medicina de emergência

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medicina de emergência
MEDICINA DE
EMERGÊNCIA
Abordagem prática
11ª
EDIÇÃO
REVISADA, ATUALIZADA
E AMPLIADA
MEDICINA DE
EMERGÊNCIA
2016
Abordagem prática
DISCIPLINA DE EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FMUSP
www.medicinadeemergencia.com.br
Herlon Saraiva Martins
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Irineu Tadeu Velasco
11
a
EDIÇÃO
revisada,
atualizada e
ampliada
Copyright © 2016 Editora Manole Ltda., por meio de contrato com os autores.
“A edição desta obra foi financiada com recursos da Editora Manole Ltda., um projeto de iniciativa da Fundação Faculdade
de Medicina em conjunto e com a anuência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP.”
Editor gestor: Walter Luiz Coutinho
Editoras: Eliane Usui e Juliana Waku
Produção editorial: Eliane Usui
Projeto gráfico: Departamento Editorial da Editora Manole
Editoração eletrônica: Luargraf Serviços Gráficos
Ilustrações: Sírio José Braz Cançado e Ricardo Corrêa
Capa: Hélio de Almeida
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Martins, Herlon Saraiva
Medicina de emergências : abordagem prática / Herlon Saraiva
Martins, Rodrigo Antonio Brandão Neto, Irineu Tadeu Velasco. -11. ed. rev. e atual. -- Barueri, SP : Manole, 2016.
Vários colaboradores.
Inclui material inédito.
Bibliografia.
ISBN 978-85-204-4790-3
1. Emergências médicas 2. Medicina de urgência 3. Primeiros
socorros 4. Pronto-socorro I. Brandão Neto, Rodrigo Antonio.
II. Velasco, Irineu Tadeu. III. Título
CDD-616.0252
NLM-WB-100
16-00160
Índices para catálogo sistemático:
1. Emergências clínicas : Pronto-socorro :
Medicina 616.0252
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, por qualquer processo,
sem a permissão expressa dos editores.
É proibida a reprodução por xerox.
1a edição – 2006
2a edição – 2006. Reimpressão da 2a edição – 2007
3a edição – 2007. 1a e 2a reimpressões da 3a edição – 2008; 3a reimpressão da 3a edição – 2009
4a edição – 2009. Reimpressão da 4a edição – 2009
5a edição – 2010. 1a e 2a reimpressões da 5a edição – 2010
6a edição – 2011. Reimpressão da 6a edição – 2011
7a edição – 2012. 1a e 2a reimpressões da 7a edição – 2012
8a edição – 2013. Reimpressão da 8a edição – 2013
9a edição – 2014. Reimpressão da 9a edição – 2014
10a edição – 2015. Reimpressão da 10a edição – 2015
11a edição – 2016
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Foram feitos todos os esforços para se conseguir a cessão dos direitos autorais das
imagens aqui reproduzidas, bem como a citação de suas fontes. As ilustrações contidas
nesta obra foram em sua maioria realizadas pelo artista Sírio José Braz Cançado. Caso
algum autor sinta-se prejudicado, favor entrar em contato com a editora.
Sobre os Autores
Herlon Saraiva Martins
Médico Supervisor do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
(FMUSP). Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas da FMUSP. Professor Colaborador
da FMUSP. Cursou MBA em Gestão de Serviços de Saúde pela Fundação Getulio Vargas – EAESP.
Cofundador e Membro da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE). Fellow
pelo American College of Physicians (ACP) – EUA. Membro do Comitê Educacional Internacional
do American College of Emergency Physicians (ACEP). Membro da European Society for Emergency
Medicine (EUSEM) e World Interactive Network Focused on Critical Ultrasound (WINFOCUS).
E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected]
Facebook: www.facebook.com/herlonsm
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Médico Supervisor do Pronto-Socorro do Instituto Central do Hospital das Clínicas da FMUSP.
Doutor em Ciências Médicas pela Disciplina de Emergências Clínicas da FMUSP. Tesoureiro da
Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE).
E-mail: [email protected]
Irineu Tadeu Velasco
Professor Titular da Disciplina de Emergências da FMUSP. Chefe do Laboratório de Investigação
Médica (LIM-51 – Emergências Clínicas) da FMUSP. Chefe do Pronto-Socorro do Hospital das
Clínicas da FMUSP. Orientador da Pós-Graduação (Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado) da
FMUSP. Presidente da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE).
E-mail: [email protected]
V
Sobre os Colaboradores
Sobre os Colaboradores
Adalberto Menezes Lorga Filho
Doutor em Cardiologia pela FMUSP
Residência em Cardiologia e em Eletrofisiologia Clínica e Arritmias no Instituto do Coração (InCor)
do Hospital das Clínicas da FMUSP
Fellow do Cardiovascular Research and Teaching Institute Aalst, Bélgica
Diretor dos Setores de Eletrofisiologia e de Arritmias Clínicas do Hospital de Base da Faculdade de
Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP)
Diretor do Serviço de Arritmia e Eletrofisiologia do Instituto de Moléstias Cardiovasculares (IMC) de
São José do Rio Preto
Adriano da Silva Machado
Especialista em Clínica Médica e em Medicina Intensiva pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Diarista da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário da USP
Aleksander Snioka Prokopowitsch
Doutor em Reumatologia pela FMUSP
Especialista em Clínica Médica e em Reumatologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente Doutor do Pronto-Socorro do Hospital Universitário da USP
Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Doutor em Ciências Médicas – área de concentração em Pneumologia – pela FMUSP
Especialista em Clínica Médica e em Pneumologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Fellow da American College of Chest Physicians (FCCP)
Angelina Maria Martins Lino
Doutora em Neurologia e Médica Assistente do Grupo de Nervos Periféricos do Departamento de
Neurologia Clínica do Hospital das Clínicas da FMUSP
Médica Assistente Doutora da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP
Anna Sara Shafferman Levin
Professora Associada da FMUSP
Doutora em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela FMUSP
VI
Antonio Cezar Ribeiro Galvão
Mestre e Doutor em Neurologia pela FMUSP
Médico Neurologista da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da FMUSP
Antônio Paulo Nassar Júnior
Especialista em Clínica Médica e em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente da Unidade de Terapia Intensiva da Disciplina de Emergências Clínicas do Hospital
das Clínicas da FMUSP
Doutorando em Ciências Médicas pela FMUSP
Audrey Krüse Zeinad
Especialista em Clínica Médica e em Hematologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médica Assistente do Departamento de Hematologia e Hemoterapia do Hospital das Clínicas da
FMUSP
Especialista em Clínica Médica, em Cardiologia e em Ecocardiografia pelo Instituto do Coração
(InCor) do Hospital das Clínicas da FMUSP
Médica Diarista do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da FMUSP
Médica Assistente do Serviço de Ecocardiografia do Hospital Universitário da USP
Carlos Gustavo Mansur
Especialista em Psiquiatria pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Doutor em Psiquiatria pela FMUSP
Médico Psiquiatra do Hospital das Clínicas da FMUSP
Carlos Henrique S. Pedrotti
Médico Especialista em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Especialista em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da FMUSP
Carolina Hofmeister de Andrade Mansur
Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Mestre em Ciências Médicas (Ginecologia-Obstetrícia) pela FMUSP
Claudia Giuli Santi
Doutora em Dermatologia pela FMUSP
Médica Assistente da Divisão de Dermatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP
Cristiana Borges Pereira
Doutora em Neurologia pela FMUSP
Pós-doutorado pela Ludwig-Maximilians-Universität, Munique, Alemanha
Chefe do Serviço de Distúrbios Vestibulares – Divisão de Neurologia Clínica do Hospital das Clínicas
da FMUSP
Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia
Daniel Neves Forte
Doutor em Ciências Médicas pela Disciplina de Emergências Clínicas da FMUSP
Especialista em Clínica Médica e em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente da Unidade de Terapia Intensiva da Disciplina de Emergências Clínicas do Hospital
das Clínicas da FMUSP
Debora Lucia Seguro Danilovic
Doutora em Endocrinologia pela FMUSP
Especialista em Clínica Médica e em Endocrinologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médica da Unidade de Tireoide do Laboratório de Endocrinologia Celular e Molecular da FMUSP
Médica Assistente do Instituto do Câncer do Hospital das Clínicas da FMUSP
Sobre os colaboradores
Carla Andrade Petrini
VII
Eduardo Ferreira Borba Neto
Médico Assistente Doutor em Reumatologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Eduardo Palmegiani
Residência em Cardiologia no Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
(FAMERP). Residência em Arritmia Clínica e em Eletrofisiologia Invasiva no Instituto de Moléstias
Cardiovasculares (IMC) de São José do Rio Preto
Médico Cardiologista e Eletrofisiologista dos Setores de Arritmia e Eletrofisiologia do IMC e do
Hospital de Base da FAMERP
Eli Faria Evaristo
Doutor em Neurologia pela FMUSP
Especialista em Neurologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e do Hospital Sírio-Libanês
Medicina de emergência
Felício Lopes Roque
VIII
Especialista em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente do Hospital das Clínicas da FMUSP – Divisão de Clínica Médica
Felipi Zambon
Especialista em Oftalmologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Flávia Barros de Azevedo
Doutor em Ciências Médicas pela FMUSP
Médica Assistente do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da FMUSP
Professora de Geriatria da Universidade Nove de Julho (UNINOVE)
Especialista em Clínica Médica e em Geriatria
Flavio Luengo Gimenez
Médico Assistente da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP – Divisão de
Clínica Médica
Francisco José Bueno Aguiar
Médico Supervisor e Chefe da Enfermaria de Retaguarda do Pronto-Socorro (PS 5o) da Disciplina de
Emergências Clínicas da FMUSP
Frederico Arnaud
Secretário Geral da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede)
Fundador e Coordenador Geral da Residência de Medicina de Emergência, Fortaleza-CE
Professor de Medicina de Emergência da Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
Chefe da Unidade de Emergência do Hospital do Coração de Messejana-CE
Especialista em Clínica Médica e Anestesiologia
Getúlio Daré Rabello
Médico Assistente Doutor do Departamento de Neurologia Clínica do Hospital das Clínicas da
FMUSP
Itamar de Souza Santos
Doutor em Ciências Médicas pela FMUSP
Especialista em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Professor Associado do Departamento de Clínica Médica da FMUSP
Jorge Chiquie Borges
Doutor em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da FMUSP
Especialista em Clínica Médica e em Cardiologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Master in Public Health (MPH) na Harvard School of Public Health, EUA
Pós-Doutorando no Brigham & Womens Hospital, Harvard Medical School, EUA
Jorge Chiquie Dippo
Especialista em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
José Gallucci Neto
Mestre em Psiquiatria pela FMUSP
Especialista em Psiquiatria pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente e Chefe da Unidade Metabólica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da FMUSP
Kátia Akemi Miyazato Kuruma
Especialista em Clínica Médica e em Reumatologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Leandro Utino Taniguchi
Leila Maria M. P. Melo
Especialista em Clínica Médica e em Hematologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Doutora em Ciências Médicas (Hematologia) pela FMUSP
Lorena Silva Laborda
Especialista em Infectologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médica Assistente da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP
Lucas Santos Zambon
Doutor em Ciências Médicas pela FMUSP
Médico Supervisor do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da FMUSP
Lucas Oliveira Marino
Especialista em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Diarista do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da FMUSP
Luís Augusto Palma Dallan
Especialista em Clínica Médica e em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das
Clínicas da FMUSP
Especialista em Terapia Intensiva pela AMIB
Especialista em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista pelo InCor do Hospital das Clínicas da
FMUSP
Luís dos Ramos Machado
Professor Doutor do Departamento de Neurologia Clínica e Membro do Grupo de Estudo em
Neuroinfecção do Hospital das Clínicas da FMUSP
Luís Fábio Barbosa Botelho
Especialista em Hematologia e Hemoterapia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Doutorando em Ciências Médicas (Hemostasia e Biologia Vascular) pela FMUSP
Professor de Hematologia na Universidade Federal da Paraíba
Luís Fernando Pracchia
Médico Hematologista da Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo
Mestre em Hematologia pela Disciplina de Hematologia e Hemoterapia da FMUSP
Sobre os colaboradores
Doutor em Emergências Clínicas pela FMUSP
Médico Assistente da Unidade de Terapia Intensiva da Disciplina de Emergências Clínicas do Hospital
das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Sírio-Libanês
IX
Luiz Henrique Martins Castro
Professor Associado de Neurologia da FMUSP
Chefe do Grupo de Epilepsia do Hospital das Clínicas da FMUSP
Residência em Neurologia no Columbia Presbyterian Medical Center – Columbia University, Nova
Iorque, EUA
Fellow em Neurologia pela Harvard University, EUA
Doutor em Neurologia pela FMUSP
Pós-doutorado em Neurologia pelo St. Elizabeth’s Hospital, Boston, EUA
Post Doctoral Fellow em Epilepsia e Neurofisiologia Clínica no Comprehensive Epilepsy Center,
Columbia University, Nova Iorque, EUA
Orientador da Pós-graduação em Neurologia da FMUSP
Médico Neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Samaritano e Hospital Alemão
Oswaldo Cruz e Diretor do Setor de Eletroencefalografia do Fleury Medicina Diagnóstica
Medicina de emergência
Madson Queiroz de Almeida
X
Especialista em Clínica Médica e em Endocrinologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente Doutor do Pronto-Socorro da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário
da USP
Maíra Solange Câmara dos Santos
Médica Assistente Doutora do Pronto-Socorro do Hospital Universitário da USP – Divisão de Clínica
Médica
Especialista em Gastroenterologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Marcelo Calderaro
Médico Neurologista do Hospital das Clínicas da FMUSP
Especialista em Neurologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Neurologista do Hospital Samaritano
Maria Adelaide Albegaria Pereira
Médica Doutora do Departamento de Endocrinologia do Hospital das Clínicas da FMUSP
Maria Cecília de Toledo Damasceno
Professora Adjunta da Disciplina de Medicina de Urgência da Faculdade de Medicina do ABC
Assessora do Gabinete do Secretário de Estado da Saúde de São Paulo
Médica Assistente Doutora do Hospital das Clínicas da FMUSP
Especialista em Clínica Médica
Maria Teresa Roncaglia
Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Maurício Henrique Claro dos Santos
Especialista em Clínica Médica e em Cardiologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente do Pronto-Socorro do Hospital Universitário da USP – Divisão de Clínica Médica
Michelle Moreira Sousa Vidinha
Especialista em Clínica Médica e Endocrinologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Natalia Correa Vieira de Melo
Doutora em Ciências Médicas – área de concentração em Nefrologia – pela FMUSP
Especialista em Clínica Médica pela Universidade Federal de São Paulo
Especialista em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Osvaldo Moreira Leal
Especialista e Mestre em Imunologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente e Chefe de Plantão do Pronto-Socorro do Hospital Universitário da USP – Divisão
de Clínica Médica
Paulo Roberto Corrêa Hernandes
Médico Supervisor da Disciplina de Emergências Clínicas da FMUSP
Paulo Ricardo Criado
Médico Assistente Mestre da Divisão de Dermatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP
Rafael Oliveira Ximenes
Especialista em Clínica Médica e em Gastroenterologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Doutorando pela Disciplina de Gastroenterologia da FMUSP
Médico Assistente do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da FMUSP
Ranniere de Almeida Lopes
Roberta Vasconcelos
Especialista em Dermatologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Roberto Luís Pereira Matias
Especialista em Hematologia e Hemoterapia
Rodrigo Díaz Olmos
Doutor em Emergências pela Disciplina de Emergências Clínicas da FMUSP
Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da FMUSP
Médico Diretor Geral da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP
Especialista em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Rogério Zigaib
Especialista em Clínica Médica e em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente do Hospital das Clínicas da FMUSP e da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital
Alemão Oswaldo Cruz
Rômulo Augusto dos Santos
Residência em Clínica Médica e em Endocrinologia e Metabologia no Hospital de Base da Faculdade
de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP)
Médico Assistente do Pronto-Socorro do Hospital de Base da FAMERP
Supervisor da Residência de Clínica Médica do Hospital de Base da FAMERP
Sabrina Correa Costa Ribeiro
Especialista em Clínica Médica e em Pneumologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médica Assistente do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da FMUSP – Disciplina de
Emergências Clínicas
Doutora em Ciências Médicas pela Disciplina de Pneumologia da FMUSP
Sandra Gofinet Pasoto
Mestre e Doutora em Reumatologia pela FMUSP
Especialista em Reumatologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médica Assistente da Disciplina de Reumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP
Sharon Nina Admoni
Especialista em Clínica Médica e em Endocrinologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Doutoranda em Endocrinologia pela FMUSP
Médica Colaboradora do Departamento de Endocrinologia do Hospital das Clínicas da FMUSP
Sobre os colaboradores
Especialista em Clínica Médica e em Gastroenterologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Especialista em Endoscopia Digestiva Alta e em Colonoscopia pelo Hospital Nove de Julho, em São
Paulo
Médico Assistente do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da FMUSP – Disciplina de
Emergências Clínicas
XI
Sílvia Figueiredo Costa
Mestre e Doutora em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela FMUSP
Professora Associada do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da FMUSP
Chefe do Laboratório de Investigação Médica (LIM-54) em Doenças Infecciosas da FMUSP
Soraia Fátima C. B. Awada
Médica Assistente Doutora do Hospital das Clínicas da FMUSP
Thiago Baccili Cury Megid
Residência em Clínica Médica e em Cardiologia no Hospital de Base da Faculdade de Medicina de
São José do Rio Preto (FAMERP). Residência em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia no Instituto de
Moléstias Cardiovasculares (IMC) de São José do Rio Preto
Médico Cardiologista do Hospital de Base da FAMERP
Medicina de emergência
Thiago de Oliveira Mônaco
XII
Doutorado em Ciências Médicas pela FMUSP
