reserva biológica nascentes da serra do cachimbo

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reserva biológica nascentes da serra do cachimbo
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES DA
SERRA DO CACHIMBO
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E BIÓTICA: LEVANTAMENTOS INTEGRAIS NA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTE DA SERRA DO CACHIMBO (PA)
(Relatório Final)
Responsável Técnico: Geóg. Gustavo Vasconcellos Irgang.
Realização:
INSTITUTO CENTRO
DE VIDA
Apoio:
W W F - BRASIL
Junho de 2006
RELATÓRIOS TÉCNICOS MEIOS FÍSICO E BIÓTICO
ÍNDICE:
1. CARACTERIZAÇÃO GERAL REFERENTE AO MEIO FÍSICO ................................... 6
1.1. Geologia ........................................................................................................... 6
1.1.1.
Considerações gerais.......................................................................... 6
1.1.2.
Evolução geotectônica ........................................................................ 7
1.1.3.
Descrição das Unidades Litoestratigráficas ........................................ 8
1.1.3.1. Arqueano e Proterozóico Inferior .................................................... 8
1.1.3.2. Complexo Xingu .............................................................................. 8
1.1.3.3. Proterozóico Médio ....................................................................... 11
1.1.3.4. Evolução do conhecimento do quadro tectônico........................... 11
1.1.3.5. Estruturas e tectônica.................................................................... 12
1.1.4.
Relações entre os compartimentos................................................... 15
1.1.4.1. Fusão parcial versus adelgaçamento litosférico ........................... 15
1.1.4.2. Estruturas antigas versus estruturas extensionais........................ 16
1.1.4.3. Supergrupo Uatumã ...................................................................... 17
1.1.4.4. Grupo Iriri ...................................................................................... 18
1.1.4.5. Grupo Beneficente ........................................................................ 19
1.1.4.6. Aluviões atuais .............................................................................. 20
1.2. Hipsometria .................................................................................................... 22
1.3. Clinografia ...................................................................................................... 24
1.4. Hidrografia...................................................................................................... 25
1.5. Clima .............................................................................................................. 28
1.5.1.
Caracterização climática ................................................................... 28
1.5.2.
A água e sua importância climática regional..................................... 32
1.6. Geomorfologia................................................................................................ 34
1.6.1.
Caracterização geomorfológica da região da Serra do Cachimbo.... 35
1.7. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 40
1.8. Pedologia ....................................................................................................... 44
1.8.1.
Aspectos gerais................................................................................. 44
1.8.2.
Análise genérica dos solos da região................................................ 45
1.8.3.
Descrição taxonômica das classes de solos..................................... 46
1.8.3.1. Latossolo Vermelho Amarelo ........................................................ 46
1.8.3.2. Latossolo Amarelo......................................................................... 47
1.8.3.3. Argissolo Vermelho Amarelo......................................................... 48
1.8.3.4. Argissolo Amarelo ......................................................................... 49
1.8.3.5. Neossolo Litólico ........................................................................... 50
1.8.3.6. Neossolo quartzarênico................................................................. 51
1.8.4.
Considerações finais ......................................................................... 54
1.8.5.
Bibliografia......................................................................................... 57
1.9. Vegetação ...................................................................................................... 59
1.9.1.
Introdução ......................................................................................... 59
1.9.2.
Método de trabalho ........................................................................... 59
1.9.3.
Classificação da Vegetação da região da Reserva Biológica
Nascentes da Serra do Cachimbo ..................................................................... 60
1.9.4.
Caracterização geral da vegetação................................................... 66
1.9.4.1. Descrição das classes de vegetação identificadas na Reserva.... 66
1.9.5.
Resultados do levantamento florístico .............................................. 71
1.9.6.
Descrição dos Sítios amostrais ......................................................... 73
1.9.6.1. Sítio Amostral 1 ............................................................................. 73
1.9.6.2. Sítio Amostral 2 ............................................................................. 74
1
1.9.6.3. Sítio Amostral 3 ............................................................................. 74
1.9.6.4. Sítio Amostral 4 ............................................................................. 75
1.9.6.5. Sítio Amostral 5 ............................................................................. 75
1.9.6.6. Sítio Amostral 6 ............................................................................. 76
1.9.6.7. Sítio Amostral 7 ............................................................................. 76
1.9.6.8. Sítio Amostral 9 ............................................................................. 77
1.9.7.
Ocorrência de endemismos .............................................................. 77
1.9.8.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................. 78
1.9.9.
ANEXO.............................................................................................. 79
2. Relatórios Meio Biótico............................................................................................ 91
2.1. Artrópodes...................................................................................................... 91
2.1.1.
Resumo ............................................................................................. 91
2.1.2.
Introdução ......................................................................................... 91
2.1.3.
Objetivos ........................................................................................... 92
2.1.4.
Material e Métodos............................................................................ 93
2.1.4.1. Coleta Manual ............................................................................... 93
2.1.4.2. Armadilha atrativa ......................................................................... 93
2.1.4.3. Rede Entomológica ....................................................................... 94
2.1.5.
Caracterização Ambiental da Reserva Biológica Nascentes da Serra
do Cachimbo - Resultados da Avaliação Ecológica Rápida. ............................. 94
2.1.5.1. Caracterização dos ambientes utilizados...................................... 94
2.1.6.
ANÁLISE TEMÁTICA DOS DADOS OBTIDOS NA AVALIAÇÃO
ECOLÓGICA RÁPIDA. .................................................................................... 100
2.1.7.
Avaliação dos resultados. ............................................................... 101
2.1.8.
Referências bibliográficas ............................................................... 103
2.1.9.
Anexo .............................................................................................. 106
2.1.9.1. Tabelas........................................................................................ 106
2.1.9.2. Figuras ........................................................................................ 113
2.2. Ictiofauna...................................................................................................... 122
2.2.1.
1 RESUMO...................................................................................... 122
2.2.2.
INTRODUÇÃO ................................................................................ 123
2.2.3.
OBJETIVOS .................................................................................... 124
2.2.4.
Métodos........................................................................................... 124
2.2.4.1. Obtenção de Dados Secundários ............................................... 124
2.2.5.
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA RESERVA - RESULTADOS
DA AVALIAÇÃO ECOLÓGICA RÁPIDA.......................................................... 125
2.2.6.
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS.................................................. 134
2.2.6.1. Parâmetros físico-químicos......................................................... 134
2.2.6.2. Variação na Altitude .................................................................... 136
2.2.7.
Ictiofauna......................................................................................... 136
2.2.7.1. Espécies Novas, Endêmicas, Raras, Migratórias e Ameaçadas 144
2.2.7.2. Pressões Ambientais e Sustentabilidade .................................... 144
2.2.8.
Categorização dos Pontos da AER................................................. 145
2.2.9.
RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO ........................................ 155
2.2.9.1. Linhas de Pesquisas e Estudos .................................................. 155
2.2.9.2. De Ordem Administrativa e Operacional..................................... 155
2.2.9.3. De Ordem Estratégica................................................................. 155
2.2.9.4. Referentes à Qualidade Ambiental ............................................. 155
2.2.10.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................ 156
2.2.10.1.1. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR CONSULTADA....158
2.3.
Herpetofauna................................................................................................ 184
2.3.1.
RESUMO......................................................................................... 184
2.3.2.
INTRODUÇÃO ................................................................................ 184
2.3.3.
OBJETIVOS .................................................................................... 185
2.3.4.
Métodos........................................................................................... 185
2
2.3.4.1. Obtenção de Dados Secundários ............................................... 185
Revisão Bibliográfica regional, Definição de.................................................... 185
2.3.4.2. Obtenção de Dados Primários – Métodos de Campo................. 185
2.3.5.
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA RESERVA BIOLÓGICA
NASCENTES DA SERRA DO CACHIMBO - RESULTADOS da AVALIAÇÃO
ECOLÓGICA RÁPIDA ..................................................................................... 189
2.3.5.1. Caracterização dos Ambientes Utilizados pela Herpetofauna .... 189
2.3.5.2. Caracterização da Herpetofauna ................................................ 189
2.3.5.3. 5.2.1 Caracterização Geral (abordagem mais ampla (regional) do
ponto de vista da biogeografia). ................................................................... 189
2.3.5.4. 5.2.2 Caracterização da Herpetofauna nos Ambientes Ocorrentes
na Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, com ilustrações.. 190
2.3.5.5. Caracterização dos Sítios Pesquisados com Base nos Dados
Obtidos Através da Avaliação Ecológica Rápida ......................................... 191
2.3.5.6. Táxons da Herpetofauna de Interesse para a Conservação....... 191
2.3.6.
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS (referentes à sua área temática
visando ao manejo).......................................................................................... 192
2.3.7.
CATEGORIZAÇÃO DOS PONTOS DA AER (referentes à sua área
temática) 193
2.3.8.
RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO ........................................ 193
2.3.8.1. Linhas de Pesquisas e Estudos .................................................. 193
2.3.8.2. De Ordem Administrativa e Operacional..................................... 193
2.3.8.3. De Ordem Estratégica................................................................. 193
2.3.8.4. Referentes à Qualidade Ambiental ............................................. 193
2.3.9.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................ 193
2.4. Avifauna ....................................................................................................... 207
2.4.1.
Introdução ....................................................................................... 207
2.4.2.
Material e Métodos:......................................................................... 208
2.4.3.
Resultados: ..................................................................................... 208
2.4.4.
SÍTIOS IMPORTANTES PARA A AVIFAUNA: ............................... 210
2.4.5.
RELAÇÕES ECOLÓGICAS IMPORTANTES: ................................ 211
2.4.6.
RELAÇÃO AVIFAUNA X MORADORES E PROBLEMAS
ENCONTRADOS: ............................................................................................ 212
2.4.7.
PRIORIDADES DE PESQUISA E JUSTIFICATIVAS PARA UMA
NOVA CAMPANHA: ........................................................................................ 212
2.4.8.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:............................................... 213
2.4.9.
Anexos: ........................................................................................... 215
2.4.9.1. Documentação Fotográfica ......................................................... 215
2.5. Mastofauna................................................................................................... 220
2.5.1.
ENFOQUE REGIONAL ................................................................... 220
2.5.2.
METODOLOGIA.............................................................................. 220
2.5.2.1. Área de estudo ............................................................................ 220
2.5.3.
Amostragem .................................................................................... 222
2.5.4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................... 222
2.5.4.1. Pequenos mamíferos .................................................................. 222
2.5.4.2. Mamíferos de médio e grande porte ........................................... 224
2.5.5.
Problemas constatados................................................................... 227
2.5.6.
AÇÕES RECOMENDADAS ............................................................ 228
2.5.7.
BIBLIOGRAFIA ............................................................................... 229
2.5.8.
ANEXO............................................................................................ 230
2.6. Socieconomia............................................................................................... 241
2.6.1.
. APRESENTAÇÃO......................................................................... 241
2.6.2.
HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA REGIÃO.................................... 242
2.6.3.
OCUPAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO ....... 245
2.6.4.
Economia local ................................................................................ 249
3
2.6.5.
Conflitos e problemas atuais ........................................................... 253
2.6.6.
Histórico de ocupação na perspectiva dos atores locais ................ 258
2.6.7.
Sistemas de produção..................................................................... 261
2.6.8.
Opiniões e posicionamento dos atores locais ................................. 266
2.6.8.1. Conflito fundiário ......................................................................... 266
2.6.8.2. CENÁRIOS FUTUROS PARA A ÁREA DA REBIO .................... 269
.
Cenário 1...................................................................................................... 270
.
Cenário 2...................................................................................................... 271
.
Cenário 3...................................................................................................... 272
2.6.9.
SUGESTÕES DE MANEJO ............................................................ 272
2.6.10.
QUESTIONÁRIO PRODUTORES APLICADO NA REGIÃO DA
RESERVA BIOLÓGICA DAS NASCENTES.................................................... 275
3. APRESENTAÇÃO da Oficina de planejamento ............ Erro! Indicador não definido.
3.1. OBJETIVOS ...................................................... Erro! Indicador não definido.
3.2. PARTICIPANTES.............................................. Erro! Indicador não definido.
3.3. CONSOLIDAÇÃO DOS RESULTADOS DAS PESQUISAS .... Erro! Indicador
não definido.
3.3.1.
Meio Físico ........................................... Erro! Indicador não definido.
3.3.2.
Vegetação ............................................ Erro! Indicador não definido.
3.3.3.
Artrópodes............................................ Erro! Indicador não definido.
3.3.4.
Ictiofauna.............................................. Erro! Indicador não definido.
3.3.5.
Herpetofauna........................................ Erro! Indicador não definido.
3.3.6.
Avifauna ............................................... Erro! Indicador não definido.
3.4. Mastofauna........................................................ Erro! Indicador não definido.
3.4.1.
Socioeconomia..................................... Erro! Indicador não definido.
3.5. ESTABELECIMENTO DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA RESERVA .Erro!
Indicador não definido.
3.6. ZONEAMENTO PRELIMINAR DA RESERVA .. Erro! Indicador não definido.
3.6.1.
Critérios para o zoneamento interno da UC......... Erro! Indicador não
definido.
3.6.2.
Critérios para a delimitação da Zona de Amortecimento da UC ...Erro!
Indicador não definido.
3.7. PROPOSTA DE LOCALIZAÇÃO PARA ESTRUTURAS DE FISCALIZAÇÃO,
ADMINISTRAÇÃO E DE APOIO À PESQUISA NA ÁREA DA RESERVA
BIOLÓGICA NASCENTES DA SERRA DO CACHIMBO ............ Erro! Indicador não
definido.
3.8. ÁREAS ESTRATÉGICAS ................................. Erro! Indicador não definido.
3.8.1.
Áreas estratégicas externas................. Erro! Indicador não definido.
3.9. AÇÕES ESTRATÉGICAS ................................. Erro! Indicador não definido.
3.9.1.
AÇÕES ESTRATÉGICAS INTERNAS. Erro! Indicador não definido.
3.9.1.1. Pesquisa........................................... Erro! Indicador não definido.
3.9.2.
Proteção e fiscalização ........................ Erro! Indicador não definido.
3.9.3.
AÇÕES ESTRATÉGICAS EXTERNAS Erro! Indicador não definido.
3.10.
Ações estratégicas gerais ............................ Erro! Indicador não definido.
3.11.
Instituições-chave para estabelecimento de parcerias Erro! Indicador não
definido.
3.12.
Bibliografia Geral.......................................... Erro! Indicador não definido.
3.13.
ANEXO: Programação da oficina técnica com pesquisadores e reunião de
planejamento da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo...............Erro!
Indicador não definido.
4
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES DA
SERRA DO CACHIMBO
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA: LEVANTAMENTOS DE GEOLOGIA, HIPSOMETRIA,
CLINOGRAFIA, HIDROGRAFIA E CLIMA NA RESERVA BIOLÓGICA NASCENTE
DA SERRA DO CACHIMBO (PA)
(Relatório Final)
Responsável Técnico: Geóg. Gustavo Vasconcellos Irgang.
Realização:
INSTITUTO CENTRO
DE VIDA
Apoio:
W W F - BRASIL
Junho de 2006
5
1.
CARACTERIZAÇÃO GERAL REFERENTE AO MEIO FÍSICO
1.1. Geologia
Responsáveis técnicos
Gustavo Vasconcellos Irgang
Roberta Roxilene dos Santos
Para a execução da descrição geológica da área de inserção da Reserva Biológica
Nascentes da Serra do Cachimbo foi realizada revisão bibliográfica à procura de
informações secundárias, apoiada principalmente no Projeto RADAM-Brasil Folha
SC21 Juruena (BRASIL – DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL,
1975, 1976 e 1980), no relatório técnico de Geologia do Zoneamento Sócio Econômico
Ecológico do Estado do Mato Grosso, e na descrição dos aspectos tectônicos
fundamentais do proterozóico médio na Amazônia brasileira, elaborado por COSTA e
HASUI, Y. (1992).
Com a edição do material cartográfico em Sistemas de Informação Geográfica (SIG),
diversos trabalhos de campo foram realizados visando correlacionar as unidades
mapeadas com aquelas determinadas em campo em âmbito regional do contexto
geológico estrutural. A confrontação dessas informações é necessária no sentido de
validar a precisão das informações bibliográficas.
Todos os dados litológicos e estruturais do mapeamento foram confrontados com
aqueles existentes na bibliografia consultada, visando definir a relação espaçotemporal das rochas, enquadrando-as em unidades estratigráficas previamente
relacionadas. Tomou-se como base a classificação empregada no Projeto RADAM
BRASIL, tendo sido adicionadas informações de maior detalhe. Todas as idades
listadas e determinadas para cada período obedecem à escala de tempo geológico da
Geological Society of America (1999).
O mapeamento geológico adotado no presente estudo é o RADAM/SIPAM, na escala
1:250.000 (Erro! Fonte de referência não encontrada.).
1.1.1. Considerações gerais
A região da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo caracteriza-se pela
ocorrência de litologias de diferentes idades, recobertas muitas vezes por mantos de
alteração de espessuras variadas, o que dificulta, em muito, a visualização de
afloramentos in situ. Além disso, as severas condições climáticas da região fomentam
uma elevada alteração intempérica das rochas, não sendo comum a ocorrência de
afloramentos de rocha sã.
Sob o ponto de vista geológico, a área não apresenta uma grande variação de
unidades litológicas, estando as rochas ígneas do embasamento e as sedimentares
bem definidas em termos de ocorrência em forma de mosaicos. De forma geral, os
contatos são determinados pela topografia, sendo que as litologias sedimentares
ocorrem em porções mais elevadas.
6
Figura 1. Mapa das classes de Geologia da Reserva Biológica Nascentes da Serra
do Cachimbo (segundo SIPAM).
1.1.2. Evolução geotectônica
A área de estudo encontra-se dividida em dois domínios principais: a denominada
Bacia Sedimentar do Amazonas, ao Norte, e o Escudo Cristalino Brasileiro, mais
especificamente a Província Tapajós. A Erro! Fonte de referência não encontrada.
(DNIT, 2002) permite uma visualização da compartimentação geológica do Brasil.
Segundo ALMEIDA et al. (1977), a Província Tapajós cobre uma extensão de 1.670
km2, correspondendo à porção do Cráton Amazônico, conhecido como Cráton do
Guaporé. Sob o ponto de vista geomorfológico, a província apresenta um relevo baixo,
em geral com altitudes inferiores a 600 m e máxima de 713 m.
7
O Complexo Xingu abrange a maior parte das rochas de idade pré-Cambriana
aflorantes na província, sendo predominantemente composto por gnaisses e
migmatitos de fácies anfibolito a granulito, ocorrendo, subordinadamente, anfibolitos,
quarzitos, xistos e outras litologias metassedimentares e metavulcânicas, bem como
numerosos granitos e granodioritos intrusivos. Tem como trend predominante o
sentido NW, sendo que, na extremidade oeste, predominam trends NNE-NE.
Figura 2. Compartimentação geológica do Brasil.
1.1.3. Descrição das Unidades Litoestratigráficas
Aqui será apresentada a conceituação das unidades cronolitoestratigráficas que
afloram na região da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, no que
tange à sua definição, distribuição, principais constituintes litológicos, relações
litoestruturais, potencialidade mineral e feições geotécnicas mais relevantes, no que se
refere à fragilidade à erosão, instabilizações e tipos de solo.
1.1.3.1. Arqueano e Proterozóico Inferior
O Arqueano, como considerado no presente trabalho, corresponde aos tempos
anteriores à idade de 2.600 Ma. São considerados neste Eon o início do
desenvolvimento dos terrenos metamórficos de médio a alto graus, bem como, da
instalação das seqüências vulcano-sedimentares, algumas do tipo greenstone belts e
de complexos máficos-ultramáficos intrusivos. O Complexo Xingu, amplamente
distribuído ao redor da área de estudo, bordejando o Vale do Guaporé, é
representante desse Eon.
1.1.3.2. Complexo Xingu
Esta unidade foi introduzida por SILVA et al., (1974, In: Projeto RADAMBRASIL, Folha
SB.22 - Araguaia e parte da Folha SC.22 - Tocantins, DNPM, 1974), para reunir as
rochas mais antigas do extremo leste do Cráton Amazônico, constituídas
principalmente por gnaisses, migmatitos, tonalitos, granulitos, anfibolitos, granodioritos
e rochas cataclásticas, substituindo designações precedentes e pouco adequadas
como Pré-Cambriano Indiferenciado, Embasamento Cristalino, Complexo Basal, etc.
Suas características mineralógicas e químicas permitem defini-los, em sua maior
parte, como de origem ortoderivada.
8
O Complexo Xingu distribui-se na porção meridional do Cráton Amazônico, ocorrendo
na porção norte do Estado do Mato Grosso e Sul do Pará. Aflora numa extensa área
alongada E-W que se estende desde os limites da Serra da Providência, divisa com o
Estado de Rondônia, até as margens do Araguaia (e.g. Santa Terezinha). A largura
desta unidade na área em foco é variável, encontrando maior exposição na porção
centro-ocidental, banhada pelos rios Arinos e Juruena, estreitando-se na porção
oriental, rumo ao vale do Rio Xingu.
No norte do Estado, o Complexo Xingu reúne os tipos litológicos colocados
estratigraficamente abaixo dos vulcanitos Iriri. A designação é aplicada para todo o
setor sul do Cráton Amazônico, com idade admitida como Arqueana, com
remobilizações no Proterozóico Inferior e Médio.
As idades isotópicas, indicaram variações de 1,9 a 3,2 Ga. Na região da Serra do
Tapirapé, município de Luciara, TASSINARI et al., (1980), referem-se a um possível
núcleo Arqueano com idade Rb/Sr mínima de 2.750 Ma, admitindo razão inicial
Sr87/Sr86 de 0,701. Os dados obtidos permitiram a TASSINARI et al., (op. cit.),
considerarem um importante fenômeno de homogeneização isotópica durante o ciclo
Transamazônico, propiciando, provavelmente, o retrabalhamento de rochas crustais
mais antigas.
Os primeiros modelos admitiam que o Complexo Xingu desenvolveu-se através de
uma amalgamação de faixas móveis em tempos do Arqueano remobilizados no
Proterozóico Inferior. Posteriormente, estabeleceram-se seqüências de cobertura,
vulcanismo e plutonismo relacionados à tectônica plataformal. Encontra-se sotoposto
pelos vulcanitos Iriri ou diretamente pelas coberturas sedimentares plataformais do
Proterozóico Médio, como o Grupo Beneficente e as Formações Gorotire, Dardanelos,
Prainha, etc.
Os vulcanitos Iriri e coberturas sedimentares proterozóicas margeiam esta faixa,
conforme observado no Graben do Cachimbo, ao norte, e o Graben do Caiabis, ao sul,
evidenciando que o Alto Estrutural Juruena–Teles Pires consiste na estrutura
arqueada mais proeminente da região. Esta mega-estrutura apresenta fechamento no
meridiano de Peixoto de Azevedo, onde o limite Xingu–Iriri delineia o “nariz” desta
mega-estrutura antiformal, quando então passam a predominar vulcanitos Iriri que se
estendem para além da margem oriental do rio Xingu, quando então volta a aflorar o
segmento infracrustal até as margens do Araguaia.
Este alto estrutural apresenta uma notória inversão de relevo, visto que no núcleo
aflora o segmento infracrustal em situação topográfica mais baixa, enquanto que nas
bordas afloram os segmentos supracrustais em situação topografica mais elevada
(grabens do Cachimbo e Caiabis).
As bordas das depressões estruturais são balizadas por um adensamento de
descontinuidades estruturais denominadas de lineamentos, como os lineamentos
Madeira-Quatorze de Abril, Apiacás-Teles Pires, Arinos–Aripuanã, São João da Barra–
Teles Pires, sendo que alguns deles vêm se revelando como espessas zonas de
cisalhamento. O núcleo do alto estrutural é cortado por lineamentos, fraturas e falhas
de direções NE, NW e E-W. Os trabalhos interpretativos efetuados reconheceram
densas concentrações de lineamentos E-W, praticamente não identificados nos
levantamentos que utilizaram exclusivamente mosaicos de radar.
No aspecto composicional, predominam termos graníticos, monzograníticos
granodioríticos e tonalíticos, podendo apresentar-se mais ou menos deformados, com
estrutura gnáissica moderadamente acentuada. No decorrer dos trabalhos de campo,
foi observado que existem inúmeros corpos graníticos com exposição restrita, os quais
foram enfeixados dentro do Xingu. Mas isso, muito mais decorrente da falta de
acessos que permitissem a verificação da continuidade do corpo ou das relações de
contato, do que propriamente o aspecto textural do granitóide.
9
Pode-se dizer ainda que o Complexo Xingu reúne uma grande variedade de litotipos
que ainda não estão adequadamente delimitados, e, até mesmo, bem caracterizados.
Um exemplo claro desta situação foi encontrado próximo ao Distrito Mineiro do
Cabeça, onde foram mapeados restos de seqüências metassedimentares, com padrão
de dobramento complexo, dúctil, apresentando transposição de camadas, injetado por
granitóides e com uma manifestação hidrotermal muito grande, denotada por inúmeros
veios e venulações de quartzo. Uma outra situação compreende as inúmeras faixas
vulcano-sedimentares tectônicamente imbricadas no Complexo Xingu que foram
recentemente descritas no Planalto de Jauru (SAES et al., 1984; MONTEIRO et al.,
1986; MENEZES et al., 1993), e que foram reunidas neste trabalho sob a
denominação de Seqüências Metavulcano-Sedimentares do Planalto de Jauru. Neste
contexto, a possibilidade de existir vários tipos de unidades vulcano-sedimentares,
metassedimentos terrígenos, químicos e calciossilicáticas embutidas no Xingu e até
hoje não identificadas é muito grande, especialmente se considerarmos que grandes
extensões do Complexo Xingu são desprovidas de afloramentos, face à espessura do
solo.
Outros litotipos com menor distribuição caracterizam-se por xistos biotíticos e
moscovíticos, faixas de filonitos e, mais raramente, meta-ultrabasitos e metabasitos,
fels e formações ferríferas localizadas. Formação ferrífera bandada a magnetita foi
localizada de forma pontual na Folha São João da Barra, nas imediações de Apiacás,
as quais pelo interesse econômico que se revestem, são merecedoras de
levantamentos específicos adicionais. É presumível a existência de assembléias de
composição tonalítica, trondjemítica e granodiorítica–TTG, embutidas em terrenos
Xingu.
Adicionalmente, o Complexo Xingu constitui parte do embasamento do Cráton
Amazônico. As áreas cratônicas podem sofrer regenerações tanto nas margens
(orógenos) como em seu interior remoto (ativação). No caso de regeneração marginal,
a situação diz respeito à Faixa Móvel Alto Paraguai de idade Neoproterozóico e, no
caso de ativação, refere-se às fases paraplataformais do Mesoproterozóico com as
coberturas cratônicas tipo Uatumã, Beneficente, etc. Os processos de regeneração
são indutores de mineralizações, pois geralmente envolvem processos onde o manto
tem participação bem evidente (magmatogênese, uplift, etc.), fazendo com que
ortoplataformas adquiram novas riquezas metalogenéticas. Um exemplo dessa
situação, considerando o contexto de ativação, é representado pelas mineralizações
filonares de Au que estão encaixadas em granitóides e vulcânicas do Supergrupo
Uatumã.
As mineralizações primárias de ouro ocorrem predominantemente associadas a zonas
de cisalhamento e podem apresentar minerais de cobre na paragênese, como ocorre
na Folha de Vila Guarita-MIR 300.
Dentro do contexto apresentado, é sugestivo que o Complexo Xingu, em primeira
instância, seja sempre uma unidade a ser considerada em programas de exploração
na Amazônia, quando se enfocar metais preciosos e metais base, tendo em
consideração que o Complexo é uma unidade bastante desconhecida. Portanto,
passível de abrigar litologias com mérito geológico favorável para mineralizações
sulfetadas de metais base e ouro, onde as descontinuidades estruturais são apenas os
metalotetos reveladores desse potencial. Obviamente que, para a delimitação da área
a ser investigada, outros fatores deverão ser considerados.
O padrão de imageamento é bastante diversificado. Os relevos podem apresentar-se
suavizados, colinosos, rugosos ou mesmo serranos, refletindo, no geral, processos
erosivos, ora ligados a processos neotectônicos ora a erosão diferencial de litologias
com diferentes graus de resistência. Erosão diferencial pode ser observada no
nordeste do Estado, onde os relevos Xingu encontram-se bastante suavizados por
aplanamento, pobremente estruturados e, não raramente, destacam-se residuais
10
alongados, com forte estruturação. Aqui, os trabalhos de campo revelaram que esses
residuais tratavam-se de quartzitos ou de litologias quartzosas bastantes resistentes à
erosão. As espessuras dos solos no Xingu aplanado são modestas, no geral, entre 1 a
2 m.
Estruturação tectônica evidente de foliação milonítica dúctil, em termos regionais,
somente foi observada com presença marcante na porção sudoeste do Estado, na
franja Xingu que acompanha o bordo ocidental da Chapada dos Parecis.
Estruturalmente, o Xingu caracteriza-se por grandes lineamentos estruturais,
localmente podendo apresentar maior ou maior adensamento, que acabam por
configurar os grandes lineamentos e estruturas circulares de diferentes diâmetros.
Predominam solos areno-argilosos ou areno-siltico-argilosos.
O padrão de relevo é muito variável, sendo distinguível extensas áreas onde
predominam relevos suaves, relevos colinosos e de colinas e morros. A espessura do
solo também é muito variável, da ordem de um metro até atingir mais de uma dezena
de metros, naturalmente que ao longo dos vales a espessura tende a ser maior.
1.1.3.3. Proterozóico Médio
As unidades litológicas mesoproterozóicas da Amazônia brasileira, a oeste da área
dos Cinturões Orogênicos Paraguai e Araguaia, são representadas essencialmente
por um conjunto de vulcanites ácidos a intermediários, plutonitps ácidos a básicos e
alcalinos, e rochas sedimentares de ambientes continentais e marinhos, formados no
intervalo 1,9-0,9 Ga, essencialmente no Proterozóico Médio.
Tais unidades foram descritas em muitos trabalhos, que se dispensa aqui relacionar, e
algumas sínteses foram já apresentadas (p. ex., GIBBS e BARRON, 1983; HASUI e
ALMEIDA, 1985). O exame do acervo de informações mostra a existência de
designações variadas apresentadas para unidades de áreas diversas, bem como
correlações distintas, em geral com base em comparações de litotipos e/ou levando
em conta dados radiométricos, geralmente preliminares, apresentados pelo Projeto
Radam, e alguns trabalhos posteriores. Essa situação reflete o nível geral ainda de
reconhecimento de abordagem de tais unidades dispersas ao longo de vastíssima
extensão territorial de difícil acesso e a elaboração de um quadro estratígráfico
regional. A realidade do terreno reflete que a geração de tais unidades envolveu
movimentação de falhas, formação de bacias por abatimentos de blocos e ascensão
de materiais magmáticos, sob a égide de um tectonismo de abrangência regional.
Por meio dessas manifestações, pode-se caracterizar esse tectonismo que atuou
durante o Proterozóico Médio na Amazônia brasileira, à luz dos modernos conceitos.
1.1.3.4. Evolução do conhecimento do quadro tectônico
Os falhamentos, os embaciamentos com preenchimentos sedimentares ou
vulcanossedimentares, o vulcanismo ácido/interrmediário, o plutonismo ácido/ básico e
alcalino do Proterozóico Médio são vistos como manifestações de processos
tectônicos que, em muitos trabalhos, foram apenas esboçados em seus traços mais
gerais e de modos diferentes. As várias propostas à interpretação giram em tomo de
duas concepções básicas, apresentadas a seguir.
Numa primeira visão, o proterozóico médio da Amazônia brasileira foi considerado em
termos de um tipo novo de manifestação tectônica na história do planeta, referido
como de reativação de plataforma, afetando o megacontinente mesoproterozóico. A
plataforma, que se consolidara antes, teria sido afetada por um evento há 1,7 - 1,4 Ga
e outro análogo teria ocorrido na região de Rondônia, em torno de 1,0 Ga (ALMEIDA,
1974). Em seguida, com novos dados geocronológicos, os referidos processos foram
interpretados em termos de três eventos: Paraense (1,7-1,5 Ga), Madeirense (1,4 - 1,2
Ga) e Rondoniense (1,0 - 0,9 Ga), separados por intervalos de estabilidade tectônica e
11
incidindo em faixas largas e longas de direção NW-SE, com migração dos processos
de NE para SW (AMARAL, 1974). Posteriormente, esses três eventos tectônicos foram
considerados como marcos de épocas de recrudescimento de um único evento
distensivo intraplaca de longa duração (ISSLER e LIMA, 1987).
Os processos atribuídos à reativação de plataforma são aqueles que se relacionam
com a primeira metade do Ciclo de Wilson (soerguimento e rifteamento que progridem
até abertura de oceano), envolvendo elevação de isotermas, criação de relevo,
instabilização tectônica, deslocamentos horizontais de massas crustais e mobilização
magmática; como tais, eles devem ser vinculados a efeitos de plumas do manto. Com
base nessa visão, BRIDGWATER et al. (1974) consideraram uma megapluma
mantélica para explicar os processos ocorridos no Hemisfério Norte durante o
Proterozóico Médio, análogos aos da mesma era na Amazônia, como já observara
ALMEIDA (1974), sem chegar ao estágio de abertura oceânica. Esse modelo foi
evocado para explicar o quadro regional aqui em pauta (HASUI et al. 1984) e nessa
concepção a tectônica é do tipo distensivo.
Especificamente em relação às bacias mesoproterozóicas, foi apresentada uma
tentativa de caracterizá-las tectonicamente (MONTALVÃO et al., 1984). As bacias
formadas no intervalo 1,9 - 1,6 Ga teriam se desenvolvido em dois ou três estágios
tectônicos: (1) um estágio de rifte ou aulacógeno, com adelgaçamentos crustais,
abatimentos de blocos controlados por falhas de altos mergulhos e manifestações
magmáticas associadas, seguido de (2) um estágio de sinéclise, com arqueamento
lento, para baixo, afetando o domínio do rifte ou aulacógeno e vastas áreas adjacentes
e, por fim, (3) um estágio de subsidência muito lenta, ocorrendo em algumas bacias,
marcado por coberturas tabulares horizontais ou suborizontais. Por sua vez, as bacias
desenvolvidas no intervalo 1,6 -1,4 Ga corresponderiam a grábens preenchidos por
red beds. Essa interpretação assume uma série de premissas e correlações ainda por
comprovar.
1.1.3.5. Estruturas e tectônica
A análise geométrica e cinemática dos elementos estruturais e as características e
distribuição geográfica das unidades litológicas permitem dividir a região da Amazônia
brasileira em dois grandes compartimentos estruturalmente distintos (Erro! Fonte de
referência não encontrada.), referidos aqui como Oriental e Ocidental.
O Compartimento Oriental foi descrito por COSTA et al. (1991a). É limitado pelo
Cinturão Araguaia, a leste, pelos sedimentos da ilha do Bananal, a sudeste e pela
Zona de Transferência Boa Vista-Caracaraí, a noroeste. A Bacia do Amazonas se
superimpôs a esse compartimento, dividindo-o em dois setores.
Sua constituição litotógica inclui vulcânicas ácidas/intermediárias enfeixadas no Grupo
Uatumã e sedimentos continentais e marinhos reunidos nas Formações Beneficente,
Prosperança, Acari, Gorotire e Cubencranquém. Tais unidades encontram-se
depositadas em bacias assimétricas, mas localmente se reconhecem grábens
simétricos, como o do Cachimbo. Corpos graníticos dos tipos Velho Guilherme,
Carajás, Teles Pires, entre outros, associam-se a esse contexto (Erro! Fonte de
referência não encontrada.).
12
Figura 3. Mapa geológico simplificado do Proterozóico Médio da Amazônia brasileira. As
setas indicam as direções de distensão nos dois compartimentos separados
pela Zona de Transferência Boa Vista-Caracaraí.
Figura 4. Mapa geológico simplificado do Cráton Amazônico mostrando a distribuição
das Províncias Geocronológicas e as principais associações litológicas do
Craton Amazônico (mapa baseado em TASSINARI, 1996)
13
A arquitetura geral das bacias é dada por vários feixes de falhas normais de direções
NW-SE e WNWESE e mergulhos voltados para o lado norte, com exceção do feixe da
borda nordeste do Gráben do Cachimbo, que mergulha para SW (Erro! Fonte de
referência não encontrada.).
Figura 5. Seção esquemática ilustrando a arquitetura crusted da fase extensional
mesoproterozóica do Compartimento Oriental (Modificado de COSTA et al.,
1991a. Sem escala)
As informações obtidas no canto sudeste ao compartimento indicam que as falhas
normais têm perfis lístrico e afetam tanto o embasamento como as coberturas,
sugerindo vários pulsos de movimentação na progressão da distensão. Com base
nessa informação, foi admitido o modelo lístrico para os demais feixes de falhas.
As datações existentes indicam que as unidades litológicas desse Compartimento são,
no geral, mais jovens de NE para SW. Como a direção do eixo extensional é
aproximadamente NE-SW, deduz-se que as bacias evoluíram de NE para SW,
obviamente através do modelo de colapso da lapa (ou piso) e pode-se falar em
adelgaçamento litosférico progredindo em direção a SW.
Na região da Serra do Cachimbo, há registros de empurrões e de amplas dobras
associadas (LIMA, 1986), que, ao invés de serem atectônicas, como sugerido por
MONTALVÃO et al. (1984), indicam que o Compartimento Oriental experimentou
inversão positiva fraca a moderada (Erro! Fonte de referência não encontrada.).
Figura 6. Mapa geológico simplificado da região da Chapada do Cachimbo. A seção AB
esquematiza a geometria da bacia invertida (modificado de LIMA, 1986)
14
1.1.4. Relações entre os compartimentos
As diferenças estruturais entre os dois compartimentos são, resumidamente: (1) no
Compartimento Oriental, as falhas normais evoluíram por colapso do piso, com um
eixo extensional de orientação NE-SW. No Compartimento Ocidental, o eixo
extensional foi submeridiano e as falhas normais desenvolveram-se de S para N,
seguindo o modelo de colapso do teto; (2) as estruturas extensionais do
Compartimento Ocidental foram reativadas em cavalgamentos no final do
Proterozóico; (3) em termos litológicos, há diferenças importantes entre os produtos
sedimentares aos dois compartimentos. O Grupo Beneficente e a Formação Acari
incluem registros de plataforma carbonática que parece ter ocupado a parte oeste do
Compartimento Oriental; o Supergrupo Roraima tem na sua constituição expressivos
produtos de um sistema marinho, caracterizando vários ciclos de tansgressãoregressão. O limite entre os sistema estruturais e deposicionais mencionados é
marcado pelo feixe de lineamentos NE-SW ao longo da Faixa Boa Vista-Caracaraí,
que funcionou como um anteparo natural na evolução litoestrutural dos dois
compartimentos. Esse feixe, nesse contexto, é entendido como uma zona de
transferência.
1.1.4.1. Fusão parcial versus adelgaçamento litosférico
Nos últimos anos, tem sido mostrado que a produção de rochas ígneas em regimes
extensionais depende do fator de estiramento B ou da taxa de adelgaçamento da
litosfera l/B (BOSWORTH, 1985; KEEN, 1985 e 1987). O processo de adelgaçamento
litosférico implica na subida da astenosfera e conseqüente elevação de isotermas. Na
progressão da deformação, com valor 1,56 para B, a base da litosfera alcança
profundidades da ordem de 75 km e magmas são gerados a partir da fusão parcial da
astenosfera, em decorrência da diminuição da pressão e manutenção de altas
temperaturas. Valores de B superiores a cinco implicam desenvolvimento de crosta
oceânica com espessura da ordem de 5 km (Figura 9, de KEEN, 1987).
Sabe-se, também, que as falhas normais dos níveis crustais superiores passam para
zonas de cisalhamento dúctil em profundidade, impondo estruturação anastomosada à
crosta inferior (ver WERNICKE, 1985; COWARD, 1986; RESTON, 1988). O calor
gerado durante a implantação do feixe de zonas de cisalhamento (shear heating) e o
alto gradiente térmico associado à elevação das isotermas, podem também induzir
fusão parcial de material crustal. Se a crosta adelgaçada for fortemente anisotrópica,
os fundidos produzidos no nível da crosta inferior e do manto podem migrar e
facilmente alcançar a superfície. Tais produtos, juntamente com os sistemas
deposicionais implantados, compõem o enchimento das bacias. Nos compartimentos
extensionais da Amazônia brasileira, há expressivos volumes de rochas vulcânicas e
plutônicas intimamente associadas ao processo de adelgaçamento da litosfera no
Proterozóico Médio, enquanto a movimentação extensional avançava para SW no
Compartimento Mental, mas, neste, em seguida, também ocorreu inversão positiva. As
seqüências vulcânicas são dominantemente ácidas/intennediánas e os corpos
plutônicos são essencialmente granitóides; corpos máficos também existem, bem
como alcalinos e ultramáficos. Grande parte dessas unidades é interpretada como de
derivação mantélica, mas há conjuntos que devem ter evoluído a partir de fusão de
material crustal.
Durante a deformação extensional, a reativação de anisotropias preexistentes,
representadas mormente por zonas de cisalhamento dúctil impressas nas rochas do
embasamento, facilitou a migração dos produtos ígneos através da crosta. A última
relação dos corpos granitóides com os sistemas estruturais antigos pode ser
facilmente observada nos dois compartimentos, a exemplo dos granites tipo Serrra dos
Carajás (Central), Cigano e Antonio Vicente, que se instalaram ao longo de sistemas
transcorrentes antigos e definem um cordão de corpos com orientação E-W. As
informações atuais não permitem ainda calcular o fator de estiramento e,
15
conseqüentemente, a taxa de adelgaçamento litosférico. No entanto, a natureza do
material ígneo presente nos dois compartimentos indica que a magnitude de B não
alcançou os valores correspondentes a estágios de formação de crosta oceânica (>5)
e, considerando-se o volume de material ígneo produzido, deduz-se que foi superior a
2.
1.1.4.2. Estruturas antigas versus estruturas extensionais
A definição dos principais trends estruturais impressos nas rochas do embasamento
dos compartimentos extensionais foi conseguida principalmente por meio dos
levantamentos geológicos realizados pelas equipes do Projeto Radam, na década de
70, e por análises de produtos de sensores remotos. Também a partir da integração
de informações geológicas e geofísicas, foi delineada a mega-estruturação da
Amazônia em termos de blocos crustais justapostos através de suturas (HASUI et al.,
1984). No interior dos blocos, comparecem terrenos granito-greenstone e suas bordas
são marcadas por cinturões de cisalhamento que incluem faixas de rochas de alto
grau.
As investigações de campo têm mostrado que os cinturões de cisalhamento referidos
são de tipo essencialmente dúctil, caracterizados por faixas de deformação
concentrada e por transformações mineralógicas sintectônicas de fácies anfibolito a
xisto-verde. Nos terrenos granito-greenstone também começou a ser verificado que as
relações geométricas entre as principais unidades litológicas são dadas por zonas de
cisalhamento dúctil.
Quando as orientações das estruturas extensionais do Proterozóico Médio são
comparadas com as zonas e cinturões de cisalhamento dúctil mais antigos, constatase perfeita coincidência entre os dois conjuntos. As estruturas do Compartimento
Oriental ajustam-se ao trend das faixas granulíticas NW-SE a WNW-ESE; no
Compartimento Ocidental, o quadro parece ser semelhante, com falhas E-W e N-S
inseríveis no contexto de passagens de estruturas NW-SE (Cinturões Parima e
Uaupés) para NE-SW (Cinturão Guiana Central).
A zona que separa os dois compartimentos, como dito acima, corresponde a um feixe
de zonas de cisalhamento dúctil, com orientação NE-SW, fortemente afetada por
processos cataclásticos. Constata-se que as linhas extensionais devem ter evoluído a
partir da reativação dos feixes de zonas de cisalhamento dúctil e a organização
estrutural dos compartimentos, com seus eixos extensionais próprios, foi controlada
pela geometria das estruturas do embasamento. Nessa análise, ainda é previsível que
a Bacia do Amazonas tenha sido edificada sobre um feixe de zonas de cisalhamento
dúctil antigo, como apontaram HASUI et al. (1984), o qual pode ter funcionado como
uma zona de transferência no Proterozóico Médio, dividindo o Compartimento Oriental
em dois setores, mas faltam ainda dados para distinguí-los. Essa interpretação dos
movimentos condicionados por estruturas preexistentes é coerente com os estudos
experimentais que demonstraram ser as zonas miloníticas de fácil reativação por
causa da baixa resistência mecânica decorrente da penetratividade das estruturas
planares e da forte cominuição associada à sua formação (WHITE, 1976; WHITE et
al., 1986; ETHERIDGE, 1986).
Conquanto as informações sejam ainda poucas em relação à vastidão da Amazônia
brasileira, aquelas existentes já permitem tecer algumas considerações sobre o
modelo tectônico do Proterozóico Médio.
As diferenças geométricas e cinemáticas entre os compartimentos extensionais
devem-se em parte à presença da Zona de Transferência Boa Vista-Caracaraí, que
funcionou como um anteparo natural de partição da deformação. Feição semelhante
pode ter existido na região onde se implantou a Bacia do Amazonas, mas faltam
dados para definir e caracterizar o setor a norte desta. Numerosas falhas menores
16
devem representar feições de acomodação a deslocamentos de blocos no interior dos
compartimentos. O modelo cinernático explica a distribução geográfica das unidades
litológicas e envolve o colapso progressivo do piso e do teto, respectivamente nos
Compatimentos Oriental e Ocidental.
Os dados geocronológicos existentes sugerem que esse evento extensional iniciou ao
redor de 1,9 Ga e prosseguiu até 1,4 Ga no Compartimento Ocidental e até 0,9 Ga no
Compartimento Oriental da Amazônia brasileira. No final do Proterozóico Médio, o
Compartimento Ocidental experimentou compressão, enquanto o movimento
extensional ainda progredia para SW no Compartimento Oriental e, provavelmente, já
no limiar do Proterozóico Superior, ocorreu inversão neste último.
Os produtos litológicos indicam que as isotermas subiram abaixo da área que sofreu
subsidência tectônica e o adelgaçamento litosférico não alcançou taxas compatíveis
com os estágios de oceanização, mas B foi superior a 2.
Algumas particularidades sustentam o modelo que considera o adelgaçamento da
crosta e do manto litosférico imediatamente abaixo da área que sofreu a subsidência
tectônica: (1) há fortes evidências a favor de que a geometria das estruturas
extensionais foi muito controlada por anisotropias antigas impressas no embasamento;
(2) as áreas onde se implantaram as bacias extensionais coincidem com as regiões
intensamente percoladas por produtos ígneos; (3) não há registros de unidades
sedimentares tabulares isentas de deformação e de produtos vulcânicos associados
fora das áreas que sofreram subsidência tectônica, isto é, não há evidência de
subsidência termal ou rebaixamento de isotermas em direção ao N e NE nos
compartimentos Ocidental e Oriental, respectivamente.
Nesse modelo de adelgaçamento, as estruturas extensionais devem passar em
profundidade para zonas de cisalhamento impondo um padrão lenticularizado à crosta
inferior, semelhante ao descrito por RÉSTON (1988) para o nororeste da Europa.
1.1.4.3. Supergrupo Uatumã
OLIVEIRA & LEONARDOS (1943), introduziram a denominação Série Uatumã,
colocando-a duvidosamente no Cambriano e supondo-a como base sedimentar da
bacia do baixo Amazonas. BARBOSA (1966), foi o primeiro a empregar a
denominação Grupo Uatumã, assinalando a existência de tufos, lavas riodacíticas,
diques de riolitos e ignimbritos. RAMGRAB e SANTOS (1974), redefiniram o Grupo
Uatumã, incluindo as formações Rio Fresco e Iriri, as efusivas ácidas do Grupo
Aripuanã, o Grupo Fumaça e as vulcânicas e intrusivas do Jamanxim. PESSOA et al.
(1977), elevaram a Formação Iriri à categoria de subgrupo, o que levou à redefinição
da Unidade Uatumã como supergrupo por MELO et al. (1978).
O Supergrupo Uatumã vem marcar o fim dos episódios tectono-metamórficomagmáticos que caracterizaram o Arqueano e parte do Proterozóico Inferior, indicando
o início do Cráton Amazônico, que então passa a evoluir no contexto de uma tectônica
plataformal caracterizado por regime distensivo e tectônica de reativação, com
edificações de bacias e altos estruturais.
O Supergrupo Uatumã corresponde às vulcânicas ácidas e intermediárias (raramente
básicas) não metamorfizadas do Grupo Iriri, tectonicamente pouco perturbadas, que
recobrem o Complexo Xingu, mais as plutônicas ácidas conhecidas como Suíte
Intrusiva Teles Pires que ocorrem associadas a esse vulcanismo ácido, com inúmeros
corpos distribuídos na mesopotâmia Juruena-Teles Pires, assim como mais para leste,
até o meridiano de 54º W de Gr. A partir deste meridiano, outras suítes graníticas
espacialmente associadas às vulcânicas Iriri também ocorrem, passando a receber
outras denominações, como Rio Dourado e Tarumã.
17
1.1.4.4. Grupo Iriri
O Grupo Iriri corresponde ao vulcanismo continental da ativação Mesoproterozóica
responsável pela cobertura de plataforma representada pelo Supergrupo Uatumã. O
Grupo Iriri é uma unidade composta por vulcânicas, ignimbritos, piroclásticas e
intrusivas associadas. Predominam vulcânicas ácidas e intermediárias e raramente
básicas.
O nome Iriri foi primeiramente usado pela Superitendência do Desenvolvimento da
Amazônia – SUDAM (1972), com o status de Formação. SILVA et al. (1974, In Projeto
RADAMBRASIL, Folha SB.22 - Araguaia e parte da Folha SC.22 - Tocantins, DNPM,
1974), subdividiram o Grupo Uatumã nas formações Iriri e Sobreiro. PESSOA et al.
(1977), elevaram o Iriri à categoria de Subgrupo, desmembrando-o em três unidades:
Formação Aruri, Formação Salustiano e Seqüência Híbrida; ao subdividirem o
Supergrupo Uatumã, introduziram a denominação de Grupo Iriri em substituição a
subgrupo.
Estratigraficamente a unidade Iriri recobre rochas do Complexo Xingu e é sotoposta
por coberturas plataformais tipo Beneficente e intrudida pelas suítes graníticas Teles
Pires, rio Dourado e Tarumã, geneticamente associadas ao vulcanismo Iriri.
As exposições Iriri apresentam seus grandes traços controle estrutural associados ao
alto estrutural Juruena-Teles Pires. A unidade encontra exposições contínuas ao sul
do Graben do Cachimbo, onde aflora numa faixa, com largura variável entre 20 a 30
km, estendendo-se para leste onde faz o fechamento do alto estrutural Juruena-Teles
Pires na região de Peixoto de Azevedo-Matupá. Esta região, constitui-se na unidade
basal das unidades Beneficente, Dardanelos e Cubencranquém, e até mesmo do
Grupo Gorotire, mais a leste do rio Xingu. O limite meridional deste alto estrutural,
apresenta direção regional NE-SW, controlando estruturalmente a exposição dos
sedimentos cretáceos do Grupo Parecis que ocorrem na margem ocidental do rio
Xingu.
No extremo norte do Estado, limite com o Pará, na margem esquerda do rio Xingu, as
exposições Iriri encontram-se controladas por altos e baixos estruturais. Ao longo do
rio Comandante Fontoura, já no limite com o Pará, existem exposições Xingu
enquanto que nas suas margens e cabeceiras registram-se exposições Iriri. Nesse
caso observa-se um alto estrutural com inversão de relevo, onde seu eixo encontra-se
entalhado pelo vale do rio Comandante Fontoura.
Interessante notar que ao aproximar-se da Bacia do Araguaia, que segundo HALES
(1981), trata-se de uma fossa tectônica, as exposições Iriri desaparecem para
reaparecerem na forma de diminutas janelas na referida bacia. Neste contexto, isto
sugere que o bordo ocidental desta fossa foi soerguido e erodido, com remoção da
cobertura Iriri.
No lado ocidental do rio Juruena, o Grupo Iriri expõe-se ao redor das formações
Mutum-Paraná e Dardanelos e sob os sedimentos Beneficente, ao sul e ao norte do
alto estrutural Juruena-Teles Pires, respectivamente. Na mesopotâmia Arinos-Juruena
e extensões laterais que configuram o alto estrutural Eugênia-Arinos não se observa
exposições Iriri.
São inúmeras as mineralizações auríferas em veios de quartzo hospedados em
vulcânicas ácidas em toda região, tendo como uma das melhores exposições aquelas
que ocorrem no Distrito Mineiro de Juruena e de Peixoto de Azevedo-Matupá,
sugerindo evento mineralizante pós Iriri, associado espacialmente com as vulcânicas
da unidade.
Na Folha Rio Branco-MIR 296, observa-se associação espacial entre jazimentos de
estanho e as vulcânicas ácidas do Grupo Iriri (DNPM/CPRM, 1985). Esta associação é
característica de jazimentos de cassiterita fibrosa em veios de quartzo hospedados em
18
vulcânicas ácidas, conhecidos como jazimentos de estanho tipo mexicano, em
associação com domos riolíticos e pláceres derivados. Normalmente originam
depósitos pequenos, da ordem de 1.000 a 4.000 t com teor médio de 0,38%. Este tipo
de jazimento geralmente ocorre em áreas de crosta continental espessa.
Mineralizações de ouro e estanho associadas às vulcânicas Iriri não são uma situação
particular deste vulcanismo. Mineralizações espacialmente associadas com
vulcanismo ácido de áreas reativadas no Mesoproterozóico são bem conhecidas na
Chapada Diamantina-BA (Au, Sn e Ba), no Complexo Rio dos Remédios.
O padrão de imageamento da unidade é bastante variado, ao que é atribuída larga
distribuição com compartimentações tectônicas locais, que influenciam no modelado
do terreno. Predomina padrão de drenagem dendrítico ou sub-dendrítico com
elementos de drenagem controlado por lineamentos, de média a alta densidade.
Estruturas circulares não são raras. As formas de relevo podem apresentar topos
colinosos, de ocorrência mais freqüente, ou formas de topo agudas ou ainda tabulares.
A tonalidade predominante é medianamente cinza. Os solos são argilosos ou argiloarenosos e a espessura é muito variada e associadas com o tipo de relevo. Numa
primeira aproximação pode-se estipular um valor de espessura média entre 3 e 4
metros nas áreas de colinas suaves, adelgaçando-se em direção aos relevos mais
movimentados e espessando-se em direção aos relevos mais planos.
1.1.4.5. Grupo Beneficente
Citação original de ALMEIDA (1958), tendo como localidade tipo o Povoado
Beneficente, situado na margem esquerda do rio Aripuanã, Estado do Amazonas. Esta
unidade litoestratigráfica repousa sobre as vulcânicas ácidas do Iriri, certamente
envolvidas na elaboração da depressão estrutural do Cachimbo, principal sítio
deposicional da grande unidade. Apresenta grande variedade litológica observável
desde os domínios oeste da bacia, onde prevalecem sedimentos francamente
marinhos, químicos e clásticos, com ocorrências de fosfato, folhelhos, calcários,
arenitos glauconíticos, até sua extremidade leste, com domínio de sedimentação
clástica e ambiente oxidante, facilmente detectável, com o aparecimento de argilitos
vermelhos gretados, intercalados a arenitos arcoseanos e arcóseos.
CARVALHO e FIGUEIREDO (1982) mapearam seis unidades compondo o Grupo
Beneficiente, essencialmente marinhas, com quartzo-arenitos, siltitos, calcários
dolomíticos, conglomerados, folhelhos, dolarenitos e brechas intraformacionais.
A idade do Grupo Beneficente passou por diversos posicionamentos cronológicos,
tendo inicialmente sido admitida como pré-silurianas por ALMEIDA e NOGUEIRA
FILHO (1959) e como pré-cambriana superior por LIBERATORI et al. (1972), porém
passou a ser posicionada no Proterozóico Médio por estar afetada por granitos da
Suíte Serra da Providência e por ser cortado por diques e sills do magmatismo básico
Crepori, com idades de 1.565 ± 50 Ma e 1.599 ± 37 Ma (SANTOS e LOGUERCIO,
1984).
O Grupo Beneficente aflora praticamente na divisa com os estados do Mato Grosso,
Amazonas e Pará, tendo sua maior área de exposição na mesopotâmia Juruena-Teles
Pires. Aflora ao sul da Serra do Cachimbo, em áreas estruturalmente abatidas,
limitadas por falhas; e de modo mais extensivo, ao norte da serra, ocupando a
depressão estrutural conhecida como graben do Cachimbo.
Apesar dos sedimentos marinhos estarem francamente expostos no oeste da Bacia
Beneficente, no Estado do Amazonas, SILVA et al. (1980, In Projeto RADAMBRASIL,
Folha SC.21 Juruena. DNPM, 1980), fazem referência a uma ocorrência de calcário na
Foz do Rio Ximari (Folha rio São João da Barra – MIR 273), no município de Apiacás.
Descrevem um calcário amarelo a cinza escuro, bem estratificado, fino e compacto, na
forma de morrotes com continuidade física de até 3 km a jusante da foz do rio Ximari.
19
Esta ocorrência é muito importante pela localização em que se encontra, pois não são
conhecidas rochas carbonáticas no Estado por centenas de quilômetros ao redor da
mesma. Obviamente que, a depender de estudos adicionais, com a finalidade de
caracterizar a continuidade física do horizonte carbonático, sua composição química e
demais características tecnológicas que permitam a utilização dessa matéria prima
como corretivo de solo, poderá vir a atender a solicitação agropastoril de boa parte do
norte matogrossense.
