análise de conjuntura temas de economia aplicada
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análise de conjuntura temas de economia aplicada
Nº 346 Julho / 2009 FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS issn 1234-5678 análise de conjuntura Antonio Carlos Lima Nogueira analisa a produção de soja no Mato Grosso sob os pontos de vista de financiamento, seguro rural, tecnologia e logística. Manuel Enriquez Garcia conclui, com base em dados do IBGE, que a economia vem passando por uma lenta, porém firme, recuperação do nível de atividade e emprego. temas de economia aplicada Dante Mendes Aldrighi, finalizando sequência de artigos, fala sobre como a cooperação entre países do BRIC pode contribuir para alterar a atual balança de poder em favor dos mesmos. Raphael Rocha Gouvêa e Gilberto Tadeu Lima testam empiricamente se uma mudança na composição dos setores relacionados ao comércio exterior afeta a restrição externa ao crescimento. Diva Benevides Pinho destaca o impacto do redesenho da economia global na reestruturação do mercado da arte. Danilo Freitas Ramalho da Silva defende a atual existência de um regime de acumulação de capital com dominância da lógica da valorização financeira, a qual elucidaria a atual crise. Nº 346 JULHO DE 2009 INFORMAÇÕES FIPE É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DE CONJUNTURA ECONÔMICA DA FUNDAÇÃO ANÁLISE DE CONJUNTURA issn 1234-5678 agricultura ........................................................................................................................ 3 Antonio Carlos Lima Nogueira emprego, salário e taxa de ocupação ........................................................................... 6 Manuel Enriquez Garcia Hélio Nogueira da Cruz (Presidente) Andrea Sandro Calabi Juarez B. Rizzieri Joaquim José Martins Guilhoto Ricardo Abramovay Simão Davi Silber Vera Lucia Fava TEMAS DE ECONOMIA APLICADA 8 CONSELHO CURADOR ........................... should BRIC countries prioritize trade and investment among themselves? would this strategy be politically practicable? DIRETORIA DIRETOR PRESIDENTE Carlos Antonio Luque Dante Mendes Aldrighi 16 ..................... structural change, balance-of-payments constraint and growth: an empirical exercise DIRETOR DE PESQUISA Eduardo Haddad Raphael Rocha Gouvêa, Gilberto Tadeu Lima 21 .................................................................... emergentes “puxam” a economia global e o mercado de arte Diva Benevides Pinho DIRETOR DE CURSOS Cicely M. Amaral PÓS-GRADUAÇÃO 23 ....................... sobre a existência de um regime de acumulação com dominância financeira: sua lógica de valorização e a presença do capital fictício Danilo Freitas Ramalho da Silva Dante Mendes Aldrighi SECRETARIA EXECUTIVA Domingos Pimentel Bortoletto PReparação de originais e revisão Alina Gasparello de Araujo EDITOR CHEFE Gilberto Tadeu Lima CONSELHO EDITORIAL Heron Carlos E. do Carmo Lenina Pomeranz Luiz Martins Lopes José Paulo Z. Chahad Maria Cristina Cacciamali Maria Helena Pallares Zockun Simão Davi Silber AS IDÉIAS E OPINIÕES EXPOSTAS NOS ARTIGOS SÃO DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DOS AUTORES, NÃO REFLETINDO A OPINIÃO DA FIPE ASSISTENTE Maria de Jesus Soares PROGRAMAÇÃO VISUAL E COMPOSIÇÃO Sandra Vilas Boas análise de conjuntura Antonio Carlos Lima Nogueira (*) agricultura: a soja no Mato Grosso Uma enquete disponível no site da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (APROSOJA) oferece uma evidência sobre as fontes de financiamento da próxima safra, ainda que a coleta de respostas de 139 respondentes voluntários não seja uma amostra estatisticamente representativa. A questão apresentada é: qual a principal fonte de financiamento de sua próxima safra de soja? As respostas são: troca por insumos (28%), trading (27%), recursos próprios (22%), custeio oficial (BB) (14%), outros bancos (9%). Os percentuais nas duas primeiras posições são um indício da volta gradual dos agentes privados da cadeia produtiva para o financiamento da soja (insumos e trading), após a escassez de crédito provocada pela crise financeira global. Em seguida, o percentual de respondentes que utilizam recursos próprios revela uma situação relativamente favorável de capitalização dos agricultores, visto que um a cada cinco respondentes utilizará os recursos próprios como fonte principal. julho de 2009 Neste momento de incertezas sobre a evolução da conjuntura global e da capacidade de recuperação da economia brasileira, é interessante analisar a situação do principal produto do agronegócio brasileiro em seu maior Estado produtor. Conforme levantamento da Companhia Brasileira de Abastecimento, a safra de soja brasileira em 2009 deverá atingir 57 milhões de toneladas, das quais 18 milhões (31%) são provenientes do Mato Grosso. O desempenho da atividade nesta região tem enorme influência na balança comercial do agronegócio, por sua participação nas exportações, assim como na economia do Estado, pelo volume de recursos movimentados na cadeia produtiva e pelo impacto da renda dos agricultores no consumo. Neste artigo serão analisadas as condições atuais de financiamento, seguro rural e tecnologia para a atividade no Estado, com a identificação de algumas transformações relevantes. A baixa participação dos recursos públicos pode indicar a expectativa com relação ao Plano Agrícola e Pecuário 2009-2010, divulgado em junho pelo governo. Apesar do volume total de 107,5 bilhões de reais (37% maior que no ano passado), com base na experiência dos anos anteriores, muitos agricultores podem considerar que não conseguirão os recursos necessários em razão dos limites máximos disponíveis, insuficientes para empreendimentos de larga escala característicos do Estado. Por outro lado, o 3 julho de 2009 governo divulgou a intenção de ampliar o acesso aos recursos controlados para os médios agricultores, com a alocação de R$ 5 bilhões para este segmento e o aumento do limite de renda bruta anual para até R$ 500 mil. Já os limites de crédito, que envolvem recursos para custeio, investimento, comercialização e aquisição de máquinas e equipamentos, subiram de R$ 150 mil para R$ 250 mil. Portanto, pode ser que quando esses recursos chegarem aos bancos, os agricultores do Mato Grosso poderão conseguir mais recursos com juros subsidiados do que esperam. Conforme notícia divulgada pela mesma Associação, os seguros contratados em Mato Grosso em 2008 para a atividade agrícola foram 1.634, dos quais 1.492 operações são referentes à soja (91,3% do total). A quantidade registrada pela cultura da oleaginosa é 91,7%% maior que a verificada em 2007, quando totalizou 778 apólices. A importância segurada totalizou R$ 368,916 milhões em 2008, correspondente a uma área de 350,315 mil hectares. Já o prêmio arrecadado, que é o valor pago pelo produtor, somou R$ 10,774 milhões, enquanto o valor subvencionado pelo governo federal (o equivalente a 50% do prêmio pago pelo agricultor) contabilizou R$ 5,291 milhões. Apesar do avanço significativo, a área segurada ainda é pequena em relação à área total de soja, de 5,8 milhões de hectares. O presidente da Associação, Glauber Silveira da Silva, afirma que a baixa penetração do seguro é motivada pelo fato de ele estar associado aos financiamentos por parte de bancos oficiais. Como o governo condiciona a liberação de crédito para financiar a safra à contratação do seguro e os agricultores em Mato Grosso recorrem mais a bancos internacionais e às tradings, o acesso ao seguro acaba sendo menor. O presidente informa que o crédito oficial disponibilizado pelo governo para Mato Grosso, de cerca de R$ 3 bilhões para agricultura e pecuária, é insuficiente, visto que para o Rio Grande do Sul é de R$ 11 bilhões. Outro fator limitante é que os dados utilizados para calcular o seguro, como por exemplo, quantidade de sacas produzida por hectare, é o mesmo para todo 4 o País, o que acaba inviabilizando o seguro para os produtores mato-grossenses, já que a produtividade varia de um município para outro e ainda mais se comparado a outras unidades da federação. Um dos principais fatores para a produção agrícola é a qualidade das sementes, considerando-se os aspectos de produtividade e adaptação às condições locais. Apesar da história de sucesso das variedades obtidas com melhoramento convencional no Centro-Oeste, principalmente com a atuação da Embrapa, a adoção de sementes de organismos geneticamente modificados (OGMs) é uma tendência crescente no Brasil, desde a aprovação da nova lei de biossegurança, em 2005. Neste contexto de avanço da biotecnologia, observase que as sementes transgênicas representarão 55% de todo o volume de sementes produzidas em Mato Grosso para a safra 2009/2010. A produção prevista pelas 34 sementeiras do Estado é de 7 milhões de toneladas. Destas, 3,85 milhões de toneladas são de sementes OGM. De acordo com a Associação dos Produtores de Sementes do Estado, pelo menos 90% das sementes produzidas para a próxima safra já foram comercializadas e estão nas mãos dos produtores para serem semeadas a partir da segunda quinzena de setembro nas lavouras mais precoces do Estado, localizadas nas regiões de Lucas do Rio Verde, Sapezal e Nova Mutum. O presidente desta associação, Elton Hamer, estima que a demanda fique em cerca de 7 milhões de toneladas de sementes para o Estado. Estes números, se confirmados, representarão o mesmo volume de grãos comercializados para o plantio da safra 2008/2009. A saída para a falta de algumas variedades pode estar na substituição por outras ou mesmo a aquisição de cultivares vindos de outras regiões do País. O presidente acredita que não faltará material para atender aos produtores, ainda que alguns não encontrem o portfólio desejado, com as variedades mais concorridas. O presidente da APROSOJA considera que o principal problema está justamente na oferta de algumas varie- dades apropriadas à região. Para