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Biodiversidade Piscícola no Baixo Estuário do Rio Arade Jorge M. S. Gonçalves (Coordenação) Pedro Monteiro Frederico Oliveira Luís Bentes Laura Leite Pedro Veiga Com o apoio de: Faro, Fevereiro de 2010 Universidade do Algarve – CCMAR – Campus de Gambelas — 8005-139 – FARO – Portugal, (Tel. + 351-289800925, Fax: + 351-289818353, email: [email protected], internet: http://www.ualg.pt/ccmar AGRADECIMENTOS O Grupo de Investigação Pesqueira Costeira gostava de agradecer a um conjunto de pessoas e instituições que participaram neste estudo: - À Direcção Geral das Pescas e Aquicultura que, no âmbito do programa MARE (http://www.dgpa.min-agricultura.pt/popesca/), financiou o projecto que suportou este estudo. - Ao Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM) e GEO, pela cedência de um posto de amarração para a embarcação com que foram realizadas as amostragens. - À Capitania de Portimão e IPTM, por toda a disponibilidade e prontidão na cedência das autorizações necessárias à realização das campanhas de amostragem no estuário do Arade. - Ao Dr. Daniel Machado que, como bolseiro de investigação do projecto que suportou este estudo, teve uma contribuição preponderante em todas as fases do mesmo. - Ao Prof. Doutor Karim Erzini e aos Drs. Miguel Ruano, Margarida Corado, Miguel Mateus, Cheila Almeida, Rui Coelho, Joana Carvalho, Joaquim Ribeiro, David Abecasis, Mafalda Rangel, Inês Sousa, Carlos Afonso, Margarida Machado, Pedro Guerreiro e João Sendão, pela sua colaboração durante as várias fases do estudo. - Ao técnico de pesca Isidoro Costa e a todos os voluntários que participaram nas campanhas de amostragem. ÍNDICE AGRADECIMENTOS ENQUADRAMENTO GERAL ....................................................................................................................................................................... 1 O ESTUÁRIO DO RIO ARADE ................................................................................................................................................................. 2 A MARINA DE PORTIMÃO ....................................................................................................................................................................... 3 OBJECTIVO ............................................................................................................................................................................................... 3 PROTOCOLO EXPERIMENTAL .................................................................................................................................................................. 4 ENROCAMENTOS .................................................................................................................................................................................... 4 CANAL PRINCIPAL ................................................................................................................................................................................... 5 MARGENS ................................................................................................................................................................................................. 5 TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO.......................................................................................................................................................... 6 INVENTÁRIO DAS ESPÉCIES ..................................................................................................................................................................... 7 CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS COMUNIDADES DE PEIXES ......................................................................................................... 7 CARACTERIZAÇÃO POR HABITAT ....................................................................................................................................................... 9 ENROCAMENTOS .................................................................................................................................................................................. 10 MARGENS ............................................................................................................................................................................................... 13 CANAL PRINCIPAL ................................................................................................................................................................................. 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................................................ 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS........................................................................................................................................................... 18 OUTRAS REFERÊNCIAS CONSULTADAS .......................................................................................................................................... 18 GUIAS DE IDENTIFICAÇÃO DE PEIXES ............................................................................................................................................. 18 LISTAGEM DE ESPÉCIES DE PEIXES REGISTADAS NO ESTUÁRIO DO RIO ARADE FICHAS DESCRITIVAS DE ESPÉCIES EMBLEMÁTICAS Biodiversidade Piscícola no Baixo Estuário do Rio Arade No âmbito do acordo de cooperação com a artificiais [4], os recifes artificiais são estruturas colocadas administração da Marina de Portimão, o Grupo de deliberadamente com o objectivo de reproduzir características Investigação Pesqueira Costeira do Centro de Ciências do naturais. Nesse sentido, do ponto de vista biológico as marinas Mar (CCMar) da Universidade do Algarve [1] elaborou um podem representar também um ponto de atracção e inventário e caracterização das comunidades piscícolas concentração de muitas espécies de peixes e oferecer habitat marinhas existentes nas imediações da Marina de para muitos invertebrados marinhos. No entanto, podem Portimão. também ser uma fonte de vulnerabilidades em termos ambientais na medida em que podem contribuir para a poluição ENQUADRAMENTO GERAL A Marina de Portimão (Figura 1) encontra-se localizada no baixo estuário do rio Arade, numa área de interface entre duas massas de água distintas (dulçaquicula e marinha) e de elevada diversidade biológica e importância ecológica [2] [3]. As marinas de recreio são vistas como importantes estruturas de apoio a embarcações de recreio que atravessam as áreas marítimas e são estruturas artificiais que apresentam características em certos aspectos idênticas a recifes artificiais. De acordo com a rede europeia de investigação sobre recifes marinha (e.g. tintas, óleos, combustível, águas residuais das embarcações) e figurar como “porta de entrada” para espécies exóticas ou alienígenas trazidas nas águas de lastro de embarcações de recreio vindas de outras regiões, se não forem tomadas medidas de gestão ambientais adequadas. A Marina de Portimão tem sido desde o ano 2000 uma das contempladas com o símbolo de qualidade ambiental atribuída aos portos e marinas da comunidade europeia pela Associação Bandeira Azul. Esse facto acontece porque têm sido genericamente desenvolvidos programas de gestão ambiental Figura 1 – A Marina de Portimão encontra-se localizada numa área de interface entre