Aproximadamente 30 Km a oeste do local onde foram descritas as ocorrências de
calcários, afloram silexitos (coord. 9°05’41” S e 57°23’28” W) finamente laminados em
leitos milimétricos e submilimétricos, de cor branca leitosa (dominante) e cinza
(subordinada). A rocha apresenta pequenos nódulos de sílex cinza e pequenas drusas
de quartzo límpido. Em corte paralelo ao acamamento estes nódulos são circulares (2
a 3 mm de diâmetro) e apresentam-se como “verdadeiros” oólitos, porém, quando se
observa estes nódulos perpendicularmente ao acamamento, nota-se que apresentam
eixo maior segundo este plano, cortando as laminações dos estratos, mostrando
tratar-se de um processo epigenético. Pela análise macroscópica da amostra, supõese que se trata de um processo de silicificação sobre antigos leitos carbonáticos ou
margosos do Grupo Beneficente.
Ainda de acordo com IBGE, (op. cit.), o contato do Grupo Beneficente com o
Supergrupo Uatumã dá-se por cavalgamento do Beneficente sobre o Uatumã. Tendose em consideração que a unidade Beneficente é mais nova que o Supergrupo
Uatumã, tal situação seria merecedora de maiores esclarecimentos visto que
normalmente a unidade subjacente é a que cavalga sobre a unidade sobrejacente. Da
análise dos produtos de sensoriamento remoto e da tectônica que afeta os sedimentos
Beneficente, optou-se por considerar tal descontinuidade estrutural como decorrente
de fechamento de bacia, com mudança do regime extensional para o contracional, em
regime intraplaca.
O Domo de Sucunduri ocorre no Estado do Amazonas, próximo à divisa com o Estado
do Mato Grosso, na margem direita do rio Juruena. Trata-se de uma estrutura com
evidências de ativação autônoma (pluma térmica), que afeta o Supergrupo Uatumã e
outras coberturas sedimentares do Proterozóico Médio, notadamente o Grupo
Beneficente. A análise dos produtos de sensoriamento remoto mostram que ao redor
da estrutura dômica central desenvolvem-se amplas estruturas em braquissinclinais,
braquianticlinais e domos menores de caimentos suaves, que podem ser
cartografados até a Mesopotâmia Juruena-Teles Pires, numa associação espacial
indutiva de que ao menos parte dessas estruturas estão associadas ao mesmo evento
reativação.
O padrão de imageamento para o Grupo Beneficente mostra relevo tabular
suavemente dissecado, apresentando-se estruturado em anticlinais e sinclinais suaves
e estruturas dômicas, cujo entorno encontram-se limitados por ressaltos ligeiramente
festonados. A drenagem é sub-dendrítica ordenada, com baixa densidade de
elementos. Apresenta tonalidade cinza e textura lisa. O padrão textural de
imageamento sugere dominância de terrenos areníticos.
Os solos provenientes desses arenitos são arenosos, com conteúdo variado em
argilas e apresentando-se pouco desenvolvidos, com espessuras médias ao redor de
2 m.
1.1.4.6. Aluviões atuais
Representam unidades do Quaternário e, conseqüentemente, as litologias mais jovens
no âmbito litoestratigráfico. Desenvolvem-se ao longo das planícies de inundação,
sendo constituídas por areias, siltes, argilas e cascalhos, apresentando litificação
variável.
20
O exame do Mapa Geológico da região mostra, com clareza, a existência de regiões
em que as aluviões encontram-se mais ou menos representadas, bem como aquelas
em que têm-se, praticamente, uma ausência de depósitos aluvionares, isto dentro da
escala adotada.
Da análise da distribuição de depósitos aluvionares, observa-se uma correlação direta
entre esses depósitos e a dinâmica sub-atual/atual dos terrenos que apresentam
tendência a agradação ou denudação, e que essa tendência, por sua vez, encontra-se
controlada pelo arcabouço geológico-geotectônico que controla o aparecimento de
províncias morfoestruturais. Assim, a bacia hidrográfica do rio Xingu, imediatamente a
Oeste, vem-se apresentar como uma bacia de captação de tais sedimentos.
Além dos aluviões permitirem toda esta ilação quanto à neotectônica, sua importância
é flagrante como reveladores de jazimentos detríticos pesados, assim como abrigarem
inúmeras mineralizações auríferas, diamantíferas e estaníferas. Estas mineralizações,
que foram exaustivamente lavradas num passado próximo, continuam a ser
exploradas em menor intensidade e ainda representam um importante tipo de depósito
a ser prospectado. Como conseqüência, muitos depósitos aluvionares foram
degradados por lavras que não tiveram uma preocupação com sua recuperação, o que
leva à sugestão de que as futuras lavras sejam monitoradas com maior rigor para que
tais fatos não voltem a se suceder.
Em termos de padrão de imageamento, as planícies de inundação apresentam relevo
plano, sendo áreas de acumulação embutidas ao longo das drenagens, sem
estruturação tectônica, textura lisa e tonalidade cinza-escuro.
21
1.2. Hipsometria
Responsáveis técnicos
Gustavo Vasconcellos Irgang
Roberta Roxilene dos Santos
As atitudes da Reserva Biológica Nascentes da Serra so Cachimbo foram avaliadas a
partir do SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), retiradas do sítio do JPL (Jet
Propulsion Laboratory, http://www2.jpl.nasa.gov/srtm/) da NASA (National Aeronautics
and Space Administration). O projeto advém de cooperação entre a NASA e a NIMA
(National Imagery and Mapping Agency), do DOD (Departamento de Defesa) dos
Estados Unidos e das agências espaciais da Alemanha e da Itália.
O SRTM30 corresponde a um modelo digital de elevação do terreno com resolução de
90m de pixel. Ou seja, cada pixel apresenta o valor de altitude média acima do nível
médio dos mares naquela área de 90X90 metros do terreno.
Como exemplos de extração digital de informações da topografia, análises de redes
fluviais (Wang & Yin, 1998; Turcotte et al., 2001; Valeriano & Moraes, 2001), partição
de microbacias hidrográficas (Band, 1986) e a identificação de unidades de relevo
(Miliaresis & Argialas, 1999; Miliaresis, 2001; Meijerink, 1988; Giles & Franklin, 1998)
vêm sendo desenvolvidas em ambiente computacional, amenizando a demanda de
trabalho manual e a subjetividade dessas atividades.
Estas variáveis morfométricas são determinadas através de operações de vizinhança
ou de conectividade (Valenzuela, 1991).
Além da importância direta como informação, a identificação de tipos de relevo permite
a particularização de diferentes métodos de tratamento, como propõem Valeriano &
Garcia (2000), que recomendam uma estratificação do tratamento de dados dentro da
escala de trabalho, em unidades geomorfológicas, microbacias ou vertentes. Esses
estudos realçam a importância da estratificação topográfica como técnica de
préamostragem, e também para melhorar a resolução espacial de mapeamentos da
solo e da paisagem visando ao manejo.
A variação de altitude na Reserva Biológica possue um padrão típico dos relevos em
forma de chapada, apresentando altitude mínima de 250mnm, máxima de 708mnm e
altitude média de 489mnm, conforme pode ser observado na Erro! Fonte de
referência não encontrada..
Embora os valores altimétricos da Reserva não se mostrarem tão elevados como em
outras regiões do Brasil, em se tratando de padrões amazônicos, eles são bastante
significativos, representando um importante divisor de águas entre duas grandes
bacias hidrográficas amazônicas, as dos rios Xingu.e Tapajós.
22
Figura 7. Mapa hipsométrico da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo.
Hutchinson (1989) apresenta a altitude como uma medida direta da variação espacial
da temperatura e/ou precipitação, mostrando em seu trabalho estimativas da
distribuição espacial de variáveis climáticas, como média sazonal e anual de
precipitação, assim como Risso, (1993) demonstra a relação com a prudução e
trasporte de sedimentos.
23
1.3. Clinografia
Responsáveis técnicos
Gustavo Vasconcellos Irgang
Roberta Roxilene dos Santos
A declividade ou inclinação do terreno é um dos atributos topográficos mais utilizados,
pois exerce influência sobre o fluxo da água e é importante para estudos de erosão,
sombreamento, energia solar recebida, reflectância da superfície, temperatura, etc.
A declividade descrita aqui tem um caráter mais abrangente, envolvendo várias celulas
da vizinhança no cálculo, de modo a ser mais adequada para os usos descritos acima.
A variação da declividade na Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo é
significativa, apresentando valores na ordem de 38° embora sua média seja baixa,
aproximadamente 3°.
Representa nitidamente o padrão morfológico de chapada, com topo plano, encostas
abruptas que atingem rapidamente o nível de base do relevo do entorno (Erro! Fonte
de referência não encontrada.).
24
Figura 8. Mapa de declividades da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo
1.4. Hidrografia
Responsáveis técnicos
Gustavo Vasconcellos Irgang
Roberta Roxilene dos Santos
No âmbito dos recursos hídricos, o impacto decorrente da alteração do uso do solo
reflete-se em todos os componentes do ciclo hidrológico, como no ecoamento
superficial, na recarga dos aqüíferos, na qualidade da água e no transporte de
sedimentos.
Neste contexto, o planejamento dos recursos hídricos deve fazer parte de um amplo
processo de planejamento ambiental, no qual somente com a organização espacial
das forças que interagem na bacia hidrográfica haverá expectativas de garantia da
unidade da região (Mendes & Cirilo, 2001).
A região da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo compreende 10
bacias hidrográficas afluentes dos rios Xingu e Tapajós conforme pode ser observado
na Erro! Fonte de referência não encontrada..
25
Figura 9. Bacias Hidrográficas da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo
A seguir serão apresentados os dados quantitativos das bacias hidrogáfias da Reserva
Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo tais como: área em ha (Erro! Fonte de
referência não encontrada.), hipsometria por bacia (Erro! Fonte de referência não
encontrada.), que possibilita identificar a amplitude hipsométrica das bacias, e
declividade em graus por bacia (Quadro 3. Dados de declividade em graus por bacia
hidrográfica), que destaca a inclinação média de cada um dos principais rios da
Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo.
A seguir, na Erro! Fonte de referência não encontrada., é apresentada a confluência
hidrográfica da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo.
26
Figura 10. Confluência hidrográfica da Reserva Biológica Nascentes da Serra do
Cachimbo
Água
Flecha ↓
Fria ↓
Curuaés → Curuá → Iriri → Xingú →Amazônas
Xixé 
Ipiranga ↑
Nilana ↑
Anta (Cristalino) →Teles Pires → Tapajós → Amazonas
São Bento ↑
Quadro 1. Dados de área em hectares das Bacias Hidrográficas
Bacias
Hidrográficas
Água Fria
Flecha
Curuaés
Xixé
Nilana
Ipiranga
Iriri
Braço Sul
Braço Norte
Anta
Curuá
Área em
Hectares
14.926
33.253
111.556
7.547
34.923
28.275
12.859
6.862
23.487
8.077
60.810
%
4
10
33
2
10
8
4
2
7
2
18
Quadro 2. Dados de altitude em metros por bacia hidrográfica
Bacia Hidrográfica
Água Fria
Flecha
Curuaés
Xixé
Nilana
Ipiranga
Iriri
Braço Sul
Braço Norte
Anta
Curuá
Mínima
277
274
264
368
319
358
466
493
483
521
250
Máxima
617
642
697
562
708
698
657
624
691
673
697
Média
426
454
439
428
492
566
554
548
566
593
524
Quadro 3. Dados de declividade em graus por bacia hidrográfica
Bacia Hidrográfica
Água Fria
Flecha
Curuaés
Xixé
Nilana
Ipiranga
Iriri
Braço Sul
Braço Norte
Máxima
34
31
32
24
32
31
12
7
21
Média
5
3
3
3
4
3
2
2
3
27
Anta
Curuá
13
32
2
3
28
1.5. Clima
Responsáveis técnicos
Gustavo Vasconcellos Irgang
Roberta Roxilene dos Santos
Dentre os elementos climáticos estudados, é dada ênfase à dinâmica temporal das
condições atmosféricas, uma vez que ela apresenta variação pluvial sazonal
significativa na área, apresentando padrão estacional similar ao da região CentroOeste, apesar de estar localizada na região Norte. Tal variação é uma característica
típica da zona intertropical, onde se insere a área da Reserva Biológica, e de toda a
Amazônia Legal.
Nesse sentido, deve-se ter como referência o papel da Amazônia para a circulação
geral da atmosfera, para o balanço hídrico e para o ciclo de CO2. Embora as conexões
de escala global entre os processos atmosféricos ainda não sejam bem conhecidas,
sabe-se que, em termos regionais, o clima influencia e é influenciado pela cobertura
do terreno. É consenso também, que mudanças abruptas nessa cobertura terão
respostas climáticas em curto prazo na própria Amazônia e em médio ou longo prazo
no planeta.
A descrição e a interpretação dos dados meteorológicos e climatológicos permitem
compreender os controles climáticos atuantes e classificar os diferentes tipos
climáticos. Para a área da Serra do Cachimbo, foram utilizadas fontes secundárias,
como as informações climatológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)
(DNMET, 1992), do Projeto RADAMBRASIL (BRASIL, 1975, 1976 e 1980), da Agência
Nacional das Águas (ANA, 2002) e do Relatório Técnico O CLIMA DA RPPN SESC
PANTANAL (HASENACK et al., 2003).
A Região Norte do Brasil, onde está inserida a área de estudo, apresenta a mais baixa
densidade de postos e estações meteorológicas do Brasil, existindo apenas uma
Estação Climatológica Principal do INMET, em Itaituba-PA. Sendo assim, o estudo foi
dividido entre a análise descritiva dos dados termopluviométricos de Itaituba, da Base
Aérea do Cachimbo e da Estação Climatológica de Cuiabá, também do INMET. Face
essa situação, fica impossibilitada a elaboração de um estudo micro-climático, sendo
possível unicamente uma descrição macro-climática para a região.
1.5.1. Caracterização climática
O Centro-Oeste brasileiro, ao sul da área de estudo, tem clima caracterizado por
invernos secos e verões chuvosos. O tempo seco no inverno astronômico tem sua
origem na estabilidade gerada pela influência do anticiclone subtropical do Atlântico
Sul e de pequenas dorsais que se formam sobre o continente (NIMER, 1989). O
período de chuva está associado ao deslocamento para Sul da Zona de Convergência
Intertropical (CIT)1, acompanhando a marcha aparente do Sol em direção ao Trópico
de Capricórnio. Sobre a porção central da América do Sul a CIT avança mais para sul
do que nas regiões costeiras gerando instabilidade em todo o Brasil-Central nos
meses de verão astronômico (Erro! Fonte de referência não encontrada.).
1
A convergência intertropical é uma faixa de baixas pressões resultante da convergência dos ventos
alísios de nordeste no hemisfério norte e de sudeste no hemisfério sul e que segue aproximadamente a
linha do Equador no outono e na primavera. No verão do hemisfério sul, ela está deslocada para sul e no
inverno do hemisfério sul ela está deslocada para norte do Equador. Este deslocamento é de
aproximadamente 5° para norte e para sul. Como a superfície terrestre não é homogênea, em alguns
continentes, como por exemplo na América do Sul, a convergência intertropical pode atingir até a latitude
de 10°S (HASENACK et al., 2002).
No Centro-Oeste, em função da influência da massa de ar tropical marítima e
equatorial, as temperaturas são elevadas durante todo o ano. No inverno, quando a
CIT está deslocada para norte, a região apresenta baixa ou nenhuma precipitação.
Este clima tropical com estação seca, descrito pelo padrão apresentado na normal
climatológica de Cuiabá (DNMET, 1992), recebe a denominação de “Aw” na
classificação de Köppen2. A letra “A” corresponde à zona climática tropical úmida,
ocupada pela categoria florística das megatermas, caracterizada por vegetação
tropical com temperaturas e umidade relativa do ar elevadas. A temperatura média do
mês mais frio é superior a 18°C, temperatura crítica para a flora tropical. A letra “w”
corresponde, na região, a uma precipitação anual entre 1.000 e 1.500 mm, com total
mensal médio do mês mais seco inferior a 40 mm, configurando o clima pela
sazonalidade pluviométrica como estacional ou de savana.
Figura 11: Circulação geral da atmosfera e pressão das massas de ar em janeiro e julho
(HASENACK, et al., 2003).
Em Itaituba, ao norte da área de estudo, a amplitude térmica anual de 2ºC e a
inexistência de um período seco (determinado a partir da veracidade da relação
2
O botânico e climatologista W. Köppen elaborou no início do século XX, com base no mapa florístico de
A. de Candolle (1874), uma das mais simples classificações climáticas globais. Ela é de natureza
empírica, pois se fundamenta nos efeitos observáveis que o clima exerce sobre a vegetação, mas
também se apoia em índices de temperatura e precipitação (médias anuais e mensais como base
quantitativa na delimitação das variedades climáticas reunidas em 12 classes, as quais pertencem a cinco
grupos maiores, correspondentes às categorias florísticas condicionadas pela temperatura e pela umidade
atmosférica (precipitação) (Köppen, 1948 in HASENACK, et al., 2002).
30
empírica P=2t, onde P= precipitação mensal em mm e t = temperatura média mensal
em ºC) caracterizam um clima equatorial úmido nesse local. O diagrama climático
(Figura 12. Diagramas climáticos de Cuiabá (DNMET, 1992), da Base Aérea do
Cachimbo (BRASIL, 1980) e Itaituba (DNMET, 1992).) foi construído a partir das
normais 1961-90 do INMET, mas os dados relativos à Itaituba restringem-se a 197190. A temperatura média mensal apresenta menor valor em fevereiro (25,8ºC) e maior
em outubro (27,8ºC). A característica tropical complementar à amplitude térmica anual
é a diária, que excede em muito àquela, podendo chegar a valores na casa dos 10ºC
(SIOLI, 1985).
As duas passagens zenitais do Sol acontecem em março e outubro, demonstrando
que é o domínio do ar cE e mT que comanda o regime térmico, e não a insolação.
Outra evidência é observável através do exame das temperaturas máximas e mínimas
absolutas. A primeira tem seu pico em 38ºC (pouco mais de 10ºC acima da média de
outubro), ao passo que a segunda tem seu menor valor em novembro, quando foi
registrado 17,2ºC, indicando que as incursões da massa mP ocorrem raramente e,
quando ocorrem, o ar polar já se encontra tropicalizado. Segundo a classificação de
Köppen, as informações do INMET apontam, em Itaituba, para a variedade climática
Af, isto é, clima de selva. Todavia, a situação regional, de acordo com os
mapeamentos consultados (IBGE, 2000; ANDRADE, 1972), indica um tipo estacional
(Aw) com chuvas concentradas no verão. A própria cobertura vegetal primitiva (IBGE,
2000) mostra que a área é de transição entre a Floresta Ombrófila Densa (típica de
climas Af) e Aberta (de climas Am e Aw). O fato mais relevante é que são recolhidos
mais de 1.900 mm de chuva anualmente, e aproximadamente 40% desse total
concentra-se no verão.
Na Base Aérea do Cachimbo, da Força Aérea Brasileira, a temperatura apresenta
comportamento anual similar ao de Itaituba. A temperatura média anual é de 24.2°C e
a mensal apresenta menor valor em julho (23.6ºC) e maior em agosto e setembro
(25ºC), estando a diferença mais marcante relacionada à precipitação (Figura 2),
caracterizando um período de seca entre os meses de junho e agosto. São recolhidos
mais de 2.300 mm de chuva anualmente, sendo superior a 300 mm mensais em
janeiro, fevereiro e março (chega à máxima precipitação de 374 mm no mês). Supõese que essa precipitação acumulada anual tão elevada deva ser fruto da orografia da
Serra do Cachimbo, que apesar das altitudes mal ultrapassarem 700 m, deve
contribuir para desestabilizar as massas de ar que transpassam a área, acarretando a
precipitação das massas d'água semi-saturadas da coluna atmosférica. Situada a 570
quilômetros de Itaituba, na Serra do Cachimbo a precipitação acumulada durante o
ano indica que nessa região a transição é entre o domínio dos climas Equatoriais e
Tropicais (Af para Aw), levando a uma tendência de clima Tropical Monsônico (Am)
pelo fato da precipitação acumulada anual ser superior a 1.500mm. A vegetação
original é um misto de Savana e Floresta Ombrófila, conseqüência tanto das
condições edáficas do Complexo do Cachimbo quanto da dinâmica atmosférica
regional.
O fato da Serra do Cachimbo estar localizada nas adjacências do Equador geográfico,
na transição da zona equatorial para a tropical, é um importante aspecto no
entendimento da dinâmica atmosférica regional. Esse balizamento é relevante,
considerando o balanço global de radiação, causa maior da circulação atmosférica,
que define os climas em nível planetário. Em termos regionais, dentro da área, além
da latitude, as massas de ar e a cobertura do terreno (destacadamente a presença da
Floresta Amazônica) têm papel decisivo na elaboração dos quadros mesoclimáticos.
As massas de ar que atuam na vertente atlântica da América do Sul participam da
circulação sobre a área. Merecem destaque as massas Tropical marítima (mT),
Equatorial continental (cE) e Equatorial marítima (mE), bem como a Convergência
Intertropical (CIT). A massa Polar marítima (mP) tem atuação reduzida a eventos
31
isolados no inverno, sobremaneira no SW da Amazônia, sendo mais rara sua
penetração pelo norte mato-grossense. A sucessão desses sistemas determina os
tipos de tempo e os climas existentes. A condição tropical que predomina na região,
com baixos gradientes térmicos no interior das massas de ar com atuação mais
destacada ao longo do ano (mT e cE), tem como resposta a baixa velocidade média
dos ventos. A circulação do ar em superfície, na área de estudo, é controlada pelas
massas de ar que atuam na região. Em termos regionais, as direções predominantes
dos ventos respondem às massas de ar conforme descrito a seguir (NIMER, 1989):
- cE ventos de oeste a noroeste, situação ocorrente no fim do verão e início do outono;
- mT ventos de leste a nordeste, de ocorrência anual, sendo mais destacado no
inverno;
- CIT ventos de norte, na passagem da CIT, no início e meados do verão;
- mP ventos de sul, situação rara, de ocorrência hibernal, gerando a “friagem”.
Localmente, entretanto, a formação de pequenos ciclones ou linhas de instabilidade
pode gerar aguaceiros e trovoadas com ventos mais fortes associados. Essas
situações caracterizam-se por uma rápida evolução, em geral no fim da tarde, quando
a superfície já liberou muita energia à atmosfera. Em um dado ponto (i.e. um posto de
observação meteorológica), não haverá um padrão direcional de vento associado, uma
vez que essas ocorrências são localizadas e com raio de abrangência de poucos
quilômetros. Dessa forma, elas podem não ser captadas pelo posto ou, se o forem, a
sua entrada e evolução podem ocorrer a partir de qualquer quadrante, sem o
estabelecimento de um padrão específico identificável pelos sistemas de observação.
A importância de todos esses fatores pode ser avaliada através dos dados da rede de
observação hidrometeorológica/climatológica. A avaliação dos dados obtidos,
corroborada pela bibliografia consultada (BRASIL, 1976 e 1980; NIMER, 1989;
ANDRADE, 1972; IBGE, 2000), demonstra que a pluviosidade é o elemento climático
com variação mais significativa na área. A temperatura apresenta um comportamento
tipicamente equatorial-tropical, com baixa amplitude anual (Erro! Fonte de referência
não encontrada.).
Figura 12. Diagramas climáticos3 de Cuiabá (DNMET, 1992), da Base Aérea do Cachimbo
(BRASIL, 1980) e Itaituba (DNMET, 1992).
3
Explicação do Diagrama Climático. Eixo horizontal: meses do ano; Eixo vertical: à esquerda,
temperatura média mensal; à direita, precipitação mensal. Curva da temperatura média mensal, traço fino;
curva da precipitação média acumulada mensal, traço espesso. Estação quente no centro do diagrama.
Nos diagramas, os textos significam o seguinte: superior esquerdo = Posto Meteorológico entre (X) a
altitude em relação ao nível do mar no Posto e entre [X] número de anos de observação meteorológica;
superior direito = temperatura média anual (em graus centígrados) e precipitação média acumulada anual
(em milímetros). Pontilhado = período de aridez relativa; achurado = estação relativamente úmida; áreas
pretas = estação perúmida.
32
1.5.2. A água e sua importância climática regional
As características térmicas de toda área são homogêneas na escala a que se destina
o presente estudo. São as variáveis relativas à dinâmica da água, no seu trânsito
superfície-atmosfera, que mostram variação significativa. Além de ser a chave de
diferenciação climática, a água tem relevância capital também na estruturação do
espaço regional, nas atividades agrícolas e extrativistas e até mesmo nas condições
de transporte, tanto fluvial - muito usado na região - quanto terrestre, inviabilizando-o
em várias situações. A existência de um período mais pluvioso é fator importante a
considerar-se.
No EIA-RIMA da rodovia BR-163, foi empreendida a análise da tendência dos totais
interanuais dos postos pluviométricos selecionados, dentro da série 1983-96. Apenas
os postos do extremo norte da área apontaram tendência de diminuição dos totais
anuais de chuvas. Os seis postos restantes apresentaram tendência de aumento nos
totais anuais recolhidos.
Cabe frisar que se assume amplamente que a retirada da cobertura vegetal original
redundaria em quedas nos totais de chuvas (e.g. LAURANCE et al., 2002). Os dois
principais mecanismos geradores de precipitação pluviométrica da região são a
passagem da CIT e a dinâmica da massa cE. A primeira responde principalmente pela
declinação solar, ao passo que a segunda, pela insolação e interação superfícieatmosfera. É justamente nesse caso que o impacto da supressão da Floresta poderia
induzir à decréscimos pluviométricos. Todavia, o oeste da Amazônia (a região fonte da
massa cE) é a sua área mais preservada, permitindo, dessa forma, que suas
características de alta temperatura e umidade se mantenham. Por fim, deve-se
lembrar que as séries estudadas apresentam a extensão mínima para análise macroclimática (em torno de 10 anos) e que a interação superfície atmosfera amazônica
ainda não é bem conhecida.
Um importante controle da precipitação na área é a temperatura superficial das águas
do Pacífico Oriental Equatorial. Seu aquecimento gera o fenômeno chamado El Niño,
e seu resfriamento, La Niña. Para o Norte do Brasil as conseqüências são,
respectivamente, diminuição e aumento das precipitações (INPE, 2002). Cabe lembrar
que os anos secos apresentam condições mais favoráveis para a ocorrência e difusão
de queimadas. Em todos os postos estudados, o ano mais seco (i.e., com menor total
anual de chuva) foi aquele em que se observou um evento de El Niño moderado ou
forte. Nessa situação, os totais variaram na ordem de 1.250 a 1.650 mm/ano, bem
abaixo das médias apuradas, que oscilam entre 1.900 a 2.300 mm/ano,
aproximadamente. Outra constatação importante refere-se à intensidade do período
seco, que nos anos de El Niño é maior. Tal questão pode ser bem avaliada na porção
norte da área, onde os registros de precipitação iguais a zero em julho e agosto
acontecem com mais freqüência em anos de El Niño. No sul da área, essa ocorrência
não é anormal, mas o que se observa é uma redução nos totais de chuvas de inverno,
sendo os menores valores encontrados em anos de El Niño forte ou moderado. Com
relação ao fenômeno inverso, La Niña, o padrão é oposto. Os anos com os maiores
totais anuais são aqueles em que ocorre o fenômeno, sendo freqüente a ocorrência de
totais pluviométricos de verão acima das normais. Na porção norte, o período com
maiores totais pluviométricos vai de janeiro até abril. Os menores totais acontecem no
meio do ano, entre junho e agosto. No sul, o período de chuvas ocorre entre dezembro
e março e, o seco, entre junho e julho. A Figura 2 ilustra a distribuição sazonal da
precipitação nos postos selecionados, onde se observa a concentração das chuvas no
verão, sempre na casa dos 40%.
Essa dinâmica é coordenada pela posição da CIT e pela alternância do ar cE e mT. O
primeiro é carregado de umidade, resultante de sua gênese e seu amadurecimento
processarem-se sobre o núcleo da floresta amazônica, ocasionando abundantes
chuvas, na forma de aguaceiros de final de tarde. Esse regime pluvial favorece a
33
ocorrência de processos erosivos em áreas com solo exposto. A CIT induz à
ocorrência de aguaceiros nos moldes da massa cE, com a diferença de que ela passa
pela área no fim do verão, com atuação marcada na porção norte. A massa tropical,
por seu turno, origina-se sobre o Atlântico - importante fonte de umidade - mas é
estável, seja pela subsidência da Alta Subtropical que a sustenta, seja pelo
esfriamento relativo do continente (Brasil Centro-norte) no inverno. No sul da área,
pode-se sentir intensamente a presença do ar mT no inverno, aproximando-a de um
clima de savana.
A área corta o setor amazônico que NIMER (1989) e MORAES et al. (2002)
qualificaram como “corredor menos chuvoso”. SCHNEIDER et al. (2000) caracteriza
essa área como de transição (entre 1.800 e 2.200mm/ano de chuva), entre a “zona de
pluviosidade seca” (<1.800 mm/ano de chuva) e a “úmida” (>2.200 mm/ano de chuva).
Percebe-se pelo exame das isoietas anuais que no oeste e noroeste ocorrem os
maiores totais na área, sendo que no extremo norte ocorrem os menores. As áreas
mais chuvosas são aquelas em que ocorre a sobreposição das chuvas ligadas à CIT e
à massa cE. No norte, a atuação da massa cE é mais limitada, e no oeste acontece a
atuação tanto do ar cE quanto da CIT, incrementando os totais anuais de chuvas.
34
1.6. Geomorfologia
Responsáveis técnicos
Gustavo Vasconcellos Irgang
Roberta Roxilene dos Santos
Neste capítulo faz-se a análise descritiva das formas do relevo da Reserva Biológica
Nascentes da Serra do Cachimbo. Essa descrição fundamenta-se nos compartimentos
morfo-estruturais e morfoesculturais como unidades para compreensão do relevo
regional.
Inicialmente, o relevo amazônico era considerado uma grande planície, tendo como
nível de base o rio Amazonas. A evolução das pesquisas geológicas e
geomorfológicas têm demonstrado que há diversidade dos quadros morfoesculturais
amazônicos. A própria área de estudo, desde a Serra e a Chapada do Cachimbo,
passando pelo vasto pediplano até os relevos residuais do interflúvio Tapajós-Xingu,
demonstra a riqueza do relevo amazônico.
Nesse contexto, os estudos geomorfológicos podem fornecer subsídios para as
questões regionais que envolvem o aumento do desflorestamento, a exposição de
parcelas maiores do terreno e o conseqüente surgimento de focos de erosão.
A geomorfologia tem assumido recentemente um papel de síntese da paisagem,
através de mapeamentos de fragilidade ambiental ou de susceptibilidade à erosão
(que envolvem dados climáticos, geológicos, pedológicos, altimétricos, fitoecológicos,
entre outros), constituindo-se em importante instrumento de avaliação ambiental.
Além de caracterizar a morfologia da área, são focalizados eventos, feições e
processos de ocorrência atual (e.g. ravinamentos, movimentos de massa, campos de
matacões) de maior relevância para o estudo.
Devido à carência de mapeamentos e dados básicos detalhados sobre o relevo da
região, considerou-se a escala regional para a realização do diagnóstico. Foram
utilizadas informações cartográficas do Projeto RADAMBRASIL Folha SC21 Juruena
(BRASIL – DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL, 1980), da base
cartográfica do Sistema de Vigilância da Amazônia Brasileira (SIVAM) na escala
1:250.000 (Erro! Fonte de referência não encontrada.), do Relatório Técnico de
Geomorfologia do Zoneamento Sócio Econômico e Ecológico do Estado do Mato
Grosso e principalmente, do Relatório Técnico de Geomorfologia dos Estudos de
Impactos Ambientais no Relatório de Impactos Ambientais da rodovia BR 163,
elaborado pela Empresa ECOPLAN Engenharia, em 2002 (DNIT, 2002). Destacam-se
também como fontes bibliográficas IBGE (2000) e ROSS (1995 e 1996).
O mapeamento do Projeto RADAMBRASIL ofereceu os principais subsídios para a
compartimentação geomorfológica da área. A rede de drenagem também foi
compilada, sendo um importante agente geomorfológico a ser considerado na
descrição evolutiva do relevo da área.
35
Figura 13. Mapa de Geomorfologia da Reserva Biológica Nascentes da Serra do
Cachimbo (segundo SIPAM).
1.6.1. Caracterização geomorfológica da região da Serra do Cachimbo
A articulação dos processos endógenos (tectônica, vulcanismo) com os exógenos
(intemperismo) gera o relevo terrestre. Os processos endógenos são responsáveis
pela constituição das morfoestruturas que fornecem o arcabouço sobre o qual o relevo
é modelado pela ação intempérica, resultando nas morfo-esculturas.
Segundo IRIONDO (1986), um Sistema Geomorfológico tem uma estrutura interna
definida, caracterizada pelas suas variáveis de estado, tais como litologia, pendente
regional, estruturas, etc. Estas variáveis de estado relacionam-se e modificam-se por
processos climáticos e geológicos, ou seja, por variáveis de transformação. Estas
variáveis são numerosas, tais como erosão, transporte, sedimentação, intemperismo,
pedogênese, oscilação de nível freático, etc. As variáveis de transformação
(processos) se mobilizam por aportes externos de energia e matéria (calor solar,
ventos, chuvas, etc.).
36
A estrutura do sistema e seus processos determinam o comportamento típico para
cada tipo de sistema ou padrão de forma homogêneo (DEMEK, 1972) determinado, de
um lado, por seus componentes internos (estrutura e litologia) e de outro, pelos
processos externos que o modificam (chuva, ventos, insolação, etc.).
Os sistemas estáveis absorvem bem as perturbações (regulação), mas os sistemas
instáveis reagem rapidamente e modificam-se em função da nova situação
(adaptação). Neste caso, entram em jogo a inércia do sistema e a memória. A
memória é a informação geomorfológica que persiste no sistema como informação
acumulada e que permite reconstruir o ambiente e os processos do passado.
O relevo brasileiro apresenta registros de mecanismos genéticos estruturais,
relacionados às litologias, tectônicos - notadamente do mesozóico - e erosivos, com
destaque às últimas mudanças climáticas do jurássico até o presente. Essas
características são observáveis na área de estudo e estão presentes nos quadros
geomorfológicos, em diversas escalas.
São identificados dois grandes conjuntos morfoestruturais no contexto regional da área
de estudo (ROSS, 1995; IBGE, 2000): o cráton amazônico (embasamento em estilos
complexos) e a bacia amazônica. Cabe ainda citar as coberturas sedimentares
correlativas do ciclo brasiliano que ocorrem de forma difusa na região, mas de forma
expressiva ao sul do Amazonas e norte do Mato Grosso.
O cráton amazônico é o principal conjunto para o entendimento da evolução
geomorfológica da área. Tanto a tectônica mais recente como os últimos ciclos
erosivos deixaram como marcas na paisagem o relevo atual esculpido sobre o cráton.
Em termos da esculturação, são definidas (ROSS, 1995; BRASIL, 1980) as Serras e
Chapadas do Cachimbo, a Depressão Periférica do Sul do Pará, os Planaltos
Residuais da Amazônia Meridional e o os Planaltos Residuais do Tapajós-Xingu. A
gênese desses compartimentos apresenta estreita relação, uma vez que os Planaltos
Residuais da Amazônia Meridional ocorrem de forma difusa no interior da Depressão
Periférica do Sul do Pará (Erro! Fonte de referência não encontrada.).
A Depressão Periférica do Sul do Pará tem sua origem vinculada a processos erosivos
de larga atuação na borda da Bacia Amazônica. No seu interior, os modelados
correspondem às formas de relevo suavemente convexos, com altitudes na ordem de
100 a 400 metros.
Os Planaltos Residuais da Amazônia Meridional são esculpidos sobre intrusões e
coberturas residuais da plataforma sul-amazônica. As intrusões datam do PréCambriano e são constituídas de rochas cristalinas com formas de relevo em morros
de topos convexos, chamados de pontões, de ocorrência difusa pela área. Juntamente
com as intrusões, ocorrem coberturas sedimentares que definem relevos residuais
com topo nivelado, plano, podendo configurar chapadas, como a do Cachimbo, que
marca a porção sul do Pará.
A partir dessa visão geral, é possível caracterizar as unidades (classes) de relevo
presentes na área, do norte a sul: Serra do Cachimbo, Chapada do Cachimbo e
Depressão Periférica do Sul do Pará.
37
Figura 14. Perfil Norte-Sul da Amazônia (ROSS, 1995).
O mapeamento geomorfológico do projeto RADAMBRASIL (BRASIL, 1980) distingue
uma serra e uma chapada na área. Considerando a morfologia e a diversidade
geológica e fitoecológica, o termo “complexo” define satisfatoriamente o conjunto de
terras em foco.
Desta forma, pode-se dizer que a Reserva Biológica ocorre sobre as unidades que
formam o Complexo do Cachimbo. Este complexo é importante do ponto de vista
geomorfológico, pois, além de apresentar as maiores cotas altimétricas da área, na
ordem de até 743m, observam-se nele processos erosivos de escala local, na forma
de sulcos e ravinas. No Complexo do Cachimbo situam-se as nascentes do rio Curuá
e do Jamanxim que, juntamente com o Tapajós, são os rios mais importantes da área.
A porção serrana é composta por um maciço contínuo, formando um relevo
dissimétrico com orientação geral para sudoeste.
A parte tabular é esculpida sobre sedimentos estruturados subhorizontalmente,
definindo assim um modelado típico de chapada. As formas de relevo dominantes são
tabulares com vales de fundo chato (Classe: Formas com topos tabulares - Dt). Além
do topo aplainado, também é característica importante da Chapada a dissecação, que
já se processou, resultando em grandes dimensões interfluviais maiores que 750m,
podendo chegar a alguns quilômetros, com padrão de drenagem subdentrítico. O
limite norte do complexo dá-se tanto em escarpas estruturais quanto em frentes de
cuestas, a partir de onde ocorre a transição para a Depressão Periférica do Sul do
Pará.
A passagem da Serra para a Depressão Periférica do Sul do Pará se dá em
patamares escalonados, onde o rio Curuá apresenta cachoeiras e rápidos, como na
região denominada Salto do Curuá.
A Depressão Periférica do Sul do Pará ocupa a porção norte da área. Com altitudes na
ordem de 200 metros, predominam formas dissecadas de topo convexo (Classe:
Formas com topos convexos - Dc) ou plano, em extensos pediplanos pontilhados por
relevos residuais (planaltos e inselbergs – Classe: Formas Erosivas – Inselberg
resultante de processos de pediplanação - P pd gi).
Os inselbergs, formados por intrusões graníticas presentes no interior do Complexo do
Cachimbo, estão em pleno remodelamento, devido ao ciclo úmido iniciado no
Holoceno. Predominam na paisagem formas de relevo tipo colinas de topo plano,
vinculadas aos terrenos sedimentares e de topo convexo, associadas ao cristalino
(BRASIL, 1980). A Erro! Fonte de referência não encontrada. mostra uma vertente
convexa onde ocorre ume campo de matacões granitóides também arredondados,
demonstrando a esculturação coordenada pelo clima atual mais úmido. Trata-se de
38
uma feição típica da parte norte e sul da área. O desmatamento resultante de
queimadas e implantação de pasto, sem considerar a declividade causa problemas
ambientais. A evolução dessa modalidade de uso da terra pode resultar em processos
erosivos que inviabilizariam, a médio prazo, o uso agropecuário. Um exemplo de início
de erosão linear em área desmatada pode ser avaliado na Erro! Fonte de referência
não encontrada.. Essa figura mostra uma vertente onde o pisoteio do gado,
associado a setores onde afloram formações superficiais, com declividade baixa a
média, está determinando o início de um processo erosivo. A retirada da floresta e a
precipitação concentrada no verão potencializam o processo.
Figura 15 Matacões graníticos ao sul da Reserva Biológica.
Figura 16. Princípio de erosão do solo por manejo inadequado.
A pediplanização generalizada, ocorrida no entorno da área, é um indicativo de um
período climático mais seco que o atual. Nessa condição predominou o intemperismo
físico ao químico, gerando assim os pedimentos que são encontrados ainda no
presente, só que dinamizados sob clima mais úmido. Agora, em condição mais úmida,
mas ainda assim, com uma estação seca, é possível a formação de concreções
39
lateríticas. Além de sustentar as formas de relevo onde ocorrem, tais concreções
representam um entrave às atividades agrícolas.
Não apenas a intervenção antrópica pode causar movimentos de massa nessa
unidade geomorfológica. As rochas sedimentares, que ocorrem esparsadamente junto
a setores com maiores declividade, também podem engendrar processos erosivos
naturais, até mesmo em áreas florestadas.
Dentro da área de estudo, os valores de declividade do Complexo do Cachimbo são
baixos, uma vez que domina o modelado de chapada. Todavia, em sua transição para
a Depressão do Sul Paraense e em escarpas mas íngremes, podem chegar até a 45º.
Na Depressão as declividades são baixas, dado a extensa superfície pediplanizada
ocorrente. É nas vertentes dos relevos residuais (pontões) que ocorrem as
declividades mais altas, na ordem de até 25%. No norte da área, as unidades de
planaltos residuais apresentam declividades baixas.
O Erro! Fonte de referência não encontrada. demonstra a distribuição das 3
unidades geomorfológicas (classes) na área da Reserva Biológica Nascentes da Serra
do Cachimbo. No Quadro 6 são caracterizados os sítios amostrados na AER,
indicando a área ocupada por cada uma das unidades geomorfológicas.
Quadro 4. Proporção das unidades geomorfológicas da Reserva Biológica Nascentes da
Serra do Cachimbo.
Código
Classe
Classe Geomorfológica – SIPAM
Formas com topos convexos (Depressão Periférica do
Sul do Pará)
Dc
Formas com topos tabulares (Chapada do Cachimbo)
Dt
Formas Erosivas – Inselberg resultante de
da
Área em ha %
55.720
16
278.896
81
7.950
2
342.566
100
P pd gi
Processos de pediplanação
(Depressão Periférica do Sul do Pará)
Total
Quadro 5. Proporção das unidades geomorfológicas presentes nos sítios amostrais da
Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo.
Sítio
Área em
%
ha
Código Descrição da classe
1
1.257
100
Dt
Formas com topos tabulares
2
1.257
100
Dt
Formas com topos tabulares
3
349
28
Dc
Formas com topos convexos
3
907
72
Dt
Formas com topos tabulares
4
1.256
100
Dt
Formas com topos tabulares
5
758
60
Dt
Formas com topos tabulares
5
499
40
Dc
Formas com topos convexos
6
197
16
Pgi
Formas Erosivas – Inselberg
resultante de processos de
pediplanação
6
1.059
84
Dt
Formas com topos tabulares
40
1.7. BIBLIOGRAFIA
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43
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES DA
SERRA DO CACHIMBO
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA: LEVANTAMENTO DE SOLOS NA RESERVA
BIOLÓGICA NASCENTE DA SERRA DO CACHIMBO (PA)
(Relatório Final)
Responsável Técnico: Eng. Agr. Jean Carlo Figueira
Realização:
INSTITUTO CENTRO
DE VIDA
Apoio:
W W F - BRASIL
Junho de 2006
44
1.8. Pedologia
Responsáveis técnicos
Jean Carlo Figueira
Roberta Roxilene dos Santos
O estudo consta do levantamento e análise da documentação pedológica, bem como
de relatórios de levantamentos de solos realizados na área em estudo. Também foram
consultados mapas de solos de diferentes fontes e, como suporte à análise, utilizou-se
de imagens de satélite.
Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre os estudos geomorfológicos e
pedológicos existentes na área de influência da Reserva Biológica Nascentes da Serra
do Cachimbo, utilizando basicamente quatro relatórios de levantamentos de recursos
naturais: Projeto RADAMBRASIL/IBGE SC.21 Juruena (BRASIL, 1975, 1976 e 1980),
na escala de 1:1.000.000; ZSSE/MT - Levantamento de reconhecimento de baixa
intensidade dos solos do Estado de Mato Grosso – 2ª aproximação na escala de
1:250.000; DENIT – Ministério dos Transportes – Relatório de Impacto Ambiental –
RIMA – relativo às obras de pavimentação da BR–163 - Volume II - diagnóstico
ambiental do meio fisico e biótico e; dados do SIPAM.
O estudo apresenta a identificação das classes de solos existentes e a sua distribuição
espacial, e outras questões consideradas importantes para melhor orientar os estudos
a serem realizados no âmbito da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo.
Em estudos desta relevância, a compilação de dados de levantamentos de solos
realizados em diferentes fontes, onde as escalas são diferentes, as unidades de
mapeamento podem abranger uma associação entre duas ou mais unidades
taxonômicas, como verificado no presente trabalho. Com relação ao mapeamento dos
solos que ocorrem nas áreas de influência da Reserva Biológica, utilizou-se como
base cartográfica os mapas produzidos pelos levantamentos exploratórios de solos do
projeto RADAMBRASIL e SIPAN. Atualizando-se e generalizando-se a legenda a fim
de simplificar o trabalho de correlação, bem como as diferenças entre os três volumes
utilizados, os quais foram publicados em datas e situações distintas. Para atualização
da legenda de solos, foram consideradas as normas vigentes atualmente (EMBRAPA,
1999).
1.8.1. Aspectos gerais
Formados por terrenos cristalinos e sedimentares que lhes deram origem, os solos
paraenses apresentam - se com uma certa diversidade, sendo caracterizados
especialmente pela intensa lixiviação (lavagem do solo pela água das chuvas) a que
são submetidos. As derrubadas e queimadas que vêm ocorrendo no Estado, expõem
o solo diretamente ao trabalho da erosão pluvial devido aos altos índices de chuvas
que caracterizam a região. Pelas características geomorfológicas e climática da região,
os solos paraenses podem ser classificados, genericamente, em solos de várzeas e
de terra firme. Os solos de várzeas, localizados nas margens do rios, são adubados e
drenados naturalmente pelas enchentes periódicas. São ricos e húmus (matéria
orgânica), devido aos aluviões que se depositam nas suas margens. São originários,
portanto, de terrenos sedimentares (terciários e quaternários), hidromorfos e
geralmente argilo- arenosos. Podem ser aproveitados em culturas temporárias, mas
não apresentam condições adequadas à mecanização das lavouras. Já os solos de
terra firme, com predominância dos latossolos, amarelos ou vermelhos, são mais
destinados a culturas permanentes ou de ciclos longos. Existem algumas manchas de
terra roxa disseminadas mais para o Sul do Estado. Esses solos são geralmente
profundos, bem drenados.
45
A seguir, são relacionados os principais tipos de solo encontrados na região da área
de estudo e suas características mais acentuadas.
Encontrada às proximidades dos municípios de Alenquer e São Félix do Xingu. O solo
podzólico vermelho - amarelo eutrófico é encontrado em algumas áreas do Sul do
Pará, em relevo com topografia variável, apresentando boa reserva de nutrientes. O
podzólico vermelho - amarelo, semelhante ao podzólico vermelho - amarelo eutrófico,
tem baixa fertilidade natural, ocorrendo em relevos planos e nos terrenos com
ondulações. As areias quartzosas apresentam baixa fertilidade natural e considerável
teor de acidez. Retêm pouca umidade e são bastante lavadas pelas chuvas.
Originadas de sedimentos do quaternário e terciário, são encontradas na Serra do
Cachimbo, a Sudoeste do Pará. No Sul do Estado há ocorrência de solo litólico.
Dependendo do material de origem, esse solo apresenta características físicas e
químicas diferentes. Apresenta textura arenosa média ou argilosa, sendo facilmente
atingido pela erosão devido à pouca profundidade. Não é indicado para a agricultura.
1.8.2. Análise genérica dos solos da região
Segundo dados apresentados no EIA-RIMA da BR-163, numa análise conjunta, podese afirmar que a maioria dos perfis de solos encontrados apresentam teores muito
baixos de cátions trocáveis, valores de capacidade de troca de cátions variando entre
2 e 9 cmolc/Kg e alumínio extraível na faixa de 0,1 até 3 cmolc/Kg, definindo perfis de
solos distróficos (valor para saturação de bases menor que 50%), com algumas
exceções, onde foram apresentados valores mais altos de cátions trocáveis e mais
baixos de alumínio extraível. Nenhum perfil apresentou caráter alumínico
(anteriormente definido como caráter álico) nem tampouco caráter eutrófico (valor para
saturação de bases igual ou maior que 50%). Todos os perfis apresentaram pH ácido
a moderadamente ácido. Esses resultados indicam solos muito intemperizados, com
teores muito baixos de nutrientes para as plantas e com baixa capacidade de reter
elementos químicos adicionados através de práticas de correção e adubação
agrícolas, ou seja, com sérias limitações de fertilidade do solo, conforme o sistema de
avaliação da aptidão agrícola (RAMALHO FILHO e BEEK, 1995).
Em relação aos dados físicos, pode-se observar uma variação na composição
granulométrica (textura) dos solos, podendo-se dividir a área em três domínios
principais: o eixo norte (de Rurópolis até o km 30), nos quais predominam teores
médios de argila e consideráveis de areia; o eixo central (do km 30 até as
proximidades da Serra do Cachimbo), com solos argilosos até muito argilosos; e o final
do trecho, que abrange uma associação entre solos muito arenosos (neossolos
quartzarênicos, antigas Areias Quartzosas) e a ocorrência de solos com textura média
(Argissolos). Relacionando-se com esse perfil textural pode-se observar os resultados
obtidos nos ensaios de permeabilidade, onde percebe-se a correlação direta entre a
granulometria e a condutividade hidraúlica dos solos com a presença de valores muito
baixos (cerca de 1mm/h) até taxas altíssimas (maiores que 60 mm/h) nos solos muito
arenosos. Considerando-se os resultados de armazenamento de água, nota-se a
mesma correlação entre textura e capacidade de retenção, com solos mais argilosos
apresentando valores de umidade volumétrica maiores para os pontos da curva de
retenção analisados (DENIT RIMA-BR/163).
Considerando-se os perfis individualmente e associando-os às unidades de
mapeamento descritas nos levantamentos pedológicos pré-existentes (BRASIL, 1975,
1976 e 1980), pode-se visualizar a mesma tendência de variação com relação às três
regiões já identificadas.
Foram encontrados perfis associados à unidade de mapeamento LA, estando
classificados como Argissolo Amarelo e Latossolo Amarelo, respectivamente. Além
das cores amareladas que referenciam as classes, apresentam solos com teores
médios de argila e consideráveis de areia, definindo alguma suscetibilidade à erosão,
46
principalmente quando ocorrem em áreas mais declivosas. Já na região delimitada
pela unidade LV, caracterizando uma associação entre Argissolos e Latossolos, de
cores amareladas ou até mais avermelhadas, em função do tipo de material de origem
(rochas com teores maiores ou menores de Ferro), influenciando a neogênese de
minerais do solo, ou seja, a formação de óxidos de Ferro do tipo hematita (vermelho)
ou goethita (amarelo). Essa associação está correlacionada com a posição relativa
dos solos na paisagem. Em encostas e terrenos mais declivosos geralmente ocorrem
os Argissolos, enquanto que em topos e superfícies mais estáveis, há a predominância
dos Latossolos. Solos argilosos muito argilosos, das classes Latossolo e Argissolos,
mapeados anteriormente como unidades PB ou PV, correspondendo a associações
entre as duas classes citadas.
O domínio geomorfológico da Serra do Cachimbo, alterna perfis de Neossolos
Quartzarênicos com Argissolos Vermelho-Amarelos e até mesmo Latossolos.
1.8.3. Descrição taxonômica das classes de solos
Conforme levantamento do DENIT os perfis de solos encontrados na área de
influência da BR-163 e da Reserva permitiram a identificação de seis classes de solos,
considerando-se o 2º nível hierárquico (subordens) do Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (EMBRAPA, 1999). Suas características principais são
descritas a seguir e nos Erro! Fonte de referência não encontrada. e Erro! Fonte de
referência não encontrada..
1.8.3.1. Latossolo Vermelho Amarelo
Abrange solos minerais não-hidromórficos com horizontes B latossólicos. As cores
desse horizonte são usualmente de matiz menos vermelho que 1,5YR, tendo valores
normalmente > 4,5 e croma > 6,0. São solos virtualmente sem atração magnética.
Apresentam perfis profundos ou muito profundos de seqüência de horizontes A-Bw-C,
com aparência relativamente bem individualizada, devido à distinção de cor,
especialmente entre os horizontes A e B. O horizonte A mais comum é o moderado. O
horizonte B apresenta ampla variação de cor, desde matiz menos vermelho que 1,5YR
até 10YR, com predominância de valores entre 5 e 6 e cromas entre 6 e 8. Em uma
mesma encosta, devido às condições diferenciadas de drenagem interna, podem
ocorrer latossolos vermelho-amarelos com coloração variada, tendendo para matizes
menos avermelhados, indicando uma condição de drenagem interna mais restrita.
A estrutura é, em geral, muito pequena, granular, com aspecto de maciça porosa, ou,
no máximo, em blocos subangulares moderadamente desenvolvidos; esta, porém, não
é comum, sendo encontrada em solos de textura argilosa ou muito argilosa. Os solos
são normalmente porosos, mesmo com teores elevados de argila. A textura é muito
variada, havendo registro de teores de argila desde 15% até mais de 80%. Ao longo
do perfil, as diferenças texturais do A para o B são pequenas, com a relação textural
raramente ultrapassando o índice 1,3.
Há ocorrência de latossolos vermelho-amarelos concrecionários, apresentando
quantidades significativas de nódulos e/ou concreções e de variedades cascalhentas,
portadoras de teores apreciáveis de frações grosseiras (0,2cm - 2cm). A distinção de
subhorizontes do B latossólico é geralmente pouco perceptiva e baseada em
pequenas diferenças de cor, estrutura e consistência.
O horizonte C diferencia-se pela cor rosada ou ligeiramente mais avermelhada e/ou
pela ocorrência de mistura de cores de várias tonalidades, e também pela diminuição
de estruturação em relação ao horizonte B e ao acréscimo do teor de silte e da
presença de partículas micáceas, quando deriva de rochas ácidas.
47
Do ponto de vista químico, são solos predominantemente distróficos ou alumínicos,
ocorrendo também, com menor importância espacial, os eutróficos e os ácricos, esses
últimos preferencialmente relacionados com texturas mais argilosas.
Quando se apresentam em relevo plano e suave ondulado ou ondulado, são
comumente utilizados para agricultura ou pecuária, principalmente aqueles que não
apresentam teores muito elevados de areia. A baixa fertilidade natural, representada
por reduzidos teores de bases trocáveis, de micronutrientes e de fósforo, aliados à alta
concentração de alumínio (nos perfis alumínicos), é a principal limitação ao seu
aproveitamento agrícola.
Os de textura média, com grande participação de areia, aproximam-se das Areias
Quartzosas, sendo muito suscetíveis à erosão, além de apresentarem elevada taxa de
infiltração, requerendo, portanto, tratos conservacionistas e manejo da água de
irrigação adequados.
Ocupam áreas relacionadas a superfícies velhas e estáveis da paisagem, onde se
desenvolvem sobre as coberturas de cimeira. Ocasionalmente, encontram-se também
em relevo mais movimentado.
1.8.3.2. Latossolo Amarelo
Esta classe compreende solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B
latossólico, baixos teores de Fe2O3 (na grande maioria < 7%) e coloração amarelada
(bruno-amarelado a bruno forte) de matizes 7,5YR a 2,5Y, com valores 5 e cromas
iguais ou superiores a 4, fração argila de natureza essencialmente caulinítica, com
virtual ausência de atração magnética. São derivados de sedimentos areno-argilosos
ou argilo-arenosos ou de material de cobertura relacionado àqueles sedimentos.
Apresentam como principais características um horizonte B latossólico espesso de
cores centradas nos matizes 7,5 a 10YR e estrutura normalmente fraca em blocos
subangulares e angulares, com perfis de modesta diferenciação de horizontes.
A textura varia de franco-arenosa até muito argilosa, com valores extremos de 15% a
93% de argila, tendo sido este registrado em perfis do Município de Santarém
(EMBRAPA, 1983). A presença de plintita e de concreções ferruginosas tem sido
constatada na parte inferior de alguns perfis.
Os Latossolos Amarelos típicos apresentam-se coesos, duros ou muito duros quando
secos, principalmente no AB ou BA, ou mesmo no topo do Bw, dos solos argilosos ou
muito argilosos. São normalmente alumínicos ou distróficos e, portanto, muito pobres
quimicamente, com teores maiores de bases concentrados apenas na superfície,
devido à reciclagem de nutrientes. Porém, ao longo dos perfis, seus valores são
baixos, com decréscimo grande nos horizontes inferiores do B, onde são raros índices
superiores a 0,5 Cmolc/Kg de solo (TFSA).
São solos que ocorrem normalmente em relevo plano e suave ondulado e, com menos
freqüência, em relevos ondulados. São profundos, com boa drenagem, mas com
limitações referentes à permeabilidade restrita e/ou infiltração lenta, devidas sobretudo
ao adensamento que existe nos horizontes intermediários (AB e BA).
As variedades de textura mais argilosa têm tendência a “cerramento” superficial,
condicionando, por ação dos aguaceiros típicos dos regimes equatoriais e tropicais,
com aumento do índice de erodibilidade destes solos quando desmatados para
lavouras ou pastagens, tanto mais acentuada quanto mais desnudos ficarem.
Apresentam importante limitação do ponto de vista agrícola, decorrente da baixíssima
fertilidade, representada por reação muito ácida, comumente alta saturação por
alumínio e valores muito baixos de soma e saturação por bases. Além disso, muitas
vezes apresentam deficiência de micronutrientes.
