Edição 31 Antideus

Transcrição

Edição 31 Antideus
Como os estudos da americana
Suzanne Gordon vêm ajudando a
provar que a ‘divindade’ atribuída ao
excercício da medicina é um mito que
provoca estragos na performance de
hospitais e na vida dos pacientes
ANO VII | N° 32 | DIAGNÓSTICO 2016 | R$ 50,00
ANTIDEUS
Diagnóstico
1
SUMÁRIO
Ricardo Benichio
10
ENTREVISTA
Suzanne Gordon
Para a pesquisadora norte-americana,
médicos pensam que são especiais
porque lidam com a vida e a morte.
18
ENSAIO
Francisco Balestrin
Conselhos para construir a excelência
e reduzir o índice de desperdício no
setor de saúde.
22
ARTIGO
Daniela Ártico
O caso Unimed Paulistana
e as opções para transferência
da carteira de clientes.
24 GESTÃO
Micah Solomon
Quando o paciente não tem razão.
Lógica do comércio não se aplica
na saúde e na educação.
26 ENTREVISTA
Tércio Kasten
Biomédico presidente da CNS quer
dar mais poder aos presidentes das
federações estaduais em sua gestão.
30 ARTIGO
Adriana Gasparian
Modelos de relacionamento
inovadores entre os diversos
segmentos do setor de saúde.
32
PERFIL
John Nosta
O influente consiglieri da Google
Health é um dos maiores pensadores
em saúde digital do mundo.
36 ANÁLISE
Internet das coisas
Tecnologia já apresenta soluções que
estão otimizando processos de gestão
no setor de saúde.
10
ANTIDEUS:
Suzanne Gordon
DEPUTADO RICARDO IZAR (PSD-SP):
afirma que
regulação de preços de órteses e próteses é
hierarquia tóxica
necessária para sustentabilidade do mercado
é uma realidade
de saúde
na saúde
28
2
Diagnóstico
COMPLIANCE
40 MUNDO
Segurança digital
Sistemas de proteção são necessários
para blindar tráfego de dados
em meio digital.
42 ARTIGO
Paulo Lopes
Planejamento estratégico e gestão
são a melhor receita para enfrentar
o cenário de crise.
Divulgação
44
ENSAIO
Paciente Consumidor
Como a tecnologia está
transformando pacientes
em consumidores.
48
ÉTICA EM SAÚDE
Hospitais Compliance
Cobertura especial da segunda
edição do maior evento de
compliance em saúde.
60
100
RETROSPECTIVAS E ANTEVISÕES:
As principais consultoras falam,
com exclusividade para a Dianóstico,
sobre o ano que passou e deixam
prognósticos para 2016
GESTÃO
Rede de Saúde
Mater Dei acelera expansão
no mercado privado em
Belo Horizonte.
65
ENSAIO
Tendências Globais
88
ARTIGO
Maisa Domenech
95
ENTREVISTA
Jorge Solla
R$ 400 milhões podem passar do
Sistema S do Comércio para o
Sistema S de Saúde.
DIRETO AO PONTO
Nedy Neves
106 ARTIGO
Eduardo Najjar
BOAS PRÁTICAS
Gestão
114
Professora diz que ensino da Ética
Médica é um desafio sem limites e,
por isso, tão instigante.
Lei 13.003 da ANS:
construindo as cenas
dos próximos capítulos.
82
100 ANÁLISE
Balanço e Previsões
Tribos indígenas na Amazônia
recebem atendimento médico de
alta qualidade graças a ONG.
Estudo sobre macrotendências das
economias emergentes com foco na
saúde revela oportunidades.
72
REPORTAGEM
Xamãs Modernos
96
Seis Dicas para superar os desafios
que se avizinham no setor
de saúde.
A saúde, pela sua demanda constante,
foi um caso particular em 2015. E
2016 é o ano zero para o setor.
Negócios administrados em família
têm diferenciais competitivos
positivos.
RESENHA
Poder com o Paciente
The Patient Will See You Now:
o futuro da medicina e a evolução
tecnológica.
Tulio Carapia
26
LIDERANÇA DA CNS:
Tércio Kasten assumiu
a presidencia da
Confederação Nacional
de Saúde e revela os seus
planos para a instituição
Diagnóstico
3
EDITORIAL
Os “medalhões” e as lições
do trabalho em equipe
A
s escolas de medicina precisam rever com urgência o modo como
estão formando os médicos. A queixa aqui não é contra a difusão do
conhecimento dos cuidados em saúde. É muito mais direcionado à
desconstrução de um status quo. O mesmo que permite a hiperidealização de um profissional acima de qualquer julgamento – o “Deus
médico” – e que põe em xeque a segurança do paciente.
Não pode mais haver espaço para os “medalhões”, apegados a títulos, vaidosos e avessos à quebra de hierarquia. Os tempos são outros. É preciso fomentar
o respeito mútuo e o trabalho em equipe, algo que vai além dos protocolos de atendimento
e dos checklists. Não se trata de destituir o médico da sua posição de líder, mas de estimular a cooperação dos demais membros da equipe. Nesse sentido, a medicina tem muito a
aprender com a aviação, como propõe a jornalista e pesquisadora norte-americana Suzanne
Gordon, capa desta edição. Ela defende que a assistência médica melhoraria se os prestadores de saúde se apoiassem nas lições do trabalho em equipe e de segurança das companhias
aéreas, que transformaram o avião em um dos meios de transporte mais seguros do mundo.
A Diagnóstico também traz à luz o embate sobre as nomeclaturas paciente e consumidor, uma falsa dicotomia perigosa para a nossa saúde e nosso bolso, como argumenta
o articulista Robert Pearl. Por outro lado, o artigo de Micah Solomon demonstra por que
no setor médico-hospitalar, diferentemente do comércio varejista, o médico precisa deixar
claro a esse paciente-consumidor a máxima “o cliente nem sempre tem razão”, em uma
abordagem mista de “amor duro e compromisso de cortesia”.
Entrevistamos John Nosta, consultor da Google Health. Considerado uma das mentes
mais brilhantes da saúde digital na atualidade, ele defende que o caminho da medicina para
melhorar a saúde das pessoas é uma aliança entre a capacidade humana e o poder da tecnologia.
Para entender a atual conjuntura econômica do país, especialistas de várias empresas
de consultoria fizeram um raio x de 2015, um ano de crise acentuada no panorama nacional. O impacto da criação do Sistema S de Saúde não poderia ser ignorado nesta edição.
Caso aprovada a PL 559/15, serão R$ 400 milhões migrando do setor do comércio para
a saúde. O deputado federal Jorge Solla (PT-BA), ex-secretário da Saúde na Bahia e
proproponente do projeto, explicou de forma categórica como esse investimento servirá
para capacitar milhares de profissionais e elevar a qualidade dos atendimentos pelo SUS.
Resta esperar.
Diretor Executivo
Publisher
Reinaldo Braga
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Comercial/SP
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Repórteres
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Reinaldo Braga
CEO/Publisher
Realização
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dos artigos assinados, que não refletem necessariamente a
opinião do veículo.
4
Diagnóstico
CORREIO
[email protected]
A Diagnóstico narrou com coragem e bom humor
os bastidores da mais disputada eleição da história da CNS.
É uma pena que nem todos ainda estão acostumados com o
jornalismo isento e criativo no mercado de saúde.
Renato Almeida, São Paulo-SP
Capa
DISPUTA NA CNS
De extremo mau gosto a
iniciativa de transformar em
caricatura a imagem de médicos e homens públicos que
tanto fizeram pelo mercado
de saúde de nosso país. Os
leitores da Diagnóstico não
mereciam isso.
Claudio Malheiros,
Curitiba-PR
Ninguém conseguiu ficar
indiferente à capa da última
edição da Diagnóstico. Depois da surpresa, percebe-se
que o tema é tratado com
seriedade e bastante contundência. Parabéns a toda a
equipe da revista.
Atanásio Mouro, Brasília-DF
A capa da Diagnóstico com
o buquê representando o comando da CNS merece uma
grande reflexão. Ela mostra,
ao meu ver, um modelo
sindical esgotado, pautado na
disputa pelo poder, sem foco
no consenso e, muito menos,
no que é melhor para seus
afiliados. Trata-se de um modelo sindical ultrapassado.
Rosalvo Matos, Belém-PA
Por que os sindicatos
patronais da saúde, Brasil
afora, não buscam fazer
benchmarking com entidades eficientes e com gestão
moderna, como a Anahp?
Em vez de ficar birgando
pelo poder, poderiam refletir
sobre sua significância.
Muitas só existem por mera
formalidade e para deleite de
seus dirigentes, muitos dos
quais eternizados no poder.
Arrecadam somas vultosas
dos hospitais e não oferecem nada em troca a seus
associados.
T. L, São Paulo-SP
A Diagnóstico faltou com
respeito ao usar uma charge
infeliz para falar de um
assunto tão sério.
Arilton Moreira, Rio de Janeiro-RJ
Entrevista
ARLEN MEYERS
Um verdadeiro presente para
os leitores da Diagnóstico
a entrevista com o médico
e presidente da sociedade
americana de médicos empreendedores, Arlen Meyers,
publicada na última edição.
Todo médico, preocupado
com o futuro da carreira,
deveria refletir sobre suas
posições.
Jorge Romero, Maceió-AL
Arlen critica, com especial
justiça, a forma como a academia ignora a formação do
médico sob o ponto de vista
da carreira, mas esquece que
essa não é uma atribuição dos
cursos de medicina. Além
disso, ninguém aprende a ser
empreendedor.
Marival Alexadrino,
Brasília-DF
O ambiente na área de saúde
impõe uma transformação na
carreira médica jamais vista.
E o profissional de medicina
precisa compreender como
será o exercício da profissão
diante de tantas mudanças
tecnológicas. Segundo nosso
ilustre colega Arlen Meyers,
seremos gestores de informação, agentes do cuidado e
gestores da saúde de nossos
pacientes. A se refletir.
Pedro Gonçalves,
Manaus-AM
Ensaio
IGUALDADE DE
GÊNERO
Muito interessante a reflexão sobre igualdade de
gênero abordada no artigo
da senhora Lareina Yee, na
Diagnóstico. A participação
das mulheres em funções
diretivas de grandes empresas é uma questão não
apenas de igualdade, mas
de performance mesmo.
Desde de sempre, mulheres
e homens têm virtudes complementares.
Maria Luiza Sanches,
São Paulo-SP
O dilema feminino é muito
mais profundo do que retrata a senhora Lareina Yee.
Temos que progredir no
mercado de trabalho, mas
muitas de nós vivem fazendo contas para conciliar a
família, filhos e um projeto
de vida com a carreira.
Nem sempre o trabalho
pesa mais e essas escolhas
precisam ser respeitadas.
Marlene de Vito,
Florianópolis-SC
Artigo
ROBERT PEARL
É cada vez mais claro que
os gastos crescentes com a
saúde quase nunca fazem
paralelo com o aumento
da performance assistencial. Se consome muito
dinheiro, sem eficiência,
em boa parte do mundo.
Uma reflexão que precisa
ser feita por todos os atores
da saúde, sob o risco de um
colapso iminente. Afinal,
os recursos estão cada vez
mais finitos.
Andrea Sanches, Recife-PE
Diagnóstico
5
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Diagnóstico
7
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6
Diagnóstico
PANORAMAHEALTHCARE
Fotos:Divulgação
CIBERSEGURANÇA
Violação de dados de saúde eleita como principal
preocupação para 2016
A multinacional Experian antevê que a
violação de dados de saúde é uma das prioridades das instituições do setor para 2016.
No Livro Branco, publicado com as previsões para 2016, as organizações são aconselhadas a investir em tecnologia de segurança, algo que deve ser complementado
com treinamento regular de funcionários
em como manejar dados de forma correta.
De acordo com a Experian, o setor de
healthcare continuará sendo um dos prediletos dos hackers, algo que pode ser explicado pelos altos valores que os dados roubados podem atingir no mercado paralelo
e pela frequente digitalização e partilha de
processos clínicos
As previsões se baseiam no crescimen8
Diagnóstico
to da adoção de prontuário eletrônico e em
como a nova e abrangente plataforma de
armazenamento e partilha de dados médicos sensíveis se conecta com dispositivos
móveis, tornando maior a cobiça dos cibercriminosos.
O relatório da Experian revela que
perto de 91% das instituições de saúde já
foram vítimas de violações de dados de
alguma natureza nos últimos dois anos.
Há, portanto, necessidade de proteger os
dados através da adoção de ferramentas de
segurança mas, talvez tão ou mais importante, reeducar os funcionários para, dessa forma, evitar o erro humano. Pequenos
incidentes causados por negligência ou
descuido comprometem anualmente mi-
lhões de fichas médicas. A simples perda
do backup físico de informação ou a perda
de registros em papel é mais frequente do
que ciberataques.
O Livro Branco da Experian aponta
como alvos primários dos ciberataques as
grandes seguradoras e os maiores sistemas
de saúde, grandes organizações como a
Premera Blue Cross, atacada recentemente,
com milhões de informações individuais
violadas.
Entre setembro e dezembro de 2015,
foram registradas 180 violações de informação de saúde, afetando um total de 78
milhões de pessoas, mostrando que este é
um campo prioritário para as instituições
do setor.
APPS
Nove em cada dez médicos brasileiros
falam com seus pacientes pelo WhatsApp
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1
Um estudo global publicado no Reino
Unido comparou o uso que médicos de vários países dão às redes sociais para se comunicar com os pacientes. De acordo com
os números divulgados, no Brasil a probabilidade de usar o WhatsApp para falar com
um paciente é 40 vezes superior à de terras
de Sua Majestade.
Apenas 2% dos médicos britânicos
afirmam ter usado em alguma ocasião o
WhatsApp para contatar pacientes. Na Itália, o número sobe aos 62%, enquanto o
Brasil atinge os 87%. Mensagens de texto,
ou SMS, e emails são duas formas de comunicação cada vez mais comuns, como se
demonstra pelos 33% e 50% de utilização,
30/01/16
00:09
respectivamente. O telefone continua sendo
o método de contato favorito, com 84% da
preferência.
Quando o assunto são apps de saúde
digital, o otimismo que estudos anteriores
havia registrado não está tendo tradução
prática. Embora quatro em cada cinco médicos admitam que os apps vieram para ficar,
apenas 55% recomendaram apps para seus
pacientes e apenas 36% admitam voltar a fazê-lo. Especialistas britânicos admitem que
só haverá uma real mudança na aceitação
dos apps quanto eles trouxerem benefícios
para o paciente que tenham consequências
concretas no tratamento da doença e que
também aliviem o trabalho do médico.
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Diagnóstico
9
Divulgação
Divulgação
ENTREVISTA
SUZANNE GORDON
A AMERICANA SUSANNE
GORDON É AUTORA DE ALÉM DO
CHECKLIST: O QUE MAIS A SAÚDE
PODE APRENDER DO TRABALHO
EM EQUIPE E SEGURANÇA DA
AVIAÇÃO.
10
Diagnóstico
“A hierarquia
tóxica é uma
realidade na
saúde”
Para a pesquisadora
Susanne Gordon, médicos
pensam que são especiais
porque lidam com a vida
e a morte. O perigo é
quando esse status cria
estruturas de comando
não colaborativas e
superioridade desmedida
na tomada de decisões
Edson Valente
A
pesquisadora norte-americana Suzanne Gordon vem
se dedicando nos
últimos anos a entender como as relações entre equipes médicas podem influenciar os escores
assistenciais. Em seus estudos, que serviram de base para a publicação do livro
“Beyond the checklist: what else healthcare can learn from aviation teamwork and
safety (Além do checklist: o que mais a
saúde pode aprender do trabalho em equi-
pe e segurança da aviação, tradução livre)
– ainda sem tradução no Brasil –, Suzanne
cunhou um termo curioso para explicar a
rotina de comando exercida por muitos
médicos mundo afora: a hierarquia tóxica.
Uma definição que, segundo ela, ajuda a
entender uma série de condutas responsáveis por imprimir à atividade o rótulo
divinizado, do “Deus Médico”. “Muitos
médicos pensam que são especiais porque
lidam com a vida e a morte”, reflete Suzanne. “Contudo, o que eles demandam e
chamam de respeito é, na verdade, reverência, que pressupõe obediência e medo.
Algo perigoso quando se lida com vidas”.
Para sustentar sua tese, a pesquisadora foi
buscar na aviação lições que podem servir
de ensinamento para a atividade médica.
Segundo Suzanne, todos os dias, grandes
tragédias ocorrem em hospitais do mundo
inteiro por causa de erros médicos provocados pela hierarquia tóxica. “Nos aviões,
antes os pilotos se julgavam soberanos nas
decisões tomadas em situações de perigo
iminente, não dando ouvidos a copilotos
ou demais pessoas de posições hierárquicas inferiores à sua”, compara Suzanne.
Isso levou a tragédias como um acidente
entre uma aeronave da KLM e uma da Pan
Am na Espanha, em 1977 – o piloto da
KLM, Jacob van Zanten, um “medalhão”
com experiência de mais de 12 mil horas
de voo, fora imprudente ao ignorar alertas
do assistente de voo e havia decolado sem
a autorização da torre de comando. “Na
saúde, os médicos muitas vezes adotam
comportamento semelhante em relação
a assistentes e enfermeiros e tampouco
ouvem com a devida atenção as opiniões dos pacientes, colocando-se em uma
suposta posição de superioridade sobre
os outros na hora de tomar decisões”,
comenta Suzanne. Beyond the checklist
recebeu críticas de entidades médicas nos
EUA. A principal delas pelo fato de Susanne não ser médica. “Eles questionam:
ela não é da área. Como pode dizer alguma coisa?”, comenta a pesquisadora, que
pode bem ser definida como um antideus,
tamanho é o fervor na críticas à categoria, ainda bastante divinisada no Brasil.
“Quisera eu ser um agente empoderado
para combater a divinização da medicina. Acho que causaria mais impacto”, diz
Suzanne, sem esconder o bom humor. De
Richmond, Califórnia – onde mora –, a
pesquisadora falou à Diagnóstico.
Revista Diagnóstico – Como surgiu o termo hierarquia tóxica?
Suzanne Gordon – É possível ter uma hierarquia em que as pessoas ouvem umas às
outras e as decisões são colaborativas.
Nos casos abordados em minha pesquisa,
a hierarquia é perigosa, por justamente ser
individualista. Acho que o termo hierarDiagnóstico
11
ENTREVISTA
SUZANNE GORDON
“Os médicos costumam questionar: ela
não é da área, como pode dizer alguma
coisa? E é precisamente por não ser da
área que consigo ver coisas que eles
não conseguem ver”
quia tóxica define bem essa distorção.
Diagnóstico – Seu trabalho a credencia a
ser vista como uma espécie de antideus
em nosso país, onde o exercício da medicina ainda é bastante divinisado. Esse
rótulo a incomodaria?
Gordon – Quisera eu ser um agente empoderado para combater a divinização da
medicina. Acho que causaria mais impacto. Mas minhas ambições são mais
modestas: provocar uma reflexão sobre a
hierarquia tóxica na medicina.
Diagnóstico – Qual a principal crítica a
seu trabalho feita pelos médicos ou entidades representativas da categoria?
Gordon – Os médicos costumam questionar: ela não é da área, como pode dizer
alguma coisa? E é precisamente por não
ser da área que consigo ver coisas que
eles não conseguem ver. Quando é preciso mudar uma cultura, faz-se necessária
a ajuda de alguém de fora, porque quem
está dentro muitas vezes não enxerga que
não está tudo bem. O peixe não consegue
ver a água. As pessoas não se perguntam
por que fazem as coisas, simplesmente as
fazem para manter suas posições e o status quo. E acham que comunicação não é
tão importante quanto aprender procedimentos e atividades técnicas.
Diagnóstico – Críticos do seu livro dizem
que os parâmetros da aviação seriam
incompatíveis com a complexidade da
atividade médica. O que a senhora tem
a dizer?
Gordon – Vejo isso como um sinal da resistência deles à realidade. A medicina é
muito mais complexa quando se olha o
hospital como um todo, com tudo o que
acontece lá. Mas a maioria dos médi12
Diagnóstico
cos especialistas não lida com toda essa
complexidade, lida com a rotina de realizar determinadas cirurgias, atender a
um grupo específico de pacientes. Há um
componente de previsibilidade. E, se a
medicina é de fato tão complexa e imprevisível, é necessário tentar padronizar as
práticas de comunicação para minimizar
essa imprevisibilidade. A razão que leva
os médicos a dizerem que não podem
fazer isso é a mesma pela qual eles têm
que fazê-lo. Negar isso é uma tentativa de
manter a hierarquia.
Diagnóstico – No Brasil, costuma-se dizer que metade dos médicos acha que é
Deus, e a outra metade tem certeza. É
muito diferente nos EUA?
Gordon – Nos EUA eles pedem um respeito especial, acham que sabem tanto
que não têm nada a aprender com profissionais de outros segmentos, e que eles
nada têm a contribuir com as suas decisões. Pensam que são muito especiais
porque lidam com a vida e a morte, mas,
se de fato querem competir nesse sentido, precisam se lembrar de que um piloto
pode matar 150 pessoas de uma só vez,
algo que o médico levaria uma vida inteira para fazer. O que eles demandam e
que chamam de respeito é, na verdade,
reverência. Uma prerrogativa ligada aos
deuses, que pressupõe obediência e medo
– o que cria uma via de mão única. É perigoso. Respeito requer solidariedade, é
uma via de duas mãos. É a diferença entre
um líder ditador, a quem as pessoas obedecem por medo, e alguém que seguem
porque estão engajadas; a distinção entre
comandar e liderar.
Diagnóstico – Muitos dos erros médicos
cometidos na sala de cirurgia em hospi-
tais do mundo inteiro jamais são sabidos. Ser um médico pouco democrático
não ajuda a tornar esses episódios cada
vez mais recorrentes?
Gordon – Quando, na sala de cirurgia,
os profissionais se apresentam uns aos
outros, estabelecem um ambiente de colaboração e segurança. Não se trata apenas de se lembrar dos nomes depois – é
um ato e instrumento simbólico. Quando
cumprimento alguém com a mão direita,
e isso é um costume social, estou dizendo
à pessoa que não sou perigoso, que não
vou machucá-la. Em um workshop com
cirurgiões, diante da resistência dos médicos em se apresentar antes de iniciar uma
operação, com o argumento de que não
tinham tempo para isso, eu cronometrei
uma simulação de introduções entre as
pessoas da equipe. Foram necessários 19
segundos para as apresentações.
Diagnóstico – As atitudes dos médicos
para com suas equipes não poderiam ser
consideradas uma espécie de bullying
no trabalho?
Gordon – Bullying é algo muito específico, um grupo de pessoas que tem como
alvo um indivíduo. É diferente o que
acontece na assistência médica, em que
há uma questão mais geral de falta de maneiras humanas básicas de comportamento. As pessoas trabalham sem nunca se
apresentar umas às outras. E muitas vezes
os médicos tentam ensinar residentes humilhando-os, perguntando coisas que eles
não podem responder. Fazem isso para
mostrar o quão bons são. E há também a
questão da carga de trabalho. Na residência, os médicos chegam a ficar 16 horas
ou mais atuando, começam às cinco da
manhã e vão até dez da noite, não há um
limite. Ficam fatigados, o que causa um
impacto em seu humor. Ficam irritados.
E não comem, não almoçam, ficam com
fome, o que também os deixa de mau humor. Ainda que se trate de boas pessoas,
que queiram ser humanistas, estão muito
cansadas para interagir.
Diagnóstico – Há muito corporativismo
também entre os médicos americanos?
Gordon – Existe muita competição entre
os médicos, mas eles tendem a se unir no
sentido de formarem um grupo que exclui
os que não são médicos. E existe uma tradição de um especialista em determinado
campo da medicina consultar a opinião
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Diagnóstico
13
ENTREVISTA
SUZANNE GORDON
de especialistas de outras áreas. Há essa
cordialidade. Mas não é exatamente um
trabalho em conjunto. Um médico costuma consultar outros por meio de notas
e relatórios, por exemplo. Algo bastante
formal.
Diagnóstico – É possível medir o impacto nos escores de assistência de equipes
que trabalham de acordo com seu método?
Gordon – Sim, há muitos estudos e artigos a respeito, relacionando um bom
trabalho em equipe aos resultados no tratamento dos pacientes. Um exemplo é o
livro “Improving Patient Safety Through
Teamwork and Team Training” (Melhorando a segurança do paciente através do
trabalho e do treinamento em equipe, tradução livre), da Oxford University Press
(2013), escrito por dois especialistas no
tema, os professores Eduardo Salas, da
Universidade da Flórida Central, e Karen
Frush, da Universidade Duke (Carolina
do Norte, EUA). A publicação oferece
orientações práticas sobre a aplicação do
trabalho em equipe para produzir resultados positivos nos cuidados com os pacientes, com um olhar sobre a base científica do ‘teamwork’. A obra descreve de
forma assertiva como medir resultados e
monitorar o treinamento.
Diagnóstico – Por que a senhora decidiu
se dedicar a esse tema?
Gordon – Eu acabei me dedicando à segurança do paciente meio por acaso. Por
ocasião de um tempo que passei em um
hospital, aprendi sobre a importância da
enfermagem e comecei a escrever sobre
o assunto. Fiquei interessada nas relações
entre médicos e enfermeiros e depois
no trabalho em equipe, uma coisa levou
à outra. Além disso, sofri com um erro
médico, e foi algo bastante deprimente
em minha vida. Em uma cirurgia laparoscópica de emergência do apêndice,
em 2006, músculos do meu ombro foram
lesionados, e levei cerca de oito semanas
para me recuperar desse problema. Além
disso, tive retenção urinária pós-operatória, e durante oito meses precisei usar
um cateter para urinar. É difícil levar um
caso como esse, por não ser muito grave,
à Justiça. Nenhum advogado assumiria a
causa.
Diagnóstico – Quais os principais pro14
Diagnóstico
Shutter Stock/Direção de Arte
blemas nas instituições de saúde, atualmente, que “Beyond the Checklist” poderia ajudar a solucionar?
Gordon – O sistema americano de assistência médica não é seguro nem muito confiável. Quase 400 mil pacientes
morrem por ano nos EUA e mais de um
milhão e meio sofrem algum prejuízo devido a erros médicos que poderiam ser
evitados. Técnicas usadas em equipes de
aviação e treinamentos de segurança ajudariam a lidar com esses problemas. Em
aviação, os profissionais são treinados por
muitas horas ao longo de suas carreiras,
mas os hospitais se recusam a dedicar
tempo para isso. Na melhor das hipóteses,
oferecem uma hora de treinamento aqui,
outra acolá. E, quando há treinamentos superficiais, eles não ganham uma sequência,
as pessoas não aprendem a treinar umas
às outras, e as que dão o treinamento em
geral têm pouca experiência com segurança do paciente, trabalho em equipe e comunicação. Não é de se admirar que não
funcione.
Diagnóstico – Que aspectos contribuem
para os conflitos entre diferentes níveis
de profissionais nas instituições de saúde?
Gordon – Há tantos que é difícil enumerar. As pessoas têm medo de falar porque
temem retaliações, ou que serão humilhadas, ridicularizadas ou sofrerão bullying.
HIERARQUIA TÓXICA: o que os
médicos demandam e chamam de
respeito é, na verdade, reverência.
Uma prerrogativa ligada aos deuses,
que pressupõe obediência e medo –
o que cria uma via de mão única
Estão acostumadas a menosprezar quem
não tem o mesmo nível educacional que
elas. Assim, quando uma enfermeira diz
a um médico que algo talvez esteja errado com o paciente, ele não está treinado
para acolher essa informação e sim para
desprezá-la, porque a pessoa que a forneceu não tem status suficiente. Isso tem
sido efetivamente trabalhado na aviação,
fazendo com que capitães e autoridades
entendam que eles têm de ser os tomadores de decisão, mas que devem fazê-lo
usando todos os recursos disponíveis, o
que significa não só tecnologia, mas também as pessoas.
.
Elas também receiam que ninguém lhes
dará ouvidos ou agirá para mudar as coisas. Falta segurança psicológica básica
porque faltam habilidades básicas de trabalho em grupo. As pessoas nem mesmo
se apresentam umas às outras quando
entram no quarto de um paciente, pedem
alguma coisa ou interagem. Então, como
podemos esperar que haja trabalho em
grupo? Com frequência, falta o básico
da civilidade na assistência médica.Você
entraria na casa de uma pessoa sem se
apresentar e perguntaria onde estão as
facas, as cebolas e começaria a picá-las
na cozinha? Nos hospitais, as pessoas
que interagem entre si não param nem
por um nanossegundo para se apresentar.
Diagnóstico – Esses problemas surgem,
então, no topo da hierarquia?
Gordon – Eu não a ouço porque sou um
médico e você é uma enfermeira, ou você
é uma assistente de enfermagem e eu sou
uma governanta. Em assistência médica, a
hierarquia tóxica está presente em todo lugar. E claro que ninguém ouve o paciente
porque ele tem um status inferior a todos
os outros, particularmente se é pobre ou
de uma classe, gênero ou etnia diferente.
Diagnóstico – Como equilibrar o poder
dos médicos nas equipes?
“Quando uma enfermeira diz a um
médico que algo talvez esteja errado
com o paciente, ele não está treinado
para acolher essa informação e sim
para desprezá-la, porque a pessoa que
a forneceu não tem status suficiente”
Diagnóstico
15
ENTREVISTA
SUZANNE GORDON
“É muito difícil levar à Justiça um
erro médico. Os advogados não se
interessarão pelo caso, a não ser que se
trate de um dano muito sério. Eu mesma
fui vítima de um erro médico evitável que
afetou significativamente minha vida”
Gordon – Você equilibra o poder ensinando-lhes como liderar em vez de comandar. Os médicos não entendem que eles
podem ser a estrela do show, sem, não
necessariamente, ser o diretor. Eles precisam entender que solicitar informações
dos outros, receber feedback, ter pessoas
que os monitorem e os poupem de erros
não é um desafio à autoridade ou à liderança deles, e sim uma ajuda para liderar
de maneira mais efetiva. Há habilidades
que necessitam ser aprendidas. E os médicos também precisam trabalhar em sistemas que os permitam admitir erros e
falibilidade.
Diagnóstico – Os hospitais não investem
em treinamento?
Gordon – Pouquíssimos hospitais nos
Estados Unidos fazem um investimento
para rigorosamente treinar as pessoas em
trabalho em equipe. Eles irão, talvez, dedicar uma ou duas horas para esse tipo de
treinamento, com pouco “follow up” ou
“coaching”. O governo americano, por
meio da Agency for Research and Quality (AHRQ – agência de pesquisa e qualidade) e o Department of Defense (DoD
– departamento de defesa), tem realizado
um excelente treinamento de times, chamado TeamSteps. Ele foi projetado como
um programa de treinamento de dois dias
e meio. Entre os mais de seis mil hospitais dos EUA, um número insuficiente
utilizou o TeamSteps, e mesmo alguns
que o fizeram falharam no uso do treinamento completo e o reduziram a uma hora
ou duas. Muitos usam “treinadores” que
não são especialistas nem na metodologia
nem em treinamento de times, tampouco
estão equipados para lidar com a significativa resistência que encontram nas instituições em relação a trabalho em equipe
e colaboração. Isso está em contraste dire16
Diagnóstico
to com a indústria da aviação, que utiliza
treinadores profissionais muito capacitados para ensinar CRM (Gerenciamento
de Recursos Corporativos, sistema de formação profissional e compartilhamento
de informações) e outras metodologias de
segurança e trabalho em equipe.
Diagnóstico – E qual o papel das escolas
e universidades que formam esses profissionais? Elas não os ensinam habilidades básicas de trabalho em equipe?
Gordon – O treinamento em hospitais e
outras instituições de saúde é crítico, uma
vez que poucas escolas de medicina ou
de outras especialidades na área dedicam
tempo de suas grades curriculares para
ensinar técnicas de trabalho em equipe e
segurança. Há uma ênfase crescente em
educação interprofissional na América do
Norte, mas ela é feita por meio de programas que reúnem estudantes de diferentes
disciplinas em uma classe em um cenário
de simulação, mas a ênfase não é em ensinar habilidades concretas de trabalho em
equipe. Na maioria das instituições que
visitei, as simulações são muito orientadas para as tarefas, mas não incluem habilidades em trabalho em equipe e situações
de conflito. Na aviação, a simulação integra habilidades em trabalho em equipe,
comunicação e resolução de conflitos ao
ensino de tarefas concretas. Isso não é
feito em assistência médica, em que, na
verdade, as tarefas são conceituadas como
algo desconectado das redes sociais de
contatos nas quais são realizadas de fato.
A despeito de estudos que documentam
isso e do impacto do trabalho em equipe
nos resultados da assistência médica, falha-se ao integrar a evidência científica ao
ensino e à prática. Em meu trabalho com
escolas de medicina e de enfermagem,
descobri que os educadores médicos não
consideram o treinamento de trabalho em
equipe importante, e os educadores de
enfermagem pensam que as enfermeiras
e os enfermeiros já sabem como praticar
trabalho em equipe porque estão mais inclinados a dizer que ele é importante. Na
verdade, enfermeiros – cujo mantra profissional é que enfermeiros “comem” seus
jovens – não têm mais conhecimento sobre habilidades de trabalho em equipe que
os médicos e geralmente desempenham
mal seu papel em equipe porque não têm
treinamento em “teamwork”. Da mesma
forma, gestores em assistência médica
não são capazes de montar e liderar times
porque eles têm muito pouca familiaridade com as habilidades necessárias para
tanto.
Diagnóstico – O que cabe aos governos,
em termos regulátórios?
Gordon – O governo dos EUA não tem
um mecanismo para obrigar o treinamento de trabalho em equipe em hospitais ou
nas escolas que formam os profissionais.
Na aviação, o treinamento de trabalho
em equipe é normatizado pela Federal
Aviation Administration (FAA – administração federal da aviação) desde 1991.
Linhas aéreas comerciais têm de despender recursos em um treinamento sério de
times e outras habilidades de segurança
por meio de programas de Crew Resource
Management (gerenciamento dos recursos da tripulação), agora transformados
em Threat and Error Management (gerenciamento de ameaça e erro). São rigorosos
programas ministrados aos empregados
em sua orientação e em cada companhia,
em particular. A FAA não apenas obriga o
treinamento, mas também estipula o que
ele deverá ocasionar. Os pilotos também
são introduzidos ao CRM/TEM em suas
escolas de voo e têm de revisar suas habilidades nesses conceitos duas vezes por
ano ao longo de suas carreiras. Atendentes de voo o fazem uma vez por ano. Novamente: essa é uma exigência da FAA e
é de fato levada muito a sério.
Diagnóstico – Nada semelhante ocorre
na área da saúde?
Gordon – Não há algo equivalente na saúde. O regulador de fato na área nos EUA
é a Joint Commission on Accreditation of
Healthcare Organizations (JCAHO), que
diz que hospitais devem praticar trabalho
em equipe, mas não os faz cumprir ou es-
tipula como deveriam ser os programas.
Mesmo quando hospitais ou escolas de
formação de profissionais de saúde introduzem seu pessoal ou os estudantes ao
treinamento de trabalho em equipe, eles
geralmente o fazem ocasionalmente – e
não há exigência, nem dos profissionais
da saúde, nem de outros empregados que
revisem esse treinamento ao longo de
suas carreiras. A prática de habilidades
de trabalho em equipe deveria ser vista
com a mesma atenção que os hospitais e
as instituições de assistência médica dão
ao ACLS (Advanced Cardiovascular Life
Support – apoio avançado de vida cardiovascular), que é ensinado não apenas uma
vez e no qual se exige a recertificação
constante dos profissionais.
Diagnóstico – Os médicos ou outros profissionais são processados por essas mortes?
Gordon – Às vezes, mas é muito difícil
levar à Justiça um erro médico. Os advogados não se interessarão pelo caso, a não
ser que se trate de um dano muito sério. Eu
mesma sofri com um erro médico evitável
que afetou significativamente minha vida,
mas é tão difícil provar e ainda mais difícil
encontrar um advogado que assuma o caso
e que considere ser lucrativo o suficiente
para valer a pena o esforço. Acordos judiciais em geral previnem que as pessoas
falem sobre o que aconteceu como condição para o acerto, e assim soluções para o
sistema não podem ser desenvolvidas.
Diagnóstico – As instituições de alguma
forma protegem os profissionais envolvidos?
Gordon – Pouquíssimas instituições estão
interessadas em falar publicamente sobre
erros médicos ou revelar o que aconteceu.
Algumas, como a Johns Hopkins, no caso
de Josie King, tornaram públicos os episódios, mas essas instituições são poucas e
distantes entre si. A Cleveland Clinic, que
tem uma excelente reputação como líder
em assistência médica, quase perdeu seu
financiamento governamental de assistência anos atrás por falhas na divulgação de
informações sobre problemas de segurança dos pacientes.
