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ACASO HUMANO:
HISTÓRIA DOS CAMINHOS E
DESCAMINHOS DA EVOLUÇÃO
LEONARDO DE CASTRO FARAH
© de Leonardo de Castro Farah
1ª edição fevereiro de 2013
Capa: à esquerda o Homo sapeins (Cro-magnon) e à direita o neandertal de La Chapelle.
Fonte: http://www.modernhumanorigins.net/cromagnon1.html e
http://www.fortunecity.com/victorian/palette/100/index.html
Verso do livro: Homo ergaster-erectus.
Fonte: https://www.msu.edu/~heslipst/contents/ANP440/images/KNM_ER_3733_front.jpg
Revisão: Maria Tereza Marques de Castro.
Gráfica: New Impress
Leonardo de Castro Farah
Graduado em História pela UNI-BH e especialista em Educação em Sociologia pela
FINON é Professor do ensino médio e fundamental, em Nova Viçosa, na Bahia-Brasil.
E-mail: [email protected]
Farah, Leonardo de Castro.
Acaso humano: História dos caminhos e descaminhos da evolução.
Texeira de Freitas: 2012.
ISBN: 978-85-906951-0-3
F151g FARAH, Leonardo de Castro
Acaso Humano: História dos caminhos e descaminhos da evolução
Texeira de Freitas, 2012.
1.Pré-História – Antropologia 2. História da Paleoantropologia 3.Biologia Antropológica.
Dedico aos meus familiares: minha avó Dodora, minha mãe, meu irmão, meu padrinho
Márcio, minha madrinha Beth, tios (as) e primos (as) e em memória de meu avô: Oscar
Pereira de Castro (1921-2000), e de minha tia Ana Regina Marques de Castro (1966-2006)
e aos cientistas: Glynn Isaac (1937-1985) e Stephan Jay Gould (1941-2002).
Colaboradores para a realização desta pesquisa foram: Dr. Lee Berger, Universidade de
Witwaterand, em Johannesburgo, África do Sul, Dr. Walter Neves da USP, Dr. João Zilhão
do ICREA Research Professor da Universidade de Barcelona, Dr Milford Wolpoff da
Universidade de Michigan, Dr. Peter Brown da Universidade da Nova Inglaterra, Austrália,
Dr. Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, Dra. Maria Beltrão do Museu
Nacional e o Museu de História Natural da UFMG.
“A Encíclica Humani Generis do SS. Pio XII (agosto de 1950) esclarece:... O Magistério da Igreja
não proíbe que, em conformidade com o atual estado das ciências e da teologia, seja objeto de
pesquisa de discussões, por parte dos competentes nos dois campos a doutrina do evolucionismo,
enquanto ela faz indagações sobre a origem do corpo humano, que proviria da matéria orgânica
preexistente (a fé católica obriga–nos a reter que as almas são criadas imediatamente por Deus).
Como se vê, o Magistério da Igreja não proíbe que os católicos aceitem a evolução, inclusive no
caso da origem do homem”. (Mendes, J. C. 1960. P 40).
SUMÁRIO
PÁGINA
INTRODUÇÃO....................................................................................................................03
1º CAPÍTULO: INTRODUÇÃO A EVOLUÇÃO HUMANA............................................04
1.1 TEORIAS E MÉTODOS DA PALEOANTROPOLOGIA.......................................05
1.2 A HISTÓRIA DA PALEOANTROPOLOGIA.........................................................15
2º CAPÍTULO: OS HOMINÍDEOS.....................................................................................28
2.1 ANTIGOS PRIMATAS..............................................................................................28
2.2 OS ANCESTRAIS DOS AUSTRALOPHITECUS....................................................30
2.2.1 RAMAPITHECUS BREVIROSTRIS................................................................30
2.2.2 ARDIPITHECUS RAMIDUS............................................................................34
2.2.3 ORRORIN TUGENENSIS.................................................................................37
2.2.4 SEHALANTHROPUS TCHADENSIS..............................................................39
2.3 OS AUSTRALOPITHECUS......................................................................................41
2.4 OS HOMOS................................................................................................................56
2.4.1 HOMO HABILIS................................................................................................56
2.4.2 HOMO ERECTUS, ERGASTER, ANTECESSOR E HEIDELBERGER........67
2.4.2.1 AS OUTRAS MIGRAÇÕES DO HOMO ERECTUS?................................78
2.4.3 HOMO NEANDERTHALENSIS.......................................................................85
2.4.3.1 SURGIMENTO DOS HOMENS MODERNOS..........................................96
3º CAPÍTULO: OS PRIMEIROS AMERICANOS…...…................................................105
3.1 ANTIGAS E RECENTES ESCAVAÇÕES.............................................................105
3.2 MODELO FOLSON E CLÓVIS..............................................................................111
3.3 MODELO DOS DOIS COMPONENTES BIOLÓGICOS PRINCIPAIS...............115
3.4 AGRICULTURA, CERÂMICA E SABAMQUIS……….......................................118
CONCLUSÃO....................................................................................................................123
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................126
ANEXOS............................................................................................................................139
03
INTRODUÇÃO
A paleoantropologia procura ser a ciência que teria como finalidade: monitorar,
estudar e catalogar espécimes, que possuíam características humanas e simiescas
(chamados de hominídeos). Logo após um intenso estudo que analisa amostras de rochas dos
sedimentos que o material foi descoberto, anatomia bio-física do fóssil de hominídeos
(objeto de estudo da paleoantropologia) para sugerir uma rota evolutiva (filogenia) que os
ancestrais trilharam. Além disso, a paleoantropologia conta com o estudo da antropologia
(sociedades humanas tribais) e primatologia, que estudam em campo os comportamentos
sexuais, sociais e alimentares, de bonobos e chimpanzés, para depois supor que o mesmo
teria ocorrido com nossos ancestrais.
Sabe–se que as conclusões teóricas e as evidências analisadas, podem sofrer
alterações, devido à ocorrência de novos achados e acumulação de material. Era comum no
século XIX, se ater apenas em análise dos fósseis humanos. Atualmente, apenas isto não
bastaria, seria necessário recorrer aos estudos de primatas: primatologia, que ajuda a
identificar seu comportamento em nossos antepassados, neste caso os Australopithecus.
Este texto tem como objetivo tentar trazer ao público, o estudo das interpretações do
proto-homem e seu processo evolutivo. Houve durante os séculos XIX, XX e XXI, diversas
interpretações, a respeito das rotas evolutivas dos tipos de ancestrais existentes e o tipo de
comportamento que tinham no passado. Cada cientista, de cada época, havia proposto
trajetos diversos, interpretações diversas. A análise desta pesquisa procura apenas observar
as teorias, os métodos dos antigos cientistas, e comparar com os atuais. Assim procurar
descobrir quais sofreram modificações, ao longo do tempo e porque ocorreram mudanças
de pensamentos. Desta maneira, se entende melhor suas propostas e seus contextos
históricos. Assim, o leitor obterá uma ideia mais complexa, no que tange aos estudos da
pré–história.
Ao estudar os ossos de possíveis ancestrais humanos, os paleontólogos e
paleoantropólogos começavam a interpretartá–los e assim, cada pesquisador poderia ser
influenciado pelo material fóssil e por esta razão, criavam suas teorias, surgindo no cenário
cientifico, figuras lendárias como: Raymond Dart; Donald Johanson; Lewis Binford;
Richard, Mary, Louis e Meave Leakey; Roger Lewin; P. Thobias; Michel Day; Chris
Stringer; Milford Wolpoff; Ian Tattersall; Clark F. Howell; Loring Brace e Le Gros Clark.
Estas pessoas, em cada área do conhecimento vasculharam e vasculham o passado
geológico, com a finalidade de buscar mais informações sobre os ancestrais ou criaturas
que fossem seus contemporâneos.
Ao observarmos os avanços e recuos dessa ciência, desde seu advento, no século
XIX até os dias atuais, pode–se sugerir que houve muitas modificações, isto aconteceu
devido o acúmulo de pesquisadores, de evidências encontradas, de laboratórios com
tecnologia, que auxiliam na datação do material coletado (datação paleomagnética,
Potássio–Argônio, Urânio–Argônio, Flúor, bioestatrigrafia). Por isto, os cientistas do
século XIX, em algumas ocasiões, acabaram interpretando mal os achados, devido à
inexistência de mais informações e a falta de tecnologia que pudesse acompanhar suas
pesquisas.
04
1º CAPÍTULO: INTRODUÇÃO A PALEOANTROPOLOGIA:
Segundo o: Minidicionário Ediouro da língua portuguesa, a definição da palavra:
Antropologia seria conceituada como: “o estudo cientifico da espécie humana (sua origem,
evolução, costume, instituições, ect)”. (Ximenes, S. 2001, p. 65). Se acrescentar a palavra
grega: paleo (Palaios que significa: antigo e velho). Temos à união das palavras
paleoantropologia, que é o ramo da ciência paleontológica, que investiga as origens da
evolução do homem. Podemos propor a seguinte definição:
“É o estudo dos mais antigos seres com caracteres humanos e ou simiescos, sendo
chamados de: hominídeos. Este estudo tem como finalidade, analisar o modo que
eles viviam e socializavam, uns com os outros e sua relação com o meio ambiente”.
Para o estudo sobre o desenvolvimento do proto–homem (hominídeo) seria
interessante apresentar ao leitor, suas diversas conclusões e análises a respeito do assunto.
Assim, a paleoantropologia, teria como ferramentas de trabalho, os estudos de primatas e
de fósseis de hominídeos. Procurando entender; quais eram os mecanismos que condicionou
aos antigos seres antropomorfos (forma de homem) evoluírem? Quais foram às possíveis
adaptações? E finalmente; quais eram as possíveis relações destes seres, entre si e também
com o meio ambiente?
O desafio da paleoantropologia seria de sugerir interpretações, respondendo, como
que algumas criaturas simiescas, adquiriam características humanas. Atualmente, existem
dois gêneros distintos, com tais caracteres: o gênero: Australopithecus: “eram eretos, com
pouco mais de 1 metro de altura, com braços longos e pernas curtas, sua grande mandíbula e
pequeno volume cerebral, aproximadamente 450cm³” (Carvalho, I.S. 2000. P. 614) e o gênero
Homo: “O gênero Homo surgiu por volta de 2,5 milhões de anos a partir do Australopithecus
afarensis. Caracteriza–se pela arcada dentária semicircular, sem diademas entre os incisivos e
caninos, dentre as espécies mais primitivas encontra–se o Homo habilis, com aproximadamente 1,5
m de altura e capacidade craniana de 500cm³”. (Carvalho, I.S. 2000. P. 614). É importante
averiguar que há diferenças profundas, entre os dois grupos. Ainda não há um consenso, a
fim de explicar como e por que estes seres conseguiram evoluir e se transformar em nós.
“A história evolutiva dos hominídeos ainda é controversa, devido ao registro
descontínuo e escasso, e às diversas reinterpretações a partir de cada nova
descoberta, gerando dados discordantes. Assim, a filogenia da família Homanidae
apresentada é a hipótese mais atual, mas não necessária à hipótese de consenso”.
(Carvalho, I.S. 2000. P. 614).
05
1.1 TEORIAS E MÉTODOS DA PALEOANTROPOLOGIA:
A dificuldade de haver um consenso entre os especialistas seria devido a
interpretações adversas, pois cada cientista teria um olhar sobre a evolução humana, de
acordo com que apreendeu (há inúmeras tendências científicas, em universidades). Desta
forma, seria muito natural que ocorresse tal fenômeno. Para R. Iannuzi e M. B. Soares
sugerem que a palavra evolução, seria originada do latim: evolutio, significando: desenrolar
e desenvolver, nos dias atuais, a evolução pode ter como conceito que:
“Compreende a modificação sofrida por populações de organismos através do
tempo; tempo este que ultrapassa o período de vida de uma única geração. As
mudanças consideradas evolutivas são aquelas herdadas via material genético.
Contidas no conceito de evolução biológica estão as ideias de: mudanças contínuas
dos organismos através dos tempos. Irreversibilidade das mudanças (verdadeira
para a maioria dos acontecimentos evolutivos) e divergência de características
entre os organismos, refletida pela diversidade encontrada no mundo biológico”.
(Carvalho, I.S. 2000. P 61).
Mas, nem sempre a humanidade pensou que as criaturas antigas se transmutavam
com o passar do tempo. Há alguns séculos atrás era comum que as sociedades antigas e
medievais, aceitassem que as criações da Terra e do homem fossem originadas pelo divino,
durante a modernidade (1492?-1789?). O cristianismo incorporado na sociedade propunha
que Deus havia criado o mundo que conhecemos em seis dias. Numa tentativa de provar
esta ideia, James Ussher (1581-1656), o bispo de Armagh, em 1650, começou a calcular o
momento exato da Criação e concluiu que tal evento havia ocorrido a 4004 a.C. A
posteriori, Dr. John Lightfoot, Mestre do St. Catherine´s College, em Cambridge, após
inúmeros cálculos sugeriu uma data para a Criação, definindo que a Terra foi criada:
09h00min horas da manhã de 23 de Outubro de 4004 a. C (Leakey, R& Lewin. 1980. P 21).
A ideia destes dois cavalheiros confirmava uma criação, baseando–se na Bíblia e
em cálculos matemáticos a idade de 6.000 anos para a Terra e a criação de humanos. Esta
data de algum modo sobrevive na mentalidade popular sendo aceita naquela época e até
hoje por evangélicos fundamentalistas: “A cronologia bíblica indica que se passou um período
de cerca de 6.000 anos desde a criação dos humanos” (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e
Tratados. 1985. P 96). Porém, quando os primeiros geólogos começaram a estudar as
camadas de terra, obtiveram conclusões diferentes, pois suas pesquisas conduziam a outras
deduções, baseadas nos estudos das rochas revelando-se idades muito mais longas do que
indicava a cultura popular, e em alguns momentos, deparavam-se até com artefatos antigos:
“No século XVII um francês chamado: Issac de La Peyère estudou uma grande
coleção de pedras caprichosamente lascadas, que apanhou no campo. Depois, teve
a audácia de publicar um livro onde diz que essas pedras tinham sido trabalhadas
por homens primitivos antes de Adão. O livro foi incinerado em público em 1655”.
(Howell, Clark F. 1969. P 10).
06
Aos poucos, a tese de Usher-Lightfoot estava sendo colocada à prova à medida que
se descobriam mais líticos que jaziam juntos de fósseis¹, ambos estando nas mesmas
camadas de rochas, alguns cientistas convencia-se de algo diferente:
“Em 1790, John Frere encontrou estranhos artefatos de pedra nos mesmos estratos
(afloramentos) onde havia animais extintos, em Hoxne, Inglaterra. Escavando em
cavernas na Bélgica, em 1830, P. C. Schmerling encontrou muitos artefatos de
pedra misturados com ossos de rinocerontes e mamutes, há muito extintos, e
descobriu também dois crânios humanos”. (Howell, Clark F. 1969. P 10).
Os objetos encontrados nas camadas ou em cavernas, não empolgavam os cientistas
com a visão criacionista, pois ainda confiavam que as origens da Terra e do homem
estavam na Bíblia e argumentavam que as camadas de terra poderiam ter sofrido erosão,
provocando uma mistura nos ossos de animais extintos com artefatos de pedras, que
enganaram os seus descobridores. Atualmente, sabe-se que é necessário um período de
tempo superior aos 6.000 anos para que o processo de erosão possa provocar certas
“misturas”.
Já no século XVIII, houve muitos pensadores importantes, tais como: James Hutton,
(1726–1797), que propunha em seu livro: Theory of Earth with proofs and ilustrations, que
a Terra, possuía uma idade muito mais longa do que os 6.000 anos de Usher-Lightfoot.
Desta forma a origem da Terra, teria ocorrido em processos lentos e graduais, aumentando
a noção de tempo. O causador das modificações geo-físicas teria sido Deus, que agia
através das chuvas, ventos e processos internos terrestres. Por outro lado, Georges Cuvier
(1769–1832), baseando–se em estudos de camadas de terra e vestígios fósseis, propôs que a
Terra havia sofrido ações súbitas e destrutivas catástrofes, associados pela força divina,
diferenciando da idéia huttoniana de processos lentos e graduais.
“Para explicar as seqüências progressivas de fósseis, encontrados em sedimentos
de rocha, Cuvier propôs uma série de catástrofes, cada uma das quais teria
exterminado por completo as populações de animais e plantas (produzindo assim
os fósseis), essas catástrofes teriam sido seguidas por períodos de calma, durante
os quais Deus reprovou a Terra com novas (e melhoradas) espécies. O dilúvio de
Noé teria sido apenas uma dessas catástrofes” (Leakey & Lewin. 1980. P 23).
A tese de Cuvier havia unificado de certa maneira, religião (os estudos bíblicos) e
ciência da Terra (geologia). O judaíco-cristianismo parecia ter sido salvo de certos
questionamentos embaraçosos. A Teoria Diluviana contagiou cientistas em todo o mundo e
talvez um dos mais importantes fossem Dr. Lund e Louis Agassiz (1807–1873), que
estudaram as cadeias de montanhas, na Suíça, demonstrando terem ocorrido no passado,
uma Era Glacial, concluindo os mesmos resultados que Cuvier tivera. Para Cuvier, era
improvável de se encontrar fósseis humanos antes do Dilúvio sugerindo que “o homem fóssil
não existe” (Brace, C. L. 3ª Ed. 1979. P 18). Os homens antidiluvianos eram pessoas que
viviam antes do Dilúvio de Noé e estavam em número humano bíblico bastante reduzido.
Fósseis¹ - “Todos os registros de organismos ou de atividade dos mesmos que ficaram preservados nas
rochas” (Kelnner, A.W.A. 1999. P 03).
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Boucher de Perthes (1788-1868), (foi ele que cunhou o termo pré-história) um
arqueológo do século XIX acreditava ser possível existir fósseis humanos antidiluviano.
Em suas escavações na França, descobriu-se em 1844, fragmentos de ossos, machados de
sílex e mais tarde escreveu um livro fantástico sobre seus achados: Antiguidades Célticas e
Antidiluvianas (1849). Outro pesquisador, Charles Lyell escreveu sua obra entitulada:
Antiguidade do Homem Provada pela Geologia (1859), que coloca a prova a tese de
Cuvier.
“Na França, entre 1826-1829, um farmacêutico, Tournal conservador do Museu de
Narbona, compreendeu também assim como Schmerling, a importância das
descobertas que fez na gruta de Bise (Aude). Encontraram-se ali reunidos, lado a
lado, ossos humanos, fragmentos de cerâmica, ossos pertecentes a animais
desaparecidos de nossa atual fauna e, sobretudo, certo número de ossos de rena
gravado” (Senet, A. 1959. P 34).
O ponto em comum entre Hutton, Agassiz e Cuvier, seria o fato de que o
responsável pelos eventos geo–físicos da Terra (sendo lento ou súbito) estava associado ao
divino e assim, rejeitava–se a existência da antigüidade humana (chamado de homem
antidiluviano: homem anterior ao Dilúvio). Por outro lado, os três estudiosos trouxeram
como legado para a academia, a certeza de que a Terra tinha uma idade superior aos 6.000
anos da mentalidade popular confirmando, portanto, uma grande antiguidade ao planeta,
dando suporte para os estudos de Georges Buffon (1707–1778), ao sugerir anteriormente
que a idade do planeta, estaria em torno de 80.000 anos. Hoje em dia, segundos os
geólogos, a idade da Terra gira em torno 4,5 bilhões de anos.
No século XVIII, outro pensador, Jean Baptiste Lamarck (1744–1829) que
propunha algo contrário aos pensamentos de Cuvier. Para Lamarck, os seres vivos estavam
adaptados ao meio ambiente e modificavam-se através dos tempos, com o: “uso e desuso dos
órgãos”, que consistia em cada organismo ao mudar de ambiente, sentia da necessidade de
se transmutar adequando ao novo habitat, ocorrendo alterações no organismo e
conseqüentemente, alterando seus órgãos de forma gradual. As conclusões de Lamarck são
consediradas hoje em dia, como absurdas, quando estudada a fundo (Carvalho, I.S. 2000. P
62):
“Atualmente, a Teoria de Lamarck não é aceita, pois foi comprovado que as
características adquiridas durante a vida não são hereditária, apenas mudanças ao
nível genético podem ser herdadas pelos descendentes”. (Carvalho, I.S. 2000. P
63).
Em contrapartida, a grande contribuição de Lamarck para a ciência foi o fato de ter
notado que as criaturas se adaptavam ao meio natural e sofriam alterações ao longo dos
tempos (algo observado por Darwin). Já século XIX, o geólogo Charles Lyell (1797–1875)
aprimorou as idéias de Hutton, mostrando-se relutante e cético a respeito da teoria de
Cuvier e Lamarck. Porém ambos se convergiam, em afirmar que a idade da Terra deveria
ter uma idade superior aos 6.000 anos bíblicos e aos 80.000 anos, propostos por G. Buffon.
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C Lyell, em 1830-1833, escreveu seu livro: Principles of Geology (Princípios de
Geologia) tornando–se então, uma das principais obras contemporâneas sobre este assunto.
Em seu volume abordaria a ideia de que o homem e também o mundo que habita,
possivelmente teria indícios de uma elevada Antiguidade, contrariando a tese Diluviana de
Cuvier:
“Ele argumentou que todos os eventos passados, sem exceção, poderiam ser
explicados pela ação de fenômenos hoje atuantes (erosão, gelo, água, atividade
vulcânica, ventos). Deste modo, a ideia central de seu trabalho era de que: o
presente era chave para o passado”. (Carvalho, I.S. 2000. P 62).
Ao interpretar a tese de Cuvier, percebemos que o seu argumento de ter havido
inúmeros eventos súbitos e catastróficos geraram mudanças na superfície terrestre. Para
Lyell, tal interpretação estaria equivocada, pois deveria haver uma seqüência de atividades
geológicas e uniformes (lenta e gradual), possuindo uma explicação simples de atividades
geológicas da Terra, que poderiam no passado provocar toda uma formação geológica. Tal
ideia foi chamada de uniformitarianismo, na qual C. F. Howell interpreta que:
“Água lamacenta que corre num rio pode na verdade transportar milhares de
milhões de toneladas de partículas de um continente para o fundo do mar. Essa
imensa camada e assim sucessivamente, por anos e anos. Para gente acostumada a
pensar que a Terra tinha somente, 6.000 anos, isso era uma revelação fantástica”.
(Howell, Clark F. 1969. P 11).
As pesquisas de Lyell, referentes à antiguidade da Terra, substituíram a tese
Diluviana de Cuvier, pois Lyell explicava que as camadas geológicas que se formavam não
eram umas séries de catástrofes, mas sim, causadas por inúmeros fatores geológicos, que
poderiam interferir na superfície terrestre, como: uma leve brisa, uma erosão, água corrente,
processos de vulcanismo, que vão modificando paisagem lentamente por milhares de anos.
Seria interessante acrescentar ao leitor que nem Cuvier e nem Lyell não propunham uma
evolução biológica.
O livro de Lyell teve um grande impacto em inúmeros leitores, incluindo Charles
Darwin (1809–1882), que apreciou a obra e através desta, criara a sua teoria e método,
sobre a transmutação dos seres vivos. O trabalho foi iniciado, quando Darwin foi
convidado por: Henslow, seu professor em Cambrigde, a embarcar no navio H. M. S.
Beagle, numa viagem ao redor do mundo que duraria cinco anos, com o objetivo de
observar e catalogar a fauna e flora existente em diversos locais. “A história da concepção do
Darwinismo iniciou–se com a viagem ao redor mundo empreendido pelo jovem: Charles Darwin,
entre, 1831 e 1836” (Carvalho, I.S. 2000. P 63). Darwin coletou inúmeros espécimes,
classificou inúmeros fósseis e observou que alguns seres vivos estariam ambientados com
eco–sistemas adversos. Assim, determinadas criaturas, poderiam ter tido no passado um
ancestral comum e que poderia ter se transmutado. Observando este detalhe, começou a
perguntar-se: como que as diversas espécies atuais ter-se-iam Transmutado? O que
determinaria as mutações?
09
Estas perguntas o levaram a iniciar seu trabalho tentando encontrar uma resposta,
baseada na leitura do ensaio de Robert Malthus (1765-1834): An essay on the principles of
population (Um ensaio sobre os princípios da população) (1803). Desta forma, Darwin,
detectou que algumas de suas questões sobre o que determinaria as mutações, estavam no
fato de observar, as taxas de aumento populacional, com as taxas de espaço geográfico e de
alimento. Concluiu que no mundo natural deveria haver uma luta pela sobrevivência que
resultaria numa “seleção natural”. Além disso, contou com as ideias de Lyell, para
explicar que a evolução biológica dependia de modificações geo-físicas lentas e graduais,
dando tempo aos seres vivos em adaptar–se ao meio em constante mutação. Os princípios
fundamentais de Darwin foram:
“Devido à desproporção entre o crescimento populacional e a quantidade de
espaço e alimento disponíveis, deve existir uma luta pela sobrevivência entre os
indivíduos, como resultado desta luta, apenas os mais aptos permaneciam vivos,
transmitindo suas características aos seus descendentes (seleção natural)”
(Carvalho, I.S. 2000. P 64).
Em 1859, Darwin publicou o resultado de 20 anos de pesquisa, em seu famoso
livro: The origins of species by means of natural selection (As origens das espécies por
meio da seleção natural), que teve 1.250 cópias e se esgotou no mesmo dia. A teoria de
Darwin estava indo de encontro não somente com os mais brilhantes teóricos de sua época,
mas também contra as ideias Diluvianas e bíblicas. Darwin concluiu suas ideias escrevendo
“muita luz será lançada sobre a origem do homem e sua história”. A Academia de Ciências
Britânica dividiu-se. Havia quem repudiava, como: Richard Owen, Agassiz, Philip Grosse e
o religioso devoto, Adam Sedwick, adeptos a tese de Cuvier. Mas, havia aqueles que
apoiassem Darwin: Charles Lyell, Alfred Wallace e Thomas Henry Huxley, que era o
melhor geólogo, naturalista e zoólogo britânico, naquele momento.
De certo modo, as ideias de Darwin causavam naquele período, um
descontentamento por parte de alguns catedráticos e religiosos. Richard Owen acreditava
piamente nas ideias Diluvianas de Cuvier, que explica a imutabilidade das espécies
animais, rompendo seu laço de amizade com Darwin. Para Owen, a criação do mundo foi
algo realizado por Deus e não por meios de adaptações no mundo geológico e biológico.
Em 1860, um debate ocorrido em Oxford, atraiu a atenção dos estudantes, pois as
ideias entre as duas correntes: a criacionista (postulada por Owen e religosos) e a
evolucionista (postulada por naturalistas), estariam cada uma, defendendo suas evidências.
Darwin, não participou deste encontro tempestuoso, pois sofria de lassidão crônica e
sempre que podia evitava contatos sociais. O naturalista, não estava em plena forma física.
Seria importante comentar, que esta discussão foi fundamental para traçar o rumo
das ciências naturais, pois deixava dúvidas acerca dos métodos e das teorias apropriadas,
para se estudar a vida e a Terra. Então, qual seria a tese mais convincente para servir de
mola propulsora para os estudos da biologia, zoologia e geologia? A importância de tal
discussão, durante a reunião anual da Sociedade Britânica para o progresso da Ciência,
obviamente era de se esperar que o clima estivesse tenso. Cada lado se defendia e atacava.
10
No debate, o defensor da tese criacionista, o bispo de Oxford, Samuel Wilberforce
instruído pelo anatomista Richard Owen, um adepto as ideias Diluvianas. Do outro lado
estava o melhor zoólogo e naturalista britânico, Dr. Thomas Henry Huxley, “o buldogue de
Darwin”, completamente adepto as teorias evolucionistas, assim, iniciou–se o embate:
“Tudo que o homem escreve é hipotético. Não existem fatos visíveis”. Bispo Wilberforce.
“Os livros estão repletos de fatos e quanto ao ser hipotético, também o é a teoria
ondulatória da luz, mesmo assim estão preparados para aceitá-la”. Thomas Huyley.
“Ora... As espécies não mudam. Se verificar as tumbas do Antigo Egito, lá estão todos eles,
exatamente os mesmo: gatos, pombos... pessoas”. Bispo Wilberforce.
“Para mim esta é a melhor explicação da origem das espécies até agora”. Thomas Huxley.
“Responda... Qual dos seus avós... Bem, são descendentes de um macaco?” Bispo
Wilberforce (Discovery Channel. Connections 3. 1997).
“Um Homem não tem razão. Para se envergonhar de ter um macaco por avô ou avó. Se eu
tivesse podido escolher um ancestral, entre um macaco ou alguém que, tendo educação
escolástica usasse sua lógica para confundir um público leigo (que desconhece o conteúdo)
e tratasse os fatos e as razões aduzidas em favor de uma grave e séria questão filosófica,
não com argumentos, mas com o ridículo, não hesitaria, por um momento sequer, em
preferir o macaco”. Thomas Huxley (Leakey & Lewin. 1980. P 31).
T. H. Huxley reverteu à situação que seu rival o colocou. Aos poucos o darwinismo
garantiu seu lugar no cenário acadêmico após o debate de 1860. A tese evolucionista
começou a contagiar cientistas, em outros locais do mundo. Antes havia dúvidas acerca do
método correto de pesquisa. A posteriori, comprovou-se numa gama de informações de que
a evolução das espécies servia como uma principal causa de transmutações. As ideias de
Darwin a respeito da evolução da vida sugere uma mutabilidade do sistema natural, que
para ele, a natureza apresentava mudanças geológicas e biológicas por meio de seleção
natural. Assim, as ciências da terra e da vida, encontraram um novo olhar para seu estudo:
as ideias de Lyell e de Darwin.
Em 1871, Darwin escrevera outro livro, tão sensacional e polêmico: The descent of
man and selection in relation to sex (A descendência do Homem e seleção em relação ao
sexo). Concluiu que a origem humana estaria na África e seus descendentes estariam na
linhagem dos antropóides (macacos: chimpanzé, gorila, orangotango), devido semelhanças
anatômicas com os humanos, tais como: algumas características fisiológicas: instinto
emoção e socialização. Após inúmeras publicações de The descent of man and selection in
relation to sex a respeito da possibilidade do homem ter um ancestral comum com os
antropóides, sugere que num passado distante deveria ter havido algum “elo perdido” que
pudesse ser encontrado na Europa do século XIX. Deste modo, os cientistas darwinistas
procuravam por fósseis de antigos seres humanos.
11
Ideias como seleção natural e luta pela sobrevivência vai de encontro com a cultura
religiosa do homem do século XIX que era acostumado a pensar que havia um Deus, que
em sua bondade havia criado o mundo e teria dado à oportunidade de que a raça humana
dominasse as outras espécies, isto é, o judaíco-cristianismo coloca o homem acima de todos
os animais, enquanto Darwin retira o homem deste pedestal, revelando outra realidade:
“Através das lentes da seleção darwiniana, o homem já não era a apoteose da
criação, estando no mesmo nível do mosquito que sugava seu sangue, ou de
micróbios que viviam em seus excrementos”. (Johnason, D & Sheeve, J. 1998. P
61).
Tanto no século XIX, como nos dias atuais, há grupos religiosos fundamentalistas,
que não acreditam nas explicações que a origem da vida e do ser humano, tenha ocorrido
através da seleção natural. O criacionismo ainda vigora e discute-se sobre a busca de
criaturas, tidas como “elos perdidos”. Para os grupos fundamentalistas, os elos seriam
apenas seres inventados, discordando das pesquisas científicas atuais.
“Visto que haver elos: criaturas fantasmagóricas têm de ser inventada à base de
mínima evidência e ser divulgada como se realmente tivessem existido”.
(Sociedade Torre de Vigia. 1985. P 87).
Os darwinistas não apresentam elos. Há muito mais material fóssil para trabalhar e
analisar do que o século XIX. Sabe–se da existência de fósseis de dois gêneros distintos de
criaturas: o Homo e o Australopithecus, que lotam museus em todo mundo. Cada um tendo a
sua compatibilidade e suas características simiescas e humanas. Portanto, não se vê nada de
“fantasmagórico”, e que possivelmente teriam uma anatomia similar ao homem moderno.
Atualmente, a ciência evita ao máximo propor “elos”, pois foram estudados por centenas
de pessoas e estando à disposição de uma equipe de paleoantropólogos, geoquímicos,
geólogos, desenhistas, preparadores de fóssil, antropólogos, todos trabalhando para que a
peça (o fóssil) encontrada possa ter a mais completa informação, para finalmente, chegar ao
público leigo. Para isto há todo um método de pesquisa, reunindo toda uma equipe de
anatomistas e paleontólogos que podem analisar o fóssil, demorando alguns anos para
poder completar seus dados e diminuindo as chances de haver a possibilidade de equívocos
“fantasmagóricos”.
No século XX, a ideia de Darwin, provocou o advento da Tese Sintética (baseada
em genética, que confirmava como fato os princípios darwinianos) propondo que a seleção
natural era lenta e gradual sendo aceita por muito tempo. Em 1972, Stephan Jay Gould,
paleontólogo da Universidade de Harvard e Niles Eldredge, do Museu Americano de
Historia Natural–Nova York, basearam-se na teoria de Ernst Mayr argumentou que
evolução não deveria ser vista somente de forma lenta e gradual, mas observada de maneira
não–gradual e não–linear.
12
Para Gould as especiações o aparecimento de novas espécies ocorrem mais
rapidamente, não deixando um ancestral transitório (elo perdido). Neste caso, a evolução
daria saltos de uma espécie para outra. Esta nova observação originou a tese do equilíbrio
pontuado, que explica a pressão natural e por sua vez, condiciona as diversas criaturas para
a extinção ou para a evolução, por exemplo, o impacto de um cometa na Terra no final da
Era dos Dinossauros (65 milhões de anos) ou as mudanças climáticas no final da Era
Permiana (245 milhões de anos), que teriam sido responsáveis pela extinção de 95% da
vida na Terra ou mudanças de ambiente confinado e isolado.
Para Gould (1941-2002), as pressões do meio-ambiente proporcionariam mudanças
anatômicas e ocorreriam, geralmente, em pequenas populações isoladas umas das outras.
Assim, a espécie poderia ter intervalo de tempo, sem sofrer alterações morfológicas
(chamada de estase), mas uma mudança climática ou de ambiente poderia proporcionar
mudanças sociais, sexuais e alimentares da espécie animal, provocando transformações
seletivas num determinado grupo. Desta forma a espécie teria de modificar sua dieta
alimentar, seu relacionamento com os membros do grupo e alterar seu comportamento
sexual, num determinado espaço de tempo. As criaturas que não conseguissem adaptar–se a
esta nova realidade, teriam sua taxa de natalidade reduzida e em pouco tempo estaria
extinta.
Baseando–se nestes conceitos de Gould percebe-se o novo achado de um ancestral
humano, que já teria sido descrito, em 1979. O achado era um crânio de Australopithecus
afarensis, de 3,9 milhões de anos, possuindo as mesmas características morfológicas, de
qualquer crânio da mesma espécie, porém com 1,0 milhão de anos mais recente. Para
Gould, isto seria uma evidência da estase do espécime.
Além disso, a teoria explica a existência de fósseis–vivos animais e vegetais que
existiram a milhões de anos e que ainda existem. Os críticos de Gould afirmam que, se o
número das populações, possuírem poucos indivíduos, então, as chances de encontrar seus
fósseis são mínimas, pois na tese de Gould, as novas espécies fósseis, não se originam no
mesmo local onde viveram seus ancestrais. Tentando explicar esta evidência, comenta que
os registros fósseis seriam os resultados de mudanças evolutivas das criaturas (especiação)
(Carvalho, I.S. 2000. P 73).
Atualmente, ao invés da seleção natural, deter um papel, preponderante na história
natural da origem do homem ou da vida na Terra temos o acaso que determina a sorte ou o
azar na loteria da vida, inclusive da nossa. Observando os caminhos (gradual) ou
descaminhos evolutivos (não-gradual), percebe–se que a vida não seria igual a uma fita de
VHS que poderia rebobinar e depois rever o programa. A vida quando uma vez extinta,
possivelmente seria improvável que ressurgisse novamente, como explica Alfredo Nunes
Bandeira Jr.:
“Tivesse a terra que recomeçar todo o seu desenvolvimento, com todos os seus
aspectos físicos idênticos é extremamente improvável que qualquer coisa lembrada
de perto um ser humano, viesse a emergir novamente” (Bandeira Jr, Alfredo N.
2001. P 51).
13
“Stephen J. Gould, o grande evolucionista de Harvard, sustenta que a evolução é
um acontecimento fortuito, não determinado, e que jamais se desenrolaria de novo
da mesma forma se houvesse um meio de reiniciar o processo” (Ward, P. 1997. P
67).
Atualmente, acredita–se que a vida na terra é como a evolução humana, ocorreu
devido a inúmeros fatores, inclusive ao acaso, como Ian Tattersall, do Museu Americano
de História Natural, sugere que:
“(...) a evolução não é um processo que ocorre quando se quer. A evolução é um
processo de seleção entre variáveis que ocorre espontaneamente, sem nenhuma
razão em potencial” (Documentário: Humano: Quem somos nós? A origem da
mente humana. 1999).
Deixando de lado as teorias e partindo metodologia de campo da paleoantropologia,
se pensa que o trabalho do pesquisador de fóssil humano seja uma aventura. Na verdade,
seria uma atividade de investigação: ler, interpretar e analisar os antigos registros deixados
por outros escavadores, de um determinado local, assim sabe–se onde e o que deve
procurar, para iniciar sua escavação.
Após este estudo, o pesquisador faz um projeto para obter financiamento em
Museus, Universidades e órgãos públicos e/ou privados de pesquisa e antes de sair para o
campo é interessante reunir uma equipe de cientistas de diferentes áreas do conhecimento:
geologia, paleontologia, paleobotânica. Caso obtenha sucesso, e descubra algum fóssil,
anota-se tudo: data, hora, local, posição geográfica, coleta-se amostras de camadas de terra
em que o material foi encontrado, fotografa as descobertas e finalmente, envia–se o fóssil
para o laboratório para obter uma melhor apreciação. Para organizar os estudos, é
necessário fazer um exame detalhado, para saber se o fóssil trata-se de um hominídeo. Há
dois principais métodos de pesquisa, o 1º teste é analisar o fóssil para descobrir se possui
alguma herança humana, por exemplo: o andar ereto. Sabemos que apenas o homem anda
sobre duas pernas eretamente. Os cientistas procuram por esta pista nesses fósseis,
analisando: os ossos dos pés, joelho, o quadril (pélvis), o fêmur, a coluna e o crânio
(forâmen magnum: buraco na base do crânio). Assim, concluir que se trata de um ancestral
humano. Analisar evidência de andar ereto seria fundamental, pois se sabe que esta
locomoção surgiu primeiro que o celebro grande capaz de imaginar e criar ferramentas
(Lima, C. P. 2a ed. 1994. P 28), depois disto, os pesquisadores, realizam o 2o teste: batizado
de Critério Clark. Aprimorando os estudos de H. Huxley, no século XIX, Le Gros Clark
do Museu Britânico, nos anos de 1950, procurou definir diferenças dentárias entre: os
hominídeos, os macacos e os humanos modernos (Clark identificou 11 diferenças entre nós
e os macacos) e depois comparou essas diferenças com hominídeos (Australopithecus). Caso
sobreviva a este exame, realiza–se outro estudo, com o objetivo de saber se o fóssil
descoberto pertence a uma espécie já descoberta ou se trata de algo novo. Caso fóssil
pertença a uma nova espécie classifica–se lhe dando um nome científico, em latim, a
nomeclatura exige em configuração em itálico, tendo acima de dois nomes.
14
O primeiro nome, a primeira letra seria maiúscula, enquanto, o segundo nome seria
minúsculo, exemplo: Australopithecus africanus, Australopithecus robustus e assim por diante.
Após estes dois estudos, os cientistas, propõem uma árvore genealógica sendo chamada de
filogenia. Este estudo em particular pode provocar polêmicas ou até discussões acaloradas,
porque ainda temos a inexistência de consenso entre alguns cientistas, devido à ocorrência
de duas correntes interpretativas: a primeira seria dos somadores (que ao analisar os fósseis
tidos como ancestrais humanos, buscam por semelhanças anatômicas ao se comparar com
outros fósseis de hominídeos ou com o homem moderno) e a outra corrente, pertence aos
divisores (que ao analisar os fósseis tidos como ancestrais humanos, buscam por diferenças
anatômicas ao se comparar com outros fósseis de hominídeos ou com o homem moderno).
Mesmo havendo duas formas de interpretação distintas e métodos meticulosos para
identificação fóssil de hominídeos, classificando-o pertencente a um determinado gênero ou
até família, vemos que a pesquisa pode durar meses ou até anos, independente da corrente
ideológica do paleoantropólogo e de seus colaboradores. Recentemente, o pesquisador Erik
Trinkaus e seus colaboradores, realizaram um estudo de campo, entre os anos de 2003–05,
em Peştera cu Oase (caverna com ossos), na Romênia, descobrindo um maxilar e um crânio
(Oase 1 e 2), datados por carbono 14 entre: 40 e 35 mil anos. Depois de ser analisado, a
equipe escreveu suas conclusões para revista PNAS, em novembro de 2006. A maioria dos
cientistas publica suas conclusões finais. O objetivo é tornar públicas suas interpretações ou
teorias assim como informar ao órgão financiador de sua pesquisa. Geralmente utiliza–se
de revistas especializadas para publicar tais artigos (Nature, Science, Scientific American,
PNAS e a revista da SBP: Sociedade Brasileira de Paleontologia).
15
1.2 A HISTÓRIA DA PALEOANTROPOLOGIA:
O início dos estudos paleoantropológicos, remonta o século XIX, havia poucos
dados fazendo com que, as informações sobre a rota evolutiva humana ficassem mais
definidas. Por esta razão, de tempos em tempos, os cientistas propõem teorias interessantes,
baseadas em coletânea de dados e vestígios. Quando recolhiam mais informações do campo
e materiais fósseis, descobriam que as teorias anteriores, não se adaptavam aos
pressupostos, tendo de sofrer certas aperfeiçoações. Para esta ciência, o objeto de estudo é o
fóssil de hominídeos; então seria vital encontrar um número elevado de material, para que
as informações levassem a conclusões mais confiáveis. Fazendo um levantamento, do
difícil surgimento da paleoantropologia, pode–se afirmar que se iniciou após a publicação
do livro de Charles Darwin (1859): A origem das espécies. Tempos mais tarde, em 1871,
Darwin escrevera: The descent of man and selection in relation to sex (A descendência do
Homem e seleção em relação ao sexo). Em 1863, T.H. Huxley havia escrito o livro: O
lugar do Homem na natureza. Ambos os autores sugerem comparações anatômicas entre:
humanos e antropóides (chimpanzés e orangotangos), possuindo uma relação intima,
propondo uma ancestralidade comum entre estes dois grupos. Desde então, os naturalistas
europeus vêm tentando coletar fósseis, que sugeriam uma ancestralidade do homem
moderno (Howell, F. C. 1969. P 12).
Os primeiros fósséis de hominídeo descoberto foi o Neandertal, tanto em 1848, em
Gilbraltar como em 1856, na caverna de Neander, na Alemanha. O médico alemão:
Hermann Schaaffhausen, ao analisar o fóssil de Neander minuciosamente, concluiu que
pertenceria ao grupo de: “raças bárbaras” e que deveria ter vivido naquela região, durante
o período romano. Assim, o achado foi ignorado pela comunidade científica até que T.H
Huxley, o estudou e analisou, percebendo que o crânio possuía caracteres adversos. Ao se
comparar com o homem moderno, pode concluir que se tratava de uma espécie diferente,
mais antiga, um possível ancestral humano (Johanson, D & Shreeve, J. 1998. P 64).
Na época que a criatura de Neander foi descoberta, não havia na Alemanha, fósseis
similares. O fóssil de nandertal de 1848, só foi apresentado formalmente á comunidade
científica em 1864. Desta forma, o espécime que foi encontrado na Gruta de Neander, era
único até aquela ocasião. A conclusão inicial demonstrada por Hermann Schaaffhausen,
não chega a ser um desastre total, servindo como um aprendizado, numa ciência que
começava a engatinhar. Schaaffhausen, não possuía outros fósseis para estudar, pois o
fóssil de Gilbraltar estava indisponível e não havia outro material para ser comparado e
nem mesmo um laboratório moderno de datações e computadores. Ao longo da história
paleoantropológica, os cientistas cometeram equívocos, sendo muito comum quando se
tenta procurar evidências, mesmo que haja pouco ou nenhum recurso.
“Bons princípios também podem ser usados para corroborar com maus
argumentos. Tenho afirmado freqüentemente nestes ensaios que somente grandes
pensadores conseguem fracassar grandiosamente – e quero dizer com isso que seus
erros, embora portentosos quanto ao âmbito e à importância, são invariavelmente
ricos e instrutivos, nunca triviais e embaraçosos”. (Gould. S.J. 1998. P. 360-1).
16
Crânio do Neanderthal Fonte: http://www.modernhumanorigins.net/amud1.html
Eugène Dubois (à direita) Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/dubois.jpg
No final século XIX, alguns cientistas e antropólogos estavam empolgados com a
teoria darwiniana (atualmente, o darwinismo tornou-se um fato científico comprovado a
partir da década de 40, quando foi realizado, estudos em criaturas unicelulares, insetos e
animais, demostrando que se transmutavam). O empolgado anatomista alemão, Ernst
Haekel (1834-1919), num dos seus trabalhos, havia proposto um esquema de uma árvore
genealógica humana partindo de um suposto pithecanthropus alalus (homem-macaco sem
lingagem) que daria origem ao neandertal que por sua vez daria origem ao homem
moderno. Nesta mesma época, Florentino Ameghino, um paleontólogo argentino, havia
proposto que as origens humanas teriam ocorrido na Argentina (Hemisfério Sul),
apresentando possíveis hipóteses de esqueletos e de ferramentas líticas.
“De acordo com a tese de Ameghino, a serie filética dos hominídeos inicia–se–ia
com Homunculus e Anthropope, pequenos cebídeos do Eoceno da Patagônia.
Prosseguiria no Mioceno e Plioceno, como os gêneros: Tetraprothomo,
Tripothomo, Diprothomo e Prothomo (homo pampeus–Homem dos pampas) Estes
quatro gêneros são considerados pela maioria dos autores como fantasiosos.
Tretaprothomo basear–se-ia num Atlas humano (índio moderno) e o fêmur de
canivoro: Diprothomo, num fragmento de abóbada craniana de um homem atual.
Na América do Sul, faltam restos de catarrineos e de pongideos, pelo que se
considera a Ásia como berço mais provável da humanidade” (Mendes, J.C. P
270).
A comunidade científica européia repudiou a sugestão de uma ancestralidade vinda
do sul, devido falta de evidências de campo, pois já estavam convencidos de que Homem de
Neander e o Cro–Magnon, que haviam sido encontrados na Europa (Hemisfério Norte), o
provável berço evolucionário que demonstrava a sua ancestralidade provinda da Ásia.
Mesmo tendo estas duas provas, ainda havia uma necessidade de continuar a procura.
Naquela época, as descobertas ainda eram escassas.
17
Em 1898, Eugène Dubois, um médico holandês que era influenciado pelos estudos
de Haeckel, ao procurar pistas a respeito da evolução humana, viajou para Indonésia e lá
encontrou em Trinil (Ilha de Java), uma calota craniana, um dente e fêmur, ambos antigos,
sugerindo que os ossos deveriam ter pertencido a um mesmo indivíduo, possuindo
caracteres simiescos e de andar ereto. Sua anatomia era peculiar e diferente ao “Homem de
Neander” e do “Homem de Cro–Magnon”, chamou-o de: Pithecantropus erectus (Homem–
macaco ereto) ou Homo erectus, em homenagem a termologia utilizada por Haeckel.
Ao regressar para a Europa, apresentou o fóssil a alguns membros da comunidade
científica, que estavam acostumados em perfis anatômicos similares aos Neandertais, e ao
Cro–Magnon, que repudiaram a ideia, de que os ossos que Dubois encontrara, eram
pertencentes a um mesmo indivíduo. Rudolf Virchow sugeriu que a calota craniana
pertencesse a um gibão, enquanto o fêmur era muito parecido com um fêmur humano.
“Um dos peritos que examinaram (H. erectus) foi o antropólogo e anatomista
alemão R. Virchow, que imediatamente concluiu que suas peculiaridades eram
devidas às deformidades patológicas e não indicavam primitivismo, como alguns
especialistas menos famosos (A. Keith) tinham sugerido” (Howell, F.C. 1969. P
12).
Para os cientistas da época, os vestígios eram considerados poucos e havia alguns de
seus colegas, que acreditavam que descoberta de Dubois, não fazia sentido algum. Os
materiais e a geologia da Ásia ainda era um mistério. Por esta razão, alegava-se que os
fósseis teriam sido classificados como um só indivíduo, mas seriam dois indivíduos.
Dubois percebeu que a academia, não estava dando apoio científico, retirou-se para sua
casa, trancou seu fóssil, não permitindo que ninguém o visse.
Os pesquisadores tinham em mãos, pouquíssimos vestígios fósseis e pior, havia
ainda, Dubois que não permitia que ninguém observasse sua descoberta em Java. Isto fez
com que, não houvesse muitos avanços sobre a origem humana, até surgir novas
descobertas iniciadas no início do século XX, na década de 20 e 30, que revelaram serem
similares ao Homo erectus, na China: Sinanthropus pekinensis, mandíbula de Mauer–
Alemanha, em Java: Homem de Trinil. Obviamente estes fragmentos pertencentes aos
homens primitivos, eram encontrados freqüentemente incompletos, as técnicas de datação,
ainda eram precárias, mas por outro lado, ocorreu um aumento do número de fósseis. Deste
modo os paleoantropólogos puderam correlacionar os achados recentes com as antigas,
trazendo novas concepções acerca da filogenia humana.
No final do século XIX, um dos maiores anatomistas da época, o Dr. Gustav
Schwalbe (1844-1916), havia escrito um livro chocante: Zeitschrift für Morphologie und
Anthropologie (1899), sobre a evolução humana, e as espécies humanas descobertas até
então, o 1º estágio era o Pithecanthropus de Dubois, o 2º estágio era o Homo primigenius
(neandertal) e finalmente, o 3º estágio seria os homens anatomicamente modernos. O Dr.
Wolpoff comenta que: “He fundamentally believed in linear evolution” (Wolpof, M e Caspari,
R. 1997. P 116). Isto é, ele acreditava numa evolução linear entre estes estágios humanos
descrito acima.
18
Porém em 1912, Schwalbe teve de abandonar seu modelo, pois publicou o trabalho
de Boule, que estudou o neandertal de La Chapelle, percebendo que não poderia encaixá-lo,
no esquema que havia montado em seu livro (Brace, C. 3ª Ed. 1979. P 35).
