sylvia sampaio maciel do nascimento - grupo
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sylvia sampaio maciel do nascimento - grupo
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO – USP ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO INTEGRADA DA COMUNICAÇÃO DIGITAL SYLVIA SAMPAIO MACIEL DANTAS DO NASCIMENTO PORTAIS CORPORATIVOS Um caminho para a colaboração e para a gestão do conhecimento SÃO PAULO 2012 2 SYLVIA SAMPAIO MACIEL DANTAS DO NASCIMENTO PORTAIS CORPORATIVOS Um caminho para a colaboração e para a gestão do conhecimento Monografia apresentada à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo como requisito básico para obtenção de título de especialista em Comunicação Digital. Orientador: Prof. Ms Claudio Oliveira São Paulo 2012 3 Autorizo a divulgação e reprodução total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. NASCIMENTO, Sylvia Sampaio Maciel Dantas do. Portais Corporativos: um caminho para a colaboração e para a gestão do conhecimento. Especialização em Comunicação Digital. Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo, 2012. Palavras-chave: gestão do conhecimento, portais corporativos, colaboração digital, corporações, comunicação. 4 Dedico este trabalho àqueles que me ajudaram a construir a base sólida que me permitiu chegar até aqui: minha família, meus mestres, meus amigos. 5 AGRADECIMENTOS A todos os professores do Digicorp que, de uma forma ou de outra, me ajudaram a evoluir profissionalmente e intelectualmente ao longo desses dois últimos anos. Ao meu orientador Claudio Oliveira pelas considerações e contribuições pertinentes ao longo do processo de elaboração desta monografia. Às professoras Beth Saad e Dani Bertocchi pela iniciativa do Digicorp e por ter nos conduzido tão bem até aqui. Aos meus pais e irmãos pela educação, pelo amor, pelos valores e pelo aprendizado constante. À equipe da Nuova Comunicação, em especial ao Flávio Paes e ao Paulo César Mirkai, por acreditar no meu potencial e por ser parte importante da minha caminhada e crescimento profissional há seis anos. Aos clientes e parceiros que contribuíram com minha experiência profissional, em especial àqueles que cederam seu precioso tempo para conceder as entrevistas para os estudos de caso. À minha querida vó Regina, que embora tenha partido na reta final do meu processo de especialização, enviou forças, energia positiva e me protegeu de todas as formas, tenho certeza. Aos meus amados sobrinhos Henrique, Alice, Luiza, Isabela, André e Julia, que souberam resgatar em mim a simplicidade da vida e a ternura de um sorriso nos momentos mais tortuosos. Aos surpreendentemente fantásticos amigos da pós pelas conversas, pelas trocas, pelos bares e pelas palavras de apoio em nossa comunidade-terapia no Facebook. E, por fim, ao meu amigo, companheiro e grande apoiador Ricus, um marido paciente e dedicado, que soube me acalmar nos momentos de crise – e que não foram poucos. 6 “Não são os mais fortes da espécie que sobrevivem, nem os mais inteligentes, mas sim os que melhor respondem às mudanças”. (Charles Darwin, 1859) 7 RESUMO Esta monografia pretende analisar a adoção de portais corporativos como um meio para fomentar a comunicação, a colaboração e a gestão do conhecimento nas empresas. A fundamentação teórica passa pela análise das eras do conhecimento e digital e pelas transformações operacionais, estratégicas e competitivas pelas quais as empresas passaram e ainda estão passando. Com base na teoria e em três estudos de caso analisados, espera-se fazer uma comparação entre teoria e prática para entender o que realmente funciona, quais os principais desafios e quais os resultados que as estratégias adotadas pelas empresas têm gerado. Palavras-chave: Portais corporativos. competitiva. Colaboração. Corporações. Gestão do conhecimento. Vantagem 8 ABSTRACT This monograph seeks to analyze the adoption of corporate portals as a way to promote communication, collaboration and knowledge management in enterprises. The theoretical background goes through the knowledge and digital ages and over the operational, strategic and competitive transformations through which companies went by and are still experiencing. Using the theory and three cases, it is expected to compare theory and practice to understand what really works, which are the main challenges and the results the strategies adopted have led to companies. Keywords: Corporate portals. Knowledge management. Competitive advantage. Collaboration. Corporations. 9 LISTA DE IMAGENS Figura 1 – Matriz de Intensidade da Informação 17 Figura 2 – Matriz de priorização – modelo 01 31 Figura 3 – Matriz de priorização – modelo 02 32 Figura 4 – Mapa hierárquico 32 Figura 5 – Protótipo 33 Figura 6 – Homepage da Fibria Net 42 Figura 7 – Página de Perfil do usuário 43 Figura 8 – Página de sistemas da Fibria 44 Figura 9 – Detalhe homepage – Sistemas e páginas favoritas 45 Figura 10 – Exemplo espaço de trabalho 46 Figura 11 – Homepage Portal do Conhecimento Votorantim 51 Figura 12 – Base de dados Presença Internacional 52 Figura 13 – Funcionalidade Presença Internacional do site Votorantim 53 Figura 14 – Central de Permissionamento, desenvolvida para controlar as restrições de acesso 55 Figura 15 – Homepage do Portal de Inteligência de Suprimentos 57 Figura 16 – Gráficos mostram um comparativo entre os preços históricos da Raízen e as projeções de mercado, e alguns indicadores de mercado, como IGPM e mão-de-obra 58 Figura 17 – Painel para acompanhamento do desempenho da equipe de compras 59 10 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Pesquisa veículos de comunicação da Fibria – Principal fonte de informação 47 Gráfico 2 – Pesquisa veículos de comunicação da Fibria – Avaliação Geral da intranet 48 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................12 2 A GESTÃO DO CONHECIMENTO...........................................................................15 3 VANTAGEM COMPETITIVA E A GESTÃO DO CONHECIMENTO NA ERA DIGITAL......................................................................................................................22 4 PORTAIS CORPORATIVOS......................................................................................28 5 METODOLOGIA.........................................................................................................36 5.1 Escolha das empresas..............................................................................................36 5.2 Coleta e análise dos dados.......................................................................................37 6 ESTUDOS DE CASO...................................................................................................40 6.1 Fibria.......................................................................................................................40 6.2 Holding Votorantim Industrial................................................................................49 6.2.1 Portal do Conhecimento Votorantim…....................................................49 6.2.2 Portal Votorantim.....................................................................................51 6.3 Raízen …..…………………………………………...……………………………56 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................60 REFERÊNCIAS..................................................................................................................63 12 1 Introdução No mundo altamente competitivo em que vivemos, as empresas privadas estão sempre em busca de vantagens que as permitam se destacar dos concorrentes no mercado. Entre os principais desafios estão a eficiência produtiva, a constante inovação, a retenção de talentos e a disseminação de conhecimentos e das melhores práticas. Para tentar vencer esses desafios, muitas empresas passaram a trabalhar sua gestão orientada ao conhecimento, com a valorização dos ativos intelectuais e a utilização de ferramentas e técnicas que permitam que o conhecimento existente na empresa se torne algo bem documentado (explícito) e posto em prática. A necessidade de mudança é apontada por Klaus North (2010, p. 2): “Com a globalização, evidenciou-se que nos países industriais de ponta só se pode ser competitivo de forma duradoura quando se utiliza melhor o fator de produção conhecimento. Para isto é necessário ter em conta uma mudança estrutural no âmbito produtivo, com maior ênfase no que poderíamos chamar de ‘trabalhadores do conhecimento’. Ao invés da mão de obra, o que passa a ter valor são os cérebros em ação” (grifos do autor) E Takeuchi e Nonaka (2011, p. 18): “O sucesso das corporações nunca foi tão frágil. Apenas algumas poucas empresas têm demonstrado capacidade de mudar tão rápido quanto o ambiente que as cerca e de lidar com as complexidades envolvidas. Uma das principais razões pelas quais as empresas fracassam, atualmente, é sua tendência de eliminar os paradoxos, prendendo-se a antigas rotinas criadas pelo seu sucesso anterior.” Com a evolução da tecnologia da informação e da comunicação digital, as empresas passam a contar com plataformas capazes de contribuir para o processo de comunicação, colaboração e gestão do conhecimento. Essa nova dimensão da comunicação, segundo Pierre Lévy (2007, p. 17-18), deveria ser extremamente bem aproveitada, pois permite que a máquina seja utilizada a favor do homem para criar ‘coletivos inteligentes’. “Essa nova dimensão da comunicação deveria, é claro, permitir-nos compartilhar nossos conhecimentos e apontá-los uns para os outros, o que é a condição elementar da inteligência coletiva. Além disso, ela abriria duas importantes possibilidades, que transformariam radicalmente os dados fundamentais da vida em sociedade. Em primeiro lugar, disporíamos de meios simples e práticos para saber o que fazemos 13 juntos. Em segundo lugar, manejaríamos, com facilidade ainda maior do que o fazemos com a escrita, os instrumentos que permitem a enunciação coletiva.” O mercado digital evoluiu e hoje oferece plataformas digitais com inúmeros recursos, que prometem facilitar o processo de perpetuação do conhecimento, trazer dinamismo para a comunicação e gerar economia para as empresas no longo prazo. As empresas, no entanto, ainda passam por processos de transformação e possuem níveis de maturidade, necessidades e objetivos estratégicos diferentes, que devem ser analisados antes de se optar por investir – e em que nível – em uma plataforma digital. “(...) a tecnologia é apenas a ponta do iceberg. A implementação de um Portal Corporativo de Conhecimento exige níveis profundos de comprometimento, além de um envolvimento visível de gestão em muitas áreas.” (TERRA e GORDON, 2002, p. 14). Esta monografia se propõe a analisar o processo de mudança estratégica (foco em produção x foco no ativo intelectual) pelo qual as empresas vêm passando, as transformações que a era digital trouxe para a estratégia de negócio e para a vantagem competitiva e os aspectos que envolvem a construção de uma ferramenta de gestão do conhecimento e de um portal corporativo. Utilizaremos como base teórica a obra A Inteligência Coletiva, de Pierre Lévy, um dos principais defensores do modelo da virtualização, ligado ao paradigma horizontalinteracionista. Lévy acredita na máquina como extensão do homem e coloca que o ciberespaço traz novas estruturas de comunicação, de regulação e de cooperação, e que, “ao contrário do que ocorreu no momento do nascimento de nossa espécie, ou por ocasião da primeira grande mutação antropológica (...), temos agora a possibilidade de pensar coletivamente essa aventura e influenciá-la” (LÉVY, 2007, p. 15). Também tomaremos como referência artigos de Michael E. Porter e Victor E. Millar, publicados na Harvard Business Review nos anos de 1985 e 1996, que falam sobre os impactos