ele, o produtor deve buscar estas variedades em outras regiões, mas que, por enquanto, o mercado estaria normal e não haveria riscos de comprometer a produção. A crescente adoção das sementes transgênicas pode oferecer benefícios diretos de redução nos custos de produção nos itens de defensivos, uso de máquinas e mão de obra, no caso das variedades de primeira geração, com resistência a herbicida. Além dessas vantagens, deve-se considerar a redução nos impactos ambientais referentes ao uso de água e de emissão global de carbono, seja nas cadeias produtivas dos defensivos, seja nas atividades agrícolas. Tomczyk relata que a ferrovia já está trabalhando em seu limite e que nos momentos de pico existe pouca diferença nos valores cobrados pela ferrovia e pelas transportadoras rodoviárias. A expectativa era de que o transporte ferroviário reduzisse em até 30% o frete para o transporte de grãos até o porto de Santos. Pela distância do Estado até este porto e o de Paranaguá seria necessário um volume muito maior de investimentos em infraestrutura, principalmente em transporte. O diretor também cita as hidrovias como um meio de transporte eficaz para a região. Para ele, seria necessário “destravar” o sistema de hidrovias e mais investimentos em eclusas, dragagens, balizamentos dos canais e de portos, visto que existem deficiências em todas as fases do transporte hidroviário. julho de 2009 Outro tema relevante para o desempenho da produção de soja no Estado é a logística. O custo dos fretes para transporte de grãos em Mato Grosso continua a ser um dos principais problemas para os produtores. Conforme o relato de Ricardo Tomczyk, diretor administrativo da Aprosoja, mesmo após a implantação da Ferronorte, ferrovia que teria vindo baratear o transporte de grãos no Centro-Oeste, os custos continuam altos. Para ele, a Ferronorte tornou-se uma grande esperança para o produtor, mas a produção agrícola no Estado aumentou muito e rapidamente. Aparentemente, o investimento realizado na Ferronorte tornou-se insuficiente diante da demanda por transporte. O panorama apresentado sobre a produção de soja em Mato Grosso revela uma alta complexidade, pelas enormes dimensões envolvidas, seja em distâncias, tamanho das propriedades e volumes de produção. Entretanto, aparentemente existe uma tendência de melhoria nas condições de produção, nas áreas de crédito, com as deliberações do plano agrícola e a expectativa da volta dos agentes privados; na área de seguro, em que a quantidade de contratos segue em crescimento e na área de tecnologia, com a crescente adoção de variedades transgênicas. Os problemas de logística ainda persistem, mas já foram dados alguns passos com a Ferronorte. Esses movimentos parecem indicar que o Estado segue em condições de se manter na posição de liderança na produção de soja. (*) Mestre em Administração pela FEA-USP. (E-mail: [email protected]). 5 Manuel Enriquez Garcia (*) julho de 2009 emprego, salário e taxa de ocupação Com a divulgação dos dados do PIB − Produto Interno Bruto, referentes ao segundo trimestre de 2009, não restaram mais dúvidas de que a economia brasileira está em recessão técnica, isto porque, por dois trimestres consecutivos, ocorreu um recuo da produção em termos físicos. Sob a ótica da oferta global, e na comparação com o último trimestre de 2008, a produção nacional, em termos reais, registrou uma queda de -0,8%, devido principalmente ao forte recuo observado na indústria (-3,1%), seguida pela agropecuária (-0,5%). Já o setor serviços amenizou o quantum da queda, uma vez que apresentou uma elevação de 0,8%. Sob a ótica da demanda, as despesas de consumo das famílias tiveram crescimento de 0,7%, no primeiro trimestre deste ano, em face do quarto trimestre de 2008. As despesas de consumo da administração pública registraram incremento positivo de 0,6%, enquanto a formação bruta de capital fixo− o investimento produtivo − amargou queda de 12,6% no primeiro trimestre de 2009, o maior recuo desde o início da série base de comparação (1996). Em igual período de comparação, observaram-se variações negativas, tanto por parte das exportações de bens e serviços (-16,0%) como das importações de bens e serviços (-16,8%). Embora tecnicamente em recessão, a economia brasileira vem registrando incrementos sucessivos na produção física industrial, embora insuficientes para que o País saia do estágio recessivo. Assim, em maio deste ano, e segundo o IBGE, a produção industrial registrou incremento positivo de 1,3% em face do mês anterior, descontadas as influências sazonais. Deve- se registrar que esse foi o quinto resultado positivo consecutivo nessa mesma comparação, conseguindo-se, desse modo, uma expansão de 7,8% nos cinco primeiros meses de 2009. Diz o Instituto que em comparação com maio de 2008, a produção industrial experimenta um recuo de -11,3%, mantendo 6 uma sequência de sete meses consecutivos de taxas negativas nessa base de comparação. No acumulado do ano, a produção industrial amarga uma queda de -13,8% até maio, enquanto no acumulado de 12 meses o recuo é igual a -5,1%, o menor patamar observado desde o início da série histórica (1991). Por sua vez, na comparação com maio de 2008, os dados coletados pelo IBGE informam que ocorreu uma retração de -11,3%, refletindo o comportamento observado em 22 das 27 atividades pesquisadas. Dentre essas 22 atividades que registraram recuos na produção física, destacam-se máquinas e equipamentos, com queda de -28,0%, veículos automotores, com incremento negativo de -17,6%, metalurgia básica, com recuo de -24,5% e material elétrico e de comunicações, com variação negativa de -34,4%. Já dentre as cinco atividades que apresentaram crescimento no produto industrial, destacam-se farmacêutica, com elevação de 15,7%, e bebidas, com aumento de 6,2%. Por sua vez, dentre as categorias de uso, os bens de capital registraram recuo de -22,8%. Os dados do IBGE apontam para reduções em todos os grupamentos, com destaque para bens de capital para uso misto, com queda de 26,4%, pressionados principalmente por equipamentos para telefonia celular e produtos de informática; bens de capital para uso industrial, com incremento negativo de -34,1%; para transporte, com recuo de -8,6%; para construção, que amargou queda de -60,5%; e para energia elétrica, com variação negativa de -30,6%. Por sua vez, a produção de bens de consumo duráveis registrou queda de -13,7% em relação a maio de 2008, influenciada pelo menor volume produzido de automóveis (-8,4%) e de eletrodomésticos (-11,1%), principalmente a “linha marrom” (-34,0%), já que a “linha branca” registrou incremento positivo de 0,9%. A categoria de bens intermediários, ainda na comparação de maio de 2009 com igual mês do ano anterior, apresentou recuo de -13,8%. Este recuo foi ocasionado principalmente pelos resultados negativos observados nos segmentos de atividades de metalurgia básica (-24,5%), indústrias extrativas (-14,2%), outros produtos químicos (-12,3%), veículos automotores (-24,2%) e borracha e plástico (-20,3%). Por último, quanto às categorias de uso, a redução da produção industrial de -1,8% no segmento de bens de consumo semi e não duráveis foi o reflexo das quedas no produto físico registradas em vários segmentos, em particular o de semiduráveis (-12,6%) e alimentos e bebidas para consumo doméstico (-2,4%). Como se pode notar, os dados publicados pelo IBGE até este momento apontam para uma lenta, porém julho de 2009 O IBGE, em outra pesquisa, a mensal de emprego, registra que a taxa de desocupação em maio de 2009 foi de 8,8%, ligeiramente inferior à de abril (8,9%), contudo, com alta de 0,9% na comparação com maio de 2008. Os dados do IBGE registram, também, que o contingente de pessoas ocupadas, estimado em 21 milhões em maio de 2009, para o total das seis regiões metropolitanas, apresentou-se estável em relação a abril de 2009; todavia, apresentou queda de -6,0% em face de igual mês de 2008, na indústria extrativa, de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água, e alta de 4,4% em educação, saúde, serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social. O número de trabalhadores com carteira assinada permaneceu estável em relação a abril de 2009 e cresceu 3,4% em relação a igual mês de 2008. Quanto ao rendimento médio real habitualmente recebido pelos trabalhadores, o IBGE relata que, para o agregado das seis regiões metropolitanas, em maio de 2009 o valor foi estimado em R$1.311,70 (um mil trezentos e onze reais e setenta centavos), registrando um incremento negativo de -1,1% em relação a abril de 2008 e elevação de 3,0% em relação a igual mês de 2008. firme recuperação do nível de atividade e do emprego na economia brasileira. De fevereiro a maio deste ano, o setor industrial acumulou crescimento de 4,2%, graças à forte recuperação do setor de bens de consumo duráveis (22,7%), bens intermediários (3,7%) e bens de consumo semi e não duráveis (3,2%). Das categorias de uso, a única exceção ao crescimento foi o setor de bens de capital, que amarga recuo de -5,9% nesse mesmo período de comparação. Por outro lado, os dados do IBGE sugerem que a trajetória do nível de atividade e emprego em 2009 está fortemente associada ao crescimento da demanda doméstica, posto que o setor exportador continua dependendo da recuperação da economia mundial. (*) Professor da FEA-USP. (E-mail: [email protected]). Os artigos da seção Análise de Conjuntura foram escritos entre 06 e 08/07/2009. 