1. Introduo - Escola Superior de Educação

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1. Introduo - Escola Superior de Educação
LUIS PAULO RODRIGUES
ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS SÓCIO-FAMILIARES, SOMÁTICAS E
DE APTIDÃO FÍSICA DE CRIANÇAS COM DIFERENTES NÍVEIS DE
PRESTAÇÃO MOTORA.
Dissertação elaborada sob a orientação do Professor
Doutor Carlos Neto e apresentada à Faculdade de
Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa,
com vista à obtenção do grau de Mestre em
Desenvolvimento da Criança (Desenvolvimento Motor)
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA
1995
i
ÍNDICE
INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………1
REVISÃO DA LITERATURA…………………………………………………………5
1.
DESENVOLVIMENTO E PERFORMANCE MOTORA................................................5
2.
FACTORES ASSOCIADOS À PERFORMANCE MOTORA NO PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ........................................................................................ 11
2.1.
HEREDITARIEDADE ................................................................................................... 11
2.2.
MATURAÇÃO ............................................................................................................ 12
2.3.
CONDIÇÕES SÓCIO-FAMILIARES ................................................................................ 15
2.4.
ENCORAJAMENTO PARA A PRÁTICA DA ACTIVIDADE FÍSICA .......................................... 19
2.5.
EXPERIÊNCIAS OU PRÁTICAS MOTORAS PASSADAS E PRESENTES................................ 21
2.6.
MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA .................................................................................... 23
2.7.
DIMENSÕES CORPORAIS ........................................................................................... 26
2.8.
MORFOLOGIA CORPORAL.......................................................................................... 30
2.9.
COMPOSIÇÃO CORPORAL ......................................................................................... 38
2.10.
APTIDÃO FÍSICA ................................................................................................... 45
2.11.
CONCLUSÕES ...................................................................................................... 50
3.
O PAPEL DA ESCOLA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO
DA PERFORMANCE.................................................................................................................. 55
MÉTODOS E PROCEDIMENTOS……………………..………………………….68
4.
OBJECTIVO .............................................................................................................. 61
5.
ENUNCIADO DO PROBLEMA ................................................................................. 61
6.
DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS DE ESTUDO............................................................ 64
i
7.
PROCESSO DE SELECÇÃO DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA ..... 65
8.
PROCESSO DE SELECÇÃO DA AMOSTRA DE ALUNOS ................................... 66
8.1.
CRITÉRIOS DE ESCOLHA DA AMOSTRA TOTAL DE ALUNOS............................................ 66
8.2.
CRITÉRIO DE DIFERENCIAÇÃO DO NÍVEL DE DESEMPENHO MOTOR DOS ALUNOS ........... 67
8.3.
CONSTITUIÇÃO FINAL DA AMOSTRA DE ALUNOS .......................................................... 71
9.
VARIÁVEIS EM ESTUDO ......................................................................................... 73
9.1.
VARIÁVEIS SOMÁTICAS ............................................................................................. 73
9.1.1.
Medidas antropométricas ............................................................................. 73
9.1.2.
Composição corporal.................................................................................... 77
9.1.3.
Somatótipo.................................................................................................... 77
9.2.
VARIÁVEIS DE APTIDÃO FÍSICA................................................................................... 78
9.2.1.
9.3.
Descrição dos testes .................................................................................... 80
VARIÁVEIS SÓCIO-FAMILIARES .................................................................................. 85
9.3.1.
Descrição das variáveis................................................................................ 87
10.
PROCESSO DE RECOLHA DE DADOS ............................................................. 89
11.
PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS DE ANÁLISE DOS DADOS ..................... 90
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS………...……………102
12.
ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS VARIÁVEIS SÓCIO-FAMILIARES......... 102
12.1.
ESTATUTO SÓCIO-ECONÓMICO ........................................................................... 102
12.1.1.
Nível sócio-profissional............................................................................... 103
12.1.2.
Nível de escolaridade ................................................................................. 105
12.1.3.
Tipo de residência familiar.......................................................................... 106
12.1.4.
Nº de indivíduos por assoalhada ................................................................ 108
12.2.
12.2.2.
ENCORAJAMENTO PARA A PRÁTICA DE ACTIVIDADES FÍSICAS ................................ 109
Número de irmãos ...................................................................................... 110
ii
12.2.3.
Espaço envolvente à habitação familiar ..................................................... 111
12.2.4.
Passado desportivo dos pais...................................................................... 113
12.3.
13.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ENCONTRADOS NAS VARIÁVEIS SÓCIO-FAMILIARES . 114
ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS VARIÁVEIS SOMÁTICAS ...................... 117
13.1.
MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS ............................................................................. 117
13.1.1.
Altura........................................................................................................... 118
13.1.2.
Peso............................................................................................................ 120
13.2.
COMPOSIÇÃO CORPORAL ................................................................................... 121
13.2.1.
Percentagem de massa gorda ................................................................... 121
13.2.2.
Massa magra .............................................................................................. 123
13.3.
SOMATÓTIPO ..................................................................................................... 123
13.4.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ENCONTRADOS NAS VARIÁVEIS SOMÁTICAS ........... 127
13.4.1.
Comparação entre os dois grupos ............................................................. 127
13.4.2.
Comparação com os valores de referência................................................ 129
14.
ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS VARIÁVEIS DE APTIDÃO FÍSICA ........ 132
14.1.
SALTO EM COMPRIMENTO SEM CORRIDA PREPARATÓRIA ...................................... 133
14.2.
ABDOMINAIS EM 60 SEGUNDOS .......................................................................... 135
14.3.
PULL-UPS (FLEXÕES DE BRAÇOS NA BARRA)........................................................ 136
14.4.
SIT AND REACH (FLEXÃO DO TRONCO À FRENTE, SENTADO).................................. 138
14.5.
SHUTTLE RUN (CORRIDA DE VAIVÉM)................................................................... 139
14.6.
CORRIDA DE 50 JARDAS ..................................................................................... 140
14.7.
CORRIDA DE 9 MINUTOS ..................................................................................... 142
14.8.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DAS PROVAS DE APTIDÃO FÍSICA ........................... 143
14.8.1.
Comparação entre os dois grupos ............................................................. 143
14.8.2.
Comparação com os valores de referência................................................ 146
15.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS QUANTO À TOTALIDADE DAS
VARIÁVEIS 149
iii
CONCLUSÕES…………………………………………………………………….153
16.
CONCLUSÕES PARCIAIS RELATIVAS AOS FACTORES SÓCIO-FAMILIARES153
17.
CONCLUSÕES PARCIAIS RELATIVAS AOS FACTORES DE APTIDÃO FÍSICA154
18.
CONCLUSÕES PARCIAIS RELATIVAS AOS FACTORES MORFOLÓGICOS155
19.
CONCLUSÃO FINAL DO ESTUDO ................................................................... 157
20.
LIMITAÇÕES ...................................................................................................... 159
21.
RECOMENDAÇÕES........................................................................................... 162
iv
Introdução
É relativamente pacífica, entre os diversos autores, a ideia ou noção de
que a formação motora se deverá estruturar desde as idades mais baixas,
inicialmente através do desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais
e depois através da exploração de variações e combinações dessas
habilidades, permitindo a construção de um vocabulário motor generalizado
sobre o qual assentarão as bases das aprendizagens das habilidades desportivas.
Define-se, então, como uma importante necessidade para a
aprendizagem de qualquer habilidade desportiva, que as crianças possuam os
pré-requisitos necessários para a sua participação com sucesso nessa
actividade (Maggil, 1988).
Neste processo de desenvolvimento das habilidades motoras é usualmente reconhecido um estádio ou fase denominado geral ou de transição
(Clenaghan & Gallahue, 1985), ou ainda de treino de base (Hahn, 1989;
Knappe & Hummel, 1991; Sobral, 1994; Marques, 1993) - segundo os
estudiosos
do
processo
de
formação
desportiva
-
correspondendo
aproximadamente às idades dos últimos anos escolares do 1º Ciclo do Ensino
Básico (CEB) e da entrada no 2º CEB (8-11 anos).
Segundo Sobral (1994) esta fase de treino básico deverá cumprir-se na
escola ocupando-se essencialmente da promoção do desenvolvimento geral
das qualidades motoras através de uma oferta de experiências muito
diversificadas, consolidando os complexos gestuais que servirão de base à
1
generalidade das aquisições motoras específicas.
Infelizmente, no nosso país, esta fase fundamental de preparação desportivo-motora é normalmente negligenciada. Passe embora o actual esforço
de organização e implementação da Educação Física no 1º CEB, a verdade é
que a participação das crianças em actividades sistemáticas e organizadas,
que possam prover as necessidades fundamentais desta fase de formação, é
irrelevante; sendo apenas estas actividades realizadas habitualmente em
clubes desportivos e em alguns desportos que iniciam a sua formação
específica em idades muito baixas, porventura enfermando dos pressupostos
duma formação desportivo-corporal especializada ou pelo menos orientada
para uma especialização desportiva precoce.
Tal realidade tem como consequência o facto de ser no ingresso no 2º
CEB que a criança tem pela primeira vez um contacto com a participação em
actividades organizadas, sistemáticas e orientadas para a melhoria dos factores de rendimento corporal.
A escola, nesta fase etária, deve cumprir uma função de desenvolvimento
da competência desportiva fundamental (Knappe e Hummel, 1991), procurando
elevar os níveis de proficiência motora generalizada de todos os alunos. Por
outro lado, pela sua situação estratégica no processo de ensino obrigatório,
pela presença de profissionais habilitados pela sua formação e sensibilidade
(Marques, 1991) e pela inerência dos seus objectivos de formação motora,
constitui local privilegiado para a identificação de níveis diferenciados de
aptidão e/ou performance motora expressos durante a participação das
2
crianças nas aulas de Educação Física.
Curiosamente associam-se então num mesmo momento várias características da realidade educativa e da formação desportiva:
1- O primeiro contacto da criança com actividades motoras organizadas,
sistemáticas e orientadas para a melhoria dos factores de rendimento
corporal;
2- O primeiro contacto formal e completo (abrangendo toda a população)
dos elementos especializados na condução da preparação motora e
desportiva da criança - os professores de Educação Física;
3- A primeira possibilidade de avaliação dos níveis de performance motora
demonstrados pelos alunos durante a prática das aulas de Educação
Física curricular.
Esta noção de performance ou rendimento motor, tal como é muitas
vezes entendida no processo de orientação desportiva - porque redutiva ou
especificamente direccionada - pode, principalmente durante uma fase crucial
do desenvolvimento humano que é a infância, acarretar juízos errados quanto
ao trajecto de desenvolvimento e da expressão do valor e aptidão futura da
criança, com todos os inconveniente que daí poderão advir em desinvestimento pessoal e social no amplo espectro da actividade física e
desportiva.
3
A questão, do nosso ponto de vista, estará então em saber se o professor
de Educação Física, quando solicitado a avaliar ou diferenciar níveis de
rendimento motor nos seus alunos, fazendo apelo a uma observação pedagógica extensiva ao longo do ano, o faz de acordo com os conhecimentos
próprios que lhe advém do conhecimento do desenvolvimento motor da
criança. Se assim for de facto, este especialista deverá ser de inestimável
ajuda em todo o processo de detecção e orientação desportivas.
Nesta conformidade, o tema do nosso trabalho, desenrolando-se no
âmbito da avaliação do desenvolvimento motor da criança, centrar-se-á especificamente na relação entre as percepções e escolhas do professor de
Educação Física e as características determinantes da performance ou
rendimento motor das crianças.
O seu objectivo principal será o de verificar se a diferenciação realizada
pelos professores de Educação Física em ambiente escolar, relativamente ao
desempenho motor evidenciado pelos alunos, é adequada à comparação das
características de índole sócio-familiar, somática e de aptidão física, usualmente associadas à diferenciação presente e futura da performance motora.
4
Revisão da Literatura
1. Desenvolvimento e Performance Motora
Relembramos a ideia inicial deste trabalho de que a formação motora se
deverá estruturar desde muito cedo, quer através do desenvolvimento inicial
das habilidades motoras fundamentais, quer posteriormente através da
exploração de variações e combinações dessas habilidades, permitindo a
construção de um vocabulário motor generalizado sobre o qual assentarão as
bases das aprendizagens das habilidades desportivas.
À semelhança de muitos outros colegas, Maggil (1988) define mesmo,
como uma importante necessidade para a aprendizagem de qualquer habilidade desportiva, que as crianças possuam os pré-requisitos necessários à sua
participação com sucesso nessa actividade, e Sobral (1994) sustenta que ao
iniciar a sua preparação especializada (aos 10-12 anos na maioria das
modalidades) a criança deveria ter já adquirido um variado reportório lúdico e
motor. Por sua vez, Neto (1985) afirma que muitas das habilidades motoras
específicas são variações, adaptações ou combinações de diferentes
habilidades motoras fundamentais, sugerindo uma sequência evolutiva cujos
rendimentos podem ser constatados no decorrer das 1ª, 2ª e 3ª infâncias.
De facto, as características do desenvolvimento da criança apontam para
que, até por volta do início da puberdade, se promova a construção e
consolidação da globalidade gestual, a estabilidade emocional em situações
5
agonísticas e uma atitude positiva para aprender habilidades motoras de
complexidade progressiva, base sobre as quais assentará a subsequente
proficiência motora. Sobral (1994) chama-nos a atenção de que, no entanto, o
significado preditivo da avaliação motora em idade precoce para a proficiência
futura não é claro e normalmente não é considerado.
A performance motora, na sua generalidade, deverá então ser sempre
entendida como resultado de um conjunto de elementos interactuantes
sistemicamente e sujeita a associações diversas de factores de ordem motora,
orgânica e cultural (Malina, 1988a).
Muito mais acutilante se torna esta
necessidade de entendimento quando, como no presente caso, pretendemos
tratar a performance motora em períodos etários de importância crítica no
desenvolvimento da criança.
Analisada na perspectiva do desenvolvimento da criança, a performance
ou o rendimento motor, devem ser entendidos à luz da percepção das
realidades biológicas individuais, expressas nas variações, configurações e
ritmos de crescimento e maturação, das características genotípicas determinadas pelo potencial herdado, das condições sócio-culturais e familiares
proporcionadas, bem como das condições de prática individualizada da criança
em questão.
Procurando a estrutura do sucesso do jovem atleta em termos de
rendimento desportivo-motor, Maia e Vicente (1988) exprimem a necessidade
do entendimento complexo da interacção entre as exigências físicas, motoras,
6
perceptivas, sociais, emocionais e intelectuais que constituem uma estrutura
multifactorial da performance.
Malina (1988b) defende que o desenvolvimento motor e o desempenho
devem ser analisados bioculturalmente, sendo a separação destes factores
extremamente difícil. Bem sintomático desta preocupação é a existência desde
há longo tempo, da noção de período sensível, bem como as mais recentes de
prontidão e de treinabilidade, que possuem de comum a perspectivação das
condições para o desenvolvimento conducentes a características típicas de
receptividade e reactividade da criança aos estímulos de desenvolvimento.
Vista como processo e produto do desenvolvimento, a noção de performance, rendimento , proficiência ou mestria motora, deverá obrigatoriamente
abranger um vasto conjunto de competências motoras, que em cada idade
possam constituir base segura e eficaz de futuras aprendizagens. Assim, em
qualquer momento do processo de desenvolvimento, mas particularmente até à
idade adulta, a avaliação da performance motora cumpre um papel de
diagnóstico do estado actual, de valoração do percurso anterior e de tentativa
de prescrição do processo futuro.
Relativamente a este processo, Nadori (1987) chama a atenção para o
conceito equívoco de identificação precoce de talentos motores ou desportivos,
bastante em voga entre alguns autores quando procuram descobrir quais são
as características comuns (indicadores) da maior parte das crianças que
parecem prenunciar um nível superior de performance desportiva.
Se na
primeira infância poderão ser detectados dotes gerais de inteligência, os dotes
7
motores apenas se revelarão depois do décimo ano de vida, sendo que esta
noção de dotes motores se refere às características de crianças polivalentes,
apresentando um domínio ou proficiência motora generalizada, capacidades de
âmbito geral associadas ao que normalmente é designado de plasticidade
adaptativa (Neto, 1982) ou disponibilidade motora e capazes, portanto, de se
dedicarem com êxito no futuro em diversos campos desportivos (Nadori, 1987;
Sobral, 1994; Hahn, 1982; Tschienne, 1986 e Marques, 1993).
Maia (1994) estabelecendo a ponte entre o processo de selecção natural
e o de selecção desportiva, esclarece mesmo que a variabilidade deve ser
assumida, nomeadamente quanto à estrutura morfofuncional do rendimento
desportivo, o que numa primeira etapa de prospecção ou detecção de jovens e
crianças pressupõe o entendimento das vantagens da adaptação generalizada,
englobando um conjunto maior de possibilidades de adaptações futuras.
Um bom nível inicial de habilidade (aptidão motora), bem como das
características físicas, oferecem à criança uma vantagem inicial para a entrada
na actividade desportiva; mas mais importante do que isto é que normalmente
asseguram que a sua participação poderá contar com o interesse do professor
ou treinador para poder refinar estas particularidades iniciais (Malina, &
Bouchard, 1991).
Por tudo o que acabámos de dizer, entende-se que a avaliação da performance motora na idade pré-pubertária, pela sua complexidade, não é
obviamente exequível duma forma simplista através da execução de testes ou
medidas. De facto, torna-se imprescindível o acompanhamento da criança ao
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longo da actividade por indivíduos que possuam um vasto grau de
conhecimentos acerca do processo de desenvolvimento da criança, especificamente no âmbito motor, para que as características relevantes da proficiência motora possam ser identificadas, quer no momento presente quer com
a possibilidade do prognóstico.
De entre os comportamentos ou características apontadas pelos autores
como ressaltando do envolvimento de crianças que evidenciam um nível mais
avançado de performance, na prática de actividades físicas, encontram-se: (a)
a capacidade de aprender rapidamente e com sucesso novas técnicas e
comportamentos motores (Sobral, 1994; Nadori, 1983 e Tschienne, 1986); (b)
a existência de uma habilidade motora generalizada (normalmente designada
de disponibilidade motora) para realizar tarefas de natureza físico-motora
(Sobral, 1994, Malina, 1988b); (c) um reportório motor alargado, traduzido pelo
domínio de grande número de movimentos de forma fluída e segura (Sobral,
1994, Marques, 1993); (d) a interpretação das habilidades ou técnicas com
sucesso (Tschienne, 1986); (e) a grande velocidade de assimilação de novas
informações e estímulos, permitindo um ritmo rápido de aprendizagem das
estruturas gestuais e motoras (Nadori, 1987, Marques, 1993) e uma aplicação
mais correcta e criativa das habilidades e técnicas (Nadori, 1983); (f) a
criatividade na solução individualizada dos problemas (Nadori, 1983) e (g) a
aptidão para as actividades desportivas em geral (Tschienne, 1986).
Deste conjunto de características podemos salientar cinco grandes
factores ou categorias que, pelo grau da sua expressão particular na criança,
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nos poderão permitir distinguir diferentes níveis de aptidão motora, adequados
à avaliação da performance neste período etário :
1. A capacidade de aprendizagem motora;
2. A amplitude do reportório motor;
3. A capacidade de adaptação a novas e variadas situações de solicitação
motora;
4. O grau de correcção na execução de técnicas e habilidades motoras decorrentes das aprendizagens desportivas;
5. A criatividade demonstrada na superação das dificuldades das tarefas
propostas.
10
2. Factores associados à performance motora no processo de
desenvolvimento da criança
2.1.
Hereditariedade
As estruturas do substracto material, a que a vida está intimamente
ligada, desenvolvem-se e são controladas por um sistema informativo genético,
cujas estruturas representam claramente o componente conservador e muitas
vezes o componente limitante da interacção entre factores exógenos e
endógenos (Bach, 1984).
É comummente aceite que o crescimento, a maturação e a performance
física e motora são afectadas pela hereditariedade biológica que representa a
influência dos pais na geração dos descendentes e é mediada por causas
biológicas ou genéticas (Malina & Bouchard, 1991). Segundo Volkov (1981, cit.
por Harsany, 1987) a informação genética determina os níveis superior e
inferior, bem como o ritmo de desenvolvimento das funções orgânicas do
indivíduo.
Esta realidade limita o resultado final conseguido através da
educação, aprendizagem e treino .
As características hereditárias são inatas (presentes no genótipo) mas a
sua concretização (fenótipo) depende das possibilidades reais de prática
vivenciada pelas crianças ao longo do seu desenvolvimento, de acordo com
períodos de latência apropriados a cada uma delas (Harsany, 1987). Segundo
Maia (1994) o universo dos fenótipos, sujeito ao conjunto diversificado de
11
pressões selectivas protagonizadas pelo envolvimento, resulta num processo
de diferenciação adaptativa, com todas as consequências que daí advêm nos
ritmos e expressões do próprio desenvolvimento motor.
No processo de avaliação da performance com perspectivas de predição
e selecção, a qualidade hereditária por si só é pouco significativa, apenas se
evidenciando através do processo de estimulação ou treino. Os índices de
selecção determinados pelo código genético, mesmo quando em presença de
valores de estabilidade relativamente elevados, apenas se deverão ter em
conta no prognóstico em relação com a idade biológica, o tempo de treino, o
processo de socialização e a observação pedagógica continuada do
especialista (Harsany, 1987).
2.2.
Maturação
Ao incidir sobre o desenvolvimento físico, a capacidade de trabalho e a
eficiência desportivo-motora num dado intervalo etário, Maia e Vicente (1988),
reforçando a opinião de outros autores, referem a falacidade da idade
cronológica como um indicador sensível à variância evidenciada pelas crianças
e jovens.
É inequívoco que o ritmo de maturação influencia decisivamente o nível
da performance motora ao longo do processo de desenvolvimento, condicionando não só o nível actual da performance, mas também as respostas aos
estímulos de aprendizagem e treino (Sobral, 1990). Crianças que apresentam
12
um ritmo de maturação avançado (10-13 anos) devido às suas vantagens de
tamanho e força possuem características positivamente associadas com o
sucesso em diversas actividades físicas e desportivas (Malina, 1988a).
Beunen et al. (1974, cit. por Maia & Vicente, 1988) verificaram que a aptidão
física e a estrutura corporal de jovens de doze anos de idade, variava
significativamente com a idade óssea evidenciada.
A variabilidade da velocidade de maturação biológica e das mudanças
relativas de dimensões, constituição, composição corporal, prestação e
comportamentos são os elementos que o próprio jovem ou criança utiliza para
validar e interpretar o seu processo de crescimento e maturação (Malina,
1978).
Analisando os índices somáticos, sexuais e de maturação esquelética dos
10 aos 18 anos, Bielicki (1975) e Bielicki et al. (1984, cit. por Malina, 1978)
encontraram duas componentes principais da variância.
A primeira,
responsável por 77% da variância encontrada nos rapazes com melhores
performances, parece ser um factor de maturação geral que produz e discrimina indivíduos com maturação precoce, média ou retardada.
A segunda,
representa 12% da variância e incide positivamente duma forma notável sobre
a maturação esquelética aos 11 e 12 anos, sendo um factor um pouco mais
específico e que se refere ao grau de maturação esquelética durante a préadolescência.
Momento crucial na determinação do ritmo de maturação, o início do salto
pubertário é um dos factores fundamentais a ter em conta na avaliação do
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desenvolvimento da criança e, obviamente, na performance motora, sendo que
no rapaz a aceleração pubertária acontece normalmente entre os 11 e 12 anos
(Sobral, 1992a; Simons, Beunen, Ostyn, Van Gerven & De Witte, 1980).
As dificuldades de avaliação rigorosa da idade biológica da criança
(devido sobretudo aos efeitos nefastos dos métodos de avaliação mais rigorosos como a radiografia dos ossos do pulso), levou os investigadores a utilizarem processos de informação alternativos, nomeadamente a classificação
através dos sinais sexuais secundários, cuja associação com o ritmo de
maturação é reconhecida, apesar de colocarem problemas evidentes de rigor e
mesmo de acessibilidade.
Vários autores são mesmo unânimes em referir que embora os índices de
maturação sexual, esquelética e somática estejam geralmente correlacionados
positivamente, poderá existir uma grande variabilidade (Tanner, 1962; Malina,
1978; Marshall, 1978 cit. por Malina, 1978). Por exemplo, embora em grande
número de estudos se classifique como pré-pubertárias as crianças
pertencentes aos estádios G1 e G2 da escala de desenvolvimento genital de
Tanner, Haschke (1983, cit. por Malina & Bouchard, 1991) diz-nos que com os
mesmo onze anos de idade cronológica existem diferenças entre as crianças
situadas nestes mesmos dois estádios, relativamente à altura, peso e massa
magra (FFM).
Por último gostaríamos de chamar a atenção para a opinião de Sobral
(1990), quando refere que embora constitua prática corrente a redução dos
fenómenos de maturação à interdependência biológica, trata-se de facto de um
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processo mais complexo, em que são reunidas as duas modalidades de
transmissão hereditária em que se baseia o desenvolvimento humano: a
cromossómica e a cultural.
2.3.
Condições sócio-familiares
Durante a primeira metade do séc XX acreditou-se que a maturação biológica da criança era a principal determinante na sua aprendizagem de
habilidades. No entanto estudos posteriores chamaram a atenção para a evidente contribuição do meio ambiente (Seefeldt, 1988; Kube, 1990).
