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ACASO HUMANO: HISTÓRIA DOS CAMINHOS E DESCAMINHOS DA EVOLUÇÃO LEONARDO DE CASTRO FARAH © de Leonardo de Castro Farah 1ª edição fevereiro de 2013 Capa: à esquerda o Homo sapeins (Cro-magnon) e à direita o neandertal de La Chapelle. Fonte: http://www.modernhumanorigins.net/cromagnon1.html e http://www.fortunecity.com/victorian/palette/100/index.html Verso do livro: Homo ergaster-erectus. Fonte: https://www.msu.edu/~heslipst/contents/ANP440/images/KNM_ER_3733_front.jpg Revisão: Maria Tereza Marques de Castro. Gráfica: New Impress Leonardo de Castro Farah Graduado em História pela UNI-BH e especialista em Educação em Sociologia pela FINON é Professor do ensino médio e fundamental, em Nova Viçosa, na Bahia-Brasil. E-mail: [email protected] Farah, Leonardo de Castro. Acaso humano: História dos caminhos e descaminhos da evolução. Texeira de Freitas: 2012. ISBN: 978-85-906951-0-3 F151g FARAH, Leonardo de Castro Acaso Humano: História dos caminhos e descaminhos da evolução Texeira de Freitas, 2012. 1.Pré-História – Antropologia 2. História da Paleoantropologia 3.Biologia Antropológica. Dedico aos meus familiares: minha avó Dodora, minha mãe, meu irmão, meu padrinho Márcio, minha madrinha Beth, tios (as) e primos (as) e em memória de meu avô: Oscar Pereira de Castro (1921-2000), e de minha tia Ana Regina Marques de Castro (1966-2006) e aos cientistas: Glynn Isaac (1937-1985) e Stephan Jay Gould (1941-2002). Colaboradores para a realização desta pesquisa foram: Dr. Lee Berger, Universidade de Witwaterand, em Johannesburgo, África do Sul, Dr. Walter Neves da USP, Dr. João Zilhão do ICREA Research Professor da Universidade de Barcelona, Dr Milford Wolpoff da Universidade de Michigan, Dr. Peter Brown da Universidade da Nova Inglaterra, Austrália, Dr. Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, Dra. Maria Beltrão do Museu Nacional e o Museu de História Natural da UFMG. “A Encíclica Humani Generis do SS. Pio XII (agosto de 1950) esclarece:... O Magistério da Igreja não proíbe que, em conformidade com o atual estado das ciências e da teologia, seja objeto de pesquisa de discussões, por parte dos competentes nos dois campos a doutrina do evolucionismo, enquanto ela faz indagações sobre a origem do corpo humano, que proviria da matéria orgânica preexistente (a fé católica obriga–nos a reter que as almas são criadas imediatamente por Deus). Como se vê, o Magistério da Igreja não proíbe que os católicos aceitem a evolução, inclusive no caso da origem do homem”. (Mendes, J. C. 1960. P 40). SUMÁRIO PÁGINA INTRODUÇÃO....................................................................................................................03 1º CAPÍTULO: INTRODUÇÃO A EVOLUÇÃO HUMANA............................................04 1.1 TEORIAS E MÉTODOS DA PALEOANTROPOLOGIA.......................................05 1.2 A HISTÓRIA DA PALEOANTROPOLOGIA.........................................................15 2º CAPÍTULO: OS HOMINÍDEOS.....................................................................................28 2.1 ANTIGOS PRIMATAS..............................................................................................28 2.2 OS ANCESTRAIS DOS AUSTRALOPHITECUS....................................................30 2.2.1 RAMAPITHECUS BREVIROSTRIS................................................................30 2.2.2 ARDIPITHECUS RAMIDUS............................................................................34 2.2.3 ORRORIN TUGENENSIS.................................................................................37 2.2.4 SEHALANTHROPUS TCHADENSIS..............................................................39 2.3 OS AUSTRALOPITHECUS......................................................................................41 2.4 OS HOMOS................................................................................................................56 2.4.1 HOMO HABILIS................................................................................................56 2.4.2 HOMO ERECTUS, ERGASTER, ANTECESSOR E HEIDELBERGER........67 2.4.2.1 AS OUTRAS MIGRAÇÕES DO HOMO ERECTUS?................................78 2.4.3 HOMO NEANDERTHALENSIS.......................................................................85 2.4.3.1 SURGIMENTO DOS HOMENS MODERNOS..........................................96 3º CAPÍTULO: OS PRIMEIROS AMERICANOS…...…................................................105 3.1 ANTIGAS E RECENTES ESCAVAÇÕES.............................................................105 3.2 MODELO FOLSON E CLÓVIS..............................................................................111 3.3 MODELO DOS DOIS COMPONENTES BIOLÓGICOS PRINCIPAIS...............115 3.4 AGRICULTURA, CERÂMICA E SABAMQUIS……….......................................118 CONCLUSÃO....................................................................................................................123 BIBLIOGRAFIA................................................................................................................126 ANEXOS............................................................................................................................139 03 INTRODUÇÃO A paleoantropologia procura ser a ciência que teria como finalidade: monitorar, estudar e catalogar espécimes, que possuíam características humanas e simiescas (chamados de hominídeos). Logo após um intenso estudo que analisa amostras de rochas dos sedimentos que o material foi descoberto, anatomia bio-física do fóssil de hominídeos (objeto de estudo da paleoantropologia) para sugerir uma rota evolutiva (filogenia) que os ancestrais trilharam. Além disso, a paleoantropologia conta com o estudo da antropologia (sociedades humanas tribais) e primatologia, que estudam em campo os comportamentos sexuais, sociais e alimentares, de bonobos e chimpanzés, para depois supor que o mesmo teria ocorrido com nossos ancestrais. Sabe–se que as conclusões teóricas e as evidências analisadas, podem sofrer alterações, devido à ocorrência de novos achados e acumulação de material. Era comum no século XIX, se ater apenas em análise dos fósseis humanos. Atualmente, apenas isto não bastaria, seria necessário recorrer aos estudos de primatas: primatologia, que ajuda a identificar seu comportamento em nossos antepassados, neste caso os Australopithecus. Este texto tem como objetivo tentar trazer ao público, o estudo das interpretações do proto-homem e seu processo evolutivo. Houve durante os séculos XIX, XX e XXI, diversas interpretações, a respeito das rotas evolutivas dos tipos de ancestrais existentes e o tipo de comportamento que tinham no passado. Cada cientista, de cada época, havia proposto trajetos diversos, interpretações diversas. A análise desta pesquisa procura apenas observar as teorias, os métodos dos antigos cientistas, e comparar com os atuais. Assim procurar descobrir quais sofreram modificações, ao longo do tempo e porque ocorreram mudanças de pensamentos. Desta maneira, se entende melhor suas propostas e seus contextos históricos. Assim, o leitor obterá uma ideia mais complexa, no que tange aos estudos da pré–história. Ao estudar os ossos de possíveis ancestrais humanos, os paleontólogos e paleoantropólogos começavam a interpretartá–los e assim, cada pesquisador poderia ser influenciado pelo material fóssil e por esta razão, criavam suas teorias, surgindo no cenário cientifico, figuras lendárias como: Raymond Dart; Donald Johanson; Lewis Binford; Richard, Mary, Louis e Meave Leakey; Roger Lewin; P. Thobias; Michel Day; Chris Stringer; Milford Wolpoff; Ian Tattersall; Clark F. Howell; Loring Brace e Le Gros Clark. Estas pessoas, em cada área do conhecimento vasculharam e vasculham o passado geológico, com a finalidade de buscar mais informações sobre os ancestrais ou criaturas que fossem seus contemporâneos. Ao observarmos os avanços e recuos dessa ciência, desde seu advento, no século XIX até os dias atuais, pode–se sugerir que houve muitas modificações, isto aconteceu devido o acúmulo de pesquisadores, de evidências encontradas, de laboratórios com tecnologia, que auxiliam na datação do material coletado (datação paleomagnética, Potássio–Argônio, Urânio–Argônio, Flúor, bioestatrigrafia). Por isto, os cientistas do século XIX, em algumas ocasiões, acabaram interpretando mal os achados, devido à inexistência de mais informações e a falta de tecnologia que pudesse acompanhar suas pesquisas. 04 1º CAPÍTULO: INTRODUÇÃO A PALEOANTROPOLOGIA: Segundo o: Minidicionário Ediouro da língua portuguesa, a definição da palavra: Antropologia seria conceituada como: “o estudo cientifico da espécie humana (sua origem, evolução, costume, instituições, ect)”. (Ximenes, S. 2001, p. 65). Se acrescentar a palavra grega: paleo (Palaios que significa: antigo e velho). Temos à união das palavras paleoantropologia, que é o ramo da ciência paleontológica, que investiga as origens da evolução do homem. Podemos propor a seguinte definição: “É o estudo dos mais antigos seres com caracteres humanos e ou simiescos, sendo chamados de: hominídeos. Este estudo tem como finalidade, analisar o modo que eles viviam e socializavam, uns com os outros e sua relação com o meio ambiente”. Para o estudo sobre o desenvolvimento do proto–homem (hominídeo) seria interessante apresentar ao leitor, suas diversas conclusões e análises a respeito do assunto. Assim, a paleoantropologia, teria como ferramentas de trabalho, os estudos de primatas e de fósseis de hominídeos. Procurando entender; quais eram os mecanismos que condicionou aos antigos seres antropomorfos (forma de homem) evoluírem? Quais foram às possíveis adaptações? E finalmente; quais eram as possíveis relações destes seres, entre si e também com o meio ambiente? O desafio da paleoantropologia seria de sugerir interpretações, respondendo, como que algumas criaturas simiescas, adquiriam características humanas. Atualmente, existem dois gêneros distintos, com tais caracteres: o gênero: Australopithecus: “eram eretos, com pouco mais de 1 metro de altura, com braços longos e pernas curtas, sua grande mandíbula e pequeno volume cerebral, aproximadamente 450cm³” (Carvalho, I.S. 2000. P. 614) e o gênero Homo: “O gênero Homo surgiu por volta de 2,5 milhões de anos a partir do Australopithecus afarensis. Caracteriza–se pela arcada dentária semicircular, sem diademas entre os incisivos e caninos, dentre as espécies mais primitivas encontra–se o Homo habilis, com aproximadamente 1,5 m de altura e capacidade craniana de 500cm³”. (Carvalho, I.S. 2000. P. 614). É importante averiguar que há diferenças profundas, entre os dois grupos. Ainda não há um consenso, a fim de explicar como e por que estes seres conseguiram evoluir e se transformar em nós. “A história evolutiva dos hominídeos ainda é controversa, devido ao registro descontínuo e escasso, e às diversas reinterpretações a partir de cada nova descoberta, gerando dados discordantes. Assim, a filogenia da família Homanidae apresentada é a hipótese mais atual, mas não necessária à hipótese de consenso”. (Carvalho, I.S. 2000. P. 614). 05 1.1 TEORIAS E MÉTODOS DA PALEOANTROPOLOGIA: A dificuldade de haver um consenso entre os especialistas seria devido a interpretações adversas, pois cada cientista teria um olhar sobre a evolução humana, de acordo com que apreendeu (há inúmeras tendências científicas, em universidades). Desta forma, seria muito natural que ocorresse tal fenômeno. Para R. Iannuzi e M. B. Soares sugerem que a palavra evolução, seria originada do latim: evolutio, significando: desenrolar e desenvolver, nos dias atuais, a evolução pode ter como conceito que: “Compreende a modificação sofrida por populações de organismos através do tempo; tempo este que ultrapassa o período de vida de uma única geração. As mudanças consideradas evolutivas são aquelas herdadas via material genético. Contidas no conceito de evolução biológica estão as ideias de: mudanças contínuas dos organismos através dos tempos. Irreversibilidade das mudanças (verdadeira para a maioria dos acontecimentos evolutivos) e divergência de características entre os organismos, refletida pela diversidade encontrada no mundo biológico”. (Carvalho, I.S. 2000. P 61). Mas, nem sempre a humanidade pensou que as criaturas antigas se transmutavam com o passar do tempo. Há alguns séculos atrás era comum que as sociedades antigas e medievais, aceitassem que as criações da Terra e do homem fossem originadas pelo divino, durante a modernidade (1492?-1789?). O cristianismo incorporado na sociedade propunha que Deus havia criado o mundo que conhecemos em seis dias. Numa tentativa de provar esta ideia, James Ussher (1581-1656), o bispo de Armagh, em 1650, começou a calcular o momento exato da Criação e concluiu que tal evento havia ocorrido a 4004 a.C. A posteriori, Dr. John Lightfoot, Mestre do St. Catherine´s College, em Cambridge, após inúmeros cálculos sugeriu uma data para a Criação, definindo que a Terra foi criada: 09h00min horas da manhã de 23 de Outubro de 4004 a. C (Leakey, R& Lewin. 1980. P 21). A ideia destes dois cavalheiros confirmava uma criação, baseando–se na Bíblia e em cálculos matemáticos a idade de 6.000 anos para a Terra e a criação de humanos. Esta data de algum modo sobrevive na mentalidade popular sendo aceita naquela época e até hoje por evangélicos fundamentalistas: “A cronologia bíblica indica que se passou um período de cerca de 6.000 anos desde a criação dos humanos” (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. 1985. P 96). Porém, quando os primeiros geólogos começaram a estudar as camadas de terra, obtiveram conclusões diferentes, pois suas pesquisas conduziam a outras deduções, baseadas nos estudos das rochas revelando-se idades muito mais longas do que indicava a cultura popular, e em alguns momentos, deparavam-se até com artefatos antigos: “No século XVII um francês chamado: Issac de La Peyère estudou uma grande coleção de pedras caprichosamente lascadas, que apanhou no campo. Depois, teve a audácia de publicar um livro onde diz que essas pedras tinham sido trabalhadas por homens primitivos antes de Adão. O livro foi incinerado em público em 1655”. (Howell, Clark F. 1969. P 10). 06 Aos poucos, a tese de Usher-Lightfoot estava sendo colocada à prova à medida que se descobriam mais líticos que jaziam juntos de fósseis¹, ambos estando nas mesmas camadas de rochas, alguns cientistas convencia-se de algo diferente: “Em 1790, John Frere encontrou estranhos artefatos de pedra nos mesmos estratos (afloramentos) onde havia animais extintos, em Hoxne, Inglaterra. Escavando em cavernas na Bélgica, em 1830, P. C. Schmerling encontrou muitos artefatos de pedra misturados com ossos de rinocerontes e mamutes, há muito extintos, e descobriu também dois crânios humanos”. (Howell, Clark F. 1969. P 10). Os objetos encontrados nas camadas ou em cavernas, não empolgavam os cientistas com a visão criacionista, pois ainda confiavam que as origens da Terra e do homem estavam na Bíblia e argumentavam que as camadas de terra poderiam ter sofrido erosão, provocando uma mistura nos ossos de animais extintos com artefatos de pedras, que enganaram os seus descobridores. Atualmente, sabe-se que é necessário um período de tempo superior aos 6.000 anos para que o processo de erosão possa provocar certas “misturas”. Já no século XVIII, houve muitos pensadores importantes, tais como: James Hutton, (1726–1797), que propunha em seu livro: Theory of Earth with proofs and ilustrations, que a Terra, possuía uma idade muito mais longa do que os 6.000 anos de Usher-Lightfoot. Desta forma a origem da Terra, teria ocorrido em processos lentos e graduais, aumentando a noção de tempo. O causador das modificações geo-físicas teria sido Deus, que agia através das chuvas, ventos e processos internos terrestres. Por outro lado, Georges Cuvier (1769–1832), baseando–se em estudos de camadas de terra e vestígios fósseis, propôs que a Terra havia sofrido ações súbitas e destrutivas catástrofes, associados pela força divina, diferenciando da idéia huttoniana de processos lentos e graduais. “Para explicar as seqüências progressivas de fósseis, encontrados em sedimentos de rocha, Cuvier propôs uma série de catástrofes, cada uma das quais teria exterminado por completo as populações de animais e plantas (produzindo assim os fósseis), essas catástrofes teriam sido seguidas por períodos de calma, durante os quais Deus reprovou a Terra com novas (e melhoradas) espécies. O dilúvio de Noé teria sido apenas uma dessas catástrofes” (Leakey & Lewin. 1980. P 23). A tese de Cuvier havia unificado de certa maneira, religião (os estudos bíblicos) e ciência da Terra (geologia). O judaíco-cristianismo parecia ter sido salvo de certos questionamentos embaraçosos. A Teoria Diluviana contagiou cientistas em todo o mundo e talvez um dos mais importantes fossem Dr. Lund e Louis Agassiz (1807–1873), que estudaram as cadeias de montanhas, na Suíça, demonstrando terem ocorrido no passado, uma Era Glacial, concluindo os mesmos resultados que Cuvier tivera. Para Cuvier, era improvável de se encontrar fósseis humanos antes do Dilúvio sugerindo que “o homem fóssil não existe” (Brace, C. L. 3ª Ed. 1979. P 18). Os homens antidiluvianos eram pessoas que viviam antes do Dilúvio de Noé e estavam em número humano bíblico bastante reduzido. Fósseis¹ - “Todos os registros de organismos ou de atividade dos mesmos que ficaram preservados nas rochas” (Kelnner, A.W.A. 1999. P 03). 07 Boucher de Perthes (1788-1868), (foi ele que cunhou o termo pré-história) um arqueológo do século XIX acreditava ser possível existir fósseis humanos antidiluviano. Em suas escavações na França, descobriu-se em 1844, fragmentos de ossos, machados de sílex e mais tarde escreveu um livro fantástico sobre seus achados: Antiguidades Célticas e Antidiluvianas (1849). Outro pesquisador, Charles Lyell escreveu sua obra entitulada: Antiguidade do Homem Provada pela Geologia (1859), que coloca a prova a tese de Cuvier. “Na França, entre 1826-1829, um farmacêutico, Tournal conservador do Museu de Narbona, compreendeu também assim como Schmerling, a importância das descobertas que fez na gruta de Bise (Aude). Encontraram-se ali reunidos, lado a lado, ossos humanos, fragmentos de cerâmica, ossos pertecentes a animais desaparecidos de nossa atual fauna e, sobretudo, certo número de ossos de rena gravado” (Senet, A. 1959. P 34). O ponto em comum entre Hutton, Agassiz e Cuvier, seria o fato de que o responsável pelos eventos geo–físicos da Terra (sendo lento ou súbito) estava associado ao divino e assim, rejeitava–se a existência da antigüidade humana (chamado de homem antidiluviano: homem anterior ao Dilúvio). Por outro lado, os três estudiosos trouxeram como legado para a academia, a certeza de que a Terra tinha uma idade superior aos 6.000 anos da mentalidade popular confirmando, portanto, uma grande antiguidade ao planeta, dando suporte para os estudos de Georges Buffon (1707–1778), ao sugerir anteriormente que a idade do planeta, estaria em torno de 80.000 anos. Hoje em dia, segundos os geólogos, a idade da Terra gira em torno 4,5 bilhões de anos. No século XVIII, outro pensador, Jean Baptiste Lamarck (1744–1829) que propunha algo contrário aos pensamentos de Cuvier. Para Lamarck, os seres vivos estavam adaptados ao meio ambiente e modificavam-se através dos tempos, com o: “uso e desuso dos órgãos”, que consistia em cada organismo ao mudar de ambiente, sentia da necessidade de se transmutar adequando ao novo habitat, ocorrendo alterações no organismo e conseqüentemente, alterando seus órgãos de forma gradual. As conclusões de Lamarck são consediradas hoje em dia, como absurdas, quando estudada a fundo (Carvalho, I.S. 2000. P 62): “Atualmente, a Teoria de Lamarck não é aceita, pois foi comprovado que as características adquiridas durante a vida não são hereditária, apenas mudanças ao nível genético podem ser herdadas pelos descendentes”. (Carvalho, I.S. 2000. P 63). Em contrapartida, a grande contribuição de Lamarck para a ciência foi o fato de ter notado que as criaturas se adaptavam ao meio natural e sofriam alterações ao longo dos tempos (algo observado por Darwin). Já século XIX, o geólogo Charles Lyell (1797–1875) aprimorou as idéias de Hutton, mostrando-se relutante e cético a respeito da teoria de Cuvier e Lamarck. Porém ambos se convergiam, em afirmar que a idade da Terra deveria ter uma idade superior aos 6.000 anos bíblicos e aos 80.000 anos, propostos por G. Buffon. 08 C Lyell, em 1830-1833, escreveu seu livro: Principles of Geology (Princípios de Geologia) tornando–se então, uma das principais obras contemporâneas sobre este assunto. Em seu volume abordaria a ideia de que o homem e também o mundo que habita, possivelmente teria indícios de uma elevada Antiguidade, contrariando a tese Diluviana de Cuvier: “Ele argumentou que todos os eventos passados, sem exceção, poderiam ser explicados pela ação de fenômenos hoje atuantes (erosão, gelo, água, atividade vulcânica, ventos). Deste modo, a ideia central de seu trabalho era de que: o presente era chave para o passado”. (Carvalho, I.S. 2000. P 62). Ao interpretar a tese de Cuvier, percebemos que o seu argumento de ter havido inúmeros eventos súbitos e catastróficos geraram mudanças na superfície terrestre. Para Lyell, tal interpretação estaria equivocada, pois deveria haver uma seqüência de atividades geológicas e uniformes (lenta e gradual), possuindo uma explicação simples de atividades geológicas da Terra, que poderiam no passado provocar toda uma formação geológica. Tal ideia foi chamada de uniformitarianismo, na qual C. F. Howell interpreta que: “Água lamacenta que corre num rio pode na verdade transportar milhares de milhões de toneladas de partículas de um continente para o fundo do mar. Essa imensa camada e assim sucessivamente, por anos e anos. Para gente acostumada a pensar que a Terra tinha somente, 6.000 anos, isso era uma revelação fantástica”. (Howell, Clark F. 1969. P 11). As pesquisas de Lyell, referentes à antiguidade da Terra, substituíram a tese Diluviana de Cuvier, pois Lyell explicava que as camadas geológicas que se formavam não eram umas séries de catástrofes, mas sim, causadas por inúmeros fatores geológicos, que poderiam interferir na superfície terrestre, como: uma leve brisa, uma erosão, água corrente, processos de vulcanismo, que vão modificando paisagem lentamente por milhares de anos. Seria interessante acrescentar ao leitor que nem Cuvier e nem Lyell não propunham uma evolução biológica. O livro de Lyell teve um grande impacto em inúmeros leitores, incluindo Charles Darwin (1809–1882), que apreciou a obra e através desta, criara a sua teoria e método, sobre a transmutação dos seres vivos. O trabalho foi iniciado, quando Darwin foi convidado por: Henslow, seu professor em Cambrigde, a embarcar no navio H. M. S. Beagle, numa viagem ao redor do mundo que duraria cinco anos, com o objetivo de observar e catalogar a fauna e flora existente em diversos locais. “A história da concepção do Darwinismo iniciou–se com a viagem ao redor mundo empreendido pelo jovem: Charles Darwin, entre, 1831 e 1836” (Carvalho, I.S. 2000. P 63). Darwin coletou inúmeros espécimes, classificou inúmeros fósseis e observou que alguns seres vivos estariam ambientados com eco–sistemas adversos. Assim, determinadas criaturas, poderiam ter tido no passado um ancestral comum e que poderia ter se transmutado. Observando este detalhe, começou a perguntar-se: como que as diversas espécies atuais ter-se-iam Transmutado? O que determinaria as mutações? 09 Estas perguntas o levaram a iniciar seu trabalho tentando encontrar uma resposta, baseada na leitura do ensaio de Robert Malthus (1765-1834): An essay on the principles of population (Um ensaio sobre os princípios da população) (1803). Desta forma, Darwin, detectou que algumas de suas questões sobre o que determinaria as mutações, estavam no fato de observar, as taxas de aumento populacional, com as taxas de espaço geográfico e de alimento. Concluiu que no mundo natural deveria haver uma luta pela sobrevivência que resultaria numa “seleção natural”. Além disso, contou com as ideias de Lyell, para explicar que a evolução biológica dependia de modificações geo-físicas lentas e graduais, dando tempo aos seres vivos em adaptar–se ao meio em constante mutação. Os princípios fundamentais de Darwin foram: “Devido à desproporção entre o crescimento populacional e a quantidade de espaço e alimento disponíveis, deve existir uma luta pela sobrevivência entre os indivíduos, como resultado desta luta, apenas os mais aptos permaneciam vivos, transmitindo suas características aos seus descendentes (seleção natural)” (Carvalho, I.S. 2000. P 64). Em 1859, Darwin publicou o resultado de 20 anos de pesquisa, em seu famoso livro: The origins of species by means of natural selection (As origens das espécies por meio da seleção natural), que teve 1.250 cópias e se esgotou no mesmo dia. A teoria de Darwin estava indo de encontro não somente com os mais brilhantes teóricos de sua época, mas também contra as ideias Diluvianas e bíblicas. Darwin concluiu suas ideias escrevendo “muita luz será lançada sobre a origem do homem e sua história”. A Academia de Ciências Britânica dividiu-se. Havia quem repudiava, como: Richard Owen, Agassiz, Philip Grosse e o religioso devoto, Adam Sedwick, adeptos a tese de Cuvier. Mas, havia aqueles que apoiassem Darwin: Charles Lyell, Alfred Wallace e Thomas Henry Huxley, que era o melhor geólogo, naturalista e zoólogo britânico, naquele momento. De certo modo, as ideias de Darwin causavam naquele período, um descontentamento por parte de alguns catedráticos e religiosos. Richard Owen acreditava piamente nas ideias Diluvianas de Cuvier, que explica a imutabilidade das espécies animais, rompendo seu laço de amizade com Darwin. Para Owen, a criação do mundo foi algo realizado por Deus e não por meios de adaptações no mundo geológico e biológico. Em 1860, um debate ocorrido em Oxford, atraiu a atenção dos estudantes, pois as ideias entre as duas correntes: a criacionista (postulada por Owen e religosos) e a evolucionista (postulada por naturalistas), estariam cada uma, defendendo suas evidências. Darwin, não participou deste encontro tempestuoso, pois sofria de lassidão crônica e sempre que podia evitava contatos sociais. O naturalista, não estava em plena forma física. Seria importante comentar, que esta discussão foi fundamental para traçar o rumo das ciências naturais, pois deixava dúvidas acerca dos métodos e das teorias apropriadas, para se estudar a vida e a Terra. Então, qual seria a tese mais convincente para servir de mola propulsora para os estudos da biologia, zoologia e geologia? A importância de tal discussão, durante a reunião anual da Sociedade Britânica para o progresso da Ciência, obviamente era de se esperar que o clima estivesse tenso. Cada lado se defendia e atacava. 10 No debate, o defensor da tese criacionista, o bispo de Oxford, Samuel Wilberforce instruído pelo anatomista Richard Owen, um adepto as ideias Diluvianas. Do outro lado estava o melhor zoólogo e naturalista britânico, Dr. Thomas Henry Huxley, “o buldogue de Darwin”, completamente adepto as teorias evolucionistas, assim, iniciou–se o embate: “Tudo que o homem escreve é hipotético. Não existem fatos visíveis”. Bispo Wilberforce. “Os livros estão repletos de fatos e quanto ao ser hipotético, também o é a teoria ondulatória da luz, mesmo assim estão preparados para aceitá-la”. Thomas Huyley. “Ora... As espécies não mudam. Se verificar as tumbas do Antigo Egito, lá estão todos eles, exatamente os mesmo: gatos, pombos... pessoas”. Bispo Wilberforce. “Para mim esta é a melhor explicação da origem das espécies até agora”. Thomas Huxley. “Responda... Qual dos seus avós... Bem, são descendentes de um macaco?” Bispo Wilberforce (Discovery Channel. Connections 3. 1997). “Um Homem não tem razão. Para se envergonhar de ter um macaco por avô ou avó. Se eu tivesse podido escolher um ancestral, entre um macaco ou alguém que, tendo educação escolástica usasse sua lógica para confundir um público leigo (que desconhece o conteúdo) e tratasse os fatos e as razões aduzidas em favor de uma grave e séria questão filosófica, não com argumentos, mas com o ridículo, não hesitaria, por um momento sequer, em preferir o macaco”. Thomas Huxley (Leakey & Lewin. 1980. P 31). T. H. Huxley reverteu à situação que seu rival o colocou. Aos poucos o darwinismo garantiu seu lugar no cenário acadêmico após o debate de 1860. A tese evolucionista começou a contagiar cientistas, em outros locais do mundo. Antes havia dúvidas acerca do método correto de pesquisa. A posteriori, comprovou-se numa gama de informações de que a evolução das espécies servia como uma principal causa de transmutações. As ideias de Darwin a respeito da evolução da vida sugere uma mutabilidade do sistema natural, que para ele, a natureza apresentava mudanças geológicas e biológicas por meio de seleção natural. Assim, as ciências da terra e da vida, encontraram um novo olhar para seu estudo: as ideias de Lyell e de Darwin. Em 1871, Darwin escrevera outro livro, tão sensacional e polêmico: The descent of man and selection in relation to sex (A descendência do Homem e seleção em relação ao sexo). Concluiu que a origem humana estaria na África e seus descendentes estariam na linhagem dos antropóides (macacos: chimpanzé, gorila, orangotango), devido semelhanças anatômicas com os humanos, tais como: algumas características fisiológicas: instinto emoção e socialização. Após inúmeras publicações de The descent of man and selection in relation to sex a respeito da possibilidade do homem ter um ancestral comum com os antropóides, sugere que num passado distante deveria ter havido algum “elo perdido” que pudesse ser encontrado na Europa do século XIX. Deste modo, os cientistas darwinistas procuravam por fósseis de antigos seres humanos. 11 Ideias como seleção natural e luta pela sobrevivência vai de encontro com a cultura religiosa do homem do século XIX que era acostumado a pensar que havia um Deus, que em sua bondade havia criado o mundo e teria dado à oportunidade de que a raça humana dominasse as outras espécies, isto é, o judaíco-cristianismo coloca o homem acima de todos os animais, enquanto Darwin retira o homem deste pedestal, revelando outra realidade: “Através das lentes da seleção darwiniana, o homem já não era a apoteose da criação, estando no mesmo nível do mosquito que sugava seu sangue, ou de micróbios que viviam em seus excrementos”. (Johnason, D & Sheeve, J. 1998. P 61). Tanto no século XIX, como nos dias atuais, há grupos religiosos fundamentalistas, que não acreditam nas explicações que a origem da vida e do ser humano, tenha ocorrido através da seleção natural. O criacionismo ainda vigora e discute-se sobre a busca de criaturas, tidas como “elos perdidos”. Para os grupos fundamentalistas, os elos seriam apenas seres inventados, discordando das pesquisas científicas atuais. “Visto que haver elos: criaturas fantasmagóricas têm de ser inventada à base de mínima evidência e ser divulgada como se realmente tivessem existido”. (Sociedade Torre de Vigia. 1985. P 87). Os darwinistas não apresentam elos. Há muito mais material fóssil para trabalhar e analisar do que o século XIX. Sabe–se da existência de fósseis de dois gêneros distintos de criaturas: o Homo e o Australopithecus, que lotam museus em todo mundo. Cada um tendo a sua compatibilidade e suas características simiescas e humanas. Portanto, não se vê nada de “fantasmagórico”, e que possivelmente teriam uma anatomia similar ao homem moderno. Atualmente, a ciência evita ao máximo propor “elos”, pois foram estudados por centenas de pessoas e estando à disposição de uma equipe de paleoantropólogos, geoquímicos, geólogos, desenhistas, preparadores de fóssil, antropólogos, todos trabalhando para que a peça (o fóssil) encontrada possa ter a mais completa informação, para finalmente, chegar ao público leigo. Para isto há todo um método de pesquisa, reunindo toda uma equipe de anatomistas e paleontólogos que podem analisar o fóssil, demorando alguns anos para poder completar seus dados e diminuindo as chances de haver a possibilidade de equívocos “fantasmagóricos”. No século XX, a ideia de Darwin, provocou o advento da Tese Sintética (baseada em genética, que confirmava como fato os princípios darwinianos) propondo que a seleção natural era lenta e gradual sendo aceita por muito tempo. Em 1972, Stephan Jay Gould, paleontólogo da Universidade de Harvard e Niles Eldredge, do Museu Americano de Historia Natural–Nova York, basearam-se na teoria de Ernst Mayr argumentou que evolução não deveria ser vista somente de forma lenta e gradual, mas observada de maneira não–gradual e não–linear. 12 Para Gould as especiações o aparecimento de novas espécies ocorrem mais rapidamente, não deixando um ancestral transitório (elo perdido). Neste caso, a evolução daria saltos de uma espécie para outra. Esta nova observação originou a tese do equilíbrio pontuado, que explica a pressão natural e por sua vez, condiciona as diversas criaturas para a extinção ou para a evolução, por exemplo, o impacto de um cometa na Terra no final da Era dos Dinossauros (65 milhões de anos) ou as mudanças climáticas no final da Era Permiana (245 milhões de anos), que teriam sido responsáveis pela extinção de 95% da vida na Terra ou mudanças de ambiente confinado e isolado. Para Gould (1941-2002), as pressões do meio-ambiente proporcionariam mudanças anatômicas e ocorreriam, geralmente, em pequenas populações isoladas umas das outras. Assim, a espécie poderia ter intervalo de tempo, sem sofrer alterações morfológicas (chamada de estase), mas uma mudança climática ou de ambiente poderia proporcionar mudanças sociais, sexuais e alimentares da espécie animal, provocando transformações seletivas num determinado grupo. Desta forma a espécie teria de modificar sua dieta alimentar, seu relacionamento com os membros do grupo e alterar seu comportamento sexual, num determinado espaço de tempo. As criaturas que não conseguissem adaptar–se a esta nova realidade, teriam sua taxa de natalidade reduzida e em pouco tempo estaria extinta. Baseando–se nestes conceitos de Gould percebe-se o novo achado de um ancestral humano, que já teria sido descrito, em 1979. O achado era um crânio de Australopithecus afarensis, de 3,9 milhões de anos, possuindo as mesmas características morfológicas, de qualquer crânio da mesma espécie, porém com 1,0 milhão de anos mais recente. Para Gould, isto seria uma evidência da estase do espécime. Além disso, a teoria explica a existência de fósseis–vivos animais e vegetais que existiram a milhões de anos e que ainda existem. Os críticos de Gould afirmam que, se o número das populações, possuírem poucos indivíduos, então, as chances de encontrar seus fósseis são mínimas, pois na tese de Gould, as novas espécies fósseis, não se originam no mesmo local onde viveram seus ancestrais. Tentando explicar esta evidência, comenta que os registros fósseis seriam os resultados de mudanças evolutivas das criaturas (especiação) (Carvalho, I.S. 2000. P 73). Atualmente, ao invés da seleção natural, deter um papel, preponderante na história natural da origem do homem ou da vida na Terra temos o acaso que determina a sorte ou o azar na loteria da vida, inclusive da nossa. Observando os caminhos (gradual) ou descaminhos evolutivos (não-gradual), percebe–se que a vida não seria igual a uma fita de VHS que poderia rebobinar e depois rever o programa. A vida quando uma vez extinta, possivelmente seria improvável que ressurgisse novamente, como explica Alfredo Nunes Bandeira Jr.: “Tivesse a terra que recomeçar todo o seu desenvolvimento, com todos os seus aspectos físicos idênticos é extremamente improvável que qualquer coisa lembrada de perto um ser humano, viesse a emergir novamente” (Bandeira Jr, Alfredo N. 2001. P 51). 13 “Stephen J. Gould, o grande evolucionista de Harvard, sustenta que a evolução é um acontecimento fortuito, não determinado, e que jamais se desenrolaria de novo da mesma forma se houvesse um meio de reiniciar o processo” (Ward, P. 1997. P 67). Atualmente, acredita–se que a vida na terra é como a evolução humana, ocorreu devido a inúmeros fatores, inclusive ao acaso, como Ian Tattersall, do Museu Americano de História Natural, sugere que: “(...) a evolução não é um processo que ocorre quando se quer. A evolução é um processo de seleção entre variáveis que ocorre espontaneamente, sem nenhuma razão em potencial” (Documentário: Humano: Quem somos nós? A origem da mente humana. 1999). Deixando de lado as teorias e partindo metodologia de campo da paleoantropologia, se pensa que o trabalho do pesquisador de fóssil humano seja uma aventura. Na verdade, seria uma atividade de investigação: ler, interpretar e analisar os antigos registros deixados por outros escavadores, de um determinado local, assim sabe–se onde e o que deve procurar, para iniciar sua escavação. Após este estudo, o pesquisador faz um projeto para obter financiamento em Museus, Universidades e órgãos públicos e/ou privados de pesquisa e antes de sair para o campo é interessante reunir uma equipe de cientistas de diferentes áreas do conhecimento: geologia, paleontologia, paleobotânica. Caso obtenha sucesso, e descubra algum fóssil, anota-se tudo: data, hora, local, posição geográfica, coleta-se amostras de camadas de terra em que o material foi encontrado, fotografa as descobertas e finalmente, envia–se o fóssil para o laboratório para obter uma melhor apreciação. Para organizar os estudos, é necessário fazer um exame detalhado, para saber se o fóssil trata-se de um hominídeo. Há dois principais métodos de pesquisa, o 1º teste é analisar o fóssil para descobrir se possui alguma herança humana, por exemplo: o andar ereto. Sabemos que apenas o homem anda sobre duas pernas eretamente. Os cientistas procuram por esta pista nesses fósseis, analisando: os ossos dos pés, joelho, o quadril (pélvis), o fêmur, a coluna e o crânio (forâmen magnum: buraco na base do crânio). Assim, concluir que se trata de um ancestral humano. Analisar evidência de andar ereto seria fundamental, pois se sabe que esta locomoção surgiu primeiro que o celebro grande capaz de imaginar e criar ferramentas (Lima, C. P. 2a ed. 1994. P 28), depois disto, os pesquisadores, realizam o 2o teste: batizado de Critério Clark. Aprimorando os estudos de H. Huxley, no século XIX, Le Gros Clark do Museu Britânico, nos anos de 1950, procurou definir diferenças dentárias entre: os hominídeos, os macacos e os humanos modernos (Clark identificou 11 diferenças entre nós e os macacos) e depois comparou essas diferenças com hominídeos (Australopithecus). Caso sobreviva a este exame, realiza–se outro estudo, com o objetivo de saber se o fóssil descoberto pertence a uma espécie já descoberta ou se trata de algo novo. Caso fóssil pertença a uma nova espécie classifica–se lhe dando um nome científico, em latim, a nomeclatura exige em configuração em itálico, tendo acima de dois nomes. 14 O primeiro nome, a primeira letra seria maiúscula, enquanto, o segundo nome seria minúsculo, exemplo: Australopithecus africanus, Australopithecus robustus e assim por diante. Após estes dois estudos, os cientistas, propõem uma árvore genealógica sendo chamada de filogenia. Este estudo em particular pode provocar polêmicas ou até discussões acaloradas, porque ainda temos a inexistência de consenso entre alguns cientistas, devido à ocorrência de duas correntes interpretativas: a primeira seria dos somadores (que ao analisar os fósseis tidos como ancestrais humanos, buscam por semelhanças anatômicas ao se comparar com outros fósseis de hominídeos ou com o homem moderno) e a outra corrente, pertence aos divisores (que ao analisar os fósseis tidos como ancestrais humanos, buscam por diferenças anatômicas ao se comparar com outros fósseis de hominídeos ou com o homem moderno). Mesmo havendo duas formas de interpretação distintas e métodos meticulosos para identificação fóssil de hominídeos, classificando-o pertencente a um determinado gênero ou até família, vemos que a pesquisa pode durar meses ou até anos, independente da corrente ideológica do paleoantropólogo e de seus colaboradores. Recentemente, o pesquisador Erik Trinkaus e seus colaboradores, realizaram um estudo de campo, entre os anos de 2003–05, em Peştera cu Oase (caverna com ossos), na Romênia, descobrindo um maxilar e um crânio (Oase 1 e 2), datados por carbono 14 entre: 40 e 35 mil anos. Depois de ser analisado, a equipe escreveu suas conclusões para revista PNAS, em novembro de 2006. A maioria dos cientistas publica suas conclusões finais. O objetivo é tornar públicas suas interpretações ou teorias assim como informar ao órgão financiador de sua pesquisa. Geralmente utiliza–se de revistas especializadas para publicar tais artigos (Nature, Science, Scientific American, PNAS e a revista da SBP: Sociedade Brasileira de Paleontologia). 15 1.2 A HISTÓRIA DA PALEOANTROPOLOGIA: O início dos estudos paleoantropológicos, remonta o século XIX, havia poucos dados fazendo com que, as informações sobre a rota evolutiva humana ficassem mais definidas. Por esta razão, de tempos em tempos, os cientistas propõem teorias interessantes, baseadas em coletânea de dados e vestígios. Quando recolhiam mais informações do campo e materiais fósseis, descobriam que as teorias anteriores, não se adaptavam aos pressupostos, tendo de sofrer certas aperfeiçoações. Para esta ciência, o objeto de estudo é o fóssil de hominídeos; então seria vital encontrar um número elevado de material, para que as informações levassem a conclusões mais confiáveis. Fazendo um levantamento, do difícil surgimento da paleoantropologia, pode–se afirmar que se iniciou após a publicação do livro de Charles Darwin (1859): A origem das espécies. Tempos mais tarde, em 1871, Darwin escrevera: The descent of man and selection in relation to sex (A descendência do Homem e seleção em relação ao sexo). Em 1863, T.H. Huxley havia escrito o livro: O lugar do Homem na natureza. Ambos os autores sugerem comparações anatômicas entre: humanos e antropóides (chimpanzés e orangotangos), possuindo uma relação intima, propondo uma ancestralidade comum entre estes dois grupos. Desde então, os naturalistas europeus vêm tentando coletar fósseis, que sugeriam uma ancestralidade do homem moderno (Howell, F. C. 1969. P 12). Os primeiros fósséis de hominídeo descoberto foi o Neandertal, tanto em 1848, em Gilbraltar como em 1856, na caverna de Neander, na Alemanha. O médico alemão: Hermann Schaaffhausen, ao analisar o fóssil de Neander minuciosamente, concluiu que pertenceria ao grupo de: “raças bárbaras” e que deveria ter vivido naquela região, durante o período romano. Assim, o achado foi ignorado pela comunidade científica até que T.H Huxley, o estudou e analisou, percebendo que o crânio possuía caracteres adversos. Ao se comparar com o homem moderno, pode concluir que se tratava de uma espécie diferente, mais antiga, um possível ancestral humano (Johanson, D & Shreeve, J. 1998. P 64). Na época que a criatura de Neander foi descoberta, não havia na Alemanha, fósseis similares. O fóssil de nandertal de 1848, só foi apresentado formalmente á comunidade científica em 1864. Desta forma, o espécime que foi encontrado na Gruta de Neander, era único até aquela ocasião. A conclusão inicial demonstrada por Hermann Schaaffhausen, não chega a ser um desastre total, servindo como um aprendizado, numa ciência que começava a engatinhar. Schaaffhausen, não possuía outros fósseis para estudar, pois o fóssil de Gilbraltar estava indisponível e não havia outro material para ser comparado e nem mesmo um laboratório moderno de datações e computadores. Ao longo da história paleoantropológica, os cientistas cometeram equívocos, sendo muito comum quando se tenta procurar evidências, mesmo que haja pouco ou nenhum recurso. “Bons princípios também podem ser usados para corroborar com maus argumentos. Tenho afirmado freqüentemente nestes ensaios que somente grandes pensadores conseguem fracassar grandiosamente – e quero dizer com isso que seus erros, embora portentosos quanto ao âmbito e à importância, são invariavelmente ricos e instrutivos, nunca triviais e embaraçosos”. (Gould. S.J. 1998. P. 360-1). 16 Crânio do Neanderthal Fonte: http://www.modernhumanorigins.net/amud1.html Eugène Dubois (à direita) Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/dubois.jpg No final século XIX, alguns cientistas e antropólogos estavam empolgados com a teoria darwiniana (atualmente, o darwinismo tornou-se um fato científico comprovado a partir da década de 40, quando foi realizado, estudos em criaturas unicelulares, insetos e animais, demostrando que se transmutavam). O empolgado anatomista alemão, Ernst Haekel (1834-1919), num dos seus trabalhos, havia proposto um esquema de uma árvore genealógica humana partindo de um suposto pithecanthropus alalus (homem-macaco sem lingagem) que daria origem ao neandertal que por sua vez daria origem ao homem moderno. Nesta mesma época, Florentino Ameghino, um paleontólogo argentino, havia proposto que as origens humanas teriam ocorrido na Argentina (Hemisfério Sul), apresentando possíveis hipóteses de esqueletos e de ferramentas líticas. “De acordo com a tese de Ameghino, a serie filética dos hominídeos inicia–se–ia com Homunculus e Anthropope, pequenos cebídeos do Eoceno da Patagônia. Prosseguiria no Mioceno e Plioceno, como os gêneros: Tetraprothomo, Tripothomo, Diprothomo e Prothomo (homo pampeus–Homem dos pampas) Estes quatro gêneros são considerados pela maioria dos autores como fantasiosos. Tretaprothomo basear–se-ia num Atlas humano (índio moderno) e o fêmur de canivoro: Diprothomo, num fragmento de abóbada craniana de um homem atual. Na América do Sul, faltam restos de catarrineos e de pongideos, pelo que se considera a Ásia como berço mais provável da humanidade” (Mendes, J.C. P 270). A comunidade científica européia repudiou a sugestão de uma ancestralidade vinda do sul, devido falta de evidências de campo, pois já estavam convencidos de que Homem de Neander e o Cro–Magnon, que haviam sido encontrados na Europa (Hemisfério Norte), o provável berço evolucionário que demonstrava a sua ancestralidade provinda da Ásia. Mesmo tendo estas duas provas, ainda havia uma necessidade de continuar a procura. Naquela época, as descobertas ainda eram escassas. 17 Em 1898, Eugène Dubois, um médico holandês que era influenciado pelos estudos de Haeckel, ao procurar pistas a respeito da evolução humana, viajou para Indonésia e lá encontrou em Trinil (Ilha de Java), uma calota craniana, um dente e fêmur, ambos antigos, sugerindo que os ossos deveriam ter pertencido a um mesmo indivíduo, possuindo caracteres simiescos e de andar ereto. Sua anatomia era peculiar e diferente ao “Homem de Neander” e do “Homem de Cro–Magnon”, chamou-o de: Pithecantropus erectus (Homem– macaco ereto) ou Homo erectus, em homenagem a termologia utilizada por Haeckel. Ao regressar para a Europa, apresentou o fóssil a alguns membros da comunidade científica, que estavam acostumados em perfis anatômicos similares aos Neandertais, e ao Cro–Magnon, que repudiaram a ideia, de que os ossos que Dubois encontrara, eram pertencentes a um mesmo indivíduo. Rudolf Virchow sugeriu que a calota craniana pertencesse a um gibão, enquanto o fêmur era muito parecido com um fêmur humano. “Um dos peritos que examinaram (H. erectus) foi o antropólogo e anatomista alemão R. Virchow, que imediatamente concluiu que suas peculiaridades eram devidas às deformidades patológicas e não indicavam primitivismo, como alguns especialistas menos famosos (A. Keith) tinham sugerido” (Howell, F.C. 1969. P 12). Para os cientistas da época, os vestígios eram considerados poucos e havia alguns de seus colegas, que acreditavam que descoberta de Dubois, não fazia sentido algum. Os materiais e a geologia da Ásia ainda era um mistério. Por esta razão, alegava-se que os fósseis teriam sido classificados como um só indivíduo, mas seriam dois indivíduos. Dubois percebeu que a academia, não estava dando apoio científico, retirou-se para sua casa, trancou seu fóssil, não permitindo que ninguém o visse. Os pesquisadores tinham em mãos, pouquíssimos vestígios fósseis e pior, havia ainda, Dubois que não permitia que ninguém observasse sua descoberta em Java. Isto fez com que, não houvesse muitos avanços sobre a origem humana, até surgir novas descobertas iniciadas no início do século XX, na década de 20 e 30, que revelaram serem similares ao Homo erectus, na China: Sinanthropus pekinensis, mandíbula de Mauer– Alemanha, em Java: Homem de Trinil. Obviamente estes fragmentos pertencentes aos homens primitivos, eram encontrados freqüentemente incompletos, as técnicas de datação, ainda eram precárias, mas por outro lado, ocorreu um aumento do número de fósseis. Deste modo os paleoantropólogos puderam correlacionar os achados recentes com as antigas, trazendo novas concepções acerca da filogenia humana. No final do século XIX, um dos maiores anatomistas da época, o Dr. Gustav Schwalbe (1844-1916), havia escrito um livro chocante: Zeitschrift für Morphologie und Anthropologie (1899), sobre a evolução humana, e as espécies humanas descobertas até então, o 1º estágio era o Pithecanthropus de Dubois, o 2º estágio era o Homo primigenius (neandertal) e finalmente, o 3º estágio seria os homens anatomicamente modernos. O Dr. Wolpoff comenta que: “He fundamentally believed in linear evolution” (Wolpof, M e Caspari, R. 1997. P 116). Isto é, ele acreditava numa evolução linear entre estes estágios humanos descrito acima. 