48
As condições de relevo plano e suave ondulado, sobretudo quando os solos são de
textura média, favorecem a utilização agrícola, desde que sejam corrigidas as
deficiências de nutrientes. Os solos de textura muito argilosa apresentam algumas
limitações quanto aos aspectos físicos, sobretudo em decorrência da sua forte coesão
quando secos.
Na região amazônica são cultivados principalmente com seringueira, dendê, pimentado-reino, guaraná, pastagens, fruticultura regional, mandioca e outras culturas de
subsistência, ocupando grandes extensões no Baixo Amazonas.
1.8.3.3. Argissolo Vermelho Amarelo
Esta classe compreende solos minerais não-hidromórficos, com horizonte A ou E
seguidos de horizonte B textural não-plíntico, argila de atividade baixa, cores
vermelhas a amarelas e teores de Fe2O3 < 11%, apresentando distinta
individualização de horizontes nos solos mais típicos da classe. Apresentam grande
variação em características morfológicas e analíticas, porém com presença distintiva
de horizonte B textural que diverge do A ou E, seja pela cor, seja pela diferença de
textura e marcante estrutura em blocos, sendo a textura argilosa ou muito argilosa.
A seqüência de horizonte é a A-E-Bt-C ou A-Bt-C. O horizonte eluvial E pode,
portanto, faltar. Além disso, a diferenciação de horizontes varia de bem realçada até
pouco evidente. O horizonte A mais freqüente é o moderado, ocorrendo, contudo,
outros tipos, excetuado o turfoso.
O horizonte E, quando presente, pode ser um horizonte álbico: nesse caso, sua cor é
bastante clara. Sua ocorrência é mais comum nos Argissolos vermelho-amarelos que
têm mudança textural abrupta, chegando a ser bastante espesso, subplantando o
horizonte A. Espessuras superiores a 100 cm já foram registradas. Em horizontes E,
mormente tendo textura arenosa ou semelhante, pode haver o desenvolvimento de
lamelas - estreitas camadas de coloração mais escura e de composição diferente.
De modo geral, os Argissolos Vermelho-Amarelos apresentam um gradiente textural
acentuado. Porém, quando pouco espesso, o horizonte B deve apresentar estrutura
em blocos ou prismática composta de blocos e cerosidade suficientemente
desenvolvidas para qualificar-se como um B textural.
O horizonte B é de cores vermelhas até amarelas e o desenvolvimento da sua
estrutura está estreitamente relacionado à textura. Nos de textura média, é raro
ocorrer estrutura forte do tipo prismática ou em blocos. Essa é, contudo, comum nos
de textura argilosa ou muito argilosa e naqueles que, além disso, apresentam argila de
atividade alta.
Os Argissolos Vermelhos-Amarelos têm as mais variadas profundidades e texturas,
inclusive com presença ou não de cascalhos e calhaus, admitindo ampla variabilidade
de classes texturais, quer de um solo para outro, quer na seqüência de horizontes de
um mesmo perfil. Eventualmente, pedras podem estar presentes em alguns desses
solos.
O horizonte C distingue-se do B pela diferença de variável combinação de textura
menos argilosa, cor menos viva, e menor desenvolvimento de estrutura e cerosidade.
É comum também apresentar-se mais friável e com vestígios de material rochoso em
processo de alteração.
Alguns Argissolos Vermelho-Amarelos apresentam, apesar de argilosos, estrutura e
cerosidade pouco desenvolvidas, chegando a constituir solos intermediários com os
Latossolos ou Cambissolos. São os Argissolos Vermelho-Amarelos Latossólicos ou
Argissolos Vermelho-Amarelos Câmbicos.
49
Além desses, outros solos intermediários têm sido constatados, como os Argissolos
Vermelho-Amarelos Plínticos e alguns Argissolos com argila de atividade alta,
tendentes a Vertissolo. Também são corriqueiras as ocorrências de Argissolos
vermelho-amarelos rasos.
Certos Argissolos Vermelho-Amarelos que apresentam acentuada diferenciação com
mudança textural abrupta entre o horizonte E e o B textural são considerados como
intermediários com os Planossolos. É usual, nesses intermediários, a presença de
mosqueamentos acinzentados e/ou coloração de menor croma no topo do horizonte B.
As possibilidades de combinações, considerando-se as características morfológicas e
as analíticas, são grandes, permitindo ampla diversificação de modalidades de solos
pertencentes à essa classe.
Os Argissolos Vermelho-Amarelos constituem, a par dos Latossolos VermelhoAmarelos, a classe de solos mais comum do Brasil, o que lhe confere especial
importância. Sua grande diversidade de atributos - profundidade, textura, eutrofismo,
distrofismo, saturação por bases, saturação por alumínio, atividade da argila,
cascalhos, calhaus, pedras e matacões, plintita, além da ocorrência nos mais variados
relevos - torna difícil generalizar as qualidades da classe.
Sérias limitações causadas pela maior suscetibilidade à erosão são prevalentes no
caso dos Argissolos Vermelho-Amarelos abruptos. Essas limitações são tanto mais
sérias quanto maior a declividade dos terrenos. Essas são acrescidas da toxicidade
pelo alumínio nos solos que, além de abruptos, são alumínicos.
Pedregosidade e texturas cascalhentas têm geralmente ocorrência em condições de
relevo acidentado, onde os solos são mais suscetíveis à erosão. Eventualmente,
podem ocorrer associadas à presença de matacões, os quais interferem na sua
utilização. Reflorestamentos, pastagens ou culturas permanentes são os usos mais
adequados, tanto mais favoráveis quanto maior o estado de fertilidade dos solos.
Os distróficos e os alumínicos naturalmente apresentam restrições quanto à fertilidade,
que pode estar acrescida de limitações devido a outros fatores. Os alumínicos e com
argila de atividade alta requerem quantidades de corretivos relativamente grandes
para eliminar a toxicidade pelo alumínio e suprir as plantas de cálcio e magnésio.
Os eutróficos, desde que não abruptos, usualmente apresentam, como principal
restrição, as condições de relevo. Aliás, de maneira geral, essa classe ocorre em
relevo ondulado ou mais acidentado. Habitualmente ocupam, em relação aos
Latossolos, terrenos de relevos mais dissecados.
Diversas classes compreendem solos semelhantes aos Argissolos Vermelhoamarelos. Quando típicos, diferenciam-se dos Latossolos Vermelho-Amarelos pela
estrutura em blocos ou prismática composta de blocos e cerosidade bem
desenvolvidas, pela presença de horizonte E e pelo gradiente textural de A para B
relativamente acentuado. Já os Argissolos Vermelho-Amarelos intermediários com os
Latossolos Vermelho-Amarelos perdem aquelas feições contrastantes, chegando a
assemelhar-se bastante com esses latossolos. A identificação é feita com base na
soma e expressividade das feições acima assinaladas, acrescidas em geral de
espessura do horizonte B e friabilidade correntemente maiores nos latossolos que
nesses Argissolos.
1.8.3.4. Argissolo Amarelo
Classe formada por solos minerais não hidromórficos, abruptos ou não, com horizonte
B textural de coloração amarelada, matiz 10YR com valor de 5 e croma usualmente de
6 a 8, argila de atividade baixa e teores de Fe2 O3 bastante baixos (<7%).
50
Apresentam perfis de solos profundos, com seqüência de horizontes A-E-Bt-C, sendo
derivados de sedimentos ou coberturas sedimentares de idade terciária. A
diferenciação de horizonte nos perfis é um tanto variável, em função do tipo de
horizonte A e grandeza do aumento de argila para o Bt, tornando-se mais destacada a
diferenciação com a presença de horizonte E conjugado com mudança textural
abrupta e, ainda mais, quando o A for proeminente.
Sua característica mais importante é a presença de um horizonte B textural, tendo
mais tipicamente cor bruno-amarelada de notação Munsell 7,5YR, 10YR 5/6 até 5/8.
Há registros de solos com cor algo avermelhada. Nesse caso, é possível que o
material de origem tenha sido considerado como auxiliar no diagnóstico, pois essa cor
é comum entre os Argissolos Vermelho-Amarelos.
O horizonte A usualmente é moderado, possuindo textura média ou mesmo arenosa,
enquanto o B é de textura média ou argilosa, com estrutura subangular fraca e de
consistência friável ou firme. A aparente ausência de cerosidade, a estrutura fraca, a
consistência friável, quando úmido, e as transições difusas entre os subhorizontes do
b conferem a este virtual equivalência ao B latossólico, não fora a diferença textural de
A para B. De fato, na suposição da inexistência de aumento de argila, facultando
condição diagnóstica para reconhecimento de um Bt, ter-se-ía simplesmente um Bw
inerente ao Latossolos Amarelos.
As condições físicas dos Argissolos Amarelos não oferecem maiores limitações. A
granulometria permite boa retenção de umidade e boa permeabilidade interna, as
condições para o enraizamento das culturas também são favoráveis, além de o relevo,
onde ocorrem, ser pouco movimentado, favorecendo a mecanização no uso das
terras.
Mais do que a erodibilidade motivada pelo contraste textural nos horizontes superiores
e pelas condições de declividade, a principal restrição prende-se à fertilidade,
representada pelos baixos teores de bases trocáveis e pela desfavorável saturação
por alumínio. No entanto, são solos mormente alumínicos, a CTC é consideravelmente
baixa e os teores de alumínio trocável não são altos, tornando possível a elevação do
pH e o aumento da saturação por bases nos níveis desejáveis com aplicação de doses
relativamente baixas de calcário e fertilizantes.
Distribuem-se em coexistência com os Latossolos Amarelos, assinalados nos baixos
platôs da Região Amazônica, relacionados a sedimentos da Formação Alter-do-Chão.
Assemelham-se aos Argissolos Vermelho-Amarelos, aos Latossolos Amarelos e a
alguns Cambissolos profundos de coloração amarelada. Sua distinção dos Argissolos
Vermelho-Amarelos se faz pela cor (expressão da natureza e teor de óxidos de Ferro
e da relação Al2O3/Fe2O3), que nestes é menos amarela e mais avermelhada, com
notação Munsell em torno de 5 a 7,5YR, enquanto nos Argissolos Amarelos é
predominantemente 10Yr ou próxima. Os Argissolos Vermelho-Amarelos usualmente
apresentam cerosidade, mesmo que pouco desenvolvida, enquanto nos Argissolos
Amarelos, ainda que existente, ela não é aparente, além de o horizonte Bt apresentar
estrutura fraca, com toda presença de um B latossólico.
1.8.3.5. Neossolo Litólico
São solos minerais não-hidromórficos, rudimentares, pouco evoluídos, rasos (<50cm
até o substrato rochoso), com horizonte A ocorrendo diretamente sobre a rocha
coerente e dura, ou cascalheira espessa, ou sobre horizonte C pouco espesso ou
mesmo exíguo Bi. São, portanto, solos com seqüência de horizontes A-R, ou A-C-R
(sendo o C pouco espesso), ou A-Bi-C-R (com um Bi exíguo e C pouco espesso).
Usualmente, contêm elevados teores em minerais primários pouco resistentes ao
intemperismo e variavelmente blocos de rocha semi-intemperizada de diversos
tamanhos.
51
Constituem classe que agrupa solos rasos seqüência A-C-R e aqueles com horizonte
B incipiente muito pouco espesso ou constituído por um horizonte A seguido de rocha
dura e coerente. Quanto à diferenciação de horizontes nesses solos, nada mais há do
que o manifestado no horizonte A e, eventualmente, em um C ou Cr e,
esporadicamente, um ínfimo Bi.
Esses solos apresentam grande diversificação morfológica, sendo também bastante
heterogêneos no que concerne aos atributos químicos, físicos e mineralógicos. Sua
característica comum é a profundidade, arbitrada por muitos pedólogos em menos de
50cm. Alguns têm apenas um horizonte A seguido de rocha (camada R), outros, um
horizonte C ou Cr pouco espesso acima da rocha, admitindo-se também um Bi muito
delgado.
Podem apresentar vários tipos de horizonte A, como o fraco, o moderado, o
proeminente, o chernozêmico (exceto sobre material calcífero) ou o húmico,
imprimindo diversidade à manifestação morfológica dos solos em tudo quanto
dependa, direta ou indiretamente, de sua riqueza em matéria orgânica.
Do ponto de vista químico, físico e mineralógico, são muito heterogêneos e,
ressalvado o que seja decorrência da matéria orgânica, os solos revelam estreita
relação com o material de origem, que influi até na atividade da argila, podendo ser
alta ou baixa. Podem ser eutróficos, distróficos ou alumínicos, com as mais variadas
texturas. É freqüente a presença de relevantes quantidades de minerais primários
facilmente intemperizáveis.
O horizonte B, quando existente, pode apresentar estágios bem variados de
desenvolvimento, desde ligeiras modificações devido à cor ou à estrutura até
alterações mineralógicas expressivas de maior evolução dos solos. Manifestações,
porém, em seção de reduzida espessura, caracterizando-a como B incipiente.
Apresentam limitação muito séria, em vista da pequena espessura, pois o substrato
dificulta ou impede a penetração do sistema radicular das plantas. Por outro lado, a
água de percolação, ao atingir a rocha, tem seu fluxo interrompido ou muito diminuído,
expondo esses solos aos efeitos das enxurradas. Esse fator é mais sério nas áreas
acidentadas, desprotegidas de vegetação original e utilizadas para agricultura ou para
pecuária.
A pequena espessura desses solos e a presença freqüente de cascalhos, pedras e
matacões, aliadas normalmente ao relevo acidentado das áreas de sua ocorrência,
fazem com que sua utilização agrícola seja muito restrita. De modo geral, suas áreas
são mais indicadas para preservação da flora e fauna.
1.8.3.6. Neossolo quartzarênico
Esta classe compreende solos minerais, casualmente orgânicos na superfície,
hidromórficos ou não, geralmente profundos, essencialmente quartzosos, com textura
areia ou areia franca ao longo de pelo menos uma profundidade de 2 metros da
superfície.
As frações areia grossa e areia fina desses solos são constituídas essencialmente de
quartzo, sendo, por conseguinte, virtualmente ausentes os minerais primários
facilmente intemperizáveis.
Nestes solos, os perfis são de extrema simplicidade, limitando a diferenciação à
expressão de um horizonte A formado por materiais sumamente arenosos, de
constituição virtualmente quartzosa. Por vezes, mostram aparência rudimentar do que
pode ser entendido como um quase horizonte B incipiente.
52
As areias presentes são variavelmente mais grossas ou mais finas, compondo texturas
das classes areia ou areia franca; assim é que o máximo de argila vai a 15%, quando
se tem zero de silte, e o máximo vai a 30%, quando se tem zero de argila.
São solos que podem apresentar variavelmente horizonte A moderado ou fraco,
raramente proeminente, ou turfoso, sendo estes mais freqüentes no Neossolo
quartzarênico hidromórfico. Ao horizonte A segue-se um horizonte C solto ou muito
friável, pouco diferenciado, que pode ser amarelado, alaranjado, avermelhado ou de
coloração desbotada.
Devido à constituição essencialmente quartzosa, estes solos são pobres em nutrientes
para as plantas, tanto macro como micronutrientes, além de não disporem de reservas
nutricionais que possam ser liberadas gradativamente. Os Neossolos quartzarênicos
são normalmente alumínicos ou distróficos.
A classe dos Neossolos quartzarênicos hidromórficos, apesar de apresentar lençol
freático elevado durante grande parte do ano e, portanto, drenagem imperfeita ou má,
não chega a apresentar horizonte glei, pois a coloração de suas camadas não adquire
as tonalidades cinzentas azuladas requeridas por aquele horizonte, em decorrência
dos baixos teores de argila.,Não se verifica relevante ganho em croma com a secagem
após mais de meia hora. São solos alumínicos, distróficos ou sódicos. O horizonte A é
o moderado ou proeminente, com ocasional ocorrência de horizonte A turfoso,
tornando o solo de constituição superficialmente orgânica.
Devido à grande quantidade de areia, esses solos, especialmente os que a areia
grossa predomina sobre a fina, tem séria limitação com respeito à capacidade de
armazenamento de água disponível. Apesar de a textura não ser um fator diretamente
relacionado com fertilidade do solo, influi de maneira marcante em vários fenômenos a
ela ligados. Pode-se salientar, entre outros, os seguintes: na fixação de fósforo tanto
menos acentuada quanto menor a porcentagem de argila; na lixiviação e,
conseqüentemente, perda de nitratos; na taxa de decomposição de matéria orgânica;
e na liberação de nitrogênio. Suas sérias limitações restringem o uso com agricultura,
prestando-se mais ao reflorestamento ou à transformação em áreas de preservação
permanente de flora e fauna.
53
Quadro 6. Classes de solo identificadas na área da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, conforme base de dados do SIPAM.
Classes de Solos – SIPAM
Classificação RADAM (Associações)
SC21PVa10 – Podzólico Vermelho
Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico argila de atividade baixa, textura Argissolos
argilosa e Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico, argila de ativadade
baixa textura argilosa, floresta relevo suavemente ondulado
35.307
10
SC21AR – Afloramentos Rochosos
Afloramento Rochoso e solos Litólicos distróficos, argila de atividade Afloramento Rochoso
baixa, textura indiscriminada, savana relevo montanhoso
32.621
10
SC21Ra2
Solos Litólicos, argila de atividade baixa, textura indiscriminada, Neossolos
podzólico vermelho-Amarelo Álico raso, argila de atividade baixa textura
argilosa, floresta e Afloramento Rochoso relevo Fortemente ondulado e
montanhoso
2.865
0,84
SC21PVa12 – Podzólico Vermelho amarelo
Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico, argila de atividade baixa, textura Argissolos
argilosa e Terra Roxa estruturada distrófica, textura argilosa, floresta,
relevo plano e suavemente ondulado
14.603
4
SC21AQd1 – Areias Quartzosas
Areias Quartizosas Álicas, solos Litólicos Álicos, argila de atividade baixa Neossolo Quartzarênico
textura indiscriminada, savana e floresta, relevo plano e suavemente Órtico
ondulado e afloramento rochosos relevo suavemente ondulados.
192.832
56
Areias Qautizosas álicas, relevo plano e suavemente ondulado e solos Neossolo Quartzarênico
SC21AQa2 – Areias Quartizosas álicas latossolos
Litólicos argila de atividade baixa, textura indiscriminada savana e Órtico
vermelho-amarelo álico text. méd.
floresta, relevo suavemente ondulado
32.376
9
Areias Quartizosas Álicas, solos Litólicos Álicos, argila de atividade baixa Neossolo Quartzarênico
textura indiscriminada, savana e floresta, relevo plano e suavemente Órtico
ondulado e afloramento rochosos relevo suavemente ondulados.
6.480
2
SC21PVd7 – Podzólico Vermelho-amarelo distrófico Podzólico Vermelho Amarelo distrófico, argila de atividade baixa textura ARGISSOLOS
at. baixa text arg. latossolo vermelho-amarelo argilosa, Latossolo Vermelho-escuro álico, textura argilosa, floresta,
distrófico text. arg. e latossolo vermelho-escuro relevo suavemente ondulado.
distrófico text. ARG. FL. REL. PL. E S. OND
5.357
2
Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico argila de atividade baixa, textura ARGISSOLOS
argilosa, Terra Roxa Estruturada distrófica, textura argilosa, floresta,
relevo ondulado e fortemente ondulado e Solos Litólicos distróficos,
argila de atividade baixa, textura argilosas, savanas e florestas relevo
fortemente ondulado.
20.143
6
342.584
100
SC21AQd1 – Areias Quartzosas
SC21PVa9 – Podzólico Vermelho
TOTAL
Cassificação Atual
Área em ha
%
54
Quadro 7. Síntese das classes de solos presentes na área da Reserva Biológica Nascentes
da Serra do Cachimbo
Casse de solo
Superfície ocupada na UC
Porcentagem da área da UC
Argissolos
75.410
22,01
Neossolos
234.553
68,47
Afloramento Rochoso
32.621
9,52
1.8.4. Considerações finais
O segmento Cachimbo apresenta solos distintos dos demais segmentos (Figura 3) e é
em geral constituído de Neossolos Quartzarênicos Órticos (RQo), que se caracterizam
pela pobreza de macro e micronutrientes e uma forte predisposição à erosão hídrica
mesmo quando com inclinações suaves. Portanto, são solos inaptos à produção
agrícola e sua vocação natural é a preservação ambiental.
Neste segmento, se observa também, mas em muito menor escala, a presença de PVA
distrófico com inclusões de solos litólicos, que se desenvolvem sob relevo ondulado a
fortemente ondulado, mas que oferecem eventual adequação às explorações sob
sistema de manejo primitivo, mormente às culturas de ciclo permanente, seja para
reflorestamento ou pastagem. É sobre essa classe de solo que se observa
interiorização na ocupação, enquanto que no restante do trecho o desmatamento
restringe-se às áreas próximas da rodovia. Mantém-se neste segmento a regra da
pecuarização, pelas mesmas razões anteriormente descritas. Tais possibilidades de uso
não estão relacionadas, obviamente, à área da Reserva Biológica, em virtude de suas
restrições legais, conforme determina a Lei do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC.
Até as proximidades da Serra do Cachimbo existe predomínio de associações de
Argissolos e Latossolos, geralmente argilosos a muito argilosos, sob influência do
embasamento geológico com rochas ácidas, com algumas áreas de ocorrência de solos
mais vermelhos oriundos de diques rochas máficas. O trecho relacionado à Serra do
Cachimbo apresenta solos muito arenosos, associados com alguns platôs em que
ocorrem solos das classes dos Argissolos e/ou Latossolos. No Erro! Fonte de
referência não encontrada., ao final desse capítulo, é apresentada a nomenclatura
antiga e atual do solo.
Considerando-se a aptidão agrícola dos solos da área, é possível afirmar que nenhuma
das unidades de mapeamento de solos encontradas na área de inserção da Reserva
apresenta boas condições para o aproveitamento agrícola em função das sérias
limitações de fertilidade. Conjugadas com a inexistência de grandes extensões de áreas
planas (chapadões) que permitam uma mecanização agrícola nos moldes encontrados
nas áreas de cerrado do Brasil Central.
55
Figura 17. Mapa de Solos da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo
(segundo SIPAM).
Quadro 8. Legendas de nomenclatura de solo (anterior e atual) Fonte: (EMBRAPA, 1999)
Legenda
antiga
Nomenclatura antiga do solo
Legenda
atual
Nomenclatura atual do solo
A
Solos Aluviais
RU
Neossolo Flúvico
AQ
Areia Quartzosas
RQo
Neossolo Quartzarênico Órtico
HAQ
Areia Quartzosa Hidromórfica
RQg
Neossolo Quartzarênico Hidromórfico
HG
Glei Húmico
GX
Gleissolo Háplico
HGP
Glei Pouco Húmico
GX
Gleissolo Háplico
56
Legenda
antiga
Nomenclatura antiga do solo
Legenda
atual
Nomenclatura atual do solo
LA
Latossolo Amarelo
LA
Latossolo Amarelo; Sufixos (d – distrófico, e – eutrófico)
LV
Latossolo Vermelho
Latossolo Vermelho-Amarelo
LV; LVA
Latossolo Vermelho
Latossolo Vermelho-Amarelo
PB
Argissolo Vermelho-Amarelo
PVA
Argissolo Vermelho-Amarelo
PV
Argissolo Vermelho-Amarelo
PVA
Argissolo Vermelho-Amarelo Sufixo (2 – alumínio)
R
Solos Neossolos
RL
Neossolo Litólico; Sufixos (0 – distrófico, e – eutrófico)
SC
Solos Concrecionários
RR
neossolo Regolítico
TR
Terra Roxa Estruturada
TC
Luvissolo Crômico
As novas classes do sistema, apenas do 1O nível categórico (Ordem) e a
correspodência aproximada com as designações empregadas na classificação que
vinha sendo utilizada, são mostradas a seguir:
ALISSOLOS Solos com alto teor de alumínio e horizonte B textural, anteriormente
conhecidos com Rubrozem, Podzólico Bruno Acinzentado, Podzólico Vermelho-Amarelo
.
ARGISSOLOS Solos com horizonte B textural e argila de atividade baixa, conhecidos
anteriormente como Podzólico Vermelho-Amarelo, parte das Terras Roxas Estruturadas
e similares, Terras Brunas, Podzólico Amarelo, Podzólico Vermelho-Escuro.
CAMBISSOLOS Solos com horizonte B incipiente, assim designados anteriormente.
CHERNOSSOLOS Solos escuros, ricos em bases e carbono. Anteriormente designados
por Brunizem, Rendzina, Brunizem Avermelhado, Brunizem Hidromórfico.
ESPODOSSOLOS Solos conhecidos anteriormente como Podzois.
GLEISSOLOS Solos com horizonte glei, conhecidos como Glei Húmico ou Pouco
Húmico, Hidromórfico Cinzento, Glei Tiomórfico.
LATOSSOLOS Solos com horizonte B latossólico, anteriormente tinham a mesma
designação.
LUVISSOLOS Solos ricos em bases, B textural, correspondendo aos Brunos não
Cálcicos, Podzólicos Vermelho-Amarelos Eutróficos e similares.
NEOSSOLOS Solos Pouco Desenvolvidos, anteriormente designados por Litossolos,
Aluviais, Litólicos, Areias Quartzosas e Regossolos.
NITOSSOLOS Solos com horizonte nítico, correspondendo Terra Roxa Estruturada e
Similar, Terra Bruna Estruturada e Similar, alguns Podzólicos Vermelho-Escuros.
ORGANOSSOLOS Solos orgânicos, conhecidos anteriormente por Solos Orgânicos,
Semi-Orgânicos, Turfosos, Tiomórficos
PLANOSSOLOS Solos com grande contraste textural, estrutura prismática, presença de
sódio, anteriormente designados por Planossolos, Solonetz Solodizado, Hidromórfico
Cinzento.
PLINTOSSOLOS Solos com plintita, conhecidos como Laterita Hidromórfica, Podzólicos
Plínticos, Latossolos Plínticos.
57
VERTISSOLOS Solos com propriedades provenientes de argilas expansíveis.
Anteriormente tinham a mesma designação.
1.8.5. Bibliografia
IBGE. Folha SC.21-Juruena. Levantamento
geomorfologia, pedologia, vegetação,
de
Recursos
Naturais.
Geologia,
uso potencial da terra. Rio de Janeiro, RJ v.20, 1980. 460p. Escala: 1:1.000.000.
LEVANTAMENTO DE RECONHECIMENTO DE BAIXA INTENSIDADE DOS SOLOS
DO ESTADO DE MATO GROSSO Parte 2: Sistematização das Informações
Temáticas - NÍVEL COMPILATÓRIO - DSEE-PD-RT-004 – ZSSE/MT
ECOPLAN. Estudo Prévio de Impacto Ambiental Relativo às Obras de Pavimentação da
Rodovia BR-163/PA: Divisa
MT/PA - Rurópolis e Rodovia BR-230/PA: Entroncamento BR-163/PA – Miritituba. Porto
Alegre, RS: ECOPLAN
ENGENHARIA LTDA. Fevereiro 2002. 50 P.
EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Rio de Janeiro, RJ: Embrapa
Solos. 1999. 412 p.
GONÇALVES, J. L. Interpretação De Levantamento De Solo Para Fins,
SILVICULTURAIS IPEF, n.39, p.65-72, ago.1988 - ESALQ-USP,3400- Piracicaba SP
58
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES DA
SERRA DO CACHIMBO
CARACTERIZAÇÃO BIÓTICA: LEVANTAMENTO DE VEGETAÇÃO NA RESERVA
BIOLÓGICA NASCENTE DA SERRA DO CACHIMBO (PA)
(Relatório Final)
Responsável Técnico: Biol.. Marcos Guerra Sobral
Realização:
INSTITUTO CENTRO
DE VIDA
Apoio:
W W F - BRASIL
Junho de 2006
59
1.9.
Vegetação
Responsável técnico: Marcos Sobral
Colaboradores:
Ayslaner Gallo Oliveira
Jane Maria Oliveira Vasconcellos
Roberta Roxilene dos Santos
Gustavo Vasconcellos Irgang
1.9.1.
Introdução
A vegetação da região da Serra do Cachimbo é escassamente amostrada, existindo
registro de poucas coletas feitas na área.
Até o momento, não existe um inventário detalhado da vegetação da região, sendo os
estudos ali realizados essencialmente descrições da fisionomia da vegetação (por
exemplo, LLERAS e KIRKBRIDE, 1978 fazem uma boa descrição fisionômica, mas
citam somente 15 espécies em seu trabalho).
O esforço de coleta realizado pela equipe resultou em aproximadamente 700 diferentes
espécies coletadas, a grande maioria delas ainda não completamente identificada.
Mesmo assim, o volume de coletas ainda é claramente pequeno em relação à
diversidade da região, o que torna desejável o aprofundamento dos levantamentos
florísticos na área, preferencialmente em períodos mais propícios à floração e
frutificação das espécies, como no começo do período das chuvas.
Até o momento, foram identificadas 521 espécies, distribuídas em 117 famílias
botânicas, sendo 187 espécies reconhecidas apenas até o nível de gênero.
1.9.2.
Método de trabalho
As diversidade de paisagens e formações vegetais da região da Reserva Biológica
Nascentes da Serra do Cachimbo foram inicialmente observadas em dois sobrevôos,
realizados nos meses de abril e dezembro de 2005.
O levantamento florístico da vegetação da Reserva foi realizado em duas campanhas
de campo, uma no mês de julho, época da seca, e outra no mês de dezembro , no início
da época das chuvas. Ao todo foram levantados 9 sítios amostrais, bem como áreas de
potencial interesse evidenciadas na ocasião dos sobrevôos.
O método utilizado foi o de levantamento expedito, com caminhadas ao longo das
áreas, durante as quais eram anotadas as espécies vegetais conhecidas e coletadas
amostras de todas as espécies que encontravam-se férteis, para posterior identificação.
O material botânico coletado nos dois levantamentos de campo foi incorporado no
acervo do herbário da Universidade Federal de Minas Gerais. Grande parte deste
material ainda está em fase de identificação: ou aguarda a resposta dos especialistas
para quem foi enviada ou deverá ser identificada por comparação com as coleções
contidas nos herbários do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e do Instituto Emílio
Goeldi.
60
Sempre que possível, foram adicionadas observações sobre as formações
vegetacionais, incluindo fatores como estrutura da vegetação, solo, relevo, etc.
1.9.3.
Classificação da Vegetação da região da Reserva Biológica Nascentes
da Serra do Cachimbo
A região ao norte do Mato Grosso e sul do Pará, denominada Portal da Amazônia,
caracteriza-se por ser uma área de transição entre a florestas úmidas da Amazônia e os
cerrados do Brasil Central.
O Projeto RADAMBRASIL fez uma classificação detalhada para a cobertura vegetal
desta região (DNPM / RADAMBRASIL, 1980; IBGE, 1992), incluindo Floresta Ombrófila
Densa Submontana, Floresta Ombrófila Aberta Submontana, Floresta Estacional
Semidecidual Submontana, Savana ou Cerrado (Florestado ou Cerradão, Arborizado e
Gramínio-Lenhoso) e Formações Pioneiras com influência fluvial (comunidades
aluviais).
Considerou, também, as diferentes faciações de cada uma destas formações, tais
como: Floresta Ombrófila Densa Submontana com dossel uniforme ou com dossel
emergente; Floresta Ombrófila Aberta Submontana com palmeiras, com cipós, com
bambus ou com sororocas; Floresta Estacional Semidecidual com dossel uniforme ou
com dossel emergente.
Além destas principais tipologias, classificou as áreas de transição entre as mesmas, ou
áreas de Tensão Ecológica, como Ecótono (mistura florística entre tipos de vegetação)
ou Encrave (áreas disjuntas que se contatam) e incluiu áreas consideradas como
Refúgios Vegetacionais (comunidades relíquias).
Esta classificação da vegetação foi posteriormente revisada pelo SIPAM, que
reclassificou para Campinarana (campina) as áreas, desta região, anteriormente
interpretadas como Cerrado ou Savana, podendo esta se apresentar nas formas
árbórea densa ou florestada, árbórea aberta ou arborizada e gramíneo-lenhosa.
PIRES & PRANCE (1985) apresentaram uma classificação para a vegetação da
Amazônia brasileira com categorias bem abrangentes, pela qual, na região da Reserva,
haveria apenas quatro fitofisionomias: Campina, Campo Rupestre, Floresta Inundada
(igapó) e Floresta de Terra Firme. Neste trabalho, os autores salientam a importância
ecológica das classes de vegetação não florestais, na Amazônia, muitas vezes
consideradas de pouca expressão devido a sua ocorrência restrita à pequenas áreas.
Na realidade, tanto de acordo com uma ou outra classificação, o que ocorre nesta
região é um mosaico de formações vegetais onde, em pequenos espaços, ocorrem
consideráveis mudanças na estrutura e composição da vegetação, com áreas de
encraves e zonas de transição (ecótonos), em que a mistura florística entre diferentes
tipos de vegetação dificulta sua identificação.
Porém, conforme o mapeamento feito pelo SIPAM, os 342.477 hectares que constituem
a Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo estão incluídos no domínio da
Floresta Ombrófila Sub-Montana (32%) e Campinaranas (30%), em suas diversas
fitofisionomias e contatos entre estas diversas formações (34%), contendo ainda
pequenas manchas de Floresta Estacional e áreas antropogênicas, como segue:
• Floresta Ombrófila Aberta Sub-Montana (82.194 ha ou 24%), compreendendo as
formas com palmeiras, com cipós e com emergentes.
61
• Floresta Ombrófila Densa Submontana (27,398 ha ou 8%), compreendendo as formas
com palmeiras, dossel com emergentes e refúgio vegetacional montano herbáceo.
• Campinaranas (102.743 ha ou 30%), incluindo as formas arborizada ou aberta,
florestada (sem palmeiras) e gramíneo-lenhosa.
• Floresta Estacional Semidecidual Submontana tipo dossel com emergentes (6.849 há
ou 2%), incluindo Refúgio Vegetacional Montano herbáceo.
• Contatos entre as diversas formações (116.442 ha ou 34%): Campinarana / Floresta
Ombrófila – encrave / Floresta Ombrófila Densa Submontana dossel com emergente /
Campinarana florestada sem palmeiras / Vegetação Secundária sem palmeiras /
Savana / Floresta Estacional – encrave / Floresta Estacional Decidual Submontana
dossel com emergentes / Savana florestada.
• Vegetação antropogênica (secundária, pastagens e agropecuária) (cerca de 6.850 ha
ou 2%).
O Quadro 1 apresenta a classificação detalhada da vegetação da Reserva e o Erro!
Fonte de referência não encontrada.2 apresenta a classificação da vegetação dos
sítios amostrados na Avaliação Ecológica Rápida, com base na classificação
RADAMBRASIL / SIPAM.
Nota-se que nesta classificação a Savana ou Cerrado aparece apenas numa pequena
área de ecótono e a vegetação das margens dos cursos d´água, Floresta Aluvial, não
foi identificada.
Quadro 1. Classificação detalhada da vegetação da Reserva Biológica Nascentes
da Serra do Cachimbo, segundo mapeamento do SIPAM.
Classes de Vegetação – SIPAM
Área
em ha
%
Campinarana Arborizada sem palmeiras
17.123
5
Campinarana Arborizada sem palmeiras +Campinarana Florestada sem palmeiras 23.973
7
Campinarana Arborizada sem palmeiras +Campinarana Gramíneo – lenhosa sem
23.973
palmeiras
7
Campinarana Florestada sem palmeiras
650
0,19
Campinarana Gramíneo – lenhosa sem palmeiras
10.274
3
Campinarana Gramíneo – lenhosa sem palmeiras +Campinarana Arborizada sem
27.398
palmeiras
8
Contato Campinarana / Floresta Ombrófila – encrave/Floresta Ombrófila Densa
685
Submontana Dossel emergente +Campinarana Florestada sem palmeiras
0,20
Contato Campinarana / Floresta Ombrófila – encrave/Floresta Ombrófila Densa
Submontana Dossel emergente + Campinarana Florestada sem palmeiras 30.823
+Floresta Ombrófila Densa Submontana Dossel emergente
9
Contato Campinarana / Floresta Ombrófila – encrave/Floresta Ombrófila Densa
Submontana Dossel emergente +Campinarana Florestada sem palmeiras 82.194
+Vegetação Secundária sem palmeiras
24
Contato Savana / Floresta Estacional – encrave/Floresta Estacional Decidual
3.424.
Submontana Dossel emergente +Savana Florestada
1
62
Floresta Estacional Semidecidual Submontana Dossel emergente +Refúgio
3.424
Vegetacional Montano herbáceo +Agropecuária (crops and livestock)
1
Floresta Ombrófila Aberta Submontana com palmeiras +Floresta Ombrófila Aberta
82.194
Submontana com cipó +Floresta Ombrófila Densa Submontana Dossel emergente
24
Floresta Ombrófila Densa Submontana
3.424
1
Floresta Ombrófila Densa Submontana Dossel emergente
6.849
2
Floresta Ombrófila Densa Submontana Dossel emergente +Floresta Ombrófila
13.699
Aberta Submontana com palmeiras
4
Floresta Ombrófila Densa Submontana Dossel emergente +Floresta Ombrófila
3.424
Aberta Submontana com palmeiras +Refúgio Vegetacional Montano herbáceo
1
Agropecuária (crops and livestock) +Floresta Estacional Semidecidual
34
0,01
Pecuária (pastagens) +Contato Campinarana / Floresta Ombrófila
1.472
0,43
Pecuária (pastagens)
Ombrófila Aberta
239
0,07
6.849
2
Refúgio Vegetacional Montano herbáceo +Floresta Estacional Semidecidual 3.424
Submontana Dossel emergente
1
Vegetação Secundária sem palmeiras +Floresta Ombrófila Densa
3.424
1
TOTAL
342.477 100
+Culturas
Cíclicas
+Vegetação
Secundária.Floresta
Refúgio Vegetacional Montano herbáceo
Quadro 2. Classificação detalhada da vegetação dos sítios amostrados na AER,
realizada na Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, segundo
SIPAM.
Sítio Código
1
2
3
Área
em ha
Las+Lgs
%
Campinarana Arborizada sem palmeiras+ Campinarana 1.039
Gramineo - lenhosa sem palmeiras
LOc/Dse+Lds+ Contato
Campinarana
/
Floresta
Ombrofila
– 218
Vss
encrave/Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente+
Campinarana
Florestada
sem
palmeiras+Vegetacao Secundaria sem palmeiras
83
Lgs+Las
10
Campinarana
Gramineo
lenhosa
sem 130
palmeiras+Campinarana Arborizada sem palmeiras
LOc/Dse+Lds+ Contato
Campinarana
/
Floresta
Ombrofila
– 1.131
Vss
encrave/Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente+Campinarana
Florestada
sem
palmeiras+Vegetacao Secundaria sem palmeiras
Asp+Asc+Dse
Ds
4
Classe de vegetação - SIPAM
Floresta
Ombrofila
Aberta
Submontana
com 1.088
palmeiras+Floresta Ombrofila Aberta Submontana com
cipo+Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente
Floresta Ombrofila Densa Submontana
166
LOc/Dse+Lds+ Contato
Campinarana
/
Floresta
Ombrofila
– 156
Vss
encrave/Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente+Campinarana
Florestada
sem
palmeiras+Vegetacao Secundaria sem palmeiras
17
90
87
13
12
63
Fse+rmh+Ag
Asp+Asc+Dse
rmh
5
Asp+Asc+Dse
Dse+Asp
Floresta Estacional Semidecidual Submontana Dossel 406
emergente+Refugio
Vegetacional
Montano
herbaceo+Agropecuaria (crops and livestock)
Floresta
Ombrofila
Aberta
Submontana
com 675
palmeiras+Floresta Ombrofila Aberta Submontana com
cipo+Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente
Refugio Vegetacional Montano herbaceo
20
Floresta
Ombrofila
Aberta
Submontana
com 221
palmeiras+Floresta Ombrofila Aberta Submontana com
cipo+Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente
Floresta
Ombrofila
Densa
Submontana
Dossel 1.035
emergente+Floresta Ombrofila Aberta Submontana com
palmeiras
32
54
2
18
82
6
LOc/Dse+Lds+ Contato
Campinarana
/
Floresta
Ombrofila
– 1.255
Vss
encrave/Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente+Campinarana
Florestada
sem
palmeiras+Vegetacao Secundaria sem palmeiras
100
7
Asp+Asc+Dse
86
Dse+Asp
8
9
Floresta
Ombrofila
Aberta
Submontana
com 1.082
palmeiras+Floresta Ombrofila Aberta Submontana com
cipo+Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente
Floresta
Ombrofila
Densa
Submontana
Dossel 169
emergente+Floresta Ombrofila Aberta Submontana com
palmeiras
Las+Lgs
13
Campinarana Arborizada sem palmeiras+Campinarana 894
Gramineo - lenhosa sem palmeiras
LOc/Dse+Lds+ Contato
Campinarana
/
Floresta
Ombrofila
– 363
Vss
encrave/Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente+Campinarana
Florestada
sem
palmeiras+Vegetacao Secundaria sem palmeiras
71
LOc/Lds+Las+
Dse
25
Asp+Asc+Dse
Dse+Asp
Contato
Campinarana
/
Floresta
Ombrofila
– 319
encrave/Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente+Campinarana
Florestada
sem
palmeiras+Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente
Floresta
Ombrofila
Aberta
Submontana
com 264
palmeiras+Floresta Ombrofila Aberta Submontana com
cipo+Floresta Ombrofila Densa Submontana Dossel
emergente
Floresta
Ombrofila
Densa
Submontana
Dossel 671
emergente+Floresta Ombrofila Aberta Submontana com
palmeiras
29
21
53
O mapeamento detalhado, localizando todas as formações vegetais que ocorrem no
interior da Reserva, de acordo com esta classificação acima apresentada, somente
poderá ser elaborado após levantamentos específicos para este fim.
Porém, para os fins do presente estudo, foi possível a elaboração de um mapa
contendo uma síntese das classes de vegetação que ocorrem na região, definidas a
partir da interpretação dos padrões de uso e cobertura do solo, identificados em uma
imagem de satélite CBERS 16/07/2005.
64
Esta síntese, demonstrada no Quadro 3 e no mapa da Figura 1, apesar de bastante
simplificada em relação às classificações anteriormente comentadas, se mostrou
suficiente e adequada para embasar os diagnósticos temáticos desenvolvidos na
presente Avaliação Ecológica Rápida da Reserva.
Quadro 3.Síntese das classes fisionômicas que ocorrem na Reserva, identificados
em uma imagem de satélite CBERS 16/07/2005
Classe Fisionômica
Água
Campinarana Aberta
Campinarana Densa
Floresta Aberta
Floresta Densa
Vegetação Rupestre
Floresta Aluvionar
Área Antropizada
Área Queimada
Área em
hectares
1.027
92.468
75.344
51.371
44.522
10.274
41.097
17.123
10.274
%
0.3
27
22
15
13
3
12
5
3
65
Figura 18. Mapa de Vegetação da Reserva elaborado a partir da interpretação de
imagem de satélite CBERS 16/07/2005.
66
1.9.4.
Caracterização geral da vegetação
1.9.4.1. Descrição das classes de vegetação identificadas na Reserva
Considerando as principais formações vegetais identificadas e mapeadas na Reserva,
esta pode ser descrita como um mosaico de ambientes submontanos (100 até 600m de
altitude, entre 40 de Latitude N e 160 de Latitude S), que variam e se alternam muito
rapidamente.
A Floresta Ombrófila Submontana (Figura 2) ocorre predominantemente em sua forma
aberta, com palmeiras, com cipós e dossel com emergentes, mas também aparece, em
menor proporção, em sua forma densa, principalmente nos locais mais baixos e com
solos mais profundos.
A Floresta Ombrófila Densa Submontana, como o próprio nome indica, é formada por
árvores muito próximas, com copas em alturas aproximadamente uniformes, formando
um dossel contínuo. As árvores podem chegar aos 40 – 50 metros de altura e as
palmeiras são bem menores. Geralmente ocupam solos medianamente profundos.
A castanheira (Bertholletia excelsa), palmiteiro (Euterpe precatoria) e a sororoca
(Phenakospermum guianense), são espécies características destas florestas.
A fisionomia da Floresta Ombrófila Aberta Submontana é marcada pela disposição
espaçada das árvores, o que permite a passagem da luz, favorecendo o
desenvolvimento de cipós ou trepadeiras, de palmeiras (e, algumas vezes, de bambus).
Em alguns locais, os cipós desenvolvem-se tanto que podem envolver completamente
as árvores de maior porte, transformando-as nas denominadas ‘torres de cipó (climber
towers).
As palmeiras são mais comuns nas áreas mais baixas.
No levantamento florístico da Reserva, foram até o momento identificadas 45 espécies
de trepadeiras, entre as quais Aristolochia didyma, Piptocarpha sp, Anthodon
decussatum, Davilla cf. rugosa, Acacia sp, Bauhinia guianensis, Bauhinia kunthiana,
Machaerium macrophyllum, Souroubea guianensis, Cissus verticillata e Cardiospermum
halicacabum. e 15 espécies de palmeiras (Allagoptera sp., Astrocaryum cf. aculeatum,
Astrocaryum cf. vulgare, Attalea cf. funifera, Attalea maripa, Bactris sp., Euterpe cf.
precatória, Iriartea deltóidea, Mauritia flexuosa, Mauritiella aculeata, Mauritiella armata,
Oenocarpus distichus, Socratea exorrhiza, Syagrus cf. inajai e Attalea sp), as quais não
são exclusivas desta formação.
67
Figura 2.Perfis esquemáticos de floresta ombrófila da região conforme Britaldo in INPE
Sd2
A Floresta Estacional Semidecidual Submontana não é característica desta região,
mas ocorre em pequenas manchas, onde o relevo é acidentado, principalmente nas
encostas, onde o solo é mais raso e mais sujeito aos efeitos da seca. Nos topos, podem
ocorrer manchas de Refúgio Vegetacional Montano herbáceo.
De acordo com o ZEE – MT (SEPLAN-MT, 1998), “na região norte do estado, esta
formação está relacionada aos relevos mais dissecados onde ocorre, sob a forma de
encraves, em contato com a Floresta Ombrófila, revestindo afloramentos rochosos e,
portanto, solos mais rasos com menor disponibilidade de água”.
A composição florística destas florestas inclui mamica (Zanthoxylum sp.), jaracatiá
(Jaracatia sp), jatobá (Hymenaea courbaril), embiruçu (Pseudobombax sp.) todas
decíduas no período de estiagem, conforme ZEE-MT (SEPLAN-MT, 1998), e também,
Guarea sp, Croton balanostigma, Schyzolobium sp. e Urera baccifera, entre outras,
formando um perfil conforme a
Figura 3.
68
Figura 3.Perfil esquemático de floresta estacional da região conforme Britaldo in INPE Sd2
As Campinaranas, que ocupam cerca de 30% da área da Reserva, com os perfis
ilustrados na Figura 19, constituem a formação regional menos conhecida, merecendo
uma discussão mais aprofundada.
De acordo com PIRES & PRANCE (1985) e RICHARDS (1996), o termo Campinarana é
geralmente aplicado a um tipo de vegetação que se desenvolve sobre solos arenosos
extremamente pobres (oligotróficos), na maioria dos casos, hidromórficos e ricos em
ácido húmico. Engloba um complexo mosaico de formações não florestais, porém não
savânicas, com ocorrência esporádica, mas freqüente, em toda a região Amazônica.
Segundo IBGE (1992), ocorrem em solos Podzol Hidromórficos e Areias Quartzosas
Hidromórficas das planícies aluviais. Ocupa áreas tabulares arenosas, bastante
lixiviadas pelas chuvas durante os últimos 10.000 anos, ocorrendo também em
depressões fechadas, suficientemente encharcadas no período chuvoso e sob a
influência dos grandes rios que cortam a região.Esse complexo está encravado no
domínio das planícies terciárias de terra firme,
SILVEIRA (2003), citando KLINGE & HERRERA (1978), ANDERSON, (1981), MEDINA
ET AL. (1990) E DALY & MITCHELL (2000), caracteriza as Campinaranas da seguinte
forma:
... “Vegetação com subosque de porte baixo e irregularmente aberto, com densidade
alta de árvores pequenas e finas, escassez de árvores emergentes, lianas e epífitas e
abundância de elementos com esclerofilia pronunciada, folhas esclerófilas perenes e
pequenas, com aparência xeromófica, e valores baixos de diversidade. Outra
característica distintiva é a presença de uma rede espessa, compacta e flexível de
raízes finas, sobre o solo, que em alguns casos pode apresentar até um metro de
espessura. Comparada com as florestas crescendo em outros tipos de solo, essa
vegetação apresenta uma proporção muito maior de raízes finas na fitomassa e utiliza a
própria matéria orgânica que deposita no ambiente, como fonte de nutrientes.
Pelo fato de estarem localizadas em uma mesma zona climática que as florestas
adjacentes, mais que a pluviosidade e a temperatura, o solo é um dos fatores
determinantes dos contrastes entre esse sistema e as florestas vizinhas. Além do solo,
a seca fisiológica sazonal causada pela diminuição da altura do lençol freático, também
limita o estabelecimento e o crescimento das plantas, sendo que a seca pode chegar a
condições extremas onde o lençol freático é profundo e a areia porosa não permite a
ascensão da água. A variação fisionômicoestrutural das formações sobre areia branca
está diretamente correlacionada com a variação sazonal na altura do lençol freático e,
consequentemente, com a duração da alagação anual.”
69
De acordo com IBGE (1992), as Campinaranas podem ser classificadas em três subgrupos: arbórea densa ou florestada; arbórea aberta ou arborizada e gramíneo-lenhosa.
SILVEIRA (2003), ao caracterizar as Campinaranas do Estado do Acre, denomina a
Campinarana arbórea densa como Campinarana lato sensu e a descreve da seguinte
forma: esta tipologia caracteriza-se pela densidade alta de árvores finas com altura
média de 8-10 m, com um gradiente vegetacional caracterizado por diferenças na
composição florística, na altura do dossel e emergentes, e na densidade de caules,
determinadas pelas condições de drenagem do solo.
Em áreas úmidas ou nas depressões alagáveis existe uma densidade alta de árvores
finas até 5-7 m e raras emergentes, com até 15 m, com sistema radicular
essencialmente superficial. Nesses locais existem associações herbáceas envolvendo
Pteridófitas, Danaea oblanceolata e Elaphoglossum e Anthurium atropurpureum
(Araceae), que crescem em pequenas elevações formadas por suas próprias raízes, o
que mantêm as partes aéreas dessas plantas acima do nível das inundações
temporárias durante as chuvas.
Nas depressões periodicamente alagadas, onde o lençol freático está muito próximo da
superfície, existem raízes pneumatóforas.
Em áreas mais secas pode ocorrer um tipo de Campinarana com dossel denso e
árvores emergentes com até 30-35 m formado por Dendropanax (Araliaceae), Protium
heptaphyllum (Burseraceae), Platycarpum (Rubiaceae), palmeiras, como, Astrocaryum
(Murmurú) e Oenocarpus (Patauá), e um estrato herbáceo-arbustivo, com até 3 m, que
pode ser dominado por espécies das famílias Melastomataceae e Rubiaceae, onde
também é comum a ocorrência da palmeira Caranaí Lepidocaryum tenue (Arecaceae),
com até 3,0 m de altura.
A Campinarana aberta é descrita pelo mesmo autor como uma formação vegetal
esclerófila, com porte muito baixo (< 3m) para os padrões da vegetação amazônica,
restrita a manchas de vegetação com alta incidência lumínica ao nível do solo, e
fisionomicamente muito semelhante às moitas arbustivas das restingas litorâneas.
Na porção superficial do solo existe uma camada de 15-20 cm de espessura formada
por uma rede intrincada e macia de raízes finas, que cede aos passos, dando uma
impressão de que o terreno é “flexível”. Abaixo desse verdadeiro “tapete” de raízes
existe uma camada de solo arenoso, húmico, e de coloração preta, também com 1520 cm de espessura, e abaixo desta, areia branca e úmida. Esta camada de areia tornase mais úmida com o aumento da profundidade, indicando a presença de um lençol
freático muito superficial.
A rede de raízes está irregularmente distribuída no ambiente, e é coberta por
Pteridófitas, pelo liquen fruticuloso do gênero Cladonia (Cladoniaceae) e algumas
espécies de ervas. Nos locais onde o solo fica completamento exposto, ocorrem ervas
como, Xyris jupicai (Xyridaceae) e Eriocaulum, todas raramente encontradas em outros
ambientes.
O estrato arbustivo é amplamente dominado por diversas espécies de Rubiaceae e de
Melastomataceae.
O estrato arbóreo é composto por poucas árvores esparsas, com 5-6 m. As lianas e
epífitas são raras, mas é comum a presença de uma espécie de hemi-parasita,
Phthirusa (Loranthaceae) e de uma espécie de Gesneriaceae hemiepífita que abriga
‘jardins-de-formiga’, a 1,5-2,0 m de altura.
70
A Campinarana gramíneo-lenhosa é descrita como pequenas faixas de vegetação,
onde o solo é mais úmido e húmico, com o estrato herbáceo extremamente denso,
dominado por 3-4 espécies de gramíneas, ciperaceas e pteridófitas. No estrato
arbustivo ocorrem principalmente espécies de Rubiaceae e Melastomataceae, enquanto
no estrato arbóreo, com porte de 3-4 metros, dominam árvores pequenas com folhas
coriáceas e caule tortuoso, como Ilex divaricata (Aquifoliaceae), Emmotum acuminatum
(Icacinaceae), Humiria (Humiriaceae), e Pachira brevipes (Bombacaceae), que
conferem a essa tipologia a semelhança dos Campos Sujos associados aos Cerrados
do planalto central.
As Campinaranas da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo apresentam
características e composição florística muito semelhantes a estas descrições feitas para
as Campinaranas do Estado do Acre.
Formações vegetais sobre areia branca com estas características fisionômicas ocorrem
em vários locais da Amazônia brasileira e também na Venezuela ("Bana"), no Peru
("Varillal"), na Colômbia, Suriname e Guiana (GENTRY, 1977; JORDAN, 1985;
ANDERSON, 1981; IBGE, 1992).
Em IBGE (1992), há uma recomendação para que seja adotado o termo Campinarana
para designar esta formação, em detrimento do termo Campina, tanto por questão de
prioridade (Ducke utilizou este termo em 1938) como para evitar confusão com as
‘campinas’ do sul do país.
Figura 19.Perfis esquemáticos de campinaranas da região conforme Britaldo in INPE Sd2
Campinarana
Campinarana
Florestada
A Floresta Aluvionar, também denominada Formação Pioneira com Influência Fluvial,
é uma fitofisionomia característica dos terrenos aluvionares que refletem os efeitos das
cheias dos rios ou das depressões periodicamente alagáveis. Sua estrutura e
composição podem variar conforme as condições do ambiente, principalmente as
condições de drenagem, mas de um modo geral apresentam o perfil demonstrado na
(Figura 20)
71
Figura 20.Perfil esquemático de floresta aluvionar da região conforme Britaldo in INPE Sd2
1.9.5. Resultados do levantamento florístico
No estudo de campo realizado nas duas etapas da Avaliação Ecológica Rápida foram
coletadas aproximadamente 700 diferentes espécies, no interior da Reserva. Cerca de
30% deste material ainda encontram-se em fase de estudo e não constam neste
relatório. Parte deste material foi enviada para especialistas e parte está sendo
identificada pelo responsável técnico, por comparação com as coleções contidas nos
herbários do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e do Instituto Emílio Goeldi.
Até o momento, foram identificadas 521 espécies, distribuídas em 117 famílias
botânicas, sendo 187 espécies reconhecidas, até o momento, apenas até o nível de
gênero. A lista completa dos taxa já identificados, com informação sobre seus habitos,
consta como Anexo deste relatório..
Destacam-se 10 famílias com 10 ou mais espécies: Melastomataceae, com 17 gêneros
e 56 espécies, sendo 28 do gênero Miconia; Fabaceae, com 34 gêneros e 43 espécies;
Rubiaceae com 12 gêneros e 32 espécies; Euphorbiaceae, com 13 gêneros e 21
espécies; Myrtaceae, com 8 gêneros e 16 espécies e as famílias Arecaceae,
Asteraceae, Malvaceae, Cyperaceae e Apocinaceae, entre 15 e 10 espécies.
Mais da metade das 117 famílias identificadas (67 famílias) estão presentes com
apenas 1 ou 2 espécies.
RIBEIRO ET AL. (1999) apresentam a seguinte descrição para estas famílias com maior
representatividade:
•
Melastomataceae: está entre as maiores famílias do mundo, com 4500-5000
espécies, distribuídas em 185 gêneros. Apresenta diversos tipos de hábitos (árvores,
arbustos, ervas, lianas ou hemiepífitas). Quatro gêneros, Clidemia, maieta, Tococa e
Myrmidone têm associação com formigas e apresentam domáceas na base de suas
folhas. A polinização da família é principalmente entomófila. Varias espécies tem frutos
adocicados e comestíveis, a dispersão é feita por aves e pelo vento. A família não tem
grande valor econômico. Seus usos incluem ornamentação (Tibouchina), frutos
comestíveis e produção de tintas (Bellucia).
•
Papilionoidae é uma das três subfamílias de Fabaceae (Leguminosa), com
aproximadamente 500 gêneros e mais de 10000 espécies. Tem distribuição bastante
ampla nas zonas tropicais, subtropicais, estendendo-se às regiões temperadas, com
maior concentração nos trópicos americanos e africanos. Com representantes em
diversos hábitos incluindo ervas, lianas e árvores. A polinização é feita por beija-flores,
morcegos e insetos, principalmente por abelhas. Os frutos são dispersos por aves,
roedores, morcegos, pelo vento e pela água. Sementes e frutos de muitos gêneros são
ricos em proteínas, vitaminas, carboidratos e minerais. Na Amazônia a subfamilia
Papilionoidae é também conhecida pelo seu valor econômico, com plantas nutritivas, de
valor medicinal, uso artesanal e produção de madeira.
