edição do Ano 10 - O guia para o dia a dia com vinho
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edição do Ano 10 - O guia para o dia a dia com vinho
guia Vinho&Cia Ano 10 - Número 71 - R$ 15,00 ConVisão Ano 10 0 vinhos e locais favoritos dos colunistas 10 tintos e 10 brancos do Encontro Mistral 10 lugares onde beber em Buenos Aires Com a maior equipe especializada em vinhos no país ISSN 1982-8381 00071 O Guia para o Dia a Dia com Vinho Conteúdo Líquido Nas páginas desta edição... 04- Dicas do Editor 10- O Que Ler 12- O Que Acontece 18- Vinhos de Farroupilha 22- Encontro Mistral 24- 10 Vinhos Favoritos 28- 10 Locais Favoritos 34- Buenos Aires 40- Euclides Penedo 42- Walter Tommasi 44- João Lombardo 46- Denise Cavalcante 48- Álvaro C. Galvão 50- Sérgio Inglez de Souza 51- Gilvan Passos 52- Carlos Arruda 54- Adriana Bonilha 56- Maria Amélia 58- Aguinaldo Záckia 60- Andréa Pio 62- Jairo Monson 64- Didú Russo 66- Custódio 12 Vinho&Cia Ano 10 - Número 71 www.jornalvinhoecia.com.br Editor Regis Gehlen Oliveira Publicação 18 ConVisão R. Irmã Pia, 422, cj. 504 Jaguaré 05335-050, São Paulo, SP Colaboradores 28 Adriana Bonilha / Aguinaldo Záckia Álvaro C. Galvão / Andréa Pio / Beto Acherboim / Carlos Arruda Custódio / Denise Cavalcante Didú Russo / Euclides Penedo Borges Gilvan Passos / Jairo Monson João Lombardo / Maria Amélia Sérgio Inglez / Walter Tommasi Assinaturas e Propaganda (11) 4192-2120 [email protected] Associado à Vinho & Cia é publicação da ConVisão referente ao mercado de vinhos e suas companhias naturais, como gastronomia, restaurantes, prazer, conhecimento, viagens e outras. Circula principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, nos principais restaurantes e lojas especializadas. Pode ser adquirido por assinaturas ou em bancas selecionadas. Os artigos e comentários assinados não refletem necessariamente a opinião da editoria. A menção de qualquer nome neste veículo não significa relação trabalhista ou vínculo contratual remunerado. No. 71 3 Dicas do Editor www.mistral.com.br Mais sobre Vinho, e mais Beleza 4 gravata do vinho e que une o nosso fenomenal corpo de colunistas. A maior equipe especializada em vinhos no país vai continuar com os textos inteligentes, objetivos e bem humorados. Vamos permanecer independentes de interesses comerciais. Não é porque alguém patrocina uma edição ou uma ação do guia que daremos uma opinião favorável se não concordamos. Profissionais, sommeliers, críti- cos e leitores que já participaram de degustações nossas sabem disso. Vamos seguir distantes de grupos específicos de influência e de opiniões pré concebidas, referentes a rótulos, países, locais ou ideias. Vamos manter nossa metamorfose ambulante, aberta ou às cegas, democrática. Vamos, sim, em frente, pelo mundo do vinho! Esperamos que a edição agrade! Tim-tim! Vinho&Cia Os melhores vinhos APRECIE COM MODERAÇÃO Q uando começamos o nosso Ano 10 de publicações e num momento no mundo em que se dá mais valor à forma do que ao conteúdo, resolvemos alterar a impressão do guia Vinho&Cia para um padrão de revista de luxo. Agora procuramos juntar o lado cult que sempre tivemos com a beleza plástica. Não vamos fugir ao padrão que nos caracterizou de tirar a Dicas do Editor No Wine Bar da Prestíssimo Francês com o Verdadeiro Terroir O Paul Mas Carignan Vieilles Vignes 2010 é um excelente vinho do Languedoc, sul da França, Vale de Hérault, que expressa verdadeiramente o terroir da região e da uva Carignan, com leve passagem por madeira. É ótimo para pratos consistentes com toques de especiarias e pimentas. R$ 71 nas lojas da importadora Decanter e R$ 100 na mesa do restaurante francês La Casserole, em São Paulo. Decanter: www.decanter.com.br 3 Vinhos que Valem a Pena Espanhol da Rioja Vale a pena provar esse vinho bem equilibrado, sem excessos, típico de uma das regiões mais tradicionais do planeta. O Conde de Valdemar Rioja Crianza 2006 é feito com as uvas Tempranillo (85%) e 15% Mazuelo (15%), oriundas de vinhedos das sub-regiões de Rioja Alta e Rioja Alavessa. Ideal para pratos não muito condimentados e queijos duros. R$97 na importadora. Mistral: (11) 3372-3400 Argentino de Cabernet A vinícola argentina Nieto Senetiner tem uma vasta linha de produtos e o Don Nicanor Cabernet Sauvignon 2011 destacase bem na faixa intermediária. Tem uma certa pegada na boca e teor alcoólico elevado, mas que não se percebe em razão do balanço adequado. Vai bem com pratos de carnes mais encorpados. R$85 na média em lojas. Porto a Porto: (41) 3018-7393 Casa Flora: (11) 2842-5199 6 Vinho&Cia Tudo Acaba em Pizza! Al. Joaquim Eugênio de Lima, 1135, (11) 3885-4356, Jardins, São Paulo PROFISSIONAL DO VINHO, INSCREVA-SE JÁ NA Dicas do Editor 1a CONFERÊNCIA INTERNACIONAL Vinhos do Uruguai Em Montevidéu tivemos durante duas horas um ótimo bate-papo com Javier Carrau, que nos contou sobre a sua importante atuação para o mundo do vinho hoje como presidente da Câmara das Indústrias do país. Na agradável sede da Bodegas Carrau, ele disse que teria um um importante encontro com o Ministro das Indústrias do Uruguai, para os preparativos da visita do presidente José Mujica ao presidente norte-americano Barak Obama. Ele faz parte da comitiva. 3 30 Vamos aumentar o nosso poder de marketing e vendas e contribuir para que a venda responsável de vinhos finos no Brasil atinja 1 bilhão de garrafas por ano, equivalente a 5 litros por habitante-ano! PAINÉIS DE DEBATES Vamos evoluir a nossa capacitação comercial e de comunicação para vender mais e melhor! Revelações em Entrevista As Novas Invenções A Bodegas Carrau, que sempre liderou avanços na produção dos vinhos uruguaios, agora ataca novos horizontes. Quem pensa que o país vizinho só faz bem tintos com a uva Tannat, em geral bastante tânicos, precisa conhecer melhor a produção. O branco da linha top da Carrau 1752 de Petit Manseng e Sauvignon Gris está de tomar de joelhos. O pouco conhecimento em boa parte é por falta de divulgação adequada dos uruguaios no Brasil. Javier Carrau revelou, contudo, que as vinícolas uruguaias não estão totalmente satisfeitas com a sua participação no nosso mercado. Carrau mais Forte no Brasil Javier Carrau fala com muito orgulho da sua produção na vinícola de Las Violetas em Montevidéu, na moderna de Cerro Chapéu, em Rivera, e, agora também em território brasileiro, fazendo divisa com a do Uruguai. Ele disse que quer voltar a fazer aqui o melhor vinho brasileiro, como já produziu há alguns anos o Velho do Museu, um marco. Ele está plantando e testando as uvas, mas já conhece bem o solo. Talvez venha algo diferente dos excelentes Tannat de Reserva e Amat, que trazem fama no mundo à vinícola. 8 PARA EVOLUÇÃO DO MERCADO DE VINHOS Vinho&Cia Não deixe de participar e interagir com os debatedores já confirmados: Adão Morellatto (consultor internacional), Alexandre Levy (sócio da Pizzaria Prestissimo), André Cavalcante (sommelier da rede Ráscal), Anselmo Endlich (diretor executivo da Wine.com), Bruno Airaghi (ex diretor de planejamento da Interfood), Carlos Cabral (consultor do grupo Pão de Açúcar), Gabriela Monteleone (sommelier do D.O.M.), Gilvan Passos (consultor de vinhos em Natal), Gugu Barbosa (presidente da ABS de Santos), Lamberto Percussi (sócio da Vinheria Percussi), Luciana Salton (diretora executiva da Salton), Ramatis Russo (sócio da enoteca Saint Vin Saint) e Tom (sommelier do La Casserole). E terão mais! COORDENAÇÃO TÉCNICA: DIDÚ RUSSO E SÉRGIO INGLEZ DE SOUZA Veja a programação completa dos painéis em: www.jornalvinhoecia.com.br INGRESSOS SUBSIDIADOS! APENAS R$350,00 Com direito a 10 painéis (Painel adicional: R$50,00) [email protected] (11) 4192-2120 REALIZAÇÃO Vinho&Cia DIAS 10 E 2 DE SETEMBRO DE 2014, DAS 9H30 ÀS 21H CLUBE PINHEIROS, EM SÃO PAULO O Que Ler O Que Ler Gourmandises Catarinenses Vinho para o Sucesso Profissional João Lombardo Ed. Lagoas - 210 págs., R$250,00 O livro do jornalista e colunista do Vinho & Cia é um verdadeiro show de conteúdo e de produção gráfica. Reúne o melhor da culinária e dos produtos premium de Santa Catarina. Mostra que o estado – que já era famoso por tainha, camarão, pinhão, marreco, carne suína e farinha bem fina – hoje tem gastronomia de qualidade em crescimento. Estão em destaque os vinhos de altitude. Acompanha em encartes, menores, um guia de vinhos e de restaurantes da região. Regis Gehlen Oliveira e Didú Russo Ed. Vinho&Cia - 128 págs, R$50,00 Traz dicas de como usar a bebida da moda no mundo dos negócios, na carreira e na política. É uma ferramenta indispensável para empresários, funcionários e executivos de todos os setores da economia. Explica de modo fácil como agir em coquetéis e eventos, receber em casa, escolher e dar vinhos de presente, entre outros assuntos do dia a dia. Pedidos: (11) 4192-2120 / [email protected] 6 Livros Vinho Tinto: O Prazer é todo Seu Prato Fácil - 10 Anos Sérgio Inglez de Souza Ed. Marco Zero 168 págs., R$50,00 É uma das principais referências para os iniciantes aprenderem a apreciar o vinho em toda a sua plenitude. O colunista do Vinho&Cia traz neste livro as características das principais uvas, os vinhos representativos, os conceitos fundamentais de serviço e estocagem, além de 100 fichas e roteiros para degustação pessoal. Fernando Kassab Ed. Terra da Gente - 366 págs A obra, que comemora os 10 anos do programa Prato Fácil com Fernando Kassab, produção da EPTV, rede de emissoras afiliadas da Rede Globo, oferece uma resenha culinária de sabores e de história. O autor entrou nas cozinhas comuns da região da Serra da Mantiqueira, urbanas e rurais, para ver (e comer) o que nelas faz a sua gente simples, guardiã da memória culinária regional. E que deliciosas tradições... (Andréa Pio) Expedição Brasil Gastronômico Delizia! A história dos italianos e sua comida Guta Chaves, Rodrigo Ferraz e Dolores Freixa Ed. Melhoramentos - 320 págs., R$98,00 A bem dizer, essa obra é a versão literária de parte das temáticas do legendário Festival de Gastronomia deTiradentes - o mais glamouroso evento gastro-cultural que acontece na bucólica cidade da região do Campo das Vertentes. A obra registra a diversidade de diversos produtos ao longo de quase 20 mil km e expressa a dedicação e a sabedoria de produtores, exemplos de convivência harmoniosa entre ser humano e natureza, em MG, RJ, PE, RN, CE e AM. (Andréa Pio) John Dickie Companhia Editora Nacional - 238 págs., R$40,00 Nada escapa da pena de Dickie, o mesmo do best seller Cosa Nostra. O autor mergulha e destrincha cinco séculos e revela como a culinária do país da bota foi fundamental na formação da identidade do povo italiano. O mergulho inclui, claro, os processos históricos e políticos responsáveis por sua gastronomia se tornar referência mundial. Não tem fotos. Aliás, nem precisa. Delízia é um mergulho delicioso nas tradições das regiões da Itália. (Andréa Pio) 10 Vinho&Cia No. 71 11 O Que Acontece A caixa de três décadas de Don Melchor 12 Fatos Degustações com o irreverente Jean-Luc Thunevin no Bardega 12 Apenas 50 caixas para privilegiados no mundo foram feitas com 6 safras do ícone tinto chileno Don Melchor. Para o Brasil vieram apenas 12, ao custo de R$5.000. Reúne garrafas dos anos de 1988, 1993, 1999, 2001, 2005 e 2007, feitas só com Cabernet Sauvignon ou com menos de 6% de outra uva. Estão impressionantes as três safras mais antigas. A de 1993, após 21 anos, está espetacular, muito viva. A de 1988 tem ainda incrivelmente boa pegada de taninos. A de 1999 está mais frutada, com mais corpo, porém muito elegante. Pena que poucos poderão desfrutar essa experiência. www.donmelchor.com Um dos enólogos