Stavros Platon Tseimazides

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Stavros Platon Tseimazides
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CAPITULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS
1. Introdução
O desenvolvimento da pecuária vem levando produtores de bovinos de corte
cada vez mais a um maior grau de especialização, fazendo, com isso, crescer o número
de propriedades que executam apenas parte da cadeia produtiva da carne,
desenvolvendo atividades específicas de cria, recria ou engorda. Essa especialização
gera uma necessidade maior de submeter os bovinos ao manejo de transporte.
Entende-se como manejo de transporte uma fase de um sistema maior,
denominado manejo pré-abate, que é o processo que envolve desde a preparação dos
animais na fazenda para o embarque, o próprio embarque, o percurso entre a
propriedade e o frigorífico, desembarque, acomodação dos animais dentro da planta
frigorífica até o momento final, a sangria.
Dada as características geográficas do país e ao menor custo, o transporte
rodoviário é o mais utilizado no Brasil em detrimento dos transportes marítimos e
aéreos. No entanto, estudos mostram que esse tipo de transporte pode provocar
estresse, perda de peso e contusões, podendo inclusive levar animais à morte quando
realizado em condições desfavoráveis seja para bovinos (KNOWLES, 1999;
ARTHINGTON et al. 2003) seja para suínos (GUISE & PENNY, 1989; GUISE &
WARRISS, 1989). Tendo em conta o manejo pré-abate, isto resulta em perdas
quantitativas e qualitativas da carne, com prejuízos diretos ou indiretos para produtores,
frigoríficos e consumidores finais (PARANHOS DA COSTA et al. 1998; GRANDIN,
2000). Por uma questão didática, dividiu-se os conceitos quantitativo e qualitativo, mas
na verdade ambos ocorrem simultaneamente durante o manejo pré-abate, deteriorando
o produto final e conseqüentemente depreciando seu valor comercial.
Perdas quantitativas, as que ocorrem principalmente devido a contusões,
causam prejuízos diretos ao produtor, resultando em queda no rendimento da carcaça
após a retirada das áreas contundidas antes da pesagem, e, ao frigorífico, quando as
contusões são percebidas apenas durante o processo de desossa. Há ainda, com
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menor ocorrência, casos em que a contusão só é detectada na mesa do consumidor
final, situação grave, pois o ônus cabe tanto a esse consumidor final como também ao
posto de comercialização, provocando um total descrédito no produto por parte desses
clientes, atualmente muito mais atentos à origem e à qualidade daquilo que consomem
(FAUCITANO, 2000). GRANDIN (2000) descreveu que perdas em decorrência de
hematomas podem alcançar cifras de 26 milhões de dólares por ano para a indústria
norte-americana. De acordo com a AUS-MEAT (2001), a definição utilizada neste
trabalho para hematoma é aquela em que todos as contusões que atinjam o tecido
muscular em uma área circular de 10 cm de diâmetro ou área equivalente, ou aquela
que atinja o tecido muscular em uma profundidade maior que 2 cm, ou ainda, qualquer
área atingida pertencente ao músculo longissimus dorsi (contra-filé), independente do
tamanho e profundidade.
Perdas qualitativas, decorrentes do estresse durante o manejo pré-abate,
resultam em alterações metabólicas que comprometem a qualidade na carne. Quando
o animal sofre o estresse ou faz esforço físico, ocorre a queima da reserva de
glicogênio presente no músculo. Após o abate, o glicogênio é transformado em ácido
láctico, através do processo de glicólise anaeróbica. No momento em que o glicogênio
passa a ser transformado em ácido láctico, o pH da carne vai decrescendo (LUCHIARI
FILHO, 2000). Na ocorrência da depleção total do glicogênio antes do abate, não
ocorrerá a queda necessária do pH para transformação de carne em músculo.
De acordo com as exigências impostas pela União Européia, entre outros
mercados consumidores estrangeiros, valores de pH aceitos sem restrições alguma são
aqueles que variam na faixa de 5,5 a 5,8. Valores superiores a esses, entre 5,8 e 6,0,
são descartados para alguns mercados mais exigentes. Animais que apresentam o pH
final acima de 6,0 (carne tipo DFD – do inglês Dark, Firm, Dry – Escura, Dura, Seca)
são distribuídos apenas para o mercado interno, atingindo valores econômicos
menores. De acordo com Kuber et al. (2004), a curva de pH sofreria decréscimo
importante até a sexta hora de resfriamento em câmara fria após o abate, sendo que
após esse tempo, permanece praticamente estável. A importância que a queda no pH
ocorra normalmente, sem o risco de ocorrência de carne tipo DFD é ter um maior
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cuidado com os animais desde o manejo de embarque até os momentos que
antecedem o abate (LUCHIARI FILHO, 2000; DALLA COSTA, 2005). É importante
ressaltar, como exemplo, que a indústria canadense teve um prejuízo econômico de 5
milhões de dólares/ano provocado pelo tipo de carne DFD (JONES & TONG, 1989).
Para que se possa garantir que os animais cheguem ao momento de abate com
o menor nível de estresse, no caso específico do transporte rodoviário, deve-se ter em
conta as condições do ambiente físico (distância percorrida, tipo e condições dos
veículos, etc) e social (densidade e composição do grupo), além das características dos
próprios animais (raça, idade, sexo, etc.) e do manejo no embarque e condução do
veículo.
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2. Objetivos
O trabalho teve como objetivo avaliar, durante o transporte
rodoviário, a
influência da densidade de carga e de um programa de treinamento das pessoas
envolvidas no processo, na incidência de contusões e nas variações de pH nas
carcaças bovinas 24 horas após o abate.
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3. Revisão de Literatura
Durante
o
desenvolvimento
deste
estudo,
foram
detectados
aspectos
determinantes na melhoria do manejo dos bovinos que afetam a qualidade da carne
3.1. Densidade de animais na gaiola durante o transporte
A discussão sobre densidade é fundamental para explicar a concentração de
animais em um determinado espaço, levando-se em conta o peso total desses. Faz-se
necessário, então, adequar a quantidade de bovinos alojados nas gaiolas durante o
transporte, de acordo com o peso desses animais nos diferentes tipos de carrocerias.
Atualmente, esses veículos transportam os animais desconsiderando tamanho, raça ou
sexo.
Tratando-se de diferentes densidades, o NEW ZEALAND MINISTRY OF
AGRICULTURE AND FORESTRY (2003) recomendou a disponibilidade de diferentes
tipos de áreas para os animais dentro das gaiolas, calculando medidas de áreas que
variam desde o mínimo de 0,86 m2/animal de 300kg de peso vivo até 1,50 m2/animal,
quando esses atingem 600kg de peso vivo, para que cheguem ao destino final em boas
condições físicas.
É possível, também, calcular a quantidade de animais em função do peso vivo. O
FARM ANIMAL WELFARE CONCIL – FAWC (1991) – estabeleceu outra recomendação
baseada na fórmula para o cálculo da área necessária para cada animal – A=0,021P0,67
: onde “A” seria a área necessária em metros quadrados e “P” o peso vivo do animal em
quilos. Essa fórmula produz resultados que são adequados aos limites estipulados pelo
NEW ZEALAND MINISTRY OF AGRICULTURE AND FORESTRY (2003).
Da mesma forma que a FAWC (1991), RANDALL (1993) estipulou uma outra
fórmula também levando em conta o peso vivo dos animais em relação à área
disponível dentro da gaiola. Essa formula é representada por A=0,01P0,78.
TARRANT et al. (1988) trabalharam com 3 densidades de carga diferentes –
200, 300 e 600kg/m2. Nesse trabalho foram encontradas maiores incidências de
contusões nas carcaças, quando se utilizou a densidade mais elevada (600kg/m2). Em
outro trabalho, TARRANT et al. (1992) reforçou essa tese mostrando que as extensões
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das contusões foram crescentes com o aumento da densidade, principalmente quando
ultrapassaram 600kg/m2. Os autores encontraram também maior incidência de
carcaças com pH acima de 6,00 nos animais que foram transportados em alta
densidade. Em trabalhos com suínos, LAMBOOY et al. (1985) e LAMBOOY & ENGEL
(1991) descreveram que os animais deitam com mais facilidade quando viajam em
baixas densidades e ficam mais propensos, a partir do momento em que estão
deitados, a serem pisoteados e conseqüentemente a terem novos hematomas
(BARTON GADE & CHRISTENSEN, 1998).
De acordo com GRIGOR et al. (2004), o transporte dos animais influenciou seu
bem-estar, demonstrado através do aumento do batimento cardíaco, da concentração
do nível de cortisol no plasma sanguíneo e da atividade da creatina quinase logo após a
viagem, em comparação aos animais que foram abatidos dentro da própria fazenda,
sem necessidade de transporte. Porém, para as diferentes lotações utilizadas no
transporte de vitelos (0,7 e 0,95m2/ animal), em média com peso vivo de 234 kg, as
variáveis fisiológicas não foram alteradas significantemente, como também não foi
encontrada diferença nos valores de hematomas e pH das carcaças abatidas na
fazenda ou àquelas submetidas ao transporte e abatidas dentro do frigorífico.