Diagnóstico – Qual o papel do paciente
nessa discussão?
Gordon – Ele deve tentar aprender o máximo que puder sobre a situação, mas em
muitas ocasiões ele é impotente no processo, não sabe o suficiente para se proteger.
Chega um momento em que se torna totalmente dependente do conhecimento do
médico e tem de confiar nele. Assim, cabe
ao paciente encontrar um profissional que
o ouça, que explique os procedimentos
com base em argumentos técnicos e científicos, e não apenas com a premissa de
que “eu sou o médico”.
Diagnóstico – Acha mais seguro viajar de
avião ou enfrentar uma cirurgia comandada por uma equipe médica repleta de
médicos vaidosos e pouco colaborativos?
Gordon – Viajar de avião é muito mais seguro. Um número muito menor de pessoas
morre em acidentes de avião, na comparação com as que morrem em hospitais.
Diagnóstico – Como pesquisadora, nunca
enfrentou a hierarquia tóxica entre colegas?
Gordon – Ah, sim, claro. Isso está em todos os lugares. Trabalhei com pessoas terríveis e com pessoas maravilhosas. Veja
o que acontece na Coreia do Norte, por
exemplo. Olhe para o mundo. É um problema da espécie humana.
Divulgação
Segundo Gordon,
quase 400 mil
pacientes morrem por
ano nos EUA e mais
de um milhão e meio
sofrem algum prejuízo
devido a erros médicos
que poderiam ser
evitados
Diagnóstico
17
Ensaios
FRANCISCO BALESTRIN
CONSTRUINDO A EXCELÊNCIA
Q
ual é o papel do hospital na construção da
excelência do sistema de saúde. Esse foi o
nosso maior questionamento ao longo de
2015, compartilhado com renomados especialistas nacionais e internacionais em dois
workshops e no maior congresso de hospitais já realizado no país.
Como representante dos hospitais privados nacionais de referência, essa preocupação faz todo sentido. Isto porque, quando
recebemos um paciente agudo em um de nossos hospitais, é sinal
– na maioria das vezes – que o sistema de saúde falhou. O sistema
falha ao não prover as condições necessárias a uma vida saudável.
O sistema falha ao não criar mecanismos e estímulos para que o
paciente gerencie adequadamente a sua condição crônica. O sistema também falha ao não participar do esforço para que a segurança nas estradas e nas cidades do nosso país seja uma prioridade.
Para o hospital, chegam, muitas vezes, as consequências destas múltiplas falhas. E, para atendê-lo, devemos estar prontos, ter
capacidade e o domínio da técnica para dar a melhor atenção possível. E, mais do que isso, cabe a nós dar mais um passo e discutir
como criar valor para esse usuário da saúde.
O hospital não deve ser mais o começo ou o fim do sistema
de atenção à saúde. Ao contrário – o hospital deve assumir o seu
papel de elemento nuclear de uma rede integrada de cuidados com
a saúde. A discussão sobre valor dos cuidados com o paciente é
mais do que o restabelecimento da saúde. E, nesse sentido, temos
que considerar pelo menos três grandes desafios.
Os hospitais não podem criar valor sem considerar a visão do
paciente. Estamos na era da informação, e cuidamos de pessoas
cada vez mais informadas e conscientes das próprias necessidades. Precisamos empoderar os nossos usuários para que, juntos,
tomemos melhores decisões, com melhores resultados sob a ótica
do paciente.
Não podemos criar valor sem considerar custos. A sustentabilidade do sistema de saúde precisa ser uma preocupação primordial
de cada um de nós que atuamos no setor. A limitação de recursos
“
18
Diagnóstico
é um fato inescapável da realidade. É nossa missão para com a sociedade e para com os nossos pacientes, presentes e futuros, fazer
o máximo com aquilo que temos.
Não podemos criar valor sem considerar os resultados para o
sistema como um todo. Podemos servir melhor à nossa comunidade não apenas ao cuidar com eficácia dos atendimentos em eventos
agudos e graves, mas, principalmente, quando evitamos que estes
eventos venham a ocorrer, trabalhando para induzir saúde na população.
O hospital tem hoje um papel fundamental de garantir o acesso
à saúde. Somos a linha de frente de uma luta contra a dor, a doença
e a morte. Temos a missão de ser, nesta batalha, os mais valorosos
soldados; mas nosso papel não acaba aí. Devemos também ser os
mais astutos generais, mobilizando os recursos, o domínio do estado-da-arte da técnica, da ciência e da estratégia, e os líderes mais
capacitados para atingir os nossos fins: uma saúde melhor para os
brasileiros.
Os hospitais reúnem todas essas capacidades e podem ser, junto com outros atores, protagonistas importantes das mudanças necessárias para o nosso sistema de saúde. A nossa luta é diária para
a melhoria dos nossos processos, para que os protocolos sejam
cumpridos e para que os nossos pacientes recebam os cuidados
necessários em um ambiente de acolhimento, com segurança e resolutividade.
Para tanto, a nossa visão da construção da excelência assistencial exige, como base, três eixos estratégicos: o da inovação, que
permite trazer melhorias constantes no cuidado aos nossos pacientes; o da liderança, que permite que as melhorias sejam implementadas e que os pacientes sejam mantidos no foco das organizações; e o da construção de novos modelos, que olha para a frente
e pergunta como precisamos nos organizar para melhor cuidar das
pessoas no futuro.
Assim, a excelência é um exercício permanente – o único
capaz de disseminar as melhores práticas para o setor hospitalar
como um todo e agregar à cultura brasileira a saúde como um valor maior.
DE ACORDO COM RELATÓRIO DA ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), ENTRE 20% E 40% DE
TODOS OS GASTOS EM SAÚDE SÃO DESPERDIÇADOS
POR INEFICIÊNCIA. NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS, A
FRAUDE E OUTRAS FORMAS DE DESPERDÍCIO PODEM
REPRESENTAR UM CUSTO ESTIMADO DE US$ 12 BILHÕES
A US$ 23 BILHÕES POR ANO PARA OS GOVERNOS.
Shutterstock/Editoria de Arte
“
Shutter Stock/Direção de Arte
A EXCELÊNCIA É UM EXERCÍCIO PERMANENTE – O ÚNICO
CAPAZ DE DISSEMINAR AS MELHORES PRÁTICAS PARA
O SETOR HOSPITALAR COMO UM TODO E AGREGAR À
CULTURA BRASILEIRA A SAÚDE COMO UM VALOR MAIOR.
Francisco Balestrin
Presidente do Conselho de Administração da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) e Presidente eleito da Associação Mundial de Hospitais (IHF)
Diagnóstico
19
O maior evento
e
empreendedorismo
da medicina brasileira.
15 e 16 de Setembro de 2016
Insper | SP
UMA INICIATIVA
20
Diagnóstico
SPEAKERS
ARLEN MEYERS
Presidente da Sociedade Americana
de Médicos Empreendedores
CLAUDIO LOTTENBERG
CEO da lotten Eyes e presidente do
Hospital Israelita Albert Einstein
JORDAN COX
Vice-Presidente de Operações da Surgical
Care Affiliates (SCAI-Illinois)
NEYMAR LIMA
Médico Ortopedista e CEO Brazilian
Clinic (Miami)
RENATO SERNIK
Médico Radiologista e especialista
em Mercado Financeiro
PATROCÍNIO
APOIO
Diagnóstico
21
Roberto Abreu
ARTIGO
Daniela Ártico
O caso Unimed Paulistana
e as opções para
transferência da carteira
de clientes
E
stamos acompanhando pela imprensa as notícias
sobre a Unimed Paulistana e os rumos em relação aos beneficiários dessa cooperativa médica. A
Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS
determinou que a Unimed Paulistana transferisse
sua carteira de clientes a outra operadora, o que
chamamos de transferência compulsória. Tal medida trouxe grande impacto devido ao elevado número de vidas envolvidas na carteira em questão.
A transferência compulsória, no entanto, foi precedida de quatro
regimes especiais de direção fiscal e dois de direção técnica, implantados pela ANS desde 2009. Contudo, tais medidas não foram suficientes para reverter o gravíssimo quadro financeiro estabelecido.
Surge o questionamento: por que a Unimed Paulistana não alienou sua carteira de beneficiários antes da determinação que a tiraria
do mercado?
Sem dúvida vários fatores podem ser levantados, mas o principal que identificamos é o grande obstáculo imposto pelas regras da
Na Oferta Pública,
a empresa que oferecer melhores
condições de preço e cobertura
assistencial aos consumidores
poderá assumir a carteira..
ANS, que exige da operadora adquirente um aumento expressivo da
composição das suas garantias financeiras. Isso desestimula novas
aquisições, fazendo com que empresas de pequeno e médio portes
fiquem estagnadas, ou que saiam do mercado, absorvidas por grandes
empresas.
Ainda que seja de extrema importância que as operadoras de planos de saúde possuam lastros suficientes para garantia de sua atividade, não há que se negar que, ao trabalharem em caráter de mutualismo, quanto maior o grupo, menor o risco. Logo, com a redução do
risco, as exigências de garantias deveriam ser proporcionais e não o
inverso, como ocorre atualmente.
Sabedora das dificuldades envolvidas na aquisição de carteiras,
sejam elas voluntárias ou compulsórias, a ANS editou a RN 384,
que cria incentivos no processo de aquisição por oferta pública, mas
22
Diagnóstico
esses incentivos para que sejam eficazes, devem ser ampliados para
as transferências de carteiras de forma voluntária, ou seja, antes que
cheguem ao ponto extremo de uma alienação compulsória.
A RN 384 reduziu as exigências econômicas da operadora adquirente ao permitir que a mesma recalcule tanto a necessidade de ativos
garantidores por meio de metodologia própria, com diferimento da
necessidade de lastro, quanto o recálculo da sua necessidade de margem de solvência, ampliando seu prazo de diferimento.
Além disso, permitiu o ajuste atuarial para os novos produtos registrados para recepcionar cadastro de novos beneficiários.
Por fim, a referida norma, protege a operadora adquirente de não
ter contra si aplicadas as penalizações previstas no artigo 12-A da RN
nº 259/2011, pelo prazo máximo de dois períodos de monitoramento,
contados a partir do término do período de adesão aos contratos da
operadora que tiver a proposta autorizada. Desta forma, a operadora
ficará protegida quanto à penalização de proibição de comercialização de planos de saúde, causados pelo excesso de reclamações pelos
usuários. Outra vantagem é ficar protegida pelo mesmo período de
não ter contra si decretado regime especial de direção técnica.
Desta forma, a curtíssimo prazo, a Resolução 384 da Agência Nacional de Saúde representa um marco regulatório no procedimento de
oferta pública, o que certamente estimulará transferências de carteiras
de beneficiários por esta modalidade, mas não será suficiente para
transpor as barreiras da alienação voluntária, cujas regras engessam a
compra e venda de carteiras do setor.
Via de regra, quando não ocorre a alienação compulsória em 30
dias, inicia-se o processo de oferta pública, meio pelo qual a carteira
é alienada de forma semelhante a uma licitação. A empresa que oferecer melhores condições de preço e cobertura assistencial aos consumidores poderá assumir a carteira. Nesse momento, no entanto, já
não há manutenção das condições atuais, somente sendo preservadas
as carências cumpridas.
Mas, no caso Unimed Paulistana, não se chegou ao ponto da oferta pública, foi firmado um termo de ajustamento de conduta (TAC)
entre a ANS, o Ministério Público Federal, o Ministério Público Estadual de São Paulo e o Procon/SP, com a Unimed do Brasil, a Central
Nacional Unimed, a Unimed Fesp e a Unimed Seguros para acelerar
o processo de proteção dos consumidores e garantir a assistência aos
beneficiários da Unimed Paulistana, para que estas absorvam os antigos clientes da Unimed Paulistana. Para receber esses consumidores,
as operadoras que assinaram o TAC registraram quatro novos tipos
de planos de saúde individuais/familiares junto à ANS.
Essas reflexões revelam a urgente necessidade de revisão por parte da ANS das normas que regulamentam a transferências de carteiras
de forma voluntária, da mesma forma como foi feita pela RN 384.
Essa, no entanto, é restrita à transferência compulsória e, portanto,
não resolve o grande obstáculo do setor, que precisa urgentemente
de incentivos que movimentem a compra e venda carteiras. Essas
medidas podem evitar o caos que é o fim de uma operadora de plano
de saúde por meio da alienação compulsória.
Daniela Ártico é advogada pós-graduada em direito tributário material e
processual e especialista em direito contratual; atua nas áreas de direito
médico e saúde suplementar.
Diagnóstico
23
GESTÃO
SATISFAÇÃO DO CLIENTE
E quando o paciente
não tem razão
Ao contrário do comércio, na saúde e na educação dizer “não” quando os clientes
fazem coisas erradas é necessário para o êxito do tratamento ou do curso, quer isso
signifique obrigar o paciente a se exercitar ou o aluno a ser mais aplicado
Divulgação
Micah Solomon
é consultor em
experiência dos
pacientes, palestrante,
escritor
24
Diagnóstico
O
serviço prestado ao
cliente na área de
saúde e educação é
inerentemente diferente das situações
de atendimento ao
cliente comercial,
por uma razão em particular. O cliente
nem sempre tem razão.
Agora, você pode protestar e dizer
que o cliente nem sempre tem razão em
qualquer lugar – e você está correto. Mas
para empreendimentos comerciais a minha famosa regra de ouro aplica-se muito
bem em toda a linha: em um estabelecimento de varejo, embora o cliente nem
sempre tenha razão, vale a pena fazê-lo
sentir-se como se ele tivesse.
PARA SOLOMON, O ACOPLAMENTO
DE UMA ABORDAGEM DE AMOR
DURO COM O COMPROMISSO DE
CORTESIA É A RECEITA PARA
UM ATENDIMENTO HOSPITALAR
ADEQUADO
André Tapioca
EM UM
ESTABELECIMENTO
COMERCIAL, EMBORA
O CLIENTE NEM
SEMPRE TENHA
RAZÃO, VALE A PENA
FAZÊ-LO SENTIR-SE
COMO SE ELE TIVESSE.
NA EDUCAÇÃO E NA
SAÚDE, NO ENTANTO,
ESTA REGRA PRECISA
SER MODIFICADA
Na educação e na saúde, no entanto,
esta regra precisa ser modificada.
Na educação: você está tentando criar
acadêmicos e futuros cidadãos. Então,
amor duro e exigente é muitas vezes necessário: não a adulação de um imerecido
“sim”, mas a necessidade de dizer “não”
quando os clientes (alunos) fazem coisas
erradas, de forma que eles possam aprender para a próxima vez o que é necessário
para serem bem-sucedidos, quer isso signifique cumprir prazos, ser organizado ou
estudar de forma mais aplicada.
Na área da saúde, esse amor duro é
também muitas vezes necessário. Meu
amigo, Dr. James Merlino, usa o exemplo
de incentivar o paciente pós-cirúrgico a
se levantar e caminhar o mais rápido possível, apesar da infelicidade temporária
(e resistência) que isso traz para o cliente
/ paciente. E, claro, há a importância de
se recusar a mimar um paciente que pensa que a pizza é um vegetal ou aquele que
pensa que metade de um maço de cigarros por dia é um exemplo apropriado de
moderação.
Mas aqui está o que eu penso. Mesmo
que o cliente não esteja sempre certo nestas situações, ele não nos dá motivos para
tratar os clientes de forma menos atenciosa em outras partes da sua experiência do
cliente institucional.
Instituições sem fins lucrativos precisam desenvolver igualmente um alto
padrão de atendimento aos clientes, tal
como realizam suas operações comerciais. Porque ineficiência, grosseria e
uma atitude de “é assim que fazemos as
coisas por aqui, é pegar ou largar” não
vai ajudar a curar qualquer paciente, ou
qualquer estudante a sobressair. Isso não
é mais que um obstáculo.
O que vai ajudar é o acoplamento
de uma abordagem de amor duro com o
compromisso de cortesia, racionalização
e tomando o ponto de vista do paciente
ou do estudante. Descobrir maneiras de
ser mais ágil, mais disponível e fazer uso
do que a indústria privada pode nos ensinar: não apenas fazer benchmarking de
outras escolas ou hospitais, mas outros
grandes hotéis e grandes varejistas.
Não porque saúde e educação nunca
serão exatamente análogas a essas operações, mas porque fazer benchmarking
fora da sua própria indústria é muitas vezes a melhor maneira de melhorar a largas passadas.
Diagnóstico
25
Divulgação
ENTREVISTA
TÉRCIO KASTEN
O PRESIDENTE DA CNS, TÉRCIO KASTEN:
o dirigente comanda a entidade pelos
próximos três anos e um orçamento de pouco
mais de R$3 milhões por ano
26
Diagnóstico
APAZIGUADOR DE
PULSO FIRME
Eleito para comandar a CNS até dezembro de 2018, o biomédico catarinense Tércio
Kasten diz que dará mais poder aos presidentes das federações estaduais em sua gestão
e que a criação do Sistema “S” na saúde será uma das suas prioridades
E
Edson Valente
m outubro de 2015, o
biomédico catarinense
Tércio Kasten, de 69
anos, venceu a eleição
para a presidência da
Confederação Nacional
da Saúde com a maioria de votos. Mandatário da Fehoesc (Federação dos Hospitais e Estabelecimentos
de Serviços de Saúde do Estado de Santa
Catarina) e aliado do paranaense Renato
Merolli, que ocupou o cargo até o fim do
ano passado, Kasten disputou o mandato
com o médico nefrologista Yussif Júnior,
presidente da Fehoesp. Com a promessa de
descentralizar a gestão e buscar maior poder político para a CNS, o dirigente comanda a entidade pelos próximos três anos e
um orçamento anual de pouco mais de R$3
milhões. “Iniciamos o ano com a primeira
reunião dos oito presidentes das federações,
quando desenhamos o modelo de gestão
compartilhada que será implementado”,
antecipou Kasten, em entrevista à Diagnóstico. “Os presidentes das federações ocuparão espaços estratégicos dentro de um novo
modelo de governança.” A descentralização
nas decisões, contudo, não o fará abdicar
das convicções, que julga ser as melhores
para o setor. “Quero ser um porta-voz dos
nossos associados, um unificador das ações
com outras entidades que representam o
setor saúde, sempre de forma democraticamente compartilhada e, quando houver a
necessidade, com posições firmes”, afirma.
No que diz respeito ao exercício de um pa-
pel político mais significativo por parte da
confederação, ele não necessariamente passa pela ocupação do Ministério da Saúde por
um membro da CNS. Defensor do sistema
“S” para a saúde, o dirigente vê com bons
olhos a injeção de capital estrangeiro no setor, especialmente para a apropriação de novas tecnologias e novos conhecimentos de
gestão. Mas reconhece que ainda existem
muitas dúvidas sobre o tema: “Como são
investimentos que, via de regra, necessitam
de retorno financeiro, como seriam feitos no
SUS? O cidadão e os hospitais dependentes
do SUS serão atingidos?”, questiona ele,
que concedeu a seguinte entrevista à Diagnóstico.
Revista Diagnóstico – O senhor obteve nas
últimas eleições da CNS uma margem quase absoluta de votos. O que essa confiança
demonstrada pelo eleitorado representa
para seu mandato?
Tércio Kasten – Representa a aceitação de
minhas propostas para o formato de gestão
compartilhada que deveremos implantar
nos próximos três anos, gestão essa que
tem a ideia de mostrar mais a CNS para a
sociedade em geral e para seus próprios associados, suas bases. Representa também
uma grande responsabilidade frente à CNS
na proporção direta na confiança em mim e
nos nomes da nova diretoria, depositada na
urna em 1º de outubro de 2015.
“Sou um
entusiasta do
associativismo
como instrumento
indispensável
para uma
democracia plena
e fator importante
voltado para os
interesses de
nossa categoria.
Quero ser um
porta-voz
dos nossos
associados”
Diagnóstico – O senhor se elegeu com o
compromisso de dar mais protagonismo
Diagnóstico
27
ENTREVISTA
TÉRCIO KASTEN
às federações. Como isso se dará?
Kasten – Já iniciamos o ano com a primeira
reunião dos oito presidentes das federações,
quando desenhamos o modelo de gestão
compartilhada que será implementado na
CNS. Os presidentes das federações, que
são os vice-presidentes da CNS, ocuparão
espaços estratégicos dentro de um novo
modelo de governança que implantaremos.
É o que chamo de gestão dos oito presidentes. O papel desses dirigentes é tão importantes quanto o meu.
Diagnóstico – O que o senhor prevê em
termos de reforma estatutária na CNS?
Kasten – Na primeira reunião deste Conselho de Representantes da CNS, decidimos
que uma reforma estatutária será realizada
no tempo em que a necessidade para tal
ocorra. A primeira talvez seja no sentido de
estabelecer o protagonismo dos diretores na
gestão compartilhada, como citei anteriormente. Cada vice-presidente deve abraçar
responsabilidades de acordo com sua vontade. Um vice, por exemplo, pode cuidar
da arrecadação; outro, das relações com o
Congresso, cuja segunda maior bancada é a
de médicos. E também alguém que cuide do
sistema “S” da saúde. É preciso ainda que
um vice-presidente fique incumbido do relacionamento com os ministérios da Saúde
e do Trabalho – os mais importantes dentro
do nosso sistema, uma vez que somos um
sindicato patronal da área da saúde. Também pretendo contratar um diretor executivo remunerado que possa realizar uma gestão profissionalizada de governança. Não
sei quando será feita essa contratação, tudo
dependerá do nosso orçamento.
Diagnóstico – Acha que seu cargo deveria
ser remunerado?
Kasten – Não. O cargo é exercido voluntariamente com o intuito de representar
nossos associados, sem profissionalismo remunerado. Nosso cargo é político classista
e nossa remuneração provém de nosso exercício profissional particular, que nos habilita a esse exercício, de acordo com a legislação sindical brasileira, que também proíbe a
remuneração dos dirigentes sindicais.
Diagnóstico – Qual o orçamento da CNS
para 2016? Que impacto a crise pode ter
para a confederação?
Kasten – O orçamento da CNS para 2016
é de R$ 3,3 milhões e depende exclusiva-
28
Diagnóstico
“Novas propostas
e novas ideias
sempre são
bem-vindas.
Não vislumbro
uma reeleição.
A renovação é
muito importante,
e quero mostrar
isso no setor da
saúde, pois é algo
que nem sempre
ocorre na agenda
pública brasileira
de modo geral”
mente da contribuição (imposto) sindical
recolhido compulsoriamente pelos estabelecimentos prestadores de serviços de
saúde, com exceção dos filantrópicos e dos
optantes pelo Simples, e, também, da Contribuição Confederativa, que é associativa e
serve para a manutenção do Sistema Confederativo da Saúde. Há de se enaltecer que os
estabelecimentos públicos/governamentais,
por não fazerem parte de nossa representação, também não realizam o recolhimento
de qualquer espécie para o nosso sistema. É
preocupante a atual crise econômico-financeira do Brasil e seu aprofundamento nos
próximos anos, na medida em que a inadimplência no recolhimento das contribuições
citadas possa ocorrer, assim como o impacto do aumento da inflação nas despesas correntes da CNS.
Diagnóstico – Quando o país terá um ministro da Saúde pertencente aos quadros
da CNS?
Kasten – Não vejo a necessidade de um
nome oriundo da CNS para ocupar esse
cargo, pois o que vale é a capacidade do
ocupante em termos de conhecimentos
técnicos, além da importância política que,
espera-se, o cargo deve ter. A capacidade
técnica reside principalmente na realização
de um planejamento estratégico de longo
prazo para o setor, o que na atualidade não
existe, principalmente quanto à atenção e à
assistência hospitalar. Acho que a politização no modelo atual faz mal não só ao setor
saúde mas a toda a administração pública.
A nomeação para um cargo como o de ministro da Saúde não pode obedecer apenas a
interesses político-partidários.
Diagnóstico – Quando foi presidente interino da CNS, o senhor sempre teve um
perfil apaziguador, que costuma delegar
funções, mas ao mesmo tempo não abria
mão de implementar as ações que julgava
serem as melhores para o futuro da confederação. Qual será o perfil do presidente
eleito?
Kasten – Sou um entusiasta do associativismo como instrumento indispensável para
uma democracia plena e fator importante
voltado para os interesses de nossa categoria. Portanto, quero ser um porta-voz dos
nossos associados, um unificador das ações
com outras entidades que representam o
setor saúde, sempre de forma democraticamente compartilhada e, quando houver a
necessidade, com posições firmes. Meu per-
fil não é o de centralizar todas as operações.
Diagnóstico – Como o sistema “S” da saúde contribuiria para a solução dos problemas de assistência médica no país, em
particular a capacitação dos profissionais?
O que ele significaria em termos de capital
a ser investido no setor?
Kasten – Será um “novo dinheiro” para o
financiamento da saúde, mesmo que de forma indireta, e que terá grande influência na
capacitação da mão de obra dos trabalhadores do setor, em todos os níveis profissionais. Estimamos que a criação do Sistema
“S” na saúde representaria receitas adicionais em torno de R$ 400 milhões anuais, no
mínimo.
Diagnóstico – Como elevar o status político da CNS?
Kasten – Demonstrando ao governo e à
sociedade que a CNS representa o que há
de mais eficiente em termos de serviços de
saúde, cujos inúmeros modelos poderão auxiliar na gestão dos serviços públicos. Os
melhores hospitais brasileiros são os privados, que abrigam modelos de excelência,
tanto em assistência, quanto em gestão. O
SUS hoje segue um modelo que não tem
mais lugar na sociedade, com uma gestão
que muitas vezes custa cinco ou seis vezes
mais que a do serviço privado e com uma
eficiência muito menor. Estamos abertos
para ajudar na gestão do serviço público, de
modo geral.
Diagnóstico – O senhor acredita que a entrada do capital estrangeiro nos hospitais
pode melhorar a performance financeira
do setor?
Kasten – Acredito que sim. Ainda existem
muitas dúvidas sobre o assunto. Como são
investimentos que, via de regra, necessitam
de retorno financeiro, como seriam feitos no
SUS? O cidadão e os hospitais dependentes
do SUS serão atingidos? Já como apropriação de novas tecnologias e novos conhecimentos de gestão – como vemos em outros
setores da economia –, a entrada do capital
estrangeiro deve aumentar muito a performance do nosso setor.
Diagnóstico – O setor foi em 2015 um dos
poucos no país a ter saldo positivo entre
contratações e desligamentos, segundo
o IBGE. É possível fazer alguma estimativa sobre esse balanço para os próximos
anos?
“A falta de
planejamento
demonstra que
não há política de
saúde no governo,
com a exceção
dos programas de
imunização e de
medicamentos,
que são sucesso
porque foram
planejados para
longo prazo, antes
desta gestão”
Kasten – Acredito que manteremos os mesmos níveis de 2015, pois é um setor que
necessita de um número cada vez maior de
profissionais para dar assistência ao cidadão
brasileiro. Crises econômicas acarretam
uma maior demanda dessa assistência, em
qualquer lugar do mundo. As pessoas ficam
mais doentes. Pode ser que não haja mais
contratações, mas para haver demissões seria necessária alguma questão muito grave
no país, como o fechamento de hospitais.
Mas acho que não será o caso.
Diagnóstico – Como o aumento dos custos
hospitalares e a alta do dólar podem afetar a performance dos hospitais?
Kasten – Esta é uma situação que trará desconforto para o setor, pois o aumento dos
custos hospitalares e dos de outras áreas
como laboratórios, imagem e clínicas está
atrelado ao aumento da inflação da saúde,
que sinaliza para aproximadamente 20%,
vinculado ao aumento dos salários e dos insumos utilizados no setor. Tecnologicamente falando, o dólar tem influência relevante
nos custos hospitalares, uma vez que essa
tecnologia é praticamente toda importada.
Diagnóstico – Em poucas palavras, como
definiria A CNS que Queremos, o slogan de
sua campanha?
Kasten – A CNS que Queremos resumidamente será: mostrar a CNS para o Brasil;
construir uma gestão compartilhada; aprimorar o relacionamento com entidades parceiras; ajudar na solidificação da saúde suplementar; aprovar o projeto “S” da saúde.
Diagnóstico – O senhor pretende se candidatar às próximas eleições na CNS?
Kasten – A minha gestão é de três anos, encerrando-se no dia 31 de dezembro de 2018.
Novas propostas e novas ideias sempre são
bem-vindas. Não vislumbro uma reeleição.
A renovação é muito importante, e quero
mostrar isso no setor da saúde, pois é algo
que nem sempre ocorre na agenda pública
brasileira de modo geral.
Diagnóstico – Como avalia a política de
saúde do governo?
Kasten – O subfinanciamento e a falta de
planejamento demonstram que não há política de saúde no governo, com a exceção
dos programas de imunização de doenças,
dos transplantes e de medicamentos, que
são sucesso porque foram planejados para
longo prazo, antes desta gestão.
Diagnóstico
29
Divulgação
ARTIGO
Adriana Gasparian
Modelos de relacionamento
inovadores em saúde
O
setor de saúde apresenta modelos de relacionamento diversificados e muitas vezes conflituosos entre os diferentes participantes. Em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS), temos
conceitualmente uma abrangência universal
e que na realidade cuida de modo deficitário
de apenas uma parcela da população e que repassa à saúde suplementar os custos decorrentes de atendimento de
usuários que possuem planos de saúde. A saúde suplementar atinge
em torno de 25% da população sendo que o valor envolvido é muito
maior quando comparado ao do SUS, que atende aos outros 75% da
população. A tríade formada pelo prestador de serviços de saúde, paciente e fonte pagadora é complicada, uma vez que um terceiro arca
com os custos dos serviços prestados. A relação médico-paciente a
princípio pautada pelo estabelecimento de grau máximo de confiança foi deteriorada a ponto de uma consulta durar menos de cinco
minutos e o usuário do plano de saúde se colocar como um superconsumidor ávido por exigir que o médico solicite exames complementares de alto custo, gerando custos assistenciais desnecessários.
Paradoxalmente ao avanço da tecnologia médica, não observamos
diminuição significativa no headcount assistencial. Por sua vez,
os órgãos regulatórios em diversas situações criam regras a serem
cumpridas pelos prestadores e pelas fontes pagadoras e que antes
de serem pensadas em trazer maior eficiência aos processos trazem
entraves à cadeia de saúde. Os custos assistenciais decorrentes de um
cenário extremamente dinâmico tornaram-se insustentáveis e com
isso temos assistido ao surgimento de novos modelos de relacionamento em saúde.
Diante de um SUS deficitário e do alto custo de um plano de
saúde individual (não corporativo), a parcela da população que não
possui emprego formal vê surgir modelos alternativos de prestação
de serviços de saúde que deflagram esperança por um atendimento
de qualidade, acessível e adaptável a suas necessidades do momento.
Como exemplo, podemos citar as clínicas de consulta compostas por
médicos com boa formação técnica que se propõem a dedicar parte
de seu tempo a atender a preços acessíveis comunidades de baixo
poder aquisitivo. Esta iniciativa tem se mostrado um sucesso aos
empreendedores e ao paciente, que no curto prazo, tem seu problema resolvido. Este modelo de clínica tem se proliferado e, graças a
ele, uma parcela importante da população tem tido acesso a um atendimento digno. Também temos assistido, em formato de start ups,
modelos inovadores de financiamento da saúde através de cartões de
crédito voltados exclusivamente para esta finalidade, com envolvimento de instituições financeiras relevantes no Brasil e destinados a
ser usado em redes credenciadas específicas com agendamento online e com outras opções como forma de pagamento.
Do ponto de vista da relação médico-paciente, surgiram incontáveis aplicativos, ferramentas, blogs que possuem vários e diferentes
objetivos. Apenas para citar alguns: aumentar a velocidade da troca
30
Diagnóstico
de informação demandada pelo superconsumidor citado acima; alimentar base de dados das grandes empresas com informações geradas a partir de inocentes equipamentos que usamos no nosso dia a
dia na prática de esportes ou no registro de atividades da vida diária;
transmitir ao médico informação relevante em tempo real sobre o estado clínico e resultados de exames de pacientes entre tantas outras.
A questão primordial é: com qual grau de criticidade estamos avaliando estes criativos instrumentos que interferem na relação médico-paciente? Uma resposta de um médico por WhatsApp o protegerá nos casos de um desfecho infeliz de um caso? Será que queremos
fazer parte de uma base de dados que não gere informação inteligente
e que não se reverta em benefícios para a saúde populacional? Qual o
uso que fazem das informações geradas a partir de wearables acoplados ao nosso corpo? Como regulamentar e fiscalizar toda esta onda?
Estes questionamentos não traduzem uma postura retrógrada, mas
sim uma preocupação genuína com o impacto da entrada indiscriminada destes instrumentos no mercado da saúde.
A questão primordial é:
com qual grau de criticidade
estamos avaliando estes criativos
instrumentos que interferem na
relação médico-paciente?
Indubitavelmente grande parte das inovações traz eficiência à cadeia da saúde, contribuindo de forma consistente para otimização de
processos, acessibilidade, capilaridade e transmissão de informação
em tempo real. Como exemplos, podemos citar as centrais de emissão de laudos a distância e a telemedicina formal, criada dentro das
normas dos conselhos.
Levando-se em conta que a inovação pode contribuir para o aprimoramento das instituições e que a insustentabilidade dos custos assistenciais está gerando uma mudança na relação entre os players
envolvidos, um objetivo comum deveria nortear os esforços dos
líderes, buscando construir relações inovadoras, colaborativas, engajadoras e participativas. Neste modelo os principais beneficiados
serão as instituições, os pacientes e, de um modo mais abrangente,
a cadeia como um todo. O paciente deve ser colocado no centro de
todo o sistema a despeito dos demais fatores relevantes e como tal
deve ser tratado também como um participante ativo do sistema e
cada vez mais ser ensinado a ser o gestor de sua saúde. Toda a inovação trazida pela tecnologia móvel, pelos aplicativos e pelas demais
ferramentas, incluindo as mídias sociais, deve estar pronta e madura
o suficiente para permitir que uma nova era na área da saúde possa
ser implementada e assim contribuir de modo perene para a sustentabilidade do setor.
Adriana Gasparian é mestre em pediatria e tem MBA em economia e gestão
da saúde; atua como diretora da EY para a área de saúde e já trabalhou na
Amil e na Porto Seguro, na área de contas médicas.
grupofórmula
Diagnóstico
31
PERFIL
JOHN NOSTA
Nosta se apresenta como business
consiglieri, alguém em quem se
pode confiar e que vai ajudar na
evolução de seu pensamento e
na condução de sua estratégia de
engajamento de mercado
32
Diagnóstico
Divulgação
O CONSIGLIERE DA
GOOGLE HEALTH
O biomédico americano John Nosta é definido como um influenciador e um dos mais
admirados disruptores na saúde digital. A si próprio, prefere ser visto como um consigliere
– termo eternizado no filme O Poderoso Chefão. Mas do bem.
H
Filipe Sousa
arvard, Ogilvy, Forbes, Bloomberg e
Google. Quem não
gostaria de pertencer a qualquer destas organizações?
John Nosta estudou
fisiologia cardiovascular em Harvard, foi
chief creative officer, chief strategic officer
e president Unit da Ogilvy, a maior agência
de comunicação de saúde do mundo, opina
regularmente sobre saúde digital na Forbes
e Bloomberg e integra o conselho consultivo
da Google Health. Nosta é também fundador
e presidente da NostaLab, um think tank de
saúde digital que ajuda empresas na tarefa de
capacitar a inovação através de pensamento
estratégico e criativo.
John Nosta é mais um caso de sucesso de
2ª geração, imigração europeia para os EUA.
Seus avós emigraram da Europa Oriental,
da Romênia e da Polônia, e criaram raízes a
meia hora de Manhattan, em Perth Amboy
(NJ). Seu pai, John T. Nosta, era engenheiro
eletricista e apresentou a seu filho o universo
da eletrodinâmica, incutindo nele a curiosidade em saber como as coisas funcionam. Rose
Nosta, uma CEO do lar, presidia ao conselho
de administração doméstico que geria toda a
educação de John e sua irmã Nancy. Nancy,
oito anos mais velha que John, se tornou uma
pintora expressionista abstrata, professora e
líder educacional das belas-artes. A criatividade parece ser algo genético nos Nosta, mas no
caso de John teve uma forte influência do pai e
da lógica científica que norteava sua profissão.
Nosta também tem um lado de facilitador,
de tradutor da ciência, da medicina e do digital. Já Einstein defendia que “você não enten-
de realmente algo, a menos que você consiga
explicá-lo para sua avó.” E Nosta tem essa capacidade, ele sabe explicar os temas científicas mais complexos para sua avó. Até mesmo
em espanhol, idioma que aprendeu ao lidar
com a populosa comunidade porto-riquenha
de Perth Amboy.
