Ferramenta de Apoio N.º 2
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Ferramenta de Apoio N.º 2
QUADRO COMUM DAS CARACTERÍSTICAS DE UMA ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO DA GESTÃO DOS RISCOS DE INUNDAÇÕES Ferramenta de Apoio N.º 2: Diretriz para uma Análise Multicritério (AMC) da Gestão dos Riscos de Inundações (GRI) Relatório número C.4 Data de entrega 5/6/2014 Estatuto Versão 3 Autor(es) Middlesex University Flood Hazard Research Centre SIGMA Consultants www.floodcba.eu "Este projeto foi financiado com o contributo do Instrumento Financeiro para a Proteção Civil da União Europeia. Esta comunicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor. A Comissão não pode ser responsabilizada pela potencial utilização da informação aqui contida." Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Capítulo 1 5 Introdução 5 1.1 Termos de Referência 5 1.2 O ponto de partida 6 1.3 Objetivo e conteúdo deste relatório 8 Capítulo 2 11 A abordagem à Análise Multicritério 11 2.1 AMC: Uma análise das diferenças 11 2.2 Questões que devem ser abordadas 12 2.2.1 Critérios 12 2.2.2 Medição 13 2.2.3 A matriz 15 2.2.4 2.3 Função de utilidade multiatributo 15 Técnicas 17 2.3.1 Análise das correlações: Quais são as opções que têm um comportamento semelhante? 17 2.3.2 Matriz 20 2.3.3 Medição 21 2.3.5 Diferença de ponderações 24 2.4 Outros princípios gerais 26 2.4.1 Excluir 26 2.4.2 Inventar novas opções 27 2.5 Um exemplo prático 27 2.6 Conclusões 29 2 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Capítulo 3 32 Avaliação das perdas e dos ganhos recreativos relacionados com a gestão dos riscos de inundações 32 3.1 Uma panorâmica geral 32 3.2 Cálculo de perdas ou ganhos recreativos 32 3.3 A abordagem e as técnicas recomendadas 33 3.4 Questões remanescentes 42 Capítulo 4 54 Avaliação dos Benefícios e Custos Ambientais 54 4.1 Uma panorâmica geral 54 4.2 O que deve ser avaliado e as exceções 55 4.3 A Diretiva-Quadro da Água (DQA): Uma consideração imperativa 56 4.3.1 Introdução 56 4.3.2 Bom Estado Ecológico (BEE) 57 4.3.3 Bom Potencial Ecológico 57 4.3.4 "Sem deterioração" 58 4.3.5 Artigo 4.7 da DQA 59 4.4 Avaliação dos impactos 60 4.4.1 Preços de Mercado 63 4.4.2 Transferência de Valor 64 4.4.3 Custos de Substituição 65 4.4.4 Disponibilidade para Pagar 65 4.4.5 Considerar custos e benefícios aos quais não tenha sido atribuído um valor pecuniário 66 4.5 67 Questões remanescentes 3 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 4.6 Ensinamentos a retirar da experiência 69 Capítulo 5 Os efeitos humanos "intangíveis" das inundações 75 5.1 Os efeitos das inundações sobre a saúde 75 5.2 O risco para a vida provocado pelas inundações 76 5.2.1 Introdução 76 5.2.2 Avaliação do risco para a vida decorrente de uma inundação 79 5.2.3 A metodologia do "Risco para as pessoas" (HR Wallingford; 2003; 2005b; Defra, 2008b) 80 5.2.4 Uma abordagem baseada em "limiares" para avaliar o risco para a vida 82 5.2.5 Avaliação: perda de vidas motivada por inundações 84 Referências 98 Anexo 103 Um exemplo de AMC 103 4 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Capítulo 1 Introdução 1.1 Termos de Referência A tarefa "Ação C3" do projeto FLOOD-CBA descreve aqui a criação das Ferramentas de Apoio necessárias para facilitar a conceção e implementação do processo de apreciação de medidas de gestão dos riscos de inundações. Serão compilados dois conjuntos distintos de Diretrizes, para posterior publicação. A primeira Diretriz refere-se à implementação de uma Análise de Custo-Benefício, enquanto a segunda lidará com outros métodos de avaliação. A Diretriz relativa à Análise de Custo-Benefício fornece um comentário passo-a-passo em forma de "guia prático", incidindo sobre os vários itens que devem ser avaliados no contexto de uma análise de custo-benefício. Usa a terminologia comum adotada no decurso da Ação C.1 e fornece ligações à plataforma da base de conhecimentos FLOOD-CBA, onde se pode obter mais pormenores ou consultar estudos em áreas em que a avaliação não é simples e ainda não se alcançou um consenso. A segunda Diretriz (este documento) envolve a apresentação de métodos de avaliação diferentes dos utilizados numa Análise de Custo-Benefício clássica. Estas abordagens (por exemplo, a Análise Multicritério (AMC)) são particularmente relevantes em casos em que os efeitos das diferentes opções possam ser avaliados, mas quando é difícil atribuir-lhes um valor pecuniário. Estas técnicas também podem ser aplicadas em casos em que 5 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 apenas se consiga atribuir um valor pecuniário a parte dos benefícios de uma medida de prevenção de inundações, ou que assim possa ser acordado, e relativamente às quais se espera que os efeitos nãopecuniários sejam significativos para os resultados da análise. As considerações relativas ao custo-benefício podem ser incluídas como um critério (se bem que muito importante) da Análise Multicritério, mas podem também ser complementadas por outros fatores não-pecuniários. Os resultados esperados desta tarefa (e deste relatório como parte da tarefa) foram definidos como "O desenvolvimento de ferramentas úteis que possam servir de referências fiáveis e integradas para os decisores políticos no quadro da avaliação das medidas de prevenção de inundações." 1.2 O ponto de partida A Análise Multicritério (AMC) assume um ponto de partida diferente da Análise Custo-Benefício (ACB) para a identificação da melhor medida de entre as várias disponíveis em termos da gestão dos riscos de inundações (GRI). Numa ACB, o objetivo das ferramentas é determinar qual das opções é a solução ótima. Numa AMC, o objetivo das ferramentas é identificar quais as necessidades que têm de ser pensadas, discutidas e negociadas. A expectativa não é encontrar uma solução ótima, mas sim uma solução que seja consensual, dadas as circunstâncias. Existem diversas técnicas estatísticas e não só que nos podem auxiliar neste "processo de reflexão" e que serão discutidas abaixo. O ponto de partida para a AMC é: 6 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Há vários stakeholders formais e informais envolvidos no processo, tendo cada um objetivos e interesses múltiplos e diferenciados (Green & Penning-Roswell, 2010); Em vez de saber de antemão as concessões que está preparado para fazer, cada interveniente tem de descobrir, no decorrer do processo da AMC, quais são essas concessões que está preparado para fazer; Em vez de existir uma solução "ótima" tecnicamente determinável, a decisão relativamente à intervenção na gestão dos riscos de inundações é alcançada através de um processo de discussão, debate e negociação. Os vários stakeholders têm de decidir o que vão escolher; o objetivo da AMC é apoiá-los para que consigam fazer uma escolha informada; Quando uma decisão terá consequências que possivelmente se refletirão ao longo de 100 anos, como acontece com muitas decisões relacionadas com a GRI, as previsões dessas consequências são inerentemente incertas. A abordagem básica da AMC consiste em desenvolver alguns critérios que servirão de base para escolher entre as opções e depois atribuir uma pontuação a cada uma das opções segundo cada um dos critérios (Edwards & Newman, 1982; Green, 2003). Os critérios geralmente não se propiciam a uma quantificação monetária, sendo que alguns podem ser critérios económicos e outros não (ver na Figura 1.1 uma tipologia destas questões). Aos critérios são atribuídas ponderações que refletem a sua importância relativa e essas ponderações são padronizadas de modo a que os seus valores se situem entre 0 e 1. A matriz resultante da pontuação das opções 7 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 e dos critérios ponderados constituirá então o ponto de partida para o que será um processo de aprendizagem iterativo, no qual serão exploradas as consequências da adoção das diferentes opções. 1.3 Objetivo e conteúdo deste relatório Este relatório contém três tipos de materiais: Em primeiro lugar, o Capítulo 2 fornece conhecimentos aprofundados sobre a AMC, bem como algumas técnicas estatísticas através das quais pode ser aplicada na sua conceção clássica. Em segundo lugar, os Capítulos 3 e 4, por outro lado, fornecem informações e orientações que podem ser usadas para atribuir um valor pecuniário aos benefícios (ou custos) das intervenções de GRI em áreas (lazer; ambiente) nas quais esse processo é difícil e pode ser necessário abandonar a contabilização financeira a favor da abordagem "estatística" defendida no Capítulo 2. Relativamente a ambos os tipos de materiais, existem algumas ressalvas quanto à forma como são usados. Em terceiro lugar, o Capítulo 5 apresenta abordagens semiqualitativas para a avaliação dos efeitos humanos "intangíveis" das inundações e dos planos de mitigação das inundações que serão usados nas avaliações no âmbito da AMC. 8 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 A abordagem descrita no Capítulo 2 deriva dos trabalhos de Hammond (1978) e Edwards & Newman (1982) na medida em que permite o envolvimento dos vários stakeholders no processo. Para a contextualizar, em Green (2003) é apresentado um pequeno resumo da utilização da AMC na GRI. Existe uma abordagem alternativa à AMC que adota uma abordagem de otimização matemática (por exemplo, Ishizaka & Nemery 2013). Gostaríamos de deixar aqui uma mensagem relativa ao Capítulo 2: esta última abordagem de otimização matemática não é adequada no contexto do envolvimento dos vários stakeholders, já que, provavelmente, irá gerar mais confusão do que clareza e, portanto, geralmente deve ser evitada. 9 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Materiais Perda de paisagens culturalmente Perda de vidas importantes Destruição de habitats Impactos negativos na saúde Perda de biodiversidade Destruição de sítios culturais Perda de bens segurados ou não Produção agrícola reduzida Perda de terrenos produtivos Perda de infraestruturas Não-económicas Económicas Perda de identidade e capacidade de resolver problemas coletivamente Redução da produção nacional (PIB) Perda de conhecimento / modos de pensar parte de sistemas de subsistência perdidos Rendimento perdido Abandono do território Declínio do conhecimento (indígena) Oportunidades de subsistência perdidas Coesão social, sociedade com funcionamento pacífico Perda de produtividade económica nos setores Perda de produtividade, de empregos nos sectores Não-materiais Figura 1.1 Exemplos de danos económicos e não-económicos, materiais e não-materiais (segundo Morrissey & Oliver-Smith, 2013) 10 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Capítulo 2 A abordagem à Análise Multicritério 2.1 AMC: Uma análise das diferenças Aquilo que a AMC procura é fornecer um enquadramento no qual cada um dos stakeholders possa explorar as implicações da adoção de diferentes medidas, decidir as concessões que está preparado para fazer e debater com os vários intervenientes qual será a melhor medida de entre as que tem à sua disposição. Este processo implica concentrar as atenções nas diferenças fundamentais: quais são as questões ou os fatores que diferenciam uma medida e que a tornam preferível a qualquer das outras potenciais medidas? Por este motivo, as semelhanças são irrelevantes para a decisão e as diferenças que não influenciam a preferência relativamente à classificação das opções podem ser ignoradas. Uma potencial diferença fundamental reside no desempenho das opções relativamente aos critérios individuais; porém, dada a existência de múltiplos critérios, o fator determinante para a decisão irá provavelmente ser a importância relativa a ponderação atribuída a cada um dos critérios. Os diferentes stakeholders, por seu turno, irão provavelmente atribuir ponderações diferentes à satisfação dos diferentes critérios. A escolha da medida a adotar seria óbvia se uma das opções fosse superior a todas as outras independentemente da ponderação atribuída aos diferentes critérios. Nesse caso, todos os stakeholders estariam de acordo relativamente à opção a adotar. No entanto, a escolha torna-se difícil 11 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 quando a importância relativa dada aos diferentes critérios determina qual das opções se sugere que seja preferível a todas as outras. Quando comparada com a ACB, a AMC sacrifica o rigor e fá-lo para avaliar as questões derivadas do seu ponto de partida. Por exemplo, quando as consequências de uma medida ocorrem em momentos futuros diferentes ou quando variam ao longo do tempo, qualquer comparação entre as opções envolve necessariamente a ponderação das consequências no momento em que ocorrem. Na ACB, a aplicação de uma taxa de desconto, apesar das fraquezas e limitações conhecidas, fornece um meio rigoroso para compararmos as consequências que diferem em termos do momento em que ocorrem. Na AMC não existe um enquadramento rigoroso idêntico. Porém, a AMC consegue transformar em virtude esta falta de rigor, na medida em que permite a exploração de perguntas do tipo "E se...?" 2.2 Questões que devem ser abordadas A maior parte das técnicas usadas numa AMC trata as decisões como um processo de aprendizagem através do qual as questões são exploradas; enquanto processo de aprendizagem é iterativo. Paramos, então, quando temos a certeza de que uma opção será preferível a todas as outras e a maioria dos stakeholders concorda que assim seja. 2.2.1 Critérios Os stakeholders envolvidos terão de gerar um conjunto inicial de critérios que, mais tarde, será aperfeiçoado durante o processo da AMC. É melhor começar com demasiados critérios, sendo abrangente, do que com critérios a menos. 