7 temas de economia aplicada Dante Mendes Aldrighi (*) julho de 2009 should BRIC countries prioritize trade and investment among themselves? would this strategy be politically practicable? As argued in the first part of this paper, which was published in the previous issue of this economic bulletin (Aldrighi, 2009), BRIC countries’ coordinated initiatives seem to be feasible and worthwhile if directed to shift the balance of power in global policymaking between developed and developing countries. However, concerning intra-bloc issues, particularly trade and investment, the scope for mutual cooperation looks more uncertain. Preferential trade arrangements (PTAs), such as free trade areas or customs unions, are more likely to enhance efficiency and national welfare, (i) the closer geographically their member countries; (ii) the higher the trade barriers among them before the PTA and the lower the PTA’s trade barriers against imports from non-member countries; (iii) the more developed the trade among member countries before the PTA; and (iv) the more competitive their economies before the PTA, but potentially complementary after its implementation. Bearing in mind these conditions, what would probably be the net effect on Brazil’s welfare of a preferential trade agreement with Russia, China and India? Would trade creation prevail over trade diversion? 8 Let us begin by examining the overall economic struc1 ture of the BRIC countries. Being abundantly endowed with natural resources and land, Brazil is an important producer and exporter of agricultural goods, minerals, and crude oil (See Table 1). Nonetheless, it has a diversified and fairly developed manufacturing sector and is internationally competitive in some industries. China’s astonishing economic growth in the last two decades has largely relied on exports of manufactured goods, fuelling massive imports of raw materials (iron ore, oil, and gas) and food. Albeit India is amid BRIC countries the economy whose agriculture accounts for the highest share in the GDP, more than 63% of its merchandise exports are comprised of manufactured goods, which is higher than the corresponding share for Brazil but much lower than for China. On top of unskilled labor-intensive goods (such as textiles), India also exports steel, petrochemicals and ships. In the 1990s, this country emerged as a competitive global supplier of services, notably of information technology. Its revenues in commercial services exports reached US$ 91.8 billion in 2007, against less than US$ 23 billion for Brazil. Most of its labor force is, however, still concentrated on the agricultural sector. Poor in oil and gas, India is, as China, a net importer of commodities, reason for which it has run successive trade deficits in the last years. Russia’s economic growth, in turn, has been heavily dependent on exports of oil, gas, grain, and other natural resources. Domestic demand appears to be more relevant in Brazil and India than in Russia and China. Brazil China 30.0 20.0 47.2 India 3.2 3.4 93.2 6.0 23.3 70.6 11.0 24.3 63.6 6.8 22.0 70.9 4.4 40.2 46.3 endowments and production and trade structures (Brazil and Russia are rich in natural resources and leading commodity exporters, unlike China and India, which need to import oil and other commodities), the removal of protectionist barriers in their intra-bloc trade might lead to trade creation in some table 1 – merchandise trade composition (percentage) – 2007 EXPORTS Agricultural goods Fuels/minerals Manufactures IMPORTS Agricultural goods Fuels/Minerals Manufactures Although the four countries have different factor manufacturing industries. As for the other conditions to a welfare-enhancing PTA, geography is very unfavorable to Brazil, ongoing trade barriers among Russia the BRIC countries are not higher as compared with 6.6 72.5 19.4 those against other countries, and current intra-BRIC trade flows are trifling, except those between China 2 and the other three countries (See Table 2). Hence, 12.0 3.7 83.1 one cannot take for granted that a free trade area among BRIC countries is bound to increase welfare Source: World Trade Organization (Country Profiles, April 2009) and efficiency. table 2 – BRIC countries’ merchandise trade by main destinations/origins – 2007 Brazil China India Russian Fed. M X M X M X M EU (27) 25.2 22.2 20.1 11.6 21.7 14.8 47.6 43.6 USA 15.8 15.7 19.1 China 6.7 10.5 4.3 12.2 Argentina 9.0 8.6 Hong Kong Japan 13.8 6.5 6.5 11.2 15.1 8.4 14.0 South Korea 10.9 Taiwan 10.6 Un.Ar.Emirates Saudi Arabia 6.4 9.9 7.6 Belarus 4.9 Ukraine 4.5 But even if a PTA could improve BRIC countries’ national welfare, its potential distributive impact within each country would trigger strong political resistance against its establishment. Those that would lose in the economic domain with the trade agreement would attempt to triumph in the political arena, selling the public the idea that their own specific claims coincide with national interests. In practice, disentangling situations where trade protection has well-grounded economic rationale from those where julho de 2009 X 6.7 its motivation stems from specific groups’ interests is far from easy. Trade rows between Brazil and China are a case in point. Many Brazilian entrepreneurs and analysts argue that China is a real threat to Brazilian manufacturing. For them, unless active trade and industrial policies are adopted, Brazil runs the risk of having both domestic and foreign markets for its manufactures crowded out by Chinese competition, forcing 9 julho de 2009 the country to restrict its exports to raw materials and agricultural commodities. As manufacturing is the main vehicle by which technological progress is absorbed in a developing country, so the argument goes, Brazilian economy’s long-term perspectives would be gloomy. In fact, in a large spectrum of goods, China’s international competitiveness relies not only in its comparative advantage in labor-intensive products, but also in state-led policies and strategies. Besides endeavoring to reduce the overall costs of doing business and to upgrade the technology of products and processes, 3 the Chinese government has systematically adopted aggressive policies to bolster exports, ranging from lending at below-market interest rates for foreign purchasers of Chinese manufacturing, to tax rebate, to exchange rate manipulation. It is not difficult to collect evidence consistent with the widespread belief that Brazil holds a “colonial” trade pattern with China, a fortiori in the ongoing global crisis. The share of unmanufactured, low value-added goods in Brazil’s exports to China increased from 68% to 78% from 2000 to 2008, at the expense of manufactured products, whose share fell from 19% to 6%. Soybeans, iron ore, and crude oil account for nearly 85% of Brazilian exports to China while 97% of Chinese exports to Brazil embrace manufactured goods, mainly electronics.4 Moreover, Brazilian imports from China have increased at a faster pace than its exports to China (see Table 3). 5 On the other hand, exports to China have allowed Brazil to run increasing trade surplus in the first months of 2009, with China replacing the USA as Brazil’s main trade partner. table 3 – Brazil’s trade with China – US$ billion Exports Imports 2000 1.086 1.222 2005 6.835 5.355 2007 10.749 12.618 2008 16.403 20.040 Source: Brazil’s Ministry of Development, Industry and Foreign Trade. An eloquent manifestation of dissonance in BrazilChina trade relationships is the great number of Brazilian antidumping measures in force against Chinese 10 6 products — 23 out of a total of 62. In addition, eight out of the 18 requests for dumping consultation Brazil submitted to the WTO were against imports from China (India’s dumping complaints against Chinese products are even greater). China was among the exporter countries of all the eleven imported goods investigated for dumping practices by Brazil’s Ministry of Development, Industry, and Foreign Trade in April 2009 (India appeared as an exporter for two of those goods). 7 Chinese officials, in turn, have criticized Brazil for its excessive use of antidumping measures and for the delay in officially recognizing China as a “market economy.” Brazil had committed in 2004 to confer that status to China but has not yet implemented this recognition, what allows it to use data on costs from other countries for investigating practices of dumping by Chinese exporters. Iron ore and steel, too, separate China and Brazil. Whereas Brazil is a leading producer of iron ore, China is a thirsty consumer of this commodity. When the global economy was thriving, Vale do Rio Doce, a giant Brazilian mining company, had the edge to set prices. Conversely, during the ongoing international economic downturn, China Iron and Steel Association has been tough in negotiating with Vale the price agreement for 2009/10. The dispute has been deadlocked since January: that association requiring a cut ranging from 40% to 50% in iron ore prices and Vale offering just a 20% reduction. Exports to China account for more than 40% of Vale’s revenue. Brazilian steelmakers, in turn, have been losing share to China not only in their own domestic market but also in other Latin America countries. In the last two years, while Chinese exports to these markets increased by 90%, Brazilian exports fell by 38%. 