fato de que no
ambiente microscópico as regras
às quais se estava habituado na
escala humana, formalizadas pela chamada
Física clássica, perdem sua validade. O seu
impacto também foi revolucionário nas bases filosóficas, ao questionar o determinismo,
caracterizado pela obtenção de resultados
precisos das quantidades pertinentes, mediante o emprego das equações clássicas básicas.
Estava lançada a semente conceitual segundo
a qual o observador, entendido nesse contexto como as condições experimentais da
observação, não necessariamente o elemento
humano, é parte integrante do processo de
medida, ao contrário do que estabelecia a
Física da escala humana que previa um absoluto divórcio entre o sistema a ser medido
e o esquema experimental utilizado.
O que inspirou Heisenberg para a formulação do seu princípio foram as premissas
básicas da estrutura teórica por ele criada em
1925, capaz de inserir as tentativas ad hoc
de Bohr e Sommerfeld, realizadas entre 1913
e 1916, ligadas ao espectro do hidrogênio,
num esquema conceitual consistente. Adotou na sua teoria, como ponto de partida, o
fato de que somente grandezas observáveis,
como as radiações precisas provenientes
dos saltos quânticos entre níveis de energia,
deveriam ser consideradas. O resultado da
análise foi o aparecimento de uma estranha
não comutatividade do produto de grandezas, o que resultou na associação, por meio
de trabalho de sua autoria com Pascual
contra a visão probabilística da Mecânica Quântica.
“Ainda assim, não nos cabe dizer a Deus como
Ele deve fazer o mundo funcionar” –
resposta de Bohr, no mesmo ano (T.A.)(2)
Este artigo apresenta um resumo dos embates sobre
as interpretações da Mecânica Quântica ligadas à
realidade Física, travados entre Bohr, principal arquiteto
da interpretação de Copenhague, probabilística e não
determinista, segundo a qual a realidade só se manifesta
via processos de medida, e Einstein, partidário da
existência de uma realidade objetiva,independente
daqueles processos. A exposição se inicia com uma
descrição sumária do conteúdo do Princípio da Incerteza,
criado por Heisenberg. Em seguida, focaliza as quinta
e sexta Conferências de Solvay, principal palco dos duelos
entre os dois gigantes, onde se configura o ambiente
de vitória relativa do grupo de Bohr, cuja interpretação,
muito bem-sucedida experimentalmente, é codificada por
um esquema teórico ainda hoje desenvolvido nos cursos
introdutórios de Mecânica Quântica em quase todas
as universidades do mundo. Citam-se brevemente,
ao longo da exposição, aspectos históricos que afetaram
o crescimento da Física no fim da década de 20,
início da de 30 do século passado. O artigo termina com
tinturas sobre recentes tendências de interpretação.
30
Revista do Clube Naval • 368
Revista do Clube Naval • 368
Segundo essa visualização, um elétron,
Jordan e Max Born, com entidades matemáserá tão bem localizado quanto menor for o
ticas, também não comutativas, já existentes,
comprimento de onda (ou quanto maior for a
denominadas matrizes,2 passando todo o
frequência) do feixe luminoso usado para tal,
esquema a ser designado por mecânica masegundo o ângulo . Em contrapartida, por
tricial. Além disso, experimentos realizados
com a câmara de Wilson,3 aparentemente
ser o fóton mais energético (comprimento de
onda pequeno ou frequência grande, pela
permitiam a observação de trajetórias de
relação,
partículas subatômicas, fato inconsistente
, onde e são a conscom sua teoria, que negava a existência de
tante de Planck e a frequência da radiação,1
tal propriedade. A necessidade de harmonia perturbação da quantidade de movizar essas observações com o recém-criado
mento será considerável. Simetricamente,
esquema o conduziu ao princípio.
aumentando-se o comprimento de onda,
Apesar de sempre balizadas pela expeo feixe será menos energético e perturbará
riência,4 as formulações criadas a partir da
menos a quantidade de movimento, mas
sacrificará a precisão da localização do
Mecânica Matricial de Heisenberg exibem
elétron. Todo esse balanço, quando anauma nova característica que se tornou marlisado por uma matemática bem simples,
cante em quase todos os desdobramentos
será expresso pela expressão do
teóricos posteriores, ou seja, no
Princípio da Incerteza.3
domínio quântico, o desenvolvimento conceitual, com consiHeisenberg publicou seu prinderável conteúdo de abstração
cípio em 1927,3 mas não enviou
matemática, em alguns casos,
uma cópia para seu grande tutor
antecedeu a observação, que
Niels Bohr que, para sua decepera então levada a cabo posção, já estava enamorado pela
teriormente, com a respectiva
versão ondulatória de Schrödinverificação experimental.
ger, 1 fato que estremeceu um
Embora toda a inspiração
pouco a relação entre os dois.
que o conduziu ao princípio
O mestre vs. o pupilo
tivesse sua origem no abstrato
esquema teórico-matemático
Heisenberg bateu de frente
por ele criado, seu trabalho foi,
com seu velho mestre quando
pode-se dizer, tentativamente
este, apesar de reconhecer como
visualizado pelo experimento
válidas as relações de incerteza,
de pensamento (gedanken)
argumentou que elas se origina(aquele que, em princípio, pode
vam na verdade no mistério da
ser realizado), centrado no chadualidade onda-partícula e que,
Figura 1 • Microscópio
mado microscópio de Heisen- de Heisenberg
portanto, a abordagem devida a
berg, representado, em linhas localizando um elétron de Broglie e Schrödinger2 introdusegundo um ângulo
gerais, na figura 1.
zindo o formalismo ondulatório,
31
repelido com veemência pelo jovem físico,
teria que ser levada em consideração. Bohr
inclusive apontou erros na interpretação e
nas conclusões matemáticas baseadas no
funcionamento do hipotético microscópio
imaginado por Heisenberg para ilustrar suas
relações de incerteza e chegou às mesmas
expressões supondo o elétron representado
por um pacote de ondas que, quanto mais
estreito, melhor representava sua posição.
Assim, um pacote de ondas concentrado,
como o da letra a da figura 2, semelhante,
só para ilustrar, ao que um agente hipotético
produziria ao oscilar uma única vez a extremidade de um corda, gerando a propagação
do pulso ao longo dela, favorece a precisão
da posição, mas torna difícil saber qual o
comprimento de onda (distância entre dois
pontos de mesma fase), arruinando, portanto,
a obtenção, com o mesmo grau de exatidão,
da quantidade de movimento, fato deduzido
a partir da relação de de Broglie
,
onde
e são a constante de Planck, a
quantidade de movimento e o comprimento
da onda associada, respectivamente.2 Na
letra b da mesma figura, no entanto, onde
o agente produz oscilações ininterruptas na
extremidade, o comprimento de onda bem
determinado facilita a precisão da quantidade
de movimento, mas, com a onda mais espalhada, a posição fica comprometida.
uma delas se manifestava, dependendo do
aparato experimental com o qual o sistema
quântico interagia para permitir sua observação e respectiva medida, numa espécie de
complementaridade, nome da doutrina mais
tarde incorporada ao que se conhece ainda
hoje como a Interpretação de Copenhague
da Mecânica Quântica, designação à qual
o próprio Bohr nunca se referiu, mas que
ficou consagrada, face ao prestígio do dinamarquês e de seu instituto de Física teórica,
transformado ao longo do tempo, numa
espécie de Meca da Mecânica Quântica.
Assim, num experimento destinado a
medir a interferência da luz, somente o caráter ondulatório se apresentava, enquanto
num visando à observação do efeito fotoelétrico, exclusivamente o lado corpuscular
era exibido, não havendo possibilidade dos
dois estarem simultaneamente presentes.
Bohr sustentava que as relações de incerteza descobertas por Heisenberg, embora
corretas, eram consequência de um fato
mais fundamental da natureza, expresso
pela complementaridade.
Em setembro de 1927, Heisenberg e
Bohr, ânimos já serenados, participaram do
Congresso Internacional de Física ocorrido
na cidade de Como, Itália, montado para
comemorar o centenário da morte de
um dos seus mais ilustres filhos, o físico
a)
b)
Figura 2 • a) Pacote de onda estreito mas com comprimento de onda de difícil determinação;
b) Pacote com comprimento de onda definido mas espalhada, tornando difícil a obtenção da posição.
É bom relembrar que o ponto de vista
de Heisenberg não incluía a presença de
ondas, pois entendia ele que a representação das entidades do mundo quântico
pressupunha a existência de descontinuidades e de partículas cujas trajetórias não
podiam ser observadas.
Bohr acreditava que as entidades quânticas apresentavam características ondulatórias ou corpusculares e que somente
Alessandro Volta (1745-1827),5 inventor
da pilha elétrica, um dos mais importantes aparatos experimentais da história do
desenvolvimento da Física, na medida em
que permitiu a produção de corrente elétrica contínua, possibilitando, em 1820, ao
professor de Física Christian Oersted (17771851), durante uma aula na Universidade de
Copenhague, mostrar pela primeira vez, que
a passagem de uma corrente através de um
32
condutor retilíneo provocava a deflexão da
agulha de uma bússola colocada nas proximidades,6 unificando a eletricidade com o
magnetismo, até então fenômenos distintos.
Foi o ponto de partida para o desenvolvimento espetacular do eletromagnetismo durante
o século XIX, com os trabalhos subsequentes
de André-Marie Ampère, Michael Faraday e
James C. Maxwell na área.
No congresso, Heisenberg apresentou
palestra na qual expôs seu princípio e Bohr,
com a introdução da descrição ondulatória,
lançou a complementaridade que, acrescida
da interpretação probabilística proposta por
Max Born, viria a formar o escopo da Interpretação de Copenhague, referida acima.
Presentes ao encontro, além de Bohr e
Heisenberg, os grandes responsáveis pela
criação da Mecânica Quântica: Born, de Broglie, Compton, Lorentz, Planck e Sommerfeld,
entre outros. Entre as ausências notáveis,
destaque para Erwin Schrödinger, ocupado
em mudança de domicílio para assumir
posto acadêmico e Albert Einstein que se recusou a visitar a Itália fascista sob o controle
de Benito Mussolini desde 1922.7
coordenadas que levam seu nome, marcas
características da teoria da relatividade restrita de Einstein, exerceu a função de coordenador das Conferências de Solvay desde a
primeira, em 1911, até seu falecimento. Nos
preparativos para o encontro de 1927, em
Bruxelas, obteve uma de suas mais notáveis
vitórias no campo diplomático, ao conseguir
do então rei belga Alberto I, permissão para
convidar sem discriminação os físicos alemães, encerrando o período de boicote que
até então ainda vigorava.2
Assim, em 27 de outubro de 1927, teve
início a quinta Conferência de Solvay, sob o
Piccarc
A atividade científica é um empreendimento humano (“a ciência é feita pelos
homens” – Heisenberg)8 e, portanto, sujeita às flutuações do ambiente político onde
se desenvolve.
As Conferências de Solvay,9 já mencionadas num dos trabalhos desta série, iniciadas
em 1911 sob os auspícios do rico industrial
belga Ernest Solvay (1838-1922), com o
objetivo de divulgar e discutir questões
ligadas ao desenvolvimento da Física e da
Química, perduram até os dias de hoje,
com periodicidade média de três anos,
interrompidas por força das eclosões das
duas guerras mundiais. A de 1921, face ao
término recente da Primeira Guerra e do
boicote imposto pela comunidade científica,
não contou com a participação dos físicos
alemães, exceção feita a Einstein que, convidado, por conta de seu posicionamento
pacifista, declinou, exatamente por não
concordar com a discriminação. O convite
para a seguinte, de 1924, com a mesma
restrição da anterior, foi também recusado.
A ambos os eventos, Bohr, também não
compareceu, por motivos diversos.
O físico holandês Hendrik Antoon
Lorentz (1853-1928), Prêmio Nobel de Física
de 1902, famoso pelas transformações de
Revista do Clube Naval • 368
Henriot
Ehrenfest
Debye
Solvay 1927
da conferência aparece na foto abaixo.
O ponto de vista defendido por Bohr,
probabilístico, sublinhado pela Complementaridade e pelo Princípio da Incerteza,
enfatizava com empenho o papel da observação dos sistemas quânticos, afirmando que
estes não possuem realidade até que sejam
observados, mediante sua interação com um
aparato de medida, evidentemente clássico,
pois o resultado do ato de observação tem
que ser interpretado nos parâmetros da
escala humana. Apesar disso, Bohr nunca
precisou com exatidão a linha divisória entre
o sistema quântico a ser medido e o aparato
Langmuir
Knudsen
Planck
Herzen
Donder
Dirac
Kramers
Bragg
Curie
Schrodinger
Lorentz
Verschaffelt
Compton
Einstein
O ponto de discórdia consistia no fato
de que Einstein tinha convicção que cada
elemento da teoria, determinista, tinha sua
contrapartida no mundo real, enquanto Bohr
manipulava entidades matematicamente
abstratas, como a função de onda , introduzida por Schrödinger,1 representativa do
estado do sistema e tinha como base o estranho comportamento probabilístico. Como
ele próprio declarou na ocasião: “É errado
pensar que a tarefa da Física é descobrir
como a natureza é. A Física diz respeito ao
que dizemos sobre a natureza”.2
As argumentações de Einstein foram
Pauli
Broglle
Langevin
Fowler
Heisenberg
Born
Guye
Brillouin
Bohr
Wilson
Richardson
Foto oficial da quinta Conferência de Solvay, 1927
título genérico de Electrons and Photons, com
a participação do primeiro time de físicos
dedicados à então revolucionária e estranha
Física do quantum. Um deles aparecia pela
primeira vez sob os holofotes, Paul Dirac, já
mencionado em artigo anterior desta série,
sobre o qual se falará em trabalhos vindouros. Apesar do título e do fato de que nem
Bohr nem Einstein estivessem pautados para
apresentar trabalhos das respectivas autorias, a conferência ficou mesmo centrada
nas questões de interpretação dos novos
conceitos, capitaneadas pelos dois gigantes
em posições antagônicas. A fotografia oficial
Revista do Clube Naval • 368
destinado a fazê-lo. Uma excelente análise
sobre tal fronteira pode ser analisada no livro
Quantum theory, publicado anos mais tarde,
de autoria do físico David Bohm.10
Do lado oposto ficava Einstein que,
também não inscrito, manifestou-se, e,
reconhecendo o sucesso da teoria que
estava florescendo, rejeitava-a como definitiva, acreditando numa realidade out there,
independente dos modos de observação,
e na restauração do determinismo, qualificando o aspecto probabilístico de provisório e, portanto, portador de inconsistências
lógicas na formulação teórica.
33
expostas sob a forma de experimentos de
pensamento (gedanken), nos quais tentava
apontar inconsistências no corpo conceitual
da Interpretação de Copenhague. Uma das
posições defendidas por ele consistia no
fato de que a probabilidade, intrínseca,
segundo Bohr, em qualquer sistema quântico, mesmo nos individuais (um só elétron,
por exemplo), representada pela função de
onda de Schrödinger, apresentava inconsistências lógicas. Na ocasião defendeu um
tipo de probabilidade tipo clássica, válida
para um grande número de sistemas (um
feixe de elétrons, por exemplo).
A situação pode ser esquematizada pelo
experimento de pensamento representado
na figura 3 no qual uma placa plana permite
a passagem por um orifício, de um feixe de
elétrons que vai ser detido por uma placa
fotográfica em forma de semiesfera. Supondo
que a chegada de uma partícula na placa seja
revelada por um clique, é possível saber onde
bateu. Pela interpretação de Copenhague, há
uma probabilidade, representada pelo módulo da função de onda, do clique ocorrer em
qualquer ponto da placa. Uma vez, porém,
ocorrendo num ponto A, a probabilidade dele
atingir outro ponto B vai instantaneamente a
zero, numa espécie de colapso da função de
onda, o que contraria a premissa de que há
uma probabilidade dele ocorrer em qualquer
ponto da placa, já que esta é representada por
uma onda abstrata de probabilidade.
grupo liderado por Bohr.
Einstein, reconheceu as virtudes das
novas ideias, mas com reservas, ao declarar,
por exemplo, a famosa frase “Deus não
joga dados” e iniciando um período de isolamento que iria agravar-se até sua morte.
Logo ele, um dos pioneiros dos quanta,
com destaque na sua explicação heurística
do efeito fotoelétrico, em 1905, que lhe
valeu o Nobel de Física em 1921, não saiu
convencido e começou a preparar um novo
arsenal de experimentos de pensamento que
seriam apresentados na próxima, a sexta,
conferência, a de 1930.
Solvay 1930
Com a morte de Lorentz, em 1928, a
coordenação da conferência passou a ser
exercida pelo físico francês Paul Lanvegin
Dessa vez Einstein veio munido de um
experimento gedanken, no qual era questionado o conteúdo de Princípio da Incerteza
envolvendo as variáveis conjugadas energia
e tempo,1 ao contrário das variáveis posição
e quantidade de movimento, focalizadas nas
objeções apresentadas durante a conferência
de 1927. Sua representação matemática é:
onde é a constante de Planck,
éa
incerteza na medida da energia e
o
período de tempo durante o qual se mede
a energia.
O experimento, cujo esquema é apresentado na figura 4, consistia de uma caixa
imaginária que continha radiação e, num
instante definido de tempo (
), o que
da energia (
), situação que contraria
as limitações impostas pela expressão acima,
representativa do Princípio da Incerteza, ao
estabelecer que, quando uma das varáveis
é medida com certeza absoluta, a indeterminação da outra é infinita.