da era digital na vantagem competitiva e nas estratégias de negócio das empresas. No que diz respeito especificamente à adoção de portais corporativos e à gestão do conhecimento, esta monografia observa o fato pela perspectiva dos autores José Claudio Cyrineu Terra, Cindy Gordon, José Renato Sátiro Santiago Jr., Klaus North, Ikujiro Nonaka, 14 Hirotaka Takeuchi, Maria Terezinha Angeloni, Rogério Afonso de Freitas, Leslie Wittig Quintanilla, Ari dos Santos Nogueira, entre outros. A partir dessa fundamentação teórica, iremos verificar o objeto de pesquisa, que trata da adoção de portais corporativos como um caminho para fomentar a comunicação, a colaboração e a gestão do conhecimento, e a pergunta-problema, que visa entender como uma empresa pode agregar valor aos seus processos usando um portal corporativo e quais são os desafios e os resultados esperados. Entre os objetivos traçados estão caracterizar, com base na literatura estudada, quais são os requisitos necessários para a construção de um portal corporativo (investimento, infraestrutura, planejamento, governança, evolução estruturada, engajamento), verificar os desafios a serem superados, identificar vantagens e resultados e, por fim, analisar casos reais à luz das caracterizações anteriores. Para isso, além da bibliografia já citada, foram realizadas entrevistas com empresas privadas que adotam plataformas digitais como parte de suas estratégias de negócio e utilizadas informações de projetos realizados por uma empresa de consultoria nos últimos seis anos. Pretende-se verificar se as teorias e boas práticas apontadas pelos autores se mostram eficientes quando colocadas em prática e quais os caminhos possíveis para que as empresas rumem para uma ferramenta de gestão do conhecimento que gere valor para o negócio. O objetivo não é construir uma fórmula padrão para as empresas, mas tentar abordar questões que possam ajudar essas empresas a pensar suas próprias fórmulas, levando em conta fatores como maturidade, objetivos do negócio e cultura empresarial. 15 2 A gestão do conhecimento Até meados da década de 1970, grande parte das empresas estava sob a influência da era da Sociedade Industrial, período em que o foco estava inteiramente na eficiência operacional, ou seja, em produzir mais, mais rápido e por menos. Muitas vezes de forma intuitiva ou simplesmente influenciadas pelos padrões estabelecidos, essas empresas seguiam os preceitos da Escola Clássica de Administração, e seus principais objetivos eram empregar mão-de-obra barata, explorar recursos naturais sem qualquer preocupação com a sustentabilidade e com o futuro, obter vantagens em termos de localização e capital financeiro, e produzir em larga escala para, assim, garantir alta lucratividade (FREITAS, QUINTANILLA e NOGUEIRA, 2004). A vantagem competitiva estava ligada a esses fatores e, portanto, não havia grande preocupação com a qualidade dos produtos, com a satisfação dos clientes e, muito menos, com a troca de conhecimentos e com a disseminação de melhores práticas. A Escola Clássica de Administração, baseada no paradigma Newtoniano-Cartesiano ou Reducionista, pregava que os fenômenos complexos “só poderiam ser compreendidos se reduzidos em partes, sendo o resultado final a soma destas partes” (FREITAS, QUINTANILLA e NOGUEIRA, 2004, p. 01). Não havia paradoxos. Os métodos eram precisos, mecânicos, lineares, científicos. Os processos eram divididos em pequenas partes, com equipes responsáveis por cada etapa, para facilitar a organização (TAKEUCHI e NONAKA, 2008). Um exemplo claro dessa organização era o processo de fabricação de um carro. Na linha de produção das montadoras, cada equipe cuidava de uma pequena parte, sem se envolver nas tarefas das demais equipes, e ninguém acompanhava o processo por inteiro, exceto a gerência. “O paradigma reducionista baseava-se na previsibilidade, certeza, estabilidade, ordem, preocupação com as partes e no entendimento dos problemas isoladamente” (FREITAS, QUINTANILLA e NOGUEIRA, 2004, p. 03). E foi justamente essa forma de organização que acabou se tornando o grande ponto de mudança: altamente hierarquizadas, as organizações encontraram dificuldades de disseminar a informação e o conhecimento no momento em que criatividade, inovação e subjetividade passaram a fazer diferença na solução de problemas e na batalha por uma fatia do mercado. 16 Diante de uma competição cada vez mais acirrada e de um mundo em constante globalização e mudança, as empresas tiveram que começar a buscar formas de se diferenciar da concorrência, pois produzir mais, mais rápido e mais barato é limitador e facilmente imitável. Era preciso se diferenciar, e ser capaz de mudar de forma rápida, diante dos desafios do mercado. “(...) mudanças endêmicas no ambiente externo exigem mudanças contínuas e rápidas na organização. A gestão deve responder à mudança ou enfrentar o inevitável. Mudar ou morrer” (TAKEUCHI e NONAKA, 2008, p. IX). As empresas entenderam, então, que o caminho para essa diferenciação estava na valorização dos ativos intangíveis da empresa: seus processos, suas práticas do dia a dia e, principalmente, o conhecimento de seus empregados. Essa mudança marcou a passagem da Era Industrial para a Era do Conhecimento. Klaus North (2010, p. 79) coloca que: “Para aumentar a eficácia e a eficiência, as empresas se organizavam, no passado, por grupos de produto, tipos de processos, necessidades geográficas ou funções. As diferentes formas de organização buscavam estabilidade e, especialmente, procuravam facilitar o controle. Na sociedade do conhecimento, as empresas precisam levar em conta as exigências de renovação, o desejo de muitos colaboradores por mais espaço e criatividade, o uso das tecnologias informação e comunicação, com o objetivo de encontrar novas formas de organização.” Na Sociedade do Conhecimento, que surge ao final do século XX junto com o termo Globalização, a base para muitas empresas passa aos poucos a ser os capitais intelectual, estrutural e de relacionamento, em especial naquelas em que os produtos e processos têm muita informação. Para entender melhor a importância e o papel da informação para cada tipo de empresa, Michael E. Porter (1985) criou uma matriz de ‘intensidade da informação’ (figura 1), que relaciona intensidade da informação na cadeia de valor com conteúdo de informação nos produtos. 17 Figura 1 – Matriz de Intensidade da Informação Fonte: PORTER, Michel E.; MILLAR, Victor E. How Information Gives You Competitive Advantage. Harvard Business Review, Jul./Ago., 1985. <http://hbr.org/1985/07/how-information-gives-youcompetitive-advantage/ar/pr>. Acessado em 07 set 2012. Para muitas empresas, o homem passa a ficar em evidência e o diferencial está na valorização da capacidade de inovação e de empreendedorismo e na orientação da produção de bens e serviços para o cliente e a sociedade em geral. As empresas passam a vender mais informações, conhecimentos, produtos e serviços inteligentes e menos trabalho intensivo e operacional. As mudanças de mercado se tornam muito mais rápidas e há uma velocidade de inovação maior, que se manifestam em queda de preços, ciclos de vida mais curtos do produto, individualização das necessidades dos clientes e nascimento de novos campos de negócio, entre outras modificações (NORTH, 2010, p. 14-15). Freitas, Quintanilla e Nogueira (2004, p. 6), ao falar sobre as diferenças entre as empresas da Sociedade Industrial e da Sociedade do Conhecimento, comentam a mudança de foco da ‘linha de produção’ para produtos e serviços inovadores e produzidos com foco no cliente: “Outra distinção entre as organizações tradicionais e as organizações do conhecimento é a de que as primeiras contratam mão-de-obra enquanto as segundas buscam contratar profissionais que além de executarem tarefas, pensem, reflitam, tomem decisões e, após isto, executem suas tarefas, ou seja, colaboradores dinâmicos e com senso crítico.” 18 Foi na Era do Conhecimento que surgiram as organizações voltadas ao conhecimento e, com elas, o termo Gestão do Conhecimento, definido por Takeuchi e Nonaka (2008, p. IX) como “o processo de criar continuamente novos conhecimentos, disseminando-os amplamente através da organização e incorporando-os velozmente em novos produtos/serviços, tecnologias e sistemas”. Embora a gestão do conhecimento não seja algo novo, e possa ser identificada em diversos momentos da história, ela nunca foi tão importante para a vantagem competitiva como agora (TERRA e GORDON, 2002). A Gestão do Conhecimento compreende estabelecer processos que permitam que as informações e os conhecimentos que estão na cabeça dos funcionários, nas rotinas e nas práticas do dia a dia transformem-se de conhecimento tácito – aquele que está na cabeça das pessoas e que é difícil de formalizar e, portanto, de repassar para outros – em conhecimento explícito, aquele que “pode ser expresso em palavras, números ou sons, e compartilhado na forma de dados, fórmulas científicas, recursos visuais, fitas e áudio, especificações de produtos ou manuais” (TAKEUCHI e NONAKA, 2008, p. 19). Isso significa que a empresa só passa a ter real conhecimento de um processo no momento em que isso é registrado e disseminado para os funcionários. “O aprendizado de cada colaborador não garante o aprendizado organizacional. Uma organização só é capaz de aprender, quando passa a criar, adquirir, interpretar, transformar e reter conhecimento e modificar, de forma deliberada, seu comportamento para refletir novos conhecimentos e insights.” (SENGE, 1990 apud SANTIAGO JR., 2004, p. 37). O processo de transformar conhecimento tácito em conhecimento explícito envolve quatro etapas: socialização, que compreende compartilhar e criar conhecimento tácito através de experiência direta; externalização, que envolve articular conhecimento tácito através do diálogo e da reflexão; combinação, que é a sistematização e a aplicação do conhecimento e da informação; e, finalmente, internalização, que compreende aprender e adquirir novo conhecimento tácito na prática. Para permitir que esses processos ocorressem, as empresas tiveram que quebrar paradigmas e promover mudanças em suas culturas organizacionais, de forma a permitir a colaboração e a troca de conhecimentos e práticas entre pessoas de diferentes equipes e níveis hierárquicos (ROSSATTO, 2002). Em primeiro lugar, as empresas tiveram que entender e ensinar a seus funcionários que conhecimento é diferente de poder, pois as pessoas resistem 19 em transmitir o que sabem, por acreditar que seus conhecimentos são suas garantias de emprego. Também foi necessário criar relações de confiança mútua, diálogos inteligíveis entre todos, estabelecer locais e tempos definidos para a troca de ideias, aumentar estímulos e incentivos que premiassem a colaboração e a troca de conhecimentos e, o mais importante, quebrar a crença de que conhecimento só é gerado a partir de um determinado nível hierárquico. Todas essas mudanças têm influência direta nas posições e relações sociais dentro das empresas, e são muito difíceis de estabelecer, pois envolvem mudança de modelo e de cultura organizacional. Klaus North (2010, p. 12) chama a atenção para a forma como as empresas eram estruturadas na Era Industrial, modelo que não colaborava para o processo de troca de conhecimento: “As formas de organização multidivisional das grandes empresas se opõem frequentemente a um livre fluxo de conhecimento. Assim é que se argumenta que uma organização dificilmente pode produzir uma eficiente transferência de conhecimentos dentro da lógica de uma organização hierárquica e multidivisional. É fato que junto às estruturas organizacionais se constroem barreiras que levam em conta os valores existentes. Com frequência, os sistemas de avaliação e remuneração orientados