Comparativamente, GUISE et al. (1998), em seu trabalho com suínos
transportados em média por 3 horas em diferentes densidades, não encontraram
diferenças em características de bem-estar para os animais e nem qualidade da carne,
concluindo que para pequenas distâncias esse fator não era de grande importância. Por
outro lado, contrariamente a GUISE et al. (1998), GUARDIÃ et al. (2005), também
trabalhando com suínos, encontraram efeito da baixa densidade, proporcionando maior
freqüência de aparecimento de carne tipo DFD. As pesquisas desenvolvidas por
TARRANT et al. (1988, 1992) com bovinos contrariam os resultados encontrados com
suínos, demonstrando que a alta densidade causou deterioração da qualidade da
carne. Essas diferenças podem estar ligadas à espécie animal, ou mesmo às
características dos condutores utilizados em cada pesquisa.
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3.2. Distância
A distância pode causar estresse psicológico quando os animais estão
submetidos a um novo ambiente e a um novo manejo, e, também, estresse físico
produto de cansaço, machucados, temperaturas indesejáveis e restrição alimentar
(GRANDIN, 1997).
A distância percorrida pelos animais entre a fazenda e o local de abate pode
exercer influência sobre a perda de peso, além de elevar a possibilidade da ocorrência
de contusões afetando a qualidade da carne. Diferentes distâncias percorridas pelos
animais entre a propriedade e o abatedouro também podem gerar decréscimo do peso
vivo desses animais, que levam aproximadamente 5 dias após a viagem para recuperar
o peso perdido (WARRISS et al. 1995). A ocorrência de mais de um embarque ou
desembarque de bovinos, como é o caso de animais que saem das propriedades para
leilões e, posteriormente, são encaminhados para o abatedouro, apresentam uma
elevação na freqüência de hematomas (JARVIS et al. 1995).
A distância também afeta o nível de cortisol dos animais. Os que tiveram uma
viagem mais curta apresentaram maiores níveis de cortisol. Esses resultados levaram
WARRISS et al. (1995) a concluírem que a elevação do nível de cortisol está
diretamente relacionado com o momento de embarque dos animais na fazenda e o
início da jornada, uma vez que com o passar do tempo os níveis de cortisol dos animais
dentro do veículo baixaram. Outros autores encontraram resultados diferentes, com
distâncias maiores resultando em maior estresse nos animais, inclusive com ocorrência
de carne tipo DFD (JONES & TONG, 1989; BATISTA DE DEUS et al. 1999; KNOWLES,
1999; HARGREAVES et al. 2004).
Em outra pesquisa coordenada por TADICH et al. (2005), avaliando novilhas
transportadas durante ou 3 ou 16 horas, percebeu-se uma diminuição na concentração
de cortisol plasmático após a entrada dos animais nos veículos. Resultados
semelhantes foram encontrados por MITCHELL et al. (1988) sendo que a explicação
encontrada para essa diminuição seria os métodos de coleta de amostra de sangue
para a mensuração do cortisol. MITCHELL et al. (1988) encontraram um decréscimo
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nos valores dessa variável após o desembarque dos animais no frigorífico, contrariando
o reportado por VAN DE WATER et al. (2003).
O tempo de transporte dos animais influencia nas características sensoriais da
carne, pois viagens muito curtas, que não permitem ao animal um tempo de
reconhecimento da nova situação, ou excessivamente longas, que acarretam cansaço
nos animais, ocasionam depleção total do glicogênio muscular prejudicando a queda
necessária do pH para transformação de músculo em carne (SANZ et al. 1996;
GREGORY, 1998; SARTORELLI et al. 1992; TARRANT et al. 1992; MARIA et al. 2003;
VILLARROEL et al. 2003).
3.3. Temperatura (Estação do Ano)
Um fator ambiental importante que deve ser considerado durante o transporte de
animais é a temperatura do ar e sua variação em função das estações do ano.
Temperaturas mais altas tendem a deixar os animais mais inquietos, motivando o
deslocamento dentro das gaiolas, e, assim, aumentando a possibilidade dos animais
perderem o equilíbrio, caírem e serem pisoteados, ou mesmo sofrerem escoriações nas
laterais das gaiolas. RANDALL (1993) concluiu em seu trabalho que se deve evitar o
transporte de animais em dias com temperatura igual ou superior a 30ºC e umidade
alta, características típicas de dias de verão nas condições de Brasil Central. Nessa
temperatura, KERR et al. (2005) concluíram que suínos também têm seu desempenho
prejudicado. O fato do Brasil, em sua quase totalidade, estar posicionado na faixa
intertropical, faz com que a diferença de temperatura entre inverno e verão não exerça
grande influência no transporte de animais nas diferentes estações.
3.4. Veículos
Diferenciados tipos de veículos são empregados no transporte dos animais. Os
mais utilizados são os caminhões tipo “truck”, que costumam carregar 18 animais em
ponto de abate por viagem, ou carretas, que transportam em torno de 27 animais da
mesma categoria. A localização do animal em relação ao veículo em que está sendo
transportado pode exercer influência sobre o comportamento do animal dentro da
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gaiola, alterando batimento cardíaco, incidência de hematomas, elevação do pH ou
aumento do nível de cortisol plasmático.
TARRANT et al. (1988) observaram que animais que foram transportados no
terço final dos caminhões tiveram a concentração de cortisol alterada em relação aos
demais. Esses resultados foram verificados também por VAN DE WATER et al. (2003)
que observaram que os batimentos cardíacos foram alterados durante o transporte nos
animais alocados na parte traseira dos veículos. Essa taxa foi decrescendo
gradativamente durante os primeiros 60 minutos após o início da jornada dos animais
nas diferentes partições dos veículos e estabilizando-se durante o restante do percurso.
Contrariamente ao observado por TARRANT et al. (1988) e VAN DE WATER et
al. (2003), JARVIS & COCKRAM (1994), trabalhando com ovelhas, encontraram maior
incidência de contusões nos animais que viajaram na parte anterior do veículo.
3.5. Condutor
O controle dessa fonte de variação, apesar de todos os condutores serem
profissionais, é importante pela grande diferença interpessoal na forma de condução e
cuidado com os animais conduzidos da fazenda até o abatedouro. Alguns condutores
atentam-se para não realizar movimentos bruscos com o veículo, preocupam-se em
parar com regularidade para verificar as condições dos animais dentro da gaiola e em
estacionar o veículo em locais onde os animais não fiquem expostos à radiação solar
direta, quando fazem paradas para descanso. KENNY & TARRANT (1987) observaram
que a movimentação do caminhão é responsável por 95% das perdas de rendimento na
balança. TARRANT et al. (1992) reforçaram essa observação acrescentando como
prováveis responsáveis pelas contusões, as freadas bruscas, curvas e mudanças de
marcha feitas pelos condutores.
3.6. Manejo
Os manejos de embarque e desembarque são muito importantes no processo de
transporte. Quando estes são realizados em instalações bem planejadas e por pessoas
treinadas, o estresse pode ser minimizado (KENT & EWBANK, 1983; AGNES et al.
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1990). Em experimento conduzido por VAN DE WATER et al. (2003), os batimentos
cardíacos dos animais sofreram um aumento na ordem de 90 e 75%, respectivamente,
durante essas movimentações.
LENSINK et al. (2001), trabalhando com vitelos, observaram menor freqüência
de acidentes e menor nível de cortisol nos animais quando provinham de propriedades
que aplicavam manejo adequado. Em rebanhos leiteiros, atitudes positivas de
ordenhadores influenciaram diretamente nas respostas comportamentais e reprodutivas
(HEMSWORTH et al. 2000). Há evidências de que atitudes negativas fazem com que
as vacas leiteiras retenham mais o leite, aumentem seu batimento cardíaco e
aumentem a movimentação durante a ordenha (RUSHEN et al. 1999; MUNKSGAARD
et al. 2001). BOIVIN et al. (1998), quando trabalharam manejando bezerros de forma
gentil, perceberam uma interação entre animais e humanos nos primeiros dias de
contato, processo decorrente da habituação dos animais com a pessoa que estava
manejando. Um mês após o final do experimento não foram encontradas mais
diferenças, provando dessa forma que os animais são capazes de aprender e
responder de acordo com a forma em que são treinados.
O estudo de WAIBLINGER et al. (2004) mostrou que o manejo gentil prévio dos
animais promoveu uma diminuição da taxa de batimentos cardíacos quando
submetidos a manejos posteriores invasivos, tais como a palpação e inseminação
Após o treinamento de práticas adequadas de manejo, GRANDIN (1998)
observou a diminuição da utilização de choque elétrico para movimentação do gado da
ordem de 79,5%, decrescendo de 83 para 17%. Em uma planta de abate de suíno a
queda foi de 44 para 15%, portanto da ordem de 65,9%. Quatro abatedouros de
bovinos, com funcionários bem treinados, foram avaliados quanto à utilização de
choque e os resultados observados foram de 5, 10, 10 e 64%. Na planta onde apenas
5% dos animais recebiam choque, a velocidade de abate era maior que 200 animais
por hora, demonstrando, assim, que o manejo correto pode ser feito mesmo em
velocidades elevadas. No frigorífico onde utilizou-se choque em 64% dos animais, as
instalações inadequadas provavelmente foram as responsáveis pela alta utilização
desse recurso. Em quatro plantas frigoríficas de suínos, os valores de utilização de
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choque foram de 0, 18, 18 e 80%. Em todas, a velocidade de abate excedia 500
animais/hora. No entanto, na planta que mais se utilizou o choque (80%) havia
resistência dos animais para entrarem no boxe de atordoamento, provavelmente pela
ocorrência de sombra nesse local.
