Resultados da viagem Missão Europa
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Resultados da viagem Missão Europa
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SECRETARIA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS SECRETARIA DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL RELATÓRIO DE VIAGEM MISSÃO À EUROPA HOLANDA, HUNGRIA, ESPANHA E PORTUGAL PERÍODO: 07 a 15 de setembro de 2007 Márcio Favilla Lucca de Paula Esther Bemerguy Albuquerque Ana Lúcia de Lima Starling Original em www.cdes.gov.br PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SECRETARIA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS SECRETARIA DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL ÍNDICE Introdução 03 Agenda da viagem 04 Relato da visita à Holanda 06 Relato da visita à Hungria 12 Relato da visita à Espanha 15 Relato da visita à Portugal 18 Resultados da viagem 21 Anexo I – Documento base para Conselhos da AICESIS: Sustentabilidade Ambiental pela Articulação Econômica e Social 25 Anexo II - Fotos 37 2 Original em www.cdes.gov.br INTRODUÇÃO O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES/SRI assumiu em junho de 2007 a presidência da Associação Internacional de Conselhos Econômicos e Instituições Similares – AICESIS, uma organização intergovernamental que reúne 60(sessenta) conselhos econômicos e sociais (CES) de países da África, Europa, América Latina e Ásia. A AICESIS tem por objetivo, respeitando a independência de cada um de seus membros, estimular e promover o diálogo e os intercâmbios entre seus membros e, de modo mais amplo, favorecer o diálogo entre os parceiros econômicos, sociais e ambientais em nível mundial. O mandato brasileiro terá a duração de dois anos e será encerrado com um encontro internacional dos Conselhos, em junho de 2009, em Brasília. Em novembro de 2007, será realizada em Brasília a primeira reunião do Conselho de Administração da Associação na gestão brasileira. Para preparar e dar efetividade a essa reunião, uma delegação da Secretaria de Relações Institucionais e da Secretaria do CDES, composta pelos Sr. Márcio Favilla Lucca de Paula – Subchefe Executivo do Ministro-Chefe da SRI, Sra. Esther Bemerguy Albuquerque – Secretária da SEDES e Sra. Ana Lúcia de Lima Starling – Diretora de Tecnologia do Diálogo da SEDES, visitou os Conselhos Econômicos e Sociais da Holanda, Hungria, Espanha e Portugal, países membros do Conselho de Administração da AICESIS, no período de 07 a 15 de setembro de 2007. Na pauta destas reuniões, temas como a estrutura e o funcionamento da Associação, papel do Conselho de Administração e da Presidência para o biênio 2007/09, propostas para uma maior efetividade do diálogo entre os países membros e a questão do tema de trabalho da gestão brasileira na presidência da AICESIS – “mudanças climáticas e bioenergia” foram debatidos e propostas foram encaminhadas para a agenda da reunião de novembro/07. 3 Original em www.cdes.gov.br AGENDA DA VIAGEM 09/09 – domingo 19:30 Agenda Jantar oferecido pelo SER – Conselho Econômico e Social da Holanda à delegação brasileira 10/09 – segunda-feira 09:30 10:00 10:30 – 12:00 12:00 Agenda Reunião com o SER – Conselho Econômico e Social Holandês Boas vindas do Presidente, Sr. Alexander Rinnooy Kan e Secretária-Geral, Sra. Veronique Timmerhuis Reunião com a Secretária-Geral e Secretário-Geral Adjunto: Sr. Steven Duursma sobre a AICESIS Reunião com conselheiros especialistas em meio ambiente: Sr. Ton van des Wijst e Sr. Ronald Zwiers Almoço oferecido pelo Ministério das Relações Exteriores 11/09 – terça-feira 9:30 Agenda Reunião com o Conselho Econômico e Social Húngaro Boas vindas do Secretário-Geral: Tamás Halm 13/09 – quinta-feira 9:30 10:00 13:00 Agenda Boas vindas do Presidente do Conselho Econômico e Social Espanhol Sr. Marcos Peña Pinto e da Secretária-Geral Soledad Códova Reunião com o Conselho Econômico e Social Espanhol Almoço oferecido pelo CES espanhol à delegação brasileira 14/09 – sexta-feira 10:00 12:00 Agenda Reunião com o Conselho Econômico e Social Português Almoço oferecido pelo CES 4 Original em www.cdes.gov.br RELATO DA VISITA À HOLANDA 1) Dados gerais sobre o Conselho Econômico e Social – SER O Conselho Econômico e Social da Holanda é uma organização independente de caráter consultivo ao governo e ao parlamento quanto às linhas gerais de condução da política social e econômica a ser conduzida a nível nacional e internacional. De caráter tripartite, composto por empregadores, trabalhadores e membros independentes de especialistas chamados “Crown” (indicados pelo governo/Rainha). Cada grupo possui 11 membros, sendo o Presidente indicado pelo grupo “Crown” e seu posto é fulltime. O SER ocupou a presidência da AICESES no biênio 1999/2001. Durante o seu mandato, 2 temas foram debatidos: “Globalização dos intercâmbios” e o “Controle da Globalização, uma necessidade do mais fraco”. Grupos Empregadores União de Trabalhadores Membros independentes de especialistas “Crown” Representação Confederação da Indústria e dos Empregadores dos Países Baixos (Confederation of Netherlands Industry and Employers (Vereniging VNO/NCW) Associação de Médias e Pequenas Empresas dos Países Baixos (Association of Small and Medium-sized enterprises) (MKB Nederland) Organização Holandesa de Agricultura e Horticultura (Dutch Organisation for Agriculture and Horticulture (LTO) Federação da União dos Sindicatos de Trabalhadores dos Países Baixos (Federation of Netherlands Trade Unions) (FNV) Federação Nacional da União dos Sindicatos Cristãos dos Países Baixos (National Federation of Christian Trade Unions in the Netherlands (CNV) Federação da União dos Sindicatos de Profissinais Aprendizes (Federation of Managerial and Professional Staff Unions) (MHP) Professores universitários em economia, finanças, direito ou sociologia; Presidente do Banco Central dos Paises Baixos (the Dutch Central Bank) Diretor da CPB Bureau de Economia e Análise Política dos Países Baixos (Central Planbureau) Membros 07 03 01 08 02 01 11 a) Pautas e temas em discussão no SER: - Inovação tecnológica nas áreas de saúde, educação, energia e água; Mercado de trabalho – foco no aumento da participação de jovens, deficientes físicos e mulheres; Manutenção de mecanismos que possam garantir a Seguridade social. 5 Original em www.cdes.gov.br b) Funcionamento, fluxo e relação do SER com o Executivo e o Parlamento holandês: - As discussões do Conselho não são públicas Os Ministros de Estado só participam do SER quando convidados; Somente o Presidente do SER é que se reúne com o 1º Ministro holandês; O Conselho avalia projetos de Lei do Governo e emite parecer; O governo elabora um (01) relatório trimestral onde constam as contribuições do SER aos projetos de Lei encaminhados ao Congresso. 2) Membros das delegações presentes nas reuniões entre o Conselho brasileiro/ CDES e o Conselho holandês/SER: Instituição Nome Conselho Econômico e Alexander Rinnooy Kan Social – SER da Holanda Véronique Timmerhuis Steven T. Duursma Roland Zwiers C.A. (Ton) van der Wijst Conselho de Márcio Favilla Lucca de Paula Desenvolvimento Econômico e Social – CDES do Brasil Esther Bemerguy Albuquerque Ana Lúcia de Lima Starling Embaixada Brasileira na Roberto Teixeira de Avellar Cargo Presidente Secretária Geral Diretor de Assuntos Econômicos Diretoria de Assuntos Econômicos Secretário Executivo da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República do Brasil Secretária da Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – SEDES – SRI/PR Diretora de Tecnologia de Diálogo Social da SEDES – SRI/PR Conselheiro Holanda 3) Relato das Reuniões: Na reunião com o Sr. Rinnooy Kan, Presidente do Conselho Econômico e Social da Holanda, as duas Delegações explicitaram a satisfação na realização deste encontro e na motivação em trabalhar para a AICESIS. A delegação brasileira apresentou os objetivos da visita ao SER: - troca de experiências entre Conselhos conhecer as expectativas do Conselho holandês em relação à gestão brasileira na AICESIS ouvir a experiência do Conselho holandês na presidência da AICESIS Em relação à AICESIS: - o Presidente do SER viu com entusiasmo a gestão brasileira para os próximos dois anos; 6 Original em www.cdes.gov.br - mostrou-se impressionado com o crescimento e a diversidade de países membros da AICESIS; ressaltou o esforço empreendido pelo Secretário executivo da AICESIS no processo de implantação da Associação; sugeriu uma gestão profissional da associação; apontou a ausência de interlocução entre os conselhos membros da AICESIS e considera importante a troca de idéias e o diálogo entre os conselhos; reconheceu que o orçamento atual da AICESIS é exíguo e que o SER estaria disposto a aumentar sua contribuição. Quanto ao tema proposto para discussão na gestão brasileira, a delegação brasileira solicitou apoio no encaminhamento do tema proposto em Pequim: “mudanças climáticas e o uso de energias alternativas na busca do desenvolvimento com eqüidade”. A Delegação holandesa ressaltou que há convergência entre o tema proposto e a pauta em discussão no SER referente ao efeito estufa e a substituição do uso de energia fóssil por energia verde em 6% até 2010 e que, no momento, a Holanda está empenhada em preparar uma política para tratar de biocombustíveis. Citaram como fonte de referência e consulta um grupo de trabalho do parlamento europeu - Biofuel Technology Platform. Durante o debate, foram levantadas questões referentes à composição da relação de preços e tributos sobre a gasolina e o etanol, à poluição do ar e as expectativas de controle da qualidade do ar nas grandes cidades brasileiras e a experiência brasileira em parcerias privadas neste setor. A delegação brasileira respondeu apresentando a experiência da tecnologia brasileira na produção do etanol, a tecnologia dos motores FLEX, as políticas de investimento na produção do biocombustível e a necessidade de transformar o etanol em commodity. Além das questões já citadas, o SER pontuou a preocupação de que o processo de produção do bio-combustivel não venha a por em risco a cobertura vegetal e a biodiversidade da Amazônia, assim como à segurança alimentar das camadas mais pobres da população brasileira. A Delegação brasileira destacou a legislação atual que regulamenta as culturas a serem utilizadas para este