8 The mounting imports of Chinese steel has recently led the Brazilian government to adopt the demand of steelmakers such as CSN and Usiminas to reactivate the tariffs against imported steel (up to 14%), nullified since 2005. Also contentious are the imports of textiles from China. Expired in December 2008 the voluntary export restraint on textiles it had agreed with Brazil in 2006, China refused to renegotiate. As a result, Brazilian imports from China increased more than 230% for shirts, 280% for sweaters, and 147% for silk. Analogously, trade rows between China and Brazil occur in agricultural products and meat. Chinese authorities have recurrently rebutted Brazilian exporters’ allegations that they face a disguised protectionism in the form of unjustifiable sanitary and red tape barriers against beef and pork. For China’s Agriculture Vice-Minister, Brazilian exporters should improve Another major stumbling block to BRIC countries’ trade cooperation lies in China’s exchange rate policy, managed with a view to keeping the yuan undervalued. Both developed and developing countries have blamed it for the resulting artificial competitive advantage benefiting Chinese products. Chinese exchange rate policy has been also considered as one of the root causes of the ongoing financial crisis. It is argued that the accumulation of trade surplus allowed China to purchase huge amounts of dollar-denominated assets, contributing to keep low the interest rates in the U.S. and thus fueling the mortgage bubble. Despite the disappointing achievements so far, there seems to be large potential for Chinese investment in Brazil, given the two countries’ economic complementarities. China holds mountainous foreign reserves and needs food, fuel, and raw materials; Brazil is abundant in natural resource (oil, minerals, and land) and needs financing for investing in infrastructure, mining, agribusiness (ethanol and bio-diesel), and exploration of pre-salt oil fields. Thus, China would benefit from undertaking direct investment in Brazil in such projects as plants for processing soybeans, railroads, mining, and offshore oil extraction. However, Chinese officials and entrepreneurs have complained about the several hurdles hindering investment in Brazil, asking for the elimination of red tape requirements to open a firm and facilitation to visa concession for Chinese employees.9 julho de 2009 their beef quality to have access to Chinese markets. Although China had agreed to liberalize the imports of chicken from Brazil in 2004, only in May 2009, during the visit of President Lula to China, Brazilian chicken producers were authorized to export to the Chinese market. Brazilian beef exporters have similar difficulties to have access to the Russian market. Agriculture separates India from Brazil, inasmuch as New Delhi is politically committed to protect Indian small rice farmers. This split was made explicit during the last Doha trade round talk. Furthermore, these two countries are likely to become rivals in software services, business in which India has shown strong competitive advantages since the 1990s. Brazilian government’s efforts to catch up began in 2005, when it implemented a policy targeted to bolster this sector. Probably as a consequence of incentives and subsidies, Brazil is now considered as an attractive market for investments in that business. Regarding flows of investment, they have been negligible between Brazil and each of the other three countries. On the occasion of the visit of Brazil’s President to China in 2004, Beijing committed to invest in several projects in Brazil, such as the building of a steel plant through a joint venture involving Vale and Baosteel, which would invest US$ 4 billion. As Table 4 testifies, this and other promises of Chinese investments have not yet materialized. Baosteel cancelled its joint project with Vale in 2008. More recently, again during a visit of President Lula da Silva to China, China Development Bank agreed to lend US$ 10 billion to Petrobras, which committed to export 150,000 barrels to the state-owned Sinopec in 2009, volume to be increased to 200,000 barrels from 2010 to 2018. table 4 – flows of investment between Brazil and China (in US$ million) China in Brazil 2005 7.6 Brazil in China 77.2 2005 6.7 95.5 2007 24.3 85.0 2008 38.4 15 Source: Ministry of Development, Industry and Foreign Trade 11 trade payments with trade partners’ domestic currencies China recently signed currency swap agreements with Argentina, Indonesia, South Korea, Hong Kong, Malaysia and Belarus, allowing these countries to settle their trade payments with China in renminbi. On the occasion of the London Summit, President Lula proposed to his colleague Hu Jintao that Brazil and China use their domestic currencies in bilateral trade. The alleged rationale for currency swaps or reciprocal credit — by which bilateral trade is settled in, or financed through, trade partners’ own domestic currencies — is that they could counter the drying up of credit julho de 2009 in strong currencies, reduce the reliance on the U.S. currency, and lower transaction costs (administrative and currency exchange fees). In September 2008, Brazil and Argentina agreed to trade in local currencies. Through the “Sistema de Pagamentos em Moeda Local” (SML), importers and exporters in Brazil and in Argentina are allowed to make and receive payments in their local currencies. There is no currency exchange between the exporter or importer and her financial institution or between financial institutions and Brazil’s central bank, all transactions being conducted in reais. For example, a Brazilian importer of Argentine goods can pay in reais in an authorized financial institution for the deal contracted in pesos. However, trade in local currency has accounted for less than 1.5% of the total bilateral trade between the two countries. As exports through the SML involve no currency exchange, one disadvantage of this mechanism for Brazilian exporters is that they cannot borrow through cheaper export credit lines such as Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) and Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE). With respect to China’s effort to promote the use of its currency in international trade transactions, its impact will be irrelevant as long as the renminbi continues to be not fully convertible. Currently, there is no incentive for foreigners to hold renminbi, which has 12 no liquidity outside China, nor any offshore foreign exchange market trading it. Further uncertainties over the Chinese currency as a vehicle for international trade are associated with the government’s firm intent of keeping it artificially devalued as well as with the incipient, shallow, and state interference-prone Chinese financial markets. The move toward convertibility would reduce, in turn, the scope for Beijing to manage the exchange rate and the capital flows. Given the uncertain impacts on trade and on the value of its foreign reserves, the Chinese government is unlikely to relinquish before long the current tight control on those key economic variables. The proposal for settling bilateral trade in yuan and real has been strongly criticized by Brazilian manufacturers and exporters. They refute the need and purported benefits of that arrangement, arguing that neither Brazil nor China faces international liquidity dearth, and that it would just boost Brazilian imports from China, whose exports to developed countries are plummeting. Indeed, besides other systemic competitive advantages (such as better infrastructure, lower taxes, and more flexible labor markets), Chinese exporters benefit from an elastic supply of cheap credit, unlike their Brazilian counterparts. concluding remarks Brazil, Russia, India, and China were first lumped together in 2001 by a Goldman Sachs economist, who envisaged as a common denominator for these large emerging economies the high potential for fast growth. Together they comprised, in 2008, 42% of the world’s population, 14.6% of the world GDP (20% in PPP), 14.1% of the exports and 11.6% of the imports in the world trade, and held nearly 40% of global currency reserves (US$ 2.8 trillion). From 2000 to 2008, BRIC countries accounted for about 30% of all the increase in world output. More recently, these four countries have tried to act in unison aiming to have more clout on the global political and economic decision-making. This leads to the question of if their commonalities go beyond their large size, potential for high economic growth, and motivation for having a greater say in global policymaking. Differences among them abound. Economically, Brazil and Russia are large producers and exporters of oil, minerals, and agricultural products, unlike China and India, which are net importers of most of these commodities. Trade disputes have been recurrent among them. Chinese products are charged with antidumping measures by Brazil and India, while these two countries have been on different sides in the Doha trade talks about liberalization in agricultural markets. Brazil has had trade row over market access with Russia (beef) and China (beef and pork). Russia has not yet joined the WTO. Although their multidimensional differences and sometimes contradictory priorities and interests cast some doubts on the prospects for BRIC countries’ concerted actions, there seems to be enough room for rewarding joint approaches to rebalancing international power away from rich countries towards developing countries. Working together, BRIC countries are likely to speed up the reform of global political and financial bodies, conquering “a greater voice and representation” and eliminating developed countries’ current monopoly in managing international economic and political affairs. Coordinated efforts may also facilitate the overhaul of the international financial system, creating conditions for the emergence in the If rivalries in several economic dimensions among BRIC countries are to prevail over their complementarities, could there be other type of motivation driving them to a strategic alliance? If so, would that alliance be composed of equal partners or would one of them take on the leadership? China appears to be the natural candidate for leader, given its huge amount of foreign reserves and importance as trade partner for the other three countries. Leadership involves privileges and also responsibilities, what raises the question whether China would be willing to bear the burden leadership implies, subordinating economic goals to political strategies. julho de 2009 Differences are also expressive on the political level. Russia and China are permanent members of the United Nations Security Council and Brazil and India aspire to be. China is reluctant to support the Security Council’s enlargement for fear of Japan