Maio - Junho - Igreja Metodista
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Maio - Junho - Igreja Metodista
Sumário Revista da Igreja Metodista no Estado do Rio de Janeiro Wesley plantou e Deus deu o crescimento 4 Nº 28 – maio-junho/2010 Carta aos leitores Pentecostes – Tempo de Colheita 5 Estudo e Reflexão Corações inflamados que impactaram o mundo 8 Metodismo O coração Aquecido de João Wesley 11 Metodismo Não se constrói com violência um relacionamento saudável 15 Contexto Parte I – Antigo Testamento 17 19 Documento Reverendo Juracy: patriarca do metodismo brasileiro Bispo da Primeira Região Eclesiástica Paulo Lockmann Conselho Editorial Ronan Boechat de Amorim – coordenador, Selma Antunes da Costa, Deise Marques, José Milson Fabiano, Clóvis Paradela, Nádia Mello, Marcelo Carneiro e Paula Damas Vieira. Editora e jornalista responsável Nádia Mello (MT 19.333) Assistente de redação Paula Damas Revisão Evandro Costa Curso de Bíblia Desafios para Testemunhar os Sinais da Graça na Unidade do Corpo de Cristo Expediente Capa e Editoração Eletrônica Renato Ormond 21 Homenagem Somos todos Pentecostais 24 Espaço Aberto É necessário investir na família? 27 Circulação: 10 mil exemplares Esta publicação circula como suplemento do Jornal Avante, não sendo, portanto, distribuída separadamente. Família Calendário Litúrgico Abril - Maio Junho - Julho - Agosto Páscoa (5ª estação) Período: 50 dias a contar do domingo da Ressurreição, quando tem início o período de Pentecostes. Cor litúrgica: branca Temas básicos: Semana Santa – última ceia e paixão de Cristo; Ressurreição – ascenção de Jesus. Símbolos litúrgicos: peixe, círio pascal, trigo, pão, cálice de vinho, cruz e túmulo vazios. Leituras bíblicas: Jo 14 a 16, At 1. Pentecostes (6ª estação) Período: 50 dias após a Ressurreição, até o primeiro domingo de setembro. Cor litúrgica: vermelho – cor associada à alegria, ao amor, ao poder do Espírito. Temas básicos: Deus Pai, Filho e Espírito Santo manifesto na Igreja. Capacitação para a missão. Símbolos litúrgicos: tudo o que lembra ar/vento, fogo, pomba. Leituras bíblicas: Dt 16.1-7, At 2, At 20.26, I Co 16.8. C Wesley plantou e Deus deu o crescimento ARTA AOS LEITORES R ecordamos este mês a experiência do coração aqueci- Bárbara Heck, a “mãe do metodismo norte-americano”. do vivida por João Wesley. Em 24 de maio de 1738, o Não podemos deixar de citar o reverendo Juracy José metodismo dá seu primeiro passo. Os princípios da Igreja Sias Monteiro, o patriarca do metodismo brasileiro. Nesta Metodista nasceram em meio a uma Inglaterra degradada. edição, fazemos uma homenagem a esse homem de Deus Ao longo dos anos, vários personagens, como Pedro Bolher, que testemunhou as principais mudanças ocorridas no Bra- ajudaram a escrever a história metodista revivendo a expe- sil, dentro e fora da Igreja. Ele morreu aos 94 anos, dos riência de Wesley na Rua Aldersgate. No entanto, segundo quais 72 foram dedicados ao pastorado e ao metodismo. o pastor Ronan Boechat, que assina o artigo de capa desta Fé e Nexo também traz um Curso de Bíblia orientado edição, devemos, entre outras coisas, inspirados em Wesley, por Zélia Constantino. Neste número, o assunto é o Antigo viver nossas próprias experiências. Testamento. “Toda a Escritura divinamente inspirada é pro- Já o pastor Odilon Massolar, no artigo da página 8, veitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para ins- relembra a importante missão dos primeiros metodistas. truir em justiça” ( 2 Tm 3.16). Com esse texto bíblico, a “Tendo por fundamento que o metodismo havia sido cha- articulista insere o leitor no estudo bíblico. mado por Deus para transformar a nação, a Igreja, e es- São mais de 200 anos de história do metodismo. A se- palhar a santidade bíblica por toda a Terra, os primeiros mente lançada por Wesley foi regada por seus sucessores. metodistas cumpriram fielmente essa missão”, declara O que vemos hoje é o crescimento dado por Deus. A seme- o reverendo, acrescentando a informação de que, no lhança do texto bíblico, Paulo plantou, Silas regou, mas o mundo, a família metodista tem hoje cerca de 70 mi- Senhor deu o crescimento. Em homenagem ao mês do Metodismo, esta edição cir- lhões de membros em mais de 130 países. Entre os cula com um número maior de páginas. metodistas que regaram a semente lançada por Wesley, Boa leitura! constam nomes como Francis Asbury, Fountain E. Pitts, Nádia Mello, Editora primeiro missionário metodista no Brasil, e mulheres como B OA DICA O Poder da Gratidão A mensagem deste livro o confronta e desafia a sair da mediocridade, da vida comum e entrar no nível da excelência, do melhor de Deus para sua vida! De autoria do pastor metodista Inácio Leal, a publicação motiva a descoberta da relação entre a gratidão e a felicidade, a gratidão e o reconhecimento e a gratidão e o elogio, entre outros. Mãe na Massa Um livro da metodista Poliana Corrêa Leal que fala sobre a importância da mãe na arte de educar. O título da publicação é uma paródia do termo “mão na massa”, sendo a massa (filho/ s) a herança recebida por Deus, da qual se deve cuidar suprindo as necessidades básicas ao seu desenvolvimento, doando-se de forma prazerosa e intransferível. Contatos e informações pelos telefones (11) 4035-7575 e (22) 2762-1818; e pelo e-mail [email protected]. 4 Fé&Nexo E STUDO E REFLEXÃO Pentecostes: Tempo de Colheita Êx 23.16, Nm 28.26 e At 2.1-14 Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann A ORIGEM DA FESTA peregrinação ao lugar do culto. Esta era Alguns estudiosos acreditam que A expressão: “Ao cumprir-se o dia uma festa de grande júbilo, pois recor- essas tradições bíblicas desempenha- de Pentecostes...” (At 2.1) intro- dava a gratidão de se ter uma terra onde ram um papel fundamental na forma- duz o relato da descida do Espírito San- plantar, e a bênção do fruto dessa terra. ção da narrativa de Atos 2.1-13. 2 to sobre os 120 discípulos, mas, na ver- Sim, o Pentecostes, como a segun- Jacques Dupont3, em seu estudo sobre dade, nos detemos no ocorrido sem da grande festa do calendário judaico, Atos dos Apóstolos, crê que hoje é di- meditarmos no porquê de isso ocorrer era a do tempo da colheita, quando as fícil identificar todas as tradições em no Dia de Pentecostes. Qual o propósi- primícias da ceifa do trigo eram ofere- torno da festa do Pentecostes, e seus tra- to de Deus com isso? cidas ao Senhor. Celebrava-se sete se- ços no relato de Atos 2. A verdade é Quando retornamos ao Antigo Tes- manas após o início da ceifa da ceva- que somente uma grande tradição já se tamento, ao relato do Êxodo 23.13-16, da. “Também guardarás a Festa das consolidara no Judaísmo contemporâ- que fala das festas, em prosseguimento Semanas, que é a das primícias da sega neo a Jesus, na festa e celebração do às leis da aliança entre Deus e o seu do trigo, e a Festa da Colheita no fim Pentecostes. Esta era o Pentecostes, povo, são ali previstas três festas, den- do ano” (Êx 34.22). (Ver também Lv como renovação da Aliança. Nela, o tre elas, a festa das semanas, no 23.15-21; Nm 28. 26-31; Dt 16. 9-12). tema Aliança com Deus vinha acom- hebraico hag sabuôt1. O nome Pente- No desenvolvimento da festa, ela panhada do conceito Promessa e Cum- costes é uma versão posterior usada no tornou-se a festa da renovação da Ali- primento, núcleo teológico decisivo período da dominação grega, a qual sig- ança com Deus. para a narrativa do Pentecostes Cristão nifica quinquagésimo, ou seja, após sete em Atos 2. O testemunho da Aliança é semanas da Páscoa. Neste dia, o quin- AS ORIGENS DA NARRATIVA DO claro em vincular a promessa e o cum- quagésimo, se celebrava a festa de gra- PENTECOSTES EM ATOS 2 primento: “Agora, pois, se diligente- tidão a Deus pela colheita. Sem dúvi- Lucas coloca o Pentecostes como a mente ouvirdes a minha voz e da, como sugere o nome, era uma festa data do derramamento do Espírito San- guardardes a minha aliança, então, rural judaica, com natureza mais comu- to sobre a comunidade dos discípulos sereis a minha propriedade peculiar nitária que a Páscoa, por ser esta reali- de Jesus. Isso põe diante de nós a per- dentre todos os povos; porque toda a zada no recôndito da família, enquanto gunta: Quais tradições bíblicas acerca terra é minha” (Êx 19.5). o Pentecostes começava com a colhei- do Pentecostes teriam influenciado a ta simbólica (Dt 16.9), seguida de uma narrativa de Lucas? 5 Fé&Nexo Tal conceito está presente no Evangelho de Lucas e em Atos dos Apóstolos, relacionando-o à Aliança Espírito sobre toda a carne; vossos fi- Foi naquele momento que, através de com Deus e o Pentecostes. “A seguir, lhos e vossas filhas profetizarão, vos- João Batista (um profeta no estilo do Jesus lhes disse: São estas as palavras sos velhos sonharão, e vossos jovens Antigo Testamento), o Pentecostes que eu vos falei, estando ainda terão visões.” (Jl 2.28). A chuva foi do Cristão é anunciado pela primeira vez convosco: importava se cumprisse Espírito Santo, e a terra foram as vi- nos Evangelhos. O que diz João Batis- tudo o que de mim está escrito na Lei das dos discípulos. Desse modo, a Pa- ta nos quatro Evangelhos? “Disse João de Moisés, nos Profetas e nos Sal- lavra de Deus, suas promessas, na un- a todos: Eu, na verdade, vos batizo com mos” (Lc 24.44). “Eis que envio so- ção do Espírito Santo, lançada em vi- água, mas vem o que é mais poderoso bre vós a promessa de meu Pai; das, se multiplica, e a colheita foram do que eu do qual não sou digno de permanecei, pois, na cidade, até que desatar-lhe as correias das sandálias; ele do alto sejais revestidos de poder” (Lc vos batizará com o Espírito Santo e com 24.49); mas também “E, comendo fogo.” (Lc 3.16). (Ver também Mt 3.11, com eles, determinou-lhes que não se Mc 1.7-8, Lc 3.16, Jo 1.33). Sim, Jesus ausentassem de Jerusalém, mas espe- é o que batiza com o Espírito Santo e rassem a promessa do Pai, a qual, dis- com fogo. E esta tradição é repetida se ele, de mim ouvistes” (At 1.4). pelo próprio Senhor Jesus no início de Atos dos Apóstolos (1.5 e 8). Desse modo, fica claro que Lucas e a Igreja Primitiva entenderam que o derramamento do Espírito Santo, no IMPLICAÇÕES PASTORAIS dia da festa do Pentecostes, devia ser E