individualmente oferecem poucos incentivos para construir e reproduzir de modo coletivo os conhecimentos.” North coloca também que, entre os princípios básicos para que a empresa se transforme em uma organização voltada ao conhecimento está o comprometimento do corpo diretivo, no sentido de estabelecer diretrizes que contribuam para a troca de conhecimentos entre seus funcionários; sistemas estruturados que permitam a troca de informações e a busca pelas corretas fontes de dados para cada assunto; e programas de incentivo que priorizem a colaboração em grupo ao invés da competição individual, e que premiem o êxito das áreas e suas contribuições para o desenvolvimento da empresa. Freitas, Quintanilla e Nogueira (2004, p. XIII) também falam sobre o desafio que envolve a mudança estrutural e cultural das empresas: “Um dos maiores desafios encontrados pelas organizações atualmente é a criação de novas formas de gerenciamento, migrando de uma cultura de gerenciamento descentralizado, com um número excessivo de informações duplicadas e desencontradas, para uma cultura efetiva de Gestão do Conhecimento em um ambiente que permita gerir e propagar os conhecimentos tácitos e explícitos, 20 conjuntamente com as informações globais de economia, mercado, política etc., de modo a garantir o efetivo compartilhamento de informações” Segundo Helena Tonet (2008), autora de um dos estudos de caso que compõem o livro Gestão do Conhecimento no Brasil – Casos, experiências e práticas de empresas privadas, organizado por Maria Terezinha Angeloni, muitas empresas ainda enfrentam dificuldades para gerir suas estratégias de Gestão do Conhecimento, para identificar aquilo que, em meio a toda a massa de informação produzida por seus profissionais, é de fato conhecimento a ser armazenado, disseminado e posto em prática, e para realmente aproveitar seus talentos internos na resolução inteligente dos problemas e desafios empresariais. Ela coloca que as empresas, “(...) mesmo dispondo de fontes internas de conhecimento e inovação, continuam a executar atividades restritas que dificilmente usam os seus talentos, e, mesmo quando isso ocorre, não registram ou repassam a outros o que fazem, guardam para si o saber adquirido ao solucionar os problemas e ao enfrentar os desafios organizacionais, entesouram o conhecimento que possuem.” (TONET, 2008, p. 45). José Renato Sátiro Santiago Jr. (2004, p. 40-42) apresenta os benefícios da gestão do conhecimento, as vantagens que as empresas esperam alcançar e os fatores de sucesso que julga importantes para o estabelecimento de um processo de gestão do conhecimento nas empresas. Entre os benefícios que a gestão do conhecimento pode trazer para a empresa estão a disponibilização de informações acessíveis e bem estruturadas para a tomada de decisão; uma melhor gestão dos clientes, uma vez que as informações mais relevantes estão registradas e compartilhadas; maior facilidade para responder às demandas de mercado; compartilhamento e identificação das melhores práticas; maior desenvolvimento de habilidades dos profissionais, pois as melhores práticas são compartilhadas com todos; além de redução de custos e maior produtividade e lucratividade, como consequência desses fatores. No que diz respeito aos benefícios esperados pela organização ao estabelecer um processo de gestão do conhecimento, Santiago Jr. coloca a abertura de novas oportunidades de negócio; a existência de um processo mais inovador; melhor retenção de especialistas; prestação de serviços mais eficientes ao cliente, e aumento de lucros. 21 Por fim, o autor coloca alguns fatores essenciais para que o processo de gestão do conhecimento seja bem sucedido. Entre eles estão a criação e o registro dos conhecimentos relevantes; o mapeamento das pessoas que possuem os conhecimentos; o processo de disseminação dos conhecimentos entre os funcionários, e os conceitos referentes à sua adequada gestão. Além dos pontos colocados nos parágrafos anteriores, as empresas enfrentam outro obstáculo: o engajamento de seus funcionários. Na Era Industrial, o profissional era acostumado a fortes hierarquias, nas quais as tomadas de decisão eram realizadas somente pela alta gerência, e entendia que informação era poder e que não deveria ser compartilhada, mas usada para propiciar sua ascensão profissional. Pinchot (1996 apud Freitas, Quintanilla e Nogueira, 2004, p. 10) diz que a chave para o engajamento está em gerar ‘comunidades empresariais’ nas quais os funcionários se sintam integrados, seguros e protegidos e, assim, defendam menos seus territórios e mais os interesses da empresa como um todo. Klaus North (2010, p. 71) também fala sobre a questão da concorrência e de como ela interfere na troca de conhecimentos entre profissionais. “Uma concorrência interna disfarçada na empresa impede o compartilhamento das melhores práticas, conduzindo inexoravelmente a que os conhecimentos não se difundam”. Com equipes engajadas e dispostas a trocar conhecimento e melhores práticas, estruturas e ferramentas que propiciem essa troca e sistemas de incentivo adequados, as empresas se destacam estrategicamente, agregando valor a seus produtos ou serviços e garantindo sua permanência duradoura no jogo do mercado. “Conforme Davenport e Prusak (1998), as únicas vantagens competitivas que uma empresa tem são aquilo que ela coletivamente sabe, a eficiência com que ela adquire e usa novos conhecimentos.” (SANTIAGO JR., 2004, p. 32). 22 3 Vantagem competitiva e a Gestão do Conhecimento na era digital A tecnologia da informação existe desde os anos 1960, mas foi somente no início dos anos 1980 que ela se tornou “um fenômeno econômico e cultural” (LÉVY, 2007, p. 12). Grandes redes e comunidades virtuais formaram-se em todo o mundo e, com elas, surgiram “novas estruturas de comunicação, de regulação e de cooperação, linguagens e técnicas intelectuais inéditas, modificação das relações de tempo e espaço etc.” (p. 13). A tecnologia da informação provocou uma forte mudança na forma como as empresas até então conduziam seus negócios e, segundo Porter (1985), afetou a vantagem competitiva de três maneiras: mudou a estrutura industrial e, assim, as regras da competitividade; criou vantagens competitivas ao proporcionar às empresas novas formas de superar seus concorrentes; e gerou novas oportunidades de negócio, muitas vezes a partir de processos operacionais já existentes nas empresas. Para Porter, a tecnologia da informação afetou as empresas como nenhuma outra tecnologia jamais havia afetado. Isso porque as demais evoluções tecnológicas envolviam principalmente mudanças nos componentes físicos das empresas, ou seja, na substituição do esforço humano pela máquina, e não na utilização da máquina como parte do processo de inteligência estratégica da empresa. “A tecnologia da informação está permeando a cadeia de valor em toda a sua extensão, transformando a forma como as atividades são realizadas e a natureza das ligações entre elas. Também está afetando o escopo competitivo e remodelando a forma como os produtos vão de encontro às necessidades dos consumidores. Esses efeitos básicos explicam por que a tecnologia da informação adquiriu significado estratégico e é diferente de tantas outras tecnologias utilizadas nos negócios.” 1 (PORTER, 1985, tradução nossa). A tecnologia da informação trouxe mudanças também para as cinco forças competitivas, definidas por Porter como: rivalidade entre os concorrentes, poder de negociação dos clientes, poder de negociação dos fornecedores, ameaça de entrada de novos concorrentes e ameaça de produtos substitutos. 1 “Information technology is permeating the value chain at every point, transforming the way value activities are performed and the nature of the linkages among them. It also is affecting competitive scope and reshaping the way products meet buyer needs. These basic effects explain why information technology has acquired strategic significance and is different from the many other technologies businesses use.” 23 A tecnologia da informação aumentou o poder dos compradores de matéria-prima a partir da utilização de sistemas que disponibilizam cotações de diferentes fornecedores, por exemplo. Isso permitiu ao comprador comparar a qualidade dos materiais oferecidos com o preço praticado, e tomar a melhor decisão para a empresa. Ao exigir das empresas grandes investimentos em complexos sistemas, a tecnologia da informação em alguns casos aumentou as barreiras de entrada de novas empresas no mercado. Por outro lado, como a automação já não estava mais diretamente conectada a produção em larga escala, isso viabilizou a entrada de novas empresas em certos segmentos da indústria. A tecnologia da informação aumentou também o poder dos fornecedores, pois a troca de um sistema, além de exigir alto investimento em infraestrutura, representa rompimento das atividades realizadas e necessidade de novos treinamentos para os profissionais. Sistemas de manufatura e ferramentas de design flexíveis e automatizadas também influenciaram a ameaça de produtos substitutos, tornando mais fácil, rápida e barata a incorporação de novos recursos em produtos. Reflexo disso é o que vemos hoje em quase todos os segmentos de mercado: produtos são relançados em um curto espaço de tempo, com pequenas evoluções, mas que atraem os consumidores, sempre ávidos por novidades, e diferenciam as empresas de seus concorrentes – até que elas sejam imitadas ou superadas por outra novidade, e o ciclo recomeça. A automação do processamento de pedidos e faturamentos de clientes aumentou muito a rivalidade em indústrias de distribuição. A tecnologia aumentou os custos fixos, mas, ao mesmo tempo, tornou desnecessário o envolvimento de pessoas no processo. Como resultado, essas empresas passaram a lutar muito para aumentar seus volumes de venda. As possibilidades de comunicação e de interligação entre unidades de uma mesma empresa também garantiram vantagem competitiva a quem soube aproveitar as mudanças de forma pioneira. Porter (1985) conta que a Dow Jones, proprietária do Wall Street Journal, foi a primeira empresa a utilizar a tecnologia de transmissão de páginas para conectar suas 17 plantas de impressão espalhadas pelos Estados Unidos, tornando-se pioneira na produção de um jornal verdadeiramente nacional. A Dow Jones também criou o Asian Wall Street Journal e o Wall Street Journal-European Edition, compartilhando boa parte das matérias produzidas em suas unidades em todo o mundo. 24 Por fim, a tecnologia da informação abriu portas para o surgimento de novos negócios, como fábricas de software, produtores e distribuidores de componentes eletrônicos, entre outros. As mudanças foram tantas que, para Porter, era preciso que as empresas parassem para pensar de que forma poderiam tirar vantagem das oportunidades que a ‘revolução da informação’ estava criando. Ele sugeria cinco passos: 1. Avaliar a intensidade da informação: verificar a intensidade da informação existente e o potencial dos produtos e processos de suas unidades de negócio; 2. Determinar o papel da tecnologia da informação na estrutura da empresa: avaliar de que forma a tecnologia da informação poderia afetar cada uma das cinco forças competitivas. Alto investimento na automação de processos, por exemplo, exigiria que a concorrência acompanhasse o processo de evolução; 3. Identificar e ranquear as maneiras que a tecnologia da informação poderia criar vantagem competitiva: avaliar toda a cadeia produtiva e as ligações entre as atividades para identificar como a tecnologia da informação pode criar vantagens competitivas sustentáveis; 4. Investigar como a tecnologia da informação poderia gerar novos negócios: considerar a possibilidade de criar novos negócios a partir de processos já existentes; 5. Desenvolver um plano para tirar vantagem da tecnologia da informação, a partir dos quatro primeiros passos; Porter finaliza seu artigo afirmando que a grande questão não era se a tecnologia da informação ia impactar significativamente a estratégia competitiva de uma empresa, mas quando e como esse impacto se daria. “Empresas que se anteciparem ao poder da tecnologia da informação estarão no controle dos eventos. Já as que não responderem, serão forçadas a aceitar as mudanças que as outras iniciaram, e ficarão em desvantagem competitiva” 2 (PORTER, 1985, tradução nossa). O segundo grande ponto de ruptura foi o surgimento e a incorporação da internet no processo das empresas, que trouxe mudanças para o processo de troca de conhecimentos, para a disseminação de boas práticas, para a colaboração e para a comunicação. Isso porque a 2 Companies that anticipate the power of information technology will be in control of events. Companies that do not respond will be forced to accept changes that others initiate and will find themselves at a competitive disadvantage. 