fim, as ações voltadas à geração de renda e inclusão social dos pequenos agricultores da cadeia de produção da biomassa. RELATO DA VISITA À HUNGRIA 1) Dados gerais sobre o Conselho Econômico e Social da Hungria Composição: empresários, trabalhadores, academia, sociedade civil e governo – total de 41 membros - 5 membros pertencem ao CESE 2) Membros das delegações presentes nas reuniões entre o Conselho brasileiro – CDES e o Conselho húngaro: Instituição Nome Cargo 7 Original em www.cdes.gov.br Conselho Econômico e Social da Hungria Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES do Brasil Tamás A. Halm Ilona Perity Lajos Héthy Beliczay Erzsébet István Láng Márcio Favilla Lucca de Paula Esther Bemerguy Albuquerque Ana Lúcia de Lima Starling Embaixada Brasileira na Hungria Francisco Campos de Oliveira Penna Secretário Geral Secretária Administrativa Conselheiro Governamental Conselheira da Sociedade Civil Conselheiro da Academia Secretario-Executivo da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República do Brasil Secretária da Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – SEDES – SRI/PR Diretora de Tecnologia de Diálogo Social da SEDES – SRI/PR Conselheiro 3) Relato da Reunião: Após as apresentações de praxe, os trabalhos foram iniciados com a apresentação da delegação brasileira sobre o tema proposto pelo Brasil durante a gestão brasileira na AICESIS – “mudanças climáticas e o uso de energias alternativas na busca do desenvolvimento com eqüidade”. O conselheiro István Lang, especialista em meio amviente, discorreu sobre os danos causados pelo impacto dessas mudanças que, financeiramente custam ao país o equivalente a 1% do PIB/ano, fora o custo social, fator que ainda não está sendo levado em consideração. Neste sentido, apontou a necessidade de se investir 20% do PIB do país no desenvolvimento de mecanismos de desenvolvimento livre(MDL), uma política necessária, mas de custo muito alto para a Hungria. Estão em negociação com a União Européia para reduzir a meta estabelecida para que este percentual seja investido em longo prazo. Outro ponto abordado foi a criação de uma estratégia nacional para minimizar os efeitos negativos da mudança climática, assunto que será debatido no âmbito do CES húngaro em dezembro. Dentro deste tema, o conselheiro apresentou o informe sobre a criação de um grupo de pesquisa húngaro, formado nos últimos três anos, que irá elaborar um documento estratégico, ainda não divulgado, voltado para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Este documento está em discussão no Parlamento e, posteriormente, servirá de subsidio para o governo elaborar seu plano de ação para os próximos 2 anos. O representante da Delegação brasileira fêz um relato sobre a experiência de produção de combustível de etanol implantado como necessidade econômica após a década de 70 (choque do Petróleo), a necessidade de grande investimento em tecnologia da produção voltada a superar problemas ambientais como o ocorrido na fase inicial da produção do álcool, a produção de automóveis com motor flex (duplo combustível) que, hoje, no Brasil já representa 80%, a preocupação brasileira com o zoneamento geo-espacial para plantação de cana-de-açúcar, a questão da geração de trabalho e renda na formulação de políticas públicas ambientais e na produção de biocombustível para mistura no Diesel, onde hoje existem cerca de 80 mil famílias de pequenos agricultores envolvidas na produção de biodiesel. Concluiu apresentando a proposta do Brasil em Bali -> certificado de emissão de carbono evitado diante dos 25% de desmatamento da Amazônia, assunto não incluído nas metas de Quioto; 8 Original em www.cdes.gov.br A conselheira do CES, representante de um Instituto de Meio Ambiente(ONG), informou sobre a existência de um grupo de trabalho “AR”, que é composto por 126 membros e possui três objetivos de ação: planos urbanos, transportes e reforma das finanças públicas. Segunda a Conselheira o objetivo da União Européia é implantar o uso de energias renováveis em 20%. Acredita que o seu país está interessado em apoiar a produção de combustível a base de milho e trigo, pelo baixo preço da produção dessas culturas e pelo apoio financeiro da União Européia. Uma outra questão abordada foi a possibilidade de se implementar na Hungria uma política descentralizada para micro-fazendas, como ocorre na Áustria, onde o lucro da produção pode ser triplicado com a produção agrícola voltada para fins energéticos, promovendo a preservação de florestas tropicais e da biodiversidade. Ela acredita que tanto a Hungria quanto o Brasil têm interesse similar no que se refere à proteção ambiental e espera que seu país consiga atingir as metas da União Européia (EU 8% e Hungria 6%) até 2020. Propôs, ao final, que o CES húngaro discuta o tema proposto pelo Brasil em âmbito internacional, pois o considera complexo e de grande impacto social. A Secretária da SEDES informou que no Brasil também não há consenso sobre o tema, e que o CDES está contribuindo para esta discussão. Ressaltou a importância do CES Húngaro discutir internamente o tema “Política de Biocombustível – MDL” e propôs que o tema mudanças climáticas possa inserir o sub-tema dos subsídios agrícolas e seu impacto para o meio ambiente. Informou sobre a reunião do Conselho de Administração da AICESIS, em novembro, na Bahia e convida o CES húngaro a participar. O Presidente do CES húngaro reiterou que a sociedade civil dá muito mais importância para a discussão do tema mudanças climáticas e proteção ambiental do que os empresários, o que demonstra a ausência de consenso que existe entre as partes e que políticos e empresários devem ser convencidos sobre a importância do tema. Ao encerrar o encontro, o Secretário geral do CES ofereceu as instalações do CES para sediar reuniões da AICESIS e aceitou o convite do CDES em participar da reunião na Bahia em novembro. 9 Original em www.cdes.gov.br RELATO DA VISITA À ESPANHA 1) Dados gerais sobre o Conselho Econômico e Social – CES da Espanha Conselho composto por tres grupos: empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada num total de 60 membros, o que facilita a convocação de reuniões em prazos curtos. Possui competência específica, inclusive fiscal. O CES tem boas relações com o Parlamento pois conseguiram construir um espaço de cooperação entre as duas instituições a partir da diferenciação clara e consolidada entre as funções dos dois canais de representação. 2) Membros das delegações presentes nas reuniões entre o Conselho brasileiro – CDES e o CES espanhol: Instituição Nome Conselho Econômico e Marcos Peña Social – CES da Espanha Soledad Córdova Josu Frade Odrioxola Julián Ariza Rico José de la Cavada Hoyo Marcos de Castro Sanz Margarida Bravo Torres Pablo Gil de la Cruz Beatriz Martín Nieto Jesús Camarero Santamaria Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES do Brasil Márcio Favilla Lucca de Paula Esther Bemerguy Albuquerque Ana Lúcia de Lima Starling Embaixada do Brasil na Espanha Leonardo Onofre Cargo Presidente Secretaria Geral Conselheiro e Coordenador do Primeiro Grupo Conselheiro e Coordenador do Segundo Grupo Conselheiro e Coordenador do Terceiro Grupo Diretora de Relações Internacionais e Ação Exterior Coordenador da Área de Gestão de Projetos e Atividades, Diretoria de Relações Internacionais e Ação Exterior Chefe do Departamento de Análises e Avaliação de Projetos, Diretoria de Relações Internacionais e Ação Exterior Diretor de Documentação e Apoio as Instituições do Conselho Econômico e Social Secretário Executivo da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República do Brasil Secretária da Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – SEDES – SRI/PR Diretora de Tecnologia de Diálogo Social da SEDES – SRI/PR Secretário 3) Relato da Reunião: 10 Original em www.cdes.gov.br A reunião teve por objetivo principal o intercâmbio de informações sobre o funcionamento dos Conselhos brasileiro e espanhol, assim como a troca de impressões e expectativas quanto à presidência brasileira da Associação Internacional de Conselhos Econômicos e Instituições Similares – AICESIS. Durante a apresentação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil foi mencionado a existência do Grupo de Trabalho sobre Bioenergia, sendo o CES espanhol convidado a participar do Seminário sobre o tema que acontecerá em dezembro deste ano. Na seqüência, os delegados brasileiros afirmaram a intenção do País de apoiar a discussão do tema mudanças climáticas ao longo da presidência do Brasil à frente da AICESIS. A esse respeito, a parte espanhola comentou que a lei constitutiva do CES espanhol instrui sobre a criação de comissão específica para o tratamento do tema. Esclarecem que todo anteprojeto de lei sobre o tema meio ambiente deve contar com parecer do Conselho, antes de ser encaminhado ao Parlamento, mas os documentos do CES não são vinculantes para o Governo1. Indagados sobre a visão do CES acerca da AICESIS e da presidência brasileira da Associação, os representantes espanhóis indicaram esperar que o Brasil fosse capaz especialmente de introduzir e consolidar, no funcionamento da AICESIS, mensagens de valorização do diálogo, da negociação, dos direitos humanos para a solução dos problemas. Nesse sentido, enfatizaram a expectativa de que, mais do que favorecer a entrada de novos associados, o Brasil possa defender a disseminação de valores relevantes para o funcionamento virtuoso dos Conselhos que já integram a Associação. Indicaram como uma das suas preocupações centrais o fato de que, na visão do CES espanhol, aproximadamente metade dos países que participam da Associação não respeitam diretrizes da Organização Internacional do Trabalho – OIT, o que dificultaria o aprofundamento da interação entre os diversos Conselhos no âmbito da AICESIS. A representante do CDES complementou que, na gestão brasileira da AICESIS, serão apresentadas as seguintes propostas: - Maior compartilhamento e responsabilização dos CES; - Contato permanente entre os CES por meio de videoconferências, a exemplo da que será realizada em outubro; - Discussões de temas de interesse global, com ênfase no tema sobre mudanças climáticas; - Incentivo à criação de outros conselhos na América Latina, além daqueles já em funcionamento no Brasil e no México. A respeito das questões levantadas pelo CDES, o representante espanhol afirmou que, sobre a disseminação do CES na América Latina, já existem discussões sobre a composição do CESE Latino-americano, diante da necessidade de coordenação entre os conselhos da América Latina. Porém, acreditam que a maior dificuldade para a instalação de Conselhos Econômicos e Sociais em alguns países estaria, principalmente, no estágio ainda incipiente de organização da sociedade civil e no baixo nível de consolidação da atividade política dos diversos grupos sociais (sindicatos, empresários, ONGs, etc.), o que dificultaria a existência e a eficácia do funcionamento de instituições dessa natureza. A alternativa para o fortalecimento do processo de disseminação dos CES está na criação de uma colaboração mais estreita entre países latino-americanos e da Europa do Sul. Informaram, ainda, que a Alemanha está prestes a criar um Conselho Econômico e Social no próximo mandato da Presidência da União Européia. 