Efeitos de um programa de exercícios físicos na tolerância

Transcrição

Efeitos de um programa de exercícios físicos na tolerância
Efeitos de um programa de exercícios físicos na tolerância ao esforço
de indivíduos com tuberculose pulmonar
Effects of a physical exercise program in the effort tolerance by
patients with pulmonary tuberculosis
Viviane Viegas Rech1, Daisy Bervig2, Lenice Ferreira Rodrigues2, Cristiano Sanches2, Roberto Frota2
1
Fisioterapeuta; Espec. em
Ciências do Esporte e em
Fisioterapia
Pneumofuncional; Profa.
do Curso de Fisioterapia da
Universidade Luterana do
Brasil (ULBRA)
2
Graduandos em
Fisioterapia na ULBRA,
vinculados ao Serviço de
Fisioterapia do Hospital
Sanatório Partenon, da
Secretaria Estadual de
Saúde, Porto Alegre (RS)
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Viviane Viegas Rech
Av. João Wallig, 857/301
Bairro Passo da Areia
91340-000 Porto Alegre RS
e-mail:
[email protected]
[email protected];
[email protected];
[email protected];
[email protected]
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
jul. 2005
RESUMO: A tuberculose (TB) pulmonar é uma doença infecto-contagiosa que
apresenta sintomas respiratórios como tosse, expectoração purulenta,
hemoptise, dispnéia e dor torácica. Poucos estudos têm considerado a
limitação da capacidade de realizar exercícios na presença de doença
pulmonar não-obstrutiva. Este estudo visou comparar a sensação de dispnéia,
a saturação de oxigênio e a distância percorrida durante o teste de
caminhada de seis minutos em indivíduos com TB pulmonar hospitalizados.
Participaram 50 indivíduos, 27 no grupo controle e 23 no grupo tratamento.
A avaliação foi realizada pelo teste de caminhada dos 6 minutos quanto à
distância percorrida, a freqüência respiratória e cardíaca, a saturação de
oxigênio e a percepção de dispnéia. O grupo tratamento foi submetido a
um programa de exercícios físicos (de 22 a 24 atendimentos), após o que
foi realizada a reavaliação de ambos os grupos. Quanto à distância
percorrida, o grupo tratamento apresentou diferença estatisticamente
significativa entre as duas avaliações, utilizando-se o teste t de Student,
com uma média de 347,7m na avaliação para 414,2m na reavaliação,
enquanto no grupo controle não houve diferença estatisticamente
significativa. Quanto à dispnéia percebida, o grupo tratamento também
apresentou diferença significativa. Conclui-se que indivíduos hospitalizados
com TB pulmonar ativa melhoram seu condicionamento físico, quanto à
distância percorrida na caminhada e à sensação de esforço percebido.
DESCRITORES: Tuberculose pulmonar/reabilitação; Dispnéia; Teste de esforço;
Terapia por exercício
ABSTRACT: Pulmonary tuberculosis (TB) is an infectious, contagious disease
with respiratory symptoms such as cough, purulent expectoration, hemoptysis,
dyspnea, and thoracic pain. Few studies have considered the limitation of
capacity to make exercises in the presence of non-obstructive pulmonary
disease. The aim of this study was to compare dyspnea index, oxygen saturation
and walked distance by pulmonary TB inpatients. Fifty patients were
distributed into two groups, 27 in the control group and 23 in the treatment
group. The evaluation was made by the 6-minute walking test as to walked
distance, respiratory and cardiac frequency, oxygen saturation and dyspnea
index. The treatment group was submitted to a physical exercise program
(from 22 to 24 days), after which patients of both groups were again submitted
to evaluation. Following comparative statistical analysis (by means of the tStudent test) between the two evaluations for both groups, the treatment group
showed significant difference in the walked distance (mean 347,7m at the
first evaluation and 414,2m at the second one), whereas the control group
showed no significant difference. As to dyspnea, the treatment group also
presented statistically significant difference. Thus it may be said that
pulmonary TB inpatients improved their physical condition, having increased
walk distance and perceived less dyspnea after the exercise program.