A proposta experimental produziu um
estado de tensão nas hostes de Bohr que
considerou que a eventualidade, mesmo em
princípio, de que a situação imaginada por
Einstein pudesse ser concretizada, ficaria
demonstrado o fato de que a Mecânica
Quântica poderia não ser completa (os
elementos da teoria não cobririam todas as
situações experimentais realizáveis) e, com
isso, toda a Física quântica que estava sendo
construída, quase unanimemente aceita
àquela altura pela comunidade científica,
teria que ser apagada e repensada.
Figura 4 • Esquema do experimento de
pensamento sugerido por Einstein durante a
sexta Conferência de Solvay.
escalada do antissemitismo que caracterizou o restante da década de 30 do século
passado, Einstein recolheu o arsenal que
havia concentrado para combater a possível
inconsistência da interpretação de Copenhague e, derrotado mas ainda não subjugado,
resolveu investir com mais vigor no aspecto
da não completitude da interpretação de
Copenhague. Sua reaparição, já com residência permanente em Princeton, EUA,
para onde se transferiu em 1933, ano da
ascensão ao poder absoluto de Hitler, só viria
a acontecer em um trabalho publicado em
1935, em conjunto com mais dois físicos12
no qual era proposto um experimento de
pensamento que fez mais uma vez Bohr e
seu Estado-maior entrarem em estado de
grande agitação. Mas esse novo embate fará
parte do próximo artigo desta série.
Placa fotográfica
A
feixe de elétrons
B
orifício
Figura 3 • Experimento de pensamento de Einstein com um orifício
Outros experimentos de pensamento
foram expostos por Einstein, sempre com
o objetivo de detectar alguma brecha de
inconsistência na interpretação de Bohr.
Todos os argumentos eram rebatidos pelo
próprio Bohr ou partidários.
O encontro terminou mostrando certa
“vitória” da interpretação de Copenhague.
Houve até uma conversão, a de de Broglie,
que, não encontrando ressonância para o
seu modelo de onda piloto, onde onda e
partícula, reais, coexistiam, imagem quase 30 anos depois reabilitada por David
Bohm, na sua tentativa de restaurar o determinismo na Física, voltou da conferência
convencido e passou a aceitar a visão do
(1872-1946). A sexta conferência (foto ao
lado) contou com a participação de 34 físicos, dos quais 12, já ou futuros laureados
com o Nobel de Física. Apesar do título
genérico do encontro, magnetismo, ele, na
verdade, consistiu numa espécie de segundo
round do embate entre Bohr, assessorado
pelo seu Estado-maior – Heisenberg, Pauli e
Born – do lado da Interpretação de Copenhague e, do outro lado, Einstein, solitário, na
sua tentativa de encontrar inconsistências na
estrutura teórica, ao rejeitar como definitivos
os pilares básicos da nova Física – a probabilidade, a incerteza e a indissolubilidade entre
o sistema quântico a ser medido e o aparato
experimental usado para tal.
34
Sexta Conferência de Solvay. Einstein está sentado, no centro e Bohr é o segundo sentado da esquerda para a direita.
implicaria numa indeterminação infinita na
medida da energia, pela expressão acima)
deixava escapar um fóton. A caixa seria
pesada antes e depois da saída do fóton,
o que determinaria, pelo emprego da expressão indiscutivelmente aceita, deduzida
da relatividade restrita de Einstein, ligando
energia e massa,
, o valor exato
Revista do Clube Naval • 368
Então aconteceu o inimaginável. Após
uma noite mal dormida, refletindo sobre o
aparente paradoxo sugerido por Einstein,
Bohr encontrou a solução utilizando, é de
pasmar, os fundamentos da teoria da relatividade generalizada, a mesma que tornou
Einstein, da noite para o dia, mundialmente
conhecido. Aproveitando o fato previsto
Revista do Clube Naval • 368
por aquela teoria de que a intensidade do
campo gravitacional influi na medida do
tempo, Bohr conseguiu restabelecer a consistência da expressão de incerteza entre
as variáveis conjugadas energia e tempo.
Os detalhes matemáticos da demonstração
não serão mostrados neste artigo.11
Após a conferência de 1930, já com a
35
Conclusão
A interpretação de Copenhague saiu vencedora da disputa e até hoje é aceita, sendo
extremamente bem-sucedida no confronto
com a experiência e revolucionária na medida em que prevê situações que contrariam
o senso comum da escala humana, como o
efeito túnel,13 consequência direta da hipótese
ALOCUÇÃO
probabilística e responsável por enormes
avanços tecnológicos ligados à eletrônica
do estado sólido, e como a não localidade,
segundo a qual os sistemas quânticos, em
determinadas condições, estão relacionados
por uma espécie de “entrelaçamento” (entanglement, em inglês),14 de tal forma que a
interferência num deles repercute instantaneamente no outro, contrariando um dos cânones da relatividade, o de que a velocidade de
propagação de sinais não pode ser superior à
de propagação da luz. O fato, porém, é que
tal particularidade está permitindo aplicações
práticas, ainda hoje incipientes, no sentido de
se construírem computadores quânticos, com
velocidades de processamento muito maiores
que as dos convencionais.
O esquema teórico que formaliza os
aspectos da interpretação de Copenhague
ainda é predominante nos conteúdos dos
cursos de Mecânica Quântica para os alunos que se iniciam no assunto. É claro que
os desenvolvimentos conceituais não se
congelaram e desdobramentos importantes
ocorreram ainda no final da década de
20 e início da de 30 do século passado,
destacando-se o trabalho de P.A.M. Dirac
que incorporou a relatividade ao esquema,
com consequências notáveis, como o spin
do elétron, deduzido teoricamente como
resultado do desenvolvimento teórico e
não de uma hipótese feita por Pauli, que lhe
inspirou a formulação do seu fundamental
Princípio da Exclusão.2
Durante a década de 40 do século passado, os trabalhos dos físicos americanos
Richard Feynman e Julian Schwinger, juntamente com o japonês Sin-itiro Tomonaga,
lhes valeram o Nobel de Física de 1965, pelo
desenvolvimento do que se designa hoje
como Eletrodinâmica Quântica,15 fundamental para a compreensão do comportamento
das partículas carregadas, como o elétron.
A década de 50 do século passado assistiu à ressurreição da imagem da onda piloto
defendida por Louis de Broglie ainda nos idos
de 1927, sendo o principal responsável pela
sua retomada o físico americano David Bohm
(1917-1992) cujos esforços incluíam o restabelecimento de um determinismo na Física,
inerente a um nível mais fundamental que
o preconizado pelo Princípio da Incerteza e
contando com as chamadas variáveis ocultas,
hipotéticas e ainda hoje não detectadas.
Apesar de todo o impulso que a Física
das partículas elementares experimentou
e continua experimentando até os dias de
hoje, traduzido pelo desiderato de incluir a
gravidade no esquema quântico, resultando
no aparecimento de teorias recentes como a
das supercordas, a questão da interpretação
permanece, de certa forma, em aberto.16 n
*Capitão-de-Mar-e-Guerra (Ref)
Apesar das divergências,
Bohr e Einstein
sempre foram amigos
71 ANOS DA CRIAÇÃO
DA
Referências bibliográficas
FORÇA
NAVAL DO
NORDESTE
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mechanics. New Jersey: Prentice Hall, 1995.
2. Kumar, M. Quantum. Einstein, Bohr and
the great debate about the nature of reality.
New York: Norton, 2008.
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physics. Dover Publications, 1956.
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wikipedia.org/wiki/Alessandro_Volta.
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Berkeley Physics Course. v. 2 New York:
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benito-mussolini/benito-mussolini.php
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New York: Dover Publications, 1989.
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quantum mechanics. New York:
John Wiley & Sons, 1974.
12. Einstein, A., Podolsky,
B., Rosen, N. Can quantummechanical description of
physical reality be considered
complete? Physical Review,
n. 47, p. 777-780, 1935.
Comemorando essa data histórica, em 8 de outubro último, na Base Naval do Rio de Janeiro, o
CMG (RM1) Francisco Eduardo Alves de Almeida* proferiu a palestra que reproduzimos a seguir.
C
riada em 1942, a Força Naval
do Nordeste tinha uma função
operacional específica, que era
o combate às forças submarinas
do Eixo, por meio do estabelecimento de comboios na costa
brasileira até Trinidad e de grupos de ataque
antissubmarino. Entretanto, como historiador
naval, reputo a criação dessa força como
uma função política bem mais relevante que
o aspecto meramente operacional. Ela foi o
ponto de inflexão no desenvolvimento de
nossa Marinha de combate. Pode-se classificar a Marinha do Brasil na Segunda Guerra
Mundial como antes e depois da criação da
Força Naval do Nordeste.
13. http://www.fing.edu.uy/
if/cursos/fismod/cederj/
aula12.pdf
14. http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S180611172011000400003
15. Feynman, R. QED –
The strange theory of
light and matter.
Princeton: Princeton
University
Press, 2006.
16. Selleri, F. El debate
de la teoria cuántica.
Madrid: Alianza Editorial,
1986.
36
Revista do Clube Naval • 368
Revista do Clube Naval • 368
37
Até o estabelecimento dessa força, em
outubro de 1942, a Marinha do Brasil era
uma força despreparada, com níveis de
adestramento baixos e pouca motivação
para o combate. Ao lermos os relatórios
dos Ministros da Marinha dos anos 20, 30
e início dos 40, disponíveis no Arquivo da
Marinha, pode-se perceber o baixo nível de
aprestamento da força, retratado com muita
ênfase pelos titulares da pasta. Talvez o mais
emblemático seja o relatório do Almirante
Protógenes Guimarães, ministro em 1932,
que em seu relatório de final de ano para
o Presidente da República Getúlio Vargas,
afirmou, sem meias palavras, que “estamos
deixando morrer a nossa Marinha. A Esquadra agoniza pela idade e perdido com ela
o hábito das viagens, substituído pela vida
parasitária e burocrática dos portos, morrem
todas as tradições... Estamos numa encruzilhada: ou fazemos renascer o Poder Naval
sob bases permanentes e voluntariosas ou
nos resignamos a ostentar a nossa fraqueza
provocadora... Estamos completamente
despreparados”.
A Força Naval do Nordeste veio mudar
esse quadro de pessimismo e descrença.
Novos meios foram incorporados e novas
técnicas foram apreendidas por jovens
oficiais motivados que guarneciam aqueles
navios recém-adquiridos. Em essência, essa
força foi formada por jovens com idades
variando, em sua maioria, entre 22 e 35
anos. Os mais experientes, os capitãesde-corveta, comandantes dos mineiros
classe Carioca transformados em corvetas
e dos DEs classe Bertioga. Eram poucos os
capitães-de-fragata. A Força Naval do Nordeste era realmente formada pela juventude
brasileira. Morria a Marinha da descrença e
nascia a Marinha da ação de combate.
Enquanto escrevia esta alocução imaginei como poderia qualificá-la em poucas
linhas, evitando um texto excessivamente
laudatório que pregasse a infalibilidade dessa força naval. Por ser um
oficial de marinha com formação
em História, imaginei abordar
esse tema sob dois pontos de vista
distintos, que caracterizassem a
Força Naval do Nordeste em sua
essência. O primeiro ponto de vista
se referirá ao aspecto material e o
segundo ao aspecto humano dessa
unidade naval.
No primeiro aspecto, o de material, imaginei apontar que melhor
meio de combate poderia qualificar
essa força naval no que tinha de mais
nobre. Cheguei à conclusão que,
embora a Força Naval do Nordeste
fosse composta de diversos tipos de
meios, o seu mais representativo foi
o caça-submarino, o “cacinha” para
os seus tripulantes.
Navios ágeis, modernos e acolhedores,
os cacinhas representavam a essência da
combatividade, tão desejada pela nossa
Marinha. Eles eram de dois tipos, os caça-pau
classe J e os caça-ferro classe G, maiores.
Deslocando entre 130 e 280 toneladas, com
tripulações variando entre 25 e 60 homens,
respectivamente, os das classes J e G, esses
navios possuíam uma pletora de sensores e
armamentos modernos que afugentavam os
adestrados submarinistas alemães. Eles eram
empregados em missões antissubmarino,
quer em patrulhas regulares quer em escoltas de comboios. Se o comboio passasse
incólume, a missão tinha sido cumprida.
O amor que as tripulações devotavam
a esses navios era extremo. O “espírito de
navio” prevalecia acima de qualquer outra
característica. O meu grande amigo Almirante Hélio Leôncio Martins, decano de todos
nós que trabalhamos com história naval no
Brasil e ex-comandante do caça-submarino
Juruena foi quem melhor descreveu o
que era viver em um cacinha. Disse ele:
“Quando se contar a história da Batalha do
Atlântico, que se desenrolou junto à nossa
costa, tão mortífera, tão rude, tão perigosa,
ficará assinalada nessas páginas, em letras
de ouro resplandecentes, a epopeia dos
caça-submarinos. E lá vai o cacinha para
as delícias do porto! Parece uma toninha
alegre nos seus pulos. Bom cacinha. Velho
caça-pau que veio fazer a guerra de viking
nesta era do ferro, do conforto, do grandioso.
Não pega nada caça-pau! Caíste em boas
mãos... Caça-pau amigo, não tens corsários
franceses, holandeses ou ingleses. Agora são
alemães... O luso, o índio e o negro ainda
estão nas almas dos que te manejam. Esteja
descansado, meu caça-pau. Na esteira de
teus antepassados, também de pau, que
rondavam estas costas, tu, cacinha velho,
em rumo certo, navegas para a história.”
E digo eu que, por certo, para a História o
cacinha navegou.
Um segundo ponto de vista diz respeito
ao fator humano, ao espírito que guiava
aquelas tripulações, irmanadas em torno
de um só objetivo: defender o Brasil, juntos,
unidos, solidários. Todos compartilhavam
a mesma comida e o mesmo desconforto,
recompensados pela união espiritual de
defender o Brasil. Os oficiais e praças dividiam experiências, dúvidas, temores e
alegrias. As praças olhavam os oficiais com
um misto de respeito e confiança, enquanto
os oficiais os olhavam com um misto de
camaradagem e companheirismo. Esse era
o espírito do cacinha.
A história não se faz só de documentos
escritos, mas também de fontes orais que
confrontadas com outras fontes, apresenta
ao historiador um quadro próximo da realidade. Talvez o mais interessante depoimento sobre o espírito do caça-submarino
componente da Força Naval do Nordeste
seja o de João Palma Neto, na ocasião,
marinheiro, que escreveu um interessante
livro sobre suas experiências a bordo do
caça-submarino Gurupá. Disse ele sobre o
seu navio o seguinte: “Minha impressão do
Gurupá foi indescritível. Nada nos faltava.
Tínhamos um conforto invejável. O colchão
dos nossos beliches era de peninha de papo
de ganso, macio, meu Deus, de dar vontade
de residir na cama. Nenhum almirante dormira em um igual... Os oficiais tinham um
pouco mais de conforto. Um pouco mais
apenas...eles eram os mais entusiastas do
navio e compreendiam a necessidade de
todos aqueles homens que com eles arriscavam a vida, terem o tratamento humano
que o navio oferecia... Eis por que os cacinhas eram os navios em que nada pegava;
não havia navios na Marinha capazes de
competir com os caças naquelas coisas que
dependiam da eficiência das guarnições...
Havia crença, disciplina, ordem, eficiência,
presteza, justiça, compreensão, decência,
bondade, desassombro, franqueza, liberdade
e tudo... Nada, absolutamente nada quebrava o ritmo dessa cadeia de sentimentos,
aspirações e crenças que nos irmanava e
que se solidificava a cada dia vivido... Um
ambiente sadio, cheio de destemerosos,
intrépidos, audazes, competentes, solícitos
e humanos marinheiros. Uma escola de
homens, de militares conscientes dos seus
deveres e direitos fecha sapas.
Palma Neto ainda em seu livro não
esqueceu os oficiais que lideravam aquele
valente cacinha. Sobre esses oficiais Palma
Neto disse: ”Os comandantes Helio Ramos
de Azevedo Leite, José Paulo de Albuquerque Guilhobel, o imediato Rubem da Costa
Figueiroa, os tenentes Noronha, Tertius, Mallet e outros que se alternavam nos diversos
postos de direção do Gurupá, foram homens
cuja memória ficará para sempre com os
seus comandados. Estive diante de tudo
isso, quase a crer totalmente ser o homem
produto do meio”, finalizou Palma Netto.
Esse era o espírito que irmanava os
homens dos cacinhas da Força Naval do Nordeste, uma força que transformou a Marinha
do Brasil. Para que tenhamos uma ideia dos
números alcançados pelos caça-submarinos
da Força Naval do Nordeste durante a guerra aponto que os 16 caça-submarinos da
força realizaram 4.329 dias de mar, o que
dá uma média de 270 dias de mar para
cada cacinha. O caça que mais dias de mar
realizou na guerra foi o Guaporé, com 426.
O comandante de caça que mais viajou foi
o CT Oswaldo de Macedo Cortes, com 188
dias de mar. Enfim, realizações notáveis
para pequenos navios. Caça-submarinos e
homens destemidos, a fusão perfeita de uma
nova Marinha que surgiu.
Ao comemorarmos, no dia 5 de outubro,
os 71 anos de criação da Força Naval do
Nordeste, devemos nos lembrar de nossos
antepassados que não estão longínquos. Eles
estão ainda entre nós, vivos na lembrança e,
mais importante, presentes na nossa história naval. A eles, os componentes da Força
Naval do Nordeste, que labutaram
não só nos pequenos cacinhas, mas
nos velhos e honráveis Cruzadores
Bahia e Rio Grande do Sul, nos contratorpedeiros classe Marcílio Dias,
nos inesquecíveis DEs e nos bravos
navios mineiros transformados em
corvetas classe Carioca.
