1ª Edição
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1ª Edição
JAMM Jornal da Associação Médica de Moçambique Edição Especial Abril 2 0 1 5 O jornal de todos os médicos Presidente: Milto n Ta t i a Director: Nelson Tchamo Conselho Editorial Presidente do Conselho Editorial: Dr. Milton Tatia Director e Editor do Jornal: Dr. Nelson Tchamo Conselheiro Científico Principal: Prof. Dr. Albertino Damasceno Conselheiro Técnico Principal: Sr. Henriques Viola Conselho Científico Conselheiro Científico Principal: Prof. Dr. Albertino Damasceno 1° Conselheiro Científico Auxiliar: Dr. Gilberto Manhiça 2° Conselheiro Científico Auxiliar: Dr. Humberto Muquingue Conselho Técnico Conselheiro Técnico Principal: Henriques Viola 1° Conselheiro Técnico: Dr. Boaventura Mondlane 2° Conselheiro Técnico: Maria Luísa Ferreira Manessa Índice Editorial .............................................................................................................2 Sociedade: Ébola na Libéria .........................................................................3 Medicina e Saúde: Trauma facial por arma de fogo ..............................4 Cultura: Partir ...................................................................................................6 O Medicamento: Amoxicilina ........................................................................7 Destaques: Semana do Médico ....................................................................8 Biografia do Presidente da AMM ..........................................9 JAMM - GabinfoAMM - [email protected] Editorial A preservação da vida e da saúde dos moçambicanos é um dever de todos nós. É das nobres tarefas que podemos e devemos assumir, como moçambicanos, com todo esforço e sacrifício. As responsabilidades nesta área não devem, nem poderiam, ser vistas apenas sob ponto de vista institucional, vão para além disso. Cada indivíduo tem o dever de velar pela sua própria saúde e de fazer o melhor por ela, garantindo assim tanto a sua protecção como a da sua família e quiçá da sociedade. Essa responsabilidade é mais acrescida sobre os funcionários do Sector da Saúde e, de forma particular, sobre a Classe Médica. Do ponto de vista institucional, não se pode delegar esta responsabilidade à uma só entidade. Sinergias precisam-se! Esforços conjuntos, vontades partilhadas e acções concretas são para aqui chamados. O assumir de responsabilidades e acções, quer ao nível individual assim como institucional afiguram-se de vital importância para o desiderato pretendido. Em termos de liderança na saúde, nos congratulamos porque o mais alto magistrado da nação, O Presidente da República, assumiu o compromisso político para a melhoria da vida dos moçambicanos, com metas e objectivos ambiciosos que visam a criação de condições para a melhoria dos cuidados de saúde dos moçambicanos, procurando proporcionar uma vida longa e saudável. Notamos na visão do Chefe de Estado, demonstrados, quer no seu discurso, assim como no Plano Quinquenal do Governo (PQG) e Plano Económico e Social 2015 (PES 2015) e demais planos estratégicos sectoriais uma tarefa gigantesca, porém alcançável com o esforço e dedicação de todos os intervenientes. Desde o topo à base, bem como do ponto de vista de sinergias horizontais. Outrossim, confortou-nos ouvir o Presidente da República reassumir esse compromisso, perante a sociedade e com a Classe Médica, de forma particular, nas celebrações do dia do Médico Moçambicano. Ele afirmou, de viva voz, que gostaria de ser, ele mesmo, um médico, o comandante em chefe nesta tarefa de melhorar as condições de trabalho dos médicos e profissionais de saúde, como meio para melhorar a saúde dos moçambicanos. E mais