Metodologia científica na era da informática
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Metodologia científica na era da informática
1 Universidade de São Paulo – ECA – Depto. de Biblioteconomia e Documentação Disciplina: CBD0100 - Orientação à Pesquisa Bibliográfica – Matutino Responsável: Profa. Dra. Brasilina Passarelli Aluna: Rita de Cássia Bonadio Inácio – n.º USP: 1768162 Atividade externa – Resenha MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva, 2002. 261p. A obra Metodologia científica na era da informática, de João Augusto Máttar Neto, professor universitário e pesquisador da área de tecnologias aplicadas ao campo da Educação, apresenta uma série de informações gerais para a compreensão sobre o que caracteriza a metodologia científica. Ao tratar da questão como sinônimo de metodologia de estudo, pesquisa e de produção do conhecimento científico no ensino superior, o autor explora o conceito de metodologia científica nas suas interfaces com os procedimentos padronizados que foram historicamente legitimados como metodologias apropriadas para o desenvolvimento do trabalho acadêmico. Nesse aspecto, o texto contempla, de acordo com o autor, um conjunto de questões pertinentes ao “fazer ciência” dentro do contexto dos processos gerais de produção e consumo do trabalho acadêmico na sociedade da informação. O livro em formato impresso é organizado em sete capítulos que se somam ao prefácio, à apresentação e a uma breve conclusão. Além disso, a obra traz algumas ilustrações e ao final oferece uma ampla bibliografia comentada dos textos consultados para sua realização e, também, sobre diversos textos recomendados para o aprofundamento de determinadas questões pontuadas no trabalho. Nessa bibliografia são indicadas diferentes fontes e recursos informacionais, tais como: livros, revistas, dicionários, documentos (algumas normas da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – e alguns decretos da legislação educacional), softwares e sites. Busca, assim, apoiar os interessados em pesquisar e estudar questões como: a metodologia científica em geral e as metodologias científicas especializadas, a tecnologia na educação, os processos de normalização dos documentos, e outros temas afins às discussões sobre ciência, tecnologia, informática, metodologia e educação. A obra inclui ainda um pequeno índice 2 remissivo, organizado em ordem alfabética, que destaca alguns autores e assuntos mencionados no texto. O próprio autor apresenta sua obra como um guia voltado a estudantes, professores e outros profissionais que buscam a integração entre a tecnologia e o trabalho científico. Mais particularmente, afirma que seu texto se destina tanto a apoiar o estudante universitário no desenvolvimento de trabalhos acadêmicos a serem realizados em qualquer campo do conhecimento científico, como também é direcionado a introduzir o professor nas discussões sobre o uso da tecnologia da informação na educação, especialmente no ensino superior. Nesse sentido, essa obra pretende preencher uma lacuna que aponta existir em grande parte da literatura sobre a metodologia científica. Segundo entendimento do autor, os textos dessa área, de modo geral, além de ser ignorarem o advento da informática e os usos dos recursos das tecnologias da informação nas práticas de estudo, ensino e pesquisa, especialmente, nas universidades, também não observam que, atualmente, os próprios métodos de muitas ciências se apóiam nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e cada vez mais dependem de redes informáticas e se utilizam de programas de computadores para a organização dos dados e até como ferramenta para interpretação e apresentação das informações. O objetivo do texto é mostrar a relevância das TICs nos processos atuais de produção do conhecimento científico, mas seu conteúdo inclui um amplo conjunto de informações do conteúdo tradicional do currículo de um curso em metodologia científica, além de aproximar os conceitos de metodologia e educação, de modo a oferecer aquilo que o autor entende como um melhor suporte para o trabalho científico, dentro do qual as TICs são defendidas como ferramentas a serviço dos objetivos pedagógicos de ajudar o aluno a desenvolver a capacidade de pensar cientificamente. Nessa perspectiva, o texto propõe uma abordagem ampla e integrada de diversos assuntos, pontualmente explorados como conceito e, de modo geral, apresentados a partir de uma breve descrição histórica. Entre outros assuntos mencionados ao longo do texto destacam-se: a compreensão das ciências na história, da Antiguidade ao século XX, e as divisões e formas de classificações das ciências (exatas, biológicas e humanas ou formais e empíricas); o desenvolvimento dos métodos científicos; a necessidade do senso crítico, da linguagem científica, das lógicas 3 científicas e o papel da estatística no conhecimento científico; as variações metodológicas das diferentes abordagens científicas do ponto de vista da filosofia da ciência; informa sobre o ensino universitário no mundo e no Brasil, destacando as atividades de pesquisa e extensão; a abordagem da sociedade da informação e os impactos das TICs no trabalho científico e na educação, focalizando a informática, a Internet, a Web e o papel das tecnologias da informação nas mudanças dos suportes informacionais, nos projetos de educação à distância, na difusão da interdisciplinaridade e no reconhecimento das diferentes formas de inteligência; a estrutura e os diferentes tipos dos trabalhos científicos (projeto de pesquisa, relatório científico, trabalho de conclusão de curso, dissertação, tese, etc.), discutindo a aplicação das normas técnicas da ABNT para referências e citações em relação, e fazendo menções sobre os órgãos de pesquisa e as diferentes formas de publicação e a comunicação do conhecimento científico; e o texto trata ainda do uso das ferramentas dos processadores de texto na produção do trabalho científico e do uso da norma culta da Língua Portuguesa nas redações dos trabalhos científicos, focalizando erros que não são corrigidos pelas ferramentas de edição oferecidas pela tecnologia da informação. Ao integrar a discussão do “fazer ciência” a esse conjunto de diferentes questões relacionadas ao trabalho acadêmico, o autor