A prática de treinamento para funcionários que manejam os animais tem trazido
benefícios importantes tais como: eliminação de comportamento aversivo imposta sobre
os animais, aumento de produção de leite e alguns de seus constituintes, diminuição na
distância de fuga, que caracteriza diminuição de medo (HEMSWORTH et al. 2002).
Em 2003, GRANDIN afirmou que as indústrias elevam seus gastos na aquisição
de novos equipamentos, mas esquecem de utilizar-se de boas práticas de manejo que
podem levar a resultados tão bons quanto a aplicação de novas tecnologias. É
importante ressaltar que um manejo feito de forma correta pode melhorar os resultados
e proporcionar o bem-estar do animal, minimizando perdas quantitativas e qualitativas
da carne; que instalações adequadas influenciam substancialmente na qualidade do
serviço resultando uma maior produtividade; que equipamentos que facilitem e
contribuam com o bem–estar do trabalhador e do animal são requisitos fundamentais
para impulsionar o desempenho de uma organização.
Treinamento, instalações e equipamentos são características que devem ser
avaliadas conjuntamente.
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4. Referências
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20
CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO DE RECOMENDAÇÕES PARA ESTIMAR A
DENSIDADE IDEAL PARA O TRANSPORTE DE BOVINOS AO FRIGORÍFICO
Resumo
Para avaliar o melhor método de estimativa da densidade de animal vivo transportado
da fazenda para o abatedouro, foram feitas avaliações de hematomas e medição de pH
24 horas após abate em carcaças de bovino de corte. Três recomendações, que
indicam a densidade ideal para transporte, foram confrontadas entre si e com outras
três equações idealizadas com base na metragem linear das gaiolas. Verificou-se que a
densidade adequada pela equação C2 = 0,01P0,63 (onde, “C”= espaço em metro linear
de gaiola, “P”= peso vivo dos animais) foi a que apresentou a menor freqüência de
hematomas e o menor valor de pH em animais da raça nelore. Para animais cruzados,
a densidade proposta por essa equação não representou diferença nos resultados
obtidos pelas recomendações existentes na literatura atual. Diante desse contexto, é
possível demonstrar que existe uma necessidade de equações diferentes para
determinar a densidade de carga animal para diferentes grupos genéticos. Em vista da
diversidade de raças transportadas para o abate, a equação C2, que contempla a
metragem linear de gaiola em contraposição à área disponível e peso dos animais
vivos, foi a que melhor se ajustou a realidade brasileira.
Palavras-Chaves: Bovino de Corte, densidade, hematoma, pH, qualidade de carne,
transporte
21
1. Introdução
Como mencionado no capítulo 1, no Brasil o transporte de animais para abate
nos frigoríficos é predominantemente rodoviário, havendo evidências de que esse tipo
de transporte é potencial causador de estresse, como demonstrado para suínos
(GUISE & PENNY, 1989; GUISE & WARRISS, 1989) e bovinos (KNOWLES, 1999;
ARTHINGTON et al. 2003). As conseqüências para os bovinos podem ser bastante
severas, resultando em perda de peso, ocorrência de hematomas e, em casos
extremos, na morte de animais (KNOWLES, 1999). Isso provoca perdas quantitativas e
qualitativas da carne, com prejuízos diretos ou indiretos para produtores, frigoríficos e
consumidores finais (PARANHOS DA COSTA et al. 1998; GRANDIN, 2000).
Neste contexto, surge o desafio de minimizar o estresse durante o transporte. Já
há algumas evidências de que isto pode ser alcançado. LENSINK et al. (2001)
verificaram que vitelos que foram submetidos a uma parada durante o transporte, com
desembarque dos animais por vinte minutos, apresentaram menor taxa de cortisol no
sangue do que àqueles transportados diretamente. Esses resultados levaram os
autores a concluir que após um primeiro contato com o transporte os animais ficariam
menos estressados. Uma outra possibilidade é ajustar a densidade de animais no
compartimento de carga. Estudos realizados por TARRANT et al. (1988, 1992)
mostraram maior incidência de contusões nas carcaças na situação de alta densidade
(600kg de peso vivo/m2, em relação a 200 e 300kg de peso vivo/m2). Esses autores
encontraram também maior incidência de carcaças com pH alto ( 6,00) em função da
maior densidade nas gaiolas.
Este trabalho teve dois objetivos: a) avaliar algumas recomendações utilizadas
para a definição da densidade ideal para o transporte de bovinos ao frigorífico; b)
apresentar uma nova recomendação, usando como critério a disponibilidade de espaço
linear em relação ao comprimento da gaiola, ajustando-o ao peso vivo dos animais (kg
de peso vivo/metro linear).
22
2. Material e Métodos
2.1. Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada no Frigorífico Marfrig, em Promissão - SP, Brasil,
com 50 veículos – 34 caminhões e 16 carretas, transportando um total de 1894 bovinos
– na rotina normal de trabalho. As seguintes informações eram registradas antes do
desembarque: a placa do veículo, a quantidade de animais transportados em cada um
dos compartimentos de carga, o número de identificação de alguns animais escolhidos
aleatoriamente e o compartimento em que foram transportados. Com os veículos
vazios, media-se o comprimento, altura e a largura de cada um dos compartimentos.
Os animais permaneciam nos currais do frigorífico durante 12 a 15 horas, com
acesso irrestrito à água, e, após esse período, eram abatidos seguindo-se o protocolo
de abate humanitário definido pela Instrução Normativa número 3/2000 do Ministério de
Agricultura, Abastecimento e Pecuária (BRASIL, 2000).
Para avaliação das contusões nas carcaças, seguiu-se o critério descrito pela
AUS-MEAT (2001), que definiu hematoma grave como qualquer lesão no tecido
muscular, caracterizada por apresentar pelo menos 2 cm de profundidade ou 10 cm de
diâmetro (ou área equivalente), exceto as lesões no contra-filé (longissimus dorsi), que
foram sempre consideradas graves independentemente do tamanho. Essas avaliações
foram realizadas na linha de abate, logo após a retirada do couro, sendo registrada a
identidade de cada animal e o local do hematoma (quando ocorria), marcando “x” em
desenhos de carcaças.
Todas as carcaças foram pesadas, sendo os pesos vivos dos animais estimados
com base em 52% de rendimento de carcaça. Foram definidas sete categorias de
pesos vivos (P), com segue: P1 = 250 a 350kg, P2 = 350 a 450kg, P3 = 450 a 550kg, P4 =
550 a 650kg, P5 = 650 a 800kg, P6 = 800 a 1000kg e P7 = >1000kg.
Ao final da linha de abate, as carcaças eram levadas para a câmara fria a uma
temperatura nunca inferior a 2°C, onde permaneciam por aproximadamente 24 horas,
deixando a câmara fria para o procedimento de separação das partes dianteiras,
traseiras e ponta de agulha, quando eram realizadas as mensurações do pH dos
23
músculos longissimus dorsi (pHfinal) de cada animal, utilizando-se peagâmetro digital
Mettler-Toledo-modelo 1140.
2.2. Recomendações avaliadas
Foram avaliadas três recomendações para definição da densidade ideal para o
transporte rodoviário de bovinos, todas preconizavam o cálculo da área em m2 por
animal, sendo elas: 1) apresentada por RANDALL (1993), que propôs que a área
disponível para cada animal deve ser definida pela equação A = 0,01P0,78m2, onde “A” =
área disponível para o animal e “P” = o peso vivo do animal transportado; 2) pelo FARM
ANIMAL WELFARE COUNCIL (FAWC, 1991), como A = 0,021P0,67m2; 3) pelo NEW
ZEALAND´S MINISTRY OF AGRICULTURE AND FORESTRY (MAF) (2003), definindo
os espaços mínimo e máximo (respectivamente) de acordo com o peso vivo dos
animais: com 300kg devem dispor entre 0,86 e 0,96m2; com 400kg de 1,06 a 1,16m2;
com 500kg de 1,27 a 1,59m2 e com mais de 600kg mais de 1,50m2.
Neste trabalho foi avaliada também a possibilidade de estimar o número de
animais a serem transportados por metro linear em relação ao comprimento do
compartimento de transporte. Todas as recomendações consagradas na literatura atual
levam em consideração o peso vivo para estabelecer a área adequada para o
transporte dos animais. De acordo com KENNY & TARRANT (1987) e TARRANT et al.
(1992), a posição mais comum dos animais durante o transporte é perpendicular à
direção da viagem. Diante disso, idealizou-se que o método mais apropriado para se
estimar o espaço ideal pudesse ser calculado através da metragem linear da gaiola
para transporte dos animais.
As equações para este fim foram definidas tendo como base a largura média dos
compartimentos de transporte (que foi igual a 2,38±0,04m, variando de 2,33 a 2,46m) e
as medidas corporais de animais, tendo em conta os valores médios de perímetro
torácico (PT), estimado por ROCHA et al. (2003) em 1,84m, para o cálculo do diâmetro
médio do bovino, que foi igual a 0,586m para animais com peso médio de 442kg,
assumindo que os bovinos apresentem formato cilíndrico (D= PT/ ). Entretanto, é
reconhecido que a forma do corpo do bovino é mais bem representada por uma elipse;
24
assim, adotamos a medida da largura nas costelas (Gilbert et al. 1993a, b) para ajustar
o diâmetro calculado com base na forma cilíndrica, resultando um valor equivalente a
78,72% do calculado.