duas massas de água distintas e de elevada diversidade biológica e importância ecológica (Fotografia: CFRG, 2006) 1 2 que visam a melhoria da qualidade ambiental da Marina, nomeadamente controlo da qualidade da água, gestão de resíduos, consumo de água e electricidade [5]. O ESTUÁRIO DO RIO ARADE O estuário do Arade encontra-se situado na região do Barlavento algarvio, entre os 37º06’ N, 08º31’ W e 37º39’ N, A bandeira azul é um galardão ambiental atribuído 08º29´ W. Apesar das pequenas dimensões, é o segundo anualmente às marinas que dedicam uma particular atenção a maior estuário do Algarve, a seguir ao do Guadiana, com um uma boa gestão das instalações e serviços no que respeita ao comprimento de 8 Km por uma largura média de <1 Km, e uma ambiente e à natureza e que proporcionam informação profundidade média de 6 m [7]. Apresenta uma bacia ambiental aos seus utilizadores. De modo a manter uma hidrográfica de 996 km2, e tem como principais afluentes a qualidade compatível com uma boa gestão ambiental e cumprir ribeira da Boina e ribeira de Odelouca (Figura 2). requisitos para a manutenção da bandeira azul, é importante O estuário é considerado polihalino e mesotidal nomeadamente manter boas práticas ambientais e cumprir com vários critérios de qualidade [6], entre os quais: • Informação ambiental sobre áreas costeiras com ecossistemas sensíveis; • Implementação de um código de Conduta Ambiental com comportamentos adequados; • Existência de um plano e estratégia ambiental para o Porto de Recreio ou Marina revisto anualmente; • Existência de contentores devidamente identificados e diferenciados para a deposição de lixos recicláveis e produtos poluentes (tintas, solventes, baterias, produtos anti-vegetativos, óleos usados, sinais pirotécnicos, etc.); • Existência de equipamento de bombagem por aspiração de água de lastro ou de cavernas de embarcações e das águas residuais dos sanitários das embarcações; • A água da doca é mantida visualmente limpa, isenta de óleo, lixo e quaisquer outros macro-detritos poluentes. A caracterização das comunidades piscícolas existentes na área de inserção da Marina de Portimão e a respectiva divulgação inserem-se numa política alargada de boas práticas ambientais a que a administração da marina se propôs promover no futuro próximo. Figura 2 – Porção do baixo estuário do rio Arade e área envolvente. (Fonte: www.googlearth.com). homogéneo [7] apresentando uma vasta área de zonas de sapal. As manchas de sapal são atravessadas por pequenos esteiros constituindo importantes habitats para inúmeras espécies de aves e servem igualmente de viveiro para várias espécies de peixes. Por esta razão o estuário do rio Arade está classificado como Zona Húmida de Importância Internacional cerca de 25 hectares, enquadrada pelos fortes de Santa (biótopo CORINE) [8]. Catarina e S. João e comporta embarcações até 50 m e com Nos últimos anos a pesca no estuário e na região tem calado máximo de 5 metros. A Marina de Portimão apresenta pescadores, características ambientais genericamente semelhantes às nomeadamente das comunidades ribeirinhas da Mexilhoeira da zonas estuarinas circundantes uma vez que a sua construção Carregação, Ferragudo e Portimão, ainda aqui se dedicam ao foi enquadrada no estuário do Arade. Todavia, a sua marisqueio. É, contudo, no comércio e turismo que a região construção permitiu a criação de um extenso molhe e vários tem vindo a obter uma importância crescente. Apesar de ser pontões que permitem o abrigo de inúmeras espécies de alvo de variados impactes antropogénicos devido à elevada peixes e invertebrados. vindo a diminuir. No entanto, alguns população residente e flutuante, a poluição no estuário tem vindo a estabilizar devido a uma maior atenção no tratamento dos esgotos urbanos. OBJECTIVO O presente trabalho teve como propósito caracterizar a fauna piscícola existente na área de inserção da Marina de A MARINA DE PORTIMÃO Portimão. Tendo em conta que as imediações da Marina de A Marina de Portimão encontra-se situada na margem Portimão apresentam vários habitats específicos, para a direita da foz do estuário do Arade (37º 08’ N; 8º 32’ W) (Figura realização deste trabalho foi necessário adaptar um conjunto 3). A marina divide-se em duas zonas e ocupa uma área de de metodologias habituais em estudos de biologia marinha. Por Figura 3 – Localização da Marina de Portimão. (Fonte: www.googlearth.com) 3 4 último foi identificado um conjunto de espécies emblemáticas autónomo. Os mergulhos para censos visuais foram efectuados para a foz do estuário e para a Marina de Portimão, podendo em dois pontos dos molhes Este e Oeste do estuário (zonas de uma delas servir de ícone para campanhas de sensibilização enrocamentos), previamente escolhidos. Em cada campanha de mergulho foram então realizados ambientais no âmbito da bandeira azul. dois transectos por local. No primeiro transecto, dirigido aos peixes demersais (consulte a Caixa 1), o mergulhador abrangia PROTOCOLO EXPERIMENTAL O trabalho de caracterização das comunidades de peixes uma área de 60m (20 m x 3) de comprimento por 4 m de efectuado largura. No segundo era abrangida uma área de 30m (10 m x Numa fase preliminar foi efectuado um levantamento dos contabilizados os peixes crípticos (Figura 4) e bentónicos aí existentes nas imediações da marina foi mensalmente durante um ano. principais tipos de habitats presentes nesta zona. Os habitats 3) de comprimento por 1 m de largura e identificados e existentes. identificados foram: 1) Enrocamentos, dos quais se destacam os molhes da foz do estuário e as estruturas dos pontões da marina de Portimão e do cais comercial; 2) Canal do estuário, com profundidades e hidrodinamismos superiores às margens, constituído por fundos de areia na zona da foz e de areia-vasa na zona do cais comercial. 3) Margens do rio, constituídas por fundos de areia e vasa de baixa profundidade e hidrodinamismo; Depois de identificadas as principais características de cada tipo de habitat, nomeadamente profundidade média e tipo de fundo (rocha/blocos, areia/vasa), foram seleccionados os métodos de amostragem científicos que fornecessem um inventário mais completo das espécies de peixes aí existentes. Os métodos de amostragem escolhidos foram: ENROCAMENTOS O método de censos visuais foi utilizado nas zonas de enrocamentos da foz do Arade. A sua aplicação neste estudo prendeu-se com o facto de ser um método não destrutivo e o mais adequado a substratos rochosos (onde outros métodos, como o arrasto, não são aplicáveis). O método de censos visuais consiste na contabilização e identificação das espécies que frequentam os fundos rochosos, ao longo de um percurso predefinido, com recurso ao mergulho com escafandro Figura 4 – Os peixes crípticos apresentam comportamentos esquivos e padrões de coloração que mimetizam o ambiente em redor, neste caso a marinha-comum (Syngnathus acus) junto de uma rocha nas zonas de enrocamento. (Fotografia: CFRG, 2006) 5 Caixa 1 O que são organismos demersais? Os organismos marinhos podem ser classificados de acordo com a utilização que fazem da coluna de água e dos fundos marinhos. Assim, em função da zona que ocupam os organismos podem ser: Organismos Pelágicos: são organismos que vivem e se alimentam exclusivamente na coluna de água. Estes organismos estão associados à superfície ou ás camadas de água medianas (e.g. sardinha). Organismos Demersais: são organismos que ocupam a zona da coluna de água mais