mais irreverentes e engraçados do mundo, Jean-Luc Thunevin, proprietário em Bordeaux do Château Valandraud, esteve no wine bar Bardega, no Itaim Bibi, em São Paulo, que tem a maior variedade no Brasil de vinhos em máquinas Enomatic. Ele foi rotulado pelo crítico norte-americano Robert Parker como “Bad Boy”, por produzir de forma diferente da maioria das vinícolas da região. Seus vinhos têm mais cara de Borgonha do que de Bordeaux, com muito mais leveza. www.bardega.com.br www.thunevin.com Vinho&Cia Mais Wine Encontro no Bourbon Atibaia Vinho e gastronomia nas costas francesas No. 71 O grande hotel em forma de pirâmide na intersecção das rodovias Fernão Dias e Dom Pedro I, abre mais ou menos a cada três meses as portas do seu bonito e aconchegante Cave Bistrô para o Wine Encontro, com quatro pratos, cuidadosamente preparados por Jérôme Dardillac. O chef francês da região de Cognac capricha na apresentação em receitas inventivas. Os vinhos ficam a cargo do simpático Robson Vital, prata da casa, que seleciona os rótulos e vem de mesa em mesa comentar cada harmonização. Além do jantar harmonizado, vale a pena no hotel provar outros vinhos, a preços muito bons. www.bourbon.com.br A França diz que o maior fluxo de turistas de todo o mundo é para as suas Costas: do Canal (onde está o incrível Mont Saint Michel), Atlântica (com o ponto alto Biarritz), Mediterrânea (do jet set de Saint Tropez entre outros locais badalados) e da ilha de Córsega (um paraíso de litoral recortado com mar belíssimo). Nas costas os amantes do vinho e da gastronomia podem se divertir com os queijos e as manteigas da Normandia, com os brancos de Muscadet no litoral atlântico, na Riviera com os rosés da Provence e os rótulos de Languedoc-Roussillon, a maior região plantada de vinhedos da França, e os raros por aqui vinhos da Córsega. 13 O Que Acontece Já estão há um tempinho nas lojas as adegas compactas, de até 33 garrafas, da Midea, entre elas uma com duas zonas de refrigeração. Agora estão aportando no Brasil os novos fornos de micro-ondas da marca, uma joint venture da empresa chinesa com a norte-americana Carrier. É mais um passo da Midea no país, que pretende nos próximos cinco anos colocar aqui gradativamente novos eletrodomésticos. A sua proposta é ter produtos com a cara do consumidor brasileiro. Entre os lançamentos estão versões de diversos tamanhos, com ou sem grill. www.mideadobrasil.com.br A Villaggio Grando, uma das melhores e mais bonitas vinícolas do Brasil, de Caçador, em Santa Catarina, vai lançar no segundo semestre um vinho já vendido na própria taça. Será de plástico e descartável, e, segundo a empresa, produzida de modo a não alterar a qualidade do produto. Iniciativas nesse sentido já há na França e na Itália, e no Brasil a ideia é pioneira. A intenção é ser muito prática para eventos, piqueniques, jogos de futebol, passeios e outros momentos em que as garrafas de vidro não são adequadas. www.villaggiogrando.com.br 14 Adegas e novos fornos de micro-ondas Mais um evento de portugueses aconteceu em São Paulo: a Grande Prova Anual de Vinhos do Tejo. Dez produtores, quase todos já com rótulos no mercado brasileiro, estiveram presentes para mostrar ao público profissional os seus atuais destaques. Muito boa iniciativa foi a realização de 3 painéis de integração dos vinhos com a comida (nomeados em inglês de Master Class). Foram chamados de “1001 Maneiras de Harmonizar um Vinho” e abrangeram a gastronomia Japonesa, Francesa e Ibérica. www.cvrtejo.com Vem aí o vinho vendido na A Grande Prova de Vinhos do Tejo Nome em inglês, no Brasil, mas vinhos de Portugal própria taça descartável A Vinhos de Portugal e a Exponor promoveram no Consulado de Portugal em São Paulo o Find Importer Day. Em busca de importadores, vinte produtores trouxeram rótulos que contaram com seleção do crítico brasileiro Luiz Horta. O que chamou a atenção foram os brancos feitos com as castas portuguesas que os diferenciam no mundo, especialmente de Alvarinho, Arinto, Encruzado e Fernão Pires. Todas com nomes bem portugueses. Vinho&Cia No. 71 15 O Que Acontece União no Chile para fazer um vinho de 100 barricas Francês, residente há mais de 15 anos no Chile, apaixonado pelo terroir desse país, o enólogo da Viña Requingua veio ao Brasil para mostrar seus vinhos e especialmente para lançar aqui o ícone Laku. Benoit Fitte enxerga que o futuro da produção chilena é aproveitar a sua diversidade de uvas e criar rótulos diferentes, possíveis de serem feitos no país, graças ao seu clima privilegiado, melhor do que o europeu e do Novo Mundo, segundo ele. O Laku 2008 (R$335) foi produzido nessa linha, com as 7 melhores barricas de vinhos-base da safra da vinícola, escolhidas às cegas. www.norimport.com.br 16 Organizado pelo Top Winemakers, o Seminário Chilean Wine Ambassador em São Paulo trouxe ao público profissional uma bela amostra da nova produção do país líder em vendas no Brasil. De norte a sul, todas as regiões foram apresentadas, incluindo várias amostras de rótulos. Destaque para o vinho do projeto 100 Barricas, em que na sua produção foram utilizados 100 diferentes vinhos-base de distintas vinícolas e vales, predominantemente de Cabernet Sauvignon da safra 2011, em que cada um contribuiu com 1% da mescla final, feita por um conjunto de enólogos. www.topwinemakers.cl Enólogo da Requingua: futuro do Chile é o vinho com misturas Brotas não é só feita de esportes de aventura. Escondido no meio da mata, próximo a uma cachoeira e implantado numa antiga e singela casinha de colonos, redecorada para criar um espaço de puro prazer, está o Brotas Zen Bistrô. Dos proprietários da Pousada Frangipani e sob o comando da jovem chef Mônica Alberconi, traz uma comida elaborada. Em formato de degustação, a cada final de semana o menu é alterado, buscando o aproveitamento dos ingredientes de época. Aberto somente para os jantares de sexta e sábado mediante reserva. É um destino imperdível que deixa saudades. Aventura e Alta Gastronomia em Brotas www.brotaszen.com.br/bistro.php (Adriana Bonilha) Bordeaux, sempre Bordeaux O Sindicato de DOP Bordeaux, e Bordeaux Supérieur organizaram degustações no sempre simpático Bar des Arts e em um stand na feira Expovinis, esta comandada pelo colunista do Vinho&Cia Aguinaldo Záckia Albert. É sempre prazeiroso tomar bons vinhos de Bordeaux, confirmando a qualidade de seus tintos e seus sempre supreendentes brancos, que tão bem combinam com o clima brasileiro. Os favoritos, sem importadores no Brasil, foram: Grand Classique du Château de L’Orangerie 2013, Château Senailhac 2006, Château L’Hoste Vieilles Vignes 2009 e Château Trocard 2010. (Walter Tommasi) Vinho&Cia No. 71 17 O Que Beber R$ 10 Vinhos de Farroupilha 27 10o R$ 24 Cave del Veneto Moscatel Antonio Colombo Moscatel Tipo: Espumante Doce Fornecedor / Produtor: Adega Chesini Uva: Moscatíes Safra: Origem / Região: Brasil / Farroupilha Tipo: Espumante Doce Fornecedor / Produtor: Colombo Uva: Moscatéis Safra: Origem / Região: Brasil / Farroupilha R$ 24 8o R$ 37 Tonini Moscatel Cave Antiga Chardonnay *Os vinhos colocados às cegas para comparação foram: Espumante Salton Brut (Brasil), Toro Salvaje Sauvignon Blanc (Chile), Santa Carolina Reservado Merlot (Chile) e Trapiche Cabernet Sauvignon (Argentina) Tipo: Espumante Doce Fornecedor / Produtor: Tonini Uva: Moscatéis Safra: Origem / Região: Brasil / Farroupilha Tipo: Espumante Brut Fornecedor / Produtor: Cave Antiga Uva: Chardonnay Safra: Origem / Região: Brasil / Farroupilha 18 No. 71 Eles foram provados às cegas, sem que os degustadores soubessem de onde eram. Só conheciam os preços aproximados. Na mesa foram colocados 33 rótulos, sendo 4 de outras regiões da Argentina, do Chile e do Brasil. Nenhum desses 4* superou os 10 aqui selecionados. Ganham Medalha de Ouro 7 deles, dos quais a maioria dos degustadores compraria uma garrafa. Os outros 3 ganham Prata. Participaram 8 brancos, 7 espumantes brut, 11 tintos e 7 moscatéis. Vinho&Cia 9o 7o 19 O Que Beber R$ 27 R$ 6o 24 R$ 5o 24 R$ 2o 95 Monte Paschoal Brut Monte Paschoal Moscatel Castellamare Moscatel Perini 4 2009 Tipo: Espumante Brut Fornecedor / Produtor: Basso Uva: Safra: Origem / Região: Brasil / Farroupilha Tipo: Espumante Doce Fornecedor / Produtor: Basso Uva: Moscatéis Safra: Origem / Região: Brasil / Farroupilha Tipo: Espumante Doce Fornecedor / Produtor: Cooperativa São João Uva: Moscatéis Safra: Origem / Região: Brasil / Farroupilha Tipo: Tinto Fornecedor / Produtor: Perini Uvas: Cabernet Sauvignon Merlot, Tannat, Ancellota Safra: 2009 Origem / Região: Brasil / Farroupilha R$ 29 R$ 4o 85 Casa Perini Aquarela Chesini Grand Vin Tipo: Espumante Rosé Doce Fornecedor / Produtor: Perini Uva: Moscatéis Safra: Origem / Região: Brasil / Farroupilha Tipo: Tinto Fornecedor / Produtor: Adega Chesini Uva: Cabernet Sauvignon Safra: 2005 Origem / Região: Brasil / Farroupilha 20 1o 3o Participaram da degustação Alexandre Levy, Álvaro Cézar Galvão e Regis Gehlen Oliveira, como organizadores, que tinham conhecimento da origem dos vinhos, mas não da sequência dos rótulos servidos. Além deles, Beto Acherboim, Denise Cavalcante, Eliete Fernandes, Jani Levy e Walter Tommasi. Vinho&Cia agradece à associação Afavin pelo encaminhamento das garrafas para prova. Vinho&Cia No. 71 21 O Que Beber 10 10 Brancos e Tintos do Encontro Mistral Mais uma vez a importadora Mistral deu um verdadeiro show, agora com a 7ª edição do seu encontro bienal, realizado no Hotel Grand Hyatt em São Paulo e no Hotel Sofitel Copacabana no Rio de Janeiro. Brancos do Encontro Mistral Produtor Vinho Origem De Wetshof Lesca Chardonnay 11 África do S. 44 Força sul-africana Ànima Negra Quibia 09 Espanha 44 Redondaço Isabel Vineyard Isabel Estate Dry Riesling 08 N. Zelândia 50 Que vinho classudo! Tokaji Oremus Tokaji Furmint Mandolás 10 Hungria 52 Ninguém fica indiferente com ele Vasse Felix Vasse Felix Chardonnay 12 Austrália 60 Com a categoria australiana Robert Weil Rheingau Riesling QbA Charta 05 Alemanha 60 Com o toque docinho alemão Tasca D’Almerita Nozze d’Oro 10 Itália 70 Itália também faz bons brancos Herdade dos Coelheiros Tapada de Coelheiros Chardonnay 09 Portugal 74 Um passito português Faiveley Chablis 12 França 77 Chablis mais “acessível” Joseph Drouhin Chablis Montmains Premier Cru 10 França 111 Toda a expressão de Chablis Comentário 10 Comentário Tintos do Encontro Mistral Produtor Vinho Origem US$ Luis Pato Luis Pato Baga e Touriga 10 Portugal 31 Montes Montes Alpha Syrah 10 Chile 49 Chile não é só Cabernet Vallontano Oriundi Brasil 58* Show de vinho junto com a Masi Catena Zapata Angelica Zapata Malbec 09 Argentina 70 Herói do vinho argentino Tenuta di Capezzana Trefiano Carmignano 05 Itália 90 Com história e com conteúdo Badia a Coltibuono Chianti Classico Riserva Bio 07 Itália 98 A classe de Chianti Classico Viña Salceda Conde de la Salceda Reserva 05 Espanha 120 Olé espanhol! Alión Alión 09 Espanha 195 Um ícone que não tem erro Masi Riserva Costasera Amarone 07 Itália 210 Masi é Masi Pesquera Pesquera Janus Gran Reserva 03 Espanha 385 Dá para querer mais de um tinto? Para o Brasil trouxe mais de 60 vinícolas das principais regiões produtoras de 15 países, representadas principalmente pelos proprietários, enólogos ou diretores, que serviram pessoalmente o público com vários dos melhores rótulos. Além da oportunidade de conversar com os produtores, o evento proporcionou a prova de vários vinhos em lançamento. Nos quadros apresentamos uma seleção de 10 brancos e 10 tintos que chamaram a atenção. (Regis Gehlen Oliveira) * Valor convertido para dólares. Preço: R$ 127 reais. 