25 internet rompeu barreiras de tempo e distância, possibilitou novas formas de armazenamento, catalogação e de compartilhamento da informação, e gerou economia para as empresas, uma vez superado o investimento em infraestrutura. Segundo Terra e Gordon (2010, p. 22), a internet está entre os maiores avanços na capacidade humana de se comunicar, junto com a invenção da escrita, a prensa de Gutenberg, a habilidade de circunavegar o globo, o telégrafo e o telefone. Eles colocam que, com a internet, “a comunicação de um-para-muitos e muitospara-muitos alcançou níveis jamais atingidos ou previstos anteriormente”. Para Pierre Lévy (2007, p. 15), o advento da internet significa grande mudança e a possibilidade de retomada do controle por parte da sociedade. Segundo sua teoria, poderíamos utilizar a máquina a nosso favor, nos organizando em grandes ‘coletivos inteligentes’ para, assim, encontrarmos soluções para os complexos problemas que vivemos. “(...) se nos engajássemos na via da inteligência coletiva, progressivamente inventaríamos as técnicas, os sistemas de signos, as formas de organização social e de regulação que nos permitiriam pensar em conjunto, concentrar nossas forças intelectuais e espirituais, multiplicar nossas imaginações e experiências, negociar em tempo real e em todas as escalas as soluções práticas aos complexos problemas que estão diante de nós.” Talvez não da forma como esperava Lévy, mas a sociedade vem utilizando a máquina para facilitar a comunicação, os processos e o compartilhamento de conhecimento. Para refletirmos um pouco, basta escolhermos um exemplo e pensarmos como seu processo ocorria antes da internet e como ocorre agora. O planejamento de uma viagem de férias ao exterior foi o exemplo que escolhemos, mas isso poderia ser feito com inúmeros processos. Antes da internet, o turista tinha duas opções: a primeira era procurar uma agência de turismo e adquirir um pacote completo, com passagens aéreas, hotéis, city tours e o que mais ele quisesse fazer durante sua estada na cidade ou no país escolhido; a segunda era comprar somente as passagens áreas (via agência de turismo ou diretamente com a companhia) e seguir para o país esperando resolver tudo por lá, no momento da chegada – seja sozinho ou com a ajuda de dicas coletadas com amigos que já tivessem feito o mesmo roteiro. A partir da internet tudo isso mudou. Embora ainda seja possível adquirir um roteiro completo com agências de viagem, o turista tem a possibilidade de, por meio da internet, planejar toda a sua viagem. Ele pode começar comprando passagens em sites como o Decolar.com (http://www.decolar.com), que, em poucos cliques, traz para o consumidor uma 26 lista de passagens de diversas companhias aéreas, permitindo ordenar por preço, companhia, número de escalas etc. Em seguida, ele poderá escolher um hotel entre as inúmeras opções disponíveis no site Booking.com (http://www.booking.com), onde também encontrará filtros por preço, qualidade e recomendação, e até comentários positivos e negativos de outras pessoas que se já hospedaram nos hotéis. Roteiros sugeridos e dicas de todos os lugares do mundo também não faltam na internet. E, se a curiosidade for grande, o turista ainda poderá fazer um tour virtual pelo destino escolhido por meio do Google Street View, uma funcionalidade oferecida pelo Google Maps (http://maps.google.com.br/). Para empresas, em especial as de maior porte, a internet significou uma maior aproximação entre as diferentes unidades; redução de gastos com telefonia, uma vez que hoje existem outras formas de comunicação como os chats, o Skype e mesmo o correio eletrônico; e mais agilidade na transmissão e disseminação de informações importantes para toda a empresa. Klaus North (2010, p. 2) fala sobre essa questão quando diz que: “o desenvolvimento das tecnologias de informação dos últimos anos oferece a possibilidade de armazenar grandes quantidades de informação a baixo custo, ao mesmo tempo em que permite trabalhar interativamente em curtas ou longas distâncias”. E completa: “Os bancos de dados e a internet estão à disposição para um acesso atualizado, completo e integrado a informações relevantes, acima das barreiras das unidades comerciais e das unidades funcionais.” (p. 27) Empresas com processos mais maduros de gestão do conhecimento viram na internet a oportunidade de melhorar ainda mais seus processos e a troca de conhecimentos entre funcionários, e construíram o que autores como Terra e Gordon chamam de Portais de Conhecimento Corporativo. Esses portais são plataformas tecnológicas que, mais do que oferecer acesso a informações estruturadas e não estruturadas, personalizam o acesso à informação, automatizam e aperfeiçoam os ciclos complexos de decisão dos trabalhadores de conhecimento, e podem criar níveis mais profundos de colaboração entre os funcionários (TERRA e GORDON, 2002, p. XVII- XVIII). Nem todas as empresas, no entanto, possuem processos maduros o suficiente para ferramentas tão completas e complexas. Afinal, para manter um Portal de Conhecimento Corporativo não basta simplesmente estruturá-lo, é preciso que haja um processo de governança instaurado e que se ocupe de sua evolução e permanente atualização, e, o mais 27 importante, é preciso que o portal seja utilizado como ferramenta diária de trabalho por grande parte dos funcionários. Do contrário, o investimento e o esforço envolvidos não se justificam, e a ferramenta não trará os resultados esperados para a empresa. Beatrice Maria Carola Gropp e Maria das Graças Pinto Tavares (2007, p. 110) falam sobre a importância do engajamento das pessoas para que ferramentas de gestão em ambiente digital deem certo: “compartilhar publicamente um espaço virtual – o site ou endereço em que se localiza a comunidade – não é suficiente para criar a comunidade de prática, embora isso constitua uma base necessária”. E completam: “É gente trabalhando junto, isto é, pessoas em interações sociais significativas que geram o aprendizado, o conhecimento e a criatividade. E isto produz o conhecimento estratégico, que faz a diferença no mercado, impulsionando a competitividade e a economia” (p. 23). No capítulo sobre os estudos de caso, analisaremos a experiência de uma empresa que implantou um portal do conhecimento e que, embora tenha envolvido um projeto bem estruturado, e surgido a partir de uma transformação muito maior na gestão da empresa como um todo, não evoluiu como o esperado e hoje caiu em desuso. Não estar com processos maduros o suficiente para implantar um Portal de Conhecimento Corporativo não significa não poder utilizar ferramentas digitais para iniciativas mais pontuais de compartilhamento, discussão e disseminação do conhecimento, de colaboração e de comunicação. “O comportamento e a disseminação de conhecimento estão fundamentados em duas colunas básicas: as pessoas e a tecnologia. As pessoas são a fonte do conhecimento, que adquirem por meio da aprendizagem, e que, transferindo para as organizações, provocam mudanças e produzem a aprendizagem organizacional. (...) A tecnologia é, hoje, um recurso indispensável às organizações, que permite acelerar tempos, prover condições de execução, viabilizar projetos. (...) A tecnologia está para a informação, assim como a pessoa está para a aprendizagem.” (TONET, 2008, p.4748). 28 4 Portais Corporativos Em especial em empresas de maior porte, a comunicação diária face-a-face e a reunião de profissionais em um mesmo ambiente de trabalho são realidades bastante intangíveis, pois existem limitações no que diz respeito à distância e ao tempo, e isso, muitas vezes, dificulta a comunicação, a colaboração e a troca de experiências e de boas práticas. Soma-se a isso o fato de estarmos vivendo em um tempo em que a informação jamais foi tão abundante e fácil de acessar, mas que o desafio está em encontrar formas de separar aquilo que pode ser aproveitado para gerar valor para as empresas e para as pessoas, e aquilo que pode ser descartado. Segundo Pierre Lévy (2007, p. 25): “A quantidade de mensagens em circulação jamais foi tão grande, mas dispomos de um número muito reduzido de instrumentos para filtrar a informação pertinente, para efetuar comparações segundo significações e necessidades que continuam sendo subjetivas, para nos orientar no fluxo informacional.” Como abordado no primeiro capítulo, Lévy (2007, p. 25) defende a constituição de ‘coletivos inteligentes’ a partir da utilização da máquina a favor do homem, e também a criação de ‘Espaços do Saber’, onde as pessoas poderiam: “dotar-se dos instrumentos institucionais, técnicos e conceituais para tornar a informação “navegável”, para que cada um possa orientar-se e reconhecer os outros em função dos interesses, competências, projetos, meios, identidades recíprocos no novo espaço.” Lévy (2007, p. 62) não estava se referindo a empresas diretamente, mas sua descrição de ‘Espaço do Saber’ casa com as características de um portal corporativo, que pode um dia vir a ser um portal do conhecimento. E completa: “O uso socialmente mais rico da informática comunicacional consiste, sem dúvida, em fornecer aos grupos humanos os meios de reunir suas forças mentais para constituir coletivos inteligentes e dar vida a uma democracia em tempo real”. 29 Freitas, Quintanilla e Nogueira (2004, p. 14) colocam que, uma forma de dar início ao processo de mudança de cultura de uma empresa, com foco na comunicação, na colaboração, no compartilhamento e na gestão do conhecimento e das boas práticas, é construir um portal corporativo estruturado e que atenda as necessidades dos funcionários. Em princípio, ele pode ser apenas uma fonte de informações (notícias, políticas, códigos de ética etc.) e serviços (lista de ramais, agendamento de reuniões e férias entre outros), mas, aos poucos, a partir da adoção em massa da ferramenta, ele poderá ir ganhando complexidade e maturidade a ponto de tornar-se uma ferramenta de trabalho diária e essencial para toda a empresa, e, mais, uma fonte de criação, gestão e troca de conhecimento. “Os portais corporativos [...] são extremamente eficientes e facilitadores neste processo de mudança para a Gestão do Conhecimento, pois provêm uma plataforma para suporte à comunicação, compartilhamento de informação e troca de conhecimento entre colaboradores, sendo também um vínculo para a transformação do conhecimento tácito em explícito.” (Freitas, Quintanilla e Nogueira, 2004, p. 14). A implantação de um portal corporativo envolve alguns desafios. O primeiro deles é obter o comprometimento da alta gerência da empresa no que diz respeito à sua idealização, implantação, manutenção e evolução contínua. Como o projeto exigirá um alto investimento, é necessário que sejam apresentados os objetivos estratégicos, os benefícios esperados, os indicadores que serão utilizados para medir os resultados e o plano de evolução contínua. Um material consistente facilitará a venda do projeto para a alta gerência. O segundo desafio consiste em construir uma governança corporativa para o portal, em que se estabeleçam papéis e responsabilidades claras. Isso evitará que a empresa corra o risco de investir em algo que não será levado adiante por falta de pessoas que cuidem de sua evolução e disseminação. Outro grande desafio, já mencionado no capítulo sobre gestão do conhecimento, está na mudança de cultura pela qual a empresa deverá passar, transformando seus processos e a forma como determinadas atividades são realizadas. E essa mudança deverá ser seguida por todos, do estagiário ao presidente. “Uma intranet pode ser considerada bem sucedida se revolucionar a cultura de uma organização, e a forma de comunicação entre seus funcionários.” (Freitas, Quintanilla e Nogueira, 2004, p. 20). 