Varíola Uma Nova Forma de uma Velha Doença

Transcrição

Varíola Uma Nova Forma de uma Velha Doença
Virologia
Varíola
Uma Nova Forma de
uma Velha Doença
Trabalho realizado por:
Ana Pedro nº 12537
Cláudia Carvalho nº 15740
Gisela Henriques nº 15452
Ano Lectivo 2003/2004
Resumo:
Depois da última epidemia de varíola em 1977, este vírus encontra-se restrito a alguns
institutos no mundo. Contudo, graças à ameaça do terrorismo, esta “velha” doença voltou a
entrar no palco da discussão. Pelo facto de se tratar de uma doença altamente contagiosa, com
elevada taxa de mortalidade e ter sido considerada erradicada (levando assim à interrupção dos
planos de vacinação), tem vindo cada vez mais a ganhar interesse, por parte da comunidade em
geral.
Desde a Antiguidade que esta doença tem sido considerada como uma das maiores
pragas, ultrapassando, inclusive, na Idade Média, doenças como a peste negra, a febre-amarela e
a malária. Tem também sido uma das mais estudadas, foi a primeira doença para a qual se
descobriu uma vacina.
A doença é causada pelo vírus da varíola, pertencente ao género Orthopoxvirus.
Existem duas estirpes do vírus, a varíola “major” e a varíola “minor”, provocando doenças com
sintomas muito diferentes e consequentemente com taxas de mortalidade bastante díspares. A
transmissão ocorre por via aérea ou por contacto directo com as lesões ou com objectos
contaminados. Após um período de incubação de 7 a 17 dias, o período de infecciosidade
começa, com o aparecimento de pequenas erupções cutâneas que evoluem para pústulas, que se
desenvolvem em primeiro lugar na face e nas extremidades.
Esta doença foi a primeira arma biológica alguma vez usada, sendo bastante usada pelos
colonizadores das Américas e provocando a queda de impérios. Esta doença actualmente é uma
potencial bio-arma devido ao facto da maior parte população humana já não se encontrar
imunizada contra o vírus.
A vacina viva, que era administrada intradermicamente, continha o vírus vaccinia. O
vírus multiplicava-se no local, estimulando a imunidade tanto da resposta mediada por
anticorpos como da mediada por células-T. Esta é a única doença infecto-contagiosa que foi
deliberadamente eliminada, o sucesso apenas foi possível pois a mesma satisfaz todos os
critérios necessários à sua erradicação.
Introdução:
Gostaríamos de fazer um trabalho sobre um tema actual e com alguma relevância. E
o que mais actual que o terrorismo que lentamente se infiltra na nossa vida? Decidimos
então desenvolver um trabalho acerca da Varíola e acerca da utilização deste agente
num possível ataque terrorista.
A devastação que esta doença acarreta leva-nos a fazer uma introdução histórica que
ajuda a compreender a importância que a doença teve ao longo dos tempos. O
conhecimento da estrutura e organização do agente infeccioso, o seu modo de
transmissão e a doença por ele provocada ajuda-nos a compreender a possível ameaça
terrorista.
Além disto considerámos relevante focalizar a importância da vacina, não só pelo
facto de ter sido a primeira a ser descoberta, como pelo papel fundamental desta na
erradicação da doença.
Coloca-se então a questão se os stocks de varíola que foram mantidos desde a
erradicação desta doença, irão ser utilizados para o bem o para o mal.
A doença através dos tempos…
O vírus da varíola foi pela primeira vez assim designado no ano 570 D.C por Bishop
Marius de Avenches, na Suíça. A palavra deriva do latim, varius ou varus que significa
bexigas (Sowers, 2002). Esta doença afectou em muito o desenvolvimento de
civilizações ocidentais e foi uma das grandes pragas ultrapassando, a peste negra, a
cólera e a febre-amarela, no seu impacto. Foi também a causadora da queda de alguns
impérios.
O vírus da varíola parece ter evoluído a partir de um poxvírus animal há cerca de
10.000 anos nas florestas tropicais da África Central (Sowers, 2002). Com o
crescimento da agricultura no nordeste africano – Egipto e Mesopotâmia – por volta do
ano 9000 A.C. houve uma aglomeração das populações humanas, o que permitiu a
transmissão da doença de pessoa para pessoa, sendo mais tarde levada por mercadores
para a Índia, Ásia e Europa. As evidências mais antigas desta doença aparecem em
lesões da pele nas múmias, existem inclusive marcas na cara na múmia do Faraó
Ramsés V que morreu por volta do ano 1500 A.C., que se pensa terem sido causadas
por uma doença semelhante à varíola (Henderson et. al, 1999). Em 1350 A.C. a
primeira epidemia de varíola ocorreu durante a guerra entre os Egípcios e os Hititas,
causando o declínio da civilização Hitita. (Sowers, 2002).