Com base nestes valores e na equação A= 0,021P0,67, proposta pelo FARM
ANIMAL WELFARE COUNCIL (FAWC) (1991), adotou-se A= 2,38C, resultando em C=
0,0088P0,67, sendo “C” o espaço ideal em metros lineares de gaiola ocupada por um
dado animal com peso “P”. Foram avaliadas, ainda, outras duas equações,
arbitrariamente definidas a partir de “C”: C1= 0,01P0,65 e C2= 0,01P0,63. Entendemos ser
este critério mais adequado uma vez que durante as viagens os bovinos adultos
geralmente permanecem, no compartimento de carga, em posição perpendicular ao
sentido da viagem.
Utilizando-se as informações de número de animais transportados e respectivos
pesos vivos, foram calculadas as densidades reais com base em kg de animais por
metro quadrado ou por metro linear. Com a aplicação de cada uma dessas seis
recomendações, foram estimadas as densidades ideais para o transporte de bovinos.
Com esses resultados foram definidas três classes de densidade: AD= Alta Densidade
(espaço disponível menor que o ideal definido pela recomendação em teste); DI =
Densidade Ideal (espaço disponível igual ao ideal definido pela recomendação em
teste); BD = Baixa Densidade (espaço disponível maior que o ideal definido pela
recomendação em teste).
2.3. Animais avaliados
Para avaliação de hematomas foram consideradas 1894 carcaças, 1272 de
animais Nelore e 622 de cruzados. As mensurações do pHfinal foram realizadas em 1776
carcaças, sendo 1212 da raça nelore e 564 cruzados. As distribuições desses valores
para cada uma das recomendações avaliadas e nas três classes de densidades (Alta
Densidade, Densidade Ideal e Baixa Densidade) são apresentadas na Tabela 1.
Entende-se por Nelore todos animais cujo fenótipo indicasse predominância da
raça Nelore e cruzados os animais produtos de qualquer cruzamento, independente das
raças envolvidas.
25
2.4. Análise estatística
Para a análise dos dados foi usado o procedimento GLM do pacote estatístico
STATISTICAL ANALISYS SYSTEM (SAS, 2001). Foram consideradas como variáveis
dependentes a freqüência de hematomas por carcaça e o pHfinal. Dada a alta ocorrência
de valores zero (0) na freqüência de hematomas por carcaça, esses dados foram
transformados em raiz quadrada de (x + 1).
O modelo estatístico contemplou os efeitos fixos de sexo, classes de distância
(1= até 200 km, 2= 200 a 500 km, 3= 500 a 1000 km e 4= > 1000 km) e classe de
densidade no transporte (Alta Densidade, Densidade Ideal e Baixa Densidade), além do
efeito da interação entre distância e densidade. Foram analisados os efeitos de
densidade definidos com a aplicação de cada uma das seis recomendações testadas.
Foram considerados dois conjuntos de dados independentes, um para animais
da raça nelore e outro para cruzados.
Para a comparação das médias de freqüência de hematomas foi utilizado o teste
de Duncan, por se tratar de uma variável de instabilidade moderada (15 % < CV < 30
%) e o teste de Tukey para a comparação de pHfinal, por apresentar baixa instabilidade
(CV < 15 %).
26
Cruzado
Nelore
Tabela 1. Número de carcaças com avaliação de hematomas e de pH para cada uma das
recomendações testadas em função das classes de densidade, onde AD= alta densidade, DI=
densidade ideal e BD= baixa densidade.
RECOMENDAÇÃO DE DENSIDADE
MAF
FAWC
RANDALL
C
C1
C2
Hematoma
AD
590
549
245
622
648
577
DI
457
460
643
438
409
622
BD
225
263
384
212
215
73
AD
213
205
93
214
218
45
DI
197
223
254
228
222
173
BD
213
195
276
181
183
405
AD
565
528
237
598
623
554
DI
433
441
616
416
388
587
BD
214
243
359
198
201
71
AD
193
186
82
193
197
40
DI
170
203
232
208
203
156
BD
202
176
251
164
165
369
Cruzado
Nelore
pH
MAF (2003) = 0,86 a 0,96m2 para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m2 para animais com 400kg; 1,27 a
2
2
1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais de 600 kg; FAWC (1991) =>
0,67 2
0,78 2
0,67
0,65
0,63
A= 0,021.P
m ; RANDALL (1993) => A= 0,01.P m ; C= 0,0088P ; C1= 0,01P
e C2= 0,01P
(onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço linear ideal por animal).
27
3. Resultados e Discussão
Mais da metade das carcaças avaliadas (55,13% do total de 5133 animais
avaliados durante todo o período de coleta de dados) apresentaram hematomas, e
2,64% delas apresentavam pHfinal
6,00. Tais resultados são indicativos de perdas
quantitativas e qualitativas da carne.
Houve variação na freqüência de hematomas em função da densidade de
animais durante o transporte, sendo que animais da raça nelore apresentaram em
média 1,41 hematoma quando transportados em Alta Densidade e Densidade Ideal e
1,55 para Baixa Densidade. Para os animais cruzados, os valores médios de
hematomas foram 1,09, 0,91 e 0,89, para Alta Densidade, Densidade Ideal e Baixa
Densidade, respectivamente.
Os valores médios de pHfinal das carcaças de nelore foram 5,76 e 5,77 e 5,81
para Alta Densidade, Densidade Ideal e Baixa Densidade, respectivamente. Da mesma
forma as médias de pHfinal das carcaças de animais cruzados aumentou com o
acréscimo da área disponível, sendo: 5,69, 5,72 e 5,73 para Alta Densidade, Densidade
Ideal e Baixa Densidade, respectivamente.
3.1. Hematomas
O espaço disponível dentro das gaiolas durante o transporte influencia o bemestar dos animais. TARRANT et al. (1992) observaram que os atos de frenagem,
aceleração, parada ou mudança de marcha nos veículos faz com que os animais se
desloquem lateralmente perdendo o equilíbrio e conseqüentemente sofrendo queda,
quando transportados em baixas densidades. Por outro lado, movimentações laterais
provocadas por veículos fazendo curvas, são responsáveis pelo maior número de
quedas quando a densidade é alta. A queda dos animais merece uma atenção especial,
uma vez que dela resultam riscos de pisoteamento e a conseqüente deterioração do
bem-estar e da qualidade da carne. Uma das conseqüências das quedas são os
espaços vazios que serão ocupados pelos demais animais, dificultando que o animal
caído se levante e aumentando, ainda mais o risco de novas quedas e dos problemas
decorrentes.
28
Nas Figuras 1 e 2 estão apresentadas as freqüências médias (dados
transformados) de hematomas na carcaça e respectivos erros-padrão e coeficientes de
variação para cada recomendação avaliada para as raças nelore e cruzados,
respectivamente.
1,60
a
a
a
1,50
b b
a
a
1,55
ab b
ab
ab
b b
b
C**
CV=30,01%
C1*
CV=30,09%
a
a
a
b
1,45
1,40
1,35
1,30
MAF# (2003)*
CV=29,82%
FAWC (1991)**
CV=29,86%
Randall (1993)***
CV=30,00%
Alta Densidade
Densidade Ideal
C2
CV=30,14%
Baixa Densidade
Figura 1. Freqüências médias de hematomas (dados transformados) para as diversas recomendações
com os respectivos erros padrão da média e coeficientes de variação (CV) para animais da raça
nelore. Letras diferentes na mesma recomendação diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Duncan ( *P < 0,10; **P < 0,05; ***P < 0,01 ). # New Zealand Ministry of Agriculture and
2
2
Forestry. MAF (2003) = 0,86 a 0,96m para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m para animais com
2
2
400kg; 1,27 a 1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais de 600
0,67 2
0,78 2
0,67
kg; FAWC (1991) = A= 0,021.P
m ; RANDALL (1993) => A= 0,01.P m ; C= 0,0088P ;
0,65
0,63
e C2= 0,01P
(onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço
C1= 0,01P
linear ideal por animal).
29
1,50
a
a
1,45
a
a
1,40
a
b
1,35
b
1,30
b
a
a
b
b
b
b
b
b
b
b
1,25
1,20
MAF# (2003)***
CV=27,22%
FAWC (1991)***
CV=26,68%
Randall (1993)**
CV=26,72%
Alta Densidade
C***
CV=27,02%
Densidade Ideal
C1***
CV=26,97%
C2***
CV=27,29%
Baixa Densidade
Figura 2. Freqüências médias de hematomas (dados transformados) para as diversas recomendações
com os respectivos erros padrão da média e coeficientes de variação (CV) para animais
cruzados. Letras diferentes na mesma recomendação diferem estatisticamente entre si pelo
teste de Duncan ( **P < 0,05; ***P < 0,01 ). # New Zealand Ministry of Agriculture and Forestry.
2
2
MAF (2003) = 0,86 a 0,96m para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m para animais com 400kg;
2
2
1,27 a 1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais de 600 kg;
0,67 2
0,78 2
0,67
FAWC (1991) = A= 0,021.P
m ; RANDALL (1993) => A= 0,01.P m ; C= 0,0088P ; C1=
0,65
0,63
e C2= 0,01P
(onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço linear
0,01P
ideal por animal).
