EXPEDIÇÕES FORMATIVAS: ORGANIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO
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EXPEDIÇÕES FORMATIVAS: ORGANIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO
EXPEDIÇÕES FORMATIVAS: ORGANIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE SABERES. ARIOSI, Cinthia Magda Fernandes – FCT/Unesp/Presidente Prudente; GEPPI SOUZA, Renata Junqueira de - FCT/Unesp/Presidente Prudente; CELLIJ Eixo 01: Formação inicial de professores para a educação básica Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-las para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. (Rubem Alves) O projeto “Expedições Formativas: organização e construção de saberes” aconteceu no segundo semestre de 2015 e foi motivado pela divulgação de uma instalação chamada Exposição “Otrapalhação”, sobre a vida e a obra de Eva Furnari, grande escritora brasileira de literatura infantil, que estava acontecendo no Serviço Social do Comercio – SESC, unidade de Bauru/SP. Diante desta informação, cogitou-se a possibilidade de promover uma viagem para visitar a referida exposição e, para aproveitar a ocasião, foi proposta a visita ao Zoológico Municipal de Bauru. Acreditava-se que seria uma oportunidade para enriquecer cultural e metodologicamente os alunos do curso de Pedagogia. A formação metodológica aos alunos considerou que quando um docente planeja uma visita, seja a algum lugar do próprio município ou a um lugar mais distante, esse evento pode se constituir em um momento de lazer e passeio, mas também de aprendizagem. Entretanto, na realidade da escola atual essas oportunidades ficam majoritariamente na perspectiva do lazer e prazer e muito pouco se constrói em termos de conhecimento. Assim, esse trabalho foi desenvolvido a partir da concepção de aula passeio formulada por Célestin Freinet (1988), complementada pelo conceito de mediação (MARTINS, 2005) e experiência (BONDÍA, 2002), pelas diretrizes para elaboração de material para visita guiada e orientada (SILVA, 2008), pela proposta de documentação pedagógica (GANDINI; GOLDHABER, 2002), vida e obra de Eva Furnari e modalidades organizativas do processo de construção de conhecimento (NERY, 2007). As questões que nortearam o projeto foram: o que é, quais as preocupações e qual o potencial de 3303 uma aula passeio? Ainda, como um professor deve organizar uma atividade deste tipo para seus alunos, por meio da vivência de uma experiência real? Esse projeto teve como objetivos: a) compreender as modalidades organizativas do processo de construção de conhecimento – projeto, sequência didática, atividades pontuais e atividades complementares, b) perceber a diversidade de linguagens que podem compor o registro das aulas, do passeio – portanto, diversas documentações pedagógicas, c) entender uma visita a partir de seu contexto – Eva Furnari –, d) mostrar quem é a escritora e ilustradora Eva Furnari, seus personagens, seu estilo – na preparação antes da visita à exposição da autora no Sesc-Bauru, e) compreender como o espaço do zoológico pode através de atividades lúdicas formar um projeto onde crianças descubram brincando particularidades de diversos animais. Diante do exposto, esse projeto teve como principal atividade uma viagem, denominada de Expedições Formativas com alunos do curso de Pedagogia da UNESP de Presidente Prudente, para a cidade de Bauru/SP, com uma visita ao zoológico e a uma exposição da escritora e ilustradora - Eva Furnari. Entretanto, a viagem foi precedida de uma formação sobre: modalidades organizativas, documentação pedagógica, projeto e sobre a própria autora - Eva Furnari. Na viagem, os alunos/viajantes receberam um material para orientar a visita e tinham a tarefa de escolher uma forma lúdica de sistematização dos conhecimentos construídos durante o projeto e voltados à crianças de educação infantil ou ensino fundamental (anos iniciais). Houve um encontro final, pósviagem, para apresentação das atividades planejadas e avaliação do projeto. Desta forma, acredita-se que os estudantes de Pedagogia vivenciaram uma experiência que poderão levar para sua atividade profissional como professores