IRAQUE

Transcrição

IRAQUE
CONFISSÕES RELIGIOSAS
● Muçulmanos 97.3%
● Cristãos 1.8%
Católicos 0.7% / Ortodoxos 0.7% / Protestantes 0.4%
● Outros 0.9%
SUPERFÍCIE
438.317 Km²
POPULAÇÃO
31.466.698
DESALOJADOS
35.189
REFUGIADOS
1.332.382
IRAQUE
IRAQUE
Torturado por uma instabilidade crónica desde a queda do regime de Saddam Hussein,
no seguimento da invasão norte-americana (2003), o Estado iraquiano não tem sido
capaz de dar segurança à sua própria população. Os membros das minorias religiosas
e étnicas, sobretudo os cristãos, são os mais expostos à violência sectária, que causa
um êxodo sem fim.
Constituindo cerca de um milhão em 2003, calcula-se que os cristãos (pertencentes a
catorze Igrejas diferentes) não sejam agora mais de cerca de 300.000. Alguns mudaram-se para a região autónoma do Curdistão iraquiano, onde os seus números passaram
de 30.000 em 2003 para 100.000 hoje em dia.
No entanto, mesmo aí não é seguro, pois os ataques anticristãos que continuaram ao
longo de 2010 e 2011 revelam, sobretudo da parte de muçulmanos que se identificam
com a União Islâmica do Curdistão, um partido islâmico ligado à Irmandade Muçulmana.
A insegurança nesta província piorou tanto que muitos cristãos apenas aí permanecem
temporariamente.
Ainda assim, o Mons. Louis Sako, Arcebispo caldeu de Kirkuk, conseguiu inaugurar
uma nova igreja dedicada a S. Paulo, na aldeia de Sikanayan, num terreno doado pelo
Governo central. Foi a primeira vez que foi permitido construir um local de culto da Igreja
Caldeia no Iraque desde 2003.
Muitos cristãos encontraram refúgio nos países vizinhos do Iraque (Jordânia, Síria,
Líbano e Turquia), onde vivem em condições precárias enquanto aguardam vistos para
o Ocidente.
De acordo com o Mons. Basile Georges Casmoussa, Arcebispo Emérito sírio-católico
de Mossul, “80% dos nossos jovens estão a abandonar o país ou a sonhar sair”.1 Para o
Mons. Shlomo Warduni, Bispo Auxiliar do Patriarcado Caldeu (Bagdade), “a emigração está
a destruir a nossa cultura, história, fé, igrejas e paroquianos. É uma doença contagiosa
e perigosa contra a qual não podemos fazer nada.”2
Estas minorias também estão sujeitas à sharia (lei islâmica, a única fonte de jurisprudência). Isto desvaloriza os cristãos e coloca-os numa situação de desigualdade, porque
as minorias também estão sub-representadas nas instituições estatais. Daí que em Julho
de 2010 um grupo de setenta e seis delegados de grupos cristãos e outras minorias
Zenit, 2 de Maio de 2011.
1
La Croix, 31 de Outubro a 1 de Novembro de 2011.
2
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(yazidis, sabeus, etc.) tenha lançado um pedido de ajuda para incentivar o retorno de
refugiados, bem como alterações constitucionais que salvaguardem os seus direitos.
O Mons. Casmoussa listou muitos actos de injustiça contra os cristãos. Um desses
casos tem a ver com o sistema escolar. Se houver um único muçulmano numa turma de
crianças cristãs, esse muçulmano tem direito a instrução religiosa muçulmana, enquanto
os cristãos têm de representar 51% da turma para poderem exercer o mesmo direito.
Ao nível cultura, o Governo iraquiano pós-Saddam Hussein cancelou uma autorização
dada às Igrejas para abrirem um museu.3 Para o Mons. Casmoussa, “muitos representantes
do Governo estão contra nós.”4
Os cristãos também estão a enfrentar a progressiva re-islamização da sociedade
iraquiana. Diversos grupos muçulmanos estão a exigir que os cristãos paguem o imposto
individual islâmico (a Jizya) e estão a procurar impor um código de vestuário rígido às
mulheres cristãs. De facto, de acordo com o Arcediago Emmanuel Youkhana, muitas
mulheres não saem de casa sem usar o véu islâmico por causa da pressão social.
Algumas autoridades religiosas muçulmanas de topo estão agora a exigir a segregação entre alunos e alunas nas universidades. Finalmente, a Faculdade de Música da
Universidade de Bagdade foi encerrada porque a música é considerada incompatível
com a interpretação fundamentalista da sharia.5
Na sua página de Internet, o grupo islamista Ansar al Islam colocou uma carta que
diz: “O secretário-geral da […] brigada islâmica decidiu dar aos cruzados cristãos infiéis
de Bagdade e de outras províncias um aviso final para que abandonem imediatamente
e de forma permanente o Iraque e se juntem a Bento XVI e aos seus seguidores que
espezinharam os grandes símbolos da humanidade e do Islão […]. Não haverá lugar para
os infiéis cristãos a partir de agora […]. Os que permanecerem terão as suas gargantas
cortadas.”6
Violência anticristã
O ano de 2010 foi marcado pelo ataque contra a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro em Bagdade a 31 de Outubro, véspera de Todos os Santos. Durante a celebração
da missa, um grupo constituído por uma dúzia de terroristas armados entrou no edifício.