72
•
Arecaceae, uma das maiores famílias do mundo, a família das palmeiras dividise em 6 subfamílias que incorporam aproximadamente 200 gêneros e cerca de 1500
espécies. Seu centro de distribuição está situado nos trópicos, ocorrendo em todos os
estratos da floresta. As palmeiras são associadas a uma grande diversidade de insetos.
Sua polinização e feita por abelhas, moscas, besouros (principalmente por espécies da
família Curculionídeos), pelo vento ou muitas vezes tem polinização mista. A dispersão
dos frutos se dá pela água, aves e mamíferos. A família pertence ao grupo mais
importante de plantas úteis, particularmente na região Amazônica, sendo o palmito, os
frutos e sementes importantes fontes de alimento e comércio; os caules são usados
para a construção de casa e cercas; as folhas para telhados, redes, bolsas e roupas e o
caule e folhas de algumas espécies também são queimados para obtenção de sal.
•
Rubiaceae: família com cerca de 10700 espécies, distribuídas em 637 gêneros,
é uma das maiores do mundo, ocorrendo predominantemente em regiões tropicais, com
hábitos de ervas, arbustos, árvores, lianas e epífitas. Apresenta grande numero de
polinizadores, destacando-se mariposas, borboletas, abelhas e beija-flores. Os frutos
podem ser secos ou carnosos, dispersos pelo vento, por pássaros, morcegos ou
pequenos mamíferos. As associações com formigas são comuns. Existem espécies
com importância econômica, medicinal, ornametal e espécies tóxicas para o gado como
Palicourea sp. e Psychotria sp.
•
Asteraceae: é provavelmente a maior família entre as Angiospermas, estando
representada por cerca de 25.000 espécies, em cerca de 1600 gêneros. Encontrada em
todos os continentes, apresentando um maior número de espécies em formações
vegetacionais campestres e montanhosas. Com hábitos principais como ervas ruderais,
lianas herbáceas ou lenhosas, também associadas a áreas alteradas ou secundárias. A
polinização ocorre por aves e insetos. A dispersão ocorre pelo vento, água e animais,
incluindo o homem. Esta família tem largo emprego como alimento, ornamental,
inseticida natural e na fabricação de fármacos.
•
Malvaceae: tem cerca de 88 gêneros e 2500 espécies distribuídos nas regiões
tropicais, subtropicais e temperadas, especialmente na América do Sul. São
principalmente ervas, mas também ocorrem arbustos e árvores de madeira leve e de
rápido crescimento. Polinizada principalmente por beija-flores, abelhas, besouros e
raramente por morcegos. Frutos dispersos aderidos aos pelos dos mamíferos. Com
espécies de importância econômica, alimentícia e medicinal.
•
Myrtaceae: constituída por cerca de 140 gêneros, com aproximadamente 3 000
espécies, de ocorrência principal em regiões tropicais. Os principais polinizadores são
as abelhas, especialmente Anthophoridae spp., Megalopta sp. Melipona sp.,Trigona
spp, e Epicharis sp., incluindo também uma espécie de mosca, Ormidia sp. e duas
espécies de trips (Thysanoptera sp1 e sp2.). Os frutos são bagas pouco carnosas,
adocicadas ou cítricas, geralmente taníferas (travosos), mas com potencial comestível.
Varias espécies são usadas na medicina popular, produzem óleos essenciais, são
comestíveis e ornamentais; algumas espécies fornecem madeira bastante dura e
flexível e são boas colonizadoras de ambientes alterados.
•
Euphorbiaceae: é uma das maiores e mais variáveis famílias de dicotiledôneas,
distribuída em todo o mundo, especialmente nos trópicos e subtrópicos, somando cerca
de 7 500 espécies e 300 gêneros. Podem tem hábitos de ervas, lianas lenhosas ou
herbáceas, arbustos, arvoretas ou arvores de grande porte. O hábito cactiforme do
gênero Euphorbia possui apenas um representante neotropical no Nordeste brasileiro. A
família é polinizada por insetos, abelhas e mamíferos, como marsupiais, macacos e
morcegos. A dispersão é realizada por aves e formigas e de forma balistocoria
(explosiva).
73
•
Cyperaceae, família cosmopolita, com cerca de 90 gêneros e 4000 espécies,
das quais 845 ocorrem nos Neotrópicos, geralmente em solos úmidos. Compõe-se de
ervas cespitosas, rizomatosas. Provavelmente polinizadas pelo vento e por insetos. A
dispersão pode ser epi ou endozoocória ou, ainda, hidrocórica. Algumas espécies são
utilizadas na cestaria, forrageira para gado e uso medicinal, merecendo destaque a
Cyperus papirus utilizadas na confecção de papel pelas antigas civilizações da idade
antiga.
•
Orchidaceae: é uma das famílias mais diversificadas do mundo, onde é
representada por 20 000 a 25 000 espécies e cerca de 725 gêneros, com distribuição
cosmopolita. São sempre herbáceas, autotrófitas ou saprófitas, epífitas, terrestres ou
rupícolas. As flores das orquídeas são polinizadas por uma grande variedade de
animais, entre eles, abelhas, borboletas, mariposas pequenas, moscas e beija-flores,
com estratégias muitas vezes altamente elaboradas para o sucesso da polinização
cruzada; a autogamia também é encontrada em algumas espécies. A dispersão das
sementes se faz principalmente pelo vento. A família tem sua maior importância
econômica na produção de plantas ornamentais, aromáticas e medicinais.
•
Poaceae: família cosmopolita, com cerca de 650 gêneros e 10 000 espécies.
Compõe-se de ervas cespitosas, estoloníferas, rastejantes, aquáticas ou ainda
lenhosas. Polinizadas pelo vento e por insetos. A dispersão pode ser anemocórica,
endo ou exozoocórica. A família é de grande importância econômica incluindo espécies
utilizadas na alimentação, na medicina popular, como pastagem, na construção civil e
como ornamental.
•
Solanaceae: compreende 3 000 espécies e 90 gêneros com ampla distribuição,
principalmente nas regiões tropicais e subtropicais da América do Sul. Ocorre em
floresta primaria (epífitas), áreas desmatadas e de regeneração, em campinas
alteradas, ambientes abertos de solo arenoso. Inclui árvores pequenas (arbustos), ervas
ou trepadeiras inermes ou com acúleos, glabros ou com pêlos simples, ramificados ou
estrelados. A polinização é feita principalmente por insetos, beija-flores, e a dispersão
por animais. A família é conhecida por espécies de grande importância alimentar,
condimentar, ornamental, medicinal e espécies venenosas, como muitas de gênero
Solanum.
1.9.6.
Descrição dos Sítios amostrais
1.9.6.1.
Sítio Amostral 1
Este ponto caracteriza-se por apresentar altidude média de 623 m (variando entre 584 e
708 m), 7 graus de declividade máxima, apresenta solo do tipo areia quartzosa, formado
sobre rochas de arenito e calcáreo, relevo tabular e situa-se nas bacias hidrográficas
dos rios Curuá (91%) e Curuaés (9%).
A maior parte da vegetação dessa área é formada por Campinarana Aberta (83%)
chamada localmente de “cerrado”, com árvores esparsas, de até 7 m de altura,
entremeadas com arbustos, ervas e subarbustos, alternando muitos trechos de solo
exposto, sem cobertura vegetal, com alguns trechos com marcante acúmulo de
serapilheira, tornado-o macio ao caminhar (fenômeno localmente chamado “estopa”).
Ao longo de um transecto, com extensão de 1.000m, foi possível a identificação de três
fitofisionomias diferentes: Campinarana Densa, com solo arenoso; área de transição
com vegetação característica de Campinarana Densa e, nas porções mais baixas
74
(próximo ao afluente do rio Curuá), vegetação característica de Floresta Aluvionar, com
predominância de solo hidromórfico.
Quanto à composição florística, no estrato arbóreo há presença destacada dos gêneros
Crepidospermum e Protium (da família Burseraceae), Byrsonima (Malpighiaceae),
Mimosa e Senna (Fabaceae), Vantanea (Humiriaceae), Licania (Chrysobalanaceae) e
das espécies Pouteria cf. torta (Sapotaceae), Myrcia subsessilis (Myrtaceae), Caryocar
brasiliense (Caryocaraceae) e Emmotum nitens (Icacinaceae).
No estrato arbustivo, são freqüentes Casearia cf. javitensis (Salicaceae), Bauhinia sp.
(Fabaceae), Rhabdodendron sp. (Rhabdodendraceae), Spiranthera odoratissima
(Rutaceae) e arbustos apoiantes dos gêneros Heteropterys (Malpighiaceae) e
Bredemeyera (Polygalaceae);
No estrato herbáceo há diversas espécies de gramíneas (Poaceae), Rhynchospora
(Cyperaceae), e subarbustos com xilopódios, como Kielmeyera sp. (Clusiaceae),
Eugenia sp. (Myrtaceae) e Anacardium cf. humile (Anacardiaceae), e presença
abundante de uma espécie de líquen do gênero Cladonia.
1.9.6.2.
Sítio Amostral 2
Este sítio amostral se caracteriza por apresentar altidude média de 563 m (sendo 648m
a máxima), 24 graus de declividade máxima, sendo 4,3 graus a declividade média,
apresenta solo do tipo areia quartzosa, formado sobre rochas de arenito e calcáreo,
relevo tabular e situa-se totalmente dentro da bacia hidrográfica do Rio Curuaés.
A maior parte da vegetação dessa área é formada por Campinarana Densa, com dossel
chegando a 20 m de altura, com ocasionais árvores emergentes; presença de epífitos
moderada (predominantemente espécies de Araceae, Orchidaceae e Pteridófitas). O
solo arenoso è mais profundo que o da área 1, com boa quantidade de serapilheira.
Embora existam trechos de vegetação bem preservada, o ambiente está bastante
fragmentado, inclusive na Floresta Aluvionar.
Nessa área, verificou-se durante a segunda campanha de campo, que o ambiente foi
bastante alterado devido à passagem de um tornado pelo local, com a derrubada de
muitas árvores de grande porte. Os efeitos desse fenômeno meteorológico, ao que
parece, foram particularmente acentuados nesta área, devido ao efeito de borda criado
com a instalação de pastagens em quase todo seu entorno.
Estrato arbóreo com presença acentuada de Vochysia cf. divergens (Vochysiaceae).
Sub-bosque com diversas espécies de Protium (Burseraceae), Hirtella
(Chrysobalanaceae), Miconia (Melastomataceae), Trichilia (Meliaceae) e, na beira das
estradas, espécies de Cecropia (Urticaceae).
No estrato herbáceo é visível a presença de Psychotria poeppigiana (Rubiaceae),
gramíneas (Poaceae) e espécies de Scleria (Cyperaceae).
1.9.6.3.
Sítio Amostral 3
Este sítio amostral se caracteriza por apresentar altidude média de 495 m (sendo 556m
a máxima), 18 graus de declividade máxima, sendo 3,3 graus a declividade média,
apresenta solo do tipo areia quartzosa (64%) e Podzólico Vermelho Amarelo distrófico
(35%), formado sobre rochas de arenito e calcáreo, com relevo tabular e formas de
dissecação convexa e está situado totalmente dentro da bacia hidrográfica do Rio
Curuaés.
75
O sítio 3 compreende a formação de diferentes fitofisionomias, sendo influenciadas
pelas cotas topográficas, juntamente com as mudanças de solo. O levantamento ao
longo de um transecto (1.000m) permitiu estabelecer o predomínio da Floresta Aberta,
com ocorrência ocasional de mogno (Swietenia macrophylla, Meliaceae) e notável
densidade de pteridófitas de diversas espécies.
Nessa área destaca-se a ocorrência de um afloramento rochoso, de pequenas
proporções (aproximadamente 500 m2), onde ocorre vegetação rupestre, com a
presença de espécies de Anthurium (Araceae), Begonia (Begoniaceae), Mimosa
(Fabaceae) e Gelasine (Iridaceae), entre outras e arvoretas de Lueheopsis (Malvaceae)
e Syagrus (Arecaceae). Nesses afloramentos foram observadas também diversas
espécies de Orchidaceae (com marcante predominância do gênero Epidendrum). Estes
dados indicam esses afloramentos como áreas de singularidade fitogeográfica.
1.9.6.4.
Sítio Amostral 4
Esta área apresenta altidude média de 380m (sendo 552m a máxima), 30 graus de
declividade máxima, sendo 7,1 graus a declividade média, apresenta solo de areia
quartzosa (45%), com afloramentos rochosos (55%), formado sobre rochas de arenito e
calcário e relevo tabular, situando-se totalmente dentro da bacia hidrográfica do Rio
Nilana.
Foi observada a presença de Floresta Densa, com dossel bastante denso, em torno de
20 m de altura, com algumas árvores emergentes de 30 m ou mais; presença de
epífitos moderada (predominantemente espécies de Araceae, Orchidaceae e
Pteridófitas). O solo arenoso, com grande conteúdo de matéria orgânica e serapilheira
evidente.
Estrato arbóreo com presença de Guarea sp. (Meliaceae), Bertholletia excelsa
(Lecythidaceae), Pouteria sp. (Sapotaceae), Protium sp. (Burseraceae), Coussapoa sp.
(Urticaceae), Hymenaea parvifolia e Parkia pendula (ambas Fabaceae), Xylopia
brasiliensis (Annonaceae) e Caryocar sp. (Caryocaraceae). Sub-bosque com Euterpe
precatoria, Astrocaryum cf. vulgare e Bactris sp. (todas Arecaceae), e os gêneros
Trichilia (Meliaceae), Miconia (Melastomataceae), Cecropia (Urticaceae) e Heliconia
(Heliconiaceae).
Estrato herbáceo com gramíneas (Poaceae), Scleria sp. (Cyperaceae), Costus sp.
(Costaceae) e ocasionalmente Xiphidium coeruleum . (Haemodoraceae).
Segundo a classificação do RADAMBRASIL / SIPAM, nesta área ocorre Refúgio
Vegetacional Montano herbáceo, mas este não chegou a ser identificado.
1.9.6.5.
Sítio Amostral 5
Esta área apresenta altidude média de 338m (sendo 520m a máxima), 26 graus de
declividade máxima, sendo 5,4 graus a declividade média; apresenta solo de areia
quartzosa (94%), com alguns afloramentos rochosos (6%), formado sobre rochas de
arenito e calcário (79%) e aluviões atuais (21%), com relevo tabular e formas de
dissecação convexa; situa-se totalmente dentro da bacia hidrográfica do Rio Curuaés.
A vegetação próximo do rio Pitchatcha é do tipo Floresta Densa, com dossel bastante
fechado, com altura entre 20 e 30 m, com algumas árvores emergentes e escassa
presença de epífitos. Solo arenoso, com matéria orgânica e serapilheira evidentes.
76
Estrato arbóreo com presença de Hymenaea parvifolia e Copaifera cf. langsdorffii
(ambas Fabaceae), Caryocar (Caryocaraceae), Vochysia cf. divergens (Vochysiaceae),
Tabebuia sp. (Bignoniaceae), Pouteria sp. (Sapotaceae).
Sub-bosque com os gêneros Protium (Burseraceae), Trichilia (Meliaceae), Miconia
(Melastomataceae) e Cecropia (Urticaceae).
Estrato arbustivo com Erythrochiton
(Heliconiaceae), entre outras.
brasiliense
(Rutaceae)
e
Heliconia
sp.
Estrato herbáceo com predominância de Poaceae e Cyperaceae.
1.9.6.6.
Sítio Amostral 6
Esta área apresenta altidude média de 591 m (sendo 635 a máxima), 11 graus de
declividade máxima, sendo 2,7 graus a declividade média; apresenta solo de areia
quartzosa (39%) e Podzólico Vermelho (61%), formado sobre rochas de arenito e
calcário com relevo tabular (84%) e formações erosivas/ inselberg (16%); situa-se
totalmente na bacia hidrográfica do Rio Nilana.
Área próxima ao acapamento utilizado na AER, já havia sido parcialmente antropizada,
devido sua utilização como acampamento de funcionários de uma serraria.
Foi observada a ocorrência de Campinarana Densa, com dossel entre 15 e 20 m, com
ocasionais emergentes; solo arenoso com matéria orgânica e serapilheira evidente.
Estrato arbóreo com destaque para Licania sp. (Chrysobalanaceae), Vochysia sp. e
Qualea sp. (ambas Vochysiaceae), Dipteryx odorata (Fabaceae) Ambelania sp.
(Apocynaceae) e Meliosma sp. (Sabiaceae).
Sub-bosque com Trichilia sp. (Meliaceae) e Siphoneugenia dussii (Myrtaceae), entre
outras.
1.9.6.7.
Sítio Amostral 7
Este sítio possui altidude média de 305 m (sendo 422 a máxima), 24 graus de
declividade máxima, sendo 3,2 graus a declividade média; apresenta solo de areia
quartzosa (54%) e afloramentos rochosos (46%), formado sobre rochas de arenito e
calcário (7%) e areia / latito (42%), com relevo tabular (60%) e formas de dissecação
convexa (40%); situa-se totalmente na bacia hidrográfica do Rio Curuaés.
Em um transecto de 1000m de extensão, foi possível observar a ocorrência de três tipos
predominantes de vegetação: Floresta Ombrófila Densa, com presença de espécies
características como castanheira (Bertholletia excelsa) e palmiteiro (Euterpe precatória);
Floresta Aluvionar, onde o transecto se aproxima de corpos d’água, ocorrendo uma
diminuição considerável das cotas altimétricas e Campinarana Aberta, quando as cotas
altimétricas aumentam consideravelmente e o solo torna-se predominantemente
arenoso, com locais com grande quantidade de serrapilheira sob as formações vegetais
e locais com solo exposto, sem vegetação. Chama a atenção a presença acentuada de
Vochysia cf. divergens (Vochysiaceae) no estrato arbóreo da Campinarana.
Sítio Amostral 8
Este sítio possui altidude média de 615 m (sendo 673 a máxima), 15 graus de
declividade máxima, sendo 3,4 graus a declividade média; apresenta solo de areia
quartzosa, formado sobre rochas de arenito e calcário e relevo com formas de
dissecação convexa; situa-se na bacia hidrográfica do Rio Braço Norte.
77
Apresenta fitofisionomia característica de Campinarana Aberta e Floresta Aluvionar .
1.9.6.8.
Sítio Amostral 9
Este sítio possui altidude média de 400 m (sendo 491 a máxima), 24 graus de
declividade máxima, sendo 4,7 graus a declividade média; apresenta solo de areia
quartzosa, formado sobre rochas de arenito e calcário (96%) e rochas do Complexo
Xingu (4%), com relevo tabular (93%) e formas de dissecação convexa (7%); situa-se
na bacia hidrográfica do Rio Ipiranga.
Neste sítio observou-se as fitofisionomias características de Floresta Ombrófila com
palmeiras e Floresta Aluvionar.
A seguir é apresentada a categorização dos Sítios amostrais para Análise Intertemática
com Base nas Informações sobre Flora Obtidas na Avaliação Ecológica Rápida (AER)
para a elaboração do Plano de Manejo da Reserva Biológica Nascentes da Serra do
Cachimbo (Quadro 4).
Quadro 4: Avaliação dos Sítios amostrais de vegetação.
sitio trecho latitude longitude
I
1
ambiente
750500 8992000 Campinarana Humiria balsamifera, Caryocar
brasiliense, Emmotum nitens, Myrcia
subsessilis, Rhabdodendron
amazonicum
750490 8992356 Floresta
Heliconia spp., Retiniphyllum sp.
Ciliar
754200 8997600 Floresta
Vochysia sp., Qualea sp., Miconia
chrysophylla, Heisteria sp., Protium
sp.
I
2
II
3
III
5
762609 9009000 Floresta
IV
7
779000 8996000 Floresta
V
10
776000 9014000
VI
11
763000 8996760
VII
13
752706 8986359
VIII
14
espécies características
750760 8983519
Swietenia macrophylla, Metrodorea
sp.,Esenbeckia sp., Ardisia
guianensis
Bertholletia excelsa, Hymenaea
parvifolia, Copaifera sp., Caryocar
microcarpum, Parkia pendula
Hymenaea parvifolia, Caryocar
microcarpum, Tabebuia sp., Apeiba
tibourbou, Heliconia spp.,
Erythrochiton brasiliense
Licania cf. paraensis, Vochysia sp.,
Qualea sp., Ambelania sp.
Retiniphyllum sp., Pagamea sp.,
Byrsonima spp., Rapatea sp.
Vochysia sp., Protium cf.
amazonicum, Jacaratia heptaphylla
categoria
do ponto
pressões
pontuação
da pressão
Fogo
A
Fogo
A
Fogo,
extração de
madeira
Fogo,
extração de
madeira
Fogo,
extração de
madeira
Fogo,
extração de
madeira
Fogo,
extração de
madeira
Fogo
Fogo,
extração de
madeira
A
A
A
A
A
A
A
.
1.9.7. Ocorrência de endemismos
Com as informações obtidas até o momento não foi possível precisar a ocorrência de
endemismos na área de estudo. À medida que o material coletado for adequadamente
identificado estas informações serão conhecidas.
78
1.9.8.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, A. B. 1981. White-sand vegetation of Brazilian Amazonia. Biotropica
13:199-210.
DALY, D.C. & MITCHELL, J. 2000. Lowland vegetation of tropical south America.
Pp.391-453, in D.L. LENTZ ed. Columbia University Press, New York.
DNPM-Departamento Nacional de Produção Mineral 1980 Projeto RADAMBRASIL:
Levantamento de Recursos Naturais. DNPM, Rio de Janeiro
GENTRY, A. H. 1977. Endemic plant species and habitats of Ecuador and Amazonian
Peru. Pp.136-149 in G. T. Prance & T. Elias, eds. Extinction is forever. New York
Botanical Garden, New York.
JORDAN, C. F. 1985. Soils of the Amazon Rainforest. Pp.83-105 in G. T. Prance & T. E.
Lovejoy, eds. Key environments: Amazonia. Pergamon Press, Oxford.
IBGE 1992 Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro: FIBGE,.
(Manuais Técnicos de Geociências, no 1).
KLINGE, H. & R. HERRERA. 1978. Biomass studies in Amazon caatinga forest in southern
Venezuela. 1. Standing crop of composite root mass in selected stands. Tropical
Ecology 19(1): 93-110.
LLERAS, E.; J. KIRKBRIDE Jr. 1978. Alguns aspectos da vegetação da Serra do
Cachimbo. Acta Amazonica 8: 51-65.
MEDINA, E.V. GARCÍA & E. CUEVAS. 1990. Sclerophylly and oligotrophic environments:
relationships between leaf structure, mineral nutrient content, and drought
resistance in tropical rain forests of the upper Río Negro region. Biotropica
22(1): 51-64.
PIRES, J. M. & G. T. PRANCE. 1985. The vegetation types of the Brazilian Amazon.
Pp.109-145 in G. T. Prance & T. E. Lovejoy, eds. Key environments: Amazonia.
Pergamon Press, Oxford.
RICHARDS, P. W. 1996. The tropical rainforests: an ecological study. Cambridge
University Press, Cambridge.
SEPLAN-MT 1998. Diagnóstico e Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico –ZEE
– MT. Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral –
SEPLAN,Cuiabá.
SILVEIRA, M. 2003. Vegetação e Flora das Campinaranas do Sudoeste
Amazônico (JU – 008). S. O. S. Amazônia; WWF Brasil, Relatório Técnico, Rio
Branco, Estado do Acre.
79
1.9.9. ANEXO
Lista das famílias, gêneros e espécies de plantas já identificadas na área da
Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo. (Hábito: ar - árvore; ab arbusto; ep - epífito; er - erva; hp - hemiparasito; sa - subarbusto; tr - trepadeira.)
FAMÍLIA
ESPÉCIE
HÁBITO
Acanthaceae
Justicia sp.
er
Acanthaceae
Lepidagathis alopecuroidea (Vahl) R.Br. ex Griseb.
er
Acanthaceae
Mendoncia sp.
tr
Acanthaceae
Ruellia exserta Wassh. & J.R.Wood
tr
Acanthaceae
Ruellia sp.
er
Achariaceae
Lindackeria paludosa (Benth.) Gilg
av
Amaranthaceae
Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze
er
Amaranthaceae
Alternanthera martii Moq.
er
Amaranthaceae
Cyathula prostrata (L.) Blume
er
Amaranthaceae
Gomphrena sp.
er
Amaranthaceae
Gomphrena virgata Mart.
er
Amaryllidaceae
Hippeastrum sp.
er
Anacardiaceae
Anacardium cf. humile A.St.-Hil.
sa
Anacardiaceae
Anacardium sp.
ar
Anacardiaceae
Tapirira sp.
av
Annonaceae
Annona sp.
sa
Annonaceae
Guatteria sp.
ar
Annonaceae
Rollinia sp.
ar
Annonaceae
Xylopia aromatica A.St.-Hil.
ar
Annonaceae
Xylopia brasiliensis Spreng.
ar
Annonaceae
Xylopia emarginata Mart.
ar
Apocynaceae
Ambelania sp.
ar
Apocynaceae
Aspidosperma sp.
ar
Apocynaceae
Fischeria stellata (Vell.) E.Fourn.
tr
Apocynaceae
Hemipogon sprucei E.Fourn.
er
Apocynaceae
Himatanthus sp.
ar
Apocynaceae
Mandevilla tenuifolia (J.C.Mikan) Woodson
er
Apocynaceae
Tabenaemontana angulata Mart. ex Müll.Arg.
ab
Apocynaceae
Tabenaemontana flavicans Willd. ex Roem. & Schult.
ab
Apocynaceae
Tabernaemontana heterophylla Vahl
ab
Apocynaceae
Tabernaemontana sp.
ar
Aquifoliaceae
Ilex divaricata Mart. ex Reissek
ab
Aquifoliaceae
Ilex sp.
av
Araceae
Anthurium cf. lindmanianum Engl.
ep
Araceae
Asterostigma sp.
er
Araceae
Dieffenbachia cf. seguine (Jacq.) Schott
ab
Araceae
Monstera sp.
ep
Araceae
Urospatha sp.
er
Araceae
Philodendron sp.
ep
Araliaceae
Dendropanax sp.
av
Araliaceae
Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire et al.
ar
Araliaceae
Schefflera sp.
ar
Arecaceae
Allagoptera sp.
sa
Arecaceae
Astrocaryum cf. aculeatum G.Mey.
ar
80
FAMÍLIA
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Arecaceae
Aristolochiaceae
Aristolochiaceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Begoniaceae
Bignoniaceae
Bignoniaceae
Bignoniaceae
Bignoniaceae
Bixaceae
Bixaceae
Boraginaceae
Boraginaceae
Boraginaceae
Boraginaceae
Bromeliaceae
Bromeliaceae
Bromeliaceae
Bromeliaceae
Burmanniaceae
Burseraceae
Burseraceae
Burseraceae
Burseraceae
Burseraceae
ESPÉCIE
Astrocaryum cf. vulgare Mart.
Attalea cf. funifera Mart.
Attalea maripa (Aubl.) Mart.
Bactris sp.
Euterpe cf. precatoria Mart.
Iriartea deltoidea Ruiz & Pav.
Mauritia flexuosa L.f.
Mauritiella aculeata (Kunth) Burret
Mauritiella armata (Mart.) Burret
Oenocarpus distichus Mart.
Socratea exorrhiza (Mart.) H.Wendl.
Syagrus cf. inajai (Spruce) Becc.
Attalea sp.
Aristolochia didyma S.Moore
Aristolochia sprucei Mast.
Acanthospermum australe (Loefl.) Kuntze
Baccharis sp.
Bidens pilosa L.
Elephantophus mollis Kunth
Emilia cf. sonchifolia (L.) DC.
Eupatorium sp.
Gochnatia sp.
Ichthyothere sp.
Mikania sp.
Piptocarpha sp.
Rolandra fruticosa (L.) Kuntze
Tilesia baccata (L.) Pruski
Vernonia sp.
Begonia prieuri DC.
Arrabidaea sp.
Jacaranda sp.
Mussatia sp.
Tabebuia sp.
Bixa arborea Huber
Cochlospermum cf. orinocense (Kunth) Steud.
Cordia nodosa Lam.
Cordia sp.
Heliotropium filiforme Lehm.
Tournefortia sp.
Aechmea sp.
Ananas sp.
Dyckia sp.
Pitcairnia sp.
Burmannia capitata (Walter ex J.F.Gmel.) Mart.
Crepidospermum goudotianum (Tul.) Triana & Planch.
Crepidospermum sp.
Dacryodes microcarpa Cuatrec.
Protium altsonii Sandwith
Protium amazonicum (Cuatrec.) Daly
HÁBITO
ar
ar
ar
ab
ar
ar
ar
ar
ar
ar
ar
ar
ar
tr
tr
er
ab
er
er
er
ab
ab
ab
tr
tr
er
ab
ab
er
ab
ar
tr
ar
av
ar
ar
ar
er
tr
ep
er
er
ep
er
av
av
av
av
av
81
FAMÍLIA
Burseraceae
Campanulaceae
Cannabaceae
Cannabaceae
Caricaceae
Caricaceae
Caryocaraceae
Caryocaraceae
Celastraceae
Celastraceae
Celastraceae
Celastraceae
Celastraceae
Celastraceae
Celastraceae
Chloranthaceae
Chrysobalanaceae
Chrysobalanaceae
Chrysobalanaceae
Clusiaceae
Clusiaceae
Clusiaceae
Clusiaceae
Clusiaceae
Clusiaceae
Clusiaceae
Clusiaceae
Cochlospermaceae
Combretaceae
Combretaceae
Combretaceae
Connaraceae
Convolvulaceae
Costaceae
Cucurbitaceae
Cucurbitaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Dichapetalaceae
ESPÉCIE
Protium sp.
Centropogon cornutus (L.) Druce
Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent
Trema micrantha (L.) Blume
Jacaratia cf. heptaphylla (Vell.) DC.
Jacaratia spinosa (Aubl.) DC.
Caryocar brasiliense Cambess.
Caryocar glabrum (Aubl.) Pers.
Anthodon decussatum Ruiz & Pav.
Cheiloclinium belizense (Standl.) A.C.Sm.
Cheiloclinium cognatum (Miers) A.C.Sm.
Maytenus sp.
Peritassa sp.
Salacia sp.
Tontelea micrantha (Mart. ex Schult.) A.C.Sm.
Hedyosmum brasiliense Miq.
Hirtella sp.
Licania octandra (Hoffmanns. ex Roem. & Schult.)
Kuntze
Licania sp.
Calophyllum sp.
Caraipa densiflora Mart.
Clusia cf. renggerioides Planch. & Triana
Clusia sp.
Garcinia sp.
Kielmeyera rosea (Spreng.) Mart.
Kielmeyera sp.
Tovomita sp.
Cochlospermum orinocense (Kunth) Steud.
Buchenavia capitata (Vahl) Eichler
Buchenavia sp.
Terminalia sp.
Rourea sp.
Ipomoea sp.
Costus sp.
Gurania sp.
Siolmatra sp.
Calyptrocarya angustifolia Nees ex Kunth
Cryptangium uliginosum Nees
Cyperus sp.
Diplacrum sp.
Diplasia karatifolia Rich.
Exochogyne amazonica C.B.Clarke
Lagenocarpus sp.
Rhynchospora sp.
Scleria comosa (Nees) Steud.
Scleria cyperina Willd. ex Kunth
Scleria sp.
Fuirena sp.
Dichapetalum sp.
HÁBITO
ar
er
ar
ar
av
av
ar
ar
tr
ab
av
ab
ab
ab
tr
ar
ar
av
ar
ar
av
ar
ar
ar
ab
sa
ar
av
av
ar
av
ab
tr
er
tr
tr
er
er
er
er
er
er
er
er
er
er
er
er
ab
82
FAMÍLIA
Dilleniaceae
Dilleniaceae
Dioscoreaceae
Dioscoreaceae
Droseraceae
Elaeocarpaceae
Eriocaulaceae
Eriocaulaceae
Eriocaulaceae
Eriocaulaceae
Eriocaulaceae
Eriocaulaceae
Erythroxylaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
ESPÉCIE
Davilla cf. rugosa Poir.
Doliocarpus sp.
Dioscorea melastomifolia Uline
Dioscorea trifida L.f.
Drosera sp.
Sloanea eichleri K.Schum.
Eriocaulon sp.
Paepalanthus sp.
Paepalanthus villipes Moldenke
Syngonanthus caulescens (Poir.) Ruhland
Syngonanthus fertilis (Körn.) Ruhland
Syngonanthus sp.
Erythroxylum sp.
Alchornea discolor Pöpp.
Aparisthmium cordatum (Juss.) Baill.
Conceveiba guianensis Aubl.
Croton cf. urucurana Baill.
Croton gossypiifolius Vahl
Croton palanostigma Klotzsch
Croton sp.
Euphorbia brasiliensis Lam.
Euphorbia sp.
Hevea brasiliensis (Willd. ex A.Juss.) Müll.Arg.
Jatropha cf. elliptica (Pohl) Oken
Mabea sp.
Manihot caerulescens Pohl
Manihot cf. gracilis Pohl
Manihot pentaphylla Pohl emend. D.J.Rogers & Appan
Manihot quinquepartita Huber ex D.J.Rogers & Appan
Manihot sp.
Maprounea cf. guianensis Aubl.
Microstachys bidentata (Mart. & Zucc.) Esser
Omphalea sp.
Sapium glandulosum (L.) Morong
Abrus fruticulosus Wight & Arn.
Acacia sp.
Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr.
Bauhinia guianensis Aubl.
Bauhinia kunthiana Vogel
Bauhinia sp.
Bowdichia virgilioides Kunth
Calliandra sp.
Campsiandra sp.
Cedrelinga sp.
Chaetocalyx sp.
Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip
Chamaecrista hispidula (Vahl) H.S.Irwin & Barneby
Chamaecrista sp.
Copaifera cf. langsdorffii Desf.
HÁBITO
tr
tr
tr
tr
er
ar
er
er
er
er
er
er
ab
av
av
av
ar
ar
ar
ab
er
er
ar
er
av
ab
sa
sa
ab
ab
ar
sa
tr
ar
tr
tr
ar
tr
tr
ab
ar
ab
ar
ar
tr
ab
ab
ab
ar
83
FAMÍLIA
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Gentianaceae
Gentianaceae
Gesneriaceae
Haemodoraceae
Heliconiaceae
Humiriaceae
Humiriaceae
Humiriaceae
Humiriaceae
Humiriaceae
Humiriaceae
Hypericaceae
Hypericaceae
Hypericaceae
Hypericaceae
Hypericaceae
Hypericaceae
Icacinaceae
Iridaceae
Iridaceae
Ixonanthaceae
ESPÉCIE
Copaifera cf. piresii Ducke
Crotalaria pilosa Mill.
Derris sp.
Desmodium sp.
Dialium guianense (Aubl.) Sandwith
Dimorphandra sp.
Diplotropis sp.
Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong
Erythrina sp.
Hymenaea parvifolia Huber
Inga marginata Willd.
Lonchocarpus sp.
Machaerium macrophyllum Benth.
Machaerium sp.
Mimosa calliandroides Hoehne
Mimosa sp.
Mucuna sp.
Parkia cachimboensis H.C.Hopkins
Parkia multijuga Benth.
Parkia pendula (Willd.) Benth. ex Walp.
Schizolobium parahyba (Vell.) S.F.Blake
Senna sp.
Stryphnodendron polyphyllum Mart.
Swartzia recurva Pöpp.
Tachigali paniculata Aubl.
Tachigali sp.
Tephrosia cf. toxicaria (Sw.) Pers.
Coutoubea spicata Aubl.
Irlbachia nemorosa (Willd. ex Roem. & Schult.) Merr.
Drymonia semicordata (Pöpp.) Wiehler
Xiphidium coeruleum Aubl.
Heliconia sp.
Humiria cf. balsamifera Aubl.
Humiria sp.
Humiriastrum cuspidatum (Benth.) Cuatrec.
Humiriastrum sp.
Sacoglottis guianensis Benth.
Vantanea sp.
Vismia bemerguii M.E.Berg
Vismia cayennensis (Jacq.) Pers.
Vismia guianensis (Aubl.) Pers.
Vismia japurensis Reichardt
Vismia latifolia (Aubl.) Choisy
Vismia sp.
Emmotum nitens (Benth.) Miers
cf. Trimezia sp.
Cipura paludosa Aubl.
Ochthocosmus barrae Hallier f.
HÁBITO
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FAMÍLIA
Lacistemaceae
Lamiaceae
Lamiaceae
Lamiaceae
Lamiaceae
Lamiaceae
Lamiaceae
Lauraceae
Lauraceae
Lauraceae
Lauraceae
Lecythidaceae
Lecythidaceae
Limnocharitaceae
Linaceae
Loganiaceae
Loganiaceae
Loranthaceae
Loranthaceae
Lythraceae
Lythraceae
Lythraceae
Lythraceae
Malpighiaceae
Malpighiaceae
Malpighiaceae
Malpighiaceae
Malpighiaceae
Malpighiaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Marantaceae
Marcgraviaceae
Marcgraviaceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
ESPÉCIE
Lacistema sp.
Aegiphila sp.
Amasonia angustifolia Mart. & Schauer
Hyptis mutabilis (Rich.) Briq.
Hyptis sp.
Marsypianthes sp.
Vitex cf. megapotamica (Spreng.) Moldenke
Aniba sp.
Nectandra sp.
Ocotea guianensis Aubl.
Ocotea sp.
Bertholletia excelsa Bonpl.
cf. Couratari sp.
Limnocharis flava (L.) Buchenau
Hebepetalum humiriifolium (Planch.) Benth.
Spigelia sp.
Strychnos sp.
Psittacanthus cf. redactus Rizzini
Psittacanthus robustus (Mart.) Mart.
Cuphea egleri Lourteig
Cuphea froesii Lourteig
Cuphea sp.
Physocalymma scaberrimum Pohl
Blepharandra cachimbensis W.R.Anderson
Byrsonima crispa A.Juss.
Byrsonima eugeniifolia Sandwith
Byrsonima sp.
Heteropterys sp.
Tetrapterys sp.
Apeiba sp.
Byttneria sp.
Ceiba pentandra (L.) Gaertn.
Helicteres sp.
Lueheopsis rosea (Ducke) Burret
Lueheopsis sp.
Mollia lepidota Spruce ex Benth.
Pachira sp.
Pavonia fruticosa (Mill) Fawcett & Rendle
Pseudobombax sp.
Theobroma sp.
Urena lobata L.
Waltheria cf. americana L.
Monotagma sp.
Schwartzia brasiliensis (Choisy) Bedell ex GiraldoCañas
Souroubea guianensis Aubl.
Aciotis purpurascens (Aubl.) Triana
Bellucia beckii Renner
Bellucia grossularioides (L.) Triana
Clidemia capitellata (Bonpl.) D.Don
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FAMÍLIA
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
ESPÉCIE
Clidemia dentata D.Don
Clidemia hirta (L.) D.Don
Clidemia rubra (Aubl.) Mart.
Graffenrieda weddellii Naudin
Henriettea sp.
Henriettella ovata Cogn.
Leandra solenifera Cogn.
Loreya mespiloides Miq.
Macairea radula (Bonpl.) DC.
Macairea theresiae Cogn.
Macairea thyrsiflora DC.
Maieta poeppigii Mart. ex Cogn.
Marcetia sp.
Meriania cf. crassiramis (Naudin) Wurdack
Meriania urceolata Triana
Miconia aff. stellulata Gleason
Miconia alata (Aubl.) DC.
Miconia albicans (Sw.) Triana
Miconia alborufescens Naudin
Miconia ampla Triana
Miconia chrysophylla (Rich.) Urb.
Miconia ciliata (Rich.) DC.
Miconia cowanii Wurdack
Miconia cuspidata Naudin
Miconia dodecandra Cogn.
Miconia elegans Cogn.
Miconia fallax DC.
Miconia heliotropoides Triana
Miconia holosericea (L.) DC.
Miconia ibaguensis (Bonpl.) Triana
Miconia longispicata Triana
Miconia melinonis Naudin
Miconia minutiflora (Bonpl.) DC.
Miconia myriantha Benth.
Miconia nervosa (Sm.) Triana
Miconia pileata DC.
Miconia prasina (Sw.) DC.
Miconia punctata (Desr.) D.Don
Miconia pyrifolia Naudin
Miconia rubiginosa (Bonpl.) DC.
Miconia rufescens (Aubl.) DC.
Miconia splendens (Sw.) Griseb.
Miconia stenostachya DC.
Miconia tomentosa (Rich.) D.Don
Microlicia sp.
Mouriri cf. apiranga Spruce ex Triana
Mouriri cf. brevipes Hook.
Mouriri pusa Gardner
Tibouchina aegopogon Cogn.
HÁBITO
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FAMÍLIA
Melastomataceae
Melastomataceae
Melastomataceae
Meliaceae
Meliaceae
Meliaceae
Meliaceae
Meliaceae
Menispermaceae
Menispermaceae
Menispermaceae
Monimiaceae
Moraceae
Moraceae
Moraceae
Moraceae
Moraceae
Moraceae
Moraceae
Myristicaceae
Myrsinaceae
Myrsinaceae
Myrsinaceae
Myrsinaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Nyctaginaceae
Ochnaceae
Ochnaceae
Ochnaceae
Olacaceae
Onagraceae
Orchidaceae
Orchidaceae
Orchidaceae
ESPÉCIE
Tibouchina sp.
Tococa guianensis Aublet
Tococa nitens (Benth.) Triana
Cabralea canjerana Vell.
Cedrela odorata L.
Guarea sp.
Swietenia macrophylla King
Trichilia quadrijuga Kunth
Abuta grandifolia (Mart.) Sandwith
Cissampelos tropaeolifolia DC.
Cissampelos sp.
Mollinedia sp.
Clarisia ilicifolia (Spreng.) Lanj. & Rossberg
Dorstenia amazonica Carauta et al.
Dorstenia cf. asaroides Hook.
Ficus catappifolia Kunth & Bouché
Ficus eximia Schott
Maclura tinctoria (L.) Steud.
Sorocea guilleminiana Gaudich.
Virola sebifera Aubl.
Ardisia guianensis (Aubl.) Mez
Cybianthus detergens Mart.
Cybianthus minutiflorus Mez
Cybianthus sp.
Calyptranthes sp.
Campomanesia cf. aromatica (Aubl.) Griseb.
Eugenia cf. bimarginata DC.
Eugenia cf. florida DC.
Eugenia flavescens DC.
Eugenia punicifolia (Kunth) DC.
Marlierea caudata McVaugh
Myrcia amazonica DC.
Myrcia bracteata (Rich.) DC.
Myrcia guianensis (Aubl.) DC.
Myrcia multiflora (Lam.) DC.
Myrcia splendens (Sw.) DC.
Myrcia subsessilis O.Berg
Myrciaria floribunda (H.West ex Willd.) O.Berg
Psidium guineense Sw.
Siphoneugena dussii (Krug & Urb.) Proença
Guapira sp.
Cespedesia spathulata (Ruiz & Pav.) Planch.
Ouratea sp.
Sauvagesia sp.
Heisteria sp.
Ludwigia sp.
Encyclia patens Hook.
Epidendrum dendrobioides Thunb.
Epidendrum nocturnum Jacq.
HÁBITO
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FAMÍLIA
Orchidaceae
Orchidaceae
Orchidaceae
Passifloraceae
Passifloraceae
Phyllanthaceae
Phyllanthaceae
Phyllanthaceae
Phyllanthaceae
Phyllanthaceae
Phytolaccaceae
Piperaceae
Piperaceae
Piperaceae
Piperaceae
Piperaceae
Piperaceae
Piperaceae
Piperaceae
Piperaceae
Plantaginaceae
Poaceae
Poaceae
Poaceae
Poaceae
Poaceae
Poaceae
Poaceae
Poaceae
Podostemonaceae
Polygalaceae
Polygalaceae
Polygalaceae
Polygalaceae
Polygonaceae
Proteaceae
Quiinaceae
Quiinaceae
Rapateaceae
Rapateaceae
Rhabdodendraceae
Rhamnaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
ESPÉCIE
Epidendrum paniculatum Ruiz & Pav.
Epistephium sp.
Ornithocephalus sp.
Passiflora coccinea Aubl.
Passiflora sp.
Hieronyma alchorneoides Allemão
Hieronyma oblonga (Tul.) Müll.Arg.
Margaritaria nobilis L.f.
Phyllanthus sp.
Richeria grandis Vahl
Phytolacca sp.
Peperomia magnoliifolia (Jacq.) A.Dietr.
Peperomia microstachya C.DC.
Piper aduncum L.
Piper annonifolium (Kunth) Steud.
Piper cachimboense Yunck.
Piper callosum Ruiz & Pav.
Piper marginatum Jacq.
Piper reticulatum L.
Piper umbellatum L.
Scoparia dulcis L.
Ctenium sp.
Guadua sp.
Merostachys sp.
Panicum sp.
Paspalum sp.
Pharus sp.
Radiella sp.
Setaria sp.
Podostemum sp.
Bredemeyera sp.
Moutabea excoriata Mart. ex Miq.
Polygala cf. paniculata L.
Securidaca sp.
Coccoloba sp.
Roupala montana Aubl.
Quiina pteridophylla (Radlk.) Pires
Quiina sp.
Cephalostemon sp.
Rapatea paludosa Aubl.
Rhabdodendron amazonicum (Spruce ex Benth.)
Huber
Gouania sp.
Alibertia sp.
Amaioua guianensis Aubl.
Borreria cf. verticillata (L.) G.Mey.
Capironia sp.
Chomelia cf. ribesioides Benth. ex A.Gray
Coccocypselum sp.
Diodia sp.
HÁBITO
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88
FAMÍLIA
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Rutaceae
Rutaceae
Rutaceae
Rutaceae
Rutaceae
Rutaceae
Sabiaceae
Salicaceae
Salicaceae
Salicaceae
Salicaceae
Santalaceae
Sapindaceae
Sapindaceae
Sapindaceae
Sapotaceae
Sapotaceae
Sapotaceae
Scrophulariaceae
Simaroubaceae
Siparunaceae
Siparunaceae
Smilacaceae
Solanaceae
ESPÉCIE
Faramea corymbosa Aubl.
Faramea sp.
Ferdinandusa sp.
Geophila repens (L.) I.M.Johnst.
Guettarda acreana K.Krause
Isertia hypoleuca Benth.
Malanea macrophylla Bartl. ex Griseb.
Pagamea guianensis Aubl.
Palicourea guianensis Aubl.
Palicourea marcgravii A.St.-Hil.
Palicourea nicotianifolia Cham. & Schltdl.
Palicourea nitidella (Müll.Arg.) Standl.
Palicourea sp.
Palicourea triphylla DC.
Perama sp.
Posoqueria sp.
Psychotria poeppigiana Müll.Arg.
Psychotria sp.
Remijia amazonica K.Schum.
Retiniphyllum cf. parvifolium Steyerm.
Retiniphyllum concolor (Spruce ex Benth.) Müll.Arg.
Retiniphyllum schomburgkii (Benth.) Müll.Arg.
Sabicea sp.
Sipanea hispida Benth. ex Wernham
Uncaria guianensis (Aubl.) J.F.Gmel.
Erythrochiton brasiliense Nees & Mart.
Esenbeckia pilocarpoides Kunth
Galipea congestiflora Pirani
Metrodorea flavida K.Krause
Spiranthera odoratissima A.St.-Hil.
Zanthoxylum sp.
Meliosma sp.
Banara guianensis Aubl.
Banara sp.
Casearia cf. javitensis Kunth
Casearia silvestris Sw.
Phoradendron sp.
Cardiospermum halicacabum L.
Matayba sp.
Paullinia sp.
Chrysophyllum sp.
Micropholis sp.
Pouteria cf. torta (Mart.) Radlk.
Philcoxia sp.
Simarouba cf. amara Aubl.
Siparuna guianensis Aubl.
Siparuna reginae (Tul.) A.DC.
Smilax sp.
Aureliana sp.
HÁBITO
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89
FAMÍLIA
Solanaceae
Solanaceae
Solanaceae
Solanaceae
Solanaceae
Stemonuraceae
Strelitziaceae
Styracaceae
Symplocaceae
Theaceae
Turneraceae
Urticaceae
Urticaceae
Urticaceae
Urticaceae
Urticaceae
Urticaceae
Urticaceae
Velloziaceae
Velloziaceae
Verbenaceae
Verbenaceae
Violaceae
Vitaceae
Vitaceae
Vochysiaceae
Vochysiaceae
Vochysiaceae
Vochysiaceae
Vochysiaceae
Vochysiaceae
Vochysiaceae
Vochysiaceae
Vochysiaceae
Xyridaceae
Zingiberaceae
ESPÉCIE
Brunfelsia sp.
Schwenckia americana L.
Solanum crinitum Lam.
Solanum pensile Sendtn.
Solanum sp.
Discophora guianensis Miers
Phenakospermum guyanense (Rich.) Endl.
Styrax cf. ferrugineus Nees & Mart.
Symplocos sp.
Laplacea sp.
Turnera cf. brasiliensis Willd. ex Schult.
Boehmeria cylindrica (L.) Sw.
Cecropia sciadophylla Mart.
Cecropia sp.
Coussapoa sp.
Pourouma mollis Trécul
Urera baccifera (L.) Gaudich. ex Wedd.
Urera cf. caracasana (Jacq.) Gaudich. ex Griseb.
Vellozia cf. bulbosa L.B.Sm.
Vellozia cf. crassicaulis Mart. ex Schult. f.
Citharexylum macrophyllum Poir.
Lippia lupulina Cham.
Leonia glycycarpa Ruiz & Pav.
Cissus erosa Rich.
Cissus verticillata (L.) Nicolson & C.E.Jarvis
Qualea acuminata Spruce ex Warm.
Qualea parviflora Mart.
Qualea sp.
Vochysia cf. divergens Pohl
Vochysia eximia Ducke
Vochysia guianensis Aubl.
Vochysia pyramidalis Mart.
Vochysia sp.
Vochysia vismiifolia Spruce ex Warm.
Xyris sp.
Renealmia cf. breviscapa Pöpp. & Endl.
HÁBITO
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90
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES DA
SERRA DO CACHIMBO
CARACTERIZAÇÃO BIÓTICA: LEVANTAMENTO DE ARTRÓPODES NA RESERVA
BIOLÓGICA NASCENTE DA SERRA DO CACHIMBO (PA)
(Relatório Final)
Responsável Técnico: Prof. MSc. Ricardo Keichi Umetsu.
Realização:
INSTITUTO CENTRO
DE VIDA
Apoio:
W W F - BRASIL
Junho de 2006
91
2.
Relatórios Meio Biótico
2.1. Artrópodes
Responsável técnico: Biól. Ricardo Keichi Umetsu
Colaborador: Biól. Marcos Hélio Olsen
2.1.1. Resumo
Os artrópodes representam o grupo mais diverso e abundante do planeta, além de
compreender um dos grupos de maior sucesso na exploração dos diferentes habitats.
Considerando que ocupam diversos nichos funcionais e microhabitats em grande
espectro de escalas temporais e espaciais, estes animais, mais que os vertebrados,
podem ser utilizados como subsídios para planos de manejo e conservação de
ecossistemas terrestres. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo o
levantamento de artrópodes na Reserva Biológica Nascente da Serra do Cachimbo
(PA), como subsídio para Avaliação Ecológica Rápida (AER). As coletas de campo
foram realizadas em 9 sítios amostrais diferentes objetivando-se amostrar o maior
número possível de fitofisionomias. Na primeira fase da AER (período seco) foram
amostrados 6 diferentes sítios (S1, S2, S3, S4, S5 e S6), enquanto que na segunda
fase (período chuvoso) foram amostrados 3 novos sítios (S7, S8 e S9) sendo que os
sítios S1, S2 e S3, foram novamente amostrados. Na primeira fase foram coletados
3.800 indivíduos, enquanto que na segunda, 6.491. Os mesmos foram triados e
separados conforme seus respectivos taxa. Em ambas as fases a Ordem Hymenoptera
apresentou maior abundância, sendo a Família Formicidae a mais representativa. A
grande diferença na abundancia deve ao fato de que as condições climáticas existentes
nos trópicos são variadas, o que afeta a distribuição sazonal dos insetos, principalmente
envolvendo a distinção entre as fases seca e chuvosa, ou ao menos uma diminuição
nos índices pluviométricos, acarretando diferentes respostas de acordo com os grupos
existentes nessas áreas. A variação de abundância e a presença de espécies
características refletem as características distintas de cada ponto avaliado.
2.1.2. Introdução
O conhecimento sobre a diversidade biológica ainda é extremamente escasso, precário
e fragmentado principalmente em regiões megadiversas como o Brasil (Lewinsohn et al.
2001). Este fato agrava-se à medida que altas taxas de extinção são proporcionadas
92
devido ao elevado ritmo de destruição de ecossistemas naturais (Wilson 1997). Para
amenizar este quadro, programas de conservação e uso sustentável de recursos
biológicos estão sendo cada vez mais estimulados (Santos 2004). Porém, apesar dos
estudos sobre a diversidade biológica serem bastante onerosos com relação a recursos
humanos e logísticos, além de requerer tempo relativamente grande para apresentar
resultados (Cracraft 1995 In. Santos l.c.), sem o conhecimento da fauna e flora de um
ecossistema é impossível desenvolver algum programa de conservação e uso racional
deste.
Inventários biológicos são ferramentas básicas para levantamentos iniciais da
diversidade biológica, bem como para o monitoramento de alterações de diferentes
componentes desta diversidade, seja perante condições ambientais distintas, seja em
resposta a impactos de processos naturais ou de atividades humanas. Com relação a
fauna, a maioria dos inventários concentra-se em vertebrados pelo maior número de
especialistas e facilidade dos métodos de amostragem (Lewinsohn et al. 2001). No
entanto, estes animais representam menos de 0,5% do total de espécies animais do
planeta, bem como, exercem funções críticas em comunidades ecológicas como
polinizadores, dispersores ou predadores de topo de cadeias tróficas. Além disso, são
generalistas com relação ao habitat e alimentação. Ao contrário disso, muitos grupos de
invertebrados podem oferecer respostas mais eficazes sobre as condições de ambiente
e suas variações (Lewinsohn l.c.).
2.1.3. Objetivos
• Relacionar, com base nas informações de campo e dados secundários, as espécies
existentes na área.
•
Destacar a(s) área(s) onde cada táxon foi encontrado;
•
Indicar os tipos de pressão que vem sendo exercida e sua localização;
•
Localizar hábitats únicos que devam ser considerados como prioridades de
conservação e recomendar estratégias destinadas para sua proteção;
•
Identificar áreas de importância ecológica singular, dentro de um ecossistema maior,
que mereçam estudos mais aprofundados;
•
Assinalar áreas que requeiram um manejo especial para a proteção de seu valor
ecológico;
•
Documentar as ameaças atuais e potenciais dos recursos naturais;
93
•
Fornecer informações biológicas e ecológicas básicas que sirvam de apoio aos
futuros programas de monitoramento da área e dos efeitos das atividades humanas;
2.1.4. Material e Métodos
Para a amostragem da artropodofauna foram definidos seis sítios amostrais (S1, S2,
S3, S4, S5 e S6) na Reserva Biológica Nascente da Serra do Cachimbo (PA) na
primeira fase (07/2005), sendo que na segunda fase foram amostrados três novos sítios
(S7, S8, S9), com repetição em três sítios anteriores (S1, S2 e S3) tendo como objetivo
amostrar o maior número possível de fisionomias.
Uma vez definido os locais de estudo foram realizados transectos de aproximadamente
1000m (mil metros) em cada sítio estudado, sendo que foram utilizadas as
metodologias de coleta manual para Myriapoda e Isoptera e outros grupos; isca atrativa
para Formicidae (Hymenoptera); e rede entomológica para Coleoptera, Hymenotera,
Lepidoptera, Arachnida, Hemiptera, Orthoptera e outros grupos, utilizando um esforço
de captura de 12 horas para cada sítio.
As diferentes espécies obtidas nas amostragens tiveram suas identificações
taxonômicas realizadas no laboratório de entomologia da Universidade Estadual de
Mato Grosso (UNEMAT-AF), com auxílio de bibliografias e chaves dicotômicas, sendo o
material triado e armazenado neste mesmo laboratório.
2.1.4.1.
Coleta Manual
Para a coleta dos Diplopoda, as áreas pré-estabelecidas foram percorridas, em seus diferentes
habitats, e os troncos caídos, pedras e liteira bem como a vegetação em geral, foi vasculhada.
Quando encontrados, os Diplopoda coletados foram registrados com base na data e localidade,
e capturados somente os adultos.
Os adultos foram acondicionados em frascos de plástico contendo álcool a 92% e
encaminhados para o laboratório de Entomologia da Universidade Estadual de Mato
Grosso.
2.1.4.2. Armadilha atrativa
Hymenoptera - Formicidae
Para a coleta das formigas utilizou-se metodologia proposta por FREITAS et al. (2004),
que sugere a utilização de iscas atrativas contendo óleo de sardinha. Para isso sobre o
transecto, foram marcados através de fitas coloridas pontos a cada cinqüenta metros
para facilitar o trabalho. As iscas foram colocadas a 2 metros à esquerda da linha base.
Cada isca consistia em um pedaço de guardanapo de papel claro (10x10 cm), para
94
permitir a melhor visualização na hora da coleta, umedecido com o óleo de sardinha. As
iscas foram coletadas após 1 hora de espera, para evitar dominância por algumas
espécies. Para a retirada da isca com as formigas foi utilizado recipientes plásticos
contendo álcool a 92%.
2.1.4.3. Rede Entomológica
A coleta de Coleoptera, Hymenotera, Lepidoptera, Arachnida, Hemiptera,
Orthoptera e outros grupos, foi realizada por rede entomológica e vistoria de galhos de
árvores e arbustos. Os animais encontrados foram acondicionados em frascos de
plástico contendo álcool a 92% e encaminhados para o Laboratório de Entomologia da
Universidade do Estado de Mato Grosso para triagem.