Nessa mesma época, a paleoantropologia inglesa, iria contribuir com achados de
campo. No fim de 1912, fora descoberto numa mina, em Pitldown Common, no condado de
Sussex, Inglaterra, o Homem de Piltdown. O arqueólogo amador, Charles Dawson,
proclamou sua descoberta: o fóssil consistia num crânio com seu maxilar inferior. Os
fragmentos foram entregues a anatomistas renomados, Arthur Keith e Grafton Elliot Smith
que após terem pesquisado, “ambos saudaram o Homem de Piltdown como sendo talvez a mais
importante descoberta já realizada de um fóssil humano”. (Johanson, D & Sheeve J. 1998. P
69). O nome científico desta descoberta era: Eoantheopus dawsoni. A anatomia do Homem de
Piltdown possuía apenas: 1.070cc de capacidade cerebral e representava o maior achado
paleoantropológico da Inglaterra. No início do século, grande parte dos anatomistas
acreditava que o Homem de Piltdown fosse um elo com os humanos modernos. O
paleantropólogo francês, Marcelin Boule (1861-1942), afirmava que o Pithecanthropus e o
neandertal fossem um ramo lateral sem incluir os homens modernos, enquanto o Homem de
Piltdown fosse o ancestral do homem moderno.
Na verdade o fóssil de Piltdown (crânio com a mandíbula) se mostrava espetacular e
ao mesmo tempo até inigualável. Não havia semelhanças com outras já descobertas até
aquela época. Para os especialistas, o fóssil mostrava se diferente do Homem de Neander e
do Homem de Cro–Mangon. Quando Eliott Simth começou a analisar o achado, verificou que
o crânio pertencia a humano moderno e a mandíbula era simiesca (orangotango), manchada
cuidadosamente, para parecer antigo e os dentes se encontravam limados (Johanson, D &
Sheeve, J. 1998. P 69). Apenas na década de 50, com datações de Flúor (para traçar datas
de contemporaneidade, com espécies antigas), elaborada por: Kenneth Oakley, Wilfrid Le
Gross Clarck, J.S. Weiner é que puderam confirmar a veracidade do fóssil. Submeteram–no
a exaltivas experimentações, com o objetivo de determinar a idade relativa do fóssil e
descobriram que o Homem de Pitldown se mostrou uma fraude deliberadamente forjada:
“Os críticos estavam certos desde o princípio, mais certos que jamais ousaram
pensar. Os ossos do crânio, na realidade eram de um ser humano moderno, e a
mandíbula, de um orangotango”. (Gould, S.J. 1992. P 206).
Para S. J. Gould (1941-2002) da Universidade de Havard “nada é tão fascinante,
quanto um velho mistério” (Gould, S.J. 1992. P 240). Porém este mistério conseguiu enganar,
não somente os mais respeitados anatomistas ingleses, mas toda a comunidade científica
internacional, como: Arthur Keith, Arthur S. Woodward, Marcelin Boule, H.F. Osborn e
Carlos de Paula Couto. Para os evangélicos da Sociedade Torre de Vigia de Bíblia e
Tratados, o Piltdown foi uma vitória, pois justificava a ideia criacionista. O cânio
desempenhou um fracassado modelo fóssil revelando-se uma fraude. Além disso, seria uma
prova de que os cientistas poderiam fazer qualquer coisa, para forçar a humanidade a
acreditar no fato comprovativo de darwinismo.
19
“Em seu desejo de encontrar evidências dos homens–macacos, alguns cientistas se
deixaram levar pela crassa fraude, por exemplo, do homem de Piltdown, em 1912.
Por cerca de 40 anos, foi aceito como genuíno pela maior parte da comunidade
evolucionista. Em 1953, a farsa foi descoberta, quando técnicas modernas
revelaram que os ossos humanos e ossos simiescos tinham sido ajuntados e
artificialmente envelhecidos. Em outro caso, desenhou–se um elo que falava
simiesco, que foi divulgado na imprensa”. (Sociedade Torre de Vigia. 1985. P
87).
Há contradição nesta afirmação, pois ao mesmo tempo em que, os religiosos
defendem a “técnicas modernas” (o experimento com flúor que foi utilizado para estudos
no H. Piltdown), são através destas datações fortalece a sustentação da ideia, de que a Terra
e o ser humano têm uma idade superior aos 6.000 anos, propostos por religiosos e ao
mesmo tempo, refutam qualquer evidência de evolução. Seria natural, que os religiosos
questionassem a fraude de Piltdown, mas porque não foram questionadas as “técnicas
modernas” de datação? Ainda não há resposta. Vamos nos ater a nossa pesquisa; será que
os maiores cientistas da época são culpados, por lançar para o público, o homem de
Piltdown? É cômodo acusar as análises dos cientistas e suas investigações. Para a
comunidade religiosa, a ciência teria sido culpada de fraude e por isto a paleoantropologia,
às vezes é mal reconhecida, tanto por leigos, quanto por religiosos. O criacionismo anseia
voltar a ser, um método de estudo da ciência da vida e da terra, por esta razão, busca
menosprezar, os dados de campo. Nos dias de hoje, existem inúmeros sítios espalhados
pelo mundo, que nos dá provas evidentes de ter existido hominídeos.
Atualmente, utilizam-se técnicas modernas, como: GPS, para ajudar na localização
de escavações e estudos geológicos. Há periódicos científicos e teleconferências, com a
finalidade de trocar informações. A Internet e as emissoras de TV a cabo, lotam de dados a
respeito das descobertas realizadas. Há também, laboratórios de alta tecnologia, que
auxiliam cientistas analisar os fragmentos descobertos, para que mais tarde, o público possa
ser informado das conclusões. Sem as tecnologias citadas acima restringe em muito o
trabalho a disposição dos anatomistas britânicos, entre os anos de: 1856–1912.
“... É muito fácil olhar com desprezo a credulidade dos evolucionistas britânicos.
Consideram a escassez de coisas que tinham para trabalhar. Não havia métodos
confiáveis de datação. Um mero punhado de achados europeus. Algum material
asiático promissor, fechado à chave e fora das vistas de todos por seu proprietário
armagurado (E. Dubois). E, então, chegam esses novos ossos sensacionais,
extraídos de um terreno britânico. É claro que os especialistas ingleses os
estudavam e discutiriam sobre seu significado, mal sabendo que a atenção que lhes
dessem confirmava a legitimidade do espécime. E é claro, que achariam o fóssil à
satisfação de suas noções preconcebidas: preconceitos era tudo o que possuíam.
Fora da Inglaterra, em especial nos Estados Unidos, O Homem de Piltdown causou
muito mais dores de cabeça, e dentro de vinte anos acumularam–se-iam suficiente
novos indícios para reduzir o status do fóssil, de uma força propulsora da
paleontologia humana ao de um enigma incômodo” (Johanson, D & Sheeve, J.
1998. P 70).
20
Crânio de bêbe de Taung (esquerda) e do Homem de Cro–Magnon (direita) Fonte:
http://www.talkorigins.org/faqs/homs/cromagnon.html e
http://www.talkorigins.org/faqs/homs/taung.jpg
Enquanto a Europa vangloriava da descoberta do Homem de Piltdown, em outro local,
na África do Sul (Hemisfério Sul), foi encontrado, em 1924, nas pedreiras de Taung (em
língua Bantu, significa: “Lugar do leão”), um crânio, uma mandíbula e um cérebro de uma
criança (4 ou 5 anos) com feições simiescas, descoberta por Josephine Salmons, estudante
de anatomia, que apresentou seu achado, a seu professor, Raymond Dart, da
Witwartersrand University de Johannesburgo. Dart, discípulo de Grafton Elliot Smith,
começou analisar todo o aspecto da criatura e observou que seu crânio era bastante grande
ao ser comparado com outros primatas vivos. Seu dente era similar aos hominídeos, mas a
revelação surpreendente seria o fato desta espécie poder andar ereta como os humanos.
“Talvez o fato mais importante de sua argumentação fosse a posição do forâmen
magnum, a ampla abertura da base do crânio, através da qual a medula espinhal
se liga ao cérebro. Nos macacos, que caminham sobre quatro membros, esta
abertura está localizada na parte superior do crânio. Nos seres humanos e nessa
criança de Taung – o foraman magnum se aproxima da parte frontal, de modo que
a coluna espinhal se alinha verticalmente. Isto parece indicar que a criatura
caminhava ereta”. (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 72).
As conclusões de Dart foram descritas na revista: Nature, em 1925, chamando o
fóssil de: Australopithecus africanus (macaco meridional da África). Em 1930, escrevera sua
monografia: Australopithecus. A notícia da descoberta e das teorias de Dart chegou à
comunidade científica britânica. Ainda naquele tempo, possuía a crença que: o Homem de
Piltdown, o Pithecanthropus, o Cro–Magmon, o Homem de Neander, eram os ancestrais
humanos e que estavam na árvore genealógica humana, descartando a sugestão de Dart,
pois não era possível encaixá-lo em nenhuma ramificação. A anatomia da criatura sul–
africana: tamanho do cérebro igual ao de um chimpanzé, não se poderia comparar com os
fósseis europeus e finalmente, havia somente, um único indício a se basear. Seria
necessário haver mais provas para convencer, a academia, de que a espécie do Bebê de
Taung era o ancestral possível, e assim, encaixá-lo devidamente, na árvore genealógica
humana.
21
Na Inglaterra, Dr. Arthur Keith, ao examinar o molde do Taung, que se encontrava
em uma exibição no saguão de Wembley, em Londres, escreveu sua opinião na revista
Nature, mostrando-se contrário, as interpretações de Raymond Dart:
“A pretensão de Dart é absurda. O crânio é o de um macaco antropóide jovem... e
mostrando tantos pontos de contato com os dois tipos de antropóides vivos na
África, o gorila e o chimpanzé, que não pode haver nenhum momento de hesitação
em colocar a forma fóssil nesse grupo de seres vivos”. (Johanson, D & Sheeve, J.
1998. P 72).
Mesmo a comunidade cientifica, se mostrando contrária, havia quem defendesse a
tese de Dart. Robert Broom, um arqueólogo sul–africano, examinou o espécime e declarou
convencido das afirmativas propostas, mas seria necessário encontrar em campo, mais
dados. Não havia nenhum crânio que pertencesse a um adulto. Com sorte, Broom,
encontrou na região do Transvaal, um crânio de um indivíduo adulto, chamando–o de:
Plesianthropus transvalensis “Quase Homem do Transvaal”. Sua anatomia era similar ao do
Australopithecus africanus e poderia então fazer parte deste gênero. O achado seguinte de
Broom fora na pedreira de Kromdraai, conseguindo encontrar um crânio, uma enorme
mandíbula, e dentes fortes, diferentes do grupo dos A. africanus. Broom o chamou de:
Paranthropus robustus (afinidade com o homem) ou Australopithecus robustus. Entre 1924–
1957, R. Broom e R. Dart encontraram inúmeros fósseis de Australopithecus: crânios, pélvis,
dentes, colunas vertebrais e mandíbulas. Devido a estas inúmeras descobertas, conseguiram
convencer o mais cético dos cientistas da época, Dr. Arthur Keith, que admitiu na revista
Nature, sobre as evidências encontradas na África:
“Eu fui um dos tomaram o ponto de vista de que, quando a forma adulta do bebê
Taung fosse descoberta, ela provaria ser análoga (similar) aos dos antropóides
africanos vivos – o gorila e o chimpanzé. Agora, estou convencido de que o
professor Dart estava certo e eu errado” (Johanson & Sheeve. 1998. P 89).
A comunidade científica da década de 40 e 50 começava lentamente, a aceitar a
possibilidade dos seres, encontrados, na África do Sul, isto é do Hemisfério Sul, ter algum
tipo longínquo de relação com os homens modernos, sugerindo uma ancestralidade,
podendo fazer um descaminho ou um novo caminho, com uma nova árvore genealógica,
que englobasse não só os Australopitecinos, como também o fraudulento crânio de Piltdown.
Por esta razão, iniciam–se na década de 50 e 60 algumas sugestões de árvores genealógicas,
que englobasse todos os fósseis encontrados de hominídeos, até aquele momento. Seria
interessante que o leitor perceba que o Dr. André Senet autor do livro: O Homem Descobre
Seus Antepassados (1959) propõe uma árvore genealógica, baseando-se nos estudos de M.
Boule da década de 20, que não incluía os neandertais e os pré-homens (Homo erectus)
como nossos ancestrais. Mesmo assim, o fóssil de Piltdown foi considerado um ancestral
direto dos homens modernos.
22
FIGURA 1.
Parapiteco
Limnopiteco
Australopiteco
Pliopiteco
Procônsul
Gibão
Driopiteco
?
Pré-Homens
Chimpanzé, Orangotango e Gorilas
Homem de Mauer
Neandertais
Homem de Swanscombe
?
Homem de Piltdown
e de Fontechevade
HOMENS MODERNOS
Fonte: Senet, André. 1959. P 148.
Pré–mousterian man
100,000 - 200,000
Homo erectus
Early Mousterian man
200,000 - 500,000
50,000 - 100,000
Australopithecus
Homo neanderthalensis
500,000 - 1750,000
about 50,000
Modern European
Fonte: Le Gross Clark, W. 2th ed. 1964. P 176 - 177.
Com avanços nas escavações, não somente na África, mas também em Israel, W. Le
Gross Clark havia sugerido na década de 60, algumas diferenças no modelo apresentado
por André Senet, porém naquela década, descobriu–se o Homo habilis, que não foi
considerado como válido, devido à existência de poucos achados. Clark propõe sua rota
evolutiva, sugerindo que o Homo erectus fosse considerado um ancestral do homem
moderno. Embora a espécie humana arcaica seja mais antiga (Early Mousterian man), do
que o neanderthalensis, revelando–se, um ser mais recente. Para Clark, o neandethal não é
um ser tão antigo como se pensava, mas sim, um desvio evolutivo (mantendo o pensamento
de Boule). Nós evoluímos do Early Mousterian man. A sua tese é baseada devido à
descoberta realizada em Monte Carmelo em Israel e também na Europa, revelando uma
criatura tipicamente sapiens, tendo um queixo projetado para frente uma cavidade
superciliar menos protuberante do que o neanderthalensis. Por outro lado, ambos os homens
de neandertal e nós, evoluímos dos Early Mousterian man (Homo Heidelbergensis).
23
Homo habilis KNM er1470 Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/1470.html
O esqueleto40% completo de Lucy Fonte: http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/images/lucy.jpg
Durante a década de 60, haviam sido encontrados, poucos fósseis, fazendo com que
cientistas daquela época, interpretassem que a evolução humana seguia por uma rota: linear
e gradual, baseada no neodarwinismo, C. Loring Brace, da Universidade de Michigan,
explicou que cada espécie ocupava um nicho ecológico e cultural próprio, não havendo,
portanto, mais de uma espécie convivendo com outras, num mesmo habitat. Essa teoria foi
chamada da Hipótese da Espécie Única que sugere: “é mais realista situar os fósseis
conhecidos (iniciando com: o Australopithecus, o Homo erectus, neandethalensis e finalizando com
o sapiens) numa relação evolutiva linear” (Gould, S.J. 2003. P 248). Por muito tempo, a
comunidade científica, havia se convencido desta interpretação, porém, quando novos
fósseis apareceram, durante a década de 70 e 80, aos poucos, este ponto de vista foi
abandonado. As pesquisas de Mary e Louis Leakey ajudaram a contrapor a ideia de
evolução linear e a “Hipótese da Espécie Única” de Brace, pois foram encontrdos
utensílios de pedras, datados de 2,0 milhões de anos, inúmeros fósseis de animais e
hominídeos, que habitam a Tanzânia e Quênia. Descobriram hominídeos, tanto de feições
humanas como simiescas; como o fóssil do Zinjthropus boisei ou Australopithecus boisei,
descoberto em 1959, em Olduvai (Tanzânia), com um volume cerebral de 530cc. A
descoberta deste exemplar abriu espaço para teorias, de que a evolução humana, não seguia
por vias lineares. Atualmente, grande parte da comunidade científica, está convencida, de
que a árvore genealógica humana, pertence a inúmeras espécies, ou seja, sendo arbustiva,
portanto, as diversas espécies pré-humanas e humanas coexistiram num mesmo espaço de
tempo e num mesmo local, fato que Brace, rejeitava.
As pesquisas dos Leakeys, para paleoantropologia, sem dúvida seriam indiscutíveis,
além de ter deixado suas descobertas para futuras gerações. Um dos filhos do casal seguira
o ritmo de pesquisa dos pais: Jonathan e Richard Leakey, sua esposa, Meave Leakey e
Glynn Isaac (1937-1985), continuaram o legado, também dando a sua contribuição para
esta ciência a partir da década de 70, no Quênia e propuseram possíveis caminhos de como
ocorreu o comportamento humano e nossas origens, baseando em evidências, que
interpretaram dos fósseis descobertos e dos utensílios (o achado do KNM er1470 e os
vestígios hominídeos, no sítio 50, Koobi Fora).
24
Por outro lado, foi também nesta mesma década, que se desenvolveu outra corrente,
cuja interpretação de campo, conduzidas pelos pesquisadores Tim White, James Shreeve,
Lewis Binford e Donald Johnason, que ao descobrir novos fósseis de hominídeos, numa
outra localidade da África (Etiópia e Tanzânia) propuseram outras conclusões, no que tange
a filogenia humana e as origens do comportamento humano.
Com a intensificação de suas pesquisas paleoantropológicas, tanto no Quênia como
na Etiópia-Tanzânia, começava a ocorrer divergências interpretativas, no que resume a
filogenia humana. Em 1981, havia duas correntes distintas, com explicações filogênicas
diferentes:
1. Teoria de Richard Leakey – Tese tradicional inglesa argumenta que os ancestrais
humanos, não eram simiescos, propostos por Arthur Keith e Marcelin Bule no início
do século XX tendo reafirmado devido à descoberta em 1972, de um crânio na
garganta de Olduvai (Tanzânia), chamado de: Homo habilis de ou KNM 1470
(Kenya National Museum n° 1470), possuidor de um volume cerebral de 775cm³,
datado de 2,0-1,6 milhões de anos. Este achado sugere que:
“Esse extraordinário crânio confirmou duas coisas. Primeira: que a linha ancestral
humana, Homo, originou–se muito antes do que a maioria das pessoas suspeitava, talvez
até mesmo 1,0 milhão de anos antes. Segunda: uma vez que a história do Homo estende–se
tanto, retroativamente, quer dizer esses indivíduos eram contemporâneos de alguns dos
primeiros Australopithecus. Isso torna improvável, que nossos ancestrais diretos sejam
descendentes evolucionários dos Australopithecus – primos sim, mas não descendentes”.
(Leakey, R & Lewin, R. 1980. P 86).
2. Teoria de Donald Johanson e Tim White – Tese tradicional sul–africana
argumenta que os Australopithecus fazem parte da árvore genealógica humana,
proposta por Dart, em 1925 e mantida por Don Johanson e Tim White, devido a
sucessivas descobertas de um esqueleto adulto 40% completo e um número de
fragmentos que somam até agora mais de 303 fósseis de 35 a 65 indivíduos da
mesma espécie, descobertos em Afar, na Etiópia na Tanzânia. Desde 1977, as
evidências convenceram Johanson e White a sugerir, uma nova espécie intitulada
Australopithecus afarensis possuindo um volume cerebral de 450cc sendo datado
entre 3,3 milhões anos (data da época), sendo considerado para os padrões de 1980,
o mais antigo vestígio do grupo dos Australopithecino e possivelmente, poderiam ter
dado origem ao gênero: Homo.
“A árvore genealógica da família humana proposta por Johanson e White em
1979, acreditam que A. afarensis era o ancestral de todos os hominídeos
posteriores, inclusive: Homo. Leakey argumentava que eles erroneamente juntaram
duas espécies diferentes sob o nome afarensis e que o verdadeiro homem ainda
estava por ser descoberto”. (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 162).
25
Gould (1941–2002) argumentou num de seus ensaios (Gould, J.S. 1998. P 170-184 Lucy na Terra em estase), sobre uma nova descoberta feita em 1994, de um crânio da
espécie Australopithecus afarensis, descoberto por D. Johanson, W. Kimbel e Yoel Rak,
datado de 3,9 milhões de anos, sugerindo algo contrário das alegações de Leakey:
“Essas evidências abrangem duas partes: primeiro, a afirmação que apenas uma
espécie, com pronunciado dimorfismo, entre sexos, habitava aquela região e talvez
qualquer parte da arvore genealógica humana durante esse interlavo formativo de
quase 1,0 milhão de anos: e segundo, os fortes indícios de estabilidade morfológica
do A. afarensis ao longo desse tempo” (Gould, J.S. 1998. P 178).
Gould comentou que os fósseis descobertos por Johanson e colaboradores na
Etiópia, desde a década de 70, tentaram provar a existência de uma única espécie
hominídea vivendo ali. Aos poucos com evidências de campo, ocorreram novos achados,
revelando diferenças dos tamanhos de alguns ossos. Por isto, parte da comunidade
cientifica apoiada por Leakey, alegava à existência de duas espécies distintas, enquanto
Johanson defendia um dimorfismo (diferenças morfológicas sexuais entre: os machos e as
fêmeas). O novo crânio, descoberto em 1994, ajudou a diminuir algumas dúvidas. Porém, a
história evolutiva das origens humanas é um paradoxo e por mais que descubra novos
indícios, ainda possuímos mais perguntas, com poucas respostas:
“A história evolutiva dos hominídeos ainda é controversa devido ao registro
descontínuo e escasso, e às diversas reinterpretações a partir de cada nova
descoberta, gerando dados discordantes (as teorias rivais de: Leakey X Johanson).
Assim, a filogenia da família humanidae apresentada é a hipótese mais atual, mas
não necessariamente a hipótese de consenso”. (Carvalho, I.S. 2000. P 614).
TESE DE RICHARD LEAKEY (1981)
FIGURA 2.
?
HOMO
(espécie indeterminada)
AUSTRALOPITHECUS
(espécie indeterminada)
HOMO HABILIS
AUSTRALOPITHECUS
AFRICANUS
26
TESE DE JOHANSON E WHITE (1979)
A. AFARENSIS
HOMO HABILIS
AUSTRALOPITHECUS AFRICANUS
AUSTRALOPITHECUS
BOISEI e ROBUSTUS
Na década de 90 Leakeys, descobriu o Australopithecus anamensis com uma datação
acima de 4,0 milhões de anos. Desta forma, foram obrigados a aceitar as prerrogativas de
D. Johanson. Para Meave Leakey, este espécime seria o ancestral do afarensis, que por sua
vez, seria ancestral do africanus e sebida.
Desde o início da década de 90 e no novo milênio até 2012, a paleoantropologia
concentrou–se em penetrar suas pesquisas no “vazio fóssil”, que segundo Richard Leakey,
seria o período que abrange entre: 6-4 milhões de anos, havendo pouquíssimos fósseis de
hominídeos, para serem estudados e catalogados. Aos poucos, alguns pesquisadores
concentram suas pesquisas em sítios próximos ao lago Turkana, na Tanzânia, na Etiópia e
no Quênia, tendo alguns fósseis descobertos com datações superiores a 3,4 milhões de anos
(Leakey, R & Lewin, R. 2a ed. 1998. Cap. 03. P 41-51).
Até o momento, grande parte das descobertas, estaria na África Oriental e
Ocidental. Novos sítios estão sendo escavados possibilitando o aparecimento de novas
espécies com datas mais antigas. Assim, a paleoantropologia entraria numa fase ambígua,
pois ao vasculhar este período de tempo, que não parece conhecido, pode trazer pontos
positivos como: o surgimento de novos espécimes, novos locais de escavação e novos
pesquisadores que podem propor novas conclusões. Com isto, a idade dos ancestrais
humanos, recua ainda mais para passado remoto e desconhecido.
Por outro lado, há um fator de risco; a maioria do material descoberto até o
momento mostra–se fragmentado em pedaços minúsculos encontrados nos afloramentos.
Por isto, as sugestões podem ficar limitadas, devido à falta de uma coletânia efetiva de
fósseis para servir de estudo comparativo. Desta forma, a possibilidade de uma ideia com
sustentação segura, para confirmar novas teorias ou novas ancestralidades, tornar-se-iam
pequenas. Ainda está cedo para a comunidade científica se pronunciar a favor desta ou
daquela teoria. É necessário ainda mais avanços, mesmo que sejam lentos.
Acredito que em algum período de tempo, poderiam surgir novas sugestões para a
filogenia humana, sendo refeita. Para tal, seria preciso quantidade suficientemente de
fósseis de uma mesma criatura, para dar sustentabilidade a qualquer teoria e convencer o
mais cético dos cientistas. Ao tornar público às ideias dos paleoantropólogos, neste livro,
essas informações no futuro, podem ficar desatualizadas.
27
ESPÉCIES
Ardipithecus ramidus
Australopithecus anamensis
Australopithecus garhi
Kenyanthropus platyops
Orrorin tugenensis
Sahelanthropus tchadensis
Homo antecessor
Homo floresiensis
Australopithecus sediba
Hominídeo de Denisova
(Homo heidelbergensis,
antecessor ou Oase)?
MÊS/ANO
Setembro/ 1994
Agosto/ 1995
Abril/ 1999
Março/ 2001
Julho/ 2001
Julho/ 2002
Maio/ 1997
Outubro/ 2004
Abril/ 2010
2008 e teste de DNAmt foi
realizado em Março/ 2010
*MA - Milhões de Anos.
FIGURA 3.
DESCOBRIDOR/ MA*
(White e Wood) 4,4
(M. Leakey) 4,2 e 3,9
(Asfaw) 3,4
(M. Leakey) 3,5
(Senut e Pickford) 6,0
(Brunet e Wood) 6,0 e 7,0
(Bermudez de Castro) 0,8
Brown, Morwood, Lahr e
Foley) 90-13 mil anos
(Mathew e Lee Berger) 1,95
(Anatoli P. Derevianko e
Michael V. Shunkov) 41 mil
anos
28
2º CAPÍTULO: OS HOMINÍDEOS:
2.1 ANTIGOS PRIMATAS:
Os mamíferos iniciaram sua vida na terra acerca de 200 milhões de anos. A partir de
70 milhões já havia criaturas semelhantes a ratos chamados de musaranhos, que viviam em
florestais úmidas, comendo insetos, adaptados a uma vida noturna. Após a extinção dos
dinossauros, a 65 milhões de anos, havendo poucos predadores, alguns mamíferos
arborícolas começaram a adaptar-se a uma vida diurna. Isto possibilitou que os olhos
adquirissem uma visão: bilateral, tridimensional e colorida. Esta mudança permitiu separar
parceiros no ato do acasalamento, serviu para visualizar outros grupos de animais,
diferenciarem objetos e selecionar frutas maduras das verdes. Ao invés de garras surgiram
mãos, com cinco dedos, para pegar, tatear os alimentos e levá-los a boca assim como
agarrar objetos para poder carregar. Sendo uma grande conquista para as próximas
gerações, pois os macacos herdaram essas características, entre 50 a 20 milhões de anos.
Ao procurar pistas acerca de nossos ancestrais, o estudo da paleoantropologia,
considera que o Homem estaria pertencente à família Hominoidea, que também conta com:
chimpanzés, gorilas e orangotangos, considerados parentes mais próximos e que se separam
dos humanos há muito tempo. Tais afirmações são baseadas em testes genéticos sugerindo
que o orangotango se separou da árvore genealógica humana a cerca de 15 milhões de anos.
O gorila a 10 milhões de anos e os chimpanzés entre 5,0 a 7,0 milhões de anos. Concluindo,
os chimpanzés, seriam criaturas mais próximas de nós, considerados nossos parentes vivos,
com características assombrosamente humanas em muitos aspectos, carregando cerca de
98% de material genético similar ao nosso (Gribbin, J. 1983. P 276-277).
Ao ter encontrar vestígios de hominídeos, os paleoantropólogos estudam como teria
sido o comportamento destas criaturas quando estavam vivas. Para isto, fez-se necessário
estudar os comportamentos dos antropóides e diversos tipos de símios. A maioria dos
cientistas prefere estudar os chimpanzés e bonobos, pois era uma referência mais próxima a
nossa. Alguns primatologias argumentam que delinear o limite entre a inteligência e o
instinto torna–se uma tarefa difícil, de acordo com o estudo da primatologista, Jane
Goodall, por 40 anos, observou os inúmeros comportamentos sociais dos chimpanzés, na
Reserva de Gombe, na Tanzânia. Conclui que em algumas ocasiões estas espécies possuem
características de comportamento social complexo. Seu estudo afirma que os chimpanzés
possuem diversas atividades similares a dos humanos: (National Geographic Vídeo: Among
the wild Chimpanzees, 1990).
“O estudo de Jane Goodall indica que as filhas de mães de status elevados, são
capazes de monopolizar recursos alimentícios, crescem mais rápido, sobrevivem
melhor e atingem a maturidade sexual até quatro anos antes, das filhas de fêmeas
de posições hierárquicas inferiores” (National Geographic Brasil. N° 36. P 89).
29
Com base em suas observações de campo, a pesquisadora notou outras atividades
muito peculiares: 1º Os membros de cada grupo de chimpanzés seriam heterogêneos; cada
indivíduo possuí um comportamento imprevisível e diversificado se mostrando, ora
independentes, ora dependentes. 2º São ocasionalmente carnívoros podendo ser canibais.
Seus alimentos na maioria das vezes são cupins, vegetais e frutas. 3º São criaturas
territoriais (sedentárias). 4º São criaturas com complexas redes sociais, utilizando a política
para se favorecer, fazendo e desfazendo alianças, considerando uma sociedade nos moldes
de Maquiavel. 5º Possuem consciência de si mesmo conseguindo se reconhecer diante de
um espelho. 6º Sabem confeccionar e utilizar ferramentas, como pedaços de galhos de
árvores para apanhar cupins; pedras para quebrar nozes e folhas para servir de esponjas, e
ajudar a beber água. Reforçando esta tese, R. Foley, da Universidade de Cambridge,
acrescenta:
“Os macacos, os chimpanzés em particular, mostram possuir características de
comportamento e de capacidade cognitivas que se aproximam as dos humanos. Os
chimpanzés selvagens fabricam e usam ferramentas, são capazes de comunicação
sofisticada, sabem planejar e executar linhas de ação a longo prazo e manipulam tanto os
objetos quanto outros indivíduos, visando seus próprios fins. Cada uma dessas capacidades
verificadas entre chimpanzés nos mostra os macacos cruzando os vários rubicões
estabelecidas como marco das fronteiras entre humanos e não–humanos”. (Foley, R.
2003. P 58).
As inúmeras semelhanças políticas e sociais, entre chimpanzés e humanos, nos
permitem acreditar na possibilidade de ter existido um ancestral comum com possíveis,
habilidades descrita acima, vivendo na África aproximadamente 5,0 a 7,0 milhões de anos
(os geneticistas pressupõem que nessa época houve uma separação entre o grupo de
chimpanzés de da linhagem dos hominídeos - Lima, C.P. 2a ed. 1994. P 14).
O objetivo seria procurar pistas que possuem essas datações e possíveis fósseis com
anatomia símio-humana que poderia ter tido as mesmas capacidades políticas que as nossas
ou dos chimpanzés, quando estavam vivos. Por isto, o trabalho paleoantropológico é uma
missão impossível. Há poucos fósseis possuindo uma datação tão avançada. Como então,
estabelecer se um determinado fóssil seja pertencente a nós ou dos macacos (chimpanzés)?
Como já foi apresentado anteriormente, existe um consenso entre os cientistas ao afirmar
que o andar ereto seria um critério. Assim, os pesquisadores tentam analisar a mecânica
dos fósseis: movimento dos ossos dos pés, da coxa, joelho, quadril, forâmen magnum. Caso
exista evidência, não quer dizer, que seria aceita como um ancestral devido falta de mais
dados (provas fósseis).
Nesta parte do capítulo, estudaremos nossos ancestrais e os possíveis fósseis que
recentemente foram descobertos no período em que R. Leakey descreve, como “vazio
fóssil”. O objetivo não é propor, se uma espécie é ancestral da outra, mas analisar a tese dos
paleoantropólogos de que tais criaturas possuíssem sinais de um possível andar ereto,
numa época anterior à separação dos chimpanzés com a nossa espécie, em torno de 4,0 a
7,0 milhões de anos, havendo o Ramapithecus brevirostris (1932), o Ardipithecus ramidus
(1995), o Orrorin tugenensis (2001) e o Sehalanthropus tchadensis (2002).
30
2.2 OS ANCESTRAIS DOS AUSTRALOPHITECUS:
2.2.1 RAMAPITHECUS BREVIROSTRIS:
Por mais que avançemos nas pesquisas e teorias acerca das origens humanas,
infelizmente ainda estamos longe de afirmar com segurança, de que ramos filogênicos
teriam surgido os primeiros antropóides, com fisionomias humanas. Cada descoberta feita
em campo pode reescrever a nossa árvore genealógica. O Australopithecus parece ter surgido
na África, segundo Johanson, dera a origem ao gênero Homo. Mas, qual teria sido o
indivíduo que poderia ser o ancestral dos Australopithecus? Para responder esta pergunta, é
sugerido um balanço das ideias, comentando sobre as pesquisas do paleoantropólogo,
Richard Leakey, autor de: Origens, O povo do lago e A Origem da Espécie Humana, que
propõe o Ramapithecus brevirostris seja o ancestral possível dos Australopitecinos. Esta
criatura descoberta por Edward Lewis, em 1932, consistia apenas de uma maxila,
redescoberta em 1961, um crânio e um pedaço de membros por Louis Leakey, pai de
Richard. O Ramapithecus era uma criatura simiesca de 91,5 cm de altura, que vivera em
florestas na Índia (local onde fora descoberto primeiramente), Hungria, Grécia, Turquia,
China, Paquistão e África (Quênia), em torno de 14 a 8,0 milhões de anos atrás. Para Lewis
a criatura poderia ter adquirido a qualidade do andar ereto semelhante ao Australopithecus
(Leakey, R. 2a ed. 1976. P 30, 38 e 39), adaptação ao meio que permitia uma alimentação
variada (Leakey, R. 2a ed. 1976. P 32), sucesso sexual, permitindo uma maior taxa de
natalidade, aumentando assim as possibilidades de evolutivas (Leakey, R. 2a ed. 1976. P
33). R. Leakey ficou convencido de que estes fatores contribuiram para uma possível
evolução da criatura, sendo ancestral do gênero Homo e do gênero Australopithecus (Leaky,
R. 2a ed. 1996. P 66). O esqueleto 40% completo, apelidado de “Lucy” descoberto em
1974, por Donald Johanson, em Afar, na Etiópia, com uma idade avançada de 3,4 milhões
de anos, R. Leakey o examinou e concluiu que poderia haver uma possibilidade do
Ramapithecus ser o ancestral de “Lucy” e seria membro pertencente a espécime
Australopithecus afarensis, e seu apelido seria “por causa da canção dos Beatles: Lucy in the sky
diamonds, que tocava no acampamento no dia em que ela havia sido extraída das trevas”
(Johanson, D. 1998. P 24).
“Igualmente importante era a natureza do hominídeo. Ele era, sem dúvida
‘avançado’, pois já andava ereto. Todavia, o maxilar tinha algumas características
indubitavelmente primitivas, que fazem lembrar o Ramapithecus. O maxilar tem
nitidamente o formato em V; os molares relativamente grandes são achatados; e o
primeiro pré–molar tem uma cúspide única, uma característica muito primitiva,
semelhante a do antropóide”. (Leakey, R & Lewin, R.2a ed. 1996. P 67).
31
Leakey afirmou que a característica encontrada no maxilar de “Lucy” seria muito
similar a características do maxilar formado em V que os Ramapithecus possuíam. Por esta
razão, acredita que tal criatura seja parente distante, devido às semelhanças ancestrais com
o Ramapithecus. Leakey possuía apenas uma única evidência para comparar: alguns pedaços
de membros, para análise. Se de um lado possuímos um esqueleto 40% completo e não
havendo uma quantidade significativa de fósseis, não podemos afirmar com segurança uma
ancestralidade. Leakey deixa claro isto, mas analisando parte de seu esqueleto, como:
dentes, maxilas e membros, o que se pode propor, são outras características.
“Entretanto, se formos realmente honestos, devemos admitir que praticamente
nada sabemos acerca do Ramapithecus: não sabemos como ele era nem o que e
como fazia. Mas, com ajuda dos fragmentos de maxilas e de dentes, e um ou dois
pedaços e parte do braço e das pernas, todos representando algumas dúzias de
indivíduos, podemos emitir algumas opiniões mais ou menos acertadas” (Leakey,
R & Lewin, R. 2a ed. 1996. P 26).
O astrofísico, John Gribbin (Universidade Cambrigde) tem cautela e prudência ao
sugerir que entre o Ramapithecus e o homem moderno, não existem provas suficientes para
considerá-lo como um ancestral. Sabendo que o ramo dos antropóides começou a existir
por volta de 15 a 10 milhões de anos (idade limite da criatura), podendo ser considerado um
antropóide, mas não um ancestral.
“... Não há provas de uma descendência ininterrupta do Ramapithecus até nós, e
existem indícios recentes e intrigantes de que a divisão entre o ramo humano e do
antropóide pode ter–se dado há bem menos de 15 milhões de anos” (Gribbin, J.
1983. P 284).
Não está muito claro, a relação do suposto antropóide e os humanos para o biólogo
e professor de Ensino Superior em São Paulo, Celso P. de Lima, que se sente relutante ao
sugerir uma ancestralidade ligada ao homem ao Ramapithecus, argumentando que sua
anatomia é seja tão humana quanto parece devido a ocorrência de descobertas fósseis.
“Podemos concluir que ele era mais parecido com um antropóide do que com um
homem; restos encontrados em 1980, no Paquistão, indicam que eles se
assemelhavam a um orangotango, porém possuía dentes e mandíbulas pequenos, o
que sugere um tipo mais próximo ao homem” (Lima, C.P. 2a ed. 1994. P 29).
Conclui-se que o Ramapithecus está mais próximo dos antropóides como o
orangotango do que para os humanos. Portanto sugere que não há ainda nenhuma relação
entre os hominídeos. O estudo da paleoantropologia é muitas vezes angustiante, pois para
afirmar que um determinado fóssil é ancestral de outro, seria necessário toda uma coletânea
de dados de campo, informações geológicas. Sem esta coletânea, não se pode ter uma
consistência veemente.
32
O leitor deve estar achando que tal pensamento seja: “irrelevante”, mas não é. Não
se pode afirmar uma ancestralidade ou sugerir uma nova espécie tendo apenas poucos
fragmentos fósseis. No capítulo anterior foram citados exemplos de Dubois e de Dart que
apresentaram a academia poucos exemplares, sendo desprezados e não obtendo aceitação
por muitos anos. Após inúmeras comprovações, novas escavações e o surgimento de novos
fósseis, similares aos que foi desprezado, a academia se convenceu que ambos os
pesquisadores tinham razão. Exemplo recente é de Donald Johanson e sua equipe encontrou
“Lucy”, em 1974, não foram sugeridas de antemão, um novo espécime de Australopithecus.
Após exaustivas buscas de campo, pesquisas e muita sorte ao encontrar novos vestígios de
35 a 65 indivíduos, vivendo em locais diversos da Tanzânia a Etiópia, Johanson e White,
em 1979, se propuseram a uma nova espécie. Buscar ossos, pegadas fósseis ou fragmentos
de pedras e certificar que sejam verossímeis, é um trabalho árduo, e na maioria das vezes
muito desgastante. Algumas pesquisas de campo podem não trazer bons resultados. Há
casos de pesquisadores, escavarem inúmeras vezes, voltarem ao seu país de origem com
pouquíssimos ossos. Não é fácil encontrar um fóssil de hominídeo segundo um
documentário da Discovery Channel: Paleoworld: Ape–Man (1996) sugere que no sítio
mais rico em fósseis de hominídeos situado na África do Sul, em Sterkfontein, foram
retirados entre a década de 30 até o momento, cerca de 1.000.000 de fósseis. Deles,
somente 600 eram pertencentes aos hominídeos. Isto dá uma média de 1.666 escavações
realizadas, em apenas uma encontrará fóssil de nossos antepassados, e mesmo assim, é
muito provável que o material encontrado, esteja todo fragmentado. Segundo outro
documentário da National Geographic Vídeo: Mysteries of mankind ou traduzido pela
Vídeo Arte do Brasil como: Mistérios da Humanidade (1988) sugere que as chances de se
encontrar um fragmento de fóssil de hominídeo qualquer, é cerca de 1 para 10.000.000. O
leitor pode imaginar que em cada escavação realizada, os paleoantropólogos descobrem
esqueletos completos. Na realidade, as chances de encontrar um esqueleto, com partes do
membro diminuem ainda mais, e por isto saudamos “Lucy” e seu significando para os
cientistas: um prêmio da loteria fossilítica, pois desde a descoberta do Taung, em 1924, até
a sua descoberta, em 1974, foram 50 anos para conhecermos um esqueleto de um
Australopitecino, ou seja, foi muito tempo de espera para termos noção exata e menos
subjetiva do seu esqueleto. Diante da desta realidade, procurou-se por evidências mais
sólidas e convincentes. Sua tese se mostra frágil e com uma margem de inconsistência de
provas, e possuí mínimas informações para supor que os Ramapithecus sejam realmente
ancestrais dos Australopithecus afarensis. É necessária mais pesquisa e escavações para
propor isto, pois Dr. Leakey esteja com a razão, necessitando um número seguro de provas,
então... Onde estão? Infelizmente, até agora, não há nada. O objetivo deste texto seria de
analisar as idéias e o contexto histórico dos cientistas. Na década de 70, fase que R. Leakey
defendia a tese de que o Homo era contemporâneos de alguns dos primeiros Australopithecus.
Sendo improvável que estes últimos, são descendentes evolucionários nossos, seria ainda
necessários provar, analisar e comparar os fósseis do Ramapithecus com o do A. afarensis.
Naquela ocasião havia poucos dados encontrados, estando sujeita as conjecturas.
33
Craig Stanford, da Universidade da Califórnia, cita que as pesquisas genéticas de
Vicent Sarich, da Universidade de Berkeley, durante a década de 60, concluíra que este
espécime, não possuía características anatômicas e nem aproximação de idade ao sugerir a
data de cinco milhões de anos, para o aparecimento de hominídeos semelhantes a humanos
e símios, retirando o Status de representante do ancestral humano, declarando: “o
Ramapithecus certamente não era humano, visto que não poderia ter sido um bípede ereto”
(Stanford, C. 2004. P 45). C. Loring Brace, da Universidade de Michigan, sugeriu que “é
piada considerar Lucy um Ramapithecus” (Johanson, D & Edey, M. 1996. P 369) e
finalmente, o Dr. Milford Wolpoff considerou: “Ramapithecus não é um fóssil humano”
(Scientific American Brasil. Edição Especial. N°2. P 48). Atualmente, sabe-se que não
pode colocar o Ramapithecus como um ancestral humano, devido à limitada anatomia e a
quantidade de dados fósseis para comprovar seu bipedalismo.
Após inúmeras pesquisas durante a década de 70 e até os tempos atuais, muitas
descobertas foram realizadas graças ao aumento da tecnologia a serviço desta ciência.
Diversos ossos haviam sido encontrados e obviamente, propondo novas teorias.
Atualmente, estão sendo analisados os candidatos possíveis para preencher a vaga de
ancestralidade do gênero: Australopithecus. Novas criaturas com datações mais acentuadas
estão sendo estudadas. Ainda há poucas informações sobre elas e na verdade, o que nos é
apresentado seria alguns dentes, pedaços da mandíbula, fragmentos do braço e da coxa.
Não há nenhum pedaço de costela, coluna e pélvis, para poder se comparar com a de
“Lucy”. Há poucos ossos completos das mãos ou dos pés. O que possuímos ainda é um
material, rico por ter suas qualidades únicas e ao mesmo tempo pobre, pois ainda deixa
muitas lacunas e questões não respondidas.
Sítio de Sterkfontein, na África do Sul Fonte:
http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/images/sterkfontein.jpg
34
3.2.2 ARDIPITHECUS RAMIDUS:
Fragmentos do Ardipithecus ramidus descrito em 1994. Fonte:
http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/ramidis.html e
http://www.geocities.com/palaeoanthropology/Aramidus.html
O Ardipithecus ramidus ramidus, (Ardhi = chão + ramidus = raiz) ou “Homem de
Amaris” seria uma criatura pouco conhecida do público leigo. O que se sabe até o
momento, é que existem duas espécies de Ardipithecus, mas ambos podem ser descritos
como de uma mesma espécie. A criatura em questão, segundo as conclusões de seus
descobridores Tim White (Universidade de Berkeley) e Bernard Wood (Universidade
George Washington), determinaram, que os fragmentos descobertos (pedaços de dentes,
fêmur e do osso do braço) possuem uma datação de 4,4 milhões de anos, encontrados na
Etiópia (Middle Awash), em Setembro de 1994. Não ficou muito claro, se este indivíduo se
assemelhava a um antropóide ou a um Australopitecino. As informações fósseis ainda são
escassas, sugerindo interpretações diversas. Martin Pickford (Collège de France), acredita
que os Ardipithecus seja um ancestral do chimpanzé. Sua sugestão é baseada em fósseis
descobertos, no Quênia em 2001. Por outro lado, Owen Lovejoy (Universidade de Kent),
em Ohio, estudou recentemente os restos fósseis da descoberta do Ardipithecus ramidus
kadabba e sua conclusão foram contrária á de Pickford:
“Lovejoy, que estudou o fóssil, informa que uma das juntas do osso forma
precisamente o ângulo que seria de se esperar se o Ardipithecus ramidus kadabba
pressionasse os dedos do pé contra o chão como os humanos fazem ao caminhar”
(Scientific American Brasil. Ano 01. No 09. Fev. 2003. P 62).
“O osso do dedo do pé do Ardipithecus ramidus kadabba tem uma inclinação
ascendente na sua articulação como a dos humanos, mas é longo e se curva para
baixo como acontece com os chimpanzés” (Scientific American Brasil. Ano 01.
No 09. Fev. 2003. P 63).
35
Para David Begun (Universidade de Toronto), ainda não está convencido de que o
fóssil possuísse característica de hominídeo, acreditando que o dedo fóssil seja similar ao
de um chimpanzé. Porém, estudos feitos por Tim White, nos dentes do Ardipithecus ramidus
ramidus, se mostrara muito similares ao de “Lucy”, ou o Australopithecus afarensis. Assim,
White está convencido, de que esta espécie seja seu ancestral.
Os dentes dos Ardipithecus seriam diferentes dos chimpanzés e de alguns
Australopithecus tidos como robustus, mostrando sinais de adaptação a uma dieta de
onívoros. Além disso, os dentes caninos são reduzidos. Certamente, não há dúvidas quanto
a este quesito, porém, o esqueleto descoberto recentemente, mostra que dificilmente, o
Ardipithecus teria uma locomoção sobre duas pernas similar aos Australopithecus afarensis.
Sabe-se que entre 1995-2009 foi descoberto 110 fósseis de Ardipithecus ramidus de
pelo menos 35 indivíduos. Recentemente, em outubro de 2009, Tim White e sua equipe,
publicaram na revista Science, a descoberta de um fóssil de Ardipithecus fêmea com 45%
completo de 4,4 milhões de anos, apelidada de Ardi (ARA-VP-6/500). No mesmo ano, a
rede Discovery Channel apresentou um documentário em estréia mundial (Descobrindo
Ardi) sobre a descoberta e a publicação do ARA-VP-6/500, podendo ser acessado em seu
website: http://www.discoverybrasil.com/web/descobrindo-ardi/ e podendo ser visto no
www.youtube.com buscando: Descobrindo Ardi.
Agora, temos um esqueleto com pélvis, crânio, dentes, ossos dos braços, dos pés e
das mãos para serem analisados e comparados com os grupos de Australopithecus, Homo e
chimpanzés. Com base nos estudos do fóssil, constatou-se que possuía braços longos e
pernas curtas, poderia ter medido até 1,2m., pesando até 50 kg e seu volume celebral seria
de 350cc. O mais intrigante no esqueleto são os ossos dos pés, que possuem certa
similaridade com os ossos dos pés dos chimpanzés, mostrando que este espécime seria mais
primitivo que os Australopithecinos, e muito provavelmente que seu andar ereto ou
bipedalismo seria arcaico, quer dizer, Ardi, poderia ter uma forma de locomoção similar aos
dos chimpanzés. Os ossos da perna e da pelve mostram apenas imperfeita adaptação para o
bipedalismo, em comparação com Australopithecus (Época. 05 out. Nº594. 2009. P 112115).
O crânio de Ardi demonstra similaridade com o crânio do Sahelanthropus tchadensis.
É claro que Tim White e sua equipe acreditam que Ardi poderia andar sobre suas duas
pernas e afirmam que possuía “um andar ereto eficaz” (Scientific American Brasil. Edição
Especial. Nº37. P 18-19), porém vemos que seria muito difícil argumentar sobre esta
possibilidade devido às evidências dos ossos dos pés, que mostram o osso opositor (dedão)
não daria firmeza e estabilidade para longas caminhadas e até longas corridas. Para Willian
Jugers da Universidade de Stony Brook, afirma que o Ar. Ramidus não possuía nenhuma
adpatação ao bipedalismo.
Sabemos que os fósseis do Ardipithecus são considerados raros apesar de haver 110
fóssies. As conclusões dos estudos realizados ainda estariam muito longe para definir se
este indivíduo seria um provável ancestral dos Australopithecus. Talvez possa demorar mais
tempo para que a comunidade científica seja totalmente convencida de que o espécime
tenha algum tipo de relação com o caminhar ereto.
36
Devido ao limitado material para ser estudado e das minúsculas provas fósseis
provocam uma falta de consenso por parte dos cientistas. Desta forma, produziram dois
descaminhos, um proposto por David Begun, Willian Jungers e Martin Pickford e outro,
proposto por Tim White e Owen Lovejoy. Por esta razão, não se têm melhores respostas
acerca dessa criatura. Além disso, não há até o momento, informações, que faça valer a tese
de White e Pickford. O Ardipithecus ramidus ainda se revela um ser misterioso e incompleto
de dados mais significativos, principalmente no que se refere ao andar ereto, gerando
discussões entre os paleantropólogos.
Mesmo que exista no país, defensores que o Ardipithecus seja um candidato possível
de ser ancestral dos Australopithecus, ainda, não contamos com coleção de fósseis deste
espécime para garantir com segurança tal suposição e concorda-se com a afirmação de
William Jungers, ao sugerir: “não acho injusto dizer que, neste momento, a posição filogenética
precisa de Ardhi é incerta e contestável” (Scientific American Brasil. Edição Especial. Nº37. P
18-19). Concluindo, o Ardipithecus poderia estar na filogenia humana ou na filogenia dos
chimpanzés; a resposta disso ainda estaria indefinda.