Médico Assistente do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da FMUSP
Professor de Geriatria da Universidade Nove de Julho (UNINOVE)
Especialista em Clínica Médica e em Geriatria
Vitor Sérgio Kawabata
Médico Assistente Doutor do Hospital Universitário da USP – Divisão de Clínica Médica
Médico Assistente do Hospital Sírio-Libanês
Vladimir Pizzo
Especialista em Clínica Médica e em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
Médico Assistente do Hospital Sírio-Libanês
Yoshitaka Nakashima
Médico Assistente Doutor da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da FMUSP
Sumário
Sumário
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Apresentação
Agradecimentos
Dedicatória
Consulta Rápida
Antimicrobianos no Departamento de Emergência
XIX
XXI
XXII
1
57
Parte I. Abordagem Inicial do Paciente Grave
1. Suporte Básico de Vida
81
2. Suporte Avançado de Vida e Cuidados Pós-Parada no Departamento
de Emergência
97
3. Abordagem Inicial do Paciente Grave
125
4. Intubação de Sequência Rápida e Técnicas Alternativas
140
5. Acesso Venoso Guiado por Ultrassonografia
170
6. Insuficiência Respiratória Aguda e Ventilação Invasiva
180
7. Ultrassonografia de Tórax na Emergência
207
8. Ecocardiograma na Emergência
215
Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Daniel Neves Forte, Antônio Paulo Nassar Júnior e Herlon Saraiva Martins
Frederico Arnaud e Herlon Saraiva Martins
Carla Andrade Petrini e Lucas Oliveira Marino
Herlon Saraiva Martins, Vladimir Pizzo e Maria Cecília de Toledo Damasceno
Carla Andrade Petrini e Lucas Oliveira Marino
Carla Andrade Petrini e Lucas Oliveira Marino
XIII
9. Hipotensão e Choque no Departamento de Emergência
227
10. Sepse na Emergência
252
11. Coma e Rebaixamento do Nível de Consciência
275
12. Anafilaxia
295
13. Hipotermia Acidental
304
14. Analgesia e Sedação em Procedimentos
313
Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Marcelo Calderaro e Getúlio Daré Rabello
Osvaldo Moreira Leal, Lucas Santos Zambon e Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins e Rogério Zigaib
Herlon Saraiva Martins e Lucas Santos Zambon
Medicina de emergência
Parte II. Sinais e Sintomas em Emergências
XIV
15. Febre e Hipertermia no Departamento de Emergência
333
16. Dispneia
348
17. Dor ou Desconforto Torácico
356
18. Síncope
377
19. Hemoptise
395
20. Náuseas e Vômitos
405
21. Diarreia Aguda
415
22. Dor Abdominal
428
23. Manuseio do Paciente Ictérico no Departamento de Emergência
439
24. Cefaleia
463
25. Tontura e Vertigem
480
26. Artrite
494
27. Lombalgia
507
28. Cólica Nefrética
519
Herlon Saraiva Martins e Lucas Santos Zambon
Rodrigo Antonio Brandão Neto e Sabrina Correa Costa Ribeiro
Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Ranniere de Almeida Lopes e Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins e Rodrigo Antonio Brandão Neto
Marcelo Calderaro e Antonio Cezar Ribeiro Galvão
Cristiana Borges Pereira
Sandra Gofinet Pasoto e Herlon Saraiva Martins
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Parte III. Abordagem de Síndromes em Emergências
29. Hipertensão Arterial Sistêmica: Abordagem Inicial
Rodrigo Díaz Olmos e Herlon Saraiva Martins
529
541
31. Encefalopatia Hipertensiva
546
32. Descompensação Aguda da Insuficiência Cardíaca
550
33. Ascite no Departamento de Emergência
574
34. Derrame Pleural no Departamento de Emergência
589
35. Emergências Reumatológicas Sistêmicas e Vasculites no Departamento
de Emergência
606
36. Lesão Renal Aguda Adquirida na Comunidade
616
37. Distúrbios do Equilíbrio Acidobásico
660
38. Abordagem Inicial das Intoxicações Agudas
675
39. Tratamento Específico das Intoxicações Agudas
692
40. Síndrome de Abstinência
712
41. Crise Epiléptica e Estado Epiléptico na Emergência
721
42. Delirium (Estado Confusional Agudo)
735
43. Manejo Inicial do Paciente Idoso no Departamento de Emergência
746
Rodrigo Díaz Olmos e Herlon Saraiva Martins
Rodrigo Díaz Olmos e Herlon Saraiva Martins
Rodrigo Díaz Olmos e Herlon Saraiva Martins
Rodrigo Díaz Olmos, Maíra Solange Câmara dos Santos,
Herlon Saraiva Martins e Ranniere de Almeida Lopes
Herlon Saraiva Martins e Francisco José Bueno Aguiar
Aleksander Snioka Prokopowitsch, Kátia Akemi Miyazato Kuruma
e Eduardo Ferreira Borba Neto
Flávia Barros de Azevedo, Rafael Oliveira Ximenes e Herlon Saraiva Martins
Felício Lopes Roque
Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Rodrigo Díaz Olmos e Herlon Saraiva Martins
Luiz Henrique Martins Castro e Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Thiago de Oliveira Mônaco e Flávia Barros de Azevedo
Parte IV. Emergências Envolvendo Sistemas Específicos
A) Cardiopulmonar
44. Asma na Unidade de Emergência
Rodrigo Antonio Brandão Neto e Herlon Saraiva Martins
758
45. Exacerbação da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
769
46. Pneumonia Adquirida na Comunidade
779
47. Hemorragia Alveolar
800
48. Bradiarritmias
809
49. Taquicardias no Departamento de Emergência
823
Herlon Saraiva Martins e Rodrigo Antonio Brandão Neto
Herlon Saraiva Martins, Flavio Luengo Gimenez e Rodrigo Antonio Brandão Neto
Alfredo Nicodemos da Cruz Santana e Natalia Correa Vieira de Melo
Vitor Sérgio Kawabata e Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Sumário
30. Crise Hipertensiva com Retinopatia e Microangiopatia
XV
50. Fibrilação Atrial no Departamento de Emergência
854
51. Síndromes Coronarianas Agudas Sem Elevação do Segmento ST
870
52. Síndrome Coronariana Aguda Com Elevação do Segmento ST
902
53. Pericardites e Tamponamento Cardíaco
950
54. Endocardite Infecciosa: Diagnóstico, Tratamento e Profilaxia
959
Eduardo Palmegiani, Thiago Baccili Cury Megid, Adalberto Menezes Lorga Filho
e Rômulo Augusto dos Santos
Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Jorge Chiquie Borges, Jorge Chiquie Dippo e Herlon Saraiva Martins
Adriano da Silva Machado, Itamar de Souza Santos e Rodrigo Antonio Brandão Neto
B) Trombose Venosa
55. Trombose Venosa Profunda
Medicina de emergência
Rodrigo Antonio Brandão Neto
XVI
56. Embolia Pulmonar no Departamento de Emergência
Herlon Saraiva Martins, Maria Cecília de Toledo Damasceno e Soraia F. C. B. Awada
978
989
C) Emergências Relacionadas à SIDA
57. Emergências no Paciente com HIV/SIDA
1018
D) Emergências Infecciosas e Neurológicas
58. Infecções do SNC no Imunocompetente
1040
Lorena Silva Laborda e Herlon Saraiva Martins
Luís dos Ramos Machado
59. Paralisias Flácidas Agudas
1055
60. Acidente Vascular Cerebral
1068
61. Tétano
1084
62. Infecções do Trato Urinário
1092
63. Dengue
1103
64. Leptospirose
1114
65. Infecção pelo Vírus Ebola
1125
66. Infecção pelo Vírus Chikungunya
1133
67. Infecção pelo Vírus Influenza H1N1
1139
Angelina Maria Martins Lino e Rodrigo Antonio Brandão Neto
Eli Faria Evaristo
Carlos Henrique S. Pedrotti e Luís Augusto Palma Dallan
Anna Sara Shafferman Levin e Rodrigo Antonio Brandão Neto
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Rodrigo Antonio Brandão Neto e Herlon Saraiva Martins
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Rodrigo Antonio Brandão Neto
E) Emergências Relacionadas ao Trato Gastrointestinal
68. Encefalopatia Hepática
Herlon Saraiva Martins
1150
69. Síndrome Hepatorrenal
1167
70. Peritonite Bacteriana Espontânea
1176
Herlon Saraiva Martins e Rodrigo Antonio Brandão Neto
Leandro Utino Taniguchi e Herlon Saraiva Martins
71. Hemorragia Digestiva Alta
1185
72. Hemorragia Digestiva Baixa
1205
Ranniere de Almeida Lopes e Herlon Saraiva Martins
F) Emergências Onco-Hematológicas
73. Neutropenia Febril
Luís Fernando Pracchia e Sílvia Figueiredo Costa
1216
74. Doença Falciforme
1228
75. Plaquetopenia Autoimune ou Púrpura Trombocitopênica Imunológica
1240
76. Reações Adversas Agudas Relacionadas à Transfusão no Departamento
de Emergência
1249
77. Síndrome de Lise Tumoral
1265
78. Síndrome da Veia Cava Superior
1273
79. Compressão Medular Aguda Neoplásica
1278
Leila Maria M. P. Melo, Herlon Saraiva Martins e Rodrigo Antonio Brandão Neto
Rodrigo Antonio Brandão Neto e Audrey Krüse Zeinad
Luís Fábio Barbosa Botelho, Roberto Luís Pereira Matias e Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
Herlon Saraiva Martins
G) Emergências Endócrinas, Metabólicas e Sistêmicas
80. Hiponatremia
Herlon Saraiva Martins, Paulo Roberto Corrêa Hernandes
e Rômulo Augusto dos Santos
1286
XVII
81. Hipernatremia
1306
82. Hipocalemia
1317
83. Hipercalemia
1323
84. Hipocalcemia
1329
85. Hipercalcemia
1339
86. Hipoglicemias
1350
87. Hiperglicemias
1358
88. Insuficiência Adrenal
1369
89. Crise Tireotóxica
1378
Herlon Saraiva Martins, Paulo Roberto Corrêa Hernandes
e Rômulo Augusto dos Santos
Herlon Saraiva Martins e Paulo Roberto Corrêa Hernandes
Herlon Saraiva Martins e Paulo Roberto Corrêa Hernandes
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Herlon Saraiva Martins e Rodrigo Antonio Brandão Neto
Herlon Saraiva Martins, Michelle Moreira Sousa Vidinha
e Rodrigo Antonio Brandão Neto
Herlon Saraiva Martins, Sharon Nina Admoni
e Rodrigo Antonio Brandão Neto
Rodrigo Antonio Brandão Neto e Maria Adelaide Albegaria Pereira
Debora Lucia Seguro Danilovic, Madson Queiroz de Almeida,
Rodrigo Antonio Brandão Neto e Herlon Saraiva Martins
Sumário
Maíra Solange Câmara dos Santos, Rodrigo Antonio Brandão Neto
e Ranniere de Almeida Lopes
90. Estado Mixedematoso
1388
91. Rabdomiólise
1396
Debora Lucia Seguro Danilovic, Madson Queiroz de Almeida,
Rodrigo Antonio Brandão Neto e Herlon Saraiva Martins
Maurício Henrique Claro dos Santos, Rodrigo Antonio Brandão Neto
e Herlon Saraiva Martins
Parte V. Temas Especiais
92. Afecções Oculares no Departamento de Emergência
1407
93. Emergências Psiquiátricas
1432
94. Emergências em Ginecologia
1443
95. Dermatoses Potencialmente Graves na Emergência
1461
96. Reações Cutâneas Medicamentosas
1467
Felipi Zambon e Yoshitaka Nakashima
Carlos Gustavo Mansur e José Gallucci Neto
Medicina de emergência
Carolina Hofmeister de Andrade Mansur e Maria Teresa Roncaglia
XVIII
Roberta Vasconcelos, Paulo Ricardo Criado e Claudia Giuli Santi
Roberta Vasconcelos, Paulo Ricardo Criado e Claudia Giuli Santi
Índice Remissivo
Miniatlas Colorido
1473
1483
Apresentação
Apresentação
É com grande satisfação que apresentamos a 11a edição do livro Emergências Clínicas –
Abordagem Prática, que agora denominamos de Medicina de Emergência – Abordagem Prática,
que, a nosso ver, é a denominação mais adequada para referir-se ao conteúdo da obra.
De todas as edições já publicadas, nesta houve o maior número de mudanças e atualizações
já realizadas, entre elas, um novo layout para o livro; a diagramação foi completamente refeita,
agora com o visual moderno, tornando o texto mais didático, mais prazeroso de se ler.
As atualizações das novas diretrizes do suporte avançado de vida foram inseridas em todos
os capítulos pertinentes; a 11a edição agora conta com dois capítulos inéditos: "Suporte Básico de
Vida" e "Suporte Avançado de Vida e Cuidados Pós-Parada no Departamento de Emergência".
Um novo capítulo sobre "Taquicardias no Departamento de Emergência" foi incluído, além
de mais um capítulo inédito: "Fibrilação Atrial no Departamento de Emergência", que, aliás, é um
tema de extrema importância para o médico emergencista.
Outro grande diferencial desta nova edição: mais de 20 capítulos foram totalmente reescritos, à luz do raciocínio em medicina de emergência, tornando-se mais didáticos, práticos,
e contemplando os mais atuais conhecimentos. Entre eles, incluem-se: "Dor Torácica"; "Lesão
Renal Aguda Adquirida na Comunidade"; "Crise Epiléptica e Estado Epiléptico na Emergência";
"Manuseio do Paciente Ictérico no Departamento de Emergência"; "Encefalopatia Hepática";
"Hipercalcemia"; "Hiponatremia"; "Hipernatremia"; "Derrame Pleural no Departamento de
Emergência"; "Hemoptise"; "Manejo Inicial do Paciente Idoso no Departamento de Emergência";
"Síndromes Coronarianas Agudas Sem Elevação de Segmento ST"; e "Síndromes Coronarianas
Agudas Com Elevação de Segmento ST".
Os capítulos “Hipotensão e Choque no Departamento de Emergência” e “Sepse na
Emergência” foram substancialmente alterados, motivados por marcantes artigos publicados
recentemente. Toda a parte de sedação do capítulo de “Analgesia e Sedação” é nova, abrangendo
o que há de mais atual desse tema na emergência. O capítulo "Asma na Unidade de Emergência"
foi modificado de forma a incluir as recomendações do GINA 2015; o mesmo ocorreu no capítulo
"Exacerbação da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica", em relação ao GOLD 2016. Atualizações e mudanças significativas também foram feitas nos capítulos: "Neutropenia Febril"; "Diarreia Aguda"; "Febre e Hipertermia no Departamento de Emergência"; "Insuficiência Respiratória
Aguda e Ventilação Invasiva", entre outros.
XIX
Outras novidades dessa 11a edição do livro:
O tema ultrassom de beira de leito (point-of-care) foi incorporado em inúmeros capítulos.
■■
A seção “Consulta Rápida” foi completamente atualizada.
■■
A seção “Antimicrobianos no Departamento de Emergência” foi atualizada e ampliada, agora
com quase todos os novos antimicrobianos e antifúngicos.
Por fim, e o mais importante, agradecemos muito aos estudantes, médicos residentes,
médicos emergencista e todos os profissionais de saúde que tornaram possível a publicação da
11a edição.
■■
Medicina de emergência
HERLON SARAIVA MARTINS
RODRIGO ANTONIO BRANDÃO NETO
IRINEU TADEU VELASCO
XX
Agradecimentos
Agradecimentos
Aos acadêmicos de Medicina e médicos residentes de todo o Brasil, pelo apoio, pela confiança e
por usarem o nosso livro nos seus estudos e jornadas, um motivo de imenso orgulho para nós.
Aos colegas médicos emergencistas, pelo amor, comprometimento e responsabilidade em uma
área tão importante, mas tão negligenciada no nosso país.
Aos colaboradores, pelo empenho, pela dedicação e pelo amor aos princípios acadêmicos.
Às nossas famílias, pela paciência, pelo estímulo permanente e sobretudo
pela compreensão.
A Deus, por tornar tudo isto possível.
Os Autores.
XXI
Dedicatória
Dedicatórias
Dedico este livro:
aos meus filhos, Eduardo (Dudu) e Helena (Lena),
os meus maiores presentes de Deus;
à minha esposa, Taise Vitor, minha fonte de entusiasmo e amor;
à minha bebê, Sophie (Shih-Tzu), minha alegria e companhia permanente;
à minha mãe (in memoriam),
que me ensinou e me deu tudo o que eu tenho na minha vida.
Herlon Saraiva Martins
Dedico este livro:
ao meu pai, que foi um homem de princípios inegociáveis (in memoriam);
à minha mãe, fortaleza de amor e dedicação que une nossa família;
à Andréia, que me dá mais amor e felicidade do que eu mereço;
e às minhas filhas, Lúcia e Júlia, o maior amor do mundo.
Rodrigo Antonio Brandão Neto
XXII
Síndromes Coronarianas
Agudas sem Elevação do
Segmento ST
51
HERLON SARAIVA MARTINS
MENSAGENS RELEVANTES
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870
A SCA refere-se a uma diversidade de sintomas clínicos que são compatíveis com isquemia aguda do miocárdio, englobando, por isso, angina instável e infarto agudo do
miocárdio (IAM).
A causa mais frequente é a redução da perfusão miocárdica, resultante de um estreitamento de coronárias, quase sempre por um trombo não oclusivo que se desenvolveu em
uma placa aterosclerótica rota.
Microembolizações de agregados plaquetários e dos componentes da placa rota são os responsáveis pela liberação de marcadores de necrose miocárdica na maioria dos pacientes.
Homens acima de 55 anos e mulheres acima de 65 anos apresentam maior prevalência de
doença arterial coronariana (DAC).
Fortes preditores de SCA: (1) dor ou desconforto precordial como o principal achado; (2)
história prévia de obstrução coronariana; (3) sexo masculino; e (4) idade avançada.
Características relevantes sugestivas de SCA:
1.■ Dor ou desconforto, caracterizada como “profunda”, localizada na região subesternal
e/ou precordial ou MMSS esquerdo, desencadeada por estresse ou exercício físico e
aliviada com repouso.
2.■ No contexto clínico, desconforto ou dor epigástrica, na mandíbula, no pescoço ou
ambos os membros devem ser valorizados.
Idosos, diabéticos, mulheres, pacientes em diálise ou com doenças neurológicas/psiquiátricas:
1.■ Podem apresentar isquemia miocárdica com sintomas atípicos ou equivalentes isquêmicos.
2.■ Nesse grupo, valorizar desconforto epigástrico, náusea, vômitos, diaforese, início súbito ou piora da dispneia, confusão aguda ou hipotensão.
No contexto de uma SCA, frequentemente o exame físico é inexpressivo. Todavia, terá grande utilidade no diagnóstico de complicações ou na avaliação de diagnósticos diferenciais.
Paciente que chega ao departamento de emergência (DE) com quadro clínico compatível
com isquemia miocárdica: sala de emergência e ECG em no máximo 10 minutos.
Se o ECG inicial é inespecífico ou mesmo normal, mas o paciente tem um quadro clínico
compatível com SCA, deve-se repetir o ECG (p. ex., após 15-30 minutos e após 30-60 minutos), especialmente se os sintomas são recorrentes.
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INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
Síndrome coronariana aguda (SCA) se manifesta com achados clínicos variáveis e que são
ocasionados por isquemia aguda do miocárdio aguda, o que inclui a angina instável (AI) e o infarto agudo do miocárdio (IAM).
Nos Estados Unidos, do total de mais de 650.000 hospitalizações/ano por SCA, cerca de 62 a
71% são SCA SEM elevação de segmento ST e 29 a 38% COM elevação de ST. Nos últimos 15 anos
houve uma redução de mais de 60% na incidência da SCA com elevação de ST, embora a mortalidade em 30 dias tenha permanecido inalterada. Por sua vez, um fenômeno inverso foi observado
na SCA sem elevação de ST, ou seja, houve redução de quase 20% na mortalidade em 30 dias (de
10% para 7,6%), mas o número de casos permaneceu inalterado.
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
■■
■
■■
Troponina de alta sensibilidade é o biomarcador de escolha, e deve ser solicitado à chegada do paciente no DE. Se não excluir IAM, uma nova coleta deve ser feita após 1 hora.
Não há benefício ou indicação para solicitar CKMB ou mioglobina no DE.
Deve-se integrar dados da história, exame físico, ECG e troponina para classificar os pacientes em quatro grupos: (1) o diagnóstico não é de SCA e há um diagnóstico alternativo;
(2) o diagnóstico é de angina crônica estável; (3) os achados clínicos, ECG e troponina à
chegada e após 1 hora não descartam e nem confirmam uma SCA: buscar diagnósticos
diferenciais de alteração de troponina e nova coleta do marcador em 3 horas; (4) o diagnóstico de SCA sem supra está confirmado.
É importante lembrar que troponina elevada isoladamente não faz o diagnóstico de infarto. É necessário que exista um quadro clínico compatível e/ou equivalente isquêmico e/ou
alterações de ECG sugestivas.
Pacientes com SCA sem supra devem ser estratificados (risco de morte ou de complicações) pelo modelo GRACE, que é o melhor e mais robusto. Escore TIMI é aceitável.
Pacientes de maior risco de evolução desfavorável incluem aqueles com instabilidade
hemodinâmica, instabilidade elétrica, congestão pulmonar, dor isquêmica reentrante,
dentre outros. A melhor estratégia para esse grupo de alto risco é indicar angiografia
coronariana percutânea (CATE).
Aspirina, antagonista do ADP e anticoagulante são a base do tratamento da SCA sem
supra.
Ticagrelor é o antagonista do ADP de escolha tanto na estratégia invasiva quanto na conservadora. Clopidogrel é uma opção. Prasugrel não deve ser indicado no departamento
de emergência, apenas durante ou após uma angioplastia com stent.