30 Já os benefícios de um portal corporativo, segundo Terra e Gordon (2002, p. 142-144) são: redução ou até eliminação de publicações impressas; redução na duplicidade de dados e no tempo gasto na busca por informações, já que se pode adotar o portal como fonte única de dados; redução de custos com serviços administrativos; redução no tempo gasto com atividades de baixo valor intelectual; redução de troca de e-mails e de circulação de documentos via e-mail; redução de custos com viagens; retenção de conhecimento (capital intelectual); melhoria na comunicação; integração mais fácil em caso de aquisições ou fusões etc. Nos parágrafos que se seguem, descreveremos um processo macro de construção de um portal corporativo, elaborado com base na literatura estudada. E, mais adiante, no capítulo Estudo de Casos, analisaremos desafios, benefícios e processos reais, para entender se o que é colocado pela literatura reflete a realidade. A etapa inicial de construção de um portal corporativo envolve a escolha da plataforma tecnológica a ser utilizada, que deve estar de acordo com as diretrizes de tecnologia da empresa, caso existam, ou devem ser definidas junto com a área de Tecnologia da Informação, levando em consideração características como credibilidade do fornecedor, aderência às necessidades da empresa, custo de aquisição (incluindo licenças), custo de manutenção e possibilidade de interconexão com outros sistemas já existentes na empresa (SAP, por exemplo). O segundo passo, e que constitui a base para a construção de um portal corporativo bem estruturado, é o planejamento. Embora possa começar pequeno, o portal deve ser pensado de forma a facilitar sua expansão. A equipe responsável pelo projeto deve refletir sobre usuários e melhorias futuras, usos possíveis e evoluções de tecnologia. A dica dada por Freitas, Quintanilla e Nogueira é: pense grande, inicie pequeno e escale rapidamente. Consultas aos futuros usuários também faz parte do processo de planejamento de um portal. Conversas com pessoas de diferentes áreas e níveis hierárquicos ajudam a identificar os processos de trabalho, as dificuldades enfrentadas, as necessidades e as melhorias que poderiam tornar as atividades diárias mais fáceis. Com essas informações em mãos, será possível elencar todos os pontos e desenhar uma matriz de priorização que leve em consideração a importância do processo para a empresa e o custo e a complexidade de implementação. 31 Colocamos aqui dois modelos de matriz de priorização que podem ser utilizados para a realização dessa etapa. O primeiro modelo (figura 2) consiste em um gráfico de esforço x relevância, divido em quatro quadrantes. Quanto mais perto do eixo zero, menor a relevância e o esforço, e quanto mais longe do eixo zero, maior a relevância e o esforço. Assim, é possível classificar os itens mapeados de quatro formas: grande relevância e pouco esforço (quadrante 1), grande relevância e grande esforço (quadrante 2), pouca relevância e pouco esforço (quadrante 3) e pouca relevância e grande esforço (quadrante 4). O segundo modelo (figura 3) permite que sejam dadas notas para cada item mapeado levando em consideração aspectos como público-alvo, relevância para o negócio e viabilidade técnica. A análise da média de cada item indicará sua importância e a ordem de priorização. Figura 2 – Matriz de priorização – modelo 01 Fonte: Agência Nuova Comunicação 32 Figura 3 – Matriz de priorização – modelo 02 Fonte: Agência Nuova Comunicação Definidas as prioridades, o passo seguinte envolve o desenho da estrutura (mapa hierárquico do Portal – figura 4) e da arquitetura da informação (protótipo – figura 5). O protótipo funciona como a planta baixa de uma casa e traz a estrutura do portal, a distribuição das informações nas páginas e as funcionalidades que estão previstas. Por ser navegável, o protótipo permite que a equipe do projeto simule experiências reais de utilização e avalie se o planejado está de acordo com o que a empresa espera para este primeiro momento, antes que se gaste tempo e recurso no desenvolvimento da ferramenta. Figura 4 – Mapa hierárquico Fonte: Agência Nuova Comunicação 33 Figura 5 – Protótipo Fonte: Agência Nuova Comunicação A estrutura, as nomenclaturas das páginas e a taxonomia (classificação das informações) devem ser intuitivas ou estar de acordo com o que os usuários costumam utilizar em outros processos, pois isso facilitará a identificação e a adoção da ferramenta. “Simplicidade de uso é fundamental para o sucesso” (FREITAS, QUINTANILLA E NOGUEIRA, 2004, p. 41). 34 Para os passos seguintes, de criação da identidade visual e de desenvolvimento (programação) do portal corporativo, é usual que as empresas contratem um fornecedor, por não possuir mão-de-obra especializada para a realização do trabalho. Essa contratação também pode ser feita desde a fase de planejamento. A produção dos conteúdos iniciais pode ser realizada de três formas: pela própria equipe de comunicação envolvida no projeto; por um fornecedor contratado, a partir de entrevistas com as áreas ou de subsídios fornecidos pela empresa; ou pelas próprias áreas. Caso a empresa opte por internalizar a produção, devem-se estabelecer padrões mínimos e um cronograma de entrega, para que essa etapa não atrase o projeto como um todo. O momento do lançamento do portal corporativo, segundo Freitas, Quintanilla e Nogueira (2004, p. 42), deve ser aproveitado para comunicar aos funcionários os benefícios da nova ferramenta e para que os usuários-chave sejam treinados para sua utilização. Os processos de manutenção e de evolução de um portal corporativo têm início logo após o lançamento, quando a aceitação e a utilização começam a ser monitorados. Os feedbacks podem ser coletados por meio de pesquisas estruturadas, enquetes realizadas no próprio portal ou até mesmo em conversas informais. Já a utilização, que compreende a análise de dados como número de visitas, páginas mais visitadas, páginas de destino e de saída, palavras mais buscadas etc., pode ser medida por meio de relatórios analíticos disponibilizados pela própria plataforma tecnológica, caso existam, ou por ferramentas como o Google Analytics (http:// http://www.google.com/analytics/) – e, para isso, é preciso instalar um script (código) em todas as páginas do portal. A partir de um ambiente bem estruturado e utilizado de forma massiva pelos funcionários, a empresa poderá começar um movimento de migração de alguns processos, controles e repositórios de documentos para dentro da intranet. Também poderá, aos poucos, agregar ferramentas de personalização e colaboração, que permitam aos funcionários conhecer melhor as competências de seus colegas de trabalho, trocar experiências e boas práticas. “Os Portais Corporativos, através de características já apresentadas como customização e personalização, agregam informações relevantes para diferentes empregados com diferentes funções, permitindo melhor produtividade e mostram-se como uma solução menos dispendiosa e mais eficaz que outros métodos de 35 compartilhamento de informações como documentos em papéis, reuniões e sessão de treinamento” (FREITAS, QUINTANILLA e NOGUEIRA, 2004, p. 48-49). Para que um portal possa evoluir, segundo Terra e Gordon (2002, p. 44), o mais importante é o engajamento dos funcionários, pois sem as pessoas gerando valor a partir do conhecimento que é compartilhado, a empresa não alcançará os resultados esperados: “Apesar da importância crescente de sistemas de informação – como depósitos de conhecimento de uma organização – são basicamente as pessoas que, por meio de colaboração eficaz, criam, aprendem, retêm e transmitem o conhecimento mais relevante ao sucesso de uma empresa.” 36 5 Metodologia Para a elaboração desta monografia, que segue o modelo hipotético indutivo, foi utilizada extensa pesquisa bibliográfica, dados coletados em entrevistas com empresas que adotam portais corporativos como parte de suas estratégias de negócio, além de informações de projetos realizados por uma empresa de consultoria nos últimos seis anos. A partir da fundamentação teórica apresentada nos capítulos anteriores, pretende-se comparar teoria e prática para entender se o que é colocado pelos autores estudados se concretiza em projetos reais. E se o objeto de pesquisa no qual se apoia esta monografia tem embasamento, ou seja, se as empresas devem adotar portais corporativos como um caminho para fomentar a comunicação, a colaboração e a gestão do conhecimento. 5. 1. Escolha das empresas A escolha das empresas estudadas passou pelos seguintes critérios: existência de um portal corporativo, objetivos estratégicos da empresa frente ao portal corporativo, nível de maturidade da ferramenta e viabilidade de acesso aos dados da empresa e à equipe envolvida no projeto. Optou-se por analisar empresas em três níveis diferentes de maturidade: um portal corporativo com foco em informações e serviços, ainda não utilizado de forma ampla como ferramenta de trabalho; um portal corporativo amplamente utilizado como ferramenta de trabalho e de gestão da informação, mas ainda não maduro o suficiente para gerar conhecimento e valor para a empresa; e um portal corporativo mais maduro e largamente utilizado como ferramenta de gestão do conhecimento e de geração de valor. A primeira empresa estudada foi a Fibria, empresa de grande porte do setor de celulose, que nasceu a partir da fusão entre a Votorantim Celulose e Papel e a Aracruz. A Fibria se torna um caso interessante a ser estudado, pois seu portal corporativo foi planejado a partir do resultado de entrevistas feitas com a participação de cerca de 30 funcionários das mais diversas unidades e cargos. A ideia é analisar seu processo de planejamento, sua estrutura atual e o que a empresa espera em termos de evolução. 37 O segundo caso estudado diz respeito à holding Votorantim Industrial, que possui em seu portal corporativo uma área de Sustentabilidade na qual as unidades reúnem indicadores que servem de base para as tomadas de decisão relativas ao planejamento estratégico das empresas do Grupo Votorantim. E, por fim, estudamos o caso da Raízen e seu Portal de Inteligência de Suprimentos, ferramenta de gestão de conhecimento que, além de ajudar a empresa a transferir conhecimento da cabeça dos funcionários para uma plataforma de compartilhamento, permite que as equipes de compras tomem decisões estratégicas com base em análises reais e estruturadas. 5.2 Coleta e análise dos dados Os estudos de caso foram qualitativos, realizados com base em questionário semiestruturado e seguindo o modelo hipotético indutivo. Não foi realizado um comparativo direto por se tratar de empresas com níveis de maturidade diferentes. O questionário utilizado como base é apresentado a seguir. 