ainda, o mais alto magistrado da nação encorajou-nos como médicos a segui-lo nesta árdua jornada pela saúde dos moçambicanos. A montanha a escalar é alta, os 2 JAMM - GabinfoAMM trilhos são íngremes! Basta olhar para o objectivo do PES 2015 de aumentar a “taxa de cobertura de crianças completamente vacinadas de 81%, em 2014 para 87,5% em 2015” quando em 2014 o aumento foi de apenas 1% em relação a 2013. O aumento do número de crianças suplementadas com Vitamina A, o aumento dos utentes de métodos de contracepção moderna, o incremento da taxa de partos institucionais, o aumento da capacidade de internamento das nossas unidades sanitárias, a melhoria da cobertura do Tratamento Anti-Retroviral (TARV) só para citar, algumas metas inscritas no PES 2015 apresentam-se como desafios cujo alcance e superação dependem destas sinergias entre todos os stake holders do sector e não só. Portanto, a Classe Médica responde positiva e proactivamente a este desafio lançado por Sua Excelência, o Presidente Filipe Jacinto Nyusi, intensificando as suas actividades de combate as doenças e promoção da saúde. Entendemos este desafio como um imperativo nacional, pelo que o assumimos, como pedra basilar do Sistema Nacional de Saúde, cabendo a nós a dinamização da implementação efectiva de estratégias e esforço na melhoria da vida os moçambicanos. Ao desempenharmos as nossas tarefas profissionais, com zelo, harmonia e responsabilidade, ao assumirmos o paciente no nosso leito como um irmão que vê em nós a sua salvação, colocamo-nos na linha da frente na materialização da visão do Chefe de Estado. - [email protected] Sociedade Ébola na Libéria Libéria, 11 dias sem nenhum caso confirmado de Ébola – Em contagem decrescente para ser declarada livre da maior epidemia de todos os tempos Por: Jeremias Naiene MD MScIH, UNMEER/OMS-Liberia Escrito em: 04 de Março de 2015 Um dos critérios que a OMS usou para me colocar na Libéria nos meados de Outubro de 2015 era a caótica situação que se verificava cá em comparação com os outros dois países mais afetados, nomeadamente a Guiné e a Serra Leoa. Libéria era o País que reportava mais casos confirmados de entre os 3. As Unidades de Tratamento de Ébola já nem tinham capacidade de albergar todos os casos. Os corpos eram cremados por falta de espaço nos cemitérios. Quando sai do aeroporto de Monrovia, o que vi parecia um ambiente de Guerra, com muitos checkpoints controlados por militares. As pessoas eram obrigadas a descer das viaturas para medição da temperatura e lavagem das mãos com água e cloro. Depois de 2 semanas na capital, fui colocado no Condado de Sinoe como coordenador de campo. O Objetivo era bloquear a propagação de casos de Monrovia para os condados periféricos, especialmente os localizados na fronteira com a Cote d' Ivore. O meu Condado reportou 22 casos confirmados. Dos casos que assisti pessoalmente, a febre, a fraqueza generalizada, a diarreia e vômitos eram os sintomas predominantes. Curiosamente, não vi nenhum caso que se manifestou com sinais hemorrágicos. Um caso desenvolveu sangramento vaginal, mas era em consequencia de um aborto devido a complicações do Ébola. Vi um caso confirmado de uma menina de 17 anos que estava aparentemente bem, sem nenhuma queixa. Eu tinha muita esperança que ela iria sobreviver. Mas, nas ocorrências foi reportado que ela evoluio para morte súbita. A senhora que desenvolveu o aborto estava tão grave e tivemos de transfundir várias unidades de sangue total, uma delas doada por mim mesmo por falta de doadores cá em Greenville. Ela sobreviveu. Outro caso curioso foi de um homem de 40 anos que desenvolveu só sintomas leves, com uma febrícula e mais nada. Foi positivo no RT-PCR para JAMM - GabinfoAMM