próxima do fundo do mar. Estes organismos têm uma relação com o fundo, do qual dependem geralmente para se alimentar, esconder ou reproduzir. (e.g. sargo). Organismos Bentónicos: são organismos que vivem sobre o fundo do qual são completamente dependentes. Raramente se aventuram nas camadas superiores da coluna de água. (e.g. linguado). Organismos Crípticos: são organismos que exibem um comportamento geralmente territorial e que passam grande parte do tempo escondidos. Apresentam geralmente formas, padrões e colorações que lhes permitem uma excelente camuflagem e mimetizam o ambiente envolvente (e.g. cavalo-marinho). CANAL PRINCIPAL O arrasto de vara foi utilizado nas áreas do canal principal (Figura 5), visando a captura das espécies de peixes demersais e bentónicos (que vivem junto ou no fundo). Tratase de uma arte de pesca pouco selectiva e de dimensões reduzidas (2,65 m x 0,65 m; malha de 9 mm), que se afigura ideal para estudos científicos de inventariação de espécies de substratos móveis (e.g. areia, vasa). Os arrastos foram realizados mensalmente em 6 pontos do estuário previamente definidos, escolhidos aleatoriamente, durante a preia-mar, e numa extensão de 200 m cada (Figura 6). MARGENS A redinha é também uma arte pouco selectiva e que varre toda a coluna de água, sendo muito utilizada em estudos de Figura 5 – Início da operação de arrasto de vara. Esta arte de pesca pouco selectiva e de dimensões reduzidas é adequada para estudos científicos de inventariação de espécies em substratos móveis (Fotografia: CFRG, 2006). 6 inventariação de comunidades de peixes. Neste estudo foi Interesse Comercial (IC), Estatuto de Conservação (EC) e utilizada para inventariar as espécies existentes nas zonas Habitats em que ocorreu. O interesse comercial de cada marginais pouco profundas do estuário, correspondendo a espécie foi atribuído tendo em conta o valor de venda na zonas pouco intervencionadas e que por isso permanecem DOCAPESCA. O estatuto de conservação foi baseado no Livro com fundos de arenosos de baixo declive (margem esquerda Vermelho dos Vertebrados de Portugal [9]. A percentagem de do Arade, zona de Ferragudo). juvenis foi calculada com base no comprimento de primeira maturação (L50) descrito na bibliografia: Figura 6 – Exemplo das capturas realizadas no estuário do rio Arade. A presença dominante de determinadas espécies é notória. Neste caso o charroco (Halobatrachus didactylus) (Fotografia: CFRG, 2006). As redinhas foram realizadas mensalmente, em três pontos de amostragem previamente escolhidos na baixa-mar. Em cada operação de redinha, um investigador ficava em terra com uma ponta da rede, enquanto o barco se afastava da margem com a outra ponta e fazia um círculo completo, de forma efectuar um cerco sobre uma determinada zona. No fim o barco regressava à margem e a redinha era alada para terra, onde eram recolhidas as capturas (Figura 7 e 8). TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO À excepção dos censos visuais, que não envolviam recolha de peixes, as amostras de peixes obtidas pela redinha e arrasto de vara eram enviadas para o laboratório para posterior análise. No laboratório, cada peixe foi identificado até à espécie, com recurso a guias de identificação especializados, e posteriormente medido e pesado. Os dados obtidos foram convertidos em bases de dados EXCEL (Microsoft Office ©). Foi criada uma lista das espécies encontradas, com a seguinte informação por espécie: Número, Peso, gama de comprimentos (CT) registados, percentagem (%) de juvenis, Figura 7 – Típica operação de pesca com a redinha. Esta arte foi utilizada para amostrar a margem arenosa do Arade (Margem esquerda, Ferragudo) (Fotografias: CFRG, 2006). Para cada habitat (Enrocamentos, Canal Principal e Margens) foi realizada uma análise das comunidades de peixes, de forma a tentar compreender as principais diferenças entre estes áreas, em termos de presença de espécies e número de indivíduos. Para a análise dos habitats Canal Principal e Margens, distinguiu-se entre a zona do Cais Comercial, localizada a montante, e a zona da Foz, junto à Marina de Portimão. Para cada um dos habitats identificados e para cada local amostrado foram calculados: 1) o número total de espécies identificadas; 2) a densidade média, em número de peixes por 1000 m2; 7 Caixa 2 O que é o I.R.I.? O índice de importância relativa ou I.R.I. foi desenvolvido de forma a integrar num só índice os principais métodos de avaliação (numérico, volumétrico e frequências de ocorrência) [10]. Desde então, tem sido o índice misto mais utilizado em dietas alimentares. Este índice é adimensional, sendo normalmente referido em valor absoluto ou percentual e é calculado a partir da seguinte equação: I.R.I.x=(%Px+%Nx)×%FOcx 3) o Índice de Importância Relativa (I.R.I.) de cada Onde: espécie (consulte a Caixa 2). %Px – contribuição em peso da espécie x Relativamente ao habitat Enrocamentos, onde se realizaram transectos de censos visuais, foi calculado o número de espécies identificadas e a densidade (nº %Nx – contribuição em número da espécie x %FOcx – frequência de ocorrência da espécie x peixes/1000m2) de cada espécie. INVENTÁRIO DAS ESPÉCIES CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS COMUNIDADES DE PEIXES No âmbito deste estudo, foram registadas 88 espécies de peixes (4 das quais correspondem a peixes cartilagíneos) pertencentes a 34 famílias. As famílias Sparidae (sargos) e Gobiidae (cabozes) foram as mais importantes em termos de diversidade, representadas por 12 espécies cada (Figura 9). Outras famílias de peixes que mereceram destaque foram as famílias Soleidae (linguados) e Labridae (bodiões), representadas por oito e seis espécies de peixes, respectivamente. No global dos habitats, as espécies mais frequentes (características do estuário) foram o caboz-da-areia Pomatoschistus minutus, peixe-rei Atherina presbyter, safia Diplodus vulgaris, caboz-negro Gobius niger, língua-de-gato Figura 8 – Embora o estuário do rio Arade seja um ambiente propício ao desenvolvimento dos juvenis de várias espécies de peixes, alguns exemplares capturados apresentaram dimensões apreciáveis, neste caso, em cima, a dourada (Sparus aurata) e em baixo, o rodovalho (Scophthalmus rhombus) ou parracho, como é localmente conhecido (Fotografias: CFRG, 2006). Buglossidium luteum e o sargo Diplodus sargus. A sardinha Sardina pilchardus, por se tratar de uma espécie de cardume, foi capturada em grandes quantidades, apesar de somente em 8 hippocampus e Hippocampus guttulatus, que apesar de Syngnathidae 4 Callionymidae 4 insuficientes), são consideradas raras. Foram inventariadas Mugilidae 4 ainda 25 espécies consideradas Comercialmente Ameaçadas, Labridae Soleidae possuírem estatuto de conservação Indeterminado (dados entre as quais estão incluídas várias espécies de sargos e 6 linguados. É importante referir que a classificação do Instituto 8 Sparidae 12 Gobiidae 12 Outras da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) tem mais de 15 anos (1993), e que para algumas espécies está certamente desactualizada. A enguia Anguilla anguilla, por 38 Figura 9 – Famílias de peixes mais representadas no estuário do Arade, em termos de número de espécies. Sparidae (sargos); Gobiidae (cabozes); Soleidae (linguados); Labridae (bodiões); Mugilidae (taínhas), Callionymidae (peixes-pau) e Syngnathidae (cavalos-marinhos e marinhas) algumas situações. Daí que não tenha sido considerada uma das espécies