1. Porque a empresa optou por investir em um portal corporativo? 2. Como foi o processo de planejamento desse portal corporativo? Houve imersão? Se sim, ela contemplou entrevistas apenas com a equipe envolvida diretamente no projeto ou também outros funcionários da empresa? 3. Quais foram as principais dificuldades enfrentadas durante a implementação do portal corporativo? 4. Depois de implementado o portal corporativo, houve alguma mudança de cultura empresarial ou na forma como as atividades são realizadas no dia a dia? 5. O portal corporativo poderia ser considerado uma fonte de conhecimento? Por quê? (se não, dizer de que forma isso poderia se tornar uma realidade) 6. E uma ferramenta de gestão de conhecimento? Por quê? (se não, dizer de que forma isso poderia se tornar uma realidade) 38 7. O portal corporativo contribui para a colaboração, comunicação e troca de experiências entre os funcionários? De que forma? (se não, dizer de que forma isso poderia se tornar uma realidade) 8. O portal corporativo auxilia a empresa no processo de comunicação? De que forma? (se não, dizer de que forma isso poderia se tornar uma realidade) 9. O portal corporativo é importante para as tomadas de decisão diárias da empresa? Em que sentido? (se não, dizer de que forma isso poderia se tornar uma realidade) 10. O portal corporativo facilita a realização das atividades diárias dos funcionários ou ao menos de um grupo específico? De que forma? (se não, dizer de que forma isso poderia se tornar uma realidade) 11. Exemplifique alguns processos e/ou serviços que hoje ocorrem por meio do portal corporativo, mas que antes eram feitos de forma presencial ou via troca de mensagens por email. 12. O portal corporativo que a empresa tem hoje reflete as necessidades dos funcionários? Se não, em que poderia melhorar? Se sim, quais são os principais pontos que fazem com que essa necessidade seja atendida? 13. Quais os principais pontos fortes do portal corporativo que a empresa mantém hoje? 14. Quais os principais pontos fracos? 15. A empresa já levantou ou monitora algum tipo de indicador relativo ao portal corporativo (ex.: taxa de adesão, taxa de satisfação, relatórios de acesso etc.)? Se sim, quais? E qual o cenário atual? 16. A empresa pretende promover evoluções em seu portal corporativo, apostando em uma ferramenta digital como forma de unificação, comunicação e compartilhamento de conhecimento? Na Fibria a entrevista foi realizada com a coordenadora de comunicação Nanci Contarini, principal responsável pela condução do projeto de planejamento e desenvolvimento da intranet. No Grupo Votorantim foram realizadas duas entrevistas, uma com foco no portal corporativo de modo geral e outra com foco específico na área de Sustentabilidade. A 39 primeira entrevista foi feita com a Gerente de Comunicação Interna, Alessandra Tucci, e a segunda com o Gerente Geral de Sustentabilidade, David Canassa. Na Raízen, escolhemos entrevistar Gilberto Maluf, coordenador de Inteligência em Suprimentos na época do projeto. Embora tenha recentemente se desligado da Raízen, Maluf liderou o projeto do Portal de Inteligência de Suprimentos desde o início e tinha muito a contribuir para a análise de caso. 40 6 Estudos de Caso 6.1. Fibria Criada em 2009 a partir da fusão da Votorantim Celulose e Papel (VCP) e da Aracruz, a Fibria nasceu com o desafio de lidar com funcionários com culturas organizacionais diferentes e de, ao mesmo tempo, conseguir construir sua própria cultura organizacional. Logo após sua criação, a Fibria realizou um trabalho provisório de alteração de alguns aspectos da intranet da antiga VCP para satisfazer necessidades dos funcionários vindos da Aracruz. Em paralelo, contratou um trabalho de consultoria em planejamento estratégico para desenhar, junto com seus funcionários, o que seria a nova intranet da Fibria. O trabalho de imersão, realizado por uma consultoria contratada pela empresa, durou cerca de dois meses e contou com mais de 30 entrevistas com funcionários de diferentes unidades e de todos os níveis hierárquicos para entender as necessidades e expectativas a respeito da nova intranet. A partir da análise das informações coletadas, a empresa de consultoria elaborou um diagnóstico com todas as funcionalidades mapeadas ao longo das entrevistas, organizando-as de acordo com suas complexidades técnica, econômica e cultural. O levantamento mostrou que, entre os maiores desejos dos funcionários, estava uma maior personalização da intranet, com edição de perfil e informações personalizadas e filtradas de acordo com a unidade em que o funcionário atua. O diagnóstico com as ações e o plano de priorização foi fundamental para a tomada de decisão da empresa, que pode decidir o que seria implementado neste primeiro momento e o que ficaria para uma futura etapa de evolução, concretizando o uso de matrizes de priorização como parte do processo de planejamento. Depois de ser analisado e aprovado pela diretoria da empresa, o projeto passou pelo processo de desenho da estrutura hierárquica e do protótipo navegável. Neste momento também foram definidas as nomenclaturas e a taxonomia. Em seguida, foi criada a identidade visual, com base no território da marca, e realizado o desenvolvimento e a implementação em tecnologia Microsoft SharePoint 2007. 41 Uma das principais características do ambiente Fibria Net, como é chamado o portal corporativo da Fibria, é a personalização das informações. Por estar integrada diretamente ao módulo SAP em que a empresa controla os dados dos funcionários, a Fibria Net sempre traz informações atualizadas no que diz respeito ao nome, e-mail, telefone, unidade de atuação e data de nascimento. E essas informações são utilizadas em uma série de funcionalidades do portal. Um primeiro exemplo de personalização é a exibição das informações de acordo com a unidade em que o funcionário trabalha. Ao acessar o portal (figura 6), ele visualiza primeiro as notícias, comunicados, vagas, cardápio, ramais, aniversariantes e classificados referentes à sua unidade, embora ele tenha a liberdade de fazer filtros para ver informações de qualquer outra unidade da empresa. Não há restrição, apenas priorização. 42 Figura 6 – Homepage da Fibria Net Fonte: Agência Nuova Comunicação Cada funcionário tem o seu perfil dentro da Fibria Net (figura 7), onde são exibidas as informações vindas do SAP. Também é possível personalizar esta área acrescentando uma foto e preenchendo informações sobre o perfil profissional e as atividades de interesse. 43 Figura 7 – Página de Perfil do usuário Fonte: Agência Nuova Comunicação O portal também possibilita rápido acesso aos demais sistemas da empresa (figura 8) e permite que o funcionário selecione até seis sistemas como favoritos. Esses passam a ser exibidos na home (figura 9), facilitando ainda mais o acesso. O funcionário também pode selecionar como favoritas as páginas que ele mais acessa na Fibria Net, criando um atalho na home para o que é mais importante para a realização de suas tarefas diárias. 44 Figura 8 – Página de sistemas da Fibria Fonte: Agência Nuova Comunicação 45 Figura 9 – Detalhe homepage – Sistemas e páginas favoritas Fonte: Agência Nuova Comunicação A Fibria Net também possui um modelo estruturado de espaço de trabalho (figura 10), que permite que qualquer área da empresa crie a sua página e passe a trocar informações sobre qualquer assunto de interesse da empresa. O acesso ao espaço de trabalho pode ser restrito a um determinado grupo de funcionários, independente da unidade ou da área de atuação. 46 Figura 10 – Exemplo espaço de trabalho Fonte: Agência Nuova Comunicação 47 A Fibria Net foi lançada em setembro de 2011 e os primeiros resultados do projeto foram coletados em uma pesquisa de avaliação dos veículos de comunicação da empresa, realizada quatro meses depois. A partir de uma amostragem de 538 funcionários de todas as unidades, a pesquisa revelou que 55% utilizam a intranet como principal fonte de informação (em segundo lugar ficou o e-mail, com 14%) e que 80% consideram o veículo ótimo ou bom (41% ótimo e 39% bom). 60% 55% 50% 40% 30% 20% 10% 14% 9% 4% 4% 3% 2% 2% 1% 1% 1% 1% 1% 0% Principal fonte de informação Gráfico 1 – Pesquisa veículos de comunicação da Fibria – Principal fonte de informação Fonte: Fibria 1% 1% 48 45% 41% 40% 39% 35% 30% 25% 20% 14% 15% 10% 4% 5% 1% 1% Ruim Não respondeu 0% Ótimo Bom Sem acesso Regular Avaliação geral Gráfico 2 – Pesquisa veículos de comunicação da Fibria – Avaliação Geral da intranet Fonte: Fibria Os ganhos iniciais para a organização passam por uma maior organização das informações da empresa, pela consolidação de um canal que inspira confiança em seus funcionários e por uma maior satisfação de seus funcionários pelo fato de terem sido ouvidos e contemplados em seus desejos. Aos poucos, a empresa também começa a utilizar o portal como ferramenta de trabalho, mantendo informações compartilhadas em um único local e reduzindo duplicidade de informações, troca de e-mails com anexo, entre outras coisas. Entre os maiores desafios da Fibria no que diz respeito à sua intranet está o engajamento dos funcionários. Embora a atual intranet tenha maior aceitação e venha ganhando espaço na empresa, o número de funcionários que utiliza o canal ainda é considerado baixo pela equipe de comunicação. Na fase de planejamento e desenvolvimento, o maior desafio foi a integração com o SAP e o saneamento dos dados lá cadastrados. Até hoje a empresa está passando por algumas reestruturações para que a integração com a intranet se estabilize. A análise do caso da Fibria mostra que os processos de planejamento, desenvolvimento e governança são importantes, mas representam apenas o primeiro passo rumo à utilização do portal como ferramenta de gestão de conhecimento. Para evoluir, a 49 Fibria precisa conseguir engajar melhor os funcionários, criar uma cultura interna de utilização da intranet como ferramenta de trabalho e, aos poucos, ir migrando processos e dados relevantes para a estratégia de negócio para dentro da intranet. 6.2 Holding Votorantim Industrial Maior conglomerado da América Latina, o Grupo Votorantim concentra operações em setores de cimento, mineração e metalurgia (alumínio, níquel e zinco), siderurgia, celulose, suco concentrado de laranja e autogeração de energia. No mercado financeiro, atua por intermédio da Votorantim Finanças, e, em Novos Negócios, com um fundo de Venture Capital e Privaty Equity. Com 94 anos de história, o Grupo hoje atua em 20 países e possui unidades em mais de 270 municípios do Brasil. A holding Votorantim Industrial é responsável pela condução estratégica da atividade industrial, com foco no portfólio de produtos, nas iniciativas e nos projetos industriais da organização. Embora não cuide diretamente de cada negócio do Grupo, pois as unidades têm suas próprias estruturas executivas, a holding mantém uma ligação entre os negócios no que diz respeito às estratégias, às atividades administrativas compartilhadas e à comunicação. 6.2.1 Portal do Conhecimento Votorantim Como apontado no capítulo sobre a gestão do conhecimento e a vantagem competitiva na era digital, antes de analisarmos o portal corporativo da holding Votorantim Industrial, objeto principal deste caso, traremos a experiência do Grupo Votorantim, que, em 2005, criou o “Portal do Conhecimento Votorantim” (figura 11). Para isso, utilizaremos trechos do caso escrito por Felipe Cassapo, funcionário do Grupo à época e um dos principais responsáveis pelo projeto. Este caso faz parte do livro Gestão do Conhecimento no Brasil – Casos, experiências e práticas de empresas privadas, organizado por Maria Terezinha Angeloni. O processo do Grupo Votorantim teve início com a criação do Sistema de Gestão Votorantim (SGV), em 2002. 