Ébola e sobreviveu dando a impressão de que há casos de Ébola que passavam despercebidos só com sintomas leves ou mesmo nenhum sintoma. As principais estratégias de controlo eram: 1) Evitar o contacto com pessoas doentes , fluídos corporais e principalmente cadáveres: Os profissionais de saúde eram obrigados a usar Equipamento de Protecção Individual (EPI) em todos os doentes. Para casos de Ébola usavamos os EPI avançados. Eu visitava os doentes de Ébola das 7 às 8 da manhã, embora com EPI da OMS pudéssemos ficar até 4 horas uma vez que o calor era mesmo horrível naquelas roupas. Os óculos por vezes ficavam embaciados e a irritabilidade provocada pelo suor criava algum incomodo. 2) A educação sanitária, uma vez que as práticas tradicionais de tocar em pessoas doentes e em cadáveres é muito forte cá. O treinamento de equipas funerárias para a realização de funerais seguros e dignificados foi uma das medidas mais importantes. O uso de sprays com cloro para descontaminar lugares suspeitos era também uma medida chave. O isolamento precoce dos casos: Primeiro, foram construídos vários centros de tratamento de Ébola. Vários laboratórios com RT- PCR para Ébola foram abertos em todo o país para evitar isolar os casos não Ébola. Para as pessoas que haviam sido expostas a casos de ebola, incluindo fluídos corporais e cadáveres, era necessário - [email protected] 3 Quem segue esses casos são normalmente os traçadores de contactos que são voluntários comunitários (conhecidos como APEs em Moçambique). O traçamento de contactos normalmente é feito em combinação com busca activa de casos porta a porta. O caso que mais me impressionou foi de uma senhora de 50 anos, a avó e contacto da menina de 17 anos que descrevi acima. Eu supervisionava diariamente os traçadores de contatos em uma comunidade remota chamada Poly Town. A senhora era muito simpática e contou-me que estava triste pelo falecimento da neta e quase que desmaiou a minha frente. Já não comia há dois dias e estava fraca. Afinal, essa fraqueza, falta de apetite e sensação de desmaio já eram os primeiros sinais de Ébola, mas eu ainda não tinha dado conta disso. Decidimos controlar a senhora e prescrevi algumas vitaminas. No dia seguinte a senhora desenvolveu diarreia. O traçador de contacto reportou-me que de manhã a senhora tinha febre. Eu não respeitava a distância regulamentar de mais de 2 metros (recomendado para evitar entrar em contato com perdigotos) e tentava convencer a senhora a ir ao centro de tratamento para se fazer a análise ainda com alguma esperança que poderia ser negativa. Infelizmente a senhora recusou. Tivemos que envolver a polícia e as autoridades administrativas do condado para intimidarem a senhora e obrigala a ir ao centro. Caso contrário, ela seria uma grande ameaça para toda a comunidade. Por instinto, eu quase que verificava as mucosas e o pulso radial a procura de sinais de desidratação ou outro achado positivo. Uma enfermeira impediu-me quando a minha mão sem luvas quase que tocava no punho da senhora. A senhora amedrontada aceitou ir ao centro e o resultado foi positivo com 13 ciclos de PCR (estava altamente virémica). No dia seguinte, apesar de a diarreia ter parado e não ter vómitos, o pulso tornou-se muito rápido, fraco e a senhora foi perdendo gradualmente a consciência e faleceu. Nenhum dos casos que conseguimos isolar nos primeiros dois dias dos sintomas gerou novos casos. A menina de 17 anos e a senhora anémica que descrevi acima estavam a amamentar bebés menores de um ano, mas nenhum deles desenvolveu sintomas, sugerindo que nos primeiros dois dias do 4 3 JAMM - GabinfoAMM quadro clínico o Ébola ainda não é transmissível. Infelizmente nos centros de tratamento