mais importantes do estuário. Em termos de gama de comprimentos, foi observada uma grande variabilidade de tamanhos, com peixes desde 1 cm (caboz Pomatoschistus microps) a 62 cm (peixe-agulha Belone belone) (Tabela I). Neste trabalho não foi observada qualquer espécie cujo estatuto de conservação pertença às categorias extintas ou em perigo de extinção [9]. No entanto, é de destacar a captura de vários exemplares de savelha (Alosa fallax), espécie classificada como Vulnerável. Foram também registadas duas espécies de cavalos-marinhos (Figura 10), Hippocampus Figura 10 – Os cavalos-marinhos (Hippocampus hippocampus e Hippocampus guttulatus) são peixes marinhos de pequena dimensão que sacrificaram a forma hidrodinâmica e a velocidade por uma armadura, coloração críptica e comportamento discreto. O cuidado parental por parte do progenitor é característico destas espécies. Os machos desenvolvem uma bolsa ventral onde a fêmea deposita os ovos. Aí, os ovos são encubados até à eclosão. O macho dá então à luz um conjunto de juvenis (até 800 de uma vez!) bastante semelhantes ao adulto. Na fotografia, um Hippocampus hippocampus macho adulto grávido (Fotografia: CFRG, 2009). þTodos os cavalos-marinhos capturados foram medidos e libertados, reduzindo o impacto na sua população. exemplo, já se encontra classificada como criticamente ameaçada a nível mundial, segundo a IUCN (International Union for Conservation of Nature). De todas as espécies capturadas mais de metade (55) possuem interesse comercial. Destas, algumas como por exemplo o salmonete (Mullus surmuletus), os linguados (Solea spp.), o rodovalho (Scophthalmus rhombus), o robalo (Dicentrarchus labrax), os sargos (Diplodus spp.) e a dourada (Sparus aurata), possuem um valor comercial bastante elevado, que nos mercados em certas alturas do ano pode ultrapassar os 15 Euros/kg. Outras são também muito importantes para a economia da região em termos de quantidades desembarcadas, como é o caso da sardinha (Sardina pilchardus). Apesar da maioria das espécies (55) encontradas nesta porção do estuário serem de origem marinha e terem sido registadas ocasionalmente, pelo menos 17 espécies utilizam este sistema como zona de crescimento e alimentação nos primeiros anos do seu ciclo de vida (e.g. sargos). Esta observação é suportada pelo facto da maioria destas espécies ter sido representada exclusivamente por juvenis, e ter ocorrido em maior abundância em determinadas alturas do ano como a Primavera e o Verão. Tal como é habitual nos estuários, que são sistemas de transição entre os meios dulçaquícola e marinho, o número de espécies residentes observado (14) foi reduzido (consulte a Caixa 3). Não foram capturadas espécies dulciaquícolas, sendo a savelha a única espécie anádroma capturada e a enguia a única espécie catádroma. 9 Caixa 3 Utilização do Estuário Os organismos marinhos podem ser classificados de acordo com a utilização que fazem dos estuários e zonas costeiras em geral. Esta classificação tem por base os hábitos de reprodução, migração, ocorrência, distribuição e abundância. Desta forma, as espécies podem agrupar-se nas seguintes categorias: Espécies residentes: são espécies que vivem no estuário durante todo o seu ciclo de vida (e.g. Charroco). Espécies marinhas que utilizam o estuário como viveiro: são espécies de origem marinha que passam as fases iniciais do seu ciclo de vida no interior do estuário e utilizam este ecossistema como viveiro, ocorrendo raramente na fase adulta (e.g. sargo). Espécies marinhas ocasionais: são espécies que visitam o estuário ocasionalmente, não possuindo nenhuma preferência conhecida por este tipo de ecossistema (e.g. peixe-agulha) Espécies migradoras Espécies migradoras anádromas: são espécies que passam a maior parte do seu ciclo vida no meio marinho e migram para os rios para se reproduzir e desovar (e.g. sável, savelha) Espécies migradoras catádromas: são espécies que passam a maior parte do seu ciclo vida nos cursos de água doce e migram para o mar para reproduzir e desovar (e.g. enguia). Espécies dulciaquícolas ocasionais: são espécies que vivem no meio dulciaquícola e ocasionalmente ocorrem em meio salobro (e.g. barbo). A análise das comunidades de peixes permitiu identificar CARACTERIZAÇÃO POR HABITAT Nos três habitats referidos (Enrocamentos, Canal Principal os principais grupos de espécies que geralmente caracterizam e Margens) registaram-se 88 espécies. No Canal Principal do cada habitat. Apesar de em alguns casos várias espécies estuário foi identificado o maior número de espécies (59 estarem presentes nos vários locais estudados, observou-se espécies), seguido das margens (54 espécies) e zonas de uma utilização distinta em cada habitat específico. Por enrocamento (35 espécies) (Figura 11). 59 exemplo, as Margens foram essencialmente dominadas por juvenis de espécies demersais e pelágicas (a 54 maioria de interesse comercial), como o sargo, robalo e sardinha, que procuram estas zonas de águas menos 35 profundas em busca de protecção de predadores e de alimento. No Canal Principal do estuário, caracterizado por maiores profundidades e hidrodinamismo, as espécies predominantes são geralmente bentónicas, como peixes- Enrocamento Canal Margem Figura 11 – Número de espécies identificadas nos três habitats estudados no baixo estuário do Arade chatos (Microchirus azevia, B. luteum), charroco (H. didactylus) e cabozes (e.g. Gobius niger). As espécies principais das zonas de enrocamento são espécies tipicamente associadas a Do número total de espécies identificadas, apenas 15 este tipo de fundo, ou seja, que tiram partido dos enrocamentos foram comuns aos três habitats, com destaque para os para se abrigarem nas fendas lá existentes (e.g. cabozes, esparídeos, nomeadamente a safia (Diplodus vulgaris). Dezoito Parablennius pilicornis; Gobius xanthocephalus). Outras espécies foram registadas apenas no Canal, 11 apenas nos utilizam os enrocamentos essencialmente para se alimentarem Enrocamentos e 14 apenas nas margens. dos organismos que lá ocorrem. Exemplos são o sargo, que se 10 alimenta de mexilhões, pequenos caranguejos, minhocas (entre outros), e a salema (Sarpa salpa), que se alimenta raspando as algas da superfície das rochas. ENROCAMENTOS A amostragem dos Enrocamentos localizados na foz do rio Arade foi efectuada com recurso a censos visuais subaquáticos. Deste modo, algumas limitações, decorrentes da utilização desta técnica, condicionaram os resultados obtidos, nomeadamente a fraca visibilidade e o estado do mar. Foram identificadas 33 espécies de ictiofauna, pertencentes a quatro grupos de distribuição vertical dentro do habitat em estudo. Figura 12 – Contribuição relativa das densidades de cada um dos grupos de espécies registadas nos enrocamentos da foz do rio Arade. As espécies demersais são as que dominam este habitat, espécies, que no seu conjunto compreendem 91% das representando cerca de 58% do total (Figura 12). As espécies densidades observadas (Figura 14): a safia, Diplodus vulgaris pelágicas (23%) são o segundo grupo mais importante (37%), o sargo, Diplodus sargus (29%), e a salema, Sarpa seguidas das espécies bentónicas (19), estas estritamente salpa (20%). Contudo, é de realçar a existência de outras cinco associadas ao substrato (Figura 13). espécies, sendo que três delas pertencem á familia Sparidae. O grupo dos peixes demersais é dominado por três Estas espécies apresentam valor comercial e são também Figura 13 – As zonas de enrocamentos rochosos são um habitat potencial para variadas espécies. As pequenas fendas deixadas entre os blocos são rapidamente colonizadas por vários organismos que delas fazem a sua “habitação”. Neste caso, o charroco aguarda pacientemente na entrada da sua gruta, por uma presa mais distraída que se aproxime (Fotografia: CFRG, 2006). 