Como oficial de Marinha e
historiador naval rendo minhas
homenagens a esses bravos que
exerceram com dignidade a nobre
profissão de homens do mar.
Viva a Força
Naval do Nordeste!!
Viva a Marinha do Brasil!! n
*Capitão-de-Mar-e-Guerra
(RM1) • Graduado, mestre e
doutor em História, pela UFRJ.
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39
Barcelona
Barcelona
rte
VIAGENS
A capital da comunidade
autônoma da Catalunha é uma
cidade vibrante e cosmopolita,
com um vasto patrimônio
cultural, que integra ruínas
romanas, bairros medievais,
magníficos edifícios
do modernismo catalão e
arrojadas construções
contemporâneas. Além
da riqueza arquitetônica,
esculturas espalhadas
em diferentes locais tornam
a cidade ainda mais
encantadora. A sua ampla
agenda cultural contempla
excelentes museus, galerias
de arte e uma diversificada
programação de espetáculos
musicais e teatrais. Também
conhecida pela ótima
gastronomia e a animada
vida noturna, Barcelona
é um roteiro fascinante.
ar éu
ac o
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r
abe
Texto e fotos:
Rosa Nair Medeiros*
Músicos
se apresentam
em uma das
estreitas ruas do
Barri Gòtic
O centro medieval
gravita em torno da Catedral
de Barcelona
Interior
da Catedral
gótica
As delícias
gastronômicas
do Mercado
La Boqueria
I
niciamos a jornada pela Plaça de Catalunya, o coração da cidade, rodeada
de elegantes edifícios. Desse ponto
de referência para barceloneses e
visitantes, prosseguimos pela famosa
La Rambla, um arborizado passeio de
pedestres, que se prolonga entre a praça e a
região à beira-mar. A movimentada alameda é composta por cinco trechos distintos,
sendo também chamada de Las Ramblas
(Les Rambles, em catalão). Ao longo do
calçadão há bancas de jornais, floriculturas,
lojinhas, cafés e restaurantes.
Percorrendo a Rambla, podemos acessar
o Grand Teatre del Liceu (1847), uma das
40
Um trecho das Ramblas,
o arborizado passeio que une a Plaça de
Catalunya ao porto antigo
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mais importantes casas de ópera da Europa; e o renomado Mercado La Boqueria,
onde se encontra de tudo – frutas, pescados, embutidos, temperos, doces e muitas
outras delícias gastronômicas. O boulevard estende-se até o imenso monumento
em homenagem a Cristóvão Colombo, no
Port Vell (porto antigo). A partir dali outras
possibilidades de passeios apresentam-se
ao visitante.
Atrações da cidade antiga
A área da Ciutat Vella (cidade antiga)
inclui o Barri Gòtic, La Ribera e El Raval,
que guardam importantes monumentos e
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Ao lado da
Catedral,
encontra-se
parte da
fortificação
romana do
século IV
41
construções históricas. O Barri Gòtic (Bairro
Gótico), situado à esquerda de quem desce
a Rambla rumo ao mar, contém vestígios
de quando a cidade era um entreposto romano e belas edificações do período gótico,
erguidas entre os séculos XIII e XV, quando
Barcelona vivenciou uma época de ouro.
O centro medieval gravita em torno da
Catedral gótica, localizada na Plaça de la Seu.
De quase todos os pontos do bairro avistamse os pináculos da igreja, erguida entre os
séculos XIII e XV. O conjunto arquitetônico
apresenta-se muito harmonioso e o interior
possui detalhes góticos esplêndidos, como o
coro lindamente esculpido. O claustro, com
palmeiras, um pequeno “lago” e um grupo de
gansos, chama a atenção dos visitantes. À direita da fachada principal da igreja, encontrase uma parte da muralha romana da cidade
de Barcino, datando do século IV.
As charmosas pracinhas também guardam testemunhos das origens da cidade.
Na Plaça Ramón Berenguer há um dos
maiores fragmentos da muralha romana
do século IV.
Uma das
charmosas
ruazinhas
do Bairro
Gótico
No centro, destaca-se a estátua equestre do herói catalão do século XII, que dá
nome ao local. Outra joia é a Plaça del Rei,
onde está a sede do Museu d’Història de
la Ciutat. O passeio na parte subterrânea
permite ver as ruínas da antiga Barcino.
Dividindo a atenção, ali se encontra o Palau Reial Major, que serviu de residência
aos reis da Catalunha e Aragão.
A sóbria Plaça Sant Jaume abriga a sede
do governo autônomo da Catalunha, que
funciona no Palau de la Generalitat, um
prédio do século XV. Do outro lado, situa-se
a Casa de la Ciutat (Prefeitura), do século XIV.
Nessa incursão pelo bairro, a Plaça Reial é
um ótimo lugar para fazer uma pausa. Cercada por edifícios do século XIX, possui altas
palmeiras e as famosas lâmpadas, projetadas
pelo jovem Antoni Gaudí, em volta da Font
de Les Tres Gràcies.
Circulando pelas estreitas ruas do quarteirão gótico, descobrem-se mais raridades
históricas, ótimos bares para saborear tapas
e muitas opções de compras, com lojas especializadas desde leques a alpargatas.
Born, concentram-se bares, restaurantes e lojas
sofisticadas, reunindo moradores e visitantes.
O bairro também é famoso pela igreja
Santa Maria del Mar, erguida em estilo gótico
catalão, no século XIV. Não tem decoração
opulenta, mas impressiona pela proporção
arquitetônica, pelas amplas colunas e por
seus lindos vitrais. Outra atração de La Ribera
é o prestigiado Museu Picasso, dedicado aos
primeiros anos da carreira do artista andaluz,
que passou boa parte de sua juventude em
Barcelona. A coleção possui mais de três mil
obras, exibidas em cinco elegantes palácios
Uma das salas do acervo apresenta seus
estudos sobre a obra-prima “As meninas”,
de Diego Velázquez.
O artista Antoni Tàpies escolheu o bairro
para instalar a sua escultura “Homenagem a
Picasso” – uma composição ao estilo cubista
protegida por um cubo de vidro. A obra está
exposta no Passeig Picasso, avenida que
acompanha o limite do Parc de La Ciutadella.
Esse agradável espaço possui lindos jardins,
um lago e abriga o zoológico da cidade. O
parque foi erguido onde ficava a fortaleza
construída após a Guerra da Sucessão Espanhola. Ela já não existe, o que restou foi a
versão catalã do Arco do Triunfo, em frente
à entrada principal.
O Palácio da Música Catalã, localizado
na divisa de La Ribera com o bairro Gótico,
é uma das maiores contribuições do movimento modernista. A linda sala de concerto
foi projetada pelo arquiteto barcelonês Lluís
Domènech i Montaner, contemporâneo de
Gaudí, e erguida entre os anos 1905 e 1908.
A entrada com pilares de mosaicos coloridos
e esculturas é apenas uma mostra da decoração interna, repleta de simbolismo. Os belos
vitrais permitem a entrada de luz natural.
A Casa Milà é um
símbolo da cidade.
No teto destacam-se
as chaminés
inspiradas
em cavaleiros
medievais
El Raval, um mosaico cultural
Situado no lado oposto ao Bairro Gótico,
El Raval é um mosaico multicultural. Diferentes sotaques, do oriente e de outras partes
do mundo, misturam-se nas suas ruas. Nos
últimos anos, o bairro tem passado por uma
transformação, tornando-se um dos points da
moda. A revitalização a partir da década de
1990 fica evidente com a construção de edifícios modernos, praças e grandes avenidas.
Mas El Raval preserva suas atrações históricas, como o Palácio Güell (1885-1889),
uma das obras do período inicial de Antoni
Gaudí, o maior expoente do modernismo
catalão. O edifício possui o teto todo trabalhado e chaminés decoradas com azulejos
coloridos. Impossível passarem despercebidas as formas e as cores dessa mansão,
encomendada por Eusèbi Güell.
O Museu Marítimo, instalado nos Reials
Drassanes (estaleiro real), onde eram confeccionadas embarcações nos séculos XVIII e
XIX, exibe um rico acervo, composto por barcos de pesca antigos, instrumentos náuticos,
cartas do período das conquistas marítimas
espanholas e uma réplica em tamanho real
de um navio do século XVI.
Outra visita imperdível é ao Museu de
Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA),
um imponente edifício branco concebido
pelo arquiteto americano Richard Meyer,
onde acontecem diversas exposições temporárias. A coleção permanente contém mais de
três mil trabalhos feitos no período posterior
à Segunda Guerra, reunindo as mais recentes
tendências da arte catalã e de movimentos
internacionais que a influenciaram.
L’Eixample e o legado de Gaudí
A partir da segunda metade do século
XIX, Barcelona experimentou um crescimento espetacular na economia com o início da
industrialização. Essa riqueza impulsionou a
cultura e as artes, que alcançaram o esplendor no modernismo catalão. Os arquitetos
Antoni Gaudí, Lluís Domènech i Montaner e
Josep Puig i Cadafalch consagraram-se como
os principais artistas do movimento.
O modernismo encontrou o terreno de
experimentação no bairro L’Eixample, que
teve origem com a expansão da cidade
além das muralhas medievais, em meados
do século XIX. No novo bairro combinouse o interesse por um urbanismo racional,
destacando-se as largas avenidas, com as
mais belas construções modernistas.
Diante de tantas possibilidades artísticas,
concentramos o roteiro nas realizações de
Antoni Gaudí, o grande mestre do estilo. No
Passeig de Gràcia, principal boulevard do
bairro, está a inusitada Casa Milà (La Pedrera),
Na fachada
da Casa Batlló,
Gaudí combinou
diferentes formas
e materiais
A efervescência de La Ribera
Mansões góticas, barrocas, ateliês e galerias de arte conferem uma atmosfera especial
ao bairro La Ribera. Na área chamada de El
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construída no início do século XX. As cavidades, relevos e ondulações na fachada
conferem a aparência de um penhasco erudido; já a balaustrada de ferro das sacadas
assemelha-se a plantas. No terraço, chaminés
gigantes, inspiradas em cavaleiros medievais, vigiam a cidade. A casa, encomendada
pela família Milà, foi apelidada, na época, de
La Pedrera por habitantes da cidade, devido
a sua aparência externa. Hoje é um dos
símbolos de Barcelona. O primeiro andar é
destinado a exposições.
A exótica Casa Batlló, na mesma rua,
captura a atenção. O prédio foi reformado por
Gaudí a pedido do industrial José Batlló. Na
fachada, combinou diferentes formas e materiais, usando curvas em ferro, pedra e trencadis (cacos de cerâmica). A fachada, cintilante
e colorida, seguindo as curvas das mudanças
de mosaico, parece coberta de escamas; o
telhado lembra o dorso de um dragão. A parte
interna prolonga esse universo de sonhos,
com poços de luz, vitrais coloridos, portas e
janelas que parecem retorcidas. O edifício,
aberto ao público em 2004, também expõe
móveis projetados por Gaudí.
43
O trabalho mais emblemático do artista,
no entanto, é a igreja La Sagrada Familia,
que está em construção desde 1882 e deve
levar mais duas décadas para ser concluída.
O projeto inicial era de Francisco de Paula
del Villar. No final de 1883, Gaudí assumiu
a obra com uma majestosa proposta. Das
três fachadas projetadas, ele somente pode
realizar em vida a do Nascimento (de Jesus),
que apresenta detalhes rebuscados e muita
presença de elementos naturais, como animais e vegetação. A fachada da Paixão (de
Cristo), iniciada em 1952, é mais simples,
com figuras de traços geométricos. A terceira,
a da Glória, ainda não foi completada.
As torres do Templo Expiatório da Sagrada Família podem ser avistadas de longe;
ao todo serão 18. Mesmo inacabada, a igreja
atrai milhares de visitantes que podem apreciar os detalhes das esculturas de passagens
bíblicas que tomam conta das fachadas e das
torres. No interior, destacam-se as colunas
inclinadas e diversos símbolos. No subsolo,
funciona o Museu Gaudí, composto por
maquetes, fotos antigas e desenhos originais
que retratam a história da igreja, além de
material sobre a vida do artista.
Outra obra marcante de Gaudí é o Parc
Güell, situado no limite de L’Eixample com o
bairro de Gràcia. Idealizado pelo empresário
As pequenas “portarias” com
chaminés em forma de cogumelo na
entrada do Parc Güell
A fachada do
Nascimento apresenta
detalhes rebuscados
e muita presença
de elementos naturais,
como animais e plantas
Eusèbi Güell para ser um condomínio,
nunca foi concluído; e em 1922 tornou-se
um parque público. O arquiteto teve a importante contribuição do seu discípulo Josep
Maria Jujol, conhecido pelo hábil uso de
trencadis. Mas o estilo de Gaudí está presente em todas as construções do parque. Na
entrada, destacam-se pequenas “portarias”
com chaminés em forma de cogumelos. No
caminho principal, encontra-se a famosa
salamandra coberta por ladrilhos, estirada
na escada que conduz à Sala Hipóstila,
sustentada por 86 colunas. Acima está a
grande praça e o banco ondulante recoberto
de trencadis, que a circunda.
Além das obras dos modernistas,
L’Eixample possui ousadas construções contemporâneas. Ao visitar o bairro, aproveite
para conhecer a futurista Torre Agbar, na
esquina da Avenida Diagonal com a Carrer
de Badajoz. O edifício, em formato cônico,
é o terceiro maior arranha-céu da cidade. À
noite ganha iluminação especial, em tons de
vermelho e azul. Na torre de design arrojado
As torres da
fachada da Paixão
avistam-se de longe
Interior da
Sagrada Família
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funciona a sede da companhia de água local
e um espaço para exposições temporárias.
A colina de Montjuïc
Próxima ao centro, a colina de Montjuïc
apresenta lindas vistas da cidade e do Mediterrâneo. A maior área verde de Barcelona
é agradável para caminhar, visitar museus,
prédios históricos. Ocupando posição estratégica, tornou-se o local principal de dois
eventos internacionais: a Exposição Universal de 1929, da qual muitas estruturas
continuam existindo; e os Jogos Olímpicos
de 1992, quando passou por uma reforma e
ganhou grandes espaços. O Anella Olímpica
(Anel Olímpico) é o grupo de instalações
desportivas feito para o evento.
Montjuïc reúne várias atrações, entre
elas o Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC), sediado no Palácio Nacional
– um prédio monumental, construído para
a exposição de 1929. O acervo abrange
coleções de arte românica (com peças
resgatadas de várias igrejas da Catalunha),
para ilustrar aos visitantes da Exposição
de 1929 a arquitetura e artesanatos da
Espanha. Retrata mais de 100 estilos de
construção, com reproduções de casas,
ruas, igrejas e praças. No local há bares
e restaurantes que possibilitam conhecer
mais da variada gastronomia do país.
O moderno calçadão
acompanha a orla, do porto antigo
ao Port Olímpic
O destaque é o extenso túnel transparente,
onde o visitante fica virtualmente rodeado
de peixes, enguias, tubarões e outros seres. A
praia mais movimentada da cidade, La Barceloneta, fica a pouca distância do Port Vell
e está situada no bairro de mesmo nome.
Essa antiga área de pescadores também
passou por uma revitalização às vésperas
das Olimpíadas. Hoje ainda é conhecida
pelos chiringuitos, pequenos restaurantes
de frutos do mar.
Prosseguindo pelo Passeig Marítim
chega-se à região do Porto Olímpico e da
Vila Olímpica, onde se encontra a imensa
escultura em metal dourado, que lembra
um peixe, de Frank Gehry. O Porto Olímpico
ostenta uma bela marina e várias opções de
restaurantes e bares – um convite tentador
para saborear pratos típicos e apreciar a
brisa do Mediterrâneo.
Após uma agradável pausa na orla, continue circulando pela cidade e desvendando
os seus encantos, pois Barcelona tem sempre algo a surpreender, a revelar. Um lindo
mosaico artístico e cultural, que proporciona
recordações inesquecíveis. n
A orla de Barcelona
O Castelo de Montjuïc,
no topo da colina,
proporciona belas vistas
da cidade e do porto
As praias da cidade exibem palmeiras,
esculturas inusitadas, ciclovias e agradáveis áreas para pedestres. Ali também se
encontram excelentes bares, restaurantes
e casas noturnas sofisticadas. A moderna
infra-estrutura é resultado das obras para as
Olimpíadas de 1992, que proporcionaram
reformas na orla e a criação de novas áreas
de lazer. Um amplo calçadão, o Passeig
Marítim, liga o Port Vell ao Port Olímpic (Porto
Olímpico), margeando a praia. Os armazéns
antigos foram substituidos por lojas chiques
e uma elegante marina.
Uma parte do Port Vell tornou-se o
Maremàgnum, um grande centro de compras de frente para o mar. Também nessa
área foi instalado o aquário de Barcelona,
que reproduz diferentes habitats marinhos.
*Capitão-de-Corveta (T)
gótica, renascentista, barroca e a excelente
coleção de arte catalã do século XIX a 1950.
A região é também o lar da Fundação Joan
Miró, considerada o museu que melhor
ilustra a obra do mestre catalão. O espaço
expõe esculturas, centenas de telas, além de
milhares de desenhos e estudos do artista.
O topo da colina é guarnecido pelo
Castelo de Montjuïc, erguido no século XVIII
sobre as ruínas de um forte. Das suas muralhas tem-se uma linda vista da cidade e do
porto antigo. Próximo ao castelo encontra-se
o Jardim Botânico da cidade, que apresenta
um paisagismo de vanguarda.