de Ébola cá na Libéria não se usa estetoscópios por não ser possível usá-los com os EPI avançados. Temos que memorizar todos os achados clínicos dos doentes para escrever nos processos só depois de sairmos da zona vermelha (onde ficam os doentes de Ébola). Não se pode sair com absolutamente nada da zona vermelha para a zona verde. Só com a roupa do corpo. Não há nenhum exame complementar. Administramos muitos fluídos aos doentes mas não temos como controlar os electrólitos. Provavelmente alguns óbitos são devido a desequilíbrios electrolíticos. Tratamos a todos empiricamente para malária e damos antibióticos. Hoje, dia 4 de Março, Libéria completa 11 dias sem nenhum caso confirmado de Ébola em todo o país. Já estamos em contagem decrescente para completarmos dois períodos de incubação (42 dias) e sermos declarados livres de Ébola. Em todo o país só temos um doente nos centros de tratamento de Ébola. Se tudo correr bem, no dia 2 de Abril de 2015 seremos o primeiro país dos 3 mais afectados a sermos declarados livres da maior epidemia de todos os tempos. O que os outros países devem fazer para evitar epidemias similares: 1-Criar capacidade de identificar doenças fora de padrões normais na região. Para tal, o treinamento de médicos ou técnicos de medicina em fundamentos básicos de epidemiologia é importante. O recrutamento de pessoal com experiência em identificação e controlo de outros surtos para esta epidemia de Ébola foi crucial para o controlo da situação na Libéria. 2-Equipar todo o país (em lugares estratégicos) com laboratórios capazes de identificar doenças mais ameaçadoras como cólera, sarampo, febre tifoide e o próprio Ébola. Sai mais barato do que enfrentar um surto de grandes magnitudes como cólera, ebola, etc. - [email protected] MEDICINA E SAÚDE FREQUÊNCIA DO TRAUMA FACIAL POR ARMA DE FOGO NO SERVIÇO DE CIRURGIA ORAL E MAXILOFACIAL . C C Tabela n.1 a esquerda e gráfico n.1 a direita Gráfico n.2 4 JAMM - GabinfoAMM - [email protected] 5 3 CULTURA Partir Deixe-me partir Com costas voltadas de água Afundadas em sonho alegre Trampolim. Salto que faz de nuvem avião Meu chão Que ao tecto as estrelas brilham Em espaço que é metafísica. Regresso em sonho lento Progresso. Passo regressado para frente Me deixe partir. Voar, nadar, caminhar Engolir a ânsia do futuro Desligar corpo e alma, simples partir. Nelson Tchamo 64 JAMM - GabinfoAMM - [email protected] 3 O MEDICAMENTO AMOXICILINA VIA DE ADMINISTRAÇÃO: Oral INDICAÇÕES: Espectro de actividade semelhante ao da penicilina G mas ampliado no sentido seguinte: (1) É mais activo contra o Enterococus (útil, em associação com gentamicina, nas endocardites) e L. monocytogenes. (2) É activa contra bactérias gram-negativas aeróbicas incluindo salmonella, shigella, P. mirabilis e algumas estirpes de E. coli (um terço destas bactérias são resistentes e por isso, deve-se usar amoxicilina só nas infecções não complicadas do tracto urinário; em infecções graves associar gentamicina). (3) É activa contra G. vaginalis sendo boa alternativa ao metronidazol nas vaginites bacterianas. (4) É útil na profilaxia da endocardite bacteriana em doentes com valvulopatia reumática, válvula protésica ou cardiopatia congénita que vão ser submetidos a tratamento dentário ou a manipulação das vias aéreas superiores sob anestesia local. DOSES: (1) Doses terapêuticas usuais: a) Adultos e crianças com mais de 20 kg: 250-500 mg de 8/8 h (máximo 3 g/dia). b) Crianças maiores de 3 meses e até 20 kg: 50-100 mg/kg/dia de 8/8 h. c) Crianças menores de 3 meses: a dose máxima não deve exceder 30 mg/kg/dia de 12/12 h. Usar a suspensão de amoxicilina nas crianças mais pequenas. (2) Na terapia mono-dose da cistite aguda: 3 g numa dose