Sobral (1990), a propósito das manifestações da performance ao longo do
processo de desenvolvimento, refere que, como manifestação orgânica, a
performance é também um fenómeno eco-sensível, entendida como susceptível de sofrer influências derivadas de factores ambientais, tais como diferentes formas de pressão cultural e familiar.
Factores como as características do envolvimento em que a criança se
movimenta, os estilos e condições de educação familiar, o nível de educação
dos pais, a diferenciação do nível sócio-cultural de pertença, o grau de
urbanização da zona de residência, o grupo étnico de pertença, o encorajamento parental para a prática de actividades físicas, as oportunidades de
prática, a existência de brinquedos e equipamentos no ambiente familiar e
próximo, a extensão da estimulação infantil, a dimensão da família, o número
de filhos, a ordem de nascimento, etc, podem estar relacionados com a
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variação na sequência do desenvolvimento motor, bem como com as melhorias
da performance motora (Neto, 1984; Malina, 1980a, 1980b, 1980c, 1987,
1988a; Simons et al., 1980; Herkowitz, 1980; Treutlin, 1982; Ross, Pate,
Caspersen & Kendrick, 1987; Malina & Bouchard, 1991).
Malina e Bouchard (1991) chamam a nossa atenção para o que denominam de hereditariedade cultural, incluindo o ambiente familiar e as condições
sociais e características de vida que são transmitidas de pais para filhos
através da educação, a modelação cultural, estatuto sócio-económico, etc, e
que têm um efeito directo ou indirecto nas características fenotípicas da
criança.
Sobral (1994) diz-nos mesmo que existe uma condição precedente para o
êxito que se deve procurar nas formas de organização do grupo social, com os
seus reflexos no estilo de vida, nos incentivos materiais e culturais para a
prática física e desportiva e, talvez o mais determinante, na qualidade e
intensidade das ocupações escolares.
O desenvolvimento das habilidades, conhecimentos e atitudes para com a
actividade física e a performance são extremamente influenciadas pelas
características da família (Herkowitz, 1980), devendo esta ser considerada
como um factor explanatório na análise do aparecimento da actividade física e
desportiva na vida duma criança (Duarte & Silva, 1991).
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Para Neto (1984), o contexto social é para a criança uma referência
fundamental quanto à criação de motivações, valores e normas de conduta na
prática das actividades motoras e lúdicas.
Lewko e Greendorfer (1977, cit. por Duarte & Silva, 1991) referem que a
estrutura social do meio em que a criança se insere pode determinar o seu
envolvimento na prática da actividade física, sendo a família e particularmente
os pais, os primeiros elementos socializantes.
Renson, Beunen, De Witte, Ostyn, Simons e Van Gerven (1980) encontraram resultados significativos e progressivamente melhores ao longo da idade
nos índices de força explosiva dos membros inferiores dos filhos de pais com
formação superior (universitários), relativamente aos filhos de pais com pouca
ou nenhuma formação.
Em crianças pré-adolescentes foram encontradas
algumas diferenças significativas nos índices de força do tronco e dos braços,
entre os filhos pertencentes a classes extremas de formação dos pais (Renson
et al, 1980).
Num estudo realizado com 242 atletas na ex-RFA, Luschen, Artus e
Emnid (cit. por Treutlin, 1982) concluem que quanto maiores as exigências e as
performances da disciplina desportiva, maior é a frequência encontrada de
indivíduos pertencentes a famílias de estatuto elevado, com rendimento acima
da média. Por outro lado, a generalidade dos dados sugerem que as crianças
provenientes de classes sócio-económicas mais desfavorecidas possuem
maior liberdade de movimentação pela vizinhança, o que pode ser conducente
a uma maior oportunidade de prática e melhor proficiência motora (Malina,
17
1980b, 1987). Sugestão que é compartilhada por Neto (1985), quando refere
que a economia progressiva do espaço que caracteriza as cidades modernas
têm como consequência a limitação da população infanto-juvenil ao acesso a
determinadas experiências corporais.
O estatuto sócio-económico tem sido relacionado em muitos estudos com
a profissão do pai, mas nos anos mais recentes e em diversos países, esta
indicação por si só não tem permitido uma correcta distinção, pelo que outros
indicadores se tornam necessários para a complementar (Malina, 1987).
Actualmente, nos EUA, Canadá e Europa Ocidental, as diferenças nas
condições de vida entre as zonas urbanas e rurais é muito pequena, pelo que a
diferença na estatura e no estatuto maturacional entre crianças é bastante
pequeno. Em contraste, em alguns países europeus (nomeadamente de leste
e países mediterrâneos) continuam a notar-se claras diferenças urbano-rurais
no que respeita ao crescimento estatural e ao ritmo de maturação (Malina &
Bouchard, 1991).
A dimensão da família e o número de filhos, pode ser um dos factores que
influenciam, ou mesmo potenciam ou medeiam, o efeito do estatuto sócio-económico no crescimento e maturação (Malina, 1987). Foram encontradas
claras diferenças na estatura alcançada por crianças pertencentes a famílias de
escassos recursos económicos com um ou dois filhos, relativamente a famílias
com cinco ou mais filhos, onde os primeiros alcançam estaturas mais elevadas
(Bogin, 1991). No entanto, em condições sócio-económicas mais favoráveis
18
(pais com ocupações não manuais) esta variável não parece influenciar o
crescimento estatural (Malina & Bouchard, 1991).
A propósito do estudo sobre o talento desportivo, Treutlin (1982) diz-nos
que ele se reparte por todos os estatutos sociais; no entanto, a socialização
diferenciada, específica de determinados níveis sociais, pode determinar, à
partida, a possibilidade de desenvolvimento desse talento. Esta afirmação é
completada por Harsany (1987) quando defende que factores ambientais
desfavoráveis impedem a manifestação das qualidades latentes para a
prestação motora e ao contrário, ambientes favoráveis permitem a potenciação
dessas qualidades.
A inter-relação entre os factores de influência familiar, sócio-cultural e
genética devem então também ser considerados nos estudos de desenvolvimento e performance motora (Malina, 1988a). A base genética pode ser vista
como uma representação de potencial que é ou não desenvolvido dependendo
das condições do envolvimento no qual a criança é criada (Malina, 1980a).
Porém, o efeito cumulativo e complexo exercido pelo ambiente familiar e social
torna extremamente difícil a partição de efeitos devidos ou associados a
factores específicos, pelo que deverá ser posto especial cuidado nas análises
realizadas a propósito do desenvolvimento da criança. (Malina, 1980b)
2.4.
Encorajamento para a prática da actividade física
19
Será correcto assumir que pais envolvidos na actividade física e
desportiva, que dão valor à aptidão física e que recompensam a aquisição de
habilidades, terão crianças mais competentes e interessadas nas actividades
físicas ?
Segundo Herkowitz (1980), parece evidente que os pais exercem desde
cedo uma influência directa que “molda” a inclinação da criança para a acção e
a quantidade de actividade vigorosa que vão evidenciar ao longo de diversas
situações de brincadeira.
De acordo com vários autores, o papel dos pais na atmosfera de encorajamento familiar para as actividades físicas é fundamental, desempenhando o
seu próprio exemplo, neste domínio, uma das melhores garantias de sucesso
(Shephard, 1982 cit. por Mota, 1993; Treutlin, 1982; Malina, 1988a). Weiss
(1993) alarga este âmbito de influência familiar ao papel da modelação e
reforço de pessoas significantes (pais, professores e amigos) constituindo, no
seu entender, um dos factores segundo os quais a criança inicia a sua prática
em desportos organizados. O mesmo autor sumariza os resultados de uma
quantidade substancial de estudos que têm demonstrado que crianças com
pais, amigos, irmãos, professores e treinadores que encorajam a sua
participação, possuem maior possibilidade de se iniciarem/envolverem numa
prática desportiva, podendo o envolvimento familiar favorecer a eficácia dos
programas escolares (Corbin, 1991) . Por sua vez, Pfetsch (1975), Streubuhr e
Gabler (1972) (cit. por Treutlin, 1976) encontraram grandes correlações entre a
20
existência na família de desportistas de élite e a prática desportiva passada ou
presente dos pais.
Malina (1988a) diz-nos que muitos dos atletas de alto nível começaram a
sua participação e/ou competição em desporto por volta dos cinco ou seis anos
de idade, sendo que muitos deles pertencem a famílias nas quais um ou ambos
os pais participaram activamente em actividades desportivas. Parece então que
a maioria dos desportistas de alto nível encontra nas experiências desportivas
positivas dos seus pais um meio favorável para a sua própria actividade
desportiva (Treutlin, 1982; Ross, Pate, Caspersen & Kendrick, 1987).
2.5.
Experiências ou práticas motoras passadas e presentes
Pensamos que todos os autores são unânimes em reconhecer a importância da qualidade e quantidade das experiências motoras na determinação
do nível actual de desenvolvimento e performance motora duma criança ou
jovem (Malina & Rarick, 1973; Zaichkowsky, Zaichkowsky & Martinek, 1980;
Meinel, 1984; Clenaghan & Gallahue, 1985; Haywood, 1986; Maggil, 1988).
As respostas geradas pela actividade física iniciada durante a infância
influenciam favoravelmente a funcionalidade orgânica e motora durante os
períodos posteriores (Espenshade, 1960; Malina, 1969, 1975; Bailey, 1973,
Rarick, 1974; Bailey et al., 1978 cit. por Malina, 1980d), sendo para além disso,
de esperar que a participação em actividades desportivas possa favorecer e
21
modelar o entendimento da actividade física como um valor a preservar (Mota,
1993).
As oportunidades de prática durante a infância dependem não só das
características de aproveitamento dos tempos livres da criança - suscitadas,
por exemplo pelos espaços de brincadeira e pelo estilo de educação familiar mas também, e sobretudo no que diz respeito à qualidade da actividade, da
participação sistemática e organizada em situações de aprendizagem e
exercitação motora proporcionadas pela escola, ou fora dela, de forma a serem
cumpridos os requisitos de estimulação apropriados a esta fase de
desenvolvimento da criança.
Singer (1973) diz-nos que as capacidades de aprendizagem podem ser
influenciadas pelas práticas passadas, e que, já que a possibilidade de transfert
ocorre de forma mais eficaz quando uma situação motora se assemelha a
outra, quanto maior for a gama de experiências anteriores, maior a
possibilidade de tansfert para novas situações.
A existência de relação entre a actividade física diária da criança e alguns
factores da aptidão física, nomeadamente o VO2 máx, tem sido referida por
vários autores (Schumuker, Rigauer, Hinrichs & Trawinski, 1984; Bailey, 1973
cit. por Rowland, 1990; Atomi, Iwaoka, Hatta, Miyashita & Yamamoto, 1986).
Embora não tenham encontrado tal relação antes da adolescência, Mirwald,
Bailey, Cameron e Rasmussen (1981) verificaram que os jovens com maior
nível de actividade se caracterizavam por um maior ritmo de crescimento da
22
potência máxima aeróbia durante a fase do pico de velocidade de crescimento
em estatura.
Também ao nível da regulação e manutenção do peso corporal, a actividade física é importante , principalmente através do incremento da FFM e
correspondente decréscimo da massa adiposa (Parizkova, 1963, 1973; Dobeln
& Erikson, 1972 cit. por Malina, 1980d), com as consequências reconhecidas
nas melhorias do domínio motor.
2.6.
Motivação para a prática
As razões ou motivações que levam a criança a enveredar por um processo de prática de actividade física e/ou desportiva, ou mesmo a participar de
forma mais relevante nas instituídas ou obrigatórias, têm também repercussão
óbvia nas melhorias da performance motora. Os factores de variada ordem
que influenciam a criança a iniciar a sua prática desportiva, a mantê-la ou a
deixá-la, são de extraordinária importância, já que o padrão e a qualidade da
participação em experiências de actividade física durante a infância têm
profunda influência na futura participação como adulto, quer nos padrões de
aderência, quer no estilo de vida mais ou menos activo (Weiss, 1993).
Por outro lado, estudos desenvolvidos por algumas correntes da Psicologia pretendem e sustentam que uma menor capacidade de dotação para uma
área específica (função de um genótipo mais limitativo) poderia ser
compensada por um maior empenhamento e motivação para a actividade
23
(Marques, 1993). A forma como a criança opta na sua selecção pela actividade
ou desporto pode ser influenciada pelos pais, pelo treinador ou por uma
combinação dos três; no entanto a selecção própria é fundamental, já que é a
criança que deverá treinar, realizar e competir (Malina, 1988a).
Em 1990 a Athletic Footwear Association questionando 10 000 jovens dos
dez aos dezoito anos acerca da sua motivação para o envolvimento em
actividades desportivas verificou que o prazer / alegria é a principal razão para
a participação desportiva e a sua falta uma das razões fundamentais para a
desistência ou não envolvimento (Petlinchkoff, 1992). Também a auto-estima,
e mais especificamente a percepção da capacidade motora própria, são
preditoras de comportamentos dirigidos para a aquisição e desenvolvimento de
habilidades, de motivação intrínseca e positiva (Weiss, 1993). Associadas a
este conceito, a força e disponibilidade motora, normalmente relacionadas com
o tamanho, a morfologia e a proficiência motora, podem por sua vez influenciar
o nível habitual de actividade física e a procura da actividade desportiva pelas
crianças (Malina, 1988a).
Segundo Weiss (1993) jovens crianças (8-9 anos) tendem a confiar nos
resultados dos jogos e nas informações e avaliações dos pais como principal
fonte de informação para avaliação da sua competência motora. Crianças mais
velhas (10-14 anos) dependem de uma forma mais preponderante da
comparação social e da avaliação pelos seus pares, não sendo de estranhar
que uma incorrecta percepção do sucesso possa, na comparação natural dos
resultados com os seus colegas, levar a criança a ter um investimento pessoal
24
reduzido na actividade desportiva (Mota, 1993). Uma quantidade substancial
de estudos tem demonstrado que crianças que têm familiares, amigos,
professores e treinadores que encorajam a sua participação em actividades
físicas possuem maior probabilidade de virem a participar numa prática
desportiva (Weiss, 1993).
Na comparação social com os seus pares, a criança inclui também a
avaliação da aptidão física e atlética - factores particularmente valorizados
entre crianças do 1º e 2º CEB (Buchanan, Blankenbaker & Cotten, 1976;
Coleman, 1961; Duda, 1981 cit. por Passer, 1988) - bem como a variabilidade
da velocidade de maturação biológica e das mudanças relativas de dimensões,
constituição, composição corporal, prestação e comportamento motor (Malina,
1978).
Dados de diversos estudos sugerem que é no período escolar do 1º CEB
que a maior parte das crianças desenvolve um interesse na comparação social
e procura situações competitivas especificamente com este propósito (Passer,
1988). No entanto, Weiner e Kuns (1978, cit. por Passer, 1986) referem que
são necessárias certas capacidades cognitivas para que a criança possa
avaliar a sua competência desportiva, em relação aos resultados obtidos, em
termos de sucesso / insucesso e que isso só será possível por volta dos 10/12
anos de idade.
Analisando o modelo conceptual da escolha profissional de Blau, e
fazendo um paralelo para a aplicação específica na actividade física e
desportiva, Woodman (1982) diz-nos que o investimento pessoal no desporto
25
resulta dum quadro de compromisso entre as preferências e as expectativas,
sendo estas últimas reexaminadas à luz dos sucessos conseguidos. O mesmo
autor fala-nos duma hierarquia de expectativas (como um dos processos de
escolha), na qual a criança avalia as suas possibilidades e investe segundo a
sua avaliação.
Passem embora todas as opiniões referenciadas e que
apontam para a inter-relação íntima entre factores da performance e
motivação, não gostaríamos de deixar passar a opinião de Treutlin (1982),
segundo a qual uma das causas das perdas de talentos em idade escolar é o
facto de o interesse colocado no desporto de alto nível se formar somente após
ou durante a puberdade , e não ser influenciável pelo desenvolvimento das
performances na idade escolar pré-pubertária.
2.7.
Dimensões corporais
A relação de algumas medidas corporais de índole antropométrica com os
níveis de prestação motora tem sido evidenciada ao longo dos tempos, quer
em adultos quer em crianças.
Provavelmente todos os estudos caracterizadores de populações
específicas desportivas terão encontrado associações fortes entre algumas
medidas de âmbito antropométrico e a performance.
Exemplos do que
acabámos de dizer tornam-se mesmo óbvios através da simples observação
dos atletas de alta competição. A altura, o peso e as medidas de gordura
corporal obtidas através das pregas adiposas são algumas das características
26
antropométricas mais utilizadas na descrição de perfis específicos de
populações desportivas com sucesso.
Numa amostra de 130 rapazes (12 anos idade) participantes no
campeonato de natação de 1972 na Bulgária, Todorov e Lazarov (1982)
encontraram uma relação evidente entre a estatura e a performance alcançada.
Hensley e East (1982) por sua vez, num estudo envolvendo crianças prépubertárias dos sete aos dez anos, constataram que a altura se correlacionou
de forma positiva e significativamente com várias performances testadas (salto
vertical, salto a pés juntos sem corrida preparatória, corridas de 40 e 400
jardas). Por sua vez a soma das medidas das pregas adiposas associou-se
negativamente com as mesmas performances.
Mészáros e Szmodis (1980) utilizando um grupo de atletas seleccionados
como os mais talentosos para o atletismo, encontraram diferenças significativas
aos 12 anos de idade, comparativamente com um grupo de não-atletas, na
medida de estatura (154.7 - 149.9), tal não acontecendo, porém, relativamente
ao peso da massa corporal (41.9 - 41.5).
Mirwald, Bailey, Cameron e Rasmussen (1981 cit. por Bell, 1993)
transmitem-nos a ideia de que até ao salto pubertário a associação entre altura
e performance não é evidente, tal como é relatado no estudo de crescimento
de Saskatchewan, em que comparando crianças activas com sedentárias entre
os sete e os dezasseis anos se verificou que os rapazes inactivos eram mais
altos que os activos em todas as idades, embora com diferenças não
significativas. Estes resultados são consistentes com os de Bell (1993) em que
27
os rapazes sedentários eram mais altos que os não sedentários até ao
momento do pico de velocidade em crescimento ( peak height velocity ), após o
qual os activos passaram a ser significativamente mais altos.
Malina (1988) diz-nos que, comparativamente, os jovens atletas do sexo
masculino entre os nove e os dezasseis anos são geralmente mais altos e
pesados do que os não atletas, embora isto não aconteça para todos os
desportos.
Parece então poder concluir-se que, com crianças, nem sempre a relação
entre os indicadores antropométricos e o nível de sucesso na performance é
linear, já que se torna necessário levar em linha de conta características de
crescimento e maturação do indivíduo e de desenvolvimento da performance.
Ao procedermos ao levantamento de resultados relativos a populações
infanto-juvenis encontramos diversas dificuldades que pensamos ser relevante
salientar. Os estudos abrangentes até agora realizados, relativos à população
nacional nesta faixa etária são raros, destacando-se apenas os de Rosa (1973)
no Continente, o de Sobral (1989) nas ilhas dos Açores.
Actualmente
encontram-se em execução dois estudos alargados que no futuro poderão
fornecer mais dados de comparação nesta matéria, nomeadamente o de
Fragoso na região de Lisboa e o projecto FACDEX no Grande Porto.
28
Quadro 1 - Valores de média e desvio padrão da altura e peso registados em
diversos estudos, com crianças do sexo masculino de 11 anos de
idade.
Autores
População
Altura
Peso
Saskatchewan
Growth Study
143.1 (7.0)
35.4 (6.7)
Rajic et al (1978) *
Quebéc
104.4 (5.29)
33.53 (5.79)
Demirjian et al (1976) *
Montreal
139.99 (5.85)
Saskatoon
143.44 (6.81)
Igloolik
133.06 (8.24)
Canadá
Ellis, Carron & Bailey (1975)
Demirjian (1980) *
Welch et al (1971) *
139.8 (6.27)
Winsor
141.8 (6.7)
New Haven
145.8 (5.9)
Johnston (1962) *
Filadélfia
143.62 (5.97)
Krogman (1970) *
Filadélfia
142.8 (6.2)
Malina, Mueller & Holman (1976)
Filadélfia
143.0 (5.5)
Estados Unidos da América
Walker (1974) *
Pate, Slentz & Katz (1989)
145.1 (21.3)
37.6 (14.5)
Cureton & Warren (1990)
148.4 (6.9)
39.5 (7.7)
Hammil et al (1970) *
145.7 (6.98)
Lloyd-Jones (1941) *
Los Angeles
Snyder, Spencer, Owings &
Schneider (1975) *
McCammon (n pub) *
Roche (n pub) *
143.0
141.9 (5.3)
Denver
144.51 (4.96)
Ohio
145.11 (5.99)
Reed & Stuart (1959) *
35.3 (6.5)
Martorell et al (1988)
HHANES
146.2 (7.0)
Martorell et al (1988)
SHANES
145.9 (7.7)
Tuddenham & Snyder (1954) *
Califórnia
146.54 (6.14)
38.86 (7.42)
USA
144.3 (5.84)
38.2 (5.98)
Dodge & West (1970) *
Galveston Ct
140.7 (8.6)
38.3 (12.5)
Hamil et al (1977) *
NCHS (p50)
149.9
Knott & Meredith (1963) *
Fomon et al (1982) ** b)
Lohman et al (1984)
Slaughter et al (1991) a)
147.2 (12.4)
38.2 (9.5)
29
Autores
População
Altura
Peso
(natação)
148.6 (11.5)
39.9 (8.7)
Sady et al (1982)
(luta)
140.6
31.7
Malina (n pub) *
(futebol)
142.7
37
cross country
144.3
31.9
141.4 (4.6)
32.5
147.5 (6.15)
39.86 (6.16)
Mercier, Mercier, Le Gallais &
Préfaut (1992)
Bélgica
144.7 (2.3)
35.9 (1.3)
Hebbelinck & Borms (1984)
141.4 (5.98)
33.8 (5.32)
LLEGS
137.7 (5.5)
32.5 (5.9)
Viana do Castelo
135.0 (6.1)
30.3 (5.0)
Portugal
137.7 (6.8)
32.4 (5.9)
Piedade (1977)
Queluz
140.3 (7.76)
34.2 (7.1)
Piedade (1984)
Lisboa
140.3
34.2
Mota (1989)
Porto
141.0 (6.4)
34.2 (2.7)
Açores
142.6 (7.9)
37.1 (8.0)
Slaughter et al (1991) a)
Mayers & Gutin (1979) b)
Inglaterra
Brodie et al (1989)
Itália
Manno & Merni (1987)
(vários desportos)
França
Vajda, et al. (1980)
Portugal
Rosas (1973)
Sobral (1989)
a) (11.4 anos)
b) 10.5 anos
* cit. por Roche & Malina (1983)
** cit. por Lohman (1986)
2.8.
Morfologia corporal
A classificação através do somatótipo é um método de avaliar a morfologia que tem sido utilizado para quantificar, na generalidade, a composição, a
forma e o tamanho corporal (Carter, 1980, 1988), em que cada componente
30
contribui de forma variada (gordura relativa, desenvolvimento musculoesquelético relativo e linearidade relativa) em referência a um compósito que é
a morfologia (Malina, & Bouchard, 1991).
O princípio da existência de uma estreita relação entre a performance e a
morfologia é geralmente aceite pela maioria dos estudiosos da matéria (Sobral,
1982; Holopainen, Hakkinen & Telama, 1984; Laska-Mierzejewska, 1980),
sendo inclusivamente apontada uma relação positiva, embora baixa, entre o
tamanho corporal e a performance motora (Pissanos, Moore & Reeve, 1983).
Um endomorfo, normalmente, apresenta pior performance em tarefas que
requeiram movimentos de deslocação; enquanto mesomorfos e ectomorfos são
usualmente mais bem sucedidos (Hebbelinck & Borms, 1978; Malina & Rarick,
1973 cit. por Holopainen et al., 1984).
Beunen et al. (1985, cit. por Maia, 1990) ao estudarem as relações entre
performance e somatótipo em adolescentes do sexo masculino, verificaram que
a componente mesomórfica se revelou como a melhor preditora de todos os
testes motores. Na opinião destes autores a utilidade e validade do somatótipo
é indiscutivel, dado que permite compreender melhor os fenómenos da
performance de atletas jovens e adultos.
Embora chame a atenção para alguns problemas metodológicos e de
análise, na tentativa de procurar a associação do somatótipo com a performance física, Carter (1980) diz-nos que os estudos parecem indicar que a
mesomorfia está positivamente associada com a maior parte das prestações
físicas, a endomorfia associada negativamente e a ectomorfia demonstra
31
pouca ou nenhuma associação. Opinião que não é totalmente partilhada por
Holopainen et al. (1984) quando concluem que a endomorfia dificulta todas as
performances de aptidão física e de performance motora e a ectomorfia
melhora-as.
Malina (1975) refere que a endomorfia tende a ser negativamente correlacionada com a performance numa grande variedade de tarefas motoras,
enquanto a ectomorfia tende a ser negativamente relacionada com a força. No
entanto as correlações encontradas entre os componentes individuais do
somatótipo e a performance são geralmente baixas ou moderadas e por isso
limitadas na utilização preditiva.
Os protótipos específicos das diversas modalidades desportivas revelamse nas fases mais precoces da preparação desportiva, constituindo referências
fundamentais nos programas de prospecção de talentos (Sobral, 1993b),
mesmo que neste âmbito o espectro total de elementos fenotípicos a
considerar seja bastante vasto (Sobral, 1994).