Recomendações classe I:
1.■ Repouso no leito com monitorização contínua.
2.■ Oxigênio suplementar se saturação < 90%, desconforto respiratório ou congestão.
3.■ Nitroglicerina em BIC nas primeiras 48 h se isquemia persistente, hipertensão ou
insuficiência cardíaca com congestão.
4.■ b-bloqueador oral nas primeiras 24 horas se não houver contraindicação ou se o
paciente não tiver achados de maior risco de evoluir para choque cardiogênico.
5.■ Diltiazem ou verapamil em pacientes que tenham alergia aos !-bloqueadores ou naqueles com história de asma, se não houver contraindicação.
6.■ Na ausência de contraindicações, o inibidor da ECA (IECA) deve ser prescrito nas primeiras 24 horas para os pacientes com FE < 40%, hipertensão, diabetes ou doença renal
crônica estável.
7.■ Antagonista da angiotensina II quando o IECA for recomendado, mas o paciente for
intolerante (tosse, alergia) e não houver contraindicações.
8.■ Na ausência de contraindicações, prescrever estatinas de alta potência.
Capítulo 51
■■
871
Doenças isquêmicas do coração*
106.788
110.000
95.777
100.000
86.791
90.000
80.000
73.692
78.456
70.000
60.000
40.000
872
30.000
20.000
Número de mortes
10.000
0
Linear (número de mortes)
1996
2000
2004
2008
2012
FIGURA 1 Mortalidade no Brasil por doenças isquêmicas do coração. Fonte: Datasus
(www2.datasus.gov.br); acessado em 15/01/2016. * 2012 é o último ano disponível.
14,00
Número de internações / 10.000 habitantes
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
■■
Os dados nacionais são mais escassos e os aspectos mais relevantes são descritos nas Figuras 1 e 2.
A SCA é dividida inicialmente em dois grandes grupos:
SCA SEM elevação do segmento ST (tema do atual capítulo):
1. Angina instável: dor ou desconforto torácico (ou equivalente isquêmico) e/ou alterações
eletrocardiográficas compatíveis:
■
Ausência de curva de troponina.
12,00
11,15
12,52
10,05
10,00
8,00
11,63
7,37
6,00
4,00
2,00
0,00
1998
Número total de
internações por ano 119.280
2002
2006
2010
175.464
208.176
221.898
2012
242.858
FIGURA 2 Taxa de internação hospitalar (SUS) por doenças isquêmicas do coração de
1998 a 2012. Fonte: Datasus (www2.datasus.gov.br); acessado em 15/01/2016; para esses
indicadores, os dados são disponibilizados até o ano de 2012.
DEFINIÇÕES E TIPOS DE IAM
Procedimentos
cardiológicos
Há evidência clínica
= IAM
de isquemia aguda?
Procedimentos de
grande porte
Lesão
Miocárdica
Lesão do miocárdio,
com aumento de
troponina (curva)
Taqui e
bradiarritmias
Insuficiência
cardíaca
Insuficiência
renal
FIGURA 3 Lesão miocárdica e infarto agudo do miocárdio.
TABELA 1
■■
■■
Definição do infarto agudo do miocárdio
Evidência de necrose do miocárdio em um contexto clínico compatível com o quadro
IAM é confirmado se qualquer um dos critérios abaixo for preenchido:
a) Elevação e queda da troponina sérica, acima do percentil 99 do exame, com um dos
seguintes achados:
1. Sintomas compatíveis com isquemia miocárdica
2. Novo bloqueio de ramo esquerdo
3. Nova alteração significativa de ST
4. Evolução para onda Q no ECG
5. Exame de imagem com evidência de perda de miócitos ou nova anormalidade
regional de parede ventricular
6. Trombo em coronária por angiografia ou autópsia
b) Parada cardiorrespiratória com sintomas isquêmicos e alterações de ECG sugestivas de isquemia
Capítulo 51
■
Para a correta definição do IAM, é necessário que exista um contexto clínico e/ou eletrocardiográfico compatível, associado à evidência de lesão aguda do miocárdio (Figura 3 e Tabela 1).
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
IAM sem elevação do segmento ST: dor ou desconforto torácico (ou equivalente isquêmico)
e/ou alterações eletrocardiográficas compatíveis;
■
Nesse caso, há elevação e curva de troponina compatível com necrose do miócito.
■■
SCA COM elevação do segmento ST (detalhado no próximo capítulo).
Com a incorporação na prática clínica de métodos mais sensíveis de detecção de troponinas
séricas (ultrassensíveis ou de alta sensibilidade), tornou-se possível a detecção de mínimas quantidades do biomarcador no sangue. A consequência disso é que o diagnóstico na emergência de
angina instável, definida por troponina negativa, tem se tornado cada vez mais raro.
2.
873
TABELA 2
Classificação dos tipos de infarto agudo do miocárdio
Tipos de IAM
Definições
Tipo 1 – Espontâneo
■■
■■
Tipo 2 – Desequilíbrio
oferta/demanda
■■
■■
Tipo 3 – Óbito na ausência
de marcadores de necrose
■■
■■
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
A Tabela 2 descreve os tipos de IAM. Para o emergencista, especialmente com o uso das novas
troponinas (de alta sensibilidade), é importante compreender a diferença entre o IAM do tipo 1, que
é o quadro clássico da SCA, ocasionado pela ruptura espontânea de uma placa aterotrombótica,
do IAM tipo 2, ocasionado por vários mecanismos diferentes, por exemplo, desequilíbrio na oferta
e consumo de oxigênio (anemia, arritmia, choque, hipertensão etc.). Isso é importante porque a
maioria dos estudos publicados se aplicam ao IAM tipo 1, que é a ênfase do atual capítulo.
IAM espontâneo (primário)
Isquemia devido a erosão, fissura ou ruptura de placa aterosclerótica
IAM secundário associado a maior demanda de O2 e/ou redução
da sua oferta
Exemplos: anemia, arritmia, hipertensão ou hipotensão, entre outros
Sintomas sugestivos de isquemia e/ou ECG sugestivo de IAM
(elevação de segmento ST, novo bloqueio de ramo esquerdo) ou
trombo recente em coronária na angiografia ou na autópsia
Óbito ocorreu antes da coleta de troponina ou não houve tempo
hábil para sua elevação
Tipo 4a – ICP
■■
IAM associado à intervenção coronariana percutânea (ICP)
Tipo 4b – Trombose de stent
■■
IAM associado à trombose de stent
Tipo 5 – Cirurgia
■■
IAM associado à cirurgia de revascularização do miocárdio
874
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A causa mais frequente da SCA é a redução da perfusão miocárdica, resultante de um estreitamento de coronárias, na maioria das vezes desencadeado pela ruptura de uma placa aterosclerótica
com a formação de um trombo não oclusivo. Microembolizações de agregados plaquetários e dos
componentes da placa rota são os responsáveis pela liberação de marcadores de necrose miocárdica.
Eventualmente, um trombo oclusivo pode ser a causa da SCA sem elevação de ST, se houver uma
adequada circulação colateral suprindo a área isquêmica.
A ruptura de placa aterosclerótica se deve à inflamação ocasionada por fatores não infecciosos (p. ex., lipídios oxidados) e, possivelmente, por estímulos infecciosos. O efeito final é uma
expansão e desestabilização da placa, levando à ruptura ou erosão e trombogênese. Macrófagos
ativados e linfócitos T localizados nas bordas das placas resultam na maior expressão de metaloproteinases, o que leva a um adelgaçamento da placa, facilitando a ruptura e trombose.
Os fatores de risco tradicionais para doença arterial coronariana (DAC) são de grande importância epidemiológica, embora tenham menor utilidade do ponto de vista individual no departamento de emergência (Tabela 3). A presença desses fatores aumenta a probabilidade de doença
coronariana, todavia, a ausência deles não descarta uma SCA. De fato, pacientes podem sofrer um
IAM sem nenhum dos achados descritos na tabela.
De forma bem menos frequente, várias outras condições ou patologias podem contribuir ou
justificar uma SCA (Tabela 4). A fisiopatologia dessas condições é variável, inclusive, é possível ter
mais de um desses mecanismos em um determinado paciente, que incluem:
1. Obstrução coronariana dinâmica, que pode ser iniciada por um espasmo focal intenso de
um vaso epicárdico (angina de Prinzmetal). O espasmo é ocasionado pela hipercontratilidade da musculatura lisa vascular e/ou disfunção endotelial. Obstrução coronariana dinâmica
■■
Hipertensão arterial sistêmica
■■
Diabete melito
■■
HDL < 40 mg/dL
■■
LDL aumentado
■■
■■
■■
História familiar positiva para doença cardíaca prematura
■ Doença cardíaca em parentes homens (de 1º grau) < 55 anos.
■ Doença cardíaca em parentes mulheres (de 1º grau) < 65 anos.
Idade: homens ! 45 anos e mulheres ! 55 anos
Fatores relacionados ao estilo de vida:
■ Obesidade (IMC > 30 kg/m2)
■ Sedentarismo
TABELA 4 Causas de IAM não relacionadas primariamente à aterosclerose de coronárias
Grupos/mecanismos
1. Desequilíbrio entre
oferta e consumo
de O2
2. Intoxicação adrenérgica
3. Doença coronariana
não aterosclerótica
Etiologias
■■
Hipotensão prolongada de qualquer etiologia
■■
Estenose aórtica ou insuficiência aórtica
■■
Cardiomiopatia de Takotsubo
■■
Tireotoxicose
■■
Intoxicação por monóxido de carbono
■■
Especialmente cocaína
■■
Espasmo de coronárias (Prinzmetal)
■■
■■
■■
■■
4. Embolização para
coronária
■■
■■
5. Trombose in situ (local)
Hiperplasia da íntima associada com contraceptivos esteroides ou
período pós-parto
Arterite: sífilis, lúpus, doença reumatoide, poliarterite nodosa,
doença de Takayasu, síndrome de Kawasaki
Radioterapia: trauma de coronárias ou fibrose com estreitamento
progressivo
Endocardite (infecciosa ou trombótica não bacteriana), êmbolo de
prótese valvar, embolia paradoxal
Trombo intracavitário (átrio ou ventrículo) ou de cateter
intracardíaco
■■
Mixoma cardíaco
■■
Hipercoagulabilidade, policitemia vera, trombocitose
■■
2.
Dissecção de aorta (acometimento de coronária direita) ou dissecção
da artéria coronária
Coagulação intravascular disseminada, púrpura trombocitopênica
trombótica
também pode ser causada por uma disfunção microvascular difusa (constrição anormal de
pequenos vasos intramurais e/ou disfunção endotelial).
Obstrução coronariana mecânica progressiva: doença aterosclerótica com estreitamento progressivo de coronária, sem espasmo ou trombo, ou na reestenose após angioplastia com stent.
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
Tabagismo
■
Fatores de risco tradicionais para doença aterosclerótica
■■
Capítulo 51
TABELA 3
875
Dissecção de artéria coronária: por exemplo, na SCA que ocorre na mulher no periparto.
SCA resultante de uma causa secundária extrínseca à circulação coronariana. O paciente
frequentemente apresenta alguma estenose coronariana de base, embora isso não seja obrigatório. Condições que precipitam a isquemia miocárdica nessas circunstâncias são:
■
Redução no fluxo sanguíneo coronariano: hipotensão ou choque de qualquer etiologia.
■
Aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio: febre, taquicardia, tirotoxicose.
■
Redução da oferta de oxigênio: anemia, hipoxemia.
Cocaína, anfetamina e derivados: causam SCA por indução de vasoconstrição coronariana,
hipertensão, efeitos cronotrópicos positivos, trombose e efeito tóxico direto no miocárdio.
Também podem desencadear uma dissecção.
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
3.
4.
876
5.
ACHADOS CLÍNICOS
SCA representa cerca de 15 a 25% dos casos de dor torácica no departamento de emergência e
todo o serviço deve estar preparado para priorizar e atender rapidamente casos potencialmente mais
graves (Tabela 5).
A propedêutica atenta e detalhada é a principal ferramenta para o diagnóstico da SCA. De maneira geral, os pacientes costumam se apresentar das seguintes formas:
1. Com sintomas isquêmicos iniciados em repouso, usualmente com duração de mais de 10 a
20 minutos.
2. Com novo início de angina muito sintomática nos últimos 2 meses. Geralmente, classe III ou
IV da classificação canadense de angina (Tabela 6).
3. Com angina dita “em crescendo”, que tem piorado na intensidade da dor, na duração (angina
de maior duração) e/ou na frequência.
SCA é mais frequente em idosos, homens, tabagistas e aqueles com IMC elevado (Tabela 7).
História de diabetes, doença vascular extracardíaca, ou de infarto prévio, tanto são de grande importância por aumentarem a probabilidade de isquemia, quanto são fatores que se associam com
pior prognóstico.
TABELA 5
Avaliação imediata e prioritária no departamento de emergência
■■
Dor ou desconforto torácico em aperto, peso ou pressão
■■
Dor que se irradia para pescoço, mandíbula, ombro, dorso ou braços
■■
Desconforto torácico associado a indigestão, azia, náusea, vômitos
■■
Dispneia persistente, com ou sem desconforto torácico
■■
Especialmente em pacientes de risco, início agudo de fraqueza intensa, tontura, sensação de
desmaio ou perda da consciência
TABELA 6
Classe
Classificação funcional da angina (Canadian Society)
Característica
■■
I
■■
Atividades habituais não desencadeiam angina
■■
II
■■
Leve limitação das atividades habituais – angina aos moderados esforços
■■
III
■■
Marcada limitação das atividades – pequenos esforços desencadeiam angina
■■
IV
■■
Angina em repouso
Comentários
1. Sexo
■■
■■
■■
2. Idade
■■
■■
3. Tabagismo
■■
■■
■■
4. Obesidade
■■
■■
5. Uso atual de
aspirina
6. Aumentam a
probabilidade
de SCA
■■
SCA é mais frequente no sexo masculino (taxa de 3:2)
Comparadas com homens, mulheres mais frequentemente não têm
doença coronariana obstrutiva e apresentam maior chance de apresentar
uma SCA com manifestações atípicas
Todavia, no geral, mulheres mais frequentemente têm SCA com os
achados típicos
Homens > 55 anos e mulheres > 65 anos apresentam maior prevalência
de doença coronariana
SCA em pacientes com < 50 anos: sempre levantar a suspeita de uso de
drogas (cocaína e derivados)
Associado com menor risco de óbito precoce numa SCA
Esse paradoxo representa uma tendência dos fumantes a terem
doença menos extensa, placas menos complexas e idade mais jovem à
apresentação
Todavia, comparados com não fumantes, a mortalidade de longo prazo é
muito maior
Obesos têm menor mortalidade de curto prazo (“paradoxo da
obesidade”) por vários fatores, que incluem: idade mais jovem na
apresentação, realizam angiografia mais precocemente e são tratados
mais agressivamente quando comparados com os não obesos
Semelhante ao tabagismo, em longo prazo, a mortalidade é
significativamente maior
Maior risco de complicações comparados com os que não usam,
principalmente porque o uso de aspirina indica que o paciente já tinha
doença vascular cardíaca ou extracardíaca
■■
História de IAM prévio ou de revascularização coronariana
■■
Diabetes
■■
Doença vascular arterial extracardíaca (carótida, aorta ou vasos periféricos)
■■
Doença renal crônica
CARACTERÍSTICAS DO DESCONFORTO, LOCALIZAÇÃO E IRRADIAÇÃO
Isquemia miocárdica costuma se apresentar com dor torácica em aperto, com duração > 10 a
20 minutos, tipicamente iniciada em repouso, após estresse psicológico ou aos mínimos esforços.
Eventualmente, anemia grave, febre, infecção, hipertireoidismo ou outra condição clínica podem
desencadear o quadro clínico.
Frequentemente, a dor ou desconforto tem início na região retroesternal e pode se irradiar
para a região proximal/ulnar do braço esquerdo, para ambos os braços, ombros, para o pescoço
ou a mandíbula (Figura 4). Além disso, dor nessas regiões pode ocorrer mesmo sem desconforto
precordial e deve ser valorizada (Tabela 8). Adicionalmente, alguns pontos merecem ser discutidos:
1. Dor torácica de característica pleurítica ou aguda e localizada não costuma ocorrer na SCA.
Todavia, isoladamente, não descarta totalmente uma SCA. De fato, até mesmo dor reproduzida à palpação ocorreu em 7% dos pacientes com SCA em um estudo.
2. Alívio da dor torácica com o nitrato sublingual não confirma que seja uma SCA. Um estudo encontrou que o nitrato aliviou a dor em 35% dos pacientes com SCA e em 41% dos pacientes sem SCA.
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
Variáveis
■
Características clínicas e epidemiológicas das SCAs
Capítulo 51
TABELA 7
877
3.
D
B
A
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
4.
O alívio da dor com mistura de medicamentos para dispepsia ou sintomas gastrintestinais
não deve ser usado para descartar uma SCA.
Achados NÃO sugestivos de isquemia miocárdica: dor mesogástrica ou hipogástrica, dor que
se irradia para MMII ou dor de curta duração (segundos).
878
C
FIGURA 4 Localização e irradiação do desconforto torácico. A: Retroesternal com irradiação para a região ulnar do braço esquerdo; B: Irradiação para os braços (ou ombros
ou mesmo braço direito); C: Irradiação para a mandíbula ou o pescoço; D: Desconforto
epigástrico, andar superior do abdome, indigestão, azia, náusea, vômitos.
TABELA 8
Dor ou desconforto torácico e diagnóstico de SCA*
Aumentam a probabilidade de SCA
Diminuem a probabilidade de SCA
Descritor da dor
LR + (IC 95%)
Descritor da dor
LR# + (IC 95%)
Irradiação para braço ou
ombro esquerdo
4,7 (1,9-12,0)
Do tipo pleurítica
0,2 (0,1-0,3)
Irradiação para ambos os
braços ou ombros
4,1 (2,5-6,5)
Piora com movimento do
corpo
0,3 (0,2-0,5)
Associada com esforço físico
2,4 (1,5-3,8)
Em agulhada ou cortante
0,3 (0,2-0,5)
Associada a diaforese
2,0 (1,9-2,2)
Reproduzida à palpação
0,3 (0,2-0,4)
Associada a náusea ou
vômitos
1,9 (1,7-2,3)
Localização inframamária
0,8 (0,7-0,9)
Similar ou pior que a angina
ou IAM prévio
1,8 (1,6-2,0)
Não associada com esforço
físico
0,8 (0,6-0,9)
Descrita como pressão
1,3 (1,2-1,5)
#
* Adaptada de: Sabatine MS et al. Braunwald’s heart disease: a textbook of cardiovascular
medicine. 10. ed. Philadelphia: Elsevier; 2015. p. 1060.
#
LR: likelihood ratio ou razão de verossimilhança positiva.
■■
■■
■■
SCAs com manifestações atípicas ou equivalentes isquêmicos
Diaforese, dispneia ou síncope podem ser a apresentação da SCA na emergência (dispneia
recente inexplicável é o mais comum equivalente isquêmico)
O paciente pode se apresentar com fadiga, mal-estar, náusea, vômitos e sudorese fria
Dor ou desconforto epigástrico, indigestão, mal-estar e diaforese podem ser manifestações da
SCA
Ocorrem mais frequentemente em alguns grupos de pacientes
■
Idade > 75 anos
■
Diabéticos
■
Dialíticos ou com doença renal crônica avançada
■
História de demência, doenças neurológicas ou psiquiátricas
■
Mulheres
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
■■
■
TABELA 9
Capítulo 51
Diaforese, dispneia ou síncope podem ser a apresentação da SCA na emergência. De fato,
novo início de dispneia inexplicável é o mais comum equivalente isquêmico (Tabela 9). Adicionalmente, o paciente pode se apresentar com fadiga, mal-estar, náusea, vômitos e sudorese fria.