única. Reservar este tratamento só para mulheres entre 20-40 anos, com sintomas recentes (menos de 7 dias) e que não estejam grávidas, não tenham lesão renal e sejam controláveis após o tratamento. (3) Na vaginite bacteriana: 500 mg de 6/6 h durante 7 dias. (4) Na prevenção da endocardite bacteriana: 3 g (50 mg/kg na criança), numa dose única 1 h antes da intervenção e 1,5 g (25 mg/kg na criança) 6 h depois. Nos doentes que vão ser submetidos a anestesia geral e que tenham risco elevado de endocardite (válvula protésica, antecedentes de endocardite) fazer, no adulto ampicilina 1 g E.V. e gentamicina 120 mg por via E.V. ou I.M., imediatamente antes da indução, seguida de amoxicilina oral 500 mg 6 h após intervenção. Na criança menor de 10 anos: 1/2 da dose do adulto de ampicilina ou amoxicilina e 2 mg/kg de gentamicina). JAMM - GabinfoAMM EFEITOS SECUNDÁRIOS: No geral os mesmos da penicilina G mas com maior incidência de efeitos gastrointestinais sobretudo diarreia, mais frequentes em crianças e idosos e são dose-dependentes. A erupção cutânea, não é dosedependente, é mais frequente em doentes com mononucleose infecciosa, leucemia linfocítica crónica, doentes HIV positivos e com uso concomitante de alopurinol. Raramente e em doses elevadas colite pseudomembranosa. CONTRA-INDICAÇÕES: No geral as mesmas da penicilina G e ainda mononucleose infecciosa, leucemia linfocítica crónica. NOTAS E PRECAUÇÕES: (1) Evitar o tratamento cego da infecção orofaríngea com amoxicilina devido ao risco de erupção cutânea generalizada por uma possível mononucleose. (2) É útil no tratamento de infecções ligeiras por H. influenza e S. pneumonia (otite média, sinusite aguda, agudização da bronquite crónica). Nas formas mais severas de infecção por H. influenza (meningites, pneumonias epiglotite, osteomielite, artrite, etc.) devido a frequência de estirpes resistentes, preferir cloranfenicol ou ceftriaxona. (3) Apesar de ser activa contra o S. pneumoniae e Streptococus dos grupos A e B, é preferível nestes casos usar uma penicilina natural, devido não só à sua maior eficácia contra estes microrganismos como também ao maior risco de super infecções com o uso da amoxicilina. (4) Não é activa contra a grande maioria das estirpes de Stafilococus (produtores de penicilinase), algumas estirpes de E. coli (nesta última usar só em infecção ligeira). (5) A absorção intestinal não é afectada pelas refeições. (6) A terapêutica concomitante com alopurinol aumenta incidência das erupções cutâneas. (7) Reduzir a dose em caso de insuficiência renal severa. (8) Ver também 8-A-5. - [email protected] 7 DESTAQUE MENSAGEM ALUSIVA A SEMANA DO MÉDICO MOÇAMBICANO A 28 de Março de cada ano, a Classe Médica Moçambicana, celebra o seu dia, o dia do Médico moçambicano e, o aniversário da fundação da Associação Médica de Moçambique, criada á 28 de Março de 1992. Neste ano, sob o lema: “Investir no Médico é Investir na Saúde e no Desenvolvimento de uma Nação”, celebraremos o 23º Aniversário do Dia do Médico Moçambicano e da criação da nossa Associação. Este dia é dedicado a todos nós, que diariamente empreendemos todos os nossos esforços para a consolidação do Sistema Nacional de Saúde. Através da prestação da assistência preventiva, curativa e reabilitativa, lutamos afincadamente para o alívio do sofrimento e para a melhoria da saúde do nosso povo. Este aniversário corresponde a um momento ímpar, que de todos nós espera euforia, júbilo e confraternização e também de reflexão profunda como membros desta sociedade, comprometidos no desenvolvimento da Pérola do Índico. Importa sim reflectirmos sobre nós, olhar para este nosso percurso histórico e as dificuldades que tivemos que passar. Entender a nossa origem, os conceitos filosóficos fundamentais que cristalizam a classe médica. Reflectir sobre o que Hipócrates idealizou para nós. O que esta sociedade espera de nós e, o que nós podemos oferecer à sociedade com as condições de trabalho que temos. 