O sonho de John T. Nosta era que seu filho
fosse médico. Aos 16 anos, John frequentou
um programa avançado de verão em Harvard, em seguida explorou a área de trauma
médico móvel, tornando-se paramédico na
sua cidade. Estavam concluídos os alicerces
para se concretizar o desejo do pai Nosta e o
filho Nosta entrou na Universidade de Boston
em uma graduação em biofísica. Em seguida,
John passou um ano fazendo pesquisas na
Harvard Medical School e foi orientado por
vários médicos, incluindo o chefe de cardiologia (naquela época) Thomas Smith. Foi ideia
do Dr. Smith que John seguisse um programa
de PhD. “Entrei na faculdade para estudar fisiologia. Eu sempre tive um grande interesse
em medicina, mas descobri que os meus interesses iam bem além da medicina, em áreas como criatividade, arte, filosofia. E acabei
achando a medicina, naquele momento, uma
área muito chata, em última análise. Eu tive
uma oportunidade fantástica em Harvard de
falar com algumas das pessoas mais inteligentes nessa área. Tendo esse luxo, não falávamos
sobre detalhes de medicina, mas de questões
de geopolítica, de amor, de arte.
Mas John estava interessado em explorar uma realidade mais vasta. Então, deixou
Boston e se mudou para Nova Iorque, onde
se tornou escritor e pensador. Nosta deixou a
investigação médica em fisiologia cardiovascular para desespero de seus pais, mas não
Vivemos em um
ponto de inflexão
da história
humana em que
a evolução da
tecnologia, o
desejo de reforma
dos cuidados
de saúde,
as questões
do poder do
paciente, estão
todos juntos e as
coisas vão mudar.
sem antes publicar com seus mentores, por
exemplo, no American Journal of Cardiology.
Isso foi algo que lhe deixou ensinamentos importantes, que acabaram sendo a base para sua
apetência pela saúde digital.
“Comecei a trabalhar na indústria de ciências da vida, como pensador criativo e estratégico para grandes farmacêuticas. Esse foi o
início da minha transição. Foi aí que ganhei
competências que me deram um pouco da experiência real para moldar a forma como olho
para o mundo e para a saúde e a medicina,
Diagnóstico
33
PERFIL
JOHN NOSTA
sempre muito próximo da medicina e inovação, mas olhando sob uma perspectiva diferente”, conta John Nosta.
Ele acredita profundamente na simbiose entre o poder da capacidade humana e o
poder da tecnologia, em como a aliança entre ambos pode melhorar a nossa saúde. E é
com entusiasmo e paixão pela saúde digital
que fala com outras pessoas sobre o assunto.
Uma paixão reconhecida por seus pares, por
pacientes, médicos, indústria farmacêutica,
pelas empresas de tecnologia, por analistas
e jornalistas. Foi escolhido como um dos Influenciadores de Saúde Digital, em 2015, Defensor de Topo da Revolução Digital de Saúde, Pensador Líder de Saúde Digital, Futurista
de Saúde Digital e é assinalado como um dos
Influenciadores do Top 25 em Big Pharma.
John Sculley, ex-CEO da Apple Computers
e Pepsi, afirma que “John Nosta fornece uma
perspectiva abrangente sobre o movimento
de saúde digital. Com sensibilidades únicas
para a ciência, engajamento do consumidor
e marketing da marca, ele combina a paixão
com conhecimento e oferece mais do que um
discurso, ele fornece uma conversa engajada
que informa e move sua audiência. O domínio do conhecimento de John da medicina,
Ninguém está
mais surpreso
do que eu. Todo
mundo tem
algum desejo de
ajudar a mudar
o mundo, eu
queria usar meus
pontos fortes
na comunicação
e ciência para
ajudar a alavancar
a saúde digital
em uma realidade
prática.
34
Diagnóstico
tecnologia e marketing faz dele um observador atento da saúde digital e um dos poucos
capazes de articular claramente a importância
deste movimento na história da humanidade”.
E Gil Bashe, vice-presidente executivo, diretor de prática de saúde da Makovsky & Company, alinha pelo mesmo discurso e acredita
que “John é um pensador talentoso capaz de
ver peças do puzzle e visualizar todo o quebra-cabeça em conjunto. John é capaz de ver
como os clientes de saúde, a viagem do produto e o sucesso se cruzam. Em um mundo
digital de convergência, John é um essencial
em qualquer equipe Quando John tem uma
ideia, ouça!”.
John diz que tenta entender tendências e
dados de uma forma básica e fundamental.
Depois tenta interpretar dentro de um contexto social ou clínico ou de saúde digital. E acredita que tudo o que escreve vem de uma perspectiva assente numa base factual. Mesmo as
pessoas que leem a Forbes ou que assistem à
Bloomberg muitas vezes ainda não possuem
conhecimento para compreender uma área
nova ou emergente e a sua percepção é superficial. “Acredito que os meus leitores querem
um determinado nível de análise e uma voz informada que proporcione uma visão mais profunda. Eu gosto de levar as ideias para locais
novos e inesperados. Em saúde, isso acontece
fazendo perguntas essenciais, olhando para a
natureza da inovação e como essa inovação
se encaixa nas necessidades clínicas, sociais
e financeiras.”
Aceitou integrar o conselho consultivo da
Google Health e conta que as suas expectativas estavam em aberto. “Acho que esperamos
sempre surpresas da Google. Na verdade, pessoalmente foi uma oportunidade de me sentar
em uma sala com pessoas realmente inteligentes e falar sobre o que está acontecendo no
mundo e ter essas pessoas compartilhando sua
sabedoria comigo.”
Na opinião de Nosta, as empresas de tecnologias vão facilitar grandes avanços em saúde sem nem saberem. Empresas como Google
e Microsoft estão atuando no espaço da saúde
por existir uma convergência única de múltiplos fatos. “Primeiro, existe uma necessidade
urgente, segundo, existe a oportunidade tecnologica para executar. Em terceiro, existe um
sentimento de deslumbramento na sociedade,
a tecnologia é parte fundamental das nossas
vidas e nós a abraçamos de formas novas e
emocionantes. Existe também um imperativo
moral que nos leva a fazê-lo. Vivemos num
momento em que a oportunidade e a tecnologia estão se encontrando”.
A Ogivly foi sua casa durante dez anos, foi
chief strategic officer e chief creative officer,
o que era uma combinação singular. Muitas
vezes os estrategistas são analíticos e olham
para o mundo de uma maneira muito factual,
enquanto um criativo é mais eclético, olhando
para o mundo com uma visão totalmente diferente. “Para mim foi uma oportunidade excepcional para olhar para o setor de healthcare e
filtrar a informação através de um cérebro que
está sintonizado numa frequência criativa.”
Vê a indústria farmacêutica enquanto indústria que muda as nossas vidas e, literalmente,
salva vidas. “É extraordinariamente interessante trabalhar para essa área enquanto criativo, pois é também extraordinariamente regulada. Cada frase que sai desse setor é revista
cada vez menos pelos criativos, e cada vez
mais pelas pessoas dos departamentos legais e
regulatórios.” É um desafio, mas John ri e diz
que fazemos as coisas, não por serem fáceis,
mas por serem dificeis, por serem aliciantes e
por poderem mudar nossas vidas.
Redes sociais
“A pasta dental já saiu do tubo e não volta
a entrar”. Na área de saúde algumas pessoas
ficam nervosas, pessoas que não acham que os
pacientes devam comentar sobre a qualidade
do hospital ou sobre a competência clínica de
um médico. Nosta crê que a inteligência coletiva dos pacientes é tão ou mais inteligente
que a do médico. “Vamos supor que um casal
tem um filho com câncer. Esses pais têm um
conhecimento extraordinário da condição de
saúde do filho, das pesquisas sobre câncer e
das questões particulares do câncer do filho.
Quando esse conhecimento é compartilhado
com outros pais que compartilham quer o poder intelectual, quer a experiencia emocional,
o que obtemos é um resultado importante, poderoso e profundo que pode acrescentar algo
à intervenção que tradicionalmente seria oferecida pela comunidade farmacêutica e clínica
para abordar o problema de saúde. Não é algo
trivial, é um aspecto transformativo dos cuidados de saúde.” O paciente já está redefinindo a
saúde e a medicina como as conhecemos. E as
escolas médicas estão treinando médicos para
ser menos intimidadores para os pacientes.
Um importante fator de mudança quando falamos no movimento de saúde digital é
a telemedicina. “É, cada vez mais, a primeira linha de defesa”, diz Nosta. Representa a
possibilidade de interagir com um médico de
forma imediata e rápida aos primeiros sinais
de doença ou mal-estar, pode ajudar a colocar
o paciente no caminho para uma terapia mais
eficiente, mais econômica e mais poderosa
clinicamente. “É uma oportunidade para providenciar mudanças disruptivas fundamentais
na assistência médica, principalmente em
pontos de necessidade urgente, como certos
países em desenvolvimento, onde as pessoas
não têm qualquer acesso a cuidados de saúde,
aí a telemedicina pode proporcionar mudanças fundamentais.”
NostaLab
Os avanços na tecnologia são perturbadores, desafiadores e capacitam um novo
“coletivo social” que irá mudar a medicina
na sua essência. Por isso, o think tank NostaLab propõe a criação de uma nova sociedade
médica. A premissa do NostaLab é empoderar
inovação através de pensamento estratégico e
crativo eficaz. Nosta usa uma comparação interessante: “Por vezes quando você tem uma
grande ideia é como piscar o olho no escuro.
Você sabe que está piscando, mas ninguém
mais sabe. É importante comunicar as ideias
de forma eficaz para criar uma estratégia de
mercado. Por exemplo, muitas vezes as pessoas dizem ‘se eu construir, os interessados vão
aparecer’. E isso não é verdade. Se você construir um dispositivo ou tecnologia de saúde
digital, você precisa engajar uma comunidade
própria, seja a comunidade hospitalar, médicos, para obter validação, ou conectar com os
consumidores ou pacientes e levar a inovação
na direção deles. Não é algo em que tenha que
escolher um ou outro, por vezes é uma combinação. E pensamos formas de criar marketing
e publicidade para ajudar a comunicar isso da
maneira mais eficaz e mais eficiente. Convém
lembrar que muitas empresas digitais não têm
orçamentos grandes e mesmo as grandes companhias que têm orçamentos maiores limitam
os montantes disponíveis para testar essas
ideias.
É aqui que surge o NostaLab, um grupo de
consultores que ajudam a providenciar pensamento fundamental em torno de inovação de
saúde digital e também dão segunda opinião
a empresas farmacêuticas, agências de publicidade e firmas de RP, que lhes permitem reavaliar suas linhas de pensamento do ponto de
vista de alguém que tem uma visão de quem
está por dentro.
Business consigliere
O NostaLab não é um anjo, pois não financia. Nem mesmo é um cupido, pois não cau-
sa paixão entre projetos e investidores. Nosta
encontrou no filme Godfather (O Poderoso
Chefão) a definição mais correta para a sua
função. É um business consigliere, alguém em
quem se pode confiar e que vai ajudar na evolução de seu pensamento e na condução de sua
estratégia de engajamento de mercado.
Nosta quer transformar a saúde digital em
uma realidade prática para ele, o setor de saúde necessita de plataformas de colaboração
para permitir que os médicos trabalhem em
torno de processos como investigação, prática
clínica, educação continuada, saúde digital e
medicina digital. Mais do que IA, ou inteligência artificial, estamos presenciando, graças
à tecnologia, o aparecimento de AI, aumento
de inteligência.
Para ser pensador, criativo, filósofo, conselheiro, Nosta analisa o seu papel como paciente que ambiciona uma interação com a
medicina que melhore a experiência humana e
traga mais valor à vida. A medicina não pode
ser apenas um meio de solucionar problemas
de saúde. Nosta acredita que o digital tem tudo
para tornar completamente diferente a relação
do paciente com a medicina. Para melhor.
Divulgação
JOHN NOSTA: o norte-americano
acredita que é preciso engajar
uma comunidade para obter
validação, conectar com os
consumidores ou pacientes e levar
a inovação na direção deles
Diagnóstico
35
ANÁLISE
INTERNET DAS COISAS EM SAÚDE
Fanem 2015
SAÚDE DAS COISAS
Internet das coisas é um conceito muito amplo. Abrange aplicativos, dispositivos,
equipamentos e já apresenta soluções que estão otimizando processos de gestão no setor
de saúde. Apesar de estar em desenvolvimento em vários países, no Brasil ainda dá os
primeiros passos.
Filipe Sousa
NO SETOR DA SAÚDE
Está proliferando a quantidade de
empresas que atuam na área de internet
das coisas (IdC), na parte de plataformas, equipamentos e aplicações. Na área
de saúde, lá fora, a grande evolução está
principalmente com a parte de monitoramento de equipamentos e pacientes dentro
de unidades hospitalares. Douglas Pesavento, CEO da Sensorweb, dá o exemplo
dos equipamentos já integrados ao sistema de gestão do hospital, mas afirma que
isso é algo que está ainda engatinhando
no Brasil. Existem padrões de comunicação hospitalar, como o protocolo HL7,
que permite interoperar sistemas na área
de saúde – equipamentos, software, banco de dados – e integrar todas as informações. Isso está bem evoluído lá fora, nos
EUA, Europa, Japão, e os equipamentos
36
Diagnóstico
já estão saindo da fábrica com a comunicação embarcada e permitindo integrar ao
sistema de gestão dos hospitais.
NO BRASIL
Alguns hospitais de referência - Albert
Einstein, Rede D’Or, Icesp - estão começando agora a colocar isso como requisito
de compra. É algo muito recente, em fase
muito embrionária. Também a rastreabilidade de medicamentos está padronizada no
exterior. Ou seja, temos uma tag associada
ao medicamento que me dá todo o movimento dele, como correu e que me permite
ativamente saber a localização dele. Essa
é a área de IdC que tem crescido mais no
Brasil, mas ainda é pouco utilizada, especialmente em ambiente público, que tem
muito controle manual de medicamentos.
Isso faz com que a perda aumente, seja
por vencimento ou por armazenamento em
condições não adequadas. Algumas pesquisas apontam que temos 15 a 20% dos medicamentos falsificados, então a rastreabilidade dos medicamentos ajuda nesse tipo de
controle também.
LÁ FORA
Uma área que já tem soluções no estrangeiro é o monitoramento de insumos como
líquidos e gases. Monitorar cilindros de hélio e gases especiais para a área de saúde é
ainda muito manual. As pessoas têm que se
deslocar periodicamente até os locais para
ver se é necessário trocar. No estrangeiro
isso já tem soluções, já está integrado no
sistema de gestão. Quando o nível do gás
está crítico, dispara automaticamente um
processo de compra. É algo que aqui lemos,
mas ainda não se vê na prática.
O controle de dispositivos vestíveis para
monitoramento de pacientes traz bastante
benefício para os hospitais, o que lá fora é
bastante utilizado. As próprias farmacêuticas usam isso para testes de medicamentos,
monitorando um paciente que está usando
um medicamento em fase de teste, antes da
aprovação. Mas isso está em fase de desenvolvimento, especialmente no Brasil, pois
é necessário avaliar quais as soluções que
têm uma boa relação custo-benefício. A população que tem dependência de alguém,
que precisa de cuidados, tem a tendência
de crescer e existe uma expectativa de que
essa população dependente deve ultrapassar a população dita produtiva, uma meta
apontada para 2025, o que abre um leque
muito grande de oportunidades para os vestíveis. Uma vez que você monitora o paciente, você pode trabalhar proativamente,
verificar se ele está fazendo os exercícios
regularmente, se está tendo os cuidados
necessários, apoiar na indicação de medicamentos. Ainda é, hoje, muito incipiente.
INVESTIMENTO
A eficiência da monitorização do paciente tem vindo a se comprovar e existem
reais vantagens sobre a internação. Nos
EUA e na China existe financiamento público para vestíveis, o Estado está ajudando
as pessoas a adquirir esse tipo de equipamento pensando numa qualidade de vida e
numa redução de custos do próprio sistema. No Brasil, vemos um aumento dos planos de saúde – atingiu quase 30% em 2015
-, comparativamente com outros países
como os Estados Unidos, onde a cobertura
engloba quase 90% da população. Dentro
dos planos de saúde, existe o interesse em
investir no monitoramento dos pacientes,
especialmente idosos ou pacientes com
problemas críticos. Já estamos comprovando os benefícios disso, evitando ter o paciente internado, reduzindo custo e conseguindo acompanhar o paciente diariamente
e proativamente.
No Brasil deveremos ter várias frentes:
os planos de saúde que vão disponibilizar
isso para determinados perfis de pacientes,
como os idosos, o próprio governo fomentando, mas não num curto prazo, e vai ter
até o caso de famílias com poder aquisitivo
contratando serviço de monitoramento diretamente com as empresas que oferecem
esse tipo de serviço. Ainda existe a possibilidade de certos médicos ou as clínicas
particulares disponibilizarem esse tipo de
solução. Não há clareza quanto às formas
como isso irá surgir, mas com toda a certeza não irá surgir de uma única forma.
SEGURANÇA DOS DADOS
De acordo com artigo do médico escocês Des Spence, no British Medical Journal, os dispositivos vestíveis e apps de
saúde são meros adornos comparáveis a
brincos e colares. Para o médico de Glasgow, “Estes dispositivos e apps são incertos, os dados recolhidos não são confiáveis
e muitos desses instrumentos não foram
testados e não são científicos. A humanidade está perdendo tempo monitorando a vida
em vez de vivê-la”. A segurança e privacidade dos dados são outras falhas apontadas
por Spence.
Douglas Pesavento diz que isso é algo
crítico no mundo inteiro, com casos de dados de planos de saúde e de hospitais que
foram roubados ou extraviados, recuperados após o pagamento de milhares de dólares. Não há registro de casos de extravio
de dados no Brasil, pelo menos na área de
saúde. Mas é verdadeiro que há lacunas que
vêm sendo corrigidas na infraestrutura de
informação e telecom e de transmissão de
dados. São coisas que atrasam a evolução
da IdC, mas que obrigam a melhorar, tendo
em consideração onde e como se guarda a
informação, quem tem acesso a essa informação. São pontos críticos, requerem uma
estrutura segura e fazem com que se trabalhe para melhorar a segurança dos dados e
informações.
2016 É CEDO DEMAIS
Hoje em dia a IdC para a área da saúde ainda está começando. Temos soluções,
temos empresas iniciando nessa área, temos fundos de investimento, o primeiro
fundo nasceu recentemente, em 2015, em
São Paulo. Tem um tempo de maturação
para isso e o próprio panorama do Brasil é
complicado. Grande parte do investimento
do setor de saúde vem do setor público e
é sabido que há uma recessão. O próprio
Ministério da Saúde admitiu que a situação
está ruim, mas pode piorar, o que faz prever
dificuldades na evolução. Na parte privada,
com a abertura ao investimento estrangeiro,
está tendo muito movimento de fundos estrangeiros querendo investir em hospitais e
estruturas, principalmente, o que pode trazer alguma evolução na área privada. O ano
de 2016 não será o boom da IdC na saúde
brasileira, mas será um ano de validação, é
o ano em que poderemos validar a viabilidade financeira e vai permitir testar essas
tecnologias e ter mais contato com isso, se
familiarizar com esse tipo de solução, criar
uma segurança na hora de apostar na tecnologia de IdC. Isso é algo que a Sensorweb
percebe de forma intima, um processo pelo
qual passou e passa na hora de demonstrar
para o cliente o quanto a solução é eficaz,
qual o retorno do investimento que ele faz.
Na área de saúde, é necessário provar por
A+B que vai haver ganhos com a aposta
em IdC. Hoje em dia, isso é algo possível
de fazer com base em clientes existentes,
apresentando históricos, o que se conseguiu evitar de perdas, como foi possível
tornar os processos mais eficientes, o que
agregou de valor em termos de qualidade e
segurança de paciente.
UMA SEGUNDA OPINIÃO
Roberto Cruz, CEO da Pixeon, falou
recentemente sobre como a internet
das coisas pode ser um dos novos pilares da saúde. Internet das coisas (IdC)
ou internet of things (IoT) é a comunicação entre “produtos do cotidiano”
e a internet de forma a proporcionar
ao usuário maior conforto e praticidade na hora de planejar atividades
que dependam de alguma tecnologia.
Dispositivos que lançam alertas, equipamentos programados para realizar
uma determinada ação em determinado horário e com uma determinada
periodicidade, ou os já famosos aparelhos para monitoramento e os dispositivos vestíveis. Mas existem aplicações mais complexas de IdC, algo que
seria mais futurista, como dispositivos
subdérmicos colocados no paciente
para monitorar os níveis de açúcar ou
sensores ingeríveis, que controlam os
efeitos de um medicamento. A internet das coisas pode proporcionar um
conjunto de vantagens, que vão da
área clínica à área financeira, reduzindo custos e aumentando a qualidade
da assistência, diminuindo as perdas
e os erros e majorando a eficácia dos
tratamentos.
Diagnóstico
37
ANÁLISE
INTERNET DAS COISAS EM SAÚDE
Como funciona?
Cases de sucesso
O Brasil está ainda engatinhando no que diz respeito à
internet das coisas, no entanto, existem casos práticos dos
pequenos avanços que vão já se registrando. A Sensorweb
apresentou alguns desses casos que já são uma realidade
no setor de saúde brasileiro
Sensores monitoram
suas unidades
Enviam dados para
uma plataforma segura
e de alta disponibilidade
Você acessa informações
de qualquer dispositivo
via internet
38
Diagnóstico
INSTITUTO DO CÂNCER DE SÃO
PAULO - ICESP
O Icesp possui mais de 100 equipamentos
monitorados, distribuídos em 27 andares.
Antes da Sensorweb, os registros
principalmente fora do horário comercial
(noite, feriados, fins de semana) eram feitos
pelos técnicos a cada quatro horas, ou seja,
nem terminava de anotar as informações
já tinham que recomeçar para dar conta.
Ou seja, nestes horários alocavam
praticamente uma pessoa dedicada a
isso. Além da questão de tempo e de
pessoas, o processo manual não garantia
a confiabilidade necessária, ou seja, após
a implantação do Sensorweb, os dados
históricos de monitoramento e alertas
no momento exato permitiram à equipe
de manutenção trabalhar proativamente
nestes problemas e conseguir evitar
perdas. Os alertas e informações gráficas
permitiram também fazer uma manutenção
preditiva de equipamentos, o que não
acontecia anteriormente, pois os registros
eram pontuais de quatro em quatro horas,
não permitindo identificar problemas ou
falhas nos equipamentos.
maior confiabilidade com a automação
do registro. Também contribuiu para a
conquista da certificação internacional da
AABB (Associação Americana de Bancos
de Sangue).
HEMORREDE DE SANTA
CATARINA - HEMOSC
São monitorados mais de 400 equipamentos em 23 unidades do Hemosc. Antes da
Sensorweb, era necessário deslocar pessoas durante fins de semana, feriados e à
noite para as unidades a fim de realizar
o registro da temperatura a cada quatro
horas, conforme legislação. Também havia alocação de pessoas por 24 horas em
algumas unidades mais críticas, para realizar este registro. Além de reduzir estes
custos, o sistema permitiu monitorar o
sistema constantemente em tempo real e
não somente a cada quatro horas, trazendo
inúmeros benefícios, como a verificação
de problemas em equipamentos, disparo de alertas no momento do problema e
RESUMINDO OS GANHOS
- Redução na frequência de falhas nos
equipamentos, pois a atuação em alarmes
permite antecipar algumas quebras;
- Redução do risco de perda de produtos,
com casos reais em que foram evitadas estas perdas;
- Verificação de problemas dos freezers
através dos gráficos e alertas que o sistema possibilita;
- Melhoria na logística de manutenção,
permitindo uma vez identificar equipamentos com problemas, planejar melhor
sua manutenção;
- Redução no tempo gasto com as atividades de registro e verificação manuais;
- Registo em tempo real, o que permite correção imediata de eventuais anomalias.
INSTITUTOS DE PESQUISA
Em instituições de pesquisa, onde são armazenados materiais com vários anos de
estudo ou com vários anos de armazenamento, os equipamentos monitorados possuem valores muitas vezes inestimáveis,
devido ao grande esforço de equipe, tempo
de estudo e materiais utilizados. Em dois
casos a Sensorweb foi efetiva no monitoramento, enviando os alarmes nos momentos
críticos em que os ultrafreezers de armazenamento ficaram inoperantes, permitindo
aos responsáveis tomar as devidas ações
e não perder o material destes equipamentos. Em outros dois registros de fatos, que
aconteceram no Instituto Carlos Chagas da
Fiocruz em Curitiba e também no Centro
de Desenvolvimento Científico (CDCT)
vinculado ao Governo do RS, a perda evitada foi superior ao investimento na solução
de IdC.
A medicina avança em vários centros mundiais.
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Diagnóstico
39
MUNDOCOMPLIANCE
SETOR DA SAÚDE BUSCA VACINAS
CONTRA CONTAMINAÇÃO DIGITAL
Sistemas de proteção são necessários para blindar tráfego de dados em meio digital
Edson Valente
Divulgação
HOSPITAL DE GRENOBLE, NA
FRANÇA, ONDE O HEPTACAMPEÃO
DO MUNDO MICHAEL SCHUMACHER
FICOU INTERNADO: prontuário do
piloto alemão foi parar na mão de
criminosos
A
ssegurar ao mesmo
tempo a transparência e a blindagem dos dados é o
grande desafio do
compliance na área
da saúde. Afinal, se
da agilidade e da precisão no fluxo das
40
Diagnóstico
informações dependem as diretrizes adotadas no cuidado com os pacientes, também existe o risco de que elas caiam em
mãos indevidas. Foi o que aconteceu, por
exemplo, com os prontuários do ex-piloto de Fórmula 1 Michael Schumacher –
o criminoso os ofereceu a vários jornais
em troca de dinheiro. Schumacher sofreu
um acidente quando esquiava nos Alpes
franceses, em dezembro de 2013, e desde
então sua família não divulga informações sobre seu estado de saúde.
O ano de 2015 marcou o recorde de
danos causados no setor nos Estados
Unidos, segundo dados do US Department of Health and Human Services pu-
OFERECIMENTO:
blicados em matéria do jornal Financial
Times de 21 de dezembro. Oito dos dez
maiores ataques de cibercriminosos em
instituições da saúde no país em todos
os tempos aconteceram no ano passado.
O saldo dessas investidas: os bandidos
se apropriaram de dados de 100 milhões
de pessoas, a maioria provenientes dos
arquivos da seguradora Anthem – informações como nome, data de nascimento e número do seguro social de 78,8
milhões dos clientes da empresa foram
roubados provavelmente por uma organização chinesa, com o suposto objetivo de entender como funciona o sistema
americano e copiá-lo.
A vulnerabilidade do meio digital
a fraudes nas operações de liberação
e autenticação dos dados tem sido amplamente abordada, e não só nos EUA,
quando se trata hoje de compliance em
saúde – mesmo porque pontos que se
sabe de acesso dos criminosos que poderiam ser mais bem vigiados ainda são
usados para ataques como o sofrido pela
Anthem. O hacker, no caso, valeu-se
da estratégia chamada “phishing”, um
e-mail disfarçado de mensagem interna
da empresa, mas que continha um link
fraudulento para a invasão do criminoso.
Para Gustavo Artese, especialista em
compliance da HMO Advogados, a preocupação com a proteção das informações
deve partir dos gestores dos hospitais. “O
estabelecimento de normas precisa ser de
cima para baixo”, diz. Além da adoção
de sistemas de blindagem via softwares
e hardwares – “firewalls” e antivírus nos
computadores, por exemplo – e de medidas como restrições de acesso, o uso de
criptografia e a realização de auditorias
periódicas, é fundamental o treinamento
da equipe médica para o uso consciente
de e-mails e do WhatsApp. “Há aplicativos semelhantes a esse específicos para a
classe médica. É recomendável a adoção
de ferramentas que não sejam abertas
para outros fins.”
São vários os benefícios do uso da
tecnologia em compliance no setor, segundo Artese. Muitos deles contam
pontos a favor da eficiência administrativa das instituições: a maior facilidade
na estratificação de dados relacionados
asua saúde financeira, por exemplo, bem
como a transparência nos processos contábeis devido à diminuição de lançamentos manuais.
“A evolução da automação na área
da saúde acelerou durante os anos 2000,
quando as instituições passaram a adotar
prontuários eletrônicos integrados com
módulos administrativos, os HIS (Hospital Information System), movidas pelas
necessidades de melhorar os processos,
aumentar a transparência e facilitar a
gestão”, afirma Denis da Costa Rodrigues, gerente de TI do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz.
Os prontuários eletrônicos dos pacientes permitem a rastreabilidade dos
acessos realizados – quem acessou,
quando e por qual equipamento – e favorecem a redução de erros de interpretação dos dados, além de estar à mão dos
médicos mesmo fora do hospital – o que
é crucial para a rapidez no atendimento
dos pacientes.
Com a identificação mais precisa
de quem acessa o prontuário e o uso de
certificados digitais para a assinatura
de registros eletrônicos, a segurança da
informação é reforçada, de acordo com
Rodrigues. “O prontuário em papel que
estiver no balcão da enfermaria ou na
beira da cama do paciente fica muito
mais vulnerável, pois pode ser visto por
qualquer pessoa que passe por ali”, especifica Robson Miguel, diretor comercial
da Pixeon, empresa de soluções de tecnologia para a área da saúde.
Uma das vantagens dos sistemas informatizados é multiplicar de forma
rápida e eficiente conhecimentos que
otimizam os resultados das práticas
hospitalares. “A informatização é mola
propulsora para implementar, a um custo menor, controles que seguem regras,
padrões e procedimentos homologados
e testados em várias instituições”, diz
Miguel. “Nos últimos 12 anos houve um
grande avanço em relação a isso.”
Esses controles, no entanto, não são
inflexíveis, ressalta. “Sempre há livre arbítrio. Muitos procedimentos dependem
do cruzamento de informações em uma
ciência que nem sempre é exata. É possível mudar a prescrição de um medicamento para determinado paciente e não
seguir a dosagem indicada pelo sistema,
mas o que for feito, por quem e em que
horário ficará registrado.”
Alguns regulamentos dão suporte
ao desenvolvimento da automação em
compliance na área da saúde no Brasil
– caso da resolução CFM nº 1.639/2002,
que define normas técnicas para o uso de
sistemas informatizados para a guarda
e manuseio do prontuário médico. Essa
resolução dispõe sobre o tempo de guarda dos prontuários e estabelece critérios
para a certificação dos sistemas de informação. A resolução CFM nº 1.821/07
também versa sobre o tempo de guarda
dos prontuários e determina regras para
o uso da assinatura digital.
Se todos os setores da saúde se beneficiam com a entrada de novas tecnologias
– “desde o SUS, que pode implantar políticas de saúde pública de maneira mais
eficiente, até os hospitais, que podem
controlar a eficiência de seus tratamentos clínicos, e os planos de saúde, que
podem realizar análise de performance
de suas redes referenciadas” –, o Brasil
ainda possui um mercado muito imaturo, principalmente se comparado aos dos
EUA e do Canadá, na visão de Rodrigues, do Oswaldo Cruz. “Temos poucas
soluções especializadas, o que torna o
processo de automação ainda lento.”
Essa imaturidade também se aplica
aos sistemas de proteção de dados, segundo Edgar D’Andrea, sócio da consultoria PwC, que publicou em dezembro
sua Pesquisa Global de Segurança da
Informação, com dez mil entrevistados
de 127 países. “Os donos ou executivos principais das instituições se dizem
preocupados com a questão, mas só um
terço deles declarou estar preparado para
detectar um incidente de segurança e
responder a ele”, diz D’Andrea. “Há um
descompasso.”
No estudo, 18,6% das empresas do
setor da saúde na América do Sul afirmaram não ter detectado qualquer incidente relacionado a segurança de dados
nos 12 meses anteriores à realização das
entrevistas, que foram feitas entre maio
e junho de 2015. “E aí fica a pergunta:
não houve realmente ataques a esses respondentes ou eles não souberam detectá-los?”, questiona o sócio da PwC. “Acho
que acontecem as duas coisas”, avalia.
Diagnóstico
41
Divulgação
ARTIGO
Paulo Lopes
Planejamento e gestão:
receita para a crise
E
m tempos de instabilidade econômica e política como
a que atualmente vivemos, vem à tona o planejamento estratégico e o modelo de gestão como elementos-chave na consistência e no processo decisório em
empresas de diferentes setores econômicos. A incapacidade de equilibrar a tensão entre as estratégias e as
opiniões é generalizada no meio empresarial. Nesse
contexto, as empresas precisam ser administradas de forma efetivamente empresarial com estabelecimento de estratégias que, interligadas com
os diferentes status operacionais, favoreçam as mensurações mais eficazes
dos resultados, organizando ações gerencias para que ocorra uma melhor
comunicação interna, focando o aumento da produção, da produtividade e
da lucratividade.
Todos nós sabemos que a gestão empresarial é a espinha dorsal de
qualquer organização que busca sua sobrevivência, crescimento e perpetuação. Hoje, os investidores não avaliam somente os ativos das empresas
e seu market share e Ebitda, mas principalmente a sua equipe de gestão.
Logo, é necessário estabelecer um modelo de gestão com foco no processo de tomada de decisões e nas principais ferramentas necessárias para
uma efetiva gestão, que é o tradicional e negligenciado planejamento, organização, execução e controle das organizações.
Entende-se como modelo de gestão um conjunto de princípios e metas
1 - Planejamento empresarial
O processo de planejamento empresarial é muito mais importante
do que seu produto final, que normalmente são os objetivos, indicadores,
metas, planos e orçamento.Se não for respeitada essa hierarquia, têm-se
planos inadequados para a organização, bem como uma resistência e descrédito efetivo para sua implementação.
2 - Indicadores de performance
Os indicadores ou índices de performance nos permitem avaliar
até que ponto as atividades e ações deveriam estar sendo desenvolvidas na organização, se estão progredindo, sendo concluídas, ou ainda
merecendo foco e a atenção da equipe.
Os indicadores precisam ser derivados da estratégia e objetos da organização.
3 - Custo padrão
É fundamental para qualquer organização a fixação do custo de produção tanto para produtos como para serviços, pois tem importância especial
para tomada de decisões.
O custo padrão é um custo predeterminado, calculado a partir de processos padronizados. Também é uma ferramenta chave para a performance
da organização.
4 - Programa de redução de
desperdício
É fundamental criar uma cultura de
redução de desperdício, pois focar na
redução de custos pode ser algo passageiro. É preciso criar e implantar uma
cultura organizacional que objetive a luA crise de gestão pode ser revertida com a formação cratividade e a rentabilidade. Para isso, é
fundamental focar em gestão de pessoas, materiais, máquinas e equipamentos,
de uma equipe gerencial com novas pessoas
tempo, energia, espaço físico e dinheiro.
trazendo novos modelos gerencias, integrando
Uma ferramenta chave é a adoção
de uma eficaz gestão orçamentária. A
novos conhecimentos junto aos gestores mais
crise de gestão pode ser revertida com a
formação de uma equipe gerencial com
experientes da organização.
novas pessoas trazendo novos modelos
gerencias, integrando novos conhecide como a organização deve ser administrada, assegurando que os ob- mentos junto aos gestores mais experientes da organização.
jetivos serão alcançados, e os riscos, minimizados, tendo em vista a sua
As crescentes exigências do mercado reunidas às pressões exercidas
eficácia (fazer a coisa certa) e a eficiência (fazer certo as coisas).
dentro da cadeia de cada setor econômico exigirão tomadas de decisões
A partir do modelo de gestão, é fundamental o direcionamento para com maior capacidade, aumento de eficácia gerencial e, na verdade,
integração entre o planejamento e o controle.
quatro áreas-chave para obtenção do lucro:
Uma ferramenta chave é a adoção de
uma eficaz gestão orçamentária.
Paulo Lopes é CEO do Grupo Organiza, headhunter, coach, palestrante e
autor do livro “Segredos de um Headhunter”.
42
Diagnóstico
Diagnóstico
43
André Tapioca
ENSAIO
PACIENTE CONSUMIDOR
O DEBATE SOBRE
NOMENCLATURA
PACIENTE OU
COSUMIDOR ESTÁ
CRESCENDO E É MAIS DO
QUE UMA QUESTÃO DE
SUTILEZAS SEMÂNTICAS
Como a tecnologia está
transformando pacientes
em consumidores
Para o consumidor tecnologicamente focado, a palavra “paciente” soa como algo
paternalista e antiquado. Ele está convencido de que médicos se opõem ao termo
“consumidor” por estarem preocupados com ameaças a sua situação profissional e com
medo de serem relegados para o papel de funcionários de varejo muito bem pagos
Robert Pearl
44
Diagnóstico
O
debate sobre nomenclatura está crescendo
e é mais do que uma questão de sutilezas
semânticas. Entre defensores apaixonados
de ambos os lados da discussão, as emoções são fortes.