Também na China, por volta do ano 1122 A.C. foi descrita uma doença aparentada
com a varíola. Da China a doença chegou ao Japão e à Coreia e espalhou-se por toda a
Ásia, devido à Rota da Seda. Uma grande epidemia no ano 180 D.C. coincide com a
queda do Império Romano. A expansão Árabe trouxe a doença para o Norte de África e
Península Ibérica e mais tarde as Cruzadas trouxeram o vírus para a Europa. Em
algumas culturas antigas, a letalidade da doença era tão elevada entre as crianças que
estas só recebiam o nome se sobrevivessem à doença (Ferreira, s/ d.). No decorrer do
século XVIII, a doença matava um recém-nascido em cada dez na Suécia e na França e
em um em cada sete na Rússia. Não bastava o medo da morte, os enfermos, em caso de
sobreviverem, ainda tinham de carregar cicatrizes profundas, principalmente no rosto e
alguns chegavam a perder a visão.
A doença era desconhecida no Novo Mundo até ter sido introduzida pelos
Espanhóis e Portugueses, tornando-se numa espécies de arma biológica que ajudou a
provocar a queda dos impérios Asteca e Inca (Silva, s/ d). Estima-se que cerca de 3,5
milhões de índios Astecas morreram vitimados pela doença num espaço de dois anos.
Este enorme declínio no número populacional foi devido ao facto de as populações
índias nunca antes terem estado em contacto com este agente infeccioso, sendo
particularmente susceptíveis a este (Sowers, 2002). Na América do Norte, a doença foi
introduzida por Europeus e pelo tráfico de escravos e dizimou grande parte da
população nativa. Entre 1616-1619 uma epidemia dizimou cerca de 90% da população
nativa na baía do Massachusetts um pouco antes da chegada dos Pilgrimos.
Variolização
Thucydides, em 430 A.C., notou que aqueles que sobreviviam à doença estavam
mais tarde imunizados à doença e Rhazes, por volta de 910 D.C., não só deu a primeira
descrição medicinal da doença e da sua transmissão, como também desenvolveu a
primeira teoria de imunidade adquirida na sua explicação em como os sobreviventes da
doença não desenvolviam novamente a doença posteriormente (Sowers, 2002).
Uma forma mais atenuante da varíola, a varíola minor conduziu aos primeiros
esforços de prevenção contra a doença. Estes esforços começaram quando médicos
entre outros, intencionalmente infectaram pessoas saudáveis com varíola na esperança
de que as infecções resultantes fossem menos severas do que as que eram naturalmente
transmitidas e que poderiam conferir imunidade. Variados materiais obtidos a partir das
pústulas de indivíduos com formas atenuadas da varíola eram introduzidos noutros no
nariz ou na pele (Pinto, 1999). Este procedimento foi designado de variolização e era
extremamente praticada por todo o Império Otomano e foram os viajantes que vinham
de Constantinopla (Istambul) que introduziram este método na Europa (Sowers, 2002).
Contudo, mesmo que uma pessoa inoculada acabasse por sair-se bem, ela facilmente
constituía um vector da doença, mas agora com toda a sua virulência. Algumas
epidemias foram accionadas desta forma (Pinto, 1999), aliás, na Rússia, uma epidemia
de varíola havia tido início dessa forma.
A variolização também se espalhou pelo resto da Europa inclusive entre muitas das
famílias reais.
Durante uma epidemia em Bóston, entre 1753-54, Benjamin Franklin (cujo filho
havia morrido de varíola em 1736) analisou a media de sobrevivência de pessoas
inoculadas versus pessoas não inoculadas anteriormente e tornou-se um entusiasta desta
técnica. A variolização tornou-se tão popular nas colónias que contribuiu para o
crescimento populacional durante a última metade do século XVIII, reduzindo as mortes
devido à varíola.
Desde o tempo da sua descoberta, até aos finais do século XIX, a varíola era
encarada como uma doença muito grave associada a um elevado número de casos fatais.
Contudo, por volta do ano de 1900, foi descoberta uma forma menos severa da doença,
a varíola minor com taxas de mortalidade de muito baixa em pessoas que não eram
vacinadas.
Vacina
Edward Jenner (1749-1823), médico e naturalista
inglês ficou imortalizado pela descoberta da vacinação
contra a varíola. Jenner desenvolveu a sua prática
médica no interior da Inglaterra onde teve a
oportunidade de lidar com pessoas afectadas por uma
doença benigna, transmitida pelas vacas mas que
apresentava algumas semelhanças com a varíola, a
pústula do vaqueiro. Acreditava-se naquela região, que
quem tivesse contraído a tal doença das vacas passava a
Fig. 1- Edward Jenner
ficar imune à varíola (Henderson et. al, 1999).
Jenner começou a investigar sistematicamente a doença pústula do vaqueiro e veio a
perceber que diferentes sintomas apareciam em diferentes vítimas da varíola das vacas,
ou seja, que esta não admitia apenas uma única manifestação fixa. Jenner concluiu que o
que havia, desde sempre, sido identificado como uma única doença eram, de facto, mais
de uma, sendo que apenas uma delas conferia imunidade à varíola.
Fig. 2- Extracção de material infeccioso de uma vaca, para a sua inoculação e
indivíduos sadios.