Com baixa confiabilidade (P<0,32), foi detectado que a recomendação C2 foi a
que mais se destacou na prevenção de hematomas para animais nelore, porém foi a
que obteve resultado menos eficiente quando avaliados animais cruzados. Na figura 1,
as recomendações C e MAF apresentam bons resultados, uma vez que a Densidade
Ideal possui valores significantemente iguais aos animais carregados em Alta
Densidade. Em animais cruzados, os melhores resultados foram observados pelas
recomendações do MAF (2003), FAWC (2001), C e C1, onde os valores de Densidade
Ideal não diferiram dos de Baixa Densidade, minimizando o cansaço dos animais.
3.2. pH
Comportamentos agressivos alteram os valores de pH da carne e aumentam a
freqüência de hematomas nas carcaças. Interações agonísticas, como ameaças,
cabeçadas e empurrões, são mais comuns quando os animais estão em veículos
parados do que quando esse está em movimento, porém esses comportamentos
30
podem ser dependentes da densidade de carga e do sexo dos bovinos (KENNY &
TARRANT, 1987). VILLARROEL et al. (2001) encontraram resultados onde motoristas e
fazendeiros acreditam, através de respostas à questionários, que altas densidades
durante o transporte é o mais relevante aspecto para hematomas e carne DFD.
Os resultados de pHfinal, das seis recomendações avaliadas são apresentados
nas figuras 3 e 4, com os respectivos coeficientes de variação e erros-padrão das
médias para as raças nelore e cruzados, respectivamente:
5,84
5,80
a
b b
b
5,76
a
a
a
b
b
a
a
b
a
a
b
b
a
b
5,72
5,68
5,64
MAF# (2003)***
CV=2,40%
FAWC (1991)***
CV=2,38%
Randall (1993)***
CV=2,39%
Alta Densidade
C***
CV=2,40%
Densidade Ideal
C1***
CV=2,40%
C2***
CV=2,39%
Baixa Densidade
Figura 3. Médias de pH final e respectivos erros padrão e coeficientes de variação (CV) para a raça
nelore em função das diversas recomendações Letras diferentes na mesma recomendação diferem
estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ( **P <0,05; ***P <0,01 ). #New Zealand Ministry of
2
2
Agriculture and Forestry. MAF (2003) = 0,86 a 0,96m para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m para
2
2
animais com 400kg; 1,27 a 1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais
0,67 2
0,78 2
0,67
de 600 kg; FAWC (1991) = A= 0,021.P
m ; RANDALL (1993) => A= 0,01.P m ; C= 0,0088P ;
0,65
0,63
C1= 0,01P
e C2= 0,01P
(onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço linear
ideal por animal).
31
5,76
ab a
5,72
a
b
a
a
a
b
a
b
a
a
a
a
ab
b
b
b
5,68
5,64
5,60
MAF# (2003)**
CV=2,04%
FAWC (1991)**
CV=2,04%
Randall (1993)**
CV=2,08%
Alta Densidade
C**
CV=2,03%
Densidade Ideal
C1**
CV=2,06%
C2***
CV=2,05%
Baixa Densidade
Figura 4. Médias de pH final e respectivos erros padrão e coeficientes de variação (CV) para animais
cruzados em função das diversas recomendações. Letras diferentes na mesma recomendação diferem
estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (**P <0,05; ***P <0,01 ). #New Zealand Ministry of
2
2
Agriculture and Forestry. MAF (2003) = 0,86 a 0,96m para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m para
2
2
animais com 400kg; 1,27 a 1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais
de 600 kg; FAWC (1991) = A= 0,021.P 0,67m2; RANDALL (1993) => A= 0,01.P0,78m2; C= 0,0088P0,67;
0,65
0,63
C1= 0,01P
e C2= 0,01P
(onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço linear
ideal por animal).
Animais da raça nelore tiveram na recomendação C2 os melhores valores dentro
da faixa considerada ideal para o transporte. As demais recomendações, que tomavam
como base a metragem linear, não foram eficientes, pois os valores de pHfinal
encontrados em Densidade Ideal foram iguais àqueles encontrados em Baixa
Densidade (valores mais elevados). Nas recomendações baseadas em metros
quadrados, Densidade Ideal obteve resultados tão bons quando os transportados em
Alta Densidade.
3.3. Recomendações
A importância em se determinar o coeficiente de contingência entre os valores
das equações propostas é saber o grau de semelhança que as equações possuem
entre si, tomando-as duas a duas. Valores mais próximos de 1 significam maior
semelhança entre as recomendações. Conforme esses valores vão se distanciando de
1, as equações vão se tornando cada vez mais diferentes.
32
Os coeficientes de contingência apresentados na tabela 2, demonstram que
existe diferença, entre os grupos de animais avaliados, de aproximadamente 5% entre
a equação proposta por RANDALL (1993) e a equação C2, proposta nesse trabalho,
reforçando a idéia de que há necessidade de adequação da lotação para os dois
diferentes grupos.
Nas recomendações que levam em conta a metragem quadrada por animal, a
menor diferença no coeficiente de contingência, observado entre animais nelore e
cruzados, sugere que não são as mais adequadas para esse conjunto de dados, uma
vez que no Brasil existe uma diversidade na genética dos animais que são
transportados. A equação C2, que toma como base a metragem linear, contempla essa
distinção através da diferenciação nos valores apresentados na tabela. Nessa
realidade, os animais transportados de acordo com as recomendações de RANDALL
(1993) apresentaram valores menos eficientes no controle de aparecimento de
hematomas e pH elevados. A equação de RANDALL (1993) não pode ser utilizada de
forma genérica para o cálculo de área disponível, pois o coeficiente de contingência em
relação à equação C2 foi o que proporcionou maior diferença (aproximadamente 5%)
entre os animais dos diferentes grupos genéticos, sendo necessário uma melhor
adequação para animais da raça nelore.
Tabela 2. Coeficiente de contingência das diferentes equações propostas para animais nelore (acima da
diagonal principal) e cruzados (abaixo da diagonal principal).
MAF
FAWC
RANDALL
C
C1
C2
MAF
1,0000
0,7266
0,6557
0,7102
0,7105
0,6485
FAWC
0,7271
1,0000
0,6793
0,7360
0,7511
0,6439
RANDALL
0,6455
0,6666
1,0000
0,6475
0,6478
0,6494
C
0,7430
0,7658
0,6462
1,0000
0,8008
0,6803
C1
0,7416
0,7697
0,6469
0,8109
1,0000
0,6938
C2
0,6768
0,6818
0,6952
0,6891
0,6932
1,0000
2
2
MAF (2003) - 0,86 a 0,96m para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m para animais com 400kg; 1,27 a
2
2
1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais de 600 kg; FAWC (1991) - A=
0,67 2
0,78 2
0,67
0,65
0,63
0,021.P
m ; RANDALL (1993) - A= 0,01.P m ; C= 0,0088P ; C1= 0,01P
e C2= 0,01P
(onde:
“A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço linear ideal por animal).
Altas e baixas lotações podem proporcionar aumento no aparecimento de
hematomas com relação a densidades médias (ELDRIDGE & WINFIELD, 1988). Com
33
isso, busca-se nas recomendações um modelo onde Densidade Ideal proporcione
menores valores de hematomas e pHfinal. De acordo com os valores encontrados,
observou-se que a lotação ideal foi aquela que proporcionou menor quantidade de
hematomas (P<0,32) e menor valor de pHfinal da carcaça de animais nelore (P<0,01),
comparados com animais de mesma raça que foram transportados em baixas e altas
densidades. Portanto, a recomendação C2 foi a que melhor se enquadrou aos dados
desse experimento.
As três recomendações – C, C1 e C2 – foram utilizadas com base na pesquisa
apresentada por ROCHA et al. (2003), resultando em 0,461m de Largura Corporal (LC)
para animais entre 350 e 450kg. Variações importantes também foram observadas por
WINKLER (1993), com PT=1,82m, D=0,579m e LC=0,456m, da mesma forma que os
de ROCHA et al.(2003) quando os valores de LC se ajustaram dentro dos limites
definidos como ideais pelas três equações, quais sejam: recomendação C: entre 0,446
e 0,527m; C1: entre 0,450 e 0,530m; C2: entre 0,401 e 0,469m. Os valores encontrados
por NANJOSHI & KATPATAL (1983), PT=1,74m, D=0,554 m e LC= 0,436m, mostraram
que o valor de LC se ajusta apenas aos limites definidos pela recomendação C2, entre
0,401 e 0,469m, outro fator favorável a essa recomendação.
34
4. Conclusões
A equação idealizada C2= 0,01P0,63 foi a que melhor se adaptou para animais
nelore e se mostrou compatível com as demais recomendações para animais cruzados,
determinando a utilização de forma genérica para qualquer grupo genético que se
deseje transportar.
A medida linear de gaiola em função do peso vivo do animal mostrou-se muito
eficiente para o transporte do nelore com redução na ocorrência de hematomas e
queda adequada de pH. Quando utilizada em animais cruzados não houve tanta
diferença entre essa medida e as já existentes que preconizam metro quadrado por
animal em relação ao peso vivo, para a diminuição da quantidade de hematomas e
queda de pH.
Nas condições brasileiras de transporte, onde parte da mão-de-obra não é
especializada e as condições das estradas não são boas, altas densidades de carga
podem proporcionar maior estabilidade para os animais, diminuindo risco de quedas,
problemas de bem-estar do animal e da qualidade da carne.
