Fisiologia do Ovário
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Fisiologia do Ovário
Isabel Torgal Fisiologia do Ovário O ovário é um órgão endócrino único porque, para além da produção hormonal, liberta ciclicamente, um ovócito que permite a perpetuação da espécie após ter sido alcançada a maturidade sexual da mulher. Nessa altura começam a produzir-se, fisiologicamente no ovário, e de uma forma repetitiva e contínua, modificações que têm como finalidade básica duas funções: a gâmetogénese, conjunto de modificações maturativas que tem lugar nas células germinativas desde a vida fetal até à vida adulta, que conduzem à produção de células aptas à fecundação, e a produção de hormonas esteróides. APRESENTAÇÃO PROF.ª ISABEL TORGAL - Nasceu em Coimbra em 1948. - Licenciada pela Faculdade de Medicina de Coimbra em 1972. - Especialista de Ginecologia pelos HUC desde 1980. - Doutorada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 1992. - Professora Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra desde 1992. - Chefe de Serviço de Ginecologia dos HUC desde 2003. - Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução de 1996 a 1999. - Redactora da Revista de Ginecologia e Medicina da Reprodução desde 2000. - Vice-Presidente das Sociedades Portuguesas de Ginecologia e de Medicina da Reprodução desde 2003. - Membro de diversas sociedades científicas nacionais e internacionais. ÍNDICE - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - 1. 2. 3. 4. INTRODUÇÃO 04 EMBRIOLOGIA E DIFERENCIAÇÃO OVÁRICA 05 FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE 14 2.1. OVÁRIO FETAL 15 2.2. OVÁRIO PERI-NATAL 15 2.3. OVÁRIO INFANTIL 15 2.4. OVÁRIO NA PUBERDADE 16 2.5. OVÁRIO ADULTO 18 2.6. OVOGÉNESE 27 2.7. OVULAÇÃO 28 2.8. IMPLANTAÇÃO 32 2.9. LUTEÓLISE 33 2.10. CORPOS ALBICANS | FOLÍCULOS ATRÉSICOS 33 2.11. MENSTRUAÇÃO 35 2.12. ESTEROIDOGÉNSE 38 2.13. ACÇÃO DOS ESTERÓIDES NOS ORGÃOS-ALVO 43 2.14. ACÇÃO EXTRA-GENITAL DOS ESTERÓIDES 47 2.15. OVÁRIO NA PÓS-MENOPAUSA 47 2.16. ESTEROIDOGÉNESE NA PERI-MENOPAUSA 49 2.17. ESTEROIDOGÉNESE NA PÓS-MENOPAUSA 50 2.18. MODIFICAÇÕES DOS ORGÃOS ALVO NA PÓS-MENOPAUSA 52 CONCLUSÕES 55 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 57 -3- INTRODUÇÃO - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - Estas células são sensíveis à estimulação pelas gonadotrofinas e contribuem para a síntese do esteróide ovárico mais importante, o 17β estradiol. O ovário é uma estrutura multi-compartimentada com propriedades biológicas variáveis. Em resposta à secreção cíclica de gonadotrofinas, os vários compartimentos interagem de uma forma altamente integrada de forma a produzir hormonas esteróides e um óvulo fecundável. É um órgão endócrino único porque, para além da produção hormonal liberta, ciclicamente, um ovócito que permite a perpetuação da espécie após ter sido alcançada a maturidade sexual da mulher. Nessa altura começam a produzir-se, fisiologicamente no ovário, e de uma forma repetitiva e contínua, modificações que têm como finalidade básica duas funções: a gâmetogénese, conjunto de modificações maturativas que tem lugar nas células germinativas desde a vida fetal até à vida adulta, que conduzem à produção de células aptas à fecundação, e a produção de hormonas esteróides. Mensalmente, durante a vida reprodutiva da mulher, é libertado um ovócito do único folículo maduro que completou o seu desenvolvimento, iniciado alguns ciclos atrás. Se o ovócito é fecundado, o embrião é transportado para o útero e, se o meio hormonal for correcto, vai nidar e desenvolver-se num novo ser. O meio hormonal adequado para a implantação é coordenado pelo corpo amarelo, que resulta do folículo que ovulou. Em 1670, De Graaf reconheceu que os óvulos provinham do ovário, mas concluiu, erradamente, que todo o folículo era um óvulo. Este erro foi corrigido em 1795 por Cruickshank; contudo foi Baer, em 1825, que elucidou a exacta relação anatómica entre óvulo e folículo e começou, então, o estudo do fenómeno ovulatório. A composição celular do ovário e parede do folículo ocupou investigadores durante mais de 100 anos. Desde há 70 anos, quando foi sugerido um papel importante dos enzimas proteolíticos na fisiologia da ovulação, até à actualidade, que foi iniciado um novo e continuado ciclo de estudos sobre a presença destes e outros enzimas, e de outros factores no controlo da ovulação. Estes dois fenómenos, presididos pela unidade funcional fundamental do ovário, o folículo, estão interligados e requerem um perfeito sincronismo temporal porque têm de contribuir, não só para a maturação do ovócito, mas também para a preparação do endométrio para a nidação. O folículo tem, pois, um papel duplo: na maturação do ovócito e ovulação, e na esteroidogénese, que é indispensável para a regulação do seu próprio crescimento e para conseguir a obtenção do meio adequado nos órgãos reprodutores para o transporte dos gâmetas e nidação do embrião (Naftolin, 1987). A obtenção de um ovócito maduro é, pois, o corolário de dois processos simultâneos, foliculogénese e ovogénese, cujo controlo é muito mais complexo do que supunha alguns anos atrás (Baird, 1977). Apesar dos avanços na compreensão do processo endócrino que regula o aparelho reprodutor feminino ainda existem muitas dúvidas por esclarecer no que diz respeito aos mecanismos endócrinos, parácrinos e autócrinos da regulação da foliculogénese e da ovulação. A iniciação e manutenção destes processos dependem da integridade anatómica e funcional não só, do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, mas também dos estímulos aferentes de outros sistemas, tais como a tiróide, a suprarrenal, fígado, pâncreas e rim, que estão implicados no metabolismo dos esteróides sexuais. Nos últimos 10 anos ficou evidente que o ovário tem um papel central e crítico na maior parte dos distúrbios menstruais e na infertilidade feminina. Por tudo isto parece importante ser feito um ponto da situação sobre as fases mais significativas da fisiologia do ovário durante todas as etapas da vida da mulher. O folículo é constituído por um ovócito rodeado por várias camadas de células especializadas que constituem a granulosa e teca. -4- 1. EMBRIOLOGIA E DIFERENCIAÇÃO OVÁRICA 1. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - EMBRIOLOGIA E DIFERENCIAÇÃO OVÁRICA Os ovários são órgãos sexuais primários que, após completa diferenciação embrionária, se encontram localizados na parede lateral da pélvis, por baixo da bifurcação da artéria primitiva, numa posição retro-peritoneal, aderentes ao folheto posterior do ligamento largo pelo meso-ovário. Cada ovário está suspenso do corno uterino homo-lateral pelo ligamento ovárico. A drenagem linfática acompanha os vasos sanguíneos e, juntamente com os que procedem da trompa e da parte superior do útero, termina nos gânglios linfáticos pré-aorticos e aórticos laterais. O desenvolvimento gonádico nos mamíferos tem lugar numa etapa precoce da vida fetal (Wasserman, 1988). Durante o estádio indiferenciado da embriogénese, da 3ª à 6ª semana, o desenvolvimento do aparelho uro-genital e gonádico é idêntico em ambos os sexos. Os ovários estão revestidos por epitélio, denominado epitélio germinativo superficial embora não contenha as células germinativas. É um epitélio cúbico, separado do estroma adjacente por uma membrana basal que se funde com a albugínea-túnica, cápsula branca de tecido conjuntivo denso e irregular que cobre o ovário e que tem uma estrutura que permite a rotura fácil, na altura da ovulação (Lipner, 1988). O epitélio germinativo, a membrana basal e a albugínea constituem a serosa do ovário, que é semelhante à serosa de outros órgãos. A diferenciação sexual do embrião cursa por três etapas: a primeira ocorre durante a fecundação quando se determina o sexo cromossómico, que depende do cromossoma sexual do espermatozóide; posteriormente o aparelho genital passa por um período indiferenciado no qual a morfologia dos embriões é idêntica em ambos os sexos; a diferenciação morfológica inicia-se entre as seis e as oito semanas, consoante o sexo cromossómico, sendo os genitais internos os primeiros a diferenciarem-se. No epitélio superficial do ovário foi demonstrada a presença se antigénios, associados a tumores ováricos epiteliais, como o CA 125 e o CA 19.9. A gonada inicia o seu desenvolvimento na altura em que as células germinativas primordiais e diferentes tipos de células somáticas migram e se instalam na crista genital localizada num espessamento mesenquimatoso da região ventro-craniana do mesonefros. A crista genital é constituída por células germinativas primordiais e células somáticas de três tipos de tecidos diferentes: epitélio celómico, mesênquima e mesonefros. A partir de uma interacção bem controlada entre estas diferentes células somáticas que se irá desenvolver e diferenciar a gónada. O estroma ovárico é constituído por duas camadas: > o córtex – constitui a parte funcional do ovário. Situada imediatamente por baixo da camada albugínea, contém os folículos ováricos; > a medula – constituída por tecido conjuntivo laxo contém vasos sanguíneos e linfáticos bem como nervos que provêm do hilo ovárico. Os ovários são irrigados pela artéria ovárica, ramo da aorta abdominal, que, no pólo inferior do ovário, se anastomosa com a artéria uterina. A drenagem venosa sai do ovário através do hilo por uma rede que se anastomosa, por um lado, com as redes venosas do útero no meso-ovário; no ligamento largo estas veias formam o plexo ovárico que comunica com o plexo uterino. A veia ovárica esquerda desemboca na veia renal esquerda e a veia ovárica direita directamente na veia cava inferior. Cavidade amniotica As células germinativas e primordiais têm a mesma origem extragonadal e extra-embrionária em ambos os sexos e são morfologicamente idênticas apesar das suas diferenças citogenéticas. São observadas a partir da 3ª semana da embriogénese na endoderme da vesícula vitelina próximo da evaginação alantoideia (Fig.1). Ectoderme Mesonefros Saco vitelino Alantoide Intestino primitivo Células germinativas Figura 1. Migração das células germinativas primordiais através do intestino primitivo até à crista genital. . Adaptado de Roura, L. C. Tratado de Ginecología, Obstetrícia y Medicina de la Reproducción (2003). -6- Crista genital 1. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - EMBRIOLOGIA E DIFERENCIAÇÃO OVÁRICA Entre as três e cinco semanas, por processo de dupla migração vão chegar à sua localização definitiva: por migração passiva, ligada ao enrolamento ventral do embrião durante a 4ª semana e activa, durante a 5ª semana, por movimentos amibóides através do mesentério dorsal do intestino posterior. Localizam-se, finalmente, de cada lado na crista genital, sob o epitélio celómico que reveste uma condensação do tecido mesenquimatoso da região ventro-craniana do mesonefros. ESTADO INDIFERENCIADO 4ª Pronefros Canal de Wolff Mesonefros Crista genital SEMANA Botão uretral Durante esta migração dividem-se mitoticamente até às 28 semanas da embriogénese (Byscov, 1981). O seu número aumenta, por vezes, exponencialmente, atingindo um pico de actividade às 20 semanas. Nesta altura a crista genital já está completamente colonizada por seis a sete milhões de células germinativas primordiais, morfologicamente idênticas em ambos os sexos, que irão ficar incorporadas em folículos em diferentes etapas da foliculogénese. É neste momento da diferenciação ovárica que se vai encontrar o maior número de ovogónias durante toda a vida de uma mulher. Cloaca Pronefros 5ª SEMANA Mesonefros Con. uro-genitais Lig. inguinal Canal de wolff Metanefros Ureter S.U.G O mecanismo que desencadeia a migração das células germinativas para a área da futura gonada não é conhecido, mas é provavelmente orientado por influências quimiotácticas através de substâncias produzidas pela crista genital em desenvolvimento. 6ª Entre a 3ª e a 4ª semana desenvolvem-se pequenos tubos nos bordos antero-externos do mesonefros, local da futura gónada. Estes sistemas tubulares constituem o pronefros, que desemboca num canal, canal mesonéfrico ou canal de Wolff, que se estende do mesonefros até ao seio uro-genital onde vai terminar à 5ª semana, na parte média da face posterior. O pronefros não é funcional e os seus túbulos desaparecem quase inteiramente à 5ª semana podendo restar, apenas como vestígios, as hidátides de Morgagni (Fig.2). SEMANA Canal de Muller Gónada Canal de wolff Lig. inguinal Esboço renal S.U.G Figura 2. Etapa indiferenciada da gónada e dos canais genitais. 4º - 6ª semana da embriogénese As células somáticas de origem mesonéfrica são cruciais para o desenvolvimento da gónada. Movem-se para a crista genital simultaneamente com as células germinativas primordiais por movimentos amibóides. As células mesonéfricas em migração colonizam a gónada em desenvolvimento e formam, gradualmente, cordões celulares densos que ligam os tubos mesonéfricos à gonada e constituem as conexões uro-genitais ou sistema “rete” que se irá diferenciar na “rete testis” ou na “rete ovari”. Já o destino das células mesonéfricas não é claro, mas pensase que no testículo seja precussoras de um determinado tipo de células de Sertoli, consideradas homólogas morfológica e funcionalmente das células granulosa do ovário e, neste, sejam precussoras das células da granulosa e das primeiras células produtoras de esteróides. somáticos da crista genital (Byscov, 1978). Nesta fase inicial da diferenciação da gónada não há qualquer interacção com as células germinativas primordiais que apenas parecem ter influência numa etapa posterior do desenvolvimento de forma a assegurar um correcto funcionamento da gónada. O mesenquima da futura gónada vai ser invadido por células germinativas primordiais, células de origem mesonéfrica e células do epitélio celómico, todas elas indispensáveis para uma correcta diferenciação da gonada. A diferenciação da gonada é caracterizada pela compartimentalização do tecido gonádico: algumas das células somáticas e as células germinativas irão deslocar-se conjuntamente para formar um compartimento específico para as células germinativas: no homem, o tubo seminífero e na mulher o folículo, constituído por um ovócito rodeado por células da granulosa e externamente por uma membrana basal. Às seis semanas da embriogénese o estádio indiferenciado da gónada primitiva está completo. Vai-se iniciar a sua diferenciação através de uma delicada interacção entre os componentes -7- 1. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - EMBRIOLOGIA E DIFERENCIAÇÃO OVÁRICA A gonada indiferenciada será um testículo ou um ovário consoante o sexo genético do indivíduo e irá criar um ambiente hormonal adequado para o normal funcionamento dos mecanismos de retro-controlo responsáveis por um correcto funcionamento da gónada. A gónada indiferenciada é idêntica em ambos os sexos e a masculinização terá que se impôr para escapar à diferenciação no sentido feminino, porque nem as gonadotrofinas, nem as hormonas esteróides vão actuar na diferenciação sexual da gónada (Byscov, 1981). A diferenciação em testículo ou ovário vai ser acompanhada da maturação das células germinativas primordiais em células germinativas com características sexuais dimórficas (Zamboni, 1990). femininas a partir dos canais de Muller, que se desenvolvem externa e paralelamente aos canais de Wolff, o ovário vai iniciar a sua diferenciação. Os mecanismos de diferenciação ovárica permanecem desconhecidos. Embora a natureza produza muitas excepções um indivíduo portador de um cromossoma Y desenvolverá, normalmente, testículos e características masculinas. Por este motivo se diz que a diferenciação sexual feminina é passiva, porque se não existir cromossoma Y nem um factor determinante testicular a diferenciação gonádica é feminina. Tudo parece indicar que a determinação sexual da gónada depende da constitução cromossómica sexual e que, anomalias cromossómicas afectando os cromossomas X e Y durante a meiose, nas células germinativas, podem interferir com a diferenciação sexual. O que é certo é que a diferenciação testicular é desencadeada por um estímulo masculino e que, na ausência deste a gónada indiferenciada diferencia-se em ovário. O ciclo celular da ovogónia inicia-se por uma interfase, de replicação de ADN; antes do início da meiose a célula germinativa tem o mesmo número de cromossomas que a célula somática-2n. A meiose é um tipo de divisão celular presente nos organismos com reprodução sexuada que apresenta vantagens evolutivas, pois permite que as características genéticas dos progenitores se misturem dando origem a uma grande diversidade (Garcia, 2003). Tem, também, um significado biológico importante pois mantém o número de cromossomas da espécie depois da fecundação, graças à redução prévia a metade. Por este motivo a primeira divisão meiótica é chamada meiose reducional. A profase é a etapa de maior duração (90% da duração do processo meiótico) e na qual se observa o emparelhamento de cromossomas homólogos e a recombinação; trata-se de um processo contínuo que se subdivide em quatro fases para facilitar a compreensão (Fig.3): OVOGÓNIAS Mitose OVOGÓNIA OVOGÓNIA 46 cromossomas É indispensável a presença de dois cromossomas X activos desde o início da meiose para assegurar a sobrevivência e funcionalidade do ovócito, porque a deplecção ovárica ante-natal é regulada por genes localizados nos braços longos e curtos dos cromossomas X, cuja integridade é indispensável para a normalidade do processo. Compreende-se que a perda de material genético destas zonas conduza a uma rápida deplecção antenatal das células germinativas conduzindo a uma rápida descapitalização folicular como acontece nos sindromes de Turner, em que as células germinativas degeneram a partir das 12 semanas da vida fetal. 1º TRIMESTRE OVÓCITO PRIMÁRIO 46 cromossomas Profase 1 Leptoteno Zigóteno Paquiteno Diploteno OVÓCITO PRIMÁRIO 46 cromossomas Em conclusão, no estado actual dos nossos conhecimentos, é de supor que a diferenciação sexual humana dependa de genes localizados no braço curto do cromossoma Y, em “loci” homólogos no cromossoma X e de outros genes localizados em autossomas (Ohno, 1979). A diferenciação é sempre desencadeada por um estímulo masculino, sob controlo genético numa etapa precoce do desenvolvimento embrionário. 1º GP (23 cromossomas) 2º GP (23 cromossomas) 2º TRIMESTRE OVÓCITO SECUNDÁRIO 23 cromossomas OVULAÇÃO O início da diferenciação ovárica é mais tardio que a testicular. Enquanto que a testicular se inicia às seis semanas da embriogénese a do ovário só se verifica no final da 8ª semana. A partir das oito semanas da embriogénese, com a regressão dos canais de Wolff, simultaneamente com o desenvolvimento das vias genitais MI FECUNDAÇÃO OVÓCITO MADURO M II VIDA ADULTA Figura 3. Etapas da gametogénese feminina. Adaptado de Roura, L. C. Tratado de Ginecología, Obstetrícia y Medicina de la Reproducción (2003). -8- 1. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - EMBRIOLOGIA E DIFERENCIAÇÃO OVÁRICA No diplóteno, há troca de material genético entre cromátides bivalentes, os cromossomas homólogos separam-se uns dos outros, mas ficam unidos em locais denominados quiasmas, que são os locais dos cromossomas homólogos em que se deu a troca de genes. A espiralização dos cromossomas prossegue até à fase tardia deste período. No leptóteno, após a síntese pré-meiótica de ADN, inicia-se a condensação dos cromossomas, em número diplóide, e com ela a busca dos cromossomas homólogos. São mais finos e compridos que na mitose. Aparecem grânulos densos em intervalos irregulares ao longo dos cromossomas que se distribuem dentro do núcleo (Fig.4). O ovócito humano vai progredir até à metafase I e vai ficar bloqueado no diploteno até ao início da puberdade. Embora se desconheça o mecanismo deste bloqueio sabese que é coincidente com dois acontecimentos fundamentais: formação do folículo e produção pelas células da granulosa de uma substância inibidora da meiose. É pois provável que os mecanismos deste bloqueio estejam relacionados com a produção de substâncias inibidoras ou de uma impossibilidade física de contacto com substâncias indutoras. A partir das oito semanas da embriogénese a meiose progride enquanto que a região central do ovário é invadida pelo mesonefros que empurra as células germinativas para a periferia, ficando o córtex ovárico ricamente povoados por ovogónias e a parte medular por células mesonéfricas. Entre as 6 e 13 semanas, os vasos sanguíneos provenientes da parte medular do ovário vão penetrar nas células epiteliais que rodeiam as ovogónias e no mesenquima. As células diferenciadas a partir dos precursores mesonéfricos vão dar origem às células da pré-granulosa e as de origem mesenquimatosa vão constituir a matriz das células pré-tecais e estroma ovárico. Figura 4. Células germinativas em meiose no estádio de leptóteno (L). No zigoteno observa-se o emparelhamento de cromossomas homólogos, produzindo bivalentes. Inicia-se a formação de sinapses num ou em vários cromossomas. As cromátides irmãs emparelham deste modo com as homólogas e começa a recombinação; No paquiteno, os pares de cromossomas que constituem cada bivalente tornam-se mais curtos e grossos sendo mais facilmente observados, termina a recombinação das cromátides homólogas e é o momento máximo da condensação cromossómica, da profase, que coincide com o emparelhamento total de cromossomas homólogos. Tem lugar a divisão longitudinal dos cromossomas (Fig.5). Às 12 semanas da embriogénese, antes da completa diferenciação do ovário, já se podem observar figuras pré-meióticas, em algumas células germinativas. Às 15 semanas 5% das ovogónias já iniciaram o processo meiótico. Às 20 semanas observase a actividade meiótica máxima das células germinativas que é coincidente com o pico de actividade mitótica das mesmas. Às 28 semanas quase todas as ovogónias iniciaram o processo meiótico e existe, nessa altura, uma relativa heterogeneidade da maturação meiótica. Na altura do nascimento apenas 5% estão em fase pré-meiótica e nas restantes, apenas 40% se encontram em diploteno, estando 15% e 45% ainda em leptoteno e paquiteno respectivamente (Manotaya, 1963). Seis meses depois está completa a primeira parte do processo meiótico de toda a população germinativa que passa a ser constituída por ovócitos com a meiose bloqueada em diploteno. As ovogónias transformam-se em ovócitos quando se inicia a primeira divisão meiótica que fica bloqueada na profase, passando o material genético de 46 para 23 cromossomas. Só a partir da diferenciação da gónada o epitélio e o mesonefros se tornam completamente distintos e à medida que se forma o folículo e as conexões do ovário com o tecido mesonéfrico extra -ovárico diminuem, o ovário adquire uma morfologia arredondada. Figura 5. Células germinativas em meiose no estádio de zigóteno (Z) e paquíteno (PA). -9- 1. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - EMBRIOLOGIA E DIFERENCIAÇÃO OVÁRICA > Folículo primordial: O folículo primordial (30-60 μm de diâmetro) é constituído por um ovócito (9-25 μm de diâmetro) com a meiose bloqueada em profase I rodeado por uma única camada de células da granulosa ainda indiferenciadas, e por essa razão, vulgarmente designadas como células da pré-granulosa. Está separado do estroma por uma membrana basal. É observado a partir das 15 semanas de vida intra-uterina, na região medular e em fases mais avançadas da embriogénese na cortical do ovário, limitados externamente pela albugínea e internamente por folículos em estádios mais avançados da foliculogénese situados no centro do ovário; à medida que as células da granulosa aumentam em número, a teca, começa a formar-se a partir do estroma circundante e a delinear o folículo em desenvolvimento, separando-o dos folículos primordiais adjacentes; A diferenciação das vias genitais femininas e do ovário são simultâneas. A partir das 15 semanas apenas se vai assistir a uma progressiva diferenciação anatómica e estrutural das vias genitais enquanto que, no ovário, 5% das ovogónias vão iniciar o processo meiótico, precedido da síntese de ADN, que vai persistir durante toda a vida do ovócito até à fecundação ou atrésia. Após esta síntese, a ovogónia inicia a meiose e passa a constituir um ovócito. Na vida das células germinativas, até haver fecundação ou atrésia, houve apenas um único período de síntese de ADN, precedendo imediatamente a primeira divisão mitótica. Concomitantemente com o início da meiose o ovócito é rodeado por uma camada de células cubóides, as células pré-granulosas e o processo meiótico é bloqueado. O encerramento do ovócito no folículo vai impedir não só a atrésia, temporariamente, mas também a progressão do processo meiótico para além do diploteno porque mantém o ovócito em contacto com factores inibidores, produzidos pelas células da granulosa de origem mesonéfrica e que, via “gap-junctions” são transferidos destas células para o citoplasma do ovócito. As células da granulosa são fundamentais para manter o ovócito protegido até ao momento em que atinge a maturação máxima: primeiro fornece os elementos nutritivos para o crescimento, depois controlam a maturação nuclear e citoplasmática dos ovócitos incluidos nos folículos que vão ser recrutados e seleccionados para ovular. > Folículo primário: folículo com um diâmetro>60 μm, que inicia o seu crescimento por volta do 5º mês, com um ovócito primário (que não completou a primeira divisão meiótica), com um diâmetro de 25 μm, rodeado por uma camada de células que se tornam cubóides e que correspondem à granulosa; > Folículo secundário: com diâmetro <120 μm, é constituídos por um ovócito primário rodeado por várias células da granulosa, ≤600, que adquiriu receptores para a FSH, estrogénios e androgénios e quando migra para a medula enquanto completa a aquisição de componentes tecais; O desenvolvimento folicular começa sempre na parte mais interna do ovário após os primeiros ovócitos terem atingido o diploteno. A foliculogénese inicia-se às 15 semanas, quando os primeiros ovócitos atingem o diploteno, e termina às 28, quando todos os ovócitos já têm a meiose bloqueada. Do capital ovocitário inicial apenas 5% atinge este estadio. Durante a gestação há uma perda significativa do capital germinativo do ovário não chegando grande parte das ovogónias a atingir o estádio de ovócito, razão pela qual o ovário da recém nascida tem, apenas, um milhão de ovócitos na região cortical. De facto os ovócitos que não ficarem incluidos num folículo degeneram reduzindo-se o capital folicular ovocitário inicial em 99.9%. Esta espoliação do capital folicular é também devida ao processo de atrésia que é coincidente com o início da formação dos folículos. > Folículo pré-antral: folículo com um diâmetro de 200 μm constituído por três camadas de células da granulosa à volta de um ovócito com um diâmetro de 80 μm. Por fora da membrana basal as células da teca iniciam a sua diferenciação e organizam-se concentricamente sendo irrigadas por vasos sanguíneos e linfáticos que atravessam a membrana basal, adquirem receptores para a LH e capacidade para a biossíntese de esteróides a partir do 6º mês. Estão em contacto com tecido conjuntivo, antiga teca externa, que é ricamente vascularizada, e por outro lado estão em contacto com a granulosa que não é vascularizada; > Folículo antral: inicia o seu crescimento a partir do 6º mês e estão localizados na parte mais interior do córtex ovárico; muitas vezes os folículos antrais desenvolvem-se durante os dois últimos meses de vida fetal e o ovário da recém-nascida tem grande quantidade destes folículos. Enquanto que o ovócito mantém as dimensões do folículo pré-antral as células da granulosa sofrem um processo proliferativo aumentando número de células e acumulando no espaço intercelular líquido quando o folículo atinge as dimensões de 20-30 mm de diâmetro formando um antro que expande obrigando o ovócito a tomar uma posição acêntrica rodeado por duas ou mais camadas de células da granulosa que constituem o “cumulus”. Nesta região, entre o ovócito e a parte mais interna das células do folículo, ocorre a deposição de material glico-proteico nos ovócitos maduros constituindo a zona pelúcida. O processo de foliculogénese é contemporâneo do início da meiose, decorrendo desde as 15 semanas, após a diferenciação do ovário até seis meses após o nascimento. Às 18 semanas o córtex ovárico é irrigado a partir de vasos que provêm da região medular e inicia-se a formação do folículo. Estes vasos facilitam a chegada das células mesenquimatosas e epiteliais que vão rodear o ovócito donde resulta o folículo primordial. A partir desta etapa da embriogénese até ao 6º mês já é possível identificar cinco tipos de folículos, quatro deles com ovócitos com a meiose bloqueada em diploteno: - 10 - 1. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - EMBRIOLOGIA E DIFERENCIAÇÃO OVÁRICA A evolução da maior parte dos folículos será para a atrésia numa fase precoce do desenvolvimento. Dos 2.000.000 presentes na altura do nascimento só restarão 400.000 na altura da puberdade, dos quais apenas 0.1% passará por um processo de foliculogénese completo até à ovulação e formação do corpo amarelo (Byscov, 1978). A zona pelúcida, constitui um revestimento extra-celular que cobre o ovócito durante uma etapa do crescimento, e que aumenta à medida que o diâmetro do ovócito aumenta. O componente proteico desta zona é sintetizado e secretado pelo ovócito, representando a sua actividade metabólica máxima durante este período. O aparecimento de material na zona pelúcida, no espaço peri-vitelino, está correlacionado com o início do crescimento ovocitário porque os folículos quiescentes não têm zona pelúcida. A zona pelúcida contém receptores para os espermatozóides que medeiam a interacção do ovócito-espermatozóide como um prelúdio para a fecundação. Tem também um papel importante como segundo bloqueio à polispermia se houver fecundação. As células da granulosa são fundamentais para manter o ovócito protegido até ao momento em que atinge a maturação máxima. Fornecem elementos nutritivos para o crescimento e controlam a maturação nuclear e citoplasmática dos ovócitos incluídos nos folículos que vão ser recrutados e seleccionados para ovular. Quando a meiose é interrompida e o processo meiótico bloqueado em diploteno em todos estes quatro tipos de folículos, os cromossomas descondensam-se e distribuem-se de forma difusa no núcleo do ovócito formando uma estrutura nuclear rodeada por uma membrana que constitui a vesícula germinativa que persiste até à ovulação. Os fetos humanos anencéfalos, que têm uma hipófise de pequenas dimensões, com apenas 2% do conteúdo normal de gonadotrofinas, têm ovários com uma fraca dotação de folículos antrais. Também, em macacos rhesus hipofisectomizados “in útero”, o crescimento folicular é deficiente. Estes estudos sugerem que as gonadotrofinas têm influência na foliculogénese durante a vida fetal. A fase tónica do crescimento folicular não é independente das gonadotrofinas e corresponde à conversão dos folículos pré-antrais em antrais. É assim denominada porque necessita de um suporte tónico das mesmas. Este desenvolvimento folicular é caracterizado por um aumento folicular global de cerca de 15 vezes devido não só à multiplicação das células da granulosa, mas também devido a um aumento do antro. Em conclusão: o processo da foliculogénese e ovogénese são simultâneos em muitas etapas e incluem múltiplos aspectos: > a origem extra-embrionária e extra-genital das células germinativas; > a migração destas células para a área da futura gonada; > paragem das mitoses das ovogónias. Para além destes quatro tipos de folículos com ovócitos com a meiose bloqueada em diploteno é ainda possível identificar, no ovário fetal o folículo atrésico a partir das 15 semanas já que o processo de atrésia é contemporâneo da foliculogénese. Resulta da degenerescência ovocitária, sendo sequência dos processos degenerativos iniciados na zona pelúcida, granulosa e teca. Os folículos ficam obliterados por fagocitose maciça das células da granulosa que por sua vez degeneram. Por fim as células da granulosa são substituídas por fibrócitos que forma escaras avasculares. Na espécie humana 99.9% dos ovócitos perdemse neste processo. A correcta diferenciação do ovário vai depender da interacção entre os seus componentes somáticos às oito semanas. O correcto funcionamento do ovário duma interacção entre os componentes somáticos e células germinativas às 15 semanas, evidenciado por três acontecimentos fundamentais: > início da profase e progressão do processo meiótico ovocitário até ao estadio de diploteno (após paragem das mitoses das ovogónias); > inclusão do ovócito num folículo, formando-se um compartimento intra e extra-foliculares limitados pela membrana basal; um acontecimento crucial para a função ovárica é a compartimentalização células germinativas e somáticas em folículos. Dela vai depender a sua sobrevivência e diferenciação; > diferenciação do compartimento extra-folicular das células produtoras de esteróides a nível da teca. A produção de esteróides pelo ovário vai depender desta diferenciação. A atrésia é definida, por muitos autores, como “um processo que conduz à perda de células germinativas pelo ovário por outros meios além da ovulação”. Isto inclui degenerescência de células germinativas, antes da foliculogénese, degenerescência de pequenos folículos em crescimento e de pequenos folículos que não entraram em crescimento. Conclui-se que os mecanismos envolvidos no processo de degenerescência nestes vários estádios do desenvolvimento são diferentes. Todos os folículos que iniciam o seu crescimento antes da puberdade estão condenados à atrésia. Os folículos sofrem atrésia em qualquer estádio da foliculogénese, mas a percentagem de folículos atrésicos aumenta à medida que o desenvolvimento folicular avança. Todo o funcionamento ovárico vai estar na dependência do correcto funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. - 11 - 1. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - EMBRIOLOGIA E DIFERENCIAÇÃO OVÁRICA frequência dos pulsos diminui para intervalos de 3 horas, a FSH aumenta e a LH diminui. Se a administração dos pulsos for feita com intervalos de duas horas apesar dos níveis normais de FSH e LH, não há maturação folicular nem ovulação. HIPOTÁLAMO O sistema nervoso central exerce influência no aparelho reprodutor através de vários mecanismos. Entre eles destacam-se a via directa, através de neurónios e o controlo humoral. HIPÓFISE O hipotálamo localiza-se na base do cérebro e forma a base do 3º ventrículo e parte das paredes laterais e faz a conexão entre o cérebro e o lobo anterior da hipófise. Actua como integrador de funções endócrinas e descodifica mensagens através de neurotransmissores, produzidos nas terminações nervosas. A tradução do impulso nervoso em secreção hormonal realiza-se em células chamadas neurosecretoras que são diferentes dos neurónios porque o material de secreção é peptídico e o dos neurotransmissores não é. A neuro-hormona mais importante é a GnRH e a neuro secreção é transmitida à hipófise através de um sistema vascular. Os capilares que a irrigam drenam nos vasos porta são provenientes da eminência hipotalâmica média e constituem o sistema porta-hipofisário que drena o sangue que provem do cérebro. Este sistema porta permite que a secreção se faça em ambas as direcções, da hipófise para o hipotálamo e hipotálmo para a hipófise. As hormonas hipofisárias entram na circulação geral pelo sistema porta-hipofisário. Está localizada na sela turca, debaixo do hipotálamo. É uma glândula constituída pela neurohipófise e adenohipófise, que constitui 80% do volume total da glândula e que produz as gonadotrofinas: FSH e LH, em resposta às hormonas libertadoras hipotalâmicas. As gonadotrofinas são glicoproteínas de elevado peso molecular constituídas por duas sub-unidades: α e β. A sub-unidade α é idêntica para todas as gonadotrofinas, a β é específica para cada hormona e é responsável pela sua actividade biológica. A resposta da LH à GnRH é bifásica: uma libertação máxima aos 30 minutos, uma segunda elevação aos 90 minutos que persiste 4 horas. Este padrão bifásico implica a presença de dois compartimentos para a LH na hipófise. O estradiol aumenta a intensidade do segundo pico e a progesterona aumenta a intensidade de ambos os picos após prévia exposição ao estradiol. Em contraste com este padrão bifásico, a FSH apenas mostra apenas elevação do segundo pico. A prolactina é uma proteína pura cuja secreção hipofisária é controlada por um factor inibidor, o PIF ou dopamina. Os neurotransmissores, mais importantes na fisiologia do ovário, são a dopamina, sintetizada no núcleo supra-óptico e paraventricular que é inibidora, indirectamente, da secreção de gonadotrofinas, através da GnRH e directamente da prolactina; a serotonina e nor-adrenalina, sintetizadas no mesencéfalo e pedúnculo cerebral inferior, são estimuladoras da síntese da GnRH. Tem um papel importante na fase luteínica do ciclo ovárico porque diminui a síntese de progesterona pelas células da granulosa. Em 1971, Schally identificou a GnRH, substância libertadora das gonadotrofinas FSH e LH. A resposta de ambas as gonadotrofinas a uma única hormona libertadora é devida à modulação do meio endócrino, particularmente, pelo retro-controlo dos esteróides ováricos. A regulação da secreção de hormonas hipofisárias resulta de mecanismos de retro-controlo. Há três tipos de retro-controlo, que podem produzir efeitos estimulantes ou inibitórios: longo, curto e ultra-curto. É um decapeptídeo produzido no núcleo arqueado e tem uma semi-vida muito curta. Tem uma secreção pulsátil, cujos pulsos variam de amplitude e frequência nos diferentes momentos e etapas da vida reprodutiva e que é controlada pelos neurotransmissores. Nos mecanismos de retro-controlo longo os sinais são transmitidos do ovário ao hipotálamo e hipófise através de esteróides ováricos circulantes. Há um mecanismo de retro-controlo positivo ao estradiol a meio do ciclo sobre a secreção de LH a nível hipofisário e um de retro-controlo negativo da inibina sobre a FSH ao mesmo nível; A GnRH tem um papel permissivo na libertação das gonadotrofinas enquanto que os esteróides ováricos têm um papel regulador. O estudo da pulsatilidade desta hormona tornou mais fácil a compreensão da interacção hipotálamo-hipófise. Fisiologicamente, a GnRH é libertada, de forma pulsátil, em intervalos de uma hora. A administração exógena desta hormona, de forma também pulsátil, conduz a uma função ovárica normal, mas se a frequência de administração aumentar para 2,3, ou 5 pulsos por hora, a hipófise, após um período inicial de estimulação, tornase refractária à GnRH até níveis de FSH e LH indetectáveis; se a O mecanismo de retro-controlo curto, refere-se ao retro-controlo sobre a secreção hipófisária de FSH e LH. Neste mecanismo, a regulação é feita através da circulação mas não envolve factores estimulantes ou inibitórios. O efeito de retro-controlo pode ser positivo ou negativo, mas a maior parte das vezes é negativo. O significado deste mecanismo de retro-controlo curto, sobre a FSH e a LH necessita de mais estudos. - 12 - 1. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - EMBRIOLOGIA E DIFERENCIAÇÃO OVÁRICA O ciclo menstrual normal tem pulsos de LH de alta e baixa amplitude durante a fase folicular. A meio do ciclo a amplitude do pulso aumenta enquanto que a frequência diminui. As amplitudes dos pulsos na fase luteínica são variáveis, havendo grandes e pequenos pulsos. A amplitude dos pulsos é mais elevada na fase luteínica tardia do que na fase luteínica precoce e a frequência dos pulsos é baixa. A descarga pré ovulatória de LH, a meio do ciclo, é pulsátil e contém pulsos de elevada amplitude comparada com os pulsos da fase pré-ovulatória. A frequência e padrão da secreção de LH permanece inalterada durante a fase pré-ovulatória e pico de LH. O retro-controlo ultra-curto envolve a inibição, pela hormona libertadora hipotalâmica, da sua própria síntese, armazenamento e libertação. Adicionalmente há factores autócrinos e parácrinos que têm uma função moduladora. A frequência e amplitude da secreção de gonadotrofinas é regulada pelo hipotálamo (via secreção de GnRH) e pelos efeitos na produção, secreção e armazenamento de gonadotrofinas. A amplitude dos pulsos de gonadotrofinas depende da quantidade de GnRH, que actua nas células gonadotropas, e da sensibilidade das mesmas. O pulso e a amplitude características da secreção das gonadotrofinas são influenciadas pelas hormonas ováricas e com várias substâncias, intra-ováricas, que têm capacidade para produzir efeitos moduladores. - 13 - 2. FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE 2.1. OVÁRIO FETAL cimento existem milhares de folículos primordiais no ovário mas os estrogénios produzidos no primeiro ano de vida estão no limiar da detecção pelos métodos actuais. A foliculogénese é um processo que permite que os folículos possam ser estimulados para evoluir de folículo primordial até às etapas finais de desenvolvimento. Após o nascimento observa-se uma segunda activação hipofisária com predomínio da secreção de FSH. Em resposta a esta estimulação hipofisária o ovário não parece capaz de uma actividade esteroidogénica marcada nem constante embora se observem, no primeiro ano, flutuações individuais de um dia para outro das taxas circulantes de estradiol que podem atingir as observadas na puberdade. As secreções hipófise-gonádicas são caracterizadas por fases sucessivas de activação e inibição desde a vida intra-uterina até à puberdade antes do eixo atingir a maturidade. A foliculogénese até à fase de folículo primário é independente da acção cíclica das gonadotrofinas. Uma vez iniciado o crescimento folicular, este progride até à fase de folículo pré-antral se houver gonadotrofinas, sem necessidade da sua acção cíclica. De facto a GnRH (hormona libertadora das gonadotrofinas) é detectada no ovário fetal entre as 14 e as 16 semanas de gestação e a secreção de FSH (hormona folículo-estimulante) e LH (hormona luteinizante) é detectada, com um padrão de secreção pulsátil entre as 20 e as 23 semanas. Por este motivo podemos encontrar no ovário fetal o mesmo tipo de folículos do ovário adulto, com excepção dos folículos pré-ovulatórios. Para que o processo da foliculogénese progrida até esta etapa é necessária a acção cíclica das gonadotrofinas. Em todas as idades a secreção de gonadotrofinas faz-se de uma forma pulsátil, mas o ritmo e amplitude variam com a idade e o ritmo da sua frequência não é conhecido nem no lactente nem na criança. As concentrações plasmáticas de estradiol da recém-nascida são baixas mas apresentam diferenças significativas em relação ao sexo masculino. As taxas plasmáticas de testosterona, androstenediona, DHEA, são elevadas na altura do nascimento mas baixam rapidamente do mesmo modo que o estradiol e vão manter-se baixas até à puberdade. A diferenciação das células produtoras de esteróides, a partir do tecido mesenquimatoso no compartimento extra-folicular, é também observada às 12 semanas, próximo dos folículos mais internos. Existem poucos dados na literatura sobre a secreção de esteróides pelo ovário fetal. No início da diferenciação ovárica, às oito semanas, o ovário segrega pequenas quantidades de estradiol mas desconhece-se se tem algum papel fisiológico. Às 12 semanas pode segregar pequenas quantidades de testosterona, mas só no final da gravidez o ovário fetal segrega importantes quantidades de esteróides sexuais. 2.3. OVÁRIO INFANTIL Durante a infância a frequência da GnRH é aproximadamente de um pulso/hora nos rapazes e um pulso/3-4 horas nas raparigas. O nível sérico de gonadotrofinas, principalmente LH, decresce gradualmente neste período e permanece baixo até aos 8-10 anos, com uma elevada relação FSH/LH. A resposta hipofisária à GnRH exógena é baixa nesta período. Durante a infância os folículos primordiais passam por vários graus de maturação e produzem quantidades baixas de estradiol Às 20 semanas observa-se a primeira activação hipofisária: níveis altos de FSH e LH que depois decrescem. Embora o ovário fetal não pareça ter actividade esteroidogénica significativa o retro-controlo negativo dos esteróides estabelece-se progressivamente no fim da gestação e mantém-se operacional na criança impúbere. A partir dos sete anos, a zona androgénica da suprarrenal sofre uma maturação que se exprime pela elevação da DHEA plasmática e do SDHEA seguidos de elevação da androstenediona. O papel da adrenarca no desencadear da puberdade é hipotético, mas esta secreção precoce de androgénios parece representar uma maturação do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, provavelmente controlada por um factor hipofisário que estimula especificamente a zona androgénica da suprarrenal. 2.2. OVÁRIO PERI-NATAL Durante o período neo-natal é evidente um padrão de secreção de GnRH. Os estrogénios controlam a formação dos receptores à FSH nos folículos ováricos e a elevação da FSH, entre os 5-8 anos, já pode permitir que os estrogénios se liguem aos receptores. Por seu turno, a FSH estimula a formação de receptores à LH de modo que se vai assistir a uma produção de LH no início da puberdade, em que se observa uma terceira activação hipofisária e o início da actividade gonádica: as gonadotrofinas começam As concentrações plasmáticas de estradiol são elevadas à nascença baixam rapidamente e apresentam diferenças significativas em relação ao sexo masculino. Os estrogénios de origem materna e placentar podem ser observados durante os primeiros 5-6 dias de vida. Até à altura do nas- - 15 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE A interacção destes factores ainda não está bem definida mas a puberdade tem um papel crucial para o desenvolvimento ósseo; a aumentar progressivamente, em fase pré-pubertária, por volta dos 8-10 anos, aproximadamente um ano antes da activação gonádica e do aparecimento dos primeiros sinais da puberdade. 5. o aumento da hormona do crescimento e das IGFs: a. a IGF-I correlaciona-se directamente com o peso, altura, o índice de massa corporal; b. o eixo GF-IGF-I afecta realmente o início do processo pubertário. 2.4. OVÁRIO NA PUBERDADE O início da puberdade é marcado por um a nova elevação da secreção de GnRH. No início da puberdade observa-se, pois, uma terceira activação hipofisária e o início da actividade gonádica. O eixo hipotálamo-hipófise-ovário vai atingir a maturação plena, após um longo período de inibição. A informação que dispômos acerca do timing de início da puberdade tem em conta, não só os factores que regulam o eixo hipotálamo-hipófise-ovário, mas também os factores psico-sociais, o crescimento e o peso. A idade do início da puberdade é mais precoce que no século passado, talvez devido a um melhor estado nutricional, mas depende, essencialmente, de factores genéticos e da influência do estado de saúde e do meio ambiencial. O mecanismo principal da IGF-I, intra-folicular, poderá resultar da amplificação da acção da FSH que pode ser determinante do destino do folículo. Mais especificamente, a actividade intra-folicular da IGF-I poderá realizar o mecanismo de selecção, através da amplificação da acção da FSH, fazendo a distinção entre os folículos que vão ovular e os que vão sofrer a atrésia. Para além da fenomenologia descrita na maturação ovárica haverá muitos outros factores que poderão estar implicados no processo. Já foi demonstrado que a leptina, tem uma acção frenadora sobre a produção do neuro-peptídeo Y (NPY) hipotalâmico que controla a sensação de fome e, consequentemente, a ingestão alimentar. O neuro-peptíeo Y actua tanto a nível hipotalâmico como hipofisário para modular a secreção das gonadotrofinas: no hipotálamo o NPY estimula a secreção de GnRH na presença de níveis fisiológicos de estrogénios e suprime a libertação pulsátil de GnRH após ovariectomia. A nível hipofisário, o NPY pode exercer uma acção directa aumentando a secreção de gonadotrofinas, especialmente a da LH, dependente da GnRH. O NPY é libertado para o sistema porta-hipofisário em correlação com a secreção de GnRH antes do pico de LH. O NPY afecta a libertação de FSH e LH das células hipofisárias in vitro e aumenta a libertação de LH dependente da GnRH. Estes dados implicam o NPY como um importante modulador da secreção de gonadotrofinas. De acordo com todas as opiniões, a maturação sexual feminina está, essencialmente, na dependência dos estrogénios. As modificações biológicas que se observam no início da puberdade não estão bem definidas. No entanto, há determinantes do início da puberdade (Cozzolino, 2003): 1. o aparecimento do ritmo diurno da LH, FSH e testosterona por volta dos 6 anos; 2. o pico de concentração SHBG (proteina transportadora da DHT, testosterona e estradiol) diminui gradualmente; 3. o aumento da produção dos androgénios e dos estrogénios endógenos (estradiol, estrona e estriol); Na adolescência, a produção de LH, provavelmente sinérgica com a da FSH, inicia a produção de estrogénios. De acordo com a maior parte dos autores esta secreção é iniciada, em média, por volta dos 8 anos. Contudo, mesmo após a menarca, demora muito tempo para que os níveis de estrogénios atinjam valores idênticos aos da mulher adulta com função ovárica cíclica. A elevação lenta do estradiol plasmático está correlacionada com a evolução clínica do desenvolvimento pubertário. É possível que esta subida lenta, mas constante, do estradiol seja responsável pela formação de receptores de estrogénios no hipotálamo e na hipófise e tem papel fundamental no processo de maturação do eixo hipotálamo-hipófise-ovário levando ao correcto funcionamento dos mecanismos de retro-controlo. A nível ovárico, a presença de mais de seis folículos com diâmetro superior a 4 mm é um indicador da pulsatilidade da secreção gonadotrófica. 