Eventualmente, dor ou desconforto epigástrico, indigestão, mal-estar e diaforese podem ser manifestações da SCA. Essas características menos usuais ou os próprios equivalentes isquêmicos
(dispneia, diaforese, confusão no idoso etc.) são mais frequentes nos pacientes acima de 75 anos
de idade, diabéticos, com doença renal crônica ou demência. Apesar de mulheres mais frequentemente apresentarem os achados típicos, comparadas com homens, essas manifestações não clássicas são mais frequentes no sexo feminino.
879
OUTROS DADOS RELEVANTES
Outros dados da história relevantes, que inclusive devem constar no prontuário do paciente,
são os seguintes:
1. Todas as medicações em uso, inclusive se usou recentemente medicamentos para disfunção
erétil pelo risco de grave hipotensão se nitrato for prescrito.
2. Alergias e medicamentos que previamente levaram a eventos adversos graves.
3. História de asma ou broncoespasmo, o que contraindica o b-bloqueador.
4. Cirurgia recente, história de sangramento, coagulopatia, plaquetopenia, doença estrutural no
sistema nervoso central ou câncer ativo, entre outros (aumentam o risco de sangramento).
EXAME FÍSICO
No contexto de uma SCA, frequentemente o exame físico é inexpressivo. Todavia, terá grande
utilidade em três situações:
1. Detectar se existe algum fator precipitante para isquemia miocárdica, por exemplo, hipertensão descontrolada, disfunção tireoidiana, DPOC exacerbada, pneumonia (e outras infecções)
ou algum sangramento recente (anemia grave).
2. No diagnóstico de complicações da isquemia miocárdica, como congestão pulmonar, turgência jugular, novo sopro de regurgitação mitral, B3, bradicardia, taquicardia ou má perfusão
periférica.
3. Na avaliação de diagnósticos diferenciais, como síndromes aórticas agudas, pericardite, tamponamento pericárdico, pneumotórax, zóster torácico e derrame pleural, entre outros.
Emergências envolvendo sistemas específicos
■
PARTE IV
Apesar de muitas vezes normal, é fundamental realizar um exame físico sistematizado, inclusive anotando no prontuário, não só para conseguir encontrar possíveis causas do quadro clínico
que não a SCA, mas também para servir de base, uma vez que a evolução de um paciente com SCA
não é previsível (Tabela 10).
TABELA 10
Exame físico mínimo na SCA
1. Geral
2. Pressão arterial
3. Pulsos periféricos
4. Ausculta cardíaca
■■
Avaliar se há palidez, sudorese, cianose, turgência jugular
■■
Checar nível de consciência
■■
Aferir em ambos os braços
■■
Checar se os valores são semelhantes ou não
■■
Diagnosticar hipertensão ou hipotensão
■■
Palpar pelo menos os pulsos de MMSS, MMII e carótidas
■■
Avaliar intensidade e se há assimetria
■■
Avaliar se o ritmo é irregular
■■
■■
5. Ausculta pulmonar
6. Extremidades
■■
Ictus deslocado ou B3 apontam para insuficiência cardíaca
Detectar se há congestão e sua distribuição (1/3, até metade ou mais
da metade de hemitórax)
■■
Ausculta de sibilos contraindica b-bloqueadores
■■
Procurar sinais de insuficiência vascular ou edema de MMII
■■
880
Isquemia aguda pode cursar com B4 ou um novo sopro de regurgitação
mitral (isquemia de músculo papilar)
Detectar sinais de má perfusão periférica (p.ex., pele fria, livedo ou
tempo de reenchimento capilar prolongado)
PROBABILIDADE CLÍNICA DE DAC E SCA
Com os dados da história e do exame físico, nesse primeiro momento, deve-se avaliar qual
é a probabilidade dos achados clínicos representarem uma DAC e isquemia miocárdica (SCA), se
baixa, intermediária ou alta (Tabela 11).
Essa avaliação será refinada posteriormente com o eletrocardiograma (ECG) e a troponina
de alta sensibilidade.
EXAMES COMPLEMENTARES
Um paciente que chega ao departamento de emergência com quadro clínico compatível com
isquemia miocárdica deve imediatamente ser levado para a sala de emergência e ser submetido a
um eletrocardiograma. É importante lembrar que o ECG deve ser feito em até dez minutos.
ELETROCARDIOGRAMA
O ECG é essencial na via de decisão imediata do paciente com SCA. A análise inicial deve
buscar classificar o paciente em um dos dois grupos:
1. O ECG mostra uma elevação do segmento ST ≥ 1 mm em duas ou mais derivações contíguas: o diagnóstico provável é IAM com elevação do segmento ST (será discutido no
próximo capítulo).
Probabilidade
intermediária
Baixa probabilidade
Qualquer um dos seguintes
Nenhum achado de alta
probabilidade
Qualquer um dos
seguintes
Nenhum achado de
alta ou intermediária
probabilidade
Qualquer um dos
seguintes
■■
■■
Exame
clínico
ECG
Dor ou desconforto torácico
ou no braço esquerdo
reproduzindo angina
documentada anteriormente
Prévia história de doença
coronária (p.ex., CATE),
incluindo IAM
■■
Insuficiência mitral transitória
■■
Hipotensão
■■
Diaforese
■■
Edema pulmonar ou crepitações
■■
■■
Novo ou presumivelmente
novo desvio transitório de
segmento ST ≥ 1 mm
Inversão de onda T em múltiplas derivações precordiais
■■
Dor ou desconforto
torácico ou dor no
braço esquerdo como
principal sintoma
■■
Idade > 70 anos
■■
Sexo masculino
■■
Diabete melito
■■
Doença vascular
extracardíaca
■■
■■
■■
Apresentação clínica
com sintomas
na ausência das
características de
alta ou intermediária
probabilidade
Uso recente de cocaína
Dor ou desconforto
torácico reproduzido
pela palpação
■
História
Alta probabilidade
■■
■■
■■
Alterações de ECG
fixas (não são
transitórias)
Infra-ST de 0,5 a 1 mm
Inversão de ondas T
> 1 mm
■■
■■
Normal
Achatamento ou inversão de onda T
< 1 mm em
derivações dominantes
(com maiores QRS)
O ECG não mostra elevação do segmento ST ≥ 1 mm em duas ou mais derivações contíguas. Nesse caso, com quadro clínico compatível, está-se diante de uma síndrome coronariana aguda sem
elevação do segmento ST, e a troponina distinguirá se o caso é uma angina instável (AI), troponina
negativa, ou se é um IAM sem elevação do segmento ST (IAM sem supra ST), troponina alterada.
Além disso, o ECG traz informações prognósticas de grande valor, especialmente ECGs seriados, sobretudo quando há um ECG prévio (Tabela 12). Se o ECG inicial é inespecífico ou mesmo normal, mas o paciente tem um quadro clínico compatível com SCA, deve-se repetir o ECG
(p. ex., após 15 ou 30 min e 1 hora), especialmente se os sintomas são recorrentes. Alguns tópicos
são importantes e não devem ser esquecidos:
1. Em caso de paciente de intermediário ou alto risco, com ECG não diagnóstico, é razoável
realizar V7 e V8.
2. Isoladamente, um ECG normal em um paciente com dor torácica não descarta SCA. Todavia,
de maneira geral, pacientes sem alterações isquêmicas agudas no ECG têm baixo risco de
infarto e de complicações hospitalares.
3. Situações que dificultam a interpretação do ECG:
■
Doenças que podem alterar o segmento ST: hipertensão arterial com strain, pericardite,
miocardite, bloqueio de ramo, aneurisma de ventrículo esquerdo, repolarização precoce, cardiomiopatia hipertrófica, síndrome de Wolff-Parkinson-White, cardiomiopatia de
Takotsubo (síndrome do balonamento apical de ventriculo esquerdo) e hipercalemia.
■
Evento agudo no sistema nervoso central, uso de tricíclicos e fenotiazinas podem causar
inversão profunda da onda T.
2.
Capítulo 51
Achado
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
TABELA 11 Probabilidade dos achados representarem DAC e isquemia miocárdica (SCA)
881
TABELA 12 ECG na SCA sem elevação de ST
ECG
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
■■
882
■■
■■
■■
■■
Comentários
Alterações transitórias de ST > 0,5 mm durante
os sintomas, com paciente em repouso
Depressão de ST do tipo horizontal ou de
concavidade para baixo (downsloping)
Inversão simétrica e relevante de onda T em
derivações precordiais (> 2 mm)
Alterações inespecíficas de segmento ST
(< 0,5 mm) ou de onda T (< 2 mm)
Ondas Q patológicas
■■
■■
■■
Sugerem isquemia e grave doença coronariana
de base ou espasmo
Achado muito sugestivo de IAM sem supra
Sugere isquemia aguda, sobretudo, estenose
crítica de artéria descendente anterior esquerda
■■
São menos úteis do ponto de vista diagnóstico
■■
São menos úteis para o diagnóstico de SCA
■■
■■
Todavia, indicam IAM prévio e probabilidade
de doença coronariana associada
Onda Q somente em DIII não é patológico
TROPONINAS
Troponina cardíaca complementa a avaliação clínica e o ECG no diagnóstico, na estratificação de risco e no tratamento da SCA (Figura 5).
Avanços tecnológicos agora permitem a quantificação de mínimas quantidades de troponinas no sangue, denominadas de alta sensibilidade, inclusive, detectadas em 50 a 90% de indivíduos
jovens. Elas elevam-se muito precocemente na SCA, sendo possível detectar alterações substanciais nas dosagens sucessivas, que denominamos de “curva”, persistindo elevadas 5 a 14 dias, eventualmente mais. Se o paciente voltar a apresentar sintomas isquêmicos dias após o evento índice, o
diagnóstico de reinfarto pode ser feito por uma nova elevação em dosagens seriadas.
Para o diagnóstico de SCA, é importante considerar a magnitude do aumento da troponina
e a taxa de elevação ou queda em dosagens seriadas. Um valor de troponina (T ou I) acima do
percentil 99 é considerado alterado (Tabela 13).
BAIXA PROBABILIDADE
ALTA PROBABILIDADE
1 - Apresentação
2 - ECG
3 - Troponina
4 - Diagnóstico
Causa não cardíaca
Angina
instável
Outra causa
cardíaca
SCA sem
elevação de ST
SCA com
elevação de ST
FIGURA 5 Avaliação inicial de pacientes com a suspeita de SCA.
Adaptada e modificada da referência 1 (2015 ESC Guidelines for the management of acute
coronary syndromes in patients presenting without persistent ST-segment elevation. Eur Heart
Journal 2015).
3. O resultado do exame deve ser disponibilizado o mais rápido possível, e não deve ser acima de
1 hora da solicitação
4. A magnitude do aumento da troponina é útil na definição de prognóstico de curto e longo prazo
5. Quanto maior a elevação da troponina de alta sensibilidade, maior a chance de ser decorrente
de SCA (por exemplo, acima de 5 vezes o limite superior da normalidade, valor preditivo
positivo > 90%)
6. Troponina de alta sensibilidade com elevação de até 3 vezes o limite superior da normalidade
tem somente 50 a 60% de valor preditivo positivo para SCA e pode ocorrer em várias
condições, sendo imprescindível a coleta de uma nova amostra para avaliar se há curva ou não
da troponina (se está aumentando e/ou caindo)
7. Com a metodologia contemporânea para medida da troponina, não existe benefício ou
utilidade de se solicitar CK-MB ou mioglobina
Dados de grandes estudos multicêntricos consistentemente confirmam que, quando comparadas com ensaios anteriores, as troponinas de alta sensibilidade:
1. Têm maior acurácia na detecção do IAM tipo 1, o que leva a um maior número de diagnósticos de IAM (20% mais), em paralelo à redução de diagnósticos de angina instável.
2. São detectadas mais precocemente, com redução do tempo “cego” (nos ensaios antigos, havia
a necessidade de se esperar até 6 horas para positivar a troponina).
3. Permite a confirmação mais rápida de IAM, quanto a exclusão mais precoce da SCA.
4. São detectadas em um maior número de condições (Tabela 14).
5. Maior valor preditivo negativo (para descartar um IAM).
Elevação de troponina além da SCA primária
Miocardite deve ser considerada no diagnóstico diferencial quando houver acentuada elevação de troponina. Marcada elevação de troponina (cronicamente) também pode ser encontrada
em pacientes com insuficiência cardíaca.
Em muitos pacientes com disfunção renal crônica, acredita-se que a elevação da troponina
se deva prioritariamente por cardiopatia associada, como hipertensão ou doença aterosclerótica
crônica, e não por redução do clearance.
Adicionalmente, patologias graves, que não uma SCA, cursam com elevação da troponina de
alta sensibilidade, por exemplo, embolia pulmonar ou síndrome aórtica aguda (Tabela 14).
Por isso, elevações isoladas de troponina não podem por si só diagnosticar uma SCA. Deve
haver um quadro clínico compatível e/ou alterações sugestivas de ECG. Adicionalmente, é fundamental avaliar se os valores de troponinas seguintes se alteram substancialmente, que ocorre na
SCA ou são relativamente estáveis, o que ocorre nas outras condições.
Protocolos de 1 ou 3 horas
Devido às características metodológicas do ensaio da troponina de alta sensibilidade (ou seja,
a detecção de mínimas quantidades), agora é possível diagnosticar ou afastar uma SCA de maneira
mais rápida e precoce.
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
2. Uma amostra deve ser coletada à chegada e uma segunda após 1 hora ou após 3 horas,
conforme o protocolo escolhido pelo hospital (delta de 1 hora ou de 3 horas)
■
1. Troponina T ou I de alta sensibilidade é o biomarcador de escolha no departamento de emergência
Capítulo 51
TABELA 13 Troponina de alta sensibilidade
883
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
TABELA 14
884
Elevação de troponina de alta sensibilidade além da SCA primária*
■■
Taquiarritmias
■■
■■
Insuficiência cardíaca
■■
■■
■■
■■
Emergências hipertensivas e síndromes
aórticas agudas
Doenças agudas graves (sepse, choque,
queimaduras etc.)
Miocardite (pericardite e endocardite se extensão
ao miocárdio)
■■
■■
■■
Doença renal crônica
Evento neurológico agudo (p. ex.,
hemorragia SNC, HSA, AVCI)
Procedimentos cardiológicos (p. ex., cirurgia, intervenção coronariana percutânea,
ablação, cardioversão, biópsia)
Hipo ou hipertireoidismo
Doenças infiltrativas do coração
(amiloidose, hemocromatose, sarcoidose)
■■
Cardiomiopatia de estresse (Takotsubo)
■■
Quimioterapia com drogas cardiotóxicas
■■
Doença cardíaca estrutural (p. ex., estenose aórtica)
■■
Contusão cardíaca (trauma)
■■
Embolia pulmonar e hipertensão pulmonar
■■
Intoxicações (p. ex., cocaína, anfetaminas)
e acidentes ofídicos
*Ruptura ou erosão espontânea de placa aterosclerótica.
Há 3 grandes empresas que produzem o ensaio e os valores de normalidade ou resultados
anormais variam entre eles. Por isso, cada departamento de emergência deve padronizar os resultados de acordo com o método que usar.
■■
Elecsys (Roche): troponina T de alta sensibilidade (hs-TnT);
■■
Architect (Abbott): troponina I de alta sensibilidade (hs-TnI);
■■
Dimension Vista (Siemens): troponina I de alta sensibilidade (hs-TnI).
O novo ACLS 2015 recomenda a coleta de troponina à chegada e após 2 horas (delta de 2
horas < percentil 99 do método usado) junto com escore (p. ex., TIMI 0 ou 1) para afastar precocemente uma SCA. Infelizmente, só incluíram estudos com troponina de alta sensibilidade até o ano
de 2014 e sem qualquer explicação, nem citaram os protocolos de 1 e 3 horas.
Por sua vez, o guideline do final de 2015 da Sociedade Europeia de Cardiologia recomenda
usar o protocolo de 1h (amostra à chegada e após 1h) ou o protocolo de 3h (amostra à chegada e
após 3h) exatamente por existir maior e melhor evidência com os dois.
Será descrito o protocolo de 1 hora em decorrência de:
■■
Ter sido o mais estudado e validado;
■■
Pelo menos 6 publicações de 2015 em departamentos de emergência mostram a sua eficácia e
segurança (referências 4 a 9; estudos esses não contemplados no ACLS 2015);
■■
Ser o sugerido pelo guideline da ESC 2015 (referência 1).
■■
Permitir definições e decisões mais rápidas.
O valor preditivo negativo para SCA é acima de 99% quando usado em conjunto com o quadro clínico e eletrocardiograma.
O princípio básico é avaliar dois itens (Algoritmo 1):
1. O valor absoluto da troponina: por exemplo:
a. hs-TnT (Elecsys) à chegada menor que 5 ng/L: afasta SCA;
b. hs-TnT (Elecsys) à chegada maior ou igual a 52 ng/L: é uma SCA.
2. Quantificação da variação da troponina com a segunda coleta (amostra 2 – amostra 1). Por
exemplo:
a. Delta de 1 hora menor que 3 ng/L e a amostra inicial foi menor que 12 ng/L: afasta SCA;
b. Delta de 1 hora maior ou igual a 5 ng/L: é uma SCA.
Isso permite uma definição em cerca de 75-80% dos pacientes (é ou não é uma SCA). Os
outros 20 a 25% dos casos representam uma variedade de condições (Tabela 14) que requerem
observação, podendo ser útil uma nova amostra de troponina em 3 horas. Angiografia coronariana
Troponina à chegada (0 h) e após 1 h
0 h < B ng/L
0 h < A ng/L OU
0 h ≥ D ng/L
E
OU
Outros valores
∆ 0-1 h < C ng/L
SCA descartada
∆ 0-1 h ≥ E ng/L
Diagnóstico indefinido
%! $
%$!" SCA confirmada
Método
A
B
C
D
E
hs-cTnT (Elecsys, Roche)
5
12
3
52
5
hs-cTnI (Architect, Abbott)
2
5
2
52
6
0,5
5
2
107
19
hs-cTnI (Dimension Vista, Siemens)
percutânea pode ser indicada se houver um alto grau de suspeição de SCA. Se houver um diagnóstico alternativo, por exemplo, emergência hipertensiva ou uma fibrilação atrial de alta resposta,
não há necessidade de exames para SCA (angiografia ou angiotomografia de coronárias). Se houver dúvida, no paciente de baixa ou intermediária probabilidade de SCA, uma angiotomografia
coronariana pode ser indicada.
Duas observações importantes:
1. O protocolo de 1h deve sempre ser usado em conjunto com os achados clínicos e eletrocardiograma. Sempre que houver uma forte suspeita clínica de SCA, uma terceira amostra (p.
ex., em 3h) poderá ser de grande utilidade.
2. Pacientes que chegam ao departamento muito precocemente (p. ex., < 1h do início do quadro clínico) ou com sintomas que se iniciam na emergência, uma amostra em 3h também é
recomendada.
Prognóstico
Além da utilidade diagnóstica, a magnitude da elevação da troponina se correlaciona com
pior prognóstico de curto e longo prazo, independentemente dos achados clínicos, ECG ou testes
de isquemia (Figura 6). Isso justifica o tratamento agressivo e a revascularização precoce nos pacientes com elevação de troponinas compatíveis com SCA.
OUTROS BIOMARCADORES
O peptídeo natriurético (BNP ou o fragmento N-terminal pro-BNP) mostrou se associar com
prognóstico precoce adverso. O guideline americano de 2014 sugere que seja possível solicitar como
■
Suspeita de SCA
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
TROPONINA DE ALTA SENSIBILIDADE – PROTOCOLO DE 1 HORA
Capítulo 51
ALGORITMO 1
885
PARTE IV
■
886
Mortalidade em 42 dias (% dos pacientes)
Emergências envolvendo sistemas específicos
8
7
7,5
6
6
5
4
3,4
3,7
3
2
1
1,7
1
0
< 0,4
0,4 a 1,0
1,0 a 2,0
2,0 a 5,0
5,0 a 9,0 Maior que 9,0
Troponina I (ng/mL)
FIGURA 6 Troponina I e mortalidade em 42 dias.
ferramenta prognóstica adicional (recomendação IIb/evidência B). Todavia, o guideline europeu de
2015 descreve que a informação prognóstica adicional é marginal, não recomendando de rotina.