Surgiu, então, uma situação que parecia vir contrariar, por completo, todas as suas
conclusões. Numa das vacarias da região apareceu um surto da doença que Jenner havia
identificado como conferindo imunidade à varíola, tendo alguns dos trabalhadores
apanhado essa doença, mesmo após terem sido infectados com a tal versão benigna.
Jenner levantou uma nova hipótese dinâmica, quer dizer, entra em jogo o factor tempo:
essa matéria só conferia imunidade contra a varíola quando a sua virulência estivesse
próxima do seu máximo.
Jenner deu, então, início a testes que pudessem verificar as suas novas ideias
dinâmicas. Em 1796, ele extraiu material de uma pústula de uma das mãos de uma
trabalhadora de uma vacaria (que havia contraído a doença na sua pior fase) e infectou
um rapaz de nome James Phipps (Silva, s/ d.). Após a doença ter seguido o seu curso,
Jenner inoculou-o com matéria infecciosa de varíola e esperou pelo desenrolar dos
acontecimentos. James Phipps não desenvolveu quaisquer sintomas de varíola. A
experiência fora bem sucedida (Sowers, 2002).
Jenner conseguiu demonstrar que a sua vacina, além de eficaz, era segura, chegando
ainda, em vida, a receber inúmeros prémios e distinções.
A vacinação utilizando fluído das pústulas da “varíola bovina” espalhou-se
rapidamente. Chegou à maioria dos países europeus por volta do ano 1800 e cerca de
100 000 pessoas tinham sido vacinadas na Grã-Bretanha. O procedimento em breve
chegou aos Estados Unidos. O valor demonstrativo da vacina foi tão grande que
Napoleão insistiu que todas as suas tropas fossem vacinadas assim como os países sobre
o domínio da França (Henderson et. al, 1999).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) erradica a doença
Com o tempo, novas técnicas aprimoraram a fabricação da vacina contra a varíola
que passou a conter formas vivas de um vírus chamado vaccinia – de origem misteriosa,
pertencente à mesma família do vírus da varíola porém muito menos agressivo.
Fig. 3- Imagem de uma campanha de vacinação contra a varíola
O Programa de Erradicação Global da Varíola, levada a cabo pela Organização
Mundial de Saúde em 1966, constituiu um importante passo em frente no controlo da
actividade da doença. O plano constituía em realizar vacinações em massa por todo o
mundo, permitindo que o número de casos no mundo em cada ano caísse de 50 milhões
em 1950, para cerca de 15 milhões em 1967, decaindo para cerca de 31 000 casos, num
total de 23 países. Na Europa, em 1973, a doença estava erradicada, e apenas subsistiu
sob a forma endémica em 5 países em todo o mundo (Etiópia, Sudão, Paquistão,
Bangladesh e Índia). O programa foi um sucesso e em 1977 registrou-se o último caso
natural, na Somália (Breman & Henderson, 2002) seguido de outro ocorrido em
Londres, em 1978, devido a um acidente de laboratório. Em 1980, após inúmeras
verificações, a OMS finalmente declarou a doença extinta (Sowers, 2002) e pediu para
que os laboratórios do mundo destruíssem as suas amostras do vírus.
Virologia:
O vírus da varíola pertence à família Poxviridae, subfamília Chordopoxvirinae e ao
género Orthopoxvirus (Breman et al., 2003; Breman & Henderson, 2002; Sower, 2003).
Este género também inclui o vírus vaccinia, “monkeypox” e outros poxvírus animais
que tem uma reacção serológica cruzada. Existem duas estirpes de varíola, a varíola
major e a varíola minor (Breman et al., 2003).
Os viriões têm uma forma semelhante a um
tijolo e ao microscópio electrónico aparecem
como rectângulos ligeiramente arredondados,
medindo aproximadamente 302-350nm por
244-270nm.
O vírus possui dois envelopes, um
envelope externo, presente apenas nos vírus
Fig. 4- Imagem do Vírus da Varíola
extracelulares e um envelope interno que
rodeia o “núcleo”. No “núcleo” encontra-se o seu genoma, que tem 186 kbp e consiste
numa molécula de DNA de cadeia dupla, com um loop em forma de gancho em cada
ponta (Breman & Henderson, 2002).