18 Porém em 1912, Schwalbe teve de abandonar seu modelo, pois publicou o trabalho de Boule, que estudou o neandertal de La Chapelle, percebendo que não poderia encaixá-lo, no esquema que havia montado em seu livro (Brace, C. 3ª Ed. 1979. P 35). Nessa mesma época, a paleoantropologia inglesa, iria contribuir com achados de campo. No fim de 1912, fora descoberto numa mina, em Pitldown Common, no condado de Sussex, Inglaterra, o Homem de Piltdown. O arqueólogo amador, Charles Dawson, proclamou sua descoberta: o fóssil consistia num crânio com seu maxilar inferior. Os fragmentos foram entregues a anatomistas renomados, Arthur Keith e Grafton Elliot Smith que após terem pesquisado, “ambos saudaram o Homem de Piltdown como sendo talvez a mais importante descoberta já realizada de um fóssil humano”. (Johanson, D & Sheeve J. 1998. P 69). O nome científico desta descoberta era: Eoantheopus dawsoni. A anatomia do Homem de Piltdown possuía apenas: 1.070cc de capacidade cerebral e representava o maior achado paleoantropológico da Inglaterra. No início do século, grande parte dos anatomistas acreditava que o Homem de Piltdown fosse um elo com os humanos modernos. O paleantropólogo francês, Marcelin Boule (1861-1942), afirmava que o Pithecanthropus e o neandertal fossem um ramo lateral sem incluir os homens modernos, enquanto o Homem de Piltdown fosse o ancestral do homem moderno. Na verdade o fóssil de Piltdown (crânio com a mandíbula) se mostrava espetacular e ao mesmo tempo até inigualável. Não havia semelhanças com outras já descobertas até aquela época. Para os especialistas, o fóssil mostrava se diferente do Homem de Neander e do Homem de Cro–Mangon. Quando Eliott Simth começou a analisar o achado, verificou que o crânio pertencia a humano moderno e a mandíbula era simiesca (orangotango), manchada cuidadosamente, para parecer antigo e os dentes se encontravam limados (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 69). Apenas na década de 50, com datações de Flúor (para traçar datas de contemporaneidade, com espécies antigas), elaborada por: Kenneth Oakley, Wilfrid Le Gross Clarck, J.S. Weiner é que puderam confirmar a veracidade do fóssil. Submeteram–no a exaltivas experimentações, com o objetivo de determinar a idade relativa do fóssil e descobriram que o Homem de Pitldown se mostrou uma fraude deliberadamente forjada: “Os críticos estavam certos desde o princípio, mais certos que jamais ousaram pensar. Os ossos do crânio, na realidade eram de um ser humano moderno, e a mandíbula, de um orangotango”. (Gould, S.J. 1992. P 206). Para S. J. Gould (1941-2002) da Universidade de Havard “nada é tão fascinante, quanto um velho mistério” (Gould, S.J. 1992. P 240). Porém este mistério conseguiu enganar, não somente os mais respeitados anatomistas ingleses, mas toda a comunidade científica internacional, como: Arthur Keith, Arthur S. Woodward, Marcelin Boule, H.F. Osborn e Carlos de Paula Couto. Para os evangélicos da Sociedade Torre de Vigia de Bíblia e Tratados, o Piltdown foi uma vitória, pois justificava a ideia criacionista. O cânio desempenhou um fracassado modelo fóssil revelando-se uma fraude. Além disso, seria uma prova de que os cientistas poderiam fazer qualquer coisa, para forçar a humanidade a acreditar no fato comprovativo de darwinismo. 19 “Em seu desejo de encontrar evidências dos homens–macacos, alguns cientistas se deixaram levar pela crassa fraude, por exemplo, do homem de Piltdown, em 1912. Por cerca de 40 anos, foi aceito como genuíno pela maior parte da comunidade evolucionista. Em 1953, a farsa foi descoberta, quando técnicas modernas revelaram que os ossos humanos e ossos simiescos tinham sido ajuntados e artificialmente envelhecidos. Em outro caso, desenhou–se um elo que falava simiesco, que foi divulgado na imprensa”. (Sociedade Torre de Vigia. 1985. P 87). Há contradição nesta afirmação, pois ao mesmo tempo em que, os religiosos defendem a “técnicas modernas” (o experimento com flúor que foi utilizado para estudos no H. Piltdown), são através destas datações fortalece a sustentação da ideia, de que a Terra e o ser humano têm uma idade superior aos 6.000 anos, propostos por religiosos e ao mesmo tempo, refutam qualquer evidência de evolução. Seria natural, que os religiosos questionassem a fraude de Piltdown, mas porque não foram questionadas as “técnicas modernas” de datação? Ainda não há resposta. Vamos nos ater a nossa pesquisa; será que os maiores cientistas da época são culpados, por lançar para o público, o homem de Piltdown? É cômodo acusar as análises dos cientistas e suas investigações. Para a comunidade religiosa, a ciência teria sido culpada de fraude e por isto a paleoantropologia, às vezes é mal reconhecida, tanto por leigos, quanto por religiosos. O criacionismo anseia voltar a ser, um método de estudo da ciência da vida e da terra, por esta razão, busca menosprezar, os dados de campo. Nos dias de hoje, existem inúmeros sítios espalhados pelo mundo, que nos dá provas evidentes de ter existido hominídeos. Atualmente, utilizam-se técnicas modernas, como: GPS, para ajudar na localização de escavações e estudos geológicos. Há periódicos científicos e teleconferências, com a finalidade de trocar informações. A Internet e as emissoras de TV a cabo, lotam de dados a respeito das descobertas realizadas. Há também, laboratórios de alta tecnologia, que auxiliam cientistas analisar os fragmentos descobertos, para que mais tarde, o público possa ser informado das conclusões. Sem as tecnologias citadas acima restringe em muito o trabalho a disposição dos anatomistas britânicos, entre os anos de: 1856–1912. “... É muito fácil olhar com desprezo a credulidade dos evolucionistas britânicos. Consideram a escassez de coisas que tinham para trabalhar. Não havia métodos confiáveis de datação. Um mero punhado de achados europeus. Algum material asiático promissor, fechado à chave e fora das vistas de todos por seu proprietário armagurado (E. Dubois). E, então, chegam esses novos ossos sensacionais, extraídos de um terreno britânico. É claro que os especialistas ingleses os estudavam e discutiriam sobre seu significado, mal sabendo que a atenção que lhes dessem confirmava a legitimidade do espécime. E é claro, que achariam o fóssil à satisfação de suas noções preconcebidas: preconceitos era tudo o que possuíam. Fora da Inglaterra, em especial nos Estados Unidos, O Homem de Piltdown causou muito mais dores de cabeça, e dentro de vinte anos acumularam–se-iam suficiente novos indícios para reduzir o status do fóssil, de uma força propulsora da paleontologia humana ao de um enigma incômodo” (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 70). 20 Crânio de bêbe de Taung (esquerda) e do Homem de Cro–Magnon (direita) Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/cromagnon.html e http://www.talkorigins.org/faqs/homs/taung.jpg Enquanto a Europa vangloriava da descoberta do Homem de Piltdown, em outro local, na África do Sul (Hemisfério Sul), foi encontrado, em 1924, nas pedreiras de Taung (em língua Bantu, significa: “Lugar do leão”), um crânio, uma mandíbula e um cérebro de uma criança (4 ou 5 anos) com feições simiescas, descoberta por Josephine Salmons, estudante de anatomia, que apresentou seu achado, a seu professor, Raymond Dart, da Witwartersrand University de Johannesburgo. Dart, discípulo de Grafton Elliot Smith, começou analisar todo o aspecto da criatura e observou que seu crânio era bastante grande ao ser comparado com outros primatas vivos. Seu dente era similar aos hominídeos, mas a revelação surpreendente seria o fato desta espécie poder andar ereta como os humanos. “Talvez o fato mais importante de sua argumentação fosse a posição do forâmen magnum, a ampla abertura da base do crânio, através da qual a medula espinhal se liga ao cérebro. Nos macacos, que caminham sobre quatro membros, esta abertura está localizada na parte superior do crânio. Nos seres humanos e nessa criança de Taung – o foraman magnum se aproxima da parte frontal, de modo que a coluna espinhal se alinha verticalmente. Isto parece indicar que a criatura caminhava ereta”. (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 72). As conclusões de Dart foram descritas na revista: Nature, em 1925, chamando o fóssil de: Australopithecus africanus (macaco meridional da África). Em 1930, escrevera sua monografia: Australopithecus. A notícia da descoberta e das teorias de Dart chegou à comunidade científica britânica. Ainda naquele tempo, possuía a crença que: o Homem de Piltdown, o Pithecanthropus, o Cro–Magmon, o Homem de Neander, eram os ancestrais humanos e que estavam na árvore genealógica humana, descartando a sugestão de Dart, pois não era possível encaixá-lo em nenhuma ramificação. A anatomia da criatura sul– africana: tamanho do cérebro igual ao de um chimpanzé, não se poderia comparar com os fósseis europeus e finalmente, havia somente, um único indício a se basear. Seria necessário haver mais provas para convencer, a academia, de que a espécie do Bebê de Taung era o ancestral possível, e assim, encaixá-lo devidamente, na árvore genealógica humana. 21 Na Inglaterra, Dr. Arthur Keith, ao examinar o molde do Taung, que se encontrava em uma exibição no saguão de Wembley, em Londres, escreveu sua opinião na revista Nature, mostrando-se contrário, as interpretações de Raymond Dart: “A pretensão de Dart é absurda. O crânio é o de um macaco antropóide jovem... e mostrando tantos pontos de contato com os dois tipos de antropóides vivos na África, o gorila e o chimpanzé, que não pode haver nenhum momento de hesitação em colocar a forma fóssil nesse grupo de seres vivos”. (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 72). Mesmo a comunidade cientifica, se mostrando contrária, havia quem defendesse a tese de Dart. Robert Broom, um arqueólogo sul–africano, examinou o espécime e declarou convencido das afirmativas propostas, mas seria necessário encontrar em campo, mais dados. Não havia nenhum crânio que pertencesse a um adulto. Com sorte, Broom, encontrou na região do Transvaal, um crânio de um indivíduo adulto, chamando–o de: Plesianthropus transvalensis “Quase Homem do Transvaal”. Sua anatomia era similar ao do Australopithecus africanus e poderia então fazer parte deste gênero. O achado seguinte de Broom fora na pedreira de Kromdraai, conseguindo encontrar um crânio, uma enorme mandíbula, e dentes fortes, diferentes do grupo dos A. africanus. Broom o chamou de: Paranthropus robustus (afinidade com o homem) ou Australopithecus robustus. Entre 1924– 1957, R. Broom e R. Dart encontraram inúmeros fósseis de Australopithecus: crânios, pélvis, dentes, colunas vertebrais e mandíbulas. Devido a estas inúmeras descobertas, conseguiram convencer o mais cético dos cientistas da época, Dr. Arthur Keith, que admitiu na revista Nature, sobre as evidências encontradas na África: “Eu fui um dos tomaram o ponto de vista de que, quando a forma adulta do bebê Taung fosse descoberta, ela provaria ser análoga (similar) aos dos antropóides africanos vivos – o gorila e o chimpanzé. Agora, estou convencido de que o professor Dart estava certo e eu errado” (Johanson & Sheeve. 1998. P 89). A comunidade científica da década de 40 e 50 começava lentamente, a aceitar a possibilidade dos seres, encontrados, na África do Sul, isto é do Hemisfério Sul, ter algum tipo longínquo de relação com os homens modernos, sugerindo uma ancestralidade, podendo fazer um descaminho ou um novo caminho, com uma nova árvore genealógica, que englobasse não só os Australopitecinos, como também o fraudulento crânio de Piltdown. Por esta razão, iniciam–se na década de 50 e 60 algumas sugestões de árvores genealógicas, que englobasse todos os fósseis encontrados de hominídeos, até aquele momento. Seria interessante que o leitor perceba que o Dr. André Senet autor do livro: O Homem Descobre Seus Antepassados (1959) propõe uma árvore genealógica, baseando-se nos estudos de M. Boule da década de 20, que não incluía os neandertais e os pré-homens (Homo erectus) como nossos ancestrais. Mesmo assim, o fóssil de Piltdown foi considerado um ancestral direto dos homens modernos. 22 FIGURA 1. Parapiteco Limnopiteco Australopiteco Pliopiteco Procônsul Gibão Driopiteco ? Pré-Homens Chimpanzé, Orangotango e Gorilas Homem de Mauer Neandertais Homem de Swanscombe ? Homem de Piltdown e de Fontechevade HOMENS MODERNOS Fonte: Senet, André. 1959. P 148. Pré–mousterian man 100,000 - 200,000 Homo erectus Early Mousterian man 200,000 - 500,000 50,000 - 100,000 Australopithecus Homo neanderthalensis 500,000 - 1750,000 about 50,000 Modern European Fonte: Le Gross Clark, W. 2th ed. 1964. P 176 - 177. Com avanços nas escavações, não somente na África, mas também em Israel, W. Le Gross Clark havia sugerido na década de 60, algumas diferenças no modelo apresentado por André Senet, porém naquela década, descobriu–se o Homo habilis, que não foi considerado como válido, devido à existência de poucos achados. Clark propõe sua rota evolutiva, sugerindo que o Homo erectus fosse considerado um ancestral do homem moderno. Embora a espécie humana arcaica seja mais antiga (Early Mousterian man), do que o neanderthalensis, revelando–se, um ser mais recente. Para Clark, o neandethal não é um ser tão antigo como se pensava, mas sim, um desvio evolutivo (mantendo o pensamento de Boule). Nós evoluímos do Early Mousterian man. A sua tese é baseada devido à descoberta realizada em Monte Carmelo em Israel e também na Europa, revelando uma criatura tipicamente sapiens, tendo um queixo projetado para frente uma cavidade superciliar menos protuberante do que o neanderthalensis. Por outro lado, ambos os homens de neandertal e nós, evoluímos dos Early Mousterian man (Homo Heidelbergensis). 23 Homo habilis KNM er1470 Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/1470.html O esqueleto40% completo de Lucy Fonte: http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/images/lucy.jpg Durante a década de 60, haviam sido encontrados, poucos fósseis, fazendo com que cientistas daquela época, interpretassem que a evolução humana seguia por uma rota: linear e gradual, baseada no neodarwinismo, C. Loring Brace, da Universidade de Michigan, explicou que cada espécie ocupava um nicho ecológico e cultural próprio, não havendo, portanto, mais de uma espécie convivendo com outras, num mesmo habitat. Essa teoria foi chamada da Hipótese da Espécie Única que sugere: “é mais realista situar os fósseis conhecidos (iniciando com: o Australopithecus, o Homo erectus, neandethalensis e finalizando com o sapiens) numa relação evolutiva linear” (Gould, S.J. 2003. P 248). Por muito tempo, a comunidade científica, havia se convencido desta interpretação, porém, quando novos fósseis apareceram, durante a década de 70 e 80, aos poucos, este ponto de vista foi abandonado. As pesquisas de Mary e Louis Leakey ajudaram a contrapor a ideia de evolução linear e a “Hipótese da Espécie Única” de Brace, pois foram encontrdos utensílios de pedras, datados de 2,0 milhões de anos, inúmeros fósseis de animais e hominídeos, que habitam a Tanzânia e Quênia. Descobriram hominídeos, tanto de feições humanas como simiescas; como o fóssil do Zinjthropus boisei ou Australopithecus boisei, descoberto em 1959, em Olduvai (Tanzânia), com um volume cerebral de 530cc. A descoberta deste exemplar abriu espaço para teorias, de que a evolução humana, não seguia por vias lineares. Atualmente, grande parte da comunidade científica, está convencida, de que a árvore genealógica humana, pertence a inúmeras espécies, ou seja, sendo arbustiva, portanto, as diversas espécies pré-humanas e humanas coexistiram num mesmo espaço de tempo e num mesmo local, fato que Brace, rejeitava. As pesquisas dos Leakeys, para paleoantropologia, sem dúvida seriam indiscutíveis, além de ter deixado suas descobertas para futuras gerações. Um dos filhos do casal seguira o ritmo de pesquisa dos pais: Jonathan e Richard Leakey, sua esposa, Meave Leakey e Glynn Isaac (1937-1985), continuaram o legado, também dando a sua contribuição para esta ciência a partir da década de 70, no Quênia e propuseram possíveis caminhos de como ocorreu o comportamento humano e nossas origens, baseando em evidências, que interpretaram dos fósseis descobertos e dos utensílios (o achado do KNM er1470 e os vestígios hominídeos, no sítio 50, Koobi Fora). 24 Por outro lado, foi também nesta mesma década, que se desenvolveu outra corrente, cuja interpretação de campo, conduzidas pelos pesquisadores Tim White, James Shreeve, Lewis Binford e Donald Johnason, que ao descobrir novos fósseis de hominídeos, numa outra localidade da África (Etiópia e Tanzânia) propuseram outras conclusões, no que tange a filogenia humana e as origens do comportamento humano. Com a intensificação de suas pesquisas paleoantropológicas, tanto no Quênia como na Etiópia-Tanzânia, começava a ocorrer divergências interpretativas, no que resume a filogenia humana. Em 1981, havia duas correntes distintas, com explicações filogênicas diferentes: 1. Teoria de Richard Leakey – Tese tradicional inglesa argumenta que os ancestrais humanos, não eram simiescos, propostos por Arthur Keith e Marcelin Bule no início do século XX tendo reafirmado devido à descoberta em 1972, de um crânio na garganta de Olduvai (Tanzânia), chamado de: Homo habilis de ou KNM 1470 (Kenya National Museum n° 1470), possuidor de um volume cerebral de 775cm³, datado de 2,0-1,6 milhões de anos. Este achado sugere que: “Esse extraordinário crânio confirmou duas coisas. Primeira: que a linha ancestral humana, Homo, originou–se muito antes do que a maioria das pessoas suspeitava, talvez até mesmo 1,0 milhão de anos antes. Segunda: uma vez que a história do Homo estende–se tanto, retroativamente, quer dizer esses indivíduos eram contemporâneos de alguns dos primeiros Australopithecus. Isso torna improvável, que nossos ancestrais diretos sejam descendentes evolucionários dos Australopithecus – primos sim, mas não descendentes”. (Leakey, R & Lewin, R. 1980. P 86). 2. Teoria de Donald Johanson e Tim White – Tese tradicional sul–africana argumenta que os Australopithecus fazem parte da árvore genealógica humana, proposta por Dart, em 1925 e mantida por Don Johanson e Tim White, devido a sucessivas descobertas de um esqueleto adulto 40% completo e um número de fragmentos que somam até agora mais de 303 fósseis de 35 a 65 indivíduos da mesma espécie, descobertos em Afar, na Etiópia na Tanzânia. Desde 1977, as evidências convenceram Johanson e White a sugerir, uma nova espécie intitulada Australopithecus afarensis possuindo um volume cerebral de 450cc sendo datado entre 3,3 milhões anos (data da época), sendo considerado para os padrões de 1980, o mais antigo vestígio do grupo dos Australopithecino e possivelmente, poderiam ter dado origem ao gênero: Homo. “A árvore genealógica da família humana proposta por Johanson e White em 1979, acreditam que A. afarensis era o ancestral de todos os hominídeos posteriores, inclusive: Homo. Leakey argumentava que eles erroneamente juntaram duas espécies diferentes sob o nome afarensis e que o verdadeiro homem ainda estava por ser descoberto”. (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 162). 25 Gould (1941–2002) argumentou num de seus ensaios (Gould, J.S. 1998. P 170-184 Lucy na Terra em estase), sobre uma nova descoberta feita em 1994, de um crânio da espécie Australopithecus afarensis, descoberto por D. Johanson, W. Kimbel e Yoel Rak, datado de 3,9 milhões de anos, sugerindo algo contrário das alegações de Leakey: “Essas evidências abrangem duas partes: primeiro, a afirmação que apenas uma espécie, com pronunciado dimorfismo, entre sexos, habitava aquela região e talvez qualquer parte da arvore genealógica humana durante esse interlavo formativo de quase 1,0 milhão de anos: e segundo, os fortes indícios de estabilidade morfológica do A. afarensis ao longo desse tempo” (Gould, J.S. 1998. P 178). Gould comentou que os fósseis descobertos por Johanson e colaboradores na Etiópia, desde a década de 70, tentaram provar a existência de uma única espécie hominídea vivendo ali. Aos poucos com evidências de campo, ocorreram novos achados, revelando diferenças dos tamanhos de alguns ossos. Por isto, parte da comunidade cientifica apoiada por Leakey, alegava à existência de duas espécies distintas, enquanto Johanson defendia um dimorfismo (diferenças morfológicas sexuais entre: os machos e as fêmeas). O novo crânio, descoberto em 1994, ajudou a diminuir algumas dúvidas. Porém, a história evolutiva das origens humanas é um paradoxo e por mais que descubra novos indícios, ainda possuímos mais perguntas, com poucas respostas: “A história evolutiva dos hominídeos ainda é controversa devido ao registro descontínuo e escasso, e às diversas reinterpretações a partir de cada nova descoberta, gerando dados discordantes (as teorias rivais de: Leakey X Johanson). Assim, a filogenia da família humanidae apresentada é a hipótese mais atual, mas não necessariamente a hipótese de consenso”. (Carvalho, I.S. 2000. P 614). TESE DE RICHARD LEAKEY (1981) FIGURA 2. ? HOMO (espécie indeterminada) AUSTRALOPITHECUS (espécie indeterminada) HOMO HABILIS AUSTRALOPITHECUS AFRICANUS 26 TESE DE JOHANSON E WHITE (1979) A. AFARENSIS HOMO HABILIS AUSTRALOPITHECUS AFRICANUS AUSTRALOPITHECUS BOISEI e ROBUSTUS Na década de 90 Leakeys, descobriu o Australopithecus anamensis com uma datação acima de 4,0 milhões de anos. Desta forma, foram obrigados a aceitar as prerrogativas de D. Johanson. Para Meave Leakey, este espécime seria o ancestral do afarensis, que por sua vez, seria ancestral do africanus e sebida. Desde o início da década de 90 e no novo milênio até 2012, a paleoantropologia concentrou–se em penetrar suas pesquisas no “vazio fóssil”, que segundo Richard Leakey, seria o período que abrange entre: 6-4 milhões de anos, havendo pouquíssimos fósseis de hominídeos, para serem estudados e catalogados. Aos poucos, alguns pesquisadores concentram suas pesquisas em sítios próximos ao lago Turkana, na Tanzânia, na Etiópia e no Quênia, tendo alguns fósseis descobertos com datações superiores a 3,4 milhões de anos (Leakey, R & Lewin, R. 2a ed. 1998. Cap. 03. P 41-51). Até o momento, grande parte das descobertas, estaria na África Oriental e Ocidental. Novos sítios estão sendo escavados possibilitando o aparecimento de novas espécies com datas mais antigas. Assim, a paleoantropologia entraria numa fase ambígua, pois ao vasculhar este período de tempo, que não parece conhecido, pode trazer pontos positivos como: o surgimento de novos espécimes, novos locais de escavação e novos pesquisadores que podem propor novas conclusões. Com isto, a idade dos ancestrais humanos, recua ainda mais para passado remoto e desconhecido. Por outro lado, há um fator de risco; a maioria do material descoberto até o momento mostra–se fragmentado em pedaços minúsculos encontrados nos afloramentos. Por isto, as sugestões podem ficar limitadas, devido à falta de uma coletânia efetiva de fósseis para servir de estudo comparativo. Desta forma, a possibilidade de uma ideia com sustentação segura, para confirmar novas teorias ou novas ancestralidades, tornar-se-iam pequenas. Ainda está cedo para a comunidade científica se pronunciar a favor desta ou daquela teoria. É necessário ainda mais avanços, mesmo que sejam lentos. Acredito que em algum período de tempo, poderiam surgir novas sugestões para a filogenia humana, sendo refeita. Para tal, seria preciso quantidade suficientemente de fósseis de uma mesma criatura, para dar sustentabilidade a qualquer teoria e convencer o mais cético dos cientistas. Ao tornar público às ideias dos paleoantropólogos, neste livro, essas informações no futuro, podem ficar desatualizadas. 27 ESPÉCIES Ardipithecus ramidus Australopithecus anamensis Australopithecus garhi Kenyanthropus platyops Orrorin tugenensis Sahelanthropus tchadensis Homo antecessor Homo floresiensis Australopithecus sediba Hominídeo de Denisova (Homo heidelbergensis, antecessor ou Oase)? MÊS/ANO Setembro/ 1994 Agosto/ 1995 Abril/ 1999 Março/ 2001 Julho/ 2001 Julho/ 2002 Maio/ 1997 Outubro/ 2004 Abril/ 2010 2008 e teste de DNAmt foi realizado em Março/ 2010 *MA - Milhões de Anos. FIGURA 3. DESCOBRIDOR/ MA* (White e Wood) 4,4 (M. Leakey) 4,2 e 3,9 (Asfaw) 3,4 (M. Leakey) 3,5 (Senut e Pickford) 6,0 (Brunet e Wood) 6,0 e 7,0 (Bermudez de Castro) 0,8 Brown, Morwood, Lahr e Foley) 90-13 mil anos (Mathew e Lee Berger) 1,95 (Anatoli P. Derevianko e Michael V. Shunkov) 41 mil anos 28 2º CAPÍTULO: OS HOMINÍDEOS: 2.1 ANTIGOS PRIMATAS: Os mamíferos iniciaram sua vida na terra acerca de 200 milhões de anos. A partir de 70 milhões já havia criaturas semelhantes a ratos chamados de musaranhos, que viviam em florestais úmidas, comendo insetos, adaptados a uma vida noturna. Após a extinção dos dinossauros, a 65 milhões de anos, havendo poucos predadores, alguns mamíferos arborícolas começaram a adaptar-se a uma vida diurna. Isto possibilitou que os olhos adquirissem uma visão: bilateral, tridimensional e colorida. Esta mudança permitiu separar parceiros no ato do acasalamento, serviu para visualizar outros grupos de animais, diferenciarem objetos e selecionar frutas maduras das verdes. Ao invés de garras surgiram mãos, com cinco dedos, para pegar, tatear os alimentos e levá-los a boca assim como agarrar objetos para poder carregar. Sendo uma grande conquista para as próximas gerações, pois os macacos herdaram essas características, entre 50 a 20 milhões de anos. Ao procurar pistas acerca de nossos ancestrais, o estudo da paleoantropologia, considera que o Homem estaria pertencente à família Hominoidea, que também conta com: chimpanzés, gorilas e orangotangos, considerados parentes mais próximos e que se separam dos humanos há muito tempo. Tais afirmações são baseadas em testes genéticos sugerindo que o orangotango se separou da árvore genealógica humana a cerca de 15 milhões de anos. O gorila a 10 milhões de anos e os chimpanzés entre 5,0 a 7,0 milhões de anos. Concluindo, os chimpanzés, seriam criaturas mais próximas de nós, considerados nossos parentes vivos, com características assombrosamente humanas em muitos aspectos, carregando cerca de 98% de material genético similar ao nosso (Gribbin, J. 1983. P 276-277). Ao ter encontrar vestígios de hominídeos, os paleoantropólogos estudam como teria sido o comportamento destas criaturas quando estavam vivas. Para isto, fez-se necessário estudar os comportamentos dos antropóides e diversos tipos de símios. A maioria dos cientistas prefere estudar os chimpanzés e bonobos, pois era uma referência mais próxima a nossa. Alguns primatologias argumentam que delinear o limite entre a inteligência e o instinto torna–se uma tarefa difícil, de acordo com o estudo da primatologista, Jane Goodall, por 40 anos, observou os inúmeros comportamentos sociais dos chimpanzés, na Reserva de Gombe, na Tanzânia. Conclui que em algumas ocasiões estas espécies possuem características de comportamento social complexo. Seu estudo afirma que os chimpanzés possuem diversas atividades similares a dos humanos: (National Geographic Vídeo: Among the wild Chimpanzees, 1990). “O estudo de Jane Goodall indica que as filhas de mães de status elevados, são capazes de monopolizar recursos alimentícios, crescem mais rápido, sobrevivem melhor e atingem a maturidade sexual até quatro anos antes, das filhas de fêmeas de posições hierárquicas inferiores” (National Geographic Brasil. N° 36. P 89). 29 Com base em suas observações de campo, a pesquisadora notou outras atividades muito peculiares: 1º Os membros de cada grupo de chimpanzés seriam heterogêneos; cada indivíduo possuí um comportamento imprevisível e diversificado se mostrando, ora independentes, ora dependentes. 2º São ocasionalmente carnívoros podendo ser canibais. Seus alimentos na maioria das vezes são cupins, vegetais e frutas. 3º São criaturas territoriais (sedentárias). 4º São criaturas com complexas redes sociais, utilizando a política para se favorecer, fazendo e desfazendo alianças, considerando uma sociedade nos moldes de Maquiavel. 5º Possuem consciência de si mesmo conseguindo se reconhecer diante de um espelho. 6º Sabem confeccionar e utilizar ferramentas, como pedaços de galhos de árvores para apanhar cupins; pedras para quebrar nozes e folhas para servir de esponjas, e ajudar a beber água. Reforçando esta tese, R. Foley, da Universidade de Cambridge, acrescenta: “Os macacos, os chimpanzés em particular, mostram possuir características de comportamento e de capacidade cognitivas que se aproximam as dos humanos. Os chimpanzés selvagens fabricam e usam ferramentas, são capazes de comunicação sofisticada, sabem planejar e executar linhas de ação a longo prazo e manipulam tanto os objetos quanto outros indivíduos, visando seus próprios fins. Cada uma dessas capacidades verificadas entre chimpanzés nos mostra os macacos cruzando os vários rubicões estabelecidas como marco das fronteiras entre humanos e não–humanos”. (Foley, R. 2003. P 58). As inúmeras semelhanças políticas e sociais, entre chimpanzés e humanos, nos permitem acreditar na possibilidade de ter existido um ancestral comum com possíveis, habilidades descrita acima, vivendo na África aproximadamente 5,0 a 7,0 milhões de anos (os geneticistas pressupõem que nessa época houve uma separação entre o grupo de chimpanzés de da linhagem dos hominídeos - Lima, C.P. 2a ed. 1994. P 14). O objetivo seria procurar pistas que possuem essas datações e possíveis fósseis com anatomia símio-humana que poderia ter tido as mesmas capacidades políticas que as nossas ou dos chimpanzés, quando estavam vivos. Por isto, o trabalho paleoantropológico é uma missão impossível. Há poucos fósseis possuindo uma datação tão avançada. Como então, estabelecer se um determinado fóssil seja pertencente a nós ou dos macacos (chimpanzés)? Como já foi apresentado anteriormente, existe um consenso entre os cientistas ao afirmar que o andar ereto seria um critério. Assim, os pesquisadores tentam analisar a mecânica dos fósseis: movimento dos ossos dos pés, da coxa, joelho, quadril, forâmen magnum. Caso exista evidência, não quer dizer, que seria aceita como um ancestral devido falta de mais dados (provas fósseis). Nesta parte do capítulo, estudaremos nossos ancestrais e os possíveis fósseis que recentemente foram descobertos no período em que R. Leakey descreve, como “vazio fóssil”. O objetivo não é propor, se uma espécie é ancestral da outra, mas analisar a tese dos paleoantropólogos de que tais criaturas possuíssem sinais de um possível andar ereto, numa época anterior à separação dos chimpanzés com a nossa espécie, em torno de 4,0 a 7,0 milhões de anos, havendo o Ramapithecus brevirostris (1932), o Ardipithecus ramidus (1995), o Orrorin tugenensis (2001) e o Sehalanthropus tchadensis (2002). 30 2.2 OS ANCESTRAIS DOS AUSTRALOPHITECUS: 2.2.1 RAMAPITHECUS BREVIROSTRIS: Por mais que avançemos nas pesquisas e teorias acerca das origens humanas, infelizmente ainda estamos longe de afirmar com segurança, de que ramos filogênicos teriam surgido os primeiros antropóides, com fisionomias humanas. Cada descoberta feita em campo pode reescrever a nossa árvore genealógica. O Australopithecus parece ter surgido na África, segundo Johanson, dera a origem ao gênero Homo. Mas, qual teria sido o indivíduo que poderia ser o ancestral dos Australopithecus? Para responder esta pergunta, é sugerido um balanço das ideias, comentando sobre as pesquisas do paleoantropólogo, Richard Leakey, autor de: Origens, O povo do lago e A Origem da Espécie Humana, que propõe o Ramapithecus brevirostris seja o ancestral possível dos Australopitecinos. Esta criatura descoberta por Edward Lewis, em 1932, consistia apenas de uma maxila, redescoberta em 1961, um crânio e um pedaço de membros por Louis Leakey, pai de Richard. O Ramapithecus era uma criatura simiesca de 91,5 cm de altura, que vivera em florestas na Índia (local onde fora descoberto primeiramente), Hungria, Grécia, Turquia, China, Paquistão e África (Quênia), em torno de 14 a 8,0 milhões de anos atrás. Para Lewis a criatura poderia ter adquirido a qualidade do andar ereto semelhante ao Australopithecus (Leakey, R. 2a ed. 1976. P 30, 38 e 39), adaptação ao meio que permitia uma alimentação variada (Leakey, R. 2a ed. 1976. P 32), sucesso sexual, permitindo uma maior taxa de natalidade, aumentando assim as possibilidades de evolutivas (Leakey, R. 2a ed. 1976. P 33). R. Leakey ficou convencido de que estes fatores contribuiram para uma possível evolução da criatura, sendo ancestral do gênero Homo e do gênero Australopithecus (Leaky, R. 2a ed. 1996. P 66). O esqueleto 40% completo, apelidado de “Lucy” descoberto em 1974, por Donald Johanson, em Afar, na Etiópia, com uma idade avançada de 3,4 milhões de anos, R. Leakey o examinou e concluiu que poderia haver uma possibilidade do Ramapithecus ser o ancestral de “Lucy” e seria membro pertencente a espécime Australopithecus afarensis, e seu apelido seria “por causa da canção dos Beatles: Lucy in the sky diamonds, que tocava no acampamento no dia em que ela havia sido extraída das trevas” (Johanson, D. 1998. P 24). “Igualmente importante era a natureza do hominídeo. Ele era, sem dúvida ‘avançado’, pois já andava ereto. Todavia, o maxilar tinha algumas características indubitavelmente primitivas, que fazem lembrar o Ramapithecus. O maxilar tem nitidamente o formato em V; os molares relativamente grandes são achatados; e o primeiro pré–molar tem uma cúspide única, uma característica muito primitiva, semelhante a do antropóide”. (Leakey, R & Lewin, R.2a ed. 1996. P 67). 31 Leakey afirmou que a característica encontrada no maxilar de “Lucy” seria muito similar a características do maxilar formado em V que os Ramapithecus possuíam. Por esta razão, acredita que tal criatura seja parente distante, devido às semelhanças ancestrais com o Ramapithecus. Leakey possuía apenas uma única evidência para comparar: alguns pedaços de membros, para análise. Se de um lado possuímos um esqueleto 40% completo e não havendo uma quantidade significativa de fósseis, não podemos afirmar com segurança uma ancestralidade. Leakey deixa claro isto, mas analisando parte de seu esqueleto, como: dentes, maxilas e membros, o que se pode propor, são outras características. “Entretanto, se formos realmente honestos, devemos admitir que praticamente nada sabemos acerca do Ramapithecus: não sabemos como ele era nem o que e como fazia. Mas, com ajuda dos fragmentos de maxilas e de dentes, e um ou dois pedaços e parte do braço e das pernas, todos representando algumas dúzias de indivíduos, podemos emitir algumas opiniões mais ou menos acertadas” (Leakey, R & Lewin, R. 2a ed. 1996. P 26). O astrofísico, John Gribbin (Universidade Cambrigde) tem cautela e prudência ao sugerir que entre o Ramapithecus e o homem moderno, não existem provas suficientes para considerá-lo como um ancestral. Sabendo que o ramo dos antropóides começou a existir por volta de 15 a 10 milhões de anos (idade limite da criatura), podendo ser considerado um antropóide, mas não um ancestral. “... Não há provas de uma descendência ininterrupta do Ramapithecus até nós, e existem indícios recentes e intrigantes de que a divisão entre o ramo humano e do antropóide pode ter–se dado há bem menos de 15 milhões de anos” (Gribbin, J. 1983. P 284). Não está muito claro, a relação do suposto antropóide e os humanos para o biólogo e professor de Ensino Superior em São Paulo, Celso P. de Lima, que se sente relutante ao sugerir uma ancestralidade ligada ao homem ao Ramapithecus, argumentando que sua anatomia é seja tão humana quanto parece devido a ocorrência de descobertas fósseis. “Podemos concluir que ele era mais parecido com um antropóide do que com um homem; restos encontrados em 1980, no Paquistão, indicam que eles se assemelhavam a um orangotango, porém possuía dentes e mandíbulas pequenos, o que sugere um tipo mais próximo ao homem” (Lima, C.P. 2a ed. 1994. P 29). Conclui-se que o Ramapithecus está mais próximo dos antropóides como o orangotango do que para os humanos. Portanto sugere que não há ainda nenhuma relação entre os hominídeos. O estudo da paleoantropologia é muitas vezes angustiante, pois para afirmar que um determinado fóssil é ancestral de outro, seria necessário toda uma coletânea de dados de campo, informações geológicas. Sem esta coletânea, não se pode ter uma consistência veemente. 32 O leitor deve estar achando que tal pensamento seja: “irrelevante”, mas não é. Não se pode afirmar uma ancestralidade ou sugerir uma nova espécie tendo apenas poucos fragmentos fósseis. No capítulo anterior foram citados exemplos de Dubois e de Dart que apresentaram a academia poucos exemplares, sendo desprezados e não obtendo aceitação por muitos anos. Após inúmeras comprovações, novas escavações e o surgimento de novos fósseis, similares aos que foi desprezado, a academia se convenceu que ambos os pesquisadores tinham razão. Exemplo recente é de Donald Johanson e sua equipe encontrou “Lucy”, em 1974, não foram sugeridas de antemão, um novo espécime de Australopithecus. Após exaustivas buscas de campo, pesquisas e muita sorte ao encontrar novos vestígios de 35 a 65 indivíduos, vivendo em locais diversos da Tanzânia a Etiópia, Johanson e White, em 1979, se propuseram a uma nova espécie. Buscar ossos, pegadas fósseis ou fragmentos de pedras e certificar que sejam verossímeis, é um trabalho árduo, e na maioria das vezes muito desgastante. Algumas pesquisas de campo podem não trazer bons resultados. Há casos de pesquisadores, escavarem inúmeras vezes, voltarem ao seu país de origem com pouquíssimos ossos. Não é fácil encontrar um fóssil de hominídeo segundo um documentário da Discovery Channel: Paleoworld: Ape–Man (1996) sugere que no sítio mais rico em fósseis de hominídeos situado na África do Sul, em Sterkfontein, foram retirados entre a década de 30 até o momento, cerca de 1.000.000 de fósseis. Deles, somente 600 eram pertencentes aos hominídeos. Isto dá uma média de 1.666 escavações realizadas, em apenas uma encontrará fóssil de nossos antepassados, e mesmo assim, é muito provável que o material encontrado, esteja todo fragmentado. Segundo outro documentário da National Geographic Vídeo: Mysteries of mankind ou traduzido pela Vídeo Arte do Brasil como: Mistérios da Humanidade (1988) sugere que as chances de se encontrar um fragmento de fóssil de hominídeo qualquer, é cerca de 1 para 10.000.000. O leitor pode imaginar que em cada escavação realizada, os paleoantropólogos descobrem esqueletos completos. Na realidade, as chances de encontrar um esqueleto, com partes do membro diminuem ainda mais, e por isto saudamos “Lucy” e seu significando para os cientistas: um prêmio da loteria fossilítica, pois desde a descoberta do Taung, em 1924, até a sua descoberta, em 1974, foram 50 anos para conhecermos um esqueleto de um Australopitecino, ou seja, foi muito tempo de espera para termos noção exata e menos subjetiva do seu esqueleto. Diante da desta realidade, procurou-se por evidências mais sólidas e convincentes. Sua tese se mostra frágil e com uma margem de inconsistência de provas, e possuí mínimas informações para supor que os Ramapithecus sejam realmente ancestrais dos Australopithecus afarensis. É necessária mais pesquisa e escavações para propor isto, pois Dr. Leakey esteja com a razão, necessitando um número seguro de provas, então... Onde estão? Infelizmente, até agora, não há nada. O objetivo deste texto seria de analisar as idéias e o contexto histórico dos cientistas. Na década de 70, fase que R. Leakey defendia a tese de que o Homo era contemporâneos de alguns dos primeiros Australopithecus. Sendo improvável que estes últimos, são descendentes evolucionários nossos, seria ainda necessários provar, analisar e comparar os fósseis do Ramapithecus com o do A. afarensis. Naquela ocasião havia poucos dados encontrados, estando sujeita as conjecturas. 33 Craig Stanford, da Universidade da Califórnia, cita que as pesquisas genéticas de Vicent Sarich, da Universidade de Berkeley, durante a década de 60, concluíra que este espécime, não possuía características anatômicas e nem aproximação de idade ao sugerir a data de cinco milhões de anos, para o aparecimento de hominídeos semelhantes a humanos e símios, retirando o Status de representante do ancestral humano, declarando: “o Ramapithecus certamente não era humano, visto que não poderia ter sido um bípede ereto” (Stanford, C. 2004. P 45). C. Loring Brace, da Universidade de Michigan, sugeriu que “é piada considerar Lucy um Ramapithecus” (Johanson, D & Edey, M. 1996. P 369) e finalmente, o Dr. Milford Wolpoff considerou: “Ramapithecus não é um fóssil humano” (Scientific American Brasil. Edição Especial. N°2. P 48). Atualmente, sabe-se que não pode colocar o Ramapithecus como um ancestral humano, devido à limitada anatomia e a quantidade de dados fósseis para comprovar seu bipedalismo. Após inúmeras pesquisas durante a década de 70 e até os tempos atuais, muitas descobertas foram realizadas graças ao aumento da tecnologia a serviço desta ciência. Diversos ossos haviam sido encontrados e obviamente, propondo novas teorias. Atualmente, estão sendo analisados os candidatos possíveis para preencher a vaga de ancestralidade do gênero: Australopithecus. Novas criaturas com datações mais acentuadas estão sendo estudadas. Ainda há poucas informações sobre elas e na verdade, o que nos é apresentado seria alguns dentes, pedaços da mandíbula, fragmentos do braço e da coxa. Não há nenhum pedaço de costela, coluna e pélvis, para poder se comparar com a de “Lucy”. Há poucos ossos completos das mãos ou dos pés. O que possuímos ainda é um material, rico por ter suas qualidades únicas e ao mesmo tempo pobre, pois ainda deixa muitas lacunas e questões não respondidas. Sítio de Sterkfontein, na África do Sul Fonte: http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/images/sterkfontein.jpg 34 3.2.2 ARDIPITHECUS RAMIDUS: Fragmentos do Ardipithecus ramidus descrito em 1994. Fonte: http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/ramidis.html e http://www.geocities.com/palaeoanthropology/Aramidus.html O Ardipithecus ramidus ramidus, (Ardhi = chão + ramidus = raiz) ou “Homem de Amaris” seria uma criatura pouco conhecida do público leigo. O que se sabe até o momento, é que existem duas espécies de Ardipithecus, mas ambos podem ser descritos como de uma mesma espécie. A criatura em questão, segundo as conclusões de seus descobridores Tim White (Universidade de Berkeley) e Bernard Wood (Universidade George Washington), determinaram, que os fragmentos descobertos (pedaços de dentes, fêmur e do osso do braço) possuem uma datação de 4,4 milhões de anos, encontrados na Etiópia (Middle Awash), em Setembro de 1994. Não ficou muito claro, se este indivíduo se assemelhava a um antropóide ou a um Australopitecino. As informações fósseis ainda são escassas, sugerindo interpretações diversas. Martin Pickford (Collège de France), acredita que os Ardipithecus seja um ancestral do chimpanzé. Sua sugestão é baseada em fósseis descobertos, no Quênia em 2001. Por outro lado, Owen Lovejoy (Universidade de Kent), em Ohio, estudou recentemente os restos fósseis da descoberta do Ardipithecus ramidus kadabba e sua conclusão foram contrária á de Pickford: “Lovejoy, que estudou o fóssil, informa que uma das juntas do osso forma precisamente o ângulo que seria de se esperar se o Ardipithecus ramidus kadabba pressionasse os dedos do pé contra o chão como os humanos fazem ao caminhar” (Scientific American Brasil. Ano 01. No 09. Fev. 2003. P 62). “O osso do dedo do pé do Ardipithecus ramidus kadabba tem uma inclinação ascendente na sua articulação como a dos humanos, mas é longo e se curva para baixo como acontece com os chimpanzés” (Scientific American Brasil. Ano 01. No 09. Fev. 2003. P 63). 35 Para David Begun (Universidade de Toronto), ainda não está convencido de que o fóssil possuísse característica de hominídeo, acreditando que o dedo fóssil seja similar ao de um chimpanzé. Porém, estudos feitos por Tim White, nos dentes do Ardipithecus ramidus ramidus, se mostrara muito similares ao de “Lucy”, ou o Australopithecus afarensis. Assim, White está convencido, de que esta espécie seja seu ancestral. Os dentes dos Ardipithecus seriam diferentes dos chimpanzés e de alguns Australopithecus tidos como robustus, mostrando sinais de adaptação a uma dieta de onívoros. Além disso, os dentes caninos são reduzidos. Certamente, não há dúvidas quanto a este quesito, porém, o esqueleto descoberto recentemente, mostra que dificilmente, o Ardipithecus teria uma locomoção sobre duas pernas similar aos Australopithecus afarensis. Sabe-se que entre 1995-2009 foi descoberto 110 fósseis de Ardipithecus ramidus de pelo menos 35 indivíduos. Recentemente, em outubro de 2009, Tim White e sua equipe, publicaram na revista Science, a descoberta de um fóssil de Ardipithecus fêmea com 45% completo de 4,4 milhões de anos, apelidada de Ardi (ARA-VP-6/500). No mesmo ano, a rede Discovery Channel apresentou um documentário em estréia mundial (Descobrindo Ardi) sobre a descoberta e a publicação do ARA-VP-6/500, podendo ser acessado em seu website: http://www.discoverybrasil.com/web/descobrindo-ardi/ e podendo ser visto no www.youtube.com buscando: Descobrindo Ardi. Agora, temos um esqueleto com pélvis, crânio, dentes, ossos dos braços, dos pés e das mãos para serem analisados e comparados com os grupos de Australopithecus, Homo e chimpanzés. Com base nos estudos do fóssil, constatou-se que possuía braços longos e pernas curtas, poderia ter medido até 1,2m., pesando até 50 kg e seu volume celebral seria de 350cc. O mais intrigante no esqueleto são os ossos dos pés, que possuem certa similaridade com os ossos dos pés dos chimpanzés, mostrando que este espécime seria mais primitivo que os Australopithecinos, e muito provavelmente que seu andar ereto ou bipedalismo seria arcaico, quer dizer, Ardi, poderia ter uma forma de locomoção similar aos dos chimpanzés. Os ossos da perna e da pelve mostram apenas imperfeita adaptação para o bipedalismo, em comparação com Australopithecus (Época. 05 out. Nº594. 2009. P 112115). O crânio de Ardi demonstra similaridade com o crânio do Sahelanthropus tchadensis. É claro que Tim White e sua equipe acreditam que Ardi poderia andar sobre suas duas pernas e afirmam que possuía “um andar ereto eficaz” (Scientific American Brasil. Edição Especial. Nº37. P 18-19), porém vemos que seria muito difícil argumentar sobre esta possibilidade devido às evidências dos ossos dos pés, que mostram o osso opositor (dedão) não daria firmeza e estabilidade para longas caminhadas e até longas corridas. Para Willian Jugers da Universidade de Stony Brook, afirma que o Ar. Ramidus não possuía nenhuma adpatação ao bipedalismo. Sabemos que os fósseis do Ardipithecus são considerados raros apesar de haver 110 fóssies. As conclusões dos estudos realizados ainda estariam muito longe para definir se este indivíduo seria um provável ancestral dos Australopithecus. Talvez possa demorar mais tempo para que a comunidade científica seja totalmente convencida de que o espécime tenha algum tipo de relação com o caminhar ereto. 