Ardhipithecus ou (ARA-VP-6/500) descoberto em 2009
Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/ardi.html
37
2.2.3 ORRORIN TUGENENSIS:
Fragmentos do Orrorin tugenensis descoberto em 2000 Fonte:
http://www.modernhumanorigins.com/tugenensis.html
O “Homem do Milênio”, como descrito pela imprensa brasileira (Veja. Ano 33. Nº
50. 13 dez 2000. P 88-90), fora descoberto no Quênia (Tugen Hill), em outubro de 2000. A
equipe francesa comandada por Martin Pickford, (Collège de France) e Brigitte Senut,
(Museu de História Natural de Paris), catalogaram 13 fragmentos fósseis de 6,0 milhões de
anos: pedaços do fêmur, dentes, pedaço do osso do braço. Apesar de possuírem poucas
evidências, constatou através de análises que o osso fêmur deste indivíduo, ao ser
comparado com fêmur humano moderno e de um chimpanzé poderia ter um andar ereto
mais eficiente em relação aos Australopithecinos.
“Pickford observa que o fêmur é muito semelhante ao humano. Em outros aspectos,
o Orrorin era um animal primitivo; seus dentes caninos, e os ossos de seus braços e
dedos conservavam adaptações para escaladas. Mas, a característica do fêmur,
para Pickford e Sunet, que quando o Orrorin estava no chão, caminhava como um
humano” (Scientific American Brasil. Ano 01. No 09. Fev. 2003. P 63).
Para a equipe francesa, o Orrorin era um hominídeo, que caminha sob duas pernas,
mas a comunidade científica questiona se haveria a possibilidade desta espécie passar com
freqüência uma parte de tempo no chão. Observando as anatomias dos fragmentos do
Orrorin, Owen Lovejoy, (Universidade de Kent, em Ohio), ao realizar tomografias do
fêmur em questão, a fim de verificar as considerações de Pickford e Senut sobre a
possibilidade de um bipedalismo eficiente nesta criatura. As conclusões de Lovejoy foram
que a criatura era um hominídeo, pois andava de forma ereta e provavelmente passava
maior parte do tempo nas árvores, pois as evidências no colo do fêmur mostram desgastes
similares ao do chimpanzé.
38
“Ele suspeita que o Orrorin era freqüentemente, mas não habitualmente, bípede e
que passava parte significava do tempo nas árvores” (Scientific American
Brasil. Ano 01. No 09. Fev. 2003. P 63).
Para Pickford e Sunet, ao analisarem o fêmur, com maior precisão, viram que o colo
do fêmur é muito longo e os sulcos do obturador externo, são semelhantes aos humanos
modernos. Esta conclusão colocava a criatura na rota de ser o ancestral do gênero Homo,
sugerindo um caminho ou descaminho alternativo, sem a presença dos Australopitecinos. A
tese é muito interessante, mas não foi encontrado nenhum osso dos pés, do crânio, joelho,
cintura pélvica, nem mesmo, ossos da coluna. Para Lovejoy, o sulco do obturador externo
revela uma possível distribuição óssea similar ao dos símios quadrúpedes. Tanto os
argumentos de Pickford, como de Lovejoy possuem consideráveis respaldos anatômicos,
mas para que haja um consenso a respeito, desta espécie, seria necessário recolher um
maior número de fósseis. Como dito anteriormente, a paleoantropologia estaria entrando
num período de tempo desconhecido. Os restos fósseis estão ainda sendo catalogados e
talvez num futuro próximo, seja provável que obtermos uma resposta mais concisa deste
espécime.
FIGURA 4.
Ramapithecus brevirostri (1932)
Sehalanthropus tchadensis (2002)
Orangotango
?
?
Gorila
Orrorin tugenensis (2001)
Ardipithecus ramidus (1995)
?
?
Australopithecus anamensis (1997)
Homo
39
2.2.4 SEHALANTHROPUS TCHADENSIS:
Michel Brunet da Universidade de Poiters com o crânio de Toumaï
Fonte:
http://3.bp.blogspot.com/_dea_elq4nHQ/SP7WXK7K7gI/AAAAAAAAAD0/ROkpRFAt2CI/s400/mic
hel+brunet.jpg e http://www.ciadaescola.com.br/zoom/imgs/191/image004.jpg
O Sehalanthropus tchadensis se baseia, em apenas um crânio completo com alguns
dentes incisivos de 7,0 milhões de anos, possuindo cerca de 350cc de volume cerebral e
provavelmente pode–se considerá-lo, como o mais antigo hominídeo descoberto. A equipe
de Michel Brunet (Universidade de Poiters), em Julho de 2002, no Chade (Toros–Menalla)
descobrira esta criatura num sítio inédito, ao encontrar fósseis desta natureza no lado
Ocidental da África. Normalmente, as descobertas de hominídeos são realizadas na maioria
das vezes na Oriental da África. Ao observar o “crânio de Toumaï”, assim chamado, se
percebe uma grande protuberância acima da cavidade ocular, dentes incisivos muito
parecidos com dos humanos modernos e uma pequena caixa craniana. As conclusões de
Brunet é que esta criatura possuía dentes caninos afiados produzindo um gume cortante, e
por causa do tamanho e desgaste, estariam evoluindo rumo ao gênero Homo (Scientific
American Brasil. Ano 01. N° 09. Fev. 2003. P 62). Com a ausência de mais informações
fósseis a respeito desta criatura, não há um consenso se era bípede. O S. tchadensis possuía
anatomia primitiva semelhante aos macacos e por esta razão, alguns pesquisadores
discordam da possibilidade de ser um hominídeo. Para Senut, Pickford e Milford Wolpoff,
analisando o material observaram que a criatura possuía contradições. Verificou–se que não
havia testa e seu supercílio era muito espesso, estando mais próximo de ser um ancestral de
um gorila, do que do homem. Por outro lado, Brunet, apresenta que o crânio teria uma face
projetada para frente de forma moderada, diferentemente, do chimpanzé que possuí uma
face mais acentuada, para frente.
Para alguns pesquisadores, o S. tchadensis era um hominídeo, para outros não eram.
Sabe-se, porém, que seus dentes incisivos possuem uma morfologia muito parecida com a
dos humanos modernos, sendo descrito por seu descobridor, como um hominídeo, porém
ao analisar o crânio, percebe-se que a criatura era mais próxima aos antropóides.
40
Quando foi anunciada para a mídia a descoberta do “crânio de Toumaï”,
imediatamente a foto desta criatura lotou arquivos e sites na internet, anunciando ser algo
incrível (um elo perdido). O leitor deveria tomar cuidado com informações vindas de locais
não reconhecidos pela comunidade científica e seria interessante consultar alguns endereços
eletrônicos de credibilidade internacional, neste assunto:
1. http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/ - Este site trata das origens
humanas, pertencentes a BBC de Londres, possuindo figuras, entrevistas e
conclusões tendo a pesquisadora britânica, Lesley Aiello, como consultora.
2. www.paleoantropologia.com.br - Este site é pertence aos pesquisadores autônomos
brasileiros sobre pesquisas fósseis de hominídeos, sendo atualizado constantemente
e possuí diversos dados (informações) paleoantropológicas.
3. http://www.becominghuman.org/ - Este site pertencente ao Instituto das Origens
Humanas, fundada por D. Johanson. Existem: programas para download, gráficos,
figuras, documentários e informações a respeito de diversos fósseis.
4. www.nature.com - Este é o site oficial da revista inglesa: Nature.
5. http://pandora.nla.gov.au/pan/10345/20080516-0014/wwwpersonal.une.edu.au/_pbrown3/palaeo.html - este site é do Dr. Peter Brown
responsável pela descrição e descoberta do Homo floresiensis.
A idéia de se propor “elos perdidos” seria um problema para a paleantropologia.
Esta ciência considera que cada ossinho de hominídeo encontrado seja um elo perdido do
passado distante do ancestral do homem moderno e por outro lado, na evolução gouldiana,
não há espaços para elos perdidos.
O trabalho do estudioso em antropologia é de interpretar as evidências baseadas, nos
diversos fósseis de hominídeos e propor mais tarde, possíveis rotas evolutivas obedecendo
um processo criterioso de averiguação do material, a fim de descobrir se é verossímil. Após
estes exames são propostas as conclusões (teorias).
Posso concluir este subtítulo dizendo que o S. tchadensis, Orrorin tugenensis possuem
pouquíssimas informações, para sugerir que são seguramente ancestrais dos
Australopithecinos e ou do Homo, exceto o Ardipithecus ramidus que apesar de haver um
promissor material ainda é cheio de controvérsias, entre os cientistas. Cada um tem
interpretações divergentes e propõem argumentações interessantes, a respeito desses seres.
Ainda é cedo para que se tenham evidências seguras para apoiar ambos os lados. Sugiro
esperar por mais provas de campo. Não podemos desprezar a importância dos fósseis, pois
estas descobertas revelaram pontos positivos como: novos locais de escavação sendo
pesquisadas por estudantes e podendo ser considerados novos paleoantropólogos, e à
medida que vêm realizando esta atividade, podem citar novas teorias, abrindo um leque
cheio de caminhos alternativos, que os ancestrais humanos poderiam ter percorrido. No
momento, as perspectivas são boas para uma ciência com apenas 150 anos. Muitas coisas
foram descobertas e redescobertas nestes anos. Sem dúvida, acredito que algumas questões
comentadas aqui se revelem a posteriori. Outras talvez, nem serão lembradas ou reveladas,
O futuro do: S. tchadensis, Orrorin tugenensis, Ardipithecus ramidus é incerto na história da
paleoantropologia, cheios de possibilidades e de caminhos e descaminhos.
41
2.3 OS AUSTRALOPITHECUS:
Como comentado anteriormente, este gênero, fora divulgado pela primeira vez na
revista: Nature, em 1925, por Raymond Dart, professor de anatomia da Universidade de
Witwatersand, após concluir um minucioso estudo sobre um crânio de uma criança (bebê
de Taung) de quatro ou cinco anos de idade sugeria uma criatura que deveria ser
“intermediário entre os atuais antropóides e o homem” (Howell, C F. 1969. P 48).
O aparecimento dos Australopithecinos na biologia, ainda é mistério. Não se sabe que
ramo evolutivo o fez desenvolver. Mas seu surgimento coincide com uma mutação
ambiental ocorrida por volta de 5,0 milhões de anos forçando seu advento a partir do
Australopithecus anamensis.
No período que abrange de 4,5 e 1,4 milhões de anos, houve inúmeros espécimes
com feições anatômicas diferentes uns dos outros, mas sabemos que estas criaturas eram
pertencentes a este gênero devido a características inconfundíveis e indistinguíveis, tais
como: o andar ereto (análises feitas nos ossos do fêmur, joelho, pés, pélvis e pegadas
fossilizadas); altura média variando em torno de 1,10-1,4 metros; o volume cerebral
variando entre: 450–550cc; existência de uma protuberância superciliar; face projetada
para frente, 6o o estômago largo e braços longos com pernas curtas e finalmente dentes
eram variados Algumas espécies tinham dentes similares aos dos humanos. Com base
nestes diagnósticos, observamos características tanto em humanos como simiescas.
Para que o público leigo tenha conhecimento deste indivíduo, sugere-se que até
agora dez tipos de Australopitecinos, obedecendo tais características. Abaixo o quadro
mostra algumas espécies, com seu respectivo nome, período em que viveu na terra e a data
de sua descoberta e publicação.
FIGURA 5.
Nome das espécies
Idade
Ano das publicações
Australopithecus anamensis
4,2 – 3,9 milhões de anos
1995
Australopithecus afarensis
3,9 – 3,0 milhões de anos
1979
Australopithecus bahrelghazali
3,5 – 3,0 milhões de anos
1999
Australopithecus africanus
3,0 – 2,4 milhões de anos
1925
Australopithecus aethiopicus
2,7 – 2,2 milhões de anos
1985
Australopithecus boisei
2,3 – 1,4 milhões de anos
1959
Australopithecus robustus
1,9 – 1,4 milhões de anos
1938
Australopithecus sediba
1,95 – 1,78 milhões de anos
2010
Sabendo que os Australopitecinos evoluíram em diversas formas e tamanhos, para
melhor estuda–los usaremos a ideia de John T. Robinson, isto é, dividi-los em dois grupos:
1o era mais “gracioso”: Australopithecus afarensis, africanus, sediba e bahrelghazali o 2o era
mais “robusto”: Australopithecus robustus, boisei e aethiopicus. Segundo Donald Johanson,
sugere que estes dois grupos poderiam ter evoluído partindo da pequena donzela “Lucy” ou
AL 288, já que esta rota tem boa aceitação entre os paleoantropólogos.
42
FIGURA 6.
Australopithecus anamensis (1997)
Australopithecus afarensis “Lucy” (1979)
Australopithecus aethiopicus (1985)
Australopithecus boisei (1959)
Australopithecus bharelghazali (1993)
Australopithecus garhi (1996)
?
Kenyanthropus platyops (2001)
Australopithecus africanus (1925)
Australopithecus robustus (1938)
Australopithecus sediba (2010)
Homo sp.
?
Filogenia dos Australopithecus
Fonte: Wong, Kate. Genealogia Humana. Scientific American Brasil. Edição Especial. Nº37. P 70.
O Australopithecus afarensis considerado como ramo principal, teve sua origem
taxônica, contestada de forma polêmica no início da década de 70, quando escavações
franca–americanas, na Etiópia, conseguiram com sucesso, localizar um joelho, (1973), 13
indivíduos de várias idades (1975), mais tarde, conseguiu localizar um esqueleto
parcialmente completo, denominado: AL 288. Seus descobridores Johanson e Taieb
(1974), escreveram que os fragmentos encontrados até aquela data, pertenciam a duas
espécies distintas: Homo e Australopithecus. Somente, com estudos posteriores, Johanson,
concluiu que havia cometido erros, geológicos, paleontológicos e de datações, corrigindoos. Em 1977, quando iniciou o estudo dos fósseis, Timothy White, que havia sido aluno de
Milford Wolpoff, na Universidade de Michigan, influenciado pela forma de estudar os
fragmentos, chamados de supersomadores, ou seja, buscou similaridades, entre os
diferentes fósseis, escreveram em 1979 na revista Science, suas conclusões. Os fósseis
apresentavam sinais de alometria (diferenças anatômicas de indivíduos de uma mesma
população: altura, tamanho de dentes) e dimorfismo sexual (diferenças anatômicas de
macho para fêmea), anunciando uma nova espécie: A. afarensis sendo ancestral, tanto do
Homo e dos Australopithecinos.
Assim como Dart, sofreram, cientistas sofreram insinuações ao forçar uma
taxonomia ou de interpretar mal as evidências de campo. Rivalidades enormes surgiram
entre: Johanson, White e a família Leakey. Houve aqueles que também protestaram na
época, como: Yves Coppens e Brigitte Senut (descobriu o Orrorin tugenensis), Todd Olson,
Pat Shipman. Atualmente, membros da comunidade científica, aceitam as sugestões de
Johanson, devido ao acúmulo de fragmentos encontrados até o momento. Há evidências
fósseis que corroboram com tal argumento (290 fósseis encontrados, em Hadar). O crânio,
descoberto em 1994 e datado tendo 3,9 milhões de anos, em Hadar, Etiópia, por D.
Johanson, Kimbel e Yoel Rak, comprova que esta criatura viveu há quase 1,0 milhões de
anos sem sofrer alterações na sua morfologia enquanto, os demais Australopithecinos
possuíam curtos intervalos de tempo, também com poucas alterações na morfologia.
43
Desta forma, acredita–se que A. afarensis possuía uma maior idade taxonômica.
Poderia ter sido uma criatura que se alimentava de tudo (generalista), sendo capaz de ser
ancestral do gênero Homo (Gould, S.J. 1998. P 177). Isto ajuda fortalecer a tese de
Johanson da única espécie, mas não sepulta as discórdias.
Quando o paleoantropólogo sul-africano, o Dr. John Talbot Robinson (1923-2001),
nos anos 40/50 estudou os crânios e dentes dos Australopithecus robustos e africanus,
percebeu que eram muito diferentes na sua composição anatômica e suspeitou que estas
diferenças fossem por causa da dieta alimentar, propondo que os robustos fossem
vegetarianos e os africanus fossem carnívoros. Havia por outro lado, a tese do Dr. Loring
Brace, que argumentava que essas diferenças entre robustos e graciosos eram devido à
alometria. Atualmente, sabemos que a tese do Dr. Robinson estava correta em sua
afirmação.
Ampliando a tese de Robinson, temos o que se referem aos espécimes: robustus,
aethiopicus e boisei (robustos) possuíam certas similaridades na composição do crânio e
dentes, tendo uma crista sagital que sugere ter havido músculos na mandíbula com a
finalidade de triturar alimentos duros, estando adaptado a uma mastigação intensa.
Percebe–se que à parte detrás de seus dentes molares eram maiores do que os da frente,
sugerindo que seriam vegetarianos e estando adaptados a um único habitat, mantendo
apenas a dieta que deveria consistir em: sementes, raízes duras e ou tubérculos, que para
Lee Berger seriam especialistas.
Já as outras espécies tidas como: afarensis, sediba, africanus, bahrelghazali e outros
tipos de Australopithecus (graciosos) tinham características adversas se comparados com os
especialistas. Não havia nenhuma crista sagital em seu crânio, seus dentes eram menos
proeminentes, sugerindo que estavam mais adaptados a uma alimentação mais variada
composta de: frutas e raízes, assim como de carne. Decidiram optar por dietas mais
variadas em seu cardápio, pois não possuíam uma vida exclusivamente, vegetariana,
implantando carne em suas refeições, procurando adaptar-se a diversos habitats, que para
Lee Berger seriam os generalistas.
Para Robinson, a evolução humana estaria baseada, naquilo que se comia.
Pressionando-os em direção a um caminho ou descaminho rumo ao gênero Homo. A
maioria dos cientistas estava convencida que os generalistas, ao acrescentar carne em seu
almoço, poderiam dar os primeiros passos para confecção de instrumentos cortantes, com a
finalidade de quebrar os ossos, para obter o nutritivo tutano. Observando o fato, de que
alguns indivíduos estariam modificando o seu hábito alimentar devido fatores, como
ambientais mantinham-se isolados das outras comunidades por barreiras geográficas e/ou
outros fatores, poderia acarretar em mudanças no comportamento social, sexual e
morfológico. Assim, haveria um possível aumento no tamanho do cérebro e uma
diminuição da face e do estomago (vísceras) e a mudança alimentar poderia proporcionar
novas relações sociais e o surgimento das primeiras formas de Homo.
O que poderia ter levado o gênero Australopithecus possuir dez tipos de espécies
diferentes? O isolamento geográfico, o acaso, a migração de grupos para outras áreas, a
maturação sexual, a modificação de hábitos alimentares (dieta), sociais e sexuais, ou seja,
são inúmeros fatores. Isto quer dizer que estava muito longe serem fracassos evolutivos,
estando adaptados num ambiente adverso, equatorial e subtropical.
44
Afarensis se defende com um pedaço de pau de outros predadores
Fonte: Tim Haines. Walking with Beasts. Cap. 4 The Prey´s Revenge. 2001. P 179.
Tendo os generalistas adquirido o prazer pela carne, poderia ocasionalmente obtê–
la, entrando em territórios de outros indivíduos (especialistas ou generalistas). Em algumas
vezes, poderia ter havido conflitos territoriais, como os chimpanzés hoje em dia. O
interessante nestes espécimes seria sua versatilidade, ao adaptar-se, em ecos–sistemas
adversos. Seria bom que o leitor percebesse que cada Australopithecus possuía um período
tempo próprio, porém em certas ocasiões, seria correto dizer, que alguns eram
contemporâneos de outros, ou seja, viveram num mesmo período de tempo e local.
Há controvérsias entre os cientistas, no que diz respeito à inteligência das criaturas
generalistas, por causa do surgimento de ferramentas ao se implantar carne como um hábito
alimentar, em algumas ocasiões seria necessário confeccionar instrumentos cortantes. D.
Johanson propõe que tal perícia se torna demonstrável, pois os chimpanzés são
considerados fazedores de ferramentas sendo considerados seres flexíveis: “os chimpanzés
empregam utensílios com eficácia e é quase inconcebível que os Australopithecus também não
tivessem feito o mesmo” (Johanson, D. 1998. P 376). Tim Haines, produtor da série: Walking
with prehistoric beasts, para a BBC e Discovery Channel, sugere que havia tipos de
Australopithecinos especializados em alimentação vegetal e num só habitat natural, sendo
que, generalistas, alimentavam–se, não apenas de carne, mas também de vegetais e em
algumas ocasiões o uso de ferramentas (pedras e pedaços de galhos de árvores) fosse
necessário para se defender, procurar comida, demostrando que eram oportunistas e
versáteis.
“Australopithecines are intelligent animals that can use tools to help them find
food, especially nutrient–rich roots and tubers” * (Haines, Tim. 2001. P 175).
* “Australopithecus eram animais inteligentes poderia usar paus e pedras para ajudá–los a encontrar
alimentos especialmente, raízes e tubérculos, ricos em nutrientes”.
45
Australopithecus africanus sts 05 (à direita) e aethiopicus BH008 (à esquerda)
Fonte: http://www.southernbiological.com/Assets/images/Products/Models/BoneClones/BH008.jpg
e https://www.msu.edu/~heslipst/contents/ANP440/images/sts_5_front_40.jpg
Durante as décadas de 70/80, Richard Leakey discordou da ideia de uma
Australopithecus fazedor de ferramentas, alegando, que seria indemonstrável provar que tais
criaturas pudessem fazer instrumentos, baseando seu argumento no achado do KNM er1470
e na falta de evidências que possa corroborar com esta afirmação, pois não há até agora
descoberta, que se associem ferramentas de pedras ao Australopithecino.
“É razoável dizer que o Homo era um fazedor de ferramentas, uma vez que isso,
aparentemente, é uma parte do todo que conduziu à emergência da humanidade.
Mas o que dizer a respeito de seus primos australopithecinos? A menos que a nossa
Pompéia pré–histórica nos agraciasse com um Australopithecus africanus de
cócoras (de quatro), colhido em meio ao trabalho, enquanto fazia um implemento
de pedra, nós nunca seremos capazes de dizer: sim, eles também eram fazedor de
ferramentas” (Leakey, R. 1980. P 96).
R. Leakey, afirma que o A. africanus ou qualquer outro, não eram fazedores de
ferramentas. Geologicamente esta criatura era contemporânea do Homo. Além do mais, os
líticos produzidos condizem com uma data compatível com o KNM er1470 e nenhum lítico
foi encontrado, em sítios de antigos Australopithecinos. Por isto, associam-se os utensílios de
pedras ao gênero Homo.
Na mesma época, que o crânio KNM er1470 (1972) fora descoberto, Jane Goodall,
trabalhava, em Gombe, na Tanzânia, observando o comportamento dos chimpanzés. Ela
descreveu que grupos de chimpanzés, usavam pedras, pedaços de galhos ou outros objetos,
com a finalidade de se alimentar, defender seu território, competirem no direito de acasalar
e para assustar predadores em potencial. É muito verossímil pensar que provavelmente
alguns Australopithecus generalistas poderiam ter feito o mesmo.
A afirmativa de que os Australopithecus poderiam ter sido ou não, um fabricante de
objetos líticos, ainda está em discussão atualmente. Ainda não foi encontrada nenhuma
prova, e mesmo que encontremos; com certeza, não há como associar líticos com este
gênero. É muito difícil para esta ciência, sugerir quem eram os verdadeiros fabricantes dos
utensílios e assim, ainda não há resposta convincente que resolva a equação: fósseis
humanos + ferramentas = inteligência.
46
Na história da paleoantropologia houve cientistas que tentaram estabelecer um
ponto de ligação entre as ferramentas e fósseis de hominídeos. Grandes estudiosos
fracassaram em explicar suas ideias e caso algumas fossem observadas pela ótica atual, não
teriam adeptos. Por exemplo: durante muito tempo, acreditou–se que nossos antepassados,
não eram capazes de ser inteligente. Marcelin Boule, um grande paleoantropólogo do início
do século XX, analisou vestígios de um Neandertal da caverna de Chapelle–aux–saints e
classificou–o como um ser ignorante e brutal, incapaz de usar sua inteligência para
construir algo. Com o passar do tempo, surgiu novos pesquisadores e novas ideias. Entre as
décadas de 30 e 60, Mary e Louis Leakey, descobriram na Garganta de Olduvai, na
Tanzânia, mais de 37 mil ferramentas de pedras lascadas, tendo idades variadas entre: 2,0 a
1,0 milhões de anos. A tese de Boule estava colocada à prova, pois as ferramentas são mais
antigas que o neandertal e isso convenceu Kenneth Oakley, do Museu de História Natural
de Londres, a propor a seguinte tese: o uso destas pedras como ferramentas, era para a
busca de alimentação, criando a “Hipótese do Homem, Fabricante de Artefatos” (Leakey,
R. 1995. P 24).
Por outro lado, não se conhecia quem tivesse produzido tais utensílios. Era
necessário descobrir um provável autor. Em 1959, acreditou–se ter descoberto tal
indivíduo, mas sua aparência era de um Australopithecus do tipo robusto, ao ser analisado
percebeu–se que era um ser peculiar. O cérebro grande, possuindo cerca de 530cc. Aceitou
que se tratava de um ser mais inteligente que os demais hominídeos encontrados, sendo
chamado de Homem da África Oriental ou Zinjanthropus boisei. “Zinj” fora encontrado nas
mesmas camadas que os artefatos, assim, conclui–se que ele teria feito tais objetos. Em
1961, esta idéia foi abandonada, devido à descoberta do pedaço de um crânio com uma
cavidade celebral maior. Isto revelou mais pistas acerca do possível fabricante de
ferramentas. Então, em 1964, P. Tobias e Louis Leakey haviam proposto um padrão entre
as pedras lascadas e o fóssil encontrado e assim, mais uma vez, associou–se pedras lascadas
com hominídeos, fabricante de ferramentas e em conseqüência disto, chamou o pedaço de
crânio de: Homo habilis. Loring Brace, Michel Day, Le Gros Clark, membros da
comunidade científica da época, repudiaram a ideia de Leakey, ao relacionar este espécime,
com um crânio desfragmentado e incompleto, tendo um volume cerebral muito baixo como
sendo um fabricante de artefatos.
Parecia que a equação: fóssil humano + ferramenta = inteligência apresentava
dificuldades em ser aceita. Na década 40, Raymond Dart ao analisar os inúmeros fósseis de
Australopithecinos, que tinham sido extraídos, nos principais sítios da África do Sul:
Kromdraai, Sterkfontein, Swartkrans, Transvaal e Makapangast. Dart descobriu centenas
de ossos de outras criaturas, juntas com ossos de hominídeos espalhados pelos sítios. Dart,
por viver num período conturbado (1ª e 2ª Guerra Mundial e o Apartheid), interpretou que
os hominídeos, poderiam ter usado sua inteligência, para obter comida, se tornando hábeis e
violentos caçadores e que se alimentavam de carne. Dart explicou que os pedaços ossos de
antigas presas serviam para de artefatos (ferramentas) com o objetivo de matar animais para
se alimentar. Sua ideia propunha que antes de ter existido, uma Idade da Pedra, havia uma
Idade do Osso ou a cultura osteodontoquerática.
47
“Os primeiros artefatos do Australopithecus podem ter sido feitos com restos de
refeições, Dart acha as presas, cabeças de fêmures e dentes de porcos extintos,
antílopes e gazelas, encontrados com os fósseis de Australopithecus, eram
intencionalmente usados para cortar e raspar, ou como armas“ (Howell, Clark F.
1969. P 59).
A imagem de um Australopithecus violento, fora ventilada no meio cientifico, tendo
adeptos a ideia de haver um símio sanguinário e em pouco tempo, alcançou o público leigo.
Nos anos 60, no filme de Stlanley Kubrick: 2001–Uma Odisséia no Espaço (1968), nos
primeiros 05 minutos mostra, a implantação do osso como um instrumento, além de situar a
antiga geografia sul-africana. Para Dart, a natureza feroz dos nossos ancestrais, foi devido à
competição que obrigou as antigas criaturas como o A. africanus, ter um comportamento
brutal e violento:
“Os predecessores do homem se apoderavam da caça viva por meio da violência,
atacavam–na à pancadas até que morresse, dilaceravam seu corpo fraturado,
arrancavam–lhe os membros um a um, saciavam a sede voraz com o sangue quente
da vítima e devoravam gulosamente essa prosa altamente a lívida carne que ainda
palpitava”.
“O homem é um predador cujo instinto natural é matar com uma arma, o súbito
acréscimo de um cérebro avolumado ao equipamento de um animal predatório
armado e já com êxoto criou... o ser humano” (Johanson, D. 1998. P 301).
Atualmente, a tese de Dart está longe da realidade. Ganhou mais notoriedade como
a teoria do “símio assassino”, sendo mais apresiada pelos meios de comunicação do que
pelos cientistas Louis Leakey e K. Oakley, que estavam convencidos da “Hipótese do
Homem, Fabricante de Artefatos” havia nos feito humano (daria origem à linguagem,
altruísmo, caça e sinais introspectivos).
Na África do Sul, mesmos locais pesquisados por Dart, havia diversos fósseis de
hominídeos, jazendo com pedaços de ossos de outros animais. Foram novamente
pesquisados, por Bob Brain, que na década de 60, estudou e observou as mesmas camadas
de rochas, levando a outras conclusões; de que o afloramento em que se encontravam estes
fósseis havia sofrido erosão, formando cavernas subterrâneas, durante muitos milhares de
anos. Estas erosões haviam sido provocadas pela proximidade de árvores, com raízes
fecundas, ajudando a desgastar a terra e contribuindo com a erosão. Poderia notar, que tais
fragmentos teriam sido jogados do alto das arvores, sugerindo que algum felino (leopardo)
acostumado a alimentar, em cima de árvores, poderia ter–se banqueteado e à medida que se
alimentava o pedaço mais duro dos cadáveres como o crânio de difícil digestão, era
desprezado ficando no chão e mais tarde e com o passar dos anos, acumula–se as presas
numa mesma camada. Isto explica por que havia um número elevado de fragmentos de
crânios de hominídeos e de outros animais que jaziam juntos. Este estudo comprova que os
Australopithecinos não poderiam ser caçadores, mais sim, a caça.
48
Para completar, os indícios acima demonstram evidências de marcas de dentes
caninos de felinos, em fósseis de hominídeos contradizendo a tese de Dart, pois ao se
verificar o crânio de uma criança (Australopithecino), existem duas perfurações profundas
feitas de fora para dentro, e as dimensões entre uma perfuração e outra, são similares a
mandíbula onde situa os dentes caninos de um leopardo adulto.
O Dinofelis saboreia a sua refeição e os ossos desta presa caem no chão e se acumulam com outros
tipos de animais capturados por este felino Fonte: http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/
O casal de cientistas: Mary e Louis Leakey Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/lleakey.jpg
e http://www.talkorigins.org/faqs/homs/mleakey.jpg
49
Nessa época Bob Brain havia chegado à conclusão de que os Australopithecus eram
caçados por leões e leopardos. A Universidade de Chicago (1966) oferecia uma conferência
entre os cientistas, tendo como tema central o homem como caçador e provavelmente, teria
sido a caça que fizeram humanos, criando então a “Hipótese do Homem, o Caçador”. Esta
ideia influenciou Brace sugerir que as ferramentas Olduvaianas eram feitas pelos
Australopithecus, sendo, portanto, um caçador. Então, a sugestão do uso das ferramentas,
postulada por Leakey e Kenneth Oakley e da violência primitiva, postulada por Dart, foram
abandonadas (Leakey, R. 1995. P 24).
Esta nova teoria parecia ser considerada incontestável e ganhado um subsidio
teórico, quando o paleoantropólogo, Clark F. Howell fez a descoberta em 1969, na Espanha
(Vale de Torralba–Ambrona), de inúmeros ossos de animais já extintos datando de
aproximadamente 500.000 anos, época do Homo erectus da Europa. Junto das ossadas
estavam diversas lâminas de pedras, assim, concluindo que tais animais, deveriam ter sido
caçados, pelo H. erectus que confeccionaram os instrumentos ali descobertos. Havia dados
de campo, que reforçava a equação: fósseis humanos + ferramentas = inteligência. Para que
sua teoria tivesse coerência, Clark ficou convencido da tese do primatologista, Sherwood
Washburn, que sustentara a ideia, do uso de ferramentas surgiu antes do andar bípede. Isto
quer dizer, que os antigos macacos já eram fazedores de ferramentas e prováveis caçadores
antes de ter um andar ereto. Clark argumenta a existência de inúmeras ferramentas junto
aos fósseis de 500.000 anos atrás. Para Washburn, à medida que o tempo passa, verifica–se
uma redução do habitat (florestas) de antigos hominídeos. A natureza estaria forçando–os a
descerem das árvores e aos poucos deixavam de ter uma vida arbórea, obrigando–os a
enfrentar predadores e procurar seus alimentos no chão. Com esta mudança de hábito, estes
hominídeos poderiam usar utensílios para procurar comida no solo e com o tempo, poderia
adquirir sua postura ereta e após adquirir esta habilidade, estariam prontos para caçar
(Johanson, D & Shreeve, J. 1998. P 310).
“Washburn diz que a hipótese contraria é a verdadeira: o uso dos utensílios
precedeu a postura ereta e, mais ainda, deu–lhe origem. Parece absurda, mas as
provas que existem e a lógica em que se baseia são impressionantes. Não nos
devemos esquecer de que os antropóides, ao contrário dos macacos já tinham
tendência para andar ereto mesmo antes de descerem das árvores. Enquanto, que
os macacos, pulavam nas árvores, os antropóides subiam nelas, segurando-se com
uma das mãos, depois com a outra. Balançavam-se nos ramos sentavam-se e às
vezes se punham de pé sobre eles. Os braços eram muito bem articulados e podiam
deslocar-se em todas as direções; além disso, já tinham começado também o
desenvolvimento da visão estereoscópica, de maiores cérebros e de melhor destreza
manual” (Howell, Clark F. 1969. P 50-51).
Na época, Clark F. Howell acreditava–se que os antepassados diretos do Homo
erectus teriam sido os Australopithecus por produzirem implementos (ferramentas), e
poderiam ter tido uma primitiva organização social, muitas vezes baseada em caça de
animais de pequeno porte, como porco–espinho, bosboque, gazela ou um leitão (Howell, C.
F. 1969. P 68 e 69).
50
Na década de 70, o feminismo se expandia em nossa sociedade e impolgou
mulheres antropólogas como Adrianne Zihlman e Nancy Tanner que questionam a
“Hipótese do Homem, O Caçador”. Baseando–se em seus estudos antropológicos,
concluiram que as mulheres realizavam a coleta de alimentos, representavam as
comunidades antigas em 50% da dieta alimentar distribuída pelo grupo. Zihlman e Tanner
focavam que a relação entre parentes (mãe e filho), induzia a coleta de plantas, ovos, mel,
cupins, e pequenos animais, criando a “Hipótese da Mulher Coletora”. As ferramentas
eram usadas não para a caça, mas para a coleta (Leakey R & Lewin, R. 2ª ed. 1996. P 120).
Ainda nesta época, pesquisas de campo produzidas por G. Isaac (1937-1985), defensor da
tese da Home Base e da economia mista, afirmava que o alimento (vegetal ou carne)
coletado ou caçado era distribuído e repartido pelo grupo, em um acampamento (Home
a
Base), e que o ato de repartir nos fizeram humanos (Leakey, R & Lewin, R. 2 ed. 1996. P
127). Assim como Isaac, Lewis Binford (Universidade de Chicago) e autor de Bones:
Ancient men and modern myths, criticava a tese “Homem, o Caçador” e da “Home Base”
aplicando seu método de escavação a “pesquisa de meio–termo”, sugerindo que não há
provas seguras que os hominídeos eram habilidosos caçadores e sim necrófagos.
“Clark observara que esses restos de elefantes foram descobertos juntamente com
um montão de ferramentas de pedras auchelianas. Assim, ele e Freeman
desenvolveram aquele retrato dândi, em quatro cores, de caçadores poderosos
chacinando manadas de elefantes. Chegou até a calcular a quantidade de carne de
muitos desses elefantes e estimou que seriam necessárias seis jornadas de
cinqüenta homens cada para transportar toda a carne. Portanto, agora você tem o
Homo erectus organizado em grupos de trabalho cooperativo, há quinhentos mil
anos! Bem, eu mostrei que as ferramentas encontradas no local na verdade não
estavam associados aos ossos de elefantes. De fato, há uma correlação inversa:
onde você encontra os elefantes, não encontra ferramentas. Os artefatos, na
realidade, estavam correlacionados aos membros inferiores e as mandíbulas de
cervos vermelhos, bonídeos e cavalos – aquilo que você poderia esperar achar se
os hominídeos estivessem procurando carcaças e não caçando. O mesmo vale para
o sítio do clássico caçador poderoso“ (Johanson, D. 1998. P 325).
Há um consenso entre os pesquisadores, apontando que os Australopithecinos
generalistas não fossem caçadores, mas em algumas ocasiões carniceiros e na maioria das
vezes, onívoros. Eventualmente, poderiam ter utilizado instrumentos, como os chimpanzés
fazem atualmente usando folhas de árvores como esponjas para apanhar água, pedaços de
paus para catar cupim e pedras para quebrar nozes. Já os hominídeos poderiam ter usado
pedras para quebrar ossos de animais já mortos por predadores para retirar o tutano. Alguns
objetos poderiam ter surgido eventualmente mais tarde e sua confecção tornou–se um
hábito repetitivo. Neste sentido, pode–se afirmar que os hominídeos eram seres possuidores
de inteligência e estaria modificando o meio que vivia. As pesquisas de Jane Goodall com
chimpanzés e as de D. Attenborough com macacos demonstram a ocorrência de forma
primitiva de inteligência usada sem possuir qualquer uso ou manejo de um utensílio.
51
Mas, será que os macacos poderiam demonstrar inteligência sem usar e fabricar
objetos? Attenborough ao pesquisar o comportamento social de macacos que habitam a Ilha
de Khosima, no Japão, descobriu:
“Uma vez ao receber a sua batata–doce coberta de terra e areia, uma jovem
macaca foi até a poça água e lavou a batata com as mãos. Os cientistas não
asseguram que sua ação resultasse de um raciocínio abstrato (instinto), mas
observaram que a macaca passou a repeti–la; um mês de depois, uma
companheira; quatro meses depois, sua mãe; aos poucos o hábito se espalhou entre
quase todos os membros do grupo, exceto os mais idosos” (Pinsky, J. 17ª ed.
1994. P 12).
A Tese da Caça proposta pela Universidade de Chicago, na década de 60, esta
colocada à prova, quando observamos as interações sociais entre os macacos, citada acima.
Donald Johanson acredita que os estudos de primatologistas permitem não só observar as
relações sociais dos primatas, como também sugerir que seria possível que os
Australopithecinos poderiam ter a usado numa rede complexa de política.
“O que os primatologistas estão percebendo no campo é a política básica de
playground: se alguém o está maltratando, vá chamar seu irmão de modo que ele
fique atrás de você. São boas as chances de que outro passe ater um súbito respeito
por você – a menos é claro, que ele traga o próprio irmão, que acontece ser mais
importante que o seu dentro do grupo, complicando ainda mais a equação social.
Entre os primatas, mais comumente servem de alianças, as mães do que os irmãos
mais velhos, porém a analogia permanece correta” (Johanson, D. 1998. P 384).
Atualmente, a paleoantropologia está inclinada a aceitar a Hipótese da Inteligência
Social que explica como os primatas seriam capazes de criar e desfazer alianças, de acordo
com seus interesses, exigindo o intelecto observando outros membros estaria fazendo. O
Príncipe de Maquiavel seria aplicável, entre os primatas, aos observamos sua interação
social na busca de vantagens políticas e sociais de um membro do grupo, exigindo um
raciocínio aguçado e rápido.
“A astúcia e o cálculo não são as únicas ferramentas no inventário do Príncipe de
Maquiavel, não esgotam, o repertório do macaco socialmente sagaz. Não obstante,
conforme a nova maneira de pensar o que importa não é tanto o que você conhece,
e sim quem – e quão eficaz você pode ser em manter o conhecimento descisivo fora
do alcance dos que poderiam ser seus adversários” (Johanson, D. 1998. P 383).
Podemos deduzir que os Australopithecus, tanto os generalistas como especialistas,
poderiam estar inclusos no comportamento dos primatas, pois o tamanho de seus cérebros
seria similar aos do chimpanzé e bonobo. Os Australopithecus eram inteligentes, interagiam
uns com outros com a finalidade de obter melhores recursos dentro do grupo, disputando
entre si, por certos privilégios políticos demonstrando quem era o dominante e em outro
momento, se tornar excluído do grupo ou vice–versa (Leakey, R. 1995. P 141).
52
Tim Haines, produtor da série da BBC: Walking with prehistoric beasts, sugere que
os Australopithecinos tinham um evidente dimorfismo entre os sexos. Os machos mediam
cerca de: 1,5m e as fêmeas 1,1m, formando grupos pequenos de no máximo 20 membros,
sendo o macho dominante. Eram territoriais e ocasionalmente nômades.
A vida social fechada para qualquer intruso, causando uma interdependência entre
seus membros, com o objetivo obter certos privilégios dentro do grupo, sugerindo uma
sociedade política complexa. Tal sociedade apresenta variações de mudanças
comportamentais se ameaçados por um predador ou intruso ou por uma variação climática,
teriam de contar uns com os outros para se defender (Haines, T. 2001. P 142-181). Estas
criaturas poderiam estar isoladas de outras comunidades, não havendo trocas de
conhecimento devido ausência de comunicação sofistica acreditando que isto ajudou a
extingui–los, a partir de uma mudança ambiental. Por outro lado, observa–se que estes
indivíduos teriam possuído laços de afeição, uns pelos outros, deixando esta característica
para seus descendentes. Herança que nós carregamos até os dias de hoje o andar ereto.
A extinção das espécies de Australopithecus teria iniciado por volta de 2.500.000
anos, quando houve uma nova era glacial, modificando o clima. Esta data marca o
surgimento dos Australopithecus tipo robusto e generalista (Au. sediba), e também do Homo
habilis. É improvável que o Homo tenha sido o culpado em extinguir os Australopithecus.
Pode–se afirmar que as causas da extinção dos Australopithecus sejam desconhecidas,
sugerindo seria no início da era glacial, o vilão, provocando maior isolamento entre as
espécies, aumentando as barreiras geográficas, ora diminuindo, ora aumentando as
florestas, além da existência aleatória de períodos interglaciais e glaciais, que marcaram o
globo, com mais de vinte variações climáticas, com intensas quedas de temperaturas e/ou
intensas altas de temperaturas, fortes secas e/ou chuvas diluvianas com repentinos padrões
de temperatura. Isto pressionou o generalista sediba para uma evolução não linear e
pontuada rumo ao Homo e fez com que o tipo especialista, não conseguisse lidar com o
isolamento e baixas taxas de natalidade além das agressivas mudanças de temperaturas.
Aos poucos, por volta 1,4 milhões de anos, as rotas ficaram abertas para que esse Homo as
percorresse.
Seja qual for à causa do desaparecimento daquelas belas criaturas, é coerente
afirmar que nos deixou uma herança de grande importância, as quais ainda usaram em
nossas vidas que foi o bipedalismo. Sabe–se que as origens do bipedalismo, ainda não
possuem resposta consensual e definitiva, entre os cientistas. C. Owen Lovejoy
(Univesidade Estadual de Kent), argumentou em 1981, que a locomoção ereta possibilitou
que os braços ficassem liberados para carregar objetos e crianças. Já Peter Wheller, (Escola
Politécnica de Liverpool) e John Moores University, acreditam que nossos antepassados
passaram a caminhar sobre duas pernas, com a finalidade de reduzir a sua área do corpo,
exposta a um causticante calor africano, diminuindo o desgaste físico. O andar ereto pode
ser considerado um sistema que possibilitou proteger o cérebro de um possível aumento da
temperatura do corpo, melhorando a refrigeração interna. Concluindo, andar ereto
possibilitou aos nossos ancestrais, uma forma de guardar energia das doses diárias de calor,
possibilitando a posteriori, o surgimento de sinais de uma protolinguagem (Nasce o
homem. Superinteressante. P 44-50).
53
Willian R. Leonard, professor de antropologia da Northwestern University “sugere
que o bipedalismo desenvolveu-se em nossos ancestrais, em parte, por ser menos dispendioso
energeticamente que o deslocamento sobre quatro patas” (Scientific American Brasil. Edição
Especial. Nº2. P 83). Para Lovejoy, existem outros fatores, destacando, o fator sexual:
“pode-se não acreditar que o caminhar ereto tem alguma coisa a ver com o sexo, mas que tem,
tem” (Johanson, D & Edey, M. 1996. P 409), Stanford, amplia a tese de Lovejoy, sugerindo
que: “a principal razão para ficar em pé e andar ereto está intimamente associada à sobrevivência
e a reprodução” (Stanford, C. 2004. P 142). Discordando da tese de Gould, afirma que a
evolução não se comporta de forma radical e repentina, ocorrida de uma vez só e por uma
razão. Há inúmeras provas das formas de locomoção bípede ereta de nossos ancestrais.
Existem 4.000 mamíferos atualmente e somente, os gêneros Orrorin Tugenensis,
Australopithecus e Homo apareceram com várias locomoções eretas. Na década de 40, os
cientistas acreditavam que os nossos ancestrais deixando as árvores para viver na savana
africana. A mudança do habitat força a uma evolução na locomoção, possibilitando, que as
mãos ficassem liberadas, na intenção de carregar objetos. Pesquisas conduzidas por
ecologistas acreditam que houve há 3,5 milhões de anos, florestas tropicais, cobrindo parte
da África, fazendo com que esta teoria, esteja equivocada (Stanford, C. 2004. Prefácio).
Owen Lovejoy, (Universidade de Kent) acredita que se deve “observar as
estratégias evolucionárias” das criaturas, compreendendo a relação entre alimento, vida
sexual e mudanças ambientais Estes fatores juntos proporcionavam mudanças nos hábitos
sociais e por sua vez, mudanças anatômicas (Johanson, D & Edye, M. 1996. P 412). Pode–
se dizer que o processo seletivo não linear e pontuado, poderia contribuir para a formação
de um bipedalismo assumindo várias formas diferentes, como o Orrorin tugenensis, de 6,0
milhões de anos que possuía uma locomoção, mais eficiente, do que os Australopithecus de
3,8 milhões de anos, segundo, Martin Pickford e Brigitte Senut.
Lee Berger, ao analisar os ossos da perna de um A. africanus (2,5 M.A) concluiu que
este não possuía um andar ereto eficiente comparado com o A. afarensis (3,0 M.A). Alan
Walker, ao analisar os ossos da coluna do menino de Turkana (Homo erectus africano),
constatou que possuía grupo de seis vértebras lombares ao contrário de cinco, fazendo
imaginar que esta espécie, deveria ter possuído uma locomoção eficiente. O Homo erectus,
para Fred Spoor, (University College, de Londres), ao estudar os canais do ouvido interno
(órgão que regula o equilíbrio), concluiu que esta espécie teria sido “marchador mais
moderno do que qualquer versão humana anterior”, devido à vértebra lombar extra (Stanford,
C. 2004. P 176-7). Concluindo, o bipedalismo assumiu várias formas distintas não sendo
um processo que se deu entre espécies quadrúpedes, originando seres semiquadrúpedes até
chegar a forma bípede (Stanford, C. 2004. P 87-97). O fato de andarmos em pé nos causou
certas desvantagens:
54
“Ao ganhar estabilidade, o bípede perdeu potência. Ao ganhar eficiência
energética para caminhar, ele perdeu essa mesma eficiência para escalar. Para as
grávidas, o preço a pagar foi terrível. A seleção natural reformulou a pélvis para
acompanhar novas funções musculares, mas também estreitou o canal do
nascimento com relação ao tamanho do crânio do nascituro, que precisa se
espremer para passar por ele” (Stanford, C. 2004. P 77).
A herança que carregamos em caminharmos eretos são “imperfeições físicas” e que
talvez por isso outros mamíferos não possuam: dores de coluna, varizes, hérnias, estrias e
lordose (Lima, C. P. 2ª ed. 1994. P 06). Os cientistas acreditam que o andar ereto precedeu
a evolução do cérebro e uso de ferramentas e possibilitou o surgimento do comportamento
humano (linguagem e sinais introspectivos). Para explicar como que surgiu, há duas
correntes distintas:
1. A Corrente da Home Base: liderados por: Richard e Meave Leakey, Roger Lewin,
Henry Bunn e Glynn Isaac que estudaram os vestígios do sítio 50, sítio FLK (Koobi
Fora) e antigas comunidades indígenas conhecidas como Yanomami, Masaai
(Bosquimeros) e Kung sugerindo que o processo de humanização do Homo poderia ter
ocorrido devido à herança bípede, que nos torna mais independentes. Isto possibilitou
uma economia mista (caça e coleta), propondo que os hominídeos poderiam ter
cooperado uns com os outros, com o objetivo de estocar alimentos em sua Home Base
(base doméstica), local em que, os alimentos poderiam ser compartilhados pelo grupo
(Lima, C. P. 2a ed. 1994. P31). A posteriori, com a intensificação desta atividade,
sugere que alguns membros poderiam demonstrar determinados sentimentos de
reciprocidade (altruísmo) cuidando dos pequeninos e dos velhos, aparentando sinais de
sentimentos (amor, ódio, paixão) e depois a fala. Concluindo, a partilha nos faz
distinguir dos demais antropóides, surgindo os primeiros sinais de relações de
matrimônios (poli) monogâmicas: “repartir, não de caçar ou colher, foi o que nos fez
humanos” (Leakey, R & Lewin, R. 2a ed. 1996. P 122-123).
2. A Corrente da nova arqueologia: liderados por: Donald Johanson, Timothy White,
Lewis Binford, “Gerry” Eck, Gen Suwa e Berhane Asfaw acreditam que a herança
bípede, poderia nos tornar mais independentes. Ao examinarem as camadas dos sítios
em que os fósseis foram encontrados durante as décadas de 70 e 80, concluiram que a
tese de Isaac, “Home Base” não possuía fundamento, pois os cenários descritos, onde
os fósseis foram encontrados eram próximos de lagos, locais visitados por leões e
tigres. Desta forma, a economia mista, não permitia proximidade com predadores.
Acredita–se que os fósseis de hominídeos e suas ferramentas poderiam ter se deslocado,
pelas águas de chuvas ou por outros fatores. Outra observação de campo, no que tange
ao comportamento, não de humanos, mas de primatas, (hipótese da inteligência social),
revelam os padrões sociais, que teria sido utilizado por nossos ancestrais e a conclusão
disto, foram que as relações sociais entre os indivíduos do grupo nos fizeram humanos.
Não havia sido necrofagia, mas a existência de um ambiente novo, rico em
oportunidades e possibilidades, nos tornando um ser interesseiro a fim de se destacar
sua comunidade. (Johanson, D. 1998. P 374).