A replicação do vírus ocorre inteiramente no citoplasma da célula infectada. A
replicação do DNA e a transcrição inicia-se imediatamente a seguir ao vírus possuir as
enzimas para a replicação/transcrição, não necessitando de recorrer às enzimas da célula
hospedeira. Existem três estágios de transcrição e tradução: no primeiro estágio a DNA
e a RNA polimerases são produzidas, assim como outros factores de transcrição. No
segundo estágio são produzidos outros factores de transcrição. No terceiro e último
estágio, as proteínas que formam a estrutura do virião e as enzimas destinadas ao novo
vírus são produzidas e o vírus sofre montagem. Seguidamente o vírus passa para o
Aparelho de Golgi de modo a adquirir envelope extracelular e é libertado. Além das
proteínas
já
mencionadas,
são
também
manufacturadas
várias
proteínas
imunossupressoras. Proteínas que se ligam a certas moléculas como a TNF, C4b e IL1
são sintetizadas e ou são secretadas ou ligam-se à membrana da célula infectada. Essas
proteínas são conhecidas como viroceptores. Os viroceptores aumentam a virulência da
estirpe, e a virulência é determinada, em grande parte, pelo número de genes que
codificam esses viroceptores. A morte celular ocorre devido à redução da transcrição
das proteínas da célula normal. Isto provavelmente acontece devido às elevadas
quantidades de mRNA viral presente, além disso, é possível que exista uma proteína
viral que iniba directamente a produção normal das proteínas (Abramson et al., 2002)
Os antigénios da varíola encontram-se apenas nos vírus activos. Este facto é
relevante para a vacina, pois a fragilidade da conformação dos antigénios virais faz com
que seja necessário injectar o vírus vivo. Os antigénios da varíola são os seguintes: dois
antigénios da superfície exterior da membrana, antigénios no envelope viral, 1 antigénio
grande e 3 pequenos antigénios no “núcleo”, um antigénio grande entre o “núcleo” e as
estruturas da superfície e um antigénios de família no “núcleo” que tem uma reacção
cruzada com antigénios similares de todos os poxvírus. Assim quando o vírus da
vaccinia é injectado durante a vacinação, as defesas contra o antigénio de família são
efectivas contra a varíola. É importante notar que os antigénios não mudaram a sua
reactividade ao longo dos anos, tornando possível que a vacina seja efectiva ao longo
dos anos, permitindo longa protecção após uma infecção ou vacinação e tornou possível
a erradicação da doença (Wang & Chang, 2002).
Classificação da doença
A Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs uma classificação para a doença,
baseada num estudo em 3544 pacientes na Índia, onde diferenciou dois tipos de varíola:
a varíola major, que compreende 5 subtipos e a varíola minor (Wang & Chang, 2002).
Nesse estudo, a varíola major subdivide-se em 5 subtipos: o subtipo mais comum, com
cerca de 90% dos casos e com uma taxa de fatalidade de 30%; o subtipo “modificado”,
que conta com 2% dos casos em pessoas sem vacina e com 25% dos casos em pessoas
que foram anteriormente vacinadas, sendo estes casos “modificados” raramente fatais.
As lesões causadas são em número inferior, mais pequenas, superficiais e desenvolvem-
se mais rapidamente, quando comparadas com as lesões dos pacientes de varíola major
comum. O terceiro subtipo conta com 5% dos casos e caracteriza-se por lesões planas
que evoluem mais lentamente do que as do primeiro subtipo e que coalescem. A taxa de
fatalidade para este subtipo é de 97% entre os pacientes não vacinados. A varíola
hemorrágica, é um subtipo de difícil diagnóstico e conta com menos de dois por cento
dos casos. Quase todos os pacientes com este tipo de varíola morrem nos primeiros sete
dias da doença. O último subtipo de varíola é o eruptivo sinusoidal e ocorre
principalmente em adultos que tiveram contactos anteriores com a vacina ou em
crianças que com anticorpos maternos. As pessoas afectadas não têm sintomas ou têm
apenas uma pequena subida de temperatura, dores de cabeça e outros sintomas
semelhantes aos da gripe, no entanto a transmissão clínica deste tipo de varíola não foi
documentada.
Os casos de varíola minor são pouco comuns e ocorrem maioritariamente nas
Américas e em partes de África, sendo a doença pouco severa, causando a morte em
menos de 1% dos pacientes (Wang & Chang, 2002; Breman & Henderson, 2002).
Patogénese e Manifestações clínicas
O vírus entra no corpo humano através do tracto respiratório e implanta-se nas
células epiteliais da orofaringe e na mucosa pulmonar (Henderson et al., 1999). Essas
células são os locais de acumulação do vírus e sua replicação activa. No início da
infecção os pacientes são altamente contagiosos através da transmissão via aérea,
devido à elevada concentração de partículas virais existentes no início do tracto
respiratório (Henderson et al., 1999)
Viremia Primária
Depois de se instalar no tracto respiratório o vírus migra para os nódulos linfáticos,
onde continua a ocorrer a replicação. Este passo está associado com a viremia primária,
assintomática e que ocorre 3 a 4 dias depois da infecção. Depois deste pequeno período
de viremia existe um período de latência de 4 a 14 dias, durante o qual os vírus se
multiplicam no sistema reticuloendotelial.
