III DOMINGO DA PÁSCOA (Lc 24, 13-35)
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III DOMINGO DA PÁSCOA (Lc 24, 13-35)
III DOMINGO DA PÁSCOA (Lc 24, 13-35) OS DISCÍPULOS DE EMAÚS (Pe ignácio dos padres escolápios) EMAÚS: Seu nome significa banhos quentes e era uma vila [komes] ou seja um conglomerado de casas rústicas para servir de habitações para os camponeses com algum outro teknos [marceneiro, pedreiro e ferreiro numa só pessoa] com uma população talvez inferior a 400 habitantes. Na atualidade, existe um local a 60 estádios ou aproximadamente 10 Km de distância de Jerusalém, que corresponde ao relato de Lucas. O Emaús bíblico [El- Qubeibah] está situado ao lado de uma via romana que ia de Jerusalém ao mar. Perto existe uma fonte que diz era onde Jesus lavou os pés após a caminhada com os dois discípulos. KLÉOFAS: O grego diz Kleopas que o latim traduz por Cléophas que aparentemente pode ser uma abreviatura de Cleopatros nome grego que significa [filho] de pai ilustre. Alguns distinguem entre este Kléofas e um outro que em grego tem um nome parecido, Klopas, mas que o latim traduz da mesma forma. Cleophas é o esposo da irmã de Nossa Senhora, também chamada Maria, a de Klopas, e que estava ao pé da cruz, segundo João 19, 25. Como a mulher tinha o mesmo nome de Maria; daí deduzimos que Klopas era realmente o irmão de José, esposo de Nossa Senhora e que a sua mulher era cunhada e ao mesmo tempo era a mãe de Tiago chamado o menor e irmão de Jesus. Klopas é a tradução aramica de Cleopas. Kleopas e Klopas eram pois a mesma pessoa, ou seja, tio de Jesus por parte de pai. Há quem, por esta circunstância, identifica Kleofas com Alfeu ou Alfaios, que em Mt 10, 3 se diz ser o pai de Jacob ou Tiago. Em todo caso ao indicar um nome, Lucas quer nos dizer que o relato tem uma boa fonte testemunhal. NÃO O RECONHECERAM: Os seus olhos estavam atenazados, segurados [o verbo krateo grego, significa agarrar, manter firme] o latim diz tenebantur [estavam retidos ou reprimidos]e por isso, não o reconheceram. Estavam tristes porque Jesus de Nazaré que era homem profeta, poderoso em obra e palavra diante de Deus e de todo o povo(19). Como então, os chefes dos sacerdotes e os dirigentes[civis] o entregaram a um juízo de morte e o crucificaram (20). E explicam a causa de sua tristeza que em definitivo é uma perda de esperança: Já que nós esperávamos que viesse libertar Israel. Mas já sobre estas coisas prevalece o terceiro dia desde que passaram estas coisas (21). Nestas palavras está resumido o sentimento mais profundo e a alma de todos os discípulos de Jesus. Tanto esforço, tanta ilusão perdida. Tudo foi um sonho bonito que agora se transforma em dolorosa desilusão. Havia porém uma coisa estranha que eles duvidavam fosse realidade interessante: Mas também certas mulheres das nossas nos deixaram surpresos havendo estado mui de manhã sobre o túmulo (22). E não tendo encontrado o corpo dele voltaram dizendo também ter visto uma visão de anjos os quais dizem que ele está vivo (23). E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e encontraram assim como as mulheres falaram, mas a ele não viram (24). Temos traduzido o mais literalmente possível, respeitando tempos de verbos e significado das palavras. O caso é que os dois discípulos se mostraram tão céticos como hoje muitos dos leitores do evangelho que só admitem como históricos o sepulcro vazio e a ausência do corpo. As visões e aparições são tidas como imaginárias, sem fundamento real. Jesus não aparece como apareceu Nossa Senhora aos pastorinhos de Fátima. A Virgem não era vista pelos assistentes. Era pois, uma aparição interna sem que uma máquina fotográfica pudesse recordar a cena. Mas no evangelho de hoje temos a resposta: ele tinha um corpo como um homem qualquer. Precisamente a ¨cegueira¨dos dois discípulos de Emaús, indica que ele não foi uma aparição do tipo que certos teólogos indicam: ele, para todos os efeitos era de carne e osso, indistinguível como se fosse um homem comum. Os evangelistas distinguem perfeitamente a visão dos anjos [vestes resplandecentes], que podem ser semelhantes às aparições de Fátima, das aparições de Jesus durante os 40 dias: é o mesmo