A nova equação baseada em metragem linear de gaiola por animal proporciona
um cálculo mais exato para o atendimento do conforto para os animais da raça nelore e
não difere das recomendações já descritas na literatura para animais cruzados,
diminuindo a incidência de hematomas graves na carcaça, minimizando o sofrimento
dos animais e contribuindo para a queda dos valores de pH após 24 horas do abate,
ampliando a oportunidade de melhores negócios diante da melhoria da qualidade da
carne.
35
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39
CAPÍTULO 3 - EFEITO DO TREINAMENTO DE MOTORISTAS EM MANEJO
RACIONAL DE BOVINOS E AS RELAÇÕES COM HEMATOMAS E pH DAS
CARCAÇAS
Resumo
O objetivo desse estudo foi avaliar a importância do treinamento em manejo racional
para motoristas de caminhões na busca da melhoria do bem-estar animal e da
qualidade de carne. O trabalho dos condutores foi avaliado antes e depois do
treinamento em boas práticas no transporte. As variáveis analisadas no pré-abate
foram: utilização de bastão elétrico no desembarque, velocidade de descida dos
animais, ocorrência de quedas e ocorrência de batidas de dorso nas porteiras dos
caminhões. Durante o abate foram feitas mensurações da quantidade de hematomas
graves presentes em cada carcaça. Depois do abate, foram feitas mensurações de pH
das carcaças após 24 horas de resfriamento. Foi observado que todas as variáveis
mensuradas obtiveram melhoras, indicando um entendimento dos motoristas em
relação ao treinamento. Com isso, pode-se concluir que programas de treinamento
ajudam na melhoria do bem-estar animal assim como na diminuição do risco de
depreciação da qualidade da carne, baseada na ocorrência de altos valores de pH e
número de hematomas sérios nas carcaças.
Palavras-Chave: Bem-estar, bovinos, caminhão, pH, qualidade de carne, transporte
40
1. Introdução
A preocupação dos países importadores de produtos brasileiros com o bem-estar
dos animais determina que os produtores nacionais adotem novos procedimentos de
manejo para atender às exigências do mercado internacional (FAUCITANO, 2000).
A profissionalização dos setores envolvidos na cadeia produtiva da carne é um
passo importante para atender a essa demanda, contribuindo também para a
diminuição de perdas decorrentes da inadequação do manejo pré-abate, trazendo
graves prejuízos econômicos para o sistema financeiro (JONES & TONG, 1989;
GRANDIN, 2000b).
Uma das principais variáveis que afeta o bem-estar dos animais durante o
manejo pré-abate é o comportamento das pessoas que estão dirigindo o veículo e
manejando esses animais durante o embarque e desembarque (LAMBOOIJ et al. 1999;
KENT & EWBANK, 1983; AGNES et al. 1990; VAN DE WATER et al. 2003). Assim, há
a necessidade de treinamento de todas as pessoas envolvidas no manejo de bovinos,
dentre eles os motoristas responsáveis pelo transporte, mote desta dissertação, de
forma a buscar a diminuição de perdas (PARANHOS DA COSTA et al. 1998) e
melhorar o bem-estar dos animais (PAWELEK & CRONEY, 2004).
Atingir os mais altos níveis de desempenho requer métodos e processos bem
executados voltados para o aprendizado. O termo “aprendizado” refere-se à adaptação
às mudanças, resultando em novos enfoques e/ou metas. Adquirir simplesmente novos
equipamentos não garante técnicas de manejo racional, pois grande parte dos
produtores não busca eliminar os problemas em sua origem ou não acreditam na
mudança de comportamento dos próprios empregados. Treinamento implica prontidão
para respostas, é estar preparado com equipamentos, pessoal treinado para atender a
qualquer tipo de demanda – estratégica, operacional ou tecnológica – e reagir com
presteza para suprir as exigências de mercado. É preciso criar métodos para
comparação de resultados para a manutenção dessas práticas de manejo.
Uma proposta para solucionar este problema foi apresentada por GRANDIN
(1998a), que desenvolveu um método de observação do comportamento de humanos e
bovinos para avaliar a qualidade do manejo de bovinos em plantas frigoríficas,
41
avaliando, por exemplo, as freqüências de utilização de bastão elétrico e de animais
que escorregam. Os critérios definidos por esta autora têm sido utilizados em auditorias
implementadas por grandes compradores de carne, compondo um conjunto de
exigências que têm em conta a avaliação do bem-estar animal durante o manejo préabate acarretando um tratamento racional no manejo dos bovinos (GRANDIN, 2000a).
Certamente é necessário definir estratégias para implementação de programas
de treinamento para minimizar o estresse dos animais e as perdas econômicas
provenientes do comprometimento da qualidade da carne. Uma possibilidade é
combinar ações de treinamento com a adoção de punições ou gratificações pelo
trabalho feito de forma errada ou correta, respectivamente (GUISE, 1991; BROOM,
2000; GRANDIN, 2000b).
Sabe-se, através do resultado dos programas de qualidade, que o sucesso de
qualquer organização depende cada vez mais do conhecimento, das habilidades, da
motivação e da criatividade de sua força de trabalho. A importância do engajamento e
alinhamento das pessoas que trabalham no processo com as estratégias da
organização que fazem parte só tende a facilitar a relação entre mercados mais
exigentes de forma a beneficiar economicamente todos os envolvidos no processo.
O
objetivo
desse
trabalho
foi
quantificar
as
mudanças
ocorridas
no
comportamento dos caminhoneiros após treinamento em manejo racional e suas
conseqüências no bem-estar dos animais e na qualidade da carne.
2. Material e Métodos
2.1. Processo de coleta de dados
A pesquisa foi realizada na planta do Frigorífico Marfrig, em Promissão - SP,
Brasil, durante a implementação de um programa de treinamento para implementação
de rotinas de manejo racional, entre junho de 2004 e fevereiro de 2005.
Antes do início do treinamento houve habituação dos caminhoneiros à presença
das pessoas envolvidas no processo de treinamento (procedimento semelhante ao
realizado com colaboradores de currais de frigoríficos, para mensurar a quantidade de
42
utilização de choque nos animais durante o processo de condução do curral até o boxe
de atordoamento), pois num primeiro momento percebeu-se que os trabalhadores
utilizaram pouco o bastão na tentativa de demonstrar um trabalho bem feito, conforme
mostra a Figura 1 (PARANHOS DA COSTA et al. 2004).
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
15
/0
4
27 /04
/0
4
28 /04
/0
4
27 /04
/0
5
08 /04
/0
6
11 /04
/0
6
12 /04
/0
6
14 /04
/0
6
17 /04
/0
6
18 /04
/0
6
19 /04
/0
6
21 /04
/0
6
22 /04
/0
6
23 /04
/0
6
24 /04
/0
6
25 /04
/0
6
26 /04
/0
6
28 /04
/0
6
29 /04
/0
6
30 /04
/0
6
01 /04
/0
7/
04
Valor em %
Acompanhamento da evolução do uso de choque durante a condução do curral
até o box e linha de tendência
Figura 1. Acompanhamento da evolução do uso de choque durante a condução de bovinos, do curral até
o boxe de atordoamento (adaptado de PARANHOS DA COSTA et al. 2004)
Pela análise da Figura 1 percebe-se que à medida que a rotina foi sendo
retomada, o comportamento dessas pessoas envolvidas retornava aos níveis reais e
conseqüentemente houve a possibilidade de se medir com maior segurança o
desempenho cotidiano destes trabalhadores.
Esse resultado inicial foi de extrema importância haja vista os questionamentos
sobre a alta incidência do uso do bastão elétrico logo após o inicio do processo de
observação, que foi avaliar o comportamento rotineiro. Posteriormente iniciou-se a
coleta de dados propriamente dita antes que o treinamento fosse realizado de forma a
comparar resultados
Após o treinamento, a queda dos níveis é atribuída exclusivamente ao
aprendizado e comprometimento das pessoas envolvidas. Em trabalhos mais
detalhados a respeito desse assunto, quedas de produtividade podem ocorrer a partir
do momento em que as pessoas envolvidas se sentem alienadas ou excluídas do
43
processo de trabalho ou em situações em que suas necessidades básicas não sejam
atendidas, ou mesmo quando estão ansiosas na expectativa de reconhecimento. Com
pequenas melhorias, valorizando a mão-de-obra, alteração significativa de desempenho
foi observada (Figura 2) (TSEIMAZIDES & BARBALHO, 2005).
250
216
200
150
99
%
87
93
100
61
75
44
50
0
Abril
Maio
Jun
Jul
Ago
Out
Dez
(N= 1859) (N= 576) (N= 2921) (N= 1457) (N= 1473) (N= 448) (N= 672)
Figura 2. Médias mensais das freqüências de choques durante a condução dos animais do curral
ao boxe de atordoamento durante o ano de 2004. Valores percentuais acima de 100%
representam que determinados animais receberam mais de um choque.
O treinamento foi dividido em duas partes: uma teórica, com apresentação de
seis horas de aula (seguida de avaliação com prova escrita) abordando os conceitos de
bem-estar animal, características comportamentais e fisiológicas dos animais,
procedimentos corretos para a realização do processo desde o embarque na fazenda
até o desembarque no frigorífico, as relações entre animais e humanos e as
conseqüências do mau manejo sobre a qualidade da carne e outra prática, orientando
sobre a forma correta de estacionamento do veículo em sua chegada no frigorífico,
forma de abertura das porteiras, modo de promover fluxo de saída de animais de forma
tranqüila, evitando, assim, acidentes tanto para os motoristas como para os animais.