Viremia Secundária
No final do período de incubação (12º dia ao 14º dia) o vírus migra para locais de
crescimento das células imunes, onde se replica nos leucócitos maduros. Cerca de 24h
após a infecção dos órgãos do sistema imune é libertada uma elevada concentração de
vírus para a circulação sanguínea. Este acontecimento produz uma viremia secundária
que está associada com toxémia e febre elevada. Clinicamente, esta fase é designada de
prodromal e caracteriza-se por erupções cutâneas e sintomas como febre elevada (cerca
de 40ºC), dores de cabeça, mal-estar e prostração (Klietmann & Ruoff, 2001)
Durante a fase prodromal, as membranas das mucosas na boca e na faringe são
infectadas. O vírus invade o epitélio capilar da camada dérmica da pele, levando ao
desenvolvimento de lesões. Essas primeiras lesões dérmicas progridem para lesões
vesiculares e posteriormente postulares (ao fim do 8º ou 9º dia do aparecimento das
primeiras lesões), que se formam preferencialmente na face e nas extremidades e que
gradualmente cobrem todo o corpo (Henderson et al., 1999).
As postulas permanecem durante cinco a
oito dias criando posteriormente uma crosta.
Nesta fase pode ocorrer uma pequena
elevação da temperatura, principalmente se o
paciente sofrer uma infecção bacteriana
oportunista. A crosta começa a separar-se na
segunda semana das erupções. As lesões têm
uma
distribuição
centrífuga
e
perifericamente e geralmente encontram-se
todas no mesmo estágio de desenvolvimento.
As lesões na orofaringe e na pele contém
Fig. 5-Caso típico de infecção de varíola numa
criança.
As figuras mostram a aparência das lesões no dia
3, 5 e 7 de evolução. È de notar que as lesões são
mais densas na face e nas extremidades do que no
tronco; são similares em aparência, umas com as
outras.
partículas
virais
em
abundância,
particularmente no início da doença. Os
vírus também se encontram presentes na
urina e nas secreções da conjuntiva, com os
níveis a decrescer durante a convalescença. O baço, os nódulos linfáticos, o fígado, a
medula óssea, os rins e outros órgãos viscerais.
O desenvolvimento da infecção sistémica da varíola fatal está associada com a
coagulação intravascular disseminada, hipotensão e colapso cardiovascular. Na varíola
hemorrágica esses eventos são exacerbados pela falha na coagulação sanguínea.
A migração de macrófagos infectados para os nódulos linfáticos após a infecção
inicial leva à produção de linfócitos T citotóxicos e linfócitos B, essa resposta limita a
dispersão da infecção. Os anticorpos neutralizados aparecem durante a primeira semana
da doença, mas surgem depois se se tratar de uma infecção severa, continuando
presentes por muitos anos. A correlação entre os anticorpos humorais e a protecção da
varíola não é inteiramente clara (Klietmann & Ruoff, 2001).
Diagnose
A descoberta de um único caso suspeito de varíola deve ser tratado como uma
emergência de saúde internacional e deve ser imediatamente trazido para a atenção das
autoridades de saúde.
A maior parte dos casos de varíola apresenta lesões dérmicas características,
possuindo distribuição centrífuga e com uma maior incidência na face e nas
extremidades. As lesões aparecem durante um período de 1 a 2 dias e desenvolvem-se
todas ao mesmo tempo. Em qualquer parte do corpo encontram-se, em geral, no mesmo
estágio de desenvolvimento. Na varicela, a doença mais frequentemente confundida
com a varíola, as novas lesões aparecem em conjunto em vários dias e as lesões estão
em diferentes estágios de maturação (vesículas, pústulas e crostas) e encontram-se em
áreas adjacentes da pele. As lesões da varicela são muito mais superficiais e quase
nunca ocorrem nas palmas das mãos nem nas solas dos pés. A distribuição das lesões da
varicela é centrípeta, com uma grande concentração de lesões no tronco, e não na face e
extremidades, como na varíola (Henderson et al., 1999)
Uma infecção de varíola pode ser rapidamente confirmada no laboratório através de
examinação ao microscópio electrónico dos fluidos das vesículas, pústulas ou crostas,
ou através de estudos imunológicos. A forma característica de tijolo da varíola é
completamente diferente da do vírus da varicela. Hoje em dia, o PCR é uma ferramente
poderosa para a confirmação da varíola ou de outras infecções de poxvírus. Os testes de
confirmação são feitos em culturas de células vivas e através de identificação dos ácidos
nucleicos. Os testes serológicos não diferenciam as espécies de orthopoxvirus. São
necessárias amostras pares de soro para distinguir infecções recentes de vacinação do
passado. Estes testes confirmatórios são especialmente importantes num ataque
bioterrorista (Wang & Chang, 2002).
Epidemiologia
Até ao final do século XIX a varíola major predominava em todo o mundo, no
entanto, na viragem do século, a varíola minor foi pela primeira vez detectada na África
do Sul e depois na Florida, donde se expandiu ao longo dos Estados Unidos da América,
da América Latina e Europa. As epidemias da varíola major típica resultavam em
fatalidade em cerca de 30% dos casos, ou em taxas mais elevadas em populações não
vacinadas, enquanto que a varíola minor tinha taxas de mortalidade de 1%, ou menos,
como foi referido acima (Henderson et al., 1999).
A doença transmite-se de pessoa para pessoa principalmente através de transmissão
aérea de pequenas gotas ou aerossóis expelidos da orofaringe dos indivíduos infectados,
mas também através do contacto directo com as lesões ou com objectos contaminados.