Apesar de alguma utilidade prognóstica, aguardam-se melhores estudos para se avaliar com
maior clareza e/ou custo-benefício outros marcadores, tais como copeptina, proteína ligadora do
ácido graxo do tipo cardíaco (H-FABP), adrenomedulina etc.
RADIOGRAFIA DE TÓRAX
Rx de tórax pode ser útil para identificar causas pulmonares de dor torácica ou para identificar pacientes com mediastino alargado, o que pode sugerir uma síndrome aórtica aguda. Todavia,
Rx de tórax tem pouca utilidade como rotina na SCA.
EXAMES GERAIS
Hemograma, eletrólitos, glicemia, função renal e testes de coagulação devem ser solicitados.
Outros exames deverão ser solicitados de acordo com os achados clínicos.
PERFIL LIPÍDICO
Colesterol total, LDL, HDL e triglicérides devem ser solicitados na manhã seguinte à chegada
do paciente ao departamento de emergência, em jejum.
ULTRASSOM TORÁCICO/ECOCARDIOGRAMA
Deve ser rotineiramente disponível na sala de emergência e unidade de dor torácica e realizado em todos os pacientes durante a hospitalização por uma SCA sem elevação de segmento ST.
Ele poderá ser útil para:
1. Diagnóstico diferencial de patologias associadas com dor torácica, tais como: derrame pericárdico, dilatação de ventrículo direito (embolia pulmonar), estenose de valva aórtica, cardiomiopatia
hipertrófica, síndrome aórtica aguda (dissecção), pneumotórax, pneumonia ou derrame pleural.
Todo paciente com o diagnóstico ou suspeita de SCA deve ser avaliado pelos escores clínicos
e pelo modelo de GRACE para estimar a gravidade e o risco de complicações. O escore TIMI é
aceitável, mas o ideal é usar o GRACE.
A probabilidade do paciente evoluir de forma desfavorável pode incluir alguns dos seguintes
desfechos: risco de morte, isquemia miocárdica recorrente, acidente vascular cerebral não fatal, insuficiência cardíaca e arritmias graves. Essa informação poderá ser de grande relevância para o manuseio e tratamento, seja pela escolha do local inicial de internação, pela agressividade do tratamento
ou por indicar pacientes que deverão ser submetidos à angiografia coronariana percutânea precoce.
Conforme foi detalhado anteriormente (Achados Clínicos e Exames Complementares), uma
série de fatores pode fornecer pistas na identificação de pacientes de maior risco, como diabetes,
idade avançada, infarto prévio, doença vascular arterial extracardíaca, achados de insuficiência
cardíaca, hipotensão/choque e arritmias, entre outros. Alterações dinâmicas de ECG e aumento de
troponinas são fortes preditores de maior risco de complicações.
A Tabela 15 descreve uma classificação tradicional e muito utilizada para avaliar o risco de
morte ou IAM não fatal.
O escore TIMI é bastante simples, muito usado, e avalia o risco de eventos adversos em 14
dias: morte, novo IAM ou IAM recorrente e isquemia que necessita de revascularização (Figura 7
e Tabela 16).
O modelo de risco GRACE prediz o risco de morte ou de IAM não fatal durante a internação
hospitalar e após a alta (6 meses, 1 e 3 anos). O modelo inclui as seguintes variáveis: idade, frequência cardíaca, pressão sistólica, classificação de Killip, troponina, alteração de segmento ST, creatinina e se houve parada cardiorrespiratória à admissão. É possível obter o GRACE 2.0 ACS Risk
Calculator no site http://www.gracescore.org/WebSite/ ou baixá-lo em smartphones ou tablets. É
o escore de escolha no paciente com SCA no departamento de emergência e deve ser realizado em
todos os pacientes (Figura 8).
TRATAMENTO
De maneira geral, a abordagem inicial dos pacientes com achados sugestivos de SCA deve
ser conduzida na sala de emergência. Pacientes que inicialmente já se apresentam com achados de
gravidade devem ser tratados imediatamente. Isso inclui:
1. Dor anginosa recorrente.
2. Alterações dinâmicas de segmento ST.
3. Edema pulmonar.
4. Instabilidade hemodinâmica/respiratória: hipotensão, hipoxemia, má perfusão periférica.
5. Taquicardia ventricular sustentada.
6. Bloqueio AV de alto grau.
7. Taquicardia persistente ou outras taquiarritmias com instabilidade, p.ex., fibrilação atrial.
Em conjunto com os achados clínicos, eletrocardiograma, troponina de alta sensibilidade
(protocolo de 1 hora), os pacientes poderão ser classificados em um dos grupos:
1. O diagnóstico não é de SCA, há um diagnóstico alternativo e o tratamento é dirigido à etiologia. Isso inclui: pericardite, miocardite, embolia pulmonar, pneumonia, pleurite, pneumo-
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
RISCO DE COMPLICAÇÕES OU MORTE
■
3.
Ferramenta diagnóstica de escolha no paciente com instabilidade hemodinâmica, podendo
ajudar no manuseio terapêutico.
Pode detectar anormalidade segmentar sugestiva de isquemia miocárdica (hipocinesia ou
acinesia).
Capítulo 51
2.
887
TABELA 15 Risco de morte ou IAM não fatal em curto prazo*
Achado
Alto risco
Deve ter um dos
seguintes achados
Risco intermediário
■■
■■
História
■■
■■
Sintomas isquêmicos
“em crescendo” nas
últimas 48 horas
■■
Idade > 75 anos
■■
Dor ou
desconforto
■■
Em repouso e
prolongada (> 20
minutos)
■■
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
■■
PARTE IV
■■
■■
888
■■
Achados
clínicos
■■
■■
■■
ECG
■■
■■
■■
Ausência de achados de
alto risco
Deve ter um dos
seguintes achados
IAM, AVC,
revascularização
cirúrgica ou doença
vascular periférica
prévios; uso prévio de
aspirina
Baixo risco
■■
■■
■■
Ausência de achados
de alto ou intermediário
risco
Pode ter quaisquer dos
seguintes achados
Idade
70 anos
Idade > 70 anos
Angina em repouso,
prolongada (> 20 min),
mas que já cedeu e
alta ou intermediária
probabilidade de DAC
Angina em repouso,
prolongada (> 20 min),
aliviada com nitrato
sublingual
■■
■■
■■
Angina que se tornou
mais frequente, intensa
ou de maior duração
Angina provocada por
menor limiar
Novo início de angina
de início entre 2
semanas a 2 meses
Angina noturna
Angina classe III ou IV
nas últimas 2 semanas,
de duração < 20
minutos e intermediária
ou alta probabilidade
de DAC
Edema pulmonar
(etiologia mais
provavelmente
isquêmica)
Nova ou piora de
insuficiência mitral, de
estertores ou B3
Hipotensão, bradicardia,
taquicardia
Angina em repouso
e alterações de ST
transitórias > 0,5 mm
Novo ou
presumivelmente novo
bloqueio de ramo
Taquicardia ventricular
sustentada
■■
Alterações de onda T
■■
Ondas patológicas
■■
Infra-ST em repouso < 1
mm em parede anterior,
inferior ou lateral
■■
Normal ou sem
alterações dinâmicas no
momento da dor
Escores TIMI
45
40,9
35
30
26,2
25
19,9
20
15
13,2
10
■
Risco de morte, risco de IAM e
revascularização de urgência (%)
40
8,3
4,7
5
0
0/1
2
3
4
5
6 ou 7
Número de fatores de risco dos escores TIMI
FIGURA 7
TABELA 16
Escores TIMI e prognóstico em quatorze dias.
889
Escores TIMI e probabilidade de eventos adversos
■■
Idade ! 65 anos.
■■
Dois ou mais episódios anginosos em 24 horas.
■■
Três ou mais fatores de risco tradicionais.
■■
Uso de aspirina nos últimos 7 dias.
■■
CATE com estenose ! 50%.
■■
■■
Desvio do segmento ST ! 0,5 mm.
Aumento de biomarcadores de necrose
do miocárdio.
0,50
0,45
0,40
Mortalidade
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
70
90
110
130
150
170
190
210
Número de pontos totais – GRACE
FIGURA 8
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
3.
Capítulo 51
2.
tórax, dor osteomuscular, ansiedade-pânico, dor esofágica, colecistopatia, dispepsia, úlcera
gastroduodenal, pancreatite, síndrome aórtica aguda etc.
O diagnóstico é de angina crônica estável: avaliar medicações em uso, tentar otimizá-las e
agendar consulta breve ambulatorial.
O diagnóstico inicialmente está indefinido pelo protocolo de troponina de 1 hora. Uma nova
amostra deve ser coletada em 3 horas:
Modelo GRACE e mortalidade de todas as causas em 6 meses.
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
4.
890
O diagnóstico de SCA está confirmado, e o manuseio inicial deve ser conduzido na sala de emergência (Figura 9 e Tabela 17). Em geral, a base do tratamento do IAM sem supra é com os 4 As:
■
A: aspirina.
■
A: antagonista do ADP.
■
A: anticoagulante.
■
A: angiografia coronariana percutânea (Figura 9).
Antagonista
do ADP
Aspirina
IAM sem
supra
Angiografia
coronariana
FIGURA 9
Anticoagulante
• Escolha: ticagrelor
• Opção: clopidogrel
• Prasugrel: opção apenas
durante a angiografia
• Escolha: fondaparinux
• Opção: enoxaparina
• Heparina não fracionada:
útil em algumas situações
• Bivalirudina: raramente
indicada no DE
Bases do tratamento do IAM sem elevação de ST
ASPIRINA
1.
2.
3.
Solicitar ao paciente que mastigue 160 a 325 mg de aspirina (classe I: evidência A).
Uma das medicações mais importantes em SCAs; seu uso implica redução da mortalidade.
Indicado em todos os pacientes, exceto se houver história de anafilaxia com a droga.
■
Clopidogrel é o antagonista do ADP recomendado caso o paciente tenha história de verdadeira reação alérgica grave à aspirina.
TABELA 17
Medidas para síndrome coronariana aguda
1º Medidas gerais
■■
Repouso, monitorização contínua, oxigênio se SatO2 < 90% e acesso venoso
2º Terapia anti-isquemia
■■
■■
Nitratos
!-bloqueadores (cuidado com as contraindicações ou nos pacientes de risco de choque cardiogênico*)
3º Terapia antiplaquetária
■■
■■
Aspirina
Clopidogrel, prasugrel ou ticagrelor
4º Terapia anticoagulante
■■
■■
■■
Fondaparinux (inibidor do fator Xa).
Enoxaparina.
Heparina não fracionada.
5º Outras medicações
■■
■■
Inibidores da enzima conversora de angiotensina, antagonistas da angiotensina II e eplerenona
Inibidores da HMG-coenzima A – redutase (estatinas)
* Um ou mais dos seguintes fatores de risco: idade > 70 anos, PA < 120 mmHg, FC > 110 bpm ou
< 60 bpm, longo tempo entre o início dos sintomas e a procura pelo hospital.
Caso o antagonista do ADP usado seja o ticagrelor, recomenda-se manter a dose de aspirina
< 100 mg/dia.
ANTAGONISTAS DO ADP (CLOPIDOGREL, PRASUGREL E TICAGRELOR)
1.
2.
3.
4.
São inibidores dos receptores do ADP plaquetários.
O clopidogrel é uma pró-droga, tem que ser metabolizado no fígado para a forma ativa,
sendo esse processo um pouco lento. Ele inibe irreversivelmente o receptor do ADP, sendo
menos potente que o ticagrelor e prasugrel
O prasugrel também é uma pró-droga, tem que ser metabolizado no fígado para a forma
ativa, embora esse processo seja bem mais rápido que o do clopidogrel. Também inibe irreversivelmente o receptor do ADP. Comparado com o clopidogrel, o prasugrel é mais potente
e causa mais sangramento.
O ticagrelor já é a forma ativa da droga (não necessita ser metabolizado), é mais potente que
o clopidogrel, inibe a plaqueta muito mais rapidamente, sendo a inibição reversível.
1.
2.
3.
Ticagrelor é o antagonista do ADP de primeira escolha pelo último guideline da Sociedade
Europeia de Cardiologia (referência 1) e deve ser prescrito junto com a aspirina, seja na estratégia invasiva, como na conservadora. No mais importante estudo (PLATO), ticagrelor foi
melhor que o clopidogrel e reduziu desfechos cardiovasculares importantes.
Clopidogrel pode ser usado caso o departamento de emergência não tenha o ticagrelor disponível e deve ser prescrito junto com a aspirina, seja na estratégia invasiva, como na conservadora.
Na SCA sem elevação de ST, não se recomenda prescrever prasugrel no departamento de
emergência. Isso porque o estudo que mostrou eficácia (TRITON), a droga só foi usada durante ou após a intervenção coronariana percutânea (chamada anatomia conhecida). Sem
essa intervenção, os estudos não mostraram benefício em relação ao clopidogrel. Ela também
não deve ser usada no paciente com história de AIT ou AVC (aumenta o risco de sangramento) e nem no paciente acima de 75 anos ou peso < 60 kg (nenhum benefício nesses grupos).
Informações e doses dos antagonistas do ADP
1.
2.
3.
Clopidogrel (comprimido de 75 mg):
■
Estratégia intervencionista (com CATE): a dose de ataque é de 600 mg, via oral.
■
Estratégia conservadora: a dose de ataque é de 300 mg, via oral.
■
Manutenção de 75 mg, uma vez ao dia.
Prasugrel (comprimidos de 5 mg e 10 mg):
■
Dose inicial de 60 mg, via oral, durante ou após o CATE, se angioplastia e stent indicados.
■
Manutenção: 10 mg/dia.
■
Não usar prasugrel se: (1) o risco de sangramento for alto; (2) pacientes com peso < 60 kg;
(3) história de AIT ou AVC; (4) pacientes com idade > 75 anos.
Ticagrelor (comprimido de 90 mg):
■
Dose inicial de 180 mg, via oral.
■
Manutenção: 90 mg, de 12/12 horas.
■
Análises adicionais de subgrupos do estudo PLATO também mostraram que o ticagrelor
foi melhor que o clopidogrel em pacientes com história de revascularização cirúrgica do
miocárdio, apresentou menor incidência de trombose de stent, apresentou menor inci-
Capítulo 51
■
Recomendações
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
4.
891
TABELA 18
Antagonistas do ADP na SCA sem supra
1) História de alergia à aspirina
Clopidogrel: classe I/evidência B
2) Estratégia intervencionista indicada/preferida
a) Antes da angioplastia (classe I para todos)
■ Clopidogrel (evidência B) ou
■ Ticagrelor (evidência B): é a primeira escolha pelo guideline do final de 2015 da Sociedade
Europeia de Cardiologia (referência 1)
b) No momento da angioplastia (classe I para todos)
■ Clopidogrel (evidência A) ou
■ Prasugrel (evidência B) ou
■ Ticagrelor (evidência B): é a primeira escolha pelo guideline do final de 2015 da Sociedade
Europeia de Cardiologia (referência 1)
3) Estratégia conservadora indicada/preferida
■■
■■
Clopidogrel: classe I/evidência B ou
Ticagrelor: classe I/evidência B: é a primeira escolha pelo guideline do final de 2015 da
Sociedade Europeia de Cardiologia (referência 1)
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
■■
■
■
892
■
dência de desfechos em pacientes tratados de forma conservadora (sem CATE precoce).
Por último, nos pacientes com uma SCA e que necessitaram de cirurgia cardíaca (revascularização), ticagrelor foi associado com menor mortalidade geral e cardiovascular sem
aumentar a incidência de sangramento, comparado com o clopidogrel.
Caso se opte pelo ticagrelor, a dose de aspirina de manutenção deve ser < 100 mg/dia.
Cuidados com o ticagrelor: no estudo PLATO, causou 2 x mais dispneia que o clopidogrel
e 2 x mais períodos de pausa ventricular ≥ 3 segundos, além de aumento de creatinina e
ácido úrico.
Há uma série de publicações questionando aspectos metodológicos do estudo PLATO,
que foi apenas um estudo, inclusive, com questionamento e dúvida se não houve alteração
de dados pelas empresa dona do produto.
INIBIDORES DOS RECEPTORES IIb-IIIa PLAQUETÁRIOS
1.
2.
3.
4.
Bloqueiam os receptores IIb-IIIa plaquetários, implicando na inibição da via final comum e
mais importante da agregação plaquetária.
A grande maioria dos estudos foi realizada na “era pré-antagonistas do ADP”, que mostraram
a utilidade dos inibidores IIb-IIIa.
Na “era atual” do uso da dupla terapia antiplaquetária oral (aspirina + antagonista do ADP),
fica difícil justificar o uso dessas medicações caras e de posologia difícil (necessitam de bomba de infusão contínua IV).
Pelo guideline da Sociedade Europeia de Cardiologia do final de 2015 (referência 1), não
há qualquer indicação dos inibidores IIb-IIIa no DE, sendo drogas restritas aos centros de
hemodinâmica.
ANTICOAGULAÇÃO
■■
A anticoagulação plena é muito importante no manejo de síndromes coronarianas agudas;
implica redução de mortalidade.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Pentassacarídeo sintético, inibidor do fator Xa, uso subcutâneo, 1 x/dia, sem necessidade de monitorização (Tabela 19).
Considerado agora o anticoagulante com o melhor perfil eficácia/segurança.
Recomendado como a primeira escolha pelo guideline de 2015 da Sociedade Europeia de Cardiologia (recomendação classe I; evidência B), tanto na estratégia invasiva como na conservadora, exceto se o paciente chegar ao DE e for imediatamente para a angiografia.
No maior estudo randomizado (OASIS), comparado com a enoxaparina, reduziu em 48% a
chance de sangramento maior (RR: 0,52; IC95%: 0,44 a 0,61) e a mortalidade em 30 dias (17%)
e 6 meses (11%).
Um estudo observacional do JAMA de 2015 (ref. 3), 40.616 pacientes com SCA sem supra, o
uso de fondaparinux se associou a menor mortalidade hospitalar comparado com a enoxaparina
(RR: 0,75; IC95%: 0,63 a 0,89) e menor chance de sangramento (RR: 0,54; IC95%: 0,42-0,70).
Não usar se o clearance de creatinina for menor que 20 mL/min.
Previamente, pacientes que usaram fondaparinux e realizaram uma angiografia coronariana,
houve uma maior incidência de trombose do cateter. Estudos recentes mostraram que o uso
de uma dose de heparina não fracionada durante o CATE aboliu esse risco. Por isso, durante
o CATE, recomenda-se prescrever a heparina comum, em dose única.
Enoxaparina
1.
2.
3.
4.
5.
Enoxaparina é o anticoagulante de escolha se não houver a disponibilidade do fondaparinux.
Indicado tanto na estratégia conservadora como na estratégia invasiva.
Uma metanálise de todos os estudos nas SCAs, quando comparada com a heparina comum,
enoxaparina reduziu de forma marginal a soma de óbito ou infarto em 30 dias (RR: 0,90;
IC: 0,81 a 0,99).
Em pacientes submetidos à angiografia coronariana percutânea (23 estudos, com 30.966 pacientes), comparada com heparina comum, enoxaparina reduziu a mortalidade (RR: 0,66;
IC95% 0,57 a 0,76) e sangramento maior (RR: 0,80; IC95%: 0,68 a 0,95).
Enoxaparina não deve ser indicada no paciente com ClCr < 15 mL/min. Se ClCr entre 15 a 30
mL/min, a dose deve ser reduzida à metade, e deve-se monitorizar com o fator Xa.
Heparina não fracionada (HNF)
1.
2.
3.
Anticoagulante de escolha no paciente que chega ao DE e vai direto para a angiografia (Tabela 19).