12 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Quaisquer critérios que não sirvam para discriminar as opções podem ser removidos no decurso da análise. Em particular, pode ser útil separar as consequências "desejáveis" e "indesejáveis" do mesmo tipo. Por exemplo, definir um critério separado para consequências ambientais positivas e outro para consequências indesejáveis. Particularmente junto à costa, há, muitas vezes, a necessidade de se chegar a uma solução de compromisso ambiental no momento da decisão da melhor medida a adotar. Junto à costa, a evacuação planeada como medida de GRI poderá prevenir a perda de lodaçais e zonas húmidas costeiras, mas às expensas da perda de habitats por detrás da linha de defesa contra inundações existente. O primeiro risco derivado de ter muitos critérios é o da dupla contagem: podemos ter mais do que um critério para medir a mesma coisa. O segundo prende-se com o facto de os seres humanos terem uma limitação relativamente ao número de fatores que conseguem ter em consideração em simultâneo; num artigo clássico, G. A. Miller (1956) demonstrou que a maior parte das pessoas não consegue lidar com mais do que sete. Um objetivo das ferramentas estatísticas usadas na AMC (ver abaixo) é lidar com estes problemas, eliminando os critérios que duplicam outros critérios. 2.2.2 Medição Existem três níveis básicos de medição representados por escalas de medida "ordinais", "por intervalos" e "por rácios". Muitas vezes, a pontuação das opções relativamente aos diferentes critérios não ficará, provavelmente, a mais do que uma escala de intervalo ou medida e algumas ficarão apenas a um nível ordinal. Isto significa que a multiplicação produzirá resultados matematicamente irrelevante (Stevens, 1946). No caso de um nível ordinal, a adição ou a subtração também produzirão resultados matematicamente 13 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 irrelevantes. Por isso, a prática tentadora de multiplicar a pontuação de uma opção relativamente a um critério pela ponderação atribuída ao critério, e somar os resultados, irá frequentemente produzir resultados irrelevantes. Na prática, provavelmente será melhor evitar tentar alcançar mais do que uma escala ordinal, uma na qual os números simplesmente mostrem se um impacto é maior ou menor do que os outros, já que fazer mais e empregar escalas de intervalo implica a definição de um ponto zero. Procurar definir um ponto zero cria muitos problemas e podemos ter pouco a ganhar se tentarmos abordá-los adequadamente. É pouco provável que seja possível obter escalas de rácio que permitiriam a multiplicação. Quando se considera a medição, importa salientar as diferenças entre economics (aspetos económicos) e economy (economia). Os economistas não definem "economics" como o estudo da economia1, mas sim como o estudo do comportamento humano; porém, alguns dos stakeholders podem esperar que os economistas sejam capazes de prever as consequências das diferentes opções para a economia em termos de crescimento, emprego, rendimentos reais e assim por diante. Noutras áreas, "economics" consegue oferecer uma forma de atribuir valores pecuniários a algumas consequências, mas cabe aos stakeholders determinar em que casos isso os poderá ajudar. Será útil apenas se existir um consenso básico nesse caso, muitas vezes relacionado com pormenores e não apenas com Uma definição muito usada de "economics" é a dada por Samuelson (1970): "O estudo da forma como o Homem e a sociedade acabam por escolher, com ou sem a utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos que podiam ter usos alternativos para a produção de vários bens e para os distribuir para que fossem consumidos, agora ou no futuro, pelas várias pessoas e pelos vários grupos da sociedade." Uma definição curta é: "a aplicação da razão à escolha". 1 14 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 princípios. Por exemplo, se a opção que está a ser considerada envolver a perda de um ecossistema de terras áridas talvez devido à criação de uma área de inundação mas o ganho de uma zona húmida potencialmente valiosa, provavelmente não será muito útil começar por tentar atribuir valores pecuniários a cada uma delas. A regra geral é: não se força a avaliação financeira de um bem ou de uma dano se isso não ajuda a aumentar o conhecimento e a partilhar esse conhecimento. 2.2.3 A matriz O produto inicial de uma AMC é uma grande matriz de pontuações para cada opção relativamente a cada um dos critérios (ver acima). Porém, muitas vezes, essa matriz resulta num conjunto de dados demasiado grande para ser inteligível. As questões fundamentais que determinam a escolha têm de ser "retiradas" desses dados. De entre as duas abordagens possíveis à escolha, o crivo remove as irrelevantes, que deixam de ser tidas em consideração, sendo preferível. Ao fazer uma escolha, finalmente, só temos de eleger uma única opção como sendo preferível a todas as outras. A classificação por ordem de preferência entre as restantes opções é, então, irrelevante. Por conseguinte, o primeiro princípio é livrarmo-nos do que é irrelevante de modo a identificarmos o que é importante e carece da nossa atenção. 2.2.4 Função de utilidade multiatributo A suposição negligente quando se está perante vários critérios diferentes é multiplicar a pontuação de cada opção relativamente a um critério pela ponderação atribuída a esse critério e depois somar os resultados (isto 15 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 também é matematicamente inválido a não ser que todas sejam medidas por uma escala de rácios.) Tecnicamente, isto é uma Função de Utilidade Multiatributo. É uma forma de um grupo de funções designadas por Compensatórias; assim, se uma opção tiver um desempenho particularmente mau relativamente a um critério, mas bom relativamente a todos os restantes, globalmente terá uma pontuação relativamente boa. Isto pode levar a decisões muito más! Formas não-compensatórias deste tipo de análise definem padrões mínimos de aprovação/rejeição para evitar tais decisões. No início da análise, a forma efetiva das relações entre as quantidades de algum bem e a "conveniência" dessas quantidades, a função de utilidade para cada bem ou atributo, não será conhecida. Mais especificamente, a forma como o indivíduo combina as funções de utilidade dos muitos bens ou atributos diferentes, a Função de Utilidade Multiatributo, não é conhecida. Consequentemente, não se saberá se todos partilham a mesma forma funcional. Portanto, as duas questões são: A forma funcional faz diferença para a identificação da melhor opção? E, Consequentemente, o facto de os stakeholders não estarem de acordo é relevante? 16 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 2.3 Técnicas 2.3.1 Análise das correlações: Quais são as opções que têm um comportamento semelhante? Se fizermos uma simples análise das correlações entre as pontuações das opções relativamente aos critérios e, inversamente, dos critérios relativamente às opções, ficaremos a conhecer quais as opções que têm um desempenho semelhante e, em segundo lugar, quais são os critérios relativamente aos quais as opções têm um desempenho semelhante. A segunda análise provavelmente irá ajudar a eliminar alguns dos critérios, se a correlação entre eles for forte. A conversão da matriz de correlações para um diagrama de relações mostra onde se encontram estas correlações fortes. Se dois ou mais critérios estão fortemente correlacionados, a questão que tem de ser colocada é: serão simplesmente duas medições da mesma coisa? Serão aspetos diferentes de algum critério comum subjacente? Ou, mostrará algo acerca da natureza das opções? Na Figura 2.1, as linhas pretas mostram as correlações positivas mais fortes e as linhas vermelhas mostram as correlações negativas mais fortes entre os critérios para um conjunto hipotético de dados. Para encontrarmos instâncias que merecem mais atenção, o procedimento implica procurarmos triângulos de critérios correlacionados, dentro dos quais existam correlações fortes e consistentes (utilizando as regras básicas de + com + = +, - com - = +, e - com + = -). Por exemplo, existem triângulos dessa natureza entre risco para a vida, custos de investimento e outros benefícios; entre fiabilidade, outros benefícios e danos por inundações; entre risco para 17 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 a vida, custos de investimento e outros benefícios; e entre custos de investimento, impacto local e outros benefícios. A primeira das relações pode ser interpretada como dizendo algo acerca da natureza das opções que estão a ser consideradas e em nenhum dos casos há evidência de dupla contagem de um ou mais critérios. risk to life failure mode reliability feasibility local impact b/r ratio + envro impact O & M costs capital costs - neg enviro impact flood losses other benefits Figura 2.1 Foi criado o seguinte exemplo de um diagrama de relações, definindo as pontuações de cada opção relativamente a um critério através de uma equação de regressão das pontuações relativamente a um ou mais critérios e que, assim, inclui vários exemplos de duplicação. 18 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Figura 2.2 Na Figura 2.2, há nove triângulos consistentes. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. risco para a vida, casos de falha, custos de investimento risco para a vida, casos de falha, rácio c/b risco para a vida, casos de falha, outros benefícios casos de falha, custos de investimento, outros benefícios fiabilidade, outros benefícios, danos por inundações fiabilidade, danos por inundações, -ve consequências ambientais fiabilidade, danos por inundações, +ve consequências ambientais fiabilidade, -ve consequências ambientais, +ve consequências ambientais 19 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 9. -ve consequências ambientais, danos por inundações, +ve consequências ambientais A figura revela, a título de exemplo, que as pontuações do risco para a vida foram simplesmente criadas como uma função das atribuídas aos casos de falha e as pontuações para as consequências ambientais negativas foram derivadas como sendo a negativa das consequências ambientais positivas. O que a figura não mostra é que as pontuações para o rácio c/b foram, tal como seria de esperar, criadas como uma função dos quatro fluxos de custos e benefícios. Em princípio, isto seria uma duplicação da contagem e teríamos então de excluir o rácio c/b como critério, uma vez que é simplesmente uma estatística sumativa e algo limitada, na medida em que os stakeholders poderão querer considerar as implicações dos variados custos de O & M e dos custos de investimentos em relação ao orçamento disponível. 2.3.2 Matriz As matrizes de pontuações relativamente aos critérios são geralmente demasiado grandes para serem úteis. Os gráficos são uma forma muito eficaz de retirar informação da massa de dados já que salientam imediatamente as diferenças, incluindo as mudanças, e exibem padrões. A análise deverá utilizar o máximo possível as diferentes formas de técnicas de gráficos. Os mais simples são os gráficos de dispersão, de barras e de setores. Por exemplo, o diagrama de relações acima revela mais do que a matriz de correlações original. Um gráfico de setores com as ponderações atribuídas a cada critério é uma forma rápida de ver a qual dos critérios foi atribuída a maior ponderação. 20 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 2.3.3 Medição As pontuações obtidas pelas diferentes opções relativamente aos critérios devem inicialmente ser convertidas em pontuações ordinais numa classificação. O primeiro passo é, portanto, traçar o desvio padrão da ordenação relativamente à ordenação média de cada opção. Num caso extremo, o desvio padrão para cada opção seria zero; cada opção teria a mesma ordenação relativamente a cada critério, por isso as opções ficariam completamente ordenadas ao longo do eixo x. Nesse caso, a escolha seria óbvia. No outro caso extremo, cada opção teria a mesma ordenação média e um grande desvio padrão. Nesse caso, a única base potencial para escolhermos entre as opções seria feita na base das ponderações dadas aos diferentes critérios e da forma funcional adotada para a função de utilidade. Em termos mais realistas, o resultado habitual é uma dispersão com a forma de "uma colina" da pontuação média de cada opção relativamente ao desvio padrão daquela média. Nos dois extremos, ficam opções com uma boa ou uma má pontuação em todos os critérios (e, portanto, que terão um desvio padrão baixo). No meio, ficam aquelas opções que têm um desempenho medíocre relativamente a todos os critérios (e que, portanto, têm um desvio padrão baixo) e aquelas que têm uma boa pontuação relativamente a alguns critérios, mas má relativamente a outros (e que, portanto, também têm um desvio padrão elevado). Destes quatro grupos, a lógica dita que devemos descartar o segundo grupo as opções com um desempenho uniformemente mau e o terceiro grupo aquelas que são simplesmente medíocres. O primeiro grupo é promissor e merece uma análise mais aprofundada. No segundo grupo, as opções que têm uma pontuação elevada relativamente a critérios importantes não deveriam ser 21 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 prematuramente descartadas. No exemplo hipotético, as opções acima e à direita da linha vermelha parecem ser as mais promissoras, enquanto que as que ficam abaixo da linha vermelha, ao centro, podem ser colocadas num lado. As duas opções acima e à esquerda da linha azul parecem ser as mais promissoras para uma análise mais aprofundada. desvio padrão da posição em relação à posição média Figura 2.3 Uma vez que esta técnica examina apenas as pontuações relativamente a critérios individuais, não tem em consideração as ponderações dadas aos diferentes critérios, nem as possíveis combinações entre eles. As questões relacionadas com as ponderações atribuídas aos critérios e com a forma da função de utilidade multiatributo, por conseguinte, carecem de mais investigação. O que este exemplo também mostra é que não há uma opção nitidamente melhor a maior pontuação média da classificação é acima de três e os desvios padrões das outras opções também são exceto no caso das 22 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 opções que têm um desempenho globalmente medíocre - bastante altas. Por conseguinte, se há muito poucas opções, então (a) devemos considerar uma má prática começar apenas com algumas opções e (b) assim que forem reduzidas para poucas, um gráfico com a ordenação das opções relativamente aos critérios mostra relativamente a que critérios cada opção teve um melhor desempenho. 