22 No. 71 Vinho&Cia US$ Do rebelde que dominou a Baga 23 O Que Beber 10 10 Vinhos Favoritos Para comemorar o Ano 10 de edições do Vinho&Cia, pedimos a 5 colunistas do guia para indicar 10 vinhos favoritos, entre os milhares que há no mercado, independente da faixa de preço, rótulos que tragam boas lembranças, que marquem por algum motivo. Tarefa difícil, muitos e muitos vinhos ficam fora da lista. Mas a missão da equipe é essa: provar antes para você beber melhor! 24 Vinho&Cia Favoritos do Aguinaldo Záckia Albert Vinho Origem Fornecedor Rippon Pinot Noir Nova Zelândia Premium Casa Marin Sauvignon Blanc Chile Zahil Allain Graillot Crozes-Hermitage La Guiraude França Mistral De Martino Cabernet Sauvignon Gran Reserva Legado Chile Decanter Pio Cesare Barolo Itália Decanter Champagne Maxime Blin Carte Blanche França Vinea Elio Grasso Barolo Ginestra Itália Interfood Louis Latour Bourgogne Cuvée Latour Blanc França Inovini Hacienda del Plata Malbec Argentina Wine To Go Quinta do Crasto Vinha da Ponte Portugal Qualimpor 10 Favoritos da Andréa Pio Vinho Origem Fornecedor Comentário Rippon Vineyards Gewürztraminer 2011 Nova Zelândia Premium Exuberante do início ao fim Amayna Sauvignon Blanc 2009 Chile Mistral Brisa fresca do novo mundo Amontillado Sherry Fernando de Castilla Espanha Casa Flora Vai bem com várias comidas e sozinho Tukma Gran Torrontes 2010 Argentina Verdemar Surpreendemente agradável Schidione IGT 2000 (Castello di Montepò) Itália Mistral Supertoscano elegantérrimo Espumante Pericó Demi-Sec Brasil Pericó Ótimo, como outros brasileiros Ponte das Canas Tinto 2009 Portugal Adega Alentejana Exótico e complexo Short Rhow Shiraz 2008 Austrália Decanter Marcante, equilibrado. Não deve faltar Justino’s Madeira Tinta Negra 3 ou 10 Anos Portugal Porto a Porto Especial e mais que bem-vindo Viento Norte Pinot Noir Reserva 2012 Chile Verdemar Tinto para todo dia, e noite No. 71 25 O Que Beber 10 10 Favoritos da Maria Amélia Favoritos do editor, Regis Gehlen Oliveira Vinho Origem Fornecedor Comentário Vinho Origem Fornecedor Comentário Tons de Duorum Tinto Portugal Flora / Porto a Porto Não tem nada igual pelo preço Virtude Chardonnay Brasil Salton Acessível e competindo com os chilenos Secreto Viu Manent Malbec Chile Hannover Arte, história e paixão. Este vinho é demais Leopoldina Gran Chardonnay Branco Brasil Casa Valduga O negócio do Brasil é espumante? Filipa Pato Branco FP Portugal Flora / Porto a Porto A genialidade da minha amiga Filipa Núbio Rosé Brasil Sanjo O maior coringa para a gastronomia Bodega Lagarde Malbec Argentina Devinum Patrimônio da historia do vinho mendocino Innominabile Brasil Villaggio Grando Um marco da vinicultura de altitude Dunamis Pinot Noir Brasil Dunamis A revelação do Rio Grande do Sul em 2014 Pericó Espumante Nature Brasil Pericó A essência de um grande espumante Almaden Gewürztraminer Brasil Aurora Refrescante, baratinho, fácil de encontrar Barbaresco Livio Pavese Itália Flora / Porto a Porto Todo o prazer do Velho Mundo Planeta La Segreta Tinto Itália Interfood Uma região mítica, um vinho único Marqués de Riscal Reserva Rioja Espanha Interfood Clássico é sempre clássico Susana Balbo Crios Torrontés Argentina Cantu O terroir e o trabalho desta grande mulher Esporão Reserva Portugal Qualimpor Passam-se os anos e sempre ótimo Peterlongo Privillege Rosé Espumante Brasil Peterlongo O potencial de Encruzilhada aliado a cem anos De Martino Carignan El León Chile Decanter Se todo chileno fosse elegante assim... Garibaldi Espumante Moscatel Brasil Vinícola Garibaldi Omelhor potencial do Vinho Brasileiro Faveley Puligny-Montrachet França Mistral Tomo de joelhos ou ouvindo Debussy? 10 Favoritos do Walter Tommasi Vinho Origem Fornecedor Comentário Ferrari Perle 2005 Espumante Itália Decanter Ao nível das boas Brut francesas Franck Bonville Millésime Grand Cru 2005 França Hedoniste Champagne rico, com mousse densa Egon Muller Scharzhof 2010 Branco Alemanha Ravin Elegante, com muita mineralidade Portal do Fidalgo Alvarinho 2008 Português Flora / Porto Ótimo balanço de boca, com alta acidez Señorio Daregas Albariño 2011 Espanha Cult Vinho Seu nome devia ser elegância Batassiolo Sovrana Barbera D’Alba 2008 Itália Max Brands Estilo Velho Mundo, gastronômico M Lapierre Morgon 2011 Tinto França World Wine Muito harmônico, promete envelhecer Willobrook 2008 Tinto EUA Wine Lovers Redondo, taninos doces, prontíssimo Aster Crianza 2003 Tinto Espanha Zahil Muito elegante, em seu auge Les Coteaux 2006 Tinto África do Sul KMM Em seu auge, equilibradíssimo 26 Vinho&Cia No. 71 27 Onde Beber Bar do Hotel Frontenac, Campos do Jordão, SP 10 10 Locais Favoritos Onde Beber Também para comemorar o Ano 10 de edições do Vinho&Cia, pedimos a 7 colunistas do guia para indicar 10 Locais favoritos onde beber. São restaurantes ou bares aprazíveis, com ofertas, simples, transados, sofisticados, para negócios ou para namorar. As listas estão aí. Confira, descubra e... Tim-tim! 28 Vinho&Cia Favoritos da Adriana Bonilha Restaurante / Bar Local Figo Restaurante Moema, São Paulo, SP Bendito Cacau Aldeia da Serra, Barueri, SP Quilombo São Bento do Sapucaí, SP Davos Campos do Jordão, SP Marupiara Souzas, Campinas, SP Brotas Zen Bistrô Brotas, SP Sawasdee Búzios, RJ Porcini Trattoria Batel, Curitiba, PR Peppo Rio Branco, Porto Alegre, RS La Table D’Or Gramado, RS 10 Favoritos do Agnaldo Záckia Albert Restaurante / Bar Local Vinheria Percussi Pinheiros, São Paulo, SP Rosmarino Pinheiros, São Paulo, SP Le Jazz Pinheiros, São Paulo, SP Le Marais Itaim Bibi, São Paulo, SP Varanda Grill Itaim Bibi, São Paulo, SP Maní Jardim Paulistano, São Paulo, SP North Grill Jacques Félix Vila Nova Conceição, São Paulo, SP Sushi Kiyo Vila Mariana, São Paulo, SP Sushi Lika Liberdade, São Paulo, SP Esquina Mocotó Jaçanã, São Paulo, SP No. 71 29 Onde Beber 10 10 Favoritos da Andréa Pio Favoritos do Gilvan Passos Restaurante / Bar Local Comentário Restaurante / Bar Local Comentário Cantina Piacenza Lourdes, Belo Horizonte, MG Chef Américo e a mãe d. Mirtes são craques Abade Ponta Negra Ponta Negra, Natal, RN Fino com serviço 10. A carta é boa e diversificada Trindade Lourdes, Belo Horizonte, MG Comida mineira de autor A Cozinha Ponta Negra, Natal, RN Mix de gastronomia, carta exclusiva da Grand Cru Gluton Lourdes, Belo Horizonte, MG Sucessão de surpresas agradáveis Camarões Potiguar Ponta Negra, Natal, RN Rústico-sofisticado com carta bastante eclética Fogo de Chão Savassi, Belo Horizonte, MG Carnes e serviços excepcionais Dolce Vita Bistrô Petrópolis, Natal, RN Comida excelente, aconchegante, boa carta Cozinha de autor, só abre com reserva, menu confiança Pizzaria Pommodori Funcionários, Belo Horizonte, MG Redondas honestíssimas e saborosas Dois Vinho & Gastronomia Tirol, Natal, RN Sushi Naka Funcionários, Belo Horizonte, MG Japa tradicionalíssimo.Certeza de boa comida Gulliver Tambaú, João Pessoa, PB Tradicional, internacional, carta enxuta interessante Paradiso Santo Antônio, Belo Horizonte, MG Despojamento aconchegante cuidadoso Nau Frutos do Mar Manaíra, João Pessoa, PB Proposta náutica, frutos do mar, carta eclética Vecchio Sogno Santo Agostinho, Belo Horizonte, MG União perfeita de clássicos e contemporâneos Restaurante Leite Santo Antônio, Recife, PE O mais antigo do Brasil (1882), com carta eclética Bar do Baiano Pompéia, Belo Horizonte, MG Autêntico, não se rendeu aos modismos e festivais Spettus Steak House Derby, Recife, PE O melhor lugar para os prazeres da carne no Recife Au Bon Vivant Cruzeiro, Belo Horizonte, MG Típico francês, excelentes opções de vinhos em taças Rara Avis Centro, Montevidéu, Uruguai Anexo ao Teatro Solis, sofisticado, boa comida/carta Baco Vino y Bistro, Santiago, Chile 10 Favoritos do Euclides Penedo Borges Restaurante / Bar Local Comentário Artigiano Jardim de Alá, Rio de Janeiro, RJ Carta de vinhos adequada, bons preços Capricciosa Pizzaria Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ Pizza e comida italiana honestas, carta de acordo CT Brasserie Fashion Mall São Conrado, Rio de Janeiro, RJ Carnes excelentes, sempre cheio, ótimos vinhos Damici Copacabana, Rio de Janeiro, RJ Serviço atencioso, carta com muitas opções Ícaro Shopping Rio Sul Botafogo, Rio de Janeiro, RJ A modernidade a serviço da comida e do vinho Oui Oui Botafogo, Rio de Janeiro, RJ Comidinhas adequadas à sequência de vinhos Pomodorino Lagoa, Rio de Janeiro, RJ Vista privilegiada com menu e carta de primeira Satyricon Ipanema, Rio de Janeiro, RJ Entre os melhores em frutos do mar, vasta carta Vieira Souto Ipanema, Rio de Janeiro, RJ A carta mais detalhada da cidade Garden Ipanema, Rio de Janeiro, RJ Vinho/comida de ótima relação qualidade-preço 30 Vinho&Cia No. 71 31 Onde Beber 10 Favoritos da Maria Amélia Restaurante / Bar Local Atelier de Massas Centro, Porto Alegre, RS Vinum Enoteca Moinhos de Vento, Porto Alegre, RS Bah Cristal, Porto Alegre, RS Peppo Rio Branco, Porto Alegre, RS Pampulhinha São João, Porto Alegre, RS Vinho e Arte Casa Menino Deus, Porto Alegre, RS Casacurta Garibaldi, RS Trattoria Primo Camilo Garibaldi, RS Bardega Itaim Bibi, São Paulo, SP Paris 6 Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ 10 Favoritos do editor, Regis Gehlen Oliveira Restaurante / Bar Local Comentário Pizzaria Prestíssimo Jardins, São Paulo, SP Ô, loco! Wine Bar sede de degustações do Vinho&Cia Charpentier Hotel Frontenac Capivari, Campos do Jordão, SP Que charme! Carta bem feita, boa comida, bons preços Empório Santa Fé Flamengo, Rio de Janeiro, RJ Saliva o clima de bar com vinho para todo lado Taste-Vin Lourdes, Belo Horizonte, MG Uai! Francês com vinhos de quem tem importadora Atelier de Massas Centro, Porto Alegre, RS Bah, tchê! Cercado de garrafas, no clima do centrão Baco Vino y Bistro Providencia, Santiago, Chile Transado, despojado com carta e serviço espetaculares Bar do Hotel Alvear Recoleta, Buenos Aires, Argentina O mais classudo da cidade e preços bons de vinhos Panini’s Buceo, Montevidéu, Uruguai Verticais de uruguaios, mais de 300 rótulos, adega... Saint Tropez Hotel Conrad Playa Mansa, Punta del Este, Uruguai Sofisticação, boa comida, excelente carta MAP Café Centro, Cusco, Peru De tirar o fôlego! Cozinha 3 estrelas a 3400m de altitude 32 Vinho&Cia Onde Beber 10 Unik Está no topo do ranking entre os lugares onde beber vinho em Buenos Aires pelo seu conjunto. Começa pela sua ótima cozinha contemporânea, no nível de um duas estrelas Michelin. É muito boa em pescados, totalmente aberta. O salão guarda uma platinada adega climatizada em forma de balcão. Os cerca de 200 rótulos exclusivamente argentinos são organizados por estilo e por uva, separando os herbáceos, os tostados, os concentrados, os elegantes... Tem verticais de ícones. As taças são de cristal, e o ambiente é todo modernoso, com música alta. Soler, 5132 Palermo Soho, Buenos Aires Continua sendo o lugar mais classudo de Buenos Aires, com luxo e decoração similares aos do Ritz de Londres e de Madri. No hotel tem o bom e moderno restaurante La Borgogne, porém o gostoso mesmo é degustar o clima clássico do bar, com seus maravilhosos balcão de madeira de lei, máquina de café de latão e espelhos de cristal. Nos sofás e poltronas Belle Époque se pode petiscar, comer um prato mais descontraído e pedir a carta do restaurante, com 150 rótulos, sendo mais de 100 argentinos, a preços muito bons pelo luxo do lugar. Alvear, 1891 Recoleta, Buenos Aires Bar do Hotel Alvear Buenos Aires Lugares Onde Beber Para conferir bons lugares onde beber, Vinho&Cia foi à capital da Argentina atrás de restaurantes e bares falados, na moda, clássicos, despojados ou em