entendido como uma renovação da A. O Pentecostes é o ponto de partida, Aliança de Deus com o seu povo (a juntamente com a Paixão e a Ressur- Igreja), tendo em Jesus o mediador, reição, da missão da Igreja Primitiva e fato claramente sublinhado por Pedro Contemporânea; pois a Ressurreição em seu sermão, no âmbito da festa (At reuniu-os novamente (Lc 24.33), o Pen- 2.22 e 32). tecostes tirou-os do Cenáculo e capa- MISSIONÁRIAS DO PENTECOSTES citou-os para a marcha da evangeO PENTECOSTES CRISTÃO COMO FESTA lização, com vistas a uma grande co- COLHEITA lheita de vidas curadas, libertas, trans- De que maneira o Pentecostes Cris- formadas pela graça de Deus: Atos 1.15 tão se torna uma festa da colheita? Pri- – 120 discípulos; At 2.41 – Havendo DA meira, fica claro não haver colheita outras vidas, um sermão posto por um acréscimo de 3.000 pessoas; At 2.47 sem chuva, e esta veio como cumpri- Deus nos lábios de um pescador ge- – “...acrescentava-lhes o Senhor, dia a mento da promessa. Pedro começou rou uma grande colheita; de início, três dia, os que iam sendo salvos.”; At. 3.8 seu sermão mencionando que o ocor- mil pessoas foram alcançadas. – De um salto se pôs em pé, etc. rido naquele dia não era embriaguez, Este relato do Pentecostes nos mos- mas sim o cumprimento da promessa tra uma relação com o momento do ba- B. A mensagem da Igreja fica clara- profetizada pelo profeta Joel: “E acon- tismo de Jesus e uma antecipação des- mente definida. Ver Atos 2.22-24 e 32- tecerá, depois, que derramarei o meu te tempo de promessa e cumprimento. 33. O Jesus ressuscitado é o Messias e 6 Fé&Nexo o Senhor. Isso fica claro nos sermões 2.42-47). Junto a isso, a expectativa es- dias o que fizeste em Jerusalém, com pregado por Pedro, Estevão e Paulo; catológica da iminente vinda do Senhor Pedro e a Igreja Primitiva, e mesmo nos há em todos eles uma mensagem cen- nutria a comunidade (At 7.55-56), tor- dias de João Wesley e os metodistas pri- tral: o Jesus morto e ressuscitado é o nando-os ativos na missão. Agrega-se mitivos. Inflama, Senhor, os nossos co- Messias, esperança de Israel e de to- a isso que o Senhor ia confirmando no rações com graça, amor e santidade.” das as nações. Cabe a nós restabelecer poder do Espírito Santo, com sinais e E.3. O desejo de que o Espírito nos este fundamento em nossa pregação. prodígios, sua aprovação à vida da Igre- dê um coração inflamado e solidário Sim! Qual tem sido o centro da nossa ja. Amor, misericórdia, graça e poder com os pobres e miseráveis desta na- pregação? eram visíveis no dia a dia da Igreja. ção brasileira; pois, cremos que Deus Devemos nos sentir questionados por deseja que, hoje, também, haja um só C. Uma mensagem que denunciava e isso; pois, cremos na segunda vinda, coração e uma só alma, e que nenhum anunciava o nome de Jesus e a fé n´Ele. mas vivemos, compramos, construímos necessitado haja entre nós. É difícil? “Arrependei-vos, e cada um de vós seja como se fôssemos habitar aqui para Sim, é! É impossível? Não! Isto, se ras- batizado em nome de Jesus...” (At sempre. Cremos na urgência da missão, garmos as nossas vestes e o nosso co- 2.38). À semelhança da mensagem de mas nos falta esta urgência na hora de ração na presença do Senhor, e humil- Jesus e de João Batista, há um convite investir nossos recursos. des assumirmos o propósito de sermos, nesta nação, um sinal de amor, justiça ao arrependimento, que é a mudança de mente, de vida. Tal mensagem foi co- E. O que a celebração do Pentecostes e esperança. Deus se compadecerá de locada para as autoridades judaicas e deve suscitar em nós hoje? nós, e nos abençoará. Amém, Amém e Amém!!! para o povo. Todos eram instados a se arrepender, a mudar de vida. Precisa- E.1.O desejo de uma nova visitação mos restabelecer este caráter incisivo, do Espírito em minha vida e em minha direto da mensagem de Jesus e da Igre- igreja local. Buscando isso, o mês de ja. Chega de pessoas somente afetadas, maio será dedicado à consagração a emocionadas; precisamos de pessoas Deus, em jejum e oração. E a Semana arrependidas dos pecados e transforma- do Metodismo, 24 a 30 de maio, será das pelo poder de Jesus. dedicada à oração pela paz, pela justi- NOTAS DO AUTOR 1 2 3 ça, pelo Brasil, por uma grande colheiD. Uma mensagem que carregava um ta de vidas para Deus. claro sentido escatológico: “...a fim de E.2. O desejo de ver em nosso meio que, da presença do Senhor, venham uma grande colheita de vidas, como tempos de refrigério.” (At 3.20). A Igre- uma legítima festa de Pentecostes. Para ja Primitiva anunciava, com clareza e isso, estaremos realizando a Campanha domínio do Senhor, o Reino de Deus, Nacional de Evangelização, tendo, no demarcado e iniciado entre eles por Je- final de semana, dias 29 e 30 de maio, sus. (Lc 11.20; 2.36). A experiência da a festa de Pentecostes com duas confe- construção de um novo tempo, susci- rências evangelísticas, no sábado 29 e tado pelo Espírito Santo, era visível na no domingo 30. Durante todo mês nos- pregação e na vida da comunidade (At sa oração será: “Senhor faz em nossos 7 Fé&Nexo Siqueira, Tércio M. – A Festa do Pentecostes no Antigo Tesamento – Ed. Faculdade de Teologia - Material de Apoio – Site Fateo. Zeller, Ernst – The Contents and Origin of the Acts of the Apostles Critically Examined 1875. P 202ss Dupont, Jacques – Estudos sobre ATÓIS dos Apóstolos, Paulinas, São Paulo. 1974. P 34. Paulo Tarso de Oliveira Lockmann bispo da Igreja Metodista na Primeira Região Eclesiástica M ETODISMO Corações inflamados que impactaram o mundo Pr. Odilon Massolar Chaves* T endo por fundamento que o sus Cristo, e hoje nos inspiram e des- tosa capacidade prática, um senso de or- metodismo havia sido chamado pertam para a necessidade da ação ganização, consumidora devoção à por Deus para transformar a nação, a missionária. A seguir, um breve histó- extensão do evangelho, coragem e Igreja, e espalhar a santidade bíblica por rico do metodismo em alguns países. energia infindáveis, que contribuíram para esta realização. toda a Terra, os primeiros metodistas cumpriram fielmente essa missão. No CUMPRINDO NA AMÉRICA A VOCAÇÃO Quando Asbury chegou aos Estados mundo, a família metodista tem hoje Houve um metodista que fez a di- Unidos, em 1771, somente quatro mis- cerca de 70 milhões de membros em ferença na América, Francis Asbury sionários metodistas davam assistência 1 (1745-1816). Após a Guerra da In- a cerca de 300 pessoas. Quando ele fa- Homens como Stanley Jones, mis- dependência, em 1784, Wesley o no- leceu, havia 2 mil pastores e mais de sionário na Índia, e Walter Lambuth, meou, juntamente com Thomas 200 mil metodistas no país. missionário na China, Brasil e Japão, Cock, como cossuperitendentes do além de países da África e Europa, e metodismo na América. mais de 130 países . No Brasil, o primeiro missionário metodista, reverendo Fountain E. Pitts, mulheres como Bárbara Heck, consi- Francis Asbury pregou cerca de chegou em 1835. Mas só em 1867 che- derada a “mãe do metodismo norte- 16.500 sermões e expandiu o metodismo gou definitivamente o pastor metodista americano”, entenderam que o mundo para Tennessee e Kentucky. De acordo Junius Newman. Ele organizou a pri- é a nossa paróquia. Eles impactaram com o livro Linha de esplendor sem fim, meira Igreja Metodista no Brasil, em nações por meio do Evangelho de Je- era muito organizado. Tinha uma espan- 1871, em Saltinho (SP). AS DIFICULDADES NA EUROPA O metodismo começou na Inglaterra, no século 18, através do avivamen- 8 Fé&Nexo to que impactou toda Grã-Bretanha desde 1870, mas a denominação foi de 1885, um Domingo de Páscoa, o com Wesley e uma linha de esplendor oficialmente reconhecida pelo Esta- reverendo H. G. Appenzeller, com um sem fim de homens e mulheres. A Igre- do austríaco somente em 1951. missionário presbiteriano chamado H. G. Underwood, chegou à Coréia ja Metodista na Irlanda deve a sua ori- A Igreja Metodista Unida na gem em grande parte a John e Charles Croácia só tem uma congregação, Wesley, que visitaram a Irlanda em um pastor nomeado e 30 membros, A IDENTIFICAÇÃO COM O muitas ocasiões, começando com a his- apesar de as iniciativas missionárias POVO NA tórica visita de John Wesley, em 1747. terem começando em 1923. Na O metodismo cresce grandemente Thomas Coke foi nomeado por Lituânia, o primeiro culto metodista na África como conseqüência da sua Wesley superintendente do Distrito de foi realizado em 30 de agosto de identificação com o povo africa- Londres, em 1780, e presidente da 1995. Em 1923, 50 anos atrás, ha- no. São diversas as universidades, Igreja Metodista na Irlanda, em 1782. via sido negada aos metodistas hospitais e escolas nos países afri- Em 1803, Coke foi para Paris e pre- lituanos a sua existência como or- canos. O metodismo começou em gou em francês. Ele estabeleceu uma ganização religiosa com direito a Ghana, em 1835. Hoje são 584.969 missão em Gibraltar no mesmo ano. locais para culto. membros. Na Costa do Marfim, chegou depois de 1914. A Igreja Em seguida, passou cinco anos viajando em missões metodistas, incluindo ÁFRICA O METODISMO NO ORIENTE tem hoje 1.018.402 membros. a visita a Serra Leoa. No Canadá e Na China, o metodismo chegou há O metodismo é a mais antiga deno- Escócia, estabeleceu outros campos de mais de 140 anos. Na Índia, em 1856. minação cristã da Nigéria. Desde 1962 missões. Em 1813, morreu depois de Nas Filipinas, em 1898. Na Coréia, se tornou autônoma. São 2 milhões de quatro meses no mar, a caminho do chegou em 1884. O primeiro missio- membros. O metodismo chegou à Áfri- Ceilão (Sri Lanka). nário metodista em solo coreano foi ca do Sul com os soldados britânicos, Na França, o primeiro missioná- R. S. Maclay. Ele visitou a Coréia em em 1806. Mas a missão começou em rio inglês wesleyano chegou em 24 de Junho de 1884 e obteve permis- 1816. São 1,7 milhão de metodistas 1791. Na Itália, em 1816, um merca- são do Rei Kojong para fazer o traba- representando 2,7% da população. dor inglês iniciou a pregação. Mas foi lho de Deus no domínio da “educação Com o linguista negro John Wesley o pastor Heary James Piggott (1831- e tratamento médico”. Em 5 de abril Gilbert, da Igreja Metodista Episcopal, 1917) que deu início ao