55
Vale à pena ressaltar, que tanto Leakey como Johanson, concorda que o
oportunismo de nossos ancestrais havia sido uma “característica–chave” do nosso sucesso
evolucionário (Leakey, R & Lewin, R. 1996. P 122). Assim, podemos concluir que a
evolução humana, parece ter sido guiada ao acaso, isolamento e adaptação ao meio pelo
comportamento alimentar, sexual e político, de criando alianças e fortalecendo através de
suas habilidades, propostas pela hipótese da inteligência social. Desta maneira,
concordamos com Thomas Hobbes, filósofo do século XVII, que ao observar o Estado de
Natureza do homem, em seu livro Leviatã sugeriu que o homem era guiado por suas
paixões (egoísmo, amor, ódio, simpatia e outros) e seus desejos (medo da morte, glória
pessoal e competição por alimentos), tornado um ser conflituoso egoísta e oportunista.
Desta forma, Hobbes descreveu que a vida no Estado de Natureza era basicamente:
1) Curta: Castor Cartelle, (PUC–Minas) sugere que os “Homens de Lagoa Santa” tinham
uma expectativa de vida de 30 anos: “eram raros os indivíduos que atingiam idade mais
avançada” (Cartelle, C. 1994. P 120). A Dra. Rachel Caspari (Universidade de Michigan)
que trabalha com a expectativa de vida na pré-história, afirmou os indivíduos neandertais
de Krapina, na Croácia, estudados por ela tinham menos de 30 anos quando faleceram.
Sabe–se que a expectativa de vida dos neandertais era de 30 anos para as mulheres e 40
para os machos.
2) Pobre: esta afirmativa pode variar de sítio para sítio, dependendo do objeto de pesquisa.
Por exemplo, o estilo de vida do Australopithecus deveria ter sido modificado por sua dieta
alimentar, devido inúmeros fatores inclusive climáticos, provocando uma escassez
alimentícia, proporcionando a extinção de algumas espécies.
3) Sórdida: o meio ambiente tornava–se hostil, devido o aparecimento de uma Era Glacial
(a partir de 2,5 milhões de anos), fazendo com que o continente africano se tornasse seco
forçando aos Australopithecus se alimentarem de raízes, surgindo o grupo de especialistas,
num período, em que aparece o Homo, um onívoro e em alguns momentos, pressa de leões e
leopardos. Sem dúvida, a África nesta época era um mundo cruel.
4) Embrutecida: pode-se afirmar que, em cada época, houvesse escassez alimentar criando
a hipótese de que o Homo sapiens, em busca de alimentos, migrou da África para o resto do
mundo a partir de 100 mil anos, tese defendida por C. Stringer.
5) Solitária: não há provas convincentes de que os nossos ancestrais eram de fato solitários
pelo contrário, andavam em bandos.
Devido às descrições de Hobbes, sobre o estado de natureza humano (pré–
histórica), evidências de campo parecem confirmar que, seja muito verossímil propor que
às provas coletadas de ambos os lados (Leakey e Johanson), aliada as pressões aleatórias do
clima, a hipótese da inteligência social altamente política e oportunista, colabora com a
citação hobbeniana de ter ocorrido, no passado: “a guerra de todos contra todos” (Alves, M.
2001. P 30-39).
56
2.4 O HOMO:
2.4.1 HOMO HABILIS:
KNM er1470 – Homo habilis ou rudolfensis vista de lado e frente Fonte:
http://www.talkorigins.org/faqs/homs/1470.html
“O gênero Homo surgiu por volta de 2,5 milhões de anos a partir do
Australopithecus afarensis. Caracteriza–se pela arcada dentária semicircular, sem
diademas entre os incisivos e caninos, dentre as espécies mais primitivas encontra–
se o Homo habilis, com aproximadamente 1,5 m de altura e capacidade craniana
de 500 cm³” (Carvalho, I.S. 2000. P 614).
Para melhor compreensão dos estudos dos tipos de Homo, existentes, André Leroi–
Gourhan arqueólogo francês, dividiu-os em três grupos: os antropianos (aqueles que
possuem desenvolvimento mental, fabricam utensílios e caminham ereto (o Homo erectus e
o Homo heidelbergensis), os paleantropianos (neanderthalensis) e os neantropianos
(humanos). A respeito do Homo habilis, Leroi–Gourhan descreve:
“Há cerca de 2,5 milhões de anos, coexistiram com um antropiano cujo crânio foi
encontrado. Este fóssil é muito mais humano que o Australopithecus, é o Homo
habilis. O seu cérebro é muito mais desenvolvido que o dos Australopithecus e os
seus utensílios mais desenvolvidos” (Leroi–Gourhan, A. 1987. P 46-47).
O Homo habilis, descrito por Leroi–Gourhan, possuía características que o considera
como um antropiano, sugerindo que faça parte do grupo dos arqueantropiano. O início da
historia desta espécie foi conturbada, sofrendo críticas similares de Dart e Dubois. Desde
descoberta do Habilis (1964), até os dias atuais, possui controvérsias e polêmicas, mais do
que todas as outras espécies.
57
Durante a década de 30 e 40, Louis Leakey começava a fazer suas primeiras
escavações em Olduvai, no Quênia (palavra maasai que significa: “lugar do sisal silvestre”),
encontrando inúmeros vestígios de artefatos líticos, mas não conseguia identificar quem
teria produzido. Em suas escavações, deparou–se com um dente molar sem conseguir
identificar o seu dono. Em 1959, sua segunda esposa, Mary Leakey, havia descoberto
fragmentos de um crânio antigo, possuindo a capacidade cerebral de 530cc. Louis Leakey
tinha a teoria, de que as criaturas de Dart e Broom (A. africanus e A. robustus) encontradas na
África do Sul, não pareciam ter ligação com a linhagem do Homo e nem poderiam ter
fabricado os inúmeros utensílios descobertos, em Olduvai. Quando o casal iniciou os
estudos, notou que seus dentes eram enormes, seu crânio possuía uma crista e o fóssil
parecia mais com um Australopithecino. Concluindo que, essa criatura, poderia ter sido um
ser transitório entre os Australopithecus e humanos, sendo batizado de Zinjanthropus boisei ou
“Homem da África Oriental”.
O Zinjanthropus boisei, segundo Louis Leakey, não era nem Homo e nem
Australopithecino, como afirmou: “um estágio mais próximo do homem, como hoje o
conhecemos, do que o quase–homem isto é: Australopithecus da África do Sul” (Johanson, D.
1998. P 95). Mais tarde, outro hominídeo fora achado no mesmo local, parecendo ter um
fragmento de crânio pequeno e com um cérebro maior do que Zinj, possuindo em média
(650–700cc), e seus dentes eram menos proeminentes e pareciam mais com os humanos,
chamado de: HO–7 (Hominídeo de Olduvai):
“Por causa do tamanho do cérebro e por que os dentes eram muito mais parecidos
com dos humanos (os malares não eram compactos em proporções aos incisivos), o
novo hominídeo foi considerado como sendo Homo e em 1964 recebeu o nome
específico de Homo habilis (homem habilidoso). Aqui ao que parece, estava o
fabricante de ferramentas da Garganta; foi pelo menos, o que se supôs” (Leakey,
R &Lewin, R. 1980. P 107).
Esta descoberta consistia, em alguns pedaços dos ossos do crânio e uma mandíbula.
Mais tarde, descobriu–se o HO–13 (Cindy) tinha uma mandíbula e maxilar superior. HO–
16 (George) apresentava pedaços de um crânio e dentes e Twiggy, com sete dentes e um
crânio esmagado. Leakey, Tobias e Napier, analisaram os fósseis e constataram que o
exemplar era mais próximo do homem, do que o Zinj, sendo mais avançado, que os
Australopithecinos. As evidências provaram que o seu volume cerebral era de 670cc
considerado como um ancestral capaz de empreender ferramentas, recebendo o nome de
Homo habilis (homem habilidoso). Devido à limitada e precária conservação fossilítica, a
comunidade científica repudiou a teoria do ser habilidoso de Leakey. Le Gros Clark,
(Museu de História Natural de Londres), desprezou o achado baseando–se na medição
craniana que Sir. Arthur Keith no início do século XX havia estabelecido como critério,
para qualquer fóssil de hominídeo encontrado, pertencente ao nosso gênero (Homo) e
determinando que as provas (crânios) deveriam possuir um volume cerebral, acima de
700cc, para ser considerada humana (Johanson, D & Shreeve, J. 1998. P 96-7). Portanto,
para Clark o volume celebral do Habilis, não era suficiente para ser considerado: Homo.
58
“Fundamentalmente, a comunidade científica ouvira Leakey gritar:”
Homem!”Com excessiva freqüência. Alguns cientistas mostravam–se contrafeitos
ante a fútil necessidade de fazer o habilis transpor à força o rubicon cerebral de
Keith. Para tornar piores as coisas, os espécimes que Tobias medira estavam
incompletos e muito quebrados, e alguns de seus colegas questionaram a exatidão
de suas medidas. No que dizia respeito aos dentes, Leakey e seus companheiros
pisavam chão mais firme. Utilizando as próprias distinções de Le Gros Clark entre
os dentes de Homo e de Australopithecus, as dentições do habilis indicavam no
primeiro desses gêneros” (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 97).
Mesmo possuindo dentes, como provas, John Talbot Robinson, ao examiná-los
afirmava que eram triviais e seria melhor, obter mais material. C. Loring Brace,
(Universidade de Michigan), porta voz da “teoria da espécie única”, que na década de 60,
estava na moda, afirmava a existência de apenas quatro estágios evolutivos:
Australopithecus, Homo eretus, Homo neanderthalensis e homem moderno, cada um estando em
num nicho ecológico, próprio e sem contato entre si. Para Brace, o Homo habilis era
inválido, pois não se encaixava nas quatro espécies, devendo então, ser somada a espécie
do Australopithecus. Existem 02 tedências na paleoantropologia: 1ª os somadores (Brace e
Day), que procuram por semelhanças anatômicas, em diversas criaturas e agrupá–la dentro
de uma espécie; 2ª os divisores (L. Leakey), propondo que as criaturas possuem diferenças
anatômicas grandes e que não podem se enquadrar, na mesma espécie. Por isto, os
somadores acreditavam que o espécime de L. Leakey era na verdade, variantes locais dos
Australopithecinos, mas não tão evoluída para ingressar no nosso gênero. Já Michael H. Day,
sugere duas alternativas somatórias, para este problema:
1. “O Homo habilis deveria ser agrupado com o Australopithecus africanus. Isto quer dizer
que nenhum dos dois pertence ao gênero: Homo; ambos pertence ao gênero:
Australopithecus e a denominação: habilis deveria ser abandonada”.
2. “O Australopithecus africanus deveria ser agrupado com o Homo Habilis. Isto quer dizer
que os dois pertencem ao gênero: Homo, e de novo, o nome habilis deveria ser eliminado,
visto como a denominação especifica africanus teria prioridade. Assim, os dois seriam:
Homo africanus”.
“O que sustentam que estas duas formas constituem uma só espécie tem de aceitar uma
definição do gênero: Homo, ou do gênero: Australopithecus, que possa acomodar as duas
formas. Sua argumentação gira em torno de peculariedades genéricas (fabricação de
ferramentas), que são muitos menos fáceis de identificar do que aquelas que distinguem as
espécies (anatomia)” (Day, M. 1975. P 102).
A controvérsia baseia–se na classificação de habilidoso, que foi atribuído, devido
sua capacidade cerebral, que supostamente, deveria ter sido um criador de ferramentas
similares as características humanas. L. Leakey necessitava de novas evidências de campo,
para poder convencer a comunidade cientifica, de que o Homo habilis fizesse jus ao nome
que carregava.
59
Vista lateral do KNM er1813 à esquerda e a direita o KNM er1470, ambos são Homo
habilis Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/1813.html e
http://www.talkorigins.org/faqs/homs/1470.html
Na década de 70, escavações realizadas, a oeste do lago Rudolf (Quênia) descoberta
por Meave Leakey, esposa de Richard, outro crânio menos fragmentado e mais completo
que o HO–7 era uma criatura nova sendo chamada de KNM er1470. Percebeu–se que
poderia ser mais antiga do que os fósseis de 1964 possuindo a idade de 2,0 milhões de anos.
Analisando seu volume cerebral, indicava que o indivíduo tivera em torno de 775cc e
800cc, podendo ser colocado dentro gênero Homo pertencente à espécie do Homo habilis.
Mesmo com esta descoberta, fora sepultado a controvérsia do rubicon de Keith, mas por
outro lado, surgiam novas controvérsias, que estão longe de serem sepultadas. O vestígio do
KNM er1470, ainda é muito espaça e não está definida sua descrição dentro do gênero
criado, em 1964. Os espécimes encontrados até este momento, não trouxeram
esclarecimentos e sim dúvidas. Os fósseis deste arqueantropiano encontram–se desconexos
ou com poucas correlações. O crânio do er1470, descoberto em 1972, não ajudou colocar
ponto final nessa estória e acredito estar muito longe de acabar. Atualmente, há uma
possibilidade de se pensar em duas espécies de Homo habilis convivendo, no mesmo
período de tempo e possivelmente, nos mesmos habitats.
Tal dúvida surgiu devido ao achado de um crânio (er1813) ocorrido, em 1973
possuindo 600cc e descoberto por Kamoya Kimeu no sítio de Koobi Fora (Quênia). Anos
depois, o crânio foi estudado por Bernard Wood (Universidade George Washington) e
Chris Stringer (Museu de Historia Natural de Londres), sugerindo uma alternativa
divisória; poderia haver duas espécies distintas de Homo habilis coexistindo, uma com a
outra. Comparando o er1813 com o er1470 há muitas diferenças marcantes na morfologia
desses espécimes encontrados, que não parecem ser alometria e dimorfismo sexual.
Entre 1970-80, os especialistas acreditavam que altura média do Homo habilis era em
torno de 1,5m. Este pensamento mudou, pois em 1986, quando a equipe de
paleoantropólogos, liderado por Donald Johanson conseguiu localizar na Garganta de
Olduvai, fragmentos de membros inferiores de um Homo habilis, revelando-se parte de um
esqueleto. Nada assim havia sido descoberto antes; ossos do braço e antebraço, pedaços do
osso da coxa e da tíbia, pequenos fragmentos do crânio, dentes caninos, pedaços da maxila
e dentes pré–molares (cruciais para a identificação do espécime, diagnosticando de qual
espécie era o esqueleto encontrado). Este achado foi muito importante para futuras
pesquisas, a respeito das origens do gênero Homo.
60
A criatura descoberta em 1986, apelidada por Gen Suwa de “O homem da colina
Dik-Dik”, sugere que os poucos fragmentos analisados e partes do esqueleto, poderiam
tratar-se de uma fêmea, assemelhando–se com a anatomia de “Lucy”. Pode–se concluir
disto, que altura média desta espécie era muito similar anatomicamente, com os A. afarensis.
Medindo cerca de: 1,05m a 1,2m.
“Se a altura do corpo, na linhagem humana, certamente cresceu gradualmente do
afarensis para o erectus, então, de direito, o Homo habilis teria alcançado algo
entre: 1,35 e 1,50M de altura. Em vez disso, tínhamos encontrado o esqueleto de
um habilis que parecia não ter sido em vida, maior que a própria Lucy (1,05 M de
altura), Avaliando a partir dos fragmentos que possuímos do hominídeo da Colina
Dik–Dik, do pescoço para baixo, ele era praticamente gêmeo de Lucy” (Johanson,
D & Sheeve, J. 1998. P 290).
A estrutura corporal do arqueantropiano, descoberto pela equipe de Johanson revela
que era muito similar com a estrutura corporal de um Australopithecus afarensis, porém como
é sabido, o seu volume cerebral é sem duvida, superior. Esta prova de campo, também
sugere que o grupo dos afarensis e do sediba poderia ter dado origem ao gênero Homo, tese
proposta por Lee Berger, em 2010 e Johanson e White, desde 1979.
O que se sabemos sobre o habilis é que possuíam pequena estatura, andar ereto mais
desenvolvido, braços compridos para poder pinçar e fazer objetos, pernas curtas e seu
volume cerebral ter variado entre: 775cc e 900cc. É provável que fabricassem ferramentas
mais avançadas que os Australopithecinos e que andariam em bando de até 20 indivíduos
não caçadores mas oportunistas carniceiros e coletores de frutas e vegetais. Com relação ao
período que o er1813 e er1470 sabemos que ambos convieram juntos. De acordo com o site
da BBC/ na Internet: http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/, sugere que o primeiro
(er1813), deveria ter uma idade em torno de: 1,9–1,6 milhões de anos enquanto o segundo
(er1470) era mais antigo, tendo uma idade em torno de: 2,4 (data de determinados
instrumentos de pedras, encontrados) – 1,6 milhões de anos. Os fragmentos coletados em
1986, na Garganta de Olduvai, (Tanzânia) local de escavação onde surgiu o gênero Homo
habilis, teria a idade de 1,8 milhões de anos. Estes fragmentos podem se encaixar ou no
er1813 ou no er1470, mas seguramente, não há como saber.
Supondo que realmente, que existam duas espécies distintas, então... Qual das duas
seria a nossa ancestral? Não há no momento uma resposta definitiva. A história da
paleoantropologia ainda estaria engatinhando. Talvez daqui alguns anos, muitas
descobertas serão preenchidas trazendo novas respostas ou novas dúvidas. Atualmente, o
debate paleoantropólogo, sugere que o er1470, seja considerado um Homo habilis
pertencente a um grupo diferente chamado de Homo rudolfensis. Trabalha–se com estas duas
distintas explicações da filogenia humana, supondo que seja o ancestral do Homo ergaster e
erectus.
61
FIGURA 7.
1.0 (M. A)
Homo erectus
Homo ergaster
?
2.0 (M. A)
Homo rudolfensis
1.0 (M. A)
Homo habilis
Homo erectus
Homo ergaster
?
2.0 (M. A)
Homo habilis
Homo rudolfensis
A arvore genealógica a partir do grupo habilis
Fonte: www.humanancestors/hall/the/homohabilis/debate.htm
Seja qual for à via percorrida pelas duas espécies seria correto afirmar, que
finalmente existem seres, que podem ser chamado de ancestral do homem moderno,
possuindo características anatômicas similares a nossa, mas se encontra num estágio mais
primitivesco. Para R. Leakey, o er1470, possui estas evidências, que podem incorpora–lo
em nosso gênero devido o seu andar ereto:
“... Podemos estar seguros de que o 1470, e seus companheiros poderiam andar
com fáceis e ligeiras passadas, do mesmo modo que os humanos atuais. Nisso eles
devem ter levado vantagem sobre os seus primos Australopithecus, uma vez que
nessas criaturas a colocação anatômica dos ossos da perna e da pelve, parece não
ter sido apropriada para o andar ereto habitual. Isto não quer dizer que os
Australopithecus arrastavam–se com um andar desajeitado e inclinado para frente,
de um modo tão a gosto dos que fazem caricaturas da pré–historia humana.
Provavelmente, sua anatomia especial os impedia de andar no estilo de seus
primos, Homo. Qualquer diferença que existisse, não seria por certo dramática”
(Lekey, R & Lewin, R. 1980. P 88).
62
A sugestão de Leakey quando afirma que Australopithecus são nossos primos,
atualmente, a academia, considera que os Australopithecinos, não são seres que evoluiu
separadamente, de nosso gênero, por causa dos fósseis do Dik–Dik, encontrados em Hadar,
(Etiópia). Ao ser comparado com a anatomia dos Australopithecinos, revela uma
proximidade ou similaridade. Porém, o H. habilis possuía características anatômicas menos
desenvoltas, comparado com seres mais desenvoltos: Homo erectus e o Homo ergaster.
“Apenas 1,0 milhão de anos separam o individuo que conhecemos como o 1470 do
Homo erectus encontrado, em 1975. O primeiro era mais definitivamente Homo,
mas faltavam–lhe características mais avançadas do Homo erectus, como, por
exemplo, cérebro maior, crânio mais arredondado, rosto mais achatado e ossos
proeminentes acima dos olhos (supercílios)” (Lekey, R & Lewin, R. 1980. P
124).
Devido aos registros geológicos onde os fósseis foram encontrados, afirma–se uma
idade para o surgimento do H. habilis, que teria convivido com o gênero Australopithecus,
num estágio de tempo entre: 2,5 e 1,5 milhões de anos. Volto a frisar que seja improvável
que o gênero Homo seja o responsável pela extinção do outro gênero. A academia concorda
que seria possível que ambos os gêneros poderia conviver dentro de um mesmo eco–
sistema, mas acreditar que tenham competido entre si, com a finalidade de obter os
melhores recursos, pode ser exagerado. Acreditamos que as estratégias de obter alimentos
eram muito diferentes. Por exemplo: o Homo habilis se mostra mais apto a ser onívoro do
que o Australopithecus robustus, boisei, sediba (generalista) e aeothipicus, que eram
tipicamente, vegetarianos. A extinção deste grupo se deu por conta de mudanças climáticas,
que se alteravam, em períodos de muita seca ou períodos glaciais, que contribuíram para
refletir tais mudanças na vegetação, alterando o habitat das criaturas especialistas,
forçando-os a se extinguir. É possível que estas pressões seletivas pudessem estimular
comportamentos sociais como a origem da fala.
Ralph Holloway, (Departamento de Antropologia da Universidade de Columbia),
dedica à reconstrução interna de cérebros de hominídeos, fazendo moldes e tentando
interpretá–lo, comparando com moldes de antropóides e de humanos. Suas conclusões são
“perturbadoras” como Leakey e Lewin sugerem, em seu livro: O povo do lago.
Observando um cérebro humano, sabe-se que possuem inúmeras áreas e uma delas seria a
área de broca onde se localiza na fronte do lado esquerdo da cabeça, esta situada o lobo
frontal (responsável pelas emoções). A área de broca coordena a fala e estruturas de
linguagem, ou seja, a sintaxe. Através deste estudo, pode–se questionar, qual seria o motivo
dos humanos serem bem sucedidos? Ainda não há resposta e não está provado
seguramente, que estes antropianos pudessem falar, com a intenção de passar experiências
aos mais novos. Sabe–se que a protolinguagem seria apenas um complemento surgido com
o Homo habilis-rudolfensis, que seria utilizado a posteriori, pelas duas espécies de Homo
sapiens (humanos e neandertais).
63
“Em suas pesquisas durante os últimos anos, Holloway, descobriu que os cérebros
de todos os hominídeos da África do Sul e da África Oriental que ele examinou tem
um padrão humano básico: nenhum é igual ao de um antropóide, incluindo o
crânio 1470, do lago Turkana, um crânio que tem cerca de 2,0 milhões de anos de
idade. Embora os moldes em gesso dos antigos hominídeos apresentam uma forma
definitivamente diferente de um antropóide, há diferenças, significativas também
entre os cérebros do Homo e do Australopithecus. Por exemplo, os lobos frontais
no Homo de 2,0 milhões de anos de idade são mais largos do que seus primos
Australopithecinos, e os lobos temporais são igualmente mais bem desenvolvidos.
Com toda certeza, há cerca de pelo menos 2,0 milhões de anos o estilo de vida do
Homo era suficientemente, distinto dos Australopithecinos, tanto assim, que ele se
refletiu num maior refinamento do cérebro básico do hominídeo em nossos
ancestrais diretos” (Leakey, R & Lewin, R. 2ª ed. 1996. P 150-151).
O fato dos lobos temporais (local em que se localiza a área de broca) do er1470 seja
mais desenvolvido do que os Australopithecinos, por sua postura ereta, era mais
aperfeiçoada. Isto leva a um aumento no tamanho do cérebro e torna a faringe mais
próspera. Por este motivo, acredita–se que esta espécie possuía um padrão de linguagem
primitiva ou protolinguagem algo que até então inédito.
“Ora o aumento da caixa craniana e a relativa diminuição da face se deram
paralelamente, a intensificação da postura ereta dos ancestrais do homem. Por
isto, o bulbo raquidiano, que une o tecido cerebral ao tecido nervoso da medula da
coluna vertebral, ficou nos seres humanos a passar verticalmente, pelo pescoço
reto, e não mais horizontalmente, como acontece com os outros animais” (In:
Antropologia: Palavra do homem. Superinteressante. P 71).
Com o aparecimento de uma locomoção ereta, foi possível ter havido um aumento
no cérebro o que possibilitou o surgimento da protolinguagem. Mas como aconteceu este
processo, há apenas teorias alternativas.
“Talvez as pressões da seleção natural tenham implantado na cabeça do Homo
primitivo a aptidão para a linguagem falada, não a ponto de um individuo poder
dizer ao outro o que estaria fazendo dentro de instantes, com relação aos assuntos
práticos da vida diária, mas de modo, que todos pudessem pensar com maior
eficiência acerca do mundo em que estavam vivendo. Poderia ser também que a
complexa operação de uma economia avançada de coleta e caça fosse impossível
sem uma serie de regras sociais que somente podiam ser elaboradas e transmitidas
através da língua falada”. (Leakey, R & Lewin, R. 2ª ed. 1996. P 178).
Algumas sugestões de R. Leakey, podem ser bem vindas. Acredito que esteja com a
razão ao afirmar que pressões seletivas (às vezes ao acaso), levaram ao Homo primitivo
com maior volume celebral, proporcionando uma face menos avantagada, capaz de iniciar
processos de proto-linguagem. Discordo quando afirma que somente a língua falada pode
criar regras sociais... Ora, os antropóides como o chimpanzé tem regras sociais, uma
hierarquia complexa e não tem uma linguagem articulada.
64
A tese da economia avançada atualmente é aceita por alguns especialistas, mas
sofrendo contestação pela Nova Arqueologia. No Brasil há equívocos, sobre o
comportamento cooperativista dos nossos ancestrais, Paulo Meksenas, autor de: Sociologia
da Educação, no capitulo: pequeno esboço da evolução do ser humano sugere que:
“A partir do momento que um grupo específico de primatas conseguiu adotar a
postura ereta, as mãos começaram a ser usadas como ferramentas para pegar e
segurar objetos” (Meksenas, P. 2002. P 17).
Esta afirmativa se baseia na tese de Lovejoy proposta em 1981, interpretada por
Stanford, como sendo equivocada, pois a razão de ficar em pé seria apenas por causa da
reprodução e da sobrevivência (na busca alimentos). Além disso, Meksenas apóia–se na
“Hipótese do fabricante de Ferramenta”, ou seja, o uso das ferramentas nos fez humano
postulado nos anos 50, por K. Oakley e Louis Leakey. Estudos dos anos 60, envolvendo os
primatas, concluiu que sabem utilizar e fabricar ferramentas usando as mãos, porém não
possuem o andar ereto, provando que o uso das mãos, para fazer ferramentas, não nos fez
humano. Meksenas sugere que nossa evolução seria guiada pela: “... Capacidade de pensar e
lutar pela superação de suas necessidades” (Meksenas. 2002. P 17). Há provas de que a
evolução seria não–linear e pontuada. I. Tattersall, paleantropólogo do Museu Americano
de História Natural, de Nova York, sugere que:
“(...) a evolução não é um processo que ocorre quando se quer. A evolução é um
processo de seleção entre variáveis, que ocorre espontaneamente, sem nenhuma
razão em potencial” (Documentário: Humano quem somos nós? A origem da
mente humana. 1999).
A evolução guiada “sem nenhuma razão em potencial” pode ser interpretado como o
fator ao acaso. R. Leakey sugere na página anterior, que “pressões da seleção natural”
poderia ter contribuído para as mutações das espécies, estimulando uma evolução. Tais
pressões podem ser interpretadas como mudanças de ambientes, isolamento e aumento das
barreiras geográficas e outros exemplos.
Meksenas acredita que houve uma cooperação mútua entre os indivíduos do grupo,
acrescentando que: “essas conquistas (utilização das mãos e a fabricação de ferramentas) se
deram dentro de um processo educativo coletivo” (Meksenas. 2002. P 18). A maioria dos
acadêmicos em paleoantropologia sugere que as origens da fabricação de ferramentas e da
protolinguagem se deram, não de forma educativa, mas ao acaso (Monod, J. 2ª ed. 1970. P
122), pela necessidade sexual e de sobrevivência (Stanford, C. 2004. P 142) e através do
comportamento social, baseando–se em estudos de símios, contido na “Hipótese da
inteligência social”, sugerindo que dentro das comunidades de primatas existe
oportunismo, parentesco e favoritismo (característica encontrada, em sociedades humanas).
Desta forma, deduzimos que nossos ancestrais também tivessem este tipo de
comportamento que qualquer membro do grupo seria capaz de fazer e desfazer alianças, de
acordo com seus interesses se mostrando ser oportunista, anulando a tese da cooperação do
processo educativo coletivo.
65
De modo algum, vejo o Homo primitivo ensinando através de sua comunicação, algo
a alguém, pois na sua linguagem primitiva, não havia os processos neurais suficientes em
seu cérebro, que daria subsídios, para que houvesse um suposto e infundado processo
educativo. Acredito que os mais jovens observavam as atividades dos mais velhos, e assim,
repetiam o mesmo processo, ocorrendo também entre os antropóides (chimpanzés, gorilas e
orangotango). Supondo que realmente houvesse um processo educativo, Paulo Meksenas
não dispõe de pesquisa detalhada, provas fósseis, testes realizados em campo ou em
laboratório e muito menos de uma bibliografia recomendável, para sugerir tal idéia.
Considero demasiadamente forçada, lamentável e tendenciosa. Sabe–se que as espécies de
H. habilis estavam muito longe deste estereótipo proposto, pois Dr. Johanson argumenta que
tais criaturas eram bastante diferentes de nós:
“Na época em que passeávamos pelo FLK de tarde, eu me tornara um crente: o
Homo habilis era um oportunista não especializado cuja rapina, mediante
ferramentas, de carcaças previamente despojadas tinha pouco a ver com o fato de
tornar-se humano” (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 329-330).
Possivelmente, existiam os ingredientes favoráveis para ter certo sucesso (um
carniceiro de andar ereto e uma área de broca mais desenvolvida, que acarretou num
surgimento da protolinguagem, aumentando as ligações de uma interdependência
complexa, sendo extinto á 1,6 milhões de anos), mas sua estatura e seu modo de viver
possuíam qualidades similares de um Australopithecino generalista, ou seja, com hábitos
necrofágicos e oportunistas. Para confirmar tal dado, Nick Toth, (Universidade de Indiana),
estudou em campo sítio 50, em Koobi Fora, e realizou pesquisas em laboratório
(microscópicas das lascas líticas), após a escavação feita por ele e pelo paleantropólogo
Glynn Isaac (1937-1985), e descobriu uma quantidade muito grande de ferramentas de
pedras datando entre 2,0 e 1,5 milhões de anos, junto de ossos quebrados de animais já
extintos (1.405 peças e 2.100 fragmentos de ossos fraturados). Ao estudar estes indícios,
Toth concluiu que o Homo primitivo não precisava ser um especialista em fabricação lítica
para ter acesso à carne e nem sempre estas ferramentas estavam sendo usadas para esta
finalidade, provando, que o uso das ferramentas, não nos fez humano.
“As características do arranjo dos ossos convida a considerar seriamente a busca
por carniça e não a caça ativa como modo predominante de aquisição de carne
vermelha” (Leakey, R. 1995. P 77).
De acordo com o modelo de Lewis Binford, (Universidade de Chicago) estudo de
meio–termo, considera que os hominídeos foram necrófagos durante boa parte de seu
período evolucionário, tentando provar tal possibilidade, começou a aplicar tal ideia, em
escavações na Europa, sugerindo para qualquer estudante que se aventure pela
paleoantropologia ou arqueologia, teria de procurar perceber as possibilidades causais nos
documentos fósseis (possíveis enchentes, ação de predadores e ações geológicas), antes de
concluir sua pesquisa em campo. Ficando atento a todas estas possibilidades exteriores e
após toda esta observação, o (a) estudante pode inserir a sua opinião.
66
Este método (apelidada de nova arqueologia) inibe o desenvolvimento do
pensamento de Richard Leakey e Glynn Isaac (1937-1985), de que os Homo primitivos,
pudessem ter uma cultura antiga de caça, desenvolvido um acampamento (home base) e os
primeiros sinais de trabalho em grupo, levando a uma partilha de alimentos e de uma
divisão social de tarefas.
O debate entre a tese da Home Base X a tese Nova Arqueologia, é muito discutida e
ambas são baseadas em interpretações e nas evidências de campo. Para se ter um completo
panorama do mundo dos Homo, recorre–se a um profundo levantamento de pistas e caso
sobreviva a este 1o exame, realiza–se um 2o exame mais detalhado no laboratório, para
confirmar as suposições feitas em campo. Sinceramente, não há um consenso para definir
um padrão ideal em campo a fim de afirmar se o Homo primitivo era necrófago ou caçador.
Assim, o antropólogo Richard Klein afirma que:
“Há tantas maneiras pelas quais os ossos podem chegar a um lugar, e tantas
coisas podem acontecer com eles, que para os hominídeos a questão do caçador
versus carniceiro pode não ser jamais resolvida” (Leakey, R. 1995. P 74).
67
2.4.2 HOMO ERECTUS, ERGASTER, ANTECESSOR E HEIDELBERGER:
O crânio do WT 15.000 ou “o menino de Turkana” da espécie do Homo ergaster
Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/15000.html
O Homo erectus, como comentado anteriormente, na história da paleoantropologia,
teve seu início conturbado. Sabemos que não teve uma imediata aceitação, por parte da
comunidade cientifica européia ao ser descoberto, no final do século XIX, por Eugene
Dubois, responsável pela nomenclatura: Pithecanthropus erectus (Homem de Trinil
capacidade cerebral de 900 a 1.000cc). Somente mais tarde, no início do século XX, (19361937), os paleoantropólogos que trabalhavam na Indonésia, haviam conseguido com
sucesso, descobrir mais dados similares ao descritos por Dubois, que serviam como
complementação do gênero deste arqueantropianos, começando a ser aceito como
hominídeo. Isto ocorreu, por que houve uma continuação dos trabalhos de Dubois em Java,
devido às escavações conduzidas por Von Koenilgswald, em Sangiran (Indonésia). Foi
encontrado: dois crânios na mesma camada, em que estavam animais já extintos; um deles
estando em melhores condições de ser analisado. Conclui–se que:
“... A posição do foramem magnum, mostrando que o orifício se abre para frente e
sugerindo que o Homo erectus era, com efeito, habitualmente ereto” (Day, M.
1975. P 105).
Tal conclusão levou aos acadêmicos, a continuar a escavar na Indonésia e desta
forma, descobriam–se novos sítios (atualmente, há três grandes sítios paleoantropológicos
no local Trinil próximo ao rio Solo, na Ilha de Java, Sangiran e Modjokerto). Em 1936, foi
encontrado o crânio de uma criança Homo erectus, de dois anos, e na localidade de
Modjokerto, foi descoberto uma grade mandíbula.
Com as evidências de campo (andar ereto e mais tarde o domínio do fogo), fizeram
com que os pesquisadores se divergissem ao comentar sobre seu comportamento. Alguns
propunham que fosse considerado como pré–humano outros acreditam que possuíam
qualidades humanas levantando muitas dúvidas a respeito deste ser enigmático:
68
“Freqüentemente, aplicou–se a estes seres o epíteto de pré–hominianos,
designação que deve ser substituída pela de arqueantropianos, que significa
membros muito antigos da família dos homens. Pois é muito difícil dizer onde
começa a humanidade e nós não sabemos o suficiente acerca destes seres para
decidir se eram pré–humanos ou humanos. Conheciam o uso do fogo e fabricavam
utensílios. O seu cérebro era cerca de duas vezes maior do que um cérebro de
gorila, mas ainda não atingia o volume do nosso. Os dentes e a face eram
igualmente intermédios”. (Gourhan–Leroi, A. 1997. P 52).
Os fósseis trazidos da Indonésia motivaram e ainda motivam pesquisas na Ásia.
Naquela época as suspeitas de que este continente era de fato o berço das origens humanas
parecia se confirmar ainda mais, quando Davison Blake, começou a examinar a região da
China, a procura de fósseis humanos em escavações feitas na caverna da Colina do Dragão,
em Choukoutien, (localidade a 47 km de Pequim) e descobriu um único dente e criou o
gênero Sinanthropus pequinesis ou “Homem de Pequim”. Entre os anos de 1927–31, as
escavações naquela área conseguiram localizar mais fragmentos fósseis: crânios (seu
cérebro possuía de 900 a 1.100cc), ossos de membros, dentes, mandíbulas e fragmentos de
cinzas, contidos nas camadas em que estes fósseis foram descobertos sugerindo que esta
criatura possuía o domínio do fogo. Esta evidência em particular, trouxe duas questões
importantes: 1a questão – o Homo erectus possuía um andar ereto mais desenvolto e 2a
questão – possuía inteligência o bastante para usar e controlar o fogo que iluminava nas
noites frias e afastava predadores noturnos, mostrando os primeiros sinais de cultura
avançada.
“Certos pré–historiadores atribuem ao Sinanthropus habilidade técnica bastante,
para fabricar instrumentos de quartzo talhado e de osso, alguns de tipo nitidamente
musteriense*, assim como a capacidade de produzir e usar o fogo, pois uma das
camadas do depósito contém, além daqueles utensílios, um montão de cinzas, que
encerra ainda pedaços de lenha mal queimada, cercado por fragmentos de ossos
esburgados, indicando terem sido, ali, assados pedaços de carne de cavalo,
bisonte, rinoceronte e outros animais, hoje desaparecidos na região” (Couto, C.P.
1953. P 403).
“O domínio do fogo constitui um avanço cultural de maior vulto para a
humanidade. Além disso, os instrumentos de pedra para corte, encontrados no sitio
(Choukoutien) eram em número suficiente para formar cultura mais adiantada do
que dos instrumentos de Oldowan conhecidos, no leito I, em Olduvai (África)”
(Day, M. 1975. P 113).
Musteriense* - nas escavações do final do século XIX e início do século XX, ocorridas em Le
Moustier (Musteriense), na França, revelam um estilo de arte de ferramentas líticas de talvez, 500
mil anos. Ao se comparar com outras ferramentas de outras localidades, descobriu–se um padrão
comum, então se concluiu que tal ferramenta, poderia ter sido usada pelos: neandertalianos e ou
Homo erectus de Java.
69
O Sinanthropus pekinensis (esquerda) e o Homo ergaster (direita) KNM er3733 Fonte:
http://www.talkorigins.org/faqs/homs/3733.html
Pela primeira vez, as evidências de campo conseguem produzir um quadro da
cultura avançada do Homo primitivo, possuindo a capacidade de cozinhar alimentos,
(Leakey, R. 1980. P 131) e ao mesmo tempo quando ou quem iniciou o uso do fogo embora
desconhecemos sua causa pode–se supor que:
“Deve haver benefícios imediatos e muito práticos no uso do fogo. Os primeiros
humanos devem ter visto incêndios se alastrarem por arbustos e florestas, a partir
de uma combustão espontânea. Uma brasa acesa, retirada de um desses incêndios,
foi, talvez a origem de um fogo de lareira. O calor e luz são dois motivos
substanciais pelos quais nossos ancestrais poderiam ter tentado controlar o fogo
para o uso próprio. Ate mesmo na África tropical as noites podem ser frias, em
especial no alto de montanhas. Ao prolongar o dia, a fogueira do acampamento
propicia um foco social impar, intensificando as interações de um animal já muito
social. Quando o Homo erectus seguiu em direção ao norte, para climas mais frios,
a necessidade de calor tornou–se mais premente” (Leakey, R &Lewin, R. 1980.
P 131).
Há vestígios (cinzas de carvão, em camadas antigas) de que o Homo erectus soubesse
ter um domínio do fogo e há evidencias disto, tanto na China, como na França (em
Marselha e na costa do Canal da Mancha). Indicando possíveis fogueiras, jazendo com
ossos chamuscados, alguns cientitas acreditam que Homo primitivo poderia demonstrar os
primeiros sinais de caça, porém não provando que o teria caçado ou coletado carne morta e
assando algumas de suas partes (tese defendida por Binford, 1981), ou poderia ainda ter se
tornado um caçador (tese defendida por Howell, 1969). No momento, uma determinada
parte da comunidade científica aceita a tese de Binford.
O uso e domínio do fogo, talvez trouxessem a comunidade de Homo erectus, uma
maior integração social. Alguns pesquisadores acreditam que estes indivíduos poderiam
pertencer a grupos maiores do que os Australopithecinos, somando um total de até de 90
membros. Nas décadas de 30 a 50, as evidências da Indonésia (Pithecanthropus erectus – 1,0
milhões de anos), somadas as da China (Sinanthropus pequinesis – 800 mil anos) e com as
novas provas da África (Atlanthropus mauritancius e o Telanthopus ambos de 500.000 anos,
descoberto na Marrocos e Tanzânia), fizeram com que os cientistas, acreditassem que estas
criaturas deveriam ter evoluído na Ásia e migrado para a África e Europa.
70
“Até que os crânios de Homo erectus fossem descobertos em Koobi Fora, ninguém
podia estar absolutamente certo de que essa espécie de pré–humano se
desenvolvera na África. Sempre ressaltava a possibilidade de que os erectus
tivessem nascido em algum lugar, provavelmente de um hominídeo mais primitivo
que migrara da África ou hereticamente! De um hominídeo que tivera suas origens
fora do continente africano. Um dos crânios do Homo erectus de Koobi Fora
(KNM er3733) é de cerca de 1,5 milhões de anos (os outros dois são pouco mais
jovens) e surpreendentemente, é muito semelhante ao Homo erectus que viveu na
China quase um milhão de anos mais tarde, o Homem de Pequim” (Leakey, R &
Lewin, R. 2a ed. 1996. P 74).
O fóssil do “Homem de Pequim” desapareceu, na época em que o Japão invadiu a
China, durante a 2a Guerra Mundial (1939–1945). Atualmente, o que existe, são réplicas do
fóssil original. Mesmo com esta perda, a ciência paleoantropológica possuía outros
fragmentos fósseis para estudar vindos da África descobertos na década de 70 (KNM
er3733) revelando uma idade mais antiga do que as encontradas na Ásia. Em 1994, o Dr. C.
C. Swisher realizou uma datação absoluta através de argônio-argônio nos sítios de
escavação de hominídeos de Java, revelando serem bastante antigas, girando em torno de
1,81-1,66 milhões e mesmo apresentando uma idade elevada, a África ainda é o local citado
pela maioria dos paleoantropólogos, como o berço evolucionário do Homo ergaster-erectus.
Nos anos 70 e 80 houve uma inversão do local onde se originou o Homo eregaster-erectus,
passando para África o endereço de nossa origem. Com isto, acredita–se que este espécime
migrava com maior freqüência se comparado com os Australopithecinos, saindo da África
chegando a até Java, levando consigo, seus principais utensílios (domínio do fogo, uma
nova atitude social (caça?).
“Por certo não era a estabilidade das condições climáticas que animava as
populações ancestrais a se encaminharem para o norte. Na verdade, nessa época o
mundo experimentava um dos mais turbulentos períodos da sua historia climática,
marcado por freqüentes avanços e recuos da grande cobertura de gelo do norte.
Sem duvida, os bandos de Homo erectus aproveitavam–se de todas as
oportunidades favoráveis oferecidas pelo ambiente, mas a razão fundamental para
seu sucesso em sua andança pelo mundo estava dentro deles mesmo e não fora”
(Leakey, R & Lewin, R. 1980. P 120).
Em 1975, a equipe de R. Leakey descobriu o Homo ergaster ou erectus KNM er992
(mandíbula) e o KNM er3733 (crânio), no Lago Turkana. Mais tarde, em 1984, novamente,
a equipe de Leakey, encontraria resquícios de um adolescente Homo ergaster-erectus
(provavelmente entre: 9 a 11 anos), apelidado de: “Menino de Turkana” ou “Garoto de
Nariokotome” (KNM WT 15.000), com o esqueleto 100% completo, sendo o primeiro da
espécie: Homo ergaster-erectus tendo uma idade em torno de 1,6 milhões de anos. A partir
deste esqueleto (1,62m de altura), pode pesquisar o crânio, coluna vertebral, costelas,
dentes, mandíbulas e em outras partes do corpo.
71
Alan Walker estudou sobre a área de broca (local do cérebro em que se coordena a
fala) e concluiu que o H. erectus poderia ter uma linguagem similar a uma criança humana
de 03 a 05 anos, ou seja, sua comunicação ainda era bastante primitiva. Em compensação,
sua coordenação motora, se comparado aos Australopithecinos, era mais ágil, mais
desenvolto e flexível. Para um menino entre 9 a 11 anos e em sua fase adulta podendo
chegar a quase 1,8 a 2,0 m. Analisando parte de seu corpo, observa–se que os ossos da
coluna sofreram um possível traumatismo sugindo que o modus vivendi era ativo.
Alan Walker, um dos anatomistas da equipe de Richard Leakey, que ajudou na
escavação em 1984, ficou impressionado com suas pernas longas e ao analisar sua altura,
comparando com o nosso fêmur, sugere que o hominídeo era bastante alto, ultrapassando
média ortodoxamente traçada:
“Nós estávamos em campo escavando, quando retiramos o fêmur, o osso da coxa,
nós percebemos que este menino é muito grande, muito alto, apesar da fase de
crescimento, as pernas eram muito longas, se eu for compara com minha perna, eu
tenho 1,8 M, se percebe quanto este menino era alto aos 12 anos de idade”
(Documentário: The Human Journey: in search of human origins. 1999).
Ao comparar os esqueletos de Homo erectus com o esqueleto de Lucy, pode–se
concluir que os braços e pernas do erectus são mais longos, robustos e compridos parecendo
com um velocista olímpico ao contrário das pernas e braços de Lucy que parecem pequenos
e frágeis. As costelas de Lucy são similares as um chimpanzé em forma cônica: pequeno em
cima e grande embaixo e por isto acredita–se que suas vísceras eram grandes para digerir as
proteínas dos vegetais, raízes e tubérculos. Ao contrário das costelas do “Menino de
Turkana”, que é mais esbelta similar a do humano moderno, em forma de barril com
vísceras menores, devido sua alimentação a base de carne. Um fato interessante ao analisar
os ossos fraturados do menino (coluna vertebral), pode–se sugerir que havia sofrido
traumas muito fortes produzidos, talvez por alguma queda brusca durante suas diversas
atividades.
O esqueleto do KNM WT 15.000 (esquerda) e o de Lucy (Direita)
Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/15000.html e
http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/images/lucy_iho.jpg
72
O Homo antecessor de Gran Dolina, em Atapuerca
Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/atapuerca5.jpg
O Homo erectus (Homo eregaster – KNM WT 15.000, KNM er3733, KNM er992,
Sinanthropus pekinensis, Pithecanthropus erectus); tradicionalmente, começaram a sua jornada
evolutiva a cerca de mais ou menos 2,0 milhões de anos, na África e se espalhou pelo
mundo, aparecendo na Ásia (1,75 milhões de anos – de acordo com as evidências de seis
indivíduos, descobertos em 2002, em Dmanisi, Geórgia e datações dos sítios de escavação
de H. erectus indonésio de 1,81 milhões de anos) e na Europa, a cerca de 800.000 e 600.000
anos (Espanha – Torralba e Atapuerca e na Alemanha – Mauer).
O primeiro fragmento descoberto de um Homo erectus europeu foi encontrado em
Mauer, próximo da localidade de Heidelberger (Alemanha), em 1908, por Schoetensack,
recebendo o nome de Homo Heidelbergensis consistindo, em um único exemplar; uma
mandíbula que parece menos robusta, do que a mandíbula do Homem de Pequim e
provavelmente, tinham idades similares. Ao analisar a anatomia da mandíbula do Homo
Heidelbergensis, nota–se que soma características antigas e modernas, pois sua mandíbula é
grande e robusta, mas os dentes são bem evoluídos (Day, M. 1975. P 118). Durante muito
tempo, esta criatura permaneceu um mistério, pois havia poucos fragmentos e incompletos,
o que limita as pesquisas (Swanscombe, na Inglaterra, Broken Hill, na Zâmbia e
Fontechevade, na França).
No final do século XX (1970–90), foram descobertos mais vestígios: nove lanças de
madeira de mais de 500 mil de anos (Schoningan), habitações de ossos de mamute,
(Bilzingsleben), ambos encontrados na Alemanha, grandes pedras de sílex, encontradas, em
Boxgrove (Inglaterra) e crânio de Petralona (Grécia) com um cérebro de 1250cc (Doc.
Discovery Channel: Dawn of Man–episódio 04: Love. 2000). Em Gran Dolina, em
Atapuerca, (Espanha), foram encontrados 32 indivíduos (homens, mulheres e crianças) que
habitavam a caverna de Sima de los Huesos e através dos estudos feitos por Juan L.
Arsuaga, Jose M. Bermúdez de Castro, classifica de Homo antecessor em estágio transitório
(divisor) entre o Homo erectus africano e o Homo heidelbergensis, que originou a nossa
espécie (http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/antecessor.html).
Há autores que têm dúvidas a respeito do Homo antecessor, pois sua definição foi
baseada num exemplar juvenil. Há outros que preferem somá–lo a espécie do Homo
heidelbergensis. Ian Tattersall, (Museu de História Natural de Nova York), argumenta que o
Homo antecessor é um membro arcaico da nossa espécie Homo sapeins, colocando–o em sua
arvore genealógica (Tattersall, I. 1998. P 185).
73
Tanto os crânios de Gran Dolina e o crânio de Ceprano (Itália), representam uma
transição entre Homo erectus e heidelbergensis. Stringer concorda com a tese de Arsuaga,
sugerindo que os crânios de neandertalianos estavam ficando com passar do tempo, mais
similares aos seus antepassados (antecessor e heidelbergensis). Por outro lado, fora da
Europa, o crânio do Marrocos (Jebel Ighoud) tem uma anatomia mais similar aos homens
modernos, sendo ancestral do crânio de Broken Hill (300 mil anos), Bodo (600 mil anos) e
Sole (350 mil anos), representantes dos heidelbergenesianos, que migraram para África e
evoluindo para o homem moderno, por volta 200 mil anos, através do espécime chamado
de Homo rhodesiensis (Stringer, C. Nature. 2003. P 692). Abaixo a filogenia humana, a
partir do Homo ergaster e antecessor, segundo a tese de Christopher Stringer.
FIGURA 8.
Homo ergaster (er3733 e o “Menino de Turkana”)
Homo antecessor (Atapuerca)
Homo erectus (modelos da Ásia–Sarigan)
H. heidelbergensis (Mauer, Swanscombe e Petralona)
Homo floresiensis (Indonésia)
H. heidelbergensis africano (Broken Hill, Sole, Bodo) neandethalianos (Kaprina)
Homo sapiens sapiens (Florisbad, Klasies, Qafzeh, Taramsa e Madleč)
Fonte: Stringer, C. Modern Human Origins. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B. P 566. 2002.