KEY WORDS: Pulmonary tuberculosis/rehabilitation; Dyspnea; Exercise test;
Exercise therapy
FISIOTERAPIA
FISIOTERAPIA
E PESQUISA
E PESQUISA
2005; 122005;
(3): 35-40
12(3)
35
INTRODUÇÃO
A prevalência mundial de infecção por tuberculose (TB) é de
32%. Estima-se que ela cause 7%
de todas as mortes e 26% das
mortes preveníveis no mundo, a
maioria ocorrendo em indivíduos
jovens. O Brasil ocupa o primeiro
lugar em número de casos de TB
na América Latina1. Atualmente,
em todo o mundo, é a principal
causa de morte entre as mulheres
e, entre os homens, é a segunda
maior causa, seguindo-se a acidentes de trânsito. Em países em
desenvolvimento, a TB mata mais
que todas as demais doenças
infecto-contagiosas juntas, incluindo a AIDS2.
Como alteração da função pulmonar, a TB pode ser classificada
como distúrbio ventilatório misto
ou combinado (DVC), tanto como
doença granulomatosa única
quanto associada com doença pulmonar obstrutiva crônica, ou seja,
associação de seqüela de TB e doença pulmonar obstrutiva crônica3.
pacientes, o que afeta sua capacidade de exercício. Sabe-se que
na TB é importante que o sistema
de transporte de oxigênio seja estimulado com exercício para evitar os efeitos deletérios do descondicionamento e um maior
comprometimento de todo o sistema. Isso se evidencia em pacientes pós-tuberculose, que podem
apresentar limitada tolerância ao
exercício e incapacidades significativas que afetam as atividades
de vida diária, tal como em pacientes com DPOC 5,6 . Porém, ao
contrário do que tem acontecido
com a utilização de exercícios em
indivíduos com DPOC, poucos
estudos têm sido feitos nesse sentido considerando especificamente a TB. No entanto, já foram demonstradas incapacidades similares entre pacientes com DPOC e
seqüela de tuberculose pulmonar,
quando a idade e o volume
expiratório forçado em 1 segundo
(VEF1) foi corrigido6.
Com esse distúrbio ventilatório
caracterizado, os indivíduos com
TB podem apresentar manifestações clínicas variadas, havendo inclusive pacientes completamente assintomáticos, em que a
doença é diagnosticada por acaso. A maioria apresenta sintomas
moderados, que lhes permitem
prosseguir desempenhando suas
atividades usuais, sendo tratados
em regime ambulatorial. Uma minoria apresenta más condições clínicas, eventualmente necessitando internação hospitalar. Os sintomas respiratórios que esses pacientes apresentam são tosse, expectoração purulenta, hemoptise,
dispnéia e dor torácica, e os sintomas gerais são astenia, anorexia, emagrecimento, febre e sudorese noturna4.
Dessa forma, este estudo se justifica para verificar se, por meio
do condicionamento físico de indivíduos hospitalizados com tuberculose pulmonar, haveria aumento de sua tolerância ao esforço. O
aumento da capacidade de tolerar exercícios ocorre quando o treinamento possibilita menor consumo de oxigênio para uma mesma
atividade. Caso isso ocorra na TB
pulmonar, os pacientes diminuirão
os sinais e sintomas respiratórios,
adquirindo maiores possibilidades
de realizar atividades de vida diária e também diminuirão a limitação ao esforço, devido à dispnéia,
durante a hospitalização, com a
melhora da qualidade de vida
nesse período. Além disso, nos
casos em que a alta do paciente
depende do alívio dos sinais e sintomas respiratórios, poderá ocorrer
redução no período de internação.
Embora a capacidade de realizar exercícios em pacientes com
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) seja limitada primariamente pela condição ventilatória e descondicionamento físico, também estão associados ao
estilo de vida sedentário desses
O objetivo deste trabalho foi
verificar os efeitos de um programa de exercícios físicos na tolerância ao esforço em indivíduos
hospitalizados com tuberculose
pulmonar, por meio da comparação da sensação de dispnéia, da
distância percorrida e da saturação
36
FISIOTERAPIA E PESQUISA 2005; 12(3)
de oxigênio durante o teste de caminhada de seis minutos nos períodos pré e pós-programa.
METODOLOGIA
Esta investigação caracterizouse como prospectiva com grupo
controle. A composição da amostra foi realizada de forma aleatória, com pacientes hospitalizados
com diagnóstico de tuberculose pulmonar ativa (verificado pela presença de bacilo-álcool-ácido-resistente - BAAR - positivo no exame
de escarro), no Hospital Sanatório
Partenon, em Porto Alegre, com idades entre 20 e 50 anos, de ambos
os sexos, no período de maio de
2003 até abril de 2004.