Às vezes vemos a nós mesmos como
pacientes, incluindo quando aguardamos
cirurgia para solucionar uma inflamação aguda do apêndice. E
em outras vezes, como quando comparamos os custos e benefícios de diferentes planos de saúde, somos claramente consumidores.
Mas a maior parte do tempo somos ambos. E, focando em
um contra outro, revela-se não só uma falsa dicotomia, mas também perigosa para a nossa saúde e nosso bolso.
Como prejudicar os pacientes prejudica os consumidores
As decisões de preços ultrajantes recentes na indústria farmacêutica demonstram o porquê. Quando um medicamento de
US$1 mil por comprimido foi introduzido para tratar a hepatite
C, rapidamente seguido por uma terapia de US$1.125 por comprimido, “pacientes” não tiveram escolha a não ser pedir essa
medicação e “consumidores” não tiveram escolha a não ser pagar a despesa do seu bolso.
Os novos medicamentos eram caros para se desenvolver,
mas se o preço fosse fixado racionalmente, poderia ter acabado
por valer a pena tanto para os pacientes quanto para os consumidores. Tivesse a Gilead, a empresa que adquiriu o medicamento,
cobrado o mesmo pela medicação que o desenvolvedor, Pharmasset, havia dito a analistas que cobraria – cerca de US$36.000
pelo tratamento inteiro - ambos pacientes e consumidores teriam
se beneficiado. E o fabricante teria colhido um justo retomo sobre o investimento.
Mas não foi isso que aconteceu.
Em vez disso, quando a Gilead comprou a empresa por
US$11 bilhões, sabia que independentemente do preço, os médicos iriam prescrever a terapia e, além disso, que as pessoas
– quer elas se vissem como pacientes ou consumidores - teriam
pouca escolha senão obter a droga e pagar cada vez mais caras
coparticipações, cosseguro e prémios no futuro. Sem desculpas
– e sem investir um valor significante de dólares em pesquisa
e desenvolvimento adicionais –, a Gilead triplicou o preço. O
resultado é que o paciente e o consumidor estão pagando o custo
hoje e a empresa vai lucrar US$ 200 bilhões com sua decisão.
Se ao menos a ganância tivesse parado aí, teria sido uma
situação única, refletindo um grande avanço na assistência médica. Mas não. A decisão de preço da Gilead rapidamente sinalizou que nem os consumidores nem os pacientes estavam em posição de dizer “não”, e, como resultado, o céu era o limite para
as empresas farmacêuticas e os seus acionistas. A Valeant logo
comprou os direitos para dois medicamentos bem estabelecidos,
que enfrentam pouca ou nenhuma concorrência, e imediatamente elevou o preço de um em mais de 200% e em outro em mais
de 500%. Esta empresa de capital aberto, de acordo com o New
York Times, gasta pouco em P&D.
E, como a imprensa tem destacado, qualquer um com capital
pode lucrar com vendas de produtos farmacêuticos hoje em dia.
Martin Shkreli, um gerente de fundo de investimento se tornou
CEO farmacêutico, recentemente comprou os direitos de um me-
DO MESMO JEITO QUE O
CONSUMIDOR E O PACIENTE
SOFREM AO MESMO TEMPO,
AMBOS SE BENEFICIAM QUANDO
UM DELES SE BENEFICIA
dicamento essencial, disponível há mais de meio século - e que
não tem equivalente alternativo - e imediatamente elevou os preços em 5.000%. Felizmente o ultraje público fê-lo voltar atrás.
Dada a resposta negativa, talvez o mundo farmacêutico vá
frear, mas o aviso é poderoso. Quando o paciente é feito refém,
o consumidor paga o preço.
Por que as demandas por tecnologia fazem de nós consumidores
Do mesmo jeito que o consumidor e o paciente sofrem ao
mesmo tempo, ambos se beneficiam quando um deles se beneficia. Os consumidores adoram alta tecnologia, e os pacientes
desejam alta qualidade – e a maioria de nós quer ambas.
Aqueles que insistem em nos chamar de “consumidores”
acreditam que a alta tecnologia pode resolver quase todos os desafios da saúde. Eles argumentam que, na era digital, o controle
passou para o indivíduo e deve continuar assim. Eles esperam
ser capazes de obter acesso aos serviços em qualquer lugar, a
qualquer hora.
Afinal, se os “consumidores” podem agendar um voo ou
comprar um produto a partir de um país distante através da internet “24 x 7”, por que eles precisam ligar para um consultório médico entre as 9h e as 17h, de segunda a sexta-feira, para
marcar uma consulta? Para um defensor dos consumidores, isso
é praticamente pré-histórico. E eles perguntam se enquanto
“consumidores” podemos pesquisar qualquer tema e responder
a qualquer pergunta que vem à mente através do Google. Em
seguida, por que não deveríamos ter mais controle sobre nossas
próprias escolhas de cuidados de saúde?
Eles acreditam que à semelhança do que tem acontecido em
viagens, varejo e finanças, uma vez que as ferramentas de engajamento proativo em saúde – agendamento direto, controle de
informação pessoal e acesso de vídeo e e-mail a qualquer hora
e em qualquer lugar – estejam amplamente disponíveis, a nossa
saúde irá melhorar e os custos de saúde irão diminuir.
Para o consumidor tecnologicamente focado, a palavra “paciente” soa a algo paternalista e antiquado. Ele está convencido
de que médicos se opõem ao termo “consumidor” por estarem
preocupados com ameaças a sua situação profissional e com
medo de serem relegados para o papel de funcionários de varejo
muito bem pagos. Os consumidores percebem a resistência dos
médicos a tecnologia como egoísmo, apontando, como um caso
em questão, como a medicina organizada no Texas tentou restringir o uso alargado de ferramentas como consultas por vídeo e
fotografia digital devido à ansiedade causada pela concorrência
de médicos de fora da comunidade.
Diagnóstico
45
ENSAIO
PACIENTE CONSUMIDOR
Por que o desejo de alta interatividade faz de nós pacientes
Os médicos entendem que os cuidados de saúde se baseiam
não só no conhecimento especializado, mas também na capacidade de construir a confiança. Eles reconhecem o poder da relação médico-paciente e seu impacto positivo na cura, na adesão
do paciente a terapias mutuamente acordadas e em melhores resultados clínicos.
Médicos experientes estão convencidos, também, que a medicina continua tanto arte quanto ciência, e temem que uma lógica
de “um tamanho único” poderia levar não à excelência, mas à
mediocridade. E lamentam que o computador tenha se interposto
tão intrusamente entre eles e seus pacientes na sala de exame e,
também, o tempo que o universo digital requer diariamente.
Os médicos que preferem o conceito de “paciente” veem
o modelo de “consumidor” como ingênuo e incompleto. Eles
lembram às pessoas todas as razões pelas quais a faculdade de
medicina requer quatro anos e formação médica geral, uma década ou mais. Eles temem que os empresários de Silicon Valley
vão convencer as pessoas de que o que eles mais precisam é de
monitoramento contínuo de ECG e medição excessiva de outros processos fisiológicos, quando, na prática, as informações se
mostram em nada mais úteis do que receber atualizações sobre
o índice Dow Jones Average de um consultor financeiro a cada
cinco minutos. Eles temem que colocar todos esses dados em
registros de saúde eletrônicos vá distrair do mandato central de
cuidar de pacientes. E como pacientes, o velho ditado - “Ninguém se importa o quanto você sabe, até saberem o quanto você
se importa” - soa verdadeiro.
Nossas identidades como pacientes e como consumidores
Então, quem somos, pacientes ou consumidores? A realidade
é que de vez em quando somos um ou o outro, mas a maior parte
do tempo, somos ambos.
Aqui estão três exemplos reveladores:
1. Desejos complementares
Na maior parte de nossas vidas agimos como consumidores
escolhendo de longas listas de médicos, utilizando qualquer critério que preferirmos. E nós queremos decidir se temos nossos
problemas médicos abordados e nossas perguntas respondidas
através de um e-mail seguro, uma fotografia digital ou uma consulta por vídeo.
Mas, se desenvolvermos uma doença grave ou enfrentarmos
decisões de fim de vida, nós nos voltamos para os médicos que
conhecemos e em quem confiamos para explicar a situação e serem honestos sobre o resultado provável. Nós ainda queremos tomar nossas próprias decisões sobre o que para nós é qualidade de
ENTÃO, QUEM SOMOS, PACIENTES
OU CONSUMIDORES? A REALIDADE
É QUE DE VEZ EM QUANDO SOMOS
UM OU O OUTRO, MAS A MAIOR
PARTE DO TEMPO SOMOS AMBOS.
46
Diagnóstico
vida, mas nós valorizamos os médicos que podem nos envolver
em uma profunda e honesta conversa, cheia de carinho e compaixão - algo que computadores hoje não podem providenciar.
2. Pesando qualidade dos cuidados em relação ao custo
Como consumidores, estamos interessados no preço de tudo e
queremos controlar quanto gastamos. Enfrentando custos dedutíveis cada vez mais elevados, queremos tomar as decisões sobre se
tomamos medicamentos de referência ou genéricos e quão longe
nós estamos dispostos a viajar para obter uma tomografia computadorizada de alta qualidade ao menor preço. Afinal, isso é o que
fazemos quando compramos um bilhete de avião ou compramos
um carro.
Mas quando precisamos de uma cirurgia importante ou um
tratamento para uma condição potencialmente fatal como o câncer, vemos o mundo de forma diferente. O custo de repente já
não é um fator importante a considerar. Rapidamente mudamos
a nossa mentalidade de consumidor para paciente, querendo os
melhores tratamentos e esperando que outro, seja o governo ou
o seguro comercial, cubra os enormes custos que serão gerados.
3. Quando alta tecnologia, quando alta interatividade?
Quando temos problemas de rotina, como infecções na garganta ou dor nas costas, desejamos conveniência e a alta tecnologia é uma importante avenida. Procuramos informação em tempo
real, facilmente acessível, sobre as nossas necessidades de saúde
e queremos ser capazes de ir online e obter o teste e medicamentos que precisamos tão facilmente e intuitivamente como quando
compramos e vendemos ações. E um número crescente de pessoas quer ler atentamente a literatura médica e decidir com seu
médico o rigor com que sua pressão arterial ou glicose no sangue
devem ser controladas. Durante esta parte de nossas vidas, o consumismo é rei.
Mas para as pessoas com múltiplas condições crônicas que
tomam uma meia dúzia ou mais drogas, todo esse processo pode
ser esmagador. Eles buscam um médico que lhes transmita confiança, que coloca seus interesses em primeiro lugar. Sob essas
circunstâncias, eles são mesmo muito pacientes e seguem com
afinco as instruções de um especialista.
E, como resultado, ao longo de nossas vidas, nós acabamos
sendo ambos.
O que somos, quando e por quê
O debate sobre consumidor versus paciente é importante e valoroso, pois ele irá conduzir médicos e hospitais a abraçar quer o
atendimento personalizado quer a tecnologia. Esperemos que isso
vá encorajar os legisladores a controlar essas ações de empresas
farmacêuticas que ameaçam o bem-estar de ambos. E talvez o
debate faça com que empresários se concentrem em investir em
nova tecnologia que realmente vá melhorar a saúde das pessoas,
não apenas gerar dados pensando nos dados. E o mais importante:
ele tem o potencial para inspirar cada um de nós para amar os
valores do passado enquanto exige as ferramentas do futuro.
Robert Pearl é médico formado pela Escola de Medicina da Universidade de
Yale, com residência em cirurgia plástica e reconstrutiva na Universidade
de Stanford, onde ensina estratégia, liderança e tecnologia. É colunista da
revista Forbes. Publicado com autorização.
Diagnóstico
47
ÉTICA NA SAÚDE
HOSPITAIS COMPLIANCE
CARTA DE SÃO PAULO: assinatura
do compromisso setorial lança
desafio para criação de códigos de
conduta das instituições de saúde
Cultura de compliance essencial
para identificar e corrigir erros
A segunda edição do Fórum Hospitais Compliance acolheu personalidades de
referência da saúde brasileira e autoridades mundiais de compliance. O evento foi
coroado com a assinatura da Carta de São Paulo e o anúncio do Prêmio Ethics.
A
Reportagem: Filipe Sousa
Fotos: Ricardo Benichio
pós o amplo consenso saído do primeiro fórum Hospitais Compliance sobre a
necessidade que o setor de saúde tem de
adotar uma postura mais ética, havia chegado a hora de dar mais um passo à frente. Encontrada a resposta para “o quê?”,
a pergunta que se seguia era “como?”. E,
para dar essa resposta, o mais importante encontro sobre a sustentabilidade da saúde brasileira levou a São Paulo, nos dias 5 e 6 de novembro, os maiores nomes da saúde do país, para discutir o futuro
de um mercado que representa 10% do PIB brasileiro – cerca de R$
396 bilhões. Uma série de debates, liderados por alguns dos principais especialistas em compliance do mundo, criando um painel
com análise, críticas e soluções para a construção de uma agenda
positiva para o setor. Sempre com foco em experiências bem-sucedidas de ética e regulação no ambiente corporativo da saúde. Don
Sinko, CIO da Cleveland Clinic, e Tom Fox, advogado de Houston
especialista em Compliance, viajaram dos Estados Unidos trazendo
importantes lições na bagagem. Francisco Balestrin, presidente da
48
Diagnóstico
Anahp, encabeçou o distinto grupo que assinou a Carta de São Paulo, um compromisso setorial para a urgente adoção de códigos de
conduta. “Somos dirigentes e temos que assumir as responsabilidades. Nós, homens e mulheres que representam as instituições, temos
que lutar para mudar o país”, afirmou Balestrin, num discurso recheado de críticas a Brasília. Foi apresentado o Prêmio Ethics, distinção para as instituições mais éticas da saúde brasileira, que avaliará a cadeia produtiva pelo ponto de vista ético. O prêmio Ethics,
uma iniciativa da Revista Diagnóstico, com o apoio da Associação
Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde
(Abimed), da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp),
da Confederação Nacional de Saúde (CNS) e da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), irá escolher os 10 Hospitais Mais Éticos do Brasil com base em ações de compliance. Além
dos hospitais, o prêmio – que será concedido em 2016, referente a
2015 – vai abranger operadoras, laboratórios e clínicas de diagnóstico por imagem. Em um segundo momento, a disputa vai incluir
distribuidores, serviço de TI, fabricantes de equipamentos médicos,
entre outros players das indústrias ligados ao setor.
BDon Sinko (Cleveland Clinic), foi keynote speaker da
segunda edição do Fórum Hospitais Compliance
BAna Regina Cruz Vlainich (Fundação Unimed)
BFernando Boigues, presidente do SindhRio
BGustavo Lucena, sócio da Consultoria de Riscos da
Deloitte, que vai auditar o Prêmio Ethics
BO Fórum Hospitais Compliance 2015 é uma
realização da Revista Diagnóstico
BO médico Giovanni Cerri (Instituto Coalizão Saúde) falou sobre
os exemplos para o Brasil do Hospital Mais Ético do Mundo
Diagnóstico
49
B
BMatheus Sabbag (Grupo Fleury)
BHeloísa Ribeiro, presidente do Instituto Etco,
provocou a plateia: ética pode ou não ser usada
como uma vantagem competitiva?
50
Diagnóstico
O evento foi idealizado pela Revista Diagnóstico
BRoger Vallim, diretor comercial da Elfa
Medicamentos: modelo de compliance para o
mercado
BLuiz De Luca (CEO do Hospital Samaritano) moderou
o debate sobre Ética e Cultura
“CULTURA DE COMPLIANCE PARA IDENTIFICAR E CORRIGIR ERROS” - Cerca de duas centenas de participantes se reu-
niram para assistir à abertura do Fórum Hospitais Compliance,
em São Paulo. Don Sinko, Chief Integrity Officer da Cleveland
Clinic, foi o nome que atraiu CEOs, presidentes, executivos, médicos, engenheiros, advogados e outros representantes do setor de
saúde nacional ao Hotel Intercontinental, na manhã de quinta.
Sinko trouxe uma importante lição de como implementar uma
cultura de compliance em qualquer instituição de saúde, independentemente de sua dimensão. O CIO da Cleveland Clinic explicou
os sete passos que foram aplicados no hospital mais ético do mundo e relatou algumas experiências vividas na Cleveland Clinic.
“Levamos muito a sério o nosso Código de Conduta e por isso
dizemos que é preciso ter um código e mostrar às pessoas que o
cumprimos. Só em 2014 conduzimos mais de mil investigações e
temos, atualmente, dois ex-funcionários em prisões federais”. Ele
lembrou uma frase de Dr. Cosgrove, o seu CEO: “Empregamos
atualmente 40 mil pessoas. Se 99% delas agirem corretamente,
isso significa que 400 pessoas estão cometendo erros”, e explicou
que “os hospitais empregam pessoas e as pessoas cometem erros.
O programa de compliance ajuda a identificar esses erros e permite corrigi-los”.
Outro importante aspecto da palestra de Don Sinko foi o papel
do responsável de compliance, da sua independência em relação
ao conselho de administração e dos seus poderes que, segundo o
líder de compliance norte-americano, “mostram a todos a importância da integridade e do compliance na organização e no seu
funcionamento.
Após a palestra de Sinko, a plateia pôde assistir ao talk show
“Como construir uma cultura de compliance em um serviço de
saúde a partir do zero?”. Viviane Miranda (Einstein), Florence
Monteiro Oliva (BPSP), Matheus Sabbag (Grupo Fleury), Gustavo Lucena (Deloitte) se juntaram, com mediação de Giovanni
Falcetta (TozziniFreire Advogados), para discutir a complexidade do processo da criação de normas e sua aplicação. Seguiu-se
a apresentação da experiência de compliance da Elfa, por Luis
Liveri (CEO da Elfa Medicamentos) e a manhã terminou com discussão sob o tema “Ética como diferencial competitivo”, entregue
a Heloísa Ribeiro (Instituto Etco) acompanhada pelo presidente da
mesa, Fernando Boigues (presidente do Sindhrio), que transmitiram aos presentes as suas visões sobre como as empresas podem
se destacar pelo seu comportamento íntegro.
Leni Hidalgo (Insper) regressou da pausa para almoço cheia
de energia e contagiando a plateia durante o debate sobre “Tone
at top e tone at middle e a governança corporativa na cultura ética
de uma organização”. O painel, que discutiu o papel de cada elemento de uma organização e como o exemplo deve vir de cima,
contou também com Ana Regina Cruz Vlainich (Fundação Unimed), Daniel Coudry (Sanitas Internacional Brasil) e teve Luiz
De Luca (Samaritano) como moderador. As poltronas colocadas
no palco receberam, em seguida, Luis Roberto Natel (Abramed),
moderador do talk show “Código de Conduta, da teoria à prática”
que deixou o desafio para que “este evento e o que aborda sirvam
de evento também para Brasília”. No painel, Lilian Cristina Lira
Pacheco (Grupo Dasa/ Abramed), Carlos Alberto Marsal (Sírio-Libanês/ Abramed) enquadraram a perspectiva das instituições
de saúde, enquanto Esther Miriam Flesch (Trench, Rossi e Watanabe Advogados) partilhou o ponto de vista legal, elencando os
“O BRASIL RESPONDEU DE UMA
FORMA FANTÁSTICA AO
ESCÂNDALO DA PETROBRAS. A LEI
ANTICORRUPÇÃO BRASILEIRA FOI
TRADUZIDA E ANALISADA NOS
ESTADOS UNIDOS E É
CONSIDERADA UM DOCUMENTO
DE REFERÊNCIA EM TERMOS
LEGAIS E DE COMPLIANCE”.
THOMAS FOX, FPCA COMPLIANCE AND ETHICS
“FIQUEI IMPRESSIONADO
PELA PRESENÇA DE UM
GRANDE NÚMERO DE
PRESIDENTES E DIRETORES
DO SETOR DE HEALTHCARE
QUERENDO IMPLEMENTAR
PROGRAMAS DE COMPLIANCE
EM SUAS ORGANIZAÇÕES.
ELES CONQUISTARAM UMA
COMPREENSÃO DO VALOR QUE
COMPLIANCE E ÉTICA TRAZEM
AOS SEUS FUNCIONÁRIOS E
FORNECEDORES, BEM COMO
À PRÓPRIA EMPRESA, E A
IMPORTÂNCIA DA SUA LIDERANÇA
PARA O SUCESSO.”
DON SINKO, C.I.O. DA CLEVELAND CLINIC
“SOMOS DIRIGENTES E TEMOS QUE
ASSUMIR AS RESPONSABILIDADES.
NÓS, HOMENS E MULHERES QUE
REPRESENTAM AS INSTITUIÇÕES,
TEMOS QUE LUTAR PARA MUDAR
O PAÍS”
FRANCISCO BALESTRIN, PRESIDENTE DA ANAHP
Diagnóstico
51
BAlexandre Serpa (CVS Health)
BViviane Miranda, executiva de compliance do
Einstein
BA doutora Leni Hidalgo (Insper) deu um show ao
falar sobre a importância do Tone at Top em uma
cultura de compliance
52
Diagnóstico
BCarlos Marsal, executivo de compliance do
Sírio-Libanês
BGuilherme Dias Pires, ao centro (Hospital Samaritano)
BClaudia Cohn (Abramed), Don Sinko (Cleveland Clinic) e Esther
Flesch (Trench, Rossi e Watanabe Advogados)
diversos estágios da criação de diretrizes e sua aplicação, dando
os exemplos das organizações que representavam. Segundo Esther, tomando o exemplo mundial em termos de compliance, “os
Estados Unidos têm a FCPA desde 1977, uma lei antiga que só foi
aplicada de verdade recentemente”, mostrando que não se prevê
que seja um caminho a percorrer com rapidez.
CARTA DE SÃO PAULO – Um dos destaques da segunda edição do Fórum Hospitais Compliance reuniu individualidades da
saúde brasileira. Com Francisco Balestrin (Anahp) presidindo a
cerimônia, foi assinada a Carta de São Paulo, documento que estabeleceu o compromisso das instituições - lideradas por Cláudia
Cohn, representando a Abramed; Edson Rogatti, da CMB, em representação das Santas Casas; Fernando Boigues, presidente do
SindhRio; Denise Eloi, da Coalizão Saúde; Cícero Andrade, pela
Fenaess; e Eduardo de Oliveira, em nome da FBH -, de implantar
seus códigos de conduta e ética até dezembro de 2018. Na solenidade, as entidades representadas pelos signatários assumiram o
compromisso de dar o exemplo e criar uma cultura de compliance no setor de saúde brasileiro. A caneta foi passada de mão em
mão e as assinaturas inscritas no papel finalizaram a cerimônia
e iniciaram o processo que vai envolver todos os membros das
associações presentes.
Balestrin definiu o primeiro dia do fórum como muito proveitoso e essencial para um setor que aloca aproximadamente 10% do
PIB nacional, algo que o presidente da Anahp disse ser uma aplicação equivocada de recursos. Após uma descrição do panorama da
saúde brasileira, surgiu a inevitável comparação com outros modelos, como o norte-americano. “Ou eles estão errados, ou nós”,
concluiu.
As críticas ao estado da nação e à forma como tem sido governada sucederam-se ao longo do dia, embora o principal tom do evento
tenha sido o olhar no futuro, analisando o que tem acontecido de
errado, mas, principalmente, estabelecendo o caminho para corrigir
o que não está correto, para fazer melhor e, sobretudo, com mais
ética.
Os responsáveis pelas entidades signatárias da Carta de São
Paulo terão a partir de agora a tarefa de reunir os seus membros,
passar a mensagem e, entre as medidas presentes no documento,
implementar um código de conduta ética e moral que sirva de balizador nas relações dos seus associados com os diversos stakeholders, até dezembro de 2018.
Balestrin lembrou a figura do beija-flor, da fábula em que todos
os animais fugiam de um incêndio. “Enquanto todos fugiam, o beija-flor tentava, sozinho, apagar o incêndio. Ele sabia que sozinho
não o conseguiria apagar, mas ele estava fazendo a sua parte. E é
isso que cada um de nós tem que fazer”, finalizou.
O presidente da solenidade deixou mais uma crítica contundente. “Você precisa se comportar como um cidadão que está vestido
de branco atravessando um pântano. As instituições têm um papel
fundamental”, disse, e em seguida deixou um desafio aos seus companheiros signatários: “Somos dirigentes e temos que assumir as
responsabilidades. Nós, homens e mulheres que representam as instituições, temos que lutar para mudar o país”, concluiu Balestrin.
“O CEO DA QUALICORP TEM
UMA FRASE MUITO MARCANTE:
TUDO EU SENTO CONVERSO,
EVENTUALMENTE NEGOCIO E
REVEJO. TEM UMA COISA QUE EU
CUMPRO, QUE SÃO AS NORMAS DE
COMPLIANCE.“
ADRIANO LONDRES, DIRETOR EXECUTIVO DA
QUALICORP
“EU QUERO QUE A NOSSA
EMPRESA POSSA LEVAR
ALGUNS VALORES PARA OS
STAKEHOLDERS LIGADOS AO
NOSSO SEGMENTO PARA CRIAR
UMA COMUNIDADE EM TORNO DE
QUANTO O COMPLIANCE AFETA
O NOSSO NEGÓCIO DENTRO
DA CADEIA. ISSO VAI SER UM
DIFERENCIAL MUITO GRANDE.”
ROGER VALLIM, DIRETOR COMERCIAL DA ELFA
O BRASIL RESPONDEU DE FORMA FANTÁSTICA AO ESCÂNDALO DA PETROBRAS - O segundo dia trouxe um dos
autores mais conceituados dos Estados Unidos. Qualquer respon-
Diagnóstico
53
BO público teve participação ativa no evento
BClaudia Scarpim, Sérgio Madeira (Abraidi) e Carlos
Alberto Goulart (Abimed)
BGustavo Lucena (Deloitte), Matheus Sabbag (Grupo Fleury), Giovanni Falcetta (TozziniFreire
Advogados), Florence Monteiro Oliva (BPSP), Viviane Miranda (Einstein)
BEsther Flesch (Trench, Rossi e Watanabe
Advogados) e Luis Natel (Abramed)
54
Diagnóstico
BPresidente da Anahp, Francisco Balestrin
sável de compliance norte-americano que se preze segue os livros,
artigos e podcasts de Tom Fox, advogado de Houston. Fox chegou
a São Paulo trazendo o relato detalhado do escândalo da GSK na
China. Os pormenores deixaram a plateia com a perfeita noção
dos erros que foram cometidos e das providências que o governo
chinês tomou. “Ninguém quer ser pego pela justiça chinesa, que
condena 99,99% dos acusados, e ninguém quer ir parar numa prisão chinesa”, disse Tom Fox, em tom professoral. “A China mostrou ao mundo quais são as consequências para quem corrompe e
para quem é corrompido”, acrescentou. Fox focou também a questão da Volkswagen e o impacto que teve nas empresas do setor e
na imagem e credibilidade da Alemanha. No entanto, segundo o
especialista em compliance, o Brasil e a Petrobras não têm nada
a ver com a VW e a Alemanha. O caso Petrobras não afetou a
imagem do país internacionalmente, pelo menos não com a dimensão da empresa germânica, e “o Brasil respondeu de uma forma fantástica ao sucedido”, disse Fox, passando a explicar que “o
‘Clean Act’ (nome dado à Lei Anticorrupção brasileira nos EUA)
foi traduzido e analisado nos Estados Unidos e é considerado um
documento de referência em termos legais e de compliance”. Fox
encerrou a sua apresentação respondendo a diversas questões do
público e deixando uma mensagem de esperança: “A legislação
foi criada, basta ao Brasil cumpri-la”.
Em seguida, Denise Eloi, diretora executiva da Coalizão Saúde, tomou o comando do talk show “O papel da assistência na
construção de um conceito de compliance em serviços de saúde”,
liderando um painel composto por Claudia Cohn (Abramed), José
Eduardo de Siqueira (PUC/PR), Adriano Londres (Qualicorp),
Jose Luiz Cunha Junior (Amil), um debate que suscitou uma animada discussão sobre bioética e o papel do médico e do paciente.
À saída do palco, Londres citou o CEO da Qualicorp, dizendo que
tem por hábito ouvir e debater todas as sugestões, mas quando se
trata de compliance, não levanta questões, apenas há que aplicar,
reforçando uma mensagem muito presente em todo o evento: é
fundamental ter um responsável de compliance e dar-lhe autonomia.
Em outro debate sobre mais um tema quente da atualidade,
o painel formado por Gustavo Artese (VPBG Advogados), Emil
de Carvalho (Salamanca Group) e com mediação de Núbia Viana
(Duosystem) dissecou “A Proteção de Dados do Paciente: controles regulatórios e responsabilidade ética”. Um debate que abordou, por exemplo, o acesso às fichas médicas e a segurança dos
dados eletrônicos. A tecnologia marcou também a apresentação
seguinte, quando Roberto Cruz, CEO da Pixeon, deu voz à contribuição do setor de TI para a sustentabilidade da saúde, contando
“A experiência de compliance da Pixeon” aos presentes.
Tendo em mente a assinatura da Carta de São Paulo, foi o
momento de discutir a importância desse tipo de compromisso e
Sérgio Madeira (Abraidi) foi o mediador da discussão sobre “O
papel dos acordos setoriais na autorregulamentação do mercado
de saúde”, com a companhia de Jorge Abrahão (Instituto Ethos). A
troca de ideias foi constante e os temas se sucederam, suscitando a
intervenção do público, sempre muito ativo. O talk Show “O papel
da indústria na promoção de práticas éticas na cadeia da saúde”,
mediado por Carlos Alberto Goulart (Abimed), deu a palavra a
Denis Jacob (BD), Luís Felipe Kietzmann (Alcon) e Alexandre
Serpa (Drogaria Onofre), responsáveis de compliance das respectivas instituições.
“ENQUANTO TODOS FUGIAM, O
BEIJA-FLOR TENTAVA, SOZINHO,
APAGAR O INCÊNDIO. ELE
SABIA QUE SOZINHO NÃO O
CONSEGUIRIA APAGAR, MAS ELE
ESTAVA FAZENDO A SUA PARTE. E
É ISSO QUE CADA UM DE NÓS TEM
QUE FAZER”
FRANCISCO BALESTRIN, PRESIDENTE DA ANAHP
“NA ÁREA DE SAÚDE O
COMPLIANCE E A ÉTICA SÃO DUAS
COISAS QUE TÊM QUE ESTAR NO
DNA DAS EMPRESAS. É MUITO
IMPORTANTE QUE A REVISTA
TENHA DADO ÊNFASE PARA QUE
AS PESSOAS POSSAM CADA VEZ
FALAR MAIS SOBRE ISSO”
FERNANDO BOIGUES, PRESIDENTE DO SINDHRIO
“EMPREGAMOS ATUALMENTE
40 MIL PESSOAS. SE 99% DELAS
AGIREM CORRETAMENTE, ISSO
SIGNIFICA QUE 400 PESSOAS
ESTÃO COMETENDO ERROS . OS
HOSPITAIS EMPREGAM PESSOAS
E AS PESSOAS COMETEM ERROS,
O PROGRAMA DE COMPLIANCE
AJUDA A IDENTIFICAR ESSES
ERROS E PERMITE CORRIGI-LOS”
DON SINKO, C.I.O. DA CLEVELAND CLINIC
Diagnóstico
55
BPaulo Fraccaro (ABIMO), Claudia Scarpim (Abraidi), Reinaldo
Braga (Grupo Criarmed), Carlos Figueiredo (Anahp), Aurimar
Pinto (Abimed), Carlos Alberto Goulart (Abimed)
BGisele Figueiredo (Stryker) foi mediadora da
palestra de Tom Fox
BJorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, falou sobre o papel dos
acordos setoriais na autorregulamentação do mercado de saúde
BTom Fox (FCPA Compliance and Ethics)
BDenise Eloi (Coalizão Saúde), José Eduardo de Siqueira (PUC/PR), Jose Luiz Cunha Carneiro Junior (Amil),
Claudia Cohn (Abramed), Adriano Londres (Qualicorp)
56
Diagnóstico
Retomando a sessão de palestras, o microfone teve em Vinicius de Carvalho (presidente do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica, Cade) um novo dono. “A função do Cade
no estímulo à livre concorrência no mercado de saúde” foi a temática mediada por Cícero Andrade (Fenaess) e motivou uma
concorrida sessão de questões e respostas, rica em comparações
com outros setores do mercado brasileiro, estabelecendo pontos
de comparação com a saúde.
O evento terminou com o talk show “Fornecedor compliance/
comprador compliance: o mercado de saúde está preparado para
essa equação?”. Carlos Figueiredo (Anahp) mediou um grupo
de debatedores de diferentes quadrantes do setor de saúde. Aurimar Pinto (Abimed), Paulo Fraccaro (Abimo), Maurício Barbosa
(Bionexo) e Claudia Scarpim (Abraidi) possibilitaram aos presentes, por exemplo, perceber a importância da CPI de Órteses e
Próteses para mudar o paradigma ético na saúde, ou a importância
da tecnologia na hora de aumentar a transparência nos negócios.
Finalizado o fórum, a opinião era unânime e foi traduzida em
uma frase de Don Sinko, CIO da Cleveland Clinic: “Fiquei impressionado pela presença de um grande número de presidentes
e diretores do setor de healthcare querendo implementar programas de compliance em suas organizações. Eles conquistaram
uma compreensão do valor que compliance e ética trazem aos
seus funcionários e fornecedores, bem como à própria empresa,
e a importância da sua liderança para o sucesso. A revista Diagnóstico realizou um excelente trabalho ao organizar este evento
para o Brasil.”
PRÊMIO ETHICS - Em mais um momento marcante do Fórum
Hospitais Compliance, Reinaldo Braga, publisher da revista
Diagnóstico e CEO do grupo Criarmed, lançou o Prêmio Ethics – Benchmarking em Compliance. Acompanhado por Fabrício
Campolina (Abimed), o jornalista e idealizador do evento explicou as regras da competição e a importância para o setor de saúde brasileiro. Segundo ele, o Prêmio, uma iniciativa da Revista
Diagnóstico, com o apoio da Abimed, CNS e Abramed, irá escolher os 10 Hospitais que são referência em ações de compliance,
além dos cinco players que mais de destacam na área de Medicina
Diagnóstica.
Requisito obrigatório para se candidatar ao Prêmio Ethics – inciativa inédita na história da saúde brasileira – é ter adotado um
Código de Conduta e/ou Ética, com regras alinhadas à cultura
organizacional da empresa. “A ideia do prêmio é estimular a troca
de experiência no setor com foco em compliance”, afirmou Reinaldo Braga. Outra novidade é a criação do Canal HC (Hospitais
Compliance) – o primeiro do país a usar o benchmarking como
estratégia de disseminação da cultura de compliance na saúde
brasileira. Segundo ele, a iniciativa acontece no momento em que
o país discute o seu futuro sob o ponto de vista do compliance.
“Os brasileiros não querem um país corrupto. A sociedade vem
demonstrando que não tolera mais atos non-compliant, seja na
Petrobras, no Governo ou na Saúde”, sentenciou Braga, mentor do Fórum Hospitais Compliance. No futuro, acredita ele, a
relação da cadeia produtiva da saúde brasileira vai privilegiar,
obrigatoriamente, atores que, além de bons serviços e produtos
certificados, tenham uma conduta ética e moral reconhecida. “Os
hospitais precisam liderar esse processo, já que são os compradores dos serviços e dos produtos da indústria”, finalizou.
“EU TENHO QUE ENSINAR
COMPLIANCE E A TER ÉTICA
AOS MEUS NETOS QUE ESTÃO
COM 4 E 5 ANOS PARA QUANDO
CHEGAREM A ADULTOS TEREM
ESSA NOÇÃO ESSENCIAL E
ACABAR COM AQUILO QUE É O
JEITINHO BRASILEIRO. O JEITINHO
BRASILEIRO É ANTICOMPLIANCE.”
FERNANDO BOIGUES, PRESIDENTE DO SINDHRIO
A REVISTA DIAGNÓSTICO
REALIZOU UM EXCELENTE
TRABALHO AO ORGANIZAR ESTE
EVENTO PARA O BRASIL.”
DON SINKO, C.I.O. DA CLEVELAND CLINIC
“O PAÍS ESTÁ PASSANDO POR
UMA FASE DE REEDUCAÇÃO. O
BRASILEIRO NÃO TOLERA MAIS
CORRUPÇÃO, ENTÃO TEMOS QUE
FAZER DISSO UMA CONDUTA
DIÁRIA. ESTAMOS PASSANDO DO
PAÍS DO “JEITINHO”, EM QUE PODE
TUDO, PARA O PAÍS EM QUE A
INTEGRIDADE IMPERA.”