4. a aquisição de um índice de massa corporal crítico. A leptina foi proposta como responsável pelo início e desenvolvimento pubertário. Intervem na maturação sexual e na vida reprodutora da mulher sendo um dos factores que mais fortemente determina a precocidade no estabelecimento da menarca. A leptina é uma hormona reguladora do metabolismo do tecido adiposo e que se apresenta como uma proteína com um peso molecular de 16 Kd e que é codificada pelo gene ob dos adipócitos e que aumenta os seus níveis na puberdade. A aquisição de um bom índice de massa corporal é paralela à aquisição do pico de massa óssea. Para optimizar o pico de massa óssea, devem ser optimizados os factores ambienciais, modificar os que estão errados antes do início da puberdade, e mantê-los durante o período de crescimento até à maturação sexual. A idade média para aquisição do conteúdo mineral ósseo situa-se por volta dos 14 anos, normalmente após o pico de crescimento (em média 0.7anos), habitualmente durante o ano que se segue à menarca. A função ovárica depende do correcto funcionamento e interacção dos três departamentos distintos que compõem o sistema hipotálamo-hipófise-ovário que vai completar a sua maturação - 16 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE no final puberdade e vai comandar todo ciclo genital da mulher desde esta etapa da vida até à menopausa. sentem-se envergonhadas pelas mudanças físicas que estão a ocorrer no seu corpo, principalmente a nível das mamas, que procuram esconder pelo que, muitas vezes, tomam posturas encurvadas e usam roupas largas. A maturação sexual da adolescente está na dependência do hipotálamo que regula as secreções hipofisárias, que por sua vez controlam o desenvolvimento e secreções ováricas. A hormona do crescimento e as hormonas tiroideias são indispensáveis para o desenvolvimento pubertário normal. Foi observado, em diversas situações patológicas, que a puberdade começa a partir de determinada idade óssea independentemente da idade cronológica. A alteração hormonal pré-púbere até à secreção púbere inicia-se com o aumento da secreção pulsátil da GnRH, que conduz a uma elevação progressiva da FSH e LH e dos esteróides ováricos. O aumento da FSH e da LH seguem um perfil característico: a FSH aumenta antes e mais que a LH. São atingidas taxas de FSH adultas, a meio da puberdade, enquanto que as da LH aumentam mais rapidamente no final da puberdade. A descarga nocturna da LH, em maior quantidade que a da FSH, é o sinal mais precoce da activação da activação endócrina pubertária. A amplitude destas descargas aumenta da pré-puberdade à puberdade e conduz a uma secreção pulsátil retardada de estradiol e portanto diurna. Daí a dificuldade de interpretar, nesta idade, as taxas circulantes de hormonas sexuais. Pode acontecer o oposto em muitas adolescentes que se preocupam porque estas modificações estão a demorar ou não são normais e que aceitam a menarca com muito orgulho. Isto significa que a adolescente está bem informada sobre o seu desenvolvimento pubertário o que pode assegurar uma adolescência tranquila e a transição para uma jovem muito equilibrada sob o ponto de vista emocional. As variações fisiológicas da puberdade são grandes e de limites difíceis de definir. Consideramos normais os extremos 9 e 17 anos com variações individuais de mais ou menos 4 anos. Habitualmente começa entre os 9-13 anos, quando o estradiol, até então em equilíbrio com a FSH e a LH por retrocontrolo negativo, ao ultrapassar determinado limiar, cerca de 7 pg/ml, desencadeia a puberdade. Vai haver uma diminuição da sensibilidade hipotalâmica aos estrogénios que desencadeia um aumento progressivo da libertação das gonadotrofinas com aumento da secreção de esteróides ováricos e, consequentemente, modificações morfológicas a nível dos caracteres sexuais secundários (mama e vulva) que constituem um sinal exterior evidente e traduzem o critério objectivo do início da puberdade. Surge, depois, a menarca, com os primeiros ciclos anovulatórios até que a puberdade termina, com os primeiros ciclos ovulatórios que traduzem uma maturação hipotalâmica completa. Um aumento da reserva mobilizável de gonadotrofinas marca a entrada na puberdade: a LH amplifica-se enquanto que a FSH não varia ou mesmo diminui. A produção aumentada da GnRH, LH e FSH provoca a maturação ovárica e o aumento da secreção de esteróides sexuais. O aumento da secreção ovárica está associado a uma modificação do mecanismo de retro-controle negativo do eixo hipotálamo-hipófise-ovário que controla a secreção de estradiol. Estas alterações dão lugar ao aparecimento dos primeiros caracteres sexuais da puberdade que pode ser definida como a etapa da vida da criança durante a qual o seu organismo, no decurso de um surto de crescimento genital, estatural, ponderal e psicológico, se prepara para a função reprodutora. É um fenómeno progressivo, de duração variável caracterizado, fisiologicamente, pelo aparecimento gradual da função ovárica. A média de idades do desenvolvimento cronológico dos caracteres sexuais secundários, durante a puberdade, é a seguinte: > botão mamário-11.2 A; > pelos púbicos-11.7 A; > pico de crescimento-12.2 A; > menarca-13.5 A; > peito adulto-14.4 A; > pelos definitivos-15.3 A. Os sinais objectivos físicos e psíquicos que se observam durante o desenvolvimento pubertário resultam de alterações sequenciais da actividade endócrina do ovário, que vão condicionar modificações biológicas dos caracteres sexuais secundários, que têm, normalmente, um grande impacto psico-social, e da interacção com o estado nutricional e de factores genéticos e ambienciais. O estadiamento das modificações dos caracteres sexuais secundários foi feito por Tanner, que sistematizou, para ambos os sexos, em seis graus, as modificações mamárias, genitais e da pilosidade púbica: > Grau 1 - pré-pubertário: ainda não existem pelos púbicos; > Grau 2 - aparecimento do botão mamário; aparecimento de pelos compridos e suaves, particularmente a nível dos grandes lábios; > Grau 3 - seios S1; os pelos são mais escuros, ásperos e ondulados; > Grau 4 - seios S2; as características dos pelos são idênticas às da mulher adulta, mas a superfície coberta é menor; O maior impacto psico-social resulta da criança, na puberdade, se considerar adulta quando a maturidade física e emocional só se alcança alguns anos depois. A adolescente deve ser respeitada, as suas atitudes de independência devem ser controladas dentro de limites justos. Por outro lado, muitas adolescentes - 17 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE > Grau 5 - seios S3; pelos adultos em qualidade e quantidade, com limite superior horizontal; > Grau 6 - peito adulto e extensão dos pelos até à linha branca. 2.5. OVÁRIO ADULTO Após a puberdade o processo de foliculogénese está completo. O folículo tem duas funções: gametogénica, que assegura a maturação e libertação do óvulo maduro e uma função endócrina, sintetizando hormonas indispensáveis à função reprodutora. Um ovócito maduro e fecundável passa a ser libertado, ciclicamente, após uma elaborado processo de foliculogénese no qual estão implicados vários factores que requerem que o eixo hipotálamo -hipófise-ovário esteja em correlação com o estado endócrino do ovário. O ovário é a glândula principal de todo o processo reprodutivo, em que irá participar, também, através de uma regulação intra-ovárica. Actualmente aceita-se que o ovário, na verdade, tem um papel mais activo do que passivo no início e manutenção da ciclicidade ovárica enquanto que o hipotálamo e a hipófise têm um papel tónico permissivo. Em resposta à secreção cíclica de gonadotrofinas os vários compartimentos intra-foliculares interagem de uma forma integrada de modo a produzir esteróides sexuais e a produzir um ovócito fecundável. Durante a etapa reprodutiva irão ser libertados entre 400-500 ovócitos. Uma correcta interacção entre estrogénios, FSH e LH, culmina no desencadear da primeira ovulação, que conduz à puberdade sexual, que se estabelece quando estes acontecimentos se tornam cíclicos. Em síntese: A reactivação do eixo-hipotálamo-hipófise-ovário exprime-se, espontaneamente por um aumento da secreção pulsátil das gonadotrofinas. A hormona do crescimento e as hormonas tiroideias são indispensáveis a um desenvolvimento pubertário normal e a puberdade começa a partir de determinada idade óssea, independentemente da idade cronológica. Assim, por volta dos 8-10 anos, ou seja cerca de um ano antes da activação gonádica e do aparecimento dos primeiros sinais pubertários, as descargas nocturnas de LH, em maior quantidade que as da LH, são o sinal mais precoce da activação endócrina pubertária. Os picos nocturnos de FSH e LH aumentam a frequência e amplitude. As concentrações basais plasmáticas de FSH, LH e prolactina elevam-se progressivamente. O estradiol aumenta e desencadeia a puberdade, surgindo, as primeiras modificações, ainda que discretas, da actividade estrogénica. Classicamente considera-se que o desenvolvimento folicular está na dependência de duas hormonas hipofisárias: a FSH e a LH. A sua secreção é controlada por mecanismos de retrocontrolo diferencial nos quais intervêm os esteróides ováricos que têm um efeito bifásico, inicialmente negativo e depois positivo e pela inibina, que inibe selectivamente a FSH por um mecanismo de retrocontrolo negativo (Santos, 1989). A modulação da secreção de gonadotrofinas é influenciada pela pulsatilidade da GnRH (Grunwald, 2000). A modulação desta pulsatilidade resulta de estímulos sensoriais externos, tais como ópticos ou olfactivos, o stress e estímulos internos actuam a nível do sistema nervoso central que actua por mecanismos dopaminérgicos e adrenérgicos, e promovem a libertação de neurotransmissores, que podem ter uma acção estimulante (catecolaminas) ou inibidora (indolaminas) sobre a produção da GnRH e, consequentemente, sobre a esteroidogénese (Lunenfeld, 1978). A puberdade prossegue, normalmente, com as primeiras perdas hemáticas anovulatórias para terminar com o início dos primeiros ciclos ovulatórios, resultantes do retrocontrolo positivo para níveis elevados de estradiol, que traduzem uma maturação hipotalâmica completa ao atingir um limiar suficientemente elevado para provocar a descarga ovulatória cíclica de LH. Os estrogénios promovem a distribuição do tecido adiposo característica do sexo feminino dando uma conformação própria e harmoniosa do corpo, conferem à pele uma elasticidade, hidratação e vascularização própria e induzem modificações esqueléticas a nível da bacia que caracterizam o sexo feminino e que se iniciam a nível da mama e vulva. Os neurotransmissores mais importantes no controlo neuro-endócrino da reprodução são as catecolaminas – dopamina e nor -adrenalina, e a indolamina – serotonina. Existem outras estruturas endócrinas a nível do hipotálamo com receptores específicos para a leptina que aumentam a produção de GnRH e gonadotrofinas e, consequentemente, a produção de esteróides. A partir desta etapa da vida da mulher, o ovário atinge o estadio adulto que se estende até à menopausa. Alguns modulam a actividade pulsátil da GnRH outros a actividade dos esteróides sexuais enquanto que outros medeiam efeitos inibitórios dos factores ambienciais. O conceito actual acerca da acção dos neurotransmissores é que as catecolaminas modulam a libertação pulsátil de GnRH, provavelmente alterando a amplitude e frequência dos pulsos. - 18 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE O papel da dopamina na regulação da secreção da GnRH ainda é controverso. A dopamina tem uma acção estimulante ou inibidora que depende das condições experimentais. No entanto, é vulgarmente aceite, que tem um efeito estimulante pela inibição sobre a produção de prolactina e parece actuar directamente sobre a secreção hipofisária de gonadotrofinas embora seja certo que actue nível hipotalâmico por inibição da libertação de GnRH. No entanto há dados que confirmam que a dopamina tem um efeito estimulante sobre a secreção de LH. demonstrado, ao longo do ciclo ovárico, já que a redução de estradiol, observada na menopausa ou após castração, está associada a uma diminuição da função opióide cerebral determinada pelos níveis plasmáticos da β endorfina. Nesta situação observa-se a ausência do efeito da naloxona no aumento da produção de LH, efeito que pode ser revertido pela administração de estradiol e progesterona. Os opióides endógenos (endorfinas) poderão ter, também, uma acção inibitória sobre a produção de GnRH por mediação da acção da norepinefrina. A acção da noradrenalina tem um efeito permissivo sobre a pulsatilidade da GnRH e depende de um grau apropriado de actividade dos receptores adrenérgicos. Estes neurónios específicos noradrenérgicos são receptivos aos estrogénios que parece poderem aumentar a transmissão noradrenérgica. A influência da nor-adrenalina sobre a secreção de LH, experimentalmente, depende do ambiente gonádico. A injecção de nor-adrenalina em animais castrados reduz a secreção de LH, enquanto que em animais tratados, previamente, com esteróides, promove a libertação de LH. Pode-se concluir que os esteróides ováricos modulam o número de receptores adrenérgicos. A secreção de prolactina não é controlada por mecanismos de retro-controlo negativo a partir dos órgãos alvo. É regulada por um mecanismo de retrocontrolo curto a nível hipotalâmico, isto é, por acção retrógrada da prolactina segregada, sobre os receptores hipotalâmicos. A GnRH pode actuar por mecanismos parácrinos na produção competitiva de prolactina e de LH. Esta acção pode ser devida a uma associação anatómica próxima das células lactotrópicas e gonadotrópicas a nível hipofisário. A prolactina, por si só, é também capaz de suprimir a libertação de GnRH. A amenorreia associada à hiperprolactinémia devese à inibição da secreção pulsátil de GnRH. A administração de antagonistas opióides sugere que esta inibição é mediada por um aumento do tónus opióide. Assim todos os fármacos ou factores fisiológicos que afectem a função hipofisária alteram a síntese ou metabolismo das catecolaminas e por isso, a libertação pulsátil de GnRH. Enquanto que as catecolaminas têm efeitos estimulantes as indolaminas têm efeitos inibitórios. A serotonina é uma indolamina que tem efeito inibidor por estimular a secreção de prolactina, provavelmente por acção sobre a libertação do factor hipotalâmico, dopamina, mas não está provado que afecte a libertação de GnRH. Em consequência da libertação de GnRH, a hipófise produz, de um modo cíclico, gonadotrofinas FSH e LH e de um modo pulsátil a LH. A GnRH é segregada para o sistema porta que liga o hipotálamo à hipófise anterior e é influenciada pelo retrocontrolo dos esteróides ováricos e por influências externas. Os opióides endógenos têm um papel central na secreção de gonadotrofinas através da sua acção inibidora sobre a secreção de GnRH. Os opióides endógenos podem ser estimulados ou inibidos por vários neuromoduladores mas a acção dos opióides não pode ser separada do meio esteróide. Os esteróides (estrogénios, progesterona e androgénios) têm uma acção permissiva, directa e indirecta sobre a frequência dos pulsos da GnRH e sobre a libertação de gonadotrofinas. O ovário é o orgão alvo das gonadotrofinas e participa nos mecanismos de retrocontrolo positivo e negativo das gonadotrofinas, através das hormonas esteróides que produz, e do retrocontrolo negativo da FSH através da inibina. A importância dos opióides é bem patente com a observação das consumidoras crónicas de morfina que se associa com a inibição da ovulação e com a instalação de uma amenorreia hipotalâmica que é reversível pela administração de naltrexona, um antagonista opiácio. A morfina ou análogos produzem uma libertação de prolactina e hormona do crescimento e inibem a libertação de gonadotrofinas por inibição da GnRH mas não modulam a secreção de gonadotrofinas a nível hipofisário. O tónus opióide no SNC é importante para controlo do ciclo ovárico. Estudos realizados demonstram que os níveis de β endorfina no sistema porta-hipofisário progridem lentamente desde a menstruação, aumentando a partir da metade da fase folicular até alcançar um máximo na fase luteínica. Os estrogénios são os responsáveis pela manutenção do tónus opióide. Este facto é É fudamental a cooperação das células da granulosa e da teca do folículo ovárico para a produção do 17β estradiol (Baird, 1977). No início do ciclo a FSH, que tinha começado a elevar-se na fase final do ciclo precedente, vai actuar com a LH na maturação e crescimento de vários folículos dando origem à produção crescente de estradiol. A sua acção traduz-se por um aumento da síntese dos seus receptores a nível das células da granulosa, contribuindo deste modo para o crescimento do folículo, mas também pela síntese de um enzima de aromatização responsável pela conversão de androgénios em estrogénios. A acção da FSH é potencializada pelo estradiol no aumento dos seus próprios receptores e também, numa etapa mais tardia, pelo aumento dos receptores à LH nas mesmas células. - 19 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE A LH induz a síntese dos seus receptores a nível da teca interna, o que condiciona a síntese de androgénios que, no líquido folicular, vão ser aromatizados em estrogénio. Por outro lado, os androgénios de origem tecal vão ter uma acção inibitória sobre os outros folículos sendo este um dos possíveis mecanismos de atrésia (Fig.6). FSH MITOSE DAS CÉLULAS DA GRANULOSA Granulosa INIBINA RECEPTORES DA FSH RECEPTORES DA LH MATURAÇÃO DO OVÓCITO AROMATASE ANDROGÉNIOS Teca ESTROGÉNIOS LH Figura 6. Acção das gonadotrofinas na esteroidogénese ovárica. consequente aumento das dimensões do folículo. O ovócito vai segregar glicoproteínas que vão formar a zona pelúcida que o separa das células da granulosa, as células da teca proliferam diferenciando-se em teca interna e teca externa e forma-se uma cavidade com líquido folicular chamada antro. Este processo tem uma etapa com a duração de 14 dias, e à qual chamamos fase folicular, durante a qual o folículo passa por todas as etapas da foliculogénese. Foi demonstrado, in vitro, que as células da granulosa dos folículos atrésicos ainda têm capacidade esteroidogénica, embora diferente dos outros folículos: as células da granulosa dos folículos em desenvolvimento têm capacidade para produzir quantidades elevadas de estradiol e baixas de androstenediona e estas células produtoras de esteróides mantém a capacidade de entrar em mitose, em cultura; contrariamente, as células da granulosa dos folículos em atrésia não têm capacidade de produzir estradiol embora permaneçam esteroidogenicamente competentes, pois, por algum tempo, continuam a sintetizar androgénios, mas não têm capacidade de manter a actividade mitótica em cultura. A foliculogénese compreende quatro etapas fundamentais: recrutamento, selecção, dominância e ovulação. Durante a vida reprodutiva vão sobrepôr-se de forma contínua, no ovário, todos estes fenómenos acrescidos da atrésia folicular, independentemente dos níveis de gonadotrofinas. In vitro, as células da teca de folículos atrésicos são incapazes de manter actividade mitótica mas produzem grandes quantidades de androstenediona; no entanto, os folículos em desenvolvimento produzem quantidades elevadas de estradiol para além de androstenediona. A foliculogénese começa na vida fetal e a progressão pelos diferentes estadios é caracterizada morfologicamente pelo aumento do tamanho do ovócito, pela mitose das células da granulosa e - 20 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE metro) em folículos maduros secundários (120 μm de diâmetro). A formação de um folículo primário, a partir de um recrutamento de folículos primordiais depende de três factores (Nilsson, 2002): Em 1972, Greenwald afirmava “Um dos maiores mistérios da fisiologia ovárica é saber quais os factores que determinam se um folículo vai permanecer quiescente, se outro inicia o seu desenvolvimento mas posteriormente se torna atrésico, enquanto um terceiro amadurece e ovula”. Passados 30 anos, apesar dos progressos nesta área, os aspectos cinéticos da foliculogénese, que iniciam o processo de crescimento folicular continuam desconhecidos. > o ligando KL (antigo factor Stem cell) é produzido em células da granulosa e exerce a sua acção fixando-se ao receptor do ovócito (c-kit). Este receptor é codificado pelo protooncogene c-kit e é sintetizado pelo ovócito; > o LIF (leukemia inhibitory) segregado pelas células da granulosa; > o FGF básico (bFGF) sintetizado pelo ovócito nos folículos primordiais e primários. O controlo da foliculogénese resulta da interacção das gonadotrofinas, FSH e LH (hormona do crescimento e prolactina, em algumas espécies), e factores intra-ováricos. Está bem estabelecido que a foliculogénese está na dependência, na última fase, das gonadotrofinas e que nas fases mais precoces é independente da sua acção estando implicados apenas factores locais. Através de uma cultura prolongada de ovários de ratinha, com idade em que tem início a foliculogénese, foi posta em evidência a acção fundamental do KL na transição de folículos primordiais para primários. Quando o KL é adicionado ao meio de cultura, produz-se um aumento do número de folículos primários ao mesmo tempo que se observa uma diminuição dos folículos primordiais. Inversamente a presença de uma anticorpo anti-c-kit impede a formação de folículos primários. Se as gonadotrofinas e os factores de crescimento têm um papel conhecido e importante, no desenvolvimento e diferenciação dos folículos antrais, o papel dos factores parácrinos e autócrinos, principalmente na formação e início do crescimento folicular e ovocitário não tem sido tão evidenciado. Estes factores são mensagens que assseguram interacções recíprocas entre as células foliculares e o ovócito. Para uma melhor compreensão das alterações que ocorrem no ciclo ovárico é conveniente dividi-lo em três etapas distintas: a fase folicular, a ovulação e a fase secretora. Para que estas fases ocorram de forma adequada e atempada é necessário que os processos que delas fazem parte ocorram de forma sequencial e segundo um padrão de normalidade muito preciso. Foi utilizada a mesma técnica para pesquisa do LIF e do bFGF. Na presença de LIF a proporção de folículos primários aumentou de 14% (P<0.05) e na presença de um anticorpo anti-LIF o número de folículos primários reduziu. A passagem espontânea de folículos primordiais para folículos em desenvolvimento durante os 14 dias de cultura é de 50% e eleva-se par 85% na presença de bFGF. A evolução dos folículos primários para folículos secundários depende de dois factores da família do TGFβ: GDF-9 (Growth Differenciation Factor-9) e BMP 15 (Bone Morphogenetique Protein 15) que persistem nos folículos pré-antrais e antrais. FASE FOLICULAR Todos os processos de conversão estão continuamente operacionais durante toda a vida até à menopausa. É uma fase com a duração habitual de 10-14 dias e que se caracteriza pela presença de folículos adequados para o processo maturativo. Durante a fase folicular o folículo primordial vai passar por um processo de foliculogénese que o vai conduzir até à fase de folículo pré-ovulatório. A maturação folicular envolve interacções complexas entre esteróides e hormonas peptídicas. As hormonas esteróides não influenciam só a maturação folicular, através dos mecanismos de retro-controlo na secreção de gonadotrofinas, mas modulam também o crescimento folicular por uma mecanismo intra-ovárico. Um factor de transcrição próprio das células germinativas, FIG (factor in germ line), é essencial para a formação dos folículos primordiais. Os ovários do feto necessitam deste factor para que as células somáticas adiram às células germinativas para formar um folículo primordial. Se este factor não actuar os ovócitos não iniciam o crescimento e degeneram. Falta conhecer o factor que assegura o reconhecimento dos ovócitos e das células somáticas. Podemos correlacionar no tempo as fases da foliculogénese até ao folículo pré-ovulatório da seguinte forma: > crescimento folicular-65 dias; > recrutamento e selecção-10 dias; > maturação final-10 dias (Fig.7). O tempo de vida de um folículo ovárico, desde que atingiu o estádio de folículo pré-antral, até à ovulação, é de 85 dias. A fase de crescimento pré-antral do desenvolvimento folicular consiste na conversão de folículos primordiais (30 μm de diâ- - 21 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE DURAÇÃO 65 dias 10 dias 10 dias crescimento recrutamento selecção maturação final ETAPA DA FOLICULOGÉNESE Pré-antral mm Antral precoce Antral Pré-ovulatório Ovulação 0.12 24% 0.2 35% 0.4 0.9 15% 2 5 24% 58% 10 77% 16 20 50% ATRÉSIA Figura 7. Foliculogénese. Adaptado de Colin Howels. Follicle growth and luteinization (1991). RECRUTAMENTO O recrutamento um termo utilizado para indicar que o folículo entrou na trajectória de crescimento, isto quer dizer que o folículo sai da fase de quiescência para começar um padrão de crescimento e desenvolvimento bem definido. O recrutamento é uma etapa obrigatória mas que não garante a ovulação. ovócito e a multiplicação das células da granulosa: um deles é a redução do “pool” de pequenos folículos, que ocorre na altura da maturação, inicia o desenvolvimento; o outro factor é a degenerescência de grandes folículos que, aparentemente, libertam uma substância que inicia o desenvolvimento folicular (Lunenfeld, 1976). A maturação folicular involve interacções complexas entre esteróides e hormonas peptídicas. As hormonas esteróides não só influenciam a maturação pelos já referidos mecanismos de retrocontrolo sobre as gonadotrofinas mas também modula o crescimento folicular por mecanismos intra-ováricos. O folículo primordial é constituído por um ovócito com a meiose bloqueada em profase I rodeado por uma única camada de células da granulosa ainda indiferenciadas. O complexo ovócito-granulosa está separado do estroma ovárico por uma membrana basal. As primeiras modificações que ocorrem no desenvolvimento folicular, quando os folículos primordiais abandonam o seu estado de inactividade e iniciam o seu desenvolvimento são independentes da acção das gonadotrofinas. Estes folículos desenvolvem-se até ao estadio de folículo pré-antral, altura em que tem início a diferenciação da teca e da granulosa. Só a partir desta altura poderão responder à estimulação pelas gonadotrofinas na presença de receptores específicos para estas duas hormonas. Desconhece-se o mecanismo determinante da escolha do número de folículos primordiais que vão iniciar o seu desenvolvimento, em cada ciclo, até à fase de folículo pré-ovulatório, embora seja certo que o folículo que vai ovular seja seleccionado nos primeiros dias do ciclo. Os folículos situados por baixo da albugínea do ovário começam o desenvolvimento durante vários ciclos menstruais. O mecanismo responsável pelo recrutamento de folículos primordiais inicia-se entre o 5º e o 6º mês de gestação. Para além do ligando LK, LIF, FGF e de factores da família do TGF β, foi demonstrado que existem dois factores intra-ováricos que influenciam o início da foliculogénese, o crescimento do Na fase de crescimento pré-antral tónica, as células da prégranulosa tornam-se cúbicas e começa um processo de proliferação celular com mitoses sucessivas. Corresponde à fase de - 22 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE conversão de um folículo pré-antral (0.12-0.20 mm de diâmetro) em folículo antral que tem um diâmetro superior a 2 mm. O crescimento folicular é caracterizado por uma aumento de 600 vezes do número das células da granulosa e ao alargamento progressivo do antro, o que conduz a um aumento global do folículo, de cerca de 15 vezes. O termo, crescimento tónico, é utilizado para distinguir esta fase do desenvolvimento, do crescimento explosivo ou exponencial característico das últimas fases do desenvolvimento folicular. A proliferação das células da granulosa e o aumento de volume do ovócito vão promovendo o aumento do diâmetro do folículo e surgem as “gap-junctions”, que fazem a comunicação entre as células da granulosa e que irão permitir trocas nutricionais e metabólicas entre as células da granulosa e o ovócito. As células da granulosa estão estratificadas em três camadas: > a mural, que está adjacente à membrana basal, constituída por células que poderão ser as mais activas na esteroidogénese, contendo níveis elevados de 3β-hidroxiesteróide dehidrogenase, glucose-6-fosfato, dehidrogenase e citocromo P-450; observase também um número