2.3.4 Funções utilidade multiatributo Uma vez que, inicialmente, não sabemos qual é a forma da Função de Utilidade Multiatributo de determinado indivíduo e não sabemos se todos têm uma função com a mesma forma, a abordagem lógica é ver se isso teria alguma influência na escolha da opção preferencial. Uma forma simples de testar isso mesmo é desenhar o produto de uma função de utilidade multiplicativa linear em relação a uma função multiplicativa, como se pode ver na figura abaixo (Figura 2.4), para ver quais as opções que obtêm as maiores pontuações em cada uma delas. Se a mesma opção tem o melhor desempenho em ambas as formas, então não temos de nos preocupar com a forma adequada da função. Se a classificação das opções principais for bastante diferente para ambas as funções, então a forma funcional é importante e terá de ser mais explorada. Devemos fazer isto principalmente para ver se alguns stakeholders pretendem adotar uma forma da função de utilidade não-compensatória (ver acima). Uma das discussões que teremos de ter pode, então, estar relacionada com a forma da função de utilidade multiatributo que deverá ser adotada. 23 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 armazenamento 30.00 fdas loodáguas storage multiplicativa classificação score multiplicative 25.00 aviso de f lood inundação warning 20.00 15.00 10.00 5.00 0.00 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 additive score classificação aditiva Figura 2.4 2.3.5 Diferença de ponderações Há duas diferenças que é importante determinarmos se têm relevância em termos da opção a ser escolhida ou não: Diferenças nas ponderações que são dadas aos diferentes critérios. Diferenças entre stakeholders relativamente às ponderações que atribuem aos diferentes critérios. Por conseguinte, uma técnica útil, ainda usando as classificações, será calcularmos uma pontuação agregada ponderando primeiro a pontuação de cada opção relativamente a cada critério e depois combinar essas pontuações ponderadas tanto com uma função aditiva como também com uma função multiplicativa. O resultado irá indicar quais os critérios que devem ser discutidos pela sua importância. 24 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Três técnicas simples (Janssen et al., 2005) adicionais são: 1. Um de cada vez, estabelecer a ponderação de um critério num dado tempo em zero e olhar para a classificação por ordem de preferência que daí resultar entre as principais concorrentes como sendo a opção preferencial. 2. Inversamente, fazer o mesmo mas estabelecer o peso de um critério a dada altura em 1.0 (e, por conseguinte, todos os outros em zero). 3. Pegue nas principais concorrentes e olhe para o valor de alteração da ponderação de critérios que irá alterar a classificação por ordem de preferência: quanto é que a ponderação tem de ser alterada para mudar a classificação por ordem de preferência. No conjunto de dados hipotéticos, o seguinte diagrama (Figura 2.5) mostra o resultado se a ponderação dada ao critério do risco para a vida for zero (estamos a usar dez critérios, cada um representado por uma cor diferente). Tal como anteriormente, quanto mais fácil for alterar a classificação por ordem de preferência, alterando as ponderações, tanto maior será a necessidade de debater e discutir os critérios aos quais deverá ser dada importância. 25 ponderada pontuação score weighed Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 5.00 4.50 4.00 3.50 3.00 2.50 2.00 1.50 1.00 0.50 0.00 base de referência da fonte aviso de inundação manter econtrolo reparararmazenamento nível detransferência proteção maisde baixo propriedade construção à prova separar as inundações dos usosde doinundações solo option opção Figura 2.5 2.4 Outros princípios gerais 2.4.1 Excluir Escolher entre as várias opções implica apenas decidir qual a opção que deverá ser preferível a todas as outras. Se a opção A for seguramente preferível a todas as outras, é irrelevante se a opção C deverá ser preferível à Z. Por isso, peneirar sucessivamente as opções é uma abordagem para fazer uma escolha, particularmente nas fases iniciais. O caso mais óbvio para a 26 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 remoção de uma opção é quando essa é dominada por outra; outra opção tem um melhor desempenho relativamente a todos os critérios quando comparada com a opção que estamos a considerar. Uma forma simples de descobrir se alguma das opções é dominada por outra opção é usar o teste estatístico de tau de Kendall (Conover, 1980). Este é um teste para determinar se uma opção fica sempre melhor posicionada na ordenação do que outra. Se assim for, então não há qualquer razão para continuar a considerar a segunda opção. Porém, este teste, provavelmente, não irá remover mais do que uma ou duas opções. 2.4.2 Inventar novas opções Uma boa forma de resolver um conflito ou um desacordo entre os stakeholders é criar uma nova opção, quer seja uma opção totalmente nova, quer seja uma combinação de duas ou mais opções já existentes, criando uma combinação que reúna o melhor de cada uma. Não existe uma técnica específica para fazer isso, mas seria paradoxal assumir que todas as opções tinham sido identificadas antes de se pensar na decisão. No exemplo usado acima como ilustração, poderia valer a pena considerar uma opção que combinasse o armazenamento de alimentos e um alerta de cheias. 2.5 Um exemplo prático Na Hungria, as planícies aluviais dos rios Danúbio e Tisza são protegidas por 151 pólderes rodeados por diques. O Governo da Hungria (GoH) encomendou um estudo para determinar quais eram as prioridades para reabilitar os diques que protegiam cada um desses pólderes (Evans et al., 2000). O GoH não quis tomar essa decisão baseando-se apenas nos 27 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 resultados da análise de custo-benefício que fazia parte do estudo, mas quis também considerar uma série de outros fatores, tais como o risco para a vida. A técnica de desenhar o desvio padrão das posições na ordenação contra a classificação média para cada pólder foi usada para juntar os pólderes em quatro grupos: os dois extremos (pólderes que tinham um bom desempenho relativamente a todos os critérios e aqueles que tinham um mau desempenho relativamente a todos os critérios); um grupo do meio daqueles que eram uniformemente medíocres relativamente a todos os critérios; e o grupo de opções que tinham um bom desempenho relativamente a alguns critérios e mau relativamente a outros. Isto evitou os problemas de se ter de selecionar ponderações e uma função de utilidade multiatributo. Na prática, o GoH concluiu que não dispunha dos fundos necessários para sequer levar a cabo as obras necessárias em todos os pólderes que compunham o primeiro grupo. Em resumo, as decisões são difíceis; podemos tentar clarificar os assuntos, mas as decisões, em última instância, geralmente envolvem juízos de valor morais ou éticos (Hammond, 1978). Por conseguinte, geralmente serão sempre difíceis ― e talvez assim devam continuar a ser por essas mesmas razões. A boa notícia relativamente a esta técnica é que mostra que alguns pólderes - o extremo inferior - na verdade, não careciam de qualquer decisão. E o grupo medíocre também não carecia de mais atenção. Por sua vez, dados os recursos limitados, talvez fosse mais sensato começarmos pelos pólderes no canto inferior esquerdo (no diagrama) e trabalharmos até esgotarmos os recursos para levar a cabo as obras de reabilitação necessárias. 28 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 desvio padrão vs. posição média Figura 2.6 2.6 Conclusões A ACB e a AMC devem ser vistas como análises complementares e não concorrentes. A AMC é dispendiosa em termos de tempo e de recursos, uma vez que é um processo, mais do que uma ferramenta. Pelo contrário, a ACB não necessita de muitos recursos, nem de muito tempo, porque assume que há um consenso subjacente relativamente ao que todos 29 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 querem e que os stakeholders estão cientes das concessões que estão dispostos a fazer antes de chegarem a uma decisão. A ACB é, portanto, uma forma boa para agilizar a tomada de decisões acerca do que é relativamente pouco importante de modo a libertar tempo e recursos para nos concentrarmos nas decisões importantes ou controversas. Quando não há acordo relativamente às concessões que têm de ser feitas ou quando uma decisão envolve definir prioridades pela primeira vez, a AMC é a ferramenta adequada. Em qualquer dos casos, quatro pontos que, geralmente, têm de ser reconhecidos são, em primeiro lugar, que os números são um meio muito útil para resumir o entendimento, mas é o entendimento que é essencial, caso contrário, os números não significam nada. Uma caça aos números não deve, portanto, ser levada a cabo às expensas do entendimento. Por sua vez, em segundo lugar, é melhor estarmos aproximadamente certos do que precisamente errados, por isso a precisão deve ser sacrificada em prol da relevância. Em terceiro lugar, por vezes, defende-se de que se não se atribuir um valor pecuniário a alguma consequência, então essa consequência será ignorada no processo de decisão. A resposta aqui é que é necessário mudar o processo de decisão deficiente de modo a que passe a incluir o que é importante e significativo e não inclua apenas aquilo que é mais fácil de medir. Por fim, algumas decisões são verdadeiramente marginais; na verdade, há casos em que não há uma diferença significativa entre duas ou mais medidas possíveis. Em todos os casos, nenhuma técnica pode ou deve implicar que uma opção seja preferida a todas as outras quando não há qualquer base fundamentada para fazer essa distinção. No caso mais difícil, metade da 30 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 população tem uma forte preferência por uma opção e a outra metade tem uma forte preferência por outra opção. Nesses casos, em última instância, temos de confiar na equidade processual do processo de tomada de decisão para determinar a sua legitimidade (Lind & Tyler, 1988). O contributo que a AMC pode ter, neste caso, é fazer com que os vários stakeholders partilhem os seus diferentes pontos de vista; continuaremos a não estar sempre de acordo uns com os outros, mas podemos tentar perceber por que motivo chegamos a conclusões diferentes. Devemos ter a esperança de que todas as decisões se tornem mais fáceis de tomar, mas se tal não acontecer, podemos melhorar a nossa capacidade de tomarmos decisões difíceis. 31 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Capítulo 3 Avaliação das perdas e dos ganhos recreativos relacionados com a gestão dos riscos de inundações 3.1 Uma panorâmica geral Este capítulo delineia os procedimentos e as técnicas disponíveis para avaliar os potenciais benefícios ou danos recreativos e paisagísticos derivados da gestão dos riscos de inundações costeiras ou fluviais. O termo "benefícios recreativos" cobre os benefícios que advêm do desfrute da paisagem, da vida selvagem e do enquadramento natural, bem como do gozo de atividades recreativas. 3.2 Cálculo de perdas ou ganhos recreativos Os ganhos recreativos são calculados multiplicando o valor em euros de uma visita para fins recreativos (normalmente um valor baixo), que se deriva através do método da valorização contingente (MVC), pelo número de visitas ou beneficiários (muitas vezes um número elevado). A fase crucial na estimativa dos ganhos recreativos é geralmente o cálculo do número de visitas ou de beneficiários. O MVC (o método da "preferência declarada") consiste essencialmente num inquérito por questionário no qual se pergunta diretamente aos respondentes, através de perguntas cuidadosamente formuladas, qual o valor que atribuem a um recurso como instalações recreativas costeiras ou fluviais afetadas por uma inundação ou um plano de gestão dos risco das 32 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 inundações, ou quanto estariam dispostos a pagar (DPP) por uma alteração na disponibilidade desse recurso. Uma variante particular do MVC, o método do valor de usufruto por adulto (VOE) deve ser preferido. Nesta abordagem, pede-se aos respondentes que digam o valor que atribuem ao usufruto de um dia de visita com várias opções em € e cêntimos ou £ e pence. Na abordagem DPP, pergunta-se aos respondentes quanto estariam dispostos a pagar por um bilhete de entrada ou em taxas e impostos por uma alteração de oportunidades/valores recreativos, tais como os fornecidos por um plano de prevenção de uma inundação costeira. As vantagens e desvantagens de ambas as abordagens têm sido amplamente discutidas, mas a abordagem VOE continua a ser o método recomentado e a base para os dados-padrão aqui apresentados (para esta fundamentação, ver Penning-Roswell et al., 2013). 3.3 A abordagem e as técnicas recomendadas Recomenda-se um procedimento de duas fases para a avaliação dos benefícios recreativos. O procedimento envolve: Uma fase de estudo inicial para uma análise inicial de projetos e para estudos estratégicos. Esta fase normalmente depende de dados de fontes secundárias e métodos baseados em objetos (desktop methods). A Tabela 3.1 apresenta uma série de métodos para calcular o número de visitas. Podemos aceitar a utilização de valores-padrão ou de dados retirados de estudos que empregaram o MVC no Reino Unido, bem como dados sobre visitas (por 33 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 exemplo, Tabelas 3.2, 3.3 e 3.4). No entanto, a utilização de valores baseados em dados de fontes secundárias e números de visitas desta forma é uma abordagem aproximada e pode muito bem não se adequar às muitas e variadas situações noutros países da UE. A fase do estudo aprofundado, que envolve métodos pormenorizados de recolha de dados e de informação específica do local: contagens no local de visitas/visitantes ou residentes e um inquérito baseado no MVC específico do local para fornecerem estimativas específicas do local relativamente ao valor de recreação que se pode derivar das diferentes opções de planos. Estes questionários e procedimentos de contagem são atividades dispendiosas e morosas para implementar e gerir. Para se tomar a decisão fundamental de proceder a um estudo de exequibilidade pormenorizado (a segunda fase acima) ou não, recomendase que seja levada a cabo alguma forma de análise de sensibilidade utilizando combinações das estimativas adequadas mais elevadas e mais baixas do número de visitas e o valor £/€ por visita (baseado nos dados das Tabelas 3.2 a 3.4) para obter quatro avaliações de benefícios recreativos anuais estimados. Depois, a diferença que as quatro estimativas tiverem sobre o rácio geral de custo-benefício do plano pode ser considerada como elemento de auxílio à decisão de aperfeiçoar ou não as estimativas ou avaliações do número de visitas através da recolha de dados no local. Em ambas as fases, a de delineação e a de estudo aprofundado, será necessário percorrer os mesmos passos (ver abaixo), mas com diferentes níveis de pormenor. 