CLAUDIA SCARPIM, DIRETORA EXECUTIVA DA
ABRAIDI
Diagnóstico
57
BFlorence Monteiro Oliva, executiva de compliance da
Beneficência Portuguesa de São Paulo
BClaudia Scarpim, diretora executiva da Abraidi
BO evento foi realizado no Hotel Intercontinental, em
São Paulo, nos dias 5 e 6 de novembro de 2015
58
Diagnóstico
BCondecoração, que vai eleger, em 2016, os prestadores que
são referência em compliance, terá patrocínio da ABIMED
BDon Sinko (Cleveland Clinic), Tom Fox (FCPA Compliance
and Ethics) e Adriano Londres (Qualicorp)
B
BAdriano Londres (Qualicorp) participou do debate
sobre ética na assistência
Aurimar Pinto (Abimed), Carlos Figueiredo (Anahp), Claudia Scarpim (Abraidi),
Maurício Barbosa (Bionexo), Paulo Fraccaro (ABIMO)
BProfessor José Eduardo de Siqueira (PUC/PR) deu
uma aula sobre bioética para os espectadores
GESTÃO
REDE DE SAÚDE
O exemplo do
Mater Dei
Hospital mineiro acelera expansão no mercado privado e cresce livre da dependência da
Unimed, operadora predominante em Belo Horizonte.
A
Bruna Martins Fontes
Rede Mater Dei de
Saúde anda na contramão do mercado
de saúde privado
mineiro. Enquanto
hospitais de Belo
Horizonte, sua terra
natal, reduzem o número de leitos para
pacientes não-SUS (de 4.393 em fevereiro de 2013 para 4.188 no mesmo mês
deste ano, segundo o Cadastro Nacional
de Estabelecimentos de Saúde), a rede
inaugurou a segunda unidade em 2014,
com 325 novos leitos. Em uma praça
onde a Unimed detém mais de 60% de
market share entre as operadoras de planos de saúde, os hospitais Mater Dei são
os únicos que não têm convênio com a
cooperativa de médicos. Ao contrário de
boa parte dos gestores de hospitais, seu
presidente, Henrique Salvador, 57 anos,
não vê como prioridade tirar o máximo
de lucro da estrutura já existente, e sim
criar novas fontes de receita com mais
serviços, como os do centro de oncologia que foi inaugurado em junho do ano
passado. “Estamos nos preparando para
ser a maior rede de saúde da Grande
Belo Horizonte”, afirma o gestor. “Quero atender o público com mais do que só
urgência e internação.”
O primeiro passo já foi dado: seu segundo hospital, o Complexo Mater Dei
Contorno, começou a operar em junho
de 2014, mesmo período em que a instituição comemorou 34 anos de fundada.
Para erguer uma unidade com 65.000
m2 de área construída e capacidade de
60
Diagnóstico
atender a 2.000 pacientes por dia, a rede
investiu R$ 350 milhões, dos quais 50%
foram capital próprio e outros 50% vieram de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Em junho, a Mater
Dei Contorno também ganhou um centro de convenções.
A etapa seguinte foi a inauguração,
em 2015, do Mais Saúde Mater Dei, um
espaço diferenciado para continuidade
do cuidado, avaliação e acompanhamento de pacientes crônicos ou em situações
clínicas altamente específicas e com
baixa oferta na cidade. O projeto reúne,
em um só lugar, estruturas de apoio e
diagnóstico, com equipe multiprofissional de referência, fisioterapeutas e outros especialistas. Outras unidades devem sair em breve do papel. O Hospital
Mater Dei Betim-Contagem já está com
o projeto arquitetônico concluído, em
fase de tramitação para fins de aprovação na Prefeitura de Betim. Em um terreno de, aproximadamente, 255.000 m2
e um investimento de R$ 180 milhões,
será erguido um hospital geral do adulto
e da criança, com atendimento de pronto-socorro e maternidade. A rede também planeja construir uma unidade em
Nova Lima.
Um dos segredos de tamanho fôlego financeiro para bancar essa expansão sem investidores externos é ter uma
gestão eficiente de custos para negociar
bem com as 80 operadoras de saúde
atendidas na rede. Curiosamente, a única que não figura na lista é considerada
uma das principais razões do sucesso da
rede Mater Dei.
Em Belo Horizonte, a Unimed domina o mercado, por isso é responsável por
grande parte das receitas dos hospitais
privados e atua como uma reguladora de
preços. Segundo especialistas, o maior
problema dos hospitais onde há uma
operadora hegemônica é a baixa lucratividade de suas operações, pois eles têm
pouca margem para negociar as tabelas
de preços de medicamentos e materiais e
de remuneração por serviços. Em alguns
casos, a margem de lucro de suas operações tende a zero, especialmente devido
a diárias subremuneradas. “A predominância de uma operadora leva a uma
pressão, em alguns casos quase predatória, com preços muito baixos”, afirma
Sergio Lopes Bento, diretor da Planisa,
consultoria paulista de organização e
planejamento de instituições de saúde.
Ele comenta que, ao comparar tickets médios de internação em suas atividades, percebe diferenças sensíveis de
remuneração, com valores muito menores nas praças em que há prevalência de
uma operadora. “Um dos impactos financeiros causados por essa situação é
que os hospitais que sofrem essa pressão
de preços têm muita dificuldade para investir em projetos de expansão. É o caso
de Belo Horizonte”, diz.
“Em Belo Horizonte, quem manda é
a Unimed”, completa Reginaldo Araújo,
presidente da Associação dos Hospitais
de Minas Gerais (AHMG). “É jogo duro
negociar com eles, porque os hospitais
HENRIQUE SALVADOR,
MÉDICO E PRESIDENTE
DA REDE MATER DEI DE
SAÚDE
Divulgação
são muito dependentes. Em alguns, a
proporção de segurados da Unimed chega a 70% da clientela.” Araújo afirma
que, em Belo Horizonte, os preços da
tabela de materiais e medicamentos têm
preços menores do que no resto do país.
“Os hospitais vão sobrevivendo, não sobra dinheiro para investir.”
Cícero Newton Andrade, sócio da
Tecnosp, consultoria em gestão de serviços de saúde sediada em Salvador,
concorda com a avaliação de Araújo.
“Nenhum hospital que dependa da Unimed está na mesma situação que o Mater
Dei. A rede é um exemplo raro de como
crescer em um ambiente dominado por
uma operadora que regula os preços de
mercado”, diz.
Em um cenário que pressupõe uma
forte queda de braço entre hospitais e
operadoras, porém, Henrique Salvador
adota uma postura de conciliação. “A
vida das operadoras também não está
fácil”, afirma o presidente da rede, no
mesmo tom sereno e pausado que manteve durante toda a entrevista. “Procuro
negociar insumos, materiais, medicamentos e serviços para chegar a uma
composição de preços que permita que
elas viabilizem nosso negócio e, ao mesmo tempo, continuem sendo competiti-
vas no mercado.”
O resultado dessa tática ganha-ganha
é positivo. Por não estarem amarrados à
tabela de preços de uma só operadora, os
hospitais Mater Dei têm mais liberdade
para traçar sua estratégia de gestão, opina Alfredo Martini Neto, diretor-geral
do Hospital São Rafael, de Salvador, e
vice-presidente da Federação dos Hospitais Filantrópicos da Bahia. Ele fala
com propriedade: foi diretor do Mater
Dei entre 2002 e 2005 e trabalhou por 12
anos no sistema Unimed. “O hospital é
um player de alta performance, por isso
não é dependente de nenhuma operadora
e pode praticar uma tabela que valoriza a qualidade do serviço prestado. Por
isso, é o único em Belo Horizonte que
está em rápida expansão e com ótima
saúde financeira.”
MAIS UNIDADES
Henrique Salvador quer abrir mais
unidades com serviços especializados de
saúde para gerar novas receitas, atendendo a demandas de diferentes públicos. “O
mercado privado de saúde está ficando
mais competitivo. Nas grandes capitais,
vejo grupos hospitalares focados em nichos pouco explorados de serviço para se
manterem bem posicionados frente aos
gigantes do setor”, afirma.
Desse modo, ele quer ampliar sua
rede na direção de oferecer atendimentos que se complementem – e evitem a
sobrecarga do atendimento nos hospitais. Se o Centro de Medicina Avançada quer atender a idosos em um prédio
anexo ao hospital de Santo Agostinho, a
futura unidade de Betim focará na população mais jovem, que trabalha nas empresas da região.
Os serviços oferecidos também estão sendo diversificados. Nesse contexto, para atender a uma grande demanda
local, o Centro de Oncologia do Mater
Dei, na unidade Contorno, inaugurou
em abril o Hospital Integrado do Câncer, com capacidade para mais de 3.400
atendimentos por mês. Primeiro em
Minas Gerais com este formato em um
hospital privado, a nova estrutura conta
com 52 leitos de infusão quimioterápica,
parque completo de exames de diagnóstico, centro cirúrgico e centro de terapia
intensiva. O HCI possui ainda uma unidade de Transplante de Medula Óssea,
com capacidade inicial para sete pacientes transplantados simultaneamente.
Desde agosto de 2014, o Centro de
Reprodução Humana está em operação
no Mater Dei Santo Agostinho – uma
Diagnóstico
61
GESTÃO
REDE SAÚDE
retomada da tradição do hospital nessa
área. O próprio Henrique Salvador fez
parte do grupo de três médicos que, há
30 anos, foi estudar o que havia de mais
avançado sobre o tema no exterior a
pedido de seu pai, o fundador do Mater Dei, José Salvador Silva, hoje com
84 anos e presidindo o Conselho de Administração. No retorno ao Brasil, eles
continuaram o trabalho e fizeram parte
da equipe responsável pelo nascimento
do primeiro bebê de proveta de Minas
Gerais, em 1989.
A decisão de voltar a investir na área
de reprodução, porém, não foi motivada
pela nostalgia. “Percebemos que não havia ginecologistas e obstetras suficientes
para cobrir a demanda de 450 partos por
mês na nossa rede. Decidimos, então,
abrir um centro para atender gestantes”,
explica o presidente da rede. O resgate
do passado, para ele, é uma estratégia de
sustentabilidade para o futuro. “Em vez
de avaliar como tirar mais dinheiro do
que já existe, olhamos para o que pode
ser uma nova fonte de receita para o negócio”, diz. A rede não revela seu faturamento, mas registrou um crescimento
de mais de 34% da receita em 2014 em
relação ao ano anterior. Para 2016, a
previsão é de que esse crescimento seja
de cerca 17% em comparação a 2015.
Para Yussif Ali Mere Junior, presidente do Sindhosp (Sindicato dos Hospitais de São Paulo), esse modelo diversificado de expansão é possível e traz
benefícios para o setor. “O Mater Dei
tem condições de crescer mais, e isso
é muito bom para consolidar o mercado. Nossa rede de saúde privada precisa
ser expandida, mas não só em nível de
internação. Os hospitais têm um papel
importante no tratamento de doenças
crônicas, em setores como oncologia e
cardiologia”, afirma.
Construir unidades especializadas é
uma boa maneira de aumentar a rentabilidade do negócio, segundo Alexandra
Bulgarelli do Nascimento, professora da
pós-graduação em gestão de saúde do
Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) em São Paulo. “Com o
tempo, a expertise no trabalho otimiza
processos e custos. É interessante apostar em procedimentos de baixa e média
complexidade, especialmente em regiões periféricas”, pondera.
A diversificação dos serviços não
62
Diagnóstico
Divulgação
significa desinvestimento na oferta de
leitos nos dois hospitais. Até dezembro
do ano passado foram 689 leitos instalados nas duas unidades da rede, sendo
143 de CTIs adulto e pediátrico. “É uma
boa notícia, pois hoje há uma tendência
de redução de leitos no mundo. Em São
Paulo, vemos hospitais cortando leitos
de maternidade mesmo que a demanda
não tenha caído”, afirma Ana Maria Malik, coordenadora do GV Saúde, Centro
de Estudos em Planejamento e Gestão
da Saúde da Fundação Getulio Vargas
(FGV).
CAPITAL ESTRANGEIRO
Apesar da recente abertura do mercado de saúde ao capital estrangeiro, essa
alternativa não está nos planos de Henrique Salvador em sua estratégia de expansão. “Já fomos sondados por fundos,
mas prefiro esperar esse modelo amadurecer no Brasil”, afirma. “Trazer um investidor depende muito do momento de
cada empresa. Temos condições de ter
um crescimento orgânico, com base na
alavancagem.”
Aumentar o endividamento para
crescer não é uma manobra preocupante para a rede. O objetivo de sua gestão centrada em controle de custos é
demonstrar uma boa saúde financeira
para obter os financiamentos necessários para crescer. “Sempre busco cortar
custos desnecessários. Os gestores estão
muito perto dos clientes e dos médicos
para saber do que eles precisam e definir que gastos são dispensáveis”, afirma
Henrique Salvador.
Esse levantamento preciso de preços
é essencial para o sucesso da rede, opina
Andrade, da Tecnosp. “Eles conhecem
bem o custo do serviço de qualidade que
oferecem, por isso sabem o limite na
hora de negociar. Esse nível de controle
é fundamental para o futuro dos hospitais, pois a tendência é que nos próximos
cinco anos eles sejam remunerados por
procedimentos, e não por conta aberta”,
afirma.
“EM VEZ DE AVALIAR
COMO TIRAR MAIS
DINHEIRO DO QUE
JÁ EXISTE, OLHAMOS
PARA O QUE PODE
SER UMA NOVA FONTE
DE RECEITA PARA O
NEGÓCIO”. AFIRMA
HENRIQUE SALVADOR,
PRESIDENTE DA REDE
MATER DEI DE SAÚDE
Divulgação
Em médio prazo, Henrique Salvador
planeja consolidar sua marca na região
metropolitana de Belo Horizonte recorrendo apenas a recursos próprios – uma
decisão acertada, na avaliação de Carlos
Suslik, diretor de consultoria em gestão
de saúde da PwC. “Com sua expertise
local, o Mater Dei desestimula outros
grandes players a entrar em sua praça
sem buscar parceria com a rede”, afirma.
Isso não significa, porém, que sua
posição não seja ameaçada por grandes
redes que pretendam investir no mercado mineiro e sejam turbinadas por capital estrangeiro. Nesse novo cenário, será
essencial buscar parcerias para competir
com players que reúnam trunfos como
economia de escala e sinergia em conhecimento de gestão e de operação. “A estratégia atual do Mater Dei pode não ser
suficiente para competir quando começarmos a passar por esse novo processo
de consolidação. Mais cedo ou mais tarde, a rede terá de pensar em fazer alianças para se fortalecer”, diz Suslik.
Quando se trata do futuro, Henrique Salvador já vê seus sucessores se
prepararem. A diretoria da rede hoje é
composta pelos três filhos do fundador
e outros dois profissionais não ligados
à família. Se a próxima geração quiser
integrar o corpo executivo do Mater
Dei, precisará enfrentar uma verdadeira
maratona, de acordo com as regras definidas no acordo de acionistas desenhado
em 1998.
Os herdeiros dispostos a conseguir
um cargo de liderança precisam, primeiro, trabalhar na gestão de um hospital de
igual ou maior porte do que o Mater Dei
por no mínimo dois anos – o filho e a sobrinha de Salvador já passaram por instituições como o Hospital Israelita Albert Einstein, o Hospital Sírio-Libanês
e o HCor, em São Paulo. Depois, devem
atuar no Mater Dei por outros dois anos.
Por fim, é essencial cursar um MBA em
escolas de negócio internacionais de renome. Neste momento, o filho de Henrique Salvador e dois de seus sobrinhos
estão passando por esse processo. “Nossa gestão é extremamente profissional, é
preciso estar muito bem preparado para
fazer parte dela. A responsabilidade com
o negócio deve ser muito grande, porque
a nossa responsabilidade perante a comunidade também é”, afirma.
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Diagnóstico
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ENSAIO
TENDÊNCIAS GLOBAIS
MACROTENDÊNCIAS
PARA A SAÚDE
GLOBAL
O crescimento da maior parte das economias
emergentes ultrapassa neste momento os
investimentos em saúde e educação de suas
populações. Esse fator está criando potenciais
restrições ao crescimento futuro, mas também
oportunidades para preencher as lacunas
existentes
Bernardo Sebastião
Giovanni Fiorentino
Kai Grass
Luiza Mattos
T
Divulgação
urbulências diárias em escala global estão dando aos
líderes e investidores muitas razões para agir com
cautela, já que eles precisam enfrentar grandes
desafios constantemente.
O aumento de dívidas soberanas, os mercados voláteis, a instabilidade de moedas, os
impasses políticos e o crescimento estagnado
ameaçam as economias dos países desenvolvidos. Enquanto isso, China, Índia, Brasil e
outras nações emergentes se fortalecem, num
dos maiores fenômenos econômicos das duas
últimas décadas.
Diagnóstico
65
ENSAIO
TENDÊNCIAS GLOBAIS
De um ponto de vista tradicional, os sobressaltos atuais indicam mudanças profundas e estruturais que definirão a agenda dos
negócios no futuro. Esperamos choques macroeconômicos nos próximos dez anos, com
descontinuidades que modelarão as opções
que as empresas terão para se adaptar e crescer.
Um desses aspectos macroeconômicos é
exatamente a questão de saúde: o crescimento
da maior parte das economias emergentes ultrapassa neste momento os investimentos em
saúde e educação de suas populações, criando
potenciais restrições ao crescimento futuro,
mas também oportunidades para preencher
as lacunas existentes. Assim, a construção de
um sistema de saúde básico e de uma rede de
segurança social mais forte absorverá uma
proporção muito maior de investimentos do
que no passado. Sua contribuição estimada
ao PIB global em 2020 é de US$ 2 trilhões,
conforme consta no gráfico abaixo. Já em relação aos países desenvolvidos, observamos
populações envelhecendo, de maneira que po-
demos esperar demanda por mais e melhores
tratamentos médicos, além de mudanças nos
sistemas de pagamento para elevar a eficiência do gasto com saúde. Tudo isso estimulará,
nos governos, a inovação e as reformas.
Sua contribuição estimada ao PIB global
em 2020 é de US$ 4 trilhões. A expansão
contínua da assistência médica como “bem
de consumo” também criará demandas por
novos produtos e inovações em serviços e,
em alguns casos, aumentará o escopo do que
é considerado cuidado necessário.
Os sistemas globais de saúde estão em
um ponto de inflexão com as pressões de
custo que servem como um catalisador
para mudanças. Em consequência disso,
eles enfrentarão mudanças drásticas até o
final da década. O gasto com saúde tem
crescido sistematicamente acima do PIB
– em alguns países os gastos com saúde representam 20% do PIB. Nos países
emergentes, embora o gasto com saúde
per capita continue baixo, somente crescimento expressivo do PIB permitiria expansões significativas no gasto em saúde,
de acordo com os indicadores mostrados
no gráfico ao lado.
66
Diagnóstico
A recente recessão econômica e a necessidade de reformas fiscais criarão pressões
significativas nos preços para os contribuintes
dos setores público e privado. As respostas devem variar, mas incluirão uma mistura de controle direto dos custos, definição de protocolos
para utilização de assistência de saúde e a busca por modelos integrados que alinhem melhor os incentivos. Na melhor das hipóteses,
esses esforços reduzirão o aumento dos custos
ao mesmo nível do crescimento do PIB.
Os lucros permanecerão sob pressão em
todos os setores, mas haverá oportunidades
significativas para inovação. Produtores de
equipamentos, centros de assistência médica
e usuários pressionarão para que a oferta de
assistência médica melhore. Mais eficiência,
custos per capita reduzidos e mais transparentes, além de melhorias mensuráveis no estado
dos pacientes, continuarão a dar excelentes
retornos. Para reduzir a exposição a reembolsos, as empresas e os investidores financeiros
verão oportunidades em produtos e serviços
de assistência médica mais orientados ao
consumidor e pelos quais os pacientes estarão
dispostos a pagar a mais: os chamados produtos saudáveis, conforme pode ser observado
nos gráficos que seguem.
No Brasil, apesar do aumento nos investimentos sociais e das melhorias alcançadas
em saúde, educação, nutrição e assistência
social, ainda existe uma grande lacuna a
ser preenchida em comparação com as economias desenvolvidas. Essa situação cria
importantes chances de negócios para as
empresas desses setores, mas também uma
ameaça para o desenvolvimento do país
no longo prazo, caso os investimentos não
sejam realizados com sucesso. Os investimentos na saúde brasileira serão impulsionados pelo foco em aumentar o acesso para
a população, por uma maior preocupação
com a saúde das classes médias e altas e
por uma crescente demanda por mais qualidade nos serviços. Estas tendências serão
acompanhadas por uma forte pressão de
custos entre pacientes, pagadores e prestadores de serviço.
Divulgação
Países desenvolvidos irão cuidar das
doenças dos ricos
Obesidade, diabetes e outras doenças
crônicas
Doenças relacionadas à idade
Por exemplo, tratamentos avançados
contra o câncer ou cuidados do coração
Uma vez que os tratamentos estejam
amplamente disponíveis, serão difíceis de
racionalizar, aumentando os custos de
saúde por pessoa
Produtos saudáveis passarão de
dispensáveis a “necessários”
Despesas com vitaminas, spa, bem-estar,
vaidade e outras irão aumentar
Haverá crescimento na demanda, já que o
rótulo de “tratamento médico” cria acesso
ao reembolso de seguros para alguns
procedimentos que, anteriormente
eram eletivos
No entanto, o aumento das opções
também colocará mais pressão para
conter custos, sobretudo nos Estados
Unidos
Diagnóstico
67
68
Diagnóstico
Diagnóstico
69
OSVINO SOUZA
Carogestor
Túlio Carapiá
A minha unidade hospitalar é bem gerida, com
um quadro de funcionários enxuto e com excelentes
níveis de performance. Mesmo assim, as margens
da nossa operação continuam pequenas e cada vez
menores. No futuro, ainda haverá espaço para pequenos negócios no setor de saúde, restritos a um
único estado e com um ganho de escala consequentemente limitado?
Olavo Buarque - SP - São Paulo
Uma pena que ainda não inventaram um aplicativo para celular
que faça previsões do futuro a partir de algumas informações do
passado, do presente e de algumas tendências. Não creio que isso
vá acontecer, tão cedo. O fato é que muitos “negócios” tradicionais estão sentindo as ameaças crescentes provocadas pelas profundas mudanças e transformações que vêm nos surpreendendo
nos últimos anos ou décadas. O que observei durante muitos anos
é que não adianta resistir a esses avanços, particularmente aqueles
de origem tecnológica. Muitos “negócios” não sobreviveram seja
porque as transformações os deixaram para trás e os fizeram sem
sentido, seja porque não souberam reagir e antecipar mudanças
que já se faziam necessárias. Isso nos remete à velha conhecida e
prática Análise SWOT, entre outras ferramentas de gestão como
70
Diagnóstico
a Análise de Cenários. Os gestores contemporâneos não podem
deixar de identificar e agir prontamente sobre as Oportunidades e
Ameaças que vêm de onde menos se espera às vezes. O “radar”
da gestão tem que se mover em toda a amplitude e com a maior
velocidade possível. Apenas como exemplo, o negócio dos táxis
tradicionais, que até pouco tempo não se via ameaçado, hoje se vê
ameaçado por várias frentes, dos aplicativos para celular, Uber,
carona solidária, além de uma potencial mudança nos meios de
transportes coletivos e individuais. Assim, os gestores dos negócios da saúde também devem estar atentos. Você inicia sua pergunta afirmando que sua unidade hospitalar é bem gerida, com
um quadro de pessoal enxuto e excelentes níveis de performance.
Que bom! Mas fique atento para as oportunidades e ameaças que
não podem surpreendê-lo. Dentro do possível, antecipe-as, identifique-as antes que os concorrentes o façam. Aja a tempo. O dito,
que se popularizou, “fazer sempre mais com menos”. não é mais
suficiente. Muitas vezes é preciso fazer diferente também, o que
pode exigir mudanças dolorosas naquilo que idealizamos.
O senhor acredita que a economia compartilhada
pode se adequar às particularidades do mercado de
saúde?
Túlio Carapiá
Henrique Kruchevsky - SC - Santa Catarina
Sem dúvida, acredito. Os recursos são finitos, desde o microambiente ao macroambiente em que vivemos precisamos entender
o que isso significa diante do ritmo de consumo acelerado em que
vivemos. No século passado, em particular, iniciamos um processo
de desenvolvimento acelerado que não levou isso em consideração.
Precisamos reverter esta tendência o quanto antes, antes que seja
tarde demais. Um filósofo alemão contemporâneo, Hans Jonas, trata disso com muita propriedade em muitas de suas obras, particularmente no livro “O Princípio Responsabilidade: ensaio para uma
ética da civilização tecnológica”. Embora polêmico, ele trata esse
assunto como uma nova abordagem ética, que vai além do respeito
moral entre os seres humanos, mas também com o meio ambiente
em que vivemos. Os filmes de ficção científica, que muitas vezes
antecipam certas questões do futuro, já vêm tratando de temas como
a busca de outros planetas para garantir a sobrevivência de nossa
espécie. Você pergunta se a economia compartilhada pode ser aplicada às particularidades do mercado da saúde. Veja! Os custos da
saúde estão crescentes já há algum tempo e tendem a ser cada vez
maiores, particularmente devido a evolução tecnológica. Acredito
que estamos muito próximos do esgotamento desse modelo. A tecnologia aplicada à saúde deve e precisa continuar se desenvolvendo
até que, quem sabe um dia, encontremos os recursos para diagnosticar e tratar de todas as doenças humanas. Os sistemas de saúde
brasileiros, tanto o público, quanto o privado, já dão fortes sinais
de esgotamento. E não é só em nosso país, todos sabemos. Alguns
estão em melhores condições, outros em situação muito pior. Veja
as últimas notícias sobre o serviço de saúde britânico (NHS), que já
foi considerado por alguns como modelo. Sendo assim, precisamos
aprender a compartilhar recursos, não apenas os financeiros, mas os
tecnológicos, os humanos, o conhecimento, etc.. A coopetição (cooperação com competição) torna-se cada dia mais necessária, senão
indispensável para nossa sobrevivência.
Com a crise, o olhar na gestão tende a ser mais
focado. Os hospitais podem sair fortalecidos com o
atual momento econômico?
Afonso Silva – RS - Rio Grande do Sul
Sem dúvida temos ouvido sistematicamente que uma das soluções para a crise que vivemos na saúde é a melhoria da gestão. É
preciso ressaltar que o sistema de saúde é muito complexo e que
os hospitais são um dos importantes elementos desse sistema. Em
outras palavras, os hospitais estão sujeitos a fatores endógenos e
exógenos do sistema de saúde e, evidentemente, não têm autonomia suficiente para atuar sobre todos os outros elementos e ajustá-los. Dessa forma, haverá sempre fatores que impedirão o desenvolvimento dos hospitais. Uma boa gestão pode cuidar disso, mas
com limitações. Penso que é preciso que os hospitais, com toda
a importância que têm, analisem que “novo” papel podem e devem desempenhar, visando primordialmente ser agentes da transformação do sistema para que este preste serviços de excelência,
com qualidade e custo, acessíveis ao seu público-alvo. Desde que
iniciei minha participação nesta sessão, defendo a opinião de que
o cliente do sistema de saúde é o “paciente e agregados”. Como
aconteceu com outras indústrias, quando essa visão passou a prevalecer os negócios melhoraram, mas a competição se estabeleceu,
levando algumas empresas ao sucesso e outras ao fracasso. Houve
um processo de seleção natural, se assim podemos chamar. Creio
que o mesmo precisa acontecer com os hospitais. Os clientes dos
hospitais, pelo menos aqueles que podem, têm poder aquisitivo
para isso, já procuram selecionar onde irão fazer seu diagnóstico e/ou tratamento. Mas, como disse anteriormente, isso depende
muito da complexidade do sistema, neste caso, por exemplo, do
seguro saúde que ele adquiriu, do médico que lhe indicou onde se
tratar. Além disso, vivemos os primórdios de uma era onde, acredito, vamos tratar mais da saúde do que da doença. Não a viverei
infelizmente, mas esta é uma tendência muito clara e necessária. O
atual momento econômico do pais e do mundo exige muita consciência e criatividade por parte dos dirigentes dos elementos do
sistema, pois estamos diante do que parece ser o esgotamento de
certos recursos.
Osvino Souza é professor associado da Fundação Dom Cabral nas áreas de
Comportamento e Desenvolvimento Organizacional.
Diagnóstico
71
Divulgação
ARTIGO
Maisa Domenech
Lei 13.003 da ANS: construindo as cenas dos
próximos capítulos
R
etornamos aqui a comentar a Lei 13.003 da ANS,
não só pela sua importância e impacto no mercado de saúde suplementar, como em função da
sua inexpressiva aplicação até então. A referida
lei se encontra em vigor desde 24/12/2014. Apesar disso, se manteve silenciosa, sem qualquer
efeito prático, durante o período inicial de livre
negociação (janeiro a março de 2015). E, após este período, o que efetivamente aconteceu? A contratualização entre prestadores de serviços
médico-hospitalares e operadoras de planos de saúde aconteceu nos
moldes descritos na RN 363? E o reajuste dos prestadores em 2015 e
2016 ocorreu e/ou está ocorrendo conforme descrito na RN 364?
Com relação à contratualização do setor, pouca evolução ocorreu
até então. A rede prestadora de serviço continua sem os contratos
Os reajustes, tanto em 2015
como em 2016, para a maior
parte dos prestadores, não foram
acordados durante o período de
livre negociação. Também não
se mostraram efetivos com base
no IPCA, após o referido período,
conforme definido pela ANS.
escritos ou com contratos em não conformidade com o previsto na
RN 363. Na maioria dos instrumentos contratuais que circulam no
mercado, as penalidades por infração contratual favorecem as operadoras. Penalidades à operadora por atraso de pagamento, o que é
frequente no mercado de saúde suplementar, referentes a faturas e/
ou recursos de glosas, inexistem, incentivando tal prática e comprometendo o fluxo de caixa dos prestadores de serviços. Prazos para
pagamento de recursos encaminhados pelos prestadores às operadoras, referentes às glosas realizadas indevidamente por estas últimas,
também não aparecem explicitados nas minutas. Chama também a
atenção em alguns casos a ausência de descrição dos eventos e procedimentos médicos assistenciais que necessitam de autorização administrativa da operadora e, principalmente, a forma e o prazo deste
processo, problema este de grande impacto, sobretudo nas estruturas
hospitalares. Verifica-se, como anteriormente, que na maioria das
minutas contratuais consta referência ao manual do credenciado, referência esta que deve ser extinta definitivamente, já que usualmente tem sido um mecanismo utilizado pelas operadoras para mudar
72
Diagnóstico
as regras contratualmente estabelecidas. O manual do credenciado
poderia ser tolerado apenas nas situações em que uma determinada
versão, validada pelas partes contratantes e assinada, fizesse parte
integrante do contrato escrito. Manuais de credenciados em site, portanto, devem ser abolidos e ignorados pelo prestador, sob pena de ter
alterados os termos contratuais previamente ajustados, sem qualquer
anuência do prestador de serviço médico-hospitalar.
Sobre os reajustes, tanto em 2015 como em 2016, para a maior
parte dos prestadores, não foram acordados durante o período de livre
negociação. Também não se mostraram efetivos com base no IPCA,
após o referido período, conforme definido pela ANS, já que as negociações entre prestadores e operadoras ocorreram, quando exitosas,
em patamares menores que o citado indexador. Até mesmo a referência ao reajuste nos diversos contratos não retrata o legislado pela ANS
e, em alguns destes instrumentos, quando existe cláusula de reajuste
em conformidade com o regulado, eis que surge numa outra cláusula
um impeditivo pra que o reajuste efetivamente aconteça.
Na RN 364, merece destaque e preocupação a informação de
que, em 2016, os prestadores que não tiverem contratos formalizados ou ajustados não têm o direito ao reajuste previsto pela ANS.
Ocorre que até então, salvo pouquíssimas exceções em que o diálogo
e ajustes foram efetivos, os contratos recebidos de operadoras continuam sem retratar o equilíbrio na relação entre as partes e, portanto,
os termos previstos na lei.
Como agravante do panorama aqui descrito, a ANS publicou recentemente o FAQ da Lei 13.003, justificado por esta agência como
forma de minimizar dúvidas. Contudo, os esclarecimentos contidos
nesse instrumento sobre a referida lei e suas resoluções extrapolam,
em diversos pontos, o descrito na legislação em vigor, favorecendo, de
forma nítida, as não conformidades descritas nas diversas minutas das
operadoras de planos de saúde e, confundindo o prestador de serviço.
Ações específicas através de associações ou federações do setor
ocorreram com o intuito de alertar formalmente à ANS sobre a situação vigente. Também diversas ações, inclusive jurídicas, têm sido
desenvolvidas por parte da Confederação Nacional de Saúde (CNS),
com firme oposição à ANS no que se refere, sobretudo, aos principais
pontos de divergência, tais como, o deflator ao IPCA nos casos de não
atendimento pelo prestador ao programa de qualidade, como também
a falta de fiscalização da ANS sobre as próprias regulamentações.
Apesar do momento conturbado e desfavorável aos prestadores
de serviços médico-hospitalares, não podemos fraquejar! Com força,
união e luta, construiremos as cenas dos próximos capítulos com
votos de que a Lei 13.003 possa efetivamente contribuir com uma
relação mais justa entre os protagonistas do sistema.
Maisa Domenech é engenheira civil, pós-graduada em administração hospitalar;
atua como consultora, superintendente da Ahseb e representante técnica da Febase
no DSS da Confederação Nacional de Saúde.
Diagnóstico
73
HOSPITAL FELÍCIO ROCHO. ANAHP
HOSPITAL
FELÍCIO ROCHO
Divulgação
Benemerência, pioneirismo e tradição na saúde. Hospital
Felício Rocho se destaca como referência em alta
complexidade em Minas Gerais.
74
Diagnóstico
O Hospital Felício Rocho, um dos
mais tradicionais da capital mineira, com 63 anos de história, é referência na prestação de serviços
de saúde, em especial nos de alta
complexidade, conta com assistência médica integral, ambulatorial e
de internação para operadoras de
saúde, clientes privados e pacientes
do SUS. A instituição, que em 2014
faturou mais de R$ 183 milhões, é o
maior centro transplantador de órgãos de Minas Gerais. O hospital foi
pioneiro no estado na realização de
transplantes de pulmão, pâncreas,
duplo de rim e pâncreas, cardíaco e
hepático, sendo o primeiro feito em
uma mulher no país, em 1986.
“A história da medicina em Minas
Gerais – e mais diretamente de
Belo Horizonte – está intimamente
ligada ao Hospital Felício Rocho,
dado o pioneirismo da instituição
e os valores compartilhados com
os mineiros”, afirma a assessora de
Qualidade da instituição, Josiane
de Carvalho Pereira. Para ela, não é
possível analisar os progressos médicos das seis últimas décadas no
estado sem associá-los à atuação do
hospital. Avanços como o da prática de check-up para transplantes,
feito em apenas um dia, e o da retirada de rim de doador renal vivo
por videolaparoscopia, ambos procedimentos em que o Felício Rocho
também foi pioneiro.
Por meio do Núcleo Avançado de
Tratamento das Epilepsias (Nate),
recentemente modernizado, o hospital é referência nacional no tratamento cirúrgico da doença. A
instituição também é modelo no
país em cirurgias cardiovasculares
e ortopédicas de alta complexidade.
E, desde 2011, merece destaque a
atuação do Centro de Radiocirurgia e Radioterapia Estereotáxica.
Outra área de consolidada excelência é a oncologia clínica e cirúrgica
no combate a tumores de diversos
tipos.
A qualidade dos serviços oferecidos
pelo Felício Rocho é assegurada pela
certificação internacional Acreditação Nacional Integrada para Organizações de Saúde (NIAHO, sigla
em inglês), além da Organização
Nacional de Acreditação (ONA). “O
Hospital trabalha com o princípio da
melhoria contínua dos processos e
está sempre em busca de novos desafios”, comenta Josiane sobre os esforços do hospital em manter a qualidade dos serviços prestados, colocando
o paciente no foco da atenção. “Não
ficamos limitados à conquista das
certificações. Muito pelo contrário,
para se manter competitivo tem que
estar sempre inovando”, defende a
assessora de Qualidade.
Novas estruturas – A inovação e a
excelência na prestação dos serviços não seriam possíveis sem os in-
vestimentos constantes do hospital
na modernização de equipamentos
e instalações, além do corpo assistencial especializado, em contínua
atualização, atuando de acordo com
os princípios éticos e filosóficos que
regem a fundação. Neste contexto,
foi inaugurado, em 2015, o Ambulatório de Especialidades Médicas,
com tecnologia de ponta. “A estrutura possibilitou atendimentos de
forma mais ágil e assertiva, aumentando o giro de leitos e o fluxo de
caixa do hospital”, explica Josiane.