1 O CES espanhol apresenta ao Primeiro Ministro, anualmente, uma análise sobre “memórias sócio-econômicas” – diagnostico da situação sócio-ecnôomica do País. Contudo, o CES espanhol não possui um informe especifico sobre mudanças climáticas. 11 Original em www.cdes.gov.br Após a sessão de trabalho, a delegação brasileira assistiu à apresentação da biblioteca virtual do CES espanhol e conheceu as instalações do Centro de Documentação do órgão. A representante do CDES propôs a formalização de uma cooperação com a área de gestão da informação do CES para estruturar o sítio da AICESIS. O Conselho espanhol colocou-se a disposição mediante o envio de um oficio para a Secretaria Geral da AICESIS. Apontaram, ainda, a dificuldade na implementação em função do custo e da diversidade de interesses dos CES. Ficou registrado que, para intercâmbio de informações entre o CES espanhol e o CDES, os contatos deveriam ser feitos com Pilar (questões documentais) e José Antônio (questões tecnológicas). Ao finalizar o encontro o CES espanhol convidou o CDES a participar do Seminário sobre bioenergia, a ser promovido pelo CES espanhol, no primeiro trimestre de 2008. 12 Original em www.cdes.gov.br RELATO DA VISITA À PORTUGAL 1) Dados gerais sobre o Conselho Econômico e Social – CES de Portugal Características gerais da Instituição: - Composição do CES é definida por lei; Conselho tripartite: patronal, sindical e movimentos sociais; Conselheiros são eleitos pelas confederações e geralmente são membros dos Conselhos de Administração destas entidades; Conselheiros suplentes podem participar dos Gt’s como observadores; O dinamismo do mesmo depende da atuação do presidente. Características importantes, consideradas como pilares sólidos da Instituição: 1) Independência do CES em relação aos órgãos soberanos. É um órgão constitucional, o presidente é eleito pelo Parlamento com maioria qualificada de 2/3, tem estatuto de ministro e por este motivo faz parte do protocolo do Estado; 2) Legitimidade democrática. O CES tem uma relação cuidadosa com o parlamento. Exerce o seu papel de árbitro nos contratos coletivos de trabalho e no funcionamento dos serviços essenciais durante as greves; 3) Constitucionalmente, o CES é um órgão de consulta e aconselhamento das instâncias soberanas. Os documentos de ordem econômica não podem ser mandados ao Parlamento sem que o CES seja ouvido. Neste momento, tanto o parlamento como o governo, vem cumprindo muito bem este preceito. Segundo o presidente do CES português, não há homogeneidade de posições no grupo das ONG’s, o que não ocorre nos demais segmentos. O peso dos parceiros sociais não é tão forte como gostaria. Falta reconhecimento por parte da sociedade. Segundo ele, esta situação reflete a visão da própria sociedade e dos próprios temas em discussão no âmbito do CES. 2) Membros das delegações presentes nas reuniões entre o Conselho brasileiro – CDES e o CES português: Instituição Conselho Econômico e Social – CES de Portugal Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES do Brasil Nome Alfredo Bruto da Costa Adelino Rodrigues da Costa Márcio Favilla Lucca de Paula Esther Bemerguy Albuquerque Ana Lúcia de Lima Starling Cargo Presidente Chefe de Gabinete Secretário Executivo da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República do Brasil Secretária da Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – SEDES – SRI/PR Diretora de Tecnologia de Diálogo Social da SEDES – SRI/PR 13 Original em www.cdes.gov.br 3) Relato da Reunião: Ao ser questionado pelo representante da Delegação do CDES sobre pontos importantes (sugestões) do CES Português para a gestão brasileira na AICESIS, o presidente do Conselho emitiu algumas opiniões sobre a AICESIS: - - Atual gestão não dá voz aos Conselhos; As decisões estão centradas na Presidência e na Secretaria Geral; Os Conselhos Europeus participam de uma rede européia da AICESIS com a representação dos Secretários Gerais e Presidentes dos Conselhos; É um órgão político no bom e no mal sentido: no bom sentido por tratar de temas voltados aos países pobres e pela atuação de âmbito internacional; no mal sentido, pelo domínio dos fundadores da Associação - o CES francês e o holandês. O presidente do CES francês é o presidente de honra, vitalício, e este conselho utiliza a AICESIS como instrumento de diplomacia, de política externa francesa; A grande maioria dos CES africanos são francófanos, ex-colônias da França; Falta democracia interna nas tomadas de decisão – vício estrutural da AICESIS; A criação dos secretários gerais adjuntos durante a gestão chinesa criou um precedente que já se estendeu ao Brasil e agora a África também quer ocupar este cargo; Quanto à sucessão do Secretário Geral, propõe a escolha antecipada do sucessor do atual secretário. Ainda segundo este presidente, se o Brasil quiser alterar a atual dinâmica, terá que ser muito cuidadoso para evitar rupturas. Segundo o entendimento da delegação brasileira, a opinião expressa pelo CES português aponta para a necessidade de uma gestão mais democrática, de se implantar um modelo de governança que atenda a sua nova estrutura e de valorizar o diálogo social entre conselhos em função da diversidade dos mesmos. Quanto ao tema proposto pelo Brasil para a gestão 2007/09, o CES de Portugal apóia totalmente por permitir a inclusão social, concorda com a posição do Brasil em focar grandes temas de interesse global o que pode permitir a ocupação de um espaço pela Associação na área internacional. Ressalta, ainda, a importância da AICESIS de discutir o papel e a legitimidade da sociedade civil nas democracias modernas. Acha que as sociedades democráticas ainda não definiram o papel da sociedade civil no processo de tomada de decisão, sendo este será o tema de um seminário a ser promovido pelo CES português. Em relação às demais propostas discutidas durante o encontro: 1) Disseminação de Conselhos: - Acham que é necessário pensar em estratégias de disseminação de Conselhos em países africanos de língua portuguesa (Cabo Verde, Angola e Moçambique). - O representante brasileiro apóia a proposta e sugere uma parceria com o Sr. Carlos López, dirigente da CPLP junto à ONU. 2) Busca de parceria entre a AICESIS e o PNUD: - A delegação brasileira concorda com a proposta e informa que o PNUD acaba de lançar um documento sobre “Mudanças Climáticas e o impacto nas questões sociais”, o que demonstra ser este um tema presente na agenda internacional, atual em função da revisão do Protocolo 14 Original em www.cdes.gov.br de Quioto, mobilizador, pois está na ordem do dia de todas as agencias da ONU e possibilita o reconhecimento da AICESIS no cenário internacional. 15 Original em www.cdes.gov.br RESULTADOS DA VIAGEM Durante a realização da Missão à Europa, a Delegação brasileira do CDES obteve o reconhecimento do protagonismo que vem demonstrando na promoção do diálogo social como ferramenta de gestão que será implantada durante a sua presidência na AICESIS para o próximo biênio (2007/2009). Os resultados da Missão de reconhecimento junto aos quatro Conselhos membros do Conselho de Administração da AICESIS possibilitaram uma melhor compreensão sobre o ambiente político da AICESIS, os principais problemas de gestão da instituição, as expectativas em relação à presidência brasileira e a identificação de uma estratégia para mudança. Em relação ao ambiente político da AICESIS, existe o entendimento (CES espanhol e CES português) de que a instituição é um braço do Estado francês utilizado para fazer “diplomacia social”, tendo sido criada em 1999 pela França com apoio da Holanda, estes dois, os CES mais antigos da Europa. A iniciativa de formação da AICESIS foi do Senhor Dermagne, presidente do CES francês, que até hoje exerce forte controle sobre a Associação. Outra questão que reforça o entendimento desses dois Conselhos é a forte presença de países parceiros da França admitidos na Associação, cuja legitimidade é colocada em questão pelo Conselho espanhol. Neste caso, podemos citar a China que quando presidente da Associação teve a oportunidade de discursar na ONU (em 23 de abril de 2007), embora não tenha assinado a convenção da OIT que garante a liberdade sindical, condição essencial para o exercício do diálogo social. Ou mesmo, países da África francofônica que são reconhecidamente ditaduras. Vale registrar ainda que a China, mesmo após a fim da presidência da AICESIS em 2007, continua como presidente de honra, possibilitando uma maior visibilidade comercial, principalmente pela oportunidade de aproximação com a África. As contradições atuais da AICESIS são visiveis. Por um lado, a hegemonia francesa está se tornando cada vez pelo crescimento do número de associados. Por outro, os problemas internos da União Européia, tais como o embate permanente entre os países europeus, que desejam manter a sua soberania e as instituições regionais européias como a Presidência e a Comissão Européia reflete e tensiona a relação entre os CES nacionais europeus e o CESE. O CESE tenta exercer a coordenação dos CES europeus, porém, há resistência de praticamente todos os Conselhos em relação a essa tentativa. A Espanha acha que o CESE pode exercer essa coordenação apenas nos temas que a Comissão Européia determinar. Ao identificar o ambiente político no qual a AICESIS está