da educação básica. Conceitos basilares A aula passeio ou aula da descoberta, segundo Freinet (1988), é uma possibilidade de construção do conhecimento sobre o mundo porque está voltada à vida e a vida não está confinada a uma sala, mas fora dela. Para o educador esse tipo de atividade proporciona prazer e motivação, gerando ação e vida na escola. Ele afirmava A classe-passeio foi para mim a tábua da salvação. Em vez de cochilar diante de um quadro de leitura do reinício das aulas à tarde, saíamos para o campo que circundava a aldeia. Ao atravessar as ruas, parávamos para admirar o ferreiro, o marceneiro ou o tecelão, cujos movimentos metódicos e seguros nos despertavam a vontade de imitálos. Observávamos o campo nas diversas estações: no inverno, quando eram abertos grandes panos debaixo das oliveiras para receber as azeitonas que caiam; ou na primavera, quando as flores de laranjeiras desabrochadas pareciam oferecer-se à colheita. Já não examinávamos 3304 escolarmente as flores e os insetos, as pedras e os riachos à nossa volta. Nós os sentíamos com todo o nosso ser, e não só objetivamente, mas com toda a nossa sensibilidade. E voltávamos com nossos tesouros: fósseis, amentilhos de aveleira, argila ou um pássaro morto. (FREINET 1998, p. XXVII). A aula passeio se constitui em uma atividade que gera uma experiência. Uma experiência que vai além de uma normatização e regulação da atividade, que permite a construção do próprio modo de julgar o mundo e as coisas que o cercam, pois Já não fazem experiências porque as pernas cansadas perderam até a lembrança da montanha que, há não muito tempo, escalavam com audácia triunfante, porque iam sempre além das ordens e das prescrições dos que se dedicavam a regular a ascensão em vez de vivêla. Instalaram-se confortavelmente na planície, toda marcada de estradas e de barreiras, pretendendo julgar, segundo a sua própria medida, a ousadia das montanhas cujas agulhas parecem desafiar o azul. (FREINET, 1988, p. 99). Essa ousadia, da qual fala o autor, é a base de uma experiência que marca o individuo e o constitui com sujeito que conhece e significa o mundo que o rodeia e a partir de uma experiência sensível vincula a educação à vida e edifica o conhecimento construído (FREINET, 1988). Assim, Também nós tomamos impulso para a Vida; se a criança se interessa e se apaixona pela sua própria cultura, se “quer” criar instruir-se, enriquecer-se, ela o conseguirá, talvez por ilógicos caminhos de contrabando, mas num tempo recorde, com uma segurança e uma plenitude que nos edificarão. O principal é encontrar esse ardor, essa vida, esse furor de querer, que é bem próprio da natureza do nosso ser. Se o conseguirmos nas nossas classes, todos os problemas acessórios estarão resolvidos. (FREINET, 1988, p. 73). Desta forma, o conceito de experiência proposto por Bondía (2002, p. 21) no qual afirma que experiência é “o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca”, gera vida. E preciso considerar que a experiência não acontece com base na informação, pois […] a informação não deixa lugar para a experiência, ela é quase o contrário da experiência, quase uma antiexperiência. […] A primeira coisa que gostaria de dizer sobre a experiência é que é necessário separá-la da informação. E o que gostaria de dizer sobre o saber de experiência é que é necessário separá-lo de saber coisas, tal como se sabe quando se tem informação sobre as coisas, quando se está informado. (BONDÍA, 2002, p. 21-22) Por esse motivo o sujeito da experiência não é o sujeito da informação, da opinião, do trabalho, do saber, do julgar, do fazer, do poder, do querer, mas “é sobretudo um espaço onde têm lugar os acontecimentos” (BONDÍA, 2002, p. 24). […] o sujeito da experiência seria algo como um território de passagem, algo como uma superfície sensível que aquilo que acontece afeta de algum modo, produz alguns afetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos. (BONDÍA, 2002, p. 24). Para além do conceito de experiência proposto por Bondía (2002), o conceito de conhecimento também é evado nessa discussão, pois o conhecimento é fruto da complexidade das relações que os indivíduos