Maior utilidade da heparina não fracionada (classe I / evidência B):
■
Paciente de maior risco de sangramento.
■
Extremos de peso (muito magro ou muito obeso).
■
Pacientes dialíticos ou com ClCr < 15 mL/min.
Desvantagens:
■
Necessita de bomba de infusão e de coleta de coagulograma de 6/6 horas para ajustar a dose.
■
Maior incidência de plaquetopenia quando comparada à enoxaparina.
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
Fondaparinux
■
Ao se escolher uma das heparinas, não trocar por outra; a mesma heparina deve ser usada
em todo o tratamento.
Capítulo 51
■■
893
Emergências envolvendo sistemas específicos
TABELA 19
Anticoagulante
Doses e observações
1. Fondaparinux
■■
■■
Ampola de 2,5 mg
2. Enoxaparina
■■
Ampolas de 20 mg; 40 mg;
60 mg; 80 mg e 100 mg
Dose: 2,5 mg, SC, 1x dia
■■
Não usar se ClCr < 20 mL/min
■
PARTE IV
■■
Anticoagulante de escolha se fondaparinux não for disponível
■■
Dose padrão: 1 mg/kg, SC, 12/12h
■■
■■
■■
Solução: 6.000 UI (1,2 mL)
+ 120 mL de SG5%
(cada 20 mL = 1.000 UI)
■■
Frasco com 250 mg (pó
para reconstituição) +
250 mL SG5% ou SF0,9%
(1 mg/mL)
5. Argatroban
■■
■■
5.000 UI/mL
4. Bivalirudina – iniciada
no DE
Ampola de 250 mg
(2,5 mL) + 250 mL SG5%
ou SF0,9% (1.000 mcg/mL)
Para evitar trombose de cateter: dose única de heparina não
fracionada no momento do CATE
a) 75 a 80 UI/kg, IV, bolus
b) Se prescrito inibidor IIb-IIIa, a dose é de 60 UI/kg, IV, bolus
■■
■■
3. Heparina comum
Anticoagulante de escolha pela ESC 2015*, na estratégia
invasiva ou conservadora
■■
■■
■■
894
Anticoagulantes nas SCAs sem elevação de ST
■■
Se ClCr < 30 mL/min: 1 mg/kg, SC, 1x dia, com monitorização
pelo fator Xa
Não usar se ClCr < 15 mL/min, alto risco de sangramento,
paciente muito magro ou muito obeso
Bolus IV de 60 UI/kg → Máximo 4.000 UI/dose (0,8 mL)
Manutenção em BIC: 12 UI/kg/hora → Máximo inicial de 1.000
UI/hora (20 mL/hora)
Coagulograma de 6/6 horas
Ajustar a infusão da BIC com o nomograma para manter o
TTPA em 1,5 a 2,5 vezes o controle
■■
Indicação: história de plaquetopenia induzida por heparina
■■
Bolus IV de 0,1 mg/kg (0,1 mL/kg)
■■
Manutenção: 0,25 mg/kg/hora
■■
Durante a angioplastia: bolus adicional de 0,5 mg/kg e infusão
de 0,75 mg/kg/hora
■■
Indicação: história de plaquetopenia induzida por heparina
■■
Bomba de infusão contínua (BIC): dose de 2 mcg/kg/min
■■
Coagulograma de 4/4h ou 6/6h
■■
Ajustar a BIC para manter o TTPA entre 1,5 e 3 vezes o
controle (< 100 segundos)
* Referência 1: European Society of Cardiology.
Bivalirudina
1.
2.
Inibidor direto do fator IIa (Tabela 19).
Estudos com a bivalirudina:
■
No estudo pioneiro, pacientes tratados de forma invasiva (submetidos a CATE), a bivalirudina teve a mesma eficácia que a enoxaparina, mas reduziu em 47% a incidência de
sangramentos graves (3,0% vs. 5,6%; p < 0,001).
■
Uma metanálise de 2014 (Lancet), somando 33.958 pacientes em 16 estudos, o uso de
bivalirudina se associou a maior chance de eventos cardíacos adversos, sobretudo, trombose de stent.
■
Estudo com 1812 pacientes (HEAT-PPCI, Lancet 2014), heparina comum reduziu a soma
de morte, acidente vascular cerebral, reinfarto e revascularização não planejada e não
houve diferença de sangramento entre a bivalirudina e heparina comum.
1.
2.
3.
Inibidor direto do fator IIa (trombina).
Indicação: paciente com história de plaquetopenia induzida por heparina.
Observação: como a droga é de metabolismo hepático, pode ser usada sem ajuste de dose no
paciente com doença renal crônica.
!-BLOQUEADORES
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Medicação importante na SCA, reduz alguns desfechos relevantes, embora haja dúvida se eles
realmente se associam à redução de mortalidade na era atual (devem ser prescritos se não
houver contraindicações e o paciente não seja de risco para evoluir com choque cardiogênico). Lembrar que diabetes, insuficiência vascular periférica, tabagismo e DPOC sem história
de broncoespasmo não são contraindicações aos !-bloqueadores.
Cuidado com o uso excessivo de medicações que não alteram a mortalidade (nitratos e morfina) e que causam redução da PA, o que muitas vezes impede ou limita o uso do b-bloqueador.
Contraindicações na SCA:
■
História de broncoespasmo (tabagismo não é contraindicação).
■
Achados clínicos de hipoperfusão.
■
Insuficiência cardíaca.
■
Intervalo PR > 0,24 segundos.
■
Bloqueio atrioventricular de 2º e 3º graus.
■
Pacientes de risco para choque cardiogênico: um ou mais dos seguintes:
a. Idade > 70 anos.
b. PA sistólica < 120 mmHg.
c. FC > 110 bpm ou < 60 bpm.
d. Longo tempo entre o início dos sintomas e a procura ao hospital (> 12 horas).
O b-bloqueador não deve ser administrado em pacientes com suspeita de vasoespasmo coronariano ou o uso de cocaína. Nesses casos, preferir nitratos e/ou diltiazem ou verapamil.
Via oral é a preferência (atenolol, bisoprolol, metoprolol ou propranolol) – classe I, nível de
evidência A:
■
A dose inicial dependerá da PA.
■
Propranolol: 10 a 80 mg, de 12/12 ou 8/8 horas.
■
Metoprolol: 25 a 100 mg, de 12/12 horas (1 x/dia se comp. de liberação prolongada).
■
Atenolol: 25 a 200 mg, uma vez ao dia.
■
Bisoprolol: 2,5 a 10 mg, uma vez ao dia.
Uso intravenoso – classe IIa, nível de evidência B. Não usar !-bloqueador IV em pacientes
com as contraindicações descritas nem naqueles de risco para choque cardiogênico:
■
Usar em pacientes com dor precordial ocorrendo.
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
Argatroban
■
3.
Capítulo 51
Outro estudo do final de 2015 (MATRIX, NEJM), não houve nenhum benefício quando
se comparou bivalirudina com a heparina não fracionada, sem diferenças na incidência
de sangramento.
Indicações (classe I/evidência A):
■
Como opção à heparina comum (e inibidor IIb-IIIa iniciado na sala de hemodinâmica)
no paciente que será submetido à angioplastia (estratégia invasiva).
■
Opção para o paciente com história de plaquetopenia induzida por qualquer das heparinas, se argatroban não disponível.
■
895
Metoprolol (ampolas de 5 mg): prescrever 5 mg IV lento; após o uso medir a PA e o pulso;
prescrever mais 5 mg de metoprolol IV, e assim sucessivamente.
■
Dose ideal: 5 mg, de cinco em cinco minutos, até chegar em 15 mg.
■
Prescrever um !-bloqueador, via oral, uma a duas horas após a última dose do metoprolol IV.
Pacientes alérgicos aos !-bloqueadores ou com história de broncoespasmo:
■
Prescrever diltiazen ou verapamil, desde que não tenha algumas das contraindicações semelhantes aos b-bloqueadores (hipoperfusão, insuficiência cardíaca, intervalo PR > 0,24 s
BAV 2º ou 3º graus e no paciente de risco para choque cardiogênico).
7.
NITRATO
1.
2.
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
■
896
3.
4.
Globalmente, o nitrato não reduz a mortalidade. As principais indicações são:
■
Dor anginosa persistente (ocorrendo).
■
Sinais ou sintomas de IC (crepitações, B3 ou congestão).
■
Hipertensão arterial.
A nitroglicerina é muito útil, pois tem efeito imediato (minutos), e, se desligada, em três a
cinco minutos já não tem mais efeito.
■
Diluir 1 ampola (25 mg) + 245 mL de SG5% (1 mL = 100 mcg); (alternativa: ampola de
50 mg + 490 mL de SG5%).
■
Dose inicial: 10 mcg/min, ou seja, 6 mL/h, em bomba de infusão contínua (BIC).
■
Aumentar a dose em 5 a 10 mcg/min, a cada 5 minutos, até que a dor passe, o paciente
chegue a PA sistólica de 100 mmHg ou apresente sintomas ou sinais de hipoperfusão.
■
Dose máxima: até 150 a 300 mcg/minuto (90 a 180 mL/hora).
– Se necessário usar altas doses, usar solução concentrada com 2 ampolas de 25 mg +
240 mL de SG5% (1 mL = 200 mcg)
– Infusão de 3 mL/hora é igual a 10 mcg/min.
Cuidado: evite usar nitratos em pacientes com:
■
Hipotensão ou hipovolemia (risco de choque).
■
Infarto de ventrículo direito.
■
Uso de medicamentos para disfunção erétil nas últimas 24 horas para sildenafil ou vardenafil e 48 horas para tadalafil.
Não use nitratos como rotina em pacientes com SCA; nitrato não reduz a mortalidade. Evite
prescrever nitratos em pacientes:
■
Sem dor precordial no momento;
■
Sem congestão ou IC;
■
Normotensos.
MORFINA
1.
2.
O papel da morfina nas SCAs tem sido revisto devido a questões de segurança da droga, possivelmente aumentando a incidência de eventos adversos, ou mesmo se associando a maior
mortalidade. Acredita-se que a morfina pode causar hipomotilidade intestinal, reduzindo a
absorção de antiplaquetários orais. Embora não tenham sido estudos randomizados, a tendência é usar cada vez menos morfina nessa circunstância.
Na ausência de contraindicações, é razoável prescrever morfina IV se a dor precordial anginosa persiste após doses máximas toleradas de medicações anti-isquemia (nitrato e !-bloqueador)(recomendação classe IIb; nível de evidência B). Além do efeito analgésico, ela pode
diminuir a pré-carga, a sensação de dispneia, e tem efeito sedativo.
USO DOS INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA (INIBIDORES DA ECA)/
ANTAGONISTAS DA ANGIOTENSINA II
1.
2.
3.
4.
5.
6.
A prescrição do inibidor da ECA não deve e nem precisa ser tão precoce quanto a da aspirina,
antagonista do ADP ou anticoagulante, por exemplo. Deve-se esperar que o paciente esteja
estável: ao menos quatro a seis horas após a chegada ao departamento de emergência. Nas
situações em que eles estão indicados, é recomendável iniciar com baixas doses.
Principais indicações na SCA (classe I / evidência A)
■
Sinais ou sintomas de disfunção ventricular esquerda ou ecocardiograma mostrando
uma fração de ejeção diminuída (< 40%).
■
Pacientes com HAS, diabete melito ou doença renal crônica estável, exceto se houver
contraindicação.
Evite prescrever IECA ou antagonista da angiotensina II (ARA-II) na SCA (ao menos, inicialmente):
■
Paciente com hipovolemia, má perfusão periférica ou PA sistólica < 100 mmHg.
■
Hipercalemia.
■
Doença renal avançada.
Como prescrever por via oral (em geral, começar com baixas doses):
■
Captopril: 6,25-12,5 mg, 3x dia.
■
Enalapril: 2,5 a 5 mg, 2x dia.
■
Lisinopril: 2,5-5 mg, 1x dia.
■
Ramipril: 2,5 mg, 2x dia.
■
Trandolapril: 0,5 mg, 1x dia.
Pacientes intolerantes ao IECA (história de angioedema, tosse, rash):
■
Usar um antagonista da angiotensina II.
■
Valsartan: 20 mg VO, 2x dia (o mais estudado).
Eplerenona: antagonista da aldosterona.
■
Indicada no paciente pós-IAM, que esteja em uso de IECA + !-bloqueador em doses
plenas e tenha diabetes, achados de IC ou FE < 0,40.
■
Contraindicada se creatinina > 2,5 mg/dL no homem ou > 2 mg/dL na mulher ou potássio sérico > 5 mEq/L.
■
Pouco papel no departamento de emergência, pois deve ser iniciado cerca de 3 a 14 dias
pós-IAM.
■
Dose inicial: 25 mg/dia; máximo: 50 mg/dia.
USO DOS INIBIDORES DA ENZIMA HMG – COENZIMA A REDUTASE
1.
2.
Ação anti-inflamatória, estabilização de placas ateroscleróticas, melhora da função endotelial, aumento de HDL, diminuição da tendência protrombótica e redução do LDL.
Terapia com estatina no paciente com SCA sem elevação de segmento ST reduz a taxa de
IAM recorrente, mortalidade por doença coronariana, necessidade de revascularização do
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
5.
■
4.
As principais indicações são:
■
Edema agudo de pulmão.
■
Dor precordial persistente após doses máximas toleradas de medicações anti-isquemia.
Dose inicial: 1 a 5 mg IV em bolus.
■
Repetir, se necessário, a cada cinco a trinta minutos.
Cuidado: a morfina pode causar depressão respiratória, vômitos e hipotensão. O antídoto é a
naloxona (dose de 0,4 a 0,8 mg IV). Evite usar morfina em pacientes com:
■
Hipotensão ou hipovolêmicos.
■
Infarto de ventrículo direito.
Capítulo 51
3.
897
4.
ANGIOGRAFIA CORONARIANA PERCUTÂNEA – ESTRATÉGIA INVASIVA
A estratégia invasiva ou intervencionista consiste na indicação de angiografia coronariana
percutânea no paciente com SCA sem supra na fase aguda. As principais vantagens são:
1. Confirmar uma SCA relacionada à doença coronariana obstrutiva (ou descartá-la, evitando-se uso de longo prazo desnecessário de antitrombóticos).
2. Rápida e definitiva definição da anatomia e da(s) lesão(ões) coronariana(s).
3. Revascularização precoce pode prevenir potenciais complicações da SCA.
4. Estratificação do risco do paciente em curto e longo prazo.
5. Redução de desfechos clínicos, especialmente nos pacientes de maior risco.
Angiografia coronariana, seguida de revascularização (angioplastia + stent), se indicada, é realizada na maioria dos pacientes com IAM sem supra nos serviços de saúde bem organizados. Pelo
menos 3 metanálises mostraram benefícios de curto e de longo prazo quando a estratégia invasiva
(comparada com a conservadora) é adequadamente indicada (Algoritmo 2 e Tabela 20).
ALGORITMO 2
TEMPO ÓTIMO PARA A REALIZAÇÃO DA ANGIOGRAFIA
Início dos sintomas
Estratificação de risco
Primeiro contato
SCA sem elevação ST
ICP disponível
Muito alto
ICP não disponível
Transferência imediata para centro com ICP
Alto
Invasiva imediata
(< 2 h)
Invasiva precoce
(< 24 h)
Muito alto
Transferência no mesmo dia
Intermediário
Estratégia
Terapêutica
Emergências envolvendo sistemas específicos
■
PARTE IV
898
3.
miocárdio e AVC (recomendação classe I; nível de evidência A). Os estudos que mostraram
maior benefício usaram estatinas denominadas de “alta potência”, com a meta de reduzir o
LDL em mais de 50% do valor de base.
Doses das estatinas de alta potência nas SCAs:
■
Atorvastatina: 80 mg/dia (preferência). A dose pode ser reduzida para 40 mg/dia se intolerância com dose maior.
■
Rosuvastatina: 20 a 40 mg/dia.
Uma outra vantagem da prescrição de estatinas durante a internação de uma SCA é que essa conduta aumenta significativamente a porcentagem de pacientes que persistem usando a medicação ao final de um ano (91%, comparado com apenas 10% quando a medicação é iniciada no ambulatório).
Invasiva
(< 72 h)
Baseado no guideline da Sociedade Europeia de Cardiologia. ICP: intervenção coronariana percutânea.
Transferência
em tempo hábil
Alto
Intermediário
■■
Angina refratária ou recorrente, mesmo com terapia médica intensiva/otimizada
Alterações dinâmicas e recorrentes do segmento ST ou onda T, particularmente, elevação de ST
intermitente
■■
Arritmias ameaçadoras à vida ou parada cardiorrespiratória
■■
Insuficiência cardíaca aguda com angina refratária ou alteração de segmento ST
■■
Instabilidade hemodinâmica ou choque cardiogênico
■■
Complicações mecânicas do IAM
Precoce (dentro de 24 h)
■■
Nenhum dos achados para angiografia imediata
■■
Um dos seguintes:
■
Escore GRACE > 140
■
Elevação de troponina compatível com IAM
■
Alterações dinâmicas do segmento ST ou onda T (sintomáticas ou silenciosas)
Retardada (dentro de 72 h)
■■
Nenhum dos achados para angiografia imediata ou precoce
■■
Um dos seguintes:
■
Diabetes
■
Doença renal crônica com ClCr < 60 mL/min/1,73m2
■
Insuficiência cardíaca ou FE ventricular esquerda < 40%
■
Angina precoce pós-infarto
■
Intervenção coronariana percutânea recente (< 6 meses)
■
Prévia revascularização coronariana cirúrgica
■
GRACE > 109 e < 140
Todo departamento de emergência que não dispõe de hemodinâmica tem de ter um sistema
pactuado e ágil para transferência de pacientes com necessidade de tratamento invasivo. Isso deve
estar organizado previamente, sendo fundamental não existir retardo ou burocracias.
O tempo ótimo ou ideal para a realização da angiografia pode ser dividido em (Algoritmo 2):
■■
Imediata: são pacientes mais graves, com alto risco de morte. Se a emergência não tiver hemodinâmica disponível, o paciente deve ser imediatamente transferido, assim que a condição
clínica permitir o transporte seguro.
■■
Precoce (em até 24 horas): são os pacientes que mais se beneficiaram no estudo mais relevante que comparou a estratégia invasiva precoce vs. retardada (estudo TIMACS, NEJM 2009).
Se a emergência não tiver hemodinâmica disponível, o paciente deve ser transferido no mesmo dia para a realização da intervenção.
■■
Retardada (dentro de 72 horas): esse é o prazo máximo para a realização da intervenção,
claro, se puder ser feita antes, melhor.
Por outro lado, pacientes com comorbidades muito graves (p. ex., câncer avançado, insuficiência hepática, doença pulmonar avançada etc.) não se beneficiarão de CATE precoce devido aos riscos
da intervenção.
Além disso, pacientes com dor torácica e achados de baixo risco de isquemia por DAC também
não devem ser submetidos à cineangiocoronariografia.
Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
■■
■
Imediata (dentro de 2 h)
Capítulo 51
TABELA 20 Recomendações para estratégia invasiva na SCA
899
LEITURA ADICIONAL
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
1.
9.
900
11.
10.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
2015 ESC Guidelines for the management of acute coronary syndromes in patients presenting
without persistent ST-segment elevation. Eur Heart Journal. 2015, doi:10.1093/eurheartj/ehv320,
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Síndromes coronarianas agudas sem elevação do ST
■
Capítulo 51
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901
Encefalopatia Hepática*
68
HERLON SARAIVA MARTINS
MENSAGENS RELEVANTES
■■
■■
■■
■■
■■
■■
■■
■■
Encefalopatia hepática (EH) é uma complicação frequente em pacientes com doença hepática avançada, com mortalidade média de 64% em um ano.
Ela é definida como um distúrbio na função do sistema nervoso central que se instala
como consequência da insuficiência hepática e/ou desvio (shunting) porto-sistêmico; EH
se manifesta com um amplo espectro de anormalidades neurológicas ou psiquiátricas variando de alterações subclínicas ao coma.
