Consumidores: Biotecnologia Vegetal: Criando Soluções para
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Consumidores: Biotecnologia Vegetal: Criando Soluções para
Consumidores: Biotecnologia Vegetal: Criando Soluções para o Mundo em Desenvolvimento Um novo mamão proveniente da biotecnologia ajudou a salvar a cultura de mamão do Havaí e pode também ajudar os fazendeiros de subsistência na Ásia. Por volta de 1997, um vírus mortal (ringspot) do mamoeiro arrasou a quinta maior cultura do Havaí. A produção caiu quase 40 porcento, os fazendeiros estavam quebrando e a atividade com mamão de US$ 17milhões do Havaí corria perigo de acabar.1 No mesmo ano, entretanto, o governo dos EUA deu permissão para cerca de 2002 pequenos fazendeiros de mamão começarem a produzir comercialmente variedades geneticamente melhoradas que coroaram o trabalho de mais de 20 anos liderado pelos pesquisadores de Cornell e da Universidade do Havaí.3 Os pesquisadores inseriram um gene que tornou as plantas resistentes ao vírus ringspot — similar ao modo que a vacina torna as pessoas imunes à doença. O melhoramento produziu resultados imediatos.4 Em quatro anos, o melhoramento genético não apenas parou o rápido declínio da cultura do mamoeiro no Havaí, mas a produção na realidade retornou ao nível aproximado em que estavam antes da invasão do vírus ringspot.5 “Essas sementes dão à cultura do mamoeiro no Havaí uma segunda chance,” disse Emerson Llantero, gerente do Comitê Administrativo do Mamão do estado, cujos produtores membros financiaram boa parte da pesquisa.6 Essa reviravolta na sorte dos pequenos produtores de mamão do Havaí é um exemplo de como a biotecnologia vegetal faz hoje a diferença. Na realidade, o Governador do Havaí Ben Cayetano credita à biotecnologia a salvação de toda a cultura do mamoeiro no Havaí7 e a restauração da posição do estado como o maior fornecedor de mamão aos Estados Unidos continentais.8 Mas a biotecnologia em geral — e os mamões melhorados em particular — farão muito mais no futuro para produzir mais e melhores alimentos e proteger o ambiente. Já está em andamento no Sudeste da Ásia um projeto para colocar o mamão resistente ao vírus ringspot do Havaí nas mãos dos fazendeiros de subsistência.9 “É uma ciência que tem mais a oferecer ao mundo em desenvolvimento que ao mundo desenvolvido,” diz C.S. Prakash, um nativo da Índia que dirige o Centro de Pesquisa em Biotecnologia Vegetal da Universidade de Tuskegee. A razão é muito simples: O mundo em desenvolvimento mais a perder e potencialmente o mais a ganhar. Mais alimento para mais pessoas Com a população mundial projetada para passar dos 8 bilhões por volta de 2030, haverá outras 2 milhões de bocas para alimentar10 — cerca de 73 milhões de pessoas por ano, a maioria delas nas regiões em desenvolvimento. Com o crescimento de renda também incentivando a demanda por dietas melhores, os fazendeiros necessitarão mais que dobrar sua produção nos próximos 25 anos para alimentar essas bocas adicionais.11 O aumento na produtividade agrícola, entretanto, está estacionado em apenas 1.3 porcento ao ano12 — menos da metade do que estava há 30 anos. “Longe de ser um acréscimo de luxo ao cenário da pesquisa convencional, a biotecnologia nos fornece um novo conjunto vital de ferramentas, que nos trás esperança real de um futuro melhor,” diz Florence Wambugu, fundadora da A Harvest Biotech Foundation International e autora do recente livro, Modifying Africa: How Biotechnology Can Benefit the Poor and Hungry, A Case Study from Kenya. (Modificando a África: Como a Biotecnologia Pode Beneficiar os Pobres e Famintos, Um Estudo de Caso no Quênia) “A biotecnologia agrícola é importante para o Quênia, como para a maior parte dos outros países africanos, pela mais básica das razões: Nosso povo não tem comida suficiente.” Outros pesquisadores africanos têm a mesma opinião. Recentemente, a Sociedade Internacional de Cientistas Africanos fez uma declaração chamando a biotecnologia agrícola uma “grande oportunidade” para aumentar a produção de alimento na África, no Caribe e outras áreas em desenvolvimento. “A África e o Caribe não podem suportar ser deixados ainda mais para trás na aquisição dos usos e benefícios dessa nova revolução agrícola,” disseram os cientistas. 13 A pesquisa na obtenção de culturas importantes para os países em desenvolvimento é muito promissora. Estão sendo obtidas novas variedades de arroz que deverão ter produtividade 50 por cento maior e maior teor de proteína, maturarem de 30 a 50 dias mais cedo, serem mais tolerantes à seca e às doenças, serem resistentes a certas pragas de insetos e serem cultivadas com menos fertilizantes e pesticidas. 