36 Devido ao limitado material para ser estudado e das minúsculas provas fósseis provocam uma falta de consenso por parte dos cientistas. Desta forma, produziram dois descaminhos, um proposto por David Begun, Willian Jungers e Martin Pickford e outro, proposto por Tim White e Owen Lovejoy. Por esta razão, não se têm melhores respostas acerca dessa criatura. Além disso, não há até o momento, informações, que faça valer a tese de White e Pickford. O Ardipithecus ramidus ainda se revela um ser misterioso e incompleto de dados mais significativos, principalmente no que se refere ao andar ereto, gerando discussões entre os paleantropólogos. Mesmo que exista no país, defensores que o Ardipithecus seja um candidato possível de ser ancestral dos Australopithecus, ainda, não contamos com coleção de fósseis deste espécime para garantir com segurança tal suposição e concorda-se com a afirmação de William Jungers, ao sugerir: “não acho injusto dizer que, neste momento, a posição filogenética precisa de Ardhi é incerta e contestável” (Scientific American Brasil. Edição Especial. Nº37. P 18-19). Concluindo, o Ardipithecus poderia estar na filogenia humana ou na filogenia dos chimpanzés; a resposta disso ainda estaria indefinda. Ardhipithecus ou (ARA-VP-6/500) descoberto em 2009 Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/ardi.html 37 2.2.3 ORRORIN TUGENENSIS: Fragmentos do Orrorin tugenensis descoberto em 2000 Fonte: http://www.modernhumanorigins.com/tugenensis.html O “Homem do Milênio”, como descrito pela imprensa brasileira (Veja. Ano 33. Nº 50. 13 dez 2000. P 88-90), fora descoberto no Quênia (Tugen Hill), em outubro de 2000. A equipe francesa comandada por Martin Pickford, (Collège de France) e Brigitte Senut, (Museu de História Natural de Paris), catalogaram 13 fragmentos fósseis de 6,0 milhões de anos: pedaços do fêmur, dentes, pedaço do osso do braço. Apesar de possuírem poucas evidências, constatou através de análises que o osso fêmur deste indivíduo, ao ser comparado com fêmur humano moderno e de um chimpanzé poderia ter um andar ereto mais eficiente em relação aos Australopithecinos. “Pickford observa que o fêmur é muito semelhante ao humano. Em outros aspectos, o Orrorin era um animal primitivo; seus dentes caninos, e os ossos de seus braços e dedos conservavam adaptações para escaladas. Mas, a característica do fêmur, para Pickford e Sunet, que quando o Orrorin estava no chão, caminhava como um humano” (Scientific American Brasil. Ano 01. No 09. Fev. 2003. P 63). Para a equipe francesa, o Orrorin era um hominídeo, que caminha sob duas pernas, mas a comunidade científica questiona se haveria a possibilidade desta espécie passar com freqüência uma parte de tempo no chão. Observando as anatomias dos fragmentos do Orrorin, Owen Lovejoy, (Universidade de Kent, em Ohio), ao realizar tomografias do fêmur em questão, a fim de verificar as considerações de Pickford e Senut sobre a possibilidade de um bipedalismo eficiente nesta criatura. As conclusões de Lovejoy foram que a criatura era um hominídeo, pois andava de forma ereta e provavelmente passava maior parte do tempo nas árvores, pois as evidências no colo do fêmur mostram desgastes similares ao do chimpanzé. 38 “Ele suspeita que o Orrorin era freqüentemente, mas não habitualmente, bípede e que passava parte significava do tempo nas árvores” (Scientific American Brasil. Ano 01. No 09. Fev. 2003. P 63). Para Pickford e Sunet, ao analisarem o fêmur, com maior precisão, viram que o colo do fêmur é muito longo e os sulcos do obturador externo, são semelhantes aos humanos modernos. Esta conclusão colocava a criatura na rota de ser o ancestral do gênero Homo, sugerindo um caminho ou descaminho alternativo, sem a presença dos Australopitecinos. A tese é muito interessante, mas não foi encontrado nenhum osso dos pés, do crânio, joelho, cintura pélvica, nem mesmo, ossos da coluna. Para Lovejoy, o sulco do obturador externo revela uma possível distribuição óssea similar ao dos símios quadrúpedes. Tanto os argumentos de Pickford, como de Lovejoy possuem consideráveis respaldos anatômicos, mas para que haja um consenso a respeito, desta espécie, seria necessário recolher um maior número de fósseis. Como dito anteriormente, a paleoantropologia estaria entrando num período de tempo desconhecido. Os restos fósseis estão ainda sendo catalogados e talvez num futuro próximo, seja provável que obtermos uma resposta mais concisa deste espécime. FIGURA 4. Ramapithecus brevirostri (1932) Sehalanthropus tchadensis (2002) Orangotango ? ? Gorila Orrorin tugenensis (2001) Ardipithecus ramidus (1995) ? ? Australopithecus anamensis (1997) Homo 39 2.2.4 SEHALANTHROPUS TCHADENSIS: Michel Brunet da Universidade de Poiters com o crânio de Toumaï Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_dea_elq4nHQ/SP7WXK7K7gI/AAAAAAAAAD0/ROkpRFAt2CI/s400/mic hel+brunet.jpg e http://www.ciadaescola.com.br/zoom/imgs/191/image004.jpg O Sehalanthropus tchadensis se baseia, em apenas um crânio completo com alguns dentes incisivos de 7,0 milhões de anos, possuindo cerca de 350cc de volume cerebral e provavelmente pode–se considerá-lo, como o mais antigo hominídeo descoberto. A equipe de Michel Brunet (Universidade de Poiters), em Julho de 2002, no Chade (Toros–Menalla) descobrira esta criatura num sítio inédito, ao encontrar fósseis desta natureza no lado Ocidental da África. Normalmente, as descobertas de hominídeos são realizadas na maioria das vezes na Oriental da África. Ao observar o “crânio de Toumaï”, assim chamado, se percebe uma grande protuberância acima da cavidade ocular, dentes incisivos muito parecidos com dos humanos modernos e uma pequena caixa craniana. As conclusões de Brunet é que esta criatura possuía dentes caninos afiados produzindo um gume cortante, e por causa do tamanho e desgaste, estariam evoluindo rumo ao gênero Homo (Scientific American Brasil. Ano 01. N° 09. Fev. 2003. P 62). Com a ausência de mais informações fósseis a respeito desta criatura, não há um consenso se era bípede. O S. tchadensis possuía anatomia primitiva semelhante aos macacos e por esta razão, alguns pesquisadores discordam da possibilidade de ser um hominídeo. Para Senut, Pickford e Milford Wolpoff, analisando o material observaram que a criatura possuía contradições. Verificou–se que não havia testa e seu supercílio era muito espesso, estando mais próximo de ser um ancestral de um gorila, do que do homem. Por outro lado, Brunet, apresenta que o crânio teria uma face projetada para frente de forma moderada, diferentemente, do chimpanzé que possuí uma face mais acentuada, para frente. Para alguns pesquisadores, o S. tchadensis era um hominídeo, para outros não eram. Sabe-se, porém, que seus dentes incisivos possuem uma morfologia muito parecida com a dos humanos modernos, sendo descrito por seu descobridor, como um hominídeo, porém ao analisar o crânio, percebe-se que a criatura era mais próxima aos antropóides. 40 Quando foi anunciada para a mídia a descoberta do “crânio de Toumaï”, imediatamente a foto desta criatura lotou arquivos e sites na internet, anunciando ser algo incrível (um elo perdido). O leitor deveria tomar cuidado com informações vindas de locais não reconhecidos pela comunidade científica e seria interessante consultar alguns endereços eletrônicos de credibilidade internacional, neste assunto: 1. http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/ - Este site trata das origens humanas, pertencentes a BBC de Londres, possuindo figuras, entrevistas e conclusões tendo a pesquisadora britânica, Lesley Aiello, como consultora. 2. www.paleoantropologia.com.br - Este site é pertence aos pesquisadores autônomos brasileiros sobre pesquisas fósseis de hominídeos, sendo atualizado constantemente e possuí diversos dados (informações) paleoantropológicas. 3. http://www.becominghuman.org/ - Este site pertencente ao Instituto das Origens Humanas, fundada por D. Johanson. Existem: programas para download, gráficos, figuras, documentários e informações a respeito de diversos fósseis. 4. www.nature.com - Este é o site oficial da revista inglesa: Nature. 5. http://pandora.nla.gov.au/pan/10345/20080516-0014/wwwpersonal.une.edu.au/_pbrown3/palaeo.html - este site é do Dr. Peter Brown responsável pela descrição e descoberta do Homo floresiensis. A idéia de se propor “elos perdidos” seria um problema para a paleantropologia. Esta ciência considera que cada ossinho de hominídeo encontrado seja um elo perdido do passado distante do ancestral do homem moderno e por outro lado, na evolução gouldiana, não há espaços para elos perdidos. O trabalho do estudioso em antropologia é de interpretar as evidências baseadas, nos diversos fósseis de hominídeos e propor mais tarde, possíveis rotas evolutivas obedecendo um processo criterioso de averiguação do material, a fim de descobrir se é verossímil. Após estes exames são propostas as conclusões (teorias). Posso concluir este subtítulo dizendo que o S. tchadensis, Orrorin tugenensis possuem pouquíssimas informações, para sugerir que são seguramente ancestrais dos Australopithecinos e ou do Homo, exceto o Ardipithecus ramidus que apesar de haver um promissor material ainda é cheio de controvérsias, entre os cientistas. Cada um tem interpretações divergentes e propõem argumentações interessantes, a respeito desses seres. Ainda é cedo para que se tenham evidências seguras para apoiar ambos os lados. Sugiro esperar por mais provas de campo. Não podemos desprezar a importância dos fósseis, pois estas descobertas revelaram pontos positivos como: novos locais de escavação sendo pesquisadas por estudantes e podendo ser considerados novos paleoantropólogos, e à medida que vêm realizando esta atividade, podem citar novas teorias, abrindo um leque cheio de caminhos alternativos, que os ancestrais humanos poderiam ter percorrido. No momento, as perspectivas são boas para uma ciência com apenas 150 anos. Muitas coisas foram descobertas e redescobertas nestes anos. Sem dúvida, acredito que algumas questões comentadas aqui se revelem a posteriori. Outras talvez, nem serão lembradas ou reveladas, O futuro do: S. tchadensis, Orrorin tugenensis, Ardipithecus ramidus é incerto na história da paleoantropologia, cheios de possibilidades e de caminhos e descaminhos. 41 2.3 OS AUSTRALOPITHECUS: Como comentado anteriormente, este gênero, fora divulgado pela primeira vez na revista: Nature, em 1925, por Raymond Dart, professor de anatomia da Universidade de Witwatersand, após concluir um minucioso estudo sobre um crânio de uma criança (bebê de Taung) de quatro ou cinco anos de idade sugeria uma criatura que deveria ser “intermediário entre os atuais antropóides e o homem” (Howell, C F. 1969. P 48). O aparecimento dos Australopithecinos na biologia, ainda é mistério. Não se sabe que ramo evolutivo o fez desenvolver. Mas seu surgimento coincide com uma mutação ambiental ocorrida por volta de 5,0 milhões de anos forçando seu advento a partir do Australopithecus anamensis. No período que abrange de 4,5 e 1,4 milhões de anos, houve inúmeros espécimes com feições anatômicas diferentes uns dos outros, mas sabemos que estas criaturas eram pertencentes a este gênero devido a características inconfundíveis e indistinguíveis, tais como: o andar ereto (análises feitas nos ossos do fêmur, joelho, pés, pélvis e pegadas fossilizadas); altura média variando em torno de 1,10-1,4 metros; o volume cerebral variando entre: 450–550cc; existência de uma protuberância superciliar; face projetada para frente, 6o o estômago largo e braços longos com pernas curtas e finalmente dentes eram variados Algumas espécies tinham dentes similares aos dos humanos. Com base nestes diagnósticos, observamos características tanto em humanos como simiescas. Para que o público leigo tenha conhecimento deste indivíduo, sugere-se que até agora dez tipos de Australopitecinos, obedecendo tais características. Abaixo o quadro mostra algumas espécies, com seu respectivo nome, período em que viveu na terra e a data de sua descoberta e publicação. FIGURA 5. Nome das espécies Idade Ano das publicações Australopithecus anamensis 4,2 – 3,9 milhões de anos 1995 Australopithecus afarensis 3,9 – 3,0 milhões de anos 1979 Australopithecus bahrelghazali 3,5 – 3,0 milhões de anos 1999 Australopithecus africanus 3,0 – 2,4 milhões de anos 1925 Australopithecus aethiopicus 2,7 – 2,2 milhões de anos 1985 Australopithecus boisei 2,3 – 1,4 milhões de anos 1959 Australopithecus robustus 1,9 – 1,4 milhões de anos 1938 Australopithecus sediba 1,95 – 1,78 milhões de anos 2010 Sabendo que os Australopitecinos evoluíram em diversas formas e tamanhos, para melhor estuda–los usaremos a ideia de John T. Robinson, isto é, dividi-los em dois grupos: 1o era mais “gracioso”: Australopithecus afarensis, africanus, sediba e bahrelghazali o 2o era mais “robusto”: Australopithecus robustus, boisei e aethiopicus. Segundo Donald Johanson, sugere que estes dois grupos poderiam ter evoluído partindo da pequena donzela “Lucy” ou AL 288, já que esta rota tem boa aceitação entre os paleoantropólogos. 42 FIGURA 6. Australopithecus anamensis (1997) Australopithecus afarensis “Lucy” (1979) Australopithecus aethiopicus (1985) Australopithecus boisei (1959) Australopithecus bharelghazali (1993) Australopithecus garhi (1996) ? Kenyanthropus platyops (2001) Australopithecus africanus (1925) Australopithecus robustus (1938) Australopithecus sediba (2010) Homo sp. ? Filogenia dos Australopithecus Fonte: Wong, Kate. Genealogia Humana. Scientific American Brasil. Edição Especial. Nº37. P 70. O Australopithecus afarensis considerado como ramo principal, teve sua origem taxônica, contestada de forma polêmica no início da década de 70, quando escavações franca–americanas, na Etiópia, conseguiram com sucesso, localizar um joelho, (1973), 13 indivíduos de várias idades (1975), mais tarde, conseguiu localizar um esqueleto parcialmente completo, denominado: AL 288. Seus descobridores Johanson e Taieb (1974), escreveram que os fragmentos encontrados até aquela data, pertenciam a duas espécies distintas: Homo e Australopithecus. Somente, com estudos posteriores, Johanson, concluiu que havia cometido erros, geológicos, paleontológicos e de datações, corrigindoos. Em 1977, quando iniciou o estudo dos fósseis, Timothy White, que havia sido aluno de Milford Wolpoff, na Universidade de Michigan, influenciado pela forma de estudar os fragmentos, chamados de supersomadores, ou seja, buscou similaridades, entre os diferentes fósseis, escreveram em 1979 na revista Science, suas conclusões. Os fósseis apresentavam sinais de alometria (diferenças anatômicas de indivíduos de uma mesma população: altura, tamanho de dentes) e dimorfismo sexual (diferenças anatômicas de macho para fêmea), anunciando uma nova espécie: A. afarensis sendo ancestral, tanto do Homo e dos Australopithecinos. Assim como Dart, sofreram, cientistas sofreram insinuações ao forçar uma taxonomia ou de interpretar mal as evidências de campo. Rivalidades enormes surgiram entre: Johanson, White e a família Leakey. Houve aqueles que também protestaram na época, como: Yves Coppens e Brigitte Senut (descobriu o Orrorin tugenensis), Todd Olson, Pat Shipman. Atualmente, membros da comunidade científica, aceitam as sugestões de Johanson, devido ao acúmulo de fragmentos encontrados até o momento. Há evidências fósseis que corroboram com tal argumento (290 fósseis encontrados, em Hadar). O crânio, descoberto em 1994 e datado tendo 3,9 milhões de anos, em Hadar, Etiópia, por D. Johanson, Kimbel e Yoel Rak, comprova que esta criatura viveu há quase 1,0 milhões de anos sem sofrer alterações na sua morfologia enquanto, os demais Australopithecinos possuíam curtos intervalos de tempo, também com poucas alterações na morfologia. 43 Desta forma, acredita–se que A. afarensis possuía uma maior idade taxonômica. Poderia ter sido uma criatura que se alimentava de tudo (generalista), sendo capaz de ser ancestral do gênero Homo (Gould, S.J. 1998. P 177). Isto ajuda fortalecer a tese de Johanson da única espécie, mas não sepulta as discórdias. Quando o paleoantropólogo sul-africano, o Dr. John Talbot Robinson (1923-2001), nos anos 40/50 estudou os crânios e dentes dos Australopithecus robustos e africanus, percebeu que eram muito diferentes na sua composição anatômica e suspeitou que estas diferenças fossem por causa da dieta alimentar, propondo que os robustos fossem vegetarianos e os africanus fossem carnívoros. Havia por outro lado, a tese do Dr. Loring Brace, que argumentava que essas diferenças entre robustos e graciosos eram devido à alometria. Atualmente, sabemos que a tese do Dr. Robinson estava correta em sua afirmação. Ampliando a tese de Robinson, temos o que se referem aos espécimes: robustus, aethiopicus e boisei (robustos) possuíam certas similaridades na composição do crânio e dentes, tendo uma crista sagital que sugere ter havido músculos na mandíbula com a finalidade de triturar alimentos duros, estando adaptado a uma mastigação intensa. Percebe–se que à parte detrás de seus dentes molares eram maiores do que os da frente, sugerindo que seriam vegetarianos e estando adaptados a um único habitat, mantendo apenas a dieta que deveria consistir em: sementes, raízes duras e ou tubérculos, que para Lee Berger seriam especialistas. Já as outras espécies tidas como: afarensis, sediba, africanus, bahrelghazali e outros tipos de Australopithecus (graciosos) tinham características adversas se comparados com os especialistas. Não havia nenhuma crista sagital em seu crânio, seus dentes eram menos proeminentes, sugerindo que estavam mais adaptados a uma alimentação mais variada composta de: frutas e raízes, assim como de carne. Decidiram optar por dietas mais variadas em seu cardápio, pois não possuíam uma vida exclusivamente, vegetariana, implantando carne em suas refeições, procurando adaptar-se a diversos habitats, que para Lee Berger seriam os generalistas. Para Robinson, a evolução humana estaria baseada, naquilo que se comia. Pressionando-os em direção a um caminho ou descaminho rumo ao gênero Homo. A maioria dos cientistas estava convencida que os generalistas, ao acrescentar carne em seu almoço, poderiam dar os primeiros passos para confecção de instrumentos cortantes, com a finalidade de quebrar os ossos, para obter o nutritivo tutano. Observando o fato, de que alguns indivíduos estariam modificando o seu hábito alimentar devido fatores, como ambientais mantinham-se isolados das outras comunidades por barreiras geográficas e/ou outros fatores, poderia acarretar em mudanças no comportamento social, sexual e morfológico. Assim, haveria um possível aumento no tamanho do cérebro e uma diminuição da face e do estomago (vísceras) e a mudança alimentar poderia proporcionar novas relações sociais e o surgimento das primeiras formas de Homo. O que poderia ter levado o gênero Australopithecus possuir dez tipos de espécies diferentes? O isolamento geográfico, o acaso, a migração de grupos para outras áreas, a maturação sexual, a modificação de hábitos alimentares (dieta), sociais e sexuais, ou seja, são inúmeros fatores. Isto quer dizer que estava muito longe serem fracassos evolutivos, estando adaptados num ambiente adverso, equatorial e subtropical. 44 Afarensis se defende com um pedaço de pau de outros predadores Fonte: Tim Haines. Walking with Beasts. Cap. 4 The Prey´s Revenge. 2001. P 179. Tendo os generalistas adquirido o prazer pela carne, poderia ocasionalmente obtê– la, entrando em territórios de outros indivíduos (especialistas ou generalistas). Em algumas vezes, poderia ter havido conflitos territoriais, como os chimpanzés hoje em dia. O interessante nestes espécimes seria sua versatilidade, ao adaptar-se, em ecos–sistemas adversos. Seria bom que o leitor percebesse que cada Australopithecus possuía um período tempo próprio, porém em certas ocasiões, seria correto dizer, que alguns eram contemporâneos de outros, ou seja, viveram num mesmo período de tempo e local. Há controvérsias entre os cientistas, no que diz respeito à inteligência das criaturas generalistas, por causa do surgimento de ferramentas ao se implantar carne como um hábito alimentar, em algumas ocasiões seria necessário confeccionar instrumentos cortantes. D. Johanson propõe que tal perícia se torna demonstrável, pois os chimpanzés são considerados fazedores de ferramentas sendo considerados seres flexíveis: “os chimpanzés empregam utensílios com eficácia e é quase inconcebível que os Australopithecus também não tivessem feito o mesmo” (Johanson, D. 1998. P 376). Tim Haines, produtor da série: Walking with prehistoric beasts, para a BBC e Discovery Channel, sugere que havia tipos de Australopithecinos especializados em alimentação vegetal e num só habitat natural, sendo que, generalistas, alimentavam–se, não apenas de carne, mas também de vegetais e em algumas ocasiões o uso de ferramentas (pedras e pedaços de galhos de árvores) fosse necessário para se defender, procurar comida, demostrando que eram oportunistas e versáteis. “Australopithecines are intelligent animals that can use tools to help them find food, especially nutrient–rich roots and tubers” * (Haines, Tim. 2001. P 175). * “Australopithecus eram animais inteligentes poderia usar paus e pedras para ajudá–los a encontrar alimentos especialmente, raízes e tubérculos, ricos em nutrientes”. 45 Australopithecus africanus sts 05 (à direita) e aethiopicus BH008 (à esquerda) Fonte: http://www.southernbiological.com/Assets/images/Products/Models/BoneClones/BH008.jpg e https://www.msu.edu/~heslipst/contents/ANP440/images/sts_5_front_40.jpg Durante as décadas de 70/80, Richard Leakey discordou da ideia de uma Australopithecus fazedor de ferramentas, alegando, que seria indemonstrável provar que tais criaturas pudessem fazer instrumentos, baseando seu argumento no achado do KNM er1470 e na falta de evidências que possa corroborar com esta afirmação, pois não há até agora descoberta, que se associem ferramentas de pedras ao Australopithecino. “É razoável dizer que o Homo era um fazedor de ferramentas, uma vez que isso, aparentemente, é uma parte do todo que conduziu à emergência da humanidade. Mas o que dizer a respeito de seus primos australopithecinos? A menos que a nossa Pompéia pré–histórica nos agraciasse com um Australopithecus africanus de cócoras (de quatro), colhido em meio ao trabalho, enquanto fazia um implemento de pedra, nós nunca seremos capazes de dizer: sim, eles também eram fazedor de ferramentas” (Leakey, R. 1980. P 96). R. Leakey, afirma que o A. africanus ou qualquer outro, não eram fazedores de ferramentas. Geologicamente esta criatura era contemporânea do Homo. Além do mais, os líticos produzidos condizem com uma data compatível com o KNM er1470 e nenhum lítico foi encontrado, em sítios de antigos Australopithecinos. Por isto, associam-se os utensílios de pedras ao gênero Homo. Na mesma época, que o crânio KNM er1470 (1972) fora descoberto, Jane Goodall, trabalhava, em Gombe, na Tanzânia, observando o comportamento dos chimpanzés. Ela descreveu que grupos de chimpanzés, usavam pedras, pedaços de galhos ou outros objetos, com a finalidade de se alimentar, defender seu território, competirem no direito de acasalar e para assustar predadores em potencial. É muito verossímil pensar que provavelmente alguns Australopithecus generalistas poderiam ter feito o mesmo. A afirmativa de que os Australopithecus poderiam ter sido ou não, um fabricante de objetos líticos, ainda está em discussão atualmente. Ainda não foi encontrada nenhuma prova, e mesmo que encontremos; com certeza, não há como associar líticos com este gênero. É muito difícil para esta ciência, sugerir quem eram os verdadeiros fabricantes dos utensílios e assim, ainda não há resposta convincente que resolva a equação: fósseis humanos + ferramentas = inteligência. 46 Na história da paleoantropologia houve cientistas que tentaram estabelecer um ponto de ligação entre as ferramentas e fósseis de hominídeos. Grandes estudiosos fracassaram em explicar suas ideias e caso algumas fossem observadas pela ótica atual, não teriam adeptos. Por exemplo: durante muito tempo, acreditou–se que nossos antepassados, não eram capazes de ser inteligente. Marcelin Boule, um grande paleoantropólogo do início do século XX, analisou vestígios de um Neandertal da caverna de Chapelle–aux–saints e classificou–o como um ser ignorante e brutal, incapaz de usar sua inteligência para construir algo. Com o passar do tempo, surgiu novos pesquisadores e novas ideias. Entre as décadas de 30 e 60, Mary e Louis Leakey, descobriram na Garganta de Olduvai, na Tanzânia, mais de 37 mil ferramentas de pedras lascadas, tendo idades variadas entre: 2,0 a 1,0 milhões de anos. A tese de Boule estava colocada à prova, pois as ferramentas são mais antigas que o neandertal e isso convenceu Kenneth Oakley, do Museu de História Natural de Londres, a propor a seguinte tese: o uso destas pedras como ferramentas, era para a busca de alimentação, criando a “Hipótese do Homem, Fabricante de Artefatos” (Leakey, R. 1995. P 24). Por outro lado, não se conhecia quem tivesse produzido tais utensílios. Era necessário descobrir um provável autor. Em 1959, acreditou–se ter descoberto tal indivíduo, mas sua aparência era de um Australopithecus do tipo robusto, ao ser analisado percebeu–se que era um ser peculiar. O cérebro grande, possuindo cerca de 530cc. Aceitou que se tratava de um ser mais inteligente que os demais hominídeos encontrados, sendo chamado de Homem da África Oriental ou Zinjanthropus boisei. “Zinj” fora encontrado nas mesmas camadas que os artefatos, assim, conclui–se que ele teria feito tais objetos. Em 1961, esta idéia foi abandonada, devido à descoberta do pedaço de um crânio com uma cavidade celebral maior. Isto revelou mais pistas acerca do possível fabricante de ferramentas. Então, em 1964, P. Tobias e Louis Leakey haviam proposto um padrão entre as pedras lascadas e o fóssil encontrado e assim, mais uma vez, associou–se pedras lascadas com hominídeos, fabricante de ferramentas e em conseqüência disto, chamou o pedaço de crânio de: Homo habilis. Loring Brace, Michel Day, Le Gros Clark, membros da comunidade científica da época, repudiaram a ideia de Leakey, ao relacionar este espécime, com um crânio desfragmentado e incompleto, tendo um volume cerebral muito baixo como sendo um fabricante de artefatos. Parecia que a equação: fóssil humano + ferramenta = inteligência apresentava dificuldades em ser aceita. Na década 40, Raymond Dart ao analisar os inúmeros fósseis de Australopithecinos, que tinham sido extraídos, nos principais sítios da África do Sul: Kromdraai, Sterkfontein, Swartkrans, Transvaal e Makapangast. Dart descobriu centenas de ossos de outras criaturas, juntas com ossos de hominídeos espalhados pelos sítios. Dart, por viver num período conturbado (1ª e 2ª Guerra Mundial e o Apartheid), interpretou que os hominídeos, poderiam ter usado sua inteligência, para obter comida, se tornando hábeis e violentos caçadores e que se alimentavam de carne. Dart explicou que os pedaços ossos de antigas presas serviam para de artefatos (ferramentas) com o objetivo de matar animais para se alimentar. Sua ideia propunha que antes de ter existido, uma Idade da Pedra, havia uma Idade do Osso ou a cultura osteodontoquerática. 47 “Os primeiros artefatos do Australopithecus podem ter sido feitos com restos de refeições, Dart acha as presas, cabeças de fêmures e dentes de porcos extintos, antílopes e gazelas, encontrados com os fósseis de Australopithecus, eram intencionalmente usados para cortar e raspar, ou como armas“ (Howell, Clark F. 1969. P 59). A imagem de um Australopithecus violento, fora ventilada no meio cientifico, tendo adeptos a ideia de haver um símio sanguinário e em pouco tempo, alcançou o público leigo. Nos anos 60, no filme de Stlanley Kubrick: 2001–Uma Odisséia no Espaço (1968), nos primeiros 05 minutos mostra, a implantação do osso como um instrumento, além de situar a antiga geografia sul-africana. Para Dart, a natureza feroz dos nossos ancestrais, foi devido à competição que obrigou as antigas criaturas como o A. africanus, ter um comportamento brutal e violento: “Os predecessores do homem se apoderavam da caça viva por meio da violência, atacavam–na à pancadas até que morresse, dilaceravam seu corpo fraturado, arrancavam–lhe os membros um a um, saciavam a sede voraz com o sangue quente da vítima e devoravam gulosamente essa prosa altamente a lívida carne que ainda palpitava”. “O homem é um predador cujo instinto natural é matar com uma arma, o súbito acréscimo de um cérebro avolumado ao equipamento de um animal predatório armado e já com êxoto criou... o ser humano” (Johanson, D. 1998. P 301). Atualmente, a tese de Dart está longe da realidade. Ganhou mais notoriedade como a teoria do “símio assassino”, sendo mais apresiada pelos meios de comunicação do que pelos cientistas Louis Leakey e K. Oakley, que estavam convencidos da “Hipótese do Homem, Fabricante de Artefatos” havia nos feito humano (daria origem à linguagem, altruísmo, caça e sinais introspectivos). Na África do Sul, mesmos locais pesquisados por Dart, havia diversos fósseis de hominídeos, jazendo com pedaços de ossos de outros animais. Foram novamente pesquisados, por Bob Brain, que na década de 60, estudou e observou as mesmas camadas de rochas, levando a outras conclusões; de que o afloramento em que se encontravam estes fósseis havia sofrido erosão, formando cavernas subterrâneas, durante muitos milhares de anos. Estas erosões haviam sido provocadas pela proximidade de árvores, com raízes fecundas, ajudando a desgastar a terra e contribuindo com a erosão. Poderia notar, que tais fragmentos teriam sido jogados do alto das arvores, sugerindo que algum felino (leopardo) acostumado a alimentar, em cima de árvores, poderia ter–se banqueteado e à medida que se alimentava o pedaço mais duro dos cadáveres como o crânio de difícil digestão, era desprezado ficando no chão e mais tarde e com o passar dos anos, acumula–se as presas numa mesma camada. Isto explica por que havia um número elevado de fragmentos de crânios de hominídeos e de outros animais que jaziam juntos. Este estudo comprova que os Australopithecinos não poderiam ser caçadores, mais sim, a caça. 48 Para completar, os indícios acima demonstram evidências de marcas de dentes caninos de felinos, em fósseis de hominídeos contradizendo a tese de Dart, pois ao se verificar o crânio de uma criança (Australopithecino), existem duas perfurações profundas feitas de fora para dentro, e as dimensões entre uma perfuração e outra, são similares a mandíbula onde situa os dentes caninos de um leopardo adulto. O Dinofelis saboreia a sua refeição e os ossos desta presa caem no chão e se acumulam com outros tipos de animais capturados por este felino Fonte: http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/ O casal de cientistas: Mary e Louis Leakey Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/lleakey.jpg e http://www.talkorigins.org/faqs/homs/mleakey.jpg 49 Nessa época Bob Brain havia chegado à conclusão de que os Australopithecus eram caçados por leões e leopardos. A Universidade de Chicago (1966) oferecia uma conferência entre os cientistas, tendo como tema central o homem como caçador e provavelmente, teria sido a caça que fizeram humanos, criando então a “Hipótese do Homem, o Caçador”. Esta ideia influenciou Brace sugerir que as ferramentas Olduvaianas eram feitas pelos Australopithecus, sendo, portanto, um caçador. Então, a sugestão do uso das ferramentas, postulada por Leakey e Kenneth Oakley e da violência primitiva, postulada por Dart, foram abandonadas (Leakey, R. 1995. P 24). Esta nova teoria parecia ser considerada incontestável e ganhado um subsidio teórico, quando o paleoantropólogo, Clark F. Howell fez a descoberta em 1969, na Espanha (Vale de Torralba–Ambrona), de inúmeros ossos de animais já extintos datando de aproximadamente 500.000 anos, época do Homo erectus da Europa. Junto das ossadas estavam diversas lâminas de pedras, assim, concluindo que tais animais, deveriam ter sido caçados, pelo H. erectus que confeccionaram os instrumentos ali descobertos. Havia dados de campo, que reforçava a equação: fósseis humanos + ferramentas = inteligência. Para que sua teoria tivesse coerência, Clark ficou convencido da tese do primatologista, Sherwood Washburn, que sustentara a ideia, do uso de ferramentas surgiu antes do andar bípede. Isto quer dizer, que os antigos macacos já eram fazedores de ferramentas e prováveis caçadores antes de ter um andar ereto. Clark argumenta a existência de inúmeras ferramentas junto aos fósseis de 500.000 anos atrás. Para Washburn, à medida que o tempo passa, verifica–se uma redução do habitat (florestas) de antigos hominídeos. A natureza estaria forçando–os a descerem das árvores e aos poucos deixavam de ter uma vida arbórea, obrigando–os a enfrentar predadores e procurar seus alimentos no chão. Com esta mudança de hábito, estes hominídeos poderiam usar utensílios para procurar comida no solo e com o tempo, poderia adquirir sua postura ereta e após adquirir esta habilidade, estariam prontos para caçar (Johanson, D & Shreeve, J. 1998. P 310). “Washburn diz que a hipótese contraria é a verdadeira: o uso dos utensílios precedeu a postura ereta e, mais ainda, deu–lhe origem. Parece absurda, mas as provas que existem e a lógica em que se baseia são impressionantes. Não nos devemos esquecer de que os antropóides, ao contrário dos macacos já tinham tendência para andar ereto mesmo antes de descerem das árvores. Enquanto, que os macacos, pulavam nas árvores, os antropóides subiam nelas, segurando-se com uma das mãos, depois com a outra. Balançavam-se nos ramos sentavam-se e às vezes se punham de pé sobre eles. Os braços eram muito bem articulados e podiam deslocar-se em todas as direções; além disso, já tinham começado também o desenvolvimento da visão estereoscópica, de maiores cérebros e de melhor destreza manual” (Howell, Clark F. 1969. P 50-51). Na época, Clark F. Howell acreditava–se que os antepassados diretos do Homo erectus teriam sido os Australopithecus por produzirem implementos (ferramentas), e poderiam ter tido uma primitiva organização social, muitas vezes baseada em caça de animais de pequeno porte, como porco–espinho, bosboque, gazela ou um leitão (Howell, C. F. 1969. P 68 e 69). 50 Na década de 70, o feminismo se expandia em nossa sociedade e impolgou mulheres antropólogas como Adrianne Zihlman e Nancy Tanner que questionam a “Hipótese do Homem, O Caçador”. Baseando–se em seus estudos antropológicos, concluiram que as mulheres realizavam a coleta de alimentos, representavam as comunidades antigas em 50% da dieta alimentar distribuída pelo grupo. Zihlman e Tanner focavam que a relação entre parentes (mãe e filho), induzia a coleta de plantas, ovos, mel, cupins, e pequenos animais, criando a “Hipótese da Mulher Coletora”. As ferramentas eram usadas não para a caça, mas para a coleta (Leakey R & Lewin, R. 2ª ed. 1996. P 120). Ainda nesta época, pesquisas de campo produzidas por G. Isaac (1937-1985), defensor da tese da Home Base e da economia mista, afirmava que o alimento (vegetal ou carne) coletado ou caçado era distribuído e repartido pelo grupo, em um acampamento (Home a Base), e que o ato de repartir nos fizeram humanos (Leakey, R & Lewin, R. 2 ed. 1996. P 127). Assim como Isaac, Lewis Binford (Universidade de Chicago) e autor de Bones: Ancient men and modern myths, criticava a tese “Homem, o Caçador” e da “Home Base” aplicando seu método de escavação a “pesquisa de meio–termo”, sugerindo que não há provas seguras que os hominídeos eram habilidosos caçadores e sim necrófagos. “Clark observara que esses restos de elefantes foram descobertos juntamente com um montão de ferramentas de pedras auchelianas. Assim, ele e Freeman desenvolveram aquele retrato dândi, em quatro cores, de caçadores poderosos chacinando manadas de elefantes. Chegou até a calcular a quantidade de carne de muitos desses elefantes e estimou que seriam necessárias seis jornadas de cinqüenta homens cada para transportar toda a carne. Portanto, agora você tem o Homo erectus organizado em grupos de trabalho cooperativo, há quinhentos mil anos! Bem, eu mostrei que as ferramentas encontradas no local na verdade não estavam associados aos ossos de elefantes. De fato, há uma correlação inversa: onde você encontra os elefantes, não encontra ferramentas. Os artefatos, na realidade, estavam correlacionados aos membros inferiores e as mandíbulas de cervos vermelhos, bonídeos e cavalos – aquilo que você poderia esperar achar se os hominídeos estivessem procurando carcaças e não caçando. O mesmo vale para o sítio do clássico caçador poderoso“ (Johanson, D. 1998. P 325). Há um consenso entre os pesquisadores, apontando que os Australopithecinos generalistas não fossem caçadores, mas em algumas ocasiões carniceiros e na maioria das vezes, onívoros. Eventualmente, poderiam ter utilizado instrumentos, como os chimpanzés fazem atualmente usando folhas de árvores como esponjas para apanhar água, pedaços de paus para catar cupim e pedras para quebrar nozes. Já os hominídeos poderiam ter usado pedras para quebrar ossos de animais já mortos por predadores para retirar o tutano. Alguns objetos poderiam ter surgido eventualmente mais tarde e sua confecção tornou–se um hábito repetitivo. Neste sentido, pode–se afirmar que os hominídeos eram seres possuidores de inteligência e estaria modificando o meio que vivia. As pesquisas de Jane Goodall com chimpanzés e as de D. Attenborough com macacos demonstram a ocorrência de forma primitiva de inteligência usada sem possuir qualquer uso ou manejo de um utensílio. 51 Mas, será que os macacos poderiam demonstrar inteligência sem usar e fabricar objetos? Attenborough ao pesquisar o comportamento social de macacos que habitam a Ilha de Khosima, no Japão, descobriu: “Uma vez ao receber a sua batata–doce coberta de terra e areia, uma jovem macaca foi até a poça água e lavou a batata com as mãos. Os cientistas não asseguram que sua ação resultasse de um raciocínio abstrato (instinto), mas observaram que a macaca passou a repeti–la; um mês de depois, uma companheira; quatro meses depois, sua mãe; aos poucos o hábito se espalhou entre quase todos os membros do grupo, exceto os mais idosos” (Pinsky, J. 17ª ed. 1994. P 12). A Tese da Caça proposta pela Universidade de Chicago, na década de 60, esta colocada à prova, quando observamos as interações sociais entre os macacos, citada acima. Donald Johanson acredita que os estudos de primatologistas permitem não só observar as relações sociais dos primatas, como também sugerir que seria possível que os Australopithecinos poderiam ter a usado numa rede complexa de política. “O que os primatologistas estão percebendo no campo é a política básica de playground: se alguém o está maltratando, vá chamar seu irmão de modo que ele fique atrás de você. São boas as chances de que outro passe ater um súbito respeito por você – a menos é claro, que ele traga o próprio irmão, que acontece ser mais importante que o seu dentro do grupo, complicando ainda mais a equação social. Entre os primatas, mais comumente servem de alianças, as mães do que os irmãos mais velhos, porém a analogia permanece correta” (Johanson, D. 1998. P 384). Atualmente, a paleoantropologia está inclinada a aceitar a Hipótese da Inteligência Social que explica como os primatas seriam capazes de criar e desfazer alianças, de acordo com seus interesses, exigindo o intelecto observando outros membros estaria fazendo. O Príncipe de Maquiavel seria aplicável, entre os primatas, aos observamos sua interação social na busca de vantagens políticas e sociais de um membro do grupo, exigindo um raciocínio aguçado e rápido. “A astúcia e o cálculo não são as únicas ferramentas no inventário do Príncipe de Maquiavel, não esgotam, o repertório do macaco socialmente sagaz. Não obstante, conforme a nova maneira de pensar o que importa não é tanto o que você conhece, e sim quem – e quão eficaz você pode ser em manter o conhecimento descisivo fora do alcance dos que poderiam ser seus adversários” (Johanson, D. 1998. P 383). Podemos deduzir que os Australopithecus, tanto os generalistas como especialistas, poderiam estar inclusos no comportamento dos primatas, pois o tamanho de seus cérebros seria similar aos do chimpanzé e bonobo. Os Australopithecus eram inteligentes, interagiam uns com outros com a finalidade de obter melhores recursos dentro do grupo, disputando entre si, por certos privilégios políticos demonstrando quem era o dominante e em outro momento, se tornar excluído do grupo ou vice–versa (Leakey, R. 1995. P 141). 52 Tim Haines, produtor da série da BBC: Walking with prehistoric beasts, sugere que os Australopithecinos tinham um evidente dimorfismo entre os sexos. Os machos mediam cerca de: 1,5m e as fêmeas 1,1m, formando grupos pequenos de no máximo 20 membros, sendo o macho dominante. Eram territoriais e ocasionalmente nômades. A vida social fechada para qualquer intruso, causando uma interdependência entre seus membros, com o objetivo obter certos privilégios dentro do grupo, sugerindo uma sociedade política complexa. Tal sociedade apresenta variações de mudanças comportamentais se ameaçados por um predador ou intruso ou por uma variação climática, teriam de contar uns com os outros para se defender (Haines, T. 2001. P 142-181). Estas criaturas poderiam estar isoladas de outras comunidades, não havendo trocas de conhecimento devido ausência de comunicação sofistica acreditando que isto ajudou a extingui–los, a partir de uma mudança ambiental. Por outro lado, observa–se que estes indivíduos teriam possuído laços de afeição, uns pelos outros, deixando esta característica para seus descendentes. Herança que nós carregamos até os dias de hoje o andar ereto. A extinção das espécies de Australopithecus teria iniciado por volta de 2.500.000 anos, quando houve uma nova era glacial, modificando o clima. Esta data marca o surgimento dos Australopithecus tipo robusto e generalista (Au. sediba), e também do Homo habilis. É improvável que o Homo tenha sido o culpado em extinguir os Australopithecus. Pode–se afirmar que as causas da extinção dos Australopithecus sejam desconhecidas, sugerindo seria no início da era glacial, o vilão, provocando maior isolamento entre as espécies, aumentando as barreiras geográficas, ora diminuindo, ora aumentando as florestas, além da existência aleatória de períodos interglaciais e glaciais, que marcaram o globo, com mais de vinte variações climáticas, com intensas quedas de temperaturas e/ou intensas altas de temperaturas, fortes secas e/ou chuvas diluvianas com repentinos padrões de temperatura. Isto pressionou o generalista sediba para uma evolução não linear e pontuada rumo ao Homo e fez com que o tipo especialista, não conseguisse lidar com o isolamento e baixas taxas de natalidade além das agressivas mudanças de temperaturas. Aos poucos, por volta 1,4 milhões de anos, as rotas ficaram abertas para que esse Homo as percorresse. Seja qual for à causa do desaparecimento daquelas belas criaturas, é coerente afirmar que nos deixou uma herança de grande importância, as quais ainda usaram em nossas vidas que foi o bipedalismo. Sabe–se que as origens do bipedalismo, ainda não possuem resposta consensual e definitiva, entre os cientistas. C. Owen Lovejoy (Univesidade Estadual de Kent), argumentou em 1981, que a locomoção ereta possibilitou que os braços ficassem liberados para carregar objetos e crianças. Já Peter Wheller, (Escola Politécnica de Liverpool) e John Moores University, acreditam que nossos antepassados passaram a caminhar sobre duas pernas, com a finalidade de reduzir a sua área do corpo, exposta a um causticante calor africano, diminuindo o desgaste físico. O andar ereto pode ser considerado um sistema que possibilitou proteger o cérebro de um possível aumento da temperatura do corpo, melhorando a refrigeração interna. Concluindo, andar ereto possibilitou aos nossos ancestrais, uma forma de guardar energia das doses diárias de calor, possibilitando a posteriori, o surgimento de sinais de uma protolinguagem (Nasce o homem. Superinteressante. P 44-50). 53 Willian R. Leonard, professor de antropologia da Northwestern University “sugere que o bipedalismo desenvolveu-se em nossos ancestrais, em parte, por ser menos dispendioso energeticamente que o deslocamento sobre quatro patas” (Scientific American Brasil. Edição Especial. Nº2. P 83). Para Lovejoy, existem outros fatores, destacando, o fator sexual: “pode-se não acreditar que o caminhar ereto tem alguma coisa a ver com o sexo, mas que tem, tem” (Johanson, D & Edey, M. 1996. P 409), Stanford, amplia a tese de Lovejoy, sugerindo que: “a principal razão para ficar em pé e andar ereto está intimamente associada à sobrevivência e a reprodução” (Stanford, C. 2004. P 142). Discordando da tese de Gould, afirma que a evolução não se comporta de forma radical e repentina, ocorrida de uma vez só e por uma razão. Há inúmeras provas das formas de locomoção bípede ereta de nossos ancestrais. Existem 4.000 mamíferos atualmente e somente, os gêneros Orrorin Tugenensis, Australopithecus e Homo apareceram com várias locomoções eretas. Na década de 40, os cientistas acreditavam que os nossos ancestrais deixando as árvores para viver na savana africana. A mudança do habitat força a uma evolução na locomoção, possibilitando, que as mãos ficassem liberadas, na intenção de carregar objetos. Pesquisas conduzidas por ecologistas acreditam que houve há 3,5 milhões de anos, florestas tropicais, cobrindo parte da África, fazendo com que esta teoria, esteja equivocada (Stanford, C. 2004. Prefácio). Owen Lovejoy, (Universidade de Kent) acredita que se deve “observar as estratégias evolucionárias” das criaturas, compreendendo a relação entre alimento, vida sexual e mudanças ambientais Estes fatores juntos proporcionavam mudanças nos hábitos sociais e por sua vez, mudanças anatômicas (Johanson, D & Edye, M. 1996. P 412). Pode– se dizer que o processo seletivo não linear e pontuado, poderia contribuir para a formação de um bipedalismo assumindo várias formas diferentes, como o Orrorin tugenensis, de 6,0 milhões de anos que possuía uma locomoção, mais eficiente, do que os Australopithecus de 3,8 milhões de anos, segundo, Martin Pickford e Brigitte Senut. Lee Berger, ao analisar os ossos da perna de um A. africanus (2,5 M.A) concluiu que este não possuía um andar ereto eficiente comparado com o A. afarensis (3,0 M.A). Alan Walker, ao analisar os ossos da coluna do menino de Turkana (Homo erectus africano), constatou que possuía grupo de seis vértebras lombares ao contrário de cinco, fazendo imaginar que esta espécie, deveria ter possuído uma locomoção eficiente. O Homo erectus, para Fred Spoor, (University College, de Londres), ao estudar os canais do ouvido interno (órgão que regula o equilíbrio), concluiu que esta espécie teria sido “marchador mais moderno do que qualquer versão humana anterior”, devido à vértebra lombar extra (Stanford, C. 2004. P 176-7). Concluindo, o bipedalismo assumiu várias formas distintas não sendo um processo que se deu entre espécies quadrúpedes, originando seres semiquadrúpedes até chegar a forma bípede (Stanford, C. 2004. P 87-97). O fato de andarmos em pé nos causou certas desvantagens: 54 “Ao ganhar estabilidade, o bípede perdeu potência. Ao ganhar eficiência energética para caminhar, ele perdeu essa mesma eficiência para escalar. Para as grávidas, o preço a pagar foi terrível. A seleção natural reformulou a pélvis para acompanhar novas funções musculares, mas também estreitou o canal do nascimento com relação ao tamanho do crânio do nascituro, que precisa se espremer para passar por ele” (Stanford, C. 2004. P 77). A herança que carregamos em caminharmos eretos são “imperfeições físicas” e que talvez por isso outros mamíferos não possuam: dores de coluna, varizes, hérnias, estrias e lordose (Lima, C. P. 2ª ed. 1994. P 06). Os cientistas acreditam que o andar ereto precedeu a evolução do cérebro e uso de ferramentas e possibilitou o surgimento do comportamento humano (linguagem e sinais introspectivos). Para explicar como que surgiu, há duas correntes distintas: 1. A Corrente da Home Base: liderados por: Richard e Meave Leakey, Roger Lewin, Henry Bunn e Glynn Isaac que estudaram os vestígios do sítio 50, sítio FLK (Koobi Fora) e antigas comunidades indígenas conhecidas como Yanomami, Masaai (Bosquimeros) e Kung sugerindo que o processo de humanização do Homo poderia ter ocorrido devido à herança bípede, que nos torna mais independentes. Isto possibilitou uma economia mista (caça e coleta), propondo que os hominídeos poderiam ter cooperado uns com os outros, com o objetivo de estocar alimentos em sua Home Base (base doméstica), local em que, os alimentos poderiam ser compartilhados pelo grupo (Lima, C. P. 2a ed. 1994. P31). A posteriori, com a intensificação desta atividade, sugere que alguns membros poderiam demonstrar determinados sentimentos de reciprocidade (altruísmo) cuidando dos pequeninos e dos velhos, aparentando sinais de sentimentos (amor, ódio, paixão) e depois a fala. Concluindo, a partilha nos faz distinguir dos demais antropóides, surgindo os primeiros sinais de relações de matrimônios (poli) monogâmicas: “repartir, não de caçar ou colher, foi o que nos fez humanos” (Leakey, R & Lewin, R. 2a ed. 1996. P 122-123). 