metodismo, em 1861. O metodismo existe oficialmente na Albânia desde 2007. Na Áustria, havia uma Igreja Metodista 9 Fé&Nexo o bispo Walter Lambuth, em 1911, batismo de George, em homenagem Hoxton, em 1835. Com sua esposa, viajou 4.100 milhas através do Congo ao rei da Inglaterra. Seu povo seguiu- Hanna Summers, partiu da Inglaterra Belga e abriu a missão metodista na o imediatamente e, em 1845, ele se em 1838. Ele trabalhou na tradução da África Central. Em 1918, o bispo John tornou Tui Bíblia para a língua nativa, completan- M. Springer estabeleceu a missão Me- Kanokupolu, coroando-se sob o tí- do o Novo Testamento e iniciando a tra- todista na estação de Mulungwishi, na tulo ocidental de “Sua Majestade dução do Antigo Testamento. Seu tra- província de Katanga, República De- George Tupou I, Rei de Tonga”. balho foi bem-sucedido e ele foi fun- mocrática do Congo. o décimo nono Em 3 de julho de 1834, um milagre aconteceu em Utui que teria um damental na conversão do guerreiro Varani, em 1845. impacto em todo o Pacífico Sul. Um Mas John Hunt morreu aos 33 anos Em 1750, Francis Guilbert se con- grupo de fiéis cristãos metodistas reu- de disenteria, em 1848. Ele havia tra- verteu na Inglaterra por meio de uma niu-se num campo perto da vila para balhado com zelo apostólico e, antes de das pregações de João Wesley. Francis jejuar e orar. Durante essa reunião de morrer, fez fervorosamente a seguinte era um jovem “playboy”, filho de um oração, as pessoas experimentaram oração: “Deus, no amor de Cristo, aben- rico colono. Seu pai possuía proprie- uma visitação pentecostal. O Espírito çoe Fiji, salve Fiji.” dades nas Ilhas Ocidentais, entre elas Santo desceu sobre as pessoas com tal Hoje a Igreja Metodista de Fiji e Antígua. Seu irmão Nathanael mora- poder que toda a comunidade foi trans- Vanuatu é a maior denominação cris- va na Ilha e recebeu de Francis livros formada. As pessoas sentiram-se abra- tã nas Ilhas Fiji, com 36,2% do total de Wesley. Posteriormente, Nathanael sadas neste “Pentecostes Tonganiano” da população (incluindo a 66,6% da foi à Inglaterra e se converteu junta- a espalhar o evangelho através de todo etnia indígena), segundo o censo de mente com outros três escravos que o Reino de Tonga. A Igreja cresceu 1996. Das 280.628 pessoas identifi- havia levado consigo. com uma rapidez impressionante. No- cando-se como metodistas, 261.972 vas congregações foram estabelecidas são etnias indígenas, 5.432 Indo- em todo o reino. fijianos (1,6% de todos os índios ét- O IMPACTO NO CARIBE E OCEANIA Quando voltaram à Antígua, passaram a pregar o Evangelho aos outros es- nicos) e 13.224 são provenientes de cravos. Mais tarde, o pregador leigo Em 1835, tonganianos subiram em metodista e marinheiro John Baxter che- suas canoas, e o poder do Pentecostes outras comunidades étnicas. garam à Ilha, que estava sem pastor. os empurrou 800 quilômetros a oeste FONTES: Com a morte de Nathanael, John pas- para compartilhar o evangelho com sou a pastorear a Ilha e construiu o seus vizinhos nas ilhas Fiji. Um ano primeiro templo metodista em 1883. depois, eles viajaram pelo mar 540 qui- Em percentagem, temos o seguinte lômetros ao norte até Samoa para tes- número de metodistas: Barbados: temunhar o evangelho com seus anti- 12%; Jamaica: 2,7%; Bahamas: 6%; gos e ferrenhos inimigos. Este é um dos Anguilla: 33%; e Saint Vincent e mais notáveis fatos na história da ativi- Grenadine: 28%. Nas Ilhas Virgens dade missionária. • www.worldmethodist.org • LUCCOCK, Haldord E. Linha de Esplendor sem fim. Junta Geral de Educação Cristã da Igreja Metodista do Brasil, p.39. Op.cit.,p.39. • FOX, Eddie - MORRIS, George - Anunciemos o Senhor. São Paulo, Imprensa Metodista, 1994, p. 184. • www.crate.gotdns.com • www.fijilive.com • ETCHEGOYEN, Aldo M. La fascinante historia del metodismo caribeno, Buenos Aires, Argentina. • http:/pt.wikipedia.org Britânicas são cerca de 45%. Em 1831, o príncipe guerreiro O APOSTOLADO DE JOHN HUNT Taufaahau de Tonga converteu-se ao Jonh Hunt (1812-1848) estudou no cristianismo, recebendo o nome de Wesleyan Theological Institution, em 10 Fé&Nexo * Pastor da Igreja Metodista em Casimiro de Abreu M ETODISMO 0 coração aquecido de João Wesley Pr. Ronan Boechat de Amorim* A o falarmos da experiência do distinguindo-se do que era “normal em profundamente humilhado. Ele fugiu de coração aquecido de João sua época”. um processo judicial em que era acu- Wesley naquele 24 de maio de 1738, Vemos que João Wesley, apesar de naturalmente nos recordamos do prin- todo ensino recebido zelosa e apaixo- cípio do metodismo na Inglaterra na- nadamente por sua mãe, Suzana, come- Em Londres, procura relacionar-se quele já distante século XVIII. E nos ça uma busca pessoal pela própria ex- com cristãos alemães chamados de lembramos da degradação moral, so- periência com Deus. Não queria ser um “moravianos”, que eram liderados por cial, política e religiosa em que vivia cristão cujas experiências com Deus um conde chamado Zinzendorf. Ele fi- a Inglaterra de então. E como, em meio fossem limitadas às vividas e recebi- cara impressionado com a fé dos àquela situação, uma família se desta- das da senhora sua mãe. Ele buscava moravianos durante sua viagem de ida cava em levar a sério a religião, a es- intensamente ter uma vivência pessoal para a Geórgia. Quando o navio era sa- piritualidade e o desejo de fidelidade e de fé com Deus. cudido de um lado para o outro, um gru- sado de supostas práticas pastorais inadequadas. a Deus. Suzana Wesley, aquela mãe e Foi em busca dessa experiência que po moraviano seguia calmo e confian- cristã tão vigorosa, ética, sensível e aceitou ir como missionário para a en- te. “Nós confiamos em Deus e nossas cheia de fibra, foi perseverante em tão colônia inglesa na América do Nor- vidas estão salvas em suas mãos”, diri- educar seus filhos no temor do Senhor, te, de onde volta algum tempo depois am mais tarde. Em Londres torna-se amigo de um pregador moraviano que estava naquela cidade preparando-se para seguir viagem para a América. Wesley e Pedro Bolher conversam por vários dias sobre a fé, a doutrina, a salvação e a certeza de ser salvo por Deus, entre outros assuntos. Wesley percebe que criam exatamente na mesma doutrina, mas que lhe faltava, sem dúvida, aquilo que ele se ressentia de não ter tido ainda: uma forte experiência com Deus. Tal fato acontece numa pequena reunião dos moravianos na noite de 24 de maio de 1738, quando o pregador lia um comentário escrito quase 200 11 Fé&Nexo anos antes por Martinho Lutero sobre canos, Wesley disse: “O mundo é a Igreja. É preciso buscar nossa própria o livro de Romanos. Por volta das minha paróquia”. Sobre as razões de experiência de fé com Deus. Não po- 20h45, quando o pregador falava so- Deus haver levantado os metodistas, ele demos ser cristãos alimentados apenas bre as mudanças realizadas por Deus afirmou: “Para reformar a nação, parti- pela fé de nossos pais e pela tradição na vida dos salvos, ele sentiu seu cora- cularmente a igreja, e para espalhar a dos que nos antecederam nessa fé. É ção estranhamente aquecido pelo po- santidade bíblica por toda a terra”. Sua fundamental que tenhamos nossa pró- der de Deus e sentiu que seus pecados grande prioridade: “Nada a fazer senão pria experiência de fé (e pessoal) com estavam perdoados, que ele confiava salvar almas”. Deus. O Senhor tem mais para nós do em Deus... um grande peso saiu de so- Seu “entusiasmo” não foi nem irra- que aquilo que nossos pais podem com- bre seus ombros e ele deixou de ser ape- cional nem alienante. Levou Wesley a partilhar conosco, repassar para nós, nas um servo, passando a experimen- compreender que, além de salvar a alma por mais leais a Deus e à tarefa do tes- tar a maravilhosa experiência de ser fi- da pessoa do inferno, antes era neces- temunho e do ensino cristão que eles lho de Deus. sário salvar a vida delas da morte, ti- sejam. Não podemos nos satisfazer com Daquele 24 de maio em diante, João rando-as de sob o poder da pobreza, do relações superficiais, medíocres, ritua- Wesley nunca mais foi a mesma pes- analfabetismo, do trabalho escravo, da listas e mecânicas com o Pai. É neces- soa ou o mesmo pregador. Começou injustiça e de todo tipo de valores e prá- sário que o Espírito Santo testifique em um movimento de discipulado de cren- ticas que não tivessem em conformi- nosso próprio coração que somos filhos tes dentro da Igreja Anglicana que vi- dade com a vontade de Deus. O aviva- e filhas de Deus. E a partir daí cons- sava à vida de oração, estudo da Pala- mento de Wesley não era apenas no truir uma vida de intimidade e de ex- vra de Deus, desejo por santidade e de- culto, mas, sobretudo, no dia a dia. E periências pessoais contínuas com o dicação à evangelização e a missões. sua teologia do que podemos chamar Deus vivo e presente. Ao morrer, em 1792, aos 89 anos de hoje de “salvação integral” levou-o idade, calcula-se que havia 70 mil também a lutar contra a escravidão, os DEVEMOS VIVER DE ACORDO metodistas na Grã-Bretanha (Inglater- vícios, as leis e sistema prisional desu- COM A VONTADE DE DEUS ra, Escócia e Irlanda) e que pelo menos mano da Inglaterra de então. O meio social, político, cultural, outros 70 mil já haviam morrido du- Olhando para a história desse ho- eclesiástico e teológico, com certeza, rante sua vida. Apesar de ser perseguido mem que teve seu coração “estra- influem poderosamente no tipo de pes- pelas autoridades da Igreja Anglicana nhamente aquecido” pelo poder do Es- soas que somos ou seremos, nos valo- por causa de seu “entusiasmo” (fervor), pírito Santo, não temos como não re- res que temos ou teremos e também no deixando-o não apenas sem a designa- conhecer que foi um homem tremen- tipo de espiritualidade (relação com ção para uma paróquia, mas proibin- damente usado por Deus e que ele é um Deus) que temos. Mas nossa maior re- do-o de pregar em qualquer templo testemunho explícito e vivo de que: ferência e influência têm de ser o Evangelho e o Espírito Santo. anglicano, Wesley e todos os metodistas, enquanto ele viveu, não deixa- NÃO PODEMOS NOS O meio ambiente, cultural e social ram de ser nem anglicanos nem SATISFAZER COM e religioso