Dispararam e mataram imediatamente um sacerdote e dois fiéis, e fizeram reféns outros
sacerdotes e cerca de 300 fiéis. Os atacantes também dispararam sobre o crucifixo com
as suas metralhadoras, escarnecendo e dizendo: “Digam-Lhe que vos salve.”
O assalto por parte de militares iraquianos com apoio norte-americano, quatro horas
depois de ter tido início o ataque, resultou na morte de cinquenta e oito reféns, incluindo
dois jovens sacerdotes, o P. Wassim Sabih e o P. Thaer Saadallah Boutros, e no ferimento
de sessenta e sete pessoas, incluindo um sacerdote, o P. Rafael Alkotaily.
Uma organização ligada à al-Qaeda, o Estado Islâmico do Iraque, reivindicou responsabilidade pelo ataque. Numa declaração, disse: “Cada cristão, as suas organizações
e instituições, bem como os seus líderes, onde quer que estejam, são alvos legítimos
para os mujahidin.”
262
3
Zenit, 12 de Setembro de 2010.
4
Zenit, 29 de Maio de 2011.
5
Zenit, 20 de Janeiro de 2011.
6
Citado em Zenit, 29 de Maio de 2011.
IRAQUE
O ataque foi o mais sangrento incidente anticristão no Iraque desde 2003. Ocorreu
uma semana após o Sínodo Extraordinário dos Bispos do Médio Oriente, realizado em
Roma de 10 a 24 de Outubro e presidido pelo Papa Bento XVI. No final dos procedimentos, a assembleia tinha chamado a atenção para a situação dos cristãos na região,
em especial no Iraque.
Dez dias após a tragédia, muitos lares e lojas cristãos foram atacados, fazendo seis
mortos e trinta e três feridos. O mesmo grupo terrorista reivindicou responsabilidade por
todos os treze incidentes mortais distintos.
A 30 de Novembro de 2010, Fadi Walid Gabriel, um jovem engenheiro, foi assassinado
em Mossul. Em protesto contra o seu assassínio, representantes cristãos, incluindo muitos
bispos, abandonaram a conferência sobre ‘Coexistência e tolerância social’, organizada
pelo Ministério dos Direitos Humanos iraquiano em Erbil, a capital do Curdistão iraquiano.
Apenas regressaram após a sua exigência de protecção ter sido incluída no manifesto
escrito no final do encontro.7
Tendo em conta a situação, os líderes religiosos de Bagdade, Kirkuk, Mossul e
Bassorá anunciaram o cancelamento da Missa do Galo, das celebrações cristãs e das
decorações da época.
O ano de 2011 viu mais ataques anticristãos.
No início de Maio, Ashur Yacob Issa foi raptado e assassinado em Mossul porque a
sua família não podia pagar o resgate de 100.000 dólares exigido pelos raptores.
A 31 de Maio, um cristão ortodoxo, Arakan Yacob, foi também assassinado em Mossul.
A 2 de Agosto, um carro bomba explodiu em frente a uma igreja em Kirkuk. Treze
pessoas ficaram feridas, incluindo o pároco, P. Imad Yalda. A polícia desactivou mais
dois carros bomba perto de locais cristãos, a Igreja de S. Jorge e uma escola.
A 15 de Agosto, a Igreja Síria-Ortodoxa de Santo Efraim de Kirkuk foi seriamente
danificada por um engenho explosivo.
A 2 de Outubro, Bassam Paolous, um cristão caldeu, foi morto no restaurante onde
trabalhava em Mossul. Tinha acabado de se mudar para Telkaif, uma vila de maioria
cristã, para afastar a sua família do perigo.
A 1 e 2 de Outubro, dois cristãos, Bassam Isho e Emmanuel Hanna Polos, foram
mortos em Kirkuk.
A 11 de Dezembro de 2011, Adnan Elia Jakmakji e a sua mulher Raghad El Tawil
foram assassinados em Mossul.
Violência endémica
Muitos ataques ocorreram em ligação com o conflito sangrento que está em curso entre
xiitas e sunitas desde a queda do regime de Saddam Hussein.8 Entre os muçulmanos, o
derramamento de sangue sectário parece ser imparável, sobretudo durante as principais
celebrações, que atraem grandes multidões.
Hoje em dia, embora o número de ataques pareça ter diminuído quando comparado
com os primeiros anos da guerra, o número de mortos vai aumentando e diminuindo. Por
exemplo, só no mês de Maio de 2012, 132 iraquianos morreram em actos de violência9.
Zenit, 3 de Dezembro de 2010.
7
AsiaNews, 10 de Janeiro de 2012.
8
AsiaNews, 13 de Junho de 2012.
9
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