2. A Corrente da nova arqueologia: liderados por: Donald Johanson, Timothy White, Lewis Binford, “Gerry” Eck, Gen Suwa e Berhane Asfaw acreditam que a herança bípede, poderia nos tornar mais independentes. Ao examinarem as camadas dos sítios em que os fósseis foram encontrados durante as décadas de 70 e 80, concluiram que a tese de Isaac, “Home Base” não possuía fundamento, pois os cenários descritos, onde os fósseis foram encontrados eram próximos de lagos, locais visitados por leões e tigres. Desta forma, a economia mista, não permitia proximidade com predadores. Acredita–se que os fósseis de hominídeos e suas ferramentas poderiam ter se deslocado, pelas águas de chuvas ou por outros fatores. Outra observação de campo, no que tange ao comportamento, não de humanos, mas de primatas, (hipótese da inteligência social), revelam os padrões sociais, que teria sido utilizado por nossos ancestrais e a conclusão disto, foram que as relações sociais entre os indivíduos do grupo nos fizeram humanos. Não havia sido necrofagia, mas a existência de um ambiente novo, rico em oportunidades e possibilidades, nos tornando um ser interesseiro a fim de se destacar sua comunidade. (Johanson, D. 1998. P 374). 55 Vale à pena ressaltar, que tanto Leakey como Johanson, concorda que o oportunismo de nossos ancestrais havia sido uma “característica–chave” do nosso sucesso evolucionário (Leakey, R & Lewin, R. 1996. P 122). Assim, podemos concluir que a evolução humana, parece ter sido guiada ao acaso, isolamento e adaptação ao meio pelo comportamento alimentar, sexual e político, de criando alianças e fortalecendo através de suas habilidades, propostas pela hipótese da inteligência social. Desta maneira, concordamos com Thomas Hobbes, filósofo do século XVII, que ao observar o Estado de Natureza do homem, em seu livro Leviatã sugeriu que o homem era guiado por suas paixões (egoísmo, amor, ódio, simpatia e outros) e seus desejos (medo da morte, glória pessoal e competição por alimentos), tornado um ser conflituoso egoísta e oportunista. Desta forma, Hobbes descreveu que a vida no Estado de Natureza era basicamente: 1) Curta: Castor Cartelle, (PUC–Minas) sugere que os “Homens de Lagoa Santa” tinham uma expectativa de vida de 30 anos: “eram raros os indivíduos que atingiam idade mais avançada” (Cartelle, C. 1994. P 120). A Dra. Rachel Caspari (Universidade de Michigan) que trabalha com a expectativa de vida na pré-história, afirmou os indivíduos neandertais de Krapina, na Croácia, estudados por ela tinham menos de 30 anos quando faleceram. Sabe–se que a expectativa de vida dos neandertais era de 30 anos para as mulheres e 40 para os machos. 2) Pobre: esta afirmativa pode variar de sítio para sítio, dependendo do objeto de pesquisa. Por exemplo, o estilo de vida do Australopithecus deveria ter sido modificado por sua dieta alimentar, devido inúmeros fatores inclusive climáticos, provocando uma escassez alimentícia, proporcionando a extinção de algumas espécies. 3) Sórdida: o meio ambiente tornava–se hostil, devido o aparecimento de uma Era Glacial (a partir de 2,5 milhões de anos), fazendo com que o continente africano se tornasse seco forçando aos Australopithecus se alimentarem de raízes, surgindo o grupo de especialistas, num período, em que aparece o Homo, um onívoro e em alguns momentos, pressa de leões e leopardos. Sem dúvida, a África nesta época era um mundo cruel. 4) Embrutecida: pode-se afirmar que, em cada época, houvesse escassez alimentar criando a hipótese de que o Homo sapiens, em busca de alimentos, migrou da África para o resto do mundo a partir de 100 mil anos, tese defendida por C. Stringer. 5) Solitária: não há provas convincentes de que os nossos ancestrais eram de fato solitários pelo contrário, andavam em bandos. Devido às descrições de Hobbes, sobre o estado de natureza humano (pré– histórica), evidências de campo parecem confirmar que, seja muito verossímil propor que às provas coletadas de ambos os lados (Leakey e Johanson), aliada as pressões aleatórias do clima, a hipótese da inteligência social altamente política e oportunista, colabora com a citação hobbeniana de ter ocorrido, no passado: “a guerra de todos contra todos” (Alves, M. 2001. P 30-39). 56 2.4 O HOMO: 2.4.1 HOMO HABILIS: KNM er1470 – Homo habilis ou rudolfensis vista de lado e frente Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/1470.html “O gênero Homo surgiu por volta de 2,5 milhões de anos a partir do Australopithecus afarensis. Caracteriza–se pela arcada dentária semicircular, sem diademas entre os incisivos e caninos, dentre as espécies mais primitivas encontra– se o Homo habilis, com aproximadamente 1,5 m de altura e capacidade craniana de 500 cm³” (Carvalho, I.S. 2000. P 614). Para melhor compreensão dos estudos dos tipos de Homo, existentes, André Leroi– Gourhan arqueólogo francês, dividiu-os em três grupos: os antropianos (aqueles que possuem desenvolvimento mental, fabricam utensílios e caminham ereto (o Homo erectus e o Homo heidelbergensis), os paleantropianos (neanderthalensis) e os neantropianos (humanos). A respeito do Homo habilis, Leroi–Gourhan descreve: “Há cerca de 2,5 milhões de anos, coexistiram com um antropiano cujo crânio foi encontrado. Este fóssil é muito mais humano que o Australopithecus, é o Homo habilis. O seu cérebro é muito mais desenvolvido que o dos Australopithecus e os seus utensílios mais desenvolvidos” (Leroi–Gourhan, A. 1987. P 46-47). O Homo habilis, descrito por Leroi–Gourhan, possuía características que o considera como um antropiano, sugerindo que faça parte do grupo dos arqueantropiano. O início da historia desta espécie foi conturbada, sofrendo críticas similares de Dart e Dubois. Desde descoberta do Habilis (1964), até os dias atuais, possui controvérsias e polêmicas, mais do que todas as outras espécies. 57 Durante a década de 30 e 40, Louis Leakey começava a fazer suas primeiras escavações em Olduvai, no Quênia (palavra maasai que significa: “lugar do sisal silvestre”), encontrando inúmeros vestígios de artefatos líticos, mas não conseguia identificar quem teria produzido. Em suas escavações, deparou–se com um dente molar sem conseguir identificar o seu dono. Em 1959, sua segunda esposa, Mary Leakey, havia descoberto fragmentos de um crânio antigo, possuindo a capacidade cerebral de 530cc. Louis Leakey tinha a teoria, de que as criaturas de Dart e Broom (A. africanus e A. robustus) encontradas na África do Sul, não pareciam ter ligação com a linhagem do Homo e nem poderiam ter fabricado os inúmeros utensílios descobertos, em Olduvai. Quando o casal iniciou os estudos, notou que seus dentes eram enormes, seu crânio possuía uma crista e o fóssil parecia mais com um Australopithecino. Concluindo que, essa criatura, poderia ter sido um ser transitório entre os Australopithecus e humanos, sendo batizado de Zinjanthropus boisei ou “Homem da África Oriental”. O Zinjanthropus boisei, segundo Louis Leakey, não era nem Homo e nem Australopithecino, como afirmou: “um estágio mais próximo do homem, como hoje o conhecemos, do que o quase–homem isto é: Australopithecus da África do Sul” (Johanson, D. 1998. P 95). Mais tarde, outro hominídeo fora achado no mesmo local, parecendo ter um fragmento de crânio pequeno e com um cérebro maior do que Zinj, possuindo em média (650–700cc), e seus dentes eram menos proeminentes e pareciam mais com os humanos, chamado de: HO–7 (Hominídeo de Olduvai): “Por causa do tamanho do cérebro e por que os dentes eram muito mais parecidos com dos humanos (os malares não eram compactos em proporções aos incisivos), o novo hominídeo foi considerado como sendo Homo e em 1964 recebeu o nome específico de Homo habilis (homem habilidoso). Aqui ao que parece, estava o fabricante de ferramentas da Garganta; foi pelo menos, o que se supôs” (Leakey, R &Lewin, R. 1980. P 107). Esta descoberta consistia, em alguns pedaços dos ossos do crânio e uma mandíbula. Mais tarde, descobriu–se o HO–13 (Cindy) tinha uma mandíbula e maxilar superior. HO– 16 (George) apresentava pedaços de um crânio e dentes e Twiggy, com sete dentes e um crânio esmagado. Leakey, Tobias e Napier, analisaram os fósseis e constataram que o exemplar era mais próximo do homem, do que o Zinj, sendo mais avançado, que os Australopithecinos. As evidências provaram que o seu volume cerebral era de 670cc considerado como um ancestral capaz de empreender ferramentas, recebendo o nome de Homo habilis (homem habilidoso). Devido à limitada e precária conservação fossilítica, a comunidade científica repudiou a teoria do ser habilidoso de Leakey. Le Gros Clark, (Museu de História Natural de Londres), desprezou o achado baseando–se na medição craniana que Sir. Arthur Keith no início do século XX havia estabelecido como critério, para qualquer fóssil de hominídeo encontrado, pertencente ao nosso gênero (Homo) e determinando que as provas (crânios) deveriam possuir um volume cerebral, acima de 700cc, para ser considerada humana (Johanson, D & Shreeve, J. 1998. P 96-7). Portanto, para Clark o volume celebral do Habilis, não era suficiente para ser considerado: Homo. 58 “Fundamentalmente, a comunidade científica ouvira Leakey gritar:” Homem!”Com excessiva freqüência. Alguns cientistas mostravam–se contrafeitos ante a fútil necessidade de fazer o habilis transpor à força o rubicon cerebral de Keith. Para tornar piores as coisas, os espécimes que Tobias medira estavam incompletos e muito quebrados, e alguns de seus colegas questionaram a exatidão de suas medidas. No que dizia respeito aos dentes, Leakey e seus companheiros pisavam chão mais firme. Utilizando as próprias distinções de Le Gros Clark entre os dentes de Homo e de Australopithecus, as dentições do habilis indicavam no primeiro desses gêneros” (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 97). Mesmo possuindo dentes, como provas, John Talbot Robinson, ao examiná-los afirmava que eram triviais e seria melhor, obter mais material. C. Loring Brace, (Universidade de Michigan), porta voz da “teoria da espécie única”, que na década de 60, estava na moda, afirmava a existência de apenas quatro estágios evolutivos: Australopithecus, Homo eretus, Homo neanderthalensis e homem moderno, cada um estando em num nicho ecológico, próprio e sem contato entre si. Para Brace, o Homo habilis era inválido, pois não se encaixava nas quatro espécies, devendo então, ser somada a espécie do Australopithecus. Existem 02 tedências na paleoantropologia: 1ª os somadores (Brace e Day), que procuram por semelhanças anatômicas, em diversas criaturas e agrupá–la dentro de uma espécie; 2ª os divisores (L. Leakey), propondo que as criaturas possuem diferenças anatômicas grandes e que não podem se enquadrar, na mesma espécie. Por isto, os somadores acreditavam que o espécime de L. Leakey era na verdade, variantes locais dos Australopithecinos, mas não tão evoluída para ingressar no nosso gênero. Já Michael H. Day, sugere duas alternativas somatórias, para este problema: 1. “O Homo habilis deveria ser agrupado com o Australopithecus africanus. Isto quer dizer que nenhum dos dois pertence ao gênero: Homo; ambos pertence ao gênero: Australopithecus e a denominação: habilis deveria ser abandonada”. 2. “O Australopithecus africanus deveria ser agrupado com o Homo Habilis. Isto quer dizer que os dois pertencem ao gênero: Homo, e de novo, o nome habilis deveria ser eliminado, visto como a denominação especifica africanus teria prioridade. Assim, os dois seriam: Homo africanus”. “O que sustentam que estas duas formas constituem uma só espécie tem de aceitar uma definição do gênero: Homo, ou do gênero: Australopithecus, que possa acomodar as duas formas. Sua argumentação gira em torno de peculariedades genéricas (fabricação de ferramentas), que são muitos menos fáceis de identificar do que aquelas que distinguem as espécies (anatomia)” (Day, M. 1975. P 102). A controvérsia baseia–se na classificação de habilidoso, que foi atribuído, devido sua capacidade cerebral, que supostamente, deveria ter sido um criador de ferramentas similares as características humanas. L. Leakey necessitava de novas evidências de campo, para poder convencer a comunidade cientifica, de que o Homo habilis fizesse jus ao nome que carregava. 59 Vista lateral do KNM er1813 à esquerda e a direita o KNM er1470, ambos são Homo habilis Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/1813.html e http://www.talkorigins.org/faqs/homs/1470.html Na década de 70, escavações realizadas, a oeste do lago Rudolf (Quênia) descoberta por Meave Leakey, esposa de Richard, outro crânio menos fragmentado e mais completo que o HO–7 era uma criatura nova sendo chamada de KNM er1470. Percebeu–se que poderia ser mais antiga do que os fósseis de 1964 possuindo a idade de 2,0 milhões de anos. Analisando seu volume cerebral, indicava que o indivíduo tivera em torno de 775cc e 800cc, podendo ser colocado dentro gênero Homo pertencente à espécie do Homo habilis. Mesmo com esta descoberta, fora sepultado a controvérsia do rubicon de Keith, mas por outro lado, surgiam novas controvérsias, que estão longe de serem sepultadas. O vestígio do KNM er1470, ainda é muito espaça e não está definida sua descrição dentro do gênero criado, em 1964. Os espécimes encontrados até este momento, não trouxeram esclarecimentos e sim dúvidas. Os fósseis deste arqueantropiano encontram–se desconexos ou com poucas correlações. O crânio do er1470, descoberto em 1972, não ajudou colocar ponto final nessa estória e acredito estar muito longe de acabar. Atualmente, há uma possibilidade de se pensar em duas espécies de Homo habilis convivendo, no mesmo período de tempo e possivelmente, nos mesmos habitats. Tal dúvida surgiu devido ao achado de um crânio (er1813) ocorrido, em 1973 possuindo 600cc e descoberto por Kamoya Kimeu no sítio de Koobi Fora (Quênia). Anos depois, o crânio foi estudado por Bernard Wood (Universidade George Washington) e Chris Stringer (Museu de Historia Natural de Londres), sugerindo uma alternativa divisória; poderia haver duas espécies distintas de Homo habilis coexistindo, uma com a outra. Comparando o er1813 com o er1470 há muitas diferenças marcantes na morfologia desses espécimes encontrados, que não parecem ser alometria e dimorfismo sexual. Entre 1970-80, os especialistas acreditavam que altura média do Homo habilis era em torno de 1,5m. Este pensamento mudou, pois em 1986, quando a equipe de paleoantropólogos, liderado por Donald Johanson conseguiu localizar na Garganta de Olduvai, fragmentos de membros inferiores de um Homo habilis, revelando-se parte de um esqueleto. Nada assim havia sido descoberto antes; ossos do braço e antebraço, pedaços do osso da coxa e da tíbia, pequenos fragmentos do crânio, dentes caninos, pedaços da maxila e dentes pré–molares (cruciais para a identificação do espécime, diagnosticando de qual espécie era o esqueleto encontrado). Este achado foi muito importante para futuras pesquisas, a respeito das origens do gênero Homo. 60 A criatura descoberta em 1986, apelidada por Gen Suwa de “O homem da colina Dik-Dik”, sugere que os poucos fragmentos analisados e partes do esqueleto, poderiam tratar-se de uma fêmea, assemelhando–se com a anatomia de “Lucy”. Pode–se concluir disto, que altura média desta espécie era muito similar anatomicamente, com os A. afarensis. Medindo cerca de: 1,05m a 1,2m. “Se a altura do corpo, na linhagem humana, certamente cresceu gradualmente do afarensis para o erectus, então, de direito, o Homo habilis teria alcançado algo entre: 1,35 e 1,50M de altura. Em vez disso, tínhamos encontrado o esqueleto de um habilis que parecia não ter sido em vida, maior que a própria Lucy (1,05 M de altura), Avaliando a partir dos fragmentos que possuímos do hominídeo da Colina Dik–Dik, do pescoço para baixo, ele era praticamente gêmeo de Lucy” (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 290). A estrutura corporal do arqueantropiano, descoberto pela equipe de Johanson revela que era muito similar com a estrutura corporal de um Australopithecus afarensis, porém como é sabido, o seu volume cerebral é sem duvida, superior. Esta prova de campo, também sugere que o grupo dos afarensis e do sediba poderia ter dado origem ao gênero Homo, tese proposta por Lee Berger, em 2010 e Johanson e White, desde 1979. O que se sabemos sobre o habilis é que possuíam pequena estatura, andar ereto mais desenvolvido, braços compridos para poder pinçar e fazer objetos, pernas curtas e seu volume cerebral ter variado entre: 775cc e 900cc. É provável que fabricassem ferramentas mais avançadas que os Australopithecinos e que andariam em bando de até 20 indivíduos não caçadores mas oportunistas carniceiros e coletores de frutas e vegetais. Com relação ao período que o er1813 e er1470 sabemos que ambos convieram juntos. De acordo com o site da BBC/ na Internet: http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/, sugere que o primeiro (er1813), deveria ter uma idade em torno de: 1,9–1,6 milhões de anos enquanto o segundo (er1470) era mais antigo, tendo uma idade em torno de: 2,4 (data de determinados instrumentos de pedras, encontrados) – 1,6 milhões de anos. Os fragmentos coletados em 1986, na Garganta de Olduvai, (Tanzânia) local de escavação onde surgiu o gênero Homo habilis, teria a idade de 1,8 milhões de anos. Estes fragmentos podem se encaixar ou no er1813 ou no er1470, mas seguramente, não há como saber. Supondo que realmente, que existam duas espécies distintas, então... Qual das duas seria a nossa ancestral? Não há no momento uma resposta definitiva. A história da paleoantropologia ainda estaria engatinhando. Talvez daqui alguns anos, muitas descobertas serão preenchidas trazendo novas respostas ou novas dúvidas. Atualmente, o debate paleoantropólogo, sugere que o er1470, seja considerado um Homo habilis pertencente a um grupo diferente chamado de Homo rudolfensis. Trabalha–se com estas duas distintas explicações da filogenia humana, supondo que seja o ancestral do Homo ergaster e erectus. 61 FIGURA 7. 1.0 (M. A) Homo erectus Homo ergaster ? 2.0 (M. A) Homo rudolfensis 1.0 (M. A) Homo habilis Homo erectus Homo ergaster ? 2.0 (M. A) Homo habilis Homo rudolfensis A arvore genealógica a partir do grupo habilis Fonte: www.humanancestors/hall/the/homohabilis/debate.htm Seja qual for à via percorrida pelas duas espécies seria correto afirmar, que finalmente existem seres, que podem ser chamado de ancestral do homem moderno, possuindo características anatômicas similares a nossa, mas se encontra num estágio mais primitivesco. Para R. Leakey, o er1470, possui estas evidências, que podem incorpora–lo em nosso gênero devido o seu andar ereto: “... Podemos estar seguros de que o 1470, e seus companheiros poderiam andar com fáceis e ligeiras passadas, do mesmo modo que os humanos atuais. Nisso eles devem ter levado vantagem sobre os seus primos Australopithecus, uma vez que nessas criaturas a colocação anatômica dos ossos da perna e da pelve, parece não ter sido apropriada para o andar ereto habitual. Isto não quer dizer que os Australopithecus arrastavam–se com um andar desajeitado e inclinado para frente, de um modo tão a gosto dos que fazem caricaturas da pré–historia humana. Provavelmente, sua anatomia especial os impedia de andar no estilo de seus primos, Homo. Qualquer diferença que existisse, não seria por certo dramática” (Lekey, R & Lewin, R. 1980. P 88). 62 A sugestão de Leakey quando afirma que Australopithecus são nossos primos, atualmente, a academia, considera que os Australopithecinos, não são seres que evoluiu separadamente, de nosso gênero, por causa dos fósseis do Dik–Dik, encontrados em Hadar, (Etiópia). Ao ser comparado com a anatomia dos Australopithecinos, revela uma proximidade ou similaridade. Porém, o H. habilis possuía características anatômicas menos desenvoltas, comparado com seres mais desenvoltos: Homo erectus e o Homo ergaster. “Apenas 1,0 milhão de anos separam o individuo que conhecemos como o 1470 do Homo erectus encontrado, em 1975. O primeiro era mais definitivamente Homo, mas faltavam–lhe características mais avançadas do Homo erectus, como, por exemplo, cérebro maior, crânio mais arredondado, rosto mais achatado e ossos proeminentes acima dos olhos (supercílios)” (Lekey, R & Lewin, R. 1980. P 124). Devido aos registros geológicos onde os fósseis foram encontrados, afirma–se uma idade para o surgimento do H. habilis, que teria convivido com o gênero Australopithecus, num estágio de tempo entre: 2,5 e 1,5 milhões de anos. Volto a frisar que seja improvável que o gênero Homo seja o responsável pela extinção do outro gênero. A academia concorda que seria possível que ambos os gêneros poderia conviver dentro de um mesmo eco– sistema, mas acreditar que tenham competido entre si, com a finalidade de obter os melhores recursos, pode ser exagerado. Acreditamos que as estratégias de obter alimentos eram muito diferentes. Por exemplo: o Homo habilis se mostra mais apto a ser onívoro do que o Australopithecus robustus, boisei, sediba (generalista) e aeothipicus, que eram tipicamente, vegetarianos. A extinção deste grupo se deu por conta de mudanças climáticas, que se alteravam, em períodos de muita seca ou períodos glaciais, que contribuíram para refletir tais mudanças na vegetação, alterando o habitat das criaturas especialistas, forçando-os a se extinguir. É possível que estas pressões seletivas pudessem estimular comportamentos sociais como a origem da fala. Ralph Holloway, (Departamento de Antropologia da Universidade de Columbia), dedica à reconstrução interna de cérebros de hominídeos, fazendo moldes e tentando interpretá–lo, comparando com moldes de antropóides e de humanos. Suas conclusões são “perturbadoras” como Leakey e Lewin sugerem, em seu livro: O povo do lago. Observando um cérebro humano, sabe-se que possuem inúmeras áreas e uma delas seria a área de broca onde se localiza na fronte do lado esquerdo da cabeça, esta situada o lobo frontal (responsável pelas emoções). A área de broca coordena a fala e estruturas de linguagem, ou seja, a sintaxe. Através deste estudo, pode–se questionar, qual seria o motivo dos humanos serem bem sucedidos? Ainda não há resposta e não está provado seguramente, que estes antropianos pudessem falar, com a intenção de passar experiências aos mais novos. Sabe–se que a protolinguagem seria apenas um complemento surgido com o Homo habilis-rudolfensis, que seria utilizado a posteriori, pelas duas espécies de Homo sapiens (humanos e neandertais). 63 “Em suas pesquisas durante os últimos anos, Holloway, descobriu que os cérebros de todos os hominídeos da África do Sul e da África Oriental que ele examinou tem um padrão humano básico: nenhum é igual ao de um antropóide, incluindo o crânio 1470, do lago Turkana, um crânio que tem cerca de 2,0 milhões de anos de idade. Embora os moldes em gesso dos antigos hominídeos apresentam uma forma definitivamente diferente de um antropóide, há diferenças, significativas também entre os cérebros do Homo e do Australopithecus. Por exemplo, os lobos frontais no Homo de 2,0 milhões de anos de idade são mais largos do que seus primos Australopithecinos, e os lobos temporais são igualmente mais bem desenvolvidos. Com toda certeza, há cerca de pelo menos 2,0 milhões de anos o estilo de vida do Homo era suficientemente, distinto dos Australopithecinos, tanto assim, que ele se refletiu num maior refinamento do cérebro básico do hominídeo em nossos ancestrais diretos” (Leakey, R & Lewin, R. 2ª ed. 1996. P 150-151). O fato dos lobos temporais (local em que se localiza a área de broca) do er1470 seja mais desenvolvido do que os Australopithecinos, por sua postura ereta, era mais aperfeiçoada. Isto leva a um aumento no tamanho do cérebro e torna a faringe mais próspera. Por este motivo, acredita–se que esta espécie possuía um padrão de linguagem primitiva ou protolinguagem algo que até então inédito. “Ora o aumento da caixa craniana e a relativa diminuição da face se deram paralelamente, a intensificação da postura ereta dos ancestrais do homem. Por isto, o bulbo raquidiano, que une o tecido cerebral ao tecido nervoso da medula da coluna vertebral, ficou nos seres humanos a passar verticalmente, pelo pescoço reto, e não mais horizontalmente, como acontece com os outros animais” (In: Antropologia: Palavra do homem. Superinteressante. P 71). Com o aparecimento de uma locomoção ereta, foi possível ter havido um aumento no cérebro o que possibilitou o surgimento da protolinguagem. Mas como aconteceu este processo, há apenas teorias alternativas. “Talvez as pressões da seleção natural tenham implantado na cabeça do Homo primitivo a aptidão para a linguagem falada, não a ponto de um individuo poder dizer ao outro o que estaria fazendo dentro de instantes, com relação aos assuntos práticos da vida diária, mas de modo, que todos pudessem pensar com maior eficiência acerca do mundo em que estavam vivendo. Poderia ser também que a complexa operação de uma economia avançada de coleta e caça fosse impossível sem uma serie de regras sociais que somente podiam ser elaboradas e transmitidas através da língua falada”. (Leakey, R & Lewin, R. 2ª ed. 1996. P 178). Algumas sugestões de R. Leakey, podem ser bem vindas. Acredito que esteja com a razão ao afirmar que pressões seletivas (às vezes ao acaso), levaram ao Homo primitivo com maior volume celebral, proporcionando uma face menos avantagada, capaz de iniciar processos de proto-linguagem. Discordo quando afirma que somente a língua falada pode criar regras sociais... Ora, os antropóides como o chimpanzé tem regras sociais, uma hierarquia complexa e não tem uma linguagem articulada. 64 A tese da economia avançada atualmente é aceita por alguns especialistas, mas sofrendo contestação pela Nova Arqueologia. No Brasil há equívocos, sobre o comportamento cooperativista dos nossos ancestrais, Paulo Meksenas, autor de: Sociologia da Educação, no capitulo: pequeno esboço da evolução do ser humano sugere que: “A partir do momento que um grupo específico de primatas conseguiu adotar a postura ereta, as mãos começaram a ser usadas como ferramentas para pegar e segurar objetos” (Meksenas, P. 2002. P 17). Esta afirmativa se baseia na tese de Lovejoy proposta em 1981, interpretada por Stanford, como sendo equivocada, pois a razão de ficar em pé seria apenas por causa da reprodução e da sobrevivência (na busca alimentos). Além disso, Meksenas apóia–se na “Hipótese do fabricante de Ferramenta”, ou seja, o uso das ferramentas nos fez humano postulado nos anos 50, por K. Oakley e Louis Leakey. Estudos dos anos 60, envolvendo os primatas, concluiu que sabem utilizar e fabricar ferramentas usando as mãos, porém não possuem o andar ereto, provando que o uso das mãos, para fazer ferramentas, não nos fez humano. Meksenas sugere que nossa evolução seria guiada pela: “... Capacidade de pensar e lutar pela superação de suas necessidades” (Meksenas. 2002. P 17). Há provas de que a evolução seria não–linear e pontuada. I. Tattersall, paleantropólogo do Museu Americano de História Natural, de Nova York, sugere que: “(...) a evolução não é um processo que ocorre quando se quer. A evolução é um processo de seleção entre variáveis, que ocorre espontaneamente, sem nenhuma razão em potencial” (Documentário: Humano quem somos nós? A origem da mente humana. 1999). A evolução guiada “sem nenhuma razão em potencial” pode ser interpretado como o fator ao acaso. R. Leakey sugere na página anterior, que “pressões da seleção natural” poderia ter contribuído para as mutações das espécies, estimulando uma evolução. Tais pressões podem ser interpretadas como mudanças de ambientes, isolamento e aumento das barreiras geográficas e outros exemplos. Meksenas acredita que houve uma cooperação mútua entre os indivíduos do grupo, acrescentando que: “essas conquistas (utilização das mãos e a fabricação de ferramentas) se deram dentro de um processo educativo coletivo” (Meksenas. 2002. P 18). A maioria dos acadêmicos em paleoantropologia sugere que as origens da fabricação de ferramentas e da protolinguagem se deram, não de forma educativa, mas ao acaso (Monod, J. 2ª ed. 1970. P 122), pela necessidade sexual e de sobrevivência (Stanford, C. 2004. P 142) e através do comportamento social, baseando–se em estudos de símios, contido na “Hipótese da inteligência social”, sugerindo que dentro das comunidades de primatas existe oportunismo, parentesco e favoritismo (característica encontrada, em sociedades humanas). Desta forma, deduzimos que nossos ancestrais também tivessem este tipo de comportamento que qualquer membro do grupo seria capaz de fazer e desfazer alianças, de acordo com seus interesses se mostrando ser oportunista, anulando a tese da cooperação do processo educativo coletivo. 65 De modo algum, vejo o Homo primitivo ensinando através de sua comunicação, algo a alguém, pois na sua linguagem primitiva, não havia os processos neurais suficientes em seu cérebro, que daria subsídios, para que houvesse um suposto e infundado processo educativo. Acredito que os mais jovens observavam as atividades dos mais velhos, e assim, repetiam o mesmo processo, ocorrendo também entre os antropóides (chimpanzés, gorilas e orangotango). Supondo que realmente houvesse um processo educativo, Paulo Meksenas não dispõe de pesquisa detalhada, provas fósseis, testes realizados em campo ou em laboratório e muito menos de uma bibliografia recomendável, para sugerir tal idéia. Considero demasiadamente forçada, lamentável e tendenciosa. Sabe–se que as espécies de H. habilis estavam muito longe deste estereótipo proposto, pois Dr. Johanson argumenta que tais criaturas eram bastante diferentes de nós: “Na época em que passeávamos pelo FLK de tarde, eu me tornara um crente: o Homo habilis era um oportunista não especializado cuja rapina, mediante ferramentas, de carcaças previamente despojadas tinha pouco a ver com o fato de tornar-se humano” (Johanson, D & Sheeve, J. 1998. P 329-330). Possivelmente, existiam os ingredientes favoráveis para ter certo sucesso (um carniceiro de andar ereto e uma área de broca mais desenvolvida, que acarretou num surgimento da protolinguagem, aumentando as ligações de uma interdependência complexa, sendo extinto á 1,6 milhões de anos), mas sua estatura e seu modo de viver possuíam qualidades similares de um Australopithecino generalista, ou seja, com hábitos necrofágicos e oportunistas. Para confirmar tal dado, Nick Toth, (Universidade de Indiana), estudou em campo sítio 50, em Koobi Fora, e realizou pesquisas em laboratório (microscópicas das lascas líticas), após a escavação feita por ele e pelo paleantropólogo Glynn Isaac (1937-1985), e descobriu uma quantidade muito grande de ferramentas de pedras datando entre 2,0 e 1,5 milhões de anos, junto de ossos quebrados de animais já extintos (1.405 peças e 2.100 fragmentos de ossos fraturados). Ao estudar estes indícios, Toth concluiu que o Homo primitivo não precisava ser um especialista em fabricação lítica para ter acesso à carne e nem sempre estas ferramentas estavam sendo usadas para esta finalidade, provando, que o uso das ferramentas, não nos fez humano. “As características do arranjo dos ossos convida a considerar seriamente a busca por carniça e não a caça ativa como modo predominante de aquisição de carne vermelha” (Leakey, R. 1995. P 77). De acordo com o modelo de Lewis Binford, (Universidade de Chicago) estudo de meio–termo, considera que os hominídeos foram necrófagos durante boa parte de seu período evolucionário, tentando provar tal possibilidade, começou a aplicar tal ideia, em escavações na Europa, sugerindo para qualquer estudante que se aventure pela paleoantropologia ou arqueologia, teria de procurar perceber as possibilidades causais nos documentos fósseis (possíveis enchentes, ação de predadores e ações geológicas), antes de concluir sua pesquisa em campo. Ficando atento a todas estas possibilidades exteriores e após toda esta observação, o (a) estudante pode inserir a sua opinião. 66 Este método (apelidada de nova arqueologia) inibe o desenvolvimento do pensamento de Richard Leakey e Glynn Isaac (1937-1985), de que os Homo primitivos, pudessem ter uma cultura antiga de caça, desenvolvido um acampamento (home base) e os primeiros sinais de trabalho em grupo, levando a uma partilha de alimentos e de uma divisão social de tarefas. O debate entre a tese da Home Base X a tese Nova Arqueologia, é muito discutida e ambas são baseadas em interpretações e nas evidências de campo. Para se ter um completo panorama do mundo dos Homo, recorre–se a um profundo levantamento de pistas e caso sobreviva a este 1o exame, realiza–se um 2o exame mais detalhado no laboratório, para confirmar as suposições feitas em campo. Sinceramente, não há um consenso para definir um padrão ideal em campo a fim de afirmar se o Homo primitivo era necrófago ou caçador. Assim, o antropólogo Richard Klein afirma que: “Há tantas maneiras pelas quais os ossos podem chegar a um lugar, e tantas coisas podem acontecer com eles, que para os hominídeos a questão do caçador versus carniceiro pode não ser jamais resolvida” (Leakey, R. 1995. P 74). 67 2.4.2 HOMO ERECTUS, ERGASTER, ANTECESSOR E HEIDELBERGER: O crânio do WT 15.000 ou “o menino de Turkana” da espécie do Homo ergaster Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/15000.html O Homo erectus, como comentado anteriormente, na história da paleoantropologia, teve seu início conturbado. Sabemos que não teve uma imediata aceitação, por parte da comunidade cientifica européia ao ser descoberto, no final do século XIX, por Eugene Dubois, responsável pela nomenclatura: Pithecanthropus erectus (Homem de Trinil capacidade cerebral de 900 a 1.000cc). Somente mais tarde, no início do século XX, (19361937), os paleoantropólogos que trabalhavam na Indonésia, haviam conseguido com sucesso, descobrir mais dados similares ao descritos por Dubois, que serviam como complementação do gênero deste arqueantropianos, começando a ser aceito como hominídeo. Isto ocorreu, por que houve uma continuação dos trabalhos de Dubois em Java, devido às escavações conduzidas por Von Koenilgswald, em Sangiran (Indonésia). Foi encontrado: dois crânios na mesma camada, em que estavam animais já extintos; um deles estando em melhores condições de ser analisado. Conclui–se que: “... A posição do foramem magnum, mostrando que o orifício se abre para frente e sugerindo que o Homo erectus era, com efeito, habitualmente ereto” (Day, M. 1975. P 105). Tal conclusão levou aos acadêmicos, a continuar a escavar na Indonésia e desta forma, descobriam–se novos sítios (atualmente, há três grandes sítios paleoantropológicos no local Trinil próximo ao rio Solo, na Ilha de Java, Sangiran e Modjokerto). Em 1936, foi encontrado o crânio de uma criança Homo erectus, de dois anos, e na localidade de Modjokerto, foi descoberto uma grade mandíbula. Com as evidências de campo (andar ereto e mais tarde o domínio do fogo), fizeram com que os pesquisadores se divergissem ao comentar sobre seu comportamento. Alguns propunham que fosse considerado como pré–humano outros acreditam que possuíam qualidades humanas levantando muitas dúvidas a respeito deste ser enigmático: 68 “Freqüentemente, aplicou–se a estes seres o epíteto de pré–hominianos, designação que deve ser substituída pela de arqueantropianos, que significa membros muito antigos da família dos homens. Pois é muito difícil dizer onde começa a humanidade e nós não sabemos o suficiente acerca destes seres para decidir se eram pré–humanos ou humanos. Conheciam o uso do fogo e fabricavam utensílios. O seu cérebro era cerca de duas vezes maior do que um cérebro de gorila, mas ainda não atingia o volume do nosso. Os dentes e a face eram igualmente intermédios”. (Gourhan–Leroi, A. 1997. P 52). Os fósseis trazidos da Indonésia motivaram e ainda motivam pesquisas na Ásia. Naquela época as suspeitas de que este continente era de fato o berço das origens humanas parecia se confirmar ainda mais, quando Davison Blake, começou a examinar a região da China, a procura de fósseis humanos em escavações feitas na caverna da Colina do Dragão, em Choukoutien, (localidade a 47 km de Pequim) e descobriu um único dente e criou o gênero Sinanthropus pequinesis ou “Homem de Pequim”. Entre os anos de 1927–31, as escavações naquela área conseguiram localizar mais fragmentos fósseis: crânios (seu cérebro possuía de 900 a 1.100cc), ossos de membros, dentes, mandíbulas e fragmentos de cinzas, contidos nas camadas em que estes fósseis foram descobertos sugerindo que esta criatura possuía o domínio do fogo. Esta evidência em particular, trouxe duas questões importantes: 1a questão – o Homo erectus possuía um andar ereto mais desenvolto e 2a questão – possuía inteligência o bastante para usar e controlar o fogo que iluminava nas noites frias e afastava predadores noturnos, mostrando os primeiros sinais de cultura avançada. “Certos pré–historiadores atribuem ao Sinanthropus habilidade técnica bastante, para fabricar instrumentos de quartzo talhado e de osso, alguns de tipo nitidamente musteriense*, assim como a capacidade de produzir e usar o fogo, pois uma das camadas do depósito contém, além daqueles utensílios, um montão de cinzas, que encerra ainda pedaços de lenha mal queimada, cercado por fragmentos de ossos esburgados, indicando terem sido, ali, assados pedaços de carne de cavalo, bisonte, rinoceronte e outros animais, hoje desaparecidos na região” (Couto, C.P. 1953. P 403). “O domínio do fogo constitui um avanço cultural de maior vulto para a humanidade. Além disso, os instrumentos de pedra para corte, encontrados no sitio (Choukoutien) eram em número suficiente para formar cultura mais adiantada do que dos instrumentos de Oldowan conhecidos, no leito I, em Olduvai (África)” (Day, M. 1975. P 113). Musteriense* - nas escavações do final do século XIX e início do século XX, ocorridas em Le Moustier (Musteriense), na França, revelam um estilo de arte de ferramentas líticas de talvez, 500 mil anos. Ao se comparar com outras ferramentas de outras localidades, descobriu–se um padrão comum, então se concluiu que tal ferramenta, poderia ter sido usada pelos: neandertalianos e ou Homo erectus de Java. 69 O Sinanthropus pekinensis (esquerda) e o Homo ergaster (direita) KNM er3733 Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/3733.html Pela primeira vez, as evidências de campo conseguem produzir um quadro da cultura avançada do Homo primitivo, possuindo a capacidade de cozinhar alimentos, (Leakey, R. 1980. P 131) e ao mesmo tempo quando ou quem iniciou o uso do fogo embora desconhecemos sua causa pode–se supor que: “Deve haver benefícios imediatos e muito práticos no uso do fogo. Os primeiros humanos devem ter visto incêndios se alastrarem por arbustos e florestas, a partir de uma combustão espontânea. Uma brasa acesa, retirada de um desses incêndios, foi, talvez a origem de um fogo de lareira. O calor e luz são dois motivos substanciais pelos quais nossos ancestrais poderiam ter tentado controlar o fogo para o uso próprio. Ate mesmo na África tropical as noites podem ser frias, em especial no alto de montanhas. Ao prolongar o dia, a fogueira do acampamento propicia um foco social impar, intensificando as interações de um animal já muito social. Quando o Homo erectus seguiu em direção ao norte, para climas mais frios, a necessidade de calor tornou–se mais premente” (Leakey, R &Lewin, R. 1980. P 131). Há vestígios (cinzas de carvão, em camadas antigas) de que o Homo erectus soubesse ter um domínio do fogo e há evidencias disto, tanto na China, como na França (em Marselha e na costa do Canal da Mancha). Indicando possíveis fogueiras, jazendo com ossos chamuscados, alguns cientitas acreditam que Homo primitivo poderia demonstrar os primeiros sinais de caça, porém não provando que o teria caçado ou coletado carne morta e assando algumas de suas partes (tese defendida por Binford, 1981), ou poderia ainda ter se tornado um caçador (tese defendida por Howell, 1969). No momento, uma determinada parte da comunidade científica aceita a tese de Binford. O uso e domínio do fogo, talvez trouxessem a comunidade de Homo erectus, uma maior integração social. Alguns pesquisadores acreditam que estes indivíduos poderiam pertencer a grupos maiores do que os Australopithecinos, somando um total de até de 90 membros. Nas décadas de 30 a 50, as evidências da Indonésia (Pithecanthropus erectus – 1,0 milhões de anos), somadas as da China (Sinanthropus pequinesis – 800 mil anos) e com as novas provas da África (Atlanthropus mauritancius e o Telanthopus ambos de 500.000 anos, descoberto na Marrocos e Tanzânia), fizeram com que os cientistas, acreditassem que estas criaturas deveriam ter evoluído na Ásia e migrado para a África e Europa. 70 “Até que os crânios de Homo erectus fossem descobertos em Koobi Fora, ninguém podia estar absolutamente certo de que essa espécie de pré–humano se desenvolvera na África. Sempre ressaltava a possibilidade de que os erectus tivessem nascido em algum lugar, provavelmente de um hominídeo mais primitivo que migrara da África ou hereticamente! De um hominídeo que tivera suas origens fora do continente africano. Um dos crânios do Homo erectus de Koobi Fora (KNM er3733) é de cerca de 1,5 milhões de anos (os outros dois são pouco mais jovens) e surpreendentemente, é muito semelhante ao Homo erectus que viveu na China quase um milhão de anos mais tarde, o Homem de Pequim” (Leakey, R & Lewin, R. 2a ed. 1996. P 74). O fóssil do “Homem de Pequim” desapareceu, na época em que o Japão invadiu a China, durante a 2a Guerra Mundial (1939–1945). Atualmente, o que existe, são réplicas do fóssil original. Mesmo com esta perda, a ciência paleoantropológica possuía outros fragmentos fósseis para estudar vindos da África descobertos na década de 70 (KNM er3733) revelando uma idade mais antiga do que as encontradas na Ásia. Em 1994, o Dr. C. C. Swisher realizou uma datação absoluta através de argônio-argônio nos sítios de escavação de hominídeos de Java, revelando serem bastante antigas, girando em torno de 1,81-1,66 milhões e mesmo apresentando uma idade elevada, a África ainda é o local citado pela maioria dos paleoantropólogos, como o berço evolucionário do Homo ergaster-erectus. Nos anos 70 e 80 houve uma inversão do local onde se originou o Homo eregaster-erectus, passando para África o endereço de nossa origem. Com isto, acredita–se que este espécime migrava com maior freqüência se comparado com os Australopithecinos, saindo da África chegando a até Java, levando consigo, seus principais utensílios (domínio do fogo, uma nova atitude social (caça?). “Por certo não era a estabilidade das condições climáticas que animava as populações ancestrais a se encaminharem para o norte. Na verdade, nessa época o mundo experimentava um dos mais turbulentos períodos da sua historia climática, marcado por freqüentes avanços e recuos da grande cobertura de gelo do norte. Sem duvida, os bandos de Homo erectus aproveitavam–se de todas as oportunidades favoráveis oferecidas pelo ambiente, mas a razão fundamental para seu sucesso em sua andança pelo mundo estava dentro deles mesmo e não fora” (Leakey, R & Lewin, R. 1980. P 120). Em 1975, a equipe de R. Leakey descobriu o Homo ergaster ou erectus KNM er992 (mandíbula) e o KNM er3733 (crânio), no Lago Turkana. Mais tarde, em 1984, novamente, a equipe de Leakey, encontraria resquícios de um adolescente Homo ergaster-erectus (provavelmente entre: 9 a 11 anos), apelidado de: “Menino de Turkana” ou “Garoto de Nariokotome” (KNM WT 15.000), com o esqueleto 100% completo, sendo o primeiro da espécie: Homo ergaster-erectus tendo uma idade em torno de 1,6 milhões de anos. A partir deste esqueleto (1,62m de altura), pode pesquisar o crânio, coluna vertebral, costelas, dentes, mandíbulas e em outras partes do corpo. 71 Alan Walker estudou sobre a área de broca (local do cérebro em que se coordena a fala) e concluiu que o H. erectus poderia ter uma linguagem similar a uma criança humana de 03 a 05 anos, ou seja, sua comunicação ainda era bastante primitiva. Em compensação, sua coordenação motora, se comparado aos Australopithecinos, era mais ágil, mais desenvolto e flexível. Para um menino entre 9 a 11 anos e em sua fase adulta podendo chegar a quase 1,8 a 2,0 m. Analisando parte de seu corpo, observa–se que os ossos da coluna sofreram um possível traumatismo sugindo que o modus vivendi era ativo. Alan Walker, um dos anatomistas da equipe de Richard Leakey, que ajudou na escavação em 1984, ficou impressionado com suas pernas longas e ao analisar sua altura, comparando com o nosso fêmur, sugere que o hominídeo era bastante alto, ultrapassando média ortodoxamente traçada: “Nós estávamos em campo escavando, quando retiramos o fêmur, o osso da coxa, nós percebemos que este menino é muito grande, muito alto, apesar da fase de crescimento, as pernas eram muito longas, se eu for compara com minha perna, eu tenho 1,8 M, se percebe quanto este menino era alto aos 12 anos de idade” (Documentário: The Human Journey: in search of human origins. 1999). Ao comparar os esqueletos de Homo erectus com o esqueleto de Lucy, pode–se concluir que os braços e pernas do erectus são mais longos, robustos e compridos parecendo com um velocista olímpico ao contrário das pernas e braços de Lucy que parecem pequenos e frágeis. As costelas de Lucy são similares as um chimpanzé em forma cônica: pequeno em cima e grande embaixo e por isto acredita–se que suas vísceras eram grandes para digerir as proteínas dos vegetais, raízes e tubérculos. Ao contrário das costelas do “Menino de Turkana”, que é mais esbelta similar a do humano moderno, em forma de barril com vísceras menores, devido sua alimentação a base de carne. Um fato interessante ao analisar os ossos fraturados do menino (coluna vertebral), pode–se sugerir que havia sofrido traumas muito fortes produzidos, talvez por alguma queda brusca durante suas diversas atividades. O esqueleto do KNM WT 15.000 (esquerda) e o de Lucy (Direita) Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/15000.html e http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/images/lucy_iho.jpg 72 O Homo antecessor de Gran Dolina, em Atapuerca Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/atapuerca5.jpg O Homo erectus (Homo eregaster – KNM WT 15.000, KNM er3733, KNM er992, Sinanthropus pekinensis, Pithecanthropus erectus); tradicionalmente, começaram a sua jornada evolutiva a cerca de mais ou menos 2,0 milhões de anos, na África e se espalhou pelo mundo, aparecendo na Ásia (1,75 milhões de anos – de acordo com as evidências de seis indivíduos, descobertos em 2002, em Dmanisi, Geórgia e datações dos sítios de escavação de H. erectus indonésio de 1,81 milhões de anos) e na Europa, a cerca de 800.000 e 600.000 anos (Espanha – Torralba e Atapuerca e na Alemanha – Mauer). O primeiro fragmento descoberto de um Homo erectus europeu foi encontrado em Mauer, próximo da localidade de Heidelberger (Alemanha), em 1908, por Schoetensack, recebendo o nome de Homo Heidelbergensis consistindo, em um único exemplar; uma mandíbula que parece menos robusta, do que a mandíbula do Homem de Pequim e provavelmente, tinham idades similares. Ao analisar a anatomia da mandíbula do Homo Heidelbergensis, nota–se que soma características antigas e modernas, pois sua mandíbula é grande e robusta, mas os dentes são bem evoluídos (Day, M. 1975. P 118). Durante muito tempo, esta criatura permaneceu um mistério, pois havia poucos fragmentos e incompletos, o que limita as pesquisas (Swanscombe, na Inglaterra, Broken Hill, na Zâmbia e Fontechevade, na França). No final do século XX (1970–90), foram descobertos mais vestígios: nove lanças de madeira de mais de 500 mil de anos (Schoningan), habitações de ossos de mamute, (Bilzingsleben), ambos encontrados na Alemanha, grandes pedras de sílex, encontradas, em Boxgrove (Inglaterra) e crânio de Petralona (Grécia) com um cérebro de 1250cc (Doc. Discovery Channel: Dawn of Man–episódio 04: Love. 2000). Em Gran Dolina, em Atapuerca, (Espanha), foram encontrados 32 indivíduos (homens, mulheres e crianças) que habitavam a caverna de Sima de los Huesos e através dos estudos feitos por Juan L. Arsuaga, Jose M. Bermúdez de Castro, classifica de Homo antecessor em estágio transitório (divisor) entre o Homo erectus africano e o Homo heidelbergensis, que originou a nossa espécie (http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/antecessor.html). Há autores que têm dúvidas a respeito do Homo antecessor, pois sua definição foi baseada num exemplar juvenil. Há outros que preferem somá–lo a espécie do Homo heidelbergensis. Ian Tattersall, (Museu de História Natural de Nova York), argumenta que o Homo antecessor é um membro arcaico da nossa espécie Homo sapeins, colocando–o em sua arvore genealógica (Tattersall, I. 1998. P 185). 