Outra novidade foi a inauguração,
em julho de 2015, do Pronto Atendimento Pediátrico, um espaço lúdico e estruturado para atender às
crianças com a atenção e o cuidado
necessários. No mesmo ano, o hospital também ganhou um laboratório de análises clínicas próprio.
Em novembro, foi inaugurado o
Núcleo de Ciências da Saúde Felício
Rocho, um espaço criado dentro do
hospital, com o objetivo de fortalecer a pesquisa e a formação contínua. Em dois andares, dispõe de
um moderno auditório para sediar
simpósios, congressos, palestras e
demais atividades científicas, além
de salas de aula multimídia e um
ambiente específico para a realização de pesquisas.
Essa inauguração possibilitou a interligação entre o auditório principal do núcleo e a sala cirúrgica
de alta tecnologia, recentemente
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Dr. José Carlos
Braga Nitzsche,
Diretor administrativo e financeiro
do Hospital Felício Rocho
implantada, que permite a realização de aulas sobre procedimentos
cirúrgicos. “O público presente no
auditório poderá acompanhar todos os detalhes de uma intervenção
cirúrgica, com excelente qualidade
de imagem e som”, antecipa Josiane.
Atualmente, o hospital conta com
mais de 300 leitos, distribuídos em
apartamentos e enfermarias, 30 leitos de CTI adulto, dez leitos de CTI
cardiológico e 17 salas de cirurgia.
Para 2016, está prevista a ampliação
dos leitos de Unidade de Internação
e do CTI. O Centro Cirúrgico também vai ser reformado e ampliado.
Dentre as principais aquisições da
instituição, destaque para o novo
equipamento de hemodinâmica,
único no estado. O hospital, que
atualmente conta com mais de 632
médicos efetivos além de dezenas
de residentes e especializandos, prima pela excelência assistencial, garantida pelos profissionais altamente capacitados e envolvidos com o
trabalho da instituição.
Por isso, uma das preocupações
fundamentais da instituição é a
formação continuada. “Em nossas
clínicas foram formadas diversas
turmas de especialistas, que hoje
atuam no Felício Rocho, mas também nos principais centros médicos
do país”, destaca Josiane.
Diagnóstico
75
FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER. ANAHP
FUNDAÇÃO SÃO
FRANCISCO XAVIER
Administrado pela Fundação São Francisco
Xavier, instituição de saúde é a 3ª maior de Minas
Em 2015, ano em que o Hospital
Márcio Cunha, em Ipatinga, Minas
Gerais, completou 50 anos de história, não faltaram bons feitos para
comemorar. A instituição de saúde,
administrada pela Fundação São
Francisco Xavier (FSFX), já é o 3º
maior prestador de saúde do estado, com 34 mil internações anuais,
e segundo em número de partos,
realizando quase seis mil anualmente. A entidade é referência nacional em oncologia, atendendo a
cerca de 800 mil pessoas de 35 municípios do leste mineiro. É, ainda,
hospital modelo de alta complexidade, referência em trauma, cirurgia geral, cardíaca (intervencionista
ou guiada), gestação de alto risco e
hemodiálise.
Foram muitos os investimentos
recentes em infraestrutura e modernização do hospital. A começar
pela Unidade de Oncologia, incorporada em 2011 e que permitiu à
instituição ir além das cirurgias
oncológicas que já realizava, disponibilizando para a população os
tratamentos de quimioterapia e radioterapia. No último ano, o serviço ganhou novos equipamentos de
última geração, como duas máquinas de radioterapia, uma com in76
Diagnóstico
tensidade modulada – IMRT e radiocirurgia, além da braquiterapia.
A estrutura passa por reformas de
ampliação das recepções, do número de poltronas para o tratamento
da quimioterapia e espaço exclusivo
para procedimentos de hemotransfusão. A unidade ganhou também
nova farmácia, com sistema de filtragem de ar, ambiente específico
para acolhimento e classificação de
risco dos pacientes, além de aumento na quantidade de consultórios.
“O nosso foco é a qualidade da assistência e o conforto do paciente”,
afirma o diretor executivo da FSFX,
Luís Márcio Ramos. Nos cálculos
do gestor, a fundação investiu nos
últimos cinco anos aproximadamente R$ 100 milhões em reformas
e ampliações de vários setores do
hospital, incorporando novas tecnologias e sistemas de informação,
visando à qualidade da assistência e
satisfação do cliente. “Essas melhorias já são sentidas por nossos clientes, com atendimentos mais rápidos
e seguros, além de propiciar maior
conforto”, garante o executivo.
Novas unidades – Por meio do
Programa Nacional de Apoio à
Atenção Oncológica (Pronon), do
Divulgação
Divulgação
Luís Márcio Ramos,
diretor executivo da FSFX
“O nosso foco
é a qualidade
da assistência
e o conforto do
paciente”, Luís
Márcio Ramos,
diretor executivo da
FSFX
Ministério da Saúde, que possibilita o financiamento proveniente de
empresas privadas com dedução
fiscal, a FSFX vai construir dois novos serviços no hospital. Os investimentos serão de R$ 6,6 milhões.
Um dos projetos é o da Unidade Oncológica Pediátrica. “Com o novo
serviço, as crianças e seus familiares não vão mais precisar sair da
região para centros como Belo Horizonte ou São Paulo em busca do
tratamento oncológico”, conta Luís
Márcio, que aponta a implantação
do serviço como prioridade para o
próximo ano. “Pode parecer fácil,
para um prestador de saúde que já
trate o câncer em adultos, montar
uma unidade oncológica pediátrica,
mas não é”, comenta o gestor sobre
o desafio para a fundação ao projetar o novo serviço. “Uma estrutura
como a que planejamos precisa ser
lúdica, ambientada para a criança,
Diagnóstico
77
FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER . ANAHP
Divulgação
“Aprendemos
com a Usiminas
que é importante
sobreviver num
mercado cada vez
mais competitivo,
mas trazendo o
desenvolvimento
social como algo
inerente ao processo
produtivo da
empresa”, Luís
Márcio Ramos,
diretor executivo da
FSFX
78
Diagnóstico
conciliando o tratamento, o exercício pleno da infância e a integração
com a família, dentro do permitido
pelas normas sanitárias”, completa.
A outra novidade será a criação
da Unidade de Cuidados Paliativos, com o intuito de proporcionar
acolhimento, conforto e controle
da dor. “É uma forma de apoiar os
pacientes e suas famílias em um
momento tão difícil da vida deles”,
acredita Luís.
O Márcio Cunha foi o primeiro do
país a ser “Acreditado com Excelência” pela Organização Nacional
de Acreditação (ONA). No ano de
2014, recebeu a certificação internacional DIAS/NIAHO (Det Norske Veritas International Accreditation Standard / National Integrated
Accreditation for Healthcare Organizations). A instituição presta
serviços para a saúde pública, suplementar e particular do estado.
A estrutura conta com 530 leitos de
internação, distribuídos em duas
modernas unidades, equipadas para
atendimentos de alta complexidade
e prestação de serviços nas áreas de
ambulatório, pronto-socorro, internação e serviços de diagnóstico.
Humanitarismo – Entidade filantrópica, a Fundação São Francisco
Xavier é o braço social da empresa de siderurgia Usiminas. Maior
fabricante de laminados planos da
América Latina e líder no mercado
nacional, a companhia se instalou
em Ipatinga no final da década de
50, quando a cidade ainda era um
vilarejo às margens da estrada de
ferro Vitória a Minas (EFVM).
Com o apoio do poder público da
época, a Usiminas levou desenvolvimento para a localidade, pondo
em prática um projeto urbanístico.
Na primeira metade dos anos 60,
a organização construiu o Colégio
São Francisco Xavier e o Hospital
Divulgação
Márcio Cunha, com o intuito de garantir infraestrutura e atenção básica necessárias às famílias dos colaboradores da companhia que ali
se instalariam. Em 1969, a empresa
siderúrgica instituiu a Fundação
São Francisco Xavier para administrar a escola e o hospital, até aquele
momento função do convênio com
a Companhia de Jesus – Padres Jesuítas – e a Congregação Irmãs de
Jesus da Santa Eucaristia.
Posteriormente, a FSFX responderia também pelo Centro de Odontologia Integrada, pelo Serviço de
Segurança do Trabalho, Saúde Ocupacional e Meio Ambiente, e pela
Usisaúde, operadora de planos de
saúde e odontológicos das empresas Usiminas em todo o país. Este
último é responsável por cerca de
43% do faturamento da fundação,
que em 2015 atingiu a casa dos quase R$ 700 milhões – a expectativa é
que esse valor chegue a R$ 1 bilhão
em 2018. Logo em seguida vem o
Márcio Cunha, correspondendo a
35% dos negócios.
Com a sua instituidora e, atualmente, maior cliente, a FSFX aprendeu
os conceitos de gestão profissionalizada e autossustentável, adotando
na gestão de suas unidades de negócio conceitos advindos da administração industrial. “Aprendemos
com a Usiminas que é importante
sobreviver num mercado cada vez
mais competitivo, mas trazendo o
desenvolvimento social como algo
inerente ao processo produtivo da
empresa”, diz Luís Márcio Ramos.
Ele cita como exemplos as diversas
iniciativas da instituição voltadas
para a valorização do ser humano
por meio da educação, cultura e
saúde. Segundo o executivo, é muito importante para a durabilidade dos negócios que o gestor atue
com firmeza, evitando desperdícios
e pensando a sustentabilidade do
negócio. “Trata-se de um compromisso em fazer a instituição perene,
agregando para a sociedade e pensando no resultado que virá lá na
frente”, aponta.
Foi pensando na sustentabilidade e
aplicando os preceitos da responsabilidade social, que a fundação, em
parceria com a Usiminas, lançou o
Projeto Educação em Segurança e
Saúde. Iniciativa pioneira no Brasil, o programa visa desenvolver nas
crianças e adolescentes uma cultura de cuidados e de valorização
da vida. Para tanto, foi criada uma
nova disciplina na matriz curricular
da escola administrada pela FSFX,
que abrangerá todas as séries escolares. “Vamos ensinar os conceitos
de riscos, comportamentos seguros e aspectos ligados à saúde para
conscientizar a sociedade quanto à
“Práticas como
essa do programa
Educação em
Segurança e
Saúde, onde há a
conscientização
dos alunos com
efetiva participação
da sociedade, vão
permitir a criação
de uma cultura
de valorização da
vida, desonerando
os sistemas de
saúde dos eventos
preventivos”, Luís
Márcio Ramos,
diretor executivo da
FSFX
importância da prevenção contra
os perigos da modernidade”, explana Luís Márcio. O executivo se
refere a problemas como violência urbana, acidentes no trânsito e
criminalidade, geradores de custos
para o Estado e que, por muitas vezes, incapacitam pessoas em idade
produtiva. Reforça ainda sobre os
inúmeros acidentes, como queimaduras, quedas e afogamento envolvendo crianças, muitas com desfecho trágico. “Práticas como essa do
programa Educação em Segurança
e Saúde, onde há a conscientização
dos alunos com efetiva participação
da sociedade, vão permitir a criação de uma cultura de valorização
da vida, desonerando os sistemas
de saúde dos eventos preventivos”,
conclui.
Diagnóstico
79
COMPLEXO HOSPITALAR EDMUNDO VASCONCELOS. ANAHP
Divulgação
COMPLEXO HOSPITALAR
EDMUNDO VASCONCELOS
Centro de excelência médica integrada, a instituição ocupa uma posição de
referência no setor
Um dos principais hospitais privados de São Paulo, com 220 leitos,
o Complexo Hospitalar Edmundo
Vasconcelos é um centro de excelência médica no estado. Fundada em 1949, ao lado do Parque
do Ibirapuera, a instituição atende
mais de 50 especialidades, além de
possuir importantes áreas de terapia intensiva e contar com uma
das mais bem equipadas unidades
de diagnóstico do país, realizando
80
Diagnóstico
1,45 milhão de exames anualmente.
Há cinco anos, o hospital figura entre os Melhores Hospitais da América Latina no Ranking da Revista
América Economia, avaliação que
combina indicadores de êxito médico com resultados financeiros e
de sustentabilidade do negócio. No
último estudo, a publicação classificou o Edmundo Vasconcelos como
um dos seis melhores hospitais do
Brasil.
Dr. Dario Antonio
Ferreira Neto,
Diretor administrativo do Complexo
Hospitalar Edmundo Vasconcelos
“Os investimentos em tecnologia de
ponta, o acompanhamento dos recursos científicos e tecnológicos, a
técnica e o desempenho dos profissionais do hospital levam a instituição a uma posição de referência no
setor”, conta o diretor administrativo Dario Antonio Ferreira Neto.
Ele também destaca a Acreditação
Hospitalar Nível 3 - Excelência em
Gestão, concedida ao Edmundo
Vasconcelos pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), e o
Prêmio Melhores Empresas para
Trabalhar no Brasil, conquistado
pelo quinto ano consecutivo em
2015.
“Durante as mais de seis décadas
de história do hospital, a busca pela
melhoria contínua norteou todas as
iniciativas da organização”, continua o executivo, ressaltando a alta
qualidade da equipe multidisciplinar que atua na instituição. São
cerca de 1.400 médicos realizando
anualmente 12 mil procedimentos
cirúrgicos, 13 mil internações, 230
mil consultas ambulatoriais e 145
mil atendimentos de pronto-socorro.
Outro ponto que merece destaque
são a arquitetura e a infraestrutura
diferenciadas, onde todos os apartamentos são equipados com TV a
cabo, ar-condicionado, cama elétrica, frigobar e wi-fi. “Tudo no Complexo Hospitalar reflete a preocupação com o bem-estar dos clientes”,
reforça o diretor, referindo-se ao
acolhimento no atendimento, à hotelaria de alto padrão, tecnologia de
ponta e inovadora, pesquisa científica e novas soluções em medicina
adotadas. A estrutura disponibiliza,
ainda, coffee-shop 24 horas, restaurante, banco dia e noite, heliponto e
amplo estacionamento.
A responsabilidade socioambien-
Divulgação
Divulgação
tal também é um dos compromissos do hospital, que há mais de dez
anos põe em prática o Plano de Gerenciamento de Resíduos da Saúde
(PGRS). A iniciativa inclui coleta
seletiva, realizada por meio da diferenciação de cores dos sacos de lixo,
com segregação de plásticos, papéis, latas de alumínio, lâmpadas e
óleo saturado de cozinha – uma coleta aproximada de 2.850 litros por
ano. Os produtos coletados seguem
para uma empresa parceira de reciclagem. “Para cada litro de óleo destinado corretamente, evitamos que
um milhão de litros de água sejam
contaminados”, orgulha-se Ferreira.
agilidade no fluxo de atendimento,
ao permitir a visualização de imagens em alta resolução de qualquer
ponto do hospital, produzidas no
centro de diagnósticos.
Em 2015, a organização também
criou e estruturou uma nova unidade de negócio, denominada Produtos e Precificação. A iniciativa teve
como objetivo padronizar as condições comerciais e fazer valorações
de faturamentos e das suas respectivas cobranças, evitando a incidência de inconsistências.
Para 2016, serão mantidos os investimentos em ampliação e modernização do Centro Médico de Especialidades e do Centro Cirúrgico em
infraestrutura médico hospitalar. A
instituição também prevê aquisição de novos equipamentos e emprego de recursos para promover a
qualificação dos seus funcionários.
“Pretendemos manter a excelência
de nossos serviços, desenvolvendo
cada vez mais a tecnologia e aprimorando o conforto e a qualidade de
nossas instalações”, afirma Ferreira
sobre os desafios para o novo ano.
Ainda segundo ele, “faz parte também dessa estratégia a valorização
da nossa imagem social e científica,
a evolução da nossa infraestrutura
de serviços e o desenvolvimento
profissional em busca da qualidade
total em todas as nossas atividades”,
completa.
Modernização – Nos últimos anos,
foram constantes os investimentos no Parque Tecnológico Médico-Hospitalar do Edmundo Vasconcelos. A instituição empregou
recursos na adoção de novas tecnologias de produção, captação e
transmissão de imagens de exames.
Houve a ampliação, modernização
e reestruturação do Centro Médico de Especialidades. Além disso,
foram adquiridos equipamentos
como a tomografia Multi-Slice e
promovida a reestruturação da
área de TI do hospital, com destaque para a implantação do prontuário eletrônico e do sistema Pacs
(Picture Archive Communications
System). Este último conferiu mais
Diagnóstico
81
ENTREVISTA
JORGE SOLLA
O DEPUTADO JORGE SOLLA
(PT-BA), AUTOR DO PL 559/15,
QUE CRIA O SISTEMA S NA
SAÚDE
Divulgação
SISTEMA S DE SAÚDE
Um total de R$ 400 milhões transitará do Sistema S do Comércio se o PL 559/15 for
aprovado e, com ele, surgir o Sistema S de Saúde. Isso permitirá maior qualificação dos
trabalhadores do setor e o acompanhamento permanente da evolução da medicina e
equipamentos médicos e hospitalares. Quem sairá ganhando são os pacientes.
Filipe Sousa e Cyda Brito
82
Diagnóstico
E
specialistas defendem
criação do Sistema
S da Saúde, também
apadrinhada por trabalhadores, empresários, governo federal
e parlamentares com
atuação na área da saúde. Essa é uma
discussão com mais de uma década e
que teve agora desenvolvimentos importantes. O Sistema S da Saúde tem como
base o Projeto de Lei (PL) 559/15, que
desvincula os estabelecimentos da saúde
do Sistema S do Comércio. Essa desvinculação faz transitar um orçamento de
R$ 400 milhões do Comércio para a Saúde. De acordo com o representante do
Ministério da Saúde, o secretário Heider
Aurélio Pinto “O texto foi analisado em
três secretarias e todas foram favoráveis,
observando, principalmente, o benefício
que trará para os trabalhadores da saúde”,
o que é demonstrativo do apoio federal.
Outro dos apoiadores de relevo do PL é a
Confederação Nacional de Saúde (CNS),
liderada por Tércio Kasten, que também
destacou a importância do processo decisório passar do domínio do Comércio
para o da Saúde: “O princípio é simples:
quem tem que dizer o que é necessário
é quem é da área da saúde. Nós faremos
aquilo que nos faz falta”. Por seu lado,
o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Saúde, João
Rodrigues Filho, defende que a real demanda dos serviços de saúde no Brasil
terá resposta na oferta de cursos gratuitos. Isso permitirá aos trabalhadores
prestar serviços de qualidade. “A medicina é muito dinâmica, equipamentos e
tecnologias avançam a cada ano, e como
não temos qualificação permanente, temos problemas para dar o atendimento
digno aos pacientes”, afirmou.
O autor do PL, deputado Jorge Solla
(PT-BA), explica que o investimento se
destina prioritariamente a qualificação
profissional. “Nós não faremos investimentos em infraestrutura de escolas, mas
vamos aproveitar as já existentes do SUS
(Sistema Único de Saúde), universidades
e instituições de ensino privadas para
parcerias, mas sempre com isenção total
de taxas de matrícula e mensalidade”,
afirmou o deputado. A Diagnóstico quis
saber mais detalhes junto do principal dinamizador do Sistema S da Saúde.
Revista Diagnóstico – A criação do Sis-
tema S de Saúde já foi um projeto de
Lei do Senado, autoria do então senador Geraldo Althoff (PFL-SC), em 2001.
A matéria também foi discutida na Câmara (dep. Lelo Coimbra). O PL, no entanto, foi arquivado. O que deu errado
anteriormente?
Jorge Solla – Eu diria que, primeiro, o
que não vai ser diferente agora, existe
uma reação contrária dos setores ligados
ao comércio e é fácil de entender. Obviamente que o Sesc/Senac não quer perder
mais de R$400 milhões por ano. O que é
que muda? Acho que muda muita coisa
de 2001 para cá. Acho que o setor saúde
continuou crescendo, ampliou a representação do setor no Congresso. Nós temos
hoje mais parlamentares que têm uma
relação positiva com o setor saúde, não
que necessariamente todos sejam profissionais de saúde. Aumentou o número de
profissionais de saúde representantes e
aumentou também o número dos que não
são profissionais de saúde, mas têm uma
relação positiva com o setor. Além disso,
a proposta que foi debatida naquela época era muito nos marcos do formato do
Sistema S das outras áreas. Nós estamos
construindo uma proposta mais inovadora. Diferente de outras áreas, na saúde,
o setor público e privado são muito interligados, eles têm vasos comunicantes
muito fortes. O trabalhador da saúde, a
maioria deles, tem vínculos públicos e
privados durante a sua vida profissional.
Mesmo quando não tem ao mesmo tempo, que também é comum acontecer.
Naquela época a legislação só permitia
para médicos acumular dois vínculos no
setor público e, de lá para cá, ampliou as
possibilidades para todos os profissionais
de saúde terem dois vínculos públicos,
mas nada impede que mesmo assim ele
acumule vínculo com o setor privado. E é
muito comum isso acontecer. Mesmo que
não tenha ao mesmo tempo, na sua trajetória profissional, termina migrando entre o setor público e privado. Então o investimento em formação profissional de
saúde é positivo para todos os segmentos.
Nós estamos construindo uma proposta,
em que estamos não só ouvindo também
o setor público, mas trazendo ele para
participar. Já teve um parecer favorável
do Ministério da Saúde. Estamos trabalhando a proposta para que o Serviço
Nacional de Aprendizagem da Saúde não
venha a ter que construir uma rede pró-
“Estamos
trabalhando a
proposta para que
o Serviço Nacional
de Aprendizagem
da Saúde não
venha a ter que
construir uma
rede própria de
escolas. A ideia
é que ele venha
utilizar as escolas
do Sistema Único
de Saúde”
pria de escolas. A ideia é que ele venha
utilizar as escolas do Sistema Único de
Saúde. Outra coisa que nós estamos também apontando é para que o Senass não
cobre mensalidades nem taxas dos trabalhadores no seu processo de formação
profissional. Que o recurso captado pelas
contribuições seja utilizado, e é suficiente, para cobrir os custos desse processo
de capacitação.
Diagnóstico – Com a criação do Sistema
S de Saúde, cerca de R$ 400 milhões serão destinados a capacitação e ações de
cunho social específicas para os trabalhadores de saúde. Quem irá gerenciar
essa verba?
Solla – Então, no formato Sistema S, o
mantenedor, gestor, é a confederação da
área. A Confederação Nacional de Saúde será a gestora, mas em parceria com a
representação dos trabalhadores, a CNTS
e a CNTSS, e também a representação
dos poderes públicos. No caso, o SUS e
o Ministério da Saúde (no plano federal),
e queremos envolver também os conselhos e secretários estaduais e municipais
nesse processo. Nós nunca tivemos R$
Diagnóstico
83
ENTREVISTA
JORGE SOLLA
Divulgação
“É bom lembrar
que o Sistema
S foi criado na
década de 40
e nos anos 40
o setor saúde
não tinha essa
pujança”
400 milhões por ano para investir em
um grande programa de capacitação profissional, como poderemos ter com essa
situação. O setor da saúde cresceu. Hoje
a saúde movimenta 9,5% do PIB, quase
10% do PIB nacional está no setor saúde.
É um segmento de alta empregabilidade e
que mesmo nos momentos de dificuldade
econômica como estamos vivendo este
ano, em que cresceu o desemprego, ainda
assim o setor saúde não só não desempregou, como aumentou novos postos de
trabalho. Nós vamos fechar o ano com
novos postos de trabalho, legalmente instituídos, com carteira assinada. São cerca
de cinco milhões de trabalhadores no setor privado da saúde, fora o público. Isso
atuando em mais de 100 mil serviços privados de saúde. Eu não tenho aqui o número de novos postos, mas acredito que
chega perto de 100 mil novos postos de
trabalho em 2015. Em um ano de crescimento do desemprego, um setor que
abre 100 mil novos postos de trabalho
formalizados mostra a potência que é. A
saúde é um grande vetor de desenvolvimento regional, é um grande vetor de distribuição de renda, tem impacto positivo
na economia. Eu estou falando de cinco
milhões de empregos diretos, fora todo
o conjunto de empresas que gravitam na
esfera suposta ao setor saúde, empresas
voltadas a produção de medicamentos,
distribuidoras, fornecedoras dos mais diversos insumos para saúde.
É bom lembrar que o Sistema S foi criado na década de 40 e nos anos 40 o setor saúde não tinha essa pujança. Então
é natural que durante muito tempo a área
84
Diagnóstico
de saúde ficasse a reboque da área de comércio e serviço. Mas não faz mais sentido. Hoje, pelo porte do setor, ele deve ter
mais espaço. Outra característica importante de lembrar é que na área de saúde, o
maior investimento que você pode fazer é
na formação dos trabalhadores. Porque é
um setor que, diferente, por exemplo, do
setor bancário ou da indústria, em que a
incorporação tecnológica desempregou,
no setor saúde a incorporação tecnológica não gera desemprego. São tecnologias
que se somam e que geram a cada novo
processo a necessidade de trabalhadores
mais qualificados. O trabalhador da saúde não pode ficar dez anos sem se atualizar porque ele vai perder a capacidade de
estar preparado para o processo de trabalho que vai estar vigente. Incorporamos
rapidamente tecnologia e com isso você
precisa de investimentos e o maior investimento que você pode fazer na saúde é
na qualificação e atualização profissional.
Diagnóstico – Quais são as principais
demandas (carências) do setor em relação a capacitação profissional?
Solla – Nós temos, de um lado, algumas
lacunas regionais importantes, de outro
lado, a necessidade de perfis profissionais mais adequados a incorporações de
determinas tecnologias e a novos pro-
cessos de trabalho. E a formação profissional, não só na área de saúde, ela é
geral. O profissional sai da universidade
com uma formação mais geral naquela
área e com a capacidade para se preparar para determinados tipos de atividade.
Então, um profissional recém-formado,
saindo de um curso de enfermagem, por
exemplo, pode fazer um concurso para
uma instituição pública ou prestar uma
seleção para uma instituição privada e a
vaga que tem lá é para trabalhar em uma
UTI. O profissional não sai da graduação
plenamente capacitado para exercer uma
atividade dessas. Então diversos postos
de trabalho ao receber um novo profissional terminam precisando fazer algum
tipo de investimento na preparação dele.
E se esse investimento for feito de forma
mais estruturada, com atualizações permanentes, com certeza o profissional vai
se sentir mais preparado, o serviço vai se
sentir mais confiante na atuação daquele profissional e o usuário vai ser melhor
assistido por esse trabalhador da saúde.
Diagnóstico – As escolas do SUS serão
suficientes para atender as demandas
do Senass?
Solla – Sim. Se nós utilizarmos as escolas
do SUS, fizermos parcerias com as universidades e com o próprio setor priva-
solution
Mais do que a ausência de doenças, saúde é um estado de bem-estar.
E é isso que move o Grupo Hermes Pardini: viver a saúde de forma
integrativa, construindo relações saudáveis em todos os níveis.
Com a inovação no nosso DNA, o bom humor como valor e as pessoas
como inspiração, trabalhamos e crescemos diariamente para nos
tornarmos um centro de conveniência em saúde. Para que fique tudo
bem. Porque este é o primeiro passo para ficar ainda melhor.
Ligue: (31) 3228-1800
hermespardini.com.br
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CRMMG 33477 - RQE 21876 - Inscrição CRM 356 - MG
Medicina, Saúde
e Bem-estar
Diagnóstico
85
ENTREVISTA
JORGE SOLLA
do de saúde, que também já tem vários
hospitais com investimentos próprios na
área de formação profissional. Se trabalharmos em rede, se trabalharmos a formação e qualificação profissional em serviço, utilizarmos a parceria com o setor
público, com certeza, nós vamos poder
utilizar muito melhor esses recursos para
uma oferta muito melhor de qualificação
profissional. Outra coisa é que nós estamos buscando uma gestão mais democrática, mais transparente, com a maior
participação dos trabalhadores e do setor
público nos rumos desse serviço nacional
de aprendizagem em saúde.
Diagnóstico – E quais serão as competências do Sess?
Solla – As competências do Sess dizem
respeito mais ao suporte social, viabilizar
atividades assistenciais e de lazer para os
trabalhadores. A ideia é que o Senass seja
prioritário, não que o Sess não seja importante também, mas pela importância
estratégica da formação profissional, da
qualificação profissional, a ideia é que se
dê uma ênfase maior nesse âmbito.
Diagnóstico – Como o senhor avalia o
atual modelo, no qual a arrecadação
anual do setor saúde é voltada para a
Confederação Nacional do Comércio?
Solla – O Sesc/Senac tem outras prioridades. Nenhuma crítica ao Sesc/Senac,
“O trabalhador da
saúde não pode
ficar dez anos sem
se atualizar porque
ele vai perder a
capacidade de
estar preparado
para o processo
de trabalho que
vai estar vigente”
86
Diagnóstico
pelo contrário, acho que o Sistema S no
Brasil tem dado resultados positivos. Nós
temos agora, por exemplo, uma parceria
muito grande do Pronatec com o Sistema
S e, sem sombra de dúvidas, ele tem sido
muito importante para ampliar a qualificação, especialmente, técnica dos jovens.
Mas o setor saúde não tem sido prioridade nesse trabalho feito pelo Sesc/Senac.
Solla – Eu diria que são positivas. Nós
fizemos uma audiência pública que reiterou a posição favorável de todas as instituições do setor saúde. Representantes
dos empregadores, dos trabalhadores, do
setor público. E na Comissão de Seguridade Social, a gente tem conversado com
alguns deputados e há uma posição muito
favorável também.
Diagnóstico – Quais são as perspectivas
de aprovação do projeto?
Diagnóstico – Quem participou?
Solla – A Confederação Nacional da Saú-
“Em um ano de crescimento do
desemprego, um setor que abre
100 mil novos postos de trabalho
formalizados mostra a potência
que é”
Divulgação
de, Confederação Nacional de Trabalhadores da Saúde, Ministério da Saúde e
a Confederação Nacional do Comércio.
Claro que a CNC foi contra, mas foi a
única voz contrária na audiência.
Diagnóstico – Quais foram os avanços
alcançados na audiência e quais são os
próximos passos?
Solla – Nós debatemos a proposta e
agora estamos aguardando o parecer do
deputado Tarcísio Perone (PMDB-RS),
escolhido como relator. A expectativa é
de que ele possa pegar esse relatório o
mais breve possível para que ainda nesse
semestre a gente possa colocar em votação na Comissão de Seguridade Social.
Aprovando, nós vamos ter mais dois
estágios: Comissão de Trabalho e a Comissão de Constituição e Justiça. É um
projeto terminativo, ou seja, ele não precisa ir a Plenário se passar nas três comissões. Temos boas chances. Para mim,
a tarefa mais decisiva vai ser na Comissão de Trabalho porque é onde nós temos
um maior peso de representantes que têm
uma maior relação com o setor de comércio.
Diagnóstico – Quem são os principais
apoiadores do Projeto?
Solla – Confederação Nacional de Saúde,
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde, Ministério da Saúde.
Diagnóstico – Qual o argumento dos
opositores?
Solla – Sesc/Senac argumentam que vão
perder recursos. Qualquer instituição que
se sinta ameaçada em perder R$ 400 milhões por ano não vai ficar satisfeita. O
argumento deles é que eles dão o retorno para os trabalhadores de saúde, o que
não é verdade. Eles falam que já fazem
cursos para área de saúde, quando você
vai ver são cursos de primeiros socorros,
curso para balconista de farmácia. Apesar de farmácia ser um equipamento de
saúde, o empreendimento farmacêutico
privado é comércio, então o retorno é mínimo. Eles argumentam que já possuem
uma infraestrutura montada de escolas,
que nós teremos que fazer investimentos... Mas nós estamos mostrando que
não, que não precisamos de prédios faraônicos, não precisamos construir uma
rede de estruturas físicas, nós podemos
usar o que já temos no setor saúde, tanto
na área pública, quanto na área privada.
Diagnóstico
87
REPORTAGEM
MÉDICOS NA TRIBO
Xamãs dos tempos
modernos
Tribos indígenas na Amazônia recebem atendimento médico de alta qualidade graças
à ONG Expedicionários da Saúde. Com o apoio e as doações de diversas instituições, os
voluntários levam até os pacientes da Amazônia consultas, atendimento oftalmológico e
um conjunto de serviços que muda suas vidas
88
Diagnóstico
E
Divulgação
ASSOCIAÇÃO EXPEDICIONÁRIOS
DA SAÚDE: voluntários da ONG
levam atendimento médico de alta
qualidade aos indígenas da selva
amazônica
m 2002, uma caminhada
turística levou à criação
da Associação Expedicionários da Saúde. Um
passeio que, segundo Ricardo Affonso Ferreira,
presidente dos Expedicionários da Saúde, médico ortopedista do
Instituto Affonso Ferreira e membro do corpo clínico do Centro Médico de Campinas,
inspirou a mudança do foco das viagens.
Quando foi oficializada, em 2003, houve necessidade de realizar um planejamento
eficaz, procurar instituições de referência
e parcerias que auxiliassem no projeto de
operar mudanças significativas na saúde da
população indígena.
E basta olhar para os resultados apresentados pela ONG. Uma expedição de 15
dias, em 2004, permitia realizar pouco mais
de uma centena de consultas e 52 operações.
Hoje em dia, uma semana corresponde a
cerca de três milhares de pacientes atendidos e entre 200 a 300 cirurgias realizadas.
São 12 anos que levaram os voluntários por
34 vezes até ao coração da selva amazônica,
efetuando aproximadamente 5,5 mil cirurgias e 35 mil atendimentos.
A Diagnóstico quis ouvir médicos e colaboradores da organização e procurou testemunhos da mais recente expedição. Benedita e Maurício, da comunidade Yanomami
contaram como as suas vidas mudaram após
conhecerem a ONG.
Revista Diagnóstico – Como surgiu a
ideia da Associação Expedicionários da
Saúde?
Ricardo Affonso Ferreira – O expedicionário começou como uma caminhada para
o Pico da Neblina a turismo, em 2002. No
caminho, paramos em uma aldeia chamada
Maturaca. Nos deparamos com uma realidade muito diferente da que vivíamos e resolvemos mudar o foco das viagens e tentar
fazer alguma coisa pela população indígena
Diagnóstico
89
REPORTAGEM
MÉDICOS NA TRIBO
da região. Procuramos instituições responsáveis pelo atendimento à saúde para entender como atuavam e assim planejar uma
participação eficaz.
Assim, em 2003, foi oficialmente estruturada a Associação Expedicionários
da Saúde. Desde então, as caminhadas
iniciais transformaram-se em expedições
de atendimento médico às comunidades
indígenas na Amazônia, dando origem ao
Programa Operando na Amazônia - Rio
Negro. Nos primeiros anos, a ONG ficou
dentro da ‘cabeça do cachorro’, noroeste
brasileiro, onde vivem 22 etnias diferentes
(entre 15 e 20 mil pessoas). Atualmente,
as expedições estão voltadas para locais
onde já fomos outras vezes e sabemos das
necessidades. Também estamos indo para
locais por meio de solicitações de líderes
indígenas.
Diagnóstico – Quais os obstáculos que
encontram e como os ultrapassam?
Ricardo – É importante ressaltar que se
trata de um serviço complementar aos programas existentes de atendimento à saúde
indígena e que visa evitar a necessidade
de deslocamento, custoso e traumático, do
doente e sua família até centros urbanos.
O trabalho é viabilizado a partir de parcerias com atores e instituições locais para
realização de diagnósticos e pré-seleção
de pacientes, planejamento das viagens da
equipe de médicos e de utilização de nosso
Centro Cirúrgico Móvel.
No início operávamos em hospitais semiabandonados nas fronteiras do Brasil.
Após um ano, tivemos a ideia de fazer cirurgias em tendas, consideradas “high-tech”, que são transformadas em um complexo hospitalar, com centro cirúrgico,
EM 12 ANOS, OS
VOLUNTÁRIOS POR
34 VEZES VIAJARAM
ATÉ O CORAÇÃO DA
SELVA AMAZÔNICA,
EFETUANDO
APROXIMADAMENTE
5,5 MIL CIRURGIAS
E 35 MIL
ATENDIMENTOS.
90
Diagnóstico
para procedimentos de médio porte, como
cataratas e hérnias inguinais e epigástricas,
além de partos e exames de diagnósticos.
Os procedimentos mais recorrentes estão relacionados ao modo de vida nas tribos. Grande parte das cirurgias de hérnia é
realizada em crianças que, desde cedo, ajudam a família a transportar cargas como a
colheita de mandioca e roupas para serem
lavadas no rio. Além disso, realizamos um
grande número de cirurgias de catarata em
jovens e adultos afetados precocemente
pela alta incidência de luz solar na região.
Diagnóstico – Que ajuda recebem?