inserida, foi possível compreender melhor os problemas de gestão (financeira e organizacional) da Associação. Em relação à primeira, a visão que se tem é que a Associação possui recursos administrativos e financeiros escassos – o CES francês custeia a secretaria da instituição em Paris. Além disso, há pouca organicidade nos fóruns deliberativos da AICESIS (Conselho de Administração, Assembléia Geral e Encontros Internacionais). Nestes, apenas os presidentes e secretários gerais dos CES participam, sendo que a maioria das decisões são apresentadas para uma confirmação tácita. Essas instâncias não se sentem suficientemente informadas ou consultadas sobre as decisões tomadas pela direção da Associação. Segundo observado nas reuniões realizadas durante a missão, a maioria dos conselheiros com os quais conversamos não dá muita importância para a AICESIS. Em relação às expectativas dos CES em relação à presidência brasileira da AICESIS, verificou-se que os mesmos esperam que esta gestão seja mais democrática e participativa. Nesse sentido, os CES’s da Holanda, da Espanha e da Hungria se colocaram a disposição para contribuir com o Brasil durante a sua gestão, indicando poder ampliar a sua contribuição financeira(Holanda), auxiliar na 16 Original em www.cdes.gov.br organização de encontros da Associação (Hungria) e disponibilizar tecnologia de informação para o desenvolvimento do sítio da AICESIS (Espanha). Além disso, o tema apresentado para debate “Mudança Climática com foco na bioenergia”, foi bem recebido e a maioria dos conselhos visitados já possui debates sobre o tema, sendo Portugal a única exceção. A Espanha está preparando um Seminário sobre Energia no primeiro semestre de 2008 e já solicitou do CDES apoio para preparação do seminário. Existe ainda, a expectativa tanto da Espanha quanto de Portugal, que se possa discutir no âmbito da AICESIS a constituição de um bloco formado pela rede Euro-Mediterrânea e América Latina (ou Brasil). As propostas identificadas como possíveis estratégias para uma mudança na gestão da AICESIS que apontam para o fortalecimento do diálogo entre os Conselhos e a construção de um protagonismo para os CES são as seguintes: 1) representação da AICESIS junto aos organismos internacionais (PNUD, ECOSOC, OIT, etc.); 2) construção das diretrizes de gestão e do desenvolvimento temático da Associação pelo Conselho Diretor; 3) participação dos demais conselhos no processo de disseminação do diálogo social; 4) construção de um processo de informação sistemático das reuniões, com espaço para contribuições, de forma a manter canal permanente de interlocução entre os CES’s; 5) proposição de temáticas para discussão que estejam vinculadas à agenda de debates internacional e que seja objeto de interesse dos CES; 6) promoção de ambiente para a troca de experiência sobre o diálogo social entre os conselhos; 7) criar alternância no cargo de Secretário Geral da Associação. Sobre este último item, foi sugerido a apresentação de uma alternativa, com uma chamada de curriculuns, caso o atual Secretário Geral apresente sua renuncia na próxima reunião do Conselho de Administração. Para que os resultados acima pudessem ser verificados, a Delegação brasileira optou por apresentar a sua proposta de gestão à frente da presidência da AICESIS, bem como o modelo de funcionamento do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES, sua gestão e efetividade. Esta decisão mostrou ser de grande valia, uma vez que os conselhos visitados – Holanda, Hungria, Espanha e Portugal e as próprias embaixadas brasileiras nestes países, tinham pouco conhecimento sobre o conselho e o seu trabalho. Vale ainda mencionar que, ao cumprir a agenda de visitas a estes quatro países, conhecer esses atores, conhecer os principais problemas entre os CES que participam da AICESIS, checar suas compreensões e posições sobre a proposta brasileira de gestão à frente da instituição, o CDES obteve informações relevantes para subsidiar o planejamento e preparar o ambiente para a reunião do Conselho de Administração da AICEISIS que ocorrerá em novembro em Brasília. 17 Original em www.cdes.gov.br ANEXOS 18 Original em www.cdes.gov.br ANEXO I – Documento base para Conselhos da AICESIS: Sustentabilidade Ambiental pela articulação Econômica e Social I. Revisitando alguns pontos do discurso de posse do Ministro Foco do CDES no desenvolvimento com eqüidade a partir de propostas que emergem da sociedade civil: “O que me credenciou para assumir a Presidência da Associação foi o trabalho que o Conselho brasileiro vem desenvolvendo ao longo dos últimos quatro anos. Trabalho pautado no objetivo de subsidiar o Excelentíssimo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, com propostas que emergem da sociedade civil organizada, em prol do desenvolvimento socioeconômico do País e que contemplam o crescimento econômico com eqüidade, tendo como fio condutor a erradicação da pobreza e da fome no País. O conceito de eqüidade é condicionado pela forma como definimos e entendemos democracia e justiça social e, portanto, como reagimos à persistência sistemática de diferenças desvantajosas entre países e entre grupos em uma mesma sociedade; sendo essas diferenças eticamente inaceitáveis, desnecessárias, injustas e evitáveis.” Desdobramento da proposta e convicção de que ela atende, também, a anseios de membros da AICESIS: “Estou convicto que o desenvolvimento pretendido vai ao encontro dos anseios dos membros dessa Associação Internacional, devendo contemplar a articulação entre o social e o econômico, entre o crescimento e a distribuição de renda, o respeito à diversidade de culturas e valores e à sustentabilidade ambiental.” Defesa do foco em fatores que afetam todos os povos em escala mundial. “Por exemplo: i) a questão das mudanças climáticas que podem trazer conseqüências catastróficas para todos os países, colocando em xeque os padrões de produção e consumo vigentes e o bem-estar das gerações futuras; ii) a questão da redução da pobreza e das desigualdades, com foco no emprego, na educação, nas tecnologias sociais e nos programas de transferência direta de renda.” Disseminação de Conselhos: “É compromisso da minha administração na Associação promover esforços no sentido de disseminar Conselhos Econômicos e Sociais e Instituições Similares em todos os continentes e, em particular, no continente latino-americano. “ II. A questão da pauta de trabalho da gestão brasileira na presidência da AICESIS Tema geral: Mudanças Climáticas Motivação e Importância do Tema Após a divulgação do 4o. Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as evidências científicas sobre as conseqüências do aquecimento global tornaram-se incontestáveis. “Há consenso de que a sociedade precisa se mobilizar – em todas as suas instâncias e em todas as partes do mundo – para deter o aquecimento global, de modo a assegurar que o aumento da temperatura média da superfície da Terra não ultrapasse os 2o. C....Em resposta ao dramático desafio de preservar a saúde ambiental do planeta e garantir o crescimento econômico, na ótica do desenvolvimento sustentável e eliminação da pobreza, organizações da sociedade civil e da comunidade empresarial propõem a formação de um Pacto de Ação em Defesa do Clima” (Greenpeace, 2007). 19 Original em www.cdes.gov.br Incontestável, também, é o reconhecimento de que a origem do fenômeno é antrópica relativa à ação do homem sobre a natureza. Respostas para os problemas causados pelo aquecimento global e mudanças climáticas dele decorrentes devem ser coordenadas com questões referentes ao desenvolvimento social e econômico dos países. Entende-se que os países em desenvolvimento devem dar suas contribuições mas é preciso que os países desenvolvidos - que assinaram a UNFCCC durante a Cúpula, ou Cimeira da Terra, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), a Rio-92, realizada entre 3 -14 de junho de 1992, e que só entrou em vigor em março de 1994, com adesão de 180 países e mais a Comunidade Européia - cumpram seus compromissos fazendo muito mais do que fizeram até o momento. Mesmo porque, 65% das emissões de gases na atmosfera são provenientes dos países ricos. É necessário reduzir as emissões de gás carbônico, embora, a responsabilidade pela preservação ambiental não deva ser distribuída de forma igualitária entre países ricos e pobres. Seria tratar desiguais de forma igual. Entendemos, então, que qualquer programa com metas rígidas, a ser eventualmente adotado, não pode comprometer o desenvolvimento dos emergentes, se o que queremos é que o mundo cresça de forma mais eqüitativa. Cabe acrescentar mais um dado relevante - Considerando-se o Anexo I, mas excetuando-se os países com economias em transição (leste europeu), as emissões de gases de efeito estufa cresceram em 11% no período 1990-2004. Ao se considerar todo o Anexo I (incluindo o leste europeu) houve uma redução de cerca de 3% das reduções. Contudo, a redução do leste europeu ocorreu muito em função da queda natural da atividade produtiva na época da mudança do regime sócio-político-econômico (Figura 2). A posição ambígua dos Estados Unidos e sua insistência em se manter à parte da tentativa de atingir qualquer acordo que lhe imponha sacrifícios é inaceitável e compromete o futuro de qualquer negociação, pois é, seguramente, o maior país emissor. Os compromissos que os países em desenvolvimento possuem com a mitigação, adaptação e desenvolvimento de pesquisas sobre os efeitos e impactos das mudanças climáticas não são os únicos. A redução das desigualdades sociais nesses países é uma tarefa complexa e que envolve desafios enormes e essa superação inclusive tem relação com a emissão dos gases de efeito estufa. As emissões são desiguais, há um desequilibro existente de emissões entre os ricos e os pobres e este aspecto deve ser levado em conta. Assim, o engajamento voluntário dos países em desenvolvimento nos compromissos internacionais assumidos com combate aos efeitos das mudanças climáticas, também traduz, a superação de problemas nacionais que impactam em aspectos sociais e econômicos da sociedade. O Brasil, por exemplo, está construindo o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, esforço de vários ministérios para uma compreensão holística do problema que devemos enfrentar. A idéia de que a Ásia terá influência crescente na nova ordem econômica e mundial já é quase consensual. Já se fala que o século XXI poderá vir a ser o “Século Asiático”. E formadores de opinião com acesso a revistas considerados de referência internacional, The Wall Street Journal, The Economist, Times entre outros, já apontam para a idéia que uma estratégia comum será romper com a suposta “passividade da Ásia com relação ao setor energético”. Passividade em termos, pois: a China e a Índia vêm se movimentando com assinaturas de acordos estabelecendo parcerias para exploração e produção de hidrocarbonatos; a China tem reforçado a cooperação com a Rússia e outros países para exploração de gás natural (considerado por alguns analistas como uma das mais importantes fontes de energia para o século XXI) e tem buscado, também, estabelecer acordos que lhe permita maior acesso às reservas mundiais de urânio – com destaque para a Austrália, que possui 40% das reservas mundiais, e para a Nova Zelândia. Com a África, Angola em particular, a China estabeleceu, recentemente, parceria para construção de uma nova refinaria de petróleo a cargo da jointventure Sonagol – Sinopec. O exemplo é só para ilustrar como a questão energética vem mobilizando atores em todos os continentes. 