73 Tanto os crânios de Gran Dolina e o crânio de Ceprano (Itália), representam uma transição entre Homo erectus e heidelbergensis. Stringer concorda com a tese de Arsuaga, sugerindo que os crânios de neandertalianos estavam ficando com passar do tempo, mais similares aos seus antepassados (antecessor e heidelbergensis). Por outro lado, fora da Europa, o crânio do Marrocos (Jebel Ighoud) tem uma anatomia mais similar aos homens modernos, sendo ancestral do crânio de Broken Hill (300 mil anos), Bodo (600 mil anos) e Sole (350 mil anos), representantes dos heidelbergenesianos, que migraram para África e evoluindo para o homem moderno, por volta 200 mil anos, através do espécime chamado de Homo rhodesiensis (Stringer, C. Nature. 2003. P 692). Abaixo a filogenia humana, a partir do Homo ergaster e antecessor, segundo a tese de Christopher Stringer. FIGURA 8. Homo ergaster (er3733 e o “Menino de Turkana”) Homo antecessor (Atapuerca) Homo erectus (modelos da Ásia–Sarigan) H. heidelbergensis (Mauer, Swanscombe e Petralona) Homo floresiensis (Indonésia) H. heidelbergensis africano (Broken Hill, Sole, Bodo) neandethalianos (Kaprina) Homo sapiens sapiens (Florisbad, Klasies, Qafzeh, Taramsa e Madleč) Fonte: Stringer, C. Modern Human Origins. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B. P 566. 2002. Houve um aprefeiçoamento de nossa parte As pesquisas feitas por Juan L. Arsuaga, Jose M. Bermúdez de Castro, em Gran Dolina (Espanha), revelam um quadro geral dos modus vivendi do Homo antecessor sua capacidade cerebral de talvez 1.250cc, viviam em acampamentos e cavernas há 780 mil anos, num estilo de vida ora sedentário, ora nômade; seus ossos eram robustos e andavam eretos; alimentavam–se de animais pré–históricos já extintos como bisões, ursos da caverna, leopardos e mamutes. Até agora testes realizados em laboratórios demonstram que os ossos de animais deixados em cavernas por estes indivíduos, confirmam que poderiam ter sido caçadores, pois há marcas de corte de sílex na superfície das ossadas dos animais extintos, demonstrando que carne fora retirada em fatias, antes qualquer carnívoro, pudesse ter se apoderado dela primeiro. Assim sendo, o Homo erectus no início de sua jornada evolutiva (2,0 milhões de anos), poderia ter se comportado como um carniceiro e que mais tarde (800.000 anos) tornava–se um caçador, de acordo com testes em laboratório. 74 “Durante 2,0 milhões de anos os homens eram carniceiros, e a partir do helldelbergensis, os homens deixaram de ser caçados, e se tornaram grandes caçadores” (Documentário: Dawn of Man–episódio 04: Love. 2000). Esta mudança de comportamento aliado às mudanças do clima (a Europa se encontrava em constantes alternâncias de clima, ora quente, ora frio) e o domínio que possuíam sobre o fogo, poderiam ter sido o influenciador para esse H. erectus europeu caçar. Segundo Leslie C. Aiello, paleoantropóloga do University College (Londres) e consultora da série da BBC: Dawn of Man (2000) acredita que o Homo heidelbergensis possuía uma forma de interrelação complexa entre os membros da comunidade, baseandose em laços familiares provocando formas de sentimentos: empatia, amor, e luto. Leslie C. Aiello, argumentou que por possuir um cérebro grande, presupõe que a primeira dentição (1o molar) das crianças começava a surgir aos cinco anos de idade (existe uma relação entre o tamanho do cérebro e a faixa de crescimento da criança, por exemplo: nos chimpanzés os dentes aparecem aos três anos de idade, pois seus cérebros são menores, comparado com os humanos arcaicos e modernos). A existência de uma dentição menos resistente obrigava que alguém do grupo pudesse cuidar dos pequeninos até os dentes permanentes surgissem. Além disto havia outros motivos que levou Aiello a esta conclusão: evidências de habitações, caça e capacidade craniana muito próxima a nossa. Por outro lado, não há como saber se tais criaturas possuíssem emoções afetivas porque os sentimentos não se fossilizam e não há registros fósseis de que algum individuo demonstre isto em um ritual-velório. Os esqueletos e fragmentos encontrados deste espécime demonstram que ao invés de serem homenageados, eram abandonados no fundo de cavernas onde viviam (é o caso de Gran Dolina). Positivamente, o Homo erectus e heidelberguensis não eram como nós. Seu modo de vida e a sua linguagem eram primitivos e provavelmente, seus sentimentos não seriam como o nosso. Levando em consideração os estudos de Owen Lovejoy, anatomista americano, muitas vezes já citado neste texto, argumenta que a evolução do Homo fez com que seu cérebro aumentasse de tamanho, assim o crânio perdeu a face pretuberante e os membros do corpo, acompanharam este avanço. O que isto sugere? O Homo primitivo, não teria muitas dificuldades para se adaptar ao meio-ambiente, pois sua cavidade cerebral é maior do que qualquer Australopithecino e além disso poderia ter possuído formas de relações sociais mais complexas entre os membros do grupo, o que provavelmente, acarretou na origem de uma linguagem primitiva. Richard Leakey propõe que o processo de humanização iniciou quando Homo primitivo desenvolveu o andar ereto de maneira mais flexível, possibilitando esta espécie em começar a carregar e estocar os seus alimentos para uma Home base ou acampamento criando assim, o que se chama de economia mista que era baseada na cooperação mutua (altruísmo recíproco) e na divisão social de caça e coleta. Através da cooperação ocorre a partilha dos alimentos e o início do processo da protolinguagem e por outro lado não há como afirmar, se ocorreu esta cooperação mutua, entre os membros da comunidade: 75 “Nunca saberemos exatamente quando o altruísmo puro se tornou possível. Talvez ele surgido quase ao mesmo tempo em que o cérebro humano se tornava capaz de gerar uma consciência própria, verdadeiramente humana, uma qualidade que também carregou uma compreensão do significado da morte. Somente com um ritual de enterro com flores ou outros objetos é que podemos ter a esperança de conseguir uma rápida incursão na mente dos nossos ancestrais” (Leakey, R & Lewin, R. 2a ed. 1996. P 144). Parte da tese da Home Base parece ter sentido, quando se analisa o modo de vida do Homo antecessor e heildelbergensis (a existência de um acampamento e caça na Alemanha e em Atapuerca) e no tocante ao altruísmo, faltam provas de campo, para certificar tal indício. Tal processo, não tem comprovações seguras nos sítios, tornando pouco provável que os arqueantropianos, possuíssem tais sentimentos. Para comprovar isto seria preciso encontrar alguma sepultura, porém até o momento nenhuma foi descoberta. Na maioria das vezes, os fósseis descobertos confirmam que teriam sido abandonados nos afloramentos ou invés de serem enterrados. Existem alguns autores que acreditam que o Homo erectus pudessem ter tido práticas de canibalismo ritual (existência de sentimentos simbólicos), isto é, podendo ter adquirido de alguma forma, religião primitiva que o fizesse se comportar desta maneira. Os fósseis encontrados na China demonstram que o canibalismo era prática comum, mas o ritualismo ficaria difícil de provar: “Podemos voltar mais uns 200 mil anos até as cavernas de Choukoutein, na China, para encontrar o que, no momento, representa a mais antiga indicação de ritual. Nesta região, há meio milhão de anos, um grupo dos nossos ancestrais comeu os miolos de alguns dos seus companheiros. Sabemos que a ocasião não era uma refeição comum, pois os participantes se deram ao trabalho de alargar o buraco que conduz ao fundo do crânio. Comparado com simples estralhaçamento de crânio para sorver os miolos, esta é uma maneira entediante de se conseguir uma a refeição. Ao que parece tratava–se de um ritual” (Leaky, R & Lewin, R. 2 ed. 1996. P 161). A revista Superinteressante (Agosto de 2003. N° 191), publicou uma matéria sobre a questão do canibalismo, demonstrando que tal feito era comum nas antigas fontes históricas e inclusive entre nossos ancestrais, pois segundo a reportagem alguns ossos escavados na Espanha, em Gran Dolina (os ossos foram encontrados junto a ossadas de animais extintos, que também foram devorados) sendo datados aproximadamente de 800 mil anos, sugerem a ocorrência de canibalismo mas, não há como sugerir que ocorrera também, algum tipo de ritual, pois não há provas seguras para confirmar. É provável que se tenha causas para a ocorrência deste tipo de prática na pré–história e a mais aceita seria o fato, de que no inverno glacial sendo muito rigoroso, poderia trazer uma escassez de recursos (alimentos). Aqueles que faleciam, serviam de alimentos ao resto da tribo. Desta forma, prova–se que tal ação poderia ter um caráter mais alimentício que ritualístico. 76 Há indícios de que os arqueantropianos da China e da Europa, realizavam tal atividade. Porém, as provas de canibalismo vindo da África são escassas e o ambiente africano é bem mais adverso que nas outras regiões e mesmo vivendo num mundo instável, como o continente africano, acredita–se que lá teria mais oportunidades alimentares para nossos ancestrais, do que localidades mais frias (Europa). Somos céticos, no que diz respeito ao canibalismo ritual do Homo erectus, mas adeptos ao analisarmos que o meio– ambiente (chuvas tempestuosas e clima alterados subitamente) poderia ter diminuído as alternativas de alimentos, aumentando uma motivação de prática canibal. André Leroi–Gourhan, arqueólogo francês, também é cético e propõe que houvera em algum momento no paleolítico inferior (2.000.000–120.000 anos), indícios de ritos de caráter canibalístico, proposto por R. Leakey, acrescentando que as provas existentes são indemonstráveis (Leroi–Gourhan, A. 1995. P 57). “A questão do canibalismo não está complemente resolvida: alguns fatos provam que ele existiu sem dúvida nalguns locais, mas a demonstração do seu caráter religioso é ilusória, a menos que se descubram, um dia, documentos verdadeiramente comprovativos” (Leroi–Gourhan, A 1995. P 59). Para Leroi–Gourhan o que seriam “documentos verdadeiramente comprovativos?” São vestígios encontrados próximos das ossadas devoradas e não marcas deixadas pela demonstração do banquete, mas sim as formas pelas quais as ossadas foram deixadas. Caso o paleoantropólogo encontre ossos de hominídeos, indicando terem sido devorados, não quer dizer, que houve um rito canibalística, mas caso encontre junto destas ossadas, sinais de comportamento ritual como: ornamentos, pingentes, colares de osso, chifre de animal, ocre vermelhado, sendo colocada de maneira mais chamativa, indicando algum sentimento de perda e/ou a crença de vida além túmulo, representando que o cadáver poderia ter sido enterrado com práticas religiosas. Porém, os arqueantropianos da China e da Europa indicam um provável abandono, após serem devorados. Na maioria dos casos, a questão do canibalismo ritual pode ser baseada na interpretação do paleoantropólogo, no momento em que ocorre a escavação cientifica (todo o trabalho de campo que requer remoção da terra é uma destruição, portanto a interpretação, dos achados é importantíssima). Para André Leroi–Gourhan, criador de um método arqueológico aconselha que a chave de entender os arquivos pré–históricos é a prudência (Leroi–Gourhan, A 1987. P 20). “Para ler um manuscrito antigo é preciso lê–lo lentamente, página a página, instalá–se diante de cada uma das folhas e, sem pressas, procurar compreender o texto difícil que se tem sob os olhos. O princípio das escavações pré–históricas é o mesmo. É preciso por à descoberto, a primeira camada tanto quanto possível, sem nada deslocar. Quando abrimos diante de nós essa grande página de terra com tudo o que ela contém, é preciso anotar, fotografar, desenhar, tentar compreender tudo o que se vê. Cada grão de terra, cada bocado de carvão, cada pedaço de pedra informe, contam tanto como as mais belas pontas de sílex talhado” (Leroi– Gourhan, A 1987. P 22). 77 Podemos concluir o debate sobre o canibalismo ritual, as provas de canibalismo ocorridas seriam mais provenientes da Euro-Ásia, do que na África paleolítica, mesmo tendo indicações de canibalismo, não há como comprovar a existência ritualística, ou de sentimentos introspectivos. Assim sendo, por mais que o trabalho de campo seja realizado de forma metódica, obedecendo a critérios bem definidos, ficaria ainda difícil de indicar a existência de ritualismo, em esqueletos humanos de hominídeos que foram devorados. O H. erectus realizando canibalismo não–ritualístico Fonte: http://www.geocities.com/palaeoanthropology/timeline.html O Homo heidelberguensis caçando Fonte: http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/tv_radio/wwcavemen/cavemen7_1.shtml 78 2.4.2.1 AS OUTRAS MIGRAÇÕES DO HOMO ERECTUS? O Homo erectus se mostra uma espécie 1o habilidosa (devido mudanças de arte predominadas, como: olduvaiana e desenvolveu a arte achaulense, na África); 2o versátil (devido o uso e o domínio do fogo, possibilitando avanços na sua sociedade, como início da caça e desenvolvimento na protolinguagem) e 3o flexível (devido suas migrações para fora do continente africano, sua maneira de vida nômade, contribuiu para que saísse e voltasse para à África). Os motivos de migrar são desconhecidos: há aqueles que acreditam que as súbitas mudanças climáticas fizeram com que se deslocassem, às manadas e seus predadores ou até casos de epidemias, sem comprovar, seguramente; há uma teoria que convence a maioria dos pesquisadores, pois sendo carniceiros oportunistas, os inúmeros rebanhos de ovinos, eqüinos, bovinos migram anualmente, e quase sempre acompanhados pelos predadores (leopardo, leões) e chacais (lobos e hienas) e assim nossos ancestrais também seguiam ambas as manadas. Além de conviverem, com estes animais, acredita–se que conviveram com as duas espécies de Homo habilis (er1470 e o er1813), os Australopithecus boisei e sediba há 1,8 milhões de anos. Sem dúvida, o Homo erectus foi o primeiro ancestral humano a deixar a África, percorrendo a pé, uma distância de mais de 2.000 km entre a Tanzânia e Java e anos mais tarde chegava à Europa e China. Fazendo esta jornada da África até o velho mundo passando pelo Vale da Grande Fenda ou Vale de Rift, que é uma falha geológica de grande extensão (Quênia a Etiópia), acredita–se que esta deveria ser a rota, pois deixaram pelo caminho seus objetos e suas ossadas, abrigando a maioria dos principais sítios paleoantropológicos de Homo e Australopithecus (Omo e Hardar, na Etiópia e FLK–Frida Leakey Korongo, Laetoli, Koobi Fora, Garganta de Olduvai, KBS–Kay Behrensmeyer Site e o Lago Turkana, ambos na Tanzânia e Quênia). O processo de migração não ocorreu da noite para o dia e sim de maneira lenta, numa vigem de curta geração. Se os grupos caminhassem da África, apenas 1 km por dia, poderia chegar ao destino, em Java, em menos de 150 anos. Dessa forma, os nossos ancestrais começaram a colonizar novos nichos como Ásia e Europa. A descoberta do Homo georgicus feita na Geórgia, (antiga república da URSS) segundo a National Geographic N° 28 de Agosto de 2002, uma escavação realizada no ano 2001, próxima das ruínas da aldeia medieval de Dmanisi, foi descoberto pela equipe do paleoantropólogo, David Lordkipanidze, seis (6) indivíduos (três mandíbulas e três crânios) que são adversos das espécies africanas pesquisadas e suas datas são aproximadamente de 1,75 milhões de anos, possivelmente podendo ser adequado ao grupo dos Homo erectus, mas existem caracteres de primitivismo nas criaturas encontradas como: possuir um crânio não chegando à metade de homem moderno e tendo um cérebro pequeno. Em compensação, imaginava–se que o gênero Homo teria saído da África a cerca de apenas 1,0 milhões de anos. “Os bandos de nossos ancestrais, Homo erectus, que por volta de 1 milhão de anos atrás adentraram a estreita faixa de terra árida que liga o continente da África com a Ásia, estavam na vanguarda da suprema dominação da humanidade sobre a Terra” (Leakey, R & Lewin, R.1980. P 120). 79 O que assusta de fato é a idade em que se imaginava que o Homo erectus teria chegado à Ásia, recuando muito mais para o passado. Na década de 70 pensava-se que este continente teve como início de sua ocupação por volta de 1,0 milhão, porém há presença de hominídeos no local a cerca de 1,75 milhões de anos e datações em sítios de hominídeos de Java (Indonésia) que foram datados em 1994, revelando-se antigos, tendo por volta de 1,811,66 milhões de anos. Tais criaturas possuíam traços primitivos e pouco semelhantes com as criaturas encontradas nos principais sítios africanos. A descoberta ainda é recente para avaliar seu impacto na sociedade acadêmica, mas caso seja comprovado e aceito pelos paleoantropólogos influentes, a filogenia humana teria que novamente ser reescrita para poder encaixar os novos hominídeos. “Esses hominídeos são mais primitivos do que imaginamos. Estamos diante de um novo enigma”. (National Geographic. Ago. 2002. P. 2728). Com este novo achado, acredita–se que o 1o êxodo humano ocorreu por volta de 2,0 milhões de anos (período que iniciou sua evolução). Os indivíduos encontrados constituem em sua maioria parte da cabeça e não foi encontrado nenhum osso de membros (fêmur, pélvis, ossos da coluna, ossos do pé, ossos do braço) para ser estudado e servir de comparação, com os ossos do “Menino de Turkana” (KNM WT 15.000). As pesquisas no local, ainda estão em andamento e podem confirmar, no futuro, mais detalhes sobre esta criatura. Outra informação sobre a migração desta espécie foi divulgada pela revista Superinteressante (Supernotícias. Ano 12. N° 05–Maio de 1998) trazendo uma reportagem sobre uma nova e surpreendente descoberta da pedra lascada datada de 800.000 anos, na Ilha das Flores (Indonésia). Estes vestígios, parecem tido sido feitos pelos Homo erectus ou por outro ser. M. Morwood (Universidade da Nova Inglaterra, Austrália), encarregado das escavações no local, sugere que estes instrumentos deveriam ter sido transportadas através de jangadas ou de botes, pois esta ilha sempre esteve separada por terra, numa extensão de 20 km. A ideia é interessante, mas sinceramente não apresenta sustentação, pois como R. Leakey já comentou, houve inúmeros avanços e recuo do gelo, ao longo de milhares de anos e isto poderia fazer com que houvesse no passado, uma ponte de terra, que permitisse a caminhada deste ser até a Ilha das Flores. O problema desta reportagem seria o fato de não aprofundar muito o assunto, deixando de fora os detalhes importantes como: geológicos da região e paleo–climáticos que seriam cruciais, para compreensão da pesquisa. A falta destes detalhes compromete a pesquisa em si e acaba colocando em evidência, o seu merecido crédito. O pouco enfoque de dados, nesta reportagem, faz com que os acadêmicos desta ciência, refutassem tais sugestões. A reportagem não esclareceu se o Homo erectus produziu jangadas, pois grande parte da madeira, não consegue sobreviver à fossilização ou não consegue ser preservada (obviamente há raríssimas exceções). Não acreditamos na possibilidade do Homo erectus navegar pelos oceanos. Não porque essa criatura tinha pouca inteligência, mas o problema seria quais as corretes marítimas da região. Sabe-se que os Homo erectus são onívoros e até agora não há provas de campo, que comprove que sua alimentação consistisse em frutos marinhos, moluscos, baleias e peixes. Pode ser até que tivessem a capacidade de construir jangadas, mas não há provas disto no momento. 80 Outra migração do Homo erectus estudada pela Drª. Maria Beltrão, arqueóloga do Museu Nacional investiga a região de Central-BA (Toca da Esperança e o Sítio de Itaboraí), e suspeita como é que tal hominídeo poderia ter chegado ao Brasil. Com suas pesquisas elabordas lançou em 2000, uma síntese geral de suas atividades no livro: Ensaio de Arqueologia uma abordagem transdisciplinar, sugerindo que: “A evidência circunstancial atual indica que a presença dos hominidas é comprovada numa larga faixa ao longo da linha do Equador, na Eurásia e na África, revelando sua grande dispersão. Em segundo lugar há evidências indicando traços culturais (vestes, fogo) que teriam permitido ao Homo erectus se estabelecer em regiões temperadas, apesar dos invernos rigorosos. Por que, então não poderia o Homo erectus seguir os mamíferos pela ponte de Bering, mesmo durante as glaciações? Levanta–se aqui uma objeção: Por que, neste caso, não se acham vestígios do Homo erectus na América do Norte? A exceção é o sítio de Cálico, na Califórnia, datado pelo método da série U (urânio), em 200 mil anos, que, embora contenha artefatos líticos, não apresenta a mesma constelação de evidências que o sítio Toca da Esperança aqui escolhido como paradigma” (Beltrão, M. 2000. P 04). As camadas de terras extraídas durante o trabalho arqueológico foram datadas em inúmeros laboratórios, chegando a um período entre: 22 mil–295 mil anos. Na Toca da Esperança–BA, local de suas escavações, fora desenterrados por Beltrão e sua equipe, num antigo afloramento (camada IV – datada de 295 mil anos), indícios que poderiam sugerir uma possível ação hominídea, na região: ferramentas líticas quartzito e tal matéria–prima não era encontrada na região. Foi descoberto um furador feito de osso, com a finalidade de ser usado para costura, ossos quebrados nas diáfises, propondo que alguém poderia ter fraturado com objetivo de se alimentar do nutriente tutano, vestígios de fogueira e restos de uma fauna pleistocênica (felino de sabre, tatu gigante preguiça gigante), que teriam sido trazidos com o objetivo de serem descarnados, pois as depressões e falhas geológicas do local, não permitiam que a quantidade de animais descobertos pudesse se deslocar para lá, sendo interpretado, como uma ação humana. Suas sugestões são vista, pela Academia Brasileira de Arqueologia, com ceticismo, declarando que as provas tidas como cruciais, pela doutora Maria Beltrão e sua equipe, são triviais e os objetos móveis da Toca da Esperança foram mal interpretados. Inúmeros arqueólogos discordam da tese da pesquisadora. O arqueólogo Pedro P. Funari, em 2002, lançou junto com Francisco S. Noelli, a obra Pré–História do Brasil, com o objetivo de divulgar os trabalhos arqueológicos no Brasil, sugerindo que em arqueologia, para que haja uma confirmação catedrática este deve ser convencido da presença do Homo erectus no país ou na América e haver uma coletânea de informações trazidas de diversos sítios para ocorra uma comparação com os materiais descobertos. Maria Beltrão reconhece que o sítio de Cálico (USA) e o sítio da Toca da Esperança possuem poucas correlações e em ambos são ainda escassos em materiais. Acredito que a polêmica do primeiro habitante das Américas prosseguirá em debates homéricos sendo abordado no capítulo seguinte: 81 “Os três argumentos citados (artefatos líticos, uma fauna ter chegado à gruta com difícil acesso, alguns líticos serem produzidos por quartzito, matéria–prima que não de encontra na região) são inquestionáveis e foram, efetivamente, postos em dúvida por outros estudiosos. O que são líticos para Beltrão e sua equipe são vistos como simples pedras por outros arqueólogos. A presença de quartzito e de animais argumenta–se, poderia se explicar, também por fatores naturais, já que os blocos de quartzito podem ter sido transportados para o local pelos condutos calcários depois da erosão da cobertura e ossos podem ter chegado transportados por condutos a partir de outra entrada ou ter sido trazidos por tigres dentes–de-sabre. A grande maioria dos pesquisadores ainda não leva muito a sério a possibilidade de um homem pré–sapiens na América e isso por dois motivos: em 1o lugar – pela falta de dados concretos. Apenas a publicação de novas evidências, provenientes de diversos sítios, com informações muito claras, permitiria determinar com mais consistência a presença de vestígios de primatas antigos no continente americano” (Funari, P.P Abreu & Noelli, F.S. 2000. P 28). A Academia Brasileira de Arqueologia, não está convencida de que o Homo erectus pudesse migrar para as Américas devido a escassez de provas dificultando tal comprovação. Pessoalmente o debate sobre esta questão tende a permanecer como está, a não ser que se encontre, segundo Leroi–Gourhan, “documentos verdadeiramente comprovativos” de uma possível estada na América, fazendo com que ocorra um novo caminho ou um descaminho teórico. Se não há consenso dos cientistas a cerca das provas de existência de Homo erectus no Brasil, existe a possibilidade dessa espécie em particular ter originado uma forma anã do Homo erectus descoberto na região da Indonésia, na caverna de Liang Bua, na Ilha de Flores, em 2003. O fóssil foi apelidado de Hobbit, pela equipe do Dr. Michael J. Morwood e Peter Brown por se tratar de uma criatura pequena citada no livro Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien O Homo floresiensis possuía apenas 1 metro de altura, era bípede ereto e com uma cavidade cerebral entre 380-417cc. O Hobbit ou Homo floresiensis possuía um cérebro do tamanho de um chimpanzé ou de um Australopithecus. Apesar de estar abaixo do rubicão de Keith (700cc), existem evidências de ter utilizado ferramentas de pedra. O hobbit não pode ser considerado nova espécie evolutiva e sim um descaminho ou um caminho em direção a uma forma diminuta do Homo erectus. A explicação para a forma anã de H. erectus seria que uma vez isolado na ilha das Flores (Indonésia), sendo pequeno e isolado do resto do continente, uma vez confinado e adaptado aos recursos limitados disponíveis, a evolução iniciou um processo de nanismo. Outra prova de nanismo foi descoberta pelos pesquisadores que depararam com um minúsculo elefante (Stegodon florensis) de 1,1m de altura vivendo na ilha. Casos de nanismo na evolução biológica são comuns e é bem documentada na paleontologia como no fim do século XIX e início do século XX, paleontólogos descobriram ossadas de elefantes anões, vivendo nas ilhas mediterrânicas (Sícilia, Creta, Malta e Sardenha) e nas ilhas da Califórnia (EUA), durante o Pleistoceno, uma destas criaturas era Elephas falconeri, descoberto por George Busk. 82 Este animal em sua fase adulta seria do tamanho de um bebê do elefante africano e o motivo de haver nanismo entre elefantes, seria explicado pelo isolamento insular e também por que no local, o alimento disponível era limitado, além de não haver grandes predadores. O paleontólogo anglo-russo Busk concluiu que esses elefantes pré-históricos do Mediterrâneo sofriam de nanismo deduzindo que os mesmos processos biológicos poderiam ter ocorrido com o Stegodon florensis e com o Hobbit da Ilha das Flores. Além destas informações, Morwood, Brown e colaboradores também descobriram restos de fogueiras e ferramentas podendo concluir que este ser teria usado o fogo e ferramentas para caça em torno de Liang Bua. Com base nos restos de fogueiras foi possível datar o período de tempo que teriam habitado o local em torno de 95–13 mil anos atrás (Scientific American. Edição Especial. N° 17. P 51-59). A descoberta do Homo floresiensis é reveladora, pois prova que tamanho não é documento, ou seja, por muitos anos os grandes paleoantropólogos acreditavam que à medida que evoluímos, nosso cérebro crescera de tamanho de forma linear. Se observarmos a evolução humana vemos que os Homo habilis possuíam um cérebro de 800cc, o Homo erectus de 1.000cc e o Homo sapiens de 1.350cc. Infelizmente esta descoberta não quebra o raciocínio linear descrito acima e nossa pesquisa concluiu que o Homo floresiensis, não teria relação com a evolução cerebral humana anatomicamente moderna, pois o nosso ancestral segundo C. Stringer seria o Homo heidelberguensis africano, enquanto o Homo erectus asiático seria ancestral direto do Homo floresiensis, de acordo de Perte Brown e M. Morwood. Isto significa que nossa espécie seguiu por um caminho e o Hobitt por outro caminho evolutivo diferente do nosso. Há tempos, muitos paleoantropólogos construíram suas carreiras usando o pensamento evolutivo para sugerir a existência de padrões regulares que ia do mais simples, ao mais complexo. Quando se estuda as ferramentas deixadas pelos nossos antepassados, imagina-se que haveria um padrão linear do rude para o intricado no uso de utensílios. O primeiro estágio é o Olduvaiano (usado pelo Homo habilis); o Achaulense (usado pelo Homo ergaster-erectus); o Musteriano (usado pelo neandertal) e por fim o Aurignacense, Solutriano e Magdaleniano (usado pela nossa espécie) que um tempo depois culminaria com a idade da pedra polida originando-se após a Revolução Neolítica as 03 idades dos metais: Bronze, Cobre e Ferro. Quando o Homo ergaster migrou para a Ásia, há uns 2,0 milhões de anos dando origem ao Homo erectus chinês, os arqueólogos locais encontraram pouquíssimos sinais de machados de pedra se comparado à abundância dos encontrados na África. Na Indonésia, foram encontradas ferramentas olduvaianas, ao invés de ferramentas achaulenses. Será que estes espécimes não sabiam fazer tais instrumentos achaulenses? É óbvio que sabiam, porém, por que foram encontrados tão poucos? Segundo o documentário: walking with homens das cavernas, co-produzido pela BBC e Discovery Channel, sugere que: “pode ser que encontraram novas ferramentas, mas fácil de ser usada, neste vasto reino a sua volta (Ásia). O Bambu. Homo erectus viveu numa terra onde as ferramentas cresciam em árvores”. (walking with homens das cavernas. 2004. Título 02: 00h18min: 08seg-00h18min: 41seg). 83 Crânio de um Homo floresiensis (LB1) à esquerda e do Homo sapiens à direita Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/flores.html A estratégia de sobrevivência do Homo erectus era diferente do Homo ergaster que observa a “evolução linear” das ferramentas e geralmente não observa o que ocorreu na Ásia entre: 1,8 milhões a 13 mil de anos. Em compensação grande parte dos paleoantropólogos concorda que os Australopithecus não faziam ferramentas de pedra devido ao seu diminuto cérebro os incapacitando, porém a descoberta do Homo floresiensis, da Ilha de Flores, rompe com a idéia de linearidade no uso das ferramentas. As ferramentas líticas associadas ao fóssil seriam similares ao do Homo habilis, portanto, olduvaiano. Assim sendo, o Homo erectus chinês utilizava o bambu como ferramenta, enquanto o Homo floresiensis com seu diminuto cérebro usava lâminas de pedra. Se perguntarmos que tipo de ferramentas que o Homo erectus pudesse produzir, a resposta seria líticos achaulense e o bambu seria usado pelo Hobbit; como podemos explicar o que aconteceu foi análogo? Ora... Os ambientes eram diferentes, na China havia uma abundância de florestas de bambu, enquanto a Ilha das Flores possuía pouquíssimos bambus, por esta razão, as estratégias de sobrevivência eram diferentes, contrariando a proposta linear do tosco ao complexo na utilização de seus utensílios. Há pesquisadores como Bernard Wood (Universidade George Washington), que acredita que o Homo floresiensis seria incapaz de criar ferramentas, devido seu diminuto cérebro. A questão de o Homo floresiensis fazer ou não ferramentas, estaria em discussão e considero como válido a ideia de que os Hobbits pudessem fazer utensílios líticos, pois não havia outra espécie de hominídeo habitando aquela região sugerindo que este indivíduo ajudou a quebrar diversos paradigmas e mesmo assim, estaremos aguardando futuras informações vindas do campo de Liang Bua (veja entrevista que tivemos com o Dr. Peter Brown, da Universidade da Nova Inglaterra em Armidale, na Austrália, no anexo 05). Outra prova interessante foi descoberta no sul da Sibéria (Rússia) nas montanhas Altai, na caverna de Denisova, em 2008, pelo Dr. Michael V. Shunkov e o Dr. Anatoli P. Derevianko, o fóssil descoberto foi um pedaçinho do dedo mindinho do que parece ter pertencido a uma criança e datado em 41 mil anos. Em março de 2010, o pequeno fóssil foi analizado por geneticistas do Instituto Max Plank, em Leipzig, na Alemanha, liderados por Svante Pääbo, o indivíduo de Denisova mostrou-se peculiar, pois não apresentava um DNAmt de humano moderno e nem neandertal, mas um DNAmt novo. 84 O Dr. Pääbo, um geneticista conceituado, em 2000, realizou uma pesquisa para sequenciar o genoma neandertal com êxoto e os mesmos exames de DNAmt realizados foram feitos na falange (do dedo midinho da criança). Será que o dedinho era de uma nova espécie humana desconhecida ou de alguma espécie já conhecida? Ainda não sabemos e somente com mais escavações poderemos no futuro ter uma resposta mais definitiva, enquanto isto podemos citar o argumento do Dr. C. Stringer. “In fact its mtDNA was more different than Nearderthals and moderns, suggesting an origin time time well over 500,000 years ago”* (Stringer, C. 2012. P 199). Concluindo, é provavel que o dedo mindinho da criança perteça a um arqueantropiano conhecido. Além do fóssil, em 2000, a equipe do Dr. Shunkov e Derevianko, encontrou um dente molar (dente da parte de trás da maxila), e verificou que o dente era de um adulto, não pertencente à criança denisoviana. Além disso, segundo as pesquisas genéticas, confirmou-se que se tratava de dois indivíduos diferentes e por esta razão, o dente foi levado para China a fim de verificar se poderia pertencer ao grupo conhecido do Homo erectus chinês, mas infelizmente, o dente era muito grande para ser somado dentro dessa espécie. A conclusão do Dr. Pääbo causou impacto no meio científico, pois soube que o DNAmt do dedinho confirmou uma miscigenação com grupos humanos modernos que vivam na região da Papua Nova Guiné e Bougainville (Melanésia). Este dado bate com as informações de campo no qual se encontrou vestígios de humanos modernos vivendo com Denisovanos, mas não se sabe se os humanos modernos eram contemporâneos desses hominídeos. Dente molar descoberto em Denisova Fonte: http://www.nature.com/nature/journal/v468/n7327/fig_tab/nature09710_F4.html *tradução: “Na verdade o seu DNAmt era mais diferente do que Neardertais e homens modernos, sugerindo uma origem tempo bem mais de 500.000 anos atrás”. 85 2.4.3 HOMO NEANDERTHALENSIS: O Homem de neanderthal Fonte: http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/tv_radio/wwcavemen/cavemen8_1.shtml O Homo erectus, no início de sua fase evolutiva na África (er3733 e KNM WT 15.000), migrou aproximadamente 2,0 milhões de anos para Ásia e depois para a Europa. Na Espanha, por volta de 800 mil anos, surgia o Homo antecessor como provável caçador e a posteriori, deu origem há 500 mil anos um novo ser, adaptado ao frio glacial europeu, chamado de Homo heidelbergensis, sendo descendente, do Homem de Gran Dolina, que entre 400 e 200 mil anos daria origem ao neandertal. A ocorrência evolutiva, de um ser para outro, num período de tempo pequeno, para Lee Berger, estaria no fato de que estas criaturas se mostrem afastadas de outras populações: “O isolamento pode trazer uma vantagem evolutiva ao permitir, que certos traços se desenvolvam em uma população confinada e permitindo, que esta população, uma vez acabada o isolamento, ela se expanda” (Discovery Channel: Humanos quem somos nós? A origem da mente humana. 1999). Sabe-se que o Homo heidelbergensis no início de sua fase evolutiva estava isolado, depois migrou da Europa para a África, tendo como causa provável as constantes variações climáticas entre 600–200 mil anos. Seus fósseis, descobertos na África do Norte (Marrocos) e na África Central (Broken Hill, na Zâmbia) ficaram novamente isolados sendo possível que nossa espécie evoluiu, a partir deles há 200-150 mil anos, tese defendida por Chris Stringer (Museu de História Natural de Londres, na Inglaterra), pois sua argumentação se baseia em comparação de modelos fósseis da África (fóssil de Jebel Ighoud) com a nossa espécie. Grande parte dos geneticistas acredita que nós humanos e os neandertais evoluímos do mesmo tronco, pois os DNAs de ambos são distintos e por isto, Stringer considera como nossos primos evolutivos, que se desenvolveu através do Homo heidelbergensis que também é chamado de Homo sapiens arcaico. 86 FIGURA 9. (800 mil anos) Homo antecessor (500 mil anos) Homo heidelbergensis Homo rhodesiensis (400 mil anos) (300 mil anos) Homo sapiens neanderthalensis NÓS: Homo sapiens sapiens (200 mil anos) A academia considera que ancestral do heidelbergensis e do antecessor seria o fóssil do “Menino de Turkana”, descoberto em 1984, pela equipe de paleantropólogos liderada por Richard Leakey, Kamoya Kimeu e Alan Walker, e ao se comparar com os esqueletos de neandertais, somos levados a concluir, que havia similaridades e diferenças, como os ossos dos membros do “Menino de Turkana” que eram anatomicamente similares aos físicos dos neandertalianos e as diferenças essenciais estavam na composição do crânio (os neandertais tinham crânio mais arredondados, do que o erectus, mas a face das duas espécies era similar) e na altura. Sabe–se que um Homo erectus macho e adulto poderia chegar a ter uma altura média, aproximadamente 1,8 a 2,0 m, enquanto os neandertalianos machos e adultos tinham uma altura média de 1,65 m. Que argumentação coerente pode explicar a diminuição na altura média, do neandertal? Alguns anatomistas suspeitam que o motivo fosse adaptativo pois na África havia um clima mais quente e os ossos do H. erectus eram mais altos podendo conservar calor e tendo uma elevada estatura média. Enquanto na Europa, entre 600 a 200 mil anos havia uma alternância de clima e na maioria das vezes era frio e assim os seres que ali evoluíram, possuíam uma estatura pequena justamente, para resistir a baixas temperaturas e evitar a dissipação de calor explicando sua composição anatômica similar aos dos esquimós. Com o objetivo de estudar os avanços e recuos do clima europeu entre 600 mil anos até os 10 mil anos, os pesquisadores concluíram, que ocorreram quatro grandes glaciações chamada de: Günz, Mindel, Riss e Würm (quatro pequenos afluentes do rio Danúbio). O período entre uma glaciação e outra, Günz para Mindel é chamado de período interglacial (A. Leroi–Gourhan. 1987. P 32 e 63). Justamente neste ínterim, que o heildelbergensis evoluiria em neandertal. Atualmente, acredita–se que o surgimento do Homo sapiens sapiens (200 mil anos), ocorreu entre as glaciações de Mindel para Riss e justamente, neste período de tempo, as criaturas arcaicas (Homo erectus e heidelbergensis) começava a se extinguir. O anatomista Alan Walker (Universidade Federal da Pensilvânia), explica que as alternâncias de temperatura poderiam ter contribuído para o desaparecimento de Homo erectus e H. sapiens arcaico: “Há 200 mil anos na era glacial, a Terra ficou coberta por 30% de gelo, houve uma grande devastação, rios secaram, matas e campos foram destruídos pelo frio, o ergaster e o Australopithecus não se adaptaram a tanto frio, e foram extintos” (Discovery Channel: The Human Journey: a tale of the two species. 1999). 87 Como as espécies de H. erectus e heidelbergensis extinguiram se havia sido considerados como seres habilidosos, versáteis e flexíveis? Acredito que as alternâncias na temperatura haviam causado tal extinção e por outro lado, o seu comportamento poderia ter contribuído para a confecção de suas ferramentas, sugerindo que deveriam ter sido muito previsíveis na sua atividade diária, pois os heidelbergensis eram caçadores de animais de grande porte ao invés de caçar animais pequenos. Seus ossos fraturados (membros superiores) mostram um resultado de uma vida cotidiana ativa devido ao empreendimento de capturar presas grandes (bois almiscarados, ursos da caverna, rena gigante). Além disso, é possível supor que sua comunidade se encontrava isolada com baixa taxa de natalidade. Tais características foram herdadas do heidelbergensis para os neandertais. O que se sabe sobre os neandertalianos era que viveram por um período longo de tempo (aproximadamente 300 mil-27 mil anos), numa época em que a Europa estava mergulhada em climas glaciais e interglaciais, tinham vida dura, viviam em cavernas com poucos indivíduos no grupo (de 10 a 20 indivíduos), com uma expectativa de vida de 40 a 50 anos. Seus esqueletos mostram sinais de fraturas acumulada ao longo da vida (Tattersall, I. 1998. P 152-3), andavam eretos, seus membros eram pequenos e robustos (musculosos), podendo resistir a grandes impactos; eram inteligentes, pois sabiam confeccionar ferramentas de sílex (indústria musteriense), com uma melhor qualidade do que seu ancestral e segundo a equipe do Instituto Smithsonian, os neandertais poderiam preparar grãos como ervilha (Época. Nº 6659. 2011. P 13). Sabe-se que os neandertais também conheciam os meios de obter fogo e o utilizava para poder caçar animais de grande porte e provavelmente, possuíam forma de comunicação mais avançada, do que o erectus e o mais impressionante poderiam ter possuído sinais simbólicos, similar aos nossos. Analisando seu crânio, percebe–se que possuíam grandes cavidades oculares, não tinha uma longa testa nem o queixo proeminente que possuímos. Sua cavidade nasal era grande com a finalidade de respirar o ar gelado e ao chegar à interna do nariz, se torna quente. Sua dentadura era forte e sua calota craniana era baixa com um cérebro maior, possuindo um volume de 1.700cc. Os fósseis e os vestígios dos paleoantropianos encontrados até o momento, são de sítios localizados na Ásia e Europa sendo os mais importantes: na França (La Chappelle– aux–Saints, Malarnaud, La Ferrassie, Le Moustier, La Quina), em Portugal (Lagar Velho – hominídeo híbrido), na Espanha (Giblatar), na Inglaterra (Ilha de Jersey), na Alemanha (Neander), na Bélgica (Spy), na Itália (Circeo), na Croácia (Krapina), em Israel (Kebara, Tabun e Amud) e no Iraque (Shanidar). Sem dúvida, considera-se que seus fósseis foram bem documentados e estavam bem adaptados em seu mundo gélido (o norte da Europa era uma geleira, o norte da França, a vegetação/ clima era subártico, e o sul da Europa, a vegetação consistia em: relvas, coníferas, florestas). Pré–historiadores, como André Leroi–Gourhan, na década de 60 e 70, sugere em seu livro: Os caçadores da pré–história, que os musterianos ou neandertais, podem ser encaixados na espécie Homo sapiens, e atualmente são duas espécies distintas: a Homo sapiens neanderthalensis e homem moderno: Homo sapiens sapiens (A. Leroi-Gourhan. 1987. P 58). Nem sempre o neandertal fora encarado com um sucesso evolutivo. No início do século XX, escavações conduzidas em La Chapelle–aux–Saints, (França Central), em 1908, partes dos membros e de um crânio com maxila, havia sido descoberto e diagnosticado em 1912, pelo melhor anatomista francês da época: Marcelin Boule. 88 Marcelin Boule e o fóssil de La Chapelle Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/boule.jpg Boule percebeu que aquele indivíduo, tinha um corpo atarracado, devido ao seu fêmur, que era curto. O cientista sugeriu que esse exemplar era um “selvagem” desprovido do dom da fala e dos meios de comunicação, que nós temos e interpretou que o neandertaliano de La Chapelle–aux–Saints, brandia e teria muitos pêlos iguais aos chimpanzés. Quando observou os ossos da coluna vertebral, diagnosticou que seu andar era curvado e sem elegância. Boule criou um quadro de seu comportamento, sugerindo que aquela espécie era um fracasso evolutivo, considerando-o “primitivo”, “inferior” e “simiesco” e que o neandertal era um “idiota patológico” ou um selvagem peludo pré– histórico. O escritor, Sir. Arthur Conan Doyle fascinado, por descobertas paleontológicas de dinossauros e de possíveis ancestrais humanos, resolveu escrever um romance que mais tarde ficaria famoso: O Mundo Perdido (1912), e depois influenciaria Hollywood, na realização do filme em 1925 de 60 minutos dirigido por Harry Hoyt, mantendo o título original do livro: The Lost World (O Mundo Perdido). O filme segue a estória do romance, contendo cenas de dinossauros (Allosaurus, Apatosaurus e Triceratops) e também de criaturas ancestrais desconhecidas da ciência, todos vivendo numa inóspita região da Amazônia. O interessante neste filme é que as características do neandertal, descritas por Boule, haviam sido utilizadas, pelos produtores, mostrando a visão dos cientistas da época, em relação ao Homo primitivo. Nas décadas de 50, 60 e 70, novos achados de neandertalianos foram trazidos à tona e comparadas com os fósseis de La Chapelle, e a conclusão sugerida foi que Boule interpretou mal as evidências preliminares, pois esse fóssil possuía sintomas de artrite crônica e por este motivo não conseguia caminhar de forma ereta e também não eram peludos como os chimpanzés, mas muito semelhante aos humanos, com poucos pêlos. Por outro lado, pesquisas arqueológicas, produzidas por L. Binford (Universidade de Chicago) e Erik Trinkaus (Universidade de Washington), na década de 70 e 80, afirmaram que estas criaturas não eram caçadores eficientes e sim, carniceiros. Provavelmente, não possuíam linguagem e nem meios pelos quais, pudesse organizar a sua caça (Stanford, C. 2004. P 180). Estas sugestões inspiravam o quadro, descrito no filme: A Guerra do Fogo produzido, em 1981, pelo diretor francês: Jean Jacques Annand, que mostra cenas do contato dos neandertais com nossa espécie aparecendo com uma pele clara e com poucos pelos, completamente diferente, daquele indivíduo peludo de Boule. 89 No entanto, as sugestões do filme de Annand, podem ser hoje contestadas como: 1o – o fato de que os neandertais desconhecerem, o processo obter o fogo; 2o – possuírem um comportamento pouco social; 3o – não possuir formas de comunicação avançada de um indivíduo para com o outro. A primeira sugestão do filme propõe que os neandertalianos desconheciam o processo de obtenção do fogo e que não era caçadores eficientes. No decorrer do filme, um determinado grupo de neandertalianos não conseguia compreender os processos pelos quais se obtém o fogo, instrumento cobiçado até mesmo por outras populações neanderthais, que através do furto, se apoderam do fogo. Sem este instrumento, a vida ficaria comprometida e então, o líder do grupo convoca três indivíduos, para conseguir obtê–lo novamente. Saindo de onde moravam, estes aventureiros partem em busca do cobiçado prêmio. Esta sugestão pode ser colocada à prova de acordo com pesquisas realizadas por John Speth (Universidade de Michigan) e Mary Stiner (Universidade do Arizona), que comprovaram que tais seres humanos eram habilidosos caçadores e conheciam muito bem o processo de obter o fogo (Stanford, C. 2004. P 181), pois há vestígios de carvão descobertos em locais freqüentados por neandertais, contendo provas de caça, da utilização e do domínio do fogo, encontrado na Ilha de Jersey (entre a França e Inglaterra. Os paleantropólogos descobriram lâminas muterianas, pedaços de ossos fraturados de mamute queimados e antigas cinzas de carvão, sugerindo que os neandertais poderiam, com a intenção de atrair os mamutes que ao passarem por aquela região, caíssem numa emboscada que consistia de fazês–lo cair do platô (tendo 15 metros de altura) e morressem penhasco abaixo (Haines, Tim. 2001. P 249). Atualmente, grande parte dos cientistas rejeita a “Hipótese do neandertal carniceiro” de Binford e Trinkaus, abordado no filme: A Guerra do Fogo. A segunda sugestão do filme a ser abordado e posto a prova é o que tange ao fato dos neandertalianos possuírem um comportamento pouco social. Na década de 50, o paleantropólogo, Ralph S. Solecki pesquisou a caverna de Shanidar (Iraque), e descobriu para sua surpresa, o sepultamento de um idoso neandertal, com uma idade entre 50 a 55 anos, vivendo na região por volta de 60.000 anos atrás. Richard Leakey, ao avaliar esta descoberta, sugere que: “em tudo isto, uma relíquia desperta um sentimento particular de humanidade” (Leakey, R & Lewin, R. 1980. P 125). O indivíduo idoso havia sido enterrado de modo que havia diversas flores posto abaixo de seu corpo e colocadas ali de maneira intencional, ou seja, os membros da comunidade neandertal de Shanidar havia estado de luto, quando o sujeito faleceu. “É como se a família, os amigos do homem morto, e talvez os membros da sua tribo tivessem ido aos campos e trazido ramalhetes de mil–folhas, escovinhas, cardo–de– são–barnabé, tasneirinhas, jacintos, rabos–cavalo–de–pau e um tipo de malva” (Leakey, R & Lewin, R. 1980. P 125). 