realizam entre si e com o meio. Nesta 3305 perspectiva conceber o conhecimento como algo exclusivo dos bancos escolares é reduzi-lo e o papel da escola é ampliar a visão de mundo dos alunos. Para que isso aconteça é fundamental que o processo escolar tenha um caráter emancipador do sujeito, portanto é necessário que o educando possa interagir com a cultura que é produzida em diferentes meios sociais, sem recortá-la e trazê-la para dentro das muralhas escolares. Quando a escola quebra a realidade e traz para seu interior para que se transforme em um saber escolar e seja objeto do processo ensino, os alunos aprendem um conhecimento fragmentado e míope. Neste contexto o espaço, o ambiente é uma possibilidade viável para inovar a escola, pois permite o contato com linguagens múltiplas, podendo ser lido sensorialmente e cognitivamente e estando aberto à aprendizagens e à socialização infantil. Assim, apresenta-se como uma referência o conceito de mediação exposto por Martins (2005, p. 44) A mediação, mais do que estar entre uma pessoa e um objeto, talvez seja estar entre possibilidades de encontros, com qualidade e intensidade, para ampliar conexões possíveis e uma interação especial afetando tanto o aluno-aprendiz quanto o educador. […] A própria autora completa que mediação é, ainda, ampliação de conhecimento, ir de encontro ao repertório cultural e aos interesses do outro, conectar conteúdos e interesses, ir além dos conteúdos, aproximar, reflexão, experiência, diálogo, provocação, atitude do professor, e enfim é, compartilhar. Pois, é considerado […] como uma teia de conceitos, práticas e metodologias relacionadas entre si. Despertar o sensível olhar – pensante dependerá de quão instigantes forem às indagações a cerca das obras, isso caracteriza como é na prática um processo de mediação significativo e eficaz. As indagações servirão a essa metodologia se forem capazes de problematizar o contexto e demais conceitos que as obras apresentam. Problematizar o conhecimento por meio de indagações e questionamento, socializar e mediar o diálogo que provém das respostas é uma maneira de construir o conhecimento coletivo, auxiliar os visitantes/estudantes no sentido de se apropriarem de determinados conceitos e fazer uso dos mesmos de forma coerente. A mediação dessa forma contribuiu na construção da consciência dos sujeitos. (SILVA, 2008, p. 13) Desta forma, a ação mediadora pode promover a vontade de superação sobre o já conhecido pelo observador e um novo estranhamento. Por meio da mediação, é possível concretizar o que preveem as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica nas orientações gerais para formulação dos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas. IV – viver situações práticas a partir das quais seja possível perceber que não há uma única visão de mundo, portanto, um fenômeno, um problema, uma experiência podem ser descritos e analisados segundo diferentes perspectivas e correntes de pensamento, que variam no tempo, no espaço, na intencionalidade; (BRASIL, 2013, p. 33) 3306 Neste sentido, a mediação e a experiência são os conceitos que fundamentam a aula passeio e dão a sustentação teórica deste projeto. Portanto, esses conceitos foram a base para o desenvolvimento da formação que antecedeu a viagem. A formação dos viajantes aprendizes Como já mencionado anteriormente a atividade principal deste projeto, deveria ser um momento de alegria, prazer e lazer, mas também um período para aprender. Aprender em dois sentidos, o primeiro, de compreender coisas que pudessem contribuir para a formação pessoal do aluno de Pedagogia e o segundo, de aprender a organizar uma atividade de exploração do ambiente para seus futuros alunos. Este tópico aborda a formação metodológica para o desenvolvimento da aula passeio. A formação aconteceu em um sábado e era requisito para participar da viagem. Teve a duração de 8 horas. Foram trabalhos os seguintes conteúdos: Freinet: biografia e obra; técnicas Freinet: aula passeio; documentação Pedagogia; modalidades organizativas do processo de construção de conhecimento e Eva Furnari (vida e obra). O trabalho foi realizado pelas duas