muito elevado de receptores à LH nas células murais da granulosa; > a antral, que está mais próxima do antro; > as células do cumulus que rodeiam o ovócito. O desenvolvimento de um folículo, até à fase pré-ovulatória, demora cerca de 85 dias, o que corresponde, aproximadamente a três ciclos ováricos e no início do desenvolvimento, um número elevado de folículos primários são capazes de iniciar este processo. Os folículos que iniciam este desenvolvimento são influenciados por muitos factores tais como a idade da mulher, o estado hormonal e nutricional. Ao mesmo tempo que se inicia a proliferação das células da granulosa, aparece líquido no espaço inter-celular quando o folículo atinge 0.2 mm de diâmetro e as células do estroma adjacente, fora da membrana basal, orientam-se em camadas concêntricas peri-foliculares. Embora não existam dúvidas de que a população das células da granulosa é altamente heterogénia, ainda existe pouca informação disponível no que de refere ao significado funcional da sua estratificação. O crescimento folicular prossegue até à fase de folículo antral, altura em que se inicia o recrutamento destes folículos. Nessa altura, 15-20 folículos são recrutados e entram numa fase da foliculogénese já na dependência das gonadotrofinas. É a chamada fase gonadotrofino-dependente (exponencial). A LH actua a nível das células da teca promovendo a síntese de androgénios que vão difundir para o líquido folicular onde são aromatizados em estrogénios. Os estrogénios vão potencializar a acção da FSH no desenvolvimento folicular. Começa a haver acumulação de líquido entre as células e, consequentemente, a formação de um folículo cavitário folículo antral, rico em estrogénios. A nível da teca, os androgénios têm uma acção inibitória sobre os folículos vizinhos levando-os à atrésia. O acontecimento crucial para que o folículo antral continue o seu desenvolvimento é a activação do sistema aromatase pela FSH. Sabe-se que cada pequeno folículo antral tem um limiar que é indispensável para a estimulação pela FSH (folículos com cerca de 4 mm de diâmetro). A administração de gonadotrofinas exógenas prova que ovário só detecta e responde a variações do nível de gonadotrofinas exógenas apenas em 10-30% provando que é necessário ultrapassar um limiar nos níveis de FSH em todos os folículos para se iniciar o recrutamento dos folículos antrais. Uma vez que o desenvolvimento folicular é assíncrono, na altura do pico de FSH os ovários contêm muitos folículos com graus variáveis de sensibilidade à FSH. O folículo que tiver um limiar de sensibilidade mais baixo será o primeiro a iniciar o processo de activação da aromatase e a começar a produção de estradiol. O líquido folicular, rico em proteínas plasmáticas, hormonas esteróides, gonadotrofinas, proteoglicanos, iões e electrólitos vai criar um meio endócrino que permite a nutrição do ovócito e das células da granulosa. Acumula-se entre as células da granulosa e consiste num transudato, secreções foliculares como glicosaminoglicanos e hormonas esteróides. O conteúdo do líquido folicular influencia e reflecte a esteroidogénese folicular, a maturação ovocitária, a ovulação e a formação do corpo amarelo. Propriedades físico-químicas É um líquido ligeiramente viscoso com PH inferior ao do soro ou plasma e na maior parte das vezes controlado pela pressão parcial do dióxido de carbono (pCO2). A osmolaridade é semelhante ou um pouco inferior à do plasma, a concentração de sódio, magnésio, cloro cobre e de iões de fosfato inorgânico é semelhante à do soro enquanto que a concentração de iões de potássio é mais elevada que no soro. A produção de estradiol e as dimensões do folículo estão intimamente ligadas. A presença de receptores nas células da granulosa estimula a proliferação e aumento da capacidade do folículo para aromatizar os androgénios. A FSH, para além de ser um dos factores responsáveis pela maturação ovocitária, estimula a proliferação das células da granulosa, activa a aromatase e a síntese de receptores específicos à FSH. Mais tarde estimula também a síntese de receptores à LH nas células da teca interna. - 23 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE Mucopolissacarideos (glicosaminoglicanos) Esteróides A actividade esteroidogénica dos folículos antrais é elevadíssima o que permite que as concentrações de esteroides foliculares atinjam níveis 40-100 000 superiores às plasmáticas. Os folículos contêm progesterona, androgénios e estrogénios e o conteúdo folicular em esteróides e, principalmente, a relação entre androgénios e estrogénios foliculares, é um importante indicador da actividade folicular e das perspectivas de ovulação. Assim, na mulher, a maior parte dos folículos antrais contêm mais androgénios que estrogénios e apenas os que contêm mais estrogénios que androgénios continuam o processo maturativo. No líquido folicular humano foram identificadas substâncias anti-coagulantes, com actividade heparina like. Estas substâncias são importantes para facilitar a libertação do ovócito. Proteínas A concentração de proteínas no líquido folicular e no plasma são idênticas. As proteínas presentes no líquido podem resultar de um produção local pelas células foliculares ou podem transudar do plasma. As dimensões das moléculas parecem ser determinantes da sua acumulação no líquido folicular. Assim, a concentração relativa das proteínas séricas é inversamente correlacionada com os seus pesos moleculares. Este dado sugere que a membrana folicular tem uma função de filtração molecular. Aparentemente, nos folículos atrésicos, esta filtragem é diferente e estes contêm uma concentração de grandes proteínas mais elevada, se bem que algumas dessas proteínas possam resultar das células em degenerescência e de leucócitos. Nos grandes folículos a concentração de proteínas de elevado peso molecular aumenta com o desenvolvimento folicular. As células intersticiais são uma fonte de androgénios bem identificada. As células produtoras destas hormonas estão localizadas no tecido conjuntivo do córtex e medula e conduzem a uma população de células mesenquimatosas no estroma ovárico. Foram identificadas vários tipos de células intersticiais: > primárias, localizadas no compartimento medular e que constituem uma população transitória de células produtoras de androgénios; a sua função é um mistério porque aparecem no ovário fetal às 12 semanas de gestação para desaparecerem às 20 e nunca mais serem observadas; > teca-intersticiais, que são constantes, observam-se nos folículos secundários ou em etapas posteriores do desenvolvimento e constituem a fonte principal de androgénios; > intersticiais secundárias, representam as células da teca interna hipertrofiadas que sobreviveram ao processo de atrésia; > hilares, fazem parte dos constituintes do hilo ovárico, têm uma acção importante na biossíntese de androgénios que é sugerida pela proeminência muito particular que atingem na altura da puberdade, gravidez e próximo da menopausa. Foram identificadas muitas proteínas, no líquido folicular, idênticas às observadas noutros tecidos. No entanto, alguns enzimas como as colagenases, plasminogénio e o seu activador, proteases e os seus inibidores deverão estar envolvidas na rotura folicular. Hormonas Gonadotrofinas e prolactina Os níveis de gonadotrofinas no líquido folicular variam com as dimensões do folículo e o estádio de maturação mas têm sempre concentrações inferiores à do plasma excepto a prolactina cujos níveis são muito variáveis e podem ser muito mais baixos ou muito mais elevados que no plasma. SELECÇÃO É um processo pelo qual apenas um folículo, entre os previamente recrutados, é normalmente escolhido, em cada ciclo, para ovular. É o culminar do processo de recrutamento e que ocorre entre o quinto e o sétimo dia de um ciclo normal. Este processo resulta da acção dos estrogénios a nível folicular e na secreção hipofisária de FSH: a nível do folículo têm uma acção positiva sobre a maturação mas a nível central têm um efeito negativo. A elevação da secreção de estradiol pelo ovário tem um efeito supressor no eixo hipotálamo-hipofisário. Particularmente a secreção de FSH diminui antes da fase média do ciclo como resultado da inibição selectiva da FSH pela inibina. A FSH está presente na maior parte dos folículos antrais e a concentração aumenta à medida que a foliculogénese progride, contudo os níveis de FSH no líquido folicular, nunca excedem 60% dos níveis plasmáticos. A LH pode não ser detectada em todos os folículos e só é identificada em folículos que contêm LH que nunca excede 30% dos níveis plasmáticos. A prolactina é sempre detectada no líquido folicular com níveis muito variáveis: entre 8 e 180% dos níveis plasmáticos. A concentração de prolactina é inversamente proporcional às dimensões do folículo. Está demonstrado que a secreção de FSH pelo folículo na fase folicular é inibida pelo estradiol. O declínio dos níveis sanguíneos de FSH resulta da elevação dos níveis de estradiol pelos folículos - 24 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE em crescimento. A baixa dos níveis de FSH provoca uma diminuição da actividade da aromatase e limita a produção de estrogénios nos folículos imaturos. Consequentemente a actividade da granulosa diminui e cria-se um ambiente androgénico que favorece a atrésia destes folículos. O folículo dominante escapa à acção supressora da FSH que é induzida pela própria produção de estradiol porque o folículo dominante tem dois factores a seu favor: tem um número mais elevado de receptores à FSH, uma vez que a taxa de proliferação é maior que a dos restantes, não só pela elevada concentração de estrogénios dentro do próprio folículo mas também por acção de peptídeos locais; por outro lado, o aumento e o crescimento de células da granulosa são acompanhados de um aumento da vascularização que é muito mais importante no folículo dominante que nos restantes folículos. A consequência desta redução dos níveis de FSH durante o ciclo menstrual é a selecção de um folículo antral que continua o seu desenvolvimento e irá ovular. DOMINÂNCIA O termo dominância é utilizado para referir o estado do folículo destinado a ovular e observa-se cerca de uma semana antes da ovulação, provavelmente por acção da FSH (Lunenfeld, 1986). Encontra-se entre a selecção e ovulação. O folículo dominante controla o seu próprio crescimento mas controla ao ambiente hormonal, as vias genitais e o eixo hipotálamo-hipófise-ovário para que a ovulação possa ocorrer em condições favoráveis. O folículo seleccionado para ovular é funcionalmente dominante e é de presumir que iniba o desenvolvimento de outros folículos, que com ele competem, em ambos os ovários. Inevitavelmente, e por razões pouco claras, o folículo dominante continua a desenvolver-se em circunstâncias, que ele próprio criou, e que são inóspitas para os outros. Os folículos com um diâmetro inferior a 8 mm mostram uma relação estrogénio/androgénio intra-folicular relativamente baixa. A partir de metade da fase folicular esta relação inverte-se. Com o aumento da capacidade para aromatizar androstenediona, o folículo dominante é capaz de sintetizar estradiol em quantidades suficientes, para que esta hormona passe para a circulação geral. Na fase folicular tardia, a concentração intra-folicular de estradiol será máxima o que irá provocar, por retro-controlo positivo, o pico de gondotrofinas. Em conclusão: só um folículo, entre os previamente recrutados, irá ovular. O sinal mais precoce desta selecção é a secreção assimétrica de estradiol, patente a partir do 6º-8º dia do ciclo. O folículo seleccionado é o que tem mais capacidade para activar o seu sistema de aromatização conduzindo a uma maior produção e a uma maior proliferação das células da granulosa comparativamente com os outros folículos. A elevação de estradiol intra-folicular acompanha uma taxa plasmática também elevada com consequente retro-controle negativo a nível hipofisário. Quando a descida de FSH ocorre, o folículo seleccionado está menos dependente dos níveis circulantes de FSH, provavelmente porque esse folículo tem o limiar mais baixo de FSH na altura do pico desta hormona a meio do ciclo. A baixa de FSH plasmático limita o aporte de FSH a outros folículos diminuindo a actividade aromatásica e, consequentemente, em todos os folículos, menos no dominante, passa a haver um clima androgénico que conduz atrésia. A atrésia resulta também da supressão da FSH para níveis inferiores ao seu próprio limiar. Se recrutamento e selecção não são suficientes para que ocorra ovulação, o mesmo não se pode dizer com a dominância. Este termo define o estádio evolutivo do folículo que vai ovular. O folículo seleccionado torna-se dominante uma semana antes da ovulação e só este folículo vai segregar quantidades cada vez mais elevadas de estradiol responsáveis pelo retro-controlo positivo a nível hipofisário com libertação do pico de gonadotrofinas que precede a ovulação. Embora o papel fulcral das gonadotrofinas e dos esteróides ováricos no desenvolvimento folicular e na ovulação sejam indiscutíveis o diferente destino dos vários folículos, expostos ao mesmo nível de gonadotrofinas circulantes, faz supôr a existência de factores locais, intra-foliculares, que modulam a acção das gonadotrofinas e determinam o destino do folículo e do ovócito que ele encerra (Westergaard, 1988). O ovário pode ser considerado como um órgão neuro-endócrino uma vez que produz factores que estão envolvidos no controle local e central da acção das hormonas neurais envolvidas na sua fisiologia. Sabe-se, hoje, graças às técnicas de reprodução medicamente assistida, que é possível ultrapassar o processo de selecção pela administração de gonadotrofinas exógenas. Após a sua administração, os níveis de FSH elevam-se por um longo período de tempo permitindo assim aos outros folículos continuarem o seu desenvolvimento. Inúmeros moduladores intra-ováricos têm vindo a ser estudados nos últimos anos. Mas para que uma “substância” possa ser candidata a este título tem que obedecer a três requesitos mínimos e que são: produção, recepção e local de acção estarem todos - 25 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE localizados no ovário. Embora haja ainda muito para aprender em relação a estes moduladores, há razões para acreditar que tenham um papel central regulador na fisiologia do folículo e do ovócito. Estudos experimentais demonstram que estes factores actuam de forma parácrina, que implica uma difusão dos produtos reguladores a partir do produtor, para distintos órgãos-alvo, em sinergia ou antagonismo com as gonadotrofinas ou de forma autócrina, que implica a acção de um regulador nos receptores de superfície, na célula de origem. > suprime a síntese de androgénios pela teca interna, > impede a luteinização precoce suprimindo a síntese de progesterona na granulosa. Regulação intra-ovárica da foliculogénese b- Fase folicular tardia A regulação intra-ovárica é um processo local em que substâncias peptídicas e esteróides segregadas localmente, modulam a resposta folicular à estimulação pelas gonadotrofinas (Danforth, 1999). Estas substâncias são responsáveis pela maturação de um folículo único e evolução dos outros para a atrésia, fazendo-se sentir a sua acção sobre: Aumenta a produção de inibina e diminui a produção de activina. As acções da inibina são: Em síntese: a activina actua de forma autócrina em sinergia com a FSH estimulando a proliferação celular, a aromatização de androgénios em estrogénios, a síntese de receptores à FSH e à LH e a síntese de inibina. A nível da teca interna diminui a produção de androgénios e tem um papel importante na luteinização precoce com supressão da produção de progesterona. > potencialização da síntese de androgénios na teca; > diminuição da síntese e secreção de FSH; > diminuição do número de receptores à GnRH; > previne a luteinização precoce. > aromatização dos androgénios em estrogénios; > multiplicação das células da granulosa; > atrésia dos folículos não dominantes; > rotura do folículo; > luteinização. As activinas e inibinas são conhecidas por terem uma acção extra -ovárica variada. A activina e a inibina são segregadas a nível das células da granulosa: a inibina exerce a sua acção reguladora na secreção da FSH via eixo hipotálamo-hipofisário e tem uma acção autócrina e parácrina a nível do ovário. Em síntese: As células da granulosa do folículo dominante, em resposta à FSH e à estimulação pelos androgénios, produzem quantidades elevadas de inibina, que é uma glicoproteina com um peso molecular de 32.000 e que vai ter efeitos centrais e locais: A nível central diminui as gonadotrofinas e consequentemente o estímulo para o crescimento folicular e suprime o crescimento de outros folículos. A nível local estimula a produção de androgénios pela teca interna e consequentemente a síntese de estrogénios. A acção da inibina reduz o efeito da activina nas células da teca interna donde resulta um aumento da aromatização e do número de receptores para a LH. A inibina é sintetizada por acção da FSH, tem acção reguladora local e actua a nível hipofisário diminuindo o número de receptores à GnRH e diminuindo a produção de FSH. A secreção ovárica de inibina é regulada pelas gonadotrofinas e por factores locais, inibida pela GnRH e pelo EGF e estimulada pela FSH, VIP e IGF-I. A acção destes peptídeos é, tal como a das gonadotrofinas, modulada por factores de crescimento tendo um papel mais conhecido a IGF-I. Os factores de crescimento são polipeptídeos que modulam a proliferação e diferenciação celular através de receptores específicos de membrana. São reguladores com acção importante na libertação de gonadotrofinas e na resposta folicular a estas hormonas (Grunwald, 2000). A activina tem apenas acções locais, a nível ovárico estimulando as células do folículo, a nível hipofisário, estimulando a libertação de FSH, in vitro, mas não parecendo influenciar a regulação da FSH in vivo. O factor estimulante da activina é a GnRH e os inibidores são a folistatina e a inibina. A IGF-I é segregada a nível hepático, sob controlo da GH e nas células da teca do ovário e a sua biodisponibilidade é regulada pelas proteinas de transporte. a- Fase folicular precoce Predomina a acção da activina que tem as seguintes acções: A IGF-II é segregada nas células da granulosa luteinizadas; contrariamente à IGF-II a sua produção não parece estar na dependência da GH. > estimula a aromatização; > estimula a proliferação celular; > induz os receptores para a FSH e LH; > estimula a produção de inibina; > inibe a acção da LH; As IGFs podem exercer as suas acções endócrinas, parácrinas e autócrinas no ovário. Entre todos os potenciais factores regula- - 26 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE hipotalâmico diminuindo a sensibilidade dos receptores aos estrogénios e, consequentemente, impedindo a secreção pulsátil de GnRH, tem uma acção importante a nível ovárico inibindo a esteroidogénese quer a nível do folículo, quer após a ovulação, a nível do corpo amarelo. dores intra-ováricos a IGF-I foi objecto de uma investigação mais intensa; no entanto ainda não existem dados conclusivos sobre o mecanismo de amplificação da acção da FSH a nível das células da granulosa, pelo que a IGF-I permanece ainda um importante objecto de estudo, embora, observações preliminares sugiram interacções com o AMPc. Fisiologicamente, a secreção de prolactina, requere uma supressão contínua. Os níveis são mais elevados durante o sono e a causa do ritmo circadiano é desconhecida. A dopamina (PIF) é o principal inibidor, a nível hipotalâmico, da secreção da prolactina e a sua secreção não é controlada por mecanismos de retro-controlo a partir de órgãos alvo. É regulada por um mecanismo de retro-controlo curto a nível hipotalâmico. A secreção de prolactina no sistema porta produz uma subida local na concentração de dopamina e descida da vasopressina. A GnRH pode actuar, por um mecanismo parácrino, na produção de uma estimulação pulsátil da prolactina competitiva com a secreção de LH. Por este motivo a prolactina vai exercer uma acção importante a nível da fisiologia do ovário. Pensa-se que a IGF-I poderá exercer o seu efeito nas células da granulosa por ligação aos receptores da insulina e IGF-I mas também poderá actuar de forma autócrina, a nível da teca potencializando a acção da LH sobre a produção de androgénios e, de forma parácrina a nível da granulosa, amplificando a acção da FSH e, em sinergia com esta hormona, actuando na proliferação, aromatização e síntese de inibina. Estudos recentes sugerem que a IGF-I tem, principalmente, uma acção endócrina enquanto que a IGF-II exercerá o seu efeito por acção endócrina, parácrina e autócrina (Adashi, 2000). No folículo humano predomina a IGF-II que actua, a nível das células da granulosa luteinizada promovendo a proliferação celular. Este factor de crescimento actua independentemente da hormona do crescimento e a sua acção principal parece exercer-se a nível do embrião. Uma vez sintetizados, nas células da granulosa, todos os receptores para a LH, o folículo pré-ovulatório entra na fase final do crescimento. Da interacção de múltiplos factores resulta o meio adequado para a ovulação que é desencadeada pelo pico de LH. De um modo geral as acções das IGFs a nível do ovário são as seguintes: > aumento dos receptores da FSH e LH na granulosa; > aumento da actividade aromatásica a nível da granulosa; > no folículo pré-ovulatório a acção das IGFs têm uma acção importante na síntese de progesterona; > aumento da produção de inibina pelas células da granulosa. 2.6. OVOGÉNESE Para que a ovulação seja eficaz é necessário que haja a libertação de um ovócito com características de maturidade e fecundabilidade adequadas. Para que tal aconteça é necessário que o processo de ovogénese seja contemporâneo da foliculogénese. As células germinativas, de origem extra-gonadal, são detectadas no embrião de 24 dias e movem-se para a área da futura gónada e o processo de ovogénese começa simultâneamente com o da foliculogénese. É um processo pelo qual uma célula germinativa diplóide se transforma numa célula haplóide apta a ser fecundada. Este processo para além de aumentar a diversidade genética fornece ao ovócito o suporte para a nutrição precoce do embrião. Outros factores de crescimento nomeadamente o EGF e TGF também poderão estar envolvidos neste processo. A EGF na potencialização da proliferação e diferenciação das células da granulosa e a TGF por uma acção coordenadora das actividades foliculares a nível da teca e da granulosa. O OMI, inibidor da meiose ovocitária, como o nome sugere inibe a resolução da meiose. Para além do equilíbrio entre as gonadotrofinas, a activina e a inibina, os factores de crescimento são modulados também pelas IGF binding proteinas que são sintetizadas localmente por acção da FSH, da Insulina e da IGF-I. São as proteinas transportadoras que fixando as IGFs diminuem a taxa do factor livre contrariando a acção destes. Estão elevadas nos folículos de pequenas dimensões baixando a sua concentração à medida que o folículo cresce. MATURAÇÃO OVOCITÁRIA É um processo definido como o reinício e resolução da primeira divisão meiótica, subsequente progressão até à metafase II, maturação nuclear e citoplasmática para ser possível a fecundação e desenvolvimento embrionário precoce. Embora não podendo ser classificada como moduladora intra -ovárica, por não ser produzida no ovário, a prolactina tem um papel importante na foliculogénese. Para além de actuar a nível Uma alternativa para a resolução da meiose I foi posta por Byskov em 1978. Inclui a acção das mesmas substâncias responsáveis - 27 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE bloqueio meiótico através de sinais inibidores enviados pelas “gap junctions”. pelo início e bloqueio da meiose na gónada fetal: uma inibidora, o MPS (meiosis preventing substance) e outra indutora, O MIS (meiosis inducing substance), ambas produzidas pelas células de origem mesonéfrica. A resolução da meiose dos ovócitos maduros está associada a uma descida da concentração dos níveis de AMPc (Kupker, 2000). Esta descida parece ser o início de uma cascata de acontecimentos que resultam na maturação ovocitária. Após a rotura da vesícula germinativa o processo maturativo ovocitário é irreversível. Na gónada masculina a meiose é só iniciada na puberdade. A ausência do início da meiose no testículo fetal é explicada pela diferenciação ser mais precoce que a do ovário e contemporânea do início da secreção de MIS pela “rete”. A secreção de MPS pelas células de Sertoli do testículo morfologicamente diferenciado impede a actuação do MIS. O desencadear fisiológico da resolução da meiose é o pico pré -ovulatório de LH. Os níveis elevados de LH intra-celular têm como consequência uma descida dos níveis intra-celulares de AMPc e a rotura das “gap junctions” que fazem o contacto entre as células da granulosa e os ovócitos e que são essenciais para a manutenção do bloqueio meiótico. De facto, foi demonstrada, in vitro, a resolução meiótica espontânea, se os ovócitos antrais forem postos em cultura sem as células do cumulus. No ovário a diferenciação mais tardia permite um estímulo transitório pelo MIS que induz o início da meiose. Após a formação do folículo o processo é bloqueado em diploteno pela secreção de MPS produzido pelas células da granulosa e/ou por um mecanismo de barreira que impediria a entrada no folículo do MIS segregado pela “rete”. Parece-nos que o equílibrio e a interacção entre substâncias indutoras e inibidoras possam controlar o início da meiose na gónada feminina e masculina. A resolução da primeira divisão meiótica não seria pois um acontecimento secundário à ausência de um ou vários inibidores mas é, provavelmente, modulada pelos níveis relativos destes e de uma substância indutora, o MIS, produzido pelas células da granulosa do folículo pré-ovulatório (Torgal, 1991). MATURAÇÃO CITOPLASMÁTICA À medida que o ovócito cresce dão se alterações na infra-estrutura do citoplasma e respectivas organelas. O padrão de síntese proteica altera-se durante esta fase de crescimento até ao bloqueio em metafase II. A maturação citoplasmática é essencial para preparar o ovócito para a fecundação, activação para o desenvolvimento embrionário precoce, antes do genoma do embrião estar activado. Mesmo quando o ovócito tem capacidade para ser fecundado, após ter adquirido competência meiótica, pode não ter adquirido o grau apropriado de maturação citoplasmática necessário para manter um embrião com viabilidade. Aceita-se que regulação da maturação ovocitária está na dependência da LH, no entanto o ovócito não tem receptores para esta hormona. Aparentemente a LH actua, indirectamente, na rotura da vesícula germinativa por acção das células da granulosa. Esta indução é feita por um bloqueio das comunicações intra-foliculares e diminuição da transferência de substâncias inibidoras da maturação para o ovócito em consequência da rotura das “gap junctions”, que fazem a união das células do cumulus com o ovócito e pela acção de substâncias indutoras a nível do ovócito. 