Os primeiro e segundo componentes do método de Heat-Carter
(endomorfia e mesomorfia) introduzem conceitos específicos da composição
corporal. No entanto as modificações resultantes do processo de crescimento
e maturação podem resultar numa falta de consistência da avaliação em
crianças e jovens. A falta de correlação entre a FFM e a segunda componente,
bem como a apenas moderada correlação entre a percentagem de massa
adiposa (%FAT) e a primeira, aconselha a utilização complementar da
32
estimação da composição corporal com crianças e jovens (Malina & Bouchard,
1991).
Carter (1970) diz-nos que a participação e entrada voluntária num
determinado desporto é provavelmente também dependente da existência de
um somatótipo apropriado.
Todos os desportistas têm como componente
dominante a mesomorfia. O mesomorfo é solidamente musculado, a sua força
e robustez física conferem-lhe uma aptidão particular para a prática desportiva
(Boennec & Prevot, 1980; Bell, 1993) sendo geralmente o ecto-mesomorfismo
que caracteriza o desportista confirmado e em plena actividade (Boennec,
1980).
Quando analisados comparativamente, jovens atletas do sexo masculino
(9-16 anos) são geralmente mais altos e pesados, mais mesomórficos e fortes
do que os não atletas, embora estas conclusões não sejam inteiramente
consistentes para todos os desportos (Malina, 1988a).
Esta constatação é
semelhante à encontrada em estudos do somatótipo de atletas de alto nível,
que têm revelado uma distribuição limitada de valores, sendo normalmente
mais mesomórficos e menos endomórficos do que a população de referência
ou de atletas de níveis mais baixos de competição (Carter, 1988).
Aliás, e independentemente da eventual perca de informação do processo
utilizado na determinação dos somatótipos médios, o conjunto de resultados
apresentados no quadro síntese 2 parece demonstrar exactamente essa
associação, com a grande maioria dos somatótipos médios indicados a
apresentarem valores reduzidos na primeira componente (o que mesmo em
33
termos de média é significativo dado a pequena dimensão dos valores) e com a
segunda componente a ser dominante.
Quadro 2 - Somatótipos médios referenciados em vários estudos, segundo
a modalidade praticada e a idade das crianças.
Autor citado
Modalidade
Somatótipo
médio
Idade
Chovanova & Zapletalova, 1979
Basquetebol
3 - 3.5 - 4
13/14 anos
Stepnicka, 1976
Ginastas
1.5 - 4.4 - 3.9
12 anos
Thorland et al., 1981
Gin + Salt
2.3 - 5 - 3.2
16,2
Perez (1981)
Ginastas
1.7 - 5.4 - 2.5
14 a 20
Carter, 1984
1.4 - 5.9 - 2.4
?
Stepnicka, 1977
1.5 - 6.9 - 2.1
?
2.6 - 4.7 - 3.3
10
Stepnicka, 1976
1.6 - 4.3 - 3.9
10
Newton, 1978
3.2 - 4.8 - 3.2
13 a 15
Pirie, 1974
Hoquei gelo
Faulkner, 1976
Patinagem
2.5 - 4 - 3.5
10,7 a 15,7
Ross & Day, 1972
Ski
1.7 - 4.6 - 3.7
10,9
Stepnicka & Broda, 1977
1.5 - 5 - 3.6
13
Chovanova, 1981
2.3 - 4.6 - 3.8
11 a 17
1.8 - 4.3 - 3.7
10 a 21
1.6 - 4.6 - 3.4
15,7
1.9 - 5.5 - 3.2
15 a 19
Sinning, Wilensky & Meyers,
1976
2.3 - 4.8 - 3.1
16,5
Thorland et al., 1981
2.6 - 5.4 - 2.9
16,9
4 - 4 - 2.7
16,7
Perez, 1981
Natação
Bagnall & Kellet, 1977
Lucio, 1981
Lebedeff, 1980
Luta livre
Ténis
Valores citados por Carter (1988)
Quando comparados com atletas adultos, os jovens atletas são em geral
menos mesomórficos, menos endomórficos e mais ectomórficos. A maioria
dos atletas jovens centra-se nas categorias ecto-mesomórficos, ectomorfosmesomórficos e meso-ectomórficos (Carter, 1988; Bell, 1993), demonstrando
somatótipos idênticos aos de atletas de alto nível, mais velhos (Carter, 1980).
34
Stepnicka (1972, 1974, 1976 cit. por Carter, 1980) refere que, em
crianças, os grupos de somatótipos estavam altamente relacionados com os
testes de educabilidade motora ( motor educability tests ), actividades e aptidões desportivas e com a prática voluntária da educação física. Os endomórficos eram os mais pobres no domínio motor e os ecto-mesomórficos os
melhores.
Um outro factor importante a considerar quando se estudam somatótipos
é a variação da população em causa, sabido que é que quanto mais elevado
for o nível desportivo estudado, menor a variação na distribuição dos
somatótipos (Carter, 1980). Assim, a variação encontrada no somatótipo de
jovens atletas é bastante limitada quando comparada com a variação em
populações de não-atletas da mesma idade e sexo (Clarke, 1971; Hebbelinck &
Borms, 1978; Parizkova & Carter, 1976 cit. por Carter, 1988), sendo ainda que,
embora exista variação no somatótipo entre desportistas jovens de diferentes
especialidades, estas diferenças parecem ser menos pronunciadas nestes do
que nos adultos, especialmente entre os rapazes (Carter, 1988).
Relativamente à estabilidade demonstrada pelo somatótipo ao longo do
processo de crescimento, Carter (1988), numa revisão efectuada com amostras
de jovens atletas do sexo masculino, verificou uma tendência para o
incremento em mesomorfia desde o início da adolescência até à idade adulta.
Por sua vez, Malina e Bouchard (1991) dizem-nos que a morfologia dum
indivíduo pode ser estabelecida bastante cedo, já que, embora ocorram
mudanças no somatótipo durante o crescimento, não são em geral dramáticas,
35
pelo que a constituição física do jovem adulto é facilmente reconhecível em
criança, apontando mesmo a idade de oito anos como aquela a partir da qual a
estabilidade do somatótipo é bastante boa. Opinião compartilhada por Malina e
Rarick (1973) quando nos dizem que parecem haver razões para afirmar que a
morfologia do homem é determinada em tenra idade. Segundo Bale (1969 cit.
por Holopainen et al., 1984) a idade ideal para a determinação do somatótipo é
aos onze anos.
Também Parizkova (1974, 1977 cit. por Malina & Bouchard, 1991) estudando três grupos de rapazes cumprindo diferentes programas de actividades
físicas (treino regular, treino moderado e sem treino) não encontrou diferenças
significativas nos somatótipos dos 11 aos 18 anos de idade, nem na FFM, o
que parece indicar uma relativa independência destes dois parâmetros quanto
aos efeitos do treino. Existiram, de facto, modificações em locais específicos
(nomeadamente hipertrofia muscular localizada), mas não foram suficientes
para influenciar marcadamente os valores do somatótipo e da FFM.
Num estudo envolvendo crianças dos doze aos quinze anos, seguidas
longitudinalmente, Bell (1993) verificou que durante o período da adolescência,
crianças sedentárias demonstraram um aumento na endomorfia e um
decréscimo na mesomorfia e ectomorfia. Em contraste, as crianças activas
reduziram a endomorfia, mantendo razoavelmente estável a mesomorfia e a
ectomorfia. As correlações inter-idades ao longo da adolescência (traduzindo a
estabilidade do somatótipo) foram bastante elevadas no grupo de crianças
activas (0.84 - 0.99 endomorfia; 0.94 - 0.99 mesomorfia e 0.89 - 0.99
36
ectomorfia), provavelmente devido à maior homogeneidade deste grupo
relativamente às crianças não activas.
De forma semelhante, também
Parizkova e Carter (1976 cit. por Bell, 1993) comparando um grupo de crianças
menos activas com um outro de maior grau de actividade, encontraram
consistentemente maior aumento na endomorfia e diminuição na ectomorfia.
Numa revisão de estudos efectuada por Malina e Bouchard (1991), as
correlações encontradas revelam uma razoável estabilidade na ectomorfia e
variação na mesomorfia e endomorfia nos rapazes, entre o início e o final da
adolescência.
Os somatótipos médios por fotoscopia variam pouco de idade para idade
em rapazes, apenas se constatando uma pequena tendência por volta dos 13
anos para um ligeiro incremento em mesomorfia (Malina & Bouchard, 1991).
Carter (1980) chama-nos a atenção para o cuidado que deve ser posto na
análise da estabilidade do somatótipo durante a infância e adolescência,
principalmente quando são utilizados valores médios referenciados à idade.
Na opinião do autor, apesar de algumas crianças permanecerem relativamente
estáveis no seu somatótipo, a maioria varia consideravelmente e poderá
acabar por possuir um somatótipo adulto bem diferente do de criança. Daí
resultará que, embora a realização da análise do somatótipo através da média
dos grupos de idade pareça demonstrar apenas pequenas diferenças com o
crescimento, de facto esta média poderá ser o resultado de grandes alterações
dos elementos individuais que no seu conjunto eventualmente se anulam. Um
outro factor a ter em conta na comparação de resultados deverá ser a forma de
37
obtenção do somatótipo, nomeadamente por fotoscopia ou por diferentes
determinações do somatótipo antropométrico de Heat-Carter.
Em conclusão, embora o papel representado pela morfologia corporal seja
evidentemente apenas um dos apectos que influenciam a performance
desportiva (Laska-Mierzejewska, 1980), pode fornecer-nos alguns critérios
objectivos para a avaliação da performance motora do jovem, nomeadamente
do ponto de vista prospectivo (Carter, 1988).
2.9.
Composição corporal
As proporções relativas da massa magra e massa gorda, embora diferentes para rapazes e raparigas durante a maior parte da vida, são dinamicamente dependentes do nível de desenvolvimento (Parizkova, 1973). Duma
forma geral, os estudos apontam que a gordura corporal limita a performance
na maior parte das actividades motoras (Corbin, 1980a), especialmente quando
está em causa a habilidade de movimentação de todo o corpo (Hensley & East,
1982)
Variados estudos demonstram que a composição corporal é um factor
que afecta a prestação de várias medidas de aptidão física e motora (Cureton,
Boileau & Lohman, 1975a; Cureton, Boileau, Lohman & Misner, 1977; Cureton,
Hensley & Tiburzi, 1979; Slaughter, Lohman & Misner, 1977; Pate, Slentz &
Katz, 1989; Laska-Mierzejewska, 1980; Maia, 1990).
38
Hensley e East (1982), num estudo envolvendo crianças pré-pubertárias
dos sete aos dez anos, encontraram correlações negativas da gordura corporal
avaliada pela soma das pregas adiposas, com as performances testadas (salto
vertical, salto em comprimento sem corrida preparatória, flexões na barra
modificadas, corridas de 40 e 400 jardas), embora apenas no teste de flexões
na barra modificadas, uma quantidade importante da variação registada (20%)
seja explicada pela gordura corporal. Os mesmos autores adiantam que a
%FAT é frequentemente mencionada como um factor biológico responsável
pela variação da performance em testes físicos, nomeadamente quando é
requerida aceleração horizontal ou deslocamento vertical do corpo.
Por
exemplo, nos movimentos de lançar, Telama e Kiviaho (1966 cit. por
Holopainen et al., 1984) não registaram diferenças entre alunos obesos e com
peso normal . As vantagens e desvantagens dos valores de gordura corporal
tornam-se mais evidentes nos casos em que todo o corpo está envolvido num
deslocamento de apreciável distância.
Parizkova (1973) diz-nos que a composição corporal, pela sua interacção
significativa com o “turnover” energético, está intimamente relacionada com as
capacidades funcionais do organismo, sendo portanto de considerável
consequência na avaliação da aptidão física das crianças e adultos.
Cureton, Boileau e Lohman (1975a) demonstraram que a composição
corporal afecta os resultados obtidos no teste AAHPERD, e Gutin et al. (1978,
cit por Corbin, 1980a) encontraram relação significativa entre os valores de
composição corporal e o VO2 máx.
39
Pate et al. (1989) observaram que as correlações entre a adiposidade
subcutânea medida pelo adipómetro e os resultados encontrados em testes de
aptidão física, embora estatisticamente significativas, são relativamente
pequenas, pelo que sugerem a inclusão de uma medida de composição
corporal como componente independente na avaliação da aptidão física.
Ao contrário da massa gorda, a percentagem de massa magra parece
influenciar de forma positiva a prestação motora. Mercier, Mercier, Granier, Le
Gallais, e Préfaut (1992) num estudo efectuado com crianças, demonstraram
que o incremento da potência anaeróbica maximal, determinada pelo teste de
força-velocidade de pernas, está relacionado de perto com características
antropométricas, especialmente a FFM.
Corbin (1980a) refere que, contrariamente à tese de que a criança fica
mais magra à medida que cresce, a criança típica aumenta o tecido adiposo
com a idade. Complementarmente, Malina e Bouchard (1991), relativamente
aos rapazes, afirmam que a % FAT aumenta gradualmente até cerca do início
do salto pubertário (11-12 anos) declinando progressivamente a partir daí.
Opinião compartilhada por Rauh e Schumsky (1968) e Haschke (1983, cit. por
Brodie, Atkinson, Buckler, Burkinshaw, Laughland & Reed, 1989) e Sobral
(1992c) quando afirmam que em termos de composição corporal, a tendência
durante o salto pubertário é para um incremento da massa magra e redução
complementar da percentagem de gordura.
40
Heald (1966, cit. por Corbin, 1980a), referindo-se aos problemas da
obesidade, relata que existe evidência convincente de que a obesidade juvenil
persiste até à idade adulta.
Relativamente à estabilidade dos valores de composição corporal ao
longo do período da adolescência, Malina e Bouchard (1991) dizem-nos que as
correlações entre a FFM aos 11 e 15 anos e aos 11 e 18 anos, são moderadamente altas e comparáveis às encontradas para a estatura e o peso.
Em três grupos de rapazes cumprindo diferentes programas de actividades físicas (treino regular, treino moderado e sem treino) Parizkova (1974,
1977, cit. por Malina & Bouchard, 1991) não encontrou diferenças significativas
na FFM dos 11 aos 18 anos de idade, o que parece indicar uma relativa
independência deste parâmetro quanto aos efeitos do treino em idades de
crescimento acentuado. Existem de facto modificações em locais específicos
(nomeadamente hipertrofia muscular localizada), mas não são suficientes para
influenciar marcadamente os valores globais de FFM. Já no que diz respeito
aos valores de FAT e %FAT, os mesmos autores referem que as correlações
entre a pré e a pós-adolescência são geralmente pequenas, embora Binkhorst,
Kar e Vissers (1984) e Brodie et al. (1989) tenham verificado, em média, uma
estabilidade ao longo de um período entre os onze e os dezanove anos.
Conclui-se então que a determinação da adiposidade não é tão estável como a
da FFM durante a adolescência.
A medição da massa magra e massa adiposa durante o processo de
crescimento, apresenta alguns problemas derivados sobretudo do processo de
41
maturação química dos tecidos da criança, o que aconselha cuidados na
utilização dos métodos de determinação da composição corporal, bem como a
necessária precaução nas constatações de estudos realizados com diferentes
processos de medição.
Como exemplo, Slaughter, Lohman, Boileau, Stliman, Van Loan, Horswill
e Wilmore (1984) encontraram diferenças significativas na relação entre pregas
adiposas e densidade corporal na pré-puberdade, puberdade e adolescência.
Estas
conclusões
têm
importantes
implicações
na
determinação
da
composição corporal, já que se não forem tidas em linha de conta as mudanças
na densidade da FFM ao longo do processo de crescimento, a estimativa da
%FFM através de equações que apenas levam em linha de conta a densidade
corporal tende a sobrestimar a gordura corporal na criança e alterar a relação
aparente entre as pregas adiposas e a %FFM na criança (Slaughter, Lohman,
Boileau, Horswill, Stllman, Loan, e Bemben, 1988).
42
Quadro 3 - Valores de percentagem de massa gorda e peso de massa magra
registados em diversos estudos, com crianças do sexo masculino e
respectivos processos metodológicos utilizados.
Autores
Cureton & Warren (1990)
Fomon, Haschke, Ziegler &
Nelson (1982) a
Processos
metodológicos
Pregas adiposas
(Lohman, 1986)
Amostra
Idade
%FAT
Illinois
11
17.4 (5.4)
K40
França
Mercier, Mercier, Le Gallais &
Préfaut (1992)
Pregas adiposas
(Durnin &
Rahaman, 1967)
Slaughter, Christ, Stillman &
Boileau (1991)
Pes. hidrostática
Mineral ósseo
Slaughter, Christ, Stillman &
Boileau (1991)
TBW
(natação)
densitometria
(luta)
fórmula de Siri
controlol
Pregas adiposas
cross country
Shephard, Jones, Ishii,
Kaneko & Olbrecht (1969) c
densitometria
fórmula de Siri
Parizkova (1968) c
densitometria
Sady, Thomson, Savage &
Petratis (1982)
Mayers & Gutin (1979) b
fórmula de Siri
densitometria
fórmula de Siri
10.5
27.96
11
32.1
11.4
15.4 (6.2)
32.0 (7.3)
11.4
13.9 (4.8)
34.3 (7.3)
13.3 (3.1)
27.5
20 (5.4)
28.3
10.5
15.8
26.8
Toronto
(Canadá)
10-12
15.8
crianças muito
activas
11
17.8
11
17.5
11
16.6
11
19.5
9-12
24.1
10
(0.9)
18.7
crianças
pouco activas
Wilmore & McNamara (1974)c
FFM
Califórnia
Slaughter, Lhoman
& Misner (1977) c
K40
10
(1.6)
22.4
Forbes (1978) c
K40
10.7
16.8
Mota (1988)
Pregas adiposas
Boileau et al (1985)
Porto
24.8
Mota (1989)
Pregas adiposas
Boileau et al (1985)
Porto
11.1 (1.7)
30.4 (1.9)
a
cit. por Sady, Thomson, Savage & Petratis (1982)
cit. por Boileau, Lohman & Slaughter (1985)
c cit. por Lohman (1986)
b
43
Os mesmos autores, usando três tipos de estimativas para determinar a
% FAT (a partir da densidade corporal apenas, da densidade e quantidade de
água e da densidade, água e mineral ósseo), encontraram diferenças
sistemáticas entre os resultados atribuídos para prépubescentes e pubescentes
por cada um dos métodos. O facto de as estimativas de massa gorda obtidas
pela conjugação da medição da densidade, água e mineral serem bastante
semelhantes entre os grupos de pós-pubescentes e adultos parece indicar que
a FFM deverá alcançar a maturidade química apenas nestas idades.
Nos grupos pré-pubescentes e pubescentes a %FFM demonstrou ser
mais facilmente previsível pelas pregas adiposas. Esta constatação deve-se
sobretudo ao facto de as equações recomendadas para a predizer a partir das
referidas pregas com crianças e jovens levam de facto em consideração a
imaturidade química e um método de aproximação à composição corporal por
multicomponentes, produzindo assim estimativas reais (Slaughter et al., 1988).
Quando no decurso da nossa pesquisa pretendemos realizar um apanhado dos resultados encontrados em outras populações, com o objectivo de
posteriormente comparamos com os nossos, deparamos com algumas limitações, não só quanto ao número de estudos encontrados abrangendo específicamente esta idade, mas também decorrentes das dificuldades já enunciadas
de estimação das diferentes componentes de composição corporal antes do
final da puberdade.
Optamos ainda assim por referenciar os estudos en-
contrados, indicando especificamente o processo metodológico utilizado para a
estimação das diferentes componentes (quadro 3)
44
2.10. Aptidão física
A aptidão física, ou pelo menos a expressão da condição física, é sem
sombra de dúvidas um dos principais requisitos associados à performance
motora, já que constitui pressuposto condicional para a execução das actividades ou movimentos com êxito. Seja na avaliação do rendimento específico
das diferentes modalidades desportivas, seja na óptica da proficiência motora
associada ao desenvolvimento, seja na visão mais generalizada do rendimento
motor global, os índices de aptidão física têm sido um dos factores
tradicionalmente mais estudados pelos autores. Também as capacidades de
trabalho das futuras gerações, são, segundo Barabás (1989), parcialmente
determinadas pela sua aptidão física, predita pelo estado biológico e morfológico da criança de hoje.
No entanto, diferentes actividades expressam-se por diferentes características de aptidão, como bem sabem os estudiosos do treino desportivo e da
selecção e detecção de talentos. Dum ponto de vista da expressão global do
rendimento, a aptidão física é normalmente tomada como um todo, expressão
ou pressuposto suficiente para o desenvolvimento alargado da motricidade.
Exemplo disso mesmo é a ampla utilização das baterias de aptidão física
ou dos seus testes constituintes, quer em estudos de crescimento, quer em
associação com o domínio particular de habilidades ou movimentos, quer na
sua relação com características antropométricas, quer ainda como factor de
avaliação preditiva de determinado rendimento desportivo.
45
Ao longo dos tempos os estudiosos deste campo têm procurado identificar
factores (à semelhança do factor g de inteligência) que, porque correlacionados
com variadas tarefas motoras usualmente utilizadas para avaliar a prestação
ou performance físico-motora, permitam a aglomeração de um constructo
avaliativo da aptidão ou do valor físico. O trabalho clássico de Fleishman, em
1964, é disso mesmo ilustrativo, tendo permitido identificar factores específicos
da
aptidão
física
e
reforçado
o
conceito
emergente
da
sua
multidimensionalidade.
Quadro 4 - Exemplos de algumas das baterias mais utilizadas, de testes
de aptidão física.
Bateria
Organização
Ano
Youth Fitness Test
American Alliance for Health, Physical
Education and Recreation
1957
1976
Fitness Performance Test
Canadian Alliance for Health, Physical
Education and Recreation
1966
Health Related Physical
Fitness Test
American Alliance for Health, Physical
Education, Recreation and Dance
1980
FITNESSGRAM
Institute for Aerobics Research
1987
Physical Best
American Alliance for Health, Physical
Education, Recreation and Dance
1988
Eurofit
Conselho da Europa
1988
Caracterização do
Adolescente Escolar
Português
Instituto Nacional dos Desportos
1981
FACDEX
Faculdade de Ciências do Desporto e
Educação Física do Porto
1992
Como resultado directo desse tipo de investigação, têm vindo a ser
construídas e utilizadas em larga escala e em diferentes partes do mundo,
46
inúmeras baterias de testes de aptidão física das quais apresentamos alguns
exemplos no quadro 4.
Nos últimos tempos, e intimamente relacionadas com as preocupações de
rastreio e controlo dos factores da aptidão física associados à saúde, surgiram
não só novas versões em algumas baterias de teste (“Health Related Physical
Fitness” e Eurofit), mas essencialmente um novo conceito de avaliação da
aptidão física relacionada com os critérios mínimos referenciados à saúde
(FITNESSGRAM e “Physical Best”).
Encarada sob o ponto de vista da análise individualizada dos testes que
as compõem, muitas das baterias utilizadas para a avaliação da aptidão física,
embora incluam testes relacionados com os mesmos factores, poderão parecer
bastante diferentes na sua concepção e objectivos. No entanto, se encaradas
na sua globalidade (como expressão de um perfil) é possível apercebermo-nos
das suas coerências internas.
A aptidão física deve então ser entendida não só numa perspectiva
multidimensional, mas também de interactividade entre todas as suas subdimensões ou componentes na produção do desenvolvimento físico completo
(Corbin, 1991), apesar da inexistência de estudos de validação da estrutura
interna das inúmeras baterias poder levantar problemas à sua dimensionalidade e, sobretudo, à descrição, interpretação e inferência dos resultados
encontrados (Maia, 1995).
47
Um conceito mais recente de aptidão física é aquele que a apresenta na
sua relação com a saúde, extravasando assim o âmbito da performance
motora, qualquer que ela seja. A aptidão física pode ser vista como um conglomerado de componentes somáticos, motores e comportamentais, sendo
estes componentes interdependentes, por sua vez parte de um sistema social
de acção generalizada (Renson et al., 1980). Assim, embora a aptidão física
esteja
mais
directamente
condicionada
pela
hereditariedade
e
por
componentes orgânicas e comportamentais, é também afectada por valores
culturais, normas e símbolos.
Sobral (1994) diz-nos que as respostas motoras que traduzem os níveis
dos diversos factores condicionais também são, em situação de prestação
simples ou complexa (implicando tecnicidade e mestria), elementos sobre os
quais a selecção opera desde as etapas mais precoces de formação dos
jovens. Esta opinião pode ajudar a esclarecer a razão pela qual os factores da
aptidão física relacionados com a saúde ( health related fitness ), apresentam
normalmente antes dos doze anos, um grau de evolução na performance
inferior aos factores da aptidão física relacionados com as habilidades ( skills
related ), provavelmente devido ao maior valor social dado a estes últimos, bem
como à falta de qualquer esforço planeado para melhorar os primeiros (o que
requer níveis de participação mais intensa e sistemática) (Corbin, 1980b).
48
Quadro 5 - Resultados referidos em diversos estudos nas diferentes provas
constituintes da bateria da AAHPERD, com crianças de onze anos de
idade. Valores apresentados em média e desvio padrão, mediana
(percentil 50) ou referência critério.