34 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Primeiro Passo: Definir o problema e os objetivos Esta é a definição da natureza da inundação costeira ou fluvial no local em estudo e, com ela, a área geográfica afetada: o seu comprimento e a sua largura, as suas características e o tipo de alterações às características físicas que poderão vir a ocorrer no futuro com a opção de "Não fazer nada". Problemas como as inundações costeiras (muitas vezes associadas à erosão) podem ser específicos do local ou podem afetar uma área mais extensa. De modo semelhante, os problemas de inundações que afetem um rio podem manifestar-se em grande parte da bacia ou podem ser específicos do local. É essencial, desta forma, considerar os problemas e as opções para lidar com eles num contexto mais abrangente. Segundo Passo: Identificar os utilizadores ou beneficiários adultos de bens recreativos e paisagísticos Averiguar se do local tem algum uso recreativo atual ou potencial e identificar a variedade de atividades recreativas que são, ou poderiam ser, ali desenvolvidas. Embora as crianças possam ser utilizadores importantes das costas e dos rios, os métodos de avaliação de benefícios aplicam-se apenas a utilizadores ou beneficiários adultos. Os visitantes podem ser classificados de acordo com as suas origens: Visitantes locais. Aqueles que vivem num raio de cinco quilómetros de um local. 35 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Visitantes diários. Alguém que saia da sua morada permanente e regresse no espaço de um dia. Visitantes que pernoitam. Qualquer pessoa que fique fora de casa durante uma ou mais noites. As avaliações dos benefícios recreativos podem ser aprimoradas obtendo e utilizando números de visitas separados e cálculos do valor €//£ por visita para estas diferentes categorias de utilizadores. Uma questão fundamental tanto dos estudos iniciais como dos aprofundados é estabelecer o nível de utilização do local em termos do número de visitas que recebe ou do número de pessoas que beneficiam de atividades de recreativas no local. Recomenda-se a utilização de dois ou mais dos métodos apresentados na Tabela 3.1 e que os métodos indiretos (itens 4-8) sejam usados apenas nas fases iniciais do estudo. Terceiro Passo: Identificar as opções Identificar as opções para lidar com o problema e os seus prováveis impactos nas características físicas do local, bem como da opção de "Não fazer nada". Assim, os benefícios recreativos podem ter os seguintes dois componentes: 1. A prevenção de mais deterioração perdas que resultariam da opção de "Não fazer nada". 2. O restabelecimento das condições do local, passando do estado atual para um estado melhor ganhos. Por exemplo, a substituição de estruturas "hard" de defesa contra inundações fluviais que chegam ao fim 36 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 da sua vida útil por defesas "soft" pode aumentar o valor recreativo de um local fluvial. A alimentação das praias para objetivos de proteção costeira contrariando o risco de inundações pode resultar numa praia "melhor" em termos recreativos. Quarto Passo: Identificar os benefícios recreativos e paisagísticos Identificar os impactos que as alterações sobre o ambiente físico resultantes das opções de "Não fazer nada" e "Fazer alguma coisa" teriam nos bens recreativos e paisagísticos. Este processo irá beneficiar da participação dos stakeholders nos bens recreativos, particularmente numa fase inicial. Poderão apresentar ideias particulares relativamente à forma como essas alterações terão impacto sobre a fruição recreativa. Quinto Passo: Determinar os benefícios anuais de bens recreativos e paisagísticos Benefícios recreativos anuais. O quinto passo envolve, em primeiro lugar, derivar estimativas dos benefícios recreativos anuais que derivam das opções e comparar os benefícios das várias opções. Há dois componentes que têm de ser estimados. 1. O valor que os utilizadores ou beneficiários adultos atribuem às alterações que poderiam advir da implementação das opções. Estes valores serão derivados da aplicação do MVC utilizando a abordagem VOE por visitante ou então a DPP. 37 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 2. O número anual de visitas ao local (para a abordagem VOE) ou dos beneficiários que têm um interesse no local (para a abordagem DPP). Os benefícios recreativos anuais podem ser determinados como: Benefícios anuais = € valor das opções (ganhos e/ou perdas de VOE) ou (valorizações por DPP) * número de visitas por ano (VOE) ou número de beneficiários/visitantes (DPP) Equação 3.1 Quando as opções envolvem tantos ganhos quantos perdas do VOE, os benefícios anuais devem ser calculados em separado para as perdas e para os ganhos porque podemos ter de tratá-los de forma diferente para a aplicação da taxa de desconto (ver Benefícios recreativos totais abaixo). Benefícios económicos nacionais e locais substitutos. Se as alterações efetuadas num dado local costeiro ou fluvial simplesmente transferirem o lazer de um local para outro sem quaisquer ganhos ou perdas gerais no valor da fruição recreativa, assim que os custos de transporte forem tidos em consideração, então não implicarão quaisquer ganhos ou perdas nacionais. A disponibilidade de locais substitutos deve, portanto, ser tida em consideração na avaliação dos benefícios recreativos. Benefícios recreativos totais. Os benefícios recreativos totais de um plano são estimados descontando os benefícios anuais ao longo da vida do projeto usando taxas de desconto padrão (no Reino Unido, serão as recomendadas pelo "Livro Verde" do Tesouro (H.M. Treasury, 2003)). Serão 38 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 necessários cálculos separados e uma abordagem diferente quando advêm benefícios anuais tanto dos ganhos e das perdas de VOE derivados das opções, uma vez que os ganhos se tornam disponíveis assim que o plano estiver completo enquanto que as perdas provavelmente só serão visíveis apenas após alguns anos de deterioração do local. Perdas derivadas da opção de "Não fazer nada": Abordagem VOE2 As seguintes duas equações devem usadas para calcular potenciais perdas (ou ganhos) derivados da opção de "Não fazer nada": alguns respondentes podem usufruir do local mais com a opção de "Não fazer nada" do que do local atual e, portanto, podem beneficiar com isso. Benefícios para aqueles que continuam a visitar L1 = Eo - E¹ Equação 3.2 Benefícios para aqueles que visitariam um local alternativo com a opção de "Não fazer nada". L2 = (Eo - Ea) + (Ca - Co) Equação 3.3 2 Estas equações são explicadas mais pormenorizadamente em Penning-Rowsell et al. (2013). 39 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 onde: L é o benefício por pessoa (nos casos 1 e 2) Eo é o valor de fruição da visita hoje/de uma visita nas condições atuais E¹ é o valor de uma visita com a opção de "Não fazer nada" Ea é o valor de uma visita a um local alternativo com a opção de "Não fazer nada" Co é o custo incorrido numa visita ao local atual Ca é o custo incorrido numa visita a um local alternativo com a opção de "Não fazer nada". A diferença entre Co e Ca é derivada de uma pergunta do questionário. Ganhos derivados das fórmulas da opção de "Fazer alguma coisa": Abordagem VOE Devemos usar duas equações semelhantes para calcular os potenciais ganhos (ou perdas) derivados das opções de "Fazer alguma coisa": alguns inquiridos podem desfrutar do local menos do que do local atual com a opção de "Fazer alguma coisa", por exemplo quando a opção implica uma alteração radical na aparência ou nas instalações recreativas. Adicionalmente, também podem preferir visitar outro local em vez daquele. 40 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Benefício para aqueles que continuam a visitar o local G1 = Exn – Eo Equação 3.4 Benefício para aqueles que visitariam um local alternativo perante a opção n de "Fazer alguma coisa": G2 = (Eo - Ean) + (Can - Co) Equação 3.5 onde: G é o benefício por pessoa (nos casos 1 e 2) Eo é o valor de fruição da visita hoje/de uma visita nas condições atuais Exn é o valor de uma visita com a opção n de "Fazer alguma coisa" Ean é o valor a um local alternativo com a opção n de "Fazer alguma coisa" Co é o custo incorrido numa visita ao local atual Can é o custo incorrido numa visita a um local alternativo 41 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Usando estas equações, as perdas e os ganhos devem ser calculados para cada pessoa no questionário e depois devem ser calculados os valores médios. 3.4 Questões remanescentes Tem de ser dada tanta atenção à estimativa do número de visitas ou do número de beneficiários quanto à estimativa das valorizações por VOE ou DPP. Os estudos costeiros indicam que a população, muitas vezes, tem relutância em ver os processos naturais a terem lugar na costa e pode desejar que a costa continue a ser mantida e defendida de inundações como até então. Os visitantes que visitam costas "naturais" não urbanizadas, em certos aspetos, diferem daqueles que vão a locais urbanizados. As respostas do público (e consequentes valorizações) perante as opções e as estruturas costeiras, tais como espigões rochosos, podem variar de local para local de formas que são difíceis de prever. Por conseguinte, continua a ser necessário, na maior parte dos planos, levar a cabo questionários segundo o MVC na fase dos estudos aprofundados tanto para locais costeiros, quanto fluviais. Os poucos estudos que existem de restauração de rios (pelo menos no Reino Unido) mostram que os residentes apoiam e 42 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 valorizam os trabalhos para restaurar os rios a uma condição mais natural desde que o risco de inundações não aumente. A metodologia recomendada não tem em consideração novas visitas (por oposição a visitas transferidas) que podem ser geradas entre os residentes locais ou de forma mais abrangente. Também não se contabilizam as visitas adicionais feitas pelos utilizadores atuais (mais uma vez, por oposição às visitas transferidas). Ambas são impossíveis de avaliar sem bases de dados ou inquéritos substanciais. Portanto, podemos subestimar significativamente os benefícios que advêm dos planos que oferecem melhorias substanciais ou novas instalações atrativas. 43 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Os inquéritos por questionário podem dar um valioso contributo para a consulta pública e promover a participação da população nos projetos costeiros e fluviais, mas o envolvimento inicial é um ideal que pode ser difícil de alcançar, até porque podem aparecer novas opções durante o período de apreciação. As alterações recreativas e paisagísticas são de interesse público vital. Há poucas se é que existem algumas obrigações legais a este respeito, concretamente sobre a promoção da gestão dos riscos de inundações costeira, por oposição às restrições impostas pela Diretiva-Quadro da Água no caso dos rios, mas estas questões continuam a requerer muita atenção. 44 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Tabela 3.1 Fontes e métodos de informação utilizadores/beneficiários recreativos sobre Fonte/método Comentários 1 Longos períodos de Contadores com infravermelhos ou outros instalados durante um contagem usando período de tempo (pelo menos, entre março e setembro). Os contadores de contadores são manualmente calibrados para relacionar as pessoas passagens com visitantes adultos. Sobretudo aplicado em estudos aprofundados: juntamente com um questionário MVC ver MCM, Secção 8.5.3 ( Penning-Rowsell et al., 2013). 2 3 Contagem Contagens manuais/questionários durante alguns dias manual/questionário geralmente incluem o feriado de agosto. Na fase inicial, este s durante um curto método pode ser combinado com as visitas ao local e na fase do período de tempo estudo pormenorizado, com o questionário MVC. Dados do Os dados retirados dos questionário MVC relativos à frequência questionário MVC das visitas efetuadas por residentes locais combinados com dados do recenseamento relativamente ao número de residentes adultos e de visitantes que pernoitam (em conjunto com as estimativas das taxas de ocupação feitas pelos gestores) podem ser usados para gerar estimativas do número de visitas. No entanto, a tendência dos respondentes para sobrevalorizar a frequência das suas visitas tem sido notada ver o Estudo de Caso Corton no MCM, Secção 8.7 (Penning-Roswell, 2013). 45 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 4 Questionário Os departamentos de planeamento, turismo ou atividades antigo/dados da recreativas das autoridades locais ou as escolas ou instituições contagem para o de ensino superior locais podem ter levado a cabo questionários projeto ou contagens no local do projeto no passado, que podem ser atualizados para indicar os níveis de utilização atuais. 5 Estimativa inferida O número de visitas a um local costeiro ou fluvial é inferido das contagens de visitas a um local semelhante que exista nas imediações, tal como: Parques para automóveis e camionetas multiplicados pela taxa média de ocupação por adultos de automóveis ou camionetas (Hengistbury Head), parques de diversões, cafés, centros de visitantes, local histórico ou museu (Hurst Spit e Hurst Spit castle). Para tal, é necessário estimar a proporção de todos os visitantes ao local do projeto que também usam o local contabilizado e vice-versa. A um nível pormenorizado, isto pode ser levado a cabo em conjunto com o questionário MVC 6 Equações de Foram desenvolvidas diversas equações que preveem as visitantes funções distância-frequência de modo que, a partir dos dados do recenseamento feito à população em zonas diferentes, podemos prever o número de visitantes gerados pelo local. 