mostra com clareza e com uma linguagem de fácil compreensão a diversidade de temas que podem tratados pelo estudo da metodologia científica no ensino superior. Sobre questões mais específicas relativas às ciências, o texto apresenta a ideia de que o conhecimento científico está em constante progresso e evolução, e que sua produção depende diretamente dos equipamentos disponíveis para a observação da realidade e das condições sociais e culturais para a aceitação de novas teorias. Reconhece que a ciência pode ser vista como um processo sempre em desenvolvimento, como um conhecimento nunca pronto, mas sempre inacabado e em contínua elaboração, ampliação e revisão. O texto informa sobre princípios gerais da metodologia científica ao mesmo tempo em que ressalta que os métodos são inúmeros e que em cada uma das ciências existentes há um conjunto de procedimentos específicos especialmente desenvolvidos para dar conta das demandas particulares de que área do conhecimento científico. 4 De modo geral, a evidente abrangência temática dessa obra mostra o esforço do autor em expandir o universo de assuntos tradicionalmente abordados nos textos que tratam de metodologia científica. Contudo, embora não se possa afirmar que isso tenha resultado num texto fragmentado, na sua leitura é possível notar que muitas das informações apresentadas aparentemente fogem à discussão central a que se propôs o autor: a informática como ferramenta da metodologia científica e da produção do trabalho científico. Em certos momentos o autor discorre sobre questões muito específicas do campo da educação que não aparecem necessariamente articuladas à discussão das metodologias científicas. Por exemplo, cita a teoria das inteligências múltiplas, informa sobre os cursos sequenciais na LDB, entre outros temas da educação à distância, e outras questões que aparecem no terceiro e no quarto capítulo do livro, nos quais a educação é o assunto principal. Por outro lado, também é possível notar no texto algumas ausências importantes sobre questões mais específicas da metodologia científica e da discussão do próprio conhecimento científico. Por exemplo, o autor não trabalha com a distinção entre o conceito de ciência e de tecnologia, e isso, entre outros problemas que poderiam ser levantados faz com que as informações históricas que o texto traz sobre as ciências apontem uma perspectiva do desenvolvimento histórico da ciência confundida com a história das tecnologias. Também, por conta disso, o texto focaliza mais propriamente o desenvolvimento das ciências experimentais e não menciona, por exemplo, as dificuldades da produção científica nas ciências humanas. Assim, fica subentendido que o modelo das ciências experimentais é a grande referência para uma metodologia científica geral, mas não são discutidas as implicações dessa relação para a produção do conhecimento das ciências que não são experimentais. Sem discutir as diferentes formas de trabalho científico que fogem aos padrões estabelecidos na ABNT, o texto aborda esse padrão de trabalho científico estabelecido na normas, que supõe como modelo para a produção dos trabalhos acadêmicos em geral, em todas as áreas das ciências. Também o uso de softwares na produção do trabalho acadêmico, assunto que teoricamente corresponderia mais diretamente à discussão proposta no livro, aparece muito marginalmente no texto. Vários programas são mencionados, mas a sugestão apresentada é restrita ao uso do processador de texto Microsoft Word, particularmente para tratar do que o autor chama de “metodologia do sumário”, com a qual o autor propõe o uso do sumário como guia do processo de construção da 5 redação do texto, de modo que a redação de um trabalho acadêmico não seja resultado de um momento posterior à pesquisa e à organização dos dados. Sua idéia é que utilizando este tipo de metodologia, a pesquisa e a redação tornam-se processos contínuos do começo ao fim do trabalho científico, e não fases estanques e separadas como muitos autores sugerem. O trabalho científico na era da informática é focalizado especificamente no quinto capítulo dessa obra. O texto apresenta informações gerais sobre o planejamento e o desenvolvimento de um trabalho científico: aborda as características de um projeto de pesquisa, sua estrutura e suas partes constituintes (tema, problema, hipótese, metodologia, etc.); aponta alguns tipos de pesquisa científica que podem sustentar o desenvolvimento do trabalho científico (pesquisa experimental e de laboratório, pesquisa documental, pesquisa de campo, pesquisa bibliográfica e o uso de fontes e recursos de informação diversos tais como: aulas, eventos de comunicação científica, pesquisa na Internet); propõe um modelo de estrutura do trabalho científico, descrevendo as partes que o compõe a partir da citação de normas específicas da ABNT que definem os elementos que nele podem ser apresentados (resumo, folha de rosto, sumário, listas, ilustrações, prefácio, introdução, desenvolvimento, conclusão, notas, índices, anexos e apêndices, glossário, bibliografia); e, como já foi anteriormente mencionado, o texto apresenta passo a passo, com ilustrações, uma metodologia de produção do trabalho científico baseada no uso de ferramentas dos processadores de texto, tendo o sumário como guia para a redação do texto acadêmico; também, informa sobre a comunicação dos trabalhos científicos, focalizando as formas de apresentação nos espaços de divulgação e publicação tradicionais e na Web, mencionando o uso de recursos multimídia, o uso do hipertexto, a publicação eletrônica, buscando mostrar a presença e o potencial das ferramentas da tecnologia da informação para dinamizar a produção e a difusão do trabalho científico. De qualquer forma, esse livro constitui um trabalho de referência inovador ao introduzir questões que têm sido deixadas em suspenso no debate sobre o trabalho acadêmico, além de ser um guia que orienta a entrada no universo da problemática da metodologia científica. Contudo, há de se refletir que o texto tem como base o conteúdo tradicional da área e opta por certo formato de trabalho científico, o que revela a vinculação do autor com o trabalho acadêmico tradicional e isso implica que essa obra reproduz caminhos construídos antes da era da informática.