2.1.5.
Caracterização Ambiental da Reserva Biológica Nascentes da Serra do
Cachimbo - Resultados da Avaliação Ecológica Rápida.
2.1.5.1. Caracterização dos ambientes utilizados.
O levantamento de artrópodes na Reserva Biológica Nascente da Serra do Cachimbo
(PA) foi realizado em 9 diferentes sítios (Fig 1), durante o período de 08 a 16 de julho e
28 de novembro a 10 de dezembro de 2005, sendo que os mesmos foram alocados em
diferentes locais objetivando amostrar o maior número possível de fisionomias da
reserva.
Alocados os sítios, executou-se a coleta de amostras conforme metodologia citada. As
mesmas foram triadas e submetidas à especialistas para posterior identificação. Na
primeira fase de estudos foram capturados 3.800 indivíduos (Tabela 1), enquanto que
na segunda, 6.491 (Tabela 2). Os mesmos foram triados e separados conforme seus
respectivos taxa.
Sendo assim, este relatório apresenta os resultados preliminares do levantamento de
artrópodes obtidos através de coleta manual e rede entomológica, pois ainda muitos
indivíduos coletados ainda estão em processo de identificação.
Sítio 1.
Situado nas coordenadas 750500mE 8992000mN UTM (21) (SAD69) (Figura 1), o sitio
1 compreende uma formação vegetal com zonação vegetal evidente, sendo que o
mesmo foi disposto perpendicularmente ao córrego que compreende a nascente do rio
Curuá, isto permitiu avaliar o gradiente ecológico proporcionado pela topografia.
No percorrer do transecto (1000m) percebeu-se a formação de três fitofisionomias
diferentes (Figura 2), sendo campinarana com faixas de solo arenoso exposto; área de
95
transição com vegetação característica de campinarana arborizada; e, finalmente, nas
porções mais baixas (próximo ao córrego), vegetação característica de floresta
aluvionar com predominância de solo hidromórfico.
O levantamento de artrópodes, na primeira fase (07-2005), amostrou 393 indivíduos,
sendo 386 da classe Insecta e 7 da classe Arachnida. Da classe Insecta amostrou-se 1
indivíduo da Ordem Blattodea; 54 da ordem Coleoptera; 14 indivíduos da ordem
Diptera, sendo 5 da família Tabanidae; 5 individuos da Ordem Hemiptera; 272 da
Ordem Hymenoptera, compreendendo a ordem mais representativa; 15 pertencente a
ordem Isoptera; 6 da ordem Lepidoptera; 1 da ordem Odonata; 3 da ordem Orthoptera;
e 15 da ordem Thysanoptera (Tabela 1).
Já na segunda fase (12-2006), o levantamento de artrópodes amostrou 926 indivíduos,
sendo 902 da classe insecta e 24 da Classe Arachinda. Da classe insecta amostrou-se
2 indivíduos da Ordem Blattodea; 107 da ordem Coleoptera; 9 da Ordem Diptera; 42 da
ordem Hemiptera; 633 da ordem Hymenoptera, compreendo a ordem mais
representativa, sendo a espécie Crematogaster sp. da sub-família Myrmicinae a mais
representativa; 61 indivíduos da ordem Isoptera; 29 da ordem Lepidoptera; 1 da ordem
neuroptera; e 18 da ordem Orthoptera (Tabela 2).
O sítio 1 apresenta características ambientais distintas devido à formação vegetal
característica desse ambiente. As formações vegetais de campinarana representam
grande parte da reserva biológica. Os dados demonstraram que esse ambientes são
extremamente frágeis, uma vez que abrigam uma menor diversidade de organismos,
além de apresentar grande quantidade de solo arenoso exposto. Devido a esses fatores
esses ambientes devem ser tanto estudados de forma aplicada e contínua bem como
conservados.
Sítio 2.
Localizado nas coordenadas 754200mE 8995600mN UTM (21) (SAD69) (Fig 1), o sítio
2 compreende uma fitofisionomia característica de floresta tropical úmida sendo
predominante a formação de floresta aberta. O transecto alocado no sítio amostrou
pontos topograficamente diferentes, sendo que as cotas topográficas aumentavam do
inicio para o fim do mesmo. Esta mudança topográfica não pareceu influenciar na
zonação vegetal sendo possível visualizar a formação de apenas uma fisionomia
(Figura 3).
O levantamento de artrópodes, na primeira fase (07-2005), amostrou 462 indivíduos,
sendo 443 indivíduos da classe Insecta e 19 da classe Arachnida. Da classe Insecta
96
amostrou-se 3 indivíduos da Ordem Blattodea; 27 da ordem Coleoptera; 7 indivíduos da
ordem Diptera; 9 da Ordem Hemiptera; 67 da Ordem Hymenoptera; 297 pertencente a
ordem Isoptera, compreendendo a ordem com maior abundância; 22 indivíduos da
ordem Lepidoptera; 4 da ordem Orthoptera; 2 da ordem Psocoptera; e 5 da ordem
Thysanoptera (Tabela 1).
Já na segunda fase (12-2006), o levantamento de artrópodes amostrou 1.456
indivíduos, compreendendo a maior abundância dos seis sítios amostrados, sendo
1.361 da classe Insecta e 96 da Classe Arachinda. Da classe insecta amostrou-se 8
indivíduos da Ordem Blattodea; 139 da ordem Coleoptera; 26 da Ordem Diptera; 161 da
ordem Hemiptera; 764 da ordem Hymenoptera, compreendo a ordem mais
representativa, sendo a espécie Crematogaster sp. da sub-família Myrmicinae a mais
abundante com 175 indivíduos; 220 indivíduos da ordem Isoptera, compreendendo a
segunda maior abundância; 11 indivíduos da ordem Lepidoptera; e 31 da ordem
Orthoptera (Tabela 2).
Os dados obtidos nesse sítio apresentaram as características comuns para a vegetação
predominante do local. Florestas úmidas apresentam maior abundância e diversidade
de organismos que outras formações vegetais, o que ficou evidenciado nesse sítio.
Uma vez que esta inserido nesta fitofisionomia o sitio 2 apresenta importância
econômica, tanto para exploração madeireira, quanto para desmatamento e formação
de pastagens.
Sítio 3.
Situado nas coordenadas 762609mE 9009000mN UTM (21) (SAD69) (Fig 1), o
sítio 3 compreende a formação de diferentes fitofisionomias ao longo do transecto,
sendo influenciadas pela cotas topográficas juntamente com as mudanças de solo. O
levantamento do transecto (1000m) permitiu estabelecer dois tipos predominantes de
vegetação, sendo que no inicio e no final do mesmo, ocorre a predominância de floresta
aberta (Figura 4). Próximo aos 250m até os 500m do transecto, ocorre a presença de
um afloramento rochoso, onde ocorre a presença de vegetação rupestre (Figura 5).
O levantamento de artrópodes neste sítio amostrou, na primeira fase (07-2005), 1.093
indivíduos, compreendendo a maior abundância dos seis sítios amostrados. O táxon
com maior abundância foi a Classe Insecta com 952 indivíduos, seguida pelas classes
Arachnida e Myriapoda com 137 e 4 indivíduos respectivamente. Da classe Insecta
amostrou-se 2 indivíduos da Ordem Blattodea; 36 da ordem Coleoptera; 4 da ordem
Collembola; 10 da ordem Diptera; 18 da Ordem Hemiptera; 697 da Ordem
97
Hymenoptera, compreendendo o táxon com maior abundância; 98 indivíduos
pertencentes a ordem Isoptera; 41 da ordem Lepidoptera; 1 da ordem Odonata; 15 da
ordem Orthoptera; 4 da ordem Psocoptera; e 26 da ordem Thysanoptera. A classe
Arachnida apresentou a ordem Araneae com maior abundância (119 ind.) seguida pelas
ordens Acari e Scorpiones com 17 e 1 indivíduos respectivamente (Tabela 1).
Já na segunda fase (12-2006), o levantamento de artrópodes amostrou 1.454
indivíduos, sendo 1.355 da classe Insecta; 99 da Classe Arachinda; e 1 da classe
Myriapoda. Da classe insecta amostrou-se 7 indivíduos da Ordem Blattodea; 132 da
ordem Coleoptera; 1 da ordem Dermaptera; 24 da Ordem Diptera; 152 da ordem
Hemiptera; 1009 da ordem Hymenoptera, compreendo a ordem mais representativa,
sendo a espécie Crematogaster sp. da sub-família Myrmicinae a mais abundante com
394 indivíduos; 3 indivíduos da ordem Isoptera; e 25 da ordem Lepidoptera (Tabela 2).
A presença de um afloramento rochoso nesse sítio o torna bastante peculiar, uma vez
que permite a formação de vegetação rupestre. Esse tipo de fitofisionomia, devido as
suas características distintas, tende a abrigar organismos adaptados a esse ambiente,
podendo, dessa forma, abrigar muito organismos endêmicos.
Sítio 4
Situado nas coordenadas 779000mE 8996000mN UTM (21) (SAD69) (Fig 1), o sítio 4
está localizado próximos ao rio Curuá, sendo que as coletas foram realizadas na mata
ciliar deste rio. A vegetação predominante deste ponto é floresta aberta e densa (Figura
6). Os pontos selecionados para amostragem foram instalados em área de alagamento
no período de chuvas, onde o tipo de solo é argiloso com espécies vegetais
característicos desses ambientes.
O levantamento de artrópodes neste sítio amostrou, na primeira fase (07-2005), 858
indivíduos, representando o sítio com segundo maior número de indivíduos. O táxon
com maior abundância foi a Classe Insecta com 798 indivíduos, seguida pelas classes
Arachnida e Myriapoda com 57 e 3 indivíduos respectivamente. Da classe Insecta
amostrou-se 18 indivíduos da ordem Coleoptera; 3 da ordem Collembola; 1 da ordem
Dermaptera; 17 da ordem Diptera; 18 da Ordem Hemiptera; 114 da Ordem
Hymenoptera; 318 indivíduos pertencentes a ordem Isoptera, compreendendo o táxon
com maior abundância; 17 da ordem Lepidoptera; 1 da ordem Mantodea; 6 da ordem
Neuroptera; 1 da ordem Odonata; 25 da ordem Orthoptera; 1 da ordem Psocoptera; e
258 da ordem Thysanoptera. A classe Arachnida apresentou a ordem Acari com maior
98
abundância (47 ind.) seguida pelas ordens Araneae e Scorpiones com 9 e 1 indivíduos
respectivamente (Tabela 1).
A fitofisionomia presente nesse sítio, floresta aberta e densa, tem como característica,
abrigar grande abundância e diversidade de organismos. Porém, isso não foi registrado
nas coletas. Tal fato pode ser explicado através da análise do local onde o estudo foi
realizado. O mesmo havia sido inundado durante a cheia e ainda existiam locais com
água acumulada nas depressões. Durante a inundação os organismo migram para
zonas terrestres ou para copas de árvores e retornam somente na fase seca.
Síto 5
Situado nas coordenadas 776000mE 9014000mN UTM (21) (SAD69) (Fig 1), o sítio 5
está localizado próximo ao rio Pitchatcha, com vegetação predominante de floresta
densa secundária, com árvores de grande porte e sub-bosque bastante definido (Figura
7).
O levantamento de artrópodes neste sítio amostrou, na primeira fase (07-2005), 722
indivíduos, representando o sítio com terceiro maior número de indivíduos. O táxon com
maior abundância foi a Classe Insecta com 719 indivíduos, seguida pelas classes
Myriapoda e Arachnida com 2 e 1 indivíduos respectivamente. Da classe Insecta
amostrou-se 3 indivíduos da ordem Blattodea; 29 indivíduos da ordem Coleoptera; 32
da ordem Diptera; 33 da Ordem Hemiptera; 523 da Ordem Hymenoptera,
compreendendo o táxon com maior abundância; 38 indivíduos da ordem Lepidoptera; 4
da ordem Odonata; 43 da ordem Orthoptera; 2 da ordem Phasmatodea; 1 da ordem
Psocoptera; e 11 da ordem Thysanoptera (Tabela 1).
O estudo nesse sítio foi realizado em uma formação vegetal que sofreu corte seletivo
de madeira, portanto existiam pontos com formações de clareira, isso explica a baixa
abundância de organismos, ao contrário do que se espera em ambientes florestais
úmidos.
Sítio 6
Situado nas coordenadas 763000mE 8996760mN UTM (21) (SAD69) (Fig 1), o sítio 6
compreende uma área antropizada próxima a um rio, neste local existia um
acampamento para funcionários de uma serraria da região, onde a equipe utilizou o
espaço para a instalação da base de pesquisa na primeira fase (Figura 8).
O levantamento de artrópodes neste sítio amostrou, na primeira fase (07-2005), 272
indivíduos, representando o sítio com menor número de indivíduos. O táxon com maior
abundância foi a Classe Insecta com 262 indivíduos, seguida pela classe Arachnida
com 10 indivíduos da ordem Araneae. Da classe Insecta amostrou-se 15 indivíduos da
99
ordem Coleoptera; 24 da ordem Diptera; 1 da ordem Ephemeroptera; 18 da Ordem
Hemiptera; 112 da Ordem Hymenoptera, compreendendo o táxon com maior
abundância; 29 indivíduos da ordem Isoptera; 18 da ordem Lepidoptera; 1 da ordem
Mantódea; 2 da ordem Odonata; 32 da ordem Orthoptera; 2 da ordem Phasmatodea; 2
da ordem Psocoptera; 3 da ordem Thysanoptera; e 3 da ordem Trichoptera (Tabela 1).
Sítio 7
Situado nas coordenadas 774407mE 9023070mN UTM (21) (WGS84) (Fig 1), o sítio 7
compreende uma fitofisionomia característica de floresta tropical úmida sendo
predominante a formação de floresta densa (Figura 11).
O levantamento de artrópodes neste sítio amostrou, na segunda fase (12-2006), 824
indivíduos. O táxon com maior abundância foi a Classe Insecta com 730 indivíduos,
seguida pelas classes Arachnida e Myriapoda com 94 e 8 indivíduos respectivamente.
Da classe Insecta amostrou-se 14 indivíduos da Ordem Blattodea; 80 da ordem
Coleoptera; 26 da ordem Diptera; 53 da Ordem Hemiptera; 451 da Ordem
Hymenoptera, compreendendo o táxon com maior abundância, tendo a espécie
Crematogaster sp. a maior abundância (150 ind.); 33 indivíduos pertencentes a ordem
Isoptera; 16 da ordem Lepidoptera; 1 da ordem Mantodea; 1 da ordem Odonata; e 46
da ordem Orthoptera (Tabela 2).
Sítio 8
Situado nas coordenadas 753223mE 8983388mN UTM (21) (WGS84) (Fig 1), o sítio 8
compreende a formação de diferentes fitofisionomias ao longo do transecto, sendo
influenciadas pelas cotas topográficas e juntamente com as mudanças de solo. O
levantamento do transecto (1000m) permitiu estabelecer três tipos predominantes de
vegetação, sendo que no inicio do mesmo, ocorre a predominância de floresta aberta
(Figura 9). Próximo aos 400m até os 500m do transecto, ocorre uma diminuição
considerável das cotas altimétricas onde a vegetação predominante é floresta aluvionar,
uma vez que estão próximas a corpos d’água. A partir dos 500m as cotas altimétricas
aumentam consideravelmente até o final do transecto, o solo é predominantemente
arenoso, semelhante à terrenos degradados, com predominância de vegetação do tipo
campinarana arborizada, com grande quantidade de serrapilheira sob as formações
vegetais e solo arenoso exposto sem presença de vegetação (Figura 10).
O levantamento de artrópodes neste sítio amostrou, na segunda fase (12-2006), 1.193
indivíduos, compreendendo o terceiro sítio com maior abundância. O táxon com maior
abundância foi a Classe Insecta com 1.129 indivíduos, seguida pela classe Arachnida
64 indivíduos. Da classe Insecta amostrou-se 10 indivíduos da Ordem Blattodea; 84 da
100
ordem Coleoptera, sendo a Família Coccinellidae a mais representativa com 42
indivíduos; 14 indivíduos da ordem Diptera; 43 da Ordem Hemiptera; 938 da Ordem
Hymenoptera, compreendendo o táxon com maior abundância, tendo a espécie
Crematogaster sp. a maior abundância (225 ind.); 3 indivíduos pertencentes a ordem
Isoptera; 7 da ordem Lepidoptera; 2 da ordem Mantodea; 24 da ordem Orthoptera; 1 da
ordem Phasmatodea; e 2 da ordem Trichoptera (Tabela 2).
A grande abundância de organismos encontrados nesse sítio deve-se ao fato da
presença de floresta úmida na maior parte do transecto. A campinarana encontrada
nesse local reflete as características encontradas em outros pontos da reserva com
essa formação vegetal.
Sítio 9
Situado nas coordenadas 767424mE 9020802mN UTM (21) (WGS84) (Fig 1), o sítio 9
compreende uma fitofisionomia característica de vegetação rupestre e floresta aberta
(Figura 12).
O levantamento de artrópodes neste sítio amostrou, na segunda fase (12-2006), 638
indivíduos. O táxon com maior abundância foi a Classe Insecta com 620 indivíduos,
seguida pela classe Arachnida com 18 indivíduos. Da classe Insecta amostrou-se 3
indivíduos da Ordem Blattodea; 44 da ordem Coleoptera; 6 da ordem Diptera; 42 da
Ordem Hemiptera; 478 da Ordem Hymenoptera, compreendendo o táxon com maior
abundância, tendo a espécie Crematogaster sp. a maior abundância (478 ind.); 21
indivíduos pertencentes a ordem Isoptera; 13 da ordem Lepidoptera; 1 da ordem
Mantodea; e 6 da ordem Orthoptera (Tabela 2).
2.1.6.
ANÁLISE TEMÁTICA DOS DADOS OBTIDOS NA AVALIAÇÃO
ECOLÓGICA RÁPIDA.
Quadro 1 - Categorização dos Pontos para Análise Intertemática com Base nas Informações
sobre Diversidade de Artrópodes da Reserva Biológica das Nascentes da Serra do Cachimbo.
Sitio
01
02
UTM (21)
SAD69
750500mE
8992000mN
754200mE
8995600mN
Espécies características Classificação do Ponto
Camponotus sp.
Aphaenogaster sp.
Crematogaster sp.
Hypocryptocerus sp.
Ectatomma
tuberculatum
Pachycondyla sp.
Pseudomyrmex pallidus
Camponotus sp.
Atta sexdens
Bombus sp.
Cephalotes sp.
Crematogaster sp.
Ectatomma
tuberculatum
Ectatomma sp.
Campinarana
Campinarana
Arborizada
Floresta Aberta
Categoria do Ponto
Pressões
A
1
2
C – Exploração
madereira e
desmatamento para
formação de
pastagem.
101
Sitio
03
UTM (21)
SAD69
Espécies características Classificação do Ponto
Pachycondyla sp.
Myrmarachne sp4.
Camponotus sp.
Atta sp.
Crematogaster sp.
762609mE
Lycorea cleobaea
9009000mN
Morpho achilles
Myrmarachne sp3.
Myrmarachne sp5.
Floresta Aberta
Vegetação Rupestre
Categoria do Ponto
Pressões
1
B – Exploração
madeireira.
04
779000mE Espécies em
8996000mN identificação
Floresta Aberta
Floresta Aluvionar
1
C – Exploração
madeireira e
desmatamento para
formação de
pastagem.
05
776000mE Espécies em
9014000mN identificação
Floresta Densa
1
B – Exploração
madeireira.
06
763000mE Espécies em
8996760mN identificação
Floresta Antropizada
4
D – Área
antropizada.
Campinarana
Campinarana
Arborizada
Floresta Aberta
Floresta Aluvional
1
A
Floresta Densa
1
B – Exploração
madeireira.
Campinarana
Arborizada
Vegetação Rupestre
2
B – Desmatamento
para formação de
pastegem.
07
753223mE
8983388mN
08
774407mE
9023070mN
09
767424mE
9020802mN
Camponotus sp.
Aphaenogaster sp.
Crematogaster sp.
Daceton armigerum
Hypocryptocerus sp.
Myrmarachne sp1.
Camponotus sp.
Monacis sp.
Aphaenogaster sbp.
Cephalotes sp.
Crematogaster sp.
Hypocryptocerus sp.
Ectatomma
tuberculatum
Paraponera sp.
Cosmossoma sp.
Morpho sp1.
Taygets sp1.
Urania leilus
Myrmarachne sp1.
Myrmarachne sp2.
Camponotus sp.
Monacis sp.
Aphaenogaster sp.
Crematogaster sp.
Hypocryptocerus sp.
Ectatomma
tuberculatum
Tetraponera sp.
Callicore cynosura
Callicore sp1.
2.1.7. Avaliação dos resultados.
O levantamento de artrópodes realizado em diferentes estações do ano, seca e chuva,
permitiu demonstrar a variação da estrutura das comunidades no âmbito da
abundância. Com o mesmo esforço de captura, no período de chuvas (segunda fase), o
número de indivíduos coletados representou quase o dobro do período de seca
(primeira fase). Segundo WOLDA & FISK (1981), as condições climáticas existentes
nos trópicos são variadas, o que afeta a distribuição sazonal dos insetos, principalmente
envolvendo a distinção entre as fases seca e chuvosa, ou ao menos uma diminuição
102
nos índices pluviométricos, acarretando diferentes respostas de acordo com os grupos
existentes nessas áreas.
Tanto no período seco, quanto no período chuvoso, o táxon com maior abundância foi
Hymenoptera, sendo a família Formicidae a mais representativa. Isso deve-se ao fato
de que as formigas constituem o grupo de insetos sociais mais amplamente distribuído
e dominante em ecossistemas terrestres, sendo seu sucesso atribuído à forma com que
tem colonizado o meio terrestre, aproveitando todos os nichos que o mesmo oferece
(Cuezzo 1998).
A eussocialidade, além de características específicas como o cuidado com a prole,
divisão em castas reprodutivas, sobreposição de gerações maduras na colônia,
diversidade morfológica, plasticidade comportamental e o suposto “sucesso ecológico”
(Wilson 1971), conferem às formigas a condição de um importante modelo de estudos
sobre demografia adaptativa (Silvestre 2000), biologia, ecologia, comportamento,
sistemática e taxonomia.
De acordo com FREITAS et al. (2004), as formigas são importantes por manterem
relações ecológicas com muitos organismos. Em ecossistemas terrestres este grupo
participa como um importante táxon no fluxo de energia e biomassa, além de contribuir
de forma direta e indireta para a evolução da estrutura da comunidade (Hölldobler &
Wilson 1990), atuando como consumidores primários e secundários ou como base
alimentar para outros consumidores (Cuezzo 1998; Fowler et al. 1991). Esses
organismos apresentam estratégias de forrageamento, hábitos de colonização, padrões
de organização das colônias diferenciados (Tobin 1995), além de dominância em
termos de abundância local em relação a outros artrópodes (Stork 1991).
Outro táxon com importante abundância foi Coleoptera, onde foi possível perceber
considerável mudança no número de indivíduos coletados entre os dois períodos
climáticos distintos. No período da seca foram coletados 179 indivíduos dessa Ordem,
distribuídos em 17 Famílias, enquanto que no período chuvoso, 587, distribuídos em 27
Famílias. Isso deve-se ao fato de que no período de seca muitas espécies estão em
fase larval, assumindo a forma adulta no período chuvoso, quando ocorre maior
disponibilidade de recursos.
Vale ressaltar que a ordem Coleoptera possui mais de 250 mil espécies descritas e
potencialmente milhões ainda a serem identificadas, sendo consideradas megadiversa,
além de ser um dos táxons mais ricos em espécies sobre a Terra, representando 40%
do total de artrópodes (May 1994; Overal 2001).
103
Além desses taxa, outro grupo de grande importância foi Arachnida, sendo a ordem
Araneae a mais representativa. Essa ordem possui como característica o hábito
exclusivamente predador, e como conseqüência, apresentam importante função como
reguladoras de populações de insetos e outros invertebrados (Aguilar 1988; Flórez
2000).
Dessa forma, diante dos dados obtidos, tornou-se possível avaliar a relação da
artropodofauna com os ambientes estudados, onde pode-se perceber as mudanças na
estrutura da comunidade em função das características dos mesmos. Isto ficou
evidenciado através da análise de agrupamento, tanto para o período seco – 1ª fase
(Figura 13), quanto para o período chuvoso – 2ª fase (Figura 14), através da avaliação
de similaridade dos ambientes através da presença e ausências dos taxa encontrados.
Sendo assim, sugere-se as seguintes características e estratégias para conservação
das diferentes formações vegetais encontradas no Reserva Biológica Nascentes da
Serra do Cachimb – PA:
Campinarana e Campinarana Arborizada – fitofisionomias com baixa abundância de
organismos e comunidade distinta. Ambiente de grande fragilidade uma vez que está
inserido em solos predominantemente arenoso. A presença de comunidades distintas e
a fragilidade destes ambientes indicam que os mesmos necessitam de maior proteção,
além de pesquisas em longa duração para o estudo da dinâmica da comunidade.
Floresta Aberta ,Densa e Aluvionar – fitofisionomias com grande abundância e
riqueza de organismos em locais naturais com pequena ou nenhuma ação humana. O
inverso foi registrado em áreas impactadas. Esses ambientes possuem grande
importância econômica (exploração florestal e formação de pastagem), o que sugere
que os mesmo sejam constantemente fiscalizados para que não haja exploração.
Vegetação rupestre – ambiente extremamente distinto em função do substrato
rochoso. Essa característica condiciona a estrutura da comunidade o que sugere a
presença de organismos adaptados a esses ambientes, sendo, portanto, locais que
provavelmente apresentam elevado endemismo, sugerindo que o mesmo necessite de
pesquisas mais detalhadas e maior proteção.
2.1.8.
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of Animal Ecology 50:827-838.
2.1.9.
Anexo
2.1.9.1.
Tabelas
107
Tabela 1 – Taxa e número de indivíduos coletados no levantamento de artrópodes na
Reserva Biológica Nascente da Serra do Cachimbo – PA, primeira fase (07-2005).
Táxon
Insecta
Blattodea
Coleoptera
Anthribiidae
Apionidae
Carabidae
Cerambycidae
Chrysomelidae
Coccinellidae
Curculionidae
Brentidae
Elateridae
Erotylidae
Euglenidae
Nitidulidae
Passalidae
Phalacridae
Scarabaeidae
Staphylinidae
Tenebrionidae
Collembola
Entomobryomorpha
Dermaptera
Diptera
Tabanidae
Outros
Ephemeroptera
Hemiptera
Auchenorrhyncha
Cicadidae
Cicadelidae
Cercopidae
Dictyopharidae
Membracidae
Outros
Heteroptera
Sternorrhyncha
Hymenoptera
Pompilidae
Braconidae
Apoidea
Apidae
Bombus sp.
Formicidae
Mutilidae
Vespidae
Sítio 1
Sítio 2
Sítio 3
Sítio 4
Sítio 5
Sítio 6
1
54
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
9
5
x
x
1
1
x
x
x
x
x
1
2
x
23
1
x
10
2
x
235
x
1
3
15
x
x
1
x
5
x
2
1
x
x
1
x
x
1
x
1
x
x
x
x
x
x
7
x
x
3
x
2
x
x
1
1
1
1
4
x
6
4
x
1
51
x
x
2
18
x
1
3
3
1
x
3
x
2
x
x
x
2
1
1
x
1
2
2
x
x
x
10
x
x
2
x
5
x
x
x
3
6
2
45
x
x
14
120
x
517
x
x
x
3
x
x
4
x
4
1
x
x
x
x
x
x
5
x
x
x
1
1
2
1
x
x
17
x
x
1
1
2
x
1
x
1
12
x
14
x
x
29
1
x
55
x
x
3
14
x
x
x
x
13
x
1
x
1
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
8
x
24
x
1
4
x
9
1
x
x
x
18
x
10
x
x
12
7
x
491
x
x
x
3
1
x
x
1
3
x
2
x
1
1
x
3
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
24
1
x
x
1
2
x
x
2
1
12
x
17
x
x
23
x
x
36
1
x
108
Táxon
Polistinae
Outros
Isoptera
Lepidoptera
Nymphalidae
Pieridae
Hesperiidae
Mantodea
Neuroptera
Mirmeleonthidae
Crysopidae
Odonata
Orthoptera
Gryllidae
Acridoidea
Tettigonidae
Proscopiidae
Phasmatodea
Psocoptera
Thysanoptera
Trichoptera
Arachnida
Acari
Araneae
Scorpiones
Myriapoda
Chilopoda
Diplopoda
Total
Scolopendromorpha
Spirostreptidae
Heliconiinae
Nymphalinae
Satyrinae
Brassolinae
Pierinae
Larvas
Outros
Sítio 1
x
x
15
5
x
x
x
x
x
x
1
x
x
x
x
1
x
2
1
x
x
x
x
15
x
Sítio 2
1
x
297
10
1
x
x
x
x
3
8
x
x
x
x
x
x
1
3
x
x
x
2
5
x
Sítio 3
1
x
98
31
1
1
x
1
x
1
6
x
x
x
x
1
x
4
7
4
x
x
4
26
x
Sítio 4
x
15
318
3
2
10
x
x
1
x
1
x
1
5
1
1
x
x
19
5
1
x
1
258
x
Sítio 5
x
3
x
29
x
5
x
x
x
x
4
x
x
x
x
4
20
2
11
8
2
2
1
11
x
Sítio 6
x
35
29
x
1
2
2
x
8
x
4
1
1
x
x
2
5
3
12
7
5
2
2
3
3
1
6
x
1
18
x
17
119
1
47
9
1
x
1
x
x
10
x
x
x
x
393
x
x
x
462
x
x
4
1093
x
x
3
858
1
1
x
722
x
x
x
272
109
Tabela 2 – Taxa e número de indivíduos coletados no levantamento de artrópodes na Reserva Biológica Nascente da Serra do Cachimbo – PA,
segunda fase (12-2005).
Táxon
Insecta
Blattodea
Coleoptera
Alleculidae
Anthribiidae
Bostrichidae
Brentidae
Bruchidae
Buprestidae
Cantaridae
Carabidae
Cerambycidae
Chrysomelidae
Cicindelidae
Cleridae
Coccinellidae
Curculionidae
Elateridae
Erotylidae
Hydrophilidae
Lagriidae
Lampiridae
Lycidae
Lymexylidae
Meloidae
Passalidae
Scarabaeidae
Silphidae
Staphylinidae
Tenebrionidae
Outros
Sítio 1
Sítio 2
Sítio 3
Sítio 7
Sítio 8
Sítio 9
Total
2
8
7
10
14
3
44
x
8
x
x
x
1
x
x
x
2
1
1
37
29
x
1
x
x
x
x
x
x
x
x
1
2
x
24
x
x
x
x
4
x
x
1
2
17
x
1
7
25
1
x
x
x
1
3
1
1
x
11
7
2
x
55
x
x
5
x
x
x
2
1
1
7
x
x
4
21
1
x
1
9
x
x
1
31
x
4
1
3
3
37
1
x
x
2
x
x
x
x
x
4
x
x
42
11
1
x
x
x
x
2
x
x
x
1
1
1
1
18
x
2
1
1
13
x
x
1
1
9
x
x
1
9
x
x
1
x
1
x
x
5
2
5
6
5
1
16
x
x
1
1
5
x
x
x
1
1
x
x
1
15
3
x
x
1
x
1
x
1
x
x
1
1
x
11
1
10
7
4
22
1
2
3
5
40
1
2
92
110
6
1
2
10
2
6
2
38
2
21
17
14
5
161
Continua...
110
Continuação.
Sítio 1
x
9
Sítio 2
x
26
Sítio 3
1
24
Sítio 7
x
26
Sítio 8
x
14
Sítio 9
x
6
Total
1
105
36
6
23
102
59
24
74
78
17
31
22
40
27
16
28
24
18
59
294
199
191
76
83
81
51
63
50
98
13
155
144
31
15
504
356
x
x
x
19
x
5
24
71
x
x
x
108
x
46
194
x
x
5
3
175
x
x
383
x
4
x
x
394
x
x
477
57
x
x
6
150
x
1
40
150
x
x
x
225
5
27
178
34
x
x
x
181
x
4
104
312
4
5
9
1233
5
78
1376
Ectatomma tuberculatum Smith.
Ectatomma sp.
Pachycondyla sp.
Paraponera sp.
Outros
3
x
2
x
4
14
1
6
x
3
x
x
x
x
4
19
x
x
1
7
x
3
2
x
4
23
x
x
x
7
59
4
10
1
29
Pseudomyrmex pallidus Smith.
Tetraponera sp.
Outros
1
x
10
12
x
x
3
15
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
5
12
x
5
7
3
1
5
25
42
Táxon
Dermaptera
Diptera
Hemiptera
Auchenorrhyncha
Heteroptera
Hymenoptera
Formicidae
Formicinae
Camponotus sp.
Outros
Dolichoderinae
Monacis sp.
Myrmicinae
Aphaenogaster sp.
Atta sp.
Atta sexdens
Cephalotes sp.
Crematogaster sp.
Daceton armigerum Emery.
Hypocryptocerus sp.
Outros
Ponerinae
Pseudomyrmecinae
Outros
Continua...
111
Continuação.
Táxon
Isoptera
Lepidoptera
Sítio 1
61
Sítio 2
220
Sítio 3
3
Sítio 7
33
Sítio 8
3
Sítio 9
21
Total
341
x
x
1
x
x
x
1
x
x
x
1
x
x
1
x
x
x
1
1
x
x
x
x
x
x
x
x
1
2
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
3
1
2
x
x
3
1
2
2
3
x
1
x
x
x
x
2
x
x
x
x
2
x
x
x
x
2
x
2
3
2
x
x
x
2
x
x
x
x
x
x
1
x
2
1
x
x
1
1
3
1
x
x
x
x
x
x
x
6
x
x
1
1
9
6
1
1
x
5
x
x
x
6
x
23
x
1
x
18
x
11
x
x
x
31
x
11
x
x
x
x
1
7
1
x
1
46
x
7
2
x
x
24
x
5
1
x
x
6
1
64
4
1
1
125
Castiniidae
Outros
Ctenuchidae
Cosmossoma sp.
Nymphalidae
Biblidinae
Callicore cynosura
Callicore sp1.
Charachinae
Danainae
Lycorea cleobaea (Hübner,
1823)
Heliconiinae
Itomiinae
Morphinae
Morpho achilles (Linnaeus,
1758)
Morpho sp1.
Nymphalinae
Satyrinae
Taygets sp1.
Pieridae
Outros
Uraniidae
Urania leilus (Linnaeus, 1758)
Outros
Mantodea
Neuroptera
Odonata
Orthoptera
Continua...
112
Continuação.
Táxon
Phasmatodea
Trichoptera
Arachnida
Araneae
Sítio 1
x
x
Sítio 2
x
x
Sítio 3
x
x
Sítio 7
x
x
Sítio 8
1
2
Sítio 9
x
x
Total
1
2
24
95
97
90
62
18
386
x
x
x
x
x
x
926
x
x
x
1
x
x
1456
x
x
1
x
1
1
1454
2
2
x
x
x
8
824
2
x
x
x
x
x
1193
x
x
x
x
x
x
638
4
2
1
1
1
9
6491
Labidognatha
Salticidae
Myrmarachne sp1.
Myrmarachne sp2.
Myrmarachne sp3.
Myrmarachne sp4.
Myrmarachne sp5.
Myriapoda
Total
113
2.1.9.2.
Figuras
Figura 1. Sítios amostrados no levantamento de artrópodes na Reserva Biológica
Nascente da Serra do Cachimbo – PA (1ª e 2ª fases).
114
Figura 2. Início do transecto do sítio 1, evidenciando a fitofisionomia de campinarana
com solo arenoso exposto.
Figura 3. Fitofisionomia do sito 2.
115
Figura 4. Fitofisionomia do início do transecto do sítio 3.
Figura 5. Afloramento rochoso presente no transecto do sítio 3.
116
Figura 6 – Fitofisionomia do sítio 4.
Figura 7 – Vegetação predominante do sítio 5.
117
Figura 8. Área utilizada como base de pesquisa onde foi instalado o sítio 6.
Figura 9. Início do transecto do sítio 8.
118
Figura 10. Vegetação predominante do final transecto do sítio 8.
Figura 11. Formação vegetal predominante no sítio 7.
119
Figura 12. Vegetação predominante no sítio 9.
5.6E-02
2.7E-01
100
75
Distance (Objective Function)
4.9E-01
7.1E-01
Information Remaining (%)
50
25
9.2E-01
0
S1
S2
S3
S4
S6
S5
Figura 13. Dendrograma de agrupamento dos sítios amostrados na 1ª Fase (seca).
120
4.8E-02
1.7E-01
100
75
Distance (Objective Function)
3E-01
4.2E-01
Information Remaining (%)
50
25
5.4E-01
0
S1
S2
S9
S8
S3
S7
Figura 14. Dendrograma de agrupamento dos sítios amostrados na 2ª Fase (chuva).
121
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES DA
SERRA DO CACHIMBO
CARACTERIZAÇÃO BIÓTICA: LEVANTAMENTO DE ICTIOFAUNA NA RESERVA
BIOLÓGICA NASCENTE DA SERRA DO CACHIMBO (PA)
(Relatório Final)
Responsável Técnico: Prof. MSc. Solange Arrolho.
Realização:
INSTITUTO CENTRO
DE VIDA
Apoio:
W W F - BRASIL
Junho de 2006
122
Relatórios Meio Biótico
2.2. Ictiofauna
Responsável técnico: Biól. Solange Arrolho
Colaboradores: Dilmar Gonçalves Ramires e Rosalvo Duarte Rosa, Divina Sueide de Godoi,
Cláudio Vicente Pascoal, Wagner Smerman.
2.2.1. 1 RESUMO
Que a Amazônia é insuperável em sua biodiversidade, sua dimensão da bacia permite a
existência de ecossistemas aquáticos de enorme complexidade. Esta variedade de ambientes
contribuem para que a Amazônia tenha a maior fauna de água doce do mundo. Tendo como
principais objetivos: Elaborar o diagnóstico icitiofaunístico, com base em levantamento de
campo, tanto na época da seca como na cheia, na área da Reserva das Nascentes da Serra do
cachimbo. Medir e comparar os parâmetros fisico-quimicos da água dos rios, visando
diagnosticar a qualidade da água das princiais micro-bacias da Reserva. Foram medidas e
analisadas as seguintes variáveis limnológicas, temperatura, pH, condutividade e oxigênio
dissolvido. Com capturas de peixes realizadas com uma variedade de aparelhos e métodos de
acordo com as características de cada ambiente. Nas análises da qualidade da água dos rios
verifica-se que os parâmetros físico-químicos demonstram a ótima qualidade da água para a
sobrevivência de peixes tanto na estação da seca como na cheia. Entre os rios não houve
variação significativa no teor de pH, condutividade, oxigênio dissolvido e temperatura.
Enquadrando todos os pontos de coleta na categoria 1 (ótimo), desta forma podemos dizer que
a qualidade da água nos rios trabalhados tanto na estação seca quanto na chuvosa é favorável
a manutenção da diversidade de peixes da região. Foram registradas cerca de 50 espécies de
peixes na seca e 54 na cheia nos rios pesquisados, sendo coletas 19 (Seca) e 30 (Chuvas), 22
espécies foram apontadas pelas pessoas entrevistadas e 11 apenas feita a visualização por
observação direta do peixe no rio. Verifica-se que as nascentes ou pontos próximos as
nascentes possuem alta similaridade de espécies (P1, P5 e P18, todos apresentam
pouquíssimas espécies). No outro extremo temos pontos que apresentam alto índice de
diversidade e abundância de várias espécies (P10, P17, P11, P12 e P13). Desta forma rios
como o Anta, São Bento, Nilana (P1), Curuaés (P8), Iriri e Ipiranga (nascentes) são muito
similares em sua composição íctica; já os rios Nilana , Flecha, Curuaés, Ipiranga, Água Fria Iriri
e Curuá abaixo das corredeiras e cachoeiras atingem uma similaridade entre 100 a 50%.
Dentre as espécies de peixes coletadas nos nove rios, nas duas expedições, temos: 60% de
Characiformes; 23% de Siluriformes; 12% de Perciformes; 3,5 de Myliobatiformes e 1,5 os
Gymnotiformes. Assim, tanto do ponto de vista conservacionista, quanto do ponto de vista
123
econômico, a melhor forma de garantir a manutenção da integridade ambiental de um
ecossistema é a sua preservação, sem maiores intervenções antrópicas.
2.2.2. INTRODUÇÃO
A América do Sul contém a mais rica ictiofauna de água doce do mundo, porém a
avaliação e compreensão dessa rica diversidade são negativamente afetadas pelo
conhecimento incompleto de sua ecologia e sistemática (Menezes, 1969). Em termos de
diversidade, Bohlke et al, (1978) estimaram que o número final de espécies de água doce
neotropicais chegaria a 5.000. Vinte anos depois, a estimativa de Schaefer (1998) aponta o
impressionante número de 8.000 espécies, o que, proporcionalmente, representa um oitavo de
toda a biodiversidade estimada de vertebrados viventes (Vari & Malabarba, 1998).
Ainda hoje há muitas espécies de peixes sendo descritas, algumas de porte muito
grande e que surpreendentemente passaram desapercebidas até bem pouco tempo atrás
(Berra, 1997).
A maior parte da ictiofauna na Amazônia, constituída por espécies de pequeno e médio
porte, permanece nesta situação, com poucos registros publicados além da descrição original.
Tornando-se ainda mais preocupante frente as pressões ambientais atuais movidas por um
ritmo acelerado de devastação de áreas florestais e alterações generalizadas em sistemas
aquáticos, na forma de poluição, assoreamento e barramentos (Zanson, 1999).
Que a Amazônia é insuperável em sua biodiversidade, sua dimensão da bacia permite a
existência de ecossistemas aquáticos de enorme complexidade. Esta variedade de ambientes
contribuem para que a Amazônia tenha a maior fauna de água doce do mundo (Val &
Honczaryk, 1995).
A bacia Amazônica é a maior e mais densa rede fluvial do mundo, drenando
aproximadamente 6,4 milhões de Km2 do continente Sul Americano e contribuindo com 1820% da descarga mundial das águas continentais no oceanos. Na Amazônia as variações na
aparência e conteúdo químico de seus sistemas aquáticos naturais estão associados aos
diferentes padrões de distribuição das condições geológicas e mineralógicas dentro de sua
imensa bacia hidrográfica (Sioli, 1950).
Desta forma, o funcionamento de um ecossistema fluvial é complexo, pois é um
ambiente
muito
heterogêneo,
cujas
características
morfométricas
e
físicas
variam
longitudinalmente entre a cabeceira e a foz. Este contínuo de variação influi marcadamente na
distribuição e função dos organismos móveis e sésseis encontrados ao longo deste gradiente
(Vannote et al, 1980). Segundo Uieda (1989), além das condições físico-químicas da água
deve-se levar em conta estruturas do ambiente, como presença ou ausência de fendas de
rochas, galhos e troncos submersos ou vegetação aquática, importantes constituintes de
microhabitats, servindo principalmente como refúgio para peixes.
124
Existem modelos de distribuição da ictiofauna em função das características e variáveis
ambientais das águas continentais. Esses modelos baseiam-se desde variáveis limnológicas
básicas à vida aquática como pH, dureza, condutividade, temperatura, (Esteves, 1978) a
mecanismos complexos do sistema como disposição de mata ciliar (Barrella et al, 1994) e
disponibilidade de micro-habitats (Ríncon, 1999).
Entre as características de um ambiente aquático, uma das mais importantes é a
quantidade de oxigênio dissolvido, que atua decisivamente como regulador das atividades
metabólicas da comunidade (Junk, 1989). No período das secas, em alguns ambientes
aquáticos, este gás pode se tornar extremamente limitante, atuando como importante fator
seletivo sobre as espécies destes locais (Saint-Paul & Soares, (1987), principalmente em
cabeceiras de córregos, onde na época de seca, existe uma forte tendência a se formarem
pequenas poças isoladas, devido ao interrompimento do fluxo da água.
Com o intuito de promover o entendimento dos padrões de organização dos
ecossistemas aquáticos torna-se, portanto, indispensável o desenvolvimento de protocolos de
Avaliação Ecológica Rápida da biodiversidade e que possam ser utilizados como ferramentas
adequadas no manejo e conservação de ecossistemas naturais (Callisto et al, 2002).
Entretanto, deve-se levar conta os parâmetros ambientais (ex:contaminação por metais,
qualidade da água, etc.), em conjunto com observações ligadas a fauna e flora regionais
(Corgosinho, 2004). Portanto, conhecer a fauna de uma unidade de conservação é
indispensável para estabelecer instrumentos de gestão, tais como zoneamento e planos de
manejo.
2.2.3. OBJETIVOS
Elaborar o diagnóstico icitiofaunístico, com base em levantamento de campo, tanto na
época da seca como na cheia, na área da Reserva das Nascentes da Serra do cachimbo.
Medir e comparar os parâmetros fisico-quimicos da água dos rios, visando diagnosticar
a qualidade da água das princiais micro-bacias da Reserva.
Amostrar sítios de coleta de peixes considerando as variações fisionômicas da região.
Apontar os principais problemas ligdos a ictiofauna e qualidade da água da Reserva.
Sugerir medidas que visem a conservação e preservação dos ambientes aquáticos da
Reserva, com vistas a sustentabilidade.
2.2.4.
Métodos
2.2.4.1. Obtenção de Dados Secundários
Foram entrevistadas pessoas que residem no local e costumam pescar nos rios da
região com o objetivo de obter informações sobre os peixes que existem na região e não foram
125
coletados: João Rodrigues da Silva, Claudio (capataz da Fazenda do Barchet), Valdenor
Mendes Ferreira Lima (Neguinho), Marcelo de Castro Souza, Laurindo (Agricultor e pescador),
Enivaldo e Grilo.
Para a identificação dos exemplares foram feitas comparações com o material
depositado na Coleção Ictiológica da UNEMAT/ Alta Floresta, bem como bibliografia
especializada (Reis, et all, 2003). A análise da ocorrência das espécies é apresentada por área
e tipo de ambiente (biótipo) com caracterização desses conjuntos ictiofaunísticos.
Para análise de similaridade entre os pontos de coleta foi utilizada a Análise de Cluster
(Gauch, 1982) com distância Relativa de Sorensen (Kulcynski) ligados pelo método de Ward,
utilizando o programa PC-ORD (McCune & Mefford, 1999).
4.2 Obtenção de Dados Primários
Foram medidas e analisadas as seguintes variáveis limnológicas: 1. temperatura, 2.
potencial hidrogeniônico (pH), 3. condutividade elétrica e 4. oxigênio dissolvido. Estas variáveis
foram medidas no local, utilizando-se potenciômetros de campo, no período da manhã e a
tarde em todos os pontos de coleta.
O inventário ictiofaunístico resultou da reunião de todos os registros de espécies de
peixes obtidos para a área das nascentes da Serra do Cachimbo, e representa as capturas
realizadas com uma variedade de aparelhos e métodos de pesca, de forma a produzir uma
amostragem da ocorrência da ictiofauna na área. Malhadeiras, rede de lance, rede de arrasto
de fundo, tarrafas, puçás, linha e anzol, covos, peneiras e coleta manual foram utilizados, de
acordo com as características de cada ambiente. O esforço de coleta em cada localidade e
biótipo foi padronizado, de forma a permitir uma análise qualidade e quantitativa das amostras.
Ao longo dos trabalhos de campo, procurou-se realizar amostragens nos mais diversos
locais e biótopos identificados pela equipe. Barranco dos rios, corredeiras, troncos caídos no
leito e outros microhabitats. Todos os exemplares foram identificados em nível taxonômico o
mais detalhado possível.
2.2.5.
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA RESERVA - RESULTADOS DA
AVALIAÇÃO ECOLÓGICA RÁPIDA
A Serra do Cachimbo localiza-se entre a região Sul do Estado do Pará e o Norte do
Estado do Mato Grosso, em território dos municípios de Apiacás (MT), Jacareacanga e Novo
Progresso (PA) (GTA, 2005).
A Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, conta com uma área de 342.477
hectares, está localizada na extremidade sudeste da Serra do Cachimbo, sul do Pará,
adjacente à BR-163 e limitando-se com as terras indígenas Panará e Menkragnoti. É uma área
de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica, o que confere à região uma alta
biodiversidade. Além disso, abriga as nascentes de importantes rios das bacias do Xingu e
126
Tapajós, incluindo os rios Cristalino, Ipiranga, São Benedito, Braço Sul, Braço Norte, Flecha,
Curuá, Curuaés, Iriri e Nhanhdu (GTA, 2005).
O regime de suas águas é equatorial perene com enchentes no verão. Os Kuruaya
falam da dificuldade que é navegar no período de água baixa, pois a quantidade de pedras que
aparece pode destruir os barcos lotados de mercadorias, ou fazê-los carregar os barcos
pequenos enquanto caminham a pé por longos percursos (GTA,2005).
Na Serra do Cachimbo a integridade ecológica das paisagens e da biodiversidade
associada está severamente ameaçada pela exploração madeireira, prospecção mineral,
ocorrência de queimadas indiscriminadas, fragmentação dos habitats naturais e ritmo crescente
de desenvolvimento (GTA, 2005).
Pouco conhecida em relação à fauna e flora que abriga, esta região vem sendo
apontada como prioritária para a realização de inventários que subsidiem políticas regionais de
conservação. Ali existe um mosaico interessante de tipos diferentes e peculiares de vegetação,
resultando em grande heterogeneidade ambiental, com alta diversidade de espécies, muitas
das quais típicas da área, em ambientes que mesclam elementos amazônicos e elementos do
cerrado (MMA, 2002).
O trecho de solo correspondente à Serra do Cachimbo é composto basicamente por
areia, com pouca capacidade de retenção de água e pobre em nutrientes. Por causa dessas
características, esse tipo de solo apresenta problemas de erosão quando é desmatado. Esse
problema surgiu de forma intensa durante a abertura da estrada, afetando até mesmo as
condições de uso dela. Como é muito arenoso e tem pouca capacidade de ter água, o solo
desse trecho não é apto para a produção agrícola (MMA, 2002).
Sabe-se que os rios que nascem na Serra do Cachimbo estão distribuídos da seguinte
forma:
Água
Flecha ↓
Fria ↓
Curuaés → Curuá → Iriri → Xingú →Amazônas
Ipiranga ↑
Nilana ↑
Anta (Cristalino) →Teles Pires → Tapajós → Amazonas
São Bento ↑
A seguir são descritos os 23 pontos de coleta de peixes (Figura 01), distribuídos em
nove rios (Sítios Amostrais) da reserva: Nilana, Curuá, Curuaés, Flecha, Água Fria, Ipiranga,
Iriri, São Bento (Braço Norte) e Anta (Cristalino), dos quais os pontos 07, 17, 18, 19 e 22 não
se encontram dentro da reserva, mas foram feitos para comparações e também por fazerem
127
parte do entorno da área. Os pontos 03 e 11 não foram repetidos na época da chuva, pois as
estradas não estavam em condições trafegáveis e era praticamente impossível alcançar estes
pontos.
Rio Nilana
Ponto 01 – (21L 0763070 UTM 8996790) Rio Nilana, acampamento, mata ciliar intacta,
vegetação característica de floresta umbrófila e trechos rochosos com vegetação característica
de cerrado. Árvores finas e altas com até 30 metros de altura. Solo arenoso cinza.
Leito do rio rochoso com entremeados de areia e alguns troncos caídos enroscados nas
rochas, largura média de 10 metros e profundidade variando de 0,5 metros a 3 metros (poços
das cachoeiras) na seca com aumento de 0,80 cm de profundidade nas chuvas, ambiente de
nascente com muitas corredeiras e cachoeiras. Na época das chuvas houve um aumento do
volume de água de até 30%. Altitude de 573 metros.
Ponto 02 – (21L 0779555 UTM 8996052) Rio Nilana, poço das ariranhas, mata ciliar
intacta, vegetação característica de floresta umbrófila densa, com árvores entre 30 a 40 metros,
mais próximo a margem presença de macrófitas do gênero Eichornia. Solo arenoso cinza
escuro.
Leito arenoso com barranco de mais de dois metros de altura, nas duas margens.
Largura de 10 a 15 metros e profundidade de 2 a 4 metros, poços troncos caídos no leito, água
de cor clara, correntoza. Altitude de 334 metros.
Ponto 03 – (21L 0780499 UTM 8994678) Rio Nilana, fazenda do senhor Betinho, mata
ciliar intacta, vegetação da margem esquerda característica de floresta umbrófila densa, com
árvores de grande porte, já na margem direita ocorre um emaranhado de galhos e cipós (sarã)
característico de áreas alagadas. Solo arenoso cinza escuro.
Leito arenoso com grande quantidade de troncos e galhos caídos, bancos de areia
expostos muitas vezes formando praias. Largura muito variável entre 5 a 15 metros e
profundidade de 0,5 a 2,5 metros nos poços deixando a água mais escura. Altitude de 322
metros.
Rio Curuá
Ponto 04 – (21L 0750490 UTM 8992355) Nascente do rio Curuá, com mata ciliar
primária (intacta) com dossel fechado, sendo caracterizada como vegetação de transição entre
cerrado e floresta umbrófila, com abundância de raízes expostas nas margens do rio, folhas e
troncos em decomposição, cerca de 20 a 30 metros do rio com áreas bastante úmidas
(alagadas) em alguns trechos. Na época das chuvas esta área alagada estava encharcada,
com água em excesso. Solo arenoso, areia branca.
128
No leito do rio presença de troncos e restos vegetais em abundância e pequenos
trechos (15 a 20 metros) de areia, rochas esparsas. Água correntosa, cristalina, largura de 2
metros e profundidade média de 1 metro. Rio de 2a ordem, distância da nascente 3 Km e
encontro com outro rio cerca de 20 Km. Altitude de 582 metros.
Ponto 05 – (21L 0725395 UTM 9030544) Rio Curuá, Prainha. Vegetação de transição
entre floresta umbrófila e cerrado, acima da cachoeira as árvores são bastante semelhantes as
do cerrado, com altura de 4 metros no máximo, na parte abaixo da cachoeira as árvores são
mais altas até 10 metros. A margem direita do rio está intacta, mas na margem esquerda o
local é utilizado como acampamento, está cheio de lixo, com grande quantidade de lixo, foram
construídos bancos e mesa que são pregadas nas árvores. Solo arenoso sujeito a erosão.
Leito do rio arenoso com rochas expostas, água cristalina com formação de um poço de
aproximadamente 1000 metros quadrados na queda da cachoeira e profundidade de mais de 4
metros, presença de macrófitas aquáticas. Altitude de 402 metros.
Ponto 06 – (21L 0724071 UTM 9034406) Rio Curuá, abaixo Cachoeira de 80 metros.
Vegetação de floresta umbrófila, com árvores de mais de 40 metros de altura. Próximo da
cachoeira a vegetação está intacta, mas conforme o rio vai descendo a vegetação se torna
antropizada tanto pela construção de uma usina como pelo desmatamento de suas margens.
Leito do rio arenoso com grande quantidade de rochas expostas, água na parte mais
rasa (até 1 metro) de cor cristalina, quando fica mais fundo (até 6 metros) a cor muda para
escura como chá. Altitude de 239 metros
Ponto 07 – (21L 0720090 UTM 9041882) Rio Curuá, estrada do Flecha, com mata ciliar
antropizada, pastagem próximo a margem, com acentuado efeito de borda, árvores de até 8
metros com cipós entrelaçados, vegetação caracterizada como transição entre floresta
umbrófila e cerradão, trechos com áreas alagadas. Solo arenoso, areia branca e cinza.
No leito do rio grande quantidade de rochas que em alguns trechos formam-se
corredeiras, troncos caídos, solo arenoso. Água correntoza, clara, com largura variando de 10
a 20 metros, profundidade entre 1 a 5 metros, o rio na época da cheia subiu cerca de 1,5
metros. Altitude de 228 metros.
Rio Curuaés ou Pitchatcha
Ponto 08 – (21L 0754689 UTM 8995066) Rio Curuaés, Fazenda Enivaldo, mata ciliar
com áreas laterais encharcadas, vegetação de transição entre cerrado e floresta umbrófila
aberta, árvores finas com altura de até 10 metros. Acima da ponte a mata ciliar está intacta
abaixo, descendo o rio (cerca de 400 metros), na margem direita, existe uma área de
pastagem, com a margem direita alagada. Solo arenoso cinza com manchas avermelhadas.
Leito arenoso com troncos e galhos caídos em toda a extensão da área de coleta, água
cristalina, largura variando entre 3 a 6 metros e profundidade de 0,5 com poços de 1,5 metros.
129
Distância aproximada de 5 Km da nascente e 15 Km do encontro com outro corpo d’agua.
Altitude de 519 metros.
Ponto 09 – (21L 0760924 UTM 9008616) Rio Curuaés, ponte amarrada, mata ciliar
acima da ponte com ação antrópica leve, abaixo está intacta, vegetação de transição entre
cerrado e floresta umbrófila aberta, áreas laterais as margens permanentemente encharcadas.
Solo arenoso, de areia cinza e manchas brancas.
Leito do rio arenoso, com abundância de rochas expostas formando corredeiras,
acentuada velocidade da água, muitos galhos e troncos caídos na água cristalina com poços
mais escuros, profundidade de 1 a 3 metros e largura média de 10 metros, marca de enchente
na vegetação marginal com 1,8 metros. Altitude de 480 metros.