20 Original em www.cdes.gov.br O ex-primeiro ministro espanhol, Felipe González, no Summit do Ethanol em junho de 2006, como relatado por Luiz Nassif, “trouxe para o evento a visão estratégica de longo prazo, as oportunidades socioeconômicas, as alianças geopolíticas, uma visão de estadista. Parecia um grande mestre de xadrez analisando as possibilidades do tabuleiro, com uma objetividade e um conhecimento concreto que passava léguas de distância do que o Brasil conheceu nas últimas décadas. De acordo com sua visão, a bioenergia traz a possibilidade de se ingressar em uma era inédita na humanidade, o desafio de conviver em paz em torno de uma energia distribuída, sem as características sangrentas da civilização do petróleo”. De acordo com o entendimento de Nassif, delineia-se uma nova ordem internacional, de convivência harmônica, com a possibilidade de desenvolvimento dos países emergentes, aqueles em que são mais evidentes as vantagens comparativas da nova energia. Existem custos e oportunidades no mercado de carbono e os países devem saber ponderar esses aspectos. A fragilidade deste mercado, pelo fato de ainda ser incipiente e sem regulamentação, faz com que os países se esforcem em levar para as negociações internacionais a busca pela normatização dessas práticas. Há indústrias e empresas, por exemplo, que são grandes emissoras, mas estão dispostas a contribuir com propostas de governança climática nessas organizações. De acordo com Marco Antônio Fujihara da FIESP, a relação dos acionistas e empresas deve crescer se forem obrigados a fazer inventários de emissão de carbono das suas próprias atividades. Prática que já existe em alguns países, de acordo com o Climate Leadership Index, ranking da das empresas que fazem inventários de emissões criado pela Carbon Disclosure Project - ONG criada em 2000 para promover a responsabilização dos stakeholders nos processos ambientais. A prática de realização de inventários, segundo inúmeros especialistas, ajudará a melhorar o gerenciamento e o controle das suas atividades e processos. A regulamentação internacional tem avançado ao longo do período recente. Com relação ao Mecanismo que interessa principalmente aos países em desenvolvimento, o MDL, as modalidades e procedimentos foram estabelecidas em 2001. É interessante destacar que o Relatório de Desenvolvimento Humano, desse ano, principal publicação do PNUD, abordará as mudanças climáticas - "um dos mais importantes e complexos desafios da humanidade no século 21", segundo a agência da ONU. O estudo, que será lançado em novembro vai trazer os novos resultados do IDH - Índice de Desenvolvimento Humano e mostrar como o aquecimento do planeta pode afetar as condições sociais de vários países, prejudicar os avanços no combate à pobreza e dificultar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM, uma série de metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir até 2015). Uma série de estudos de caso vai mostrar como moradores e governos podem minimizar o impacto dos desastres ambientais.Esse tema é especialmente importante porque tem relação direta com as implicações das alterações climáticas para as desigualdades no desenvolvimento humano - já que os países ricos são mais bem preparados para fornecer a infra-estrutura necessária de modo a reduzir os riscos de desastres ambientais. Outro aspecto a ser enfatizado pelo relatório são as tecnologias que podem deter a emissão de gás carbônico (como produção de energia por fontes renováveis): como elas podem ser incentivadas, que tipo de políticas podem ser feitas para que elas de fato funcionem. O relatório vai analisar, também, em que medida as metas de redução de poluentes estabelecidas por países de renda elevada estão sendo cumpridas e se elas são suficientes para reverter às projeções mais pessimistas. Em contrapartida, o texto vai defender negociações mais amplas para um acordo posterior ao Protocolo de Quioto (que impõe metas de diminuição das emissões de carbono até 2012): um acordo que institucionalize cortes profundos nas emissões, cubra todos os países e inclua aspectos ligados a transferência de tecnologia. Na realidade o Protocolo de Quioto não expira em 2012. Nesse ano, termina o primeiro período de compromisso de limitação e redução de emissões por parte dos países contidos no propalado “Anexo I”. Foi estabelecido um Grupo de trabalho ad hoc (AWG), no 21 Original em www.cdes.gov.br âmbito da Convenção sobre Mudança do Clima, para tratar da negociação dos próximos períodos de compromisso dos componentes do Anexo I. Os países em desenvolvimento devem atuar no sentido de fortalecer o Protocolo de Quioto, por meio de compromissos mais ambiciosos por parte do Anexo I Nossa proposta de pauta para a AICESIS Nossa idéia é, de acordo com o que apresentamos acima neste documento, adotar como aspecto central para o desenvolvimento de discussões nos Grupos de Trabalho da AICESIS a questão dos efeitos perversos do aquecimento global - problema ambiental que pode trazer conseqüências catastróficas para o planeta. Alguns países podem se tornar inabitáveis e suas terras totalmente inadequadas para a produção de alimentos. O aumento de incidência de secas, chuvas, inundações, “veranicos”, em períodos não previstos, condicionam a regularidade da produção agrícola. A perspectiva é de aumento da fome e pobreza que já afetam mais de 854 milhões de cidadãos. A busca de soluções para este grave problema, como o progressivo abandono do uso de combustíveis fósseis e sua substituição por outras fontes renováveis de energia é condição necessária, embora não suficiente, para garantir o bem-estar das gerações futuras. Entendemos que junto com essa temática vem, necessariamente, a questão da mudança na matriz energética mundial. É consensual, pelo menos no Brasil, que a bioenergia – o etanol, a bioeletricidade e o biodiesel - venha a despontar no cenário mundial como uma grande oportunidade para os países emergentes, criando novos espaços para o fortalecimento e ampliação do agronegócio e da agricultura familiar. A matriz energética mundial atual é constituída, como é de conhecimento público, fundamentalmente, por petróleo, carvão e gás natural. São combustíveis que tendem para a escassez e a emissão de gases nocivos, gerados pela sua queima, agrava o efeito estufa e compromete o meio ambiente. Urge, então, que o mundo busque novas fontes de energia renovável, com destaque para energia gerada a partir de biomassa. A situação dos diferentes países nesse cenário não é idêntica. Para países dotados de novas áreas agricultáveis, a produção de biomassa não competirá, necessariamente, com a agricultura de alimentos e poderá contribuir para diminuir as desigualdades regionais e ampliar o processo de inclusão social, agregando atividades produtivas de ponta, geradoras de renda e empregos. São as chamadas novas “commodities rurais”. Para atender a esse desafio os países emergentes, além de terra, terão que ampliar seus programas de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em busca de tecnologias limpas. A Figura 1 ilustra o volume de investimentos em P&D para energias renováveis em andamento nos países desenvolvidos. Figura 1 22 Original em www.cdes.gov.br Investimento em P&D para energias renováveis Dólares por habitante, em PPP 0 1000 2000 3000 Suíça Finlândia Países Baixos Suécia Dinamarca Japão Austria Itália Canadá Espanha Estados Unidos Noruega Alemanha Austrália França Reino Unido Turquia Portugal Fonte: IEA – Agência Internacional de Energia 2004 A complexidade maior repousa no processo de transferência de tecnologias. Entendemos que deve haver eqüidade no processo de difusão e transferência de tecnologias limpas. Afinal o Século XXI vem sendo considerado o Século da Economia do Conhecimento e os países emergentes não podem ficar à margem do processo sobre o risco de se aprofundar o fosso entre ricos e pobres. O processo embora urgente é complexo e não pode ser anárquico. Há que se buscar normas para regulamentar essas transferência de tecnologias que envolvem questões controversas como propriedade intelectual, processos de produção & inovação, consumo, comércio internacional, etc. Entendemos por tecnologias limpas, tecnologias de produção menos poluidoras e menos consumidoras de energia que as tradicionalmente utilizadas nos processos produtivos. Em geral, elas são otimizadoras de recursos e economizam energia, contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental. Assim, entende-se por tecnologias limpas um aspecto do processo produtivo ou um produto específico que contribui para amenizar ou até eliminar a poluição, melhorando a qualidade ambiental.2 Além disso, os projetos de tecnologias limpas envolvem esforços da comunidade local que estão a deriva da negociação sobre mudanças climáticas uma vez que tais negociações, em geral, envolvem apenas esferas nacional e internacional no processo. O processo da Convenção sobre Mudança do Clima é considerado aberto e transparente. Vários setores da sociedade têm representação nas Conferências das Partes (COPs). Desde a COP 11, mais de 750 ONGs foram admitidas como observadoras, representando um amplo espectro de interesses, incluindo grupos ambientalistas, indígenas, religiosos, governos locais, institutos de pesquisa, academia, mulheres e jovens. 