instituto de tecnologia para o desenvolvimento
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INSTITUTO DE TECNOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO IRENE ANDRADE DE ALMEIDA BARBOSA AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DOS GASES SULFÍDRICO E METIL MERCAPTANA EMITIDOS PELO RIO BELÉM EM CURITIBA-PR CURITIBA 2015 IRENE ANDRADE DE ALMEIDA BARBOSA AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DOS GASES SULFÍDRICO E METIL MERCAPTANA EMITIDOS PELO RIO BELÉM EM CURITIBA-PR Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento de Tecnologia, Área de Concentração Meio Ambiente, do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento, em parceria com o Instituto de Engenharia do Paraná, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento de Tecnologia. Orientadora: Profª Dr Akemi Kan Coorientador: Mestre Eliseu Esmanhoto CURITIBA 2015 DEDICATÓRIA Aos meus sobrinhos Otto e Vida Maria AGRADECIMENTOS A minha família por ter entendido e abdicado de minha companhia enquanto estudava para concluir esta etapa da minha vida; Aos queridos amigos Eneida Ribas, Sandra de Deus e Irajá Silva pelo incentivo, sem o qual talvez eu não tivesse me encorajado a enfrentar este desafio; À professora Akemi Kan pela orientação, ensinamentos, paciência e hospitalidade com que se sempre me recebeu; Ao Eliseu Esmanhoto pela orientação e por todo direcionamento que me apontou; Ao Rodrigo Soares e Kássia dos Santos responsáveis pela cromatografia dos Instituos Lactec. Ao professor Mauricio Cantão pelas considerações dadas na qualificação; Ao professor Renato Penteado pelas brilhantes contribuições para o resultado final desse estudo; Aos amigos Liziane Hobmeir, Rafael Pussoli e Marcelo Ludvich por terem compartilhado as mesmas dificuldades e incertezas nessa trajetória, cuja maior conquista é, sem dúvida, nossa amizade; À Denise Maliski por sempre ser uma professora de química; A Felipe Albernaz e Dalma Lopes por todo o apoio e inúmeras leituras dessa dissertação; À Elizah Barbosa por todas as correções, leituras e sugestões desse texto e principalmente por ser a mãe das crianças mais lindas e fofas. Aos moradores das áreas pesquisadas e a todos aqueles que dispensaram algum tempo para contribuir com a coleta de dados, imprescindíveis para a conclusão desse estudo. RESUMO A presença de alguns odores na atmosfera pode ser um incômodo constante para a população impactada, fato que ocorre no entorno do Rio Belém no município de Curitiba no Paraná. Possíveis causadores desse mau cheiro são os gases sulfídrico (H2S), em maior parte, e, em pequena porção, a metil mercaptana (CH3SH) misturada ao primeiro gás. Esse estudo foi conduzido para verificar a concentração e a capacidade de monitoramento contínuo desses gases por meio do sensor CairClip, também por meio de cromatografia gasosa e olfatometria que foi avaliada com entrevistas a transeuntes. A medição da concentração desses gases foi feita com o CairClip, um sensor da marca Cairpol, confrontados com os valores obtidos por um cromatógrafo, Thermo Finnigan, modelo Trace GC Ultra. A fim de comparação com outra metodologia, os valores obtidos com o CairClip foram confrontados com os encontrados por meio do método Azul de Metileno em uma estação de tratamento de esgoto. Uma estimativa de possibilidade de efeito nocivo à saúde dos frequentadores da região foi feita a fim de mostrar quanto a concentração desses gases pode prejudicar a população. Também foi calculado o índice de incômodo causado pelo odor. Ao final do estudo constatou-se que mesmo com a sensibilidade ao odor variando de pessoa para pessoa, a emissão dos gases pelo Rio Belém é prejudicial à população exposta, mesmo sendo em baixa concentração. Palavras-chave: Monitoramento contínuo do gás sulfídrico; poluição atmosférica; análise de risco a saúde; Rio Belém. ABSTRACT The presence of some smells in the atmosphere can be a constant nuisance to the affected population, a fact that occurs in the Rio Belém in Curitiba in Paraná. Possibly hydrogen sulphide (H2S) and methyl mercaptan (CH3SH) are the responsible. This study was conducted to verify the concentration and the continuous monitoring capacity of these gases through the CairClip sensor, chromatography and olfactometry, assessed through interviews with passers-by. Measuring the concentration of these gases were made with the CairClip, a Cairpol sensor and it were confronted with the values given by a chromatograph, Thermo Finnigan Trace GC and the values obtained by the Methylene Blue method in a sewage station treatment. An estimate of possibility of harmful health effects of the regulars of the region was made in order to show how the concentration of hydrogen sulfide gas found can harm the population and calculated the discomfort index that generates odor. It was found that even with the sensitivity to odor varying from person to person, the emission of gases by Rio Belem is harmful to exposed population, even though at low concentration Key words: hydrogen sulfide continuous monitoring , atmospheric pollution, Rio Belém, health risk assessment LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1: ESPECTRO DE TOXICIDADE DO GÁS SULFÍDRICO. ......................... 27 FIGURA 2: LIMITE OLFATIVO, PARA H2S, ESTABELECIDO POR DIVERSAS LITERATURAS.......................................................................................................... 28 FIGURA 3: MACRO LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CURITIBA E DA BACIA DO RIO BELÉM. PONTOS AMOSTRAIS DE QUALIDADE DA ÁGUA AI56, AI19 E AI15. .................................................................................................................................. 36 FIGURA 4: LOCALIZAÇÃO DO PONTO DE MONITORAMENTO............................ 37 FIGURA 5: LOCAL ESCOLHIDO PARA COLETA DE MATERIAL. .......................... 38 FIGURA 6: LOCAL ESCOLHIDO PARA COLETA DE MATERIAL. .......................... 39 FIGURA 7: ORGANOGRAMA DA METODOLOGIA. ................................................ 40 FIGURA 8: TERMÔMETRO INFRAVERMELHO. ..................................................... 41 FIGURA 9: SENSOR CAIRCLIP, CAIRPOL.............................................................. 44 FIGURA 10: ESQUEMA DO SISTEMA INTEGRADO DO MICRO SENSOR DA MARCA CAIRPOL..................................................................................................... 45 FIGURA 11: INTERFACE SOFTWARE CAIRSOFT. ................................................ 46 FIGURA 12: MONITORAMENTO EM AMBIENTE SEM EMISSÃO DE H2S E CH3SH. .................................................................................................................................. 47 FIGURA 13: POSICIONAMENTO DO SENSOR CAIRCLIP. SENSOR EM USO. .... 48 FIGURA 14: MAPA DE LOCALIZAÇÃO DAS ETES. ................................................ 50 FIGURA 15: LOCALIZAÇÃO DOS AMOSTRADORES EM RELAÇÃO À ETE B...... 50 FIGURA 16: CROMATÓGRAFO UTILIZADO PARA ANÁLISE DOS GASES OBTIDOS DURANTE A COLETA. ............................................................................ 51 FIGURA 17: EXEMPLO DE SERINGAS USADAS PARA COLETA DE AR.............. 51 FIGURA 18: ESTIMATIVA DE TEMPO PARA TRAJETO ENTRE LOCAL DE COLETA E LOCAL PARA ANÁLISE CROMATOGRÁFICA. ..................................... 52 FIGURA 19: CROMATOGRAMRA PADRÃO 1% H2S. ............................................. 54 FIGURA 20: DATA E PERÍODO DE CAMPANHAS REALIZADAS NO RIO BELÉM. .................................................................................................................................. 59 FIGURA 21: DADOS METEOROLÓGICOS DOS PERÍODOS DAS CAMPANHAS. 61 FIGURA 22: EVOLUÇÃO DA AIQA DE 1992 A 2009, NO RIO BELÉM, NOS PONTOS AI56, AI19 E AI15, ONDE LARANJA INDICA POLUIDO, VERMELHO MUITO POLUIDO E ROXO EXTREMAMENTE POLUIDO. ...................................... 64 FIGURA 23: CONCENTRAÇÕES DE H2S e CH3SH NO DIA 04/09/2014, DAS 11 ÀS 12 HORAS, COM O SENSOR CAIRCLIP. ................................................................ 65 FIGURA 24: CROMATOGRAMA DA AMOSTRA DE AR COLETADA NO DIA 04/09/2014. ............................................................................................................... 66 FIGURA 25: CONCENTRAÇÕES DE H2S e CH3SH NO DIA 04/02/2015, DAS 15 ÀS 16 HORAS, COM O SENSOR CAIRCLIP. ................................................................ 67 FIGURA 26: CROMATOGRAMA DA AMOSTRA DE AR COLETADA NO DIA 04/02/2015. ............................................................................................................... 68 FIGURA 27: CONCENTRAÇÕES DE H2S e CH3SH NO DIA 07/02/2015, DAS 11 HORAS ÀS 04 MINUTOS E 12 HORAS E 04 MINUTOS, COM O SENSOR CAIRCLIP. ................................................................................................................. 69 FIGURA 28: CROMATOGRAMA DA AMOSTRA DE AR COLETADA NO DIA 07/02/2015. ............................................................................................................... 70 FIGURA 29: CONCENTRAÇÕES DE H2S E CH3SH NO DIA 06/05/2015, DAS 7 HORAS ÀS 20 HORAS, COM O SENSOR CAIRCLIP. ............................................ 71 FIGURA 30: ANÁLISE DAS MÉDIAS DE CONCENTRAÇÃO DE H2S E CH4S, COM INDICAÇÃO DAS NÃO HOMOGÊNEAS, SEGUNDO TESTE TUKEY. .................... 72 FIGURA 31: CAMPANHAS REALIZADAS COM O CAIRCLIP NA ETE B. ............... 74 FIGURA 32: VALORES DE H2S ENCONTRADOS POR GRASEL (2014) ............... 75 FIGURA 33: COMPARAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DE H2S E CH3SH ENTRE MÉTODOS CAIRCLIP E AZUL DE METILENO. ....................................................... 75 FIGURA 34: RESULTADO DO MONITORAMENTO DE H2S E CH3SH PELO CARICLIP E COMPARAÇÕES COM RESULTADOS DO METODO AZUL DE METILENO EM P1. ................................................................................................... 77 FIGURA 35: RESULTADO DO MONITORAMENTO DE H2S E CH3SH PELO CARICLIP E COMPARAÇÕES COM RESULTADOS DO METODO AZUL DE METILENO EM P3. ................................................................................................... 78 FIGURA 36: RESULTADO DO MONITORAMENTO DE H2S E CH3SH PELO CARICLIP E COMPARAÇÕES COM RESULTADOS DO METODO AZUL DE METILENO EM P3, EM ESCALA LOGARITÍMICA. .................................................. 79 FIGURA 37: RESULTADO DO MONITORAMENTO DE H2S E CH3SH PELO CARICLIP E COMPARAÇÕES COM RESULTADOS DO METODO AZUL DE METILENO EM P4. ................................................................................................... 80 FIGURA 38: RESPOSTAS REFERENTES À QUESTÃO 01. ................................... 83 FIGURA 39: RESPOSTAS REFERENTES À QUESTÃO 06. ................................... 84 FIGURA 40: RESPOSTAS REFERENTES À QUESTÃO 06. ................................... 85 FIGURA 41: RESPOSTAS REFERENTES À QUESTÃO 11. ................................... 86 FIGURA 42: CONCENTRAÇÕES ENCONTRADAS NO RIO BELÉM, DAS 11H E 04 MINUTOS ÀS 12 HORAS, NOS DIAS 04/09/2014, 07/02/2015 E 06/05/2015. ........ 88 FIGURA 43: CONCENTRAÇÕES ENCONTRADAS NO RIO BELÉM, DAS 15H ÀS 16HORAS, NOS DIAS 04/02/2015 E 06/05/2015. .................................................... 89 FIGURA 44: CONCENTRAÇÃO ENCONTRADA NO RIO BELÉM JUNTAMENTE COM OS DADOS METEOROLÓGICOS DO PERÍODO. PRECIPITAÇÃO DURANTE TODO ESSE PERÍODO FOI DE 0 MM. .................................................................... 90 FIGURA 45: CONCENTRAÇÃO ENCONTRADA EM P3 JUNTAMENTE COM OS DADOS METEOROLÓGICOS DO PERÍODO. A PRECIPITAÇÃO DURANTE TODO ESSE PERÍODO FOI DE 0 MM. ............................................................................... 92 LISTA DE TABELAS TABELA 1: EXEMPLOS DE POLUIÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA. ................... 21 TABELA 2: COMPOSTOS ODORANTES E SEU ODOR PERCEBIDO. .................. 23 TABELA 3: PRINCIPAIS COMPOSTOS ODORANTES E SUAS CARACTERÍSTICAS. ................................................................................................ 24 TABELA 4: CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DO H2S ........................... 26 TABELA 5: EFEITO DO SULFETO DE HIDROGÊNIO NOS SERES HUMANOS. ... 27 TABELA 6: VARIÁVEIS DE QUALIDADE DA AGUA MONITORADAS PELO IAP E LIMITES DO CONAMA 357/05 ................................................................................. 42 TABELA 7: LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE MONITORAMENTO DO IAP NO RIO BELÉM. ..................................................................................................................... 43 TABELA 8: PARÂMETROS UTILIZADOS NO CROMATÓGRAFO. ......................... 53 TABELA 9: CARACTERÍSTICAS DA COLUNA TRACEPLOT TG-BOND Q UTILIZADA JUNTO AO CROMATÓGRAFO. ............................................................ 53 TABELA 10: CATEGORIAS DE INCÔMODOS (i) E PESOS DOS FATORES DE ODORES (Wi) ESTABELECIDOS PELA AUTORA EM CONSIDERAÇÃO A ESCALA DE RESPOSTAS ADOTADA. ................................................................................... 57 TABELA 11: CARACTERISTICA DE EXPOSIÇÃO DE CADA INDIVIDUO ANALISADO. ............................................................................................................. 58 TABELA 12: CONCENTRAÇÃO MAXIMA QUE CADA INDIVÍDUO PODE FICAR EXPOSTO SEM RISCOS A SAÚDE, SEGUNDO RAIS (2014). ............................... 58 TABELA 13: TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DA ÁGUA ..................................... 59 TABELA 14: ESTATÍSTICAS DOS DADOS METEREOLOGICOS ........................... 