joining it. Brazil, unlike the other three countries, has no nuclear weapons. In several other dimensions (geographic, cultural etc.), Brazil seems to be more distant from the RIC than each of the RIC from each other. As pointed out before, there is massive evidence in international trade research that distance matters to trade. Perhaps distance, in its broader meaning, may encumber other types of interaction and make “BRIC” less likely to vindicate than RIC. future of a global reserve currency whose stability will not depend on the policies and vagaries of any particular country. In this sense, China, Brazil and Russia’s intent to buy bonds denominated in special drawing rights issued by the International Monetary Fund may be a first step, however symbolic, to reduce the current overreliance of the international monetary system on the U.S. currency, notwithstanding the amounts represent less than, respectively, 2.5%, 5%, and 2.5% of their reserves. Needless to say that the dollar will still prevail as the dominant international reserve currency for a long period. One reason is that most of countries would doubly lose if the dollar suffered a sharp devaluation — by reducing competitiveness with respect to American goods and, being their reserves mostly held in dollar, by high capital losses. Nearly 60% of China’s US$ 2 trillion reserves are held in dollardenominated securities. Another reason is that there lacks an immediate alternative, and the election of a new global reserve currency is a complex, path-dependent, political and economic process. references Aldrighi, D. Cooperation and coordination among BRIC countries: potential and constraints. Boletim Informações Fipe, n. 345, jun. 2009. Disponível para acesso irrestrito em: <http://www. fipe.org.br/publicacoes/downloads/bif/2009/6_bif345.pdf>. Leamer, Edward E. A flat world, a level playing field, a small world after all, or none of the above? A review of Thomas L Friedman’s The World is Flat. Journal of Economic Literature, v. 45, n. 1, p. 83-126, 2007. 13 appendix – BRIC countries: basic indicators (2007) Brazil India Russia Population (million) Surface area (1,000 sq. km) GDP (current US$ bi) 191.6 1,318.3 1,124.8 142.1 8,514.9 9,598.1 3,287.3 17,098.2 1,313.4 3,205.5 1,176.9 1,290.1 GDP in PPP (current US$ bi) 1,833.6 7,055.1 3,092.1 2,088.2 GNI per capita, (current US$) 5,860 2,370 950 7,530 GNI / capita, PPP (current intern. $) 9,270 5,420 2,740 14,330 6 11 18 5 Industry, VA (% of GDP) 29 49 30 38 Services, etc., VA (% of GDP) 66 40 52 57 Current account balance (US$ bi) 1.55 371.8 -9.4 76.2 Merch. exports, FOB (US$ billion) 160.6 1,218.6 147.0 354.4 Merch. imports, FOB (US$ billion) 126.6 955.9 216.8 223.5 Share in world total exports (%) 1.15 8.71 1.05 2.53 Share in world total imports (%) 0.89 6.70 1.52 1.57 Commercial services exports (US$ bi) 22.6 121.6 91.8 39.1 Commercial services imports (US$ bi) 34.7 129.2 77.6 57.8 Share in world total exports (%) 0.67 3.63 2.74 1.17 Share in world total imports (%) 1.11 4.14 2.49 1.85 Exp. of goods and serv. (% of GDP) 14 42 21 30 Imp. of goods and serv. (% of GDP) 12 32 24 22 High-tech exports (% of manufactured. exp.) 12 30 5 7 34.6 138.4 22.9 55.1 18 43 39 25 152 35 33 29 22 22 72 15 Agriculture, VA (% of GDP) julho de 2009 China FDI, net inflows (current US$ bi) Gross capital formation (% of GDP) Time required to start a business (days) Mortality rate, under-5 (per 1,000) Source: World Development Indicators database, April 2009 (World Bank) and WTO 1 See Appendix for BRIC countries’ basic indicators. 2 Leamer (2007) points out that one of the few things economists know about international trade is that it declines dramatically with distance. As the simple average of import duties for agricultural goods in India is significantly higher than those for the other types of goods, removing trade barriers would probably clear the way to imports of agricultural goods from Brazil. Even being neighbors, Russia accounted for only 2% of China’s trade in 2008. In that year, Brazil’s exports were less than 1.3% of China’s total imports. For Brazil, India and Russia, China is included among their four main sources of imports and of their four main destinations of exports. Contrariwise, none of these three countries appears amidst the top exporters to, nor the top importers from, China. See Table 2. 14 3 Chinese firms benefit from a favorable tax regime (China’s total tax revenue relative to the GDP is around 16%, less than half of Brazil’s), flexible labor markets, reliable infrastructure, and availability of cheap credit for investment. Roberto Nicolsky (Folha de São Paulo, May 5th) points out that, over the period 2005-2008, the United States Patent and Trademark Office issued 389 patents for Brazil, 2044 for India, and 4311 for China. As compared with the former four-year period (2001-04), these figures represent an increase of 81% for India and 92% for China, and a decrease of 12% for Brazil. 4 In 2008, soybeans and derivatives and iron and derivatives represented, respectively, 32% and 33% of Brazil’s exports to China. It should be noted, however, that minerals and agricultural goods have enlarged its share in Brazil’s overall exports, particularly to the USA. In April 2009, the share of those goods in Brazil’s exports overcame that of manufacturing for the first time since 1978. The imports of more technology-intensive products, in turn, have been increasing, denting Brazil’s trade balance. Electronic and electrical products caused a trade deficit in 2008 of US$ 23.4 billion, chemicals, of US$ 23.6 billion, and machines and equipments, of US$10.9 billion. 8 There is also evidence that China has crowded out Brazilian exports to Argentina in products such as paper, shoes, pharmaceuticals, toys, and garment. 9 It should be noted that BRIC countries are also competitors for attracting foreign capital and investment. 5 According to Brazilian official statistics, China’s trade surplus with Brazil more than doubled in 2008 — from US$ 1.9 billion in 2007 to US$ 3.6 billion. The Chinese government alleges, however, that China ran trade deficits with Brazil in 2007 (US$ 7.58 billion) and in 2008 (US$ 1.849 billion). The huge discrepancy results from the inclusion of freight and insurance costs in Chinese statistics. 6 The USA and India rank second as targets for Brazilian antidumping measures, each with eight products. See Brazil’s Ministry of Development, Industry, and Foreign Trade. 7 Among the products investigated, there were viscose (fiber and yarns), tires for car and bicycle, pens, and shoes. No wonder that similar trade disputes occur between China and India. According to Amir Kazmin (Financial Times, June 15th), India’s Federation of Chambers of Commerce and Industry has pushed for more stringent safety and quality requirements and faster anti-dumping investigations against Chinese goods. The Indian industries more affected by the “typical Chinese predatory pricing” included processed food, light engineering, building materials, heavy engineering, chemicals and textiles. In January, India had imposed a temporary ban on the import of Chinese toys, reverted after Beijing threatened to take the dispute to the WTO. (*) Professor do Departamento de Economia da FEA-USP. (E-mail: [email protected]). julho de 2009 15 Raphael Rocha Gouvêa (*) Gilberto Tadeu Lima (**) structural change, balance-of-payments constraint and growth: an empirical exercise julho de 2009 1. introduction There is both theoretical and empirical support for the view that aggregate demand plays an important role in determining economic growth in the long run. One major argument is that the accumulation of productive capacity in te rms of capital and labor is influenced by demand, so that potential output is, to some extent, demand-determined. In this tradition, a forceful Keynesian demand-oriented approach that emphasizes the external constraints on growth is the so-called theory of ‘balance-of-payments-constrained (hereafter BOPC) growth’. According to Thirlwall (1979), given that real exchange rates are constant (or vary negligibly) and that trade must be balanced in the long run, there is a very close correspondence between the growth rate of output and the ratio of exports’ growth to the income elasticity of demand for imports. This result became known in the literature as “Thirlwall’s Law”. It should be stressed that the BOPC growth approach, despite being demand-oriented, does acknowledge the importance of supply characteristics of goods. Observed differences in the income elasticities of demand for exports and imports reflect the non-price characteristics of goods and, therefore, the structure of production. Indeed, several authors have incorporated the idea that structural change may affect the income elasticities of imports and/or exports in their models. Meanwhile, one of the most important contributions to the demand-oriented theories of output growth that systematically incorporated structural change is the structural economic dynamics (SED) 16 approach developed by Pasinetti (1981, 1993). One major implication of the SED approach is that changes in the structure of production lead to changes in the rate of growth, due, for instance, to different sectoral rates of demand growth that could be produced by differences in the sectoral income elasticities. Araujo and Lima (20 07 ) derived a balance-ofpayments equilibrium growth rate analogous to Thirlwall’s (1979) within a Pasinettian multi-sector macrodynamic framework. The resulting formula, which they call the Multi-Sectoral Thirlwall’s Law, asserts that a country’s growth rate of per capita income is directly proportional to the growth rate of its exports, with such proportionality being inversely (directly) related to sectoral income elasticities of demand for imports (exports). These elasticities, in turn, are weighted by coefficients that measure the share of each sector in total exports and imports, respectively. Therefore, a major implication of the Multi-Sectoral Thirlwall’s Law is that changes in the composition of demand or in the structure of production, which are not reflected in changes in income elasticities but come through changes in the share of each sector in aggregate exports or imports, also matter for economic growth. Given the income elasticites of exports and imports, TL implies that a country’s growth rate will rise only when the growth rate of world income increases, whereas the Multi-Sectoral Thirlwall’s Law implies that a country can still raise its growth rate even when such a raise in growth of world income does not occur, provided it is able to change the sectoral composition of exports and/or imports accordingly. In this context, this paper intends to contribute to the empirical literature on BOPC growth by investigating how structural change, identified with change in the sectoral composition of exports and/or imports, affects the extent of the external constraint. This is done by testing both the original and a multisectoral version of Thirlwall’s Law for a sample of Latin American (Argentina, Brazil, Colombia and Mexico) and Asian (South Korea, Malaysia, Philippines and Singapore) countries over the period 1962-2006. 