destaque em algum guia. Analisamos 10 lugares sob o ponto de vista do vinho. Deixamos de lado três lugares óbvios (Cabaña Las Lilas, La Cabaña e Cafè Tortoni), bem turísticos, onde todo mundo vai, e nos concentramos em lugares diferenciados. Veja! (por Regis Gehlen Oliveira) 34 Legenda Classificação Onde Beber a a quantidade vinhos baratos vinhos ícones variedade taças de boa qualidade adega no salão com sommelier carta orientativa algo especial sobrepreço dos vinhos a a ambiente cozinha Vinho&Cia No. 71 35 Onde Beber Tomo I (Primero) Helena, Hotel Four Seasons 36 Um dos mais famosos restaurantes de Buenos Aires, no hotel Panamericano, tem carta com menos de 100 rótulos, só de argentinos. Tem verticais de Felipe Ruttini e de Catena Estiba Reservada, com várias safras. Na ponta de baixo, apesar de ser um restaurante luxuoso, dá várias opções de bons vinhos baratos na faixa de 15 dólares, algo que não se vê no Brasil. A boa cozinha é contemporânea, mas não inventiva, com certo acento italiano, como a maioria da capital argentina. O salão tem classe. Só as taças poderiam ser mais finas. Carlos Pelegrini, 521 Microcentro, Buenos Aires Um dos lugares mais agradáveis para beber na capital argentina, onde quase toda a decoração remete ao vinho, com toques rústicos e certa sofisticação, como as barricas de vinho de aparador, os discos de vinil na parede e os vitrais desenhados nas janelas. A carta é bem interessante, abrangendo cerca de 200 rótulos locais, que vão do barato a ícones, com verticais dos principais argentinos. As taças são boas, de cristal. Para comer, oferece desde entradas com caráter de petiscos, em receitas trabalhadas, até pratos bem elaborados da cozinha italiana. Jorge Luis Borges, 1757 Palermo Soho, Buenos Aires Cabernet Passando pela estravagante recepção do moderninho hotel Four Seasons de Buenos Aires, com ambientes que vão do pop ao brega, chega-se ao aconchegante e bonito salão do Helena, com luz natural durante o dia e meia luz à noite. A boa comida contemporânea, focada em grelhados e em pratos italianos, faz par adequado com a boa carta, composta por mais de 100 rótulos argentinos, organizada por uvas. O serviço tem boas taças e a atenção de sommelier. Este restaurante, sim, na lista dos top 50 da América Latina merece ser conhecido. Posadas, 1086 Recoleta, Buenos Aires Um dos locais mais clássicos e charmosos de Buenos Aires, no final da outrora chic Calle Florida. O bar é o espaço mais aconchegante do hotel, totalmente reformado e agora na rede Marriot. No ambiente no subsolo com lambris e teto de madeira de lei, além de cadeiras e poltronas confortáveis é possível apreciar a carta de aproximadamente 200 rótulos, sobretudo argentinos, com serviço da antiga e preços nada fora do normal. Os aromas do vinho podem ser sentidos enquanto se observa a belíssima pintura com motivo equestre ao fundo do salão. Florida, 1005 Retiro, Buenos Aires Bar do Hotel Plaza Vinho&Cia No. 71 37 Onde Beber Entre os diversos restaurantes em Puerto Madero ao longo do rio da Prata, seria uma opção de cozinha de pescados e italiana para quem quer dar uma escapadinha das carnes, porém é provável que chame mesmo a atenção pelas porções gigantescas de massas, peixes e frutos do mar. Bem melhor é a boa carta, com cerca de 100 rótulos argentinos, vários baratos. Tem uma pequena seleção de vinhos de safras antigas, boa para apreciar à meia luz na varanda em taças de vidro grosso, olhando a paisagem reurbanizada do rio, com a Puente de La Mujer visível ao fundo. Alicia Moreau de Justo, 410 Puerto Madero, Buenos Aires La Cabrera 38 Sorrento Está na lista dos 50 Best Restaurants da América Latina sabe-se lá por que, talvez por ser todo marketeiro. Na churrascaria com cara de "cantina paulistana em estilo portenho", pode-se apreciar a carta com menos de 100 rótulos, toda de argentinos, para acompanhar a cozinha de grelhados quase sem sal, que vêm junto com panelinhas de guarnições (o que fez a fama da casa), como o purê de batata com consistência de mingau. Tem várias opções de vinhos baratos e alguns mais tops. As taças são de vidro patrocinadas por vinícolas locais e as garrafas ficam em geladeira. José Antonio Cabrera, 5099 Palermo, Buenos Aires Vinho&Cia Sucre Entra na lista não propriamente pelo lugar, mas por se tratar de onde beber vinho acompanhado da especialidade típica argentina. Fica cheio, brasileiros e portenhos vão, muitos dizem que faz as melhores empanadas de Buenos Aires, mas gosto é gosto. A decoração é de boteco mesmo, bem rústica, com um certo ar de mofo de porão. O lugar e o atendimento são divertidos, para quem gosta de bastante barulho. A carta traz aproximadamente 50 rótulos argentinos, a maioria bem baratos, organizados por produtor e servidos em grossas taças de vidro ao calor do ambiente. Posadas, 1515 Recoleta, Buenos Aires No. 71 Está entre os restaurantes da moda em Buenos Aires e é mais um na lista dos top 50 da América Latina que não se sabe por qual motivo figura lá. O ambiente é todo moderno, à meia luz, com música lounge em som mais elevado e um enorme e belo bar na lateral, onde hoje se pode curtir uma carta muito enxuta para estar numa lista de bam-bam-bans, com cerca de 30 rótulos, só argentinos. Na mesa não vem toalha, nem jogo americano. Da cozinha contemporânea com acento italiano o bom é o cheesecake de queijo de cabra como sobremesa. Antonio José de Sucre, 676 Belgrano, Buenos Aires El Sanjuanino + 39 Novo e Velho Mundo As videiras e os vinhedos X Velho Mundo Novo Mundo A o colaborar com esta edição do Ano 10 do Vinho & Cia, completo 8 anos de presença no mesmo, com 60 artigos publicados contando com este. Ufa! Muitos deles, com adaptações, fazem parte de meu livro “O Fantástico Mundo dos Vinhos”. No início minhas contribuições diziam respeito à enologia em geral e ao Velho Mundo. No meio do caminho, com as adaptações editoriais, concentrei-me no título Conhecendo o Novo Mundo. Pareceu-me, portanto justificável a essa altura fazer uma comparação retrospectiva das diferenças da vinicultura entre o Novo (NM) e o Velho Mundo (VM). Estamos acostumados a verificar diferenças entre vinhos provenientes da Europa e os do Hemisfério Sul e dos EUA, por exemplo, entre um Syrah australiano e um Hermitage, entre um late harvest chileno e um passito italiano, entre um espumante da Serra Gaúcha e um Prosecco italiano ou um Cava espanhol... 40 Por isso mesmo, nos meus cursos e degustações de vinhos do NM costumo começar com um quadro comparativo entre as condições da vitivinicultura da região em pauta e a europeia, que considero útil para facilitar o entendimento do estilo diferenciado entre essas duas origens. Brindando a equipe editorial e os leitores deste Guia no seu primeiro decênio, separei os comentários a seguir, constantes desse quadro, esperando que lhes sejam úteis também. Saúde! Euclides Penedo Borges Diretor da ABS-Rio [email protected] Rio de Janeiro Vinho&Cia Do ponta de vista do vinhedo uma nítida diferença entre NM e VM se verifica na área plantada. As pequenas áreas das vinícolas européias (Romanée Conti não passa de 1,2 hectares, Clos de Vougeot tem 50 ha) contrastam com vinhedos no NM em geral muito extensos, sendo comum encontrar em Mendoza, South Austrália e África do Sul vinhas com 500 a 1500 ha, ou mais. Vinhedos em uma área pequena têm uvas mais homogêneas, com cada videira refletindo aproximada mente todas as videiras do conjunto. Isso faz a grandeza bourguignon e médocain. Quando o vinhedo é excessivamente extenso, com distâncias de mais de um quilômetro entre fileiras, o resultado é médio, pois as uvas da videira de um vértice podem ser significativamente diferentes daquelas da videira do vértice oposto. Uma possível conseqüência é a procura de sutileza em vinhos do VM e a robustez do NM. A expressão Particularmente importante em várias regiões do VM é a perseguição pela “expressão do terroir”, juntando nisso as condições de solo, tamanho e inclinação do terreno, do micro clima e da exposição solar. A conquista da expressão do terroir leva a sutilezas que contrastam com o aroma e sabor pronunciados de vinhos ao estilo NM, resultantes da procura pela “expressão da fruta”, preferidos por muitos em todo o mundo. A elaboração A tendência no VM é para os métodos tradicionais, passados de geração a geração, em que a elaboração é tratada quase que como arte, ainda que com algo de ciência. Com um mínimo de intervenções, se o vinho sai superlativo e longevo, o mérito é do terroir. Isso se contrapõe à inclinação do NM para a tecnologia e para as intervenções no processo de acordo com o produto que se deseja obter, com a vinificação tratada como ciência, ainda que com alguma arte. Se o vinho sai superlativo e longevo, o mérito é do enólogo. No. 71 O uso inicialmente de chips e agora de aduelas para dar ao vinho certa nuance amadeirada, iniciado na Austrália, é hoje universal, inclusive porque é utilizado agora no mosto e não mais com o vinho pronto. A longevidade Os VM tendem a ser melhores quando maduros ou envelhecidos, enquanto que os demais se mostram jovens em condições sensoriais favoráveis. Um grande Bordeaux é jovem aos 10 ou 12 anos, e Barolos e Brunellos tradicionais necessitam de pelo menos uns 8 anos para se expressar plenamente. Já os australianos e sul-americanos estão prontos com 3 a 4 anos, e no auge com 6 a 8 anos após a safra. Os malbecs argentinos, de taninos suaves e sedosos, não precisam mais do que 2 ou 3 anos após a safra, ainda que melhorem por igual tempo depois. As safras O mérito dos melhores vinhos europeus tende a ser do vinhedo, com pouca intervenção durante a elaboração, o que justifica a sensível diferença entre as safras e, em conseqüência, entre os preços de um ano para o outro. No NM, além das condições naturais favoráveis, boa parte do mérito é atribuída ao trabalho do enólogo, que procura exercer tanto controle no processo quanto seja permissível, colocando seus conhecimentos e talento para obtenção de um produto final impecável. As diferentes safras, ainda que influenciem, é claro, não têm o mesmo grau de importância que se verifica no VM. A homogeneização Da troca de informações entre produtores, do trabalho dos “flying winemakers” e com o trabalho de avaliadores renomados, como Parker e Jancis Robinson, além de revistas como a americana Wine Spectator e a inglesa Decanter, acentuou-se certa tendência à homogeneização, reduzindo diferenças entre VM e NM. Isso está bem longe, porém, de desmantelar as características diferenciadas de cada região, para gáudio de nós, consumidores. 