Autores
População
Hunsicken & Reiff
(1980) a
Safrit (n. pub.) a
E.U.A. (Milwaukee)
SC
ABD
PUP
SR
SHR
50j
157.22
2.6
11.0
8.2
(21.84)
(2.8)
(1.1)
(0.8)
143.6
2.8
8.28
(19.2)
(2.91)
(0.74)
Ellis, Carron & Bailey
Saskatchewan child
169.42
39.4
(1975)
growth and
(14.99)
(10.5)
9MIN
development study
Malina (n.pub.) a
149.94
(16.8)
Keogh (1964) a
168.91
Cureton & Barry
(1964) a
(17.27)
Manno & Merni (1987)
152.4
Itália
jovens praticantes
Barabás (1989)
Hungria
Sobral (1989)
Açores
Marques et al (1992)
Duarte (1994)
165.6
26.7
(19.25)
(6.02)
143 (18)
153.4
25
(16.6)
(7.7)
Portugal (Porto)
153.3
37.4
25.3
jovens praticantes
(31.2)
(8.9)
(4.9)
Madeira
154.0
33
22.9
(13.6)
(8.15)
(5.92)
AAHPERD (1980)
E.U.A.
157
37
CAHPER (1966) a
Canadá
124.9
29
Hansom (1965) a
E.U.A. Minnesota
154.94
27
Brown (n. pub.) a
147.32
Hardin & Ramirez
(1972)a
139.7
FITNESSGRAM **
2
25
10.9
8.0
12.2
8.4
1577
8.2
8.4
30
1
a cit. por Roche & Malina (1983)
Os números em itálico referem-se ao percentil 50
49
Ao sumariarmos no quadro 5 os resultados de alguns estudos, tivemos a
preocupação de fornecer indicações que nos parecem relevantes quanto à
proveniência da amostra, bem como das suas características. As referências
recolhidas são apresentadas em valores de média e desvio-padrão, de
percentil 50 ou de valor de referência critério (no caso do FITNESSGRAM).
É ainda conveniente referir que em alguns casos os valores são fruto da
transformação do sistema de medida (pés em centímetros, por exemplo) e
noutros foi necessário a relativização do valor zero da escala de medida (no
teste de sit-and-reach nem todas as baterias apresentam o mesmo valor no
mesmo nível de medida).
2.11. Conclusões
Ao finalizar este ponto da revisão da literatura relativo aos factores
associados à expressão da performance motora na criança, interessa resumir
algumas das principais conclusões a reter:
•
Os níveis de desenvolvimento e performance evidenciados pelas crianças
são potencialmente dependentes das características herdadas dos seus
progenitores, mas dependem das condições reais do envolvimento para a
sua expressão plena. As condições de vida familiares, a educação, a
aprendizagem
e
o
treino,
constituem
de
facto
os
elementos
preponderantes de desenvolvimento dos traços genéticos, assumindo um
papel de preponderante importância no estudo do desenvolvimento e
prestação motora ao longo das etapas de crescimento.
50
•
Os ritmos diferenciados de maturação proporcionam, por si só, vantagens
ou
desvantagens
decisivas
na
diferenciação
das
características
associadas ao rendimento motor. Pode-se, para além disso, esperar que
estas diferenças se acentuem no período de rápida aceleração do
crescimento determinado pelo salto pubertário, pelo que qualquer comparação inter-individual realizada neste período deverá sempre ser
devidamente referenciada à idade biológica dos indivíduos.
•
As pressões do envolvimento são determinantes na evolução das manifestações da performance ao longo da vida. Torna-se assim primordial,
para a compreensão mais avalizada da sua expressão, conhecer as
características do envolvimento social, desde as condições sócio-económicas da família, às de interacção educativa e às possibilidades de
movimento.
A enorme quantidade de indicadores referenciados pelos
autores neste campo, bem como a sua, por vezes, completa oposição de
resultados, leva-nos a concluir pela necessidade de caracterização
específica de cada população ou nicho ecológico para melhor
compreensão das complexas interacções existentes.
•
A importância do ambiente de encorajamento familiar para a prática de
actividades físicas e desportivas - elemento fundamental na moldagem
dos gostos e preferências das crianças - é bem notória na grande relação
encontrada pelos autores entre a prática desportiva de pais e filhos, com
especial relevância em atletas de alto nível. O alargamento do âmbito
deste encorajamento a pessoas significantes (professores, amigos,
51
modelos) cumpre um papel cada vez mais relevante à medida que a
criança cresce e se envolve cada vez mais em acontecimentos sociais.
•
As oportunidades de prática durante a infância revelam-se de extraordinária importância na determinação, presente e futura, do ritmo de
desenvolvimento motor, favorecendo a funcionalidade orgânica e motora,
bem como moldando o entendimento da actividade física como um valor a
preservar ao longo da vida.
•
A motivação ou empenhamento colocado pela criança na prática da actividade física (factor primordial para o sucesso da sua participação) é
influenciado por fenómenos tão diversos como a comparação social com
os seus pares, a percepção do próprio sucesso e o encorajamento dos
pais e pessoas significantes.
•
O facto de o sucesso do desempenho motor poder estar relacionado em
determinados momentos com ritmos de maturação diferenciados, levanos a inferir do cuidado que é necessário colocar na avaliação desse
mesmo sucesso pelos elementos intervenientes na educação motora da
criança, de forma a obstar à eventual desmobilização desta no processo.
De qualquer forma parece-nos natural que boas condições individuais de
desempenho motor, normalmente associadas ao tamanho e morfologia,
possam influenciar o nível de motivação e vice-versa, o que, se não
entendido e corrigido poderá levar ao perpetuar das diferenças.
•
Vários autores apontam uma relação evidente entre a estatura e o ren-
52
dimento motor, no entanto, especialmente em idades pré-pubertárias,
esta relação não é linear. Já no que diz respeito à forma corporal no seu
conjunto, torna-se evidente a associação da componente muscular com o
sucesso da actividade motora, bem como a relação negativa com a
deposição de massa adiposa. Quando utilizado a técnica do somatótipo
para o estudo de populações de crianças activas, confirma-se
exactamente a importância da componente mesomórfica, normalmente
associada a uma lineariedade características desta faixa etária. Um outro
factor importante a salientar, diz respeito à reduzida variabilidade de
valores na distribuição dos somatótipos em populações de jovens atletas,
o que nos leva a concluir da grande utilidade deste processo na avaliação
do desenvolvimento morfológico e motor do jovem.
•
Sabe-se hoje que as proporções relativas de massa magra e massa
gorda são dinâmicamente dependentes do nível de desenvolvimento,
constituindo um factor que afecta a performance de várias medidas de
aptidão física e motora. A massa gorda é frequentemente apontada como
um factor biológico responsável pela variação da performance em
variadíssimas situações do âmbito motor, tornando-se mais evidente nos
casos em que o corpo está sujeito a um deslocamento de apreciável
distância, a uma aceleração horizontal ou a um deslocamento vertical. Ao
contrário, a massa magra parece influenciar de forma positiva a prestação
motora.
•
Os níveis de diversos factores condicionais são elementos sobre os quais
53
a selecção opera desde as etapas mais precoces de formação dos
jovens, já que a sua relação com o sucesso em situações de prestação
simples ou complexa, é evidente.
•
Apesar dos estudos realizados apontarem a evidente importância dos
níveis de aptidão física para o sucesso do desempenho motor, sentimos
dificuldades evidentes na recolha de dados relativos a idades prépubertárias, principalmente na Europa e especificamente no nosso país.
Por outro lado, a restrição da análise a uma ou outra prova, não permite
concluir do perfil completo da aptidão física do indivíduo, problema que é
agravado pela especificidade dos valores relativamente à actividade
desportiva praticada. Apesar disso, a referência dos parâmetros normais
e dos valores percentílicos, podem-nos dar uma visão comparativa
importante para a determinação das vantagens e/ou desvantagens para
os níveis de performance evidenciados durante determinada fase de
desenvolvimento.
•
Em conclusão, e para que se possa procurar entender na sua plenitude,
as condições de desenvolvimento propícias à expressão actual e futura de
níveis
elevados
de
performance
motora,
torna-se
imprescindível
equacionar todos os factores enunciados, já que só na sua interacção os
resultados se tornam verdadeiramente relevantes.
54
3. O papel da Escola no processo de desenvolvimento e avaliação
da performance
Na instituição escola a formação de base representa um domínio de
formação autónomo, insubstituível e relativamente complexo, devendo cumprir
uma função de desenvolvimento da competência motora e desportiva
fundamental em todos os alunos (Knappe & Hummel, 1991; Marques, 1991;
Sobral, 1992a).
Por outro lado, e principalmente nestas fases etárias, a escola deve ser
colocada no centro das avaliações, o que pressupõe a utilização de procedimentos simplificados de avaliação da performance motora e a valorização da
observação pedagógica, desempenhando um papel de qualificação e de
selecção adequado à necessidade de não sobrevalorizar aspectos parciais da
aptidão desportiva. (Knappe, & Hummel, 1991; Marques, 1991).
Interpretando a complexa organização das estruturas sociais da Educação Física e do Desporto, Bento (1985) comenta que esta significa também um
sistema hierárquico de realizações e organizações no qual a escola e o clube
local corporizam a estrutura primeira. Aqui, cada um é treinado, observado,
analisado e interpretado. Segundo Thieb (1989, cit. por Marques, 1991) as
crianças do ensino básico devem ser avaliadas pelo professor de Educação
Física para ver se em função da participação na aula obrigatória de Educação
Física se manifestam as capacidades desportivas necessárias para a participação, com êxito, nas tarefas do treino de base. Opinião compartilhada por
55
Racev (1989 cit. por Marques, 1991), Seefeldt (1988) e pelo próprio Marques
(1991, 1993) quando defendem que o método mais racional para a detecção e
selecção de novos desportistas é a observação directa nas aulas de Educação
Física e Desporto realizadas pelos professores.
Desde há muito tempo se aceita que as habilidades perceptivas de alguns
especialistas podem estar ligadas ou associadas a adaptações próprias do
treino dessas habilidades.
Pilotos, polícias, xadrezistas, programadores de
computadores e radiologistas, são algumas das populações estudadas e nas
quais se evidenciaram diferenças na habilidade de percepcionar factores
críticos de avaliação das situações específicas de cada actividade com o treino
/ experiência (Franks, 1993). Pouco estudos têm examinado as habilidades
perceptivas da observação de especialistas no campo motor ou desportivo; no
entanto, têm sido realizadas inúmeras investigações fundamentadas na opinião
ou juízo valorativo do especialista desportivo (principalmente na área da
detecção e selecção de talentos) e do professor de Educação Física (Pimentel,
1991; Dimas, 1992).
Por sua vez, Maia (1994) ao sugerir que a análise das tarefas fundamentais a realizar pelos indivíduos, no âmbito da actividade proposta, deverá
ser uma das referências fundamentais a utilizar para uma definição de performance que ofereça alguma consistência conceptual e operacional, aponta,
entre outros, o recurso ao painel de peritos e aos questionários específicos,
como solução corrente e apropriada. É de facto necessário que o professor
domine um conjunto de conhecimentos relativos ao processo de desenvolvi-
56
mento e aprendizagem humanos, que o capacitem a observar e interpretar as
diversas variáveis relativas ao percurso normal do desenvolvimento motor da
criança e do adolescente, bem como as respectivas características de
invariância (Neto, 1985)
Sobral (1990) vem juntar a este conceito a ideia de que, nas sociedades
desenvolvidas, a escolarização cobre virtualmente toda a população infantojuvenil, pelo que a escola se apresenta naturalmente como o espaço onde se
reúnem os recursos de índoles várias, cabendo à sociedade identificá-los e
promovê-los tendo em vista a sua máxima expressão.
Nenhum investigador dos processos de avaliação desportiva tenta predizer o sucesso da performance motora antes do envolvimento da referida
criança em actividades físicas e respectiva observação, sobretudo porque no
processo de avaliação e eventual selecção, a qualidade hereditária por si só é
pouco significativa, apenas se evidenciando através do envolvimento na
actividade.
Os índices de diferenciação do rendimento (entre eles os de
performance motora) determinados pelo código genético, mesmo quando em
presença de valores de estabilidade relativamente elevados, apenas se
deverão ter em conta no diagnóstico e prognóstico em relação com a idade
biológica, o tempo de treino, o processo de socialização e a observação
pedagógica final (Harsany, 1987; Seefeldt, 1988; Tschiene, 1986).
O rendimento e a capacidade de render constituem categorias didácticas
das mais importantes na Educação Física e nos desportos (Bento, 1987). A
escola afirma-se então, claramente, como um espaço privilegiado para
57
desempenhar o papel da avaliação da performance motora, não só porque
permite abranger nas suas fases iniciais a mais vasta base de população
juvenil, mas sobretudo porque lá se encontra o profissional que, pela sua
formação e sensibilidade para as exigências motoras e pela sua posição
estratégica no processo, está mais do que ninguém bem colocado para exercer
tal função: o professor de Educação Física (Marques, 1991, 1993).
Esta ideia ganha ainda maior consistência se nos lembrarmos que, a
concepção de performance motora que temos vindo a sugerir, extravasa
aquela que é normalmente adoptada nos processos organizados de detecção e
selecção de talentos desportivos (DSTD). Objectivando um pouco mais esta
nossa opinião, podemos dizer que o sucesso dos modelos de DSTD assenta
não só na possibilidade de identificação precoce de indicadores de rendimento
futuro em áreas específicas do domínio desportivo, mas, sobretudo na
optimização plena (por vezes extrema) dessas condições individuais, quantas
vezes à custa de uma desumanização e elitização crescente.
Para além de todas as diferenças - metodológicas e mesmo ideológicas eventualmente existentes, todos (ou quase todos) os processos utilizados na
DSTD apontam como principal vector orientador da sua intervenção o alto
rendimento desportivo, específico de uma dada modalidade e necessáriamente
exclusivo, eliminatório na sua essência, logo à partida e ao longo do tempo. As
grandes vantagens da utilização do meio escolar e dos profissionais da
Educação Física num processo similar, poderão ser , na nossa opinião:
58
•
A adequação da avaliação da performance motora aos níveis e ritmos
diferenciados de desenvolvimento da criança;
•
O alargamento dos objectivos do rendimento, actual e futuro, a um leque
muito maior de actividades do domínio desportivo, não condicionando
assim à partida a sua intervenção a domínios ou modalidades demasiado
específicas;
•
O carácter inclusivo da prática da Educação Física, que possibilita não só
a não exclusão precoce de crianças do processo de formação desportivo,
mas também uma mais correcta orientação do mesmo, já que o ecletismo
da prática aliado à menor pressão de decisão poderá potenciar uma
escolha própria mais criteriosa pela criança, e mais consciente e
humanizada pelo professor.
É esta visão pedagógica, científica, mas sobretudo humanizada, que
pensamos poder colher da participação dos professores de Educação Física
nestes momentos iniciais do processo de orientação e formação desportivomotora.
59
Objecto do Estudo
Objecto do Estudo
Partindo do conjunto de ideias e conhecimentos expressos no capítulo
anterior, onde se procurou:
•
dimensionar uma perspectiva de performance motora associada ao
desenvolvimento;
•
definir aspectos caracterizadores dessa performance passíveis de utilização para uma avaliação diagnóstica e prognóstica pelos condutores do
processo de formação;
•
apontar indicadores específicos, normalmente associados à diferenciação
efectiva dos níveis de rendimento em várias idades; e
•
perspectivar a importância do professor de Educação Física, no processo
de formação e orientação desportiva, também ao nível da avaliação
(detecção) inicial;
definimos como nossa intenção de trabalho, verificar a coerência sistémica da
actuação deste conjunto de ideias ou pressupostos.
Este estudo procura ser essencialmente um trabalho exploratório em que
a validação da opinião do professor de Educação Física, enquanto sujeito
responsável de um processo inicial de condução e orientação do rendimento
físico-desportivo na escola, será realizada através de métodos indirectos de
60
Objecto do Estudo
avaliação de alguns parâmetros relativos ao desenvolvimento e performance
motora dos seus alunos.
4. Objectivo
Constituirá objectivo geral deste trabalho verificar se a diferenciação
resultante da escolha realizada pelos professores de Educação Física em
ambiente escolar, relativamente ao desempenho motor evidenciado por
crianças do sexo masculino de onze anos de idade, se adequa à comparação
das características de índole sócio-familiar, somáticas e de aptidão física,
usualmente associadas à diferenciação da performance motora, durante esta
fase de desenvolvimento da criança.
5. Enunciado do problema
Da apresentação inicialmente realizada resulta o nosso problema de
estudo:
Será que crianças pré-pubertárias, do sexo masculino, consideradas
como evidenciando os melhores níveis, num conjunto de características associadas à performance motora generalizada, pelos
respectivos professores de Educação Física, se diferenciarão também
positivamente quanto aos indicadores sócio-familiares, somáticos e
de aptidão física, normalmente relacionados a níveis superiores de
61
Objecto do Estudo
prestação desportivo-motora ?
Este problema básico, extraordinariamente complexo, é passível de
subdivisão em questões mais objectivas e operacionalizáveis.
Em primeiro
lugar coloca-se a questão da comparação e diferenciação entre os pares:
Será que as crianças, resultantes da escolha dos respectivos
professores de Educação Física, se diferenciam dos seus pares
relativamente aos indicadores sócio-familiares, somáticos e de
aptidão física a estudar ?
Uma vez respondida esta questão pela positiva, restará complementá-la
relativamente ao objectivo pretendido e ainda no âmbito da população em
causa:
Será que as diferenças evidenciadas nos vários indicadores são
suficientes ou de molde a, individualmente ou no seu conjunto,
poderem reforçar e validar a classificação expressa pelos
professores ?
Por último interessará a integração dos resultados e conclusões retiradas
no âmbito de uma questão mais alargada e prospectiva:
Será que as características sócio-familiares, somáticas e de aptidão
física registadas nas crianças escolhidas pelos professores, são de
62
Objecto do Estudo
molde a podermos esperar destas um melhor comportamento para o
rendimento actual e futuro, no que diz respeito às actividades físicas e
desportivas ?
63
Objecto do Estudo
6. Definição das variáveis de estudo
De forma a testar as questões colocadas, foram definidas as seguintes
variáveis de estudo:
• Variável Independente - Nível de desempenho motor generalizado,
segundo a avaliação dos professores.
• Variáveis Dependentes - Características sócio-familiares (estatuto
sócio-económico, nível de escolaridade dos pais, tipo de habitação
familiar, espaços envolventes à residência, número de pessoas por
assoalhada, número de irmãos, ordem de fratria e passado desportivo dos
pais), características somáticas (altura, peso, percentagem de massa
gorda, massa magra e somatótipo) e características de aptidão física
(medidas pelas provas pertencentes à bateria da AAPHERD - “Health
related physical fitness test”).
64
Métodos e Procedimentos
Métodos e Procedimentos
O design experimental deste trabalho consiste essencialmente na
constituição de dois grupos de alunos, escolhidos pelos respectivos professores de Educação Física, segundo critérios apontados pelos autores da
especialidade como adequados à avaliação da performance motora em
crianças. Os dois grupos foram então comparados entre si nos vários indicadores dos domínios sócio-familiar, somático e de aptidão física.
7. Processo de selecção dos professores de Educação Física
A escolha dos professores de Educação Física, a quem foi solicitada
colaboração neste trabalho, obedeceu a critérios mínimos de habilitação
académica (licenciatura), profissional (professores do quadro de nomeação
definitiva) e de experiência profissional (três anos completos de serviço
docente no 2º CEB). Foram inquiridos todos os professores que, cumprindo
estas condições, leccionavam turmas do 1º ano do 2º CEB numa das cinco
escolas existentes no perímetro urbano de Viana do Castelo (Escola Preparatória Pedro Barbosa, Escola Preparatória Frei Bartolomeu dos Mártires,
Escola C+S de Viana do Castelo, Escola C+S Pintor José de Brito e Escola
C+S de Darque).
Como resultado, participaram neste estudo nove professores, sendo cinco
65
Métodos e Procedimentos
do sexo feminino e quatro do sexo masculino, apresentando uma média de
idades de 34.5 anos, e de tempo de docência de 11.3 anos (Anexo G).
8. Processo de selecção da amostra de alunos
8.1.
Critérios de escolha da amostra total de alunos
Os critérios que presidiram à constituição da amostra total de alunos
foram a idade (nascidos em 1983, possuindo portanto uma idade
compreendida entre 10.5 e 11.5 anos decimais), o sexo (masculino) e o nível
de maturação (pré-pubertário).
Para a determinação deste último critério foram consideradas no nível
pré--pubertário as crianças situadas nos estádios G1 e G2 da escala de
desenvolvimento genital de Tanner (1962), conforme sugerido por Maia e
Vicente (1988) e Slaughter et al. (1988). A avaliação deste critério foi realizada
através do método de auto-classificação dos alunos perante fotografias da
escala de Tanner, segundo os procedimentos sugeridos por Mascie -Taylor e
Boldsew (1987), e Matsudo e Matsudo (1994).
A constituição dos grupos foi realizada, como será referido posteriormente, segundo a diferenciação efectuada pelos professores relativamente aos
dotes motores evidenciados pelos alunos ao longo do ano, nas tarefas da
disciplina de Educação Física.
66
Métodos e Procedimentos
A escolha destes três critérios, mutuamente exclusivos, justifica-se:
•
Pela necessidade de assegurar que todos os indivíduos testados se
situavam num período pré-pubertário, procurando assim eliminar os
efeitos da maturação nas variáveis em estudo;
•
Pelo interesse normalmente demonstrado pelos autores da especialidade
no estudo desta idade (Sobral, 1994; Nadori, 1987, 1983; Tschienne,
1986; Malina, 1988; Marques, 1993; Neto, 1982; Maggil, 1988; Hahn,
1989; Knappe e Hummel, 1991; Maia, 1994), relativamente às
possibilidades de prognose ou predição do rendimento desportivo-motor;
•
Pela facto de nesta idade as crianças serem normalmente confrontadas
com o primeiro momento sistemático e organizado de actividades físicas;
•
Pelo facto de esta idade ser usualmente apontada como período ideal de
iniciação na prática desportiva, o que faz dela um primeiro momento
importante no processo de detecção de talentos.
8.2.
Critério de diferenciação do nível de desempenho motor dos alunos
O conceito que presidiu a este critério é reconhecidamente difícil de
objectivar e consensualizar entre os vários professores. Pretendemos mesmo
assim correr o risco de o utilizar, já que a possibilidade de participação do
professor de Educação Física na fase inicial do processo de avaliação das
qualidades motoras evidenciadas pelos seus alunos, constitui um dos
objectivos centrais deste trabalho e da nossa própria convicção.
67
Métodos e Procedimentos
Procurando minimizar eventuais divergências existentes, foi construída
uma escala de avaliação baseada nas cinco categorias comportamentais
anteriormente apresentadas aquando do ponto da revisão da literatura em que
a noção de performance motora foi equacionada (pág. 10). Relembramos aqui
que a congregação da opinião de diversos autores (Nadori, 1987, 1983;
Tschienne, 1986; Malina, 1988; Marques, 1993; Sobral, 1994) levou à
determinação de cinco grandes factores ou categorias que, pelo grau da sua
expressão particular na criança, nos poderão permitir distinguir diferentes
níveis de aptidão motora, adequados à avaliação da performance neste
período etário:
1. A capacidade de aprendizagem motora;
2. A amplitude do reportório motor;
3. A capacidade de adaptação a novas e variadas situações de solicitação
motora;
4. O grau de correcção na execução de técnicas e habilidades motoras
decorrentes das aprendizagens desportivas;
5. A criatividade demonstrada na superação das dificuldades das tarefas
propostas
Cada uma dessas categorias foi dividida em quatro níveis possíveis de
avaliação, sendo definidos os comportamentos relativos aos dois níveis
extremos (Quadro 6). As vantagens da utilização de um instrumento de avaliação aberto na determinação do nível de rendimento motor - passe embora
toda a possível crítica de falta de rigor - parecem-nos evidentes dadas as
características sui generis de desenvolvimento da criança a que é necessário
68
Métodos e Procedimentos
atender. Isto mesmo ficou bem patente na opinião dos autores quando, por um
lado, reforçam a necessidade de entendimento complexo da interacção entre
as exigências físicas, motoras, perceptivas, sociais, emocionais e intelectuais
que constituem uma base multifactorial da performance (Maia & Vicente, 1988;
Malina, 1988b, Sobral, 1994); chamam a atenção para o processo e conceito
equívoco de identificação precoce de talentos motores, através da determinação infalível de indicadores ou características fiáveis, prenunciadoras do
sucesso desportivo futuro (Nadori, 1987; Sobral, 1994) e esclarecem a importância da observação sujeita às características generalizadas (e menos
deterministas e/ou determinadas) de uma proficiência motora adaptativa (ou
disponibilidade motora), essa sim prenunciadora de um possível êxito futuro
(Neto, 1982; Nadori, 1987; Sobral, 1994; Hahn, 1982; Tschienne, 1986;
Marques, 1993).
Quadro 6 - Escala de avaliação proposta aos professores para
classificar os respectivos alunos.
NÍVEL SUPERIOR
NÍVEL INFERIOR
O aluno demonstra grande facilidade na
aprendizagem de novas habilidades, técnicas ou
comportamentos motores.
O aluno demonstra grande dificuldade na
aprendizagem de novas habilidades, técnicas
ou comportamentos motores.
O aluno utiliza correctamente um reportório muito
variado de comportamentos motores.
O aluno denota grandes insuficiências no seu
reportório motor.