professoras coordenadoras do projeto, que são professoras do curso de Pedagogia. No primeiro momento do dia, foi desenvolvida uma atividade com vídeo sobre a vida de Célestin Freneit com a apresentação da técnica da aula passeio, como uma oportunidade de vivência que enriquece a prática docente. Na sequência foi trabalhado o conceito e as formas de documentação pedagógica na perspectiva da abordagem de Reggio Emilia, que a define como [...] uma ferramenta indispensável para que os educadores possam construir experiências positivas para as crianças, facilitando o crescimento profissional e a comunicação entre os adultos. […] quando documentamos algo, estamos deliberadamente optando por observar e registrar os acontecimentos em nosso ambiente a fim de pensar e comunicar as surpreendentes descobertas do cotidiano das crianças e os extraordinários acontecimentos que ocorrem nos lugares em que elas são educadas. (GANDINI; GOLDHABER, 2002, p. 150) Existem muitas formas de captar as informações que irão compor a documentação, pois As ferramentas que usamos para coletar as informações têm características específicas capazes de ampliar, mas também de limitar, o escopo do que registramos. Deveríamos dedicar algum tempo para treinar seu uso e conhecer bem as nossas ferramentas. Cada opção de documentação (sejam elas anotações, fotografias, fitas de vídeo) é de alguma maneira tendenciosa, tem seus potenciais e limitações. […]. Às vezes, podemos combinar formas de coletar nossas observações a fim de fazer um registro mais completo. […] A forma como planejamos examinar as nossas observações deve ser levada em consideração ao decidir como vamos coletá-la. (GANDINI; GOLDHABER, 2002, p. 153) 3307 Embora o conceito adotado nesse trabalho seja o regginiano, Freneit (1988) também se preocupava com isso, pois acreditava que pelo registro era possível garantir a comunicação entre os membros da comunidade escolar e essa comunicação era a base para o exercício da democracia que era um princípio muito importante para sua pedagogia. Então foi desenvolvido o tema das modalidades organizativas do processo de construção do conhecimento que são o modo de organizar o trabalho e o tempo pedagógico criando possibilidades diferenciadas para que cada indivíduo possa construir um significado sobre os conhecimentos e experiências (NERY, 2007). A autora apresenta a atividade permanente, as sequências didáticas, os projetos e as atividades de sistematização como exemplos de modalidades organizativas. As atividades permanentes são definidas por Lerner (2002) como aquelas que devem ser realizadas regularmente (todo dia, uma vez por semana ou a cada 15 dias). Normalmente, não estão ligadas a um projeto e, por isso, têm mais autonomia. Os objetivos das atividades permanentes são o de familiarizar os alunos com determinados conteúdos e construir hábitos. Já as sequências didáticas compreendem em um conjunto de atividades com uma ordem crescente de dificuldade. Cada passo permite que o próximo seja realizado. Dessa maneira, os objetivos são focar conteúdos mais específicos, e construir esses conteúdos no aluno. A organização da sequência didática prevê que o professor distribua essas atividades em meio as outras, as permanentes e aos projetos. Os projetos também são definidos por Lerner (2002) cujas principais características são a existência de um produto final e objetivos mais abrangentes. Muitas vezes o projeto didático em sala de aula é confundido com um projeto mais amplo, que envolve toda a escola, como por exemplo, uma feira de ciências ou olimpíadas. Nos projetos desenvolvidos na sala de aula, há a pretensão de atingir propósitos didáticos e sociais. Um exemplo é o projeto de leitura e escrita em que a classe produz um livro de receitas (além de aprender a ler e escrever, a criança tem a oportunidade de mostrar aos familiares como aproveitar melhor os alimentos) e o produto final é o livro. Já as atividades ou situações de sistematização são aquelas que não estão ligadas com propósitos imediatos, mas com objetivos e conteúdos definidos para o ano letivo, pois se destinam justamente a sistematização dos conhecimentos. Durante