41 Velho Mundo Walter Tommasi Consultor e Palestrante [email protected] São Paulo 12 Tops de Sangiovese Provados D Tops de Sangiovese entro da programação dos “Anteprimas Toscanos 2014”, que será o tema de minha próxima matéria, tive a oportunidade de participar de algumas degustações paralelas. Entre elas a que mais me agradou foi a organizada pela Azienda Logonovo, de propriedade de Carlo Keller, um apaixonado por vinhos que decidiu tornar um hobby mais um de seus negócios. Carlo adquiriu 200 hectares. Por ser área nova e fora da região demarcada, não lhe foi permitido produzir Brunellos, e, assim, decidiu elaborar seus vinhos fora das denominações DOC e DOCG. Selecionou as variedade que em estudo da região se deram melhor e partiu para o plantio dos parreirais e a construção de sua vinícola. A Logonovo concentrou seus esforços na produção de vinhos com as seguintes varietais: Sangiovese, Merlot, Sagrantino, Syrah, Malbec e Petit Verdot. Hoje a sua linha de vinhos é composta por Logonovo Annata, um corte de Sangiovese, 42 Merlot , Petit Verdot , Syrah e Sagrantino; e pelos monovarietais Merlot da safra 2008, Sangiovese 2010, e Syrah 2011. Carlo é definitivamente uma pessoa muito tranquila e que humildemente busca oferecer vinhos top que possam ser comparados aos melhores exemplares de cada varietal ou corte que decide elaborar. Ele não tem medo de colocar seus vinhos frente a frente com as badaladas marcas do mercado em degustações feitas com os rótulos expostos. Ele explica que estes eventos não têm como objetivo fazer uma competição entre os rótulos, mas apenas mostrar que seus vinhos são equivalentes em termos de qualidade aos grandes ícones. Foi em uma destas degustações que tive o prazer de participar, onde 12 exemplares, todos da mesma safra, foram comparados por um importante grupo de jornalistas do mundo inteiro. No quadro estão os vinhos provados, com comentários para os acima de 90 pontos. Vinho&Cia Fontodi Flacianello della Pieve IGT - 15% de álcool, 18 meses em barricas francesas - Rubi, intenso, brilhante, sem halo. Olfativamente limpo, austero, mineral, floral e violetas. Na boca acidez cortante, taninos muito finos, bom corpo, álcool ok, retrogosto frutado, com toque ligeiramente mentolado. Incrível a qualidade deste vinho, mesmo jovem já tem um balanço de boca sensacional, e tudo para envelhecer muito bem. Eu tomaria este vinho daqui a 10 anos. Nota 93 Montevertine Pergole Torte IGT - 13,5% de álcool, 18 meses em bottes da Eslavônia, 6 meses de barricas francesas, e 6 meses de garrafa. Violáceo ralo, sem halo. Austero, frutas negras frescas, floral intenso, flores murchas, feno e sottobosco. Na boca acidez marcada, taninos muito finos, corpo médio, retrogosto frutado com toque de feno. Este vinho nunca decepciona, sempre elegante, e muito gastronômico. Nota 93 Bibi Graetz Testamatta IGT - 14% de álcool, 18 meses de barrica francesa e 6 de garrafa. Violáceo, média concentração, sem halo. Frutas negras frescas, pimenta, borracha, ervas escuras, terroso, e ligeiro tostado. Na boca, ótima acidez, taninos finos já resolvidos, corpo médio, leve ponta de álcool por conta de sua juventude, retrogosto trazendo cereja no licor e ligeira baunilha. Um vinho sensacional. Nota 92 No. 71 Isole Olena Ceparello IGT - 14,5% Rubi, violáceo, média concentração, sem halo. Frutas vermelhas maduras, couro, terroso, sottobosco e madeira. Na boca, ótima acidez, taninos finos ainda não prontos, corpo delicado, elegante retrogosto frutado com framboesa. Precisa de mais descanso em garrafa. Nota 91/2 Felsina Fontalloro IGT - 14% de álcool, 20 meses em barricas e 10 meses de garrafa. Rubi indo para granada. Olfativamente, floral, violetas, terroso, mineral. Na boca ótima acidez, taninos presentes, corpo médio, retrogosto ligeiramente herbáceo. Grande vinho, mas já tomei safras mais interessantes. Nota 91 Logonovo Centopercento IGT - 15%, violáceo, alta concentração, sem halo. Frutas vermelhas maduras e frescas, violetas, leve toque de feno, limpo. Na boca, ótima acidez, taninos finos ainda verdes, corpo médio, sedoso, elegante, retrogosto frutado. Um vinho com conceito mais moderno, mas muito agradável e quase pronto para o consumo. Nota 91 La Fiorita Brunello di Montalcino - Nota 89 Podere Forte Petrucci Orcia - Nota 89 San Giusto Rentenanno Percarlo IGT - Nota 89 Le Casalte Quercetonda Nobile di Montepulciano - Nota 88 Poggio Scalette Il Carbonaione IGT - Nota 88 Seghesio Venom Sonoma - Nota 87 43 Velho Mundo O Piemonte é uma grande referência de qualidade, quando o assunto é vitivinicultura. A região produz o Barolo, tinto de grande fama e longevidade. Um vinho cuja estrutura combina perfeitamente com preparos da culinária regional piemontesa, ricos em calorias, aromaticidade e sabor. Pratos que sustentam uma enogastronomia marcante, exercida e multiplicada mundo afora. A palavra diversidade é, seguramente, a que melhor sintetiza o perfil da vitivinicultura italiana. Num território com superfície de 301.263 km2, área ligeiramente maior que a do estado do Rio Grande do Sul, em 2012 o país cultivou 769 mil hectares de videiras, segundo números ainda provisórios, consultados em março deste ano, da Organização Internacional da Uva e do Vinho – OIV. Nessa superfície estavam plantadas, também no ano retrasado, 472 diferentes variedades de uvas, entre autóctones e internacionais, segundo dados do Registro Nazionale delle Varietà di Vite, elaborado pelo Ministerio delle Politiche Agricole Alimentari e Forestali italiano. No Piemonte estão 16, das 73, Denominazione di Origine Controllate e Garantite - DOCG da Itália. E 42, das 330, Denominazione di Origine Controllate - DOC. As informações são do site quattrocalici. Barolo é uma DOCG. Assim como Barbaresco e Asti, esta última, onde se produz o famoso espumante doce elaborado com uva Moscatel. Tintos de Barbera, o vinho cotidiano dos piemonteses, também figuram nas DOCGs e DOCs locais. Assim como de Dolcetto, outra uva típica local. No departamento dos vinhos brancos, Gavi ou Cortese di Gavi é uma importante DOCG. Localizado no noroeste italiano, o Piemonte muitas vezes é comparado à Borgonha. Os vinhos são basicamente monovarietais, a exemplo da região francesa. E há vinhedos de qualidade comprovada nos séculos, como Cannubi, Sarmassa e Brunate, para citar alguns. São verdadeiros crus. As 44 Barolo Por essas características, o Barolo é chamado de vinho de meditação. É inadmissível bebê-lo em goles grandes e contínuos. Um Barolo se bebe aos poucos, tirando o máximo que ele pode oferecer. É como fumar um grande charuto. O tempo de consumo de um Barolo é dividido com o pensamento, um exercício de relaxamento e prazer. João Lombardo Jornalista e sommelier [email protected] Florianópolis O Barolo à mesa castas, claro, são diferentes. A Nebbiolo é a rainha do Piemonte, uva tinta que gera o chamado “Rei dos Vinhos e Vinho dos Reis”, o grande Barolo. O Barolo não é um vinho fácil. Seu estilo tradicional é austero, com acidez e taninos marcantes. Um Barolo tradicional precisa dos anos para aparar suas arestas. Deve-se esperar pelo menos de oito a dez anos de envelhecimento a partir do ano da colheita para abri-lo. A partir daí, o que se encontra é um vinho intenso, marcante, um ícone italiano. Ao nariz, os grandes Barolos, maduros, apresentam aromas de frutas negras e especiarias, que remetem muitas vezes à noz moscada, pimenta e à canela. Notas terrosas, de cogumelos, e florais de violetas secas também se apresentam ao olfato. Toques balsâmicos e de alcaçuz são outros descritores encontrados nas camadas aromáticas do vinho. Além de couro, tabaco, cacau. Em boca, o Barolo mostra porque é longevo. A acidez é plena, os taninos, ainda que macios, estão sempre presentes. O volume de boca é amplo, o final, longo. Um vinho que fica pedindo outro gole. Vinho&Cia O Barolo é um vinho também para a mesa. Ele é perfeito na companhia dos grandes pratos piemonteses. A culinária local é consideravelmente diferente da culinária de outras regiões italianas. Nela há entradas como Vitello Tonnato (rosbife coberto com uma maionese à base de atum), Batuta di Vitello al Coltello (carne de bovino jovem picada à faca, servida crua) e Bagna Cauda, uma espécie de fondue local feito com azeite, manteiga, alho e anchovas. Os tartufi Bianchi ou trufas brancas são a grande iguaria piemontesa. Elas enriquecem pratos à base ovos, arroz, carne e o delicioso tajarin. As carnes cozidas longamente em vinho e os miúdos fazem parte dos pratos de resistência. Entre as sobremesas se destaca a cremosa panna cotta, um doce feito à base de creme de leite fresco cozido. O Brasato al Barolo é um prato preparado com o vinho que lhe empresta o nome. Um corte de carne é marinado em Barolo, com cebola, cenoura, salsão, ervas aromáticas e especiarias, como o cravo, a canela e a pimenta negra. Esse corte é cozido por horas, na marinada. Depois a carne é fatiada e regada com o molho resultante do cozimento. Um par perfeito com o rei dos vinhos. O risoto de queijo Fontina com trufas brancas também encontra parceria com o vinho dos No. 71 reis. Os piemonteses comem muito arroz e pouco massa. Nesse risoto, as trufas brancas de Alba acrescentam seu sabor mineral ao Fontina (utilizado para fazer a fonduta, outra espécie de fondue do norte da Itália) e ao cremoso arroz. O resultado é outro prato de personalidade, que pede um vinho com igual perfil. La Finanziera, um prato exótico e muito diferente, pode ser acompanhada pelo Barolo. Ela é preparada com miúdos bovinos, como fígado, rins e timo. Leva também crista de galo, cogumelos frescos e vinho. Um preparo encorpado, de sabor intenso, criado na Idade Média e que se encontra apenas nos restaurantes tradicionais piemonteses. 45 Novo Mundo O terroir da Virginia Denise Cavalcante Jornalista [email protected] São Paulo A região vinícola da Virginia Q uem vai visitar os Estados Unidos pode incluir uma linda região vinícola em seu roteiro, há duas horas de distância de carro de Washington, ou há sete de Nova York. O estado da Virginia tem mais de 250 vinícolas, em uma área geográfica muito bonita, algumas produzindo vinhos interessantes, embora a maioria seja muito simples. A maior parte da sua produção é consumida no próprio estado, mas é considerada uma região em ascensão neste país. A produção vinícola na Virginia começou há 400 anos na região chamada Jamestown, quando imaginavam que os Estados Unidos poderiam ser um bom fornecedor de vinhos para o império britânico. Na época da colonização, em 1619, uma lei determinava que cada homem que se estabelecesse no local deveria plantar e cuidar de ao menos 10 vinhas. Apesar de ser um plano interessante, não foi muito longe. Dois séculos mais tarde, na esperança de realizar a promessa dos vinhos da Virginia, o ex-presidente norte-americano Thomas Jefferson, grande apreciador de vinhos europeus, se esmerou no cultivo de uvas viníferas europeias nos vinhedos de Monticello, sem no entanto conseguir produzir nenhuma garrafa. Todos os esforços de plantar vinífereas europeias em terras norte-americanas foram em vão ao se depararem com a Phylloxera e outras doenças no novo meio ambiente. Os norte-americanos então 46 perderam o interesse neste cultivo e se concentraram na produção de cerveja e whisky. No final do século 19, rótulos produzidos com algumas de suas uvas nativas se destacaram em feiras de vinho na Europa. Um exemplar feito com uma uva nativa da Virginia, a Norton, foi nomeado “o melhor vinho tinto de todas as nações” na feira internacional de Viena, em 1873. Foi dada também uma medalha de ouro para outro vinho feito com a Norton na feira internacional de Paris em 1889. A constatação de que viníferas estavam se revelando produtivas na região deu impulso à indústria vinícola, logo destruída pela Lei Seca nos anos 20. Hoje essa indústria está voltando. Nos últimos 40 anos o número de vinícolas no estado aumentou de 5 para 275. Nos anos 70, seis importantes novas vinícolas se estabeleceram na região, e a indústria recomeçou a florescer. Em 1976, o viticultor pioneiro Gianni Zonin começou a produzir na região de Charlottsville e ajudou vários outros nesta atividade. Em 1995 o estado já tinha 46 vinícolas. Atualmente a Virginia Viognier já se tornou um termo aceito entre especialistas, devido à sua qualidade, sendo considerada a uva ícone da região, assim como a Cabernet Franc e a Norton. “Não podemos ser como a Califórnia, mas podemos ser a capital na Costa Leste dos Estados Unidos para vinho e turismo vinícola”, comentou um secretário da agricultura do Estado. Vinho&Cia O clima e paisagem da Virginia criaram cinco regiões vinícolas principais: Appalachian Plateu; Appalachian Ridge; Valley Region; Blue Ridge; Piedmont and Atlantic Costal Plains. O clima não é nem muito frio nem muito quente, mas o problema na região são as ventanias e tempestades, que em geral começam em agosto, época de início da colheita, obrigando alguns viticultores a colher suas uvas antes do tempo. A Virginia permite, por isso, a chaptalização dos vinhos para alcançarem a graduação alcoólica desejada. Os verões quentes ajudam a amadurecer variedades tardias como Petit Verdot e Norton, na maioria das safras. Nas safras quentes, os vinhos podem ser ricos e amadurecidos, mas lhes falta acidez, estrutura e personalidade. Recentemente o crítico Steven Spurrier afirmou que “a Virginia é uma região vinícola emergente e está melhorando com o tempo”. O solo da Costa Leste parece que é mais apropriado para a produção de vinhos frescos, leves e bem frutados: Chardonnay, Pinot Grigio e Merlot obtêm bons resultados por lá, apesar de algumas vinícolas estarem se surpreendendo com a Petit Verdot. A oeste do estado, a cadeia de montanhas Blue Ridge ajuda a bloquear a alta umidade, resultando em um clima mais frio e mais seco, adequado ao cultivo de uvas. As brancas desta área têm mais acidez e frescor em comparação com as de outras regiões. As uvas clássicas de clima frio, como Riesling, Chardonnay, Cabernet Franc e mesmo Pinot Noir, mostram um bom equilíbrio entre fruta fresca e acidez. Amostra de 5 vinhos White Hall Reserve Chardonnay 2008 Monticello – vinho leve, com a untuosidade de Chardonnay mas com algo que lembra Riesling. Delicado, pouca estrutura, mas redondo. White Hall Cuvée de Champs 2009 Monticello – Petit Verdot, Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Malbec – interessante corte, produziu um vinho estruturado Malbec Horton Orange County 2011 – fraquíssimo. Ninguém pode imaginar Malbec tão sem conteúdo, parecendo Gamay! Rockbridge Meritage 2008 Dechiel Reserve – Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Petit Verdot e Malbec. Um tanto desequilibrado. Jefferson Vineyards Cabernet Franc Monticello – Ótimo vinho, mostrando que o potencial de tintos da região está no uso da Franc. No. 71 47 Novo Mundo Vinhos da Terranoble Vinhos pensados para o consumidor, do vinhedo à taça A moderna vitivinicultura chilena a cada dia se aprimora, versátil e exploradora de novos terroirs. O Chile vem se projetando como um país que prima pela qualidade de seus vinhos. Agora está mais segmentado e didático, depois que foram criadas as três D.O.s para expressar as características marcantes de terroirs dentro de uma mesmo vale: Costa, Andes e Entre Cordilheiras. O título deste texto é o lema da Terranoble, vinícola que tem se expandido fortemente no Chile. Teve no ano de 1993, no Maule, seu nascedouro, e hoje com cerca de 360 ha têm vinhas também em Casablanca e Colchagua. Ela mesma já caracterizava seus vinhos provindos destes vales, como os ótimos Carmenères CA1 e CA2, em que nos próprios rótulos havia desenhos específicos, com o primeiro Andes e o segundo Costa. Estive em vista a seus vinhedos de Casablanca, em Algarrobo, a convite da Brandabout, da qual já 48 falei em outros textos, e que tem feito excelente trabalho, mostrando todo o potencial do agronegócio aos jornalistas da área. Com 70ha, a Terranoble planta Pinot Noir em solos vermelhos antigos, um verdadeiro desafio, além de Sauvignon Blanc, Chardonay e Riesling. Estes solos existem em todos os vales, mas em Casablanca expressam muito bem o terroir. Algarrobo é uma das zonas mais frias de Casablanca, onde o terroir aparece firme, com frutados e frescor. Pude ver também o cuidado com a preservação e sustentabilidade que norteia a vinícola em seus procedimentos, não apenas neste vale, mas em todos. Disseram-me Ignácio Conca, seu enólogo chefe, e Gonzalo Badilla, export manager, que estão se preparando para em breve terem o melhor Carmenère do Chile, este proveniente do Maule. Com relação à sustentabilidade e ao respeito ao meio ambiente, a Terranoble em parceria com o Vinho&Cia Degustei toda a linha de produtos, desde os de entrada, os Terranoble Classic, passando pelos Terranoble Reserva, Reserva Terroir e os Gran Reserva, estes bastante conhecidos aqui no Brasil. Foi uma jornada longa, creiam-me. Os Carmenères típicos de cada terroir, os CA1 e CA2, ambos do Colchagua, passam por barricas francesas por 12 meses e neles nota-se nitidamente a diferença entre os mais próximos da montanha e do mar. Sua linha designada Ultra Premium, aliás fantástica, é um projeto somente para anos com safras especiais: são os Lahuen Red e Blue Label, além do Kaikun. Lahuen é o nome de uma árvore milenar e autóctone do sul do Chile; o Red, corte de Carmenère, Syrah, Cabernet Sauvignon e Malbec, com uvas do Maule, com uma maciez e equilíbrio únicos, que passam por barricas por 12 meses; o Blue Label, é corte de Cabernet Sauvignon em sua maioria e Syrah, forte e expressivo, com uvas de Colchagua, e também passa por barricas novas francesas por 12 meses.Também nesta linha Ultra Premium degustei o Pinot Noir de Casablanca Kaykun, com toda a delicadeza que o terroir frio transmite para esta casta. Os meus preferidos foram os CA1; CA2 e Lahuen Red. governo regional do Maule, a universidade do Chile em Talca e um criatório, o Chicureo, protege e ajuda a reproduzir a espécie de papagaio Loro Tricaue (Cyanoliseus patagonus), em risco de extinção. Belo trabalho este. A Terranoble exporta para o Brasil, inclusive um Late Harvest, que não cheguei a degustar quando da visita. É aqui representada e distribuída pela Decanter. Vale a pena conferir sua linha. Até o próximo brinde! Álvaro Cézar Galvão Colunista [email protected] São Paulo No. 71 49 O Que Harmoniza Todo o Vinho Sérgio Inglez de Souza Gilvan Passos Escritor e consultor Consultor e colunista [email protected] Natal [email protected] São Paulo E ram tempos imemoriais. As videiras cresciam livres na natureza e trepavam nas árvores das florestas primevas em busca de mais sol e, na época da produção, frutificavam em muitos cachos ao longo das suas ramagens. O calor do verão havia trabalhado na maturação das uvas, que agora estavam exuberantes e chamativas. Dos aldeamentos, os homens primitivos penetravam nas florestas para encontrar as videiras, e dela faziam a coleta de frutos trazendo cestos repletos de cachos de uva madura, que eram armazenados em ânforas cerâmicas. Para consumir, com a peculiar rudeza da época, as pessoas apanhavam bruscamente os cachos de cima da pilha dentro da ânfora, sempre amassando bagas dos cachos inferiores, cujo suco escorria para o fundo, formando um mosto primitivo de caldo e restos de uvas. Terminados os cachos de uva de uma ânfora, uma mulher despejava fora o suco e os detritos restantes e, depois de lavá-la, deixava-a preparada para receber nova coleta de uvas. Certa vez, não mais que certa vez, estando a tal mulher menos ágil ou mais contemplativa, antes de derramar aquele restolho acumulado no 50 A raiz histórica do vinho fundo, chegou seu rosto à boca da ânfora para verificar o volume, quando – qual não foi a sua surpresa – subiram aromas muito atraentes que marcaram decididamente a sua cacidade olfativa. Ocorre que o caldo de uva esmagada na presença de cascas, onde estavam alojados os fermentos naturais, com a ajuda da temperatura, sofreu processo de fermentação de seus açúcares e se tornou vinho. O líquido do fundo da ânfora exalava buquê muito perfumado, ora lembrando flores, ora frutos... Enfim, um conjunto de aromas complexo e extremamente agradável. Olhou para um lado, olhou para o outro e, como não tinha ninguém espionando, deitou a ânfora e sorveu um pequeno gole do líquido. Deliciada e animada, sorveu mais, e mais. As demais pessoas foram chamadas e, também, sorveram seus goles. Todo aldeamento bebeu do líquido da ânfora, experimentando uma sensação nova de alegria, uma euforia muito diferente. Uma nova bebida estava descoberta – o vinho – que seria o grande companheiro da alegria da humanidade para o resto dos tempos! Vinho&Cia N essa imensa vitrine de rótulos que é o gigantesco mercado global de vinhos, existem apenas dois fins para esta tão diversificada bebida. Há vinhos para impressionar e vinhos para harmonizar, sendo a segunda, a razão maior de existência do fermentado de Baco. Se o mesmo vinho cumpre essas duas funções, tanto melhor, porque, seja apreciado solo, ou com seu prato cara-metade, resultará grandioso para o nosso bel prazer. Mas, se sua força demasiado alcoólica, taninos doces (sobre-maduros) e baixo frescor tornam-no um vinho anabolizado, inadequado à mesa, é uma lástima. Não por acaso, os vinhos surgiram originalmente em locais muito particulares da Europa, para sintetizar e atender uma demanda cultural local, com especial ênfase para a gastronomia. É exatamente com base nessa verdade inconteste que se dão por certas e seguras as harmonizações regionais, nas quais pratos e vinhos de uma determinada região combinam-se como feitos um para o outro. Os vinhos mais notáveis do Novo Mundo surgiram no encalço dos grandes vinhos europeus, trazendo, em alguns casos, excentricidades No. 71 Para que servem os vinhos organolépticas para os tornarem perceptíveis num universo de iguais, notabilizando-se pela força, que, desmedida, gera falta de elegância. Vinho que se preze, faz bonito aos sentidos, quer esteja só, quer esteja acompanhado de um prato, porque, como dizia o genial professor Émile Peynaud (19122004), um dos mestres da vitivinicultura moderna, “se existem vinhos ruins, é porque existem maus bebedores”. Tão indissociáveis são os alimentos e os vinhos que quando adequadamente harmonizados fundem-se com tal grandeza de sabor, de modo que não mais os concebemos separadamente, mas como unidade. É exatamente essa combinação que transforma, muitas vezes, vinhos simples em vinhos especiais e pratos comuns em pratos únicos. Mas o contrário também é verdade. Achar que só porque é especial o vinho beneficiará qualquer prato é um dos erros mais comuns, porque não é o vinho nem o prato que engrandece o conjunto da obra, mas a sinergia entre ambos, a combinação de suas características, que quando juntas equilibram distorções e fortalecem valores. Eis porque é tão difícil chegar à harmonização perfeita. 