O Poble Espanyol é outra atração
especial em Montjuïc. A vila foi erguida
Vista panorâmica do
porto antigo, a partir do
Castelo de Montjuïc
O Poble Espanyol reproduz
a arquitetura do país
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CRÔNICA
EIS A
QUESTÃO
VIAJAR
OU NÃO
VIAJAR:
malas, quando não violadas, que não aparecem à medida que os demais passageiros
vão escasseando.... até que a esteira para, e
se toma consciência de que ela não veio!
Há, ainda, tormentas, nevascas, vulcões
que cobrem o céu de cinzas e atrasam ou
impedem voos, greves de funcionários,
ou da companhia aérea, ou do aeroporto,
terrorismo, vandalismo, engarrafamentos,
comandantes irresponsáveis que espetam o
navio nas pedras, maquinistas que acham
que seus TAV são não de alta, mas de altíssima velocidade e acabam saindo pela
tangente nas curvas, seguros de saúde que
dificultam atendimento médico...
O estresse não para aí; se ultrapassarmos
esses obstáculos, aparecem novos: batedores de carteira, especialmente nas atrações
e nos metrôs; táxis nos roubando, hotéis
Luiz Sérgio Silveira Costa*
“As viagens são fatais para o preconceito, o fanatismo e a estreiteza
de vistas. Não se alcança um espírito aberto e da terra”
Mark Twain
1 OS CONTRAS E OS PRÓS
Воистину прекрасное искусство без границ! Мне кажется кавалеры- партнеры. кажется кавал
V
iajar torna nosso espírito aberto
e generoso, já dizia Mark Twain,
deixando de lado a sua mordaz
ironia. Mas, atualmente, viajar
tem nos reservado aborrecimentos, agonias e decepções. Em
recente viagem, navegando pelos rios e
lagos russos, nosso navio fluvial de borda
baixa foi impedido de adentrar o imenso
Lago Onega, pois havia uma tormenta por lá
e perigo de o navio soçobrar, devido à altura
das ondas, o que resultou em continuar a
viagem por ônibus, em estradas sofríveis,
pois o país, pela sua extensão, é, correta
e diferentemente do nosso, ferroviário. O
avião de São Petersburgo para Munique,
da Lufthansa, quebrou, se atrasou por 15
horas, a companhia aérea lavou as mãos e a
operadora é que teve que arcar com o hotel
e a reformulação das visitas em Munique,
o que, se não nos prejudicou a ponto de
demandas judiciais, causou desconforto e
cansaço, pois o programa foi cumprido, mas
em ritmo mais corrido.
Há, hoje, perigos e decepções demais,
nas tentativas de afastar o preconceito, o
fanatismo e a estreiteza de vistas. São, entre
– Capisce? Eu também não! Acho até
que já passou a estação de nome esquisito
em que eu ia saltar, mas não dá para me
mexer!!! Em Munique, só almoçamos em um
pavilhão na Octoberfest porque a operadora
tinha comprado os lugares na mesa, com
meses de antecedência! Percebeu? Não é
a mesa do refinado e atapetado La Tour
d´Argent, com seus canards numerados e
vista para o Sena e a Notre Dame de Paris,
mas um assento num banco comunitário,
apertado, sem encosto, para comer salsicha
com chucrute, e um canecão de chope!!!!
Nos hotéis, outras ameaças: é um típico
ensaio e erro mexer naquela trapizonga
hidráulico-cromada e conseguir-se que, no
banho, saia água em cima, e não embaixo
do chuveiro, e se obter a temperatura ideal, que não nos queime o corpo cansado,
o cabelo arrepiado, os pés inchados, o
joelho dilacerado... No hotel que ficamos
em Munique, uma novidade high-tech! No
frigobar, se você mexer em uma garrafinha
ou lata, e tirá-la da posição de descanso,
acionará um comando eletrônico direto
para a sua conta, debitando o item como se
outras: conexões aéreas que se frustram por
atrasos nos voos anteriores; Imigrações plenas de cabines, mas parcas de funcionários,
resultando em filas imensas e demoradas,
deixando agoniados os que têm conexões;
Inspeções de segurança aviltantes, à medida
em que as máquinas vão apitando e vamos
tirando cintos, sapatos, casacos.... e se tem
que explicar que o tubo é um desodorante,
o metal é de um suvenir... adicionando mais
estresse a quem tem a célebre conexão;
48
caríssimos, atrações turísticas sempre cheias,
filas para tudo. Certas delas, só comprando
o ingresso antecipadamente pela internet,
como a Santa Ceia, o afresco de Leonardo
da Vinci no refeitório da Igreja Santa Maria
delle Grazie, em Milão. Ver o Lago dos Cisnes
no Ballet Bolshoi, em Moscou, sem ingresso antecipado? Nem pensar! Um simples
passeio em roda-gigante, no London Eye?
Só comprando antes! Além disso, é preciso
compatibilizar a data do ingresso com a da
estada no local, e rezar para que não haja
imprevistos nos voos. Em Moscou, nove
milhões de pessoas usam, diariamente, o
metrô, tudo escrito em cirílico!
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49
fosse consumido. Assim, nada de afastar as
latinhas para colocar aquela banana ou água
mineral, pois é confusão na certa, na hora do
check out... A vantagem é que a camareira
fica dispensada de checar diariamente o
frigobar, e inexiste aquele funcionário que
vai verificá-lo (e afana a gorjeta que você
deixou para a camareira) quando você se
vai, mesmo que você diga que não consumiu
nada! Moral da história: redução de custos,
especialmente da mão de obra!
Há um outro ingrediente nesse melting
pot: as companhias aéreas. Embora com
voos lotados, estão falindo e enxugando
custos para sobreviver. A gigante American
Airlines foi comprada pela US Airways, que,
silenciosamente, construiu um aeroporto
novinho, e charmosíssimo, na desconhecida
Charlotte, na Carolina do Norte, e lá fez o seu
hub; usa aviões antigos, mas conservados,
e comissários de bordo aposentados, que
aceitam salários menores, como um plus.
A comida, a de sempre: “chicken or pasta”.
Lembra a história da aeromoça portuguesa, perguntando ao passageiro o que ele
desejaria comer. – Quais são as opções
– perguntou o sonolento cliente. – Comer
ou não comer! –- respondeu a gaja, na sua
lógica lusitana! A Alitalia vai falir se não lhe
injetarem uma bolada de dinheiro. No Brasil,
foi-se o tempo do glamour da Varig; com a
TAM, vendida para a LAN, só a Gol voa para
o exterior, e apenas para a América do Sul,
podendo até vozear que não é por fraqueza
financeira, mas para se adequar à política
terceiro-mundista-mercosulista deste triste
governo petista.
Reparem como não há mais lojas de
companhias aéreas. No máximo, um escritório pequeno, nem sempre em todas as
grandes cidades, geralmente em apenas
uma. Há um telefone disponível para informações, mas ações, só pela internet. Agora
mesmo, ao voltar, tive que solicitar milhas à
Lufthansa, somente pela internet, entrando
e deletando, errando e acertando, indo e
vindo, pois é o único meio de fazê-lo.
As companhias estão cobrando refeições,
taxando fortemente alterações em passagens, reduzindo a franquia das malas (breve
pagaremos por elas!), reduzindo lugares na
classe turística e aumentando na classe
executiva (dão mais lucro) e, especialmente,
dispensando funcionários. Hoje, você compra as passagens pela internet, faz o check
in também pela internet ou pela máquina
no aeroporto. Em breve, você retirará da
máquina o tíquete da mala, o colocará nela
e a despachará em um buraco no balcão
da companhia aérea, que não terá nenhum
funcionário! O aeroporto Schiphol, em Amsterdam, é o campeão da modernidade tecnológica, um deserto de funcionários. Por falar
nos aeroportos, cogita-se que, também breve, só os que forem viajar poderão adentrar
neles, o que tem grande vantagem: acabar
com apupos ou tietagem a esportistas e celebridades, e afastar os indefectíveis ladrões
de carteiras e malas...Os aeroportos serão um
mar de tranquilidade, a não ser os velhinhos
gritando e batendo com as bengalas nas
máquinas, à la black bloc, sem saber como
manejá-las, pois os filhos e netos não têm
paciência para ensiná-los, considerando-os
incapazes de aprender, mas capazes de lhes
ajudarem financeiramente! Finalmente, com
o desenvolvimento da tecnologia de drones,
nossos voos, em breve também, poderão ser
sem pilotos, com pousos suaves e perfeitos,
sem pancadas ou quiques, como os Fórmula
Um ao passarem nas zebras das pistas!
Viajar está ficando uma corrida de obstáculos, e fazê-lo vai ser para os que têm
saúde, bom humor e paciência, e os que
acham que os benefícios são muito maiores
do que as dificuldades, e que elas, depois de
suplantadas virarão simples historinhas, motivo de gargalhadas nas reuniões familiares
e com os amigos.
Um benefício é especial e inequívoco: o
crescimento pessoal e cultural, que não tem
preço, e que está cada vez mais presente nos
gastos das pessoas que podem enfrentar
seus custos, e que é fundamental para que
compreendamos outros povos, seus estilos
e as suas duras e difíceis histórias, como
a dos russos. Admiremos a sua disciplina,
como a dos alemães, nos deliciemos com
seus excepcionais e bem cuidados museus,
palácios, igrejas e catedrais, parques e monumentos, e nos tornemos melhores indivíduos e cidadãos, crescendo em experiência
e sabedoria, intelectual e espiritualmente,
neste, embora cada vez mais complexo,
radical e antagônico mundo, mas de extraordinárias realizações da humanidade,
que muito nos sensibilizam ao conhecê-las
de perto! Quem não chora ao colocar as
mãos e rosto no Muro das Lamentações, em
Jerusalém? Quem não se arrepia ao entrar
numa pirâmide no Cairo? Quem não se
sente pequenino ao entrar na Igreja de São
Pedro, no Vaticano? Quem não fica estático,
admirando, ad infinitum, os impressionistas
do Musée d´Orsay, em Paris? Quem, mesmo
católico, não se descalça e se reverencia ao
entrar numa linda mesquita muçulmana
em Istambul, ou na ortodoxa São Isaac, a
igreja de mais belo interior do mundo, em
São Petersburgo?
Conselho de amigo: apesar das dificuldades, viaje! E viaje logo, pois a área física das
atrações não varia, enquanto que a população aumenta, a mobilidade social cresce e as
filas, consequentemente, aumentam. E viaje
antes que os chineses o façam, o que já está
começando a ocorrer. E aí, meu caro amigo,
como eles se multiplicam como coellhos,
pois comem com dois pauzinhos, não vai
dar para mais ninguém!!!
“Colombo partiu para a Índia e foi parar
na América. Hoje, voamos para a Índia e
pousamos na Índia. Nossas malas é que vão
parar na América!”
Aldo Cammarota
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51
ESPAÇO CULTURAL DA MARINHA
2 O FLANELINHA DAS MOCHILAS
R
ecebi, há poucos dias, um email com um filmete sobre uma
montanha-russa, em real e impressionante corrida. Lembrei-me
que, há longo tempo sem ir aos
parques da Flórida, desconhecia
as novas atrações, como os da Universal,
onde está o Harry Potter. Fui a Orlando, há
menos de dois anos, em uma excursão,
usando as vantagens de não necessitar alugar e estacionar carro, estudar mapas e GPS,
entrar em filas, pagar ingressos....
Ao receber o e-mail procurei, na memória e na internet descobrir qual era e em que
parque estava essa roller coaster, como são
chamadas por lá. Descobri que é a Sheikra,
e fica no parque Busch Garden, em Tampa,
a duas horas de ônibus de Orlando, onde
também estive. Suas características são:
Sheikra (nome de um falcão africano,
que mergulha em loops) é uma montanharussa construída entre as ”ruínas” de uma
antiga civilização africana, que eleva os
participantes a 61m, que descem em queda
livre de 90º, a mais de 112km/h. É a primeira
montanha-russa de queda livre que tem o
loop Immelmann, gira de cabeça para baixo
enquanto faz a curva, e tem uma segunda
queda de 42m, em 80º, que passa por um
túnel subterrâneo. São 1.000m percorridos
em pouco mais de 3 minutos!! É só digitar
“Sheikra Busch Garden”, no Google e ver
os vários arquivos de filmes do You Tube.
Viu? É mole?
Enquanto a garotada ia e repetia essa
loucura na Sheikra e em outras, o titio aqui
virou tomador de conta, não remunerado,
das mochilas deles, enquanto saboreava
tranquilamente, um ice-cream. Essa loucura
não era para mim!
Como submarinista, não desconheço os
efeitos da força centrífuga, pois os submarinos
convencionais sofrem uma ação semelhante,
mas sem loopings! Quando em esnorquel, se
uma onda cobre o mastro de admissão de
ar, ou o submarino perde cota mergulhando
mais, a válvula do tubo de admissão de ar do
esnorquel se fecha (é claro, pois, se não, entra
água – e muita – no submarino) e o motor de
combustão, que move o gerador que carrega
as baterias do navio, não podendo mais puxar
ar externo, começa a puxar ar do interior do
submarino. Nessa ocasião, a
turma põe a mão nos olhos
e grita: “pára o motor, pára o
motor, vai chupar meu olho”!!!
Calma, minha gente, nessa
situação, há pressostatos que
atuam parando automaticamente o motor, mas, antes
de eles atuarem, sentimos
inicialmente, nos ouvidos, o ar
escassear, o estresse ocorre e a
52
gritaria também (“pára essa m..., vai chupar
meu olho”!!), na verdade, mais de tradição
marinheira do que de medo.
A Sheikra e outras montanhas-russas
(por que chamamos de montanha-russa e
de roleta-russa?), de exacerbação da força
centrífuga, são desse tipo, de “chupar os
olhos”, especialmente os duros de catarata,
borrar as calças mais demodées, aliviar as fast
food mais gordurosas, soltar as obturações
menos profissionais (dentaduras, nem pensar
em ir!!), deslocar os stents enferrujados pelas
veias e pinçar as costas mais arriadas pelo
tempo (haja fisioterapia, depois!!!)... É impressionante a quantidade de objetos que caem
dos usuários dessas maluquices!
É coisa pra gente jovem. Aos velhinhos,
a tranquilidade do banco que não torce e
nem vira de cabeça para baixo, vigiando
as mochilas que não voam... É só não
deixar pingar sorvete na camisa! A vida é
sábia. Tudo tem o seu tempo, submarinos,
montanhas-russas e sensatez. Quem não
concordar com isso e desejar enfrentar os
desafios, vai se sujeitar ao mico. E deve ter
um bom seguro-saúde....
Tô fora!!! Prefiro ser flanelinha das
mochilas. n
ria
ó
Hist
Um
passeio
pela
Ray dos Anjos*
Programe para um dia
de sol, uma visita ao
Espaço Cultural da
Marinha. Não somente
pela bela vista que o
passeio proporciona,
mas sobretudo pela
oportunidade de
conhecer um pouco do
acervo da navegação da
Marinha brasileira.
*Vice-Almirante (Ref)
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53
L
ocalizado na Praça XV de Novembro, na Avenida Alfred Agache,
s/n, privilegiado pela sua posição
geográfica, às margens da Bahia
de Guanabara, tem muito o que
oferecer. Ao chegarmos, logo nos
deparamos com o pátio tomado por várias
embarcações, que são museus em separados como o Navio-Museu Bauru, que recebeu este nome em homenagem à cidade
paulista de Bauru, e o Helicóptero-Museu
que faz a alegria das crianças.
O Submarino Riachuelo, que é a atração
mais concorrida, nos remete aos antigos
seriados da TV, como Viagem ao fundo do
Mar. No momento, o Submarino Riachuelo
está indo para a manutenção, voltando a ser
exposto somente em 2014.
Interior do S Riachuelo
54
A visita ao Espaço Cultural da Marinha
se completa com o momento mais pitoresco que é o passeio marítimo até a Ilha
Fiscal. A beleza do mar e a vista de boa
parte da cidade se misturam à história e
fascinam os visitantes. Ao desembarcar
na Ilha, nos deparamos com o belíssimo
castelo, estilo neogótico e famoso pelo
evento do Último Baile do Império.
Ao sermos recebidos por uma guia,
somos também agraciados com uma verdadeira aula sobre a história da ilha, que
antes tinha o nome de Ilha dos Ratos, e que
pela sua beleza mereceu do Imperador Dom
Pedro II a seguinte definição: “Um estojo
delicado digno de uma brilhante jóia”.
São muitas as informações que nos
transportam para o Brasil Imperial.
As explicações detalhadas da
arquitetura rara do Século XIX, e
as diversas curiosidades daquela
noite em que aconteceu o Último
Baile, como por exemplo, o mega
“cardápio”, e a queda do monarca
Pedro II ao chegar à Ilha para o
evento. No momento não é possível apreciar alguns trajes do baile,
a sala que os exibiam está em
reparo, voltando em breve.
Além da visita à Ilha Fiscal,
há também o concorrido passeio
marítimo a bordo do Rebocador Laurindo
Pitta, que também oferece uma guia que
acompanha os grupos explicando os locais
históricos importantes durante a viagem
pela Baía de Guanabara.
O Espaço Cultural é integrado ao Complexo Cultural da Marinha, é o mais visitado.
Ao sairmos do Espaço, mais adiante encontramos o Museu Naval que surpreende pela
modernização. Ao entrarmos no museu, logo
nos deparamos com os dois canhões que
foram usados na Batalha Naval do Riachuelo.