O aluno demonstra grande capacidade de
adaptabilidade do seu comportamento motor a
situações novas ou estímulos da aula.
O aluno demonstra dificuldades na
adaptabilidade do seu comportamento motor a
situações novas ou estímulos da aula.
O aluno interpreta/utiliza correctamente a grande
maioria ou a totalidade das técnicas e habilidades
ensinadas na aula.
O aluno denota dificuldades na execução da
grande maioria das técnicas e habilidades
ensinadas na aula.
O aluno demonstra criatividade nas soluções
motoras utilizadas para ultrapassar situações de
dificuldade.
O aluno denota dificuldades na elaboração de
soluções motoras para ultrapassar situações de
dificuldade.
69
Métodos e Procedimentos
São exactamente as características dessa chamada disponibilidade
motora que, por impossibilidade de definição exacta, mensurável, nos levaram
à opção por este instrumento de avaliação mais aberto, menos rigoroso talvez,
mas, do nosso ponto de vista, mais adequado à realidade, ou ao indeterminismo da realidade infanto-juvenil.
Os professores foram esclarecidos rigorosamente sobre o significado dos
termos mais importantes utilizados na escala de avaliação, sendo-lhes pedido
que situassem individualmente os seus alunos, do sexo masculino e nascidos
em 1983, num dos níveis de cada uma das cinco categorias, de acordo com as
seguintes instruções:
•
A classificação dos alunos em cada uma das categorias deverá dizer
respeito ao desempenho motor evidenciado ao longo do ano e das diferentes actividades das aulas de EF, e não particularmente de um qualquer
momento ou actividade.
•
O mesmo critério ou bitola de avaliação deverá ser mantido de aluno para
aluno e de turma para turma.
•
As características individuais a levar em linha de conta na classificação
dos alunos apenas deverão dizer respeito ao domínio motor, excluindo
toda e qualquer afinidade com os aspectos afectivos e/ou disciplinares.
Constituiu critério de inclusão no grupo A (alunos distinguidos pelos
professores como apresentando melhores níveis de desempenho motor), o
posicionamento pelo respectivo professor no nível mais elevado em todas as
70
Métodos e Procedimentos
categorias da escala de avaliação. De entre os restantes alunos foram sorteados os pertencentes ao grupo B, num total de 40 crianças.
8.3.
Constituição final da amostra de alunos
No seu conjunto os nove professores inquiridos leccionavam 20 turmas,
abrangendo um total de 145 alunos cumprindo os critérios de sexo e idade
propostos.
Quadro 7 - Síntese do conjunto de escolas, professores, e alunos
participantes no estudo.
Escola
Professor
Turma
nº alunos *
Grupo A
Grupo B
SM
1
A
11
2
3
B
8
1
4
C
5
1
3
D
9
1
3
E
6
0
0
F
4
1
2
G
7
1
3
3
H
7
2
3
4
I
7
2
3
J
11
0
0
K
8
2
3
L
3
0
0
M
3
0
0
6
N
6
1
3
FB
7
O
11
2
3
VC
8
P
6
0
0
Q
7
0
0
R
6
0
4
S
10
0
0
T
2
0
0
U
8
2
3
20
145
18
40
2
PB
5
D
Totais
9
9
* nº de alunos do sexo masculinos e nascidos em 1983 existentes na
turma.
71
Métodos e Procedimentos
Os resultados da selecção resultante da análise realizada pelos
professores é mostrada no quadro 7.
Do total de alunos escolhidos inicialmente para constituição da amostra
(18 - grupo A ; 40 - grupo B ) foram excluídos seis por ausência de dados em
alguma das variáveis testadas e cinco por se encontrarem em níveis de
maturação superiores ao pretendido, ficando a amostra final de alunos assim
constituída:
Grupo A - Dezassete crianças pré-pubertárias do sexo masculino,
apresentando uma média de idade decimal de 11.1 e desvio padrão de
0.30 anos e consideradas pelos respectivos professores no nível mais
elevado de todas as categorias comportamentais da escala de avaliação.
Grupo B - Trinta crianças pré-pubertárias do sexo masculino, apresentando
uma média de idade decimal de 11.0 e desvio padrão de 0.27 anos e não
consideradas pelos respectivos professores no nível mais elevado pelo
menos em uma das categorias comportamentais da escala de avaliação.
Cabe ainda aqui registar uma particularidade comum a todas as crianças
testadas, que foi a de nenhuma apresentar no seu passado qualquer prática
regular de uma qualquer actividade física sistemática e orientada, quer na
escola (1º ciclo), quer num clube. Esta característica constituía inicialmente um
dos indicadores a estudar, mas pela sua completa ausência resolvemos
referenciá-la neste momento. Para melhor entendimento esclarece-se que, por
prática sistemática e orientada, se entendeu a participação em sessões
72
Métodos e Procedimentos
organizadas, com frequência mínima bi-semanal durante um período nunca
inferior a três meses.
9. Variáveis em estudo
9.1.
Variáveis somáticas
As variáveis somáticas em estudo neste trabalho foram a altura, o peso, a
composição corporal e o somatótipo. A sua determinação exigiu o recurso a
procedimentos
de
mensuração
e
cálculo
que
passamos
a
explicar
resumidamente.
9.1.1.
Medidas antropométricas
9.1.1.1. Fidelidade das medidas
Todas as medições foram efectuadas pelo mesmo observador.
O
controlo dos erros de observador foi realizado em dois momentos:
•
o primeiro decorreu durante a fase de treino do observador, através da
execução repetida das medidas a dez crianças com idades semelhantes
às da amostra a testar;
•
o segundo momento aconteceu concomitantemente com a realização das
sessões de mensuração aos alunos da amostra e consistiu na repetição
de todas as medidas de um indivíduo escolhido aleatoriamente por grupo
73
Métodos e Procedimentos
de testagem, num total de 15 crianças.
As diferenças encontradas entre a primeira medida e a sua réplica não
ultrapassaram em nenhum dos casos os limites de tolerância sugeridos por
Sobral (1985) para qualquer uma das medidas tomadas.
9.1.1.2. Condições de observação
Todas as medidas, com cada grupo de testagem, foram realizadas na
primeira sessão de observação. Por ser impossível manter condições precisamente semelhantes de horário, local, humidade, espaço, etc., na mensuração de todos os alunos, optamos por observar e manter algumas regras e
procedimentos com o intuito de minimizar essas diferenças e que passamos a
descrever:
•
Todas as sessões foram realizadas pelo menos duas horas após a última
grande refeição;
•
A ordem de execução das medidas foi sempre igual em todos os grupos
de testagem.
•
Os grupos de testagem possuíam um número semelhante de alunos;
•
As observações decorreram sempre em local sossegado (balneário ou
sala de apoio médico), de temperatura amena e isolado de outros
elementos.
•
A execução das medidas foi precedida de explicação simplificada acerca
74
Métodos e Procedimentos
do seu objectivo e, por vezes, de demonstração no observador (pregas
adiposas), de forma a não criar receios nas crianças.
9.1.1.3. Técnicas de mensuração
As técnicas de mensuração utilizadas foram as descritas por Lohman,
Roche e Martorell (1988), que passamos a descrever sucintamente. Todas as
medidas que exigiam a determinação de um dos lados foram tomadas no lado
direito.
1. Altura (ALT)
Medida entre o vértex e o plano de referência do solo, utilizando um
antropómetro e segundo a técnica descrita por Lohman et al. (1988). O
registo fez-se com aproximação ao milímetro.
2. Peso (PESO)
Medido com a criança envergando apenas calções. O registo fez-se com
aproximação aos 200 gramas.
3. Prega adiposa tricipital (SKTRC)
Prega vertical medida na face posterior do braço, a meia distância entre os
pontos acromial e radial. O registo fez-se com aproximação ao milímetro.
4. Prega adiposa subescapular (SKSBC)
Prega oblíqua para fora e para baixo, localizada no vértice inferior da
omoplata. O registo fez-se com aproximação ao milímetro.
75
Métodos e Procedimentos
5. Prega adiposa supra-ilíaca (SKSUP)
Prega oblíqua localizada sobre a crista ilíaca e no cruzamento desta com a
linha axilar média. O registo fez-se com aproximação ao milímetro.
6. Prega adiposa geminal (SKGEM)
Prega vertical medida na face interna da perna, ao nível da maior circunferência. Registada com aproximação ao milímetro.
7. Perímetro braquial em contracção (PBRc)
Medido no ponto de maior circunferência do braço com a criança em
contracção máxima efectuada com oposição do braço esquerdo. O registo
fez-se com aproximação ao milímetro.
8. Perímetro geminal (PGEM)
Medido ao nível da maior circunferência da perna com a criqnça em pé e
com o peso repartido por ambos os apoios. O registo fez-se com aproximação ao milímetro.
9. Diâmetro bicôndilo-umeral (DBCH)
Medido entre o epicôndilo e a epitróclea com o braço a 90o e a face dorsal
da mão virada para o observador. O registo fez-se com aproximação ao
milímetro.
10. Diâmetro bicôndilo-femoral (DBCF)
Medido entre os pontos mais salientes dos côndilos femorais, com a criança
sentada sem apoio dos pés. O registo fez-se com aproximação ao milímetro.
76
Métodos e Procedimentos
9.1.1.4. Material utilizado
Durante as mensurações antropométricas foram utilizados: o antropómetro de Martin na medição da altura, uma balança portátil electrónica Salter
na medição do peso, o compasso de pontas rombas na medição dos diâmetros
e um plissómetro Slim Guide nas pregas adiposas
9.1.2.
Composição corporal
Para a obtenção da percentagem de massa adiposa (%FAT) foram utilizadas duas fórmulas propostas por Slaughter et al. (1988) para indivíduos prépubertários do sexo masculino e raça caucasiana. Estas fórmulas utilizam a
soma de duas pregas de adiposidade subcutânea (tricipital e subescapular) e
são utilizadas distintamente consoante essa mesma soma atinge ou não o
valor de 35 mm:
< 35 mm - %FAT= 1.21 (SKTRC + SKSBC) - 0.008 (SKTRC + SKSBC)2 - 1.7
> 35 mm - %FAT= 0.783 (SKTRC + SKSBC) + 1.6
9.1.3.
Somatótipo
A determinação das três componentes do somatótipo de Heat & Carter foi
realizada segundo o procedimento proposto por Fragoso e Vieira (1994).
77
Métodos e Procedimentos
9.2.
Variáveis de aptidão física
Os valores das variáveis de aptidão física foram obtidos através da realização dos testes pertencentes à bateria da AAHPERD, “Health-Related
Physical Fitness Test” (1980). A escolha desta bateria deveu-se :
•
à reconhecida validade, fidelidade e confiança que lhe é atribuída na
testagem do perfil de aptidão física com crianças e jovens;
•
à sua ampla utilização que associada à existência de regras explícitas de
admnistração e de tabelas normativas, assegura a possibilidade da
comparação com outros estudos realizados;
•
à sua facilidade de execução em ambiente escolar, quer pelo material e
espaços necessários, quer pela utilização de exercícios ou movimentos
cuja execução é tradicionalmente familiar aos alunos, o que facilita a
compreensão e correcção das regras de execução.
As regras de execução, bem como as de mensuração e registo, foram as
descritas pela AAHPERD (1980). Todos os procedimentos relativos aos testes
foram assegurados pelo mesmo observador (ou observadores quando o teste
assim o exigia), tendo sido estes anteriormente treinados na função.
Embora os testes tenham sido realizados em momentos e locais distintos
(diferentes escolas), foram observadas e mantidas algumas regras e
procedimentos que passamos a descrever:
78
Métodos e Procedimentos
•
Todos os testes foram realizados pelo menos duas horas após a última
grande refeição;
•
Foram utilizados dois momentos de testagem para cada grupo, correspondentes às duas aulas semanais de Educação Física.
No primeiro
momento foram realizadas as provas de pull-up, shuttle run e a de
abdominais em 60 seg.. No segundo momento tiveram lugar os testes de
salto em comprimento sem corrida preparatória, sit-and-reach, corrida de
50 jardas e corrida de 9 minutos.
•
A ordem de execução dos testes foi sempre igual em todos os grupos de
testagem.
•
Os grupos de testagem possuiam um número semelhante de alunos.
•
As condições materiais foram semelhantes de escola para escola e
adequadas à execução dos diferentes testes (nomeadamente os solos e
trajectos a cumprir), não se tendo registado nenhuma situação em que
aquelas condições prejudicassem ou alterassem consistentemente os
resultados. Quando tal aconteceu, pontualmente, foi permitido ao aluno
prejudicado a repetição da tentativa.
•
A explicação e demonstração de cada teste, bem como a explicitação
clara do seu objectivo e as formas de encorajamento, foram mantidas em
todas as sessões de testagem.
79
Métodos e Procedimentos
9.2.1.
Descrição dos testes
As descrições seguintes constituem apenas um resumo das características mais importantes de realização de cada um dos testes efectuados, bem
como das suas condições específicas de realização.
Uma descrição mais
pormenorizada é apresentada em anexo no final deste trabalho (Anexo F).
Foi sempre dada antecipadamente uma instrução acerca da natureza e
objectivos da prova a cumprir, sendo os alunos encorajados a realizar o seu
melhor.
1. Salto em comprimento sem corrida preparatória (SC)
A partir de uma linha traçada no chão o aluno deveria procurar saltar o mais
longe possível, a pés juntos e sem corrida ou qualquer passo preparatório,
fazendo uso de balanços dos braços. A saída do solo teria de ser simétrica
e sem ultrapassar a linha traçada.
O salto foi medido da linha marcada até ao ponto mais recuado de contacto
com o solo.
Foram permitidas três tentativas, sendo registada a melhor
marca, arredondada ao centímetro mais próximo.
Condições de realização
Após ter sido demonstrada e explicada a execução desta prova, foi permitido
aos alunos experimentarem algumas vezes o movimento com a correcção
do observador.
Todos os testes foram realizados em solos de boa aderência.
Uma fita
métrica foi colada no solo, perpendicularmente à linha de salto. O ponto
80
Métodos e Procedimentos
mais recuado de contacto com o solo foi marcado com uma marca adesiva
pelo observador e medida na fita com a ajuda de uma régua. Quando a
perpendicularidade da medida oferecia dúvidas (por afastamento do ponto
de medida à fita) foi utilizada uma segunda fita métrica para medir directamente da marca à linha de salto.
2. Sit-and-reach (flexão do tronco à frente sentado) (SR)
Na posição de sentado, e sem sapatos, o aluno testado encostava os pés ao
tampo da caixa de flexibilidade previamente colocada junto de uma parede.
Conservando os joelhos sem flectir, os braços deveriam ser estendidos à
frente com uma mão colocada sobre a outra, palmas para baixo, procurando
alcançar a maior distância possível.
O valor foi registado ao quarto
movimento de flexão do tronco, devendo este ser mantido na posição
máxima alcançada durante aproximadamente um segundo.
Resultado
registado com aproximação ao centímetro mais próximo.
Condições de realização
Após ter sido explicada e demonstrada a execução do teste, foi permitido
experimentar duas vezes o movimento antes da execução.
O observador ajudou à manutenção da extensão das pernas, mantendo uma
mão sobre os joelhos do executante.
O teste foi repetido sempre que se verificou alguma falta na execução
3. Shuttle run (corrida de vaivém) (SHR)
Partindo duma linha marcada no chão, o aluno deveria ir buscar dois blocos
81
Métodos e Procedimentos
de madeira (um de cada vez) colocados atrás duma segunda linha, paralela
à de partida e marcada a 9.14 metros desta, no menor tempo possível. O
primeiro bloco era colocado atrás da linha de partida (não podendo ser
atirado) e o segundo transportado enquanto esta é cruzada, finalizando a
prova.
As vozes de partida foram “Prontos?” e “Vai”.
Foram concedidas duas
tentativas intervaladas por algum tempo de descanso, sendo registado o
melhor tempo com aproximação a 0.1 segundos.
Condições de realização
A prova foi realizada por dois alunos ao mesmo tempo, tendo sido registada
por um único observador, com um cronómetro tirando dois tempos.
Este teste foi realizado sempre em pavilhão, com superfícies permitindo uma
boa aderência.
No entanto, quando se verificou algum problema de
aderência, foi permitido ao aluno a repetição da tentativa.
Foi realçada a necessidade de não diminuir a velocidade antes da transição
da linha de chegada. Os alunos foram também informados de que, embora
competindo dois a dois na prova, o pretendido não era a vitória sobre o
companheiro mas sim a realização do melhor tempo possível.
4. Abdominais em 60 segundos (ABD)
Aos alunos foi pedido que durante 60 segundos realizassem o maior número
possível de movimentos de flexão abdominal.
Na posição inicial o aluno foi colocado em decúbito dorsal sobre um colchão,
joelhos flectidos, pés apoiados no chão e seguros por um colega, braços
82
Métodos e Procedimentos
cruzados sobre o peito e mãos colocadas sobre o ombro oposto.
O
movimento deveria ser efectuado até ao contacto dos braços com as coxas
(movimento ascendente) e até ao contacto das costas com o colchão
(movimento descendente). Os braços deveriam ser mantidos cruzados junto
ao peito e os calcanhares a uma distância de 30 a 45 cm das nádegas.
Qualquer incumprimento de uma destas regras implicou a não contagem do
movimento efectuado.
Condições de realização
O teste foi realizado individualmente, tendo sido utilizado um tapete de
ginástica como superfície de teste.
Após visualisarem a demonstração e experimentarem a execução foi-lhes
explicado quais as faltas que implicariam a não contagem do movimento
efectuado.
O observador permaneceu ao lado da criança, contando em voz alta o
número de execuções.
5. Corrida de 50 jardas (50J)
O teste consistiu em percorrer, no mínimo tempo possível, uma distância de
50 jardas (45,73 metros). Os alunos colocados atrás da linha de partida
iniciam a sua prova às vozes de “Prontos?” e “Vai”. Esta última voz foi
acompanhada do abaixamento do braço do indivíduo que deu a partida, de
forma a dar um sinal visual ao cronometrista que se encontrava junto da
linha de chegada.
Resultado registado com aproximação a 0.1 segundos.
83
Métodos e Procedimentos
Condições de realização
O teste foi realizado numa pista de velocidade pertencente às escolas. A
cada indivíduo testado foi permitida apenas uma tentativa, após um período
de aquecimento.
Nos casos em que se verificou alguma anomalia no decorrer da prova, foi
pedido à criança em causa que repetisse a mesma.
A prova foi realizada por dois alunos ao mesmo tempo, tendo sido registada
por um único observador, com um cronómetro tirando dois tempos.
Os alunos foram encorajados a manterem o máximo de velocidade até
transporem a linha de chegada.
6. Pull up (flexões de braço na barra) (PUP)
O teste consistiu na realização do maior número possível de flexões de
braço completas, suspenso de uma barra de metal. O aluno foi colocado em
suspensão pelo observador, mãos em supinação, braços completamente
estendidos. Foi contado o número de vezes que conseguiu elevar o queixo
acima da barra.
Não foram permitidos movimentos de balanço com as
pernas .
Condições de realização
Foi construído um mecanismo que permitiu fixar uma barra aos espaldares,
adaptando-a à altura desejada.
Após explicação e demonstração do
exercício pelo observador, o aluno foi encorajado a realizar o número
máximo de flexões. Foi permitida apenas uma tentativa, excepto quando se
verificou
84
Métodos e Procedimentos
que algum factor anormal, ou a falta de entendimento do que era pedido,
levou a que o aluno não tivesse tido uma prestação adequada.
7. Corrida de 9 minutos (9MIN)
Foi pedido aos alunos que percorressem a maior distância possível durante
o tempo de duração da prova (nove minutos). Os alunos foram instruídos do
objectivo da prova e incentivados a realizá-la sempre em corrida.
A partida foi dada às vozes de “Prontos?”, “Vai”, tendo sido dada indicação
de minuto a minuto durante o decorrer da prova. Um apito marcou o final
dos nove minutos, tendo sido pedido aos alunos que permanecessem no
local onde se encontravam até este ser marcado pelos observadores.
Quando alguma das crianças parava a corrida era incentivada a continuá-la,
ou pelo menos a prosseguir em passo rápido.
Condições de realização
O teste foi realizado no espaço exterior da escola ou à volta de um campo
de andebol, num trajecto sinalizado por quatro pinos.
Cada prova foi administrada a um máximo de cinco e a um mínimo de três
alunos de cada vez. A distância percorrida foi controlada e registada por
dois observadores, com aproximação a 1 metro.
9.3.
Variáveis sócio-familiares
Com o intuito de recolher os dados relativos às variáveis sócio-familiares
foram realizados dois inquéritos (Anexos 3 e 4).
85
Métodos e Procedimentos
Inquérito 1 (Anexo C)
Teve como propósito a recolha de informações relativas ao estatuto sócio-económico da família (profissão e habilitações), bem como da prática
desportiva dos pais.
Este inquérito foi entregue aos alunos que por sua vez os entregaram aos
pais para preenchimento.
Conjuntamente, aproveitou-se para informar os pais da realização e natureza deste estudo, bem como para solicitar a sua permissão para a inclusão
dos filhos no mesmo.
Inquérito 2 (Anexo D)
Visando a determinação da dimensão da família, ordem de nascimento, tipo
de habitação familiar, número de assoalhadas e espaço envolvente às
habitações utilizado pelas crianças nas suas brincadeiras e práticas de
tempos livres.
Foi realizado através da inquirição de cada criança individualmente, sendo a
anotação realizada pelo observador.
Como verificação da correcção das informações prestadas pelas crianças,
nomeadamente no que diz respeito ao espaço envolvente da habitação,
procedeu-se à escolha aleatória de dez alunos cujas habitações foram
posteriormente visitadas pelo investigador que verificou in loco a veracidade
das mesmas.
Em nenhum destes dez casos existiu a necessidade de
proceder a qualquer alteração nas anotações realizadas, pelo que aceitamos
a veracidade das mesmas, na generalidade.
86
Métodos e Procedimentos
9.3.1.
Descrição das variáveis
Foram estudadas as variáveis relativas ao estatuto sócio-económico
(estatuto sócio-profissional dos pais, o nível de habilitação escolar dos pais e o
número de pessoas do agregado familiar por assoalhada), ao espaço
habitacional e envolvente ( tipo de residência e espaço envolvente utilizado
pelas crianças), à prática desportiva familiar (dos pais e das crianças) e à fratria
(ordem de nascimento e nº de irmãos).
Para cada um destes conjuntos de variáveis foram utilizados vários níveis
ou categorias de classificação, a saber:
1. Estatuto sócio-profissional
As diferentes categorias foram construídas tomando como referência a
primeira adaptação para Portugal da escala de Warner (1977).
2. Nível de habilitação académica
Foram consideradas quatro categorias relativas à conclusão do 1º Ciclo
(1ºC), 2º Ciclo (2ºC) e 3º Ciclo do Ensino Básico (3ºC) e à conclusão do
antigo Curso Complementar / 11º ano de escolaridade ou superior (11º).
3. Nº de indivíduos do agregado familiar por assoalhada
Foram levados em conta os valores individuais registados em cada família.
4. Tipo de residência
A classificação desta variável foi dividida em cinco categorias: bairro residencial (vivenda ou casa geminada integradas num conjunto de residências
87
Métodos e Procedimentos
do mesmo género), bairro habitacional (apartamento pertencente a uma
urbanização contendo vários blocos ou prédios do mesmo tipo), prédio
(apartamento pertencendo a um prédio ou bloco isolado), casa (vivenda ou
casa rural isolada com pequeno espaço anexo), quinta (propriedade rural
contendo casa de habitação e espaços amplos de lavoura e/ou pomares).
5. Espaço envolvente da habitação
Foram consideradas quatro categorias relativas aos espaços existentes junto
às habitações e que são utilizados pelas crianças nos seus tempos livres:
ruas ou caminhos, jardins (públicos ou privados), espaços verdes (pinhais,
pomares e campos de cultivo) e espaços livres (largos públicos, campos de
futebol, polivalentes desportivos e grandes espaços descampados).
6. Ordem de nascimento
As categorias foram construídas tal como habitualmente são descritas em
trabalhos deste âmbito (Fragoso, 1988) em grupo dos primeiros filhos, grupo
dos segundos filhos e grupo dos terceiros filhos ou seguintes.
7. Número de irmãos
Foram levados em conta os valores individuais registados em cada família.
8. Prática desportiva dos pais
Foram consideradas três categorias relativas ao passado desportivo dos
pais: sem prática desportiva, quando nunca praticaram de uma forma
sistemática nenhuma actividade física ou desportiva; com prática
desportiva a nível federado e com prática desportiva não federada
88
Métodos e Procedimentos
embora praticada de forma sistemática.
9. Prática desportiva das crianças (passada e presente)
Relativamente a estas variáveis foi considerada a opção dicotómica para
diferenciação das categorias com e sem prática desportiva.
A prática
desportiva passada refere-se à participação em actividades físicas ou
desportivas orientadas, sistemáticas e prolongadas durante pelo menos seis
meses, realizadas até ao presente ano lectivo. A prática desportiva presente
refere-se ao actual ano escolar.
10. Processo de recolha de dados
O processo de recolha de dados foi realizado segundo as fases e
procedimentos seguintes:
1ª fase - Selecção dos professores de Educação Física convidados a
participar neste estudo, segundo os critérios anteriormente apresentados,
esclarecendo-os relativamente aos objectivos e à terminologia utilizada na
escala de avaliação utilizada, no sentido de uniformizar os critérios de
escolha inter-professores.