Houve um aprefeiçoamento de nossa parte
As pesquisas feitas por Juan L. Arsuaga, Jose M. Bermúdez de Castro, em Gran
Dolina (Espanha), revelam um quadro geral dos modus vivendi do Homo antecessor sua
capacidade cerebral de talvez 1.250cc, viviam em acampamentos e cavernas há 780 mil
anos, num estilo de vida ora sedentário, ora nômade; seus ossos eram robustos e andavam
eretos; alimentavam–se de animais pré–históricos já extintos como bisões, ursos da
caverna, leopardos e mamutes. Até agora testes realizados em laboratórios demonstram que
os ossos de animais deixados em cavernas por estes indivíduos, confirmam que poderiam
ter sido caçadores, pois há marcas de corte de sílex na superfície das ossadas dos animais
extintos, demonstrando que carne fora retirada em fatias, antes qualquer carnívoro, pudesse
ter se apoderado dela primeiro. Assim sendo, o Homo erectus no início de sua jornada
evolutiva (2,0 milhões de anos), poderia ter se comportado como um carniceiro e que mais
tarde (800.000 anos) tornava–se um caçador, de acordo com testes em laboratório.
74
“Durante 2,0 milhões de anos os homens eram carniceiros, e a partir do
helldelbergensis, os homens deixaram de ser caçados, e se tornaram grandes
caçadores” (Documentário: Dawn of Man–episódio 04: Love. 2000).
Esta mudança de comportamento aliado às mudanças do clima (a Europa se
encontrava em constantes alternâncias de clima, ora quente, ora frio) e o domínio que
possuíam sobre o fogo, poderiam ter sido o influenciador para esse H. erectus europeu
caçar.
Segundo Leslie C. Aiello, paleoantropóloga do University College (Londres) e
consultora da série da BBC: Dawn of Man (2000) acredita que o Homo heidelbergensis
possuía uma forma de interrelação complexa entre os membros da comunidade, baseandose em laços familiares provocando formas de sentimentos: empatia, amor, e luto. Leslie C.
Aiello, argumentou que por possuir um cérebro grande, presupõe que a primeira dentição
(1o molar) das crianças começava a surgir aos cinco anos de idade (existe uma relação entre
o tamanho do cérebro e a faixa de crescimento da criança, por exemplo: nos chimpanzés os
dentes aparecem aos três anos de idade, pois seus cérebros são menores, comparado com os
humanos arcaicos e modernos). A existência de uma dentição menos resistente obrigava
que alguém do grupo pudesse cuidar dos pequeninos até os dentes permanentes surgissem.
Além disto havia outros motivos que levou Aiello a esta conclusão: evidências de
habitações, caça e capacidade craniana muito próxima a nossa. Por outro lado, não há como
saber se tais criaturas possuíssem emoções afetivas porque os sentimentos não se fossilizam
e não há registros fósseis de que algum individuo demonstre isto em um ritual-velório. Os
esqueletos e fragmentos encontrados deste espécime demonstram que ao invés de serem
homenageados, eram abandonados no fundo de cavernas onde viviam (é o caso de Gran
Dolina). Positivamente, o Homo erectus e heidelberguensis não eram como nós. Seu modo de
vida e a sua linguagem eram primitivos e provavelmente, seus sentimentos não seriam
como o nosso. Levando em consideração os estudos de Owen Lovejoy, anatomista
americano, muitas vezes já citado neste texto, argumenta que a evolução do Homo fez com
que seu cérebro aumentasse de tamanho, assim o crânio perdeu a face pretuberante e os
membros do corpo, acompanharam este avanço. O que isto sugere? O Homo primitivo, não
teria muitas dificuldades para se adaptar ao meio-ambiente, pois sua cavidade cerebral é
maior do que qualquer Australopithecino e além disso poderia ter possuído formas de
relações sociais mais complexas entre os membros do grupo, o que provavelmente,
acarretou na origem de uma linguagem primitiva. Richard Leakey propõe que o processo de
humanização iniciou quando Homo primitivo desenvolveu o andar ereto de maneira mais
flexível, possibilitando esta espécie em começar a carregar e estocar os seus alimentos para
uma Home base ou acampamento criando assim, o que se chama de economia mista que era
baseada na cooperação mutua (altruísmo recíproco) e na divisão social de caça e coleta.
Através da cooperação ocorre a partilha dos alimentos e o início do processo da
protolinguagem e por outro lado não há como afirmar, se ocorreu esta cooperação mutua,
entre os membros da comunidade:
75
“Nunca saberemos exatamente quando o altruísmo puro se tornou possível. Talvez
ele surgido quase ao mesmo tempo em que o cérebro humano se tornava capaz de
gerar uma consciência própria, verdadeiramente humana, uma qualidade que
também carregou uma compreensão do significado da morte. Somente com um
ritual de enterro com flores ou outros objetos é que podemos ter a esperança de
conseguir uma rápida incursão na mente dos nossos ancestrais” (Leakey, R &
Lewin, R. 2a ed. 1996. P 144).
Parte da tese da Home Base parece ter sentido, quando se analisa o modo de vida do
Homo antecessor e heildelbergensis (a existência de um acampamento e caça na Alemanha e
em Atapuerca) e no tocante ao altruísmo, faltam provas de campo, para certificar tal
indício. Tal processo, não tem comprovações seguras nos sítios, tornando pouco provável
que os arqueantropianos, possuíssem tais sentimentos. Para comprovar isto seria preciso
encontrar alguma sepultura, porém até o momento nenhuma foi descoberta. Na maioria das
vezes, os fósseis descobertos confirmam que teriam sido abandonados nos afloramentos ou
invés de serem enterrados. Existem alguns autores que acreditam que o Homo erectus
pudessem ter tido práticas de canibalismo ritual (existência de sentimentos simbólicos), isto
é, podendo ter adquirido de alguma forma, religião primitiva que o fizesse se comportar
desta maneira. Os fósseis encontrados na China demonstram que o canibalismo era prática
comum, mas o ritualismo ficaria difícil de provar:
“Podemos voltar mais uns 200 mil anos até as cavernas de Choukoutein, na China,
para encontrar o que, no momento, representa a mais antiga indicação de ritual.
Nesta região, há meio milhão de anos, um grupo dos nossos ancestrais comeu os
miolos de alguns dos seus companheiros. Sabemos que a ocasião não era uma
refeição comum, pois os participantes se deram ao trabalho de alargar o buraco
que conduz ao fundo do crânio. Comparado com simples estralhaçamento de
crânio para sorver os miolos, esta é uma maneira entediante de se conseguir uma
a
refeição. Ao que parece tratava–se de um ritual” (Leaky, R & Lewin, R. 2 ed.
1996. P 161).
A revista Superinteressante (Agosto de 2003. N° 191), publicou uma matéria sobre
a questão do canibalismo, demonstrando que tal feito era comum nas antigas fontes
históricas e inclusive entre nossos ancestrais, pois segundo a reportagem alguns ossos
escavados na Espanha, em Gran Dolina (os ossos foram encontrados junto a ossadas de
animais extintos, que também foram devorados) sendo datados aproximadamente de 800
mil anos, sugerem a ocorrência de canibalismo mas, não há como sugerir que ocorrera
também, algum tipo de ritual, pois não há provas seguras para confirmar. É provável que se
tenha causas para a ocorrência deste tipo de prática na pré–história e a mais aceita seria o
fato, de que no inverno glacial sendo muito rigoroso, poderia trazer uma escassez de
recursos (alimentos). Aqueles que faleciam, serviam de alimentos ao resto da tribo. Desta
forma, prova–se que tal ação poderia ter um caráter mais alimentício que ritualístico.
76
Há indícios de que os arqueantropianos da China e da Europa, realizavam tal
atividade. Porém, as provas de canibalismo vindo da África são escassas e o ambiente
africano é bem mais adverso que nas outras regiões e mesmo vivendo num mundo instável,
como o continente africano, acredita–se que lá teria mais oportunidades alimentares para
nossos ancestrais, do que localidades mais frias (Europa). Somos céticos, no que diz
respeito ao canibalismo ritual do Homo erectus, mas adeptos ao analisarmos que o meio–
ambiente (chuvas tempestuosas e clima alterados subitamente) poderia ter diminuído as
alternativas de alimentos, aumentando uma motivação de prática canibal.
André Leroi–Gourhan, arqueólogo francês, também é cético e propõe que houvera
em algum momento no paleolítico inferior (2.000.000–120.000 anos), indícios de ritos de
caráter canibalístico, proposto por R. Leakey, acrescentando que as provas existentes são
indemonstráveis (Leroi–Gourhan, A. 1995. P 57).
“A questão do canibalismo não está complemente resolvida: alguns fatos provam
que ele existiu sem dúvida nalguns locais, mas a demonstração do seu caráter
religioso é ilusória, a menos que se descubram, um dia, documentos
verdadeiramente comprovativos” (Leroi–Gourhan, A 1995. P 59).
Para Leroi–Gourhan o que seriam “documentos verdadeiramente comprovativos?”
São vestígios encontrados próximos das ossadas devoradas e não marcas deixadas pela
demonstração do banquete, mas sim as formas pelas quais as ossadas foram deixadas. Caso
o paleoantropólogo encontre ossos de hominídeos, indicando terem sido devorados, não
quer dizer, que houve um rito canibalística, mas caso encontre junto destas ossadas, sinais
de comportamento ritual como: ornamentos, pingentes, colares de osso, chifre de animal,
ocre vermelhado, sendo colocada de maneira mais chamativa, indicando algum sentimento
de perda e/ou a crença de vida além túmulo, representando que o cadáver poderia ter sido
enterrado com práticas religiosas.
Porém, os arqueantropianos da China e da Europa indicam um provável abandono,
após serem devorados. Na maioria dos casos, a questão do canibalismo ritual pode ser
baseada na interpretação do paleoantropólogo, no momento em que ocorre a escavação
cientifica (todo o trabalho de campo que requer remoção da terra é uma destruição, portanto
a interpretação, dos achados é importantíssima). Para André Leroi–Gourhan, criador de um
método arqueológico aconselha que a chave de entender os arquivos pré–históricos é a
prudência (Leroi–Gourhan, A 1987. P 20).
“Para ler um manuscrito antigo é preciso lê–lo lentamente, página a página,
instalá–se diante de cada uma das folhas e, sem pressas, procurar compreender o
texto difícil que se tem sob os olhos. O princípio das escavações pré–históricas é o
mesmo. É preciso por à descoberto, a primeira camada tanto quanto possível, sem
nada deslocar. Quando abrimos diante de nós essa grande página de terra com
tudo o que ela contém, é preciso anotar, fotografar, desenhar, tentar compreender
tudo o que se vê. Cada grão de terra, cada bocado de carvão, cada pedaço de
pedra informe, contam tanto como as mais belas pontas de sílex talhado” (Leroi–
Gourhan, A 1987. P 22).
77
Podemos concluir o debate sobre o canibalismo ritual, as provas de canibalismo
ocorridas seriam mais provenientes da Euro-Ásia, do que na África paleolítica, mesmo
tendo indicações de canibalismo, não há como comprovar a existência ritualística, ou de
sentimentos introspectivos. Assim sendo, por mais que o trabalho de campo seja realizado
de forma metódica, obedecendo a critérios bem definidos, ficaria ainda difícil de indicar a
existência de ritualismo, em esqueletos humanos de hominídeos que foram devorados.
O H. erectus realizando canibalismo não–ritualístico Fonte:
http://www.geocities.com/palaeoanthropology/timeline.html
O Homo heidelberguensis caçando Fonte:
http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/tv_radio/wwcavemen/cavemen7_1.shtml
78
2.4.2.1 AS OUTRAS MIGRAÇÕES DO HOMO ERECTUS?
O Homo erectus se mostra uma espécie 1o habilidosa (devido mudanças de arte
predominadas, como: olduvaiana e desenvolveu a arte achaulense, na África); 2o versátil
(devido o uso e o domínio do fogo, possibilitando avanços na sua sociedade, como início da
caça e desenvolvimento na protolinguagem) e 3o flexível (devido suas migrações para fora
do continente africano, sua maneira de vida nômade, contribuiu para que saísse e voltasse
para à África). Os motivos de migrar são desconhecidos: há aqueles que acreditam que as
súbitas mudanças climáticas fizeram com que se deslocassem, às manadas e seus
predadores ou até casos de epidemias, sem comprovar, seguramente; há uma teoria que
convence a maioria dos pesquisadores, pois sendo carniceiros oportunistas, os inúmeros
rebanhos de ovinos, eqüinos, bovinos migram anualmente, e quase sempre acompanhados
pelos predadores (leopardo, leões) e chacais (lobos e hienas) e assim nossos ancestrais
também seguiam ambas as manadas. Além de conviverem, com estes animais, acredita–se
que conviveram com as duas espécies de Homo habilis (er1470 e o er1813), os
Australopithecus boisei e sediba há 1,8 milhões de anos.
Sem dúvida, o Homo erectus foi o primeiro ancestral humano a deixar a África,
percorrendo a pé, uma distância de mais de 2.000 km entre a Tanzânia e Java e anos mais
tarde chegava à Europa e China. Fazendo esta jornada da África até o velho mundo
passando pelo Vale da Grande Fenda ou Vale de Rift, que é uma falha geológica de grande
extensão (Quênia a Etiópia), acredita–se que esta deveria ser a rota, pois deixaram pelo
caminho seus objetos e suas ossadas, abrigando a maioria dos principais sítios
paleoantropológicos de Homo e Australopithecus (Omo e Hardar, na Etiópia e FLK–Frida
Leakey Korongo, Laetoli, Koobi Fora, Garganta de Olduvai, KBS–Kay Behrensmeyer Site
e o Lago Turkana, ambos na Tanzânia e Quênia). O processo de migração não ocorreu da
noite para o dia e sim de maneira lenta, numa vigem de curta geração. Se os grupos
caminhassem da África, apenas 1 km por dia, poderia chegar ao destino, em Java, em
menos de 150 anos. Dessa forma, os nossos ancestrais começaram a colonizar novos nichos
como Ásia e Europa.
A descoberta do Homo georgicus feita na Geórgia, (antiga república da URSS)
segundo a National Geographic N° 28 de Agosto de 2002, uma escavação realizada no ano
2001, próxima das ruínas da aldeia medieval de Dmanisi, foi descoberto pela equipe do
paleoantropólogo, David Lordkipanidze, seis (6) indivíduos (três mandíbulas e três crânios)
que são adversos das espécies africanas pesquisadas e suas datas são aproximadamente de
1,75 milhões de anos, possivelmente podendo ser adequado ao grupo dos Homo erectus, mas
existem caracteres de primitivismo nas criaturas encontradas como: possuir um crânio não
chegando à metade de homem moderno e tendo um cérebro pequeno. Em compensação,
imaginava–se que o gênero Homo teria saído da África a cerca de apenas 1,0 milhões de
anos.
“Os bandos de nossos ancestrais, Homo erectus, que por volta de 1 milhão de anos
atrás adentraram a estreita faixa de terra árida que liga o continente da África com
a Ásia, estavam na vanguarda da suprema dominação da humanidade sobre a
Terra” (Leakey, R & Lewin, R.1980. P 120).
79
O que assusta de fato é a idade em que se imaginava que o Homo erectus teria
chegado à Ásia, recuando muito mais para o passado. Na década de 70 pensava-se que este
continente teve como início de sua ocupação por volta de 1,0 milhão, porém há presença de
hominídeos no local a cerca de 1,75 milhões de anos e datações em sítios de hominídeos de
Java (Indonésia) que foram datados em 1994, revelando-se antigos, tendo por volta de 1,811,66 milhões de anos. Tais criaturas possuíam traços primitivos e pouco semelhantes com
as criaturas encontradas nos principais sítios africanos. A descoberta ainda é recente para
avaliar seu impacto na sociedade acadêmica, mas caso seja comprovado e aceito pelos
paleoantropólogos influentes, a filogenia humana teria que novamente ser reescrita para
poder encaixar os novos hominídeos. “Esses hominídeos são mais primitivos do que
imaginamos. Estamos diante de um novo enigma”. (National Geographic. Ago. 2002. P. 2728).
Com este novo achado, acredita–se que o 1o êxodo humano ocorreu por volta de 2,0
milhões de anos (período que iniciou sua evolução). Os indivíduos encontrados constituem
em sua maioria parte da cabeça e não foi encontrado nenhum osso de membros (fêmur,
pélvis, ossos da coluna, ossos do pé, ossos do braço) para ser estudado e servir de
comparação, com os ossos do “Menino de Turkana” (KNM WT 15.000). As pesquisas no
local, ainda estão em andamento e podem confirmar, no futuro, mais detalhes sobre esta
criatura.
Outra informação sobre a migração desta espécie foi divulgada pela revista
Superinteressante (Supernotícias. Ano 12. N° 05–Maio de 1998) trazendo uma reportagem
sobre uma nova e surpreendente descoberta da pedra lascada datada de 800.000 anos, na
Ilha das Flores (Indonésia). Estes vestígios, parecem tido sido feitos pelos Homo erectus ou
por outro ser. M. Morwood (Universidade da Nova Inglaterra, Austrália), encarregado das
escavações no local, sugere que estes instrumentos deveriam ter sido transportadas através
de jangadas ou de botes, pois esta ilha sempre esteve separada por terra, numa extensão de
20 km. A ideia é interessante, mas sinceramente não apresenta sustentação, pois como R.
Leakey já comentou, houve inúmeros avanços e recuo do gelo, ao longo de milhares de
anos e isto poderia fazer com que houvesse no passado, uma ponte de terra, que permitisse
a caminhada deste ser até a Ilha das Flores.
O problema desta reportagem seria o fato de não aprofundar muito o assunto,
deixando de fora os detalhes importantes como: geológicos da região e paleo–climáticos
que seriam cruciais, para compreensão da pesquisa. A falta destes detalhes compromete a
pesquisa em si e acaba colocando em evidência, o seu merecido crédito. O pouco enfoque
de dados, nesta reportagem, faz com que os acadêmicos desta ciência, refutassem tais
sugestões.
A reportagem não esclareceu se o Homo erectus produziu jangadas, pois grande parte
da madeira, não consegue sobreviver à fossilização ou não consegue ser preservada
(obviamente há raríssimas exceções). Não acreditamos na possibilidade do Homo erectus
navegar pelos oceanos. Não porque essa criatura tinha pouca inteligência, mas o problema
seria quais as corretes marítimas da região. Sabe-se que os Homo erectus são onívoros e até
agora não há provas de campo, que comprove que sua alimentação consistisse em frutos
marinhos, moluscos, baleias e peixes. Pode ser até que tivessem a capacidade de construir
jangadas, mas não há provas disto no momento.
80
Outra migração do Homo erectus estudada pela Drª. Maria Beltrão, arqueóloga do
Museu Nacional investiga a região de Central-BA (Toca da Esperança e o Sítio de
Itaboraí), e suspeita como é que tal hominídeo poderia ter chegado ao Brasil. Com suas
pesquisas elabordas lançou em 2000, uma síntese geral de suas atividades no livro: Ensaio
de Arqueologia uma abordagem transdisciplinar, sugerindo que:
“A evidência circunstancial atual indica que a presença dos hominidas é
comprovada numa larga faixa ao longo da linha do Equador, na Eurásia e na
África, revelando sua grande dispersão. Em segundo lugar há evidências indicando
traços culturais (vestes, fogo) que teriam permitido ao Homo erectus se estabelecer
em regiões temperadas, apesar dos invernos rigorosos. Por que, então não poderia
o Homo erectus seguir os mamíferos pela ponte de Bering, mesmo durante as
glaciações? Levanta–se aqui uma objeção: Por que, neste caso, não se acham
vestígios do Homo erectus na América do Norte? A exceção é o sítio de Cálico, na
Califórnia, datado pelo método da série U (urânio), em 200 mil anos, que, embora
contenha artefatos líticos, não apresenta a mesma constelação de evidências que o
sítio Toca da Esperança aqui escolhido como paradigma” (Beltrão, M. 2000. P
04).
As camadas de terras extraídas durante o trabalho arqueológico foram datadas em
inúmeros laboratórios, chegando a um período entre: 22 mil–295 mil anos. Na Toca da
Esperança–BA, local de suas escavações, fora desenterrados por Beltrão e sua equipe, num
antigo afloramento (camada IV – datada de 295 mil anos), indícios que poderiam sugerir
uma possível ação hominídea, na região: ferramentas líticas quartzito e tal matéria–prima
não era encontrada na região. Foi descoberto um furador feito de osso, com a finalidade de
ser usado para costura, ossos quebrados nas diáfises, propondo que alguém poderia ter
fraturado com objetivo de se alimentar do nutriente tutano, vestígios de fogueira e restos de
uma fauna pleistocênica (felino de sabre, tatu gigante preguiça gigante), que teriam sido
trazidos com o objetivo de serem descarnados, pois as depressões e falhas geológicas do
local, não permitiam que a quantidade de animais descobertos pudesse se deslocar para lá,
sendo interpretado, como uma ação humana.
Suas sugestões são vista, pela Academia Brasileira de Arqueologia, com ceticismo,
declarando que as provas tidas como cruciais, pela doutora Maria Beltrão e sua equipe, são
triviais e os objetos móveis da Toca da Esperança foram mal interpretados. Inúmeros
arqueólogos discordam da tese da pesquisadora. O arqueólogo Pedro P. Funari, em 2002,
lançou junto com Francisco S. Noelli, a obra Pré–História do Brasil, com o objetivo de
divulgar os trabalhos arqueológicos no Brasil, sugerindo que em arqueologia, para que haja
uma confirmação catedrática este deve ser convencido da presença do Homo erectus no país
ou na América e haver uma coletânea de informações trazidas de diversos sítios para ocorra
uma comparação com os materiais descobertos. Maria Beltrão reconhece que o sítio de
Cálico (USA) e o sítio da Toca da Esperança possuem poucas correlações e em ambos são
ainda escassos em materiais. Acredito que a polêmica do primeiro habitante das Américas
prosseguirá em debates homéricos sendo abordado no capítulo seguinte:
81
“Os três argumentos citados (artefatos líticos, uma fauna ter chegado à gruta com
difícil acesso, alguns líticos serem produzidos por quartzito, matéria–prima que
não de encontra na região) são inquestionáveis e foram, efetivamente, postos em
dúvida por outros estudiosos. O que são líticos para Beltrão e sua equipe são vistos
como simples pedras por outros arqueólogos. A presença de quartzito e de animais
argumenta–se, poderia se explicar, também por fatores naturais, já que os blocos
de quartzito podem ter sido transportados para o local pelos condutos calcários
depois da erosão da cobertura e ossos podem ter chegado transportados por
condutos a partir de outra entrada ou ter sido trazidos por tigres dentes–de-sabre.
A grande maioria dos pesquisadores ainda não leva muito a sério a possibilidade
de um homem pré–sapiens na América e isso por dois motivos: em 1o lugar – pela
falta de dados concretos. Apenas a publicação de novas evidências, provenientes
de diversos sítios, com informações muito claras, permitiria determinar com mais
consistência a presença de vestígios de primatas antigos no continente americano”
(Funari, P.P Abreu & Noelli, F.S. 2000. P 28).
A Academia Brasileira de Arqueologia, não está convencida de que o Homo erectus
pudesse migrar para as Américas devido a escassez de provas dificultando tal
comprovação. Pessoalmente o debate sobre esta questão tende a permanecer como está, a
não ser que se encontre, segundo Leroi–Gourhan, “documentos verdadeiramente
comprovativos” de uma possível estada na América, fazendo com que ocorra um novo
caminho ou um descaminho teórico.
Se não há consenso dos cientistas a cerca das provas de existência de Homo erectus
no Brasil, existe a possibilidade dessa espécie em particular ter originado uma forma anã do
Homo erectus descoberto na região da Indonésia, na caverna de Liang Bua, na Ilha de
Flores, em 2003. O fóssil foi apelidado de Hobbit, pela equipe do Dr. Michael J. Morwood
e Peter Brown por se tratar de uma criatura pequena citada no livro Senhor dos Anéis, de
J.R.R. Tolkien O Homo floresiensis possuía apenas 1 metro de altura, era bípede ereto e com
uma cavidade cerebral entre 380-417cc.
O Hobbit ou Homo floresiensis possuía um cérebro do tamanho de um chimpanzé ou
de um Australopithecus. Apesar de estar abaixo do rubicão de Keith (700cc), existem
evidências de ter utilizado ferramentas de pedra. O hobbit não pode ser considerado nova
espécie evolutiva e sim um descaminho ou um caminho em direção a uma forma diminuta
do Homo erectus. A explicação para a forma anã de H. erectus seria que uma vez isolado na
ilha das Flores (Indonésia), sendo pequeno e isolado do resto do continente, uma vez
confinado e adaptado aos recursos limitados disponíveis, a evolução iniciou um processo de
nanismo. Outra prova de nanismo foi descoberta pelos pesquisadores que depararam com
um minúsculo elefante (Stegodon florensis) de 1,1m de altura vivendo na ilha.
Casos de nanismo na evolução biológica são comuns e é bem documentada na
paleontologia como no fim do século XIX e início do século XX, paleontólogos
descobriram ossadas de elefantes anões, vivendo nas ilhas mediterrânicas (Sícilia, Creta,
Malta e Sardenha) e nas ilhas da Califórnia (EUA), durante o Pleistoceno, uma destas
criaturas era Elephas falconeri, descoberto por George Busk.
82
Este animal em sua fase adulta seria do tamanho de um bebê do elefante africano e o
motivo de haver nanismo entre elefantes, seria explicado pelo isolamento insular e também
por que no local, o alimento disponível era limitado, além de não haver grandes predadores.
O paleontólogo anglo-russo Busk concluiu que esses elefantes pré-históricos do
Mediterrâneo sofriam de nanismo deduzindo que os mesmos processos biológicos
poderiam ter ocorrido com o Stegodon florensis e com o Hobbit da Ilha das Flores.
Além destas informações, Morwood, Brown e colaboradores também descobriram
restos de fogueiras e ferramentas podendo concluir que este ser teria usado o fogo e
ferramentas para caça em torno de Liang Bua. Com base nos restos de fogueiras foi
possível datar o período de tempo que teriam habitado o local em torno de 95–13 mil anos
atrás (Scientific American. Edição Especial. N° 17. P 51-59).
A descoberta do Homo floresiensis é reveladora, pois prova que tamanho não é
documento, ou seja, por muitos anos os grandes paleoantropólogos acreditavam que à
medida que evoluímos, nosso cérebro crescera de tamanho de forma linear. Se observarmos
a evolução humana vemos que os Homo habilis possuíam um cérebro de 800cc, o Homo
erectus de 1.000cc e o Homo sapiens de 1.350cc. Infelizmente esta descoberta não quebra o
raciocínio linear descrito acima e nossa pesquisa concluiu que o Homo floresiensis, não teria
relação com a evolução cerebral humana anatomicamente moderna, pois o nosso ancestral
segundo C. Stringer seria o Homo heidelberguensis africano, enquanto o Homo erectus
asiático seria ancestral direto do Homo floresiensis, de acordo de Perte Brown e M.
Morwood. Isto significa que nossa espécie seguiu por um caminho e o Hobitt por outro
caminho evolutivo diferente do nosso.
Há tempos, muitos paleoantropólogos construíram suas carreiras usando o
pensamento evolutivo para sugerir a existência de padrões regulares que ia do mais
simples, ao mais complexo. Quando se estuda as ferramentas deixadas pelos nossos
antepassados, imagina-se que haveria um padrão linear do rude para o intricado no uso de
utensílios. O primeiro estágio é o Olduvaiano (usado pelo Homo habilis); o Achaulense
(usado pelo Homo ergaster-erectus); o Musteriano (usado pelo neandertal) e por fim o
Aurignacense, Solutriano e Magdaleniano (usado pela nossa espécie) que um tempo depois
culminaria com a idade da pedra polida originando-se após a Revolução Neolítica as 03
idades dos metais: Bronze, Cobre e Ferro.
Quando o Homo ergaster migrou para a Ásia, há uns 2,0 milhões de anos dando
origem ao Homo erectus chinês, os arqueólogos locais encontraram pouquíssimos sinais de
machados de pedra se comparado à abundância dos encontrados na África. Na Indonésia,
foram encontradas ferramentas olduvaianas, ao invés de ferramentas achaulenses. Será que
estes espécimes não sabiam fazer tais instrumentos achaulenses? É óbvio que sabiam,
porém, por que foram encontrados tão poucos? Segundo o documentário: walking with
homens das cavernas, co-produzido pela BBC e Discovery Channel, sugere que:
“pode ser que encontraram novas ferramentas, mas fácil de ser usada, neste vasto
reino a sua volta (Ásia). O Bambu. Homo erectus viveu numa terra onde as
ferramentas cresciam em árvores”. (walking with homens das cavernas. 2004.
Título 02: 00h18min: 08seg-00h18min: 41seg).
83
Crânio de um Homo floresiensis (LB1) à esquerda e do Homo sapiens à direita
Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/flores.html
A estratégia de sobrevivência do Homo erectus era diferente do Homo ergaster que
observa a “evolução linear” das ferramentas e geralmente não observa o que ocorreu na
Ásia entre: 1,8 milhões a 13 mil de anos.
Em compensação grande parte dos paleoantropólogos concorda que os
Australopithecus não faziam ferramentas de pedra devido ao seu diminuto cérebro os
incapacitando, porém a descoberta do Homo floresiensis, da Ilha de Flores, rompe com a
idéia de linearidade no uso das ferramentas. As ferramentas líticas associadas ao fóssil
seriam similares ao do Homo habilis, portanto, olduvaiano. Assim sendo, o Homo erectus
chinês utilizava o bambu como ferramenta, enquanto o Homo floresiensis com seu diminuto
cérebro usava lâminas de pedra. Se perguntarmos que tipo de ferramentas que o Homo
erectus pudesse produzir, a resposta seria líticos achaulense e o bambu seria usado pelo
Hobbit; como podemos explicar o que aconteceu foi análogo? Ora... Os ambientes eram
diferentes, na China havia uma abundância de florestas de bambu, enquanto a Ilha das
Flores possuía pouquíssimos bambus, por esta razão, as estratégias de sobrevivência eram
diferentes, contrariando a proposta linear do tosco ao complexo na utilização de seus
utensílios.
Há pesquisadores como Bernard Wood (Universidade George Washington), que
acredita que o Homo floresiensis seria incapaz de criar ferramentas, devido seu diminuto
cérebro. A questão de o Homo floresiensis fazer ou não ferramentas, estaria em discussão e
considero como válido a ideia de que os Hobbits pudessem fazer utensílios líticos, pois não
havia outra espécie de hominídeo habitando aquela região sugerindo que este indivíduo
ajudou a quebrar diversos paradigmas e mesmo assim, estaremos aguardando futuras
informações vindas do campo de Liang Bua (veja entrevista que tivemos com o Dr. Peter
Brown, da Universidade da Nova Inglaterra em Armidale, na Austrália, no anexo 05).
Outra prova interessante foi descoberta no sul da Sibéria (Rússia) nas montanhas
Altai, na caverna de Denisova, em 2008, pelo Dr. Michael V. Shunkov e o Dr. Anatoli P.
Derevianko, o fóssil descoberto foi um pedaçinho do dedo mindinho do que parece ter
pertencido a uma criança e datado em 41 mil anos. Em março de 2010, o pequeno fóssil foi
analizado por geneticistas do Instituto Max Plank, em Leipzig, na Alemanha, liderados por
Svante Pääbo, o indivíduo de Denisova mostrou-se peculiar, pois não apresentava um
DNAmt de humano moderno e nem neandertal, mas um DNAmt novo.
84
O Dr. Pääbo, um geneticista conceituado, em 2000, realizou uma pesquisa para
sequenciar o genoma neandertal com êxoto e os mesmos exames de DNAmt realizados
foram feitos na falange (do dedo midinho da criança). Será que o dedinho era de uma nova
espécie humana desconhecida ou de alguma espécie já conhecida? Ainda não sabemos e
somente com mais escavações poderemos no futuro ter uma resposta mais definitiva,
enquanto isto podemos citar o argumento do Dr. C. Stringer.
“In fact its mtDNA was more different than Nearderthals and moderns, suggesting
an origin time time well over 500,000 years ago”* (Stringer, C. 2012. P 199).
Concluindo, é provavel que o dedo mindinho da criança perteça a um
arqueantropiano conhecido. Além do fóssil, em 2000, a equipe do Dr. Shunkov e
Derevianko, encontrou um dente molar (dente da parte de trás da maxila), e verificou que o
dente era de um adulto, não pertencente à criança denisoviana. Além disso, segundo as
pesquisas genéticas, confirmou-se que se tratava de dois indivíduos diferentes e por esta
razão, o dente foi levado para China a fim de verificar se poderia pertencer ao grupo
conhecido do Homo erectus chinês, mas infelizmente, o dente era muito grande para ser
somado dentro dessa espécie. A conclusão do Dr. Pääbo causou impacto no meio científico,
pois soube que o DNAmt do dedinho confirmou uma miscigenação com grupos humanos
modernos que vivam na região da Papua Nova Guiné e Bougainville (Melanésia). Este
dado bate com as informações de campo no qual se encontrou vestígios de humanos
modernos vivendo com Denisovanos, mas não se sabe se os humanos modernos eram
contemporâneos desses hominídeos.
Dente molar descoberto em Denisova
Fonte: http://www.nature.com/nature/journal/v468/n7327/fig_tab/nature09710_F4.html
*tradução: “Na verdade o seu DNAmt era mais diferente do que Neardertais e homens modernos,
sugerindo uma origem tempo bem mais de 500.000 anos atrás”.
85
2.4.3 HOMO NEANDERTHALENSIS:
O Homem de neanderthal Fonte:
http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/tv_radio/wwcavemen/cavemen8_1.shtml
O Homo erectus, no início de sua fase evolutiva na África (er3733 e KNM WT
15.000), migrou aproximadamente 2,0 milhões de anos para Ásia e depois para a Europa.
Na Espanha, por volta de 800 mil anos, surgia o Homo antecessor como provável caçador e
a posteriori, deu origem há 500 mil anos um novo ser, adaptado ao frio glacial europeu,
chamado de Homo heidelbergensis, sendo descendente, do Homem de Gran Dolina, que
entre 400 e 200 mil anos daria origem ao neandertal. A ocorrência evolutiva, de um ser para
outro, num período de tempo pequeno, para Lee Berger, estaria no fato de que estas
criaturas se mostrem afastadas de outras populações:
“O isolamento pode trazer uma vantagem evolutiva ao permitir, que certos traços
se desenvolvam em uma população confinada e permitindo, que esta população,
uma vez acabada o isolamento, ela se expanda” (Discovery Channel: Humanos
quem somos nós? A origem da mente humana. 1999).
Sabe-se que o Homo heidelbergensis no início de sua fase evolutiva estava isolado,
depois migrou da Europa para a África, tendo como causa provável as constantes variações
climáticas entre 600–200 mil anos. Seus fósseis, descobertos na África do Norte (Marrocos)
e na África Central (Broken Hill, na Zâmbia) ficaram novamente isolados sendo possível
que nossa espécie evoluiu, a partir deles há 200-150 mil anos, tese defendida por Chris
Stringer (Museu de História Natural de Londres, na Inglaterra), pois sua argumentação se
baseia em comparação de modelos fósseis da África (fóssil de Jebel Ighoud) com a nossa
espécie. Grande parte dos geneticistas acredita que nós humanos e os neandertais
evoluímos do mesmo tronco, pois os DNAs de ambos são distintos e por isto, Stringer
considera como nossos primos evolutivos, que se desenvolveu através do Homo
heidelbergensis que também é chamado de Homo sapiens arcaico.
86
FIGURA 9.
(800 mil anos) Homo antecessor
(500 mil anos) Homo heidelbergensis
Homo rhodesiensis (400 mil anos)
(300 mil anos) Homo sapiens neanderthalensis
NÓS: Homo sapiens sapiens (200 mil anos)
A academia considera que ancestral do heidelbergensis e do antecessor seria o fóssil
do “Menino de Turkana”, descoberto em 1984, pela equipe de paleantropólogos liderada
por Richard Leakey, Kamoya Kimeu e Alan Walker, e ao se comparar com os esqueletos
de neandertais, somos levados a concluir, que havia similaridades e diferenças, como os
ossos dos membros do “Menino de Turkana” que eram anatomicamente similares aos
físicos dos neandertalianos e as diferenças essenciais estavam na composição do crânio (os
neandertais tinham crânio mais arredondados, do que o erectus, mas a face das duas
espécies era similar) e na altura. Sabe–se que um Homo erectus macho e adulto poderia
chegar a ter uma altura média, aproximadamente 1,8 a 2,0 m, enquanto os neandertalianos
machos e adultos tinham uma altura média de 1,65 m. Que argumentação coerente pode
explicar a diminuição na altura média, do neandertal? Alguns anatomistas suspeitam que o
motivo fosse adaptativo pois na África havia um clima mais quente e os ossos do H. erectus
eram mais altos podendo conservar calor e tendo uma elevada estatura média. Enquanto na
Europa, entre 600 a 200 mil anos havia uma alternância de clima e na maioria das vezes era
frio e assim os seres que ali evoluíram, possuíam uma estatura pequena justamente, para
resistir a baixas temperaturas e evitar a dissipação de calor explicando sua composição
anatômica similar aos dos esquimós.
Com o objetivo de estudar os avanços e recuos do clima europeu entre 600 mil anos
até os 10 mil anos, os pesquisadores concluíram, que ocorreram quatro grandes glaciações
chamada de: Günz, Mindel, Riss e Würm (quatro pequenos afluentes do rio Danúbio). O
período entre uma glaciação e outra, Günz para Mindel é chamado de período interglacial
(A. Leroi–Gourhan. 1987. P 32 e 63). Justamente neste ínterim, que o heildelbergensis
evoluiria em neandertal. Atualmente, acredita–se que o surgimento do Homo sapiens sapiens
(200 mil anos), ocorreu entre as glaciações de Mindel para Riss e justamente, neste período
de tempo, as criaturas arcaicas (Homo erectus e heidelbergensis) começava a se extinguir. O
anatomista Alan Walker (Universidade Federal da Pensilvânia), explica que as alternâncias
de temperatura poderiam ter contribuído para o desaparecimento de Homo erectus e H.
sapiens arcaico:
“Há 200 mil anos na era glacial, a Terra ficou coberta por 30% de gelo, houve
uma grande devastação, rios secaram, matas e campos foram destruídos pelo frio,
o ergaster e o Australopithecus não se adaptaram a tanto frio, e foram extintos”
(Discovery Channel: The Human Journey: a tale of the two species. 1999).
87
Como as espécies de H. erectus e heidelbergensis extinguiram se havia sido
considerados como seres habilidosos, versáteis e flexíveis? Acredito que as alternâncias na
temperatura haviam causado tal extinção e por outro lado, o seu comportamento poderia ter
contribuído para a confecção de suas ferramentas, sugerindo que deveriam ter sido muito
previsíveis na sua atividade diária, pois os heidelbergensis eram caçadores de animais de
grande porte ao invés de caçar animais pequenos. Seus ossos fraturados (membros
superiores) mostram um resultado de uma vida cotidiana ativa devido ao empreendimento
de capturar presas grandes (bois almiscarados, ursos da caverna, rena gigante). Além disso,
é possível supor que sua comunidade se encontrava isolada com baixa taxa de natalidade.
Tais características foram herdadas do heidelbergensis para os neandertais. O que se
sabe sobre os neandertalianos era que viveram por um período longo de tempo
(aproximadamente 300 mil-27 mil anos), numa época em que a Europa estava mergulhada
em climas glaciais e interglaciais, tinham vida dura, viviam em cavernas com poucos
indivíduos no grupo (de 10 a 20 indivíduos), com uma expectativa de vida de 40 a 50 anos.
Seus esqueletos mostram sinais de fraturas acumulada ao longo da vida (Tattersall, I. 1998.
P 152-3), andavam eretos, seus membros eram pequenos e robustos (musculosos), podendo
resistir a grandes impactos; eram inteligentes, pois sabiam confeccionar ferramentas de
sílex (indústria musteriense), com uma melhor qualidade do que seu ancestral e segundo a
equipe do Instituto Smithsonian, os neandertais poderiam preparar grãos como ervilha
(Época. Nº 6659. 2011. P 13). Sabe-se que os neandertais também conheciam os meios de
obter fogo e o utilizava para poder caçar animais de grande porte e provavelmente,
possuíam forma de comunicação mais avançada, do que o erectus e o mais impressionante
poderiam ter possuído sinais simbólicos, similar aos nossos. Analisando seu crânio,
percebe–se que possuíam grandes cavidades oculares, não tinha uma longa testa nem o
queixo proeminente que possuímos. Sua cavidade nasal era grande com a finalidade de
respirar o ar gelado e ao chegar à interna do nariz, se torna quente. Sua dentadura era forte e
sua calota craniana era baixa com um cérebro maior, possuindo um volume de 1.700cc.
Os fósseis e os vestígios dos paleoantropianos encontrados até o momento, são de
sítios localizados na Ásia e Europa sendo os mais importantes: na França (La Chappelle–
aux–Saints, Malarnaud, La Ferrassie, Le Moustier, La Quina), em Portugal (Lagar Velho –
hominídeo híbrido), na Espanha (Giblatar), na Inglaterra (Ilha de Jersey), na Alemanha
(Neander), na Bélgica (Spy), na Itália (Circeo), na Croácia (Krapina), em Israel (Kebara,
Tabun e Amud) e no Iraque (Shanidar). Sem dúvida, considera-se que seus fósseis foram
bem documentados e estavam bem adaptados em seu mundo gélido (o norte da Europa era
uma geleira, o norte da França, a vegetação/ clima era subártico, e o sul da Europa, a
vegetação consistia em: relvas, coníferas, florestas).
Pré–historiadores, como André Leroi–Gourhan, na década de 60 e 70, sugere em
seu livro: Os caçadores da pré–história, que os musterianos ou neandertais, podem ser
encaixados na espécie Homo sapiens, e atualmente são duas espécies distintas: a Homo
sapiens neanderthalensis e homem moderno: Homo sapiens sapiens (A. Leroi-Gourhan. 1987.
P 58). Nem sempre o neandertal fora encarado com um sucesso evolutivo. No início do
século XX, escavações conduzidas em La Chapelle–aux–Saints, (França Central), em 1908,
partes dos membros e de um crânio com maxila, havia sido descoberto e diagnosticado em
1912, pelo melhor anatomista francês da época: Marcelin Boule.
88
Marcelin Boule e o fóssil de La Chapelle Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/boule.jpg
Boule percebeu que aquele indivíduo, tinha um corpo atarracado, devido ao seu
fêmur, que era curto. O cientista sugeriu que esse exemplar era um “selvagem” desprovido
do dom da fala e dos meios de comunicação, que nós temos e interpretou que o
neandertaliano de La Chapelle–aux–Saints, brandia e teria muitos pêlos iguais aos
chimpanzés. Quando observou os ossos da coluna vertebral, diagnosticou que seu andar era
curvado e sem elegância. Boule criou um quadro de seu comportamento, sugerindo que
aquela espécie era um fracasso evolutivo, considerando-o “primitivo”, “inferior” e
“simiesco” e que o neandertal era um “idiota patológico” ou um selvagem peludo pré–
histórico.
O escritor, Sir. Arthur Conan Doyle fascinado, por descobertas paleontológicas de
dinossauros e de possíveis ancestrais humanos, resolveu escrever um romance que mais
tarde ficaria famoso: O Mundo Perdido (1912), e depois influenciaria Hollywood, na
realização do filme em 1925 de 60 minutos dirigido por Harry Hoyt, mantendo o título
original do livro: The Lost World (O Mundo Perdido). O filme segue a estória do romance,
contendo cenas de dinossauros (Allosaurus, Apatosaurus e Triceratops) e também de criaturas
ancestrais desconhecidas da ciência, todos vivendo numa inóspita região da Amazônia. O
interessante neste filme é que as características do neandertal, descritas por Boule, haviam
sido utilizadas, pelos produtores, mostrando a visão dos cientistas da época, em relação ao
Homo primitivo.
Nas décadas de 50, 60 e 70, novos achados de neandertalianos foram trazidos à tona
e comparadas com os fósseis de La Chapelle, e a conclusão sugerida foi que Boule
interpretou mal as evidências preliminares, pois esse fóssil possuía sintomas de artrite
crônica e por este motivo não conseguia caminhar de forma ereta e também não eram
peludos como os chimpanzés, mas muito semelhante aos humanos, com poucos pêlos.
Por outro lado, pesquisas arqueológicas, produzidas por L. Binford (Universidade
de Chicago) e Erik Trinkaus (Universidade de Washington), na década de 70 e 80,
afirmaram que estas criaturas não eram caçadores eficientes e sim, carniceiros.
Provavelmente, não possuíam linguagem e nem meios pelos quais, pudesse organizar a sua
caça (Stanford, C. 2004. P 180). Estas sugestões inspiravam o quadro, descrito no filme: A
Guerra do Fogo produzido, em 1981, pelo diretor francês: Jean Jacques Annand, que
mostra cenas do contato dos neandertais com nossa espécie aparecendo com uma pele clara
e com poucos pelos, completamente diferente, daquele indivíduo peludo de Boule.
89
No entanto, as sugestões do filme de Annand, podem ser hoje contestadas como: 1o
– o fato de que os neandertais desconhecerem, o processo obter o fogo; 2o – possuírem um
comportamento pouco social; 3o – não possuir formas de comunicação avançada de um
indivíduo para com o outro.
A primeira sugestão do filme propõe que os neandertalianos desconheciam o
processo de obtenção do fogo e que não era caçadores eficientes. No decorrer do filme, um
determinado grupo de neandertalianos não conseguia compreender os processos pelos
quais se obtém o fogo, instrumento cobiçado até mesmo por outras populações
neanderthais, que através do furto, se apoderam do fogo. Sem este instrumento, a vida
ficaria comprometida e então, o líder do grupo convoca três indivíduos, para conseguir
obtê–lo novamente. Saindo de onde moravam, estes aventureiros partem em busca do
cobiçado prêmio.
Esta sugestão pode ser colocada à prova de acordo com pesquisas realizadas por
John Speth (Universidade de Michigan) e Mary Stiner (Universidade do Arizona), que
comprovaram que tais seres humanos eram habilidosos caçadores e conheciam muito bem
o processo de obter o fogo (Stanford, C. 2004. P 181), pois há vestígios de carvão
descobertos em locais freqüentados por neandertais, contendo provas de caça, da utilização
e do domínio do fogo, encontrado na Ilha de Jersey (entre a França e Inglaterra. Os
paleantropólogos descobriram lâminas muterianas, pedaços de ossos fraturados de mamute
queimados e antigas cinzas de carvão, sugerindo que os neandertais poderiam, com a
intenção de atrair os mamutes que ao passarem por aquela região, caíssem numa emboscada
que consistia de fazês–lo cair do platô (tendo 15 metros de altura) e morressem penhasco
abaixo (Haines, Tim. 2001. P 249). Atualmente, grande parte dos cientistas rejeita a
“Hipótese do neandertal carniceiro” de Binford e Trinkaus, abordado no filme: A Guerra
do Fogo.
A segunda sugestão do filme a ser abordado e posto a prova é o que tange ao fato
dos neandertalianos possuírem um comportamento pouco social. Na década de 50, o
paleantropólogo, Ralph S. Solecki pesquisou a caverna de Shanidar (Iraque), e descobriu
para sua surpresa, o sepultamento de um idoso neandertal, com uma idade entre 50 a 55
anos, vivendo na região por volta de 60.000 anos atrás. Richard Leakey, ao avaliar esta
descoberta, sugere que: “em tudo isto, uma relíquia desperta um sentimento particular de
humanidade” (Leakey, R & Lewin, R. 1980. P 125). O indivíduo idoso havia sido enterrado
de modo que havia diversas flores posto abaixo de seu corpo e colocadas ali de maneira
intencional, ou seja, os membros da comunidade neandertal de Shanidar havia estado de
luto, quando o sujeito faleceu.
“É como se a família, os amigos do homem morto, e talvez os membros da sua tribo
tivessem ido aos campos e trazido ramalhetes de mil–folhas, escovinhas, cardo–de–
são–barnabé, tasneirinhas, jacintos, rabos–cavalo–de–pau e um tipo de malva”
(Leakey, R & Lewin, R. 1980. P 125).
90
O fóssil encontrado em Shanidar, ao centro o braço amputado e a direita o osso hióide de Kebara
Fonte: http://www.modernhumanorigins.com/shanidar1.html e
http://www.modernhumanorigins.com/kebara.html
“O fato de ter sido um sepultamento intencional é sem dúvida interessante, porque
revela uma aguçada autoconsciência, e uma preocupação com o espírito humano.
E o fato de o cadáver ter sido enfeitado com flores, acrescenta um enorme
significado. Porém o mais intrigante de tudo isso é que, das várias espécies de
plantas usadas no sepultamento de Shanidar, diversas têm sido usadas, até pouco
tempo, na medicina vegetal local!” (Leakey, R & Lewin, R. 1980. P 125).
Observando anatomia do cadáver de Shanidar, descobrimos que o indivíduo faleceu
na mais alta média de expectativa de vida de um neandertal: 50-55 anos. O seu crânio
parecia ter levado uma pancada, que provavelmente teria o deixado cego do olho esquerdo;
seu braço foi amputado e seus membros revelaram diversas fraturas. Então como um sujeito
assim poderia viver tanto tempo? Seria especial para alguém ou para o grupo? Milford
Wolpoff (Universidade de Michigan) acredita que havia uma relação de interdependência
social bastante complexa de um indivíduo para outro. Não seria forçado supor que tal ser
sobreviveu até os últimos momentos da expectativa de vida neandertal, porque ele foi
cuidado pelos membros do seu grupo.
Seria interessante observar que outros sítios (França), mostram esqueletos de
neandertais fraturados, que haviam sido curados, quando o indivíduo ainda estava vivo,
interpretando que havia interação social ocorrendo entre os membros do grupo e
demonstrando que eles deveriam ter sentimentos adversos (preocupação, amor, amizade),
uns pelos outros, e possivelmente de luto (Discovery Channel, The last Neanderthal?
1996). Em comparação, no Ubezquistão um esqueleto que parece ser de uma criança
neandertal foi descoberta, na gruta de Techik Tach. Junto ao seu corpo estavam cinco
cabeças de cabrito–monteses levemente arrumadas em círculo, representando um
sepultamento (Leroi–Gourhan, A. 1995. P 40-41).
91
Outra prova similar a esta, foi descoberta em 1992, em Israel, apelidado de “Bebê
de Amud”, que segundo o paleantropólogo Joel Rak considera como interessante, pois o
bebê era um neandertal de 50 mil anos e parecia ter sido enterrando junto com outros
objetos: maxila de rena e ovos de avestruz colocados em seu peito (Discovery Channel,
The Human Journey: a tale of the two species. 1999). A interpretação destes três casos
mostram um possível sinal de adversos sentimentos. Finalmente, após longos períodos
evolutivos havia algum ser que definitivamente demonstrava ter sentimentos de dor e luto.
