panorama da comunicação e das telecomunicações no

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panorama da comunicação e das telecomunicações no
PANORAMA DA COMUNICAÇÃO E
DAS TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL
Volume 2
Brasília, 2010
Governo Federal
Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República
Ministro Samuel Pinheiro Guimarães Neto
Fundação pública vinculada à Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República, o Ipea fornece
suporte técnico e institucional às ações governamentais
– possibilitando a formulação de inúmeras políticas
públicas e programas de desenvolvimento brasileiro –
e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos
realizados por seus técnicos.
Presidente
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Diretor de Desenvolvimento Institucional
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Diretor de Estudos e Relações Econômicas e
Políticas Internacionais
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Socicom – Federação Brasileira das
Associações Científicas e Acadêmicas
de Comunicação
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Diretora Relações Internacionais
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Diretor de Relações Nacionais
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Urbanas e Ambientais
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PANORAMA DA COMUNICAÇÃO E
DAS TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL
Volume 2
Brasília, 2010
© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea 2010
Panorama da comunicação e das telecomunicações no Brasil / organizadores:
Daniel Castro, José Marques de Melo, Cosette Castro. - Brasília : Ipea,
2010. 3 v. : gráfs., tabs.
Inclui bibliografia.
Conteúdo: v.1. Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. – v. 2.Memória das associações científicas e acadêmicas de
comunicação no Brasil.– v. 3. Tendências na comunicação.
ISBN 978-85-7811-084-0
1. Comunicação. 2. Telecomunicações. 3. Brasil. I. Castro, Daniel. II. Melo,
José Marques de. III. Castro, Cosette. IV. Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada. V. Título: Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. VI. Título: Memória das associações científicas e acadêmicas de
comunicação no Brasil. VII. Título: Tendências na comunicação.
CDD 384.0981
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e de inteira
responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto
de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ou da Secretaria
de Assuntos Estratégicos.
É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde
que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.
PANORAMA DA COMUNICAÇÃO E DAS
TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL
VOLUME 2
MEMÓRIA DAS ASSOCIAÇÕES CIENTÍFICAS E
ACADÊMICAS DE COMUNICAÇÃO NO BRASIL
Organização
Daniel Castro
José Marques de Melo
Cosette Castro
Coordenação
José Marques de Melo
Ana Silvia Médola
Margarida Kunsch
Daniel Castro
Cosette Castro
O papel central da comunidade científica advém-lhe de ser a instância de
mediação entre o conhecimento científico e a sociedade no seu todo e na
sua tripla identidade sócio-econômica, jurídico-política e
ideológico-cultural. É nesta perspectiva exteriorizante que deve ser
estudada a estrutura interna da comunidade científica.
(Boaventura de Souza Santos)
SUMÁRIO
VOLUME 2
MEMÓRIA DAS ASSOCIAÇÕES CIENTÍFICAS E ACADÊMICAS DE
COMUNICAÇÃO NO BRASIL
Apresentação
Ana Silvia Médola.........................................................................................15
Introdução
Margarida Kunsch.........................................................................................17
A Emergência do Campo da Comunicação no Brasil
Maria Cristina Gobbi ...................................................................................19
Capítulo 1
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico
da Comunicação
Ana Silvia Médola........................................................................................29
Capítulo 2
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da
Comunicação
Antonio Hohlfeldt..........................................................................................35
Capítulo 3
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
José Marques de Melo..................................................................................55
Capítulo 4
A História da Compós – lógicas e desafios
José Luiz Braga.............................................................................................61
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Itania Maria Mota Gomes, Julio Pinto e Ana Carolina Escosteguy ..................71
Capítulo 5
Breve relato sobre a fundação da Socine
Fernão Pessoa Ramos....................................................................................89
Notas sobre a história da Socine
José Gatti.....................................................................................................93
Breve histórico da área do ensino de cinema e do audiovisual
Maria Dora G. Mourão...................................................................................95
Breve histórico da Socine
Maria Dora G. Mourão.................................................................................101
11
Capítulo 6
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Carlos Eduardo Franciscato, Edson Spenthof, Mirna Tonus e Sérgio Luiz Gadini
..................................................................................................................107
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
Elias Machado ...........................................................................................125
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo- FNPJ
Gerson Luiz Martins e Carmen Pereira ........................................................132
Capítulo 7
As origens da Semiótica no Brasil
Ana Claudia Mei Alves de Oliveira...............................................................141
ABES, recriação e percurso de uma associação
Ana Claudia Mei Alves de Oliveira...............................................................151
Capítulo 8
Economia Política da Comunicação (EPC)
Anita Simis e Ruy Sardinha Lopes ...............................................................165
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
Valerio Brittos e Cesar Bolaño......................................................................177
Capítulo 9
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional
e das Relações Públicas
Ivone de Lourdes Oliveira ...........................................................................183
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas (Abrapcorp)
Margarida Kunsch.......................................................................................195
Capítulo 10
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Eugênio Trivinho..........................................................................................203
Capítulo 11
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”
Marialva Barbosa........................................................................................211
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Marialva Barbosa.........................................................................................215
12
Capítulo 12
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado
profissional
Adolpho Queiroz .......................................................................................233
Capítulo 13
Folkcom - Origens da entidade
Betania Maciel............................................................................................251
Folkcomunicação: memória institucional
Cristina Schmidt..........................................................................................264
13
14
APRESENTAÇÃO
A constituição da Comunicação como área de conhecimento no Brasil está presente
nos textos que compõem este segmento intitulado Estado do Conhecimento. No
âmbito do Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil revelou-se
fundamental descrever e diagnosticar a produção de conhecimento nos principais
segmentos da Comunicação nacionalmente institucionalizados ou publicamente
legitimados nesta primeira década do século XXI. A colaboração dos renomados
pesquisadores da área que assinam os textos nesta sessão constrói um painel onde
é possível perceber a trajetória da institucionalização dos saberes e das práticas
comunicativas a partir da inserção dos meios de comunicação na vida social
brasileira.
A força da Comunicação enquanto campo científico pode ser dimensionada
pelas entidades que integram a Federação Brasileira das Associações Científicas e
Acadêmicas de Comunicação (Socicom) e o registro do Estado do Conhecimento
realizado nesse volume, mediado pelo olhar de entidades como a Intercom,
Compós, ULEPICC-Brasil, Rede Alcar, Abrapcorp, SBPJor, FNPJ, Folkcom,
Socine, Forcine, Politicom, Abes, definem as especificidades e as demandas de
cada segmento.
Os antecedentes, desenvolvimento e os desafios acadêmicos da comunicação
são explanados por Antonio Hohlfeldt, Presidente da Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom, a mais antiga e mais
abrangente das associações científicas da área. O autor apresenta um recorte a
partir de uma periodização dos enfoques, entre os quais, estudos históricos e
jurídicos, pesquisa mercadológica, abordagens comparativas e difusionistas, até
a variabilidade dos estudos, passando pela politização e legitimação acadêmica.
Tal legitimação é evidenciada na estrutura de pós-graduação da área,
contemplada no texto assinado pelos membros da diretoria da Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), Itania
Maria Mota Gomes, presidente, Julio Pinto, vice-presidente e Ana Carolina
Escosteguy, secretária. Ao sistematizarem os primórdios, as tendências e as
perspectivas da pós-graduação em Comunicação, os autores oferecem ao leitor
uma minuciosa descrição dos mecanismos e processos que estruturam a produção
de conhecimento em centros de pós-graduação, principais responsáveis pelo
desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica. Apresentando-se como
condição para o fortalecimento do sistema universitário, os autores demonstram
como a pós-graduação em Comunicação revela-se fundamental também para o
desenvolvimento dos projetos de inovação capazes de atender às demandas da
sociedade.
15
A descrição da comunidade acadêmica com seus indicadores de titulação e
dimensão quantitativa das instituições aqui representadas apresenta, por um lado,
os principais focos da pesquisa nas respectivas esferas de atuação das afiliadas da
Socicom, e, por outro, um panorama das tendências e perspectivas da área no
contexto nacional de ciência e tecnologia.
Em todos os textos o leitor vai identificar breves históricos de cada sub-área,
situando o processo de desenvolvimento cognitivo. Entretanto, em “História
da Mídia no Brasil, percurso de uma década”, Marialva Barbosa presidente da
Rede Alcar, demonstra o crescimento expressivo das pesquisas envolvendo
especificamente a dimensão histórica dos meios de comunicação e os desafios
deste tipo de análise.
O trabalho de recuperação e registro dos dados constantes nessa publicação
caracteriza os diferentes momentos e trajetórias das investigações, bem como a
diversidade de objetos, temas e abordagens. A Economia Política da Comunicação
é um segmento de estudos abrigado pela União Latina de Economia Política
da Informação, da Comunicação e da Cultura (ULEPICC), descrito por Anita
Simis, presidente da ULEPICC, Capítulo – Brasil, e Ruy Sardinha Lopes, vicepresidente; as questões relativas ao ensino e à pesquisa em cinema são abordadas
por Maria Dora Mourão, presidente da Socine e representante da Forcine.
Ivone Lourdes de Oliveira, presidente da Abrapcorp, discute as práticas
comunicativas das/nas organizações e o relacionamento com seus públicos; o
marketing político situado entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional é
apresentado pelo presidente da Politicom, Adolpho Queiroz; a Folkcom, por sua
vez, retoma a trajetória dos estudos relativos à interação entre cultura popular e
culturas midiática e erudita; a contribuição da semiótica como aporte teórico de
análise da significação em discursos e sua contribuição para a compreensão das
relações de comunicação estão presentes no texto de Ana Claudia Oliveira. Por
fim, pensar o jornalismo e a produção de conhecimento nessa área fundamental
na vida social do país, ficou sob a coordenação de Carlos Franciscato, presidente
da SBPjor e de representantes do FNPJ, Sérgio Luiz Gardini, presidente, Edson
Spenthof e Mirna Tônus, diretores.
Com essas contribuições, a presente publicação descreve a comunidade
acadêmica da Comunicação, possibilitando uma visão diacrônica do processo de
estruturação do conhecimento científico sobre a Comunicação Social no Brasil.
Ana Silvia Médola
Coordenadora
16
INTRODUÇÃO
Memória das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação
no Brasil
Margarida M. Krohling Kunsch1
Esta parte da presente obra registra a memória das entidades da área de
comunicação no Brasil. Trata-se de um resgate bastante significativo já que
são essas associações científicas e acadêmicas as grandes impulsionadoras do
crescimento e consolidação do campo das ciências da comunicação no país.
A institucionalização desse campo no país se deu a partir do modelo
ou formato concebido pelo Ministério de Educação, por meio dos cursos nas
escolas ou faculdades de comunicação social, compreendendo as habilitações
de jornalismo, publicidade/propaganda, relações públicas, radialismo – rádio
e televisão, cinema/comunicação audiovisual e produção editorial/editoração
multimídia, entre outras novas que estão surgindo, a partir da implantação das
Novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Comunicação Social em
julho de 2001.
A proposta atual do Ministério da Educação - MEC é acabar com as
“habilitações”, transformando-as em “cursos” e reduzir o número excessivo das
nomenclaturas vigentes para terminologias específicas dos cursos existentes.
Assim, por exemplo, a Comunicação Social é a grande área de conhecimento e as
respectivas habilitações ora vigentes se converteriam em cursos. Nessa direção, a
primeira iniciativa na área da Comunicação Social foi do curso superior do Cinema
que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação de
Cinema e Audiovisual, por meio da Resolução n. 10, de 27 de junho de 2006.
Mais recentemente as iniciativas em curso são das áreas de Jornalismo e
Relações Públicas. O MEC, por meio da Portaria nº 203/2009, de 12 de fevereiro
de 2009, instituiu a comissão de especialistas que elaborou as novas Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo, que se encontram em trâmite
no Conselho Nacional de Educação. Em 2010, foi criada também a comissão de
especialistas para elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso
de Relações Públicas, conforme Portaria no 595/2010, de 24 de maio de 2010,
cuja proposta foi entregue ao Ministério de Educação em em 21 de outubro de
2010.Neste contexto registra-se também o papel das entidades que promoveram
a regulamentação e a proposição dos códigos de ética e de auto-regulamentação
para o exercício profissional nas comunicações.
1. Ex-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações Públicas
(Abrapcorp) e Diretora de Relações Internacionais da Socicom. Professora titular da ECA-USP. Ex-presidente
da Alaic e da Intercom. Autora de vários livros sobre Comunicação Organizacional.
17
Ao longo dos últimos anos, o curso de Comunicação Social, em suas
diferentes habilitações, tem sido um dos mais procurados nos vestibulares das
universidades e de outras instituições brasileiras de ensino superior. Isto se
explica, em parte, pelo crescimento expressivo que a área tem experimentado,
tanto no campo acadêmico quanto no mercado das indústrias das comunicações
e da comunicação organizacional/corporativa e pelo acentuado crescimento da
oferta do ensino superior em todas as áreas nos últimos anos.
No campo acadêmico, sobretudo a partir dos anos 1990, houve um salto
quantitativo e qualitativo bastante relevante nos cursos de graduação e pósgraduação. O número de universidades e instituições de ensino superior com
o curso de comunicação social cresceu assustadoramente. Os cursos de pósgraduação stricto sensu (mestrado e doutorado) somam hoje 39 reconhecidos
pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Também os de especialização (pós-graduação lato sensu) têm aumentado
substancialmente a oferta em todas as regiões do país.
Todo esse crescimento alia-se também a um avanço da pesquisa, que vem
ocorrendo principalmente nas universidades públicas e confessionais, tanto
nos cursos de pós-graduação quanto nos de graduação (por meio de projetos
de iniciação científica), graças aos programas de apoio das agências nacionais e
estaduais de fomento à pesquisa.
O reflexo de tudo isso se dá na produção científica disponível, em forma
de livros, teses, dissertações, monografias de cursos de especialização, trabalhos
de conclusão de curso, projetos experimentais e, ainda, no reconhecimento
internacional, que pode ser comprovado por meio de publicações, participação
brasileira em congressos mundiais e convites para visitas científicas e estudos de
pós-graduação e pós-doutorado. Enfim, esse conjunto de fatores foi decisivo na
construção e consolidação da área das ciências da comunicação no país.
A criação da Federação Brasileira das Associações Acadêmicas e Científicas de
Comunicação (Socicom) em 2008 veio coroar todo esse crescimento vertiginoso
e contribuir para uma melhor sistematização das políticas e ações integradas do
campo comunicacional no meio acadêmico-científico do país.
Antes dos breves textos elaborados por autores que foram fundadores ou
que estiveram diretamente envolvidos na fundação da Socicom das entidades
de Comunicação a ela filiadas foi incluído um artigo da pesquisadora Maria
Cristina Gobbi, que oferece o contexto para compreender o percurso e as fases
dos estudos e reflexões sobre Comunicação no Brasil. Durante a edição do livro,
a ordem de apresentação respeitou os critérios de data de criação da entidade e
a proximidade por área de atividade, particularmente no caso do Cinema e do
Jornalismo2.
18
2 Até a data desta publicação a Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), filiada à Socicom, não
havia entregue o seu texto institucional.
A Emergência do Campo da Comunicação no Brasil
Maria Cristina Gobbi1
O século XXI tem sido marcado pela convergência e pelo interesse de entendimento
do lugar ocupado pela Comunicação. Caminhando entre status de ciência ou
como um campo de interseção de vários saberes, o mote da comunicação social
tem dividido opiniões. Marialva Barbosa (2000, p. 1-4), por exemplo, afirma
que um campo se consolida a partir de dois aspectos “1. A trajetória histórica
da constituição do próprio campo e 2. as lutas e embates claros ou sub-reptícios
travados ao longo deste percurso”. Mas essa compreensão perpassa os múltiplos
saberes. Para alcançar a estabilização, é necessário trabalhar a ideia de ordem,
no sentido de cooperação e inter-relação entre os vários conhecimentos. É uma
espécie de diálogo, de abandono do ponto de vista particular de cada disciplina
“para produzir um saber autônomo que resulte em novos objetos e novos
métodos”, desenvolvendo a integração entre as várias produções e seus processos.
Barbosa (2000, p. 5), discutindo os dois aspectos descritos, assegura que,
no contexto latino-americano, têm-se produzido gerações de pesquisadores em
comunicação preocupados com problemas reais. Ou seja, a aparente neutralidade
acadêmico-científica fica muito distante da realidade de alguns países quando são
tratados temas em que o investigador é o sujeito social e histórico.
As pesquisas em nossa região têm passado por diversos períodos que, além
de singulares, revelaram particularidades históricas, inseridas quase sempre em
movimentos políticos, econômicos e sociais. Essa trajetória tem sido carregada de
vieses que assimila o passado e busca reconstruir a própria identidade, em uma
luta de possibilidades de recuperação da identidade nacional.
Lozano Redón (1996) assegura que uma das maiores dificuldades enfrentadas
por pesquisadores da comunicação é constatar se as abordagens de seus estudos
podem ser tratadas sob a perspectiva de ciência ou de um conjunto de diferentes
ciências.
A grande questão caminha no sentido de desvendar se a comunicação tem
um objeto próprio ou, como pergunta Redón, trata-se de um fenômeno das
1. Pós-Doutora pelo Programa de Integração da América Latina (Prolam) da Universidade de São Paulo. Bolsista
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Coordenadora da pesquisa sobre o Panorama da Comunicação no Brasil, cuja meta era diagnosticar a produção de conhecimento nos principais segmentos da comunicação nacionalmente institucionalizados. Vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Televisão
Digital e professora do Programa em Comunicação da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Professora
da Universidade de Sorocaba (Uniso). Coordenadora do Grupo de Pesquisa “Pensamento Comunicacional
Latino-Americano” do CNPq. Diretora de documentação da Intercom. Coordenadora do GT Mídia, Culturas
e Tecnologias Digitais na América Latina da mesma Instituição. E-mail: [email protected].
19
ciências sociais2.
Um campo científico pode ser definido como um conjunto de métodos,
estratégias e objetos legítimos de discussão (BOURDIEU, 1983, p. 84). Sendo
assim, em cada um desses elementos são diversos os procedimentos capazes de
contribuir para sua fragmentação ou sua consolidação.
Muitos são os estudos dedicados ao entendimento sobre as fronteiras do
campo e sua efetiva consolidação enquanto ciência. Também, nas especialidades
das Ciências Sociais que têm tornado possível descrever o desenvolvimento
real das pesquisas nesta área. A partir de 1950, as metodologias examinadas
apresentavam hipóteses sobre efeitos massivos e direitos da mídia em opiniões a
serem medidas. Posteriormente, houve a explosão da teoria cultural, dos estudos
quantitativos de recepção, das pesquisas sobre audiência e as investigações sobre
mídia e Comunicação, criando uma variedade de subespecialidades humanísticas
e científico-sociais. Todos esses trabalhos mostraram que a divisa do campo “são
suas fronteiras com outros campos e instituições, e que estão prontas para serem
movidas” (JENSEN, 2001, p. 69).
Por outro lado, Newcomb (2001, p. 73) garante que, identificar trabalhos
inovadores e de peso que direcionem ou redirecionem a pesquisa e o conhecimento
nos estudos de comunicação, é muito mais difícil que em outras áreas. Para
ele, a comunicação não é uma disciplina. Se encarado como um “campo de
conhecimento”, é concebido sob dois aspectos. O primeiro, de uso mais comum,
“é o senso convencional de uma área de estudo”. O outro é usado para descrever
as “tentativas de fazer nosso caminho através de suas principais extensões” (2001,
p. 75).
Os caminhos são renovados constantemente. O Brasil atravessa um grande
momento de revitalização dos estudos comunicacionais. As tecnologias da
comunicação, mensagens, seus significados e discussões, bem como toda a busca
para delinear uma nova abertura renovaram vitalmente o “terreno intelectual
em que muitos de nós trabalhamos”, constituindo-se desta forma em uma nova
opção de estudos (NEWCOMB, 2001, p. 75-77).
Por outro lado, Miquel de Moragas SPA (1981, p. 12-28) afirma que os
estudos de comunicação não proporcionam uma reflexão sobre os problemas
epistemológicos da área. Para ele, a pesquisa em comunicação não pode ser
tratada de forma separada da evolução das ciências sociais em geral (Sociologia,
Psicologia, Economia Política, Antropologia Social etc). Mais que uma ciência,
2.“Podemos afirmar que existem duas correntes neste sentido. A primeira afirma que a comunicação é factível
e desejável. Esses pesquisadores estão ancorados em correntes positivistas, oriundas principalmente dos Estados
Unidos. Outros, com enfoques mais críticos, fruto de correntes européias, afirmam ser a comunicação um processo tão amplo e complexo que requer uma abordagem interdisciplinar, tratando-se, portanto, de um processo
social”. (LOZANO REDÓN, 1996, p. 21). Tradução da autora.
20
a Comunicação é um processo que aparece “tanto nos níveis cognoscitivos
do indivíduo como em sua ação social”. Em suma, para Moragas, os estudos
comunicativos são uma reunião de distintas disciplinas já existentes, chamada
por ele de pluridisciplinariedade3. Neste sentido, as várias ciências se acercam
do campo comunicativo, cada uma delas dentro de sua própria perspectiva,
assegurando desta forma um objeto de estudos comum.
Para Moragas SPA (1981), a meta seria conseguir a interdisciplinaridade4
nos estudos da Comunicação. Somente assim seria possível intercambiar
métodos, pontos de vista e, como resultado, obter análises conjuntas nas várias
dimensões dos processos da comunicação. Porém, Lozano Redón (1996, p. 2425), argumenta que as pesquisas atuais buscam a compreensão da participação
dos mass media no contexto social, analisando o processo comunicativo e suas
relações com outras organizações e instituições sociais de forma integrada5
e visualizando os meios massivos como “organizações dedicadas à produção e
distribuição de significados sociais”.
Toda essa confluência de elementos presentes nos estudos dos fenômenos
da Comunicação de massa tem propiciado a proliferação de numerosos enfoques.
Esse olhar tem permitido a busca pela compreensão dos processos comunicativos,
confrontando postulados teóricos e práticos, em técnicas de pesquisa quanti
e qualitativas, buscando detectar em estudos quantificáveis tendências
comportamentais, atitudes pessoais e o aprofundamento, em casos específicos,
nos níveis conotativos e latentes das mensagens, nas investigações qualitativas.
Marques de Melo (2001) defende que qualquer campo do conhecimento
humano surge como consequência das demandas coletivas. Tem sua origem na
base da sociedade, desenvolvendo-se no “interior das organizações profissionais,
culminando com a sua legitimação cognitiva por parte da academia” (p. 93). Para
ele o estoque de saber acumulado provém de duas fontes. Da práxis, que tem
como meta o desenvolvimento de modelos produtivos e da teoria, que trata do
3. Cabe aqui trazer à tona a forma como Edgar Morin (s/d) define o conceito de disciplina. Para ele, trata-se
de uma categoria que agrupa um conjunto de saberes científicos, mas que organiza o conhecimento científico,
instituindo a divisão e a especialização do trabalho, englobando a diversidade dos saberes das ciências. Marialva
Barbosa (2000), citando alguns conceitos de Morin, afirma que, apesar de agrupar um conjunto científico,
uma disciplina tende naturalmente à autonomia pela delimitação de suas fronteiras, pela linguagem na qual
se constitui, pelas técnicas elaboradas no seu interior ou utilizadas por ela e pelas teorias que lhe são próprias.
4.O termo interdisciplinar de acordo com as definições do Dicionário Aurélio (1999) significa “comum a duas
ou mais disciplinas ou ramos de conhecimento”. Alguns pesquisadores empregam o termo no sentido de representar o “concurso de várias disciplinas científicas que se debruçam sobre uma matéria comum e empírica;
e de outra parte, o termo refere à constituição de uma disciplina com objeto de estudo singular a partir das
contribuições de várias outras disciplinas” (MARTINHO, 2000, p. 4-5).
5. Na verdade, para Lozano Redón, o enfoque crítico busca: estudar a comunicação dentro de um amplo contexto social; questionar o rol de comunicação na desigualdade econômica e no poder político; seus participantes
não são neutros, como acontecia no enfoque positivista, mas seus pesquisadores se comprometem com o câmbio
social e finalmente, essa corrente questiona a produção comunicativa no reforço da ideologia dominante (1996,
p. 24-25).
21
saber legitimado pela academia, resultado do ensino e da pesquisa universitária.
Assim, ao buscarmos conceituar e entender a emergência do campo acadêmico
da comunicação social no contexto dos estudos latino-americanos e brasileiros
faz-se necessário navegar por teorias consolidadas nas práticas comunicativas.
Desta forma, torna-se possível afirmar que os estudos de Comunicação passaram
a pertencer a um campo6 científico, legitimado e reconhecido pelas Ciências
Sociais, a partir da segunda metade do século XX.
Embora a legitimação do campo tenha se estabelecido a partir da ampliação
dos estudos em jornalismo, principalmente depois da década de 1970, sendo
o sendo a imprensa o primeiro objeto de estudos, no início do século XX, as
pesquisas posteriores passaram a focar o cinema, o rádio e a televisão. Ao se afirmar
que o jornalismo estimulou o desenvolvimento do campo, deve-se considerar a
contribuição das demais disciplinas. Os estudos sob a égide das relações públicas,
da publicidade, do radialismo, da teledifusão e da cinematografia conquistaram
seu espaço, ainda em meados dos anos de 1970 (MARQUES DE MELO, 1998,
p. 97).
Todas essas considerações demonstram que o campo da comunicação social
emerge das ciências aplicadas. Bourdieu (1972, p. 174) afirma que a prática é a
condição necessária, embora relativamente autônoma, para a constituição desses
espaços de reflexão e ação. Sendo produto da relação dialética entre a situação e
o hábito7 , entendido como um sistema de disposições duradouras e transferíveis,
integrados pelas experiências passadas e formando as novas matrizes das apreciações
e ação do novo saber. Assim, a teoria de formação dos campos pode ser encarada
como um processo sociocultural e ideológico, gerador de produtos simbólicos,
que tem o cerne nas relações sociais, formando desta forma uma rede de práticas
comunicativas. “A luta pela autoridade científica é necessariamente uma luta ao
mesmo tempo política e científica; sua única singularidade é que contrapõe entre
si produtores que tendem a não ter outros clientes que não sejam seus mesmos
competidores” (BOURDIEU, 1975, p. 177).
Para o pesquisador Jesús Martín-Barbero (1997, p. 3) vivemos, atualmente,
6. Pierre Bourdieu (1988, p. 22) postula que as sociedades modernas se organizam em campos sociais (econômico, político, cultural, artístico etc) e que funcionam com uma forte interdependência. Podemos afirmar que,
buscando os elos que permitem consolidar o novo espaço, uma “luta” é travada por todos os agentes que o constituem. Dessa forma, esses “lugares” são estruturados, definidos e consolidados através de regras e objetos que
norteiam os seus limites de ação. Cada campo tem seus interesses específicos que são irredutíveis aos objetos e
interesses próprios de outros campos. Essas características somente são percebidas por aqueles que estão dotados
do hábito correspondente ou mesmo da cultura interiorizada pelo indivíduo, quer seja esta de uma época, de
uma classe ou de um grupo, constituindo dessa forma o princípio de sua ação.
7. “El habitus es a la vez un sistema de esquemas de producción de prácticas y un sistema de esquemas de percepción y de apreciación de las prácticas y, en los dos casos, sus operaciones expresan la posición social en la cual
se ha construido. En consecuencia, el habitus produce prácticas y representaciones que están disponibles para
la clasificación, que están objetivamente diferenciadas; pero que no son inmediatamente percibidas como tales
más que por los agentes que poseen el código, los esquemas clasificatorios necesarios para comprender su sentido
social” (BOURDIEU, 1988, p. 134).
22
a idade da Comunicação. Inserida em um terreno fronteiriço entre a organização
e a operação; entre a compreensão dos fenômenos e o domínio dos aparatos
comunicacionais, ela
(...) mas que como un nuevo campo de especialización, la comunicación
adquirí estatuto científico en cuanto espacio interdisciplinario, desde
el que se hacen pensables las relaciones entre fenómenos naturales y
artificiales, entre las máquinas, los animales y los hombres. Wiener ve en
la comunicación una “nueva lengua del universo”, similar a la mathesis
universales de Galileo, de ahí que más que una nueva ciencia lo que
propone es una nueva manera de hacer ciencia, más que un sustantivo un
adverbio: pensar comunicativamente los fenómenos.
Desde os anos 1980 do século XX há uma completa inversão do sentido das
técnicas que, de meros instrumentos, passaram a designar a substância, o motor da
sociedade de informação. “Confundida com inovações tecnológicas (informática,
satélites, fibra ótica, TICs) a comunicação se converteu em um espaço de ponta
da modernização industrial, gerencial, estatal, educativa e na única instância
dinâmica da sociedade”. Desta forma, as relações entre comunicação e sociedade,
poder e igualdade social passam a receber sua legitimação teórica e política através
do chamado discurso da racionalidade tecnológica, inspirando dessa forma o que
chamamos, na atualidade, de Sociedade de Informação. Para o pesquisador “não
somente a modernização é identificada como o desenvolvimento das tecnologias
da informação, também a reformulação da vigência da modernidade e o
pensamento da pós-modernidade na comunicação ocupam um lugar estratégico”
(MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 11-15).
A pesquisa comunicacional na América Latina se legitimou como espaço
científico somente nos últimos 50 anos. Para Marques de Melo (1998) esse saber
autêntico, estocado ao longo do tempo, além de permitir o desenvolvimento em
vários âmbitos, possibilitou também múltiplas alternativas metodológicas.
Para Fuentes Navarro (1998) a multiplicação das publicações acadêmicas; a
participação de pesquisadores nos cenários (eventos) internacionais; o crescente
contato com outros investigadores em ciências sociais; o desenvolvimento de
programas de pós-graduação preocupados com a pesquisa em comunicação;
a formação de investigadores mais jovens; assim como a forte presença de
professores-pesquisadores nesses programas, mostram indícios claros e precisos
de que a configuração do campo se descortina como uma possibilidade
real, estabelecendo-se em uma especialidade, cuja institucionalização e
profissionalização avançam em termos de legitimação acadêmica, tanto científica
como social. Nesta re-configuração do campo da Comunicação há uma
relevância cada vez mais reconhecida de seu objeto genérico de estudos, ou seja,
a Comunicação na constituição do mundo contemporâneo. Essas condições,
juntamente com a utopia das discussões da Comunicação como transformadora
23
da sociedade, fizeram com que existisse “internamente” no campo um “núcleo
básico”, compartilhado pelos pesquisadores que o constituem. Dessa forma, fez
de seu “exterior”, a chave de sua aspiração como diferença legitima no campo
intelectual. (FUENTES NAVARRO, 1998, p. 54-55)
A Comunicação, enquanto objeto de estudo, despertou o interesse de
inúmeras disciplinas científicas. Mas enquanto campo acadêmico, sua identidade
tem se caracterizado pelo delineamento de fronteiras estabelecidas em função dos
suportes tecnológicos (mídia) que asseguram a difusão dos bens simbólicos e do
universo populacional a que se destinam (comunidades / coletividades). Assim, o
campo é delimitado por duas variáveis. São elas: a indústria midiática, tratando-se
neste caso de organizações manufatureiras ou distribuidoras culturais e as empresas
terciárias, dedicadas ao planejamento, produção e avaliação de mensagens, dados
e informações a serem difundidos pela mídia ou a ela concernentes. Além disso,
é um campo interdisciplinar, uma vez que seus objetos específicos são produtos
cujo conteúdo está presente nas demais disciplinas que constituem o universo
científico. (MARQUES DE MELO, 1998, p. 40).
No Brasil, a constituição da comunidade brasileira no campo das Ciências
da Comunicação, relatado nos estudos de Marques de Melo, apareceu após a
criação dos pioneiros cursos superiores de Jornalismo e dos institutos de pesquisa
de audiência da mídia, em meados dos anos 50. Mas se consolidou somente
na década de 1960, com o surgimento de novos segmentos sociais (cinema,
editoração, relações públicas, rádio-teledifusão, lazer, divulgação científica,
extensão rural), ocasionando uma mudança nos espaços de geração desses novos
conhecimentos. Dessa maneira, os estudos partiram da prática para a teoria,
gerada nas emergentes escolas de comunicação, através das pesquisas.
Marques de Melo (1998) definiu quatro fases que organizam a história
das Ciências da Comunicação na América Latina. A primeira, chamada de
desbravamento, entre os anos de 1873 a 1940, compreendeu o período em
que a imprensa tornou-se objeto de pesquisa e encerrou-se quando o ensino de
Comunicação encontrou no Jornalismo seu foco de estudos. Em outras palavras,
as pesquisas partiram do reconhecimento dos objetos peculiares ao campo. A
segunda fase, dos pioneiros, entre os anos de 1940-1950, encontrou nos estudos
do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, sobre a liberdade de imprensa, seu
referencial. Foi o início do empirismo. É possível observar nesta publicação a
mudança dos escritos como tratados jurídicos, ou textos históricos, e verifica-se a
clareza e a objetividade do trabalho, construindo “uma espécie de manual para o
fortalecimento da cidadania”. O fortalecimento, entre os 1947-1963, encontrou
na universidade o cenário ideal para seu desenvolvimento. Esse fortalecimento do
campo pode ser traduzido pela ampliação da rede institucional dedicada ao ensino
da comunicação. Os estudos empíricos baseavam-se nas demandas profissionais
24
geradas pela academia. Porém a consolidação ocorreu com o surgimento do
Centro Internacional de Estudos Superiores (Ciespal), em Quito, no Equador,
em 1960 e com o desenvolvimento da indústria cultural no Brasil, entre os anos
de 1964 a 1970. (MARQUES DE MELO, 1998, p. 98-143).
A década de 1970 foi marcada pela crítica ao conhecimento existente.
Abalizou este período o grupo dos inovadores, terceira fase, que definiu com maior
nitidez a natureza do campo comunicacional latino-americano. E finalmente, a
quarta fase, na década de 19808 foi constituída por reavaliações e contribuições de
um grupo chamado de renovadores e marcada pelos “avanços empíricos e reflexivos,
referenciados nas matrizes esboçadas pelos cientistas que os precederam”. Esse
período encerra-se com a realização do I Congresso Latino-Americano de
Ciências da Comunicação, em São Paulo, Brasil, no ano de 1992 (MARQUES
DE MELO, 2001, p. 99).
Com esse panorama, o interesse pelas pesquisas dos fenômenos da
comunicação ganhou espaço tanto nas universidades como nas empresas. Ambas
buscavam nas evidências empíricas, consolidadas pela cientificidade das escolas,
qualificarem profissionais, de forma a orientá-los nos novos caminhos das
“engrenagens midiáticas”. Desta forma, o desenvolvimento da pesquisa, marcado
até então pela atuação coletiva, deu lugar a uma comunidade científica, composta
por jovens pesquisadores, atuando “organicamente, porém de forma sintonizada
com as demandas locais e nacionais” (MARQUES DE MELO, 2001, p. 98100).
Um dos grandes dilemas da comunidade acadêmica, formada por
pesquisadores, analistas de discurso e estudiosos das mediações9 culturais, na
atualidade, é buscar as singularidades de sua identidade. Porém, o processo de
legitimação e de identidade acadêmica deste campo está diretamente relacionado
com a formação de profissionais competentes para a prática científica. Além,
é claro, da efetiva participação desses atores sociais nos cenários acadêmicos,
buscando equilíbrio entre a teoria e a prática profissional. Essa assimilação de
conteúdos tem permitido o aprendizado das metodologias indispensáveis à
8. Marques de Melo afirma que a consolidação de uma Escola de Pensamento Comunicacional na América Latina foi o maior ganho desta época. Suas palavras são referendadas por Jesús Martín-Barbero que garante que “En
los años 80 empezamos no sólo a asumir el pensamiento propio en el campo de comunicación – que América
Latina tenía desde mucho antes -, sino que empezamos a valorarnos, a valorar nuevos puntos de partida desde
los cuales miramos sin despreciar para nada lo que se estaba haciendo en el resto del mundo, pero poniéndolo
en nuestra coordenadas históricas, culturales y políticas. El mayor logro de los 80 fue la configuración de lo que
ha denominado Marques de Melo la Escuela Latinoamericana de Pensamiento en Comunicación” (2001, p. 99).
9. Manuel Martín Serrano define las mediaciones como sistemas “institucionalizados para redução das dissonâncias, que, cognitivamente, operam como modelos de ordem aplicados a qualquer conjunto de coisas pertencentes a planos heterogêneos da realidade” (1977, p. 49). (Tradução da autora). Para completar, Martín Serrano
afirmou (1988, p. 1361) controlar a forma de mediar é aplicar ao conteúdo da realidade o modelo de ordem e
o tipo de significações que posteriormente serão utilizados pelo destinatário da informação para compreender o
presente, prever o futuro e, portanto, para atuar (Tradução da autora).
25
produção e à difusão científica.
A compreensão das teorias relativas aos efeitos sociais e culturais da mídia e
de seus sistemas de produção tem delineado o perfil profissionalizante dos cursos
de comunicação. Os resultados podem ser visualizados através dos estágios,
intercâmbios e financiamento das pesquisas. Essa interação entre a práxis e a
teoria tem permitido a difusão e a consolidação do campo da comunicação social,
não só no Brasil, como também no exterior.
Como desafio para as novas gerações está a busca e a consolidação de
modelos teórico-metodológicos universais, capazes de darem conta do campo e
de seus objetos de estudo, sem, contudo, abandonar a identidade cultural e a
autonomia científica. Essas novas matrizes não devem ter a pretensão de criar
uma ciência universal, mas de permitir o estudo de uma realidade comunicacional
multifacetada e complexa, sem o reducionismo à dimensão meramente
instrumental. Barbosa (2000, p. 9) garante que a partir do ano 2000 o mote é o
avanço no sentido de sedimentarmos teorias existentes, “através de uma atitude
reflexiva, propondo uma análise que visualiza não apenas novos saberes, mas,
sobretudo novos olhares. Só assim se constrói um campo de pesquisa maduro e
reconhecido como produtor de conhecimento válido”.
Quadro das Instituições que participam da Socicom, Federação criada em 2008
Audiovisual: cinema,
vídeo, televisão e rádio
FORCINE: Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual,
congrega mais de 20 instituições;
SOCINE: A Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual,
fundada em conta com 364 sócios, que representam cerca de 18
universidades brasileiras.
26
Cibercultura
ABCiber: Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura:
fundada em 2006, congrega pesquisadores(as), Grupos de Pesquisa,
instituições e/ou entidades brasileiras que estudam cibercultura.
Comunicação
Organizacional e
Relações Públicas
ABRAPcorp: Associação Brasileira de Pesquisadores de
Comunicação Organizacional e Relações Públicas, fundada
2006, com o objetivo geral de estimular o fomento, a realização
e a divulgação de estudos avançados dessas áreas no campo das
Ciências da Comunicação.
Comunicação e
Marketing Político
Politicom: Sociedade Brasileira dos Pesquisadores e Profissionais
de Comunicação e Maketing Político, fundada 2008, congrega
estudiosos de propaganda política.
Divulgação Científica
ABJC: Associação Brasileira de Jornalismo Científico, fundada em
1977, congrega pesquisadores em torno de temas ligados a CT&I.
Economia Política da
Comunicação
Ulepicc: União Latina de Economia Política da Informação,
da Comunicação e da Cultura, fundada em 2004, congrega
pesquisadores e profissionais atuantes na Economia Política da
Comunicação, da Informação e da Cultura
Folkcomunicação
Rede Folkcom: Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação,
fundada em 2003, congrega estudiosos em torno da temática da
comunicação popular.
História da Mídia
Rede Alcar: Associação Brasileira de Pesquisadores de História da
Mídia, fundada em 2001, congrega estudiosos da história da mídia.
Jornalismo
SBPJor: Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo,
fundada em 2003, congrega aproximadamente 300 associados.
FNPJ: Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, fundado em
2004, congrega professores dos cursos de jornalismo de todo o país.
Semiótica
ABES: Associação Brasileira de Semiótica, fundada em 1972,
congrega estudiosos dessa temática.
Fonte: Maria Cristina Gobbi.
27
28
CAPÍTULO 1
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel
estratégico da Comunicação
Ana Silvia Lopes Davi Médola1
A Socicom, sigla da Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas
de Comunicação, tem uma existência de apenas dois anos (começou a funcionar
em 2008), um período muito curto, mas com registro de ações relevantes
para a área da comunicação no Brasil. Entre os mais significativos destaca-se
o fato de congregar praticamente todas as associações científicas e acadêmicas
da comunicação em torno de objetivos comuns voltados ao crescimento e
fortalecimento da área.
A força decorrente da participação de suas 14 afiliadas levou a Federação
a firmar um convênio inédito com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) para a elaboração do primeiro estudo quantitativo e qualitativo destinado a
traçar o Panorama Brasileiro da Comunicação. Um marco que tem o propósito de
identificar as tendências da Comunicação no país na primeira década do século
XXI a partir do inventário do estado atual do conhecimento, em comparação com
os indicadores nacionais e mundiais da economia, da educação, da sociedade e
cultura. Nesses dois anos de atividade da Socicom, o projeto que nesta publicação
se materializa pretende oferecer informações de qualidade para subsidiar o
desenvolvimento de políticas públicas para a comunicação no país.
Outra ação relevante e que deverá permanecer em uma visão diacrônica dos
primórdios de uma história ainda em construção da Socicom, é a organização
do I Congresso Mundial da Confibercom – Confederação Ibero-americana de
Comunicação, da qual a Socicom é instituição fundadora. Tais projetos são
os resultados mais evidentes de uma trajetória marcada por ações estratégicas
e articuladas que culminaram na constituição da federação, conforme será
detalhado mais adiante.
Conjunturas prévias
Em uma perspectiva mais ampliada, podemos considerar a fundação da Federação
Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação como o
desdobramento de dois processos históricos simultâneos no campo da comunicação,
sendo um no circuito ibero-americano e o outro em âmbito nacional.
1 Membro da primeira diretoria da Socicom - Biênio 2008/2010, na função de vice-presidente.
29
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação
Internamente, o expressivo crescimento da área de Comunicação no país
nas últimas décadas, evidenciado pela contínua expansão dos cursos de graduação
e pós-graduação, contabilizando em 2008, ano de fundação da Socicom, cerca de
200 mil alunos, distribuídos em mais de 700 cursos de graduação e no caso da
pós-graduação strictu sensu, 35 programas de mestrado e doutorado credenciados
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes).
Concomitantemente, o surgimento e a atuação das associações científicas e
acadêmicas desde o começo dos anos 70 do século passado contribuiu para a
consolidação das ciências da comunicação como área científica. Neste contexto
foram criadas as condições para a fundação de uma federação com o propósito
de organizar o debate sobre o desenvolvimento científico e tecnológico da
Comunicação, focalizando os problemas comuns, ampliando o conhecimento
mútuo e a cooperação entre as diversas entidades da área.
Já no contexto internacional, a fundação da Socicom se apresentou com
a perspectiva de integrar o Brasil ao movimento de criação da Confederação
Ibero-Americana das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação
(Confibercom), entidade fundada para desenvolver ações estratégicas capazes
de promover o reconhecimento e a valorização da produção científica iberoamericana perante a comunidade mundial, conforme os termos do “Protocolo
de Guadalajara”. Firmado, em 23 de novembro de 2007, por 10 entidades
representativas do campo comunicacional ibero-americano, reunidas no México,
durante o X Ibercom – Encontro Ibero-americano de Comunicação - o “Protocolo
de Guadalajara” respaldou a criação de uma confederação ibero-americana que
reunisse as associações nacionais de Comunicação. A fundação da confederação
ibero-americana foi formalizada em abril de 2009 com a adesão de 12 entidades,
sendo oito nacionais Socicom (Brasil), AMIC (México), Fadecos (Argentina),
ABOIC (Bolívia), Invecom (Venezuela), APEIC (Peru), SOPCOM (Portugal),
AE-IC (Espanha) e quatro mega-regionais (ALAIC, Felafacs, Assibercom e
Lusocom).
A articulação entre esses dois processos nas esferas nacional e internacional,
que culminaram com a fundação da Socicom, coube a José Marques de Melo,
agente aglutinador nos fóruns de debates e nas iniciativas voltadas a organizar as
representações institucionais. A Socicom foi criada, como se pode observar, para
fomentar iniciativas de estímulo à cooperação entre instituições congêneres e de
áreas conexas, no país e no exterior.
Fundação
O primeiro passo para a constituição da federação foi a realização do Fórum das
Sociedades Científicas de Comunicação (I Socicom), ocorrido entre 31 de agosto
e 1º de setembro de 2007, no campus da universidade Unisanta, em Santos,
30
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação
durante o congresso anual da Intercom. Na ocasião, as entidades científicas e
acadêmicas de Comunicação formaram uma comissão para encaminhar os
trabalhos de criação de uma federação, o que ocorreu um ano depois, no dia 2 de
setembro de 2008, em Natal, no Rio Grande do Norte.
A assembleia de aprovação do estatuto de fundação da Socicom teve a
participação das seguintes instituições:
1. Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
(Intercom), representada pelo professor José Marques de Melo;
2. Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
(Compós), representada pela professora Ana Silvia Médola;
3. Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Corporativa e
Relações Públicas (Abrapcorp), representada pela sua presidente, professora
Margarida Maria Krohling Kunsch;
4. Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), representado pelo
professor Gerson Luiz Martins;
5. Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor),
representada pelo professor Elias Machado Gonçalves;
6. União Latina de Economia Política da Informação, Comunicação e
Cultura – Seção Brasileira - ULEPICC-Brasil, representada pelo professor
César Bolaño;
7. Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura – (ABCiber),
representada pelo presidente, professor Eugenio Rondini Trivinho;
8. Associação Brasileira de Pesquisa em História da Mídia (Rede Alcar),
representada pela professora Marialva Barbosa;
9. Associação Brasileira de Pesquisa em Comunicação - Rede de Estudo
e Pesquisa em Folkcomunicação (Folkcom) representada pela presidente,
professora Betania Maciel;
10. Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), representada
pelo professor Adolpho Queiroz.
11. Embora impossibilitados de enviar representantes naquele momento,
a Forcine e a Socine, também são consideradas entidades fundadoras da
Socicom.
A Socicom nasceu, portanto, com grande representatividade e com o
objetivo primeiro de criar as condições de diálogo entre as entidades da área,
constituindo-se em um espaço para o debate constante sobre o desenvolvimento
científico, artístico e tecnológico da Comunicação.
31
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação
Em sua estrutura de funcionamento, a federação é constituída por um
Conselho Deliberativo e uma Diretoria Executiva. A primeira diretoria da
Socicom foi eleita já na assembléia de fundação com a incumbência de regularizar
o registro da federação, criando as condições legais para a instalação do Conselho
Deliberativo em 01 de dezembro de 2008, que na ocasião aprovou o plano de
gestão para o biênio 2009-2010.
A primeira diretoria da Socicom (2009-2010) foi composta pelos professores:
- José Marques de Melo, presidente;
- Ana Silvia Médola, vice-presidente,
- Margarida Kunsch, diretora de relações internacionais;
- Elias Machado Gonçalves, diretor de relações nacionais;
- Anita Simis, diretora administrativa.
Participaram da reunião de instalação do Conselho Deliberativo, sede da
federação em São Paulo, todos os membros da diretoria da Socicom, além dos
seguintes representantes das entidades filiadas: Adolpho Queiroz – Sociedade de
Estudos Interdisciplinares em Comunicação, Intercom, Vera Regina Veiga França,
da Associação Brasileira de Programas de Pós-Graduação em Comunicação,
Compós; Cesar Ricardo Bolaño, da União Latinoamericana de Economia Política
da Informação, da Comunicação e da Cultura, Capítulo Brasil, ULEPICC-Brasil;
Eugenio Trivinho, da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura,
ABCiber, Gizely Coelho Hime, representando Marialva Barbosa da Associação
Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia, Rede Alcar; e Betania Maciel da
Rede de Estudo e Pesquisa em Folkcomunicação, Folkcom.
Nesta primeira reunião ordinária Cesar Bolaño foi eleito presidente do
Conselho Deliberativo e também foi aprovado o plano de metas apresentado pela
diretoria da Socicom para o biênio 2009-2010. Em linhas gerais o plano previa
a estruturação da entidade, consolidação das vias de diálogo entre os dirigentes
das associações filiadas e segmentos da sociedade e divulgação das atividades da
federação e do pensamento comunicacional brasileiro.
Os primeiros resultados puderam ser observados na realização de dois
seminários anuais de integração nacional e na criação do site da federação no sítio
www.Socicom.org.br , concentrando todas as informações sobre a instituição. O
I Seminário de Integração Nacional ocorreu em março de 2009, na Universidade
Estadual Paulista – UNESP, em São Paulo, reunindo os dirigentes das associações
filiadas com o propósito de estreitar as relações entre as entidades. A intensificação
32
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação
do conhecimento mútuo entre as associações favoreceu a identificação de
problemas comuns e a conseqüente busca por soluções.
No II Seminário, realizado em 2010, na Universidade de São Paulo – USP,
a ênfase dos debates esteve concentrada nas iniciativas para fortalecer e consolidar
as Ciências da Comunicação no sistema nacional de ciência e tecnologia. Nesse
sentido, um dos pontos de convergência referiu-se à necessidade de constituição
de uma base de dados com informações atualizadas sobre a área de Comunicação
no país capaz de centralizar os dados de diferentes fontes, de modo a subsidiar a
instalação de um Observatório de Políticas Públicas na área da Comunicação.
A idéia de produzir uma base de informações sobre o setor da comunicação
já estava incorporada. Por atuação do presidente da Socicom, José Marques de
Melo, juntamente com o Assessor-chefe de Imprensa e Comunicação do Ipea,
jornalista Daniel Castro, representantes das duas entidades estiveram reunidos
em 25 de fevereiro de 2010, na sede do instituto em Brasília para estabelecer um
protocolo de cooperação. A receptividade do presidente do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, Marcio Pochmann, possibilitou a realização do convênio
entre Ipea e Socicom para o desenvolvimento do projeto sobre o Panorama da
Comunicação no Brasil, projeto materializado na presente publicação.
Para um futuro bem próximo, a perspectiva é fomentar a criação do
Observatório Nacional de Políticas Públicas de Comunicação e divulgar o
Pensamento Comunicacional Brasileiro. A realização do I Congresso Mundial
da Confibercom em agosto de 2011, com o tema “Sistemas de comunicação e
diversidade cultural” e sob a coordenação da diretora de relações internacionais
da Socicom será uma ocasião importante para referendar o papel da comunidade
brasileira no circuito ibero-americano de produção científica na área.
Reconhecendo a Comunicação um dos setores estratégicos para a inserção
do país de forma soberana na Nova Ordem Econômica Mundial, espera-se que as
ações da Socicom registradas neste breve período de sua história, possam subsidiar
principalmente políticas de comunicação que fortaleçam a democracia no Brasil.
33
34
Capítulo 2
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da
Comunicação
Antonio Hohlfeldt1
Introdução
Pode-se pensar uma periodização da pesquisa brasileira em Comunicação a partir
de diferentes paradigmas. José Marques de Melo, por exemplo, propõe uma
periodização em torno das pesquisadas realizadas a cada momento. Assim, ele
identifica seis diferentes momentos2 3:
a)Estudos históricos e jurídicos – se levarmos em conta que o início da
imprensa brasileira se dá a partir de 1808, com a transferência da Família
Real portuguesa para a então colônia brasileira, e que não temos nenhuma
outra atividade comunicacional, como a classificamos hoje em dia, antes deste
momento, podemos marcar, de fato, o século XIX como o início dos estudos
sobre Comunicação no país, caracterizado aquele primeiro período por pesquisas
com perspectiva histórica ou teor jurídico, o que se vai estender pelo menos até
os anos 1930 (com o movimento revolucionário daquele ano). Tivemos, assim,
estudos memorialísticos ou que enfocavam personalidades destacadas do nascente
jornalismo brasileiro, assim como estudos vinculados a discussões jurídicas, como
o exame das legislações que regravam a imprensa nacional. Tais estudos foram
desenvolvidos especialmente por instituições como os Institutos Históricos e
Geográficos, as Ordens de Advogados do Brasil e as Associações de Imprensa que
começaram a se constituir;
b) Pesquisa mercadológica – entre os anos 1930 e 1950, a chegada das
primeiras empresas multinacionais e, conseqüentemente, a constituição de seus
departamentos de publicidade, a que se seguiu o desenvolvimento do rádio,
sobretudo quando ele assume uma característica mais comercial, segundo o
modelo norte-americano, com programas a serem patrocinados e batizados por
produtos industrializados no país, permitiu as primeiras pesquisas de opinião
pública e estudos comportamentais, assim como as pionei ras campanhas
publicitárias, quer nos jornais e revistas então em circulação, como nas emissoras
de rádio que começavam a se popularizar;
1. Presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom); pesquisador do
CNPq; Professor do PPG-COM da PUCRS; membro do Conselho Consultivo da – Sociedade Brasileira de
Pesquisadores de Jornalismo (SBPJor). Autor, dentre outros, de “Teorias da Comunicação - Conceitos, escolas
e tendências” e “Última Hora – Populismo nacionalista nas páginas de um jornal”.
2. MELO, José Marques de – “A pesquisa da comunicação na transição política brasileira” in MELO, José
Marques (Org.) – Comunicação e transição democrática, Porto Alegre, Mercado Aberto. 1995, p. 264 e ss.
3. MELO, José Marques – “Panorama brasileiro da pesquisa em comunicação” in BARBOSA, Marialva (Org.)
– Vanguarda do pensamento comunicacional brasileiro: As contribuições da Intercom (1977-2007) , São
Paulo, INTERCOM. 2007, p. 25 e ss.
35
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
c) Comparativismo e difusionismo – na primeira metade dos anos 1960, sob
a influência do Centro Internacional de Estudos Superiores de Periodismo para
América Latina (CIESPAL) – graças aos professores franceses e norte-americanos
que desenvolvem seus cursos na Colômbia, surgem estudos comparativistas –
sobretudo em jornalismo e radialismo – e projetam-se as primeiras pesquisas
difusionistas, que valorizam a possibilidade de modernização das sociedades
latino-americanas, inclusive a brasileira, através das mensagens difundidas pelos
meios de comunicação de massa, em especial a televisão, que então começava
a se popularizar; é o momento em que um professor brasileiro, Luiz Beltrão,
tornar-se-á figura pioneira na pesquisa nacional, cujos resultados ampliar-se-ão
nas décadas seguintes;
d)Deslumbramento e apocalipse – o golpe militar de 1964 faz com
que o final da década mude bruscamente de tendência, o que se estenderá
até a primeira metade da década de 1970. Sem se perder as linhas de estudo
anteriormente mencionadas, a pesquisa crítica ganha notoriedade. Assim, passase, repentinamente, de estudos entusiasmados sobre a comunicação de massa e
suas vantagens para, sob a influência dos pensadores da Escola de Frankfurt, que
começam a ser traduzidos no Brasil, para uma crítica ideológica radicalizada dessa
mesma indústria cultural, ainda que tal indústria alcance sua legitimação junto à
sociedade brasileira, sobretudo depois do surgimento da TV Globo (1962) e das
demais redes de televisão que serão então gradualmente implantadas no país;
e)Legitimação acadêmica – em que pese a continuidade da ditadura, a
reforma universitária de 1968 começa a produzir efeitos, com o surgimento dos
primeiros cursos de Mestrado e, logo adiante, de Doutorado, também no campo
da Comunicação. A distensão política, ao mesmo tempo, permite a retomada
de estudos mais amplos e variados, sobretudo a partir da Universidade de São
Paulo (USP); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade
de Brasília (UnB). Os estudos aí desenvolvidos começam a ter um foco mais
específico dirigido à comunicação e a valer-se de bibliografia especializada;
f )Politização dos estudos – a partir da década de 1980, com a transição
democrática, os programas de Pós-Graduação se multiplicam e as linhas de
pesquisa igualmente alcançam enorme variedade. É neste âmbito que surgem
as entidades representativas do campo, como a Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), fundada em 12 de dezembro de
1977, em São Paulo4 e que existiria articulada e paralelamente à União Cristã
Brasileira de Comunicação (UCBC), entidade pioneira que, durante os mais duros
anos da ditadura, recebeu e discutiu os principais temas da Comunicação, dando
ênfase à chamada Comunicação alternativa ou popular, também identificada
como comunicação das classes subalternas.
4. LOPES, Maria Immacolata Vassallo de – “Intercom e as ciências da comunicação no Brasil” in BARBOSA,
Marialva (Org.) – Vanguarda do pensamento comunicacional brasileiro: As contribuições da Intercom
(1977—2007), op. cit., p. 157.
36
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
A UCBC, fundada em 19695, hoje em dia, tem praticamente encerradas as
suas atividades, mas outras entidades foram se constituindo gradualmente, como
a COMPÓS – que reúne os Programas de Pós-Graduação de Comunicação; ou as
entidades mais específicas de cada segmento, desde a Abracorp (2006), de Relações
Públicas e Comunicação Organizacional; a Socine (1996), de pesquisadores de
cinema e a SBPJOr (2003), agregando os pesquisadores do jornalismo; a ABciber
(2006), que reúne os pesquisadores de cibercultura, até a mais recente, a Politicom
(2008), associando pesquisadores em torno da comunicação política, etc. Talvez
a denominação de politização não seja a melhor, pois que a institucionalização
traduziria melhor o processo então experimentado.
g)Variabilidade de estudos – a partir dos anos 1990, com a expansão dos
Programas de Pós-Graduação e a entrada das novas tecnologias de informação e
comunicação no país, multiplicam-se as linhas de pesquisa, as bibliografias referidas
e a produção dos pesquisadores, abrindo-se leques importantes inclusive para a
formação de equipes interdisciplinares, grupos interinstitucionais e também pesquisas
internacionais que se desenvolvem com a participação de pesquisadores brasileiros.
Outra periodização proposta é a de Margarida M. Krohling Kunsch6,
que se preocupa principalmente com a tendência institucional dos estudos
comunicacionais. Assim, ela distingue apenas três períodos, ainda que se deva
levar em conta que, provavelmente, atualizada, esta mesma periodização incluiria
um novo momento, o que se pode deduzir até mesmo a partir do título de seu
artigo, que fala sobre o desafio dos anos 90:
a) Formação de pessoal – ao longo dos anos 1950 e 1960, tendo em
conta a criação da CAPES e no CNPq, no ano de 1951. Havia, naquele
primeiro momento em que os cursos de jornalismo começam a ser constituídos,
preocupação com a formação de professorado competente; estímulo à pesquisa
científica e treinamento adequado de técnicos profissionais;
b) Diversificação de cursos – nos anos 1970, multiplicam-se os cursos de
Graduação e começam a se estruturar os cursos de Pós-Graduação (legislação
de 1965), o que gera um circuito positivo em que um segmento incide sobre
o outro, qualificando-se mutuamente, na medida em que cresce o universo de
estudantes e profissionais envolvidos, do mesmo modo que aumenta a audiência
dos meios de comunicação de massa em todo o país, graças à industrialização e
à institucionalização das redes de comunicação que o regime militar patrocina,
como a implantação dos sistemas DDD e DDI e, mais adiante, os satélites de
comunicação. Ao mesmo tempo, desenvolve-se a indústria de bens eletrônicos,
como o rádio e a televisão, lado a lado com o automóvel e a casa própria, que exige
ainda a chamada linha branca de equipamentos; como ocorrera nas décadas de
5. MELO, José Marques de – “Prefácio” in MELO, José Marques de (Org.). – Pedagogia da
comunicação:Matrizes brasileiras, São Paulo, Angellara. 2006, p. 36.
6. KUNSCH, Margarida M. Krohling – “Pesquisa brasileira de comunicação: Os desafios dos anos 90” in Revista Brasileira de Comunicação, São Paulo, INTERCOM, Vol. XVI, nº. 2, Julho-Dezembro de 1993, p. 44 e ss.
37
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
1930 em diante, mas com uma intensidade bem maior, o circuito industrializaçãopublicidade permite um forte crescimento da indústria cultural em todo o país;
c) Consolidação e destaque à pesquisa – a partir dos anos 1980, a chamada
redemocratização do país permite a emancipação cultural e universitária do
controle ideológico e censorial dos administradores políticos. O país se diversifica,
as eleições se sucedem e o campo da comunicação é importante espaço do embate
democrático. Os cursos de Mestrado surgem nos anos 1970 e os de Doutorado
na década de 1980. Crescem as produções e a necessidade de profissionais se
multiplica. Os cursos de Pós-Graduação interferem na realidade cotidiana, na
medida em que seus pesquisadores voltam-se para o entorno imediato a respeito
do qual discutem.
No artigo de Kunsch, fala-se no desafio dos anos 1990, que a autora
assim resume: desenvolver estudos sobre as novas tecnologias de informação e
comunicação (TICs) que então emergem no país; capacitar para a análise de
fenômenos emergentes produzidos pelas mesmas TICs; diminuir o descompasso
entre a pesquisa, a realidade social e as necessidades do mercado profissional;
buscar reais melhorias para a sociedade brasileira a partir das novas tecnologias;
revisar de paradigmas existentes; construir de um campo teórico da Comunicação
autônomo; sair do isolamento dos cursos de Pós-Graduação, levando a que as
pesquisas neles desenvolvidas se aproximem cada vez mais dos interesses da
sociedade do entorno.
Pode-se dizer que o “campo profissional e acadêmico da comunicação social
no Brasil se encontra hoje num estágio altamente avançado se comparado com
países da América Latina e mesmo da Europa. Essa constatação deve servir de
estímulo para se buscar uma melhoria de qualidade e os níveis de excelência na
formação universitária e um aperfeiçoamento contínuo no mercado profissional”
7
. Margarida Kunsch, neste outro texto, mais recente, salienta que “as perspectivas
são muitas, se considerarmos um conjunto de fatores, desde o poder e a
imprescindibilidade da Comunicação em todos os sentidos da vida humana e
na sociedade até as novas possibilidades advindas com a revolução tecnológica
da informação e das comunicações. Outro aspecto relevante a considerar é o
crescimento e a pujança das indústrias das comunicações no Brasil, consideradas
das mais avançadas do mundo” (ps. 89 e 90).
Evolução histórica
É possível retornar um pouco ao passado e buscar sinalizar a evolução sofrida
tanto pelas tecnologias quanto pelo estudo e o surgimento das diferentes mídias
7. KUNSCH, Margarida M., Krohling – “Perspectivas e desafios para as profissões de comunicação no terceiro
milênio” in KUNSCH, Margarida M. Krohling (Org.) – Ensino de comunicação: Qualidade na formação
acadêmico-profissional, São Paulo, INTERCOM-ECA/USP-ARCO. 2007, p. 88.
38
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
no país, até o momento presente. Foi com a imprensa que começou a experiência
brasileira no campo da comunicação, e com a imprensa permaneceria ao longo de
quase dois séculos nossa prática comunicacional.
Em sentido lato, pode-se considerar que o primeiro documento de caráter
jornalístico, produzido em terras brasileiras, foi o relato de Pero Vaz e Caminha ao
rei Dom Manuel, a respeito da descoberta de Pedro Álvares Cabral8. Em sentido
estrito, o jornalismo, segundo aquele conceito referido por José Marques de
Melo, enquanto atividade de comunicação coletiva9 ou, ainda, qualquer atividade
humana da qual resulte a transmissão de uma notícia ou informação de atualidade,
surgiria apenas após a chegada do rei Dom João VI ao Brasil, com a criação de
um arremedo de jornal10, a Gazeta do Rio de Janeiro, dirigido por Frei Tibúrcio
José da Rocha, a partir de 10 de setembro de 1808. Era nossa primeira aventura
com a imprensa, que coincidiria com outra iniciativa significativa, a de Hipólito
José da Costa e seu Correio Braziliense, editado a partir de junho de 1808, mas
que só chegaria à colônia brasileira, de fato, para ser lido pela Corte e por outros
interessados, provavelmente a partir de outubro daquele mesmo ano.
Os primeiros estudos formais sobre Comunicação se iniciaram em torno do
Jornalismo impresso, ainda no distante ano de 1859, com Fernandes Pinheiro11,
a que se seguiriam outras pesquisas, já em 188312. Anos mais tarde, outros
estudos de Vale Cabral (1881) e Pereira da Costa (1891) se seguiriam, até um dos
projetos pioneiros de pesquisa em torno da imprensa que se deveu ao historiador
Alfredo de Carvalho quem, em 29 de julho de 1907 propôs – e foi aceito – que o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a propósito do centenário da
criação da imprensa brasileira, que ocorreria no ano seguinte, desenvolvesse um
projeto coletivo de pesquisas em torno desse tema. O Secretário Geral Perpétuo
do IHGB, Max Fleuiss, aceitou de imediato a proposta e assim a Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em seu Tomo I, de 1908, dedicado
inteiramente ao Primeiro Centenário da Imprensa Periódica no Brasil, reunia,
pela primeira vez, um conjunto de monografias sobre o assunto13.
8. GUIRADO, Maria Cecília – Relatos do descobrimento do Brasil – As primeiras reportagens, Lisboa,
Piaget. 2001
9. MELO, José Marques de – Teoria da comunicação: Paradigmas latino-americanos, Petrópolis, Vozes.
1998, p. 72.
10. SODRÉ, Nelson Werneck – História da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro, Graal. 1977, p. 23.
11. MELO, José Marques de – A esfinge midiática, São Paulo, Paulus.2004, p. 61.
12. MELO, José Marques de – Teoria da comunicação: Paradigmas latino-americanos, op. cit., p. 172, e
MELO, José Marques de - A esfinge midiática, São Paulo, Paulus.2004, p. 61, onde identifica José Higino
Duarte Pereira como o pesquisador referido.
13. O material encontra-se guardado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e microfilmado, podendo ser
consultado a partir de BERTOLETTI, Esther – Periódicos brasileiros em microforma. Catálogo coletivo.
1981. A INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação homenageia o
pioneiro com o nome de REDE ALCAR – relativo a Alfredo de Carvalho – o conjunto de pesquisas que se
desenvolve atualmente, em nível nacional, sobre a história da imprensa brasileira, preparando o seu segundo
centenário, que ocorre em 2008.
39
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
Um pioneiro foi Rui Barbosa, com o seu famoso discurso, não pronunciado,
chamado “A imprensa e o dever da verdade”14. Novos estudos surgiriam nas décadas
seguintes, com Barbosa Lima Sobrinho (1923), B. dos Santos Leitão (1926), J.
Canito Mendes de Almeida (1931), Ernani Macedo de Carvalho (1940), Rubens
Porto (1941), Vitorino Prata Castelo Branco (1943), Carlos Rizzini (1946), etc.
Uma série significativa de estudos teóricos, ainda hoje reeditados, é integrada por
Danton Jobim (1957), Luiz Beltrão (1960), Carlos Lacerda (1990) e Barbosa
Lima Sobrinho (1997)15. Deve-se lembrar, ainda, a obra de Afonso de Arinos
de Melo Franco, Pela liberdade de imprensa16. A partir dos anos 1960, com
cerca de meia centena de títulos, José Marques de Melo é, indiscutivelmente,
o pesquisador mais produtivo e qualificado de todo o país, discípulo de Luiz
Beltrão, seu seguidor e difusor, e também permanente incentivador de todas as
gerações que se sucederiam, não apenas no campo do jornalismo quanto no de
todas as demais práticas da comunicação social17.
Cursos de Comunicação
A história dos cursos de Comunicação sempre esteve marcada por uma crise
permanente, traduzida na reformulação constante dos currículos a serem
cumpridos pelas faculdades. Em uma perspectiva bastante crítica, Eduardo
Meditsch mostra que, desde a primeira proposta de criação de um curso de
Jornalismo no Brasil, até as atuais escolas de Comunicação, com suas habilitações,
a elaboração dos currículos enfrenta o dilema entre orientar os cursos no sentido
profissionalizante, para formar mão-de-obra especializada, ou no sentido teóricocrítico, para formar agentes capazes de uma intervenção transformadora na
realidade social18.
Para ele, foi a preocupação em diplomar burocratas, e não em atender às
necessidades do Jornalismo brasileiro, que levou as autoridades brasileiras a criar
o primeiro curso de Jornalismo no país, na década de 1940. Daí a tendência
beletrista daqueles primeiros cursos, inclusive de uma frustrada tentativa de
14. BARBOSA, Rui – A imprensa e o dever da verdade, São Paulo, EDUSP/COM-ARTE, 1990. A conferência seria pronunciada no dia 15 de janeiro de 1920, quando de visita do autor ao Abrigo dos Filhos do Povo.
Rui Barbosa, doente,não pode comparecer à cerimônia, mas o texto foi lido por João Mangabeira. O autor
entregou os originais para que fossem editados em benefício da entidade. Hoje em dia, pode-se ler, ainda, sobre
a imprensa, os textos integrados aos volumes 25 (1898), 26 (1899) e 27 (1900), das Obras completas, publicadas
pelo Ministério de Educação e Cultura, através da Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro.
15. JOBIM, Danton – Espírito do jornalismo, São Paulo, EDUSP-COMARTE. 1992; LACERDA, Carlos –
A missão da imprensa, São Paulo, EDUDSP/COMARTE.1990; LIMA SOBRINHO, Barbosa – O problema
da imprensa, São Paulo, EDUSP/COMARTE. 1997.
16. MELO FRANCO, Afonso Arinos de – Pela liberdade de imprensa, Rio de Janeiro, José Olympio. 1957.
17. Ver, a propósito, MELO, José Marques – vestígios da travessia. Da imprensa á internet. 50 anos de
jornalismo, São Paulo, Paulus. 2009, em que o autor revisa criticamente sua trajetória de vida e acadêmica.
18. MEDISTCH, Eduardo – “A questão curricular: Do impasse à reinvenção” in MELO, José Marques (Org.)
– Ensino de comunicação no Brasil: Impasses e desafios, São Paulo, ECA/USP. 1987, mimeo, p.22.
40
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
Anísio Teixeira, na Universidade do Distrito Federal (na época, o Rio de Janeiro),
ainda nos anos 1930, o que só se encerraria, em tese, nos anos 1960.
A primeira proposta, realizada no I Congresso Brasileiro de Jornalistas, de
1918, resultou na criação da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e defendeu
um curso eminentemente prático, montado a partir de um jornal-laboratório19.
A proposta repetia, de certo modo, a idéia de Gustavo de Lacerda, idealizador
de uma Casa do Jornalista, em 1908, que abrigaria um Clube de Repórteres
e também uma Escola de Jornalismo: Lacerda pretendia, com isso, resolver o
descompasso entre os jornalistas intelectuais, que vinham das classes médias, com
excelente formação cultural, e a dos candidatos populares a jornalista, que não só
desconheciam a própria profissão, sem ter oportunidade de nela formar-se nem
teórica nem praticamente, quanto evidenciavam baixo nível cultural. Lacerda
faleceu sem ver seu sonho concretizado, mas o Congresso dos Jornalistas de 1918
retomaria sua idéia20.
O mesmo modelo inspirou a pioneira escola de Cásper Líbero, a partir
de 194321, concretizada em 1947. A última tentativa de desenvolver um curso
semelhante, na Universidade de Brasília, foi interrompida em 1965, graças ao
golpe militar do ano anterior.
José Marques de Melo lembra que, depois da experiência da Universidade
do Distrito Federal, seguiu-se um decreto de 1943, que instituía formalmente
o Curso de Jornalismo, e um outro, de 1946, que estabelecia as normas de
funcionamento para esse curso22.
Após a criação da Faculdade Cásper Líbero, em 1947, segue-se o da
Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, em 1948; a Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) abriu seu Curso de
Jornalismo no dia 31 de julho de 1951, sob a égide da Faculdade de Filosofia23,
vindo a transformar-se em Faculdade de Comunicação Social em 1999, depois de
se independizar, enquanto Escola de Jornalismo, em 1964, e tornar-se Faculdade
dos Meios de Comunicação Social, em 1965. A Universidade Católica de
19. MEDITSCH, Eduardo – “A qualidade do ensino na perspectiva do jornalismo: Dos anos 1980 ao inicio do
novo século” in KUNSCH, Margarida M. Krohling (Org.) – Ensino de comunicação – Qualidade na formação acadêmico-profissional, São Paulo, INTERCOM/ECA-USP/Associação de Apoio à Arte e Comunicação.
2007, p.127 e ss.
20. MELO, José Marques de – “O campo acadêmico da comunicação: História concisa” in MELO, José Marques de (Org.) – Pedagogia da comunicação: Matrizes brasileiras, São Paulo, Angellara. 2006, ps. 19 e 20.
21. Político, empresário e editor, proprietário, dentre outros, do jornal A Gazeta, Gazeta desportiva e Rádio
Gazeta, Cásper Líbero, pouco antes de falecer, em agosto de 1943, registrou em cartório um testamento em que
criava a primeira escola de jornalismo do país (in MELO, José Marques de – “Cásper Libero, pioneiro do ensino
de jornalismo no Brasil” in MELO, José Marques de (Org.) – Transformações do Jornalismo brasileiro – ética
e técnica, São Paulo, INTERCOM. 194, p.13.
22. MELO, José Marques de – “O ensino do jornalismo” in MELO, José Marques de (Org.) – O Ensino do
jornalismo – Documentos da IV Semana de Estudos de Jornalismo, São Paulo, ECA/USP. 1972, p. 9.
23. CLEMENTE, Elvo – “O curso de Jornalismo” in DORNELLES, Beatriz (Org.) – PUCRS – 50 anos
formando jornalistas, Porto Alegre, EDIPUCRS. 2002, p. 14.
41
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
Pernambuco cria seu curso de Jornalismo em 1961, coordenado por Luiz Beltrão;
a Universidade de Brasília inicia sua Faculdade de Comunicação de Massa, em
1963, e, em 1966, a Universidade de São Paulo cria a Escola de Comunicações e
Artes (ECA).
Contrariando Luiz Beltrão e José Marques de Melo, contudo, Sérgio Mattos
escreve:
“O ensino de jornalismo no Nordeste não foi iniciado no ano de 1959;
tampouco os primeiros jornalistas profissionais nordestinos a portarem
título universitário colaram grau em 1961. Isto porque, historicamente,
a Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia aprovou o seu
Regimento Interno, em sessão do Conselho Universitário de 28 de abril de
1949 e nele foi inserido o curso de Jornalismo, instalado no ano de 1950
com grande afluência de candidatos. O Ministro da Educação, na época,
era o baiano Clemente Mariani que facilitou a instalação do curso durante
o reitorado de Edgard Santos. Os primeiros bacharéis em Jornalismo pela
Universidade Federal da Bahia colaram grau em 1952, quando 64 dos
quase 120 ingressos, concluíram o curso (...) No período de 1953 a 1961, o
curso de jornalismo da Ufba ficou sem funcionar, voltando a ser oferecido
em 1962. Nesse intervalo surgiu, em Salvador, o Instituto de Jornalismo
da Bahia – fundado por Germano Machado, Hermano Gouveia Neto e
Antonio Virgílio Sobrinho – que entre 1950 e 1964 ministrou vários cursos
práticos de jornalismo de curta duração”24.
É a partir de então que os cursos vão sendo organizados, podendo-se
distinguir três diferentes momentos quanto à sua evolução:
a) de 1946 a 1960 – surgimento das primeiras escolas de Jornalismo com
implantação de metodologias européias e norte-americanas;
b) de 1961 a 1969 – coincide com o funcionamento do CIESPAL na América
Latina, introduz novos parâmetros de ensino do Jornalismo e a mentalidade da
pesquisa científica;
c) de 1969 aos nossos dias, após a regulamentação da profissão de Jornalista,
que torna a profissão privativa de quem detenha o diploma. É nesta etapa que as
antigas escolas e cursos se transformam em Faculdades e quando o Jornalismo é
genericamente englobado na Comunicação Social, com raras exceções25.
24. MATTOS, Sérgio – “Ensino de jornalismo: Sem a integração teoria/prática não haverá solução” in MELO,
José Marques de (Org.) – Transformações do jornalismo brasileiro: Ética e técnica, op. cit., p. 29.
25. A exceção mais polêmica e conhecida é a da Universidade Federal de Santa Catarina, que possui um curso
de Graduação em Jornalismo e que, no ano de 2007, acaba de instalar um Mestrado em Jornalismo, em nível
de Pós-Graduação.
42
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
Diferentes currículos
O beletrismo marcou o primeiro currículo mínimo oficial, através do parecer do
Conselho Federal de Educação, de n. 323/1962, e também o segundo, através
do parecer n. 984/1965, ainda que já se pudesse divisar o início da passagem
para uma visão técnico-científica, sob a influência norte-americana da reforma
universitária que começava a se implantar no país, através do Acordo MEC/
USAID. O terceiro currículo, instituído pelo parecer n. 631/1969, denominado
por Eduardo Meditsch como fase positivista, introduz o curso de Comunicação
Social e reduz o papel e o significado do Jornalismo, diluído em meio a outras
habilitações e sob uma proposta pseudo-abrangente de preparar um profissional
múltiplo, o que acabou desagradando a todos, empresários da área e profissionais
em geral. Seguiu-se o currículo de 1979, que ele denomina burocrático: elaborado
originalmente pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa de Comunicação
(ABEPEC), foi distorcido e mereceu severas críticas da União Cristã Brasileira de
Comunicação (UCBC). Esse currículo intensificou a tendência à especialização,
e só foi rediscutido em 1984.
Seguiu-se o currículo desenvolvido a partir do parecer nº. 1203/1977, que
propõe aliar a formação teórica ao aspecto prático do ensino e ao fornecimento ao aluno,
do instrumental teórico e técnico de intervenção26. Esse currículo teve modificação
parcial no ano seguinte e foi substituído por um quinto currículo, graças ao
parecer nº. 480/1983, resultado de trabalho de uma comissão de especialistas
criada pelo Ministério de Educação. O principal aspecto deste novo currículo é
a obrigatoriedade quanto a certos quesitos de infra-estrutura que as Faculdades
devem cumprir, visando a melhoria qualitativa da formação profissional.
Segundo esse currículo, a função do Jornalismo está caracterizada pela
produção de informações, notícias, matérias, escritas ou faladas, contendo ou
não comentários, com correção redacional e adequação de linguagem, contando
com serviços técnicos como arquivos, pesquisas de dados, distribuição gráfica de
textos, fotografias, ilustrações, desenhos, sendo elaboradas para quaisquer veículos
de comunicação, com fins de divulgação27.
Depois da sanção da chamada Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira, de 1996, haveria ainda a proposição de um novo currículo para os
cursos de Comunicação Social, aí incluído o Jornalismo, em 1998, através
da Portaria Ministerial nº. 54, parcialmente modificada no ano seguinte e,
finalmente, homologada em 2001, através do parecer nº. 492, do Conselho
Nacional de Educação.
26. MOURA, Cláudia Peixoto de – O curso de Comunicação Social no Brasil: Do currículo mínimo às
novas diretrizes curriculares, Porto Alegre, EDIPUCRS. 2002, p. 88.
27. MOURA, Cláudia Peixoto de – O curso de Comunicação Social..., op. cit., p.123. O livro apresenta ainda,
em seu Anexo 2, utilíssima “Cronologia do Ensino de Comunicação Social no Brasil”
43
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
Periodicamente, empresas jornalísticas e até mesmo autoridades, inclusive
do Judiciário, tentam desobrigar do diploma, conforme o Decreto-Lei nº. 972,
de 17 de outubro de 1969, aos profissionais de jornalismo. Comenta Meditsch:
“As empresas que reclamam o fim dos cursos de Vomunicação e, com isso,
pretendem alcançar o monopólio não só do fazer, mas também do saber-fazer
geralmente investem muito pouco no aperfeiçoamento de seus profissionais,
quando não impedem que eles exerçam suas capacidades, negando-lhes as
mínimas condições de trabalho para tanto”28.