7 Estimativas a partir Contactos por escrito, pelo telefone ou pessoais com: de pessoas ou fonte Funcionários dos parques para viaturas, guardas florestais, informadas pessoal dos centros de visitantes, pessoal de atrações associadas, autoridade local do turismo, pessoal relacionado 46 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 com desporto, atividades recreativas ou planeamento, agências regionais ou locais de organizações como English Tourist Board, National Trust ou English Heritage e os seus equivalentes galeses, ou o pessoal da Environment Agency que trabalha com os setores recreativo e das pescas, gerentes de instalações recreativas ou de instalações para visitantes que pernoitam ou organizações empresariais de turismo que possam disponibilizar informações sobre camas e taxas de ocupação ver o Estudo de Caso Corton no MCM, Secção 8.7 (Penning-Rowsell et al., 2013); gerentes de clubes comerciais e de instalações especializadas (por exemplo, vela, barcos de recreio, pesca recreativa, observação de aves) e organizações especializadas aos níveis regional e local que poderão indicar a disponibilidade de locais alternativos, por exemplo, para caravanas ou para praticar vela. 8 Número médio de A abordagem da transferência de benefícios só se pode aplicar visitas a locais em estudos iniciais ou estratégicos. Estima-se que o número de equivalentes visitas de adultos ao local do projeto é seja da mesma ordem que o número de visitas feitas a um local equivalente. No entanto, não há muitos locais para os quais existam dados de qualidade e há pouca investigação que permita uma identificação fiável de um local equivalente. 47 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Tabela 3.2 Exemplos dos números de visitas usados para fins de avaliação de benefícios Local* Número de visitas anuais Nome Características Estimativa Estimativa elevada baixa 609.000 584.000 107.000 880.000 212.000 - Locais costeiros não urbanizados Hengistbury Head, Promontório natural, um Christchurch, Dorset SSSI (local de interesse científico especial), com características naturais, geológicas e arqueológicas Hurst Spit, Hampshire Cordão litoral de seixos classificado como património britânico, Hurst Castle Locais costeiros urbanizados St Mildred’s Bay, Westgate, Pequena estância com 48 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Kent passeio marginal e praia arenosa Cliftonville, perto de Margate Pequena estância com Kent penhascos e uma praia 146.000 136.000 97.000 75.000 30.000 60.000 60.000 250.000 sobretudo arenosa Corton, perto de Lowestoft, Pequena estância de aldeia Suffolk com penhascos e uma praia parcialmente arenosa Locais fluviais Parque local Parque que atrai visitantes num raio de 800 m sem quaisquer atrações particulares "Honey pot", parque florestal Local que atrai visitantes num raio de 3 km * Nestes locais, tanto costeiros quanto fluviais, quase todas as visitas envolveram a utilização informal do local para atividades de lazer como apanhar banhos de sol e a fazer um piqueniques, dar passeios, passear o cão e, junto à costa, jogar jogos informais, brincar na areia e nadar ou remas. Muito poucas visitas envolveram utilizações especializadas como pesca de cana ou barcos de recreio. 49 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Tabela 3.3 Ganhos e perdas em termos de € por visita de adulto decorrentes de várias opções de planos de proteção da costa em locais costeiros € por visita de adulto atualizado em 2013* Ganho médio com as opções Perda média com a opção de "Não fazer nada" Erosão da praia e do passeio marginal Dados-padrão retirados do Yellow Manual: 4 locais Reposição da praia e da marginal pedonal (a) Reposição de praia de seixos Lee-on-Solent (b) Espigões rochosos com reposição de seixos (a) Pontão sem instalações para Herne Bay Visitors barcos 3,72 8,95 2,13 4,61 2,08 6,26 8,61 Centre (b) Pontão com instalações para 50 3,25 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 barcos (c) Quebra-mar mais elevado e marginal pedonal, espigões -4,02 rochosos (a) Marginal pedonal em betão mais baixa 5,58 Cliftonville 8,61 (b) Marginal pedonal de rochas mais baixa 3,30 (a) Manutenção da linha costeira por um período limitado. Proteção dos penhascos no 3,20 curto prazo, acesso limitado à praia e ao longo do quebra-mar (b) Manutenção da linha costeira Corton por um período mais longo de > 50 anos. Acesso total ao quebra- 14,33 mar restaurado e a toda a praia a partir da aldeia. (c) Evacuação planeada. Remoção das defesas marítimas e do quebra-mar para deixar uma frente marítima "natural", 51 2,23 3,22 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 acesso direto à praia a partir da aldeia St Mildred’s Bay Hastings Melhoria das condições da praia e da marginal pedonal 3,50 Melhoria das condições da praia 12,90 9,11 Cenários de praia (a) 5 espigões rochosos para proteção total dos penhascos Hengistbury Head (b) 3 espigões rochosos para proteção parcial (c) Perturbação anual para reposição da praia Hurst Spit Ligeiro aumento do cordão litoral de seixos 0,05 -3,01 -4,53 0,84 NB. Esta é a Tabela 8.6 de Penning-Roswell et al., 2013 * Atualizada a valores em £ para 2013 e convertida para euros a £1 = 1,24 Euro (11.6.2014)” 52 5,37 8,10 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Tabela 3.4 Valor em € das perdas e dos ganhos por visita para várias alterações a locais fluviais Valor médio das perdas em €: atualizado a valores de 2013* Valor médio dos ganhos em €: atualizado a valores de 2013* Visitantes 5,69 3,32 Residentes 5,68 2,81 Local Rio Misbourne: Baixo fluxo Rio Wey: Baixo fluxo Residentes 3,22 Rio Ravensbourne: Restauração total do rio Visitantes e residentes 2,98 Rio Skerne: Restauração do rio Residentes 3,78 NB. Esta é a Tabela 8.8 de Penning-Rowsell et al., 2013* Atualizada a valores em £ para 2013 e convertida para euros a £1 = 1,24 Euro (11.6.2014)” 53 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Capítulo 4 Avaliação dos Benefícios e Custos Ambientais 4.1 Uma panorâmica geral Este capítulo discute a forma como se deve ter em consideração, durante a fase de apreciação dos planos de gestão dos riscos de inundações, o seu impacto no ambiente (tanto positivo/benefícios como negativo/custos). Este é um componente essencial da apreciação de um projeto. Esta apreciação deve ser: abordada de forma positiva para explorar o caso dos planos de gestão dos riscos de inundações que contribuam para a melhoria do ambiente. Parte de uma apreciação global, não só na fase inicial, mas também ao longo de todo o processo. Uma apreciação deve ter o objetivo de avaliar todos os custos e benefícios, incluindo os custos e benefícios ambientais que não se conseguem avaliar facilmente em termos pecuniários. Não podemos ignorar os custos e benefícios dos bens e serviços que não são trocados em mercados simplesmente porque são mais difíceis de avaliar (por exemplo, captura de nutrientes ou um local para reprodução de aves). 54 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 4.2 O que deve ser avaliado e as exceções Em princípio, todos os custos e benefícios ambientais que se conseguem avaliar em termos monetários devem ser incluídos na análise de custobenefício para dar um carácter mais multicritério a essa análise. As únicas exceções são: 1. Casos em que a avaliação ambiental seja provavelmente muito difícil (ou desproporcionalmente dispendiosa) e casos em que um teste de sensibilidade tenha mostrado claramente que não faria qualquer diferença sobre a decisão relativa ao plano/opção a implementar. 2. Quando não é possível fazer uma avaliação pecuniária relevante. Nesse caso, os custos e benefícios ambientais devem ser totalmente descritos e tidos em consideração fora da análise de custo-benefício, de modo a poderem ter uma influência da apreciação global. Mesmo que não seja exequível ou praticável avaliar todos os custos e benefícios de uma proposta, é importante considerar: De que forma os vários planos diferem em termos ambientais; e De que forma essas diferenças se podem descrever melhor e talvez avaliar em termos pecuniários. 55 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 4.3 A Diretiva-Quadro da Água (DQA): Uma consideração imperativa 4.3.1 Introdução A DQA introduz um novo processo de planeamento estratégico destinado a gerir, proteger e melhorar o ambiente aquático. O objetivo da DQA é estabelecer um enquadramento para a proteção das massas de água (incluindo ecossistemas terrestres e zonas húmidas que dependam diretamente deles), de modo a: impedir a deterioração futura; melhorar o seu estatuto; promover um uso sustentável da água; reduzir a poluição; e mitigar os efeitos das cheias e das secas. Neste contexto, os planos de gestão das bacias hidrográficas (PGBH) são planos estatutários para proteger e melhorar o ambiente aquático. Descrevem as questões principais para o ambiente aquático dentro de cada distrito de bacia hidrográfica. Dizem-nos, a um nível local, quais são as medidas que as autoridades competentes (a Environment Agency em Inglaterra e no País de Gales) e outras autoridades têm de implementar para alcançar os objetivos da DQA. 56 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 A DQA obriga as organizações (tal como a Environment Agency no Reino Unido) a tentar alcançar um bom estado ou potencial em todas as massas de água. No caso das águas de superfície, isso significa: Bom Estado Ecológico (BEE) das massas de água; ou Bom Potencial Ecológico (BPE) das massas de água designadas por Massas de Água Artificias ou Massas de Água Fortemente Modificadas (MAA ou MAFM). E Bom Estado Químico. 4.3.2 Bom Estado Ecológico (BEE) O Bom Estado Ecológico é o objetivo por defeito da DQA para todas as massas de água e define-se como um ligeiro desvio do que seriam as condições naturais sem qualquer alteração resultante da ação humana. O termo inclui tanto as características hidrológicas como geomorfológicas, que conseguem suportar um ecossistema aquático saudável. 4.3.3 Bom Potencial Ecológico O Bom Potencial Ecológico é o objetivo da DQA para as MAA/MAFMs e que são designadas para usos específicos, tais como lazer, gestão dos riscos de inundações ou urbanização. As massas de água são designadas por MAA/MAFMs quando: o nível de modificação dessas massas de água significa que o estado biológico não consegue alcançar o nível de BEE; e 57 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 o(s) uso(s) para os quais a massa de água foi modificada ainda são necessários e não se conseguem alcançar através de "outros meios". A designação MAA/MAFM aceita que o estado biológico da massa de água tenha sofrido um impacto com a sua modificação e, portanto, é estabelecido o objetivo alternativo de BPE: O BPE é o melhor estado ecológico que uma MAA/MAFM pode alcançar sem comprometer a utilização para a qual foi designada. No âmbito da DQA, não pode ser tomada nenhuma ação sobre estas massas de água se tiver um impacto adverso significativo na sua utilização. Por conseguinte, uma massa de água que tenha sido designada como tendo uma utilização para a gestão dos riscos de inundações pode manter essa utilização. Só quando forem implementadas medidas de mitigação relevantes podemos dizer que uma MAA/MAFM alcançou um BPE. 4.3.4 "Sem deterioração" A DQA inclui a obrigação de prevenir a deterioração do estado geral das massas de água, designada por "sem deterioração". Atividades novas, tais como os planos de gestão dos riscos de inundações, podem levar a essa deterioração. Isto pode levar a que a massa de água não consiga cumprir os seus objetivos ecológicos. No caso de novos planos de gestão dos riscos de inundações e erosão costeira, quaisquer impactos hidromorfológicos têm de ser totalmente avaliados para se perceber se irão: 58 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 provocar deterioração; ou impedir que se atinjam os objetivos ecológicos. Para se conseguir isso, é necessário levar a cabo uma análise no âmbito da DQA (por exemplo, como na Tabela 10.1). 4.3.5 Artigo 4.7 da DQA Excecionalmente, pode haver situações em que não seja possível definir um plano que consiga prevenir a deterioração do estado/potencial ecológico. Nessas circunstâncias, o projeto tem de satisfazer os critérios de exceção definidos no artigo 4.7 da Diretiva. Esses critérios encontram-se resumidos abaixo: Foram dados todos os passos ou tomadas todas as medidas para minimizar o impacto. As razões para a modificação estão explicadas no PGBH. As razões para a modificação são de superior interesse público e/ou os benefícios para a saúde, segurança ou desenvolvimento sustentável do Homem se sobrepõem aos benefícios de alcançar os objetivos da DQA. Os benefícios das alterações não se podem alcançar por quaisquer outros meios (isto é, não são tecnicamente exequíveis ou são desproporcionalmente dispendiosos). 