Ponto 10 – (21L 0776400 UTM 9014098) Rio Curuaés, bucha quebrada na fazenda
Barchet, mata ciliar antropizada com menos de cinco metros de vegetação seguido de
pastagem, vegetação característica de transição entre cerrado e floresta umbrófila, intenso
efeito de borda. Solo argiloso com presença de erosão e assoreamento, areia cinza.
Leito do rio arenoso, água clara, com troncos e galhos caídos, largura média de 15
metros, profundidade média de 1,5 metros, com bancos de areia e rochas expostas. Altitude de
295 metros.
Ponto 11 – (21L 0779750 UTM 9019230) Rio Curaés, fazenda Barchet, mata ciliar de
galeria, com áreas alagáveis (margem esquerda), caracterizada por floresta umbrófila densa,
sendo que a cerca de 20 anos foram retiradas toras de mogno. Árvores de porte alto,
aproximadamente 20 a 30 metros. Solo arenoso com presença de manchas de argila, areia
cinza com argila avermelhada.
Leito do rio arenoso, com barrancos altos de solo areno-argiloso, abundância de troncos
caídos e rochas expostas, água clara, largura entre 10 a 15 metros e profundidade de 1 metro
com poços que chegam a 5 metros, na época das chuvas o rio subiu cerca de 1,5 metros.
Altitude de 289 metros.
Ponto 12 – (21L 0779575 UTM 9022300) Rio Curuaés, próximo ao aterro. Vegetação
característica de floresta umbrófila densa, intacta, apenas foram retiradas madeiras de valor
econômico acerca de 4 anos. Árvores de mais de 20 metros de altura, com alguns locais de
áreas alagadas. Solo areno argiloso de cor cinza escura.
Leito do rio arenoso, típico de planície, água de cor clara, largura entre 10 a 20 metros e
profundidade variável. Na margem direita apresenta marcas típicas de pesqueiro,
provavelmente por ser em terras indígenas, os índios utilizam esta área como local de pesca.
Altitude de 283 metros.
Ponto 13 – (21L 0771807 UTM 9037352) Rio Curuaés, estrada dos índios. Vegetação
na margem direita (Reserva Indígena) com arbustos e cipós entrelaçados, com presença de
sara, mostrando sinais de alagamento. Na margem esquerda vegetação totalmente
130
antropizada, segundo informações este era um local onde os índios se reuniam, hoje serve
como pesqueiro por moradores da região. Solo arenoso, sujeito a processo erosivo.
Leito do rio arenoso, com construção de uma bucha (ponte) de aproximadamente 30
metros de largura. Água de cor clara, rio com largura variando entre 10 a 30 metros e
profundidade média de 4 metros. Altitude de 258 metros.
Rio Flecha
Ponto 14 – (21L 0746734 UTM 9041418) Rio Flecha, estrada norte. Cerca de 2 Km
abaixo da cachoeira de 70 metros. Área bastante antropizada, vegetação característica de
floresta umbrófila com árvores finas com cerca de 8 metros de altura, com menos de 5 metros
de mata ciliar com formação de pastagem. Solo arenoso com presença de erosão.
No leito, vários troncos caídos (jogados) pelo desmatamento das margens, local
provavelmente utilizado para pesca de moradores da região. Solo arenoso, com água de cor
barrenta, com poços de água parada em alguns pontos das margens. Largura de 5 a 8 metros
e profundidade variando em 0,50 a 2 metros Altitude de 268 metros.
Rio Água Fria
Ponto 15 – (21L 0741289 UTM 9043240) Rio Água Fria, estrada norte. Área
antropizada, com restante da vegetação característica de floresta umbrófila, com árvores de 20
metros de altura. Solo arenoso de coloração amarela, sujeito a processo erosivo.
Leito do rio de água correntoza, de coloração marrom (suja) na parte mais funda (2 a 3
metros), na parte rasa (0,50 cm) é possível verificar a presença de várias espécies de peixes.
Solo arenoso com presença de troncos caídos no leito. Altitude de 258 metros.
Rio Ipiranga
Ponto 16 – (21L 0757571 UTM 8977428) Rio Ipiranga, nascente. Vegetação intacta,
característica de floresta umbrófila densa com árvores de grande porte, mais de 40 metros,
existe apenas um desmatamento de cerca de 2000 metros quadrados que já está abandonado.
Solo areno argiloso de cor cinza escuro.
Leito do rio arenoso, com presença de rochas e cascalhos, apresenta um complexo de
cachoeiras que variam de 2 a 50 metros de altura, o que torna a água com correnteza forte.
Água de cor cristalina. Largura variando entre 2 a 10 metros e profundidade entre 0,50 a 6
metros (poço da cachoeira). Altitude de 631 metros.
Ponto 17 – (21L 0777696 UTM 8975342) Rio Ipiranga, ponte estrada da reserva
indígena. Ponto cerca de 3 Km abaixo da última cachoeira do rio. Vegetação praticamente
intacta, característica de floresta umbrófila densa, com árvores de 20 metros de altura. Solo
areno argiloso de coloração amarelo com manchas cinza.
131
Leito do rio arenoso com rochas expostas, muitas vezes formando corredeiras
pequenas. Água de coloração escura, com presença de grande quantidade de sedimentos em
suspensão. Largura entre 10 a 40 metros e profundidade extremamente variável entre 0,50 a
10 metros. Apesar da população local pescar em diversos locais das margens, o rio mantêm
suas características naturais.Altitude de 315 metros.
Rio Iriri
Ponto 18 – (21L 0756959 UTM 8960700) Rio Iriri, nascente. Vegetação típica de
cerrado, com árvores tortas e de pequeno porte (3 metros) esparsas. Área com várias
nascentes, pequenos corpos d’água que brotam do chão e do meio da vegetação, formando
corpos de água maiores e com profundidade de 0,50 metros. A estrada passa no meio destas
nascentes e pode causar impactos irreversíveis. Solo extremamente arenoso de coloração
branca, sujeito a intenso processo erosivo. Altitude de 458 metros.
Ponto 19 – (21L 0767909 UTM 8960460) Rio Iriri, estrada do Vale do 15. Vegetação da
margem esquerda típica de local alagado, com arbustos de 2 metros e cipós entrelaçados.
Margem direita característica de floresta de transição entre cerrado, com altura de
aproximadamente 8 metros. Solo arenoso de coloração cinza claro.
Leito do rio com grande quantidade de troncos caídos, água de coloração clara,
correntoza. Largura de 12 metros e profundidade entre 1,5 a 3 metros. Altitude de 385 metros.
Rio São Bento (Braço Norte)
Ponto 20 – (21L 0753412 UTM 8983216) Rio São Bento, nascente. Vegetação de
transição entre cerrado e floresta umbrófila, árvores das margens típicas de local alagado. Solo
arenoso cinza com manchas amarelas e cinza escuro.
Leito do rio arenoso, com fundo branco e água extremamente transparente, mesmo nos
poços mais fundos, largura 2 metros e profundidade entre 0,50 a 1,80 metros. A nascente fica
em um vale com margens em queda abrupta, o que pode causar grande assoreamento se for
retirada a vegetação. Altitude de 582 metros.
Ponto 21 – (21L 0738011 UTM 8975764) Rio São Bento, Br.163. Vegetação de
transição entre floresta e cerrado, apenas do lado direito, já no lado esquerdo a área está
antropizada, mesmo na parte da Base Aérea, o local é provavelmente utilizado como
acampamento e pesqueiro. Solo arenoso de coloração cinza claro, sujeito a processo erosivo.
Leito do rio arenoso com rochas expostas, de coloração escura (chá), abaixo da ponte,
cerca de 500 metros ocorrência de corredeiras. Largura aproximada de 5 metros e
profundidade entre 1 a 3 metros. Altitude de 475 metros.
Rio Anta (Cristalino)
132
Ponto 22 – (21L 0729260 UTM 8991644) Rio Anta, Fazenda Jorge, com mata ciliar
antropizada, pastagem chegando até a margem direita em alguns trechos, na margem
esquerda sendo caracterizada como vegetação de transição entre cerradão e floresta umbrófila
aberta, com intenso efeito de borda. Sinais de erosão e assoreamento por pisoteio de gado,
que desce direto no rio para beber água. Solo aneroso, areia cinza e avermelhada.
Leito do rio com areia e cascalho, rochas expostas, com grande quantidade de troncos
jogados, água cristalina, com largura média de 3 metros e profundidade variando entre 0,5 a 3
metros na época das chuvas tanto o volume de água, como a profundidade aumentou mais de
2 metros . Altitude de 523 metros.
Ponto 23 – (21L 0732886 UTM 8989428) Rio Anta, ponte BR 163, mata ciliar intacta,
com ação antrópica nas laterais da estrada (5 metros), vegetação caracterizada como transição
entre floresta umbrófila e cerradão, abundância de buriti. Solo arenoso com manchas de argila
vermelha.
Leito do rio com areia e cascalho, corredeiras com rochas expostas, largura entre 8 a 15
metros, profundidade com grande variação 0,5 a 4 metros na seca, mas na época das chuvas
o rio aumentou cerca de 2 metros de profundidade. Altitude de 506 metros.
133
Figura 01. Mapa das Nascentes da Serra do Cachimbo, com os pontos de coleta.
134
2.2.6.
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS
2.2.6.1. Parâmetros físico-químicos
Segundo Lowe-McConnell (1987) fatores físico-químicos, barreiras geográficas, altas
velocidades de fluxo, além de tamanho e condições de refúgios na estação da seca podem ser
limitantes para a fauna aquática. Além disso, a diversidade de espécies tende a aumentar com
o tamanho da área e a diminuir em comunidades bióticas que sofrem algum tipo de estresse
(Odum, 1988).
Nas análises da qualidade da água dos rios verifica-se que os parâmetros físicoquímicos demonstram a ótima qualidade da água para a sobrevivência de peixes tanto na
estação da seca como na cheia. Entre os rios não houve variação significativa no teor de pH
estando o menor entre 6,1 (Rio Anta) e o maior 7,6 (Rio NIlana) na seca, já na cheia o menor
foi de 4,8 (São Bento) e o maior valor de 8,7 (Rio Nilana). Assim, verifica-se que na maioria dos
rios o ph aumenta da nascente para a foz (Tabela 01). Este fato pode ser explicado pelas
características geomorfológicas diferenciadas das áreas de nascentes dos rios e na estação
chuvosa pelo grande aporte de água de enxurrada recebida pelos rios.
Um dos principais fatores limnológicos que determinam o estabelecimento da fauna
aquática é o pH da água, podendo ser limitante tanto em valores muito baixos, como em
valores muito altos (Townsend et al., 1983; Van Dijk et al, 1993). No entanto segundo Goulding
et al, (1988), baixo valor de pH da água, embora possa se constituir em uma barreira ecológica
para algumas espécies, pode manter várias outras que estão evolutivamente adaptadas a este
ambiente.
As concentrações de oxigênio dissolvido (Tabela-01) apresentam-se dentro de valores
ótimos, para a sobrevivência de peixes, mesmo na nascente do Rio Curuá onde foi encontrado
o menor valor (4,6 mg/L) na seca e no Rio Anta (4,9 mg/L) nas chuvas. Estes valores baixos e
uma pequena oscilação nos valores do Rio Curuaés podem ser explicados pela decomposição
de restos vegetais das margens dos rios em locais alagados durante a estação chuvosa.
Segundo Lowe & McConnell (1999) a concentração de oxigênio tem fundamental
influência nos padrões de distribuição da ictiofauna, sendo que os peixes respondem as
condições existentes por meio de migrações ou desenvolvendo adaptações para suportar
condições extremas, não é o caso apresentado nesta pesquisa, visto que todos os locais de
coleta apresentaram concentrações aceitáveis de oxigênio dissolvido.
Nos rios Anta, Curuaés, São Bento, Iriri, Ipiranga e Nilana os valores de condutividade
(Tabela 01) aumentam da nascente para a foz, Pereira (1995) e Godoi (2004) indicam que esta
característica do ambiente apresenta um gradiente ascendente da nascente em direção a
desembocadura dos rios. No rio Curuá esta inversão pode ser explicada pela nascente (ponto
04) estar recebendo materiais alóctones, que podem estar sendo sedimentados no leito em
locais mais baixos, no pé das cachoeiras ou corredeiras, voltando a aumentar quando o rio
135
entra num sistema de planície. O aumento da condutividade da água está relacionado a
entrada de matéria particulada erodida no sistema, sendo indicativo de princípio de
eutrofização, devido a entrada de nutrientes e íons no sistema.
Apesar da sensação térmica ser de que a água estava mais fria no período da manhã
do que a tarde, não ocorreram modificações de mais de 0,5oC entre os período, os valores de
temperatura não sofreram variações acentuadas nos rios trabalhados (Tabela 01). Segundo
Zavala-Camin (2004) a temperatura é um dos mais importantes componentes dos
ecossistemas aquáticos por sua influência nas reações químicas, principalmente sobre as
enzimas e em geral sobre o metabolismo dos organismos. O autor ressalta que as variações
térmicas se manifestam com maior ou menor intensidade de acordo com o volume, onde
pequenos corpos de água, são mais rapidamente influenciados pela temperatura ambiente.
Durante os dias de coleta verificou-se que a temperatura ambiental não sofreu variações
acentuadas nos diferentes pontos de coleta.
Tabela 01 - Características Físico-quimicas dos rios em cada ponto de coleta.
pH
Ponto de Coleta Rio
Seca - Cheia
Condutividade
µs/seg
Temperatura
o
C
Seca - Cheia
Seca - Cheia
Seca - Cheia
O2 *
mg/L
01- Nilana
6,8
6,4
6,3
13,4
22,5
22,0
6,7
8,4
02- Nilana
-
8,7
-
22,9
-
22,0
-
6,8
03- Nilana
7,6
-
23,5
-
23,1
-
6,0
-
04- Curuá
6,9
6,3
8,2
7,7
22,7
24,0
4,6
5,3
05- Curuá
-
7,1
-
5,6
-
20,3
-
8,3
06- Curuá
-
6,9
-
8,9
-
23,4
-
8,1
07- Curuá
6,3
6,7
6,2
14,9
24,1
21,0
7,3
7,8
08- Curuaés
7,5
6,9
6,8
4,8
23,6
24,0
6,0
5,2
09- Curuaés
7,2
6,8
10,3
6,7
21,7
23,0
6,5
5,1
10- Curuaés
6,8
6,9
11,2
10,3
23,9
22,0
6,8
5,8
11- Curuaés
6,9
-
15,7
-
24,0
-
6,2
-
12- Curuaés
-
7,8
-
9,3
-
22,0
-
6,0
13- Curuaés
-
7,1
-
12,1
-
23,0
-
6,2
14- Flecha
-
5,7
-
7,8
-
24,0
-
8,9
15- Água Fria
-
6,9
-
7,1
-
22,0
-
5,7
16- Ipiranga
-
5,9
-
7,1
-
21,0
-
8,3
17- Ipiranga
-
8,3
-
37,7
-
23,0
-
7,7
18- Iriri
-
8,1
-
6,2
-
21,0
-
6,3
19- Iriri
-
7,8
-
29,1
-
21,0
-
6,9
136
20- São Bento
-
4,8
-
5,9
-
23,0
-
6,2
21- São Bento
-
5,7
-
9,2
-
21,0
-
5,3
22- Anta
6,1
6,2
6,7
9,8
21,0
23,0
5,7
4,9
23- Anta
6,5
6,2
6,8
9,3
23,8
22,0
6,1
5,3
* Oxigênio Dissolvido em mg/L
Portanto, quanto aos indicadores de natureza físico-química, o pH, a condutividade e o
oxigênio dissolvido, de maneira simples e rápida, nos permite detectar alterações na qualidade
da água. Enquadrando todos os pontos de coleta na categoria 1 (ótimo), desta forma podemos
dizer que a qualidade da água nos rios trabalhados tanto na estação seca quanto na chuvosa é
favorável a manutenção da diversidade de peixes da região.
2.2.6.2. Variação na Altitude
Existem variações acentuadas na altitude dos pontos de coleta dos peixes próximos as
nascentes em direção a foz dos rios, assim no Rio Curuá esta variação foi de 354 metros, no
Curuaés foi de 326 metros, no Anta foi de 23 metros, no Nilana de 251 metros, no Ipiranga de
316 metros, no Iriri foi de 73 metros e no São Bento de 107 metros de altitude. Verificou-se a
presença de inúmeras corredeiras e cachoeiras. Essas variações de altitude causadas por
acidentes geográficos podem influenciar na diversidade de peixes ou na colonização por
espécies migratórias.
A inclinação do terreno (altitude) influencia na velocidade da água, as maiores quedas
geralmente ocorrem nas cabeceiras, onde o caudal pe pequeno, enquanto que nos terrenos
baixos a pouca inclinação de termina menor velocidade e o acréscimo da água dos afluentes
aumenta o volume do rio, estas transformações que ocorrem no sistema podem influenciar na
diversidade e abundância das espécies (Zavala-Camin, 2004).
Para
Zanson
(1999),
algumas
características
dos
ambientes
de
corredeiras
provavelmente representam condições vantajosas para a colonização pela ictiofauna, quando
comparadas a outros tipos de biótipos. Pelo menos três características básicas observadas
merecem ser apontadas: abundância de alimento, grande disponibilidade de abrigos e uma
aparente baixa pressão de predação.
2.2.7. Ictiofauna
Foram registradas cerca de 50 espécies de peixes na seca e 54 na cheia nos rios
pesquisados, sendo coletas 19 (Seca) e 30 (Chuvas), 22 espécies foram apontadas pelas
137
pessoas entrevistadas e 11 apenas feita a visualização por observação direta do peixe no rio
(Tabela 02).
Já o Estudo de Impacto Ambiental da Br 163 registrou cerca de 150 espécies de peixes
para toda a região do entorno da Br, sendo que 70 delas são encontradas em poucos rios. No
que se refere à preservação, a situação aparece não ser preocupante, pois a maioria dos rios e
riachos apresenta boas condições ambientais (MMA, 2003). Não foi possível realizar uma
comparação das espécies encontradas nas duas pesquisas devido ao EIA da Br 163 não
apresentar uma lista das espécies encontradas.
Podemos então comparar os nove rios entre si nos diferentes pontos de coleta, assim
na Figura 02 temos o dendrograma gerado a partir da similaridade de espécies existentes em
cada ponto. O ponto 04 (nascente do Curuá) foi retirado por não apresentar nenhuma espécie.
Verifica-se portanto que as nascentes ou pontos próximos as nascentes possuem alta
similaridade de espécies (P1, P5 e P18, todos apresentam pouquíssimas espécies). No outro
extremo temos pontos que apresentam alto índice de diversidade e abundância de várias
espécies (P10, P17, P11, P12 e P13). Desta forma rios como o Anta, São Bento, Nilana (P1),
Curuaés (P8), Iriri e Ipiranga (nascentes) são muito similares em sua composição íctica; já os
rios Nilana , Flecha, Curuaés, Ipiranga, Água Fria Iriri e Curuá abaixo das corredeiras e
cachoeiras atingem uma similaridade entre 100 a 50%.
Na maioria dos rios da região, os locais de nascentes são seguidos de corredeiras e
cachoeiras (altura variada) o que pode explicar a baixa diversidade de espécies de peixes
nestes locais e a abundância de poucas espécies, como é o caso dos lambaris. Apesar da
ótima qualidade da água estes acidentes geográficos podem servir de barreiras para a
transposição das espécies rio acima. Verificou-se que tanto a diversidade, como a abundância,
aumentam logo após as corredeiras, devendo-se levar em consideração que todo material
carreado pelo rio até as partes baixas pode servir de base para a cadeia alimentar,
determinando assim que estes locais sejam verdadeiros berçários para os peixes (fato
verificado in loco no ponto 06).
138
Figura 02 – Dendrograma de similaridade (Análise de Cluster) entre os Pontos de Coleta
Dentre as espécies de peixes coletadas nos nove rios, nas duas expedições, temos:
60% são representantes dos Characiformes, peixes predominantes de água doce, tendo as
mais variadas formas, habitam todos os tipos de ambientes e possuem vários tipos de hábitos
alimentares, muitas espécies de valor comercial realizam migrações reprodutivas; 23%
representam os Siluriformes, apresentam-se como peixes diversificados, compreendendo
peixes de pequeno porte até formas gigantescas quase todas as espécies são carnívoras,
muitas vezes empreendendo migrações tróficas e reprodutivas; 12% representam os
Perciformes, são peixes que vivem geralmente próximos as margens dos rios e lagos, em
locais com paus e pedras submersas, com hábitos alimentares dos mais variados, podem
formar casais na época da reprodução, possuem formas belíssimas que podem ser utilizadas
em aquário, mas também podem ser apreciados como alimento (tucunaré – Cichla); 3,5
representam Myliobatiformes, nesta ordem temos as raias, que são tipicamente peixes de
locais arenosos ou lodosos, vivem em ambientes diversos, desde águas paradas até
139
correntosas, de hábitos piscívoros; e 1,5 representam os Gymnotiformes, ordem do peixe
elétrico, pode chegar até a 2 metros de comprimento, realiza migrações tróficas e reprodutivas.
Tabela 02 – Classificação dos peixes registrados na AERCachimbo, nos períodos de seca e
cheia, onde FORMA DE REGISTRO: C – Coleta; CP – Comunicação Pessoal e V –
Visualização; PERÍODO: Seca (S) e Cheia (C).
CLASSIFICAÇÃO
NOME
POPULAR
FORMA DE
REGISTRO
(PERÍODO)
Lambaris
C (S, C)
Matrinxã
C (S, C)
-
C (S, C)
Matrinxã
C e CP (S,C)
Saicanga
C (C)
Pacus
CP e V (S, C)
Pacupeva
CP e V (S)
ORDEM: Characiformes
Família: Characidae
Astyanax (Baird & Girard, 1854)
Astyanax maculisquamis (Garutti & Britski, 1997)
Astyanax argirimarginatus (Garutti, 1999)
Bryconops melanurus (Kner, 1858)
Moenkausia (Eigenmann, 1903)
Sub-família: Bryconinae
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Sub-família: Characinae
Galeocharax (Fowler, 1910)
Sub-família: Serrasalminae
Myleus (Muller & Troschel, 1844)
Tometes (Curvier & Valenciennes, 1850)
C (C)
Serrasalmus eigenmanni (Norman, 1929)
Piranhas
C e CP (S, C)
Saia -
C (S, C)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
Serrasalmus spilopleura (Kner, 1858)
Sub-família: Stethaprioninae
Stethaprion (Cope, 1870)
Branca
Lambari
C (C)
Lambaris
C (S,C)
Leporinus brunneus (Myers, 1950)
Piau
C (S)
Leporinus gomesi (Bloch,1794)
Piau
C (S, C)
Brachychalcinus parnaibae (Reis, 1989)
Sub-família: Tetragonopterinae
Tetragonopterus argenteus (Curvier, 1816)
Tetragonopterus chalceus (Spix & Agassiz, 1829)
Família: Anostomidae
140
CLASSIFICAÇÃO
NOME
POPULAR
Leporinus copelandii (Steindachner, 1875)
Piau
FORMA DE
REGISTRO
(PERÍODO)
C (S,C)
Cachorra
CP e V (S, C)
-
C (S, C)
Peixe
CP
Família: Acestrorhynchidae
Acestrorhynchus microlepis (Schomburgk, 1841)
Família: Crenuchidae
Characidium (Reinhardt, 1867)
Família: Cynodontidae
Hydrolicus scomberoides (Curvier, 1816)
Cachorro
Família: Ctenoluciidae
Boulengerella (Spix & Agassiz, 1829)
Bicuda
C (S)
Traira e
C e CP
Família: Erythrinidae
Hoplias (Valenciennes, 1847)
Trairão
Hoplerytrinus sp (Agassiz, 1829)
Jeju
C (S, C)
Curimba
CP e V
Palmito
C (S)
Callichthys (Linnaeus, 1758)
Tamboatá
V (S, C)
Corydoras (La Cepede, 1803)
Tamboatá
V (S,C)
Bagres
C (S, C)
Família: Prochilodontidae
Prochilodus (Agassi, 1829)
ORDEM: Siluriformes
Família: Auchenipteridae
Ageneosus ucayalensis (Castelnau, 1855)
Familia: Callichthyidae
Família: Heptapteridae
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
Pimelodus (La Cepede, 1803)
C (S, C)
Família: Loricariidae
Sub-família: Loricariinae
Loricaria (Linnaeus, 1758)
Raspa -
CP e V (S)
pedra
Loricaria cataphracta (Linnaeus, 1758)
Cascudinho
C (C)
-
C (C)
Jaú
CP
Sub-família: Ancistrinae
Ancistrus (Kner, 1854)
Família: Pimelodidae
Paulicea luetkeni (Ihering, 1898)
141
CLASSIFICAÇÃO
Pseudoplatystoma (Bleeker, 1862)
NOME
POPULAR
Pintado,
FORMA DE
REGISTRO
(PERÍODO)
CP e C (C)
cachara
ORDEM: Perciformes
Família: Cichlidae
Cichla (Bloch & Schneider, 1801)
Tucunarés
CP (S,C)
Chaetobranchus (Heckel, 1840)
Acaras
V (S)
Aequidens epae (Kullander, 1995)
Acara
C (C)
Geophagus (Heckel, 1840)
Acaras
V (S, C)
Joaninhas
C (S, C)
Curvina
C (C)
Peixe
CP e V (S, C)
Crenicichla (Kullander, 1988)
Crenicichla (Heckel, 1840)
Família: Sciaenidae
Plagioscion (Gill, 1861)
ORDEM: Gymnotiformes
Família: Gymnotidae
Electrophorus electricus (Linnaeus, 1766)
Elétrico
ORDEM: Myliobatiformes
Família: Potamotrygonidae
Potamotrygon motoro (Muller & Henle, 1841)
Raia de
CP e V (S, C)
fogo
Potamotrygon hystrix (Muller & Henle, 1834)
Raia
Marrom
Os representantes do gênero Astyanax são extremamente abundantes nos pontos de
coleta, com exceção da nascente do rio Curuá (Ponto 04) onde foram visualizados apenas três
exemplares do lambari de rabo vermelho, na época da seca. Outro gênero presente em todos
os rios, mas apenas nos pontos abaixo das cachoeiras, é o Pimelodella, bagre onívoro que se
adapta facilmente a condições ambientais extremas. Os gêneros Brycon, Serrasalmus
e
Leporinus são comuns nas partes baixas dos rios, nas duas épocas do ano.
A atividade pesqueira, na Amazônia, é importante para a manutenção de muitas
comunidades locais (ribeirinhos, indígenas entre outros). Em função disso, muitas espécies de
peixes apresentam interesse especial, sendo utilizadas para o consumo local, vendidas para
142
outros centros ou ainda utilizadas como peixes ornamentais. Dentre os peixes de interesse
ornamental temos:
Astyanax (lambari de rabo vermelho): peixe de porte pequeno (cerca de 10 cm) de
coloração prata e vermelho intensa o que chama a atenção dos aquariofilistas, muito utilizado
em aquários da Europa e EUA, se adapta facilmente ao ambiente de cativeiro. No Brasil já
existem criatórios no Estado de São Paulo.
Bryconops melanurus (lambari de sangue): de coloração avermelhada, atingindo no
máximo 12 cm de comprimento, é bastante utilizado para ornamentação de aquários, na
reserva foi encontrado geralmente nas nascentes e em locais de cachoeiras.
Callichthys e Corydoras (tamboatás): os representantes destes dois gêneros já são
comercializados no mundo todo, são muito apreciados para viver em aquário, pois além do
porte pequeno possuem coloração diversificada. Muitos são peixes de hábitos vagarosos e
sedentários, natação vagarosa.
Loricaria (raspa pedra) e Ancistrus (cascudinho): peixes de porte pequeno, são gêneros
famosos para os aquariofilistas, pois são conhecidos como limpa aquário, ficando fixado nos
vidros laterais ou nas pedras e ornamentos dos aquários.
Geophagus, Chaetobranchus e Aequidens (acaras): devido a sua aparência colorida e
facilidade na alimentação são peixes bastante comercializados. Estes gêneros apresentam
espécies resistentes a estiagem e portanto pode ser coletado em pequenas poças na época da
seca e nas margens alagadas, embaixo da vegetação na época das chuvas. Exportado em
grande quantidade Ásia.
Stethaprion (saia branca): corpo em forma discoidal, com espécies muito pequenas até
6,5 cm, coloração prata, apesar de ser abundante nos rios da região é extremamente sensível
ao transporte (verificação in loco); entre outros, vale ressaltar que estes pequenos peixes
possuem uma grande importância na cadeia alimentar, pois são considerados como
consumidores primários e alvo de predação intensa pelos peixes piscívoros.
Das espécies registradas verifica-se que existem algumas muito importantes na pesca
da região (segundo informação dos entrevistados), dentre elas podemos citar:
Brycon (matrinxã): com distribuição ampla nos rios da região, mas sempre abaixo de
corredeiras e cachoeiras. Hábito alimentar onívoro, o que facilita sua captura por pescadores, o
que torna este peixe muito apreciado na pesca esportiva. Vários foram os relatos que apontam
a espécie como uma das mais saborosas.
Myleus e Tometes (pacus e pacupeva): corpo discóide, de coloração variada, são
peixes muito apreciados na culinária. Os representantes do gênero Myleus são mais
abundantes e facilmente capturados em locais de seva, já o gênero Tometes encontrado nos
Rios Curuá e Ipiranga, possui importância na pesca amadora, mas os dois são amplamente
comercializados em toda a região Amazônica.
143
Leporinus (piaus): peixes de médio porte, até 40 cm de comprimeno, com carne
saborosa e muito apreciada pelas populações ribeirinhas de toda a América do Sul, vive em
grandes cardumes o que facilita sua captura tanto com isca como com redes. De hábitos
variados podem ser encontrados em todos os locais do rio desde de a superfície até a meia
coluna de água.
Hydrolicus scomberoides
(peixe cachorro), Acestrorhynchus microlepis (cachorra) e
Boulengerella (Bicuda): espécies de grande porte, muito apreciadas na pesca esportiva, mas
de baixo valor comercial por apresentarem muito espinho. Carnívoros ao extremo, são ativas
durante todo o período do dia.
Hoplias (trairão): carnívoros de grande porte e distribuídos nos quatro rios amostrados,
preferem ambientes calmos, mais rasos e de pouca correnteza. De baixo valor comercial, as
pessoas relatam que sua carne possui grande quantidade de vermes, mesmo assim os
pescadores apreciam sua captura, pois é um peixe briguento.
Prochilodus (corimba): é um peixe que forma grandes cardumes, o que facilita sua
captura, apesar de baixo valor comercial, é muito apreciado pelas populações de baixa renda.
Geralmente não são capturados com iscas, apenas com redes. Realizam migrações tróficas e
reprodutivas.
Paulicea luetkeni (jaú): é uma espécie de grande porte, com extrema importância na
pesca esportiva e comercial, é um predador voraz e se alimenta especialmente de peixes.
Pode habitar o canal dos rios e poços fundos próximo as cachoeiras. Provavelmente, como em
outros locais, realiza migrações rio acima na época da reprodução e a desova ocorre nas
cabeceiras.
Cichla (tucunarés): suas várias espécies são apreciadas na pesca de modo em geral.
De grande porte tem importância em toda Bacia Amazônica tanto na pesca comercial como
esportiva. Piscívora, vive geralmente próximo as margens de lagos e rio, em locais com paus
submersos.
Pseudoplatystoma (pintado, cachara e surubim): são representantes da família
Pimelodidae, que é constituída de peixes muito diversificados. No caso dos peixes citados são
de grande porte, quando adultos atingem mais de 1 metro de comprimento e 100 quilos de
peso. Com extrema importância na pesca comercial e alvo constante na pesca esportiva. São
espécies carnívoras, alimentam-se basicamente de peixes, hábito noturno. Com migrações
tróficas e reprodutivas.
Outras espécies são verdadeiramente “caçadas”, devido ao medo que causam nas
populações ribeirinhas ou nos pescadores. Mesmo não servindo para alimentação, quando são
pescadas as raias (Potamotrygon) e peixe-elétrico (Electrophorus electricus) são mortos e
jogados de volta ao rio.
144
As informações obtidas com as entrevistas apontam que, não existem na área da
reserva exploração dos estoques pesqueiros, ocorrendo apenas a pesca esporádica por alguns
moradores da região. Entretanto, vale ressaltar que toda atividade ligada a pesca (amadora,
turística, profissional ou com fim a retirada de espécies ornamentais) deve ser realizada de
forma planejada, pois do contrário pode levar a exaustão dos estoques pesqueiros e até
mesmo a extinção de algumas espécies. Desta forma os locais próximos as nascentes, bem
como os finais de corredeiras e cachoeiras devem ser preservados das atividades pesqueiras,
por serem frágeis em sua composição faunística.
2.2.7.1. Espécies Novas, Endêmicas, Raras, Migratórias e Ameaçadas
Existe um lambari (Astyanax) exclusivo da região da serra do Cachimbo (MMA, 2003).
Para Menezes (1996) entre os peixes pequenos é quase certa a presença de espécies não
descritas, mas tratar-se de um grupo complexo, com muitos problemas taxonômicos a resolver
para a correta identificação. Vale lembrar que o registro de uma nova espécie em um local não
é garantia de que trate-se de uma espécie endêmica. Entretanto, até que se tenha uma noção
adequada dos limites de distribuição dessas espécies, podemos tratá-las como “possíveis
endêmicas”, de forma a zelar pela sua perpetuação na natureza, como é o caso do pequeno
Characidium coletado nos Rios Nilana (ponto 03) e Curuá (ponto 06).
Outro exemplo são as espécies que realizam migração trófica ou reprodutiva, que
dependendo das condições locais pode ficar anos sem ser capturada em determinados pontos
do rio, nem por isso ela deixou de existir. É certo que temos as espécies que provavelmente
estão ameaçadas, a Lista de Espécies de Peixes Ameaçadas do IBAMA saiu somente em
2005 e não consta nenhuma das espécies capturadas, apesar que sabemos que o peixe
elétrico, o pintado, o suribim, o jaú, o tucunaré e outros peixes da região estão sofrendo grande
pressão de pesca predatória e podem vir a extinguir em determinados locais
Acredita-se
que
necessitem
maiores
informações,
resultado
de
pesquisas
aprofundadas, para afirmarmos com clareza quais são as espécies endêmicas, ameaçadas e
raras que habitam na AERCachimbo.
2.2.7.2. Pressões Ambientais e Sustentabilidade
A região das nascentes do Rio Xingu (Serra do Cachimbo) é caracterizada por um
mosaico de tipos de vegetação, variando entre a floresta amazônica, os cerrados, os campos
úmidos, os buritizais, as depressões recobertas por matas altas e as matas ciliares. Estas, por
sua vez, além de protegerem as margens dos rios e conseqüentemente suas nascentes,
funcionam como corredores ecológicos de dispersão para muitas espécies de origem na
Amazônia e no Cerrado (GTA, 2005).
145
Os cursos d’água apresentam variações fisiográficas, físico-químicas e bióticas durante
o seu escoamento, da nascente para a foz, assim as comunidades se desenvolvem e
transformam-se em função das características: velocidade, vazão, teor de oxigênio,
temperatura, pH, condutividade, sedimentos em suspensão, granulometria do substrato,
vegetação marginal (Greenwood, 1992).
Portanto, as áreas de nascentes devem ter atenção especial no desenvolvimento de
qualquer atividade humana. Atividades como desmatamento das matas ciliares podem gerar
lixiviação de sedimentos e consequente assoreamento das nascentes e rios. Outro problema é
a pecuária que utiliza cada vez mais incrementos químicos para a manutenção das pastagens
e gado, assim estes produtos podem estar sendo lançados nos corpos d’água poluindo então
todo um manancial hídrico. Também a pesca predatória pode ser um agravante, principalmente
nos rios que fazem divisa (Curuaés, Ipiranga, Nilana, Curuá e Iriri), juntando a isso a pesca de
isca nos rios pequenos dentro da reserva, bem como a coleta de peixes ornamentais, este fato
ode não estar ocorrendo neste momento, mas nada impede que não venha a acontecer num
futuro bem próximo como é o caso dos rios ligados ao Xingu na parte Nordeste do Mato
Grosso.
Apesar dos avanços no entendimento da estrutura geral de comunidades de peixes de
água doce, pouco se sabe sobre a história natural e auto-ecologia da maioria das espécies,
bem como sua relação direta e indireta com a espécie humana.
Assim, tanto do ponto de vista conservacionista, quanto do ponto de vista econômico, a
melhor forma de garantir a manutenção da integridade ambiental de um ecossistema é a sua
preservação, sem maiores intervenções antrópicas. Na AERCachimbo a maior parte das matas
ciliares encontra-se aparentemente em boas condições, o que indica que a manutenção dos
ciclos naturais seja a alternativa viável para essa unidade de conservação.
Neste sentido, acreditamos que a simples preservação da cobertura vegetal da área,
bem como a não alteração dos ciclos hidrológicos naturais, para garantir a manutenção das
populações de peixes, sem necessidade de outras formas de manejo. A manutenção da
qualidade da água também é fundamental, e as possibilidades de contaminação por pesticidas
e outros agrotóxicos devem ser monitoradas sistematicamente, juntamente com as
comunidades de peixes. Preservar o ambiente é a forma mais segura e barata de garantir a
manutenção da diversidade e abundância da ictiofauna da AERCachimbo.
2.2.8. Categorização dos Pontos da AER
Os pontos do Quadro 01 foram categorizados da seguinte maneira: 1 – Ambiente com
alta diversidade icitiológica e abundância de espécimes; 2 – Ambiente com média diversidade
icitiológica e abundância de alguns espécimes (Serrasalmus, Brycon, Pimelodella, entre
outros); 3 – Ambiente com baixa diversidade ictiológica, mas com abundância das espécies
146
encontradas; 4 – Ambiente com baixa diversidade ictiológica, sem abundância de espécies; 5 –
Ambiente onde não foram registrados exemplares de nenhuma espécie.
147
QUADRO 01 - Categorização dos Pontos para Análise Intertemática com Base nas Informações sobre Diversidade de Peixes da Reserva
Biológica das Nascentes da Serra do Cachimbo.
Sitio
Pto
01 – Nilana 01
01 – Nilana 02
01 – Nilana 03
Lat
Long
Alt
(m)
Espécies Encontradas
Astyanax maculisquamis (Garutti & Britski, 1997)
Bryconops melanurus (Kner, 1858)
76307
Loricaria cataphracta (Linnaeus, 1758)
8996790 573
Moenkausia (Eigenmann, 1903)
0
Loricaria cataphracta (Linnaeus, 1758)
Moenkausia (Eigenmann, 1903)
Serrasalmus eigenmanni (Norman, 1929)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Loricaria cataphracta (Linnaeus, 1758)
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
77955
Electrophorus electricus (Linnaeus, 1766)
8996052 334
5
Potamotrygon hystrix (Muller & Henle, 1834)
Hoplias (Valenciennes, 1847)
Loricaria cataphracta (Linnaeus, 1758)
Electrophorus electricus (Linnaeus, 1766)
Astyanax argirimarginatus (Garutti, 1999)
Potamotrygon hystrix (Muller & Henle, 1834)
Tetragonopterus chalceus (Spix & Agassiz, 1829)
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
Loricaria (Linnaeus, 1758)
78049
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
8994678 322
Electrophorus electricus (Linnaeus, 1766)
9
Characidium (Reinhardt, 1867)
Astyanax argirimarginatus (Garutti, 1999)
Potamotrygon hystrix (Muller & Henle, 1834)
Hoplias (Valenciennes, 1847)
Espécies Migratórias (M)
Espécies Exóticas (E)
Espécies Ameaçadas (A)
Classificação
do Ponto
Categoria
do Ponto
-
Transição
entre Floresta
Umbrófila e
Cerrado
3
Floresta
Umbrófila
Densa
1
Brycon (Muller & Troschel,
1844) (M)
Electrophorus electricus
(Linnaeus, 1766) (M, A)
Brycon (Muller & Troschel,
1844) (M)
Electrophorus electricus
(Linnaeus, 1766) (M, A)
Floresta
Umbrófila
Densa
02 – Curuá 04
75049
8992355 582
0
Transição
entre Floresta
Umbrófila e
Cerrado
02 – Curuá 05
Astyanax maculisquamis (Garutti & Britski, 1997)
72539
9030544 402
Bryconops melanurus (Kner, 1858)
5
Transição
entre Floresta
Umbrófila e
Cerrado
1
Pressões
Pesca
Pesca
5
3
Acampamento p/ recreação
Desmatamento
Assoreamento
Poluição solo/água
149
Sitio
Pto
02 – Curuá 06
Lat
Long
Alt
(m)
72407
9034406 239
1
02 – Curuá 07
72009
9041882 228
0
03 –
Curuaés
75468
8995066 519
9
03 –
Curuaés
03 –
Curuaés
08
09
10
76092
9008616 480
4
77640
9014098 295
0
Espécies Encontradas
Astyanax maculisquamis (Garutti & Britski, 1997)
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
Loricaria (Linnaeus, 1758)
Characidium (Reinhardt, 1867)
Hoplias (Valenciennes, 1847)
Pseudoplatystoma (Bleeker, 1862)
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
Leporinus fridericii (Bloch,1794)
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
Electrophorus electricus (Linnaeus, 1766)
Myleus (Muller & Troschel, 1844)
Hoplias (Valenciennes, 1847)
Pseudoplatystoma (Bleeker, 1862)
Aequidens epae (Kullander, 1995)
Bryconops melanurus (Kner, 1858)
Tetragonopterus argenteus (Curvier, 1816)
Astyanax sp 1 (Baird & Girard, 1854)
Astyanax argirimarginatus (Garutti, 1999)
Brachychalcinus parnaibae (Reis, 1989)
Aequidens epae (Kullander, 1995)
Astyanax sp 1 (Baird & Girard, 1854)
Crenicichla (Heckel, 1840)
Loricaria cataphracta (Linnaeus, 1758)
Hoplerytrinus sp (Agassiz, 1829)
Astyanax sp 2 (Baird & Girard, 1854)
Callichthys (Linnaeus, 1758)
Chaetobranchus (Heckel, 1840)
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
Leporinus fridericii (Bloch,1794)
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
Leporinus copelandii (Steindachner, 1875)
Boulengerella (Agassiz, 1829)
Myleus (Muller & Troschel, 1844)
Potamotrygon hystrix (Muller & Henle, 1834)
Acestrorhynchus microlepis (Schomburgk, 1841)
Prochilodus (Agassi, 1829)
Pimelodus (La Cepede, 1803)
Paulicea luetkeni (Ihering, 1898)
Pseudoplatystoma (Bleeker, 1862)
Leporinus brunneus (Myers, 1950)
Espécies Migratórias (M)
Espécies Exóticas (E)
Espécies Ameaçadas (A)
Brycon (M)
Pseudoplatystoma (M, A)
Brycon (M)
Leporinus fridericii (M)
Pseudoplatystoma (M, A)
Myleus (M)
Electrophorus electricus
(M, A)
Classificação
do Ponto
Floresta
Umbrófila
Antropizada
Mata Ciliar
Altamente
Antropizada
Transição
Floresta
Umbrófila e
Cerrado
Transição
Floresta
Umbrófila e
Cerrado
Mata Ciliar
levemente
antropizada
Brycon (M)
Leporinus fridericii (M)
Leporinus copelandii (M)
Boulengerella (M)
Myleus (M)
Acestrorhynchus
microlepis (M)
Prochilodus (M)
Paulicea luetkeni (M, A)
Pseudoplatystoma (M, A)
Leporinus brunneus (M)
Transição
Floresta
Umbrófila e
Cerrado
Mata Ciliar
levemente
antropizada
Categoria
do Ponto
2
1
Pressões
Pesca Predatória
Desmatamento
Assoreamento Construção de
Usina
Pesca Predatória
Desmatamento
Assoreamento
Poluição solo/água
3
Pesca de isca
Assoreamento
3
Desmatamento
Assoreamento
Pecuária
Desmatamento
Assoreamento Pecuária
Pesca
150
Sitio
03 –
Curuaés
03 –
Curuaés
03 –
Curuaés
Pto
11
12
13
Lat
Long
Alt
(m)
Espécies Encontradas
Serrasalmus eigenmanni (Norman, 1929)
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
Loricaria cataphracta (Linnaeus, 1758)
Leporinus fridericii (Bloch,1794)
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
Leporinus copelandii (Steindachner, 1875)
Myleus (Muller & Troschel, 1844)
77975
9019230 289
Ageneosus ucayalensis (Castelnau, 1855)
0
Serrasalmus spilopleura (Kner, 1858)
Potamotrygon hystrix (Muller & Henle, 1834)
Acestrorhynchus microlepis (Schomburgk, 1841)
Hoplias (Valenciennes, 1847)
Paulicea luetkeni (Ihering, 1898)
Pseudoplatystoma (Bleeker, 1862)
Cichla (Bloch & Schneider, 1801)
Bryconops melanurus (Kner, 1858)
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
Leporinus fridericii (Bloch,1794)
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
Astyanax sp 1 (Baird & Girard, 1854)
Electrophorus electricus (Linnaeus, 1766)
Plagioscion (Gill, 1861)
77957
9022300 283
Myleus (Muller & Troschel, 1844)
5
Potamotrygon hystrix (Muller & Henle, 1834)
Acestrorhynchus microlepis (Schomburgk, 1841)
Hydrolicus scomberoides (Curvier, 1816)
Hoplias (Valenciennes, 1847)
Pimelodus (La Cepede, 1803)
Paulicea luetkeni (Ihering, 1898)
Pseudoplatystoma (Bleeker, 1862)
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Leporinus fridericii (Bloch,1794)
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
Astyanax sp 1 (Baird & Girard, 1854)
Electrophorus electricus (Linnaeus, 1766)
77180
9037352 258 Serrasalmus spilopleura (Kner, 1858)
7
Potamotrygon hystrix (Muller & Henle, 1834)
Acestrorhynchus microlepis (Schomburgk, 1841)
Hydrolicus scomberoides (Curvier, 1816)
Prochilodus (Agassi, 1829)
Pimelodus (La Cepede, 1803)
Espécies Migratórias (M)
Espécies Exóticas (E)
Espécies Ameaçadas (A)
Classificação
do Ponto
Categoria
do Ponto
Brycon (M)
Leporinus fridericii (M)
Leporinus copelandii (M)
Myleus (M)
Ageneosus ucayalensis
(M)
Acestrorhynchus
microlepis (M)
Paulicea luetkeni (M, A)
Pseudoplatystoma (M, A)
Cichla (M, A)
Floresta
Umbrófila
Densa
1
Brycon (M)
Leporinus fridericii (M)
Myleus (M)
Plagioscion (M)
Ageneosus ucayalensis
(M)
Acestrorhynchus
microlepis (M)
Hydrolicus scomberoides
(M)
Paulicea luetkeni (M, A)
Pseudoplatystoma (M, A)
Electrophorus electricus
(M, A)
Floresta
Umbrófila
Densa
1
Brycon (M)
Leporinus fridericii (M)
Myleus (M)
Acestrorhynchus
microlepis (M)
Hydrolicus scomberoides
(M)
Prochilodus (M)
Paulicea luetkeni (M, A)
Pseudoplatystoma (M, A)
Electrophorus electricus
Pesca Predatória
1
Mata Ciliar
Antropizada
Pressões
Pesca Predatória
Desmatamento
Assoreamento
Pesca Predatória
Desmatamento
Assoreamento
Poluição solo/água
151
Sitio
Pto
04 – Flecha 14
05 – Água
Fria
15
06 –
Ipiranga
16
06 –
Ipiranga
17
07 – Iriri
18
07 – Iriri
19
Lat
Long
Alt
(m)
Espécies Encontradas
Paulicea luetkeni (Ihering, 1898)
Pseudoplatystoma (Bleeker, 1862)
Cichla (Bloch & Schneider, 1801)
Serrasalmus eigenmanni (Norman, 1929)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
74673
9041418 268 Leporinus fridericii (Bloch,1794)
4
Moenkausia (Eigenmann, 1903)
Hoplerytrinus sp (Agassiz, 1829)
Serrasalmus eigenmanni (Norman, 1929)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
74128
9043240 258 Electrophorus electricus (Linnaeus, 1766)
9
Potamotrygon motoro (Muller & Henle, 1841)
Hoplias (Valenciennes, 1847)
Bryconops melanurus (Kner, 1858)
75757
8977428 631 Crenicichla (Heckel, 1840)
1
Astyanax sp 1 (Baird & Girard, 1854)
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
Leporinus fridericii (Bloch,1794)
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
Electrophorus electricus (Linnaeus, 1766)
Myleus (Muller & Troschel, 1844)
77769
8975342 315 Potamotrygon motoro (Muller & Henle, 1841)
6
Tometes (Curvier & Valenciennes, 1850)
Acestrorhynchus microlepis (Schomburgk, 1841)
Hoplias (Valenciennes, 1847)
Pimelodus (La Cepede, 1803)
Paulicea luetkeni (Ihering, 1898)
Pseudoplatystoma (Bleeker, 1862)
75695
Bryconops melanurus (Kner, 1858)
8960700 458
9
Astyanax argirimarginatus (Garutti, 1999)
Tetragonopterus chalceus (Spix & Agassiz, 1829)
Brycon (Muller & Troschel, 1844)
Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766)
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
Astyanax argirimarginatus (Garutti, 1999)
76790
8960460 385 Brachychalcinus parnaibae (Reis, 1989)
9
Galeocharax (Fowler, 1910)
Hoplias (Valenciennes, 1847)
Pimelodus (La Cepede, 1803)
Paulicea luetkeni (Ihering, 1898)
Pseudoplatystoma (Bleeker, 1862)
Espécies Migratórias (M)
Espécies Exóticas (E)
Espécies Ameaçadas (A)
(M, A)
Cichla (M, A)
Classificação
do Ponto
Floresta
Umbrófila
Altamente
Antropizada
Electrophorus electricus
(M, A)
Brycon (M)
Leporinus fridericii (M)
Electrophorus electricus
(M, A)
Myleus (M)
Acestrorhynchus
microlepis (M)
Paulicea luetkeni (M, A)
Pseudoplatystoma (M, A)
Tometes (M, A)
2
Pressões
Pesca Predatória
Desmatamento
Assoreamento
Poluição solo/água
Pesca Predatória
Desmatamento
Assoreamento
Poluição solo/água
Floresta
Umbrófila
Antropizada
2
Floresta
Umbrófila
Densa
3
Floresta
Umbrófila
Densa
1
Pesca
4
Assoreamento total das
nascentes
Cerrado
Brycon (M)
Paulicea luetkeni (M, A)
Pseudoplatystoma (M, A)
Categoria
do Ponto
1
Transição
entre Floresta
e Cerrado
Desmatamento
Assoreamento
Pesca
152
Sitio
Pto
08 – São
Bento
20
08 – São
Bento
21
09 – Anta
09 – Anta
22
23
Lat
Long
Alt
(m)
Espécies Migratórias (M)
Espécies Exóticas (E)
Espécies Ameaçadas (A)
Espécies Encontradas
Astyanax maculisquamis (Garutti & Britski, 1997)
75341
8983216 582 Aequidens epae (Kullander, 1995)
2
Chaetobranchus (Heckel, 1840)
Aequidens epae (Kullander, 1995)
Bryconops melanurus (Kner, 1858)
73801
8975764 475 Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
1
Astyanax sp 1 (Baird & Girard, 1854)
Chaetobranchus (Heckel, 1840)
Aequidens epae (Kullander, 1995)
Ancistrus (Kner, 1854)
Astyanax argirimarginatus (Garutti, 1999)
Hoplerytrinus sp (Agassiz, 1829)
72926
8991644 523 Callichthys (Linnaeus, 1758)
0
Corydoras (La Cepede, 1803)
Loricaria (Linnaeus, 1758)
Chaetobranchus (Heckel, 1840)
Geophagus (Heckel, 1840)
Pimelodella (Eigenmann &Eigenmann, 1888)
Astyanax sp 1 (Baird & Girard, 1854)
Astyanax argirimarginatus (Garutti, 1999)
73288
8989428 506
6
Loricaria (Linnaeus, 1758)
Chaetobranchus (Heckel, 1840)
Geophagus (Heckel, 1840)
Classificação
do Ponto
Categoria
do Ponto
Floresta
Umbrofila
4
Transição
entre Floresta
e Cerrado
3
Pressões
Desmatamento
Assoreamento
Poluição solo/água
Transição
entre
Cerradão e
Floresta,
Mata Ciliar
levemente
Antropizada
3
Desmatamento
Assoreamento
Pecuária
Poluição solo/água
Transição
entre
Cerradão e
Floresta,
Mata Ciliar
Antropizada
3
Desmatamento
Assoreamento
Poluição solo/água
QUADRO 02 - Categorização dos Pontos para Análise Intertemática com Base nas Informações sobre Diversidade de Peixes da Reserva
Biológica das Nascentes da Serra do Cachimbo.
Sitio
Pto
Lat
Long
Alt Nome do Ponto
(m)
Categoria do Ponto Categoria do Ponto
Ictiofauna
Qualidade da Água
01
01
Nilana
–
76307
8996790 573
(nascente)
0
01
02
77955
8996052 334 Nilana – Poço Ariranhas
5
1
01
03
78049
8994678 322 Nilana – Fazenda Betinho
9
1
02
04
75049
8992355 582 Curuá – Nascente
0
5
Acampamento
3
Categorização das
Pressões
1
1
1
2
1
2
1
1
Prioridades
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
153
Sitio
Pto
Lat
Long
Alt Nome do Ponto
(m)
02
05
72539
9030544 402 Curuá – Prainha
5
3
02
06
72407
9034406 239 Curuá – Abaixo cachoeira
1
2
02
07
72009
9041882 228 Curuá – Estrada Flecha
0
1
03
08
75468
8995066 519 Curuaés – Fazenda Enivaldo
9
3
03
09
76092
9008616 480 Curuaés – Ponte Amarrada
4
3
03
10
77640
9014098 295 Curuaés – Bucha Quebrada
0
1
03
11
77975
9019230 289 Curuaés – Fazenda Barchet
0
1
03
12
77957
9022300 283 Curuaés – Aterro
5
1
03
13
77180
9037352 258 Curuaés – Estrada Índios
7
1
04
14
74673
9041418 268 Flecha – Estrada Norte
4
2
05
15
74128
9043240 258 Água Fria – Estrada Norte
9
2
06
16
75757
8977428 631 Ipiranga – Nascente
1
3
06
17
77769
Ipiranga
8975342 315
6
Indígena
07
18
75695
8960700 458 Iriri – Nascente
9
4
07
19
76790
8960460 385 Iriri – Estrada Vale do 15
9
1
08
20
75341
8983216 582 São Bento – Nascente
2
4
08
21
73801
8975764 475 São Bento – Br 163
1
3
09
22 72926 8991644 523 Anta – Fazenda Jorge
–
Ponte
Categoria do Ponto Categoria do Ponto
Ictiofauna
Qualidade da Água
Reserva
1
3
Categorização das
Pressões
1
4
1
4
1
5
1
3
1
4
1
4
1
3
1
4
1
5
1
4
1
4
1
1
1
2
1
5
1
3
1
1
1
4
1
5
Prioridades
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
OOOO
154
Sitio
Pto
Lat
Long
Alt Nome do Ponto
(m)
Categoria do Ponto Categoria do Ponto
Ictiofauna
Qualidade da Água
Categorização das
Pressões
Prioridades
0
09
73288
8989428 506 Anta – Br 163
23
6
3
1
4
OOOO
OOOO – Locais que no momento não necessitam de monitoramento permanente, pois o ambiente se encontra livre de pressões
antrópicas acentuadas
OOOO – Locais que no momento necessitam de monitoramento constante, pois a integridade ambiental está ameaçada por
pressões antrópicas como desenvolvimento de pecuária que atinge as matas ciliares ou a pesca predatória, que a médio prazo
podem interferir na qualidade da água, dos habitats e como conseqüência atingir diversas populações de peixes.
OOOO – Locais com alto grau de ações antrópicas ou sujeito a pressões extremas, como desmatamento de grandes extensões de
mata ciliar, poluição do solo e da água, pesca predatória e outros fatores que em um curto prazo poderão estar interferindo nos
estoques pesqueiros da região e na manutenção da qualidade da água, com impactos negativos na diversidade de peixes da
região.
155
2.2.9.
RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO
2.2.9.1. Linhas de Pesquisas e Estudos
Como a maioria das espécies de peixes da Amazônia ainda é pouco conhecida,
existem pesquisas básicas e aplicadas que podem ser realizadas na AERCachimbo
ligadas a Biologia e conservação destas espécies, bem como dos diferentes ambientes
aquáticos e seu entorno. Ex: Espécies com potencialidades para aqüicultura, Dieta natural
e reprodução das espécies, Ecologia e comportamento, Ocorrência de metais pesados
nos ambientes aquáticos, Verificação de teores de nitrogênio, fósforo e carbonatos nos
diferentes ambientes aquáticos, Processos de eutrofização dos ambientes aquáticos em
determinadas épocas do ano, entre outras.
2.2.9.2. De Ordem Administrativa e Operacional
Acredita-se que por ser uma reserva de grande porte o com ambientes tão
diversificados e susceptíveis a mudanças naturais e antrópicas, devam haver campanhas
de conscientização com o pessoal envolvido para que não ocorram problemas como o
caso do Parque Estadual Cristalino. Seria necessária a presença constante de órgãos
como o IBAMA, a SEMA/PR que possam auxiliar na manutenção da área, bem como
impedir a entrada de invasores (sem-terra, grileiros, etc) que, ao contrário do pessoal que
reside a mais tempo na reserva, poderiam causar danos irreversíveis as nascentes da
Serra do Cachimbo.