2.7. OVULAÇÃO A ovulação marca o culminar de uma série de acontecimentos iniciados pela descarga de LH, e o processo de rotura folicular está frequentemente relacionado com a ovulação. É caracterizada pela maturação ovocitária com a resolução da meiose, início da luteinização das células da granulosa, reestruturação da parede do folículo, rotura do folículo e libertação de um óvulo maduro e fecundável. MATURAÇÃO NUCLEAR Durante o período de foliculogénese o ovócito adquire a capacidade para resolução da meiose, para a síntese de RNA e proteinas necessárias para completar a maturação meiótica, processo conhecido como aquisição da competência meiótica. Este processo parece ter as seguintes etapas: primeira, rotura do núcleo do ovócito (vesícula germinativa) para completar a metafase I, segunda, entrada na anafase e terceira, bloqueio, de novo, em metafase II. O folículo pré-ovulatório maduro está incluído no tecido conjuntivo do ovário e só uma pequena parte faz protusão na superfície. Nesta etapa distinguem-se várias camadas: a) uma camada superficial de epitélio; b) tecido conjuntivo constituído por uma túnica albugínea e a teca externa. Esta constituição contribui para uma maior elasticidade do folículo; c) teca interna, uma camada celular bem vascularizada conten- Os ovócitos dos folículos pré-antrais ainda não adquiriram esta capacidade. Os folículos antrais que já a possuem, mantêm o - 28 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE do fibrócitos bem diferenciados e uma actividade esteroidogénica intensa; d) células da granulosa que estão separadas da teca interna pela membrana basal e encerra o líquido folicular que enche a cavidade. tem mecanismos para regular o meio esteróide hormonal do líquido folicular para cada um dos folículos humanos. A produção de progesterona é também importante na facilitação do retrocontrole positivo dos estrogénios na libertação de LH, observando-se uma maximização da produção de da secreção da LH hipofisária quando o processo de maturação do folículo está completo. As alterações estruturais mais importantes que conduzem à ovulação são as do tecido conjuntivo da túnica albugínea e da teca externa. À medida que se aproxima a ovulação começa a dissolução da matriz extra-celular e a dissociação do colagénio da teca. As alterações do tecido conjuntivo são acompanhadas por um aumento da permeabilidade vascular. Na altura da ovulação, as células da granulosa que constituem o cumulus, são expulsas com o ovócito, enquanto que as células murais da granulosa continuam intactas e ficam incorporadas no corpo amarelo. Além do mais, a ausência de actividade do citocromo P-450, sugere a ausência de actividade aromatásica. De igual modo o número de receptores diminui substancialmente comparativamente com o número de receptores das células murais. Do ponto de vista morfológico, o folículo pré-ovulatório caracteriza-se por uma aceleração do crescimento, que se aproxima da cortical do ovário. As células da granulosa aumentam de volume e apresentam abundantes vacúolos lipídicos, enquanto que a teca interna tem um aspecto muito vascularizado e vacuolizado e o ovócito começa a separa-se do resto do folículo, rodeado, somente pela coroa radiada. Pode pensar-se que enquanto a progesterona está a ser sintetizada no folículo, os cromossomas do ovócito podem progredir até ao final da primeira divisão meiótica. Embora não haja certezas é possível que a subida dos níveis de LH inibam ou bloqueiem a síntese de factor inibidor da maturação permitindo, assim, que a maturação final do ovócito possa ocorrer. Isto porque, estudos efectuados, demonstram que se os níveis de LH forem muito elevados antes do pico da LH, pode ocorrer uma maturação ovocitária precoce. Este fenómeno está bem demonstrado nas situações de superovulação para técnicas de reprodução medicamente assistida. Observa-se que níveis elevados de LH estão associados a baixas taxas de implantação e a abortamentos precoces, enquanto que a gravidez evolutiva ocorre em situações que cursaram com baixos níveis de LH. Quando o folículo atinge a maturidade o estradiol atinge o seu máximo. Num ambiente estrogénico tão intenso o pulso da frequência de GnRH é mais rápido, a sensibilidade das células gonadotropas da hipófise aumenta e há uma descarga maciça de gonadotrofinas. A descarga pré-ovulatória de gonadotrofinas induz uma série de modificações nos vários compartimentos foliculares. O efeito da descarga da LH é duplo: causa alterações profundas estruturais e funcionais a nível do folículo e secundariamente dá-se a resolução do processo meiótico que estava bloqueado. No líquido folicular existem factores inibidores da meiose até à ovulação. Uns ainda não estão completamente caracterizados e a sua acção completamente esclarecida, mas outros sim, como é o caso do OMI já referido (factor inibidor da meiose), sintetizado nas células da granulosa e que actua enquanto há integridade do cumulus. Uma teoria alternativa é que possam existir um ou vários factores indutores, que quando em equilíbrio com os factores inibidores, o processo meiótico permanece bloqueado. O folículo entra numa fase rápida de crescimento, principalmente devida a um aumento do volume do líquido folicular e ocorrem também grandes alterações da actividade endócrina das células foliculares. O acontecimento mais importante é o facto de as células da granulosa não poderem produzir mais estradiol por aromatização, e assim, perdem os receptores para a FSH e estradiol. As células da granulosa vão sofrer a luteinização e começam a sintetizar progesterona estimuladas pela LH. O OMI foi identificado em 80% dos folículos pré-ovulatórios e o seu valor aumenta após o pico da LH. Após este pico, a dispersão das células do cumulus vai impedir a actuação do OMI e ao mesmo tempo estimula a acção local dos factores indutores. As células do cumulus estão aparentemente inplicadas na mediação da acção da LH na indução da meiose. As concentrações elevadas de estrogénios e progesterona e as baixas concentrações de androgénios constituem o perfil hormonal característico do folículo pré-ovulatório. Em contraste, o perfil hormonal dos pequenos folículos, na fase folicular tardia, é caracterizado por elevadas concentrações de androgénios e baixas concentrações de estradiol e progesterona. Embora os dados actuais não estabeleçam se o perfil hormonal esteróide determina o folículo ovulatório, eles definem as diferenças dos perfis hormonais dos vários folículos. Por outras palavras, exis- Embora não tenha sido possível demonstrar a existência de receptores à LH no ovócito, foram demonstrados receptores para s LH/hCG nas células do cumulus, embora em menor número que nas camadas das células murais da granulosa. Este facto é comprovado pela resposta do complexo cumulo-ovocitário às - 29 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE A rotura deste folículo é o objectivo fundamental do ciclo ovárico e é desencadeada pela descarga pré-ovulatória de LH. A LH actua como mediadora de um padrão bioquímico associado à ovulação que, facilita e modula a rotura folicular e a expulsão do ovócito. gonadotrofinas com a esteroidogénese, mucificação das células do cumulus e activação da adenilciclase. Esta última resposta à LH não foi observada em pools de 130-300 ovócitos desnudados, sugerindo que a acção indutora da meiose pela LH é mediada pelas células do cumulus. Esta acção pode não acontecer pela anulação dos factores inibidores nestas células. São profundas as alterações estruturais que precedem a rotura do folículo no momento da ovulação: Muito provavelmente, a resolução da meiose resultará duma variação relativa entre factores indutores e inibidores: quando a concentração dos factores indutores ultrapassa a dos factores inibidores a meiose é re-iniciada (Torgal, 1991). > acumulação de líquido folicular e aumento das dimensões do folículo; > diminuição da actividade esteroidogénica nas células da granulosa contrastando com as células tecais do mesmo folículo que segregam activamente estrogénios e progesterona; > aumento dos níveis de progesterona no líquido folicular; > distensão da parede folicular e decomposição da matriz intercelular; > alterações vasculares na teca, incluindo hiperémia e aumento da permeabilidade capilar; > alterações “inflamatórias” da parede com libertação de histamina. As células do cumulus, particularmente as das camadas que rodeiam o ovócito sofrem alterações características seguidas do pico pré-ovulatório de gonadotrofinas. Estas alterações morfológicas, tais coma a dispersão celular através da zona pelúcida, provocam um rotura das comunicações entre as células do cumulus e do ovócito. Seguem-se alterações bioquímicas que incluem a síntese de mucopolissacarídeos, aumento da produção de lactato e progesterona e diminui o consumo de oxigénio. A FSH, mas não a LH, induz a mucificação e a síntese de ácido hialurónico. O intervalo necessário para que estas alterações estruturais da parede do folículo humano, oscilam entre 36 a 42 horas, após o pico da LH. Em conclusão: parece haver poucas dúvidas que algumas células somáticas são importantes para a resolução da meiose mas os mecanismos implicados no processo não estão totalmente esclarecidos. Enquanto que nos folículos pré-antrais os ovócitos são ainda incompetentes para a resolução da meiose parece que nos folículos antrais a meiose é inibida por uma acção preventiva exercida pelas células da granulosa e pelas células do cumulus. A expulsão do ovócito e do líquido folicular produz-se de maneira progressiva e não de uma forma brusca devido a um aumento de pressão folicular como se poderia pensar. Foram postas várias hipótese para explicar o mecanismo da rotura folicular: por um lado a alteração da composição do líquido folicular na fase de aceleração do crescimento, provocado por alterações do conteúdo hormonal condicionando variações na pressão osmótica; por outro lado pensa-se que poderá resultar do papel importante da síntese local de substâncias proteolíticas que actuariam sobre a membrana basal provocando a sua rotura. Na fase final da divisão meiótica do ovócito uma pequena quantidade de citoplasma acompanha metade dos cromossomas que se dividiram e forma o que se chama primeiro glóbulo polar, que é empurrado para a periferia de um dos lados do ovócito maduro. Para que a ovulação aconteça é necessário que ocorra a rotura do folículo. De facto o folículo começa a sofrer alterações profundas. A sua rápida expansão faz pressão nas paredes e, provavelmente por acção de colagenases, particularmente prostaglandinas, a parede começa a romper. As células da granulosa e da teca produzem enzimas proteolíticos e também activadores do plasminogénio como resposta à FSH, LH e progesterona, que activam o plaminogénio para produzir plasmina. Esta, por seu turno, produz colagenase activa, que, em última instância conduz à rotura folicular. A parede do folículo pré-ovulatório é geralmente descrita como sendo composta por seis camadas. A mais superficial é o epitélio germinativo de superfície, que repousa na membrana basal que por sua vez se funde com a túnica albugínea. Estes três elementos constituem a serosa do ovário. A parede do folículo, adjacente à albugínea, é composta pela teca externa, a seguir pela teca interna e lâmina própria, o que impede todo o suplemento vascular directo para as partes mais internas da granulosa. De facto, já está sobejamente demonstrado a LH estimula, no folículo ovárico, a síntese de prostaglandinas, particularmente E e F que aumentam significativamente, em fase pré-ovulatória, no líquido folicular, com um pico no momento da ovulação. Por este motivo o aumento desta produção poderá mediar o estímulo ovulatório da LH na expulsão do ovócito uma vez que é sabido que o fenómeno não é puramente mecânico já que a rotura do folículo, a libertação do ovócito e do líquido folicular é feita de um modo ROTURA FOLICULAR - 30 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE que estava suprimida até este momento, por acção da activina, começa a ser produzida. suave pois a pressão do folículo pré-ovulatório é baixa. O que ocorre é uma diminuição da elasticidade da parede que pode ser induzida pela LH ou pela progesterona, mas nunca pelos estrogénios ou FSH. Este efeito da LH no folículo pode ser mimetizado pelo AMPc e prevenido por um inibidor da 3 β-hidroxiesteróide dehidrogenase, e a inibição é revertida pela administração exógena de progesterona. Quando a parede do folículo começa a romper, o ovócito, que só está preso às células da granulosa por uma fina ponte de células, rompe com facilidade esta ligação permitindo que o ovócito seja libertado. No ovário humano é uma sequência que pode começar 5-6 dias antes do pico pré-ovulatório de LH. Este último acontecimento, que marca o final da fase folicular, e precede a ovulação, observa-se 36 horas antes. Em última instância, e de um ponto de vista endócrino, o pico de gonadotrofinas é o principal responsável pela ovulação. O próprio folículo desencadeia a ovulação através da síntese progressiva de estradiol que quando atinge um determinado limiar activa o mecanismo de retro-controlo positivo que permite a libertação do pico ovulatório que tem várias consequências: No humano, a LH e a hCG demonstraram estimular a rotura de folículos maduros. Em ratos hipofisectomizados, contudo, a FSH altamente purificada pode funcionar como hormona ovulatória, após maturação folicular, induzida pela FSH e LH. É também interessante observar que os inibidores da síntese de prostaglandinas (por via sistémica ou localmente no antro folicular) inibem a ovulação no ratinho e no coelho. Uma vez que está demonstrado que a LH estimula a síntese de prostaglandinas pelos folículos ováricos, o aumento da síntese de prostaglandinas pode mediar o estímulo ovulatório da LH. > aumento da produção do plasminogénio; > secreção de ácido hialurónico pelo cumulus, facilitador da expansão e dispersão das células; > assegurar a existência de receptores para a LH nas células da granulosa para que o corpo amarelo tenha uma função adequada. > Embora existam variações, mesmo individuais, entre os ciclos, a ovulação ocorre 10-12 horas após o pico de LH e 36 horas após o início (Fig.8) Além das modificações das modificações estruturais referidas correlacionadas com o aumento da distensibilidade da parede parece que enzimas de digestão estão implicados na rotura folicular. Foram identificados muitos enzimas proteolíticos, hialuronidase, fosfatase ácida esterases com actividade colagenase -like e o activador do plasminogénio. As prostaglandinas actuarão estimulando as contracções que facilitarão a libertação do ovócito. A produção de progesterona, FOLÍCULO LH Síntese de prostaglandinas ERITEMA Síntese de esteróides permeabilidade vascular Síntese proteica Activadores do plasminogénio edema Plasminogénio plasmina Activação da colagenase ROTURA FOLICULAR Figura 8. Mecanismo da rotura folicular/ovulação. - 31 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE de corpo amarelo porque células da granulosa não sofrem mais divisões mas aumentam as suas dimensões e sofrem alterações celulares importantes: produzem um pigmento chamado luteína que lhe confere a cor amarela, daí resultando o seu nome, e por isso dizer-se que as células da granulosa luteinizam. Observa-se, ao mesmo tempo, a proliferação de fibroblastos e vasos que atravessam a membrana basal e penetram na granulosa. Simultaneamente as células murais da granulosa sofrem alterações morfológicas, às quais, de um modo geral, se chama luteinização. As células intersticiais da teca e a neo-vascularização misturam-se e dão origem ao corpo amarelo. A angiogénese é fundamental para a luteinização porque este elevado afluxo sanguíneo permite o aporte de substrato às células da granulosa, nomeadamente o colesterol LDL, para que o folículo, agora denominado corpo amarelo, possa sintetizar progesterona. O corpo amarelo tornase, macroscopicamente, uma estrutura de contorno lobulado, de 1.5 a 2 cm de diâmetro, ocupado no centro por um coágulo hemorrágico. Em conclusão: o pico de LH está associado a vários acontecimentos: > reinício da meiose ovocitária através da supressão dos factores inibidores; > luteinização das células da granulosa; > estimulação da actividade proteolítica e síntese de prostaglandinas essenciais para a rotura folicular. Em síntese: a ovulação é iniciada pelo pico de LH. Este provoca um aumento do AMPc a partir do ATP, donde resultaria a resolução da meiose. Quase de imediato a parede do folículo torna-se hiperémica e subsequentemente edematosa enquanto que a produção de progesterona e outras hormonas esteróides não é afectada. A síntese proteica, iniciada pela LH, é responsável pela diferenciação celular das células da granulosa e pala luteinização, secreção de esteróides e de activador do plasminogénio. Além da progesterona o corpo amarelo produz estradiol, hormonas necessárias para a preparação do endométrio para a nidação. A partir do folículo roto forma-se o corpo amarelo, fonte de estrogénios e progesterona na fase secretora do ciclo. Mas ovulação não é sinónimo de corpo amarelo funcionante. Para que a sua função seja adequada é necessário que as células da granulosa sejam em número suficiente, tenham sofrido luteinização, tenham adquirido vascularização e receptores à LH adequados pois é esta hormona, que em níveis plasmáticos mínimos, irá regular o seu funcionamento na produção de estrogénios pela teca e de progesterona pela granulosa luteinizada. A teca interna responde à estimulação pela LH com aumento da produção de progesterona, androgénios e também prostaglandinas e activadores do plasminogénio. Os activadores do plasminogénio convertem o plasminogénio, do líquido folicular, em plasmina, esta activa a colagenase, induz a colagenólise que vai ser responsável pela digestão das paredes do folículo. Teorias anteriores responsabilizavam o aumento da pressão hidrostática, dentro do folículo, pela rotura folicular (Franchimont, 1990), quando apenas foram demonstradas pequenas variações da pressão hidrostática que não podem ser o factor principal implicado na rotura folicular porque a diminuição pressão da parede do folículo apenas baixa a de 15-20 mm de Hg, valores a que ocorre a rotura do folículo. A luteinização é definida como um conjunto de modificações morfológicas, que se observam no folículo pré-ovulatório, tais como hiperplasia e acumulação de gotas lipídicas, e funcionais que se caracterizam pela produção de progesterona. O número de receptores à LH sintetizados em fase folicular irá determinar a qualidade do corpo amarelo, fonte de estrogénios e de progesterona na fase luteínica do ciclo. São agora estas duas hormonas que vão ter um papel inibidor sobre o crescimento folicular: a progesterona por acção directa sobre o folículo e a progesterona simultâneamente com o estradiol, por retro-controle negativo, sobre as gonadotrofinas. Além deste retro-controlo negativo sobre as gonadotrofinas, foi demonstrado que o corpo amarelo também produz grandes quantidades de inibina. FASE SECRETORA LUTEINIZAÇÃO E FORMAÇÃO DO CORPO AMARELO Após a ovulação produzem-se modificações morfológicas e endócrinas que tiveram início antes da ovulação. O folículo dominante reorganiza-se para se tornar o corpo amarelo. Após a rotura do folículo, os capilares e fibroblastos do estroma circundante, proliferam e penetram na membrana basal. 2.8. IMPLANTAÇÃO Nos estádios finais da foliculogénese, que culmina na ovulação, as células foliculares perdem os seus receptores e tornam-se insensíveis à estimulação pela LH. No entanto, 2-3 dias após a ovulação, recuperam a capacidade de resposta a este estímulo, provavelmente, por acção da prolactina. A progesterona torna-se a hormona predominante no folículo roto, que passa a ter o nome O papel crucial das hormonas esteróides na preparação do endométrio para a implantação é indiscutível. No entanto, também é claro que estas hormonas não sendo os efectores finais, podem iniciar uma cascata de eventos moleculares mediados por - 32 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE moléculas locais parácrinas/autócrinas que contribuem para os mecanismos moleculares de aposição, adesão e invasão. A implantação ocorre, geralmente, no terço médio e superior da parede posterior do útero, e tem lugar num momento específico do ciclo menstrual, denominado janela de implantação. Este período estende-se do 6º ao 10º dia após a ovulação e deve coincidir com o desenvolvimento embrionário no estadio de blastocisto. A implantação é um processo que consiste na fixação do blastocisto no endométrio materno e que requere um endométrio receptivo, um embrião funcionalmente normal e um diálogo entre estes dois organismos que são imunológica e geneticamente diferentes. Todo este processo está regulado por múltiplos factores que actuam de forma sistémica (endócrina) ou local (parácrina ou autócrina), tanto a nível do endométrio como do embrião. 2.9. LUTEÓLISE Do ponto de vista endócrino, o corpo amarelo é a principal fonte de estrogénios e progesterona na fase secretora. Na ausência de gravidez, a capacidade funcional a vida média desta glândula, depende da secreção de LH enquanto que se ocorrer gravidez a sua manutenção é da responsabilidade da hCG. Normalmente, a vida média do corpo amarelo é de 14 dias. A partir daí o corpo amarelo regride espontaneamente e é substituído, a menos que ocorra uma gravidez, por uma escara avascular referida como corpo albicans. Os mecanismos da luteólise são desconhecidos. Os estrogénios e as prostaglandinas, podem ter um papel importante na promoção deste acontecimento. Figura 9. Ciclo menstrual. Perfil hormonal do ovário e alterações do endométrio. B. Lunenfeld, 1978. É fácil concluir que qualquer interrupção na coordenada e delicada interacção entre os componentes integrados do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, que deve actuar dentro de limites qualitativos precisos e sequências temporais exactas conduz à anovulação. Na ausência de gravidez, 14 dias após o pico da LH, dá-se a luteólise e o corpo amarelo transforma-se no corpo albicans, se bem que se possa considerar normal uma variação até de 11-17 dias; contudo, se a implantação ocorrer não vai haver regressão do corpo amarelo. O embrião implantado segrega uma glicoproteina, a hCG (gonadotrofina coriónica humana) que permite o prolongamento da sua duração. Esta hormona tem uma acção idêntica à da LH e promove a síntese hormonal no corpo amarelo. No caso de não haver implantação, há falência da produção de hormonas esteróides e da inibina que conduzem à produção de gonadotrofinas. 2.10. CORPOS ALBICANS FOLÍCULOS ATRÉSICOS Os corpos amarelos em regressão são invadidos por tecido conjuntivo, macrófagos e hemossiderina e formam, gradualmente, uma cicatriz colagénia chamada corpo albicans. A queda dos esteróides ováricos induz uma elevação da FSH, por retro-controle negativo, que promove o recrutamento de um novo conjunto de folículos, que iniciaram o seu desenvolvimento vários ciclos atrás, iniciando-se um novo ciclo ovulatório, fenómeno que se vai repetindo, ciclicamente até à menopausa (Fig.9). Cerca de 99.9% dos 400.000 folículos presentes na altura do nascimento sofrem atrésia, processo que começou antes do nascimento e se prolonga até ao fim da idade fértil. O processo começa com a degenerescência do ovócito e termina com o desaparecimento completo do folículo. - 33 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE A atrésia ocorre em todas as etapas da foliculogénese, mas é mais frequente nos folículos que se aproximam das dimensões em que podem ser seleccionados para uma ovulação potencial. Os folículos seleccionados e sobrevivem à fase de folículo antral, normalmente, ovulam, mas podem também sofrer atrésia. Estão descritos estádios consecutivos de atrésia de folículos antrais (Tsafriri, 1980): atrésicos. Além de que a exposição precoce dos folículos à LH também tem um efeito promotor de atrésia. Por este motivo, a indução prematura do pico de LH, na mulher, provoca a regressão do folículo dominante. Parece que o sinal principal para que um folículo pré-ovulatório não sofra atrésia é a sua capacidade para sintetizar estrogénios em contraste com os pequenos folículos que estão condenados a este destino. Uma vez que parece que os estrogénios diminuem a atrésia, além de terem um efeito promotor do crescimento dos folículos antrais, enquanto que as gonadotrofinas a aumentam, quando os níveis de estrogénios são baixos, os estrogénios produzidos localmente, em resposta às gonadotrofinas, podem controlar o destino dos folículos, individualmente, determinando se irão sofrer o processo maturativo ou atrésia do mesmo modo que os androgénios têm também um papel local importante na evolução dos folículos para a atrésia. 1. Atrésia precoce (estádio I), caracterizados por um pequeno número de células da granulosa, <10%, com núcleo picnótico, habitualmente, próximo do antro folicular, enquanto que algumas das células da granulosa ainda se encontram em mitose; 2. Estádio II de atrésia, mostrando muitas células da granulosa com núcleos picnóticos, entre 10-30%, poucas células em mitose e o antro folicular contendo restos celulares. A membrana basal perde a sua integridade e os leucócitos infiltram as camadas das células da granulosa. O ovócito mostra alterações meióticas-like; Obviamente, o conhecimento sobre os mecanismos de atrésia ainda é muito rudimentar e fragmentado. 