44
Após o treinamento foi realizado novo acompanhamento do desembarque dos
animais, coletando dados sem influenciar nas atitudes dos motoristas.
Na chegada dos animais no frigorífico descreveram-se as características do
veículo e identificou-se o número de rastreabilidade individual de cada animal. Durante
o período de descarregamento dos animais, os eventos de batida de lombo nas
porteiras, velocidade de descida, quedas e utilização de choque foram contabilizadas e
registradas por um observador posicionado em local que não influenciava o
comportamento dos animais.
Após o desembarque os animais eram conduzidos até o curral de espera para o
abate no dia seguinte. O curral de espera abrigava em média 90 animais, com água
disponível até o momento do abate.
Para avaliação das contusões nas carcaças, seguiu-se o critério descrito pela
AUS-MEAT (2001), que definiu hematoma grave como qualquer lesão no tecido
muscular, caracterizada por apresentar pelo menos 2 cm de profundidade ou 10 cm de
diâmetro (ou área equivalente), exceto as lesões no contra-filé (longissimus dorsi), que
foram sempre consideradas graves independentemente do tamanho. Essas avaliações
foram realizadas na linha de abate, logo após a retirada do couro, sendo registrada a
identidade de cada animal e o local do hematoma (quando ocorria), marcando “x” em
desenhos de carcaças.
Após o final do abate, as carcaças, divididas ao meio, eram levadas para o
resfriamento em câmara fria, nunca inferior a 2ºC, onde permaneciam por
aproximadamente 24 horas até o momento da mensuração do pH. Essa mensuração foi
realizada no músculo longissimus dorsi introduzindo-se o peagâmetro digital, modelo
1140, produzido pela Mettler Toledo, nas duas meias carcaças, tomando-se os valores
médios obtidos para comparação.
O conjunto de animais utilizado nos dois levantamentos (comportamentais e
qualitativos) foram distintos, porém ambos foram mensurados com a mesma equipe de
motoristas, avaliada antes e após o treinamento.
45
2.2. Dados de Comportamento
O trabalho dos caminhoneiros foi acompanhado no desembarque antes do curso
de manejo racional, com 37 caminhões e 713 animais, e após o treinamento, com 148
caminhões e 2865 animais.
Quatro variáveis foram computadas em relação às ocorrências:
1- utilização do bastão elétrico – mediu-se a freqüência de utilização desse instrumento
por cada motorista;
2- velocidade de descida – classificou-se três situações, definindo as categorias:
"andando", quando mais da metade dos animais deixava o caminhão de forma
tranqüila; "correndo", quando a maioria dos animais deixava o veículo de forma rápida;
"correndo e andando", quando metade dos animais descia de cada uma das formas
anteriores;
3- queda – compreende-se por queda
toda vez que um animal, ao desembarcar,
tocava o chão com qualquer parte do corpo, exceto os cascos;
4- pancada no dorso – computava-se pancada toda vez que um animal, ao passar por
uma das porteiras do caminhão, batia o dorso contra a base da mesma, geralmente
porque esta não estava totalmente aberta.
2.3. Dados de Qualidade
Entende-se por dados relativos à qualidade da carne aqueles que influenciam
nas características da carne, ou seja, quantidade de hematomas e valores de pH. As
avaliações qualitativas foram sempre mensuradas antes e depois do treinamento.
Todas as carcaças avaliadas tiveram os valores de pH tomados no músculo
longissimus dorsi, 24 horas após o abate, e as análises estatísticas foram realizadas
utilizando-se o valor médio obtido das mensurações feitas nas duas meias carcaças.
Na tabela 1 está representado o número de animais avaliados para cada variável
em função do grupo genético dos animais
46
Tabela 1 – Número de animais, dos diferentes grupos genéticos, avaliados antes e após o treinamento
em relação a pH e freqüência de hematomas
pH
Hematomas
Antes
Depois
Antes
Depois
Nelore
1466
1587
1409
1843
Cruzado
576
1192
405
1338
2.4. Análise Estatística
A análise estatística foi realizada através do modo GLM (General Linear Models)
do pacote estatístico Statistical Analisys System (SAS, 2001), observando a influência
das diferentes propriedades, data de coleta, categoria de distância, sexo e raça sobre
os resultados. Elaborou-se uma variável que contemplava as diferentes datas,
propriedades, sexo e categorias de distâncias, totalizando 42 classes para a avaliação
de animais da raça nelore e 38 classes para animais cruzados, que foram incluídas no
modelo como variável independente, juntamente com a variável “período” e a interação
entre elas. Os valores de pH médio das carcaças e a quantidade média de hematomas
transformadas pela fórmula y = (x + 1)
0,5
foram avaliadas como variáveis dependentes.
Para a comparação das médias entre os diferentes períodos foi utilizado o teste de
Tukey. Os valores percentuais para as características comportamentais foram avaliados
através do teste Z para a comparação de proporções.
47
3. Resultados e Discussão
Os resultados são apresentados para todas as variáveis analisadas, expomos os
resultados de cada uma separadamente para melhor explicar seus resultados
inerentes:
3.1. Utilização do bastão elétrico
Houve um decréscimo de 61,5% na utilização de bastão elétrico após o
treinamento dos motoristas, como pode ser observado na Figura 3.
6,0
5,0
5,2
%
4,0
Antes
3,0
2,0
2,0
Depois
1,0
0,0
Utilização de choque (P=0,257)
Figura 3. Freqüência de utilização de choque, no desembarque antes e após o treinamento dos
motoristas em manejo racional. Letras iguais não diferem estatisticamente entre si pelo teste de
Z para proporções
Grandin (1998) observou uma diminuição na utilização de bastão elétrico no
manejo dos animais nos currais de dois frigoríficos depois de treinamento. Essa
redução demonstra que houve uma assimilação por parte dos motoristas dos conceitos
e das novas técnicas que podem ser empregadas para realizar a mesma tarefa,
preservando o bem-estar dos animais.
48
Ressalta-se, ainda, que anteriormente ao treinamento os caminhoneiros
mantinham posse do bastão antes de iniciar o desembarque, utilizando-se desse
recurso algumas vezes desnecessariamente. Esses resultados assemelham-se aos
encontrados por HEMSWORTH et al. (2002) demonstrando que o treinamento gera
mudanças no comportamento humano e conseqüentemente uma queda na utilização
de práticas aversivas modificando também o comportamento do animal que se
apresentará mais tranqüilo.
3.2. Batidas de dorso nas porteiras do veículo
O manejo adequado de desembarque é fundamental para diminuir a freqüência
de batidas de dorso nas porteiras dos caminhões, como caracterizado na Figura 4, que
registra as freqüências médias deste problema por animal e por veículo.
25,0
A
21,6
20,0
15,0
%
Antes
Depois
10,0
5,0
B
0,7
0,0
Por Veículo***
A
3,5
B
0,1
Por Animal***
Figura 4. Freqüências médias de batidas do dorso dos animais nas porteiras dos caminhões calculadas
por animal e por veículo antes e após treinamento de motoristas. Letras diferentes na mesma
situação diferem estatisticamente entre si pelo teste de Z para proporções (***P < 0,001).
49
Essa medida é de grande valor para sugerir que o treinamento surtiu efeito
positivo sobre o manejo de desembarque, uma vez que para diminuir esse tipo de
ocorrência é necessária apenas maior atenção dos motoristas, assegurando que as
porteiras estejam bem abertas, evitando assim sofrimento dos animais e perdas
econômicas para o frigorífico. A redução observada nesse estudo mostra que
motoristas mais cuidadosos podem entregar animais em boas condições no frigorífico.
3.3. Velocidade de descida
A velocidade de descida dos animais durante o desembarque também melhorou
significativamente após o treinamento (Figura 5).
A
77,0
90,0
80,0
A
56,8
70,0
%
60,0
50,0
40,0
B
35,1
Antes
B
22,3
30,0
20,0
10,0
0,0
Andando***
Correndo***
Depois
A
5,4
B
0,7
Andando/Correndo
(P=0,0416)
Figura 5. Freqüências médias de ocorrência das categorias de velocidade de descida dos animais do
caminhão no momento do desembarque antes e após treinamento de motoristas. Letras
diferentes na mesma variável diferem estatisticamente entre si pelo teste de Z para proporções
(***P<0,001).
O maior reflexo do treinamento dos caminhoneiros foi observado sobre o manejo
de animais que desciam apenas andando ou apenas correndo. Essa condição pode ser
a conseqüência do tratamento gentil com os animais, influenciando significativamente
50
na diminuição da aversão dos animais pelo homem, minimizando, assim, a distância de
fuga conforme já observado em criação leiteira (HEMSWORTH et al. 2000;
HEMSWORTH et al. 2002).
3.4. Quedas
A freqüência de quedas de animais durante o desembarque por veículo também
decresceu após o treinamento, porém sem caracterizar significância estatística, como
apresentado na Figura 6. Apesar da falta de diferença estatística estes resultados
também podem ser atribuídos a uma melhor condição de viagem, pela assimilação dos
novos conceitos pelos motoristas, permitindo que o trabalho fosse realizado com
qualidade durante o período de viagem, como durante o desembarque, fazendo com
que esse tipo de acidente fosse menos freqüente.