forma, deforma, conforma, metodistas. O metodismo era um mo- EXPERIÊNCIAS ALHEIAS reforma, formata as pessoas. Mas elas vimento de santidade e evangelização Não devemos nos satisfazer com podem questionar a formação, superar dentro da Igreja Anglicana. Quando aquilo que generosa e amorosamente a conformação e experimentar reforma proibido de pregar em templos angli- recebemos de nossos pais e de nossa e transformação; particularmente se 12 Fé&Nexo forem despertadas para a situação em que foi aceso por intermédio da fé nas mãos do único e suficiente Sal- que estão e encorajadas a uma mudan- instrumentalidade de Pedro Bolher pelo vador, o Senhor Jesus. ça significativa através e por causa do “fogo” do Espírito Santo. Depois de um Um homem sozinho não pode mu- amor de Deus. tempo em Londres, onde esperava para dar ninguém (ao menos para melhor!!), Pessoas genuinamente cristãs têm o ir como missionário para as Américas, não pode mudar um país inteiro, não Evangelho de Jesus como “lâmpada não se ouviu mais esse nome. Mas as- pode mudar o mundo, transformando- para os pés e luz para o caminho” (Sl sim como o muito sem Deus é sempre o num lugar melhor e mais justo para 119.105). De modo que têm por natu- pouco, o pouco com Ele é muito, e o todos, mas pode, sob o poder de Deus, reza o discernimento que nos faz ser- que se faz é sempre o suficiente. vislumbrar e profetizar mudanças, proclamar e promover mudanças, animar mos críticos diante das coisas, das tradições, das inovações, das repressões, O CAIR É DO HOMEM, MAS A e reunir pessoas que desejam mudan- dos rolos compressores dos modismos SALVAÇÃO PERTENCE AO ças e liderar pessoas para que mudan- de qualquer espécie, inclusive, os mo- SENHOR ças, de fato, aconteçam. dismos teológicos. João Wesley, um homem que con- Deus tem o poder de mudar as pes- fiava em seus próprios méritos, na sua TUDO QUE É GRANDE HOJE soas e o meio cultural onde as pessoas sabedoria e conhecimen tos, na segu- COMEÇOU PEQUENO vivem. Para provocar mudanças, exis- rança dos ritos e do tradicionalismo, Foi assim com o movimento dos tem também o testemunho pessoal, a foi levado por Deus à colônia inglesa, metodistas e posteriormente com a Igre- evangelização (que deve ser integral cu- na Geórgia. Ali, foi quebrado como um ja Metodista. Começou com um, depois rando o caráter da pessoa, seus relacio- vaso nas mãos do oleiro. Foi reduzido dois, depois dez, depois cem. Mas gra- namentos e os valores e estruturas da a alguém que não tinha mais como ças a Deus por aqueles que viram quan- comunidade onde vive) e, sobretudo o confiar em si mesmo. Reconheceu que do nada ainda havia para ver, a não ser poder do Espírito Santo que convence precisava desesperadamente do socor- através da fé. “Paulo plantou, Apolo do pecado, guia à verdade e faz tudo ro do Senhor. Quando clamou este afli- regou, mas é Deus quem dá o cresci- novo. Os grandes e genuínos avivamen- to, Deus o ouviu, o ergueu e o tornou mento”. Aleluia! tos, inclusive, têm essa finalidade: mu- um instrumento de graça e salvação dam as pessoas e enchem a história hu- confiável. Não porque era grande, mas NÃO DEVEMOS TEMER AS mana de mais graça de Deus. porque sua grandeza estava em depen- ESTRUTURAS, PERSEGUIÇÕES der e em obedecer a Deus em todas as E PERDA DE PRIVILÉGIOS PODEMOS SER CANAIS DE João Wesley, de posse da tarefa que coisas. Deus lhe deu, enfrentou as tradições GRAÇA E INSTRUMENTOS DE PESSOAS PODEM LIDERAR doentias, o clero corrompido e sem vi- Pessoas simples, como o missioná- PESSOAS E AJUDÁ-LAS A são missionária, a cultura da frouxidão rio moraviano Pedro Bolher, podem ser SEREM TRASFORMADAS ética, a antipatia dos governantes, a tremendos canais da graça e instrumen- POR DEUS perda de uma designação para uma DEUS PARA MUDANÇAS tos do agir de Deus, e das mudanças e João Wesley nunca teve o poder de igreja local e até mesmo a humilhação operações do Senhor em pessoas, e nas transformar as pessoas, mas, nas mãos de ser proibido de pregar na igreja da histórias dessas pessoas e da comuni- de Deus, foi um grande líder, que le- qual era pastor, que seu pai, avôs e bi- dade. Wesley foi, digamos, o estopim vou pessoas a colocarem suas vidas e a savôs eram pastores. Ele certamente 13 Fé&Nexo sofreu, mas preferiu tomar sobre si a É PRECISO CONTINUAR, do legado que deixava, apenas disse: cruz de Cristo, não se deixou apequenar SENDO CRIATIVO E REMINDO “O melhor de tudo é que Deus está diante dos poderes das estruturas ecle- O TEMPO conosco”. siásticas, não se deixou corromper pe- João Wesley nunca se satisfez com Ainda sobre o legado que deixa- las dádivas de uma teologia e uma ação o trabalho feito e os resultados obti- va, sentenciou: “Não tenho medo de pastoral e missionária domesticada, dos. Não podia descansar enquanto que o Metodismo deixe de existir. mas se ressentiu de perder o papel de houvesse pessoas a serem alcançadas Tenho medo de que ele se torne insí- comensal na mesa das autoridades e os e almas a serem aliviadas, perdoadas pido”. João Wesley foi profundamen- privilégios daí advindos. Ele preferiu e salvas. Morreu aos 88 anos de ida- te impactado pela experiência de 24 ser fiel a Deus, ao seu chamado, a sua de, trabalhando, mesmo depois de ter de maio de 1738, mas nunca tornou- fé e a sua consciência. Como Daniel, exercido um ministério pastoral e se prisioneiro dela. Ou melhor, nun- ele preferiu estar com Deus na cova dos evangelístico no qual pregou mais de ca foi homem de apenas uma única leões do que estar sem Ele na mesa do 40 mil vezes, escrito mais de 30 li- experiência com Deus. Na medida em rei e nas louvações do palácio real. vros, visitado missionariamente a Ir- que os anos passaram daquele 1738, landa 11 vezes e a Escócia 22 vezes, cada vez ele falava menos daquela ex- PARA SER UMA AUTORIDADE viajado a cavalo mais de 4.500 mi- periência. Tinha outras experiências NÃO É PRECISO ABRIR MÃO lhas por ano até os seus 60 anos de a viver e a testificar. DO PODER, MAS EXERCÊ-LO idade (totalizando mais de 375.000 Como dois séculos mais tarde di- NO TEMOR DO SENHOR quilômetros), pregado e visitado. ria o bispo metodista Francis Ensley Depois que teve sua experiência Wesley e os primeiros metodistas sobre aquele 24 de maio, a experiên- com Deus naquele 24 de maio, Wesley apoiaram a reforma do ensino que era cia do coração aquecido acontecida tornou-se crescentemente uma referên- fraco e para apenas alguns poucos pri- na Rua Aldersgate “não livrou Wesley cia e uma autoridade espiritual e pasto- vilegiados; criaram escolas para os da luxúria, da bebedeira ou da crimi- ral em seu país. Mas foi um homem que pobres e casas de acolhida para as vi- nalidade. Não representa a conversão ouvia e que mudava de opinião, mes- úvas e órfãos pobres; apoiaram as mu- aos preceitos de Cristo, ou um retor- mo que isso doesse tanto quanto ter de danças nas leis e a reforma das pri- no arrancar o próprio fígado. Foi assim sões; lutaram pela libertação dos es- Aldersgate marca uma onda contrá- com a pregação de leigos, com a pre- cravos; contra o trabalho das crian- ria aos inimigos espirituais que o gação de mulheres, com a ordenação ças nas minas de carvão; e por uma flagelavam. Um deles era a concep- de pregadores para ministrar a Ceia aos reforma ampla e geral das leis e cos- ção legalista da religião que ele pro- metodistas dos EUA quando não havia tumes da decaída Inglaterra do Sécu- fessava. (...) O outro inimigo espiri- lá sacerdotes anglicanos para fazê-lo. lo XVIII. tual foi a indiferença emocional. (...) da indiferença religiosa. Também aceitou a autonomia dos No leito, bem pouco antes de mor- Sua religião era antes um peso do que metodistas norte-americanos em rela- rer, escreveu ao primeiro ministro in- algo que trouxesse alívio. (...) E para ção à Igreja Anglicana. Era contra tudo glês de então, Wilbeforce, igualmen- uma coisa ela o inflamou: para a ta- isso, mas Deus, através de sua mãe te um metodista, para que não cessas- refa evangelística”. Suzana, de seu amigo Maxfield e de se de lutar contra a escravidão, o mais outros próximos, o quebrava e remo- vil pecado sobre a face da terra. E, delava sempre que necessário. em vez de, vangloriar-se do que fez e 14 Fé&Nexo *Pastor da Igreja Metodista em Vila Isabel e coordenador do Conselho Editorial do Jornal Avante C Não se constrói com violência ONTEXTO um relacionamento saudável Pr. Roberto Rocha* Q uando um marido decide agre- já que para os homens é mais humilhan- dem rebater, pois precisam ser amados dir sua esposa, ele escolhe o ca- te reportar-se agredido pela esposa. e não querem correr o risco de perder minho mais fácil. É mais fácil impor No campo do relacionamento com sua fonte vital de amor. Isso gera uma suas ideias pela força do que pelo diá- os filhos, também encontramos facil- grande confusão, dificuldade de rela- logo na construção do relacionamento. mente a força como meio impositivo cionamentos e até neuroses. São os fu- A força física do esposo – via de regra de regras de conduta e afirmação de turos clientes das clínicas e consultóri- superior à da esposa – se impõe. Resta opiniões. As crianças são o elo mais os psiquiátricos, cada vez mais procu- à companheira ferida a dor e a humi- fraco na vida doméstica. Não somente rados. Ou, na outra ponta, são os futu- lhação. Algumas buscam ajuda polici- porque são pequenos em estatura e for- ros clientes do sistema que se aprovei- al, mas, estatisticamente, são poucas e ça, mas pelas dificuldades que possu- ta da desorganização emocional que com resultados duvidosos. em em entender e expressar suas emo- carregam e os escraviza. O ser humano A violência física não é a única ções. A confusão se instaura na cabeça é usado sem saber que é apenas mais ameaça presente nos relacionamentos da criança que sofre mazelas impostas uma peça da engrenagem que faz os conjugais. Há também a econômica, pelos pais. A mãe ou pai, que lhe são a outros terem a vida que almejam e ele em que o marido, como provedor, lem- primeira e maior fonte de amor, são nunca terá. Em outra ponta ainda, vira bra sempre quem coloca comida na também o objeto de seu maior medo e o drogado, o viciado, aquele que se en- casa. Existe ainda a possibilidade de muitas vezes o