3. Estadio III de atrésia, caracterizado por redução do número de células da granulosa, nenhuma delas em mitose e colapso folicular. A teca está hipertrofiada e as células contêm gotas lipídicas. Os corpos albicans e os folículos atrésicos são reabsorvidos posteriormente. A maior dificuldade para estudar a atrésia é o facto de só se poder fazer retrospectivamente. Com o objectivo de ultrapassar este óbice, foram feitos estudos para induzir a atrésia de grandes folículos pré-ovulatóros abolindo o pico de gonadotrofinas. O resultado foi que a abolição do pico de gonadotrofinas resultou num avanço do estádio de atrésia de 3-4 dias. A total privação de gonadotrofinas, por hipofisectomia, resultou num avanço do processo de atrésia de 48 horas. Em conclusão: embora haja muito para aprender em relação à foliculogénese e ovulação, é certo que o desenvolvimento folicular, a partir dos folículos primordiais, é independente das gonadotrofinas, mas não é evidente o momento em que o estímulo gonadotrófico se inicia e controla os estádios finais da foliculogénese. Também é totalmente desconhecido o processo de início e manutenção da atrésia, embora haja dados que a atrésia folicular pode representar uma forma programada de morte celular. Surpreendentemente, a actividade esteroidogénica total dos folículos atrésicos foi mais elevada que nos folículos saudáveis, apesar do padrão de esteróides produzidos pelo folículo atrésico ser consideravelmente diferente: nos folículos pré-ovulatórios os estrogénios foram o principal esteróide produzido nas primeiras horas após a estimulação gonadotrófica e a progesterona o esteróide predominante nos folículos atrésicos o que poderá indicar haver uma interferência nos mecanismos de aromatização. Alguns estudos demonstram o papel da apoptose na atrésia folicular. Os folículos pré-ovulatórios são seleccionados, em fases antrais precoces, para continuar o desenvolvimento e uma vez que o seu programa de morte celular está presente nas células foliculares, parece que numerosos factores de sobrevivência actuam, em simultâneo, de modo a assegurar que o programa apoptótico não seja activado. O mecanismo de início da atrésia dos folículos antrais é desconhecido mas foram postas várias hipóteses para o mecanismo: > degenerescência da teca e redução da vascularização restringindo a posssibilidade dos nutrientes actuarem nas células da granulosa; > substâncias provenientes de folículos em crescimento ou de outros folículos atrésicos; > esteróides e hormonas proteicas. A administração de androgénios em experimentação animal aumenta o número de folículos - 34 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE 2.11. MENSTRUAÇÃO No final da fase secretora, por mecanismos desconhecidos há a luteólise, responsável pela regressão pré-menstrual. Esta regressão do endométrio resulta, por um lado, duma inversão da permeabilidade vascular, por outro de uma involução tissular provocada pela dissolução das fibras de reticulina pela relaxina produzida, a nível do endométrio, em fase secretora. O endométrio é constituído por uma camada basal e por uma camada funcional e vascularizado por artérias vulgarmente designadas por artérias espiraladas (Fig.10). A. uterina A. arcuata A. radial CAMADA FUNCIONAL artéria espiralada glândula endométrio Artéria basal CAMADA BASAL miométrio artéria radial veia Figura 10. Vascularização do endométrio. - 35 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE donde resultaria uma isquémia seguida de necrose. As objecções postas a esta teoria são duas: em primeiro lugar só foi demonstrada a existência excepcional de shunts, e somente no terço superior do endométrio; por outro lado pode até duvidar-se da sua existência por razões de ordem histológica e de organogénese: é que a constituição de tais anastomoses, por desembocadura de uma arteríola numa vénula, deveria subentender a existência de uma arteríola de parede musculo-esquelética completamente organizada; como já foi referido, em endométrios normais, uma artéria espiralada nunca contém fibras elásticas nem estruturas neuro-musculares. Estas artérias são ramos longos emitidos pela artéria arqueada, e que, perpendicularmente a esta se dirigem para a camada funcional. Os ramos curtos constituem as artérias basais que irrigam a camada basal conjuntamente com os ramos colaterais das artérias espiraladas. As artérias basais têm terminações nervosas na parede, particularmente na bifurcação da artéria arqueada em artérias espiraladas e estas artérias têm um componente músculo-elástico bem diferenciado. Pelo contrário as artérias espiraladas não têm esta estrutura bem diferenciada mas são muito sensíveis às variações hormonais. Os ramos terminais destas artérias desembocam numa rede capilar subarterial que é drenada por uma rede de lagos de união arteríolar ou capilar para uma segunda rede mais profunda, mas sempre localizada na camada funcional. O retorno venoso faz-se por uma rede de veias colectoras de trajecto vertical largamente anastomosadas, que apresentam dilatações que drenam no plexo venoso situado na junção miométrio/endométrio. Parece mais provável que o mecanismo da menstruação possa resultar dos seguintes factores: após a regressão pré-menstrual o colapso súbito do corion, secundário à queda brusca de estrogénios, conduz a uma estase das artérias espiraladas com alterações do endotélio vascular suficientes para decapitar a parte superficial das artérias espiraladas e também a sofrimento glandular provocado pelo esmagamento das glândulas. A contracção rápida mas progressiva do endométrio conduz com colapso da camada esponjosa, conduz, por efeitos mecânicos a um aumento da especialização das artérias. Do ponto de vista hemo-dinâmico resulta uma estase vascular que se prolonga durante toda a fase de regressão que é responsável por uma isquémia tissular. As células glandulares, em sofrimento, libertam prostaglandinas, particularmente F2α, cuja acção, associada à queda de progesterona, aumenta a contractilidade uterina com vaso-constrição das artérias basais, isquémia do endométrio e necrose, quase completa, da camada superficial. Em consequência destes acontecimentos ocorre a menstruação. Existem várias teorias para explicar, talvez por insuficiência de dados ou por uma interpretação, por vezes inexacta de aspectos morfológicos ou biológicos ainda discutidos. Como resultado desta sequência de acontecimentos, vai haver libertação, pelos lisossomas, de enzimas proteolíticos, nomeadamente hidrolases ácidas, o que vai condicionar a digestão das paredes vasculares e hemorragias focais. A libertação de histamina pelo foco necrótico reverte, rapidamente, a vaso-constrição. A vaso-dilatação conduz a uma hemorragia a nível da solução de continuidade que existe entre as artérias basais, bem conservadas graças à sua estrutura elástica, e as artérias espiraladas cuja parede está em necrose isquémica. As hipóteses mais frequentes são: A vaso-constrição pré-menstrual e menstrual das artérias espiraladas é por muitos considerada como mecanismo desencadeante da menstruação. A menstruação seria de causa puramente mecânica, devida a um fenómeno vascular: o espasmo das artérias espiraladas determinaria uma zona de isquémia e depois a sua necrose. A eliminação dos territórios isquemiados far-se-ia seguida pelo aparecimento de uma hemorragia. Esta teoria apresenta uma objecção fundamental e que, é o facto das artérias espiraladas serem caracterizadas por ausência de todo um sistema elástico e neuro-muscular o que não permite a vaso-constrição rítmica. Haverá, então, um afluxo de sangue entre a camada basal e a esponjosa formando pequenos hematomas que clivam progressivamente as camadas funcionais da camada basal com uma descamação por retalhos. A menstruação é acompanhada de descamação limitada de fragmentos de endométrio viável. A maior parte das células persiste e participa num novo ciclo através de estruturas arquitecturais conservadas, só as células da compacta e esponjosa que sofreram lesões irreversíveis são eliminadas (Fig.11). A outra teoria mais frequente tende a atribuir a isquémia do endométrio à existência de shunts arterio-venosos e esfíncteres pré-capilares que se multiplicariam no final do ciclo. Com a aproximação da menstruação, um encerramento dos esfíncteres pré-capilares determinaria um curto - circuito do fluxo sanguíneo que deixaria de atingir as regiões mais superficiais do endométrio, - 36 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE MECANISMO DA MENSTRUAÇÃO REGRESSÃO PRÉ-MENSTRUAL Colapso do corion (resultante da queda brusca de estrogénios) Estase das artérias espiraladas alterações do endotélio sofrimento glandular prostaglandinas + progesterona vasoconstrição das artérias basais + contractilidade uterina isquémia do endométrio necrose da camada superficial libertação de histamina --> vaso-dilatação reflexa --> hemorragia - HEMATOMAS entre a basal e a esponjosa MENSTRUAÇÃO Figura 11. Mecanismo da menstruação. - 37 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE Embora este mecanismo seja o mais provável para explicar o fenómeno menstrual, está bem definido que existem factores locais que são determinantes no desencadear do processo: outras actividades proteolíticas, de origem lisosómica que contribuem para a fibrinólise, além do mais, a elevada concentração de produtos de degradação do fibrinogénio e fibrina são agentes anti-coagulantes eficazes que impedem toda a coagulação. O papel das prostaglandinas, que apresentam um elevado teor no sangue menstrual, é impreciso, mas é certa a sua actividade vascular e anti-plaquetar. Aos mecanismos fibrinolíticos endometriais juntam-se os efeitos dos activadores do plasminogénio, contidos nas glândulas e no muco, que completam a actividade fibrinolítica intra-uterina. > inervação do endométrio. Os nervos acompanham as artérias, segundo alguns autores na camada basal, mas segundo outros, as fibras nervosas estendem-se até à esponjosa não atingindo a compacta superficial. Estas fibras parecem dirigir-se isoladamente para as glândulas que nunca penetram. Recordemos que os nervos penetram no útero a nível do istmo sendo esta a região mais rica, a nível do útero, em fibras nervosas. O istmo, sendo a região mais inervada de todo o útero, tem um papel importante no mecanismo local da menstruação: os corpúsculos nervosos sensitivos, estimulados por abertura do istmo actuariam, por uma via não precisa, sobre as artérias uterinas; O mecanismo da hemostase evolui em duas fases: nas primeiras hora os vasos estão total ou parcialmente ocluídos por rolhos plaquetares e de fibrina. Com a fragmentação da camada funcional os rolhos hemostáticos do são progressivamente eliminados e substituídos por outros que se formam nas camadas mais profundas. Ao terceiro dia não há trombos vasculares e o controlo da hemorragia parece fazer-se por vaso-constrição assistida, talvez, por contracções miometriais estimuladas pela endotelina 1. Nenhum dos dois mecanismos assegura a oclusão vascular completa, o que explica que as perdas sanguíneas persistam até completa regeneração do endométrio. > actividade miometrial. O miométrio também participa nos fenómenos locais da menstruação, pois no decurso da regressão endometrial a amplitude das contracções uterinas aumenta. Os estímulos poderiam resultar de uma acção de factores locais, essencialmente prostaglandinas, nas quais o endométrio é particularmente rico, e que estimulariam a actividade miometrial, modulando a actividade plaquetar e controlando a libertação de heparina pelos mastócitos; Mesmo enquanto a menstruação persiste pode observar-se o início da regeneração. Logo que a maturação folicular ocorre o endométrio está preparado, de novo, para realizar a sua função reprodutiva. > modificações hemodinâmicas da rede vascular extremamente bem diferenciada e hormono-dependente tem um papel importante na hemorragia menstrual. Os estrogénios têm uma acção vaso-dilatadora, favorecem a permeabilidade vascular e exercem uma acção directa estimulando a libertação de histamina pelos mastócitos, que também tem uma acção vaso-dilatadora. Em fase pré-menstrual produz-se uma constrição arterial que foi atribuída ao efeito mecânico da espiralização; mas à proliferação vascular e ao colapso tissular associa-se a acção de outros factores como a queda dos níveis hormonais, a diminuição da concentração local de MAO e a degenerescência celular provocada por enzimas lisosómicos de outras substâncias inflamatórias; Devemos recordar que a angiogénese é um processo essencial no crescimento e desenvolvimento teciduais. A angiogénese é necessária não só para o crescimento do tecido tumoral como para o de tecidos normais e, em geral, limitada por factores reguladores. O endométrio tem crescimento e regressão rápidos por ser também uma fonte importante de factores angiogénicos durante o ciclo menstrual. 2.12. ESTEROIDOGÉNESE > fenómenos puramente endometriais. Está bem definido que os processos de regressão precedem e dominam os de descamação. A regressão endometrial faz-se por reabsorção de substância inter-celular e por citólise intensa sem destruição da arquitectura geral. Ela conduz a uma concentração marcada da mucosa e a uma descamação secundária limitada a uma porção variável, somente da camada compacta do endométrio. A esteroidogénese ovárica é controlada pelas gonadotrofinas. As células da teca e da granulosa actuam sinergicamente de forma a haver uma produção máxima de estrogénios. A natureza deste sinergismo ainda não está completamente esclarecida. Se a teca contribui com os androgénios como substrato para a aromatização, é então possível que a contribuição das células da granulosa para este sinergismo seja a aromatização dos androgénios produzidos na teca. O sangue menstrual contém quantidades importantes de substâncias proteicas, enzimas diversos e prostaglandinas. Os raros “coágulos” não contêm fibrina e são constituídos por glóbulos vermelhos no seio de uma substância mucóide. Este fenómeno pode ser explicado pela intensa actividade fibrinolítica e proteolítica do endométrio. Os activadores do plasminogénio aumentam a plasmina, a actividade da plasmina é complementada por In vivo, as células da granulosa, porque não têm vascularização adequada, têm um fraco suplemento de oxigénio e de outros nutrientes essenciais, que limitam a sua possibilidade e capaci- - 38 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE tem capacidade para induzir os seus próprios receptores a nível da granulosa. Embora o estradiol, só por si, possa não ter efeito na distribuição, número ou afinidade dos receptores da FSH nas células da granulosa, os estrogénios mostraram ter uma acção sinérgica com a FSH no aumento dos seus receptores. Consequentemente, as modificações na produção de estradiol pelos folículos pré-antrais seleccionados, pode aumentar a sua resposta à FSH. dade para a síntese de esteróides. Quando a granulosa é vascularizada e luteiniza, o seu potencial de biossíntese pode ser evidenciado. O conceito de que antes da ovulação as células da granulosa são esteroidogenicamente inactivas mantém-se. Mesmo o ovário fetal humano não é esteroidogenicamente quiescente. De facto foi demonstrado que o ovário fetal humano já contém, não só uma cadeia lateral de actividade de clivagem do colesterol, mas também actividade 17α-hidroxilase e desmolase. Outra acção da FSH é a indução da actividade aromatásica das células da granulosa. Na presença de androgénios aromatizáveis (androstenediona e testosterona) observa-se um subida dos níveis de estradiol a nível folicular e depois a nível plasmático. A FSH também tem a capacidade de induzir os receptores à LH nas células da granulosa. Esta capacidade é também aumentada pela presença, concomitante de estrogénios. Uma vez induzidos os receptores à LH nas células da granulosa é necessária a presença continuada de FSH para a sua própria manutenção. As células da granulosa são a fonte mais importante dos dois esteróides ováricos, estradiol e progesterona. A biossíntese de estrogénios requere uma cooperação entre as células a granulosa e da teca: a aromatase, produzida nas células da granulosa, e induzida pela FSH, aromatiza os androgénios dependentes da LH. As células da granulosa isoladas mostram que a FSH, mas não a LH, estimulam a síntese de estrogénios. Em contraste, as células da teca isoladas não produzem estrogénios em quantidades significativas. Na verdade, a actividade aromatásica das células da granulosa é 700 vezes superior à das células da teca dos grandes folículos pré-ovulatórios. Estes dados são consistentes com a hipótese de que as células da granulosa são o principal local de biossíntese de estrogénios no folículo dominante pré-ovulatório. Estas observações, também, sugerem que os androgénios, particularmente a androstenediona, produzida nas células da teca, estimuladas pela LH, sejam o principal substrato para a biossíntese de estrogénios pela aromatase produzida nas células da granulosa sob estímulo da FSH. Embora a estrona possa ser o estrogénio mais imediato, é convertida rapidamente em estradiol como resultado da actividade da 17β-hidroxiesteroide dehidrogenase (na granulosa). A secreção hipofisária de FSH é regulada pelo retrocontrolo negativo dos estrogénios e inibina. Acção da LH A LH é uma hormona importante em todas as fases do ciclo. Na fase folicular fornece o substrato para a produção de androgénios pelas células da teca. Estudos realizados, mostram que a LH tem um papel importante na foliculogénese é necessária para a progressão dos pequenos folículos antrais até a folículos pré-ovulatórios, em sinergia com a FSH. O pico de LH a meio do ciclo induz a resolução da meiose e, após este, pico, dá-se a ovulação e a LH mantém a produção de progesterona pelo corpo amarelo. ACÇÃO DAS GONADOTROFINAS E HORMONAS ESTERÓIDES Geralmente, admite-se que a LH actua a nível da teca de pequenos folículos para promover a síntese de androgénios (principalmente androstenediona), principal substrato para a para a biossíntese de estrogénios. O consequente aumento da produção de estrogénios contribui para o crescimento e desenvolvimento do folículo em questão. Presumivelmente, o tratamento com doses baixas de LH resulta, também, no aumento do número de receptores à LH bem como a indução do enzima chave da esteroidogénese, a 17β-hidroxilase/17,20-desmolase. Acção da FSH Os efeitos mais acentuados da FSH são observados no final do ciclo anterior até aos cinco primeiros dias da fase folicular. Como o nome indica, a FSH é o principal promotor da maturação e crescimento foliculares, através da proliferação das células da granulosa, embora os estrogénios sejam os mitogénios mais importantes destas células. Acção dos estrogénios Os receptores à FSH estão localizados exclusivamente nas células da granulosa pelo que se presume que estas células tenham uma acção mediadora na acção da FSH, a nível ovárico. A capacidade da FSH para orquestrar o crescimento e desenvolvimento foliculares depende da possibilidade que esta gonadotrofina tem de exercer várias acções em simultâneo. A FSH Para além dos seus múltiplos efeitos sistémicos, os estrogénios exercem várias acções críticas a nível do ovário. As células da teca e da granulosa são locais de acção dos estrogénios. A nível da granulosa, os estrogénios promovem a divisão celular e - 39 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE exercem um efeito directo anti-atrésico. Por outro lado, os estrogénios têm papel importante na promoção da formação da formação das gap-junctions, na formação do antro e no aumento dos receptores de estrogénios. Os estrogénios sinergizam, também, as gonadotrofinas a vários níveis, incluindo o crescimento ovárico, formação de receptores à LH e FSH e aumento da actividade aromatásica. ocorre, somente, após tratamento prévio com estradiol. Como efeito de retro-controlo negativo observa-se que, a administração sistémica de progesterona isolada, não suprime a FSH nem a LH, mas este efeito pode ser conseguido em sinergia com os estrogénios. A progesterona tem também uma acção de retrocontrolo negativo, a nível hipofisário, e, indirectamente, a nível hipotalâmico, também em sinergia com os estrogénios. O estabelecimento de um meio hormonal intra-folicular rico em estrogénios parece essencial à auto-regulação do folículo. O destino do folículo depende, em grande parte, da sua capacidade para produzir estrogénios, especialmente em termos de selecção e manutenção do folículo dominante. Em conclusão, a progesterona actua sinergicamente com os estrogénios, mas as acções específicas da progesterona e estradiol a nível na hipófise não são ainda conhecidas (Fig. 12). CÉLULAS DA TECA A elevação de estrogénios suprime a secreção de FSH e inibe a maturação dos outros folículos. Um dos folículos recrutados adquire vantagens em relação aos restantes, mais receptores à FSH e mais capacidade para aromatizar androgénios; devido à consequente elevação dos níveis de estradiol, aumento da concentração de inibina e através de outros factores parácrinos e endócrinos criam-se as condições para a promoção da atrésia entre os outros folículos com menor capacidade de aromatização. COLESTEROL AMPc LH Androstenediona Acção dos androgénios Os androgénios servem de substrato para a aromatização ou 5 α redução. Parece que a interacção entre as células da teca e da granulosa no folículo dominante de modo a uma produção máxima de estrogénios não está completamente operacional antes dos últimos estadios do folículo antral. As células da granulosa dos folículos pré-antrais mostram uma maior actividade de 5 α redução do que de aromatização, donde resultam, predominantemente androgénios α reduzidos (DHT) enquanto que as células da granulosa dos grandes folículos antrais apresentam uma actividade aromatásica significativa. As concentrações foliculares elevadas androgénios reduzidos (DHT) podem actuar como inibidores competitivos da actividade aromatásica nas células da granulosa. Este efeito pode ser devido à abolição da capacidade para a FSH induzir receptores à LH nestas células. Os androgénios aumentam a actividade aromatásica induzida pela FSH e na ausência de gonadotrofinas promovem a atrésia folicular. Testosterona CÉLULAS DA GRANULOSA Androstenediona FSH AMPc Testosterona aromatização Acção a progesterona ESTRONA A progesterona tem, também, um efeito positivo e negativo no retro-controlo das gonadotrofinas; em termos de retro-controlo positivo a administração de progesterona é seguida por uma subida de LH em ratinhas hipofisectomizadas previamente tratadas com estrogénios. Este retro-controlo positivo da progesterona é, provavelmente, em parte mediado pelo hipotálamo e ESTRADIOL Figura 12. Gonadotrofinas e esteroidogénese. Adaptado de Roura, L. C. Tratado de Ginecología, Obstetrícia y Medicina de la Reproducción (2003). - 40 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE As hormonas esteróides derivam do colesterol e podem dividir-se em três grupos segundo os átomos de carbono: 3- Estrutura básica - estrano (18 átomos de carbono) – estrogénios. O colesterol é o elemento básico da síntese dos esteróides sexuais (e tem duas origens (Fig.13): 1- Estrutura básica - pregnano (21 átomos de carbono) - corticóides e progestagénios; 2- Estrutura básica - androstano (19 átomos de carbono) - androgénios; COLESTEROL OVÁRICO COLESTEROL SÉRICO ACETATO P450scc PREGNENOLONA 3β hidroxiesteróide desidrogenase P450c17 17-OH PREGNENOLONA PROGESTERONA P450c17 P450c1 17-OH PREGNENOLONA DHEA 3β hidroxiesteróide desidrogenase P450c17 ANDROSTENEDIONA 17β hidroxiesteroide desidrogenase P450 arom TESTOSTERONA ESTRONA 3β hidroxiesteróide desidrogenase P450 aromatase Figura 13. Via básica da biossíntese dos esteróides. Adaptado de Roura, L. C. Tratado de Ginecología, Obstetrícia y Medicina de la Reproducción (2003). - 41 - ESTRADIOL 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE 1- Síntese local a partir do acetato; Os esteróides são inactivados pelo fígado e os seus metabolitos são eliminados pelo pela urina sob a forma de glicuronoconjugados ou sulfoconjugados. A progesterona é convertida em 20 hidroxi-progesterona ou em pregnantriol, metebolito da 17-hidroxi -progesterona e eliminada sob a forma de pregnanodiol. 2- A partir da circulação geral, que é a maior fonte de colesterol para as células do ovário, através de um receptor de membrana celular para as lipoproteinas de baixa densidade. A conversão do colesterol em esteróides e de um esteróide noutro, com diminuição progressiva de átomos de carbono, faz-se através de uma série de reacções: As acções celulares das hormonas requerem a fixação da hormona a um receptor específico. Os receptores têm grande afinidade para a hormona, esta ligação reverte-se com facilidade, são saturáveis e altamente específicos. 1- Divisão da cadeia lateral do colesterol com produção de pregnenolona; A acção das hormonas a nível celular começa com a união destas a um receptor específico mas as acções hormonais começam quando a hormona se liberta do receptor. As hormonas gonadotróficas unem-se a receptores membranários e geram um sinal que regula várias funções intracelulares, na maior parte das vezes por modificação de uma actividade enzimática. 2- Conversão dos grupos hidroxilo a cetonas, com conversão da pregnenolona em progesterona; 3- Reacção de hidroxilação: a progesterona é hidrolizada para formar a 17 α-hidroxiprogesterona, precursor básico da síntese de androgénios; A maior parte destas hormonas são hidrossolúveis (não têm proteína transportadora) e iniciam uma resposta ao fixarem-se no receptor localizado na membrana. A interação da hormona com o receptor conduz a uma activação ou inactivação de sistema da adenil-ciclase localizada na superfície interna da membrana plasmática cataliza a formação de AMPc, segundo mensageiro intra-celular, a partir de ATP na presença de magnésio. O AMPc desempenha uma actividade decisiva na actividade da maior parte destas hormonas. A concentração intra-celular de AMPc é aumentada ou diminuída por algumas hormonas e este efeito varia de tecido para tecido. (A adrenalina conduz a elevações importantes do AMPc no musculo e modificações relativamente pequenas no fígado). 