Pela verificação do prontuário,
foram excluídos do estudo pacientes que apresentavam alterações
neurológicas, psiquiátricas ou
ortopédicas, que impediam a realização do teste de caminhada dos
6 minutos ou o programa de exercício proposto. Também foram
excluídos os que se recusaram a
participar do trabalho.
Quanto aos procedimentos de
coleta de dados, após a inclusão
dos pacientes a avaliadora entrava em contato com eles para
explicação do trabalho e autorização, tendo eles assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. O teste de caminhada
de 6 minutos era realizado se o
paciente estivesse em condições
de fazer exercício, bem como trajado adequadamente; se estivesse
em uso de O2 contínuo, deveriam
ser anotados os dados referentes
(fluxo e maneira de transporte).
Imediatamente antes de iniciar
o exercício eram coletados os
dados basais com o indivíduo em
pé: freqüência cardíaca (FC), freqüência respiratória (FR), escore
de dispnéia7 pela escala de Borg
(category-ratio 10 – CR10), saturação de oxigênio (SatO 2) por
meio do oxímetro de dedo da
marca Onyx – 2001, e avaliação
de dor em membros inferiores também pela escala de Borg. Iniciava-se a caminhada de esforço
Rech et al.
máximo, com estimuação pelo
responsável em tom constante e,
a cada minuto frases prontas, conforme critérios estabelecidos pela
American Thoracic Society8. O
teste era encerrado quando o paciente completava os 6 minutos
propostos, ou caso necessitasse ser
interrompido pelos critérios dor no
peito, dispnéia intolerável, câimbras nas pernas, tontura, diaforese,
palidez.
O paciente deveria classificar
sua dispnéia basal e fadiga geral
pela escala de Borg CR10, após o
término do teste, e deveria permanecer em repouso até normalização da SatO2.
No segundo momento, os pacientes eram sorteados para saber em
qual grupo seriam incluídos. Este
sorteio era realizado pelo
pesquisador responsável pelos
atendimentos. Aqueles sorteados
para o grupo tratamento realizavam o programa de exercícios,
que era de 22 a 24 atendimentos.
E o grupo controle foi acompanhado somente quanto aos sinais vitais diariamente, pelos componentes da equipe. Ao final desse período de atendimentos e verificações,
os pacientes de ambos os grupos
foram reavaliados.
O programa de exercícios incluía inicialmente 5-10 minutos de
exercícios ativos para aquecimento dos membros superiores e inferiores, como dorsiflexão e plantiflexão de tornozelos, flexão de
quadris e joelhos, flexão e extensão horizontal de ombros9.
O treinamento dos membros
superiores foi realizado sem suporte, elevando as extremidades superiores por dois minutos (por
movimentos em diagonal), com
uma repetição para cada respiração (realizando a expiração
durante o esforço), dividido em
duas séries e intercalando o membro superior direito e esquerdo. A
progressão foi realizada com aumento de tempo de execução,
com intervalos de repouso de dois
minutos (depois de dois minutos
de exercício), até alcançar 32
minutos, utilizando inicialmente
Exercícios e tuberculose pulmonar
halteres de 250 gramas, evoluindo a cada cinco atendimentos
conforme tolerado10,11. Seguia-se
um período de resfriamento de 5
a 10 minutos com exercícios de
auto-alongamentos bilaterais, com
manutenção de 30 segundos12.
Para os membros inferiores utilizou-se a bicicleta ergométrica inicialmente com carga igual a zero
e evoluindo em watts até alcançar
o índice-alvo de trabalho, progredindo até alcançar 20 minutos de
exercício10,13. A linearidade entre a
freqüência cardíaca e CR10 facilitou a escolha de um bom nível alto
de CR10, sem a necessidade de
basear-se na freqüência cardíaca
em todos os momentos: no início
dos exercícios a intensidade deveria ser mantida baixa (entre 1,0 e
3,5) e, à medida que o indivíduo se
acostumava com a atividade, ia
sendo aumentada a intensidade
para algo entre 2,0 e 5,57,14. O período de resfriamento era de 5 a 10
minutos com exercícios de autoalongamentos bilaterais, com manutenção de 30 segundos12. Oxigênio suplementar podia ser providenciado se houvesse dessaturação
durante o treinamento15.