Jesus de sempre, o Jesus ainda não transformado porque não tinha ido ao Pai (Jo 20, 17). Quer dizer que só depois da Ascensão ele tomou o corpo espiritual que dirá Paulo(1 Cor 15, 43-45)? É uma hipótese que não tem nada contra a teologia e que não pode ser descartada já que a visão de Paulo de Jesus Ressuscitado parece ser uma visão, cuja fonte era a luz (At 9, 3). APOLOGIA DE JESUS: Começa censurando-os: Sem entendimento e tardos de mente [coração no original]. Usando termos mais claros poderíamos traduzir por tontos e estúpidos, não no sentido de um insulto mas de um fato certamente real e comprovável. A compreensão das Escrituras não depende unicamente da graça de Deus mas também da disposição se ânimo do leitor. Com uma mente perturbada por prejuízos como a dos saduceus, que não admitiam a ressurreição, era impossível admitir a de Cristo. Com uma mente como a moderna em que o milagre é menosprezado, é lógico que os relatos dos evangelhos sejam tomados exatamente como os das mulheres foram aceitos pelos discípulos: lendas, fantasias. Jesus, como companheiro de viagem, se torna agora mestre de sabedoria para interpretar as Escrituras, fazendo apologia de sua paixão: Era necessário que o Ungido [Messias] padecesse, para assim entrar na sua glória [a posse do seu reino]. O verbo deo significa atar, e em termos teóricos obrigar por estar sujeito a uma lei. O singular impessoal dei significa uma obrigação iniludível, porque estava escrito isto é: era um plano de Deus transmitido através dos profetas (25). E começando por Moisés, diz Lucas. Na realidade Moisés diretamente não fala do Messias a não ser em Dt 18, 15: Javé, teu Deus suscitará um profeta como eu no meio de ti dentre os teus irmãos e vós o ouvireis. Temos uma outra citação em Gn 3, 15: A descendência da mulher esmagará tua cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar. Além destas profecias que podemos chamar diretas e que são as únicas que nos tempos modernos aceitamos como verdadeiras, não podemos esquecer que muitas vezes os antigos viam na Escritura tipos e imagens do futuro como verdadeiras profecias. Entre esses tipos temos Isaac levando a lenha para o sacrifício que ia ser executado pelo pai, mas que no último momento foi substituído por um carneiro ( Gn 22, 6-14). Temos a serpente de bronze, da qual o próprio Jesus comentou que era sua figura (Nm 21, 8 e Jo 3, 14). Também podemos ver nos sacrifícios ordenados por Moisés, figuras do sacrifício de expiação pelos pecados da Nova Aliança de Jesus especialmente no dia do Yom Kippur pelo holocausto do bode expiatório (Lv cap 9) que a epístola aos hebreus no capítulo 9 afirma ser figura imperfeita de Jesus. Pelo que respeita aos outros profetas, tais como Davi nos salmos 22, 1-31, Isaías 53, 1-12 e Daniel 9, 1-27 as referências são muito notáveis. AO PARTIR O PÃO: Segundo a Mishnã, se são três os que devem comer juntos, são obrigados a benzer a mesa porque se são três os que comem juntos não podem separar-se para a bênção (Berajot 7, 4). Segundo a tradição judaica, na liturgia da Páscoa após a segunda copa, copa de Haggadá [das narrações da tradição] se iniciava o banquete com a bênção da mesa feita pelo pater-famílias sobre o pão ázimo: tomava o pão e o abençoava com estas palavras: Louvado sejas tu, Senhor nosso Deus, Rei do mundo que fazes sair o pão da terra. Os comensais respondiam Amém; e na continuação o pai de família repartia o pão. O pai da casa tomava o último pedaço e começava a comer; com isso ele dava o sinal para todos de que o banquete tinha começado. Os três sinóticos falam de como Jesus erguendo os olhos ao céu e abençoando o pão partiu-o e o entregou a seus discípulos. É precisamente nesta bênção e no partir o pão que os dois discípulos reconhecem a pessoa de Jesus. Os olhos se abriram e o reconheceram (31). E ELE DESVANECEU: Ele se tornou invisível [afantos] a eles (31). A palavra grega indica um não ser visto, um desvanecer ou desaparecer. Indica que é assim que nós vamos encontrar o Cristo: nas Escrituras e sem poder ver seu rosto que pela fé encontramos no partir o pão como os dois contaram aos onze[ que na realidade eram dez] após a volta de Emaús. OS DISCÍPULOS: Somente