62 TABELA 15: RESULTADOS DO AIQA NO MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO BELÉM NO PERÍODO DE ABRIL DE 2005 A FEVEREIRO DE 2009 .................................................................................................................................. 63 TABELA 16: RESUMO DAS CAMPANHAS REALIZADAS NO RIO BELÉM. ........... 72 TABELA 17: ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS DE GRASEL (2014) .................... 75 TABELA 18: RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO ................................................... 81 TABELA 19: RISCO TOTAL, SEGUNDO RAIS (2014), DE CADA INDIVÍDUO EXPOSTO ÀS CONCENTRAÇÕES ENCONTRADAS NAS MARGENS DO RIO BELÉM. ..................................................................................................................... 87 LISTA DE ESPÉCIES E COMPOSTOS QUÍMICOS BaSO4 sulfato de bário CH2 metileno CaSO4 sulfato de cálcio CH2O formaldeído CH3S metil mercaptana HCO3- bicarbonato CH4 CO metano monóxido de carbono H2S sulfeto de hidrogênio, gás sulfídrico O3 ozônio SO42- sulfato de enxofre solúvel NH3 SO2 amônia, amoníaco dióxido de enxofre LISTA DE SÍMBOLOS DE VARIÁVEIS DV P PP TAr Ti Tf UR VV direção do vento número total de observados número de respostas da categoria i pressão atmosférica precipitação temperatura ambiente média temperatura da superfície da água no início temperatura da superfície da água no fim umidade reativa velocidade do vento fator de odor por categoria odorante i grau de confiança desejado margem de erro categoria de incômodo odorante tamanho da amostra ̅ σ prevalência esperada média desvio padrão LISTA DE SIGLAS BRS Bactérias Redutoras de Sulfato COD Carbono Orgânico Dissolvido ETE Estação de Tratamento de Esgoto OMS Organização Mundial da Saúde CONAMA IAP PDA SIMEPAR Conselho Nacional do Meio Ambiente Instituto ambiental do Paraná Programa de Despoluição Ambiental Sistema Meteorológico do Paraná SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 17 1.1 OBJETIVOS ................................................................................................. 19 1.1.1 1.1.2 2 3 4 Objetivos específicos ............................................................................. 19 1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ............................................................... 20 2.1 SULFETO DE HIDROGÊNIO (H2S) E METIL MERCAPTANA (CH3SH)...... 25 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 21 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO - RIO BELÉM ......................................... 33 METODOLOGIA ................................................................................................ 40 4.1 LEVANTAMENTO DE DADOS AMBIENTAIS .............................................. 41 4.1.1 Temperatura da superfície da água ....................................................... 41 4.1.3 Dados qualidade da água ...................................................................... 42 4.1.2 4.1.4 4.1.5 4.1.6 4.3 5 Objetivo geral......................................................................................... 19 4.4 Dados meteorológicos ........................................................................... 41 Sensor CairClip...................................................................................... 44 Cromatografia ........................................................................................ 51 Olfatometria ........................................................................................... 55 ANÁLISE DE RISCO .................................................................................... 57 ANÁLISE DE CORRELAÇÕES .................................................................... 58 RESULTADOS ................................................................................................... 59 5.1 LEVANTAMENTO DE DADOS AMBIENTAIS .............................................. 59 5.1.1 Temperatura da superfície da água ....................................................... 59 5.1.3 Dados qualidade da água ...................................................................... 62 5.1.2 5.1.4 5.1.5 Dados meteorológicos ........................................................................... 60 Sensor CairClip e Cromatografia ........................................................... 64 Olfatometria ........................................................................................... 81 5.2 6 7 5.3 ANÁLISE DE RISCO .................................................................................... 87 ANÁLISE DE CORRELAÇÔES .................................................................... 87 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................ 93 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 95 Apêndice A .............................................................................................................. 101 17 1. INTRODUÇÃO Com a evolução da tecnologia, o tipo, a qualidade e a quantidade dos resíduos produzidos e despejados no ambiente foram se alterando e poluindo o meio ambiente, apesar de também se encontrar tecnologias limpas que permitam evitar e muitas vezes despoluir áreas. A Revolução Industrial foi o marco dessa transformação ambiental, influenciando fortemente no aumento da geração de resíduos e de emissões no meio ambiente. O ar atmosférico vem sofrendo impactos na sua composição e essas alterações de qualidade do ar vêm prejudicando a saúde e o bem estar da população impactada. Atualmente, são lançados inúmeros gases que causam diversos problemas ambientais, entre eles gases de efeito estufa, gases de odores indesejáveis e gases tóxicos, que causam grandes incômodos e prejuízos a toda sociedade. Conforme Resolução 001 do CONAMA (1986), considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as considerações estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais. A preocupação com questões ambientais foi intensificada na década de 70, após a Conferência de Estocolmo, considerada o primeiro grande marco de discussões ambientais e na qual foi feita a Declaração do Meio Ambiente, asseverando a importância de compatibilizar o desenvolvimento com a proteção ambiental. Não obstante, a década de 30 é considerada como ponto de partida, principalmente devido ao Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934 (BRASIL, 1934), conhecido como Código das Águas. Esse fundamenta e demonstra claramente seus objetivos: “Considerando que o uso das águas no Brasil tem-se regido até hoje por uma legislação obsoleta, em desacordo com as necessidades e interesse da coletividade nacional. Considerando que se torna necessário modificar esta situação, dotando o país de uma legislação adequada que, de acordo com a 18 tendência atual, permita ao poder público controlar e incentivar o aproveitamento industrial das águas. Considerando que, em particular, a energia hidráulica exige medidas que facilitem e garantam seu aproveitamento racional” (BRASIL, 1934). Após a Constituição de 1988, a população brasileira evoluiu muito no trato com questões ambientais, pois no texto constitucional, pela primeira vez, o meio ambiente passa a existir como um direito fundamental dos seres humanos (DIAS, 2009). Assim também está escrito no parágrafo único do artigo primeiro da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (BRASIL, 2002) “Art.1º. Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem estar dos cidadãos, bem como o equilíbrio ambiental”. Nesse cenário, a intersecção de áreas industriais com áreas urbanas tem sido objeto de preocupação da sociedade. Um dos problemas resultantes desse conflito de zoneamento é o impacto causado pelos poluentes à saúde da população e à sua qualidade de vida do entorno (BATISTELA, 2007). O crescimento das cidades e a expansão imobiliária fizeram com que muitas águas fossem canalizadas e sobre elas construídas edificações e arruamentos, o que encobre seu curso. Além disso, em muitas cidades, a inexistência de registro de obras já realizadas e da situação real das águas fluviais prejudica o planejamento urbano e de revitalização nos grandes centros, tal como o de Curitiba. O Rio Belém é um exemplo típico de rio maltratado pela sociedade curitibana. Esse rio passa pela região central e, ao longo de seu curso recebe e transporta inúmeros contaminantes em seu corpo, principalmente efluente doméstico, levando-os até onde desagua, no Rio Iguaçu. É inegável que o Rio Belém mais parece um esgoto a céu aberto, tanto pela sua aparência quanto pelo seu odor exalado, facilmente observado após o trecho que percorre canalizado. Nesse trecho, o material depositado não é visível, o que mascara a real situação, fazendo com que a população tenha a falsa percepção do problema existente. Relatos da população presente nessa redondeza enfatizam o incômodo do odor emitido pelo rio afetando significativamente seus cotidianos. 19 Além de moradores, a região também é frequentada por trabalhadores e estudantes, que estão na região por no mínimo cinco horas diárias, durante pelo menos cinco vezes por semana. O presente trabalho tem o foco na qualidade do ar com base nas medições de concentrações de gás sulfídrico e metil mercaptana emitidos pelo Rio Belém, e os mesmo são os principais gases odoríferos emitidos por efluentes provenientes de esgotos sanitários (BELLI FILHO, 1998). As medições desses gases e as análises de dados fornecem informações sobre os níveis de concentração emitidos pelo rio, e a avaliação da sensibilidade das pessoas a suas diferentes concentrações possibilita o entendimento sobre a percepção do odor pelos indivíduos. Assim, será possível entender o quanto a saúde da população pode ser afetada por esses gases, considerando a concentração e o tempo de exposição. Dessa forma, tornando possível uma melhor gestão ambiental e ações que visem impedir a deterioração da qualidade do rio e como consequência melhoria na qualidade do ar atmosférico. Essa avaliação ajudará na conscientização da população em relação à necessidade de se agir com a máxima urgência, bem como exigir da Administração Pública políticas de recuperação e preservação do rio. Além disso, permitirá a implantação de medidas mitigatórias, e uma reflexão do nosso modo de vida imposto sobre o meio ambiente, e consequentemente nossa qualidade de vida. Este estudo visa contribuir para que providências sejam tomadas para amenizar e talvez solucionar esta situação que a cada dia se torna mais intolerável. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo geral Avaliar o impacto dos gases H2S (gás sulfídrico) e CH4S (metil mercaptana), emitidos pelo Rio Belém, no grau de incômodo da população. 1.1.2 Objetivos específicos Monitorar o gás odorífero (H2S e CH4S) na região do Rio Belém através do CairClip, cromatografia gasosa e olfatometria; 20 1.2 Comparar os gases H2S e CH4S, entre as medições do CairClip e do método Azul de Metileno na região de uma estação de tratamento de esgoto; Quantificar e analisar estatisticamente os gases monitorados na região do Rio Belém; Mostrar os possíveis efeitos das concentrações de gases na saúde da população atingida; Analisar a sensibilidade das pessoas em relação à concentração medida. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação é composta por seis capítulos que englobam introdução, fundamentação teórica, descrição da área de estudo, metodologia, resultados e conclusão. Na introdução, Capitulo 1, explana-se sobre a motivação e justificativa contextualizando a problemática em torno do tema, além disso, constam-se os objetivos deste estudo. Uma breve revisão de literatura e estado da arte é feita dentro da fundamentação teórica, Capitulo 2, bem como a caracterização dos gases estudados. No capitulo 3 contempla-se a descrição da área do Rio Belém, a qual é utilizada neste estudo. A metodologia descrita no Capitulo 4, estão os materiais e métodos utilizados com os respectivos resultados apresentados no Capitulo 5. A conclusão está apresentada no Capitulo 6. Além disso, no Capitulo 7 estão as referências utilizadas e o apêndice A onde está descrito a conversão de unidades (ppb para µg.m-3). 