Desde 1990, o Brasil vem enfrentando a chamada guerra do canudo29,
quando o então Presidente Fernando Collor de Mello iniciou seu projeto
desregulamentador, retirando as legislações de 15 profissões. Mais tarde,
recuperado o status profissional, a juíza Carla Abrantkoski Rister, a partir de
uma demanda do Ministério Público de São Paulo, voltou a incidir sobre a
legislação profissional, desobrigando o diploma. Entre marchas e contramarchas,
formalmente, no país, no momento em que se escreve este artigo, a profissão,
regulamentada pela lei nº. 6612, que revogava o decreto-lei 972, de 17 de
outubro de 1969, e que sempre causava constrangimentos aos profissionais, por
ter sido editada durante o período da Junta Militar que governou logo após a
morte do General Costa e Silva, está desobrigada de ser cumprida pelos órgãos de
comunicação social do país. Derrubada recentemente a chamada lei de imprensa
e também decidida, pelo STF, a não-obrigatoriedade do diploma para o exercício
do jornalismo, aguarda-se, no momento, a tramitação de emenda constitucional,
a ser votada pelo Congresso Nacional, que reinsere tal obrigatoriedade na
própria Carta Magna da nação. A título de ilustração, é bom lembrar-se que, no
Brasil, a regulamentação da profissão antecedeu a criação dos próprios cursos de
Jornalismo30.
A primeira revista especializada, em nível acadêmico, sobre o fenômeno
comunicacional, nasce no Curso de Jornalismo da Universidade Católica
de Pernambuco, graças a Luiz Beltrão, que alcançara oficializá-lo em 1960 e
conseguira sua autonomia no ano seguinte. Tratava-se de “Comunicações &
Problemas”, publicada pelo Instituto de Ciências da Informação (Icinform), que
também fora criado por aquele pesquisador. Instalado no dia 13 de dezembro de
1963, comemorou assim a formatura da primeira turma do curso de jornalismo
daquela universidade, que então tinha apenas três anos de currículo31. É a partir
28. MEDITSCH, Eduardo – “A questão curricular: Do impasse à reinvenção”, op. cit., p. 32.
29. SCHROEDER, Celso – “A guerra do canudo” in DORNELLES, Beatriz (Org.) – PUCRS – 50 anos formando jornalistas, Porto Alegre, EDIPUCRS. 2002, p. 95 e ss.
30. AFONSO, Maria Rita Teixeira – “Ensino: Sonhos e pesadelos do curso pioneiro” in MELO, José Marques
de (Org.) – Pedagogia da comunicação: Matrizes brasileiras, São Paulo, Angellara. 2006, p. 37 e ss.
31. NÓBREGA, Maria Luiza – “INCINFORM – Uma experiência pioneira” in MELO, José Marques de et
GOBBI, Maria Cristina (Org.) – Gênese do pensamento comunicacional latino-americano: O protagonismo das instituções pioneras, São Bernardo do Campo, UMESP/UNESCO. 2000, p.157 e ss.
44
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
deste conjunto de estudos pioneiros que, mais tarde, surgirá a inspiração de Luiz
Beltrão para a formulação da teoria da Folkcomunicação32, que ele consubstanciará
mais tarde, em sua tese de doutoramento33.
Quanto às demais áreas de atividades da Comunicação social, podemos
começar com a Publicidade e a Propaganda.
Publicidade e propaganda
Para muitos, a história da Publicidade e da Propaganda também se inicia em
1808, com o jornal Gazeta do Rio de Janeiro34. Esse periódico teria publicado o
mais antigo anúncio de que se tem notícia no país, a respeito de aluguel e venda
de casas. Ao mesmo tempo, já em sua primeira edição, divulgava publicações que
a Imprensa Régia estava preparando para lançamentos imediatos. Por volta de
1860, com o desenvolvimento urbano, começam a surgir os primeiros painéis
e placas de rua, bulas de remédios e panfletos de propaganda. Em 1875, os
jornais “Mequetrefe” e “O Mosquito” inauguram os reclames ilustrados (p. 133).
O aparecimento das revistas ilustradas, a partir de 1900, facilita a expansão do
anúncio.
A profissionalização do campo da Publicidade se inicia nos anos 1930,
quando já havia meia dúzia de agências no Brasil, dentre elas a Eclética (fundada
em 1914), a Edanee, a Valentin Harris, a Pedro Didier/Antonio Vaudagnoti e a
Pettinatti, todas operando desde antes dos anos 192035. Neusa Demartini Gomes
afirma que a primeira empresa anunciante regular foi a Bayer, com sua aspirina.
Em boa parte, contudo, esses primeiros anúncios vinham prontos dos Estados
Unidos. A chegada, em 1926, da General Motors, fabricante de automóveis,
trouxe consigo um conjunto de profissionais para o seu departamento de
Publicidade, que viriam a formar a Walter Thompson do Brasil, em 1929, à qual
a GM entregou sua conta (p. 118). Em 1930 foi a vez da N. W. Ayer & Son
instalar-se no país, tendo entre seus clientes a General Electric.
Pode-se afirmar que o aprendizado da Publicidade foi prático, do mesmo
modo que o de Jornalismo, porque primeiro aprendia-se a fazer e só muito mais
32. CARVALHO, Samantha Viana Castelo Branco Rocha – “Luiz Beltrão: Da criação do INCINFORM à
teoria da folkcomunicação” in MELO, José Marques de et GOBBI, Maria Cristina (Org.) – Gênese do pensamento comunicacional latino-americano: O protagonismo das instituções pioneiras, São Bernardo do
Campo, UMESP/UNESCO. 2000, p.193 e ss.
33. BELTRÃO, Luiz – Folkcomunicação. Um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de
fatos e expressão de idéias, Porto Alegre, EDIPUCRS. 2001.
34. CARDOZO, Missila Loures; GOBBO, Sonia Maria et ARAÚJO, William Pereira de – “ESPM: A pioneira
escola de propaganda” in MELO, José Marques (Org.) – Pedagogia da comunicação: Matrizes brasileiras,
op. cit., p. 133.
35. GOMES, Neuse Demartini – “A comunicação publicitária no Brasil: Mercado, ensino e pesquisa” in LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; MELO, José Marques de; MOREIRA, Sônia Virgínia et BRAGANÇA,
Aníbal (Org.) – Pensamento organizacional brasileiro, São Paulo, INTERCOM.2005, p. 118 e ss.
45
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
tarde começaram a surgir as escolas e os regramentos básicos da atividade36,
constituindo o que Neusa Demartini Gomes identifica como modelo americano
e modelo europeu, os quais embaralhamos na prática (p. 157).
O surgimento da revista “O Cruzeiro” ampliou este mercado e o rádio
permitiu a criação, em 1933, da primeira agência brasileira, a Standard
Propaganda, graças à iniciativa de Cícero Leuenroth. Nesta mesma década de
1930 organiza-se a Associação Brasileira de Propaganda e a Associação Paulista
de Propaganda, assim como uma das maiores agências do mundo também aqui
se organiza, a McCann-Erickson, dirigida pelo brasileiro Armando de Morais
Sarmento.
A chegada da televisão, nos anos 1950, dá outro alento à publicidade,
levando à pesquisa organizada, e produzindo uma série de inovações, como a
Marplan, a revista “Propaganda”, a realização do primeiro Congresso Brasileiro de
Propaganda, a elaboração do Código de Ética dos Profissionais de Propaganda, a
criação do Instituto Verificador de Circulação (IVC), etc. (p. 120). Já a pesquisa
de opinião pública se inaugura com o surgimento do Instituto Brasileiro de
Pesquisa (IBOPE), em 13 de maio de 1942, por iniciativa de Auricélio Penteado37
enquanto o Instituto Gallup começa a funcionar em 1962 (p. 68).
O início dos estudos formais sobre Publicidade e Propaganda se dá com a
criação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em dezembro
de 1950 (p. 136). Seguem-se a Faculdade de Comunicação Social do Anhembi
(1968), a Escola de Comunicação e Artes da USP, a Fundação Armando Álvares
Penteado e a Casper Líbero, todas com cursos voltados para a publicidade e a
propaganda. Cerca de 80 cursos são hoje oferecidos em nível de Graduação, neste
campo 38.
Propaganda política
A propaganda política vai ganhar especial destaque com a publicação de livros
como “A mistificação das massas pela propaganda política”, do russo Serge
Tchakhotine (1964) e “A propaganda política”, do francês Jean Marie Domenach
(1960). O primeiro livro logo teria sua edição proibida, tornando-se, assim,
raridade bibliográfica. O segundo, por não ter sido mais reeditado, transformou36. GOMES, Neusa Demartini – “Pensando o ensino de publicidade e propaganda: Contribuições da academia
e do mercado para uma melhor sintonia” in KUNSCH< Margarida M. Krohling (Org.) - Ensino de comunicação: Qualidade na formação acadêmico-profissional. São Paulo, INTERCOM-ECA/USP-ARCO. 2007,
p. 155 e ss..
37. FEDERICO, Maria Elvira Bonavita - História da comunicação. Rádio e TV no Brasil, Petrópolis, Vozes.1982, p. 67.
38. GOMES, Neusa Demartini - “A comunicação publicitária no Brasil: Mercado, ensino e pesquisa” in LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; MELO, José Marques de; MOREIRA, Sônia Virgínia et BRAGANÇA,
Aníbal (Org.) – Pensamento organizacional brasileiro, São Paulo, INTERCOM.2005, p. 122.
46
se, igualmente, em bibliografia de difícil acesso39. Segundo Adolpho Queiroz,
nos anos 1980 os estudos de marketing e propaganda política evoluíram dos
simples manuais para obras de interpretação histórica, sendo que nos anos 1990
a redemocratização brasileira abriu caminho definitivo para a profissionalização
da atividade, inclusive com obras que abordam especificamente eleições e
candidaturas.
Não obstante as dificuldades provocadas pela ditadura instaurada em 1964,
é exatamente durante o período militar que se criam, sucessivamente, a Assessoria
de Relações Públicas da Presidência da República (AERP) e a Secretaria de
Comunicação (SECOM). As grandes agências eram, neste momento, brasileiras,
panorama que se modificará drasticamente a partir dos anos 199040.
O autor afirma que, para o século XXI, as contribuições de autores como
Venício Artur de Lima, Neusa Demartini Gomes e Antonio Albino Canelas
Rubim deverão ser bastante importantes, assim como se projeta a constituição
de entidades as mais variadas que se dedicarão a tais estudos. O pioneirismo de
Francisco Gaudêncio Torquato do Rego deve ser, de qualquer modo, sempre
destacado, graças a obras pioneiras como “Marketing político e governamental.
Um roteiro para campanhas políticas e estratégias de comunicação”, de 1985,
além de “Tratado da comunicação organizacional e política” e “A velha era do
novo”, ambos de 200241.
Relações públicas e comunicação organizacional
A atividade de relações públicas começa a se manifestar, no Brasil, a partir de 1914,
segundo defende Cicília Maria Krohling Peruzzo42, adquirindo maior concretude
a partir da década de 1950. No ano de 1954 cria-se a Associação Brasileira de
Relações Públicas (p. 21). Também os primeiros cursos são instalados a partir
de 1953. Por conseqüência, é também a partir daquele momento que a pesquisa
em torno do tema começa a se desenvolver. Os primeiros artigos datam dos anos
1940, mas a partir das décadas de 1960 e 1970 multiplicam-se os estudos, sendo
que a primeira obra de autor brasileiro é de 196243(p. 20).
39. QUEIROZ, Adolpho – “A evolução do conceito de marketing político no continente latino-americano” in
MELO, José Marques de et GOBBI, Maria Cristina (Org.) – Pensamento comunicacional latino-americano.
Da pesquisa-denúncia ao pragmatismo utópico, São Bernardo do Campo, UMESP/UNESCO. 2004, p. 181.
40. GOMES, Neusa Demartini – “A comunicação publicitária no Brasil: Mercado, ensino e pesquisa” in LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; MELO, José Marques de; MOREIRA, Sônia Virgínia et BRAGANÇA,
Aníbal (Org.) – Pensamento organizacional brasileiro, São Paulo, INTERCOM.2005, p. 121.
41. CARRILHO, Kleber – “Comunicação política: Os estudos seminais de Gaudêncio Torquato” in MELO,
José Marques de et GOBBI, Maria Cristina (Org.) - Pensamento comunicacional latino-americano. Da pesquisa-denúncia ao pragmatismo utópico, São Bernardo do Campo, UMESP/UNESCO. 2004, p. 275 e ss.
42. PERUZZO, Cicília Maria Krohling – “A pesquisa sobre relações públicas” in MELO, José Marques (Org.)
– Pesquisa em comunicação no Brasil. Tendências e perspectivas, São Paulo/Brasília, INTERCOM/ Cortez/
CNPq. 1983, p. 21.
43. Trata-se de Para entender relações públicas, de Cândido Teobaldo de S. Andrade.
47
Rádio
O rádio nasceu no Brasil sob a perspectiva pedagógica e educativa, conforme a
inspiração de seus primeiros idealizadores, Edgard Roquette Pinto e Henrique
Morize44, inspirados em autores como o dramaturgo Bertolt Brecht, cuja teoria
vem sendo gradualmente difundida no Brasil45. A Rádio Sociedade começou a
transmitir desde o Rio de janeiro em 20 de abril de 192346.
A primeira demonstração pública da nova mídia ocorreu em 1922, quando,
por iniciativa da Repartição Geral dos Telégrafos, a empresa norte-americana
Westinghouse fez uma apresentação do equipamento a partir do alto do
Corcovado47. Alto falantes foram colocados estrategicamente na Exposição do
Centenário da Independência do país e transmitiu o discurso do Presidente da
República, Epitácio Pessoa, quando este a inaugurou. Novas demonstrações se
sucederam nos dias seguintes, até se chegar ao surgimento da Rádio Sociedade
do Rio de Janeiro.
A partir dos anos 1930, o rádio brasileiro assumiu o modelo norte-americano
de emissora comercial, com ampla publicidade, com características nitidamente
populares, com especial destaque para a programação musical48. Assim, ele se
desenvolveu “a partir de uma determinação: um veículo de comunicação privado,
portanto, subordinado às regras do mercado econômico, mas, ao mesmo tempo,
controlado pelo Estado”49. Nos anos 1940 será a vez dos programas humorísticos
(p. 62). A popularização do rádio levou ao lançamento de revistas especializadas
como “A voz do rádio”, “Cine Rádio Jornal”, “Carioca” e “Cinelândia”. A que
maior sucesso alcançaria, contudo, foi a “Revista do rádio”, que nasceu em 1949
e chegou a uma tiragem de 50 mil exemplares semanais50. A partir de 28 de
agosto de 1941, institucionalizou-se o rádio-jornalismo, com a primeira edição
do “Repórter Esso”, que começou cobrindo especialmente os acontecimentos da
II Grande Guerra (p. 76).
Apesar da rápida evolução deste meio, e sua ampla disseminação no país,
sobretudo depois da chegada do rádio transistor (popularmente conhecido como
rádio de pilhas), a partir dos anos 1960, José Marques de Melo reclamava, ainda
em 1973, a escassez de estudos sobre tal mídia. Hoje, o panorama mudou. A
múltipla existência de emissoras em AM e FM espalhadas por todo o território
nacional, as intensas polêmicas em torno das permissões para ocupações de canais;
44. BLOIS, Marlene M. – “Rádio educativo no Brasil. Uma história em construção” in HAUSSEN, Dóris
Fagundes et CUNHA, Mágda (Org.) – Rádio brasileiro. Episódios e personagens, Porto Alegre, EDPUCRS.
2003, p. 35 e ss; e CALABRE, Lia – A era do rádio, Rio de Janeiro, Zahar. 2002, p. 21.
45. Ver, a propósito, “Teoria do rádio”, de Bertolt Brecht, em MEDITSCH, Eduardo (org.) – Teorias do rádio,
Florianópolis/São Paulo, UFSC/INSULAR/INTERCOM.2005, p. 35 e ss.
46. BLOIS, Marlene M. – “Rádio educativo no Brasil. Uma história em construção”, op. cit., p. 35.
47. FEDERICO, Maria Elvira Bonavita – História da comunicação. Rádio e TV no Brasil, op. cit., p. 33.
48. FEDERICO, Maria Elvira Bonavita – História da comunicação. Rádio e TV no Brasil, idem, ibidem., p. 57.
49. CALABRE, Lia – A era do rádio, op.cit., p. 12.
50. FEDERICO, Maria Elvira Bonavita – História da comunicação. Rádio e TV no Brasil, op. cit., p. 68.
48
as potencialidades das rádios universitárias e, mais recentemente, das rádios
comunitárias e, enfim, a possibilidade do rádio digital, tem aprofundado e ampliado
o espectro de estudos em torno do tema, ainda que, durante muito tempo, a área
tenha se constituído em autêntico primo pobre dentre os estudos comunicacionais51.
Televisão
A televisão é um desses raros meios de comunicação cujo desenvolvimento, no
país, é quase simultâneo com a implantação internacional do mesmo mídia,
no caso, especialmente os Estados Unidos52. O pioneirismo é devido a Assis
Chateaubriand que, em 18 de setembro de 1950, consegue instalar a primeira
emissora no país, a TV Tupi de São Paulo. O equipamento, importado da RCA
norte-americana, enviava seu sinal a um máximo de cem quilômetros53, mesmo
que a antena estivesse instalada no alto do prédio do Banco do Estado de São Paulo,
como estava. Um aparelho de televisão GE, importado, custava cerca de Cr$
10.950,00 ou U$ 5.760 dólares. O jornal diário custava 1 cruzeiro. O aparelho,
a preços de hoje, custaria em torno de R$ 480,0054. Chateaubriand, em visita a
David Sarnoff e Mead Brunett, os executivos da empresa norte-americana, após
conhecer o equipamento de televisão, transferira para a empresa, incontinenti,
cerca de 150 mil dólares que tinha, depositados no Colonial Bank, com um
aval do Banco Moreira Sales55, passando a aguardar melhor desenvolvimento
tecnológico dos equipamentos.
Quando chegaram ao Brasil, 210 caixotes56, num total de 30 toneladas57,
desfilaram em caminhões pelo centro da cidade de São Paulo, parando-a
totalmente, para chegar ao espaço idealmente indicado para a construção dos
estúdios da emissora. Este início difícil não impediu, contudo, seu rápido
crescimento: em 1957 havia dez emissoras de televisão no Brasil, centradas entre
São Paulo e Rio de Janeiro. Dois anos depois, havia emissoras também em Belo
Horizonte, Porto Alegre, Ribeirão Preto e Bauru58.
51. QUEIROZ, Roberto – “A pesquisa sobre rádio” in MELO, José Marques (Org.) – Pesquisa em comunicação no Brasil. Tendências e perspectivas, São Paulo/Brasília, INTERCOM/ Cortez/CNPq. 1983, p. 27 e ss..
52. O Brasil foi o quinto país do mundo a instalar um sistema televisivo e o segundo da América, neste caso,
antecedido apenas pelo México, ao contrário do que afirma RAMOS, Murilo César – “O papel dos meios de
comunicação de massa na abertura política brasileira. Da sístole à diástole, os limites da democracia” in MELO,
José Marques de (Org.) – Comunicação e transição democrática, Porto Alegre, Mercado Aberto. 1985, p. 248.
53. REIMÃO, Sandra – “A inauguração da televisão no Brasil” in REIMÃO, Sandra (Org.) – Em instantes –
Notas sobre programas na tv brasileira (1965-2000), São Paulo, UMESP. 2006, p. 18.
54. CASTRO, J. Almeida – Tupi, pioneira da televisão brasileira, Brasília, Fundação Assis Chateaubriand.
2000, p. 58.
55. CASTRO, J. Almeida – Tupi, pioneira da televisão brasileira, op. cit. p. 25.
56. ESPECIAL CONTIGO – 50 anos de TV, São Paulo, Abril Cultural. 29.09.2000, p. 4.
57. MATTOS, Sérgio – História da televisão brasileira. Uma visão econômica, social e política, Petrópolis,
Vozes. 2002, p. 49.
58. REIMÃO, Sandra – Idem, ibidem, p. 25. Também Sérgio Caparelli registra esta mesma disseminação, que
ocorre no que ele considera a segunda fase de evolução da televisão brasileira, em Comunicação de massa sem
massa, São Paulo, Summus. 1986.
49
A chegada do vídeotape, nos anos 1960, permite não apenas a disseminação
da nova tecnologia quanto sua popularização. Mais que isso, abre a possibilidade
de formação das grandes redes, o que vai acabar com as produções regionalizadas
que, ao longo da década de 1960 distribuíra-se por todo o país. O processo será
inaugurado pela Excelsior, mas será explorado definitivamente pela TV Globo59.
No início, o videotape propiciava a gravação em pesadas fitas, que eram enviadas
de avião para as diferentes localidades. Depois, o processo se simplificou e ganhou
portabilidade. Com a criação da EMBRATEL, pelo Governo Federal, deu-se um
novo salto para a difusão de programas, possibilitando-se a criação das redes com
a programação alive.
Com a falência dos Diários Associados e a solidificação da TV Globo, graças
a um polêmico acordo comercial-financeiro com o grupo Time-Life, um novo
modelo televisivo foi gradualmente implantado no Brasil.
José Manuel Morán afirma que a televisão foi pouco estudada nos seus anos
iniciais, na década de 196060. Na verdade, até a pouco, ela continuava escassamente
estudada do ponto de vista de análises amplas e criticamente interpretativas. A
passagem dos 60 anos de sua implantação, neste ano de 2010, contudo, parece
mudar um pouco o panorama. De qualquer modo, aquele pesquisador distingue
os estudos sobre mensagens televisivas; efeitos no receptor; a televisão como
agente modernizadora – dentre os estudos pioneiros, ainda naquela primeira
década. Sucessivamente, nos anos 1970, surgiriam estudos sobre os efeitos sociais
da televisão; a televisão enquanto empreendimento empresarial; análises de
programas, sob diferentes linhas metodológicas e teóricas; a televisão enquanto
meio capitalista, etc. Mais recentemente, ampliam-se as análises históricas
e contextualizadoras, discussões sobre os grandes conglomerados; pesquisas
em torno da recepção; discussões sobre os diferentes gêneros televisivos e, por
conseqüência, grades de programação, etc. 61.
A partir deste levantamento inicial, é possível aprofundar os estudos em
torno de cada meio; pensar criticamente o relacionamento entre eles e a maneira
59. O “Jornal Nacional” foi o primeiro programa ao vivo a ser exibido por várias emissoras em rede. Ele usava
o sistema de microondas da Embratel, que na época tinha inaugurado apenas o seu primeiro tronco – o Tronco
Sul – interligando as cidades de Curitiba e de Porto Alegre. O “Jornal Nacional” foi o único programa durante
os primeiros anos que, em tempo real, integrava todas as emissoras.Fora disso, havia os programas gravados
em fitas de videoteipe que viajavam pelo país. A operação integral em rede começa em 1983, quando a Globo
passa a trabalhar com o satélite Intelsat (SCARDUELLI, Paulo – Network de bombacha: Os segredos da TV
regional da RBS, São Paulo, ECA-USP, Dissertação de Mestrado. 1996, mimeo, p. 16.
60. MORÁN, José Manuel – “A pesquisa sobre televisão” in MELO, José Marques (Org.) – Pesquisa em comunicação no Brasil. Tendências e perspectivas, São Paulo/Brasília, INTERCOM/ Cortez/CNPq. 1983, p. 34 e ss..
61. Para uma visão abrangente da evolução da televisão no país, pode-se consultar HO-
HLFELDT, Antonio et MERG, Camila – “Televisão brasileira: História a ser contada,
evolução a ser avaliada”, paper apresentado ao 8º. Encontro Nacional da SBPJor – Sociedade Brasileira de Pesquisadores de Jornalismo, em novembro de 2010, na Universidade
Federal do Maranhão, em São Luís.
50
pela qual se deu a evolução de cada mídia; discutir a valorização que, junto ao
público brasileiro, cada mídia alcançou; seus diferentes papéis e interferências na
formação da identidade e do imaginário nacional; a formação das grandes redes,
etc. Boa parte destes temas vem sendo estudada, mas fragmentariamente, sem que
se tenha uma visão de conjunto e, sobretudo, uma perspectiva crítica.
51
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54
CAPÍTULO 3
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
José Marques de Melo1
Introdução
Mais antiga sociedade científica em atuação no país no campo da Comunicação,
a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)
surge e progride no quadro de consolidação das ciências da comunicação como
área científica, decorrente também da atuação de outras associações científicas
e acadêmicas fundadas no apagar das luzes dos anos sessenta e limiar dos anos
setenta do século passado.
A primeira entidade aglutinadora de estudiosos da comunicação no Brasil
foi a Associação dos Amigos do Icinform, sigla do Instituto de Ciências da
Informação, criada por Luiz Beltrão, em Brasília, nos idos de 1966-67. Apesar
da existência de núcleos ativos em Brasília, Recife, São Paulo e Porto Alegre,
o agrupamento dissolveu-se na esteira dos acontecimentos que determinaram a
extinção do próprio Icinform2.
Logo em seguida, fundou-se em São Paulo (1969) uma associação voltada
para o estudo da comunicação eclesial. Trata-se da UCBC, sigla da União
Cristã Brasileira de Comunicação Social. Embora persista até os dias de hoje foi
perdendo, no correr do tempo, o caráter inicialmente analítico e reflexivo para se
tornar um núcleo militante de formação e produção.
Na seqüência, surgiu a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Comunicação (ABEPEC), criada em 1972, em São Paulo, cuja plataforma
de atuação foi pouco a pouco sendo implodida pela convivência pouco
harmoniosa entre professores e donos de escolas. Cinco anos depois de fundada,
essa associação perdeu a legitimidade, sendo substituída por duas entidades
nacionais: a Intercom (que subsiste até hoje), reunindo pesquisadores desde
1977, e a Abecom, associação de escolas e faculdades, fundada em 1984, mas
desativada paulatinamente. A seguir vieram: Compós, 1992; Socine, 1996;
Folkcom, 1998; Forcine, 2000, Rede Alcar, 2001 e SBPJor, 2003. As mais
recentes são a Ulepicc- Brasil 2004; FNPJ, 2005; Abrapcorp, 2006; ABciber,
2006; e Compolítica, 2006.
1 Diretor-Titular da Cátedra Unesco/UMESP de Comunicação, integrou a equipe de docentes fundadores da
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Presidente da Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação – Intercom (2005-2008).
14. A última edição da revista Comunicações & Problemas (n. 11/12, 1969, 0. 232) noticia um encontro dessas “sessões regionais” do Icinform, com indicação de ações planejadas para o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo
Horizonte.
55
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
Motivada pela fragilidade institucional da área de Comunicação, como
decorrência da fragmentação do campo de estudos, a Intercom promoveu,
durante o XXX Congresso de Ciências da Comunicação, em Santos, São Paulo
(agosto/2007), o I Fórum das Sociedades Científicas da Comunicação, com o
objetivo de abrir um diálogo entre as referidas entidades. Ao final, foi constituída
a Socicom, federação destinada a representar, de modo articulado, os interesses
da área frente aos órgãos públicos e privados, contribuindo para a formulação
consensual de uma política científica, tecnológica e de inovação.
Perfil
Constituída por mais de mil associados de todas as regiões do país ou residentes
no exterior, a Intercom é uma associação científica, interdisciplinar, sem fins
lucrativos, destinada a congregar professores, pesquisadores e profissionais, bem
como a prestar serviços à comunidade. A associação foi fundada em São Paulo,
a 12 de dezembro de 1977 e reconhecida como instituição de utilidade pública
pela Lei Municipal nº 28.135/89. Participa das redes nacionais de sociedades
científicas capitaneada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC) e pela Federação das Sociedades Científicas Nacionais de Comunicação
(Socicom). Está integrada às redes internacionais de Ciências da Comunicação
como entidade representativa da comunidade acadêmica brasileira:
1. Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación
(ALAIC),
2. International Association for Media and Communication Research
(IAMCR),
3. International Federation of Mass Communication Associations (IFCA)
4. Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (Lusocom)
Cada sócio da Intercom está nucleado por afinidade temática, num dos
Grupos de Pesquisa (GPs) estruturados sob a forma de redes nacionais que
estudam fenômenos específicos – Gêneros Jornalísticos, Telenovelas, Culturas
urbanas, Conteúdos Digitais, Cibercultura, etc. – ou tratam de áreas do saber
comunicacional - Comunicação Audiovisual, Organizacional, Folkcomunicação,
Jornalismo, Propaganda , Semiótica, Fotografia, Tecnologias, Teorias da
comunicação, entre outras.
Suas atividades anuais mobilizam os associados de todo o país. A principal
é o Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom Brasil),
megaevento pluritemático, frequentado por toda a comunidade científica da
área. Mas a associação promove também encontros intra-regionais de estudantes
e professores, denominados Congressos Regionais de Ciências da Comunicação,
56
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
conhecidos como Intercom Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Da mesma forma, existem outras atividades periódicas, como por exemplo
os Colóquios Bi-Nacionais de Ciências da Comunicação – reuniões de trabalho
das equipes: Brasil/França, Brasil/Espanha, Brasil/Portugal, Brasil/Itália, Brasil/
Dinamarca - ou americanos: Brasil/México, Brasil/Canadá, Brasil/Estados
Unidos, Brasil/Argentina e Brasil/Chile. Os Seminários Temáticos são eventos
realizados em parceria com universidades, empresas e organizações sociais para
debater temas da agenda pública.
A partir de 2007, ocupou papel de realce na agenda o Café Intercom,
que corresponde a eventos promovidos em parceria com a FNAC (São Paulo e
Curitiba), Biblioteca Nacional (Rio) e outras instituições para o lançamento de
livros ou para a realização de palestras.
A linha de publicações tem constituído fator-chave para a legitimação
acadêmica da entidade. A Intercom Edições vem lançando livros, anais,
coletâneas, bibliografias, monografias produzidos pelos associados, organizados
em seis coleções accessíveis na “Livraria Virtual”. É editada também a Intercom
– Revista Brasileira de Ciências da Comunicação – o mais antigo periódico da
área, detentor do conceito elevado no Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia.
Circulando há 30 anos, cada semestre, em formatos impresso e digital, essa revista
vem sendo financiada continuamente pelos Ministérios da Educação (MEC) e da
Ciência e Tecnologia (MCT).
Catalisando os interesses de públicos segmentados, a Intercom instituiu
várias redes acadêmicas: Portcom, Expocom, Intercom Junior e Intercom Jovem.
A Rede de Informação em Ciências da Comunicação nos Países de Língua Portuguesa
(Portcom) forma um banco de dados que registra as fontes do saber comunicacional
produzido no Brasil, em Portugal e nos países de língua portuguesa da África e
Oceania. A Rede de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom) possui
amplitude inter-regional, incentivando a melhoria de qualidade dos projetos
laboratoriais desenvolvidos pelos estudantes de graduação. Por sua vez, a
rede Intercom Junior destina-se a aglutinar estudantes dos cursos de graduação
engajados ou interessados em projetos de iniciação científica. Enquanto isso, a
rede Intercom Jovem pretende atualizar e complementar a formação acadêmica dos
egressos dos cursos de graduação, bem como dos jovens docentes que pretendem
desenvolver projetos no campo da Comunicação.
Cinco Prêmios, outorgados anualmente, despertam interesse coletivo. O
Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação é disputado por pesquisadores
e instituições. Enquanto o Prêmio Vera Giangrande é cobiçado por Estudantes de
Graduação e o Prêmio Ligia Averbuck por Estudantes de Especialização, foram
instituídos o Prêmio Francisco Morel, para Mestrandos e o Prêmio Freitas Nobre,
para Doutorandos.
57
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
Enquanto associação acadêmica comprometida com os destinos da sociedade
a que pertence e na qual atua responsavelmente, a Intercom tem vivido, nos
últimos anos, um período de transição institucional. Trata-se de processo balizado,
no plano externo, pela débâcle do mundo socialista e a conseqüente ascensão
dos Estados Unidos à condição de potência hegemônica. E, no plano interno,
pelo fortalecimento da democracia e pela alternância do poder republicano.
Esse quadro produziu as condições para a ascensão, pela primeira vez na nossa
História, de um partido político enraizado no mundo do trabalho, tendo que
pactuar com as elites até agora dominantes a posse do poder constitucional, que
lhe fora outorgado pelos cidadãos, através de eleições livres e soberanas.
Unidade na diversidade
O papel vanguardista da Intercom tem se caracterizado também pelas iniciativas
destinadas a romper as muralhas do gueto acadêmico, logrando maior interação
com a sociedade.
O balanço do último quinquênio indica que a associação rapidamente vem
alcançando resultados animadores. Nesse panorama, a dinamização dos Grupos
de Pesquisa, realizada pela atual diretoria, vem neutralizando a tendência inercial
que caracteriza muitos deles, convertidos em espaços receptores e seletores de
papers para exposição e debate durante o congresso anual. Pretende-se converter
os GPs em instâncias indutoras de estudos e pesquisas, criando redes integradas
que atuem coletivamente, no sentido de produzir conhecimento relevante para a
sociedade.
Para tanto, avaliou-se criteriosamente a estrutura do congresso anual,
criando oportunidades destinadas a atrair a participação dos jovens profissionais
que ingressam no mercado de trabalho e sentem necessidade permanente de
reciclar seu referencial cognitivo. Por sua vez, a seleção dos trabalhos inscritos
vem obedecendo a critérios de relevância social, inovação profissional e interesse
público. Boa parte da produção acumulada nas universidades vem sendo
direcionada para os Congressos Regionais, com periodicidade anual.
As parcerias estabelecidas com as Organizações Globo garantiram a presença
de profissionais jovens de todo o país nos seminários temáticos sobre Gestão de
indústrias midiáticas e sobre Indústrias do entretenimento, realizados anualmente,
no Rio de Janeiro.
Com a expectativa de neutralizar a babel terminológica, construindo bússola
taxionômica, a associação mobilizou a comunidade nacional para radiografar os
usos e costumes vigentes no Brasil, produzindo a “Enciclopédia Intercom de
Ciências da Comunicação”. A idéia inicial pretendeu resgatar o projeto histórico
“Temas Básicos em Comunicação” (1983). Outras iniciativas nos segmentos da
58
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
epistemologia e lexicologia continuam a desafiar a imaginação da nossa vanguarda
acadêmica.
Instalada em sede própria, na cidade de São Paulo, a Intercom mantém dois
auditórios: o Intercom Brigadeiro e Intercom Pinheiros para a realização de cursos,
seminários, colóquios e debates, todos organizados com a finalidade de prestar
serviços aos seus associados e à sociedade brasileira. Além disso, mantém uma
página web (www.intercom.org.br) onde os interessados poderão acompanhar
com mais detalhes as informações disponibilizadas neste texto.
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60
CAPÍTULO 4
A História da Compós – lógicas e desafios
José Luiz Braga1
Introdução
No dia 16 de junho de 2011, a Associação Nacional dos Pós-Graduações em
Comunicação (Compós) completa 20 anos.
Qual o sentido de escrever a história de uma instituição? A memória, a
informação, a compreensão do sucedido, a reafirmação dos movimentos
fundadores, a inscrição de um percurso nos contextos em que a ação se organizou,
o entendimento das energias e as motivações que convergiram para produzir algo
que não existia.
Certamente, por tudo isso se escreve a história. Mas também se escreve
porque a compreensão do presente é iluminada pela percepção do passado, e para
com ela produzir o futuro. Para assegurar que a história não acontece – se faz.
Lembrar a história é lembrar que a cada momento podemos continuar fazendo
história.
Dentre as várias perspectivas viáveis para apreender a história da Compós,
parece-nos que entendê-la como apreensão do presente e reflexão sobre o futuro
seria o movimento mais motivador. Nessa perspectiva de aproximação, buscamos
as lógicas básicas que deram motivação e substância para a fundação ou se
constituíram na processualidade de sua história. A explicitação das dinâmicas que
caracterizam a Compós deve dar sentido à memória da origem, apreender os
encaminhamentos do presente e explicitar os desafios para a continuação.
O contexto da criação
O contexto acadêmico da área, no início dos anos 90, era favorável a iniciativas de
aproximação e intercâmbio. Ocorria então em diversos estados, para além daqueles
em que se concentrava a área, o planejamento de novos programas, decorrente do
desejo de pesquisadores e universidades de participar do ambiente reflexivo então
restrito a poucos programas de Pós-Graduação (PPGs). O programa mais recente
dentre os sete existentes, o da UFBA, tinha chegado ao grupo com uma dinâmica
voltada para o intercâmbio e para o desenvolvimento e consolidação da área de
conhecimento. Os programas estabelecidos também buscavam, em sua maioria,
rever processos e construir novos contatos. A Compós foi resultante direta dessa
1. Professor da Unisinos. Foi Presidente da Compós, gestão 1993-95.
61
A História da Compós – lógicas e desafios
movimentação – e se implantou no momento eficaz para representar e articular
os esforços, estimulando sua convergência e ampliação.
Nesse contexto, a iniciativa de reunir os representantes dos programas foi dos
professores Antonio Fausto Neto e Sérgio Dayrell Porto, na época representantes
da área de conhecimento, respectivamente, junto ao CNPq e à Capes. O Estatuto
votado na fundação referenda a sintonia com o momento, na seguinte proposição:
“[oferecer] apoio pertinente a cursos de pós-graduação em implantação...” (Art.
4º, alínea “c”) – prefigurando assim os 20 anos subseqüentes.
Fundação: Intercâmbio
A Compós foi fundada em dois movimentos, o primeiro levando quase
naturalmente ao segundo. No dia 20 de março de 1991, em Goiânia, representantes
dos sete programas de pós-graduação em Comunicação então existentes decidiram
a criação de um Fórum dos Programas de Pesquisa e Pós-Graduação do Campo
da Comunicação “como instrumento de integração e interação contínua dos
programas de pós-graduação em Comunicação em existência no país” (da Ata de
criação do Fórum). Foi criado um grupo de trabalho para encaminhar propostas
sobre formas para consolidar o processo de integração. Definiu-se imediatamente
uma segunda reunião para os dias 14 a 16 de junho do mesmo ano, em Belo
Horizonte, a ser acolhida pela UFMG.
Embora a data oficial de fundação seja o dia 16 de junho de 1991, com
a criação da nova Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Comunicação (que depois recebeu a sigla Compós), a referência a essa preparação
é relevante, pois evidencia, na frase-chave da motivação acima citada, um aspecto
central da dinâmica que a entidade mantém até hoje e lhe garante o perfil de
pluralismo. Tratava-se de assegurar o intercâmbio entre ambientes de produção
de conhecimento da área, como um fórum dos Programas.
O objetivo básico da associação só se realiza como efetiva interação na medida
em que o poder decisório se distribui igualmente entre todos os associados, que
são os programas e não pessoas isoladas. Este fato não só demarca as motivações de
origem, como também as lógicas de seu desenvolvimento. As demais características
e qualidades da entidade decorrem, direta ou indiretamente, dessa dinâmica
inicial, que se mantém na duração, assegurando pluralismo, participação nacional
e presença junto às agências de fomento com representatividade institucional.
Um ano depois, em 1992, era realizado no Rio de Janeiro, na UFRJ, o
primeiro congresso anual da associação. Foi relevante para sua história, pois aí
se definiu o formato para os debates acadêmicos que passariam a caracterizar
os Encontros da Compós: um grupo de pares, pesquisadores, submetendo seus
trabalhos ao debate dos colegas, assegurando uma processualidade agonística
62
A História da Compós – lógicas e desafios
fundamental para o avanço do conhecimento. Foi expressa uma recusa de basear a
entidade em apresentações “de performance”, que concentrariam a disseminação
de conhecimentos na voz de poucos, os ouvintes se limitando a aprender e
aplaudir. O processo foi assegurado, desde o início, por uma distribuição de
tempo igual para todos os participantes de cada grupo; pela pré-definição de um
colega do mesmo grupo para fazer um relato crítico, e pela especificação de um
tempo generoso para o debate, maior que o da simples exposição. No primeiro
encontro foram também definidos os grupos de trabalho que fariam chamadas de
texto para o II Encontro.
O segundo congresso, em 1993, na UFBA, em Salvador, funcionou nesse
formato que desde então é uma característica central dos encontros. O formato
dos debates, fundante para a constituição do valor científico no ambiente
então constituído, mantém-se como eixo das lógicas de interação acadêmica da
entidade.
Os grupos de trabalho (GTs) e a reclivagem
Havia então poucos grupos, criados a partir de propostas que agregaram
proponentes nos primeiros encontros. O sistema de criação de um grupo, bastante
espontâneo, consistia apenas na proposta de tema e ementa, feita diretamente na
reunião do Conselho – aprovado, o grupo se reunia no ano seguinte. Embora não
se delimitasse o número de participantes, a dimensão do encontro era correlata
ao tamanho da área, com seus sete programas, e poucos outros mais nos anos
seguintes.
A boa produtividade do processo e o interesse despertado entre os
pesquisadores fez rapidamente crescer o número dos participantes. Na IV
Compós (UnB, Brasília) alguns grupos apresentavam um número de participantes
constatado como excessivo, por reduzir o tempo de debate. Alguns grupos
novos foram propostos e imediatamente aprovados para reunião desde o ano
subseqüente.
Em 1996, na V Compós (USP, São Paulo), com a dinâmica mesmo do
crescimento, foi proposta a criação, por diversos colegas, de sete novos GTs – o que
quase duplicaria a dimensão do evento anual. Decidiu-se, na própria reunião do
Conselho durante o evento, que não seria possível criar imediatamente mais que
dois dos GTs propostos. Nos debates intensos que decorreram, uma das críticas
apresentadas à restrição quantitativa foi que a clivagem da área entre poucos GTs
não permitiria abranger a riqueza de sub-áreas e de objetos de interesse do Campo
da Comunicação.
Foi votada, então, a criação de um grupo-tarefa para estudar uma
regulamentação adequada quanto à dimensão; e para propor um encaminhamento
63
A História da Compós – lógicas e desafios
de revisão da clivagem representada pelos GTs existentes.
Juntamente com uma regulamentação cuidadosa do funcionamento dos
GTs – até aí se desenvolvendo com base em práticas consuetudinárias – o grupotarefa encaminhou à reunião do Conselho, em novembro do mesmo ano, uma
proposta que definia o número de GTs e o número máximo de participantes por
GT. Propôs, ainda, uma redefinição coletiva da clivagem então existente, uma
reclivagem experimental a ser feita em 1998 que, na medida de sua eficácia, passaria
a ser repetida a cada quatro anos. Na impossibilidade de ampliar indefinidamente
o Encontro, e para garantir dimensões sustentáveis em operacionalidade,
seletividade acadêmica, qualidade dos debates e viabilidade material, a área se
dotava de flexibilidade para abrir novas frentes e só manter ângulos estabelecidos
quando estes consigam demonstrar ao Conselho sua relevância.
No ano de uma reclivagem, todos os grupos cessam sua continuidade. Para
serem reconduzidos devem ser repropostos e passar pelo crivo de uma seleção,
juntamente com propostas novas. Obteve-se assim a garantia de uma dimensão
compatível com a operacionalidade do rigor, ao mesmo tempo evitando uma
cristalização que arriscaria estagnar a entidade. O fato de que desde então a
reclivagem tenha entrado nos costumes da Compós evidencia a pertinência do
processo.
Na mesma regulamentação foi especificada a importância de que cada grupo
deve interessar diretamente a vários programas de pós-graduação – assegurando
assim o valor de intercâmbio que é uma das metas principais da Compós. Por isso
mesmo os GTs, como ambiente de debate, ultrapassam as pesquisas individuais
ou por tendência, repercutindo em atividades e articulações entre os diferentes
PPGs de que participam os pesquisadores.
O episódio e os processos estabelecidos de reclivagem periódica ilustram bem
uma das dinâmicas da entidade. Algumas atividades desenvolvem procedimentos
ad-hoc, na busca coletiva da eficácia. Quando os gestos são adequados a seus
propósitos, a tendência é criar uma espécie de direito consuetudinário. Quando
surgem tensões ou dilemas, a deliberação conjunta do Conselho formaliza um
novo padrão normativo.
Pluralismo - o processo decisório
Essa mesma dinâmica agonística marca um processo decisório equilibrado entre
os dois órgãos permanentes que conduzem as atividades sistemáticas da Compós
– a Diretoria e o Conselho – assim constituídos desde a fundação. A palavra
final é equilibradamente distribuída entre os Programas, por seus representantes,
conforme a obtenção da maioria de votos. Uma característica que tem assegurado
a flexibilidade democrática do Conselho é o fato, constatado, de que as maiorias
64
A História da Compós – lógicas e desafios
se formam em torno das questões específicas em pauta – sem posições aprioristas.
Isso parece assegurar decisões ponderadas e com boa pertinência para as questões
encaminhadas e para as decisões em geral.
Na fundação, o Conselho era composto por dois representantes de cada
PPG. Com sete Programas (e, na década de 90, com um crescimento paulatino),
dois representantes por PPG ofereciam uma diversidade necessária de reflexões
e de posições, para obter boas deliberações. Com o crescimento exponencial do
número de Programas, essa estrutura estatutária arriscava gerar um Conselho
com dimensão excessiva, em que as deliberações se confundiriam no número de
vozes e no surgimento de micro-diferenças. Além disso, o custo para o número
crescente de participantes dificultava a operacionalidade do Conselho.
Por proposta da diretoria (em junho de 2005) o Conselho deliberou por
sua própria redução numérica, para um representante por PPG (modificação do
art. 5º do Estatuto), retomando assim uma dimensão de eficácia. Este episódio
mostra uma prática deliberativa freqüente: a manutenção de continuidade nos
processos essenciais; com flexibilidade, entretanto, para fazer ajustes requeridos
pela modificação das condições.
A Diretoria
A estrutura da Compós se organiza com base nos procedimentos articulados
entre a ação deliberativa do Conselho e a ação executiva da Diretoria. Embora
conduza as reuniões do Conselho, não tem direito a voto nas deliberações. Como
a Diretoria é escolhida pelo Conselho, resulta naturalmente da confiança deste.
A Diretoria é condensada e ágil – apenas três participantes (Presidente, VicePresidente, Secretário Geral). Sua articulação tem sido fundamental – as diretorias
se evidenciam produtivas na medida mesmo de uma articulação mais que apenas
formal entre seus componentes. Este é, também, um indicador de pluralidade:
os diversos PPGs têm fornecido nomes para as diretorias. Nas ocasiões em que
a apresentação de duas chapas levou a uma distinção entre eleitos e não eleitos,
tanto a Diretoria como o Conselho absorveram a decisão sem formação de grupos
clivados de modo apriorístico por essa distinção.
Ao lado das funções político-operacionais, uma diversidade de ações se
realiza, por iniciativa própria da Diretoria, por deliberação do Conselho, ou ainda
por proposta de um ou mais PPGs. Para isso, são criados frequentemente grupos
com atribuições específicas, articulados pela direção. A produtividade da entidade
se amplia, com flexibilidade estrutural.
Com base em procedimentos deste tipo foram realizados diversos
Seminários Interprogramas, reunião de pequeno ou médio porte, assumida por
65
A História da Compós – lógicas e desafios
um dos programas associados, para debate de temas de interesse geral da área. Até
o momento foram realizados cinco Seminários Interprogramas.
Para a divulgação de estudos, a Compós publica desde a criação um livro
anual. Inicialmente, este resultava de uma seleção feita pelos próprios GTs, dentre
os artigos debatidos no ano. Desde 2008, um tema geral, acolhido em Conselho,
gera uma chamada de textos específicos para a publicação. O livro é organizado por
uma Comissão Editorial ad-hoc, escolhida anualmente pelo próprio Conselho.
No início dos anos 2000, no ambiente da Compós, debates sobre
procedimentos de avaliação dos periódicos dos PPGs estimularam o intercâmbio
e a busca de padrões de rigor editorial. Mais recentemente, a revista e-Compós,
definida desde sua implantação como publicação na rede informatizada,
tem se demarcado por sua qualidade, sua procura e sua relevância acadêmica,
imediatamente acessível aos pesquisadores.
Finalmente, e com particular relevância, a Diretoria representa a Compós
perante outras instituições. É o instrumento fundamental para o objetivo
estatutário de refletir e agir sobre políticas acadêmicas em que a Diretoria se
desempenha com a autoridade de falar em nome de todos os Programas de PósGraduação da área, com a sustentação da base deliberativa que é o Conselho.
Políticas acadêmicas para a área
Dois ângulos se constituíram no ambiente de interação nucleado na entidade:
a busca de políticas internas, entre PPGs, gerando linhas de ação transversal; e
junto às agências de fomento. Em cada um dos dois ângulos, uma preocupação
dupla – defender a área, reivindicando e obtendo apoio e qualificar a área por
uma constante discussão de critérios de rigor, de auto-exigência, como consta,
aliás, do Estatuto, desde a fundação. Estas duas ações se apóiam mutuamente. O
diálogo com instituições afins estimula a participação da comunidade acadêmica
nas políticas da área, com repercussões sobre suas atividades de intercâmbio.
A Compós tem sido o ambiente natural para o debate das questões
operacionais, normativas e reflexivas de articulação da área de conhecimento com
as agências nacionais de fomento. No final dos anos 90, início dos anos 2000,
desenvolveu-se uma forte articulação entre a Compós e a representação da área
na CAPES. Sendo esta agência responsável pela avaliação dos programas de pósgraduação e pesquisa, a lógica básica da avaliação é a de inscrever nos padrões
gerais da CAPES as perspectivas de cada área de conhecimento. O lugar de escolha
para as consultas na constituição dos critérios de área é justamente o Conselho
da Compós, que representa legítima e diretamente os programas. Mesmo quando
as reuniões dos coordenadores e seus representantes não se caracterizam na forma
de Reunião do Conselho, o fato de que sejam as mesmas pessoas, na mesma
66
A História da Compós – lógicas e desafios
função de representação, com suas preocupações em comum, faz repercutir no
ambiente deliberativo da entidade posturas e proposições decorrentes, assim
como, inversamente, posições debatidas pelo Conselho se desenvolvem em
iniciativas dos Programas junto às agências, estimulando sintonias transversais
entre os PPGs.
A presença articulada dos PPGs, na forma de deliberações democráticas e
caracterizadoras das melhores reflexões e dos projetos de qualificação, caracteriza
uma potencialidade de efetiva interlocução com as agências. Essa interlocução se
manifesta tanto nas reivindicações da área, como na convergência com as agências
na busca do aperfeiçoamento acadêmico e da pesquisa.
O Encontro Anual – abrangência e especificidade
No que se refere à produtividade acadêmica e a intensidade do intercâmbio,
o processo nuclear da Compós é, desde o início, o Encontro Anual, congresso
que tem reunido cerca de 120 artigos por ano, de pesquisadores da área, para
apresentação e debate – 12 GTs com 10 participantes cada. Há previsão de
passagem a 14 GTs, na reclivagem de 2010.
A inevitável e necessária seletividade em tal processo não apenas assegura
a presença dos textos com maior grau de prontidão, no momento da seleção,
mas sobretudo funciona como constituição de um padrão crescente de rigor na
produção dos estudos; e de aperfeiçoamento continuado das pesquisas, a partir
do esquadrinhamento feito pelos pares no momento dos debates. Além disso,
o funcionamento dos GTs tem demonstrado outras potencialidades. Embora
alguns GTs se caracterizem por um perfil de especialidade em seus estudos, o
que marca o processo de modo mais abrangente é a própria diversidade potencial
de inscrição de sub-temas e de problematizações variadas dentro do ângulo
principal de cada GT. O debate não se faz, assim, apenas entre especialistas que se
entendem por meias palavras e que falam em radical sintonia. Em coerência com
as características de uma área em construção continuada, a diversidade de ângulos
específicos nos debates de um GT propicia a inscrição de cada trabalho em um
âmbito no qual a pesquisa do autor individual encontra sempre a oferta de novas
perspectivas e desafios.
O encontro das variações não deixa espaço para a mera reafirmação de
proposições – o desafio do “outro ângulo” é um estímulo para o aprofundamento
e a revisão. Uma das grandes potencialidades do ambiente e da processualidade da
Compós nestes 20 anos é certamente o intercâmbio da diversidade, sem redução
apriorística de estímulos investigativos. O Encontro Anual põe em contato
diferentes perspectivas e experiências que vicejam nas linhas de pesquisa e áreas
de concentração dos programas.
67
A História da Compós – lógicas e desafios
Isso permitiu também o encontro das semelhanças, das preocupações em
comum, das perspectivas que podem entrar em sintonia. Melhor que isso, talvez:
tem viabilizado a construção de semelhanças e a busca de sintonias.
De alguns anos para cá, a partir do intercâmbio na Compós, nessa
construção da sintonia, e do ambiente ampliado de intercâmbio entre programas
de pesquisa no país, pesquisadores, estimulados para um aprofundamento da
investigação entre especialistas, sentiram a necessidade de outro ambiente, em que
desenvolveriam enfoques mais especializados. Surgem então variadas entidades
especificamente constituídas em torno de objetos, temas e investigações focadas,
em que as reuniões se fazem com tônica na proximidade maior de especializações.
Esse novo ambiente de circulação e estudos compõe, juntamente com a
Compós, um espaço relevante para a continuidade do desenvolvimento da
área de conhecimento. As entidades especializadas oferecem um ambiente de
aprofundamento, de elaboração de conceitos e métodos voltados para o rigor
no tratamento de seus objetos específicos. É o lugar da constituição de objetos e
tendências específicas.
A Compós, como entidade abrangente, assegura o âmbito do trabalho de
inscrição das especialidades na área de conhecimento, da realimentação mútua,
do teste de segunda instância para as proposições, quando estas devem sair de
seu ambiente de pares na mesma especialidade para entrar no tensionamento do
“próximo”, das perspectivas em que o atrito é que permite o desenvolvimento.
A vocação abrangente da Compós se manifesta, além da busca mesmo
de ângulos diversos que constituem o campo da Comunicação (em suas
possibilidades de diálogo interagente), também na abertura para perspectivas
não diretamente geradas em PPGs. Desde o início, e mantido como abertura
saudável, são aceitos textos de pesquisadores não pertencentes a um Programa
de Pós-Graduação. Essa flexibilidade mantém uma porosidade com outros
ambientes produtivos de conhecimento. No mesmo sentido, embora docentes de
PPGs sejam necessariamente doutores, acolhe-se também artigos de mestrandos e
doutorandos. Em qualquer dos casos, o critério claro de seleção é o da qualidade
do texto e de sua prontidão para o debate.
A participação nesse ambiente de abrangência e diversidade gera a percepção
de que a diversidade não é “domável” por uma teoria unificadora, por teorias
universalizantes excludentes. Daí decorre um estímulo para a diversidade da
pesquisa, como espaço de produtividade e de reflexão coletiva sobre o campo,
exigindo, entretanto, uma ampliação do diálogo entre posições diversas, para
evitar a mera dispersão. A meta da Compós, aqui, não é buscar a explicação
unificadora, mas investir em outras e outras perguntas, na manutenção produtiva
de um lugar de agonística.
68
A História da Compós – lógicas e desafios
Os desafios do futuro
Os desafios, em sua caracterização geral, continuam inscritos nos objetivos
assumidos desde a fundação da Compós. Entretanto, sua forma, sua processualidade
e as estratégias requeridas para seu enfrentamento são constantemente renovadas.
Tais mudanças decorrem de algumas dinâmicas que se manifestam em diferentes
pontos de incidência. O mais evidente é talvez o da avaliação CAPES, que se põe
crescentemente como um instrumento de política institucional nacional para o
desenvolvimento da pesquisa no país, gerando critérios de qualificação e metas
para ombreamento de nível internacional ascendente. O desafio é inicialmente
dos programas, em seu perfil singular, mas pelo conjunto, se torna um desafio
para a entidade representativa.
O CNPq, na ação correlata dos apoios e requisitos qualificadores da
pesquisa, faz complementar, em todos os objetivos da Compós, o requisito da
articulação de processos entre programas. Outro lugar de ação com incidência
direta sobre os processos da entidade é a dinâmica do próprio campo social da
comunicação, que se reformula não apenas na proliferação de novas tecnologias,
mas também e sobretudo nos processos de interação que acionam essas
tecnologias, na invenção social de usos (positivos ou negativos, democratizantes,
dispersivos ou concentradores) sempre a exigir novos olhares, outras teorizações,
investigação empírica mais sofisticada; e portanto novas problematizações e
melhor intercâmbio entre os pesquisadores e entre os programas.
Finalmente, a própria área de conhecimento e pesquisa, nos PPGs, pela
história mesmo de seus processos (da qual a história da Compós é um componente
intrínseco e dinâmico), redesenha de modo constante sua visada, a partir dos
atingimentos parciais, o que permite então antever outros ângulos antes não
suspeitados, novos desafios dentro dos mesmos objetivos abrangentes.
Um desafio, em especial, que se manifesta com clareza na metade da década
é o avanço decorrente das entidades especializadas conforme temas, problemas,
objetos de investigação e/ou bases teórico-metodológicas. Tal avanço demonstra a
maturidade da área, na busca de interlocuções específicas. Correlatamente, devese buscar articulação e intercâmbios de natureza mais complexa que aqueles do
momento da fundação. A Compós comporta um ângulo de aprofundamento,
nos GTs, pelo encontro de uma diversidade relativa dentro do eixo que caracteriza
cada Grupo. No conjunto, pela circulação entre grupos, pela repercussão de
idéias e descobertas entre GTs, pela diversidade de ângulos e presença, a Compós
assegura o âmbito mais geral da área de conhecimento, na qual todos os PPGs
se reconhecem. É relevante, então, desenvolver articulações entre o campo de
abrangência e os campos especializados. Sem os âmbitos de especialização não é
mais possível constituir subáreas sólidas e bem fundamentadas. Sem o âmbito de
abrangência, os enfoques de especificação arriscariam o isolamento e a tautologia.
69
A História da Compós – lógicas e desafios
A Compós deve ser mais que o “lugar de encontro” da diversidade; deve buscar
interlocuções, transversalidades e fecundação mútua entre subáreas.
Esse desafio se duplica na necessidade, hoje fundamental, da busca de diálogo
entre posições teóricas, adoções metodológicas, objetos preferenciais. Não para
um embate excludente, em que cada posição, se pretendendo universalizante,
busque excluir outras posições; nem para a aceitação indiferente de um relativismo
fácil, mas para o tensionamento entre as vertentes, exigindo o desenvolvimento
rigoroso das mais promissoras de compreensão e conhecimento.
Em um primeiro momento, no contexto das origens da Compós, o
intercâmbio necessário, dada a então escassez de diálogo institucional e o
insuficiente ambiente comum a todos, era quase só o de se pôr em contato, o
de gerar aproximação, o de conhecer o que os demais propunham. Que hoje
a necessidade tenha se tornado mais complexa, menos previsível quanto aos
processos requeridos, parece ser, na verdade, uma demonstração da boa perspectiva
inicial, e do fato que esta fez caminho, produziu resultados e pede novos avanços.
70
Antecedentes, tendências
Comunicação
e
perspectivas
da
Pós-Graduação
em
Itania Maria Mota Gomes,
Julio Pinto e
Ana Carolina Escosteguy1
Introdução
O sistema de Pós-Graduação organiza-se, no Brasil, nos anos 60. A Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 4.024/61, no art. 69, refere-se à PósGraduação com dois níveis, o dos cursos de pós-graduação, “abertos a matrícula
de candidatos que hajam concluído o curso de graduação e obtido o respectivo
diploma”, e o dos cursos de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão. Mas a
regulamentação dos cursos de pós-graduação só viria com o Parecer nº 977/65,
do Conselho Federal de Educação, aprovado em dezembro de 1965, com a Lei nº
5.540/68, a Lei de Reforma Universitária, de 28/11/1968, do Regime Militar, e
com o Parecer nº 77/69, que estabelece as normas de funcionamento dos cursos
de pós-graduação.
Do ponto de vista normativo, o Parecer nº 977/65, do Conselho Federal de
Educação, estabelece as bases do que ainda hoje caracteriza o Sistema Nacional
de Pós-Graduação no Brasil. Ele ratifica a distinção entre a pós-graduação sensu
stricto e as especializações, aperfeiçoamentos e demais, define a natureza da
pós-graduação na sua estrita vinculação com a pesquisa científica e tecnológica
e constrói as diretrizes para a organização dos cursos pós-graduados. Tomando
o sistema estadunidense de estudos pós-graduados como referência, o Parecer
nº 977/65 estabelece a pós-graduação em dois níveis, mestrado e doutorado, e
justifica os motivos que requerem a sistematização da pós-graduação no Brasil:
“1) formar professorado competente que possa atender à expansão quantitativa
do nosso ensino superior garantindo, ao mesmo tempo, a elevação dos atuais
níveis de qualidade; 2) estimular o desenvolvimento da pesquisa científica por
meio da preparação adequada de pesquisadores; 3) assegurar o treinamento eficaz
de técnicos e trabalhadores intelectuais do mais alto padrão para fazer face às
necessidades do desenvolvimento nacional em todos os setores”2.
A visão que se destaca do Parecer nº 977/65 é de que a pós-graduação
stricto sensu realiza os fins essenciais da universidade, que abandona uma
1 Itania Maria Mota Gomes (http://lattes.cnpq.br/1249313747086140), Julio Pinto (http://lattes.cnpq.
br/6119752221984025) e Ana Carolina Escosteguy (http://lattes.cnpq.br/9828116606137239) são, respectivamente, presidente, vice-presidente e secretária geral da Compós, no biênio 2009/2011. Agradecemos o apoio
da secretária –executiva da Compós, Valéria Vilas Bôas, na coleta e organização de dados históricos e estatísticos
que utilizamos aqui.
2 Ver Parecer CFE no 977/65, aprovado em 3 dez. 1965 in Revista Brasileira de Educação, nº30, Set /Out /
Nov /Dez 2005, p.165.
71
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
concepção essencialmente voltada ao ensino e à formação profissional para
dedicar-se também à pesquisa científica e tecnológica. A pós-graduação aparece
como condição mesma de consolidação do sistema universitário, visto que só ela
poderia transformar a universidade num centro de pesquisa, ciência e cultura.
A pós-graduação volta-se para estudos e pesquisas avançadas de modo regular
e permanente, para a elaboração de novos conhecimentos e para a atividade de
pesquisa científica e tecnológica inovadora. Mestrados e, em especial, doutorados
são um grau acadêmico de alta competência científica em determinado ramo
do conhecimento e visam objetivos essencialmente científicos. No sistema
universitário, a pós-graduação aparecia como “uma superestrutura destinada à
pesquisa, cuja meta seria o desenvolvimento da ciência e da cultura em geral, o
treinamento de pesquisadores, tecnólogos e profissionais de alto nível” 3.
A implantação sistemática dos cursos pós-graduados, a criação do ambiente
e dos recursos adequados para o desenvolvimento da pesquisa científica e
tecnológica passou a ser objetivo articulado ao espírito de modernização do
Regime Militar e visava criar capacidade para formação dos cientistas e tecnólogos
nas universidades brasileiras. Em que pesem as características da modernização
pretendida pelos militares e as ações de restrição ao livre pensamento e à pesquisa
durante a ditadura, o Sistema Nacional de Pós-Graduação consolidou-se: em
1965, quando da aprovação do Parecer nº 977/65, foram reconhecidos 11 cursos
de doutorado; dez anos depois, o numero dos doutorados chegava a 149; vinte e
três anos depois, em 1998, já existiam 782 programas de doutorado, um número
mais de cinco vezes maior do que o de 1975. No período entre 1998 e 2008
ocorreu um crescimento de 68,8 por cento no numero total de doutorados4.
Considerando dados de 2009, o Brasil tem 40 cursos de doutorado, 1.054
mestrados e 1.391 programas de pós-graduação (mestrado e doutorado), nas mais
diversas áreas do conhecimento.
3 Ver Parecer CFE no 977/65, aprovado em 3 dez. 1965 in Revista Brasileira de Educação, nº30, Set /Out /
Nov /Dez 2005, p.164
4 Doutores 2010: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira, Brasília, DF: Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos, 2010, p. 63.
72
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Gráfico 1: Proporção entre mestrados, doutorados e programas de pós-graduação no Brasil
2% 0%
42%
Mestrado
Mestrado/doutorado
56%
Doutorado
Fonte: GEOCAPES, Programas de Pós-Graduação por Nível, 2009.
Na Sub-Área de Comunicação (Ciências Sociais Aplicadas I) a expansão
se deu com outras características. Os primeiros mestrados em Comunicação no
Brasil entraram em funcionamento no início da década de 70 e os doutorados
são da década de 80 do século XX. Os dados da Avaliação Trienal 2010/Capes
mostram que a Comunicação tem hoje 39 Mestrados e Doutorados, sendo 24
Mestrados e 15 Programas de Mestrado e Doutorado, como mostra o quadro
abaixo.
73
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Quadro 1. Mestrados e Doutorados em Comunicação, por ano de criação e conceito na
Avaliação da Capes5
Fonte: os autores, a partir de dados da CAPES e da COMPÓS
5 Este artigo foi finalizado em setembro de 2010 e, para fins de atribuição dos conceitos dos cursos strito sensu,
toma como referência o Relatório de Divulgação dos Resultados da Avaliação Trienal 2010, publicado pela
Capes em 14 de setembro de 2010. Como o calendário de avaliação prevê um prazo de 30 dias para os pedidos
de reconsideração sobre a Avaliação Trienal, pode haver alguma alteração nos dados até o final de outubro. Para
dados atualizados, após esse período, consultar o site da Capes http://www.capes.gov.br. * O Programa de PósGraduação em Comunicação da Universidade de Marília recebeu conceito 3 na Avaliação Trienal 2007, mas foi
descredenciado pela Capes na divulgação da Avaliação Trienal 2010. Como ainda cabem recursos, adotamos o
procedimento de manter o Mestrado da Unimar no quadro, com o conceito em aberto.
74
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
No final do século XX, existiam 15 Mestrados e Doutorados, sendo sete
Mestrados e oito Programas de Mestrado e Doutorado em Comunicação. Entre
2000 e 2010, 18 Mestrados e seis Programas de Mestrado e Doutorado foram
criados. Os dados mostram que, nesse período, a área cresceu 260 por cento em
termos de oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu.
A área da Comunicação formou 4.991 mestres e 1.719 doutores nos últimos
14 anos6, num total de 6.710 pesquisadores. Se considerarmos que, em 1996, os
PPGs em Comunicação formaram 146 mestres e 54 doutores e que, em 2009,
esses números foram de 506 mestres e 122 doutores, temos uma evolução de
346,7 por cento na capacidade de formação de mestres e de 225,9 por cento na
capacidade de formação de doutores na área. Em média, hoje, 141 doutores e 439
mestres são formados por ano7.
Em relação ao corpo docente, em 2009, os PGGS em Comunicação
envolviam 537 professores, sendo 429 professores permanentes e 108 colaboradores
e visitantes. Na Avaliação Trienal 2007 (dados de 2004, 2005 e 2006), o número
total de docentes era de 384 – 304 permanentes e 80 colaboradores e visitantes.
Houve um crescimento de 39,8% em relação ao total de docentes. Por categoria,
a evolução foi de 70,8 para os permanentes e de 35% em relação aos colaboradores
e visitantes. A proporção de número de titulados versus número de docentes, em
termos globais8, em dados de 2009, é de 1,17 mestre ou doutor formado por
professor.
Apesar do crescimento na oferta de cursos de pós-graduação, na quantidade
de docentes envolvidos e na quantidade de mestres e doutores titulados, porém,
permanecem nossos problemas relativos à internacionalização e às assimetrias
regionais.
Do ponto de vista das assimetrias regionais, verifica-se um “desequilíbrio
dos programas por região do país. Com efeito, dos 39 Programas existentes
atualmente no Campo da Comunicação, 21 estão localizados na região Sudeste
(53,8%), sendo que, destes, 14 (35,8%) no Estado de São Paulo; oito (20,5%), na
região Sul; 5 (12, 8%), na região Nordeste; três (7,6%), na região Centro-Oeste e
dois (5, 12%), na região Norte”9. Dos doutorados, apenas dois estão localizados
no Nordeste. Não há doutorado em Comunicação na região Norte. Além dos
desequilíbrios regionais, intra-regionais e entre estados, há ainda o desequilíbrio
em relação à presença da pós-graduação nos municípios brasileiros: dos 39
6 CAPES, Relatório de Avaliação 2007/2009, sub-área Ciências Sociais Aplicada I, p. 47. O documento considera dados a partir de 1996.
7 Consideramos a média de titulação dos anos de 2007 (389 mestres; 165 doutores), 2008 ( 422 mestres; 136
doutores) e 2009 ( 506 mestres; 122 doutores).
8 Para o cálculo, consideramos a totalidade de mestres e doutores titulados, 628, versus todos os 537 docentes,
independentemente da categoria.
9 CAPES, Documento de Área Ciências Sociais Aplicadas I, 2009, p. 2.
75
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Mestrados e Doutorados, 27, - quase 70% do total - estão nas capitais brasileiras.
Apenas quatro cidades não-capitais possuem doutorados em Comunicação. São
elas: São Bernardo do Campo e Campinas, no Estado de São Paulo, Niterói, no
Rio de Janeiro e São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.
Gráfico 2: Distribuição de Mestrados e Doutorados em Comunicação, por Região geográfica
5,12%
7,60%
Sudeste
12,80%
Sul
Nordeste
53,80%
20,50%
Centro-Oeste
Norte
Fonte: CAPES, Documento de Área Ciências Sociais Aplicadas I, 2009.
Do ponto de vista da inserção internacional, é notável o fato de que, embora
seus primeiros mestrados e doutorados datem da década de 70 do século XX,
apenas um dos programas de pós-graduação em Comunicação conseguiu atingir
a nota 6 no sistema de avaliação da pós-graduação. Trata-se do Programa de PósGraduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
o que ocorreu na Avaliação Trienal 2010. Ainda que as notas 6 e 7 não sejam
exclusivamente vinculadas à internacionalização – outros critérios são levados em
conta - o entendimento da área e da Capes parece ser esse: no Documento de Área
Ciências Sociais Aplicadas I, 2009, no item “V – Considerações e definições sobre
atribuição de notas 6 e 7 – inserção internacional”, p. 27, requer-se dos programas
que apresentem desempenho equivalente aos dos centros internacionais de
excelência na área, desempenho avaliado a partir de aspectos tais como publicação
docente internacional, acordos de cooperação, pós-doutoramentos, entre outros.
Nesse aspecto, a internacionalização está na agenda da maior parte dos cursos da
área.
É no interior do Sistema Nacional de Pós-Graduação que ocorre a atividade
76
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
da pesquisa científica e tecnológica brasileira de alto nível10. Se for tomado como
marco o Parecer nº 977/65, veremos que a estreita vinculação entre a pesquisa
científica e tecnológica e a pós-graduação caracterizam a pós-graduação stricto
sensu no Brasil desde seu começo, apresentando-se como diretriz fundamental
para a formulação de políticas públicas de ensino e pesquisa, para a legislação,
para o sistema de avaliação de cursos de pós-graduação e instituições de ensino
superior nos últimos 45 anos. Em Comunicação, os resultados alcançados
evidenciam que uma política deliberada e consistente de consolidação da pósgraduação, por parte dos Ministérios da Educação e de Ciência e Tecnologia e
das agências de fomento, recebeu decidido engajamento da área, através dos seus
programas de pós-graduação.
A Comunicação participa e tem liderado os esforços da área de Ciências
Sociais Aplicadas I na consolidação do Sistema Nacional de Pós-Graduação. A
área tem considerável experiência na institucionalização dos critérios, parâmetros
e princípios empregados pelas suas subcomissões na avaliação dos cursos11.
Desde 1996, a área realiza reuniões sistemáticas, com periodicidade semestral
ou sempre que haja necessidade, entre os coordenadores de programas de pósgraduação, liderados pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação
em Comunicação, a COMPÓS, fundada em 199112, e os coordenadores de área
na CAPES, para definir os princípios, diretrizes, critérios e procedimentos da
avaliação.
No mesmo sentido, as reuniões do Conselho Geral da COMPÓS, realizadas
em três períodos do ano, contam regularmente com a presença dos representantes
do Comitê Assessor - Artes, Ciência da Informação e Comunicação/CNPq
(CA). Em várias oportunidades, a COMPÓS realizou reuniões conjuntas entre
os coordenadores dos programas de pós-graduação, os representantes no CA e
diretores e pessoal técnico-administrativo do CNPq. A última dessas reuniões
foi realizada em abril de 2010. Nessas reuniões, CNPq e os programas de pósgraduação da comunicação discutem as políticas, diretrizes, procedimentos e
critérios de julgamento do CNPq para a Ciência, Tecnologia e Inovação, no que
se refere à Comunicação.
Nesses seus quase 20 anos de existência, registra-se grande colaboração
entre a COMPÓS e órgãos do governo Federal na construção de parâmetros
de avaliação de programas, de produção, na colaboração com os representantes
10 CAPES, Plano Nacional de Pós-Graduação 2005-2010.
11 CAPES, Documento de Área Ciências Sociais Aplicadas, 2009.
12 Em setembro de 2010, são 37 os programas de pós-graduação em Comunicação filiados à COMPÓS. Apenas não estão filiados à COMPÓS, dado serem recentes, os dois últimos mestrados aprovados pela CAPES, o
de Comunicação da Universidade Federal do Paraná, aprovado no final de 2009, e o de Comunicação, Cultura
e Amazônia, da Universidade Federal do Pará, aprovado neste ano de 2010. Para uma relação dos PPGs filiados
à COMPÓS, com informações sobre seus endereços, sites, áreas de concentração e linhas de pesquisa, ver www.
compos.org.br
77
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
de área, na elaboração e aprovação de tabelas das Áreas de Conhecimento. Essa
colaboração está registrada nas atas de reuniões do Conselho Geral da COMPÓS,
através dos informes dos representantes de área e das discussões de temas propostas
pelo Conselho. As reuniões com o CNPq e a CAPES são fundamentais para a
construção coletiva do campo da Comunicação.
A vinculação entre a pesquisa científica e tecnológica e a pós-graduação se
evidencia através das áreas de concentração, das linhas e grupos de pesquisa dos
PPGs e dos Grupos de Trabalho da COMPÓS. Uma análise dos modelos de
organização e das áreas de concentração e linhas de pesquisa, tomando por base
as informações constantes nos sites dos PPGs em setembro de 2010, evidencia
algumas características da pós-graduação em Comunicação no país.
O Brasil tem adotado os grupos de pesquisa como um espaço privilegiado
para a formação de mestres e doutores, para a realização da pesquisa científica e
tecnológica de excelência e para a inovação. Os grupos de pesquisa, vinculados
aos projetos de pesquisa docente, às linhas de pesquisa e áreas de concentração
dos PPGs reúnem todos os docentes, doutorandos e mestrandos a eles vinculados,
além de bolsistas de Iniciação Científica e alunos da graduação em realização de
trabalho final de curso relacionado aos objetos de investigação dos grupos, um
aspecto que favorece a formação para a pesquisa e a integração entre graduação e
pós-graduação. A integração entre pós-graduação e graduação tem aparecido como
altamente benéfico para ambos os níveis de formação pós-graduada. Dos PPGs
em Comunicação atualmente existentes, apenas um não é vinculado a Cursos
de Graduação, o Programa de Pós-Graduação em Multimeios, da Universidade
de Campinas. O Documento de Área Ciências Sociais Aplicadas, 2009,
pactuado entre a CAPES e os coordenadores dos programas de pós-graduação
em Comunicação, explicitamente valoriza a integração entre a graduação e a
pós-graduação como meio de favorecer a formação de jovens pesquisadores e de
profissionais mais qualificados.
A COMPÓS, em documento enviado a CAPES como subsídio para a
elaboração do Plano Nacional de Pós-Graduação 2011/2020, reforçou o papel
da iniciação científica e dos trabalhos de conclusão de curso na formação de
pesquisador e recomendou a atribuição de créditos às atividades que resultem em
produção científica ou tecnológica e a manutenção da possibilidade de realização
dos Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCCs) em modalidades de monografias
e trabalhos laboratoriais de pesquisa vinculados à pesquisa científica e tecnológica
e à inovação realizada no âmbito dos cursos de pós-graduação.
Um diagnóstico da sub-área de Comunicação, a partir da análise das áreas
de concentração e das linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação permite
traçar algumas tendências. Como se pode observar no Quadro 2, abaixo, as áreas
de concentração configuram-se, inicialmente, em áreas bastante abrangentes e
78
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
enfatizam as relações entre Comunicação e Cultura, Comunicação e Sociedade,
Comunicação e Linguagens, Comunicação e Tecnologia. Por muitos anos,
apenas o Programa de Pós-Graduação em Multimeios, da Unicamp, tinha sua
área de concentração voltada para as especificidades do cinema e da fotografia.
Mais recentemente, começam a surgir PPGs com áreas de concentração mais
específicas, como o de Jornalismo, da Universidade Federal de Santa Catarina, o
de Comunicação Visual, da Universidade Estadual de Londrina, ou o de Imagem
e Som, da Universidade Federal de São Carlos, só para citar alguns.
Quanto às linhas de pesquisa, elas se organizam em torno das interfaces
da Comunicação com áreas mais definidas como Semiótica, com esferas mais
abrangentes como cultura e sociedade, em torno de processos, sobretudo, aqueles
vinculados aos meios de Comunicação/mídia, considerando aí a existência de
práticas específicas ou então em torno de meios e produtos.