eram dez mas como Lucas não narra a aparição particular a Tomé, daí que ele o inclua entre os apóstolos e fala dos onze. Quando chegam os de Emaús que particularmente não pertenciam aos onze, encontram junto com estes outros discípulos congregados e falando de que realmente Jesus tinha ressuscitado e tinha sido visto por Simão [Pedro]. Esta aparição é confirmada por Paulo: Apareceu a Cefas e depois aos doze (1 Cor 15, 5). Vemos como aqui também o número 12 é usado como uma relação genérica, sem incluir no caso a Judas e Tomé. Então eles acrescentaram sua história que além de vê-lo continha uma lição de como interpretar as Escrituras. Jesus não olvidava seu ministério de Rabi, como Mestre de seus discípulos. É um fato, que muitos exegetas apresentam como significativo, que Ele fosse reconhecido ao partir o pão. Ele foi pela primeira vez reconhecido como rei após a primeira multiplicação dos pães, quando os abençoou e partiu (Mt 14, 19) e depois mandou que os discípulos os dessem à multidão. Esse foi o momento em que a multidão o declarou como o profeta que devia vir ao mundo e alguns até queriam torna-lo rei (Jo 6, 14-15). Foi também ao partir o pão que Ele foi reconhecido pelos dois discípulos. PISTAS: 1) A pergunta inicial: Por que a vida é sempre vencida pela morte? Por que o mal sempre triunfa do bem? O Pai abandona o Filho Jesus, ou este era simplesmente um impostor? Essencialmente as perguntas que se faziam os dois discípulos eram estas. Jesus não usa o raciocínio humano para responder mas os escritos sagrados. Sem Jesus as Escrituras não tem mais sentido que o dado pela comemoração de uma História particular e parcial do povo hebreu. Em Jesus encontraremos a culminação da História e a razão de nossa história porque em Jesus encontramos a justificação de como o mal deve ser vencido pelo bem: pelo sacrifício da própria vida para que, perdendo-a, outros a encontrem e a vivam melhor. 2) S. Agostinho afirma que o Senhor foi conhecido ao partir o pão; e também o conheceremos hoje ao partir o pão: a) O pão da Eucaristia onde o encontramos substancialmente b) O pão repartido entre os necessitados, com os quais ele quis se identificar. 3) A vida como uma dádiva de Deus, está se tornando uma circunstância para gozar da mesma sem sentido de solidariedade. Os cristãos não param na dádiva, mas no Senhor da mesma e vemos, como sendo Ele amor e ela produto do amor, devemos responder com amor; ou seja como entrega e não como posse definitiva. Por isso o padecer temporal é a base para a glória definitiva. 4) Apareceu a Simão: ele era o irmão que devia manter a fé dos irmãos (Lc 22, 32). A contrariedade e o sofrimento nos tornam fracos em nossa fé. Mas é aí onde a fortaleza de Deus se manifesta (2 Cor 12, 10). Os judeus pediam milagres e profecias (Lc 22, 64 e 23, 8) e os romanos poder, porque, quando Pilatos ouviu que Jesus veio a dar testemunho da verdade, o desprezou(Jo 18, 38). Mas é essa verdade que Jesus afirma: o Messias deve sofrer e assim unicamente entrar na glória do seu reino (25). EXEMPLO: Contava um sacerdote ancião que ele não temia a morte. Só a doença pelo que podia ter de sofrimento. Embora –dizia ele- aceitaria toda classe de sofrimento sabendo que este teria duas finalidades supremas: era a pena que ele pagaria nesta vida pelos próprios pecados e que seria reduzida das dores do purgatório e era também uma co-redenção com Cristo, porque formamos parte de seu corpo místico. Mas por que não temer a morte? E ele respondia: no último momento de lucidez, eu faria esta prece final: < Minha última prece será uma súplica: Senhor, até agora me deixaste cumprir a minha vontade. E eu aproveitei meu tempo para realizar o mal em quase todas as ocasiões e em muito poucas para fazer o bem. Agora é chegada a tua hora: Cumpre em mim o projeto de tua vontade! Realiza em mim a tua misericórdia! Faze o bem que eu deveria ter feito! Vence meu mal como o teu bem! Porque tu, Senhor és bondade por natureza e pediste-nos vencer o mal com o bem. Por isso eu me entrego totalmente a tua infinita misericórdia. Tu que me criaste, tem piedade de mim! E assim mostrará que donde abundou o pecado sobreabundará a tua misericórdia (Rom 5, 20)>