Revista do Clube Naval • 368
São informações valiosas de uma realidade fática, que com
um olhar apurado
para as exposições,
aguça nos adultos
a sede de saber, e
desperta a curiosidade de crianças e
adolescentes, como o menino Guilherme da
Costa Freitas, de apenas cinco anos, que ao
olhar os canhões, e ao ouvir falar em batalha, perguntou a sua tia “Tia, quando vai ter
outra batalha aqui, porque eu quero ver.” Já
o adolescente Rodrigo Cardoso, de 13 anos,
perguntou: “Eu posso tirar uma foto pegando
nesse canhão? Eu vou levar para mostrar
aos meus colegas.” Importante o entusiasmo
do adolescente que já começa a valorizar
produtos culturais de qualidade.
A exposição de duração permanente no Museu
Naval é a Poder Naval na Formação do Brasil. Não
obstante todas as exposições ali exibidas serem importantes, essa é a mais emocionante, por despertar
de imediato uma noção de patriotismo, quando lemos
o testamento do Almirante Tamandaré. Também é
possível assistir aulas com o propósito de aprofundar
o conhecimento sobre o assunto.
A Biblioteca Central da Marinha é mais uma
atração deste Complexo Cultural, e ao mesmo tempo,
um acervo à parte, por liderar as bibliotecas volante
e rotativa, além de outras integradas. Oferece ao
público acesso on line, ou manuseio físico de seus
exemplares. Uma ótima oportunidade de ampliar o
seu conhecimento.
Toda essa riqueza cultural está sob a égide da
Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação
da Marinha. n
*Jornalista
O passeio a bordo do
Rebocador Laurindo Pitta
O belíssimo castelo
da Ilha Fiscal
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55
conto histórico
O PODER
!
PRATAS
AS
H
!
MIN
PRATAS
AS
PRATAS!
!
PRATAS
AS
MINH
O Criador foi injusto
ao limitar a inteligência do homem
e não a estupidez.
Einstein
Domingos Castello BrancO*
A
enorme mansão vitoriana ficava
em uma elevação voltada para
a pequena praia de uma reentrância da baía de Narraganset,
próximo de Boston. O lindo
gramado circundante estendiase até quase a água. Na parte de trás, ele
atingia um bosque de grossos carvalhos,
compondo uma sólida moldura da casa,
para quem vinha pela estrada. O cenário
ainda abrangia um cais, onde atracavam
uma lancha de grande porte e um veleiro
de três mastros. As cavalariças, de um lado,
e o pequeno “chalet”, no oposto, completavam o ambiente de luxo e bom gosto,
ressaltado pela lua quase cheia.
O carro do comandante Gustavo e
sua mulher Paula se aproximou do estacionamento, indicado por um impecável
fuzileiro naval. Eles chegaram na hora
certa, marcada em um belo convite, enviado pelo Coronel MacKay, filho da anfitriã,
a famosa e temida socialite, Sra. Jeanette
MacKay. Ela era viúva de um grande
empreendedor imobiliário, cujos antepassados escoceses fizeram sólida fortuna quando
da construção de Washington, no final do
século XVIII. Na atualidade, a família tinha
grandes plantações de cana de açúcar em
Cuba, na fazenda “Aurora”, encampada
pelo governo de Castro, havia mais de
uma década. Tal fato era objeto permanente de inconformada reação, por
parte do clã proprietário.
O Coronel MacKay, fuzileiro naval, era o encarregado da turma de
Gustavo no Naval War College, em
Newport. Os casais fizeram uma boa
amizade pelo fato de os americanos
terem um filho adolescente, fazendo
intercâmbio no Brasil, na fazenda de
uma irmã de Gustavo, em Goiás. Por
essa notável coincidência, Gustavo,
Jack, Liz e Paula se freqüentavam
com assiduidade. Jack sempre quisera apresentar os amigos brasileiros à
sua mãe. Essa era a ocasião.
O final do inverno estava muito
frio. Gustavo e Paula atravessaram
depressa o estacionamento, notando
a presença de vários fuzileiros navais
56
no entorno da grande casa. Além disso,
viram muitos carros de alto luxo estacionados. Dois Rols Royce, algumas Ferraris,
Mercedes, Cadilaques, Volvos, BMWs etc...
Assim que chegarem à mansão,
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foram atendidos em uma antessala por um
mordomo que recebeu o convite e lhes entregou um cartão com seus nomes, o posto
de Gustavo, e as palavras Brazilian Navy.
Uma porta enorme foi aberta e o casal de
brasileiros adentrou no grande e ruidoso
salão com fundo musical de um quinteto
de cordas. Outro mordomo, vestido com um
kilt escocês do clã dos anfitriões, recebeu o
cartão e anunciou ao microfone:
– Senhora e Sr. Capitão-de-Fragata Ferreira, da Marinha do Brasil!
O casal se aproximou da pequena fila
dos anfitriões, encabeçada pelo Coronel
MacKay, também usando o kilt do clã, que
os recebeu efusivamente, com abraços e
beijinhos bem brasileiros. Em seguida, Jack
deixou a fila e levou Gustavo e Paula através
do salão, para apresentá-los à sua mãe, Sra.
Jeanette MacKay. A matriarca estava sentada, majestosa, em uma grande cadeira de
braços, empertigada e dominante, com seu
belo cabelo branco. Ao saber quem era o
casal, abriu um sorriso carinhoso e beijou
efusivamente os amigos do filho e do neto.
A troca de amabilidades terminou com uma
frase incomum para a velha senhora:
– Me chamem de Jeannie...
A mansão dos MacKay tinha uma longa
história para contar. Construída em meados
do século XIX, desde então abrigava a família
de longa tradição política, com senadores em
todas as gerações. Além disso, o presidente Teddy Roosevelt, grande amigo dos proprietários,
costumara hospedar-se com eles para fartas
Revista do Clube Naval • 368
pescarias na baía em frente. O afastamento do burburinho urbano e político de
Newport trazia-lhe mais tranqüilidade.
Os luxuosos aposentos onde ele ficara
foram batizados de “Amazon Corner”, após as
aventuras, quase fatídicas, de Teddy na Amazônia brasileira, em 1913/14. Na ocasião, acompanhado pelo então Coronel Rondon, ele percorrera, com muitas dificuldades, um afluente
“desconhecido” do rio Madeira, chamado de
“rio da Dúvida” e que ganhara o nome de rio
Roosevelt, em sua homenagem. (1)
Assim, a decoração dos cômodos passara
a ter motivos florestais, incluindo paredes e
tetos verdes, com pinturas alusivas à selva e
objetos típicos trazidos de lá pelo incansável
caçador, e muitas fotografias da aventura.
Havia até um fundo musical com cantos
de pássaros gravados na região para maior
autenticidade ambiental. Naquela noite Gustavo e Paula iriam conhecer os aposentos,
por insistência de Jack.
Era o primeiro semestre de 1974. A
recepção comemorava os oitenta anos da
Sra. MacKay. O presidente Nixon não pudera
atender ao convite e se fizera representar
pelo secretário de estado, Henry Kissinger.
Vivia-se o atoleiro final da guerra do Vietname. Ou Guerra Americana, no dizer dos
naturais do país, a qual se seguia à Guerra
Francesa, contra seus ex-colonizadores.(2)
O secretário viera acompanhado pelo
CNO (comandante da Marinha), Almirante
Elmo Zumwalt, pelo General Adams (comandante do Teatro de Operações do Sudeste
57
Asiático) e, também, o General Smith, Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais. Pelo
menos uma dúzia de conhecidos senadores
e deputados estavam presentes. Além deles,
havia renomados e populares jornalistas,
artistas e intelectuais. A Academia também
se fazia representar por doutores das mais afamadas universidades de Boston/Cambridge,
incluindo alguns prêmios Nobel.
Dentre essa plêiade, destacava-se
o escritor e roteirista Gore Vidal, de linhagem senatorial, em rápida ascensão
para a fama. Ele inquietava a burguesia
americana com atitudes incomuns para a
época, tratando de homossexualidade em
seus textos, como gay que era. Além disso,
já fora alvo do “macartismo”, por alegadas
simpatias com o comunismo, sem maiores
consequências, devido ao sólido escudo
da base familiar e das fortes conexões políticas. Dentre elas, a amizade e admiração
recíproca com a Sra. MacKay, a quem ele
iria saudar naquela noite.
Burr, então seu livro mais recente, descrevia com maestria e língua ferina a sociedade
e a política em Washington, logo após a
fundação, ao início do século XIX. Segundo o
autor, esse livro era o primeiro de uma série,
em gestação, abrangendo a vida e a política
na capital americana até meados do século
XX. O conhecimento desse fato constituía
uma ameaça latente para os políticos, residentes, arrivistas e frequentadores da capital
da maior potência mundial. (3)
Gore Vidal e a Sra. MacKay, sua confidente e principal informante, deliciavam-se
com o exercício desse enorme poder.
Não era à toa que ele a tratava com tanto
carinho, chamando-a, na intimidade, de
“Miss Jeanette”. Com isso, o mordaz escritor também aludia a uma devastadora
pimenta com o mesmo nome. Oriunda
do Suriname e usada na culinária escocesa, era também conhecida como
“scotch bonnet” (gorro escocês), por seu
tamanho, formato e cor. (4)
A organização do requintado evento
estava entregue a uma renomada empresa especializada, “La Maison des
Templiers”, sediada em Boston desde
meados do século XIX. (5) Os proprietários franceses mantinham a matriz em
Paris, mas a filial americana, com três
estrelas no Guide Michelin, era a jóia da
coroa dos negócios. A crème de la crème
dos bostonians usava seus serviços com
freqüência, e estava muito satisfeita.
A Maison escolhera monsieur de Grasse,
seu melhor organizador, para a recepção
de madame MacKay. Tratava-se de um
autêntico metteur em scène, conhecido pela
competência e verve nas reuniões mais
sofisticadas da alta sociedade da Nova
Inglaterra. Ele viera diretamente de Paris,
trazendo consigo dois chefs, e um grupo
de garçons e garçonettes, com uniformes
desenhados pela Maison Dior. O cardápio
era em francês e inglês.
O mesmo avião trouxera os hors d’oevre
e a pâtisserie das desserts, além dos vinhos
franceses, com designação de origem
controlada, oriundos de afamados terroirs
de Bordeaux e da Borgonha. Também fora
feita uma concessão aos jovens vinhos
americanos do Napa Valey, na Califórnia.
O uísque, naturalmente, saíra da sofisticada
adega escocesa dos MacKay. Já os pratos
principais eram tìpicamente americanos,
preparados à francesa: lagosta e camarão.
das próprias baías de Rhode Island, salmão
das corredeiras do Maine e carnes especiais
de rebanhos do Colorado.
Era uma reunião tipicamente republicana. Na mesa principal pontificavam a Sra.
MacKay, acompanhada pelo filho, coronel
e anfitrião, e o secretário Kissinger. O móvel
era longo o suficiente para acolher os congressistas, os militares de alta hierarquia e
os principais intelectuais e políticos locais. As
demais mesas eram redondas, com lugares
marcados. Gustavo e Paula estavam na
mais próxima à principal, que incluía John
MacKay, filho mais velho do coronel, capitão
fuzileiro naval, uniformizado. Nela, também
havia outro militar fardado, o CapitãoTenente Zumwalt III, filho do CNO.(6)
Uma linda jovem destacava-se nesse
grupo. Era Margaux, neta de Ernest Hemingway, cuja família se tornara amiga dos
MacKay durante o longo período em que
o escritor vivera em Cuba. “Finca Vigia”,
a propriedade rural dos Hemingway, era
próxima da enorme fazenda “Aurora”, dos
MacKay, que costumavam passar os invernos em Cuba. Além disso, houvera uma
empatia imediata entre eles, devido aos
temperamentos de Ernest e Jeanette. Eles
celebraram juntos, em 1954, o recebimento
do prêmio Nobel pelo escritor, decorrente
da belíssima novela O Velho e o Mar escrita
em Cuba dois anos antes.
Também juntos, viveram o drama da
encampação das propriedades pelo governo de Castro. Na realidade, os Hemingway
se anteciparam aos fatos, ao saberem da
próxima entrada em vigor de uma política
de desapropriações. Saíram definitivamente
da ilha em 1960 e foram morar em Idaho,
EUA, onde Hemingway suicidou-se, em
julho de1961. (7) (8)
A saída dos MacKay da sua grande
fazenda de açúcar fora muito mais traumática. A situação dos americanos em
Cuba ficara insustentável após o fiasco da
tentativa de invasão na baía dos Porcos
bancada pela CIA, em 1961. Jeanette MacKay estava sem o marido quando teve
de fugir de lá, às pressas, pela ameaça de
invasão tanto por piquetes de campesinos
como pelo governo de Castro. Ela mal tivera tempo de arrepanhar algumas roupas,
poucos objetos de estimação, documentos
e dólares em espécie.
A orgulhosa senhora escapara durante a
noite, ajudada por empregados fiéis. Usaram
duas camionetas abarrotadas para ir até
um pequeno cais dentro da propriedade. Lá
embarcaram nos mesmos veleiro e lancha
ora atracados no píer da mansão de Rhode
Island, onde se comemorava o aniversário.
Ao se afastarem do cais, ainda ouviram tiros
em sua direção disparados pelos invasores
da bela e luxuosa fazenda “Aurora”.
A Sra. MacKay perdera o marido algum
tempo depois. Sozinha, ainda era muito rica,
com mansões na Florida e em Washington,
além de uma cobertura triplex no Upper East
Side, o ponto mais valorizado de Nova York. A
Norman MacKay Foundation, criada no século
Margaux Hemingway
58
Duke Ellington
Lena Horne
XIX, continuava atuante em ações educativas
e filantrópicas, no Caribe e na América Central. Aliás, a nacionalização dos três colégios
mantidos por ela em Cuba fora tão ou mais
traumática para a velha senhora quanto a
perda da “Aurora”, de “porteira fechada”.
Ademais, a família ainda contava com
vastas plantações de bananas em diversos
países da América Central, em sociedade
com os Dulles, cujo maior expoente, John
Foster Dulles, também fora secretário de
estado. A propósito, ele era muito citado
por sua frase emblemática da posição
americana no convívio com outros países:
“Em política externa não existem amizades,
mas somente interesses.”
A Sra. MacKay desenvolvera uma fixação
por não ter conseguido salvar a baixela de
prata, presente do Sr. MacKay, ao completarem bodas de ouro. Era um conjunto raro, de
mais de duzentas peças, oferecido pelo rei de
Espanha no casamento do príncipe herdeiro
da Suécia, ao início do século XVIII.
Entretanto, o galeão espanhol Nossa
Senhora das Virtudes, que transportava o
tesouro para Estocolmo, fora assaltado
por um pirata inglês (com carta de corso
expedida pelo rei...) em pleno Mar do
Norte, e a prataria acabara nas mãos de
um nobre da Albion. Da Inglaterra para a
Nova Inglaterra, fora um pulo.
Jeanette MacKay amava suas pratas.
Após a perda para os cubanos, sentia-se
Revista do Clube Naval • 368
injustiçada sempre que oferecia uma
recepção, sem poder usá-las. E culpava o
governo americano por nada fazer para
recuperar a nobre tesouro de volta. Ainda
pior para ela, constava que a prataria era
usada pelo próprio Fidel Castro.
À noite, no seu íntimo, ela esperava tratar
do assunto com o presidente Nixon. Como
viera o secretário de estado em seu lugar,
falaria com Kissinger. Aliás, talvez fosse até
melhor, pois dizia-se que o secretário mandava mais que o presidente, embaralhado
com inúmeros problemas nacionais e internacionais de dificílima solução.
A festa, comandada por uma dupla de
jovens apresentadores, se iniciara com um
desfile de gaitas de foles escocesas e, no momento, estava em pleno desenrolar. Contudo,
o ambiente era pesado. Os assuntos dominantes no salão eram os esforços americanos
para salvar a face no final caótico da guerra
do Vietname, e o recente reatamento das
relações com a China, incluindo a aceitação
de Taiwan como sua parte integrante. Falavase do consequente realinhamento político e
estratégico/militar com a União Soviética no
mesmo nível de interesse.
Outra grande preocupação era doméstica. Tratava-se da reação agressiva da
sociedade americana a todo aquele quadro
deformado das políticas externa e interna
da grande nação. Para piorar as coisas, o
assunto Watergate se impunha, cada vez
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humana de Aspásia, segunda mulher de
mais, como fator de grandes tensões para a
Péricles. Sua atuação junto ao grande hoadministração Nixon. O gigante americano
mem, até a morte dele em 429 a.C. causada
estava com febre alta.
pela peste, permeara as principais decisões
A voz suave de Lena Horne, acompado extraordinário ateniense. Oriunda de
nhada pelo notável Duke Ellington, flutuava
uma família rica de Mileto, com refinada
sobre o burburinho no salão. A chegada da
educação, ela fora o protótipo da mulher
sobremesa interrompeu esse dueto do melhor
liberada em uma sociedade que negava
jazz e os famosos astros se retiraram. O nome
papéis relevantes ao sexo feminino.
de Gore Vidal foi anunciado e ele assumiu o
Bela, com sensível faro político, comumicrofone para saudar a grande dama.
nicativa, oradora polêmica, amante
Sua fala se iniciou cidas artes, reunira ao seu redor
tando palavras recentes de
os notáveis intelectuais e artistas
Kissinger, na imprensa, que
atenienses de então. Cultivara
comparavam o momento
firme amizade com Sócrates, partihistórico vivido pelos Estados
cipando de suas aulas nos jardins
Unidos, desde a vitória na II
da Ágora, no meio de alunos de
Guerra Mundial, com o ápice
todo o mundo grego, dentre eles
da civilização grega, no século V a.C., após as derrotas
decisivas dos invasores perPéricles
sas nas batalhas de Salamina
(no mar), em 480 a.C. e Plateia (em
terra), em 479 a.C..