2ª fase - Constituição dos grupos de alunos a testar segundo as escolhas
realizadas pelos professores e estabelecimento de contactos com as escolas
para autorização da efectivação dos testes e medidas durante as aulas de
Educação Física curricular.
89
Métodos e Procedimentos
3ª fase - Realização de ensaio metodológico, consistindo no treino dos
observadores, testagem do material e condições de realização das provas
nas diferentes escolas, bem como do tempo necessário à recolha de dados
por grupo de crianças.
4ª fase - Recolha de dados propriamente dita, que decorreu durante todo o
mês de Junho, tendo sido realizadas duas sessões de testagem por cada
grupo de alunos, precedidas da entrega pelos professores da turma do inquérito nº 1 destinado aos pais.
Na primeira procedeu-se à recolha das medidas antropométricas, à
determinação do nível de maturação, ao preenchimento do inquérito nº 2 e à
realização da primeira parte das provas de aptidão física.
Na segunda sessão foram recolhidos os inquéritos nº 1 e realizados os
restantes testes de aptidão física.
11. Procedimentos estatísticos de análise dos dados
Para a descrição das diferentes variáveis foram utilizados os seguintes
procedimentos estatísticos:
•
nas variáveis medidas em escala de razão, os parâmetros de tendência
central (média, moda) e de dispersão (desvio-padrão, valores de limite
mínimo e máximo) mais apropriados a cada caso, consoante as características de distribuição evidenciadas;
•
nas variáveis medidas em escalas nominais ou dicotómicas, os valores de
90
Métodos e Procedimentos
moda e de frequência relativa.
Os pressupostos de normalidade das distribuições foram testados através
do teste de Kolmogorov-Smirnov (Anexos K), e os de homocedasticidade entre
distribuições foram considerados caso a caso através do teste de Levene para
a homogeneidade de variâncias (Anexos L,M e N).
Para efeitos de comparação entre os dois grupos nas diversas variáveis
foram utilizados:
•
o teste t de Student, quando em presença de duas distribuições amostrais
cumprindo os pressupostos de normalidade e homocedasticidade
exigidos;
•
o teste U de Mann-Whitney, quando em presença de duas distribuições
amostrais não cumprindo os pressupostos de normalidade e homocedasticidade exigidos;
•
o teste do Qui-quadrado quando em presença de variáveis expressas em
escala nominal ou dicotómica.
Em todas as provas estatísticas os resultados foram considerados
significativos quando p ≤ 0.05.
Todos os cálculos foram realizados com o programa SPSS em versão
para Windows.
91
Apresentação e discussão dos resultados
Análise e Discussão dos Resultados
Por razões que se prendem com a clareza pretendida na exposição dos
resultados, optámos por congregar num mesmo capítulo a apresentação,
análise e discussão exploratória relativa a cada grupo de variáveis (sóciofamiliares, somáticas e de aptidão física) reservando para o final a sua
discussão conjunta em função do objecto de estudo.
12. Análise dos resultados das variáveis sócio-familiares
Ao longo deste ponto vamos procurar expor os resultados encontrados
nas diversas variáveis sócio-familiares pesquisadas, agrupadas em dois
grandes conjuntos de indicadores: o estatuto sócio-económico e o encorajamento para a prática das actividades físicas.
12.1. Estatuto sócio-económico
Na análise deste factor foram estudados vários indicadores, cuja utilização complementar nos poderá ajudar a caracterizar e compreender de forma
mais adequada a posição relativa das famílias pertencentes a cada um dos
grupos.
Embora normalmente neste tipo de análise, nomeadamente na
classificação dos níveis sócio-profissionais e habilitações académicas, se faça
uso exclusivamente das características do pai ou chefe de família, optámos
neste nosso trabalho por tratar as informações relativas a ambos os
102
Apresentação e discussão dos resultados
progenitores.
Esta opção deve-se sobretudo ao facto de, hoje em dia,
normalmente o rendimento familiar ser (ou poder ser) assegurado pelos dois
pais em conjunto, pelo que o tratamento exclusivo de um só poderá levar a
perda de rigor na informação pretendida.
Cada um destes indicadores ou variáveis foi analisado descritivamente,
procurando características relevantes quer da população em geral, quer de
cada uma das amostras em particular. Seguidamente procedeu-se à comparação entre grupos. Fazendo uso das provas estatísticas adequadas a cada
um dos casos em estudo, testou-se a legitimidade estatística das diferenças ou
semelhanças referenciadas na análise descritiva.
Por último, procurou-se
interpretar de forma complementar a informação relativa a cada uma das
variáveis.
12.1.1. Nível sócio-profissional
No estudo deste indicador foram interpretadas e classificadas as profissões de ambos os progenitores, segundo a primeira adaptação para Portugal
da escala de Warner (1977). Dela resultam cinco escalões, correspondendo o
primeiro (N1) ao nível sócio-profissional mais elevado (Anexo E).
Realça-se, na análise global das distribuições encontradas (Anexo H), o
facto de ter sido o escalão mais desfavorecido (N5) aquele que possuiu maior
quantidade de pertenças de ambos os grupos, bem como a quase inexistência
de indivíduos no nível mais elevado (apenas um registo no grupo B), pelo que
103
Apresentação e discussão dos resultados
optámos por juntar os dois escalões mais elevados (N1 e N2), nesta nossa
análise.
50%
45%
Grupo A
48.3%
Grupo B
39.4%
40%
35%
31%
30%
24.2%
25%
20%
24.2%
15.5%
12.1%
15%
10%
5.2%
5%
0%
N5
N4
N3
N1+2
Figura 1 - Distribuição percentual dos pais das
crianças de cada grupo pelos escalões
sócio-profissionais da escala de
Warner.
Como se verifica facilmente pela imagem gráfica da figura 1, os pais do
grupo A evidenciaram pertencer, em maior percentagem do que os do grupo B,
aos escalões superiores (à excepção do N1) e em menor valor percentual aos
níveis sócio-económicos mais desvantajosos, o que parece indicar uma
tendência para a existência de melhores níveis sócio-profissionais nas famílias
pertencentes às crianças do grupo A.
Procurando testar estas hipotéticas
diferenças, os resultados foram submetidos à prova do prova do Qui-quadrado
2
tendo sido encontrado um valor de χ = 2.667, associado a uma probabilidade
exacta de p= 0.263, o que não nos permite concluir, duma forma significativa,
da diferença entre o estatuto sócio-profissional das famílias pertencentes aos
dois grupos. Gostaríamos no entanto de sublinhar que, devido a limitações de
104
Apresentação e discussão dos resultados
rigor estatístico, fomos obrigados para o efeito a juntar os três escalões mais
elevados (N1+N2+N3) (Anexo L), pelo que a perda de informação se tornou
maior nesta análise.
12.1.2. Nível de escolaridade
Relativamente à distribuição pelos quatro níveis de escolaridade prédefinidos (conclusão do 1º ciclo, 2º ciclo, 3º ciclo, curso secundário ou superior), constata-se que, para ambos os grupos, a maior percentagem de pais se
situa na segunda categoria (42.4% - Grupo A e 39.7% - Grupo B).
42.4%
39.7%
45%
Grupo A
40%
34.5%
Grupo B
35%
30%
25%
21.2%
18.2%17.2%
20%
18.2%
15%
8.6%
10%
5%
0%
1ºC
2ºC
3ºC
>11º
Figura 2 - Distribuição percentual dos pais das
crianças de cada grupo pelos níveis de
escolaridade.
Comparativamente, e como podemos verificar pela imagem da figura 2,
existe uma grande semelhança percentual nas duas categorias intermédias,
notando-se apenas uma diferença mais notória nas categorias extremas, com
os pais do grupo A a terem concluído em maior percentagem um curso
105
Apresentação e discussão dos resultados
secundário ou superior e em menor percentagem apenas o 1º ciclo do ensino
básico.
Na globalidade, os pais das crianças do grupo A parecem possuir maior
nível de habilitação literária do que os do grupo B, no entanto, a tentativa de
comprovação estatística de tal facto, através do método do Qui-quadrado
(Anexo O), indica-nos a não significância do mesmo (χ = 2.889 ; p=0.409), pelo
2
que concluímos não existirem diferenças significativas no nível de habilitação
literária entre os pais dos dois grupos.
12.1.3. Tipo de residência familiar
Pretendia-se com o estudo desta variável reforçar a interpretação do
estatuto sócio-económico da família. Pela análise dos dados apresentados na
figura 3, coadjuvada pela observação aleatória que foi realizada a um total de
dez residências familiares (para constatar da veracidade dos elementos
fornecidos no questionário), parece-nos que o propósito não terá sido
conseguido, sobretudo porque as características sócio-culturais da zona
envolvente à cidade de Viana do Castelo originam, por vezes, uma camuflagem
evidente dos dados recolhidos e que passamos a explicar. Grande parte dos
alunos intervenientes neste estudo habita em zonas que, embora adjacentes à
cidade, possuem características de ruralidade típica o que origina, por
exemplo, a existência duma casa familiar independente, ou mesmo duma
pequena quinta familiar, sem que tal possa ser interpretado como indicador de
abastança sócio-económica (ao contrário do que normalmente acontece no
106
Apresentação e discussão dos resultados
meio urbano).
Por outro lado verificámos ainda, em alguns casos, que a
designada “casa independente” pertencia a bairros de habitação social,
destinados a famílias com poucos recursos.
Conclui-se então que, neste meio, a análise sócio-económica da habitação familiar deverá ser realizada sobretudo através do estudo dos índices de
salubridade e habitacionalidade, tal como é sugerido por Feio (1985).
70%
63.3%
Grupo A
60%
Grupo B
50%
41.2%
40%
29.4%
30%
20%
16.7%
11.8%
10%
13.3%
11.8%
5.9%
3.3%
3.3%
0%
Quinta
Casa
B.Res.
B.Hab
Prédio
Figura 3 - Distribuição percentual do tipo de
residência familiar em cada grupo.
Curiosamente, a distribuição dos tipos de habitação pelos dois grupos
parece indicar alguma diferença urbano-rural entre as famílias dos dois grupos,
já que se concordarmos que a utilização de apartamentos se restringe, nesta
área, quase que exclusivamente ao espaço urbano e semi-urbano, o grupo A porque apresenta uma maior percentagem (41.2%) de famílias a residir em
apartamentos do que o grupo B (16.6%) - parece conter maior número de
agregados familiares a habitar em locais tipicamente urbanos. Esta leitura dos
107
Apresentação e discussão dos resultados
dados é também concordante com algumas diferenças registadas no nível
sócio-profissional e de habilitação académica dos pais, já que tradicionalmente
nos meios urbanos se encontram valores mais elevados desses dois
indicadores.
12.1.4. Nº de indivíduos por assoalhada
O rácio do número de elementos do agregado familiar pelo número de
assoalhadas da residência, fornece-nos um índice precioso relativamente ao
estatuto sócio-económico familiar.
Neste estudo, as famílias dos indivíduos pertencentes a ambos os grupos
apresentam um valor médio idêntico (quadro 8).
Quadro 8 - Valores mínimo e máximo, média, desvio padrão e
comparação entre o número de indivíduos por
assoalhada relativos às famílias dos dois grupos.
Média
DP
Min
Máx
t Student
Prob.
Grupo A
1.15
0.316
0.6
1.7
0.82
0.419
Grupo B
1.04
0.516
0.4
3.3
Embora os valores de desvio padrão e de amplitude entre o valor máximo
e mínimo encontrados pareçam indicar uma maior dispersão deste índice no
grupo B, na realidade tal facto fica a dever-se apenas à existência de um único
108
Apresentação e discussão dos resultados
indivíduo que se situa destacadamente com um registo bastante superior a
todos os outros. Levando em linha de conta as recomendações de Feio (1985)
de que duas pessoas por assoalhada constitui o limite crítico de salubridade na
habitação, verificamos ainda que este mesmo indivíduo é o único em cuja
família tal não acontece.
A análise comparativa através do teste t de Student permite-nos reforçar a
ideia de que não existem diferenças entre os dois grupos neste indicador.
12.2. Encorajamento para a prática de actividades físicas
À semelhança do ocorrido na análise do estatuto sócio-económico, vários
indicadores foram utilizados complementarmente no estudo deste factor,
procurando perceber eventuais diferenças entre as características familiares e
ambientais que poderão constituir motivo de encorajamento para a prática da
actividade física.
12.2.1.1.1.1.Ordem de nascimento
Quanto à ordem de nascimento, a maior parte dos alunos testados eram
primeiros filhos (figura 4), apesar de no grupo A se registar um acréscimo de
cerca de 10% sobre o grupo B em tal ocorrência.
109
Apresentação e discussão dos resultados
80%
76.5%
Grupo A
66.7%
70%
Grupo B
60%
50%
40%
26.7%
30%
17.6%
20%
5.9%
10%
6.6%
0%
1º filho
2º filho
3º> filho
Figura 4 - Distribuição das percentagens das
crianças dos dois grupos segundo a
ordem de nascimento.
Utilizando o teste do Qui-quadrado para testar as diferenças entre os dois
grupos (devido à pouca frequência registada nas duas últimas categorias,
fomos obrigados a recorrer à junção das mesmas) quanto à ordem de
2
nascimento, constatamos que, mais uma vez, os valores encontrados (χ =
0.1024 , p= 0.48) não nos permitem afirmar o carácter significativo das diferenças descritas (Anexo L).
12.2.2. Número de irmãos
No presente caso, e como podemos perceber na figura 5, as crianças de
ambos os grupos possuem maioritariamente pelo menos um irmão. Destacase , no entanto, o facto de 30% das crianças do grupo B (mais 18.2% do que as
do grupo A) serem filhos únicos.
110
Apresentação e discussão dos resultados
80%
70.6%
Grupo A
70%
Grupo B
60%
63.3%
50%
40%
30%
30%
20%
17.6%
13.3%
11.8%
10%
3.3%
0%
Único
filho
1
irm ão
2
irm ãos
3
irm ãos
Figura 5 - Distribuição das percentagens das
crianças dos dois grupos segundo o
número de irmãos existentes na
família.
Comparando o número de irmãos existentes através do teste t de Student
encontramos uma probabilidade exacta de 0.455 (t= 0.75), não suficiente para
afirmarmos a existência de diferenças entre os dois grupos.
Restringindo a análise à comparação entre a existência ou não de irmãos
na família, através do coeficiente de contingência (Anexo L), verificamos
também não poder atribuir significado estatístico à diferença registada
(χ = 0.2026; p= 0.155).
2
12.2.3. Espaço envolvente à habitação familiar
Na análise dos espaços envolventes referidos pelas crianças como os
normalmente utilizados nas brincadeiras e tempos livres, um dado que nos
parece significativamente importante é o de que apenas uma criança, na
totalidade dos testados, indicou não utilizar espaços livres exteriores à habi111
Apresentação e discussão dos resultados
tação como local habitual de brincadeira.
Isto permite-nos inferir que as
condições de urbanização de Viana do Castelo e seus arredores ainda
permitem (ao contrário das grandes cidades) bastante movimentação e liberdade às crianças nos seus tempos livres.
Tal facto levou-nos a excluir a
hipótese de confrontação entre a existência ou não de espaços livres nesta
análise, passando a comparar unicamente a tipologia dos espaços referidos
pelas crianças.
80%
70%
Grupo A
70.6%
Grupo B
60%
46.7%
50%
43.3%
40%
30%
29.4%
26.7%
29.4%
16.7%
11.8%
20%
10%
0%
Ruas
Jardins
EVerdes
ELivres
Figura 6 - Distribuição das percentagens de
crianças dos dois grupos que utilizam
nas suas brincadeiras cada um dos
espaços envolventes à habitação (o
somatório das percentagens de cada
um dos grupos excede os 100% devido
ao facto de a mesma criança utilizar
vários espaços)
Os dados recolhidos parecem reforçar a ideia anteriormente exposta de
alguma diferença na localização urbano-rural da residência familiar. De facto,
as crianças do grupo B utilizam, em maior número percentual do que as do
grupo A, jardins e espaços verdes nas suas brincadeiras de tempo livre
112
Apresentação e discussão dos resultados
(figura 6), enquanto as do grupo A se diferenciam pela maior utilização de
espaços livres (normalmente associados nas cidades aos largos públicos e
polivalentes desportivos públicos e escolares).
Sujeitos os resultados à comparação estatística do teste do qui-quadrado,
2
foi encontrado um valor de χ = 2.43 e uma probabilidade exacta de p= 0.487,
insuficiente
para
afirmar
como
significativas
as
pequenas
diferenças
encontradas através da análise descritiva, na utilização de espaços
envolventes para as brincadeiras diárias.
12.2.4. Passado desportivo dos pais
A constatação que nos parece mais importante neste conjunto de dados,
é que, independentemente do grupo, a maior parte dos pais (63.6% - 72.4%)
nunca realizou qualquer prática sistemática de actividade física (figura 7).
80%
70%
72.4%
Grupo A
63.6%
Grupo B
60%
50%
40%
30%
18.2%
20%
18.2%
19%
8.6%
10%
0%
S/Prt.
N/Fed.
Fed.
Figura 7 - Distribuição das percentagens de pais
das crianças dos dois grupos segundo
o seu passado desportivo.
113
Apresentação e discussão dos resultados
Na globalidade, e em termos percentuais, os pais do grupo A são aqueles
que no seu passado mais estiveram envolvidos em práticas sistemáticas,
situando-se esta diferença sobretudo ao nível das práticas não federadas, com
18.2% dos pais do grupo A a referirem tal facto, em comparação com apenas
8.6% do grupo B. A significância estatística desta diferença, no entanto, não se
verifica quando interpretamos os valores de qui-quadrado encontrados para a
comparar (χ = 1.8316 ; p= 0.4) (Anexo L).
2
12.3. Discussão dos resultados encontrados nas variáveis sócio-familiares
Quando interpretados, os vários dados disponíveis relativos ao estatuto
sócio-económico familiar não possibilitam a diferenciação explícita entre as
famílias das crianças pertencentes aos dois grupos em análise. Apesar disso,
as pequenas tendências já apontadas como emergentes em cada uma das
variáveis - nomeadamente para os elementos do grupo A pertencerem a níveis
sócio-económicos mais elevados, com pais portadores de melhor habilitação
académica e residindo num meio mais urbanizado - poderão permitir na sua
interacção conjunta pequenas diferenciações, cuja relevância só poderia ser
verdadeiramente aquilatada se em presença de uma análise mais exaustiva,
quer em número quer em informação.
Da mesma forma, retirar destes dados possíveis ilações quanto às
condições associadas à diferenciação do desenvolvimento e performance
motora tal como elas são relatadas por diferentes autores, parece-nos fora de
questão.
114
Apresentação e discussão dos resultados
Quanto aos indicadores analisados relativos às condições de vida familiares que poderão constituir clima de encorajamento para a prática de actividades relacionadas com o domínio motor, também não é possível concluir de
qualquer diferença substantiva entre os dois grupos.
Apesar disso, e de forma similar à utilizada na análise dos aspectos sócioeconómicos, no conjunto dos indicadores analisados alguns aspectos poderão
ser realçados tendo em conta o objectivo proposto, nomeadamente:
• as condições mais propícias à interacção com os irmãos por parte do
grupo A, caracterizadas por este grupo ser constituído por filhos únicos e
1º filhos em menor percentagem do que o grupo B, já que parece que a
presença de outros irmãos na casa, e principalmente se mais velhos,
poderá favorecer o processo de aquisição e estimulação motora.
• a grande percentagem de pais pertencente a cada um dos grupos que
nunca praticou qualquer tipo de actividade física regular ao longo da vida,
o que torna praticamente indiferente qualquer tentativa de associação
desta variável a um hipotético comportamento de encorajamento à prática
da actividade física e desportiva.
•
a existência junto a todas as residências familiares dos componentes de
ambos os grupos, de espaços livres exteriores utilizados pelas crianças
em momentos de brincadeira, o que permite excluir a influência limitativa
destes espaços na eventual determinação do comportamento da criança
face às actividades físicas, sabido que é da sua importância neste âmbito
do desenvolvimento,
115
Apresentação e discussão dos resultados
116
Apresentação e discussão dos resultados
13. Análise dos resultados das variáveis somáticas
No decorrer desta análise vamos procurar evidenciar os resultados de
cada grupo em cada uma das variáveis estudadas, bem como proceder à sua
comparação, quer entre os grupos em presença quer com alguns valores de
referência propostos.
13.1. Medidas antropométricas
Tendo sido nossa pretensão explorar as diversas variáveis caracterizadoras do universo morfológico de forma integrada, construindo as nossas ilações à medida que mais dados vão sendo tratados em cada uma das variáveis,
iniciámos a apresentação dos dados relativos às características somáticas com
a análise da altura e do peso (Quadro 9), dois dos indicadores usualmente
mais utilizados e de mais fácil acesso em estudos desta natureza.
Quadro 9 - Valores de altura e peso registados nos dois grupos e comparação entre
grupos.
Altura
Peso
Grupo
Média
Desviopadrão
A
143.64
B
Mín
Máx.
prob.
4.07
136.
3
151.8
0.799 *
146.17
7.0
127.
4
156.0
A
35.21
4.10
27.4
42.2
B
40.37
9.76
25.8
71.2
0.0763 *
* diferença não significativa
Foi nossa preocupação no capítulo de revisão da literatura fornecer
117
Apresentação e discussão dos resultados
alguns dados de referência de vários estudos consultados, relativos à idade
pretendida, quer no âmbito nacional quer internacional (quadro 1, página 33), a
que iremos agora recorrer para comparação com os resultados do presente
estudo.
13.1.1. Altura
Os valores encontrados para a estatura média dos dois grupos são
bastante semelhantes ( XA = 143.64; XB = 146.17). Ao contrário, os valores de
desvio-padrão revelam características muito diferenciadas da distribuição, com
o grupo A constituindo uma amostra mais homogénea (DPA = 4.07) e o grupo B
(DPB = 7.0) a comportar maior dispersão, ou seja, contendo valores extremos
bem melhores (mais altos) e bem piores (mais baixos) que o primeiro grupo.
Comparando com os valores encontrados em dois estudos extensivos
realizados em Portugal na décadas de setenta e oitenta - Rosa (1973) em
Portugal Continental e Sobral (1989) no arquipélago dos Açores - verificamos
que a média de qualquer um dos dois grupos em estudo é superior, sendo de
salientar sobretudo a diferença existente entre estes valores e os registados no
mesmo distrito há cerca de dez anos atrás (135.6). Também Piedade (1977) e
Mota (1989), estudando grupos mais reduzidos desta faixa etária encontraram
médias estaturais inferiores às reportadas no nosso estudo.
Relativamente a populações não portuguesas, e pela análise dos resultados apresentados no quadro já referido anteriormente, podemos constatar
que as médias estaturais de ambos os grupos se situam dentro da margem de
118
Apresentação e discussão dos resultados
variação dos valores descritos, com o grupo A a apresentar similaridades,
nomeadamente com as crianças do Saskatchewan Growth Study (143.1) (Ellis,
Carron & Bailey, 1975) e de Saskatoon (143.4) (Demirjian et al., 1976, cit. por
Roche & Malina, 1983) no Canadá, e com os estudos realizados em Filadélfia
(143.0) nos Estados Unidos da América por Malina, Mueller e Holman (1976) e
a serem em média mais altos do que os jovens belgas e ingleses da mesma
idade (137,7 e 141.4) referenciados por Hebbelinck e Borms (1984), Vajda,
Borms, Duquet e Hebbelinck (1980) e Brodie et al. (1989). Por sua vez os
rapazes do grupo B encontram-se entre os valores médios mais elevados
registados pelos diferentes autores , sendo apenas inferiores aos relatados por
Manno e Merni (1987) com jovens desportistas italianos (147.5), por Cureton e
Warren em 1990 (148.4) e Slaughter, Christ, Stillman e Boileau em 1991 com
jovens nadadores e não-nadadores (148.6, 147.2) no continente americano,
tendo no entanto este último utilizado uma amostra com 11.4 anos de idade
média.
Devido à não existência de homocedasticidade entre as distribuições
amostrais (diferenças provenientes exactamente das diferenças de variâncias e
registadas através do teste de Levene) fomos obrigados a recorrer à técnica
estatística não-paramétrica do U de Mann-Whitney para comparação entre
duas amostras independentes. Os resultados verificados (U= 243.5; p= 0.799)
indicam, como seria de esperar, não existirem diferenças significativas entre os
dois grupos nesta variável.
119
Apresentação e discussão dos resultados
13.1.2. Peso
Do tratatamento dos dados recolhidos nesta variável constatamos que os
alunos do grupo B são, em média, mais pesados ( XB = 40.37) do que os do
grupo A ( XA = 35.21), pertencendo-lhes também o maior valor de dispersão
(DPA= 4.10; DPB= 9.76), indiciando assim, de forma semelhante ao que
aconteceu relativamente à altura, a existência de crianças com pesos bastante
mais afastados da média do que no grupo A.
O peso médio do grupo A situa-se sensivelmente no centro do intervalo
de valores apontados nos estudos referidos no quadro 1, que variam de 31.7,
em crianças praticantes de Wrestling (Sady, Thompson, Savage & Petratis,
1982) a 39.9 em jovens nadadores norte-americanos (Slaughter et al., 1991),
sendo semelhante ao verificado por Ellis et al. (1975) no Saskatchewan Growth
Study, e superior aos valores referidos por Rosa (1973) quer para Viana do
Castelo, quer para Portugal.