Quadro 2. Áreas de Concentração e Linhas de pesquisa dos Mestrados e Doutorados em
Comunicacão
IES
CURSO
Áreas de
Concentração
Linhas de Pesquisa
PUC/SP
COMUNICAÇÃO E
SEMIÓTICA
Signo e Significação
nas Mídias
- Cultura e Ambientes Midiáticos
- Processos de Criação nas Mídias
- Análise das Mídias
UFRJ
COMUNICAÇÃO
Comunicação e Cultura
- Mídia e Mediações Socioculturais
- Tecnologias da Comunicação e Estéticas
USP
CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO
- Teoria e Pesquisa em
Comunicação
- Estudo dos Meios e
da Produção Mediática
- Interfaces Sociais da
Comunicação
- Comunicação e Cultura
- Comunicação Impressa e Audiovisual
- Educomunicação
- Epistemologia, Teoria e Metodologia da
Comunicação
- Estética e História da Comunicação
- Linguagem e Produção de Sentido em
Comunicação
- Políticas e Estratégias de Comunicação
- Técnicas e Poéticas da Comunicação
- Tecnologias da Comunicação e Redes
Interativas
UNB
COMUNICAÇÃO
Comunicação e
Sociedade
- Jornalismo e Sociedade
- Políticas de Comunicação e de Cultura
- Teorias e Tecnologias da Comunicação
- Imagem e Som
UMESP
C O M U N I C A Ç Ã O Comunicação e
Sociedade
SOCIAL
- Processos Comunicacionais Midiáticos
- Processos de Comunicação
Institucional e Mercadológica
- Processos da Comunicação Científica e
Tecnológica
79
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
UNICAMP
MULTIMEIOS
---
- História, estética e domínios de
aplicação do cinema e da fotografia
UFBA
COMUNICAÇÃO
E CULTURA
CONTEMPORÂNEA
Comunicação
e Cultura
Contemporânea
- Análise de Produtos e Linguagens da
Cultura Mediática
- Cibercultura
- Comunicação e Política
PUC/RS
COMUNICAÇÃO
SOCIAL
Práticas e culturas
da comunicação
- Práticas culturais nas mídias,
comportamentos e imaginários da
sociedade da comunicação
- Práticas profissionais e processos
sociopolíticos nas mídias e na
comunicação das organizações
UNISINOS
CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO
Processos Midiáticos
- Mídias e Processos Audiovisuais
- Linguagem e Práticas Jornalísticas
- Cultura, Cidadania e Tecnologias da
Comunicação
- Midiatização e Processos Sociais
UFMG
UFRGS
COMUNICAÇÃO
SOCIAL
COMUNICAÇÃO E
INFORMAÇÃO
Comunicação
e sociabilidade
contemporânea
- Processos comunicativos e práticas
sociais
Comunicação e
Informação
- Informação, Redes Sociais e
Tecnologias
- Meios e produtos da comunicação
- Jornalismo e Processos Editoriais
- Linguagem e Culturas da Imagem
- Mediações e Representações Culturais
e Políticas
UFF
COMUNICAÇÃO
Comunicação
- Comunicação e Mediações
- Tecnologias da Comunicação e da
Informação
- Análise da Imagem e do Som
UNIMAR
COMUNICAÇÃO
Mídia e Cultura
- Ficção na mídia
- Produção e Recepção da Mídia
UNIP
COMUNICAÇÃO
Comunicação e
Cultura Midiática
- Configuração de Linguagens e
Produtos Audiovisuais na Cultura
Midiática
- Contribuições da Mídia para a
Interação em Grupos Sociais
80
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
UTP
COMUNICAÇÃO E
LINGUAGENS
Processos
Comunicacionais
- Estratégias Midiáticas e Práticas
Comunicacionais
- Estudos de Cinema
UFPE
COMUNICAÇÃO
Comunicação
- Linguagem dos Meios
- Mídias e Processos Sociais
- Estética e Cultura Midiática
U N E S P / COMUNICAÇÃO
BAU
Comunicação
Midiática
- Processos Midiáticos e Práticas
Socioculturais
- Produção de Sentido na Comunicação
Midiática
- Gestão e Políticas da Informação e da
Comunicação Midiática
UERJ
COMUNICAÇÃO
Comunicação Social
- Cultura de Massa, Cidade e
Representação Social
- Tecnologias de Comunicação e Cultura
PUC-RIO
COMUNICAÇÃO
Comunicação Social
- Cultura de massa e representações
sociais
- Cultura de massa e práticas sociais
FACASPER
COMUNICAÇÃO
Comunicação na
Contemporaneidade
- Processos Midiáticos: Tecnologia e
Mercado
- Produtos Midiáticos: Jornalismo e
Entretenimento
UFSM
ESPM
UNISO
UAM
PUC/MG
UFJF
UFG
COMUNICAÇÃO
Comunicação
Midiática
- Mídia e Identidades Contemporâneas
COMUNICAÇÃO
E PRÁTICAS DE
CONSUMO
Comunicação
- Impactos socioculturais da
comunicação orientada para o mercado
COMUNICAÇÃO E
CULTURA
Comunicação e
Cultura
- Teorias da comunicação e da cultura
COMUNICAÇÃO
Comunicação
Contemporânea
- Análises em Imagem e Som
- Mídia e Estratégias Comunicacionais
- Estratégias de comunicação e
produção de mensagens midiáticas
voltadas às práticas de consumo
- Análise de processos e produtos
mediáticos
- Mediação, tecnologia e processos
sociais.
COMUNICAÇÃO
SOCIAL
Interações Midiáticas - Midiatização e processos de interação
COMUNICAÇÃO
Comunicação e
Sociedade
- Tecnologias da Comunicação
Comunicação,
cultura e cidadania
- Mídia e cidadania
COMUNICAÇÃO
- Linguagem e mediação sociotécnica
- Comunicação e Identidades
- Mídia e cultura
81
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
UFSC
JORNALISMO
Jornalismo
UEL
COMUNICAÇÃO
Comunicação Visual
UFSCAR
IMAGEM E SOM
Imagem e Som
UCB
COMUNICAÇÃO
Processos
Comunicacionais
- Processos e produtos jornalísticos
- Fundamentos do Jornalismo
- Imagem e mídia
- Linguagens e poéticas fotográficas
- Narrativa Audiovisual
- História e Políticas do Audiovisual
- Processos Comunicacionais na Cultura
Mediática
- Processos Comunicacionais nas
Organizações
UFPB
UFC
COMUNICAÇÃO
E CULTURAS
MIDIÁTICAS
Comunicação e
Culturas Midiáticas
- Mídia e Cotidiano
COMUNICAÇÃO
Comunicação e
Linguagens
- Fotografia e Audiovisual;
- Culturas Midiáticas Audiovisuais
- Mídia e Práticas Sócio-Culturais.
UFAM
CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO
Ecossistemas
comunicacionais
- Ambientes comunicacionais midiáticos
USCS
COMUNICAÇÃO
Comunicação,
Inovação e
Comunidades
- Transformações Comunicacionais e
Comunidades
ESTUDOS DA
MÍDIA
Comunicação
Midiática: Práticas
Sociais e de Sentido
- Estudos de Mídia e Práticas Sociais;
MEIOS E
PROCESSOS
AUDIOVISUAIS
Meios e Processos
Audiovisuais
- História, teoria e crítica
COMUNICAÇÃO
Comunicação e
Sociedade
UFRN
USP
UFPR
- Processos informacionais científicos
- Inovações na Linguagem e na Cultura
Midiática
- Estudos de Mídia e Produção de
Sentido.
- Poéticas e Técnicas
- Práticas de Cultura Audiovisual
- Comunicação, educação e formações
socioculturais
- Comunicação, política e atores
UFPA
COMUNICAÇÃO,
CULTURA E
AMAZÔNIA
Fonte: sites dos PPGs em Comunicação, em setembro de 2010
Os Grupos de Trabalho (GTs) são o principal mecanismo para viabilizar o
trabalho científico da COMPÓS. Através dos GTs busca-se o intercâmbio entre
os pesquisadores e os programas de pós-graduação associados, criando-se redes de
interesse acadêmico comum que atravessam as diversas instituições participantes.
Desse modo, a COMPÓS estimula a ampliação das estruturas de pesquisa no país
82
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
e a superação do isolamento dos pesquisadores e grupos de pesquisa. O objetivo
dos Grupos de Trabalho da Compós é oferecer um espaço de interlocução
científica no qual o debate sobre os resultados das pesquisas de seus participantes
resulte em estímulo para o desenvolvimento da reflexão. A instância principal
dos procedimentos do GT, em busca da realização qualitativa deste objetivo, é o
debate realizado anualmente entre os participantes.
Os critérios para criação, funcionamento e avaliação dos GTs partem de
premissas sugeridas pela história da Associação, pelas práticas de funcionamento
dos Grupos, pelas decisões do Conselho Geral da Compós e pelo processo de
discussão permanentemente mantido pela entidade no sentido de assegurar a
manutenção de procedimentos que têm demonstrado serem produtivos para o
bom atendimento dos objetivos da Compós e alcançar a flexibilidade necessária
para responder aos novos problemas teórico-práticos e a uma renovação
continuada de métodos de trabalho, de temas abordados e de clivagens de nosso
campo de estudo.
Podem participar dos GTs os estudiosos e pesquisadores interessados
no desenvolvimento da pesquisa em Comunicação, quer pertençam ou não
ao quadro docente de um dos programas associados, podendo enviar textos a
quaisquer dos GTs, buscando espaço para sua discussão no Encontro Anual da
Compós. Os textos selecionados para discussão levam em conta o atendimento
de, pelo menos, três critérios: a) qualidade das reflexões apresentadas no texto; b)
relevância de sua contribuição para a área; c) pertinência à área temática definida
pela ementa do GT.
Os Grupos de Trabalho da Compós abrangem uma área temática indicada
pela sua denominação e os encontros dos GTs se caracterizam, essencialmente,
como reuniões de trabalho científico em que se busca implementar uma reflexão
conjunta indispensável para o progresso da pesquisa na área. A dinâmica de
funcionamento dos GTs consiste na apresentação e discussão de um conjunto de
trabalhos científicos, selecionados pelo coordenador do GT e por ao menos dois
pareceristas que não apresentem trabalhos e distribuídos para leitura prévia entre
os participantes. Cada texto é relatado por um participante do grupo. Os relatos
constituem-se em peças de crítica e de estímulo ao debate. Eles não se caracterizam
como simples resenhas dos textos, mas devem assinalar as contribuições a serem
aprofundadas, apontar objeções que solicitem respostas, levantar os melhores
ângulos de leitura, sugerir desenvolvimentos, repensar aplicabilidades, evidenciar
premissas não explicitadas, indicar conseqüências da linha de reflexão adotada,
comentar estruturas, debater as construções metodológicas, e tudo o mais que se
veja pertinente enquanto trabalho acadêmico sobre o texto relatado.
A perspectiva de trabalho coletivo pretende superar, nesta estrutura específica
dos GTs, um modelo que enfatizaria a simples apresentação e divulgação de
83
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
resultados ou sessões didáticas de proposição/escuta. De modo a garantir o
tempo adequado para as discussões, cada GT seleciona um máximo de dez textos
para discussão, podendo aprovar um número menor de textos. Não deverão ser
agregados textos apenas para fazer número e que não atendam os critérios.
Os Grupos de Trabalho da Compós passam por um processo de reclivagem a
cada quatro anos. A proposição de novo GT deve atender aos critérios de inovação
(um GT deve buscar a construção de espaços de interlocução não redundantes
com aqueles já oferecidos pelos grupos existentes no momento da proposta, bem
como refletir novos temas emergentes na área); de interlocução (deve ser capaz
de refletir e estimular as potencialidades de interlocução entre grupos de pesquisa,
linhas de pesquisa e programa de pós-graduação da área de comunicação); de
pertinência em relação à Compós (deve apresentar coerência com os processos
de trabalhos e com a abrangência de objetivos da Associação); e adequação da
estrutura em relação aos objetivos da Compós (deve explicitar a adequação dos
objetivos e atividades dos proponentes às condições de funcionamento dos GTs,
de maneira a assegurar que o perfil de funcionamento dos GTs de fato ofereça
ambiente adequado e estimulante para o desenvolvimento da interlocução
e da pesquisa científica. O Quadro 3 apresenta os 15 GTs atualmente em
funcionamento na Compós, com seus títulos e ementas. Aprovados na reunião
do Conselho Geral da Compós em 11 de junho de 2010, eles funcionarão até
o Encontro Anual de 2014, quando todos serão extintos e um novo processo de
reclivagem acontecerá.
Quadro 3: Títulos e Ementas dos Grupos de Trabalho da Compós, 2011/2014
84
Grupos de Trabalho
Ementas
Comunicação e
Cibercultura
O GT Comunicação e Cibercultura tem por objetivo debater trabalhos na
intersecção da comunicação e da cibercultura. Por cibercultura compreendemse as relações emergentes entre as tecnologias de comunicação e informação
(TICs) e a cultura contemporânea. Busca-se, assim, entender o papel das TICs
em interface com os problemas da comunicação sob diversas perspectivas
(histórica, sociológica, filosófica, política, estética, imaginária, material, etc.).
Comunicação e
Cidadania
Aspectos teóricos e metodológicos de experiências e práticas comunicacionais
e mediáticas relacionados às esferas das cidadanias econômica, sociopolítica,
cultural, intercultural, transnacional, global e socioambiental e de uma
cidadania comunicativa. Estudo das articulações entre comunicação,
cidadania e cultura nos campos da comunicação mediada e não mediada.
Processos comunicacionais no âmbito das culturas populares, dos movimentos
sociais, comunitários, populares e sindicais no marco de uma pedagogia da
comunicação. Pesquisas sobre apropriações e os usos das tecnologias da
comunicação por redes de movimentos comunitários e sociais que envolvam
práticas cidadãs relacionadas a dimensões sócio-identitárias como classe
social, gênero, etnia, religiosidade.
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Comunicação e Cultura
Comunicação, cultura e história: os meios de comunicação e as culturas em
diferentes configurações históricas. Ecologia da comunicação: cenários da
cultura da comunicação; ação integradora e efeitos culturais das práticas
midiáticas. As questões da imagem e seus desdobramentos: imaginário cultural
e cultura da imagem. Articulação entre corpo, texto e imagem, crises e tensões.
As representações culturais da visualidade, da oralidade, da audibilidade, da
gestualidade e dos territórios simbólicos em sua relação com as diferentes
mídias. Cultura, memória e registro. Paradigmas, teorias e autores para uma
reflexão acerca da relação entre comunicação e cultura. Teorias da comunicação,
da cultura e suas interfaces.
Comunicação e
Experiência Estética
O GT busca apontar caminhos na interseção entre os fenômenos
comunicacionais e as teorias estéticas, contribuindo para a reflexão e a crítica
das manifestações expressivas, tanto em trabalhos teóricos quanto analíticos.
Busca compreender questões vinculadas à dimensão estética dos processos
comunicacionais e dos produtos da cultura contemporânea (na medida em que
impliquem a dimensão ativa da sensibilidade) e ainda aos aspectos teóricometodológicos da apreensão da experiência estética nas práticas internacionais.
Comunicação e Política
Abrange estudos sobre comunicação e política desenvolvidos a partir de
fenômenos, linguagens, discursos e instituições em perspectiva histórica.
Os eixos temáticos desse Grupo de Trabalho privilegiam a comunicação
política; mídia e democracia; teorias políticas e o campo da comunicação;
regimes políticos e relações com os meios de comunicação; opinião pública;
propaganda política; o espaço da política nos meios de comunicação; a política
contemporânea e as novas mídias.
Comunicação e
Sociabilidade
Estudo relacional dos fenômenos comunicativos e dos processos sociais,
buscando identificar uma problemática específica da comunicação em diversos
contextos socioculturais e políticos. No âmbito desta preocupação, destacamos
como alvo privilegiado de análise: a) os modos de subjetivação em jogo nas
práticas comunicativas; b) as sociabilidades e as configurações subjetivas
implicadas na produção midiática e os modos e efeitos de apropriação dessa
produção; c) a experiência urbana como lugar de emergência de práticas
comunicativas e de subjetivação.
Comunicação
em Contextos
Organizacionais
Os processos de mediação e significação em contextos organizacionais. Os
sistemas, processos, estruturas e meios de comunicação das e nas organizações
públicas e privadas. A construção de sentidos no contexto organizacional. As
relações político-comunicacionais entre indivíduos, organizações e sociedades.
As dimensões da imagem, da cultura e da identidade. As organizações inseridas
como atores políticos nas redes sociais contemporâneas. As relações entre a
comunicação e as transformações nas relações de trabalho. Os movimentos
em torno da legitimação de novas idéias e valores. A comunicação estratégica.
Os estudos sobre opinião pública, opinião de públicos e formação da imagem
pública. Os processos comunicacionais no branding, nas marcas e nas dinâmicas
do consumo. Os conflitos e as disputas em torno de discursos e representações
organizacionais.
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Cultura das Mídias
Estudo de produtos e de processos culturais em suas relações com as esferas
tecnológicas, sociais, econômicas e históricas. Representações e identidades
na cultura das mídias e seus múltiplos atravessamentos. A comunicação como
prática social; as figurações emergentes na cultura tradicionalmente chamada
"de massa". Mídia e questões de enunciação: narrativa e discurso. Gostos,
repertórios estéticos e cultura midiática: crítica e valor. Cosmopolitismos,
culturas nacionais, culturas locais. Traduções interculturais. Disputas e tensões
nos processos de construção de hegemonia e controle social. Cultura pública
e políticas culturais. Busca de novas metodologias, a partir de perspectivas
teórico-críticas transdicisplinares, em face a contextos comunicacionais
liminares.
Epistemologia da
Comunicação
O GT se propõe a estudar a definição do objeto e características da
Comunicação e de seu conhecimento científico. Para tanto, podem ser
debatidas propostas de correntes teóricas, seus principais idealizadores,
respectivas linguagens e metodologias, suas inter-relações com os campos do
saber, mantida a centralidade da comunicação, além de relatos e resultados de
experimentações empírico-analíticas. Propõe-se também a acolher avaliações
epistemológico-teórico-metodológicas de pesquisas empíricas relatadas pela
área de conhecimento; análises epistemológicas de pesquisas em andamento;
e observações críticas sobre os processos de investigação nos estudos da
Comunicação. O GT poderá contribuir, também, para a caracterização de
paradigmas em desenvolvimento, eventualmente confrontando-os com as
bases originais da comunicação como área científica.
Estudos de Jornalismo
De uma perspectiva crítica e analítica, o GT busca aprofundar o estudo do
jornalismo como um campo do conhecimento, destacando abordagens
relativas à função social, à história, aos conceitos, aos modelos, às teorias e à
epistemologia do jornalismo. Da mesma forma, visando problematizar e discutir
o jornalismo em seus distintos modos de estruturação, apuração, produção,
circulação, recepção e consumo, este GT também se interessa por estudos que
abordam as teorias da linguagem, os métodos de pesquisa, as metodologias
de ensino, os impactos das tecnologias e as tendências que orientam a práxis
jornalística nas sociedades contemporâneas.
Estudos de Televisão
O GT Estudos de televisão reunirá pesquisas que tenham por objeto a televisão
e seus produtos, considerados em sua complexidade e especificidade. Reúne
reflexões sobre aspectos econômicos, institucionais e tecnológicos; sobre
os contextos de produção, criação, fruição e recepção; sobre as dimensões
discursivas, informativas, pedagógicas, políticas, culturais e estéticas dos
programas, gêneros e formatos examinados. O GT apresenta-se como fórum
acadêmico de fomento, de convergência e de diálogo crítico de trabalhos de
diferentes vertentes que tratam de questões teóricas que buscam aprimorar os
aparatos metodológicos de análise dos fenômenos televisivos.
Investigações e análises teóricas, históricas e estéticas acerca do cinema e da
Estudos de cinema,
fotografia e audiovisual fotografia, nas suas especificidades, expansões, hibridismos e desdobramentos,
considerados como traços fundamentais do audiovisual e para compreensão
da cultura e da sociedade contemporâneas. As dinâmicas postas em circulação
pelo cinema, pela fotografia e pelo audiovisual no campo da comunicação, bem
como sua contribuição às práticas sociais, culturais e artísticas.
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Imagem e Imaginários
Midiáticos
Análises sobre teorias da imagem e/ou do imaginário. Reflexões sobre imagem
e/ou imaginário em seus diversos desdobramentos, seja em peças publicitárias,
em imagem empresarial e mercadológica, em fotografia, e em representações
no cinema, televisão e vídeo. Diálogos entre o imaginário midiático e outros
imaginários da cultura (mítico, tecnológico, artístico, religioso). Considerações
sobre imagens híbridas e/ou imaginários contemporâneos, em suas implicações
sociais, históricas e construturais.
Práticas interacionais
e linguagens na
comunicação
O GT investiga os diversos fenômenos de comunicação como práticas interativas,
considerando a linguagem, a partir dos seus usos e determinações, bem como
de suas éticas e estéticas correspondentes, como instância privilegiada de
análise. Com esse escopo investigativo, pretende: 1) realizar um mapeamento
das várias contribuições teóricas e metodológicas que têm permitido ao
campo da comunicação avançar na descrição e análise de processos e
procedimentos de linguagens nas mídias, contribuindo para a descrição dos
modos de funcionamento dos textos nos meios impresso, eletrônico, digital;
2) analisar as transformações da linguagem e a emergência de novas formas
técnico-expressivas a partir da convergência dos meios; 3) inventariar os tipos
de processos interacionais postos em cena nas distintas produções e objetos
midiáticos, bem como seus modos de articulação de sentido; 4) desenvolver
uma reflexão sobre os modos de circulação, vinculação e compartilhamento do
conhecimento, das relações sociais e dos afetos nas práticas midiáticas.
Recepção, Usos e
Consumo Midiáticos
Análise dos processos e estratégias que envolvem a relação da sociedade
com os meios de comunicação, tendo como objeto de estudos a instância
da recepção e seu trabalho de interpretação, uso e consumo midiáticos. As
referências conceituais e empíricas do trabalho deste GT incluem e enfatizam
as novas “arquiteturas de processos comunicacionais” que reconfiguram a
existência da recepção e os modos de funcionamento de suas práticas. Elegendo
a pesquisa interdisciplinar em diferentes dimensões (teóricas, epistemológicas
e metodológicas), pretende-se estudar as dinâmicas e operações tecno-sóciosimbólicas que organizam as formas de interação entre produtores e receptores
da comunicação midiática, do ponto de vista dos sujeitos. Ao priorizar tais
angulações, o GT em proposição enfatiza a importância da recepção como
instância produtiva, geradora de novos ‘produtos’, de práticas sócio-simbólicas
e de formas de saber derivadas das estratégias desenvolvidas pelos atores, em
situação de interação com as mídias.
A análise dos antecedentes históricos e das tendências da pós-graduação
em Comunicação evidencia que a área se consolida em consonância com o
Sistema Nacional de Pós-Graduação, mas estabelecendo seus próprios rumos.
Na sub-área, a pós-graduação se realiza na estrita vinculação com a pesquisa
científica e tecnológica e com a inovação, vinculação que constrói as diretrizes
para a organização dos cursos pós-graduados e que se apresenta como condição
fundamental de fortalecimento do sistema universitário.
87
88
CAPÍTULO 5
Breve relato sobre a fundação da Socine
Fernão Pessoa Ramos1
A ata de fundação da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema (Socine) data
de 14 de novembro de 1996. Sua primeira diretoria, eleita pelos presentes, foi
composta por Fernão Pessoa Ramos (presidente), Maria Dora Mourão (vice),
Afrânio Catani (secretário) e Luiz Felipe Miranda (tesoureiro). O documento
que detona a articulação da SOCINE intitula-se Carta de Salvador. Foi escrito
e distribuído dois meses antes de sua fundação, durante o tradicional festival
de cinema ‘Jornada de Salvador’. Seu primeiro parágrafo especifica: “Nós,
professores, pesquisadores, ensaístas e estudantes de cinema, reunidos em
Salvador, em 16 de setembro de 1996, constatamos a inexistência de um espaço
que possa aglutinar, sistematizar e divulgar nossas experiências relativas ao estudo
da imagem em movimento em suas diferentes formas. A partir da constatação
deste estado de insuficiência no intercâmbio de nossas atividades de pesquisa,
decidimos organizar uma Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema que terá
como objetivo primeiro o estudo e a pesquisa da história e da teoria do cinema”.
A Carta de Salvador foi articulada aproveitando-se da presença de
pesquisadores de todo país na capital baiana, tendo sido assinada por colegas
que mais tarde teriam importância, em diferentes momentos, na vida da Socine,
como (em ordem alfabética): Bernadette Lyra, Dácia Ibiapina da Silva, Fernão
Pessoa Ramos, Ivana Bentes, José Gatti, Júlio César Lobo, Linda Rubim, Lúcia
Nagib, Umbelino Brasil, entre outros.
Os dois documentos refletem uma ebulição concreta, que se delineia de
modo mais forte desde 1995, para a formação de uma sociedade de estudos de
cinema moderna e dinâmica. O grupo responsável pela criação da Socine compõese de jovens pesquisadores, em sua maior parte de origem acadêmica. A Socine
foi, antes de tudo, uma questão de geração. Até sua criação, os estudos de cinema
no Brasil eram dominados por pesquisadores e jornalistas voltados basicamente
para levantamento de fontes primárias, num recorte metodológico baseado na
garimpagem de material de pioneiros, exclusivamente em cinema brasileiro. Este
foi o pólo contra o qual a instituição afirmou sua singularidade, se distanciando
do grupo que dominava a pesquisa de cinema no Brasil, reunido no Centro de
Pesquisadores do Cinema Brasileiro.
A SOCINE responde à ascensão vertiginosa dos Estudos de Cinema na
academia durante os anos 90 e à geração que navega de modo afirmativo nesta
1. Professor do Departamento de Cinema do Instituto de Artes da Unicamp. Ex-presidente da Socine.
89
Breve relato sobre a fundação da SOCINE
ascensão. Sem que tenha havido conflitos (mas sim absorção), havia referência,
neste jogo de gerações, um pequeno grupo de pesquisadores de cinema que já
atuava na academia, ainda ligado ao Centro de Pesquisadores e à visão chamada
museológica da pesquisa. A Socine, portanto, nasceu apesar do establishment
acadêmico da época, com algumas exceções, como a de Maria Dora Mourão (que
inclusive emprestou a casa para a reunião fundadora).
Mas o que os membros da Socine queriam, o que buscavam exatamente?
No que as reuniões de pesquisadores de cinema (e houve diversas nos anos 80)
deixavam aos participantes com uma profunda sensação de insatisfação? Onde
sentia-se que a herança de Paulo Emílio Salles Gomes estava se perdendo,
arriscando a ser dominada por uma pesquisa engessada e burocrática? O ponto
essencial (que hoje pode parecer banal) foi o de não restringir ao cinema brasileiro,
mas incorporar a dimensão internacional da produção cinematográfica, vista
então com reservas. Criados dentro da pesquisa acadêmica e sua metodologia,
os membros da Socine queriam um espaço maior para a teoria e uma visão de
estudos de cinema que não estivesse ligada às demandas da crítica jornalística e às
necessidades de produção de cineastas.
Buscava-se abrir a janela para o mundo e poder explorar as camadas mais
profundas do pensamento sobre cinema, sem ter a sensação de ser “bichos” de
outro planeta. A questão do cinema experimental e do vídeo (suporte tecnológico
de vanguarda na época) também estava no horizonte e respondia às necessidades
de diversos colegas. O fato é que a metodologia de pesquisa e a demanda de
publicações não era mais a dos pesquisadores críticos de cinema da primeira
metade do século XX.
Ao abrir a porta para a demanda reprimida, imediatamente impressionou o
volume da produção. Desde o primeiro momento a Socine deslanchou, firmando
rapidamente seu crescimento. Apesar das disputas, naturais em toda sociedade
científica, a instituição conseguiu, através dos anos, manter sua unidade,
tornando-se legítima representante da pesquisa em cinema no Brasil. Quem, do
outro lado do espelho, vê o produto pronto, não pode imaginar as dúvidas, os
receios e dificuldades que envolveram sua criação.
O modelo inicial para montar a Socine foi o da a Society for Cinema Studies,
entidade norte-americana da qual alguns de seus integrantes já tinha participado.
O primeiro estatuto da Socine inspirou-se diretamente do estatuto norteamericano, buscando incorporar seu espírito desburocratizado. Com o passar dos
anos foi difícil manter este espírito, mas o objetivo inicial era claro: uma sociedade
de pares, pesquisadores, reunindo-se periodicamente para trocar informações e
buscar inspiração no contato humano. Este foi o espírito detonador da Socine
que sua diretoria luta para manter até hoje.
90
Breve relato sobre a fundação da SOCINE
A Socine, é importante frisar, foi, em seu campo, uma entidade pioneira
na América Latina, demonstrando a forte estruturação acadêmica da área em
relação ao continente. Embora não tenha aberto asas em direção a um processo
mais profundo de internacionalização, sempre houve contatos fortes seja com a
América Latina (onde a Socine serviu de inspiração para a fundação de entidades
semelhantes na Argentina, no México e na Colômbia), seja com os Estados
Unidos (mantendo um diálogo sempre presente com os estudos culturalistas),
ou ainda com a França (em contato próximo com os herdeiros da semiologia).
A estrutura de encontros anuais, que ainda não estava evidente nos primeiros
momentos da Socine, acabou revelando-se a base e o motor desta sociedade. Os
encontros deram personalidade ao projeto inicial e permitiram sua expansão de
modo homogêneo através do Brasil. Os 10 volumes já publicados dos Estudos de
Cinema Socine (incluindo o conjunto de textos do I Encontro, publicados nos
números 13 e 14 da Revista Cinemais)2, refletem a densa produção intelectual
dos Encontros, constituindo o resultado palpável do que significou a SOCINE
para a afirmação da área de estudos de cinema no Brasil.
O primeiro encontro da Socine, em 1997, deveria ser realizado na
Unicamp, em São Paulo, pelo fato da presidência da entidade haver centralizado
a organização. A diretoria preferiu a ECA/USP, por achar que ainda não havia
massa crítica para fazer com que colegas se deslocassem até Campinas, correndo
risco de esvaziamento do evento. A participação da Universidade de São Paulo,
neste que foi o encontro fundador da Socine, reduziu-se a boa vontade, e ao
apoio, de seu diretor, Eduardo Peñuela, nos cedendo a melhor sala da Escola,
cafezinho e bolachas.
O II Encontro da entidade, consolidando definitivamente a Socine,
foi organizado na ECO/URFJ. Consuelo Lins centralizou a organização do
evento, promovendo as articulações e as condições necessárias para uma reunião
que nos trouxe crescimento qualitativo. O III Encontro, realizado na capital
do país, afirmou definitivamente a Socine como sociedade nacional, aberta
para pesquisadores de todo o Brasil. A Socine crescia então a olhos vistos. As
apresentações de comunicações deixaram de ser em uma única sala, passando a
2. 1) CINEMAIS - nº 13, setembro/outubro 1998; CINEMAIS nº 14, novembro/dezembro 1998; 2) Estudos
de Cinema II e III (Annablume, 1999), com organização de Fernão Pessoa Ramos; 3) Estudos de Cinema 2000
(Sulina, 2002), com organização de Fernão Pessoa Ramos, Maria Dora Mourão, Afrânio Catani e José Gatti; 4)
Estudos Socine de Cinema Ano III (Sulina 2003), com organização de Maria Rosaria Fabris, João Guilherme
Barone e outros; 5) Estudos Socine de Cinema ano IV (Panorama, 2003), com organização de Afrânio Catani,
Wilton Garcia e outros; 6) Estudos Socine de Cinema ano V (Panorama, 2004) com organização de Maria Rosaria Fabris, Afrânio Catani e outros; 7) Estudos de Cinema Socine ano VI (Nojosa, 2005) com organização de
Maria Rosaria Fabris, Wilton Garcia e Afranio Catani; 8) Estudos de Cinema Socine (Annablume, 2006), com
organização de Rubens Machado, Rosana Lima Soares e Luciana Corrêa; 9) Estudos de Cinema Socine (Annablume, 2007) com organização de Rubens Machado, Rosana de Lima Soares e Luciana Correa de Araújo; e 10)
Estudos de Cinema Socine ano IX, com organização de Esther Hamburgo, Gustavo Souza, Leandro Mendonça
e Tunico Amâncio (Annablume, 2008).
91
Breve relato sobre a fundação da SOCINE
se distribuir por lugares diversos. O III Encontro significou o momento em que
a entidade abandonou definitivamente o berço de sua criação e passou a andar
com pernas próprias. A organização deste Encontro ficou a cargo de João Lanari,
“nosso homem no Itamaraty”, e Denilson Lopes.
Ao criar a Socine, pensou-se no cinema em suas diversas fronteiras, na sua
história e no diálogo com outros campos das humanidades, na análise das diversas
expressões estéticas que compõem sua forma narrativa, na densidade da teoria
que se articula em torno da cinematografia. O projeto da SOCINE ainda está
em aberto e o dinamismo de seu formato atual mostra que o grupo de jovens que
se reuniu há 15 anos, buscando espaços mais amplos para expor suas idéias e sua
paixão pelo cinema, estava correto em suas ambições.
Como foi pressentido no início, o cinema era maior e podia ocupar um
espaço social mais amplo. A Socine é a expressão deste ensejo. A dinâmica de sua
história demonstra que a forma artística que a sustenta respira com fôlego mais
amplo que geralmente supõe-se.
92
Breve relato sobre a fundação da SOCINE
Notas sobre a história da Socine
José Gatti3
A criação da SOCINE está ligada ao crescimento da área de estudos de cinema
nas últimas décadas no Brasil. Desde a criação, nos anos 1960, dos primeiros
cursos especializados criados por Paulo Emílio Salles Gomes na Universidade
de Brasília (UnB) e na Universidade de São Paulo (USP), surgiram diversos
programas de pós-graduação na área da Comunicação Social dedicados ao
cinema, assim como linhas de pesquisa especializadas em cursos de artes, letras,
história, ciências sociais e outros. A área se caracteriza, portanto, por uma intensa
interdisciplinaridade. Esse caráter interdisciplinar foi mantido, assim como foi
dado espaço para o entendimento do cinema como uma área que vai além dos
estudos fílmicos, abrangendo a televisão e as novas tecnologias relacionadas com
o campo discursivo do audiovisual.
Um nome importante nesse processo: o do saudoso prof. Arlindo Castro,
da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Quando estudávamos juntos
na New York University, nos anos 1980, conhecemos a Society for Cinema and
Media Studies (SCMS), a maior entidade do mundo nessa área, que realiza
conferências anuais dentro e fora dos Estados Unidos. A participação numa das
conferências da SCMS ajudou a pensar na criação de uma entidade congênere no
Brasil. Arlindo foi um entusiasta da criação da Socine, tendo redigido a primeira
versão de seus estatutos. Seu falecimento inesperado impediu que participasse de
nossos Encontros, mas é importante lembrar seu nome como um dos criadores
da Socine. A entidade seria imaginada de forma mais concreta num almoço na
UnB, em 1995, durante a realização de um dos encontros da Compós. Eduardo
Peñuela Canizal, Lúcia Nagib, Fernão Ramos, Mauro Baptista e eu conversamos
sobre a possibilidade de realização de um encontro de pesquisadores da área.
Durante a realização da Jornada de Curtas de Salvador, em setembro de
1996, Fernão Ramos e eu demos continuidade à discussão e Fernão tomou a
iniciativa de redigir a Carta de Salvador, o primeiro documento que marcou a
criação da Socine. A Carta subscrita por todos os participantes em ato solene, e
levou à convocação de nosso primeiro Encontro de pesquisadores, na ECA/USP,
no mês de novembro.
Desde então, temos realizado Encontros anuais, em diferentes regiões do
país, com o reconhecimento e o apoio de agências de de fomento à pesquisa,
como o CNPq, a Capes, a Fapesp e outras instituições dedicadas ao campo
do audiovisual no Brasil. Participamos ativamente da criação de entidades
irmãs no México (Sepancine) e na Argentina (Asaeca) e nossos pesquisadores
têm comparecido a seus respectivos congressos. A Socine conta, hoje, com
3. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina. Foi secretário, vice-presidente e presidente da SOCINE.
93
reconhecimento internacional e, em número de sócios, já é a segunda maior
entidade especializada em estudos de cinema no mundo. Temos contado com
a presença de pesquisadores da França, dos Estados Unidos, Portugal, Canadá,
África do Sul, Nova Zelândia e outros países. Um de nossos próximos desafios
será o de consolidar essa inserção internacional.
94
Breve histórico da área do ensino de cinema e do audiovisual
Maria Dora G. Mourão1
Introdução
Seguindo os passos das grandes mudanças acontecidas no início dos anos 60
em algumas cinematografias mundiais, o cinema brasileiro tomou o caminho
do Cinema Novo. Assim como a Nouvelle Vague francesa retomou o impacto
modernista dos anos 20, o Brasil acompanhou a renovação da linguagem
cinematográfica e as mudanças na maneira de produzir.
A valorização do “cinema de autor”, em contraposição à indústria
hollywoodiana ou ao “cinema de produtor”, teve como referência não somente
questões de linguagem, mas, principalmente, a criação de uma nova estética e a
defesa de uma postura ideológica.
Havia uma forte inquietação nos meios cinematográficos brasileiros quanto
aos novos rumos. O movimento cineclubista crescia, eram organizadas palestras,
seminários e debates. Havia grande demanda por eventos que colocassem o
cinema como pauta para reflexão.
É neste panorama que surgem os primeiros cursos de cinema no Brasil.
As universidades abrem espaço para um novo tipo de formação, a do realizador
cinematográfico com um perfil adequado aos novos ventos, ou seja, o do “cinema
de autor” que seguia um modelo de produção independente. A estrutura
curricular dos primeiros cursos, o da Universidade de Brasília (UnB), criado
em 1962, seguido pelo curso da Universidade de São Paulo (USP), criado em
1967, e depois pelo curso da Universidade Federal Fluminense (UFF), criado em
1969, tinha como característica a quebra da rigidez universitária permitindo uma
ampla formação cultural e profissional. O objetivo principal era o da formação
de diretores, objetivo este em total consonância com a ideologia dominante do
“cinema de autor”, além de enfatizar a necessidade de realizar filmes que refletissem
sobre nossa realidade social.
Esse modelo permaneceu até os anos 90 do século XX, quando a introdução
de instrumentos eletrônicos nos processos de produção de cinema alterou os
conceitos elaborados em relação ao continuum espaço-temporal, atributo do
cinema clássico, e facilitou a experimentação.
O surgimento de novos estilos e formas de expressão determinou,
inevitavelmente, uma necessidade de revisar os métodos de pensar e fazer
1 Presidente da Forcine. Professora Titular do Departamento de Cinema, Rádio e TV da Escola de Comunicação e Artes (ECA) – USP.
95
Breve histórico da área do ensino de cinema e do audiovisual
cinema. O avanço para o digital e a convergência de equipamentos no processo
de produção derrubou algumas barreiras de linguagem sendo que hoje vemos
claramente a influência da linguagem cinematográfica em alguns programas de
televisão (principalmente nas mini-séries) e, inversamente, filmes para tela grande
que se confundem com telefilmes.
As primeiras experiências de uso das novas tecnologias ocorrem por volta
de meados dos anos 70 do século XX (Godard, Coppola, Antonioni), mas é
a partir dos anos 1995 que a linguagem audiovisual, o modelo de produção,
a preservação, a difusão, a exibição e o ensino da atividade audiovisual têm
experimentado transformações mais evidentes advindas das rápidas mudanças do
paradigma tecnológico.
Por um lado, o desenvolvimento das tecnologias digitais de captação e
manipulação de imagens e sons oferece aos realizadores novas possibilidades e
novas abordagens para questões de linguagem. Por outro, o advento de novos
canais de distribuição e a revolução midiática operada pela internet, estabeleceram
novos parâmetros de difusão e consumo de produtos audiovisuais, permitindo a
ampla circulação de imagens e sons em padrões totalmente inéditos.
Da mesma forma, as atividades ligadas ao ensino das artes e técnicas
audiovisuais vêm sofrendo profundas alterações em sua natureza pela introdução
de novas tecnologias e de novos formatos e suportes. Outras formas de narrar se
impõem resultantes desses novos formatos e suportes.
Todas as etapas desde a produção até a difusão e a preservação do audiovisual
têm sido paulatinamente influenciadas pelo surgimento de novas ferramentas e
modelos de produção digitais.
Dentro desse contexto, faz-se necessário considerar as possibilidades técnicas
e artísticas que são oferecidas por essas ferramentas digitais e analisar as mudanças
e consequências que já estão ocorrendo dentro da dinâmica econômica, social e
cultural que afeta a todos os grupos sociais.
O cinema digital e os novos formatos implicam algo mais que uma
mudança de sistemas, suportes e formatos de produção e difusão: é parte
de um irreversível processo de mudança do mundo comparada por muitos
analistas com a revolução científica, tecnológica e industrial dos séculos XVIII e
XIX. Sob essa perspectiva, é necessário restabelecer as coordenadas estéticas, éticas,
pedagógicas e econômicas das distintas manifestações da arte audiovisual, num
mundo de novos modelos de negócios, novos públicos e novas necessidades.
É evidente que, tendo em vista as mudanças do paradigma tecnológico de
produção e consumo de cinema e audiovisual, o campo do ensino e da formação
profissional também merecem ser seriamente considerados. Qual o perfil do
profissional de audiovisual da era digital e qual o papel das escolas na formação
desse profissional?
96
Breve histórico da área do ensino de cinema e do audiovisual
Um ponto fundamental de mudança no ensino de cinema está já na
nomenclatura, pois muitos dos termos e conceitos aplicáveis ao cinema e à
televisão anteriores à era digital não são mais aplicáveis à nova realidade. Hoje o
conceito de audiovisual é representante da convergência de suportes, no entanto,
deve-se considerar que o Cinema constitui a matriz histórica da criação das
linguagens e técnicas do Audiovisual e, como tal, deve ser o ponto de partida e a
referência constante dos estudos nessas áreas.
Estabelecer essas novas categorias do pensamento e do estudo do
audiovisual é um desafio que se impõe aos profissionais do ensino e da pesquisa
neste campo. Além disso, o currículo das escolas deve incluir conteúdos que
permitam aos futuros profissionais lidar com as demandas sempre renovadas do
mercado, não para ficar atrelado a ele, mas para propor ideias que abram espaço
para o novo e que olhem para o futuro.
Tendências no ensino
Em 2006 foram aprovadas e implantadas pelo Ministério da Educação (MEC) as
Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino de Cinema e Audiovisual. As novas
diretrizes foram pensadas e propostas por uma comissão da qual faziam parte
professores de cinema de várias universidades brasileiras.
As novas diretrizes têm como objetivo a formação de um aluno com
competência profissional, social e intelectual em questões de criação, produção,
distribuição, recepção e análise crítica referentes ao cinema e ao audiovisual,
assim como às práticas profissionais e sociais relacionadas com estes, em suas
inserções culturais, políticas e econômicas. Para isso, deve ter uma formação
não exclusivamente voltada para uma única especialidade profissional, mas uma
compreensão ampla e rigorosa sobre o campo do Cinema e do Audiovisual,
desenvolvendo assim uma percepção geral sobre esse campo, no qual a especialidade
encontrará seu lugar. Essa percepção vai se estabelecer numa dupla perspectiva - a
primeira, genérica e universalista; a segunda específica e singular - viabilizando
que o egresso possa exercer sua profissão com uma percepção fundamentada da
área de Cinema e Audiovisual assim como da sociedade contemporânea.
A nova estrutura prevê uma ampla formação cultural e profissional baseada
em um currículo que, além de ter disciplinas de caráter específico e geral, prevê
uma série de optativas que vão criando uma interdisciplinaridade fundamental
para a formação em cinema. Foram definidas, ainda, áreas de interesse a partir da
qual o estudante especializa-se em: teoria e crítica, fotografia, som, montagem,
animação, roteiro, direção ou produção.
97
Breve histórico da área do ensino de cinema e do audiovisual
Alguns pontos que fundamentam a proposta de diretrizes curriculares
1. Oferecer aos alunos as mais variadas formas de experimentação do fazer
cinematográfico e audiovisual, pautadas pela mais ampla liberdade de expressão,
pela responsabilidade profissional e ética, pela consciência do papel do Cinema e
do Audiovisual no processo sócio-político do país e pela busca de qualificação que
habilite ao exercício profissional com dignidade e independência;
2. Entender a necessidade de preservar e enriquecer a formação humanística
dos alunos, seja como campo de reflexão sobre a situação humana, seja como
meio de aprofundamento do Cinema e do Audiovisual como atividades artísticas,
reflexivas e de forte contundência na vida social;
3. Considerar as tensões entre as chamadas vertentes “industrial” e
“independente” como um dos parâmetros da história do Cinema e do Audiovisual
no Brasil, ora com efeitos contraditórios, ora com oportunidades de convergência,
cabendo-nos extrair de ambas os potenciais de criação e afirmação dos profissionais
e o enriquecimento da filmografia brasileira;
4. Atentar para o papel que o Cinema veio a ocupar no Brasil como elemento
constituinte e ativo de sua cultura e de meio de intensa representação e debate
sobre a realidade nacional;
5. Considerar a importância peculiar da televisão na sociedade brasileira
e sua importância no âmbito atual da cultura audiovisual em paralelo com o
crescimento quase exponencial da internet;
6. Atentar para o impacto das transformações tecnológicas sobre o Cinema e
as sucessivas modalidades de expressão audiovisual decorrentes;
7. Acompanhar as atuais definições das políticas sobre a atividade
cinematográfica e audiovisual no Brasil quanto aos papéis do Estado, do mercado,
da radiodifusão e mesmo em relação ao ensino superior;
8. Despertar a consciência do papel cultural, educacional e político do
Cinema e do Audiovisual como instrumentos da democracia social no país e dos
aspectos éticos individuais e coletivos enquanto dimensões da condição humana e
planetária numa perspectiva anti-dogmática e aberta às várias concepções estéticas
e de pensamento;
9. Desenvolver metodologias de ensino que impliquem no contato e no
envolvimento do aluno com a realidade social e cultural, seja quanto às áreas de
conhecimento teórico, seja quanto à elaboração dos projetos de realização, visando
sua formação humana, de cidadania e profissional;
10. Incorporar, como complementares, atividades de extensão e comunitárias,
sejam no âmbito de programas da universidade, sejam as buscadas e exercidas
voluntariamente pelo aluno.
98
Breve histórico da área do ensino de cinema e do audiovisual
Como resultado da reflexão e discussão sobre o ensino, houve um
crescimento significativo no número de Escolas, Cursos e Habilitações de Cinema
e Audiovisual ligadas aos Cursos de Comunicação Social, sendo que a maioria
está vinculada a universidades. Os três cursos regulares que se iniciaram na década
de 60 do século XX deram frutos e hoje existem no Brasil 53 cursos reconhecidos
pelo Ministério de Educação.
O debate internacional aponta para a necessidade de se desvestir de ideias e
atitudes redutoras e de dar hoje ao cinema, desde seu lugar de matriz da linguagem
audiovisual, a função de disseminador de teorias e de práticas audiovisuais em
diálogo com o que resulta do avanço da tecnologia, incorporando as novas
mídias. No entanto, é importante não perder de vista aquilo que é específico
desse campo multidisciplinar, ou seja, narrar histórias, independente do gênero
e dos formatos.
Pesquisa e tendências
Há uma preocupação na área que se refere ao lugar dos estudos e pesquisas do
Cinema e Audiovisual no sistema nacional de pós-graduação.
O Fórum Brasileiro do Ensino de Cinema e do Audiovisual (Forcine) julga
recomendável aplicar uma flexibilização capaz de legitimar a diversidade de
enfoques que a área não apenas abriga como exige, para que se possa dar conta da
reflexão sobre as experiências e práticas do Cinema e do Audiovisual. Essas práticas
requerem, para sua análise rigorosa, o domínio de um campo conceitual que lhes
é próprio, não sendo apenas um terreno de aplicação de categorias gerais, seja da
Comunicação, da Estética, da Sociologia, etc. Entende-se aqui que é equivocada
a ideia de que nosso terreno se caracteriza apenas pelos suportes e pelas técnicas.
Ao contrário, o Cinema e o Audiovisual constituem um campo de pesquisa
com critérios de coerência específicos e uma tradição teórica atestada por uma
bibliografia que já tem um século, na qual é possível discernir o desenvolvimento de
certas problemáticas que devem ser do conhecimento de qualquer pesquisador da
área. Atualmente o Cinema e o Audiovisual têm especialidades inseridas no campo
das Artes e outras no campo da Comunicação. Os avanços tecnológicos e as novas
implicações socioeconômicas deles decorrentes exigem que estas especialidades
sejam estudadas e pesquisadas de maneira integrada em um mesmo campo. Este
campo abrange o ensino e a pesquisa da produção em Cinema e Audiovisual
incorporando os processos de realização, de distribuição e de análise de sistemas
de exibição, bem como os aspectos de manifestação e identidade cultural.
Desde o início do século XX essa área vem acumulando experiências de
produção as quais geraram uma ampla reflexão que sedimentou bases teóricas
densas, específicas e ajustadas a cada desdobramento ocorrido ao longo das
99
Breve histórico da área do ensino de cinema e do audiovisual
décadas. Esse campo requer uma familiaridade com práticas e técnicas sem as
quais as análises dos produtos perdem especificidade e efetividade.
Mercado de trabalho
A área do Cinema e Audiovisual tem uma relação direta com o mercado de
trabalho, já que forma profissionais que irão atuar na realização propriamente
dita através de produtoras independentes e ocupando cargos na televisão, sejam
administrativos ou nas equipes de produção. Outra característica importante é
o fato de também proporcionar quadros para o Poder Executivo nas instâncias
municipais, estaduais e federais.
Relações internacionais
Algumas das escolas brasileiras são filiadas ao Centre International de Liaison
des Ecoles de Cinéma et Télévision (CILECT), entidade que congrega por volta
de 140 escolas de todo o mundo. A participação nessa entidade proporciona
a possibilidade de fazer parte de um circuito internacional de intercâmbio de
conhecimento, de desenvolvimento conjunto de projetos e de mobilidade de
alunos e professores.
100
Breve Histórico da Socine
Maria Dora G. Mourão1
Introdução
Tomemos a entidade que congrega os pesquisadores de Cinema e Audiovisual
como sendo representativa da área em questão e, nesse sentido, refletir sobre a
área através da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine),
uma associação de interesse científico e cultural, sem fins lucrativos, que congrega
pesquisadores da área do Cinema e Audiovisual.
Em 16 de setembro de1996, é lançada a Carta de Salvador, na qual um
grupo de professores, pesquisadores, ensaístas e estudantes de cinema constatam
“a inexistência de um espaço que possa aglutinar, sistematizar e divulgar nossas
experiências relativas ao estudo da imagem em movimento em suas diferentes
formas”. Nesse momento decidem “organizar a Sociedade Brasileira de Estudos
de Cinema, que terá como objetivo primeiro o estudo e a pesquisa da história e
da teoria do cinema”. Alguns anos depois, acrescenta-se o conceito de Audiovisual
ao nome da sociedade, com a finalidade de ampliar o campo de estudos em um
movimento em consonância com a convergência determinada pelo digital. Seu
surgimento veio refletir o crescimento dessa área de conhecimento no Brasil.
Com a instituição da graduação e da pós-graduação em Cinema a partir do
fim dos anos 60 do século XX, a pesquisa na área se expande e se institucionaliza
nas universidades, imprimindo-lhe uma regularidade antes inexistente.
A Universidade de Brasília (UnB) é uma das pioneiras na implantação de
Cursos de Cinema (1962), seguida pela Universidade de São Paulo (USP, 1967)
e pela Universidade Federal Fluminense (UFF, 1969). Se na época o principal
objetivo desses cursos era a formação de diretores de cinema, a sedimentação
dos cursos de pós-graduação senta as bases para o crescimento dos estudos
na área, fazendo com que os cursos de graduação passassem a incluir em suas
estruturas curriculares disciplinas de reflexão teórica que, junto com as de
realização, imprimiam aos cursos um perfil universitário. A formação teórica
não se limitava apenas à capacidade metodológica de interpretação da realidade
ou à teoria científica, mas envolvia também o domínio dos saberes derivados da
análise dessas práticas contidos nas dimensões que unem teoria à arte, teoria à
vida social e cultural.
1 Presidente da Forcine. Professora Titular do Departamento de Cinema, Rádio e TV da Escola de Comunicação e Artes (ECA) – USP.
101
Breve Histórico da Socine
A partir dos anos 90, com o avanço tecnológico e a convergência
digital, caíram as barreiras que impediam uma aproximação entre
os meios, principalmente entre o cinema e a televisão. Se no passado
foram profissões excludentes, hoje constituem um campo vasto de
especializações ligadas ao universo do que se convencionou chamar de
Audiovisual. A aproximação entre os meios é definitiva, com saudável
reflexo nas estruturas de ensino e pesquisa.
O final do século XX apontou decisivamente para uma indústria unificada
sob o nome abrangente do audiovisual. Os meios de produção já compartilham
equipamentos comuns, os mercados cada vez menos distinguem produtos segundo
sua origem – fotográfica ou eletrônica –, até mesmo porque esses processos são
conversíveis. A televisão tende a cumprir o seu papel privilegiado de veículo de
uma produção audiovisual elaborada muitas vezes por empresas autônomas que
também produzem cinema.
Os objetivos da Socine são:
a) aglutinar, sistematizar e divulgar experiências relativas ao estudo da
imagem em movimento, em seus diferentes suportes, e áreas afins;
b) organizar encontros, seminários, simpósios e congressos;
c) promover o relacionamento de seus integrantes com entidades similares
do Brasil e do exterior.
A entidade já realizou 14 Encontros nas mais diversas regiões brasileiras,
sempre acolhidos por universidades notórias pelo ensino e pesquisa nessa área
de conhecimento. Como resultado dos Encontros, a Socine já promoveu a
publicação de 10 livros incorporando trabalhos apresentados em suas reuniões
e é reconhecida, tanto no Brasil como no exterior, como a mais importante
instituição que promove a pesquisa em Cinema e Audiovisual em nosso país. A
partir de 2010, o livro Estudos de Cinema e Audiovisual passa a ser uma publicação
digital, podendo ser encontrado na página web da associação.
Esse reconhecimento pode ser confirmado pelo crescimento exponencial de
associados, que atinge hoje o número de 1.011 sócios entre os que estão ativos e os
inativos (ainda, pelo fato de que a partir de 2005 os encontros passaram a receber
pesquisadores de fora do Brasil como, por exemplo, do México, da Inglaterra, de
Portugal e da África do Sul. Além disso, os órgãos financiadores como Capes, CNPq
e FAPESP, têm apoiado os Encontros da Socine, contribuindo financeiramente
para a viabilização dos mesmos. O Ministério da Cultura (MinC), por meio da
Secretaria do Audiovisual (SAV), também colabora para a realização dos eventos.
102
Breve Histórico da Socine
Pesquisa
De acordo com o portal do Ministério da Educação (MEC), há hoje no Brasil
54 instituições de ensino superior com cursos de graduação (bacharelado,
sequenciais e cursos superiores de tecnologia) de Cinema, Televisão, Vídeo,
Produção Audiovisual e Realização Audiovisual, tanto em instituições públicas
como em privadas.
Dos 37 programas de pós-graduação vinculados à área de Comunicação,
três deles estão voltados especificamente para a área do Cinema e Audiovisual:
- UFSCar – Universidade Federal de São Carlos (SP) – Programa em
Imagem e Som
- UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas (SP) – Programa em
Multimeios
- USP – Universidade de São Paulo – Programa em Meios e Processos
Audiovisuais
Em outros sete programas há linhas de pesquisa na área:
- Unisinos- Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS) – Mídias e
Processos Audiovisuais
- UFF- Universidade Federal Fluminense (RJ) – Análise da Imagem e do
Som
- UTP – Universidade Tuiuti do Paraná (PR) – Estudos de Cinema
- UNIP – Universidade Paulista – Configuração de Linguagens e Produtos
Audiovisuais na Cultura Midiática
- UAM- Universidade Anhembi Morumbi (SP) – Análise em Imagem e
Som
- UFPB – Universidade Federal da Paraíba – Culturas Midiáticas
Audiovisuais
- UFC – Universidade Federal do Ceará – Fotografia e Audiovisual
É interessante notar que não é somente nos cursos específicos que
encontramos a pesquisa em Cinema e Audiovisual. Estuda-se e são produzidas
dissertações e teses também nos cursos e programas de Comunicação, Ciências
Sociais, Filosofia, História e Letras. É fato que o Cinema e Audiovisual tem
uma relação próxima com essas áreas do conhecimento, principalmente com a
Comunicação, por tratar-se de campo cuja especificidade dialoga de maneira
transdisciplinar com os outros.
Nos 14 anos de existência da Socine chegou-se a um numero de 1.011
103
Breve Histórico da Socine
associados, tendo hoje 50% deles em plena atividade participando de todos
os Encontros, e os outros 50% flutuantes. Desse total, 454 são doutores ou
doutorandos, sendo que a grande maioria são professores universitários.
Os Encontros da Socine têm se estruturado nos últimos anos em torno de
Seminários Temáticos, Mesas temáticas, Sessões de Comunicações individuais e
Painéis. Essa organização nos permite verificar quais são os focos de interesse de
pesquisa a cada ano.
Os Seminários Temáticos são os que podem assinalar os temas do momento,
já que eles têm duração de quatro anos. Isso não significa que toda a pesquisa na
área se concentre nos temas dos seminários, mas dá alguns parâmetros importantes,
dada a constância dos mesmos assuntos por um período determinado.
Os temas são:
- Cinemas em português: aproximações/relações
- Os gêneros no cinema brasileiro e latino-americano: práticas,
transformações, remixagens e tendências
- Indústria e recepção cinematográfica e audiovisual
- Estudos de som
- Cinema, transculturalidade, globalização
- Cinema no Brasil: dos primeiros tempos à década de 1950
- Cinema como arte e vice-versa
- Ciências Sociais e Cinema: metodologias e abordagens de uma pesquisa
interdisciplinar
- Cinema, estética e política: a resistência e os atos de criação
- Televisão – formas audiovisuais de ficção e documentário
Outro tema bastante recorrente nos últimos 10 anos é o gênero documental.
Essa preocupação vem de encontro à importância histórica que o documentário
vem retomando traduzida, principalmente, no surgimento de novas tendências
e da ampliação de espaços de exibição. Essa transformação tem sido objeto
de discussão e é vital ao se pensar o documentário como forma audiovisual
fundamental.
Como pode ser verificado, a gama de assuntos é abrangente e denota a
amplitude da área do Cinema e do Audiovisual.
104
Breve Histórico da Socine
Tendências
Está claro que não podemos dissociar a pesquisa do ensino na área do Cinema
e Audiovisual uma vez que, no Brasil, a pesquisa se dá prioritariamente na
universidade. Nessa perspectiva é importante apontar para o fato de que o
interesse pela formação na área está em plena expansão, o que pode ser facilmente
detectado nas estatísticas dos exames vestibulares em todas as regiões do país.
A demanda por novos cursos é significativa e resultou na ampliação da oferta
levando à necessidade de contratar professores que, por sua vez, necessitam
cursar a pós-graduação desenvolvendo pesquisa para obter seus títulos que lhes
permitirão trilhar a carreira acadêmica.
Quanto às carências, ainda falta uma maior valorização da área em virtude
de sua importância histórica e estratégica. Já é chavão dizer que o mundo hoje se
move em torno do audiovisual, mas não deixa de ser uma verdade indiscutível.
Nesse sentido, há a necessidade de pensar em políticas públicas que incentivem o
avanço da pesquisa na área e organizem o ensino e a formação profissional.
Outra questão fundamental é a necessidade de dar ao jovem do ensino
médio uma formação em linguagem audiovisual (leitura critica e produção), não
só para inseri-lo na contemporaneidade, mas, principalmente, para fomentar a
capacidade crítica e reflexiva sobre as imagens e sons em movimento.
Os pesquisadores da área vêm debatendo o lugar dos estudos e pesquisas de
Cinema e Audiovisual no sistema nacional de pós-graduação. Historicamente, o
cinema viveu até 1990 uma situação esquizofrênica, pois no nível de graduação era
considerado uma habilitação de Comunicação Social e no nível de pós-graduação,
sempre esteve na área de Artes. A partir daquela data os cursos de graduação que
assim o desejassem foram autorizados a implantar currículos autônomos, ou seja,
currículos específicos que independem do vínculo às Artes ou às Comunicações.
Essa esquizofrenia histórica foi reconhecida recentemente pelos próprios
órgãos financiadores que, atendendo a um pedido das associações no sentido de
dar um melhor atendimento à área de Cinema e Audiovisual, concentraram na
área da Comunicação o encaminhamento para avaliação dos projetos de pesquisa.
É fundamental aplicar ao cinema uma flexibilização capaz de legitimar a
diversidade de enfoques que a área não apenas abriga como exige, para que se
possa dar conta da reflexão sobre as experiências e práticas do cinema, do vídeo,
da televisão e de todas as manifestações da área conhecidas hoje como audiovisual,
incluindo os novos meios digitais.
Uma área que possa precisar a especificidade do olhar investigativo do
domínio do audiovisual, tanto sobre seus “fenômenos” próprios, como sobre
os de outras áreas (como no caso do pesquisador de Audiovisual que estuda a
105
Breve Histórico da Socine
formação de platéias e se referencia por conhecimentos de história social e ele
continua sendo um “estudioso da área do Audiovisual”, ou daquele que se
debruça sobre o mercado a partir de noções de economia, etc). Cabe ressaltar que
o Cinema construiu, seja no seu exercício, seja na crítica e análise, uma matriz
teórica indiscutivelmente peculiar e irredutível (mas dialogante) com outras
matrizes, como as da Lingüística, da Semiótica, etc. E que por isso ela transcende,
em muito, as especificidades das chamadas Ciências Socialmente Aplicáveis, se
tangencia com as Linguagens e Artes, e está inevitavelmente conectada com a
Psicologia, com a Economia, com a Filosofia, assim como com várias outras áreas.
Mercado de trabalho
A área do Cinema e Audiovisual tem uma relação muito próxima com o mercado
de trabalho em vários níveis. Encontramos profissionais no campo da produção
cinematográfica e audiovisual independente, seja para a tela grande do cinema,
seja para a tela pequena da televisão ou ainda para a tela menor do celular. A
televisão propriamente dita também absorve um numero significativo de
profissionais. O poder público também tem sido um espaço de atuação, assim
como as universidades têm recrutado um bom número de docentes, não somente
para a área específica, mas, também, para a área da Comunicação.
Relações internacionais
As relações com a comunidade acadêmica internacional se dão através de
convênios de pesquisa, de realização de mestrados, doutorados e pós-doutorados,
além de intercâmbio de docentes e de publicações de mão dupla.
A Socine tem mantido estreita colaboração com a Society for Cinema and
Media Studies, organização internacional sediada nos Estados Unidos, e através
desse contato tem promovido o intercâmbio de pesquisadores de diferentes países.
É importante citar que a Socine foi exemplo para a criação de três novas entidades:
- ASAECA – Asociación Argentina de Estudios de Cine y Audiovisual
(Argentina)
- SEPANCINE – Seminário Permanente de Análisis Cinematográfico
(México)
- AIM – Associação dos investigadores da Imagem em Movimento
(Portugal)
106
CAPÍTULO 6
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Carlos Eduardo Franciscato1
Edson Spenthof 2
Mirna Tonus3
Sérgio Luiz Gadini4
Introdução
Desde as experiências pioneiras de pesquisa histórica em Jornalismo de Alfredo
de Carvalho e Carlos Rizzini até as formulações teóricas de Danton Jobim e Luiz
Beltrão em meados do século passado, passando pela sedimentação acadêmica da
formação universitária em Jornalismo a partir da década de 1940, os estudos de
Jornalismo no Brasil têm alcançado um processo de crescimento científico que
demonstra vigor e maturidade das pesquisas nacionais. Como objeto complexo,
o Jornalismo tem sido passível de tratamento por diversas áreas de conhecimento,
de forma diversificada e complementar.
O Jornalismo antes de sua academização localiza suas raízes ainda no
século XIX. Propõe, então, uma periodização em três fases: 1) Emancipação
(século XIX); 2) Identificação (século XX); e 3) autonomização (século XXI). O
primeiro período, de emancipação, está ligado à dissociação gradual dos modelos
portugueses de compreender o Jornalismo, reminiscentes da Era Colonial, e a
busca de um modelo brasileiro de Jornalismo a partir da Independência do Brasil
e nas décadas seguintes do século XIX (MELO, 2009, p. 12-13).
O segundo período proposto pelo autor, o da identificação (MELO, 2009,
p. 13-19), expande-se por todo o século XX por meio de várias correntes de
pensadores. A primeira corrente é a dos fundadores, em que se encontram atores
políticos que identificam no Jornalismo uma função vital ao sistema político,
em um contexto de industrialização do país e seus efeitos sobre a informação
jornalística e a sociedade. Destaca-se o pensamento de Rui Barbosa, Barbosa
Lima Sobrinho e Carlos Lacerda. Uma segunda corrente deste período é a dos
sistematizadores, em que um olhar acadêmico tenta identificar fronteiras do
1 Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). Professor adjunto da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
2 Diretor do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ). Jornalista. Mestre em História e professor
da Universidade Federal de Goiás. (UFG).
3 Diretora do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ). Doutorado em Multimeios pela Unicamp
e professora adjunta da Universidade Federal de Uberlândia (MG).
4 Presidente do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ). Doutor em Comunicação pela Unisinos/
RS. Professor concursado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR).
107
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Jornalismo em relação a outras formas de pensamento, como a literatura, seja
numa abordagem histórica, sociológica, estética ou filosófica. Neste grupo estão
Alceu Amoroso Lima, Danton Jobim e Luiz Beltrão.
Uma terceira corrente de pensamento sobre o Jornalismo neste período
de Identificação é denominada por Marques de Melo como polemista, na qual
jornalistas como Alberto Dines e acadêmicos como Cremilda Medina e Adelmo
Genro Filho produzem uma visão crítica sobre a sociedade, o Jornalismo e o
governo militar autoritário da segunda metade do século XX. Por último, uma
corrente de consolidadores, que aprofundam uma abordagem acadêmica sobre o
Jornalismo.
A terceira fase na formação de um pensamento sobre o Jornalismo, classificada
por Marques de Melo como de autonomização (2009, p. 19-23), engloba uma
nova geração de pesquisadores dedicados a constituir uma comunidade acadêmica
de estudiosos do Jornalismo. Neste período, que engloba a primeira década do
século XIX, surge uma corrente de revigoramento de uma análise crítica do
Jornalismo (os problematizadores) e uma corrente mais preocupada em legitimar
o Jornalismo como um campo acadêmico capaz de produzir um conhecimento
científico (os institucionalizadores).
Embora este tipo de periodização indique aparentes divisões, não foi
proposta do autor considerar formas de pensar separadas, mas observá-las
em um movimento complementar, sem a criação de rupturas substantivas.
O último grupo de pesquisadores, por exemplo, têm buscado, por meio da
institucionalização, uma sedimentação de diferentes correntes de pesquisa sobre
o Jornalismo, seja junto aos programas de pós-graduação brasileiros, seja junto às
agências governamentais de fomento à pesquisa.
Com a institucionalização, a produção de conhecimento sobre o Jornalismo
exige uma constituição formal conforme os procedimentos de pesquisa científica.
Um dos desafios contemporâneos é, então, a construção disciplinar do campo,
que passa, além da especificidade do objeto, pela solidez e clareza de categorias
fundamentais para tratá-lo, por um conjunto teórico harmônico que gere
conhecimento articulado e coerente e pela própria definição de eixos metodológicos
específicos em relação a outras áreas do conhecimento. O amadurecimento do
campo do Jornalismo enfrenta o desafio de avançar encontrando um ponto de
equilíbrio entre, por um lado, os diálogos teórico-metodológicos entre disciplinas
que chegam ao objeto por meio de um tratamento multidisciplinar e, por
outro, o esforço de uma construção disciplinar específica, que lhe dê identidade
metodológica para desencadear um diálogo com disciplinas de outros campos
científicos.
Além desta perspectiva histórica, o percurso de caracterização da produção
108
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
de conhecimento em Jornalismo será apresentado em cinco outros aspectos:
1) Descrição da comunidade acadêmica do Jornalismo (surgimento e a
consolidação das escolas de jornalismo, da pesquisa e da pós-graduação em
jornalismo );
2) A identificação das principais áreas de pesquisa em Jornalismo;
3) A publicação de periódicos científicos especializados em Jornalismo;
4) A inserção internacional da pesquisa em Jornalismo;
5) A relação entre a academia, o setor produtivo e a profissão de jornalista.
A comunidade acadêmica da área de Jornalismo
Ao longo do século XX, representantes de entidades de classe (como
os sindicatos estaduais dos jornalistas, a Associação Brasileira de Imprensa e a
Federação Nacional dos Jornalistas), têm defendido a criação de cursos para
qualificar o acesso à profissão e propiciar aos jornalistas a consequente melhora
das condições de vida e trabalho de todos que atuavam na área. O marco desta
histórica luta pela formação universitária é o I Congresso Brasileiro de Jornalistas,
realizado no Rio de Janeiro em 1918.
Os primeiros cursos de graduação em Jornalismo, contudo, só foram de
fato criados e passam a funcionar na segunda metade da década de 1940. O
primeiro, em 1947, na Faculdade Casper Líbero, na ocasião, ligada à Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, e o segundo curso, junto à Faculdade
Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, em 19485. Oportuno considerar
que houve uma primeira tentativa de criar um curso universitário em Jornalismo
em 1935, na Universidade do Distrito Federal, que valorizava uma formação
humanista, por iniciativa de Anísio Teixeira. O Estado Novo, no entanto, acabou
com o projeto, fechando a referida universidade. Somente em 13 de maio de
1943, Getúlio Vargas fundou o Curso de Jornalismo na Universidade do Brasil,
que passou a funcionar em 1948.
Osni Dias (2004) situa a história dos cursos de Jornalismo no Brasil a partir
de um dos pioneiros na criação de curso livre profissionalizante na área. A iniciativa
coube ao paulista Vitorino Prata Castelo Branco, em 1943, “considerado um
precursor dentro da comunidade brasileira de Ciências da Comunicação, ao lado
de personagens como Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Rizzini e Danton Jobim,
entre outros”, afirma Dias.
5 O primeiro curso de Jornalismo (1947) passa a se denominar, mais tarde, Faculdade de Comunicação Social
Cásper Líbero, de São Paulo/SP, e o segundo curso de Jornalismo criado no Brasil (1948) se torna, a partir de
1967, a Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MARQUES DE MELO, 1979).
109
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Com as transformações políticas, sociais e econômicas que ocorriam no
País, marcado pela crescente urbanização, os jornais impressos ganham fôlego
e modernizam-se pelo uso de imagens (fotográficas ou ilustrações), aumentam
tiragens e, assim, contratam mais profissionais para produção editorial. É neste
contexto que o I Congresso Brasileiro de Jornalistas discute e aprova a defesa de
criação de escola de Jornalismo, baseada nas experiências profissionais de outros
países, como a França (que mantinha curso desde 1889) e Estados Unidos, que
mantêm cursos desde 1912, na Universidade de Columbia, por iniciativa de
Joseph Pulitzer.
No início dos anos 1940, Castelo Branco, em São Paulo, fazia palestras
e conferências. Em 1942, em visita pela Argentina, participa de “um curso
na Sociedad Argentina de Periodismo y Redacción, onde recebe o certificado
de conclusão com o resultado sobresaliente”. Na Argentina, Castelo conhece o
Círculo de Periodistas de Buenos Aires e a Escola Argentina de Periodismo, da
Universidad Nacional de la Plata. “Ali, conhece a estrutura da Escola de Periodismo
e seus antecedentes, seu primeiro plano de estudos, o regulamento e a início de
seus cursos, em 1935”, como explica Dias (2004), obtendo as bases para criar, em
1943, aquele que é considerado o primeiro Curso Livre de Jornalismo no Brasil.
O desdobramento dessa demanda pela profissionalização com formação
universitária iria se consolidar, aos poucos, também pelo reconhecimento da
atividade jornalística. E um desses momentos acontece com a “edição, pelo
Presidente Getúlio Vargas, em 3 de novembro de 1938, do Decreto-lei nº 910,
que dispôs sobre a criação de escolas de preparação ao jornalismo. Vargas fora
jornalista no Rio Grande do Sul antes de ser alçado ao Ministério da Fazenda no
Governo Washington Luís e era sensível às questões de interesse da comunidade
profissional que integrara. Apesar da censura e de outras restrições que impôs à
imprensa sob o Estado Novo (1937-1945), Vargas instituiu uma série de medidas
e inovações que favoreceram os jornalistas e a imprensa”. Mais tarde, “o presidente
Jânio Quadros editou em 22 de agosto de 1961, três dias antes da sua renúncia,
o Decreto n.º 51.218, que regulamentou o Decreto-lei n.º 910 de 1938 que
instituía o curso de Jornalismo e estabeleceu a exigência da formação de nível
superior para o exercício da atividade profissional de jornalista, mas ressalvando
o direito dos jornalistas que exercessem há dois anos a profissão de continuar a
fazê-lo, como jornalistas profissionais provisionados”6.
No período entre o final da década de 1940, quando surgem os primeiros
cursos, até início dos anos 1960, a base das iniciativas profissionalizantes
pelo ensino que surgem em outras cidades do País é o curso de Jornalismo da
6 Informações constantes na manifestação do presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azedo,
na Comissão Especial que analisou a proposta de Emenda à Constituição Nº 386-A, que “altera dispositivos
da Constituição Federal para estabelecer a necessidade de curso superior em Jornalismo para o exercício da
profissão de jornalista”, sob relatoria do deputado Hugo Leal (RJ).
110
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Universidade do Brasil, que serve de referência, mas vale ponderar que são poucos
os cursos mantidos e criados nesse período.
O currículo mínimo para a graduação em Comunicação Social surge em
1962, quando o Conselho Federal de Educação fixa uma grade básica aos cursos
superiores (Lei 5.540/68), deixando às universidades a tarefa de incluir outras
disciplinas, de acordo com a avaliação do que poderia contribuir na formação
profissional de cada área. Os cursos de Jornalismo passam a conviver, na área
de Comunicação Social, com as habilitações de Relações Públicas, Publicidade e
Propaganda e Editoração (GOBBI, 2004).
Até o final da década de 1980, o Brasil tinha o registro de aproximadamente
100 cursos de graduação em Comunicação Social entre as principais habilitações
mais procuradas pelos jovens interessados em ingressar na área, por meio da
Universidade: Jornalismo, Publicidade/Propaganda, Relações Públicas e, com
menor frequência, Cinema, Rádio e TV, ou Editoração. Pelas informações da
época, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul tinham entre três e cinco
cursos, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro concentravam um maior número
das escolas universitárias. As demais unidades da Federação possuíam um ou dois
cursos de Comunicação Social. E, claro, muitos estados não tinham sequer uma
escola de formação universitária na área até o início da década de 19907.
Regra geral, com algumas exceções, até a virada daquela década (1980/90),
o número relativamente baixo de faculdades de Jornalismo no Brasil pode ser
compreendido ao comparar-se a média e o crescimento populacional do País no
referido período8.
Com esse número, e considerando algumas dificuldades técnicas, é fácil
imaginar que, além das capitais estaduais, poucas cidades de porte médio do Brasil
tinham instituições de ensino superior com cursos de Comunicação Social.
A partir da entrada da década de 1990, contudo, o campo jornalístico
registra um aumento acelerado de procura por vagas universitárias. Na esteira
de uma suposta demanda reprimida – de vagas em cursos de Jornalismo – que as
universidades públicas (federais, em geral) não supriam, e aliadas a uma expectativa
(e promessa de governo) de liberalização da economia, em um anunciado processo
de “desmonte” do Estado do Direito, criam-se condições para que um número
7 Apenas para ilustrar, em 1947, quando o Brasil passou a contar com sua primeira escola de formação universitária em Comunicação Social, a população da época registrava aproximadamente 45 milhões de habitantes.
8 Dados do IBGE indicam que, em 1990, o Brasil tinha uma população estimada em 145 milhões de habitantes. O crescimento foi expressivo, considerando-se que, na virada da década anterior (1980), o País registrava
cerca de 120 milhões de habitantes (contribuintes, moradores, nativos ou migrantes, sendo estes provenientes
de deslocamentos internos ou externos). Considerando que, em uma década, o número de vagas ofertadas em
faculdades de Comunicação cresceu muito lentamente, a taxa média de crescimento populacional foi bem superior e, de forma mais acentuada ainda, no ritmo da urbanização. http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_pdf/
populacao.shtm
111
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
crescente de instituições de ensino superior (IES) particulares entre no mercado
de ensino superior privado. Elas passaram a ofertar grande quantidade de cursos
que, até então, registravam alta procura diante de um limitado número de vagas.
A redução das condições de exigência para abertura de cursos universitários criou,
assim, um mercado para que um expressivo número de IES passasse a ofertar
cursos, entre os quais estava o Jornalismo.
Aliado a essa variável – de “incentivo” e diante da promessa governista de uma
liberalização das relações econômicas, em um gradual processo de terceirização,
privatização ou redução da ação estatal em diversos setores da economia –,
considere-se que as universidades públicas registravam um “engessamento”
em suas estruturas de gestão, fosse pelo momento de transição política porque
passava o País – a partir do final do regime militar, 1964-85 –, fosse pelas opções
de governo por rediscutir o papel das universidades federais.
A motivação por parte dos emergentes empresários do ensino superior
privado brasileiro não se reduziu, entretanto, às facilitações administrativas,
observadas a partir do (não) controle dos órgãos responsáveis em nível federal.
Existiu, aí, também um incentivo tecnológico, que sinalizava para uma real baixa
nos custos de instalação e manutenção de cursos em Jornalismo.
Até início dos anos 1990, fazer televisão, por exemplo, era coisa para quem
tinha condições financeiras e uma respeitada estrutura de produção. Em tempos
de equipamento analógico, tudo era mais caro, também pelo fato de que a
maioria de tais equipamentos envolvia importação de peças e mesmo de alguns
suprimentos, que hoje seriam básicos.
Por consequência, equipar e manter em funcionamento um laboratório de
telejornalismo para operar com funções didáticas em uma faculdade de Jornalismo
era, de certo modo, um “luxo” de investimento em uma carreira profissional.
Guardadas as proporções, as dificuldades também estavam na manutenção de um
periódico escolar (laboratorial) impresso, em um estúdio de radiodifusão, entre
outros materiais básicos para pensar em produção editorial de mídia em tempos
de estrutura analógica.
A situação, portanto, criava um universo em que, se por um lado as
universidades públicas não conseguiam a liberação de recursos para atualizar
seus laboratórios, as poucas faculdades particulares que conseguiam manter
esses espaços mais atualizados (não necessariamente “de ponta”) sentiam-se,
praticamente, no “direito” de cobrar taxas ou mensalidades a valores bem acima
das reais condições que boa parte da população conseguiria bancar.
Nesse contexto, não apenas no campo da Comunicação (e do Jornalismo),
entrar e manter-se na universidade ainda era, até meados dos anos 1990, uma
conquista distante para a grande maioria dos brasileiros que entravam na escola.
112
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
E se, por um lado, a população aumentava a uma taxa acelerada, desde a década
de 1940, quando o Brasil contava com 41 milhões de habitantes, por outro, o
aumento do número de vagas em universidades públicas não ocorria, deixando as
poucas IES particulares em reais condições de ofertar vagas em inúmeros cursos
com demanda de mercado a um custo economicamente alto para grande parte
da classe média.
Se a década de 1990, portanto, marcou a chamada fase de mercantilização
do ensino superior, com uma explosiva oferta de vagas, por parte de emergentes
IES privadas, a facilitação das condições técnicas, com o barateamento de
equipamentos que precisavam ampliar as condições de circulação e consumo,
também contribuiu para “deselitizar” o fazer mídia.
Era o mesmo início da década de 1990 que registrava a entrada da mídia
digital de música, com o CD (compact disk) que logo iria baratear a produção
musical e retirar do mercado uma incontável quantidade de discos (“bolachão”)
e fitas K7, analógicos. É de conhecimento público que, no Brasil, o lançamento
de novidades tecnológicas (produtos), em média, demora mais tempo que
o registrado em países de maior poder aquisitivo e distribuição de renda mais
equitativa.
Cerca de duas décadas depois, em 2010, o Brasil possui números bem
diferentes. Com 190 milhões de habitantes, cerca de 85% residindo na área
urbana, o País tem hoje cerca de 1.300 escolas superiores em Comunicação
Social, com mais de 400 cursos na habilitação Jornalismo.
Ao longo das duas décadas, que indicam a explosão quantitativa no número
de cursos de graduação em Jornalismo, o mercado de atuação profissional,
mesmo diante do crescimento urbano centrado em médias e grandes cidades,
registrou uma redução no número de postos de trabalho nos tradicionais
meios de informação. A mesma variável que facilitou a abertura – e, em certos
casos, certa proliferação descontrolada – de escolas universitárias de Jornalismo
contribuiu, simultaneamente, para a redução direta de espaços e funções de
trabalho. A informatização das redações de jornais, tanto quanto facilitou, retirou
inúmeros postos de atividade profissional de jornais e, de certo modo, também
de emissoras televisivas, à medida que, ao integrar em redes, dispensou equipes
outrora imprescindíveis para manter um programa ou periódico sem levar furo.