11 espécies alvo da pesca recreativa que é efectuada nos enrocamentos, reforçando a importância desta família no contexto deste tipo de habitat. Outros 2,56% Symphodus roissali 1,50% Ctenolabrus rupestris 1,50% Diplodus bellottii 2,21% Spondyliosoma cantharus 2,74% Diplodus cervinus 3,09% Sarpa salpa 20,34% 29,44% Diplodus sargus 36,60% Diplodus vulgaris Figura 14 – Principais espécies de peixes demersais nos enrocamentos da foz do rio Arade. Entre as três espécies de peixes pelágicos identificadas não houve nenhuma que dominasse o grupo. A sardinha, Sardina pilchardus, foi a mais importante (44%), seguida de mugilideos não identificados (29%), denominados por taínhas, e o peixe-rei, Atherina spp. (26%) (Figura 15). Atherina spp. Mugilidae n. id. Sardina pilchardus 26,43% 29,51% 44,05% Figura 15 – Espécies de peixes pelágicos nos enrocamentos da foz do rio Arade As espécies bentónicas representadas por dezasseis espécies, foram dominadas principalmente por uma família, Gobidae, que contribuíu com mais de 85% das densidades observadas. Ainda dentro desta família, as espécies Gobius xanthocephalus, Pomatoschistus spp., Pomatoschistus cf. quagga, Pomatoschistus pictus e Gobius cruentatus (Figura 16) destacaram-se dado que sozinhas representam cerca de 72% do total do grupo. De facto, estas espécies, assim como toda a famíla Gobidae, são bastante abundantes nos recifes naturais costeiros de toda a costa algarvia e principalmente na parte do barlavento. Outras das espécies presentes pertencem ao grupo dos rascassos (Scorpaena notata e S. porcus) e a Figura 16 – Caboz (Gobius xanthocephalus). As espécies da famíla Gobidae, são comuns nos recifes naturais costeiros ao longo da costa algarvia, principalmente na parte do barlavento (Fotografia: CFRG, 2008). 12 espécie com maior valor comercial dentro deste grupo, M. surmuletus, pertence à família Mullidae (Figura 17). Para além das espécies observadas nos enrocamentos será de esperar que possam existir outras que não foram 6,59% Outros Gobius paganellus Pomatoschistus minutus Parablennius pilicornis 3,02% 6,87% 10,71% observadas durante o período normal de amostragem, mas que Gobius cruentatus fruto do conhecimento do litoral da costa algarvia e do habitat Pomatoschistus pictus normal dessas espécies, seja esperado encontram no habitat Pomatoschistus cf. quagga proporcionado pelo enrocamento. Assim é de esperar Pomatoschistus spp. 17,03% encontrar robalos (Dicentrarchus labrax), douradas (Sparus Gobius xanthocephalus 17,03% aurata) e espécies crípticas como a moreia (Muraena helena) e o safio (Conger conger) (Figura 18). 11,81% 12,36% 14,56% Figura 17 – Espécies bentónicas presentes nos enrocamentos da foz do rio Arade. Figura 18 – O safio (Conger conger) é uma espécie que rapidamente coloniza estruturas antropogénicas. Este caçador voraz é essencialmente nocturno. Durante o dia raramente se aventura em águas abertas e permanece escondido em fendas ou buracos, muitas vezes acompanhado de pequenos camarões que junto dele encontram refúgio e protecção (Fotografia: CFRG, 2008). pilchardus) e o peixe-rei (Atherina spp.) constituem as duas MARGENS Foram identificadas 54 espécies capturadas nas margens do baixo estuário, utilizando redinha. Na zona da Foz do estuário, junto à Marina de Portimão, foram identificadas mais espécies (46 espécies) do que na zona do Cais Comercial (41 espécies). No entanto, a densidade média (indivíduos/1000m2), foi superior na zona do Cais Comercial do que na zona da Foz (Figura 19), devido às grandes quantidades de juvenis de sardinha capturadas neste local. Foz Foz Cais Comercial Cais Come 46 5836 41 1692 espécies com maior Índice de Importância Relativa (IRI). Tabela I – Espécies capturadas com redinha, cuja presença foi identificada apenas num dos habitats amostrados (Foz e Cais Comercial). Foz Ammodytes tobianus Bothus podas Callionymus risso Lithognathus mormyrus Liza saliens Raja brachyura Scomber japonicus Solea senegalensis Symphodus cinereus Symphodus melops Trachinotus ovatus Trachurus trachurus Uranoscopus scaber Cais Comercial Alosa fallax Arnoglossus laterna Arnoglossus thori Diplodus bellottii Hippocampus hippocampus Parablennius pilicornis Scorpaena porcus Sparus aurata No entanto, na zona do Cais as comunidades são dominadas pela sardinha, que ocorre em grandes cardumes Nº espécies Densidade (ind/1000m2) Figura 19 – Número de espécies e densidade média (ind/1000 m2) capturados no Habitat Margem, nos sectores Foz e Cais Comercial do estuário do rio Arade. Nas duas zonas em questão (Foz e Cais Comercial) foram identificadas 33 espécies em comum, mas 8 espécies ocorreram apenas a montante (zona do Cais Comercial) e 13 espécies junto à zona da Foz, mais próximo do mar (Tabela I). Entre as espécies que apenas foram identificadas na zona do Cais comercial, destaca-se a presença da mucharra-branca Diplodus bellottii, do cavalo-marinho Hippocampus hippocampus e da savelha Alosa fallax. Na região da Foz, o (Figura 21). Na zona da Foz este papel é assumido pelo peixerei, outra espécie de cardume muito abundante no estuário. O sargo é outra das espécies dominantes na área em estudo, encontrando-se como a terceira mais importante na zona do Cais e a oitava nas margens da Foz. Ressalta-se também a presença do robalo D. labrax, espécie de elevado valor comercial, que ocorre nas margens das duas zonas e o linguado-de-areia Pegusa lascaris, na região mais a jusante. Do ponto de vista conservacionista, destaca-se a importância, em termos de IRI, da espécie de cavalo-marinho Hippocampus guttulatus, na zona do Cais Comercial. número de espécies únicas foi maior do que no Cais, tendo-se observado espécies com maior influência marinha. Neste local, são de destacar o galeota menor Ammodytes tobianus, os bodiões Symphodus melops (Figura 20) e S. cinereus, o peixepau Callionymus risso e a cavala Scomber japonicus, esta última com valor comercial. Nas margens localizadas na zona do Cais Comercial e na Foz do estuário verificou-se que a sardinha (Sardina Figura 20 – Os bodiões são dos peixes mais coloridos que podem ser observados na costa Algarvia. Algumas espécies apresentam padrões exuberantes, especialmente durante a época de reprodução. Na fotografia o bodião-vulgar (Symphodus melops) (Fotografia: CFRG, 2008) 13 14 A Sardina pilchardus Chelon labrosus Hippocampus guttulatus B Atherina spp. Dicentrarchus labrax Liza aurata Diplodus sargus Diplodus vulgaris Outros Atherina spp. Pomatoschistus minutus Pegusa lascaris Sardina pilchardus Diplodus sargus Diplodus vulgaris Liza aurata Dicentrarchus labrax Outros Figura 21 – Indice de Importância Relativa (IRI) em percentagem das 8 espécies mais importantes verificadas nas margens da zona do Cais Comercial (A) e Foz (B) do estuário do Arade. Esta espécie, em paralelo com o parente Hippocampus hippocampus, está geralmente associadas às manchas de ervas marinhas que existem nesta zona. Neste tipo de habitats Foz Cais Comercial 51 40 126 85 encontram as condições ideais para o crescimento e reprodução. O facto de se reproduzirem nestes locais foi comprovado pela captura de vários