8 JAMM - GabinfoAMM Nos últimos tempos, a nossa Classe dedicou tempo na formulação, com clareza, das suas responsabilidades, métodos de actuação e cometimento que assume perante a nação, assim como os mecanismos que regulam esta preciosa carreira. Todos estes processos encontram-se resumidos no instrumento Estatuto do Médico na Administração Pública. Instrumento esse que a posterior foi regulado por mecanismo próprio, o Regulamento do Estatuto do Médico na Administração Pública. Os nossos deveres formulados neste instrumento, associados aos princípios que juramos inspirados no Hipócrates são alicerces das nossas condutas e práticas. Entretanto, a sua implementação faseada e paulatina, nos deixa a mercê da ansiedade por condições de vida e de trabalho condignas, com o fim último de melhorar a vida dos moçambicanos. O crescimento económico do pais, e o ainda que tímido desenvolvimento sócio-cultural, leva a que os moçambicanos estejam cada vez mais conscientes da necessidade de proteger a sua saúde. Essa preocupação reflecte-se num interesse maior no acesso a informação sobre a saúde, que como consequência exige mais de nós, como educadores para a saúde que é um dos pilares da nossa prática. O estudo aprimorado e disciplinado, a dedicação e entrega, deve continuar a ser a nossa postura com vista a melhor servir o nosso povo. - [email protected] Comemoraremos o nosso dia num momento em que o país ainda convalesce do drama das calamidades naturais. As recentes cheias e inundações vieram a comprometer os esforços por nós desenvolvidos na prestação de cuidados de saúde de qualidade. Isso exige de nós a consciência e a submissão em trabalhar em condições de extrema dificuldade para salvar a vida e diminuir o sofrimento de quem necessita. Ademais a epidemia de cólera que afecta o país chama a nós a responsabilidade de uma resposta firme, estruturada e coordenada para debelar este mal que já sacrificou a vida de nossos compatriotas. Já foi demonstrado com evidências cientificamente aceitáveis, que é possível prevenir doenças como a cólera com meios e recursos relativamente acessíveis, económicos e eficazes. No entanto, em Moçambique ainda ocorrem episódios alarmantes de doenças preveníveis como esta. É chegada a hora de dizermos “basta” a uma tendência de Medicina de “país sub-desenvolvido”. Devemos desde já olhar para a nossa Medicina e exigir dela a qualidade dos países mais avançados, porque a Saúde deve ser considerado um sector prioritário seja qual for a conjuntura sócio-económica do país. A formação rigorosa e criteriosa é fundamental para o exercício de uma Medicina com qualidade aceitável. A abertura de novas Faculdades de Medicina muito nos apraz. Entretanto, desejamos que esse aumento de faculdades seja acompanhado de um rigoroso sistema de acreditação após a verificação dos pressupostos mínimos na formação de um Médico. JAMM - GabinfoAMM Chamamos a responsabilidade as instituições legislativas que se comprometam com políticas sérias e legislação adequada a formação do Médico. Simultaneamente chamamos a responsabilidade as instituições de fiscalização para que monitorizem com seriedade a Formação Médica no nosso país. Por último e não menos importante, chamamos a responsabilidade a cada um de nós, Médicos, na contribuição da formação tanto médicacomo dos outros profissionais de Saúde, prestando todo apoio necessário aos formandos que frequentam os nossos locais de trabalho de forma a prestar melhores