Ian Tarttesall (Museu Americano de História natural, de Nova York), em um dos
seus trabalhos publicados Becoming Human: evolution and human uniqueness, discorda da
possibilidade dos neandertais terem algum tipo de expressão simbólica e sentimental de
perda (luto), sugerindo que os funerais, aqui propostos, datam de um período muito recente,
ou seja, de apenas 60 mil anos até o período de sua extinção, há 27 mil anos atrás.Tais
criaturas já existiam nos registros fósseis há 300 mil anos (Paleolítico Inferior), e os
funerais que datam deste período são escassos ou de difícil interpretação. Diante do dilema,
sugere:
“However this way be, though, it is dificult to sustain the notion that neanderthal
burial represented symbolic atividy, as apposed to the simple expression of greif
and loss” * (Tarttesall, I. 1998. P 163).
Então, porque somente, no início do Paleolítico Superior, os neandertais
começavam a se interessar em enterrar seus mortos? Uma explicação mais coerente seria o
fato de começar nesta época, a migração dos Cro–Magnon para Europa e a partir daí, houve
um contato entre a nossa espécie e os neandertais. Através deste contato, a nossa espécie
poderia ter influenciado com profundos sinais de sentimentos repletos de toda uma
simbologia, na cultura neandertal. Apesar desta teoria predominar nos meios acadêmicos,
alguns cientistas não concordam com esta alternativa (em Shanidar, por exemplo, não há
presença de fósseis nas proximidades de humanos modernos e nem de seus utensílios
simbólicos, que datam da mesma época, em que o indivíduo de 55 anos havia sido
enterrado).
Descobertas feitas pelo paleoantropólogo, João Zilhão (Universidade de Bristol),
afirma que os neandertais poderiam ter adquirirido um comportamento simbólico muito
antes da chegada de humanos modernos na Europa. Em escavações realizadas entre 20062008, em Cueva de los Aviones e Aviones Cueva Antón (Espanha), foram descobertas três
conchas de moluscos perfuradas, algumas com pigmentos avermelhados (parecendo ocre),
datadas entre 48.000 a 50.000 e um osso de cavalo tendo na sua ponta, um pigmento
avermelhado, mostrando que seu uso seria para misturar ou aplicar pigmento ou ainda para
perfurar. Estas descobertas nos trazem o retrato de um neandertal que utilizava símbolos
complexos no seu contidiano, bem similar aos que os humanos modernos fazem atualmente
(Scientific American. In. Archeology. June 2010. P 72-75) (veja a entrevista com Dr. João
Zilhão no anexo 03).
* “No entanto, este caminho é, porém, dificil de sustentar a noção de que o sepultamento neandertal
representada atividade simbólica, como uma simples expressão de dor e perda”.
92
A terceira sugestão do filme, sobre as impossibilidades de que o neandertal não
possuísse formas de comunicação eficiente, entre um indivíduo e outro, pode ser posto a
prova, devido a uma recente descoberta ocorrida, em 1983, em Israel. Na caverna de
Kebara, um neandertaliano havia sido achado, consistindo de costelas, ossos dos braços,
mandíbula inferior, coluna vertebral e o osso hióide que ao ser analisado, constatou–se ser
muito similar ao nosso, responsável pela coordenação motora da fala aliada à evidência de
que a média do volume cerebral é maior que o nosso e sua área de broca (local do lobo
frontal, em que se localizam as emoções e as estruturas da fala) eram semelhantes a nossa.
Ralph Holloway (Universidade de Columbia), comenta que as semelhanças na estrutura
cerebral um neandetal e a nossa faz com que os cientistas (re) avaliassem a questão, se caso
pudessem falar. Atualmente, acredita–se que o neandertal possuísse uma estrutura de
linguagem própria, mas diferente da nossa:
“Observando um cérebro de neandertal, todas as estruturas percebidas nele é a
mesma que vemos nas estruturas do homem moderno, em outras palavras, não
existem diferenças essenciais entre um neandertal e um homem moderno, assim
algumas pessoas, pensam que os padrões do Neandertal seriam iguais do Homo
sapiens” (Discovery Channel. Humanos quem somos nós? A origem da
mente humana. 1999).
Após inúmeras escavações, pesquisas de campo e de laboratório desenvolveram
novas opiniões ao seu respeito, que são documentadas em vídeo (Discovery Channel e
BBC), contestando o modus vivendi que Boule havia traçado no início do século XX Modus
vivendi do Neandertal: visto no documentário: The human Journey: a tale of two species.
1999.

Os neandertalianos podem ser considerados, como seres rotineiros, baseando na
previsibilidade em seu modo de vida, vivendo isolados de outras comunidades, não
variavam as suas ferramentas, não praticavam a pesca e havia pouca taxa de
natalidade. Estas sugestões se baseiam nas suas ferramentas, que permaneceram,
com a mesma característica, por quase 200 mil anos.
Modus vivendi do Neandertal: visto no documentário: The last Neanderthal? 1996.



Era caçador e coletor, explorava todo tipo de recursos, mas na maioria das vezes,
caçavam grandes animais – seus membros inferiores mostram sinais de fraturas,
devido talvez, ao contato com tais animais.
È provável que tenha tido uma vida sedentária, com poucos membros no grupo e o
território que ocupava, para realizar suas necessidades, poderia chegar a 50 km de
extensão.
Ao longo dos anos, variava muito pouco o estilo de ferramenta (musteriana) não se
alterou, sendo repetitiva, isto acontecia devido o isolamento, com outras
populações e a falta de contato com outras espécies humanas.
93



Sabiam como obter e dominar o fogo, e provavelmente, sabiam cozinhar.
Deveriam ter possuído algum tipo de linguagem.
Deveriam ter possuído sentimentos complexos (devido o funeral em Shanidar).
Modus vivendi do Neandertal: segundo o documentário: Walking with prehistoric beasts: A
Jornada do Mamute. 2001.



Eram hábeis caçadores sedentários, vivendo em pequenos grupos, que armavam
emboscadas para manadas de mamutes, utilizando o fogo, como ferramenta
(evidências na Ilha de Jersey, Inglaterra, revelam que ossos haviam sido
destrinchados também há cinzas e presença de indústria musteriana).
A indústria musteriana se manteve ao longo de 200 mil anos, num “cansativo
processo repetitivo”, pode–se sugerir disto, que o seu modo de vida era baseado na
repetição e na previsibilidade, havendo pouco ou nenhum contato com outras
populações de neandertalianos, desta forma, mostram–se na maioria das vezes
como seres sedentários.
Esta espécie é pequena (macho – 1,65 M e fêmea – 1,60 M), porém é muito robusta;
os ossos de seus braços e pernas têm um comprimento menor, se comparado com
um humano moderno, por outro lado, estes ossos agüentavam pancadas, eram mais
fortes e ao mesmo tempo flexíveis, adaptados a uma temperatura glacial.
Observando as idéias propostas pelos paleoantropólogos, referente ao comportamento
social, modus vivendis dos neandertalianos, pode–se concluir que seria muito correto,
aplicar a tese da Home Base de Glynn Isaac e Richard Leakey. De acordo com os registros
arqueológicos, parecem viver isoladas de outras comunidades neandertais, havendo um
ponto positivo nisto, pois se tornavam auto–suficientes e por outro lado, deveria ter inibido
o surgimento de indústrias líticas mais sofisticadas, mostrando uma repetição do estilo
musteriano devido uma vida sedentária, e com taxa de natalidade podendo sofrer
estagnação ou redução de tempos em tempos.
A Europa era coberta por uma vegetação subártica e florestas de coníferas para que
pudessem sobreviver nessa região polar, teriam de depender de cada um dos membros
realizando determinadas tarefas e certas cooperações (economia mista), pois isto é baseado
em evidências de caça, como as encontradas na Inglaterra: Ilha de Jersey e na Alemanha
(lança de madeira de 400 mil anos). Também era provável que eles coletavam plantas e
outros alimentos. Após a divisão de tarefas e a coleta de alimentos, poderiam estocar, em
sua base doméstica (Home Base – demonstrável em sítios franceses), para que mais tarde
pudesse ser compartilhado pelos membros do grupo (Lima, C. P. 2a ed. 1994. P 31). Com a
intensificação deste tipo de atividade, sugere-se que alguns membros poderiam demonstrar
sinais complexos de sentimentos de reciprocidade, como o altruísmo, afetividade e
empatia, para com os pequeninos e os velhos, sendo demonstráveis no Ubezquistão,
Shanidar, Tabun e Amud (Leakey, R & Lewin, R. 2a ed. 1996. P 122-123).
94
Assim, como o Homo erectus, há vestígios de que o neandertal praticava o
canibalismo, mas há pouquíssimas provas que poderiam ser comparadas, entre um sítio e
outro, e mesmo que se tenha, é difícil de diagnosticar. “A existência de um canibalismo
religioso no Paleolítico é talvez provável, mas totalmente indemonstrável, devido ao estado dos
materiais” (Leroi–Gourhan, A. 1995. P 57).
O canibalismo neandertal é algo raro e a evidência mais chamativa, vem da antiga
república da Iugoslávia, em Kaprina. De acordo com Leroi–Gourhan foram “encontrados
treze indivíduos neanderthalensis, partidos em pedaços e espalhados. È notória a impressão de
trituração alimentar”. Os documentários exibidos pela: Discovery Channel, BBC e Learning
Channel e listados no resumo acima, nada enfocaram sobre a questão do canibalismo.
Acredito que alguns paleoantropólogos sugerem que tal prática poderia ter ocorrido de
forma corriqueira em raras ocasiões. Por outro lado, não há provas de “maior
verosimilhança”, no que tange a sua prática religiosa.
Sem dúvida o neandertal apresenta um mistério entrelaçado dentro de um enigma,
pois era um indivíduo, com um corpo mais robusto, que o nosso, mais adaptado ao frio
glacial, cérebro maior, utilizando comunicação com os membros do grupo, planejando uma
atividade qualquer (acender uma fogueira e caçar mamutes ou para criar ferramentas) e em
determinadas ocasiões era um canibal. Mesmo com tantas habilidades este espécime
extinguiu–se há mais ou menos 25.000 anos atrás. Por quê? Alguns paleoantropólogos
acreditam que a chegada de nossa espécie (Cro–Magnon chegou da África para a Europa,
por volta de 45.000 anos atrás), sejam algum modo, responsável por isto. Os pesquisadores
acreditam que o Cro–Magnon possuía um modus vivendi adverso: ao invés de serem
sedentários como os neandertais eram nômades caçadores, pescadores e coletores possuíam
uma infinidade de ferramentas e utensílios para infinitas atividades, possuíam sentimentos
introspectíveis e uma linguagem com sintaxe para criar tantos objetos. Todas estas
características somadas revelam que nossa espécie era adaptável ao mundo europeu e suas
ferramentas nos dão estes indícios. O documentário da Discovery Channel: The Human
Journey: a tale of the two species (1999) propõem evidências baseadas em testes genéticos,
sugerindo que se o Cro–Magnon tivesse possuído uma vantagem de apenas 2% dos recursos
naturais no meio ambiente e uma melhor adaptação, poderia elevar sua taxa de natalidade e
de sobrevivência numa Europa de clima gelado e imprevisível e consequentemente,
poderiam suplantar os neandertalianos em 30 gerações ou 900 anos. De fato, vestígios
deixados pelo Cro–Magnon em Dordogne (França), sugerem que pescava salmão habitando
o mesmo local. Já o neandertal, não utilizava este recurso, pois era um caçador vivendo
sedentariamente e na previsibilidade dos seus planejamentos, enquanto a nossa espécie é
mais flexível. Desta forma, surgem inúmeras ferramentas de inúmeras funções. Para
confirmar tal sugestão, os neandertalianos utilizavam como instrumentos: ossos, marfins e
chifres de animais, como armas ou como utensílios simbólicos descobertos em registros
arqueológicos. Porém, os neandertais não tinham tanta variedade de ferramentas e desta
forma isto possibilitou nossa espécie um maior aproveitamento de recursos naturais.
95
Pode ser que estes detalhes façam a diferença levando apenas uma destas espécies a
se extinguir, enquanto a outra seguia seu caminho. Tattersall, Stringer e outros cientistas
suspeitam que o modo de vida (isolado de outras comunidades, rotineiros na confecção de
suas indústrias líticas, baixa taxa de natalidade e a ocorrência de marcas de traumas em seus
ossos), aliados com a aletoriadade ambiental ao final do Paleolítico Superior (27-25 mil
anos) e com a chegada do Cro–Magnon a Europa, ou a uma redução na obtenção de seus
recursos naturais (pois a dieta neandertal consistia em 85% de carne) e levá-los à extinção.
O Neandertal de La Ferrassie e o Cro-Magnon
Fonte: http://www.erichufschmid.net/Neanderthals/Neanderthal-Cro-Magnon.jpg
96
2.4.3.1 SURGIMENTO DOS HOMENS MODERNOS:
O neandertal e o homem moderno
Fonte: http://www.bbc.co.uk/science/cavemen/factfiles/homo_neanderthalensis.html?img4/
e Tim Haines. Walking with Beasts. Cap. 6. A Mammoth´s journey. 2001. P 223.
“A tese: Out of Africa, afirma que em algum momento entre: 150 mil ou 100 mil
anos atrás, a nossa espécie originou–se na África e depois migrou para o resto do
mundo, fazendo isto, substituiu linhas mais antigas de evolução em outras regiões.
Na Europa dos homens de neanderthal, que lá habitavam a centenas de milhares de
anos foi substituída, por estes forasteiros, vindos da África, muito diferente do
homem de neanderthal” (Discovery Channel. The Last Neandethal? 1996).
Segundo a história de nossa linhagem evolutiva vemos que os primeiros anatomistas
do século XIX, como Ernst Heackel (1834-1919), inspirados pelo trabalho de Darwin,
propôs uma linha evolutiva linear entre neandertais e os humanos modernos (Cro–Magnon)
e mais tarde, o celebre trabalho do anatomista alemão, Gustav Schwalbe (1844-1916):
Zeitschrift für Morphologie und Anthropologie (1899), sugerem que o neandertal é
considerado nosso ancestral direto. Quando Boule analisou o neandertal de La Chapelle,
escrevendo sua monografia, Schwalbe foi convencido em abandonar o neandertal como
sendo ancestral do Homem Moderno: “Schwalbe jamais abandou o Pithecanthropus (Homo
erectus), continuando a admiti-lo como ancestral de todas as formas posteriores de homens”
(Brace. 3ª Ed. 1979. P 35).
O trabalho do anatomista francês, Marcelin Boule, ao diagnosticar o neandertal de
La Chappelle, em 1912 escreveu sua conclução no livro: Les hommes fossiles ou Os
Homens Fósséis (1920) desconsiderando que o homem de neandertal e o Homo erectus
tivessem alguma relação com os humanos modernos, Boule suspeitava que se tratasse de
um ramo evolutivo lateral, que nada tinha haver com os humanos modernos.
Atualmente, sabe-se que a espécie humana anatomicamente moderna surgira nos
registros fósseis entre: 200 mil ou 150 mil anos atrás e se espalhou por todo mundo (Ásia–
100 mil anos, Austrália 60 mil anos, Europa 45 mil anos e América, talvez por volta, entre:
40 a 15 mil anos).
97
Ao analisar a altura média do Cro–Magnon é de: 1,8m descoberto em 1868, percebeu
que os neandertais clássicos, possuiam uma altura média de 1,65m. Para Stringer e seus
colaboradores, acreditam que as diferenças na altura média são adaptativas ao meio
ambiente em que evoluíram por exemplo: o corpo do neandertal é de uma composição mais
robusta e possivelmente, resistiria a algumas fraturas. Além disso, sua altura é pequena, não
dissipa calor, mas sim, o conserva. O neandertal era um ser adaptável ao clima frio, severo
e glacial da Europa. Enquanto os homens anatomicamente modernos possuíam uma
composição corpórea mais alta, justamente para dissipar o calor de seu corpo,
demonstrando ter sido evoluído em locais quentes, entretanto seu esqueleto demonstra ser
muito frágil e menos resiste às fraturas, que os neandertais (Discovery Channel. The Last
Neandethal? 1996).
Nas décadas de 50 e 60, os cientistas acreditavam que os homens modernos
descendiam diretamente dos neandertais. De acordo com “Tese da Espécie Única”
defendida por Brace a academia vem discutindo, a origem da nossa espécie Homo Sapeins
Sapiens, em simpósios, seminários, reuniões, tornando acaloradas, pois atualmente alguns
membros da academia paleantropológica ainda discordam que nossa origem tem relação
com os neandertais. Há no momento, dois importantes modelos evolucionários, que
explicam as origens do Homem Anatomicamente Moderno: 1o Teoria Multirregional
defendida por Milford Wolpoff (1997), da Universidade de Michigan e Alan Thorne, da
Universidade Nacional da Austrália; 2o teoria Out of Africa defendida por: C. Stinger
(1994), do Museu de História Natural de Londres.
A Teoria Multirregional defendida por Milford Wolpoff desde 1984, sugere que os
humanos modernos possuem sua origem baseada na continuidade regional do continente
europeu, asiático e africano. Mas, o que é continuidade regional? Para o Dr. Wolpoff nossa
origem está na migração dos Homo erectus que ocorrera há 2,0 milhões de anos, para a
Europa e Ásia, e seus fósseis mostram, que ocorreu uma continuidade genética. Sendo
assim, havia características anatômicas peculiares, em fósseis de 1,8 milhões de anos com
as populações atuais da Austrália e Ásia. Por esta razão, Wolpoff redefine a “Tese da
Espécie Única” de Brace, pois este afirmava que os neandertais eram nossos ancestrais,
sugerindo que os espécimes de neandertalianos, de heidelbergensis, H. ergaster-erectus e H.
Antecessor, cruzavam entre si e assim sendo, estas criaturas seriam os nossos ancestrais.
Aliás, nesta teoria, não há nenhuma substituição dos espécimes antigos, por novas, mas há
interação de mesclagem destas espécies (arcaicas com modernas, mesclando entre si e
através de migrações, que constantemente, saíam e voltavam pra África e geravam o
aparecimento de novas espécies e a confirmação que o Velho Mundo era considerado o
local da origem humana). Essa tese afirma que nossa espécie surgiu na África, Europa e
Ásia simultaneamente.
A teoria do Dr. Stringer é muitas vezes citada como a Teoria de Eva ou Teoria da
Substituição. Sua teoria defende que nós, homens modernos evoluímos na África, entre:
200 a 150 mil anos e nos espalhamos pelo mundo, numa segunda leva de migração (a
primeira leva de migração ocorreu com o H. erectus a uns 2,0 milhões de anos). Tal
migração substituiu as linhas mais antigas de evolução, tais como o Homo neanderthalensis,
H. erectus e Homo floresiensis sem haver mesclagem entre as espécies humanas arcaicas com
novas.
98
A proposta de Stringer é baseada no pensamento de Boule (da década de 20), que
afirmava que os neandertais não tinham nenhuma ligação com o nosso ramo evolucionário
e de Reiner Protsch que em 1975 argumentava que a espécie moderna havia substituído as
espécies arcaicas. Brace sugere que Boule já havia afirmado sobre uma suposta substituição
de espécies.
“(Boule) afirmou terem os neandertais e sua cultura desaparecido subitamente,
sendo de imediato substituído pelo Homo sapiens, que se espalhou pela Europa
com sua mais elevada tradição tecnológica do Paleolítico Superior” (Brace, L. C.
3ª Ed. 1979. P 34)
A tese de Stringer apóia–se em testes de campo (descobertas fósseis) e de
laboratório, com ajuda dos avanços da bioquímica, que procura investigar o DNA humano
(DNA mitocondrial existentes nas mitocôndrias das células, herdadas somente pela mãe e
por este motivo a idéia de Stringer é chamada de Teoria de Eva, pois procura rastrear a
primeira mulher humana moderna). O Objetivo dos geneticistas é procurar saber, quantas
vezes ocorreu mutações genéticas nas populações humanas e quanto maior a variação
genética, mais antiga ela é. Outro objetivo é saber quando e onde nossa espécie obteve
maior mutação e tendo êxito em tal pesquisa levou a três conclusões: 1a conclusão: os
grupos humanos são muito próximos um dos outros; 2a conclusão: a maior variação
genética havia ocorrido na África com maior freqüência provando que os materiais
genéticos dos africanos são mais antigos que dos europeus e asiáticos, e finalmente; 3a
conclusão: o surgimento dos homens modernos ocorreu recentemente a cerca talvez de 200
mil anos (Discovery Channel. The Last Neandethal? 1996).
Desde a década de 80, a comunidade científica lidando com o trabalho de campo já
estaria acostumada a pensar numa continuidade regional, não conseguindo correlacionar
achados de campo e testes genéticos. Assim as sugestões dos geneticistas nos anos 90
foram descartadas, pois os fósseis os vestígios de pedras líticas, as pegadas e outros restos,
até aquele momento descobertos, não se encaixavam com as provas genéticas até que, os
sítios de Israel (Kebara, Tabun, Amud, Skhull e Qafzeh) revelaram formas que pudessem
apoiar a tese dos geneticistas, baseando–se em novas formas de datações, como:
ressonância do spin eletrônico e tremoluminescência (Leakey, R. 1995. P 89). Na 1a metade
do século XX, nestes sítios de Israel, foram encontrados parte de esqueletos de neandertais,
datados de 60 mil anos, e em Skhull e Qafzeh foram encontradas parte de esqueletos de
homens modernos, datados de 40 mil anos. Estas datações, apoiamas sugestões da Teoria
Multirregional, implantando novas técnicas de datações com o objetivo de encontrar nos
minerais das rochas uma datação mais segura e descobriu–se, que os fósseis de humanos
modernos encontrados em Skhull e Qafzeh, não possuíam 40 mil anos, mas 100 mil anos,
sendo mais antigos que os neandertais encontrados em Kebarra, Tabun, Amud. Para James
Shreeve esse fato provocou a base da teoria Out of Africa:
99
“Com aplicação de novas técnicas de datação, estes sujeitos, supostamente datados
de 40 mil anos atrás, na verdade são de 100 mil anos de idade, são muito mais
antigos que os neandertais, como poderiam ser seus descendentes? É como afirmar
que seu filho é seu avô, não pode ser”. (Documentário: Discovery Channel: The
last neanderthal? 1996).
Os defendores da teoria Multirregional alegam que os fósseis encontrados em Skull
e Qafzeh, obtidos como registros de homens modernos, possuíam uma cultura similar aos
dos neandertais que habitavam a região de Israel (Scientific American Brasil. Edição
Especial. Nº2. P 50-51). Já os defensores da teoria Out of Africa, alegam que no início da
década de 90, começavam a surpreender o mundo com pesquisas paleoantropológicas
conduzidas na África do Sul (foz do rio Klassies e Blombos), por Hillary Deacon
(Universidade de Stellenbosch) e Chris Henshilwood (Universidade de Bergen), concordam
em admitir que os materiais fósseis de humanos modernos e seus vestígios encontrados,
provam que as ocupações nestes locais são datadas de mais de 100 mil anos de idade,
confirmando a tese Out of Africa de Stringer.
Muitos cientistas não se deram por satisfeitos, pois estavam convencidos que os
restos fósseis pertenciam a humanos modernos e era necessário provar que os fósseis eram
no que tange a demonstração de seu comportamento simbólico, linguagem e imaginação.
Era uma tarefa árdua para Hillary Deacon e Chris Henshilwood. Em Blombos, surgiram
evidências de comportamento social avançado (pesca e coleta de moluscos, provando que
teriam de planejar antecipadamente, as ações que iriam promover e realizadas, por mais de
uma pessoa) e evidências de comportamento simbólico religioso (ocre–avermelhado como
propósito espiritual que Henshilwood, argumenta que o tal utensílio havia sido
“armazenado cuidadosamente” no interior da caverna de forma intencional, pois se tratava
de produto de caráter religioso). Estas descobertas foram sensacionais, pois além do achado
dos três crânios de Omo Kibish, na Etiópia, em 1967 como em nenhum outro lugar do
mundo foi encontrado restos e vestígios de humanos modernos, datados de 100 mil anos
(Leakey, R. 1995. P 93 e Discovery Channel: Dawn of Man–episódio 05: Exodus. 2000).
Além de ter sido descoberto vestígios de humanos moderno no sítio da foz do rio
Klasies, Hillary Deacon encontrou quatro mandíbulas inferiores e algumas possuíam
queixo (sinal que de que se tratava do homem moderno), mas ao serem analisadas, por
Rachel Caspari, (Universidade de Michigan) concluiu que duas das quatro mandíbulas não
possuíam queixo e por esta razão não poderiam ser apresentadas como prova de que os
humanos modernos habitavam a foz do rio Klases há 100 mil anos e além do mais, foi
descoberto no local, um fragmento do osso zigomático (é um osso do crânio humano): que
demonstra sinais de ser bastante arcaico (maior que dos homens modernos). Concluindo,
estas provas apresentadas sustentam a teoria Multirregional de Wollpoff, que alega ter
havido assimilação e cruzamentos inter-raciais entre as espécies humanas arcaicas até
surgir a nossa espécie (Scientific American Brasil. Edição Especial. Nº 2. P 50-51).
100
FIGURA. 10
Tese Out of Africa de: C. Stinger (1994), do Museu de História Natural de Londres.
EUROPA
ÁFRICA
ÁSIA
Modelos humanos modernos
Cro-Magnon
Modelos humanos arcaicos
H. neandethalensis e heidelberguensis
Homo erectus
Tese Multirregional defendida por: Milford Wolpoff (1997), da Universidade de Michigan.
EUROPA
ÁFRICA
ÁSIA
Modelos humanos modernos
H. neandethalensis e Cro-Magnon
Modelos humanos arcaicos
H. erectus e heidelberguensis
Fonte: Stringer, C. Modern Human origins: progress and prospects. The Royal Society, P565. 2002
Para Wolpoff e Thorne afirmam que os crânios de Homo erectus da Indonésia e da
China, possuem semelhanças anatômicas (traços faciais) com os homens modernos
(chineses e indonésios), concluindo então, que os chineses e indonésios evoluíram, a partir
de Homo erectus, linearmente. Em 1996, uma equipe de paleoantropólogos liderados por C.
C. Swisher III desenterraram em Java, restos de animais e de Homo erectus, aplicando a
datação radiométrica no material, descobrindo que as datas ficavam em torno de: 25–50 mil
anos.
101
“Se essas conclusões resistirem a novas e cuidadosas pesquisas, saberemos que
então que o Homo erectus não se transformou nos humanos modernos na Ásia –
pois as duas espécies coexistiram como entidades independentes aproximadamente
40 mil anos atrás” – “Se considerarmos o planeta inteiro, há 40 mil anos,
observaremos um arbusto que se ramifica em três espécies humanas coexistentes –
o Homo neanderthalensis, na Europa, o sobrevivente Homo erectus na Ásia e o
Homo sapiens, prosseguindo na sua inexplorável disseminação por todo o mundo
habitável” (Gould, S. J. 2003. P 255-256).
Observamos que o Homo erectus, o Homo floresiensis e o neandertal coexistiram com
o Cro-Magnon Europeu. As quatro espécies de Homo teriam convivido ao mesmo tempo.
Porém o Homo floresiensis não parece ter sido substituído pela nossa espécie, pois sua
extinção aconteceu após uma erupção vulcânica nas ilhas da Indonésia, há cerca de 12 mil
anos atrás. Não há provas de que o Homo erectus teria sido substituído por nossa espécie.
Isto significa que ainda estaria em discussão se a origem do humano anatomicamente
moderno, originou-se na África entre 200-150 mil anos ou se surgiu simultâneamente nos
três continentes (Europa, Ásia, África).
A hipótese de que nossa espécie tenha eliminado o neandertal através da violência
seria inconsistente, pois não há provas de campo, que sugeriria haver algum tipo de conflito
entre si. Pode-se concluir que a sua extinção se deu por outros meios. No momento há
vestígios de ter ocorrido um cruzamento inter-racial (algo proposto pela Teoria
Multirregional), de acordo com a revista Superinteressante (Setembro de 1999. N° 09. Ano
13) que cita uma descoberta reveladora e inédita no campo da paleoantropologia, ocorrida
em Lagar–Velho próximo de Leira, (Portugal), em 1998. Uma criança de aproximadamente
4 ou 5 anos de idade, datada de 24,5 mil anos, que segundo os estudiosos tratava-se de uma
criança híbrida ou mestiça meio humana moderna (crânio) e meio neandertal (membros
inferiores). As provas foram baseadas nos dentes e nas mandíbula inferior que era similar
com dos humanos modernos, enquanto parte do braço e da perna eram extremamente curtos
e robustos, se assemelhando aos neandertais (Haines, T. 2001. P 239).
Alguns cientistas evitam comentar a questão, por que as provas não possuem uma
coletânea de informação, que leve a uma conclusão mais segura e suficiente a fim de propor
que tal criança era mesmo um híbrida. É claro que houve contestação de alguns cientistas
que sugeririam que o fato de ter havido tal diagnóstico deveria ter sido por que a criança
ainda se encontra em fase de crescimento e outros alegaram fortes temperaturas climáticas
da era glacial podendo ter produzido uma pressão seletiva na criança estimulando sua
anatomia robusta. Caso fique comprovado poderá afirmar que, este seria o 1º caso de
cruzamento inter-racial, na paleantropologia.
O problema era que seu crânio estava muito fragmentado dificultando um
diagnóstico mais preciso e por esta razão, muitos especialistas preferiram aguardar novos
resultados e novas descobertas.
102
Os paleoantropólogos responsáveis pelo estudo e pesquisa do mestiço português
João Zilhão (Instituto Português de Arqueologia (ICREA – Universidade de Barcelona e da
Universidade de Bristol) e Erik Trinkaus (Universidade Washington) afirmam uma possível
troca genética, sugerindo um cruzamento sexual que culminou numa miscigenação ou uma
inter–relação entre as espécies: neanderthal e humana moderna (Veja o anexo 02 uma
entrevista com Dr. João Zilhão, da Univeridade de Bristol e ICREA da Universidade de
Barcelona).
Os defensores da tese Out of Africa refutam uma possível troca genética e o
hibridismo. O Homo sapiens moderno substituiu espécies arcaicas e não mesclavam com
elas. No momento os defensores da Out of Africa começam a ter cautela, diante das
conclusões e esperam por outras mais reveladoras.
“However, the skull of the skeleton is mostly missing which makes it difficult to be
certain whether the child had some Neanderthal characteristics or was simply a
robust human. Scientists have reached a deadlock until further evidence can be
found” * (Haines, T. 2001. P 239).
Apesar da maior parte do crânio estar inexistente em 2007 uma equipe de
paleoantropólogos liderada por Dr. João Zilhão e Erik Trinkaus tenta reconstruir o crânio
da criança de Lapedo (Lagar-Velho), sendo levado ao Serviço de Radiologia do Hospital
Curry Cabral, (em Lisboa) para serem feitos testes de tomografia computadorizada, com o
objetivo de medir o volume celebral, com o objetivo de tentar fazer uma possível
reconstrução tridimensional dos fragmentos originais assim como detalhamento das
estruturas internas, para proporcionar possíveis imagens, permitindo a pesquisa
paleopatológica (http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/zilhao/vast2007.pdf).
Após os exames, a equipe conseguiu fazer um molde de resina do crânio e da
maxila inferior utilizada para iniciar a reconstrução facial da criança sendo realizada por
Brian Pierson, em Nova Orleans, (EUA). Esta iniciativa foi financiada pelo Departamento
de Antropologia da Universidade de Tulane (EUA) junto com o IPA (Instituto Português de
Arqueologia). O objetivo da reconstrução crânio-facial era descobrir sua aparência da
criança, enquanto estava viva.
* Entretanto, o crânio do esqueleto, que a maior parte, está perdida, fazendo dificultar, o que
poderia ser certamente, a criança ter tido alguma característica neandertal ou seria simplesmente,
um humano robusto. Há cientistas que mantêm distanciados, deste beco sem saída, até que, futuras
evidências podem ser encontradas.
103
Reconstrução crânio-facial da criança de Lagar-Velho realizada em 2007.
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_S7Qz9a3DX6s/S2c-XBXVeKI/AAAAAAAAA0/As3gPbuwkqU/s400/Lapedo_cranio.jpg
Podemos concluir que nossa espécie em algum momento, conseguiu evoluir
separadamente dos neandertais, pois há diferenças genéticas marcantes (27 mutações no
DNA neandertal que para os geneticistas sugere se tratar de uma espécie diferente do
humano moderno evoluindo separadamente de nós), não havendo como afirmar que
evoluímos através de hibridismo, pois os resultados genéticos mostram–se contrários a tal
sugestão. Caso se prove no futuro, que a criança portuguesa era um mestiço não quer dizer
que a origem da nossa espécie, seja um resultado disto e se de fato houve um contato tão
intenso. Sugiro que ocorreu, ora de forma pacífica, ora de forma violenta, mas não se pode
afirmae com exatidão como teria sido.
Desde 1994 o modelo Multirregional vem sofrendo constantes críticas de
geneticistas como Lynn Jorde (Universidade do Novo México) afirmando que deveria
haver no passado um número elevado de seres humanos para acasalar e trocar genes (Ásia,
África e Europa) evoluindo em nós humanos. Sabemos através dos registros fósseis que
havia poucos humanos (neandertais e humanos modernos) e pré-humanos (Homo erectus)
vivendo no velho mundo, por isto a tese de Wolpoff não é aceita e pesquisas genéticas com
DNAmt mas em 2010, houve uma reviravolta, e os geneticiastas obtiveram outras
conclusões.
Referindo-se ao DNA de neandertais, em maio de 2010, uma equipe de cientistas
moleculares Svante Pääbo, Richard E. Green e Hernán Burbano iniciaram uma pesquisa de
sequenciamento molecular do genoma de neandertais através de DNA mitocondrial, sendo
publicado na revista Science. Os pesquisadores coletaram amostras de três indivíduos
neanderthais do sexo feminino; um osso que datava de 38 mil anos, um segundo osso que
não possuía datação e um terceiro osso de aproximadamente 44,5 mil anos.
104
A equipe removeu de 50 a 100 mg de pó de cada osso para poder iniciar o trabalho
de sequenciamento. O Objetivo desta pesquisa era de comparar o genoma de chimpanzés,
neanderthais e humanos modernos de cinco localidades diferentes do mundo: África do Sul,
África Ocidental, Papua Nova Guiné, China e a Europa Ocidental, para observar as
mudanças genéticas e as características encontradas em cada grupo, ocorridas antes e
depois da separação da população ancestral dos humanos modernos e neandertais. Pode-se
dizer que esta pesquisa criou polêmica, pois testaria as duas teorias existentes sobre as
origens dos humanos modernos: a tese Multirregional do Dr. Milford Wolpoff e a tese Out
of Africa do Dr. C. Stringer.
A conclusão da pesquisa demonstrou que o genoma neandertal aparece intimamente
relacionado com o genoma de indivíduos da China e da Papua-Nova Guiné. Isto é
surpreendente, pois não há, até o momento, nenhuma evidência fóssil colocando os
neandertais naquela área. Para o geneticista, Richard E. Green e sua equipe o fluxo gênico
entre neandertais e humanos modernos ocorreu antes da divergência de populações
européias e asiáticas por volta de 100 mil anos (evidências fósseis, em Israel: Skhull,
Tabun, Kebara e Qafzeh que demonstram ter havido naquela região, tanto humanos
modernos, quanto de neandertais e um provável cruzamento interacial).
A conclusão de que os neandertais estariam em média, mais próximos de pessoas da
Eurásia do que dos indivíduos africanos, sem dúvida não derrubou a tese Out of Africa,
ficando demonstrado que as populações africanas não possuiram nenhum relacionamento
com os neandertais. A explicação de não haver traços de DNAmt em populações africanas
seria por que estariam isoladas na África e depois ao migrar para outros locais (Europa e
Oriente Médio), poderia ter ocorrido mistura de DNAmt sendo uma provável evidência
dessa missigenação a Criança de Lagar-Velho, em Portugal.
Podemos afirmar que a herança deixada pelos neandertais, quando se observa seu
modus vivendis (habitavam cavernas, se alimentando de carne e coletando outros alimentos)
e seus genes espalhados nas populações atuais da Eurásia, demonstra ter havido um tipo de
assimilação havendo até provas fósseis (a criança de Lagar-Velho). Desta forma, confirmase tanto a tese de Wolpoff, como de Stringer (devido à falta de genes neanderthais
espalhados em populações africanas modernas). Isto significa que o debate sobre as origens
do
homem
anatomicamente
moderno
está
longe
do
final.
(http://www.sciencemag.org/site/special/neandertal/feature/index.html). (veja a entrevista que
tivemos com o Dr. Wolpoff, da Universidade de Michigan, no anexo 04).
105
3º CAPÍTULO: OS PRIMERIOS AMERICANOS:
3.1 ANTIGAS E RECENTES ESCAVAÇÕES:
Crânio do “Homem de Lagoa Santa” Fonte: Museu da PUC-Minas
De acordo com a tese Multirregional de Wolpoff o ser humano moderno surgiu em
três grandes regiões do mundo e ou segundo Stringer em algum ponto na África, nossa
espécie humana surgiu há uns 200-150 mil anos atrás e se espalhou por todo mundo,
inclusive o Brasil por volta de 20 a 15 mil anos.
Neste capítulo, não mais trabalharemos com a paleoantropologia, já que esta ciência
está voltada para os estudos das origens de nossos ancestrais (comportamentos sexuais e
sociais, evolução e bipedalismo). Parte dos estudiosos sugere que os humanos modernos
“invadiram” o continente americano ainda estando em debate quem, como e quando isto
ocorreu. O objetivo neste capítulo é de resumir as ideias dos cientistas que estudam esse
tema para que possamos ter uma melhor compreenção. Para falicitar o nosso estudo é mais
viável trabalhar apenas com os dados da arqueologia definida por P. P. Funari, como
ciência que estuda “sistemas socioculturais, suas estruturas, funcionamentos e transformações
com o decorrer do tempo, a partir da totalidade de material transformado e consumido pela
sociedade” (Funari, P. P. 1988. P 09).
Os primeiros trabalhos arqueológicos ocorridos no Brasil, pertenceram ao Dr. Peter
Lund (1801-1880), naturalista dinamarquês que entre 1835–1844 assim como Darwin,
visitou o este país, interessado em sua botânica e nos fósseis de animais. Lund era um
entusiasta, adepto a teoria diluviana ou catastrófica de G. Cuvier (1769–1832). Lund visitou
cerca de 800 grutas, na região de Minas Gerais (Pedro Leopoldo, Santa Luzia e outros
locais) e em 1842 descobriu o primeiro fóssil humano moderno no mundo apelidado de
“Homem de Lagoa Santa”. Foram encontrado, junto das ossadas, restos de megafuana
(Mastrodontes, Megatério, Glyptodonte e outros) considerado um achado inédito, para os
padrões daquela época (Cartelle, C. 1994. P 117), similar, a descoberta de P. C. Schmerling
em 1830, de dois crânios humanos e artefatos de pedra, misturados com ossos de
rinocerontes e mamutes extintos (Howell, Clark F. 1969. P 10). Em seu relatório, Lund,
especifica a coexistência das ossadas humanas, associadas com ossadas pleistocênicas
(referente ao período Pleistoceno: ±1,75 milhões de anos até 10 mil anos).
106
“Achei esses restos humanos em uma caverna que continha, misturados com eles,
ossos de diversos animais de espécies decididamente extintas, circunstância que
devia chamar toda a atenção para estas interessantes relíquias. Ademais,
apresentavam eles todos os caracteres físicos dos ossos realmente fósseis. Eram em
parte, petrificados e, também, penetrados de partículas férreas o que dava a alguns
deles um lustro metálico, imitante ao bronze, assim como um peso extraordinário.
Sobre a remota idade deles não podia, pois, haver dúvida alguma” (Funari, P. P
& Noelli, F. S. 2002. P 34).
Para Lund, o “Homem de Lagoa Santa”, era um antidiluviano (quer dizer que era
anterior ao Dilúvio mostrando–se contrário à tese de Cuvier) e portanto, essas ossadas não
deveriam coexistir com a megafauna. Segundo C. Cartelle, (PUC–Minas) Lund abandonou
seus trabalhos científicos, pois não queria se arriscar em questões filosóficas, que mais
tarde, o darwinismo iria propor uma tese alternativa a contradição antidiluviana (Cartelle,
C. 1994. P 117).
Os achados de Lund estão na Dinamarca. Os sítios mineiros ficaram até o início do
século XX, sem serem pesquisados, antes de 1926 (Padberg–Drenkpol) e de 1935 quando
foi descoberto um crânio humano, na Lapa dos Confins. Nesta ocasião o arqueólogo H. V.
Walter, queria confirmar a contemporanidade que Lund demonstrou ter existido entre
“Homem de Lagoa Santa”, mastrodontes e preguiças gigantes e se os animais da
megafauna eram realmente antigos. Somente na década de 50, descobriram formas de
datações absolutas (que usam uma margem de segurança para precisar uma data qualquer,
através de isópotos radiativos de elementos químicos o C14, que era dispendioso. Walter
queria uma forma de datação confiável e graças a T. D. Stewart, diretor da divisão de
Antropologia do Smithsonian Institution de Washington que sugeriu o uso da datação
relativa por flúor desenvolvido por K. Oakley, do Museu de História Natural de Londres,
que havia sido testada no crânio de Piltdown, descobrindo sua fraude. Os resultados foram:
FIGURA. 11
RESULTADOS DOS TESTES DE FLÚOR NOS OSSOS DE CONFINS FEITOS POR
F.J. McCLURE
CINZA%
FLÚOR%
Osso fóssil n° 1 (de animal).............................................96,02..................0,3253
Osso fóssil n° 2 (de animal).............................................95,99..................0,3810
Osso fóssil n° 1 (de homem de Confins).........................95,96..................0,3893
Osso fóssil n° 2 (de homem de Confins).........................96,85..................0,2770
Osso de Vaca (recente)....................................................72,68..................0,019
Fonte: Walter, H. V. 1958. P 109.
107
Em 1954, quando ocorreu o Congresso Internacional de Americanistas em São
Paulo, anunciou–se às conclusões finais:
“O encontro de tanta quantidade de flúor nos ossos do nível inferior da Caverna de
Confins, parece indicar que esses ossos, tanto humanos como os de animais,
estiveram no mesmo espaço de tempo expostos à água contendo flúor. Isto significa
que, se os ossos de animais representam espécies que desapareceram no fim da
Plistocena, os ossos humanos devem ser igualmente antigos” (Walter, H. V.
1958. P 109).
André Prous, arqueólogo da UFMG, discorda das conclusões de Walter, alegando
que houve falhas ao comparar animais recentes (Vaca de Lapa Vermelha), com as
discrepâncias, das porcentagens de flúor nos ossos humanos e do animal n°1 (Prous, A.
1992. 128-9). Não significa que os animais da megafauna, teriam ou não convivido com os
homens modernos, já que em 1980, C. Cartelle, realizando pesquisas na Gruta de Brejões,
na Bahia, descobriu um osso de Eremotherium (preguiça gigante), possuindo vestígios de ter
sido descarnado por objeto cortante (Arquivos do Museu de História Natural. Vol. VI –
VII. 1981-82. P 25-26), havendo presenças humanas com megafauna em outras regiões do
Brasil, como no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí (Tenório, M. C. 2000. P 61) e
famosos sítios dos Estados Unidos (Clóvis e Folson) onde na década de 20 a 40
pesquisadores, descobriram pontas lascadas incrustadas em ossos de animais extintos. De
acordo com estas evidências, conclui–se que os primeiros habitantes das Américas,
coexistiram com antigos animais.
Quando os primeiros americanos chegaram à América? Acredito que seja
complicado responder a questão mais polêmica da História da Arqueologia, pois envolve
um debate de difícil consenso. André Prous comenta que o povoamento americano iniciou–
se há 40 mil anos (de acordo com as evidências de Old Crow) e que há cerca de 30 mil anos
parte da América do sul foi habitada devido os vestígios encontrados, na região centrooeste do Brasil, e somente há 10 mil anos todo o continente encontrava–se habitado. Para
Niède Guidon, arqueóloga do Parque Nacional Serra da Capivara, (Piauí), propõe que a
ocupação iniciou–se por volta de 60 mil anos, devido a vestígios de cinzas de carvão,
descobertos indicando serem restos de fogueira, datados de 48 mil anos. Grande parte da
Academia arqueológica não considera como válida esta data, sugerindo que a fogueira
poderia ter ocorrido espontaneamente, pois há vestígios similares de materiais coletados na
Serra do Cipó-MG, datados de 18 mil anos e na Lapa Vermelha, datados de 22,4 a 25 mil
anos (Prous, A. 1992. P 131-132). Guidon se defende alegando que pistas no sítio possuem
idades remotas, como as pinturas rupestres de 35 mil anos e dentes humanos datados de 15
mil anos (Superinteressante. N° 184. Jan 2003. P 76-7). Além disso, os pesquisadores
acrescentam que aquele local era uma antiga floresta e que a combustão natural poderia
afetar toda a selva, deixando marcas na geocronologia e não aqueles pequenos traços de
cinzas. Também, há vestígios de presença humana em outros locais,como no Chile (Monte
Verde), datados de 33 mil anos (Tenório, M. C. 2000. P 63).
108
Prous e Guidon concordam que os primeiros americanos teriam vindo através da
Beríngia (oceanos de 100 m, sendo possível ter existido uma antiga ponte de terra ligando o
Alasca a Sibéria). Pedro Paulo Funari, arqueólogo da UNICAMP, assim como outros
arqueólogos, acredita que o sítio de Pedra Furada no Parque Nacional Serra da Capivara
não seja tão antigo e que os restos de fogueira, podem ter sido provocado pela natureza, ao
invés de ser algo feito pelo homem. Já as datações das pinturas de 35 mil anos poderiam ter
sofrido contaminação que afetou na datação. Para este pesquisador, o “Homem de Pedra
Furada” recebe destaques em vestibulares, meios de comunicação e em livros didáticos,
enquanto que no meio científico, seja bem menos divulgado (Furani, P. P. & Noelli, F. S.
2002. P 41).
Maria Beltrão, que havia sido arqueóloga do Museu Nacional, pesquisou sítios da
Toca da Esperança localizada em Central, no sertão da Bahia e em Itaboraí, no Rio de
Janeiro. A pesquisadora e sua equipe depararam–se com possíveis indícios de uma
ocupação humana antiga, pois haviam sido encontrado peças líticas na camada de n° IV
associados a ossadas de animais já extintos como um Chopper de quartzito, e levado para
exames de traceologia, no Laboratório do Instituto de Paleontologia Humana de Paris
(consiste em examinar traços ou marcas de corte, deixados por um objeto). A análise
confirmou a utilização de 7 a 11 microtraços, bem significativos de que o objeto deveria ter
sido usado por alguém. Além disso, foi descoberto no sítio fósseis de animais extintos, um
possível furador em osso, sugerindo a existência de vestimentas e carapaças de moluscos
(Beltrão, M. 2000. P 58 e 62). Para Maria Beltrão, a ocupação na América, como também,
no Brasil, iniciou–se com a migração do Homo erectus a partir de 295 mil anos (de acordo
com datações de urânio–tório), encontrados na camada IV, como a pesquisadora explica:
“Embora até presentemente não tenham sido encontrados outros vestígios
humanos além dos culturais, a datação mínima de 295 mil anos, obtida pelo
método do urânio–tório para a camada IV, parece sugerir a presença de Homo
erectus na América. Portanto, a possibilidade de ocupações humanas muito antigas
na América se reforça tendo–se em conta que, durante os períodos frios do
Quaternário, que se renovam a cada 100 mil anos, o nível dos oceanos fica mais
baixo cerca de 100m, deixando disponível uma ponte de terra entre a Ásia e
América” (Beltrão, M. 2000. P 35).
Podemos concluir que as pesquisas de Beltrão e seus colaboradores seguiram
normas metodológicas em arqueologia, muito bem realizadas e pode–se dizer que é bem
atraente como já foi comentado anteriormente. A Academia de Arqueologia no Brasil, não
acredita na possibilidade de uma migração de povos erectus para as Américas, devido à
escassez de material encontrado, mas que se forem encontradas no futuro algumas suas
ossadas. Até lá, grande parte dos pesquisadores se mantêm distante deste assunto (Funari,
P. P & Noelli, F. S. 2002. P 27-8). As únicas ossadas encontradas na América remontam a
uma idade de 12 mil anos, e grande parte das coleções, localizada na América do Sul (70
crânios), enquanto que a América do Norte detém apenas meia dúzia, limitando as
investigações científicas.
109
Grande parte das descobertas que possuem datações mais elásticas, do tipo 15–60
mil anos são na verdade, vestígios de líticos, fogueiras, ossos de animais descarnados por
ferramentas de pedra e outros exemplos. Traduzindo: com este tipo de material para ser
analisado, torna–se difícil a interpretação e por este motivo, as teorias de Guidon e Beltrão,
não são tidas como válidas (Funari, P. P & Noelli, F. S. 2002. P 39). Mas, o que Beltrão,
Prous, Funari, Noelli e Guidon, por mais diferentes que sejam seus argumentos e suas
propostas, possuem em comum a rota de migração dos primeiros americanos realizada a
partir da Beríngia. No entanto, existem arqueólogos que apresentam outra teoria de como os
nossos antepassados vieram para América? Dennis Stanford e B. Bradley propuseram na
década de 90, que os Solutrianos povos europeus que viveram a partir de 30-20 mil anos,
que desapareceram por volta de 19 mil, acreditam que houve uma migração deste povo para
a América, cruzando o vasto Oceano Atlântico lembrando que os oceanos da Terra eram
cerca de 100m mais baixos, se comparado, com os dias de hoje. Este argumento baseia–se
nas semelhanças de instrumentos do sítio de Cactus Hill (Estados Unidos), com a confecção
das lâminas solutrianas, sendo similares às indústrias de Clóvis e diferentes das indústrias
siberianas e do Alasca. Além disso, há tribos de esquimós, com pequenas embarcações, de
pesca, que cruzam constantemente, o Alasca até a Groenlândia (National Geographic
Brasil. Mapa. Escala: 1 cm = 220 KM. DEZ. 2000. Ano 1. N° 8).
Há arqueólogos que discordam da teoria de Bradley e Stanford, alegando falta de
material arqueológico (antigas naus) e artefatos diferentes para serem associados com os
Solutrianos. Para informação do leitor, já foram realizadas experimentações de naus, feitas
de madeira e junco, que conseguiram realizar a travessia do Atlântico. A primeira tentativa
ocorreu em 1893, quando os noruegueses, Shetelig, Magnus Anderssen e seus
colaboradores, construíram uma fac–símile da nau Viking de Gokstad (encontrada em
1880), de 32 toneladas, feita de carvalho. O objetivo era testar sua mobilidade, elasticidade
e desenvoltura, atravessando com sucesso o atlântico, passando por Bergen, Noruega até
Newfoundland (Canadá) em 33 dias, sendo mais um navio de guerra, do que de transporte e
viagens longas (Jones, G. 2ª ed. 1984. P 184). Outra tentativa ocorreu em 1970, usando um
barco feito de junco egípcio, como um experimento do antropólogo e biólogo, T. Heyerdahl
(1914–2002), ao realizar sua Expedição Rá II, partindo do Marrocos (Safi) e aportando em
Barbados, em apenas, 55 dias menos tempo que Colombo gastou (70 dias), em 1492:
“Conseguimos provar que a mais antiga forma conhecida de embarcação a cruzar
os mares do Norte africano e as cercanias do Mediterrâneo poderia ter alcançado
a América tão facilmente quanto as embarcações Vikings e caravelas”
(Heyerdahl, T. 2000. P 361).