2. data description Trade data come from the United Nations Commodity Trade Statistics Database (COMTRADE). As far as the Multi-Sectoral Thirlwall’s Law is concerned, the choice of the level of sectoral aggregation should be based upon both theoretical and empirical considerations. Arguably, this choice should allow not only the capturing of some theoretically relevant impacts of structural change on the extent of the balance-of- payments constraint, but also the meeting of technical requirements regarding sample size, homogeneity of data series and the number of parameters to be estimated. As changes in the sectoral income elasticities of exports and imports have a significant technological dimension to them, we used Lall’s (2000) technological classification. Lall (2000) classified trade data at three-digit SITC (Standard International Trade Classification) revision 2 by their technological intensity. As SITC rev.2 data were available only after the 1980s, Lall’s classification was adapted to data at three-digit SITC rev. 1, since at this revision, data were available after 1962. This scheme is shown in Table 1.1 The other variables used in the estimations are individual gross domestic product (gdp), world gross domestic product (gdpw) and individual real exchange rate. The gdp series come from the World Development Indicators (WDI) and real exchange rates were constructed using data from International Financial Statistics IMF. 2 Given the inexistence of sectoral price indexes for the whole time span, we used the aggregate real exchange rate (rer) as a proxy for the sectoral real exchange rates. table 1 – technological classification Classification Fresh fruit, meal, rice, cocoa, tea, coffee, wood, coal, crude, petroleum, gas Manufactured Products Resource-based manufactures Agro/forest-based products Prepared meats/fruits, beverages, wood products, vegetable, oils Other resource-based products Ore concentrates, petroleum/rubber products, cement, cut gems, glass julho de 2009 Primary Products Examples Low-Technology manufactures Textile/fashion cluster Textile fabrics, clothing, headgear, footwear, leather manufactures, travel goods Other low technology Pottery, simple metal parts/structures, furniture, jewellery, toys, plastic products Medium Technology manufactures Automotive products Passenger vehicles and parts, commercial vehicles, motorcycles and parts Medium technology process industries Synthetic fibres, chemicals and paints, fertilizers, plastics, iron, pipes/tubes Medium technology engineering industries Engines, motors, industrial machinery, pumps, switchgear, ships, watches High-Technology manufactures Other high technology Office/data processing/telecommunications equip, TVs, transistors, turbines, powergenerating equipment Pharmaceuticals, aerospace, optical/measuring instruments, cameras Other transactions Electricity, cinema film, printed matter, "special" transactions, gold, art, pets Eletronics and electrical products Source: Lall (2000, p. 341). 17 3. empirical results The following equations were estimated: ln M t = π ln gdpt + ψ ln rert (1) ln M it = π i ln gdpt + ψi ln rert (2) ln X it = β i ln gdpwt + ηi ln rert (3) π i , ψi , β i e ηi are the parameters to be estimated, i = 1, 2,..., 6 refers to sectors and the other where julho de 2009 variables were defined above. As the series used in the estimations can be generated by a non-stationary process, OLS regression could be spurious. Because of the low power of the ADF test, we also tested if the series have a unit root using the KPSS test. All series used in the paper are integrated of order one, so that we used Johansen’s methodology to test if the series are cointegrated, that is, if at least one cointegration vector exists. When the null hypothesis of cointegration was not rejected, we estimated a vector error correction to obtain the income and price elasticities. In the case of rejection, which happened only for Argentina’s imports of sector others, these elasticities were obtained by OLS in first differences. The results for the imports function, equation (1), show that the real exchange rate is significant only for the Latin American countries. This is not a surprising result, since the low or no significance of the real exchange rate has been recurrently found in similar exercises. The results for the sectoral imports functions, equations (2) and (3), show that the income variables are significant at 5% for all sectors and for all countries. The real exchange rate seems to play a major role in determining sectoral imports in some countries. Indeed, for all Brazilian sectors the real exchange rate is significant at 5% and the relation has the expected sign. For Argentina, Mexico, Philippines and Singapore, in at least three sectors the terms of trade are significant. Moreover, there is no case of real exchange rate being significant but with the relation 18 not having the expected sign. When the values of income elasticities are compared between sectors of the same country, the technology-intensive sectors have higher income elasticities than the resource-based sectors. For imports, however, these differences are much lower than for exports. In both regions the world income is the most important variable determining sectoral exports. Indeed, it was only for the sector others in the Brazilian and Philippine cases that this variable was not significant at 5% in a t-test. However, for some countries and sectors the real exchange rate is not significant and for some sectors – Argentina’s htech and other; Mexico’s ltech, htech and others and Malaysia’s ltech and mtech – it is significant but the relation has the wrong (i.e. negative) sign. When we compare the values of income elasticities of exports among sectors of the same country, we realize that the results support Engel’s Law, since sectors with higher levels of technology have higher elasticities. In some cases, however, low or medium-technology sectors have a higher elasticity than sectors with higher levels of technology. But there is no case in which the income elasticities are higher for resource-based sectors than technology-intensive sectors. Comparing the sectoral income elasticities of exports among the sample countries, it is noted that, in technology-intensive sectors, income elasticities in Asian countries are higher than in Latin American countries (except for Mexico). Having estimated the income elasticities of imports, both aggregate and sectoral, and the sectoral income elasticities of exports, we then calculated the BOPC growth rate, for each country, according to the original Thirlwall’s Law and the Multi-Sectoral Thirlwall’s Law. Then, in order to test the validity of these models, we compared the actual rates of growth with the predicted ones. This comparison was conducted by calculating the t-statistics for the null hypothesis that the actual growth rates are equal to those predicted by the model. The results reported in Table 2 show that only in the case of South Korea it is possible to reject the equality between the growth rate given by Thirlwall’s Law and the actual growth rate. These results confirm previous studies including (sometimes among others) some of our sample countries. Holland, Vieira and Canuto (2004) also found supporting empirical evidence for the original Thirlwall’s Law for the same Latin American countries for the periods 1965-1996 and 1950-2000, respectively. Bértola, Higachi and Porcile (2002) found that the original Thirlwall’s Law is a good predictor of the Brazilian growth experience in the 1890-1973 period, while Carvalho and Lima (2009) found supporting evidence for an extended (to include capital flows and terms of trade) version of Thirlwall’s Law using Brazil data for the 1930-2004 period. Meanwhile, Hussain (1999), using data from 1970 to 1990, found supporting evidence for an extended (to include capital flows) version of Thirlwall’s Law for Malaysia, and for both such an extended and the original version of Thirlwall’s Law for South Korea and Philippines. While Ansari, Hashemzadeh and Xi (2000) found that the original Thirlwall’s Law is a good predictor of growth in Malaysia and Philippines in the 1970-1996 period, Perraton (2003), using data for the 1973-1995 period, found evidence for Thirlwall’s Law for Argentina, Brazil, South Korea, Malaysia and Philippines. Though for some countries the multi-sectoral version of Thirlwall’s Law presented a higher absolute error than the aggregate version, for both groups