Ricardo – Além do trabalho dos médicos voluntários, os Expedicionários da
Saúde contam com o apoio de outros profissionais que ajudam a viabilizar a instituição. A parceria com empresas na forma de
doações financeiras, de serviços e de materiais é o que tem tornado o projeto viável.
Diagnóstico – Quais os desafios e objetivos dos Expedicionários?
Ricardo – Toda ONG tem começo,
meio e fim. A EDS está no meio e planejamos expandir para o restante da América
Latina. Buscamos ser referência de saúde
pública no Brasil. Nesses 13 anos, a EDS
já cobriu, com atendimentos, uma área
maior do que a França - além de cuidar dos
indivíduos, a ONG respeita a floresta.
A promessa da ONG é atender com
excelência os indígenas e, para isso, precisamos fazer com que diferentes órgãos do
governo conversem. Sem o apoio de empresas privadas, não conseguiríamos viabilizar um atendimento de ponta. Hoje não
há muito tempo para captação de recursos
e as captações acabam sendo espontâneas.
U
m dos mais recentes
apoios que a EDS recebeu foi da GE. Um
parceiro que surgiu
através da iniciativa
de uma voluntária
da ONG. Fabiana
Garcia, gerente de produtos da GE, integrava as expedições da organização, quando decidiu propor a colaboração entre as
duas instituições, como a própria explicou
à Diagnóstico.
Diagnóstico – Como surgiu a ideia de
fazer a ponte entre a GE e a Expedicionários da Saúde?
FABIANA GARCIA (GERENTE DE
PRODUTOS GE): a EDS ganhou uma
voluntária e uma aliada
Fabiana Garcia – A iniciativa da companhia partiu da minha indicação, já que
sou voluntária na organização social há
um ano. Comecei através do meu trabalho
anterior, e nas minhas últimas férias me
dediquei como voluntária às expedições da
ONG e na terceira expedição que participei, fui como voluntária e também como
funcionária GE.
Ao chegar à GE, identifiquei que com
os produtos disponíveis na empresa seria
possível levar qualidade ao diagnóstico
desse público e proporcionar agilidade
no tratamento, já que, com os aparelhos
portáteis, o tempo de deslocar essas pessoas para fazer o diagnóstico em outro lu-
ESTAVA MUITO TRISTE,
POIS SÓ FICAVA NA
REDE O DIA TODO
DEPENDENDO DE
CUIDADOS. QUANDO
VOLTEI A ENXERGAR,
ISSO ME PERMITIU
CAÇAR, PESCAR,
ANDAR DE BARCO E
VER O SOL E A LUA
DE NOVO, POIUS
GOSTO MUITO. ESTOU
EXTREMAMENTE
FELIZ E DISSE QUE
NÃO TINHA COMO
AGRADECER.
Divulgação
NA VOZ DOS PACIENTES
O mais difícil, talvez, era conseguir
recolher os testemunhos de pacientes que conseguiram atendimento
médico da EDS. A Amazônia não será
um local de fácil acesso, mas dois dos
membros da comunidade Yanomami,
Benedita (85 anos) e Maurício (70
anos) transmitiram o sentimento de
gratidão pela forma como a EDS melhorou suas vidas. Maurício havia feito um pedido especial: “Ele pediu um
chinelo, e conseguimos um para ele.
Ficou muito agradecido e disse que ficaria ainda melhor fazer tudo isso sem
pisar no chão”. E conseguiu mais que
um chinelo.
Diagnóstico – O que você acha de receber atendimento médico?
Maurício Yanomami – Muito especial.
Nunca havia recebido nenhum tipo
de atendimento e sofria demais sem
enxergar. Tinha os dois olhos comprometidos.
Diagnóstico – Como foi receber os
médicos?
Maurício – Foi muito bom e impor-
tante. Nunca tive uma experiência tão
boa. Não conhecia esse tipo de atendimento e nem imaginava que existia.
Diagnóstico – No começo estava desconfiado, com medo?
Maurício – Não tive medo. Fiquei apenas ansioso a respeito do resultado.
Diagnóstico – O que mudou na sua
vida depois da vinda dessas expedições?
Maurício – Meu sonho era andar de
avião... Estava muito triste, pois só ficava na rede o dia todo dependendo
de cuidados. Quando voltei a enxergar, isso me permitiu caçar, pescar,
andar de barco e ver o sol e a lua de
novo, pois gosto muito. Estou extremamente feliz e disse que não tinha
como agradecer.
Diagnóstico – O que a oportunidade de cuidar da saúde significa para
você?
Maurício – Poder aproveitar a vida,
ser útil e cuidar da família novamente.
Diagnóstico – O que você acha de receber atendimento médico?
Benedita Yanomami – Muito importante, pois moro em uma aldeia mui-
MAURÍCIO YANOMAMI
to afastada e não enxergava mais e
deixei de fazer várias coisas. Além de
ser a primeira vez que tive um atendimento oftalmológico.
Diagnóstico – Como foi receber os
médicos?
Benedita – Foi bonito e especial, fiquei muito feliz por terem escolhidos
os Yanomamis. Pois é um povo muito
carente e isolado.
Diagnóstico – No começo estava desconfiada/com medo?
Benedita – Com muito medo, principalmente quando andei de helicóptero. Nunca havia visto um, porque
sempre andei de barco a vida toda.
Fiquei desconfiada dos médicos.
Diagnóstico – O que mudou na sua
vida depois da vinda dessas expedições?
Benedita – Poder voltar a trabalhar,
pois cuido da família e de dez filhos e
muitos netos sozinha. (Na cultura indígena, é muito comum a mais velha
ser responsável pelo sustento da casa)
Diagnóstico – O que a oportunidade de cuidar da saúde significa para
você?
Benedita – Poder viver melhor.
Diagnóstico
91
Experiência
e Referência
em Higienização
Hospitalar.
Treinamento e Capacitação Profissional
92
Todo o professional da Souza e Filhos passa por um
processo de seleção rigoroso e por treinamento específico
para a autilização das mais modernas técnicas de higienização.
A Souza e Filhos fez questão de montar sua própria Escola
de Treinamento e Capacitação, um espaço amplo com
estrutura física e humana diferenciadas.
Os nossos profissionais têm o domínio dos requisitos
necessários para o exercicio satisfatório de suas atividades,
além de uma postura profissional séria e comprometida.
A Souza e Filhos entende que não basta o ambiente ter
aparência de limpo. A limpeza precisa ser efetiva, contribuindo para a preservação da saúde, mas também para a
redução dos riscos de infecção hospitalar.
Diagnóstico
saiba mais em souzaefilhos.com.br / (71) 3431-3613
Divulgação
MAURÍCIO YANOMAMI: aos
70 anos, o membro da tribo
Yanomami sonhava em andar de
avião. Viajou de helicóptero e
ainda recuperou a visão
gar deixa de existir e possibilita chances
de resolução do caso no mesmo local. Eu
sempre fico um pouco fora do ar, pensando neles, o que vai acontecer e como posso ajudá-los mesmo que de longe. E aqui
no meu trabalho foi possível ajudar ainda
mais essa população.
Diagnóstico – Qual o impacto da cessão de aparelhos da GE?
Fabiana – Com o empréstimo de um
Vscan, da GE, equipamento portátil com
tecnologia de ultrassom do tamanho de
um celular, foi possível agilizar o trabalho
dos médicos durante as triagens, exames
de diagnóstico e procedimentos pré-operatórios. Por ser portátil, o equipamento
auxiliou na fácil locomoção dentro da tenda para realizar exames básicos com mais
agilidade.
Na minha última expedição, a viagem
durou oito horas (de Campinas para São
Gabriel em um avião da força aérea; de
São Gabriel até a Aldeia com um avião de
carga). Ao chegar, passa-se por uma trilha
para iniciar mais rapidamente a missão.
Todos se ajudam e foram construídos a
cozinha, os banheiros, o alojamento e o
centro cirúrgico. No primeiro dia é um dia
mais de organização. Tudo é adaptado; na
ginecologia, por exemplo, um lado da sala
é claro e o outro é escuro, adaptamos tudo
para atender da melhor forma possível. Os
pacientes chegam ao local, se cadastram
e falam sobre o que estão sentindo, e os
voluntários realizam o trabalho de preparar os pacientes para as consultas e para os
procedimentos cirúrgicos.
Diagnóstico – O que representa para
você ser voluntária e conseguir junto à
GE outra importante contribuição para a
ONG?
Fabiana – É uma experiência inesquecível, diferente e que você sai do seu eixo.
Você passa a dormir no chão, sem conforto, come o que tem. E então você percebe
que o mínimo que você faz já é o suficiente. Isso me deixou muito mais humana, me
fez prestar mais atenção nas coisas e nas
pessoas. E, para fazer o bem, eu não preciso estar na Amazônia, mas foi lá que eu
percebi que uma coisa pequena pode mudar a vida de alguém.
A EDS BUSCA SER
REFERÊNCIA DE
SAÚDE PÚBLICA NO
BRASIL. NESSES 13
ANOS, JÁ COBRIU,
COM ATENDIMENTOS,
UMA ÁREA MAIOR
DO QUE A FRANÇA ALÉM DE CUIDAR DOS
INDIVÍDUOS, A ONG
RESPEITA A FLORESTA
Diagnóstico
93
REPORTAGEM
MÉDICOS NA TRIBO
AS TENDAS
DE CIRURGIA,
CONSIDERADAS
“HIGH-TECH”, SÃO
TRANSFORMADAS
EM UM COMPLEXO
HOSPITALAR,
COM CENTRO
CIRÚRGICO, PARA
PROCEDIMENTOS
DE MÉDIO PORTE,
COMO CATARATAS E
HÉRNIAS INGUINAIS E
EPIGÁSTRICAS, ALÉM
DE PARTOS E EXAMES
DE DIAGNÓSTICOS
M
as o que leva
as instituições
a associarem
o seu nome ao
trabalho dos
Expedicionários e a contribuírem com doações financeiras, serviços e insumos? A Diagnóstico bateu
à porta da GE e, do outro lado, Daurio
Speranzini Jr, presidente e CEO da GE
Healthcare para a América Latina, deu
as respostas que procurávamos.
Diagnóstico – O que a GE ganha com
essa ligação e o que ela oferece?
Daurio Speranzini Jr – A G E
H ealthcare fornece serviços e tecnologias médicas transformadoras que atendem a demanda por acesso mais amplo
a serviços de saúde de melhor qualidade
e menor custo, além de ajudar profissionais do mundo todo a proporcionar
saúde de qualidade a mais pessoas. E,
desde 2010, produz, em sua unidade localizada em Contagem, Minas Gearis,
equipamentos médicos em sua primeira
fábrica no país.
O recente trabalho com os Expedicionários da Saúde foi dispor para os
voluntários da ONG o Vscan, equipamento portátil com tecnologia de ultrassom, e dois outros ultrassons chamados
LOGIQ e. Mais uma forma encontrada
pela GE Healthcare para levar diagnóstico de qu\alidade até áreas remotas,
proporcionando um cuidado efetivo e
acesso à tecnologias de ponta. Para o
futuro, a expectativa da empresa é tornar essa parceria cada vez mais forte
e ajudar os Expedicionários da Saúde
com equipamentos cada vez mais inovadores e, assim, poder contribuir para
um diagnóstico mais seguro e ajudá-los
a salvar vidas nos lugares mais distantes
do Brasil.
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34 EXPEDIÇÕES: desde o passeio
turístico de 2002 que deu orrigem
aos Expedicionários da Saúde, as
visitas médicas têm aumentado
94 todos
Diagnóstico
os anos
Diretoaoponto
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NEDY NEVES
“O ensino da Ética Médica é um
desafio sem limites e por isso
tão instigante”
O Brasil atravessa um período sombrio no que diz respeito a valores e ética,
cabe a cada um mudar isso. Nedy Neves é professora de Ética Médica, o que
lhe dá responsabilidade acrescida, e defende que todos temos a capacidade de
discernir entre o certo e o errado. O papel dos educadores na formação de seres
humanos e de médicos/cidadãos é de extrema importância. Nedy Neves não
acha difícil a punição de profissionais não éticos, mas o processo em si deve
ser rigoroso, para ser justo. E julgar não é tarefa fácil.
É POSSÍVEL ENSINAR ÉTICA PARA
OS FUTUROS MÉDICOS?
A conclusão que cheguei após 15 anos de
ensino da disciplina de Ética Médica na EBMSP – Escola Bahiana de Medicina e Saúde
Pública - é que ética não se ensina. Então, há
de se questionar a necessidade da manutenção da mesma na grade curricular do curso de
Medicina. Posso afirmar que nosso trabalho
é estimular a reflexão e não a doutrina. De
acordo com Anna Arendt temos a capacidade
de fazer julgamentos morais, discernir entre
o certo e o errado, utilizando os valores intrínsecos que estão categorizados e memorizados por meio de preceitos da família e das
experiências vividas. Destarte, é da esponsabilidade do mestre/facilitador do ensino/
aprendizagem abrir novos caminhos, novas
possibilidades e expandir a consciência dos
educandos, permitindo que os futuros médicos façam melhores escolham durante sua
vida profissional. Na minha experiência esse
trabalho tem sido muito gratificante, na medida em que lançamos sementes que poderão
gerar frutos, formando médicos/cidadãos extremamente úteis à sociedade humana. Assim
sendo, o ensino da Ética Médica é um desafio
sem limites e por isso tão instigante.
POR QUE É TÃO DIFÍCIL A PUNIÇÃO
DE PROFISSIONAIS NÃO ÉTICOS?
Não penso que é difícil a punição de profissionais não éticos. Há de se compreender
que toda denúncia gera um processo e este
tem um rito jurídico a ser adotado, tanto na
Justiça, quanto nos Conselhos de Medicina.
E como tal segue a legislação vigente, respeitando a norma superior, o Código Penal e
Civil, assim como a Constituição Brasileira.
Nesse diapasão é necessária a comprovação
dos fatos, através de documentos, das oitivas
das partes envolvidas e das testemunhas e da
defesa dos denunciados. Desta forma, o processo torna-se moroso para que todas as etapas sejam cumpridas e para impedir sua nulidade. Findada esta fase ocorre o julgamento,
que sendo realizado por Juízes e/ou Conselheiros esbarra em toda subjetividade humana
da captação do ocorrido. Nessa perspectiva,
pode-se depreender que não existe um equipamento para julgar. Cada caso é singular,
único e submerso em numerosos pormenores,
constituindo um formato particular e específico. Portanto, julgar não é tarefa fácil. Como
Conselheira do Cremeb – Conselho Regional
de Medicina do Estado da Bahia – durante o
período de 15 anos, fiquei imersa em profundas reflexões no momento de apresentar meu
voto, sempre procurando conservar a calma,
a serenidade e a racionalidade, no sentido de
acertar e fazer justiça.
Nedy Neves, médica e professora
de Ética Médica da EBMSP: a falta
de valores do momento atual se
reflete diretamente na escolha dos
representantes da nação.
A SENHORA VIU A MATÉRIA NO
FANTÁSTICO SOBRE A DENÚNCIA
DE ÓRTESE E PRÓTESE? PODE COMENTAR?
Não vi a matéria do Fantástico, mas em relação às órteses e próteses, a discussão ocorre
em terreno pantanoso e complexo. Há opiniões distintas. Se por um lado o avanço da tecnologia trouxe artefatos admiráveis, capazes
de minimizar o sofrimento humano, por outro
o sistema vigente alinhado com a produção
e com os interesses econômicos é capaz de
fazer mau uso dos inventos. Nessa seara, é
imperiosa a escolha ética. Temos que clamar
pelo bom senso, não pelo senso comum ou o
comportamento reproduzido, mas pela ética
das ações. É importante e necessária a avaliação da indicação diagnóstica e terapêutica.
A SENHORA JÁ CONVIVEU COM
COLEGAS NÃO ÉTICOS? OS DENUNCIOU?
Já ouvi muitos relatos de comportamentos
não aceitáveis para médicos, mas nunca presenciei, nem comprovei sua veracidade e por
obvio, não denunciei pessoalmente. Entretanto, como Conselheira do Cremeb tive diversas oportunidades de encaminhar documentos que permitiram a abertura de Processos
Éticos Profissionais ex offício.
Lembrando que a melhor alternativa aponta
para o melhor benefício, com o maior conforto, no menor tempo e no menor custo para
o paciente, buscando isenção de influências
externas. Vivemos num momento difícil neste País onde os valores se perderam. E como
na cegueira de Saramago a população está
vagando, sem identificar quem é quem e sem
saber por onde e para onde caminha. Isso reflete diretamente na escolha dos seus próprios
representantes, que diariamente surpreendem
com episódios inusitados. Todavia vale lembrar os existencialistas: “Somos livres para as
escolhas, mas somos responsáveis pela suas
conseqüências”.
QUAIS FORAM AS PRINCIPAIS CRÍTICAS QUE A SENHORA OUVIU SOBRE SEU MAIS FAMOSO LIVRO, ÉTICA PARA OS FUTUROS MÉDICOS?
Com a 1ª edição esgotada, a maior crítica
sempre foi a inexistência da 2ª.
Diagnóstico
95
BOASPRÁTICAS
6
T
DICAS PARA
DRIBLAR A CRISE
Filipe Sousa
odos os indicadores levam o Brasil a procurar
soluções para o cenário de crise que atravessa
e que deverá se agravar. Os diversos setores
buscam otimizar recursos e diminuir despesas, criar novos modelos de gestão e equilibrar a contabilidade para encarar a tempestade econômica brasileira.
As instituições de saúde tentam se organizar e procuram quem
as possa auxiliar. Antônio Carlos Kronemberger, Diretor Acadêmico
e de Soluções Corporativas e EAD do Grupo Ibmec, é é co-autor do
livro “Marketing em Organizações de Saúde” e dá seis dicas para
conseguir driblar a crise numa área responsável por quase 10% do
PIB nacional. O setor de saúde no Brasil registra uma inflação anual
de 18%, o que traduz uma considerável falha entre custos e preços.
Exigem-se soluções, são necessárias para não cair no buraco da crise
que parece querer engolir a economia brasileira e levar a saúde e suas
instituições junto.
Numa lista de importantes dicas, a luz ao fundo do túnel pode ser
surgir através de aprimorar a alocação de recursos humanos ou dotar
de mais eficácia o tipo de serviços prestados serão preciosas ajudas
na hora de superar os desafios que se avizinham.
1
OLHAR COM MUITA ATENÇÃO O SISTEMA
DE CUSTEIO E ENTENDER CORRETAMENTE O
NEGÓCIO
O objetivo é fim de reduzir o gap entre custos que aumentam
mais do que os preços, destruindo valor (a inflação médica este ano
está em 18%). O que acontece é que os custos aumentaram muito,
em função, em grande parte, da tecnologia ser “dolarizada” e o mercado não consegue absorver esse aumento de custos nos preços. É
necessário olhar para dentro e ver de que maneira pode se trabalhar
esses custos para reduzir esse gap.
A administração da farmácia, chamada farmácia central, que
normalmente tem diversos remédios escolhidos por cada médico,
deverá ter um número reduzido de remédios de diferentes marcas de
um determinado princípio ativo. Dessa forma o hospital tem maior
capacidade de negociação junto do fornecedor, tanto para remédios
como para insumos, pedindo maior número de um determinado produto de certa marca.
A dose única é um outro exemplo. Por meio de tecnologia, consegue fazer com que a enfermeira vá uma vez só por dia no apartamento ou quarto do paciente e coloque lá todos os medicamentos
daquele dia, com o respectivo horário.
96
Diagnóstico
2
ALTERAR O MODELO DE PAGAMENTO DOS
PRESTADORES DE SERVIÇO
Mudando o modelo de pagamento com base em atendimento
para pagamento por serviço com sucesso/resolução do problema ou
fazendo um mix entre os dois modelos. Hoje em dia, o prestador é
pago por atendimento. Através do plano de saúde, o paciente vai no
médico ou na fisioterapia e são atendidas quatro pessoas em uma
hora, pois é pago por atendimento. Se passar a remunerar isso pelo
êxito ou pelo mix entre êxito e atendimento, certamente esse atendimento vai ter uma quantidade menor e melhor. Com isto, melhora a
resolutividade como reduz custos. É uma operação que agrega valor
para toda a cadeia, para o paciente, para o médico e para a operadora.
3
MONTAR A SOLUÇÃO EM FUNÇÃO DO
USUÁRIO OU PACIENTE E NÃO FOCAR APENAS NOS RECURSOS DISPONÍVEIS.
Atualmente as soluções dos problemas são oferecidas de forma
isolada e com foco apenas nos recursos disponíveis, quando, na verdade, deveriam ser de forma integrada, sempre com foco no paciente. Por exemplo, quando você vai no médico com dor de cabeça. O
médico diz que a causa é um problema de visão e encaminha para
um oculista. Você escolhe um oculista, marca a consulta e o oculista
analisa e fala que o problema é na retina. Então você vai para um
especialista de retina. O especialista de retina diz que você precisa de
uma cirurgia, então você tem que procurar um cirurgião. É necessário focar nos recursos disponíveis. Se você efetivamente no primeiro
atendimento já consegue encaminhar diretamente, o resultado vai ser
mais rápido, melhor e menos custoso, com uma percepção de valor
muito maior.
4
BUSCAR O EQUILÍBRIO ENTRE PESSOAS,
TECNOLOGIAS E PROCESSOS.
A partir do diagnóstico correto da necessidade, a solução deve
ser oferecida por meio do balanceamento entre pessoas (competências), tecnologias e processos. Se for algo simples como, por exemplo, alguém que quebrou um dedo. É um atendimento relativamente
simples, baseado em protocolo de atendimento. A pessoa tem que
fazer uma radiografia e engessa o dedo a partir do diagnóstico do
médico, é algo bem processual. Nesse caso tem mais processo do
que tecnologia. Num segundo caso, você precisa de um diagnóstico
mais profundo, vai fazer um exame de imagem tridimensional, algo
que requer mais tecnologia. Existe um técnico que opera a máqui-
na, estamos falando de um aparelho que custa centenas de milhares
de dólares, operada por uma pessoa com um salário de 2 mil reais.
Agora, se você vai para uma cirurgia de alta complexidade, é muito
mais na competência da equipe médica do que em tecnologia ou
processos. É preciso fazer uma seleção, decidir o que é mais focado
em tecnologia, o que necessita mais de processos ou o que requer
mais competências.
5
SEGMENTAR O TIPO DE ATENDIMENTO.
Esta dica complementa a anterior. O atendimento deve ser segmentado com base no usuário, baixa, média ou alta complexidade, por
especialidade ou por outro critério que faça sentido e seja relevante. Se
você faz o levantamento do tipo de atendimento, isso permite selecionar naturalmente o tipo de assistência, criar uma otimização e direcionar de forma eficaz o paciente, poupando tempo e recursos.
6
FOCAR MAIS NA PREVENÇÃO E PROMOÇÃO
DE SAÚDE DO QUE NOS TRATAMENTOS.
Partindo do velho ditado “é melhor prevenir do que remediar”,
sai muito mais barato acompanhar o paciente que sofre de pressão
alta, estimular para que faça exercício e tenham uma alimentação regrada, do que depois suportar o internamento. Apostar na educação
das pessoas para que sigam um estilo de vida saudável e dessa forma
não necessitem, por exemplo, de internamento. Olhando para o caso
da AMIL, ela percebeu que 5% dos seus segurados correspondia a
35% dos seus custos. Esses 5% correspondiam a doenças crônicas,
diabetes, hipertensos, que necessitam ir regularmente ao hospital e
requerem tratamentos constantes, então, ela criou um produto que
corresponde a um atendimento diferenciado, na sua rede própria e
tem uma abordagem preventiva. Essa solução representa uma redução importante nos seus custos.
Direção de Arte
Diagnóstico
97
98
Diagnóstico
UMA REVISTA DE OPINIÃO.
.
Para quem tem Opinião.
Em nosso hospital, os profissionais não são pagos baseados
no número de cirurgias. Eles fazem o que é o melhor para o
paciente, não o que é melhor para suas contas bancárias.
Don Sinko, executivo de compliance da Cleveland Clinic
(Diagnóstico – edição 26).
O Parlamento brasileiro funciona como uma fábrica em
linha de produção, que faz do deputado um mero
agenciador do município.
Deputado Darcísio Perondi, presidente da Frente Parlamentar da Saúde
(Diagnóstico – 20).
Um terço dos médicos americanos continuam trabalhando
porque essa é a sua vocação; outro terço por causa do
dinheiro e o restante quer abandonar a carreira porque está
cansado de ver colegas prescreverem procedimentos
desnecessários.
Rosemary Gibson, autora de Treatement Trap – A Armadilha do Tratamento
(Diagnóstico – 18).
Basta citar o exemplo de Pero Vaz de Caminha que, ao
escrever a primeira carta ao rei D. Manoel I, narrando as
belezas da ‘terra brasilis’, aproveitou para pedir emprego a
um familiar. Foi o primeiro registro de nepotismo no Brasil.
Sergio Mindlin, Presidente do Conselho Deliberativo no UniEthos, ao falar
sobre a origem da corrupção no Brasil (Diagnóstico – 24).
O Einstein quer o melhor para o paciente. E não para a
fábrica de Implantes.
Claudio Lottenberg presidente do Einstein, ao comentar sobre o esquema de
corrupção no comércio de órtese e prótese no Brasil (Diagnóstico – 20).
Dois. Pela educação dele.
Florentino Cardoso, presidente da Associação Médica Brasileira, ao ser
questionado sobre que nota daria ao então ministro da saúde, Alexandre
Padilha (Diagnóstico – 22).
Diagnóstico 99
ANÁLISE
BALANÇO E PREVISÕES
2016
O ANO ZERO
PARA A SAÚDE
A crise brasileira avisou que ia chegar em 2013, mas só se instalou em 2015. Comércio e
imobiliário foram dois dos setores mais afetados. A Saúde, pela sua demanda constante,
não sofreu o mesmo tipo de sequela. E 2016? Como será?
Filipe Sousa
Divulgação
“O
grande desafio das organizações
será o quão preparadas elas estarão
para enfrentar a pressão sobre custos
em toda a cadeia da saúde, para ofertar
uma proposição de valor adequada
para o quanto os seus clientes estão
preparados a pagar, num contexto de
crise”,
100 Diagnóstico
Eliane Kihara (PwC)
N
o ano de 2013 já se
falava na crise que
estava chegando; em
2014, o pior estava
por vir, mas o Brasil
foi sacudindo como
podia, evitando que
as previsões do ano anterior se confirmassem. Mas, em 2015, não teve mais volta.
A crise bateu à porta e decidiu ficar. 2015
foi também o ano da aprovação da lei que
permite investimento estrangeiro no setor
da saúde. Interessados não faltam. O dólar
em alta favorece fusões e aquisições, mas
também levanta ressalvas, pois tem impacto negativo na hora de importar insumos,
dispositivos e tecnologia, tudo mais caro e
diminuindo o lucro. A falta de acreditação
e o nível de maturidade reduzido da gestão
das instituições também deixam o capital
estrangeiro hesitante.
O sistema de saúde brasileiro continua
com falta de médicos e de leitos, a população segue envelhecendo, aumentando o
número de pacientes crônicos, prosseguem
velhos problemas, a luta entre privado, público e suplementar, o “nós” contra “eles”
coloca a nu lacunas de gestão e atrasa o
Brasil na corrida pelo melhor modelo de
saúde possível.
E 2016 tem tudo para ser um ano de
mudança, o ano zero de adoção de novos
modelos, tecnologias e mentalidades. Será
um ano em que muitos poderão sofrer as
consequências darwinianas da sobrevivência dos mais fortes e preparados, mas será
também o ano em que se poderão vencer
desafios e afinar estratégias que melhorem
a gestão das instituições.
As consultorias são uma ajuda preciosa
em horas de dificuldade; rara é a instituição
que não recorre a esse auxílio especializado. Seguindo essa lógica, a Diagnóstico
fez o mesmo e quis avaliar 2015 e projetar
2016 junto com algumas das consultorias
de topo mundiais.
A Inflação médica é um parâmetro de
elevada relevância destacado por Ernst &
Young (EY) e PricewaterhouseCoopers
(PwC). Para Eliane Kihara, sócia-líder da
consultoria da PwC na área de health, “em
março de 2015, ocorreu o maior índice de
inflação médica já registrado desde 2007,
de 18,24%”, explica, recorrendo a dados
do IESS. É possível perceber que o setor
está aberto a discussões para analisar maneiras de reverter a situação. Novos modelos de remuneração estão sendo anali-
sados. Sistemas de saúde do mundo todo
já tiveram que lidar com a alta inflação do
setor, portanto experiências internacionais,
como o uso do DRG (metodologia Diagnosis Related Group), têm sido consideradas. O aumento dos custos médico-hospitalares poderá ser contido quando houver
um compartilhamento de riscos entre pagadores e prestadores de saúde, pois, no
atual modelo, quem demanda os recursos
(prestadores) não é quem paga por eles
(operadoras).
A diretora de consultoria para o setor
de saúde da Ernst & Young, Adriana Gasparian, diz que o ano não foi fácil para
todos os setores da economia, incluindo a
saúde. “O custo do setor está insustentável, ele está numa linha de tendência, que
é uma linha de crescimento, decorrente
de uma inflação médica alta, muito acima da inflação normal, decorrente não do
aumento de honorários, mas de todos os
custos assistenciais. Há um descolamento da inflação habitual que afeta todos os
players do mercado, sejam prestadores,
pagadores, todos os setores”, sustenta a
diretora da EY.
Observamos também uma grande movimentação das empresas. Com o aumento
do custo médico, o benefício do colaborador, o do plano de saúde, está ficando
insustentável nas empresas, portanto, isso
está tendo um impacto grande nas empresas. Antes a gente falava de players e providers, mas hoje em dia a maioria das empresas está muito envolvida nessa cadeia
e, por isso, elas estão revendo o modelo de
oferecer esse benefício de saúde.
Há o aumento de custo devido ao envelhecimento da população. Temos uma
população mais idosa, invertendo a pirâmide. A população mais idosa tem doenças
crônicas, fica doente com mais frequência,
com coisas mais complexas. Isso impacta
no custo médico. A receita das operadoras
é muito menor, mesmo os hospitais de excelência estão tentando manter a qualidade com um custo menor, mais controlado.
Resumindo, os custos referentes à saúde
aumentaram bastante, tornando o ambiente bastante desafiador para todos os envolvidos, incluindo aí as empresas dentro da
cadeia.
Já Enrico de Vettori, sócio-líder da Deloitte na área de life sciences e healthcare,
divide a análise pela área de life sciences,
que engloba indústria farmacêutica, dispositivos médico-hospitalares, medicina
“Quem acreditar
que 2016 é um
ano que já está
perdido deve
fazer as malas e ir
embora do Brasil”
diagnóstica e materiais de consumo, e de
healthcare, relativa a médicos e prestadores. De acordo com Vettori, “o grande
ponto de 2015 é a questão das demissões,
na medida em que, sendo 80% dos planos
coletivos, foi registrada uma demissão na
ordem de 100 pessoas por mês. Considerando colaboradores e família, o impacto
global no setor é maior. Em segundo lugar,
olhando para o plano de saúde dos funcionários, vemos um movimento importante,
algo que até há três ou quatro anos não era
alvo de cortes ou retenções ou reduções,
passa a ter políticas muito fortes, quer na
coparticipação, quer na migração para
planos de uma categoria maior para uma
categoria menor. Houve uma mudança de
comportamento que era regra, pelo menos
no que era normal em termos de despesas
das empresas com saúde.
Ainda assim, nem tudo é negativo.
Vettori refere a legislação que passou a admitir investimento estrangeiro no setor de
saúde e as consequências que daí advêm. O
capital não chega sozinho, ele traz conhecimento, experiência, exigências, como
o próprio desenvolve: “Já existem vários
negócios em curso. Isso vai energizar, vai
ajudar o setor, com uma priorização do investimento em detrimento de outros setores, passando a ser uma opção no meio de
outras escolhas de investimentos setoriais.
Diante disso, iremos ver uma consolidação
de um setor que ainda é fragmentado, dividido entre indústrias, distribuição, prestadores, operadoras. Esse investimento vem
mas traz com ele uma gama de outras empresas, da área de tecnologia, de serviços,
outras abordagens, como wellness, não é
puramente capital e investidor. A reboque
vêm mais benefícios, mas esses são dois
grandes vetores, novas tendências, que,
sem dúvida, vão ajudar a mexer com a orDiagnóstico 101
ANÁLISE
BALANÇO E PREVISÕES
dem natural do setor”.
Mas 2015 merece uma outra abordagem por parte de Cintia Soares, gerente da
KPMG, que define como um ano de muito mais discussões e abertura de questões.
Para a gerente da KPMG, a participação de
capital estrangeiro no setor levou as empresas, tanto hospitais quanto as demais
fornecedoras de serviço em saúde, a discutir o impacto e as mudanças nas instituições que podem surgir desta oportunidade.
“Sobretudo no sentido de definir o momento de negociar com um fundo estrangeiro
ou reavaliar o modelo de governança”, diz,
deixando o aviso para não se esperar algo
a curto prazo: “São alterações que beneficiam o setor, não agora, mas daqui a dois
ou três anos”.
Saúde: Igual ou diferente dos outros
setores?
Especialistas consideram o setor de
saúde como um dos que menos sofrem os
impactos da crise. A abertura para capital
estrangeiro e a desvalorização do real trazem boas perspectivas para o setor na área
de aquisições. Porém, avisa Eliane Kihara, isso não significa que esteja totalmente protegido. Para a responsável da PwC,
“a saúde suplementar, por exemplo, pode
sofrer o impacto da crise atual, pois seu
crescimento esteve nos últimos anos diretamente relacionado ao nível de emprego
no país. Com o aumento do desemprego,
espera-se diminuição no número de beneficiários. Se fizermos uma avaliação retroativa desde junho/2011, março de 2015 foi a
primeira vez em que houve diminuição da
carteira de beneficiários das operadoras”.
O setor público também sofreu impacto. Foi anunciado em julho um corte
orçamentário de aproximadamente R$ 12
bilhões. O subfinanciamento da saúde pública afeta o setor como um todo, já que
a maioria dos hospitais do país presta serviços ao SUS. O governo também possui
bastante representatividade nas compras
de medicamentos, podendo afetar também
o setor farmacêutico. Além de, claro, afetar
principalmente a população, que terá de lidar com filas de espera mais longas e falta
de atendimento.
Vettori indica o exemplo do setor da
agricultura brasileira, que descolou bem
da crise. Por outro lado, o setor da saúde
já está tendo transformações e vai ter uma
depuração no sentido de ficarem os maiores, os mais competentes, os mais resilien102 Diagnóstico
tes, aqueles que olham mais para o longo
prazo, que de fato valorizam a qualidade e
que têm melhor gestão e governança. O setor foi impulsionado de modo a que agora
passa a ter a necessidade de uma requalificação e readequação, de uma atualização,
principalmente nos aspectos de gestão, governança, de estrutura, de capital, de gestão financeira do fluxo de caixa. O setor
está sendo impactado por tantas variáveis,
entre as quais o aparecimento de novos
atores, que vieram para a área de saúde, e a
vinda desses novos atores veio aumentar o
nível de exigência. Em life sciences, o impacto do dólar foi muito forte. De acordo
com o responsável da Deloitte, é preciso
notar que “em materiais médicos, genéricos e outros insumos, o problema não é o
dólar alto ou baixo, é o dólar instável. Isso
atrapalha muito o fechamento de câmbio
de negócios. E tem ainda a questão regulatória de uma Anvisa que precisa se reinventar, na medida em que é necessário permitir o acesso a novas tecnologias e uma
agência reguladora que não esteja com
esse foco não dá à população local acesso
aos melhores tratamentos possíveis”.
Transformações, mudanças, movimentações. As consultoras parecem estar de
acordo e Cintia Soares menciona isso mesmo, falando de um setor de saúde “caracterizado predominantemente em relação a
mudanças e movimentações, apostando na
redução de custos e melhoria da eficiência
operacional”. Embora seja semelhante aos
outros setores, para a KPMG não é algo
comparativo, uma vez que a saúde tem
um nível menor de maturidade em termos
de gestão profissional e aplicação de estratégias. Tem havido movimentações de
parcerias entre players em relação à governança, está sendo discutido como otimizar
esse mercado misto, ou seja, como as instituições podem atender os planos de saúde
privados e suplementares, também questões sobre remuneração e empoderamento
das lideranças, ou nas palavras de Cintia
Soares: “Tudo atrás dos restantes setores”.
Eficiência. Essa é a chave que permite abrir a porta de saída da crise, segundo Kihara. As organizações devem tomar
ações de investimentos para buscar eficiência operacional, através de melhoria
de gestão e tecnologia. O momento é
difícil para se tomar decisões sobre investimentos, porém, quanto mais tempo
as organizações esperarem, menor capacidade de reação elas terão para ser mais
competitivas num cenário de crise que
parece que se manterá por um tempo. O
investimento estrangeiro é, para a PwC,
precioso, principalmente devido à desvalorização do real. As empresas estrangeiras percebem o país como fonte de
oportunidades, e é uma fonte de capital
importante para permitir os investimentos necessários para a modernização da
gestão.