Existem ainda pesquisadores que acreditam que a ocupação americana teria sido
feita pelo Pacífico aproveitando a pesca abundante e o baixo nível do mar, podendo ter
cruzado, colonizando algumas ilhas da Polinésia rumo a América do Sul. Esta teoria se
baseia, nos artefatos e culturas dos habitantes sul–americanos distintos e em determinados
sítios, mostrando–se mais antigos que os sítios da América do Norte (National Geographic
Brasil. Mapa. Escala: 1 cm = 220 KM. DEZ. 2000. Ano 1. N° 8).
110
Mais uma vez, a Academia de Arqueologia discorda, alegando que cada tribo,
estando num mesmo eco–sistema, não precisa possuir a mesma cultura. Além disso, não há
registros arqueológicos de humanos que datam de 15 mil anos na região das ilhas da
Polinésia. Realizou–se teste de navegação chamado Expedição Kon–Tiki, produzida por
Thor Heyerdhal (1914–2002), biólogo e antropólogo norueguês, que em 1947, confirmou a
possibilidade de uma travessia trans–oceânica. Sua razão ao realizar tal experimento era
para provar a possibilidade, de que os povos da América do Sul já estabelecidos, poderiam
ter percorrido mar aberto, indo colonizar a Ilha de Páscoa e algumas ilhotas da Micronésia.
A base de sua teoria estava no fato de algumas representações culturais da Micronésia se
faziam presente na América do Sul (os índios Aymara, do lago Titicaca, na Bolívia,
estabeleceram a civilização de Tiahuanaco e construíram monumentos notáveis, havendo
representações divinas da Polinésia: Kon–Tiki), similares aos aspectos sociais (hierarquia
baseadas, em reis–sacerdotes, comum na América do Sul e na Micronésia) e também,
determinadas plantas encontradas na Ilha de Páscoa, poderiam ter sido transportadas, para
aquele local, como: batata, mandioca, pimenta e abóbora (Heyerdahl, T. 2000. P 132, 245,
310). Utilizando embarcações de junco e correntes marítimas (da costa do Peru até a ao
Equador meridional e por sua vez até a Micronésia), contendo vela, cabana, leme e uma
tripulação composta por cinco noruegueses e um sueco, partindo do Peru (Callao), em 28
de abril, e aportando em Roroia (arquipélago de Taumotú) na Micronésia em 7 de agosto,
levando 101 dias (Heyerdahl, T. 6ª ed. 1955. P 9–19),comprovando a possibilidade.
Diante das aventuras científicas em cruzar os oceanos a mensagem é clara: não
duvide da capacidade dos povos antigos. Certamente não duvido que os Vikings tenham
aportado na América do Norte, no início do século XI (julho de 1001), pois há uma lista de
evidências que colaboram com tal empreitada tendo suas embarcações (Knorr e Skudlev)
para provar sua manobrabilidade no oceano. As expedições de Heyerdahl comprovam a
teoria de que as culturas sul–americanas já estabelecidas e contendo uma sociedade mais
burocratizada, tinha iniciado uma migração para outras áreas, em direção ao Pacífico Sul,
enumerando os argumentos de sua hipótese, escrevendo outro livro. Coloco a tese do Kon–
Tiki, como inconteste. Infelizmente, não há provas incontestáveis de que os primeiros
americanos poderiam ter navegado pelo Atlântico ou Pacífico Sul, entre: 20–12 mil anos.
Então, como ocorreram as primeiras povoações? Para Prous e Funari, a teoria mais
segura e confiável é de que a partir da Beríngia, os povos nômades, viajando a pé da Ásia a
América, atravessando o corredor dos glaciares Cordillian (na Califórnia) e Laruentina (No
Meio–Leste dos EUA e Canadá), sendo uma passagem natural, poderia ter sido percorrida.
Por este motivo, sou levado a crer que estes cientistas estejam com razão. Há pesquisadores
que acreditam que tais migrações, poderiam ter sido feitas utilizando faixas costeiras ao
invés do corredor, usando pequenas embarcações (similares aos esquimós), costeando o
litoral e não se aventurando ao mar aberto, estabelecendo pontos de colonização e depois
partindo para o interior do continente (National Geographic Brasil. Mapa. Escala: 1 cm =
220 KM. DEZ. 2000. Ano 1. N° 8).
111
3.2 MODELO FOLSON E CLÓVIS:
Numa escavação ocorrida em 1927, em Folson, Novo México (EUA), encontrou–se
pontas de lanças, feitas a partir de pedras, presas em fósseis de animais já extintos. Em
1932, pontas de lanças feitas de pedras também foram descobertas, em Clóvis, Novo
México. Edgar B. Howard, da Universidade da Pensilvânia, em 1949 descobriu que as
pontas de Clóvis eram mais antigas do que as de Folson, datadas em 9,5 mil anos (James, P
& Thorpe, N. 2001. P 314-315). A partir dessa evidência, criou–se um modelo universal
que explicasse quem era aquele povo, como e de onde vieram definindo que o povoamento
americano ocorreu no final da última Era Glacial (por volta de 10 mil anos), por povos
nômades de origem asiática (mongólica), que atravessaram a Beríngia, seguindo as
manadas de megafauna, que era base de sua dieta alimentar (Tenório, M. C. 2000. P 35),
sendo ancestrais dos índios sul–americanos. Havia pesquisadores que propunham que a
caça excessiva desses povos teria causado a extinção das megaferas. Hoje em dia, acredita–
se na hipótese de que mudança climática afetaram as pastagens, levando estas criaturas a
extinção.
Paul Rivet, (1876-1958), etnólogo francês escreveu em seu livro: As Origens do
Homem Americano (1957), afirmando poder ter havido uma múltipla migração étnica no
povoamento do território americano, sugerindo que os aborígenes australianos, melanésios
e outros tipos étnicos teriam vindo rumo a América do Sul propondo portanto, que os
índios do sul eram diferentes dos índios do norte, rompendo a ideia tradicional do modelo
Clóvis-Folson. Para Rivet, as evidências estariam no fato de haver crânios dolicéfalo
encontrados na Patagônia (Argentina), que apresentam semelhança com crânios de
aborígenes australianos.
“Há muito tempo se assinalara nas coleções de crânios patagões a existência de
um tipo platidolicocéfalo, isto é, alongado, estreito, rebaixado, com uma fronte
estreita e fugidia, uma forte glabela, uma saliência superorbicular muito
pronunciada embora curta a região occipital bem desenvolvida, tipo que, se não
pode relacionar-se como se pretendeu com o tipo quaternário de Neandertal parece
apresentar alguns pontos de semelhança com crânios australianos” (Rivet, 3ª Ed.
1960. P 85).
Além dessa informação, Rivet também sugere que o povo Čon da Patagônia possuía
uma similaridade cultural-fonética com os povos aborígenes australianos.
“A língua Čon apresenta semelhanças evidentes e muito numerosas com as línguas
australianas: registra-se nada menos que 93 correspondências de palavras e essas
palavras pertencem aos elementos mais estáveis das línguas, isto é, aquelas que
designam partes do corpo e fenômenos naturais” (Rivet, 3ª Ed. 1960. P 87-88).
112
E acrescenta que grupos melanésios teriam chegado a América dando origem ao
grupo étnico conhecido como Homem de Lagoa Santa descoberto em 1842, no Estado de
Minas Gerais/Brasil, pelo naturalista dinamarquês Peter Lund (1801-1880).
“Este tipo étnico de Lagoa Santa ou paleo-americano, certamente antigo no Novo
Mundo, acha-se estreitamente aparentado, por todos os seus característicos, como
o tipo hipsidolicocéfalo ou dolico-acrocéfalo de Biasutti e Mochi, dominante na
Melanésia” (Rivet, 3ª Ed. 1960. P 98).
Nem todos os arqueológicos da década de 50, ficaram satisfeitos com a sugestão de
Rivet, pois criava polêmica e forte discussão a cerca dos primeiros americanos e suas
origens. Uma das causas de polêmica, atribuída a Rivet, seria o fato de que ele propunha
que os australianos aborígenes teriam vindo para América do Sul passando pela Antártida e
não considerando a rota da Beríngia mais acertada para ser atravessada pelos primeiros
americanos.
“supor que os australianos tivessem no curso dos anos contornado o Pacífico pelo
norte e depois de atravessar a América, de norte a sul, houvessem sido recalcados
até a extremidade mais meridional deste continente, não é coisa admissível
logicamente” (Rivet, 3ª Ed. 1960. P 91).
Sem dúvida as sugestões de Rivet, contrariava o modelo Clóvis-Folson elaborado
nos anos 40 e 50 pelos arqueólogos norte-americanos. O que a arqueologia norte-americana
havia descoberto nessa época eram pontas de pedra, restos de fogueiras, alguns dentes,
ossos de animais da megafauna que foram descarnados, pouquíssimos esqueletos contendo
crânios que pudessem ser comparados com os crânios achados em Lagoa Santa, Brasil, que
poderiam possuindo uma datação acima de 10 mil anos A. P.
A partir da década de 70, houve uma explosão de novos pesquisadores buscando
novos sítios arqueológicos que pudessem contrader o modelo Clóvis-Folson. Concluiu–se
que existem sítios com datações posteriores ou contemporâneas ao de Clóvis, como: Velho
Crow (Canadá), Monte Verde (Chile), Pedra Pintada (Brasil), Lagoa Santa (Brasil) e
Meadowcroft (Estados Unidos). Já os sítios de Cálico (Estados Unidos), Taima–Taima
(Venezuela), Pendejo (Estados Unidos) considerados de difícil interpretação sofreram
contestações, quando se tentou datar suas camadas.
Havendo uma grande quantidade de material coletado, em Monte Verde, no Chile,
escavado por Tom Dillehay (Universidade de Kentucky) durante 1977 a 1985, contendo
lanças, pedras lascadas, restos de fogueiras, fundação de cabanas, ossadas de vários
animais, que deveriam ter servido de alimentos para aquela comunidade (James, P &
Thorpe, N. 2001. P 323-324), alguns artefatos foram datados entre 13,5–11,8 mil anos
(Tenório, M. C. 2000. P 40). Estes vestígios apresentam uma variação alimentar, pois a
quantidade de restos de megaferas era pequena e a base da dieta dessa população consistia
em vegetais, peixes e caça de animais pequenos (anfíbios, roedores, lhamas), demonstrando
haver resultados contrários ao modelo Clóvis.
113
Antes de tentar responder a estas contradições, há outros sítios interessantes, no
Brasil, em Monte Alegre, no Pará, escavado por Anna Roosevelt, curadora do Museu Field
de Chicago e da Universidade de Illinois realizou escavações na região, deparando–se com
pinturas rupestres, sendo descritas 56 datações de C14, indicando uma idade de 11,2 e 10
mil anos. Os líticos descobertos tiveram 13 datações por termoluminescência mostrando
idades contemporâneas ao dos sítios norte-americanos com tradição cultural baseada na
pesca, coleta e caça de animais pequenos provendo o necessário para aquelas a população.
De acordo com estas provas, a pesquisadora concluiu:
“A existência de várias tradições culturais sul-americanas contemporâneas, mas
distintas da tradição Clóvis não corrobora a hipótese de que os caçados de animais
de grande porte norte-americanos fossem ancestrais dos sul–americanos. A ênfase
na caça de grande porte raramente é encontrada na América do Sul, onde a pesca,
a coleta de moluscos e de plantas e a caça de animais menores eram mais
importantes para a subsistência das pessoas” (Tenório. M. C. 2000. P 49).
Para André Prous, arqueólogo da UFMG e autor de Arqueologia Brasileira desde a
época da missão franca–brasileira, em 1974 realizou escavações em sítios de Minas Gerais,
tais como: Pedro Leopoldo, Serra do Cipó, Santana do Riacho e Lagoa Santa, considerando
como locais de ocupação do “Homem de Lagoa Santa”, havendo algumas pistas que
dificultam interpretações. Em compensação, sabe–se que o modus vivendis daquele povo,
por exemplo: usavam quartzo, para fazerem instrumentos de corte, usavam o ocre
envermelhado e alimentavam–se de vegetais (pequi, coquinhos e jatobá), pesca e caça de
animais de pequeno porte (porcos do mato, tatus e roedores), preenchendo um período de
tempo de 10–8 mil anos (Tenório. M. C. 2000. P 102-106).
Em Rockshelter, (Pensilvânia), James Adovasio, da Universidade da Pensilvânia,
iniciou suas pesquisas, no sítio de Meadowcroft, entre 1973–1977, descobriu vestígios
inquestionáveis de ocupação datados de 9.000 anos. Mais abaixo, encontraram artefatos de
pedra, datados por radiocarbono 12,5–12 mil anos. Estes indícios causaram polêmica, não
por causa dos artefatos de pedra, que mostravam sua inquestionabilidade, mas pelos testes
de datação que poderiam ter dado errado, em algum ponto. Adovasio, testou
exaustivamente os achados que apontaram para o mesmo resultado, sabendo–se que
Meadowcroft, é um sítio reconhecido como, um dos mais antigos de ocupação das
Américas (James, P & Thorpe, N. 2001. P 321-322).
Na Califórnia, durante a década de 60, Louis Leakey, acreditava que descobrira
evidências de ocupação, em Cálico (EUA), que interpretou como artefatos, datados com a
idade de 50 mil anos. Dos 12 mil artefatos descobertos, apenas três apresentaram como
testemunha de produção humana e que havia sido demonstrado ter sofrido ações geológicas
(água, por exemplo) (James, P & Thorpe, N. 2001. P 320).
114
No Canadá, no território de Yucon, em Old Crow (Velho Corvo) descobriu–se
vestígio de instrumentos de pedra e ossos de mamutes trabalhados possuindo a idade dos
materiais datados através de radiocarbono em média de 29,1–25,75 mil anos. Há
pesquisadores que discordam da datação, alegando contaminação das ferramentas de pedra
e não havendo uma estratigrafia confiável, dificultando os estudos.
No sítio de Taima–Taima (Venezuela), descobriram–se artefatos de pedra em forma
de folha, datados entre 14,4–11,9 mil anos, apresentando uma estratigrafia complexa e
pouco confiável, fazendo com que muitos arqueólogos duvidem não dos artefatos, mas da
datação, pois, apresentavam sinais de contaminação (Tenório. M. C. 2000. P 40-41).
Em Pendejo, Novo México (EUA) Richard MacNeish, realizou escavações,
descobrindo artefatos e restos de fogueiras, datados por radiocarbono, com a idade de 35
mil anos, sendo severamente contestado por outros arqueólogos, pois seus artefatos
poderiam ser ação da natureza. Até que se prove através de novos dados e acúmulo de
material, os céticos continuam a afirmar que Pendejo possa ser um sítio considerado pós–
Clóvis, mais de 9,0 mil anos A.P.
Vemos que após a década de 70, ocorreu uma explosão de dados e um aumento das
informações arqueológicas e naturalmente, aumentou a documentações de sítios
arqueológicos trazendo provas contrárias ao modelo universal. Sabemos que são poucos os
locais hoje reconhecidos, como Pré–Clóvis isto é, superiores há 10 mil anos.
Observando, as inúmeras informações destes sítios de ocupação, propõe–se que os
defensores do modelo universal e nortecentrista (Clóvis-Folson) tentem responder uma lista
de questões, como: 1ª Se consideramos que a cultura Clóvis seja realmente a mais antiga
dos povos sul–americanos, então porque Monte Verde possuía uma datação confiável, mais
antiga do que Clóvis? 2ª Por que as datas de alguns sítios sul–americanos (Monte Alegre,
Lagoa Santa, Monte Verde e Pedro Leopoldo), podem ser descritos como contemporâneo
ao sítio de Clóvis possuindo 9,5 mil anos ou mais? 3ª Porque os habitantes de Monte
Verde, Pedra Pintada, Pedro Leopoldo (Lapa Vermelha IV) e Santana do Riacho possuíam
uma dieta alimentar mais variada, do que o povo de Clóvis? 4ª Se consideramos que a
cultura Clóvis seja realmente, a mais antiga dos povos sul–americanos, então por que,
alguns instrumentos líticos, da população da América do sul diferenciam–se do modelo
Clóvis? 5ª Sabendo que a população de Santana do Riacho, Pedro Leopoldo e Lagoa Santa,
pertencem ao grupo étnico, estipulado por Lund, como “Homem de Lagoa Santa”, porque
os resultados das pesquisas anatômicas apontam para uma morfologia craniofacial
negróide, ao contrário de se encontrar uma morfologia craniofacial mongolóide, proposta
pelo modelo Clóvis? 6º Por que as pesquisas através do estudo no “Homem de Kennewick”
(esqueleto descoberto nos USA) revelam–se caucasiana diferenciando da proposta do
modelo Clóvis-Folson?
Concluindo, os pesquisadores Anna Roosevelt, André Prous, Adovasio, Tom
Dillehay, Paulo Pedro Funari, Niède Guidon, mostram–se contrários ao modelo Clóvis, por
isto, temos então,outra questão: Quem (ou quais tipos étnicos) migrou para América? A
resposta para esta pergunta será comentada no próximo tópico.
115
3.3 MODELO DOS DOIS COMPONENTES BIOLÓGICOS PRINCIPAIS:
Reconstituição facial de Luzia, descoberta em Lapa Vermelha IV, em 1975 Fonte:
www.hystoria.hpg.ig.com.br/luzia.html
O mais famoso crânio estudado no Brasil pertencente a uma garota, apelidada de
Luzia, encaixada dentro do grupo étnico do “Homem de Lagoa Santa”, com uma estatura
baixa (1,50m) desconhecia a agricultura, devendo ter entre 20–25 anos quando faleceu. O
que mais impressiona no crânio é uma feição negróide, algo que questiona seriamente o
modelo Clóvis-Folson. A história desta jovem divide–se, em duas partes.
A primeira parte ocorreu durante a década de 70, com a expedição franco–brasileira,
liderada por Annete Lamming–Emperaire, que (1974–1976) escavou o sítio de Lapa
vermelha IV, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, desenterrando 12 metros de terra e para
surpresa geral, descobriram restos de um raspador de quartzo, parte do esqueleto e um
crânio, parecendo ser feminino, devido à forma, em que os ossos se encontravam na
camada, sugerindo que não havia sido enterrada, mas ter caído acidentalmente. Datados
através de radiocarbono, descobriu-se que possuía a idade, entre: 11–11,5 mil anos,
provando que oprova fóssil tinha uma idade contemporânea a Tradição Clóvis. A segunda
parte aconteceu a partir do material levado ao Museu Nacional do Rio de Janeiro,
permanecendo empoeiradas caixas do acervo. Anos se passaram e quando foi redescoberto,
em 1998, por Walter Neves, anatomista da USP e coordenador do Laboratório de Estudos
Evolutivos Humanos (IBUSP), passou a analisar a anatomia craniofacial, percebendo que
se tratava de um espécime negróide (demonstrando haver correlação com os crânios
aborígines: australos–melanésios), ao invés de ser mongolóide (povos oriundos da Ásia
Central: mongóis), que estava na América. Segundo o modelo Clóvis, a população que
primeiramente chegou a América, eram povos nômades e mongolóides, havendo então uma
homogeneidade morfológica que Neves, desde os anos 80 vem questionando. Com objetivo
de reconstituir a face do crânio de Lapa Vermelha IV (Luzia), em 1999, enviado para
Richard Neave (Universidade de Manchester) demonstrou que as análises de Neves
estavam corretas e a reconstituição encontra–se atualmente no acervo do Museu Nacional –
RJ (Funari, P. P & Noelli, F. S. 2002. P 34-35).
116
Agora, o anatomista possuía provas concretas além de 40 crânios de pessoas,
descobertas, em Santana do Riacho–Mina Gerais, Dr. Neves concluiu sua pesquisa
afirmando que “pelas características, os grupo que viveu há milhares de anos não era
antepassado dos atuais índios brasileiros” (Veja. 12 de Maio. 1999. P 94), e que houve duas
levas de migração-ocupação: a primeira envolvendo grupos nômades de indivíduos de
características negróides e a segunda de indivíduos mongolóides. De acordo com estudos
comparativos de crânio das populações de Lapa Vermelha IV (Luzia), Palli Aike (Chile),
Santana do Riacho (Scientific American Brasil. Ano 02. N° 15. Ago de 2003. P 24-31) e
Serra do Cipó (Alvin, Marília C. Arquivos do Museu de História Natural. Vol XIII/ XIV. P
107-111), assemelham–se muito mais com africanos e aborígines ao invés dos grupos
asiáticos (Ainu e outros). Veja o quadro abaixo:
FIGURA. 12
AS CARACTERÍSTICAS NEUROCRANIANO ENCONTRADAS
POPULAÇÕES DO NORTE DA ÁSIA
Face: altas, larga e retraídas
Crânio: curtos e largos
Cavidade Nasal e Ocular: altas
POPULAÇÕES DA AMÉRICA DO SUL (MG)
Face: baixa, estreita e projetada
Crânio: longos e estreitos
Cavidade Nasal e Ocular: baixas e largas
Fonte: Scientific American Brasil. Ano 02. N° 15. Ago de 2003. P 24-31.
Com base nestes dados, foi necessário criar uma teoria, que explique o
aparecimento destes indivíduos em nosso país e no continente há mais de 11 mil anos,
criando um novo modelo: “dos dois componentes biológicos principais”, devido à
ocorrência de diversidade biológica e cultural que para Neves, tais pessoas teriam cruzado
os oceanos numa migração transoceânica, não muito provável. O anatomista sugere que o
Estreito de Bering seria a porta de entrada mais satisfatória (Scientific American Brasil.
Ano 02. N° 15. Ago de 2003. P 24-31).
O Dr. W. Neves, juntamente, com Danusa Munford, da UFMG, estudam a variação
morfológica dos materiais encontrados pelos arqueólogos, desde a década de 90, realizando
um levantamento, das ocupações humanas, desde Luzia até o aparecimento dos europeus na
América, que ainda, em fase de preparação, parece provável que a conclusão venha a
garantir, que o aparecimento dos alguns grupos mongolóides, em determinados locais,
tenha surgido de repente.
Para Funari, arqueólogo da UNICAMP as implicações dos estudos de Neves, não há
dúvida que essa população adversa, adentrou no território americano, mas o que aconteceu
com esses indivíduos? Será que foram substituídos pelos grupos mongolóides? Ou houve
algum tipo de intercruzamento étnico? Ou teriam desaparecidos? A cada nova descoberta,
ocorre o surgimento de novas perguntas. Funari resume outro ponto de vista, abordado por
Martha Lahr e Robert Foley, da Universidade de Cambridge, Inglaterra, argumentando que:
117
“... Certas semelhanças entre os restos de paleoíndios e os aborígines australianos,
podem ser explicadas como características que ambos os grupos herdaram de um
ancestral comum, perdidas pelos mongolóides nos últimos 15 e 10 mil anos”
(Funari, P. P & Noelli, F. S. 2002. P 37).
Nem todos os cientistas, estão convencidos pelos resultados obtidos, por Neves e
seus colaboradores, argumentando que os números de crânios, não apresentam quantidade
significativa e avolumada o bastante para criar um modelo com dois componentes
biológicos. Em compensação, os críticos não apresentam “a quantidade ideal” de crânio
para serem devidamente estudados. Sabemos que grande parte das descobertas de
esqueletos provém da América do Sul, segundo Prous sugere que o grupo do “Homem de
Lagoa Santa” parece ter existido em outros locais longe de Minas Gerais, com
características morfológicas similares a indivíduos descobertos em Tequendama
(Colômbia) e na Bahia (Tenório, M. C. 2000. P 102).
Por outro lado, pesquisas genéticas com DNA, vêm provando homogeneidade
constada por W. Neves e pelo geneticista, da Universidade de Michigan, Andrew
Merriwether, examinou 1.800 indivíduos de ameríndios vivos e de esqueletos encontrados
em sítios arqueológicos. Sua conclusão foi que encontrou nove grupos genéticos, que
atualmente estão presentes no continente americano. Os testes confirmaram que os genes de
1800 são mais compatíveis com a população da Ásia Central do que com os siberianos que
por sua vez, migraram uma única vez para América, mas não sabe precisar o período de
tempo para a ocupação das Américas. No momento há indícios arqueológicos de presença
não–siberiana na América, apresentado por um esqueleto caucasóide (branco) de um
indivíduo de 40–55 anos, descoberto no Estado de Washington, em 1996, apelidado de:
“Homem de Kennewick”, datado entre: 10–7 mil anos, possuindo um ferimento mortal na
pélvis, provocado por uma lâmina de ponta de pedra. Outro esqueleto caucasóide
descoberto por volta de 1947 em Nevada, chamado de “Homem da Caverna do Espírito”,
datado de 7,4 mil anos. A presença caucasóide na América do Norte para Thorpe, não
significa a presença de imigrantes europeus, pois há caucasóide no Japão, o povo Aino, que
provavelmente deve ter tido traços genéticos com os esqueletos descobertos nos Estados
Unidos (James, P & Thorpe, N. 2001. P 333-4).
O que se pode comentar sobre as conclusões das pesquisas genéticas? O mais
notável nas pesquisas de DNA, que possuí uma marca de erro muito ínfimo, acredita-se que
se este teste coletasse amostras de DNA da população étnica do “Homem de lagoa Santa”
descoberta, em Lapa Vermelha IV, Serra do Cipó e Santana do Riacho, seus resultados
seriam outros, mas infelizmente, o DNA não foi preservado nestes esqueletos. Merriwether
realizou testes que envolveram somente, os indivíduos de Kennewick e da Caverna do
Espírito juntamente com os índios atuais das Américas do Sul e do Norte e mais tarde os
resultados foram comparados, ficando óbvio que indicavam que a 1a presença nas Américas
de humanos era de mongolóide e a presença de negróides na América do Sul, defendida por
Neves, foi ignorado pela pesquisa de DNA. Apesar das críticas de alguns pesquisadores de
outras áreas do conhecimento, posso afirmar como válida a teoria de Neves que no futuro,
apareça esqueletos como de Luiza, com DNA preservado, para que possamos confirmar a
tese de Neves e colaboradores.
118
3.4. AGRICULTURA, CERÂMICAS E SAMBAQUIS:
De acordo com Anna Roosevelt, os paleoíndios eram nômades, (a nomenclatura:
paleoíndio, geralmente usada, pelos arqueólogos, para definir a cultura do homem pré–
histórico americano, sendo: negróides, caucasóide ou mongolóide, numa época anterior ao
uso da cerâmica e agricultura). Sabemos agora quem eram os primeiros americanos
(negróide, caucasóides e mongolóides), de onde vieram (pela Beríngia) e quando vieram
(Prous, afirma que foi a uns 40 mil anos). O que aconteceu depois? Ao estabelecer em
determinados territórios, os plaeoíndios não conheciam a agricultura e não faziam
cerâmicas. De acordo com a tese de W. Neves, havendo a segunda leva de ocupação
realizada pelos mongolóides ao se fixaram na Amazônia, desenvolveram formas de cultivo
e de arte (cerâmica). A cerâmica brasileira, segundo Funari, foi utilizada pelo homem da
Amazônia (Monte Alegre e Taperinha) sendo recipientes de barro, datados de pelo menos,
7–6 mil anos, permitindo a comunidade a assar, torrar, armazenar e transportar
determinados alimentos e servindo também para propósitos ritualísticos, isto é, urnas
funerárias consistindo em ossos de seres humanos (Funari, P. P Noelli, F. S. 2000. P 80-1).
No Oriente Médio, em Jericó (Israel), possuía indícios que remontam há 10 mil anos atrás e
o uso da cerâmica deveria ter iniciado posteriormente. Maria Tenório, do Museu Nacional,
ao estudar a relação entre o uso das cerâmicas e a agricultura, afirma que pelo menos na
América seria indemonstrável que a cerâmica precedeu o cultivo:
“Se pensarmos que na Meso–América a cerâmica só irá aparecer quase 05 mil
anos depois do aparecimento das primeiras espécies cultivadas e que, ao mesmo
tempo, na Europa Setentrional, a cerâmica surge abundantemente muito antes do
desenvolvimento da agricultura, podemos ter uma idéia como pode ser incorreta a
utilização da cerâmica como evidência da presença de cultivo” (Tenório, M. C.
2000. P 261).
Qual foi à motivação encontrada para que estes indivíduos deixassem de ser
coletores e caçadores, para serem agricultores? Esta pergunta pode causar polêmica, e este
não é o objetivo. Sabemos que a agricultura americana surgiu independente do resto do
mundo e grande parte das plantas cultivadas eram nativas na América, além disso, é certa
que com a agricultura, os alimentos multiplicaram–se, com afirma, W. Sanders e J.
Mariano:
“Em todas as sociedades agrárias, sejam elas tribo, chefia ou Estado pré–
industrial, uma ou apenas algumas plantas fornecem a maior quantidade de
alimento para a grande maioria da população” (Sanders, W. T & Mariano, J.
1971. P 71).
119
Alguns cientistas estão inclinados a pensar, que com o advento da agricultura, o
homem conseguiu domar a natureza. Não é verdade. Acredito que: quando o homem
passou a plantar, começou a depender dos fenômenos naturais, pois estava fixo a terra
(sedentário). Para não estender muito, grande parte dos arqueólogos admite uma
dificuldade em responder, com segurança à pergunta: porque os coletores e caçadores
tornaram–se agricultores? Devido à falta de informações mais precisas vindas do campo,
cada cientista interessado no assunto, propõe um modelo para explicar porque o homem
começou a plantar. O arqueólogo Gordon Childe, em 1961, propôs que a domesticação de
plantas havia sido um resultado de grandes transformações ecológicas ocorridas na Europa
após a última Era Glacial. L. Braidwood discordava de Childe, pois acreditava que o
advento da agricultura havia sido um processo cultural, ao contrário das pressões de
mudanças ambientais. Por outro lado, Kent Flannery, em 1968, propôs a teoria de que
deveria ter ocorrido um desequilibro profundo na dieta alimentar de uma determinada
população caçadora e coletora, e a solução era realizar experimentos com plantas
(agricultura), Elman Service, em 1971, argumentava que determinadas populações tinham
um problema: a escassez de recursos naturais provocados por um aumento de consumo,
gerando um caos em sua comunidade e a solução encontrada teria sido a agricultura, tese
defendida também por Cohen (Dias, O & Carvalho, E. Arquivos do Museu de História
Natural. Vol VI-VII. 1981-1982. P 192-193). Por fim, o arqueólogo francês, André Leroi–
Gouhan, em 1981, sugeriu que o início da agricultura foi devido o aumento da população
aliado ao processo de sedenterização. Assim podemos enumerar as causas do surgimento da
agricultura: a mudança ambiental ocorrida no Holoceno Inferior (de maior ou menor grau),
a escassez de recursos, aumento demográfico e o conhecimento acumulativo (Tenório. M.
C. 2000. P 260-261).
Há pesquisadores, como Rand e Rose Flem–Ath, que trabalham com a hipótese de
que a Antártida teria sido o continente da antiga Atlântida, desaparecida devido a forças
climáticas, a partir de 12-10 mil anos e seus sobreviventes, ao procurar outros locais para
fugir da calamidade, foram parar na América, África e Ásia. Seus conhecimentos em
agricultura foram repassados aos povos que já estavam estabelecidos nestes continentes.
Sua tese baseia–se em similaridades culturais, deduzindo que os povos de diversos locais
seriam remanescentes de uma cultura atlante (Flem–Ath, R & Flem–Ath, R. 1996. P 3567). Nenhum arqueólogo que conheço, acreditaria nesta teoria, pois, caso a Antártida
tivesse sido o continente que abrigou a cidade de Atlântida, então era de se esperar
encontrar vestígios antigos (anteriores há 10 mil anos). Não acredito que seja possível
encontrar, pois as geleiras existentes ali começaram a se formar, no período Oligoceno (35–
23 milhões de anos), cobrindo toda a área e, além disso, nenhum vestígio de ruínas ou
ocupação foi encontrado, desmerecendo nossa atenção.
Quando teria iniciado a agricultura? Depende de que continente você quer tratar.
Entre 10–8 mil anos, no Oriente Médio iniciam–se algumas experimentações; na América
de cultivo de milho no México há uns 5 mil anos e no Brasil há indícios de ter iniciado a 4
mil anos (na fase Unaí), com descoberta do milho, amendoim e outros, podendo esta data
recuar mais para o passado (ver livro o de: FUNARI, Pedro Paulo & NOELLI, F. S. Pré–
história do Brasil).
120
Na América, as primeiras populações que viviam dos alimentos gerados pelo
domínio das plantas, devendo conhecer a técnica de coivara, que consistia em queimar uma
determinada parte da região, para plantio, com o objetivo de limpar a superfície, que será
usado e a quantidade de território para coivara, dependia da quantidade da população local.
Na comunidade, poderiam ter existido inúmeras roças e assim, ter havido determinadas
áreas que ficavam em repouso.
O leitor deve imaginar porque o advento da agricultura pode ser considerado algo
tão importante? Bem... A conseqüência marcante deste acontecimento seria o aumento de
grandes aglomerados urbanos (polis grega, cidades faraônicas, mochicas, maias e outras),
que mais tarde deu lugar às civilizações modernas, pois ao plantar e sendo a comunidade
bastante numerosa (talvez, uns 1.000 habitantes), seria necessário, dividir as pessoas que
iriam arar a terra ou iriam tomar conta da terra evitando que algum estrangeiro, animal ou
outra pessoa, roubassem os grãos (criando a divisão social: camponeses e o exército). O
segundo passo seria dado quando ocorresse à colheita necessitando contabilizar os grãos, de
modo que cada um pudesse ter o direito ao que se produziu (nascendo à escrita e a
contabilidade), e a posteriori seria interessante, que essa comunidade construísse um
celeiro e uma fortificação em torno do aglomerado urbano, com o objetivo de abastecer a
população, caso houvesse uma necessidade ou emergência (nascendo à matemática e a
engenharia). Existem casos, de que certos grãos, teriam de ser plantados na época correta
(na lua cheia ou lua nova), criando uma forte ligação com os astros sendo necessário
estudá–los para fazer um cálculo mais preciso de quando houvesse uma próxima colheita e
qual seria a quantidade de grãos a ser plantado e coletado no futuro (nascendo a economia e
o calendário, dividido por meses).
A agricultura, também foi responsável pelo surgimento de mitos da antiguidade.
Nas comunidades indígenas dos algoquins nos Estados Unidos, conta que a representação
do Grande Espírito havia conversado um rapaz, num sonho e que teria lhe entregado uma
planta, o milho e que desta forma, este alimento teria sido usado para alimentar sua tribo
(Spence, L. 2ª Ed. 1997. P 31-32). O povo Maia e Asteca possuem lendas sobre a origem
do milho muito similar ao dos algoquins, e sabemos que este grão tornou-se a base da sua
alimentação e que dela faziam-se tortilhas. Segundo o mito da mandioca dos índios Tupis,
um alimento básico da tribo, nasceu no túmulo de uma criança de nome Mandi. A história
dos mitos gregos, romanos, Maia, Asteca e de muitas outras civilizações possuem ligação
com a astronomia que mais tarde, se transformou na base de crenças populares, com o
objetivo de explicar o seu mundo.
“Desde a pré–história, o estudo do céu deve ter provocado um movimento duplo do
pensamento: a busca de leis naturais, imutáveis que em nenhum lugar como no céu
aparecem de forma tão evidente e a tentação de colocar o céu, aparentemente
inacessível à primeira vista, seres sobrenaturais e todo–poderoso.” (Verdet, Jean-
Pierre. 1987. P. 14).
121
Quando estudamos os mitos antigos relacionamos com os cosmos sendo
interpretado como sinais divinos (movimento do sol, lua, planetas, estrelas e cometas) e
para controlar as massas em constante crescimento, seria necessário construir imensos
prédios públicos que chamamos de templos alinhados com esses astros. Isto explica a
existência de pirâmides-templo da cultura Maia e Asteca (Pirâmide do sol e da lua de
Teotithuacán), dedicada aos deuses celestes como a pirâmide O Castelo, em Chichen-Itzá
encontra-se alinhado com os astros. A grande pirâmide de Gizé, no Egito (na verdade uma
tumba e não um templo) está alinhada com os quatros pontos cardeias e com constelação de
Orion. O mesmo acontece na Mesopotâmia, o Ziggurat localizado na cidade de Ur que está
alinhado com os pontos cardeais (Leick, G. 2003. P 147). A cidade Assur (centro religioso
Assírio, no período clássico) a Babilônia (no período de Nabudonosor) e Nínive, ambos na
Mesopotâmia representavam o poder dos reis e a morada dos deuses. A cidade suméria de
Eridu acreditava-se que sua localização marcava a criação do mundo e seus habitantes se
consideravam como filhos dos deuses.
“... Enki (deus da cidade) e Eridu destacam a conexão entre a localidade,
especialmente o Apsu (deus), a criação e a fertilidade, Eridu é primordial e
imanente, o lugar onde o mundo pela primeira vez se tornou habitável, onde o
tijolo e a cidade foram inventados”. (Leick, G. 2003. P 48)
As antigas formas de religião da antiguidade mostram uma relação entre a
localidade e a criação do mundo elaborada por seres divinos. Este tipo de pensamento
ocorre quando estudamos a mitologia Asteca e a mitologia de Rapa Nui (Ilha de Páscoa)
onde os nativos acham que a ilha era o centro do mundo ou te pito te henua (que significa:
umbigo do mundo).
Se a agricultura trouxe a civilização como a conhecemos, em contra partida, havia
outros indivíduos que não era agricultores e exploravam outros recursos (os mariscos). No
litoral brasileiro, não se sabe ao certo o nome que a comunidade se dava, mas os
arqueologos chamam de sambaquis (na língua Tupi, significa: tamba = marisco e ki =
amontoado). Seria uma comunidade, que vivia da pesca e coleta de moluscos. Madu
Gaspar, arqueóloga do Museu Nacional, sugere poderia ser uma comunidade sedentária,
mas há outros autores que preferem considerá-los nômades. Por outro lado, sabe–se que
houve casos de comunidades permanecerem ativa por mais de 1.000 anos, provando sua
sedentarização (Gaspar, Madu. 2000. P 45). Graças aos dados arqueológicos de 1992 e 93,
há cerca de 960 sambaquis, distribuídos pelo litoral carioca até o Rio Grande do Sul,
vivendo entre 6,0 mil–600 AP. Seus vestígios contam com montes artificiais de restos
numerosos de conchas, esqueletos humanos, pingentes, utensílios de uso diário artefatos de
pedra e zoólitos, fundações de estruturas, restos funerários. Para Wesley Hunt,
(Universidade de Indiana) num artigo escrito para o Museu de História Natural de Belo
Horizonte, em 1983-84, comenta que os sambaquis eram povos oriundos de áreas florestais
que chegaram ao litoral, tendo os recursos marinhos como base de sua dieta e a posteriori,
criou–se a difusão cultural que vemos em seus utensílios (Hunt, W. Arquivos do Museu de
História Natural. Vol VIII-IX. 1983-4. P 69).
122
Madu Gaspar comenta que ao estudar os sambaquis, os cientistas do passado
discordavam entre si no que tange, aos monumentos deixados por esta comunidade
pesqueira, havendo duas correntes interpretativas: os naturalistas, que propunham que os
morros artificiais, que podem atingir 25 metros, produzidos por estas pessoas, como sendo
um resultado de lixo comunitário (restos de cozinha). Já a corrente artificialista, sugere o
oposto: que os sítios são na verdade, monumentos. Atualmente, o Museu Nacional guarda
utensílios deixados pelos sambaqueiros de extrema beleza e seriam objetos em forma de
inúmeros animais (marinhos ou da fauna), feitos a partir de pedras e que desde o século
XIX, surgem interpretações de seu caráter: religioso, mágico, usual (do cotidiano de cada
indivíduo). Para Madu Gaspar, grande parte dos objetos, possui uma “parte ventral”
interpretando que poderia ter servido para o sexo.
Sabemos que essa população era sedentária. Como que os pesquisadores, sabem
com certeza? Como a pesquisadora Madu Gaspar explica ao analisar as camadas de terra,
os arqueólogos, percebem a quantidade de utensílios e de restos de comida deixada, pela
população que está sendo estudada. Os materiais foram datados no laboratório e desta
forma a autora sabe quando iniciou e/ou terminou uma ocupação, segura ao afirmar que
aquela comunidade era de sedentários pescadores:
“... o estudo de perfis de vinte sambaquis, tanto no Rio de Janeiro como em Santa
Catarina, não indicou evidências claras de abandono. Mesmo sítios que durante a
construção parecem contar com uma camada considerada estéril – tal qual a
identificada no sambaqui do Forte, Rio de Janeiro ou no Saquarema, Paraná –
apresentam dois pacotes de material arqueológico que foram acumulados
ininterruptamente” (Gaspar, M. 2000. P 43-44).
O sambaqui e os vestígios deixados pelos primeiros brasileiros seriam provas de
ocupação remota. No que diz respeito aos restos e vestígios deixados por estes antigos
habitantes (modernos ou arcaicos), alguns cientistas, dão sua contribuição, da melhor
maneira possível explicando suas teorias ou defendedo–as. Não queremos que o leitor
imagine que os arqueólogos são pessoas conservadoras e fechadas dentro seu mundinho.
Pelo contrário, são pessoas que enfrentam chuvas, fome, doenças e outras adversidades,
encontradas no campo (no seu lugar de trabalho). Na verdade são detetives, abertos a
possibilidades e probabilidades, em que suas pesquisas apontam por este ou aquele
caminho.
123
CONCLUSÃO
Vimos ao longo do texto, que somente após as publicações dos livros: The origins of
species by means of natural selection e The descent of man and selection in relation to sex,
ambos de Charles Darwin (1809–1882), escritos, em 1859 e 1871 e a publicação do livro de
Thomas H. Huxley: O lugar do Homem na natureza iniciou-se estudos para explicar nossas
origens apesar de já ter sido encontrado o fóssil do Homem de Neanderthal, em 1856, mas
sem a certeza de que se tratava de um ser humano arcaico. Os primeiros paleantropólogos,
apesar das dificuldades e algumas limitações, não haviam reconhecido como válidas
algumas espécies descobertas, exemplos notórios de E. Dubois e Raymond Dart,
valorizando apenas os achados europeus: o Cro-Magnon, o Pildown e o neanderthal. Entre
os anos de 1859–1912 havia pouco material descoberto, sem datações absolutas, para se
saber a idade dos fósseis. Não havia tecnologia que apoiasse as conclusões de Dart (que
afirmava, em 1925, a existência de um ancestral africano: Australopithecus africanus) e
Dubois (evidências de restos de um possível ancestral humano, na Indonésia o Homo
erectus). Somente, com a descoberta de novos exemplares foram estudados por esses dois
cientistas e após anos de escavações, análises fósseis e conclusões dos estudos,
confirmaram–se suas premissas.
A partir da década de 50, com os avanços da tecnologia, surgiram às primeiras
formas de datação absoluta (radiocarbono, Urânio–Potássio, Potássio–Argônio,
termoluminescência e outros) e formas de datação relativa (Flúor, bioestratigrafia – mais
comum). Graças a estes apoios científicos, provou-se a fraude do Homem de Piltdown. Na
década de 60, estudos paleantropológicos, proguediram para o modelo da “teoria da
espécie única” de C. Loring Brace, que ao estudar os fósseis, verificou semelhanças entre
os hominídeos estudados fortalecendo a noção somatória, de que as espécies possuíam
poucas diferenças interpretando que a evolução humana caminhava de forma linear e
gradual, e que as espécies antigas, não conviviam com as espécies recentes, portanto, não
havia lugar para novas criaturas, que aparecessem e fossem devidamente, estudadas.
Mesmo com a descoberta, de vários fragmentos do Homo habilis, em 1964, Le Gros Clarke,
L. Brace, Robinsson e M. Day acreditaram que se tratava de um variante de
Australopithecus. Nesta mesma época, Jane Goodall, iniciou seus estudos na observação de
primatas (chimpanzés), criando as deduções de que hominídeos, criaturas que andavam
eretas precederam ao aumento do cérebro, criando novas formas de interações sociais e as
confecções de ferramentas, pudessem ter possuído o mesmo tipo de comportamento. Além
disso, o avanço de estudos genéticos com base no DNA provou que os chimpanzés
possuem 98% do material genético de um homem moderno. Estes dados contribuíram para
que na década de 70, a tese de Brace, começasse a descaminhar diante de novas evidências
descobertas em Koobi Fora, provando a coexistência de quatro tipos de hominídeos
diferentes, num só habitat, num só tempo. Em 1972, houve a descoberta do er1470 (Homo
rudolfensis), mostrando–se similar aos achados de 1964, confirmando como válido o Homo
habilis.
124
Em 1979, Johanson e White, criou uma diferente espécie, ancestral de todas as
demais: Australopithecus afarensis. Desta forma, em 1981, havia duas novas teorias que
explicasse nossas origens. No início sofreu contestações, mas graças aos esforços
exaustivos de Johanson provou–se que sua teoria estaria válida.
A partir de década de 80 e 90, os modelos teóricos, começavam a se modificar,
mostrando uma evolução, com caminhos ou descaminhos, possuindo uma árvore
genealógica cheia de galhos, folhas e tudo mais, aparentando ser uma evolução pontuada e
não–linear. Os estudos feitos por C. Stringer (Museu de História Natural de Londres)
contradiz o modelo de Brace, confirmando através de genética e dados de campo, que nossa
espécie, surgiu a 200 mil anos na África e se espalhou para o mundo (Out of Africa). O
aluno de Brace, Milford Wolpoff, (Universidade de Michigan), discorda de Stringer,
afirmando uma continuidade regional. O debate entre estes dois modelos, ainda continua
em vigor, entre cientistas divisores (Stringer) e cientistas somatórios (Wolpoff). Apesar de
haver novas descobertas paleantropológicas, ficam em aberto e cheio de possibilidades as
teorias multirregional e Out of Africa.
Nos anos 90 e já no século XXI, os pesquisadores descobriram novas criaturas (o
Ardipithecus ramidus (1995), o Orrorin tugenensis. (2001), o Sehalanthropus tchadensis. (2002)
e o Australopithecus sediba (2010)) e a partir dos fósseis, ainda não se sabe o lugar devido
para as espécies encontradas, por falta de consenso entre os cientistas, em colocá-los em
nossa árvore genealógica.
No que tange aos processos da origem do comportamento humano, houve muitas
teorias para explicar seu surgimento, desde a interpretação do “idiota patológico” de M.
Bule até a Home base de G. Isaak. Atualmente, confirma–se a “Hipótese da Inteligência
Social”, baseada em estudos feitos em chimpanzés e outros animais, demonstrando um
comportamento através do oportunismo, parentesco e favoritismo deduzindo que nossos
ancestrais, provavelmente, teriam este tipo de relacionamento social em seu grupo (dos
Australopithecus até o Homo). Estamos seguros em afirmar, que a diversidade das espécies
humanas ocorridas no passado tendo como causa o acaso segundo Jacques Monod, mas
também a mudança do comportamento social, sexual e alimentar, associados a uma
instabilidade climática e a menor mudança de comportamento acarretada por mudanças
anatômicas (explicando a existência de vários tipos diferentes de bipedalismo).
Ao observarmos os vestígios deixados pelos neanderthais, heidelbergensis e
antecessor demonstram não só modificações líticas como também anatômicas. Percebemos
que a mudança comportamental teria sido maior nestes indivíduos do que em seus
antecessores (Australopithecinos e habilis), não sendo possível, aplicar o modelo da
inteligência social devido a indicações de neanderthalianos terem possuído sinais de luto,
linguagem, uso de símbolos e trabalho em grupo (caça). Neste caso, concordo em aceitar
como válida a teoria de G. Isaak, da Home Base, devido o acúmulo de dados de campo.
125
Não afirmo que os neanderthais não eram oportunistas ou que teriam fortes relações
familiares (parentesco), criando e recriando alianças com favoritos, pois há indícios que em
algumas ocasiões possuíssem prática canibalesca, hierarquia social definindo as funções de
cada pessoa no grupo e mostrando ser uma comunidade conservadora naquilo que se faz
(devido seu sedentarismo e as confecções de ferramentas), mas há indícios encontrados
nestes espécimes, que também são visíveis, e não podemos deixar passar em branco, como:
o trabalho em grupo, demonstrado na organização na caça (pois as presas apresentavam
serem adultas e de boa saúde na representação de afeto e de perda (o caso da criança de
Amud, em Israel e do indivíduo de Shanidar, no Iraque).
Depois o Homo sapies resolveu migrar para a América, por volta de uns 40 mil
(segundo A. Prous), cruzando a Beríngia. Esta migração ocorreu em etapas, tendo duas
etnias biológicas ocupando as Amércias: os negróides (Homem de Lagoa Santa, o primeiro
fóssil humano, descoberto, 1840) e os mongolóides, contrariando o modelo Clóvis, que
afirmava que apenas os mongolóides teriam ocupando este continente. Mas, como explicar
a existência de uma cultura mais antiga que Clóvis e restos humanos diferentes vivendo na
América do Sul? Ao ser comparado com os dados da América do Norte, ainda não se
encontrou restos humanos similares nos dois continentes.
Os paleoíndios ao estabelecer na América, pareciam desconhecer a agricultura, que
por sua vez foi assimilado pelos mongolóides, que introduziram a cerâmica e a agricultura.
A migração mongolóide até no litoral brasileiro foi se adaptando ao meio-ambiente criando
novas formas culturais e de obtenção de alimentos: os sambaquis.
O que podemos concluir seguramente, sobre o estudo da evolução humana? O
primeiro ponto seria de que não houve apenas um processo que provocou a evolução das
espécies humanas. Teria caminhado um pontualismo e não linearidade, como sugere Gould.
Segundo ponto seria confirmação da Hipótese da Inteligência Social, tendo sua
argumentação baseada na interação dos indivíduos uns com outros, na buscas de recursos,
sendo alguns mais privilegiados que outros. Pode–se sugerir que isto, estaria presente na
vida cotidiana, de nossos ancestrais, demonstrado por Hobbes. Terceiro ponto se aplica em
reforçar a tese de D. Johanson, Lee Berger e T. White, de que a espécie de Lucy e do A.
Sediba seriam de fato o ancestral do Homo e o modelo dos dois componentes biológicos, de
Walter Neves. O quarto e último ponto: aplica–se no que se refere à pesquisa. Por melhor
que seja os trabalhos arqueológicos ou paleantropólogicos realizados de forma detalhada e
transparente, obtendo informações de campo, laboratório e bibliografias, se não houver uma
coletânea de dados, para ser comparada com outros sítios ou com achados similares
considerados inválidos pela academia e sofrendo críticas as conclusões do pesquisador são
incansáveis. Espero que o leitor tenha entendido o quanto é complicado o trabalho destes
cientistas, sujeitos a constantes críticas, realizando trabalhos interessantes e envolventes,
fazendo com que a cada dia, aumente a meu amor platônico por esta ciência.