destino de seu ódio, sen- trega a qualquer paixão ou sopro de ele tomar os filhos, além de bater ne- timento que precisa ficar contido; pois, vida, na boate, na festa, no sexo. Um les se a questão não for resolvida do se colocado para fora, pode bloquear o insaciável por qualquer coisa que o tire seu jeito. Filhos que apanham de pais, amor transmitido pela mãe. Esses pe- da tristeza de uma vida partida entre que, assim, subjugam suas esposas. Há quenos sofrem agressões que não po- amar, temer e odiar. ainda a ameaça pura e simples do divórcio. A esposa que não sabe onde conseguirá se manter está presa. Ruim com ele, pior (será?) sem ele. É o casamento que virou prisão. O castelo de fadas que se transformou em tortura medieval. Encontramos esposas que também regem seus relacionamentos a partir da força. Força sexual, agressividade constante, agressões domésticas. Fatos menos citados nos relatórios estatísticos, 15 Fé&Nexo O SER HUMANO FOI CRIADO POR DEUS seus desejos. É, eu casei, perdi mi- COM A NECESSIDADE DE COMUNHÃO, nha plenitude. vence. Ao fraco, resta a resignação. O forte se esquece, no entanto, que Dá-se então o dilema que muitos a semente que plantamos um dia nas- A comunhão é uma necessidade bá- enfrentam regularmente: viver livre ce. Que a sujeira debaixo do tapete um sica do ser humano. A solidão é um dos das restrições impostas pela presen- dia aparece. Que água mole em pedra maiores castigos. A solitária dos presí- ça do outro, sofrendo, no entanto, a dura tanto bate até que fura. Que, com dios não apenas separa o indivíduo do solidão. Ou ter a oportunidade da tro- o tempo, o fraco não conseguirá mais convívio com outros para que o impe- ca que alivia e supre meus instintos perdoar. O fraco não conseguirá mais ça de continuar a cometer delitos na ca- mais profundos, porém com a perda deixar pra lá. Uma dia a semente da deia, mas o castiga ao não relaciona- do eu mais pleno. desunião brota em distanciamento, ou COMUNICAÇÃO E TROCA mento, a conviver sem a troca. Muitos Penso que na vida em comunhão raiva, ou apatia, ou inimizade. A rela- acabam falando sozinhos o tempo todo. vale a pena a perda da plenitude do eu. ção enfraquece ou acaba. O castelo que Se prestarmos atenção, também vere- O problema é o quanto estou disposto desmorona não o faz somente no lado mos aqueles que moram sozinhos pe- a perder de minha liberdade na proxi- da esposa ou filho, mas desmorona por las ruas da cidade falando o tempo todo. midade do outro. O problema é saber completo. O sonho vira pesadelo para Há um amigo virtual, às vezes o inimi- colocar os limites que sejam firmes e todos os envolvidos. Não há como uma go virtual, mas há alguém. Via de re- claros, mas ao mesmo tempo acolhe- relação ser – de fato – boa para um só. gra, o mendigo fala sozinho. A solidão dores e que não afugentem o outro. O fraco, ao não se envolver mais com é uma dor tremenda. Alguns são abertos demais aos outros a mesma alegria na relação, a estraga Viver em comunhão não é fácil. e não se sentem felizes pelo que passa- para os dois, querendo ou não. O viver em sociedade é prazeroso, ram a ser; outros se fecham tanto em Já ouvi maridos reclamando da mas tem seu custo. Lembro-me das suas próprias vidas tentando manter-se pouca atenção que a esposa lhe dá. vezes que chego em casa cansado e íntegros em seu ser que, rodeados de Ou da relação sexual na qual ela não quero apenas um banho e cama. Po- pessoas, ainda são solitários. participa ativamente. Ou do filho que rém, por vontade própria, sou pai e O marido que bate na esposa ou não lhe ouve ou não lhe conta – es- marido. Meus “outros” mais próxi- aquele pai (ou mãe) que espanca o fi- pontaneamente – o que aconteceu na mos querem sair. Há uma festa de lho não levou em conta a possíbilidade escola. Converse com os filhos e a aniversário de criança. Vou passar de diálogo. É mais fácil assim do que esposa, eu digo, e verá que motivo quatro horas sentado numa mesa na ter que lidar com o relacionamento. deve ter. O marido que chama a es- festa da escola em que não conheço Poderia acontecer de ele descobrir que posa disso ou daquilo, ofende e agri- ninguém a não ser minha esposa. estava errado. Poderia descobrir que de durante o dia todo, não pode espe- Mas o local não é adequado a con- precisava mudar em alguma coisa. Me- rar que à noite ela seja o poço de amor versar ou trocar olhares. É cheia de lhor encerrar o assunto com a agres- que deseja, que corresponda à sua ex- barulho dos brinquedos e crianças são: “não quero mudar ou não quero pectativa sexual. correndo e gritando. Salgadinhos me adaptar à relação”. A solução mais fácil nem sempre é gordurosos e palhaços insistindo que A agressão (em qualquer área, não só a melhor. Difícil é lembrar disso quan- eu coloque a peruca rosa. Para mim, física) oculta a dificuldade no relacion- do o que queremos é acabar com a dis- não é o melhor fim de dia. Preciso amento mais humano. Volta-se ao ins- cussão logo e encerrar o assunto. decidir: eu e meus desejos ou eles e tinto natural. O mais forte – no que for – *Pastor da Igreja Metodista do Vidigal 16 Fé&Nexo C URSO DE BÍBLIA Antigo Testamento (Parte I) Zélia Constantino “TODA A ESCRITURA DIVINAMENTE Contém 66 livros: 39 no Antigo A Bíblia da Igreja Católica Apostó- INSPIRADA É PROVEITOSA PARA ENSINAR, Testamento (AT) e 27 no Novo Testa- lica Romana tem mais 7 livros, chama- PARA REDARGUIR, PARA CORRIGIR, PARA mento (NT). “Testamento” é uma pa- dos os “Deuterocanônicos”. São pen- INSTRUIR EM JUSTIÇA” lavra grega e significa “Aliança” cujo samentos, histórias, profecias e cânticos conteúdo é: “serei o vosso Deus e vós do povo de Israel contidos na “Septua- sereis o meu povo” (Lv 26.12). ginta” ou “dos Setenta”, cuja tradução A (2TM 3.16). Bíblia foi escrita por vários autores e grupos de autores (Es- O AT foi escrito na língua hebraica, foi seguida pela Igreja Católica. São colas), sob a inspiração de Deus, du- em couro, papiro ou pergaminho, e sua eles: Tobias, Judite, 1º e 2º Macabeus, rante 1.600 anos aproximadamente. primeira tradução foi para o grego, cerca Sabedoria, Eclesiástico e Baruc. Deus fala conosco pela Bíblia. Ela nar- de 300 a.C. (a Septuaginta). A mais céle- • ra a história da salvação, testemunhan- bre tradução para o latim foi a vulgata novelas que mostram como os ju- do o falar e o agir de Deus na trajetória que serviu de base para as principais ver- deus enfrentaram situações típicas vivida por seu povo. sões saxônicas, inglesas e portuguesas. em um momento de sua história. 17 Fé&Nexo Tobias e Judite são romances ou • Os livros de Macabeus apresentam fetas Maiores (ou Anteriores) e os Pro- uma linguagem com intermediadores acontecimentos entre os anos 175 e fetas Menores (ou os 12 Profetas). como profetas e anjos. 134 antes de Cristo: a luta pela in- Fazem parte do NT: os Evangelhos, c) Deuteronomista (a fonte D - séc. dependência política e religiosa di- um Livro Histórico, as Epístolas de VII a.C.). É restrito praticamente ao li- ante da opressão helenista e da ali- Paulo, as Epístolas Pastorais e o vro de Deuteronômio e quando foi com- enação religiosa. Apocalipse (livro profético). pilado já existia o templo de Jerusalém. Sua linguagem é a do culto e da lei. .• “Sabedoria” é uma obra de um judeu de Alexandria do ano 50 a.C. ANTIGO TESTAMENTO - PENTATEUCO d) Escrito Sacerdotal (tempo do Ele identifica a sabedoria como jus- A palavra PENTATEUCO signifi- exílio ou pós-exílio). Está presente prin- tiça: sábia é a pessoa que pratica a ca cinco livros. São os primeiros cinco cipalmente nos livros de Levítico e justiça. livros da Bíblia: Números. Enfatiza a transcendência de Deus e se interessa pelo santuário e o .• O “Eclesiático de Jesus bem Sirac” (190 a 180 a.C.), procura reforçar a 1 - OS LIVROS DO PENTATEUCO templo com suas festas, sacrifícios e identidade judaica, preservar a fé e O Pentateuco é o testemunho da rituais. Sua linguagem é repetitiva e a fidelidade de Israel. Ele compara ação do Deus que elege um povo, faz monótona, pois tratam de números, cro- a sabedoria com a Lei contida nos aliança com ele e caminha junto, cum- nologias e genealogias. livros do Pentateuco. prindo suas promessas, mesmo quan- A composição do Pentateuco deve do esse povo lhe é infiel. Os livros que ter ocorrido o mais tardar por volta de BARUC (SÉC. LL A.C.). É UMA CONFISSÃO o compõem foram escritos por 500 anos 300 a.C., já que, neste tempo, ocorre o DE PECADOS E UMA EXORTAÇÃO. mais ou menos, por autores desconhe- cisma dos samaritanos, que também cidos, mas que foram usados por Deus possuem o Pentateuco. Assim, o pro- para que chegassem até nós. cesso literário de tradução do Penta- Esses livros são chamados também de “apócrifos” e, na reforma protestante, não foram considerados como ins- São quatro as fontes de informação pirados por Deus como os demais, acei- ou tradições que formaram o Penta- Os pontos principais da narração do tos sem restrições. Eles são parte de teuco (também chamado de TORÁ ou Pentateuco são: os Patriarcas, o Êxodo, importante fonte para a compreensão LIVROS DA LEI): o Sinai, a Tradição do Deserto e a To- da época entre os dois testamentos. São testemunhos do judaísmo entre 200 a.C teuco teve sete séculos de duração. mada da Terra. a) Javista (cerca de 950 a.C. - tem- O que permitiu que as diversas po davídico). Esta tradição usa o nome tradições formassem um quadro uni- O NT foi escrito em grego. O pri- “Javé” para designar Deus. Conta a his- forme da história da salvação foi o meiro livro escrito foi 1 Tessalonice- tória da criação, do início de Israel, dos antigo culto israelita. Elas eram nses. A princípio, o Evangelho era patriarcas, o êxodo do Egito e a pere- transmitidas separadamente em di- transmitido oralmente. Depois os após- grinação no deserto. A linguagem é versas ocasiões cultuais e só mais tolos começaram a escrever pequenos imaginativa e bastante compreensível. tarde foram inter-relacionadas. Tam- trechos chamados “logia” que forma- b) Eloísta (cerca de 850 a 800 a.C.). bém as festas israelitas perpetuavam ram os elementos básicos dos três pri- Chama Deus de “Elohim”. Narra par- meiros Evangelhos. tes das histórias dos patriarcas e do e fazem conexão entre o AT e o NT. Fazem parte do AT: o Pentateuco, êxodo, mas enfatiza mais a teofania os livros Históricos, os Poéticos, os Pro- (manifestação de Deus) do Sinai. Usa 18 Fé&Nexo as tradições. *Professora da Escola Dominical e membro da Catedral Metodista do Rio de Janeiro D OCUMENTO Desafios para Testemunhar os Sinais da Graça na Unidade do Corpo de Cristo Carta Pastoral – Colégio Episcopal – Parte IV A Primeira Carta de Paulo aos fissão de fé dos cristãos; são, também, pelo Espírito Santo, solidariedade, un- Coríntios contém lições pasto- sinais certos da graça e boa vontade de ção, culto, discipulado, pastoreio. rais importantíssimas, à luz do tema Deus para conosco, pelos quais Ele in- O metodismo afirma que a vivência para o biênio 2010-2011 – “Testemu- visivelmente, opera em nós, e não só e a fé do cristão e da Igreja se fundamen- nhar os sinais da graça na unidade do desperta como fortalece e confirma tam na revelação e ação da graça divina. Corpo de Cristo”. Desejamos fazer al- nossa fé Nele. Dois somente são os sa- A graça divina é o fundamento de toda a gumas aplicações para o nosso povo cramentos instituídos por Cristo, nos- revelação e ação histórica de Deus e se metodista, no exercício dos dons e so Senhor, nos Evangelhos, a saber: o manifesta de forma preveniente, ministérios, a fim de sermos uma Igre- Batismo e a Ceia do Senhor [...]