A rápida abertura de cursos de Jornalismo também gerou outra demanda:
a contratação de professores. Assim, de uma estimativa de 1.500 docentes que,
em 1990, atuavam nos então cursos de Jornalismo existentes no País, passa-se,
em 2010, para um número estimado em 6.000 professores que trabalham nas
escolas nesta área de formação universitária (em um número estimado de 400
cursos de graduação em Jornalismo, onde estão matriculados aproximadamente
113
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
60 mil estudantes, de acordo com projeções do Fórum Nacional de Professores
de Jornalismo (FNPJ).
E, aqui, vale considerar que as variadas formas e relações de trabalho em IES
de diferentes regiões e estados do Brasil dificultam inclusive o mapeamento das
condições de ensino e trabalho, por parte dos professores. Tais variações vão desde
a condição de professor horista (que tem contrato de remuneração apenas pela
hora do tempo físico, direta, em que ministra aula) à de docentes que se dedicam,
em tempo integral, às referidas IES, atuando em variadas ações que envolvem
o ensino superior (da graduação à pós-graduação). No intervalo entre as duas
condições, há professores em tempo parcial apenas para aula, em tempo parcial
com dedicação para aula e atividades de pesquisa ou extensão. Além daqueles
com tempo de 30 ou 40 horas, dividido entre atividades de ensino, pesquisa ou
extensão.
A institucionalização da pesquisa em Jornalismo no sistema de pósgraduação em Comunicação
A primeira tese de doutorado em jornalismo no Brasil foi defendida pelo professor
José Marques de Melo em 1972 junto à Universidade de São Paulo (USP). Era
um tempo de uma intensa presença de estudos de Comunicação de Massa, seja
em uma perspectiva funcionalista norte-americana ou crítica européia, que, como
vimos, influenciou a organização acadêmica dos cursos na forma de Comunicação
Social. Na década de 1970, a comunidade acadêmica de Comunicação estava
recém experimentando os primeiros cursos de Mestrado na área (o primeiro
surgiu em 1970 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Em 1978, a
PUC-SP inaugurou o primeiro doutorado em Comunicação.
Hoje, a área possui 39 programas de pós-graduação em Comunicação
aprovados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes). Importa, neste artigo, considerar qual a posição relativa das pesquisas em
Jornalismo na construção deste campo acadêmico. Ao analisarmos cada um dos
programas brasileiros de mestrado e doutorado em Comunicação em atividade,
por meio de suas linhas de pesquisa, é possível obter uma percepção mais precisa
do conhecimento científico sobre o Jornalismo.
O Quadro 1 apresenta uma descrição das áreas de pesquisa dos programas
de pós-graduação conforme dados mais recentes disponíveis (ano de 2007) no
site da CAPES sobre as áreas de concentração, linhas de pesquisa e projetos
de pesquisa registrados em cada curso. Em alguns casos, foram colhidos dados
publicados pelos programas em seus sites institucionais.
114
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Quadro 1 – Jornalismo como um objeto central nos programas de pós-graduação em
Comunicação
Linha de pesquisa
Curso / Instituição
Ementa
Jornalismo e
Sociedade
Mestrado e Doutorado
em Comunicação (UnB)
Esta Linha de Pesquisa tem como objeto o
jornalismo enquanto campo teórico e prático e
seus desdobramentos em torno de uma Teoria
da Notícia. Aborda a compreensão do jornalismo
como categoria cognitiva de representação da
realidade, a partir de uma leitura crítica dos
processos de produção da notícia (da seleção dos
acontecimentos à edição dos fatos hierarquizados)
e de uma análise da narrativa jornalística, tendo
em vista a correlação estrutural entre realidade e
ficção consistente nos valores-notícia. O principal
objetivo desta Linha é a realização de estudos e
pesquisas sobre gêneros e práticas jornalísticas,
de modo a encontrar respostas conciliadoras
para as tensões existentes entre as utopias do
jornalismo como função pública e social e as reais
possibilidades do jornalismo enquanto práxis
(ação transformadora da realidade social).
Linguagem
e práticas
jornalísticas
Mestrado e Doutorado Pesquisa os processos midiáticos e seus
em Ciências da
desdobramentos em produtos jornalísticos.
Comunicação (Unisinos) Considera as rotinas produtivas, os contextos,
as mensagens e a configuração de memórias na
sociedade midiatizada. Contempla as formulações
teóricas específicas do jornalismo articuladas em
perspectiva multidisciplinar.
Fundamentos do
Jornalismo
Mestrado em
Jornalismo (UFSC)
Estudo dos pressupostos teóricos, princípios
filosóficos, condicionantes e desdobramentos
do jornalismo desde a modernidade. Privilegiase nesta linha a observação do jornalismo como
fenômeno específico dentro das sociedades
complexas, com o objetivo de investigar sua
fundamentação epistemológica e suas múltiplas
dimensões conceituais. Considerando diferentes
contextos espaciotemporais, a linha localiza o
jornalismo em suas configurações como processo
histórico e político, prática social, exercício
ético e estético, mediação cultural, estratégia
comunicativa, gênero de discurso e produção de
conhecimento.
115
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Processos
e Produtos
Jornalísticos
Mestrado em
Jornalismo (UFSC)
Estudos sobre o funcionamento do jornalismo
a partir da análise de seus produtos e de seus
processos de produção, com ênfase para as
profundas mudanças porque passa a prática do
jornalismo em decorrência da disseminação das
Tecnologias da Informação e da Comunicação nas
sociedades contemporâneas. Esta linha comporta
pesquisas sobre os gêneros, formatos, conteúdos,
linguagens, técnicas e tecnologias jornalísticas,
assim como das organizações, políticas editoriais,
rotinas, estratégias e mediações relacionadas aos
seus processos de produção.
Produtos
Midiáticos:
Jornalismo e
Entretenimento
Mestrado em
Comunicação (FCL)
Dimensão informativa, dimensão lúdica,
transformações nos conceitos de recepção e
interação, cultura da imagem: na sociedade
contemporânea, os produtos da mídia (re)elaboram
fatos e conteúdos tanto da realidade quanto da
ficção, gerando aproximações entre jornalismo e
entretenimento. Por vezes, esse contexto tende ao
esvaziamento da função pública da informação.
Nesta Linha de Pesquisa, pretende-se investigar as
narrativas da contemporaneidade e as produções
que exploram o universo do imaginário, as
relações entre jornalismo e espetáculo. Jornalismo
impresso, jornalismo televisivo, jornalismo online e demais produções que transitam como
multimídia ou hipermídia e as decorrentes
mudanças no receptor/usuário interagente são
objetos de reflexão.
Fontes: CAPES (www.capes.gov.br); sites institucionais dos Programas
Algumas observações podem ser obtidas do Quadro 1 e análises consequentes:
a) No sistema brasileiro de pós-graduação em Comunicação, o Jornalismo
é um objeto tradicionalmente presente como tema de dissertações e
teses. Entretanto, apenas em quatro programas há um reconhecimento
que o fenômeno jornalístico exige um conjunto de conhecimentos que
se especializam e geram identidade de pesquisa, tendo consistência para
constituir linhas de pesquisa autônomas;
b) O crescimento das linhas de pesquisa específicas em jornalismo é um
processo recente característico desta primeira década do século XXI no sistema
de pós-graduação. Duas experiências são exceções a esta “recenticidade”:
o curso de pós-graduação da Universidade de Brasília, que pode ser
considerado o mais tradicional curso em atividade que institucionalizou a
pesquisa em jornalismo; e o programa da Escola de Comunicações e Artes
116
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
da Universidade de São Paulo, uma referência na pesquisa em jornalismo
nas décadas de 1970 e 1980. Este, no entanto, executou um processo
de reformulação a partir de 2001, extinguindo as linhas de pesquisa
específicas, como a voltada para o jornalismo, e privilegiando abordagens
transdisciplinares da comunicação;
c) No Quadro 1, os três demais programas (UFSC, Unisinos e FCL)
institucionalizaram o foco específico em jornalismo em anos recentes
desta década. O Mestrado em Jornalismo da UFSC foi criado em 2007,
sendo inovador no sistema de pós-graduação em Comunicação por ser
exclusivamente direcionado para estudos de Jornalismo.
d) Nas cinco linhas de pesquisa em Jornalismo apresentadas no Quadro
1, ao menos três vertentes de estudo se destacam: uma preocupação em
explorar e desenvolver perspectivas teóricas específicas à investigação em
Jornalismo, seja em uma perspectiva interna/conceitual ou na relação entre
Jornalismo e sociedade; consideração das linguagens, gêneros e narrativas
peculiares ao Jornalismo; análise dos processos de produção jornalística,
seus específicos aspectos organizacionais, operacionais e tecnológicos e seu
respectivo produto;
e) A pesquisa em jornalismo, mesmo não estando institucionalmente
demarcada em linhas de pesquisa, está presente como fator articulador de
docentes e projetos de pesquisa em diversos programas de pós-graduação,
como por exemplo, a presença de um reconhecido grupo de pesquisa em
Jornalismo online dentro da linha de pesquisa em Cibercultura no programa
da Universidade Federal da Bahia;
A institucionalização da pesquisa em Jornalismo nas associações científicas
A produção científica tendo o Jornalismo como objeto central de pesquisa vem
crescendo significativamente nos últimos 10 anos no Brasil, a se considerar também
a atuação das associações científicas e os eventos por elas produzidos. Indicadores
deste incremento podem ser percebidos ao considerarmos o número de trabalhos
científicos apresentados anualmente nos dois principais congressos brasileiros de
pesquisa em Comunicação da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares
da Comunicação (Intercom) e da Associação Nacional dos Programas de PósGraduação em Comunicação (Compós) -, nos congressos realizados pelo Fórum
Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) desde 1995 e na criação, em 2003,
da Sociedade Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor).
Estes movimentos revelam uma intenção dos pesquisadores em produzir um
avanço teórico do campo, melhor definição de metodologias adequadas ao estudo
do Jornalismo e aprofundamento no conhecimento das especificidades do objeto
117
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
em relação com conhecimentos sobre a comunicação e a sociedade.
A expansão da pesquisa em jornalismo levou a Intecom a diversificar, em seu
congresso anual, os grupos de trabalhos dedicados ao jornalismo. Em seu XXXIII
Congresso em 2010, foram cinco grupos de trabalho em Jornalismo: Gêneros
Jornalísticos, História do Jornalismo, Jornalismo Impresso, Telejornalismo e Teoria
do Jornalismo. No 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo (ENPJ),
em 2010, foram seis grupos com relatos de experiências de ensino e pesquisa:
Atividades de Extensão; Ensino de Ética e Teorias do Jornalismo; Pesquisa na
Graduação; Produção Laboratorial Eletrônicos; Produção Laboratorial Impressos;
e Projetos Pedagógicos e Metodologias de Ensino.
Em 2003, pesquisadores em jornalismo reuniram-se na Universidade de
Brasília (UnB) e fundaram a Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo
(SBPJor). A entidade busca agregar pesquisadores que têm o Jornalismo como
objeto de pesquisa e desenvolvem, a partir de seu estudo, a consolidação da área
de conhecimento do Jornalismo, atuando em conjunto com as demais associações
científicas ou profissionais já existentes no campo da Comunicação.
A SBPJor realiza, desde seu primeiro ano de funcionamento, um encontro
nacional de pesquisadores em Jornalismo. A Tabela 1 a seguir mostra, de forma
sintética, a evolução dos congressos nacionais da SBPJor. Ressalte-se que este é o
número de trabalhos efetivamente aprovados para apresentação, após a etapa de
seleção conduzida pela Diretoria Científica da entidade.
Tabela 1 – Encontros anuais da SBPJor
Encontro
Ano
Cidade
Universidade Realizadora
Trabalhos apresentados
1º
2003
Brasília
UnB (Universidade de Brasília)
60
2º
2004
Salvador
UFBA (Universidade Federal
da Bahia)
95
3º
2005
Florianópolis
UFSC (Universidade Federal de
Santa Catarina)
129
4º
2006
Porto Alegre
UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul)
113
5º
2007
Aracaju
UFS (Universidade Federal de
Sergipe)
114
6º
2008
São Bernardo
UMESP (Universidade
Metodista de São Paulo)
152
7º
2009
São Paulo
USP (Universidade de São
Paulo)
158
Fonte: SBPJor (www.sbpjor.org.br)
118
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Prêmio Adelmo Genro Filho de pesquisa em Jornalismo
Como a pesquisa em Jornalismo tem uma longa tradição nas universidades e
programas de pós-graduação, a SBPJor decidiu criar, em 2004, uma premiação
anual para eleger os melhores trabalhos desenvolvidos em monografias de final de
curso de graduação, dissertações de mestrado e teses de doutorado que tenham
o Jornalismo como objeto central. Sua finalidade é identificar anualmente quais
os pesquisadores que apresentaram contribuições relevantes para o campo da
pesquisa em Jornalismo, de modo a construir/consolidar a identidade do nosso
campo científico.
Esta premiação anual foi denominada “Prêmio Adelmo Genro Filho de
Pesquisa em Jornalismo”. Além destas três categorias de premiação (monografias,
dissertações e teses), anualmente a SBPJor elege um pesquisador sênior, a fim de
identificar, na comunidade científica, pessoas cuja obra de pesquisa em jornalismo
seja vasta, tenha repercussões e influências no desenvolvimento teórico em
Jornalismo e esteja contribuindo para consolidação científica do campo.
A inserção internacional da pesquisa em Jornalismo
Além do crescimento dos estudos sobre Jornalismo no País, os pesquisadores da
área têm traçado estratégias de inserção destes trabalhos em fóruns internacionais
de pesquisa em Jornalismo. Duas estratégias têm sido mais utilizadas: a publicação
de estudos brasileiros em revistas disponíveis à comunidade internacional; e a
realização de eventos e intercâmbios internacionais.
Conforme Marques de Melo e Moreira (2009, p. 5), a primeira vez em
que os estudos brasileiros em Jornalismo ganharam alcance internacional foi com
a publicação de um trabalho de Danton Jobim em 1954 na revista Journalism
Quarterly. Nas décadas seguintes, poucos pesquisadores brasileiros em Jornalismo
conseguiram disseminar internacionalmente suas investigações.
Nos últimos anos, porém, novos esforços têm sido empreendidos para dar
conhecimento em outros países das investigações feitas no Brasil. Talvez um dos
indicativos de que estes esforços vêm obtendo algum êxito foi a edição especial da
conceituada revista científica Journalism: Theory, Practice and Criticism em 2009
com cinco artigos de autores brasileiros dando um panorama da pesquisa em
jornalismo no País. Um segundo esforço bem sucedido ocorreu com uma missão
exploratória de pesquisadores em jornalismo brasileiros na África do Sul em
2009 para participar de seminários com investigadores sul-africanos. Este evento
resultou na publicação dos papers apresentados neste encontro em uma edição
especial da revista Communicatio em 2010, com o tema Journalism in the global
South: South Africa and Brazil.
119
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Além da busca pela aprovação de artigos em periódicos internacionais, outra
estratégia de internacionalização tem sido a revista Brazilian Journalism Research,
editada pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). A
proposta desta revista tem sido obter reconhecimento como um periódico científico
de referência internacional para o campo de estudos em jornalismo. Esta linha de
trabalho se definiu desde o lançamento da primeira edição da BJR, em 2005,
ao optar pela publicação de artigos em língua inglesa para estimular a inserção
internacional da pesquisa brasileira em Jornalismo. A partir de 2008, tornou-se
bilíngue, com versões também em português para facilitar o aproveitamento dos
textos junto aos cursos de graduação em Jornalismo no Brasil.
Nas suas dez edições nestes cinco anos de existência, foram publicados
104 artigos científicos apresentando as principais correntes e tendências
contemporâneas da pesquisa em jornalismo, com a participação de 148 autores
vinculados a instituições caracterizadas por sua diversidade regional. Ressalte-se
que, destes autores, 31 são oriundos de universidades estrangeiras.
Outra forma de busca por inserção internacional da pesquisa em Jornalismo
tem sido a realização de eventos internacionais. Em 2004, a SBPJor participou
da organização do “V Congreso Iberoaricano de periodismo em Internet”, realizado
em Salvador, Bahia, promovido pela Sociedad Iberoamericana de Acadêmicos,
Investigadores y Profesionales del Periodismo en Internet. Em 2006, a SBPJor
promoveu a primeira edição da Journalism Brazil Conference em Porto Alegre, em
parceria com o Grupo de Estudos em Jornalismo da International Communication
Association (ICA), com a Seção de Educação Profissional da International
Association for Media and Communication Research (IAMCR) e com a Seção
de Estudos de Jornalismo da European Communication Research and Education
Association (ECREA). O congresso reuniu pesquisadores de 18 países: África do
Sul, Alemanha, Austrália, Brasil, Estados Unidos, Finlândia, França, Gambia,
Ghana, Grécia, Inglaterra, México, Nigéria, Porto Rico, Portugal, Suíça, Turquia
e Zimbabwe. Ao todo, houve 210 inscritos – 180 brasileiros e 30 estrangeiros.
Descrição das principais áreas de pesquisa em jornalismo
A expansão da pesquisa em Jornalismo tem se dado aliada a uma diversificação
de tópicos, enfoques e problemas. As tabelas a seguir descrevem os temas mais
recorrentes em três cenários diferentes:
a) os papers apresentados no grupo de trabalho Estudos de Jornalismo, dos
encontros anuais da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação
em Comunicação (COMPÓS) nos anos de 2000 a 2003 (Tabela 2);
b) um total de 263 papers apresentados em 2003 e 2004 no congresso
da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
120
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
(Intercom), no congresso da COMPÓS e no congresso da SBPJor (Tabela
3);
c) 67 grupos de pesquisa cadastrados no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico em 2004 que foram localizados
por meio da palavra-chave “jornalismo”. Em seu resumo de identificação,
estes 67 grupos de pesquisa citaram 101 campos de pesquisa em Jornalismo,
descritos sumariamente na Tabela 4.
Tabela 2 – Trabalhos apresentados no Grupo de Trabalho Estudos de Jornalismo, da
COMPÓS (2000-2003)
Categoria
Distribuição %
Teorias do Jornalismo
35,5
Jornalismo Digital
20,8
Ética e Jornalismo
14,5
Estudos de linguagem
12,5
Produção de notícias e processos jornalísticos
8,3
História do jornalismo
8,3
Fonte: Machado (2005, p. 36)
Tabela 3 – Temas de trabalhos apresentados em seis congressos brasileiros (COMPÓS,
Intercom e SBPJor) em 2003 e 2004
Tema
Distribuição (263 trabalhos)%
Enquadramento / Temas e cobertura
24,3
Linguagem / Narrativa / Formato
23,6
Produção Jornalística / Newsmaking
13,7
Teorias do Jornalismo
9,9
História do Jornalismo
9,1
Recepção e efeitos
4,2
Estudos da profissão
2,4
Novas tecnologias
1,9
Fonte: Meditsch e Segala (2005, p. 53)
121
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Tabela 4 – Estudos em jornalismo nos Grupos de Pesquisa do CNPq
Categoria
Distribuição (67 grupos) %
Produção de notícias e processos
jornalísticos
26,73
Estudos de linguagem
22,77
Jornalismo especializado
12,87
Jornalismo digital
9,90
Teoria do jornalismo
9,90
História do jornalismo
7,92
Estudos de recepção
5,94
Ética e jornalismo
2,97
Jornalismo e educação
1,00
Fonte: Machado (2005, p. 33)
Ao observar as três tabelas, é possível perceber a presença de algumas áreas
cuja pesquisa em Jornalismo é mais intensa:
a) há um grupo de pesquisadores que se dedica a analisar os modos como
os jornalistas produzem seu material noticioso, suas rotinas de trabalho, as
regras, valores e procedimentos organizacionais. Isto reflete a absorção, pelos
pesquisadores brasileiros, de uma literatura sociológica de língua inglesa
sobre a produção noticiosa, cuja pesquisa teve vigor nos anos de 1970 e
1980;
b) Deve-se considerar um esforço em buscar a consolidação teórica do
campo do jornalismo ao tentar constituir e consolidar uma teoria do
jornalismo como quadro conceitual de análise do fenômeno jornalístico.
Conforme apresentado anteriormente, a teorização sobre o Jornalismo não
é recente nos estudos brasileiros, mas esta afirmação de uma terminologia
que destaca uma especificidade teórica para se investigar este objeto mostra
uma preocupação em delimitar e institucionalizar campos de competência e
de fundamentação epistemológica;
c) Os estudos em jornalismo articulam-se a quadros teórico-metodológicos
consolidados nas ciências humanas, como os estudos de linguagem, estudos
de recepção, aspectos éticos da atividade ou abordagens históricas;
d) Há a emergência de um novo campo de pesquisa, a produção jornalística
nos ambientes digitais em rede. Estes trabalhos já ganharam força na
primeira metade da década e tenderam a se diversificar e complexificar com
a expansão desta tecnologia.
122
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
A publicação de periódicos científicos especializados em Jornalismo
Ao realizar um estudo sobre os periódicos científicos brasileiros na área de
comunicação, Elias Machado (2010) constatou que, em quase 40 anos de
existência destas publicações, oito podem ser considerados especializados em
jornalismo:
1. Cadernos de Jornalismo e Editoração – lançado em 1970 pela Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo;
2. Pauta Geral – Revista Brasileira de Jornalismo – publicado desde 1993
pelos pesquisadores Elias Machado e Sergio Gadini;
3. Anuário de Jornalismo – 1991, ECA-USP;
4. Anuário de Jornalismo – Cásper Líbero, 1999-2004;
5. Estudos em Jornalismo e Mídia, editada desde 2004 pelo programa de
pós-graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina;
6. Pensamento Jornalístico Brasileiro – PJ:Br, vinculada ao Departamento de
Jornalismo da ECA-USP;
6. Brazilian Journalism Research, editada a partir de 2005 pela Associação
Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor);
7. Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo – REBEJ, publicada pelo Fórum
Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) desde 2007.
A maioria destas revistas (Brazilian Journalism Research, Pauta Geral,
Jornalismo e Mídia, PJ:Br e REBEJ) continua sendo publicada regularmente e
disponível em formato online e com livre acesso.
Referências Bibliográficas e Sites
DIAS, Osni T. “Vitorino Prata Castelo Branco e o primeiro Curso Livre de
Jornalismo do Brasil”. Trabalho apresentado no II Encontro Nacional da Rede
Alfredo de Carvalho. Florianópolis, de 15 a 17 de abril de 2004. Disponível em
http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/artigos/1257.html
GOBBI, M.C. (coord). “Projetos Experimentais: entre a teoria e a prática
do fazer jornalismo”. Revista PJ:BR Revista de Jornalismo Brasileiro. Nº 4, 2º
semestre de 2004. São Paulo: ECA/USP, 2004.
MACHADO, Elias. Challenges for the consolidation of Brazilian scientific
journals in the journalism and communication areas. Routledge/UNISA Press:
Communicatio: South African Journal for Communication Theory and
Research, Volume 36 Issue 2 2010.
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A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
MACHADO, Marcia Benetti. Data and Reflections on Three Journalism
Research Environments. Brazilian Journalism Research. Vol 1, Number 1,
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MARQUES DE MELO, José. Journalistic thinking: Brazil’s modern
tradition. Sage: Journalism, 2009. Vol. 10(1).
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124
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
Elias Machado9
O trabalho para a constituição de uma comunidade de pesquisadores brasileiros
em Jornalismo conta com antecedentes de muitos nomes ilustres, com destaque
para os pioneiros no estudo deste objeto no país como Alfredo de Carvalho, Alceu
de Amoroso Lima, Antonio Olinto, Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Rizzini, Luiz
Beltrão, José Marques de Melo, Nilson Lage, Cremilda Medina, Muniz Sodré,
Luiz Gonzaga Motta, Juarez Bahia, Ciro Marcondes Filho e Adelmo Genro Filho,
entre outros. Sem as ações destes desbravadores para a legitimação do Jornalismo
como objeto digno de atenção acadêmica, dificilmente se conseguiria, anos
depois, a fundação de uma sociedade científica especializada.
No período que vai do final do século XIX até o começo dos anos 70
do século XX, a pesquisa em Jornalismo dependia de ações individuais dos
interessados no tema devido à inexistência de centros de pós-graduação, com
grupos de especialistas na temática. Após a abertura dos primeiros programas
de pós-graduação em Comunicação no Rio de Janeiro e São Paulo e a criação
de grupos de trabalho na Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação (Intercom), o Jornalismo voltou a ganhar relevância como objeto
de estudo.
Ao menos desde o começo dos anos 90, quando do lançamento do GT de
Jornalismo da Intercom, liderado pelo professor José Marques de Melo, existia
a preocupação de articular um espaço permanente para institucionalização do
Jornalismo como área científica com status próprio, o intercâmbio de discussões
acadêmicas, desenvolvimento de metodologias de pesquisa e defesa dos interesses
da comunidade dentro do campo multifacetado das Ciências da Comunicação.
No lançamento do GT da Intercom, em 1993, na cidade de Vitória, no Espírito
Santo, tivemos as presenças de alguns nomes históricos, como José Marques de
Melo, Nilson Lage e Sérgio Mattos e de jovens pesquisadores, então estudantes
de Mestrado ou Doutorado como Paulo Roberto Botão, Sergio Gadini, Elias
Machado, Victor Gentilli e Gerson Martins. O grande obstáculo para uma maior
institucionalização era a falta de pesquisadores doutores.
Desde o começo dos anos 2000 o quadro tinha mudado muito. A maioria
dos principais pesquisadores, de diferentes gerações, das mais experientes às mais
jovens, havia concluído o doutorado e trabalhava em algum dos mais de 20
programas de pós-graduação em Comunicação existentes. O cenário possibilitava
a concretização do sonho de uma entidade própria, antes deixado em segundo
9 Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Diretor de Relações Nacionais da Federação
Brasileira de Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (Socicom).
125
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
plano por absoluta falta de especialistas em número suficiente para viabilizar o
projeto. Durante as Jornadas de Jornalismo, na Universidade Fernando Pessoa,
em abril de 2003, em Portugal, o tema passou das conversas até então isoladas
para uma articulação mais concreta da proposta. Depois de consultas aos colegas
presentes a discussão foi ampliada.
Dois meses depois, aproveitando a reunião dos pesquisadores no GT
de Jornalismo da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em
Comunicação (COMPÓS), em Recife, no mês de junho, foi marcada uma
reunião para aprovar um Comitê Nacional para formalizar a convocação do I
Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, em Brasília, nos dias 28 e
29 de novembro, que tinha como um de seus objetivos a fundação da Sociedade
Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJOR). A Comissão Organizadora
estava formada por pesquisadores da Bahia, Brasília, Espírito Santo, Pernambuco,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Com mais
de 100 participantes e 66 trabalhos apresentados, o congresso terminou com a
aprovação dos estatutos e a eleição da primeira diretoria da SBPJOR.
A constituição da SBPJOR era uma demonstração de que a comunidade
de pesquisadores que havia cumprido um a um com a quase totalidade dos prérequisitos considerados indispensáveis para a legitimação do Jornalismo como
disciplina científica:
1) definição do objeto; 2) adaptação de metodologias; 3) incorporação como
disciplina acadêmica; 4) titulação em nível de doutorado dos pesquisadores; 5)
criação de fóruns para discussão das pesquisas; 6) grupos de pesquisa e 7) edição
de periódicos científicos, estava madura o suficiente para garantir a sua autonomia
dentro do multifacetado campo das Ciências da Comunicação.
Primeiros passos
Vencido o desafio da criação da entidade, o esforço passou a ser a viabilização
de um arrojado plano de trabalho elaborado pela diretoria e que incluía, entre
outros aspectos, a estruturação legal e financeira da associação, a organização
de congressos anuais, a filiação dos pesquisadores, a representação nas agências
de fomento, o apoio para projetos de abertura de programas de pós-graduação
específicos em Jornalismo, o lançamento de lista de discussão e de um jornal
eletrônico mensal, o SBPJor Notícias, a definição de uma política para as redes
de pesquisa, o lançamento de uma revista científica em inglês para divulgação
internacional da produção brasileira e a atuação em conjunto com as demais
entidades do campo do Jornalismo (FENAJ10 e FNPJ11 ).
126
10 Federação Nacional dos Jornalistas.
11 Fórum Nacional de Professores de Jornalismo
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
Passado menos de um ano, quando da realização do II Encontro Nacional
de Pesquisadores em Jornalismo, na UFBA, em Salvador, em novembro de 2004,
a SBPJOR estava legalizada, em plena atividade e com mais de 200 associados,
47 doutores. Neste congresso decidimos adotar uma estrutura diferenciada
para apresentação de trabalhos, fugindo dos tradicionais GTs, com dois tipos
de comunicações: 1) as comunicações coordenadas, com até seis trabalhos
articulados em torno de um tema comum e 2) as comunicações individuais, para
os pesquisadores com trabalhos isolados. Com as mesas coordenadas a SBPJOR
queria estimular a formação de redes de pesquisa, em consonância com as novas
políticas científicas determinadas pelas agências de fomento como CNPq e
CAPES.
Neste mesmo ano foi criado o Prêmio Adelmo Genro Filho para reconhecer
os melhores trabalhos produzidos pelos pesquisadores em Jornalismo, o
regulamento com as pré-condições para a montagem dos encontros nacionais
e as normas para as redes de pesquisa, uma das apostas estratégicas da SBPJOR.
Enquanto o regulamento entrou em vigor de imediato, o Prêmio Adelmo Genro
Filho teve que esperar até 2006 pela primeira edição e as redes de pesquisa até
2007, com a oficialização das primeiras propostas encaminhadas para a diretoria
nas áreas de telejornalismo e de observatórios de imprensa.
Em 2005 vivemos um dos momentos políticos mais importantes para a
legitimação institucional da SBPJOR. Se desde 2004 contávamos com o apoio
da CAPES e do CNPq para os nossos congressos anuais, neste ano passamos
pela prova de fogo de ter que reverter a proposta apresentada pelo CNPq que
simplesmente transformava o Jornalismo de subárea em especialidade. A posição
de vanguarda na defesa da pluralidade das Ciências da Comunicação contribuiu
que fosse consensuada nova versão da Tabela de Área de Conhecimento que
acatava as sugestões feitas pelos pesquisadores em Jornalismo.
A consolidação institucional
A política de institucionalização da SBPJOR pressupunha uma atuação em três
frentes:
1) uma para aumentar o número de filiados e profissionalizar mais as
atividades dos pesquisadores;
2) uma de relação com as demais associações científicas da área, com as
entidades do campo do Jornalismo e com as agências de fomento e
3) uma de contatos de caráter estratégico com os pesquisadores e com as
associações relacionadas com o Jornalismo no plano internacional.
127
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
No plano interno, a direção desenvolveu um mapeamento dos pesquisadores
e lançou uma campanha de filiações, através de contatos diretos com cada um dos
filiados em potencial. Ato contínuo definiu critérios padronizados para a escolha
dos trabalhos submetidos aos encontros anuais, revisados por dois consultores
escolhidos entre os associados seniores. Ao mesmo tempo passou a publicar,
em 2005, a Brazilian Journalism Research, (BJR), com um conselho editorial
internacional e a primeira da área com textos em inglês, o que obrigava nossos
pesquisadores a melhorar o nível dos seus trabalhos.
Desde a criação da SBPJOR, em 2003, tivemos o cuidado de estreitar
relações com as agências de fomento, com as demais associações científicas,
acadêmicas e sindicais, convidando para os congressos anuais os representantes
de área no CNPq e na CAPES e os presidentes FENAJ e do FNPJ. Na fundação
da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, além destas entidades
contamos com as presenças de diretores da Intercom e da Sociedade Brasileira
Para Ciência (SBPC).
Depois a instituição passou a fazer contatos com colegas pesquisadores de
renome nos cinco continentes para que integrassem o conselho editorial da BJR e
com a FENAJ e o FNPJ para fortalecer o campo do Jornalismo. Também houve
reuniões com representantes de algumas das principais associações internacionais
como International Association for Media Communication Research e a International
Communication Association para desenvolver parcerias como a Journalism Brazil
Conference, um congresso bi-anual projetado para reunir no país pesquisadores de
primeira linha no mundo.
Defesa do campo do Jornalismo
Na defesa do campo do Jornalismo a direção da SBPJOR, resguardando as
particularidades de cada uma das entidades, (acadêmicas, científicas e sindicais),
sempre esteve em sintonia com a FENAJ e FNPJ na luta por projetos comuns.
A ação conjunta das entidades contribuiu para manifestar a posição unificada
do campo do Jornalismo, antes fragmentado em distintas frentes e sem uma voz
articulada no plano nacional.
Em 2005 foi articulado o apoio da FENAJ e do FNPJ quando das
negociações com o CNPq para manter o Jornalismo como subárea na Tabela
de Áreas de Conhecimento (TAC). Entre 2006 e 2007 a SBPJOR participou
na discussão das Diretrizes para os Cursos de Graduação então propostas pelo
Ministério da Educação e que recomendava a redução do tempo de formação
para três anos e a volta dos dois anos de básico.
Nos anos de 2008 e 2009 a SBPJOR manteve participação unificada
128
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
com a FENAJ e o FNPJ durante as ações em defesa da exigência da formação
superior específica para o exercício da profissão, na elaboração da proposta de
Novas Diretrizes para o Ensino de Jornalismo e durante as audiências públicas
convocadas pelo Congresso Nacional para discussão da Proposta de Emenda
Constitucional que restitui a obrigatoriedade do diploma em Jornalismo.
Legitimação como área científica
A SBPJOR representa um marco, possibilitando identificar um antes e um depois,
na legitimação do Jornalismo como área científica com status próprio. Ao longo
destes últimos setes anos houve crescimento contínuo em diversos indicadores
de produção neste campo de conhecimento como número de pesquisadores com
doutorado, de grupos de pesquisa registrados no CNPq, de linhas e projetos
de pesquisa em programas de pós-graduação, de trabalhos apresentados nos
congressos anuais e de pesquisadores PQ do CNPq.
Em menos de 20 anos, desde o primeiro levantamento do CNPq em 1993,
o total de grupos de pesquisa relacionados com o jornalismo havia saltado de zero
em 1993, para 15 em 2002 e, como resultado das articulações existentes entre
os especialistas da área, 47, em 2003. Em 2005, o total de grupos de pesquisa
passou para 68; dois anos depois, em 2007, a cifra atingiu 106 e uma consulta
ao diretório do CNPq em outubro de 2010 revela que o total de grupos chegou
a 155.
O número de filiados passou de 94 no ato de fundação para 319 em 2007
e está em 380 em 2010. O total de associados doutores que era 47 em 2004
saltou para mais de 150 em 2010. O número de programas de pós-graduação
com linhas de pesquisa em Jornalismo passou de um em 2003 para quatro em
2010 e, mais importante que todos estes fatos, em 2007, a CAPES aprovou o
primeiro Programa de Pós-Graduação com Área de concentração em Jornalismo,
na Universidade Federal de Santa Catarina. Na avaliação trienal da CAPES em
2010 o Programa da UFSC subiu de nota 3 para 4, que indica uma consolidação
do projeto.
Em 2010, ao comemorar os cinco anos de existência regular, a Brazilian
Journalism Research divulgou um levantamento que ao longo de suas 10 primeiras
edições publicou 104 artigos científicos apresentando as principais correntes
e tendências contemporâneas da pesquisa, com a participação de 148 autores
vinculados a instituições caracterizadas por sua diversidade regional. Destes
autores, 31 são oriundos de universidades estrangeiras, fator que reforça a
proposta inicial da BJR de ser um periódico científico de referência internacional
para os estudos em Jornalismo.
129
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
Para o VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, organizado
em novembro de 2010 em São Luiz, na Universidade Federal do Maranhão, foram
selecionados 150 trabalhos. Nas comunicações livres 100 foram aprovados por
uma comissão de pareceristas formada por mais de 80 sócios plenos (doutores).
A Região Nordeste teve o maior número de trabalhos inscritos (43), seguida pela
Região Sudeste (40) e Região Sul (32). Nas comunicações coordenadas foram
selecionados 50 trabalhos nas 10 mesas coordenadas. No total participaram
97 doutores. Dividido por regiões, os trabalhos ficam classificados em: Região
Sudeste (19), Região Sul (13), Região Nordeste (11), Região Centro-Oeste (7).
Ainda que em ritmo lento, vem crescendo o número de pesquisadores
relacionados ao Jornalismo contemplados com bolsas de produtividade pelo
CNPq, chegando a 24 no total dentre os 106 bolsistas ativos: Ada Machado,
Antonio Fausto Neto, Alfredo Vizeu, Afonso Albuquerque, Antonio Hohlfeldt,
Ciro Marcondes Filho, Christa Berger, Eduardo Meditsch, Elias Machado,
Jacques Wainberg, José Luiz Aidar Prado, Juremir Machado, Luiz Martins, Marcia
Benetti, Marialva Barbosa, Mayra Rodrigues, Muniz Sodré, Paulo Bernardo
Vaz, Raquel Paiva, Rosana Lima Soares, Rogerio Christofoletti, Sonia Virginia
Moreira, Tattiana Teixeira e Zelia Adghirni.
Atuação na Área de Comunicação
A SBPJOR defende o pressuposto de que a legitimação plena do Jornalismo
passa pela consolidação das Ciências da Comunicação como Grande Área do
Conhecimento. Para concretizar este propósito a SBPJOR estabeleceu relações com
as outras associações e estimulou a criação de novas entidades como a Associação
Brasileira de Pesquisadores de Relações Públicas e Comunicação Organizacional
e integrou o movimento a favor da Federação Brasileira de Associações Científicas
e Acadêmicas da Comunicação (Socicom) e da Confederação Ibero-americana de
Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (Confibercom).
A SBPJOR esteve na linha de frente com a Intercom nas articulações
para a fundação da Socicom, tendo participado na comissão de redação dos
estatutos e indicado o ex-presidente Elias Machado para compor a primeira
diretoria, eleita em 2008 e Carlos Franciscato e Claudia Lago para integrar o
Conselho Deliberativo. A SBPJOR apoiou as propostas aprovadas pela Socicom
e compareceu aos seminários anuais de integração. No plano internacional, a
SBPJOR esteve no congresso de fundação da Confederação Ibero-americana de
Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (Confibercom), em abril
de 2009, na cidade de Funchal, na Ilha da Madeira, em Portugal. Como no
caso da Socicom, o ex-presidente da SBPJOR, Elias Machado, que representou a
delegação brasileira nas negociações com os diretores das associações dos outros
130
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
países, assumiu o cargo de Diretor Administrativo da Confibercom.
Entre as ações institucionais mais relevantes lideradas pela SBPJOR está a
atuação para indicar os representantes nas agências de fomento como CAPES e
CNPq a partir de acordos entre as entidades com direito a voto. Desde 2007,
antes mesmo da existência da Socicom, a SBPJOR tem feito contatos para a
indicação consensual dos representantes no CNPq. Naquele ano, a SBPJOR
fechou uma lista tríplice com a Intercom. Três anos depois, em 2010, a SBPJOR
voltou a participar de uma articulação desta vez com a ABJC. Do ponto de
vista institucional a SBPJOR defende que nestes casos que envolvem interesses
estratégicos a decisão seja consensual, apoiando nomes comprometidos com o
conjunto da Área de Comunicação.
131
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo- FNPJ
Gerson Luiz Martins12
Carmen Pereira13
Introdução
A proposta de reunir professores dos cursos de Jornalismo surgiu do grupo que
participou do Seminário de Atualização para Professores de Jornalismo (Labjor/
Unicamp - 1994). Em seguida, foi levada para o Congresso da Sociedade Brasileira
de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - Intercom 94 (Piracicaba/SP), na
busca de um espaço regular para que os professores de jornalismo pudessem se
reunir anualmente. Nesse momento, o Congresso da Intercom tinha organizado
um Encontro de Professores de Comunicação Comparada. O número de
professores de Jornalismo ampliou-se ano a ano, congresso a congresso. Assim,
foi marcado o I Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, num esforço
para debater questões inerentes ao Ensino de Jornalismo num momento e espaço
próprio. Em ambas as ocasiões foram feitas avaliações gerais sobre a realidade dos
cursos de Jornalismo e a necessidade de realizar discussões sistemáticas visando
à busca de novos caminhos a partir da experiência que vem sendo desenvolvida
pelos próprios docentes.
O Fórum Nacional de Professores de Jornalismo tem como objetivo reunir
professores e profissionais da área de jornalismo para debater e encaminhar
propostas sobre questões inerentes à formação do jornalista profissional.
Qualidade da formação, diretrizes curriculares, laboratórios, teoria e técnica
do jornalismo, pesquisa, desenvolvimento de novas habilidades e tecnologias,
ética e legislação, mercado de trabalho são as principais questões que envolvem
a formação jornalística e para as quais os participantes do Fórum buscam o
desenvolvimento e melhorias.
O I Encontro Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu no Congresso
da Intercom 95 (Aracaju/SE). Na oportunidade, vários temas foram levantados.
Entre eles o Projeto Pedagógico para o curso de Jornalismo, o perfil dos professores
de Jornalismo, o estágio e a inserção dos professores nos projetos de Pesquisa
e Extensão. Foi reafirmada, ainda, a oficialização do Núcleo de Professores de
Jornalismo junto à direção da Intercom, a fim de que as atividades desenvolvidas
passassem a fazer parte das ações da entidade. Como desdobramento foi realizado
o Simpósio Didático-Pedagógico de Professores de Jornalismo, em abril de 1996,
12 Diretor de Relações Institucionais do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ).
13 Diretora Sudeste do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ).
132
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ
na PUC/Minas, quando o debate sobre o processo pedagógico foi aprofundado.
Foi decidida a realização de uma pesquisa sobre o Perfil do Professor de Jornalismo,
sob a responsabilidade da PUC/Campinas e do Labjor, e a publicação de uma
revista reunindo experiências do ensino de Jornalismo.
O II Encontro Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu no Intercom
96 (Londrina/PR). Dentre as deliberações, ficou aprovada a denominação
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo como identificadora do grupo. Foi
reafirmado o compromisso do Departamento de Comunicação Social da PUC/
Minas de editar uma revista anual sobre o ensino de Jornalismo e apresentado o
projeto para a realização da pesquisa Perfil do Professor de Jornalismo visando
a obter, entre outras informações, o número de professores, grade curricular,
recursos pedagógicos disponíveis e perfil dos dirigentes destas unidades.
O Currículo nas Escolas de Comunicação foi o tema central das discussões a
partir da exposição dos professores Erasmo Nuzzi sobre “Atualização das Normas
do Ensino de Comunicação Social”, e de Celso Luiz Falaschi sobre “O Jornalismo
Brasileiro em crise: a dicotomia entre a formação e o mercado de trabalho”.
Foi decidido que o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo retomaria a
discussão no Congresso Nacional Extraordinário dos Jornalistas, promovido pela
FENAJ, em maio de 1997, em Vila Velha/ES. Nesse evento alguns professores
participaram como delegados indicados pelos sindicatos, pois o tema central foi a
qualidade do ensino de Jornalismo.
A revista criada pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo recebeu
o nome de Cadernos do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo e foi publicada
em agosto de 1997, editada pela professora Sandra Freitas, com o apoio da PUCMinas. A revista apresenta textos dos professores Celso Falaschi, intitulado “JornalLaboratório estimula primeiranistas”; Carlos Alexandre, “Projeto Sinopse”;
Teresinha Maria de Carvalho Cruz Pires, “Teóricos e metodólogos”; Maurício
Lara Camargos, “Um ovo de Colombo?”; Maria Isabel Tim, “A produção de
hipertextos e a formação de jornalistas”; Dirceu Fernandes Lopes – “Reflexões
sobre o ensino de jornalismo”; Victor Gentilli – “Nova prática no ensino de
jornalismo: uma experiência no Espírito Santo”; Celso Falaschi – “O jornalismo
brasileiro em crise: a dicotomia entre a formação e o mercado de trabalho” e
Sandra Maria de Freitas – “Olhos que querem ver”.
O III Encontro Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu no Intercom
97 (Santos/SP). Na oportunidade, foi lançada a revista sob o título Cadernos do
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo reunindo experiências de professores
do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo e apresentados os
resultados da pesquisa Perfil do Professor de Jornalismo. Também foi apresentado
um relato das propostas do Núcleo de Professores de Jornal-Laboratório.
133
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ
O IV Encontro Nacional de Professores de Jornalismo foi em Recife (PE)
durante o Intercom 98. No primeiro semestre de 1999, o Fórum Nacional de
Professores de Jornalismo promoveu junto com a FENAJ e a PUC/Campinas o
Seminário Nacional de Diretrizes Curriculares do Ensino de Jornalismo visando
a discutir a proposta para as Diretrizes Curriculares do Ensino de Comunicação
formulada pela Comissão de Especialistas SESu/MEC.
O V Encontro Nacional de Professores de Jornalismo aconteceu no Rio de
Janeiro no Intercom 99. O tema central foi “As Diretrizes Curriculares do Ensino
de Comunicação,” a partir da mesa-redonda que contou com a participação dos
professores Sebastião Faro, André Parente, Eduardo Meditsch, Victor Gentilli,
sob a coordenação da professora Sandra Freitas. O VI Encontro Nacional de
Professores de Jornalismo ocorreu em Manaus, no Intercom 2000.
O 4º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu em Campo
Grande, entre os dias 26 e 29 de abril de 2001. A reclassificação da numeração dos
Encontros ocorreu porque os três últimos Encontros, de Recife, Rio de Janeiro e
Manaus não tiveram uma participação efetiva dos professores e nenhum registro
foi realizado desses Encontros. O evento em Campo Grande foi uma iniciativa
do professor Gerson Luiz Martins em contato com os professores Victor Gentilli,
Eduardo Meditsch e Carmen Pereira, naquele momento os interlocutores do
FNPJ.
O Encontro de 2001 se caracterizou como um Seminário no qual foram
convidados alguns pesquisadores em jornalismo para apresentar reflexões de
interesse dos professores. Foram convidados os professores Nilson Lage, que
falou sobre O ensino do jornalismo no século XXI; Eduardo Meditsch, sobre
Problemas a superar na pesquisa em jornalismo; Luiz Martins da Silva, sobre Um
projeto pioneiro; Francisco Karam, sobre Formação e ética jornalística; e Valci
Zucoloto, sobre A qualidade do ensino de jornalismo.
O Encontro de Campo Grande também foi marcado pelo retorno dos
Encontros Nacionais autônomos, ou seja, fora dos Congressos da Intercom.
Este Encontro teve uma grande participação de professores e coordenadores de
curso de jornalismo, pois foi realizado concomitantemente com o Seminário de
Avaliação do Exame Nacional de Cursos – ENC (Provão) de Jornalismo. Esse fato
facilitou a presença de inúmeros coordenadores de curso, tendo em vista que as
universidades e faculdades subsidiavam a presença de seus representantes. Também
neste Encontro foi realizada uma reunião dos professores e coordenadores de curso
de Jornalismo das universidades federais, que, naquele momento, enfrentavam
graves dificuldades de infraestrutura nos cursos. Nessa reunião, com a participação
do Diretor de Avaliação do Ensino Superior do INEP, professor Tancredo Maia
Filho, se definiu por agendar uma reunião com o ministro da Educação, Paulo
Renato com objetivo de equacionar o problema de infraestrutura dos cursos.
134
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ
Da reunião com o ministro da Educação resultou o Fungrandão que proveu
os cursos de jornalismo das universidades federais de inúmeros equipamentos
para compor os laboratórios de comunicação deficitários. Ainda neste 4º
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ficou definido a realização anual
dos Encontros e a alteração de formato para um evento que possibilitasse aos
professores e pesquisadores em jornalismo apresentar experiências, pesquisas,
projetos sobre ensino de jornalismo. Neste encontro também ficaram na
coordenação nacional do FNPJ os professores Carmen Pereira, Gerson Luiz
Martins e Sandra de Deus. O Encontro de 2002 ficou programado para Porto
Alegre, organizado pela UFRGS.
O 5º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu em Porto Alegre,
na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, coordenado pelas professoras Sandra de Deus
e Márcia Benetti Machado, entre os dias 28 e 30 de abril de 2002. Para este
evento foram criados Grupos de Trabalho, espaços para a apresentação de
trabalhos dos professores, pesquisadores de jornalismo, divididos nos seguintes
temas: Pesquisa na Graduação, coordenado pelo professor Gerson Luiz Martins;
Projetos Pedagógicos, coordenado pela professora Carmen Pereira; Atividades de
Extensão, coordenado pela professora Sandra de Deus e Produção Laboratorial,
coordenado pelo professor Juliano Carvalho.
Neste encontro a conferência de abertura foi realizada pelo professor da
Escola de Comunicações da USP, Bernardo Kucinski com o tema “Uma nova ética
para uma nova modernidade”. Também foi publicada a Carta de Porto Alegre que,
entre outros temas, definia a “defesa da exigência do diploma de jornalismo”, a
parceria do FNPJ com a FENAJ, a institucionalização do FNPJ, a regulamentação
dos encontros nacionais e uma nova estrutura para os Grupos de Trabalho que
ficaram assim definidos: Projetos Pedagógicos, coordenado pela professora Sandra
Freitas; Pesquisa na Graduação, coordenado pelo professor Gerson Luiz Martins;
Atividades de Extensão, coordenado pela professora Sandra de Deus; Produção
Laboratorial nos Meios Eletrônicos, coordenador pelo professor Juliano Carvalho
e Produção Laboratorial no Meio Impresso, coordenado pela professora Carmen
Pereira.
O 6º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo aconteceu em Natal
(RN), em 2003, na Universidade Potiguar (UnP) entre os dias 1 e 3 de maio. A
conferência de abertura do Encontro foi realizada pela professora da UFRJ Ana
Arruda Calado sobre o tema “O desafio do ensino diante da vocação pública do
jornalismo”. Os Grupos de Trabalho tiveram trabalhos inscritos por professores
e pesquisadores em jornalismo. Foram sete trabalhos para o GT de Pesquisa na
Graduação; 20 trabalhos para o GT Projetos Pedagógicos; oito trabalhos para o
GT Atividades de Extensão; sete trabalhos para o GT Projetos Laboratoriais –
135
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ
Eletrônicos e 14 trabalhos para o GT Projetos Laboratoriais – Impressos.
O 7º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu em Florianópolis,
em 2004, entre os dias 18 e 20 de abril, com o tema “Os desafios do ensino
de jornalismo na transição tecnológica” e conferência realizada pelo professor e
pesquisador em jornalismo da Universidade Nova de Lisboa, Nelson Traquina.
O Encontro de Florianópolis marcou uma nova etapa do FNPJ, após 10 anos de
sua criação. Os professores, pesquisadores, profissionais de jornalismo presentes
no evento realizaram a institucionalização da entidade e elegeram a primeira
diretoria. Além disso, foi realizado o terceiro Pré-Fórum da Fenaj, sessão realizada
na pré-programação do Encontro Nacional de Professores de Jornalismo.
Os Grupos de Trabalhos foram coordenados pelos professores Cristóvão
Pereira – Projetos Pedagógicos; Sandra de Deus – Atividades de Extensão; Gerson
Luiz Martins, Pesquisa na Graduação; Carmen Pereira – Produção Laboratorial
– Impressos; e Sandra Freitas – Produção Laboratorial – Eletrônicos. A primeira
diretoria eleita do FNPJ foi composta pelos professores Presidente: Gerson
Martins – UFRN; Vice-presidente: Carmen Pereira - UCB – RJ; Diretora
Administrativa: Sandra de Deus – UFRGS; Diretor Científico: Luis Martins da
Silva - UnB – DF; Diretora Editorial e de Comunicação: Sandra Freitas - PUC
– MG; Diretor Regional Norte: Narciso Lobo - UNAM – AM; Diretor Regional
Nordeste: Boanerges Lopes – UFAL; Diretor Regional Centro-Oeste: Edson
Spenthof – UFG; Diretor Regional Sudeste: Juliano Carvalho – PUC- Campinas
– SP; Diretora Regional Sul: Valci Zuculoto – UFSC; Conselho Consultivo: José
Marques de Melo - UMESP/USP – SP; Ana Arruda Callado - PUC-RJ/UFRJ;
Victor Gentilli - UFES – ES; Maria Luiza Nóbrega – UFPE; Celso Schröder
- PUC-RS; Joaquim Lannes - UPCB – MG; Cristóvão Pereira - UNP – RN e
Conselho Fiscal: Carmem Vieira – UFMG; Moacir Barbosa de Sousa – UFPB;
Marcel Cheida – PUC- Campinas – SP.
O 8º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu em 2005, entre
os dias 21 e 23 de abril, em Maceió, organizado pela Universidade Federal de
Alagoas e coordenado pelo professor Boanerges Lopes, teve como tema “Formação
e Responsabilidade no Jornalismo” e a conferencia do jornalista Zuenir Ventura.
Com base na institucionalização da entidade ocorrida no ano anterior, o
Encontro de Maceió consolidou os Grupos de Trabalho e o formato como evento
híbrido, científico e acadêmico, com apresentação de trabalhos de pesquisa e
experiências pedagógicas no âmbito dos cursos de jornalismo. Em Maceió, foi
realizada a primeira Assembleia Geral de associados após a eleição da diretoria. O
8º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo também confirmou a parceria
com a FENAJ na realização do 4º Pré-Fórum e a nova parceria com a Agência de
Notícias dos Direitos da Infância - ANDI para realização de uma mesa de debates
sobre o Ensino de Jornalismo e a Agenda Social Brasileira.
136
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ
O 9º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo aconteceu na cidade de
Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, em 2006, entre os dias 28 e
30 de abril, na Faculdade de Filosofia de Campos e teve como tema geral “Novas
tendências no ensino de jornalismo”, com conferência de abertura do professor
Eduardo Meditsch. Na programação também ocorreu a participação do professor
da Universidade de Brasília, Dr. Venício Lima que falou sobre o “Método Paulo
Freire e o Ensino de Jornalismo”. O Encontro de Campos foi coordenado pelo
professor Andral Tavares. A Carta de Campos, documento final do 9º Encontro
Nacional do FNPJ, se destacou pela proposta de suspensão do SINAES, fato que
gerou polêmica nos órgãos públicos da educação superior.
O 10º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo foi realizado em
Goiânia, entre os dias 27 e 30 de abril de 2007, organizado pela Universidade
Federal de Goiás e, coordenado pelo professor Joãomar Carvalho, marcou outra
etapa dos eventos do FNPJ. A partir de 2007, os Encontros Nacionais adotaram
nova nomenclatura, não mais Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, que
identifica a entidade da associação de professores, pesquisadores de jornalismo e
jornalista sobre ensino de jornalismo; mas sim a denominação Encontro Nacional
de Professores de Jornalismo (ENPJ). Também no Encontro de Goiânia, o FNPJ
iniciou o processo eletrônico de submissão e avaliação dos trabalhos inscritos com
a plataforma “Open Acess Research” disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de
Informação, Ciência e Tecnologia.
Essa plataforma possibilitou que os Anais dos Encontros Nacionais
recebessem o registro ISSN. O tema geral do 10º ENPJ foi “Os 60 anos de ensino
de jornalismo no Brasil e suas implicações sociais, profissionais e institucionais”.
A conferência de abertura foi realizada pelo professor Dr. José Marques de Melo,
além de se realizarem homenagens aos pioneiros do ensino de jornalismo no
Brasil, para a Fundação Cásper Líbero, Escola de Comunicação da UFRJ e para o
professor Nilson Lage. Neste Encontro também foram realizados os lançamentos
da Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo (REBEJ) e do Prêmio Daniel
Herz para Projetos Pedagógicos, TCCs e Reportagens sobre Democratização da
Comunicação. E se realizou, pela primeira vez, um Encontro de Coordenadores
de Cursos de Jornalismo.
Os Grupos de Trabalho tiveram uma reformulação com o incremento de
mais um GT, que ficaram organizados da seguinte forma: Atividades de Extensão,
coordenado pela professora Sandra de Deus; Ensino de Ética e de Teorias do
Jornalismo, coordenado pelo professor Edson Spenthof; Pesquisa na Graduação,
coordenado pelo professor Luiz Martins; Produção Laboratorial – Eletrônicos,
coordenado pelo professor Juliano Carvalho; Produção Laboratorial – Impressos,
coordenado pela professora Carmen Pereira e Projetos Pedagógicos e Metodologias
de Ensino, coordenado pela professora Valci Zuculoto.
137
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ
O 11º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo foi realizado
na Universidade Mackenzie, em São Paulo, entre os dias 18 e 21 de abril de
2008, e teve como tema geral “Perfil e condições para o exercício da docência
em Jornalismo”, com conferência ministrada pela professora da ECA/USP,
Cremilda Medina. Em São Paulo, foi realizado o 2º Encontro de Coordenadores
de Jornalismo, coordenado pela professora Carmen Pereira. Neste Encontro foi
realizado o 1º Colóquio Ibero-americano de Ensino de Jornalismo que teve a
participação dos professores Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra,
Espanha, e de Nilson Lage, da Universidade Federal de Santa Catarina. Ainda
estava previsto a participação do professor João Canavilhas da Universidade
da Beira Interior, Portugal, mas, devido a problemas de saúde, não pode estar
presente. Após dois mandatos consecutivos do professor Gerson Luiz Martins,
o 11º ENPJ marcou a eleição para presidente do FNPJ do professor da UFG,
Edson Spenthof.
O 12º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo aconteceu em Belo
Horizonte (MG), coordenado pela professora Sandra Freitas e organizado por três
instituições de ensino superior: Centro Universitário Una, Centro Universitário
de Belo Horizonte (Uni-BH) e Faculdade Pitágoras. O tema central do Encontro
foi “O ensino de jornalismo nas universidades: impactos na prática profissional
e conquistas para a sociedade”, com conferência do professor Dr. Alfredo Viseu
da Universidade Federal de Pernambuco; no Encontro foram realizados o 3º
Encontro Nacional de Coordenadores de Cursos de Jornalismo, o 5º Colóquio
ANDI, o 8º Pré-Fórum da Fenaj e o 2º Colóquio Ibero-americano de Ensino de
Jornalismo com a participação dos professores João Canavilhas, de Portugal, do
jornalista Miguel Wiñaski, da Argentina; do professor Carlos Gerardo Agudelo
Castro, da Colômbia, e do professor Sérgio Luiz Gadini, representante brasileiro.
Neste Encontro, o FNPJ promoveu um avanço nos Grupos de Pesquisa. O
encontro dos GTs se transforma em Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino de
Jornalismo, o que configura essa seção do Encontro Nacional de Professores de
Jornalismo como espaço de intercâmbio e desenvolvimento do conhecimento
científico. Tendo em vista que o Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino de
Jornalismo se configurou num novo formato dos antigos Grupos de Trabalho, a
direção e associados do FNPJ decidiu caracterizar o Ciclo conforme o número de
Encontros dos GTs realizados até então. Em Belo Horizonte, foi realizado o VIII
Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino de Jornalismo.
O 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo aconteceu na
Universidade Católica de Pernambuco, coordenado pelo professor Ricardo
Mello, teve como tema “Ensino de Jornalismo: Novas Diretrizes e Novos
Cenários Jurídicos, Profissionais, Tecnológicos e Econômicos”. Neste Encontro
foram realizados o 6º Colóquio da ANDI; o 9º Pré-Fórum da Fenaj; o 4º
138
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ
Encontro Nacional de Coordenadores de Curso de Jornalismo e o 3º Colóquio
Ibero-americano de Ensino de Jornalismo, que teve as participações do jornalista
e professor Miguel Paz da Escola de Jornalismo Diego Portales; do jornalista e
professor Celso Augusto Schröder, da PUC do Rio Grande do Sul e presidente
da Federação de Jornalistas da América Latina e Caribe; e ainda do jornalista e
professor Gerardo Albarrán, coordenador do Instituto Sala de Prensa do México,
ausente por razões profissionais, devido a um incidente ocorrido com colegas
jornalistas.
Foi realizado o 9º Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino de Jornalismo com
seis Grupos de Trabalho: Atividades de Extensão, coordenado pela professora
Sandra de Deus (UFRGS); Ensino de Ética e de Teorias do Jornalismo, coordenado
pelo professor Sérgio Gadini (UEPG); Pesquisa na Graduação, coordenado pelo
professor Gerson Luiz Martins (UFMS); Produção Laboratorial – Eletrônicos,
coordenado pelo professor Juliano Carvalho (UNESP); Produção Laboratorial
– Impressos, coordenado pelo professor Josenildo Guerra (UFS); e Projetos
Pedagógicos e Metodologias do Ensino, coordenado pelo professor Leonel Aguiar
(PUC-Rio).
O 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo marca a eleição da
nova diretoria do FNPJ, composta por: Presidente: Sérgio Luiz Gadini (UEPG/
PR); Vice-presidente: Mirna Tonus (UFU/MG); Secretaria-Geral: Ricardo Mello
(UNICAP/PE); Segundo Secretário: Edson Spenthof (UFG/GO)Tesoureira:
Sílvio Melatti (IELUSC/SC); Segunda-Tesouraria: Sandra Freitas (PUC/MG);
Diretoria Científica: Socorro Veloso (UFRN/RN); Vice-diretoria Científica:
Marcelo Bronosky (UEPG/PR); Diretor Editorial e de Comunicação: Paulo
Roberto Botão (UNIMEP/SP); Vice- diretor Editorial e de Comunicação:
Demétrio Soster (UNICS/RS); Diretor de Relações Institucionais: Gerson
Martins (UFMS/MS); Vice-diretor de Relações Institucionais: Juliano Carvalho
(UNESP/SP). Diretoria Regionais:; Norte I: Cynthia Mara (TO); Norte II: Lucas
Milhomens (UFAM/AM); Nordeste I: Mônica Celestino (FSBA/BA); Nordeste
II: Fernando Firmino da Silva (UEPB/PB); Sudeste I: Erivam de Oliveira (UFV/
MG); Sudeste II: Wanderley Garcia (PUC-CAMPINAS/UNIMEP/SP); Sul I:
Tomás Barreiros (FACINTER/PR); Sul II: Jorge Arlan Pereira (UnoChapecó/
SC); Centro-Oeste I: Samuel Lima (UnB/DF); Centro-Oeste II: Álvaro Fernando
Ferreira Marinho (FIAVEC/MT); Conselho Consultivo: Antonio Francisco
Magnoni (Unesp/SP); Boanerges Lopes (UFJF/MG); Franklin Valverde
(UniRadial/SP); Joaquim Lannes (UFV/MG); Josenildo Guerra (UFS/SE);
Leonel Azevedo de Aguiar (PUC/RJ); Valci Zuculoto (UFSC/SC)e Conselho
Fiscal composto por Marcel Cheida (Puc/Camp/SP); Sandra de Deus (UFRGS/
RS) e Victor Gentilli (UFES/ES).
Também neste Encontro o FNPJ decide pela realização dos Encontros
139
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ
Nacionais no período de dois em dois anos e Encontros Regionais ou Estaduais nos
anos de intervalo dos Encontros Nacionais. Evento que merece destaque realizado
no 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo foi a homenagem da
Unicap ao professor Dr. José Marques de Melo, egresso da Unicap, por ocasião
da comemoração dos 50 anos de lançamento do livro do professor Luiz Beltrão,
“Iniciação à Filosofia do Jornalismo”, também marcado por um debate com os
professores José Marques de Melo e Alfredo Vizeu. Neste Encontro, durante
Assembleia Geral dos associados do FNPJ, o professor Gerson Luiz Martins
propôs a transformação do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo em
Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo. O tema gerou uma ampla discussão
e se iniciou um estudo para encaminhar a proposta.
140
CAPÍTULO 7
As Origens da Semiótica no Brasil
Ana Claudia Mei Alves de Oliveira1
Introdução
Ao retratar a história de uma teoria, a da semiótica, no Brasil, é que mais se
ilumina como se é levado a referir-se a uma série de contribuições de teóricos
que delinearam as várias correntes semióticas com os fundamentos de abordagens
dos sistemas e dos processos de linguagens. Como teoria dos signos, tem-se as
contribuições da Semiologia, de Roland Barthes e as da Semiótica, de Charles
Sanders Peirce; como teoria da significação os fundamentos são de Algirdas Julian
Greimas; como teoria do discurso, as referências são da vertente eslava com
destaque para Romam Jackobson, Mikahil Backhtin e Iuri Lotman. Enumerar
os marcos desses desenvolvimentos que garantiram a posição dessas teorias na
fundamentação de uma complexidade de objetos de estudo é pôr-se na trajetória
das idéias desses teóricos, mas também de personalidades acadêmicas brasileiras
que a difundiram no país. Essa abordagem é, pois, uma situação contextual inicial
que se coloca aberta a uma série de acréscimos a fim de contribuir para os retoques
desse retrato multifacetário.
Do muito que aqui está sendo exposto no relato de mais de cinco décadas de
estudos semióticos no Brasil tem havido ampla participação em uma comunidade
científica nacional atuante, por realizações que marcaram as correntes na
institucionalização que os brasileiros envolvidos foram lhe dando configurações.
A partir dessas, a proposta é de constituir um relato das contribuições das teorias
semióticas ao campo da comunicação que se organiza em três grandes partes para
oferecer detalhamento sem objetivar uma análise completa, uma vez que estamos
no ponto de partida da construção de um quadro histórico.
A Semiótica da qual a Linguística é uma das partes
No final da década de 60, no interior do estado de São Paulo, dois jovens professores
Edward Lopes e Ignácio Assis Silva trabalhavam juntos na implementação das
novas correntes da lingüística na área de estudos lingüísticos e literários que era
marcado por uma forte ação dos estudos da língua latina no país. As novas idéias
desencadeadas a partir da publicação do Curso de linguística geral, de Ferdinand de
Saussure compilado por três de seus alunos revolucionou as pesquisas brasileiras.
As atividades se davam na Faculdade de Letras e Estudos Literários da Unesp
sediada em Araraquara. Nos raios dessa cidade, na São José do Rio Preto onde
1 Professora da PUCSP.
141
As origens da Semiótica no Brasil
os dois também trabalhavam, havia um outro colega, Eduardo Peñuela Cañizal,
espanhol radicado no Brasil bastante ligado aos estudos de literatura hispânica,
latino-americana, e um apaixonado por pintura e cinema. E, na cidade de Ribeirão
Preto, na Universidade Barão do Mauá, Edward Lopes animava essa ebulição da
Lingüística no Brasil.
Os conceitos saussurianos de “estrutura”, “relação”, “diferença” e as
dicotomias: “língua vs fala”, “diacronia vs sincronia”, “paradigma vs sintagma”,
“sistema vs processo”, foram conceitos-chave do desenvolvimento do pensamento
lingüístico, mas também dos estudos das ciências sociais, a partir da década de 40.
Essa difusão de uma perspectiva de estudo se constituiu nas tendências conhecidas
pela nomeação de Estruturalismo, cujas obras capitais são: A fenomenologia da
percepção de Maurice Mearleu-Ponty (1945), Antropologia estrutural (1958), de
Claude Lévi-Strauss, Elementos de semiologia (1965) de Roland Barthes, Semântica
estrutural (1966) de Algirdas Julien Greimas, Escritos (1966) de Jacques Lacan.
Disseminadoras da perspectiva nova em formação, essas obras foram centrais
para a vertente francesa de estudos das práticas culturais e das sociais que, no
Brasil, e, em especial, em São Paulo, se alicerçou anos antes da tradução dessas
obras para o português. A própria presença de Lévi-Strauss no Brasil no início de
seus trabalhos antropológicos, quando esteve ligado à criação da Universidade de
São Paulo em 1936, proporcionou o grande estado de animo que contaminou as
investigações exploratórias das recém criadas disciplinas nas ciências humanas.
Os trabalhos de Merleau-Ponty e de Lévi-Strauss merecem ainda destaque por
estarem nas bases do escrito de Greimas L’Actualité du saussurisme (1956), no qual
postula que a partir de Saussure um mundo estruturado é apreensível nas suas
significações. Ligados por um modo de pensar, esses autores se articulam pelo
objetivo comum de elaboração de uma metodologia unificada para as ciências
sociais. Com o exame das relações e das funções dos elementos que constituem
os inúmeros sistemas das línguas humanas, das suas práticas culturais de contos
folclóricos aos textos literários, por exemplo, a semiótica e a semiologia deixaram
rastros definidores das investigações das ciências das linguagens, das artes e da
Comunicação.
Greimas e Barthes estiveram bem próximos no início das duas disciplinas
distintas que conceberam. Encontraram-se quando lecionaram juntos em
Alexandria. No grupo de jovens professores aí sediados, eles leram além de
Saussure, também Louis Hjelmeslev. Leituras que debateram e ruminaram, mas
que na fatura teórica de ambos frutificou em conceituações teóricas diferentes.
Referindo-se a esse período de germinação Greimas afirma que as leituras dos
dois podem ser tomadas como sendo uma o avesso da outra, observação que se
depreende de um estudo comparativo entre elas.
O primeiro estudo de impacto de Barthes Mitologias, datado de 1957, é um
142
As origens da Semiótica no Brasil
estudo da cultura francesa com os impactos da cultura de massa. Escritos sobre o
cotidiano que mostram da publicidade, notícias de jornal, revistas, cinema, a um
prato do dia a dia: o bife com batata frita, e outro grande ícone do século XX,
o automóvel, entre tantos outros mais, que destacam como o semiólogo estava
interessado em estudar a representação sígnica e a circulação dos valores no social.
Todavia, a partir desses estudos dos mitos Barthes foi levado em sua semiologia a
se conduzir rumo ao entendimento dos sistemas de signos, usados na formação
cultural que a sociedade empreende ao se construir.
Por via diversa, Greimas foi abordar o outro pólo da dicotomia saussurreana
montada com “sistema”, exatamente o “processo”, do qual se ocupa a fim de
dar conta do exame dos usos das linguagens dos distintos sistemas. É o arranjo
hierárquico do sentido com seus procedimentos em níveis que permitem ao
analista reconstuir a significação por seu percurso gerativo do sentido, a edificação
de uma gramática da narrativa, definida a narratividade como um dos universais,
tratamento do discurso pela sintaxe da enunciação e a semântica dos temas e
de suas figuratividades enquanto operações intersemióticas que as linguagens
operam no seu edificar mundos tradutores do mundo e das línguas naturais.
As suas teses de doutoramento, a de Barthes, O sistema da moda e a de
Greimas La mode em 1830, defendidas na França, são exemplares dos caminhos
que distanciaram as duas vertentes do saussureanismo de uma teoria da produção
de sentido social. Enquanto a semiologia foi assumida por Barthes como uma
ciência dos signos, que o sistema da moda é um exemplar do potencial signo e de
suas regras de combinação, a semiótica de Greimas postulava-se enquanto uma
disciplina com rigor científico para o estudo da significação de usos da linguagem
cuja unidade de análise é o texto, uma totalidade de sentido. Nas rotas distintas
de sistematização de conceitos e métodos, as duas teorias se edificaram voltadas
para a produção do sentido no seio da vida social realizando diferentemente a
projetada teoria antevista por Saussure da qual a linguística era somente uma das
partes da semiologia.
A obra de Barthes foi traduzida para o português por uma crítica literária
Leyla Perrone-Moyses que contribuiu para a sua difusão no Brasil, em especial, no
âmbito da crítica literária e musical, mas também de cinema, televisão.
Lopes e Assis Silva trouxeram Greimas para seu primeiro e único curso
no Brasil: “Semiótica da narrativa” em julho de 1973, sob os auspícios da
Universidade Barão de Mauá. A primeira pedra de edificação da semiótica de
Greimas no Brasil estava lançada com um grupo de não mais de vinte pessoas que
seguiram esses encontros e criaram o Centro de Estudos Semióticos A.J. Greimas
(CESAJG).
Em um trabalho intenso de grupo de pesquisa, a equipe de Araraquara
143
As origens da Semiótica no Brasil
(SP) levou adiante os estudos das concepções semióticas de Greimas no Brasil.
O lançamento de Maupassant : la sémiotique du texte, exercices pratiques (1975)
deu uma impulsão à toda gama de análises semióticas. Mas essa obra demorou
a ser traduzida no Brasil quase uma década, apesar de ter sido central para os
desdobramentos semióticos dos estudos enquanto gramática narrativa. Por sua
vez, a sistemática tradução conjunta de uma outra obra, publicada na França do
ano de 1979, o Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, sob a direção de
Greimas e Joseph Courtès, efetivou a compilação dos conceitos e procedimentos
metodológicos da teoria da significação. Se Greimas havia deixado a lexicologia
em prol da semântica, seus preceitos se efetivaram neste trabalho de dicionário
estabelecido coletivamente na França pelo grupo de colaboradores formado
entorno de Greimas, o Groupe de recherche sémio-linguistique. O mapeamento
dos fundamentos conceituais da teoria semiótica orienta-se por um eixo diacrônico
dos estudos e outro sincrônico do estágio atual das concepções sendo possível
demarcar os plurais aprofundamentos da disciplina. A tradução do dicionário
pelo grupo de estudiosos brasileiros em 1983, deu continuidade na semiótica
brasileira das mesmas bases de compartilhamento e debate rigoroso dos conceitos
centrais da teoria, ao mesmo tempo em que os seus translados epistemológicos
para os campos de interesse dos nossos estudiosos que se caracterizavam por
estudos das línguas e seu ensino, estudos literários de prosa e poesia, estudos da
visualidade, em particular, pintura e escultura, estudos audiovisuais de cinema e
televisão, estudos da canção que pautaram muitas discussões dos seminários de
discussão em Araraquara.
Para escoar essas primeiras produções bibliográficas em Semiótica, eles
criaram a revista BACAB- Estudos Semiológicos, em 1970, metamorfoseada, em
1973, em Significação – Revista Brasileira de Semiótica, que ainda é bastante
atuante no país. No inverno de 2009, com 30 números publicados, Significação
assume-se “Revista de cultura audiovisual” mantendo o mesmo ISSN 15164330, sediada no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e, publicada pela Editora
Annablume, a revista conseguiu verba do CNPq.
Em grande parte esse modus operantis fez com que a teoria fosse muito
disseminada em análises de textos e objetos da cultura brasileira dando nascimento
a vários distintos sub-grupos de desenvolvimento dos estudos semióticos. Como
eixo teórico ocupa vários Programas de estudos pós-graduados do país. A saber,
tem se mantido presente nos Estudos Literários e Linguisticos da Pós-Graduação
de Letras de Araraquara. Merece destaque todo o trabalho que a Pós graduação
em Semiótica e Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da USP que contou no início com as contribuições de Cidmar Teodoro Paes, a
seguir com as de José Luiz Fiorin, Diana Luz Pessoa de Barros, Beth Brait, Luiz
Tatit, entre outros. Esse corpo docente tem formado profissionais e pesquisadores
144
As origens da Semiótica no Brasil
de grande renome que levaram o ensino da teoria semiótica pelos quatro cantos
do país.
A equipe atual integrada por Waldir Beividas, Norma Discini, Luiz Tatit,
Ivã Lopes, entre outros, tem conseguido manter a avaliação máxima, nota 7, do
Sistema de avaliação da CAPES. Advém dessa pós-graduação a formação doutoral
da maioria dos professores que atuam no campo, destacando a UFRGS, a UFMG
e outras pós-graduações como a de Letras da UFF que tem uma linha em Teoria
semiótica do discurso. A Pós-Graduação em Comunicação da PUCSP, desde 1990,
implementou no seu eixo teórico a teoria semiótica francesa, denominando esses
estudos de semiótica discursiva ou sociossemiótica por ter sido implementada
pela ação de Eric Landowski, que atua ainda como professor visitante permanente
desta pós graduação e aí criou o Centro de Pesquisas Sociossemióticas (CPS),
como centro interinstitucional de pesquisa com Ana Claudia Mei Alves de
Oliveira e os amigos semioticistas da USP e da UNESP em 1994.
Outros grupos de pesquisa atuantes são: o Grupo Casa, fundado em
Araraquara por Ignácio Assis Silva em 2001. Hoje é dirigido por Maria de Lourdes
Baldan e congrega pesquisadores em semiótica das cidades vizinhas, Ribeirão
Preto, Franca, Bauru, São José do Rio Preto, por exemplo. NA USP, a criação
do Grupo de Estudos Semióticos (GES), hoje dirigido por Ivan e Marcos Lopes,
Waldir Beividas e Elizabeth Arcot, mantém uma programação mensal e eventos.
Na Universidade Federal Fluminense (UFF) funciona, em Niterói, o SEDI criado
por Lucia Teixeira e um grupo de jovens docentes. Em Bauru, organizou-se o
Grupo de Estudos de Semiótica da Comunicação, com a iniciativa de Maria
Lúcia Vissoto e a participação de Ana Silvia Médola Davi, Jean Christus Portella
e Matheus Nogueira Schwartzmann.
Em termos de publicação há as revistas sem continuidade hoje como Semiótica,
Acta Semiotica e Linguistica, Linguagens. Os Cadernos de Textos do CPS com nove
edições impressas e as demais digitais, duas coleções a de “Documentos de estudo
em semiótica” com cinco números publicados e a “Coleção Sociossemiótica” junto
a Editora Estação das Letras com dois livros lançados. Entre as revistas eletrônicas
tem-se a do grupo CASA dirigida por Arnaldo Cortina e Renata Marquezan;
a do GEL que foi dirigida várias vezes por semioticistas e a da Abralin, a outra
associação de lingüística que manteve um grupo de trabalhos em semiótica.
A Revista de Estudos Lingüísticos (GEL) teve início em 1978 e encontrase vinculada ao Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, que foi
criado em 1968 tendo tido presidido por semioticistas José Luiz Fiorin e Arnaldo
Cortina. A criação da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN) em São
Paulo, de 1969, foi presidida por Diana Luz Pessoa de Barros. Desde 1972 a
Sociedade Brasileira de Professores de Linguística (SBPL) organizou a Revista
Brasileira de Lingüística com o apoio do Programa de Semiótica e Linguística da
145
As origens da Semiótica no Brasil
USP e o de Tecnologia da informação e Educação da Universidade Brás Cuba. Foi
dirigida por Cidmar Teodoro Pais. A Revista Gragoatá é vinculada ao Instituto
de Letras – UFF, a Revista: SIGNUM - Estudos da Linguagem é sediada em
Londrina no Paraná, no Curso de Mestrado em Letras da Universidade Estadual
de Londrina.
A semiótica dos signos e das traduções intersemióticas
Em outro contexto, o da prática poética e da prática da tradução, Décio Pignatari
e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos que atuaram juntos formando, em
1952, o grupo Noigandres com Eugen Gomringer, e tinham uma ativa produção
poética que veio a ser denominada movimento concretista de repercursão
internacional, atuavam juntos no Programa de Pós-graduação em Teoria Literária
da PUCSP. Idealizado a partir de 1968, no Departamento de Artes da PUCSP, foi
criado em 1970 e coordenado por Lucrecia D’Aléssio Ferrara. Transformou-se em
Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica em 1972, como um lugar de ensino
e contato com a teoria filosófica do norte americano Charles Sanders Peirce e, em
especial, com a sua teoria semiótica, um dos ramos de sua arquitetura filosófica
que passou a ser estudada como campo de intersemioses entre as artes poéticas do
verbal, mas também as da visualidade e das várias artes, assim como as do design
e da comunicação com a explosão, após o rádio e cinema, da televisão brasileira, e
dos experimentos em vídeo, holografia e, mais recentemente nas mídias móveis.