Já Gasparian acredita que o Brasil sai
da crise sem o investimento estrangeiro:
“Não é essencial. Precisamos buscar relações saudáveis, isso sim. Aliás, o capital estrangeiro é saudável na medida
em que ele não se torne essencialmente
especulativo, que nem nos outros setores. Estamos mexendo com um bem
essencial à população. Deve haver uma
monitorização dos órgãos competentes e
lapidando a lei”. Mas essa abertura aos
investidores estrangeiros pode ter uma
influência muito positiva. “Como esse
capital está vindo de países com uma eficiência de processos maior que a nossa,
pode ser muito útil na busca e construção desse modelo de relação mais saudável entre os prestadores e os pagadores.
Até porque os investidores não colocam
“O capital
[estrangeiro]
não chega
sozinho, ele traz
conhecimento,
experiência,
exigências. Isso
vai energizar,
vai ajudar o
setor, com uma
priorização do
investimento em
detrimento de
outros setores”
Direção de Arte
o capital em algo ruim, o objetivo não
é ajudar o Brasil num momento difícil.
O Brasil deve aproveitar a chance dessa entrada de empresas estrangeiras para
aprender com essas empresas mais evoluídas”, sustenta a diretora da EY, não
sem relembrar as particularidades do
Brasil: “É necessário tropicalizar a eficiência dessas empresas, não é possível
pegar e aplicar uma cultura, isso não vai
dar certo. É preciso considerar o cenário
brasileiro, o modelo de saúde e a cultura
do Brasil”.
Adriana Gasparian recomenda que o
Brasil encontre um modelo de relacionamento novo para a cadeira da saúde. Ela
descreve o modelo de saúde como sendo
essencialmente paternalista e reativo:
“Eu trato a doença, espero o paciente
estar doente para tomar alguma atitude.
O novo modelo é proativo, atua na prevenção das doenças, ou seja, existe um
historial do paciente desde a infância,
acompanhando e fazendo um trabalho
de prevenção. Outra diferença é o papel
do paciente, ele tem que ser mais engajado e mais responsável pela sua saúde.
O paciente atual tem uma postura muito
passiva sobre a sua saúde”. O novo modelo, além da cultura da relação médico
e paciente, deve instituir uma a relação
“A crise
pode trazer
oportunidades,
aqueles que estão
menos maduros
e confiam no
amadorismo,
na sorte ou
empirismo podem
sofrer mais, mas
os que estão
preparados vão
superar”
Diagnóstico 103
ANÁLISE
BALANÇO E PREVISÕES
diferente entre operadoras e hospitais:
“Hoje estão em lados opostos e eles devem caminhar para a colaboração entre
ambos, a troca de informação saudável.
Não é necessário interferir na ação um
do outro, mas eles têm algo em comum:
o paciente”. Nos modelos mais maduros,
essa troca de informações existe e só beneficia o próprio sistema como um todo,
tornando os custos mais sustentáveis.
KPGM e EY concordam na análise
do impacto do financiamento estrangeiro. A questão da lei, para que possa ser
aproveitada, implica que as empresas estejam preparadas e para isso elas precisam elevar minimamente o seu patamar
de gestão. “A salvação não é o financiamento, as instituições devem seguir um
caminho de reestruturação, governança
com relação à gestão financeira, trabalhar modelos de colaboração. Cada vez
mais deve haver aproximação de grupos
e empresas em prol de um único tema,
como por exemplo, desenvolvimento de
fornecedores, compartilhar com a indústria a custificação e remuneração de
consumo de materiais e medicamentos”,
refere Cintia Soares. No final do dia, o
que dita quanto vai custar a saúde é o
consumo de materiais e medicamentos,
não dá para sustentar a indústria sem fazer mudanças no sistema. Para a KPMG
o mais importante será instituir um modelo colaborativo.
No meio das diversas soluções apontadas para escapar das teias da crise, a
tecnologia tem sido uma das mais referidas. A adoção de tecnologias de informação (TI) só por si nada garante, como
explica Cláudio Giulliano Alves da Costa, diretor-presidente da Folks. Aliás,
quando mal utilizadas, essas ferramentas
podem ter um efeito nefasto. Existem
quatro benefícios básicos da adoção de
TI: qualidade assistencial, segurança do
paciente, eficiência operacional e redução de custos. Esses dois últimos é que
permitem que o hospital tenha um retorno financeiro melhor, por exemplo,
tornando mais rápidas tarefas que consumiam largos minutos ou horas, ganhando também eficiência e produtividade. A
redução e controle dos custos é consequência do controle total da cadeia, todas
as informações estão no sistema. Isso são
resultados que, por vezes mais, por vezes
menos mensurados, já acontecem e estão
documentados. No entanto, para Cláudio
104 Diagnóstico
Giulliano, 2016 pode ser cedo demais:
“Nem sempre quando se investe em
tecnologia os retornos vêm no primeiro
ano ou no segundo. Em tempos de crise,
qualquer ferramenta tecnológica que aumente a eficiência operacional e controle
ou reduza os custos é essencial para sobreviver a esse período turbulento. Pode
ser que o retorno desse investimento não
aconteça em apenas um ano”. Isso não
significa que não existam instituições
com resultados no imediato, basta que
tenham se antecipado na adoção dessa
tecnologia. Os hospitais que plantaram
isso ao longo dos últimos três ou quatro
anos vão colher os frutos agora em 2016.
América Latina
O universo da América Latina, no
que diz respeito à saúde, é altamente
heterogêneo e exibe uma diversidade de
estágios de desenvolvimento e maturidade, dependendo do país que analisamos. O Brasil deverá seguir modelos de
sucesso de seus vizinhos e deverá servir
como referência para outros.
Enrico de Vettori não tem dúvidas
em afirmar que o setor de saúde brasileiro segue o modelo americano. “O Brasil
tem um mercado privado mais pujante
que a maioria da América Latina, mas
alguns mercados deram soluções mais
inteligentes do que o Brasil, começam a
existir mais soluções na rede primária,
mais integrada, em alguns casos não só
com o próprio médico mas com a distribuição de medicamentos”, afirma Vettori, ilustrando com o caso da Fundação
Carlos Slim, que começa a trazer a rede
de atenção primária no metrô do México,
e com o caso da Colômbia, onde já existe wellness de prevenção com um forte ataque às indústrias de alimentação,
por causa do açúcar e refrigerantes para
crianças. “É um movimento global na
América do Sul que busca uma melhor
atenção primária. O mercado brasileiro
é mais descolado e está mais próximo do
que era o mercado norte-americano há
uma década ou duas”, conclui.
Já Adriana Gasparian documenta sua
visão com sua experiência no Equador.
Dentro da América Latina, o Brasil tem
o maior valor do PIB envolvido com
saúde – 10% - mas está muito aquém
dos países desenvolvidos. Existem realidades muito distintas na América Latina, até por existirem outros países que
estão em diferentes estágios. Tomando o
exemplo do Equador, que tem um modelo de saúde diferente do brasileiro, que
não é universal, a população que não
tem emprego formal, com baixas condições socioeconômicas, não tem direito a
assistência de saúde pública. Eles estão
num estágio anterior ao Brasil. Gasparian acredita numa diversidade que assenta num plano comum, que se estende
a uma escala planetária: “Cada um tem
seu perfil, mas todos eles se encontram
numa fase de controle de custos, não
apenas na América Latina, mas também
os países mais desenvolvidos e mesmo
os que são inteiramente custeados pelo
governo, com planos de saúde universais”.
“O Brasil pode aprender com os seus
vizinhos, tem algumas instituições que
são referência na América Latina, mas
não temos o melhor modelo de gestão
em saúde da América Latina”. As palavras são de Cintia Soares, que remete
para a reforma feita na saúde da Colômbia, “principalmente dos modelos operacionais, que é onde o Brasil deve mudar,
“Operadoras e
hospitais hoje
estão em lados
opostos e devem
caminhar para a
colaboração entre
ambos, a troca
de informação
saudável. Não
é necessário
interferir na ação
um do outro, mas
eles têm algo
em comum: o
paciente”
onde devem ser feitos alguns tipos de
reformas ou no mínimo uma aproximação do órgão regulador, a ANS, com o
Ministério de Saúde, criando mais sinergias entre os dois modelos de saúde
existentes.”
A gerente da KPMG segue para a
mesma localização e indica o Equador,
país que está tomando o Brasil como
modelo de elaboração de processos mais
eficientes, de otimização e redução de
custos e de atendimento a uma parcela maior da população, dizendo que “o
Equador tem deficiências semelhantes,
faltam veículos, faltam médicos, faltam
enfermeiras, mas o Brasil tem uma maturidade maior”.
Brasil não é uma nova Grécia ou uma
nova Argentina
Não serão as vozes mais ouvidas,
mas a verdade é que há quem compare
o Brasil com a Argentina. Outros dizem
que o Brasil é uma repetição da recente
situação da Grécia. Os mais pessimistas
recuam mesmo até a crise de 2001 na
Terra da Prata. Enrico Vettori assegura
que “existe uma diferença brutal de uma
Argentina ou até mesmo de uma Grécia.
O que nós temos é uma crise política que
está se abatendo fortemente, interesses
pessoais que estão atrapalhando os nossos avanços fiscais, mas iremos avançar até porque esses interesses irão ser
compatibilizados de uma maneira ou de
outra, caso a classe política não tenha a
dignidade, a decência ou a presteza de
o fazer, o mercado já está fazendo”. O
líder da Deloitte prossegue explicando
que não é um caso de dominância fiscal,
ou seja, quando o Banco Central perde
totalmente a capacidade de política monetária”. Por outro lado, ele acredita que
chegou ao fim aquilo que designa como
“ciclo do populismo e inconsequência”.
O momento agora é de arrumação, de as
empresas olharem para dentro, para fazer uma reflexão de gestão e modelo de
negócio. A crise pode trazer oportunidades, aqueles que estão menos maduros
e confiam no amadorismo, na sorte ou
empirismo podem sofrer mais, mas os
que estão preparados vão superar. Aliás,
ele faz questão de deixar um elogio: “O
DNA do empresariado brasileiro resiste
bem a isso”.
Para a KPGM, na voz de Cintia Soares, a única comparação que deve ser
“Existe uma
diferença brutal
do Brasil para
uma Argentina ou
até mesmo uma
Grécia. O que
nós temos é uma
crise política que
está se abatendo
fortemente,
interesses
pessoais que estão
atrapalhando os
nossos avanços
fiscais”
feita é no sentido de seguir o exemplo
da Argentina sob o ponto de vista de assumir uma postura colaborativa da saúde com a indústria de fármacos, mas só
nesse sentido. Transitar de um modelo
individualista para modelos colaborativos em parceria com a indústria. Eliane
Kihara concorda que apenas faz sentido
comparar as duas realidades em apenas
um detalhe: “As famílias argentinas optaram por trocar seus planos de saúde
por outros mais em conta. Nessa linha,
acredito que este movimento pode ocorrer aqui, vis-à-vis o impacto de custo de
saúde no orçamento familiar bem como
as famílias irão procurar opções mais
em conta de medicamentos também, alavancando o mercado de genéricos”.
Projeções para 2016
O ano de 2016 não será um ano de
crescimento para o setor de saúde brasileiro. Cintia Soares prevê que seja um
ano – talvez o primeiro grande ano – em
que existirá uma mobilização em massa
para reestruturar e, aí sim, alcançar a estabilidade para fazer face às dificuldades
econômicas. O motor dessa mobilização
será o setor privado: “Não teremos mudança nenhuma no sistema público, por
isso essa mobilização terá que vir do setor privado”.
“As perspectivas são muito mais positivas, que a maioria dos demais setores da
economia”, nas palavras de Eliane Kihara. A demanda por serviços de saúde se
manterá ou aumentará, vis-à-vis aos reflexos do envelhecimento da nossa população. “O grande desafio das organizações
será o quão preparadas elas estarão para
enfrentar a pressão sobre custos em toda
a cadeia da saúde, para ofertar uma proposição de valor adequada para o quanto
os seus clientes estão preparados a pagar,
num contexto de crise”, sustenta Kihara.
Segundo Enrico de Vettori, 2016 vai
ser um ano muito difícil, os índices econômicos não são favoráveis, mas o mercado já passou por uma primeira perda
do grau de investimento e está preparado
para precificar uma segunda. “Não é um
cenário econômico ou político positivo,
mas é o final de ciclo democrático e esse
final é o lado positivo. Houve um bom
aproveitamento da liquidez gerada e da
caixa existente, mas acabou”, explica,
lançando seu vaticínio: “2016 vai ser
um ano melhor que 2015 e vai ser bom
para as empresas e empresários, primeiro porque vai ter muitas oportunidades,
segundo porque vai fazer com que mergulhem nessas empresas e vão sair mais
fortalecidos”.
Adriana Gasparian é mais contundente e repele o pessimismo: “Quem
acreditar que 2016 é um ano que já está
perdido deve fazer as malas e ir embora
do Brasil”. Gasparian define 2016 não
como um ano perdido ou difícil, mas
como mais desafiador. Vai exigir ser
mais criativo, mais colaborativo e mais
participativo. Pensando nisso, a saúde
brasileira e os players da cadeia da saúde
têm que se voltar para um modelo participativo, colaborativo e engajador, que
envolva paciente, médico e governança.
“A saúde não pode dar o ano como perdido, isso significaria que muita gente
morreria”, palavras fortes, seguidas de
uma mensagem final de otimismo: “Os
grandes players de saúde são afetados
pela situação econômica, as empresas
que contratam planos de saúde são afetadas, mas o Brasil e a saúde brasileira
têm chance”.
Diagnóstico 105
Divulgação
ARTIGO
Eduardo Najjar
Negócios em Família
S
abe-se, por pesquisas realizadas em vários países da
Ásia, Europa, Estados Unidos e América do Sul, que
os negócios familiares possuem diferenciais competitivos positivos em relação aos resultados econômico-financeiros.
Sabe-se também que no mundo dos negócios familiares, grande parte não chegam a ser administrados e fruídos pela terceira geração de familiares, sendo adquiridos ou
simplesmente, desaparecendo do mercado.
A principal razão que concorre para essa dificuldade, na maior
parte dos casos, são os conflitos familiares que se instalam ao longo
do tempo no negócio, por diversas causas: doença ou perda do fundador, falhas na comunicação entre familiares, aumento do número de
familiares que exigem participar do negócio sem que tenham a competência necessária, entrada dos chamados agregados - diretamente no
negócio - entre outras causas.
Neste artigo será analisado apenas um dos aspecto que pode concorrer para apoiar o sucesso dos negócios familiares, dentro do espectro de disciplinas que abrangem a Governança Familiar: relações
entre familiares diretos, trabalhando em um mesmo negócio.
Relação pai e filho
É a relação mais comum, em volume, que ocorre nos negócios
familiares.
A relação profissional é determinada, em grande parte, pela fase de
vida em que cada um se encontra, pela experiência profissional, pelas
expectativas de pais e filhos, pela qualidade da relação entre esses familiares tão próximos.
Relação pai e filha
A sensibilidade natural das filhas, geralmente beneficia o fundador
e os negócios da família.
Relação mãe e filho
Via de regra, as relações entre mães e filhos são menos tensas do
que outras relações familiares, no que tange ao negócio. Uma explicação possível é a existência de um nível menor de competição entre
eles. Geralmente as mães encontram nos filhos – na gestão de negócios familiares – apoiadores do trabalho a ser feito e costumam ter
mais facilidade para delegar-lhes as responsabilidades pela direção
dos negócios.
Relação mãe e filha
É uma relação de maior complexidade, nos negócios familiares.
Dentro da disciplina do comportamento humano pode-se verificar que
mães e filhas, atuando na gestão dos negócios da família, tendem a
repetir -no ambiente profissional - o mesmo padrão utilizado em casa
que muitas vezes, com o passar dos anos, e com o amadurecimento
das filhas, torna-se uma relação de competição.
106 Diagnóstico
Relação entre irmãos
Na maior parte das famílias, irmãos competem por inúmeros aspectos na vida, iniciando pela competição pelo carinho dos pais. No
caso de muitos negócios familiares com os quais trabalhei, o motivo
da competição deu-se pelo controle dos bens familiares e/ou por ocupar cargos que ofereçam maior poder hierárquico.
Por outro lado, quando irmãos constroem relações de confiança e
boa comunicação, formam equipes de alto desempenho que podem
ser mantidas por toda a vida, agregando valor aos negócios da família.
Grande parte dos
negócios familiares não
chegam a ser administrados e
fruídos pela terceira geração de
familiares, sendo adquiridos ou
simplesmente, desaparecendo do
mercado.
Relação fundador-agregados
Os agregados, nas famílias empresárias (genros, noras, e outros)
fazem parte do folclore dos negócios familiares. Figuras controversas,
existem inúmeras passagens que pontificam o quanto podem apoiar –
ou não – o desempenho dos negócios da família.
Colocando-me no papel de um agregado, teria dificuldade de saber
até que grau eu seria um membro da família e sempre levaria para o
travesseiro uma análise sobre minha competência/falta de competência na condução do trabalho na empresa de minha esposa (o poder do
pillow talk).
Relação mãe e filha
Existem dois tipos possíveis de associação entre maridos e esposas, nos negócios familiares.
O primeiro tipo é do líder empresarial com um cônjuge de apoio.
Um dos membros do casal administra o negócio enquanto o outro
oferece apoio (inclusive moral). Nesta opção, o cônjuge de apoio pode
inclusive trabalhar em outro negócio.
O segundo tipo possível é o de sócios-empresários.
O casal trabalha no negócio; são sócios e administradores da empresa. No papel de administradores, pode inclusive ocorrer a situação
de que um ocupe um cargo hierárquico de menor grau.
Existem consequências positivas e negativas a respeito deste desenho societário, que variam de acordo com a cultura em que a família/a
empresa está situada.
Cabe a você, que está lendo este texto, e encontra-se em uma dessas posições, analisar se as indicações definem alguma situação que
ocorre em sua família, em seus negócios, e agir no sentido de construir
um ambiente harmonioso entre os membros da família, visando a perpetuação dos negócios, de geração para geração.
Eduardo Najjar é expert brasileiro em family business, consultor e palestrante associado da Empreenda, coordenador do GrandTour Family Business
International, professor na ESPM e, além da Diagnóstico, é colunista do Blog
do Management (Exame.com).
Diagnóstico 107
1 – Foram 80
premiados com os
troféus ouro, prata e
bronze
2 – Carlos Alberto
Figueiredo
(Petrobras),
Anderson Mendes
(Cassi) e Cristina
Cardoso (Planserv)
receberam os
troféus na categoria
Operadora de
Autogestão
01
02
3 – Marcos
Domingues
(Qualivida), José
Espiño e Edmundo
Ribeiro (SOS Vida),
Leonardo Salgado
(Assiste Vida):
bronze, ouro e prata
na categoria Home
Care
4 – Os books
do Prêmio
Benchmarking
Saúde Bahia
2014/2015 foram
entregues na festa
5 – José Tomaz
do Nascimento
(Maternidade
Santa Emília),
Sebastião Castro
(Hospital Samur)
e Luiz Pedroza
(Hospital Semed),
vencedores na
categoria Hospital
Interior do Estado
03
05
04
06
6 – Cerimônia
de premiação foi
realizada no Solar
Cunha Guedes
(Corredor da Vitória)
7 – Paulo Magnus
(MV), André
Silveira (Pixeon)
e Humberto
Guimarães
(TOTVS) foram os
vencedores em TI
108 Diagnóstico
07
8 – Na categoria
Serviço Financeiro,
venceu o Banco
do Nordeste,
representado pelo
gerente geral, José
Eduardo Macedo
Pinto de Abreu
09
08
9 – Fernanda
Gonzalez e
Delfin Gonzales
(Clínica Delfin) e
Gileno Portugal
(Multimagem),
vencedores
na categoria
Diagnóstico por
Imagem
10 – Ruy Cunha,
presidente da
DayHorc, recebeu
o troféu ouro na
categoria Serviço
de Oftalmologia
10
11
11 – Waleska
Rochaat (SSantafé)
e Sérgio Colavolpe
(COT)
12 – Marla Cruz
(LEME), troféu
ouro na categoria
Sustentabilidade
13
13 – Gildete Lessa
(sócia-fundadora
do NOB) e Rafael
Vita (Cehon),
ouro e prata,
respectivamente, na
categoria Serviço
de Oncologia
14 – Estafe da
DayHORC: Ouro na
categoria Serviço
de Oftalmologia e
bronze na categoria
Hospital Dia
12
14
Diagnóstico 109
15 – Lise Weckerle
(Santa Casa de
Misericórdia da
Bahia), troféu ouro
em Ação Social
16 – Maurício
Bernardino
(Labchecap) foi
eleito Empresário
do Ano
17 – Marcus
Machado (IHEF),
José Antonio
Barbosa (Grupo
Meddi) e Eduardo
Borges (Gerente do
Laboratório
Análise),
vencedores
na categoria
Laboratório de
Análise Clínicas
(Interior do Estado)
18 – O Hospital
Maternidade São
Judas Tadeu
(Fundação José
Silveira) recebeu
o prêmio especial
“Destaque
Interiorização da
Saúde”
15
16
17
18
19
20
19 – Mauro Adan e
a esposa, Luciana
Pessoa Adan
20 – Christiane
Macedo, da SH
Brasil, recebeu
o troféu ouro
na categoria
Benchmarking
Brasil
21 – Equipe do
Hospital Evangélico:
Prata na categoria
Hospital Privado
(Pequeno e Médio
Porte). O troféu foi
entregue ao diretor
geral da instituição,
Rosalvo Coelho
21
110 Diagnóstico
22 – Alfredo Martini,
CEO do Hospital
São Rafael,
representou a
Anahp, vencedora
na categoria
Benchmarking
Brasil
23
22
23 – Reinaldo
Braga (Grupo
Criarmed) e Flávio
Cento Sé (Tratar)
24 – Equipe
do IBDAH,
representada pelo
seu presidente
José Antônio Sousa
(direita)
24
25
26
25 – Marcio
Alirio (diretor
administrativo do
Hospital Cardio
Pulmonar),
Rosalvo Coelho
(diretor do Hospital
Evangélico), Fátima
Monteiro (gerente
administrativa
do Hospital
Jorge Valente),
vencedores na
categoria Hospital
Privado Pequeno e
Médio Porte
26 – Marcelo
Zollinger recebeu
o prêmio
Benchmarking
Saúde, na categoria
Destaque Gestão,
em nome do
Hospital da Bahia
27 – Leonardo
Salgado (Assiste
Vida) e sua esposa,
Ila Bahiense: prata
na categoria Home
Care
27
28
28 – Luiz Pascoalin
(CSB), ouro na
categoria Destaque
Assistência Interior
do Estado
Diagnóstico 111
29 – Fábio Brinço,
superintendente do
Itaigara Memorial,
recebeu o troféu
de Executivo do
Ano das mãos de
Eduardo Queiroz,
superintendente
do Hospital Santa
Izabel e tricampeão
da mesma
categoria
29
30 – Carlos
Alberto Ribeiro
de Figueiredo
(Petrobras), ouro
na categoria
Operadora de
Autogestão.
31 – Secretário de
Saúde de Salvador,
José Antônio
Rodrigues Alves
foi eleito o melhor
Gestor Público
pelos jurados
30
31
32 – Tânia Barros
(Protécnica),
vencedora
na categoria
Arquitetura
Hospitalar,
e o mestre
de cerimônia
Alessandro Timbó
33 – Vencedores
na categoria
Compliance:
Marcello
Ceotto (Diretor
Administrativo
do Hospital
São Rafael) e
Manoelito Souza
(Superintendente
do Hospital Santa
Izabel)
32
33
34 – Membros
da Orquestra
Ibarra, que se
apresentaram
durante a
premiação
34
112 Diagnóstico
35 – João Cunha,
diretor médico do
Hospital Evangélico
da Bahia e sua
esposa Patricia
Meira
35
36
37
38
36 – Alan Gusmão
e Claudia Salestrim
(LINDE) e Ricardo
Nóbrega (White
Martins), ouro e
prata na categoria
Indústria de Gases
Medicinais
37 – Arnon Oliveira
Chagas (Tesoureiro
da Santa casa
de misericórdia
de Vitoria da
Conquista), Almir
Alexandrino do
Nascimento
(Provedor da
Santa casa de
Misericórdia
de Itabuna) e
Sandra Peggy
(Administradora
da Santa casa de
misericórdia de
Feira de Santana)
38 – Marilea Souza
(Bradesco Saúde),
pentacampeã
na categoria
Seguradora
Diagnóstico 113
RESENHA
FUTURO
“The Patient Will See You Now:
The Future of Medicine is in Your
Hands”. O poder na mão do paciente
“Há muito tempo numa galáxia muito muito distante”. Para aguçar a curiosidade em
torno do livro de Eric Topol, podemos adaptar esta frase tão usada recentemente para
“em breve numa galáxia muito muito próxima”. A realidade que se segue parece ficção
e mistura detalhes que achávamos irreais com pormenores que vamos observando
usualmente aplicados nos dias que correm.
Filipe Sousa
O
mais recente livro do
cardiologista Eric Topol, ‘The Patient Will
See You Now: The Future of Medicine is in
Your Hands” (“O Paciente vai vê-lo agora:
O Futuro da Medicina Está em Suas Mãos”,
em tradução livre), possui um certo sabor ao
“Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, trazendo toda uma visão futurista do
passado, que nos possibilita assistir à concretização dos sonhos de décadas anteriores.
Dr. Topol, além de cardiologista, dirige
o Scripps Translational Science Institute em
La Jolla, Califórnia, é editor-chefe do site
Medscape, professor de genômica e fundador do primeiro banco genético cardiovascular do mundo na Cleveland Clinic. Seu título
no Scripps Institute é, no mínimo, curioso:
“Professor de Medicina Inovadora”. Topol
anuncia o fim dos dias da medicina a que
estamos acostumados e o surgimento de cuidados rigorosos, digitalmente aperfeiçoados,
precisos e rentáveis.
A teoria central do livro anuncia a morte
de um sistema assente no médico e dependente do médico, de suas decisões, de seus
palpites e até do seu conhecimento. Não haverá mais a exclusividade dos médicos controlando dados médicos, tratamentos ou lucros. A ciência e a era digital estão trazendo a
verdadeira democracia aos cuidados de saúde. A humanidade está sendo empoderada, o
paciente está sendo elevado no universo da
medicina. O tremendo potencial dos smart114 Diagnóstico
Divulgação
ERIC TOPOL: Gutenberg e sua
criação promoveram a liberalização
do acesso à informação e as
novas tecnologias estão aí para
democratizar a medicina
phones leva o autor a assinalar um “Momento Gutenberg” da medicina, algo com um
impacto tão avassalador e revolucionário na
divulgação de informação quanto a invenção
da imprensa.
A tecnologia que está ao nosso alcance
permite pular de um sistema que, em muitos
casos, está preso no século XVIII e avançar
para um País das Maravilhas com estetoscópios de ultrassom, nanochips ou painéis de
sangue realizados em gotas individuais.
Topol prevê o fim das visitas a um consultório médico. Adeus esperas humilhantes
e intermináveis! Um smartphone equipado
com os aplicativos corretos vai facilmente
analisar, explicar e transmitir todos os dados
fisiológicos relevantes para o médico, geralmente sem a necessidade de presença física
do paciente. Ficção? Não. Topol usa a sua
experiência pessoal-profissional para fundamentar essa previsão. Ele relata que, durante anos, não usou estetoscópio, optando por
áudio mais preciso e ferramentas eletrônicas
de vídeo.
‘Sayonara’ hospitais anacrônicos. “O
quarto de hospital do futuro será o quarto”,
diz Topol. A maioria dos CEOs hospitalares
acredita que estalou uma bolha hospitalar,
com excesso de camas e acentuada sobrecapacidade. O resultado desta tendência
será que o quarto do hospital do futuro será
o quarto. Hospitais como existem hoje são
configurados para falhar e seu futuro fiscal é
mais do que desolador.
A casa da pessoa doente será equipada
para a ocasião com todos os sensores portá-
Reprodução
Acredito que vai ser o livro medico de 2015. O Dr.
Topol realizou um trabalho fantástico na apresentação
do imenso potencial de smartphones e tecnologia
na democratização da medicina. O estilo de escrita é
acessível a qualquer pessoa. Uma leitura imprescindível
para todos quantos se interessam pela saúde.
DAVE CHASE, (FORBES)
teis apropriados, e assim estarão criados serviços hospitalares “realizados no conforto da
nossa própria casa. Veremos os nossos próprios dados em nossos próprios dispositivos.
Estaremos no comando.”
O diagnóstico médico será simplificado.
Acabará o processo triturador-de-tempo-e-paciência de médicos explicando os seus
sintomas com testes e exames intermináveis.
Serão substituidos por páginas da web completas de genes sequenciados e todas as formas de cálculos de risco biológico e comportamental. Assim iremos obter um diagnóstico
provável instantaneamente. Topol vai mais
longe e escreve que o paciente pode perfeitamente fazer esse diagnóstico e apresentá-lo
ao médico para avaliação, e todas as informações estarão disponíveis gratuitamente.
Palpites e adivinhação deixarão de fazer
parte da prescrição de medicamentos. Padrões genéticos permitirão distinguir facilmente as pessoas susceptíveis de se beneficiar de uma droga das pessoas susceptíveis
de sofrer consequências danosas. A selecção
dos medicamentos vai se tornar segura a
ponto de, em algumas situações, os pacientes
prescreverem para si próprios. A inspiração
“THE PATIENT WILL
SEE YOU NOW: THE
FUTURE OF MEDICINE
IS IN YOUR HANDS”
PERSPECTIVA
UMA NOVA ERA
DE CUIDADOS
APERFEIÇOADOS
DIGITALMENTE
(THE NEW YORK
TIMES)
‘huxleyiana’ de Eric Topol fervilha a ponto
de acreditar que pequenos sensores eletrônicos expedidos na corrente sanguínea ou nos
intestinos dos pacientes irão calmamente
rastrear dados de saúde em tempo real. São
“estetoscópios moleculares” altamente sofisticados que, no seu expoente máximo, irão
identificar de forma eficiente pequenas moléculas como mediadores inflamatórios e DNA
aberrante que anunciam acontecimentos
ruins. ‘Bye bye’, catástrofes como ataques
cardíacos, diabetes e até mesmo câncer. Todos eles serão identificados, atacados e superados bem antes de acontecerem.
O livro é uma boa notícia para os pacientes, embora possua algumas áreas mais
sombrias para um leigo, com análises estatísticas mais complexas e uso pesado de
terminologia médica, em particular em genômica. O que é realmente impressionante é o volume de conhecimento que Topol
reuniu neste livro. Assim como Gutenberg
e a sua criação promoveram a liberalização
do acesso à informação, acabando com o
controle de uma classe de elite, a nova tecnologia está aí para democratizar a medicina. A tecnologia vai colocar o laboratório
e a UTI em nossos bolsos. Apesar destes
benefícios, o caminho a percorrer não será
simples. O setor médico vai tentar resistir
a essas mudanças e a medicina digital vai
levantar questões sérias, como as relativas
a privacidade. Mas esse caminho vai levar
a um destino com resultados melhores, mais
baratos e mais humanos para os cuidados de
saúde.
É claro que ler que dispositivos digitais
“vão substituir os médicos em muitas tarefas” não é minimamente agradável para um
médico. Um médico sul-africano, lendo as
primeiras páginas, disse mesmo que a sua
intenção era “lê-lo e rasgá-lo em pedaços”.
Não rasgou. É que Topol não afirma que os
médicos têm más intenções e que os pacien-
tes devem assumir. Ao longo de sua exposição, ele reconhece o valor do médico e explica como a tecnologia pode mudar a prática
da medicina para melhor. Numa atualidade
em que os médicos, muitas vezes, não têm
mãos a medir, o digital pode ser um precioso
aliado.
Uma leitura deste livro exige que se
pense em duas realidades. A tal galáxia muito, muito distante e a galáxia muito, muito
próxima. A próxima é aquela em que vemos
acontecer muito do que Topol vê acontecer e
acredita que se tornará procedimento usual.
A galáxia distante, aquela que, presumivelmente, é fruto de um otimismo e futurismo
bem semelhante àquele que, décadas atrás,
consideraríamos fantasioso. Só que, quanto
do que era fantasioso há anos, é hoje comum?
Topol apresenta contra-argumentos às
suas próprias crenças e admite que é necessário mais desenvolvimento. Isso torna o livro realista. Ele coloca no tubo de ensaio a
promessa de tecnologias emergentes e abordagens, junta uma avaliação sóbria de que o
atual sistema de saúde não está atingindo o
seu pleno potencial e mistura ambas. O resultado é um livro com ideias suportadas por
dados sólidos.
Várias questões surgem após a leitura.
Será que todos os pacientes realmente querem, ou mesmo, será que devem querer ser
seus próprios médicos? Quão engajada deve
ser uma pessoa? Será que queremos dedicar
nosso tempo a controlar nossa saúde? Será
que queremos deixar de ter alguém cuidando
de nossa saúde?
“THE PATIENT WILL SEE YOU NOW:
THE FUTURE OF MEDICINE IS IN
YOUR HANDS”: BASIC BOOKS | 384
PÁGINAS | US$ 15,61 (KINDLE); US$
17,99 (IMPRESSO) OU US$ 25,95
(AUDIOLIVRO)
Diagnóstico 115
Estante&Resenhas
Divulgação
Divulgação
Leia também
Neste novo livro, Claudio Lottenberg expõe suas ideias a respeito
das recentes tecnologias que começam
a ser incorporadas à prática da medicina. Enfatiza que, quaisquer que sejam,
devem estar a serviço das pessoas, dos
pacientes aos quais se destinam.
Roberto da Cruz, CEO da Pixeon
(SP/SC)
Domingos Fonseca, presidente
da UniHealth Logística
Hospitalar (SP)
Onde você quer chegar? Quais
são seus objetivos? Qual deveria
ser a única coisa a ser realizada este
ano, este mês, esta semana ou hoje,
e como isso alteraria os rumos de
sua vida, sua carreira, seu relacionamento, tornando o restante mais fácil? O sucesso é construído sequencialmente. Uma única coisa de cada
vez. Deixe de ser multitarefa, diga
não e concentre-se no que realmente importa em sua vida, carreira ou
relacionamento. Aprenda a regra da
única coisa, este é o tema central deste excelente livro onde a proposta é
ajudar na tarefa de tornar as nossas
vidas mais produtivas.
Esse livro mostra como as empresas podem melhorar o desempenho através da questão que sempre
acreditei: a importância de ter as
pessoas certas nos cargos certos.
Qualquer empresa e setor de serviço, assim como a logística hospitalar, depende não apenas de um
líder, mas de uma equipe dos melhores profissionais que irão refletir a expertise da empresa para os
seus públicos finais. O livro é uma
excelente oportunidade para enxergar essa percepção com mais clareza, pois apresenta as características
que levam uma empresa a alcançar
a excelência.
“Um excelente livro
onde a proposta é
ajudar na tarefa de
tornar as nossas vidas
mais produtivas”
A Única Coisa - O Foco Pode Trazer Resultados
Autores: Jay e Gary Keller
Editora: Novo Século
Número de páginas: 208
Preço sugerido: R$ 20,50
116 Diagnóstico
“O livro apresenta as
características que
levam uma empresa a
alcançar a excelência”
Empresas Feitas para Vencer
Autor: Jim Collins
Editora: HSM Editora
Número de páginas: 368
Preço sugerido: R$ 79,90
Saúde e cidadania - A tecnologia a serviço do
paciente e não o contrário
Autor: Claudio Lottenberg
Editora: Atheneu
Número de páginas: 120
RPreço sugerido: $ 49,00
O objetivo da publicação é mostrar
como os padrões de qualidade e segurança internacionais podem ser implantados com sucesso em instituições
de saúde brasileiras.
Qualidade e segurança em saúde: os caminhos da
melhoria via Acreditação Internacional – relatos,
experiências e práticas
Autor: Heleno Costa Junior
Editora: DOC Content
Número de páginas: 188
Preço sugerido: R$ 62,00
O livro analisa aspectos como
concentração, verticalização, inflação
médica (evolução da despesa assistencial per capita), além das alternativas
para reduzir a tendência crescente dos
custos da saúde frente à capacidade de
pagamento da sociedade.
Saúde Suplementar no Brasil: Fundamentos,
Regulação e Desafios
Autor: Sandro Leal Alves
Editora: CPES
Número de páginas: 190
Preço sugerido: R$ 40,00
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