No que diz respeito ao grupo B, os seus
elementos apresentam um peso médio superior ao encontrado em qualquer
estudo com crianças desta idade, apenas se aproximando das já citadas
crianças norte-americanas, e das estudadas por Cureton e Warren em 1990
(39.5) e Manno e Merni em 1987 (39.86).
Tal como na variável anterior, o não cumprimento dos pressupostos de
homocedasticidade entre as distribuições amostrais, levou-nos à utilização do
teste U de Mann-Whitney para comparar os dois grupos nesta variável
(U= 175.0; p= 0.0763), tendo-se concluído pela não significância das
diferenças.
120
Apresentação e discussão dos resultados
13.2. Composição corporal
Estando conscientes das limitações da medida do peso corporal na
análise associada ao rendimento, pela impossibilidade de caracterização das
componentes corporais, obtivemos a medida da massa magra e de
percentagem de gordura corporal, de acordo com a metodologia anteriormente
exposta, obtendo os resultados expressos no quadro 10.
Quadro 10 - Valores de percentagem de massa gorda e peso de massa magra
registados nos dois grupos e comparação entre grupos.
% FAT
FFM
Grupo
Média
Desviopadrão
A
11.47
3.31
B
16.99
8.40
A
31.11
3.25
B
32.88
5.46
Mín
Máx.
prob.
0.0576 **
0.229 *
* t-Student
** U Mann-Whitney
Quando pretendemos comparar estes valores com os verificados em
outras populações deparámos com algumas limitações já referidas anteriormente mas que gostaríamos de relembrar, nomeadamente o número relativamente reduzido de estudos, por nós encontrados, abrangendo específicamente esta idade, agravado ainda pelas dificuldades já enunciadas de estimação das diferentes componentes de composição corporal antes do final da
puberdade e pela multiplicidade de metodologias utilizadas.
13.2.1. Percentagem de massa gorda
Os resultados obtidos indicaram a existência de maior quantidade
percentual de FAT associada ao grupo B quando comparada com o grupo A,
121
Apresentação e discussão dos resultados
constituindo este último um grupo bastante mais homogéneo. Estas características indicam que não será de esperar que pertençam à população representada pela amostra A indivíduos obesos, enquanto o mesmo não se poderá
afirmar do grupo B.
A média da %FAT apresentada pelas crianças do grupo A destaca-se
pelo seu baixo valor quando comparada com outros estudos em análise, perto
do valor mais baixo encontrado por Mota em 1989 (11.1). As crianças do grupo
B situam-se, por sua vez, perto dos valores intermédios observados no quadro
3 (pág. 48), sendo similares aos citados por Cureton e Warren em 1990 (17.4)
e Parizkova em 1968 com crianças de nível médio de actividade (16.6).
Pertence ainda ao grupo B o valor de desvio-padrão mais elevado de todos os
encontrados.
De qualquer forma, a magnitude destas diferenças entre estudos deverá
ser interpretada com cuidado devido aos diferentes procedimentos metodológicos utilizados, bem como à percentagem de erro que normalmente lhes
está associada.
Pela interpretação do resultado alcançado quando sujeitos os valores dos
dois grupos ao teste U de Mann-Whitney (U= 169.5; p= 0.0576) concluímos
que, embora grandes, não podemos afirmar a existência de diferenças
significativas entre a percentagem de gordura corporal nos dois grupos.
122
Apresentação e discussão dos resultados
13.2.2. Massa magra
Relativamente à massa magra, ambos os grupos apresentam valores
bastantes semelhantes ( XA = 31.11; XB = 32.88) e relativamente próximos dos
indicados nos estudos referenciados no quadro 3.
Quando sujeitámos os valores dos dois grupos à comparação estatística
através do teste t-Student (t=-1.22) comprovámos a não existência de
diferenças significativas (p= 0.229).
Se associarmos a similaridade entre os grupos nesta variável às diferenças médias registadas anteriormente nas variáveis Peso e %FAT, podemos
constatar, sem sombra de dúvida, que as dissemelhanças na massa corporal
entre os elementos dos dois grupos se situam sobretudo ao nível da
componente adiposa, com os elementos do grupo B a apresentarem valores
médios mais elevados.
Esta constatação leva-nos a concluir, tomando em linha de conta a
associação testemunhada pelos autores entre a performance motora e a
ausência de excessos de massa adiposa, que as crianças do grupo A apresentam, no seu conjunto e de forma mais homogénea, características de
composição corporal mais propícias ao desempenho optimizado de tarefas
motoras do que as do grupo B.
13.3. Somatótipo
Como podemos verificar pela distribuição dos seus elementos pelos
123
Apresentação e discussão dos resultados
somatótipos, representada na figura 8, os elementos do grupo A distribuem-se
exclusivamente por quatro categorias de somatótipo (meso-ectomorfos,
mesomorfo-ectomorfos, ecto-mesomorfos e mesomorfos equilibrados), estando
na sua maioria grandemente associados ao mesomorfismo (52.9% dos casos)
e tendo como segunda componente em ordem de influência o ectomorfismo.
Em nenhum dos casos se verificou a predominância principal ou secundária da
primeira componente (endomorfismo).
40%
Grupo A
35%
Grupo B
30%
25%
20%
15%
10%
5%
Mesoendomorfo
Mesomorfoendomorfo
Endomesomorfo
Mesomorfo
equ.
Ectomesomorfo
Mesomorfoectomorfo
Mesoectomorfo
0%
Figura 8 - Distribuição percentual das crianças de cada
grupo pelas categorias de somatótipo.
Por seu lado, os elementos do grupo B distribuem-se pela maior parte das
categorias da somatocarta, desde o meso-ectomorfismo até ao mesoendomorfismo (como aliás seria de esperar), revelando uma concentração em
categorias associadas à primeira componente relevantemente diferente do
outro grupo (26.7% de indivíduos pertencem a somatótipos em que a
endomorfia é a componente dominante ou possui o mesmo peso que a
124
Apresentação e discussão dos resultados
mesomorfia), existindo mesmo alguns casos extremos em que o valor dessa
componente ultrapassa os limites considerados normais.
Assim, e como podemos verificar nas somatocartas (figuras 9 e 10), a
variação dos somatótipos dos alunos do grupo A é bastante menor que os do
grupo B, indicando características mais homogéneas entre os seus elementos,
evidenciando robustez física e alguma associação à linearidade e excluindo
qualquer associação à presença excessiva de massa adiposa.
Comparando as diferentes características somatotípicas dos dois grupos
com as descritas por diversos autores em populações juvenis, constata-se que
os alunos do grupo A se assemelham às evidenciadas por jovens atletas,
nomeadamente quando assentam prioritariamente (82.4%) numa distribuição
entre
as
categorias
ecto-mesomórfica,
mesomorfa-ectomorfa
e
meso-
ectomórfica (Carter, 1988; Bell, 1993) e quando evidenciam como componente
dominante a mesomorfia (Carter, 1988; Boennec & Prevot, 1980; Bell, 1993;
Malina, 1988). Para além disso, a maior percentagem de ecto-mesomorfos
neste grupo poderá constituir informação relevante de análise se atentarmos
que, segundo Stepnicka (1972, 1974, 1976 cit. por Carter, 1980), as crianças
ecto-mesomórficas apresentam um melhor domínio motor e na opinião de
Boennec (1980) é exactamente este somatótipo que caracteriza o desportista
confirmado e em plena actividade.
Também relativamente à variação dos somatótipos individuais, em cada
grupo, se constata a relação evidente entre o sucedido no grupo A e o descrito
pelos autores em populações de jovens envolvidos em actividades físicas e
125
Apresentação e discussão dos resultados
desportivas quando afirmam que a variação dos somatótipos dos últimos é
bastante limitada relativamente a não atletas da mesma idade e sexo (Clarke,
1971; Hebbelinck & Borms, 1978; Pariskova & Carter, 1976 cit. por Carter,
1988) e que quanto mais elevado for o nível desportivo menor a variação da
distribuição do somatótipo (Carter, 1980).
18
15
12
9
6
3
0
-3
-6
-9
-12
-15
-18
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
Figura 9 - Distribuição dos somatótipos das crianças do grupo
A.
18
15
12
9
6
3
0
-3
-6
-9
-12
-15
-18
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
126
Apresentação e discussão dos resultados
Figura 10 - Distribuição dos somatótipos das crianças do
grupo B.
Procurando verificar estatisticamente a diferenciação somatotípica entre
os dois grupos através do teste do qui-quadrado, associámos categorias adjacentes na somatocarta, tentando reunir em cada grupo condições ou características semelhantes na sua associação à performance motora (Quadro 11).
Quadro 11 - Agrupamento de categorias de somatótipos contíguas e
respectivas percentagens de distribuição por grupo.
Grupos
somatótipos
Categorias associadas
Grupo A
Grupo B
"Ecto"
Meso-ectomorfos
Mesomorfos-ectomorfos
47.1%
16.7%
"Meso"
Ecto-mesomorfos
Mesomorfos equilibrados
52.9%
30.0%
0%
53.3%
"Endo"
Endo-mesomorfos
Mesomorfos-endomorfos
Meso-endomorfos
O valor de qui-quadrado encontrado foi de 14.181 que, porque associado
a uma probabilidade exacta de p=0.0008, indicia a existência de diferenças
muito significativas entre a distribuição das características somatotipicas nos
dois grupos em presença, reforçando assim todas as nossas considerações
anteriores.
13.4. Discussão dos resultados encontrados nas variáveis somáticas
13.4.1. Comparação entre os dois grupos
Conforme foi posível verificar ao longo da análise realizada anteriormente,
à medida que vamos avançando na multidimensionalidade da variável
127
Apresentação e discussão dos resultados
estudada, vai-se tornando evidente a diferenciação entre os elementos dos
dois grupos. De facto, associando as semelhanças encontradas em algumas
das medidas directamente relacionadas com a massa corporal total (altura e
FFM) com as diferenças que, apesar de não significativas, foram registadas
noutras (peso e %FAT), logo se tornou clara uma evidente diferença de forma e
composição corporal entre os elementos dos dois grupos.
As particularidades mais salientes foram encontradas ao nível dos valores
de massa gorda e de somatótipo, com os alunos do grupo A a possuirem regra
geral menos massa adiposa e a serem mais mesomórficos e ectomórficos do
que os seus pares do grupo B.
Se relembramos as relações negativas evidentes entre a massa adiposa e
diferentes prestações motoras (Corbin, 1975, 1980b; Cureton, Boileau &
Lohman, 1975a, 1975b; Cureton, Boileau, Lohman & Misner, 1977; Slaughter,
Lohman & Misner, 1977; Cureton, Hensley & Tiburzi, 1979; Hensley & East,
1982; Pate, Slentz & Katz, 1989; Laska-Mierzejewska, 1980; Maia, 1990),
facilmente concluímos - não só pelos valores médios registados, mas também
pela sua grande homogeneidade - que as características apresentadas pelas
crianças do grupo A indiciam a efectiva possibilidade de associação com
melhores registos de performance motora. Esta vantagem torna-se ainda mais
evidente quando agrupadas as diferentes valências morfológicas sob a forma
de somatótipo, com os alunos deste grupo, como já foi referido anteriormente,
a demonstrarem, com bastante homogeneidade, características de lineariedade
associada à robustez física idênticas às descritas pelos autores como propícias
128
Apresentação e discussão dos resultados
ao desenvolvimento de rendimentos desportivos mais elevados.
Também as diferenças de variação observadas nos dois grupos, com o
grupo A a possuir em todas as variáveis parâmetros de dispersão muito inferiores aos do grupo B, ajudam a concluir da forte relação entre um perfil
somático bem determinado no primeiro grupo e de uma relativa indiferenciação
quanto às componentes somáticas no segundo.
Como finalização da análise comparativa, podemos afirmar que neste
conjunto de indicadores relativos ao universo morfológico é bem notória a
distinção entre os dois grupos em presença, distinguindo-se a notável aderência do perfil somático das crianças escolhidas pelos professores, às
características predominantemente relacionadas pelos autores com a exibição
de níveis superiores de desempenho motor, quer na juventude quer na idade
adulta.
13.4.2. Comparação com os valores de referência
Quando comparamos as características somáticas dos alunos pertencentes ao grupo A com as descritas pelos autores como sendo mais apropriadas à prática de actividades físicas e desportivas, na sequência das questões
colocadas no início deste estudo, verificamos que, no que diz respeito à
estatura, o facto de os valores observados não se distinguirem , quer do outro
grupo em presença, quer dos estudos apresentados, não nos permite retirar
grandes ilações acerca da adequabilidade desta variável ao objectivo
pretendido.
Contudo, gostaríamos de relembrar que, embora a altura seja
129
Apresentação e discussão dos resultados
muitas vezes referida como um dos primeiros factores de distinção entre
populações de atletas e não atletas, este dado é obviamente relativo à
especificidade de cada um dos desportos, assumindo mesmo formas opostas
(por exemplo entre basquetebolistas e ginastas). Assim, a estatura, quer actual
quer final, não poderia nunca possuir uma associação num único sentido com
as propriedades de performance motora em causa neste estudo, pelo que a
sua indiferenciação na amostra não é por si só conclusiva de qualquer ilação.
Já relativamente ao peso da massa corporal total, e porque referenciado
aos valores de estatura, o mesmo não pode ser dito. É sabido que a relação
entre as características da massa corporal e a performance é evidente, e que
apesar de o peso ser um medida perfeitamente indiscriminada dessa massa
corporal, reflecte, quando associado à altura, uma associação negativa com a
performance motora, sobretudo nos valores extremos. No caso presente, e
dada a comparação quer com o grupo B, quer com os valores de referência
citados, pensamos poder dizer que as características apresentadas nesta
variável pelo grupo A em nada limitam as condições de prestação motora.
Como é evidente, e reforçando o que já foi dito aquando da apresentação
e análise dos resultados, a determinação da composição corporal permite
aprofundar a análise relativa à massa corporal, e o que se verifica é que os
elementos do grupo A se distinguem consistentemente pela baixa quantidade
de massa gorda exibida. No plano de análise pretendido, e lembrando-nos das
referências dos autores quanto às desvantagens dos valores de gordura
corporal na realização das mais variadas tarefas motoras, torna-se evidente a
130
Apresentação e discussão dos resultados
grande adequabilidade apresentada por todas as crianças do grupo A nesta
matéria.
Quando finalmente nos propusemos uma análise mais integrada de todos
estes factores, através do somatótipo, rapidamente nos apercebemos nos
perfis do grupo A das características que reconhecidamente predispõem a
níveis distintivos de rendimento motor, reforçando assim as nossas anteriores
ilações.
131
Apresentação e discussão dos resultados
14. Análise dos resultados das variáveis de aptidão física
Neste ponto apresentamos os resultados encontrados nos dois grupos em
cada um dos testes levados a efeito (quadro 12), bem como o valor da
comparação estatística realizada entre os resultados dos dois grupos em
análise, encetando ainda uma breve comparação com outros estudos realizados neste âmbito com crianças da mesma faixa etária.
Quadro 12 - Médias, desvios padrão, valores de comparação e significância
entre os resultados dos dois grupos nas diferentes provas da
bateria da AAHPERD.
Média
Desvio Padrão
Comparação
Grupo
A
Grupo
B
Grupo
A
Grupo
B
valor p
Signific.
SC
163.12
148.80
11.49
16.45
0.003
sig.
SR
22.88
23.80
6.07
7.10
0.657
não sig.
SHR
10.69
11.28
0.58
0.48
0.000
sig.
ABD
32.94
31.93
6.6
8.9
0.686
não sig.
50J
8.25
8.70
0.42
0.45
0.002
sig.
PUP
1.53
1.07
2.1
1.7
0.3112
não sig.
9MIN
1805.88
1536.27
210.02
283.37
0.001
sig.
Gostaríamos de realçar a dificuldade sentida nesta recolha de dados,
devido sobretudo às idade das crianças em causa e às diferenças nas condições protocolares de realização dos testes ou das baterias. Este último factor
constituiu aliás uma das limitações na análise e discussão dos resultados, já
que pequenas diferenças existem em maior ou menor escala, de país para
país, entre baterias de testes e dentro da mesma bateria ao longo do tempo
(como é aliás o caso da que por nós foi empregue).
132
Apresentação e discussão dos resultados
Estas limitações, aliadas à reduzida tradição na realização de estudos
envolvendo a avaliação da aptidão física no nosso país e mesmo na Europa,
provavelmente terão contribuído para a dificuldade por nós sentida na recolha
de dados de referência próximos da nossa realidade.
14.1. Salto em comprimento sem corrida preparatória
190
180
170
Grupo A
Grupo B
160
Cms
150
140
130
120
110
0
20
40
60
80
100
Percentil
Figura 11 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de Salto em
Comprimento sem corrida preparatória
Nesta prova as crianças pertencentes ao grupo A realizaram uma
prestação média de 163.1 centímetros , valor superior ao do grupo B que
apenas realizou 148.8. Para além disso a distribuição dos valores encontrados
foi mais homogénea no primeiro grupo, como se pode verificar pela análise dos
desvios padrões (DPA= 11.48; DPB= 16.45).
Comparando as distribuições
133
Apresentação e discussão dos resultados
segundo os respectivos percentis, verificamos que o grupo A apresenta sempre
valores mais elevados que o B (figura 11).
É ainda de realçar o facto de o valor do percentil 1 no grupo A corresponder ao percentil 40 do grupo B (Anexo O), atenuando-se as diferenças nos
níveis superiores ( a partir do percentil 97).
Em comparação com outros estudos verificamos que os elementos do
grupo A alcançaram resultados médios superiores à maioria dos valores
referidos (e de todos os encontrados em Portugal), à excepção dos jovens
italianos praticantes desportivos analisados em 1987 por Manno e Merni
(165.6) e das crianças canadianas do Saskatchewan Growth Study (169.4). No
entanto, em ambos os casos, o desvio padrão registado (respectivamente
19.25 e 14.99) foi mais elevado do que o observado no grupo A, que aliás foi
mesmo o mais reduzido de todos quantos encontrámos nesta prova, o que
parece dizer bem da homogeneidade das prestações deste grupo.
Ao contrário, as crianças pertencentes ao grupo B apresentaram valores
mais baixos do que a maioria dos estudos referenciados, superiorizando-se
apenas às crianças húngaras (Barabás, 1989) (143.18) e algumas americanas
(Safrit, n. pub; Brown, n. pub) (143.6 e 147.32). Já no que diz respeito ao DP,
o valor deste grupo assemelha-se à maioria dos indicados pelos autores
citados.
Empregando o teste t de Student para comprovar as diferenças descritas,
encontramos um valor de t=3.17, associado a uma probabilidade exacta de
134
Apresentação e discussão dos resultados
p=0.003, pelo que concluímos pela existência de diferenças significativas entre
os dois grupos.
14.2. Abdominais em 60 segundos
Nesta prova podemos afirmar que ambos os grupos
realizaram um
número médio de movimentos abdominais idêntico ( XA = 32.94; XB = 31.93).
Ambos os valores, no entanto, se situam abaixo dos níveis médios referidos
nos estudos citados no quadro 5 (pág. 54), apenas se assemelhando aos
registados por Duarte na ilha da Madeira em 1994. Marques, Botelho, Oliveira,
Costa, Graça e Maia (1992), numa amostra de rapazes participantes em
actividades do Desporto Escolar na área do Grande Porto, encontraram uma
média de 37.3, enquanto no estudo de crescimento de Saskatchewan, Ellis et
al. (1975) registaram o número médio de 39.4 execuções e a AAHPERD
categoriza nas suas tabelas de referência o valor 37 como percentil 50.
Relativamente à dispersão de valores, o grupo A demonstrou maior
homogeneidade, caracterizada por um valor de desvio padrão inferior ao do
grupo B (DPA= 6.62; DPB= 8.89). Isso mesmo se pode comprovar na ilustração gráfica da comparação de percentis (figura 12), onde se visualizam apenas
diferenças nos percentis mais baixos (até aos percentil 20, com os valores do
grupo A a serem superiores) e nos percentis mais elevados (com a tendência a
verificar-se de forma contrária a partir do percentil 90).
135
Apresentação e discussão dos resultados
50
45
40
Grupo A
Grupo B
35
nº abd
60 seg
30
25
20
15
10
5
0
20
40
60
80
100
Percentil
Figura 12 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de
abdominais em 60 segundos.
A comparação através do t-Student resultou num valor de t= 0.41 e
p= 0.686, comprovando a inexistência de diferenças entre os dois grupos.
14.3. Pull-ups (flexões de braços na barra)
Os alunos do gupo A realizaram, em média, maior número de elevações
na barra (1.52) do que os do grupo B (1.06). No entanto, a grande assimetria
encontrada nas distribuições devida ao facto de um número elevado de
crianças não ter sido capaz de realizar qualquer elevação, impossibilita a
comparação descritiva através dos valores de média e desvio padrão. O que
se torna então relevante na análise destes resultados é que a Moda se situou
em ambos os grupos nos valor zero, tendo 60% dos indivíduos do grupo B e
136
Apresentação e discussão dos resultados
41.2% dos do grupo A sido incapazes de realizar uma única elevação na barra
(figura 13).
60%
Grupo A
50%
Grupo B
40%
30%
20%
10%
0%
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Figura 13 - Distribuição percentual das crianças
de cada grupo segundo o número
completo de pull-ups.
Comparativamente com os valores mencionados em outros estudos e
reportados no quadro 5, constatamos que as prestações de ambos os grupos
se situam abaixo, quer das médias (2.6 e 2.8) de crianças norte-americanas,
quer do percentil 50 das tabelas de classificação da AAHPERD (2.0).
Para realizarmos a comparação estatística intergrupos, e devido ao não
cumprimento dos pressupostos de normalidade da distribuição de valores do
grupo B (Anexo M), fomos obrigados a recorrer à prova não-paramétrica do U
de Mann-Whitney, tendo sido registado um valor de U=213.0, associado a uma
probabilidade exacta (p= 0.3112) demasiado alta para podermos aceitar a
existência de diferenças entre os dois grupos nesta variável.
137
Apresentação e discussão dos resultados
14.4. Sit and reach (flexão do tronco à frente, sentado)
Ao contrário dos outros testes de aptidão física, os resultados encontrados neste parecem indicar melhores prestações médias para os alunos
pertencentes ao grupo B ( XA = 22.88; XB = 23.80). Verificando a comparação
gráfica de percentis (figura 14), não se registam, no entanto, grandes
diferenças entre as duas distribuições, sendo apenas de salientar que a partir
do percentil 80 as crianças do grupo B se destacam pela positiva (Anexo O).
37,5
35
32,5
Grupo A
Grupo B
30
27,5
Cms
25
22,5
20
17,5
15
12,5
0
20
40
60
80
100
Percentil
Figura 14 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de sit and
reach.
Comparando com outros dados disponíveis, qualquer um dos grupos se
situa, em média, ligeiramente abaixo dos valores encontrados em jovens
praticantes quer por Marques et al. em 1992 (25.3), quer por Manno e Merni
138
Apresentação e discussão dos resultados
em 1987 (26.7). Também na escala de percentis de AAHPERD a média de
ambos os grupos se situa abaixo do percentil 50.
Realizando o teste de comparação t-Student concluimos não existirem
diferenças significativas entre os dois grupos (t= -0.45; p= 0.657).
14.5. Shuttle run (corrida de vaivém)
Nas prestações relativas ao teste de shuttle run, os alunos do grupo A
apresentam melhores resultados médios (10.69 seg) do que os do grupo B
(11.28 seg), embora pela análise dos valores de desvio-padrão concluamos
que a distribuição é um pouco mais dispersa (DPA= 0.58; DPB= 0.479). Em
média a prestação do grupo A situa-se acima do percentil 50 referido pelos
estudos da AAHPERD e CAHPER (10.9 e 12.2) para crianças desta idade,
sendo também melhor do que o valor apontado por Hunsicken e Reiff em 1980
(11.0) (cit. por Roche & Malina, 1983). Ao contrário, a prestação média do
grupo B nesta prova apenas se diferencia pela positiva relativamente aos
valores apontados pelo CAHPER, sendo bastante semelhante aos outros
valores referidos.
Através da comparação dos percentis (figura 15), podemos verificar que
os elementos do grupo A se destacam em todos os percentis, apresentando
portanto sempre melhores marcas que os seus equivalentes do grupo B.
139
Apresentação e discussão dos resultados
12,5
12
11,5
Grupo A
Grupo B
Seg 11
10,5
10
9,5
0
20
40
60
80
100
Percentil
Figura 15 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de shutle
run.
A comprovação dessas diferenças através do teste t-Student resulta num
valor de t= -3.76 e numa probabilidade exacta de p= 0.000, a mais pequena
encontrada entre os testes realizados e que indica enormes diferenças entre as
distribuições encontradas nos dois grupos.
14.6. Corrida de 50 jardas
As crianças do grupo A demoraram em média 8.25 seg (± 0.425) para
cumprir a distância proposta, enquanto as do grupo B foram mais lentas,
registando uma média de 8.69 seg (± 0.446). O valor médio do grupo A é
bastante semelhante aos referenciados nos estudos consultados (8.2 e 8.28)
(quadro 5) encontrando-se relativamente perto, embora inferior ao percentil 50
140
Apresentação e discussão dos resultados
das tabelas da AAHPERD de 1980 (8.0), sendo ligeiramente melhor que o
mesmo percentil na classificação da CAHPER de 1966 (8.4). Já no que diz
respeito ao grupo B, a sua prestação média diferencia-se pela negativa de
todos os valores citados, situando-se mesmo no percentil 25 dos resultados
encontrados por Hansom (1965) e nas tabelas da AAHPERD (1980).