Não existem reservatórios ou vectores animais conhecidos (Anónimo, 2002; Henderson
et al., 1999).
Historicamente, a rapidez de transmissão da doença na população é geralmente mais
lenta do que outras doenças, tais como o sarampo, a varicela ou a gripe. Os pacientes
transmitem a doença, em primeiro lugar aos membros da casa e amigos. Este
acontecimento deve-se ao facto da doença não ser transmissível até ao aparecimento das
erupções cutâneas, altura em que os pacientes se encontravam confinados à cama,
devido às febres altas e ao mal-estar provocado pela doença. Normalmente, os casos de
transmissão que se seguem ficam restritos ao pessoal hospitalar (Breman & Henderson,
2002).
A incidência da varíola aumenta durante o Inverno e o início da Primavera, uma vez
que o vírus sobrevive durante mais tempo no meio ambiente, devido ao aumento da
humidade e à diminuição da temperatura (Anónimo, 2002).
Os pacientes transmitem mais facilmente a doença desde o início das erupções até
ao sétimo ao décimo dia das erupções. Após se formarem as pústulas a infecciosidade
decresce rapidamente. Apesar das pústulas conterem grandes quantidades de vírus
viáveis, estudos epidemiológicos e laboratoriais indicam que não são especialmente
infecciosas, presumivelmente porque os viriões se encontram firmemente ligados à
matriz fibrosa.
A distribuição dos casos consoante a idade depende em primeiro lugar do grau de
susceptibilidade na população. Em muitas áreas, os casos predominam entre as crianças,
pois os adultos se encontram protegidos pela imunidade induzida pela vacinação ou
infecção anterior pela doença (Breman & Henderson, 2002).
Vacinação
A humanidade está decidida a proteger-se a si própria, às suas plantas e animais, da
morte, doença e de prejuízos económicas causadas por infecções virais. O controle de
doenças virais através do melhoramento da nutrição, da saúde pública, da higiene
pessoal e da educação é também um aspecto de importância vital da prevenção,
especialmente no mundo desenvolvido.
A imunização com vacinas tem sido até agora muito mais efectiva que a terapia
antiviral, mas as vacinas contra alguns vírus não são ideais. O objectivo da imunização é
criar uma resposta específica para um determinado vírus sem o paciente ter de sofrer a
doença (Dimmock, et al., 2001).
As vacinas convencionais compreendem partículas virais infecciosas (“vivas”) ou
não infecciosas (“mortas”). O processo de produção de uma estirpe viral que cause uma
forma menos grave da doença, para ser usada como vacina viva é chamada de
atenuação. A alternativa de uso de uma estirpe natural que está antigenicamente
relacionada com a estirpe virulenta e que causa uma forma
menos grave da doença já é conhecida desde Edward Jenner
(mencionado anteriormente) (Dimmock, et al., 2001).
A origem do vírus vaccinia – o vírus utilizado na
vacinação contra varíola – é incerto, mas possivelmente
proveio da pústula do vaqueiro, do vírus da varíola ou de um
híbrido de ambos. É actualmente um vírus de laboratório sem
hospedeiro natural. Apesar da eficácia e segurança da vacina
nunca ter sido estabelecida em estudos controlados, a
experiência já provou a sua eficiência na utilização do vírus
vaccinia vivo (Wang, 2001).
O soro da vacina é aplicado na superfície da pele do
Fig 6– Aplicação da vacina
antebraço esquerdo ou direito, ou até numa das coxas. O
médico com uma agulha própria faz duas ou três escoriações na pele até saírem algumas
gotas de sangue. No sexto dia após a vacinação forma-se uma pústula, semelhante à da
verdadeira varíola. Pelo oitavo dia a vesícula atinge o seu máximo e forma uma crosta
que por volta do décimo segundo dia cai. Finalmente no vigésimo quarto dia já se
observa uma cicatriz que ficará para o resto da vida (Silva, s/d).
Dia 4
Dia 7
Dia 14
Dia 21
Fig. 7: Diferentes estágios do local onde foi administrada a vacina (dia 4, dia7, dia 14, dia 21 e cicatriz
final
A administração do vírus da vaccinia resulta numa imunidade protectiva, que vai
estimular tanto a resposta humoral (anticorpos) como a celular (células-T). Mais de 95%
dos pacientes que recebem a primeira dose da vacina apresentam uma resposta
imunitária. A formação de uma pústula e de uma cicatriz no local da inoculação é
indicativo de imunidade adquirida. Ao fim de 10 a 20 anos o paciente não apresenta
resposta imunitária, pelo que é indicada revacinação a cada dez anos de forma a possuir
uma protecção continuada (Wang, 2001).
A vacinação dentro dos 3 a 4 dias após a exposição ao vírus vai prevenir, ou
diminuir significativamente os sintomas da varíola na maioria dos indivíduos. Nos 4 a 7
dias após o contacto com o vírus a vacinação oferece alguma protecção da doença ou
pode modificar a severidade da mesma (Anónimo, 2003).
