Dialogo Nordestino

Transcrição

Dialogo Nordestino
E STA D O D E M I N A S
6
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Q U I N T A - F E I R A ,
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D E
J U L H 0
D E
2 0 0 7
CULTURA
DISCO
Ex-integrante do grupo Andróide Cabeça, o músico pernambucano Assis Medeiros funde
elementos do rock e da música regional em seu terceiro trabalho solo, o CD Burrodecarga
Diálogo nordestino
ADRIANA LAGO/DIVULGAÇÃO
KIKO FERREIRA
Uma cena de sexo entre flores,
das preliminares ao gozo em solo de guitarra. Uma crítica aos
Assis Medeiros
abandonou a vida
acadêmica para se
dedicar à música
políticos populistas do Nordeste, terra de bumba meu Boeing.
Dedução que saudade é de plástico, polui o coração. E uma conclusão sábia, de quem conviveu
e convive com Brasília e seus podres poderes: “Falta poesia, falta
compaixão, falta valentia”. Elementos da música de um nordestino que não sofre influência
do mangue beat e, mesmo assim, soa atual e respeita as boas
regras da música popular que
merece ser ouvida com cérebro
e sangue corrente.
N
ascido em Recife,
criado em João Pessoa, o compositor,
cantor, editor da TV
Senado e escritor
Assis Medeiros saiu
da UnB em 2005,
onde deu aula por
cinco anos, para se dedicar à música.
Burrodecarga, terceiro disco gravado
e primeiro a ter distribuição comercial (www.assismedeiros.com), é
uma eficaz apresentação de armas e
idéias bem defendidas.
A música de Medeiros tem peso,
mas não se enquadra na categoria
rock, mesmo que ele venha do grupo Andróide Cabeça, com passagem pelo festival Porão do Rock, de
Brasília. Tem boas letras, buriladas
a partir da experiência como escritor de livros infantis e do especializado Hackers: entre a ética e a
criminalização. E apresenta uma
mescla de ritmos e gêneros que inclui rock, reggae, funk, ritmos nordestinos e um quase onipresente
samba, às vezes nas melodias, muitas vezes nas letras de títulos.
PLURALIDADE Mais para Mundo Livre S/A que Nação Zumbi, se quisermos ficar nas referências nordestinas, ele classifica o disco como
“uma espécie de bate-papo entre
Luiz Gonzaga, João do Vale, Pink
Floyd e Led Zeppelin”, fruto de
uma formação musical que traz essa pluralidade dos anos 70 e 80.
Com 35 anos de idade e a defesa de
uma música que tem “sonoridade
pop e objetivos universais”, ele
tanto digere ecos do Maranhão (em
Banzo beleza, Ditado tecnopopular
e Tempo reggae samba) como
apresenta um carnaval elétrico (É
carnaval, com citação de Como
dois e dois, de Caetano, via Roberto
Carlos) e não se avexa de aproveitar lições do mundo pop para provocar a dança (Vermelhor).
Com sopros que remetem a Tim
Maia e um fundo jovem guarda que
lembra Mombojó, O inconcebível leva a Além da flor, cantada que vai
crescendo, a partir de timbres
floydianos e termina em gozo. E, em
Falta poesia, feita para o documentário Sertão: o homem, a terra, a luta,
consegue compor um tema de protesto sem parecer ingênuo ou repetitivo, mesmo com idéias da indignação que já aprendemos, infelizmente, a incluir na conta de argumentos inócuos.
Como uma estréia oficial, Burrodecarga é um resumo de tendências,
que inclui a primeira música, Nada
nos difere, escrita aos 17 anos, e colaboração de amigos como Victor Longo, autor de Peça peça peça, e da poeta paraibana Wilnna Vidal, autora da
letra de O inconcebível. E aponta para a confirmação de que valeu a pena deixar a vida acadêmica para arriscar pele, sangue e músculos na
carreira musical.
CHRIS CORNELL
Começar tudo de novo
DANNY MOLOSHOK/REUTERS-12/5/07
ARTHUR G. COUTO DUARTE
“Reconhece a queda e não desanima/ Levanta, sacode a poeira e dá a
volta por cima.” Mesmo sendo de um
velho samba de Noite Ilustrada, esses
versos caem como uma luva na hora
de se avaliar a atitude rocker de Chris
Cornell. Com a volta do Rage Against
The Machine, grupo cujos remanescentes se reuniram ao vocalista, em
2002, para dar origem ao supergrupo
Audioslave, Cornell, que já estava
aquecendo as turbinas para reativar
sua discografia solo, aproveitou o timing para anunciar o fim do Audioslave por causa de “conflitos de personalidade, sem resolução, assim como
diferenças musicais”.
Aliás, fibra para tocar projetos da
estaca zero é artigo que nunca faltou
na trajetória do artista. Ex-cozinheiro
que largou uma promissora carreira
para tocar bateria em um obscuro
grupo de rock de Seattle batizado
Soundgarden, no início dos anos 80,
Cornell não se fez de rogado quando,
tempo depois, foi instado a trocar o
instrumento pelo microfone. Já no
auge do sucesso do Soundgarden,
quarteto no qual seu potente vocal
foi fundamental para alicerçar os pilares da sonoridade grunge, ele voltaria a chutar o balde da fama para
abraçar uma incerta via solitária.
Com o fim da banda Audioslave, Cornell retoma a carreira individual
CONTINUANDO Primeiro álbum individual do vocalista, Euphoria morning
obteve boa receptividade da parte dos
fãs e da crítica, expandindo suas possibilidades como cantor-compositor.
Algo que ele solidificaria, adiante, a
partir da cessão de canções de sua autoria para trilhas sonoras de filmes
(Singles, Mission impossible) e discos
de artistas como o combo metálico
Flotsam & Jetsam e o grand-guinolesco Alice Cooper. Quando as coisas pareciam prestes a entrar definitivamente nos eixos, Cornell voltou a mandar
tudo para o espaço, só para se arriscar
novamente no projeto Audioslave.
Três álbuns de grande vendagem
depois, ele vem recomeçar tudo de novo mediante o apropriadamente intitulado Carry on (expressão traduzível
como “continuando”). No novo trabalho, Cornell não chega propriamente a
se embrenhar por caminhos desconhecidos: para quem já conhecia seus
urros pós-Ian Gillan, do Soundgarden,
ou mesmo seus arroubos bluesy do
projeto Temple of The Dog, a sonoridade calcada no hard rock setentão
que envolve boa parte da gravação é
até previsível.
Mas isso está longe de ser um demérito: ouvindo-o a plenos pulmões
no comando de temas possantes como a introdutória No such thing (dá
até para imaginar Cornell cantando-a
em algum show, com cabeludos em
nostálgicas camisas de flanela fazendo
fila para o stage diving), a metalisérgica Poison eye, a rolling stoniana Your
soul today e o rock de têmpera latina
Today (faixa bônus exclusiva da edição brasileira), não há como ficar impassível diante do cara.
As ousadias ficam por conta de
uma releitura chumbadaça para o (até
então) manjado hit pop Billy Jean, de
Michael Jackson (!) e do bombástico arranjo – enfeixado por cordas e metais
– que deu outra dinâmica para You
know my name, tema que acompanha
as peripécias do novo James Bond na
refilmagem de Casino Royale. Missão
cumprida, só resta esperar pelas novas
encarnações, que, certamente, haverão de vir da parte dessa metamorfose
ambulante chamada Chris Cornell.

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