Na comparação de percentis podemos constatar que, para toda a curva
de distribuição, o grupo A apresenta valores mais baixos que o grupo B (figura
16 e Anexo O).
10
9,75
9,5
9,25
9
Seg 8,75
Grupo A
Grupo B
8,5
8,25
8
7,75
7,5
7,25
0
20
40
60
80
100
Percentil
Figura 16 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de corrida
de 50 jardas.
A comparação estatística efectuada através do teste t-Student
forneceu-nos um valor de t= -3.335, resultando numa probabilidade exacta de
p= 0.002, indicativa de diferenças muito significativas entre as duas populações
141
Apresentação e discussão dos resultados
nesta prova.
14.7. Corrida de 9 minutos
No teste de corrida de 9 minutos, os alunos pertencentes ao grupo A
distinguiram-se por percorrerem em média (1805,88) mais 269,21 metros do
que os do grupo B (1536,66), tendo obtido ainda um conjunto de prestações
mais homogéneas (DPA= 210,015; DPB= 283,371).
2200
2000
1800
Mts
Grupo A
Grupo B
1600
1400
1200
1000
800
0
20
40
60
80
100
Percentil
Figura 17 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de corrida
de nove minutos.
A quantidade média de metros percorridos pelo grupo A situa-se acima do
percentil 50 das tabelas de AAHPER (1577), enquanto a do grupo B se
encontra ligeiramente abaixo.
142
Apresentação e discussão dos resultados
Comparando os valores de percentis nas duas distribuições podemos
verificar que, de facto, o grupo A se distingue pela positiva em todas as zonas
da curva de distribuição.
Sujeitas estas diferenças à prova estatística do t-Student, encontrámos
um valor t=3.42, associado a uma probabilidade exacta de p=0.001, valor que
nos relata com evidência a diferenciação significativa entre os dois grupos
nesta variável.
14.8. Discussão dos resultados das provas de aptidão física
14.8.1. Comparação entre os dois grupos
Neste ponto pretendemos proceder à análise conjunta dos resultados
registados em cada grupo, ou seja, congregá-los num perfil ou compósito que
transmita uma ideia mais real da noção de aptidão física na sua relação com a
performance generalizada e o desenvolvimento.
Para efeito de comparação entre os dois grupos no conjunto dos resultados das provas de aptidão física, reduzimos todos os valores resultantes dos
diversos testes à mesma escala, utilizando para tal a transformação em scores
Z tomando como valores de referência a média e desvio-padrão da totalidade
dos pertencentes às duas amostras. Para além disso, e porque nas provas
medidas em tempo, o sentido da prestação é contrário ao das provas medidas
em número de execuções ou centímetros, todos os valores referenciados ao
tempo de prestação foram convertidos no seu inverso, de forma a que os
143
Apresentação e discussão dos resultados
scores Z resultantes do conjunto das provas pudessem ser adicionados sem
perder o sentido da informação.
A expressão gráfica dos resultados é dada na figura 18, onde se espelha
bem a diferença do perfil médio entre os dois grupos, que já havíamos tido
ocasião de perceber nas análises anteriormente efectuadas, com os alunos do
grupo A a evidenciarem-se com uma prestação acima da média em seis das
sete provas e o grupo B a demonstrar comportamento contrário. Em alguns
dos casos a diferença entre os valores médios cifrou-se mesmo quase no valor
de um desvio-padrão dos dados combinados.
Grupo A
0.8
Grupo B
0.6
0.4
0.2
0
-0.2
-0.4
-0.6
-0.8
SC
ABD
PUP
SR
SHR
50j
9MIN
Figura 18 - Resultados médios dos dois grupos
nos scores Z das diferentes provas
Para nos possibilitar obter um valor individual representativo da totalidade
das provas de aptidão física realizadas, recorremos ao somatório dos scores Z
individuais, tendo os alunos do grupo A obtido em média um valor de 2.54 (DP=
3.95) e os do grupo B de -1.439 (DP= 4.54). A representação comparativa da
144
Apresentação e discussão dos resultados
distribuição de percentis é apresentada na figura 19, sendo de notar a
supremacia dos alunos do grupo A em todos os pontos da distribuição à
excepção do percentil 99 (Anexo O).
12,5
10
7,5
5
2,5
Sum
score Z
Grupo A
Grupo B
0
-2,5
-5
-7,5
-10
-12,5
0
20
40
Percentil
60
80
100
Figura 19 - Comparação de percentis entre os dois grupos no somatório dos
scores Z da totalidade das provas.
Sujeitos os valores encontrados nos dois grupos à comparação estatística
através do teste t-Student, comprovámos existirem diferenças altamente
significativas (t= 3.02; p= 0.004) entre o conjunto dos resultados dos testes de
aptidão física (expressos pelo Sum score Z) registados nas duas amostras,
com os alunos do grupo A a demonstrarem melhores resultados. Aceitando o
princípio usualmente expresso pelos autores de que a expressão da aptidão
física do indivíduo está naturalmente associada às possibilidades de
desempenho motor (Malina, 1978; Barabás, 1989; Sobral, 1994), podendo
145
Apresentação e discussão dos resultados
ainda influenciar a motivação ou empenho colocado pelo aluno na prática de
actividades do domínio motor, presente e futura, não temos dificuldade em
concluir que as crianças do grupo A apresentam de facto melhores condições
do que os seus congéneres para a expressão de melhores níveis actuais de
performance motora, fornecendo portanto também melhores indicadores para o
futuro.
14.8.2. Comparação com os valores de referência
No sentido de respondermos à terceira questão colocada no início do
nosso estudo - e que diz respeito à conformidade dos valores registados pelo
grupo A com os referidos noutros estudos como relacionados com bons níveis
de prestação motora - foi nossa intenção, neste ponto da discussão, conjugar
alguns dados de análise já referidos, completando-os e objectivando-os.
Da análise realizada na apresentação individual dos resultados em cada
uma das provas, fica-nos a ideia generalizada de que as prestações realizadas
pelas crianças do grupo A não se distinguem claramente dos valores médios
registados nos diversos estudos apresentados. Aliás, à excepção da prova de
9MIN (onde só foi possível comparar com um estudo) e da de SC, em todas as
outras provas os valores médios alcançados foram similares ou mesmo
inferiores (ABD, PUP e SR) aos referidos por outros autores.
Existe, todavia, uma característica de homogeneidade nas prestações das
crianças do grupo A, principalmente quando comparado com amostras de
outras populações, que convém relembrar.
De facto, esta circunstância
146
Apresentação e discussão dos resultados
encontra-se normalmente associada a populações específicas, nomeadamente
de desportistas, já que pressupõe a associação entre algo que lhes é comum e
a variável ou característica estudada.
Porque importava explorar um pouco mais, na nossa perspectiva, esta
questão, não quisemos apenas inferir acerca dos valores médios realizados e
procurámos algumas características que nos permitissem aperceber melhor do
conjunto dos desempenhos individuais dentro do grupo.
Quadro 13 - Número e percentagem de crianças de cada grupo que se situa acima do percentil 75 e abaixo do percentil 25 na tabela
de AAHPERD.
SC
ABD
PUP
SR
SHR
50J
9MIN
Grupo A
29 %
6%
18 %
18 %
29 %
6%
71 %
> p 75
(n=17)
5
1
3
3
5
1
12
AHHPERD
Grupo B
10 %
7%
10 %
30 %
3%
0%
27 %
(n=30)
3
2
3
9
1
0
8
Grupo A
0%
47 %
-
35 %
6%
24 %
6%
AHHPERD
(n=17)
0
8
-
6
1
4
1
< p 25
Grupo B
37 %
37 %
-
33 %
27 %
57 %
23 %
(n=30)
11
11
-
10
8
17
7
Embora alertados para as limitações impostas na utilização de tabelas de
percentis, específicas de determinadas populações, na avaliação dos nossos
resultados, não nos pareceu descabida a utilização de alguns desses valores
como referência geral de classificação no desempenho das provas desde que
usando sempre de grande cuidado nesta análise.
Assim, fizemos uso dos
valores de percentil 25 e 75 das tabelas propostas pela AAHPERD (valores
147
Apresentação e discussão dos resultados
usualmente utilizados para balizar os desempenhos normais) para determinar a
percentagem de indivíduos de cada grupo que se situam, comparativamente à
população norte-americana, nos extremos de classificação da bateria de testes
empregue (quadro 13).
Pela visão de conjunto apresentada, rapidamente nos damos conta que,
tal como havíamos comentado relativamente aos valores médios, à excepção
da prova 9MIN, onde 71% dos alunos realizou marcas superiores ao percentil
75, não podemos considerar as prestações do grupo A como francamente boas
relativamente aos valores apresentados pelas crianças do estudo de
AAHPERD. É mesmo de realçar a grande quantidade percentual de crianças
deste grupo que se situa abaixo do percentil 25 na prova de ABD.
Referenciando-nos a este conjunto de ilações, concluiríamos dizendo que
os critérios utilizados pelos professores para diferenciar os alunos com
melhores níveis de performance motora, parecem estar associados com a
diferenciação do nível de aptidão física, não só porque as crianças escolhidas
demonstraram ser mais aptas quando confrontadas com os seus pares, mas
também pela homogeneidade dos resultados encontrados que parecem indiciar
um perfil definido.
No entanto esta diferenciação é sobretudo relativa ou
referenciada à população infanto-juvenil de pertença, não sendo suficiente
para, quando comparada com um conjunto mais amplo de valores relativos a
outras populações, lhe poder ser imputada significado determinante quanto à
associação com níveis distintamente elevados de performance motora.
148
Apresentação e discussão dos resultados
15. Análise e discussão dos resultados quanto à totalidade das
variáveis
Tomando para discussão a totalidade de indicadores estudados (sóciofamiliares, somáticos e de aptidão física) e procurando responder à primeira
pergunta formulada no início deste trabalho, é nossa opinião que, quer pela
existência de diferenças ao nível das variáveis individuais, quer pela pouca
amplitude de variação registada nas mesmas, as crianças classificadas pelos
professores nos níveis mais elevados das diferentes categorias comportamentais relativas à expressão da performance motora se diferenciaram efectivamente dos seus colegas, possuindo um perfil que embora contendo alguma
pluralidade de estruturas, as mantém dentro de limites adequados ao sucesso
motor.
Relativamente à segunda questão colocada e que se referia à possibilidade de validação da opinião expressa pelos professores aquando da diferenciação inicial dos alunos, pela complexidade da interacção possível das
variáveis em causa, torna-se muito difícil formular uma resposta ou opinião
cabal. Na realidade, parece-nos que o perfil associado às crianças do grupo A
em nada se encontra desadequado a um bom desenvolvimento individual dos
factores de rendimento motor, bem como à sua natural evidenciação positiva
no presente momento. No entanto mais dados seriam concerteza necessários
para o confirmar plenamente, pelo que a perspectiva da validação da avaliação
realizada pelos professores remete-nos única e exclusivamente à constatação
de que o lote de alunos resultantes da sua escolha, reunem um conjunto de
149
Apresentação e discussão dos resultados
atributos considerados vantajosos à exibição e prossecução de um bom
desenvolvimento do domínio motor.
E aqui já nos encontramos a tentar responder também à terceira questão
colocada e que referia a possibilidade de as características sócio-familiares,
somáticas e de aptidão física registadas nas crianças escolhidas pelos
professores serem de molde podermos esperar delas um melhor comportamento para o rendimento actual e futuro, no que diz respeito às actividades
físicas e desportivas. A resposta a esta pergunta terá obviamente de ser dada
na continuidade do pensamento anterior, reforçando que embora o lote de
particularidades exibido pelos alunos escolhidos em nada pareçam coartar as
possibilidades de desenvolvimento posterior, como bem sabem os estudiosos
da detecção de talentos, a efectiva concretização das possibilidades e aptidões
expressas num dado momento de desenvolvimento da criança ou jovem em
nada são pré-determináveis, podendo apenas ser cada vez melhor estimadas à
medida que o percurso do jovem vai sendo seguido e orientado.
O que no entanto pensamos não ser de excluir nesta nossa análise é o
facto de que, num primeiro momento de contacto com actividades sistemáticas
do domínio motor, estas crianças apresentam algumas particularidades
vantajosas neste âmbito relativamente aos seus pares, com a particularidade
de serem reconhecidas num nível de sucesso diferenciado pelos seus
professores.
No seu conjunto, a associação destas características poderá
direccionar um investimento pessoal mais acentuado no seu próprio processo
de desenvolvimento motor e desportivo (Corbin, 1991; Malina, 1988a; Weiss,
150
Apresentação e discussão dos resultados
1993; Mota, 1993; Passer, 1988), nomeadamente através da participação em
actividades do desporto escolar ou mesmo do treino desportivo de competição.
A ilação que nos parece mais pertinente retirar quanto a este ângulo do
problema, é a de reforçar a validade da participação do professor de Educação
Física, como especialista do processo global de desenvolvimento motor da
criança e jovem, num eventual projecto inicial e necessáriamente amplo, de
detecção ou melhor dizendo (evitando propositadamente a conotação decisiva
que este termo parece conter) de indicação das características da performance
motora dos seus alunos na perspectiva do desenvolvimento.
151
Conclusões
Conclusões
16. Conclusões parciais relativas aos factores sócio-familiares
Relativamente aos diferentes indicadores ou variáveis estudadas no
âmbito das características sócio-económicas, conclui-se então que:
•
Não existem razões significativas para pretender diferenciar as famílias
das crianças dos dois grupos em estudo, no que diz respeito ao estatuto
sócio-económico.
•
Quando interpretados em conjunto os diferentes indicadores estudados, é
no entanto possível detectar uma ligeira tendência para os elementos do
grupo A pertencerem a níveis socio-económicos mais elevados.
No que diz respeito aos factores associados ao encorajamento das
condições sócio-familiares para a prática de actividades físicas, e apesar de
não ter sido possível constatar diferenças significativas entre os dois grupos em
estudo, alguns aspectos poderão ser realçados no conjunto dos indicadores
analisados, nomeadamente:
•
as condições mais propícias à interacção com os irmãos por parte do
grupo A, caracterizadas por este grupo ser constituído por filhos únicos e
1º filhos em menor percentagem do que o grupo B, já que parece que a
presença de outros irmãos na casa, e principalmente se mais velhos,
153
Conclusões
poderá favorecer o processo de aquisição e estimulação motora.
•
a grande percentagem de pais pertencente a cada um dos grupos que
nunca praticou qualquer tipo de actividade física regular ao longo da vida,
o que torna praticamente indiferente qualquer tentativa de associação
desta variável a um hipotético comportamento de encorajamento à prática
da actividade física e desportiva.
•
A exclusão da influência dos espaços envolventes à habitação na
eventual atribuição de responsabilidades na determinação do comportamento da criança face às actividades físicas, já que, embora algumas
diferenças posssam ser descritas, nenhumas são de molde a limitar ou
distinguir a actuação motora da criança nos seus tempos livres.
17. Conclusões parciais relativas aos factores de aptidão física
O grupo de alunos considerados pelos professores como possuindo um
conjunto de características que os distingue num nível superior de performance
motora, quando comparados com os outros colegas relativamente às suas
prestações em provas de aptidão física, demonstraram:
•
Serem em média superiores aos outros alunos nas provas de salto em
comprimento sem corrida preparatória, shuttle run, abdominais em 60
seg., corrida de 50 jardas, flexões de braço na barra e corrida de 9 min,
apresentando apenas uma prestação média inferior no teste de sit-and-
154
Conclusões
reach.
•
Serem, na generalidade, mais homogéneos nas prestações realizadas, o
que se evidencia pelo menor valor de desvio-padrão registado em cinco
das sete provas (salto em comprimento sem corrida preparatória, sit-andreach, abdominais em 60 seg., corrida de 50 jardas e corrida de 9 min).
•
Terem obtido resultados significativamente melhores do ponto de vista da
comprovação estatística, nas provas de corrida de 9 min, salto em
comprimento sem corrida preparatória, shuttle run e corrida de 50 jardas.
•
Possuir um perfil médio de aptidão física diferentes dos outros alunos e
signicativamente melhor, já que se caracterizou por um melhor conjunto
de prestações nas diversas provas.
Contudo, quando temos por objectivo a comparação dos mesmos alunos
em relação a outras populações, visando determinar a adequabilidade do perfil
de aptidão física aos aspectos da performance motora, somos obrigados a
concluir pela não diferenciação, já que no seu conjunto os resultados
apresentados pelo grupo A não se distinguem das populações normais estudadas.
18. Conclusões parciais relativas aos factores morfológicos
Como conclusão da análise deste conjunto de variáveis relativas ao universo morfológico podemos referir em síntese que:
155
Conclusões
•
Comparando as variáveis individuais, verifica-se que os elementos do
grupo A se diferenciam por serem em média menos pesados, possuirem
menos massa adiposa e serem mais mesomorfos e ectomorfos do que os
do grupo B.
•
As flutuações das diferenças entre os dois grupos, quando considerado o
valor da massa corporal indiscriminada (peso) e após a subtracção da
massa adiposa (FFM) levam-nos a concluir da grande influência da última
na determinação da massa corporal total dos elementos do grupo B, com
as consequentes ilações negativas que daí advêm na relação motora. Ao
contrário os valores de massa gorda presentes nos alunos do grupo A,
não são de molde a limitarem ou influenciarem negativamente qualquer
tipo de actividade motora.
•
As crianças pertencentes ao grupo A apresentam em todas as variáveis
testadas uma maior homogeneidade do que as do grupo B, o que indica
maior consistência na identidade morfológica entre os seus elementos,
com a consequente posibilidade de associação a um perfil determinado.
Ao contrário os alunos do grupo B dispersam-se por todo o espectro de
valores encontrados, não demonstrando qualquer tipo de associação mais
evidente a uma qualquer característica morfológica.
•
Ao explorarmos as informações fornecidas pelo somatótipo vimos a reforçar as nossas conclusões anteriores, com as crianças do grupo A a
demonstrarem, com bastante homogeneidade, características de lineariedade associada à robustez física idênticas às descritas pelos autores
156
Conclusões
como propícias ao desenvolvimento de rendimentos desportivos elevados.
Ao inverso, os elementos do grupo B manifestam características
relativamente indiferenciadas, ocupando praticamente todo o espaço
possível da distribuição somatotipica.
•
O perfil morfológico associado aos elementos do grupo A revela-se
adequado, quando referenciado às características indicadas por diferentes autores como associadas a melhores níveis de performance motora
ao longo do desenvolvimento.
Como conclusão final deste conjunto de indicadores, poderemos dizer que
os alunos do grupo A, distinguidos pelos professores como evidenciando
melhor rendimento motor, se distinguem efectivamente das outras crianças
pelo conjunto da sua tipologia morfológica, apresentando características
associadas a maior robustez física e melhores propriedades de desempenho
motor, do que os seus congéneres.
19. Conclusão final do estudo
No final deste estudo queremos apontar três grandes pontos conclusivos
acerca do problema colocado inicialmente, procurando sintetizar os inúmeros
elementos analizados, as interpretações e discussões realizadas, bem como as
várias conclusões parciais traçadas:
1- As crianças classificadas pelos respectivos professores de Educação
157
Conclusões
Física nos níveis mais elevados das diversas categorias comportamentais
relativas
à
expressão
da
performance
motora,
diferenciaram-se
efectivamente dos seus colegas no conjunto das características sóciofamiliares, somáticas e de aptidão física estudadas.
2- Apesar de não ser possível determinar o futuro percurso de desenvolvimento destas mesmas crianças no que diz respeito ao seu rendimento
motor e desportivo, o conjunto de características apresentadas em nada
se encontram desadequadas, quer à natural evidenciação positiva no
momento presente, quer às perspectivas de sucesso no desenvolvimento
individual futuro.
3- Tanto quanto nos é permitido inferir destas duas conclusões anteriores, a
avaliação dos professores de Educação Física relativamente aos níveis
de performance motora associados à especificidade do desenvolvimento
desta faixa etária, foi eficaz e adequada
158
Conclusões
Limitações e Recomendações
20. Limitações
Neste nosso estudo existem limitações à consecução dos objectivos
pretendidos, algumas que fazem parte integrante das características do design
experimental utilizado e que desde o início quisemos assumir, outras com que
fomos deparando ao longo da sua execução e que resultaram das
particularidades dos resultados encontrados. Umas e outras deverão ser levadas em linha de conta para uma compreensão mais global deste nosso
trabalho.
Em primeiro lugar, ao pretendermos equacionar dum enfoque ecológico a
expressão da performance motora como produto e imagem do processo de
desenvolvimento da criança e na prespectiva do sucesso desse mesmo
desenvolvimento, quer quanto às aptidões actuais quer quanto ás possibilidades futuras, corremos conscientemente o risco da impossibilidade de utilização da mensurações exactas, perfeitamente determinadas e que pudessem
ser confrontadas com as opiniões avaliativas dos professores, já que, como diz
Sobral (1990), não existe um protocolo capaz de definir uma aptidão ou um
talento universal.
Para além disto, porque a mensuração de cada uma das variáveis em
estudo foi feita num só momento (apesar de a avaliação realizada pelo pro-
159
Conclusões
fessor ter sido orientada pelo conhecimento dos alunos durante um ano lectivo)
e essencialmente porque defendemos uma perspectiva da performance
associada ao ritmo de desenvolvimento na sua continuidade e não em qualquer
momento único, as constatações finais são sempre limitadas às possibilidades
de predição orientadas pelas referências a alguns indicadores reconhecidos. A
sua real validade e coerência só poderá ser acautelada através do seguimento
destas mesmas crianças nos anos posteriores, até, pelo menos, à idade póspubertária.
O pequeno colectivo de professores participantes da escolha, bem como
o tamanho das amostras que daí resultou, constituiram outro tipo de limitações
no alcance e generalização dos resultados e conclusões deste trabalho. Esta
ocorrência ficou a dever-se sobretudo à necessidade imposta inicialmente de
limitar os constrangimentos físicos e sócio-culturais da população de crianças,
bem como de serem utilizados apenas professores com habilitação própria, de
nomeação definitiva e com um mínimo de três anos de experiência de
leccionação neste grau de ensino.
O pequeno tamanho das amostras de alunos teve consequências sobretudo ao nível da perca de informação estatística, já que em vários momentos fomos obrigados a realizar agrupamentos de dados e/ou a fazer uso de
provas estatísticas com menor poder discrimanatório, devido a esse facto.
Os indicadores utilizados na análise da realidade sócio-económica de
cada família, não foram, em nossa opinião muito adequados pelas razões que
já apresentamos aquando da análise dos mesmos, podendo ser completados
160
Conclusões
com informações relativas ao vencimento per capita e com a determinação da
possessão ou não de casa própria.
A determinação do estatuto maturacional através da avaliação do
desenvolvimento genital poderá constituir também uma limitação ao estudo, por
duas ordens de razão:
•
as eventuais diferenças operadas por ritmos diversos de maturação, não
só entre os dois níveis considerados como pré-pubertários, como mesmo
dentro de um único nível;
•
o processo de auto-avaliação utilizado, uma vez que embora esta método
seja usualmente aconselhado devido à não intrusividade na privacidade,
algumas discrepâncias foram sugeridas por Matsudo e Matsudo (1994)
entre a auto-estimação e a opinião de especialistas, especialmente no
nível G2.
Uma última limitação, e pensamos a mais importante, é aquela que de-
corre da utilização de técnicas estatísticas de comparação univariadas. De
facto, a análise variável a variável poderá aumentar a hipótese de ocorrência
de um erro tipo I e não permite, por outro lado, extrair informações relevantes
que se expressam na existência de correlações entre as variáveis.
161
Conclusões
21. Recomendações
Em face das conclusões e limitações anteriormente enunciadas, propomos que no seguimento deste nosso trabalho e procurando continuar a responder a questões do mesmo tipo, se possam continuar a realizar estudos
neste âmbito, levando em linha de conta as seguintes recomendações:
•
Seguir as crianças participantes neste estudo, ao longo do seu percurso
futuro de desenvolvimento, continuando a verificar quer a valoração que
os professores lhes atribuem, quer os seus desempenhos e medidas
específicas em cada uma das variáveis. Esta recomendação é do nosso
ponto de vista essencial, uma vez que o processo de desenvolvimento e a
expressão de performance que lhe é própria, não se esgotam num dado
momento, pelo que é nossa intenção proceder à sua colocação em
prática.
•
Utilizar maior número de professores e como consequência, provavelmente maior número de alunos, de forma a verificar e aprofundar as
conclusões resultantes deste estudo.
•
Fazer uso, na medida do possível, de técnicas estatísticas multivariadas
no estabelecimento de comparações entre conjuntos de indicadores ou
variáveis pertencentes a um mesmo factor.
•
Recorrer ao uso de indicadores mais precisos na avaliação do estatuto
sócio-económico.
162
Conclusões
•
Confirmar a diferenciação realizada pelos professores através do recurso
a um painel de especialistas, validando assim a identidade e coerência
inter-professor.
•
Confrontar os resultados e conclusões encontrados nesta área populacional, com os de outras localidades mais e menos urbanizadas e com
contextos sócio-culturais diferenciados.
163
Conclusões
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