. Os justificadora e santificadora, na vida do ja com forte mística missionária. sacramentos não foram instituídos por crente e da Igreja, pela fé pessoal e co- Cristo para servirem de espetáculo, munitária (Tt 2.11-15). A vivência cristã SINAIS DA GRAÇA NA UNIDADE DO mas serem recebidos dignamente. E se fundamenta na fé (Rm 1.16-17). Fé CORPO somente nos que participam deles dig- obediente, amorosa e ativa, centralizada Paulo menciona muitos meios de namente é que produzem efeito salu- na ação histórica de Deus, na pessoa, vida graça do Senhor Jesus na vida da comu- tar, mas aqueles que recebem indig- e obra de Cristo e na ação atualizadora nidade dos coríntios, a fim de alimentá- namente recebem, para si mesmos a do Espírito Santo (Hb 1.1-3; 12.1-2). A la no crescimento da fé e do conheci- condenação, como diz o Apóstolo Palavra de Deus é o elemento básico para mento dos ensinos do Evangelho. Paulo (1 Coríntios 11.29). o despertamento e a nutrição da fé (2Tm DE CRISTO 3.15; Lc 24.25-27; Gl 3.22).1 Sacramentos: tradicionalmente, a Meios de graça: embora conside- Igreja tem definido que “Sacramentos remos que, na teologia protestante, os Palavra de Deus: a presença da Pa- são meios de graça instituídos por nos- Sacramentos são apenas dois (Batismo lavra no ensino de Paulo à Igreja em so Senhor Jesus Cristo, sinais visíveis e Santa Ceia), nós, os metodistas, te- Corinto foi um maravilhoso meio de da graça do Espírito Santo na vida dos mos consciência de que os meios de graça. Ela foi a bússola, ou ainda, o ins- crentes”. Sinais visíveis da graça invi- graça são amplos e inesgotáveis – e isso trumento para determinar os conflitos sível, conforme conceituação de Agos- também pregamos – considerando a existentes. Paulo busca o discernimento tinho: “Sigmum visibile, invisibilis dinâmica atualizadora do Espírito Santo da Palavra a partir de uma pregação gratiae”. Nesse ponto, é bom ressaltar na vida e no ministério total da Igreja cravada nos ensinos de Jesus Cristo: que estão juntos: o sinal e a graça. Os na comunidade. Na comunidade em “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, Cânones da Igreja Metodista, no capí- Corinto, podemos detectar os seguin- anunciando-vos o testemunho de Deus, tulo denominado “Das Doutrinas”, fa- tes meios de graça: Batismo, Santa não fiz com ostentação de linguagem zem as seguintes afirmações: Ceia, oração, jejum, matrimônio, pre- ou de sabedoria. Porque decidi nada Os sacramentos instituídos por Cris- gação da palavra, perdão, confissão, saber entre vós, senão a Jesus Cristo e to não são somente distintivos da pro- família, dons e ministérios concedidos este crucificado [...] A minha palavra e 19 Fé&Nexo “O que é o batismo? É o sacramen- pregação não consistiram em lingua- Palavra de Deus nos conduzindo às se- gem persuasivas de sabedoria, mas de guintes questões: to que nos faz entrar na aliança de demonstração do Espírito e de poder, 1. Há, aqui, um exemplo que eu Deus. Foi instituído por Cristo o úni- para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus” (1Co 2.1-5). Steve Harper nos inspira trazendo as seguintes informações sobre a prática de John Wesley: Wesley sabia que era necessário ter um padrão objetivo para uma espiritualidade genuína. Para ele, o padrão era a Bíblia. Ele estava comprometido com a centralidade e autoridade das Escrituras. Apesar de ter lido centenas de li- deva seguir? 2. Há algum pecado que eu preci- co que tem poder para instituir um sacramento adequado, um sinal, um selo, garantia e meio de graça, perpetua- se evitar? 3. Há algum mandamento que eu deva obedecer? 4. Há alguma promessa que eu deva mente obrigatório para todos os cristãos. Não sabemos realmente o tempo exato de sua instituição, mas sabemos que foi muito antes da ascensão do reivindicar? 5. O que esta passagem me ensina sobre Deus e Jesus Cristo? 6. Há alguma dificuldade que eu deva explorar? 7. Há alguma coisa nesta passagem Senhor. Foi instituído na sala da circuncisão, pois, como aquele era um sinal e um selo da aliança, assim é este. O elemento deste sacramento é a água que é o mais próprio para este uso sim- vros sobre vários assuntos, Wesley con- sobre a qual deva orar hoje? bólico, dado o seu poder natural de tinuamente referia-se a si mesmo como A centralidade da Palavra de Deus, limpar. O batismo é realizado pela la- um homo unis libri – homem de único como meio de graça, é de extrema im- vagem, pela imersão ou pela aspersão livro. Embora tivesse publicado apro- portância para que a Igreja possa flo- da pessoa em nome do Pai, do Filho e ximadamente seiscentas obras sobre rescer e, consequentemente, gerar fru- do Espírito Santo, e, por este meio, a vários temas, ele resolutamente man- tos “dignos de arrependimento”. pessoa é entregue à Bendita Trindade” tinha a posição de não permitir qual- Batismo: Paulo ressalta que o ba- (BURTNER, R.W. e CHILES, R.E. quer regra, fosse ela de fé ou de práti- tismo é o sinal daquelas pessoas que Coletânea da Teologia de Wesley. Rio ca, que não fosse a Escritura Sagrada. confessam o Senhor Jesus Cristo como de Janeiro, Setor de Publicações da No prefácio de seu livro Sermões Prin- Salvador e Senhor. Nesse horizonte, o Pastoral do Instituto Metodista cipais, Wesley exclama: “Oh, dai-me batizado leva o selo do ingresso na fa- Bennett, p.255-256) esse livro! A qualquer preço, dá-me o mília de Deus: “pois, fomos batizados O Colégio Episcopal em sua ação livro de Deus!...Eis nele sabedoria su- num só Espírito para ser um só corpo, docente considera que cada metodista ficiente para mim. judeus e gregos, escravos; e todos be- precisa viver continuamente este ex- Nós, bispa e bispos da Igreja Meto- bemos de um só Espírito” (1Co 12.13). traordinário sinal da graça de Deus. dista, consideramos de real importân- Ao mesmo tempo, o batismo segundo Ou ainda, vivendo e testemunhando cia uma profunda revitalização da Pa- o posicionamento da Igreja Metodista: que no Corpo de Cristo que: “somos lavra de Deus na vida pessoal e comu- “é o sinal visível da graça de nosso Se- integrados em Cristo, no batismo, nitária. Com certeza, as crises que se nhor Jesus Cristo, pela qual nos torna- através da fé, e recebemos nova vida evidenciam em nosso meio são fruto da mos participantes da comunhão do Es- espiritual desta nova raiz pelo seu nossa desobediência à Palavra que gera pírito Santo e herdeiros da vida eterna” Espírito, que nos torna semelhantes a vida e vida em abundância. (Art. 9º, Cânones da Igreja Metodista). Ele, especialmente com referência à Paul Little nos oferece uma pauta São de grande profundidade as palavras sua morte e ressurreição” (Romanos importante para a leitura devocional da de John Wesley sobre este sacramento: 6.3, Notas de John Wesley). 20 Fé&Nexo H OMENAGEM Reverendo Juracy: patriarca do metodismo brasileiro Pastor Marcelo Carneiro A Igreja Metodista perdeu um Castelo com a família. Foi batizado Nessa ocasião, já existiam cerca de 40 bastião do metodismo brasilei- com poucos meses de idade pelo reve- ou 50 metodistas e foi organizada a ro. Testemunha das principais mudan- rendo Antônio José Rodrigues, que era Igreja Metodista de Remanço, fora da ças que ocorreram no Brasil, seja no o pastor da Igreja frequentada pelos pais cidade de Castelo, recorda Juracy. âmbito secular, seja na vida da Igreja, no Rio de Janeiro (Metodista em o reverendo Juracy José Sias Monteiro Vargem Grande). O reverendo Ro- deixa a história, fazendo história e tor- drigues, morando em Miracema (RJ), Foi no pastorado do reverendo João nando-se parte dela. Morreu aos 94 visitava a família Monteiro, em Caste- do Couto, em 1929, que Juracy sentiu- anos, no dia 31 de março deste ano, por lo, anualmente ou a cada dois anos. “A se chamado para o ministério e foi re- complicações decorrentes de problemas viagem levava três dias de trem”, con- comendado aspirante. Ele teve de es- cardiovasculares. Mesmo no leito do tou certa vez reverendo Juracy. perar quatro anos para ir para o CHAMADO MINISTERIAL O trabalho Metodista em Castelo Granbery (MG), já que o irmão Jurandi (ES) começou na casa do reverendo, na já estava estudando lá naquela ocasião. Ele foi um homem ativo e de gran- ocasião situada no Córrego do Seria preciso melhorar a situação finan- de valor na obra de Deus. Só de Mamona, onde seus pais moraram mais ceira para seguir seu propósito. Passa- pastorado alcançou 72 anos. Nascido tarde. Naquela ocasião, Antônio Bar- do esse tempo, cursou por cinco anos o e criado na Igreja Metodista, teve em bosa, metodista de Caparão (ES), mu- Ginásio. Concluída essa fase escolar, seus pais, Francisco José Monteiro e dou-se para Castelo e morava na sua em janeiro de 1938, foi provisionado. Brasilina Sias Monteiro, as suas mai- propriedade rural no Alto do Chapéu. Ainda no início do mesmo ano, o bis- ores escolas para a permanência na fé A partir de sua aproximação com a fa- po César Dacorso Filho fez sua primei- ainda nos tempos atuais. “Do Meto- mília Monteiro, por volta de 1916, foi ra nomeação como pastor do Distrito dismo nunca saí “, afirmava com sin- organizada a congregação metodista. de Juiz de Fora para a paróquia de cera alegria. Tempos depois, a família de Juracy ad- Matias Barbosa e Chácara, onde este- Seus pais se converteram por volta quiriu uma propriedade em Remanço ve à frente por dois anos. Na época, ele de 1911, em Vargem Alegre (RJ). Em (Fazenda da Crimeia), e nessa casa, estava iniciando na Faculdade de Teo- 1914, eles se mudaram para o Castelo, mais tarde, criou-se a Igreja Metodista logia do Granbery. no Espírito Santo, onde nasceu Juracy. de Castelo, por volta de 1925. Nessa Em julho de 1938, o Concílio Ge- Passaram a morar na Fazenda das Flo- época, algumas famílias metodistas de ral criou a Faculdade de Teologia da res, do coronel Martins. O pai era Patrocínio (MG) mudaram-se para a Igreja Metodista, por meio da fusão das meeiro de café, lavrador. Durante 10 Fazenda da Crimeia e se estabeleceram Faculdades do Granbery e de Porto Ale- anos, frequentou a Igreja Batista de como colonos no Córrego dos Monos. gre. Permaneceu até o final de 1938 no hospital foi um guerreiro inconformado com este século. 