51 Vinho na Academia Carlos Arruda Academia do Vinho [email protected] Belo Horizonte São Pedro e os preço$ N as últimas safras, os vinicultores franceses vêm sofrendo com os caprichos do clima. Em 2012 e 2013 São Pedro castigou os vinhedos com geada e granizo na fase de brotação, depois com seca e calor na maturação das uvas. Inesperadas tempestades de frio e gelo atingiram as plantas recém brotadas, dizimando os futuros cachos de uvas. As perdas em Chablis foram de 50% a 100%, bolas de gelo do tamanho de limões despencaram 52 como em um bombardeio. Há quem diga 150%, porque uma parte das plantas foi tão agredida que se torna impossível sua recuperação completa para a próxima safra. Somente em 2015 a produção voltará ao normal. Os preços dos vinhos da Borgonha subiram entre 25% e 40% por motivos similares. Na garrafa, os Chablis 2012 não têm a qualidade das safras anteriores, e a produção foi bem menor. Resultado: Preços altos e poucas garrafas no mercado. Um dos maiores produtores de Petit Chablis me disse estar com estoque zero, não houve safra 2013. Para os pequenos produtores, os artistas, é uma situação muito difícil, pois não têm faturamento suficiente para financiar a próxima safra. Com a palavra os bancos... O ano de 2013 foi particularmente terrível. Em Bordeaux, as chuvas do inverno se prolongaram por 30 dias além do normal, atrasando a brotação. Seguiram-se calor e seca, o volume de produção foi menor e a qualidade despencou. Vinho&Cia Muito bem, e o que nós consumidores podemos esperar de tudo isso? Vejamos o que ocorre por trás dos bastidores. Do nosso lado, os importadores brasileiros, já acostumados com a pesada carga tributária brasileira, estão digerindo o aumento do câmbio ocorrido entre agosto e setembro de 2013, da ordem de 20 a 22%, resultado tardio de queda em nossa economia. Esse momento coincidiu com um grande volume de importações: tradicionalmente os pedidos para as vendas de fim de ano acontecem após as férias de julho na Europa. As importações já chegaram com um aumento que inevitavelmente teve de ser repassado para as garrafas à venda no segundo semestre em nosso mercado. Ok, absorvemos isso, tivemos nosso Natal enológico e seguimos em frente, certo? E será que... As coisas vão piorar? Sim, e explico exatamente por quê. Com o volume reduzido de produção entre 2012 e 2013, os negociantes e atacadistas franceses já subiram os preços dos vinhos em estoque, das safras 2010 e 2011, para compensar a perda futura de faturamento pelas vendas menores das safras 2012 e 2013. Os importadores então têm de comprar os mesmos vinhos mais caros, para não ficar sem estoques para venda em 2014. No. 71 Deu para entender? O Euro subiu, agora o vinho subiu, então os preços em Reais dos vinhos franceses, particularmente da Borgonha e Bordeaux, ficarão por volta de 50% acima dos de junho de 2013. A situação é irreversível, e em 2014 temos de comprar vinhos um pouco mais simples para pagar os preços a que estamos acostumados. Além disso, ainda pairam duas nuvens negras: 1- Dedos cruzados para as condições e o resultado da safra 2014. Em Bordeaux, após as ótimas safras de 2009 e 2010, a de 2011 já não foi tão boa, seguida por 2012 fraca e 2013 ruim. Fala-se em um “triênio terrível”, comparado aos anos 91, 92 e 93 de péssimas safras na França.Com todas as alterações climáticas dos últimos tempos, mesmo a estatística não pode garantir boa safra em 2014. Rezemos. 2- Do nosso lado, os fatos e boatos sobre corrupção e maquiagem de números na economia brasileira apontam para um aumento inevitável na inflação, que afetará o câmbio, que incidirá mais ainda nos preços de importação. A conclusão é temerosa e a prece, quase desesperada: São Pedro, dai-nos boas safras, Santa Urna, dai-nos melhores administradores! 53 Viajando com Vinho O Borgo San Felice na região de Chianti Clássico, na Itália, é digno de lembrança. O local parece uma aldeia medieval, mas com o glamour da atualidade: vinhas, adega e restaurante de culinária mediterrânea. Viagem de Rainha (ou de Rei) O s amantes da uma bela viagem podem escolher seus destinos e roteiros pelas paisagens, pelos museus, pelos vinhos, pelos restaurantes, pelos hotéis... e Hotéis! Isto mesmo, hotéis com H maiúsculo! Nessa linha, há 60 anos um grupo formalizou um “conceito” de hospedagem ao redor do mundo e criou uma grife de hotéis e restaurantes de charme: Relais & Châteaux. Hoje são 560 unidades em 60 países, desde os tradicionais na Europa até os exóticos na Ásia e Índia. Todos os hotéis mantêm seu estilo, seu charme, cada um com sua característica, seu apelo, sua graça... e administração própria. No Velho Mundo, a França conta com o maior número de associados. Alguns são literalmente castelos. O Château de Curzay, em Curzay-surVonne, e o Château de Locguénolé, em Kervignac, nos remetem diretamente aos contos de fadas com Rainhas e Reis. Alguns dão especial tratamento ao vinho, ou têm vinícolas agregadas ao empreendimento, ou são belos apêndices dos vinhedos, ou ainda têm restaurantes de alta cozinha, como podemos ver na página ao lado. 54 O Brasil conta com quatro hotéis associados à marca: o Santa Tereza, no Rio de Janeiro, o Ponta dos Ganchos Resort, em Governador Celso Ramos (SC), o Saint Andrews, em Gramado (RS) e o Txai Resort, em Itacaré (BA). Para ajudar na sua escolha, consulte o Guia da Edição 2014 “Relais & Châteaux – All around de world, unique in the world – 60 years of history”, ou, se for internauta, navegue pelo site: http://www.relaischateaux.com/pt Boa estadia! Nos Estados Unidos, o Auberge du Soleil, no Napa Valley, está encravado num bosque de oliveiras e parreiras. Para relaxar, conta com um spa, onde o enfoque é tratamentos com produtos da própria terra, como uva, azeitonas, ervas, flores, lama e minerais. Depois... nada melhor do que um jantar mediterrêneo com vinhos da sua adega, que conta com 15 mil garrafas. Já no Cone Sul, o Chile tem três associados. Ao sul de Santiago, no Vale do Colchagua, em Santa Cruz, encontramos o Lapostolle Residence, que propõe uma imersão na natureza com passeios por trilhas entre as vinhas, e, para nos conquistar, degustação na adega privada. Na Argentina, em Mendoza, ao pé da inesquecível Cordilheira dos Andes, está o Cavas Wine Lodge. Como o próprio nome diz, busca agradar os mais exigentes amantes de nosso bebida de Baco, tanto pelos passeios na região como pela bela paisagem local. Adriana Bonilha Colunista [email protected] São Paulo Vinho&Cia No. 71 55 Vinho é Arte Rumo à África do Sul S ão dez anos de Vinho & Cia e Vinho & Arte, e vinte anos de Porto Brasil Viagens. Como um presente (cheio de trabalho), escolhemos um destino para celebrar as conquistas com nossos clientes, que representa bem os nossos conceitos, de descobertas, de wine experience, natureza, surpresa, sonho... Então: África do Sul! E assim começamos o projeto do Tour Premium, cuja viagem acontecerá de 15 a 27 de agosto. Com a tarefa de escolher hotéis, vinícolas, restaurantes, e preparar muitas das surpresas que Paarl Maria Amélia Flores Enóloga [email protected] Porto Alegre acontecerão na viagem, embarquei há pouco para um “bate-volta” a essa bela terra! E o magnífico é se surpreender não só com as paisagens, mas com a gastronomia e a extrema cordialidade de um povo que já sofreu tanto e hoje o que quer é viver, trabalhar e ser muito feliz! Com base nessa viagem, apresento aqui na sequência algumas regiões de vinho sul-africano que vale a pena conhecer. Escreva para mais informações: [email protected] Histórica e famosa pelos vinhos de colheita tardia (como da pioneira Nederburg), assim como pelos míticos Syrah e pela prática biodinâmica (como a Avondale), a pacata Paarl é visita obrigatória para os apaixonados por vinhos. As paisagens são lindíssimas, e as vinícolas marcam pela arquitetura de influência alemã e holandesa. Lá o turismo é bastante enogastronômico. Prepare-se para beber e comer bastante, apreciando a natureza: você prova muitos queijos na Fairview e depois se delicia na Spice Route. Nesta, um complexo com chocolateria, cervejaria, pizzaria e até degustação de vinho com chocolate esperam por você. Stellenbosch Sem dúvida, talvez uma das mais belas paisagens do mundo do vinho. São montanhas, vales, um festival de cores, jardins perfeitamente organizados e um atendimento impecável: assim é o enoturismo em Stellenbosch. Com marcas clássicas, como Delaire Graff, Rust en Vrede (talvez um dos melhores vinhos que degustei no país) e Neil Ellis, é um vale para visitar com bastante tempo. Mesmo considerando a Pinotage, a mítica e mais conhecida uva nacional, o destaque fica com vinhos elaborados com as uvas Cabernet Sauvignon, Syrah e Sauvignon Blanc. Regiões da África do Sul Constantia Localizada próxima ao centro da Cidade do Cabo, é uma das mais importantes regiões vitivinícolas da África do Sul. É a terra do mítico "Vin de Constance" (bebido até por Napoleão Bonaparte) e também dos modernos Sauvignon Blanc (com destaque para a fabulosa vinícola Steenberg). Muito arborizada, tranquila, Constantia reúne bons hotéis e muitas opções de atividades – inclusive o tradicional jogo de cricket. Fiquei hospedada no Hotel Le Vineyard, cuja vista para a Table Mountain, a decoração e o conforto das acomodações, além da alta gastronomia, o tornam um ponto de partida perfeito para desfrutar a região. 56 Franschhoek Este vilarejo charmoso e romântico assim tornou-se por ter sido colonizado por franceses. "Le Quartier Français" e "Le Grand Provence" são alguns exemplos dos nomes de hotéis e vinícolas. Suas ruas lembram o centrinho de Campos do Jordão e Gramado, com suas lojas cheias de charme e presentinhos. Os vinhos têm a mesma influência francesa, principalmente Rhône. Franschhoek é ótimo ponto de hospedagem para visitar Paarls e Stellenbosch, mas também não deixe de ir a Boekenhoutskloof, que elabora os clássicos Porcupine, The Chocolate Bloch e The Wolftrad. Vinho&Cia No. 71 57 Vinho sem Fronteiras No centro do Piemonte Aguinaldo Záckia Albert Degustadores sem Fronteiras [email protected] São Paulo Para uma refeição leve acompanhada de um bom Barbera, num ambiente jovial e com mesinhas na calçada, o Vincafé (www.vincafe.com) é uma boa pedida. A posição geográfica de Alba facilita a visita aos melhores produtores piemonteses. Algumas sugestões: Ceretto, Marchesi di Barolo, Batasiolo, Pio Cesare e Montezemolo. G randes vinhos e ótima comida andam de mãos dadas pela Itália, cuja única rival nesse aspecto é a França. A região do Piemonte foi abençoada com alguns dos melhores vinhos da “bota” além de uma gastronomia invejável. Um tour por essa bela região montanhosa, que abrange Barolo e Barbaresco, situada na porção mais ocidental do país, que faz fronteira com a França e a Suíça, é uma verdadeira festa para os amantes da boa mesa, e é o que nosso grupo “Degustadores sem Fronteiras” tem realizado regularmente. A capital da região é Torino, mas quando o assunto é vinho e gastronomia, a cidade chave é Alba. É uma pequena cidade na qual se pode caminhar calmamente por suas ruas de pedestres desfrutando de um comércio sofisticado, pleno de lojas de alimentos finos, vinhos, restaurantes, praças agradáveis e monumentos históricos. Os meses de outubro e novembro – época da “caça” ao tartufo – são os ideais para visitá-la. 58 Nesse período acontece a Fiera Internazionale del Tartufo Bianco D’Alba, que atrai gourmets de todo o mundo. A feira é sensacional e os restaurantes oferecem pratos deliciosos feitos com essa rara (e cara) iguaria. Come-se muito bem em Alba e arredores, e há restaurantes para todos os bolsos. O Ristorante Trifula Bianca fica em Vezza D´Alba, a uns 10 km de Alba. É um restaurante grande e simples, mas com comida e atendimento formidáveis. Nosso jantar lá foi memorável: Carpaccio com Tartufo Bianco, de entrada, e uma deliciosa Tagliatelli com Formaggio Fonduta e Tartufo Bianco. Acompanhados, respectivamente, de um Arneis Langhe DOC e de um Barbaresco Asij 2005, ambos do produtor Ceretto. De lamber os beiços. Já no centro histórico de Alba, indo e voltando a pé do hotel sem nenhum “grilo” de ser multado, há vários outros. O Enoclub Ristorante (www. caffeumberto.it) fica na Piazza Savona, a mais Vinho&Cia central e importante da zona turística, escondido num porão amplo e muito bem decorado. Ótima comida, atendimento de primeira e excelente carta de vinhos. No andar térreo se situa o Caffè Umberto, do mesmo dono, um simpático bar a vin que serve refeições muito boas, mas sem a pompa do ristorante do porão. Vinhos em taça ou em garrafa. Muito bons também, com ótimos “piatti del territorio”, são os restaurantes La Libera (www. lalibera.com) e o simpático Osteria dell’Arco (www.osteriadellarco.it). Se você for um amante do vinho, certamente irá visitar produtores em Barolo e Barbaresco. Nesse caso, em Barbaresco, terra do grande Angelo Gaja, entre uma e outra visita, encare uma refeição farta e saborosa na Trattoria Antica Torre. Mas se estiver em Alba, ande alguns quilômetros e vá ao espetacular La Ciau del Tornavento (www. laciaudeltornavento.it/ita), em Treiso. Muitos preferem ir à hora do almoço, para melhor apreciar a deslumbrante paisagem, mas é também uma boa pedida jantar lá. No. 71 59 O Que Há de Novo Kiwi por excelência T udo começou com um container. No interior daquele box, mil caixas de vinhos sortidos (12 garrafas em cada): 1/3 de Pinot Noir e 2/3 de Sauvignon Blanc, que acabavam de chegar vindos do outro lado do mundo, da longínqua Nova Zelândia (NZ). Eram meados de 1999, nascia a Premium Importadora de Vinhos, dos sócios Orlando Pinto Rodrigues e Rodrigo Assunção Fonseca. Foi um Deus nos acuda para acomodar as 12 mil garrafas que se juntavam às outras tantas preciosidades naquele modesto espaço, frio, mas deliciosamente encantador, do bairro Anchieta e que todo mundo queria conhecer. 