90 O fóssil encontrado em Shanidar, ao centro o braço amputado e a direita o osso hióide de Kebara Fonte: http://www.modernhumanorigins.com/shanidar1.html e http://www.modernhumanorigins.com/kebara.html “O fato de ter sido um sepultamento intencional é sem dúvida interessante, porque revela uma aguçada autoconsciência, e uma preocupação com o espírito humano. E o fato de o cadáver ter sido enfeitado com flores, acrescenta um enorme significado. Porém o mais intrigante de tudo isso é que, das várias espécies de plantas usadas no sepultamento de Shanidar, diversas têm sido usadas, até pouco tempo, na medicina vegetal local!” (Leakey, R & Lewin, R. 1980. P 125). Observando anatomia do cadáver de Shanidar, descobrimos que o indivíduo faleceu na mais alta média de expectativa de vida de um neandertal: 50-55 anos. O seu crânio parecia ter levado uma pancada, que provavelmente teria o deixado cego do olho esquerdo; seu braço foi amputado e seus membros revelaram diversas fraturas. Então como um sujeito assim poderia viver tanto tempo? Seria especial para alguém ou para o grupo? Milford Wolpoff (Universidade de Michigan) acredita que havia uma relação de interdependência social bastante complexa de um indivíduo para outro. Não seria forçado supor que tal ser sobreviveu até os últimos momentos da expectativa de vida neandertal, porque ele foi cuidado pelos membros do seu grupo. Seria interessante observar que outros sítios (França), mostram esqueletos de neandertais fraturados, que haviam sido curados, quando o indivíduo ainda estava vivo, interpretando que havia interação social ocorrendo entre os membros do grupo e demonstrando que eles deveriam ter sentimentos adversos (preocupação, amor, amizade), uns pelos outros, e possivelmente de luto (Discovery Channel, The last Neanderthal? 1996). Em comparação, no Ubezquistão um esqueleto que parece ser de uma criança neandertal foi descoberta, na gruta de Techik Tach. Junto ao seu corpo estavam cinco cabeças de cabrito–monteses levemente arrumadas em círculo, representando um sepultamento (Leroi–Gourhan, A. 1995. P 40-41). 91 Outra prova similar a esta, foi descoberta em 1992, em Israel, apelidado de “Bebê de Amud”, que segundo o paleantropólogo Joel Rak considera como interessante, pois o bebê era um neandertal de 50 mil anos e parecia ter sido enterrando junto com outros objetos: maxila de rena e ovos de avestruz colocados em seu peito (Discovery Channel, The Human Journey: a tale of the two species. 1999). A interpretação destes três casos mostram um possível sinal de adversos sentimentos. Finalmente, após longos períodos evolutivos havia algum ser que definitivamente demonstrava ter sentimentos de dor e luto. Ian Tarttesall (Museu Americano de História natural, de Nova York), em um dos seus trabalhos publicados Becoming Human: evolution and human uniqueness, discorda da possibilidade dos neandertais terem algum tipo de expressão simbólica e sentimental de perda (luto), sugerindo que os funerais, aqui propostos, datam de um período muito recente, ou seja, de apenas 60 mil anos até o período de sua extinção, há 27 mil anos atrás.Tais criaturas já existiam nos registros fósseis há 300 mil anos (Paleolítico Inferior), e os funerais que datam deste período são escassos ou de difícil interpretação. Diante do dilema, sugere: “However this way be, though, it is dificult to sustain the notion that neanderthal burial represented symbolic atividy, as apposed to the simple expression of greif and loss” * (Tarttesall, I. 1998. P 163). Então, porque somente, no início do Paleolítico Superior, os neandertais começavam a se interessar em enterrar seus mortos? Uma explicação mais coerente seria o fato de começar nesta época, a migração dos Cro–Magnon para Europa e a partir daí, houve um contato entre a nossa espécie e os neandertais. Através deste contato, a nossa espécie poderia ter influenciado com profundos sinais de sentimentos repletos de toda uma simbologia, na cultura neandertal. Apesar desta teoria predominar nos meios acadêmicos, alguns cientistas não concordam com esta alternativa (em Shanidar, por exemplo, não há presença de fósseis nas proximidades de humanos modernos e nem de seus utensílios simbólicos, que datam da mesma época, em que o indivíduo de 55 anos havia sido enterrado). Descobertas feitas pelo paleoantropólogo, João Zilhão (Universidade de Bristol), afirma que os neandertais poderiam ter adquirirido um comportamento simbólico muito antes da chegada de humanos modernos na Europa. Em escavações realizadas entre 20062008, em Cueva de los Aviones e Aviones Cueva Antón (Espanha), foram descobertas três conchas de moluscos perfuradas, algumas com pigmentos avermelhados (parecendo ocre), datadas entre 48.000 a 50.000 e um osso de cavalo tendo na sua ponta, um pigmento avermelhado, mostrando que seu uso seria para misturar ou aplicar pigmento ou ainda para perfurar. Estas descobertas nos trazem o retrato de um neandertal que utilizava símbolos complexos no seu contidiano, bem similar aos que os humanos modernos fazem atualmente (Scientific American. In. Archeology. June 2010. P 72-75) (veja a entrevista com Dr. João Zilhão no anexo 03). * “No entanto, este caminho é, porém, dificil de sustentar a noção de que o sepultamento neandertal representada atividade simbólica, como uma simples expressão de dor e perda”. 92 A terceira sugestão do filme, sobre as impossibilidades de que o neandertal não possuísse formas de comunicação eficiente, entre um indivíduo e outro, pode ser posto a prova, devido a uma recente descoberta ocorrida, em 1983, em Israel. Na caverna de Kebara, um neandertaliano havia sido achado, consistindo de costelas, ossos dos braços, mandíbula inferior, coluna vertebral e o osso hióide que ao ser analisado, constatou–se ser muito similar ao nosso, responsável pela coordenação motora da fala aliada à evidência de que a média do volume cerebral é maior que o nosso e sua área de broca (local do lobo frontal, em que se localizam as emoções e as estruturas da fala) eram semelhantes a nossa. Ralph Holloway (Universidade de Columbia), comenta que as semelhanças na estrutura cerebral um neandetal e a nossa faz com que os cientistas (re) avaliassem a questão, se caso pudessem falar. Atualmente, acredita–se que o neandertal possuísse uma estrutura de linguagem própria, mas diferente da nossa: “Observando um cérebro de neandertal, todas as estruturas percebidas nele é a mesma que vemos nas estruturas do homem moderno, em outras palavras, não existem diferenças essenciais entre um neandertal e um homem moderno, assim algumas pessoas, pensam que os padrões do Neandertal seriam iguais do Homo sapiens” (Discovery Channel. Humanos quem somos nós? A origem da mente humana. 1999). Após inúmeras escavações, pesquisas de campo e de laboratório desenvolveram novas opiniões ao seu respeito, que são documentadas em vídeo (Discovery Channel e BBC), contestando o modus vivendi que Boule havia traçado no início do século XX Modus vivendi do Neandertal: visto no documentário: The human Journey: a tale of two species. 1999. Os neandertalianos podem ser considerados, como seres rotineiros, baseando na previsibilidade em seu modo de vida, vivendo isolados de outras comunidades, não variavam as suas ferramentas, não praticavam a pesca e havia pouca taxa de natalidade. Estas sugestões se baseiam nas suas ferramentas, que permaneceram, com a mesma característica, por quase 200 mil anos. Modus vivendi do Neandertal: visto no documentário: The last Neanderthal? 1996. Era caçador e coletor, explorava todo tipo de recursos, mas na maioria das vezes, caçavam grandes animais – seus membros inferiores mostram sinais de fraturas, devido talvez, ao contato com tais animais. È provável que tenha tido uma vida sedentária, com poucos membros no grupo e o território que ocupava, para realizar suas necessidades, poderia chegar a 50 km de extensão. Ao longo dos anos, variava muito pouco o estilo de ferramenta (musteriana) não se alterou, sendo repetitiva, isto acontecia devido o isolamento, com outras populações e a falta de contato com outras espécies humanas. 93 Sabiam como obter e dominar o fogo, e provavelmente, sabiam cozinhar. Deveriam ter possuído algum tipo de linguagem. Deveriam ter possuído sentimentos complexos (devido o funeral em Shanidar). Modus vivendi do Neandertal: segundo o documentário: Walking with prehistoric beasts: A Jornada do Mamute. 2001. Eram hábeis caçadores sedentários, vivendo em pequenos grupos, que armavam emboscadas para manadas de mamutes, utilizando o fogo, como ferramenta (evidências na Ilha de Jersey, Inglaterra, revelam que ossos haviam sido destrinchados também há cinzas e presença de indústria musteriana). A indústria musteriana se manteve ao longo de 200 mil anos, num “cansativo processo repetitivo”, pode–se sugerir disto, que o seu modo de vida era baseado na repetição e na previsibilidade, havendo pouco ou nenhum contato com outras populações de neandertalianos, desta forma, mostram–se na maioria das vezes como seres sedentários. Esta espécie é pequena (macho – 1,65 M e fêmea – 1,60 M), porém é muito robusta; os ossos de seus braços e pernas têm um comprimento menor, se comparado com um humano moderno, por outro lado, estes ossos agüentavam pancadas, eram mais fortes e ao mesmo tempo flexíveis, adaptados a uma temperatura glacial. Observando as idéias propostas pelos paleoantropólogos, referente ao comportamento social, modus vivendis dos neandertalianos, pode–se concluir que seria muito correto, aplicar a tese da Home Base de Glynn Isaac e Richard Leakey. De acordo com os registros arqueológicos, parecem viver isoladas de outras comunidades neandertais, havendo um ponto positivo nisto, pois se tornavam auto–suficientes e por outro lado, deveria ter inibido o surgimento de indústrias líticas mais sofisticadas, mostrando uma repetição do estilo musteriano devido uma vida sedentária, e com taxa de natalidade podendo sofrer estagnação ou redução de tempos em tempos. A Europa era coberta por uma vegetação subártica e florestas de coníferas para que pudessem sobreviver nessa região polar, teriam de depender de cada um dos membros realizando determinadas tarefas e certas cooperações (economia mista), pois isto é baseado em evidências de caça, como as encontradas na Inglaterra: Ilha de Jersey e na Alemanha (lança de madeira de 400 mil anos). Também era provável que eles coletavam plantas e outros alimentos. Após a divisão de tarefas e a coleta de alimentos, poderiam estocar, em sua base doméstica (Home Base – demonstrável em sítios franceses), para que mais tarde pudesse ser compartilhado pelos membros do grupo (Lima, C. P. 2a ed. 1994. P 31). Com a intensificação deste tipo de atividade, sugere-se que alguns membros poderiam demonstrar sinais complexos de sentimentos de reciprocidade, como o altruísmo, afetividade e empatia, para com os pequeninos e os velhos, sendo demonstráveis no Ubezquistão, Shanidar, Tabun e Amud (Leakey, R & Lewin, R. 2a ed. 1996. P 122-123). 94 Assim, como o Homo erectus, há vestígios de que o neandertal praticava o canibalismo, mas há pouquíssimas provas que poderiam ser comparadas, entre um sítio e outro, e mesmo que se tenha, é difícil de diagnosticar. “A existência de um canibalismo religioso no Paleolítico é talvez provável, mas totalmente indemonstrável, devido ao estado dos materiais” (Leroi–Gourhan, A. 1995. P 57). O canibalismo neandertal é algo raro e a evidência mais chamativa, vem da antiga república da Iugoslávia, em Kaprina. De acordo com Leroi–Gourhan foram “encontrados treze indivíduos neanderthalensis, partidos em pedaços e espalhados. È notória a impressão de trituração alimentar”. Os documentários exibidos pela: Discovery Channel, BBC e Learning Channel e listados no resumo acima, nada enfocaram sobre a questão do canibalismo. Acredito que alguns paleoantropólogos sugerem que tal prática poderia ter ocorrido de forma corriqueira em raras ocasiões. Por outro lado, não há provas de “maior verosimilhança”, no que tange a sua prática religiosa. Sem dúvida o neandertal apresenta um mistério entrelaçado dentro de um enigma, pois era um indivíduo, com um corpo mais robusto, que o nosso, mais adaptado ao frio glacial, cérebro maior, utilizando comunicação com os membros do grupo, planejando uma atividade qualquer (acender uma fogueira e caçar mamutes ou para criar ferramentas) e em determinadas ocasiões era um canibal. Mesmo com tantas habilidades este espécime extinguiu–se há mais ou menos 25.000 anos atrás. Por quê? Alguns paleoantropólogos acreditam que a chegada de nossa espécie (Cro–Magnon chegou da África para a Europa, por volta de 45.000 anos atrás), sejam algum modo, responsável por isto. Os pesquisadores acreditam que o Cro–Magnon possuía um modus vivendi adverso: ao invés de serem sedentários como os neandertais eram nômades caçadores, pescadores e coletores possuíam uma infinidade de ferramentas e utensílios para infinitas atividades, possuíam sentimentos introspectíveis e uma linguagem com sintaxe para criar tantos objetos. Todas estas características somadas revelam que nossa espécie era adaptável ao mundo europeu e suas ferramentas nos dão estes indícios. O documentário da Discovery Channel: The Human Journey: a tale of the two species (1999) propõem evidências baseadas em testes genéticos, sugerindo que se o Cro–Magnon tivesse possuído uma vantagem de apenas 2% dos recursos naturais no meio ambiente e uma melhor adaptação, poderia elevar sua taxa de natalidade e de sobrevivência numa Europa de clima gelado e imprevisível e consequentemente, poderiam suplantar os neandertalianos em 30 gerações ou 900 anos. De fato, vestígios deixados pelo Cro–Magnon em Dordogne (França), sugerem que pescava salmão habitando o mesmo local. Já o neandertal, não utilizava este recurso, pois era um caçador vivendo sedentariamente e na previsibilidade dos seus planejamentos, enquanto a nossa espécie é mais flexível. Desta forma, surgem inúmeras ferramentas de inúmeras funções. Para confirmar tal sugestão, os neandertalianos utilizavam como instrumentos: ossos, marfins e chifres de animais, como armas ou como utensílios simbólicos descobertos em registros arqueológicos. Porém, os neandertais não tinham tanta variedade de ferramentas e desta forma isto possibilitou nossa espécie um maior aproveitamento de recursos naturais. 95 Pode ser que estes detalhes façam a diferença levando apenas uma destas espécies a se extinguir, enquanto a outra seguia seu caminho. Tattersall, Stringer e outros cientistas suspeitam que o modo de vida (isolado de outras comunidades, rotineiros na confecção de suas indústrias líticas, baixa taxa de natalidade e a ocorrência de marcas de traumas em seus ossos), aliados com a aletoriadade ambiental ao final do Paleolítico Superior (27-25 mil anos) e com a chegada do Cro–Magnon a Europa, ou a uma redução na obtenção de seus recursos naturais (pois a dieta neandertal consistia em 85% de carne) e levá-los à extinção. O Neandertal de La Ferrassie e o Cro-Magnon Fonte: http://www.erichufschmid.net/Neanderthals/Neanderthal-Cro-Magnon.jpg 96 2.4.3.1 SURGIMENTO DOS HOMENS MODERNOS: O neandertal e o homem moderno Fonte: http://www.bbc.co.uk/science/cavemen/factfiles/homo_neanderthalensis.html?img4/ e Tim Haines. Walking with Beasts. Cap. 6. A Mammoth´s journey. 2001. P 223. “A tese: Out of Africa, afirma que em algum momento entre: 150 mil ou 100 mil anos atrás, a nossa espécie originou–se na África e depois migrou para o resto do mundo, fazendo isto, substituiu linhas mais antigas de evolução em outras regiões. Na Europa dos homens de neanderthal, que lá habitavam a centenas de milhares de anos foi substituída, por estes forasteiros, vindos da África, muito diferente do homem de neanderthal” (Discovery Channel. The Last Neandethal? 1996). Segundo a história de nossa linhagem evolutiva vemos que os primeiros anatomistas do século XIX, como Ernst Heackel (1834-1919), inspirados pelo trabalho de Darwin, propôs uma linha evolutiva linear entre neandertais e os humanos modernos (Cro–Magnon) e mais tarde, o celebre trabalho do anatomista alemão, Gustav Schwalbe (1844-1916): Zeitschrift für Morphologie und Anthropologie (1899), sugerem que o neandertal é considerado nosso ancestral direto. Quando Boule analisou o neandertal de La Chapelle, escrevendo sua monografia, Schwalbe foi convencido em abandonar o neandertal como sendo ancestral do Homem Moderno: “Schwalbe jamais abandou o Pithecanthropus (Homo erectus), continuando a admiti-lo como ancestral de todas as formas posteriores de homens” (Brace. 3ª Ed. 1979. P 35). O trabalho do anatomista francês, Marcelin Boule, ao diagnosticar o neandertal de La Chappelle, em 1912 escreveu sua conclução no livro: Les hommes fossiles ou Os Homens Fósséis (1920) desconsiderando que o homem de neandertal e o Homo erectus tivessem alguma relação com os humanos modernos, Boule suspeitava que se tratasse de um ramo evolutivo lateral, que nada tinha haver com os humanos modernos. Atualmente, sabe-se que a espécie humana anatomicamente moderna surgira nos registros fósseis entre: 200 mil ou 150 mil anos atrás e se espalhou por todo mundo (Ásia– 100 mil anos, Austrália 60 mil anos, Europa 45 mil anos e América, talvez por volta, entre: 40 a 15 mil anos). 97 Ao analisar a altura média do Cro–Magnon é de: 1,8m descoberto em 1868, percebeu que os neandertais clássicos, possuiam uma altura média de 1,65m. Para Stringer e seus colaboradores, acreditam que as diferenças na altura média são adaptativas ao meio ambiente em que evoluíram por exemplo: o corpo do neandertal é de uma composição mais robusta e possivelmente, resistiria a algumas fraturas. Além disso, sua altura é pequena, não dissipa calor, mas sim, o conserva. O neandertal era um ser adaptável ao clima frio, severo e glacial da Europa. Enquanto os homens anatomicamente modernos possuíam uma composição corpórea mais alta, justamente para dissipar o calor de seu corpo, demonstrando ter sido evoluído em locais quentes, entretanto seu esqueleto demonstra ser muito frágil e menos resiste às fraturas, que os neandertais (Discovery Channel. The Last Neandethal? 1996). Nas décadas de 50 e 60, os cientistas acreditavam que os homens modernos descendiam diretamente dos neandertais. De acordo com “Tese da Espécie Única” defendida por Brace a academia vem discutindo, a origem da nossa espécie Homo Sapeins Sapiens, em simpósios, seminários, reuniões, tornando acaloradas, pois atualmente alguns membros da academia paleantropológica ainda discordam que nossa origem tem relação com os neandertais. Há no momento, dois importantes modelos evolucionários, que explicam as origens do Homem Anatomicamente Moderno: 1o Teoria Multirregional defendida por Milford Wolpoff (1997), da Universidade de Michigan e Alan Thorne, da Universidade Nacional da Austrália; 2o teoria Out of Africa defendida por: C. Stinger (1994), do Museu de História Natural de Londres. A Teoria Multirregional defendida por Milford Wolpoff desde 1984, sugere que os humanos modernos possuem sua origem baseada na continuidade regional do continente europeu, asiático e africano. Mas, o que é continuidade regional? Para o Dr. Wolpoff nossa origem está na migração dos Homo erectus que ocorrera há 2,0 milhões de anos, para a Europa e Ásia, e seus fósseis mostram, que ocorreu uma continuidade genética. Sendo assim, havia características anatômicas peculiares, em fósseis de 1,8 milhões de anos com as populações atuais da Austrália e Ásia. Por esta razão, Wolpoff redefine a “Tese da Espécie Única” de Brace, pois este afirmava que os neandertais eram nossos ancestrais, sugerindo que os espécimes de neandertalianos, de heidelbergensis, H. ergaster-erectus e H. Antecessor, cruzavam entre si e assim sendo, estas criaturas seriam os nossos ancestrais. Aliás, nesta teoria, não há nenhuma substituição dos espécimes antigos, por novas, mas há interação de mesclagem destas espécies (arcaicas com modernas, mesclando entre si e através de migrações, que constantemente, saíam e voltavam pra África e geravam o aparecimento de novas espécies e a confirmação que o Velho Mundo era considerado o local da origem humana). Essa tese afirma que nossa espécie surgiu na África, Europa e Ásia simultaneamente. A teoria do Dr. Stringer é muitas vezes citada como a Teoria de Eva ou Teoria da Substituição. Sua teoria defende que nós, homens modernos evoluímos na África, entre: 200 a 150 mil anos e nos espalhamos pelo mundo, numa segunda leva de migração (a primeira leva de migração ocorreu com o H. erectus a uns 2,0 milhões de anos). Tal migração substituiu as linhas mais antigas de evolução, tais como o Homo neanderthalensis, H. erectus e Homo floresiensis sem haver mesclagem entre as espécies humanas arcaicas com novas. 98 A proposta de Stringer é baseada no pensamento de Boule (da década de 20), que afirmava que os neandertais não tinham nenhuma ligação com o nosso ramo evolucionário e de Reiner Protsch que em 1975 argumentava que a espécie moderna havia substituído as espécies arcaicas. Brace sugere que Boule já havia afirmado sobre uma suposta substituição de espécies. “(Boule) afirmou terem os neandertais e sua cultura desaparecido subitamente, sendo de imediato substituído pelo Homo sapiens, que se espalhou pela Europa com sua mais elevada tradição tecnológica do Paleolítico Superior” (Brace, L. C. 3ª Ed. 1979. P 34) A tese de Stringer apóia–se em testes de campo (descobertas fósseis) e de laboratório, com ajuda dos avanços da bioquímica, que procura investigar o DNA humano (DNA mitocondrial existentes nas mitocôndrias das células, herdadas somente pela mãe e por este motivo a idéia de Stringer é chamada de Teoria de Eva, pois procura rastrear a primeira mulher humana moderna). O Objetivo dos geneticistas é procurar saber, quantas vezes ocorreu mutações genéticas nas populações humanas e quanto maior a variação genética, mais antiga ela é. Outro objetivo é saber quando e onde nossa espécie obteve maior mutação e tendo êxito em tal pesquisa levou a três conclusões: 1a conclusão: os grupos humanos são muito próximos um dos outros; 2a conclusão: a maior variação genética havia ocorrido na África com maior freqüência provando que os materiais genéticos dos africanos são mais antigos que dos europeus e asiáticos, e finalmente; 3a conclusão: o surgimento dos homens modernos ocorreu recentemente a cerca talvez de 200 mil anos (Discovery Channel. The Last Neandethal? 1996). Desde a década de 80, a comunidade científica lidando com o trabalho de campo já estaria acostumada a pensar numa continuidade regional, não conseguindo correlacionar achados de campo e testes genéticos. Assim as sugestões dos geneticistas nos anos 90 foram descartadas, pois os fósseis os vestígios de pedras líticas, as pegadas e outros restos, até aquele momento descobertos, não se encaixavam com as provas genéticas até que, os sítios de Israel (Kebara, Tabun, Amud, Skhull e Qafzeh) revelaram formas que pudessem apoiar a tese dos geneticistas, baseando–se em novas formas de datações, como: ressonância do spin eletrônico e tremoluminescência (Leakey, R. 1995. P 89). Na 1a metade do século XX, nestes sítios de Israel, foram encontrados parte de esqueletos de neandertais, datados de 60 mil anos, e em Skhull e Qafzeh foram encontradas parte de esqueletos de homens modernos, datados de 40 mil anos. Estas datações, apoiamas sugestões da Teoria Multirregional, implantando novas técnicas de datações com o objetivo de encontrar nos minerais das rochas uma datação mais segura e descobriu–se, que os fósseis de humanos modernos encontrados em Skhull e Qafzeh, não possuíam 40 mil anos, mas 100 mil anos, sendo mais antigos que os neandertais encontrados em Kebarra, Tabun, Amud. Para James Shreeve esse fato provocou a base da teoria Out of Africa: 99 “Com aplicação de novas técnicas de datação, estes sujeitos, supostamente datados de 40 mil anos atrás, na verdade são de 100 mil anos de idade, são muito mais antigos que os neandertais, como poderiam ser seus descendentes? É como afirmar que seu filho é seu avô, não pode ser”. (Documentário: Discovery Channel: The last neanderthal? 1996). Os defendores da teoria Multirregional alegam que os fósseis encontrados em Skull e Qafzeh, obtidos como registros de homens modernos, possuíam uma cultura similar aos dos neandertais que habitavam a região de Israel (Scientific American Brasil. Edição Especial. Nº2. P 50-51). Já os defensores da teoria Out of Africa, alegam que no início da década de 90, começavam a surpreender o mundo com pesquisas paleoantropológicas conduzidas na África do Sul (foz do rio Klassies e Blombos), por Hillary Deacon (Universidade de Stellenbosch) e Chris Henshilwood (Universidade de Bergen), concordam em admitir que os materiais fósseis de humanos modernos e seus vestígios encontrados, provam que as ocupações nestes locais são datadas de mais de 100 mil anos de idade, confirmando a tese Out of Africa de Stringer. Muitos cientistas não se deram por satisfeitos, pois estavam convencidos que os restos fósseis pertenciam a humanos modernos e era necessário provar que os fósseis eram no que tange a demonstração de seu comportamento simbólico, linguagem e imaginação. Era uma tarefa árdua para Hillary Deacon e Chris Henshilwood. Em Blombos, surgiram evidências de comportamento social avançado (pesca e coleta de moluscos, provando que teriam de planejar antecipadamente, as ações que iriam promover e realizadas, por mais de uma pessoa) e evidências de comportamento simbólico religioso (ocre–avermelhado como propósito espiritual que Henshilwood, argumenta que o tal utensílio havia sido “armazenado cuidadosamente” no interior da caverna de forma intencional, pois se tratava de produto de caráter religioso). Estas descobertas foram sensacionais, pois além do achado dos três crânios de Omo Kibish, na Etiópia, em 1967 como em nenhum outro lugar do mundo foi encontrado restos e vestígios de humanos modernos, datados de 100 mil anos (Leakey, R. 1995. P 93 e Discovery Channel: Dawn of Man–episódio 05: Exodus. 2000). Além de ter sido descoberto vestígios de humanos moderno no sítio da foz do rio Klasies, Hillary Deacon encontrou quatro mandíbulas inferiores e algumas possuíam queixo (sinal que de que se tratava do homem moderno), mas ao serem analisadas, por Rachel Caspari, (Universidade de Michigan) concluiu que duas das quatro mandíbulas não possuíam queixo e por esta razão não poderiam ser apresentadas como prova de que os humanos modernos habitavam a foz do rio Klases há 100 mil anos e além do mais, foi descoberto no local, um fragmento do osso zigomático (é um osso do crânio humano): que demonstra sinais de ser bastante arcaico (maior que dos homens modernos). Concluindo, estas provas apresentadas sustentam a teoria Multirregional de Wollpoff, que alega ter havido assimilação e cruzamentos inter-raciais entre as espécies humanas arcaicas até surgir a nossa espécie (Scientific American Brasil. Edição Especial. Nº 2. P 50-51). 100 FIGURA. 10 Tese Out of Africa de: C. Stinger (1994), do Museu de História Natural de Londres. EUROPA ÁFRICA ÁSIA Modelos humanos modernos Cro-Magnon Modelos humanos arcaicos H. neandethalensis e heidelberguensis Homo erectus Tese Multirregional defendida por: Milford Wolpoff (1997), da Universidade de Michigan. EUROPA ÁFRICA ÁSIA Modelos humanos modernos H. neandethalensis e Cro-Magnon Modelos humanos arcaicos H. erectus e heidelberguensis Fonte: Stringer, C. Modern Human origins: progress and prospects. The Royal Society, P565. 2002 Para Wolpoff e Thorne afirmam que os crânios de Homo erectus da Indonésia e da China, possuem semelhanças anatômicas (traços faciais) com os homens modernos (chineses e indonésios), concluindo então, que os chineses e indonésios evoluíram, a partir de Homo erectus, linearmente. Em 1996, uma equipe de paleoantropólogos liderados por C. C. Swisher III desenterraram em Java, restos de animais e de Homo erectus, aplicando a datação radiométrica no material, descobrindo que as datas ficavam em torno de: 25–50 mil anos. 101 “Se essas conclusões resistirem a novas e cuidadosas pesquisas, saberemos que então que o Homo erectus não se transformou nos humanos modernos na Ásia – pois as duas espécies coexistiram como entidades independentes aproximadamente 40 mil anos atrás” – “Se considerarmos o planeta inteiro, há 40 mil anos, observaremos um arbusto que se ramifica em três espécies humanas coexistentes – o Homo neanderthalensis, na Europa, o sobrevivente Homo erectus na Ásia e o Homo sapiens, prosseguindo na sua inexplorável disseminação por todo o mundo habitável” (Gould, S. J. 2003. P 255-256). Observamos que o Homo erectus, o Homo floresiensis e o neandertal coexistiram com o Cro-Magnon Europeu. As quatro espécies de Homo teriam convivido ao mesmo tempo. Porém o Homo floresiensis não parece ter sido substituído pela nossa espécie, pois sua extinção aconteceu após uma erupção vulcânica nas ilhas da Indonésia, há cerca de 12 mil anos atrás. Não há provas de que o Homo erectus teria sido substituído por nossa espécie. Isto significa que ainda estaria em discussão se a origem do humano anatomicamente moderno, originou-se na África entre 200-150 mil anos ou se surgiu simultâneamente nos três continentes (Europa, Ásia, África). A hipótese de que nossa espécie tenha eliminado o neandertal através da violência seria inconsistente, pois não há provas de campo, que sugeriria haver algum tipo de conflito entre si. Pode-se concluir que a sua extinção se deu por outros meios. No momento há vestígios de ter ocorrido um cruzamento inter-racial (algo proposto pela Teoria Multirregional), de acordo com a revista Superinteressante (Setembro de 1999. N° 09. Ano 13) que cita uma descoberta reveladora e inédita no campo da paleoantropologia, ocorrida em Lagar–Velho próximo de Leira, (Portugal), em 1998. Uma criança de aproximadamente 4 ou 5 anos de idade, datada de 24,5 mil anos, que segundo os estudiosos tratava-se de uma criança híbrida ou mestiça meio humana moderna (crânio) e meio neandertal (membros inferiores). As provas foram baseadas nos dentes e nas mandíbula inferior que era similar com dos humanos modernos, enquanto parte do braço e da perna eram extremamente curtos e robustos, se assemelhando aos neandertais (Haines, T. 2001. P 239). Alguns cientistas evitam comentar a questão, por que as provas não possuem uma coletânea de informação, que leve a uma conclusão mais segura e suficiente a fim de propor que tal criança era mesmo um híbrida. É claro que houve contestação de alguns cientistas que sugeririam que o fato de ter havido tal diagnóstico deveria ter sido por que a criança ainda se encontra em fase de crescimento e outros alegaram fortes temperaturas climáticas da era glacial podendo ter produzido uma pressão seletiva na criança estimulando sua anatomia robusta. Caso fique comprovado poderá afirmar que, este seria o 1º caso de cruzamento inter-racial, na paleantropologia. O problema era que seu crânio estava muito fragmentado dificultando um diagnóstico mais preciso e por esta razão, muitos especialistas preferiram aguardar novos resultados e novas descobertas. 102 Os paleoantropólogos responsáveis pelo estudo e pesquisa do mestiço português João Zilhão (Instituto Português de Arqueologia (ICREA – Universidade de Barcelona e da Universidade de Bristol) e Erik Trinkaus (Universidade Washington) afirmam uma possível troca genética, sugerindo um cruzamento sexual que culminou numa miscigenação ou uma inter–relação entre as espécies: neanderthal e humana moderna (Veja o anexo 02 uma entrevista com Dr. João Zilhão, da Univeridade de Bristol e ICREA da Universidade de Barcelona). Os defensores da tese Out of Africa refutam uma possível troca genética e o hibridismo. O Homo sapiens moderno substituiu espécies arcaicas e não mesclavam com elas. No momento os defensores da Out of Africa começam a ter cautela, diante das conclusões e esperam por outras mais reveladoras. “However, the skull of the skeleton is mostly missing which makes it difficult to be certain whether the child had some Neanderthal characteristics or was simply a robust human. Scientists have reached a deadlock until further evidence can be found” * (Haines, T. 2001. P 239). Apesar da maior parte do crânio estar inexistente em 2007 uma equipe de paleoantropólogos liderada por Dr. João Zilhão e Erik Trinkaus tenta reconstruir o crânio da criança de Lapedo (Lagar-Velho), sendo levado ao Serviço de Radiologia do Hospital Curry Cabral, (em Lisboa) para serem feitos testes de tomografia computadorizada, com o objetivo de medir o volume celebral, com o objetivo de tentar fazer uma possível reconstrução tridimensional dos fragmentos originais assim como detalhamento das estruturas internas, para proporcionar possíveis imagens, permitindo a pesquisa paleopatológica (http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/zilhao/vast2007.pdf). Após os exames, a equipe conseguiu fazer um molde de resina do crânio e da maxila inferior utilizada para iniciar a reconstrução facial da criança sendo realizada por Brian Pierson, em Nova Orleans, (EUA). Esta iniciativa foi financiada pelo Departamento de Antropologia da Universidade de Tulane (EUA) junto com o IPA (Instituto Português de Arqueologia). O objetivo da reconstrução crânio-facial era descobrir sua aparência da criança, enquanto estava viva. * Entretanto, o crânio do esqueleto, que a maior parte, está perdida, fazendo dificultar, o que poderia ser certamente, a criança ter tido alguma característica neandertal ou seria simplesmente, um humano robusto. Há cientistas que mantêm distanciados, deste beco sem saída, até que, futuras evidências podem ser encontradas. 103 Reconstrução crânio-facial da criança de Lagar-Velho realizada em 2007. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_S7Qz9a3DX6s/S2c-XBXVeKI/AAAAAAAAA0/As3gPbuwkqU/s400/Lapedo_cranio.jpg Podemos concluir que nossa espécie em algum momento, conseguiu evoluir separadamente dos neandertais, pois há diferenças genéticas marcantes (27 mutações no DNA neandertal que para os geneticistas sugere se tratar de uma espécie diferente do humano moderno evoluindo separadamente de nós), não havendo como afirmar que evoluímos através de hibridismo, pois os resultados genéticos mostram–se contrários a tal sugestão. Caso se prove no futuro, que a criança portuguesa era um mestiço não quer dizer que a origem da nossa espécie, seja um resultado disto e se de fato houve um contato tão intenso. Sugiro que ocorreu, ora de forma pacífica, ora de forma violenta, mas não se pode afirmae com exatidão como teria sido. Desde 1994 o modelo Multirregional vem sofrendo constantes críticas de geneticistas como Lynn Jorde (Universidade do Novo México) afirmando que deveria haver no passado um número elevado de seres humanos para acasalar e trocar genes (Ásia, África e Europa) evoluindo em nós humanos. Sabemos através dos registros fósseis que havia poucos humanos (neandertais e humanos modernos) e pré-humanos (Homo erectus) vivendo no velho mundo, por isto a tese de Wolpoff não é aceita e pesquisas genéticas com DNAmt mas em 2010, houve uma reviravolta, e os geneticiastas obtiveram outras conclusões. Referindo-se ao DNA de neandertais, em maio de 2010, uma equipe de cientistas moleculares Svante Pääbo, Richard E. Green e Hernán Burbano iniciaram uma pesquisa de sequenciamento molecular do genoma de neandertais através de DNA mitocondrial, sendo publicado na revista Science. Os pesquisadores coletaram amostras de três indivíduos neanderthais do sexo feminino; um osso que datava de 38 mil anos, um segundo osso que não possuía datação e um terceiro osso de aproximadamente 44,5 mil anos. 104 A equipe removeu de 50 a 100 mg de pó de cada osso para poder iniciar o trabalho de sequenciamento. O Objetivo desta pesquisa era de comparar o genoma de chimpanzés, neanderthais e humanos modernos de cinco localidades diferentes do mundo: África do Sul, África Ocidental, Papua Nova Guiné, China e a Europa Ocidental, para observar as mudanças genéticas e as características encontradas em cada grupo, ocorridas antes e depois da separação da população ancestral dos humanos modernos e neandertais. Pode-se dizer que esta pesquisa criou polêmica, pois testaria as duas teorias existentes sobre as origens dos humanos modernos: a tese Multirregional do Dr. Milford Wolpoff e a tese Out of Africa do Dr. C. Stringer. A conclusão da pesquisa demonstrou que o genoma neandertal aparece intimamente relacionado com o genoma de indivíduos da China e da Papua-Nova Guiné. Isto é surpreendente, pois não há, até o momento, nenhuma evidência fóssil colocando os neandertais naquela área. Para o geneticista, Richard E. Green e sua equipe o fluxo gênico entre neandertais e humanos modernos ocorreu antes da divergência de populações européias e asiáticas por volta de 100 mil anos (evidências fósseis, em Israel: Skhull, Tabun, Kebara e Qafzeh que demonstram ter havido naquela região, tanto humanos modernos, quanto de neandertais e um provável cruzamento interacial). A conclusão de que os neandertais estariam em média, mais próximos de pessoas da Eurásia do que dos indivíduos africanos, sem dúvida não derrubou a tese Out of Africa, ficando demonstrado que as populações africanas não possuiram nenhum relacionamento com os neandertais. A explicação de não haver traços de DNAmt em populações africanas seria por que estariam isoladas na África e depois ao migrar para outros locais (Europa e Oriente Médio), poderia ter ocorrido mistura de DNAmt sendo uma provável evidência dessa missigenação a Criança de Lagar-Velho, em Portugal. Podemos afirmar que a herança deixada pelos neandertais, quando se observa seu modus vivendis (habitavam cavernas, se alimentando de carne e coletando outros alimentos) e seus genes espalhados nas populações atuais da Eurásia, demonstra ter havido um tipo de assimilação havendo até provas fósseis (a criança de Lagar-Velho). Desta forma, confirmase tanto a tese de Wolpoff, como de Stringer (devido à falta de genes neanderthais espalhados em populações africanas modernas). Isto significa que o debate sobre as origens do homem anatomicamente moderno está longe do final. (http://www.sciencemag.org/site/special/neandertal/feature/index.html). (veja a entrevista que tivemos com o Dr. Wolpoff, da Universidade de Michigan, no anexo 04). 105 3º CAPÍTULO: OS PRIMERIOS AMERICANOS: 3.1 ANTIGAS E RECENTES ESCAVAÇÕES: Crânio do “Homem de Lagoa Santa” Fonte: Museu da PUC-Minas De acordo com a tese Multirregional de Wolpoff o ser humano moderno surgiu em três grandes regiões do mundo e ou segundo Stringer em algum ponto na África, nossa espécie humana surgiu há uns 200-150 mil anos atrás e se espalhou por todo mundo, inclusive o Brasil por volta de 20 a 15 mil anos. Neste capítulo, não mais trabalharemos com a paleoantropologia, já que esta ciência está voltada para os estudos das origens de nossos ancestrais (comportamentos sexuais e sociais, evolução e bipedalismo). Parte dos estudiosos sugere que os humanos modernos “invadiram” o continente americano ainda estando em debate quem, como e quando isto ocorreu. O objetivo neste capítulo é de resumir as ideias dos cientistas que estudam esse tema para que possamos ter uma melhor compreenção. Para falicitar o nosso estudo é mais viável trabalhar apenas com os dados da arqueologia definida por P. P. Funari, como ciência que estuda “sistemas socioculturais, suas estruturas, funcionamentos e transformações com o decorrer do tempo, a partir da totalidade de material transformado e consumido pela sociedade” (Funari, P. P. 1988. P 09). Os primeiros trabalhos arqueológicos ocorridos no Brasil, pertenceram ao Dr. Peter Lund (1801-1880), naturalista dinamarquês que entre 1835–1844 assim como Darwin, visitou o este país, interessado em sua botânica e nos fósseis de animais. Lund era um entusiasta, adepto a teoria diluviana ou catastrófica de G. Cuvier (1769–1832). Lund visitou cerca de 800 grutas, na região de Minas Gerais (Pedro Leopoldo, Santa Luzia e outros locais) e em 1842 descobriu o primeiro fóssil humano moderno no mundo apelidado de “Homem de Lagoa Santa”. Foram encontrado, junto das ossadas, restos de megafuana (Mastrodontes, Megatério, Glyptodonte e outros) considerado um achado inédito, para os padrões daquela época (Cartelle, C. 1994. P 117), similar, a descoberta de P. C. Schmerling em 1830, de dois crânios humanos e artefatos de pedra, misturados com ossos de rinocerontes e mamutes extintos (Howell, Clark F. 1969. P 10). Em seu relatório, Lund, especifica a coexistência das ossadas humanas, associadas com ossadas pleistocênicas (referente ao período Pleistoceno: ±1,75 milhões de anos até 10 mil anos). 106 “Achei esses restos humanos em uma caverna que continha, misturados com eles, ossos de diversos animais de espécies decididamente extintas, circunstância que devia chamar toda a atenção para estas interessantes relíquias. Ademais, apresentavam eles todos os caracteres físicos dos ossos realmente fósseis. Eram em parte, petrificados e, também, penetrados de partículas férreas o que dava a alguns deles um lustro metálico, imitante ao bronze, assim como um peso extraordinário. Sobre a remota idade deles não podia, pois, haver dúvida alguma” (Funari, P. P & Noelli, F. S. 2002. P 34). Para Lund, o “Homem de Lagoa Santa”, era um antidiluviano (quer dizer que era anterior ao Dilúvio mostrando–se contrário à tese de Cuvier) e portanto, essas ossadas não deveriam coexistir com a megafauna. Segundo C. Cartelle, (PUC–Minas) Lund abandonou seus trabalhos científicos, pois não queria se arriscar em questões filosóficas, que mais tarde, o darwinismo iria propor uma tese alternativa a contradição antidiluviana (Cartelle, C. 1994. P 117). Os achados de Lund estão na Dinamarca. Os sítios mineiros ficaram até o início do século XX, sem serem pesquisados, antes de 1926 (Padberg–Drenkpol) e de 1935 quando foi descoberto um crânio humano, na Lapa dos Confins. Nesta ocasião o arqueólogo H. V. Walter, queria confirmar a contemporanidade que Lund demonstrou ter existido entre “Homem de Lagoa Santa”, mastrodontes e preguiças gigantes e se os animais da megafauna eram realmente antigos. Somente na década de 50, descobriram formas de datações absolutas (que usam uma margem de segurança para precisar uma data qualquer, através de isópotos radiativos de elementos químicos o C14, que era dispendioso. Walter queria uma forma de datação confiável e graças a T. D. Stewart, diretor da divisão de Antropologia do Smithsonian Institution de Washington que sugeriu o uso da datação relativa por flúor desenvolvido por K. Oakley, do Museu de História Natural de Londres, que havia sido testada no crânio de Piltdown, descobrindo sua fraude. Os resultados foram: FIGURA. 11 RESULTADOS DOS TESTES DE FLÚOR NOS OSSOS DE CONFINS FEITOS POR F.J. McCLURE CINZA% FLÚOR% Osso fóssil n° 1 (de animal).............................................96,02..................0,3253 Osso fóssil n° 2 (de animal).............................................95,99..................0,3810 Osso fóssil n° 1 (de homem de Confins).........................95,96..................0,3893 Osso fóssil n° 2 (de homem de Confins).........................96,85..................0,2770 Osso de Vaca (recente)....................................................72,68..................0,019 Fonte: Walter, H. V. 1958. P 109. 107 Em 1954, quando ocorreu o Congresso Internacional de Americanistas em São Paulo, anunciou–se às conclusões finais: “O encontro de tanta quantidade de flúor nos ossos do nível inferior da Caverna de Confins, parece indicar que esses ossos, tanto humanos como os de animais, estiveram no mesmo espaço de tempo expostos à água contendo flúor. Isto significa que, se os ossos de animais representam espécies que desapareceram no fim da Plistocena, os ossos humanos devem ser igualmente antigos” (Walter, H. V. 1958. P 109). André Prous, arqueólogo da UFMG, discorda das conclusões de Walter, alegando que houve falhas ao comparar animais recentes (Vaca de Lapa Vermelha), com as discrepâncias, das porcentagens de flúor nos ossos humanos e do animal n°1 (Prous, A. 1992. 128-9). Não significa que os animais da megafauna, teriam ou não convivido com os homens modernos, já que em 1980, C. Cartelle, realizando pesquisas na Gruta de Brejões, na Bahia, descobriu um osso de Eremotherium (preguiça gigante), possuindo vestígios de ter sido descarnado por objeto cortante (Arquivos do Museu de História Natural. Vol. VI – VII. 1981-82. P 25-26), havendo presenças humanas com megafauna em outras regiões do Brasil, como no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí (Tenório, M. C. 2000. P 61) e famosos sítios dos Estados Unidos (Clóvis e Folson) onde na década de 20 a 40 pesquisadores, descobriram pontas lascadas incrustadas em ossos de animais extintos. De acordo com estas evidências, conclui–se que os primeiros habitantes das Américas, coexistiram com antigos animais. Quando os primeiros americanos chegaram à América? Acredito que seja complicado responder a questão mais polêmica da História da Arqueologia, pois envolve um debate de difícil consenso. André Prous comenta que o povoamento americano iniciou– se há 40 mil anos (de acordo com as evidências de Old Crow) e que há cerca de 30 mil anos parte da América do sul foi habitada devido os vestígios encontrados, na região centrooeste do Brasil, e somente há 10 mil anos todo o continente encontrava–se habitado. Para Niède Guidon, arqueóloga do Parque Nacional Serra da Capivara, (Piauí), propõe que a ocupação iniciou–se por volta de 60 mil anos, devido a vestígios de cinzas de carvão, descobertos indicando serem restos de fogueira, datados de 48 mil anos. Grande parte da Academia arqueológica não considera como válida esta data, sugerindo que a fogueira poderia ter ocorrido espontaneamente, pois há vestígios similares de materiais coletados na Serra do Cipó-MG, datados de 18 mil anos e na Lapa Vermelha, datados de 22,4 a 25 mil anos (Prous, A. 1992. P 131-132). Guidon se defende alegando que pistas no sítio possuem idades remotas, como as pinturas rupestres de 35 mil anos e dentes humanos datados de 15 mil anos (Superinteressante. N° 184. Jan 2003. P 76-7). Além disso, os pesquisadores acrescentam que aquele local era uma antiga floresta e que a combustão natural poderia afetar toda a selva, deixando marcas na geocronologia e não aqueles pequenos traços de cinzas. Também, há vestígios de presença humana em outros locais,como no Chile (Monte Verde), datados de 33 mil anos (Tenório, M. C. 2000. P 63). 108 Prous e Guidon concordam que os primeiros americanos teriam vindo através da Beríngia (oceanos de 100 m, sendo possível ter existido uma antiga ponte de terra ligando o Alasca a Sibéria). Pedro Paulo Funari, arqueólogo da UNICAMP, assim como outros arqueólogos, acredita que o sítio de Pedra Furada no Parque Nacional Serra da Capivara não seja tão antigo e que os restos de fogueira, podem ter sido provocado pela natureza, ao invés de ser algo feito pelo homem. Já as datações das pinturas de 35 mil anos poderiam ter sofrido contaminação que afetou na datação. Para este pesquisador, o “Homem de Pedra Furada” recebe destaques em vestibulares, meios de comunicação e em livros didáticos, enquanto que no meio científico, seja bem menos divulgado (Furani, P. P. & Noelli, F. S. 2002. P 41). Maria Beltrão, que havia sido arqueóloga do Museu Nacional, pesquisou sítios da Toca da Esperança localizada em Central, no sertão da Bahia e em Itaboraí, no Rio de Janeiro. A pesquisadora e sua equipe depararam–se com possíveis indícios de uma ocupação humana antiga, pois haviam sido encontrado peças líticas na camada de n° IV associados a ossadas de animais já extintos como um Chopper de quartzito, e levado para exames de traceologia, no Laboratório do Instituto de Paleontologia Humana de Paris (consiste em examinar traços ou marcas de corte, deixados por um objeto). A análise confirmou a utilização de 7 a 11 microtraços, bem significativos de que o objeto deveria ter sido usado por alguém. Além disso, foi descoberto no sítio fósseis de animais extintos, um possível furador em osso, sugerindo a existência de vestimentas e carapaças de moluscos (Beltrão, M. 2000. P 58 e 62). Para Maria Beltrão, a ocupação na América, como também, no Brasil, iniciou–se com a migração do Homo erectus a partir de 295 mil anos (de acordo com datações de urânio–tório), encontrados na camada IV, como a pesquisadora explica: “Embora até presentemente não tenham sido encontrados outros vestígios humanos além dos culturais, a datação mínima de 295 mil anos, obtida pelo método do urânio–tório para a camada IV, parece sugerir a presença de Homo erectus na América. Portanto, a possibilidade de ocupações humanas muito antigas na América se reforça tendo–se em conta que, durante os períodos frios do Quaternário, que se renovam a cada 100 mil anos, o nível dos oceanos fica mais baixo cerca de 100m, deixando disponível uma ponte de terra entre a Ásia e América” (Beltrão, M. 2000. P 35). Podemos concluir que as pesquisas de Beltrão e seus colaboradores seguiram normas metodológicas em arqueologia, muito bem realizadas e pode–se dizer que é bem atraente como já foi comentado anteriormente. A Academia de Arqueologia no Brasil, não acredita na possibilidade de uma migração de povos erectus para as Américas, devido à escassez de material encontrado, mas que se forem encontradas no futuro algumas suas ossadas. Até lá, grande parte dos pesquisadores se mantêm distante deste assunto (Funari, P. P & Noelli, F. S. 2002. P 27-8). As únicas ossadas encontradas na América remontam a uma idade de 12 mil anos, e grande parte das coleções, localizada na América do Sul (70 crânios), enquanto que a América do Norte detém apenas meia dúzia, limitando as investigações científicas. 