21 Fé&Nexo Granbery, já como Faculdade de Teo- Mas a educação teológica sempre experiência. A idade avançada nunca o logia, quando houve a mudança para esteve no caminho ministerial do re- deixou inativo e não o impediu de con- São Paulo. A pedido de Mister Paul verendo Juracy. Em 1958, durante o tribuir para a causa do Senhor. Esteve Bayer, que nesse período substituiu Concílio Distrital Suburbano do Rio sempre se revelando atuante e nos pas- Barbieri na reitoria da Faculdade de Te- e do Rio de Janeiro, ele propôs a cri- sando a sabedoria e o conhecimento ologia, reverendo Juracy foi o respon- ação do Instituto Asbury, de onde acumulados no decorrer dos anos. Tan- sável pela mudança, em 1939, para São nasceu o Seminário César Dacorso to é assim que até os últimos meses de Paulo. “A empresa da família de Filho e, posteriormente, a Faculda- sua vida atuou como deão da Faculda- Custodio Laje, metodista, residente na de de Teologia. de de Teologia do Centro Universitá- cidade de Três Rios, foi quem levou a mudança. Foram umas três viagens e rio Bennett, curso que ele idealizou e PASSOS esteve à frente muitas vezes. PASTORAIS eu fui na primeira viagem. Durante es- Os passos para o pastorado ainda “Tive a grata felicidade de convi- sas férias, de dezembro a janeiro, eu fi- são recordações bem vivas e alegres. ver mais de perto com ele, ouvi-lo pre- quei com mister Bayer instalando, na Em 30 de novembro de 1940, a sua tur- gar e conhecer o reverendo Juracy me- Rua do Cubatão, em Vila Mariana, a ma fez o curso de formatura dos ba- lhor. E digo que ali estava um verda- nova residência da Faculdade de Teo- charéis de teologia e teve como prega- deiro cristão e homem de Deus”, tes- logia, onde ficamos dois anos até a dor o reverendo Afonso Romano Filho. temunha o reverendo Marcelo Carnei- construção do primeiro edifício em O reverendo Juracy pastoreou as ro, coordenador do curso de Teologia Rudge Ramos”, deixou relatado. In- igrejas Matias Barbosa e Chácara, Luz, do Bennett. “Era humilde, alegre, fir- vestigou vários terrenos na capital Tucuruvi, Manhuaçu, Campos e me em suas convicções, e lutou até fim paulista para instalar definitivamente a Macaé, Muriaé e Eugenópolis, São o bom combate, completando a carrei- Faculdade até encontrar uma rica pro- Mateus, Realengo, Bangu e Magalhães ra que lhe estava proposta. Dorme no priedade, no bairro dos Meninos, atu- Bastos, Penha, Irajá, Jardim Botânico, Senhor, para a ressurreição dos ven- almente, Rudge Ramos, onde a insti- Campo Grande, Nilópolis, Pilares, cedores”, completa. No segundo se- tuição metodista está até hoje. Grande Rio, Baixada Fluminense, mestre do ano passado, o reverendo Catete e Méier. Juracy coordenava, junto com o reve- No velório, os testemunhos mais rendo Carneiro, a atividade devocional emocionantes foram de leigas e leigos dos seminaristas na capela, nos encon- que o tiveram como pastor pela vida tros semanais. toda. Batizou muitas pessoas, fez seus A dor da perda será sentida, especi- casamentos, batizando depois os filhos almente pela família, mas, junto com e até netos delas. Essa marca é indelé- ela, a gratidão a Deus por uma vida tão vel e deve servir de exemplo para to- generosa e de testemunho tão eficaz. dos nós. Da parte dos colegas pastores Fica para nós seu exemplo de abnega- e pastoras, respeito, carinho e amiza- ção e desejo de que continuemos o tra- de. Foi orientador da maioria dos pas- balho na Seara. tores mais antigos da Região, e mesmo das novas gerações. O tempo trouxe forte bagagem e 22 Fé&Nexo Colaborou Pr. Marcelo Carneiro, coordenador do curso de Teologia do Bennett. Depoimentos de professores e colegas “ Reverendo Juracy, para o metodismo, foi um um obreiro incansável no reino de Deus e, para o Bennett, um exemplo de alguém que nunca deixou de estudar. Sua presença nos corredores da Teologia e sua frase “aprendi muito hoje” nas aulas de grego me emocionavam e me serão como estímulo sempre! ” Professora Alessandra Viegas “ O texto de Jeremias 4.23-26 fala da expectativa da aterrorizante invasão de povos do Norte, comparável aos momentos de dor que passamos diante da passagem de um príncipe do metodismo brasileiro. Parece que os céus estão desabando, pois restam poucos homens e mulheres desta magnitude, que têm a verdade como troféu e a justiça como bandeira. Viemos de longe, de um continente chamado África, lugar que usou o Atlântico como um rio, originários de um povo que zelou pela natureza e amou a vida. Nossos antepassados foram reis e rainhas, sábios e sábias, artífices e guerreiros. Fomos trazidos contra nossa vontade, dispersos pelo mundo, ignorados em nossa cultura, aviltados em nosso caráter, desprezados em nossa dignidade. Mesmo assim, no Brasil formamos poetas, políticos e conselheiros, médicos, professores e engenheiros, torneiros, pedreiros e empregadas domésticas, mas muitas de nossas crianças desconhe- cem nossa ascendência nobre. Empobrecidas pela opressão de classe, raça e etnia, vagueiam pelas ruas sem esperança, sem saber que seus antepassados eram valorosos, de cabeça erguida, esbeltos, lindos e lindas pessoas que o mundo teima em esquecer. Pois bem, reverendo Juracy foi um príncipe de Israel. Pai, esposo, avô, amigo, pastor, advogado, mestre. Que com elegância dominou as palavras, numa homilética sem igual. Venceu o preconceito se fazendo exemplo de gerações. Criou o Seminário César Dacorso Filho, construiu templos, modelou vidas, sempre com a perspectiva do Reino de Deus. Agora descansa em paz, alheio ao burburinho das movimentadas metrópoles, sua atenção está voltada para o Rei dos Reis. Digo a este gigante da fé, até breve e obrigado pela sua vida e seu exemplo. ” Reverendo José Magalhães Furtado “ No segundo semestre de 2009, pude estar mais próximo do reverendo e aprendi muito com ele, pois sua postura e ética eram exemplos a serem seguidos. Ao pensar na pessoa e na história dele, não posso deixar de pensar em Abraão e sua caminhada de fé e obediência. A expressão “morreu em ditosa velhice” ganha vida e força na pessoa do nosso querido deão, que até os últimos meses, antes que as forças der- 23 Fé&Nexo “ radeiramente lhe faltassem, ia à faculdade, interessado nos acontecimentos, acompanhando o dia a dia da instituição, sempre com disposição, bom humor e alegria. Até breve, nosso amado patriarca. “” ” Reverendo Marcelo Carneiro “ Há pessoas neste mundo que se esforçam para serem boas. Eu mesmo me incluo entre estas. Mas há pessoas que são boas naturalmente, sem esforço algum. A bondade exala de seus corpos. Como se nelas a imagem divina brilhasse sem nenhuma opacidade. Assim foi e será Jesus de Nazaré. Assim foi Barnabé, companheiro de Paulo em tantas jornadas. Assim foi o reverendo Juracy para todos nós que tivemos a graça de com ele conviver. Um homem bom. Uma bondade simples e casta, desprovida de quaisquer vaidades! A Deus toda a glória! ” Professor Edson Fernando E SPAÇO ABERTO Somos todos Pentecostais Pr. Gerson Lourenço Pereira* G eralmente, quando falamos em mesmo da Páscoa, importantes datas segunda festa (digamos assim) obri- Pentecostes, associamos ime- no Calendário Litúrgico Cristão, o gatória para os israelitas. diatamente ao adjetivo “pentecostal”. Pentecostes não foi apropriado pelo Era também chamada de Festa da Se perguntássemos a alguém proce- Mercado, podendo ter preservada a sua Colheita ou das Semanas, em que dedi- dente de uma igreja assim denomina- alteridade, ou seja, a essência do que cavam as primícias das colheitas como da o que significa ser pentecostal, pro- realmente importa e é transmitido para gesto de ação de graças a Deus cinquenta vavelmente obteríamos uma série de todo o Povo de Deus. dias após a Páscoa (Êx 34. 23; Êx 23.16; respostas, tais como: “é ser avivado”; Lv 23. 9-14; Dt 16.9). Com o passar do ou “significa crer no derramamento do DISTINGUINDO ALGUNS tempo, adquiriu o significado de come- Espírito Santo”; ainda “receber o dom CONCEITOS E TERMOS moração à promulgação da Lei de de línguas”. Entretanto, essas respos- Gostaria de iniciar fazendo algumas Moisés no Monte Sinai como a afirma- tas encerrariam o significado do Pen- distinções que ajudarão a compreender ção da Aliança de Deus com seu povo, tecostes ou refletiria tão somente al- conceitos e termos que, se não tiver- bem como a constituição desse Povo. guns aspectos? mos muita familiaridade, pelo menos Acredito que seja relevante enten- já ouvimos falar. te e ascensão de Jesus, o Espírito Santo dermos o sentido e a atualidade do Pentecostes para o Cristianismo em No dia de Pentecostes, após a morse manifestou com as línguas de fogo. O que é o Pentecostes? Desde então o Pentecostes é entendido geral, bem como para as nossas igre- Pentecostes não é uma palavra por nós Cristãos como a reconstituição jas em particular. Sobretudo se consi- exclusiva do Cristianismo. Ela tem do povo de Deus pela efusão do Espí- derarmos que, diferente do Natal e até origem no Judaísmo, tratando-se da rito Santo (At 2). 