21 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Conforme define a lei nº 6938, de 31 de agosto de 1981, referente à Política Nacional de Meio Ambiente, poluição é a deterioração da qualidade ambiental em decorrência de atos diretos ou indiretos que prejudiquem a saúde e/ou bem estar da população e do meio ambiente. Segundo Almeida (1999), poluição atmosférica são gases, líquidos ou sólidos presentes na atmosfera em níveis elevados o suficiente para causar dano a qualquer ser vivo ou material. A poluição atmosférica afeta diretamente o meio ambiente, alterando paisagens naturais e artificiais, bem como a saúde dos seres vivos. Muitas estruturas e obras de arte também são danificadas por essa poluição causando grande prejuízo econômico e cultural. Segundo Torres e Martins (2006), em decorrência da grande variedade de substâncias presentes na atmosfera se torna difícil estabelecer uma classificação para a poluição. De acordo com Almeida (1999), poluição pode ser classificados em dois grupos: poluição primária e poluição secundária. A poluição primária é aquela emitida diretamente na atmosfera, que, reagindo quimicamente com outros componentes presentes na mesma origina a poluição secundária. Na TABELA 1 é possível visualizar alguns exemplos de cada tipo de poluição. TABELA 1: EXEMPLOS DE POLUIÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA. Classificação Exemplos Poluição Secundária O3, aldeídos, sulfatos, ácidos orgânicos e nitratos orgânicos. Poluição Primária FONTE: Almeida (1999). CO, SO2, cloro, NH3, H2S, CH4 e mercaptanas. Os poluentes atmosféricos também podem ser classificados devido a sua classificação química, sendo divididos em poluentes orgânicos e poluentes inorgânicos. Os poluentes orgânicos são aqueles originados por substâncias químicas como, por exemplo, hidrocarbonetos, pesticidas, herbicidas, matéria 22 orgânica. Dentro dos poluentes inorgânicos encontram-se os metais pesados como mercúrio, chumbo, cádmio entre outros. Os poluentes, quando presentes na atmosfera, podem causar danos aos que estão expostos a eles. Como exemplos, cita-se indisposições, mal-estar e incômodos, que muitas vezes, são resultantes da emissão de odores provocados por gases. Tais odores são provocados por moléculas de naturezas diversas que interagem com o sistema olfativo, causando impulsos transmitidos ao cérebro, que, uma vez processados, relacionam a substância odorífera à memória olfativa dos indivíduos (PROKOP, 1986). Do ponto de vista de qualidade do ar, os maus odores, juntamente com pequenas partículas, que compõem a poeira, são os incômodos mais fortemente e imediatamente percebidos pela população (BELLI, 1998). Além desses problemas, o mal estar causado por odores também é considerado um indício para caracterização de condições de poluição atmosférica (SCHIFFMAN E WILLIAMS, 2005). Em condições atmosféricas normais, muitas substâncias geradoras de odores incômodos estão no estado gasoso ou têm volatilidade significativa. O odor é usualmente caracterizado com base em detecção, intensidade, qualidade e aceitabilidade, a qual é uma característica individual do receptor. A detecção referese à mínima concentração necessária para estimular o olfato de uma porcentagem específica na população, geralmente considera-se 50%. A intensidade refere-se a força ou magnitude da sensação de odor e aumenta em função da concentração da substância odorante. A qualidade é expressa em palavras, que descrevem o cheiro da substância. Já a aceitabilidade, é uma categoria relativa como gostar ou não gostar, ser agradável ou desagradável. Essas dimensões podem ter uma grande amplitude de variação, desde muito agradável até insuportável (EPA, 2001). Cada substância apresenta um odor característico na percepção dos seres humanos. Na TABELA 2 mostram-se alguns exemplos de substâncias e o odor percebido pelos humanos para cada um deles. Porém, esses gases também podem originar outras reações sobre os indivíduos, como dores de cabeça, enjoos, insônias e irritações na pele, no sistema respiratório e nos olhos. Dependendo da concentração, podem causar também a síndrome do desconforto respiratório, danos neurológicos e até óbito nas comunidades no entorno das fontes emissoras (SCHIFFMAN et al., 2001). 23 TABELA 2: COMPOSTOS ODORANTES E SEU ODOR PERCEBIDO. Composto Acetaldeído Amônia Fórmula CH3CHO NH3 Ácido Butínico CH3CH2CH2COOH Dimetil Amina CH3CH3NH Dietil Sulfeto Dimetil Sulfeto Etil Mercaptana Formaldeído Sulfeto de Hidrogênio Metil Mercaptana Propil mercaptana Dióxido de enxofre Trimetil amina FONTE: Cheremisinoff, (1992). C2H5C2H5S CH3CH3S C2H5SH HCHO H2S CH3SH C3H7SH SO2 CH3CH3CH3N Odor Percebido Acre Acre Rançoso Alho Peixe Repolho em decomposição Repolho em decomposição Acre Ovo podre Repolho em decomposição Desagradável Acre Peixe A maneira como a população percebe os odores é algo subjetivo, cada indivíduo reage diferentemente a cada composto químico e também apresenta reação fisiológica adversa para cada concentração. Alguns fatores, tais como: idade, sexo, tabagismo, saúde debilitada, baixa higiene bucal, hormônios de reprodução, aspectos psicofísicos e condições de exposição influenciam na sua sensibilidade (DOTY E CAMERON, 2009; GOSTELOW et al., 2001; SHERIDAN et al., 2004) Os compostos odorantes podem ser determinados por meio de análises químicas e também da olfatometria. As análises químicas são capazes de identificar e quantificar quais compostos são responsáveis pelos odores, ao passo que a olfatometria qualifica e apresenta as intensidades odorantes juntamente com seus níveis de incômodo, tendo como base o olfato do ser humano e considerando a variação da sensibilidade individual diferente para cada composto. Belli Filho et al. (2001) mostram que o limite olfativo de cada substância varia para cada pessoa. Estes limites podem ser verificados na TABELA 3. 24 TABELA 3: PRINCIPAIS COMPOSTOS ODORANTES E SUAS CARACTERÍSTICAS. Nome Fórmula Peso molecular [g/mol] Característica do odor Limite olfativo 3 [mg/m ] Acetaldeído CH3CHO 44 Maçã 0,04 a 1,8 Ácido acético CH3COOH 60 Vinagre 0,0025 a 6,5 Ácido butírico C3H7COOH 88 Manteiga 0,0004 a 3 Ácido sulfídrico H2S 34 Ovo podre 0,0001 a 0,03 Ácido valérico C4H9COOH 102 Suor 0,0008 a 1,3 NH3 17 Picante e irritante 0,5 a 37 C3H7CH2OH 74 --- 0,006 a 0,13 Dimetil dissulfeto (CH3)2S2 94,2 Pútrico 0,003 a 0,0014 Dimetil sulfeto (CH3)2S 62,13 Legumes deteriorados 0,0025 a 0,65 Escatol C9H8NH 131,5 Fecal, nauseante 0,008 a 0,10 Etanol CH3CH2OH 46 --- 0,2 Etil amina C2H5NH2 45 Picante amoniacal 0,05 a 0,83 Etil mercaptana C2H5SH 62 Repolho deteriorado 0,0001 a 0,03 Fenol C6H5OH 94 --- 0,0002 a 0,004 Indol C8H6NH 117 Peixe deteriorado 0,0006 Metil amina CH3NH2 31,05 Peixe em decomposição 0,0021 Metil mercaptana CH3SH 48 Repolho, alho 0,0005 a 0,08 (C2H5)2S 90,2 Etéreo 0,0045 a 0,31 Amônia Butanol Dietil Sulfeto FONTE: Belli Filho et al., (2001). A avaliação de intensidade odorante pode ser feita com a comparação da amostra a ser analisada com referências de odores, constituídas por diluições conhecidas de um composto padrão (BELLI FILHO E LISBOA, 1998). 25 Zaouak et al. (2013) verificaram que 13 a 20% da população dos países europeus sentem irritação com odores ambientais, sendo que os últimos anos foram marcados por quantidade crescente de estudos e legislações para controle de odor. As atividades industriais e agrícolas são conhecidas como responsáveis pela maioria das emissões de compostos odoríferos, tais como sulfureto de hidrogênio ou gás sulfídrico (H2S) e amônia ou amoníaco (NH3). Quando um individuo é exposto por longos períodos a uma determinada substância odorante, ele pode desenvolver adaptação (fadiga olfativa), que ocorre quando pessoas experimentam um decréscimo na percepção da intensidade de um odor se o estímulo for recebido continuamente (ASCE e WEF, 1995). Pode-se observar que os compostos que apresentam as maiores faixas de percepção pelo olfato humano são os compostos com enxofre, os quais são os principais responsáveis pelos maus odores. O esgoto doméstico contém enxofre orgânico derivado principalmente de material proteico e resultante de sulfonatos de detergentes domésticos. Já o enxofre inorgânico está presente na forma de sulfato. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estipulou concentrações toleráveis de sulfeto de hidrogênio no ar, sendo de 100 μg/m3 a 20 μg/m3, respectivamente, para curto tempo (1 a 14 dias) e médio tempo (até 90 dias) de exposição, considerando que para longo período não há concentração tolerável (WHO, 2003). 2.1 SULFETO DE HIDROGÊNIO (H2S) E METIL MERCAPTANA (CH3SH) Sulfeto de hidrogênio também é conhecido com gás sulfídrico e suas principais características físicas e químicas podem ser visualizadas na TABELA 4. O H2S é solúvel em água e óleo, podendo ser liberado quando esses líquidos são aquecidos, despressurizados ou agitados, entrando em combustão e explodindo com facilidade. Durante sua queima, emite dióxido de enxofre, que é outro gás tóxico e de cheiro forte e irritante (Azevedo et al., 1999). 26 TABELA 4: CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DO H2S Fórmula Molecular H2S Pressão de Vapor 15,600 mmHg a 25°C g 1,5392 L a 0°C, 760 mmHg Massa Molar 34,08 Densidade Ponto de Ebulição Ponto de Fusão -60,33°C Solubilidade na Água FONTE: USEPA (2003) -85,7 °C mg 3980 L a 20°C Como explica Mainier et al. (2005), os mecanismos de geração do gás sulfídrico (H2S) necessitam de uma FONTE de enxofre, tais como: sulfato solúvel (SO42–), sulfato de cálcio (CaSO4) ou sulfato de bário (BaSO4); de um mediador, como bactérias ou elevadas temperaturas, e de um agente catalisador, cuja presença interfere na velocidade da reação. No caso das bactérias redutoras de sulfato (BRS), outros parâmetros como pH, teor de matéria orgânica, salinidade, temperatura e ausência de oxigênio são fundamentais no desenvolvimento do processo de geração de H2S. Isso pode ser percebido na reação entre formaldeído (CH2O) e sulfato (SO42–), resultando na emissão de gás sulfídrico (H2S) e bicarbonato (HCO3-). CH2 O+SO24 BRS H2 S↑ +2HCO-3 1 O gás sulfídrico, segundo Mainier et al. (2005), tem efeitos nocivos ao organismo humano, afetando as mucosas respiratórias e oculares, causando irritações e, a depender da concentração, podendo ser letal. Essa substância, que é mais letal do que o Ácido Cianídrico, possui efeito enganador no sistema olfativo, pois o odor só é percebido em pequenas concentrações, quando ainda está abaixo dos níveis considerados perigosos. A partir de 100 ppm (cerca de 10.000 vezes o limiar de percepção médio) o sistema olfativo é rapidamente insensibilizado e concentrações letais deixam de ser percebidas pelo odor (AMOORE, 1983). Os efeitos causados pelo H2S nos seres humanos dependem da concentração e do tempo de exposição. Na FIGURA 1, é possível visualizar os efeitos causados pela exposição de seres humanos a certa concentração de H2S. 27 FIGURA 1: ESPECTRO DE TOXICIDADE DO GÁS SULFÍDRICO. FONTE: ADAPTADO DE EPA, 1985. Conversão a 25ºC e 1 atm. Na TABELA 5 é possível visualizar alguns efeitos de acordo com a concentração e o tempo de exposição. TABELA 5: EFEITO DO SULFETO DE HIDROGÊNIO NOS SERES HUMANOS. Concentração Concentração de H2S Tempo de de H2S Efeito nos seres humanos 3 µg/m Exposição ppm 0,05 – 5 69 – 6961 1 min Detecção do odor característico 10 – 30 50 – 100 13922 – 41767 69612 – 139225 6 – 8h 150 – 200 208838 – 278451 2 – 15 min Conjuntivite, dificuldade respiração Perda do olfato 350 – 450 487289 – 626515 2 – 15 min Inconsciência, convulsão 250 – 350 500 – 600 700 – 1500 348064 – 487289 696128 – 835354 974579 – 2088385 30 min – 1h 2 – 15 min 2 – 15 min 0 – 2 min Irritação nos olhos de Irritação nos olhos Distúrbios respiratórios circulatórios Colapso, morte e FONTE: Adaptado de Mainier et al. (2005). Conversão a 25ºC e 1 atm. Nota-se que os limites de percepção variam de literatura para literatura, e essas diferenças são atribuídas pelas diferenças entre os sistemas olfativos individuais e a sensibilidade de cada um (EPA, 2014). 28 A FIGURA 2 mostra os limites de início de percepção estabelecidos por alguns autores. FIGURA 2: LIMITE OLFATIVO, PARA H2S, ESTABELECIDO POR DIVERSAS LITERATURAS. FONTE: EPA, 2014 O perigo causado por altas concentrações de sulfeto de hidrogênio é relativamente bem conhecido, mas informações sobre a exposição humana por um longo período a baixas concentrações são escassas (WHO, 2000). Assim como o H2S, a metil mercaptana é extremamente mal cheirosa, ainda em baixas concentrações (RECH, 2007). A ação tóxica nos seres humanos é conhecida desde o século XVIII e, mesmo após tantos anos, ainda ocorrem casos de intoxicação, inclusive com mortes. O gás sulfídrico e as mercaptanas costumam aparecer em misturas mal cheirosas, geralmente predominando o H2S. É preciso cuidado quando esses gases estão presentes, pois formam mistura explosiva com o ar e a ignição pode ocorrer espontaneamente (SCHWAB, 2003). A agressividade do gás sulfídrico também é avaliada nos contatos com materiais e equipamentos, resultando, na maioria das vezes, em deteriorações ou fraturas com consequências catastróficas (MAINIER, 1996). Esse gás tende a ser um problema em comunidades localizadas próximo a áreas industriais, sendo a inalação a rota mais comum da exposição exógena ao composto, pois é 29 rapidamente absorvido através do pulmão ou pelo trato gastrointestinal (WHO, 2003). Jaakkola et al. (1990) registraram que pessoas expostas a sulfeto de hidrogênio, enquanto viviam em comunidade, em torno de uma fábrica de papel, tiveram 12 vezes mais irritação nos olhos que pessoas não expostas. Esses efeitos foram observados numa concentração média anual de 6 μg.m-3. A maioria dos casos fatais envolvendo ácido sulfídrico ocorre em espaços relativamente confinados. As vítimas perdem a consciência lentamente após a inalação do gás, às vezes após uma ou duas respirações (WHO, 2003). Beauchamp (1984) observou trabalhadores de uma fábrica de viscose que apresentavam irritação nos olhos e constatou que isso se deu após seis ou sete horas de exposição a 10ppm (aproximadamente 14 mg.m-3) de H2S ou após quatro ou cinco horas a 13 ppm (aproximadamente 18 mg.m-3). Kilburn e Warshaw (1991) realizaram um estudo com operários de uma refinaria de petróleo na Califórnia, a qual recuperava enxofre de petróleo rico em H2S, e com moradores residentes nas cercanias. No estudo foi constatado que normalmente parte desta população queixava-se de náuseas, vômitos, dores de cabeça e depressão. Quando foram comparados com outros residentes da região não expostos a H2S, apresentaram alguns distúrbios na coordenação motora e na discriminação de cores. A intoxicação letal por sulfeto de hidrogênio ocorre em concentrações de 1000 a 2000 ppm (aproximadamente de 1390 a 2785 mg.m-3), devido à paralisia do centro respiratório e, consequentemente, à parada cardio-respiratória (ACGIH, 1991). A presença do H2S pode não ser mais percebida após algum tempo de exposição. Contudo, o que torna o sulfeto mais perigoso é o efeito anestésico acima de 400 ppm (em torno de 555 mg.m-3), o que, segundo a Water Pollution Control 46 Federation (1976), citado por Takahashi (1983), provoca a insensibilidade ao seu odor rapidamente, justamente no ponto de risco da possibilidade da concentração letal. Segundo Gregorakos, et al. (1995), cinco de oito funcionários que instalavam canos de esgoto morreram intoxicados por H2S em um acidente envolvendo vazamento desse gás. As autópsias mostraram que eles apresentavam edema pulmonar, miocardite, hemorragia na mucosa gástrica, além do cérebro e da parte 30 posterior do intestino apresentarem cor esverdeada. A causa da morte de um desses cinco homens foi parada cardíaca, trinta e seis horas após o acidente. Dos três que sobreviveram ao acidente, um conseguiu superar uma parada cardíaca seis horas após o ocorrido, enquanto que os outros dois morreram dois meses após o acidente de infarto agudo do miocárdio. Contudo, o efeito do H2S não se reduz às implicações causadas nos seres humanos, pois há também danos causados em materiais. A corrosão é um desses malefícios. A corrosão associada ao H2S pode ser definida como a deterioração total, parcial, superficial ou estrutural dos materiais por ataque químico ou eletroquímico associado ou não aos efeitos mecânicos, sendo, então, classificada como corrosão química e corrosão eletroquímica (MAINIER et al., 2007). A corrosão química é um processo no qual o sulfeto de hidrogênio agride diretamente o material metálico, formando uma película de sulfeto. As propriedades dessa película dependem de vários fatores, tais como a afinidade do metal ao H2S, a rugosidade, a temperatura e a pressão. O aumento da temperatura, da pressão e das altas concentrações de sulfeto de hidrogênio acelera a taxa de corrosão, formando uma película porosa e não aderente. Alguns aços-carbono de baixa liga podem formar uma película protetora, o que os torna mais resistentes à corrosão causada pelo H2S, se comparados a outros aços. Já a corrosão eletroquímica é um processo espontâneo, que ocorre no contato do material metálico com um eletrólito, ao ocorrerem reações anódicas e catódicas, simultaneamente. A transferência dos elétrons da região anódica para a catódica é feita por meio de um condutor metálico e uma difusão de ânions e cátions na solução fecha o circuito elétrico. Esse tipo de corrosão pode ser classificado em: corrosão por pite em presença de H2S, corrosão grafítica em ferro fundido na presença de H2S, corrosão microbiológica por ação das bactérias redutoras de sulfato, corrosão sob tensão e corrosão sob fadiga. O gás apresenta uma longa lista de inconvenientes (WHO, 2003): é tóxico, porque se combina facilmente com compostos essenciais que contêm ferro na célula; é mau odorante (odor de ovo podre); é encontrado nas estações de tratamento de esgoto, principalmente nas etapas de fluxo turbulento; 31 é extremamente corrosivo em atmosfera úmida, transformando-se em ácido por ser mais denso que o ar, acumula-se abaixo da camada de ar, faixa no ar, é oxidado por moléculas de oxigênio e radicais hidroxila, formando o o tempo de residência do ácido sulfídrico na atmosfera é tipicamente menor sulfúrico, podendo ocasionar chuvas ácidas; habitada; radical sulfidril e, após, dióxido de enxofre ou compostos de sulfato; que 1 dia, mas pode ser maior que 42 dias no inverno, segundo estudo realizado no hemisfério norte. relativa Bruno et al. (2007) expõem que condições ambientais (pressão, umidade do ar, temperatura, velocidade e direção do vento) influenciam significativamente na produção e na dispersão do H2S na atmosfera e, por consequência, na intensidade do odor. Pela maneira que é naturalmente formado, pode ser facilmente encontrado em rios poluídos e estações de tratamento de esgoto. Segundo Who (2000), apenas 10% do total global emitido do gás sulfídrico é de origem antropogênica. Segundo afirma Grasel (2014), a legislação brasileira somente possui limite de emissão de H2S estabelecidos para ambientes de trabalho, não existindo nenhum limite para ambientes abertos. Além de todos os problemas já citados, a desvalorização imobiliária das áreas contaminadas é um problema recorrente que afeta os moradores das regiões vizinhas às fontes de emissão. A área urbana ao redor de um rio pode agregar massivamente a presença de materiais orgânicos no seu corpo hídrico. Em relação ao rio em tema, o Rio Belém, Gabriel (2013) afirma que é possível identificar que a tendência de ocupação ao longo da sua bacia ocorre de forma diversa e é decisiva para entender às modificações na área verde e os problemas ambientais ali existentes. De acordo com Wimberry (1985) sob o ponto de vista sociológico, mau odor pode diminuir o orgulho pessoal e da comunidade, interferindo nas relações humanas de várias maneiras, como desencorajando investimentos de capital, baixo status sócio econômico e prejuízo à reputação da comunidade. As comunidades também são afetadas esteticamente. Alguns compostos, como sulfeto de hidrogênio, reagem com pinturas contendo sais de metais pesados, escurecendo ou 32 descolorindo a superfície. Por outro lado, cobre ou prata perdem o brilho rapidamente na presença de H2S. A má qualidade da água não está relacionada ao perfil socioeconômico da população, mas a outros fatores de recuperação e de preservação do rio e de seu entorno (BILBÃO, 2007). Exposição a altos níveis de gás de sulfureto de hidrogénio é um risco bem documentado e compreendido, no entanto, a exposição a baixos níveis de sulfureto de hidrogénio é pouco estudada apesar de bem comum (SIMONTON, 2007). Kilburn e Warshaw (1995) relata anormalidades neurofisiológicas associadas a níveis de concentração de H2S média de 10 ppb (≈13 µg.m-3) com picos de 100 ppb (≈130 µg.m-3) em um bairro de moradores expostos. A NCDENR (2001) relata sintomas como dor de cabeça, náusea e irritação dos olhos e garganta em comunidades expostas a concentrações baixas, no nível de 7 a 10 ppb (≈9 a 13 µg.m-3). Collins e Lewis (2000) avaliaram efeitos de sulfeto de hidrogênio sobre crianças e descobriram que a exposição por uma hora em concentração de 30 ppb era demasiadamente elevada e que a exposição constante a 8 ppb (≈10 µg.m-3) causou efeitos sobre os tecidos sensíveis do corpo, concluindo que não se deve deixar crianças expostas a H2S mesmo que em baixas concentrações. Em resposta ao artigo sobre os perigos da poluição atmosférica causado por H2S escrito por Jackson (2009), Carman et al.(2009), argumentaram com base em seus estudos onde concluíram que crianças em crescimento são mais vulneráveis por respirarem mais rapidamente, tendo significativamente mais poluição por massa corporal do que os adultos e afirmam ser inaceitável que as comunidades continuem sofrendo os efeitos nocivos do H2S quando a tecnologia para controlar essas emissões está disponível e acessível. 33 3 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO - RIO BELÉM A Bacia do Rio Belém banha o centro da cidade de Curitiba, Estado do Paraná, e possui uma área de 87,85 km2, o que representa aproximadamente 20% do município. O curso principal do rio estende-se por 21 km até a sua foz no Rio Iguaçu (FEDRICH, 2002). A nascente do Rio Belém localiza-se no bairro Cachoeira e ao longo de seu trajeto percorre 37 bairros da cidade Esse rio é um dos seis principais rios que atravessam Curitiba, juntamente com os Rios Atuba, Barigui, Iguaçu, Passaúna e Ribeirão dos Padilha e tem como tributários os rios Ivo, Parolin, Água Verde e Fany. A FIGURA 3 apresenta a macrolocalização do Município de Curitiba e da bacia hidrográfica do Rio Belém, juntamente com três pontos de coleta de amostras de qualidade da água existentes no curso principal do rio. O rio está quase totalmente canalizado, correndo pelo subsolo por boa parte de seu percurso na cidade, para dar espaço a construções. Um grande problema nessas condições são os resíduos depositados no rio que acabam não sendo perceptíveis durante o trecho canalizado. Logo após o rio voltar a céu aberto, percebe-se facilmente a má qualidade da água e do odor que dele exala. Desde 1992, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP–PR) realiza sistematicamente a avaliação da qualidade das águas do Rio Belém em nove pontos amostrais situados em sua bacia hidrográfica. Os resultados mostram um rio classificado como "poluído" a "muito poluído" (IAP, 1995). Estima-se que cerca de 90% da poluição das águas do Rio Belém é originária de esgotos domésticos e os outros 10% originários de efluentes industriais, mesmo sem realizações de levantamentos ou estimativas sobre a poluição (SUDERHSA, 1998). Em um estudo feito por Kramer et al. (2013) sobre a caracterização da matéria orgânica contida na Bacia do Alto Iguaçu, em todas as amostragens feitas no Rio Belém, este apresentou predomínio de carbono orgânico dissolvido (COD) lábil, provavelmente, de origem de esgoto doméstico. Ide et al. (2012) confirmam a grande influência que o Rio Belém vem sofrendo de efluentes domésticos (“esgotos”), o que indica a possibilidade de suas 34 águas conterem outros compostos tóxicos, como hormônios ou produtos farmacêuticos. Resultados obtidos a partir da análise do Programa de Despoluição Ambiental (PDA), do período de 2010 a 2012, revelou que somente 57,44% das propriedades na Bacia de Belém estão corretamente ligadas à rede coletora de esgoto (LARA, 2014). Knoppi (2008) relata que na região do curso do Rio Belém a distribuição de renda não é igualitária e que a região específica do estudo, bairro Prado Velho, além de apresentar uma das menores rendas do trecho analisado, também comporta várias ocupações irregulares. Os habitantes da região estudada mostram-se preocupados com o rio, o que decorre do sentimento de pertencimento da comunidade em relação a ele. Em 1877, Adolfo Lamenha Lins, na época Presidente da Província do Paraná, solicitou um estudo para averiguar a possibilidade de utilização das águas Rio Belém para abastecimento da cidade. Comprovou-se que esse rio seria o mais indicado para abastecer a cidade, mas o projeto não teve continuidade. Existe registro que em 1888 houve a primeira epidemia (febre tifoide) relacionada às más condições do Rio Belém, conforme assegura (CASA DA MEMÓRIA, 2009). Nota-se, pois, que num lapso de 11 anos, o rio, antes considerado próprio para abastecimento da cidade, passou a apresentar qualidade de água compatível com o surgimento de doenças. Esses fatos mostram que a degradação do rio vem acontecendo há muitos anos. Projetos para sua revitalização existem, como o que prevê a criação do Parque Nascente do Rio Belém, com mais de 40 mil metros quadrados (IAP, 2009). Conforme regulamenta a Constituição Federal Brasileira, o domínio sobre o rio em questão é do Estado. Isso porque o inciso III de seu art. 20, que discriminou taxativamente os bens de propriedade da União, não contemplou os rios com as mesmas características do Rio Belém como propriedades do ente federal. Art. 20. São bens da União: III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais. 35 A conclusão de que o Rio Belém pertence ao Estado também é retirada a partir do que dispõe o art. 26 do mesmo diploma legal. Art. 26: Incluem-se entre os bens dos Estados: I – as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União. A região específica escolhida para coleta e análise do material para averiguação do ar e odor exalado pelo rio é no entorno do rio na região da Avenida da Avenida das Torres, região que pode ser visualizada na FIGURA 4. Nessa mesma figura é possível visualizar a localização do ponto de monitoramento. A FIGURA 5 mostra uma das pontes sobre o Rio Belém, a qual foi a escolhida como o ponto exato para as coletas de amostragem para análise cromatográfica e medição com o sensor CairClip. 36 Ponto de monitoramento FIGURA 3: MACRO LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CURITIBA E DA BACIA DO RIO BELÉM. PONTOS AMOSTRAIS DE QUALIDADE DA ÁGUA AI56, AI19 E AI15. FONTE: Adaptado de IAP (2009) e Google Imagens 37 Ponto de monitoramento FIGURA 4: LOCALIZAÇÃO DO PONTO DE MONITORAMENTO. FONTE: Google Mapas (2014). 38 FIGURA 5: LOCAL ESCOLHIDO PARA COLETA DE MATERIAL. FONTE: A Autora. Na FIGURA 6 é possível visualizar as condições da água e do entorno do rio, sendo facilmente verificada a existência de lixo acumulado. As setas representam o fluxo do rio. Nas observações foi possível identificar alguns dos objetos contidos na água e na mata ciliar, tais como prancha, saco contendo lixo doméstico, sacolas plásticas, pedaços de madeira, garrafas plásticas, recipientes e resíduos plásticos, latas de refrigerante, pedaços de telhas de amianto, pneu, discos compactos, caixas de som, tapetes/carpetes, papelão, pedaços de móveis e de eletrodomésticos, tubulações de pvc, carrinhos de supermercado, entre outros não identificados. Pode-se também perceber que a água apresenta coloração escurecida, característica de águas que perderam sua naturalidade. 39 FIGURA 6: LOCAL ESCOLHIDO PARA COLETA DE MATERIAL. FONTE: A Autora. 40 4 METODOLOGIA A FIGURA 7 mostra o organograma das etapas da metodologia utilizada nesse estudo. Inicialmente foi feita a seleção do ponto de monitoramento para posterior levantamento dos dados junto ao SIMEPAR (Sistema Meteorológico do Paraná) e o IAP (Instituto Ambiental do Paraná), foi medido a temperatura da superfície da água. Foram usados três métodos de medição: CairClip, cromatografia e olfatometria. Todos os dados foram analisados e avaliados para se obter o impacto causado pelas emissões de H2S e CH3SH. FIGURA 7: ORGANOGRAMA DA METODOLOGIA. FONTE: A Autora etapas. Nos itens que se seguem encontram-se as descrições de cada uma das 41 4.1.1 LEVANTAMENTO DE DADOS AMBIENTAIS 4.1.2 Temperatura da superfície da água A temperatura da superfície da água foi medida a fim verificar a existência de correlações com a concentração de H2S e CH3SH. Para isso utilizou-se o termômetro da marca Fluke, modelo 62 mini (FIGURA 8), que é um aparelho portátil de apenas 200g, incluindo a bateria interna, que faz a medição de temperatura por meio de infravermelho. Características do termômetro: intervalos de medição entre 30°C e 500ºC, precisão de ± 1,5%, temperatura do ar entre 0ºC e 50ºC. FIGURA 8: TERMÔMETRO INFRAVERMELHO. FONTE: A Autora. 