machos “grávidos”. Nº espécies CANAL PRINCIPAL Na zona do canal do baixo estuário foram capturadas 59 espécies utilizando o arrasto de vara. Tal como nas margens, também no canal principal foram capturadas mais espécies a jusante (Foz) do que a montante (Cais Comercial), mas a densidade média dos lances (indivíduos /1000m2) foi superior Densidade (ind/1000m2) Figura 22 – Número de espécies e Densidade média (ind/1000 m2) capturados no canal, nos sectores Foz e Cais Comercial do estuário do Rio Arade Scophthalmus rhombus e besugo Pagellus acarne. Apenas identificada nesta zona salienta-se também a espécie de raia Raja undulata (Figura 23). Das espécies capturadas com na zona do Cais Comercial (Figura 22). Na zona da Foz e Cais Comercial foram identificadas 32 espécies em comum, das 59 espécies totais. Mas tal como nas margens, houve um maior número de espécies únicas na zona da Foz, de maior influência marinha. Das 51 espécies capturadas na Foz, 19 não ocorreram a montante, na zona do Cais, e 8 apenas ocorreram nesta zona. Junto à boca do Arade, as espécies únicas são nitidamente espécies marinhas, algumas das quais com elevado valor comercial, como é o caso da ferreira Lithognathus mormyrus, rodovalho Figura 23 – Raia-curva (Raja undulata) juvenil, com poucos dias de vida capturada no estuário do Arade. Após a medição foi rapidamente devolvida ao seu habitat (Fotografia: CFRG, 2008). arrasto de vara, exclusivamente na zona do Cais Comercial, Na zona do Cais Comercial o charroco H. didactylus salienta-se a presença do caboz Pomatoschistus microps, pela (Figura 24) e o caboz Gobius niger são as espécies com sua densidade elevada, e de espécies valiosas do ponto de maiores valores de Índice de Importância Relativa (IRI). Na vista comercial (safio C. conger e robalo D. labrax) e zona da Foz a principal espécie a contribuir para o IRI foi a conservacionista como o cavalo-marinho H. guttulatus (Tabela língua-de-gato Buglossidium luteum, sendo o charroco II). novamente muito importante, com o segundo valor de IRI mais Tabela II – Espécies capturadas com arrasto de vara, cuja presença foi identificada apenas num dos habitats amostrados (Foz e Cais Comercial) elevado. Junto à foz do Arade verificaram-se mais espécies de Foz Arnoglossus laterna Boops boops Chelidonichthys lastoviza Dicologoglossa cuneata Diplodus puntazzo Lithognathus mormyrus Nerophis lumbriciformis Pagellus acarne Raja montagui Raja undulata Sarpa salpa Scophthalmus rhombus Spicara maena Symphodus bailloni Symphodus melops Synaptura lusitanica Torpedo torpedo Trachurus trachurus Trisopterus luscus Cais Comercial Ammodytes tobianus Conger conger Dicentrarchus labrax Gobius cruentatus Gobius gasteveni Hippocampus guttulatus Pomatoschistus microps Sardina pilchardus entre as 8 espécies mais importantes em termos de I.R.I. (Figura 25). Figura 24 – O charroco é um predador oportunista e altamente adaptável às variações ambientais, o que lhe permite ocupar uma vasta gama de habitats ao longo do estuário (Fotografia: CFRG, 2008). A Halobatrachus didactylus Diplodus vulgaris Atherina spp. Pleuronectiformes, vulgarmente designados por peixes chatos B Gobius niger Buglossidium luteum Diplodus bellottii Pomatoschistus minutus Microchirus azevia Outros Buglossidium luteum Microchirus azevia Gobius niger Halobatrachus didactylus Solea senegalensis Diplodus vulgaris Pomatoschistus minutus Pegusa lascaris Outros Figura 25 – Índice de Importância Relativa (IRI) em percentagem das 8 espécies mais importantes verificadas no canal do estuário do Arade, na zona do Cais Comercial (A) e Foz (B) 15 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS Juvenis O presente estudo permitiu inventariar um total de 88 espécies de peixes, pertencentes a 34 famílias. Esta diversidade piscícola na secção mais a jusante do estuário, é por si só, uma das mais elevadas de entre todos os estuários portugueses, revelando a importância do estuário do Arade no contexto da biodiversidade marinha. Uma importante 80% 60% 40% 20% 0% contribuição para estes resultados foi o facto de terem sido utilizadas um conjunto de diferentes técnicas de amostragem em função dos diferentes habitats presentes. As espécies mais abundantes foram a sardinha e o peixe- Adultos 100% Sardinha Sargos Linguados Taínhas Robalo (S. pilchardus) (Sparidae) (Soleidae) (Mugilidae) (D. labrax) Figura 26 – Proporção de juvenis e adultos para as espécies ou grupos de espécies mais importantes para o baixo estuário do Arade, evidenciando a função de viveiro deste sistema. rei que povoam o estuário em grandes cardumes; a safia e o Salienta-se o registo de 31 espécies com estatuto de sargo que tal como a sardinha utilizam o estuário como viveiro conservação, com destaque para duas de cavalos-marinhos e o caboz da areia que faz do fundo do canal principal do (H. guttulatus e H. hippocampus), para a savelha (A. fallax) e a Arade, o seu habitat. As comunidades das zonas mais enguia (A. anguila), pela situação potencialmente vulnerável próximas da foz são como seria de esperar, constituídas em que as respectivas populações se encontram nas nossas exclusivamente por espécies marinhas, enquanto as zonas águas. mais a montante no estuário são representadas, A existência da Marina de Portimão no baixo estuário do essencialmente, por espécies tipicamente estuarinas, como o Arade representa, por um lado, um acréscimo de habitats para charroco [2]. peixes e invertebrados marinhos, uma vez que os Das espécies inventariadas, 55 possuem interesse enrocamentos e pontões constituem pontos de fixação de algas económico, entre as quais algumas de elevado valor, e organismos filtradores (e.g. bivalves, poliquetas, ascídias, nomeadamente os sargos (Diplodus vulgaris e D. sargus), o cracas) e por outro, pontos de refúgio, crescimento e robalo (D. labrax), os linguados (Solea spp.) e a sardinha (S. alimentação, sobretudo para muitas espécies de peixes (e.g. pilchardus). Destaca-se o facto destas espécies terem sido robalos, sargos e douradas). Todavia, as marinas poderão representadas quase exclusivamente por juvenis (>90%), potencialmente contribuir para algum desequilíbrio ambiental, demonstrando a importância que o estuário tem para as pela poluição (e.g. tintas, óleos e combustível) e/ou pela espécies de valor comercial, nomeadamente nas primeiras entrada de espécies exóticas e invasoras que entram através fases do seu ciclo de vida (Figura 26). O recrutamento da de embarcações de recreio vindas de regiões distantes, maioria destas espécies dá-se nos meses de Primavera-Verão, principalmente se não estiverem em vigor medidas de gestão sobretudo na área intermédia do estuário (zona do cais ambiental apropriadas. Para a primeira vertente convinha comercial) correspondente à área de inserção da Marina de estudar em concreto as comunidades de organismos marinhos Portimão. Por outro lado, a zona da barra evidenciou uma que tiram efectivamente proveito deste novo habitat, para a densidade considerável de soleídeos (linguados, rodovalho, segunda é necessário que existam protocolos de monitorização azevia), tanto em estados juvenis como adultos, podendo e mitigação que permitam detectar e erradicar eventuais representar um papel preponderante para o desenvolvimento problemas. destas espécies. Este estudo constitui assim um contributo para o existência de campanhas de monitorização anuais, tendo em conhecimento da estrutura e dinâmica da fauna piscícola do vista uma