2.2.9.3. De Ordem Estratégica
Com toda a certeza o complexo ambiental, e principalmente hídrico da Serra do
Cachimbo, que se localiza na Reserva deve ser preservado, principalmente locais como
as nascentes dos rios, pois em sua maioria estão em solos arenosos, sujeitos a
processos de degradação irreversíveis. Locais como a nascente do Rio Iriri devem estar
isolados de visitação e mesmo as pesquisas devem ser acompanhadas por pessoal
capacitado. Sugere-se a implantação de Centros de Estudos e Interpretação em pelos
menos quatro pontos da Reserva.
2.2.9.4. Referentes à Qualidade Ambiental
A maioria dos pontos de coleta apontam para resultados que a qualidade dos
ambientes amostrados na Reserva é ótima, tanto com relação a qualidade da água, como
em relação as espécies de peixes. Assim acredita-se que deva ocorrer a manutenção
157
deste ambientes, visando a continuidade desta ótima qualidade do ambiente, bem como a
preservação de todo este sistema ecológico.
2.2.10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Estadual de Campinas. Campinas/SP, 1999.
2.2.10.1.1. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR CONSULTADA
Diegues, A. C. A pesca construindo sociedades. NUPAUB- USP, São Paulo. 2004.
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Ferreira, E. J. G. Peixes comerciais do médio Amazonas: região de Santarém, Pará.
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Neotropical Ichthyologi. Official Journal of the Sociedade Brasileira de Ictiologia. Volume
2: Números 1, 2, 3 e 4. São Paulo, 2004.
Neotropical Ichthyologi. Official Journal of the Sociedade Brasileira de Ictiologia. Volume
3: Números 1, 2, 3 e 4. São Paulo, 2005.
Morán, E. F. Ecologia humana das populações da Amazônia. Ed. Vozes,
Petropólis/RJ. 1990. 367 p.
www:capes.br/periodicos
www:ibama.gov.br
www:mma.gov.br/fauna
160
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Características físico-químicas dos rios em cada ponto de coleta.
Tabela 02 – Classificação dos peixes registrados na AERCachimbo, nos períodos de seca
e cheia.
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 - Categorização dos pontos para análise inter-temática com base nas
informações sobre diversidade de peixes da reserva biológica das nascentes da serra do
cachimbo.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Mapa das Nascentes da Serra do Cachimbo, com os pontos de coleta.
Figura 02 – Dendrograma de Similaridade (Análise de Cluster), entre os pontos de coleta.
LISTA DE ANEXOS
Anexo 01 – Fotos de pontos de coleta
Anexo 02 – Fotos de espécies de peixes coletados
161
11 ANEXOS
11.1 Fotos dos Pontos de Coleta
Ponto 02 – Rio Nilana – Fazenda Betinho
Ponto 05 – Rio Curuá - Prainha
162
Ponto 05 – Rio Curuá - Prainha
Ponto 06 – Rio Curuá – Abaixo da Cachoeira
163
Ponto 07 – Rio Curuá – Estrada do Flecha
Ponto 08 – Rio Curuaés – Fazenda Enivaldo
164
Ponto 09 – Rio Curuaés – Ponte Amarrada
Ponto 10 – Rio Curuaés – Bucha Quebrada
165
Ponto 12 – Rio Curuaés – Próximo Aterro
Ponto 13 – Rio Curuaés – Estrada dos Índios
166
Ponto 14 – Rio Flecha
Ponto 15 – Rio Água Fria
167
Ponto 16 – Rio Ipiranga – Próximo a Nascente
Ponto 20 – Rio São Bento - Nascente
168
Ponto 21 – Rio São Bento – Br.163
Ponto 22 – Rio Anta (Cristalino) – Fazenda do Jorge
169
Ponto 23 – Rio Anta (Cristalino) – Fazenda Jorge
11.2 Fotos das Espécies de Peixes Coletadas
Serrasalmus spilopleura
170
Serrasalmus rhombeus
Brycon sp
171
Serrasalmus rhombeus
Leporinus brunneus
172
Ageneosus ucaylensis
Leporinus fridericii
173
Boulengerella sp
Crenicichla sp
174
Hoplerythrinus sp
Astyanax sp
175
Leporinus copelandiii
Pimelodella sp
176
Characidium sp
Tetragonopterus chalceus
177
Bryconops melanurus
Moenkausia sp
178
Tetragonopterus argenteus
Astyanax maculisquamis
179
Stethaprion sp
180
Galeocharax sp
Pimelodus sp
181
Plagioscion sp
Loricaria cataphracta
182
Aequidens epae
Pseudoplatystoma sp - Cachara
183
Pseudoplatystoma – Fêmea em estádio de reprodução
Pseudoplatystoma em estádio de reprodução
184
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES DA
SERRA DO CACHIMBO
CARACTERIZAÇÃO BIÓTICA: LEVANTAMENTO DE HERPETOFAUNA NA RESERVA
BIOLÓGICA NASCENTE DA SERRA DO CACHIMBO (PA)
(Relatório Final)
Responsável Técnico: Prof. Dr. Guarino Rinaldi Colli.
Realização:
INSTITUTO CENTRO
DE VIDA
Apoio:
W W F - BRASIL
Junho de 2006
185
2.3. Herpetofauna
Responsável técnico: Biól. Guarino Rinaldi Colli
Colaboradores: SANTOS FERNANDES BALBINO, ALEXANDRE NASCIMENTO FARIA, ROSALVO
DUARTE ROSA
2.3.1. RESUMO
Foi realizada uma expedição para inventariar a herpetofauna da Reserva Biológica
Nascentes da Serra do Cachimbo, de 13/02/2006 a 04/03/2006. Participaram da
expedição Guarino Rinaldi Colli (Universidade de Brasília), Alexandre Nascimento Faria e
Rosalvo Duarte Rosa (Universidade do Estado do Mato Grosso). A amostragem da
herpetofauna foi feita com a utilização de armadilhas e ainda por coletas manuais ao
longo de trilhas e pela inspeção de microhábitats notoriamente utilizados pelos animais. A
fitofisionomia amostrada, segundo a terminologia de Pires e Prance (1985), foi a Floresta
de Terra Firme. Foram amostrados os seguintes pontos: Cachoeira do Rio Ipiranga,
Fazenda Gambá, Trilha das Armadilhas na Fazenda São Silvestre, Trilha da Transeção
na Fazenda São Silvestre, Arredores da Ponte sobre o Rio Curuá-és, Estradas da REBIO.
Durante a expedição foram registradas 17 espécies de anfíbios e 22 de répteis, sendo
que destas, 6 espécies de anfíbios e 10 de répteis são novas ocorrências para a região.
2.3.2. INTRODUÇÃO
Anfíbios e répteis (herpetofauna) são um grupo proeminente em quase todas as
comunidades terrestres sendo que, atualmente, são conhecidas cerca de 5.000 espécies
de anfíbios (Frost, 2004) e mais de 8.000 espécies de répteis (Uetz et al., 1995). Mais de
80% da diversidade dos dois grupos ocorre em regiões tropicais (Pough et al., 1998),
cujas paisagens naturais estão sendo rapidamente destruídas pela ocupação humana. No
Brasil, são conhecidas atualmente 776 espécies de anfíbios (Sbh, 2005a) e 641 espécies
de répteis (Sbh, 2005b), sendo que esses números aumentam rapidemente a cada ano,
ocupando assim o país posição de destaque mundial quanto à diversidade da
herpetofauna.
Os anfíbios são divididos em três grupos distintos: Caudata (salamandras),
Gymnophiona (cecílias ou cobras-cegas) e Anura (sapos, rãs e pererecas). Dentre estes,
Anura é o grupo mais diversificado, apresentando uma grande variação nos parâmetros
da história de vida como reprodução, locomoção e dieta. Muitos aspectos da ecologia dos
anfíbios são limitados por sua pele extremamente permeável. Dessa forma, a maioria das
espécies está restrita a locais com alta umidade e possuem hábito noturno. Os répteis são
divididos em três grandes grupos: Testudines (tartarugas, cágados e jabutis), Crocodylia
(jacarés e crocodilos) e Squamata (cobras, lagartos e anfisbenas), sendo Crocodylia na
verdade mais aparentado com as Aves que com os outros répteis. Os répteis também
possuem ampla variação nos padrões de história de vida, sendo que Testudines e
Crocodylia são menos variáveis quando comparados a Squamata (Pough et al., 1998;
Pough et al., 1999; Zug et al., 2001).
A herpetofauna é parte importante dos ecossistemas naturais, pois representa
porção significativa da fauna de vertebrados, particularmente em ambientes áridos e
tropicais (e.g., Pianka, 1973; Duellman, 1978; Pianka, 1986; Duellman, 1988; Colli et al.,
2002), onde são os vertebrados mais abundantes. Além disso, anfíbios e répteis são
excelente modelo de estudo, pois são facilmente capturados, identificados e monitorados
(Heyer et al., 1994; Vitt e Pianka, 1994).
186
2.3.3.
OBJETIVOS
• Inventariar a herpetofauna da REBIO Nascentes da Serra do Cachimbo,
empregando protocolos de Avaliação Ecológica Rápida.
• Caracterizar os ambientes da REBIO Nascentes da Serra do Cachimbo
utilizados pela herpetofauna
• Caracterizar a herpetofauna da REBIO Nascentes da Serra do Cachimbo
do ponto de vista biogeográfico.
• Determinar os padrões de uso do ambiente pela herpetofauna da REBIO
Nascentes da Serra do Cachimbo.
• Caracterizar os sítios pesquisados na REBIO Nascentes da Serra do
Cachimbo com base na herpetofauna.
• Identificar táxons da herpetofauna da REBIO Nascentes da Serra do
Cachimbo de interesse para a conservação
• Emitir recomendações para o manejo da herpetofauna da REBIO
Nascentes da Serra do Cachimbo.
2.3.4.
Métodos
2.3.4.1. Obtenção de Dados Secundários
Revisão Bibliográfica regional, Definição de Parâmetros, Nomenclatura Científica,
Vernacular e Terminologia Adotada
Como inexistem trabalhos publicados sobre a herpetofauna da Serra do
Cachimbo, foram utilizados os dados obtidos por Guarino R. Colli e diversos
colaboradores em expedições anteriores à região (vide abaixo). Além disso, foram
utilizadas diversos trabalhos sobre a herpetofauna da Amazônia, de cunho mais
abrangente, para discutir os padrões de distribuição de algumas espécies.
2.3.4.2. Obtenção de Dados Primários – Métodos de Campo
Foi realizada uma expedição para inventariar a herpetofauna da Reserva Biológica
Nascentes da Serra do Cachimbo, de 13/02/2006 a 04/03/2006. Participaram da
expedição Guarino Rinaldi Colli (Universidade de Brasília), Alexandre Nascimento Faria e
Rosalvo Duarte Rosa (Universidade do Estado do Mato Grosso). Foi estabelecida uma
base na sede da Fazenda São Silvestre, no interior da REBIO. A amostragem da
herpetofauna foi feita nos períodos diurno e noturno, pela inspeção de microhábitats
notoriamente utilizados pelos animais, que foram coletados manualmente ou com o uso
de 40 armadilhas de interceptação e queda com cercas-guia (“pitfall traps with drift
fences”), associadas a armadilhas de funil (“funnel traps”). As armadilhas, eqüidistantes
10 m umas das outras, foram instaladas ao longo de uma trilha de aproximadamente 400
m, aberta perpendicularmente em relação à estrada entre a Fazenda São Silvestre e a
Fazenda 4 Irmãos Rio Cristalino (vide abaixo). Cada armadilha consistiu de uma linha de
16 m de lona plástica, com 50 cm de altura e fixada por grampos a oito estacas de
madeira, com um alçapão no centro e dois funis em cada extremidade, um de cada lado
da cerca. Os alçapões consistiram de baldes de plástico de 30 l, enterrados no solo, e as
cercas de lona plástica foram instaladas com cerca de 10 cm de profundidade no solo.
Próximo à trilha das armadilhas, mas do outro lado da estrada e cerca de 50 m distante
dea mesma, foi aberta uma trilha com cerca de 600 m de comprimento, ao longo da qual
foram feitas amostragens manuais, durante o dia e à noite. A única fitofisionomia
amostrada, segundo a terminologia de Pires e Prance (1985), foi a Floresta de Terra
Firme, considerando que as amostragens anteriores por nós realizadas na região se
187
concentraram em outras fisionomias (vide abaixo). Foram amostrados os seguintes
pontos:
•
Ponto 6P (peixes): Cachoeira do Rio Ipiranga, 9º 14’ 03” S, 54º 41’ 08” W, 631
m; área de Floresta de Terra Firme, em um grande desnível do terreno, com
uma transição de Campina para Floresta de Terra Firme no topo e, na área do
poço da cachoeira e encostas, Floresta de Terra Firme. Amostragem feita
manualmente, durante o dia.
•
Ponto 10: Fazenda Gambá (Jorjão), S, W; a fazenda é vizinha à REBIO e às
margens da BR-163; áreas antropogênicas, ocupadas com pastagens,
próximas à sede da fazenda, em matriz de Floresta de Terra Firme.
Amostragem feita manualmente durante o dia.
•
Ponto 8R (Ricardo): Trilha das Armadilhas na Fazenda São Silvestre, 8º 50’
39” S, 54º 33’ 55” W, 410 m; área de Floresta de Terra Firme, na altura da
divisa da Fazenda São Silvestre, na estrada entre esta e a Fazenda 4 Irmãos;
trilha com aproximadamente 400 m, perpendicular à estrada e distante cerca
de 200 m da mesma. Amostragem feita com armadilhas de interceptação e
queda com cercas-guia, associadas a armadilhas de funil, e manualmente, ao
longo da trilha, durante o dia e à noite.
•
Ponto 8R (Ricardo): Trilha da Transeção na Fazenda São Silvestre, 8º 50’ 39”
S, 54º 33’ 55” W, 410 m; área de Floresta de Terra Firme, na altura da divisa
da Fazenda São Silvestre, na estrada entre esta e a Fazenda 4 Irmãos; trilha
com aproximadamente 600 m, ao longo de um igarapé paralelo à estrada e
distante cerca de 50 m da mesma, na mesma altura que a Trilha das
Armadilhas (acima). Amostragem feita manualmente, durante o dia e à noite.
•
Ponto 3 (REBIO): Arredores da Ponte sobre o Rio Curuá-és, 8º 57’ 52” S, 54º
36’ 28” W, alt. 440 m; área de Floresta de Terra Firme, próxima à estrada, com
influência do Rio Curuá-és, incluindo poças na floresta e nas pastagens
vicinais. Amostragem feita manualmente à noite.
•
Estradas da REBIO: coletas manuais realizadas em diversos pontos da REBIO
durante os deslocamentos feitos entre a sede da Fazenda São Silvestre e os
pontos de amostragem, durante o dia e à noite.
Além dos dados obtidos nesses pontos, foram agregados outros provenientes de
cinco expedições anteriormente realizadas na região da Serra do Cachimbo, por equipes
da Universidade de Brasília:
•
25/02/1995 a 06/03/1995; Guarino Rinaldi Colli, Ayrton Klier Péres Júnior,
Mariana Gonzaga Zatz e Santos Fernandes Balbino; projeto “Biogeografia das
Savanas Amazônicas”, com apoio do WWF Brasil.
•
21/06/2002 a 05/07/2002; Guarino Rinaldi Colli, Daniel Oliveira Mesquita e
Joana Galinkin; projeto EIA Rima BR 163.
•
14/09/2003 a 06/10/2003; Guarino Rinaldi Colli, Adrian Antônio Garda, Gabriel
Corrêa Costa, Graziela Mônaco Biavatti e Santos Fernandes Balbino; projeto
“Paisagens e Biodiversidade: Uma Perspectiva Integrada para Inventário e
Conservação da Serra do Cachimbo”, com apoio do PROBIO/MMA.
•
22/10/2004 a 12/11/2004; Guarino Rinaldi Colli, Laurie Joseph Vitt, Janalee
Paige Caldwell e Donald Beardsley Shepard; projetos “Paisagens e
188
Biodiversidade: Uma Perspectiva Integrada para Inventário e Conservação da
Serra do Cachimbo”, “Species gradients, biodiversity, and phyloecology of
amphibians and reptiles of the Amazon-Cerrado contact zone” e “Ecology of
Cerrado amphibians and reptiles”, com apoio do PROBIO/MMA e National
Science Foundation, respectivamente.
•
19/07/2005 a 30/07/2005; Guarino Rinaldi Colli, Santos Fernandes Balbino e
Valdenor Mendes; projeto “Levantamento da Herpetofauna da Reserva
Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo”, com apoio do ICV, WWF-Brasil e
IBAMA.
Nessas expedições anteriores, a amostragem da herpetofauna foi feita através de
coleta manual e pela utilização de armadilhas do tipo alçapão com cercas-guia e
armadilhas de funil. Foram instalados 25 pontos amostrais de armadilhas de queda na
área do Stand de Tiro. Durante a segunda e terceira expedições, foram instalados 25
pontos em cada uma das duas áreas às margens do Rio Cristalino, além de 10 pontos
com armadilhas de funil. Cada ponto amostral de armadilhas de queda consistiu de três
linhas de 5 m, formando ângulos de 120 graus, partindo de um ponto central, com um
alçapão no centro e um em cada uma das três extremidades, interligados por cerca de
lona plástica (50 cm de altura) fixada por grampos a nove estacas de madeira. Os
alçapões consistiram de baldes de plástico de 20 litros e as cercas de lona plástica foram
instaladas com 30 cm de altura acima do solo e 10 cm de profundidade, enterrados no
solo. Cada ponto amostral de armadilhas de funil consistiu de uma cerca de lona plástica
de 10 m, com duas armadilhas de funil (tipo minnow-trap) em cada extremidade. Para
maximizar a amostragem, foram também realizadas coletas manuais ao longo de
transeções aleatórios e também pela inspeção de microhábitats notoriamente utilizados
pela herpetofauna, tanto durante o dia quanto durante a noite. Todos os espécimes
coletados foram depositados na Coleção Herpetológica da Universidade de Brasília. Os
principais pontos de amostragem foram os seguintes:
•
Ponto 1E (Entorno): Cachoeira do Rio Curuá, 8º 44’ 08” S, 54º 57’ 49” W, 372,3
m; área de Floresta de Terra Firme, às margens do Rio Curuá e áreas abertas
com afloramentos rochosos na parte superior e inferior das cachoeiras.
Amostragem feita manualmente, durante o dia (Fig. 1a).
•
Ponto 2E (Ponte e Praia do Rio Formiga): 9º 22’ 05” S, 55º 01’ 10” W, 422,1 m
e 9º 17’ 59” S, 55º 01’ 08”, 433,9 m respectivamente; áreas de mata de galeria
em matriz de Campinas e Campos Rupestres. Amostragem feita manualmente
durante o dia e à noite e, ainda, por capturas com armadilhas de queda
utilizadas para amostragem de aranhas (próximo à ponte sobre o Rio
Formiga).
•
Ponto 3Ea (Rio Cristalino): 9º 17” 59” S, 55º 10’ 28” W, 394,7 m, área de
Floresta Inundada próxima às margens do Rio Cristalino (Fig. 1b). Amostragem
feita manualmente durante o dia e à noite e ainda por capturas com armadilhas
de queda com cercas-guia e armadilhas de funil.
•
Ponto 3Eb (Rio Cristalino): 9º 22” 49” S, 55º 20’ 26” W, 320,5 m; área de
Floresta de Terra Firme, com encraves de vegetação aberta sobre
afloramentos rochosos (Fig. 1c). Amostragem feita manualmente durante o dia
e à noite e ainda por capturas com armadilhas de queda com cercas-guia e
armadilhas de funil.
189
•
Ponto 4E (Estande de Tiro): 9º 21” 28” S, 54º 54’ 51” W, 454,3 m; área de
Campina próxima ao estande de tiro, nos arredores da administração do
CPBV. Amostragem manual durante o dia e com armadilhas de queda com
cercas-guia (Fig. 1d).
•
Ponto 5E (Olho d’Água): 9º 21” 28” S, 54º 54’ 51” W, 454,3 m; área de mata de
galeria na região do Olho d’Água, nos arredores da administração do CPBV,
em matriz de Campina e Campo Rupestre. Amostragem manual durante o dia
e à noite (Fig. 1e).
•
Ponto 6E (Campo Rupestre atrás do Olho d’Água): 9º 21” 28” S, 54º 54’ 51” W,
454,3 m; área de Campo Rupestre, amostrada manualmente durante o dia e à
noite (Fig. 1f).
•
Ponto 1 (REBIO): 9º 07’ 01” S, 54º 43’ 13” W; 639 m; nascentes do Rio Curuá.
Um gradiente topográfico, com vegetação de Campina, sobre areias
quartzosas, na porção mais elevada do terreno, e uma Floresta de Igapó na
porção mais baixa, onde o lençol freático aflora à superfície. No alto, a
vegetação é bem rala, formada por moitas densas e esparsas, intercaladas por
manchas de areia quase nua. Nas áreas com vegetação, o folhiço é bem
denso, ao longo de todo o gradiente.
•
Ponto 2 (REBIO): 9º 04’ 23” S, 54º 42’ 59” W; 586 m; próximo à Fazenda do Sr.
Nivaldo. Faixa de mata ao longo de um riacho, afluente do Rio Curuá-és. A
mata é rodeada por pastos, sendo bastante antropizada.
•
Ponto 3 (REBIO): 8º 57’ 40” S, 54º 36’ 42” W; 461 m; próximo à Fazenda São
Silvestre. Área de topografia acidentada, com Floresta de Terra Firme na parte
mais baixa e Campina na parte mais elevada, sobre um platô rochoso. No
platô, manchas de Campina são entremeadas com áreas de rocha nua, quase
sem vegetação. Na floresta e especialmente na área aberta o folhiço era pouco
espesso.
•
Ponto 4 (REBIO): 9º 00’ 28” S, 54º 25’ 05” W; 389 m; na área da Fazenda do
Sr. Marcelo, Presidente da Associação dos Produtores Rurais do Vale do XV.
Floresta de Terra Firme, com árvores altas e muito folhiço no chão. Apesar de
relativamente pouco perturbada, notou-se corte seletivo de árvores, como
mogno.
•
Ponto 5 (REBIO): 8º 54’ 40” S, 54º 29’ 08” W; 279 m; às margens do Rio
Curuá-és, dentro da Fazenda São Silvestre. A área é bastante antropizada,
sendo uma antiga “esplanada”, acampamento da época da febre do mogno, no
início dos anos 90, onde foi construída uma “bucha”, ponte improvisada de
madeira para transporte do mogno. Foi semeado capim forrageiro no local.
•
Ponto 6 (REBIO): 9º 04’ 04” S, 54º 36’ 26” W; 566 m; acampamento
abandonado, às margens do Rio Nilana, próximo a uma serraria em área de
propriedade do Sr. Marcelo. Área de Floresta de Terra Firme, com alguns
trechos alagados, bastante antropizada por pecuária e extração de madeira.
Para avaliar a qualidade da amostragem da herpetofauna na região da Serra do
Cachimbo, foram calculadas curvas de acumulação de espécies baseadas em indivíduos
(Gotelli e Colwell, 2001), utilizando o programa EstimateS 7 (Colwell, 2004). Foram feitas
análises em separado para anfíbios e répteis, combinando-se os dados de todas as
expedições mencionadas acima. As curvas foram obtidas empregando-se 100
190
aleatorizações dos dados originais, sem reposição. Para avaliar a qualidade da
amostragem foi utilizado o número médio de espécies nas reamostragens aleatórias (Mao
Tau), enquanto que, para avaliar o número esperado de espécies, foi utilizada a média do
estimador Chao 2.
2.3.5.
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES
DA SERRA DO CACHIMBO - RESULTADOS da AVALIAÇÃO ECOLÓGICA
RÁPIDA
2.3.5.1. Caracterização dos Ambientes Utilizados pela Herpetofauna
Os principais ambientes da REBIO Nascentes da Serra do Cachimbo são,
segundo a terminologia de Pires e Prance (1985), a Campina e a Floresta de Terra Firme.
Estão ainda presentes, mas em menor extensão, a Floresta Inundada (Igapó) e o Campo
Rupestre. Ocorrem ainda, associados a esses tipos vegetacionais, diversos rios, riachos e
lagoas permanentes, muitas delas formadas por barramentos feitos pelos fazendeiros.
Além de utilizar todos esses ambientes, diversas espécies fossoriais e subterrâneas da
herpetofauna ainda utilizam as camadas superficiais do solo.
2.3.5.2.
Caracterização da Herpetofauna
2.3.5.3.
5.2.1 Caracterização Geral (abordagem mais ampla (regional) do
ponto de vista da biogeografia).
A Floresta Amazônica é um dos maiores centros de diversidade da herpetofauna
do mundo (Duellman, 1990; Icochea et al., 2001; Azevedo-Ramos e Galatti, 2002). A
região abriga aproximadamente 335 espécies de anfíbios (Duellman, 1999), sendo que
pelo menos 163 espécies ocorrem em território brasileiro (Azevedo-Ramos e Galatti,
2002). Quanto aos lagartos, cerca de 89 espécies são conhecidas na Amazônia brasileira
(Ávila-Pires, 1995). Entretanto, a cada ano novas espécies da herpetofauna são descritas
(e.g., Ávila-Pires e Vitt, 1998; Ávila-Pires, 2001; Caramaschi e Cruz, 2001).
Diversos estudos indicam a existência de uma divisão leste/oeste na Floresta
Amazônica no que se refere à composição da herpetofauna (Duellman, 1988; Ávila-Pires,
1995; Jorge Da Silva e Sites, 1995). A região leste, onde se situa a área de estudo,
aparentemente possui menor riqueza de espécies e menor número de endêmicos que a
região oeste (Duellman, 1999; Azevedo-Ramos e Galatti, 2002). Cinco espécies de
anuros (Bufo castaneoticus, Dendrobates castaneoticus, D. galactonotus, Hyla
anataliasiasi e Hyla inframaculata) e duas de cecílias (Nectocaecilia ladigesi e
Typhlonectes obesus) são endêmicas da porção leste da Floresta Amazônica (Duellman,
1999). Por outro lado, sete espécies/subespécies de lagartos, Arthrosaura kockii,
Cercosaura ocellata ocellata, Kentropyx calcarata, Leposoma guianense, Neusticurus
bicarinatus, Tretioscincus agilis e Uracentron azureum azureum, são endêmicas da
mesma região (Ávila-Pires, 1995).
A região de estudo inclui isolados de vegetação aberta, especialmente na Serra do
Cachimbo. Estes isolados abrigam uma herpetofauna própria, distinta daquela da Floresta
Amazônica, incluindo pelo menos duas espécies endêmicas. O lagarto Tropidurus
insulanus foi descrito em 1987 (Rodrigues, 1987), a partir de exemplares da Serra do
Cachimbo. Assim como outras espécies congenéricas, T. insulanus é uma espécie
heliófila, com atividade nas horas mais quentes do dia, sendo o lagarto mais abundante
nas áreas de Campo Rupestre. A espécie é aparentemente restrita a esse hábitat na
região da Serra do Cachimbo. O mesmo ocorre com a perereca Hyla cachimbo (Napoli e
191
Caramaschi, 1999). O fato dessas espécies terem sido descritas recentemente ressalta o
precário conhecimento sobre a herpetofauna dos encraves de vegetação aberta na
Amazônia e o potencial dessas regiões abrigarem espécies endêmicas ou aquelas que
estão associadas com as formações áridas do Brasil central, porém que na região da
Serra do Cachimbo encontram-se isoladas.
2.3.5.4.
5.2.2 Caracterização da Herpetofauna nos Ambientes Ocorrentes
na Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, com
ilustrações
Somado-se os dados de todas as expedições, foram coletados 1.531 exemplares
da herpetofauna, sendo 951 anfíbios e 580 répteis, totalizando 48 espécies de anfíbios
(Tabela 1) e 72 de répteis (Tabela 2). Apesar do número expressivo de exemplares
coletados, as curvas de acumulação de espécies (Fig. 2) sugerem que a riqueza até
então registrada ainda não se aproximou da assíntota, indicando que amostragens
adicionais poderiam ainda contribuir de maneira substancial para a lista de espécies,
especialmente no caso dos répteis. Isso é patente ao se comparar os valores da riqueza
observada com os de Chao 2 (riqueza esperada). No caso dos anfíbios, a riqueza
esperada foi de 57,4 ± 5,0 (observado = 48), enquanto que para os répteis, a riqueza
esperada foi de 117,4 ± 19,3 (observado = 72). A grande discrepância entre os valores de
riqueza observada e estimada de répteis deve-se, especialmente, à inclusão das
serpentes na análise, dada a grande dificuldade em se obter uma amostragem
representativa desse grupo em uma dada área, especialmente na região Neotropical.
Os ambientes florestais (Floresta de Terra Firme e Floresta Inundável)
apresentaram uma maior riqueza da herpetofauna em relação aos hábitats abertos
(Campina e Campo Rupestre, Tabela 3). De forma similar, um maior número de espécies
ocorreu exclusivamente nos ambientes florestais, em relação aos ambientes abertos
(Tabela 3). Por outro lado, as únicas espécies endêmicas da área de estudo (Tropidurus
insulanus e Hyla cachimbo, Fig. 3) ocorreram exclusivamente nos ambientes abertos.
Ainda, algumas das espécies encontradas nos ambientes abertos são típicas do Cerrado,
representando assim populações isoladas em uma matriz florestal na região de estudo.
A herpetofauna da região da Serra do Cachimbo é composta principalmente por
espécies características da Floresta Amazônica, sendo que aproximadamente 63% das
espécies de anfíbios e 54% das espécies de répteis ocorrem exclusivamente neste bioma
(Tabela 4). Entretanto, outro importante componente da herpetofauna, formado por cerca
de 13% das espécies de anfíbios e 10% das espécies de répteis, é formado por
elementos típicos do Cerrado (Tabela 4), tendo as duas espécies endêmicas (Tropidurus
insulanus e Hyla cachimbo) aparentemente divergido após o isolamento das áreas
abertas da Serra do Cachimbo da região nuclear do Cerrado.
Dentre as espécies típicas de anfíbios da Floresta Amazônica que ocorrem na
região, destacam-se Bufo castaneoticus, B. margaritifer, Hyla fasciata, H. wavrini,
Osteocephalus taurinus, Phyllomedusa vaillanti, Scinax boesemani, Leptodactylus
mystaceus, Leptodactylus rhodomystax, Chiasmocleis ventrimaculata, Ctenophryne geayi,
Pipa arrabali e Rana palmipes (Tabela 1). Por outro lado, Bufo ocellatus, Epipedobates
aff. flavopictus, Hyla melanargyrea, Pseudopaludicola mystacalis, P. ternetzi e
Leptodactylus mystacinus (Tabela 1) são exemplos típicos de anfíbios amplamente
distribuídos no Cerrado, e que encontram-se isolados na região. Também, entre os
répteis observamos um padrão semelhante, com várias espécies típicas da Amazônia,
como Gonatodes humeralis, Gonatodes eladioi, Arthrosaura reticulata, Bachia flavescens,
Iphisa elegans, Leposoma osvaldoi, Neusticurus ecpleopus, Anolis punctatus, Plica plica,
Anilius scytale, Atractus albuquerquei, Bothriopsis taeniata, Corallus caninus,
192
Dendrophidion dendrophis, Dipsas catesbyi, Drepanoides anomalous, Xenoxybelis
argenteus, Micrurus spixii e Typhlops reticulatus (Tabela 2), elementos típicos do Cerrado,
como Colobosaura modesta, Micrablepharus maximiliani, Polychrus acutirostris, Mabuya
guaporicola, Chironius flavolineatus, Pseudoboa nigra, Liophis meridionalis e
Taeniophallus occipitalis (Tabela 2).
2.3.5.5.
Caracterização dos Sítios Pesquisados com Base nos Dados
Obtidos Através da Avaliação Ecológica Rápida
Durante a expedição para amostragem através da AER, o síto melhor amostrado
foi aquele contendo os pontos da Trilha das Armadilhas na Fazenda São Silvestre e Trilha
da Transeção na Fazenda São Silvestre, descritos acima, onde os esforços se
concentraram durante todo o período de campo. Os demais pontos foram amostrados de
forma esporádica. Dessa forma, a descrição abaixo se refere a esse ponto. Apesar da
presença da estrada e de uma picada que marca o limite da Fazenda São Silvestre, a
Floresta de Terra Firme é bastante íntegra. Foram capturadas no ponto as seguintes
espécies: Amphisbaena fuliginosa, Anolis punctatus, Bachia flavescens, Bothrocophias
hyoprora, Bufo margaritifer, Ceratophrys cornuta, Clelia plumbea, Eleuterodactylus sp.,
Enyalius leechi, Hyla calcarata, Leptodactylus mystaceus, Leptodactylus rhodomystax,
Leptodeira anullata, Liophis typhlus, Lithodytes lineatus, Neusticurus bicarinatus,
Osteocephalus taurinus, Physalaemus petersi, Pseutes poecilonotus, Xenoxybelis
argenteus, atestando o elevado grau de conservação da área. Merece destaque a
presença de B. hyoprora e E. leechi, espécies relativamente raras da Amazônia.
2.3.5.6. Táxons da Herpetofauna de Interesse para a Conservação
Nenhuma das espécies registradas na região da Serra do Cachimbo consta da
Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Entretanto,
dentre as espécies amostradas, 12 estão listadas no Apêndice II da CITES: três anuros
(Colostethus sp1, Colostethus sp2 e Epipedobates aff. flavopictus), dois jabutis
(Geochelone carbonaria e G. denticulata), dois crocodilianos (Caiman crocodilus e
Paleosuchus palpebrosus), dois lagartos (Iguana iguana e Tupinambis teguixin) e três
serpentes (Boa constrictor, Corallus caninus e Eunectes murinus). Seis dessas espécies
foram registradas na REBIO Nascentes da Serra do Cachimbo: Colostethus sp1, G.
denticulata, P. palpebrosus, B. constrictor, C. caninus e E. murinus. As demais espécies
foram registradas no entorno da REBIO e, certamente, ocorrem em seu interior.
As espécies associadas à Floresta de Terra Firme, Colostethus sp1, Colostethus
sp2, G. denticulata, Corallus caninus e Tupinambis teguixin, são sensíveis a perturbações
como corte seletivo de madeira, presença de gado no interior da floresta e queimadas.
Epipedobates aff. flavopictus foi coletada exclusivamente entre rochas às margens do Rio
Curuá, na região das cachoeiras (vide Material e Métodos), possivelmente ocorrendo rio
acima, no interior da REBIO. A construção da Pequena Central Hidrelétrica Salto Curuá,
no Rio Curuá, município de Novo Progresso, provocará mudanças substanciais no hábitat
utilizado pela espécie, incluindo remoção da vegetação ribeirinha e alterações no nível da
água. Os jabutis (Geochelone carbonaria e G. denticulata) e crocodilianos (Caiman
crocodilus e Paleosuchus palpebrosus) merecem atenção especial, por serem muitas
vezes utilizados pelos habitantes locais na alimentação. Da mesma forma, a jibóia (Boa
constrictor) e a sucuri (Eunectes murinus), apesar de amplamente distribuídas na região,
são facilmente avistadas devido ao seu grande porte e freqüentemente abatidas, por
serem consideradas, em certa medida, ameaça a animais domésticos. Iguana iguana está
193
associada à vegetação marginais dos rios de médio a grande porte e pode desaparecer
em áreas onde esse tipo de vegetação foi removido.
As duas espécies endêmicas da região da Serra do Cachimbo, Hyla cachimbo e
Tropidurus insulanus (ainda não registrada no interior da REBIO) são restritas aos
hábitats abertos, em especial aos Campos Rupestres, que têm pouca representatividade
na REBIO, sendo assim merecedoras de atenção especial. Hyla cachimbo foi registrada
em altas densidades em ambientes antropogênicos, como áreas alagadas às margens de
estradas. Nos ambientes antropogênicos, as espécies mais abundantes foram o lagarto
Ameiva ameiva e os anuros Hyla aff. albopunctata e Leptodactylus fuscus. Ameiva ameiva
é uma espécie generalista, heliófila, que aparentemente se beneficia da ação antrópica,
como a construção de estradas em áreas florestais, passando a ser mais abundante do
que sob condições naturais (Sartorius et al., 1999). Da mesma forma, H. aff. albopunctata
e L. fuscus são espécies típicas de áreas abertas, que prontamente ocupam clareiras e
derrubadas em florestas, um padrão que já foi registrado, em decorrência da
fragmentação da floresta, em outras áreas da Amazônia (Tocher et al., 1997). Essas
espécies podem ser utilizadas como indicadoras do grau de conservação dos ambientes e
sua proliferação pode impactar as comunidades de ambientes mais íntegros,
circumvizinhos (Sartorius et al., 1999).
2.3.6.
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS (referentes à sua área temática visando
ao manejo)
A herpetofauna da área de estudo é composta por dois elementos: um de áreas
florestais e outro de áreas abertas. As espécies de áreas florestais predominam e são
típicas da Floresta Amazônica, sendo que não há endêmicos florestais. Existem, porém,
espécies endêmicas da região leste da Floresta Amazônica que provavelmente ocorrem
na área de estudo. Por outro lado, as espécies de áreas abertas são representativas do
Cerrado ou endêmicas da área de estudo. A presença de isolados de áreas abertas em
meio à floresta é determinante para a existência de espécies endêmicas. Desta forma, a
região da Serra do Cachimbo, incluindo a REBIO Nascentes da Serra do Cachimbo,
agrega diversos componentes, o que é típico de regiões de transição entre biomas,
resultando em uma elevada diversidade de espécies.
A herpetofauna, de uma maneira geral, não é apreciada pelos moradores, em
especial as serpentes e anfíbios. Esses animais são sistematicamente mortos ou
repelidos. As principais alterações antrópicas na REBIO e entorno consistem da
exploração da madeira e da pecuária extensiva, ambas extremamente danosas para a
herpetofauna por implicarem na remoção da vegetação nativa, resultando em extinção
local da grande maioria das espécies nessas áreas. Ainda, as queimadas em áreas de
derrubada da floresta se propagam com frequência pelas áreas abertas, com grande
impacto sobre a vegetação e espécies associadas.
Cabe destacar que, além das áreas já desmatadas, cerca de 8% da REBIO,
conforme estudos feitos pelo ICV, grande parte das áreas de floresta estão perturbadas
por corte seletivo de madeira, conforme pudemos constatar e ainda por relatos de
moradores locais. O principal ação a ser adotada é apresentar uma solução para as
muitas famílias e um grande número de cabeças de gado que habitam a REBIO. Caso a
REBIO seja totalmente desapropriada, serão necessárias amplas ações para a
recuperação das áreas degradadas.
194
2.3.7.
CATEGORIZAÇÃO DOS PONTOS DA AER (referentes à sua área
temática)
Vide Tabela 5.
2.3.8.
RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO
2.3.8.1. Linhas de Pesquisas e Estudos
Considerando a exigüidade do tempo para a realização de AERs, seria de
fundamental importância a realização de inventários de longo prazo da herpetofauna,
cobrindo pelo menos as duas estações do ano, para a elaboração de uma lista mais
completa da herpetofauna e sua associação com os diferentes hábitats da REBIO. A
análise da curva de acumulação de espécies, tanto para anfíbios quanto para répteis,
indica que existe um grande número de espécies ainda não registradas na área. Ainda,
seria fundamental conduzir investigações sobre os impactos das atividades
antropogênicas sobre a herpetofauna, incluindo o corte seletivo de madeira, a formação
de pastagens e o barramento de igarapés.
2.3.8.2. De Ordem Administrativa e Operacional
É importante a instalação de uma sede e de pessoal administrativo do IBAMA no
local, para coibir atividades danosas ao meio ambiente, como o corte seletivo de madeira,
derrubadas e queimadas, que ainda continuam a ser praticadas no interior da REBIO.
2.3.8.3. De Ordem Estratégica
Promover articulação com atuais moradores e associação de produtores locais
para definir metas e ações com vistas à desapropriação e possíveis indenizações, de
acordo com o previsto em lei.
2.3.8.4. Referentes à Qualidade Ambiental
Desenvolver e implementar atividades de recuperação das áreas antropogênicas
no interior e entorno da REBIO.
2.3.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Vitt, L. J. e E. R. Pianka. Lizard Ecology. Princeton: Princeton University Press. 1994. 403
p.
Zug, G. R., L. J. Vitt e J. P. Caldwell. Herpetology. An Introductory Biology of Amphibians
and Reptiles. San Diego, CA: Academic Press. 2001. 630 p.
197
Tabela 1. Lista de espécies de anfíbios coletados na região da Serra do Cachimbo e sua
distribuição pelos ambientes e biomas. *Espécies registradas na REBIO Nascentes da
Serra do Cachimbo em estudos anteriores. †Espécies coletadas na REBIO Nascentes da
Serra do Cachimbo durante a realização da AER.
Táxon
ANURA
Bufonidae
Bufo castaneoticus
Bufo guttatus*
Bufo margaritifer*†
Bufo marinus*†
Bufo ocellatus
Centrolenidae
Centrolenidae sp.*
Dendrobatidae
Colosthetus sp1*†
Colosthetus sp2
Epipedobates aff.
flavopictus
Hylidae
Hyla gr.
albopunctata*†
Hyla cachimbo*†
Hyla calcarata†
Hyla geographica*†
Hyla leucophyllata†
Hyla melanargyrea*
Hyla microcephala
Hyla minuta*
Hyla multifasciata
Hyla punctata
Hyla wavrini*
Osteocephalus sp.*
Osteocephalus
taurinus*†
Phyllomedusa
vaillanti
Scinax boesemani
Scinax
fuscomarginatus
Scinax garbei
Scinax nebulosus
Scinax ruber*†
Leptodactylidae
Adenomera
andreae
Adenomera
martinezi
Ceratophrys
cornuta†
Eleutherodactylus
sp.* †
Leptodactylus
fuscus
Espécies Ambiente Cerrado
Floresta
Outros
Amazônica Biomas
Pontos
48
5
FT
FT
FI,FT
CA,FI,FT
CA
X
X
X
X
X
1E
1E,3Eb,4E,5E
3Ea,3Eb,8R
1E,4E,5E,8R
4E
X
1
FT
X
FI,FT
FT
FT
X
X
X
CA,CR,FI
X
3
2E,3Ea,3Eb,8R
3Eb
1E
19
CA,CR
FT
FT
FT
CA
CA,CR
CR,FT
FI
FT
CA,FI
FT
CA,FT
X
X
X
X
X
X
X
FT
CA
CA,CR
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
3Eb,4E,5E,6E,3
3Eb,4E,5E,6E,3
8R
3Ea,3Eb,8R
3
3Eb
3Ea
4E,6E
4E,6E
2E,5E
5E,6
3Eb,2E
3Eb,8R
3Eb
X
3Eb
3Eb,4E,6E
FT
FT
CA
X
X
X
X
X
3Eb
2E,3Ea,5E
3,4E,5E,6E
FI
X
X
X
1E
FT
X
X
4E
FT
X
8R
FT
X
3Eb,8R
15
CA,CR,FT
X
X
X
3Eb,4E,5E,6E
198
Táxon
Espécies Ambiente Cerrado
Leptodactylus
labyrinthicus*
Leptodactylus
mystaceus
Leptodactylus
mystacinus
Leptodactylus
podicipinus†
Leptodactylus
rhodomystax†
Leptodactylus sp.
Lithodytes
lineatus†
Physalaemus
petersi†
Pseudopaludicola
mystacalis*
Pseudopaludicola
ternetzi
Microhylidae
Elachistocleis
ovalis
Chiasmocleis
ventrimaculata
Ctenophryne geayi
Pipidae
Pipa arrabali
Ranidae
Rana palmipes
CA,FT
X
FT
X
CA
X
FT
X
FT
CR
FT
Floresta
Outros
Amazônica Biomas
X
X
1E,4E,5E,6E
1E,3Eb,8R
X
1E,4E,5E,6E
X
3
X
3Ea,3Eb,8R,
X
3Eb
8R
X
8R,3
X
FT
Pontos
FT
X
3Eb
FT
X
4E,6E
CA,CR
X
3
X
X
3Eb,4E,6E
FI,FT
X
3Ea,3Eb
FI,FT
X
3Ea,3Eb,
FI
X
3Ea
FT
X
4E,6E
1
1
Ambientes: (CA) Campina, (CR) Campo Rupestre, (FI) Floresta Inundada, (FT) Floresta
de Terra Firme.
199
Tabela 2. Lista de espécies de répteis coletados na região da Serra do Cachimbo
e sua distribuição pelos ambientes. *Espécies registradas na REBIO Nascentes da
Serra do Cachimbo em estudos anteriores. †Espécies coletadas na REBIO
Nascentes da Serra do Cachimbo durante a realização da AER.
Táxon
REPTILIA
CROCODYLIA
Alligatoridae
Caiman crocodilus
Paleosuchus
palpebrosus*†
TESTUDINES
Chelidae
Phrynops nasutus
Kinosternidae
Kinosternon
scorpioides*
Testudinidae
Geochelone
carbonaria
Geochelone
denticulata†
SQUAMATA
Gekkonidae
Gonatodes eladioi†
Gonatodes humeralis
Hemidactylus
mabouia*†
Gymnophthalmidae
Arthrosaura reticulata
Bachia flavescens†
Cercosaura ocellata
Colobosaura
modesta
Iphisa elegans
Leposoma osvaldoi
Micrablepharus
maximiliani
Neusticurus
ecpleopus
Neusticurus
bicarinatus†
Iguanidae
Iguana iguana
Leiosauridae
Enyalius leechi†
Polychrotidae
Anolis chrysolepis
Anolis fuscoauratus*
Anolis punctatus*†
Polychrus acutirostris
Amphisbaenidae
Amphisbaena alba
Amphisbaena
Espécies Ambiente Cerrado
Floresta
Outros
Amazônica Biomas
Pontos
72
2
2
LA
LA
X
X
X
X
X
X
5E
5E,6E,2
X
X
5
4
1
LA
1
LA
X
X
X
FI
X
X
X
2
FT
X
FT
FI,FT
CA
X
X
X
66
3
X
X
3Eb,10
3Ea,1E
4E
9
FT,FI
FT
FT
CA,FT
FT
FT
CA
X
X
X
X
X
3Ea,3Eb
2E,3Eb,8R
3Eb
4E
X
X
3Eb
3Eb
3Eb,4E,5E
X
X
FT
X
1E
FT
X
8R
1
CA
X
X
X
4E
1
FT
X
8R
X
X
X
2E
2E
5E,8R
4E
X
X
4E
8R
4
FT
FT
FT
CA
X
CA
FT
X
X
X
2
X
X
200
Táxon
fuliginosa
Scincidae
Mabuya guaporicola
Mabuya
nigropunctata*
Teiidae
Ameiva ameiva*†
Kentropyx calcarata*
Tupinambis teguixin
Tropiduridae
Plica plica
Tropidurus insulanus
Aniliidae
Anilius scytale†
Boidae
Boa constrictor†
Corallus caninus*
Eunectes murinus
Colubridae
Atractus
albuquerquei
Atractus sp.†
Chironius
flavolineatus
Clelia plumbea†
Dendrophidion
dendrophis
Dipsas catesbyi
Dipsas pavonina†
Drepanoides
anomalous
Drymarchon corais*
Drymoluber dichrous
Helicops angulatus
Helicops gomesi
Leptodeira
annulata*†
Leptophis ahaetulla
Liophis meridionalis
Liophis reginae
Liophis typhlus†
Mastigodryas
boddaerti
Oxybelis fulgidus
Philodryas olfersii
Philodryas
viridissimus
Pseudoboa nigra
Pseustes
poecilonotus†
Spilotes pullatus*†
Taeniophallus
occipitalis
Waglerophis merremi
Espécies Ambiente Cerrado
Floresta
Outros
Amazônica Biomas
Pontos
2
CA,CR
FT
X
X
CA,CR,FT
FT
FT
X
3Eb,4E
3Eb,2E
X
3
X
X
X
X
1E,4E,5E,8R,
2E,3Ea,3Eb
4E
2
FT
CR
X
1E
4E,5E,6E
X
8R,3Eb,5E
X
1
FT
3
CA,FT
FT
LA
X
X
X
X
X
X
estr
X
5E
28
FT
FT
CA
FT
FT
FT
CA,CR
CA,FT
FT
CA,FT
FT
CA,FT
FT
4E
X
8R
3Eb
X
X
CA
FT
FT
FT
CA,FT
CA,FT,LA
LA
FT
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
3Ea
8R
3Eb
X
X
X
X
X
X
X
X
CA
FT
X
FT
FT
X
X
CA,CR
X
X
X
X
X
X
X
8R
1E
X
X
X
3
5E
1E,3Eb,5E
5E
3Eb,8R,4E,5E
3Eb
4E
4E
3Eb,8R,5E
4E,5E
2E
3Eb,4E
2E
X
3Eb
8R
X
X
2
4E
X
X
4E
X
201
Táxon
Espécies Ambiente Cerrado
Xenodon
rhabdocephalus†
Xenoxybelis
argenteus*†
Elapidae
Micrurus spixii
Typhlopidae
Typhlops reticulatus
Viperidae
Bothriopsis
taeniata*†
Bothrocophias
hyoprora†
Bothrops atrox*
Bothrops brazili
Crotalus durissus
FT
Floresta
Outros
Amazônica Biomas
X
Pontos
8R
FT
X
1E,8R
CA
X
5E
FT
X
3Eb
FT
X
4
FT
X
8R
FT
CR
CA,CR
X
X
3
3Eb
4E,6E,10
1
1
5
X
X
Ambientes: (CA) Campina, (CR) Campo Rupestre, (FT) Floresta de Terra Firme, (FI)
Floresta Inundada, (LA) Lagos/Rios.
202
Tabela 3. Uso dos ambientes pela herpetofauna na região da Serra do Cachimbo. Os
números na tabela indicam a porcentagem de espécies em cada ambiente, com o número
de espécies entre parênteses.
Ambiente
Anfíbios (n = 48)
Répteis (n = 72)
Ocorrência não-exclusiva
Campina
31,3 (15)
30,6 (22)
Campo Rupestre
16,7 (8)
11,1 (8)
Floresta Inundada
20,8 (10)
4,2 (3)
Floresta de Terra Firme
68,8 (33)
70,8 (51)
Lagos
—
6,9 (5)
Ocorrência exclusiva
Campina
12,5 (6)
12,5 (9)
Campo Rupestre
2,1 (1)
2,8 (2)
Floresta Inundada
6,3 (3)
1,4 (1)
Floresta de Terra Firme
50,0 (24)
55,6 (40)
Lagos
—
6,9 (5)
203
Tabela 4. Ocorrência por bioma de anfíbios e répteis da região da Serra do Cachimbo. Os
números na tabela indicam a porcentagem de espécies em cada ambiente, com o número
de espécies entre parênteses.
Hábitat
Anfíbios (n = 48)
Répteis (n = 72)
Ocorrência não-exclusiva
Cerrado
37,5 (18)
44,4 (32)
Floresta Amazônica
85,4 (41)
84,7 (61)
Outros biomas
18,8 (9)
33,3 (24)
Ocorrência exclusiva
Cerrado
12,5 (6)
9,7 (7)
Floresta Amazônica
62,5 (30)
54,2 (39)
204
Tabela 5 - Classificação dos pontos para análise intertemática com base nas informações sobre vegetação campestre e savânica obtidas na
Avaliação Ecológica Rápida (AER) para a revisão do plano de manejo da REBIO Nascentes Serra do Cachimbo.
Sítio
Lat
Long
Alt(m)
Ponto 6P
9º14’03”S
54º41’08”W
631
Ponto 8R
8º50’39”S
54º33’55”W
410
Ponto 3
8º57’40”S
54º36’42”W
?
?
Ponto 10
Ponto 1E
Ponto 2E
Ponto 3Ea
8º 44’ 08”
54º 57’ 49” W
S
9º 22’ 05”
55º 01’ 10” W
S
9º 17” 59”
55º 10’ 28” W
S
Ponto 3Eb
9º 22” 49”
55º 20’ 26” W
S
Ponto 4E
9º 21” 28”
54º 54’ 51” W
S
Ponto 5E
9º 21” 28”
54º 54’ 51” W
S
Ponto 6E
9º 21” 28” 54º 54’ 51” W
Espécies características
Bothrocophias hyoprora,
Enyalius leechi
Bufo marinus,
461
Leptodactylus mystaceus
Gonatodes eladioi
?
Epipedobates sp.,
372 Neusticurus ecpleopus,
Plica plica
Anolis fuscoauratus,
434
Kentropyx calcarata
Arthrosaura reticulata, Pipa
395
arrabali
Boa constrictor, Hyla
cachimbo, Kentropyx
calcarata, Leptodactylus
321 sp., Leptodactylus
rhodomystax, Mabuya
guaporicola, M.
nigropunctata
Micrablepharus maximiliani,
454 Tropidurus insulanus,
Mabuya guaporicola
Anolis punctatus, Eunectes
murinus, Caiman
crocodilus, Paleosuchus
palpebrosus
454
454 Tropidurus insulanus
Apêndice 2
CITES
Paleosuchus
palpebrosus
Paleosuchus
palpebrosus
Endêmicas
Categoria
importância
1
1
Corallus caninus
Gonatodes eladioi
(R)
Epipedobates sp.
Pressão
Extração de
madeira
Extração de
madeira
3
Agropecuária
5
Agropecuária
1
Turismo,
hidroelétrica
2
Turismo
1
Operações
militares
Categoria
pressão
1
1
3
5
5
3
2
1
Colostethus sp.,
Geochelone
carbonaria
Hyla cachimbo
1
Nenhuma
Iguana iguana
Hyla cachimbo,
Tropidurus
insulanus
2
Operações
militares
2
2
Caiman
crocodilus,
Eunectes
murinus,
Paleosuchus
palpebrosus,
Tupinambis
teguixin
Tropidurus
2
Turismo
1
Nenhuma
1
205
Sítio
Ponto 1
Lat
Long
S
9º 07’ 01”
54º 43’ 13” W
S
Alt(m)
Espécies características
Apêndice 2
CITES
Endêmicas
Categoria
importância
Pressão
1
Queimadas
Categoria
pressão
insulanus
639
Ameiva ameiva
Ponto 2
9º 04’ 23”
54º 42’ 59” W
S
Hyla geographica,
586 Paleosuchus palpebrosus
Ponto 4
9º 00’ 28”
54º 25’ 05” W
S
Anolis punctatus,
389 Bothriopsis taeniata
Ponto 5
8º 54’ 40”
54º 29’ 08” W
S
279
Ponto 6
9º 04’ 04”
54º 36’ 26” W
S
Ameiva ameiva,
566 Osteocephalus sp., Hyla
geographica
Ameiva ameiva
Paleosuchus
palpebrosus
3
Geochelone
denticulata
2
4
3
Agropecuária,
retirada de
madeira
Retirada de
madeira,
agropecuária
Retirada de
madeira
Retirada de
madeira
1
4
2
4
4
206
207
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES DA
SERRA DO CACHIMBO
CARACTERIZAÇÃO BIÓTICA: LEVANTAMENTO DE AVIFAUNA NA RESERVA
BIOLÓGICA NASCENTE DA SERRA DO CACHIMBO (PA)
(Relatório Final)
Responsável Técnico: Biól. Dante Reanato Buzzetti.
Realização:
INSTITUTO CENTRO
DE VIDA
Apoio:
W W F - BRASIL
Junho de 2006
208
2.4. Avifauna
Responsável técnico: Biól. Dante Renato Buzzetti
2.4.1.
Introdução
A região do extremo sul do estado do Pará e norte do estado de Mato Grosso
permaneciam virtualmente desconhecidas e intocadas até o início da década de 1950,
devido principalmente à dificuldade de acesso. Sua topografia acidentada, com rios
encachoeirados, inviabilizava a navegação e o acesso fluvial à região, que não possuía
meios terrestres de comunicação. Em 1952, o coletor profissional José Hidasi
empreendeu a primeira de uma série de excursões à Serra do Cachimbo e em 1955,
Emílio Dente e Werner Bokermann, pesquisadores da equipe do ornitólogo Olivério Pinto
visitaram a base da Força Aérea Brasileira na Serra do Cachimbo, coligindo importantes
informações sobre sua avifauna (Pinto & Camargo, 1957). No ano de 1957, uma excursão
realizada por Helmut Sick, do Museu Nacional do Rio de Janeiro à região do Rio Cururú,
na porção norte da Serra do Cachimbo, resultou na descoberta do dançador-de-coroadourada (Lepidothrix vilasboasi), ave endêmica desta região (Sick, 1959).
Expedições científicas subseqüentes à região foram realizadas no Rio Aripuanã (Novaes,
1976) e Rio Peixoto de Azevedo (Novaes e Lima, 1981), trazendo grande contribuição ao
conhecimento da avifauna regional. Após a fundação do município de Alta Floresta, e
posterior criação em 1993 do Instituto Ecológico do Cristalino, houve um importante afluxo
de pesquisadores estrangeiros para a região, que ali passaram a desenvolver diversos
estudos sobre ornitologia e biogeografia (Haffer, 1969;1997). Kevin Zimmer, Ted Parker
III, Morton e Physis Isler realizaram os principais estudos sobre a avifauna da região do
baixo Rio Cristalino (Zimmer et al., 1997; Parker III et al., 1997), apontando ali ocorrências
novas para a avifauna do Brasil, além de ressaltarem a grande diversidade de espécies
da área. Após estes estudos, um grande número de turistas e pesquisadores têm visitado
o baixo Rio Cristalino para observar suas aves, de tal forma que a área se tornou um dos
principais destinos de “bird watchers” na Amazônia brasileira (Whitney, 1997). Há ainda
um estudo recente sobre as aves da Base Aérea da Serra do Cachimbo, cujos dados
ainda não foram publicados (Santos, Silveira e Silva, 2005).
O sul do estado do Pará, na divisa com Mato Grosso, é uma das regiões brasileiras de
maior interesse do ponto de vista biológico, e considerada como uma das áreas
prioritárias para conservação (Oren & Albuquerque, 1991), em função da complexidade
de sua paisagem, em zona de transição entre a Floresta Amazônica e o Cerrado, com
enclaves de Campinarana.