50 “Aplicado ao conjunto dos Negócios da Votorantim, o sistema foi construído como uma iniciativa de catalização de sinergias e redes de conhecimento que podiam já naturalmente existir nos principais processos da empresa. Seu principal objetivo foi, portanto, integrar os negócios por meio da captação de sinergias e da troca de melhores práticas entre eles. Concretamente falando, o SGV representou a criação de mais de 20 equipes matriciais chamadas “Equipes Temáticas”, empoderadas e desafiadas para compartilhar experiências, realizar benchmarkings internos e externos, e institucionalizar práticas e habilidades de classe mundial nos processos da empresa.” (CASSAPO, 2010, p. 143, grifos do autor). Sobre os primeiros resultados após a criação do SGV, Cassapo coloca: “Os resultados obtidos por meio dessa sinalização, na estrutura da Gestão, da vontade de unir as experiências por meio de redes dinâmicas de colaboração que já trouxeram e continuam trazendo, resultados qualitativos e quantitativos muito positivos para a Votorantim. Uma das maiores aprendizagens da iniciativa do SGV, em termos de Gestão do Conhecimento, é a importância em uma organização de concretizar seu modelo de Governança por meio de iniciativas de gestão que incentivam diretamente a troca de experiências entre as mais diversas populações de uma empresa.” (p. 143). Para estudar e institucionalizar práticas de gestão do conhecimento no Grupo Votorantim, em 2005 foi criada a Equipe Temática de Gestão do Conhecimento, dentro do contexto do SGV. A iniciativa tinha como missão: “Ser agente de conceituação, implementação e sustentação dos processos, das práticas e das ferramentas de Gestão do Conhecimento, estimulando as mudanças culturais necessárias” (p. 150). A primeira ação da Equipe Temática foi realizar um estudo interno e externo a respeito da conceituação da Gestão do Conhecimento e da identificação das boas práticas. “A Gestão do Conhecimento foi, dessa forma, definida como um conjunto de processos visando fomentar a criação, a disponibilização, a localização, a internalização, o compartilhamento, a retenção, a proteção e a utilização prática, das idéias, das experiências e dos saber-fazer estratégicos da organização, de forma a potencializar o desenvolvimento dos colaboradores e do Grupo, melhorar o processo de tomada de decisão e a gerar valor e aumentar a competitividade dos negócios.” (p. 150) O segundo passo foi a criação de um Manual de Práticas Votorantim de Gestão do Conhecimento que, ao ser concretizado, deu início à criação do Portal do Conhecimento Votorantim. O ambiente visava “favorecer a criação de fluxos dinâmicos e instantâneos de informação, como meios de fomentar a emergência operacional das redes de conhecimento” (p. 150). Felipe Cassapo desligou-se do Grupo Votorantim em 2007, e o Portal do Conhecimento ficou sem um responsável direto e foi aos poucos perdendo força, até cair em desuso. 51 Figura 11 – Homepage Portal do Conhecimento Votorantim Fonte: Grupo Votorantim 6.2.2 Portal Votorantim O Portal Votorantim, como é chamado o ambiente digital da holding, teve sua primeira versão lançada em 2003, mas focaremos aqui na versão mais recente, lançada em outubro de 2009. As informações contidas neste estudo de caso foram coletadas em entrevistas realizadas com os gerentes de comunicação interna e de sustentabilidade da holding especificamente para esta monografia. Ao contrário da Fibria, o planejamento do Portal Votorantim não envolveu entrevistas com funcionários da empresa. O processo foi conduzido somente pela equipe da Gerência de Marca e Comunicação Corporativa, e teve como grande motivador o lançamento da nova marca do Grupo. Com a ajuda de uma consultoria contratada, a estrutura do portal foi desenhada, levando em consideração o que já existia e o que precisava ser incorporado e mais bem estruturado. 52 O não envolvimento dos funcionários nos processos de planejamento e de construção do portal corporativo da holding pode explicar a dificuldade de adoção da ferramenta como fonte diária de informação atualizada e de acesso a materiais importantes para o Grupo, questão monitorada até hoje pela equipe de comunicação interna. Além da mudança de estrutura, o portal ganhou nova identidade visual, criada com base no território da nova marca, e foi desenvolvido em tecnologia Microsoft SharePoint 2007, plataforma definida pelo Grupo como base para todos os ambientes digitais externos e internos. Com foco muito mais informativo do que de ferramenta de trabalho, o Portal Votorantim é a fonte para muitos documentos oficias da empresa como políticas, código de conduta, relatórios anuais, apresentações e vídeos institucionais e arquivos de marca. Também é por meio do Portal que a empresa se comunica com os funcionários no dia a dia, embora ainda existam algumas iniciativas impressas (jornal e mural, por exemplo) e outras disseminadas por e-mail (Informativo Já, para comunicados mais urgentes). Em termos de gestão da informação, o Portal Votorantim possui algo interessante, que é a lista de Presença Internacional (figuras 12 e 13). A partir de uma base de dados única, alimentada por todas as unidades de negócio, as informações são exibidas em cinco ambientes digitais diferentes – portal Votorantim, site institucional do Grupo Votorantim, portal e site Votorantim Siderurgia e portal Votorantim Cimentos. Figura 12 – Base de dados Presença Internacional Fonte: Portal Votorantim 53 Figura 13 – Funcionalidade Presença Internacional do site Votorantim Fonte: Site Votorantim No Portal Votorantim também estão os espaços das equipes temáticas que fazem parte do Sistema de Gestão Votorantim (SGV). Parte dos documentos foi migrada do Portal do Conhecimento Votorantim e hoje os espaços são amplamente utilizados para registro de indicadores das empresas da Votorantim Industrial. Esses indicadores, ao serem consolidados, geram conhecimento, valor e ajudam o Grupo a definir metas para as unidades de negócio e a construir o planejamento estratégico da organização para os próximos cinco, dez ou quinze anos. A iniciativa, hoje coordenada pela Gerência de Sustentabilidade, surgiu a partir de uma necessidade do Grupo que, enquanto holding, precisava ter informações padronizadas e consolidadas de suas unidades de negócio, para poder acompanhar desempenhos e metas, e dialogar com as partes interessadas (governo, investidores etc.). Por conta disso, o processo de planejamento do canal não envolveu usuários finais. O desenho inicial foi construído pela equipe do projeto e aprovado pela alta gerência. As principais dificuldades enfrentadas pela equipe durante e após a implantação da ferramenta passaram por tecnologia e adesão, fatores apontados por autores como Terra & Gordon (2002) e Freitas, Quintanilla e Nogueira (2004). No âmbito da tecnologia, o maior 54 desafio foi conhecer a fundo a ferramenta para entender o que ela oferecia e o que seria preciso desenvolver de forma customizada para que os requisitos fossem atendidos. Para isso, o Grupo Votorantim contou com o apoio de uma consultoria especializada. No que diz respeito à adesão, o desafio foi muito maior, pois envolveu mudança de cultura e de processos. A equipe responsável pela consolidação dos dados mensais realizou um trabalho de disciplina interna, que compreendeu cobranças diretas e a responsabilização das pessoas no caso de dados não enviados. “Trabalhamos nas duas pontas: mostramos que eles estavam sendo beneficiados por aqueles resultados e mostramos que, se eles não fizessem isso no prazo adequado, eles seriam responsabilizados, pois tinham se comprometido a fazer”, explica David Canassa, gerente geral de Sustentabilidade. Passado esse momento inicial de adaptação aos novos processos e à nova ferramenta, os ganhos para a companhia começaram a ser percebidos. O que antes acontecia via troca de e-mails ou com a utilização da rede interna, agora ocorre via sistema e é controlado por uma governança clara e bem estabelecida. O primeiro ganho para a organização foi a padronização dos dados. Agora todas as unidades utilizam a mesma linguagem para extrair seus indicadores. No que diz respeito ao custo e à tomada de decisão de longo prazo, os dados são utilizados como base para a definição de metas, para melhorias de performance e para projeções futuras. Em constante expansão e evolução, as estruturas do SGV e da Sustentabilidade contam com indicadores de consumo de energia e água, crédito de carbono, aspectos ligados à segurança, entre outros. E, como cada indicador deve ser visualizado apenas por um determinado grupo de pessoas, todas as páginas e bibliotecas são restritas. Há mais de 500 grupos de permissionamento, gerenciados por meio de um sistema criado exclusivamente para este fim (figura 14). Os controles estão claros e é possível extrair relatórios a qualquer momento para fins de auditoria. 55 Figura 14 – Central de Permissionamento, desenvolvida para controlar as restrições de acesso Fonte: Portal Votorantim Embora ainda seja considerada pela equipe uma ferramenta de gestão da informação e não de gestão de conhecimento, pois nem todas as unidades de negócio utilizam a informação para gerar valor para a companhia, há inúmeros exemplos de que isso ocorre e a tendência, de acordo com os responsáveis, é que ela evolua cada dia mais com foco nesse objetivo. Um dos exemplos, que tem ocorrido em todos os temas trabalhados, é a identificação de formas distintas de realizar uma mesma atividade. Ao perceber isso, as equipes se reúnem para discutir os modelos adotados por cada unidade e, juntas, definem qual é o padrão a ser seguido. Outro exemplo, que tem acontecido em algumas unidades, é a promoção de melhorias operacionais com base na análise dos dados consolidados. No que diz respeito aos pontos fortes, a equipe ressalta a simplicidade de utilização da ferramenta, a possibilidade de verificação dos dados consolidados a qualquer momento e a segurança do sistema. Para o futuro, a Votorantim pretende, com a ajuda da ferramenta, melhorar o processo de consolidação dos dados, que hoje ainda é bastante trabalhoso e manual – e considerado um 56 ponto fraco. O sonho da equipe é ter um painel em que seja possível consultar os indicadores mensais de todas as fábricas do Grupo, a qualquer momento. O caso da Votorantim Industrial vem de encontro ao objeto de pesquisa desta monografia, pois a empresa construiu um portal corporativo e, aos poucos, por meio de iniciativas pontuais, está utilizando a ferramenta para gerar conhecimento e valor para a empresa. 6.3 Raízen A Raízen nasceu a partir de uma integração entre a Shell e a Cosan e está entre as cinco maiores companhias do Brasil em termos de faturamento. Com 24 usinas, a empresa tem capacidade de produção de 2,2 bilhões de litros de etanol por ano, 4,4 milhões de toneladas de açúcar e 900 MW de energia elétrica, produzidos a partir do bagaço da cana. Neste estudo, não abordaremos o portal corporativo da empresa e sim a iniciativa específica da área de Inteligência de Suprimentos que, embora seja acessada via portal corporativo, compreende uma estrutura dissociada e com acesso restrito aos funcionários da área. O processo de planejamento do Portal de Inteligência de Suprimentos – PIS (figura 15) foi um pouco diferente dos demais casos aqui estudados. Antes de contratar uma consultoria especializada para desenhar o protótipo navegável, a equipe responsável pelo projeto construiu uma ferramenta caseira, utilizando os programas Excel e Access, e testou seu funcionamento e adesão durante alguns meses. Ao longo desse período, os usuários puderam dar sugestões e opiniões, a ferramenta amadureceu, ganhou novas funcionalidades e chegou a um ponto em que os programas utilizados começaram a apresentar limitações diante dos desafios da área. Neste momento a Raízen contratou um fornecedor para realizar o planejamento, a criação da identidade visual e o desenvolvimento do PIS, utilizando tecnologia Microsoft SharePoint 2007. Os processos de construção do mapa hierárquico e do protótipo navegável envolveram apenas a equipe do projeto, mas, a partir do protótipo pronto, foram realizados testes de usabilidade com usuários-chave, que puderam sugerir melhorias e auxiliar na definição das taxonomias. Para Gilberto Maluf, coordenador de Inteligência de Suprimentos 57 da Raízen na época do projeto, esta foi uma etapa muito importante, pois a empresa aproximou esses usuários, e eles depois puderam auxiliar na etapa de engajamento dos demais membros da equipe. Figura 15 – Homepage do Portal de Inteligência de Suprimentos Fonte: Portal de Inteligência de Suprimentos – Raízen O principal objetivo do PIS é reunir, em um só lugar, e de forma estruturada, as informações que os compradores utilizam para melhor desempenhar suas estratégias de compras. Entre elas estão dados históricos de preços praticados pelo mercado e pela Raízen, estratégias de contratação das principais categorias de suprimentos, informações sobre fornecedores e projeções futuras com base em indicadores de mercado (figura 16). 