A menor utilização de choque como pode ser observado na Figura 1, também
pode ter contribuído para que os animais descessem com menos rapidez, apoiando-se
melhor, e, conseqüentemente, minimizando as quedas.
51
9,0
8,1
8,0
7,0
%
6,0
6,1
5,0
Antes Depois
4,0
Depois
3,0
2,0
1,0
0,4
0,0
Por Veículo (P=0,6543)
0,3
Por Animal (P=0,6595)
Figura 6. Freqüências médias de quedas de animais durante o desembarque por veículo e por animal
antes e após treinamento de motoristas. Letras iguais na mesma variável não diferem
estatisticamente entre si pelo teste de Z para proporções
3.5. pH
Os valores médios de pH, analisados nas carcaças, para os dois grupos
genéticos, nelore e cruzado, alteraram-se significativamente para a raça nelore depois
do treinamento, fato não constatado nos animais cruzados, como caracterizado na
Figura 7. O fato de não existir diferença significativa entre as médias de pH de animais
cruzados pode estar ligado a menor reatividade dos animais pertencentes a esse grupo
genético.
52
pH
5,84
a
5,80
a
5,76
a
b
5,72
5,68
5,64
Antes
Depois
Antes
Nelore***
Depois
Cruzado
pH
Figura 7. Valores médios de pH dos diferentes grupos genéticos e respectivos erros padrão antes e
após o treinamento dos motoristas. Letras diferentes no mesmo grupo genético diferem
estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (***P < 0,001 )
O decréscimo de 0,09 no valor de pH, observado para animais da raça nelore, é
sugestivo, considerando que há exigências de mercado que levam a desclassificação
de cortes com pH acima de 5,99, aceitando-se qualquer valor abaixo deste. Essa
redução no pH pode ter grande importância na perspectiva comercial de atendimento
de conformidades para exportação.
.
3.6. Hematomas
Na Figura 8 são apresentadas as freqüências médias de hematomas em cada
grupo genético antes e após o treinamento. Ambos tiveram um decréscimo significativo
na quantidade de hematomas após o treinamento. A diminuição nos valores dessa
variável é um reflexo da somatória de todos os benefícios trazidos pelo treinamento,
que potencializou os caminhoneiros a aplicar os conhecimentos adquiridos modificando
a rotina, que também lhes era estressante, e reconhecendo que as orientações
53
permitiam realizar o trabalho de forma mais tranqüila, facilitando a interação com os
animais, refletido no bem-estar de ambos e na melhoria da qualidade da carne.
Quantidade de Hematomas
2,40
2,00
a
a
1,60
b
1,20
b
0,80
0,40
0,00
Antes
Depois
Nelore***
Antes
Depois
Cruzado***
Quantidade de Hematomas
Figura 8. Freqüências médias de hematomas (dados transformados) para os diferentes grupos
genéticos e respectivos erros padrão antes e após o treinamento. Letras diferentes no mesmo
grupo genético diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (***P < 0,001)
54
4. Conclusões
Atingir os mais altos níveis de desempenho requer métodos e processos
voltados para um aprendizado relacionado ao negócio da empresa, que permita ao
empregado ficar motivado pela oportunidade de executar uma atividade de forma
melhor, bem como contribuir para corrigir problemas dentro do setor operacional. Todo
desempenho relativo às pessoas está relacionado aos indicadores que medem a
integração e satisfação com o seu trabalho e isto inclui não apenas uma remuneração
justa como também criação de um ambiente de trabalho que conduza à excelência do
desempenho, à plena participação e ao crescimento pessoal e da organização, que
faça com que ele se sinta parte integrante do processo de trabalho.
O programa de treinamento em manejo racional, resultou na melhoria da
qualidade do serviço e conseqüentemente no bem-estar dos animais, contribuindo para
a melhoria da qualidade da carne e ampliando as oportunidades de melhores negócios
para plantas frigoríficas.
O trabalho foi realizado de forma eficiente e eficaz, com efeitos potenciais
positivos nos resultados econômicos, independentemente do grupo genético avaliado.
Todos os resultados reforçam a idéia de que programas de treinamento podem ser
utilizados para promover melhorias no serviço e conseqüentemente uma diminuição nos
custos de produção.
55
5. Referências
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58
CAPITULO 4 – IMPLICAÇÕES
Um sistema de gestão para a excelência de desempenho precisa ter seu foco
nos principais resultados da organização, sejam resultados relativos à satisfação dos
clientes, internos e externos, financeiros, aos empregados, aos fornecedores e
parceiros, ao produto e aos processos organizacionais. Neste trabalho, focalizou-se
principalmente o resultado do treinamento de pessoas envolvidas no processo de
manejo correto do gado e na especificação da lotação ideal de transporte, buscando o
bem-estar animal e melhorias no processo produtivo das organizações.
Durante o desenvolvimento deste estudo, foram detectados dois aspectos
determinantes na melhoria do manejo dos bovinos:
1 – A formulação de uma nova proposta de carregamento para cálculo de
densidade de carga através da utilização de metragem linear por peso vivo de animal,
garantindo, assim, que as características quantitativas e qualitativas não se perdessem
durante o período em que os animais estivessem sendo transportados.
2 – A necessidade de se conhecer mais profundamente as influências do
transporte sobre características quantitativas e qualitativas da carne bovina. O
conhecimento adequado do manejo durante o transporte desses bovinos beneficia
consideravelmente o produto final. Nesta pesquisa percebeu-se que o resultado positivo
dessas práticas de manejo foi possível porque o trabalhador conseguiu se perceber
inserido no processo de melhoria e da criação de parcerias entre produtores e
frigoríficos. Parcerias internas envolvem, também, a criação de uma rede de
relacionamento entre as unidades da organização para melhorar a comunicação,
flexibilidade, a prontidão de resposta e a troca de conhecimentos. O trabalho foi
realizado visando ao desenvolvimento profissional, a conscientização de todas as
pessoas envolvidas no processo de produção de carne, desde os trabalhadores das
fazendas até os colaboradores dos currais dos frigoríficos, propiciando uma melhoria do
produto final.
Todas as experiências deste trabalho com lotação própria para gado bovino
permitem recomendar um tipo de lotação que leva em consideração a metragem linear
59
da gaiola, porque verificou-se que este tipo de recomendação possibilita transportar o
gado de forma a diminuir a possibilidade de formação de hematomas e
conseqüentemente manter os valores de pH aceitáveis para não desqualificar a carne.
A equação linear C2= 0,01P0,63 foi a mais recomendada porque é adequada tanto para
animais cruzados como para o gado nelore.
Nesse trabalho buscou-se entender um pouco das diversas variáveis
responsáveis pela perda de quantidade e qualidade da carne bovina. Esse objetivo foi
atingido porque se obteve um embasamento dos pontos principais onde o transporte de
bovinos pode ser melhorado. O desenvolvimento do trabalho em ambiente comercial,
trouxe vantagens de se conhecer diversas realidades dentro desse sistema de
produção. Em contrapartida, vários fatores podem ter influenciado os resultados por se
tratar de ambiente não controlado. Dessa forma, se faz necessário maior rigor em
pesquisas futuras, com controle metódico de todos os fatores envolvidos no processo
de transporte que influenciam o bem-estar dos animais e a qualidade da carne.
Todavia, a experiência vivenciada nas visitas às fazendas e frigoríficos, mostrou
que os resultados de desempenho, tanto econômico quanto funcional, foram positivos.
Notou-se que a organização para o trabalho melhorou o ambiente de trabalho,
proporcionando satisfação pessoal e o desenvolvimento profissional de todos os
envolvidos.
Nessa busca pela profissionalização dentro do setor, ganhos quantitativos e
qualitativos podem determinar o sucesso de uma empresa na obtenção de lucros,
fazendo com que o produto atinja os padrões de qualidade exigidos pelo mercado,
aproveitando todas as possibilidades de comercialização e conquistando melhores
negócios. O desenvolvimento de parcerias (seja interna ou externa) pode melhorar a
cadeia produtiva da carne que está em constante desenvolvimento, principalmente para
atender as exigências de seus clientes, cada vez mais preocupado com o padrão de
qualidade daquilo que consomem.
O treinamento das pessoas envolvidas no processo de transporte inegavelmente
minimizou perdas. O protocolo utilizado nesse trabalho foi eficaz e eficiente, uma vez
que após o treinamento as pessoas continuaram com o mesmo desempenho
60
independente da presença do supervisor. A adoção do protocolo proposto nesse
trabalho aliado à disponibilidade de treinadores e treinados para a troca de experiência
gerou um comprometimento de ambas as partes para a melhoria do processo.
É sempre necessário repensar critérios modificando estratégias e planos de ação
para criar metas a serem alcançadas dentro da organização, porque servem como
impulsionadora de desempenho para todos os setores e unidades de trabalho. Deve-se
repensar constantemente todo o processo, que nada mais é o conjunto de recursos e
atividades inter-relacionadas para garantir a qualidade da carne bovina.
Nova pesquisa sobre a determinação do período em que os padrões ensinados
se mantém em níveis satisfatórios será necessária, uma vez que treinamento implica
processo contínuo de realimentação de aprendizagem, melhorando assim os padrões já
alcançados e garantindo a motivação desses trabalhadores.

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