2 Para um maior detalhamento do conceito ver HIWATASHI, 1998. 23 Original em www.cdes.gov.br No caso brasileiro, o setor governamental que chefia a Delegação Brasileira nas negociações relacionadas à Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança do Clima é o Ministério das Relações Exteriores. Antes das COPs, ocorrem reuniões preparatórias, convocadas por aquele Ministério. Essas reuniões são realizadas com a participação dos setores governamental, privado e da sociedade civil. As instituições convidadas são aquelas mais envolvidas com o tema de Mudanças Climáticas. Além de convites específicos para algumas ONGs que apresentam relação com o tema, o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais (FBOMS) é sempre convidado. Inclusive, o MMA custeou a participação de representante do FBOMS na COP-11, realizada em 2005, no Canadá. Diversas ONGs brasileiras ou com representação no Brasil participam da própria COP, com destaque para o Vitae Civilis, IPAM, WWF, Greenpeace, APREC, BUN, Instituto Ecológica, Amigos do Protocolo de Quioto, Ecoar, IPÊ, Ecoplan, SPVS. Para efeitos de mitigação, o que existe hoje, de acordo com o estabelecido pelo Protocolo de Quioto são esforços individuais de países e um comércio de créditos de carbono. Os esforços individuais refletem-se em redução de emissões muito pouco satisfatórias, como mostra a Figura 2 (anexa ao texto e apresentando dados de 2003). Da Figura 2 depreende-se que dos países do Anexo I (países desenvolvidos e países em transição para economias de mercado que têm compromissos quantitativos de limitação de emissões) apenas as economias em transição têm feito, de fato, esforços para cumprir as Metas de Quioto. Recordando: o Protocolo de Quioto compromete as nações do Anexo I a reduzir suas emissões em 5,2%, em relação aos níveis de 1990 para o período de 2008-2012. Dos países desenvolvidos, apenas a Alemanha e o Reino Unido Vêm atuando com mais rigor. Embora em 2004 tenham demonstrado potencial de atingir os objetivos, é importante lembrar que o primeiro período de compromissos compreende 2008-2012. Quanto ao Reino Unido, interessa salientar, que foi implementado um sistema de “licitações sustentáveis”. Ou seja, o poder público tem se mostrado não apenas responsável no aspecto político, econômico e social das negociações, mas, também, tem tentado dar exemplos para a sociedade civil. Figura 2 24 Original em www.cdes.gov.br Percentagem das Emissões em 2003 em relação às Metas de Quioto 41,65% 39,10% 37,78% 37,25% Espanha Grécia Portugal Irlanda Áustria Canadá Finlândia Itália Dinamarca Bélgica Japão Eslovênia Liechtenstein França Suécia Suiça Paises Baixos Islândia Noruega Nova Zelândia -1,03% -8,69% -8,83% -12,89% -12,97% -16,73% -26,34% -30,20% -38,40% -41,36% -42,66% -42,90% -44,35% -52,14% -63,73% -67,91% 28,76% 28,72% 23,67% 19,18% 17,23% 17,03% 15,96% 12,02% 10,46% 9,36% 7,87% 7,13% 6,49% 6,21% 4,02% 3,11% Croácia Alemanha Luxemburgo Hungria Reino Unido República Checa Eslováquia Polônia Federação Russa Romênia Ucrânia Estônia Belarus Bulgária Lituânia Letônia Quanto ao comércio de créditos de carbono há inúmeras críticas, pois não há restrição ao tipo de uso e há pouca regulamentação de mercado. Os países do Anexo I poderiam colaborar de forma mais eficaz com os demais países em desenvolvimento que não têm compromissos de limitação de emissões, via constituição de um Fundo de Desenvolvimento Limpo (FDL) – já proposto pelo Brasil desde 1997 – que aplicaria multas aos países desenvolvidos que não cumprissem as metas de redução de emissões. A proposta foi apoiada pelos países em desenvolvimento e rejeitada pelos países desenvolvidos. Em outubro de 1997, os EUA e o Brasil elaboraram nova versão do FDL que veio a ser chamado de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) – uma forma de flexibilização para os países industrializados cumprirem seus compromissos de redução ou de limitação de emissões e permitir que os países não incluídos no Anexo I pudessem atingir o desenvolvimento sustentável via aprovação de projetos específicos registrados como de MDL (vide Figura 3, também em anexo). As reduções de emissões resultantes de cada atividade de projeto são certificadas por entidades operacionais, a partir de benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo relacionados com a mitigação dos efeitos das mudanças de clima. Para que o processo seja organizado existem organismos que coordenam (COP/MOP) e uma junta executiva que supervisiona por meio de painéis (para credenciamento e exame de metodologias) e grupos de trabalho. Há que haver, também, entidades operacionais que procedam à validação (em conformidade com os regulamentos) verificação/certificação. No âmbito dos países há Autoridades Nacionais Designadas que selecionam e acompanham os projetos. Da Figura 3 depreende-se que Índia, Brasil e China ocupam a liderança na aprovação de projetos. Figura 3 25 Original em www.cdes.gov.br Ao contrário de várias críticas negativas, o MDL pode ser considerado como uma experiência de relativo sucesso. Em agosto de 2007 mais de 2300 projetos encontravam-se em alguma fase do ciclo do MDL, sendo 731 já registrados pelo Conselho Executivo do Mecanismo. O potencial de redução para o primeiro período de obtenção dos créditos é da ordem de 3,8 bilhões de toneladas de CO2 equivalente. Assim há quem defenda que ao invés de reviver o Fundo, torna-se relevante sugerir a criação de arranjos, no âmbito da Convenção sobre Mudança do Clima, que contemplem Incentivos Positivos para a redução de emissões nos países em desenvolvimento. Quanto à questão da necessidade de um Fórum Internacional para equacionar melhor as questões ambientais já está na agenda de inúmeros países. Representantes de 20 países iniciaram no dia 3 de setembro de 2007, no Rio de Janeiro, logo após a reunião de Viena preparatória para Bali e sobre a qual trataremos adiante, uma reunião para tentar acelerar a proposta de criação de um órgão ambiental no âmbito das Nações Unidas. “A idéia é criar uma instituição para cuidar do ambiente nos moldes do que a OMC faz com o comércio. O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores do Brasil) disse que é urgente que até 2012 se tenha uma cooperação internacional efetiva” (Folha de São Paulo, Caderno Ciência, 4 de setembro de 2007). PD&I e transferências de tecnologias limpas poderiam, também, ser contempladas nessa proposta, bem como a idéia de reviver a criação de um FDL mais abrangente do que o que foi proposto em 1997. Seria o caso, também, de buscar outras fontes de financiamento. O principal obstáculo a essa idéia é o entendimento de que não há mercado para arbitrar esse tipo de transação como o que existe para as negociações de carbono. Essa desculpa, no entanto, é frágil. Parte do pressuposto de que o mercado seria, de fato, um excelente árbitro, o que o liberalismo econômico vem negando ao revelar provas incontestáveis de falhas de mercado por imperfeição e assimetria de informações; externalidades de diversas ordens, etc. Esses aspectos por si só sinalizam para a necessidade de implantação de um marco regulatório internacional próprio, que seja adequado às especificidades dos setores envolvidos, e que traga segurança ao ambiente de negócios de forma ampla, ingrediente fundamental para expansão das atividades preocupadas com os múltiplos aspectos que nos interessam abordar - ambiental, social, econômico e político - nesse novo mundo que não conseguimos ainda delinear. A proposta de um marco regulatório internacional não é nada simples. A teoria da regulação aponta para vários motivos que justificam a implementação de um marco regulatório internacional no contexto da questão comércio–meio ambiente: manutenção de padrões sanitários, preocupação com impactos ambientais tanto locais quanto globais, disseminação de informações, assegurar condições de competitividade que não penalizem o crescimento com eqüidade em um cenário de liberalização comercial intensa. O crescimento do comércio é, em geral, acompanhado da mobilidade de pessoas e bens, mas também de maior utilização de recursos naturais. É imprescindível assegurar que a qualidade sócio-ambiental não se deteriore e estamos certos de que inexistem ações e mecanismos que assegurem de forma satisfatória essas práticas. Assim sendo, é necessário que nossos Conselhos estejam preparados para reivindicar um marco regulatório internacional, com ampla participação da sociedade civil, no que diz respeito ao mercado de bioenergia, por exemplo. Marco esse que abarque questões como: legislação, certificação, instituições a serem contempladas no processo, etc. com todas as complexidades que esse marco regulatório certamente envolverá. No caso do etanol, por exemplo, há que se definir padrões internacionais do produto e sua comercialização. Qualquer marco regulatório, contudo, como já salientamos, não pode comprometer o processo de desenvolvimento com eqüidade tão almejado pelos países emergentes. Não temos dúvida que assistimos a uma construção de uma nova geopolítica. Queremos, junto com nossos Conselhos, que representam parte significativa da sociedade civil, em seus países, atuar como protagonistas, como arquitetos dessa construção. A questão das mudanças 26 Original em www.cdes.gov.br climáticas e outras a ela ligadas, questões bioenérgeticas, por exemplo, vão estar no centro desse movimento e é por isso que temos urgência em dominá-las e fazermos propostas que fortaleçam nossos países e nossa associação internacional. III. Aspectos polêmicos que permeiam o debate Resistência dos Países Industrializados em cumprir o Protocolo de Quioto Um alto representante da ONU sugeriu que países ricos paguem países emergentes pelo corte de emissões de gases poluentes, para ficar, desta forma, isentos de novas reduções. A sugestão polêmica partiu do secretário -executivo da Agência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (UNFCCC, sigla em inglês), Yvo de Boer, para quem os países ricos poderiam investir em cortes de emissões em regiões onde os custos