14 “Essa iniciativa mostra o enorme potencial da biotecnologia para melhorar a segurança alimentar na África, Ásia e América Latina,” declara o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas em seu Relatório de Desenvolvimento Humano de 2001.15 Foram desenvolvidas culturas de tecido de banana proveniente da biotecnologia para cultivar plântulas de banana limpas, livre de doenças16 para serem distribuídas a pequenos fazendeiros no Quênia, onde as pragas e doenças reduziram a produção a menos de um terço do potencial da cultura.17 O resultado será maiores produções. Também no Quênia, os pesquisadores, liderados por Wambugu, continuam a desenvolver uma batata doce que é resistente ao vírus feathery mottle, uma praga que consome (juntamente com várias cepas relacionadas de vírus) cerca de três quartos da colheita anual. Espera-se que a batata doce melhorada, alimento básico em muitos países, tenha produtividade muito maior. Pesquisadores chineses também desenvolveram uma batata doce resistente a vírus, que aumentou a produtividade em até 160 por cento.18 Em todo o mundo, estima-se que 35 por cento da produção agrícola seja perdida para os insetos e doenças, com um custo de mais de US$ 200 bilhões por ano. A biotecnologia agrícola está surgindo como outro instrumento para ajudar os fazendeiros acabar com essas perdas. Melhores alimentos para melhor nutrição Além de fornecer mais alimentos, estão em andamento pesquisas para melhorar o valor nutritivo e medicinal dos alimentos no mundo em desenvolvimento. Os pesquisadores estão atualmente trabalhando para inserir em bananas uma vacina para a hepatite B, uma doença mortal que aflige cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. 19 As vacinas tradicionais requerem refrigeração e equipamento de esterilização que é dispendioso e raro no mundo em desenvolvimento. A vacina comestível poderia ser aplicada por apenas 2 centavos por dose, versus US$ 125 para o tratamento convencional.20 Os pesquisadores também estão trabalhando para inserir um gene no arroz que produz mais beta caroteno, um precursor da vitamina A. Em todo o mundo, estima-se que 100 a 140 milhões de crianças sofram de deficiência de vitamina A, que pode levar à doença e à morte. 21 Até meio milhão de crianças no mundo ficam cegas a cada ano devido à deficiência de vitamina A, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Estão sendo obtidas novas variedades de milho com alto teor de proteína que poderiam aliviar deficiências crônicas, aflição de ainda mais crianças em regiões da África, Ásia e América Latina. Estas são apenas alguns dos produtos melhorados que podem ajudar na qualidade de vida das pessoas que vivem no mundo em desenvolvimento. Embora a tecnologia seja nova, o conceito por trás desses melhoramentos existe há séculos. Com Hipócrates, o médico grego que é conhecido como o pai da medicina moderna, disse em 400 ªC.: “Deixe o alimento ser seu remédio e seu remédio ser alimento.” Protegendo o ambiente A biotecnologia vegetal também está ajudando a proteger o ambiente em muitas regiões do mundo em desenvolvimento melhorando a produtividade da terra arável existente, permitindo mais preparo conservacionista do solo e menos pulverizações. “A menos que estejamos prontos para aceitar a fome, ou colocar os parques da Amazônia sob o arado, há apenas uma única boa alternativa: Descobrir modos de aumentar a produção de alimentos com os recursos existentes,” diz Martina McGloughlin, diretora do programa de biotecnologia da Universidade da Califórnia-Davis e chefe do programa de ciências biológicas do sistema universitário da Califórnia. Os ambientalistas temem que até a metade dos 6 bilhões de acres remanescentes de floreta tropica do mundo sejam perdidos para a expansão agrícola. E alguns biólogos alertam que até 20 por cento de todas as espécies das florestas tropicais poder ser extintas dentro de 30 anos se continuarem a desaparecer na velocidade atual. 22 Os pesquisadores usam a biotecnologia vegetal para aumentar a produtividade da terra existente de várias maneiras. • • • No México, os pesquisadores estão trabalhando para tornar o milho e o arroz mais tolerantes ao alumínio - um tóxico comum do solo. 23 Na Califórnia, os pesquisadores obtiveram um tomate melhorado geneticamente que pode se desenvolver em solos salinos24 — um problema em regiões áridas onde se usa irrigação. A expectativa é fazer outras plantas também tolerantes ao sal. Na Índia, os cientistas estão acrescentando dois genes às plantas de arroz, para que elas possam sobreviver sob a água por longos períodos. 