4- Aromatização: Os androgénios: androstenediona e testosterona são convertidos em estrogénios através de reacções de hidroxilação, oxidação e desidrogenação. A maior parte do estradiol e testosterona sintetizados circulam no sangue ligados à SHBG (sex hormon binding globulin - proteina sintetizada no fígado), 10-30% liga-se à albumina e 1% circula na forma livre. A DHA, Androstenediona e DHT circulam maoiritariamente ligadas à albumina, parte ligada à SHBG e uma percentagem mínima circula de forma livre. Os esteróides e as hormonas tiroideias fixam-se a receptores intra celulares e o complexo que se forma proporciona um sinal. O complexo hormona-receptor sofre uma “activação” que depende da temperatura e da composição salina, que vai conduzir a modificações do tamanho, conformação e carga de superfície que o torna capaz de unir-se à cromatina. Se esta união e o processo de activação ocorrem no citoplasma ou no núcleo ainda é duvidoso. O complexo hormona-receptor sofre uma activação que o torna capaz de se unir, provavelmente, à cromatina em regiões específicas do ADN (chamada “elemento de resposta à hormona”) e activa ou inactiva genes específicos Ao afectar de modo selectivo a transcrição genética e a produção dos ARNm respectivos, modificam as quantidades de proteínas específicas e, deste modo, influenciam os processos metabólicos. O efeito de cada uma das hormonas deste grupo é bastante específico, em geral, a hormona afecta menos de 1% das proteínas ou do ARNm numa célula. A DHT e androstenediona são os principais androgénios de origem ovárica. Os restantes 50% são de origem suprarrenal. A testosterona é produzida em 25% pelo estroma ovárico, 50% da testosterona circulante resulta da conversão periférica da androstenediona e os restantes 25% são de origem suprarrenal. Os estrogénios circulantes da mulher resultam da produção ovárica directa ou da conversão periférica de precussores. O principal estrogénio é o estradiol que resulta da aromatização da testosterona. Algum estradiol resulta da androstenediona via estrona. Por outro lado os androgénios convertem-se em estrogénios na pele, tecido adiposo e músculo. A progesterona é de origem ovárica, aumentando 20-30 vezes em fase luteínica comparativamente com a fase folicular, mas também tem uma produção suprarrenal, ainda que mínima. - 42 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE Em síntese: vez dentro da célula, unem-se a receptores específicos e esta união induz a mensagem hormonal através da activação de genes no núcleo da célula. as hormonas esteróides exercem o seu efeito, predominantemente, sobre a transcrição génica. Os estrogénios circulam no plasma ligados à SHBG e são destituídos de acção, mas, ao chegarem à célula efectora libertam-se da proteína de transporte, atravessam a membrana celular e actuam, a nível das células-alvo, ligando-se a receptores citosólicos e tornam-se biologicamente activos exercendo a sua função específica. O complexo hormona-receptor quando penetra no núcleo activa o sistema de síntese de proteínas através do ARN, sendo esta a consequência da acção hormonal. Os estrogénios ováricos, circulam na corrente sanguínea ligados à proteína de transporte e vão exercer acções específicas a nível dos órgãos-alvo destas hormonas através dos mecanismos de acção já referidos. Consequentemente vão promover as modificações dos caracteres sexuais secundários, iniciadas na altura da puberdade, que vão caracterizar o fenótipo feminino, e continuar a exercer acções específicas sobre estes órgãos durante toda a vida da mulher. A GnRH e as gonadotrofinas são hormonas que exercem a sua acção pela grande afinidade para receptores membranários, activando o sistema de membrana da adenil ciclase do qual resulta um aumento intra-celular de AMPc, segundo mensageiro, que induz a síntese proteica e de ARN, necessários à maturação folicular e à esteroidogénese. Embora haja receptores para as hormonas esteróides em todo o organismo, o número de receptores é muito mais elevado a nível do aparelho genital condicionando modificações cíclicas muito específicas a nível destes órgãos: Vulva A vulva está submetida a acção estroprogestativa como qualquer zona cutânea. 2.13. ACÇÃO DOS ESTERÓIDES SOBRE OS ÓRGÃOS -ALVO Os estrogénios exerecem uma acção trófica a nível da vulva aumentando a vascularização e nas glândulas de Bartholin, Skene e sebáceas aumentando a sua secreção. Aumentam a espessura da camada dermo-epidérmica por aumento do colagénio e, por isso, modificações das características bioquímicas da pele, tais como a elasticidade e a hidratação. A acção hormonal esteróide desenrola-se a nível celular através da união a proteínas específicas, que fazem chegar a mensagem às estruturas intracelulares interessadas. Estas proteínas específicas são chamadas receptores hormonais, e a sua identificação num determinado tecido é a base para denominar esse tecido como órgão-alvo da hormona para a qual se identificou o receptor. Assim, os órgãos-alvo caracterizam-se pela presença nas suas células de moléculas receptoras, altamente específicas, que têm a capacidade de se unir aos esteróides circulantes específicos às quais são sensíveis mesmo em concentrações muito baixas. Os receptores esteróides foram identificados em muitos tecidos que respondem à presença destas hormonas com alteração da sua estrutura ou função. As hormonas proteicas exercem a sua acção através de receptores celulares membranários, de forma que, o primeiro sinal induzido pela chegada da hormona (primeiro mensageiro), é transmitida à célula por intermediários (segundos mensageiros), que se activam como consequência da união e formação do complexo hormona-receptor. Os segundos mensageiros, por seu turno, activam enzimas celulares específicos por intermédio de cadeias de activação proteica que seguem um padrão semelhante, mas que são constituídas por elementos específicos para cada hormona e célula/tecido alvo. A progesterona tem também acção cutânea: pode observar-se uma regressão das características da pele observadas por acção do estradiol, embora seja mais provável que esta regressão seja mais devida à diminuição dos estrogénios. Os androgénios têm acção no desenvolvimento do clítoris, e pilosidade púbica. Vagina O epitélio vaginal sofre importantes modificações cíclicas, determinadas pelos níveis hormonais. O epitélio vaginal é plano pluri -estratificado, muito sensível ao estradiol, constituído por três camadas distintas: o estrato basal e para-basal, o intermédio e o superficial. Na ausência de estradiol o epitélio só tem uma camada de células basais. Na altura da menstruação a espessura total do epitélio é de 150 a 180 μ e as células apresentam núcleos vesiculares. A espessura vai aumentando de acordo com a fase folicular do ciclo. Os estrogénios provocam maturação do epitélio vaginal, as mitoses aumentam no estrato basal, aumentando a espessura da camada basal e intermédia. Os estro- Os esteróides são hidrófobos e lipófilos em relação às proteínas. Isto obriga-os a circular no plasma ligados às proteínas mas permite-lhes atravessar a membrana celular sem dificuldade. Uma - 43 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE génios provocam o aumento da densidade celular e maturação do epitélio poliestratificado da vagina e as células da camada intermédia começam a produzir glicogénio; as camadas superficiais aumentam em consequência do aumento da espessura das outras camadas e na altura da ovulação a espessura do epitélio é o dobro da do início do ciclo. processo de proliferação, em sincronia, depois diferenciam-se e finalmente desintegram-se em intervalos mais ou menos regulares se não houver gravidez. O endométrio, por acção das hormonas esteróides, vai sofrer uma série de modificações importantes destinadas a possibilitar a implantação de um blastócisto, se houver fecundação. Após a ovulação começa a fase descamativa, as células superficiais aumentam de volume o que aumenta a espessura do epitélio, posteriormente estas células descamam e a espessura vai diminuindo. O ciclo endometrial é regulado pelo sistema neuro-endócrino que engloba o sistema nervoso central, a hipófise e o ovário. A função de coordenação cíclica destes três elementos é conseguida pela actividade endócrina da hipófise, com a libertação de gonadotrofinas, sob comando da GnRH, cuja produção é regulada por neurotransmissores e pela receptividade às gonadotrofinas. A hipófise, por sua vez é regulada pela acção de retro-controlo destas hormonas. As gonadotrofinas vão promover o crescimento folicular e, consequentemente, a produção de esteróides ováricos que vão actuar a nível do endométrio ligando-se a receptores específicos. O estradiol provoca, também o aumento das secreções vaginais e modificações da flora vaginal e alterações do pH. A progesterona tem uma acção discreta na diminuição da espessura deste epitélio. Colo As células muco-secretoras endocervicais apresentam uma actividade cíclica hormono-dependente. A secreção aumenta progressivamente durante a fase folicular até à ovulação. Além do aumento da produção de muco cervical, torna-o mais límpido e filante de modo a aumentar a capacidade de penetração dos espermatozóides. Durante a fase pré-ovulatória os estrogénios promovem a abertura do orifício externo que atinge o máximo na altura da ovulação. A nível do endométrio, a acção estrogénica faz-se traduzir por regeneração da camada basal e parte da camada da funcional que permanece intacta após a menstruação. Esta reepitelização do endométrio resulta do aumento progressivo das concentrações de estradiol produzido pelos vários folículos em desenvolvimento. Nas fases precoces as glândulas têm um aspecto colunar baixo, com 6 mm, e de aparência tubular simples, apresentam actividade mitótica baixa, bem como o estroma embora este permaneça com aparência densa (Figs.14 e 15). A progesterona provoca regressão das mudanças provocadas pelos estrogénios, provocando o encerramento do orifício externo do colo, uma diminuição da quantidade de muco, que se torna viscoso e opaco, que tem como objectivo dificultar a entrada dos espermatozóides. Endométrio O endométrio da mulher adulta, em período reprodutivo, é constituído por uma camada basal e uma camada funcional: a basal, com glândulas fracamente proliferativas associadas a um estroma denso, está imediatamente adjacente ao miométrio. Apesar da sua aparência imprecisa, inactiva e indiferenciada tem um papel crucial na economia do endométrio porque constitui a camada de células de reserva após a menstruação, uma vez que a basal e residual profunda são responsáveis pela sua regeneração. A camada funcional é constituída por elementos epiteliais de superfície e glandulares e por um estroma copiosamente vascularizado por artérias. O endométrio tem um padrão de actividade cíclica bem definido no qual os seus componentes passam por um complicado Figura 14. Endométrio proliferativo. - 44 - Figura 15. Endométrio proliferativo. 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE reacção pré-decidual: as células aumentam, tornam-se poligonais com núcleo pequeno e redondo, citoplasma abundante, mostram acumulação de glicogénio, proteínas e lipídeos (Figs.16 e 17). Na fase média há alongamento das glândulas e começa a haver edema do estroma pelo que estas começam a ter aspecto tortuoso. Na fase tardia há actividade mitótica máxima, o edema do estroma é grande e aumenta a tortuosidade glandular. Assim o aspecto colunar do espitélio passa a ter um aspecto pseudo-estratificado e as glândulas passam a medir 20 µm durante estas fases as células glandulares acumulam material necessário para a sua actividade secretora. Provavelmente, porque o endométrio, tal como o colo possui um sistema APUD, produz muitos factores de regulação autócrina e parácrina, em resposta a hormonas esteróides, nomeadamente factores de crescimento e estes factores de crescimento são potentes mitogénicos, não é surpresa que a fase folicular do ciclo, associada à actividade proliferativa do endométrio, seja marcada por alterações importantes dos factores de crescimento. Os estrogénios estimulam a expressão génica do factor epidermóide de crescimento; por outro lado, o factor de crescimento epidermóide produz respostas estrogénio-like por interagir com os receptores das hormonas esteróides. O factor de crescimento epidermóide está presente nas células do estroma e epiteliais do endométrio durante a fase folicular do ciclo nas células do estroma durante a fase luteínica. Outros factores de crescimento actuam através do mesmo receptor que o factor epidermóide e são importantes mediadores do crescimento do endométrio induzido pelos estro génios (Adashi, 1996). A IGF-I predomina no endométrio na fase proliferativa e secretora precoce e a IGF-II na fase secretora média e tardia. Isto sugere que a IGF-I medeia o crescimento induzido pelos estrogénios e a IGF-II possa estar envolvida na diferenciação em resposta à acção da progesterona. A nível do endométrio, a progesterona, tem um mecanismo de actuação idêntico ao dos estrogénios: liga-se a receptores citosólicos, é transportada para o núcleo e causa inibição da actividade mitótica estimulando a secretora. 36-48 horas após a ovulação ocorre a vacuolização sub-nuclear das células glandulares e a actividade mitótica é aparente e contínua nas glândulas e menos aparente no estroma. Nos dias seguintes o material de secreção move-se gradualmente para o pólo apical e o núcleo ocupa uma posição basal. Pelo 16º dia as glândulas, ainda tortuosas, perdem a sua pseudo-estratificação, o material de secreção acumula-se no pólo apical e faz protusão no lúmen, sendo máxima ao 21º dia, e inicia o seu declínio a partir do 22º. As artérias espiraladas tornam-se mais proeminentes, em parte devido ao seu real aumento e em parte devido às alterações do estroma imediatamente adjacente a estes vasos e observa-se edema com alterações das células que realizam a Figura 16. Endométrio secretor. Figura 17. Endométrio secretor. Na fase secretora vão aparecer as células K, só identificáveis por métodos histoquímicos, que contêm relaxina, que se vai produzir localmente durante um curto período de tempo. Estas alterações permitem a separação do endométrio em três estratos, por volta do 13º dia pós-ovulatório (Perez, 2003): > a área adjacente à superfície endometrial forma a camada compacta, que representa 25% da espessura, na qual predomina a decidualização das células do estroma, e as glândulas, ou devido a compressão pelo estroma ou por distensão pelo material de secreção, estão ausentes; > a camada intermédia ou esponjosa, que representa metade da espessura do endométrio e que mostra glândulas tortuosas, dilatadas, com aspecto em dentes de serra, devido ao seu alongamento não ser compensado pelo aumento da espessura do epitélio, e as artérias espiraladas atravessam a camada esponjosa acompanhando as células do estroma decidualizado; > finalmente a camada basal, adjacente ao músculo uterino, contém as porções mais profundas das glândulas que mostram poucas alterações em todo o ciclo e representa ¼ da espessura. - 45 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE O endométrio segrega outras substâncias para além dos factores de crescimento e que são importantes mediadores das hormonas esteróides: as prostaglandinas, produzidas tanto pelas células epiteliais como pelas células do estroma e o seu conteúdo atinge um pico em fase secretora tardia. A mais produzida no endométrio é a F2α, um potente estimulante das contracções endometriais. A produção de prostaglandinas requere um suporte estrogénico mas um aumento da produção pelo endométrio secretor sugere uma potencialização pela progesterona. O estroma e o epitélio glandular segregam também endotelina 1 que é um potente vasoconstritor e estimulante das contrações miometriais. Além do papel que o miométrio desenvolve na reprodução através de um processo de hipertrofia e hipertrofia na gravidez, a musculatura do fundo e do istmo está submetida a influências cíclicas das hormonas produzidas pelo ovário. Em fase pré-ovulatória o colo e o istmo estão abertos e o miométrio do corpo, tem contracções, que atingem o máximo durante a ovulação e que favorecem a ascenção dos espermatozóides até às trompas de modo a possibilitar a fecundação. Após a ovulação, o colo e o istmo encerram com contracções, enquanto que o miométrio do corpo relaxa para favorecer a nidação no local mais adequado que é o fundo. No final da fase secretora, a queda de taxas hormonais resultantes da involução do corpo amarelo, o endométrio vai sofrer a descamação menstrual. Nesta fase as contracções uterinas são evidentes, enquanto que, a nível do istmo e colo há relaxamento de forma a se possível a eliminação do sangue menstrual. Este ciclo de contracções está na dependência dos esteróides circulantes. Os estrogénios aumentam a acção dinâmica da ocitocina enquanto que a progesterona diminuem a contractilidade das fibras musculares e a resposta à ocitocina, de modo a manter o colo fechado. Em fase menstrual, as contracções uterinas são evidentes enquanto que o istmo e o colo relaxam para permitir o escoamento do sangue menstrual. A resposta contráctil do miométrio é mediada por prostaglandinas do tipo F2α, que aumenta a sua concentração nesta fase do ciclo. Todo o ciclo endometrial tem como única finalidade a implantação de um embrião. A falta de realização deste objectivo é seguida pela rápida eliminação do tecido não utilizado e da sua pronta renovação para alcançar um ciclo mais bem sucedido. Miométrio Trompas Os estrogénios provocam o crescimento uterino durante a puberdade. Durante a vida adulta têm efeito sobre o tónus e contractura uterina enquanto que a progesterona tem uma acção contrária. A trompa está dividida em três em regiões: pavilhão, ampola e istmo, que apresentam características histológicas e funcionais diferentes; têm duas estruturas bem diferenciadas: a muscular e a mucosa. Embora a importância do ciclo miometrial seja muito inferior à do ciclo endometrial o miométrio sofre mudanças histológicas mas, sobretudo, alterações da contractilidade: em fase pré-ovulatória o miométrio tem contracções, que são máximas na altura da ovulação e que favorecem a subida dos espermatozóides para as trompas. Em fase pós-ovulatória o miométrio não contrai de forma a permitir a nidação. A muscular com duas camadas, uma externa longitudinal e uma interna circular, ambas inervadas por uma espessa rede de fibras simpáticas e parassimpáticas. A mucosa apresenta grandes pregas que são mais desenvolvidas na porção ampolar onde se destacam dois tipos de células: células ciliadas e células produtoras de muco, ambas são extremamente sensíveis aos estrogénios. Constitui a camada uterina de maior espessura, podendo atingir os 2 cm. É constituído por fibras musculares lisas separadas por tecido conjuntivo. O conteúdo máximo de fibras localiza-se no fundo. Estas fibras dividem-se em três grupos: Na fase folicular aumenta progressivamente a actividade contráctil do músculo liso com o objectivo de facilitar a subida dos espermatozóides e o transporte do ovócito para facilitar o seu encontro. Aumenta as células ciliadas e as células secretoras acumulam produtos de síntese na região apical. > camada externa, que é fina, constituía por fibras longitudinais; > uma camada mais volumosa de fibras espirais que rodeiam a cavidade uterina; > a terceira camada, circular, mal definida, é constituída por fibras musculares que se dispõem à volta do ostium tubar e do oríficio interno do colo. O ciclo miometrial é menos importante que o endometrial pois o músculo uterino não sofre modificações histológicas, mas a sua contractilidade varia nas diferentes fases do ciclo. Na fase secretora o aumento progressivo da progesterona provoca uma diminuição do tónus muscular e diminuição da contractilidade da trompa. - 46 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE Mama 2.14. ACÇÃO EXTRA-GENITAL DOS ESTERÓIDES Os estrogénios favorecem os depósitos de gordura, aumento do estroma e dos ductos glandulares. Favorecem a retenção de água, sódio e cloretos pelos túbulos renais. Os estrogénios e a estrona promovem o crescimento do osso estimulando o depósito da matriz óssea, ocasionando a deposição de cálcio e fósforo. Aceleram a maturação óssea e o encerramento das metáfases contribuindo para a paragem do crescimento. A progesterona estimula o crescimento lóbulo-alveolar, aumenta o tecido conjuntivo, produz edema do estroma, por aumento do líquido intersticial. A progesterona, conjuntamente com a prolactina, prepara o lóbulo mamário para a lactação. Aumentam as concentrações de HDL-colesterol e diminuem as HDL-colesterol, por mediação da actividade da lipase hepática, aumentam os triglicerídeos, provavelmente por aumento da VLDL. A glândula mamária é um órgão endócrino estimulado, ciclicamente, desde a menarca à menopausa. Estudos, realizados “in vitro”, demonstram o efeito estimulante dos estrogénios sobre o crescimento celular epitelial mamário normal, dependente da dose. O crescimento mamário inicia-se com o início da actividade ovárica, a multiplicação celular máxima é observada entre os 16-18 anos de idade, a primeira gravidez completa o desenvolvimento mamário e permite uma diferenciação celular completa. A mama é um órgão endócrino estimulado ciclicamente desde a menarca à menopausa. Têm acção sobre o metabolismo proteico embora a sua acção anabolizante seja menor que a dos androgénios, aumentam a síntese de proteínas e estimulam o crescimento e desenvolvimento da pele e das mucosas. Estimulam a síntese de proteínas hepáticas aumentando o angiotensinogénio, SHBG e alguns factores fibrinolíticos da coagulação. A progesterona tem efeito catabólico de pouca relevância num ciclo menstrual normal. Enquanto que os estrogénios diminuem a temperatura corporal a progesterona tem acção hipertermizante e induz o aumento da temperatura basal na segunda metade do ciclo por acção central a nível dos centros termo-reguladores. Na maior parte das células dos órgãos alvo, a diferenciação celular implica a acção sucessiva e sinérgica dos estrogénios e da progesterona. O estradiol aumenta o número de receptores e a progesterona diminui a ressíntese dos receptores dos estrogénios. 2.15.OVÁRIO NA PÓS-MENOPAUSA A capacidade reprodutiva da mulher, contrariamente à do homem, não se mantém durante toda a vida. O factor limitante para a capacidade reprodutiva é a disponibilidade das células germinativas, e também o declínio da função hormonal do ovário. Esta está ligada à existência das células da teca e da granulosa que, constituem, com o ovócito, a unidade folicular que vai diminuindo, gradualmente até à menopausa. Os estrogénios têm uma acção estimulante sobre o crescimento epitelial mamário normal e a progesterona tem uma acção antiestrogénica. Na maior parte das células dos órgãos alvo do aparelho genital feminino, a diferenciação celular implica a acção sucessiva e sinérgica dos estrogénios e da progesterona tal como acontece na mama. Vários estudos demonstram que a mama se comporta de forma diferente consoante os estrogénios sejam administrados em doses fisiológicas, supra-fisiológicas ou se o estrogénio é administrado ou não em combinação com a progesterona. A menopausa outra etapa cronológica importante na vida da mulher, aparece coincidindo com o esgotamento do capital folicular. Esse esgotamento vai depender da dotação folicular inicial, do ritmo de atrésia e de factores extra-ováricos, nomeadamente genéticos, que influenciam o processo de atrésia, factores tóxicos e hormonais. Foi demonstrado, na ratinha castrada, que doses elevadas de estrogénios em doses prolongadas provocam uma proliferação e dilatação dos galactóforos, com formação de quistos e fibrose (modificações compatíveis com mastopatia fibroquística). No entanto, se o estrogénio é administrado com a progesterona, em proporção adequada, observa-se um desenvolvimento harmonioso e completo da glândula mamária. No século VI, Aetius de Amida já relaciona o ciclo ovárico com factores relacionados com a idade, hábitos e características da mulher, bem como as estações do ano, a alimentação e a presença de doenças e dizia que a menstruação não cessava antes dos 35 anos e não continuava depois dos 50. O comité científico da OMS e a Sociedade Internacional da Menopausa foram consensuais no que se refere à terminologia e que foi aceite pelo Board da International Menopause Society, em 1999: - 47 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE Menopausa: paragem definitiva das menstruações, resultante da ausência de actividade folicular. A última menstruação ocorre, aproximadamente, por volta dos 50 anos e é identificada após 12 meses consecutivos de amenorreia sem que exista outra causa patológica ou fisiológica; Alterações da idade da menopausa Não existem dados sobre esta matéria contrariamente ao que se sabe sobre a idade da menarca que é cada vez mais precoce. As informações mais fidedignas dão a noção que não tem havido qualquer alteração e a idade da menarca, embora mais precoce, parece não influenciar a idade da menopausa. Peri-menopausa: inclui o período imediatamente anterior à menopausa, quando se iniciam as manifestações endócrinas, biológicas e clínicas e pode incluir o ano que se segue à menopausa; Paridade Pré-menopausa: a totalidade do período reprodutivo, com sintomatologia, até à última menstruação; A idade da menopausa parece elevar-se com a paridade, embora a relação se inverta a partir do quarto filho. A idade da primeira gestação também pode ter alguma interferência avançando a idade da menopausa se ocorrer antes dos 28 anos. Climatério: a fase do processo de envelhecimento, que marca a transição do período reprodutivo para o não reprodutivo; Menopausa precoce: menopausa antes dos 40 anos; Tabaco Menopausa tardia: menopausa depois dos 55 anos. O tabaco parece ser o factor com influência mais concreta. A menopausa é mais precoce nas grandes fumadoras provavelmente devido à acção tóxica da nicotina a nível hepático e hiotalâmico ou mesmo directamente sobre as células germinativas do ovário. Nos últimos 10 anos aumentou, extraordinariamente o interesse por todos os temas relacionados com a menopausa. Uma etapa da vida da mulher, até há bem pouco tempo, aceite como uma etapa fisiológica inevitável, começou a ser considerada uma das fases mais importantes da vida da mulher, uma vez que o seu tratamento tornou possível combater os sintomas e prevenir as complicações inerentes à carência estrogénica. Outros factores O estado civil, a profissão, os factores sócio-económicos, a obesidade e a contracepção oral não estão demonstrados como sendo factores que possam influenciar a idade da menopausa. Na menopausa a função ovulatória vai terminar com o esgotamento das células germinativas e a função hormonal do ovário com o esgotamento folicular. Esta situação conduz a uma perda progressiva da função ovárica normal e ao desenvolvimento de um mecanismo de compensação. Esta mudança de comportamento deve-se, essencialmente, a três fenómenos sociais actuais: o primeiro é o aumento da esperança de vida, o segundo é o desejo de uma melhor qualidade de vida e o terceiro, o mais importante, é o facto de a mulher passar um terço da sua esperança média de vida em menopausa e o papel actual da mulher na sociedade, ser impensável décadas atrás. É nesta altura que muitas têm possibilidade para realizar alguns dos seus projectos de vida até então limitados pelos problemas relacionados com a sua vida familiar. 