of countries the absolute mean error was lower for the multi-sectoral version, implying that, at least in a mean sense, the multi-sectoral model fits better than the aggregate model. table 2 – estimated original and multi-sectoral Thirlwall’s Law (1962-2006) Income Growth Rate (1) TL (2) Absolute Error |1-2| Per capita Income Growth Rate(3) MSTL (4) Absolute Error|3-4| Argentina 2.70 3.24 0.54 1.30 1.16 0.13 Brazil 4.33 4.83 0.50 2.22 1.94 0.28 1.92 0.03 Country Colombia 4.14 3.66 0.48 1.95 Mexico 4.38 3.78 0.60 2.09 2.51 0.42 Mean 3.89 3.88 0.53 1.89 1.88 0.22 8.01 7.46 0.55 5.81 3.14 2.67 6.59 6.81 0.22 3.95 3.59 0.36 Singapore a Malaysia Korea 7.40 15.26 7.86 5.93 2.80 3.13 Philippines 3.97 3.67 0.30 1.41 2.25 0.84 Mean 6.49 8.30 2.23 4.27 2.94 1.75 †: Rejects the equality between actual and predicted income growth rates at 5% significance. a julho de 2009 † : over the period 1964-2006. references Ansari, H.; Hashemzadeh, N.; Xi, Y. The chronicle of economic growth in southeast asian countries: does Thirlwall´s Law provide an adequate explanation. Journal of Post Keynesian Economics, v. 22, n. 4, 2000. Araujo, R. A.; Lima, G. T. A structural economic dynamics approach to balance-of-payments-constrained growth. Cambridge Journal of Economics, v. 31, n.5, p.755-774, 2007. Bértola, L.; Higachi, H.; Porcile, G. Balance-of-payments-constrained growth in Brazil: a test of Thirlwall’s Law, 1890-1973. Journal of Post Keynesian Economics, v. 25, n.1, p.123-140, 2002. Carvalho, V. R.; Lima, G. T. Estrutura produtiva, restrição externa e crescimento econômico: a experiência brasileira. Economia e Sociedade, v.18, n.1, p. 31-60, 2009. Holland, M.; Vieira, F.; Canuto, O. Economic growth and the balance-of-payments constraint in Latin America. Investigación Económica, v. LXIII, p.247, 2004. Hussain, M. N. The balance-of-payments constraint and growth rate differences among African and East Asian economies. 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Meanwhile, x was used to refer to exports and m to imports. 20 2 Real exchange rates are defined as the product between official exchange rate period average (national currency/US dollar) and the ratio of USA whole sale price index (WPI) and countries’ consumer price index (CPI). In the cases of Brazil and Korea, WPI was used instead of CPI because of data availability. (*) Mestrando em Economia das Instituições e do Desenvolvimento no IPE-FEA-USP. (E-mail: [email protected]). (**) Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP. (E-mail: [email protected]). Diva Benevides Pinho (*) emergentes “puxam” a economia global e o mercado de arte Nosso planeta continua refletindo os múltiplos efeitos da recente crise financeira com epicentro nos países mais desenvolvidos − EUA e Europa. E assim, ficam evidentes os graves riscos de “contaminação” de turbulências econômicas, políticas e sociais em um mundo globalizado que utiliza modernos meios de comunicação, em tempo real, pelas infovias da Web. São evidentes, também, as profundas mudanças geográficas da nova economia mundial que atualmente está sendo redesenhada. Assim, os 22 países classificados como ‘emergentes’, segundo o índice da Morgan Stanley Capital International, fecharam o primeiro semestre do ano com uma participação total de 24% no valor das ações negociadas no mundo todo (eram 18% em 2008). Entre os emergentes, destaca-se o chamado Efeito Ásia, constante do Relatório do International Finance Institute, distribuído no início de julho aos bancos e instituições financeiras que compõem seus 375 integrantes. E na Ásia, a China e, em seguida a Índia, estão na dianteira graças sobretudo ao crescimento de sua produção. O Brasil, que já esteve na dianteira da China, agora sinaliza recuperação, embora lenta: a produção industrial física aumentou 1,3% em maio de 2009, em comparação com o mês imediatamente anterior. julho de 2009 Nesse novo contexto, o Mercado de Arte, que já não é predominantemente anglo-saxão, torna-se multicultural e multipolar com o fortalecimento de novos e importantes polos em países emergentes. Assim, paralelamente a Londres e Nova York, destacam-se Hong Kong (China) e Dubai (Emirados Árabes Unidos) no atendimento à crescente demanda de ricos colecionadores e investidores da China, Índia e Rússia. E outros polos tendem a incorporar a demanda de novos ricos de outros populosos países do Oriente e de alguns países da América Latina e da África. Do ponto de vista econômico, recentes indicadores dos países em desenvolvimento comprovam o aumento da produção, a recuperação das taxas de emprego e de crédito e a valorização das bolsas de valores. Os BRICs1 – Brasil, Rússia, Índia e China – até agora Para a economista Clara McAndrew (Relatório – Globalização e Mercado de Arte em 2008), a China é o terceiro grande mercado nacional de arte, depois dos EUA e do Reino Unido, e Hong Kong um importante polo mercantil de arte, ao lado de Londres e Nova York; a Índia é um promissor mercado de arte em rápida ascensão, e Dubai um importante líder do mercado de arte no Oriente Médio. A Internet, um grande “aproximador” de investidores e colecionadores de arte do mundo inteiro, também oferece a todos a oportunidade de participar de leilões virtuais “presenciais” pela Web. citados como uma simples figura de retórica criada no mundo de investimentos de Wall Street – começam a ser incorporados a rearranjos institucionais que se redesenham após a crise que explodiu no núcleo principal do capitalismo mundial. Assim, a Rússia já está incluída no grupo dos países mais desenvolvidos do mundo – o G-8 (ex-G-7), enquanto a China destaca-se na dianteira dos emergentes asiáticos. Na reunião em Áquila (Itália, 2009), a presença do G-8, do G-5 (África do Sul, Brasil, China, Índia, México) e 21 do Egito comprova que esses países sentem a necessidade de compartilhar valores e responsabilidades mútuas na busca de respostas aos atuais problemas do mundo inteiro. de 2009, estimulada pela renovação dos estoques e pela crescente demanda asiática. Aliás, todos os “Gs”, inclusive o G-20, estão preocupados com a multipolaridade, o multilateralismo comercial e a crescente interdependência entre os países, a reavaliação das instituições financeiras internacionais e a reforma das estruturas de governança global, além de outros graves e crônicos problemas como a fome, a Inspira otimismo o crescimento da economia e dos mercados (inclusive de arte) “puxados” pelos países emergentes. Mas permanece a preocupação: será que estes países conseguirão acelerar seu desenvolvimento e expandir o mercado de arte ainda que os países ricos continuem em recessão ou estagnados? balanço geral proteção ambiental, o terrorismo, o tráfico de pessoas e de drogas etc. julho de 2009 Prevê-se que os países emergentes terão grande importância em uma futura ordem mundial, sobretudo se conseguirem incorporar bilhões de pessoas (principalmente da Ásia) na economia de mercado. 1 O acrônimo BRIC (cujo som lembra ‘tijolo’, em inglês) foi usado em 2001 pelo economista Jim O’Neill, do Banco Goldman Sachs, em relatório a respeito da necessidade de uma base mais sólida (“novos tijolos”) para a retomada internacional de um crescimento acelerado. O PIB dos emergentes, dentro de uma década, talvez seja superior ao dos atuais países desenvolvidos, mas possivelmente estes últimos países ainda dependam de estímulos “artificiais”, como elevados aumentos das despesas públicas e trilionárias injeções de capital no mercado via bancos centrais. Persiste, porém, a dúvida – será que, nos dias atuais, a recuperação da produção industrial resulta apenas de reposição de estoques “queimados” nos piores meses da crise, entre outubro de 2008 e janeiro de 2009? Nos EUA, principalmente, apesar de várias medidas para recuperar a economia, ainda não surtiram efeito as ações para estabilizar o mercado de crédito voltado a empresas e consumidores, nem para deter a queda dos preços das residências, nem os despejos por falta de pagamento das prestações, que continuam elevadas. Aliás, o plano governamental de março de 2009, para refinanciar até 5 milhões de dívidas imobiliárias, teve pequeno sucesso até a metade de junho de 2009: apenas 20 mil casos foram bem-sucedidos. O Japão tem sido apontado como exceção entre os países desenvolvidos porque sua produção industrial cresceu mais do que o previsto no segundo trimestre 22 (*) Professora Emérita da FEA-USP, economista e advogada, autora de Mercado de Arte - Ensaio de Economia da Arte (São Paulo: EseTeca, 2009), membro das Associações dos Amigos do Museu de Arte Contemporânea/USP (AAMAC) e do Departamento de Economia da FEA-USP (AMEFEA). (E-mail:[email protected]). Danilo Freitas Ramalho da Silva (*) sobre a existência de um regime de acumulação com dominância financeira: sua lógica de valorização e a presença do capital fictício 1. introdução A crise hipotecária iniciada nos EUA em meados de 2007 transformou-se, no final de 2008, em uma crise econômica em escala mundial. Este é o evento mais importante na economia nos últimos tempos e, com certeza, deflagra problemas fundamentais na reprodução do sistema socioeconômico em que vivemos. Chesnais (2008) classifica essa crise como uma importante mudança de curso na economia; uma crise tipicamente financeira, com origem nos Estados Chesnais (2005) define o regime de acumulação contemporâneo como “financeirizado”, com “dominância financeira” ou ainda “patrimonial”, sem que a distinção entre esses três termos seja teoricamente fundamental. De acordo com o autor, o capital não é capaz de garantir sua reprodução através, apenas, de seu movimento de acumulação autônomo e endógeno. Dois processos interligados há mais de trinta Dessa forma, baseados na interpretação de Chesnais tanto da crise hipotecária dos Estados Unidos como do regime de acumulação atual, poderíamos inferir que essa é, de fato, uma crise estrutural do regime de acumulação