A ênfase era a dos estudos das operações de trânsito entre as linguagens, dos
estudos intersemióticos. O pensamento do semiólogo francês Roland Barthes foi
aí ministrado pela especialista em literatura brasileira e portuguesa Leila PerroneMoysés que se destacou além da tradução de suas obras para o português, por sua
atividade de crítica literária. Também aí atuou o maestro e compositor Gilberto
Mendes, com a tradução do verbal e da visualidade para sistemas musicais.
Boris Schnaiderman foi outro semioticista bastante presente nesse circuito de
práticas semiótica tanto por seu ofício de tradutor de obras primas do russo para
o português, tanto por seus conhecimentos de poetas russos como Maiakóvski
que interessava muito os poetas concretas. Eles tinham juntos uma prática de
confronto das traduções que faziam do francês e do inglês com as direta do russo
de Schnaiderman.
Ainda esse engenheiro agrônomo de formação foi docente na USP, onde
criou o ensino da língua russa e tornou conhecida no Brasil a vasta corrente teórica
de semiótica que se desenvolveu em vários países da extinta URSS, obra que foi
publicada pela editora Perspectiva e foi decisiva na formação de pesquisadores que
atuam na PUCSP como Arlindo Machado e Irene Machado.
Uma das características da semiótica praticada na PUCSP nesses tempos
dominados pela semiótica de Peirce caracterizou-se pelo estudo dos signos nas
146
As origens da Semiótica no Brasil
suas relações de contigüidade que é montada a partir de seleções dos signos nos
sistemas e das regras combinatórias, ou seja, das linguagens que passou por uma
explosão em novas linguagens, em especial, no campo midiático.
Com a atuação de Lúcia Santaella na sua coordenação expandiram-se nessa
Pós os estudos das várias midias que foram acompanhados da implementação
de outras teorias semióticas que são estudadas como eixos de fundamentação
do Programa. As várias linhas de pesquisa dão conta de uma vasta gama de
estudos intersemióticos que seu corpo docente praticava, inserindo também as
das organizações, design, música, teatro, performance, dança, corpo, arqutetura
e urbanismo. Afora a semiótica filosófica de Peirce o seu Pragmatismo, passou
a ser estudado pela contribuição de Iso Assad Ibri que mantém uma revista e
um evento anual na área. Foi ainda inserida uma tendência semiótica no escopo
das teorias da cultura e das mídias postulada por Norval Baitello Jr., seguindo
a linhagem dos trabalhos de Ivan Bystrina, Harry Pross e Dietmar Kamper. O
Centro Interdisciplinar de Semiótica e Cultura (CISC), mantém a publicação
digital de Ghrebh. As problemáticas dos novos meios foram tratadas com as novas
tecnologias que adentraram o seu curriculo também integrando os estudos dos
processos de criação nas várias mídias pela abordagem de Cecília Almeida Salles.
Trouxe também ao ambiente semiótico, as postulações do denominado semion,
ou a semiosfera, conceptualizada pelo semioticista estoniano Iuri Lotman, assim
como as do dialogismo de Michail Backthin que dedicou a vida à definição de
conceitos e categorias de análise da linguagem com base em discursos cotidianos,
artísticos, filosóficos, científicos e institucionais.
A ação de Irene Machado, José Amalio Pinheiro e Jerusa Pires Ferreira
animaram esses estudos com aspectos vários da cultura brasileira e a latinoamericana
nas várias produções das artes e das mídias. Ainda a semiótica interpretativa de
Umberto Ecco que visitou São Paulo se expandiu com a publicação de toda a sua
obra, muitas delas pela Perspectiva.
Por vários anos ligada ao Departametno de Artes da PUCSP foi produzida a
revista De Signos. No seu extinguir-se no âmbito do Programa de Comunicação e
Semiótica organizou-se e passou a ser publicada pela editora da PUCSP, a Educ, a
revista FACE que foi dirigida por Philadelpho Menezes que se dedicava à prática
da poesia visual e aos estudos das mídias. Por último, foi criada a revista Galáxia:
Revista Transdiciplinar de Comunicação, Semiótica, Cultura com a editoria
científica de sete números de Irene Machado, que foi responsável pelo projeto
gráfico. Nas suas palavras: “a proposta editorial do periódico abriga confluências e
conexões disciplinares com o objetivo de (1) compreender a produção, a circulação
e a recepção dos sentidos/signos comunicacionais; (2) demonstrar a variedade das
pesquisas na área da Comunicação, em termos de discursos, as práticas sociais
e condições de interação, tecnológicas ou não; e, (3) a partir do diálogo e do
147
As origens da Semiótica no Brasil
confronto de diferentes pontos de vista, firmar soluções metodológicas num
campo do saber cujas bases teóricas e epistemológicas encontram-se em densa
discussão. Três outros números foram editados por Eugênio Trivinho, Lucrecia
D’Aléssio Ferrara e Ana Claudia de Oliveira. Nos números a seguir a editoria
passou a ser de José Luiz Aidar Prado com os trabalhos colaborativos essenciais
de Leda Tenório da Motta e José Amálio Pinheiro. A avaliação da revista recebeu
e tem mantido a qualificação máxima do Qualis-Capes de periódicos nacionais.
Desde 2009, a revista Galáxia tornou-se unicamente digital.
ABES: Associação Brasileira de Estudos Semióticos
No âmbito dos estudos pós-graduados, os representantes das várias teorias
semióticas fundaram a Associação Brasileira de Semiótica (ABS), anos antes
de se realizar o I International Congress of Semiotics, em Mlião, na Itália,
em 1974. Com a participação da ABS no cenário internacional houve uma
consecutiva presença de brasileiros na diretoria internacional, que começou pela
vice-presidência de Décio Pignatari, depois Lucia Santaella e Eduardo Peñuella
Cañizal. A ABS começou em São Paulo, onde o desenvolvimento das pesquisas
semióticas se concentrava, mas à medida em que outros núcleos se organizavam
passaram a ser formadas associações regionais.
A partir de 1979 vamos ter a de São Paulo presidida por Ana Claudia Mei
Alves de Oliveira e Ana Maria Domingues Zilocchi; a do Rio de Janeiro, dirigida
por Mônica Rector que organizou dois importantes colóquios. A Regional do Rio
Grande do Sul, que teve como impulsionadoras: Maria Graça Krieger, Elizabeth
Bastos Duarte, Maria Lílian de Castro e organizou o III Congresso. Havia a
atuante Regional da Paraíba e a de Brasília que elaborou um site com uma larga
sistematização de seus dados. E sem formalização em uma regional havia uma
representação em Salvador, Bahia.
Responsáveis por eventos regionais, em 1978, a Regional do Rio de Janeiro,
na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, organizou I Colóquio de
Semiótica com a publicação dos Anais do Primeiro Colóquio de Semiótica. (São
Paulo: Loyola, Rio de Janeiro: PUC, 1980) e o II Colóquio em 1980 (Anais do
II Colóquio de Semiótica (São Paulo: Loyola, 1983). Thomas A. Sebeok presente
no evento incentivou os brasileiros a fazerem pesquisas ligadas ao Centro
de documentação de Peirce em Bloomington, assim como a participar dos
seminários de verão da Indiana University. Essa troca acompanhava a que sempre
existiu entre os participantes da Escola Francesa de Semiótica que freqüentavam
os seminários de Greimas e seu grupo na Ecole des Hautes Études em Sciences
Sociales, em funcionamento desde o final da década de sessenta. Essas condições
caracterizam o intenso diálogo entre as semióticas produzidas no país e as dos
demais países que se estende a nossos dias.
148
As origens da Semiótica no Brasil
Em 1984, foi organizado o I Colóquio Luso-Brasileiro de Semiótica
na Universidade Federal Fluminense em Niterói. Em 1985, foi organizado o
III Colóquio Brasileiro de Semiótica com a presidência de Lucia Santaella, na
Universidade de São Paulo. A associação Semiótica – Regional São Paulo teve
participação na organização com a atuação de Ana Claudia de Oliveira. O
destaque foi a grande presença do público brasileiro e representações no evento
de semioticistas latino-americanos, norte-americanos e europeus. Além de uma
exposição, três livros registram os textos do evento com a editoria de Ana Claudia
de Oliveira e Lucia Santaella, com o patrocínio da FAPESP. Esses livros são
intitulados: Semiótica e outras ciências, Semiótica da Literatura e Semiótica das Artes
e da Arquitetura (São Paulo, Educ, 1985).
Em agosto de 1990, foi organizado em Porto Alegre, o IV Colóquio
Brasileiro de Semiótica pelas representantes da Regional Sul da ABS. Com
renomados semioticistas das várias correntes semióticas, o evento também
marcou a dissolução dessa primeira associação, mesmo que em 1996 tenha
havido um evento internacional organizado na PUCSP, com a coordenação de
Lucia Santaella com três livros de seus resultados denominados Caos e Ordem
(São Paulo, Hacker, 1998). Em 1996, também as universidades USP (FAU e
F.F.L.C.H.), e Anhembi Morumbi em reunião com a PUCSP, sediou o IV então
sob a presidência brasileira de Ana Claudia Mei Alves de Oliveira.
A rearticulação dos associados só se deu uma década depois pela ação
levada a cabo por Irene Machado, quando atuava na PUCSP:COS. Para ato de
refundação da Associação, foi organizado o V Colóquio Brasileiro de Semiótica,
em 2001, na Faculdade Belas Artes em São Paulo, conseguindo o feito de reunir as
principais tendências das semióticas em vigor no país e mais de duzentas pessoas
participantes.
Se as correntes maiores da semiótica se ligam à linguística, aos estudos
literários, aos de cultura brasileira, mas também aos estudos da comunicação e da
produção das mídias, do design, também o campo da filosofia, do pragmatismo,
das neurociências, da computação e da música foram marcados e constituíram
grupos de pesquisa por essas concepções teóricas e metodológicas diversas.
Entre as tendências da semiótica desenvolvidas no Brasil foram destacadas:
1) a semiótica de origem na linguística de Saussure e no estrutralismo que é
representada entorno da teoria da significação de Algirdas Julien Greimas e da
semiologia de Roland Barthes; 2) a semiótica de Charles Sanders Peirce com a
vertente filosófica que além dos campos da semiótica da comunicação, dos estudos
poéticos de várias mídias, dos estudos da produção midiática e dos meios com o
transito das linguagens em seus processos tradutórios, também o pragmatismo;
3) uma vertente de semiótica psicanalítica com diálogo com Freud e Lacan;
4) uma semiótica do texto literário a partir dos desenvolvimentos de teóricos
149
As origens da Semiótica no Brasil
como: Tzvetan Todorov, Claude Brémond, Roland Barthes e Julia Kristeva; 5)
uma semiótica da cultura com foco em Yuri Lotmam, Mikhail Bahktin; 6) uma
semiótica da cultura com foco em Ivan Bystrina, Harry Pross, and Dietmar
Kamper;7) uma semiótica performativa orientada pela filosofia da linguagem de
John Searle e John C. Austin.
A ABES foi inteiramente reestruturada a partir de 2001 e sob sua ação temse a edição do quinto congresso dos associados em preparação para o ano 2011,
quando a reorganização da Associação Brasileira de Estudos Semióticos celebrará
a sua primeira década de renovação. Entre os seus sócios, identifica-se uma parcela
de docentes e pesquisadores atuantes na área da Comunicação. As várias teorias
semióticas que delineamos a trajetória no país fazem-se presentes nas estruturas
curriculares e nas linhas de pesquisa de vários dos Programas de Pós-Graduação
em Comunicação.
150
ABES, recriação e percurso de uma Associação
Ana Claudia Mei Alves de Oliveira2
A ABES é a Associação Brasileira de Estudos Semióticos. Seu percurso de
nascimento, em 2001, tem no país uma narrativa de passos de reagrupamento
dos pesquisadores em semiótica, dispersos em núcleos de pesquisas de várias
correntes da teoria semiótica. Esses foram convocados por Irene Machado e um
grupo de interessados que vislumbraram as condições de fazer renascer o primeiro
agrupamento de semioticistas brasileiros: a Associação Brasileira de Semiótica,
extinta ABS. Consta no site da ABES, na sessão “histórico”, a seguinte descrição
abaixo, como relato desse primeiro agrupamento:
“A Associação Brasileira de Semiótica foi fundada em 1972 na cidade
de São Paulo com o objetivo de reunir semioticistas e estudiosos
interessados no desenvolvimento e aplicação científica e cultural dos
estudos semióticos. A primeira reunião com vistas à fundação da ABS
aconteceu no dia 09 de março de 1972, na capital de São Paulo. Naquele
momento criou-se uma diretoria provisória constituída pelos seguintes
membros: Presidente: Décio Pignatari; Vice-Presidentes: Leyla PerroneMoisés e Lucrecia D’Aléssio Ferrara; Secretária Executiva e Tesoureira:
Lucia Helena França Ferraz; Editor: Haroldo de Campos. Em notícia
publicada no caderno de Educação do jornal Folha de S. Paulo, de 19
de abril de 1974, pág. 23, anunciou-se ao público a reunião científica
de fundação da ABS aconteceu entre 19 e 20 de abril de 1974, na Rua
Bartira, 387, sala 1, em São Paulo. Nessa assembléia estavam presentes os
seguintes estudiosos das ciências dos signos:
Décio Pignatari, Lucrecia D’Aléssio Ferrara, Mônica Rector, Mônica
Galceran, Geraldo Mattos, Fernando Segolin, Samira Chalhub, Jorge
Rosa, Saldete de Almeida Cara, Dirce Tereza Ceribeli, Lucia Helena
Ferraz e Maria Lucia Santaella Braga.
A assembléia houve por bem indicar Décio Pignatari para presidir os
trabalhos e Mônica Rector para secretariá-lo. Decidiu-se na reunião que
os objetivos prioritários da Associação Brasileira de Semiótica seriam:
- Congregar estudiosos da área de semiótica;
- Promover o desenvolvimento dessa ciência no Brasil, bem como
estabelecer contatos internacionais”.
2 Presidente da ABES.
151
ABES, recriação e percurso de uma Associação
Nos anos 70 e até meados dos anos 80, a então ABS atuou intensamente
realizando uma série de quatro Congressos Internacionais, dois seminários lusobrasileiros de Semiótica, um seminário avançado de Semiótica e uma grande
quantidade de eventos locais com a criação de associações regionais. Essas
nucleações atingiram o número de cinco regionais, que foram muito importantes
nos seus estados, mantendo uma programação que marcava os interesses dos
membros congregados e uma troca entre esses por meio de ciclos de conferências
e reuniões de estudo e debates.
As regionais formadas pela ABS atestavam uma desnucleação da teoria
semiótica que deixava de ser unicamente desenvolvida no eixo São Paulo – Rio
de Janeiro e passava a reunir pesquisadores em outras regiões. A Regional de São
Paulo teve a coordenação de Ana Claudia Mei Alves de Oliveira e Ana Maria
Domingues Zilocchi; a do Rio de Janeiro foi coordenada por Mônica Rector e
Aloiso Trinta; a Regional Sul teve a participação das professoras Elizabeth Bastos
Duarte, Maria da Graça Kriger e Maria Lília de Castro. Também desenvolveram
atividades a Regional da Paraíba e a Regional de Brasília.
Graças a essas ações foram realizados nas diversas regiões do país um conjunto
de eventos da ABS. No Rio de Janeiro realizaram-se o I e II Congresso Brasileiro
de Semiótica; em São Paulo, além do III Congresso, o Seminário Avançado de
Semiótica no município de Águas de São Pedro; em Porto Alegre, o IV Congresso.
Cada evento manteve um número expressivo de convidados internacionais das
várias tendências teóricas da semiótica praticada no país, dando testemunhos
dos intensos intercâmbios entre a semiótica brasileira e a de centros de pesquisa
sediados fora do país.
O Brasil ocupou importantes cargos junto ao cenário internacional da
Semiótica com delegações nos vários eventos, desde a fundação da Associação
Internacional de Semiótica, em Milão, em 1974, com Décio Pignatari, integrando a
vice-presidência da International Association for Semiotic Studies (IASS)/ Association
Internationale de Sémiotique (AIS), nas duas línguas oficiais, o inglês e o francês.
Atualmente, também o espanhol é língua oficial na Associação. Os encontros
internacionais mostraram-se importantes em termos de troca e relacionamentos
entre os distintos cantos do mundo que se dedicavam às investigações semióticas.
Os eventos internacionais, ocorridos até esse ano, são uma dezena que listamos
abaixo com as localidades em que ocorreram, as datas e temário:
• 1. Milão, Itália, 2 a 6 de junho de 1974. Temário: A Semiotic Landscape.
• 2. Viena, Austria, 2 a 6 de julho de 1979. Temário: Semiotics Unfolding.
• 3. Palermo, Itália, 24 a 29 de junho de 1984. Temário: Semiotic Theory
and Practice.
152
ABES, recriação e percurso de uma Associação
• 4. Barcelona, Espanha e Perpignan, França, 31 de Março a 4 de abril de
1989. Temário: Signs of Humanity/L’homme et ses signes.
• 5. Berkeley, USA, 12 a18 de junho de 1994. Temário: Signs of the World.
Synthesis in Diversity.
• 6. Guadalajara, Mexico, 13 a 18de julho de 1997. Temário : Semiotics
Bridging Nature and Culture/La sémiotique: carrefour de la nature et de la
culture/La semiotica. Intersección de la naturaleza y de la cultura.
• 7. Dresden, Alemanha, 6 a 11 de outubro de 1999. Temário: Sign
Processes in Complex Systems/Zeichenprozesse in komplexen Systemen.
• 8. Lyon, França, 7 a 12 de julho de 2004. Temário: Signes du monde.
Interculturalité et globalisation / Signs of the World. Interculturality and
Globalization / Zeichen der Welt: Interkulturalität und Globalisierung / Los
signos del mundo: Interculturalidad y Globalización.
• 9. Helsinki e Imatra, Finlândia, 11 a 17 de junho de 2007. Temário:
Understanding/Misunderstanding.
• 10. La Coruña, Espanha, 22 a 26 de setembro de 2009. Temário: Culture
of Communication/Communication of Culture.
Os temários propostos mostram como as teorias semióticas foram
caminhando para os grandes interesses de seu tempo com destaque para as
questões da Comunicação quer por suas linguagens, sistemas complexos de
articulação intersemióticas, quer em termos interculturais na era da globalização,
de compreensão e incompreensão, de eficácia, e, sobretudo, da cultura da
Comunicação. A comunicação esteve sempre presente mostrando no horizonte
dos desenvolvimentos teóricos e metodológicos a vocação da semiótica de ser
uma das epistemologias para descrição e análise das codificações em sistemas
comunicacionais, bem como de seus modos de organização dos processos que
elaboram.
Em todos os encontros internacionais, o Brasil manteve atuações significantes
e ocupou cargos representando a semiótica brasileira. Entre os nomes de destaque
é possível citar: Haroldo de Campos, Lucia Santaella, Eduardo Peñuella Cañizal
e Diana Luz Pessoa de Barros, entre outros.
Desde 1989 foi criada a International Association for Visual Semiotics/
Association Internationale de Sémiotique Visuelle/Asociación Internacional de
Semiótica Visual cujas línguas oficiais são inglês, francês, italiano e espanhol. Os
congressos realizados foram:
1. Blois (França) 1989
2. Bilbao (Espanha) 1992
153
ABES, recriação e percurso de uma Associação
3. Berkeley ( EUA) 1994
4. São Paulo (Brasil) 1996
5. Siena (Itália) 1999
6. Québec (Canadá) 2001
7. Cidade do México (México) 2003
8. Lyon (França) 2004
9. Istambul (Turquia) 2007
10. Veneza (Itália) 2010
O próximo congresso será na América do Sul, em Buenos-Aires (Argentina)
em 2012, quando a Semiótica brasileira terá amplas condições de se fazer mais
presente e expor os estudos das mídias audiovisuais, visuais e impressas na era
digital, discutir os processos comunicacionais, interativos nas práticas sociais em
grande expansão nas pesquisas desenvolvidas no país sobre espaço e urbanidade.
Na Associação de Semiótica Visual (AISV/IAVS) o Brasil ocupou a
presidência com Ana Claudia Mei Alves de Oliveira, organizando o IV Congresso
na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1996, com uma
representação da Universidade de São Paulo (USP) com os seguintes apoios:
Diana Luz Pessoa de Barros e Cidmar Teodoro Paes (Faculdade de Filosofia Letras
e Ciências Humanas); Lucrecia D’Aléssio Ferrara (Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo) e Eduardo Peñuela Cañizal (Escola de Comunicação e Arte). Integrou,
ainda, a realização do evento oferecendo apoio de equipamentos técnicos para as
sessões de comunicação a recém criada Universidade Anhembi Morumbi.
Três livros do evento foram publicados pela Hackers editora, lançados em
1998, com a organização de Ana Claudia de Oliveira e Yvana Fechine, intitulados:
Semiótica da Arte, Visualidade, intertextualidade, urbanidade, Imagens técnicas. O
evento também contou com uma exposição de arte tecnológica, performances e
apresentações no campus, além de uma intervenção nas vitrinas e passagem do
Shopping Center Vitrine, na rua Augusta, em São Paulo, organizado por Ana
Claudia de Oliveira e Silvia Demetresco.
Na década de 90, a associação viveu momentos de dispersão. Ainda que
houvesse reuniões científicas importantes, essas representaram muito mais os
pólos individuais de estudo e não conseguiram compor reuniões mais frutíferas
de diálogos e interfaces entre as teorias semióticas.
Somente no ano de 2001, em São Paulo, voltou a ocorrer uma iniciativa
de reorganização da associação. No campus da Faculdade Belas Artes (SP),
antigos membros, incentivados por Irene Machado, tiveram a iniciativa de reunir
154
ABES, recriação e percurso de uma Associação
um grande número de representantes, atuantes em vários grupos de pesquisa
cadastrados no CNPq. O V Congresso Brasileiro de Semiótica foi formado com uma
denominação que indicava a continuidade dos eventos passados e interrompidos
e carregou essa vontade de diálogo e estudo compartilhado. A partir desse
agrupamento, projetou-se a realização de eventos de periodicidade bianual, com
a denominação de Congresso Internacional de Semiótica.
O V Congresso foi assim o marco do renascer da ideia de associação brasileira,
contando com representação de instituições de ensino e pesquisa, de grupos e
centros de pesquisas das várias correntes semióticas. Todavia, a interrupção dos
trabalhos da associação tornou impossível a manutenção da mesma denominação
e, no ato de sua recriação, a entidade passou a ser chamada de Associação Brasileira
de Estudos Semióticos (ABES).
A renomeação foi em parte benéfica, pois tratava-se de uma segunda geração
de semioticistas que se orientava muito mais por um trabalho coletivo e que visava
a integração das várias vertentes teóricas. Todo o mérito cabe justamente a Irene
Machado que, dialogicamente, operou os passos dessa recriação, congregando
representantes das várias linhas teóricas da Semiótica já bastante sedimentadas
em várias instituições do país. O evento foi marcado por uma homenagem aos
semioticistas que integrara essa primeira fase associativa da Semiótica brasileira
em sinal de reconhecimento ao trabalho de edificação da semiótica no Brasil.
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com o seu
Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e Semiótica (PEPGCOS)
e a Faculdade de Comunicação e Filosófica (COMFIL), uniram-se no
empreendimento de Irene Machado para realizar em 2001 o V Congresso Brasileiro
de Semiótica com o temário “Semiótica e Representação”. Com o apoio financeiro
da FAPESP, o evento ocorreu no período de 19 a 22 de setembro de 2001, na
Faculdade de Belas Artes de São Paulo, que não apenas sediou o Congresso como
ofereceu toda a infraestrutura de laboratórios para a apresentação dos trabalhos,
em dez sessões de Comunicação, com um público inscrito de 200 pesquisadores
das várias regiões do país.
Essa participação significativa forneceu um quadro bastante diversificado da
pesquisa Semiótica que se realizava no início da década passada, com destaques
para a Semiótica Visual (artes, design, arquitetura, webdesign, artemídia); Semiótica
Discursiva (linguística, análise do discurso, comunicação, design, arte, canção
popular, literatura, poesia); Semiótica da Música; Semiótica das Mídias (mídia
impressa, publicidade, televisão, rádio, fotografia, vídeo, cinema, comunicação
digital e redes); Semiótica da Cultura (rituais, moda, objetos do design,
organizações, leis); Semiótica Cognitiva (comunicação, corpo, dança); Semiótica
e Política. Também permitiu uma localização da presença institucional das teorias
semióticas, a saber: nas universidades do Estado de São Paulo: USP, UNESP de
155
ABES, recriação e percurso de uma Associação
Bauru e Araraquara, UNIMAR de Marília, Unicamp, PUCCAMP, PUC-SP;
nas da cidade do Rio de Janeiro (UFRJ, PUC-Rio, UERJ; nas universidades do
Estado de Minas Gerais: PUC-Minas, UFJF, UFMG; no Estado do Paraná: UEL,
CEFET, Tuiuti, UFPR; e no Estado do Rio Grande do Sul: UFRGS e Unisinos.
Houve participação dos alunos de Pós-Graduação e de Graduação.
Além do evento atestar um delineamento do estado da arte das teorias
semióticas em seus distintos lugares, ele apontou as práticas de estudo voltadas para
a cultura brasileira em várias de suas manifestações culturais, políticas, artísticas,
educacionais, midiáticas e urbanísticas. Em termos das pesquisas semióticas, a
novidade foi o foco nas mídias digitais e nas massivas que apareceram ao lado de
outros universos de estudo já consagrados nas teorias semióticas voltados para os
estudos das artes plásticas, estudos literários e lingüísticos.
O V Congresso marcou a reorganização dos pesquisadores atuantes nas mais
variadas regiões do país e acenou para a grande urgência de se empreender um
levantamento do ensino da Semiótica no país no âmbito das graduações e das
pós-graduações; de verificar o lugar da fundamentação teórica em Semiótica nas
várias redes de pesquisa em desenvolvimento. Também apontou a necessidade de
inventariar o número de titulados mestres e doutores e sua atuação no mercado
profissional.
A Associação Brasileira de Estudos Semióticos elegeu a sua primeira diretoria
em assembleia deliberativa, ocorrida no evento, e determinou neste ato que as
eleições ocorreriam bianualmente para que houvesse um rodízio da direção entre
associados, conforme os grupos organizados, estando todos aptos a assumir essa
construção do lugar das teorias semióticas no cenário da pesquisa de nosso país.
Sob a presidência de Irene Machado, o segundo evento foi então realizado
dois anos depois, em 2003, em uma das nascentes da teoria semiótica: a UNESP,
de Araraquara, que sediou o II Congresso Internacional da ABES/VI Congresso
Brasileiro de Semiótica no coração do estado de São Paulo. Com trabalhos
entrosados dos semioticistas que aí ensinam, em um diálogo sustentável entre
letras, linguística, estudos literários e estudos voltados para as ciências sociais e
políticas, as pesquisas aí se concentram na linha da Teoria Semiótica do Discurso,
também conhecida como Semiótica Narrativa de Algirdas Julien Greimas e
seus colaboradores. Foi assim que a recém criada Associação realizou o seu II
Congresso Internacional/VI Congresso Brasileiro de Semiótica de 8 a 11 de
outubro de 2003.
O temário do VI Congresso foi “Percepção e Sentido: Tendências atuais
dos estudos semióticos”. Com mais de 300 inscritos, os textos dos expositores em
sessões de comunicação foram reunidos em um CD Room com a apresentação de
129 trabalhos, dos quais 94 se mostraram sendo de caráter aplicado, utilizando os
156
ABES, recriação e percurso de uma Associação
métodos teórico-analíticos discursivos; conceitos operatórios peirceanos e ainda
conceitos originários das correntes russas de semiótica.
Uma nova diretoria da ABES foi eleita no evento que recebeu da anterior
a missão de dar continuidade à representação da semiótica desenvolvida no
Brasil. Pela formação da diretoria ligada a PUCSP, o III Congresso Internacional
da Associação Brasileira de Estudos Semióticos/VII Congresso Brasileiro de
Semiótica foi marcado para ser realizado em São Paulo, pelo Programa de Pósgraduação em Comunicação e Semiótica e pela Faculdade de Comunicação e
Filosofia.
De 14 a 16 de novembro de 2005, com a presidência de Ana Claudia Mei
Alves de Oliveira, o congresso realizou-se no Teatro TUCA com o temário:
“Brasil: Identidade e alteridade” e teve tradução simultânea do inglês e do francês
dos convidados internacionais para o português, o que propiciou a participação
dos discentes dos cursos de graduação desta instituição em que a semiótica fazse presente em várias faculdades. O evento reuniu mais de 400 participantes,
com a edição dos Anais em CD que registrou as apresentações das 10 sessões de
Comunicação, apresentadas simultaneamente.
No âmbito das atividades, a assembléia elegeu uma nova diretoria encabeçada
por Moema Lúcia Rebouças representante, juntamente com seus colegas, de
uma terceira geração de semioticistas formados em São Paulo. A sua alocação
na Universidade do Espírito Santo (UES) permitiria um saudável deslocamento
do evento para Vitória que acolheu conciliadoramente os desenvolvimentos das
teorias semióticas. Por sua atuação na Pós-graduação em Educação da UFES, o
evento mostrou também como nesta localidade as teorias semióticas encontravamse em grande trânsito de discussão sobre o seu oferecer fundamentação teórica e
metodologia a distintos cursos de graduação tais como os de Comunicação, Artes,
Arquitetura, Letras e Linguística ao lado da Administração e Educação.
Ocorreu um diálogo aberto entre as correntes teóricas da semiótica alavancado
pela proposta temática do III Congresso Internacional da Associação Brasileira de
Estudos Semióticos//VIII Congresso Brasileiro de Semiótica intitulada: Semiótica
e Interações Sociais. O evento, realizado de 14 a 17 de novembro de 2007,
reuniu 250 pessoas inscritas com 100 apresentações de trabalhos nas sessões de
Comunicação, publicadas em cd. Uma nova diretoria da ABES foi eleita no
evento com representantes de distintas instituições de São Paulo e presidida por
Lauer Nunes dos Santos, da Universidade Federal de Pelotas (RS).
A concentração de paulistas fez com que o IV Congresso Internacional da
Associação Brasileira de Estudos Semióticos/IX Congresso Brasileiro de Semiótica
fosse realizado na Universidade Anhembi Morumbi, organizado pela Pósgraduação em Design, marcando uma área emergente de aproximação das teorias
157
ABES, recriação e percurso de uma Associação
semióticas. Outro destaque no evento foi a concentração de estudos semióticos
sobre moda, formas de urbanidade com seus modos de vida, formas de consumo
diversas. O evento recebeu mais de 200 participantes inscritos.
O temário do IV Congresso Internacional e do IX Congresso Brasileiro
de Semiótica foi Semiótica, Hábitos e Estilos de Vida. Um tema que assume uma
posição quase limite entre as questões de base que vêm, ao longo do tempo,
ocupando os estudos semióticos e alguns dos problemas que são apresentados
pelas novas formas de produção e difusão do sentido e da informação. Com esse
temário, os hábitos foram problematizados nos seus redimensionamentos das
noções de tempo e espaço, bem como na redefinição dos modos de sociabilidade –
ou de mediação da sociabilidade. Nesse contexto, uma das formas de compreender
os processos de significação foi proposta justamente na desconstrução, a partir
de metodologias específicas, daquilo já incorporado aos comportamentos como
hábitos – maneira usual de ser, fazer, sentir, individual ou coletivamente – de
modo a resgatar ou rever possibilidades outras e que são consideradas “naturais”
e, por isso mesmo, isentas de atenção.
Nos dias 3 a 5 de maio de 2010, a ABES indicava contar com 173 membros
filiados, que representam 18 universidades brasileiras, nas quais a Semiótica é
uma disciplina reconhecida nos cursos de graduação e/ou pós-graduação, assim
como na formação dos seus estudantes, professores e pesquisadores.
Desde sua reestruturação em 2001, o principal objetivo da ABES tem sido
promover o intercâmbio de pesquisas e estudos orientados pelas abordagens
semióticas nas mais distintas áreas com o propósito de propiciar meios para
dinamizar os debates. Sua tarefa emergencial é a de realizar um mapeamento
dos pesquisadores, dos seus objetos de pesquisa, dos centros, núcleos e grupos de
pesquisas atuantes e dos resultados de sua inserção em variados campos do saber o
que torna significante saber mais sobre o lugar da pesquisa semiótica nos quadros
das áreas de conhecimento em vigência no país.
Vocacionada para a interdisciplinaridade, as teorias semióticas constituem,
hoje, em um referencial teórico e metodológico nos programas de pós-graduação
em Comunicação, Ciência da Informação, Marketing, Artes, Arquitetura, Design,
Literatura, Letras e Linguística, Educação, Política, configurando-se assim em
meio de interlocução multidisciplinar e interinstitucional.
Um dos compromissos que a Associação Brasileira de Estudos Semióticos,
por sua quinta vez, renovou na assembléia de sócios foi o ato de eleger a diretoria,
que se torna assim uma porta-voz não só de seus associados, mas também das
pesquisas realizadas nas várias teorias semióticas que se desenvolvem em todo
o país. Em 2010, a diretoria eleita é presidida por Lucia Teixeira de Siqueira
e Oliveira, da Pós-graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense
158
ABES, recriação e percurso de uma Associação
(UFF). Uma eleição que fez a ABES voltar ao Estado do Rio de Janeiro, para
sediar em Niterói V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Estudos
Semióticos/X Congresso Brasileiro de Semiótica, justamente quando completará
10 anos de sua reorganização e reativação como associação científica, uma instância
legítima de representação das pesquisas semióticas dos estudiosos brasileiros no
âmbito nacional e internacional.
Nucleações das pesquisas em semiótica
Por necessitar ainda uma pesquisa mais sistemática apenas são destacados em
termos de Grupos, Núcleos e Grupos de pesquisa algumas de suas constituições.
Essas informações são até então parciais cabendo ser mais aprofundadas a fim de
compor uma visão mais integral da construção do saber e das pesquisas produzidas
pelas teorias semióticas no Brasil. As nucleações de pesquisas levantadas são:
• CISC – Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia criado em 1992, com coordenação de Norval Baitello Jr. e Malena Segura
Contrera. Linhas de pesquisa: 1) Comunicação e Cultura; 2) Comunicação
e Imagem; 3) Comunicação e Mídia. Home page: http://www.pucsp.
br/~cos-puc
• Grupo de pesquisa em processos de criação - criado em 1993, sediado
na PUCSP, com coordenação de Cecília Almeida Salles e Christiane Pires
Nelson de Mello. Linhas de pesquisa: 1) Processos de criação nas mídias; 2)
Teorias da criação. Home page: http://www.pucsp.br/~cos-puc
• Centro de Pesquisas Sociossemióticas ( CPS) - criado em 1994, sediado
na PUCSP:COS, com coordenação de Ana Claudia Mei Alves de Oliveira
e Eric Landowski (CNRS, CEVIPOF). Linhas de pesquisa em semiótica
discursiva: 1) Análise de textos, produtos e práticas sociais; 2) Fundamentos
da Semiótica, Comunicação e outras áreas; 3) Processos de intertextualidade
e interdiscursividade; 4) Regimes de sentido, regimes de interação, regimes
de visibilidade. Home page: http://www.pucsp.br/pos/cos/cps
• Centro Internacional de Estudos Peirceanos (CIEP) - criado em 1996,
está sediado na PUCSP, com coordenação é de Maria Lucia Santaella
Braga e Ana Maria Guimarães Jorge. Linhas de pesquisa são: 1) Semiótica
Interdisciplinar; 2) Semiótica Teórica; 3) Semióticas Específicas. Home
page: http://www.pucsp.br/pos/tidd/ciep/
• OKTIABR - Grupo de pesquisa para o estudo da semiosfera constituído em outubro de 2002 para estudar semiótica russa, sediado
na PUCSP:COS. Linhas de pesquisa: 1) conhecimento das linguagens
da comunicação (segundo a perspectiva da ecologia da comunicação); 2)
159
ABES, recriação e percurso de uma Associação
relação entre os sistemas culturais (tal como a arqueologia das mídias e de
suas medições Homepage: http://semiosfera.iv.org.br/portal/grupo/grupo
• GEARTE - Grupo interinstitucional vinculados à linha de pesquisa
Educação: Arte Linguagem Tecnologia, do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisadores
de diferentes instituições, docentes e estudantes, constituído desde 1997.
Investiga as relações entre educação e arte, dialogando com as áreas da cultura
visual, semiótica discursiva, estética, história, teoria e crítica da arte. Tem
cinco linhas de atuação: pesquisa; ensino; publicação; assessoria; estudos
específicos. Linhas de pesquisa: 1) educação e artes visuais; 2) educação:
arte, linguagem, tecnologia; 3) estudos em arte: mídia, discurso e formação.
Homepage: http://www.gearte.ufrgs.br/
• Grupo de Estudos Semióticos (GES), da FFLCH-USP - criado em
2001, Caracteriza-se pelas discussão de questões semióticas em geral, com
destaque para a escola francesa. Linhas de pesquisa:1) Análise dos discursos
sociais (verbais e não-verbais); 2) Linguagem da canção; 3) Teoria semiótica.
Homepage: www.fflch.usp.br/dl/semiotica
• Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA) - criado na UNESP de
Araraquara em 2002, por Ignácio Assis Silvia. Com coordenação de Maria
de Lourdes Ortiz Gandini Baldan. Está sediado na UNESP: Faculdade
de Ciências e Letras de Araraquara. Linhas de pesquisa: 1) Estrutura,
organização e funcionamento discursivos e textuais; 2) Semiótica do texto
literário. Homepage: http://seer.fclar.unesp.br/index.php/casa
• Grupo de pesquisa Semiótica, leitura e produção de textos (SELEPROT)
- criado em 2002 na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A
coordenação é de Darcília Simões. Linhas de pesquisa: 1) Análise linguísticosemiótica; 2) Linguagens, Tecnologias, Culturas; 3) Semiótica das Culturas.
Home page: http://www.darciliasimoes.pro.br
• Espaço-Visualidade/Comunicação-Cultura (ESPACC) - criado 2006,
está sediado na PUCSP e sua coordenação é de Lucrecia D’Alessio Ferrara
e Regiane Miranda de Oliveira Nakagawa. Linhas de pesquisa: 1) Cidade
como Manifestação Social da Cultura; 2) Espaço como Desafio Científico
para uma Epistemologia da Comunicação; 3) Espaço e Midias Visuais - do
bidimensional ao social ; 4) Espaço e Processos de Mediação e Interação.
Home page: http://espacc.incubadora.fapesp.br
• Laboratório Multidisciplinar em Semiótica (LABSEM) - criado em 2008
na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) como um espaço de
trabalho em que os graduandos (entre outros) operam com equipamentos
digitais realizando um estágio semi-profissional de qualificação para o
160
ABES, recriação e percurso de uma Associação
mercado de trabalho. Sua coordenadora é Darcilia Marindir Pinto Simões.
Linhas de pesquisa são: 1) os textos verbais e não-verbais; 2) o objeto
literário; 3) o desenho de produtos e 4) a comunicação visual. Home page:
http://labsemuerj.blogspot.com/
• Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Linguagem (NIEL).
Hopmepage:
http://dgp.cnpq.br/diretorioc/fontes/detalhegrupo.
jsp?grupo=0338801IRY8KT1
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.
jsp?grupo=0326802KF6LE99
• Grupo Avançado de Pesquisa em Semiótica - Criado em 2005 na
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). A
coordenação é de Eliana Pibernat Antonini. Dedica-se aos estudos sobre
iconicidade, entreligados às produções televisivas nacionais que alcançaram
repercussão internacional. Linha de pesquisa: Cultura Midiática e
Tecnologias do Imaginário.
Homepage:http://www.portcom.intercom.
org.br/francobrasil/detalhe.php?c22=grupo&id=381&c10=Brasil&c9=RS
• Semiótica, design e arte - criado em 2005 na Universidade Federal de
Pelotas. Sua coordenação é de Lauer Alves Nunes dos Santos. Linhas de
pesquisa: 1) Arte: reflexão e significação. 2) Design e identidade; 3) Design:
planejamento e produção. 4) Semiótica discursiva. Homepage: não indicada
• Comunicação e Cultura: Barroco e Mestiçagem - criado em 2005, sediado
na PUCSP, a sua coordenação é de José Amalio de Branco Pinheiro. Linhas
de pesquisa: 1) Ambientes Midiáticos e Mestiçagem. 2) Comunicação e
Barroco nas Américas. Homepage: http://br.groups.yahoo.com/group/
comunicpuc
• Semiótica e discurso (SEDI) - criado em 2006, na Universidade Federal
Fluminense, Departamento de Ciências da Linguagem. O grupo de pesquisa
reúne pesquisadores em Semiótica que trabalham com análise de textos e
discursos e produzem reflexão teórica e metodológica sobre a produção de
sentido em textos de diversas materialidades significantes. A coordenação
é de Lucia Teixeira de Siqueira e Oliveira e Silvia Maria de Sousa. Linha de
pesquisa: 1) Discurso e interação. Homepage: http://www.uff.br/sedi/links.
htm
• Semiótica da Comunicação - criado em 2009, na Universidade São
Paulo ( ECA). A coordenação é de Irene de Araújo Machado e Anderson
Vinicius Romanin. Linhas de pesquisa: 1) Design da comunicação; 2)
Epistemologia, Teoria e Metodologia da Comunicação; 3) Fundamentos
sistêmicos da semiótica da comunicação; 3) Linguagens da comunicação.
161
ABES, recriação e percurso de uma Associação
Homepage: http://www.semeiosis.com.br
• Grupo de Pesquisa Semiótica e Comunicação (GPESC) - criado
interinstitucionalmente em Porto Alegre. A sua coordenação é de
Alexandre Rocha da Silva (UFRGS). Reúne quatro núcleos de pesquisa :
1) Semiótica Crítica; 2) Design Estratégico; 3) Memória e Informação; 4)
Corporalidades, que são articulados em um mesmo diretório do CNPq.
Propõe debates acerca das linguagens voltadas à comunicação em diferentes
práticas disciplinares, metodológicas, estéticas e políticas. Objetiva a revisão
da Semiótica tradicional realizada a partir das obras de autores como Gilles
Deleuze, Michel Foucault e Jaques Derrida. Homepage: http://www.gpesc.
caosmose.net/
Periódicos científicos de Semiótica
Igualmente é parcial o levantamento das revistas que se declaram dedicadas aos
estudos semióticos. Com conselhos editoriais para seleção de artigos e ligados
ao sistema de avaliação Qualis da Capes, os periódicos levantados até então são:
Galáxia, Significação, Itinerários, Alfa, Signum, Casa, Cadernos de Textos do CPS,
REVISTA DOSSIÊ GPESC.
Desdobramentos
São muitas as pesquisas ainda a serem feitas para completar o quadro de vida da
ABES de forma a delinear o seu retrato. Entre as investigações emergentes a se
realizar destaca-se, além das atualizações das revistas e dos grupos de pesquisa,
a necessidade de levantar as obras das variadas correntes o que comporá um
mapeamento das investigações dos diversos campos semióticos e abrirá
possibilidades de realização de um estudo qualitativo da Semiótica desenvolvida
no Brasil. Por outro lado, faz-se urgente, igualmente, o levantamento das
faculdades com os cursos que inseriram a teoria semiótica em seus grupos pósgraduados e graduados. Essas são tarefas a serem feitas que contribuirão para
um delineamento do retrato da Semiótica brasileira, por meio de suas variadas
práticas de vida e de presença em uma multiplicidade de campos do saber que
apenas começamos a configurar.
A todos que puderem colaborar, estou continuando essa coleta de dados
por julgá-la da maior importância para que a Associação Brasileira de Estudos
Semióticos (Abes) possa estar representada junto às várias áreas do saber da Capes,
para as quais as teorias semióticas têm dado a sua colaboração efetiva. De espectro
amplo abrangendo da Medicina, Engenharia, Design, Arquitetura, moda, música
às áreas de arte, Letras, Literatura e Comunicação, essa tarefa caberia a um grupo
de investigadores representativos desse panorama.
162
ABES, recriação e percurso de uma Associação
Graças à Socicom e ao apoio do Ipea em fomentar um depoimento sobre o
modo como as associações atuam na área da Comunicação, esse primeiro passo
foi dado. Contudo, trata-se apenas de um esboço preliminar que buscou retratar
a trajetória de uma organização instalada no país há meio século e que está por ser
continuado por muitas orquestrações, visando realizar um exame qualitativo das
contribuições da Semiótica para os estudos do campo da Comunicação no Brasil.
Seria necessário outros pesquisadores de campos teóricos, de ensino e pesquisa da
Semiótica darem as mãos para juntos desenvolverem esse projeto de traçado dos
resultados e contribuições da semiótica nos vários campos de saber. Meu gesto é
apenas um e só pode significar se formar uma aliança a fim de construirmos junto
esse retrato coletivo. Meus braços se estendem a todos em um chamado para
realizarmos juntos essa tarefa que não pode mais esperar para acontecer.
163
164
CAPÍTULO 8
Economia Política da Comunicação (EPC)
Anita Simis 1
Ruy Sardinha Lopes2
Introdução
A Economia Política da Comunicação (EPC) é um constructo teóricometodológico desenvolvido a partir das contribuições de Marx e se constitui como
um importante pólo estruturador do pensamento crítico comunicacional. Assim,
se a Economia Política Crítica surge para explicar o modo de funcionamento do
capitalismo, foi o aparecimento das indústrias da mídia no século XX – e seu papel
na lógica de reprodução do estágio monopolista do capitalismo – que aproximou
este campo disciplinar das comunicações. Desta forma, as contribuições de
Adorno, Horkheimer, Walter Benjamin e demais colegas da chamada Escola de
Frankfurt para o melhor entendimento das especificidades da produção cultural
e sua relação com os processos econômicos e sociais mais amplos abriram uma
frutífera e longa trajetória investigativa que, passando pelos Estudos Culturais,
desembocaram na EPC.
Tendo o canadense Dallas Smythe como pioneiro nesse campo (no final da
década de 1940 ofereceu o primeiro curso sobre EPC nos EUA) , será sobretudo
a partir da década de 1960 que esta nova perspectiva analítica começa a se
desenvolver. Para isso contribuíram diversos pesquisadores, que talvez possam ser
divididos em duas “escolas”: a “norte-americana”, na tradição de Baran e Sweezy,
Dallas Smythe e Herbert Schiller e a “européia”, com setores das academias
britânica e francesa, vinculadas à produção intelectual de Nicholas Garnham,
Peter Golding e Graham Murdock, de um lado, Patrice Flichy, Bernard Miège e
Dominique Leroy, de outro.
Seja criticando as teorias que viam os meios de comunicação massivos
apenas como uma esfera de produção de ideologia e estratégias discursivas e
enfatizando o papel da mercadoria audiência (Smythe), seja ressaltando a função
da publicidade como arma fundamental das estratégias competitivas das grandes
empresas oligopolistas (Baran e Sweezy), ou ainda, como o trabalho de Herbert
1 Diretora Administrativa da Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação
(Socicom) e participa da Redecult e do CULT. Foi presidente da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura – Ulepicc-Brasil e coordenadora da revista Estudos de Sociologia. É
professora livre-docente na Unesp – campus Araraquara.
2 Doutor em Filosofia pela FFLCH-USP. Professor e pesquisador do Departamento e do Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia da USP de São Carlos. Coordenador do
Núcleo de Estudos sobre as Espacialidades Contemporâneas (NEC) e presidente do capítulo Brasil da União
Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (Ulepicc-BR)
165
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
Schiller, estabelecendo os vínculos orgânicos entre os sistemas de comunicação e
as operações do capital transnacional, os autores norte-americanos.
Já na Europa, os estudos de Graham Murdock e Peter Golding voltaram–se
para a relação entre os aspectos simbólicos e materiais das comunicações públicas,
superando, desta forma aqueles estudos que centravam o foco analítico em um
dos lados; como, por exemplo, as análises sobre os processos de construção e
consumo de sentidos oriundas dos Estudos Culturais.
Na França, onde predomina a expressão Economia da Cultura e da
Comunicação, a par das análises econômicas sobre as artes cênicas realizadas por
William Baumol (1968) e Dominique Leroy (1980), ganharam maior repercussão
internacional as figuras de Bernard Miège e Patrice Flichy, economistas ligados
ao GRESC, da Universidade Stendhall, de Grenoble. O estudo dos processos de
trabalho e de valorização dos produtos culturais e suas especificidades, a análise
das estruturas dos mercados culturais, a distinção entre setores de edição (livro,
disco, vídeo, CD etc)) e a culture de flot (rádio, TV) e a substituição do termo
“indústria cultural” por “indústrias culturais” são algumas das importantes
contribuições da Economia Política francesa para o campo comunicacional.
Ao sintetizar a contribuição dos estudos em EPC, Herscovici, Bolaño e
Mastrini (2010) afirmam:
“No seu conjunto os estudos em Economia Política da Comunicação
representam uma ruptura com certas análises marxistas que, a partir de uma
aceitação não problemática do modelo base/superestrutura, entendem
os meios de comunicação como instrumentos do domínio das classes
no poder. Essa visão reducionista do papel dos meios de comunicação
na sociedade foi rebatido a partir da economia política que, embora
assumindo a importância da estrutura econômica no funcionamento
dos meios e, especialmente a necessidade de analisá-la, insistiu em não
cair no erro de uma transferência mecanicista dos efeitos dos meios. Por
outro lado, os estudos da economia dos meios se distanciam das teorias
que proclamam uma excessiva autonomia dos níveis ideológicos ou
políticos, eliminando qualquer influência das relações econômicas no
processo de significação. A esse respeito, Garnham (1979) assinala: “essa
posição desenvolve corretamente as instituições de escola de Frankfurt sobre
a importância da superestrutura e da mediação, mas prescinde do fato de
que, na época do capitalismo monopolista, a superestrutura se industrializa,
é invadida pela estrutura”. Aparece assim a reivindicação de deixar de
considerar os meios de comunicação como aparelho ideológico e se
investe na necessidade de centrar-se na sua função econômica”.
166
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
América Latina
A história do campo da Comunicação na América Latina sempre ocupou papel
de destaque no cenário internacional, sobretudo no que se refere à discussão sobre
a aceleração desenvolvimentista presumivelmente proporcionada pelas novas
tecnologias de comunicação a serem transplantadas pra o terceiro mundo, numa
espécie de Plano Marshall comunicacional.
As reflexões dos economistas da Comissão Econômica Para a América
Latina e o Caribe (Cepal), reticentes quanto a esta relação causal, que no campo
da comunicação derivam nas teorias da dependência ou do imperialismo cultural
e a discussão sobre a repartição dos fluxos globais de informação, sintetizada no
Relatório McBride, fruto do movimento em prol de uma Nova Ordem Mundial
da Informação e da Comunicação (NOMIC) tiveram, assim, grande importância
na luta contra-hegemônica e pela democratização da área.
Assim, como aponta Berger (2001), as demandas políticas e sociais, mais
do que as científicas, foram a mola propulsora da tradição do pensamento
comunicacional na região:
“Na América Latina, as marcas da dependência estrutural, que evoca uma
cultura do silêncio e da submissão, mas também de resistência e de luta,
são o pano de fundo da busca por compreender o que acontecia com
a comunicação e demarca as fronteiras do emergente campo de estudo”
(BERGER, 2001, p.241).
A Economia política da região, herdeira dessa herança intelectual, passa a
desafiar as premissas do funcionalismo modernizador, refinando os instrumentos
de análise das estruturas de poder e dominação, bem como na reflexão sobre o
papel das novas tecnologias para a integração hemisférica.
As mudanças estruturais que o Capitalismo sofreu a partir de meados da
década de 1970, a reconfiguração do sistema-mundo capitalista e a posição
central que os sistemas de informação e de comunicação passam a ter neste
processo reafirmaram a importância do constructo teórico-metodológico da
EPC, quer para o entendimento das funções macroeconômicas que a cultura e
a comunicação assumem no processo de acumulação, quer, devido à chamada
“convergência tecnológica”, para a análise de seus conteúdos, que cada vez mais
não podem ser apreendidos de forma independente das tecnologias de difusão e
transmissão da informação.
Uma nova agenda analítica se impõe à EPC quer no tocante a redefinição do
conceito de esfera pública, quer no que se refere aos mecanismos de regulação dos
sistemas midiáticos, por um lado ou no tocante ao funcionamento dos sistemas
globais de informação e comunicação, às determinações culturais e econômicas da
167
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
convergência tecnológica, à concentração dos sistemas midiáticos em poderosos
oligopólios etc., por outro lado.
A EPC no Brasil
No Brasil, ainda que reconhecendo, como o faz Marques de Melo (2008,p.10), a
precocidade de Barbosa Lima Sobrinho que, em 1923, enfatiza a ótica econômica
nos estudos sobre a imprensa brasileira, e de dois estudos marcantes dos anos
1970 – “Notícia, um produto à venda”, de Cremilda Medina (1978) e “O papel
do Jornal”, de Alberto Dines – o campo disciplinar da EPC teve de esperar até a
década de 1990 para se constituir.
Embora não seja o caso de aqui fazermos a genealogia do pensamento
brasileiro, mostrando os influxos nacionais e internacionais, com as honrosas
participações de Armand Mattelart e Herbert Schiller, cabe ressaltar o pioneirismo
de César Bolaño que, formado de Comunicação Social e pós-graduado junto
ao grupo de economistas pós-cepalinos da UNICAMP, soube como ninguém
articular o entrecruzamento destas duas áreas. Suas duas obras inaugurais –
“Mercado Brasileiro de Televisão” (1988) e “Indústria cultural, informação
e capitalismo” (2000) – revelam um pesquisador capaz não apenas de lidar de
forma crítica com os conceitos-chaves difundidos pelas duas “escolas” mestras,
mas também formulador de reflexão própria, contribuindo de forma decisiva
para a consolidação da EPC no Brasil.
Sua contribuição não pára nos bancos da academia. Em 1992 é fundado
o do Grupo de Trabalho (GT) de Economia Política das Telecomunicações, da
Informação e da Comunicação (EPTIC) da Intercom e existente, em sua primeira
fase, até o ano de 2000.
Se, àquela época, já se reconhecia a importância das análises do setor das
comunicações a partir do instrumental conceitual-metodológico da Economia
Política - o que sempre implicou a constituição de um campo de saber
intrinsecamente interdisciplinar –, os esforços empreendidos por este GT foram
fundamentais no sentido de reunir material analítico de um campo conceitual
que, ao contrário da tradição europeia, mostrava-se ainda bastante incipiente no
Brasil e na América Latina.
Apenas para relembrarmos parte destes esforços, cabe citar a publicação dos
Boletins Eptic – distribuídos a todos os participantes do Grupo e interessados
em geral e a publicação de duas obras coletivas organizadas por César Bolaño
- Economia Política das Telecomunicações, da Informação e da Comunicação. São
Paulo: Intercom, 1995 e Globalização e Regionalização das Comunicações, editado
pelo EDUC e UFS, em 1999. Ou ainda a organização de mesas sobre o tema, em
1998, no XIII Congresso da Associação dos Cursos de Graduação em Economia,
168
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
em Aracaju e no XXVI Encontro Nacional de Economia/ANPEC, em Vitória e,
em 1999, no IV Encontro Nacional de Economia política (SEP), em Porto Alegre
e na Sociedade Brasileira de História da Ciência.
Em continuidade a esse esforço, em 1999 forma-se a Rede de Economia
Política das Tecnologias da Informação e da Comunicação, ligada ao
Observatório de Comunicação (OBSCOM) do Departamento de Economia
da Universidade Federal de Sergipe, tendo coordenação geral de. César Bolaño.
Divergindo do pensamento único, na multiplicidade organizacional, o Grupo
foca seus estudos em Economia Política da Comunicação, em tópicos como o
processo de oligopolização da mídia, as políticas de comunicação, as inovações
na área informacional, a funcionalidade da cultura no capitalismo e os lugares da
democracia e da diversidade nessas dinâmicas.
O principal espaço de encontro, articulação e diálogo dos pesquisadores
é o portal EPTIC (www.eptic.com.br/), que reúne conteúdos na área de
Economia Política da Comunicação, incluindo livros digitais, teses, dissertações,
monografias, textos para discussão, boletim noticioso e uma revista acadêmica, de
periodicidade quadrimestral, a Eptic On line-Revista Electrónica Internacional
de Economía de las Tecnologías de la Información y de la Comunicación, a qual
tem como editor Valério Cruz Brittos. O portal Eptic, que em 2003 recebeu
o Prêmio Luiz Beltrão da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação (Intercom) e tem registrado mais de 130 mil acessos anualmente,
articula uma rede de pesquisadores de diferentes países da Europa e da América
Latina, participantes de diversos grupos de trabalho vinculados ao tema.
Em 2002, a Rede lançou a Biblioteca Eptic, uma coleção sobre Economia
Política da Comunicação, que pretende suprir a lacuna da baixa quantidade de
obras com este enfoque no país, através do lançamento de títulos individuais e
coletivos, de pesquisadores do Brasil e do exterior. Por seu intermédio, pretendese debater como a essencialidade da discussão do papel da mídia e do espaço
público eleva-se na medida em que aumenta a tendência mundial de concentração
da propriedade midiática, assumindo os meios crescente relevância econômica,
política e cultural. O objetivo é que a Biblioteca Eptic consista numa instância
de fomento à comunidade acadêmica – e mesmo à sociedade civil – refletir sobre
o campo midiático, alinhada com metas de pluralidade e democracia e somando
colaborações às pesquisas especialmente de Programas de Pós-Graduação em
Comunicação, Ciências Sociais, Ciências da Informação, Economia, dentre
outros. Nesta dinâmica, objetiva participar do processo de construção de novas
pontes comunicacionais, mais públicas e pluralistas.
Até o momento, foram lançados os seguintes títulos pela Biblioteca EPTIC:
1) Comunicação, informação e espaço público: exclusão no mundo 169
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
globalizado – BRITTOS, Valério (Org.). Rio de Janeiro: Papel & Virtual, 2002.
2) Comunicação, informação e cultura: dinâmicas globais e estruturas de poder – JAMBEIRO, Othon; BRITTOS, Valério; BOLAÑO, César (Orgs.). Salvador: Edufba, 2004.
3) Comunicação, hegemonia e contra-hegemonia – JAMBEIRO,
Othon; BRITTOS, Valério; BENEVENUTO JR., Álvaro (Orgs.). Salvador:
Edufba, 2005.
4) Comunicação na Fase da Multiplicidade da Oferta – BRITTOS, Valério (Org.). Porto Alegre: Nova Prova, 2007.
5) Comunicação, educação, economia e sociedade no Brasil: desenvolvimento histórico, estrutura atual e os desafios do século XXI – BOLAÑO, César (Org.). São Cristóvão: Ed. UFS, 2008.
6) A firma-rede e as novas configurações do trabalho nas telecomunicações brasileiras – SANTOS, Verlane Aragão. São Cristóvão: Ed.
UFS, 2008.
7) Comunicação e a Crítica da Economia Política: perspectivas teóricas e epistemológicas – BOLAÑO, César (Org.). São Cristóvão: Ed. UFS, 2008.
8) Rádios comunitárias no Brasil e na França: democracia e esfera pública – LEAL, Sayonara de Amorim Gonçalves. São Cristóvão: Ed. UFS, 2008.
O passo decisivo para a consolidação da EPC no Brasil e na América
Latina foi dado, entretanto, através da realização do I e II Encuentro de Economia
Política de la Comunicación Del Mercosur, respectivamente em maio de 2001, na
Universidade de Buenos Aires, e março de 2002, na Universidade de Brasília,
culminando na criação da Unión Latina de Economia Política de la Comunicación,
la Información y la Cultura (ULEPICC) (http://www.ulepicc.org ), formalizada
no III Encuentro Latino de Economia Política de la Comunicación, em julho de
2002, na Universidade de Sevilla.
Como podemos observar em seu texto fundador, a Carta de Buenos Aires,
formava-se com a ULEPICC o foro ideal à abordagem crítica dos setores da
comunicação, alternativa ao “pensamento único”, prioritamente tecnocrático e
instrumental, dominante nos estudos sobre as comunicações na América Latina.
A partir de sua formalização, a ULEPICC teve até o momento duas
juntas diretivas, a primeira (2003-2007) presidida por César Bolaño e a atual
(2007-2011), por Luis A. Albornoz (Universidad Carlos III de Madrid). Neste
170
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
período, sete encontros internacionais foram organizados, reunindo intelectuais,
pesquisadores, profissionais e alunos de pós-graduação dos mais variados países:
2001 - I Encuentro de Economía Política de la Información y la
Comunicación del MERCOSUR
Tema: “Concentración y convergencia en las industrias culturales”
Local: Universidad de Buenos Aires, Argentina
2002 - II Encuentro Latino de Economía Política de la Comunicación
Tema: “Sociedade da Informação e Nova Economia: ruptura ou
continuidade? A visão da Economía Política.
Local: Universidade de Brasília, Brasília.
2003 - III Encuentro Iberoamericano de Economía Política de la
Comunicación
Tema: “Comunicación y Desarrollo en La Sociedad Global de La
Información”
Local: Universidad de Sevilla, Sevilla
2005- V Encontro Latino de Economia Política da Informação, Comunicação
e Cultura
Tema: “Sociedade do Conhecimento e Controle da Informação e da
Comunicação”
Local: Universidade Federal da Bahia, Salvador
2007 – VI Encuentro Internacional de la Unión Latina de Economía Política
de la Información, Comunicación y la Cultura
Tema: Inovaciones tecnológicas, comunicación y cambio social
Local: Universidad Autonoma Metropolitana, Cidade do México
2009 - VII Congreso Internacional de la Unión Latina de Economía
Política de la Información, la Comunicación y la Cultura
Tema: “Políticas de cultura y comunicación: creatividad, diversidad y
bienestar en la Sociedad de la Información”.
Local: Universidad Carlos III de Madrid, Madri
Estruturada como uma Federação, uma das consequências mais profícuas
desta entidade foi a criação dos Capítulos nacionais: a ULEPICC-Espanha
(http://www.ulepicc.es ), fundada em março de 2002 e presidida por Ramón
Zallo (Universidad del País Vasco), a ULEPICC-Brasil (http://www.ulepicc.
171
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
org.br ), fundada em março de 2004 e a ULEPICC-Moçambique (http://
ulepiccmozambique.blogspot.com), criada em junho de 2008 e presidida por
João Miguel (Universidade Eduardo Mondlaner, Maputo).
A ULEPICC-Brasil vem ocupando papel de destaque no cenário acadêmico
nacional. Em estreita associação com os demais espaços voltados para EPC em
âmbito nacional e internacional, a entidade volta-se, dentre outras atividades,
para:
a) realização de eventos de estudos de Comunicação, numa abordagem
interdisciplinar;
b) desenvolvimento de pesquisas e atividades que representem uma
contribuição para o campo;
c) promoção do intercâmbio de informações e experiências entre especialistas
da área;
d) efetivação de acordos com entidades congêneres, institutos e órgãos de
fomento à investigação social;
e) publicação de obras de cunho científico
Desde sua fundação, a entidade passa por sua terceira junta diretiva: 20042006 – presidente: Valério Brittos (UNISINOS, RS), 2006-2008 – presidente
Valério Brittos (UNISINOS,RS) e 2008-2010, presidente: Anita Simis (UNESP,
SP).
Foram realizados três Encontros Nacionais:
2006 – I Encontro da ULEPICC-Brasil
Tema: Economia Política da Comunicação: Interfaces Sociais e Acadêmicas
do Brasil
Local: Universidade Federal Fluminense, Niterói
2008 – II Encontro da ULEPICC-Brasil
Tema: Digitalização e Sociedade
Local: Universidade Estadual Paulista, Bauru
2010 – III Encontro da ULEPICC-Brasil
Tema: A formação da Economia Política da Comunicação e da Cultura no Brasil e na América Latina: conquistas e desafios
Local: Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão
Se a constituição da Rede EPTIC e da ULEPICC-Brasil marcam, de forma
inequívoca, a consolidação deste campo disciplinar, não menos importante é a
172
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
formação dos Grupos de Trabalhos (existentes nas diversas entidades científicas.
Na Intercom, sob a coordenação de Valério Brittos, o GT, significou ratificar o
diálogo profícuo deste campo com a Intercom e a necessidade da formação do
pensamento crítico comunicacional. O conjunto de trabalhos apresentados nas
seções deste GT nos dois Congressos Brasileiros de Ciência da Comunicação,
de 2009 e 2010, a presença de pesquisadores de relevante expressão nacional e a
qualidade do debate ali travado indicam um futuro promissor.
Assim, a ementa propunha que como decorrência da centralidade econômica
e política que a informação, comunicação e cultura ganharam no processo de
valorização capitalista, foram colocados novos desafios políticos e epistemológicos
aos agentes sociais que lutam por uma sociedade mais democrática e inclusiva.
A Economia Política crítica, ao mesmo tempo em que reconhece a importância
de uma “economia” da informação, da comunicação e da cultura, salienta a
insuficiência das abordagens estritamente econômicas e tecnicistas na apreensão
e análise deste fenômeno social. Acreditando, pois, que o Social e o Político, em
suas múltiplas dimensões, se situam no centro das análises e decisões econômicas
a EPC propõe, metodologicamente, a abordagem interdisciplinar e heterodoxa,
capaz de pôr em interação diversos campos disciplinares como a Economia, a
Comunicação, a Sociologia, a Ciência Política, a Filosofia e os Estudos Culturais
Críticos, como necessária à constituição deste corpus teórico-crítico.
Este GP propõe ser um fórum de comunicação, debate e reflexão entre os
investigadores e profissionais destes campos disciplinares no sentido de formar
matéria crítica necessária à apreensão e análise dos fenômenos comunicacionais e culturais contemporâneos, tais como o avanço dos processos de privatização das
telecomunicações, a convergência tecnológica, a expansão e novas configurações
das indústrias culturais, a digitalização dos meios eletrônicos, TV digital, a
privatização do conhecimento, o desenvolvimento de todas as formas de capital
intangível, etc.
Já na COMPÓS, na coordenação de Elizabeth Saad Correa, a ementa
enfatizou que a Economia Política é campo teórico-conceitual multidisciplinar
essencial à análise e compreensão da Questão Social e suas potencialidades de
emancipação. Neste GT, ela está associada ao estudo e pesquisa das Políticas de
Comunicação, entendidas como o conjunto de princípios, disposições constitucionais, leis, regulamentos e instituições estatais, públicas e privadas
que compõem o ambiente normativo da televisão, cinema, rádio, internet,
publicidade, produção editorial, indústria fonográfica, artes e espetáculos. A
ênfase teórico-conceitual do GT na Economia Política é confluente com outras áreas pertinentes do saber, como Filosofia Política, Ciência Política, Sociologia
Política e Estudos Culturais Críticos.
Outra instituição importante de atuação foi a ALAIC, sob a coordenação de
173
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
César Bolaño. Para o GT então atuante, a análise econômica das comunicações é
fundamental para a compreensão dos grandes temas subjacentes à atual crise do
capitalismo. A tradição européia dos estudos da economia política da comunicação
contrasta com sua pequena difusão no Brasil ou a América Latina onde se
encontram raros trabalhos que se dedicam ao tema.
Sabe-se o quanto é importante discutir em bases objetivas assuntos específicos
urgentes da área latino-americana que não podem prescindir de uma análise
econômica. Forma parte dessa necessidade temas como: O desenvolvimento acelerado da chamada “neo-teve”; as novas tecnologias da comunicação em nossos países; o preocupante avanço do neoliberalismo; a privatização acelerada das telecomunicações em certas áreas e a própria expansão internacional de
nossas indústrias culturais que não incluíram internamente os temas primários
relacionados à estrutura democrática dos meios de comunicação de massa.
Este GT tem por objetivo servir à organização dos investigadores latinoamericanos de comunicação preocupados com a temática. Trata-se de criar um
canal de comunicação entre os investigadores, economistas, comunicólogos,
politicólogos. Em fim, intelectuais críticos capazes de contribuir para a construção
do corpo teórico e analítico interdisciplinar que o conhecimento da complexa
realidade latino-americana exige na área.
Pesquisadores
Adilson Cabral – UFF/RJ - [email protected]
Alain Herscovici – UFES/ES - [email protected]
Anita Simis – UNESP/SP – campus Araraquara – [email protected]
César Bolaño – UFS/SE - [email protected]
Claudio Bertolli Filho - FAAC/UNESP, campus de Bauru - cbertolli@uol.
com.br
Clovis Ricardo Montenegro de Lima.- UFSC/ SC - [email protected].
br
Doris Fagundes Haussen – PUCRS - [email protected]
Elizabeth Saad Corrêa – ECA/USP - [email protected]
Eula Dantas Taveira Cabral – Universidade/RJ: [email protected].
br
Fernando Oliveira Paulino – Universidade de Brasília/ DF - fopaulino@
gmail.com
174
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
Flávia Seliman – UNISINOS/RS - [email protected]
Laurindo Leal Filho – ECA/USP - [email protected]
Leandro Ramires – UnC/RS - [email protected]
Marcos Dantas Loureiro- UFRJ/RJ - [email protected]
Maria Teresa Miceli Kerbauy - UNESP/ SP- [email protected]
Maximiliano Martín Vicente - FAAC-UNESP - Campus de Bauru [email protected]
Micael Herschmann – UFRJ/RJ: [email protected]
Murilo César Ramos- UnB/DF - [email protected]
Ruy Sardinha Lopes – USP/SP – campus São Carlos - rsardinhalopes@
sc.usp.br
Sayonara Leal. – UnB/DF [email protected]
Sérgio Capparelli – UFRGS/RS - [email protected]
Suzy Santos- UFRJ/RJ - [email protected]
Valério Cruz Brittos – UNISINOS/RS: [email protected]
Verlane Aragão Santos – UFS/SE - [email protected]
William Dias Braga –UFRJ/RJ - [email protected]
Referências Bibliográficas e sites
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A. HOHLFELDT, L. C. MARTINO; V. V. FRANÇA (Org.). Teorias da
comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis, Vozes.
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Communication. L´Harmattan, Paris.
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Communication en Europe, PUG, Grenoble.
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ZALLO, Ramón (1988). Economía de la comunicación y la cultura.
Akal, Madrid, 207.
176
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
Valério Cruz Brittos3
César Ricardo Siqueira Bolaño 4
O Capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da
Comunicação e da Cultura (Ulrpicc–Brasil) foi fundado em março de 2004, em
Aracaju (SE), como seção nacional da Unión Latina de Economía Política de la
Información, la Comunicación y la Cultura (Ulepicc–Federação), criada, por sua
vez, em Sevilha (ES), em 2002, no bojo do terceiro encontro de uma rede de
pesquisadores do campo da Economia Política da Comunicação, da Informação
e da Cultura (EPC). Os dois primeiros encontros ocorreram em Buenos
Aires (2001) e Brasília (2002), tendo como objetivo, justamente, congregar
pesquisadores de países de língua latina, visando organizar e fomentar a reflexão
e o debate pluralista no interior da EPC e desta com outros campos das Ciências
Sociais e das Humanidades.
Tanto o Capítulo Brasil, como as demais seções nacionais (Espanha,
Moçambique e México, até o momento) e a Federação consideram a EPC
como parte do pensamento crítico, diretamente vinculada às transformações
das organizações de mediação sócio-simbólica que, no capitalismo monopolista,
tomam a forma de indústria cultural, servindo diretamente à reprodução do
sistema, em nível material (pela importância que adquire a publicidade para a
realização das mercadorias) e em nível simbólico (propaganda). Cabe à Economia
Política explicar como funcionam os mercados culturais (em geral, oligopólios)
em suas conexões com o processo mais amplo da reprodução social, bem como
assinalar as contradições inerentes a sua estrutura, na medida em que se a
constituição de sistemas de comunicação social e tecnologicamente mediados se dá
basicamente no sentido de reforçar o controle social, abre também possibilidades
de comunicação horizontal tendencialmente contra-hegemônica.
No referido encontro de Sevilha, definiu-se pela realização do IV Encontro,
em 2003, em Salvador, e que os encontros sucessivos da Ulepicc–Federação
passariam a ter periodicidade bianual. Assim, foram realizados os encontros
de Caracas, México DF e Madri, em 2005, 2007 e 2009, respectivamente. O
VIII Encontro da Ulepicc está previsto para 2011, no Chile, com atividades em
Santiago (Universidade do Chile) e em Temuco (Universidad de La Frontera). A
3 Professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS) e vice-presidente da Unión Latina de Economía Política de la Información, la
Comunicación y la Cultura (Ulepicc-Federación).
4 Professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e presidente da Associação Latino-Americana de Pesquisadores da Comunicação (ALAIC). Doutor em Economia pela Unicamp. Tem vários livros publicados na área da
Economia Política da Comunicação.
177
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
organização do II Encontro (preparatório) em Brasília, do IV (já com estrutura de
congresso internacional) em Salvador, bem como o fato de o Brasil ter constituído
o primeiro capítulo nacional da entidade (e o primeiro encontro nacional)
atestam a vitalidade do grupo brasileiro na entidade, presidida inicialmente por
César Bolaño (Universidade Federal de Sergipe), que passou a presidência a Luis
Albornoz, tendo este como vice, Valério Brittos (Unisinos).
A própria origem da Ulepicc remete ao diálogo acadêmico entre pesquisadores
de Economia Política da Comunicação, em que a Rede de Economia Política
das Tecnologias da Informação e da Comunicação (EPTIC), fundada em 1999,
a partir dos GT homônimos da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares
da Comunicação (Intercom), fundado em 1992, e da Asociación Latinoamericana
de Investigadores de la Comunicación (ALAIC), teve um papel protagonista. O
portal EPTIC (www.eptic.com.br), produzido no Observatório de Economia
e Comunicação (OBSCOM), laboratório acadêmico criado em 1995 e
integrante do Núcleo de Pesquisa e Pós-Graduação em Economia (NUPEC) e ao
Departamento de Economia (DEE) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) é
o espaço na Internet em que se localiza, entre outras coisas, a revista EPTIC ON
LINE, cujo diretor é César Bolaño (UFS) e o editor, Valério Brittos (Unisonos),
contando ainda com um extenso conselho editorial, do qual fazem parte vários
dos ícones da EPC mundial5. Com periodicidade quadrimestral, a revista se
encontra no seu décimo primeiro ano de publicação ininterrupta.
Fundada em 2004, a Ulepicc–Brasil decidiu por realizar encontros também
bi-anuais em anos pares, para não coincidir com os congressos da Federação.
O primeiro encontro do Capítulo Brasil foi, assim, realizado em 2006, em
Niterói (RJ), na Universidade Federal Fluminense (UFF) e teve como temática
central “interfaces acadêmicas e sociais do Brasil”, constituindo-se com uma
ocasião de diálogo e debate com outras abordagens da comunicação, envolvendo
essencialmente questões de tecnologia, mídias alternativas e relações com a política.
O objetivo foi aproximar os programas de pós-graduação em Comunicação e
Ciências Sociais afins, especialmente os do Estado do Rio de Janeiro, bem
como organizações da sociedade civil envolvidas na luta pela democratização da
comunicação6.
Essa preocupação com o diálogo interdisciplinar, especialmente no interior
do campo da Comunicação, mas não só, é uma característica muito marcante do
5 Sobre a Rede EPTIC, vide BRITTOS, Valério Cruz. Gênese e constituição da Biblioteca EPTIC. Bibliocom
– Revista de Divulgação, Análise e Crítica da Produção Bibliográfica, Hemerográfica e Reprográfica em Ciências
da Comunicação, São Paulo, v. 1, n. 2, mar./abr. 2009. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/bibliocom/dois/pdf/valeriobrittos.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010.
6 Um dos resultados do evento foi o livro BRITTOS, Valério Cruz; CABRAL, Adilson (Orgs.). Economia
Política da Comunicação: interfaces brasileiras. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. O livro referente ao II Encontro,
de 2008, está em fase de produção, devendo ser lançado durante o III Encontro, em 2010.
178
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
Capítulo Brasileiro e um ponto de força na luta epistemológica maior a que toda
a Ulepicc se vincula, em favor do pensamento crítico e socialmente engajado.
Assim, sem descuidar do rigor científico, e atuando essencialmente nos ambientes
acadêmicos, os pesquisadores vinculados a esse paradigma teórico encaram
a ciência como parte das dinâmicas sociais. Com isso, a Ulepicc reafirma-se
como uma sociedade civil que reúne pesquisadores e profissionais atuantes na
Economia Política da Comunicação, da Informação e da Cultura e se posiciona
explicitamente no campo crítico, colocando a sua capacidade criadora e de seus
membros a serviço da sociedade, ao propor, por exemplo, a formulação de políticas
efetivamente públicas e democráticas de comunicação, informação e cultura.
Essa perspectiva está claramente definida na Carta de Buenos Aires,
produzida em 2001, ao final do I Encontro, que lançou as bases e a estratégia de
constituição daquilo que viria a ser a Ulepicc. A Carta representa os compromissos
éticos e políticos da Ulepicc Federação e de seus capítulos nacionais, situando
a comunicação no capitalismo re-configurado dos anos 2000 e deixando claro
o papel do campo crítico na construção de uma alternativa de comunicação
democrática e libertadora, o que passa por uma alteração da condição atual, de um
mercado altamente oligopolista, vinculado aos interesses políticos e econômicos
hegemônicos.
A segunda edição do encontro ocorreu em 2008, na Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) – Campus de Bauru,
abordando a temática “comunicação e sociedade”, sustentada pela importância
que as tecnologias da informação e da comunicação (TIC) assumiram no
capitalismo contemporâneo, como instrumento de reestruturação do sistema e,
secundariamente, como lugares para novas experiências e possibilidades. Com
foco nas pesquisas de seus integrantes e com convidado do exterior, no caso, Luis
Albornoz, presidente da Ulepicc–Federação, vinculado ao Capítulo espanhol, o
objetivo foi avançar na superação de entraves históricos, reconhecendo-se que,
hoje, a democratização em geral passa pela discussão sobre o papel das tecnologias
sócio-midiáticas, o que requer a ultrapassar os muros acadêmicos.
O III Encontro está programado para outubro de 2010, em Aracaju,
na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Assim, a Ulepicc volta a seu local
de origem, já que sua criação se de naquela cidade, durante o II Colóquio
Internacional “Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento”, organizado pelo GT
de mesmo nome, do CNPq, sediado no OBSCOM/UFS. O IV Colóquio será
realizado, em 2010, como evento paralelo ao III Encontro da Ulepicc–Brasil. A
assembléia de constituição, em 2004, foi convocada por Valério Brittos e César
Bolaño e a primeira diretoria ficou assim constituída: presidente Valério Cruz
Brittos (Unisinos); vice-presidente Othon Jambeiro (UFBA), secretária-geral
Anita Simis (Unesp), tesoureiro Alain Hercovici (UFES) e vogais William Dias
179
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
Braga (UFRJ), Fernando Matos (PUCCAMP), Álvaro Bevenuto Júnior (UCS) e
Verlane Aragão Santos (UFS).
A diretoria seguinte (2006/2008) foi assim formada: presidente Valério Cruz
Brittos (Unisinos), vice-presidente Laurindo Leal Filho (USP), secretária-geral
Anita Simis (UNESP), tesoureira Suzy dos Santos (UFRJ) e vogais William Dias
Braga (UFRJ), Leandro Ramires Comassetto (UnC) e Adilson Carvalho (UFF). A
terceira diretoria (2008/2010) tem na presidência, Anita Simis (UNESP), sendo
os demais cargos assim ocupados: vice-presidente Ruy Sardinha Lopes (USP),
secretária-geral Jacqueline Dourado (UFPI), tesoureira Suzy dos Santos (UFRJ)
e vogais Bruno Lima Rocha (Unesp), Juliano Carvalho (Unesp), Sayonara Leal
(UnB) e William Dias Braga (UFRJ)7.