24 Fé&Nexo O que é o Movimento Pentecostal? Chamamos de Movimento Pente- cidos pela sinalização dessa ação atra- mesmo lugar (At 2.1). Quem eram es- vés do dom de línguas. ses que estavam reunidos e por quê? costal aquele iniciado no início do sé- Eram as mesmas pessoas que ouviram culo XX, em 1906, liderado pelo pre- PRINCÍPIOS CONTIDOS NA gador de origem metodista Willian MANIFESTAÇÃO DO Seymour, na Rua Azusa em Chicago, PENTECOSTES ESPÍRITO NO DIA DE de Jesus, antes de sua ascensão, que deveriam aguardar o poder do Espírito (At 1. 7-8). Essas pessoas persevera- EUA. As reuniões promovidas por ele O entendimento cristão a respeito e sua liderança eram marcadas por ma- do Pentecostes, uma vez considerando nifestações espirituais: a glossolalia o registro em Atos dos Apóstolos, ca- Quando se manifestou, o Espírito (dom de falar em outras línguas); a par- pítulo 2, apontam para pelo menos três suscitou línguas de fogo e todos passa- ticipação leiga, tanto de homens como princípios fundamentais para a Igreja, ram a falar em outros idiomas. O que de mulheres; e a preocupação com a ex- a saber: presença e ação do Espírito isso significou? O contrário do que pansão missionária. Essas manifesta- Santo, unidade e missão. aconteceu na Torre de Babel. Lá, o Es- poder não se manifestava (At 1. 14). pírito suscitou idiomas para a desunião ções eram entendidas como sinais que resgatavam a manifestação do Espírito vam unidas em oração enquanto esse Presença e Ação do Espírito Santo dos povos. Aqui, no dia de Pentecos- Santo derramado no dia de Pentecos- Atentando para o capítulo men- tes, o mesmo Espírito suscita idiomas tes, de acordo com a interpretação par- cionado de Atos dos Apóstolos, po- diferentes a fim de que todos pudessem ticular feita do registro de Atos dos demos observar que o texto não diz ouvir das grandezas de Deus, indepen- Apóstolos. que a partir do dia de Pentecostes os dente da nacionalidade (At 2. 5-11). Quatro anos mais tarde, provenien- seguidore de Jesus passaram a con- No final do capítulo, o autor de Atos tes diretamente do Movimento da Rua tar com a presença do Espírito San- dos Apóstolos ainda menciona que ha- Azuza, estabeleceram-se no Brasil as to. O que diz é que um vento impe- via uma atmosfera constante de perse- duas denominações tuoso encheu o ambiente, aparece- verança, solidariedade, unanimidade e pentecostais: a Igreja Evangélica Con- ram línguas de fogo sobre cada pes- comunhão entre os primeiros converti- gregação Cristã do Brasil e a Assem- soa, todos ficaram cheios do Espíri- dos (At 2. 42-27). Em outras palavras, bléia de Deus. to e passaram a falar em outros idio- a unidade foi necessária para o acolhi- mas (At 2. 2-4). A presença do Espí- mento da ação do Espírito, confirmada rito sempre fora uma realidade no durante a sua manifestação e persistida Hoje em dia se convencionou cha- meio do povo de Deus desde o Anti- pela Igreja consolidada. mar de “pentecostais” as pessoas mem- go Testamento. No entanto, todos, no bros das igrejas, bem como as próprias dia de Pentecostes, sentiram tal pre- igrejas que são herdeiras do Movimen- sença e receberam seu poder. primeiras Quem são os Pentecostais? Missão Atos 2 demonstra a ação do Espírito to Pentecostal, como as igrejas Assem- O Pentecostes traz a convicção e imediata reação da Igreja através de bléia de Deus, Congregação Cristã do de que o Espírito Santo atua sobre todo Pedro. Sua pregação contextualizada, Brasil e Brasil para Cristo. o povo de Deus. objetiva e clara que resultou na conver- Os fiéis pentecostais são irmãos cristãos que enfatizam a ação do Espí- são de 3.000 pessoas (At 2.14-41) foi o Unidade pontapé inicial, o impulso que a comu- rito Santo e o testemunho do mesmo Diz também o texto que no dia de nidade de discípulos de Jesus recebeu Espírito sobre as suas vidas, reconhe- Pentecostes estavam todos reunidos no para anunciar o Evangelho em Jerusa- 25 Fé&Nexo lém, na Judéia, em Samaria e até aos dade, altruísta (contrário de egoísta), a Igreja sai de si mesma, envolve-se confins da terra (At 1. 8). mansa e não rancorosa (1 Co 13. 4-5). com a comunidade e se torna instru- A presença e ação do Espírito San- O ambiente onde a gente congrega mento da novidade do Reino de to, manifestada no dia de Pentecostes, é ambiente de alegria, paz, tolerância e Deus”; será que as motivações geraram unidade e ímpeto missionário. de pessoas que dominam suas atitudes missionárias hoje giram em torno da Pentecostes é, pois, o dia em que a Igre- com sensatez (Gl 5. 22-23)? preservação das instituições religio- ja sai das “quatro paredes” e se direciona ao testemunho do Reino de Deus. ATUALIZANDO OS PRINCÍPIOS. ALGUMAS CONCLUSÕES sas ou correspondem à preocupação A unidade da Igreja é tarefa fácil com a expansão do Evangelho de ou um grande desafio? Cristo? A Carta Pastoral “Para Que Todos Sejam Um” afirma: Presença e ação do Espírito geram ardor missionário no meio do Se a presença e ação do Espírito “A unidade cristã faz parte da es- seu povo, ou seja, vontade de sair das Santo, a unidade e a missão do Reino sência da Igreja e é uma condição para “quatro paredes”. Lembremos que o são princípios contidos e ressaltados a a credibilidade do testemunho, da poder que nos reveste é poder para partir do Pentecostes, podemos chegar missão e do serviço. Ela é um dom testemunhar em Jerusalém, Judéia, a uma “surpreendente” conclusão: to- de Deus. Portanto, não somos nós que Samaria e até aos confins da Terra. das as igrejas são pentecostais! Melhor: a construímos, mas somos chamados Não é poder para inchar, e sim para a Igreja de Cristo, se resgatado o con- a preservá-la com amor, humildade e expandir! teúdo bíblico de Atos 2, é pentecostal. mansidão como reconhecimento de Cabe, então, indagarmos a respeito que há um só corpo e um só Espírito, da realidade desses princípios nas nos- um só Senhor, uma só fé, um só ba- sas igrejas. tismo, um só Deus e Pai de todos, o NOTAS 1 qual é sobre todos, age por meio de Há expressões da presença do Espírito Santo nas igrejas? todos e está em todos.”. Uma igreja de fato herdeira do Pen- A evidência fundamental da presen- tecostes é igreja que vive, transpira, ça e ação do Espírito Santo é o amor luta, chora e que se esforça para que (1Co 13; Gl 5. 22). Antes de se falar todos estejam unidos no Espírito pelo em outras línguas (sejam elas outros vínculo da paz (Ef 4. 3). Será que di- idiomas conhecidos ou celestiais), o visões provocadas, inclusive sob uma Espírito gera verdadeiro e sincero amor alegada vontade de Deus, são proce- manifestado concretamente nas rela- dentes da ação-presença do Espírito ções fraternais entre os irmãos da fé. Santo na Igreja? 2 3 4 5 O Espírito Santo não é propriedade de uma única Igreja, seja ela denomina- A Igreja se sente enviada ao mundo da de pentecostal ou não. O que torna em nome do Reino ou das uma Igreja de fato portadora do Espírito instituições que a tornam visível? é o fato de ela ser um lugar de gente pa- Considerando que, para nós me- ciente, benigna, sem orgulho, sem vai- todistas, “a missão acontece quando 26 Fé&Nexo 6 DO AUTOR Antes do Pentecostes se celebrava a Páscoa, como referência e memória do êxodo do Egito; e depois a Festa dos Tabernáculos ou Dia da Expiação. Cf. AMSLER, S. Festas. In: VON ALLMEN, J.J. Vocabulário Bíblico. São Paulo: ASTE, 2 ed., 1972. P. 145-149. B O R N , V. D . P e n t e c o s t e s . I n : BORN, A. V. D., Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Petrópolis: Vozes. 1992. P. 1180-1181. ALLMEN. P.151. A respeito da história desse movimento, recomendo o site: http://www. azusastreet.org/William JSey mou r. htm In: COLÉGIO EPISCOPAL DA IGREJA METODISTA. Para Que Todos Sejam Um: a perspectiva metodista para a unidade cristã. São Paulo: Sede Nacional da Igreja Metodista, 2009 (versão eletrônica). P. 29-30 Definição contida no Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista. *Secretário-executivo Regional de Educação Cristã e pastor da Igreja Metodista no Méier F AMÍLIA É necessário investir na família? E stamos vivendo numa socieda- os nossos filhos, esposa e familiares? ciosos momentos com a sua família. de que deseja apenas o pronto e Temos tido um tempo de qualidade Pare tudo o que estiver fazendo, reflita não o que dá trabalho. Vivemos comen- com eles? Temos o prazer de, sem- e pergunte hoje mesmo ao seu filho(a) do o mais rápido e prático e não mais pre que possível, preparar aquela co- e esposo(a) o que está faltando para a aquela comida caseira bem feita. Vive- midinha caseira e almoçar todos jun- sua família ser muito mais feliz do que mos dormindo mal, pois temos que es- tos? Temos orado com a nossa famí- já é. Não se assuste se você ouvir coi- tudar e trabalhar muito. Muitas vezes lia? Sabemos de tudo o que acontece sas que nunca esperava, pois, com toda temos pouco tempo para o Senhor. Não com os nossos filhos? Sabemos o que essa correria, faltava tempo para saber temos tempo de lazer, pois mesmo tra- está faltando na dispensa? Sabemos de coisas simples, mas que fazem uma balhando muito ainda não ganhamos o da gripe dos filhos, de como vão no grande diferença nos relacionamentos suficiente (1 Tm 6.10). colégio? Sabemos do cansaço do côn- de família. E a nossa família? Quanto tempo temos gasto com ela? Em que lugar juge, dos seus sonhos, dos seus projetos não realizados? estamos colocando nossas famílias? Enfim, se você não tem tempo de Estamos dando a devida atenção para saber dessas coisas, está perdendo pre- Reflita sobre essas perguntas: Qual foi a última vez que você orou com a sua família? • Qual foi a última vez que você dis• se “eu te amo para sua esposa (o)”? • Qual foi a última vez que você disse “eu te amo para o seu filho (a)”? • Qual foi a última vez que você separou um tempo de qualidade para a sua família? • Será que estamos esquecendo de amar e estamos apenas vivendo como podemos? Entendemos que famílias fortes, tratadas, restauradas e curadas formam uma igreja saudável e forte. Edwilson e Patrícia Alves são coordenadores do Ministério Regional da Família 27 Fé&Nexo 28 Fé&Nexo