com dominância financeira. Antes disso, porém, é necessário que investiguemos com mais detalhes uma das hipóteses fundamentais do nosso diagnóstico, qual seja, a própria existência (ou não), hoje, de um regime de acumulação com dominância financeira. Nessa investigação ficará clara a importância da lógica de valorização financeira do capital e o papel central do capital fictício no processo de acumulação. julho de 2009 Unidos, com grande capacidade de contágio para a economia mundial e com consequências maléficas para a atividade econômica, principalmente dos países da OCDE. Segundo o autor, as crises financeiras do tipo desta com a qual estamos nos defrontando são resultado das contradições do processo de formação das taxas de lucro das empresas, bem como das condições de realização do valor e da mais-valia. O fato de que as crises financeiras se formam de maneira “independente” do setor produtivo é, por sua vez, consequência da acumulação de capital-dinheiro e da formação de capital fictício. Além disso, essas crises têm suas origens nas relações sociais de produção e de propriedade e no tipo de política utilizada pelos governos para contê-las. anos seriam responsáveis pelo estabelecimento do atual regime institucional internacional de dominação do capital; seriam eles o ressurgimento de uma forma específica de acumulação de capital (regime “financeirizado”), na qual predominaria a valorização através de aplicações financeiras, e a implementação de políticas de liberalização, de desregulamentação e de privatização. 2. o regime de acumulação com dominância finan ceira: tese de Chesnais O livro A Finança Mundializada, organizado por Chesnais (2005), deve ser entendido como o corolário teórico de um programa de pesquisa iniciado pelo autor em 1994 com a publicação de A Mundialização do Capital e seguido, em 1996, pelo livro A Mundialização Financeira. Esse programa de pesquisa teve com objetivo interpretar a configuração do sistema capitalista na década de 1990, motivado pelas reformas neoliberais dos anos 1980 e pela tão aclamada globalização dos 23 julho de 2009 anos 1990. A princípio, a questão fundamental do autor, exposta em seu primeiro livro, dizia respeito à predominância da internacionalização dos grandes grupos industriais transnacionais. No entanto, no final do livro, já estava claro para o próprio autor o papel central do capital-dinheiro no processo de acumulação e sua ascendência sobre o capital industrial. O livro seguinte dedicou-se, pois, a estudar a gênese, os atores e os mecanismos de funcionamento do que o autor convencionou chamar de “mundialização financeira”, dando ênfase ao novo regime salarial, à distribuição de renda entre os países e no interior dos próprios, à repartição da poupança mundial entre investimentos e aplicações financeiras e ao próprio regime de acumulação. A conclusão dessa pesquisa e o arremate teórico estão sintetizados no primeiro capítulo do terceiro livro da série, Finança Mundializada. Nesse capítulo, Chesnais enuncia sua tese sobre a dominância financeira e traz à tona a categoria marxiana “capital portador de juros” − identificada com o “capital financeiro” ou, simplesmente, “finança” − para explicá-la. Segundo o autor, esse capital se valoriza dentro da esfera financeira, sob a forma de juros, empréstimos, dividendos e ações, enfim, fruto de lucros provenientes de especulação bem-sucedida. Para Chesnais (2005), esse “capital portador de juros” não foi levado ao centro das relações econômicas e sociais por si só; ele ressurgiu nos anos 80, levado pela liberalização do movimento de capitais e pela desregulamentação e desbloqueio dos sistemas financeiros dos Estados mais poderosos. Sua composição provém, basicamente, da centralização de lucros não reinvestidos das empresas e da poupança das famílias, sendo esses geridos pelos novos grupos proprietários-acionistas com o objetivo de maximizar o valor acionário das empresas, segundo a lógica de valorização financeira; seriam esses, portanto, os chamados investidores institucionais (fundos de pensão, fundos mútuos, sociedades de seguros, bancos que administram sociedades de investimento). Segundo Chesnais (1998), o processo de desenvolvimento da chamada mundialização financeira pode ser 24 dividido em três períodos. No início dos anos 1960, formou-se em Londres um mercado interbancário muito singular que tinha como propósito negociar dólares provenientes dos lucros das empresas norteamericanas com sede na Europa (mercado de eurodólares). Com a criação desse mercado, e impulsionado pela especulação contra a libra e o dólar, na década de 1970 – e consequente fim do regime de câmbio fixo –, a finança começou a ganhar espaço importante no cenário internacional, o que acabou sendo sacramentado com o endividamento dos países do Terceiro Mundo – alimentado pelo fluxo de petrodólares. O segundo período da mundialização financeira começou em 1980, com a ascensão de Tatcher e Volcker na Inglaterra e EUA, respectivamente, e com o fim do controle internacional de capitais. Durante a década de 1980, houve ainda a formação do mercado de bônus das dívidas públicas desses países e o crescimento do mercado de derivativos, o que abriu grande espaço para o desenvolvimento da finança. Em 1986, teve início a última etapa desse processo com a interligação dos mercados acionários aos mercados de câmbio e dívida pública, nas quais a finança já transitava livremente. Para completar o processo, ocorreu a incorporação dos mercados dos países emergentes nesse mercado financeiro mundial, no começo da década de 1990. Outra característica importante do capital portador de juros – além de sua lógica de valorização financeira –, enunciada por Chesnais (2005), é a sua exterioridade em relação à produção. Ela implica uma oposição entre finança e indústria, capitalista financeiro e capitalista ativo; identifica o juro com a mais-valia obtida pela simples posse do capital e confere ao capital portador de juros um caráter de subtração da produção. Segundo Chesnais (2005), a finança conseguiu alojar a exterioridade da produção no próprio cerne dos grupos industriais, e a propensão do capital portador de juros para demandar da economia “mais do que ela pode dar” seria outra consequência da sua exterioridade à produção, resultante da insaciabilidade da finança quanto ao nível de suas punções. Chesnais (2005) dá o nome de “capital portador de juros” para o “capital portador de juros” de Marx combinado ao “capital fictício”. Em uma nota do tradutor, na introdução do livro de Chesnais (2005), é dito que o termo capital de placement teria sido traduzido como “capital portador de juros” pela própria indicação do autor, e que ele significaria uma combinação do capital portador de juros, como definido por Marx, com o capital fictício, sendo que o aspecto especulativo e rentista seriam predominantes em seu comportamento. De acordo com Chesnais (2008), o capital fictício serve como fio condutor para caracterizar a história econômica dos países industriais avançados nas últimas décadas. Nesse período, ele tomou proporções gigantescas, do mesmo tamanho dos riscos que impõe ao sistema financeiro internacional ao prometer lucros que não pode entregar – são puramente ilusórios. Esse capital toma o corpo de títulos emitidos de empréstimos, títulos emitidos para financiamento de empresas e crédito criado pelos bancos, acumulados por quase quarenta anos. referências CHESNAIS, F. A mundialização financeira (Introdução). São Paulo: Xamã, 1998. ______. O capital portador de juros: acumulação, internacionalização, efeitos econômicos e políticos. In: CHESNAIS, F. (org.) Finança mundializada. São Paulo: Boitempo, 2005. ______. El fin de um ciclo: alcance y rumbo de la crisis financeira. Texto retirado do Blog da Crise, originalmente publicado na revista Carré Rouge/La brèche, n. 1 (dez. 2007-jan.-fev.2008), 2008. MARX, K. O Capital. Livro III. São Paulo: Abril Cultural, 1983 [1894] (Coleção “Os Pensadores”). julho de 2009 O próprio Marx chama a atenção para o papel fundamental do capital fictício ao analisar as partes constitutivas do capital bancário e ressaltar que a forma “capital portador de juros” possibilitaria aos rendimentos financeiros serem provenientes de um capital ou não, sempre aparecendo, entretanto, como juro de capital. Isso seria uma representação puramente ilusória do capital. Impulsionado pelo desenvolvimento do sistema de crédito, o crescimento do capital portador de juros daria a impressão de que o capital estaria de multiplicando, quando, na verdade, seria o mesmo capital em diferentes mãos e sob diferentes formas, sendo a maior parte desse capital puramente fictícia. Com isso, pretende-se corroborar a tese de Chesnais (2005) sobre a existência, hoje, de um regime de acumulação de capital com dominância financeira. No entanto, para sermos mais rigorosos, é preciso dizer que o que existe hoje é um regime de acumulação com dominância da lógica da valorização financeira nas atividades produtivas, exemplificado pela proeminência da valorização acionária em detrimento do lucro nas empresas; ao mesmo tempo, é um regime de acumulação com dominância da valorização financeira, exterior à esfera produtiva, no que se refere à acumulação de “capital fictício”, na forma de “capital portador de juros”, e se realiza por meio de rendimentos provenientes de títulos públicos, mercados secundários de títulos e crédito, mercado de câmbio e derivativos. 3. considerações finais O que este artigo pretendeu com o resgate das ideias de Marx, expostas no Livro III de O Capital, acerca do “capital portador de juros” e do “capital fictício” foi colocá-los em primeiro plano na análise do regime de acumulação capitalista atual. Em especial, dar o destaque devido ao “capital fictício” como uma das formas de valorização do “capital portador de juros”. (*) Mestre e doutorando do IPE-USP. (E-mail: [email protected]). 25