Sinteticamente, a Ulepicc–Brasil volta-se, dentre outras atividades, para:
realização de eventos, estudos, pesquisas e outras atividades que representem
uma contribuição para o desenvolvimento do campo da Comunicação e afins,
numa abordagem interdisciplinar; promoção do intercâmbio de informações
e experiências entre especialistas da área; efetivação de acordos com entidades
congêneres, institutos e órgãos de fomento à investigação social; publicação de
obras de cunho científico. Tudo para consolidar o campo científico da Economia
Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, organizando a subárea,
em articulação com o pensamento crítico em geral.
Desde o segundo semestre de 2007 o Capítulo Brasil da União Latina de
Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (Ulepicc–Brasil)
mantém um sítio na internet. O objetivo é promover o debate crítico no interior
da comunidade acadêmica, favorecendo a integração e a produção coletiva de
conhecimento, dinamizando a rede de cooperação para o estudo do campo
midiático, das políticas culturais e dos processos de comunicação e informação. O
sitio é vinculado ao portal da Ulepicc–Federação, ambos inicialmente produzidos
no interior do portal Eptic, com a utilização da linguagem PHP – padrão 5 – de
software livre, sob a forma de bancos de dados em MySql, hospedado em um
7 Vale ressaltar que todos os membros de todas as diretorias citadas são professores doutores de reconhecida
competência na área, com produção regular e elevados índices de produtividade, ainda que com diferentes níveis
de maturidade acadêmica. Isto significa que a EPC brasileira – que evidentemente não se limita a esses indivíduos – forma um bem consolidado programa de investigação em nível nacional, vinculado àquele mais amplo
da EPC latina e mundial. Para uma visão mais ampla da situação atual em termos de número de pesquisadores
e programas de pós-graduação que albergam grupos de EPC, vale consultar o seguinte trabalho apresentado ao
GT de Economia Política e Políticas de Comunicação da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS): BRITTOS; Valério Cruz; BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; ROSA, Ana Maria Oliveira.
O GT “Economia Política e Políticas de Comunicação” da COMPÓS e a construção de uma epistemologia
crítica da Comunicação. In: ENCONTRO NACIONAL DA COMPÓS, 19., 2010, Rio de Janeiro. Anais ...
Rio de Janeiro: Compós, 2010. 1 CD. Para uma discussão de ordem epistemológica e interdisciplinar partindo
do campo brasileiro da EPC, em diálogo com autores de outras origens, vide BOLAÑO, César Ricardo Siqueira
(Org). Comunicação e a crítica da Economia Política: perspectivas teóricas e epistemológicas. Aracaju: Editora
UFS, 2008.
180
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
servidor Apache, em sintonia com as mais recentes tendências de produção digital
convergente. O site divulga atividades da ULEPICC, além de eventos, produções
acadêmicas e notícias de interesse tanto da entidade quanto do público ligado
à área de Comunicação ou interessado no debate das políticas de informação,
comunicação e cultura.
Destaca-se ainda a atuação permanente da Ulepicc-Brasil no processo de
formação da Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de
Comunicação (Socicom)8. Primeiramente a entidade integrou, através de seu
então presidente Valério Brittos, a comissão que formulou a proposta de criação
da federação, com a convicção da necessidade da relevância da instituição de uma
entidade para representar os interesses da área de comunicação como um todo,
em particular frente às agências de fomento e os órgãos de governo, contribuindo
na elaboração de uma política de ciência e tecnologia. Formada a Socicom, a
Ulepicc conta com dois de seus membros em cargos diretivos: Anita Simis é
diretora administrativa e César Bolaño, presidente do Conselho Consultivo.
Referências bibliográficas e sites
BOLAÑO, César Ricardo Siqueira (Org). Comunicação e a crítica da Economia
Política: perspectivas teóricas e epistemológicas. Aracaju: Editora UFS, 2008.
BRITTOS, Valério Cruz. Gênese e constituição da Biblioteca EPTIC.
Bibliocom – Revista de Divulgação, Análise e Crítica da Produção Bibliográfica,
Hemerográfica e Reprográfica em Ciências da Comunicação, São Paulo, v. 1, n.
2, mar./abr. 2009. Disponível em: http://www.intercom.org.br/bibliocom/dois/
pdf/valeriobrittos.pdf. Acesso em: 20 jun. 2010.
BRITTOS; Valério Cruz; BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; ROSA,
Ana Maria Oliveira. O GT “Economia Política e Políticas de Comunicação” da
COMPÓS e a construção de uma epistemologia crítica da Comunicação. In:
ENCONTRO NACIONAL DA COMPÓS, 19., 2010, Rio de Janeiro. Anais ...
Rio de Janeiro: Compós, 2010. 1 CD.
BRITTOS, Valério Cruz; CABRAL, Adilson (Orgs.). Economia Política
da Comunicação: interfaces brasileiras. Rio de Janeiro: E-papers, 2008.
8 Do mesmo modo a ULEPICC–Federação participou ativamente da formação da Confederação Ibero-Americana das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (Confibercom), tendo dois representantes na
sua primeira diretoria.
181
182
CAPÍTULO 9
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação
Organizacional e das Relações Públicas
Ivone de Lourdes Oliveira1
Introdução
Para além do conhecimento organizacional e nas interfaces com outros
conhecimentos, a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas
constituem hoje um campo acadêmico já institucionalizado, o qual promove
estudos e pesquisas sobre as práticas comunicativas das/nas organizações, a
partir dos relacionamentos com seus públicos. Considerar esse campo como
acadêmico é trabalhar simultaneamente três dimensões: o corpus teórico que
fundamenta o campo e dá estrutura curricular aos cursos de graduação e pósgraduação, a consequente evolução das pesquisas impulsionadas pelas inovações
nas abordagens teóricas e a contribuição das associações que contribuem para as
pesquisas acadêmicas e para dar visibilidade às práticas de mercado.
Nas relações entre organização e os grupos que afetam as práticas
comunicativas e/ou são afetados por elas, aspectos multidisciplinares se
evidenciam conforme a natureza e o objetivo dessas relações, o que faz com
que as pesquisas se voltem à análise de diversas temáticas. Tanto o ambiente
intraorganizacional, com as teorias administrativas (marketing, gestão de pessoas,
uso estratégico das tecnologias), quanto no ambiente interorganizacional, em seus
aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos, compõem a multiplicidade de
temas que fazem parte dos estudos e pesquisas, numa perspectiva multivariada,
que busca compreender a co-relação entre a sociedade e os processos/estruturas
organizacionais, os quais se condicionam mutuamente.
Curvello (2009), num mapeamento de 284 artigos apresentados no Núcleo
de Pesquisa de Relações Públicas e Comunicação Organizacional da Intercom, nos
anos de 2001 a 2008, reforça a transdisciplinaridade das pesquisas que atravessam
temas diversos, sendo os mais abordados, cultura organizacional, tecnologia,
linguagem, imagem, identidade, discurso, relação com consumidor, marketing
social, marketing institucional, ética, poder, conflitos, sustentabilidade.
Se por um lado o cenário atual do campo da Comunicação Organizacional
e das Relações Públicas apresenta
institucionalização e reconhecimento
1 Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações Públicas
(Abracorp). Pesquisadora da área de Comunicação, com ênfase em Comunicação Organizacional. É professora
adjunta da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Leciona no Mestrado de Comunicação sobre
Interações Midiáticas. É diretora da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas.
183
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
acadêmicos, com cursos de graduação e pós-graduação (lato e stricto sensu),
publicações científicas, grupos de pesquisa, congressos nacionais e internacionais
específicos, por outro deve-se reconhecer que limites ainda precisam ser superados.
Os estudos de Curvello (2009) apontam o estabelecimento de um corpus teórico
mais robusto e homogêneo, a integração dos grupos de pesquisa, a reflexão
epistemológica, mas mostram também a necessidade de aperfeiçoamento dos
métodos como desafios a serem superados. Nessa mesma direção, Kunsch (2006)
comenta acerca da polissemia do termo Relações Públicas que, segundo a autora,
gera pouca legitimação junto aos governos e organizações por estes desconhecerem
o seu verdadeiro significado.
Embora esses limites ainda persistam, eles são necessários ao desenvolvimento
da Comunicação Organizacional e Relações Públicas, enquanto campo
acadêmico. Na breve trajetória histórica do surgimento e desenvolvimento das
Relações Públicas, que como atividade profissional no Brasil está próxima de
completar seu centenário, pode-se perceber uma evolução cognitiva no modo de
concebê-la e praticá-la. De simples atividade profissional, tecnicamente concebida
como ferramenta a serviço da administração (Reis, 2009), as Relações Públicas
se configuram, hoje, como um campo acadêmico e profissional em constante
aperfeiçoamento e ampliação de sua legitimidade junto à academia e ao mercado.
Trajetória histórica das Relações Públicas e Comunicação Organizacional
Antes de iniciar o relato histórico, é importante ressaltar que o atual cenário
do campo das Relações Públicas e da Comunicação Organizacional é resultado
de decisões e tendências que fazem parte da trajetória da atividade profissional,
da produção acadêmica, evolução das teorias, metodologias e pesquisas. As
associações que fomentam a articulação entre mercado e academia, sendo, por
vezes, as responsáveis por apresentar inovações práticas e antever tendências e
desafios. Assim, esta breve trajetória histórica pretende contextualizar esses três
âmbitos de atuação que juntos, cada qual na especificidade de seu propósito,
contribuem para o desenvolvimento e aprimoramento do campo em questão.
Na perspectiva da atividade profissional, as Relações Públicas iniciaram
sua trajetória no Brasil há quase um século, nos anos 1914, com a implantação
do primeiro departamento de RP na multinacional canadense Light and Power,
atual Eletropaulo (Eletricidade de São Paulo S.A.). Neste início, e principalmente
na década de 1950 e no subsequente período militar com o incentivo nacional
da política de desenvolvimento industrial (Kunsch, 2006), as Relações Públicas
constituíram menos como um campo acadêmico e mais como uma atividade
profissional que, junto com as indústrias de comunicação (agências de propaganda,
institutos de pesquisa, conglomerados de jornais, revistas e rádios), ganhavam
184
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
espaço e aplicabilidade nas organizações privadas e estatais daquela época2.
Em 11 de dezembro de 1967, a profissão de Relações Públicas foi
oficializada pela lei nº 5.377 e, em setembro de 1968, regulamentada e aprovada
pelo decreto-lei nº 63.283, vinculando a atividade aos bacharéis do curso de
Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas. Esta regulamentação foi
um fato controverso, já que as Relações Públicas ainda não eram reconhecidas
pela sociedade como campo acadêmico. Sua regulamentação se deu sob o regime
militar brasileiro, na dubiedade do controle e da fiscalização, o que lhe rendeu
a imagem de atividade meramente capitalista, suspeita e enganosa, (Kunsch,
2006), que carrega ainda hoje uma desconfiança.
Contudo, foi essa regulamentação que despertou algumas reflexões
epistemológicas acerca da natureza administrativa e comunicacional das Relações
Públicas3(Reis, 2009) que se formou, segundo Kunsch (2006), toda a estrutura
acadêmica e dos órgãos de classe que, em suas respectivas atuações, contribuíram
para o início da institucionalização das Relações Públicas não só como profissão,
mas também como campo acadêmico.
Com a reabertura política e a redemocratização do Brasil, na década de 1980,
as organizações remodelam suas estruturas e um processo estratégico começa a
se instalar na gestão da comunicação, que passa a adotar uma perspectiva mais
integrada. É nesta década que as inovações teóricas e de mercado acontecem e dão
um salto qualitativo à atividade profissional. Em 1985 ocorre um movimento, a
partir da experiência da empresa Rhodia, de integração das atividades de jornalismo
(assessoria de imprensa e publicações), relações públicas (projetos institucionais
e comunitários) e publicidade, (marketing, pesquisa de mercado, e atendimento
ao consumidor) desenvolvidas no ambiente organizacional na perspectiva do
campo, de forma a entender a globalidade dos processos comunicacionais das/nas
organizações. Neste momento surgem os primeiros estudos sobre a comunicação
neste contexto, denominada de comunicação organizacional.
Ocorre, então, um processo de redefinição estratégica, tanto teórica quanto
prática, que atinge seu ápice na década de 1990 e vem numa crescente até
2 Segundo Kunsch (2006), data de 1951, em Volta Redonda (RJ), a implantação do primeiro departamento de
Relações Públicas auteticamente nacional, na Companhia Siderúrgica Nacional; e de 1952, a primeira consultoria que prestava serviços de Comunicação Social, em São Paulo, a Companhia Nacional deRelações Públicas
e Propaganda. Reis (2009) apresenta um dado que indica o “volume expressivo” de empresas e profissionais na
década de 1960: “mais de trezentas grandes empresas brasileiras possuem (...) departamento regulares e ativos
de relações públicas e muitas dependências governamentais instituíram departamentos semelhantes, como a
própria Presidênciada República. (...) Cerca de 5000 pessoas estão profissionalmente empenhadas em atividades
derelações públicas.” (REIS, apud CHAVES, 1966, p.7)
3 Reis (2009), tomando como referência Kunsch (2005), relata que no período mais duro da ditadura militar,
“um decreto federal originado da sugestão de um relações-públicas a um deputado amigo, levou à regulamentação da profissão, sem discussões mais amplas com a categoria.” (Reis, 2009, p.142)
185
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
contemporaneidade4, quando a globalização, as novas tecnologias e a ascensão
do mercado consumidor, das relações comunitárias e globais de sustentabilidade,
passam a exigir gestão estratégica dos relacionamentos das organizações com a
sociedade.
Do ponto de vista da formação acadêmica, foi na década de 1960 que
os cursos de graduação começaram a se institucionalizar. O primeiro curso de
Comunicação Social a oferecer habilitação em Relações Públicas foi a Escola de
Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo - ECA/USP em 19675. É
na década de 1970 que surgem novos cursos de graduação e também os primeiros
cursos de pós-graduação que contribuíram, sobremaneira, para a evolução
das pesquisas e o incremento do corpus teórico do campo da Comunicação
Organizacional e Relações Públicas 6.
A partir de sucessivas reformas curriculares e da atuação do Ministério da
Educação, o campo acadêmico da Comunicação Social é formatado de modo a
pertencer ao âmbito das Ciências Sociais Aplicadas e a abranger várias habilitações
- Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e TV, Cinema, Produção Editorial/
Editoração - dentre elas, as Relações Públicas.
A consolidação do campo da Comunicação Organizacional e Relações
Públicas
Incentivados pelas pesquisas dos programas de pós-graduação ao longo dos anos
1990, as Relações Públicas deixam de adotar uma perspectiva técnico-operacional,
com valorização excessiva das ferramentas de comunicação para aproximarem-se,
conforme Reis (2009), de uma visão mais holística da comunicação nas e das
organizações.
A autora, com objetivo de configurar uma identidade disciplinar para as
Relações Públicas e Comunicação Organizacional, faz uma contextualização
histórica do campo, a qual pode nos ajudar a compreender o processo de
questionamento da perspectiva técnico-instrumental. Os primeiros cursos de
formação profissional nos anos 1950 foram ofertados por iniciativa da Escola
de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (RJ), antes mesmo da
4 Reis (2009), tendo por referência Fausto (2006) contextualiza historicamente os anos 1990, período em que
ocorre uma “súbita incorporação do Brasil à realidade da globalização (...) foi em 1990 que o então presidente
Fernando Collor de Mello promoveu a abertura econômica do país, praticamente jogando as empresas nacionais
em uma realidade concorrencial de características absolutamente inesperadas, algo para a qual o mercado brasileiro, protegido desde a época da instauração da ditadura, não estava preparado.” (Reis, 2009, p.155)
5 Mais a frente, Reis (2009) contextualiza de forma mais precisa os primeiros cursos de Relações Públicas ligados
inicialmente às escolas de administração.
6 Curvello (2009) faz um levantamento do cenário da pesquisa sticto sensu a partir do diretório da CNPQ e
chega a 49 grupos de pesquisa de Comunicação Organizacional e 172 de Relações Públicas.
186
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
existência das escolas de comunicação no final dos anos 1960. Segundo Reis
(2009, p.141), “a formação para a profissão se dava tanto em nível técnico, por
meio dos cursos ofertados quanto por instituições, como pelo Departamento
Administrativo do Serviço Público (Dasp), quanto como parte de cursos de
nível superior da área da administração.” Isso indica que, nos primeiros tempos,
a administração era o campo do conhecimento que mais se empenhava no
entendimento da atividade e na formação dos profissionais da área.
Compreender a atividade e capacitar os profissionais do ponto de vista
técnico-operacional eram demandas daquela época e com essa necessidade,
surgem as primeiras publicações nacionais especializadas, numa tradição
evidentemente prescritiva dado a conjuntura. Em 1963, Cândido Teobaldo
de Souza Andrade publica “Para entender as Relações Públicas” e aparecem os
manuais que prescrevem técnicas e programas de implantação da comunicação
de resultados. (Reis, 2009)
Em termos de produção e pesquisa acadêmicas, a regulamentação da
atividade de Relações Públicas junto aos cursos de Comunicação Social foi,
conforme Reis (2009) isenta de uma reflexão teórica e crítica, o que deixou
um vazio “identitário-epistemológico” quanto à natureza do conhecimento das
Relações Públicas.
Ressaltamos que, embora a pesquisa tenha chegado às Relações Públicas
com os cursos de mestrado implantados na ECA-USP e na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na década de 1970, os propósitos não eram
“epistemológicos (no sentido) de ajudar a identificar e caracterizar um novo
campo (ou sub-campo) disciplinar e sim, de subsidiar a busca da eficiência e
eficácia da atuação profissional.” (Reis, 2009, p.145)
Temos, ainda na década de 1970, uma expansão da base conceitual das
Relações Públicas que, em função do contexto sócio-político, adquirem uma
perspectiva mais crítica. Ainda de acordo com Reis (2009, p.147), novas frentes
de interesse ligadas aos movimentos sociais de participação, inserção social,
relações de trabalho proporcionaram uma “visão mais ampla, humanizada e
politizada da questão da comunicação (...)” e as reformas curriculares incluíram
disciplinas como comunicação comunitária, comunicação rural, comunicação
popular, mobilização social. Nesse movimento crítico, o público interno das
organizações torna-se objeto de estudo e em 1982, numa perspectiva inovadora,
Cicilia Peruzzo publica sua dissertação de mestrado no livro “Relações Públicas
no modo de produção capitalista”.
Essa contextualização é importante e necessária para entendermos porque,
só a partir das décadas de 1980 e 1990, condicionadas pelas mudanças sociais,
políticas e econômicas que afetaram as organizações, surgem os estudos sobre
187
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
Comunicação Organizacional. A produção acadêmica torna-se menos normativa e
mais explicativa, interpretativa, na construção teórica e de inovação metodológica
que fundamentam o campo. Sem essa “identidade disciplinar” que nos primeiros
tempos não foi bem definida (Reis, 2009), o desafio de chegar a uma base
conceitual mais coesa e fundamentada, bem como integrar os diversos grupos de
pesquisas num raciocínio mais uniforme, persiste até hoje.
A perspectiva integrada, processual, estratégica e de interlocução
entre organização e públicos confere às Relações Públicas e à Comunicação
Organizacional uma fundamentação teórica e uma concepção que as levam para
uma reflexão mais especializada e coloca a discussão na indicação da interface com
outros conhecimentos. O termo comunicação organizacional passa a ser utilizado
“de forma incipiente, para representar essa concepção mais ampla da atividade de
relações públicas.” (Reis, 2009, p.151) É importante lembrar que os dois livros
“Processo de Relações Públicas” (Hebe Wey, 1983) e “Planejamento das Relações
Públicas na Comunicação Integrada ( Margarida Kunsch ,1986) tornaram-se as
referências conceituais utilizadas e discutidas no ambiente acadêmico.
A partir da década de 1990 inicia-se uma discussão epistemológica,
provocando mudanças no campo, reflexo da produção nos cursos de pósgraduação sricto sensu. Embora o número de doutores e mestres ainda fosse
pequeno, o diálogo com outras áreas de conhecimento, especialmente com as
teorias de comunicação, dando menos ênfase às teorias administrativas foi
ganhando espaço acadêmico. Os estudos e pesquisas da área caminham para a
transdisciplinaridade, caracterizando a produção científica do campo das Relações
Públicas e Comunicação Organizacional.
A criação de entidades e associações, de acordo com Kunsch (2006) marca
também o crescimento da área das Relações Públicas. A criação, em 1954, da
Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP), responsável, naquela época,
por realizar congressos, seminários e promover o intercâmbio com universidades
de outros países é um marco histórico significativo.
No início da década de 1980, a ABRP criou-se o Prêmio Opinião Pública
com o objetivo de homenagear os melhores trabalhos de Relações Públicas
desenvolvidos pelas organizações públicas, privadas e/ou não-governamentais e
para atender o campo acadêmico criou o Concurso Universitário de Monografias
e Projetos Experimentais que até os dias atuais estimulam a produção intelectual
nos cursos de graduação.
Juntamente com a criação dos primeiros cursos de pós-graduação stricto
sensu nos anos de 1970, nascem também os espaços de discussão nas associações
científicas, que desenvolvem um papel fundamental de institucionalizar do
debate acadêmico. Essa é a contribuição da Intercom – Sociedade Brasileira de
188
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
Estudos Interdisciplinares da Comunicação criada no final da década de 1970.
No entanto, a área de Relações Públicas concretiza sua participação somente em
1988, no seu XI Congresso Brasileiro realizado em Viçosa- Minas Gerais com
o I Simpósio Brasileiro de Relações Públicas coordenado por Ivone de Lourdes
Oliveira
As Relações Públicas e a Comunicação Organizacional só são representadas
nos da Intercom em 1992 Grupos de Trabalho (Gs) com a criação do Grupo de
Relações Públicas e do GT de Comunicação Organizacional. Em 2001 as duas
áreas se juntaram e foi constituído o Núcleo de Pesquisa de Relações Públicas e
Comunicação Organizacional, numa proposta de pesquisa multidisciplinar. Este
espaço de discussão teórica e produção acadêmica foram fundamentais para o
crescimento e o processo de consolidação do campo acadêmico.
A Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) criada em
1967, contribui também para o crescimento acadêmico dos campos analisados,
já que reúne cerca de mil organizações públicas e privadas e tem como missão
compartilhar o conhecimento de comunicação produzido. Além disso, preocupase em difundir e discutir práticas de vanguarda e inovação na gestão das estratégias
de relacionamento das organizações com a sociedade.
A mais recente entidade científica é a Associação Brasileira de Pesquisadores
Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Abrapcorp) criada em 2006,
abrindo um importante capítulo da trajetória histórica e consolidação do campo.
Abrapcorp - um marco histórico
Durante o I Fórum de Pesquisadores de Relações Públicas e Comunicação
Organizacional, realizado em São Paulo em outubro de 2005 sob a coordenação
da professora Margarida Kunsch, profissionais e pesquisadores votam, em
uníssono, pela criação da associação científica Abrapcorp com fins de organizar
a comunidade de pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações
Públicas do Brasil para ter maior representatividade junto ao Ministério de
Ciência e Tecnologia, ao CNPq e aos demais órgãos de fomento à pesquisa, bem
como na própria comunidade da área de comunicação do país.
Atualmente é uma associação indutora e reverbera Dora de pesquisa, que
integra pesquisadores e se propõe a provocar a reflexão epistemológica, aproximar
os grupos de pesquisa, investir na pesquisa conjunta, na teorização e no
aperfeiçoamento dos métodos de investigação. Com quatro anos de vida, podemos
afirmar que a associação está consolidada, possui identidade e respeitabilidade no
campo da comunicação no Brasil e se tornou conhecida internacionalmente.
A Abrapcorp realiza, por ano, um congresso brasileiro com participação
189
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
de pesquisadores internacionais, que ministram cursos em parcerias com os
programas de pós-graduação nas universidades, onde são realizados os congressos.
Já foram desenvolvidos cursos nos programas de pós-graduação da Escola de
Comunicações e Artes da USP, na Faculdade de Comunicação e Artes da PUCMinas, da PUCRS e da UFRGS em Porto Alegre.
Com a preocupação de torna-se um espaço abrangente de debate e acolher
às tendências de pesquisa, a Associação se constituiu em sete grupos de trabalho
(GTs) que consubstancializam a diversidade da produção e da pesquisa do
campoi. São eles: Teorias, história e metodologia dos estudos em Comunicação
Organizacional e Relações Públicas coordenado por Maria Aparecida Ferrari da
USP; Gestão, processos, políticas e estratégias de comunicação nas organizações
sob a coordenação de Cleusa Andrade Scroferneker da PUCRS; Comunicação
digital, inovações tecnológicas e os impactos nas organizações, coordenado por
Elisabeth Saad Corrêa da USP; Linguagem, retórica e análise dos discursos
institucionais, sob a coordenação de Luiz Carlos Assis Iasbeck do UCB; Relações
Públicas comunitárias, comunicação no terceiro setor e responsabilidade social,
coordenado por Márcio Simeone Henriques da UFMG; Comunicação pública,
governamental e política, coordenado por Maria Helena Weber da UFRGRS
e a partir de 2009 por Ana Lúcia Coelho Romero Novelli da UCB e o de
Iniciação Científica coordenado por Valéria de Serqueira Castro Lopes, que tem
a preocupação de formar jovens pesquisadores, incentivando a apresentação de
reflexões desenvolvida nos projetos de conclusão de curso de graduação e dos
projetos de iniciação científica
A análise quantitativa dos trabalhos apresentados nesses Grupos de Trabalhos
(GTs), totalizando 272 artigos no decorrer dos quatro anos de sua realização
(2007 a 2010) demonstra uma vasta produção acadêmica. Fica, no entanto,
um trabalho qualitativo a fazer, tanto junto aos coordenadores de GT´s que
acompanharam por quatro anos a evolução das produções acadêmicas, quanto
uma análise dos conteúdos apresentados, evidenciando as tendências teóricas, as
metodologias utilizadas, as discussões geradas e os avanços propostos. A produção
acadêmica quantitativamente é assim representada:
190
GT 1
Nº de trabalhos
GT 2
Nº de trabalhos
2007
12
2007
14
2008
06
2008
12
2009
06
2009
14
2010
08
2010
18
Total
32
Total
58
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
GT 3
Nº de trabalhos
GT 4
Nº de trabalhos
2007
08
2007
08
2008
05
2008
06
2009
10
2009
12
2010
11
2010
11
Total
34
Total
37
GT 5
Nº de trabalhos
GT 4
Nº de trabalhos
2007
07
GT 6
Nº de trabalhos
2008
08
2007
06
2009
06
2008
07
2010
05
2009
06
Total
26
2010
07
Total
26
O questionamento dos modelos tradicionais, da perspectiva funcionalista e
das influências dos estudos da Administração que tratavam a comunicação como
ferramenta no contexto organizacional, transformaram o campo e o levou a um
patamar diferenciado. As questões epistemológicas passam a ser estudadas e são
notórias as mudanças dos temas pesquisados e das posturas dos pesquisadores:
Discurso e retórica organizacional; Questões epistemológocas do campo; Novas
tecnologias no espaço organizacional; Marca/Imagem e reputação; Avaliação e
Mensuração; Responsabilidade social e sustentabilidade.
A Revista “Organicom”, lançada em 2004, com periodicidade semestral é
um instrumento efetivo de debate e aproximação entre os estudos acadêmicos e
experiências profissionais.
Consolidação da produção acadêmica
Para identificar e caracterizar os lócus de produção da pesquisa brasileira no
campo da Comunicação Organizacional e Relações Públicas, Curvello (2009)
identifica os programas de mestrado e doutorado, que têm explicitamente linhas
de pesquisa vinculadas ao campo em questão. Acrescenta-se a esta dimensão os
pesquisadores que fomentam as pesquisas, através dos grupos de pesquisa, em
suas respectivas instituições nos programas de pós-graduação.
Na Escola de Comunicação e Artes (USP) a linha de pesquisa que trabalha
as temáticas da área é denominada Políticas e Estratégias de Comunicação. Fica
191
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
evidente a multiplicidade de temas relacionados à Comunicação Organizacional
que o programa abarca, num trabalho de interface com outros conhecimentos e
num alinhamento com a realidade organizacional e social da contemporaneidade.
Dentre os pesquisadores, encontram-se Maria Aparecida Ferrari, Mitsuru Higuchi
Yanaze, Paulo Roberto Nassar de Oliveira e Margarida Maria Krohling Kunsch,
A Universidade Metodista de São Paulo – UMESP tem na figura de Wilson
da Costa Bueno um pesquisador importante para o campo. A linha de pesquisa
dessa instituição Processos de Comunicação Institucional e Mercadológica busca uma
integração entre áreas que contemple as interfaces entre comunicação e consumo,
processo de gestão, estratégia empresarial, mobilização social, construção das
marcas e a correlação entre imagem, reputação das organizações.
Na PUC do Rio Grande do Sul, a linha de pesquisa parte de uma perspectiva
mais ampla da comunicação e engloba aspectos do campo da comunicação
organizacional, denominada Das práticas profissionais e processos sócio-políticos nas
mídias e na comunicação das organizações, A linha de pesquisa tem como principais
pesquisadoras Cláudia Peixoto Moura e Cleusa M. A. Scroferneker.
Ainda na região Sul, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
a linha de pesquisa denomina-se Mediações e Representações Culturais e Políticas e o
campo da Comunicação Organizacional e Relações Públicas encontra-se inserido no
macro campo de pesquisa da Comunicação Social. Karla Muller, Maria Helena
Weber e Rudimar Baldissera são pesquisadores ligados a essa instituição.
Na Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, a linha Mídia e Estratégias
Comunicacionais diz respeito às estratégias que a esfera midiática promove na
articulação com os demais cursos, incluindo nessa linha as estratégias de
comunicação organizacional. As pesquisadoras Maria Ivete T. Fossá e Eugênia
Maria. M. R. Barichello trabalham com a gestão da comunicação e modelos de
comunicação institucional.
Em Minas, a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e a Pontifícia
Universidade católica de Minas Gerais - PUC-Minas não explicitam as temáticas
da Comunicação Organizacional e Relações Públicas em suas linhas de pesquisa.
As pesquisas sobre a comunicação no contexto organizacional no Programa de pósgraduação da PUC-Minas são desenvolvidas, na linha de pesquisa Midiatização
e Processos de Interação. Ana Luisa de Castro Almeida desenvolve pesquisas sobre
imagem e reputação e Ivone de Lourdes Oliveira, com o grupo “Comunicação
no contexto organizacional: aspectos teóricos-conceituais”, busca aprimorar os
referenciais teóricos que fundamentam o campo da Comunicação Organizacional
e Relações Públicas., Na UFMG Márcio Simeone Henriques compõe o grupo de
docentes que estão na linha de pesquisa Processos Comunicativos e Práticas Sociais
e Maria do Carmo Reis, por muitos anos, foi a referência de pesquisadora na
192
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
temática sobre Comunicação Organizacional e Relações Públicas neste programa
de pós-graduação .
No recente mestrado criado na Universidade Católica de Brasília (UCB), a
linha de pesquisa Processos comunicacionais nas organizações faz menção explícita ao
campo. Desenvolve pesquisas relacionadas às temáticas como relações de poder,
jogos de cooperação e competição, imagem, identidade, discursos institucionais,
e estratégias de comunicação. O quadro de pesquisadores da linha é composto
pelos professores João José Azevedo Curvello, Luiz Carlos Assis Iasbeck, Ana
Lúcia Coelho Romero Novelli e Jorge Antônio Menna Duarte, estes dois últimos
como professores colaboradores externos.
Considerações Finais
A partir do cenário traçado, podemos concluir que o campo acadêmico da
Comunicação Organizacional e das Relações Públicas se encontra configurado e
em processo de consolidação. A produção científica e a pesquisa crescem cada dia
mais e os grupos de pesquisa se fortalecem no diretório do CNPq. Atualmente
são registrados 49 grupos que desenvolvem pesquisas sobre Comunicação
Organizacional e 172 que trabalham com Relações Públicas.
No ano de 2010, ocorreu a conquista de um espaço fundamental para as
reflexões epistemológicas, com a criação na Compôs do GT Comunicação em
contextos organizacionais.
Não poderia deixar de mencionar neste texto a importância de Margarida
Maria Krolling Kunsch para o crescimento e avanço deste campo. Ela é uma
pesquisadora de referência nacional, liderança que sempre esteve à frente de todas
as iniciativas de desenvolvimento das experiências acadêmicas e de implantação
de espaços de reflexão sobre as temáticas analisadas. Não se cansa de lutar pelo
aprimoramento deste campo acadêmico e pelas novas possibilidades que surgem
na contemporaneidade.
A sociedade contemporânea, que tem as organizações como centralidade
exige da comunidade acadêmica entender sua complexidade e as novas exigências
buscando ultrapassar os limites de uma ciência positivista e do corporativismo
sem eco nos ambientes sociais e organizacionais.
Referências Bibliográficas e Sites
CURVELLO, João José. Relações Públicas e comunicação organizacional
no Núcleo de Pesquisa da Intercom. In: Relações Públicas e comunicação
organizacional: campos acadêmicos e aplicados de múltiplas perspectivas.
São Caetano de sul, SP: Difusão Editorial, 2009.
193
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
KUNSCH, Margarida M. Krohling. Gestão das Relações Públicas na
contemporaneidade e a sua institucionalização profissional e acadêmica no Brasil.
In: Organicom, ano 3, nº 5 (2º semestre de 2006), São Paulo: GESTCORP/
ECA/USP, 2006.
REIS, Maria do Carmo. A construção de uma identidade disciplinar e de
um corpus teórico para os estudos de comunicação organizacional e relações
públicas no Brasil. In: Relações Públicas e comunicação organizacional:
campos acadêmicos e aplicados de múltiplas perspectivas. São Caetano de sul,
SP: Difusão Editorial, 2009.
194
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e
de Relações Públicas – Abrapcorp
Margarida M. Krohling Kunsch7
Histórico
A Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas (Abrapcorp) foi criada no dia 13 de maio de 2006,, em São
Paulo (SP), por ocasião do I Fórum Nacional em Defesa da Qualidade do Ensino
de Comunicação - Endecom 2006, promovido pela Escola de Comunicações
e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pela Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). A finalidade principal foi
estimular o fomento, a realização e a divulgação de estudos avançados dessas áreas
no campo das Ciências da Comunicação.
A iniciativa concreta de reunir pesquisadores dessas áreas na forma de uma
associação surgiu em outubro de 2005, durante o I Fórum de Pesquisadores
de Relações Públicas e Comunicação Organizacional, que teve lugar na ECAUSP, em São Paulo (SP) e .no qual se debateu a proposta de reclassificação da
nova Tabela das Áreas de Conhecimento do CNPq – Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Essa nova entidade expressa a existência de uma comunidade atuante
de pesquisadores, originariamente integrados aos núcleos de pesquisa de
Comunicação Organizacional e de Relações Públicas da Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)8, hoje a maior e mais
importante associação das Ciências da Comunicação no País. Entidade autônoma,
a Abrapcorp, junto com outras doze associações, se vincula à Federação Brasileira
das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (Socicom), instituída
em setembro de 2008.
Com a fundação da Abrapcorp, um novo capítulo foi acrescentado à
história desses campos do conhecimento que florescem e se consolidam cada vez
mais no conjunto das Ciências da Comunicação. A existência de uma entidade
científica nesse contexto exerce um papel fundamental para estimular o fomento,
a realização e a divulgação de estudos avançados resultantes de pesquisa e que
possam contribuir para a transformação da sociedade, das instituições e das
organizações.
7. Ex-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações Públicas
(Abrapcorp) e Diretora de Relações Internacionais da Socicom .Professora titular da Escola de Comunicações
e Artes Universidade de São Paulo. Ex-presidente da ALAIC e da Intercom. Tem vários livros publicados sobre
Relações Públicas e Comunicação Organizacional.
8 Para mais informações sobre a Intercom, consultar www.intercom.org.br
195
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
Objetivos
Com base no seu estatuto, a Abrapcorp tem como objetivos norteadores:
• Congregar pesquisadores de qualquer área do conhecimento, vinculados
ou não a organizações acadêmicas, científicas e profissionais, que tenham
por objeto de estudo a comunicação sob todas as suas perspectivas e
aplicações, em especial aqueles que se dedicam a temática da Comunicação
Organizacional e das Relações Públicas;
• Contribuir para o desenvolvimento intelectual de seus associados, por
meio do intercâmbio de experiências entre eles e outras organizações, para a
difusão do conhecimento científico da Comunicação Organizacional e das
Relações Públicas;
• Contribuir, por meio de estudos científicos da Comunicação
Organizacional e das Relações Públicas, para maior valorização e
democratização dessas atividades no ambiente acadêmico, profissional e
social;
• Contribuir para o desenvolvimento do País, promovendo e difundindo
o exercício da comunicação como forma de colaborar no processo
democrático;
• Representar os interesses dos associados perante a sociedade, junto às
associações congêneres e em fóruns competentes.
Estrutura organizacional
A Abrapcorp tem como órgãos gestores a Assembléia Geral e a Diretoria Executiva,
formada por presidente, vice-presidente, diretor administrativo, diretor
científico, diretor editorial e diretor de relações públicas. São órgãos auxiliares da
entidade o Conselho Consultivo e o Conselho Fiscal. O mandato dos membros
da Diretoria Executiva e dos Conselhos é de dois anos, podendo eles ser reeleitos
para apenas um período subseqüente.
Frentes de atuação
Nestes quatro primeiros anos de existência da entidade, os esforços se concentraram
na criação de uma infraestrutura básica para o funcionamento da Secretaria, nas
providências para os registros jurídicos e contábeis, na institucionalização do
Congresso Anual, na formatação da dinâmica dos Grupos de Trabalhos Temáticos
(GTs Abrapcorp), na construção do site e na publicação de livros, entre outras
iniciativas em curso.
196
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
Congressos anuais
O I Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas – Abrapcorp 2007 foi realizado nos dias 3, 4 e 5 de maio do
ano de 2007, com a presença de pesquisadores e estudantes de todas as regiões do
Brasil e, também, de convidados internacionais dos Estados Unidos, da Europa e
da América Latina. Tendo como tema central “A Comunicação Organizacional e
as Relações Públicas no século XXI: um campo acadêmico e aplicado de múltiplas
perspectivas”, o evento confirmou que, tanto no âmbito acadêmico quanto na
esfera do próprio mercado de trabalho, existe hoje no País uma massa crítica capaz
de debater as interfaces, as modalidades e a produção científica nas duas áreas. O
congresso teve lugar na Universidade de São Paulo, tendo sido promovido em
parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
O II Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas – Abrapcorp 2008 aconteceu nos dias 28, 29 e 30 de abril de
2008, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), em
Belo Horizonte (MG), reunindo pesquisadores e estudantes das duas áreas de todo
o Brasil O tema central foi “Comunicação, sustentabilidade e organizações”, em
torno do qual se discutiram, entre outras questões, a contribuição da comunicação
para a sustentabilidade das organizações, ética e transparência nas organizações e
avaliação da ação comunicativa na sustentabilidade organizacional. Realizado em
parceria com a Faculdade de Comunicação e Artes da PUC-Minas, o evento teve
um painel inaugural, quatro mesas-redondas, reuniões de oito grupos temáticos
para a apresentação de comunicações resultantes de pesquisas em nível de pósgraduação e de trabalhos de iniciação científica, além de oficinas para alunos de
graduação.
O III Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e
de Relações Públicas – Abrapcorp 2009 ocorreu nos dias 28, 29 e 30 de abril
de 2009, em São Paulo (SP), tendo sido realizado em parceria com a Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e seu
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, com o tema
central “Comunicação, humanização e organizações”. O evento contou com a
participação de cerca de quinhentos congressistas, provindos de todas as regiões
do País. Os debates levados a efeito nos painéis, nas mesas-redondas e no II
Fórum sobre as Bases Conceituais de Comunicação Organizacional e Relações
Públicas ampliaram os horizontes dos estudos e da prática dessas áreas neste novo
contexto do século XXI..
O IV Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e
de Relações Públicas – Abrapcorp 2010 ocorreu em maio de 2010, em Porto
Alegre (RS), em parceria com os Programas de Pós-Graduação em Comunicação
197
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (Famecos/PUC-RS) e da Faculdade de Comunicação e
Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O
tema central do evento foi “Comunicação pública: interesses públicos e privados”.
Cursos
Paralelamente à temática dos congressos anuais realizaram-se cursos com os
convidados internacionais, a fim de otimizar sua presença como professores
visitantes. Em 2007 foram oferecidos dois cursos de curta duração para alunos
pós-graduação participantes do congresso, ministrados por María Antonieta
Rebeil Corella (Escola de Comunicação da Universidad Anáhuac, do México) e
Antonio Castillo Esparcia (Faculdade de Ciências da Comunicação da Universidad
de Málaga). Os temas por eles abordados foram, respectivamente, “Soluções de
comunicação para os ambientes organizacionais” e “Grupos de pressão, sociedade
da comunicação, lobby e Relações Públicas”. Em 2008, Stanley Deetz (University
of Colorado at Boulder) deu um curso dobre o tema “Comunicação estratégica
e colaborativa: tendências da comunicação organizacional”. Em 2009 foram
oferecidos os cursos “Estudos de Comunicação Organizacional numa perspectiva
crítica”, ministrado por Dennis Mumby (University of North Carolina at Chapel
Hill) e “Desenho e gestão de estratégia em contextos instáveis”, com Marcelo
Manucci (Universidad de Salamanca, Argentina). Em 2010, os cursos foram
“O sistema de mídia nas organizações”, a cargo de Nicole D’Almeida (CelsaSorbonne, Paris) e “O conceito de utilidade pública na evolução da comunicação
pública”, oferecido por Rolando Stefano (IULMl – Universidade de Milão,
Itália).
Grupos temáticos – GTs Abrapcorp
A criação e formatação dos Grupos Temáticos da Abrapcorp (GTs Abrapcorp)
representam um salto qualitativo de grande relevância para os estudos de
Comunicação Organizacional e Relações Públicas no Brasil. O objetivo dos
GTs é incentivar a produção e difusão de relatos científicos de pesquisa, com
reflexões sobre os aspectos abordados, a partir de investigações de cunho teórico
e prático. Os pesquisadores precisam pensar nos campos das Relações Públicas
e da Comunicação Organizacional, apresentando trabalhos de vanguarda que
fortaleçam e sustentem novas concepções para essas áreas. Isso possibilita a
realização de pesquisas em diferentes eixos temáticos, tanto para explorar relações
complementares como para ampliar as discussões.
São cinco os GTs permanentes: GT 1 – História, Teoria e Pesquisa em
198
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
Relações Públicas; GT 2 – Processos, Políticas e Estratégias de Comunicação
Organizacional; GT 3 - Comunicação Digital, Inovações Tecnológicas e os
Impactos nas Organizações; GT 4 – Estudos do Discurso, da Imagem e da
Identidade Organizacionais; GT 5 - Comunicação Pública e Política, Relações
Públicas Comunitárias e Comunicação no Terceiro Setor. Além disso, a entidade
tem o Espaço para Iniciação Científica. Os trabalhos inscritos e selecionados para
discussão nos GTs da Abrapcorp devem ser resultantes de pesquisas realizadas
em nível de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) e lato sensu
(especialização).
Publicações
Uma das mais importantes frentes de atuação da Abrapcorp é a produção
de publicações impressas e eletrônicas das áreas de Relações Públicas e de
Comunicação Organizacional, como periódicos científicos e livros. A instituição
lança anualmente uma obra coletiva com os principais textos apresentados pelos
autores nos congressos, está nos planos produzir também uma serie didática
que possa contribuir diretamente com a formação acadêmica e profissional
nesses campos. Além desses meios fundamentais de comunicação, difusão e
democratização do conhecimento, a entidade criou e mantém também o seu
portal (www.abrapcorp.org.br).
Organicom – Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações
Públicas
Em 2006 a Abrapcorp fez uma parceria com o Curso de Gestão Estratégica em
Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Gestcorp), do Departamento
de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA-USP para dar continuidade
à publicação da Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações
Públicas - Organicom, periódico científico dessas áreas de conhecimento.
A Organicom criada em 2004, tem como propósito ser um meio de
comunicação capaz de reunir os grandes temas contemporâneos dessas duas
áreas que estão sendo estudados na universidade e que constituem necessidades
e demandas sociais. Com periodicidade semestral, seu projeto editorial reúne
contribuições de estudiosos e especialistas brasileiros e de outros países, tendo
em cada número, como seção básica, um dossiê temático que atenda demandas
de assuntos contemporâneos ligados aos campos das Relações Públicas e da
Comunicação Organizacional.
A revista conta com excelente aceitação no meio acadêmico e no mercado
profissional, por ser uma referência e estar na vanguarda do pensamento nesses
199
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
campos, ajudando a analisar as tendências e a contribuir com fundamentos
conceituais em temas pouco explorados na literatura corrente. Sua abordagem se
caracteriza pela diversidade e pluralidade temática e do pensamento dos autores.
Livros-coletâneas
A Abrapcorp, por meio de uma co-edição com a Difusão Editora, já lançou seus
três primeiros livros, com as temáticas dos congressos de 2007, 2008, e 2009,
dentro da Série Pensamento e Prática, que trará publicações originadas a partir
das discussões realizadas em cada edição do evento. Os temas mais relevantes para
a pesquisa em Comunicação Organizacional e em Relações Públicas apresentados
durante esses congressos anuais podem ser estudados com mais detalhes, graças à
publicação dessas coletâneas.
Produzidos por palestrantes, nacionais e internacionais, criteriosamente
selecionados pelos organizadores, os textos das obras abordam os temas de forma
mais profunda e mais completa que os anais dos congressos, com um conteúdo
rico e bem elaborado. Foi uma forma encontrada para democratizar a produção
do conhecimento que vem sendo gerado no âmbito da entidade.
A primeira obra tem o título “Relações públicas e comunicação
organizacional: campos acadêmicos e aplicados de múltiplas perspectivas”.
Reunindo contribuições do primeiro congresso da Abrapcorp (2007), ela é
enriquecida com artigos de autores renomados dos Estados Unidos, do México
e da Espanha. Em 16 capítulos, distribuídos ao longo de três partes, se analisa
a relevância das duas áreas diante dos desafios da sociedade contemporânea,
discutem-se as bases de uma teoria brasileira para elas e se apresenta um panorama
de seu “estado da arte” no País, avaliando conquistas e tendências. A obra mostra
que as interfaces entre esses campos são uma realidade no Brasil, que já dispõe
de massa crítica para refletir sobre sua diversificada temática, contribuindo para
sistematizar as experiências vivenciadas na prática.
A segunda obra é “A comunicação na gestão da sustentabilidade das
organizações”, resultante das contribuições do segundo congresso anual da
Abrapcorp (2008). A sustentabilidade, que traz implicações para todos os
âmbitos, é o ponto de intersecção entre as estratégias de negócio de uma
organização e suas demandas econômicas, sociais e ecológicas. Abordar essa
temática, inserindo em sua discussão a dimensão comunicativa, é um dos
propósitos da obra. Com reflexões críticas de cunho acadêmico e técnico,
ela oferece subsídios a pesquisadores, profissionais e estudantes das áreas de
Comunicação Organizacional, Relações Públicas, Jornalismo, Publicidade,
Marketing, Administração e correlatas para compreender como a comunicação
pode contribuir com projetos de sustentabilidade.
200
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
A terceira obra, “A comunicação como fator de humanização nas
organizações”, trata do tema em dois subtemas: a organização como espaço de
diálogo e construção de significado e a comunicação como lugar e processo de
humanização da organização nas relações de trabalho.
Perspectivas e tendências
O trabalho da Abrapcorp, por meio de suas frentes de atuação, já dá sinais concretos
de estar contribuindo para o avanço científico das áreas de Comunicação
Organizacional e de Relações Públicas. Os congressos anuais têm um histórico de
apenas quatro anos, mas já figuram entre os principais eventos científicos nacionais
da área de Comunicação Social do País. Os esforços da entidade fomentam a
produção acadêmica e o debate entre a universidade e a sociedade. E contribuem
para um frutuoso diálogo internacional entre pesquisadores brasileiros, latinoamericanos, norte-americanos e europeus.
O reconhecimento público da Abrapcorp se evidencia pelas parecerias
que tem feito para realização dos seus congressos anuais com Programas PósGraduação em Comunicação de importantes universidades e pelo que tem
obtido apoio dos órgãos de fomento à pesquisa, tais como a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)e Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Os campos acadêmico-científicos de comunicação organizacional e
relações públicas estão instituídos no Brasil e contam com pesquisas e literatura
significativas. Essas áreas passam por um momento de grande efervescência
criativa e produtiva, tanto no meio acadêmico como no mercado profissional.
Enfim, as perspectivas são promissoras para as duas áreas. Os novos trabalhos
desenvolvidos indicam uma produção inovadora, com pesquisas empíricas e
reflexões teóricas com mais rigor metodológico e científico. O estágio avançado da
comunicação no Brasil e as novas exigências de uma crescente profissionalização
impulsionarão a universidade a criar mais espaços para a pesquisa e o ensino
nessas áreas. Temos hoje um mercado amplo e competitivo, tanto no âmbito das
organizações quanto no da prestação de serviços.
A conjuntura política do País, com o fortalecimento das instituições
democráticas, certamente contribuirá para o florescimento e a expansão das
duas áreas. Além disso, a nova postura das organizações diante da sociedade,
dos públicos e da opinião pública postula bases conceituais mais sólidas para a
prática profissional. E a Abrapcorp em todo esse contexto tem uma missão muito
importante a cumprir.
201
202
CAPÍTULO 10
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Eugênio Trivinho1
Introdução
A Associação Brasiliera de Pesquisadores em Cibercultura (ABCiber2) constitui
entidade científica e cultural, interdisciplinar e sem fins lucrativos, com sede em
São Paulo/SP, cuja missão principal é congregar pesquisadores(as), Grupos de
Pesquisa, instituições e/ou entidades brasileiras em torno de temáticas pertinentes
ao campo de estudos sobre o fenômeno da Cibercultura; e de nuclear e consolidar
esse campo interdisciplinar de estudos, contribuindo para o desenvolvimento
científico, tecnológico e cultural do país (cf. Artigo 1 do respectivo Estatuto).
Fruto de um projeto semeado desde 2000, com a idéia preliminar lançada
no IX Encontro Nacional da COMPÓS, realizado na PUCRS, a ABCiber foi
fundada em 27 de setembro de 2006, por pesquisadores(as) de vários Programas
de Pós-Graduação de diferentes áreas das Ciências Humanas, Ciências Sociais
Aplicadas e Linguística, Letras e Artes no Brasil, então reunidos em Plenária
Especial do I Simpósio Nacional de Pesquisadores em Comunicação e
Cibercultura, organizado pelo CENCIB - Centro Interdisciplinar de Pesquisas
em Comunicação e Cibercultura, do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Comunicação e Semiótica da PUC-SP, e realizado nesta Universidade, no período
de 25 a 29 de setembro de 2006.
A criação da Associação foi divulgada em Nota Pública (de 07/10/2006)
para a comunidade nacional e internacional3.
Participaram da Plenária Especial de fundação os(as) seguintes
pesquisadores(as) (com seus vínculos institucionais à época):Adriana Amaral
(UTP);Alex Primo (UFRGS);André Lemos (UFBA);Diana Domingues
(UTP);Erick Felinto de Oliveira (UERJ);Eugênio Trivinho (PUC-SP);Fernanda
Bruno (UFRJ);Francisco Coelho dos Santos (UFMG);Henrique Antoun
(UFRJ);Juremir Machado da Silva (PUCRS);Lucrécia D´Alessio Ferrara (PUCSP);Marco Silva (UERJ e UNESA);Maria Cristina Franco Ferraz (UFF);Othon
Jambeiro (UFBA);Rogério da Costa (PUC-SP);Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro
(UFRJ);Simone Pereira de Sá (UFF);Theóphilos Rifiotis (UFSC);Vinícius
1 Professor da PUC-SP. Presidente da ABCiber.
2 O endereço de referência da entidade é a Rua Ministro Godoy, 969, 4. andar, bloco B, sala 4A-08, Perdizes,
São Paulo/SP, CEP 05.015-901.
3 Disponível em http://abciber.org/nota_publica_fundacao.pdf.
203
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Andrade Pereira (UERJ e ESPM);Yara Rondon Guasque Araujo (UDESC).
A necessidade institucional de integração da ABCiber ao sistema jurídico
brasileiro levou a primeira Diretoria a adotar procedimentos administrativos,
documentais e operacionais necessários ao registro da Associação em Cartório
da cidade de São Paulo, nomeadamente no 6. Cartório de Títulos e Documentos
e Civil de Pessoa Jurídica, e, posteriormente, à obtenção do CNPJ – n.
11.294.169/0001-18 – junto à Receita Federal. Esses procedimentos incluíram
a convocação de uma assembléia geral especial, igualmente liminar, para efeito
de fundação de direito da Associação, encontro este realizado na PUC-SP, no dia
05 de outubro de 2009. Participaram dessa assembléia para fins de legalização da
entidade os(as) seguintes pesquisadores(as):Eugênio Trivinho (PUC-SP);Gilberto
Prado (USP);Gisela Castro (ESPM);Lucia Santaella (PUC-SP);
Sebastião Squirra (UMESP);Sueli Mara Ferreira (USP);Lucrécia D´Alessio
Ferrara (PUC-SP); Rogério da Costa (PUC-SP).
À luz da sistemática axiológica referencial do ordenamento jurídico, os(as)
pesquisadores(as) que participaram da Plenária Especial de 26 de setembro de
2007 passaram a ser considerados formalmente como “fundadores históricos ou
de fato” da ABCiber; e os(as) pesquisadores(as) participantes da assembléia de
fundação jurídica, os seus “fundadores de direito”.
A história da ABCiber testemunha, com convicção, que um dos legados
intelectuais e éticos mais vigorosos e fundamentais que a criação de uma entidade
científica nacional pode oferecer às áreas de conhecimento que a constituem, ao
seu desenvolvimento.
Estrutura funcional e representatividade nacional
A estrutura institucional e o modo de funcionamento da entidade foram
estabelecidos em duas reuniões científicas realizadas na PUC-SP, em março e
novembro de 2007. O Estatuto da ABCiber prevê uma Diretoria, um Conselho
Científico Deliberativo (CCD) e uma Assembleia Geral (de associados). Em
março de 2007, foi aprovado um Conselho de Ética, cuja implementação
ficou para momento futuro. O CCD constitui instância superior de consulta e
deliberação; a Diretoria, instância executiva e propositiva. Acima de ambas, está
a Assembleia Geral, órgão máximo de decisão. O Conselho de Ética, por sua
vez, se destinará a avaliar e julgar matérias internas e externas atinentes a valores
de natureza ética e moral. Além dessas instâncias, o Estatuto prevê Comissões
Especiais de Assessoramento da Diretoria e/ou do CCD, para cumprimento de
objetivos específicos.
A Diretoria, com mandato de dois anos, é formada por 11 pesquisadores
204
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
(as). O CCD, na gestão 2007-2009, foi formado por 21 membros (as); e a
gestão 2009-2011, por 20 (até a realização da III Assembleia geral, no dia 02 de
novembro de 2010).
Participaram da primeira gestão, pesquisadores (as) de 11 Universidades/
Programas de Pós-Graduação (cinco federais, dois estaduais, duas Pontifícias/
Comunitárias e duas instituições privadas). Compuseram o CCD pesquisadores
(as) de 15 Instituições de Ensino Superior (IES), /16 Programas de Pós-Graduação
(PPGs). No total, 18 IES/20 PPGs estiveram representados nessa gestão,
abrangendo as áreas de Comunicação, Ciência da Informação, Antropologia,
Psicologia Social, Educação, Semiótica e Artes, conforme segue (com os vínculos
institucionais à época):
Na gestão 2009-20114, participam pesquisadores (as) de 10 Universidades/11
Programas de Pós-Graduação (duas federais, três estaduais, duas Pontifícias/
Comunitárias e três privadas). Compõem o CCD pesquisadores (as) de 17 IES/15
PPGs. No total, 20 IES, com 21 PPGs estiveram representados nessa gestão,
abrangendo as áreas de Comunicação, Ciência da Informação, Antropologia,
Psicologia Social, Educação, Semiótica, Design e Artes.
Os(as) membros(as) da Diretoria interatuam com frequência via respectiva
lista de discussão. O CCD se reúne uma vez a cada semestre [no segundo, durante
o Simpósio Nacional (em novembro)] e, sempre que necessário, online, em lista
de discussão própria. A Assembleia Geral (ordinária) é realizada anualmente
(também durante o Simpósio Nacional).
Metas institucionais e objetivos programáticos5
Metas institucionais
1.Nuclear e consolidar no Brasil o campo interdisciplinar de estudos sobre
o fenômeno da Cibercultura, entendida em sentido amplo, como categoria
referente às configurações socioculturais contemporâneas articuladas por
tecnologias e redes digitais, contribuindo para o desenvolvimento científico do
país;
2.Congregar pesquisadores (as), Grupos de Pesquisa, instituições e/ou
entidades brasileiras em torno de temáticas pertinentes a esse campo de estudos;
3.Garantir condições institucionais e materiais necessárias à organização
continuada desse campo de estudos, atribuindo-lhe representação institucional
4 O Plano de Gestão referente a este biênio está disponível em http://abciber.org/diretoria1024.html.
5 Cf. Capítulo II do Estatuto
205
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
unificada e autônoma em relação às demais associações científicas e culturais
vigentes e possibilitando a expansão da respectiva pesquisa de excelência no país;
4.Estimular intercâmbios com pesquisadores(as), Grupos de Pesquisa e
entidades estrangeiras dedicados(as) ao mesmo campo de conhecimento.
Objetivos programáticos
1. Promover a circulação de conhecimento interdisciplinar renovado e
questionador no contexto de relações científicas, institucionais e culturais entre
2. Contribuir para a formação continuada de quadros intelectuais de
excelência, a partir da esfera de estudos da Cibercultura;
3. Organizar eventos científicos periódicos, com apoio de agências de
fomento e/ou instituições privadas, no âmbito de sua competência institucional
Eventos realizados e projetados
I Simpósio Nacional de Pesquisadores em Comunicação e Cibercultura
- organizado pelo Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Comunicação
e Cibercultura (CENCIB), do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Comunicação e Semiótica da PUC-SP, e realizado nesta Universidade, no período
de 25 a 29 de setembro de 2006, com apoio da CAPES e do Itaú Cultural e apoio
cultural do Teatro da Universidade Católica (TUCA) e da Livraria Cortez.
Estruturado em 15 sessões de trabalho, dentre as quais 11 painéis temáticos,
o Simpósio reuniu, em cinco dias consecutivos, 34 pesquisadores (as) - entre
conferencistas e mediadores(as) - de Programas de Pós-Graduação das Ciências
Humanas e Ciências Sociais Aplicadas de vários Estados brasileiros. O evento
integrou as comemorações dos 60 anos da PUC-SP e dos 34 anos de seu Programa
de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica.
II Simpósio Nacional da ABCiber - organizado pelo CENCIB/PEPGCOS/
PUC-SP e realizado nesta Universidade, no período de 10 a 13 de novembro
de 2008, com apoio da CAPES e do Itaú Cultural e apoio cultural do TUCA,
da Livraria Cortez e do provedor Locaweb. O Simpósio6 abrigou mais de 130
palestras, distribuídas em quase 50 painéis temáticos (científicos e de arte digital),
formados a partir das respostas da comunidade científica ao Call for papers
institucional. Igualmente, o evento somou, além de quatro plenárias especiais, 25
conferências ministradas por membros (as) da Diretoria e do CCD e realizadas
6 Os anais eletrônicos, indexados pela Biblioteca Nacional, contendo todas as conferências digitalizadas, estão
disponíveis em www.cencib.org/simposioabciber/anais.
206
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
em dez mesas, nos três primeiros dias7.
III Simpósio Nacional - organizado pelo Grupo de Pesquisas em Comunicação
e Práticas de Consumo, do Programa de Mestrado em Comunicação e Práticas
de Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), e realizado
nesta Universidade, no período de 16 a 18 de novembro de 2009.
O IV Simpósio Nacional, foi organizado pelo Programa de Pós-Graduação
em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e
realizado nos dias 01 a 03 de novembro de 2010, depois da escritura deste artigo.
Apoios institucionais e culturais recebidos
Desde a sua fundação, a ABCiber recebeu apoio das seguintes Universidades,
agências federais e estaduais de fomento e empresas:
Apoios institucionais
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)
CAPES - Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Instituto Itaú Cultural
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FAPERJ - Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro
Apoios culturais
UCA - Teatro da Universidade Católica
Livraria Cortez (SP)
LocaWeb (provedor de acesso)
A cada ano, Associação renova o seu interesse de expandir suas parcerias
interinstitucionais para patrocínio e/ou promoção de seus Simpósios e projeto
7 Uma apresentação geral da ABCiber e do campo da cibercultura no Brasil pode ser encontrada na conferência de abertura desse Simpósio, disponível em http://www.cencib.org/simposioabciber/anais/mesas/
videos/?autor=Eugenio_Trivinho.
207
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Programa de Incentivo a Produção Científica e Cultural
Este programa constitui empreendimento institucional destinado ao fomento
da produção bibliográfica e artística no campo interdisciplinar de estudos da
Cibercultura.
O Programa abrange a Coleção ABCiber de textos sobre cultura digital
e a Coleção ABCiber de poéticas em mídias e redes interativas (nomenclatura
referencial provisória). Ambas coleções são caracterizadas em Projetos próprios,
a saber:
1.Projeto Editorial da Coleção ABCiber, contendo as normas para proposição,
seleção, publicação e divulgação de e-books científicos e/ou reflexivos; e
2.Projeto Curatorial e Editorial da Coleção ABCiber Arte (idem notação
acima), abrangendo normas para a proposição e seleção de curadorias e mostras
online, workshops presenciais (durante os Simpósios Nacionais anuais) e catálogos
de arte digital.
Abrigando textos e criações nacionais e estrangeiras, ambas as Coleções
permanecerão disponíveis no site da ABCiber, para acesso universal, conforme
decisão do Conselho Científico Deliberativo da Associação, em sua IV Reunião
ordinária, realizada na UERJ, nos dias 21 e 22 de maio de 2009.
Sem descarte de intervenções pontuais necessárias no processo político
e social brasileiro, em relação a matérias atinentes ao seu campo de interesse,
a ABCiber prioriza, com este Programa editorial, implementado entre seus
Simpósios, a sua missão intelectual de esclarecimento público acerca das
condições sociais, culturais, políticas e econômicas da vida humana na civilização
tecnológica contemporânea.
Em cumprimento ao Capítulo II do Estatuto da Associação (reproduzido
no tópico acima), esse foco institucional recai – enfatize-se – sobre o que
evidentemente consiste no principal legado de uma associação de pesquisadores:
contribuir, em sentido extenso, para o desenvolvimento científico, cultural
e tecnológico do país, em partilha necessária do conhecimento produzido no
contexto internacional.
E-books da Coleção ABCiber publicados e previstos
O volume inaugural da Coleção ABCiber de textos sobre cultura digital – A
cibercultura e seu espelho: campo de conhecimento emergente e nova vivência humana
208
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
na era da imersão interativa – foi lançado em fevereiro de 20108. O e-book de
referência do II Simpósio Nacional, cotado como volume 2 dessa Coleção,
encontrava-se em fase final de edição e foi lançado no IV Simpósio Nacional, na
UFRJ, realizado no dia 02 de novembro de 2010. O e-book de referência do III
Simpósio está previsto para meados de 2011 e seu lançamento oficial ocorrerá no
V Simpósio Nacional, em IES e período a serem ainda definidos.
Informações Relevantes
Nota Pública em defesa da liberdade na Internet
Em 07 de julho de 2007, a ABCiber, por proposição de seus conselheiros André
Lemos (UFBA) e Sérgio Amadeu da Silveira (Cásper Líbero), emitiu Nota Pública
em defesa da liberdade na Internet, manifestando preocupação com o teor do
Projeto de Lei Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo e empenhando integral
apoio à carta-aberta de autoria dos mencionados(as) professores(as)9.
Dossiês sobre Cibercultura
Cibercultura revisitada
Galáxia, revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e
Semiótica da PUC-SP, n. 16 (dez. 2008)10.
Dossiê ABCiber (II Simpósio Nacional, 2008)
Famecos: mídia, cultura e tecnologia - revista do Programa de Pós-Graduação
em Comunicação da PUCRS, n. 37 (dez. 2008)11.
Os dossiês representam o estado da arte das pesquisas em desenvolvimento
em Programas de Pós-Graduação brasileiros em diferentes áreas das Ciências
Humanas, Ciências Sociais Aplicadas (em especial a Comunicação) e Linguística,
Letras e Artes.
Os artigos põem em discussão o encadeamento simbólico entre mídia de massa
e mídia interativa; o fenômeno glocal e seu bunker típico; as tecnologias móveis e
8 Está disponível em http://www.abciber.org/publicacoes/livro1.
9 A Nota Pública, com a íntegra da carta, está disponível em http://abciber.org/nota_publica.pdf.
10 Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/issue/current/showToc.
11 Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/issue/view/337/showToc.
209
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
a reconfiguração dos lugares; as relações entre território e identidade em práticas
online e off-line; as comunidades virtuais; as interfaces multissensoriais; a inclusão
social; a apropriação do ciberespaço na periferia; a vigilância eletrônica; os sites
de relacionamento; as trocas afetivas online; a nova indústria do entretenimento;
o YouTube e a cultura trash; os fotologs; a estética e a sociedade de controle; o
jornalismo digital; os commons; os ambientes virtuais de aprendizagem e a
produção científica, entre outros temas emergentes e relevantes.
Campanha de filiação e horizontes
Desde o seu II Simpósio Nacional, a ABCiber mantém-se em campanha de filiação
com anuidade referenciada em novembro de 200812. A trajetória da ABCiber
confirma, para os próximos anos, a intensificação e ampliação do trabalho de
nucleação e desenvolvimento do campo de estudos da Cibercultura no país, com
amplo apoio de professores(as)/pesquisadores(as), alunos de Pós-Graduação e
Graduação e profissionais interessados(as) em compreender as múltiplas relações
entre as tecnologias/redes digitais e a vida social, cultural, política e econômica
contemporânea.
12 Planilha disponível em http://abciber.org/comoassociar1024.html
210
CAPÍTULO 11
Alcar: a história de um “pragmatismo utópico”
Marialva Carlos Barbosa1
A Associação Brasileira dos Pesquisadores de História da Mídia (Alcar) foi,
oficialmente, constituída como associação científica de caráter nacional, no
VI Congresso de História da Mídia, realizado em 14 de maio de 2008, na
Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ). Naquela ocasião, 81
sócios fundadores assinaram a ata de constituição da Associação, em plenária
realizada na noite que marcou o encerramento do Congresso. Ainda que o ato
formal de instituição da Associação tenha se dado em maio de 2008, um longo
caminho fora percorrido até então. É um pouco desse percurso que esse textodepoimento, misto de trabalho memorável e documental, procurará enfocar.
A história começa sete anos antes: exatamente em 5 de abril de 2001,
quando, em reunião realizada na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI),
um grupo de pesquisadores que se dedicava há à temática da história dos meios,
reuniu-se para dar início as ações de uma Rede de Pesquisadores que tinha como
propósito constituir, até 2008 – ano dos 200 anos de implantação da imprensa no
Brasil - um inventário crítico reflexivo sobre a história da mídia no Brasil.
Espécie de utopia idealizada por José Marques de Melo, tinha como
objetivo refazer o percurso realizado na alvorada do século XX pelo pesquisador
pernambucano Alfredo de Carvalho, que mapeou a imprensa brasileira em todas
as suas regiões para um estudo alentado produzido para ser apresentado durante
as comemorações do centenário da implantação da imprensa brasileira, em 1908.
Objetiva-se, no início do século XXI, ações semelhantes aquela feita por
Alfredo de Carvalho, na medida em que a plataforma de ação da Rede Alfredo de
Carvalho incluía, como item prioritário, a atualização do inventário da imprensa
brasileira, com o propósito de completar as lacunas deixada pelo inventário de
1908, além de avançar na crítica reflexiva desse mapa inventarial das pesquisas
brasileiras, até 2008.
Como enfatizou, na época, o idealizador da Rede, José Marques de Melo, num
texto síntese do “pragmatismo utópico da Rede Alfredo de Carvalho”2, “deseja-se
completar as lacunas deixadas pela equipe de 1908, além de fazê-lo avançar até 2008.
Mais do que isso: pretende-se realizar a interpretação dos dados acumulados,
1 Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná
(UTP). Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia - ALCAR.
2 MELO, José Marques de. O pragmatismo utópico da Rede Alfredo de Carvalho. Preservando a Memória e
construindo a História dos 200 anos da Imprensa no Brasil. In http://comunicacao.feevale.br/redealcar/index.
php?option=com_content&view=article&id=59&Itemid=66. Acesso em 20/05/2010.
211
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”
construindo indicadores capazes de balizar o trabalho dos historiadores e dos
cientistas da comunicação”.
Naquela reunião pioneira estiveram presentes, além do idealizador da Rede,
José Marques de Melo, o então Presidente da ABI, Fernando Sigismundo, Cibelle
Ipanema, representando oficialmente o IHGB, Ana Arruda Calado (ABI),
Esther Bertoletti (MinC), Francisco Karam (UFSC), Marco Morel (UERJ),
Tania Bressone (UERJ) e Lúcia Neves (UERJ), Ana Paula Goulart Ribeiro
(UFRJ) e Marialva Carlos Barbosa (UFF). Ali mesmo, na sede da Associação
Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, a Rede, uma iniciativa conjunta da
Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação e Cátedra FENAJ/UFSC de
Jornalismo, ampliava substancialmente o seu escopo de atuação, incluindo, já
no primeiro ano de criação, dezenas de instituições e pesquisadores.A partir daí
outros pesquisadores foram convocados a participar desse percurso e passaram a
apresentar o resultado de suas pesquisas em diversos encontros e, sobretudo, nos
congressos anuais realizados.
O primeiro Congresso, ainda em 2002, foi realizado na UERJ e na
Univercidade, no Rio de Janeiro, com a presença de 100 pessoas. Um número
reduzido, mas estava lançada a senha para a recuperação da importância histórica
dos processos midiáticos brasileiros. O resultado mais visível desse encontro foi
a publicação do livro História e Imprensa: representações culturais e práticas
de poder, organizado por Lucia Maria Bastos P. Neves, Marco Morel e Tania
Maria Bessone de C. Ferreira, com apoio institucional da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ)3.
A caminhada de construção da Associação nesse momento fundador
incluiu também a promoção de uma dezena de eventos realizados em todo o
país para despertar o interesse dos pesquisadores; constituiu-se os Grupos
de Trabalho, inicialmente em torno de cinco propostas; foi construída uma
metodologia unificada para possibilitar o trabalho de inventário, sobretudo, das
fontes impressas. A Rede tinha hora marcada para terminar: esperava-se que o
trabalho estaria encerrando em 2008. “Essa pesquisa deverá estar concluída em
2008, esperando-se cobrir todo o território nacional. Os levantamentos e análises
tomarão a cidade como espaço referencial, buscando-se, em fase mais avançada,
tecer as malhas das conexões regionais, identificando também aqueles traços
nacionalmente hegemônicos”, sentenciava José Marques, no seu texto fundador.
Ainda em 2001 foi programado um calendário de eventos para conquistar
novas adesões acadêmicas e angariar apoios instutucionais. O início do que
chamou então “maratona cultural” foi em Salvador, com a realização de um
ciclo de conferências, entre os dias 25 e 27 de abril de 2001. A Rede também
3 NEVES, Lucia, MOREL, Marco, FERREIRA, Tania (organizadores). História e imprensa: representações
culturais e práticas de poder. Rio de Janeiro: DP&A; FAPERJ, 2006, 448 p.
212
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”
esteve presente na 51ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC), em julho daquele ano. Iniciou-se também a programação
dos Congressos anuais, sendo o primeiro realizado, em 2003, no Rio de Janeiro.
No ano seguinte, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sediou
o II Encontro de História da Mídia e, a partir daí, sem qualquer interrupção,
todos os anos os pesquisadores sabiam que tinham um encontro anual marcado
em torno do pragmatismo utópico da ALCAR. Foram seis os encontros anuais
realizados até a constituição formal da instituição, em 2008: em 2003, na UERJ
e na Univercidade, no Rio de Janeiro, o seguinte em Santa Catarina (UFSC),
seguido dos encontros de Novo Hamburgo (Feevale), São Luis (AMI), São Paulo
(Casper Líbero) e Niterói (UFF).
Assim, do objetivo inicial de “desenvolver ações públicas destinadas a
comemorar os 200 anos de implantação da imprensa no Brasil”, a partir do
desejo de centenas de pesquisadores que se filiavam a rede ano após ano, foi
constituída em 2008 a Associação Brasileira de Pesquisadores de História da
Mídia, que manteve como sigla complementar ao nome, ALCAR. Essa marca
indica a vinculação aos propósitos da Rede de Pesquisadores que deu início a uma
utopia que se transformou em ações orgânicas no sentido de construir reflexões
críticas conceituais duradouras em torno dos processos históricos dos meios de
comunicação no Brasil.
Convém relembrar a plataforma original da Rede Alfredo de Carvalho
(ALCAR). Além do objetivo de “contribuir para o avanço da mídia impressa no
novo século, de forma integrada com a mídia eletrônica e a digital, tornando-a
patrimônio coletivo do povo brasileiro”, tinha como motivação principal “alavancar
iniciativas capazes de converter a imprensa em instrumento civilizatório”. A partir
do conhecimento dos processos históricos dos meios de comunicação poder-se-ia
“sociabilizar seus benefícios culturais por toda a sociedade” e não apenas entre
os que são nominados como elites, “como vem ocorrendo historicamente nos
dois primeiros séculos de sua existência em território nacional”4. O objetivo de
reflexão profunda sobre os processos históricos de um passado longínquo ou mais
recente com a intenção de, pelo conhecimento, produzir ações duradouras na
sociedade brasileira era (e é) a marca mais emblemática da Associação.
Além do programa de estudos, através de pesquisas desenvolvidas em
todo o país, refazendo, aprofundando e atualizando as pesquisas históricas dos
meios de comunicação no Brasil, a ALCAR mantém, também, desde o início,
amplo programa de eventos, com a realização não só dos encontros anuais, mas
de simpósios, colóquios e outras iniciativas destinadas a fortalecer a identidade
da imprensa brasileira. Faz parte ainda das ações da instituição a publicação de
4 Cf. Plataforma da Rede Alfredo de Carvalho. In: http://comunicacao.feevale.br/redealcar/index.
php?option=com_content&view=article&id=59&Itemid=66. Acesso em 20/05/2010.
213
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”
“reedição de coleções, livros raros e outras peças, potencializando os recursos das
tecnologias digitais e contribuindo para a difusão do conhecimento estocado
sobre a memória da imprensa brasileira”.
Constitui-se em momento fundador dessas ações, a organização dos quatro
volumes dos “personagens que fizeram história” e que, inicialmente, foram
publicados como encarte na Revista Imprensa, durante todo o período que
antecedeu o bi-centenário da implantação da imprensa no Brasil5. Destacamse também edições de livros conjuntos organizados no interior dos Grupos de
Trabalho da Associação, mostrando claramente a ampliação e sedimentação das
pesquisas históricas em torno dos meios de comunicação no Brasil6.
Depois da constituição da ALCAR como associação, as ações têm se voltado
para sedimentar as pesquisas em torno da temática histórica e fomentar estudos
integrados, de forma a construir pesquisas duradouras e reflexões em torno de
generalizações históricas, indispensáveis para esta área de estudos. A regionalização
das ações da ALCAR, a constituição de núcleos de pesquisas integradas e a
realização de uma pesquisa verdadeiramente integrada a nível nacional sobre
processos históricos fundadores da mídia no país (Projeto “A Imprensa antes da
Impressão”) são ações no sentido de solidificar uma Associação que possui, no
final da primeira década do século XXI, apenas dois anos de constituída. Jovem,
nascida de uma utopia, quer continuar fazendo do pragmatismo utópico lugar de
produção de reflexões duradouras em torno de processos históricos que, falando
do passado, informam muito das práticas e valores de uma comunicação que se
volta, sempre, para o futuro.
5 MELO, José Marques de (organizador). Imprensa brasileira: personagens que fizeram história. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; São Brnardo do Campo, SP; Universidade Metodista de São Paulo.
Vol. 1 (2005). Vol. 2 (2005), Vol. 3 (2008) e Vol. 4 (2009).
6 Merece ser mencionado os quatro volumes organizados pelo GT de Publicidade e Propaganda, em torno das
reflexões sobre a história da publicidade no Brasil, bem como o livro organizado pelo GT de Mídia Sonora:
Klöckner, Luciano e Prata, Nair (Orgs.) HISTÓRIA DA MÍDIA SONORA Experiências, memórias e afetos de
Norte a Sul do Brasil, sob a forma de e-books, publicado pela EDIPUCRS, 2009, bem como MOURA, Claudia
(organizadora). História das Relações Públicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
214
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Marialva Carlos Barbosa1
Introdução2
Os estudos enfocando a historicidade dos meios de comunicação têm se
complexificado de forma acentuada, sobretudo, a partir do último decênio do
século XX. Ainda que possamos identificar uma longa tradição, sobretudo no
que diz respeito à história da imprensa, dos impressos e do jornalismo em geral,
a multiplicação dos processos comunicacionais nas últimas décadas acentuou a
necessidade de reflexões mais pontuais em torno dos meios eletros-acústicos e
digitais3.
Por outro lado, há que se considerar ainda que só recentemente os estudos
de história da mídia deixaram de considerar uma dinâmica linear para a análise
histórica dos meios de comunicação. Se durante o século XIX e boa parte do
século XX, dominaram as análises a perspectiva de uma história que pretendia
resgatar a integralidade do passado e, muitas vezes, limita-se a descrever práticas
desenvolvidas pelos atores sociais dominantes, observa-se gradativamente outro
direcionamento das análises, como procuraremos mostrar nesse texto.
Como quando nos referimos à história da mídia, estamos enfocando
complexos processos comunicacionais que dizem respeito ao jornalismo, às
mídias impressas em geral, às mídias visuais, audiovisuais, digitais e também
a uma reflexão historiográfica (envolvendo a dimensão teórica e metodológica
desses estudos) dos meios de comunicação, dividimos esta exposição em duas
etapas.
Na primeira parte vamos, mapear brevemente a tipologia dos estudos
históricos dos meios de comunicação, a partir dos 1183 trabalhos apresentados,
desde 2004, nos Congressos Anuais da Rede Alcar, hoje, Associação Brasileira
dos Pesquisadores de História da Mídia. A partir desse diagnóstico numérico,
procuraremos enunciar os principais focos de pesquisa da área, a análise das
temáticas dos estudos históricos dos meios de comunicação, apresentando,
enfim, as tendências observadas no decênio 2000-2010. Num segundo momento
identificaremos os pesquisadores, descrevendo brevemente a comunidade
1 Presidente da Rede ALCAR.
2 Agradecemos os relatórios produzidos por Karina Woitowicz e Rozinaldo Antonio Miani (Mídia Alternativa);
Maria Berenice da Costa Machado (Publicidade e Propaganda); Claudia Moura (Relações Públicas); Ana Regina Rego e José Ferreira Jr (Mídia Impressa); Luciano Klöckner (Mídia Sonora) e Valquíria Kneipp e Iluska
Coutinho (Mídia Visual e Audiovisual), sem os quais não teria sido possível a construção desse texto.