O mecanismo fisiopatológico é multifatorial. O dado de maior relevância é a associação de
insuficiência do hepatócito (i função hepática) e desvio porto-sistêmico (shunting). Isso
torna possível que amônia e várias outras neurotoxinas entrem diretamente na circulação
sistêmica, sem passar pelo fígado.
A EH pode ser classificada em função da doença de base, sua evolução temporal, se precipitada ou não, ou ainda de acordo com a gravidade das manifestações (West-Haven).
EH pode cursar com um amplo espectro de manifestações psiquiátricas ou neurológicas, embora seja necessária a exclusão dos vários diagnósticos diferenciais (p. ex.,
hipoglicemia, lesões cerebrais), pois nenhum achado ou exame complementar é específico para EH.
Exames complementares para investigação de precipitantes ou para o diagnóstico
diferencial são necessários em muitos pacientes, devendo guiar-se pelos achados clínicos.
O tratamento inicial inclui quatro tópicos: estabilização clínica; tratamento de precipitantes; tratamento de patologias que se assemelham à EH; e o tratamento específico da EH.
A base do tratamento específico é lactulose. Rifamixina é indicada se intolerância à lactulose ou associada à lactulose se o paciente não melhora em 48 horas. Na ausência de
rifamixina, neomicina ou metronidazol são substitutos.
*Os editores agradecem as importantes contribuições feitas pela Dra. Maíra Solange Câmara dos Santos em
versões prévias deste capítulo.
1150
DEFINIÇÃO DE ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
A EH é definida como um distúrbio na função do sistema nervoso central (SNC) que se
instala como consequência da insuficiência hepática e/ou desvio (shunting) porto-sistêmico; ela
se manifesta com um amplo espectro de anormalidades neurológicas ou psiquiátricas variando de
alterações subclínicas ao coma.
ALGORITMO 1
CIRROSE COMPENSADA, DESCOMPENSADA E COMPLICAÇÕES AGUDAS
$'
Doença
hepática crônica
Cirrose
compensada
Cirrose
descompensada
Sobrevida média
> 12 anos
Sobrevida média
~ 1,6 ano
!
!
!"
!#
!&
Morte
■
Capítulo 68
Cirrose é o resultado de diferentes mecanismos de lesão hepática que levam à necrose/inflamação e fibrogênese. Histologicamente, é caracterizada por regeneração nodular difusa, circundada por densos septos fibrosos, com progressiva destruição do parênquima e colapso das estruturas
do fígado. Em conjunto, isso leva a pronunciada distorção da arquitetura vascular hepática, que
resulta no aumento da resistência ao fluxo sanguíneo portal (o que leva à hipertensão portal) e na
disfunção de síntese hepática. Hepatites virais (B e sobretudo C), doença hepática alcoólica e a
doença hepática gordurosa não alcoólica são as etiologias mais frequentes.
Os pacientes com cirrose são sensíveis a uma variedade de complicações, e a sua expectativa
de vida pode ser marcadamente reduzida. Uma vez que essas complicações tenham se desenvolvido, os pacientes são considerados como tendo cirrose descompensada (Algoritmo 1). Histopatologistas e experts propuseram que o termo histológico cirrose deva ser substituído por doença
hepática avançada, para sublinhar os processos dinâmicos e o prognóstico variável da doença.
Nesse contexto, a encefalopatia hepática (EH) é uma complicação frequente e uma das manifestações mais debilitantes da doença hepática, afetando severamente a vida dos pacientes e seus
familiares. Além disso, o desenvolvimento de EH representa um sinal ominoso por causa da mortalidade de até 64% em 1 ano.
Encefalopatia hepática
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
1151
O mecanismo fisiopatológico exato ainda não foi totalmente determinado, mas, provavelmente, é multifatorial. O dado de maior relevância é que a insuficiência do hepatócito (i função
hepática) associada ao desvio porto-sistêmico (shunting) permite que amônia, glutamina e várias
outras neurotoxinas entrem diretamente na circulação sistêmica sem passar pelo fígado (bypass).
(Algoritmo 2).
MECANISMOS QUE PODEM CONTRIBUIR PARA ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
1.
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
1152
2.
3.
Amônia é gerada em diferentes tecidos a partir da quebra de aminoácidos e compostos nitrogenados. Sob condições fisiológicas, a amônia entra na circulação portal proveniente do
trato gastrintestinal, derivada do metabolismo das proteínas por bactérias colônicas e da deaminação da glutamina no intestino delgado. A absorção intestinal é rápida e no fígado ela é
transformada em ureia e glutamina. A ureia é quantitativamente o mais importante produto
do metabolismo e eliminação da amônia, sua excreção urinária é uma rota de controle da
amônia no organismo. A elevação da amônia na circulação sistêmica parece ter um efeito
direto sobre o edema cerebral, disfunção dos astrócitos e no transporte de compostos neuralmente ativos, como o mioinositol, contribuindo assim para EH.
Metabolismo extra-hepático da amônia: amônia também é metabolizada nos rins e músculos. Frequentemente, pacientes com doença hepática crônica acabam se tornando desnutridos por uma série de fatores, e isso pode contribuir para EH uma vez que o músculo é um
importante local de remoção de amônia do sangue.
Alteração no transporte de substâncias pela barreira hematoencefálica tem sido demonstrada
em pacientes com EH. Essa mudança pode levar à exposição do cérebro a uma variedade de
ALGORITMO 2 MECANISMOS ENVOLVIDOS NA GÊNESE DA ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
Inflamação, translocação
e mediadores vasoativos
Cirrose e
hipertensão portal
Vasodilatação periférica
e esplâncnica
Shunting
porto-sistêmico
Permeabilidade
hematoencefálica
Disfunção
do hepatócito
NH3 sérica
&!ebral
&"#!ócitos ( glutamato)
&#!*."$!otransmissores
e receptores ( &#"$!#!
Encefalopatia hepática
Citocinas
Glutamato
Glutamina
Encefalopatia hepática
■
1153
NH3
Hiponatremia
GABA (BDZ)
Astrócito
Espécies reativas
de oxigênio
Capítulo 68
substâncias neurotóxicas que circulam no sangue e podem resultar em edema cerebral. Além
disso, o aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica aumenta a captação e extração de amônia pelo cerebelo e gânglios da base.
4. As infecções bacterianas são gatilhos bem conhecidos para EH. Alteração da barreira intestinal resulta em uma elevada taxa de translocação de bactérias intestinais em pacientes
cirróticos, com aumento de citocinas pró-inflamatórias e inflamação sistêmica, contribuindo
para EH, além de exacerbar o efeito neuropsicológico da hiperamonemia.
5. Hiperatividade do sistema GABA (ácido gama-aminobutírico): os "benzodiazepínicos endógenos" atuariam pela via GABAérgica no cérebro, ocasionando uma ativação do sistema de
neurotransmissão inibitório.
6. Alterações em astrócitos do SNC. O edema e a disfunção dos astrócitos são decorrentes do
acúmulo de glutamina e são induzidos pela hiperamonemia que produz um estresse osmótico (Figura 1).
7. Diminuição dos níveis de mioinositol no cérebro com perda da habilidade de tamponar o
excesso de glutamina.
8. Deposição de manganês nos gânglios da base.
9. Deficiência de zinco: pacientes com cirrose teriam uma diminuição das concentrações séricas de zinco. Sabe-se que o fígado necessita do zinco como cofator para o ciclo da ureia.
10. Outros fatores que influenciam os neurotransmissores também têm sido postulados como
fatores contribuintes para EH e incluem: a serotonina, o óxido nítrico, peptídeos opioides
circulantes e o aumento da produção de espécies reativas de oxigênio.
Glicemia
Disfunção da unidade neurônio-astrócito
Neurônio
FIGURA 1 Alteração de neurotransmissores, edema de
astrócitos e disfunção neuronal na encefalopatia hepática.
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
CLASSIFICAÇÃO DA ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
A EH pode ser classificada em função da doença de base, evolução temporal e se precipitada
ou não (Tabela 1). A classificação de acordo com a gravidade das manifestações será descrita mais
à frente.
TABELA 1
Classificação da encefalopatia hepática
1. De acordo com a doença de base
■■
Tipo A: EH associada à insuficiência hepática aguda ("fulminante")
■■
Tipo B: EH associada ao desvio (shunting) porto-sistêmico (sem disfunção hepática relevante)
■■
Tipo C: EH associada à cirrose
2. De acordo com a evolução temporal
■■
EH episódica
■■
EH recorrente: episódios que ocorrem em um intervalo de tempo de 6 meses ou menos
■■
EH persistente: denota um padrão de alterações comportamentais que estão sempre presentes e
intercaladas com recaídas mais sintomáticas ou graves
3. De acordo com a existência de fatores precipitantes
■■
■■
EH não precipitada
EH precipitada: fatores precipitantes podem ser encontrados em grande parte dos pacientes e
devem ser procurados ativamente*
*Serão descritos mais à frente.
1154
ACHADOS CLÍNICOS
EH pode cursar com um amplo espectro de manifestações psiquiátricas ou neurológicas em
um paciente com doença hepática avançada ou grave hipertensão portal (p. ex., esquistossomose),
embora seja necessária a exclusão dos vários diagnósticos diferenciais (p. ex., hipoglicemia, lesões
cerebrais e neuroinfecções, entre outras), pois nenhum achado ou exame complementar é específico para EH.
De maneira geral, pode-se dividir os achados clínicos em três grupos:
1. Achados da hepatopatia crônica ou hipertensão portal: estigmas de doença hepática
crônica são evidentes na maioria dos pacientes, como: eritema palmar, ascite, icterícia
etc. (Figura 2).
■
Esquistossomose ainda é um problema no Brasil. Os pacientes manifestam todas as manifestações neuropsiquiátricas da EH, mas sem os estigmas de hepatopatia (esses são vão
surgir na fase tardia da doença).
2. Manifestações psiquiátricas e/ou neurológicas.
3. Achados clínicos relacionados ao fator precipitante da EH.
MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS E PSIQUIÁTRICAS DA EH
Em geral, a maioria dos pacientes atendidos no departamento de emergência (DE) apresentam achados relacionados à EH graus II, III ou IV (Tabela 2) de West-Haven. A Tabela 2 também
descreve algumas dicas da abordagem prática dos pacientes. Notavelmente, os sinais mentais (ou
• Palidez
• Eritema palmar
• Asterixis
• Atrofia testicular
• Perda de pelos pubianos
Capítulo 68
• Atrofia muscular
• Edema de MMII
Encefalopatia hepática
• Ascite
• Circulação colateral
(caput medusae)
• Esplenomegalia
■
• Telangiectasias (aranhas vasculares)
• Perda de pelos axilares
• Ginecomastia
• Icterícia conjuntival
• Hálito hepático
• Aumento de parótida
FIGURA 2
Achados de doença hepática crônica avançada.
cognitivos ou comportamentais) e os motores da EH podem não se expressar ou progredir em
paralelo em cada paciente, o que pode causar dificuldade no estadiamento.
Características relevantes da EH
1.
2.
3.
4.
5.
Familiares costumam relatar mudanças de personalidade, como apatia ou euforia/excitação,
irritabilidade e desinibição.
Alteração no ciclo vigília-sono é bastante frequente nas fases iniciais da EH, com sonolência
diurna e dificuldade para dormir à noite.
Dispraxia: existe comprometimento da coordenação motora ampla e fina, que pode inclusive
comprometer a articulação e a fala. O paciente apresenta dificuldade para executar movimentos e gestos precisos que conduziriam a um dado objetivo, apesar de ele ter a vontade e a
habilidade física para executá-los.
Hálito hepático (fetor hepaticus): atribuído ao dimetilsulfeto, um composto de enxofre volátil
que pode ser identificado na respiração e soro de pacientes com cirrose. Pode ser achado em
cirróticos com e sem EH, podendo ser uma pista em pacientes sem antecedente de doença
hepática.
Os pacientes podem evoluir com desorientação progressiva no tempo (dia do mês, da semana, mês, estação, ano), letargia, óbvia mudança de personalidade e comportamento inapropriado (ver Tabela 2). Tremor flapping (asterixis) é característico da EH grau II.
1155
Graduação
Descrição e achados clínicos
Mínima
■■
Grau I
Grau II
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
TABELA 2 Classificação da EH de acordo com a intensidade dos sintomas (graduação
de West-Haven) e achados neuropsiquiátricos
Grau III
1156
Grau IV
6.
Alterações em testes psicométricos ou
neuropsicológicos
■■
Sem evidência clínica de alteração mental
■■
Trivial falta de consciência
■■
Euforia ou ansiedade
■■
Tempo de atenção reduzido
■■
Soma ou subtração dificultados
■■
Alteração no padrão de sono
■■
Letargia ou apatia
■■
Desorientação no tempo
■■
Óbvia mudança de personalidade
■■
Comportamento inadequado
■■
Apraxia
■■
Tremor flapping (asterixis)
■■
Sonolência ou rebaixamento do nível
de consciência
■■
Responsivo aos estímulos
■■
Confuso
■■
Evidente desorientação
■■
Comportamento bizarro
■■
Coma
Critérios práticos sugeridos
Sem manifestações clínicas; baseado
em resultados anormais de testes
psicométricos ou neuropsicológicos
Apesar de orientado no tempo
e no espaço, o paciente parece
ter algum declínio cognitivo/
comportamental com relação ao
seu padrão (pelo exame clínico ou
para os familiares)
Desorientado em relação ao
tempo: ao menos três das
seguintes estão erradas: dia do
mês, dia da semana, mês, estação;
± outros achados
clínicos mencionados
Desorientado também para
o espaço: ao menos três dos
seguintes estão errados: país,
estado, cidade ou lugar); ± outros
achados clínicos mencionados
Não responde mesmo com
estímulo doloroso
Nos casos mais graves (EH grau III), os pacientes manifestam confusão no tempo e espaço
(país, estado, cidade e local), comportamento bizarro e rebaixamento do nível de consciência,
podendo evoluir para coma (EH grau IV).
Tremor flapping (asterixis)
Asterixis ou tremor flapping (“tremor batendo”) é um achado muitas vezes encontrado nos
estágios intermediários da EH, precedendo estupor ou coma. Ele é característico da EH grau II ou
da EH manifesta pela classificação da International Society for Hepatic Encephalopathy and Nitrogen
Metabolism (ISHEN). Todavia, deve-se lembrar que o asterixis desaparece no paciente em coma.
Na realidade não é um tremor, mas uma perda ou incapacidade de manter o tônus postural.
Isso acontece por disfunção de centros motores diencefálicos que regulam o tônus de músculos
agonistas e antagonistas, normalmente envolvidos na manutenção da postura. O asterixis é facilmente induzido por ações que exigem esse tônus postural, como a hiperextensão dos pulsos
com os dedos separados. Ele também pode ser observado em outras áreas, como os pés, pernas,
braços, língua e pálpebras.
Asterixis não é patognomônico de EH e pode ser observado em outras condições (p. ex.,
uremia, hipercapnia, acidente vascular cerebral afetando gânglios da base).
Manifestações de disfunção extrapiramidal são comuns na EH, como: monotonia, lentidão
da fala e hipomimia (diminuição ou ausência da expressão por mimica, gestos); tremor semelhante ao parkinsoniano; rigidez muscular, bradicinesia, hipocinesia ou discinesia com redução dos
movimentos voluntários. Em parte, esses achados se devem à deposição de manganês nos gânglios
da base (globo pálido e substância negra).
PRECIPITANTES DA EH
Os pacientes com EH devem ser avaliados para as causas potenciais precipitantes da complicação. Os achados clínicos são variados e dependem da etiologia (Tabela 3). Essa avaliação inclui:
1. Anamnese detalhada acerca do uso de quaisquer medicamentos ou toxinas (incluindo o
álcool), quedas, sangramento, febre, sintomas respiratórios e urinários, entre outros.
2. Exame físico: procurar sinais de hemorragia gastrointestinal, hipovolemia, trauma, infecções
ou peritonismo, entre outros.
EXAMES COMPLEMENTARES
O diagnóstico de EH é clínico e apoia-se no desenvolvimento de manifestações neurológicas
compatíveis, em pacientes com cirrose ou desvio (shunting) porto-sistêmico. No entanto, nenhum
dos achados é específico para essa desordem, e eles podem estar presentes em outras doenças ou
em encefalopatias metabólicas. Dosagem de amônia sérica pode auxiliar no diagnóstico, se o paciente tem o exame coletado ambulatorialmente, sem EH. Na ausência de um valor prévio, os seus
níveis séricos são inconsistentemente elevados e o exame não é obrigatório para o diagnóstico.
Idealmente, amônia deve ser coletada por via arterial.
Habitualmente, os exames complementares no departamento de emergência podem ser solicitados com três objetivos:
1. Avaliação geral do paciente e/ou para descartar causas tóxico-metabólicas mais frequentes.
■
Hemograma, exames de coagulação, bilirrubinas e albumina sérica.
■
Glicemia.
■
Eletrólitos e função renal.
■
Gasometria.
2. Busca de fatores que precipitaram a EH: quase sempre necessária, embora a solicitação deva-se guiar pelos achados clínicos:
■
Disfunção extrapiramidal
Capítulo 68
Em pacientes não comatosos, anormalidades do sistema do motor, como hipertonia, hiper-reflexia e sinal de Babinski positivo podem ser observados. Em contraste, reflexos profundos podem diminuir e até desaparecer no paciente em coma. Raramente, déficits neurológicos focais
transitórios ou convulsões foram descritos na EH, mas devem sugerir uma causa secundária.
Encefalopatia hepática
Alterações motoras
1157
TABELA 3
Fatores precipitantes da EH
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
1. Álcool e drogas
1158
■■
Benzodiazepínicos
■■
Opioides
■■
Álcool
2. Aumento da produção ou absorção de amônia
■■
Aumento da ingestão proteica
■■
Sangramento gastrointestinal
■■
Constipação
■■
Hipopotassemia
■■
Alcalose metabólica
3. Desidratação/hipovolemia
■■
Diarreia, vômitos
■■
Excesso de diuréticos
■■
Sangramento
■■
Paracentese de grande volume
4. Infecções
■■
Peritonite bacteriana espontânea
■■
Pneumonia, infecção urinária, celulite, sepse sem foco aparente
5. Outras
■■
Lesão hepática adicional medicamentosa, tóxica, viral, isquêmica
■■
Trombose de veia porta, hepatocarcinoma
Paracentese para coleta do líquido ascítico. Celularidade, contagem de polimorfonucleares e culturas devem ser solicitadas para confirmar ou descartar uma peritonite bacteriana espontânea (PBE). É importante lembrar que PBE é um precipitante da EH e que
a paracentese deve ser realizada mesmo no paciente sem dor abdominal ou febre.
■
Enzimas hepáticas.
■
Radiografia de tórax.
■
Exame de urina + urocultura.
■
Endoscopia digestiva alta, hemoculturas, eletrocardiograma e dosagem sérica de tóxicos,
entre outros.
Diagnóstico diferencial: deve-se guiar pelos achados clínicos.
■
Ultrassonografia ou tomografia abdominal: podem ser úteis em pacientes com achados
sugestivos de peritonite bacteriana secundária (PBS) na análise do líquido ascítico ou nos
casos de dor abdominal relevante e o líquido ascítico não demonstrou PBE ou outra infecção. Eventualmente, podem ser indicados na suspeita de complicações hepatobiliares
(litíase, abscesso, colangite etc.). Em pacientes com suspeita de trombose de veia porta,
considerar Doppler associado.
■
Tomografia (TC) de crânio ou ressonância magnética: são úteis sobretudo no diagnóstico
diferencial de lesões intracranianas (hemorragias, infarto cerebral, abscesso). A presença de
doença hepática pode ser sugerida pelo achado de hipersinal em T1 nos gânglios da base.