25 Isso é importante porque mais de um quarto dos 19,7 bilhões de acres de terra arável, pastos, florestas e bosques do mundo já se degradaram por uso excessivo e mau uso, tais como irrigação em excesso ou erosão. E outros 12,3 milhões de acres são atingidos anualmente, de acordo com o CGIAR. Melhorando vidas através do compartilhamento de tecnologia A pesquisa em biotecnologia vegetal está sendo conduzida em muitos continentes diferentes por muitas pessoas diferentes – de cientistas de universidades e do governo a pesquisadores de instituições públicas e companhias particulares. Em 1998, foi formada a “Papaya Biotechnology Network” (rede de Biotecnologia do Mamão) para compartilhar essa tecnologia com pequenos fazendeiros de subsistência do Sudeste Asiático. A rede é composta de especialistas tanto do setor público como do privado para desenvolver mamões melhorados na Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia e Vietnam, que tiveram problemas de vírus ringspot semelhantes ao que quase acabou com a cultura no Havaí. Os testes de campo devem começar logo nesses países e os fazendeiros – que dependem da cultura para ajudar a alimentar suas famílias e ganhar dinheiro – estão esperançosos.26 eles ouviram falar o que essas novas sementes fizeram pelos produtores de mamão do Havaí. O fato é que a biotecnologia está melhorando vidas agora mesmo, e pode melhorar mais vidas, de muitas mais maneiras no futuro. Zakour, John, McCandless, Linda. “First Genetically Engineered Papaya Released to Growers in Hawaii,” New York State Agricultural Experiment Station, Cornell University, April 28, 1998, p. 1, <www.nysaes.cornell.edu/pubs/press/1998/papayarelease.html>. 1 “Papaya Acreage Survey Results,” Hawaii Agricultural Statistics Service, <www.nass.usda.gov/hi/fruit/annpap.htm>. 2 Zakour, John, McCandless, Linda. “First Genetically Engineered Papaya Released to Growers in Hawaii,” New York State Agricultural Experiment Station, Cornell University, April 28, 1998, p. 1, <www.nysaes.cornell.edu/pubs/press/1998/papayarelease.html>. 3 Zakour, John, McCandless, Linda. “First Genetically Engineered Papaya Released to Growers in Hawaii,” New York State Agricultural Experiment Station, Cornell University, April 28, 1998, p. 2, <www.nysaes.cornell.edu/pubs/press/1998/papayarelease.html>. 4 Perry, Delan, Interview on Jan. 4, 2001, and “Hawaii Papayas” from the National Agricultural Statistics Service, Dec. 11, 2001. 5 Zakour, John, McCandless, Linda. “First Genetically Engineered Papaya Released to Growers in Hawaii,” New York State Agricultural Experiment Station, Cornell University, April 28, 1998, p. 2, <www.nysaes.cornell.edu/pubs/press/1998/papayarelease.html>. 6 Gianessi, Leonard, “The Potential for Biotechnology to Improve Crop Pest Management in the U.S.: 40 Case Studies (Draft),” <www.ncfap.org/>. 7 “Saving the Papaya,” Teachers and Students section, Council for Biotechnology Information Web site, p. 2, <index.asp?id=1261>. 8 Intellectual Property/Technology Transfer (IP/TT) Management Network of Southeast Asia, International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications, <www.isaaa.org/activities/SEAsia_IPTT.htm>. 9 “Population Numbers and Trends: World Population Still Growing,” United Nations Population Fund, <www.unfpa.org/modules/briefkit/05.htm>. 10 “State of World Population 2001: Chapter 2, Environment Trends, Moving Towards Food Security” United Nations Population Fund, November 7, 2001, <www.unfpa.org/swp/2001/english/ch02.html#2d>. 11 Hautea, Randy A., James, Clive. “The Road to Global Sustainable Agriculture: A View and Experience from ISAAA” multimedia presentation, slide 3. 12 International Society of African Scientists Position Statement on Agricultural Biotechnology Applications in Africa and the Caribbean, <www.monsantoafrica.com/reports/ISAS/ISAS.html>. 13 “Although controversial, GMOs could be breakthrough technology for developing countries,” United Nations Development Programme, Human Development Report 2001, July 10, 2001, <www.undp.org/hdr2001/pr2.pdf>. 14 “Although controversial, GMOs could be breakthrough technology for developing countries,” United Nations Development Programme, Human Development Report 2001, July 10, 2001, <www.undp.org/hdr2001/pr2.pdf>. 15 “The Potential for Agri-biotechnology in Sub-Saharan Africa,” ISAAA Biennial Report 1997-1999, <www.isaaa.org/publications/about_isaaa/ Biennial_report99/Biennial_report99_8.htm>. 16 Wambugu, Florence, “Modifying Africa: How Biotechnology Can Benefit the Poor and Hungry, a Case Study from Kenya,” p. 23, 2001. 17 “Food in the 21st Century: From Science to Sustainable Agriculture,” Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR), p. 32, 18 “Edible Vaccines,” Food & Ag Biotech, <www.bio.org/food&ag/vaccine.html>. 19 “Edible Vaccines,” Food & Ag Biotech, <www.bio.org/food&ag/vaccine.html>. 20 21 “Combating vitamin A deficiency,” World Health Organization (WHO), <www.who.int/nut/vad.htm>. “Food in the 21st Century: From Science to Sustainable Agriculture,” Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR), p. 24, 22 “Food in the 21st Century: From Science to Sustainable Agriculture,” Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR), 23 O’Connor, Anahad. “Altered Tomato Thrives in Salty Soil,” New York Times, Aug. 14, 2001. 24 “Food in the 21st Century: From Science to Sustainable Agriculture,” Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR), p. 36, 25 Swain, S. and Powell, D.A. “Papaya Ringspot Virus Resistant Papaya: A Case Study,” 2001. 26 Copyright © 2002 Council for Biotechnology Information. 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