Existem efeitos secundários e riscos associados à vacina da varíola. A maioria das
pessoas experimenta reacções normais, usualmente suaves que incluem o braço dorido,
febre, e dores corporais. Contudo, outras pessoas apresentam reacções que colocam a
sua vida em risco. Os indivíduos mais susceptíveis de sofrerem os efeitos secundários
da doença são: indivíduos com algum problema de pele (especialmente eczema ou
dermatite atópica) São também susceptíveis, indivíduos com o sistema imunitário
debilitado como as que receberam um transplante, que são portadoras do HIV, que se
encontram a receber tratamento contra o cancro, ou que estão actualmente a tomar
medicamentos (como os esteróides) que suprimem o sistema imunitário. As mulheres
grávidas não devem tomar a vacina uma vez que representa um perigo para o feto, nem
as mulheres que se encontram a amamentar. Crianças com menos de um ano de idade
também não devem receber a vacina e segundo Breman et al., as crianças de idade
inferior a 5 anos que foram vacinadas pela primeira vez tiveram os níveis mais altos de
complicações, principalmente do tipo mais grave. O “Advisory Commitee on
Immunization Practices” (ACIP) aconselha contra a aplicação da vacina a menores de
18 anos, excepto em casos de emergência. Também pessoas a quem foi diagnosticado
um problema cardíaco com ou sem sintomas não devem ser vacinadas. Indivíduos, com
3 ou mais dos riscos seguintes também não devem tomar a vacina: pressão alta,
colesterol alto, diabetes, um problema cardíaco com idade inferior aos 50 anos, um
familiar de primeiro grau com um problema cardíaco antes dos 50 anos, e/ou
correntemente um fumador (Anónimo, 2003).
No passado, cerca de 1000 pessoas em cada um milhão de vacinadas pela primeira
vez experimentou reacções que, apesar de não colocarem a vida em risco, eram
consideradas graves. Essas reacções incluem:
-vaccinia generalizada em indivíduos de outra forma saudáveis, que é geralmente
limitada ao próprio;
-eczema vaccinatum, que consiste de lesões cutâneas disseminadas, em pacientes
com eczema ou outras doenças crónicas de pele, que apresentam alta susceptibilidade e
é ocasionalmente severa ou mesmo fatal;
-vaccinia progressiva (vaccinia necrosum) que é uma doença severa, potencialmente
fatal que ocorre em pacientes com imunodeficiência, quer congénita, adquirida ou
induzida pelo HIV;
-encefalite pós-infecciosa, que é rara, mas pode ser fatal em 15 a 25% dos casos e
pode, inclusive deixar 25% dos pacientes com sequelas neurológicas permanentes.
Uma vez que os vacinados podem transmitir o vírus vaccinia a indivíduos
susceptíveis, a vacinação é contra-indicada se o paciente ou alguém em sua casa possua
eczema, estejam imunocomprometidos (Anónimo, 2003).
Estes tipos de reacção podem requerer atenção médica. No passado, entre 14 a 52
pessoas em cada um milhão de pessoas vacinadas pela primeira vez experimentou
reacções que colocaram a sua vida em risco. Baseada em experiências passadas, estima-
se que uma ou duas pessoas em cada milhão que tomou a vacina, morreu em resultado
da mesma. Uma descriminação cautelosa de potenciais receptores da vacina é essencial
para garantir que os que apresentam um risco mais elevado não recebem a vacina
(Anónimo, 2003).
Tratamento
Os casos suspeitos devem ser isolados num quarto de pressão negativa, e serem
vacinados, especialmente se a doença se encontrar na fase inicial. Deve ser designado
um hospital isolado para casos de varíola epidémica ou endémica. O tratamento de
suporte, como a adequada hidratação e nutrição continua ser a parte mais importante.
Antibióticos resistentes à peniciliase devem ser usados caso surjam infecções de lesões
secundárias ou oftalmológicas. Idoxuridina tópica deve ser considerada no tratamento
de lesões da córnea, apesar da sua eficiência não estar comprovada. O cidofovir diminui
o nível de vírus pulmonares e de pneumonias em animais com vaccinia ou pústula do
vaqueiro. No evento de um surto de varíola, os medicamentos deviam ser colocados à
disposição, ligados a um protocolo de testes de novos medicamentos contra a varíola ou
efeitos negativos da vacina. A imunoglobulina da vaccinia não apresenta benefícios em
pacientes com varíola ou na profilaxia da mesma (Wang & Chang, 2002).
Erradicação
A varíola foi totalmente erradicada pela vacinação. O último caso não laboratorial
de varíola foi na Somália em 1977. Em 1980 a OMS declarou a varíola oficialmente
erradicada, como resultado de um programa de vacinação e erradicação global.