■
3.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
EH continua a ser um diagnóstico de exclusão. O paciente com doença hepática avançada é
suscetível a anormalidades do estado de consciência resultantes de inúmeras condições sistêmicas
ou neurológicas (Tabela 4).
1. É importante avaliar a coexistência de distúrbios hidroeletrolíticos, hipoglicemia, uremia ou
intoxicações.
2. Apesar do asterixis (tremor flapping) ser um sinal importante, esse tremor característico de
extremidades não é específico, e pode estar presente na uremia, hipercapnia, intoxicação por
fenitoína, hipomagnesemia ou acidente vascular cerebral afetando gânglios da base.
3. Doenças intracranianas e neuropsiquiátricas podem se assemelhar à EH.
4. O paciente alcoolista requer considerações especiais.
■
Síndrome de abstinência deve ser considerada se existe história de privação recente da
ingestão de álcool (em geral, menos de 48 horas).
■
Síndrome de Wernicke-Korsakoff, que pode ser precipitada pela administração de glicose
intravenosa na presença de deficiência de tiamina (vitamina B1).
TRATAMENTO
A abordagem inicial de pacientes com alterações neuropsiquiátricas agudas e suspeita de EH
pode ser didaticamente dividida em quatro vertentes, embora os quatro tópicos devam ser conduzidos de forma concomitante e não sequencial (Algoritmo 3):
1. Cuidados iniciais de pacientes com alterações da consciência.
2. Causas alternativas devem ser procuradas e tratadas.
3. Tratamento ou correção dos fatores precipitantes da EH.
4. Tratamento direcionado à encefalopatia, denominado de tratamento específico.
Encefalopatia hepática
■
■
■
Capítulo 68
■
a. Em um estudo recente com 462 pacientes com EH (referência 4 em "Leitura Adicional"), pacientes que se apresentaram com história de quedas, suspeita de trauma, antecedente de hemorragia do SNC, convulsões ou sinais neurológicos focais, a TC veio
alterada em 8,9% dos pacientes. Na ausência deles, apenas 1 entre 316 pacientes veio
com TC alterada (0,3%).
b. Assim, TC de crânio deve ser inicialmente solicitada nessas circunstâncias, ou no paciente que não melhora com o tratamento inicial correto. Solicitar de rotina em todos
os pacientes não parece ser custo-eficaz.
Liquor: é útil na suspeita de encefalite ou meningite; podem ser necessários plasma e/ou
plaquetas antes da coleta do liquor, se tempo de protrombina alterado ou plaquetopenia
significativa.
Eletroencefalograma (EEG): as alterações do EEG não são específicas da EH. Inicialmente, observa-se diminuição progressiva na frequência e aumento da amplitude das ondas
cerebrais com desaparecimento do ritmo normal alfa (8 a 13 ciclos/s), sendo substituído
por um ritmo mais lento com ondas trifásicas. Se houver suspeita clínica, o EEG pode
sugerir e/ou diagnosticar algumas condições como a encefalite herpética ou o estado epiléptico não convulsivo.
Dosagem sérica de tóxicos.
1159
TABELA 4
Diagnóstico diferencial da encefalopatia hepática
Emergências envolvendo sistemas específicos
Metabólicas ou endócrinas
■■
Hipoglicemia ou hiperglicemia
■■
Cetoacidose alcoólica
■■
Hipernatremia
■■
Hiponatremia
■■
Hipercalcemia
■■
LRA&, DRC& ou uremia
■■
Hipotireoidismo
Drogas e toxinas
Intoxicação alcoólica
■■
Síndrome de abstinência
■■
Wernicke-Korsakoff
■■
Opioide ou benzodiazepínico
■
■■
Fatores ou características diferenciais
1. Hipoglicemia deve ser descartada logo que o paciente com
alteração do nível de consciência dê entrada no DE
2. Glicemia elevada e exames iniciais são úteis para CAD# e
EHH#
3. Bioquímica, eletrólitos e gasometria solicitados nos
exames iniciais serão úteis para confirmar ou descartar as
condições relacionadas
4. Uremia pode precipitar a EH pelo acúmulo de substâncias
tóxicas, mas pode simular EH, pois pode cursar com
alterações neurológicas e asterixis
Fatores ou características diferenciais
1. Anamnese com familiares é de grande utilidade sobre uso
de álcool, drogas
2. Abstinência cursa com sudorese intensa, tremor
de repouso, hiperatividade adrenérgica e marcadas
alucinações
PARTE IV
3. Pupilas muito mióticas sugerem uso de opioides
Infecções*
1160
Fatores ou características diferenciais
■■
Meningite
1. Anamnese com familiares é de grande utilidade
■■
Encefalite
■■
Abscesso cerebral
■■
Encefalopatia da sepse
2. Infecção pode ser o precipitante da EH, todavia, relato
de febre, cefaleia, convulsões e achados do exame clínico
(déficit neurológico focal, rigidez de nuca) sugerem
infecção do SNC, com necessidade imediata de tomografia
de crânio, liquor (se não houver contraindicações) e
antibioticoterapia
Vascular
■■
■■
AVC isquêmico
Hemorragia do SNC
(trauma ou espontânea)
Outras
■■
■■
■■
■■
Estado epiléptico
Lesões do SNC: tumor,
hidrocefalia
Demência primária ou
secundária
Fatores ou características diferenciais
1. Início súbito de sinais neurológicos focais apontam para
causa vascular
2. História de quedas, trauma, convulsões, cefaleia ou
antecedente de AVH hemorrágico indicam TC de crânio
em caráter emergencial
Fatores ou características diferenciais
1. Anamnese com familiares pode sugerir a etiologia ou guiar
a investigação
2. Relato de convulsão indica a necessidade de TC de crânio;
eletroencefalograma pode ser necessário se suspeita de
estado epiléptico
Desordens psiquiátricas primárias 3. Alterações neurológicas mais arrastadas (semanas ou
meses), cefaleia, convulsões, alteração focal ao exame
clínico indicam a necessidade de TC de crânio
CAD e EHH: cetoacidose diabética e estado hiperosmolar hiperglicêmico.
LRA e DRC: lesão renal aguda e doença renal crônica.
*Peritonite bacteriana espontânea, pneumonia, infecção urinária, celulite e sepse sem foco
aparente, entre outras.
#
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ALGORITMO 3
ABORDAGEM DA ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
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LACTULOSE com ou sem RIFAMIXINA
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PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
CUIDADOS INICIAIS DE PACIENTES COM ALTERAÇÕES DA CONSCIÊNCIA
1.
2.
3.
4.
5.
Suporte e estabilização clínica são fundamentais. Deve-se avaliar a via aérea, checar oxigenação e a ventilação, e corrigir hipovolemia se presente.
Intubação orotraqueal pode ser necessária, se risco de aspiração e via aérea não protegida
(p.ex., hemorragia digestiva alta, vômitos).
O paciente deve ser monitorizado, um acesso venoso periférico calibroso deve ser canulado e
amostras coletadas para exames de beira de leito (POC) e para envio ao laboratório.
Uma sonda nasogástrica deve ser passada cuidadosamente; sonda vesical com coleta de exame de urina e urocultura se suspeita de infecção urinária.
Diuréticos devem ser suspensos.
CAUSAS ALTERNATIVAS DEVEM SER PROCURADAS E TRATADAS
1.
2.
3.
Causas alternativas de encefalopatia não são raras em pacientes com doença hepática avançada (ver Tabela 3). A identificação e o tratamento são fundamentais. Constitui um grave erro
atribuir à EH o fato de o paciente com cirrose evoluir com confusão e rebaixamento.
Hipoglicemia é frequente no paciente com cirrose e glicemia capilar deve ser realizada logo
que o paciente chegue ao DE.
■
Se hipoglicemia, prescrever 100 mL IV de glicose a 50% e tiamina parenteral (inicialmente, 200 a 300 mg IV, 3 x/dia)
Tecnicamente, se outras causas de encefalopatia estão presentes, o episódio não pode ser
denominado EH. Todavia, na prática clínica, recomenda-se tratar ambos.
1162
TRATAMENTO OU CORREÇÃO DOS FATORES PRECIPITANTES DA EH
O tratamento ou controle dos fatores precipitantes é de extrema importância (ver Tabela 3).
Taxas de recuperação de 80 a 90% têm sido relatadas apenas com a correção dos precipitantes.
Especial atenção a esse problema ainda é a pedra angular do manuseio do paciente com EH.
Algumas considerações relevantes:
1. Avaliação cuidadosa deve ser realizada para determinar a presença de hipovolemia (p. ex., associada ao uso de diuréticos, vômitos, diarreia, paracentese de grande volume recente ou sangramento).
2. Alcalose metabólica e hipocalemia são complicações relacionadas aos diuréticos e aumentam
a produção de amônia. Por isso, cristaloide e reposição de potássio são importantes nessa
circunstância.
3. Hemorragia digestiva alta é um precipitante frequente para crises de EH e deve ser considerada.
4. Sepse é um precipitante de grande relevância. De fato, quando o paciente apresenta um quadre de grave EH, sepse é a suspeita número um.
5. Constipação é um precipitante frequente e a limpeza intestinal com enema de lactulose faz
parte do manuseio inicial detalhado na próxima seção. Em geral, limpeza intestinal com lactulose é melhor do que a limpeza por outras técnicas comuns.
TRATAMENTO ESPECÍFICO OU DIRECIONADO À ENCEFALOPATIA
Além das outras três vertentes para o tratamento da EH, o tratamento direcionado ou específico também é importante.
Muitas drogas não foram testadas em estudos randomizados, controlados e de alto valor epidemiológico, e há vários estudos em andamento.
No momento, a base do tratamento é com lactulose e/ou rifamixina. Metronidazol ou neomicina são alternativas se rifamixina não estiver disponível.
Em geral, uma sonda nasogástrica é necessária para administrar medicamentos orais no paciente incapaz de engolir ou com risco de aspiração.
Lactulose é um dissacarídeo não absorvido e no cólon é catabolizado pela flora bacteriana em ácidos graxos de cadeia curta, acidificando o meio (pH de 5,0). Isso propicia a conversão do NH3 em NH4+ (não absorvível), reduzindo a concentração de amônia
no plasma.
2. A acidificação muda a flora colônica, favorecendo o crescimento de organismos fermentadores de lactulose e não bacteroides (lactobacilos), ao invés de bactérias produtoras de amônia.
3. Efeito laxativo, com limpeza de cólon.
Todavia, alguns estudos têm questionado o valor benéfico da lactulose que não o mecanismo
laxativo.
1.
Modo de usar
■■
■■
Lactulose oral:
1. Dose inicial: 25 mL de xarope de lactulose, via oral ou por sonda, a cada 1-2 horas, até que
se consiga produzir pelo menos duas evacuações pastosas por dia.
2. Manutenção: a dose deve ser titulada para manter duas a três evacuações por dia.
3. Eventos adversos: cólica abdominal, flatulência, diarreia e irritação perianal. Deve ficar
atento à redução de dosagem, se necessária, para evitar-se desidratação ou hipernatremia.
Lactulose por via retal para limpeza de cólon:
1. A limpeza de cólon usando lactulose é bastante útil no paciente com EH e constipação.
2. Enema com 20 a 30% de lactulose: 200 a 300 mL de lactulose em 700 a 800 mL de solução
para uso retal (soro, água, glicerina ou manitol).
3. O enema deve ser retido por no mínimo 30 minutos e repetido, se necessário.
Rifamixina
A rifaximina é um antibiótico semissintético, derivado da rifamicina, administrado por via
oral, mas não é absorvido.
Há muitos estudos publicados, embora a grande maioria tenha abordado a recorrência da EH
ou o seu uso ambulatorialmente.
Um estudo randomizado, duplo-cego, comparou a associação de rifaximina e lactulose (Rifam-Lac) com lactulose sozinha (Lac) em 120 pacientes com EH evidente (grau II: 18,3% dos
pacientes; grau III: 33,3% e grau IV: 48,3%). Os principais achados foram:
■
Mecanismo de ação
Capítulo 68
A lactulose é o tratamento inicial para EH. De fato, resposta clínica insatisfatória com lactulose deve motivar a pesquisa de fatores precipitantes não reconhecidos e/ou causas secundárias
ao comprometimento cerebral. Alguns centros usam preferencialmente o lactitol, com base em
metanálises de pequenos estudos. Todavia, não é possível afirmar que o lactilol é melhor.
Encefalopatia hepática
Lactulose
1163
Reversão completa da EH: Rifam-Lac: 76% x 50,8% no grupo Lac (p < 0,004).
Mortalidade: Rifam-Lac: 23,8% x 49,1% no grupo Lac (p < 0,05).
Todavia, foi um estudo pequeno e a mortalidade da EH foi muito alta.
Uma metanálise de 19 estudos (total de 1.370 pacientes), demonstrou maior resolução da EH
com rifamixina na EH evidente.
Com os dados publicados é possível sugerir as seguintes recomendações com relação ao tratamento da EH no departamento de emergência:
1. Rifamixina é a terapêutica de escolha no paciente que não melhora em 48 h, devendo ser
associada à lactulose.
2. Também é o tratamento de escolha no paciente intolerante à lactulose.
3. Melhores estudos são necessários para se avaliar o papel da associação lactulose e rifamixina
como tratamento inicial de escolha da EH, incluindo análise de custo-efetividade. Todavia,
centros onde a questão financeira não é um problema têm usado a associação como tratamento inicial de escolha.
■■
PARTE IV
■
Emergências envolvendo sistemas específicos
■■
Modo de usar
■■
Neomicina ou metronidazol
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Dose: 550 mg, via oral ou por sonda, de 12/12 horas.
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Na falta de disponibilidade de rifamixina, a neomicina ou o metronidazol podem ser indicados no paciente que não melhora em 48 h, devendo ser associados à lactulose.
Dose inicial oral de neomicina: 0,5 a 1 g, de 6/6 horas. Usar apenas se a função renal for
normal.
Dose inicial oral de metronidazol: 250 mg, de 6/6 horas ou 500 mg, de 8/8 horas.
NUTRIÇÃO
Historicamente, a restrição de proteínas na dieta foi aconselhada para pacientes com EH,
pois acreditava-se que isso iria diminuir a produção de amônia intestinal. Mas um pequeno estudo
randomizado sugeriu que dieta com aporte normal de proteínas é segura, além do fato de que a
desnutrição proteica pode contribuir para a redução da massa muscular (sarcopenia), o que pode
agravar a condição, já que o músculo é importante na metabolização da amônia.
A recomendação da International Society for Hepatic Encephalopathy and Nitrogen Metabolism é que a dieta tenha 1,2 a 1,5 g/kg de proteína e seja administrada em pequenas refeições, distribuídas durante todo o dia, podendo ser administrada por sonda nasogástrica.
OUTRAS TERAPÊUTICAS QUE NECESSITAM DE MELHORES ESTUDOS
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Polietilenoglicol (PEG) é um laxante que produz a limpeza do intestino, reduzindo o número
de bactérias produtoras de amônia. Em um estudo recente randomizado, controlado e bem
desenhado, foi mostrado que PEG foi tão eficaz e possivelmente superior à lactulose em termos de velocidade de resolução da EH, com redução do tempo total de internação hospitalar.
No entanto, mais dados são necessários antes que o PEG possa ser rotineiramente recomendado em preferência à lactulose.
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LEITURA ADICIONAL
Nevah MI, Fallon MB. Hepatic encephalopathy, hepatorenal syndrome, and other complications
of liver disease. In: Sleisenger and Fordtran’s gastrointestinal and liver disease. 10. ed. Philadelphia:
Elsevier; 2016. p. 1577-90.
2. O’Mara SR, Gebreyes K. Hepatic disorders. In: Tintinalli’s emergency medicine. 8. ed. New York:
McGraw-Hill; 2016. p. 525-32.
3. Garcia-Tsao G. Cirrhosis and its sequelae. In: Goldman’s Cecil medicine. 25. ed. Philadelphia:
Elsevier; 2016. p. 1023.
4. Donovan LM, et al. Low likelihood of intracranial hemorrhage in patients with cirrhosis and altered mental status. Clin Gastroent and Hepatol 2015; 13: 165-9.
5. Moreau R, Arroyo V. Acute-on-chronic liver failure: a new clinical entity. Clin Gastroent Hepatology 2015; 13: 836-41.
6. Gomez MR, et al. Hepatic encephalopathy in patients with acute decompensation of cirrhosis and
acute-on-chronic liver failure. Journal of Hepatology 2015; 62: 437-47.
7. Parekh PJ, et al. Ammonia and its role in the pathogenesis of hepatic encephalopathy. Clin Liver
Dis 2015; 19: 529-37.
8. Sussman NL. Treatment of overt hepatic encephalopathy. Clin Liver Dis 2015; 19: 551-63.
9. Rahimi RS, et al. Novel ammonia-lowering agents for hepatic encephalopathy. Clin Liver Dis 2015;
19: 539-49.
10. Ference P. Pathogenesis of hepatic encephalopathy. Disponível em: www.uptodate.com. UpToDate®, 2016.
1.
Encefalopatia hepática
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Flumazenil: pode ter benefício em pacientes com encefalopatia grave que receberam benzodiazepínicos, entretanto necessita de infusão contínua devido à curta meia-vida e pode
causar convulsões.
Sulfato de zinco: repõe os estoques de zinco, aumentando a metabolização da amônia (o
zinco é cofator das enzimas do ciclo da ureia). Pode ser benéfico nos pacientes desnutridos
(dose: 220 mg 2 x/dia).
Erradicação do H. pylori: reduz a produção de amônia no estômago (a bactéria produz urease, que degrada ureia em amônia).
Aminoácidos ramificados: diminuem o aporte de aminoácidos aromáticos e dessa forma reduzem a síntese de falsos neurotransmissores.
Aspartato-ornitina (oral ou parenteral): a ornitina ativa enzimas hepáticas (carbamilfosfato sintetase e ornitina-carcamiltransferase) relacionadas ao metabolismo da amônia e serve
como substrato para a produção de ureia. Em pacientes com encefalopatia refratária com uso
de lactulose e uma segunda medicação (rifamixina ou neomicina, p. ex.), pode-se associar a
ornitina.
Probióticos: modificam a flora colônica (rica em lactobacilos).
Benzoato de sódio: reage com a glicina para formar hipurato; isso aumenta a perda urinária
de nitrogênio.
L-carnitina: parece proteger o SNC dos efeitos tóxicos da amônia.
Antagonistas da glutamina: acredita-se que o sistema neurotransmissor glutaminérgico esteja envolvido na patogênese da EH. A sua inibição poderia trazer benefício.
Antagonistas opioides: insuficiência hepática pode levar ao aumento de derivados da encefalina e endorfina. O uso de inibidores dos opioides (naltrexona) poderia melhorar a EH.
Levodopa/bromocriptina: a administração de precursores de neurotransmissores como a levodopa não demonstrou benefícios, e a utilidade da bromocriptina, agonista de receptores
dopaminérgicos, parece estar limitada à melhora da sintomatologia extrapiramidal.
Capítulo 68
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1165
Emergências envolvendo sistemas específicos
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PARTE IV
1166
11. Ference P. Clinical manifestations and diagnosis of hepatic encephalopathy. Disponível em: www.
uptodate.com. UpToDate®, 2016.
12. Ference P. Treatment of hepatic encephalopathy. Disponível em: www.uptodate.com. UpToDate®, 2016.
13. Vilstrup H, et al. Hepatic encephalopathy in chronic liver disease: 2014 practice guideline by the
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14. Kimer N, et al. Systematic review with meta-analysis: the effects of rifaximin in hepatic encephalopathy. Aliment Pharmacol Ther 2014; 40: 123-32.
15. Ellul MA, et al. Hepatic encephalopathy due to liver cirrhosis. BMJ 2015; 351: h4187.
16. Rahimi RS, et al. Lactulose vs polyethylene glycol 3350 electrolyte solution for treatment of overt
hepatic encephalopathy. The HELP Randomized Clinical Trial. JAMA Int Med 2014; 174(11):
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