a formação dos alunos de Pedagogia, foi solicitado que cada dupla ou trio escolhesse uma modalidade organizativa para elaborar e confeccionar um trabalho que deveria ser apresentado no encontro de avaliação do projeto. Os alunos elegeram uma diversidade de atividades: álbum de Eva Furnari, Jogo de Carta sobre a Eva Furnari, Jogo de cartas do Zoo, mural do autor celebrado; álbum de figurinha do Zoológico, caça 3308 ao tesouro de Eva Furnari, jornal mural da viagem, jogo de tabuleiro do Zoo, quebra cabeça da Eva Furnari, quebra cabeça do Zoo, Jogo da memória sobre a Eva Furnari, Jogo da memória sobre o Zoo, caça ao tesouro do Zoo e uma documentação pedagógica. Além desta atividade foi solicitado aos participantes que efetuassem a leitura de pelo menos quatro livros da Eva Furnari até o dia da viagem, com o intuito de poderem estabelecer relações e conexões com as instalações da autora no SESC/Bauru e assim, compreender alguns objetos dessa exposição. Além do conteúdo formativo, foi realizada a orientação sobre os cuidados e orientações para o dia da viagem. Assim, quem fez inscrição, mas não esteve presente na formação perdeu a vaga e como vários alunos participaram da formação mesmo sem vaga, puderam efetuar a inscrição e adquiriram o direito de participar da atividade central do projeto, a expedição formativa. Bauru: bichos e literatura infantil? A viagem aconteceu em um domingo de outubro de 2015, com a saída da FCT/Unesp, de Presidente Prudente com destino a Bauru. A programação para a expedições era: Saída as 5h30; Parada em um Posto de Serviços em Bauru (para café da manhã); visita ao Zoológico Municipal de Bauru pela manhã; almoço no Shopping; visita a exposição “Otrapalhação”, sobre Eva Furnari, no SESC/Bauru e Retorno as 17h. Para a atividade foi preparado um material impresso, que foi entregue a todos os viajantes no posto de serviço logo no início. Esse material tinha como objetivo orientar as visitas e guiar o olhar dos participantes para as informações e experiências disponíveis nos lugares. Para elaboração dele, foi utilizada uma referência teórica que diferencia a visita guiada da orientada, pois a visita guiada costuma ser cansativa, devido a uma quantidade enorme de informações e dados disponibilizada aos visitantes em um curto período, principalmente em museus e exposição eventuais. Essa forma tem sido questionada, pois os profissionais da área de arte, que atuam na curadoria e serviço educativos destes eventos tem buscando outras de desenvolver as visitas que além de informar, possibilite a construção de conhecimento e eduque para a sensibilidade (MARTINS, 2005). Não fomos educados para olhar pensando o mundo, a realidade, nós mesmos. Nosso olhar cristalizado nos estereótipos produziu em nós paralisia, fatalismo, cegueira. Para romper esse modelo autoritário, a observação é a ferramenta básica neste aprendizado da construção do olhar sensível e pensante. (FREIRE, 1996, p.10). É importante mencionar que uma ação como a proposta nesse trabalho pode ser encaminhada em duas direções: uma voltada para informar e outra, voltada para educar, 3309 instigar e trocar (SILVA, 2008). Nessa perspectiva, a visita orientada é uma tentativa de fomentar nos participantes o desejo de conhecer mais sobre o objeto visitado. Visita orientada é diferente de uma visita guiada, pois, compreendo que são dois termos distintos tanto em relação à conceituação quanto em relação à metodologia empregada. Em um a visita orientada, o mediador orienta através de questionamentos que instiguem ao diálogo e a troca de experiências e informações. Enquanto que em uma visita guiada, o monitor guia determinado grupo pelo espaço expositivo palestrando a respeito das informações acerca das obras, havendo ou não tempo previsto para perguntas dirigidas ao monitor que por sua vez responde e soluciona dúvidas, não necessariamente um diálogo, com troca de experiências e opiniões. (SILVA, 2008, p. 11). O referido material era dividido em três partes: a primeira parte com uma apresentação dos conceitos que fundamentam o projeto; a segunda, apresentava as características e a história do Zoológico Municipal de Bauru