O período de paz seguinte durara
até 432 a.C., quando tivera início a
guerra do Peloponeso entre Atenas e
Esparta. Nesse meio século, florescera
a época de ouro da civilização grega,
baseada na Atenas democrática, como
contraponto ao regime autoritário em
Esparta. A analogia feita pelo secretário
de estado se respaldara no exemplo da
liberdade americana vis-à-vis o regime
ditatorial e fechado da URSS.
Gore Vidal ressaltou a figura ímpar
do estratego Péricles, atuante por mais Gore Vidal
de três décadas, como o grande líder
dos atenienses, tanto nos campos político
um jovem Platão, que registrava, cuidae militar como cultural e administrativo.
dosamente, os ensinamentos do mestre. O
A reconstrução de Atenas, destruída pela
papel daquela mulher singular fora decisivo
guerra, era uma síntese agregadora das
no florescimento da cultura grega naquela
sinergias surgidas naquela coletividade. A
época de paz, com forte influência na culAcrópole, saqueada pelos persas em 480
tura ocidental ao longo dos séculos até a
a.C., recebera prioridade nesses esforços,
modernidade.
pela conotação simbólica e religiosa.
Gore Vidal assim concluiu:
O orador destacou dentre os atores dessas
– Aspásia, notável figura de vinte e cintransformações a figura essencial de Fídias,
co séculos atrás, teve várias seguidoras na
escultor e arquiteto, a quem Péricles delegou
formação da sociedade americana, cujo paa sublime tarefa de criar, em mármore, granito
pel moldou a construção deste gigantesco
e ouro, a mensagem síntese da civilização
e poderoso país, hoje líder das nações nos
grega para os deuses e para os homens nos
mais diversos campos da atividade humana.
séculos futuros. Então surgiu o extraordinário
É por isso que estamos aqui, homenageanconjunto de obras primas, que Atenas exibe
do uma de suas principais representantes, a
para o mundo desde sempre, mesmo maltraSra. MacKay, em nome das mulheres ametadas pela insensatez humana.
ricanas e por tudo mais que ela representa
O outro pilar desse arcabouço incomnesse momento notável de sua vida e da
parável, prosseguiu o escritor, fora a figura
história dos Estados Unidos.
59
Gen. Vo Nguyen
A essa altura, todos os presentes estavam de pé, aplaudindo a figura hierática de
Jeanette MacKay, muito emocionada, de pé,
apoiada pelos filho e neto, agradecia com
meneios da cabeça a consagração de que
era objeto. Seguiu-se a entrada do superlativo bolo de aniversário, encimado por uma
miniatura da estátua da liberdade. Ainda de
pé, os convidados, apoiados pelo quinteto
musical, cantaram os merecidos parabéns
para a aniversariante.
Enquanto o bolo era servido, o secretário
Henry Kissinger usou da palavra, em nome
do presidente Nixon.
Ele fez o elogio a Jeanette MacKay, com as
frases de praxe, alegando
ser muito difícil acrescentar
algo ao dito por Gore Vidal
a respeito dela. Em seguida,
com ar cansado e em tom
de prestação de contas à
audiência altamente qualificada, passou a abordar os
assuntos que, sabidamente,
tinham sido os mais falados
naquele salão.
Sobre a Guerra do Vietnã, disse que os militares
americanos não estavam mais lutando nela,
em cumprimento aos acordos de paz de
Genebra, e conforme a política de “vietnamização”, adotada pelos EUA. Acrescentou,
ainda, que o conflito prosseguia indefinido,
entre os exércitos do Norte e do Sul daquele
país, com forte apoio logístico americano aos
sulistas e soviético aos nortistas. Evitou fazer
qualquer previsão sobre o desfecho da guerra,
e omitiu fatos importantes, certamente do
conhecimento da maioria dos presentes.
Assim é que nada disse a respeito
Almte Elmo Zumwal
das operações secretas da CIA no teatro
da guerra, incluindo seu bombardeio
contínuo, maior que em toda a II Guerra
Mundial; e que isso não estava impedindo
o crescente apoio soviético ao vietcong,
através da famosa “trilha Ho Chi Minh”,
pelo Laos e Cambodja.
O secretário ainda citou, como sucessos da administração Nixon, a aproximação dos EUA com a China, as negociações
com a União Soviética sobre redução de
mísseis nucleares intercontinentais, e a
60
extinção do recrutamento militar obrigatório, substituído
pelo serviço voluntário. Obviamente, nada falou sobre
a crise do Watergate.
Finalmente, convidou
os presentes a fazerem um
brinde à aniversariante, com
todos de pé, exceto a Sra. MacKay, que tentara levantar-se,
sem sucesso, mesmo ajudada
pelo filho e pela jovem Margot Hemingway.
A reunião se aproximava do
fim. Jack e Liz MacKay, conforme prometido,
convidaram os amigos brasileiros, Gustavo
e Paula, para visitarem os aposentos usados
pelo ex-presidente Roosevelt, no “Amazon
Corner” da mansão. De fato, era uma oportunidade imperdível, e os quatro se dirigiram
para o local, não muito distante do salão.
Eles já tinham percorrido boa parte dos
aposentos, com grande atenção e curiosidade, quando, subitamente, apareceu John
MacKay. Visivelmente constrangido, ele disse
ao pai que sua presença era necessária no
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salão, com urgência. No breve percurso até
lá, Gustavo e Paula, souberam que o problema era causado por Jeanette MacKay.
Era patética a cena que encontraram
no salão, em total silêncio. A matriarca,
visívelmente embriagada, se recusava, em
alto e bom som, a passar para a cadeira de
rodas que a levaria para fora do ambiente,
mesmo ajudada por Margaux e uma outra
senhora. A anfitriã repetia um mantra, entre
uma frase desconexa e outra:
– Eu quero minhas pratas de volta!!!...Eu
quero minhas pratas!!!
– Esses comunistas roubaram a minha
baixela de prata!!! Aqueles barbudos filhos
da puta sumiram com minhas pratas!!!
Cabrones!
Tal cena tinha sido antecedida por uma
tentativa de conversa civilizada da velha
senhora com Kissinger, em que ela lhe
pedira para mandar recuperar seu tesouro
à força, usando os Marines... A resposta
conciliatória do secretário, alegando as
dificuldades do momento no Sudeste asiático, fizeram-na dirigir-se aos militares de
alta patente presentes.
Encarando os constrangidos General
Fuzileiro Naval Smith, Almirante Zumwalt
(CNO), e General Adams, do Exército, ela
argumentou, elevando a voz e calando os
demais convidados no amplo salão:
– Eu não entendo por que nossos
bravos fuzileiros não podem resolver essa
parada! Nós sempre fizemos isso! Eu conheço esses cubanos! Eles são uns frouxos!
Henry Kissinger
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Meu filho e meu neto são fuzileiros navais
e estão prontos para ir até aquela ilhota
e trazer minhas pratas! Os MacKay deram
seu sangue em todas as guerras dos Estados Unidos! Nós não somos covardes!
Jack e John MacKay, com apoio de Margaux Hemingway, conseguiram suspender
Jeanette e colocá-la na cadeira de rodas. Em
seguida, a empurraram devagar para a porta
dos fundos, entre as mesas, cruzando quase todo o salão. Foi um verdadeiro desfile,
com a matriarca brandindo uma bengala e
vociferando, entre lágrimas:
– Cabrones! Ladrones de cuatro esquinas! Hijos de una gran puta! Mi vajilla de
plata! Mis platas!..
Para alívio geral, a Sra. Mac Kay desapareceu em direção a seus aposentos. Um
silêncio tumular indicava o constrangimento
total dos convidados. Ninguém se mexia,
esperando que algo acontecesse. O anfitrião,
Coronel Fuzileiro Naval Mac Kay, veio ao microfone e tentou explicar e pedir desculpas
pelo ocorrido, em nome de sua mãe. Súbito,
alguém iniciou uma salva de palmas, que
explodiu em uma verdadeira ovação, com
todos de pé, repetindo, em uníssono:
– MacKay! U.S.A! MacKay! U.S.A! MacKay! U.S.A!
A despedida dos convidados foi demorada e emocionante. Jack MAcKay e família,
em fila junto à porta do salão, foram objeto
de demonstrações de carinho e apoio de
Kissinger e de seus oficiais generais, dos
políticos, intelectuais, doutores e professores,
e dos vizinhos das mansões mais próximas.
Gore Vidal, abraçou-se longamente com Jack
MacKay e prometeu-lhe voltar na semana
seguinte para visitar a amiga.
O Comandante Ferreira e Sra. foram dos últimos a se despedir, com abraços e beijos bem
brasileiros. Gustavo e Jack iriam se encontrar
no Naval War College, na semana seguinte,
quando comentariam o ocorrido. O casal caminhou com dificuldade até o carro devido ao
grosso tapete de neve, caído nas últimas horas.
O final do inverno ainda prometia muito.
O Boston Globe de domingo noticiou,
com fotos e detalhes, a festa da Sra.
MacKay, mencionando a presença de
Kissinger e elogiando os aspectos sociais
do encontro. Nada foi mencionado sobre
o ocorrido com a anfitriã...(9)
Quanto às “suas pratas”, elas continuam
bem guardadas em uma despensa no palácio presidencial de Cuba, em Havana. Vai ser
meio complicado tentar tirá-las de lá...” n
61
Notas
(1)
Rondon deu-lhe esse nome por ter dúvidas
se o rio era afluente do Madeira, para poder usá-lo
como referência na extensão de uma linha
telegráfica em direção ao rio Amazonas; Roosevelt
aderiu à idéia, de pronto, por tratar-se de um
verdadeiro desafio.
(2)
Em 4/10/13, faleceu o general Vo Nguyen Giap,
“a raposa da selva” aos 102 anos; frágil, com
pouco mais de 1,50m de estatura, ex-professor
secundário, foi um dos maiores estrategistas
da História; conduziu os vietnamitas a vitórias
definitivas contra franceses (1947/1954),
americanos (1964/1975) e chineses (1979-jan/
mar); honra ao mérito deste extraordinário
militar e cidadão.
(3)
A série, de seis livros, foi publicada de 1973
a 1990 e ganhou o nome de “Narrativas do
Império”º; mulheres dominadoras estão sempre
presentes em suas tramas.
(4)
A propósito, havia uma competição na TV
escocesa, com o desafio de comer uma “jeanette”
inteira, sem chorar.
(5)
”La Maison des Templiers” – “A Casa dos
Templários.”
(6)
O tenente Elmo Zumwalt III comandou uma
lancha-patrulha no rio Mekong, por mais de
2 anos; nesse período, ele foi exposto ao “agente
laranja”, desfolhante altamente tóxico; seu
emprego nas matas do Vietname, do Laos e do
Cambodja, visara a expulsar as populações do
campo e expor os vietcongs ao armamento
americano; essa prática fora da responsabilidade
dos comandante militares dos EUA na área, seu
pai dentre eles; os efeitos desse tóxico (dioxina)
nas populações e combatentes (dos dois lados)
foi devastador, atingindo o meio ambiente e
milhões de pessoas, por décadas, em uma das
maiores catástrofes provocadas pelo próprio
homem; Elmo Zumwalt III morreu de câncer,
aos 42 anos, pelos efeitos do veneno; seu filho,
Elmo Zumwalt IV, neto do CNO, também foi
afetado, sofrendo graves disfunções neurológicas;
o mesmo continua ocorrendo até a 4ª geração
dos atingidos pela guerra.
(7)
A “Finca Vigia” foi desapropriada pelo governo
cubano, após a morte, do escritor; quase
abandonada durante algum tempo, tornou-se
um museu que atrai bastante turistas; por ironia
do destino, Hemingway atuou como agente da
CIA, nas duas décadas em que lá viveu.
(8)
Houve cinco suicídios, em quatro gerações
da família Hemingway, incluindo o pai do escritor
e sua neta Margaux, aqui citada.
(9)
O presidente Nixon renunciou poucos meses
depois, em 9 de agosto de 1974, devido ao
escândalo do Watergate; Saigon foi ocupada pelos
“vietcongs” em 30 de abril de 1975, encerrando
a guerra do Vietname; os EUA tinham enviado ao
Sudeste Asiático quase três milhões de militares,
durante mais de uma década de conflito;
terminaram derrotados, com a perda de quase
60.000 vidas, mais de 300.000 feridos e
desaparecidos, e outras centenas de milhares de
combatentes atingidos pelos efeitos monstruosos
do “agente laranja”, durante gerações.
*Contra-Almirante (Ref)
[email protected]
reflexão
Gentileza gera
gentileza
Texto e fotos:
H
á muitos anos andava pela ruas
do Rio de Janeiro um homem
que carregava nas mãos, à
semelhança do profeta Moisés,
duas tábuas cheias de frases
religiosas. Algumas eram confusas, mas ele as repetia com insistência a
todos que passavam. Esse homem poderia
ter sido ignorado, considerado um dos
muitos desequilibrados que percorriam as
ruas dizendo coisas sem sentido. Porém,
acabou se tornando tão conhecido em
sua época, que até hoje muita gente se
lembra dele. Inicialmente foi conhecido
como “Gentileza”, depois o povo lhe deu
o título de “Profeta Gentileza”.
Após a sua morte, paineis contendo
suas frases de paz e amor, pintados nas
pilastras do viaduto do Caju, foram restaurados e são conservados.
O que teria provocado a sua fama se
alastrar tão rapidamente, até mesmo por
outros estados do país? Qual o motivo de
tanto carisma?
A razão desse fato inusitado está contida numa frase, repetida em todos os seus
sermões: “Gentileza gera gentileza”.
Não é um dogma religioso, nem um
princípio moralista, tampouco um jargão
político. Somente uma frase, curta e
simples, apenas com três palavras. Mas
Claudio Fabiano de Barros Sendin*
se atentarmos bem, veremos que nessas
palavras existe uma profunda verdade.
Sem dúvida, foi essa a razão de o Profeta
Gentileza ter obtido tanto sucesso.
Embora a maioria do povo não tivesse
consciência, tais palavras atingiam diretamente o coração de todos. Quem as ouvia
uma vez, jamais esquecia. Em pouco tempo, nos quatro cantos da cidade, pessoas
que viram ou ouviram falar do Gentileza
comentavam umas com as outras, e a
frase “gentileza gera gentileza” virou uma
expressão popular.
62
Tal fenômeno não aconteceu por acaso.
O mundo é formado por sociedades
extremamente competitivas, onde os
homens, mulheres e até mesmo as crianças tornam-se cada vez mais agressivos
e maldosos, cheios de pensamentos e
emoções de inveja, rancor, desconfiança e
medo, os quais geram novos pensamentos
de igual teor.
Nem mesmo as religiões, que pregam
o amor, a caridade e a paz, conseguiram
tornar o ser humano mais altruísta, pois
a maioria dos chefes religiosos competem
entre si em suas igrejas, cada um reivindicando a supremacia de sua religião,
falando em nome de Deus e agindo como
empresários ambiciosos.
Em alguns países, onde impera a
impunidade e se premia os criminosos,
costuma-se pensar que, se as leis forem
cumpridas, se os criminosos forem punidos, o mal acabará. Para isso, fazem até
passeatas clamando por justiça.
Ótimo se o problema fosse tão simples.
Mas não é bem assim.
A árdua tarefa de fazer cumprir as leis
é apenas um paliativo. Nunca mudará a
tendência das sociedades de se tornarem
cada vez mais competitivas.
Então, como reverter esse processo que
se alastra tão rapidamente? Como tornar os
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seres humanos mais altruístas, honestos,
solidários e amorosos uns com os outros?
A solução não é simples. Está nas entranhas da capacidade de compreensão
humana. Está na vontade de cada indivíduo
de transformar sua própria mente, de adotar
uma maneira altruísta de viver, cooperando
ao invés de competir com o próximo.
Uma sociedade mais gentil
A educação das crianças, parece ser o
único caminho possível para se desenvolver
uma outra mentalidade humana, sem os
vícios da sociedade competitiva.
Qualquer educador sabe que é justamente na primeira infância que as mentes
estão mais ávidas de informações, captando e armazenando na memória tudo o que
ouve, vê e sente, e que tudo isso irá moldar
o seu futuro caráter.
Ao invés de continuar a incutir em suas
mentes a necessidade de competir e de
vencer os coleguinhas, por que não mudar
o enfoque e passar a ensinar que vencer na
vida é vencer suas próprias dificuldades; é
vencer a preguiça de ir à escola e estudar;
é vencer o impulso de tomar os brinquedos
dos mais fracos e a vaidade de se achar
mais inteligente que os outros.
Ensinar também a elas o que é o respeito sem submissão. Respeito à opinião
dos outros, mesmo que seja diferente da
sua. Respeito aos colegas, mesmo aos mais
tímidos. Respeito aos idosos. Respeito à
cidade. Respeito aos animais. Respeito à
natureza. E certamente, na medida em que
aprenderem a respeitar, começarão a ter
atitudes mais gentis.
Ensinemos a elas que todos nós,
crianças e adultos, fazemos parte da humanidade. Somos pequenos bichinhos que
habitam uma enorme bola feita de terra,
de água e de plantas, onde construímos
nossas cidades e países. E para nós todos
vivermos bem, só depende de nos ajudarmos mutuamente. Aprenderão assim o
que é altruísmo. Aprenderão a restringir a
competição somente aos esportes, e a viver
em colaboração com os outros.
A mudança na educação será um grande
passo a favor do progresso humano.