4.1.3 Dados meteorológicos Os dados meteorológicos (temperatura, pressão atmosférica, precipitação, umidade relativa e direção e velocidade do vento), de 15 minutos, para os períodos de fevereiro e março de 2014, fevereiro a maio de 2015, fornecidos pelo SIMEPAR foram utilizados para avaliar a existência de correlações entre a condição do tempo e a emissão dos gases analisados. Essa estação, chamada Estação Curitiba, fica localizada no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, distante 1920 m do ponto de monitoramento no Rio Belém, sendo esta a única estação localizada na cidade de Curitiba. 42 4.1.4 Dados de qualidade da água Os rios são classificados conforme a qualidade da sua água, sendo o Rio Belém considerado como classe 03. Esta avaliação é feita pelo método AIQA (Avaliação Integrada da Qualidade da Água), que é um cálculo baseado no método MPC (Programação por compromisso). As classes de qualidade são estabelecidas por critérios da Resolução do Conama 357/2005 (UNESCO, 1987), alguns critérios averiguados para a classificação são mostrados na TABELA 6. TABELA 6: VARIÁVEIS DE QUALIDADE DA AGUA MONITORADAS PELO IAP E LIMITES DO CONAMA 357/05 Variável Alcalinidade total Unidade Limite CONAMA 357/05 Classe 2 Classe 3 Técnica para determinação mg/L NA NA Cádmio mg/L Cd 0,001 0,001 absorção atômica de chama Chumbo mg/L Pb 0,01 0,01 absorção atômica de chama Cobre mg/L Cu 0,009 0,013 absorção atômica de chama µS/cm NA NA eletrométrico mg/L 0,05 0,05 absorção atômica de chama Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO (5 dias) mg/L O2 <5 <10 diluição Demanda Química de Oxigênio DQO mg/L O2 NA NA refluxo fechado/ampola Dureza total mg/L P NA NA titulométrico intermediários mg/L P 0,05 0,75 ióticos mg/L P 0,1 0,15 Mercúrio mg/L Hg 0,0002 0,002 Nitratos mg/L N 10 10 redução de Cádmio Nitritos mg/L N 1 1 N-naftil mg/L N 3,7 13,3 fenato Condutividade Cromo Fósforo Total Nitrogênio ph<7,5 titulométrico ácido ascórbico absorção atômica de chama 43 Amoniacal ph 7,5 a <8 mg/L N 2 5,6 ph 8 a <8,5 mg/L N 1 2,2 Nitrogênio Total Kjeldahl mg/L N NA NA fenato Oxigênio Dissolvido mg/L O2 <5,0 >4 eletrométrico Potencial Hidrogeniônico - PH unidades 6,0 a 9,0 Saturação de Oxigênio % O2 NA NA eletrométrico Sólidos Totais mg/L NA NA gravimétrico Sólidos Suspensos mg/L NA NA gravimétrico Sólidos Totais Dissolvidos mg/L 500 500 gravimétrico Sulfactantes mg/L 0,5 0,5 azul de metileno Temperatura da Amostra °C NA NA termômetro/ eletrométrico Temperatura do Ar °C NA NA termômetro/ eletrométrico NTU <100 <100 Coliformes Termotolerantes NMP*100/ mL 1000 4000 Coliformes Totais NMP*100/ mL 1000 4000 Não tóxico crônico Não toxico agudo Turbidez Toxidade aguda para D. magna FTd 6,0 a 9,0 eletrométrico FONTE: IAP, (2005) e CONAMA, (2005) nefelomeétrico enzimático enzimático/fermentação imobilidade O IAP possui estações de monitoramento do rio, de montante para jusante, que estão localizadas conforme mostram a TABELA 7 e a FIGURA 3. TABELA 7: LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE MONITORAMENTO DO IAP NO RIO BELÉM. Estação Localização AI 56 Montante Parque São Lourenço AI 15 Rodolfo Bernardelli AI 19 FONTE: IAP, 2009 Prado Velho Classe Conama 2 3 3 Coordenadas Geográficas 674388 7191940 676030 7184089 678002 7179484 44 4.1.5 Sensor CairClip O equipamento usado para medição de H2S, possível causador do mau cheiro na região, é da marca CAIRPOL, chamado de CairClip ou micro sensor portátil (FIGURA 9). Atualmente é disponível para a medição de O3/NO2, H2S/CH3SH, e NH3. São chamados de micro por apresentarem dimensões que os tornam portáteis, facilitando a medição em ambientes que poderiam ser de difícil acesso. Apresentam as seguintes dimensões: diâmetro de 32 mm, comprimento de 62 mm e massa de 55 g, variando somente a cor externa em função do gás que mede. O modelo utilizado neste experimento foi o de cor azul, que faz a medição de H2S, gás que, repita-se, é o composto químico que possivelmente causa mau cheiro na região. FIGURA 9: SENSOR CAIRCLIP, CAIRPOL. FONTE: A Autora Segundo o fabricante, esse sistema foi desenvolvido para medir em tempo real os poluentes. Podendo ser acondicionado em uma pequena valise e anexado a 45 um cinto, capacete ou clipe, o micro sensor CairClip mede continuamente a exposição ao poluente. Segundo o manual disponível no site do fabricante, para o uso do equipamento não é necessário nenhum tipo de ajuste prévio, já que o sensor vem calibrado e não requer calibração e nenhum tipo de manutenção. Ainda segundo o site do fabricante, os micro sensores possuem tecnologia patenteada e níveis de sensibilidade de 50-100 vezes superior a muitos sensores equivalentes atualmente disponíveis. Uma imagem do sensor expandido pode ser visualizada FIGURA 10. FIGURA 10: ESQUEMA DO SISTEMA INTEGRADO DO MICRO SENSOR DA MARCA CAIRPOL. FONTE: CAIRPOL, (2014). As medições são armazenadas no sensor e podem ser facilmente exportadas para um computador através da conexão USB disponível e do software chamado CairSoft (FIGURA 11), disponível para download gratuitamente no site do fabricante. O sistema integrado inclui um sensor baseado na medição da corrente elétrica que flui quando um potencial é aplicado entre dois elétrodos, com o propósito de detectar o ponto na titulação no qual se observa um efeito decisivo. Além deste sensor amperométrico, possui também uma amostragem de ar dinâmico, um filtro patenteado e um circuito eletrônico que permite a visualização em tempo 46 real da concentração medida. Todos os registros de dados são armazenados na memória interna dos sensores. FIGURA 11: INTERFACE SOFTWARE CAIRSOFT. FONTE: A Autora. O fabricante informa que o sensor funciona entre temperaturas de -20°C e 45°C, umidade relativa de 10 a 90% e pressão ambiente de 1013 mbar ± 200 mbar e que possui intervalo de sensibilidade de 0 a 1000 ppb para H2S. Temperatura e umidade relativa do ambiente são apontadas como fatores que influenciam nos resultados obtidos com sensores. Entretanto, os sensores Cairpol são pouco sensíveis a esses fatores e apresentam baixo custo para aquisição (EPA, 2014). O sistema se torna mais confiável devido à utilização de um filtro na entrada de ar que limita a variação da umidade. Segundo estudo realizado por Zaouaka et al. (2012), o sensor CairClip apresenta bom funcionamento para a monitorização de níveis baixos de concentração de H2S, a partir de estudo em condições reais, além de ser considerado uma ferramenta promissora em pesquisas relacionadas com o gás em questão. Além de utilizado para descarregar os dados, o software, CairSoft, também é utilizado para estabelecer os parâmetros que serão utilizados para a medição, como unidade de saída (ppb ou µg.m-3), intervalo de medição (1 ou 15 minutos), nome da análise e configuração de data e hora. 47 O sensor foi testado em um ambiente sem possíveis emissões de H2S e Ch3SH durante um período de 24 horas, entre os dias 13/10/2015 e 14/10/2015, com um resultado satisfatório, medindo 0 durante todo o período de análise, conforme mostra a FIGURA 12. 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0,00 13/10/2015 19:42:00 13/10/2015 20:32:00 13/10/2015 21:22:00 13/10/2015 22:12:00 13/10/2015 23:02:00 13/10/2015 23:52:00 14/10/2015 00:42:00 14/10/2015 01:32:00 14/10/2015 02:22:00 14/10/2015 03:12:00 14/10/2015 04:02:00 14/10/2015 04:52:00 14/10/2015 05:42:00 14/10/2015 06:32:00 14/10/2015 07:22:00 14/10/2015 08:12:00 14/10/2015 09:02:00 14/10/2015 09:52:00 14/10/2015 10:42:00 14/10/2015 11:32:00 14/10/2015 12:22:00 14/10/2015 13:12:00 14/10/2015 14:02:00 14/10/2015 14:52:00 14/10/2015 15:42:00 14/10/2015 16:32:00 14/10/2015 17:22:00 14/10/2015 18:12:00 14/10/2015 19:02:00 Concentraçãoes em µg.m-3 Monitoramento em ambiente sem possível emissão de H2S e CH3SH Horário FIGURA 12: MONITORAMENTO EM AMBIENTE SEM EMISSÃO DE H2S E CH3SH. FONTE: A Autora. A FIGURA 13 mostra o sensor em posição durante as campanhas. Obviamente, outros gases podem estar contribuindo para o odor, mas a falta de sensores capazes de identificar e quantificar a composição química da atmosfera impossibilita obter resultados contundentes. Este estudo é apenas um movedor para futuras pesquisas. 48 FIGURA 13: POSICIONAMENTO DO SENSOR CAIRCLIP. SENSOR EM USO. FONTE: A Autora. 4.1.5.1 Método Azul de Metileno Para conferir se os resultados obtidos com o sensor CairClip são confiáveis, fez-se uma outra comparação, agora com os valores encontrados por Grasel (2014), por meio do método azul de metileno, verificando-se se a grandeza das concentrações encontradas são compatíveis. Durante o período de junho de 2013 a fevereiro de 2014, Grasel mediu a concentração de H2S em pontos distintos em duas estações de tratamento de esgoto: uma chamada de ETE A e a outra, de ETE B. Com o CairClip, foi realizada uma campanha no ponto 1, 3 e 4 da ETE B, escolhidos e nomeados por Grasel (2014) como B1EXT, B3EXT, B4EXT, que por simplificação, aqui foram chamados de ponto P1, P3 e P4 respectivamente. Esses pontos foram escolhidos por serem pontos externos nas campanhas realizadas com o método azul de metileno, e para que a comparação fosse possível, todos os valores foram obtidos externamente. O método azul de metileno é considerado um dos métodos mais sensíveis para medir gás sulfídrico, podendo sofrer influência de compostos de enxofre, 49 inclusive a metil a mercaptana (WHO, 1981, SHANTHI e BALASUBRAMANIAN, 1996 e BOWLES, ERNSTE e KRAMER, 2003). 4.2.1.2 Estação de tratamento de esgoto B (ETE B) Para que a comparação fosse possível, além da região do Rio Belém, também foi analisada uma região que teve a emissão, de gás sulfídrico, analisada a partir do método nomeado Azul de Metileno por Grasel (2014). Campanhas foram realizadas nas imediações de uma estação de tratamento de esgotos (ETE) na cidade de Curitiba - PR (FIGURA 14), a qual coincide com a nomeada como ETE B por Grasel (2014). Na FIGURA 15 é possível visualizar os pontos 01, 03 e 04, que foram escolhidos e utilizados para coletas. Todas as coletas realizadas nesse estudo foram feitas externamente, motivo pelo qual somente esses pontos foram escolhidos para a comparação, lembrando que a emissão em um rio é diferente da de uma estação de tratamento de esgoto. Nos rios, a emissão, e consequentemente a variação da concentração, é relativamente homogênea, diferenciando–se das emissões da ETE que ocorrem em picos conforme o processo de operação acontece. Sendo P3 o ponto mais próximo a emissão da ETE, esse foi escolhido para fazer um monitoramento de longo prazo, 40 horas, que foi a capacidade máxima da bateria do sensor CairClip com medições a cada minuto. Esse monitoramento teve o intuito de verificar as concentrações e suas variações ao longo de alguns dias. Dessa forma é possível avaliar se as medições horárias realizadas no período diurno se comportam da mesma forma que o período noturno. 50 FIGURA 14: MAPA DE LOCALIZAÇÃO DAS ETES. FONTE: Grasel (2014). FIGURA 15: LOCALIZAÇÃO DOS AMOSTRADORES EM RELAÇÃO À ETE B. FONTE: Grasel (2014). 51 4.1.6 Cromatografia Outro modo de análise desses gases utilizado foi a cromatografia, por meio do cromatógrafo da marca Thermo Finnigan, modelo Trace GC Ultra, do laboratório de cromatografia dos Institutos Lactec, o qual é mostrado na FIGURA 16. FIGURA 16: CROMATÓGRAFO UTILIZADO PARA ANÁLISE DOS GASES OBTIDOS DURANTE A COLETA. FONTE: A Autora. A captura do ar para posterior cromatografia foi feita com seringas apropriadas para a coleta, as quais podem ser visualizadas na FIGURA 17, e imediatamente levado para análise cromatográfica. FIGURA 17: EXEMPLO DE SERINGAS USADAS PARA COLETA DE AR. FONTE: A Autora 52 A estimativa de tempo de trajeto do local de coleta ao local da análise cromatográfica é de aproximadamente 7 minutos, conforme pode ser visualizado na FIGURA 18. FIGURA 18: ESTIMATIVA DE TEMPO PARA TRAJETO ENTRE LOCAL DE COLETA E LOCAL PARA ANÁLISE CROMATOGRÁFICA. FONTE: Google Mapas Também foi utilizado o software TRACE fornecido com esse equipamento, no qual são definidos os parâmetros utilizados durante a análise. O software gera o cromatograma tanto do padrão como da amostra em questão, para posterior diagnóstico. Os parâmetros, definidos via software, são mostrados na TABELA 8. O gás padrão utilizado para a comparação com as amostras coletadas foi de 1% de H2S. O cromatograma encontrado com a análise do gás padrão, o qual foi utilizado para comparação com as amostras coletadas, é mostrado na FIGURA 19. Nesse cromatograma padrão é possível visualizar que o tempo para o pico representado pelo gás H2S é de 0,373 minutos após o início da análise. 53 Em posse das coletas, a próxima etapa foi a comparação das medições, a fim de analisar a confiabilidade do resultado obtido com o sensor. Ou seja, com esses dados, analisar e avaliar os resultados obtidos. TABELA 8: PARÂMETROS UTILIZADOS NO CROMATÓGRAFO. Parâmetro Valor Tempo total de análise 3 minutos Temperatura base (detector auxiliar) 200ºC Temperatura inicial do forno 70°C Temperatura FPD (detector auxiliar) 150ºC Temperatura do injetor 200°C Pressão 300 kPa (constante) Modo injetor Splitless (sem mistura de gás de arraste com o gás analisado) e purga constante. FONTE: A Autora No interior do cromatógrafo há colunas pelas quais as amostras passam durante a análise. Cada coluna é específica para cada tipo de gás. A coluna utilizada para as análises foi a específica para compostos de enxofre, a TracePLOT TGBOND Q, que possui as seguintes especificações (TABELA 9). TABELA 9: CARACTERÍSTICAS DA COLUNA TRACEPLOT TG-BOND Q UTILIZADA JUNTO AO CROMATÓGRAFO. Dimensões Comprimento Diâmetro do fio FONTE: A Autora Espessura do fio Valor 30m 0,53mm 2µm 54 FIGURA 19: CROMATOGRAMRA PADRÃO 1% H2S. FONTE: A Autora. 