gestão integrada e um desenvolvimento sustentável baixo estuário do Arade, nomeadamente das espécies de e salvaguardando tanto os interesses económicos da região interesse comercial. O esforço de amostragem empregue como o equilíbrio ecológico das respectivas comunidades permitiu conhecer de modo bastante completo as comunidades (Figura 27). de peixes que utilizam esta porção do estuário. A riqueza das comunidades ictiofaunísticas do estuário do Arade, tanto em termos de biodiversidade como em valor comercial, simboliza o valor económico e ecológico deste ecossistema Algarvio. Este aspecto deverá ser tido em conta no futuro, sempre que forem tomadas medidas que possam de alguma forma afectar o equilíbrio ecológico deste ecossistema. Existindo uma boa base de referência das comunidades de peixes deste sistema estuarino, não se deverá descurar a Figura 27 – Desde 2004, o Grupo de Investigação Pesqueira Costeira do Centro de Ciências do Mar tem efectuado campanhas anuais de monitorização no estuário do rio Arade de modo a avaliar a evolução das comunidades biológicas lá existentes (Fotografias: CFRG, 2008) 17 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS OUTRAS REFERÊNCIAS CONSULTADAS [1] CFRG (2010). Site do Coastal Fisheries Research Group ICNB 2010. Site do Instituto de Conservação da Natureza e (CFRG) http://fcma.ualg.pt/cfrg/index.shtml. 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Acedido a 26 de Fevereiro de 2010 [5] Marina de Portimão (2010). Site da Marina de Portimão: http://www.marinadeportimao.com.pt Acedido a 26 de Fevereiro de 2010 [6] ABAE (2010). Site da Associação Bandeira Azul da Europa: www.abae.pt. Acedido a 26 de Fevereiro de 2010 Froese, R. & Pauly, D. Editors. (2010). FishBase. World Wide Web electronic publication. www.fishbase.org, version (01/2010). Gonçalves, J. M. S. & Erzini, K. (2000). The reproductive biology of the two-banded sea bream (Diplodus vulgaris) from the SW Coast of Portugal. Journal of Applied Ichthyology 16, 110-116. Palazón-Fernandez, J.L., Potts, J.C., III, C.S.M. & Sarasquete, C. (2009) Age, growth and mortality of the toadfish, Halobatrachus didactylus (Schneider, 1801)(Pisces: Batrachoididae), in the Bay of Cadiz (southwestern Spain). Veiga, P., Machado, D., Almeida, C., Bentes, L., Monteiro, P., Oliveira, F., Ruano, M., Erzini, K., Gonçalves, J.M.S. 2009. [7] IPS 2002. Estudo de impacte ambiental do estudo de Weight–length relationships for 54 species of the Arade navegabilidade do rio Arade entre Portimão e Silves. estuary, southern Portugal. Journal of Applied Icthyology, Relatório de síntese. Vol. 1, 180 pp. 25: 493-496. [8] Farinha, J.C. & Trindade, A. 1994. Contribuição para o inventário e caracterização das zonas húmidas em GUIAS DE IDENTIFICAÇÃO DE PEIXES Portugal Continental. Publicação MedWet/Instituto da Whitehead, P.J.P., Bauchot, M.L., Hureau, J.C., Nielsen, J. & Conservação da Natureza. 186 pp. [9] ICN 1993. Livro vermelho dos vertebrados de Portugal. III. Peixes marinhos e estuarinos. ICN, Lisboa. 146 pp. Tortonese, E. (1986) Fishes of the North-Eastern Atlantic and Mediterranean. UNESCO: Chaucer Press, UK, 1473 pp. [10] Pinkas, L.; Oliphant, M. S.; Iverson, I. L. K. 1971. Food Fischer, W., Bauchot, M.L. & Schneider, M. (1987) Fiches FAO habits of albacore, bluefin tuna, and bonito in California d’identification des espèces pour les besoins de la pêche. waters. California Fish and Game, Fish Bulletin 152:105. (Révision 1). Méditerranée et mer Noire. Zone de pêche 37. Volume II. Vertébrés. Rome: FAO, 761- 1530 pp. LISTAGEM DE ESPÉCIES DE PEIXES REGISTADAS NO ESTUÁRIO DO RIO ARADE Tabela III - Lista de espécies registadas na porção do baixo estuário do Arade, e a presença por tipo de habitat:. CT- comprimento total; % Juv- Percentagem de peixes juvenis; IC- Interesse Comercial; EC- Estatuto de Conservação (ICN, 1993): CT- Comercialmente ameaçado, V – Vulnerável, K – Insuficientemente conhecido, I - Indeterminado; Habitat: Canal, Enrocamentos (Enroc.) e margens. Família Nome científico Ammodytidae Anguillidae Atherinidae Balistidae Batrachoididae Belonidae Blenniidae Ammodytes tobianus Anguilla anguilla Atherina presbyter Balistes capriscus Halobatrachus didactylus Belone belone Parablennius gattorugine Parablennius pilicornis Parablennius rouxi Arnoglossus laterna Arnoglossus thori Bothus podas Callionymus lyra Callionymus maculatus Callionymus reticulatus Callionymus risso Trachinotus ovatus Trachurus trachurus Spicara maena Alosa fallax Sardina pilchardus Conger conger Engraulis encrasicolus Trisopterus luscus Aphia minuta Gobius cruentatus Gobius gasteveni Gobius geniporus Bothidae Callionymidae Carangidae Centracanthidae Clupeidae Congridae Engraulidae Gadidae Gobiidae (1) (2) Nome comum Galeota-menor Enguia Peixe-rei Peixe-porco Charroco Peixe-agulha Marachomba-babosa Marachomba-cornuda Marachomba-de-risca Carta-do-mediterrâneo Carta pontuada Carta-de-olhos-grandes Peixe-pau-lira Peixe-pau-malhado Peixe-pau-listado Peixe-pau-pintado Plombeta Carapau Trombeiro Savelha Sardinha Safio Biqueirão Faneca Caboz-transparente Caboz-boca-vermelha Caboz-de-escama Caboz Interesse comercial (IC): baixo (€) - (€€€€) elevado. Ocorrência no estuário: pouco frequente (+) – muito frequente (++++). Número Peso (g) 22 2 4453 3 482 14 7 40 1 7 6 1 17 16 9 43 3 2 2 5 12680 2 91 5 69 44 2 3 131,7 87,1 14478,7 1316,3 19621,1 1221,2 0,8 155,3 22,6 27,1 373,5 185,9 9,3 35,7 50,9 4,3 2,7 1590,7 9811,7 198,0 265,1 8,7 60,8 2,6 2,0 - Gama CT (cm) % Juv. 10 - 14 24,1 - 31 3,5 - 12,2 24 - 31,5 3,2 - 33,8 16,5 - 62 4,3 - 4,3 9,2 - 15,3 6,2 - 8,6 12,5 - 12,5 7,2 - 18,4 3,7 - 16 4,1 - 5,9 2,1 - 6,6 7,2 - 13,8 5,4 - 6,5 4,9 - 5,2 31,3 - 36,9 2,2 - 19,5 28,7 - 48,6 3,6 - 14,2 2,9 - 8,5 3,75 - 6,9 6,2 - 6,2 4,5 - 4,5 - s/d 100 12,1 0 98,7 27,3 s/d s/d s/d 14,3 100 100 100 s/d s/d s/d s/d 100 100 0 97,8 s/d 86,5 100 0 s/d 100 s/d IC(1) EC € €€€ € € € CT CT Habitat Canal Enroc. Margens + + + +++ + ++ +(*) ++++ +(**) ++ +++ + € € € + + + + + + + V CT + ++ + + + + + + + ++ ++ ++ €€€ €€ €€ €€€ €€ €€€ €€ € + + + + ++ + CT + + ++ ++ +++ + Tabela III- (continuação). Família Gobiidae Labridae Moronidae Mugilidae Mullidae Pleuronectidae Rajidae Scombridae Scophthalmidae Scorpaenidae Nome científico Gobius niger Gobius paganellus Gobius roulei Gobius xanthocephalus Pomatoschistus cf. quagga Pomatoschistus microps Pomatoschistus minutus Pomatoschistus pictus Pomatoschistus spp. Coris julis Ctenolabrus rupestris Symphodus bailloni Symphodus cinereus Symphodus melops Symphodus roissali Symphodus spp. Dicentrarchus labrax Chelon labrosus Liza aurata Liza ramada Liza saliens Mugilidade n.id. Mullus surmuletus Platichthys flesus Raja brachyura Raja montagui Raja undulata Scomber japonicus Scophthalmus rhombus Scorpaena notata Scorpaena porcus Nome comum Caboz-negro Caboz-da-rocha Caboz Caboz Caboz Caboz Caboz-da-areia Caboz-da-areia Cabozes Judia Bodião-rupestre Bodião Bodião-cinzento Bodião-vulgar Bodião-manchado Bodiões Robalo-legítimo Tainha-liça Tainha-garrento Tainha-fataça Tainha-de salto Taínhas Salmonete-legítimo Solha-das-pedras Raia-pontuada Raia-manchada Raia-curva Cavala Rodovalho Rascasso-escorpião Rascasso-de-pintas Número Peso (g) 629 16 4 62 53 67 1313 92 62 3 17 54 4 18 22 1 145 53 240 21 1 134 36 1 1 1 5 11 28 2 5 1957,9 13,9 3,2 27,8 826,4 12,8 1934,9 4,5 577,6 257,1 12034,1 4611,9 6429,5 659,0 40,9 399,7 189,1 17,4 125,2 508,9 1478,1 7913,2 245,0 690,3 Gama CT (cm) % Juv. 2,1 - 11,1 5,5 - 6,6 2,5 - 3,9 1 - 5,8 2 - 6,4 1,8 - 3,9 3,7 - 17,4 3,9 - 4,6 4,5 - 18 7,7 - 18,3 12,3 - 40 7,5 - 34,2 2,5 - 25,4 9,7 - 22,2 17,1 - 17,1 5 – 15,8 23,9 – 23,9 15,9 – 15,9 26,6 – 26,6 22,8 – 30,5 23,9 – 26,4 4,2 – 36 21,1 – 21,1 20 – 23,4 71,5 80 100 s/d s/d 13,3 37,6 s/d s/d s/d s/d s/d 100 s/d s/d s/d 96,5 94,3 100 100 100 s/d 100 0 100 100 100 100,0 29,6 s/d 0 IC EC € K Habitat Canal Enroc. Margens ++++ ++++ ++++ + ++ + +++ + ? + ++++ + + + €€€€ €€ €€ €€ €€ €€ €€€€ €€ €€€ €€€ €€€ €€ €€€€ €€ €€ CT ? ? + + ++ ++ + + ++ +(**) + + + ? CT CT + +(*) ? + + ++ + + ++ + + + + ++ + ++ + + + + CT CT + + + + + + Tabela III- (continuação). Família Serranidae Soleidae Sparidae Syngnathidae Torpedinidae Trachinidae Triglidae Tripterygiidae Uranoscopidae Nome científico Serranus hepatus Buglossidium luteum Dicologoglossa cuneata Microchirus azevia Monochirus hispidus Pegusa lascaris Solea senegalensis Solea solea Synaptura lusitanica Boops boops Diplodus annularis Diplodus bellottii Diplodus cervinus Diplodus puntazzo Diplodus sargus Diplodus vulgaris Lithognathus mormyrus Pagellus acarne Sarpa salpa Sparus aurata Spondyliosoma cantharus Hippocampus guttulatus Hippocampus hippocampus Nerophis lumbriciformis Syngnathus acus Torpedo torpedo Echiichthys vipera Chelidonichthys lastoviza Chelidonichthys lucernus Chelidonichthys obscurus Tripterygion delaisi Uranoscopus scaber Nome comum Garoupinha Língua-de-gato Língua Azevia Cascarra Linguado-da-areia Linguado-branco Linguado-legítimo Língua-de-vaca Boga Mucharra Mucharra-branca Sargo-veado Sargo-bicudo Sargo-legítimo Safia Ferreira Besugo Salema Dourada Choupa Cavalo-marinho Cavalo-marinho Marinha Marinha Tremelga-de-olhos Peixe-aranha-menor Ruivo; Cabra-riscada Ruivo; Cabra-cabaço Ruivo; Cabra-de-bandeira Caboz-de-três-dorsais Papa-tabaco Número Peso (g) 28 899 2 194 52 98 52 14 4 2 10 105 53 19 901 1417 7 6 252 13 88 85 9 2 9 8 63 1 30 2 3 1 76,4 2574,7 59,1 4100,1 387,2 2097,4 10418,3 1320,6 2446,9 1,5 457,0 1640,0 423,6 416,2 7599,1 14193,0 8,1 4,7 5467,0 3337,4 169,4 722,7 45,0 1,4 34,3 6984,2 410,7 1,4 1422,1 40,3 170,3 Gama CT (cm) % Juv. 1,6 – 8,1 2,3 - 11,8 13,5 - 16 2,6 - 30,6 3 - 11,6 3,3 - 20,8 14,6 - 41,5 15,8 - 30,5 12 - 44,1 3,8 - 4 9,9 - 18,8 3,4 - 20,5 6,4 - 15,6 3,1 - 18,5 2,2 - 28,3 1,8 - 23 2,9 - 6,6 3,4 - 6,5 4,1 - 39,2 14,1 - 35,1 2,3 - 12,3 3,6 - 18,5 4,8 - 15 9,6 - 13 8,6 - 28,3 24,8 - 49,2 4,1 - 10,9 5,2 - 5,2 3 - 32,4 7,8 - 16,5 21,3 - 21,3 100 89,2 100 97,9 63,5 100 65,4 100 s/d 100 60 75,3 100 93,8 98,4 99,2 100 100 66,7 92,3 100 9,4 22,2 s/d 0 25 100 100 70 s/d s/d 0 IC EC €€€ €€€ CT CT €€€ €€€€ €€€€ €€€ € €€ €€ €€€ €€€ €€€€ €€€ €€€ €€€ € €€€€ €€€ CT CT CT € € €€ €€ €€ CT CT CT CT CT CT CT CT CT CT CT CT I I K Habitat Canal Enroc. Margens + ++++ ++ +++ + ++ + + + + ++ ++ + + + ++ + +++ + + + + + + + + + + + ++ + ++ + + + + +(**) + ++ + +++ ++++ + +++ + +(**) + + + ++ ++ + + + + ++ + + + + + + FICHAS DESCRITIVAS DE ESPÉCIES EMBLEMÁTICAS Taxonomia Batrachoidiformes, Batrachoididae Halobatrachus didactylus (Bloch & Schneider, 1801) Charroco I Lusitanian toadfish I Pez sapo I Poisson-crapaud Tipo de ocorrência Residente. Classificação Sem estatuto de conservação. Distribuição Ocorre no Atlântico Este, desde a Baía da Biscaia até Gana, incluindo o Mediterrâneo. Fonte: FAO Habitat Espécie sedentária que pode ser encontrada na zona costeira até aos 50 m de profundidade. Vive geralmente associado a fundos de areia ou vasa, parcialmente enterrado ou abrigado em buracos. É particularmente abundante nos estuários e rias da região Algarvia. Também ocorre na zona costeira, mas com menores abundâncias. Ocorrência no estuário do Arade Alimentação Pode atingir 50 cm de comprimento. Comprimento de primeira maturação: 17,6 cm (Palazón-Fernandez et al., 2009). Alimenta-se de crustáceos, moluscos e pequenos peixes. No estuário do Arade uma das suas principais presas é o caranguejo-mouro (Carcinus maenas). Factores de ameaça Degradação dos habitats em que vive (em particular estuários). Medidas de conservação Preservação da qualidade da água nos estuários. Abundante no estuário do Arade, ocorrendo principalmente nas partes mais profundas do canal principal. Notas Quando se sente ameaçado ou é capturado emite roncos sucessivos e segrega um muco tóxico. Taxonomia Syngnathiformes, Syngnathidae. Hippocampus guttulatus (Cuvier, 1829) Cavalo-marinho I Seahorse I Caballito I Hippocampe moucheté Tipo de ocorrência Residente. Classificação ICN- Indeterminado; IUCN- falta de dados. Distribuição Ocorre no Atlântico Este, desde as Ilhas Britânicas até Marrocos, está também descrito para as Ilhas Canárias, Madeira e Açores. Habitat Habita na zona costeira, maioritariamente nos estuários e rias, entre algas e ervas marinhas, às quais se “agarra”. Alimentação Fonte: www.debbymason.com Alimenta-se de pequenos organismos (zoobentos) que encontra junto ao fundo. Factores de ameaça Perda de habitats/desaparecimento de ervas marinhas. Captura excessiva para comércio. Medidas de conservação Manutenção de habitats (manchas de ervas marinhas). Proibição da captura. Ocorrência no estuário do Arade Abundante no estuário do Arade, ocorrendo principalmente nas partes mais profundas do canal principal. Notas Pode atingir 16 cm de comprimento. Comprimento de primeira maturação: 9,9 cm (www.fishbase.com). Taxonomia Pleuronectiformes, Soleidae Buglossidium luteum (Risso, 1810) Língua-de-gato I Solenette I Tambor I Petite sole jaune Tipo de ocorrência Residente. Classificação Sem estatuto de conservação. Distribuição Atlântico Este, incluindo o Mar Báltico, Mar do Norte e Mediterrâneo. Habitat Habita na zona costeira até aos 450 m de profundidade, incluindo estuários e rias. Fonte: FAO Alimentação Alimenta-se de uma vasta gama de organismos que vivem junto ao fundo, nomeadamente pequenos crustáceos, moluscos bivalves e poliquetas. Factores de ameaça Não conhecidos. Medidas de conservação Não aplicável. Ocorrência no estuário do Arade Pouco abundante. Ocorre em zonas manchas de ervas marinhas e rochas/algas, em particular em frente à praia grande e em frente a Ferragudo. Notas Pode atingir 15 cm de comprimento. Comprimento de primeira maturação: 8 cm (www.fishbase.com). Taxonomia Perciformes, Sparidae Diplodus vulgaris (Geoffroy Saint-Hilaire, 1817) Safia I Two-banded seabream I Sargo mojara I Sar à tête noire Tipo de ocorrência Migrador que utiliza o estuário como viveiro. Classificação Comercialmente Ameaçado (CT). Distribuição Atlântico Este, desde a baía da biscaia até Cabo Verde, incluindo os Açores, Madeira, Canárias, Mediterrâneo e Mar Negro. Também desde Angola até a África do Sul. Habitat Fonte: FAO Espécie eurihalina que habita todo o tipo de fundos da zona costeira (preferencialmente rochosos) até aos 160 m. Os juvenis procuram preferencialmente zonas mais abrigadas, como estuários, rias, fundos de ervas marinhas ou algas. Alimentação Alimenta-se várias espécies de crustáceos, moluscos e poliquetas. Factores de ameaça Pesca excessiva; captura de indivíduos juvenis. Medidas de conservação Medidas adicionais não necessárias para a pesca comercial no estuário, uma vez que é proibida. Cumprimento dos tamanhos mínimos de captura por parte dos pescadores recreativos. Ocorrência no estuário do Arade Abundante. Ocorre por todo o estuário e em todo o tipo de fundos (rochoso, vasoso, arenoso). Notas Pode atingir 45 cm de comprimento. Comprimento de primeira maturação: 18,3 cm (Gonçalves & Erzini, 2000)