3 Sobre a longa tradição dos estudos históricos dos meios de comunicação, particularmente no que diz respeito
aos meios impressos cf. o prefácio de Marco Morel, em BARBOSA, Marialva. História Cultural da Imprensa
(1800-1900). Rio de Janeiro: Mauad X, 2010.
215
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
acadêmica envolvida com os estudos históricos dos meios de comunicação e as
instituições a que pertencem. E, finalmente, apresentamos uma reflexão a partir
desse diagnóstico, indicando as carências e que ações devem ser propostas para
fazer avançar o conhecimento teórico-conceitual em torno dos estudos históricos
da comunicação.
Diagnóstico em números
O primeiro Quadro (I), meramente quantitativo, indica o interesse crescente de
algumas áreas de estudos – como Mídia Impressa, Alternativa e Mídia Visual e
Audiovisual – e deixa evidente também a sedimentação, em termos numéricos,
de estudos em torno da história do Jornalismo, da história da mídia sonora e
da publicidade e propaganda, os que apresentaram, durante todo o período,
constância em termos de números de trabalhos apresentados nos Congressos.
Enquanto em Jornalismo, há uma média de 40 trabalhos apresentados em cada
um dos Congressos - com duas exceções, o menor número (29) no Congresso
de Santa Catarina, em 2004, e o maior número, no Congresso de Niterói, em
2008 (69) -, em Mídia Sonora obteve-se a média histórica de 30 trabalhos por
congresso. Já o GT Publicidade e Propaganda possui média histórica de 20
trabalhos por congresso (exceto, o Congresso de Niterói, que foi atípico).
Quadro I - Total de trabalhos apresentados
GTS
2003
2004
2005
2006 2007
2008
2009
TOTAL
Impressa
17
20
22
22
10
33
34
158
Jornalismo
40
29
38
41
44
69
42
303
Visual e Audiovisual
-
-
16
11
18
39
38
122
24
29
21
24
37
31
166
Sonora
Digital
-
5
13
8
11
28
18
83
Publicidade/Propaganda
13
14
20
18
20
43
23
151
Alternativa
-
-
10
15
11
27
19
82
8
12
7
4
11
-
42
RP
Midiologia
-
-
17
13
10
17
12
69
Total
70
100
177
156
152
304
217
1183
Obs: 1) O grupo de Mídia Alternativa só foi instituído a partir de 2005. O GT de Publicidade e Propaganda
existiu com esta denominação de 2004 a 2008. Em 2003, denominava-se Mídia Persuasiva. Em 2009,
com a fusão dos GTs História da Publicidade e História das Relações Públicas, passou a ter nome História
da Comunicação Persuasiva e Institucional. 2) Não apresentamos os resultados referentes ao I Encontro
de Pesquisadores, realizado no Rio de Janeiro, entre 1 e 5 de junho de 2003, pois tivemos acesso a um
pequeno número de trabalhos então apresentados. Como foram pouco mais de 70 trabalhos em todos
os grupos, a falta desses dados não altera o diagnóstico. 3) O GT Jornalismo passou a existir de maneira
216
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
autônoma a partir do II Encontro. No I Encontro havia apenas o de Mídia Impressa, englobando pesquisas
históricas de jornais, rádio e livro. 4) Ainda que os trabalhos de Mídia Visual e Audiovisual tenham sido
apresentados em separado, agrupamos no quadro os dois grupos, que a partir de 2008 passaram a
constituir um único GT. 5) No I Encontro não havia o GT de Midiologia que só foi criado em 2005. 6) No
I Encontro haviam seis grupos, assim constituídos: Mídia impressa (Jornal, Revista, Livro), Mídia Sonora
(Rádio, Disco), Mídia Visual (Fotografia, HQ, Cartazes), Audiovisual (Cinema, Televisão), Mídia Digital
(Web e NTCs), Mídia Persuasiva (Publicidade e RP).
No Quadro I, pode-se notar igualmente o crescimento do número de
trabalhos desde o III Encontro, realizado em Novo Hamburgo - RS, mostrando
uma espécie de represamento das discussões em torno da temática História da
Mídia, em todas as suas possibilidades. Mesmo grupos menores, como Midiologia
ou RP, mostraram certa constância – ainda que o número de trabalhos fosse menos
expressivo – em termos de discussões nos congressos anuais. A demanda menor
de pesquisadores nessas duas áreas levou a integração do Grupo de RP no de
Comunicação Persuasiva e Institucional, englobando Publicidade e Propaganda,
Relações Públicas e Comunicação Organizacional.
O mapeamento de 1183 trabalhos de pesquisadores de todas as regiões
brasileiras, representando também a quase totalidade dos programas de pósgraduação em Comunicação do país, deixa evidente a importância dos estudos
em torno das práticas e processos históricos midiáticos na área de comunicação
no Brasil, fornecendo material teórico-conceitual e empírico de importância
considerável.
O Quadro II é bem mais representativo para um diagnóstico dos focos de
pesquisa e para a análise das tendências observadas no decênio. Complementado
pela análise das temáticas enfocadas nos textos (Ver Quadros III – A a I), resultado
a maioria das vezes de pesquisas empíricas, apresentados nos encontros anuais dos
pesquisadores, fornece um mapa operacional dos estudos da área.
Observamos, em primeiro lugar, a ampla supremacia da pesquisa empírica,
como meio fundamental para o desenvolvimento dos estudos, o que, a nosso
ver, resulta da própria natureza dessas pesquisas: focadas em estudos de
caso, envolvendo um veículo, uma instituição, um personagem localizável
historicamente; ou concentradas em períodos claramente demarcados em torno
de práticas midiáticas qualificadas como pertencendo a um dado passado. Dos
1183 trabalhos, aproximadamente, 70% foram classificados como resultado
de pesquisa empírica, contra 30% predominantemente enfocando estudos de
natureza teórica.
Observando mais detalhadamente os números dos quadros a seguir (II e II
A), nota-se, como exceção em relação aos demais grupos, a natureza dos trabalhos
de Mídia Digital apresentar resultados não advindos necessariamente de análises
empíricas, sendo objetos muitas vezes de impressões reflexivas, tendo como foco
217
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
igualmente a característica presentista dessas análises.
No que diz respeito aos estudos de Publicidade/Propaganda observa-se
paridade entre esses dois universos de análise: 72 trabalhos de natureza teórica
e 73 trabalhos decorrentes de análises empíricas. Merece atenção também a
inconteste supremacia das análises decorrentes de pesquisa empírica nos estudos
de Jornalismo (231), Mídia Sonora (160), Mídia Impressa (103) e Mídia
Alternativa (75).
Quadro II - Natureza da Pesquisa - Teórica
GTS
2003 2004
2005
2006 2007 2008
Alternativa
-
-
-
-
2009
-
TOTAL
07
Digital
-
2
8
1
7
11
7
36
Impressa
-
1
-
-
-
4
8
13
Jornalismo
-
10
2
1
4
7
4
28
Midiologia
-
-
7
7
4
9
4
31
8
7
6
9
18
20
72
Publicidade/Propaganda
4
RP
-
Sonora
-
Visual e Audiovisual
-
38
1
1
2
1
1
0
06
3
6
9
19
4
41
TOTAL
235
Quadro IIA- Natureza da Pesquisa-Empírica
GTS
2003 2004
2005
2006
2007
2008
2009
TOTAL
Alternativa
-
-
-
-
-
Digital
-
3
5
7
4
17
11
47
19
22
22
10
4
26
103
Impressa
Jornalismo
75
19
36
40
40
62
34
231
Midiologia
-
-
10
6
6
8
8
38
Publicidade/Propaganda
9
6
13
12
11
25
14
73
-
23
28
20
22
36
31
160
13
5
9
20
14
61
RP
Sonora
Visual e Audiovisual
TOTAL
22
772
Obs.: Dois GTs apresentaram o resultado agrupado pelo total (RP e Mídia Alternativa), razão pela qual
não reproduzimos a quantificação por ano.
218
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Nas pesquisas que envolvem análises empíricas, destacam-se os chamados
estudos de caso: a maioria foca preferencialmente um veículo de comunicação,
uma instituição (emissora de rádio, emissora de televisão, uma universidade,
um curso, etc.). A análise das temáticas mostra também a supremacia de focos
demarcados pela natureza dos objetos de pesquisa: jornais, emissoras de rádio,
cinema, documentário, fotografia, etc. Gradualmente, observa-se que questões
mais holísticas começam a ter certa supremacia: memória, identidade, minorias,
resistência, estratégias, política, etc. Ou seja, de maneira geral e esquemática,
podemos dizer que as pesquisas dos processos históricos midiáticos são
demarcadas, sobretudo, pela natureza do veículo/instituição analisada, mas que,
cada vez mais, a partir de marcos teórico focais procura-se interpretar processos
mais abrangentes.
Apresentamos, a seguir, o levantamento das temáticas das pesquisas
apresentadas nos Encontros anuais, divididas por Grupos de Trabalhos. A partir
da análise desses quadros algumas conclusões a cerca da perspectiva dos estudos
da área se sobressaem4.
Quadro III (A) - Temática – Mídias Alternativa (82)
Número de trabalhos
Comunicação comunitária/independente/contra-hegemônica
26
Resistência à ditadura
19
Minorias sociais
15
Radiodifusão comunitária
10
Trabalhos conceituais
5
Aproximações temáticas
4
Trabalhos biográficos
2
Experiência acadêmica
1
4 Os quadros apresentam configurações um pouco díspares, uma vez que usamos a sistematização feita por cada
coordenador dos Grupos de Trabalho (GTs).
219
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Quadro III (B) - Temática – Mídia Digital (83)
Linguagens
2004
2005
2006
2007
2008
1
2
1
1
3
Cultura do Ciberespaço
Jornalismo
3
3
TV Digital/Vídeo
2009
TOTAL
5
3
11
4
21
8
5
4
1
4
1
1
1
3
2
4
6
1
1
Games
Rádio Digital
6
Marketing/Publicidade/
Com. Organizacional
1
2
Redes Sociais
4
Blog
1
Twitter
Ensino
2
4
1
5
1
2
2
2
1
1
Política
2
1
3
Inclusão Digital
2
3
5
Portais
1
1
CD Room
1
1
Outros
2
2
Quadro III (C) - Temática – Mídia Impressa (158)
Processos Gráficos e Redacionais Processos Históricos
220
Processos Espaço/Temporal
Artes gráficas
4
Censura
7
Imprensa Regional
65
Design gráfico
4
Gênese
10
Imprensa Partidária
2
Desing da notícia
4
Anti-Comunismo
1
Imprensa Nacional
2
Livro reportagem
1
Nazismo
1
Revistas Nacionais
8
Sensacionalismo
1
Imprensa Internacional
2
Fotojornalismo
2
Imprensa Esportiva
1
Anúncios Classificados
1
Imprensa
Juvenil
Gêneros Jornalísticos
2
Estudos Jornalismo
15
Imprensa Feminina
1
Imprensa e Educação
1
Infanto- 1
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Tal como os trabalhos de Mídia Impressa, também nos de Jornalismo
sobressaem-se os estudos de caso, que, no que diz respeito às análises históricas,
são extremamente importantes, já que só podemos passar às generalizações
depois de estabelecer marcos que se refiram a momentos/produções específicas.
Mais de uma centena de veículos de comunicação (jornais, revistas, emissoras de
rádio, de televisão, etc.) foi estudada por uma centena de pessoas que, de fato, se
constituíram numa rede de pesquisadores dos processos históricos da comunicação.
O avanço das reflexões e a densidade das análises também são flagrantes nesses
estudos. Se somarmos as duas categorias nas quais as análises particularistas dão
oportunidades para as futuras generalizações indispensáveis, temos 93 trabalhos
dessa natureza (71 de caráter regional e mais 22 estudos enfocando personagens
da história da mídia – jornalistas, donos de publicações, etc.).
Há que se referir ainda, no que diz respeito aos estudos de Jornalismo, ao
avanço das reflexões em torno das práticas profissionais, das rotinas produtivas,
da chamada identidade profissional (35 trabalhos) e o declínio gradual das
pesquisas que, focando os discursos/coberturas da imprensa realizados num
tempo considerado passado, acreditavam estar realizando estudos de natureza
historiográfica dos meios. Essa tendência parece configurar um processo de
amadurecimento dos estudos históricos da área, no qual a questão das coberturas
e a caracterização discursiva da imprensa cedem lugar às análises que visualizam
os processos comunicacionais e os sistemas de comunicação em toda a sua
complexidade.
Quadro III (E) - Temática – Midiologia (69)
2005
Fronteiras/Globalização
1
Mídia Regional
1
Personagens
3
Televisão
1
Produção Científica
1
Jornalismo
2006
2007
2008
1
4
6
1
3
3
2
2
1
Linguagem/Discurso
1
1
1
Instituições de Ensino/Pesquisa
2
Revistas Acadêmicas
1
Outros
5
5
17
8
1
5
2
2
7
1
3
1
4
4
TOTAL
2
1
3
Censura
2009
1
4
2
4
3
14
221
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
O quadro anterior reproduz um pouco a tendência dos estudos de midiologia
quando inseridos num contexto cuja perspectiva de análise é dominantemente
histórica. Nesse viés, destacam-se as reflexões em torno de personagens que
construíram com ações educacionais e/ou profissionais históricas em torno de
instituições de comunicação. Assim, ao lado de uma pulverização temática, as
pesquisas do grupo concentram-se, sobretudo, em torno da análise de personagens
singulares
Quadro III (F) - Temática – Publicidade e Propaganda (168)
2003
2004 2005
2006
2007
2008
2009
TOTAL
Estratégias
3
3
7
6
3
11
6
39
Mídias
1
4
4
5
3
10
10
37
Publicitários e Agências
1
0
4
2
4
5
3
19
Ensino
1
1
0
0
0
4
6
12
Propaganda Política
9
5
4
2
7
4
3
34
Questões Contemporâneas
2
1
1
3
3
9
8
27
Quadro III (G) - Temática – Relações Públicas (42)
ANO
Temática A
Temática B
Reflexões e Ações de Relações Ensino e Formação de Relações
Públicas
Públicas
2004
4
4
2005
6
6
2006
3
4
2007
4
--
2008
9
2
Total
26
16
Os dois quadros anteriores, apresentando as temáticas mais recorrentes dos
GTs de Publicidade e Propaganda e Relações Públicas, mostram igualmente um
avanço das reflexões da história da mídia nesses segmentos em torno de processos
históricos delimitados por questões teórico-metodológicas envolvendo dois
grandes eixos temáticos: práticas e processos históricos das ações de propaganda/
relações públicas e reflexões em torno do ensino e da formação dos profissionais.
Tanto no primeiro, quanto no segundo grupo destacam-se os chamados estudos
de caso, envolvendo a análise de agências, instituições, estratégias, personagens
que fizeram essa história.
222
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Quadro III (H) - Temática – Mídia Sonora (166)
2009
2008
2007
2006
2005
2004
TOTAL
31 artigos
37 artigos
24 artigos
21 artigos
29 artigos
24 artigos
166
1.1 Educação no rádio
4
2
2
2
1
-
11
1.2 Memória do rádio
9
20
8
11
10
9
67
1.3 Perfil de personagens
radiofônicos
3
5
2
1
2
-
13
1.4 Música no rádio/
indústria fonográfica
1
4
2
-
3
-
10
1.5 Política/Propaganda
no rádio
2
1
2
2
2
1
10
1.6 Comunicação pública
radiofônica
4
-
-
-
-
-
4
1.7 Religião e rádio
1
-
2
-
-
2
5
1.8 Tecnologia e o rádio
6
-
1
-
-
-
7
1.9 História oral/rádio
-
1
-
-
-
-
1
1.10 Audiência no rádio
-
1
-
-
-
-
1
1.11 Linguagem
radiofônica
-
2
-
-
-
-
2
1.12 Publicidade no rádio
1
-
2
-
-
-
3
1.13 Gênero no rádio
(mulher/criança)
-
-
1
-
-
1
2
1.14 Rádio e jornalismo
-
-
2
-
3
1
6
1.14 Rádio e sociedade
-
-
-
1
-
1
2
1.15 Censura no rádio
-
-
-
3
1
-
4
1.16 Mediação cultural
no rádio
-
-
-
1
-
-
1
1.17 Construção da
identidade
-
-
-
-
1
-
1
1.18 Recepção
-
-
-
-
1
-
1
1.19 Rádio e
desenvolvimento
-
-
-
-
1
-
1
1.20 Rádio e a II Guerra
-
-
-
-
3
3
1.21 Rádio e a
interatividade
-
-
-
-
1
1
1.22 Futebol e o rádio
-
-
-
-
1
1
2
1.23 Suicídio de Getúlio
Vargas e o rádio
-
-
-
-
-
8
8
1.TEMÁTICAS
223
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Quadro III (I) - Temática – Audiovisual/Visual (122)
2005
2006
2007
2008
2009
Cinema
Cinema
Animação 2D/ 3D
Adaptação
Artes visuais,
Comunicação
Espaço público
Cinema
Cultura
Identidade
Comunicação
Cineclubes
católicos
Audiovisual,
Biblioteca Nacional,
Documentário
Jornalismo
Documentário
Cinema
Cinema,
Educação à
distância
Memória
Educação
Comunicação
Comunicação,
Nazismo
Efeitos Visuais
Cultura
Política
Fantasia medieval
Democratização
da comunicação
Constituição de
1988,
sociedade
História em
quadrinhos
Documentário
HDTV
Identidade
regional
Internet
Interatividade
Língua
Portuguesa
Televisão
Iconografia
Linguagem verbal
e não-verbal
Memória
Políticas de
comunicações
Programação
local
Técnicas de
Animação
Televisão
Televisão
Educação
Identidade
Imprensa
Interculturalidade
Literatura
Brasileira
Memória
Dança
contemporânea,
Divulgação
Científica,
Ditadura militar,
Documentário,
Entretenimento,
Fotografia,
Homossexualidade,
Humor,
Narrativa ficcional
televisiva
IPTV,
Qualidade da TV
Jornalismo,
Reality Show
Melodrama,
Televisão
Memória,
Videodança
Neo-realismo,
Videorreportagem Poder Político,
Produção de
Sentido,
Reality show,
Televisão,
Web 2.0
224
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Os dois últimos quadros – referentes à temática de Mídia Sonora e de
Mídia Visual e Audiovisual – sedimentam, de certa forma, as análises que fizemos
anteriormente sobre as tendências dos estudos em história da mídia. Se, por
um lado, é possível observar aparente dispersão temática, por outro, um olhar
mais acurado revela a tendência das pesquisas em concentrar-se em torno de
duas grandes linhas de análise: a memória histórica dos meios de comunicação
e a construção de perfis dos personagens chaves agentes dessa história. É assim
que no grupo de Mídia Sonora registra-se dos 166 trabalhos apresentados, 67
enfocando diretamente a memória do rádio. Em segundo lugar, aparecem os
perfis dos personagens radiofônicos (13).
Em Mídia Visual e Audiovisual também não é diferente: a televisão e o
cinema assumem a dianteira temática, seguida de diversas outras expressões
audiovisuais que são analisadas, na maioria das vezes, sob a forma metodológica
dos estudos de caso, que, como já enfatizamos, se constitui numa espécie
de marca indicial dos estudos de história da mídia nesta primeira década de
constituição da Rede de Pesquisadores de História da Mídia. Devemos agora,
ultrapassar essa fase, corrigindo uma carência fundamental, decorrente do ainda
incipiente desenvolvimento de pesquisas integradas. Só em 2009 foi realizada a
primeira pesquisa verdadeiramente integrada da Rede, desenvolvida pelo Grupo
de Mídia Sonora, e coordenado por Nair Prata, inventariando e mapeando as
rádios existentes em 28 regiões metropolitanas brasileiras.
Quem é quem nesse universo
A Rede de Pesquisadores de História da Mídia reúne professores, alunos e
pesquisadores de todas as regiões do país, de uma centena de universidades
brasileiras e de praticamente todos os programas de pós-graduação em
Comunicação do Brasil.
Evidentemente, que algumas regiões detêm a supremacia da pesquisa,
enquanto outras se destacam pela formação de grupos orgânicos que
sistematicamente e, nos últimos anos, de maneira mais integrada realizam
pesquisas em torno dos múltiplos processos históricos envolvendo os meios de
comunicação.
Apresentamos a seguir quadros e gráficos que sistematizam a participação
dos pesquisadores tanto nos Encontros Anuais, como nos Regionais, e nas
pesquisas desenvolvidas sob a égide dos Coordenadores dos Grupos de Trabalho.
Evidentemente, fora esses pesquisadores, que constituem o núcleo mais dinâmico
da Associação e da Rede de Pesquisadores de História da Mídia, há outros que,
eventualmente, participam das ações.
225
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Coordenadores dos Grupos de Trabalho (2004-2010)
Nome
Instituição
GT
Período
Adolpho Queiroz
UMESP/Mackenzie
Publicidade e
Propaganda
2003-2007
Ana Baumworcel
UFF
Mídia Sonora
2004-2007
Ana Paula Goulart
Ribeiro
UFRJ
Jornalismo
2008-2011
Ana Regina Rego
UFPI
Impressa
2009-2011
Antonio Brasil
UERJ
Mídia Digital
2003
Claudia Moura
PUC RS
Relações Públicas
2004-2008
Cristiano Max P.
Pinheiro
FEEVALE
Mídia Digital
2009-2011
Iluska Coutinho
UFJF
Audiovisual/Visual
2009-2011
José Amaral Argolo
UFRJ
Midiologia
2005
José Ferreira Jr
UFMA
Impressa
2009-2011
José Marques de Melo
(*)
Cátedra UNESCO/
UMESP/INTERCOM
Midiologia
2004-2005
Karina Woitowicz
UEPG
Alternativa
2005-2008
Luciano Klöckner
PUC RS
Mídia Sonora
2009-2011
Luis G. Tavares
NEHIB
Mídia Impressa
2004-2008
Maria Berenice da
Costa Machado
UFRGS
Publicidade e
Propaganda
2008-2011
Marialva Carlos
Barbosa
UFF
Jornalismo
2003-2007
Marlene Blois
UNICARIOCA
Audiovisual
2003
Nair Prata
UNI BH
Mídia Sonora
2009-2011
Robson Bastos
UNITAU
Mídia Visual
2005-2008
Midiologia
2004-2009
Rosa Maria Ferreira
Nava
Rozinaldo Antonio
Miani
UEL
Alternativa
2009-2011
Ruth Vianna
UFMT
Audiovisual
2006-2008
Sonia Luyten
UNISANTOS
Visual
2003-2004
Sonia Virginia Moreira
UERJ
Midia Sonora
2003
Valquíria Kneipp
UFRN
Audiovisual/Visual
2009-2011
Walter Teixeira Lima Jr
Cásper Libero
Mídia Digital
2004-2008
Obs. (*) José Marques de Melo, criador da Rede, foi também coordenador geral dos Grupos e de todos
os Congressos até 2008.
226
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Para melhor caracterização da comunidade acadêmica participante da
Associação, apresentamos a seguir indicadores da dimensão quantitativa do grupo
de pesquisadores mais atuante, organizado numericamente, inicialmente, por
Regiões e depois por Instituições parceiras. Há que se acrescentar também que
a Rede ALCAR é constituída de diversos Núcleos Regionais, também listados a
seguir.
Instituições por Região
Sudeste
Nordeste
Sul
Norte
Os pesquisadores da ALCAR aglutinam-se além dos Grupos de Pesquisa,
também, por Núcleos Regionais. São os seguintes os Núcleos Regionais (NE) da
ALCAR:
1. Núcleo de Alagoas – coordenado pela prof. Rossana Gaia (CEFET-AL)
2. Núcleo da Bahia – coordenado pelo prof. Luiz Guilherme Pontes Tavares
(NEHIB)
3. Ceará – coordenado pela prof. Erotilde Honório (UNIFOR)
4. Rio Grande do Norte – coordenado pelas professoras Maria Érica
(UFRN), Valquíria Kneipp (UFRN) e Maria Angela Pavan (UFRN)
5. Campina Grande – liderado pelo prof. Luis Custódio (UEPB)
6. Maranhão – em Imperatriz, coordenado por Roseana Pinheiro (UFMA –
campus Imperatriz) e em São Luiz, coordenado por José Ferreira Jr (UFMA)
7. Piauí – coordenado por Ana Regina Leal (UFPI) e Samantha Castelo
Branco (UFPI
8. Rondônia – coordenado pelo prof. Edileuson Almeida (UNIRON)
227
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
9. Juiz de Fora- coordenado pela prof. Iluska Coutinho (UFJF)
10. Belo Horizonte – coordenado pela prof. Sandra Freitas (PUC Minas)
11. Vitória – coordenado pela prof. Jussara Brittes (UFES/UFOP), Hérica
Lene (UFES) e José Antonio Martinuzzo (UFES)
12. Viçosa – coordenado pela prof. Kátia Fraga (UFV)
13. Ouro Preto – coordenado pela prof. Nair Prata (UFOP)
14. São João Del Rei – coordenado pelo prof.
15. Santa Catarina – coordenado pelo prof. Francisco Karam (UFSC)
16. Paraná – Curitiba, coordenado pela prof. Cláudia Quadros (UTP);
Ponta Grossa – coordenado pelo prof. Sérgio Gadini (UEPG) e Karina
Woitowicz (UEPG); Guarapuava – coordenado pelo prof. Márcio Fernandes
(UNICENTRO) e pela prof. Ariane Pereira (UNICENTRO)
17. Rio Grande do Sul – coordenado pelas professoras Maria Berenice Costa
Machado (UFRGS) e Claudia Moura (PUCRS)
18. Rio de Janeiro – coordenado por Joëlle Rouchou (FCRB e
UNICARIOCA) e por Esther Bertoletti (IHGB). Destaca-se também no Rio
de Janeiro a participação do Grupo de Pesquisadores de Mídia, Memória e
História, integrado por professores, graduandos, mestrandos e doutorandos
da UFRJ, além de egressos, e da UFF (Ana Paula Goulart Ribeiro, Marco
Roxo, Igor Sacramento, Danielle Ramos Brasiliense, Letícia Cantarela
Matheus, Silvana Louzada, Hérica Lene, José Antonio Martinuzzo, Cássia
Louro Palha, Renata Rezende, Bruno Fernando Castro, Fernanda Lima
Lopes, Márcio Castilho, entre outros).
19. São Paulo – coordenado pelas professoras Gisely Hime (UNIFIAM),
Angela Shawn (Mackenzie), Adolpho Queiroz (UMESP), Ciça Guirado
(UNIMAR), Graças Caldas (UNICAMP).
No que se refere às parcerias internacionais, a Rede ALCAR desenvolve
ações de cooperação com as seguintes instituições:
EUROPA
1. Université Versailles;
2. EHESS (Paris)
3. Universidade Fernando Pessoa (Porto)
AMÉRICA CENTRAL E LATINA
1. Universidade de Córdoba
228
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
2. Universidade de Buenos Aires
3. Universidade do México
4. Pontifícia Universidade Católica do Peru.
Do ponto de vista das parcerias nacionais, mantemos cooperação com as
seguintes instituições: Intercom; Socicom; Globo Universidade; Cátedra Unesco/
UMESP para o Desenvolvimento Regional; Cátedra FENAJ; Revista Imprensa;
Associação Maranhense de Imprensa (AMI); Instituto Histórico e Geográfico do
Brasil (IHGB); Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (NEHIB); Biblioteca
Nacional (FBN); entre outros.
Do ponto de vista da recorrência de pesquisadores em todas as edições
nacionais dos Congressos da ALCAR, mapeamos, ainda, as instituições que mais
se fizeram representar nesses oito anos de funcionamento da Rede (Anexo I). Mais
uma vez observamos o predomínio dos pesquisadores da Região Sudeste, seguidos
dos da Região Sul, em decorrência, sobretudo, da supremacia das pesquisas pósgraduadas nessas duas regiões.
Considerações Finais
Deixamos para as últimas linhas desse texto algumas reflexões sobre o que, no
nosso entendimento, podem ser consideradas carências nos estudos envolvendo
a dimensão histórica dos meios de comunicação e as ações que a ALCAR pode
desenvolver no sentido de avançar essas reflexões.
Em que pese o crescimento expressivo das pesquisas, dos evidentes avanços
teóricos e metodológicos, observa-se ainda a carência de reflexões conceituais mais
globais sobre períodos, processos, meios de comunicação. Com isso, a pesquisa
apresenta-se, ainda, de forma fragmentada, o que impede, em certa medida,
maior complexificação das análises.
É, portanto, necessária a implantação de ações no sentido de construir
Núcleos Regionais fortes que, de maneira integrada, promovam pesquisas
também integradas sob temáticas pouco exploradas do ponto de vista das análises
conceituais.
A regionalização das ações da ALCAR, a constituição de núcleos de pesquisas
e a realização de pesquisas temáticas, com a participação de todas as regiões do país
são algumas das ações não apenas para solidificar a Associação, mas, sobretudo,
os estudos históricos sobre a mídia no Brasil. A primeira pesquisa desta natureza,
sobre as rádios de 21 regiões metropolitanas brasileiras foi realizada pelo GT
de Rádio. A segunda – A imprensa antes da Impressão – será realizada a partir
do início de 2011, sob a coordenação geral da Diretoria Científica da ALCAR.
229
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Há também uma necessidade premente de dar maior visibilidade às pesquisas
que vêm sendo realizadas, seja através de ações pontuais (divulgação através do
site da Rede, reimplementação do Jornal da ALCAR, etc.), ou mais duradouras
(dinamização do site, criação de revista científica on-line, produção de livros
temáticos, tal como já faz, por exemplo, o GT de Publicidade e Propaganda que
já editou três livros dessa natureza).
A contigüidade com outros campos de saberes – notadamente a história – o
que leva a uma natural aproximação com pesquisadores desta área das Ciências
Humanos, por outro nos obriga a sedimentar nossos referenciais teóricos e
metodológicos de análise, para que possamos ter reconhecido o nosso lugar de
pesquisadores históricos da mídia, não abandonando a idéia de que a troca de
conhecimento entre os dois campos é fundamental. Nesse sentido, a participação
freqüente e sistemática de pesquisadores oriundos da história tem enriquecido
as discussões nos grupos. Assim, no nosso entendimento, torna-se fundamental
a institucionalização dessas parcerias, fazendo do campo de estudos de história
da mídia um lugar de participação plural, com a necessária multiplicidade de
olhares, sem que percamos a liderança do processo.
Detentora do universo do chamado tempo presente para as suas análises, que
se realizam em concomitância com a vida que se desenvolve em processos cada
vez mais complexos, nos quais as ações de comunicação assumem protagonismo
inconteste, os estudos de Comunicação não valorizam, de maneira geral, a
dimensão histórica. Há, portanto, que mostrar na própria área e para os nossos
próprios pares as razões da urgência da inclusão da dimensão histórica em nossas
análises. Não por mera questão de construção de um lugar de fala reconhecido
e validado, mas por acreditar que o entendimento de processos que se faz em
concomitância com o tempo da vida só pode ser compreendido numa dimensão
que é, sempre, histórica.
230
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Anexo I
Instituições mais presentes nas oito edições dos Congressos da ALCAR
Região Norte
Região Centro
Oeste
Região Nordeste
Região Sudeste
MG/ES/RJ/SP
Região Sul
PR/SC/RGS
UFT
UFMT
UFRN
UNI-BH
UEL
UFPI
UFMG
UNICENTRO
UNIRON
UnB
UFMA
UFC
UFJF
UFV
UFSJ
UEPG
UFSC
UNIFOR
UVV
UTP
UFPE
FAESA
........................
UFPB
UFOP
FEEVALE
FIB
CEFET-AL
UNIPAC
..................
UFRJ
UFRGS
PUCRS
UEPB
UFF
UFSM
AMI
UNICARIOCA
UCS
UEMA
UERJ
São Borja
UNICEUMA
Fac. São Luiz
UNIRIO
UNESA
UPF
UCAM
UNIVATES
FSD
UCPel
..................
UNIMAR
UNIFIAM
UMESP
MACKENZIE
UNISANTA
UNITAU
FACASPER
UNIP
UNESP
PUCCampinas
IHGSP
USP
CIEESP
ABERJE
231
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Anexo II
Data/Local
Congresso
Instituições Promotoras
1-5/06/2003
Rio de Janeiro
I Encontro Nacional da Rede
Alfredo de Carvalho
ABI, ABL, IHGB, ABECOM,
INTERCOM, UERJ e UniCarioca
15-17/04/2004
Florianópolis
II Encontro Nacional da Rede
Alfredo de Carvalho
Cátedra FENAJ - UFSC de
Jornalismo
Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de Santa Catarina
UFSC
1-5/06/2005
Novo Hamburgo, RS
III Encontro Nacional da Rede
Alfredo de Carvalho
Centro Universitário FEEVALE
30/05-2/06/2006
São Luís – MA
IV Encontro Nacional de
História da Mídia
AMI, UNICEUMA, UFMA,
Faculdade São Luis
30/05-2/06/2007
São Paulo – SP
V Congresso Nacional de
História da Mídia
Faculdade Casper Líbero, Centro
de Integração Empresa-Escola
13-16/05/2008
Niterói – RJ
VI Congresso Nacional de
História da Mídia
Universidade Federal
Fluminense (UFF)
19-21/08/2009
VII Encontro Nacional de
História da Mídia
Universidade de Fortaleza
(UNIFOR)
ENCONTROS REGIONAIS – 2010
232
13-14/05/2010
Natal, Rio Grande do Norte
I Encontro de História da Mídia
Regional NE
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - UFRN
12-13/05/2010
Porto Alegre, RGS
III Encontro de História da
Mídia RS
Pontifícia Universidade Católica
do RGS – PUCRS
17-18/06/2010
Guarapuava, PR
I Encontro de História da Mídia
PR/SC
UNICENTRO
9-10/07/2010
Nova Friburgo, RJ
I Encontro de História da Mídia
do RJ
Faculdade Santa Dorotéia, Nova
Friburgo
29-30/04/2010
São Paulo, SP
I Encontro de História da Mídia
do Sudeste
Universidade Mackenzie
7-8/10/2010
Palmas, TO
I Encontro de História da Mídia
do Norte
Universidade Federal de
Tocantins - UFT
CAPÍTULO 12
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado
profissional
Adolpho Queiroz1
Introdução
A redemocratização do Brasil, nos anos 1980, ensejou ao campo profissional e
acadêmico, no entorno da atividade político-comunicacional, um desenvolvimento
muito grande. Se antes dos dias mais difíceis da ditadura militar, era impossível
conjugar possibilidades de pesquisa e atividade profissional no campo, depois
dela, cresceu em interesse, proporção e competência, o espaço brasileiro de
observação, análise e inovação no campo da propaganda política.
A abertura política da década de 1980 trouxe consigo uma vida pluripartidária,
liberdade de imprensa e expressão em todos os veículos, bem como a necessidade
de profissionalização neste campo de atuação, fazendo surgir uma série de espaços
para a pesquisa, para o desenvolvimento profissional de jornalistas, publicitários,
relações públicas, cineastas, escritores e planejadores, que trouxeram para a
interface comunicação e política um nível de interesse acentuado.
Além de exportador de mão de obra qualificada para a realização de
campanhas eleitorais na América Latina, Europa e África, o Brasil possui hoje
um repertório acadêmico de excelente nível, por conta de suas ações no ensino
de graduação e nas pesquisas de pós-graduação. Vários cursos de Publicidade e
Propaganda – hoje são mais de 600 espalhados pelo país – possuem em sua grade
curricular, a disciplina “Propaganda Política”, onde seus alunos aprendem a realizar
campanhas eleitorais completas (briefing, planejamento, história do candidato e
da cidade onde ocorrerá o pleito, pesquisas de intenção de voto, agenda política e
mercadológica de uma campanha, legislação eleitoral, criação dos brindes gráficos
de uma campanha, produção de programas de rádio e televisão, planejamento de
mídia e dos custos de uma campanha).
Tais ações são desenvolvidas para o lançamento de campanhas municipais de
prefeitos e vereadores, tem apresentações públicas realizadas diante dos próprios
candidatos/clientes, que avaliam todos os aspectos técnicos e estéticos das peças e
discutem a viabilidade financeira dos exercícios propostos.
Em outras instituições, é comum os estudantes de graduação debruçarem-se
1 É pós-doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade Federal Fluminense e atualmente é o presidente
da Politicom.
233
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
sobre outras metodologias, como a análise de discurso e de conteúdo, para avaliar
de que forma jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, e sites na internet,
cobrem o dia-a-dia de um candidato, reforçando nestes estudantes, noções de
cidadania, de compromisso com a ética profissional e, sobretudo, fazendo uma
crítica à realidade política e comunicacional das cidades, Estados e do próprio
País.
A realização no Brasil de eleições a cada dois anos – para presidente da
República, senadores, deputados federais e deputados estaduais, num momento e,
de prefeitos e vereadores, no período seguinte, fez com que emergissem os estudos
de caso, análises sobre o comportamento dos candidatos diante da imprensa,
às críticas aos abusos do poder econômico e os exageros das alianças políticas
com a finalidade de ampliação da presença do candidato no horário eleitoral
de propaganda gratuita; a divulgação de pesquisas eleitorais, pelos institutos
apropriados ou por prestadores de serviços locais/regionais, deu ao campo, uma
tensão saudável para o exercício da comunicação como ferramenta necessária e
estratégica aos processos eleitorais.
Simultaneamente ao crescimento do ensino das noções do marketing
político em cursos de graduação em Publicidade e Propaganda pelo País, há
um avanço das contribuições oferecidas pelos programas de pós-graduação em
Comunicação, especialmente no desenvolvimento de teses, dissertações e artigos
científicos sobre esta temática.
Vale registrar os espaços para a difusão científica sobre comunicação e
política em diversas entidades científicas e profissionais, que realizam encontros
anuais pelo País, caso da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação (Intercom) que através do núcleo de pesquisa sobre Publicidade
e Propaganda, tem aberto nos congressos anuais, espaços para apresentação de
comunicações científicas sobre o tema.
Em 2005, em conjunto com alunos do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação da Universidade Metodista de São Bernardo (UMESP), foi debatido
um texto, construído coletivamente, mostrando “De Quintino Bocayuva a Duda
Mendonça: breve história dos marqueteiros políticos no Brasil republicano”,
posteriormente transformado em artigo para a revista Comunicação e Política,
editada em 2006 pela Universidade Fernando Pessoa, da cidade do Porto, em
Portugal.
A entidade co-irmã da Intercom na América Latina, a Associação LatinoAmericana de Pesquisadores de Comunicação (ALAIC), nos seus encontros bianuais, também tem aberto espaços para este diálogo em dois GTs: em Publicidade
e Propaganda e no de Comunicação Política.
A Intercom, em colaboração com a Cátedra Unesco de Comunicação para
234
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
o Desenvolvimento Regional, também apoiou a publicação do livro “Marketing
político brasileiro, ensino pesquisa e mídia”, em 2005, onde foram reunidos
parte dos artigos apresentados com os alunos nos congressos anuais da entidade.
Outro espaço de destaque foi o convite para participar do colóquio bi-nacional,
Brasil/Itália, do qual resultou o texto “Reflexos fascistas na propaganda política
do Brasil”2.
Já na Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Comunicação, a Compos, o GT de Comunicação e Política, tem-se mostrado,
nos últimos anos, um dos mais ativos e produtivos, com uma contribuição
enriquecedora aos estudos sobre comunicação e política. É possível encontrá-los
agrupados no site da entidade.
Outro grupo que tem se mostrado simpático à temática é a Rede Alfredo
de Carvalho, Rede (Alcar), montada com o objetivo de estudar a história da
imprensa no Brasil, que completou dois séculos em 2008. Esta Rede formou
também o seu Grupo de Publicidade e Propaganda, que além de publicar livros
nos últimos congressos, abriu espaços expressivos para comunicações sobre
propaganda política3.
Tem havido espaço também para o diálogo entre comunicadores, sociólogos,
historiadores e pesquisadores cujo interesse comum tem sido a política e a
comunicação, nos congressos nacionais da Associação Nacional de História
(ANPUH) e na Associação Nacional de Ciências Sociais (ANPOCS), em cujos
congressos se reservam espaços para o diálogo, debates e produção no campo.
Há que se registrar também as contribuições de duas entidades paradigmáticas.
Uma é o Instituto de Pesquisas Eleitorais da Universidade Cândido Mendes
do Rio de Janeiro (IUPERJ), que além de contribuições fundamentais para a
formação deste campo, possui o maior acervo de fitas de vídeo sobre programas
eleitorais veiculados pela televisão brasileira. Outra instituição deste porte é a
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro que concentra microfilmados ou preservada
originalmente, grande coleções de jornais impressos e revistas do país, onde tem
sido possível realizar inventários e pesquisas temáticas sobre comunicação e
política.
2 Entre os artigos apresentados nos congressos da INTERCOM e reunidos naquele volume estão “O pittagate
num jornal de causas”; “Mário Covas e o imaginário de um povo na mídia”; “Roseane Sarney, que era de vídeo
e se quebrou”; “As eleições de 2002 nas entrelinhas das revistas”.
3 Os livros são “Propaganda, história e modernidade”, Editora Degaspari: 2005, Piracicaba, onde é possível
encontrar os artigos “Floriano Peixoto, consolidador da República no Brasil”, de Bruna Vieira Guimarães;
“Marketing político de Lula em 2002: os posicionamentos das revistas Cartacapital, Veja e Primeira Leitura”,
de Ingrid Gomes e “Propaganda política no Estado Novo”, de Patrícia Polacow e Mauricio Romanini, todos
os alunos do programa de pós-graduação em Comunicação da UMESP. O outro livro referência é “Sotaques
regionais da propaganda”, Editora Arte e Ciência, São Paulo: 2006, onde é possível encontrar o artigo “A censura
na propaganda ideológica nos impressos no início da república”, de Bruna Vieira Guimarães, sendo os dois livros
organizados pelo autor deste artigo.
235
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
Foi criada em dezembro de 2006, a Associação Nacional dos Pesquisadores
de Comunicação e Política (Compolítica), em evento realizado na Universidade
Federal da Bahia (UFBA), um dos grandes centros de pesquisa sobre esta temática
no País. Trata-se da reunião de um grupo seleto integrado pelos mais experientes
pesquisadores instalados nas principais universidades públicas e privadas do
Brasil, que também passará a realizar congressos anuais com o objetivo de discutir
as várias dimensões da comunicação política no rádio, televisão, jornais e revistas,
Internet entre outras temáticas.
Em todos estes segmentos a interface ensino/pesquisa/difusão tem sido
muito acentuada, mostrando o vigor e o interesse pela temática. Além destes
segmentos acadêmicos ressalte-se ainda a existência da Associação Brasileira de
Consultores Políticos (ABCOP), entidade que reúne profissionais e pesquisadores,
que trabalham no dia–a-dia de campanhas eleitorais por todo o País. Fundada
em 1991, a entidade reúne centenas de profissionais das áreas de planejamento,
pesquisa, produtoras de vídeo e áudio, que atuam em campanhas eleitorais,
bem como dão suporte aos políticos e partidos, desde vereadores ao Presidente
da República. A entidade realiza periodicamente o seu Congresso Brasileiro
de Estratégias Eleitorais e Marketing Político e têm estimulado a publicação,
entre seus associados, de livros, boletins eletrônicos e informações visando à
troca de experiências sobre resultados obtidos a partir das técnicas tradicionais e
contemporâneas de comunicação política.
Vale ainda registrar o interesse do jornal especializado em propaganda, “Meio
e Mensagem”, no assunto. O periódico realizou em abril de 2002 no Brasil um
evento denominado “Maxivoto, Encontro Internacional de Marketing Político”,
que reuniu na ocasião especialistas ligados ao mercado, como representantes do
Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) ou publicitários
famosos como Duda Mendonça e Nizan Guanaes e estrelas do marketing político
norte-americano como Joe Napolitan, um dos pioneiros da área e Dick Morris,
consultor de marketing político do ex-presidente americano Bill Clinton.
As contribuições da UMESP/UNIMEP à pesquisa sobre propaganda política
Desde 1998, quando obtive meu titulo de doutor em Comunicação pela
Universidade Metodista de São Paulo, venho conduzindo um projeto de pesquisa
que procura recuperar a memória das eleições presidenciais brasileiras, na ótica
da propaganda política. De lá pra cá, já foram defendidas 29 dissertações de
mestrado, que mostraram de que forma os ex-presidentes brasileiros venceram
suas eleições e quais as estratégias comunicacionais utilizadas. São estudos que
reúnem as contribuições de pesquisadores de diversas universidades brasileiras
sobre Deodoro da Fonseca, Getulio Vargas (o primeiro e o segundo governos),
Jânio Quadros, Juscelino Kubitsheck, Fernando Collor, Itamar Franco, Tancredo
236
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
Neves, Prudente de Morais, José Sarney, Rodrigues Alves, Campos Sales, Castelo
Branco, Emilio Médici, Ernesto Geisel,Costa e Silva,Fernando Henrique
Cardoso,Washington Luiz,Nilo Peçanha,Artur Bernardes, e dois estudos
específicos sobre a vitória de Luis Inácio Lula da Silva, uma vendo a cobertura
jornalística através da Folha de S.Paulo e outra sobre as revistas CartaCapital, Veja
e Primeira Leitura.
Também foram defendidas três teses de doutorado sobre o tema: uma
fazendo um inventário das opções metodológicas utilizadas nas dissertações de
mestrado, mostrando de que forma os candidatos se articularam com jornais,
revistas, emissoras de rádio e televisão; outra mostrando a evolução do conceito de
marketing político na televisão brasileira; e uma terceira, mostrando de que forma
um ex-prefeito de cidade do interior conseguiu reverter um processo eleitoral
desfavorável ao seu candidato indicado, através do canal de TV local.
Há ainda em processo, estudos sobre as campanhas eleitorais de João Goulart,
João Baptista Figueiredo e o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso.
Outra tese de doutorado em construção discutirá o impacto da urna eletrônica no
processo comunicacional sobre eleições majoritárias e proporcionais no Brasil.
Em outra vertente, a UMESP, em parceria com a Cátedra UNESCO de
Comunicação para o desenvolvimento regional já organizou no seu próprio campus
e nos campi de outras instituições de ensino do Estado de São Paulo, o Sociedade
Brasileira dos Pesquisadores e Profissionais em Comunicação e Marketing Político
(POLITICOM) que tem sido igualmente um espaço de difusão e troca de idéias
sobre o tema. Nas suas nove edições – três na UMESP, uma no Instituto Superior
de Ciências Aplicadas, de Limeira/SP, outro nas Faculdades Claretianas de Rio
Claro/SP, na Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara d Oeste, na Faculdade
Prudente de Moraes em Itu, na Universidade de Taubaté e em 2010, no Centro
Universitário Salesiano de Americana, Unisal reuniu especialistas de renome
como Gaudêncio Torquato, Carlos Eduardo Lins da Silva, Venício Artur de Lima,
Graça Caldas, Carlos Manhanelli, Marcelo Melo, Cristiane Salles, Letícia Costa,
Antonio Hohlfeldt (presidente da Intercom), Sonia Virginia Moreira, Luciana
Panke, Paulo Roberto Figueira Leal, além dos deputados Francisco Sardeli (PV),
Célia Leão (PSDB) e Roberto 0Felício(PT) e do diretor para assuntos da América
Latina da Fundação Konrad Adenauer, Peter Beherens.
Ao lado deles, pesquisadores de diversas universidades brasileiras
apresentaram suas comunicações, bem como estudantes de graduação puderam
apresentar trabalhos de pesquisa aplicada, com resultados concretos de
campanhas eleitorais construídas especialmente para esta finalidade. Em 2007
o evento aconteceu na Faculdade Anhanguera, em Santa Bárbara d´Oeste/SP e
além de palestras, conferências, lançamentos de livros e revistas especializadas,
o evento possui Grupos de Trabalho sobre propaganda política em jornais,
237
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
rádios, televisão, internet, pesquisa aplicada de campanhas eleitorais e teoria da
propaganda política, reunindo centenas de participantes.
Outra contribuição expressiva da nossa Universidade se dá através da Revista
Comunicação e Sociedade ou por intermédio das publicações editadas pela
Cátedra UNESCO. Nas edições de números 30 e 33, a revista publicou ensaios
e dossiês contendo farta referenciação bibliográfica produzida no Brasil pelos
comunicadores políticos, bem como montou um dossiê sobre o tema telepolítica,
mostrando o impacto da televisão nos processos eleitorais brasileiros, reunindo
autores como Albino Rubim e Neusa Gomes.
Periodicamente a revista tem-se aberto a contribuições sobre comunicação e
política em suas páginas. Já através da Cátedra UNESCO são editados anualmente
os seus Anuários UNESCO/UMESP de comunicação para o desenvolvimento
regional, que tem feito a divulgação do Politicom, bem como aberto espaços
para divulgação de textos de reflexão sobre o campo. O livro “Pensamento
Comunicacional Latino-Americano, da pesquisa denúncia ao pragmatismo
utópico”, organizado por José Marques de Melo e Maria Cristina Gobbi, foram
abertos espaços para a difusão de conceitos sobre a evolução do marketing político
no continente latino-americano, entre outras idéias sobre o campo.
Dos vários desdobramentos do projeto que ora coordeno na UMESP, vale,
por fim, um registro importante, que foi a transformação—através de um conjunto
de artigos – no livro “Na arena do marketing político, ideologia e propaganda nas
campanhas presidenciais brasileiras”, editado pela Summus Editorial, uma das mais
prestigiadas editoras ligadas ao campo da comunicação no Brasil. Nele são divulgadas
parcelas das pesquisas que – com apoio dos meus orientandos – ajudei a concluir4.
Outra contribuição importante são os ebooks lançados a partir destes
congressos, côo “A propaganda política no Brasil contemporâneo”, em 2008;
“marketing internacional, a propaganda ideológica diante da globalização”, em
2009 e “Eleições brasileiras, estratégias de propaganda política 2010, que superam
25 mil acessos”. Além da produção científica em livros, artigos, espaços na Internet,
CD’s dos eventos, todas estas discussões recentes sobre o papel do marketing
político na consolidação da democracia do Brasil tem sido difundidas através de
artigos e entrevistas para jornais, emissoras de rádio e de televisão do país, sites e
blogs especializados, fazendo com que aumente o interesse pelo assunto.
4 Entre os artigos, destaco “Prudente de Morais: a visão singular como sustentáculo do fenômeno coletivo”,
de Mauricio Romanini; “Getúlio Vargas: a propaganda ideológica na construção do líder e do mito”, de Karla
Amaral; “Peixe vivo em água fria: Juscelino e a propaganda política”, de João Carlos Picolin; “Jânio Quadros:
as representações metafóricas da vassoura no imaginário popular”, de Eduardo Grossi; “Tancredo Neves: muda
Brasil! Volta a sorrir meu Brasil!”, de Hebe Gonçalves; “José Sarney: você conhece o mapa da mina”, de Paulo
César D´Elboux; “Fernando Collor de Melo: encenações rituais do espetáculo político”, de Ricardo Costa;
“Itamar Franco: imagem política nas conotações do fusca”, de Aparecida Amorim Cavalcanti.
238
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
Por fim, com estas informações e referências, é possível constatar que o
marketing político e a propaganda política deixaram de ser utilizados de forma
amadora no Brasil após a ditadura militar e têm experimentado um crescimento
muito grande no campo profissional e no âmbito da pesquisa científica. Setores
que se retro alimentam em períodos eleitorais, que refletem sobre causas/efeitos
na presença da mídia nos períodos eleitorais e, especialmente, que têm sido
levadas as salas de aula, presenciais ou virtuais, do Brasil contemporâneo, para
que seja compreendido teoricamente, aplicado metodologicamente e difundido
como ciência.
E mais do que isso, estas técnicas e procedimentos têm sido repassadas
também – a partir de sua dimensão teórica – a outras organizações que delas
se utilizam, como eleições que ocorrem periodicamente no País em sindicatos,
ONGs, associações de classe, clubes sociais/esportivos/recreativos.
A propaganda política no Brasil no século XX
O século XX iniciou-se no Brasil com o impacto da industrialização da imprensa.
A proclamação da República e o estímulo às atividades jornalísticas, fizeram
florescer o debate político-partidário. A partidarização da imprensa naqueles
tempos é uma das marcas notáveis do processo.
O surgimento das revistas de sátira e humor, como “Careta”, “Fon” e
“O Malho”, fizeram com que as figuras políticas de presidentes da república,
governadores, prefeitos passassem a receber um olhar severo e crítico. O
humor político foi, portanto, uma expressão para popularizar e estigmatizar
os representantes do poder público. Já o surgimento do rádio, em 1922, com
uma inauguração festiva feita no Rio de Janeiro, tendo como principal orador o
Presidente Epitácio Pessoa, deu ao veículo, uma amplitude maior de comunicação
para as ações políticas.
Essa percepção se confirmou a partir da sua utilização durante a II Guerra
Mundial, de forma intensa pelo então Ministro da Propaganda do governo
dirigido pelos nazistas, Joseph Goebbels. Sob este tipo de influências, o então
Presidente brasileiro, Getúlio Vargas, criou o D.I.P., Departamento de Imprensa e
Propaganda, com o duplo objetivo de controlar as emissoras de rádios, os jornais
e revistas através da censura e da distribuição de verbas públicas para a construção
de uma imagem pública que lhe fosse favorável.
Nos anos 40, Getúlio não tinha receio de ser caricaturado pelos cartunistas
e chargistas da época; orgulhava-se de ser chamado pelo apelido de “Gegê”, era
freqüentador habitual de programas de auditório promovidos pelas emissoras de
rádio e ficou feliz da vida quando lhe compuseram uma marchinha de carnaval,
cuja estrofe dizia o seguinte:
239
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
“Bota o retrato do velho / bota no mesmo lugar/
o retrato do velhinho,/ faz a gente trabalhar. “
Nos anos 50, Juscelino Kubistcheck de Oliveira, consagrou sua ação a partir
da criação de um slogan imbatível, construído pelas letras iniciais do seu próprio
nome. “JK” foi uma poderosa marca de comunicação no período em que ele
governou o Brasil, construiu Brasília, programou a primeira fábrica de automóveis
e adotou como marca a frase “fazer o Brasil crescer 50 anos em 5.”
Depois dele, Jânio Quadros, com seu estilo peculiar de fazer propaganda
política, vestindo-se como um ferroviário ou como molambento, criou outra
marca histórica da propaganda política do Brasil, utilizando-se de uma vassoura
como símbolo para eliminar a corrupção no cenário político nacional. É daquele
período o jingle “varre, varre, vassourinha...”
Os anos 60 encontraram o Brasil mergulhado numa profunda crise
institucional, com reflexos no desenvolvimento das ações político-partidárias, a
criação e manutenção de um regime de exceção sob governos militares , fechamento
do Congresso Nacional, perseguições a militantes políticos, entre outras ações
nefastas. É daquele período o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”, cunhado pela
equipe do general Emílio Médici, como um convite às oposições para que se
calassem, condenando-as ao exílio. A apreensão do tablóide humorístico “O
Pasquim”, que satirizou o slogan, incluindo a ele o complemento, “Brasil, ame-o
ou deixe-o... e o último que sair, apague a luz”, é apenas uma das marcas da
censura e da repressão política no período, quando os jornais publicavam receitas
de bolo, poemas de Camões ou fotos de flores e borboletas quando tinham suas
matérias censuradas.
Os anos 70 pegaram o Brasil numa luta intensa pela sua redemocratização,
com movimentos de fortalecimento da sociedade civil, cujos slogans mais
marcantes foram o da “anistia, ampla, geral e irrestrita”, ou a convocação de uma
Assembléia Nacional Constituinte.
Nos anos 80, do ponto de vista da propaganda política, o movimento
pelas eleições “Diretas-Já”, foi sem dúvida o momento mais expressivo. Um
movimento nacional que empolgou a sociedade civil e promoveu grandes
concentrações populares. As “Diretas-Já” transformaram-se em slogan, jingles,
outdoors, cartazes e uma parafernália de peças que saíram dos grandes, médios e
pequenos centros urbanos para que o Brasil pusesse fim ao período da ditadura
militar. É do final dos anos 80 também o episódio da realização das primeiras
eleições livres e diretas para a escolha de um Presidente da República. Sob o
240
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
slogan “Caçador de marajás”, o governador de Alagoas, Fernando Collor de
Melo enfrentou as primeiras eleições sob um movimento cultural diferenciado
da propaganda política. Foi a primeira eleição que teve todos os requintes da
moderna comunicação de massa, envolvendo simultaneamente jornais, rádios,
televisões, outdoors, revistas e mídias promocionais e alternativas distribuídas
fartamente. Seu maior opositor, o ex-metalurgico Lula, do PT, criou o slogan
“sem medo de ser feliz”.
Os anos 90 surgem com o “impeachment” de Collor, a ascensão de Itamar
Franco ao poder, com a ridicularização do seu “topete” como marca registrada
dos chargistas contra sua postura de indeciso, ao lado de um provincianismo
marcante, que legaram poucos momentos criativos em termos de propaganda
política.
Seu sucessor, o presidente Fernando Henrique Cardoso participou dos
embates políticos e da segunda eleição presidencial, tendo como símbolo a mão
espalmada, mostrando nos cinco dedos, suas prioridades políticas no campo da
educação, saúde, transportes, habitação e agricultura. Cardoso venceu as eleições
no primeiro turno, contra o slogan igualmente marcante de Lula, com o “Lulalá”.
Na seqüência foram oito anos do governo Lula, inspirados sob a propaganda
eleitoral e pós eleitoral de Duda Mendonça e João Santana, que coordena
também em 2010 a campanha da presidenciável Dilma Rousseff pelo Partido dos
Trabalhadores.
A par destes acontecimentos nacionais, que nos ajudam a refletir sobre
o impacto da comunicação política, o restabelecimento dos procedimentos
democráticos e a realização de eleições livres e diretas em todos os níveis, de
vereador a Presidente da República, possibilitaram a presença de profissionais de
comunicação especializados em propaganda política.
Trata-se de um campo em busca de aperfeiçoamento de ações e de
aprofundamento qualitativo. Uma legislação em contínua mudança tem impedido
um planejamento mais adequado na área. A cada novo ano, uma novidade. A
novidade de 97 é a apresentação de forma diluída pelas emissoras de rádio e
televisão, em forma de “clips”, das propostas dos partidos.
O que virá pela frente? Os desafios nos levam a acreditar na pesquisa de
novas formas de utilização destes espaços como perspectiva inexorável para a
consolidação deste campo de ação. A construção da imagem pública de um ator
político deve passar pelo crivo inexorável da ética. Afinal, ao fabricarmos Collors
e Pittas—com dois eles e dois tês—nós publicitários e jornalistas especializados
estamos prestando um desserviço à democracia.
241
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
Também nos anos 90 iniciei, com apoio da Universidade Metodista de
Piracicaba, um projeto de disseminação de conteúdos sobre propaganda política
nos cursos de graduação. Entre os resultados a partir da realização de quatro projetos
de pesquisa, no ano de 1997, feitos por professores do Curso de comunicação, em
Cooperação com o Núcleo de Pesquisa e Documentação Regional, e professores
do Departamento de Ciências sociais e Geo-História da própria Universidade
Metodista de Piracicaba, representa outra referência importante para o trabalho
de sistematização das ações da propaganda política na cidade de Piracicaba.
Com linhas de pesquisa voltadas para acontecimentos local-regionais no
campo da Comunicação, temos procurado contribuir para o desenvolvimento
do repertório sobre assuntos relativos à comunicação política. A realização
destes quatro estudos resgatou parcelas das eleições municipais de Piracicaba
no período que compreende os anos 1968/92 e publicadas em 1996 em livro
intitulado “Imprensa e eleições em Piracicaba”, contribuiu igualmente para o
aperfeiçoamento deste trabalho.
O livro contém basicamente textos que enfocam as eleições municipais e
as eleições gerais daquele período. E noutra vertente, faz a análise do discurso do
principal periódico da cidade, o “jornal de Piracicaba”, mostrando a evolução da
cobertura jornalística que desenvolveu nos últimos anos, passando pelo período
de maior presença de seu diretor-proprietário, que atuava de forma crítica e
opinativa sobre os pleitos eleitorais e evoluindo para uma fase em que a opinião
deu lugar ao noticiário, reportagens, pesquisas, maior volume de fotos, etc.
Este livro, em seus vários capítulos, virou igualmente obra de referência
para o curso de “Propaganda Política”. Percebe-se que a disciplina “Propaganda
Política”, ao invés de trabalhar como elemento de desagregação e desinteresse dos
estudantes, tem feito esforços significativos no sentido de consolidar-se como
peça importante para a ampliação dos conhecimentos entre os estudantes do
Curso de Publicidade e Propaganda.
À falta de uma melhor sistematização das suas ações, estas iniciativas
começam a lhe dar um perfil mais sugestivo. E o debate, sempre presente entre
os estudantes e professores da área, pode ampliar o grau de compreensão sobre o
seu papel no conjunto das disciplinas e atividades do curso. Bem como despertar
novas vocações e talentos para virem a trabalhar, de forma conseqüente, em
projetos de campanhas políticas e eleitorais no futuro.
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Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
Politicom, a regionalidade na propaganda política
Desde que foi estabelecida a Cátedra Unesco de Comunicação para o
Desenvolvimento Regional, junto ao Programa de Pós-Graduação da Universidade
Metodista de São Paulo, em 1998, a meta dos seus executores foi a de dar
visibilidade para temas contemporâneos, construindo repertórios adequados para
interpretá-los.
A partir de 29 de agosto de 2002, no anfiteatro do Edifício Capa, do
Programa de Pós- Graduação em Comunicação da UMESP, começou a ser
escrita uma nova história na área de Comunicação. Primeiramente com o
nome de Seminários Brasileiros de Marketing Político e depois renomeado em
2006, com as comemorações dos 10 anos da Cátedra Unesco em São Bernardo,
transformado em Conferência Brasileira de Marketing Político. E finalmente em
2008 determinado como sendo o Congresso Brasileiro de Marketing Político.
Com modéstia, naquele ano, o então reitor da Universidade, Davi Ferreira
Barros, ao lado do diretor da Cátedra Unesco, José Marques de Melo, abriram
solenemente o encontro que percorreu três períodos do dia, entre palestras,
apresentações de trabalho, culminando com uma conferência pronunciada pelo
jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva sobre a temática do marketing político e
eleitoral. Entre alunos do mestrado e doutorado da Metodista, fixou-se o objetivo
de dar prosseguimento ao evento no ano seguinte.
Em 2003, ainda no mesmo auditório, tendo como convidado especial
Gaudêncio Torquato, o II Politicom já recebeu uma estrutura organizacional mais
adequada. Teve até cartaz e folder e uma programação rica apreciada igualmente
por alunos de pós e de graduação da Metodista. Foi também em agosto de 2004
que o III Politicom realizou-se sob o patrocínio do Instituto Superior de Ciências
Aplicadas, de Limeira/SP, tendo como coordenadora local. Adriana Pessate
Azolino e como conferencista Graça Caldas, do programa de pós-graduação
em comunicação da Metodista. Naquela ocasião, a primeira vez que o evento
saia de São Bernardo, optou-se também por agregar às palestras, a apresentação
de trabalhos em GTs, Grupos de trabalho que receberam contribuições da
propaganda política no rádio,televisão, Internet, jornais, revistas, bem como um
especial, tratando das campanhas políticas desenvolvidas pelos alunos dos cursos
de publicidade das várias instituições de ensino superior presentes.
O IV Politicom realizou-se também em agosto de 2005, nas Faculdades
Claretianas de Rio Claro/SP, sob a coordenação local de João Carlos Picolin e
colocou o evento na modernidade, construindo o seu primeiro site de divulgação,
feito especialmente pelos acadêmicos da agência escola de publicidade da
instituição. O presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos
(ABCOP), Carlos Manhanelli fez então a conferência de abertura, mostrando
243
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
um pouco da facetado mercado aos presentes.
A comemoração dos dez anos de existência da Cátedra, realizada entre 9 a 11
de outubro de 2006, fez com que inúmeros eventos simultâneos fossem realizados,
para comemorar a efeméride. Junto com o V Politicom, realizaram-se as etapas do
Folkcom, ComSaúde, Regiocom, Unescom, Celacom, promovidos igualmente
pela Cátedra. E o evento ganhou nova denominação, passando a chamar-se
Conferência Brasileira de Marketing Político. Além disso, ganhou um tema
central para as suas discussões. “Comunicação política na Internet” ficou sendo
um marco importante no debate, que reuniu pela primeira vez pesquisadores de
universidade públicas e privadas, como da Universidade Federal de Juiz de Fora/
MG, Universidade Federal de Tocantins/TO, Universidade Federal do Paraná,
Universidade federal de São Carlos, entre outras.
Pelo sexto ano consecutivo, foi realizado o Congresso Brasileiro de Marketing
Político (Politicom), em outubro de 2007 no campus da Universidade Metodista
de São Paulo, em comemoração aos dez anos de instalação da Cátedra Unesco/
UMESP. O evento recebeu 42 papers de diversas universidades brasileiras, que
trataram de temáticas contemporâneas sobre comunicação e política, quer sob o
viés mercadológico, ideológico ou sob a ótica dos estudos das linguagens. Durante
dois dias, pesquisadores dividiram-se entre Grupos de Trabalho e apresentaram
comunicações sobre propaganda política no rádio, na televisão, na Internet,
nos jornais impressos e outdoors. Na mesma oportunidade, alunos de cursos
de graduação de universidades paulistas, como as Faculdades Claretianas de Rio
Claro ou do Instituto Superior de Ciências Aplicadas, de Limeira da própria
Unisal e das Faculdades Anhanguera, de Santa Bárbara d´Oeste apresentaram
trabalhos de conclusão de curso, versando sob o tem,a onde os estudantes foram
estimulados a realizar campanhas eleitorais completas (planejamento estratégico
e de mídia, criação, custos,etc.) que tem sido desenvolvidos nos cursos de
publicidade daquelas instituições. Do Centro Universitário Barão de Mauá, de
Ribeirão Preto, vieram estudos de linguagem sobre o comportamento da mídia
nas eleições presidenciais de 2006.
Análises de linguagem e discurso, apresentadas por professores de programas
de comunicação das Universidades Federais do Paraná, de São Carlos e de Juiz de
Fora, mostraram de que forma a imprensa brasileira vem evoluindo na cobertura
das eleições brasileiras, quer no nível nacional, quer no municipal, através de
estudos de caso contemporâneos. Da Universidade Federal de Palmas/Tocantins,
um grupo de iniciação científica mostrou de que forma os outdoors e a Internet
influíram nas eleições municipais da cidade no ano passado.
As eleições presidenciais brasileiras de 2006 também ensejaram um criterioso
estudo realizado pelos alunos do programa de pós-graduação em comunicação
da UMESP, que inventariaram o comportamento da mídia em doze jornais
244
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
regionais brasileiros: Correio Braziliense, Correio do Estado/Mato Grosso do Sul;
Meio Norte/Teresina-PI e mais nove jornais do Estado de São Paulo, mostrando
os espaços dados aos principais concorrentes das eleições presidenciais deste
ano. Além de dar destaques a charges, caricaturas, títulos, fotografias, noticias,
entrevistas, reportagens, cartas de leitores, entre outros gêneros jornalísticos.
No espaço dedicado às conferências, várias personalidades e pesquisadores
dividiram-se para avaliar os efeitos da Internet nos processos de comunicação
política do Brasil e do exterior. Carlos Manhaneli, presidente da ABCOP,
Associação Brasileira de Consultores Políticos, defendeu, por exemplo, que a
Internet tem muito mais valor do ponto de vista administrativo e de gerenciamento
de campanhas, como motivadora de adeptos e difusora rápida de informações, do
que como instrumento de comunicação política. Para ele, o processo de difusão
através da Internet ainda é mal feito pelos partidos políticos, admitindo que há
muito ainda a ser feito para a consolidação deste veículo como fundamental para
processos de comunicação eleitoral.
Paulo D‘Elboux, mestre em comunicação pela UMESP e diretor das
Faculdades Anhanguera, na mesma linha de Manhaneli, contou episódios sobre
a força da Internet em campanhas eleitorais contemporâneas, mostrando que em
sua cidade natal, Santa Bárbara d´oeste, a Internet funcionou como indutora de
um voto de protesto nas eleições municipais de 2004, quando um catador de
papel – de apelido Arruia –foi eleito como um dos vereadores mais votados da
cidade, sem fazer campanha, apenas com o voto dos internautas da cidade.
Débora Tavares doutora em comunicação pela UMESP e professora das
Faculdades Prudente de Moraes, Itu, mostrou de que forma as relações políticas
entre Brasil e Canadá podem ser feitas, através das ações partidárias. Um estudo
comparativo entre seis partidos dos dois países mostrou as similaridades e diferenças
entre os sites existentes. Noutro estudo de marketing político internacional, alunos
do programa de mestrado da UMESP, Ingrid Gomes, Bruna Vieira Guimarães
e Moises Barel apresentaram um amplo panorama da propaganda política na
China, apresentando de que forma a Internet tem contribuído para a difusão do
conhecimento político naquele país, bem como apresentando as contradições e os
desafios de um veículo aberto como a Internet, num país com as singularidades
ideológicas da China.
Quando atingiu sua sexta edição, o Politicom voltou ao interior de são
Paulo, desta vez a convite da Faculdade Anhanguera, de santa Bárbara d´Oeste/
SP, sob a coordenação local de. Paulo César D´Elboux, tendo como convidado
para discutir o tema “Eleições municipais”, novamente o presidente da ABCOP,
Carlos Manhanelli e de Letícia Costa, da Unitau e no painel de encerramento, a
presença dos deputados Célia Leão (PSDB), Chico Sardeli (PV) e Roberto Felício
(PT), que na condição de parlamentares e clientes, opinaram sobre a importância
245
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
da profissionalização do campo. Posteriormente, o deputado Chico Sardelli (PV),
redigiu uma moção de aplauso ao evento, que foi aprovada pelo plenário da
Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.
Entrando em sua sétima edição, sob a coordenação de Victor Kraide Corte
Real, da Faculdade Prudente de Moraes, em Itu/SP, o Politicom entra na sua
sétima edição e caminha para a sua consolidação institucional, lançando um
e-book, uma revista e preparando-se para tornar-se uma Oscip, capaz de, em
2009, ser capaz de avançar ainda mais nos seus objetivos e propósitos iniciais:
ampliar o repertório, os conhecimentos e a visibilidade do campo da propaganda
política no Brasil.
A cidade de Taubaté, no interior do estado de São Paulo foi escolhida para
ser a sede da oitava edição do Congresso Brasileiro de Marketing Político, que foi
realizado nos dias 15 e 16 de outubro de 2009 .Um dos eventos mais importantes
da área no país, o Politicom é promovido anualmente pela cátedra Unesco de
Comunicação para o Desenvolvimento Regional. A Universidade de Taubaté
(Unitau) sediará a edição deste ano, que tem como seu principal tema: “O Rádio
na Propaganda Política”. O congresso será marcado pelo lançamento da revista do
Politicom e pelas conferências de acadêmicos e profissionais de renome na área da
comunicação política no Brasil.
A temática principal do Politicom de 2010 foi o rádio. O tema foi escolhido
pelo fato de o rádio ser um veículo ao qual o marketing político atual atribui
pouca importância. Dentre os principais nomes da conferência de 2010 estavam
Sonia Virgínia Moreira, docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
considerada uma das principais pesquisadoras da radiocomunicação no Brasil, e
Fernando José, o comentarista político da Rádio Jovem Pan de São Paulo,. Eles
participaram de um simpósio intitulado: “A propaganda política nas ondas do
rádio no Brasil”. Outra conferência de destaque da oitava edição do Politicom foi
a apresentação de um trabalho inédito sobre a importância histórica dos jingles
nas campanhas eleitorais brasileiras, realizada pelo presidente da Associação
Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhaneli.
Além das conferências foram realizadas apresentações de pesquisas e de
projetos relacionados ao marketing político nos vários meios de comunicação.
As apresentações desses trabalhos foram feitas em salas temáticas, organizadas
em grupos de modo a agrupar os estudos sobre o mesmo veículo ou sobre temas
semelhantes. Os grupos se dividiram em rádio, televisão, internet, impressos,
projetos experimentais e temas livres
A coordenadora do curso de pós-graduação em Comunicação e Marketing
Político da Unitau, Letícia Costa, que foi uma das organizadoras do evento,
destacou a presença de palestras e debates regionais no congresso. Um exemplo foi
246
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
a mesa-redonda sobre o tema: “Rádio elege. Participaram do debate o jornalista
da rádio Metropolitana e vereador de Taubaté, Alexandre Vilela (PMDB); o
jornalista da rádio Unitau e profissional de marketing político, Ednelson Prado e
o jornalista da TV Câmara Taubaté, Miguel Kater. Fabio Ricci, cientista político
e docente da Unitau mediou a discussão.
Durante o 8º Congresso Brasileiro de Marketing Político (Politicom),
foi realizada uma sessão de lançamentos de diversos livros de pesquisadores e
profissionais da área do marketing político. Também foi feito o lançamento
da revista institucional do evento. O mestrado em Gestão e Desenvolvimento
Regional da Unitau, que também participou da organização do evento, produziu
um dossiê sobre as principais conferências do evento, publicado no periódico do
mestrado, a Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional.
O Congresso Brasileiro de Marketing Político, que neste ano realizou a sua
oitava edição, consagra-se como um dos maiores eventos da área de comunicação
política no Brasil. Mas a grande dimensão do evento só foi atingida com o
tempo. O evento surgiu a partir de um projeto de Adolpho Queiróz, docente
do Programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Metodista de
São Paulo (Umesp) sobre a propaganda política no Brasil Republicano. Com o
incentivo da Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional,
sediada na própria instituição, Queiróz decidiu criar um conjunto de seminários
com o objetivo de divulgar as pesquisas sobre marketing político realizadas na
instituição.
Com o sucesso das primeiras edições e o apoio de diversas instituições de
ensino e de vários pesquisadores, o evento foi crescendo ano a ano e ganhando
proporções maiores. Esse crescimento do Politicom culminou na criação da
Sociedade Brasileira de Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing
Político em 2008, durante a sétima edição do congresso, realizado na cidade de
Itu, no interior de São Paulo.
Ao conciliar a pesquisa acadêmica e a prática profissional para o estudo e
para o desenvolvimento do marketing político, o congresso não se restringe apenas
aqueles que tem formação na área da Comunicação. Além desses profissionais,
professores e pesquisadores, o Politicom tem atraído pessoas de outras áreas do
conhecimento, principalmente os que têm formação em Sociologia, Antropologia,
Psicologia, História e Geografia, mas que atuam ou desejam atuar na área do
marketing político.
Ao ser realizado em diferentes cidades e instituições de ensino a cada edição,
o Politicom também tem contribuído para a formação e para o desenvolvimento
de uma mão-de-obra especializada na área do marketing político nas regiões
em que acontece. Em 2010, no Centro Universitário Salesiano de Americana
247
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
(Unisal), realizou-se o IX Congresso, tendo como tema “a importância do
marketing político nas eleições brasileiras de 2010” que contou com as presenças
de Antonio Hohlfeldt, presidente da Intercom, de Luciana Panke, Universidade
Federal do Paraná, Paulo Roberto Figueira Leal, Universidade Federal de Juiz
de Fora, do publicitário Chico Santa Rita e do diretor para a América Latina da
Fundação Konrad Adenauer, Peter Behrens. Na mesma ocasião ficou definida
realização do X Congresso do Politicom, em agosto de 2011, na Universidade
Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Criação da Sociedade Politicom
Ao chegar a sua VII Conferência Brasileira de Marketing Político em outubro de
2008, o evento, promovido pela Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação
para o Desenvolvimento Regional, aproveitou sua estada na cidade de Itu/SP,
berço da República do Brasil, para a criação e posse da primeira diretoria da
Sociedade Brasileira de Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing
Político - Politicom.
A entidade foi constituída tendo como objetivos promover a difusão do
conhecimento no campo do marketing político, realizar seminários, congressos,
cursos, publicar revistas, livros, integrar-se como rede científica de pesquisadores
e profissionais e contribuir para o aperfeiçoamento do processo democrático no
país.
Fazem parte da primeira diretoria os professores Adolpho Queiroz,
presidente (UMESP); Paulo D´Elboux, vice –presidente (Faculdade Anhanguera
de Santa Bárbara d´Oeste); secretário, Victor Kraide Corte Real (PUCCamp
e Isca Faculdades/Limeira); diretor científico, João Carlos Picolin (Faculdade
Claretiana de Rio Claro); diretor de planejamento, Mauricio Romanini,(Centro
Universitário da Fundação Educacional Guaxupé/MG); diretor editorial, Roberto
Gondo Macedo (UMESP); diretor de relações internacionais, Carlos Manhanelli
(ABCOP); diretora de documentação, Ingrid Gomes (Centro Universitário
Barão de Mauá,Ribeirão Preto); diretores regionais, Luciana Pank, Universidade
Federal do Paraná/Região Sul; Débora Tavares,Universidade Federal de Mato
Grosso/Cuiabá ,Centro-oeste e Sander Neves, Faculdade Metodista do Espírito
Santo,Sudeste e Andréia Rego, região Norte e Daiane Rufino,Nordeste. Como
membros do Conselho Fiscal foram eleitos os professores Jorge Vidigal, da
UNIMEP; Daniel Galindo, UMESP e Bruna Vieira Guimarães, UNIP.
248
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
Referências bibliográficas e sites
QUEIROZ, Adolpho. (org). Na arena do marketing político. Summus: São
Paulo, 2006.
_________________ (org) Marketing político brasileiro, ensino,
pesquisa e mídia. Editora INTERCOM/Cátedra Unesco: São Paulo, 2006.
_________________
Voto, mídia e pesquisa, propaganda política no
Brasil. Revista Comunicação e Sociedade, São Bernardo do Campo: Pós-Com
UMESP, nº. 30, 2º sem. 1998”.
__________________ Introdução ao dossiê sobre telepolítica. Revista
Comunicação e Sociedade, São Bernardo do Campo: Pós-Com UMESP, nº.
33.
__________________ Maxivoto: Pensamento Comunicacional Latino
Americano. São Bernardo do Campo: Cátedra UNESCO –UMESP, v.3, n.3,
abr/mai/jun, 2002. Disponível em http://www2.metodista.br/unesco/PCLA/
index.htm,
___________________ De Debret a Nizan: a construção da imagem
pública dos governantes. Revista Brasileira de Comunicação. São Paulo:
INTERCOM, n 21, p.69-79, jan-jun 1999.
__________________ De Quintino Bocaiúva a Duda Mendonça: breve
história dos marketeiros políticos no Brasil republicano. In: CARDOSO, P.A.
e CAIRRÃO, A.L, Comunicação e Política, Universidade Fernando Pessoa:
Porto/Portugal, 2006.
___________________ A evolução do conceito de marketing político
no continente latino-americano. In MELO J.M. e GOBBI, M.C. Universidade
Metodista de São Paulo: São Bernardo do Campo, 2003.
___________________ Propaganda política e ensino: avaliação de uma
experiência interdisciplinar. In: MELO, J.M. e CASTELO BRANCO, S. (orgs).