seguindo de questões que os alunos deveriam encontrar durante o percurso; e a terceira, com apresentava a biografia de Eva Furnari e, também, questões para serem respondidas a partir da visita. As questões referentes ao zoológico abordavam os setores existentes, nomes científicos, a origem dos animais que habitam o parque, hábitos alimentares, tipo de cobertura corporal e informações técnicas sobre os animais. Foi aproveitava uma atividade proposta mensalmente pela divisão de educação do próprio zoo, propõe escolhe um animal com animal do mês e distribui dicas pelo caminho, para os que visitantes descubram qual é. Desta forma os participantes fizeram o passeio anotando no material as informações solicitadas, mas para encontra-las acabavam lendo os quadros informativos de quase todos os animais e trocavam informações ainda no local. O material sobre a exposição era bem semelhante ao do zoológico na estrutura, mas o conteúdo era referente ao conteúdo apresentado na instalação. Havia foto de personagens para que fosse colocado o título da história, fotos de detalhes dos objetos para que escrevessem a que se referia, informações para serem completadas, ilustrações para que encontrassem a história. E no final foi solicitado aos alunos que registrassem a experiência que vivenciaram. Os alunos ficaram livres para circular nos dois lugares, pois no material tinham as orientações necessárias. Desta forma, ao final de cada etapa, enquanto o grupo se aglutinava para se dirigir ao ónibus, eles já trocavam informações, na expectativa de completar as informações que faltavam e confirmar outras. Havia um misto de satisfação pelo trabalho desenvolvido e empolgação com futuras oportunidades. Bichos e literatura infantil para jogar, brincar e aprender 3310 Um mês depois da viagem foi realizado o encontro de socialização das experiências e apresentação dos materiais produzidos. Foi realizado um momento breve avaliação oral do projeto e os grupos fizeram a apresentação dos materiais. Na oportunidade foi entregue um questionário de avaliação para todos os participantes, que pretendia sistematizar as impressões e aprendizagens. Todos os grupos apresentaram seus jogos e foi um momento muito rico! A medida que os grupos apresentavam seus materiais e a forma de utilizá-lo, as pessoas questionavam a aplicabilidade, os recursos, sugeriam alterações, propunham outras aplicações etc. Todo o encontro foi registrado em foto. O Grupo estava muito envolvido e satisfeito com o resultado do projeto. Ao final, os participantes receberam a avaliação impressa já citada. Ela era composto por cinco questões. A primeira de avaliação geral do projeto com carinhas (feliz, indiferente e triste), as outras questões foram dissertativas, sendo elas: 2) na sua opinião, o Projeto “Expedições formativas: organização e construção de saberes” se constituiu em uma “experiência” para você? Justifique sua resposta. 3) Como a visita a “Exposição de Eva Furnari” contribuiu para você compreender melhor: obra, autora e estilo literário. 4) Qual a aprendizagem mais significativa da Visita ao Zoológico para você? 5) Após a participação no projeto como você define um bom planejamento, capaz de construir conhecimentos por meio de uma visita orientada? Explique. As respostas serão analisadas no próximo tópico. As aprendizagens geradas pela experiência Como já foi mencionado o projeto surgiu por iniciativa de duas professoras do departamento de educação da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Unesp, após tomarem conhecimento do evento no Sesc de Bauru. Por se tratar, a literatura infantil, da área de trabalho de uma das professoras e a outra, que já desenvolve atividades formativas como a metodologia das expedições, foi muito rápida a junção das ideais e a elaboração do projeto. Inicialmente, a pedido da coordenadora do curso de Pedagogia, as vagas deveriam ser preenchidas prioritariamente pelos alunos dos terceiros e quartos anos do curso, por estarem próximos a formatura e não terem vivenciado nenhuma experiência deste tipo durante a formação. Assim, foi feito. Os alunos dos últimos anos foram priorizados, mas no dia da formação treze