As crianças finalmente poderão aprender o que significa a frase “gentileza gera
gentileza”. A gentileza carrega consigo a
solidariedade. E muito mais: o amor. Não
o amor paixão, que é atração sexual,
cheio de conflitos mentais, com o qual
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é frequentemente confundido. Mas o
amor verdadeiro, desinteressado, solidário e altruísta.
Quando se faz uma gentileza, junto
com ela vai uma vibração mental desse
amor, que, de forma consciente ou não,
é assimilada e provoca uma sensação
de simpatia, “amolecendo” o coração do
próximo, tornando-o receptivo.
A gentileza é sempre uma atitude
altamente positiva e geradora de uma
resposta da mesma qualidade. É uma
espécie de tratado de paz. É uma discreta
O Profeta Gentileza
em Ouro Preto, MG
63
e elegante declaração de amor.
Por isso esta homenagem ao nosso “Profeta Gentileza”. Ele prestou um real serviço
à humanidade, pois suas palavras, de tão
verdadeiras, foram capazes de ultrapassar
a densa barreira da competição humana
e alojar-se em inúmeros corações. É muito
bom repeti-la sempre que possível.n
*Cartunista e Diretor de arte
sendino.claudio.gmail.com
sendino-amigos.blogspot.com/br
MARINHAGENS
FLAGRANTES DA VIDA NAVAL
NAVEGANDO
NOS“MICOS”
Celso de Mello Franco*
Mico terceiro
A ideia não é nova, até porque a revista Seleções
vem publicando algo do mesmo gênero com um
sucesso de décadas. A vida de Marinha, porém,
é um ambiente de infindáveis histórias. Mande-nos
as suas, e vamos nos divertir com elas. (N.R)
S
empre defendi, com os colegas
diretores culturais do clube, que
a nossa revista deveria ser muito
mais recreativa do que instrutiva,
como eram as Galeras do meu
tempo de aspirante, com quatro
edições e, vendida nas bancas de jornais da
Cinelândia e adjacências.
Enfatizava que a nossa revista, deveria
ser como uma Galera dos sócios, não apenas
para ser lida por eles, mas, principalmente,
por seus familiares e amigos. Revista para o
lazer enfim e, com artigos curtos para não se
tornarem enfadonhos. Aproveito para, neste
artigo, quebrar um jejum de quase quatro
anos, agora que, na diretoria cultural, tenho
um amigo, meu ex-aspirante.
O título deveria ser: “Coletânea de baixos” mas, coerente com o que proponho,
preferi o termo “mico” mais do conhecimento
dos não navais. Vamos a eles, todos ocorridos nas nossas viagens ao exterior.
Mico primeiro
Em Paris, 1950, eu
de férias, guarda-marinha, acompanhado
de mais três colegas,
quando lá passamos os melhores vinte dias
de nossas vidas. Afinal, tínhamos 23 anos,
2 mil dólares no bolso e os oficiais do Navio Escola Almirante Saldanha estavam em
Barrow in Furnees, lá na Inglaterra.
Estávamos jantando, como fazíamos todos as noites, às 20h30min, no restaurante
ao lado do nosso hotel,em Montmartre,
preparando-nos para curtir a noite parisiense, quando o colega que falava um francês
digno da Academia Francesa, sugeriu que,
áquela altura, com mais de quinze dias em
Paris, o colega que pior francês falava, pedisse manteiga para nós quatro. Alertou-lhe de
usar o artigo indefinido “du” antes da palavra
“bérre”, a fim de não agredir a gramática. Assim foi feito o pedido e, qual não foi a nossa
surpresa, quando alguns minutos depois a
garçonete nos traz “deux biérres”, graças à
péssima pronúncia do pedinte e, ao ser notificada do engano, involuntário, reagiu no
mais puro estilo crítico parisiense: Monsieur,
vous ne parle pas français, encore?
Mico segundo
Ainda durante a
minha inesquecível
viagem de guarda-marinha, em 1950, local:
Portsmouth, sul da Inglaterra. Visitávamos
o Porta Aviões Implacable. De repente toda
a esquadra inicia uma salva de vinte e um
tiros pelo nascimento da princesa Anne. Somos convidados para a praça d`armas para
o brinde comemorativo. Por causa disso, um
colega que falava mal inglês, perdeu-se do
grupo e, ao invés de perguntar a um membro
da tripulação:”Were are my friends?”, disse a
seguinte barbaridade:”Were are my fathers?”,
que motivou a resposta lógica do interrogado: “I don`t know, probably, in Brazil.”
64
Gibraltar, primeiro
porto estrangeiro, em
1946, viagem da Escola
Naval à Europa a bordo
do NE Duque de Caxias: um colega sentase num café local e ordena solenemente:
”I want, please, tea and Petrópolis toasts.”
Mico quarto
Mesma viagem em
Lisboa: Um aspirante
pergunta a um local,
lisboeta, portanto:
“O senhor sabe onde fica a rua tal?”.
Resposta mal humorada: “Natural que
sei. Moro aqui. E foi embora furioso.”
Mico quinto
seu andar e ele pergunta ao cabineiro:
“O senhor está subindo?”
Resposta do cabineiro: “Não, estou
parado.”
Mico sétimo
Eu, em Lisboa,
em 1989, no hotel
Astória, pergunto ao
garçom: “A que horas
escurece?.”
Resposta lógica: “Nunca, quando escurece acendemos as luzes.”
Mico oitavo
Eu, ainda em Lisboa, na mesma viagem,
numa loja de roupas,
pergunto ao atendente: “O senhor tem agasalhos de cashimire
irlandesa?
Mico nono
O oficial mais antigo da MB, levantando
um brinde ao final do
almoço na base naval
Vernon,da Royal Navy, em Portsmouth, na
viagem de guardas-marinha do NE Custódio
de Mello em fevereiro de 1964: To his Magesty The Queen!
Comentário de um oficial inglês, sentado ao meu lado: “I never heard a toast
like this.”
Mico décimo
Já na reserva, meu
saudoso amigo, Almirante Max Justo Guedes,
num carro alugado,em
Lisboa, dentre tantas viagens suas a Portugal, dirigindo-se a Cascais, tem dúvidas, e a
certa altura pergunta a um local: “Senhor,
eu gostaria de ir para Cascais”
Resposta do interrogado, curioso: “E por
que não vai?”
Um guarda-marinha
da turma Beauclair, na
viajem de instrução,
quando em Londres, ao
pisar no pé de um inglês, no Underground,
ao invés de dizer: Sorrry, disse à atônita
vítima: Thank You, passando certamente,
por um tarado em pisar pés.
Mico décimo
primeiro
Mico sexto
Na década de
80, o meu não menos amigo, Almirante Henrique Sabóia,
Ministro da Marinha, em um hotel de
luxo em Lisboa. O elevador para no
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Resposta do empregado: “Não senhor.”
Observação de minha mulher bem mais
observadora do que eu: “Mas, senhor, eu
estou vendo ali adiante um balcão de abrigos
de cashimire.”
Resposta do empregado: “A loja tem,
eu não.”
Durante o recebimento do NAel Minas Gerais, nas suas obras de modernização no Estaleiro Verolme,
na Holanda, eram frequentes
Revista do Clube Naval • 368
65
as reuniões entre uma equipe da Verolme
Ship Yard e nós , da Braznavy, para discutir
detalhes de instalação de algum item, previsto no contrato. Assim é que, numa reunião
para se resolver detalhes da instalação da
bancada da “Soda Fountain”, na coberta de
rancho da guarnição, presentes três representantes de cada lado, sendo do nosso o mais
graduado um capitão-de-fragata e, do lado
do Verolme, também três engenheiros seniores, aconteceu o seguinte “mico”, totalmente
inusitado, fruto do esforço de se discutir em
inglês, língua oficial do contrato:
O nosso representante mais graduado,
no ardor e entusiasmo de sua argumentação
trocou as iniciais das palavras do tema da
discussão, a “Soda Fountain”, o que provocou
uma estrepitosa gargalhada dos dois brasileiros que completavam o nosso lado e a
estupefação dos três pobres holandeses.
Mico décimo
segundo
E, para encerrar
com fecho de ouro:
Viagem de guarda
marinha, 1950, no porto de El Ferrol Del
Caudillo, Galicia, Espanha.
Almoço de confraternização entre a guarnição do Navio Escola Almirante Saldanha e
a da base naval espanhola:
Ao término do banquete um sargento
nosso, entusiasmado pelo momento e, mais
ainda, pelo generoso vinho espanhol, saiu-se
com esta pérola, ao se levantar, pedindo que
todos presentes lhe acompanhassem: – Num
brinde a El Ferrol del Carillo!
*Capitão-de-Fragata (Ref)
.
A
I
R
R
SVOOCÊ ESTÁ SENDO
serviços da mb
O
D
A
C
I
F
I
T
N
E
ID
A IDENTIFICAÇÃO NA MARINHA DO BRASIL
HARLEY PESSANHA SANTOS*
A
Marinha do Brasil (MB) desde a
criação do Gabinete de Identificação da Armada (GIA), em 21
de janeiro 1908 buscou, continuamente, o aprimoramento
na área de identificação, por
meio da utilização de recursos tecnológicos,
para a melhoria dos seus processos. Nesses
mais de cem anos de existência, a MB pode
orgulhosamente atestar que já faz parte do
seleto grupo precursor de organizações que
utiliza a captura digital para a identificação
do seu pessoal. A evolução nos processos
de emissão dos cartões de identidade é
relativamente recente. Até 1996, as identidades eram individualmente datilografadas
com máquinas de escrever mecânicas ou elétricas e as fotografias coladas manualmente
na carteira de identificação. As informações
armazenadas nos microcomputadores disponíveis naquela época, não estavam ainda
interligadas de forma sistêmica.
Foi desenvolvido, entre 1996 e 1998,
um módulo de impressão informatizado
denominado Sistema Informatizado de
Emissão de Identidades (SINEI), que aperfeiçoava a impressão dos cartões de identidade significando um grande avanço, pois
a fotografia colorida passou a ser impressa
diretamente na cédula da carteira de identidade, enquanto as máquinas de escrever
eram definitivamente aposentadas.
66
Somente em 1998 foi criado o Sistema
de Gerenciamento de Identificação da Marinha (SISGIM), o qual se pode considerar
como o primeiro sistema de identificação,
levando-se em conta que, mesmo com a limitação tecnológica dos microcomputadores,
a informática já possibilitava os primeiros
passos no processamento de diferentes módulos integrados no controle e execução da
identificação. Algumas incompatibilizações
decorrentes da utilização do SISGIM foram
determinantes para o desenvolvimento do
novo sistema junto ao Centro de Análises de
Sistemas Navais (CASNAV). Em novembro de
2009, com a implantação do SIMWEB, foi
obtido um sistema integrado em rede, inteiramente voltado à atividade-fim do Serviço
de Identificação da Marinha (SIM). Essa tecnologia permitiu à MB alinhar-se aos requisitos
exigidos na implantação do smart card.
O SIMWEB entrou em operação simultânea no SIM e em todos os Postos
Locais de Identificação da Marinha (PLIM),
localizados nos Distritos Navais e na
Base Aérea Naval de São Pedro da
Aldeia, em substituição ao antigo
sistema. Também representou um
marco na aplicação da tecnologia
digital de identificação para a MB, o
que o torna singular e especial. Esse
sistema utiliza o reconhecimento
da impressão digital com o uso de
leitor óptico para a coleta
das digitais, eliminando o
tradicional entintamento
Revista do Clube Naval • 368
dos dedos, bem como a desmobilização dos
ateliês para fotografias, com a integração
das webcams às estações de trabalho dos
identificadores datiloscopistas. O atendimento aos usuários passou dessa forma a ser
realizado em um único guichê para captura
das digitais, fotografia, coleta de dados e
pagamento (desconto interno em bilhete
de pagamento) com expressiva redução no
tempo de atendimento.
A partir das informações coletadas
nesse leitor biométrico, o SIMWEB poderá
se integrar ao Sistema de Identificação
Automatizada de Impressões Digitais (AFIS)
tornando possível, em pouco tempo de
pesquisa e com apenas um fragmento de
impressão digital, a identificação de qualquer indivíduo cadastrado. Para a obtenção
desse resultado rápido, haverá entretanto,
a necessidade de ser estabelecido um Convênio ou um Termo de Cooperação com o
Instituto Nacional de Identificação (INI) para
utilização de terminais que possibilitem fazer
a consulta ao banco de dados daquele órgão.
Vale mencionar entre algumas vantagens do
SIMWWB, a rapidez, qualidade e modernização nas emissões das carteiras de identidade,
além da opção de marcação e consulta dos
processos de identificação pela intranet. Atualmente, o SIM aguarda a disponibilização
de um servidor na rede do Centro de Dados
da MB para ofertar esta nova funcionalidade
aos nossos clientes pela internet. A captura
eletrônica da impressão digital, fotografias
e assinatura, os identificados da MB já
fazem parte de um banco de dados com
elevados requisitos de segurança, garantia
e integridade das informações. O SIMWEB
encontra-se hospedado em três servidores de
última geração no Centro de Dados da MB.
Finalmente, cabe ressaltar que o SIMWEB
está, também, em consonância com as exigências estabelecidas para o Registro único
de Identificação Civil (RIC).
OS SERVIÇOS OFERECIDOS PELO SIM
O SIM produz além, dos cartões de identidade, placas de identificação de campanha,
folhas de identificação da Caderneta Registro
(Folha-001) e fotos para documentos.
O SIM dispõe, ainda, de Equipes Volantes de Identificação (EVI), que têm como
propósito facilitar a emissão dos cartões
de identidade dos usuários nas suas OM,
evitando deslocamentos desnecessários,
desperdício de tempo, agendamento demorado e solicitação de licença para realizar a
identificação no SIM.
Verificou-se a necessidade da criação
de novas frentes de trabalho para o atendimento à Família Naval. 30 de setembro
de 2010 foi inaugurado o Posto Avançado
de Identificação do Comando-em-Chefe da
Esquadra (PA-COMEMCH), situado nas dependências da Base Naval do Rio de Janeiro;
no dia 15 de agosto de 2013 foi inaugurado
o Posto Avançado na Casa do Marinheiro
(PA-CMN) e no dia 31 de outubro de 2013,
o Posto Avançado no Hospital Naval Marcílio
Dias (PA-HNMD). Há também a previsão
de inauguração de um Posto na Base de
Fuzileiros Navais da Ilha do Governador (PABFNIG) e um projeto de criação de um Posto
em Campo Grande. Entrarão em funcionamento em breve, mais dois Postos Locais de
Identificação na Marinha (PLIM) na Capitania
dos Portos de Pernambuco (PLIM-CPPE) e na
Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará
(PLIM-EAMCE). A localização desses Postos
está diretamente relacionada ao quantitativo
de usuários que servem ou residem em área
específica, visando facilitar o acesso desse
pessoal aos serviços executados pelo SIM.
O SIM dispõe de uma Unidade Móvel de
Identificação (UMI), que constitui-se de um
microônibus adaptado para o atendimento
simultâneo de quatro usuários, e que desloca-se para a realização de algumas EVI.
Outra facilidade oferecida, é a realização
de EVI residencial/hospitalar, destinada a
identificar os usuários que não possuem
condições de locomoção.
O SIM possui por fim, um convênio com
o DETRAN/RJ para a emissão de carteiras
de identidade civil. O Posto funciona nas
dependências da OM, sendo a coleta das
digitais feita por leitor biométrico, tal qual na
identificação efetuada pelo SIMWEB.
O NOVO CARTÃO DE
IDENTIFICAÇÃO PARA AS FORÇAS
ARMADAS (FFAA)
Atualmente, as carteiras de identidade
emitidas na MB, nas demais Forças Armadas (FFAA), nos órgãos de identificação dos
estados e do Distrito Federal utilizam papel
filigranado, conforme prevê a legislação
vigente. Em outubro de 2006, com o estabelecimento de um Grupo de Trabalho (GT),
no âmbito do Ministério da Defesa (MD),
foram iniciados os estudos para propor
uma única legislação para as carteiras de
identidade (CI) dos militares.
Um dos aspectos considerados na criação do GT-MD foi a contínua dificuldade
para aceitação das carteiras de identificação
emitidas pela Aeronáutica como prova de
identidade, em razão da inexistência de
um decreto específico para sua validação,
Revista do Clube Naval • 368
67
exceto como identidade funcional, tendo em vista a revogação
do decreto utilizado pela FAB. Tal
fato não ocorreu na Marinha e no
Exército, cujas carteiras de identidade emitidas estão ancoradas
em decretos distintos que lhes
dão fé pública como prova de
identidade no território nacional.
O entendimento era que deveria
ser preparado um Projeto de Lei
que respaldasse as carteiras de
identidade emitidas pelas FFAA.
A tarefa foi cumprida no período
em que esse projeto tramitava
pelas assessorias. Houve um
entendimento que seria mais rápido propor uma alteração na Lei
7.116/83, já vigente, incluindo-se
os órgãos de identificação das
FFAA, do que propor uma nova
lei, especificamente.
Diversas visitas foram realizadas ao Instituto Nacional de
Identificação (INI), em Brasília,
órgão subordinado à Polícia
Federal, para verificação da
necessidade de adequação dos
diversos sistemas de identificação. Naquela oportunidade, havia um grande
interesse daquela instituição em utilizar as
informações existentes nos bancos de dados
de identificação das três Forças, devido à
credibilidade que gozam as FFAA junto à
sociedade. Em dezembro de 2009, representantes do INI compareceram ao Posto Local
de Identificação da Marinha, em Brasília,
para constatar a qualidade das individuais
datiloscópicas coletadas pelos identificadores da MB, por meio do processo digital, no
sistema SIMWEB de identificação.