2.16. ESTEROIDOGÉNESE DO OVÁRIO NA PERI-MENOPAUSA FACTORES RELACIONADOS COM A IDADE DA MENOPAUSA O ovário apresenta alterações morfológicas que se caracterizam por atrofia, apesar da exposição a níveis elevados de gonadotrofinas circulantes, ou hipertrofia. A hipertrofia acompanha a hiperplasia das células do estroma que são as precursoras de androgénios, principalmente androstenediona e testosterona. Este facto sugere que o estroma ovárico, na menopausa, forma uma glândula distinta de secreção interna dentro do ovário que tem a capacidade de produzir androgénios. O estroma cortical produz, “in vitro”, quantidades mensuráveis de androstenediona e progesterona. De facto, a adição de hCG a células do estroma aumenta significativamente o AMPc, indicando que continua com capacidade de resposta às gonadotrofinas. Herediteriedade É frequente que a menopausa ocorra em idades muito aproximadas dentro da mesma família. Raça e clima As mulheres de raça nórdica têm a menopausa em idades mais avançadas que as de raça africana e mediterrânica bem como as que vivem a altitudes inferiores a 1000 metros. - 48 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE A medula é grande em relação ao córtex e compreende corpos albicans e vasos sanguíneos esclerosados. Funcionalmente, os componentes medulares mais importantes podem ser as células hilares. Estas células têm, provavelmente, a mesma origem embrionária que as células de Leydig. São histoquimicamente semelhantes e podem ter um potencial esteroidogénico considerável. Na verdade, estas células, mostram alterações morfológicas e histoquímicas em resposta a tratamentos com hCG. ALTERAÇÕES HORMONAIS NA PRÉ-MENOPAUSA NÚMERO DE FOLÍCULOS Progressivamente a frequência de ovulações diminui até terminar pois este banco de genes está completamente esgotado e o ovário chega a uma situação de anovulação permanente. Mas o ovócito já tinha começado o seu processo de envelhecimento, independentemente do esgotamento folicular e de acordo com a idade cronológica da mulher. A partir dos 40 anos este envelhecimento é patente pelo risco de anomalia cromossómica numa gravidez desta idade. INIBINA (células da granulosa) FSH (E2 normal) (LH normal) De uma forma resumida, no ovário pré-menopáusico, há uma diminuição do número de folículos e da secreção esteróide e, por um mecanismo de retro-controle, um aumento da secreção de gonadotrofinas. Depois de uma fase de transição pré-menopáusica na qual a diminuição dos folículos conduz a um aumento progressivo e constante da FSH sem haver variações na LH, sinal patognomónico do início da insuficiência ovárica, o esgotamento folicular implica um aumento paralelo da LH; no entanto aumento da FSH é sempre superior ao da LH em parte devido à supressão paralela da inibina e por outro porque a vida média da FSH é superior à da LH. CICLOS ANOVULATÓRIOS PROGESTERONA (progessiva) Observa-se uma franca aceleração do esgotamento folicular na última década da actividade menstrual coincidindo com o aumento selectivo da FSH (Calaf, 1992). Esta elevação da FSH é responsável pela aceleração da maturação folicular e consequentemente pelo aumento do ritmo de atrésia e encurtamento dos ciclos (Fig.18). Figura 18. Alterações hormonais da peri-menopausa. Adaptado de Santiago Palácios. Climaterio y Menopausa (1992). Na peri-menopausa observa-se uma situação, habitualmente definida como “insuficiência da fase luteínica” ou “corpo amarelo insuficiente”, caracterizada por uma deficiência pós-ovulatória da progesterona ou por uma acção deficiente da progesterona ainda produzida. Em ambas as situações o resultado é o mesmo porque traduz uma resposta anormal do endométrio a esta hormona. Esta situação vai traduzir-se por irregularidades menstruais, esterilidade e abortamentos (Navarro, 2003). - 49 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE meiros anos da pós-menopausa. Esta capacidade marginal de esteroidogénese ovárica estabelece a diferença para a resposta biológica, tanto clínica como bioquímica, entre a menopausa espontânea e a cirúrgica obrigando nesta última a uma terapêutica mais precoce e agressiva. Irregularidades menstruais 90% das mulheres têm irregularidades menstruais, nesta etapa da vida, devido a insuficiência progesterónica. São caracterizadas por ciclos curtos à custa de uma fase secretora curta, ciclos habitualmente inferiores a 21 dias, ou então por ciclos longos, habitualmente superiores a 35 dias ou então por menorragias que podem resultar, inicialmente, de uma insuficiência luteínica e mais tarde, resultam de anovulação. Na menopausa tardia há uma diminuição importante da secreção de esteróides ováricos: os esteróides circulantes provêm, na maior parte, da aromatização da androstenediona em testosterona a nível do tecido adiposo, e o estradiol provém da conversão periférica da estrona. Mas a testosterona também se altera: na mulher, em idade reprodutiva, 50% da testosterona circulante provém da conversão periférica da androstenediona enquanto que o ovário e a suprarrenal contribuem em 25% cada. Na pósmenopausa, 50% da testosterona é de origem suprarrenal e 50% de origem ovárica e da conversão de androstenediona no tecido adiposo e muscular (Fig.19). Esterilidade À medida que a idade da mulher avança a fertilidade diminui, devido à diminuição da frequência das ovulações e também à insuficiência luteínica. Abortamentos ESTEROIDOGÉNESE OVÁRICA NA PÓS-MENOPAUSA Nas primeiras 8 semanas de gestação a progesterona é produzida pelo corpo amarelo que é imprescindível para a manutenção da gravidez. Por este motivo, se o corpo amarelo for insuficiente é lógico, como é na pré-menopausa, que a taxa de abortamento aumente. 2.17 ESTEROIDOIGÉNESE DO OVÁRIO NA PÓS-MENOPAUSA Na pós-menopausa o ovário é de menores dimensões como consequência da deplecção folicular e as modificações involutivas incluem a esclerose arteríolar e fibrose cortical. No entanto, o ovário pós-menopáusico não é um órgão completamente inactivo. LH FSH Apesar da notável diminuição de ovócitos depois da menopausa ainda se podem encontar alguns folículos em diferentes etapas da evolução: Ausência de retro-controlo > folículos atrésicos com degerescência quística ou luteinização em mais de 30% das doentes, até três anos após a menopausa e em 5%, 10 anos após esta; > corpos amarelos em 23% das mulheres com mais de 50 anos; > proliferação das células do estroma em 35% das mulheres entre os 56 e 70 anos e em 20 % das mulheres mais velhas; > células luteinizadas, no estroma, o que significa que têm actividade enzimática, em 30% depois dos 70 anos e em 35 % antes desta idade. GRANULOSA TECA GRANULOSA A2 + T aromatização A actividade secretora do ovário na pós-menopausa é mínima mas não nula. O ovário produz testosterona principalmente, mas também androstenediona, estrona e estradiol mas em quantidades mínimas, actividade esta que é mais significativa nos pri- ESTRADIOL GORDURA ESTRONA PELE Figura 19. Esteroidogénese na pós-menopausa. Adaptado de Santiago Palácios. Climaterio y Menopausa(1992). - 50 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE O ovário na pós-menopausa segrega menos androstenediona que na pré-menopausa pelo que níveis circulantes de androstenediona são mais baixos, cerca de 20%. Esta conclusão é sugerida pelas seguintes observações: Como tem vido a ser referido o ovário humano é constituído por três componentes com capacidade endócrina: a granulosa, a teca e o estroma. Os dois primeiros cooperam num sistema regulado pelas gonadotrofinas. O terceiro integra o estroma e medula que também possui capacidade esteroidogénica, embora muito inferior à dos outros compartimentos. 1. Os níveis séricos de androstenediona reduzem-se após ovariectomia; O estroma produz androgénios, essencialmente androstenediona e testosterona embora tenha uma produção, ainda que mínima de progesterona e estrogénios. De qualquer forma esta actividade do estroma é insuficiente para manter a troficidade dos órgãos alvo das hormonas esteróides. 2. O ritmo diurno dos níveis circulantes de androstenediona sugere uma contribuição importante da suprarrenal; 3. Os níveis séricos de androstenediona são significativamente reduzidos após tratamento com a dexametasona; Neste momento o ovário e a suprarrenal segregam mais testosterona que no período reprodutivo, embora a concentração plasmática esteja diminuída. Mas apesar de níveis menores de androgénios podem existir estigmas de androgenização na mulher devidos à ausência das principais hormonas anti-androgénicas: o estradiol e a progesterona. Todas estas alterações hormonais explicam a diversidade dos graus de impregnação estrogénica que vamos encontrar nesta etapa da vida. As variações da secreção ovárica e suprarrenal e da metabolização periférica dão lugar a um perfil diferente de biodisponibilidade de estrogénios que é indispensável ter em conta na altura da escolha da terapêutica hormonal de substituição. 4. Os níveis séricos de androstenediona aumentam após a administração sistémica de ACTH mas não de hCG. Em contraste, os níveis séricos de testosterona estão minimamente reduzidos na mulher pós-menopáusica comparativamente com a pré-menopáusica (Fig. 20); só cerca de 14% da androstenediona circulante é convertida em testosterona e a baixa de androstenediona após ovariectomia contibui apenas para uma pequena porção da produção total de testosterona. Assim sendo, a maior parte da produção da testosterona na pós-menopausa reflecte, provavelmente, uma secreção ovárica. Uma parte significativa de testosterona circulante, na mulher pós-menopáusica, parece ser de origem ovárica. Estes factos são comprovados pelos seguintes dados: É incontroverso o facto de o ovário na pós-menopausa ser local de produção activa de esteróides, particularmente de androgénios. Nesta etapa da vida da mulher, o ovário não pode ser considerado como uma glândula atrófica porque continua activa na produção de androgénios. Foram identificados receptores para as gonadotrofinas no estroma cortical e hilo de ovários pós-menopáusicos. A administração e.v. de hCH conduz a uma aumento de androgénios mas não de estrogénios. Estas observações sugerem que a biossíntese dos androgénios é pelo menos, parcialmente, gonadotrofino-dependente. 1. A concentração de testosterona sérica diminui 50% após ovariectomia; 2. A concentração de testosterona na veia ovárica da mulher pós-menopáusica é superior à da mulher pré-menopáusica. METABOLISMO DOS ANDROGÉNIOS NA MENOPAUSA 50% ANDROSTENEDIONA circulante 50% Pré-hormonas Ovário Suprarrenal 50% 25% TESTOSTERONA circulante 25% Figura 20. Metabolismo dos androgénios na pós-menopausa. Adaptado de Santiago Palácios. Climaterio y Menopausa (1992). - 51 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE A produção de estrogénios na pós-menopausa é quase exclusivamente devida à aromatização extra-glandular de androstenediona. Assim, a estrona, o principal estrogénio no sangue da mulher pós-menopáusica, resulta da aromatização periférica da androstenediona suprarrenal (predominantemente). De facto a castração não conduz a uma redução significativa na excreção dos estrogénios urinários na mulher pós-menopáusica. Contudo a suprarrenalectomia, após castração, elimina, virtualmente, os estrogénios mensuráveis na urina. Pele A produção diária de estrogénios, por este macanismo, está relacionada, em parte, com o peso corporal e talvez com a idade. Embora não existam dúvidas sobre o papel dominante da aromatização extra-glandular, existe grande controvérsia sobre a possibilidade de contribuição directa de estrogénios pelo ovário. Esta hipótese é posta porque as concentrações de estradiol e estrona são duas vezes superiores na veia ovárica do que no sangue periférico da mulher pós-menopáusica O estradiol é captado pelo núcleo das células epidérmicas e pelos fibroblastos da derme sendo maior a actividade no núcleo das células basais da epiderme. Os estrogénios produzem edema da derme, favorecem a sua actividade estrutural ao diminuir a sua degradação e aumentar a polimerização das cadeias polipeptídicas do colagénio, o que se traduz por um aumento do colagénio total e têm um efeito proliferativo importante sobre a vascularização, sendo este um ponto especialmente importante uma vez que o grau de actividade da epiderme depende da vascularização. A nível da epiderme, os estrogénios aumentam o indíce mitótico pelo que, com o declínio da sua actividade vai haver uma tendência para o adelgaçamento. A pele é o maior órgão alvo da acção estrogénica que é muito complexo. Nela se encontram definidos a maior parte dos caracteres sexuais secundários. É constituída por várias camadas providas de múltiplos tipos celulares, pelos e glândulas. A distribuição da gordura sub-cutânea e da pilosidade, bem como as características da pele feminina, são determinadas pelo equílibrio das acções entre estrogénios e androgénios. Há uma certa controvérsia acerca da ovariectomia profilática em mulheres climatéricas e pós-menopáusicas sujeitas a histerectomia. Está provado que este gesto não vai ter consequências a nível da massa óssea, no entanto são necessários estudos para saber a sua influência noutros departamentos da mulher nomeadamente na esfera sexual. Associadas às alterações provocadas pela involução ovárica a pele vai também sofrer alterações próprias da idade e do envelhecimento. 2.18. MODIFICAÇÕES DOS ÓRGÃOS-ALVO DOS ESTROGÉNIOS NA PÓS-MENOPAUSA Mama Como tem vindo a ser referido a mama é um órgão endócrino estimulado ciclicamente desde a menarca à menopausa. Os tecidos alvo das hormonas esteróides têm receptores que podem responder na presença ou ausência destas alterando a sua estrutura ou função. As modificações observadas nos órgãos-alvo são importantes para avaliar a história natural da menopausa. Assim, a deficiência em estradiol conduz a uma grande variedade de sinais e sintomas que vão alterar as funções específicas dos órgãos. No entanto, a relação causa/efeito não é sempre clara já que a menopausa não é um processo de instalação brusca. Por este motivo, os diferentes tecidos dos diversos órgãos-alvo podem ser afectados em alturas diferentes, à medida que os receptores de estrogénios vão diminuindo. O crescimento mamário inicia-se com o começo da actividade ovárica, a multiplicação celular máxima observa-se pelos 16-18 anos e termina com a primeira gravidez. Sabe-se que as hormonas sexuais controlam o desenvolvimento mamário normal da mama, de que resulta um maior desenvolvimento da mama coincidente com a puberdade e gravidez. Pelo contrário, observam-se modificações involutivas após a gravidez e menopausa. Para além das alterações que se observam a nível dos órgãos alvo, a carência de estrogénios faz-se sentir a nível dos centros hipotalâmicos alterando o seu equilíbrio e conduzindo a alterações muito incómodas, e por vezes graves, maioritariamente, as mais valorizadas pela mulher quando entra no climatério. Vulva, vagina e uretra A vulva e vagina sofrem um processo de atrofia que conduz a uma sintomatologia incómoda frequentemente relacionada com dispareunia; A mucosa uretral é também muito sensível à diminuição dos níveis de estrogénios. A percentagem de mulheres, pós-menopáusicas, incontinentes, varia entre 11-49%; - 52 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE lidade do centro termo-regulador hipotalâmico, desencadeada, pela diminuição dos níveis de estrogénios circulantes. Síndrome menopáusico Na quarta década de vida, são frequentes acontecimentos vitais mas destabilizadores para a mulher. Muitas vezes a doença ou perda dos pais, por vezes a viuvez, em que a mulher passa de um papel de apoio para um papel dependente, o aparecimento de uma doença num familiar ou na própria mulher, um conflito conjugal devido a infidelidade, por vezes mudanças do nível de vida devido à reforma do marido, entre muitos outros acontecimentos que podem ocorrer nesta etapa, fundamental, da vida da mulher. São mais comuns durante a noite e exacerbados pelo calor, nervosismo e stress. Estudos transversais demonstram que em 40% das mulheres se iniciam no climatério e em 85% na pósmenopausa; habitualmente duram cerca de dois anos e raramente ultrapassam os cinco. Estudos realizados, demonstraram que, em primatas castrados, os níveis opióides do sangue portal do sistema porta-hipofisário, eram muito baixos mas que aumentavam com a administração de estradiol, mas, sobretudo com a administração de estradiol e progesterona. Em mulheres pós-menopáusicas a administração de naloxona não aumenta a libertação pulsátil de LH, o que indica uma baixa actividade dos opiáceos hipotalâmicos; no entanto, o tratamento com estrogénios e sobretudo, associados ao acetato de medroxiprogesterona, modifica significativamente a resposta à naloxona, indicando que estas substâncias aumentam o tónus opióide. As mulheres climatéricas apresentam sintomas psíquicos que fazem parte de um quadro denominado síndrome menopáusico. Agrupa sintomas físicos (cefaleias, aumento de peso, adormecimento das extremidades, etc.), mas sobretudo, psicológicos e vaso-motores. Alterações psíquicas A menopausa conduz a alterações psíquicas importantes, particularmente uma labilidade emocional grande e respostas exageradas a algumas situações afectivas comuns. Estas queixas são muitas vezes confundidas com depressões mas resultam de uma alteração do metabolismo do triptofano, que condiciona níveis baixos de serotonina. Na pós-menopausa, desequilíbrio dos neurotransmissores no sistema nervoso central é uma consequência da diminuição dos níveis de estrogénios. Os neurónios que segregam a GnRH estão situados no hipotálamo anterior muito próximo dos centros termo -reguladores. Pode pensar-se que a pulsatitidade da GnRH e os calores são regulados pelos mesmos neurotransmissores. Frequentemente observam-se outros sintomas psíquicos importantes tais como: insónias, astenia, apatia, perda da capacidade de concentração e memória. Estes sintomas são atribuídos ao efeito negativo da carência estrogénica mas também é possível que também estejam associados ao impacto do envelhecimento geral. Podem incluir-se, neste grupo, a ansiedade, relacionada com o receio de envelhecer, sentimentos de pânico, devido à ausência ou saída de casa dos filhos e a eventual diminuição da atenção por parte do marido entre muitos outros acontecimentos que podem ocorrer nesta etapa da vida tão crítica. Diminuição da líbido A conduta sexual está estreitamente relacionada com a acção do ovário e com os níveis plasmáticos das hormonas produzidas. A carência de estrogénios afecta a função sexual na medida em que pode provocar dispareunia devido à diminuição da troficidade dos genitais externos que dela resulta. A diminuição do desejo sexual é uma consequência da diminuição do nível de androgénios. Os receptores androgénicos localizam-se em muitas áreas límbicas, hipotalâmicas e troncoencefálicas relacionadas com a conduta sexual. Por estes motivos, a diminuição da libido, que pode acompanhar a menopausa, é frequente e é mais importante na menopausa cirúrgica que na espontânea. Pode pensar-se que tanto a fadiga como a irritabilidade possam a estar associadas a alterações do sono, nas mulheres que têm calores nocturnos que as impedem de dormir, embora as mulheres que não tenham estes sintomas vaso-motoras possam apresentar os outros sintomas psíquicos referidos. Sintomas vaso-motores – Calores Alterações cardiovasculares Na maior parte das mulheres, na pós-menopausa, como consequência da libertação extemporânea de opióides endógenos, observam-se períodos de vasodilatação, com a duração de alguns segundos a minutos, com frequência variável acompanhados de sudação, particularmente na cara, pescoço e parte superior do tórax. São mecanismos compensatórios periféricos que se activam de forma intermitente como resposta à instabi- Os estrogénios têm um papel protector em relação à patologia cardiovascular. Mas actualmente pensa-se que, na pós-menopausa, não deve ser estabelecida uma relação causa-efeito com a carência de estrogénios porque existem outros factores individuais que podem ser mais relevantes tais como: hábitos alimentares, doenças associadas, tabaco, etc. - 53 - 2. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - FISIOLOGIA DO OVÁRIO OVOGÉNESE/FOLICULOGÉNESE É possível que haja um efeito negativo da ausência de estrogénios sobre a patologia cardiovascular mas é discutível, sobretudo para alguns aspectos destas doenças mas, o que é certo é que o aparecimento desta patologia não é devido à menopausa. Osso Existem vários trabalhos actuais que demonstram que a perda de massa óssea, observada após a menopausa, resulta de uma aumento da reabsorção, talvez por uma maior sensibilidade das hormonas e factores que favorecem o fenómeno reabsortivo. A acção directa dos estrogénios a nível do tecido ósseo afecta fundamentalmente os osteoclastos, ou seja as células reabsortivas. Existem dois mecanismos para explicar esta acção: a acção directa dos precursores dos osteoclastos ou via mediação dos osteoblastos. - 54 - 3. CONCLUSÕES 3. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - CONCLUSÕES A função ovárica é essencial para a preservação de espécie. Como tem vindo a ser demonstrado a gónada feminina possui “inteligência” própria (Adashi, 2000), atestada pelas acções de múltiplos factores reguladores intra-ováricos, pelo que deve ser considerado o órgão principal do ciclo ovárico embora a sua função esteja dependente da contribuição do eixo hipotálamo -hipófise-ovário. demonstrar que o entusiasmo era prematuro e que, embora não possa ser posta em dúvida a validade destas técnicas, a sua eficácia ficava aquém das expectativas. Como a esterilidade conjugal está, tendencialmente, a aumentar a medicina da reprodução actualizada precisa de oferecer um número cada vez mais elevado de tratamentos altamente eficazes que requerem uma avaliação profunda a nível técnico e clínico. Apesar de todos os progressos na investigação e dos conhecimentos já adquiridos sobre o mecanismo endócrino, molecular e bioquímico que regula o aparelho reprodutor feminino, os nossos conhecimentos ainda não são suficientes. Por todos estes motivos passa a haver, cada vez mais, a necessidade de um conhecimento profundo da fisiologia normal do ovário para um maximização das terapêuticas instituídas no que refere aos resultados e a uma minimização dos efeitos colaterais das drogas administradas para indução da ovulação, que até ao momento, ainda não estão completamente esclarecidos. Por outro lado por serem tratamentos que actuam sobre as células germinativas do ovário e no seu desenvolvimento e porque a extensão da segurança destes tratamentos é expressa em termos de poderem ser ou não mutagénicos ou teratogénicos e ter eventuais acções na futura gravidez, requerem investigação noutros campos ainda mais específicos. Houve uma aceleração muito rápida nos últimos anos, nesta área de investigação, que foi acompanhada de uma aquisição de novos métodos de diagnóstico e terapêutica acerca da fisiologia do ovário. Durante as últimas duas décadas a indução da ovulação com gonadotrofinas humanas foi uma parte integral para tratamento dos hipogonadismos hipogonadotróficos, e foi-se estendendo gradualmente ao tratamento de outros tipos de distúrbios da fertilidade principalmente em situações de anovulação Lunenfeld, 2000). Finalmente houve necessidade da obtenção da superovulação controlada com gonadotrofinas, em mulheres com função ovárica normal, desde que começaram a ser implementadas as técnicas de procriação medicamente assistida. O desenvolvimento das novas tecnologias ofereceu-nos soluções simples e elegantes para problemas até então praticamente insolúveis. Abriram-se portas, assistiu-se a saltos qualitativos e, durante algum tempo parecia que tinha sido encontrada a resposta para resolver praticamente todas as situações com eficácia e pouca agressividade. Mas o tempo encarregou-se de Apesar de todos estes conhecimentos já adquiridos paralelamente à aquisição de novas tecnologias muitos distúrbios e ovulatórios ainda ficam por resolver o que significa que ainda temos um longo caminho a percorrer e muito para aprender. - 56 - 4. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 4. - Fisiologia do Ovário | Isabel Torgal - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Adashi E.Y. (1996). The intrafollicular IGF system. 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