fossem menores. O Protocolo de Quioto, que estabeleceu metas para diminuição de emissão de dióxido de carbono, prevê que os países ricos reduzam grande parte de suas emissões. Para Boer, esta regra é "sem lógica". "Há muito tempo os países industrializados vêm cortando os gases e tornando o uso da energia mais eficiente. Por esta razão, está ficando cada vez mais caro para esses países avançar ainda mais", afirmou Yvo de Boer. "No entanto, nos países em desenvolvimento, menos tem sido feito para reduzir as emissões e menos tem sido feito para melhorar a eficiência da energia". "Economicamente, poderia ser mais atraente para uma empresa no Reino Unido, que tem uma meta de redução a cumprir, cortar os gases emitidos na China", sugeriu o chefe da UNFCCC. (BBC Brasil) Posição de ambientalistas e Países em Desenvolvimento A declaração de Boer irritou ambientalistas, que acreditam que a idéia vai contra o espírito do tratado articulado pelas Nações Unidas em Quioto. Na opinião de organizações ambientais, o problema do aquecimento global não será resolvido, a menos que países ricos e pobres se unam para diminuir a emissão dos gases e se esforcem pela regulamentação e normalização das práticas de mercado que envolve processos de mudanças climáticas. Na avaliação de Boer, os países ricos poderiam se eximir de até 100% de suas responsabilidades de limitar as emissões, embora o chefe da ONU afirme "duvidar de que eles o fariam". Radicalmente contra é a posição de Mike Childs, da organização Friends of the Earth (Amigos da Terra) que advoga que "A menos que os países ricos comecem a fazer sacrifícios, será impossível atingir os cortes que são necessários de 50% a 80% até 2050". A Figura 4 apresenta uma relação dos principais países emissores. As discussões sobre as responsabilidades dos países riscos e emergentes no combate às mudanças climáticas vêm se aprofundando desde o último encontro do G8 (grupo dos sete países mais industrializados mais a Rússia), em junho, na Alemanha. Na ocasião, a chanceler alemã Ângela Merkel disse que, até 2012, quando será revisto o Protocolo de Quioto, os países em desenvolvimento deverão poluir mais do que poluem hoje e, portanto, é preciso que eles também se comprometam a reduzir as suas emissões. A opinião de Merkel, no entanto, divergiu da posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, na época, disse que os países em desenvolvimento não deveriam ter o seu crescimento limitado por eventuais cortes obrigatórios de emissões. Divergências entre Países se expressam no âmbito da OMC Os subsídios concedidos pelo governo americano a produtores agrícolas, em geral, e aos produtores de milho (base do etanol americano), em particular, é uma das reclamações do Brasil no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Em 22 de agosto ocorreu em Genebra (Suíça) painel que versou sobre tais reclamações que partem do Brasil, mas também do Canadá. No meio das discussões está o apoio americano aos produtores de álcool do país. Preocupa países como o Brasil a Lei do Etanol (Energy Bill) sancionada pelo Senado dos Estados Unidos que terá enorme impacto sobre o mercado mundial de bionergia, na medida em que os Estados Unidos se comprometem de garantir em 2022 a oferta de 36 bilhões de 27 Original em www.cdes.gov.br galões anuais de etanol, o que equivale a 136,1 bilhões de litros, para contribuir na substituição de derivados de petróleo no transporte. Os americanos imaginam que poderão produzir etanol a partir de celulose – cuja matéria-prima podem ser: restos de madeira, palha de cereais, capim nativo (switch grass) entre outros. Essa questão vem sendo criticada por cientistas americanos. No curto prazo o que se sabe é que se abre um enorme mercado para o etanol. Os Estados Unidos protegem seu produto com tarifas e desenvolvem projetos nos âmbitos federal e estadual que dizem respeito ao meio ambiente mas que dificilmente conseguirão suprir os 36 bilhões de galões em 2022 já que sua produção anual atual é da ordem 4,6 bilhões de galões. Abre-se, sem dúvida, um enorme mercado para o produto e para os países emergentes com excesso de terras agricultáveis, em particular. O Brasil está, certamente, na liderança desse processo. A América Latina e a África são também fortes candidatos. Mas não são os únicos. Não é um projeto terceiro mundista. Mas há que haver uma forte pressão mundial para que os standards de certificação ambiental de combustíveis ou mesmo de produtos que consomem energia (aço, cimento, etc.) sejam realmente científicos e sejam dotados de metodologias transparentes para que não iniciemos um novo ciclo aonde venham a prevalecer, no contexto do desenvolvimento sustentável, as distorcivas barreiras não tarifárias, onde os países desenvolvidos podem passar a utilizar certificações domésticas para proteger suas emissões e seus mercados, durante o tempo que levará para que para que desenvolvam tecnologias limpas que se apliquem a seus próprios mercados. Desavenças em relação a cotas de emissões vão para o tribunal europeu Uma guerra sobre as emissões de dióxido de carbono se tornou litigiosa na Europa Oriental, com governos e ativistas ambientais brigando no tribunal superior da região sobre o direito de poluir, relata o Internacional Herald Tribune em 02/08/2007. Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia e Estônia já abriram processos legais contra as cotas de poluição impostas pela Comissão Européia, usando argumento similares aos da China e outros países emergentes. Segundo os países, os limites rígidos impactariam o crescimento econômico. Até agora, a Polônia e a Hungria estiveram na liderança, argumentado que os novos paísesmembro (ex-comunistas) tenham considerações especiais. O argumento vai ao mesmo caminho do que advoga o governo brasileiro. No sistema vigente, a União Européia impõe as cotas de redução de emissões a seus países e estes fixam limites para suas indústrias que começam a comprar “créditos de carbono” mundo afora, inclusive no Brasil. Figura 4 Emissões de CO2 em 2002 Milhões de toneladas Estados Unidos 6000 5000 União Européia México Austrália África do sul Brasil Indonésia Índia Alemanha Reino Corea do Sul Unido França Japão Rússia China 4000 3000 2000 1000 0 Fonte: IEA – Agência Internacional de Energia 2004 IV. Esforços preparatórios para a Reunião de Bali 28 Original em www.cdes.gov.br Proposta de Bush na reunião do G8 O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush propôs em junho, durante a reunião do G8, na Alemanha, a convocação para os dias 27 e 28 de setembro de 2007 uma conferência sobre mudanças climáticas. O evento, em Washington, poderá ser presidido pela secretária de Estado Condoleezza Rice, mas contará com a participação do próprio presidente Bush. Além da União Européia e da ONU (Organização das Nações Unidas), outros 15 países foram convidados formalmente por Bush: Austrália, Brasil, Grã-Bretanha, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Itália, Indonésia, Japão, México, Rússia, África do Sul e Coréia do Sul foram convidados. A iniciativa americana, marcada para setembro, vai ocorrer no mesmo mês em que a ONU também marcou um encontro exclusivo para discutir o aquecimento global com todos os seus países-membros. O evento, que será presidido pelo secretário-geral Ban Ki-moon, está marcado para 24 de setembro, em Nova York. Ele vai preceder, em um dia, a tradicional reunião anual da ONU. Entendem inúmeros analistas que a posição dos EUA estará bastante condicionada pelo sentimento dos eleitores americanos a respeito do tema. Indiferentes não estarão, tendo em vista os efeitos das inúmeras catástrofes recentes: o furacão Katrina, por exemplo, que praticamente destruiu uma cidade como Nova Orleans está no imaginário de todos os americanos. Ademais, a necessidade de buscar fontes alternativas de energia renovável é, para os EUA, uma questão de segurança nacional. Reunião de Viena Representantes de mais de 100 países reuniram-se em Viena, entre 27 e 31 de agosto, para discutir meios de expandir o Protocolo de Quioto. O secretário-executivo de mudanças climáticas da ONU, Yvo de Boer, diz que as conversas servirão para mostrar como os países comprometidos estão progredindo nesse tema além de preparar os ministros para o acordo que deverá ser fechado na Cúpula da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas de dezembro, em Bali, na Indonésia. Do encontro, participaram cerca de mil representantes, além de cientistas e ativistas ambientais, em busca de um consenso entre as nações industrializadas - que possuem metas de corte de emissões de gases do efeito estufa pelo Protocolo de Quioto até 2012 – e os que estão de fora do acordo, liderados por Estados Unidos e China (dois dos maiores emissores). O encontro pautou, também, os aspectos financeiros das mudanças climáticas nos próximos 25 anos. Relatório da ONU aponta a necessidade de um investimento adicional de cerca de 200 bilhões de dólares por ano para se manter as emissões de gases estufa nos níveis atuais. Para as Nações Unidas, este é o momento para se estabelecer uma ação mais abrangente e de longo prazo na luta contra o aquecimento global por meio do Protocolo de Quioto. O momento parece construtivo para uma ação global. Analistas destacam que a reunião de Viena tenta quebrar a barreira diplomática e fazer com que ministros da área ambiental estejam aptos a concordar com o lançamento de uma negociação formal, de dois anos, para definir um controle rígido e de longo prazo para as emissões de gases na Conferencia do Clima em Bali, Indonésia, em dezembro. Contudo, o assunto continua polêmico. Em artigo veiculado no Jornal O Globo de 31 de agosto, intitulado “Brasil diz que não negocia emissões”, assinado por Graça Magalhães-Ruether, o Brasil, por meio do chefe da delegação brasileira José Domingos Miguez, manifestou sua recusa à proposta apresentada pela chanceler alemã Angela Merkel de um cálculo per capita das emissões de gases-estufa dos países emergentes. Segundo o representante do Brasil “a posição defendida nas negociações para a redução das emissões dos gases do efeito estufa 29 Original em www.cdes.gov.br destaca a responsabilidade histórica dos países ricos”. Destacou, também, que qualquer posição que o Brasil venha a assumir tem que levar em conta que só começou a sua