cuidados de saúde ao nosso povo. Que este dia seja um momento de alegria, de festa, de animação, de solidariedade, de união, e de reencontro de cada um de nós nos princípios morais, éticos e técnico – científicos que foram postulados pelo pai da Medicina Moderna – Hipócrates. Bem-haja o médico moçambicano. A todos feliz semana e feliz dia do Médico Moçambicano. Maputo, aos 21 de Março de 2015 O Presidente da Direcção Milton Ussene Tatia (Médico Generalista Interno de 1ª) - [email protected] 9 DESTAQUE Milton Ussene Tatia Nasceu a 28 de Outubro de 1981. Iniciou a Licenciatura em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane em 1999 e teminou em 2006. Durante a Licenciatura foi Monitor da Disciplina de Bioquímica. Após a licenciatura, foi colocado na Província de Inhambane, onde exerceu as seguintes actividades: · Médico Chefe e Director dos Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social de Govuro (Fevereiro de 2007 á Fevereiro de 2008); · Médico Chefe Distrital e Director do Hospital Rural de Vilankulo (Fevereiro de 2008 á Fevereiro de 2009); · Chefe do Departamento Provincial de Formação e Director do Centro de Formação de Saúde de Inhambane (Março de 2009 á Julho de 2011) Trabalhou em condições difíceis e de escassez de recursos humanos, onde adquiriu uma grande experiência na gestão de grandes calamidades (Ciclone Fávio em 2007 e cheias em Govuro em 2008). Sempre priorizando a actividade clínica, como responsável da Quimioterapia para o Sarcoma de Kaposi na zona norte da província, contribuiu para a continuidade do tratamento dos pacientes com esta doença. Melhorou significativamente os cuidados prestados ao paciente seropositivo para o HIV e diminuiu os casos de abandono ao TARV no Distrito de Vilanculos, através da expansão destes cuidados ao Centro de Saúde de Mapinhane. Apoiou o Hospital Provincial de Inhambane no sector de Urgências e de Exames Especializados (ecografias). JAMM - GabinfoAMM Como Director do Centro de Formação e docente das disciplinas de Farmacologia, Fisiopatologia, Patologia Médica, Clínica Médica, Emergências Médicas, Anatomia e Fisiologia Humana, contribuiu para a formação de Enfermeiros (Gerais e de Saúde Materno e Infantil) e de Técnicos de Medicina Geral, de Radiologia e de Laboratório. Contribuiu significativamente para o aperfeiçoamento dos seus colegas (médicos e outros profissionais de saúde) através de formações contínuas onde foi formador provincial (Diagnóstico de Sarcoma de Kaposi; Manejo da desnutrição grave em crianças; Tuberculose e Lepra para triadores; Curso básico de HIV-SIDA e infecções oportunistas; Tutoria clínica para o seguimento do paciente infectado pelo HIV). Foi membro da Assembleia Provincial de Inhambane da Ordem dos Médicos de Moçambique, onde desempenhou as funções de 2º e 1º Secretário da Assembleia (2007 e 2008), Vice-Presidente da Assembleia (2009 e 2010) e Presidente da Assembleia (2011). Pelo seu comportamento e sua dedicação, em 2011, recebeu dois diplomas de honra atribuídos por Sua Excia o Governador da Província de Inhambane, Agostinho Abacar Trinta. Em Setembro de 2011 iniciou á pós-graduação (Residência Médica) em Medicina Interna no Hospital Central de Maputo. No 6º mandato da Direcção da Associação Médica de Moçambique, desempenhou as funções de Secretário-Geral (2012) e de Vice-Presidente da Direcção (2013). Actualmente, para além de Presidir a Direcção da Associação Médica de Moçambique e, de acumular as funções de 1º Vogal do Conselho Directivo Nacional da Ordem dos Médicos de Moçambique, está no 3º ano da Pós-graduação (Residência Médica) em Medicina Interna e é Docente de Fisiologia no Instituto Superior de Ciências de Saúde. - [email protected]