59 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 4.4 Avaliação dos impactos Uma avaliação adequada dos impactos ambientais (e do cumprimento dos requisitos da DQA) depende de uma abordagem estruturada e rigorosa da apreciação, que deve incluir passos como definir, desenvolver, comparar, selecionar e confirmar. Discutem-se abaixo esses passos. Primeiro Passo: Definir: definição do problema e dos objetivos Esta fase deve definir o leque total das opções em termos de gestão dos riscos de inundações. Em todos os casos, as consequências e os objetivos ambientais devem ser tidos em consideração desde o início da apreciação. O aspeto mais importante nesta fase é o reconhecimento de que evitar danos ambientais e conseguir ganhos ambientais são considerações materiais para a definição de planos e objetivos. São simplesmente como qualquer outra categoria de benefícios que podem justificar um plano de gestão dos riscos de inundações costeiras ou fluviais. Em todos os casos, as agências interessadas relevantes devem ser contactadas para aconselharem nesta fase. Quando se trata de ter em consideração os objetivos ambientais, os analistas devem identificar: Quaisquer critérios ambientais fundamentais, tais como o cumprimento de requisitos legais e dos imperativos da DQA; 60 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Quaisquer objetivos altamente desejáveis, tais como o cumprimento de metas de alto nível (por exemplo, o objetivo de um contrato de serviço público no caso de um local de especial interesse científico); e Quaisquer resultados ambientais mais gerais que possam ser desejáveis. Segundo Passo: Desenvolver: apreciação preliminar Definidas as opções em termos de gestão dos riscos de inundações costeiras ou fluviais, uma avaliação preliminar deve descrever todos os custos e benefícios, incluindo os impactos ambientais positivos e negativos de todas as alternativas. Quando se consideram as estratégias e os planos de alto nível, a Avaliação Ambiental Estratégica de um plano deve ajudar nesta tarefa. O objetivo aqui não é tentar fazer uma avaliação pecuniária ou considerar o equilíbrio entre custos e benefícios (isso vem mais tarde). Porém, é importante aqui que as descrições dos efeitos sejam tão claras e quantificadas quanto for possível. O que tem de ser descrito (e, mais tarde, talvez se lhe atribua um valor) é a mudança (positiva ou negativa) produzida pelas opções que estão a ser consideradas e não uma valorização geral de todos os aspetos do ambiente. Contudo, os custos (danos) e os benefícios da opção de "Não fazer nada" devem ser sempre totalmente analisados. Uma abordagem possível para levar isso a cabo é a Valorização Económica Total (Turner, 2005). Esta abordagem implica tanto os valores de "uso" e "não uso" (por 61 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 exemplo, fixação de carbono (um valor de uso) e saber que uma zona húmida ficará disponível para as gerações futuras (um valor de não uso). Ver também a Tabela 4.2 para dados sobre os custos da melhoria ou da mitigação ambiental. A próxima tarefa consiste numa apreciação preliminar e na eliminação das opções que, com toda a certeza, não são exequíveis, ao mesmo tempo que se garante que as opções que produzem benefícios ambientais não são eliminadas. Apenas opções que claramente não cumprem os critérios fundamentais, tais como o cumprimento dos requisitos legais, devem ser eliminadas nesta fase. Por exemplo, um plano que tenha um impacto adverso num local designado nas Diretivas Europeias pode ser eliminado se existir uma solução alternativa que não afete adversamente o local. Devemos ter todo o cuidado para não permitir que as visões ou os preconceitos dos avaliadores eliminem opções que uma análise mais profunda poderia justificar. Por exemplo, até ser feita uma avaliação realista dos benefícios totais pode não ser possível dizer que os custos de um plano que traria benefícios ambientais substanciais, tais como a criação de um habitat, são desproporcionais. Quaisquer justificações para eliminar opções devem ser claramente explicitadas. Terceiro Passo: Comparar: identificar a opção preferível Deve ser feita uma apreciação mais pormenorizada das opções que não foram eliminadas no Segundo Passo. 62 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Essa apreciação deve incluir uma descrição dos custos e benefícios ambientais das opções, juntamente com uma valorização pecuniária desses impactos sempre que possível, sujeita aos princípios acima descritos. Será necessário todo o cuidado e todo o rigor durante o processo de apreciação para garantir que todos os efeitos relevantes são identificados e para se evitar a dupla contagem. Devemos usar uma abordagem sequencial para decidir qual o método para: Calcular um valor pecuniário para um custo ou benefício ambiental, e Garantir que quaisquer impactos que não possam ser incluídos na análise de custo-benefício são tomados em consideração. Seguindo os princípios acima delineados, devemos atribuir um valor aos impactos ambientais da seguinte forma: 4.4.1 Preços de Mercado Os preços de mercado, quando disponíveis, devem ser usados para determinar o valor dos benefícios/custos ambientais. A atribuição de valores pecuniários deve ser relativamente fácil nos casos em que existem preços de mercado. Por exemplo, se a deslocalização aumenta uma população de peixes, isso trará benefícios para a pesca local, algo a que podemos atribuir um valor. No entanto, não se consegue identificar facilmente preços de mercado para muitos bens e serviços ambientais. Nesse caso, terão de ser considerados meios alternativos para se lhes atribuir um valor (ver abaixo). 63 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 4.4.2 Transferência de Valor Em certos casos, os valores obtidos em estudos anteriores podem ser transferíveis. Deve ser tido todo o cuidado para ter em conta o facto de que em diferentes circunstâncias os valores podem variar, o que pode limitar a validade desta abordagem. Sempre que estejam disponíveis, as funções de benefício devem ser usadas em vez de benefícios de unidade, uma vez que as funções de benefício conseguem ter em consideração variáveis importantes, que podem diferir de local para local (Brouwer et al., 1999). À medida que aumenta o número de estudos de valorização, a oportunidade de aproveitar os seus resultados deve expandir-se. Se não existirem valores fiáveis e aplicáveis noutros estudos, pode haver a possibilidade de estabelecer limites superiores e inferiores plausíveis, o que vai ajudar a determinar se valerá a pena encomendar um novo estudo para estabelecer valores mais robustos. Quando não existe preço de mercado, nem um valor substituto aceitável ou um valor de transferência robusto, deve ser equacionada a possibilidade de levar a cabo um estudo específico do plano para determinar valores. Antes de se proceder ao estudo, deve ser feita uma avaliação preliminar: Para tornar claro se os resultados têm probabilidade de afetar a opção preferida; Para tornar claro se esse estudo poderá resultar numa valorização pecuniária significativa. 64 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 4.4.3 Custos de Substituição Este método só deve ser usado depois de se tomar a decisão de manter ou substituir um atributo, quer por razões políticas, quer para cumprir obrigações legais. Depois, o custo de mantê-lo no local, relocalizá-lo ou recriá-lo, aquele que for mais baixo, pode ser usado como o valor mínimo para a apreciação. No entanto, esta técnica tem aplicabilidade limitada. 4.4.4 Disponibilidade para Pagar Quando não for possível a aplicação de qualquer dos métodos acima descritos, deve ser considerado um novo estudo para definir valores, calculando a disponibilidade que as pessoas têm para pagar pela melhoria ambiental proposta. Nesta fase, os avaliadores com experiência e competência em termos de avaliação ambiental devem: Fazer uma análise realista da exequibilidade de tais estudos; Garantir que os valores derivados são credíveis. O método preferencial implica calcular a disponibilidade para pagar da população relevante inferindo-a através da observação do comportamento do consumidor (isto é, determinar a preferência declarada através do preço hedónico). Quando isso não é exequível, as alternativas são perguntar às pessoas quanto estariam dispostas a pagar por um benefício em particular (preferência declarada) ou identificar a compensação que estariam dispostas a receber por suportar um custo (disponibilidade para aceitar). 65 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 4.4.5 Considerar custos e benefícios aos quais não tenha sido atribuído um valor pecuniário Nesta fase da apreciação, todos os custos e benefícios ambientais de todas as opções devem ser descritos e aqueles aos quais conseguimos atribuir um valor devem já ter esse valor atribuído. Se todos os efeitos fossem incluídos (através da atribuição de um valor pecuniário), a opção preferencial deveria ser revelada pelo plano que exibisse o rácio custo-benefício marginal mais elevado. Quaisquer custos ou benefícios ambientais que não tenhamos conseguido incluir terão de ser claramente identificados, porque ainda poderão vir a influenciar as decisões relativamente à opção a escolher. Quando há um número significativo de custos e benefícios sem um valor pecuniário, teremos de decidir se serão suficientes para influenciar a escolha da opção preferível. No quadro de uma análise multicritério, o procedimento habitual para comparar custos e benefícios sem um valor atribuído passa pela atribuição de ponderações e pela definição de uma classificação. Esta técnica pode ajudar a ordenar as hipóteses tendo em consideração tanto os custos e benefícios aos quais foi atribuído um valor pecuniário, como aqueles que não o têm. Mesmo se não se conseguirmos atribuir um valor a todos os custos e benefícios derivados de uma opção, é importante considerar de que forma as opções diferem e percebermos se conseguimos atribuir um valor a essa diferença. Trocar de análise é uma forma de atribuir um valor à diferença entre as opções. 66 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Quarto Passo: Selecionar e confirmar: uma apreciação rigorosa da opção preferível O último passo consiste numa apreciação rigorosa para determinar se a opção preferível se justifica em termos dos critérios de financiamento. Muito do trabalho necessário para esta análise já deve ter sido levado a cabo nos Passos 2 e 3. No entanto, se optámos por um plano com base nos benefícios aos quais não foi atribuído um valor pecuniário, poderá ser necessário um cuidado adicional para garantirmos que os benefícios não financeiros justificam os gastos. 4.5 Questões remanescentes 1: Valor económico total. O método mais abrangente para avaliarmos o valor dos impactos ambientais implica assumirmos uma abordagem com base em sistemas funcionais para estabelecermos o valor económico total dos efeitos que cada opção terá no ambiente (isto é, os "serviços ecossistemáticos" que fornece). Em teoria, devemos assim conseguir identificar a maioria dos valores (mas não todos) e evitar a dupla contagem. No entanto, há uma série de dificuldades práticas e algumas delas mas não todas, certamente têm na sua raiz a quantificação dos riscos e das incertezas ambientais. 2: Requisitos legais. Os planos que são necessários para cumprir requisitos legais podem ser avaliados através de uma análise de custoeficiência. Assume-se que os benefícios de cumprir os requisitos legais suplantam os custos e, portanto, o foco pode ser mudado para alcançar 67 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 esses objetivos ao menor custo. No entanto, muitas vezes, outros tipos de benefícios irão diferir entre as opções que se destinam a cumprir o objetivo e, nesse caso, pode continuar a ser necessário identificar, descrever, quantificar e atribuir um valor pecuniário aos benefícios, na medida em que irão afetar materialmente a escolha. 3: Evitar a dupla contagem. Conseguimos evitar melhor a dupla contagem se reconhecermos a direção do impacto, o impacto final no bem-estar humano e os meios para medirmos esse impacto. Por exemplo, uma melhoria ambiental sob a forma de um plano de gestão dos riscos de inundações que beneficia os pescadores por melhorar as condições dos viveiros de peixes e assim aumentar os recursos pesqueiros, levando a taxas de captura maiores, deve ser avaliada por via da mudança na disponibilidade para pagar por estas melhorias que os pescadores à linha irão evidenciar. Outros impactos como o aumento do tamanho dos peixes, o aumento das vendas de isco, impactos consequentes no turismo, etc. devem já estar refletidos neste valor, pelo que efetuar estimativas separadas desses impactos conduziria a uma dupla contagem. 4: Custo de substituição e suas limitações. O método do custo de substituição como técnica de apreciação da valorização depende de uma decisão prévia para manter, substituir ou deslocalizar o atributo que está a ser avaliado (ações que podem não cumprir a DQA). Aquilo que se avalia, então, é o custo do cumprimento de uma política/um requisito e não o valor do atributo (por isso, esses valores não podem ser usados nas transferências de benefícios). Por conseguinte, esta não é uma medida de valor aceitável quando estamos a considerar os méritos de ir para lá da conformidade com uma política/um estatuto ou a avaliar a aceitabilidade de 68 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 uma opção que levaria à perda de um atributo, quer esteja legalmente protegido, quer não. Quando a opção preferível é deslocalizar ou substituir um atributo, este método de atribuição de valor pode não capturar alguns custos potenciais significativos (des-benefícios), tal como a perda de benefícios paisagísticos do local ou do seu significado histórico: estes efeitos terão de ser considerados em separado. 5: Mudar de análise. Considere dois planos alternativos A e B. O custo ao longo do ciclo de vida do plano A é de 10.000.000 €, comparado com 8.000.000 € do B, mas o A tem benefícios ambientais adicionais significativos. Esses benefícios ambientais teriam de ser avaliados em pelo menos 2.000.000 € para B ser preferível a A. Cerca de 5.000 pessoas vivem na zona afetada e poderiam beneficiar dessas melhorias ambientais. Cada beneficiário teria de estar disposto a pagar 400 € por esses benefícios para ser o suficiente para alterarem a escolha com base nos custos de todo o ciclo de vida. 4.6 Ensinamentos a retirar da experiência Uma abordagem mais englobante às decisões que afetam o ambiente numa escala temporal mais longa que cumprem os critérios para uma gestão sustentada do ambiente pressupõe uma visão mais holística por oposição a uma visão fragmentada. Nem sempre é possível prever os impactos ambientais causados por uma medida em particular. 69 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 O envolvimento dos stakeholders pode poupar tempo e recursos despendidos na consideração e na conceção de planos que teriam um impacto ambiental inaceitável. A pergunta decisiva agora não é saber até que ponto estamos dispostos a sacrificar o ambiente para pouparmos dinheiro, mas sim quanto podemos gastar para melhorar o ambiente. Alguns sítios importantes para a vida selvagem são agora protegidos a nível europeu e nesses locais que ganharam importância internacional, as considerações ambientais podem ter precedência sobre os critérios económicos habituais quando se faz a apreciação inicial. Apenas os critérios para os quais foi designado um sítio internacionalmente importante podem ser tidos em consideração na Avaliação Adequada. As considerações ambientais podem não ser as mesmas e podem existir conflitos entre os interesses dos vários componentes ambientais ou entre manter os bens e os processos atuais. Os bens ambientais existentes e as condições atuais podem ser muito importantes, mas, em certas circunstâncias, podemos ter de aceitar alguma perda (para isso, será necessária uma "autorização" em conformidade com o Artigo 4.7 da DQA). 