126
BIBLIOGRAFIA
1º CAPÍTULO: INTRODUÇÃO A PALEOANTROPOLOGIA:
1 – CARVALHO, I.S (org). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. In.
BERGQVIST, Lílian P, ABUHID, Virginia Simão e DEL GIUDICE, Gisele Mendes.
Mamíferos. H. Primatas e a Evolução do Homem. P 613-616.
2 – XIMENES, Sérgio. Mini-dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Ediouro,
2001.
1.1 TEORIAS DA PALEOANTROPOLOGIA:
1 – CARVALHO, I.S (org). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. In.
IANNUZZI, R & SOARES, Marina B. Teorias evolutivas. P 61-81.
2 – BANDEIRA Jr, Alfredo Nunes. Nós estamos sós: uma humanidade solitária. Rio de
Janeiro: Interciencia, 2000.
3 – HOWELL, Clark F. O homem pré-histórico. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
4 – JOHANSON, Donald & SHREEVE, J. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998.
5 – JOHANSON, Donald & MAITLAND, A. Edey. Lucy os primórdios da humanidade.
São Paulo: Bertrand, 1996.
6 – GOULD, S.J. Dinossauros no Palheiro. São Paulo: Cia das letras, 1998.
7 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Richard. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980.
8 – SENET, André. O Homem descobre seus antepassados. Belo Horizonte: Itatiaia, 1959.
9 – SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIA E TRATADOS. A vida – qual sua
origem? A evolução ou a criação? Cesário Lange: São Paulo, 1985.
10 – WARD, Peter. O Fim da Evolução. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
VIDEOGRAFIA:
1 – Discovery Channel: Humanos–Quem somos nós? A Origem da mente humana. A
Cinenova Productions in Assossiation with Discovery Cahnnel and Doesar. Director:
Christopher Rowley. Producer: Jane Armostrong. Editor: John Whitcher. Toronto, Canadá,
VHS. 1999.
2 – Dsiscovery Channel. Connections 3. Produção: Discovery Channel em associação
Langhan Productions e James Burke. Escrito e apresentado por: James Burke. Diretor: Paul
Dosaj. VHS. 1997.
1.2 A HISTÓRIA DA PALEOANTROPOLOGIA:
1 – BRACE, Charles Loring. Os Estágios da Evolução Humana. In. O Catastrofismo dos
Homínidas. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. P 32-37.
2 – CARVALHO, I. S (org). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. In.
IANNUZZI, R & SOARES, Marina B. Teorias evolutivas. P 61-81.
3 – GOULD, S.J. Dinossauros no Palheiro. São Paulo: Cia das letras, 1998.
4 – GOULD, S.J. A galinha e seus dentes. São Paulo: Cia das letras, 1992.
127
5 – GOULD, S.J. A Montanhas de moluscos de Leonardo da Vinci. São Paulo: Cia das
letras, 2003. In. Nossa extraordinária unidade. P 240-259.
6 – HOWELL, Clark F. O homem pré – histórico. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
7 – JOHNASON, Donald & SHREEVE, J. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998.
8 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Richard. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980.
9 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Richard. O Povo do Lago. 2ª ed. Brasília: UnB, 1996.
10 – MENDES, Josué Camargo. In. Hominidae. P. 265-271. Introdução a Paleontologia.
Rio de Janeiro: Biblioteca Científica Nacional, 1960.
11 – SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIA E TRATADOS. A vida – qual sua
origem? A evolução ou a criação? Cesário Lange – São Paulo, 1985.
2º CAPÍTULO: OS PRIMEIROS HOMINÍDEOS:
2.1 ANTIGOS PRIMATAS:
1 – FOLEY, Robert. Os humanos antes da humanidade: uma perspectiva evolucionista.
São Paulo: UNESP, 2003.
2 – GRIBBIN, John. Gênese: as origens do homem e do universo. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1983. In: As Origens do Homem. 1983. P 220 – 263.
3 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed.Brasília: Unb, 1996.
4 – LIMA, Celso P. Evolução Humana. 2a ed. São Paulo: Ática, 1994.
REVISTA:
1 – GOODALL, Jane. Fifi resiste. National Geographic Brasil. São Paulo. Abril de 2003.
Ano 03. N° 36. 82-109.
VIDEOGRAFIA:
1 – Vídeo Arte do Brasil: (Os Chimpanzés selvagens). Among the wild chimpanzees. A
Production of National Geographic Society and WQED/ Pittsburg. Writed and Produced
by: Barbara Jampel. Edited by: John Dabney, 1984.
2.2 OS ANCESTRAIS DOS AUSTRALOPHITECUS:
2.2.1 RAMAPITHECUS BREVIROSTRIS
1 – FUNARI, Pedro Paulo & NOELLI, Francisco Silva. Pré–História do Brasil. São Paulo:
Contexto, 2001. P 18.
2 – GRIBBIN, John. Gênese: as origens do homem e do universo. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1983. In: As Origens do Homem. P 220-263, 1983.
3 – JOHANSON, Donald & SHREEVE, James. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand,
1998.
4 – JOHANSON, Donald & MAITLAND, A. Edey. Lucy os primórdios da humanidade.
São Paulo: Bertrand, 1996.
5 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed. Brasília: Unb, 1996.
128
6 – LIMA, Celso P. Evolução Humana. 2a ed. São Paulo: Ática, 1994. P 13-16.
7 – PINSKY, Jaime. As Primeiras civilizações. 17ª ed. São Paulo: Atual, 1994.
8 – STANFORD, C. Como nos tornamos humanos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
VIDEOGRAFIA:
1 – Discovery Channel: Paleoworld: Ape–man. Director: Ross Couper–Johnston. Produced
by: Wall to Wall Television forTLC (Television Learning Channel), 1996.
2 – Vídeo Arte do Brasil: (Mistérios da Humanidade). Mysteries of Mankind. A Production
of National Geographic Society and WQED-Pittsburg. Writed and Produced by: Barbara
Jampel. Edited by: John Dabney, 1988.
3.2.2 ARDIPITHECUS RAMIDUS:
REVISTA:
1 – WONG, Kate. Em busca do primeiro homem. Scientific American Brasil. Rio de
Janeiro: Duetto. Ano 01. N° 9. Fev de 2003. P 58-67.
2 – WONG, Kate. Encontro de uma nova espécie. Scientific American Brasil. Edição
Especial. In. Ardi tinha características humanas? Rio de Janeiro: Duetto. N° 37. 2010. P
18-19.
INTERNET:
http://www.discoverybrasil.com/web/descobrindo-ardi/
http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/ramidis.html
http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/
http://www.talkorigins.org/faqs/homs/ardi.htmlrdi.html
PUBLICAÇÃO NA REVISTA SCIENCE:
1 – LOVEJOY, C. Owen et al. The Pelvis and Femur of Ardipithecus ramidus: The
Emergence of Upright Walking. Science. Vol. 326. P 71-71e6. 02 de outubro de 2009.
2 – SUWA, Gen et al. The Ardipithecus ramidus Skull and Its Implications for Hominid
Origins. Science. Vol. 326. P 68-68e7. 02 de outubro de 2009.
3 – LOVEJOY, C. Owen et al. The Great Divides: Ardipithecus ramidus Reveals the
Postcrania of Our Last Common Ancestors with African Apes. Science. Vol 326. P 73-100106. 02 de outubro de 2009.
129
VIDEOGRAFIA:
1 – Discovery Channel. Discovering Ardi. Director: Rod Paul. Writers: Jonathan Wickham
e Steve Eder. Producers: David Paul e Paul Gasek. Formato: AC-3, Color, Dolby, DVD,
Widescreen, NTSC. Linguagem: inglês. Legenda: inglês. Região: 1 (USA e Canadá). 88
minutos. Março de 2010.
2.2.3 ORRORIN TUGENENSIS:
REVISTA:
1 – CARELLI, Gabriela. O Homem de 6 milhões de anos. Veja. São Paulo: Abril. Ed 1679.
Ano 33. Nº 50. 13/dez/2000. P 88-90.
2 – WONG, Kate. Em busca do primeiro homem. Scientific American Brasil. Rio de
Janeiro: Duetto. Ano 01. N° 9. Fev de 2003. P 58-67.
INTERNET:
http://www.modernhumanorigins.net/tugenensis.html
http://www.becominghuman.org/
http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/
www.leakyfundation.com
http://www.talkorigins.org/faqs/homs/illustr.html
www.nature.com
2.2.4 SEHALANTHROPUS TCHADENSIS:
1 – WONG, Kate. Em busca do primeiro homem. Scientific American Brasil. Rio de
Janeiro: Duetto. Ano 01. N° 9. Fev de 2003. P 58-67.
INTERNET:
http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/
www.leakyfundation.com
http://www.talkorigins.org/faqs/homs/illustr.html
http://www.geocities.com/palaeoanthropology/timeline.html
2.3 O AUSTRALOPITHECUS:
1 – ALVES, Marcelo. Leviatã o demiurgo das paixões. Cuiabá: UNICEN, 2001. In. O
Homem e suas paixões. P 30-39.
2 – BANDEIRA Jr, Alfredo Nunes. Nós estamos sós: uma humanidade solitária. Rio de
Janeiro: Interciencia, 2000.
130
3 – CARVALHO, I. S (org). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. In.
BERGQVIST, Lílian P, ABUHID, Virginia Simão e DEL GIUDICE, Gisele Mendes.
Mamíferos. H. Primatas e a Evolução do Homem. P 613-616.
4 – CARTELLE, C. Tempo Passado: mamíferos do Pleistoceno em Minas Gerais. Belo
Horizonte, Palco Acesita. 1994. In O Homem de Lagoa Santa. P 117-121.
5 – FOLEY, Robert. Os Humanos antes da Humanidade. São Paulo, UNESP, 2003.
6 – HOWELL, Clark F. O homem pré-histórico. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
7 – GOULD, S.J. Dinossauros no Palheiro. São Paulo: Cia das letras, 1998.
8 – GOULD, S.J. A Montanhas de moluscos de Leonardo da Vinci. São Paulo: Cia das
letras, 2003. In. Nossa extraordinária unidade. P 240-259.
9 – JOHANSON, Donald & SHREEVE, James. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand,
1998.
10 – JOHANSON, Donald & MAITLAND, A. Edey. Lucy os primórdios da humanidade.
São Paulo: Bertrand, 1996.
11 – HAINES, Tim .Walking with prehistoric beasts. New York: DK, 2000. In. The prey’s
revenge. 4. P. 142 – 181.
12 – LIMA, Celso P. Evolução Humana. 2a ed. São Paulo: Ática, 1994.
13 – LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de janeiro: Rocco, 1995.
14 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980.
15 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed. Brasília: Unb, 1996.
16 – LYNCH, John & BARRETT, Louise. Walking with Caveman. In First Ancestors.
New York. DK publishing. 2002. P 16-65.
17 – MONOD, Jacques. O Acaso e a necessidade. 2ª ed. Mira – Sintra: Publicações
Europa-América, 1970.
18 – STANFORD, C. Como nos tornamos humanos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
19 – PINSKY, Jaime. As Primeiras civilizações. 17ª ed. São Paulo: Atual, 1994.
VIDEOGRAFIA:
1 – Discovery Channel: Paleoworld: Ape–man. Director: Ross Couper–Johnston. Produced
by: Wall to Wall Television forTLC (Television Learning Channel). VHS. 1996.
2 – Discovery Channel: The Human Journey: in seach of human origens. Series producer:
Andrew Waterworth. Director: Roger Scholes. Editor: C. Cerani. Produced with the
assossiation of the Australian Broacasting Corporation produced by Beyond Production for
Learning Channel. VHS. 1999.
3 – Discovery Channel: Walking with prehistoric beasts: The pray’s Revenge. Serires
producer: Jasper James. Executive producer: Tim Haines. Production Team: Vanessa Fry
and Steven Long. Film editors: Andrew Wilks and Winkie Wilkes. A BBC-Discovery
Channel TV Asahi & BS Asahi Prosieben Co–production. VHS. 2001.
4 – Discovery Channel: Humanos–Quem somos nós? A Origem da mente humana. A
Cinenova Productions in Assossiation with Discovery Cahnnel and Doesar. Director:
Christopher Rowley. Producer: Jane Armostrong. Editor: John Whitcher. Toronto, Canadá,
VHS. 1999.
131
5 – Discovery Channel: Dawn of Man–episódio 02: First Man. Series consultant: Leslie C.
Aiello. Editor: John Parker. Director: Jeff Morgan. Executive Producer: John Linch. BBC
and Learning Channel. VHS. 2000.
6 – Vídeo Arte do Brasil: (Mistérios da Humanidade). Mysteries of Mankind. A Production
of National Geographic Society and WQED-Pittsburg. Writed and Produced by: Barbara
Jampel. Edited by: John Dabney. VHS. 1988.
2.4 O HOMO:
2.4.1 HOMO HABILIS:
1 – CARVALHO, I.S (org). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. In.
BERGQVIST, Lílian P, ABUHID, Virginia Simão e DEL GIUDICE, Gisele Mendes.
Mamíferos. H. Primatas e a Evolução do Homem. P 613-616.
2 – DAY, Michael H. O Homem fóssil. São Paulo: Melhoramentos, 1975. P. 98-103.
3 – GRIBBIN, John. Gênese: as origens do homem e do universo. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1983. In: As Origens do Homem. P 220-263, 1983.
4 – FOLEY, Robert. Os Humanos antes da Humanidade. São Paulo, UNESP, 2003.
5 – JOHANSON, Donald & SHREEVE, James. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand,
1998.
6 – JOHANSON, Donald & MAITLAND, A. Edey. Lucy os primórdios da humanidade.
São Paulo: Bertrand, 1996.
7 – LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de janeiro: Rocco, 1995.
8 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980.
9 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed. Brasília: Unb, 1996.
10 – LEROI-GOURHAN, André .Os caçadores da pré – história. Lisboa: Edições 70,
1987.
11 – LYNCH, John & BARRETT, Louise. Walking with Caveman. In Blood Brothers.
New York. DK publishing. 2002. P 66-117.
12 – MENDES, Josué Camargo. In. Hominidae. P. 265-271. Introdução a Paleontologia.
Rio de Janeiro: Biblioteca Científica Nacional, 1960.
13 – MEKSENAS, Paulo. In. Pequeno esboço da evolução do ser humano. P17-19.
Sociologia da educação. 10a ed. São Paulo: Loyola, 2002.
14 – PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 17a ed. São Paulo: Contexto, 1994. P.1316.
INTERNET:
http://www.mnh.si.edu/anthro/humanorigins/index.htm
2.4.2 HOMO ERECTUS, ERGASTER, ANTECESSOR E HEIDELBERGER:
1 – ARSUAGA, Juan Luiz. O Colar do Neandertal. Rio de Janeiro: Globo, 2005.
2 – BINFORD, Lewis R. Bones: ancient men and moderns myths. New York: Academic
Prees, 1981.
132
3 – COUTO, Carlos de P. Paleontologia brasileira: Mamíferos. Rio de Janeiro: Biblioteca
Científica Brasileira, 1953. P 390-445.
4 – DAY, Michel. O Homem fóssil. São Paulo: Melhoramentos, 1975. P. 105-121.
5 – FOLEY, Robert. Os Humanos antes da Humanidade. São Paulo, UNESP, 2003.
6 – LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de janeiro: Rocco, 1995.
7 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980.
8 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed. Brasília: Unb, 1996.
9 – LEROI-GOURHAN, André.Os caçadores da pré-história. Lisboa: Edições 70, 1987.
10 – LEROI-GOURHAN, André.As religiões da pré-história. Lisboa: Edições 70, 1995.
11 – LYNCH, John & BARRETT, Louise. Walking with Caveman. In Savage Family. New
York. DK plublishing. 2002. P 118-167.
12 – PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 17a ed. São Paulo: Contexto, 1994. P 1622.
13 – STRINGER, Christopher & GAMBLE, C. In search of the Neandethal. Thames &
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14 – STRINGER, C. Out of Etiópia. Nature. Junho de 2003, 423: 692-695.
15 – STRINGER, Christopher. Modern Human origens: progress and prospects. The
Royal Society, Phil Trans. R. Soc. Lond. B. 2002.
16 – TATTERSALL, Ian. Becoming Human: evolution and Human uniqueness. Orlando:
Harvest, 1998.
INTERNET:
www.becominghuman.org
http://www.geocities.com/palaeoanthropology/timeline.html
VIDEOGRAFIA:
1 – Discovery Channel: The Human Journey: in seach of human Origins. Series producer:
Andrew Waterworth. Director: Roger Scholes. Editor: C. Cerani. Produced with the
assossiation of the Australian Broacasting Corporation produced by Beyond Production for
Learning Channel. VHS. 1999.
2 – Discovery Channel: Dawn of Man–episódio 03: Body. Series Consultant: Leslie E.
Aiello. Editor: John Parker. Producer director: Charlie Smith. Director: Jeff Morgam.
Executive Producer: John Linch. Series Producer: BBC and Learning Channel. VHS. 2000.
3 – Discovery Channel: Dawn of Man–episódio 04: Love. Series Consultant: Leslie E.
Aiello. Editor: John Parker. Producer director: Charlie Smith. Director: Jeff Morgam.
Executive Producer: John Linch. Series Producer: BBC and Learning Channel.VHS. 2000.
4 – Discovery Channel: Humanos–Quem somos nós? A Origem da mente humana. A
Cinenova Productions in Assossiation with Discovery Cahnnel and Doesar. Director:
Christopher Rowley. Producer: Jane Armostrong. Editor: John Whitcher. Toronto, Canadá.
VHS. 1999.
133
5 – Discovery Channel: Walking with prehistoric beasts. In A Mammoth´s Journey. Serires
producer: Jasper James. Executive producer: Tim Haines. Production Team: Vanessa Fry
and Steven Long. Film editors: Andrew Wilks and Winkie Wilkes. A BBC-Discovery
Channel TV Asahi & BS Asahi Prosieben Co–production. VHS. 2001.
REVISTA:
1 – LOPES, Reinaldo José. O Prato Original. Superinteressante. São Paulo: Abril. Ed
191. Agosto de 2003. P 66-71.
2.4.2.1 AS OUTRAS MIGRAÇÕES DO HOMO ERECTUS?
1 – BELTRÃO, Maria C. Ensaios de arqueologia: Uma abordagem transdisciplinar. Rio
de Janeiro: Zit, 2000.
2 – FUNARI, Pedro Paulo. Pré–história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2000.
REVISTA:
1 – GOVE, Rick. Viajante pioneiro. National Geographic Brasil. São Paulo. Abril: Ano
03. N° 28. Agosto de 2002. P 20 – 29.
2 – Supernoticias. Antropologia: cruzeiro marítimo na pré–história. Superinteressante.
São Paulo: Abril. Ano 12. N° 05. Maio de 1998. P 13.
3 – WONG, Kate. O menor dos humanos. Scientific American. São Paulo: Duetto. Edição
Especial. N°17. P51-59.
4 – DYKE, Gareth. Barão dos dinossauros da Transilvânia. Scientific American. São
Paulo: Duetto. Ano 10. N°114. Nov 2011. P74-77.
INTERNET:
http://www.talkorigins.org/faqs/homs/flores.html (Homo floresiensis)
VIDEOGRAFIA
BBC e Superinteressante. Walking with homens das cavernas: um filme definitivo sobre a
evolução humana. Co-produção: BBC, Discovery Channel e ProSieben. Diretor: John
Lynch. Legendas: português. Áudio: inglês. Som: Dolby digital, cor: NTSC. Editora Abril,
2004. Duração 99min.
2.4.2 HOMO NEANDERTHALENSIS:
1 – ARSUAGA, Juan Luiz. O Colar do Neandertal. Rio de Janeiro: Globo, 2005.
2 – BOULE, M e VALLOIS, H. Fossil Men. New York: Dryden press, 1957.
3 – COUTO, Carlos de P. Paleontologia brasileira: Mamíferos. Rio de Janeiro: Biblioteca
Científica Brasileira, 1953. P 390-445.
134
4 – FOLEY, Robert. Os Humanos antes da Humanidade. São Paulo, UNESP, 2003.
5 – DAY, Michel. O Homem fóssil. São Paulo: Melhoramentos, 1975. P. 105-121.
6 – HAINES, Tim. Whalking with prehistoric bests. In A mammoth´s Journey. New York.
DK publishing. 2001. P 220-257.
7 – LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de janeiro: Rocco, 1995.
8 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980.
9 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed. Brasília: Unb, 1996.
10 – LEROI-GOURHAN, André. Os caçadores da pré-história. Lisboa: Edições 70, 1987.
11 – LEROI-GOURHAN, André. As religiões da pré-história. Lisboa: Edições 70, 1995.
12 – LYNCH, John & BARRETT, Louise. Walking with Caveman. In Survivors. New
York. DK publishing. 2002. P 168-219.
13 – LIMA, Celso P. Evolução Humana. 2a ed. São Paulo: Ática, 1994. P 13-16.
14 – STRINGER, Christopher & GAMBLE, C. In search of the Neandethal. Thames &
Hudson, 1995.
15 – STANFORD, C. Como nos tornamos humanos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
16 – STRINGER, Christopher. Modern Human origins: progress and prospects. The Royal
Society, Phil Trans. R. Soc. Lond. B. 2002.
17 – STRINGER, C. Out of Etiópia. Nature. Junho de 2003, 423: 692-695.
18 – TATTERSALL, Ian. Becoming Human: evolution and Human uniqueness. Orlando:
Harvest, 1998.
VIDEOGRAFIA:
1 – Discovery Channel: The Human Journey: a tale of the two species. Series producer:
Andrew Waterworth. Director: Roger Scholes. Editor: C. Cerani. Produced with the
assossiation of the Australian Broacasting Corporation produced by Beyond Production for
Learning Channel. VHS. 1999.
2 – Discovery Channel: The last Neanderthal? Director: Lwarence Simanowitz. Editor:
Sabrina Burnard. Producer: Willian Woodllard. An Inca Production for Channel Four in
assossiation with Discovery communications Inc. VHS. 1996.
3 – Vídeo Arte do Brasil: (Mistérios da Humanidade). Mysteries of Mankind. A Production
of National Geographic Society and WQED/ Pittsburg. Writed and Produced by: Barbara
Jampel. Edited by: John Dabney. VHS. 1988.
4 – Discovery Channel: Walking with prehistoric beasts: A Mammoth´s Journey. Serires
producer: Jasper James. Executive producer: Tim Haines. Production Team: Vanessa Fry
and Steven Long. Film editors: Andrew Wilks and Winkie Wilkes. A BBC/ Discovery
Channel TV Asahi & BS Asahi Prosieben Co–production. VHS. 2001.
FILMES CLÁSSICOS:
O MUNDO PERDIDO – produzido em 1925, pela First Naciotal Pictures (USA), dirigido
por: Harry Holt, com efeitos especiais de: Willis O’ Brain e o elenco: Wallace Beery e
Besie Love.
A GUERRA DO FOGO – produzido em 1981, pela TV Francesa, dirigido por: Jean Jacques
Annand.
135
REVISTA:
MACHADO, Juliano. Neandertal cozinheiro. In Fala Mundo: um olhar para o planeta.
Época. Nº 6659. 03 de janeiro de 2011. P 13.
3.1 SURGIMENTO DOS HOMENS MODERNOS:
1 – BRACE, Charles Loring. Os Estágios da Evolução Humana. In. O Catastrofismo dos
Homínidas. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. P 32-37.
2 – BOULE, M e VALLOIS, H. Fossil Men. New York: Dryden press, 1957.
3 – HAINES, Tim. Whalking with prehistoric bests: A mammoth´s Journey. New York. DK
plublishing. 2001. P 220-257.
4 – GOULD, S.J. A Montanha de moluscos de Leonardo da Vinci. São Paulo: Cia das
Letras, 2003. In. Nossa extraordinária unidade. P 240-259.
5 – LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de janeiro: Rocco, 1995.
6 – LEROI-GOURHAN, André .Os caçadores da pré-história. Lisboa: Edições 70, 1987.
7 – LYNCH, John & BARRETT, Louise. Walking with Caveman. In Survivors. New York.
DK publishing. 2002. P 168-219.
8 – MILFORD H. Wolpoff e CASPARI, Rachel. Race and Human: A Fatal Attraction.
Simon & Schuster, 1997.
9 – MILFORD H. Wolpoff; JELÍNEK Jan e FRAYER David W. Evolucionay Significance
of the Quarry Cave Specimens from Mladeč. Antropologie. XLIII/2–3. P 215-228. 2005.
10 – STRINGER, C. & GAMBLE, C. In search of the Neandethal. Thames & Hudson,
1995.
11 – STRINGER, C. Modern Human origins: progress and prospects. The Royal Society,
Phil Trans. R. Soc. Lond. B. P 563-579. 2002.
12 – STRINGER, C. Out of Etiópia. Nature. Junho de 2003, 423: 692-695.
13 – TATTERSALL, Ian. Becoming Human: evolution and Human uniqueness. Orlando:
Harvest, 1998.
VIDEOGRAFIA:
1 – Discovery Channel: The Human Journey: a tale of the two species. Series producer:
Andrew Waterworth. Director: Roger Scholes. Editor: C. Cerani. Produced with the
assossiation of the Australian Broacasting Corporation produced by Beyond Production for
Learning Channel. VHS. 1999.
2 – Discovery Channel: The last Neanderthal? Director: Lwarence Simanowitz. Editor:
Sabrina Burnard. Producer: Willian Woodllard. An Inca Production for Channel Four in
assossiation with Discovery communications Inc. VHS. 1996.
3 – Discovery Channel: Dawn of Man-Episódio 05: êxodo. Series Consultant: Leslie E.
Aiello. Editor: John Parker. Producer director: Charlie Smith. Director: Jeff Morgam.
Executive Producer: John Linch. Series Producer: BBC and Learning Channel.VHS. 2000.
4 – Discovery Channel: Humanos–Quem somos nós? A Origem da mente humana. A
Cinenova Productions in Assossiation with Discovery Cahnnel and Doesar. Director:
Christopher Rowley. Producer: Jane Armostrong. Editor: John Whitcher. Toronto, Canadá.
VHS. 1999.
136
CRIANÇA DE LAPEDO (LAGAR-VELHO)-INTERNET:
http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/zilhao/lapedobook2002.pdf
http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/zilhao/vast2007.pdf
http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/zilhao/athena2001.pdf
DNA NEANDERTHAL-INTERNET:
http://www.sciencemag.org/site/special/neandertal/feature/index.html
3º CAPÍTULO: OS PRIMERIOS AMERICANOS:
3.1 ANTIGAS E RECENTES ESCAVAÇÕES:
1 – CARTELLE, Castor. Tempo Passado: os mamíferos do Pleistoceno em Minas Gerais.
Belo Horizonte: Palco Acesita. 1994. In. O Homem de Lagoa Santa. P. 117-121.
2 – BELTRÃO, Maria C. Ensaios de arqueologia: Uma abordagem transdisciplinar. Rio
de Janeiro: Zit, 2000.
3 – FUNARI, Pedro Paulo & Noelli, F. S. Pré–história do Brasil. São Paulo: Contexto,
2000.
4 – FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Arqueologia. São Paulo: Ática, 1996.
5 – HEYERDAHL, Thor. A Expedição Kon Tiki. 6a ed. São Paulo: Melhoramento, 1955.
6 – HEYERDAHL, Thor. Na Trilha de Adão. São Paulo: Cia das Letras, 1998.
7 – JONES, Gwyn. The Vikings. 2ª ed. Oxford, 1984. In. Causes of the Viking Movement
overseas. P 182-203.
8 – NEVES, Walter Alves e PILÓ, Luis B. O povo de Luzia. Rio de Janeiro: Globo, 2008.
9 – PROUS, André. Arqueologia brasileira. 2a ed. Brasília: UnB. 2a Parte: o período précerâmico e as culturas litorâneas. Cap VI. P 119-143. 1992.
10 – STANGERUP, Henrik. Lagoa Santa vidas e ossadas. Rio de janeiro: Nórdica, 1982.
11 – SILVA, Hilton P. E RODRIGUES-CARVALHO, C. Nossa Origem: O povoamento
das Américas visões multidisciplinar. In. A busca pelos primeiros americanos. Rio de
Janeiro: Viera & Lent, 2006. P 11-17.
12 – TENÓRIO, Maria Cristina (org). Pré-história na terra brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ,
2000. In. Anne–Marie Pessis. Pré-história na região do Parque nacional Serra da
capivara. P 61-72.
13 – WALTER, H.V. Arqueologia na região de Lagoa Santa. Rio de Janeiro: Sedega,
1958. P 106-117. In. Qual é a idade do homem de Lagoa Santa. P 106-117.
ARQUIVO DO MHN – UFMG:
1 – PROUS, André & GUIMARÃES, Carlos magno. Recentes descobertas sobre os mais
antigos caçadores de Minas gerais e da Bahia. Belo Horizonte: ARQUIVOS DO MUSEU
DE HISTÓRIA NATURAL DE BELO HORIZONTE. Universidade Federal de Minas
Gerais. Vol. VI e VII. 1981/ 1982. P 23-30.
137
REVISTA:
1 – CAMARGO, José Eduardo. O Primeiro brasileiro. Superinteressante. São Paulo:
Abril. N° 184. Jan 2003. Superpapo. P 76-77.
MAPA
1 – NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. 1 Mapa. A Aurora do Homem a Conquista da
América. São Paulo: Abril. Ano 1. N° 8. Escala: 1 cm /220 KM. Dezembro de 2000.
3.2 MODELO FOLSON E CLÓVIS:
1 – COE, Michael, SNOW, Dean & BENSON, Elizabeth. Antigas Américas: Mosaico de
culturas. Vol 1: Lisboa: Delprato, 1996. In. A Colonização Original. P 28-34.
2 – JAMES, Peter & THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da Antigüidade. Cap.
V: Viajantes e Descobrimentos. In. Os Primeiros americanos. P 314-335. 2001.
3 – SILVA, Hilton P. E RODRIGUES-CARVALHO, C. Nossa Origem: O povoamento das
Américas visões multidisciplinar. In. NEVES, W.A. Origens do homem nas América:
fósseis versus moléculas. Rio de Janeiro: Viera & Lent, 2006. P 45-76.
4 – PROUS, André. Arqueologia brasileira. 2a ed. Brasília: UnB. 2a Parte: o período précerâmico e as culturas litorâneas. Cap VI. P 119-143. 1992.
5 – RIVET, Paul. As origens do Homem Americano. 3ª Ed. São Paulo: Anhambi, 1960.
6 – TENÓRIO, Maria Cristina (org). Pré-história na terra brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ,
2000. In. Anna Roosevelt. O povoamento das Américas. P 61-72.
REVISTA
1 – NEVES, Walter A. A primeira descoberta da América. São Paulo. Globo. Ciência
Hoje. No 86. Vol. 15. Nov/ Dez 1992. P. 38-48.
2 – NEVES, Walter A &. HUBBE, Mark. Luzia e a saga dos primeiros americanos.
Scientific American Brasil. São Paulo. Duetto. Ano 02. N° 15. Agosto de 2003. P 24-31.
3 – MINAS FAZ CIÊNCIA. Arqueologia. Belo Horizonte. FAPEMIG. Minas Faz
Ciência. No 11. Jun/ Ago 2002. P 14-17.
3.3 MODELO DOS DOIS COMPONENTES BIOLÓGICOS PRINCIPAIS:
1 – FUNARI, Pedro Paulo & Noelli, F. S. Pré–história do Brasil. São Paulo: Contexto,
2000.
2 – NEVES, Walter Alves e PILÓ, Luis B. O povo de Luzia. Rio de Janeiro: Globo, 2008.
3 – TENÓRIO, Maria Cristina (org). Pré-história na terra brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ,
2000. In. Prous, A. As primeiras populações do Estado de Minas Gerais. P 101-114.
138
ARQUIVOS DO MHN – UFMG
1 – ALVIN, Marília C. Os antigos habitantes da Serra do Cipó, MG–Brasil–estudo
morfológico preliminar. Belo Horizonte: ARQUIVOS DO MUSEU DE HISTÓRIA
NATURAL DE BELO HORIZONTE. UFMG. Vol XIII e XIV. 1992/ 1993. P 107-111.
REVISTA
1 – MANSUR, Alexandre. O outro genocídio americano. Veja. São Paulo: Abril. Nº 1597.
12 Maio de 1999. P 93-94.
2 – NEVES, Walter A & HUBBE, Mark. Luzia e a saga dos primeiros americanos.
Scientific American Brasil. São Paulo. Duetto. Ano 02. Nº 15. Agosto de 2003. P 24-31.
3 – NEVES, Walter. A primeira descoberta da América. Ciência Hoje. São Paulo: Abril.
No 86. Vol 15. Nov – dez 1992. P38-48.
3.4 AGRICULTURA, CERÂMICA E SABAMQUIS:
1 – BAITHY, Elizabeth Chesley. A América antes de Colombo. Belo Horizonte: Itatiaia,
1961.
2 – CELORIA, Francis. .Arqueologia. São Paulo: Melhoramento, 1975.
3 – FUNARI, Pedro Paulo & Noelli, F. S. Pré–história do Brasil. São Paulo: Contexto,
2000.
4 – FLEM-ATH, R & FLEM-ATH, R.O dilúvio na Atlântida em busca do continente
perdido. São Paulo: Mandarim, 1996.
5 – GASPAR, Madu. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar,
2000.
6 – LEICK, G. Mesopotâmia: A Inveção da Cidade. Rio de Janeiro: Imago, 2003.
7 – SANDERS, Willian T & MARIANO Joseph. Pré-história do Novo Mundo. Rio de
Janeiro: Zahar, 1971.
8 – SPENCE, L. Guia Ilustrado Mitologia Norte-Americana. 2ª Ed. Lisboa: Estampa, 1997.
9 – TENÓRIO, Maria Cristina (org). Pré-história na terra brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ,
2000. In. Coleta, Processamento e início da domesticação de plantas no Brasil. GASPAR,
Maria Dulce. Os ocupantes Pré–históricos do litoral brasileiro. P 159-70.
10 – VERDET, Jean-Pierre. O Céu, mistério, magia e mito. Rio de Janeiro: Objetiva, 1987.
ARQUIVOS DO MHN – UFMG
1 – HURT, Wesley. Adaptações marítimas no Brasil. Belo Horizonte. ARQUIVOS DO
MUSEU de HISTÓRIA NATURAL DE BELO HORIZONTE. UFMG. Vol VIII e IX.
1983/ 1984. P 61-72.
2 – DIAS, O & CARVALHO, Eliana. Discussão sobre os inícios da agricultura no Brasil.
Belo Horizonte: ARQUIVOS DO MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL. UFMG. Vol. XI.
1986/ 1990.
ANEXO 01
FILOGENIA HUMANA A PARTIR DA TESE OUT OF AFRICA
FIGURA. 13
Ramapithecus brevirostri (1932)
Orangotango
Sehalanthropus tchadensis (2002)
?
Gorila
Orrorin tugenensis (2001) – com mais dados pode–se provar, a ancestralidade ao Homo sp.
Ardipithecus ramidus (1995)
?
Australopithecus anamensis (1997)
Australopithecus afarensis “Lucy” (1979)
Australopithecus aethiopicus (1985)
Australopithecus africanus (1925)
Australopithecus boisei (1959)
Australopithecus robustus (1938)
(Australopithecus) Kenyanthropus platyops (2001)
Australopithecus sediba (2010)
Australopithecus garhi (1996)
Homo rudolfensis
Homo habilis
?
?
ou
?
Homo ergaster (er3733 e o “Menino de Turkana”)
Homo erectus (modelos da Ásia – Sarigan)
Homo antecessor (Atapuerca)
H. heidelbergensis (Mauer, Swanscombe e Petralona)
Homo floresiensis (Indonésia)
?
H. heidelberguensis africano neandetalianos
Hominídeo de Denisova
Homo sapiens sapiens (Florisbad, Klasies, Qafzeh, Taramsa e Madleč)
Nossa árvore genealógica humana
Fonte: Wong, Kate. Genealogia Humana. Scientific American Brasil. Edição Especial.
Nº37. P 70-72 e Stringer, C. Modern Human Origins. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B. 2002. P 566.
FILOGENIA HUMANA A PARTIR DA TESE MULTIRREGIONAL
Modelo proposto por Milford Wolpoff e Rachel Caspari a partir do Homo ergaster-erectus (de
baixo para cima) que se mesclou (indicado por setas) com outras espécies humanas arcaicas até
surgimento da espécie humana moderna.
Fonte: Wolpoff, M e Caspari, R. Race and Human Evolution: A Fatal Attraction. New York: Simon
e Schuster Inc. 1997. P 281.
ANEXO 02
Entrevista via e-mail com Dr. João Zilhão em 23 de janeiro de 2011.
Olá Leonardo, pode encontrar respostas breves às suas perguntas intercaladas na sua
mensagem abaixo. Para mais esclarecimentos, veja os diferentes artigos, livros e outros
trabalhos de livre acesso em:
http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/zilhao/#Main_Publications
de: Leonardo de Castro Farah [mailto: [email protected]]
Enviado: Sunday, January 23, 2011 7:50 PM.
para: [email protected]
Título: hibridismo (neanderthal e humano moderno) fortalece a tese multiregional?
PERGUNTAS:
1-A criança descoberta em Lagar Velho possuía algum trauma na cintura pélvica ou no
tórax similar aos neanderthais?
A criança do Lapedo não possuía qualquer evidência de traumatismos que tivessem
afectado o esqueleto, nem na cintura pélvica nem no tórax.
2-A criança possuía nítidos sinais de hibridismo, mas será possível colher amostras de seu
DNA para estudos futuros - lembrando que o Dr. Svante Pääbo no ano passado (2010)
colheu amostras de DNA de (3) neanderthais um deles de uma fêmea de 44.500 anos, isto
é, mais antigo que a criança de Lapedo.
Infelizmente, a má preservação do colagénio, de que nos demos conta ao tentar datar
directamente, pelo radiocarbono, amostras do próprio esqueleto, indica que as
probabilidades de extrair ADN da criança do Lapedo são muito baixas, pelo que não se
justifica a destruição, por pequena que seja que o processo de amostragem implica.
3-Existe algum estudo sendo realizado atualmente por seus colaboradores na criança de
Lapedo?
Veja http://www.pnas.org/content/107/4/1338, é a mais recente publicação sobre este fóssil.
4-A tese multirregional do Dr. Wolpoff se encaixa na descoberta da criança? Se a resposta
for sim. De que forma?
Depende de que como se interpreta a tese. No sentido original (os primeiros homens
modernos da Europa são resultado da transformação in situ, por selecção natural, das
populações neandertais aborígenes), não. Num sentido mais "soft", em que a tese
multirregional na prática se confunde com o modelo "Assimilação", sim, na medida em que
a criança apoia o conceito de que neandertais e homens modernos não eram espécies
distintas, mas sim variantes geográficas de uma única espécie.
ANEXO 03
Entrevista via e-mail com Dr. João Zilhão em 03 de feveiro de 2011.
Olá Leonardo, pode encontrar as minhas respostas abaixo, intercaladas no texto da sua
mensagem. Cumprimentos, JZ.
de: leonardo de castro farah [mailto: [email protected] ]
Enviado: Thursday, February 03, 2011 8:16 PM
Para: [email protected]
Título: Há descobertas novas em Cueva de los Aviones
Caro senhor, Dr. Zinhão.
Primeiramente lhe agradeço por ter respondido minhas dúvidas, assim como por ter
me enviado links para poder acompanhar as pesquisas sobre os neanderthais, Lagar Velho e
as pesquisas de campo. Recentemente, em uma entrevista sua na revista científica (scentific
american), sobre os neanderthais pudessem ter tido sinais de sentimentos introspectivos e
manipulação de corpo (tatuagens; uso de percings; desenhos corporais e etc).
PERGUNTAS:
1)É possível que os neanderthais pudessem ter tido algum tipo de sentimento introspectivo?
Não é possível, é certo.
2)O Dr. Ian Tattersall defende a tese de que os neanderthais tinham sentimentos
introspectivos por causa do contato deles com os humanos modernos. Este tipo afirmação,
tem coerência com as informações arqueológicas que o senhor descobriu em: Cueva de los
Aviones? (TATTERSALL, I. Becoming Human: Evolution and human uniqueness. 1998).
Os neandertais de cueva de los aviones viveram 10.000 anos da chegada à Europa dos
primeiros humanos anatomicamente modernos.
3)Em Cueva de los Aviones, Espanha, o senhor e sua equipe chegaram a descobrir restos de
fogueiras, restos de animais da Era do Gelo, ferramentas líticas, algum tipo de utensílio de
osso ou até mesmo, algum fóssil neanderthal?
Havia tudo isso menos restos fósseis de neandertais.
4)Como ter certeza de que o abrigo de Cueva de los Aviones seria um abrigo exclusivo de
neanderthais?
Porque, na época em que a cavidade foi habitada (entre 50.000 e 45.000 anos antes do
presente), a Europa era exclusivamente habitada por neandertais.
5) Desde o início os neanderthais sofreram com o preconceito entre os anatomistas. Desde
Marcelin Boule (1912) até nos filmes da década de 20 (Lost World-adaptação do livro de
Arthur Conan Doyle), pintavam os neanderthais peludos como chimpanzés. Mais tarde,
afirmou-se que suas técnicas líticas eram repetitivas (não havendo nenhuma inovação, que
só surgir o Cro-Magnon). Por fim, na década de 80, vemos Lewis Binford argumentar que
os neanderthais eram carniceiros, não falavam entre si e não tinham pensamentos
introspectivos. Até quando este tipo de informação ou preconceito vai continuar?
Imagino que por muito tempo... O peso das ideias feitas só costuma desaparecer muito
depois de que ocorram os avanços científicos que demonstram o seu carácter erróneo.
6) Os neanderthais que o senhor interpreta na entrevista com a revista Scentific American,
seriam capazes de possuir manipulação de corpo, sentimentos introspectivos, sendo
também versáteis, então por que esta espécie humana se extinguiu dos registros fósseis de
forma tão súbita?
"Súbita"? De modo algum. O processo prolongou-se ao longo de muitos séculos, e explicase pelo desequilíbrio demográfico. As populações anatomicamente modernas eram,
geograficamente, africanas, continente onde, pelo seu tamanho e pelas condições
ambientais, podemos estimar o número de habitantes em 10 a 100 vezes maior que o da
Europa da idade do gelo. Ao dar-se a expansão para a Europa dessas populações, a
miscigenação com os neandertais autóctones deu aquilo que seria de esperar... Quando se
misturam 100 litros de tinta branca com 1 litro de tinta preta o que se obtém são 101 litros
de tinta branca. A olho nu a contribuição da tinta preta não se nota, mas as análises
laboratoriais podem detectar a sua presença. No caso dos europeus actuais, esse “litro de
tinta preta” é os 1-4% de genes neandertais que neles subsistem.
Observação:
A pesquisa fez com que imaginássemos que o Homo neandertal fosse capaz de
possuir sentimentos introspectivos, baseando em seus funerais e possuir artigos
simbólicos, mas ao saber mais detalhes sobre isso com o Dr. João Zilhão, enxergamos
que ele está certo em afirmar que estes hominídeos não possuíam sentimentos
introspectivos e nós estávamos errados.
ANEXO 04
Em 29 de janeiro de 2012, at 5:29 AM, Leonardo de Castro Farah escreveu:
Dr. Wolpoff, meu nome é Leonardo de Castro Farah, eu sou um professor de história no
ensino fundamental e médio na cidade de Nova Viçosa, Bahia, Brasil. Gosto de suas teorias
e sou leitor de seu livro: Race and Evoluction Human : The Fatal Traction. Atualmente, estou
escrevendo um livro que toca em evolução humana. Por essa razão, meu interesse no
assunto em ler seu trabalho veio a necessidade de abordar algumas questões sobre as
recentes descobertas na paleoantropologia.
Um prazer
1º Dr. Svante Pääbo, o Dr. Richard E. Green e Dr. Hernán Burbano iniciou uma pesquisa
sobre o seqüenciamento do DNA mitocondrial (em populações de Neandertais, os humanos
modernos e chimpanzés) e concluiu que os humanos modernos na Europa e Ásia têm traços
de DNA doNeanderthal. Qual é o impacto disto na teoria Multirregional?
Cruzamento com os neandertais é uma demonstração da sua correcção. Este é um teste que
poderia ter o potencial MRE falhou, mas não.
2º A criança Lapedo (Lagar-Velho, Portugal), descoberto em 1998 por uma equipe de
paleoantropologia Português concluindo que era uma criança híbrida ou mestiça. Qual é a
relação entre este achado e a teoria multirregional?
Restos de esqueletos que evidenciem sinais de mestiçagem com neandertais é uma
demonstração da sua correcção. Este é um teste que poderia ter o potencial MRE falhou,
mas não o fez. Tenho publicado em tal evidência de uma caverna Checa. (Madleč).
3° Que crânios de humanos arcaicos poderiam ser comparado com o crânio humano
moderno a sugerindo uma possível evolução multirregional?
Vou anexar uma figura para você mostrando comparações de três regiões.
4º O Dr. C. Loring Brace, da Universidade de Michigan, nos 60 anos estudou crânios de
humanos arcaicos (erectus e os Neandertais) e crânios de humanos modernos (Homo
sapiens), e sugeriu que a evolução humana foi linear, a teoria multiregional sugere o
mesmo?
Realmente não é, Brace nunca reconheceu a importância das diferenças geográficas.
5° Em 2003 foi descoberto o Homo floresiensis. Sua anatomia (crânio), principalmente
possuí uma semelhança com o Homo erectus na Ásia. Na minha opinião, esse achado
contribui para a teoria multiregional, estou correto em afirmar isso?
Eu acredito que a melhor evidência mostra que este espécime é patológica, e portanto não
podem abordar qualquer questão evolutiva.
Eu te agradeço, um abraço,
Obrigado
Leonardo de Castro Farah
Milford H. Wolpoff
Professor, Departamento de Antropologia
Paleoantropologia Laboratório Adjunto Scientist Research Associate, Museu de
Antropologia
Centro de núcleo para Musculoskeletal, Office Óssea Doenças Centro de Pesquisa e
Laboratório de 231 West Hall University of Michigan
Ann Arbor, MI 48109-1092
Telefone e Fax: 734 4753291
“Estou determinado a me desgastar, para não enferrujar” - Robert Broom
ANEXO 05
Em 07 de Março de 2012, as 12: 46 PM, Leonardo de Castro Farah escreveu:
Peter Brown, eu sou Leonardo de Castro Farah, eu ensino História no ensino fundamental e
médio em Nova Viçosa, Bahia, no momento estou escrevendo um livro sobre a evolução
humana (Acaso humanos: a história dos caminhos e descaminhos da evolução), isso é
razão para me contactar com o senhor. Em periódicos brasileiros em 2004 (Scientific
American Brasil, Superinteressante e Galileu), descreveram a descoberta do Homo
floresiensis ou Hobbit, pelo o senhor e sua equipe, e eu tenho algumas perguntas que
gostaria de fazer.
1º O livro de John Lynch e Louise Barrett chamado: Walking with Caveman (P 158-159)
afirma que o Homo erectus tinha bambu chinês como uma ferramenta pois na China havia
grandes quantidades de florestas de bambu. Na Ilha de Flores existe bambu em grandes
quantidades?
O bambu também cresce em Flores.
2º O Homo floresiensis, na ilha de Flores teria evoluído lá ou em outro lugar?
Antepassados de Homo floresiensis evoluiu na África, em seguida, fez a sua maneira de
Flores. O grau de mudança evolutiva em Flores é incerto.
3º Há atualmente alguma pesquisa que está sendo realizado na ilha de Flores?
A investigação sobre os fósseis de hominídeos e escavações arqueológicas continuam. As
escavações vão começar de novo em julho deste ano.
4º O Senhor tem encontrado ferramentas achaulenses na ilha de Flores?
Nenhuma ferramenta Acheulense em Flores, ou de qualquer outra parte da Indonésia. As
ferramentas do H. floresiensis de Liang Bua são semelhantes aos Oldowan e tradição floco
mais recente.
5º Qual é a datação das ferramentas descobertas?
Primeiras ferramentas de Liang Bua são cerca de 90.000 anos, a partir de Mata Menga (área
central de Flores) cerca de 800.000 anos.
6º No início do século XX, o pesquisador romeno, Franz Nopcsa (1877-1933), havia
descoberto na Transilvânia (Romênia), pequenos dinossauros (Telmatosaurus), quando
comparado com as mesmas espécies vivendo do fim do Período Cretáceo (70 milhões de
anos). Seu habitat foi cercado por um mar raso e ilhas dispersas (semelhante à Ilha das
Flores). Minha pergunta é: posso dizer que os mesmos processos biológicos que
aconteceram com o dinossauro ter sido pequeno, teria ocorrido também Hobbit e Stegodon,
que foram isolados na ilha de Flores?
Não. Os dinossauros são animais ectotérmicos (répteis), que têm diferentes respostas
evolucionárias para as ilhas e as mudanças ambientais do que os mamíferos. Um exemplo
melhor de nanismo é o que aconteceu com elefantes em Ilhas mediterrânicas.
7º Muitos paleantropólogos construíram suas carreiras, afirmando que à medida que
evoluímos nosso tamanho do cérebro aumentou em uma evolução linear (por exemplo, o
Homo habilis tinha um cérebro 800cm3; o Homo erectus e tinha 1.000cm3 e Homo sapiens
possuí 1.350cm3). Você concorda que o Homo floresiensis rompe este raciocínio linear
descrito acima?
H. floresiensis não se encaixa no modelo para a linhagem humana do cérebro aumentado e
do tamanho do corpo. Parte da evidência que indica que não é parte da linhagem humana.
Professor Peter Brown
Chair in Palaeoanthropology
CO2, LG 116
University of New England
Armidale NSW 2351 Australia
http://pandora.nla.gov.au/pan/10345/20080516-0014/wwwpersonal.une.edu.au/_pbrown3/palaeo.html
++61 2 67733064
OBSERVAÇÃO:
Pedimos autorização para publicar os e-mails das conversas com o Dr. João Zilhão,
Dr. Milford Wolpoff e o Dr. Peter Brown, que permitiram a publicação.
Este livro conta a trajetória das teorias sobre evolução
humana, as descobertas realizadas, o impacto disto no meio
acadêmico, explicando quais seriam nossos possíveis ancestrais,
como e quais foram os processos evolutivos ocorridos que
culminariam no aparecimento de inúmeras espécies humanas e quais
seriam essas teorias que explicam a origem do humano
anatomicamente moderno e após seu surgimento culminaria com a
seguinte pergunta: quem, quando e por onde teriam migrado os
primeiros viajantes com destino ao continente americano?
ISBN: 978-85-906951-0-3

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