As atividades foram divididas
entre os dias da semana: segundas, quartas e sextas-feiras eram
feitos exercícios e alongamentos
específicos para membros inferiores e terça e quinta-feira exercícios e alongamentos específicos
para os membros superiores. Foram completados 24 atendimentos, sendo que cada um desses
teve duração de no máximo 60
minutos e o programa foi iniciado
dentro do tolerado pelo paciente.
Além disso, nenhuma carga adicional foi colocada até que 30 minutos pudessem ser completados16.
A análise estatística foi realizada no Núcleo de Estatística da
Universidade Luterana do Brasil.
Foi utilizado o teste t de Student
para comparar as médias dos dados contínuos dos grupos e foram
considerados resultados com diferença estatisticamente significativa aqueles que apresentaram
p<0,05. Além disso, os dados nominais foram descritos em termos
de freqüência e porcentagens na
amostra e os dados contínuos apresentados em tabelas e em gráficos17.
Este estudo, bem como o termo de consentimento livre e esclarecido, integram o projeto de
pesquisa “Efeitos de um programa
de condicionamento físico em indivíduos com TB pulmonar hospitalizados”, que foi aprovado pelos comitês de Ética em Pesquisa
da ULBRA e da Escola de Saúde
Pública, da Secretaria Estadual de
Saúde, do Rio Grande do Sul (sob
os protocolos de número 098-2002
e 046-03, respectivamente).
RESULTADOS
No período de estudo, compreendido entre maio de 2003 e
abril de 2004, participaram 50
pacientes, divididos em 27 no grupo controle (18 homens e 9 mulheres) e 23 pacientes no grupo
tratamento (15 homens e 8 mulheres). A média e desvio padrão (DP)
de idade foi de 36,74 (±8,44) anos
no grupo tratamento e 37,04
(±7,51) anos no grupo controle.
No grupo tratamento, ao teste
de escarro 39,1% pacientes apresentavam BAAR+, 26,1% tinham
BAAR++ e 34,8%, BAAR+++. E, no
grupo controle, 61,5% dos pacientes apresentavam BAAR+,
19,3% BAAR++ e 19,2% BAAR+++.
Quanto ao tabagismo, 78,3% do
grupo experimental e 63% do grupo
controle eram tabagistas. Seis pacientes (33,3%) do grupo tratamento e 12
pacientes (66,75%) do grupo controle eram HIV positivo.
Na comparação feita pelo teste t Student da distância percorrida (Figura 1) no teste de caminhada de 6 minutos (TC6), observouse no grupo tratamento uma média de 347,75m (±80,51m) na primeira avaliação e de 414,25m
(±92,72m) na reavaliação após
aplicação do programa de exercício físico (p=0,002), com diferença estatisticamente significativa no nível de 5%. Já no grupo
controle, as médias de distância percorrida na avaliação e reavaliação
foram respectivamente 361,64m
FISIOTERAPIA E PESQUISA 2005; 12(3)
37
(±117,22m) e 381,57m (±84,34m),
com p=0,451.
Durante as avaliações e reavaliações no período pós-teste, a
dispnéia foi mensurada pela escala de esforço percebido de Borg.
Na avaliação, a mensuração da
dispnéia antes e depois da caminhada no TC6 não apresentou diferença significativa no nível de
600
Distância (m)
500
As variáveis de FC e FR, verificadas antes e após o teste de
caminhada, não apresentaram
diferença estatisticamente significativa na comparação entre os
grupos pelo teste t Student. Nos
Quadros 2 e 3 podem ser observadas
as médias e desvio padrão em cada
grupo da FC pré e pós-TC6, na avaliação e na reavaliação.
*
*
400
Avaliação
300
Reavaliação
200
100
0
Grupo experimental
Grupo controle
Figura 1 Comparação da média da distância percorrida no TC6 na avaliação inicial
e na reavaliação de cada grupo
* p<0,05 teste t Student
5% em ambos os grupos. Quando
foi realizada a comparação da
dispnéia referida antes e após o
TC6 em cada grupo no período de
reavaliação (ou seja, após o programa de exercícios ou controle),
observou-se que no grupo tratamento houve uma queda estatisticamente significativa na dispnéia
referida (3,09 para 1,58; p=0,005),
enquanto no grupo controle não
se observou essa diferença estatística (3,78 para 3,36). Pode-se
verificar que a dispnéia percebida
no grupo controle após a caminhada foi maior que no grupo tratamento.