70 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Os critérios europeus, nacionais e locais para determinar a importância de um local não devem necessariamente ser julgados da mesma forma. A conceção de um plano preferível em termos técnicos e económicos pode, muitas vezes, ser modificada para minimizar os impactos negativos no ambiente sem comprometer o seu desempenho. Os planos pequenos podem ser tão controversos quanto os maiores e as concessões necessárias em termos de tempo para exercícios de consulta não terão necessariamente a ver com a dimensão do plano. As escolhas difíceis não podem ser simplificadas por um qualquer malabarismo técnico; temos de procurar alcançar um melhor entendimento através da apreciação do projeto em vez de ficarmos à espera que a avaliação económica consiga, por si só, remover as dificuldades. 71 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Tabela 4.1 Etapa Um processo com oito etapas para informar a conformidade da nova modificação com a DiretivaQuadro da Água (Fonte: Environment Agency, 2011) Ação 1 Recolher dados de base atualizados em relação à massa de água 2 Recolher dados de base relativos ao plano proposto 3 Avaliação preliminar 4 Conceção e apreciação das opções 5 Avaliação pormenorizada do impacto 6 Aplicar os testes do Artigo 4.7 7 Relatório 8 Trabalho de apreciação e seguimento pós-projeto 72 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Tabela 4.2 Os custos da melhoria ambiental e da melhoria No caso da proteção do património ambiental, os custos incluem: Mais tempo para negociações durante as fases de planeamento e conceção Maior ocupação de terreno para o projeto Custos de construção mais elevados devido às medidas de mitigação no local durante a fase operacional Gestão após a construção Ajustes de supervisão e gestão No caso da substituição do património ambiental, os custos devem cobrir: Aquisição de terrenos Estudo do local preliminar/estudo de exequibilidade Pesquisa preparatória, incluindo estudos sobre espécies e população Remoção e manutenção de espécies de plantas (conservação do ex-local) Criação de bancos de sementes a partir de fontes recolhidas no local que se poderão perder ou danificar 73 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Reintrodução Criação de habitat, incluindo fatores físicos (por exemplo, regimes hidrológicos e de sedimentos) Gestão de habitat/proteção do local Controlo de concorrentes Supervisão: curto, médio e longo prazo Salvaguardas do local Conselhos no local a gestores de explorações agrícolas Publicidade e relações públicas Com a criação de locais alternativos para substituir o que se vai perder, os custos principais devem cobrir: Aquisição de terrenos Custos de instalação Gestão corrente durante a fase de implementação Supervisão corrente Ajustamento subsequente dos regimes de gestão ao longo de vários anos, dependendo do tipo de habitat. 74 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Capítulo 5 Os efeitos humanos "intangíveis" das inundações Hoje em dia, reconhece-se que os efeitos "intangíveis" das inundações são significativos e têm de ser avaliados em qualquer AMC. Os efeitos das inundações em termos da saúde humana e da perda de vidas são aqui considerados, mas aos segundos não são atribuídos valores pecuniários. 5.1 Os efeitos das inundações sobre a saúde Vários estudos qualitativos foram levados a cabo no Reino Unido desde as inundações da Páscoa de 1998, junho de 2000 e outono de 2000, que investigam os impactos sociais e sobre a saúde que estas inundações tiveram (Tapsell et al., 2002). Embora de natureza limitada, estes estudos ilustraram que a magnitude dos impactos intangíveis particularmente as consequências das inundações sobre a saúde humana é complexa e podem ter um grande alcance. De forma semelhante, também se considera atualmente que os fatores que influenciam esses impactos são extensos (Tabela 5.1). Os efeitos para a saúde humana das consequências das inundações são ilustrados pela Tabela 5.2, que mostra tanto a variedade, quanto a severidade destes impactos "intangíveis". Estes vão desde riscos para a vida – hipotermia e ferimentos sofridos durante a inundação ou 75 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 imediatamente após - até efeitos sobre a saúde física e psicológica mais duradouros, que se revelam nas semanas ou meses após a inundação. Uma pesquisa qualitativa de seguimento levada a cabo em Banbury e Kidlington no Reino Unido revelou que os efeitos psicológicos continuavam a ser evidentes até dezoito meses depois da inundação, o que sugere que os efeitos das inundações sobre a saúde e o bem-estar generalizado das pessoas podem continuar durante muitos meses, ou mesmo anos, após o incidente. Mais recentemente, dois organismos do Reino Unido, o Defra e a Environment Agency, financiaram um grande projeto de investigação que procurou efetuar uma avaliação económica dos impactos "intangíveis" sobre a saúde decorrentes de uma inundação para a apreciação de um projeto (Defra/Environment Agency, 2004). Esta pesquisa confirmou a importância dos impactos das inundações sobre a saúde e levou à publicação de um documento de orientações provisórias (Defra, 2004b), atribuindo a esses efeitos um valor pecuniário de 200 £ (230 €) por lar, por ano. 5.2 O risco para a vida provocado pelas inundações 5.2.1 Introdução As fatalidades e os ferimentos provocados pelas inundações não são incomuns na Europa, pelo que, em locais em que existe um elevado potencial de risco para a vida, podemos incluir uma avaliação desse risco na apreciação de um projeto. 76 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Identificar se é proporcional incluir uma avaliação do potencial de risco para a vida na análise está relacionado com a compreensão de como ocorrem as fatalidades devido às inundações. Um estudo levado a cabo no Reino Unido (Environment Agency, 2013b) investigou as circunstâncias nas quais elementos da população morreram ou ficaram gravemente feridos durante uma inundação. Esse estudo produziu uma tipologia de eventos/situações que é indicativa dessas situações em Inglaterra e no País de Gales, onde existe a probabilidade de ameaça à vida ou onde ocorreram fatalidades no passado (Tabela 5.3). Esta tipologia salienta que há uma série de situações e diferentes elementos que podem levar ao potencial de fatalidades devidas a uma inundação. Muitas mortes não estão relacionadas com as características da própria inundação, mas foram provocadas por respostas comportamentais ou ações das vítimas (isto é, conduzirem ou caminharem pelas águas das cheias ou tentarem desentupir canos em caso de inundação). É muito difícil contabilizar essas fatalidades quando analisamos o potencial de risco para a vida motivado pelas inundações e inclui-las na apreciação do projeto. Há circunstâncias, contudo, nas quais a natureza do risco das inundações (tal como um início rápido, uma grande velocidade ou águas muito profundas) ou as próprias circunstâncias da inundação (por exemplo, com início à noite ou uma inundação inesperada) podem implicar um potencial de risco para a vida mais elevado. Estas situações têm ocorrido, no passado, um pouco por toda a Europa e, embora tenha havido melhorias significativas em termos dos sistemas 77 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 de alerta de cheias e do planeamento de emergência, as inundações graves continuam a poder criar o potencial para tais fatalidade no futuro. As outras situações são quando existe um grande número de pessoas vulneráveis (por exemplo, em lares ou escolas) ou quando as pessoas se situam em localizações vulneráveis (por exemplo parques de campismo), onde há poucos abrigos. A apreciação do risco para a vida deve, portanto, ser tida em consideração nas situações que estão sombreadas na Tabela 5.3 e incluir (ou combinar) os seguintes fatores: • Onde a inundação esperada tem uma grande velocidade ou águas muito profundadas (ou uma combinação de ambas). • Onde a velocidade do início é rápida, permitindo pouco tempo para avisar a população ou evacuar áreas em risco. • Onde há um elevado número de pessoas muito vulneráveis (por exemplo, idosos ou crianças em idade escolar). • Onde muitas pessoas podem estar vulneráveis devido à falta de abrigo (por exemplo, em parques de campismo). Na ótica da apreciação, a avaliação do risco para a vida será levada a cabo de forma mais eficiente quando a eficiência económica de uma opção de GRI for marginal (isto é, se for um benefício adicional) ou quando se considera que os impactos da inundação na possibilidade de perda de vidas são desproporcionais em relação aos 78 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 danos materiais esperados. Isto pode incluir uma situação, por exemplo, em que há um pequeno número de propriedades permanentes localizadas numa área com benefício e, portanto, os danos materiais serão baixos, mas o risco para a vida pode ser elevado devido ao início rápido da inundação, afetando os residentes ou os parques de campismo. Em particular, pode haver circunstâncias em que uma ou mais das categorias se localizam dentro de uma área de apreciação de benefícios (por exemplo, um parque de campismo localizado numa área de início rápido de inundações) e nestas situações deve-se, claramente, levar a cabo uma apreciação. A apreciação também não deve ser conduzida sem tomar em conta as medidas de gestão de inundações mais abrangentes, já que a presença ou ausência e a eficácia de atividades de gestão de uma inundação (em particular, alertas de cheias) terão impactos mitigantes em muitas circunstâncias. 5.2.2 Avaliação do risco para a vida decorrente de uma inundação Têm sido adotadas várias abordagens para calcular o potencial de risco para a vida decorrente de uma inundação (Jonkman et al., 2002). A Tabela 5.4 resume alguns dos modelos existentes, salientando as suas bases e características fundamentais. Estas abordagens têm a tendência de se centrarem na derivação de frações de mortalidade baseadas em observações empíricas, que foram então aplicadas à população exposta segundo a gravidade da 79 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 inundação e outros parâmetros, tais como a presença de alertas de cheias e/ou a consciencialização da população. No entanto, a disponibilidade de dados quantitativos relativamente às inundações que têm ocorrido ao longo da História é, em geral, muito limitada e, portanto, estas funções são baseadas em conjuntos de dados inadequados em termos de dimensão e qualidade. Há também uma atenção desigual dada a incidentes como o rebentamento de uma represa ou uma falha num sistema de defesa contra inundações, que são de utilidade reduzida no contexto da Inglaterra e do País de Gales. 5.2.3 A metodologia do "Risco para as pessoas" (HR Wallingford; 2003; 2005b; Defra, 2008b) Uma abordagem que desenvolveu modelos diferentes para prever a perda de vidas foi o método do "risco das inundações para as pessoas" (HR Wallingford, 2003; 2005b). Este método foi desenvolvido para ser aplicado no Reino Unido e difere de outras abordagens na medida em que as fatalidades são estimadas como uma função dos ferimentos, que são calculados de acordo com as características da inundação, da área e das pessoas, em vez de se aplicar uma fração de mortalidade uniforme à população exposta. Priest et al. (2007) levou a cabo uma análise de sensibilidade a esta abordagem para o evento de Boscastle e salientou que as fatalidades potenciais se situavam entre 0,67 e 109,2, dependendo dos valores de entrada. Esta análise salientou o significado da introdução dos dados no modelo e o facto de uma gama de valores poder ser um 80 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 resultado mais apropriado do que uma previsão absoluta do número de mortes. O método do risco para as pessoas foi desenvolvido e calibrado usando um número limitado de eventos ocorridos em Inglaterra e no País e de Gales, e o modelo foi adequadamente testado e calibrado apenas num pequeno número de estudos de caso. Muitos destes casos ocorreram há vários anos (por exemplo, 1912, 1952, 2000, 2005) e, desde então, tem havido grandes avanços em termos de alertas de cheias, das tecnologias da comunicação e das alterações às práticas de busca e salvamento. Além disso, os estudos de caso utilizados para calibrar e testar a abordagem foram instâncias de inundações muito graves; a abordagem não foi testada em casos de inundações menores no Reino Unido. Também se descobriu que a abordagem do risco para as pessoas contém várias fraquezas estruturais, incluindo a necessidade de dividir as áreas de benefícios em zonas de risco, nas quais as estimativas de perigo, as características das populações e as características da área eram uma constante. A "abordagem de zoneamento" limita a flexibilidade do modelo para dar conta das diferenças em termos da vulnerabilidade da população e do tipo de propriedades que sofrerão o impacto. Esta abordagem, portanto, tem o potencial de sobrestimar gravemente o número de fatalidades. 