alunos dos segundos e dos primeiros apareceram, mesmo sem terem a inscrição confirmada, alegando que queriam, pelo menos fazer a formação, entretanto faltaram dezessete alunos do anos finais do curso e os alunos que estavam presente adquiriram o direito de participar da viagem. Na nossa interpretação, os alunos dos primeiros anos estão mais disponíveis para esse tipo de atividade, ainda mais de final de semana. Os alunos dos últimos anos que participaram 3311 do projeto foram aqueles que estão necessitando muito totalizar as horas de Atividades Cientificas Culturais (ACC), mas se envolveram bem na atividade. Acredita-se que por esse motivo o item referente aos critérios para seleção dos participantes tenha sido o tópico com mais avaliação regular. Com essa pequena explicação sobre fatores externos que influenciaram os processos de inscrição, apresentamos a composição final do grupo. Gráfico 1: Composição do grupo Fonte: Elaboração das autoras Assim, foram 44 passageiros na viagem. Entretanto até o momento da elaboração deste texto, só 28 participantes haviam entregado as avaliações do projeto. A seguir apresentaremos os resultados da avaliação geral do projeto, tabuladas a partir das 28 avaliações. Quadro 1: Avaliação do projeto Questões avaliadas Critérios de seleção dos participantes Informações e orientações disponibilizadas Dia de Formação a) Conteúdos abordados Dia de Formação b) Metodologia Dia de Formação c) Tempo A viagem A viagem a) Recepção no local (FCT) A viagem b) Horário (adequação aos pontos visitados) A viagem c) Roteiro do passeio (Zoológico, Shopping e Sesc) A viagem d) Interação entre alunos e docentes Material da visita orientada a) Informações disponibilizadas Material da visita orientada b) Proposta de atividades Material da visita orientada c) Descobertas sobre os espaços Fonte: Elaboração das autoras 3312 17 25 25 26 19 26 27 21 26 11 03 03 02 09 02 01 06 02 ------------------------------------- 23 24 04 04 01 ----- 26 25 02 03 --------- De modo geral, o projeto foi bem avaliado pelos participantes. O material elaborado atingiu plenamente o objetivo proposto e foi um recurso importante para sustentar a experiência. Considerações Finais O papel do professor como mediador é o de promotor do encontro entre o ambiente e o sujeito, para que esse papel seja cumprido é fundamental que o professor conheça antes do ambiente, para que tenha subsidio para elaborar o material e promover o encontro. É fundamental que o professor tenha a experiência antes de oferecê-la, por isso a formação cultural do professor é tão importante, quanto a teórica. Nesse projeto, em especial, as professoras, foram tanto na exposição, como ao zoológico para preparar o projeto. Quando não é possível que o professor vá ao local, ele pode utilizar os recursos disponíveis na internet, pois muito destes espaços possuem site com o recurso da visita virtual. Entretanto, salientamos que o encontro real é o que vai gerar uma experiência sensível e criativa efetiva. A realização deste projeto propiciou a criação de um vinculo mais estreito entre professores e alunos. Foi um momento de enriquecimento de todos, pois os professores puderam construir novos saberes sobre suas próprias e oportunizar aos futuros professores uma experiência prática de organização de uma expedição aos seus alunos. Considerando que a metodologia da expedição vai além de uma excursão ou passeio, para se constituir em um momento de construção de conhecimento, mas não um conhecimento qualquer, um conhecimento significativo que gera marcas profundas nos indivíduos. Essa proposta não se limita aos espaços da arte, mas se amplia para todos os espaços que podem gerar novos conhecimentos e tenha um significado para o grupo. Referências BONDIA, J. L.. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. In: Revista Brasileira Educação, Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, abr. 2002. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141324782002000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 10 ago 2015. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. 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