industrialização nos anos 1950. “Para se ter uma idéia, as emissões do Brasil de 1960 eram iguais às dos Estados Unidos de 1860“, completou o chefe da delegação brasileira em Viena. Há dúvidas quanto à rejeição a esta proposta sob o ponto de vista de países emergentes! O documento final de Viena aponta para um compromisso dos países desenvolvidos em reduzirem suas emissões entre 25% a 40% até o ano 2020: A natureza desse documento não é de assinatura. Trata-se de um documento negociado no âmbito do mencionado AWG. Uma vez que o documento foi acordado, pode-se dizer que houve consenso e que, portanto, não procede afirmar que os EUA não assinaram como tem sido veiculado na imprensa. Mas, enquanto os participantes conversam sobre negociações, muitos estão preocupados com os custos que as mudanças climáticas já estão provocando, principalmente nos países em desenvolvimento, que dependem fortemente da agricultura. Há exemplos de que nos últimos 30 anos, as mudanças climáticas têm sido responsáveis pela ampliação de períodos de seca na África e cada verão tem sido progressivamente mais quente. Essas impressões partiram do ministro de Recursos Naturais de Lesotho da África do Sul, Monyane Moleleki, que concluiu afirmando que há “uma situação muito séria se desenvolvendo” em artigo recentemente veiculado e assinado por Sabrina Domingos, CarbonoBrasil, com informações de BBC News e Reuters. Essas reuniões, na realidade têm um caráter preparatório. O futuro do clima da Terra será debatido no fim do ano em Bali, na Indonésia, em mais uma reunião da ONU. É necessário que a AICESIS se faça representar com uma posição debatida e se possível acordada. Reunião de Bali Entre 3-14 de dezembro de 2007, em Nusa Bula, Bali, na Indonésia, será realizada a 13a sessão da Conferência das Partes (COP 13) da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (United Nations Convention Framework on Climate Change - UNFCCC) e a terceira sessão da Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes no Protocolo de Quioto (MOP3). Nesse espaço, especialistas voltarão a discutir os detalhes de um eventual acordo que substitua o Protocolo de Quioto. O protocolo foi a mais ambiciosa meta para conter as mudanças globais do clima, frustrado principalmente porque os Estados Unidos (EUA), o maior emissor de gases, não ratificaram o acordo. Certamente que o fato dos EUA não se comprometerem com a formalização de acordos na direção da redução de emissões de CO2, justifica um certo descompromisso por parte dos países em desenvolvimento em não negociarem um tratado mais eficaz para proteção das florestas tropicais e outros ecossistemas que integram seus territórios. Nesse sentido o Brasil, por exemplo, vem gestando, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente (MMA), uma proposta que possa vir a complementar ou mesmo substituir o sistema em vigor de concessão de créditos. Essa decorreu da aprovação, durante a 11a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, em Montreal, de um sistema de incentivos positivos aos países em desenvolvimento para a redução de emissões provenientes do desmatamento. Sabe-se que ¾ das emissões de CO2 no Brasil são decorrentes de desmatamento. A questão da redução de emissões provenientes do desmatamento nos países em desenvolvimento é um item da agenda oficial da COP. O Brasil é contrário à utilização das eventuais reduções de emissões do desmatamento por parte do Anexo I com objetivos de cumprir seus compromissos no âmbito do Protocolo de Quioto. O Governo evita termos como 30 Original em www.cdes.gov.br "tratado para proteção das florestas tropicais", "desmatamento evitado" (pois se trata na verdade de reduções de emissões do desmatamento). Inicialmente, em consenso com outros setores do governo como o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), e o Ministério das Relações Exteriores (MRE), o MMA construiu uma proposta para viabilizar esses incentivos financeiros, a partir do desempenho brasileiro no combate ao desmatamento e submeteu, após apresentação de uma versão preliminar em um workshop técnico da Convenção realizado em Roma, em agosto de 2006, uma proposta oficial, na COP-12, em Nairóbi, no Quênia. Proposta Brasileira apresentada em Nairóbi para conter o desmatamento 3 Para conter o desmatamento o Brasil propôs, por meio do MMA, que os países em desenvolvimento que efetivamente reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa por desmatamento de suas florestas tropicais poderia receber recursos internacionais para aprimorar suas ações nessa área. Os países desenvolvidos serão os responsáveis por investir recursos no mecanismo. Contudo, e essa é a inovação, não seriam beneficiados com créditos a serem contabilizados nas suas metas de redução de emissões. Os detalhes de mensuração das reduções líquidas das emissões, monitoramento, etc. estão exaustivamente explicitados no Relatório de Gestão 2003-2006 do MMA. O aspecto relevante que cabe ressaltar é o caráter inovador da proposta: “O valor dos recursos aportados pelos países desenvolvidos será distribuído proporcionalmente à redução de emissões conquistada pelos países em desenvolvimento. A diferença registrada com a queda nas emissões de gases de efeito estufa, provenientes do desmatamento, será convertida em incentivo financeiro a receber pelos países em desenvolvimento. Em caso de aumento das emissões do desmatamento, será convertida em valor a descontar de futuros incentivos financeiros.” (MMA, 2203-2206, p. 76) Seria um mecanismo fora do mercado, pois não cria direito de emissão. A resistência dos países desenvolvidos resume-se a uma pergunta: o que ganhamos em troca? Há, portanto, um conflito entre o interesse humanitário da Convenção e os interesses econômicos dos países. Independente das dificuldades encontradas até agora para implantar a proposta, no caso restrita à questão do desmatamento, o Brasil vai reapresentar a idéia colocada em discussão em Nairóbi, em Bali. E como se comportará os Estados Unidos? A posição que os Estados Unidos adotará será crucial. Contudo é, até o momento, ambígua e por vezes contraditória. David Anderson ex- ministro do Meio Ambiente do Canadá, acha que “os Estados Unidos se unirão aos esforços para reduzir as emissões de gases poluentes, porque sua segurança nacional está em risco”. Não será pelos caminhos do Protocolo de Quioto, diz ele, e sim por “caminhos paralelos”. Que caminhos paralelos serão esses? Temos que discutir e nos precaver. V. Considerações Finais É incontestável a pertinência da pauta que ora propomos. Ademais, estamos no caminho correto ao querer protagonizar a discussão das mudanças na matriz de combustíveis dentro de uma perspectiva política, social e econômica. Em artigo veiculado na Folha de São Paulo, em 31 de agosto desse ano, o especialista José Graziano da Silva, em artigo intitulado “Biocombustíveis para os pobres”, refere-se a um outro trabalho, escrito pelo diretor-geral da FAO, Jaques Diouf, e 3 Para uma exposição mais abrangente sobre o tema consultar MMA, Relatório de Gestão 2003-2006, p.75-76. 31 Original em www.cdes.gov.br publicado em 15 de agosto no Financial Times. Nesse trabalho a visão da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação é resumida pela seguinte frase: “Biocombustíveis deverão beneficiar os pobres, não os ricos”. Esforço que não pode ser só da FAO. Contudo a questão dos biocombustíveis desperta inúmeras polêmicas. Há analistas que estão preocupados com possíveis substituições de produção de alimentos por produção de matériasprimas para suprir o mercado de biocombustíveis. Há de fato um desafio a ser enfrentado na competição de alimentos e combustíveis. Este é, certamente, um dos aspectos a ser debatido na pauta da AICESIS se queremos defender o princípio de desenvolvimento com eqüidade. Votando à questão mais ampla, coincidentemente, Diouf convocou a realização de uma conferência mundial para debater bioenergia que se realizará em junho de 2008, em Roma, justamente onde e quando haverá a Assembléia Geral da AICESIS. Graziano destaca que um dos temas centrais do encontro será como disciplinar o mercado geral de bioenergia. Argumenta que “hoje, cada país faz as próprias regras. Nos Estados Unidos, por exemplo, a produção de álcool de milho recebe mais de US% 7 bilhões anuais em diversas formas de apoio, como subsídios aos produtores do Meio-Oeste e incentivos fiscais”. A FAO teme que serão os países desenvolvidos que se beneficiarão da produção de bioenergia e não medirão esforços, com barreiras tarifárias e não tarifárias, para impedir o acesso aos seus mercados. De forma resumida, Graziano, parafraseando Diouf, aponta as três principais políticas que precisam ser adotadas para que a produção de agroenergia possa beneficiar os pobres e não os ricos: (1) Reduzir as barreiras contra o etanol. O etanol brasileiro, feito a partir da cana-de-açúcar, por exemplo, é taxado em US$ 23 o barril pelos EUA. (2) Assegurar que os agricultores familiares possam se organizar em associações e cooperativas para produzir e processar a matéria-prima e comercializar a bioenergia. (3) Finalmente, o Diouf defende a certificação ambiental da bioenergia, ou até a certificação social do biocombustível. As propostas de Diouf vão ao encontro da pauta que estamos sugerindo: aumentar o percentual na matriz energética mundial de fontes limpas e renováveis de energia, produzidas com respeito ao meio ambiente e aos trabalhadores, incluindo os pequenos e mais pobres agricultores. Não temos, contudo, a ingenuidade nem a pretensão de encaminhar uma proposta que deixe a impressão de que é possível caminhar para um mundo em que energia é produzida sem hidrocarbonetos (ou seja, sem a presença de gás natural, gasolina, óleo diesel, etc.). Sabemos que isso é uma ilusão e que em médio e longo prazo não há base científica para chegarmos hoje a essa conclusão. Mas é seguro defender que estamos entrando em um período de transição no qual estão sendo buscadas tecnologias mais limpas para tornar a produção e consumo de mais sustentável enquanto as cadeias produtiva e industrial se adaptam à redistribuição da matriz energética global para uma maior participação de biocombustíveis e outras fontes renováveis de combustíveis e energia. 32 Original em www.cdes.gov.br 33 Original em www.cdes.gov.br