109 Grande parte das descobertas que possuem datações mais elásticas, do tipo 15–60 mil anos são na verdade, vestígios de líticos, fogueiras, ossos de animais descarnados por ferramentas de pedra e outros exemplos. Traduzindo: com este tipo de material para ser analisado, torna–se difícil a interpretação e por este motivo, as teorias de Guidon e Beltrão, não são tidas como válidas (Funari, P. P & Noelli, F. S. 2002. P 39). Mas, o que Beltrão, Prous, Funari, Noelli e Guidon, por mais diferentes que sejam seus argumentos e suas propostas, possuem em comum a rota de migração dos primeiros americanos realizada a partir da Beríngia. No entanto, existem arqueólogos que apresentam outra teoria de como os nossos antepassados vieram para América? Dennis Stanford e B. Bradley propuseram na década de 90, que os Solutrianos povos europeus que viveram a partir de 30-20 mil anos, que desapareceram por volta de 19 mil, acreditam que houve uma migração deste povo para a América, cruzando o vasto Oceano Atlântico lembrando que os oceanos da Terra eram cerca de 100m mais baixos, se comparado, com os dias de hoje. Este argumento baseia–se nas semelhanças de instrumentos do sítio de Cactus Hill (Estados Unidos), com a confecção das lâminas solutrianas, sendo similares às indústrias de Clóvis e diferentes das indústrias siberianas e do Alasca. Além disso, há tribos de esquimós, com pequenas embarcações, de pesca, que cruzam constantemente, o Alasca até a Groenlândia (National Geographic Brasil. Mapa. Escala: 1 cm = 220 KM. DEZ. 2000. Ano 1. N° 8). Há arqueólogos que discordam da teoria de Bradley e Stanford, alegando falta de material arqueológico (antigas naus) e artefatos diferentes para serem associados com os Solutrianos. Para informação do leitor, já foram realizadas experimentações de naus, feitas de madeira e junco, que conseguiram realizar a travessia do Atlântico. A primeira tentativa ocorreu em 1893, quando os noruegueses, Shetelig, Magnus Anderssen e seus colaboradores, construíram uma fac–símile da nau Viking de Gokstad (encontrada em 1880), de 32 toneladas, feita de carvalho. O objetivo era testar sua mobilidade, elasticidade e desenvoltura, atravessando com sucesso o atlântico, passando por Bergen, Noruega até Newfoundland (Canadá) em 33 dias, sendo mais um navio de guerra, do que de transporte e viagens longas (Jones, G. 2ª ed. 1984. P 184). Outra tentativa ocorreu em 1970, usando um barco feito de junco egípcio, como um experimento do antropólogo e biólogo, T. Heyerdahl (1914–2002), ao realizar sua Expedição Rá II, partindo do Marrocos (Safi) e aportando em Barbados, em apenas, 55 dias menos tempo que Colombo gastou (70 dias), em 1492: “Conseguimos provar que a mais antiga forma conhecida de embarcação a cruzar os mares do Norte africano e as cercanias do Mediterrâneo poderia ter alcançado a América tão facilmente quanto as embarcações Vikings e caravelas” (Heyerdahl, T. 2000. P 361). Existem ainda pesquisadores que acreditam que a ocupação americana teria sido feita pelo Pacífico aproveitando a pesca abundante e o baixo nível do mar, podendo ter cruzado, colonizando algumas ilhas da Polinésia rumo a América do Sul. Esta teoria se baseia, nos artefatos e culturas dos habitantes sul–americanos distintos e em determinados sítios, mostrando–se mais antigos que os sítios da América do Norte (National Geographic Brasil. Mapa. Escala: 1 cm = 220 KM. DEZ. 2000. Ano 1. N° 8). 110 Mais uma vez, a Academia de Arqueologia discorda, alegando que cada tribo, estando num mesmo eco–sistema, não precisa possuir a mesma cultura. Além disso, não há registros arqueológicos de humanos que datam de 15 mil anos na região das ilhas da Polinésia. Realizou–se teste de navegação chamado Expedição Kon–Tiki, produzida por Thor Heyerdhal (1914–2002), biólogo e antropólogo norueguês, que em 1947, confirmou a possibilidade de uma travessia trans–oceânica. Sua razão ao realizar tal experimento era para provar a possibilidade, de que os povos da América do Sul já estabelecidos, poderiam ter percorrido mar aberto, indo colonizar a Ilha de Páscoa e algumas ilhotas da Micronésia. A base de sua teoria estava no fato de algumas representações culturais da Micronésia se faziam presente na América do Sul (os índios Aymara, do lago Titicaca, na Bolívia, estabeleceram a civilização de Tiahuanaco e construíram monumentos notáveis, havendo representações divinas da Polinésia: Kon–Tiki), similares aos aspectos sociais (hierarquia baseadas, em reis–sacerdotes, comum na América do Sul e na Micronésia) e também, determinadas plantas encontradas na Ilha de Páscoa, poderiam ter sido transportadas, para aquele local, como: batata, mandioca, pimenta e abóbora (Heyerdahl, T. 2000. P 132, 245, 310). Utilizando embarcações de junco e correntes marítimas (da costa do Peru até a ao Equador meridional e por sua vez até a Micronésia), contendo vela, cabana, leme e uma tripulação composta por cinco noruegueses e um sueco, partindo do Peru (Callao), em 28 de abril, e aportando em Roroia (arquipélago de Taumotú) na Micronésia em 7 de agosto, levando 101 dias (Heyerdahl, T. 6ª ed. 1955. P 9–19),comprovando a possibilidade. Diante das aventuras científicas em cruzar os oceanos a mensagem é clara: não duvide da capacidade dos povos antigos. Certamente não duvido que os Vikings tenham aportado na América do Norte, no início do século XI (julho de 1001), pois há uma lista de evidências que colaboram com tal empreitada tendo suas embarcações (Knorr e Skudlev) para provar sua manobrabilidade no oceano. As expedições de Heyerdahl comprovam a teoria de que as culturas sul–americanas já estabelecidas e contendo uma sociedade mais burocratizada, tinha iniciado uma migração para outras áreas, em direção ao Pacífico Sul, enumerando os argumentos de sua hipótese, escrevendo outro livro. Coloco a tese do Kon– Tiki, como inconteste. Infelizmente, não há provas incontestáveis de que os primeiros americanos poderiam ter navegado pelo Atlântico ou Pacífico Sul, entre: 20–12 mil anos. Então, como ocorreram as primeiras povoações? Para Prous e Funari, a teoria mais segura e confiável é de que a partir da Beríngia, os povos nômades, viajando a pé da Ásia a América, atravessando o corredor dos glaciares Cordillian (na Califórnia) e Laruentina (No Meio–Leste dos EUA e Canadá), sendo uma passagem natural, poderia ter sido percorrida. Por este motivo, sou levado a crer que estes cientistas estejam com razão. Há pesquisadores que acreditam que tais migrações, poderiam ter sido feitas utilizando faixas costeiras ao invés do corredor, usando pequenas embarcações (similares aos esquimós), costeando o litoral e não se aventurando ao mar aberto, estabelecendo pontos de colonização e depois partindo para o interior do continente (National Geographic Brasil. Mapa. Escala: 1 cm = 220 KM. DEZ. 2000. Ano 1. N° 8). 111 3.2 MODELO FOLSON E CLÓVIS: Numa escavação ocorrida em 1927, em Folson, Novo México (EUA), encontrou–se pontas de lanças, feitas a partir de pedras, presas em fósseis de animais já extintos. Em 1932, pontas de lanças feitas de pedras também foram descobertas, em Clóvis, Novo México. Edgar B. Howard, da Universidade da Pensilvânia, em 1949 descobriu que as pontas de Clóvis eram mais antigas do que as de Folson, datadas em 9,5 mil anos (James, P & Thorpe, N. 2001. P 314-315). A partir dessa evidência, criou–se um modelo universal que explicasse quem era aquele povo, como e de onde vieram definindo que o povoamento americano ocorreu no final da última Era Glacial (por volta de 10 mil anos), por povos nômades de origem asiática (mongólica), que atravessaram a Beríngia, seguindo as manadas de megafauna, que era base de sua dieta alimentar (Tenório, M. C. 2000. P 35), sendo ancestrais dos índios sul–americanos. Havia pesquisadores que propunham que a caça excessiva desses povos teria causado a extinção das megaferas. Hoje em dia, acredita– se na hipótese de que mudança climática afetaram as pastagens, levando estas criaturas a extinção. Paul Rivet, (1876-1958), etnólogo francês escreveu em seu livro: As Origens do Homem Americano (1957), afirmando poder ter havido uma múltipla migração étnica no povoamento do território americano, sugerindo que os aborígenes australianos, melanésios e outros tipos étnicos teriam vindo rumo a América do Sul propondo portanto, que os índios do sul eram diferentes dos índios do norte, rompendo a ideia tradicional do modelo Clóvis-Folson. Para Rivet, as evidências estariam no fato de haver crânios dolicéfalo encontrados na Patagônia (Argentina), que apresentam semelhança com crânios de aborígenes australianos. “Há muito tempo se assinalara nas coleções de crânios patagões a existência de um tipo platidolicocéfalo, isto é, alongado, estreito, rebaixado, com uma fronte estreita e fugidia, uma forte glabela, uma saliência superorbicular muito pronunciada embora curta a região occipital bem desenvolvida, tipo que, se não pode relacionar-se como se pretendeu com o tipo quaternário de Neandertal parece apresentar alguns pontos de semelhança com crânios australianos” (Rivet, 3ª Ed. 1960. P 85). Além dessa informação, Rivet também sugere que o povo Čon da Patagônia possuía uma similaridade cultural-fonética com os povos aborígenes australianos. “A língua Čon apresenta semelhanças evidentes e muito numerosas com as línguas australianas: registra-se nada menos que 93 correspondências de palavras e essas palavras pertencem aos elementos mais estáveis das línguas, isto é, aquelas que designam partes do corpo e fenômenos naturais” (Rivet, 3ª Ed. 1960. P 87-88). 112 E acrescenta que grupos melanésios teriam chegado a América dando origem ao grupo étnico conhecido como Homem de Lagoa Santa descoberto em 1842, no Estado de Minas Gerais/Brasil, pelo naturalista dinamarquês Peter Lund (1801-1880). “Este tipo étnico de Lagoa Santa ou paleo-americano, certamente antigo no Novo Mundo, acha-se estreitamente aparentado, por todos os seus característicos, como o tipo hipsidolicocéfalo ou dolico-acrocéfalo de Biasutti e Mochi, dominante na Melanésia” (Rivet, 3ª Ed. 1960. P 98). Nem todos os arqueológicos da década de 50, ficaram satisfeitos com a sugestão de Rivet, pois criava polêmica e forte discussão a cerca dos primeiros americanos e suas origens. Uma das causas de polêmica, atribuída a Rivet, seria o fato de que ele propunha que os australianos aborígenes teriam vindo para América do Sul passando pela Antártida e não considerando a rota da Beríngia mais acertada para ser atravessada pelos primeiros americanos. “supor que os australianos tivessem no curso dos anos contornado o Pacífico pelo norte e depois de atravessar a América, de norte a sul, houvessem sido recalcados até a extremidade mais meridional deste continente, não é coisa admissível logicamente” (Rivet, 3ª Ed. 1960. P 91). Sem dúvida as sugestões de Rivet, contrariava o modelo Clóvis-Folson elaborado nos anos 40 e 50 pelos arqueólogos norte-americanos. O que a arqueologia norte-americana havia descoberto nessa época eram pontas de pedra, restos de fogueiras, alguns dentes, ossos de animais da megafauna que foram descarnados, pouquíssimos esqueletos contendo crânios que pudessem ser comparados com os crânios achados em Lagoa Santa, Brasil, que poderiam possuindo uma datação acima de 10 mil anos A. P. A partir da década de 70, houve uma explosão de novos pesquisadores buscando novos sítios arqueológicos que pudessem contrader o modelo Clóvis-Folson. Concluiu–se que existem sítios com datações posteriores ou contemporâneas ao de Clóvis, como: Velho Crow (Canadá), Monte Verde (Chile), Pedra Pintada (Brasil), Lagoa Santa (Brasil) e Meadowcroft (Estados Unidos). Já os sítios de Cálico (Estados Unidos), Taima–Taima (Venezuela), Pendejo (Estados Unidos) considerados de difícil interpretação sofreram contestações, quando se tentou datar suas camadas. Havendo uma grande quantidade de material coletado, em Monte Verde, no Chile, escavado por Tom Dillehay (Universidade de Kentucky) durante 1977 a 1985, contendo lanças, pedras lascadas, restos de fogueiras, fundação de cabanas, ossadas de vários animais, que deveriam ter servido de alimentos para aquela comunidade (James, P & Thorpe, N. 2001. P 323-324), alguns artefatos foram datados entre 13,5–11,8 mil anos (Tenório, M. C. 2000. P 40). Estes vestígios apresentam uma variação alimentar, pois a quantidade de restos de megaferas era pequena e a base da dieta dessa população consistia em vegetais, peixes e caça de animais pequenos (anfíbios, roedores, lhamas), demonstrando haver resultados contrários ao modelo Clóvis. 113 Antes de tentar responder a estas contradições, há outros sítios interessantes, no Brasil, em Monte Alegre, no Pará, escavado por Anna Roosevelt, curadora do Museu Field de Chicago e da Universidade de Illinois realizou escavações na região, deparando–se com pinturas rupestres, sendo descritas 56 datações de C14, indicando uma idade de 11,2 e 10 mil anos. Os líticos descobertos tiveram 13 datações por termoluminescência mostrando idades contemporâneas ao dos sítios norte-americanos com tradição cultural baseada na pesca, coleta e caça de animais pequenos provendo o necessário para aquelas a população. De acordo com estas provas, a pesquisadora concluiu: “A existência de várias tradições culturais sul-americanas contemporâneas, mas distintas da tradição Clóvis não corrobora a hipótese de que os caçados de animais de grande porte norte-americanos fossem ancestrais dos sul–americanos. A ênfase na caça de grande porte raramente é encontrada na América do Sul, onde a pesca, a coleta de moluscos e de plantas e a caça de animais menores eram mais importantes para a subsistência das pessoas” (Tenório. M. C. 2000. P 49). Para André Prous, arqueólogo da UFMG e autor de Arqueologia Brasileira desde a época da missão franca–brasileira, em 1974 realizou escavações em sítios de Minas Gerais, tais como: Pedro Leopoldo, Serra do Cipó, Santana do Riacho e Lagoa Santa, considerando como locais de ocupação do “Homem de Lagoa Santa”, havendo algumas pistas que dificultam interpretações. Em compensação, sabe–se que o modus vivendis daquele povo, por exemplo: usavam quartzo, para fazerem instrumentos de corte, usavam o ocre envermelhado e alimentavam–se de vegetais (pequi, coquinhos e jatobá), pesca e caça de animais de pequeno porte (porcos do mato, tatus e roedores), preenchendo um período de tempo de 10–8 mil anos (Tenório. M. C. 2000. P 102-106). Em Rockshelter, (Pensilvânia), James Adovasio, da Universidade da Pensilvânia, iniciou suas pesquisas, no sítio de Meadowcroft, entre 1973–1977, descobriu vestígios inquestionáveis de ocupação datados de 9.000 anos. Mais abaixo, encontraram artefatos de pedra, datados por radiocarbono 12,5–12 mil anos. Estes indícios causaram polêmica, não por causa dos artefatos de pedra, que mostravam sua inquestionabilidade, mas pelos testes de datação que poderiam ter dado errado, em algum ponto. Adovasio, testou exaustivamente os achados que apontaram para o mesmo resultado, sabendo–se que Meadowcroft, é um sítio reconhecido como, um dos mais antigos de ocupação das Américas (James, P & Thorpe, N. 2001. P 321-322). Na Califórnia, durante a década de 60, Louis Leakey, acreditava que descobrira evidências de ocupação, em Cálico (EUA), que interpretou como artefatos, datados com a idade de 50 mil anos. Dos 12 mil artefatos descobertos, apenas três apresentaram como testemunha de produção humana e que havia sido demonstrado ter sofrido ações geológicas (água, por exemplo) (James, P & Thorpe, N. 2001. P 320). 114 No Canadá, no território de Yucon, em Old Crow (Velho Corvo) descobriu–se vestígio de instrumentos de pedra e ossos de mamutes trabalhados possuindo a idade dos materiais datados através de radiocarbono em média de 29,1–25,75 mil anos. Há pesquisadores que discordam da datação, alegando contaminação das ferramentas de pedra e não havendo uma estratigrafia confiável, dificultando os estudos. No sítio de Taima–Taima (Venezuela), descobriram–se artefatos de pedra em forma de folha, datados entre 14,4–11,9 mil anos, apresentando uma estratigrafia complexa e pouco confiável, fazendo com que muitos arqueólogos duvidem não dos artefatos, mas da datação, pois, apresentavam sinais de contaminação (Tenório. M. C. 2000. P 40-41). Em Pendejo, Novo México (EUA) Richard MacNeish, realizou escavações, descobrindo artefatos e restos de fogueiras, datados por radiocarbono, com a idade de 35 mil anos, sendo severamente contestado por outros arqueólogos, pois seus artefatos poderiam ser ação da natureza. Até que se prove através de novos dados e acúmulo de material, os céticos continuam a afirmar que Pendejo possa ser um sítio considerado pós– Clóvis, mais de 9,0 mil anos A.P. Vemos que após a década de 70, ocorreu uma explosão de dados e um aumento das informações arqueológicas e naturalmente, aumentou a documentações de sítios arqueológicos trazendo provas contrárias ao modelo universal. Sabemos que são poucos os locais hoje reconhecidos, como Pré–Clóvis isto é, superiores há 10 mil anos. Observando, as inúmeras informações destes sítios de ocupação, propõe–se que os defensores do modelo universal e nortecentrista (Clóvis-Folson) tentem responder uma lista de questões, como: 1ª Se consideramos que a cultura Clóvis seja realmente a mais antiga dos povos sul–americanos, então porque Monte Verde possuía uma datação confiável, mais antiga do que Clóvis? 2ª Por que as datas de alguns sítios sul–americanos (Monte Alegre, Lagoa Santa, Monte Verde e Pedro Leopoldo), podem ser descritos como contemporâneo ao sítio de Clóvis possuindo 9,5 mil anos ou mais? 3ª Porque os habitantes de Monte Verde, Pedra Pintada, Pedro Leopoldo (Lapa Vermelha IV) e Santana do Riacho possuíam uma dieta alimentar mais variada, do que o povo de Clóvis? 4ª Se consideramos que a cultura Clóvis seja realmente, a mais antiga dos povos sul–americanos, então por que, alguns instrumentos líticos, da população da América do sul diferenciam–se do modelo Clóvis? 5ª Sabendo que a população de Santana do Riacho, Pedro Leopoldo e Lagoa Santa, pertencem ao grupo étnico, estipulado por Lund, como “Homem de Lagoa Santa”, porque os resultados das pesquisas anatômicas apontam para uma morfologia craniofacial negróide, ao contrário de se encontrar uma morfologia craniofacial mongolóide, proposta pelo modelo Clóvis? 6º Por que as pesquisas através do estudo no “Homem de Kennewick” (esqueleto descoberto nos USA) revelam–se caucasiana diferenciando da proposta do modelo Clóvis-Folson? Concluindo, os pesquisadores Anna Roosevelt, André Prous, Adovasio, Tom Dillehay, Paulo Pedro Funari, Niède Guidon, mostram–se contrários ao modelo Clóvis, por isto, temos então,outra questão: Quem (ou quais tipos étnicos) migrou para América? A resposta para esta pergunta será comentada no próximo tópico. 115 3.3 MODELO DOS DOIS COMPONENTES BIOLÓGICOS PRINCIPAIS: Reconstituição facial de Luzia, descoberta em Lapa Vermelha IV, em 1975 Fonte: www.hystoria.hpg.ig.com.br/luzia.html O mais famoso crânio estudado no Brasil pertencente a uma garota, apelidada de Luzia, encaixada dentro do grupo étnico do “Homem de Lagoa Santa”, com uma estatura baixa (1,50m) desconhecia a agricultura, devendo ter entre 20–25 anos quando faleceu. O que mais impressiona no crânio é uma feição negróide, algo que questiona seriamente o modelo Clóvis-Folson. A história desta jovem divide–se, em duas partes. A primeira parte ocorreu durante a década de 70, com a expedição franco–brasileira, liderada por Annete Lamming–Emperaire, que (1974–1976) escavou o sítio de Lapa vermelha IV, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, desenterrando 12 metros de terra e para surpresa geral, descobriram restos de um raspador de quartzo, parte do esqueleto e um crânio, parecendo ser feminino, devido à forma, em que os ossos se encontravam na camada, sugerindo que não havia sido enterrada, mas ter caído acidentalmente. Datados através de radiocarbono, descobriu-se que possuía a idade, entre: 11–11,5 mil anos, provando que oprova fóssil tinha uma idade contemporânea a Tradição Clóvis. A segunda parte aconteceu a partir do material levado ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, permanecendo empoeiradas caixas do acervo. Anos se passaram e quando foi redescoberto, em 1998, por Walter Neves, anatomista da USP e coordenador do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (IBUSP), passou a analisar a anatomia craniofacial, percebendo que se tratava de um espécime negróide (demonstrando haver correlação com os crânios aborígines: australos–melanésios), ao invés de ser mongolóide (povos oriundos da Ásia Central: mongóis), que estava na América. Segundo o modelo Clóvis, a população que primeiramente chegou a América, eram povos nômades e mongolóides, havendo então uma homogeneidade morfológica que Neves, desde os anos 80 vem questionando. Com objetivo de reconstituir a face do crânio de Lapa Vermelha IV (Luzia), em 1999, enviado para Richard Neave (Universidade de Manchester) demonstrou que as análises de Neves estavam corretas e a reconstituição encontra–se atualmente no acervo do Museu Nacional – RJ (Funari, P. P & Noelli, F. S. 2002. P 34-35). 116 Agora, o anatomista possuía provas concretas além de 40 crânios de pessoas, descobertas, em Santana do Riacho–Mina Gerais, Dr. Neves concluiu sua pesquisa afirmando que “pelas características, os grupo que viveu há milhares de anos não era antepassado dos atuais índios brasileiros” (Veja. 12 de Maio. 1999. P 94), e que houve duas levas de migração-ocupação: a primeira envolvendo grupos nômades de indivíduos de características negróides e a segunda de indivíduos mongolóides. De acordo com estudos comparativos de crânio das populações de Lapa Vermelha IV (Luzia), Palli Aike (Chile), Santana do Riacho (Scientific American Brasil. Ano 02. N° 15. Ago de 2003. P 24-31) e Serra do Cipó (Alvin, Marília C. Arquivos do Museu de História Natural. Vol XIII/ XIV. P 107-111), assemelham–se muito mais com africanos e aborígines ao invés dos grupos asiáticos (Ainu e outros). Veja o quadro abaixo: FIGURA. 12 AS CARACTERÍSTICAS NEUROCRANIANO ENCONTRADAS POPULAÇÕES DO NORTE DA ÁSIA Face: altas, larga e retraídas Crânio: curtos e largos Cavidade Nasal e Ocular: altas POPULAÇÕES DA AMÉRICA DO SUL (MG) Face: baixa, estreita e projetada Crânio: longos e estreitos Cavidade Nasal e Ocular: baixas e largas Fonte: Scientific American Brasil. Ano 02. N° 15. Ago de 2003. P 24-31. Com base nestes dados, foi necessário criar uma teoria, que explique o aparecimento destes indivíduos em nosso país e no continente há mais de 11 mil anos, criando um novo modelo: “dos dois componentes biológicos principais”, devido à ocorrência de diversidade biológica e cultural que para Neves, tais pessoas teriam cruzado os oceanos numa migração transoceânica, não muito provável. O anatomista sugere que o Estreito de Bering seria a porta de entrada mais satisfatória (Scientific American Brasil. Ano 02. N° 15. Ago de 2003. P 24-31). O Dr. W. Neves, juntamente, com Danusa Munford, da UFMG, estudam a variação morfológica dos materiais encontrados pelos arqueólogos, desde a década de 90, realizando um levantamento, das ocupações humanas, desde Luzia até o aparecimento dos europeus na América, que ainda, em fase de preparação, parece provável que a conclusão venha a garantir, que o aparecimento dos alguns grupos mongolóides, em determinados locais, tenha surgido de repente. Para Funari, arqueólogo da UNICAMP as implicações dos estudos de Neves, não há dúvida que essa população adversa, adentrou no território americano, mas o que aconteceu com esses indivíduos? Será que foram substituídos pelos grupos mongolóides? Ou houve algum tipo de intercruzamento étnico? Ou teriam desaparecidos? A cada nova descoberta, ocorre o surgimento de novas perguntas. Funari resume outro ponto de vista, abordado por Martha Lahr e Robert Foley, da Universidade de Cambridge, Inglaterra, argumentando que: 117 “... Certas semelhanças entre os restos de paleoíndios e os aborígines australianos, podem ser explicadas como características que ambos os grupos herdaram de um ancestral comum, perdidas pelos mongolóides nos últimos 15 e 10 mil anos” (Funari, P. P & Noelli, F. S. 2002. P 37). Nem todos os cientistas, estão convencidos pelos resultados obtidos, por Neves e seus colaboradores, argumentando que os números de crânios, não apresentam quantidade significativa e avolumada o bastante para criar um modelo com dois componentes biológicos. Em compensação, os críticos não apresentam “a quantidade ideal” de crânio para serem devidamente estudados. Sabemos que grande parte das descobertas de esqueletos provém da América do Sul, segundo Prous sugere que o grupo do “Homem de Lagoa Santa” parece ter existido em outros locais longe de Minas Gerais, com características morfológicas similares a indivíduos descobertos em Tequendama (Colômbia) e na Bahia (Tenório, M. C. 2000. P 102). Por outro lado, pesquisas genéticas com DNA, vêm provando homogeneidade constada por W. Neves e pelo geneticista, da Universidade de Michigan, Andrew Merriwether, examinou 1.800 indivíduos de ameríndios vivos e de esqueletos encontrados em sítios arqueológicos. Sua conclusão foi que encontrou nove grupos genéticos, que atualmente estão presentes no continente americano. Os testes confirmaram que os genes de 1800 são mais compatíveis com a população da Ásia Central do que com os siberianos que por sua vez, migraram uma única vez para América, mas não sabe precisar o período de tempo para a ocupação das Américas. No momento há indícios arqueológicos de presença não–siberiana na América, apresentado por um esqueleto caucasóide (branco) de um indivíduo de 40–55 anos, descoberto no Estado de Washington, em 1996, apelidado de: “Homem de Kennewick”, datado entre: 10–7 mil anos, possuindo um ferimento mortal na pélvis, provocado por uma lâmina de ponta de pedra. Outro esqueleto caucasóide descoberto por volta de 1947 em Nevada, chamado de “Homem da Caverna do Espírito”, datado de 7,4 mil anos. A presença caucasóide na América do Norte para Thorpe, não significa a presença de imigrantes europeus, pois há caucasóide no Japão, o povo Aino, que provavelmente deve ter tido traços genéticos com os esqueletos descobertos nos Estados Unidos (James, P & Thorpe, N. 2001. P 333-4). O que se pode comentar sobre as conclusões das pesquisas genéticas? O mais notável nas pesquisas de DNA, que possuí uma marca de erro muito ínfimo, acredita-se que se este teste coletasse amostras de DNA da população étnica do “Homem de lagoa Santa” descoberta, em Lapa Vermelha IV, Serra do Cipó e Santana do Riacho, seus resultados seriam outros, mas infelizmente, o DNA não foi preservado nestes esqueletos. Merriwether realizou testes que envolveram somente, os indivíduos de Kennewick e da Caverna do Espírito juntamente com os índios atuais das Américas do Sul e do Norte e mais tarde os resultados foram comparados, ficando óbvio que indicavam que a 1a presença nas Américas de humanos era de mongolóide e a presença de negróides na América do Sul, defendida por Neves, foi ignorado pela pesquisa de DNA. Apesar das críticas de alguns pesquisadores de outras áreas do conhecimento, posso afirmar como válida a teoria de Neves que no futuro, apareça esqueletos como de Luiza, com DNA preservado, para que possamos confirmar a tese de Neves e colaboradores. 118 3.4. AGRICULTURA, CERÂMICAS E SAMBAQUIS: De acordo com Anna Roosevelt, os paleoíndios eram nômades, (a nomenclatura: paleoíndio, geralmente usada, pelos arqueólogos, para definir a cultura do homem pré– histórico americano, sendo: negróides, caucasóide ou mongolóide, numa época anterior ao uso da cerâmica e agricultura). Sabemos agora quem eram os primeiros americanos (negróide, caucasóides e mongolóides), de onde vieram (pela Beríngia) e quando vieram (Prous, afirma que foi a uns 40 mil anos). O que aconteceu depois? Ao estabelecer em determinados territórios, os plaeoíndios não conheciam a agricultura e não faziam cerâmicas. De acordo com a tese de W. Neves, havendo a segunda leva de ocupação realizada pelos mongolóides ao se fixaram na Amazônia, desenvolveram formas de cultivo e de arte (cerâmica). A cerâmica brasileira, segundo Funari, foi utilizada pelo homem da Amazônia (Monte Alegre e Taperinha) sendo recipientes de barro, datados de pelo menos, 7–6 mil anos, permitindo a comunidade a assar, torrar, armazenar e transportar determinados alimentos e servindo também para propósitos ritualísticos, isto é, urnas funerárias consistindo em ossos de seres humanos (Funari, P. P Noelli, F. S. 2000. P 80-1). No Oriente Médio, em Jericó (Israel), possuía indícios que remontam há 10 mil anos atrás e o uso da cerâmica deveria ter iniciado posteriormente. Maria Tenório, do Museu Nacional, ao estudar a relação entre o uso das cerâmicas e a agricultura, afirma que pelo menos na América seria indemonstrável que a cerâmica precedeu o cultivo: “Se pensarmos que na Meso–América a cerâmica só irá aparecer quase 05 mil anos depois do aparecimento das primeiras espécies cultivadas e que, ao mesmo tempo, na Europa Setentrional, a cerâmica surge abundantemente muito antes do desenvolvimento da agricultura, podemos ter uma idéia como pode ser incorreta a utilização da cerâmica como evidência da presença de cultivo” (Tenório, M. C. 2000. P 261). Qual foi à motivação encontrada para que estes indivíduos deixassem de ser coletores e caçadores, para serem agricultores? Esta pergunta pode causar polêmica, e este não é o objetivo. Sabemos que a agricultura americana surgiu independente do resto do mundo e grande parte das plantas cultivadas eram nativas na América, além disso, é certa que com a agricultura, os alimentos multiplicaram–se, com afirma, W. Sanders e J. Mariano: “Em todas as sociedades agrárias, sejam elas tribo, chefia ou Estado pré– industrial, uma ou apenas algumas plantas fornecem a maior quantidade de alimento para a grande maioria da população” (Sanders, W. T & Mariano, J. 1971. P 71). 119 Alguns cientistas estão inclinados a pensar, que com o advento da agricultura, o homem conseguiu domar a natureza. Não é verdade. Acredito que: quando o homem passou a plantar, começou a depender dos fenômenos naturais, pois estava fixo a terra (sedentário). Para não estender muito, grande parte dos arqueólogos admite uma dificuldade em responder, com segurança à pergunta: porque os coletores e caçadores tornaram–se agricultores? Devido à falta de informações mais precisas vindas do campo, cada cientista interessado no assunto, propõe um modelo para explicar porque o homem começou a plantar. O arqueólogo Gordon Childe, em 1961, propôs que a domesticação de plantas havia sido um resultado de grandes transformações ecológicas ocorridas na Europa após a última Era Glacial. L. Braidwood discordava de Childe, pois acreditava que o advento da agricultura havia sido um processo cultural, ao contrário das pressões de mudanças ambientais. Por outro lado, Kent Flannery, em 1968, propôs a teoria de que deveria ter ocorrido um desequilibro profundo na dieta alimentar de uma determinada população caçadora e coletora, e a solução era realizar experimentos com plantas (agricultura), Elman Service, em 1971, argumentava que determinadas populações tinham um problema: a escassez de recursos naturais provocados por um aumento de consumo, gerando um caos em sua comunidade e a solução encontrada teria sido a agricultura, tese defendida também por Cohen (Dias, O & Carvalho, E. Arquivos do Museu de História Natural. Vol VI-VII. 1981-1982. P 192-193). Por fim, o arqueólogo francês, André Leroi– Gouhan, em 1981, sugeriu que o início da agricultura foi devido o aumento da população aliado ao processo de sedenterização. Assim podemos enumerar as causas do surgimento da agricultura: a mudança ambiental ocorrida no Holoceno Inferior (de maior ou menor grau), a escassez de recursos, aumento demográfico e o conhecimento acumulativo (Tenório. M. C. 2000. P 260-261). Há pesquisadores, como Rand e Rose Flem–Ath, que trabalham com a hipótese de que a Antártida teria sido o continente da antiga Atlântida, desaparecida devido a forças climáticas, a partir de 12-10 mil anos e seus sobreviventes, ao procurar outros locais para fugir da calamidade, foram parar na América, África e Ásia. Seus conhecimentos em agricultura foram repassados aos povos que já estavam estabelecidos nestes continentes. Sua tese baseia–se em similaridades culturais, deduzindo que os povos de diversos locais seriam remanescentes de uma cultura atlante (Flem–Ath, R & Flem–Ath, R. 1996. P 3567). Nenhum arqueólogo que conheço, acreditaria nesta teoria, pois, caso a Antártida tivesse sido o continente que abrigou a cidade de Atlântida, então era de se esperar encontrar vestígios antigos (anteriores há 10 mil anos). Não acredito que seja possível encontrar, pois as geleiras existentes ali começaram a se formar, no período Oligoceno (35– 23 milhões de anos), cobrindo toda a área e, além disso, nenhum vestígio de ruínas ou ocupação foi encontrado, desmerecendo nossa atenção. Quando teria iniciado a agricultura? Depende de que continente você quer tratar. Entre 10–8 mil anos, no Oriente Médio iniciam–se algumas experimentações; na América de cultivo de milho no México há uns 5 mil anos e no Brasil há indícios de ter iniciado a 4 mil anos (na fase Unaí), com descoberta do milho, amendoim e outros, podendo esta data recuar mais para o passado (ver livro o de: FUNARI, Pedro Paulo & NOELLI, F. S. Pré– história do Brasil). 120 Na América, as primeiras populações que viviam dos alimentos gerados pelo domínio das plantas, devendo conhecer a técnica de coivara, que consistia em queimar uma determinada parte da região, para plantio, com o objetivo de limpar a superfície, que será usado e a quantidade de território para coivara, dependia da quantidade da população local. Na comunidade, poderiam ter existido inúmeras roças e assim, ter havido determinadas áreas que ficavam em repouso. O leitor deve imaginar porque o advento da agricultura pode ser considerado algo tão importante? Bem... A conseqüência marcante deste acontecimento seria o aumento de grandes aglomerados urbanos (polis grega, cidades faraônicas, mochicas, maias e outras), que mais tarde deu lugar às civilizações modernas, pois ao plantar e sendo a comunidade bastante numerosa (talvez, uns 1.000 habitantes), seria necessário, dividir as pessoas que iriam arar a terra ou iriam tomar conta da terra evitando que algum estrangeiro, animal ou outra pessoa, roubassem os grãos (criando a divisão social: camponeses e o exército). O segundo passo seria dado quando ocorresse à colheita necessitando contabilizar os grãos, de modo que cada um pudesse ter o direito ao que se produziu (nascendo à escrita e a contabilidade), e a posteriori seria interessante, que essa comunidade construísse um celeiro e uma fortificação em torno do aglomerado urbano, com o objetivo de abastecer a população, caso houvesse uma necessidade ou emergência (nascendo à matemática e a engenharia). Existem casos, de que certos grãos, teriam de ser plantados na época correta (na lua cheia ou lua nova), criando uma forte ligação com os astros sendo necessário estudá–los para fazer um cálculo mais preciso de quando houvesse uma próxima colheita e qual seria a quantidade de grãos a ser plantado e coletado no futuro (nascendo a economia e o calendário, dividido por meses). A agricultura, também foi responsável pelo surgimento de mitos da antiguidade. Nas comunidades indígenas dos algoquins nos Estados Unidos, conta que a representação do Grande Espírito havia conversado um rapaz, num sonho e que teria lhe entregado uma planta, o milho e que desta forma, este alimento teria sido usado para alimentar sua tribo (Spence, L. 2ª Ed. 1997. P 31-32). O povo Maia e Asteca possuem lendas sobre a origem do milho muito similar ao dos algoquins, e sabemos que este grão tornou-se a base da sua alimentação e que dela faziam-se tortilhas. Segundo o mito da mandioca dos índios Tupis, um alimento básico da tribo, nasceu no túmulo de uma criança de nome Mandi. A história dos mitos gregos, romanos, Maia, Asteca e de muitas outras civilizações possuem ligação com a astronomia que mais tarde, se transformou na base de crenças populares, com o objetivo de explicar o seu mundo. “Desde a pré–história, o estudo do céu deve ter provocado um movimento duplo do pensamento: a busca de leis naturais, imutáveis que em nenhum lugar como no céu aparecem de forma tão evidente e a tentação de colocar o céu, aparentemente inacessível à primeira vista, seres sobrenaturais e todo–poderoso.” (Verdet, Jean- Pierre. 1987. P. 14). 121 Quando estudamos os mitos antigos relacionamos com os cosmos sendo interpretado como sinais divinos (movimento do sol, lua, planetas, estrelas e cometas) e para controlar as massas em constante crescimento, seria necessário construir imensos prédios públicos que chamamos de templos alinhados com esses astros. Isto explica a existência de pirâmides-templo da cultura Maia e Asteca (Pirâmide do sol e da lua de Teotithuacán), dedicada aos deuses celestes como a pirâmide O Castelo, em Chichen-Itzá encontra-se alinhado com os astros. A grande pirâmide de Gizé, no Egito (na verdade uma tumba e não um templo) está alinhada com os quatros pontos cardeias e com constelação de Orion. O mesmo acontece na Mesopotâmia, o Ziggurat localizado na cidade de Ur que está alinhado com os pontos cardeais (Leick, G. 2003. P 147). A cidade Assur (centro religioso Assírio, no período clássico) a Babilônia (no período de Nabudonosor) e Nínive, ambos na Mesopotâmia representavam o poder dos reis e a morada dos deuses. A cidade suméria de Eridu acreditava-se que sua localização marcava a criação do mundo e seus habitantes se consideravam como filhos dos deuses. “... Enki (deus da cidade) e Eridu destacam a conexão entre a localidade, especialmente o Apsu (deus), a criação e a fertilidade, Eridu é primordial e imanente, o lugar onde o mundo pela primeira vez se tornou habitável, onde o tijolo e a cidade foram inventados”. (Leick, G. 2003. P 48) As antigas formas de religião da antiguidade mostram uma relação entre a localidade e a criação do mundo elaborada por seres divinos. Este tipo de pensamento ocorre quando estudamos a mitologia Asteca e a mitologia de Rapa Nui (Ilha de Páscoa) onde os nativos acham que a ilha era o centro do mundo ou te pito te henua (que significa: umbigo do mundo). Se a agricultura trouxe a civilização como a conhecemos, em contra partida, havia outros indivíduos que não era agricultores e exploravam outros recursos (os mariscos). No litoral brasileiro, não se sabe ao certo o nome que a comunidade se dava, mas os arqueologos chamam de sambaquis (na língua Tupi, significa: tamba = marisco e ki = amontoado). Seria uma comunidade, que vivia da pesca e coleta de moluscos. Madu Gaspar, arqueóloga do Museu Nacional, sugere poderia ser uma comunidade sedentária, mas há outros autores que preferem considerá-los nômades. Por outro lado, sabe–se que houve casos de comunidades permanecerem ativa por mais de 1.000 anos, provando sua sedentarização (Gaspar, Madu. 2000. P 45). Graças aos dados arqueológicos de 1992 e 93, há cerca de 960 sambaquis, distribuídos pelo litoral carioca até o Rio Grande do Sul, vivendo entre 6,0 mil–600 AP. Seus vestígios contam com montes artificiais de restos numerosos de conchas, esqueletos humanos, pingentes, utensílios de uso diário artefatos de pedra e zoólitos, fundações de estruturas, restos funerários. Para Wesley Hunt, (Universidade de Indiana) num artigo escrito para o Museu de História Natural de Belo Horizonte, em 1983-84, comenta que os sambaquis eram povos oriundos de áreas florestais que chegaram ao litoral, tendo os recursos marinhos como base de sua dieta e a posteriori, criou–se a difusão cultural que vemos em seus utensílios (Hunt, W. Arquivos do Museu de História Natural. Vol VIII-IX. 1983-4. P 69). 122 Madu Gaspar comenta que ao estudar os sambaquis, os cientistas do passado discordavam entre si no que tange, aos monumentos deixados por esta comunidade pesqueira, havendo duas correntes interpretativas: os naturalistas, que propunham que os morros artificiais, que podem atingir 25 metros, produzidos por estas pessoas, como sendo um resultado de lixo comunitário (restos de cozinha). Já a corrente artificialista, sugere o oposto: que os sítios são na verdade, monumentos. Atualmente, o Museu Nacional guarda utensílios deixados pelos sambaqueiros de extrema beleza e seriam objetos em forma de inúmeros animais (marinhos ou da fauna), feitos a partir de pedras e que desde o século XIX, surgem interpretações de seu caráter: religioso, mágico, usual (do cotidiano de cada indivíduo). Para Madu Gaspar, grande parte dos objetos, possui uma “parte ventral” interpretando que poderia ter servido para o sexo. Sabemos que essa população era sedentária. Como que os pesquisadores, sabem com certeza? Como a pesquisadora Madu Gaspar explica ao analisar as camadas de terra, os arqueólogos, percebem a quantidade de utensílios e de restos de comida deixada, pela população que está sendo estudada. Os materiais foram datados no laboratório e desta forma a autora sabe quando iniciou e/ou terminou uma ocupação, segura ao afirmar que aquela comunidade era de sedentários pescadores: “... o estudo de perfis de vinte sambaquis, tanto no Rio de Janeiro como em Santa Catarina, não indicou evidências claras de abandono. Mesmo sítios que durante a construção parecem contar com uma camada considerada estéril – tal qual a identificada no sambaqui do Forte, Rio de Janeiro ou no Saquarema, Paraná – apresentam dois pacotes de material arqueológico que foram acumulados ininterruptamente” (Gaspar, M. 2000. P 43-44). O sambaqui e os vestígios deixados pelos primeiros brasileiros seriam provas de ocupação remota. No que diz respeito aos restos e vestígios deixados por estes antigos habitantes (modernos ou arcaicos), alguns cientistas, dão sua contribuição, da melhor maneira possível explicando suas teorias ou defendedo–as. Não queremos que o leitor imagine que os arqueólogos são pessoas conservadoras e fechadas dentro seu mundinho. Pelo contrário, são pessoas que enfrentam chuvas, fome, doenças e outras adversidades, encontradas no campo (no seu lugar de trabalho). Na verdade são detetives, abertos a possibilidades e probabilidades, em que suas pesquisas apontam por este ou aquele caminho. 123 CONCLUSÃO Vimos ao longo do texto, que somente após as publicações dos livros: The origins of species by means of natural selection e The descent of man and selection in relation to sex, ambos de Charles Darwin (1809–1882), escritos, em 1859 e 1871 e a publicação do livro de Thomas H. Huxley: O lugar do Homem na natureza iniciou-se estudos para explicar nossas origens apesar de já ter sido encontrado o fóssil do Homem de Neanderthal, em 1856, mas sem a certeza de que se tratava de um ser humano arcaico. Os primeiros paleantropólogos, apesar das dificuldades e algumas limitações, não haviam reconhecido como válidas algumas espécies descobertas, exemplos notórios de E. Dubois e Raymond Dart, valorizando apenas os achados europeus: o Cro-Magnon, o Pildown e o neanderthal. Entre os anos de 1859–1912 havia pouco material descoberto, sem datações absolutas, para se saber a idade dos fósseis. Não havia tecnologia que apoiasse as conclusões de Dart (que afirmava, em 1925, a existência de um ancestral africano: Australopithecus africanus) e Dubois (evidências de restos de um possível ancestral humano, na Indonésia o Homo erectus). Somente, com a descoberta de novos exemplares foram estudados por esses dois cientistas e após anos de escavações, análises fósseis e conclusões dos estudos, confirmaram–se suas premissas. A partir da década de 50, com os avanços da tecnologia, surgiram às primeiras formas de datação absoluta (radiocarbono, Urânio–Potássio, Potássio–Argônio, termoluminescência e outros) e formas de datação relativa (Flúor, bioestratigrafia – mais comum). Graças a estes apoios científicos, provou-se a fraude do Homem de Piltdown. Na década de 60, estudos paleantropológicos, proguediram para o modelo da “teoria da espécie única” de C. Loring Brace, que ao estudar os fósseis, verificou semelhanças entre os hominídeos estudados fortalecendo a noção somatória, de que as espécies possuíam poucas diferenças interpretando que a evolução humana caminhava de forma linear e gradual, e que as espécies antigas, não conviviam com as espécies recentes, portanto, não havia lugar para novas criaturas, que aparecessem e fossem devidamente, estudadas. Mesmo com a descoberta, de vários fragmentos do Homo habilis, em 1964, Le Gros Clarke, L. Brace, Robinsson e M. Day acreditaram que se tratava de um variante de Australopithecus. Nesta mesma época, Jane Goodall, iniciou seus estudos na observação de primatas (chimpanzés), criando as deduções de que hominídeos, criaturas que andavam eretas precederam ao aumento do cérebro, criando novas formas de interações sociais e as confecções de ferramentas, pudessem ter possuído o mesmo tipo de comportamento. Além disso, o avanço de estudos genéticos com base no DNA provou que os chimpanzés possuem 98% do material genético de um homem moderno. Estes dados contribuíram para que na década de 70, a tese de Brace, começasse a descaminhar diante de novas evidências descobertas em Koobi Fora, provando a coexistência de quatro tipos de hominídeos diferentes, num só habitat, num só tempo. Em 1972, houve a descoberta do er1470 (Homo rudolfensis), mostrando–se similar aos achados de 1964, confirmando como válido o Homo habilis. 124 Em 1979, Johanson e White, criou uma diferente espécie, ancestral de todas as demais: Australopithecus afarensis. Desta forma, em 1981, havia duas novas teorias que explicasse nossas origens. No início sofreu contestações, mas graças aos esforços exaustivos de Johanson provou–se que sua teoria estaria válida. A partir de década de 80 e 90, os modelos teóricos, começavam a se modificar, mostrando uma evolução, com caminhos ou descaminhos, possuindo uma árvore genealógica cheia de galhos, folhas e tudo mais, aparentando ser uma evolução pontuada e não–linear. Os estudos feitos por C. Stringer (Museu de História Natural de Londres) contradiz o modelo de Brace, confirmando através de genética e dados de campo, que nossa espécie, surgiu a 200 mil anos na África e se espalhou para o mundo (Out of Africa). O aluno de Brace, Milford Wolpoff, (Universidade de Michigan), discorda de Stringer, afirmando uma continuidade regional. O debate entre estes dois modelos, ainda continua em vigor, entre cientistas divisores (Stringer) e cientistas somatórios (Wolpoff). Apesar de haver novas descobertas paleantropológicas, ficam em aberto e cheio de possibilidades as teorias multirregional e Out of Africa. Nos anos 90 e já no século XXI, os pesquisadores descobriram novas criaturas (o Ardipithecus ramidus (1995), o Orrorin tugenensis. (2001), o Sehalanthropus tchadensis. (2002) e o Australopithecus sediba (2010)) e a partir dos fósseis, ainda não se sabe o lugar devido para as espécies encontradas, por falta de consenso entre os cientistas, em colocá-los em nossa árvore genealógica. No que tange aos processos da origem do comportamento humano, houve muitas teorias para explicar seu surgimento, desde a interpretação do “idiota patológico” de M. Bule até a Home base de G. Isaak. Atualmente, confirma–se a “Hipótese da Inteligência Social”, baseada em estudos feitos em chimpanzés e outros animais, demonstrando um comportamento através do oportunismo, parentesco e favoritismo deduzindo que nossos ancestrais, provavelmente, teriam este tipo de relacionamento social em seu grupo (dos Australopithecus até o Homo). Estamos seguros em afirmar, que a diversidade das espécies humanas ocorridas no passado tendo como causa o acaso segundo Jacques Monod, mas também a mudança do comportamento social, sexual e alimentar, associados a uma instabilidade climática e a menor mudança de comportamento acarretada por mudanças anatômicas (explicando a existência de vários tipos diferentes de bipedalismo). Ao observarmos os vestígios deixados pelos neanderthais, heidelbergensis e antecessor demonstram não só modificações líticas como também anatômicas. Percebemos que a mudança comportamental teria sido maior nestes indivíduos do que em seus antecessores (Australopithecinos e habilis), não sendo possível, aplicar o modelo da inteligência social devido a indicações de neanderthalianos terem possuído sinais de luto, linguagem, uso de símbolos e trabalho em grupo (caça). Neste caso, concordo em aceitar como válida a teoria de G. Isaak, da Home Base, devido o acúmulo de dados de campo. 