O GT preparou então a minuta de Projeto
de Lei que foi encaminhada para análise, e
depois de aprovada pelos órgãos de assessoria foi enviada para a Câmara dos Deputados,
onde obteve aprovação das diversas comissões. Já como Projeto de Lei, foi encaminhado para o Senado Federal, sendo revisto
e aprovado sem alterações, e posteriormente
enviado para a sanção presidencial.
A presidente da República, em 16 de
setembro de 2011, vetou totalmente o
projeto após ouvir o Ministério da Justiça
(MJ) e a Secretaria de Direitos Humanos
da Presidência da República (SDH-PR) que
justificaram a manifestação contrária, com
o argumento de que o Poder Executivo
implementou o número único de Registro de
Identidade Civil, inclusive com a aprovação
do Decreto nº 7.166, de 5 de maio de 2010
que criou o Sistema Nacional de Registro de
Identificação Civil, com a manutenção dos
diversos documentos de identificação distintos, atualmente existentes, e a atribuição
da mesma validade ao documento emitido
pelas FFAA ao de outras instituições.
Buscando uma solução alternativa, foi solicitado ao GT que providenciasse a análise de
Minuta de Decreto para a criação de um documento de identificação militar a ser expedido
no âmbito do MD. Paulatinamente, durante os
estudos, foram sugeridos os dados comuns a
serem incorporados buscando-se uma unidade entre as três Forças e elaboradas algumas
propostas para o projeto gráfico (lay-out) das
novas identidades, a serem submetidas à
aprovação oficial do Comando da Marinha.
Uma vez adotado o modelo de cartão de
identidade, em base de policarbonato, haverá
um esforço conjunto do MD e das FFAA no
sentido de reduzir os custos para a sua confecção, além do estudo visando verificar a
viabilidade de sua terceirização, considerando
a implantação simultânea nas FFAA.
Foram consideradas características no
68
formato smart card em policarbonato, com
chip de contato, e gravação a laser, semelhantes ao RIC. No Projeto foram incorporados itens de segurança, capacidade de gravação dos dados biográficos e biométricos.
O novo cartão de identificação militar poderá
conter, ainda, o número do RIC. Tendo em
vista esse propósito, o MD, por meio de
estabelecimento de termo de cooperação
com o MJ, definirá a forma de migração dos
dados biométricos e biográficos de cada indivíduo identificado na respectiva Força para
o Instituto Nacional de Identificação (INI),
órgão subordinado à Polícia Federal, para
inclusão em seu banco de dados e geração
do número do RIC.
Atualmente, não há definição sobre a
terceirização inicial de parte ou de toda a
produção dos futuros cartões de identificação,
pois a alteração da plataforma (cédula em papel para o cartão smart card ) implica grandes
mudanças para a confecção dos documentos
de identificação e a tecnologia disponível para
impressão a laser no cartão de policarbonato
é inteiramente importada. Devido às diferenças existentes na produção de documentos
de cada órgão de identificação, a gestão da
produção do cartão de identificação militar
Revista do Clube Naval • 368
ficará a cargo de cada Força. Pensando no
futuro, estão sendo efetuados os levantamentos das necessidades materiais a fim de
possibilitar o planejamento financeiro com a
devida solicitação de recursos.
Obedecendo às peculiaridades de
cada Força e aos sistemas internos a serem
apoiados, poderão ser inseridas, no chip das
carteiras emitidas pela MB/SIM, as seguintes
informações, entre outras:
• Inscrição no PIS/Pasep.
• Número do passaporte.
• Número da Carteira Nacional de
Habilitação.
• Número do Certificado de Reservista.
• Número do Título de Eleitor.
• Dados da certidão de casamento ou
nascimento, nome do Cartório, número da
folha do livro de registro.
• Dados de carreira do militar.
• Informações da Caderneta de Saúde dos militares ou dados médicos do
identificado.
Quanto às possibilidades de utilização
do novo cartão de identificação militar,
vislumbram-se, ainda, as seguintes aplicações na MB, adequando-se previamente aos
sistemas existentes, nas áreas especificadas:
Revista do Clube Naval • 368
segurança digital (login de computadores); segurança orgânica (acesso físico às instalações,
controle e utilização de armamento, controle
no guarnecimento de postos de vigilância);
saúde (consultas, internação e medicamentos)
e intendência (acesso ao rancho, fornecimento de fardamento), entre outras.
A substituição dos CI na MB será efetuada de forma gradual, de acordo com
a capacidade de identificação do SIM.
Quanto aos custos iniciais estimados, há de
se considerar a emissão anual de cerca de
65 mil documentos de identificação. O SIM
possui em seu cadastro, aproximadamente,
850 mil registros.
Poderá, também na área digital, aferir,
com segurança, a origem e a integridade de
documentos recebidos ou encaminhados
com o uso da assinatura digital, integrandose com a Autoridade Certificadora. No
mês de setembro de 2013, em Brasília, foi
apresentado em um workshop sobre Inovações Tecnológicas na Área de Identificação,
organizado pelo Exército Brasileiro, o Projeto
AC-DEFESA, o qual pretende criar uma unidade certificadora para as três Forças. Em um
futuro próximo, a certificação digital poderá
ser inserida no documento.
69
CONCLUSÃO
O SIM busca, cada vez mais, prestar o
melhor serviço à família naval, com segurança, qualidade, rapidez e conforto, bem como
acompanhar a evolução tecnológica na área
da identificação humana. A realidade digital
para os cartões de identificação em policarbonato já se avizinha, tornando necessário
atender às novas demandas de segurança
digital e segurança orgânica nas OM, tendo
em vista, também, o crescimento da MB com
a elevação do quantitativo de pessoal para a
Força. Como as futuras identificações farão
uso dessa tecnologia de ponta, cujas informações biométricas serão armazenadas em
um pequeno cartão de identificação de base
plástica, do formato de um cartão de crédito,
a MB, juntamente, com as outras Forças,
vêm envidando esforços para alinhar-se ao
padrão de desenvolvimento tecnológico dos
outros órgãos de identificação. n
*Capitão-de-Mar-e-Guerra (CD)
Diretor do Serviço de Identificação da Marinha
SERVIÇOS DA MB
CAIXA DE
CONSTRUÇÕES
DE CASAS
PARA O PESSOAL DA
MARINHA (CCCPM)
A
Fortaleza
Natal
Manaus
Belém
Recife
Orília de Oliveira Silva*
CCCPM completou 78
anos de existência no
mês de janeiro. Foi criada com a missão de
suprir as necessidades
de moradia do pessoal
da Marinha do Brasil, recrutado
para trabalhar na construção do
complexo do arsenal de Marinha e
em seus navios, na cidade do Rio de
Janeiro, e que por esse motivo migrou para a região. Hoje, a CCCPM
atua em todos os Distritos Navais,
abrangendo o território nacional.
Atualmente, a CCCPM oferece
diversos produtos para a família
naval, como várias modalidades
de financiamento imobiliário, desde a
compra de imóvel ou de terreno, com a
construção simultânea do imóvel; o empréstimo imobiliário para complementar a
aquisição ou reforma de imóvel, a compra
de material de construção e regularização
de documentação imobiliária, com o prazo de até 48 meses, com taxas de juros
competitivas que poderão ser consultadas
no sítio da autarquia.
A assessoria imobiliária é um serviço
gratuito oferecido pela CCCPM, para análise de documentação de imóveis, tipos
Salvador
Aratu
Brasília
São Pedro
da Aldeia
de financiamentos, compra, venda, legalização, partilha, sub-rogação de imóveis,
entre outros, devendo ser agendado pelo
telefone (21) 2105-7438.
Visando ampliar a atuação da CCCPM,
foi concretizado um acordo de cooperação
com a Caixa Econômica Federal, para financiamento ou consórcio de imóveis em
condições vantajosas para o pessoal da
Marinha, atendendo a todos os militares,
com ou sem estabilidade, em financiamentos
de até 100% do imóvel.
70
Essa veterana Instituição
continua jovem e moderna
no seu plano de negócios,
encarando o desafio da modernidade nesse novo milênio,
mantendo-se atualizada nas
conjunturas tecnológica e econômica brasileiras, a fim de se
manter competitiva e eficaz e,
dessa forma, poder proporcionar à família naval excelência
na qualidade de atendimento
e de seus produtos, para que os militares,
civis e pensionistas da Marinha possam ter
facilitadas as aquisições de suas moradias
próprias.
A Caixa da Marinha existe para auxiliar você a realizar o maior sonho de
uma família, a aquisição da casa própria.
Sempre que pensar em adquirir um imóvel,
lembre-se de nos procurar, seja para fazer
um financiamento ou apenas para pedir
uma assessoria imobiliária.
Quando pensar em realizar um projeto
imobiliário, consulte a CCCPM.
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Niterói
Ladário
Rio de Janeiro •
Centro • Sede
São Paulo
Florianópolis
Angra dos Reis
Rio Grande
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71
Rio de Janeiro • BAMRJ
governos militares
A CCCPM disponibiliza diversos
produtos e serviços no ramo imobiliário
•Produtos:
PROMORAR
Oferece as melhores condições
possíveis à família naval, para compra de
imóvel, ampliação e compra de terreno
com construção de imóvel simultânea.
Antônio Tângari Filho*
1
PROHABITAR
É o mais novo produto oferecido pela Caixa de Construções. Trata-se de um
financiamento especial com recursos oriundos do FGTS para imóveis em áreas urbanas.
Por se tratar de linha de crédito subsidiada pelo Governo Federal, sua taxa de
crédito é muito atrativa. (Suspenso Provisóriamente).
ERAP (Empréstimo Imobiliário)
PREAMAR
Programa único nas Forças Armadas, pois visam melhorar
as condições de beneficiários que moram em áreas acometidas
pela violência urbana ou intempéries da natureza.
Criado para reformas, aquisição de materiais
de construção, legalização de imóvel e complemento de
poupança para compra de imóvel.
ACORDO DE COOPERAÇÃO ENTRE A CEF E A MARINHA DO BRASIL
Permite o acesso de todos os militares da Marinha, sem exceção, ao financiamento imobiliário de até 100% do
montante desejado, ao consórcio de imóveis e ao CONSTRUCARD, para aquisição de material de construção.
A Caixa de Construções disponibiliza
aos seus beneficiários a Bolsa de Imóveis,
onde você poderá divulgar ou pesquisar
seu imóvel para venda, aluguel ou
transferência de financiamento.
Que a aposentadoria rural – Pró Rural
foi implantada definitivamente após a
Lei Complementar nº 11 de 26/05/1971, no
Governo Médici?
De acordo com essa Lei, os pagamentos
foram iniciados a partir de janeiro de 1972,
em parte com as receitas provenientes do
desconto na fonte de 2,2% da receita bruta
dos Produtores Rurais. Em fevereiro de
2010 o STF julgou em definitivo o recurso
contra o seu recolhimento, considerando
bitributação. A partir daí, os recursos do
Pró Rural passaram a ser complementados
pelo Tesouro Nacional. Segundo o sítio da
Federação das Indústrias do Ceará (FIEC), o
total de despesas da União com as restituições dos recolhimentos feitos nos cinco (5)
anos anteriores à decisão, seria cerca de R$
13 bilhões.
Que o Pró Rural é mais perene, custa
menos à União, e atinge a um número
parecido de famílias?
Pro Rural: 860.336 famílias em 2010,
considerada a população Rural com idade
para se beneficiar (IBGE).
Bolsa Família: 800.000 famílias em 2012
dados do Ministério do Desenvolvimento
Social e Controle da Fome (MDS).
3
Com certeza seria muito maior a miséria
no campo,sem as transferências de renda
do PRO RURAL, iniciadas há mais de 4
décadas! n
Que, o Bolsa Família, criado pela Lei
10836 de 9/1/2004, para atender a
800.000 famílias teve um orçamento para
2013 de R$ 23 bilhões ?
2
* Capitão-de-Corveta (Ref-IM).
Serviço disponível aos beneficiários da CCCPM, prestado por profissionais
com elevada experiência em assuntos envolvendo documentação de imóveis,
tipos de financiamento, compra, venda ou legalização. O serviço está disponível
para todos os beneficiários da Marinha do Brasil, independentemente da
contratação de um dos nossos produtos.
Unidade móvel de atendimento
Caixa de Construções de Casas para o Pessoal da Marinha:
Seu sonho é a nossa missão!
*Capitão-de-Fragata (S).
72
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Revista do Clube Naval • 368
Fontes:
Wikipédia – Sinopse do Censo e Séries
Estatísticas IBGE – 2010
Blog do Reynivaldo Brito – Benefício Rural
– FUNRURAL
Sítio Matheus Lombardi – Êxodo Rural cai
pela metade em uma década, diz IBGE
FIEC – Informativo Fique em Dia – STF põe
fim à cobrança do FUNRURAL
Sítios Contas Abertas – Dyelle Menezes e
Yun Freitas e JÙS BRASIL
ASSESSORIA IMOBILIÁRIA
As atividades da CCCPM estão disponíveis no site
www.cccpm.mar.mil.br e no periódico trimestral REMMAR –
Revista da Moradia da Marinha. Sugestões, elogios ou críticas
poderão ser encaminhados para o e-mail do Serviço de
Ouvidoria ou realizadas por meio de ligação para a central
de atendimento no telefone: (21) 2105-7400.
4
Esta estimativa foi feita com base na
distribuição da população brasileira feita pelo
IBGE no censo de 2010. Essa distribuição
indica que, os homens residentes na área
rural, em condições de se aposentar (acima
de 60 anos) seriam 784.841 e o total de mulheres (acima de 55 anos) 1.526.385. Para
efeitos de cálculo da despesa anual, foram
conservadoramente computados 50% da
população masculina e 30% da feminina.
Que a estimativa de pagamento com as
aposentadorias rurais desde 1972, pode
ser considerada como sendo de cerca de
R$ 6,8 bilhões anuais, com base no Salário
Mínimo de R$ 622,00 ?
•Serviços:
BOLSA DE IMÓVEIS
VOCÊ SABIA?
73
última página
OPINIÃO Do
leitor
Será bem-vinda a sua opinião
sobre qualquer artigo ou assunto
tratado nesta edição.
Enderece seu e-mail para
[email protected]
com o máximo de 1.500 caracteres.
A editoria da RCN se reserva o
direito de publicar ou não a sua
mensagem, na íntegra ou em parte.
Não será revelado o seu endereço.
P
rimeiramente quero manifestar o
quanto eu acho importante a publicação da Revista do Clube Naval. Meu
Pai é Militar da Marinha, apesar de eu ter
enveredado para outra área, permanece
o apreço e respeito a tudo relacionado à
defesa da pátria.
Acho muito legal que vocês disponibilizem as edições anteriores em PDF, torna
mais fácil que estudiosos tenham acesso
à revista e façam referência a ela em seus
trabalhos, em qualquer lugar do Brasil e até
quando offline (sem precisar ficar consultando o site, já que há o PDF).
Também acho muito importante que
os jovens também tenham acesso, para
que possam conhecer e ter dimensão da
importância de ter Forças Armadas fortes,
compatíveis com o valor das nossas riquezas
e a força dos nossos interesses.
Gostaria de dar duas Sugestões:
1. Que as imagens e esquemas nos
arquivos PDF tenham maior qualidade:
antigamente era difícil lidar com arquivos
grandes por causa da velocidade da internet e quantidade de memória disponível
nos computadores, entretanto, hoje já é
possível lidar com PDFs maiores. Poderse-ia disponibilizar diferentes arquivos com
fotografias e esquemas de resoluções (com
300 dpi ou até mais) e compressões diferentes, maiores ou menores, para que o leitor
possa escolher.
2. Que não só a revista inteira seja disponibilizada em PDF, mas também as matérias
separadamente. O que poderia dispensar
um editor de PDF que separe os artigos.
Bernardo Pimenta • Sócio-dependente
S
olicito a gentileza de transmitir ao
Conselho Editorial, à equipe da Revista, bem como ao meu caro amigo,
Antônio de Oliveira Pereira, meus cumprimentos pela nova forma de apresentação
do MARE NOSTRUM. Bonita, prática, bem
editada, e inteligente.
Como assíduo leitor, terei ainda o prazer
de ter os seus números arquivados no HD
do meu computador.
Se possível me permitirei solicitar,
eventualmente, o recebimento de algum
número que tenha interesse em arquivar
no original.
CC (Ref-IM) Antônio Tângari Filho
E
nvio meus cumprimentos pela qualida
de da Revista do Clube Naval, a qual
tem melhorado a cada número.
Gostaria, também, de registrar meu comentário sobre a crítica enviada por um leitor
no número anterior onde contesta o artigo
publicado sobre a falsa ilusão das ideias de
Karl Max. O mundo ainda não registrou um
regime comunista de sucesso. Ao contrário,
frequentemente temos associado a cruel e
inútil perda de vidas inocentes na sangrenta
luta pelo poder, a consequente incompetência
econômica e administrativa. É o que se viu,
por exemplo, na chocante diferença de evolução das duas Alemanhas quando foram
reunidas após a 2ª Guerra.
Algum resultado só aparece quando o
regime comunista encontra alguma forma de
financiar seu absurdo conceitual na economia
capitalista. A Rússia exporta gás e petróleo
para a Europa capitalista evoluída. A China
criou uma banda capitalista, obtendo sucesso
no mercado através da opressão de seus trabalhadores durante décadas.
Visivelmente a pretensa sedução das
teorias de Marx são um grande engodo,
não encontram sucesso ante a realidade
histórica.
Joel Costa • Advogado
Acesse a nossa revista, o Boletim Mensal e o Mare Nostrum pelo site
www.clubenaval.org.br
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