Contudo à menos de 200 anos a varíola era endémica na Europa, África e Ásia. A
mortalidade infantil na Inglaterra devido à varíola era superior a 25%, e na Índia apenas
no ano de 1950 morreram 41 000 pessoas. O declínio da varíola nesses países onde até
muito recentemente era endémico foi um triunfo para o programa de vacinação
administrado pela OMS. A varíola é a única doença infecciosa que foi deliberadamente
eliminada, esta experiência serviu para dar ênfase ao facto de que a erradicação de uma
doença esta tem que cumprir certos critérios (Dimmock, et al., 2001).
Características importantes que contribuíram para o sucesso deste programa de
vacinação incluem: o interesse mundial em eliminar esta doença dispendiosa e com alta
taxa de mortalidade e morbilidade; o período de incubação ser longo e com baixo nível
de contágio; as lesões dérmicas serem de fácil diagnóstico por caracterização
histológica ou detecção de antigénios; o facto dos humanos serem os únicos
reservatórios da infecção; a ausência de um vector; só possuir um serotipo; da infecção
causar sempre doença; a disponibilidade de uma vacina de vírus vivos eficiente que
pode rapidamente ser entregue a países menos desenvolvidos por causa da sua
resistência a químicos, a mudanças térmicas e à desidratação; e o facto da vacina deixar
uma cicatriz vitalícia que facilita os registos (Bozzette, et al., 2003).
A eliminação da varíola levou várias décadas, enquanto que alguns países
gradualmente se declaravam oficialmente livres. O assalto final ao vírus tomou lugar na
Índia e em África, não foi feito por vacinação em massa mas por vacinação em anel.
Quando um novo caso era identificado, toda a povoação era vacinada de maneira a
formar um anel de imunidade. O vírus não conseguia sair e infectar novos hospedeiros
susceptíveis, logo desaparecia. Felizmente, outros poxvírus (por exemplo o “whitepox”
dos macacos, que é antigenicamente similar ao vírus da varíola) são aparentemente
incapazes de ocupar o nicho ecológico desocupado pelo vírus da varíola e substitui-lo
como patogénico humano (Dimmock, et al., 2001).
Outro vírus prestes a ser erradicado é o da poliomielite. Em 1988, a OMS estendeu a
sua politica de erradicação a todo o mundo. No final de 2003 a poliomielite tinha sido
eliminada em todos os países excepto da Índia, Nigéria, Paquistão, Afeganistão, Níger e
Egipto, e menos de 1000 crianças tinham sido paralisadas pela doença. (Anónimo,
2004).
Uma perspectiva de bio-arma
Existe uma preocupação crescente acerca das armas biológicas que podem ser alvo
de utilização por parte dos terroristas, pois o terrorismo tem vindo a ser mais dramático
e destrutivo nos anos últimos anos.
Em 1980 a OMS recomendou a todos os institutos que mantinham os stocks de vírus
da varíola, que os destruíssem ou os transferissem para centros colaboradores da OMS,
equipados com a segurança adequada.
Dos 76 laboratórios identificados como possuidores da vacina em 1980, 74
cumpriram as recomendações da OMS. Correntemente apenas dois laboratórios são
conhecidos por reterem o vírus da varíola: os Centros para o Controlo e Prevenção das
Doenças (CDC) em Atlanta, e no Centro de Investigação Russo de Virologia e
Biotecnologia no Koltsovo.
Existem algumas especulações de que existem stocks do vírus da varíola adicionais,
sem que a OMS tenha conhecimento. Também foi posta a hipótese de que o vírus tenha
sido recombinado com outros patogenes para a sua utilização como arma biológica, ou
que graças à engenharia biotecnologia tenha sido modificado tornando-se mais letal mas
a veracidade destes cenários é desconhecida (Drazen, 2002).
Até recentemente, a varíola tem sido considerado um agente impróprio para o
bioterrorismo, devido ao nível de imunidade elevado entre a população, à existência de
vacina e o conhecimento de que a vacinação imediata em pacientes que contactaram
com a doença pode rapidamente controlar possíveis surtos.
As circunstâncias mudaram. A Varíola representa uma ameaça séria para todas as
populações civis, uma vez que a sua taxa de fatalidade ronda os 30%, ou mais entre
pessoas não vacinadas, e devido a ausência de terapia específica. Apesar da doença ter
sido desde sempre considerada a doença mais devastadora de todas as doenças
infecciosas, o seu potencial de devastação hoje em dia é ainda maior do que
anteriormente. Todas as vacinações contra a doença cessaram após a sua erradicação.
Virtualmente todas as crianças e muitos adultos encontram-se agora completamente
susceptíveis à doença. Existem disponíveis apenas stocks limitados da vacina e os locais
de produção da vacina foram convertidos para outros fins ou foram destruídos.
Com a população altamente susceptível, mais facilmente móvel, a varíola pode ser
capaz de se dispersar rapidamente por todo o mundo.
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Índice
Resumo
Introdução
A doença através dos tempos…
Variolização
Vacina
A Organização Mundial de Saúde erradica a doença
Virologia
Classificação da doença
Patogénese e Manifestações Clínicas
Diagnose
Epidemiologia
Vacinação
Tratamento
Erradicação
Uma perspectiva de bio-arma
Bibliografia
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