55 4.1.7 Olfatometria A análise olfatométrica se deu por meio de um questionário e posterior cálculo de índice de incômodo na população. Esse questionário avalia a sensibilidade da população que habita na região e de outras pessoas que eventualmente por lá transitam e é composto por quatorze perguntas que foram respondidas por voluntários abordados para tanto. As perguntas aplicadas foram: 1. Em média, quantos dias por semana você está presente nesta região? De 0 a 7. 2. Você é morador da região? Sim ou Não 3. Você conhece ou já ouviu falar do Rio Belém? Sim ou Não 4. De alguma maneira o rio Belém faz parte do seu cotidiano? Sim ou Não 5. O odor emitido pelo rio o incomoda? Sim ou Não 6. Numa escala de zero a dez, em que zero significa nenhum tipo de incômodo e dez significa incômodo total, quanto o odor o incomoda? 7. No dia de hoje, quanto o odor está o incomodando? Zero significa nenhum tipo de incômodo e dez, incômodo total. 8. Em qual situação o odor o incomoda mais? Dias quentes ou dias frios? 9. Na sua opinião, em dias chuvosos o odor se intensifica? Sim ou Não 10. Depois de um certo tempo exposto ao odor emitido pelo rio, você continua tendo a mesma sensação de quando chega às proximidades do rio? Sim ou Não 11. Numa escala de zero a dez, em que zero significa nenhum tipo de incômodo e dez, incômodo total, quanto a aparência geral do rio o incomoda? 12. A impressão geral que teve do rio durante a primeira vez que o viu piorou em relação à impressão que tem hoje? Sim ou Não 13. Você já fez algo para melhorar o rio Belém? Sim ou Não 14. Se houvesse algum tipo de projeto para melhoria do rio, você estaria disposto a ajudar? Sim ou Não 56 4.2.3.2 Amostragem A amostragem de entrevistados foi a partir do número estimado de habitantes na cidade de Curitiba, que segundo IPPUC (2010) é de 1.864.416 para o ano de 2014. Para a definição no valor da amostra tem-se o cálculo amostral, para entrevistados escolhidos aleatoriamente (TRIOLA, 1999), sendo realizado da seguinte maneira. = . . . (1 − ) ( − 1). . . . (1 − ) 2 onde: = tamanho da amostra = universo (número de habitantes da cidade de Curitiba) = grau de confiança desejado. Usar 1,645 para 90% de confiança, 1,96 para 95% de confiança e 2,575 para 99% de confiança. = margem de erro = prevalência esperada Então, utilizando o grau de confiança na pesquisa de 95%, uma margem de erro de 10% e uma prevalência de 50%, encontrou-se uma amostragem mínima de 96 entrevistados. 4.2.3.3 Índice de incômodo Como explanam, Belli Filho et al. (2007), os odores são quantificados pela determinação do índice de incômodo (I) alcançado por meio da Equação 3 juntamente com a TABELA 10, as quais identificam as categorias de incômodos com os seus respectivos pesos de influências sobre elas, conforme a norma VDI 3883 (1993). 57 = 1 ∗ ∗ 3 onde, = número total de observadores = categoria de incômodo odorante = fator de odor por categoria odorante i = número de respostas da categoria i TABELA 10: CATEGORIAS DE INCÔMODOS (i) E PESOS DOS FATORES DE ODORES (Wi) ESTABELECIDOS PELA AUTORA EM CONSIDERAÇÃO A ESCALA DE RESPOSTAS ADOTADA. I Wi Resposta de: Odor sem ofensividade 1 0 1e2 Odor ofensivo 3 50 5e6 Odor extremamente ofensivo 5 Caráter Hedônico Sem odor Odor pouco ofensivo Odor muito ofensivo FONTE: A Autora 4.3 0 0 2 25 4 75 100 0 3e4 7e8 9 e 10 ANÁLISE DE RISCO A análise de risco é calculada pelo sistema informatizado de avaliação de risco disponibilizado online pela Universidade de Tennessee (RAIS, 2014), nomeado calculadora de risco, que mostra a possibilidade de um indivíduo sofrer algum efeito colateral após a exposição a certa concentração de H2S. Risco total abaixo de 1 significa que dificilmente a pessoa sofrerá algum efeito com a exposição e, quanto maior o valor do risco total, maior a possibilidade de sofrer algum efeito decorrente dessa exposição. Três tipos de indivíduos (TABELA 11) foram escolhidos para análise de possíveis efeitos nas concentrações encontradas nas margens do Rio Belém. 58 TABELA 11: CARACTERISTICA DE EXPOSIÇÃO DE CADA INDIVIDUO ANALISADO. Individuo Residente Estudante Trabalhador FONTE: A Autora Expectativa de vida, em anos Dias, por ano, de exposição Anos em exposição Horas, por dia, de exposição 70 240 4 4 70 350 70 240 26 20 10 8 Para cada um desses indivíduos, ainda utilizando a calculadora de risco (RAIS, 2014), foram simuladas quais concentrações máximas para exposição para que o risco total não ultrapassasse 1, TABELA 12. TABELA 12: CONCENTRAÇÃO MAXIMA QUE CADA INDIVÍDUO PODE FICAR EXPOSTO SEM RISCOS A SAÚDE, SEGUNDO RAIS (2014). Individuo Residente Estudante Trabalhador FONTE: A Autora Concentração máxima para exposição -3 sem risco a saúde, em µg.m Risco de Mutação 19 Não 2 9 Risco de Câncer Risco Total 0,0001% 0,99 Não 0,0001% Não 0,0001% 0,98 0,99 Com base nisso e nas concentrações encontradas é analisado a possível variação de risco a saúde da população. 4.4 ANÁLISE DE CORRELAÇÕES Os valores encontrados de concentração foram relacionados com os dados meteorológicos do período e também com as campanhas em horários coincidentes a fim de averiguar se há algum tipo de correlação. 59 5 RESULTADOS As campanhas no Rio Belém para coleta de dados, utilizando o sensor CairClip, coletas de amostras de ar para cromatografia e aplicação do questionário para olfatometria, foram realizadas nas datas e períodos conforme apresenta a FIGURA 20. No total foram quatro campanhas, sendo a primeira realizada no dia 04/09/2014, a segunda no dia 04/02/2015, a terceira no dia 07/02/2015 e a quarta no dia 06/05/2015. FIGURA 20: DATA E PERÍODO DE CAMPANHAS REALIZADAS NO RIO BELÉM. FONTE: A Autora Durante as campanhas foram entrevistadas 40 pessoas e após a análise estatística foram acrescentado mais 60 entrevistados para índice de confiança de 95% com erro menor que 10%. Os resultados de cada etapa estão apresentados a seguir. 5.1 LEVANTAMENTO DE DADOS AMBIENTAIS 5.1.1 Temperatura da superfície da água As temperaturas da superfície da água no início (Ti) e fim (Tf) das campanhas estão na TABELA 13. TABELA 13: TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DA ÁGUA Ti (°C) Data e período 04/09/2014 11:00~12:00 17,4 07/02/2015 11:04~12:04 22,3 04/02/2015 15:00~16:00 06/05/2015 07:00~20:00 FONTE: A Autora 16,8 11,9 Tf (°C) TM (°C) 17,1 16,95 18,1 22,5 18,4 17,75 22,4 15,15 60 5.1.2 Dados meteorológicos Os dados fornecidos pelo SIMEPAR estão apresentados na FIGURA 21. Dados referentes à vazão do rio e radiação solar provavelmente tenham influência nas emissões desses gases. Os dados de vazão foram solicitados ao IAP e ao Instituto das Águas do Paraná e nenhum deles possui essas informações, já os dados referentes à radiação solar não foram disponibilizados pelo SIMEPAR por estarem sendo consistidos. A campanha com a maior temperatura foi a segunda, correspondente ao período de verão, a qual teve uma média de 22,9°C, e a menor foi encontrada no final do inverno (primeira campanha), com 13,7°C. A umidade relativa variou de 49 a 92%. Essa variação ocorre dentro do mesmo dia (quarta campanha), sendo maior no período da manhã onde a temperatura é mais baixa, com o aumento da temperatura, no período da tarde, verifica-se a diminuição da umidade relativa. A velocidade do vento foi maior na terceira campanha, com 2,08 m/s, vindo da direção nordeste. A pressão atmosférica ficou em torno de 0,90 atm. A precipitação acumulada para o período da segunda campanha foi de 0,6 mm, segundo observações feitas na Estação Curitiba, apesar de que no local da campanha foi verificado somente a presença de nuvens, sem chuva. Nas demais campanhas, a precipitação não ocorreu. Os valores de média ( ̅ ) e desvio padrão (σ) desses dados estão na TABELA 14. Observa-se que para curtos períodos de tempo não há variação significativa para alguns dos dados analisados, conforme pode ser confirmado pela FIGURA 21. 61 FIGURA 21: DADOS METEOROLÓGICOS DOS PERÍODOS DAS CAMPANHAS. FONTE: SIMEPAR. 62 TABELA 14: ESTATÍSTICAS DOS DADOS METEREOLOGICOS Data e período 04/09/2014 11:00~12:00 04/02/2015 15:00~16:00 07/02/2015 11:04~12:04 06/05/2015 07:00~20:00 FONTE: A Autora 5.1.3 Estatística Tar (°C) UR (%) V (m/s) DIR (°) P (atm) PP (mm) 13,7 87 1,50 NE 0,900 0 ̅ 0,1 0 0,00 --- 0,00000 --- 22,9 72 0,93 NEE 0,896 0,6 ̅ 0,7 5 0,30 --- 0,00024 --- 18,3 80 2,08 NE 0,896 0 ̅ 0,1 0 0,36 --- 0,00017 --- 17,2 70 1,39 NEE 0,903 0 3,3 15 0,54 --- 0,00113 --- ̅ σ σ σ Σ Dados de qualidade da água Os resultados do levantamento de AIQA no monitoramento da qualidade da água do Rio Belém, no período de abril de 2005 a fevereiro de 2009, podem ser visualizados na TABELA 15. Ainda conforme estudo do IAP, a estação AI 56 é classificada como Classe 04 (Poluída) desde 1992. A estação AI 19 está Extremamente Poluída, estando fora das classes de enquadramento do CONAMA. A estação AI 15, desde o início do monitoramento, em 1992, tem se apresentado como Muito Poluído. As evoluções podem ser visualizadas na FIGURA 22. O índice de qualidade da água mostrou que ao longo do período monitorado houve a degradação da água de poluído para extremamente poluído, com exceção do ponto AI56 que manteve a classificação como poluído. A região do ponto AI56 fica localizada a montante da bacia, onde o grau de antropização é menos intenso, existindo parques e áreas residenciais unifamiliares. 63 TABELA 15: RESULTADOS DO AIQA NO MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO BELÉM NO PERÍODO DE ABRIL DE 2005 A FEVEREIRO DE 2009 AI 56 AI 19 AIQA Classe AIQA Classe Abril/2005 0,95 Poluída 1,12 Muito Poluída Jun/2005 1,12 Muito Poluída 1,12 Set/2005 0,95 Poluída Fev/2006 0,95 Abril/2006 AI 15 AIQA Classe Não Não coletada coletada Extre Poluída 1,22 Extre Poluída 0,95 Poluída 1,06 Muito Poluída Poluída 0,95 Poluída 0,95 Poluída 0,95 Poluída 1,22 Extre Poluída 1,22 Extre Poluída Out/2006 0,95 Poluída 1,22 Extre Poluída 1,12 Muito Poluída Dez/2006 0,95 Poluída 1,07 Extre Poluída 1,12 Muito Poluída Abril/2007 0,95 Poluída 1,12 Muito Poluída 0,95 Poluída Jul/2007 0,95 Poluída 1,12 Muito Poluída 1,22 Extre Poluída Out/2007 1,12 Muito Poluída 1,12 Muito Poluída 1,12 Muito Poluída Mar/2008 0,95 Poluída 1,22 Extre Poluída 1,12 Muito Poluída Set/2008 0,95 Poluída 1,12 Muito Poluída 0,95 Poluída Fev/2009 0,74 Med Poluída 0,99 Poluída 0,99 Poluída Percentil do AIQA 0,95 Poluída 1,22 Extre Poluída 1,22 Extre Poluída FONTE: IAP, 2009. 64 AI56 AI19 – Próximo ao ponto de monitoramento AI15 FIGURA 22: EVOLUÇÃO DA AIQA DE 1992 A 2009, NO RIO BELÉM, NOS PONTOS AI56, AI19 E AI15, ONDE LARANJA INDICA POLUIDO, VERMELHO MUITO POLUIDO E ROXO EXTREMAMENTE POLUIDO. FONTE: IAP (2009) 5.1.4 Sensor CairClip e Cromatografia As concentrações de H2S e CH3SH, encontradas na primeira campanha com o sensor CairClip, constam na FIGURA 23. Essa figura mostra a flutuação dos valores de concentração que variou de 0 a 31,3 µg.m-3, tendo como média do período 12,45 µg.m-3 com desvio padrão de aproximadamente 8,3 µg.m-3. 65 Concentrações de H2S e CH3SH encontradas dia 04/09/2014 50 Concentraçãoes em µg.m-3 45 40 35 30 25 20 15 10 5 11:00 11:02 11:04 11:06 11:08 11:10 11:12 11:14 11:16 11:18 11:20 11:22 11:24 11:26 11:28 11:30 11:32 11:34 11:36 11:38 11:40 11:42 11:44 11:46 11:48 11:50 11:52 11:54 11:56 11:58 12:00 0 Horário 04/09/2014 Média Desvio padrão FIGURA 23: CONCENTRAÇÕES DE H2S e CH3SH NO DIA 04/09/2014, DAS 11 ÀS 12 HORAS, COM O SENSOR CAIRCLIP. FONTE: A Autora. Conforme mencionado na FIGURA 2, uma pessoa exposta à concentração média encontrada sente o odor característico dos gases. Ao finalizar o monitoramento com o CairClip, 15 amostras de ar foram coletadas nas seringas para análise cromatógrafica. As primeiras 5 amostras foram utilizadas para saturação do sistema interno do cromatógrafo para que não houvesse interferência de outros gases que eventualmente pudessem estar presentes nas tubulações. Os resultados da cromatografia foram inconclusivos, pois o nível de H2S detectado foi tão baixo que se equiparou ao ruído da medição. O cromatograma encontrado é o representado pela FIGURA 24. Comparando-se ao tempo apresentado pelo padrão utilizado, que é de 0,373 minutos após o início da análise, percebe-se que há uma quantidade mínima de H2S, quase confundida com o ruído encontrado. Sendo assim, não é possível definir o início e o fim do pico para que se possa mensurar a concentração do gás analisado. Milivolts Milivolts 66 Minutos FIGURA 24: CROMATOGRAMA DA AMOSTRA DE AR COLETADA NO DIA 04/09/2014. FONTE: A Autora. 67 A FIGURA 24 também mostra que há outro composto não identificado presente no ar coletado, esse em concentração elevada. O referido composto é encontrado com tempo de 0,193 minutos de diagnóstico, o qual deverá ser investigado para verificação em outro estudo posterior. Os resultados da segunda campanha estão apresentados na FIGURA 25. 