Durante o TC6 também foram
mensuradas a SatO2, FC e FR. Na
avaliação e reavaliação da SatO2,
antes e depois do teste, não ocorreram diferenças estatísticas nos
grupos. A média de SatO2 (%) na
reavaliação pós-teste no grupo controle foi de 89,43% (±8,16) e, no
grupo tratamento, de 95% (±5,91),
conforme apresentado no Quadro 1.
Nenhum paciente necessitou do
uso de oxigênio complementar
durante a realização do programa
de exercícios ou durante as avaliações e reavaliações.
38
FISIOTERAPIA E PESQUISA 2005; 12(3)
DISCUSSÃO
Na amostra estudada, 33,3% do
grupo experimental e 66,7% do
grupo controle eram HIV positivo.
De acordo com Ribeiro e Matsui1,
relata-se que, no mundo, 8% dos
casos de TB têm HIV positivo. O
Brasil é considerado país de médio risco para infecção pelo HIV
e infecção pelo Mycobacterium
tuberculosis. Dentre o total de
casos de AIDS notificados em pessoas com 13 ou mais anos de idade, a TB representava 26,9% das
infecções oportunistas, sendo em
1996 a segunda mais freqüente
infecção oportunista notificada
após a candidíase oral. Assim, os
resultados encontrados superam o
que é relatado na bibliografia. Isso
pode ser reflexo das características do Hospital Sanatório Partenon,
que tem como principal causa de
internação tuberculose pulmonar
por problemas psicossociais.
Quadro 1 Comparação por grupo da variável média e desvio padrão (DP) da
saturação de oxigênio (SatO2) nos períodos pré e pós-teste
Grupo experimental
SatO2 pré-teste (AV)
Média (DP)
95,52 (4,67)
Valor de p
0,949
SatO2 pós-teste (AV)
95,61 (4,32)
SatO2 pré-teste (RE)
95,17 (3,64)
SatO2 pós-teste (RE)
95,00 (3,91)
Grupo controle
SatO2 pré-teste (AV)
Média (DP)
94,63 (4,37)
Valor de p
SatO2 pós-teste (AV)
93,63 (7,00)
0,202
SatO2 pré-teste (RE)
92,57 (7,50)
SatO2 pós-teste (RE)
89,43 (8,16)
0,890
0,098
* Diferença estatisticamente significativa ao nível de 5% pelo teste de t Student
Quadro 2 Média e desvio padrão (DP) da freqüência cardíaca (FC) no TC6
em ambos os grupos, na avaliação (AV) e reavaliação (RE)
Freqüência cardíaca
Média (DP)
(FC)
FC pré-teste (AV)
Experimental
100,26 (22,15)
Controle
110,11 (22,20)
FC pós-teste (AV)
112,39 (25,32)
119,22 (30,65)
FC pré-teste (RE)
115,08 (24,59)
124,43 (27,90)
FC pós-teste (RE)
116,42 (21,41)
116,79 (26,92)
Quadro 3 Média e desvio padrão (DP) da freqüência respiratória (FR) no TC6 em
ambos grupos, na avaliação (AV) e reavaliação (RE)
Freqüência respiratória
Média (DP)
(FR)
FR pré-teste (AV)
Experimental
23,00 (4,78)
Controle
23,13 (3,95)
FR pós-teste (AV)
26,61 (3,94)
27,15 (4,04)
FR pré-teste (RE)
25,92 (6,68)
28,15 (6,54)
FR pós-teste (RE)
28,08 (6,01)
30,15 (5,93)
Rech et al.
A média de idade era de 36,74
anos no grupo experimental e
37,04 anos no grupo controle. Segundo o Ministério da Saúde2, a
TB é uma doença que atinge em
geral as pessoas na idade produtiva, entre 15 e 59 anos.
Trabalhos anteriores, como o de
O’Donnell et al.18, comparam a
dispnéia, na distância percorrida
no teste de caminhada dos 6 minutos e no trabalho no cicloergômetro, entre dois grupos combinados por idade de pacientes com
DPOC moderado. O grupo treinado com exercícios de resistência
reduziu significativamente seu
escore de dispnéia e aumentou a
distância percorrida e o trabalho
ergométrico, quando comparado
ao grupo controle. Paralelamente,
no presente estudo, a dispnéia do
grupo tratamento diminuiu significativamente em relação ao grupo controle, enquanto que a distância percorrida aumentou.
Sabe-se que mudanças na distância percorrida no TC6 correlacionam-se bem com modificações na percepção de dispnéia
em pacientes com DPOC19. É possível que isso também possa ocorrer em outros distúrbios respiratórios crônicos.