125 Não afirmo que os neanderthais não eram oportunistas ou que teriam fortes relações familiares (parentesco), criando e recriando alianças com favoritos, pois há indícios que em algumas ocasiões possuíssem prática canibalesca, hierarquia social definindo as funções de cada pessoa no grupo e mostrando ser uma comunidade conservadora naquilo que se faz (devido seu sedentarismo e as confecções de ferramentas), mas há indícios encontrados nestes espécimes, que também são visíveis, e não podemos deixar passar em branco, como: o trabalho em grupo, demonstrado na organização na caça (pois as presas apresentavam serem adultas e de boa saúde na representação de afeto e de perda (o caso da criança de Amud, em Israel e do indivíduo de Shanidar, no Iraque). Depois o Homo sapies resolveu migrar para a América, por volta de uns 40 mil (segundo A. Prous), cruzando a Beríngia. Esta migração ocorreu em etapas, tendo duas etnias biológicas ocupando as Amércias: os negróides (Homem de Lagoa Santa, o primeiro fóssil humano, descoberto, 1840) e os mongolóides, contrariando o modelo Clóvis, que afirmava que apenas os mongolóides teriam ocupando este continente. Mas, como explicar a existência de uma cultura mais antiga que Clóvis e restos humanos diferentes vivendo na América do Sul? Ao ser comparado com os dados da América do Norte, ainda não se encontrou restos humanos similares nos dois continentes. Os paleoíndios ao estabelecer na América, pareciam desconhecer a agricultura, que por sua vez foi assimilado pelos mongolóides, que introduziram a cerâmica e a agricultura. A migração mongolóide até no litoral brasileiro foi se adaptando ao meio-ambiente criando novas formas culturais e de obtenção de alimentos: os sambaquis. O que podemos concluir seguramente, sobre o estudo da evolução humana? O primeiro ponto seria de que não houve apenas um processo que provocou a evolução das espécies humanas. Teria caminhado um pontualismo e não linearidade, como sugere Gould. Segundo ponto seria confirmação da Hipótese da Inteligência Social, tendo sua argumentação baseada na interação dos indivíduos uns com outros, na buscas de recursos, sendo alguns mais privilegiados que outros. Pode–se sugerir que isto, estaria presente na vida cotidiana, de nossos ancestrais, demonstrado por Hobbes. Terceiro ponto se aplica em reforçar a tese de D. Johanson, Lee Berger e T. White, de que a espécie de Lucy e do A. Sediba seriam de fato o ancestral do Homo e o modelo dos dois componentes biológicos, de Walter Neves. O quarto e último ponto: aplica–se no que se refere à pesquisa. Por melhor que seja os trabalhos arqueológicos ou paleantropólogicos realizados de forma detalhada e transparente, obtendo informações de campo, laboratório e bibliografias, se não houver uma coletânea de dados, para ser comparada com outros sítios ou com achados similares considerados inválidos pela academia e sofrendo críticas as conclusões do pesquisador são incansáveis. Espero que o leitor tenha entendido o quanto é complicado o trabalho destes cientistas, sujeitos a constantes críticas, realizando trabalhos interessantes e envolventes, fazendo com que a cada dia, aumente a meu amor platônico por esta ciência. 126 BIBLIOGRAFIA 1º CAPÍTULO: INTRODUÇÃO A PALEOANTROPOLOGIA: 1 – CARVALHO, I.S (org). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. In. BERGQVIST, Lílian P, ABUHID, Virginia Simão e DEL GIUDICE, Gisele Mendes. Mamíferos. H. Primatas e a Evolução do Homem. P 613-616. 2 – XIMENES, Sérgio. Mini-dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. 1.1 TEORIAS DA PALEOANTROPOLOGIA: 1 – CARVALHO, I.S (org). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. In. IANNUZZI, R & SOARES, Marina B. Teorias evolutivas. P 61-81. 2 – BANDEIRA Jr, Alfredo Nunes. Nós estamos sós: uma humanidade solitária. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. 3 – HOWELL, Clark F. O homem pré-histórico. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. 4 – JOHANSON, Donald & SHREEVE, J. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998. 5 – JOHANSON, Donald & MAITLAND, A. Edey. Lucy os primórdios da humanidade. São Paulo: Bertrand, 1996. 6 – GOULD, S.J. Dinossauros no Palheiro. São Paulo: Cia das letras, 1998. 7 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Richard. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980. 8 – SENET, André. O Homem descobre seus antepassados. Belo Horizonte: Itatiaia, 1959. 9 – SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIA E TRATADOS. A vida – qual sua origem? A evolução ou a criação? Cesário Lange: São Paulo, 1985. 10 – WARD, Peter. O Fim da Evolução. Rio de Janeiro: Campus, 1997. VIDEOGRAFIA: 1 – Discovery Channel: Humanos–Quem somos nós? A Origem da mente humana. A Cinenova Productions in Assossiation with Discovery Cahnnel and Doesar. Director: Christopher Rowley. Producer: Jane Armostrong. Editor: John Whitcher. Toronto, Canadá, VHS. 1999. 2 – Dsiscovery Channel. Connections 3. Produção: Discovery Channel em associação Langhan Productions e James Burke. Escrito e apresentado por: James Burke. Diretor: Paul Dosaj. VHS. 1997. 1.2 A HISTÓRIA DA PALEOANTROPOLOGIA: 1 – BRACE, Charles Loring. Os Estágios da Evolução Humana. In. O Catastrofismo dos Homínidas. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. P 32-37. 2 – CARVALHO, I. S (org). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. In. IANNUZZI, R & SOARES, Marina B. Teorias evolutivas. P 61-81. 3 – GOULD, S.J. Dinossauros no Palheiro. São Paulo: Cia das letras, 1998. 4 – GOULD, S.J. A galinha e seus dentes. São Paulo: Cia das letras, 1992. 127 5 – GOULD, S.J. A Montanhas de moluscos de Leonardo da Vinci. São Paulo: Cia das letras, 2003. In. Nossa extraordinária unidade. P 240-259. 6 – HOWELL, Clark F. O homem pré – histórico. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. 7 – JOHNASON, Donald & SHREEVE, J. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998. 8 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Richard. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980. 9 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Richard. O Povo do Lago. 2ª ed. Brasília: UnB, 1996. 10 – MENDES, Josué Camargo. In. Hominidae. P. 265-271. Introdução a Paleontologia. Rio de Janeiro: Biblioteca Científica Nacional, 1960. 11 – SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIA E TRATADOS. A vida – qual sua origem? A evolução ou a criação? Cesário Lange – São Paulo, 1985. 2º CAPÍTULO: OS PRIMEIROS HOMINÍDEOS: 2.1 ANTIGOS PRIMATAS: 1 – FOLEY, Robert. Os humanos antes da humanidade: uma perspectiva evolucionista. São Paulo: UNESP, 2003. 2 – GRIBBIN, John. Gênese: as origens do homem e do universo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. In: As Origens do Homem. 1983. P 220 – 263. 3 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed.Brasília: Unb, 1996. 4 – LIMA, Celso P. Evolução Humana. 2a ed. São Paulo: Ática, 1994. REVISTA: 1 – GOODALL, Jane. Fifi resiste. National Geographic Brasil. São Paulo. Abril de 2003. Ano 03. N° 36. 82-109. VIDEOGRAFIA: 1 – Vídeo Arte do Brasil: (Os Chimpanzés selvagens). Among the wild chimpanzees. A Production of National Geographic Society and WQED/ Pittsburg. Writed and Produced by: Barbara Jampel. Edited by: John Dabney, 1984. 2.2 OS ANCESTRAIS DOS AUSTRALOPHITECUS: 2.2.1 RAMAPITHECUS BREVIROSTRIS 1 – FUNARI, Pedro Paulo & NOELLI, Francisco Silva. Pré–História do Brasil. São Paulo: Contexto, 2001. P 18. 2 – GRIBBIN, John. Gênese: as origens do homem e do universo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. In: As Origens do Homem. P 220-263, 1983. 3 – JOHANSON, Donald & SHREEVE, James. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998. 4 – JOHANSON, Donald & MAITLAND, A. Edey. Lucy os primórdios da humanidade. São Paulo: Bertrand, 1996. 5 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed. Brasília: Unb, 1996. 128 6 – LIMA, Celso P. Evolução Humana. 2a ed. São Paulo: Ática, 1994. P 13-16. 7 – PINSKY, Jaime. As Primeiras civilizações. 17ª ed. São Paulo: Atual, 1994. 8 – STANFORD, C. Como nos tornamos humanos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. VIDEOGRAFIA: 1 – Discovery Channel: Paleoworld: Ape–man. Director: Ross Couper–Johnston. Produced by: Wall to Wall Television forTLC (Television Learning Channel), 1996. 2 – Vídeo Arte do Brasil: (Mistérios da Humanidade). Mysteries of Mankind. A Production of National Geographic Society and WQED-Pittsburg. Writed and Produced by: Barbara Jampel. Edited by: John Dabney, 1988. 3.2.2 ARDIPITHECUS RAMIDUS: REVISTA: 1 – WONG, Kate. Em busca do primeiro homem. Scientific American Brasil. Rio de Janeiro: Duetto. Ano 01. N° 9. Fev de 2003. P 58-67. 2 – WONG, Kate. Encontro de uma nova espécie. Scientific American Brasil. Edição Especial. In. Ardi tinha características humanas? Rio de Janeiro: Duetto. N° 37. 2010. P 18-19. INTERNET: http://www.discoverybrasil.com/web/descobrindo-ardi/ http://www.jqjacobs.net/anthro/paleo/ramidis.html http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/ http://www.talkorigins.org/faqs/homs/ardi.htmlrdi.html PUBLICAÇÃO NA REVISTA SCIENCE: 1 – LOVEJOY, C. Owen et al. The Pelvis and Femur of Ardipithecus ramidus: The Emergence of Upright Walking. Science. Vol. 326. P 71-71e6. 02 de outubro de 2009. 2 – SUWA, Gen et al. The Ardipithecus ramidus Skull and Its Implications for Hominid Origins. Science. Vol. 326. P 68-68e7. 02 de outubro de 2009. 3 – LOVEJOY, C. Owen et al. The Great Divides: Ardipithecus ramidus Reveals the Postcrania of Our Last Common Ancestors with African Apes. Science. Vol 326. P 73-100106. 02 de outubro de 2009. 129 VIDEOGRAFIA: 1 – Discovery Channel. Discovering Ardi. Director: Rod Paul. Writers: Jonathan Wickham e Steve Eder. Producers: David Paul e Paul Gasek. Formato: AC-3, Color, Dolby, DVD, Widescreen, NTSC. Linguagem: inglês. Legenda: inglês. Região: 1 (USA e Canadá). 88 minutos. Março de 2010. 2.2.3 ORRORIN TUGENENSIS: REVISTA: 1 – CARELLI, Gabriela. O Homem de 6 milhões de anos. Veja. São Paulo: Abril. Ed 1679. Ano 33. Nº 50. 13/dez/2000. P 88-90. 2 – WONG, Kate. Em busca do primeiro homem. Scientific American Brasil. Rio de Janeiro: Duetto. Ano 01. N° 9. Fev de 2003. P 58-67. INTERNET: http://www.modernhumanorigins.net/tugenensis.html http://www.becominghuman.org/ http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/ www.leakyfundation.com http://www.talkorigins.org/faqs/homs/illustr.html www.nature.com 2.2.4 SEHALANTHROPUS TCHADENSIS: 1 – WONG, Kate. Em busca do primeiro homem. Scientific American Brasil. Rio de Janeiro: Duetto. Ano 01. N° 9. Fev de 2003. P 58-67. INTERNET: http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/ www.leakyfundation.com http://www.talkorigins.org/faqs/homs/illustr.html http://www.geocities.com/palaeoanthropology/timeline.html 2.3 O AUSTRALOPITHECUS: 1 – ALVES, Marcelo. Leviatã o demiurgo das paixões. Cuiabá: UNICEN, 2001. In. O Homem e suas paixões. P 30-39. 2 – BANDEIRA Jr, Alfredo Nunes. Nós estamos sós: uma humanidade solitária. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. 130 3 – CARVALHO, I. S (org). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. In. BERGQVIST, Lílian P, ABUHID, Virginia Simão e DEL GIUDICE, Gisele Mendes. Mamíferos. H. Primatas e a Evolução do Homem. P 613-616. 4 – CARTELLE, C. Tempo Passado: mamíferos do Pleistoceno em Minas Gerais. Belo Horizonte, Palco Acesita. 1994. In O Homem de Lagoa Santa. P 117-121. 5 – FOLEY, Robert. Os Humanos antes da Humanidade. São Paulo, UNESP, 2003. 6 – HOWELL, Clark F. O homem pré-histórico. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. 7 – GOULD, S.J. Dinossauros no Palheiro. São Paulo: Cia das letras, 1998. 8 – GOULD, S.J. A Montanhas de moluscos de Leonardo da Vinci. São Paulo: Cia das letras, 2003. In. Nossa extraordinária unidade. P 240-259. 9 – JOHANSON, Donald & SHREEVE, James. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998. 10 – JOHANSON, Donald & MAITLAND, A. Edey. Lucy os primórdios da humanidade. São Paulo: Bertrand, 1996. 11 – HAINES, Tim .Walking with prehistoric beasts. New York: DK, 2000. In. The prey’s revenge. 4. P. 142 – 181. 12 – LIMA, Celso P. Evolução Humana. 2a ed. São Paulo: Ática, 1994. 13 – LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de janeiro: Rocco, 1995. 14 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980. 15 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed. Brasília: Unb, 1996. 16 – LYNCH, John & BARRETT, Louise. Walking with Caveman. In First Ancestors. New York. DK publishing. 2002. P 16-65. 17 – MONOD, Jacques. O Acaso e a necessidade. 2ª ed. Mira – Sintra: Publicações Europa-América, 1970. 18 – STANFORD, C. Como nos tornamos humanos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 19 – PINSKY, Jaime. As Primeiras civilizações. 17ª ed. São Paulo: Atual, 1994. VIDEOGRAFIA: 1 – Discovery Channel: Paleoworld: Ape–man. Director: Ross Couper–Johnston. Produced by: Wall to Wall Television forTLC (Television Learning Channel). VHS. 1996. 2 – Discovery Channel: The Human Journey: in seach of human origens. Series producer: Andrew Waterworth. Director: Roger Scholes. Editor: C. Cerani. Produced with the assossiation of the Australian Broacasting Corporation produced by Beyond Production for Learning Channel. VHS. 1999. 3 – Discovery Channel: Walking with prehistoric beasts: The pray’s Revenge. Serires producer: Jasper James. Executive producer: Tim Haines. Production Team: Vanessa Fry and Steven Long. Film editors: Andrew Wilks and Winkie Wilkes. A BBC-Discovery Channel TV Asahi & BS Asahi Prosieben Co–production. VHS. 2001. 4 – Discovery Channel: Humanos–Quem somos nós? A Origem da mente humana. A Cinenova Productions in Assossiation with Discovery Cahnnel and Doesar. Director: Christopher Rowley. Producer: Jane Armostrong. Editor: John Whitcher. Toronto, Canadá, VHS. 1999. 131 5 – Discovery Channel: Dawn of Man–episódio 02: First Man. Series consultant: Leslie C. Aiello. Editor: John Parker. Director: Jeff Morgan. Executive Producer: John Linch. BBC and Learning Channel. VHS. 2000. 6 – Vídeo Arte do Brasil: (Mistérios da Humanidade). Mysteries of Mankind. A Production of National Geographic Society and WQED-Pittsburg. Writed and Produced by: Barbara Jampel. Edited by: John Dabney. VHS. 1988. 2.4 O HOMO: 2.4.1 HOMO HABILIS: 1 – CARVALHO, I.S (org). Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciencia, 2000. In. BERGQVIST, Lílian P, ABUHID, Virginia Simão e DEL GIUDICE, Gisele Mendes. Mamíferos. H. Primatas e a Evolução do Homem. P 613-616. 2 – DAY, Michael H. O Homem fóssil. São Paulo: Melhoramentos, 1975. P. 98-103. 3 – GRIBBIN, John. Gênese: as origens do homem e do universo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. In: As Origens do Homem. P 220-263, 1983. 4 – FOLEY, Robert. Os Humanos antes da Humanidade. São Paulo, UNESP, 2003. 5 – JOHANSON, Donald & SHREEVE, James. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998. 6 – JOHANSON, Donald & MAITLAND, A. Edey. Lucy os primórdios da humanidade. São Paulo: Bertrand, 1996. 7 – LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de janeiro: Rocco, 1995. 8 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980. 9 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed. Brasília: Unb, 1996. 10 – LEROI-GOURHAN, André .Os caçadores da pré – história. Lisboa: Edições 70, 1987. 11 – LYNCH, John & BARRETT, Louise. Walking with Caveman. In Blood Brothers. New York. DK publishing. 2002. P 66-117. 12 – MENDES, Josué Camargo. In. Hominidae. P. 265-271. Introdução a Paleontologia. Rio de Janeiro: Biblioteca Científica Nacional, 1960. 13 – MEKSENAS, Paulo. In. Pequeno esboço da evolução do ser humano. P17-19. Sociologia da educação. 10a ed. São Paulo: Loyola, 2002. 14 – PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 17a ed. São Paulo: Contexto, 1994. P.1316. INTERNET: http://www.mnh.si.edu/anthro/humanorigins/index.htm 2.4.2 HOMO ERECTUS, ERGASTER, ANTECESSOR E HEIDELBERGER: 1 – ARSUAGA, Juan Luiz. O Colar do Neandertal. Rio de Janeiro: Globo, 2005. 2 – BINFORD, Lewis R. Bones: ancient men and moderns myths. New York: Academic Prees, 1981. 132 3 – COUTO, Carlos de P. Paleontologia brasileira: Mamíferos. Rio de Janeiro: Biblioteca Científica Brasileira, 1953. P 390-445. 4 – DAY, Michel. O Homem fóssil. São Paulo: Melhoramentos, 1975. P. 105-121. 5 – FOLEY, Robert. Os Humanos antes da Humanidade. São Paulo, UNESP, 2003. 6 – LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de janeiro: Rocco, 1995. 7 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980. 8 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed. Brasília: Unb, 1996. 9 – LEROI-GOURHAN, André.Os caçadores da pré-história. Lisboa: Edições 70, 1987. 10 – LEROI-GOURHAN, André.As religiões da pré-história. Lisboa: Edições 70, 1995. 11 – LYNCH, John & BARRETT, Louise. Walking with Caveman. In Savage Family. New York. DK plublishing. 2002. P 118-167. 12 – PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 17a ed. São Paulo: Contexto, 1994. P 1622. 13 – STRINGER, Christopher & GAMBLE, C. In search of the Neandethal. Thames & Hudson, 1995. 14 – STRINGER, C. Out of Etiópia. Nature. Junho de 2003, 423: 692-695. 15 – STRINGER, Christopher. Modern Human origens: progress and prospects. The Royal Society, Phil Trans. R. Soc. Lond. B. 2002. 16 – TATTERSALL, Ian. Becoming Human: evolution and Human uniqueness. Orlando: Harvest, 1998. INTERNET: www.becominghuman.org http://www.geocities.com/palaeoanthropology/timeline.html VIDEOGRAFIA: 1 – Discovery Channel: The Human Journey: in seach of human Origins. Series producer: Andrew Waterworth. Director: Roger Scholes. Editor: C. Cerani. Produced with the assossiation of the Australian Broacasting Corporation produced by Beyond Production for Learning Channel. VHS. 1999. 2 – Discovery Channel: Dawn of Man–episódio 03: Body. Series Consultant: Leslie E. Aiello. Editor: John Parker. Producer director: Charlie Smith. Director: Jeff Morgam. Executive Producer: John Linch. Series Producer: BBC and Learning Channel. VHS. 2000. 3 – Discovery Channel: Dawn of Man–episódio 04: Love. Series Consultant: Leslie E. Aiello. Editor: John Parker. Producer director: Charlie Smith. Director: Jeff Morgam. Executive Producer: John Linch. Series Producer: BBC and Learning Channel.VHS. 2000. 4 – Discovery Channel: Humanos–Quem somos nós? A Origem da mente humana. A Cinenova Productions in Assossiation with Discovery Cahnnel and Doesar. Director: Christopher Rowley. Producer: Jane Armostrong. Editor: John Whitcher. Toronto, Canadá. VHS. 1999. 133 5 – Discovery Channel: Walking with prehistoric beasts. In A Mammoth´s Journey. Serires producer: Jasper James. Executive producer: Tim Haines. Production Team: Vanessa Fry and Steven Long. Film editors: Andrew Wilks and Winkie Wilkes. A BBC-Discovery Channel TV Asahi & BS Asahi Prosieben Co–production. VHS. 2001. REVISTA: 1 – LOPES, Reinaldo José. O Prato Original. Superinteressante. São Paulo: Abril. Ed 191. Agosto de 2003. P 66-71. 2.4.2.1 AS OUTRAS MIGRAÇÕES DO HOMO ERECTUS? 1 – BELTRÃO, Maria C. Ensaios de arqueologia: Uma abordagem transdisciplinar. Rio de Janeiro: Zit, 2000. 2 – FUNARI, Pedro Paulo. Pré–história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2000. REVISTA: 1 – GOVE, Rick. Viajante pioneiro. National Geographic Brasil. São Paulo. Abril: Ano 03. N° 28. Agosto de 2002. P 20 – 29. 2 – Supernoticias. Antropologia: cruzeiro marítimo na pré–história. Superinteressante. São Paulo: Abril. Ano 12. N° 05. Maio de 1998. P 13. 3 – WONG, Kate. O menor dos humanos. Scientific American. São Paulo: Duetto. Edição Especial. N°17. P51-59. 4 – DYKE, Gareth. Barão dos dinossauros da Transilvânia. Scientific American. São Paulo: Duetto. Ano 10. N°114. Nov 2011. P74-77. INTERNET: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/flores.html (Homo floresiensis) VIDEOGRAFIA BBC e Superinteressante. Walking with homens das cavernas: um filme definitivo sobre a evolução humana. Co-produção: BBC, Discovery Channel e ProSieben. Diretor: John Lynch. Legendas: português. Áudio: inglês. Som: Dolby digital, cor: NTSC. Editora Abril, 2004. Duração 99min. 2.4.2 HOMO NEANDERTHALENSIS: 1 – ARSUAGA, Juan Luiz. O Colar do Neandertal. Rio de Janeiro: Globo, 2005. 2 – BOULE, M e VALLOIS, H. Fossil Men. New York: Dryden press, 1957. 3 – COUTO, Carlos de P. Paleontologia brasileira: Mamíferos. Rio de Janeiro: Biblioteca Científica Brasileira, 1953. P 390-445. 134 4 – FOLEY, Robert. Os Humanos antes da Humanidade. São Paulo, UNESP, 2003. 5 – DAY, Michel. O Homem fóssil. São Paulo: Melhoramentos, 1975. P. 105-121. 6 – HAINES, Tim. Whalking with prehistoric bests. In A mammoth´s Journey. New York. DK publishing. 2001. P 220-257. 7 – LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de janeiro: Rocco, 1995. 8 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. Origens. São Paulo: Melhoramentos, 1980. 9 – LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O povo do Lago. 2a ed. Brasília: Unb, 1996. 10 – LEROI-GOURHAN, André. Os caçadores da pré-história. Lisboa: Edições 70, 1987. 11 – LEROI-GOURHAN, André. As religiões da pré-história. Lisboa: Edições 70, 1995. 12 – LYNCH, John & BARRETT, Louise. Walking with Caveman. In Survivors. New York. DK publishing. 2002. P 168-219. 13 – LIMA, Celso P. Evolução Humana. 2a ed. São Paulo: Ática, 1994. P 13-16. 14 – STRINGER, Christopher & GAMBLE, C. In search of the Neandethal. Thames & Hudson, 1995. 15 – STANFORD, C. Como nos tornamos humanos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 16 – STRINGER, Christopher. Modern Human origins: progress and prospects. The Royal Society, Phil Trans. R. Soc. Lond. B. 2002. 17 – STRINGER, C. Out of Etiópia. Nature. Junho de 2003, 423: 692-695. 18 – TATTERSALL, Ian. Becoming Human: evolution and Human uniqueness. Orlando: Harvest, 1998. VIDEOGRAFIA: 1 – Discovery Channel: The Human Journey: a tale of the two species. Series producer: Andrew Waterworth. Director: Roger Scholes. Editor: C. Cerani. Produced with the assossiation of the Australian Broacasting Corporation produced by Beyond Production for Learning Channel. VHS. 1999. 2 – Discovery Channel: The last Neanderthal? Director: Lwarence Simanowitz. Editor: Sabrina Burnard. Producer: Willian Woodllard. An Inca Production for Channel Four in assossiation with Discovery communications Inc. VHS. 1996. 3 – Vídeo Arte do Brasil: (Mistérios da Humanidade). Mysteries of Mankind. A Production of National Geographic Society and WQED/ Pittsburg. Writed and Produced by: Barbara Jampel. Edited by: John Dabney. VHS. 1988. 4 – Discovery Channel: Walking with prehistoric beasts: A Mammoth´s Journey. Serires producer: Jasper James. Executive producer: Tim Haines. Production Team: Vanessa Fry and Steven Long. Film editors: Andrew Wilks and Winkie Wilkes. A BBC/ Discovery Channel TV Asahi & BS Asahi Prosieben Co–production. VHS. 2001. FILMES CLÁSSICOS: O MUNDO PERDIDO – produzido em 1925, pela First Naciotal Pictures (USA), dirigido por: Harry Holt, com efeitos especiais de: Willis O’ Brain e o elenco: Wallace Beery e Besie Love. A GUERRA DO FOGO – produzido em 1981, pela TV Francesa, dirigido por: Jean Jacques Annand. 135 REVISTA: MACHADO, Juliano. Neandertal cozinheiro. In Fala Mundo: um olhar para o planeta. Época. Nº 6659. 03 de janeiro de 2011. P 13. 3.1 SURGIMENTO DOS HOMENS MODERNOS: 1 – BRACE, Charles Loring. Os Estágios da Evolução Humana. In. O Catastrofismo dos Homínidas. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. P 32-37. 2 – BOULE, M e VALLOIS, H. Fossil Men. New York: Dryden press, 1957. 3 – HAINES, Tim. Whalking with prehistoric bests: A mammoth´s Journey. New York. DK plublishing. 2001. P 220-257. 4 – GOULD, S.J. A Montanha de moluscos de Leonardo da Vinci. São Paulo: Cia das Letras, 2003. In. Nossa extraordinária unidade. P 240-259. 5 – LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de janeiro: Rocco, 1995. 6 – LEROI-GOURHAN, André .Os caçadores da pré-história. Lisboa: Edições 70, 1987. 7 – LYNCH, John & BARRETT, Louise. Walking with Caveman. In Survivors. New York. DK publishing. 2002. P 168-219. 8 – MILFORD H. Wolpoff e CASPARI, Rachel. Race and Human: A Fatal Attraction. Simon & Schuster, 1997. 9 – MILFORD H. Wolpoff; JELÍNEK Jan e FRAYER David W. Evolucionay Significance of the Quarry Cave Specimens from Mladeč. Antropologie. XLIII/2–3. P 215-228. 2005. 10 – STRINGER, C. & GAMBLE, C. In search of the Neandethal. Thames & Hudson, 1995. 11 – STRINGER, C. Modern Human origins: progress and prospects. The Royal Society, Phil Trans. R. Soc. Lond. B. P 563-579. 2002. 12 – STRINGER, C. Out of Etiópia. Nature. Junho de 2003, 423: 692-695. 13 – TATTERSALL, Ian. Becoming Human: evolution and Human uniqueness. Orlando: Harvest, 1998. VIDEOGRAFIA: 1 – Discovery Channel: The Human Journey: a tale of the two species. Series producer: Andrew Waterworth. Director: Roger Scholes. Editor: C. Cerani. Produced with the assossiation of the Australian Broacasting Corporation produced by Beyond Production for Learning Channel. VHS. 1999. 2 – Discovery Channel: The last Neanderthal? Director: Lwarence Simanowitz. Editor: Sabrina Burnard. Producer: Willian Woodllard. An Inca Production for Channel Four in assossiation with Discovery communications Inc. VHS. 1996. 3 – Discovery Channel: Dawn of Man-Episódio 05: êxodo. Series Consultant: Leslie E. Aiello. Editor: John Parker. Producer director: Charlie Smith. Director: Jeff Morgam. Executive Producer: John Linch. Series Producer: BBC and Learning Channel.VHS. 2000. 4 – Discovery Channel: Humanos–Quem somos nós? A Origem da mente humana. A Cinenova Productions in Assossiation with Discovery Cahnnel and Doesar. Director: Christopher Rowley. Producer: Jane Armostrong. Editor: John Whitcher. Toronto, Canadá. VHS. 1999. 136 CRIANÇA DE LAPEDO (LAGAR-VELHO)-INTERNET: http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/zilhao/lapedobook2002.pdf http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/zilhao/vast2007.pdf http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/zilhao/athena2001.pdf DNA NEANDERTHAL-INTERNET: http://www.sciencemag.org/site/special/neandertal/feature/index.html 3º CAPÍTULO: OS PRIMERIOS AMERICANOS: 3.1 ANTIGAS E RECENTES ESCAVAÇÕES: 1 – CARTELLE, Castor. Tempo Passado: os mamíferos do Pleistoceno em Minas Gerais. Belo Horizonte: Palco Acesita. 1994. In. O Homem de Lagoa Santa. P. 117-121. 2 – BELTRÃO, Maria C. Ensaios de arqueologia: Uma abordagem transdisciplinar. Rio de Janeiro: Zit, 2000. 3 – FUNARI, Pedro Paulo & Noelli, F. S. Pré–história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2000. 4 – FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Arqueologia. São Paulo: Ática, 1996. 5 – HEYERDAHL, Thor. A Expedição Kon Tiki. 6a ed. São Paulo: Melhoramento, 1955. 6 – HEYERDAHL, Thor. Na Trilha de Adão. São Paulo: Cia das Letras, 1998. 7 – JONES, Gwyn. The Vikings. 2ª ed. Oxford, 1984. In. Causes of the Viking Movement overseas. P 182-203. 8 – NEVES, Walter Alves e PILÓ, Luis B. O povo de Luzia. Rio de Janeiro: Globo, 2008. 9 – PROUS, André. Arqueologia brasileira. 2a ed. Brasília: UnB. 2a Parte: o período précerâmico e as culturas litorâneas. Cap VI. P 119-143. 1992. 10 – STANGERUP, Henrik. Lagoa Santa vidas e ossadas. Rio de janeiro: Nórdica, 1982. 11 – SILVA, Hilton P. E RODRIGUES-CARVALHO, C. Nossa Origem: O povoamento das Américas visões multidisciplinar. In. A busca pelos primeiros americanos. Rio de Janeiro: Viera & Lent, 2006. P 11-17. 12 – TENÓRIO, Maria Cristina (org). Pré-história na terra brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000. In. Anne–Marie Pessis. Pré-história na região do Parque nacional Serra da capivara. P 61-72. 13 – WALTER, H.V. Arqueologia na região de Lagoa Santa. Rio de Janeiro: Sedega, 1958. P 106-117. In. Qual é a idade do homem de Lagoa Santa. P 106-117. ARQUIVO DO MHN – UFMG: 1 – PROUS, André & GUIMARÃES, Carlos magno. Recentes descobertas sobre os mais antigos caçadores de Minas gerais e da Bahia. Belo Horizonte: ARQUIVOS DO MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL DE BELO HORIZONTE. Universidade Federal de Minas Gerais. Vol. VI e VII. 1981/ 1982. P 23-30. 137 REVISTA: 1 – CAMARGO, José Eduardo. O Primeiro brasileiro. Superinteressante. São Paulo: Abril. N° 184. Jan 2003. Superpapo. P 76-77. MAPA 1 – NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. 1 Mapa. A Aurora do Homem a Conquista da América. São Paulo: Abril. Ano 1. N° 8. Escala: 1 cm /220 KM. Dezembro de 2000. 3.2 MODELO FOLSON E CLÓVIS: 1 – COE, Michael, SNOW, Dean & BENSON, Elizabeth. Antigas Américas: Mosaico de culturas. Vol 1: Lisboa: Delprato, 1996. In. A Colonização Original. P 28-34. 2 – JAMES, Peter & THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da Antigüidade. Cap. V: Viajantes e Descobrimentos. In. Os Primeiros americanos. P 314-335. 2001. 3 – SILVA, Hilton P. E RODRIGUES-CARVALHO, C. Nossa Origem: O povoamento das Américas visões multidisciplinar. In. NEVES, W.A. Origens do homem nas América: fósseis versus moléculas. Rio de Janeiro: Viera & Lent, 2006. P 45-76. 4 – PROUS, André. Arqueologia brasileira. 2a ed. Brasília: UnB. 2a Parte: o período précerâmico e as culturas litorâneas. Cap VI. P 119-143. 1992. 5 – RIVET, Paul. As origens do Homem Americano. 3ª Ed. São Paulo: Anhambi, 1960. 6 – TENÓRIO, Maria Cristina (org). Pré-história na terra brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000. In. Anna Roosevelt. O povoamento das Américas. P 61-72. REVISTA 1 – NEVES, Walter A. A primeira descoberta da América. São Paulo. Globo. Ciência Hoje. No 86. Vol. 15. Nov/ Dez 1992. P. 38-48. 2 – NEVES, Walter A &. HUBBE, Mark. Luzia e a saga dos primeiros americanos. Scientific American Brasil. São Paulo. Duetto. Ano 02. N° 15. Agosto de 2003. P 24-31. 3 – MINAS FAZ CIÊNCIA. Arqueologia. Belo Horizonte. FAPEMIG. Minas Faz Ciência. No 11. Jun/ Ago 2002. P 14-17. 3.3 MODELO DOS DOIS COMPONENTES BIOLÓGICOS PRINCIPAIS: 1 – FUNARI, Pedro Paulo & Noelli, F. S. Pré–história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2000. 2 – NEVES, Walter Alves e PILÓ, Luis B. O povo de Luzia. Rio de Janeiro: Globo, 2008. 3 – TENÓRIO, Maria Cristina (org). Pré-história na terra brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000. In. Prous, A. As primeiras populações do Estado de Minas Gerais. P 101-114. 138 ARQUIVOS DO MHN – UFMG 1 – ALVIN, Marília C. Os antigos habitantes da Serra do Cipó, MG–Brasil–estudo morfológico preliminar. Belo Horizonte: ARQUIVOS DO MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL DE BELO HORIZONTE. UFMG. Vol XIII e XIV. 1992/ 1993. P 107-111. REVISTA 1 – MANSUR, Alexandre. O outro genocídio americano. Veja. São Paulo: Abril. Nº 1597. 12 Maio de 1999. P 93-94. 2 – NEVES, Walter A & HUBBE, Mark. Luzia e a saga dos primeiros americanos. Scientific American Brasil. São Paulo. Duetto. Ano 02. Nº 15. Agosto de 2003. P 24-31. 3 – NEVES, Walter. A primeira descoberta da América. Ciência Hoje. São Paulo: Abril. No 86. Vol 15. Nov – dez 1992. P38-48. 3.4 AGRICULTURA, CERÂMICA E SABAMQUIS: 1 – BAITHY, Elizabeth Chesley. A América antes de Colombo. Belo Horizonte: Itatiaia, 1961. 2 – CELORIA, Francis. .Arqueologia. São Paulo: Melhoramento, 1975. 3 – FUNARI, Pedro Paulo & Noelli, F. S. Pré–história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2000. 4 – FLEM-ATH, R & FLEM-ATH, R.O dilúvio na Atlântida em busca do continente perdido. São Paulo: Mandarim, 1996. 5 – GASPAR, Madu. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. 6 – LEICK, G. Mesopotâmia: A Inveção da Cidade. Rio de Janeiro: Imago, 2003. 7 – SANDERS, Willian T & MARIANO Joseph. Pré-história do Novo Mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1971. 8 – SPENCE, L. Guia Ilustrado Mitologia Norte-Americana. 2ª Ed. Lisboa: Estampa, 1997. 9 – TENÓRIO, Maria Cristina (org). Pré-história na terra brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000. In. Coleta, Processamento e início da domesticação de plantas no Brasil. GASPAR, Maria Dulce. Os ocupantes Pré–históricos do litoral brasileiro. P 159-70. 10 – VERDET, Jean-Pierre. O Céu, mistério, magia e mito. Rio de Janeiro: Objetiva, 1987. ARQUIVOS DO MHN – UFMG 1 – HURT, Wesley. Adaptações marítimas no Brasil. Belo Horizonte. ARQUIVOS DO MUSEU de HISTÓRIA NATURAL DE BELO HORIZONTE. UFMG. Vol VIII e IX. 1983/ 1984. P 61-72. 2 – DIAS, O & CARVALHO, Eliana. Discussão sobre os inícios da agricultura no Brasil. Belo Horizonte: ARQUIVOS DO MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL. UFMG. Vol. XI. 1986/ 1990. ANEXO 01 FILOGENIA HUMANA A PARTIR DA TESE OUT OF AFRICA FIGURA. 13 Ramapithecus brevirostri (1932) Orangotango Sehalanthropus tchadensis (2002) ? Gorila Orrorin tugenensis (2001) – com mais dados pode–se provar, a ancestralidade ao Homo sp. Ardipithecus ramidus (1995) ? Australopithecus anamensis (1997) Australopithecus afarensis “Lucy” (1979) Australopithecus aethiopicus (1985) Australopithecus africanus (1925) Australopithecus boisei (1959) Australopithecus robustus (1938) (Australopithecus) Kenyanthropus platyops (2001) Australopithecus sediba (2010) Australopithecus garhi (1996) Homo rudolfensis Homo habilis ? ? ou ? Homo ergaster (er3733 e o “Menino de Turkana”) Homo erectus (modelos da Ásia – Sarigan) Homo antecessor (Atapuerca) H. heidelbergensis (Mauer, Swanscombe e Petralona) Homo floresiensis (Indonésia) ? H. heidelberguensis africano neandetalianos Hominídeo de Denisova Homo sapiens sapiens (Florisbad, Klasies, Qafzeh, Taramsa e Madleč) Nossa árvore genealógica humana Fonte: Wong, Kate. Genealogia Humana. Scientific American Brasil. Edição Especial. Nº37. P 70-72 e Stringer, C. Modern Human Origins. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B. 2002. P 566. FILOGENIA HUMANA A PARTIR DA TESE MULTIRREGIONAL Modelo proposto por Milford Wolpoff e Rachel Caspari a partir do Homo ergaster-erectus (de baixo para cima) que se mesclou (indicado por setas) com outras espécies humanas arcaicas até surgimento da espécie humana moderna. Fonte: Wolpoff, M e Caspari, R. Race and Human Evolution: A Fatal Attraction. New York: Simon e Schuster Inc. 1997. P 281. ANEXO 02 Entrevista via e-mail com Dr. João Zilhão em 23 de janeiro de 2011. Olá Leonardo, pode encontrar respostas breves às suas perguntas intercaladas na sua mensagem abaixo. Para mais esclarecimentos, veja os diferentes artigos, livros e outros trabalhos de livre acesso em: http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/zilhao/#Main_Publications de: Leonardo de Castro Farah [mailto: [email protected]] Enviado: Sunday, January 23, 2011 7:50 PM. para: [email protected] Título: hibridismo (neanderthal e humano moderno) fortalece a tese multiregional? PERGUNTAS: 1-A criança descoberta em Lagar Velho possuía algum trauma na cintura pélvica ou no tórax similar aos neanderthais? A criança do Lapedo não possuía qualquer evidência de traumatismos que tivessem afectado o esqueleto, nem na cintura pélvica nem no tórax. 2-A criança possuía nítidos sinais de hibridismo, mas será possível colher amostras de seu DNA para estudos futuros - lembrando que o Dr. Svante Pääbo no ano passado (2010) colheu amostras de DNA de (3) neanderthais um deles de uma fêmea de 44.500 anos, isto é, mais antigo que a criança de Lapedo. Infelizmente, a má preservação do colagénio, de que nos demos conta ao tentar datar directamente, pelo radiocarbono, amostras do próprio esqueleto, indica que as probabilidades de extrair ADN da criança do Lapedo são muito baixas, pelo que não se justifica a destruição, por pequena que seja que o processo de amostragem implica. 3-Existe algum estudo sendo realizado atualmente por seus colaboradores na criança de Lapedo? Veja http://www.pnas.org/content/107/4/1338, é a mais recente publicação sobre este fóssil. 4-A tese multirregional do Dr. Wolpoff se encaixa na descoberta da criança? Se a resposta for sim. De que forma? Depende de que como se interpreta a tese. No sentido original (os primeiros homens modernos da Europa são resultado da transformação in situ, por selecção natural, das populações neandertais aborígenes), não. Num sentido mais "soft", em que a tese multirregional na prática se confunde com o modelo "Assimilação", sim, na medida em que a criança apoia o conceito de que neandertais e homens modernos não eram espécies distintas, mas sim variantes geográficas de uma única espécie. ANEXO 03 Entrevista via e-mail com Dr. João Zilhão em 03 de feveiro de 2011. Olá Leonardo, pode encontrar as minhas respostas abaixo, intercaladas no texto da sua mensagem. Cumprimentos, JZ. de: leonardo de castro farah [mailto: [email protected] ] Enviado: Thursday, February 03, 2011 8:16 PM Para: [email protected] Título: Há descobertas novas em Cueva de los Aviones Caro senhor, Dr. Zinhão. Primeiramente lhe agradeço por ter respondido minhas dúvidas, assim como por ter me enviado links para poder acompanhar as pesquisas sobre os neanderthais, Lagar Velho e as pesquisas de campo. Recentemente, em uma entrevista sua na revista científica (scentific american), sobre os neanderthais pudessem ter tido sinais de sentimentos introspectivos e manipulação de corpo (tatuagens; uso de percings; desenhos corporais e etc). PERGUNTAS: 1)É possível que os neanderthais pudessem ter tido algum tipo de sentimento introspectivo? Não é possível, é certo. 2)O Dr. Ian Tattersall defende a tese de que os neanderthais tinham sentimentos introspectivos por causa do contato deles com os humanos modernos. Este tipo afirmação, tem coerência com as informações arqueológicas que o senhor descobriu em: Cueva de los Aviones? (TATTERSALL, I. Becoming Human: Evolution and human uniqueness. 1998). Os neandertais de cueva de los aviones viveram 10.000 anos da chegada à Europa dos primeiros humanos anatomicamente modernos. 3)Em Cueva de los Aviones, Espanha, o senhor e sua equipe chegaram a descobrir restos de fogueiras, restos de animais da Era do Gelo, ferramentas líticas, algum tipo de utensílio de osso ou até mesmo, algum fóssil neanderthal? Havia tudo isso menos restos fósseis de neandertais. 4)Como ter certeza de que o abrigo de Cueva de los Aviones seria um abrigo exclusivo de neanderthais? Porque, na época em que a cavidade foi habitada (entre 50.000 e 45.000 anos antes do presente), a Europa era exclusivamente habitada por neandertais. 5) Desde o início os neanderthais sofreram com o preconceito entre os anatomistas. Desde Marcelin Boule (1912) até nos filmes da década de 20 (Lost World-adaptação do livro de Arthur Conan Doyle), pintavam os neanderthais peludos como chimpanzés. Mais tarde, afirmou-se que suas técnicas líticas eram repetitivas (não havendo nenhuma inovação, que só surgir o Cro-Magnon). Por fim, na década de 80, vemos Lewis Binford argumentar que os neanderthais eram carniceiros, não falavam entre si e não tinham pensamentos introspectivos. Até quando este tipo de informação ou preconceito vai continuar? Imagino que por muito tempo... O peso das ideias feitas só costuma desaparecer muito depois de que ocorram os avanços científicos que demonstram o seu carácter erróneo. 6) Os neanderthais que o senhor interpreta na entrevista com a revista Scentific American, seriam capazes de possuir manipulação de corpo, sentimentos introspectivos, sendo também versáteis, então por que esta espécie humana se extinguiu dos registros fósseis de forma tão súbita? "Súbita"? De modo algum. O processo prolongou-se ao longo de muitos séculos, e explicase pelo desequilíbrio demográfico. As populações anatomicamente modernas eram, geograficamente, africanas, continente onde, pelo seu tamanho e pelas condições ambientais, podemos estimar o número de habitantes em 10 a 100 vezes maior que o da Europa da idade do gelo. Ao dar-se a expansão para a Europa dessas populações, a miscigenação com os neandertais autóctones deu aquilo que seria de esperar... Quando se misturam 100 litros de tinta branca com 1 litro de tinta preta o que se obtém são 101 litros de tinta branca. A olho nu a contribuição da tinta preta não se nota, mas as análises laboratoriais podem detectar a sua presença. No caso dos europeus actuais, esse “litro de tinta preta” é os 1-4% de genes neandertais que neles subsistem. Observação: A pesquisa fez com que imaginássemos que o Homo neandertal fosse capaz de possuir sentimentos introspectivos, baseando em seus funerais e possuir artigos simbólicos, mas ao saber mais detalhes sobre isso com o Dr. João Zilhão, enxergamos que ele está certo em afirmar que estes hominídeos não possuíam sentimentos introspectivos e nós estávamos errados. ANEXO 04 Em 29 de janeiro de 2012, at 5:29 AM, Leonardo de Castro Farah escreveu: Dr. Wolpoff, meu nome é Leonardo de Castro Farah, eu sou um professor de história no ensino fundamental e médio na cidade de Nova Viçosa, Bahia, Brasil. Gosto de suas teorias e sou leitor de seu livro: Race and Evoluction Human : The Fatal Traction. Atualmente, estou escrevendo um livro que toca em evolução humana. Por essa razão, meu interesse no assunto em ler seu trabalho veio a necessidade de abordar algumas questões sobre as recentes descobertas na paleoantropologia. Um prazer 1º Dr. Svante Pääbo, o Dr. Richard E. Green e Dr. Hernán Burbano iniciou uma pesquisa sobre o seqüenciamento do DNA mitocondrial (em populações de Neandertais, os humanos modernos e chimpanzés) e concluiu que os humanos modernos na Europa e Ásia têm traços de DNA doNeanderthal. Qual é o impacto disto na teoria Multirregional? Cruzamento com os neandertais é uma demonstração da sua correcção. Este é um teste que poderia ter o potencial MRE falhou, mas não. 2º A criança Lapedo (Lagar-Velho, Portugal), descoberto em 1998 por uma equipe de paleoantropologia Português concluindo que era uma criança híbrida ou mestiça. Qual é a relação entre este achado e a teoria multirregional? Restos de esqueletos que evidenciem sinais de mestiçagem com neandertais é uma demonstração da sua correcção. Este é um teste que poderia ter o potencial MRE falhou, mas não o fez. Tenho publicado em tal evidência de uma caverna Checa. (Madleč). 3° Que crânios de humanos arcaicos poderiam ser comparado com o crânio humano moderno a sugerindo uma possível evolução multirregional? Vou anexar uma figura para você mostrando comparações de três regiões. 4º O Dr. C. Loring Brace, da Universidade de Michigan, nos 60 anos estudou crânios de humanos arcaicos (erectus e os Neandertais) e crânios de humanos modernos (Homo sapiens), e sugeriu que a evolução humana foi linear, a teoria multiregional sugere o mesmo? Realmente não é, Brace nunca reconheceu a importância das diferenças geográficas. 5° Em 2003 foi descoberto o Homo floresiensis. Sua anatomia (crânio), principalmente possuí uma semelhança com o Homo erectus na Ásia. Na minha opinião, esse achado contribui para a teoria multiregional, estou correto em afirmar isso? Eu acredito que a melhor evidência mostra que este espécime é patológica, e portanto não podem abordar qualquer questão evolutiva. Eu te agradeço, um abraço, Obrigado Leonardo de Castro Farah Milford H. Wolpoff Professor, Departamento de Antropologia Paleoantropologia Laboratório Adjunto Scientist Research Associate, Museu de Antropologia Centro de núcleo para Musculoskeletal, Office Óssea Doenças Centro de Pesquisa e Laboratório de 231 West Hall University of Michigan Ann Arbor, MI 48109-1092 Telefone e Fax: 734 4753291 “Estou determinado a me desgastar, para não enferrujar” - Robert Broom ANEXO 05 Em 07 de Março de 2012, as 12: 46 PM, Leonardo de Castro Farah escreveu: Peter Brown, eu sou Leonardo de Castro Farah, eu ensino História no ensino fundamental e médio em Nova Viçosa, Bahia, no momento estou escrevendo um livro sobre a evolução humana (Acaso humanos: a história dos caminhos e descaminhos da evolução), isso é razão para me contactar com o senhor. Em periódicos brasileiros em 2004 (Scientific American Brasil, Superinteressante e Galileu), descreveram a descoberta do Homo floresiensis ou Hobbit, pelo o senhor e sua equipe, e eu tenho algumas perguntas que gostaria de fazer. 1º O livro de John Lynch e Louise Barrett chamado: Walking with Caveman (P 158-159) afirma que o Homo erectus tinha bambu chinês como uma ferramenta pois na China havia grandes quantidades de florestas de bambu. Na Ilha de Flores existe bambu em grandes quantidades? O bambu também cresce em Flores. 2º O Homo floresiensis, na ilha de Flores teria evoluído lá ou em outro lugar? Antepassados de Homo floresiensis evoluiu na África, em seguida, fez a sua maneira de Flores. O grau de mudança evolutiva em Flores é incerto. 3º Há atualmente alguma pesquisa que está sendo realizado na ilha de Flores? A investigação sobre os fósseis de hominídeos e escavações arqueológicas continuam. As escavações vão começar de novo em julho deste ano. 4º O Senhor tem encontrado ferramentas achaulenses na ilha de Flores? Nenhuma ferramenta Acheulense em Flores, ou de qualquer outra parte da Indonésia. As ferramentas do H. floresiensis de Liang Bua são semelhantes aos Oldowan e tradição floco mais recente. 5º Qual é a datação das ferramentas descobertas? Primeiras ferramentas de Liang Bua são cerca de 90.000 anos, a partir de Mata Menga (área central de Flores) cerca de 800.000 anos. 6º No início do século XX, o pesquisador romeno, Franz Nopcsa (1877-1933), havia descoberto na Transilvânia (Romênia), pequenos dinossauros (Telmatosaurus), quando comparado com as mesmas espécies vivendo do fim do Período Cretáceo (70 milhões de anos). Seu habitat foi cercado por um mar raso e ilhas dispersas (semelhante à Ilha das Flores). Minha pergunta é: posso dizer que os mesmos processos biológicos que aconteceram com o dinossauro ter sido pequeno, teria ocorrido também Hobbit e Stegodon, que foram isolados na ilha de Flores? Não. Os dinossauros são animais ectotérmicos (répteis), que têm diferentes respostas evolucionárias para as ilhas e as mudanças ambientais do que os mamíferos. Um exemplo melhor de nanismo é o que aconteceu com elefantes em Ilhas mediterrânicas. 7º Muitos paleantropólogos construíram suas carreiras, afirmando que à medida que evoluímos nosso tamanho do cérebro aumentou em uma evolução linear (por exemplo, o Homo habilis tinha um cérebro 800cm3; o Homo erectus e tinha 1.000cm3 e Homo sapiens possuí 1.350cm3). Você concorda que o Homo floresiensis rompe este raciocínio linear descrito acima? H. floresiensis não se encaixa no modelo para a linhagem humana do cérebro aumentado e do tamanho do corpo. Parte da evidência que indica que não é parte da linhagem humana. Professor Peter Brown Chair in Palaeoanthropology CO2, LG 116 University of New England Armidale NSW 2351 Australia http://pandora.nla.gov.au/pan/10345/20080516-0014/wwwpersonal.une.edu.au/_pbrown3/palaeo.html ++61 2 67733064 OBSERVAÇÃO: Pedimos autorização para publicar os e-mails das conversas com o Dr. João Zilhão, Dr. Milford Wolpoff e o Dr. Peter Brown, que permitiram a publicação. Este livro conta a trajetória das teorias sobre evolução humana, as descobertas realizadas, o impacto disto no meio acadêmico, explicando quais seriam nossos possíveis ancestrais, como e quais foram os processos evolutivos ocorridos que culminariam no aparecimento de inúmeras espécies humanas e quais seriam essas teorias que explicam a origem do humano anatomicamente moderno e após seu surgimento culminaria com a seguinte pergunta: quem, quando e por onde teriam migrado os primeiros viajantes com destino ao continente americano? ISBN: 978-85-906951-0-3
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