50 Concentrações de H2S e CH3SH encontradas dia 04/02/2015 Concentraçãoes em µg.m-3 45 40 35 30 25 20 15 10 5 15:00 15:02 15:04 15:06 15:08 15:10 15:12 15:14 15:16 15:18 15:20 15:22 15:24 15:26 15:28 15:30 15:32 15:34 15:36 15:38 15:40 15:42 15:44 15:46 15:48 15:50 15:52 15:54 15:56 15:58 16:00 0 Horário 04/02/2015 Média Desvio padrão FIGURA 25: CONCENTRAÇÕES DE H2S e CH3SH NO DIA 04/02/2015, DAS 15 ÀS 16 HORAS, COM O SENSOR CAIRCLIP. FONTE: A Autora. Nesse dia, a média da concentração encontrada foi de 11,44 µg.m-3, com desvio padrão de aproximadamente 10,21 µg.m-3, com máxima de 40,14 µg.m-3 e mínima de 0 µg.m-3. Essa concentração média ficou acima do limite olfativo dos seres humanos. Novamente na análise cromatografia o teor de H2S se confunde com o ruído e verifica-se a presença em grande quantidade do composto desconhecido tal como na primeira campanha, como pode ser visualizado na FIGURA 26 Milivolts 68 Minutos FIGURA 26: CROMATOGRAMA DA AMOSTRA DE AR COLETADA NO DIA 04/02/2015. FONTE: A Autora. 69 Na terceira campanha as concentrações de H2S e CH3SH apresentaram média de 11,21 µg.m-3, com desvio padrão de aproximadamente 7,0 µg.m-3. O pico máximo atingido foi de 35,72 µg.m-3, às 11 horas e 56 minutos, e, em vários momentos, a concentração foi de 0. Como esperado, os valores estão dentro da sensibilidade olfativa. Os valores de concentração encontrados nessa campanha são visualizados na FIGURA 27. 50 Concentrações de H2S e CH3SH encontradas dia 07/02/2015 Concentraçãoes em µg.m-3 45 40 35 30 25 20 15 10 5 11:04 11:06 11:08 11:10 11:12 11:14 11:16 11:18 11:20 11:22 11:24 11:26 11:28 11:30 11:32 11:34 11:36 11:38 11:40 11:42 11:44 11:46 11:48 11:50 11:52 11:54 11:56 11:58 12:00 12:02 12:04 0 Horário 07/02/2015 Média Desvio padrão FIGURA 27: CONCENTRAÇÕES DE H2S e CH3SH NO DIA 07/02/2015, DAS 11 HORAS ÀS 04 MINUTOS E 12 HORAS E 04 MINUTOS, COM O SENSOR CAIRCLIP. FONTE: A Autora. Como fica claro na FIGURA 28, na análise cromatográfica um composto não identificado é encontrado em concentração elevada e ainda não se conseguindo mensurar a concentração de H2S. Milivolts 70 Minutos FIGURA 28: CROMATOGRAMA DA AMOSTRA DE AR COLETADA NO DIA 07/02/2015. FONTE: A Autora 71 Outra coleta no Rio Belém foi feita no dia 06/05/2015, das 7 às 20h a fim de analisar o comportamento da flutuação ao longo do dia. Essa campanha foi realizada para buscar a existência de alguma correlação com os dados meteorológicos. Os resultados estão mostrados na FIGURA 29. Concentraçãoes em µg.m-3 50 Concentrações de H2S e CH3SH encontradas dia 06/05/2015 45 40 35 30 25 20 15 10 5 07:00 07:25 07:50 08:15 08:40 09:05 09:30 09:55 10:20 10:45 11:10 11:35 12:00 12:25 12:50 13:15 13:40 14:05 14:30 14:55 15:20 15:45 16:10 16:35 17:00 17:25 17:50 18:15 18:40 19:05 19:30 19:55 0 Horário 06/05/2015 Média Desvio padrão FIGURA 29: CONCENTRAÇÕES DE H2S E CH3SH NO DIA 06/05/2015, DAS 7 HORAS ÀS 20 HORAS, COM O SENSOR CAIRCLIP. FONTE: A Autora. A média geral de concentração encontrada nessa campanha foi de 12,34 µg.m-3 com um desvio padrão de aproximadamente 9,05 µg.m-3. Apresentando máximo de 50,7 µg.m-3 e mínimo de 0. O monitoramento contínuo mostra uma alta variação na concentração a cada minuto, para entender esse comportamento ao longo desse período foi calculada a média horária e aplicado o Teste Tukey por meio da ferramenta disponibilizada pela UFSCAR, 2011, para verificar a homogeneidade dessas médias. O resultado mostrou que no período de 13 horas apenas 3 não são homogêneas, sendo essas os valores iniciais e finais junto com a média das 9h às 10h. E para o cálculo com as 16 horas totais de campanha, ainda temos as mesmas 3 médias não homogêneas (FIGURA 30). 72 Concentrações encontradas dia 06/05/2015 Concentraçãoes em µg.m-3 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 07:00 07:26 07:52 08:18 08:44 09:10 09:36 10:02 10:28 10:54 11:20 11:46 12:12 12:38 13:04 13:30 13:56 14:22 14:48 15:14 15:40 16:06 16:32 16:58 17:24 17:50 18:16 18:42 19:08 19:34 20:00 0 Horário 06/05/2015 Média Desvio padrão media horaria FIGURA 30: ANÁLISE DAS MÉDIAS DE CONCENTRAÇÃO DE H2S E CH4S, COM INDICAÇÃO DAS NÃO HOMOGÊNEAS, SEGUNDO TESTE TUKEY. FONTE: A Autora. As medidas das médias de concentração (CM), desvio padrão (σ), temperatura média do ar (TArM) e temperatura média da superfície da água (TM) das campanhas estão mostradas na TABELA 16. TABELA 16: RESUMO DAS CAMPANHAS REALIZADAS NO RIO BELÉM. Dia Período CM -3 µg.m σ -3 µg.m TArM °C TM (°C) 04/09/2014 11 – 12h 12,45 8,30 17,7 17,75 04/02/2015 15 – 16h 11,44 10,21 22,9 16,95 07/02/2015 11 – 12h 11,21 8,80 18,3 22,4 06/05/2015 7 - 20h 12,34 9,05 17,2 15,15 FONTE: A Autora Segundo Jaakkola et al. (1990), uma população exposta a média de concentração anual 6 μg.m-3, tende a ter 12 vezes mais irritação nos olhos que pessoas não expostas, isso indica que na região aqui estudada, com a concentração 73 média em torno de 12 μg.m-3, a população tem muito mais chances de sofrer irritações nos olhos. Como mostraram Kilburn e Warshaw (1995) exposição a essa concentração média pode acarretar anormalidades em moradores expostos. Nessa concentração média há relatos de dor de cabeça, náusea e irritação dos olhos e garganta em comunidades expostas (NCDENR, 2001) Crianças expostas a estas concentrações estão mais vulneráveis (COLLINS E LEWIS, 2000; CARMAN, 2009), nessa região existem escolas de ensino infantil onde os alunos podem estar sendo afetados pelo H2S presente no ar em concentrações prejudiciais. 5.1.4.1 Método azul de metileno O método de azul de metileno é um método muito sensível, porém com um alto custo. O método consiste em um monitoramento onde o filtro absorvedor é colocado por um período aproximado de uma semana, que é o tempo necessário para se realizar uma campanha, obtendo como resultado um único valor do período. As campanhas de medição não foram realizadas simultaneamente pela falta de equipamento azul de metileno disponível para uso. Devido a isso, usou-se os valores encontrados por Grasel (2014) na ETE B a fim de verificar a compatibilidade das ordens de grandeza das concentrações, levando-se em consideração a média e o desvio padrão. Conforme mostrado na FIGURA 31, as campanhas foram realizadas em 3 pontos em datas e períodos distintos. 74 FIGURA 31: CAMPANHAS REALIZADAS COM O CAIRCLIP NA ETE B. FONTE: A Autora Grasel (2014) realizou quatro campanhas e os respectivos resultados obtidos estão apresentados FIGURA 32. Essa figura mostra também a média calculada para cada ponto. Na TABELA 17 estão as médias com os respectivos desvios padrões, onde a variação em P1 foi bem superior aos demais pontos, variando de 6 a 18 µg.m-3, enquanto que os demais pontos tiveram variação de pouco mais que 20%. As médias das concentrações encontradas neste trabalho comparadas com as encontradas com o método azul de metileno encontram-se na FIGURA 33 para os três pontos. A média geral, média dos três pontos, encontrado por Grasel (2014) foi de 9,08 µg.m-3 enquanto que A Autora encontrou 13,71 µg.m-3. Esses resultados mostram que a sua ordem de grandeza apesar das metodologias e dos períodos distintos indica estar representando com veracidade as concentrações presentes na região. 75 Método Azul de Metileno 20 18 16 14 H2S em µg.m-3 12 P1 10 P3 8 P4 6 4 2 0 17 a 24/02/13 28/02 a 06/03/14 19 a 24/03/14 24 a 31/03/14 Média FIGURA 32: VALORES DE H2S ENCONTRADOS POR GRASEL (2014) FONTE: Adaptado de Grasel (2014) TABELA 17: ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS DE GRASEL (2014) Estatística Média ( ̅ , µg.m ) P1 12,50 -3 Desvio padrão (σ, µg.m ) FONTE: A Autora 7,75 1,71 P3 7,00 1,83 Comparação entre métodos 20,00 H2S e CH3SH em µg.m-3 5,51 -3 P2 15,00 10,00 Grasel (2014) 5,00 0,00 Autor P1 P3 P4 Pontos analisados Média Geral FIGURA 33: COMPARAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DE H2S E CH3SH ENTRE MÉTODOS CAIRCLIP E AZUL DE METILENO. FONTE: A Autora A FIGURA 34, mostra a flutuação dos valores encontrados em P1 com o CairClip, bem como a média dA Autora e média e desvio padrão do método azul de metileno. Nela também nota-se que a média geral encontrada pela autora está 76 dentro no desvio padrão do outro método. A mesma análise é feita para P3 nas FIGURA 35 e FIGURA 36 (escala logarítmica) e para P4 na FIGURA 37. A escala logarítmica feita para P3 tem o objetivo de facilitar a visualização das dimensões por existirem picos de valores elevados. Em P3, a média dA Autora está um pouco distante da encontrada pelo outro método, mas isso pode ser justificado pelo fato das campanhas terem sido realizadas por distintos métodos e em períodos diferentes. Seria conveniente fazer um monitoramento contínuo ao longo de um ano para se ter uma média mais precisa da concentração de H2S e CH3SH para uma confiabilidade maior e elaboração de medidas de mitigação. Em P3 foi aplicado o Teste Tukey para verificar se as médias horárias são estatisticamente homogêneas ao longo de um período de 40 horas, e dessas 27 são homogêneas, ficando de fora períodos em que ocorrem inúmeras medições de 0. A mesma comparação foi realizada para P4 (FIGURA 37), ponto onde as médias ficaram muito próximas. 0 Concentração [µg.m-3] Média Grasel (2014) Média horária Média geral o autor ± DP Grasel (2014) 13/03/2015 12:27 13/03/2015 12:12 13/03/2015 11:57 13/03/2015 11:42 13/03/2015 11:27 13/03/2015 11:12 13/03/2015 10:57 13/03/2015 10:42 09/03/2015 12:28 09/03/2015 12:13 09/03/2015 11:58 50 09/03/2015 11:43 26/02/2015 17:59 26/02/2015 17:44 26/02/2015 17:29 26/02/2015 17:14 20/02/2015 15:30 20/02/2015 15:15 20/02/2015 15:00 20/02/2015 14:45 20/02/2015 14:30 H2S e CH3SH em µg.m-3 77 P1 45 40 35 30 25 20 10 15 5 ± 2DP Grasel (2014) FIGURA 34: RESULTADO DO MONITORAMENTO DE H2S E CH3SH PELO CARICLIP E COMPARAÇÕES COM RESULTADOS DO METODO AZUL DE METILENO EM P1. FONTE: A Autora 16/02/2015 15:06 20/03/2015 10:31 20/03/2015 11:36 20/03/2015 12:41 27/03/2015 14:15 27/03/2015 15:20 08/04/2015 15:09 08/04/2015 16:14 13/05/2015 19:06 13/05/2015 20:11 13/05/2015 21:16 13/05/2015 22:21 13/05/2015 23:26 14/05/2015 00:31 14/05/2015 01:36 14/05/2015 02:41 14/05/2015 03:46 14/05/2015 04:51 14/05/2015 05:56 14/05/2015 07:01 14/05/2015 08:06 14/05/2015 09:11 14/05/2015 10:16 14/05/2015 11:21 14/05/2015 12:26 14/05/2015 13:31 14/05/2015 14:36 14/05/2015 15:41 14/05/2015 16:46 14/05/2015 17:51 14/05/2015 18:56 14/05/2015 20:01 14/05/2015 21:06 14/05/2015 22:11 14/05/2015 23:16 15/05/2015 00:21 15/05/2015 01:26 15/05/2015 02:31 15/05/2015 03:36 15/05/2015 04:41 15/05/2015 05:46 15/05/2015 06:51 15/05/2015 07:56 15/05/2015 09:01 15/05/2015 10:06 15/05/2015 11:11 15/05/2015 12:16 H2S e CH3SH em µg.m-3 250 P3 Concentração [µg*m-3] Média geral o autor Média Grasel (2014) ± DP Grasel (2014) 78 200 150 100 50 0 Média de cada campanha ± 2DP Grasel (2014) FIGURA 35: RESULTADO DO MONITORAMENTO DE H2S E CH3SH PELO CARICLIP E COMPARAÇÕES COM RESULTADOS DO METODO AZUL DE METILENO EM P3. FONTE: A Autora 16/02/2015 15:06 20/03/2015 10:27 20/03/2015 11:28 20/03/2015 12:29 27/03/2015 13:59 27/03/2015 15:00 08/04/2015 14:45 08/04/2015 15:46 13/05/2015 18:34 13/05/2015 19:35 13/05/2015 20:36 13/05/2015 21:37 13/05/2015 22:38 13/05/2015 23:39 14/05/2015 00:40 14/05/2015 01:41 14/05/2015 02:42 14/05/2015 03:43 14/05/2015 04:44 14/05/2015 05:45 14/05/2015 06:46 14/05/2015 07:47 14/05/2015 08:48 14/05/2015 09:49 14/05/2015 10:50 14/05/2015 11:51 14/05/2015 12:52 14/05/2015 13:53 14/05/2015 14:54 14/05/2015 15:55 14/05/2015 16:56 14/05/2015 17:57 14/05/2015 18:58 14/05/2015 19:59 14/05/2015 21:00 14/05/2015 22:01 14/05/2015 23:02 15/05/2015 00:03 15/05/2015 01:04 15/05/2015 02:05 15/05/2015 03:06 15/05/2015 04:07 15/05/2015 05:08 15/05/2015 06:09 15/05/2015 07:10 15/05/2015 08:11 15/05/2015 09:12 15/05/2015 10:13 15/05/2015 11:14 15/05/2015 12:15 H2S e CH3SH em µg.m-3 P3 Concentração [µg*m-3] FIGURA 36: RESULTADO DO MONITORAMENTO DE H2S E CH3SH PELO CARICLIP E COMPARAÇÕES COM RESULTADOS DO METODO AZUL DE METILENO EM P3, EM ESCALA LOGARITÍMICA. FONTE: A Autora ± DP Grasel (2014) Média Grasel (2014) ± 2DP Grasel (2014) 79 100 10 1 Média de cada campanha Concentração [µg*m-3] Média geral o autor Média Grasel (2014) 21/02/2015 16:30 21/02/2015 16:36 21/02/2015 16:42 21/02/2015 16:48 21/02/2015 16:54 21/02/2015 17:00 21/02/2015 17:06 21/02/2015 17:12 21/02/2015 17:18 21/02/2015 17:24 21/02/2015 17:30 19/03/2015 14:35 19/03/2015 14:41 19/03/2015 14:47 19/03/2015 14:53 19/03/2015 14:59 19/03/2015 15:05 19/03/2015 15:11 19/03/2015 15:17 19/03/2015 15:23 19/03/2015 15:29 19/03/2015 15:35 19/03/2015 15:41 19/03/2015 15:47 19/03/2015 15:53 19/03/2015 15:59 19/03/2015 16:05 19/03/2015 16:11 19/03/2015 16:17 19/03/2015 16:23 19/03/2015 16:29 14/04/2015 17:04 14/04/2015 17:10 14/04/2015 17:16 14/04/2015 17:22 14/04/2015 17:28 14/04/2015 17:34 14/04/2015 17:40 14/04/2015 17:46 14/04/2015 17:52 14/04/2015 17:58 H2S E CH3SH em µg.m-3 25 Concentração [µg*m-3] P4 Média Grasel (2014) Média de cada campanha 80 20 15 10 5 0 Média geral o autor ± DP Grasel (2014) ± 2DP Grasel (2014) FIGURA 37: RESULTADO DO MONITORAMENTO DE H2S E CH3SH PELO CARICLIP E COMPARAÇÕES COM RESULTADOS DO METODO AZUL DE METILENO EM P4. FONTE: A Autora 81 5.1.5 Olfatometria 5.1.5.1 Questionário e índice de incômodo Quanto à percepção das pessoas ao nível de concentração encontrado neste estudo, aplicou-se o questionário. Foram entrevistadas 40 pessoas escolhidas aleatoriamente durante os períodos de coletas e, após análise estatística dos resultados, o erro amostral foi de 15,5% com confiabilidade de 95%. Buscando melhorar o erro amostral para 10%, a estatística mostrou que deveriam ser entrevistadas 96 pessoas. Então, posteriormente, optou-se por entrevistar mais 60, totalizando 100 entrevistados, o que definiu o erro da pesquisa em 9,8% com índice de confiabilidade dos mesmos 95%. Os resultados do questionário estão apresentados na TABELA 18. TABELA 18: RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO Resultados (população entrevistada 100 pessoas) 1.Média de dias na semana presente na região - FIGURA 38 5,1 dias 2.Moradores da região 3.Conhece o Rio Belém 4.O Rio Belém faz parte do cotidiano 5.Sente-se incomodado pelo odor emitido pelo rio 6.Grau de incômodo referente ao odor (0 a 10, 0 nenhum incômodo e 10 incômodo total) - FIGURA 39 7.Grau de incômodo referente ao odor no momento da entrevista (0 a 10, 0 nenhum incômodo e 10 incômodo total) FIGURA 40 34% 99% 75% 99% ̅ =7,8; σ=1,8 ̅ =5,9; σ=2,5 8.Maior incômodo 87% em dias quentes; 13% frios 10.Fadiga Olfativa 68% habitua-se com o odor 9.Influência da chuva no odor 11.Grau de incômodo referente à aparência do rio (0 a 10, 0 nenhum incômodo e 10 incômodo total) - FIGURA 41 12.Degradação da aparência do rio 13.Realização de ação proativa 14.Interesse em participação de ação proativa FONTE: A Autora. 