81 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 5.2.4 Uma abordagem baseada em "limiares" para avaliar o risco para a vida Priest et al. (2007) desenvolveu uma nova metodologia para estimar a perda de vidas decorrente de inundações, utilizando um modelo de "limiares" semi-qualitativo que combina os limiares de perigo e exposição. Este modelo é baseado na premissa de que nem todas as pessoas são igualmente vulneráveis perante a mesma profundidade e velocidade das águas, sendo que a vulnerabilidade varia dependendo das características individuais e situacionais. No entanto, importa identificar as características gerais tanto das pessoas, quanto das áreas em que existem diferentes níveis de risco por causa das águas. A Figura 5.1 ilustra a sequência dos componentes que são considerados neste modelo. Uma descrição pormenorizada da abordagem e do modelo pode ser consultada em Priest et al. (2007) e há um resumo em Tapsell et al. (2008). Esta abordagem baseia-se principalmente nos dados existentes sobre a estabilidade dos seres humanos durante as inundações (Jonkman and Penning-Rowsell, 2008) e a probabilidade de serem mortos tanto se estiverem dentro, como fora, das propriedades durante as inundações. A base desta abordagem é a função de profundidade-velocidade e a utilização do trabalho sobre a estabilidade humana e dos edifícios levado a cabo por Abt et al. (1989), Jonkman & Penning-Rowsell (2008) e Karvonen et al. (2000); estas funções identificam o momento em que as diferentes pessoas e 82 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 os diferentes edifícios se tornam vulneráveis à força das águas. A Tabela 5.5 ilustra esses limiares de profundidade-velocidade e os principais fatores que podem levar a fatalidades motivadas por uma inundação. A abordagem depois acrescenta variáveis mitigantes, tais como a natureza da área (isto é, a disponibilidade de abrigo e a integridade desse abrigo sob diferentes condições da inundação) e a presença ou ausência de procedimentos mitigantes (por exemplo, alertas de cheias e evacuação). Notavelmente, para além das variáveis mais comuns, a abordagem tem em consideração os tipos de propriedades situadas na área em análise e a probabilidade de os edifícios virem a sofrer um colapso (uma causa significativa de fatalidades), bem como fatores que podem, por sua vez, reduzir o risco de fatalidades. Quando combinada com a estimativa do número de pessoas vulneráveis (isto é, através da informação do recenseamento), esta abordagem pode ser usada como uma ferramenta que permite aos avaliadores fazer análises gerais e comparativas do risco para a vida perante um cenário de "Não fazer nada" assim que a medida para gestão dos riscos de inundações é implementada, estabelecendo assim os benefícios de diminuir o potencial de risco para a vida. Esta abordagem permite o mapeamento do risco para a vida e, consequentemente, possibilita a avaliação desse risco em diferentes áreas (Priest et al., 2007). 83 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 5.2.5 Avaliação: perda de vidas motivada por inundações As abordagens acima descritas apresentam uma abordagem semiqualitativa para avaliar o risco, em vez de quantificarem totalmente esse risco em termos do número de fatalidades. É possível atribuir um valor pecuniário ao potencial de risco para a vida através da utilização dos números apresentados no "Livro Verde" do Tesouro britânico (HM Treasury, 2003). Este fornece o número de 1,145 milhões de libras por morte prevenida (em valores de 2000), que foi originalmente desenvolvido no Reino Unido pelo Departamento dos Transportes para as mortes em acidentes de viação. Isto pode, portanto, ser aplicado para estimar o número de fatalidades. No entanto, embora seja possível atribuir um valor pecuniário a esse risco, pedimos aos avaliadores que pensem cuidadosamente sobre se é apropriado fazerem isso ou não. Devido ao geralmente baixo número de fatalidades que seria de esperar em situações de inundação, atribuir um valor económico a esse risco pode trivializar o valor da vida para os indivíduos conhecidos quando comparado com outras perdas, tais como as que decorrem dos danos patrimoniais. Um avaliador também tem de estar ciente de que as circunstâncias que levam ao potencial mais elevado de risco para a vida têm a probabilidade de ocorrer nos cenários de inundação mais extremos. Por conseguinte, o impacto das medidas de gestão dos riscos de inundações nesses casos de inundações muito graves tem de ser cuidadosamente examinado. Nessa análise tem de se perceber se qualquer atividade de gestão dos riscos de inundação tem 84 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 probabilidade de reduzir o potencial de fatalidades decorrentes de inundações das magnitudes mais elevadas, ou se quaisquer outras medidas de gestão de inundações paralelas também têm de ser implementadas (por exemplo, alertas de cheias) para as medidas em análise serem totalmente efetivas. 85 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Tabela 5.1 Fatores que contribuem para as consequências das inundações para a saúde dos Homens Características da inundação (profundidade, velocidade, duração, momento, etc.) Tipo de propriedade, por exemplo, moradia com um piso, com dois, etc. A quantidade e o tipo de danos e perdas patrimoniais Se os alertas de cheias foram recebidos e tidos em consideração Experiência de inundação anterior e consciência do risco Quaisquer estratégias para lidar com a inundação desenvolvidas na sequência de incidentes anteriores Ter de deixar a habitação e viver num alojamento temporário O processo de limpeza e recuperação e perturbações à vida familiar associadas Frustração e ansiedade provocadas pelas relações com companhias de seguros, peritos de sinistros, construtores e empreiteiros. Condições de saúde pré-existentes e suscetibilidade Ansiedade aumentada pela possibilidade de recorrência do evento Diminuição do nível de confiança nas autoridades, vistas como responsáveis por providenciarem proteção avisos de inundação Preocupações financeiras (particularmente para quem não tem seguro) Perda da sensação de segurança na própria casa Destruição da identidade pessoal ligada ao local e da sensação de autoestima (por exemplo, através da perda das recordações) 86 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Tabela 5.2 Efeitos para a saúde em termos físicos e psicológicos decorrentes das Reino Unido Efeitos físicos e outros para a saúde reportados durante as inundações da Páscoa de 1998 e do verão e do outono de 2000, ou imediatamente depois Efeitos físicos para a saúde reportados nas semanas ou meses logo após as inundações da Páscoa de 1998 e do verão e do outono de 2000 Ferimentos provocados por abalroamento pelas águas ou por choque contra objetos duros, ou por ter sido atingido por objetos em movimento Doenças gastrointestinais Ferimentos por tensão muscular durante a inundação (por exemplo, distensões) Problemas cardíacos Hipotermia Problemas respiratórios (por exemplo, asma, infeções respiratórias, pleurisia) Medo de choques elétricos (embora não tenha sido relatado nenhum) Lacerações, abrasões e contusões Constipações, tosse, gripe Entorses e distensões Dores de cabeça Irritação da pele (por exemplo, 87 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 erupções e dermatites) Dores de garganta ou infeções Hipertensão Irritações da pele (por exemplo, erupções) Infeções renais ou outras Choque Rigidez das articulações Cãibras musculares Picadas de insetos ou de outros animais Níveis de açúcar no sangue erráticos (diabéticos) Perda ou aumento de peso Alergias (por exemplo, aos esporos do bolor) 88 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Tabela 5.3 Uma tipologia de razões pelas quais o risco para a vida deriva das i Reino Unido Categoria Razão pela qual o risc para a vida fic exacerbado Gravidade do perigo d Áreas de grande profundidade ou inundação: por exempl velocidade das águas grande profundidade o velocidade das águas Perigo Vulnerabilidade Gravidade do perigo po inundação/juntamente com Áreas de captação de resposta tempo limitado para levar rápida cabo atividades de gestão d incidente Locais vulneráveis 89 Locais que irão fornece pouco abrigo das águas o edifícios que poderão vir sofrer danos extenso consequentemente expond as pessoas às cheias Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Pessoas vulneráveis Pessoas que pode necessitar de assistência par abandonarem as sua propriedades no momento d inundação ou que não estã familiarizadas com o risco d inundação na área e qu portanto, podem precisar d ser avisadas separadamen ou de outra assistênc adicional. Estas situações têm a ve com as circunstâncias em qu as pessoas se colocam e Pessoas que estão expostas ao situações de risco através da Fatores risco de inundação devido às suas suas ações: quer po Comportamentais ações ignorarem as instruções d não atravessarem rios, que por avaliarem mal o perig das águas. Outros Incluem-se aqui uma série d outras situações através da Outras atividades relacionadas com quais as pessoas podem fica a inundação feridas ou perder a vid através de outros meios 90 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Fonte: Adaptado de Environment Agency (2013b) Tabela 5.4 Abordagens existentes para estimar o risco para a vida derivado das inu Estudo Contexto da Base empírica inundação/cenário Waarts (1992) Características interesse Inundação costeira de Baseado em dados Profundidade da grandes proporções relativos à inundação águas, Populaçã Falha do sistema costeira de 1953 nos risco -- calcula a de defesa contra Países Baixos fração da popula inundações que se afogou co base na profund das águas Jonkman (2001) - Inundação costeira de Baseado em dados da Tempo de evacu Discutido em Jonkman grandes proporções inundação costeira de 1953 profundidade e (2007) Falha do sistema nos Países Baixos velocidade são t de defesa contra Incorpora o trabalho de Abt uma função da inundações (1989) sobre a estabilidade localização na p humana na fórmula de aluvial. Waarts Vrounwenvelder and Inundação costeira de Baseado em dados População em ri Steenhuis (1997) grandes proporções relativos à inundação Colapso de edifí Falha do sistema costeira de 1953 nos Rebentamento d 91 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 de defesa contra Países Baixos diques Rompimento de 40 rompimentos de Gravidade da barragem barragens ao longo da inundação, temp História avisos, número d inundações Graham (1999) pessoas que ocu a área em risco compreensão da gravidade da inundação por p da população. Jonkman (2003) Inundação costeira de Baseado grandes proporções relativos à em costeira de Países Baixos dados inundação 1953 nos Probabilidade afogamento estatisticamente relacionada co características hidráulicas inundação, tais profundidade 92 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 águas, velocida taxa de elevaçã águas. Zhai et al (2006) Vários Um total de 269 inundações Os autores prop que ocorreram no Japão número de resid durante o período de 1947 inundadas a 2001 indicador gravidade inundação, dim da população em e número ferimentos/fatalid relacionadas c inundação. 93 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Jonkman (2007) Inundações grandes que de proporções ocorrem em zonas baixas devido a Onze inundações que Baseado nos ocorreram ao longo da de profundidad História, num total de 165 inundação, velo locais diferentes das águas, ta falha do sistema de aumento defesa do início) e tem contra inundações (velo chegada das ág local após rompimento. O m também consid efeito que evacuação, disponibilidade abrigo, o salvam a fuga evacuação) têm números exposto 94 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Tabela 5.5 Fatores principais que levam a fatalidades decorrentes das inundações limiares de profundidadevelocidade (m2/s) Natureza das categorias da área Fatores principais que levam às fatalidades <0,25 Tudo Risco baixo As águ baixo p Dominado pela vulnerabilidade da população alguns comportamentais As fata concen vulner que es perto d vezes proprie Dominado pelo comportamento Na ma conseg contud ferime ocorre cabo a como correr 0,25 – 0,50 0,50 – 1,10 Todas Vulnerabilidade baixa e média 95 Descr Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 águas 0,75-1,75 1,75-7,00 1,75-7,00 >7,00 Vulnerabilidade elevada Dominado pelo perigo Nestas irão pr ao con Dominado pelo perigo e pelo colapso dos edifícios As fata pessoa direto apanh estrutu pelas á Vulnerabilidade baixa e média Vulnerabilidade elevada Todas Fonte: Tapsell et al. (2008) 96 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Figura 5.1 Sequência e combinação dos diferentes componentes da abordagem de modelação dos limiares 97 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 Referências Abt, S.R., Wittler, R.J., Taylor, A. and Love, D.J. (1989) ‘Human stability in a high flood hazard zone’, JAWRA Journal of the American Water Resources Association, vol 25, no 4, pp881–890 Brouwer, R., Langford, I.H., Bateman, I.J. and Turner, R.K. (1999) ‘A metaanalysis of wetland contingent valuation studies’, Regional Environmental Change, vol 1, no 1, pp47–57 Conover, W. J. (1980) Practical Nonparametric Statistics, New York: Wiley Department for Environment, Food and Rural Affairs (Defra)/Environment Agency (2004) The Appraisal of Human Related Intangible Impacts of Flooding, R&D Technical Report FD2005/TR, Defra, London Edwards, W. and Newman, J. R. 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A utilização da AMC iria identificar o risco social e não económico dentro de uma área de captação e orientaria a avaliação do risco económico. Este processo garante que os riscos sociais e económicos das inundações são avaliados em paralelo. 103 Convenção de subvenção n.º ECHO/SUB/2012/638445 3. Utilizar a AMC acima descrita e os resultados do modelo inicial para levar a cabo a identificação e avaliação e determinar as zonas de risco dentro da área de captação. 4. Levar a cabo modelação adicional e depois a avaliação económica (apenas danos diretos) das zonas de risco da área de captação identificadas na avaliação de rastreio. 5. Proceder a uma avaliação indireta dos danos e aplicá-la como fator de sobrelevação aos cálculos diretos dos prejuízos. A área de Estudo de Prut Barlad foi dividida em 25 células (ver mapa no Apêndice A) e o risco para os recetores (Propriedade, Pessoas, Estradas, Linhas Férreas, Agricultura, etc.) foi enumerado dentro de perfis de inundações para períodos de retorno de 10, 50, 100 e 1000 anos. Foi calculado um grau de risco de inundação para cada recetor através de uma ferramenta proprietária de Análise Multicritério, baseada na exposição do grupo recetor à inundação dentro de cada perfil de inundação. O grau e a classificação dos riscos foram então ponderados para refletir a importância que o cliente atribuía a cada grupo recetor contra o risco de inundação socioeconómico total. Por exemplo o recetor "população" foi considerado como sendo de maior importância e, portanto, teve uma pontuação mais elevado do que o grupo recetor "agricultura". As pontuações totais ponderadas da inundação e as nove células temporais foram selecionadas para uma apreciação pormenorizada dos prejuízos económicos, utilizando um método desenvolvido para ser compatível com os procedimentos do FLOODsite da UE. 104