60 A Premium surgiu como muitas outras: união de dois amantes do vinho que resolveram transformar a paixão pela bebida em profissão. Tirante os predicados de cada sócio, até aí nada de novo. Um, administrador que militou no setor de construção até 1999, Orlando; o outro, engenheiro eletricista até 1996, chef-sommelier-proprietário do TasteVin, cuja carta ostenta o “Best of Award of Excellence” pela revista Wine Spectator há vários anos e aspirante ao Masters of Wine, Rodrigo. Nem bem havia chegado, o container já causava um reboliço. Quais outros trunfos teria a Nova Zelândia, além do pássaro Kiwi, o cordeiro e sua lã, a vitela, o bungee jumpe, os lagos multicoloridos, a exuberante voz da soprano Kiri Te Kanawa entoando ‘O Mio Bambino Caro’ (Ó meu querido papai), uma das mais belas obras de Giacomo Puccini? Ah, os extraordinários Sauvignon Blanc, claro! São vinhos cheios de bossa, plenos de tipicidade: citrinos vibrantes, frutados e persistentes. Eis a razão de ter se tornado um Cult entre os apreciadores, sobretudo para os que estão acima da linha do equador. Aqueles que estão abaixo dela, sedentos por vinhos frescos, frutados e com boa acidez, encontram nos brancos neozelandeses uma inesgotável fonte de prazeres. Eles suprem a lacuna dos escassos ou proibitivos brancos do Loire em terras tupiniquins. “Não quer dizer que o Sauvignon Blanc da Nova Zelândia é melhor que o de Sancerre; é diferente!”, ressalta Rodrigo. Mas nem só as obras-primas feitas com Sauvignon Blanc fazem a fama da NZ. Riesling, Gewürztraminer e Chardonnay são extremamente elegantes, e junto com os espumantes, complementam o padrão de excelência. Os tintos como os Syrah e Pinot Noir (reconhecidos como os melhores fora da Borgonha), pode-se dizer que são igualmente surpreendentes. Além de boas apostas no Merlot e Cabernet Sauvignon. O que será que esses dois visionários, aparentemente ‘malucos’ viram de tão valioso na terra do maori (o primitivo habitante), formada por duas ilhas Vinho&Cia (ao norte e ao sul), para apostar suas fichas naquela isola região produtora de vinhos e ainda tão recente que teve sua rápida ascensão, diga-se, a partir de 1970? Nada que fosse mega: descobrir opções menos convencionais e trazer exemplares de pequenas vinícolas e familiares, os “lifestyle winery”, aliás, onde são produzidos os grandes vinhos. Simples assim. Hoje, Premium Wines; e para brindar seu debut, uma nova sede no Bairro Serra, em casa tombada pelo Patrimônio Histórico, com tudo que tem direito, e um depósito climatizado para acomodar as milhares de garrafas dos 600 rótulos de vinhos provenientes do Chile, França, Argentina, Uruguai, Itália, Portugal e Espanha que se juntaram aos da NZ. Andréa Pio Jornalista [email protected] Belo Horizonte A Premium foi a pioneira ao trazer vinhos neozelandeses de alta qualidade e em volumes significativos e por dar uma devida importância ao realizar um trabalho criterioso há 15 anos: escolher vinhos com caráter de origem a preços competitivos. É tudo que o brasileiro sempre desejou. Orlando Pinto Rodrigues e Rodrigo Assunção Fonseca da Premium, fazem moldura para Nick Mills, enólogo e proprietário da Rippon Vineyards, vinícola que está há 15 anos com a Premium. No. 71 61 Vinho é Saúde É verdade que... James Bond é alcoólatra S im. Esta foi a intrigante conclusão a que chegaram o Dr. Graham Johnson, Dr. Indra Neil Guha e Dr. Patrick Davies da Universidade de Nottingham, no Reino Unido. Eles estudaram os 14 livros do Mr. Ian Lancaster Fleming que tratam das aventuras do famoso agente da rainha e publicaram o seu estudo em final de 2013 na conceituada revista médica British Medical Journal. Mr. Ian Lancaster Fleming nasceu em Londres em 28 de maio de 1908 e faleceu precocemente de ataque cardíaco em 12 de agosto de 1964 em Caterbury. Ele foi oficial da inteligência naval do Reino Unido e jornalista, o que favoreceu muito a criação do personagem que obteve tanto sucesso. Fleming 62 ? teve uma vida que se notabilizou pelos excessos de cigarros e bebidas alcoólicas. Exatamente como o seu personagem mais famoso. James Bond foi criado na década de 50, aparece em 14 livros que venderam mais de 100 milhões de exemplares e gerou 23 filmes oficiais que arrecadaram U$ 5.089.726.104 em bilheterias. Isso o torna a segunda franquia mais lucrativa de todos os tempos do cinema. Perde apenas para a série de Harry Potter. Por tudo isso é que os pesquisadores da Universidade de Nottingham acharam interessante empreender e publicar este estudo, para chamar a atenção sobre os perigos do consumo abusivo do álcool. Vinho&Cia Cada um dos 14 livros de Ian Fleming sobre o Agente 007 foi lido por dois dos pesquisadores com o objetivo específico de avaliar a quantidade de álcool consumida. Depois disso eles realisaram uma análise sobre este consumo e suas prováveis consequências. Chegaram a conclusões muito interessantes. As estórias de James Bond ocorrem em 100 dias. Em 87,5 dias ele consumiu bebidas alcoólicas. Nos 12,5 dias que ele não bebeu foi porque estava encarcerado, hospitalizado ou em recuperação. Ao todo consumiu 9.200 g de álcool, o que dá uma média de 736 g de álcool por semana e mais de 100 g de álcool por dia (o equivalente a mais de 1 L de vinho a 12,5 ºGL diários). Chegou a consumir 400 g de álcool em um só dia. Isso equivaleria a 4 litros de um vinho a 12,5 ºGL de álcool. A UKNHS (United Kingdom National Health Service) classifica as pessoas que consomem mais do que 60 g de álcool por dia como “bebedores de categoria 3”, que são aqueles que têm um risco elevado para cânceres, depressão, hipertensão arterial, cirrose hepática e impotência sexual. A UKNHS recomenda que homens bebam menos que 170 g de álcool por semana; consumam no máximo 32 g de álcool em um único dia e que fiquem pelo menos dois dias na semana sem beber. James Bond excede todas as três recomendações. Os autores constataram que o consumo alcoólico do agente secreto do Reino Unido diminuiu no No. 71 Jairo Monson Médico e Escritor [email protected] Garibaldi, RS meio de sua carreira. Esse padrão é típico de quem tem doença hepática pelo álcool. Eles observaram também que o pico de consumo se deu em 1964 e que a esposa de James Bond faleceu em 1963, conforme o livro “A serviço de sua majestade”. A morte do cônjuge é um forte estímulo para o consumo abusivo de álcool. Os autores concluíram que com tão alto consumo de bebidas alcoólicas o Agente 007 teria um risco relativo 1,74 de ter uma morte precoce por qualquer causa; 2,33 de ter um AVC; 3,72 de ter doenças pelo álcool e quatro vezes a chance de ter tremor essencial. Considere que o risco de um abstêmio para cada uma dessas situações é 1,0. Como se pode depreender o consumo tão elevado de bebidas alcoólicas pelo agente secreto do Reino Unido é inconsistente com o seu comportamento físico, mental e sexual. O fascinante desempenho físico, mental e sexual do James Bond nos livros e filmes é pura obra de ficção do Mr. Ian Lancaster Fleming. Perdoem-me se desfiz o encanto pelo sedutor personagem. 63 Nos Velhos Tempos As velhas madrugadas A minha cidade de São Paulo, que guardo na memória em bom lugar, tinha uma madrugada mais segura, relativamente mais limpa e certamente mais elegante. Havia uma série de roteiros da madrugada na década de 70, uma delas para mim – aliás programa ideal – era jantar no La Casserole, sair de lá bem tarde, entrar no Stardust, que ficava ao lado, e curtir a noite com jazz e shows de primeira qualidade embalada pelos copos long drink com gelo e whisky. Quando saíamos de lá passávamos, a pé mesmo, no La Gratinée, na rua Bento Freitas, para tomar uma bem feita sopa de cebolas. O La Gratinée era 64 pequeníssimo, ocupava um imóvel que deveria ser uma garagem, mas tinha charme, um tecido na parede, como no Silvio’s da av. Angélica. Era bem frequentado. Dormir antes de começar a clarear o dia era um desaforo. Outro caminho era o do café horroroso que serviam no aeroporto de Congonhas, o único que existia em São Paulo, e onde se encontrava toda a sociedade paulistana. Nessa época, quando bebia um pouquinho a mais, costumava escrever recados para a gerente do banco onde tinha conta, Dona Dirza. Eu não tinha dúvidas, preenchia o cheque com uma letra que nem imagino, assinava e no Vinho&Cia verso escrevia: “Dona Dirza, saúde. Sou eu mesmo que fiz e assinei o cheque. Mas como me excedi um pouco hoje, talvez minha letra não esteja boa. Mas sou eu mesmo. Tenha certeza. Um bacio…”. Até que num belo dia entro no banco e sou chamado pela dona Dirza. Era uma gordota baixinha, e tinha postura autoritária. Naquela época gerente de banco era um cargo de bom nível cultural. Ele me disse apenas: “Sr. Eduardo, peço que não me escreva mais bilhetes nos versos de seus cheques. Não fica bem, e eu já estou ficando falada aqui nesta agência…”. Outra incrível de cheques foi quando tinha uns dezesseis anos, por aí, e meu pai me abriu uma conta no Banco Noroeste. Era uma conta como cartão de dependente. Você recebia um talão, tinha uma conta, mas ela era vinculada à do seu pai, porque eu era menor de idade. Acho que não existe isso mais hoje. Bem, o fato é que eu estudava no Rio Branco e meus amigos eram todos filhos de fazendeiros, industriais, banqueiros. Mas papai me levava em rédea curta e minha mesada dava apenas para a primeira noite que saía com meus amigos. Então, quando ganhei o talão de cheques, achei o máximo, pois o papai depositava minha mesada na conta para me incentivar a me organizar e para que eu começasse a sentir a responsabilidade… No. 71 Então, para não passar vergonha na frente de meus amigos, eu escrevia um valor maior no saldo do canhoto do talão. Por exemplo, eu ganhava 70 cruzeiros, mas escrevia 2.070,00. Assim quem visse meu saldo enquanto preenchia o cheque achava que eu tinha um bom saldo… Um perfeito “Salame”… Num belo dia bebi demais e veio a conta. Disse logo: quanto deu aí? Alguém falou: 350,00! E eu não tive dúvidas: olhei o saldo do talão e paguei a conta pra todos… Já podem imaginar como foi para explicar isso para meu pai, não? Didú Russo Confraria dos Sommeliers [email protected] São Paulo 65 Vinho Tinta Clube... Custódio Rosa Cartunista [email protected] São Paulo 66 Vinho&Cia Sua taça está meio cheia, meio vazia ou meio chata? Receba em casa sem custos de frete, com desconto médio de 20% os melhores vinhos do mundo acompanhados de material completo sobre as uvas,produtores e chário exclusivo. Decanter Wine Club. Escolha uma das três aventuras e prepare-se: as descobertas estão só começando. Aventura de 2 Dois rótulos + cha e pasta arquivo. Cultura do Vinho Três rótulos "Premiun" + cha e pasta arquivo. 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