58 Figura 16 – Gráficos mostram um comparativo entre os preços históricos da Raízen e as projeções de mercado, e alguns indicadores de mercado, como IGPM e mão-de-obra Fonte: Portal de Inteligência de Suprimentos – Raízen Antes do PIS, grande parte do conhecimento sobre as categorias de compras ficava na cabeça dos funcionários e, quando alguém se desligava da empresa, esse conhecimento se perdia e era necessário construir tudo novamente. Outras informações, alocadas no sistema ERP/SAP da empresa, estavam fora de padrão e exigiam esforço manual para que pudessem ser analisadas. E esse foi o maior desafio do projeto: integrar o módulo ERP/SAP ao SharePoint, tratando esta informação para exibi-las nas tabelas e gráficos trazidos pelo PIS. A Raízen conseguiu, por meio do PIS, transformar conhecimento tático em conhecimento explícito e disponível para o público-alvo da ferramenta. Segundo Takeuchi e Nonaka (2008), essa é uma das premissas da gestão do conhecimento. 59 O Portal é considerado pela equipe uma ferramenta de gestão de conhecimento, pois reúne informações imprescindíveis para a realização do trabalho diário dos negociadores. A partir dos dados disponíveis, é possível realizar análises estratégicas e tomar as melhores decisões de compra. Isso significa que a informação está sendo transformada em conhecimento e gerando valor para a empresa, que passa a ter uma vantagem competitiva importante perante seus fornecedores e concorrentes. Recentemente, a Raízen investiu em mais uma evolução para o PIS, que ganhou um painel para acompanhamento de desempenho dos negociadores, em versões para computador e para tablete (figura 17). Esse painel será utilizado pelos executivos da área de Suprimentos, para que se mantenham atualizados a respeito do desempenho e das metas da equipe. Figura 17 – Painel para acompanhamento do desempenho da equipe de compras Fonte: Portal de Inteligência de Suprimentos – Raízen Para o futuro, a Raízen pretende expandir o Portal para incluir informações da unidade de negócio de combustíveis e também implantar um canal de comunicação rápida entre os compradores. A ideia é que o PIS venha um dia a ser a porta de entrada para todos os sistemas da área de Suprimentos. 60 7. Considerações finais A literatura analisada nos mostra que as empresas passaram e ainda passam por grandes transformações ao longo do tempo. A primeira delas foi, sem dúvida, a Revolução Industrial que, embora não tenha sido diretamente trabalhada nesta monografia, mudou profundamente os modelos de negócio e de operação das empresas, especialmente daquelas ligadas à produção de bens. Outro grande ponto de virada, pelo qual muitas empresas ainda estão passando, diz respeito à valorização do homem como peça-chave para que a empresa consiga se diferenciar de suas concorrentes. Essa mudança começou a ocorrer quando as empresas entenderam que ter eficiência operacional já não era o suficiente para garantir competitividade e destaque perante a concorrência. Modelos operacionais são facilmente imitáveis, já estratégias de negócio, embora tenham que ser constantemente reavaliadas, são mais complexas, pois dependem de outros fatores como análise de mercado, pesquisa de público-alvo e indicadores de desempenho. O paradigma de valor, que antes estava diretamente associado aos ativos tangíveis (máquinas e equipamentos, por exemplo), passa a ser baseado em ativos intangíveis (capacidade de inovar, valor da marca, aptidão para implementar a estratégia, entre outros). Com essa mudança surgiu o termo Gestão do Conhecimento e a busca das empresas por fórmulas capazes de transformar conhecimento tácito, aquele que está na cabeça das pessoas e espalhado pelas práticas do dia a dia, em conhecimento explícito, aquele que é tangível e pode ser disseminado e utilizado para gerar valor para a empresa. A mais recente onda de transformações veio com o início da era digital. Em alguns aspectos, o surgimento da tecnologia computacional e da comunicação em rede trouxe novas oportunidades para as empresas, como a possibilidade de expandir ou investir em novos negócios, a exemplo das empresas de bens e serviços ligadas à produção de computadores, sistemas, entre outros. Outra oportunidade interessante é a utilização da internet como meio para reforçar a presença no mercado tradicional, para conhecer e se relacionar com os clientes e consumidores e para expandir seus canais de vendas (e-commerce). A comunicação em rede também beneficiou as empresas em questões internas. Por meio do computador, as empresas encurtaram a distância entre suas filiais, fomentaram a troca de informações em tempo real e agora começam a utilizar o canal para gerar e perpetuar 61 conhecimento, para compartilhar melhores práticas, para pensar estratégias de negócio e, assim, gerar valor para a empresa. Como vimos no capítulo sobre gestão do conhecimento e vantagem competitiva na era digital, as empresas precisam estar maduras e com processos, governança e estratégia claros, bem definidos e voltados ao conhecimento para investir em uma plataforma digital portal do conhecimento. Do contrário, o investimento e os esforços despendidos poderão ser em vão. O que defendemos aqui é a utilização de portais corporativos como porta de entrada para a construção de plataformas de conhecimento. Levando em consideração os casos analisados, esse é um caminho possível, embora também tenha seus desafios. Fazendo uma comparação entre o processo de construção de um portal corporativo e os casos reais estudados, é possível perceber que a fase inicial, de planejamento, é uma das mais importantes. As três empresas analisadas passaram por processos de planejamento diferentes, mas em todas elas a etapa foi realizada com cuidado e atenção. Na Fibria houve o envolvimento dos funcionários, o que permitiu que a empresa estruturasse um portal corporativo mais atraente e aderente às reais necessidades das áreas. Na Votorantim Industrial, onde o foco inicial da equipe de Sustentabilidade estava na coleta e na padronização de dados, a ferramenta foi cuidadosamente pensada para que fosse de fácil utilização e governança. Já na Raízen o processo passou pela construção de uma ferramenta caseira que pudesse aferir a aderência aos negócios e à rotina de trabalho dos funcionários da equipe de Suprimentos, antes que a empresa de fato investisse em uma ferramenta digital de gestão do conhecimento. Embora tenham sido diferentes, verificou-se na prática a orientação dada por Freitas, Quintanilla e Nogueira (2004) de que as empresas devem trabalhar de forma estruturada para que seus ambientes digitais possam expandir e evoluir cada dia mais. Entre os principais desafios detectados pelas empresas estudadas estão a tecnologia e o engajamento dos funcionários, sendo este último, conforme apontado na fundamentação teórica, amplamente abordado por autores como Helena Tonet, Beatrice Maria Carola Gropp, Maria das Graças Pinto Tavares, Claudio Terra e Cindy Gordon. No que diz respeito à tecnologia, as empresas estudadas apontaram dificuldades relacionadas ao nível de conhecimento da ferramenta, à integração com outros sistemas, como os módulos do SAP, e ao alto investimento necessário para acompanhar a evolução tecnológica dos sistemas adotados. 62 O volume não satisfatório de acessos à intranet é um dos pontos fracos apontados pela Fibria. Embora o veículo tenha tido um bom desempenho na pesquisa realizada quatro meses após o seu lançamento, a empresa ainda identifica certa dificuldade de acesso e de adoção da ferramenta como fonte de informação. E isso dificulta a evolução. Na área de Sustentabilidade do portal corporativo da Votorantim Industrial o processo de engajamento foi gradual e exigiu muito esforço da equipe envolvida, que cobrava pontualmente cada funcionário que deixava de reportar seus indicadores nas datas determinadas. Neste caso isso foi possível por se tratar de um grupo relativamente pequeno de pessoas envolvidas no processo. A estratégia não seria viável se os cerca de 75 mil funcionários do Grupo estivessem envolvidos. No caso da Raízen, o processo de engajamento também foi gradual, mas não tão difícil, pois a ferramenta foi construída com base em uma necessidade comum a todos os membros da equipe de Suprimentos. Ou seja, o benefício que os funcionários teriam ao utilizá-la já estava claro. Além disso, a estratégia de testar uma ferramenta caseira antes de investir na ferramenta final, e de envolver funcionários em testes de usabilidade, garantiu maior efetividade e, por consequência, maior aderência. Ainda no caso da Raízen, é possível verificar o que Porter defende: o digital provocou mudanças nas cinco forças competitivas. Por meio do Portal de Inteligência de Suprimentos, a empresa conseguiu reunir uma série de indicadores, que antes estavam somente na cabeça dos funcionários, gerando valor e vantagem competitiva. Sem essa ferramenta digital, a consolidação dos dados não seria realizada com a agilidade que a equipe de compras necessita para tomar suas decisões estratégicas. A partir da teoria estudada e dos casos analisados, verificamos que a adoção de um portal corporativo pode ser um caminho para a comunicação, a colaboração e a gestão do conhecimento, mas existem desafios a serem vencidos. Temos, no entanto, uma visão um pouco mais conservadora do que a de autores como Freitas, Quintanilla e Nogueira (2004, p. 82), que acreditam que no futuro “os portais corporativos serão a única ferramenta utilizada pelos colaboradores”. Acreditamos no portal corporativo como uma ferramenta importante e essencial aos processos de trabalho, mas não como uma ferramenta única. 63 REFERÊNCIAS ANGELONI, Maria Terezinha (Org.) et alii. Gestão do Conhecimento no Brasil: casos, experiências e práticas de empresas privadas. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2008. 186p. FILHO, Cândido Ferreira da Silva; SILVA, Lucas Frazão (Org.). Tecnologia da informação e gestão do conhecimento. Campinas: Editora Alínea, 2005. 160p. FREITAS, Rogério Afonso de; QUINTANILLA, Leslie Wittig; NOGUEIRA, Ari dos Santos. Portais corporativos: uma ferramenta estratégicas para a gestão do conhecimento. Rio de Janeiro: Brasport, 2004. 104p. GROPP, Beatrice Maria Carola; TAVARES, Maria das Graças Pinho. Comunidade de Prática – gestão do conhecimento nas empresas. 2. ed. São Paulo: Trevisan Editora Universitária, 2007. 120p. JAMIL, George Leal. Gestão de informação e do conhecimento em empresas brasileiras: estudo de múltiplos casos. 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