Pensamento comunicacional brasileiro. Grupo de são Bernardo do Campo:
Editora da UMESP, 1998.
249
250
CAPÍTULO 13
Folkcom - Origens da entidade
Betania Maciel1
Introdução
Podemos afirmar que a teoria da Folkcomunicação é a primeira teoria brasileira
das Ciências da Comunicação e da Informação. Nasceu sob a égide de outras duas
iniciativas pioneiras: a fundação do primeiro Instituto de Ciências da Informação,
ICINFORM, e sua publicação oficial, o primeiro periódico de estudos e pesquisas
científicos em Comunicação do país, Comunicações & Problemas. Foi assim
que a cultura popular, como objeto de estudos científicos, ganhou dimensões
multidisciplinares.
De 1961 até sua morte, em 1986, o jornalista e pesquisador pernambucano
Luiz Beltrão (1918) preocupou-se em instalar e solidificar as bases da educação
superior e formação de jornalistas. Por influência do Ciespal, agregou às suas
metas o incentivo à pesquisa sobre cultura e comunicação. No primeiro periódico
científico de estudos e pesquisas em comunicação do país, Comunicações &
Problemas, inspirado na publicação de excelência da época, Journalism Quarterly,
lançou as bases para a pesquisa de uma nova disciplina, a Folkcomunicação. Já
no primeiro número publica o artigo “O ex-voto como veículo jornalístico”, a
semente germinal das pesquisas em Folkcomunicação. Segundo definição do
próprio autor, o “estudo dos agentes e dos meios populares de informação de
fatos e expressão de ideias”. O universo da pesquisa proposto estende-se para o
estudo dos processos comunicacionais de significação, mediante o entendimento
do funcionamento das estratégias e enunciações, dos discursos, da produção
e recepção de manifestações culturais populares. Folkcomunicação é, assim, o
processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, ideias e
atitudes da massa, através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao
folclore (BELTRÃO,2007).
A Folkcomunicacão não é, pois, o estudo da cultura popular ou do Folklore,
é bom que se destaque. É o estudo dos procedimentos comunicacionais pelos quais
as manifestações da cultura popular ou do folclore se expandem, sociabilizamse, convivem com outras cadeias comunicacionais, sofrem modificações por
influência da comunicação massificada e industrializada ou se modificam quando
1 Presidente da Rede Folkcom. Professora titular da Faculdade Integrada de Pernambuco. Doutorado em
Comunicação pela Umesp, São Bernardo. Professora do Programa de Mestrado em Extensão Rural para o
Desenvolvimento Local - POSMEX na Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE, professora titular
da Faculdade Santa Maria e da Faculdade Boa Viagem.
251
Folkcom - Origens da Entidade
apropriadas por tais complexos (HOHLFELDT,2002).
A Rede Folkcom
A ideia de criar uma rede de pesquisadores da Folkcomunicação nasceu,
durante as discussões realizadas no seminário internacional sobre as identidades
culturais latino-americanas, promovido pela Universidade Metodista de São
Paulo (UMESP) em 1995, como evento preparatório para a instalação da Cátedra
UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento Regional nesta instituição.
Sob a coordenação do professor José Marques de Melo, os pesquisadores se
reuniram e organizaram a I Conferência Brasileira de Folkcomunicação, realizada
na UMESP, em agosto de 1998, onde foi criada a Rede Folkcom. Desde então
seus pesquisadores vêm assumindo um papel decisivo no resgate do pensamento
comunicacional de Luiz Beltrão. Entre outras contribuições do mestre, José
Marques de Melo destaca “as ideias sobre interação entre cultura popular, cultura
midiática e cultura eruditas, decisivas para neutralizar o preconceito que certos
segmentos da nossa intelectualidade esboçam em relação ao saber popular”.
A Cátedra UNESCO possui um papel fundamental nesse processo, como
incentivadora e catalisadora de ações. Além de promover as conferências anuais,
a Cátedra decidiu realizar uma série de pesquisas comparativas, com a finalidade
de dar sentido acadêmico à Rede que começava a se constituir. A primeira foi
realizada em 1996, focalizando as imagens midiáticas do Natal brasileiro.
Porém, há um longo caminho a percorrer na luta para que a Folkcomunicação
seja aceita plenamente pela academia. Segundo ainda Marques de Melo (2006),
“A resistência acadêmica a novos campos da pesquisa faz parte da trajetória
conservadora das nossas universidades. As culturas popular e massiva, mesmo
depois de meio século da presença dos estudos de comunicação no Brasil,
ainda continuam a ser vistas com menosprezo por setores universitários
geralmente ancorados em postulados dogmáticos. Isso, contudo, não
nos deve atemorizar. Cabe aos pesquisadores de Folkcomunicação, como
de outras disciplinas conexas, enfrentar as resistências no plano teórico,
argumentando, além de avançar na produção de conhecimentos capazes de
demonstrar a pertinência dos referenciais escolhidos. A legitimação dos novos
campos do saber demanda tempo, competência e perseverança. Quanto mais
se avoluma e adquire densidade um novo segmento investigativo, é natural
que suscite reações, especialmente daqueles que se sentem ameaçados ao
constatar que perderam a hegemonia intelectual. Estamos vivendo uma
conjuntura marcada pelo pluralismo teórico e metodológico, onde há
espaço para todas as correntes de idéias”.
252
Folkcom - Origens da Entidade
Em 2004, constituiu-se a organização não governamental Rede Folkcom
- Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação. Institucionalizada como
associação civil sem fins de lucros, seu objetivo é legitimar a Rede como um núcleo
gerador de reflexões, com uma visão totalizadora do contexto da cultura popular,
do folklore e da mídia dentro dor processos de comunicação social midiatizada.
Os pontos que norteiam as ações da Rede Folkcom são:
1- Delinear o campo da Folkcomunicação definindo um arcabouço teórico
metodológico;
2- Compreender o contexto da Folkcomunicação a partir da localização do
homem: na festa, na culinária, no artesanato, na música, na religião, na
arquitetura, no trabalho, etc;
3- Realizar estudos documentais e empíricos descrevendo-os e analisandoos enquanto processos e fenômenos folkmidiáticos, localizando seus agentes
codificadores, seus canais de expressão, o tipo de mensagem, e o público que
se destina;
4- Intercambiar subsídios com os pesquisadores ligados a Rede Folkcom
e com novos pesquisadores de outras organizações de pesquisa, inclusive
internacionais;
5- Promover seminário e/ou reunião científica nas instituições de origem de
cada pesquisador a fim de ampliar a discussão da Folkcomunicação;
6- Divulgar os resultados das pesquisas em eventos científicos regionais,
nacionais e internacionais.
Conferências Brasileiras de Folkcomunicação e abordagem dos principais
focos da pesquisa
Os eventos realizados pela Rede contemplam temáticas diretamente relacionadas
aos meios de comunicação e aos meios interativos para a realização do processo
folkcomunicacional. É importante observar que os encontros da Rede Folkcom
têm se preocupado em definir previamente um recorte de estudo dentro do
âmbito da Folkcomunicação. A finalidade de tal postura está em estimular a
reflexão e produção acadêmica com referenciais e parâmetros comuns, além de
proporcionar uma concentração mais sistematizada em determinadas temáticas
de acordo com os aportes contextuais (SCHMIDT,2006).
Encontros realizados pela Rede Folkcom seguidos dos temas dos congressos
para visualizar as temáticas discutidas nestes eventos:
• I Folkcom´98 - Universidade Metodista de São Paulo -UMESP –
São Bernardo do Campo – SP. Tema: I Conferência Brasileira de
253
Folkcom - Origens da Entidade
FolkComunicação;
• II Folkcom´99 – Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei FUNREI - São João del Rei – MG. Tema: Homenagem especial ao
centenário de nascimento do folclorista Luís da Câmara Cascudo;
• III Folkcom´2000 - Universidade Federal da Paraíba - UFPB- João Pessoa
–PB. Tema: Folclore, Mídia e Turismo;
• IV Folkcom´2001 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
UFMS -Campo Grande -MS. Tema: As festas populares como processos
comunicacionais;
• V Folkcom´2002 - Centro Universitário Monte Serrrat -UNIMONTESantos –SP. Tema: A imprensa do povo;
• VI Folkcom´2003 – Faculdade de Filosofia de Campos- Curso de
Comunicação Social Campos de Goytacazes – RJ. Tema: Folkmídia.
Difusão do folclore pelas indústrias midiáticas;
• VII Folkcom´2004 – UNIVATES - Centro Universitário - Lajeado –RS.
Tema: Folkcomunicação Política.
• VIII Folkcom´2005 - CEUT -Terezina –PI. Tema: A comunicação dos
pagadores de promessas: Do ex voto à indústria dos milagres;
• IX Folkcom´2006 - Universidade Metodista de São Paulo – UMESP São Bernardo do Campo –SP. Tema: Folkcomunicação e cibercultura a
voz e a vez dos excluídos na arena digital;
• X Folkcom´2007 - Departamento de Comunicação da Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR) - Programa de Mestrado em Ciências
Sociais Aplicadas. Tema: A comunicação dos migrantes - Fluxos massivos,
contra-fluxos populares
Analisando as tendências existentes no país e suas perspectivas, neste ano
de 2007, comemoraram-se os dez anos do evento, tendo como abordagem as
perspectivas de pesquisa em Folkcomunicação que reconhecem como uma de
suas bases elementares a cultura dos “marginalizados”, entendida como espaço
de comunicação e expressão de modos de agir, crenças e referências identitárias.
Nesta abordagem, Luiz Beltrão (1980 e 2001) menciona a existência de três
tipos de exclusão: grupos rurais marginalizados, grupos urbanos marginalizados
e grupos culturalmente marginalizados. Embora esta perspectiva tenha sido
pensada em um contexto que remete aos anos de 1950 e 1970 no Brasil, ainda
mantêm sua atualidade e pertinência, permitindo determinadas contextualizações
em torno desta temática. A proposta temática, baseada nas contribuições dos
processos imigratórios e migratórios na construção da cultura, permite alguns
254
Folkcom - Origens da Entidade
percursos teóricos pertinentes na atualidade, oferecendo elementos para pensar
as expressões da Folkcomunicação diante do multiculturalismo que marca a
sociedade brasileira contemporânea. Em meio aos conflitos pela afirmação das
identidades, percebe-se nas mais diversas cidades e regiões do Brasil a preservação
de expressões artísticas (danças, músicas, artesanato, traços lingüísticos, etc),
valores culturais, lendas e demais marcas identitárias originárias dos imigrantes.
Do mesmo modo, os fluxos internos no País permitem um intercâmbio de
características e elementos dos grupos sociais que incorporam constantemente
referenciais regionais, (re)significando sua cultura a partir de influências dos meios
de comunicação de massa e da comunicação popular. Este processo de mediações
remete à apropriação simbólica das matrizes culturais, em que as manifestações
dos grupos sociais misturam-se em meio ao popular e ao massivo, ao local e ao
global, estabelecendo mecanismos de identificação com outras culturas.
• XI Folkcom´2008 - Neste ano a cidade de Natal comemorou o 110º.
Aniversário de nascimento do etnógrafo Luis da Câmara Cascudo,
precursor dos estudos folkcomunicacionais, sendo homenageado pela
UFRN, INTERCOM e Rede FOLKCOM, com a realização de um
concurso nacional sobre o tema: Incursões de Câmara Cascudo pelo
território folkcomunicacional. A entrega do Prêmio foi feita na abertura da
XI Conferência Brasileira de Folkcomunicação, evento programado para o
pré-congresso da INTERCOM, tendo como tema os “Impasses teóricos e
desafios metodológicos da Folkcomunicação”.
• XII Folkcom 2009 - Com o tema “Caipiras Folkmidiáticos: As
múltiplas faces do Jeca”, a XII Conferência Brasileira de Folkcomunicação
foi realizada em Taubaté, no interior do estado de São Paulo, nos dias 11 a
13 de novembro de 2009. O evento científico realizou-se em parceria com a
Universidade de Taubaté (UNITAU), SESC, Cátedra UNESCO/Metodista
de Comunicação e Rede FOLKCOM.
• XIII Conferência Brasileira de Folkcomunicação Folkcom 2010. O tema
deste ano é Esteja a gosto, sabores e saberes populares: a folkcomunicação
gastronômica. O evento será realizado na UESC – Universidade Estadual
Santa Cruz em Ilhéus, Estado da Bahia, nos dias 11 a 14 de novembro de
2010.
Contribuições metodológicas e perspectivas de fortalecimento
A Rede Folkcom está voltada às pesquisas relacionadas ao estudo da comunicação
na cultura popular ou no folclore. Como rede de pesquisa, integra atividades
promovidas por seus membros pesquisadores no âmbito da realização de pesquisas,
encontros, seminários, ressaltando também a ferramenta da publicação científica
255
Folkcom - Origens da Entidade
como forma de institucionalizar e fazer avançar o campo.
Um grupo de 24 pesquisadores doutores vinculados à Rede Folkcom,
desenvolvem pesquisas de Folkcomunicação, liderando grupos em 16 (dezesseis)
instituições acadêmicas, como:
José Marques de Melo (Doutor-UMESP)
Roberto Benjamin (Doutor-UFRPE),
Osvaldo Trigueiro (Doutor-UFPB),
Maria Cristina Gobbi (Doutor-UMESP),
Antonio Hohlfeldt (Doutor-PUC-RS),
Cristina Schmidt (Doutor-UMC-SP),
Sebastião Breguez (Doutor-UFV-MG),
Samantha Castelo Branco (Doutora-UFPI),
Severino Lucena (Doutor-UFPB),
Betania Maciel (Doutora-UFRPE),
Antonio Teixeira Barros (Doutor-UNICEUB-DF),
Luis Custódio da Silva (Doutor-UEPB),
Maria Érica Oliveira (Doutor-UFRN),
Marcelo Pires de Oliveira (Doutora-UESC-BA),
Fábio Corniani (Doutor-UMESP),
Sergio Gadini (Doutor-UEPG-PR),
Karina Woitowicz (Doutora-UEPG-PR),
Jacqueline Dourado (Doutora-UFPI),
Marcelo Sabbatini (Doutor – UFPE),
Irenilda de Souza Lima (Doutora – UFRPE).
As pesquisas de Folkcomunicação rompem fronteiras e se expandem para
alguns países da América Latina e da Europa através dos estudos de:
Carlos Nogueira (Doutor-Universidade do Minho - Portugal),
Carmen Gomes Mont (Doutora-México),
Carlos Arroyo (Universidade Javeriana- Bolívia)
256
Folkcom - Origens da Entidade
Esmeralda Vilegas (Doutora-México).
Existem também Grupos de Trabalho de Folkcomunicação nos encontros
periódicos das principais instituições no Brasil e Exterior que cuidam das Ciências
da Comunicação e da Informação como a ALAIC (Associação Latino-Americana
de Ciências da Comunicação) e a Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação), explorando as seguintes interfaces:
Teoria e Metodologia da Folkcomunicação;
Folclore, Cultura Erudita e Cultura de Massa;
Manifestações espontâneas da Folkcomunicação;
Intermediações Folk-Midiáticas no Turismo;
Intermediações Folk-Midiáticas e Publicidade;
Intermediações Folk-Midiáticas e Relações Públicas;
Intermediações Folk-Midiáticas e religiosas;
Intermediações Folk-Midiáticas na literatura;
Intermediações Folk-Midiáticas nas telenovelas;
Intermediações Folk-Midiáticas no cinema.
Já a Revista Internacional de Folkcomunicação (Revista Folkcom - ISSN 18074960) tem Qualis B/Nacional, na área de avaliação Multidisciplinar, conforme
avaliação Capes triênio 2006/2008. Suas edições estão disponíveis na Internet para
acesso e consulta gratuita2. Em seu oitavo ano de existência, a versão eletrônica da
Revista mantém a periodicidade semestral (com lançamentos em março e agosto).
O aumento do número de textos e materiais se tem recebido para publicação
confirma a canalização acadêmica de uma demanda de produção na área e, ao
mesmo tempo, fortalece a proposta editorial que é liderada pelo editor, professor
Sérgio Luiz Gadini. Os textos veiculados evidenciam a diversidade temática da
Folkcomunicação.
Em 2005, o pesquisador José Carlos Aronchi produziu o vídeo “Ver e
Entender a Folkcomunicação”, com a temática da comunicação desenvolvida por
especialistas sobre o tema “Folkcomunicação”. Pesquisadores da ordem de José
Marques de Melo, Roberto Benjamin, Sebastião Breguez, Antonio Hohlfeldt,
OsvaldoTrigueiro e Cristina Schimdt falam de suas experiências no reforço desta
nova teoria da comunicação. Através destes depoimentos, podemos constatar
que existem diversas possibilidades para estudar a Folkcomunicação, com a
combinação de enfoques. E como comenta José Marques de Melo, configura-se
2 Disponível em http:// www.uepg.br/revistafolkcom
257
Folkcom - Origens da Entidade
uma oportunidade, (...) “por ser um campo virgem a ser pesquisado no Brasil”.
Em 2006, depois do mandato inicial de Cristina Schmidt, a professora
Betania Maciel assume a nova presidência da Rede que se propõe como
objetivo fortalecer esta rede de pesquisa através da captação de associados e
do fornecimento de serviços diferenciados a seus pesquisadores. Além disso, é
fixado o objetivo de ampliar os limites teóricos, práticos e metodológicos dos
estudos de Folkcomunicação, fazendo conexões com os estudos das culturas
populares, desenvolvimento local, inclusão social. Finalmente, destacou o papel
das tecnologias de informação e comunicação na mediação destes processos, para
permitir o trabalho colaborativo e agilizar a comunicação científica entre seus
membros e pesquisadores, com o desenvolvimento e lançamento de um portal
3
na Internet coordenado pelo professor Marcelo Sabbatini.
Uma das iniciativas foi a criação do Núcleo de Pesquisa através do Programa
de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (POSMEX) da
Universidade Federal Rural de Pernambuco para desenvolver pesquisas temáticas
inter-regionais, com foco no uso das mediações culturais com o objetivo de
promover o desenvolvimento local junto a cooperativas, movimentos sociais,
assentamentos, quilombolas, comunidades indígenas e demais atores sociais
tradicionalmente excluídos do processo de comunicação, utilizando, além
disso, cortes de análise geracionais e de gênero.O estudo das culturas populares
através de suas expressões folclóricas busca fortalecer as condições materiais e
imateriais não somente de forma imediata, mas promover um programa de autosustentabilidade em longo prazo para estas comunidades.
E em janeiro de 2008, sob a edição de Betania Maciel é publicado o número
especial da Revista Razón y Palabra4. Editada pelo Instituto Tecnológico de
Monterrey (México), a chamada “primeira revista eletrônica na América Latina
especializada em Comunicação” tem como coordenador de seu projeto Internet
o Professor Octavio Islas e membro da diretoria executiva da ALAIC. O número
especial Folkcomunicação destacou o papel desta teoria como genuinamente
brasileira e como uma das principais contribuições teóricas de seu fundador,
Luiz Beltrão, ao campo da Comunicação. Ao longo de suas páginas virtuais, a
edição trouxe nomes como José Marques de Melo, Heitor Costa da Lima Rocha,
Antonio Teixeira Barros, Osvaldo Trigueiro, Maria Cristina Gobbi, Irenilda
Souza Lima, Maria Érika Oliveira, Andréia Moreira, Augusto Aragão, Marcelo
Sabbatini para compor o cenário brasileiro da pesquisa, metodologia, teoria e
prática da Folkcomunicação, apresentando ao leitor internacional a perspectiva
futura desta disciplina, enlaces teóricos, seus fundamentos históricos, assim como
3 Disponível em http://www.redefolkcom.org
4 Disponível em http://www.razonypalabra.org.mx
258
Folkcom - Origens da Entidade
uma introdução ao papel da Rede Folkcom e da Cátedra Unesco/Umesp, para
sua consolidação.
Neste mesmo ano, a Rede passa a integrar a SOCICOM (Federação
Nacional das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação), criada
o XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, em Natal (RN).
Representada por dezenas de entidades da área da Comunicação, dentre as quais
a própria Intercom; o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ),
Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), a Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), entre
outras. O objetivo comum destas sociedades científicas, consolidar o campo do
saber da Comunicação no Brasil, buscando uma convergência acadêmica e uma
maior representação junto aos interesses da sociedade.
Em setembro de 2008, em Natal, na Universidade Federal do Rio grande do
Norte, realizou-se o X Congresso da Rede Folkcom. Esse Congresso foi essencial
para a retomada da mobilização nacional, com ampla participação dos membros
do conselho, associados e associados em processo de filiação. As propostas da
plenária final foram votadas e decididas estabelecendo a eleição dos novos
dirigentes da entidade:
BIENIO 2008- 2010
DIRETORIA EXECUTIVA:
Presidente: Betania Maciel/ UFRPE
Vice-presidente: Oswaldo Trigueiro/ UFPB
Secretário: Marcelo Pires/ UESC
Tesoureiro: Marcelo Sabbatini/ UFPE
Diretora Científica: Maria Érica Oliveira Lima/ UFRN
Perspectivas da Folkcomunicação
A Rede Folkcom, dentro de suas atividades para 2010 propõe a organização
de dois livros onde pesquisadores associados regulares participarão do
desenvolvimento editorial de dois trabalhos, cujo objetivo principal é consolidar
o conhecimento teórico e metodológico do campo da Folkcomunicação
contribuindo para sua melhoria e melhor especificidade da sub-área.
259
Folkcom - Origens da Entidade
Projeto 1: Folkcomunicação e diálogos com teoria paradigmáticas
O objetivo é estabelecer um diálogo entre a Folkcomunicação, teoria
criada por Luiz Beltrão, com autores paradigmáticos das ciências sociais e suas
respectivas linhas teóricas, estabelecendo assim novos rumos de pesquisa para o
enriquecimento e fortalecimento teórico do campo.
Projeto 2: Métodos e técnicas de pesquisa em Folkcomunicação
O objetivo é apresentar, de forma didática, as principais linhas metodológicas
utilizadas em Folkcomunicação, assim como as técnicas específicas. Além da
definição e explicação do método ou técnica, propomos a revisão de pesquisas
que tenham sido realizadas, como exemplificação.
Para o futuro, o desafio de pensar as dinâmicas culturais presentes na
confluência entre a mídia popular e as massivas fazem com que os estudos
folkcomunicacionais sejam uma tendência na contemporaneidade.
O legado de Luiz Beltrão tem sido constantemente estudado e renovado pelos
pesquisadores da Rede Folkcom têm suscitado interesse na contemporaneidade,
seja no mundo acadêmico ou na periferia, em um momento em que as expressões
culturais dos grupos marginalizados configuram práticas de resistência e cidadania
em meio à sociedade globalizada. Afinal, conforme observa Marques de Melo
(2008, p. 57), “as tradições comunicacionais das populações marginalizadas
sobrevivem às inovações tecnológicas, demonstrando capacidade de resistência
cultural, no tempo e no espaço”.
Os estudos da Folkcomunicação estimulam o regionalismo, mas a cultura
hegemônica desconhece as expressões populares. Parece que só existe o que está
na mídia e a mídia é urbana. Algumas manifestações têm tendência em virar
produto, outras não, daí a visibilidade dada pela mídia ao que vai se transformar
em produto cultural. E neste sentido, a Folkcomunicação pode ser entendida
como uma forma de mídia alternativa, que dialoga com a mídia hegemônica,
mediando a fronteira cultura globalizada-cultura popular.
Como exemplo dos estudos que investigam essa interface de culturas,
podemos ilustrar como a mídia tem registrado o carnaval por todo o país, as festas
juninas e outras celebrações. Mas, até que ponto e de que forma é realizado este
trabalho? A transformação das festas em espetáculo é um problema enfrentado
pela cultura popular: a canibalização, ou seja, ser contada, praticada por quem
não a conhece. A classe hegemônica é a principal responsável por esse processo,
impondo muitas vezes mudanças das tradições em função das necessidades da
indústria cultural e do turismo de massas.
260
Folkcom - Origens da Entidade
Podemos até mesmo questionar se a mídia conhece a variedade da cultura
brasileira e quando a divulga muitas vezes transforma-a em um espetáculo, um
produto comercial. É importante que os profissionais da mídia saibam lidar com
as expressões populares para que não modifiquem o real significado das culturas.
Para muitos, a mídia precisa ouvir e aprender com os mestres detentores da cultura
popular. Corre-se o risco de achatamento da diversidade cultural brasileira e do
não-diálogo e do reforço dos estereótipos, produzindo desta forma a alienação e
a exclusão social.
Apesar disto, a mídia tem apresentado avanços em mostrar a diversidade da
cultura brasileira e especificamente de culturas que não sejam as hegemônicas,
vide exemplo as estratégias de marketing como a etnografia no processo de
compreensão da cultura. Diversos programas de televisão e quadros apresentados
em canais de televisão aberta são apresentados, trazendo consigo uma maior
divulgação e valorização da cultura.
E esta compreensão se estende agora à relação das pessoas com os bens de
consumo. O fato é que consumo é uma prática cultural e só quando entendido
sob este ângulo, tais atitudes assumem contornos mais claros e inteligíveis com o
crescimento do poder aquisitivo das classes mais baixas, essa categoria de produto
e serviço tem ampliado seu mercado-alvo (target) às classes menos favorecidas.
Outro ponto focal de desenvolvimento das atividades de pesquisa da Rede
Folkcom diz respeito aos processos de desenvolvimento local. Busca dessa forma
entender o empoderamento das comunidades alijadas da modernidade, como
forma de promover a sustentabilidade destes grupos, através do desenvolvimento
de estudos de estratégias de comunicação nas políticas públicas, organizações não
governamentais, associativas e empresariais no âmbito do desenvolvimento local.
Nessa perspectiva, são contempladas as culturas populares e suas diferentes
manifestações de hibridização da cultura “folk” e a cultura massiva; os estudos de
recepção de mídias e programas de intervenção social; além das análises discursivas
e os impactos das novas tecnologias de informação e comunicação na sociedade
contemporânea. Esses aspectos buscam investigar as modificações operadas no
cotidiano das populações rurais, verificando a importância dessas tecnologias nos
processos de desenvolvimento local.
Mesmo diante destes cenários, o campo da Folkcomunicação é novo, mas
promissor. Não é sem dificuldades que a Rede Folkcom busca abrir novas fronteiras,
teóricas e metodológicas na compreensão dos fluxos de comunicação e das trocas
culturais entre a cultura global e a cultura local. Como todo novo campo do saber
científico, a Folkcomunicação encontra não somente a dificuldade de consolidar
seu objeto de pesquisa e seus métodos, mas também de obter aceitação dentro
do paradigma da ciência normal, utilizando o conceito de Thomas Kuhn. Talvez
261
Folkcom - Origens da Entidade
por seu aspecto inovador e libertário inclusive em relação a seu objeto, talvez pelo
simples conservadorismo acadêmico, a comunidade acadêmica da comunicação
estaria hoje em prejuízo se ignorasse os aportes folkcomunicacionais.
Referências Bibliográficas e Sites
ALMEIDA, Renato. A inteligência do folclore. Rio: Cia. Americana-MEC,
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263
Folkcomunicação: memória institucional
Cristina Schmidt1
Introdução
Há 43 anos Luiz Beltrão inaugura uma disciplina no campo da Comunicação
voltada ao estudo dos processos comunicacionais do folclore, a Folkcomunicação.
É a gênese de uma teoria autenticamente brasileira de Comunicação. Diferente
de outros estudos voltados para a comunicação do mundo, esse é um rico sistema
que contém “um traço de universalidade que advém de sua fundamentação no
folclore” com raízes bem arraigadas, independentemente das características de seus
agentes produtores. Beltrão salienta que “enquanto os discursos da comunicação
social são dirigidos ao mundo, os da folkcomunicação a um mundo em que
palavras, signos gráficos, gestos e atitudes, linhas e formas mantêm relações
muito tênues com o idioma, a escrita, a dança, os rituais, as artes plásticas, o
trabalho e o lazer, com a conduta, enfim, das classes integradas da sociedade”.
(BELTRÃO,1980, p.40)
Essa disciplina vem ganhando destaque a cada dia, e conquista
sintomaticamente um número crescente de adeptos – pesquisadores e professores
que trabalham com a temática a luz da teoria da Folkcomunicação e de metodologias
próprias. Esse crescimento se deve principalmente a dois aspectos, ligados ao
quadro sócio-econômico delineado no final do século passado com a globalização
acentuada e com a expansão de novas tecnologias de comunicação, configurando
novos espaços e linguagens para a inserção do popular e do folclórico.
No primeiro aspecto, verifica-se uma ampliação das culturas regionais
e locais com produtos e processos nas mídias massivas algumas vezes são
apropriadas, outras se posicionando e utilizando esses mecanismos em seu
benefício. Essa experiência faz com que as manifestações “atualizem-se” ou criem
linguagens próprias para inserção na sociedade midiatizada. Ainda dentro desse
ponto, e que favorece os estudos de folkcomunicação, existe uma tendência
mundial de regionalização, um olhar do “capital” sobre a cultura folk. Ocorre
uma visualização da cultura local como fator de desenvolvimento e consolidação
de diferenciais entre grupos, e de sua protagonização na cultura global. As
1 Doutorado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na área de Comunicação e Semiótica. Pertence
ao Grupo de São Bernardo de pesquisadores, ligado à Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação Regional.
Atuou como professora e orientadora no Mestrado em Educação na Fundação Lusíada – Santos/SP. Coordena
o GP de Folkcomunicação na Intercom. Coordena os Cursos de Jornalismo e Radialismo (Rádio e TV) na
Universidade de Mogi das Cruzes/SP.
264
Folkcomunicação: memória institucional
manifestações culturais, mais especificamente, o folclore2 é ao mesmo tempo
potencial econômico e identidade, é mercado consumidor e é referência para
novos produtos e processos.
O folclore brasileiro, nas últimas décadas do século passado, adquire
valor comercial e reconhecimento internacional, atraindo turistas, estudiosos e
consumidores de vários perfis; e, também é exportado para centros comerciais,
museus e eventos culturais. Para o meio acadêmico e político, principalmente,
adquire valor comunicacional, uma vez que as expressões culturais são tomadas
como meio de mobilização e identificação de grupos locais no contexto
globalizado, ao que Beltrão (1980) apresenta como um meio próprio e linguagem
adequada ao receptor.
Já no que se refere aos avanços tecnológicos e as novas mídias, a protagonização
das manifestações folclóricas nos meios de massa teve maior ênfase nas últimas
duas décadas, quando a profunda informatização dos processos comunicacionais
apontou uma nova relação entre os profissionais da área e o público alvo ou
público consumidor. As referências folclóricas das diversas localidades nacionais
ou internacionais se acentuaram como pauta para a formatação e criação de
produtos midiáticos como novelas, matérias jornalísticas, debates, desafios,
roteiros turísticos, decoração, gastronomia e moda (roupas e acessórios). E ainda,
com a implantação da tecnologia digital no sistema televisivo, projeta uma
ampliação de conteúdos que contemplam as expressões populares rompendo com
o isolamento de muitas localidades.
Fatos culturais antes distantes e isolados em suas localidades ao longo do
mundo, agora participam amplamente de uma rede mundial de comunicação,
aproximando povos e gerações. O que inicialmente já foi difundido pelo rádio e
depois pela televisão, formando uma aldeia global, ganha agora outro status – o de
uma rede mundial de computadores conectados propondo infinitas possibilidades
de expressão e interatividade.
A relação entre o folclore/cultura popular e a mídia – local ou global –
envolve fatores econômicos, obviamente, mas também informações estéticas,
simbólicas e ideológicas produzidas por ambos. É um processo de troca entre os
envolvidos, colocando-os ora em condição de receptor/consumidor, ora como
emissor/comunicador/produtor, ora como mensagem/produto. É uma articulação
permanente entre os dois sistemas comunicativos – o massivo e o folk.
Analisar esse processo requer um estudo dos processos comunicacionais
2 Tomamos folclore como a “expressão das aspirações e expectativas populares” (CARNEIRO, 1965, p. 22) que
represente o pensar, o sentir e o agir das comunidades. E, ao mesmo tempo, entendendo-o como “ processo de
intercâmbio de informações e manifestação de opiniões, idéias e atitudes da massa” (BELTRÃO, 1971, p. 15).
265
Folkcomunicação: memória institucional
inerentes às manifestações populares e folclóricas, um estudo de Folkcomunicação,
ao que Luiz Beltrão define como “o processo de intercâmbio de informações e
manifestações de opiniões, idéias e atitudes da massa, através de agentes e meios
ligados direta ou indiretamente ao folclore” (2001, p.79). É um processo artesanal
e horizontal onde ocorre a comunicação interpessoal através de canais conhecidos
pelos grupos rurais ou urbanos; mas também, processos com atualizações de
linguagens e tecnologias por conviverem ou serem apropriadas por diferentes
meios e grupos da aldeia global. E é nessa disciplina que encontramos uma
atualidade para analisarmos as interações entre o local e o global na sociedade em
todos os tempos.
A teoria brasileira
A perspectiva da Folkcomunicação de Luiz Beltrão, “encontrou dupla resistência:
a dos folcloristas conservadores (que pretendiam defender a cultura popular das
investidas midiáticas modernizantes) e a dos comunicólogos libertadores (que
pretendiam fazer da cultura popular o cavalo de tróia das suas batalhas políticas
em lugar de apreender nessas manifestações o limite da resistência possível de
comunidades empobrecidas cuja meta é a superação da marginalidade social)”,
explica Marques de Melo (2001).
Na verdade, a militância profissional de Luiz Beltrão irá colocá-lo sempre
como um desbravador de fronteiras no campo da comunicação e do jornalismo.
Nascido em 8 de agosto de 1918 na cidade de Recife, estado de Pernambuco,
criança ainda, escolheu seguir uma vida religiosa como padre católico. Entrou
para o Seminário de Olinda, mas o diretor da instituição logo percebeu seu
potencial e o apoiou para encontrar no jornalismo sua forma de conhecer povos,
culturas e alimentar sua vivacidade.
Inicia sua carreira no O Diário de Pernambuco, em 1936. Foi revisor,
arquivista de clichês, tradutor de telegrama e repórter. Recebeu o registro
profissional após quatro anos de atuação. Trabalhou em “rádio, revistas, agências
e assessoria de imprensa, acumulando experiência que incluiu passagens pelo DIP,
e pela presidência da Associação de Imprensa de Pernambuco e sua participação
na criação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais. Também trabalhou em
diversos jornais como Diário de Pernambuco, Correio do Povo e Jornal Pequeno,
nas agências de notícias Asa Press e France Press e nas revistas Tudo, Guanabara
Press, São Paulo Press e Capibaribe. Exerceu a profissão durante quase 30 anos.”
(GOBBI, in SCHMIDT, 2006, p.298.
A prática cotidiana do jornalismo é o campo motivador das reflexões de Beltrão,
e isso o leva a desenvolver estudos científicos sobre os processos de comunicação
dos grupos marginalizados. Intrigado com os mecanismos de comunicação dos
266
Folkcomunicação: memória institucional
grupos marginalizados dos meios massivos e elitizados, ele identifica os processos
de comunicação manifestados no folclore, a Folkcomunicação. Constatação que
configura a primeira teoria brasileira da comunicação, e é defendida em sua tese
na Universidade de Brasília em 1967 com o título Folkcomunicação: um estudo dos
agentes e meios populares de informação de fatos e expressões de idéias, lhe conferindo
o título de doutor, o primeiro em comunicação no Brasil.
A Folkcomunicação é uma das principais contribuições de Luiz Beltrão para o
campo da Comunicação, pois se refere à construção de uma teoria da comunicação.
Nessa área o estudioso faz um percurso acadêmico amplo, produzindo artigos,
livros, ministrando cursos e palestras, formando seguidores/discípulos. No
percurso, é importante destacar dois livros que trazem suas fundamentações a
cerca da Folkcomunicação: Comunicação e folclore: um estudo dos agentes e dos
meios populares de informação e expressão de idéias, publicação de ensaio que faz
parte de suas reflexões do doutorado, editado pela Melhoramentos em 1971.
Nessa edição, o prof. José Marques de Melo, ex-aluno de Beltrão, faz uma citação
de apresentação na contracapa afirmando que a obra constitui trabalho original,
enfocando uma área até então não dimensionada pelos estudiosos das ciências da
comunicação. Os estudos em comunicação geralmente têm sido orientados para
os meios de difusão de massa e seus efeitos. Daí o interesse que desperta
este estudo, analisando os sistemas de intercâmbio de informações nas chamadas
‘populações marginalizadas’, que constituem os núcleos infra-estruturais de
todo o processo comunicativo do ponto de vista social, se partirmos da cisão
macluaniana da ‘reversibilidade dos intermediários superaquecidos’ e que torna
semelhantes às noções de aldeia e universo’.
Ao que o próprio autor complementa, consciente de sua teoria com
abordagem inaugural, é a certeza de estar abrindo “uma picada para a estrada
larga que outros mais autorizados e seguros irão percorrer no sentido de investigar
os agentes e canais da Folkcomunicação e, assim, penetrar no âmago das diretrizes
reais que conduzem a ação política do homem brasileiro em sua complexa
integridade”. (BELTRÃO, 1971, contracapa)
Nove anos depois, outra obra marcante para a disciplina: Folkcomunicação:
a comunicação dos marginalizados, publicada em São Paulo pela editora Cortez,
1980. Nela, Beltrão apresenta desdobramentos de seus estudos, dimensionando os
universos rural e urbano em seus processos comunicacionais, bem como alicerçando
seus estudos na descrição de um sistema de Folkcomunicação, consolidando a
disciplina. Somente em 2001, pela editora da Pontifícia Universidade Católica
de Porto Alegre, sua tese é integralmente publicada, e preenche a lacuna ainda
existente sobre a construção teórica de Beltrão. A publicação amplia o acesso às
suas reflexões e faz uma homenagem póstuma ao pesquisador que falecera em
outubro de 1986.
267
Folkcomunicação: memória institucional
Atualmente essa disciplina vem suscitando várias reflexões, agregando
pesquisadores em grupos e entidades no Brasil e na Europa e, parafraseando
Marques de Melo (2001, p.19), transformando a inicial “picada” em uma larga
estrada com uma produção representativa no meio acadêmico e jornalístico.
São inúmeros trabalhos acadêmicos desenvolvidos em níveis diferenciados – da
iniciação científica ao doutoramento -, com publicações em anais de congressos,
em revistas científicas da área da comunicação, do folclore, e específicas de
Folkcomunicação. Além de vários livros, coletivos ou individuais, produzidos a
partir de pesquisas de campo e reflexões teórico-metodológicas.
A Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento
Regional é a principal incentivadora da ampliação e sedimentação desse campo de
estudo. Impulsionou a oficialização de uma Rede de Pesquisadores e Estudiosos
da Folkcomunicação em 2004, a Rede Folkcom, que atua na pesquisa, no
ensino e em meios de comunicação. São acadêmicos e profissionais ampliando
e atualizando as teorias de Beltrão, divulgando resultados, e realizando uma
Conferência Nacional por ano, completando a décima quarta edição em 2011.
Também tem espaço específico de reflexão e pesquisa na Sociedade Brasileira
de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), o Núcleo de Pesquisa
em Folkcomunicação e na Associação Latino-Americana de Pesquisadores em
Comunicação (ALAIC) dispõe de um grupo de estudos. Ainda conseguiu
reconhecimento nos campos das pesquisas da Lusofonia, como em Portugal; é
objeto de estudos em centros de pesquisas de vários países da América Latina e
da Europa.
Áreas de pesquisa
Os estudos de Folkcomunicação foram ampliados por seguidores de Luiz Beltrão.
Ex-alunos e adeptos de suas teorias, têm expandido seus conceitos e estabelecem
relações novas e diversas com os meios de comunicação de massa e, também,
com o universo digital da internet. Originalmente a Folkcomunicação foi
proposta para o estudo dos processos comunicacionais populares autênticos,
“bem como a folkmídia enquanto recodificadora das mensagens previamente
veiculadas pelos mass media.” E como bem coloca Marques de Melo, esses novos
empreenderores no estudo da comunicação folk “procuram desvendar de que
maneira a folkcomunicação atua como retroalimentadora das indústrias culturais,
seja pautando matérias jornalísticas, gerando produtos ficcionais, embasando
campanhas publicitárias e de RP ou invadindo espaços de entretenimento”
(MELO, 2000, p.21)
O professor Roberto Benjamin, discípulo e continuador das idéias de
Beltrão, tem constantemente apresentado reflexões e inventariado as pesquisas
268
Folkcomunicação: memória institucional
na área realizadas no planeta. Em artigo publicado no livro Folkcomunicação na
Arena Global (BENJAMIN in SCHMIDT, 2006, p. 51-61), o professor pontua
como importantes áreas de pesquisa nesse campo:
a. a comunicação interpessoal e grupal ocorrente na cultura folk, nessa
área está “o estudo dos agentes, meios de informação, meios de expressão
de idéias, opiniões e atitudes referidos por Beltrão (1968). É o universo
propício às pesquisas relacionadas ao comunicador, à mensagem, ao canal,
ao receptor, e também ao que se refere às intencionalidades e aos efeitos
relacionados ao “processo de comunicação interpessoal e grupal ocorrente
entre a população de cultura folk.”;
b. a mediação dos canais para a recepção da comunicação de massa,
nesse enfoque o estudo dos líderes de opinião vão ganhar destaque, como
mediadores da relação meios de comunicação de massa e os diferentes
grupos culturais;
c. a apropriação das tecnologias da comunicação de massa (e outras)
e o uso dos canais massivos por portadores da cultura folk; aqui estão
localizados os estudos que compreendem a utilização de meios tecnológicos
para auxilio ou suporte de suas expressões, ou seja, meios como o jornal, o
cartaz, a fotografia, o vídeo, o CD, o DVD, o rádio, a TV e o computador
utilizados amplamente por lideranças e grupos folk em suas performances;
d. a presença de traços da cultura de massa absorvidos pela cultura
folk, a presença marcante dos meios de comunicação de massa no cotidiano
da sociedade, inclusive nas populações de cultura folk, influencia os
comportamentos e as manifestações. É muito comum localizar características
dos produtos da indústria massiva na cultura tradicional. Tipos de vestuário,
uso de expressões corporais e verbais próprios aos centros metropolitanos
são incorporados ao universo da cultura folk.
e. apropriação de elementos da cultura folk pela cultura de massa e
pela cultura erudita, a apropriação do folclore pela indústria cultural, quer
dizer que os meios massivos usam referências da cutura tradicional em suas
produções. Se apropriam de temáticas, símbolos, rituais, para apresentação
ressignificada em propagandas, telenovelas, shows, etc. e que aponta outra
linha de pesquisa;
f. a recepção na cultura folk de elementos de sua própria cultura
reprocessada pela cultura de massa, considerado o aspecto menos estudado
no campo da folkcomunicação, se refere ao processo de apropriação das
manifestações folk pela mídia e a apresentação de forma reprocessada,
ressignificada aos padrões midiáticos para uma sociedade de consumo. Em
seguida, os produtores de origem dessa cultura, que muitas vezes sabem
269
Folkcomunicação: memória institucional
dessa formatação, acabam reincorporando a sua manifestação agora com
outra “roupagem”, as da indústria cultural.
Esses caminhos delimitados para os estudos da Folkcomunicação vêm
agregando pesquisadores ligados ao universo acadêmico, e da mesma forma,
ao contexto mercadológico em que atuam os meios massivos. Reflexões sobre
a produção midiática a luz da Folkcomunicação têm orientado as práticas
acadêmicas e muitas ações profissionais.
A rede Folkcom
Passadas mais de quatro décadas com pesquisas regionais e nacionais, seminários
regionais e conferências nacionais, pesquisadores envolvidos com as reflexões e
produções acadêmicas em Folkcomunicação ganharam representatividade efetiva
no campo da comunicação e conquistaram espaços nas principais organizações
científicas, como a Intercom e a ALAIC com a criação de grupos de trabalho
específicos. Com o fortalecimento de um grupo significativo de pesquisadores,
constituiu-se em 2004 a organização não governamental Rede de Estudos e
Pesquisas em Folkcomunicação (Rede Folkcom). A Rede passou a ser, então, o
núcleo promotor de pesquisas, intercâmbios e diálogos.
As reflexões da Rede Folkcom estão voltadas para a Folkcomunicação
nas modalidades regionais e globais. Tanto a cultura popular, ou as expressões
folclóricas nela inseridas, para os estudos de comunicação tem valor como processo
comunicacional, percebendo-se como meio de mobilização e identificação de
grupos. Para Luiz Beltrão (1980, p.40) esse é um rico sistema que contém “um
traço de universalidade que advém de sua fundamentação no folclore” com raízes
bem arraigadas independentemente das características de seus agentes produtores.
Beltrão salienta ainda que “enquanto os discursos da comunicação social são
dirigidos ao mundo, os da folkcomunicação a um mundo em que palavras, signos
gráficos, gestos e atitudes, linhas e formas mantêm relações muito tênues com o
idioma, a escrita, a dança, os rituais, as artes plásticas, o trabalho e o lazer, com a
conduta, enfim, das classes integradas da sociedade.” (1980, p.40)
270
Folkcomunicação: memória institucional
A Rede Folkcom é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos,
idealizada com incentivo da Cátedra Unesco-Metodista de Comunicação para
o Desenvolvimento Regional, a grande promotora de estudos e pesquisas nessa
área. Agrupa os novos estudos e os principais pesquisadores de Folkcomunicação.
Em suas publicações bem como em seus eventos, traz as produções mais recentes
sobre a Teoria iniciada por Luiz Beltrão, com textos atualizados que avançam
nas concepções teóricas e metodológicas. Reúne discípulos diretos do pioneiro,
como José Marques de Melo e Roberto Benjamin, que publicam periodicamente
retrospectivas conceituais e apontam para as novas concepções. Evidenciam o
fortalecimento do campo da Folkcomunicação e suas atualizações midiáticas.
Os estudos em Folkcomunicação são desenvolvidos por um importante
grupo de pesquisadores da região Nordeste, protagonistas de uma reflexão
advinda do contexto vivenciado por Beltrão, hoje atualizado e com novas
configurações. São eles: Roberto Benjamin, Osvaldo Trigueiro, Samantha Castelo
Branco, Severino Lucena, Betânia Maciel e Jaqueline Dourado. Apresentam uma
contribuição com grupos de pesquisas e programas de mestrado com temáticas
relacionadas como: Folkcomunicação organizacional e folkmarketing, Ativistas
midiáticos e o ex-voto como veículo comunicacional, e as várias possibilidades
metodológicas de abarcar os objetos de estudo nessa área. Estes pesquisadores
elucidam o fato de na globalização, ao invés de ocorrer a homogeneização
cultural, e até o desaparecimento de culturas tradicionais locais, haver um contrafluxo. Ocorre uma ressignificação das manifestações populares, resultando num
posicionamento e apropriação das novas tecnologias e linguagens midiáticas. Essa
dinâmica configura um campo amplo de pesquisa, e por isso várias possibilidades
metodológicas se abrem, para que cada pesquisador adote os procedimentos
adequados a especificidade do objeto e dos objetivos do estudo.
Outro grupo importante de pesquisadores da Folkcomunicação é o
vinculado ao Grupo São Bernardo (do programa de Pós-Graduação da Metodista
e da Cátedra Unesco/Metodista para o Desenvolvimento Regional), tem uma
formação e vivência no contexto urbanizado e industrializado da região do ABCD
Paulista e da Grande São Paulo como: Joseph Luyten, Alfredo d´Almeida, Rosa
Nava, Fábio Corniani, José Carlos Aronchi e Maria Cristina Gobbi – que também
foi Diretora da Cátedra Unesco-Metodista. Esses autores trazem reflexões que
recuperam o percurso de Luiz Beltrão, em sua trajetória de jornalista, professor
e pesquisador. Evidenciam suas ações pioneiras: a importância de sua tese
inaugural da Folkcomunicação, a relevância acadêmica da Revista Comunicação
& Problemas e do Instituto de Ciências da Informação - INCIFORM (1963).
Trabalham com conceitos e experiências de jornalismo do povo e de folkmídia,
e uma problemática bastante atual, o Orkut como espaço de manifestações
comunicacionais culturalmente marginalizadas. Também traz a experiência e
271
Folkcomunicação: memória institucional
proposta do Folkcom Imagem e Som, como uma mostra audiovisual das pesquisas
empíricas realizadas na área.
Outros pesquisadores emergentes que se envolvem com o campo da
Folkcomunicação em várias regiões do país: Marlei Sigristi (MS), Antonio Teixeira
Barros (DF), Karina Janz e Sergio Gadini (PR), Marcelo Oliveira e Marcelo
Corniani (SP) e Antonio Hohlfeldt (RS). Esses autores apresentam importantes
contribuições teóricas, na ordem: descreve e conceitua a festa como comunicação
popular, analisa a contribuição de Gilberto Freyre e das relações públicas para
o estudo teórico da Folkcomunicação, estuda as lendas e culturas imigrantes,
aborda o uso político de expressões populares, ao mesmo tempo, faz um percurso
metodológico para analisar as relações entre os estudos de mídia e política. Coloca
a história oral como método de estudo para as manifestações folk, trabalha o
universo da web e as manifestações culturais urbanas e, por fim, a partir de uma
re-visita às teorias iniciais aponta à interdisciplinaridade, necessária ao complexo
e relevante campo de estudo, e atualiza os conceitos iniciais.
A pesquisa de Folkcomunicação rompe fronteiras e se expande para
alguns países da América Latina e da Europa. Conta pesquisas da Colômbia,
México e Portugal com estudos sobre a radiodifusão e o folclore, religiosidade e
identidade regional, e em outros mares, com estudos de literatura oral nos setores
marginalizados lusitanos.
Todas essas contribuições estão organizadas na Rede Folkcom em quadro
grandes áreas de pesquisa: Teoria e Metodologia que apresenta as reflexões dos
conceitos e dos processos que resultam na compreensão ou na atualização do
arcabouço folkcomunicacional; Gêneros e Formatos desenvolve temas que
estudam as formas tradicionais de comunicação das camadas populares, conforme
enunciadas por Luiz Beltrão, bem como as diferentes mídias e conteúdos; Política
e Contemporaneidade discute as formas e as estratégias de ação política que
envolvem a Folkcomunicação - como apropriações efetuadas por organizações
políticas e/ou partidárias, ou como manifestações espontâneas de indivíduos
ou grupos que se posicionam na rede midiática; Festividades e Turismo, expõe
as análises sobre as festas populares, artesanato, culinária, músicas, danças; o
contexto, a apropriação pelo turismo e as novas abrangências organizacionais.
As conferências
1ª.Conferência: FOLKCOM 1998
A primeira Conferência Brasileira de Folkcomunicação (I FolkCom), foi realizada
na Universidade Metodista de São Paulo, no mês de agosto de 1998, entre os dias
272
Folkcomunicação: memória institucional
12 a 14. O professor José Marques de Melo, Titular da Cátedra Unesco/Umesp,
ao propor este evento afirmou, em seu discurso de abertura, ter uma dupla
intenção. Primeiro, permitir a apresentação dos resultados de pesquisas recentes
sobre expressões da Folkcomunicação brasileira. Segundo, esboçar uma agenda
temática para implementar novos projetos de pesquisa sob a égide da emergente
Rede FolkCom, constituída por jovens pesquisadores midiáticos e por experientes
estudiosos de folclore (Marques de Melo 1998, 2). Esta I FolkCom homenageou
a memória de Luiz Beltrão – que se estivesse vivo estaria completando 80 anos,
naquele ano de 1998.
A estrutura da conferência foi composta em três etapas. Na primeira, palestras
realizadas por especialistas convidados e por relatos de pesquisas concluídas ou em
desenvolvimento, apresentadas por pesquisadores inscritos voluntariamente. A
segunda ofereceu espaço para exposições e mostras de trabalhos comunicacionais
(fotografias, vídeos, filmes, discos, CDs etc) que tomaram o folclore como
temática específica e, por fim, exibições de grupos folclóricos da região do ABC
Paulista, local onde foi realizada a Conferência.
Ao organizar o Encontro a Cátedra UNESCO/UMESP, através de seu
titular, o professor José Marques de Melo, pretendeu, entre outras coisas, motivar
a realização anual deste encontro em outras Instituições de Ensino. Desse
modo ficaria garantida a análise e a atualização do inventario das tendências da
pesquisa brasileira de Folkcomunicação, renovando as pautas de trabalho para
os pesquisadores da disciplina. Por outro lado, ao realizar a Conferência em
outras cidades/estados, estariam abrindo um espaço de valorização da diversidade
cultural de cada região.
O Encontro discutiu a relação dos meios de comunicação de massa com a
cultura popular e foi muito frutífero, recebendo comunicações de todo Brasil.
Contou também com a presença de Dona Zita de Andrade Lima, esposa do
professor Luiz Beltrão e uma comitiva de 23 paraguaios, professores e estudantes
da Universidad Nacional de Assunción.
Foi também em 1998, durante o Evento, que ficou decidido criar uma rede
de estudos, chamada Rede Brasileira de Folkcomunicação (Rede FolkCom), com
a finalidade de estimular o desenvolvimento da pesquisa sobre Folkcomunicação,
a partir dos princípios formulados por Luiz Beltrão.
2ª.Conferência: FOLKCOM 1999
A II Conferência de Folkcomunicação aconteceu no período de 11 a 15 de agosto,
na cidade mineira de São João Del Rei. Promovido pela a Cátedra Unesco/Umesp
de Comunicação para o Desenvolvimento Regional e pela Fundação de Ensino
273
Folkcomunicação: memória institucional
Superior de São João Del Rei (Funrei), homenageou o centenário de nascimento
do folclorista Luíz da Câmara Cascudo.
O professor Guilherme Rezende, coordenador da II Conferência, afirmou
que quatro fatores inspiraram a formulação e a realização do encontro: o caráter
multidisciplinar, a conjugação de comunicações acadêmicas com apresentações
folclóricas, a expressão multicultural através da representação de pesquisadores de
diferentes regiões do país e a oportunidade para resgatar a memória dos pioneiros
desse campo de conhecimento3.
Também fez parte da programação a apresentação do coral Família Alcântara,
de grupos folclóricos, e procissão na Matriz N.SRA. do Pilar. Finalizou-se com
missa solene com a orquestra Lira São-joanense e procissão N.SRA. da Glória. Na
ocasião, a Cátedra Unesco/Umesp lançou o primeiro CDRom contendo todas as
informações da I Conferência: anais e a revista Enfolkcom realizada por alunos
da Universidade Metodista de São Paulo, onde aconteceu o primeiro encontro.
Durante a reunião dos pesquisadores da Rede Folkcom ficou decido a
realização de uma pesquisa, intitulada Imagens Midiáticas do Carnaval Brasileiro,
a celebração popular dos 500 anos do Brasil, coordenada pelos professores Dr.
José Marques de Melo, Dr. Joseph Luyten, Ms. Samantha Castelo Branco. O
trabalho teria como objetivo pesquisar a imagem de uma das mais populares
festas do Brasil, o Carnaval, verificando como estas imagens são veiculadas nos
jornais diários de todo o mundo.
3ª.Conferência: FOLKCOM 2000
A III FolkCom foi realizada na Universidade Federal da Paraíba - UFPB -, em
parceria com a Cátedra Unesco/Umesp, na cidade de João Pessoa na Paraíba, entre
os dias 26 a 29 de junho. O evento contou com a participação de pesquisadores
da área de Folkcomunicação vindos de diversas regiões do país. Um dos principais
objetivos do encontro foi o estudo das obras de três grandes pesquisadores da
Cultura Popular Brasileira, que têm origem no Nordeste: Altimar Pimentel,
Gilberto Freire e Mário Souto Maior. Todos eles em suas pesquisas analisaram
temas ligados à questão da mídia e da cultura popular.
Momento importante da conferência foi o painel Imagens Midiáticas do
Carnaval Brasileiro: a celebração popular dos 500 anos do Brasil, que teve como
painelistas os professores Joseph Luyten e Samantha Castelo Branco da Umesp,
que apresentaram os resultados da pesquisa realizada pela Rede FolkCom com
apoio da Cátedra Unesco de Comunicação. O trabalho reuniu informações
de todo o Brasil, América Latina, e de outros países, tais como: França, Itália,
3 Jornal da Folkcom, 11 a 15 de agosto, edições 1 a 3.
274
Folkcomunicação: memória institucional
Espanha, Japão, EUA. Este painel foi coordenado pelo Professor José Marques
de Melo, coordenador da pesquisa. O resultado deste trabalho está disponível
no Anuário Unesco/Umesp nº 4, que pode ser encontrado na Cátedra Unesco/
Umesp.
4ª.Conferência: FOLKCOM 2001
A IV Conferência Brasileira de Folkcomunicação (Folkcom 2001), ocorreu na
cidade de Campo Grande - capital do estado de Mato Grosso do Sul entre os dias
26-29 de junho de 2001. O tema central do encontro foi “As Festas Populares
como Processos Comunicacionais”. O objetivo desta Folkcom foi o de estudar a
natureza das festas populares vigentes no limiar do século XXI, identificando os
processos comunicacionais em uma grande pesquisa de abrangência nacional. A
Folkcom 2001 contou com a presença de cerca de 700 pesquisadores, estudantes,
professores que puderam verificar, apresentar e discutir os trabalhos oriundos de
diversas partes do país. Esse número expressivo de participantes e a boa repercussão
do evento só foi possível graças ao empenho e a dedicação da professora Marlei
Sigrist, organizadora local.
Na convocatória para o encontro de Campo Grande, diz-se textualmente
que seu objetivo é:
(...) estudar a natureza das festas populares vigentes no limiar do
século XXI, identificando os processos comunicacionais que as
configuram enquanto espaços de diversão cultural e celebração
cívica, além de analisar criticamente como a indústria midiática
catalisa tais modos de pensar, sentir e agir dos grupos sociais e das
comunidades.
O resultado dessa pesquisa está disponível no Anuário Unesco/Umesp nº 5,
que está sendo lançado até a primeira quinzena de maio de 2002.
5ª.Conferência: FOLKCOM 2002
A V Folkcom foi realizada na cidade de Santos, São Paulo, teve como tema central
à “Imprensa do Povo”. Coordenada pela professora Rosa Nava e realizada pela
Universidade Monte Serrat, com o apoio da Cátedra Unesco.
O objetivo principal do encontro do ano de 2002 foi estudar os processos
folkcomunicacionais, cuja difusão era feita através da mídia impressa. Analisar,
reconhecer e interpretar os meios impressos de que se valiam os agentes populares
da cultura tradicional: folhetos, almanaques, opúsculos, volantes, panfletos,
santinhos e outros. Estudar e compreender as mensagens folkcomunicacionais
275
Folkcomunicação: memória institucional
(notícias, anúncios, imagens) publicados na mídia impressa (jornais, revistas,
livros)4.
Com um público de mais de 500 pessoas, contou com pesquisadores
internacionais como o professor Luis Humberto Marcos, Diretor do Museu da
Imprensa, Porto, Portugal, que proferiu a conferência de abertura, que teve como
o título Trajetória da Imprensa no Espaço Lusófono: erudito, massivo e popular.
Outra presença portuguesa foi do professor Carlos Nogueira, da Universidade
de Lisboa, que fez palestra sobre a Literatura de Cordel Portuguesa: história,
pesquisa e interpretação. Esse público também foi composto por pesquisadores,
professores e estudantes de diversas universidades do Brasil; e foram apresentadas
diversas expressões da cultura popular da baixada santista.
6ª.Conferência: FOLKCOM 2003
A VI Conferência Brasileira de Folkcomunicação acontece no SESC Mineiro de
Grussaí, São João da Barra, Rio de Janeiro, no período de 3 a 6 de abril. Teve
como tema central a “Difusão do Folclore pelas indústrias midiáticas”. O evento
foi realizado pela Faculdade de Filosofia de Campos, Curso de Comunicação
Social, Campos dos Goytacazes – RJ, promovido Cátedra UNESCO/UMESP de
Comunicação e pela Rede FOLKCOM, com apoio do Núcleo de Pesquisa em
Folkcomunicação da INTERCOM e Grupo de Estudos de Folkcomunicação da
ALAIC.
Teve como coordenador nacional o professor José Marques de Melo, titular
da Cátedra Unesco/Umesp; coordenação regional dos professores Andral Nunes
Tavares (FAFIC-RJ) e Orávio de Campos Soares (FAFIC –RJ) e da Diretoria da
Rede Folkcom, professoras Cristina Schmidt (UMC-SP), Marley Sigrist (UFMSMS), Maria Cristina Gobbi (UNESCO/UMESP) e Rosa Nava ( UNIMONTESP).
O objetivo do encontro foi delinear o perfil da folkcomunicação na mídia
a partir da localização dos seres humanos, da festa, da culinária, do artesanato,
da música, da religião, da arquitetura, do trabalho e etc. Realizar estudos
documentais descrevendo-os e analisando-os enquanto processos e fenômenos
folkmidiáticos, localizando seus agentes codificadores, seus canais de expressão,
o tipo de mensagem, o público que se destina. Demonstrar como a mídia se
apropria e globaliza os conteúdos do folclore, através de um levantamento do
material veiculado em jornais, revistas, Tvs, Internet, rádio, cinema, histórias em
quadrinhos, etc. Intercambiar subsídios com outros pesquisadores ligados à Rede
Folkcom-Unesco e novos pesquisadores, inclusive de iniciação científica. Contou
4 Texto retirado do folder da V Conferência Brasileira de Folkcomunicação, realizada entre os dias 1 a 4 de maio
de 2002, na cidade de Santos, São Paulo.
276
Folkcomunicação: memória institucional
com cerca de 500 participantes de universidades brasileiras e internacionais, e
com diversas apresentações culturais da região.
7ª.Conferência: FOLKCOM 2004
A VII Conferência Brasileira de Folkcomunicação foi realizada na UNIVATES,
na cidade de Lajeado (RS), no período de 13 a 16 de maio de 2003. Teve como
tema central a “Folkcomunicação Política”. Da mesma maneira que nos anos
anteriores, contou com a promoção da Cátedra UNESCO/UMESP e da REDE
FOLKCOM, e as coordenações ficaram assim atribuídas: Coordenador nacional:
Prof. Dr. José Marques de Melo (UNESCO/UMESP); Coordenação regional:
Prof. Sandro Kirst (UNIVATES) e Profa. Elizete de Azevedo Kreutz (UNIVATES);
Comitê Acadêmico da Rede Folkcom: Profa. Dra. Cristina Schmidt (UMCSP), Profa. Dra. Rosa Nava (UNIMONTE-SP), Prof. Dr. Roberto Benjamim
(UFRPE / Com. Nac. de Folclore), Profa. Ms. Marlei Sigrist (UFMS-MS), Prof.
Ms. Severino Lucena (UFPB / PUCRS).
O evento teve como objetivos: Inventariar, registrar, debater, generalizar e
formular novas hipóteses sobre os fenômenos políticos que permeiam o tecido das
manifestações folkcomunicacionais. Pretende-se não apenas analisar o conteúdo
político das mensagens produzidas e difundidas pelos agentes da folkcomunicação,
mas também as apropriações feitas pelos agentes políticos em relação às expressões
culturais das classes subalternas e dos segmentos culturalmente excluídos da
sociedade brasileira.
8ª.Conferência: FOLKCOM 2005
A VIII Conferência Brasileira de Folkcomunicação marcou os 40 anos do artigo
inicial do professor Luiz Beltrão. O texto Ex-voto como veículo jornalístico,
publicado na Revista Comunicação & Problemas, que delineou uma nova disciplina
na área da Comunicação Social: a Folkcomunicação. O material foi publicado em
1965, na primeira edição da Revista.
O evento foi realizado no Centro de Ensino Unificado de Teresina CEUT),
estado do Piauí, e contou com diversas entidades parceiras. Mostrou nos três
dias de encontro as diferentes áreas da comunicação que abarcam a essência
das manifestações da cultura popular; evidenciou, através da participação de
pesquisadores, estudantes, curiosos e interessados na temática, a diversidade
cultural brasileira.
A Conferência recebeu pesquisadores de diferentes Estados: Bahia,
Maranhão, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul,
277
Folkcomunicação: memória institucional
Paraná, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Minas Gerais, Espírito Santo e, ainda, do
cenário internacional, a exemplo de Portugal; despertou em novos pesquisadores
a conscientização da importância do estudo da cultura popular como um processo
agregador de valores ligados diretamente ao povo e às suas formas de expressão.
Importante destacar: o Prêmio João Claudino de Folkcomunicação, criado
com o objetivo de incentivar a produção do conhecimento científico acerca do
tema central do evento e também de assuntos diversos relacionados aos objetos
de estudos próprios da área; o desenvolvimento do projeto Caçadores de Milagres,
que permitiu a alunos e professores de Instituições de Ensino Superior (IES) o
estudo da comunicação religiosa em diferentes pontos de peregrinação no Piauí; a
elucidação de um aspecto inédito na Folkcom, por meio da realização da primeira
Mostra Imagem e Som, dando oportunidade para os trabalhos de iniciação científica,
com a apresentação práticas relacionadas às temáticas folkcomunicacionais.
A diversidade dos temas apresentados nos seis Grupos de Trabalho que
compuseram a Conferência, abrangendo contribuições oriundas de estudos como
o dos gêneros folkcomunicacionais, a abordagem midiática das manifestações
populares, com destaque para os ex-votos, além de releituras da obra “beltraniana”
com aspectos atuais da área de folkcomunicação, promoveu o fortalecimento da
Rede Folkcom, por meio da adesão de novos pesquisadores.
9ª.Conferência: FOLKCOM 2006
A Folkcomunicação e Cibercultura a voz e a vez dos excluídos na arena digital foi a
temática da IX Conferência de Folkcom. Promovida pela Universidade Metodista
de São Paulo e Cátedra UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento
Regional, em São Bernardo do Campo, SP, no período de 9 a 11 de outubro
de 2006. Teve a Coordenação científica e executiva da profa. Maria Cristina
Gobbi (METODISTA/ Rede Folkcom), foi realizada pela Rede Brasileira de
Pesquisadores em Folkcomunicação e contou com a parceria das faculdades
de Comunicação Multimídia – FACOM, Faculdade de Jornalismo e Relações
Públicas – FAJORP Faculdade de Publicidade, Propaganda e Turismo – FAPPT.
O evento foi dividido em três subtemas importantes e que provocaram
estudos atualizados de folkcomunicação compondo três mesas expositoras,
foram: espaços ocupados na rede mediada por computadores, estratégias usadas
para se projetar na ágora globalizada, mediações para sensibilizar as audiências
jovens. Nesse espaço, além de pesquisadores, apresentaram experiências empresas
de comunicação e de serviços e entretenimento como a TV Futura e o SESC São
Paulo.
Os cerca de 300 participantes com trabalhos de diversos níveis acadêmicos
278
Folkcomunicação: memória institucional
– de iniciação científica a doutorado – foram apresentados em seis grupos de
trabalho: GT 1 – Teoria e Metodologia da Folkcomunicação, GT 2 –Gêneros
e Formatos Folkcomunicacionais, GT 3 – Folkcomunicação Turística, GT
4 – Folkcomunicação Midiática, GT 5– Folkcomunicação Política, GT 6 –
Folkcomunicação Religiosa. E, da mesma forma que em edições anteriores, o
evento foi marcado por apresentações culturais do grande ABC e de São Paulo.
10ª.Conferência: FOLKCOM 2007
Com a temática central: A Comunicação dos Migrantes: Fluxos Massivos,
Contra-Fluxos Populares, foi realizada a X Conferência de folkcom no período de
16 a 19 de agosto, na Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, PR. Esse
tema teve o objetivo de compreender como a Folkcomunicação funciona em um
país de migrantes. Muitas manifestações tornam-se referências e são registradas
pela mídia criando um fluxo de informação massiva. Em contrapartida, isso gera
contrafluxos folkcomunicacionais. Emissores, canais/mensagens e receptores
diversos interagem com as localidades de origem e de destino. Para analisá-las
é preciso identificar os fluxos midiáticos e os contrafluxos folkcomunicacionais
provenientes daqueles que migram em que o folk e o massivo se mesclam.
A apresentação dos trabalhos ocorreu de duas formas, em painéis
subtemáticos: “Expressões folkcomunicacionais nos grupos étnicos paranaenses”;
“Fluxos de imigração: resistências e rupturas na comunicação popular/massivo”;
“Comunicação de massa e sincretismo cultural: estereótipos, tradições, modismos
e identidades flutuantes”. E, em quatro grupos de trabalho: Folkcomunicação e
Teoria e Metodologia; Folkcomunicação e Gêneros e Formatos; Folkcomunicação
Turística e Religiosa; Folkcomunicação midiática. Além disso, também programou
atividades culturais e visitas técnicas aos patrimônios históricos e naturais da
cidade.
Foi uma conferência sob a coordenação local de Sérgio Gadini e Karina Janz
realizada pelo Centro Acadêmico João do Rio (CAJOM), pelo Departamento
de Comunicação - Decom/Jornalismo UEPG; Universidade Estadual de Ponta
Grossa, Cátedra Unesco/Umesp de Comunicação para o Desenvolvimento
Regional e Rede Folkcom. Contou com o apoio da Fundação Araucária - Apoio
ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná.
11ª.Conferência: FOLKCOM 2008
A XI Conferência Brasileira de Folkcomunicação foi realizada por ocasião do
XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação - Intercom, no período
de 2 a 6 de setembro, no Campus da UFRN (Natal), sob a coordenação local das
279
Folkcomunicação: memória institucional
professoras Betânia Maciel (UFRPE) e Érica Oliveira Lima (UFRN). Teve como
temática “A Cartografia Folkcomunicacional 1998 a 2008”, por meio de uma
pesquisa ampla envolvendo pesquisadores de diversos estados brasileiros.
A Cátedra UNESCO de Comunicação da Universidade Metodista
de São Paulo, através da Rede FOLKCOM - Rede Brasileira de Pesquisa em
Folkcomunicação, em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Folkcomunicação
da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e o
Grupo de Trabalho sobre Folkcomunicação da Associação Latino-Americana de
Pesquisadores em Comunicação (ALAIC), propôs a reconstituição do “Acervo da
Folkcomunicação”, inventariando “a fundação da FOLKCOM, que ocorreu no
ano de 1998 até seu estágio atual – 2008”.
Com a finalidade de descrever o estado da questão, contribuindo para a
formulação de diretrizes capazes de fazer avançar o conhecimento, a interpretação
e a exegese dos fenômenos da cultura popular, determinados pelos fluxos
midiáticos ou por eles intermediados. Configurou um mapeamento dos estudos
folkcomunicacionais, identificando: os marcos teóricos, os suportes metodológicos,
os objetos de estudo, os sujeitos investigantes, as fontes embasadoras, os canais de
difusa, e outras possíveis variáveis. O corpus da pesquisa compôs-se pelas fontes
impressas (Livros e fascículos, Artigos em periódicos, Verbetes em glossários);
Literatura cinzenta (Artigos em anais, Teses e dissertações, TCCs e IC’s); Fontes
eletrônicas (AudiovisuaisTextos em portais digitais.
Nesta conferência também foi oferecido o “Prêmio Câmara Cascudo de
Folkcomunicação”. Em território nordestino, em Natal, há 110 anos nascia Luis
da Câmara Cascudo, considerado o cientista maior da Cultura Popular. E em
Pernambuco, nascia há 90 anos aquele que ousaria criar uma nova disciplina
– Folkcomunicação – justamente na fronteira da Comunicação Massiva com a
Cultura Popular. O Prêmio Câmara Cascudo de Folkcomunicação destinou-se aos
autores de estudos que focalizaram incursões de Câmara Cascudo pelo território
folkcomucacional, dialogando direta ou implicitamente com os postulados
construídos por Luiz Beltrão, através de uma das seguintes formas de expressão:
Artigo científico, Reportagem – jornal, revista ou internet; Documentário –
produto videográfico para suportes audiovisuais.
E, momento de grande destaque o Simpósio comemorativo dos 90 anos
de Luiz Beltrão, evento organizado em parceria com a Intercom e apoio da
Globo Universidade. Foi desenvolvido em duas mesas; a primeira, coordenada
por Roberto Benjamin (UFRPE) trouxe os temas e pesquisadores: Itinerário de
Luiz Beltrão - Maria Cristina Gobbi (UMESP), Epistolografia de Luiz Beltrão –
Antonio Teixeira Barros (IESB), Trajetória sindical de Luiz Beltrão – Adisia Sá
(UFC), Percurso folkcomunicacional de Luiz Beltrão – Betania Maciel (UFRPE).
A segunda, coordenada por Antonio Hohlfeldt (Prêmio Luiz Beltrão 2007) foi
280
Folkcomunicação: memória institucional
composta por: Itinerário de Luiz Beltrão – Betania Maciel (UFRPE); Epistolografia
de Luiz Beltrão – Antonio Teixeira Barros (IESB); Percurso folkcomunicacional
de Luiz Beltrão – Cristina Schmidt (UMC); Difusão internacional da pesquisa
em folkcomunicação – Sergio Luiz Gadini (UEPG). O encerramento coube ao
professor e pesquisador Alfredo Vizeu (Prêmio Luiz Beltrão 2007).
12ª.Conferência: FOLKCOM 2009
Em 2009, a XII Conferência Brasileira de Folkcomunicação teve como tema a
“Cultura Caipira” e aconteceu na cidade de Taubaté, interior do estado de São
Paulo entre os dias 11 e 13 de novembro. A realização do encontro foi fruto de
uma parceria entre o SESC, o Departamento de Comunicação da Universidade de
Taubaté – UNITAU, a Cátedra Unesco e a Rede Folkcom de Pesquisadores, com
a coordenação local do Prof. Ms. Marcelo Tadeu dos Reis Pimentel (UNITAU).
A programação foi composta por Colóquios e Painéis compostos por
pesquisadores representativos da área de diferentes universidades brasileiras, e
por profissionais da Comunicação como José Hamilton Ribeiro e Maurício de
Souza. Também ocorreram exibição de filmes pertinentes à temática, foi o Cine
fórum Mazzaropi, coordenado pelo Instituto Mazzaropi e o Núcleo de Pesquisa
em Comunicação.
Também contemplou a apresentação de pesquisas de iniciação científica,
mestrado e doutorado, nem quatro Grupos de trabalho: GT 1 – Teoria,
Metodologia, Gêneros e Formatos da Folkcomunicação sob coordenação da
profa. Dra. Cristina Schmidt (UMC), GT 2 – Folkcomunicação Midiática,
Coordenada pela Profa. Dra. Karina Woitowicz (UEPG) e Marcelo Sabatini
(UFRPE); GT 3 – Folkcomunicação Política, Turística e Religiosa que teve a
Coordenação de Marcelo Pires de Oliveira (UESC) e Eliane Mergulhão (CEFETSJC); GT 4 – Cultura Caipira com a coordenação da profa. Dra. Betânia Maciel
(UFRPE), Maria Érica de Oliveira (UFRN) e Marcelo Pimentel (UNITAU).
13ª.Conferência: FOLKCOM 2010
A Rede de Estudos e Pesquisa em Folkcomunicação - Rede Folkcom, a
Cátedra Unesco/Umesp de Comunicação para o Desenvolvimento Regional e
a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) realizam a XIII Conferência
Brasileira de Folkcomunicação Folkcom 2010. O tema dessa edição é “Esteja a
gosto, sabores e saberes populares: a folkcomunicação gastronômica”, que analisa
os processos comunicacionais existentes na culinária regional e também percebe
como a mídia retrata, representa e apresenta a culinária regional. O evento
realizado em Ilhéus, Estado da Bahia, nos dias 10 a 13 de novembro de 2010.
281
Folkcomunicação: memória institucional
A conferência também dividida em grupos de trabalhos, contando com
quatro GTs: GT 1 – Folkcomunicação, Manifestações Urbanas e Cyberculturais
- propõe-se Estudar as Manifestações de Cultura Popular Urbanas e As formas
de Folkcomunicação que ocorrem na rede mundial de computadores(internet);
GT 2 – Folkcomunicação, Religião e Festividades - estudos relativos às
Manifestações religiosas das várias religiões e as festividades de cunho
popular; GT 3 – Folkcomunicação Midiática – abriga as análises da produção
midiática que utiliza elementos da cultura popular e sua representação; GT 4 –
Folkcomunicação, Campos de Pesquisa, Teoria e Metodologia – trabalha com as
reflexões críticas das pesquisas em Folkcomunicação e suas relações com as demais
teorias da comunicação e apontamentos sobre as metodologias de pesquisa em
Folkcomunicação.
Neste encontro, parte dos trabalhos é resultado de uma grande pesquisa
nacional de mesmo tema, mobilizando pesquisadores de diferentes universidades
e níveis acadêmicos – iniciação ao doutorado. E, como é tradicional nos eventos
de folkcom, esta conferência conta com apresentações culturais e visitas técnicas
a comunidades relacionadas ao tema.
Revista e site
Importante destacar mais dois importantes projetos da Rede Folkcom: a Revista
Internacional de Folkcomunicação (On line) que é um espaço editorial para
publicação de trabalhos, reflexões e pesquisas em torno da Folkcomunicação
(com base na perspectiva conceitual de Luiz Beltrão), seja enfocando aspectos
interdisciplinares, propostas e estratégias metodológicas de estudos afins ou
resultados de investigações folkcomunicacionais. A Revista (RIF) é editada
pela Rede Folkcom, em parceria com a Agência de Jornalismo da Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR). Com periodicidade semestral, a Revista
Internacional de Folkcomunicação é publicada no final dos meses de Junho e
novembro.
Os Indexadores da revista são:
Portal Livre! http://livre.cnen.gov.br
Latindex http://www.latindex.unam.mx/latindex/busquedas1/index.html
Portal Periódicos (CAPES) http://www.periodicos.capes.gov.br
Red Iberoamericana de Revistas de Comunicación y Cultura http://
www.revistasdecomunicacion.org/listado.html
O Portal da Rede Folkcom - Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação,
foi concretizado no mês de abril de 2007, com o objetivo de ampliar e potencializar
282
Folkcomunicação: memória institucional
as atividades da Rede; e estabelecer um canal permanente de colaboração científica
entre os membros, pesquisadores interessados e profissionais ligadas a área da
comunicação e da cultura popular5.
Referências bibliográficas e sites
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a mídia dos excluídos. Intercom. Cadernos de Comunicação. Estudos. v. 17.
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: A secretaria, 2007. Prêmio
Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação 2006 na categoria grupo inovador.
BENJAMIN, Roberto. A fala e o gesto: narrativas de Folkcomunicação
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Paulo: Cortez, 1980.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Contos brasileiros. São Paulo: Expressão
popular, 2006.
MARQUES DE MELO, José. Uma estratégia das classes subalternas, In:
Folkcomunicação: a mídia dos excluídos. Intercom. Cadernos de Comunicação.
Estudos. V 17. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: A secretaria,
2007. Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação 2006 na categoria grupo
inovador.
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taxonomia e metodologia da Folkcomunicação. São Paulo: Paulus, 2008.
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comunicação no Brasil. João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Paraíba,
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Pessoa: Editora da Universidade Federal da Parabíba, 2008
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Cidade do Rio de Janeiro. Folkcomunicação: a mídia dos excluídos. Cadernos da
Comunicação. Série Estudos. Rio de Janeiro: A Secretaria, 2007
5 Disponível em www.redefolkcom.org .
283
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – 2010
Editorial
Coordenação
Cláudio Passos de Oliveira
Editoração
Shine Comunicação
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