47% piora com chuva; 53% mantem ̅ =7,4; σ=2,1 75% piorou; 25% manteve 18% 100% O índice de incômodo calculado (Equação 3) é igual a 76,75%, baseado nas respostas referentes a questão 06. Percebe-se uma variação nas respostas obtidas, 82 mostrando que, realmente, a sensibilidade e a percepção de cada um são diferentes. 83 Questão 01 - Em média, quantos dias por semana você está presente na região do Rio Belém? 7 7 7 7 7 6 6 5 55 5 6 5555 7 6 6 555 7 77 66 6 5 5 5 2 3 33 22 7 10 7 6 6 5 5 5 5 44 19 22 25 28 31 7 6 6 5 55 77 7 66 6 34 37 FIGURA 38:: RESPOSTAS REFERENTES À QUESTÃO 01. FONTE: A Autora. 40 6 6 6 5 3 2 0 7 7 5 55 3 5 5 5 3 2 1 16 7 4 22 13 7 6 3 1 4 7 5 55 4 3 77 6 6 6 4 1 7 7 1 43 46 49 52 Entrevistados 55 58 61 Média 64 67 70 73 76 79 82 85 88 91 94 97 100 84 Questão 06 - Numa escala de zero a dez, onde zero significa nenhum tipo de incômodo, e dez significa incômodo total, quanto o odor te incomoda? 10 10101010 99 7 1 888 99 7 6 7 10 10 887 888 6 5 4 10 13 5 16 19 22 25 9 10 101010 8 88 6 4 28 10 88 8 9 9 7 7 7 10 8 8 5 31 10 8 5 34 37 FIGURA 39:: RESPOSTAS REFERENTES À QUESTÃO 06. FONTE: A Autora. 40 43 46 10 49 8 10 9 8 8 8 7 6 4 Entrevistados 9 8 6 6 52 10 9 58 61 Média 64 67 10 8 6 4 3 55 10 70 5 73 7 9 88 6 10 4 76 79 99 9 8 6 82 10 7 5 8 8 6 4 85 88 91 10 8 7 7 7 5 94 97 100 85 Questão 07 - No dia de hoje, quanto o odor está te incomodando? Onde zero significa nenhum tipo de incômodo, e dez significa incômodo total. 7 5 8 7 7 6 6 6 4 9 5 4 7 10 7 5 1 1 9 8 6 1010 8 8 7 7 77 6 5 2 0 13 16 19 22 8 8 0 25 5 5 1 28 8 31 34 8 7 7 5 4 00 37 FIGURA 40:: RESPOSTAS REFERENTES À QUESTÃO 06. FONTE: A Autora. 8 66 10 9 7 88 6 7 7 7 5 9 0 40 43 46 49 52 Entrevistados 55 6 4 4 3 9 9 8 6 5 10 8 8 6 4 8 8 61 Média 64 67 70 9 7 7 5 7 5 5 3 2 58 10 73 76 79 82 7 5 555 3 1 8 66 4 77 5 2 0 85 88 91 94 97 100 86 Questão 11 - Numa escala de zero a dez, onde zero significa nenhum tipo de incômodo, e dez significa incômodo total, quanto a aparencia do rio te incomoda? 8 7 55 1 9 9 9 8 9 7 5 3 7 10 13 16 19 3 22 25 10 10 8 8 8 7 5 4 4 1010 1010 10 10 101010 101010 1010 28 9 77 5 4 31 1010 34 37 FIGURA 41:: RESPOSTAS REFERENTES À QUESTÃO 11. FONTE: A Autora. 8 7 8 10 9 7 66 6 4 40 43 46 49 5 10 8 8 6 10 7 10 8 6 5 8 7 5 9 6 7 8 8 6 9 7 6 10 8 9 7 9 88 888 8 5 4 3 52 Entrevistados 55 58 61 Média 64 67 70 73 76 8 6 6 5 79 82 85 88 9 91 5 3 3 94 6 4 5 97 100 87 5.2 ANÁLISE DE RISCO Conforme definido e caracterizado anteriormente, a população da região de estudo como sendo Residente, Estudante e Trabalhador e exposta às concentrações emitidas pelo rio (média de 12,22 µg.m-3), a mesma pode sofrer risco a saúde. A TABELA 19, mostra o risco total a que a população está sujeita e é possível observar que a população residente sofre um aumento do risco à saúde de quase 500% em relação a população não exposta, os trabalhadores um aumento de 34% e os estudantes não sofrem risco devido ao risco total ser menor do que 1. TABELA 19: RISCO TOTAL, SEGUNDO RAIS (2014), DE CADA INDIVÍDUO EXPOSTO ÀS CONCENTRAÇÕES ENCONTRADAS NAS MARGENS DO RIO BELÉM. Indivíduo Residente Concentração média encontrada nas -3 campanhas, em µg.m Risco de Mutação 12,22 Não Estudante Trabalhador FONTE: A Autora. 12,22 12,22 Risco de Câncer Risco Total 0,0001% 0,67 Não 0,0001% Não 0,0001% 4,88 1,34 De acordo com Wimberry (1985) esse mau odor pode interferir na sociabilidade e na reputação da comunidade existente no entorno, além de serem afetadas esteticamente. 5.3 ANÁLISE DE CORRELAÇÔES Como afirmam Bruno et al. (2007), condições ambientais têm grande influência na produção e na dispersão do H2S, então outra questão analisada nesse estudo foi se a concentração tende a apresentar valores semelhantes durante os mesmos horários do dia e também comparados as condições ambientais nos períodos. A FIGURA 42 e a FIGURA 43 mostram as concentrações nos horários que coincidiram durante das campanhas realizadas no Rio Belém, nelas percebe-se que não há relação da concentração de H2S medida com o horário. Porém as análises mostram que há uma variação da concentração a cada minuto e com uma análise de variância verificou-se que as médias são estatisticamente homogêneas, ou seja, 88 não há variação da média entre os períodos, podendo-se assim afirmar que as médias são iguais. FIGURA 42: CONCENTRAÇÕES ENCONTRADAS NO RIO BELÉM, DAS 11H E 04 MINUTOS ÀS 12 HORAS, NOS DIAS 04/09/2014, 07/02/2015 E 06/05/2015. FONTE: A Autora 89 FIGURA 43: CONCENTRAÇÕES ENCONTRADAS NO RIO BELÉM, DAS 15H ÀS 16HORAS, NOS DIAS 04/02/2015 E 06/05/2015. FONTE: A Autora As concentrações encontradas no dia 06/05/2015, por ser a campanha de maior duração, foram comparadas a situação meteorológica do período. Esses dados podem ser vistos na FIGURA 44, a precipitação durante todo o período foi de 0mm, motivo pelo qual não foi inserido na figura. Os dados foram analisados com as médias de concentração a cada 15 minutos, pois os dados meteorológicos fornecidos pelo SIMEPAR estão com essa variação. 90 VV - velocidade do vento; T - temperatura; DV - direção do vento; UR - umidade relativa; P - pressão atmosférica. FIGURA 44: CONCENTRAÇÃO ENCONTRADA NO RIO BELÉM JUNTAMENTE COM OS DADOS METEOROLÓGICOS DO PERÍODO. PRECIPITAÇÃO DURANTE TODO ESSE PERÍODO FOI DE 0 MM. FONTE: A Autora 91 Nota-se que a velocidade e a direção do vento podem influenciar no valor da concentração média. O aumento da velocidade do vento também acarreta num aumento da concentração média, já a direção do vento, acarreta aumento da concentração quando está tendendo a 90°, ou seja, a direção leste - oeste. Para P3, na campanha realizada nos dias 13,14 e 15 de maio de 2015, também foram realizadas as análises com dados meteorológicos, conforme mostra a FIGURA 45, somente para confirmação de análise anterior. Nessa análise, também se utilizou a média das concentrações a cada 15 minutos, devido aos dados fornecidos pelo SIMEPAR. Novamente, nota-se que a direção do vento tem influência na concentração medida, juntamente com a velocidade do vento. 92 VV - velocidade do vento; T - temperatura; DV - direção do vento; UR - umidade relativa; P - pressão atmosférica. FIGURA 45: CONCENTRAÇÃO ENCONTRADA EM P3 JUNTAMENTE COM OS DADOS METEOROLÓGICOS DO PERÍODO. A PRECIPITAÇÃO DURANTE TODO ESSE PERÍODO FOI DE 0 MM. FONTE: A Autora 93 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O CairClip mostrou um bom desempenho no monitoramento contínuo de concentrações de H2S e CH3SH com frequência de 1 minuto. Em ambiente externo, conseguiu capturar toda flutuação das concentrações de um local, mostrando os picos e momentos sem a presença desses gases. Apresentou média diária muito próxima aos resultados obtidos pelo método azul de metileno, considerado um dos métodos mais sensíveis de monitoramento. A desvantagem desse último é o período de exposição do filtro absorvedor que é de aproximadamente uma semana, enquanto que o CairClip tem a vantagem de capturar toda a flutuação, com frequência de 1 minuto, ao longo do monitoramento, possibilitando assim novos estudos para melhor entendimento do fenômeno da emissão desses gases. Os níveis de concentração encontrados, com o CairClip, nas campanhas realizadas no Rio Belém confirmaram que o odor emitido pelo rio é proveniente do gás sulfídrico com presença de metil mercaptana, pois as concentrações encontradas (média de aproximadamente 12 µg.m-3) estão dentro do limite olfativo dos seres humanos. Essa concentração pode ser prejudicial à saúde, podendo acarretar aumento do risco total nos indivíduo que estão expostos frequentemente a esses gases. Pode-se concluir que o risco de um residente sofrer alguma influência em sua saúde aumenta em quase 500%, sendo agravado em crianças, e de um trabalhador em 34%. O cromatógrafo não conseguiu medir a concentração de H2S, mas mostrou a sua presença em baixas concentrações. Mostrou também a presença de um gás não identificado que precisará ser investigado, segundo os responsáveis pela cromatografia dos Institutos Lactec. A aplicação do questionário, junto aos transeuntes na região do Rio Belém, mostrou que a população tem sensibilidade diferente à mesma exposição a odores. De um modo geral, diante do mau cheiro avaliado, todos se sentiram incomodados, ainda que em grau diferente. Como o rio analisado passa por boa parte da cidade, podem-se incluir no diagnóstico simulado todos aqueles que moram ou frequentam o entorno do rio ao longo de seu trajeto e não somente na região estudada. Mesmo este estando 94 canalizado em alguns trechos, a emissão de gases para a atmosfera existe e prejudica a saúde da população. Isso pode ser percebido na região central da cidade de Curitiba onde bueiros exalam o odor característico do gás da região estudada. A variabilidade da emissão dos gases estudados no Rio Belém é pequena em relação à encontrada na ETE B. A emissão da estação de tratamento de esgoto tem uma grande variabilidade provavelmente devido ao seu processo de operação tendo um comportamento distinto ao de um rio. Mas, os resultados mostraram que a concentração média de H2S e CH3SH no ar da região próxima ao Rio Belém é da mesma ordem de grandeza da região de uma estação de tratamento de esgoto, isso leva a concluir que a característica do rio está próxima a de um esgoto sanitário, comprovado com o AIQA extremamente poluído e com os estudos que caracterizaram o rio com presença de esgoto doméstico. O estudo mostrou a importância não somente de avaliar o odor, mas principalmente a necessidade de buscar soluções para a poluição do Rio Belém. A avaliação do risco associado à saúde da população exposta a gás sulfídrico e metil mercaptana emitidos pelo rio, mostra a necessidade da implantação de medidas mitigatórias. Uma reflexão da nossa qualidade de vida e dos impactos causados pelo nosso modo de vida sobre o meio ambiente deverá fomentar ações efetivas, aliadas a fiscalização rigorosa, para a recuperação e preservação do rio. 95 7 REFERÊNCIAS ABNT. NBR 6023 Informação e documentação - Referências - Elaboração. 2002. UFPR. Normas para apresentação de documentos científicos, 2 - Teses, dissertações, monografias e outros trabalhos acadêmicos. 2007. ACGIH. (AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIAL HYGIENISTS) In Hydrogen sulfide. Documentation of the threshold limits values and biological exposure indices. American Conference of Governmental Industrial Hygienists Inc. 6th ed. Cincinnati: c., 1991: p.786-788. AGUAS DO PARANÁ: Disponível em: <http://www.aguasparana.pr.gov.br/arquivos/File/DADOS%20ESPACIAIS/Unidades_ Hidrograficas_A4.jpg>. Acesso em 24/10/2013 ALMEIDA, I. T. DE. A poluição atmosférica por material particulado na mineração a céu aberto. ,1999. São Paulo. AMOORE, J.; HAUTALA, E. 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Anais... v. 33, p.1–12, 2013. 101 Apêndice A Conversão de Unidades Em alguns casos foi necessário converter as unidades das concentrações, o que se deu pelo seguinte raciocínio. se: Se 1 ppm significa 1 parte de gás para 1 milhão de partes de ar, então tem- 1 = 1 1000000 = é é á 4 Ou seja, 5 Em que: = valor em ppb Para isso se fez necessário encontrar quantas moléculas de ar e de gás existem em certo volume para se proceder à comparação. Analisando as moléculas de H2S: Massa molar de H2S = (2 ∗ 1,0079) + 32,064 Massa molar de H2S = 34,0798 Então: ∗ em que: = valor em . 1 34,0798 . . 1 34,0798 6 102 Se cada mol possui 6,023 * 1023 moléculas, então: ∗ 1 34,0798 ∗ 6,023 ∗ 10 ]∗ 34,0798 = [ gases. 6,023 ∗ 10 1 é 7 é Para calcular o número de moléculas do ar, utilizou-se a equação geral dos ∗ = ∗ ∗ 8 Em que: = pressão, em atm = volume, em litros = número de mols do gás, em mol = constante dos gases perfeitos e igual a 0,0821 = temperatura, em Kelvin ∗ ∗ Como é preciso utilizar o volume em metros cúbicos (m3), fez-se necessário converter a unidade da constante dos gases perfeitos: = 0,0821 ∗ ∗ ∗ 1 1000 = 0,0821 ∗ 10 ∗ ∗ 9 Partindo da Equação 8, tem-se que o número de mols de ar é: = ∗ ∗ 10 103 [ = ] ∗ [ ] ∗ 10 0,0821 ∗ [ ] Se considerar 1 m3 = [ ] ∗ 1 ∗ 10 [ ] ∗ 10 = 0,0821 ∗ [ ] 0,0821 ∗ [ ] Se cada mol possui 6,023 * 1023 moléculas [ ] ∗ 10 0,0821 ∗ [ ] = ∗ [ 6,023 ∗ 10 1 é ] ∗ 6,023 ∗ 10 0,0821 ∗ [ ] é Como 1 ppb significa 1 molécula de gás por 109 moléculas de ar, tem-se: [ = ∗ 6,023 ∗ 10 0,0821 ∗ [ ] [ é ] ∗ 6,023 ∗ 10 0,0821 ∗ [ ] ∗ é ℎã 1 10 é 11 ∗ Assim, tem-se o número de moléculas de ar existentes por metro cúbico que, juntamente com o número de moléculas de H2S, pode-se aplicar na Equação 5 e obter a fórmula para a conversão. = é é = 6,023 ∙ 10 ∙ [ 34,0798 ∙ [ ] ∙ 0,0821 ∙ [ ] ] ∙ 6,023 ∗ 10 104 = ≅ 2409,05 ∙ [ [ ]∙ [ ] ] 2409,05 ∙ ( [℃] + 273,15) ∙ [ ≅ ] 2409,05 ∙ ( + 273,15) ∙ [ ] 12 13 ou, ≅ em que, = concentração em ppb = temperatura em °C = concentração em = pressão em atm ∙ 2409,05 ∙ ( + 273,15) 14