Pacientes com DPOC apresentam reduzida tolerância ao exercício, associada à dispnéia, que
ocorre primariamente devido à
obstrução das vias aéreas, mas
também pela combinação de outros fatores20. Indivíduos com TB
ativa em muitos casos também
apresentam secreção brônquica,
além de outros fatores como
disfunção muscular periférica
(pelo emagrecimento importante,
quando não ocorre diagnóstico
precoce e tratamento adequado).
Dessa forma, é provável que em
indivíduos com TB os programas
de reabilitação que incluem treinamento com exercícios são capazes de reduzir dispnéia e melhorar a tolerância ao exercício,
como tem sido proposto em alguns
estudos sobre a DPOC.
Exercícios e tuberculose pulmonar
Em um programa de reabilitação pulmonar de pacientes com
DPOC, considera-se que a mínima
diferença, entre um teste de caminhada de 6 minutos em uma primeira avaliação e o teste de
reavaliação, deve ser de 54 metros para que o paciente perceba
uma melhora clinicamente significante21. Neste estudo, os pacientes portadores de TB que realizaram o tratamento tiveram uma diferença entre as médias da avaliação e da reavaliação de 66,5
metros, enquanto aqueles do grupo controle somente de 29,9
metros. Dessa forma, provavelmente o programa de exercícios
realizado trouxe benefícios clínicos perceptíveis a esses indivíduos.
O tratamento fisioterapêutico
tem sido integrado à reabilitação
do paciente hospitalizado com TB
pulmonar ativa recentemente,
apesar de as normas de biossegurança no atendimento a esses
pacientes, bem como a atuação
dos tuberculostáticos, já serem
bem conhecidas.
Um estudo que considerou o
exercício em indivíduos já curados da tuberculose foi realizado
em duas etapas: a primeira consistia em comparar o grau de
incapacidade entre pacientes com
seqüela de TB pulmonar e paciente com DPOC – e os resultados
mostraram que os graus de incapacidade foram semelhantes
quanto aos valores de VEF1 e também na distância percorrida no
TC6. Na segunda etapa, foram
comparados os efeitos da reabilitação pulmonar entre os dois grupos, em um período de nove semanas; os resultados avaliados
pelo teste de caminhada de seis
minutos também se apresentaram
semelhantes6.
Programas estruturados e multidisciplinares de reabilitação pulmonar têm apresentado considerável impacto na qualidade de
vida de pacientes com diversas
doenças respiratórias. Entre os
objetivos de tais programas, destaca-se o aumento da tolerância
ao exercício dinâmico, o qual se
associa, entre outros, à diminuição da dispnéia nas atividades cotidianas, redução do nível de dependência do paciente em relação aos cuidados médicos e atitude positiva frente à doença22.
Quanto ao teste de caminhada
de 6 minutos, utilizado no presente
estudo para avaliar a tolerância
ao esforço, tem sido proposto que
ele consegue equilibrar reprodutibilidade e poder de discriminação. Além disso, correlacionase bem com pico de consumo de
oxigênio e com saúde, relatada
em questionários de qualidade de
vida, sendo altamente sensível em
detectar mudanças após tratamento como, por exemplo, treinamento físico 23 . Aproximadamente
80% dos programas de reabilitação pulmonar utilizam esse teste23, portanto, justifica-se sua utilização para avaliar programas de
exercícios aplicados a outras doenças respiratórias.
Segundo Frontera et al.14, uma
vez que a cessação do exercício
resulta em perda do efeito de treinamento, o plano ideal deve envolver
uma fase de treinamento intenso e
uma fase de manutenção. Além disso, acredita-se que esses pacientes
obteriam maior aproveitamento se
o programa tivesse um tempo de
duração de seis a oito semanas, conforme preconizado em outros protocolos formais de treinamento com
exercícios para doentes pulmonares13, ao invés de vinte e quatro
atendimentos (5 vezes na semana, por 1 mês), como realizado
neste trabalho.
CONCLUSÃO
De acordo com os resultados
obtidos nesse estudo, pode-se afirmar que o condicionamento físico pode ser efetivo em pacientes
com tuberculose pulmonar ativa
por aumentar a distância percorrida no teste de caminhada de seis
minutos e diminuir a dispnéia,
como relatado em trabalhos semelhantes realizados com pacientes
portadores de DPOC.
FISIOTERAPIA E PESQUISA 2005; 12(3)
39
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