Estudos ornitológicos recentes, desenvolvidos no Parque Nacional do Tapajós (Oren e
Parker III, 1997), demonstraram que há grande similaridade na composição de sua
avifauna com aquela do Rio Cristalino. A bacia dos rios Tapajós e Madeira foi definida por
vários autores (Cracraft, 1985; Stotz et al., 1996; Haffer, 1969;1997) como uma zona de
endemismos para a avifauna da Amazônia Meridional. Há realmente várias espécies de
aves endêmicas da região (Tabela 2), inclusive sabe-se da presença de espécies ainda
não descritas na Serra do Cachimbo e no baixo Rio Cristalino, e que provavelmente são
endêmicas da região. Entre elas podemos citar um Thamnophilidae do gênero
Herpsilochmus (L.F.Silveira, com. pess.) e um Furnariidae do gênero Synallaxis (Whitney,
1997). Duas espécies foram recentemente descritas para a região, o falcão–críptico
(Micrastur mintoni) (Whitaker, 2002) e o papagaio-de-cabeça-laranja (Pionopsitta
aurantiocephala) (Gaban-Lima, Raposo & Höfling, 2002).
209
2.4.2. Material e Métodos:
As aves foram detectadas em cada sítio e trecho de amostragem através de observação
com binóculos (Swarovski 10x40), e principalmente pelo reconhecimento e gravação de
suas vocalizações em fita K7. Foram realizadas várias gravações, utilizando gravador
profissional Sony TCM - 5.000 EV e microfone direcional Sennheiser ME-67. Utilizou-se
com freqüência a técnica do play-back, gravando as aves com maior dificuldade de
visualização e induzindo-as a se aproximarem, através da reprodução de seu próprio
canto. Foram utilizados ainda play-backs pré-gravados com o canto de espécies de
interesse, a fim de confirmar a presença de espécies raras ou ameaçadas de extinção.
Cabe ressaltar que ao longo dos trabalhos de campo não se fez distinção entre os
registros visuais e registros sonoros para cada espécie, considerando-se ambas as
formas de registro como válidas e confiáveis. Nas situações de dúvida na identificação e
na impossibilidade de se obter gravações da vocalização da espécie para posterior
comparação, os registros não foram considerados, aguardando confirmação na próxima
campanha de campo e não constam na listagem aqui apresentada. Em todas as
oportunidades, procurou-se obter as duas formas de registro para cada espécie, embora
haja consenso que na maioria dos casos, quando se trabalha em ambientes florestais, os
registros sonoros são muito mais confiáveis que os registros visuais. Para espécies raras,
ameaçadas de extinção, ou cuja presença na área se constituiu em extensão de sua
distribuição geográfica, procurou-se obter sempre uma documentação adequada do
registro, através da gravação da vocalização da espécie em fita K7, ou quando possível
de fotografia do exemplar. Listaram-se as aves registradas em cada trecho de
amostragem e em cada ambiente, de modo a permitir uma análise dos resultados
enfocando a distribuição das espécies de acordo com a cobertura vegetal, e não
unicamente a composição taxonômica.
A análise da fauna, em especial da avifauna, mesmo que realiza de forma rápida, é um
instrumento precioso para a determinação da qualidade dos ambientes naturais e
antrópicos. As aves constituem um grupo de observação e identificação relativamente
fáceis, quando comparada com outros grupos taxonômicos, com ocorrência de um grande
número de espécies na maioria dos ambientes, permitindo a obtenção de dados
consistentes, mesmo em curtos períodos de trabalho de campo. Boa parte das espécies
apresenta grande fidelidade a determinados ambientes, desaparecendo quando ocorrem
alterações em sus hábitats, sendo utilizadas portanto como indicadoras ambientais. A
análise da importância relativa de cada ambiente é baseada na constatação de espécies
indicadoras em cada área, e no potencial da utilização destas áreas pelos representantes
da fauna ecologicamente mais exigentes.
Na primeira campanha de campo, não foram utilizadas técnicas de captura com redes de
neblina, devido à exigüidade de tempo e à maior eficiência da metodologia baseada na
bioacústica. Após uma caracterização preliminar da comunidade de aves local embasada
nos registros sonoros, a captura com redes de neblina e coleta de exemplares poderá ser
utilizada na segunda campanha de campo, com o intuito de confirmar a presença de
algumas espécies, principalmente aves florestais de hábitos crepusculares como
arapaçus (Dendrocolaptidae) e tovacas (Formicariidae).
2.4.3. Resultados:
Os sítios e trechos de amostragem foram definidos com o objetivo de amostrar os locais
com as fisionomias vegetais mais representativas da Unidade de Conservação, num total
seis sítios e doze trechos amostrados durante a primeira campanha de campo. Na Tabela
210
1 são apontadas as coordenadas geográficas e os ambientes amostrados em cada uma
dos trechos e sítios, bem como os locais onde houve observações oportunísticas de
interesse, ao longo de estradas e acessos aos pontos de amostragem. Foram registradas
para a Reserva Biológica Nascentes do Cachimbo, durante a prmeira campanha dos
trabalhos de campo, 303 espécies de aves. A Tabela 2 lista as aves registradas em cada
um dos trechos de amostragem, de acordo com a nomenclatura e seqüência adotadas
por Sick (1997), além de espécies citadas em bibliografia para a Serra do Cachimbo,
situada em área contígua à Reserva Biológica. Considerando as espécies citadas em
bibliografia (Pinto & Camargo, 1957) a listagem de aves da UC e imediações atinge a
marca de 382 espécies, um número bastante expressivo para uma única localidade. Entre
as espécies assinaladas para a área, há três ameaçadas de extinção (MMA, 2003) e pelo
menos duas espécies provavelmente ameaçadas/insuficientemente conhecidas (IUCN,
2004).
Entre as 382 espécies citadas, cerca de 40 são endêmicas da Amazônia Meridional, e
pelo menos 25 delas têm sua distribuição restrita ao sul do Pará e norte de Mato Grosso.
Na Reserva Biológica Nascentes do Cachimbo predominam espécies características da
Floresta Equatorial de Terra Firme, como o tropeiro (Lipaugus vociferans) (Foto 1), o japuverde (Psarocolius viridis) (Foto 2), o papa-formigas-barrado (Cymbilaimus lineatus) (Foto
3) e o limpa-folha-de-sobre-ruivo (Philydor erythrocercus) (Foto 4). Há ainda vários
elementos de Cerrado e da Floresta Estacional Semidecidual, presentes nas áreas mais
elevadas. Nestes locais, onde o solo é arenoso e predomina a vegetação arbustiva (Foto
5), ocorrem aves típicas de paisagens abertas na Amazônia, como o periquito-de-cabeçaparda (Aratinga pertinax), e também espécies típicas do Cerrado, como a seriema
(Cariama cristata), a gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus) e o periquito-estrela
(Aratinga aurea).
Nos ambientes florestais (Foto 6), a riqueza de espécies se revelou nitidamente mais alta
que ambientes abertos, embora na maioria dos Sítios amostrados haja sinal de corte
seletivo de madeira. Mesmo assim há várias aves indicadoras de boa qualidade
ambiental, como espécies florestais frugívoras de médio e grande porte, entre eles a
azulona (Tinamus tao), quatro espécies de araçaris (Pteroglossus spp.), o cujubi (Pipile
cujubi), o mutim-cavalo (Mitu tuberosa), e o anambé –de-peito-roxo (Cotinga cotinga),
além de espécies situadas no topo da cadeia trófica, como o gavião-pombo-da-amazônia
(Leucopternis albicollis) o gavião-preto (Buteogallus urubitinga) e o gavião-relógio
(Micratur semitorquatus).
A seguir são tecidos comentários sobre as espécies de maior interesse para conservação:
1 – águia-cinzenta (Harpyhaliaetus coronatus). Espécie de grande porte, representante do
topo da cadeia trófica, ameaçada de extinção, e que habita principalmente áreas abertas
com árvores esparsas. Um casal desta espécie foi registrado no ponto OP-A2, em área
onde a floresta foi recém-derrubada e havia várias árvores secas.
2 – cujubi (Pipile cujubi). Ave florestal cinegética de grande porte e muito mansa, é
bastante visada como item de caça de subsistência. Sua presença em três dos 12 pontos
amostrados na área, indica boa qualidade do ambiente e pressão de caça relativamente
baixa.
3 – mutum-cavalo (Mitu tuberosa). Espécie florestal cinegética de grande porte, também
muito visada por caçadores, dificilmente observada em outros locais na Amazônia
Meridional (Whitney, 1997). Registrado somente nas porções florestadas mais
conservadas da UC.
4 – arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) (Fotos 7 e 8). Espécie ameaçada de
extinção e muito visada pelo comércio ilegal de animais silvestres. Ocorre principalmente
no Pantanal Matogrossense e de forma esparsa na Amazônia. Estes são os primeiros
registros desta espécie para a Serra do Cachimbo, corroborando registros preliminares
211
para o baixo e médio cursos do Rio Cristalino (Buzzetti, 2002). Registrada em quatro
pontos da Reserva, o principal deles no entorno da sede da Fazenda Barchet, onde foram
observados pelo menos doze indivíduos. Segundo informações de moradores locais, um
dos principais itens alimentares destas araras são os frutos da macaúba, o que foi
confirmado durante os trabalhos de campo. Observou-se ainda que um dos locais
preferidos pela espécie para nidificar são as cavidades existentes nos galhos secos da
garapeira, árvore de grande porte que ocorre ao longo de toda a UC.
5 – papagaio-dos-Garbes (Amazona kawalli) . Espécie descrita somente em 1989
(Grantsau e Camargo, 1989) e cuja posição taxonômica permaneceu incerta durante
alguns anos, é hoje reconhecida como uma espécie plena e endêmica do oeste
amazônico, com distribuição predominante na bacia do rio Tapajós (Collar e Pittman,
1995). Observada em Florestas Ciliares ao longo dos rios Curuá e Nilana.
6 – papagaio-de-cabeça-laranja (Pionopsitta aurantiocephala) (Foto 9) . Espécie
recentemente descrita (Gaban-Lima, Raposo & Höfling, 2002) e endêmica da região,
considerada provavelmente ameaçada de extinção (IUCN, 2004), foi registrada em quatro
pontos ao longo da UC; parece ocorrer com mais freqüência no entorno das Florestas
Ciliares.
7 – rabo-branco-de-garganta-escura (Phaethornis aethopyga) (Foto 10). Espécie rara,
pouco conhecida (Grantsau,1988) e cuja posição taxonômica foi apenas recentemente
rersolvida (CBRO, 2005). Esta forma foi descrita por Zimmer (1950) para a localidade de
Caxiricatuba, no baixo Tapajós, e posteriormente agrupada em Phaethornis
longuemareus, ou ainda recentemente citada como uma forma aberrante/híbrida
(Schuchmann,1999). Os dados obtidos em campo, no que diz respeito a plumagem e
vocalização, corroboram uma definitiva separação em relação a Phaethornis
longuemareus e a elevação desta forma à condição de espécie plena, com distribuição
restrita à bacia do rio Tapajós. A espécie foi observada em três trechos amostrais,
principalmente em Floresta de Terra Firme e Floresta Ciliar.
8 – beija-flor-brilho-de-fogo (Topaza pella). Espécie de tamanho avantajado e muito
vistosa, bastante rara ao sul do rio Amazonas. Registrada em apenas uma ocasião, na
Mata Ciliar do Rio Curuaés/Pitchacha, quando se alimentava ao lado de outros beijaflores numa bauínea.
9 – choca-bate-cabo (Thamnophilus stictocephalus) Táxon recém-desmembrado do
Complexo Thamnophilus punctatus, com base em caracteres de plumagem e vocalização
(Isler et al., 1997). Habita as formações arbustivas associadas aos morros e afloramentos
rochosos.
10 – maria-cabeçuda (Ramphotrigon fuscicauda) Espécie de ocorrência muito
localizada, associada a formações densas de tabocas/taquarais em Floresta de Terra
Firme (Parker et al., 1997). Foi registrada apenas no trecho 6, junto às margens do Rio
Curuaés. As formações densas de “tabocas” devem ser investigadas de forma prioritária
na segunda campanha de campo, com o intuito de se detectar a presença de outras aves
associadas a este ambiente, e que ocorrem no baixo curso do Rio Cristalino (Zimmer et
al., 1997; Buzzetti, 2002), como a trovoada-listrada (Drymophila devillei), o chororó-deManu (Cercomacra manu), o limpa-folha-de-bico-virado (Simoxenops ucayalae), o
barranqueiro-de-topete (Automolus dorsalis) e maria-picaça (Poecilotriccus capitalis).
2.4.4.
SÍTIOS IMPORTANTES PARA A AVIFAUNA:
Entre os seis Sítios amostrados, o Sítio IV é aquele que apresenta maior riqueza
específica para aves aves florestais, e também o maior número de espécies com
exigências ecológicas estritas. Tal fato se deve, ao que tudo indica, ao elevado grau de
212
conservação da vegetação, grande extensão e continuidade do ambiente, e também pela
presença de um curso d’água com a vegetação ao longo de suas margens bem
preservada, formando um “continuum” com a Floresta de Terra Firme. Nos trechos 7 e 8,
onde a Floresta de Terra Firme é bastante densa, registrou-se a presença de aves que
não foram encontradas em nenhum dos outros trechos, como o anacã (Deroptyus
accipitrinus), a tovaquinha (Dichrozona cincta), o torom-carijó (Hylopezus macularius), o
papa-formigas-de-bando (Microrhopias quixensis) e a cambaxirra-cinzenta (Odontorchilus
cinereus). No trecho 9, situado no mesmo Sítio, foram registradas também espécies
exigentes ecologicamente, e que não foram observadas em nenhum outro trecho, entre
elas o jacamim-de-costa-verde (Psophia viridis) e o peixe-frito-pavonino (Dromococcyx
phasianellus).
Nos Sítios II e III, embora existam trechos de floresta bem preservada, o ambiente está
bastante fragmentado, tanto na Floresta de Terra Firme quanto na Floresta Ciliar. No Sítio
V, apesar das amostragens terem tido duração bastante reduzida, foi possível observar
várias espécies que não foram registradas nas demais formações ciliares amostradas. A
Mata Ciliar do Rio Curuaés/Pitchatcha no trecho 10, embora descaracterizada em alguns
pontos, aparentemente possui uma estrutura diferente daquela observada em áreas de
altitude mais elevada, nas proximidades da cabeceiras do rio. Nesta vegetação, foram
registradas espécies ribeirinhas como o galo-de-campina-da-amazônia (Paroaria gularis),
a pipira-vermelha (Ramphocelus carbo), o ferreirinho-estriado (Todirostrum maculatum), o
beija-flor-brilho-de-fogo (Topaza pella) e o mutum-de-penacho (Crax fasciolata), que
aparentemente não ocorrem a montante deste trecho. No Sítio VI, a Floresta Ciliar
praticamente se confunde com a Floresta de Terra Firme, pois o Rio Nilana é bastante
estreito e encachoeirado neste ponto (Foto 11). O Sítio I foi o único amostrado onde se
registrou espécies típicas do Cerrado, como a gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus)
e a a seriema (Cariama cristata).
2.4.5.
RELAÇÕES ECOLÓGICAS IMPORTANTES:
É grande o número de aves frugívoras presentes na Reserva Biológica Nascentes do
Cachimbo, temos só na família Psittacidae (araras, papagaios e afins) 21 espécies
registradas até o momento, além de sete espécies de tucanos e araçaris, e cinco
espécies de surucuás. A primeira campanha de campo foi realizada no período seco,
quando as plantas estão em geral estéreis e sem frutos, mas mesmo assim foi possível
registrar algumas árvores especialmente atrativas para as aves, entre elas uma enorme
figueira (Ficus sp. – Moraceae) situada nas imediações do Sítio II, que produzia grande
quantidade de frutos. Nesta árvore se alimentavam várias aves frugívoras de médio e
grande porte, como a arara-vermelha-grande (Ara chloroptera), a marianinha (Pionites
leucogaster), a tuipara-de-asa-laranja (Brotogeris chrysopterus) (Foto 12), o tucano-debico-preto (Ramphastos vitellinus), o cujubi (Pipile cujubi), o jacu-de-spix (Penelope
jacquacu) e o anambé-una (Querula purpurata).
No que se refere à arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus), e conforme foi
comentado anteriormente, foram detectadas duas plantas de especial interesse para
conservação desta espécie na UC, a macaúba, cujos frutos ao que tudo indica são a base
de sua alimentação, e a garapeira, que fornece cavidades nas dimensões ideais para a
reprodução desta arara.
213
2.4.6.
RELAÇÃO AVIFAUNA X MORADORES E PROBLEMAS ENCONTRADOS:
Os principais problemas encontrados em relação ao grupo avifauna na UC estão
relacionados à descaracterização e fragmentação de hábitats. Foram encontrados
indícios evidentes de atividades de corte seletivo de madeira em praticamente todos
Sítios e trechos amostrados, em algumas áreas praticado recentemente, e em outras há
vários anos. Mesmo assim, em boa parte deles o ambiente florestal ainda possui
condições de abrigar a maior parte da comunidade de aves que ocorria originalmente na
área. O Corte seletivo de madeira acarreta uma descontinuidade do dossel, afetando
principalmente as aves que vivem no topo da floresta. Outro problema relacionado com o
corte de madeira é a fragmentação de hábitats, que atinge notadamente as espécies
florestais que vivem no sub-bosque, e possuem pouca capacidade de deslocamento
através de áreas abertas. Entre todos os Sítios amostrados, o Sítio IV é aquele onde a
vegetação se encontra melhor preservada e menos fragmentada.
As formações ciliares dos trechos 6 e 10 se encontram bastante descaracterizadas,
principalmente em função do corte seletivo de madeira e da presença de gramíneas
exóticas que dominam a maior parte das áreas abertas ao longo da mata ciliar.
A remoção da floresta para instalação de pastagens e criação de gado é um problema
que existe em boa parte da UC, e foi verificado principalmente ao longo dos Sítios II e III.
Nestes locais, o gado estava presente no entorno imediato da floresta, bem como as
gramíneas exóticas que lhe servem de alimento.
Outro problema associado à instalação de pastagens é a sua ocupação por aves
sinantrópicas invasoras, que expandem sua distribuição acompanhando o desmatamento.
Entre as espécies que se enquadram nesta categoria e que foram observadas na área,
estão a garça-boiadeira (Bubulcus ibis), o peneira (Elanus leucurus), o quero-quero
(Vanellus chilensis) o anu-preto (Crotophaga ani) e o gavião-de-rabo-branco (Buteo
albicaudatus).
No Sitio I, que abrange formações arbustivas de Cerrado, foram encontrados indícios de
fogo, e da presença de plantas invasoras como a samambaia Pteridium aquilinum,
espécie que se instala em ambientes abertos após a passagem do fogo.
No que se refere à caça de subsistência, ou praticada de forma esportiva, raros foram os
indícios diretos obtidos em relação a esta prática, exceto no Sítio IV, onde foram
encontrados alguns vestígios de aves mortas. A pressão de caça, no entanto, certamente
existe na Reserva, mas ao que tudo indica está restrita às espécies cinegéticas de maior
porte, como mutuns, jacus, cujubi, azulona e inhambus. A pressão sobre estas aves pode
ser avaliada pelo número relativamente baixo de indivíduos destas espécies detectado ao
longo dos trechos amostrados. Não foram encontrados sinais de que a população local
tenha o hábito de apanhar no ninho filhotes de araras, papagaios e afins, seja para
manutenção como animal de estimação ou para comércio.
2.4.7.
PRIORIDADES DE PESQUISA E JUSTIFICATIVAS PARA UMA NOVA
CAMPANHA:
214
São prioritárias para pesquisa do grupo avifauna na Reserva Biológica Nascentes do
Cachimbo, áreas de Campinarana com solo arenoso e vegetação herbáceo-arbustiva,
banhados e campos úmidos com veredas de buritis e formações de taquara/taboca
densas. Estes ambientes não foram amostrados durante a primeira campanha de campo,
fato que já justifica a realização de uma segunda campanha de campo. As áreas de
Campinarana abrigam, segundo relatos de pesquisadores que trabalharam recentemente
na Serra do Cachimbo, uma espécie ainda não descrita do gênero Herpsilochmus
(Thamnophilidae), e com possibilidade da existência de outras. Os banhados e veredas
de buritis abrigam várias das espécies citadas em bibliografia por Pinto & Camargo (1957)
para a Serra do Cachimbo, e que não foram detectadas durante a primeira campanha de
campo. As formações densas de taquara/taboca abrigam várias espécies de distrubuição
exclusiva neste ambiente (Parker et al., 1997) que não foram observadas durante a
primeira campanha de campo. A realização de uma nova campanha de campo pode ser
ainda justificada pela necessidade de se avaliar a influência que a sazonalidade exerce
sobre a comunidade de aves local, considerando movimentos migratórios e
deslocamentos regionais realizados em função de alterações sazonais na disponibilidade
de recursos alimentares.
Entre os Sítios e trechos amostrados durante a primeira campanha de campo, e que
deverão ser amostrados novamente para o grupo avifauna na segunda campanha de
campo, em ordem decrescente de importância, estão os Sítios IV (trechos 7,8 e 9), Sítio V
(trecho 10), Sítio II (trecho 3) e Sítio I (trecho 1). Cabe ainda ressaltar que as amostragens
nestes trechos poderão ser mais breves, uma vez que já se conhece preliminarmente a
comunidade de aves de cada um deles, e o intuito principal será de verificar eventuais
alterações sazonais na composição desta comunidade, além de enriquecer o
conhecimento já adquirido.
2.4.8.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos 2002. Nattereria 5: 1-2.
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Cotinga 7: 64-68.
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Amazonian avifauna: The Alta Floresta region, Mato Grosso, Brazil p. 887-918. In:J.V.
Remsen Jr. (ed.) Studies in Neotropical Ornithology honoring Ted Parker. Washington
D.C.: American Ornithologists’ Union. (Ornithological Monographs n° 48).
2.4.9.
Anexos:
2.4.9.1. Documentação Fotográfica
Foto 1 – tropeiro (Lipaugus vociferans) em Foto
2
–
seu ninho
decumanus)
japu-verde
(Psarocolius
217
Foto
3
–
papa-formigas-barrado Foto
4
–
limpa-folha-de-sobre-ruivo
(Cymbilaimus lineatus)
(Philydor erythrocercus)
Foto 5 – vegetação arbustiva sobre solo Foto 6 – Floresta de Terra Firme
arenoso
218
Fotos 7 e 8 – arara-azul-grande
(Anodorhynchus hyacinthinus)
Foto 9 – papagaio-de-cabeça-laranja Foto 10 – rabo-branco-de-garganta-escura
(Pionopsitta aurantiocephala)
(Phaethornis aethopyga)
219
Foto 11 – Floresta Ciliar do Rio Nilana, no Fotos
12–
tuipara-de-asa-laranja
Sítio VI
(Brotogeris chrysopterus)
220
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES DA
SERRA DO CACHIMBO
CARACTERIZAÇÃO BIÓTICA: LEVANTAMENTO MASTOFAUNA NA RESERVA
BIOLÓGICA NASCENTE DA SERRA DO CACHIMBO (PA)
(Relatório Final)
Responsável Técnico: Biól. José Luis Cordeiro .
Realização:
INSTITUTO CENTRO
DE VIDA
Apoio:
W W F - BRASIL
Junho de 2006
221
2.5. Mastofauna
Responsável técnico: Biól. José Luís Passos Cordeiro
Colaboradores: Igor Pfeifer Coelho, Josi Cerveira, Ezequiel Pedó
2.5.1. ENFOQUE REGIONAL
Atualmente a Floresta Amazônica e o Cerrado do Brasil Central são foco de inúmeros
trabalhos dado o crescente interesse a cerca de sua diversidade biológica. Estes
ecossistemas compartilham uma zona extensa de integração onde a composição das
comunidades que ocorrem na zona de contato é ainda pouco conhecida (Lacher & Alho,
2001). A região onde se insere a Reserva Biológica da Serra do Cachimbo é um bom
exemplo da falta de informação desta zona de contato.
Os mamíferos são especialmente sensíveis e grandemente afetados com os processos
de perda e alteração dos ecossistemas. São componentes importantes, tanto em termos
de biomassa como pelos vários níveis ocupados em cadeias tróficas, desempenhando
papel importante na manutenção e regeneração dos hábitats através da dispersão ou
predação de sementes, da polinização, folivoria, frugivoria e como predadores topo de
cadeia (Robinson & Redford, 1986; Terborgh, 1992). Outro aspecto relevante, relacionado
a mastofauna, está na importância desta fauna como recurso alimentar para populações
rurais e indígenas.
De acordo com a lista mais recente de espécies ameaçadas do IBAMA, constam 66
espécies de mamíferos (IBAMA, 2003). Destas, 20 ocorrem no bioma Amazônia. Pela
localização da Reserva em uma zona de transição entre os biomas Amazônia e Cerrado,
é importante ressaltar a ocorrência de um número igual de espécies ameaçadas no bioma
Cerrado, podendo existir alguma sobreposição da ocorrência destas espécies nos dois
biomas. Os primatas são a ordem com o maior número de espécies ameaçadas, listadas
24 espécies. Carnívoros e roedores também apresentam notável contribuição, 9 e 12
espécies respectivamente (Costa et al., 2005).
2.5.2.
METODOLOGIA
2.5.2.1.
Área de estudo
Sítio 1
Apresenta fisionomia característica de Campinarana e incorpora um gradiente de
densidade de cobertura vegetal. Nas porções de maior altitude, assim como nos
afloramentos rochosos, o solo é arenoso e parcialmente descoberto, apresentando
cobertura vegetal tipicamente arbustiva. Com o decréscimo da altitude, a
cobertura vegetal passa a ser mais densa e alta, com o surgimento de um estrato
arbóreo mais desenvolvido junto às várzeas dos corpos d‘água. A Floresta
Aluvionar e a Campinarana apresentam bom estado de conservação, sem sinais
de remoção da vegetação ou fogo. Sinais de incêndio foram encontrados a
aproximadamente cinco quilômetros do sítio em fisionomia de Campinarana.
Sítio 2
222
Fragmento de Floresta Ombrófila Aberta cercada por áreas ocupadas por
pecuária.
Sítio 3
Fisionomia dominante de Floresta Ombrófila Aberta, com presença de ilha de
fisionomia aberta sobre solo rochoso (Vegetação Rupestre) em terreno mais
elevado. Apresenta bom estado de conservação.
Sítio 4
Apresenta fisionomia dominante de Floresta Ombrófila Densa. Presença de mata
ciliar junto ao rio Nilana. Apresenta sinais de retirada “seletiva” de madeira.
Pastagem recentemente abandonada no entorno. Local, entre os sítios florestais
visitados, com características mais conservadas, apresentando núcleos com
características de mata ainda não explorada.
Sítio 5
Ilha de pastagem junto ao rio Pitchatcha. Entorno dominado por Floresta Ombrófila
Densa e por mata ciliar (Floresta Aluvionar) junto as margens do rio.
Sítio 6
Floresta Ombrófila Aberta com áreas de desmatamento recente no entorno
(acampamento).
“Fazenda do Barchet”
Foi amostrada uma área de “taquareira” e um galpão próximos a sede da referida
fazenda.
Sítio 7
Mancha de fisionomia florestal disposta sobre terreno mais baixo em relação a
matriz campestre (Campinarana), esta sobre terrenos mais elevados. Incorpora
um gradiente de umidade, desde áreas de mata seca até a mata de várzea junto
às várzeas dos corpos d‘água. A Mata de Várzea, e seu entorno imediato,
apresentam bom estado de conservação, sem sinais de remoção da vegetação ou
fogo.
Sítio 8
Fisionomia dominante de Floresta Ombrófila densa. De forma similar ao
encontrado no Sítio 4 apresenta sinais de retirada “seletiva” de madeira, assim
como núcleos de mata ainda não explorada. Esta entre os sítios florestais
visitados, com características mais conservadas.
A alta densidade de estradas é uma característica comum a todos os sítios,
estando relacionada ao longo período de ocupação (aproximadamente 20 anos) e
a forma de exploração da região, desmatamento para retirada de madeira e
formação de pastagens. No Sítio 4 há presença de “carreadores” (pequenas
estradas para passagem de tratores no processo de retirada da madeira), que
contribuem para o adensamento da rede de estradas. Entre os sítios visitados esta
característica é menos evidente no Sítio 8.
223
2.5.3.
Amostragem
Com o objetivo de acessar a composição da fauna de mamíferos terrestres da
Reserva, foram utilizados os métodos de amostragem direta - visualização ou
captura de espécimes - e indireta - registro das espécies através de relatos,
pegadas, fezes e demais vestígios.
As amostragens foram realizadas em duas etapas: (i) Fase 1 – de 6 a 20 de julho
de 2005, onde foram amostrados os sítios 1, 2, 3, 4, 5 e 6 e (ii) Fase 2 – de 27 de
novembro a 16 de dezembro de 2005, onde foram amostrados os sítios 7 e 8,
assim como a sede da Fazenda do Barchet.
As capturas foram realizadas para acessar a composição da fauna de pequenos
mamíferos - espécies com peso inferior a 0,8 kg (Emmons, 1990). Para isso,
foram utilizadas 60 armadilhas de arame, tipo gaiola (9x9x22 cm) e 60 tipo
sherman (7,5x9,4x30cm) na Fase 1 e 78 armadilhas de arame e 42 tipo sherman,
durante a Fase 2 de amostragem. Dispostas em transecções ao longo dos sítios
de amostragem, cobriram a variação fisionômica da paisagem de cada sítio. Os
indivíduos coletados foram tombados na coleção do Museu Nacional do Rio de
Janeiro.
Devido à característica de incorporar um gradiente de cobertura vegetal em sua
paisagem, o esforço amostral para o Sítio 1 foi subdividido em Mata de Várzea e
Campinarana. Os demais sítios foram considerados cada um como uma única
unidade amostral.
Para o registro direto (visualização do animal vivo ou carcaça), assim como para o
registro indireto da presença de cada espécie (pegadas, fezes, tocas e outros
vestígios), foram percorridas, de carro e a pé, as principais estradas e trilhas
existentes em cada sítio de amostragem e seu entorno.
O levantamento direto da mastofauna de médio e grande porte (espécies acima de
0,8 kg -Emmons, 1990), foi também realizado através de armadilhamento
fotográfico. Para isso,
foram instaladas nove armadilhas fotográficas das marcas Tigrinus e Deer Cam.
Estas foram dispostas em cada sítio ao longo de estradas, trilhas e demais pontos
de possível registro, como barreiros. As armadilhas permaneceram de 3 a 7 dias
em cada ponto.
Para auxiliar o levantamento da mastofauna, principalmente de médio e grande
porte, foram realizadas entrevistas com os moradores da região.
2.5.4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.5.4.1.
Pequenos mamíferos
O esforço de captura de pequenos mamíferos foi subdividido por sítio de
amostragem (Tabela 1), totalizando 2.032 armadilhas/dia (879 e 1.153
armadilhas/dia, Fase 1 e Fase2 respectivamente). Não foram realizadas capturas
nos sítios 3 e 5, pela dificuldade de acesso, impossibilitando a revisão diária das
armadilhas. Consequentemente, optou-se pela amostragem em sítios com
fisionomia similar.
224
Foram capturados 5 indivíduos de 4 espécies diferentes durante a amostragem da
Fase 1, correspondendo a um sucesso de captura de 0,6%. Durante a Fase 2,
foram capturados 6 indivíduos de 4 espécies (sucesso de captura de 0,5%), sendo
uma já capturada na Fase 1 e três novas, destas duas espécies exóticas
sinantrópicas- Mus musculus e Rattus rattus - (Tabela 2). Totalizando, juntamente
com duas espécies que foram apenas visualizadas Sciurus aestuans e Sylvilagus
brasiliensis, nove espécies de pequenos mamíferos para a área de estudo.
Tabela 1: Esforço de captura, em
armadilhas/dia,
de
pequenos
mamíferos terrestres por fase e sítio
de amostragem.
FASE 1
FASE 2
SÍTIO
1
2
4
6
Subtotal - Fase
1
Fazenda
Barchet
7
8
Subtotal - Fase
2
TOTAL
ESFORÇO
340
168
303
50
879
31
436
686
1.153
2.032
Tabela 2: Espécies de pequenos mamíferos terrestres capturadas em cada sítio de
amostragem e fitofisionomia correspondente.
ORDEM
RODENTIA
FAMÍLIA
MURIDAE
ESPÉCIE
Oxymycterus sp.
Oryzomys cf.capito
Oryzomys sp.
Oligoryzomys sp.
Mus musculus
Rattus rattus
DIDELPHIMORPHI DIDELPHIDA Micoureus cf.
A
E
demerarae
SÍTIO
1
2
Faz.
Barchet
6e8
Faz.
Barchet
Faz.
Barchet
1
FITOFISIONOMIA
Mata de Várzea
Mata Aberta
Sede de fazenda
Mata Aberta e
Mata Densa,
respectivamente
Sede de fazenda
Sede de fazenda
Mata de Várzea
O baixo sucesso de captura reflete, em parte, uma característica típica da região
amazônica, de baixa abundância e alta riqueza de espécies de pequenos
mamíferos. Ressaltando, assim, a necessidade da intensificação da amostragem
desta parcela da mastofauna, dado que pequenos mamíferos são uma importante
225
“ferramenta” para a interpretação da estrutura e composição das comunidades e
suas relações com os processos antrópicos, principalmente em escala local.
Como esperado, duas espécies exóticas, e sinantrópicas, de pequenos
mamíferos, Mus musculus e Rattus rattus, típicas de áreas com ocupação humana
(tanto rural quanto urbana) foram capturadas nas proximidades da sede da
fazenda amostrada (Faz. do Barchet).
Demais inferências sobre esta parcela da fauna e suas relações com as condições
ambientais, dos sítios amostrados, não puderam ser feitas pelo baixo esforço de
amostragem empregado.
2.5.4.2.
Mamíferos de médio e grande porte
As armadilhas fotográficas totalizaram 1.704 horas de amostragem. A Tabela 3
mostra a distribuição do esforço de amostragem por fase e sítio de amostragem.
Os sítios 5, 6 e Faz. do Barchet não foram amostrados, otimizando-se o esforço
nos demais pontos, dado o curto período de amostragem.
Foram registradas, no levantamento fotográfico, quatro espécies de mamíferos de
grande porte, totalizando nove fotografias (Tabela 4; Figura 1).
Tabela 3: Distribuição do esforço de
amostragem,
em
horas,
das
armadilhas fotográficas por fase e
sítio de amostragem.
FASE 1
FASE 2
SÍTIO
1
2
3
4
Subtotal Fase 1
3
7
8
Subtotal Fase 2
TOTAL
ESFORÇO
163
120
230
712
1.224
72
192
288
480
1.704
Tabela 4: Espécies registradas e número de fotografias por sítio de amostragem.
ORDEM
FAMILIA
CARNIVORA
CANIDAE
PERISSODACTY TAPIRIDAE
LA
ESPÉCIE
NOME
POPULA
R
Cerdocyon
cachorrothous
do-mato
Tapirus terrestris anta
SÍTIO
NÚMERO
DE FOTOS
3
1
4
2
226
ARTIODACTYLA
TAYASSUIDA Pecari tajacu
E
CERVIDAE
Mazama
americana
caititu
veadomateiro
2, 4 e
8
4
5
1
Figura 1: Fotografias das espécies registradas nas armadilhas fotográficas. a)
Cerdocyon thous – Sítio 3, b) Tapirus terrestris – Sitio 4, c) Pecari tajacu – Sítio 2,
4 e 8, d) Mazama americana – Sítio 4.
A Tabela 5 (em anexo) apresenta o somatório das espécies (pequenos, médios e
grandes mamíferos) registradas nos sítios visitados, independente da forma de
registro. Totalizando assim 48 espécies registradas para a área da Reserva,
sendo 39 de médio e grande porte e 9 de pequenos mamífero (7 nativas e duas
exóticas, M. musculus e R. rattus).
Quanto à riqueza de espécies da mastofauna de médio e grande porte destacamse os sítios 3, 4 e 8, com 31, 34 e 32 espécies, respectivamente, das 39
registradas para a totalidade dos sítios amostrados.
O Sítio 1 caracterizou-se por apresentar uma composição de espécies tipicamente
generalistas quanto ao uso de hábitats abertos ou florestais, tais como grande
parte dos tatus, a cutia (Dasyprocta leporina), o caititu (Pecari tajacu), a anta
(Tapirus terrestris) e os tamanduás bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e mirim
227
(Tamandua tetradactyla), este último mais associados a áreas mais arbóreas
como as matas de várzea.
A distribuição dos registros de T. terrestris (anta) no Sítio 1, principalmente
indiretos como pegadas e fezes, demostram o efeito do principal impacto
identificado para esta porção da área de estudo - o fogo. Áreas com sinais de
incêndio tiveram claramente menos registros da presença de anta.
O macaco prego (Cebus apella) foi o único primata registrado para o Sítio 1,
sendo comum nas matas de várzea deste sítio, como nas demais áreas florestais
da Reserva.
De forma similar ao Sítio 1, o Sítio 7 apresenta baixa riqueza de espécies de
médio e grande porte (17 para o Sítio 1 e 19 para o Sítio 7), em relação aos
demais sítios amostrados, e composição de espécies tipicamente generalistas.
Apesar disso representam importante paisagem para manutenção da ocorrência
conjunta destas espécies generalistas.
Primatas foram freqüentemente registrados nos sítios florestais (2, 3, 4, 5, 6 e 8),
demonstrando que, para esta ordem de mamíferos, os sítios visitados
apresentaram bom grau de conservação. Com especial atenção para os sítios 4 e
8 onde ocorreram 6 das 7 espécies registradas para o conjunto dos sítios
amostrados. Entre os sítios florestais, o Sítio 2 apresentou o menor número de
registros de primatas, fato também relatado pelos moradores. Isto certamente está
relacionado ao tamanho reduzido do fragmento florestal representado pelo Sítio 2
(para a região) e pelo entorno ser dominado por pecuária. Com base no registro
da ocorrência de sete espécies de primatas, sendo uma - Ateles marginatus,
coatá-da-cara-branca - incluída na lista brasileira de espécies ameaçadas de
extinção (IBAMA, 2003) e na facilidade de visualização destas espécies na área
de estudo, pode-se inferir sobre o elevado valor dos sítios visitados para a
conservação desta parcela da fauna.
Carnívoros de médio porte, como o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), o quati
(Nasua nasua), o mão-pelada (Procyon cancrivorous), a irara (Eira barbara) e a
jaguatirica (Leopardus pardalis) foram comuns nos registros para os sítios
amostrados. Os registros de lontra (Lontra longicaudis) foram freqüentes nos sítios
4 e 5. Esta espécie foi relatada como comum nas áreas sob influência de cursos
d’água, assim como a ariranha (Pteronura brasiliensis). Porém a ariranha é
relatada como elemento comum para cursos d’água de maior porte.
Os felinos de médio porte (gato-do-mato-pequeno - Leopardus tigrina, gatomaracaja - Leopradus wiedii e gato-mourisco - Herpailurus yagouarondi) de difícil
visualização e discriminação nos vestígios foram apenas relatados como
presentes nos sítios florestais.
As onças pintada (Panthera onca) e parda (Puma concolor) apresentam ampla
distribuição na região de estudo, sendo a onça-parda relatada como mais
freqüente que a pintada para as formações abertas da Reserva. Isto foi, em parte,
constatado pela maior freqüência nos registros de vestígios de P. concolor no Sítio
1, que nos demais sítios. Este comportamento é similar ao apresentado pelas
duas espécies do gênero Mazama, onde o veado-catingueiro (Mazama
gouazoubira) foi mais freqüente nas formações abertas que o veado-mateiro (M.
americana), este comum nas matas e não registrado para o Sítio 1.
228
Tayassu pecari (queixada) não foi registrado nos sítios visitados. Com base neste
fato, juntamente com a ausência de relato de sua ocorrência recente para a área
da Reserva como um todo (sendo apenas relatada a ocorrência histórica - superior
a 20 anos - para áreas remotas da Reserva), pode-se inferir na elevada pressão
de caça que esta espécie sofreu durante o processo de ocupação da área. O
relato da ocorrência de T. pecari no entorno imediato da Reserva, a leste nas
áreas indígenas Menkragnotire e Panará e a oeste na área militar da Força Aérea
Brasileira, reforça o fato da não ocorrência de T. pecari na Reserva estar
relacionada a caça predatória e não a características ecológicas próprias da
Reserva, dado que existem características, na paisagem, similares entre estes
locais.
Apesar de não estar incluído nas listas de espécies ameaçadas de extinção
(IBAMA, 2003 e IUCN, 2003), T. pecari (queixada) é uma espécie que merece
especial atenção pelo importante papel ecológico, na dispersão e predação de
sementes, assim como pela sua importância como recurso alimentar para
populações rurais e indígenas (IUCN, 1993).
Outras duas espécies que merecem especial atenção são as onças pintada
(Panthera onca) e parda (Puma concolor). Não só por constar na lista brasileira de
espécies ameaçadas de extinção na categoria Vulnerável (VU), no caso da P.
onca, mas sim pela situação de confronto com os atuais moradores. Estes relatam
a perda de gado pela predação por estas espécies (P. onca e P. concolor),
resultando na drástica tentativa de eliminação local destes felinos.
2.5.5.
•
Problemas constatados
A perda de hábitat pelo desmatamento, tanto para exploração de madeira
quanto para formação de pastagens. Em todos os sítios com característica
florestal visitados, foi constatada, em diferentes graus, a perda de área para
uma ou para ambas as atividades exploratórias citadas. Entre os sítios
visitados, o Sítio 8 apresentou menor grau de perda de hábitat, seguido pelo
Sítio 4.
•
A caça ilegal é o segundo impacto negativo mais expressivo, sobre a
mastofauna da Reserva, como resultado da ocupação humana da área. Aliado
aos relatos e ao desaparecimento de T. pecari (queixada), outros vestígios de
caça como carcaças, restos de munição, além de giraus e esperas construídas
por caçadores foram freqüentemente registrados nos sítios visitados.
•
O fogo foi o principal impacto constatado da atividade antrópica no Sítio 1.
Estas áreas, naturalmente cobertas por formações abertas, são pouco
229
ocupadas na região, sendo grande parte deste comportamento relacionado à
baixa aptidão do solo destas formações para atividades agropecuárias.
2.5.6.
•
AÇÕES RECOMENDADAS
Dentre as nove espécies de carnívoros listadas como ameaçadas de extinção
pelo IBAMA, cinco ocorrem na Reserva. Com base neste fato e na situação de
confronto entre os moradores e a predação do gado pelas onças parda e
pintada, é sugerido o desenvolvimento de projetos de educação ambiental para
tentar minimizar o confronto destas espécies com os moradores locais e do
entorno. Para isso, sugere-se a participação do Centro Nacional de Predadores
do
IBAMA
(CNAP/IBAMA).
Além
disso,
recomenda-se
também
o
desenvolvimento de estudos de estimativa de tamanho populacional
(principalmente das onças) para determinar o status de conservação local das
populações destas espécies.
•
Desenvolvimento de projeto para avaliar com mais detalhe a situação
populacional de Tayassu pecari (queixada) na Reserva e entorno imediato.
Para as demais espécies cinegéticas também se recomenda uma avaliação
similar, dado que a caça predatória foi um registro constante para grande parte
dos sítios visitados.
•
Programa de combate à caça predatória com franca discussão com os
moradores sobre o papel da caça indiscriminada na redução e extinção das
populações de espécies (como a anta, T. terrestris e o queixada, T. pecari.)
essenciais na manutenção de florestas economicamente importantes, como as
florestas com palmeiras (Brooks et al.,1997).
•
A participação das comunidades locais na elaboração e implantação das
propostas é considerada como fator condicionante para que qualquer ação
proposta obtenha êxito.
230
2.5.7.
BIBLIOGRAFIA
Brooks, D.M.; Bodmer, R.E. & Matola, S. (compilers). 1997. Tapirs - Status Survey
and Conservation Action Plan. (English, Spanish, Portuguese.) IUCN/SSC
Tapir Specialist Group, IUCN, Gland, Switzerland and Cambridge, UK. Online
version:http://www.tapirback.com/tapirgal/iucn-ssc/tsg/action97/cover.html.
Costa, L.P.; Leite, Y.L.R.; Mendes, S.L. & Ditchfield, A.D. 2005. Mammal
Conservation in Brazil. Conservation Biology 2005 19:3 672.
Emmons, L. 1990. Neotropical Rainforest Mammals: A Field Guide, Second
Edition. The University of Chicago Press. Chicago.
IBAMA. 2003. Lista das espécies brasileiras ameaçadas de extinção. Instrução
normativa no 3 de 27 de maio de 2003. Ministério do Meio Ambiente.
IUCN. 2003. 2003 IUCN Red List of Threatened Species. www.redlist.org. Visitado
em 10 de dezembro de 2003.
Lacher, Jr., T.E & Alho, C.J.R. 2001. Terrestrial small mammal richness and
habitat associations in an Amazonian-Cerrado contact zone. Biotropica
33:171-181.
O’Connell, M.A. 1981. Population biology of North and South American grassland
rodents: a comparative review. In: Mammalian biology in South America. (M. A.
MARES & H.H. Genoways, eds) Special Publications Series, Pymatuning
Laboratory, University of Pittsburgh. Pp.167-185.
Oliver, W.L.R. (ed.). 1993. Pigs, Peccaries and Hippos Status Survey and Action
Plan IUCN/SSC Pigs and Peccaries Specialist Group and IUCN/SSC Hippo
Specialist Group, IUCN, Gland, Switzerland and Cambridge, UK. Online
version: http://www.iucn.org/themes/ssc/sgs/pphsg/Contents.htm
Robinson J.G. & Redford K.H. 1986. Body Size, Diet, and Population Density of
Neotropical Forest Mammals. The American Naturalist 128 (5): 665-680.
Terborgh, J. 1992. Maintenance of diversity in tropical forests. Biotropica 24: 283292.
231
2.5.8.
ANEXO
Tabela 5: Lista preliminar de espécies de mamíferos registradas pelos diferentes métodos de amostragem para a
Reserva.
ORDEM/FAMILIA
Didelphimorphia
Didelphidae
Xenarthra
Myrmecophagidae
Bradypodidae
Dasypotidae
ESPÉCIE
NOME
POPULAR
Didelphis
marsupialis
Didelphis
albiventris
gambá-deorelha-preta
gambá-deorelha-branca
R
todos
V
3
Micoreus
demerarae
cuica
Co
1
Áreas florestadas, matas
secundárias, áreas urbanas
Áreas florestadas e
campestres, matas
secundárias, áreas urbanas e
rurais
Áreas florestadas
Cyclopes
didactylus
Myrmecophaga
tridactyla
Tamandua
tetradactyla
Bradypus
variegatus
Cabassous
unicinctus
Dasypus kappleri
tamanduaí
R
4, 5 e 8
Áreas florestadas
tamanduábandeira
tamanduá-mirim
R
1, 2, 3
R, P, V
1, 2, 3, 4,
5, 6, 7 e 8
4e8
Áreas florestadas
R, T
1, 2, 3, 4,
5, 6, 7 e 8
2, 3, 4 e 8
Áreas florestadas e
campestres
Áreas florestadas
R
todos
mulita
V
peludo
R
1, 2, 3, 4,
5, 6, 7 e 8
1, 2, 3, 4,
5, 6, 7 e 8
1, 2, 3, 4,
Áreas florestadas e
campestres
Áreas florestadas e
campestres
Áreas florestadas e
campestres
Áreas florestadas e
Dasypus
novemcinctus
Dasypus
septencinctus
Euphractus
sexcinctus
Priodontes
preguiçamarrom
mulita-deorelha-larga
tatu-de-novequilos
galinha
canastra
FORMA DE
REGISTRO1
R
R
R, T
SÍTIO
STATUS DE
CONSERVAÇÃO2
VU
HÁBITAT
Cerrados e matas abertas
Áreas florestadas
VU
232
ORDEM/FAMILIA
ESPÉCIE
NOME
POPULAR
FORMA DE
REGISTRO1
maximus
SÍTIO
STATUS DE
CONSERVAÇÃO2
HÁBITAT
5, 6, 7 e 8
campestres
2, 3, 4, 5,
6, 7 e 8
3
3, 4, 5, 7 e
8
3, 4, 6, 7 e
8
1, 2, 3, 4,
5, 6, 7 e 8
3, 4, 6 e 8
3, 4, 5, 6 e
8
Áreas florestadas
Primates
Atelidae
guariba-damão-ruiva
Alouatta seniculus guariba
Ateles marginatus coatá-da-carabranca
Callitrix argentata sagui-branco
melanura
macaco-prego
Cebus apella
Alouatta belzebul
Callitrichidae
Cebidae
Pitheciidae
Callicebus moloch zogue-zogue
cuxiú
Chiropotes
albinasus
R, V
R
R, V
R, V
R, V
R, V
R, V
EN
Áreas florestadas
Áreas florestadas
Áreas florestadas
Áreas florestadas
Áreas florestadas
Áreas florestadas
Carnivora
Canidae
Cerdocyon thous
Procyonidae
Nasua nasua
Mustelidae
Felidae
cachorro-domato
quati
R, P, Fo, V
todos
R, P, V
Procyon
cancrivorous
Eira barbara
mão-pelada
R
3, 4, 5, 6 e
8
todos
Lontra longicaudis
Pteronura
brasiliensis
Leopardus
pardalis
Leopardus tigrina
lontra
ariranha
R, P, V
R
jaguatirica
R, P, V
irara
R, V
R
Leopradus wiedii
gato-do-matopequeno
gato-maracaja
Herpailurus
gato-mourisco/
R
R
2, 3, 4, 5,
6e8
4, 5
4, 5
1, 2, 3, 4,
5, 6, 7 e 8
3, 4, 5, 6 e
8
3, 4, 5, 6 e
8
3, 4, 5, 6 e
VU
VU
Áreas florestadas e
campestres
Áreas florestadas e
campestres
Áreas florestadas e
campestres
Áreas florestadas e
campestres
Matas ciliares
Matas ciliares
VU
Áreas florestadas e
campestres
Áreas florestadas
VU
Áreas florestadas
Áreas florestadas e
233
yagouarondi
Panthera onca
NOME
POPULAR
jaguarundi
onça-pintada
Puma concolor
onça-parda
Tapiridae
Tapirus terrestris
anta
R, P, F, Ca, Fo, 1, 2, 3, 4,
V
5, 6, 7 e 8
Áreas florestadas e
campestres
Artiodactyla
Tayassuidae
Tayassu tajacu
caititu
Mazama
americana
Mazama
gouazoubira
veado-mateiro
R, P, F, Ca, Fo, 1, 2, 3, 4,
V
5, 6, 7 e 8
R, Fo, V
2, 3, 4, 5,
6e8
R, V
1, 2, 6
Áreas florestadas e
campestres
Áreas florestadas
ORDEM/FAMILIA
ESPÉCIE
FORMA DE
REGISTRO1
R, P, F
R, P, F, Ca
SÍTIO
8
3, 4, 5, 6 e
8
1, 2, 3, 4,
5, 6, 7 e 8
STATUS DE
CONSERVAÇÃO2
VU
HÁBITAT
campestres
Áreas florestadas e
campestres
Áreas florestadas e
campestres
Perissodactyla
Cervidae
veadocatingueiro
Áreas florestadas, arbustivas
e campestres
Rodentia
Sciuridae
Muridae
Sciurus aestuans
Oxymycterus sp.
Oryzomys
cf.capito
Oryzomys sp.
Hydrochaeridae
R
Co
Co
4, 5, 6
1
2
Co
Faz.
Barchet
6e8
Faz.
Barchet
Faz.
Barchet
4e8
camundongo
Co
Co
Rattus rattus
ratazana
Co
Coendou
prehensilis
Hydrochaeris
hydrochaeris
ouriço-cacheiro
R, V
capivara
R, F
Oligoryzomys sp.
Mus musculus
Erenthizontidae
catinguele
Faz.
Barchet
Áreas florestadas
Áreas urbanas e rurais
Áreas urbanas e rurais
Áreas florestadas
Áreas úmidas florestadas e
campestres
234
ORDEM/FAMILIA
Cuniculidae
Dasyproctidae
Lagomorpha
Leporidae
ESPÉCIE
Cuniculus paca
Dasyprocta
leporina
Sylvilagus
brasiliensis
NOME
POPULAR
paca
cutia
tapiti
FORMA DE
REGISTRO1
R
R, P, V
R, F, V
SÍTIO
STATUS DE
CONSERVAÇÃO2
HÁBITAT
4, 5, 7 e 8
1, 2, 3, 4,
5, 6, 7 e 8
Áreas florestadas
Áreas florestadas e
campestres
2, 3, 4, 5,
6e8
Áreas florestadas e
campestres
1
Forma de registro. (R) relato, (P) pegada, (F) fezes, (T) toca, (Ca) carcaça, (V) visualização, (Fo) fotografia e (Co)
coleta.
2 Status de conservação das espécies incluídas na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção do IBAMA
(IBAMA, 2003).
235
CATEGORIZAÇÃO DOS DADOS
1 - Péssimo
2 - Ruim
3 - Regular
4 - Bom
5 - Excelente
Mastofauna
Classificação dos pontos (sítios), elencando espécies mais comuns, espécies migratórias, espécies ameaçadas, espécies exóticas e
espécies exclusivas.
Pontos melhor serão aqueles com maior integridade (maior pontuação)
Sítio
1
2
Localização Altitude Sp. caracteísticas
Myrmecophaga
tridactyla,
Dasypus
novemcinctus, D.
septencinctus,
Euphractus
sexcinctus,
Priodontes
maximus,
Cerdocyon thous,
Leopardus
pardalis Mazama
gouazoubira
Didelphis
marsupialis,
Euphractus
sexcinctus, Cebus
apella, Cerdocyon
thous, Procyon
cancrivorous
Sp. ameaçadas
Myrmecophaga
tridactyla,
Priodontes
maximus, Leopardus
pardalis
Myrmecophaga
tridactyla,
Priodontes
maximus, Leopardus
pardalis
Sp. Exóticas Sp.
Categoria Impacto
exclusivas do ponto
----2
A – Alta integridade
dos hábitats.
Canis
familiaris,
Bos taurus
(entorno)
---
4
D - Fragmento
pequeno (para os
parâmetros
regionais) de Floresta
Ombrófila Aberta
cercada por áreas
ocupadas por
236
Sítio
3
4
Localização Altitude Sp. caracteísticas
Alouatta belzebul,
Ateles marginatus,
Callitrix argentata
melanura,
Callicebus moloch,
Chiropotes
albinasus,
Leopardus
pardalis, L. tigrina,
L. wiedii,
Herpailurus
yagouarondi,
Tayassu tajacu,
Mazama
americana,
Sylvilagus
brasiliensis
Cyclopes
didactylus,
Bradypus
variegatus,
Alouatta belzebul,
Ateles marginatus,
Callitrix argentata
melanura,
Callicebus moloch,
Sp. ameaçadas
Myrmecophaga
tridactyla,
Priodontes
maximus, Ateles
marginatus,
Leopardus pardalis,
L. tigrina, L. wiedii,
Panthera onca
Priodontes
maximus, Ateles
marginatus,
Pteronura
brasiliensis,
Leopardus pardalis,
L. tigrina, L. wiedii,
Panthera onca
Sp. Exóticas Sp.
Categoria Impacto
exclusivas do ponto
pecuária. Menor
número de registros
de primatas entre os
sítios florestais.
Trânsito constante de
gado no entorno.
--3
C – Presença forte
Canis
familiaris
de atividade
antrópica no entorno.
Fortes indícios de
caça no local.
---
---
2
B – Bom estado de
conservação. Sinais
de retirada seletiva
de madeira.
237
Sítio
5
Localização Altitude Sp. caracteísticas
Chiropotes
albinasus, Lontra
longicaudis,
Pteronura
brasiliensis,
Leopardus
pardalis, L. tigrina,
L. wiedii,
Herpailurus
yagouarondi,
Panthera onca,
Tayassu tajacu,
Mazama
americana,
Sciurus aestuans,
Sylvilagus
brasiliensis
Cyclopes
didactylus,
Alouatta belzebul,
Ateles marginatus,
Chiropotes
albinasus, Lontra
longicaudis,
Pteronura
brasiliensis,
Leopardus
pardalis, L. tigrina,
L. wiedii,
Herpailurus
yagouarondi,
Panthera onca,
Sp. ameaçadas
Sp. Exóticas Sp.
Categoria Impacto
exclusivas do ponto
Priodontes
maximus, Ateles
marginatus,
Pteronura
brasiliensis,
Leopardus pardalis,
L. tigrina, L. wiedii,
Panthera onca
---
---
3
C - Presença forte de
atividade antrópica
no entorno. Fortes
indícios de caça no
local.
238
Sítio
6
7
Localização Altitude Sp. caracteísticas
Tayassu tajacu,
Mazama
americana,
Sciurus aestuans,
Sylvilagus
brasiliensis
Alouatta belzebul,
Ateles marginatus,
Callitrix argentata
melanura,
Callicebus moloch,
Chiropotes
albinasus,
Leopardus
pardalis, L. tigrina,
L. wiedii,
Herpailurus
yagouarondi,
Panthera onca,
Tayassu tajacu,
Mazama
americana, M.
gouazoubira,
Sciurus aestuans,
Sylvilagus
brasiliensis
Dasypus
novemcinctus, D.
septencinctus,
Euphractus
sexcinctus,
Priodontes
Sp. ameaçadas
Sp. Exóticas Sp.
Categoria Impacto
exclusivas do ponto
Priodontes
maximus, Ateles
marginatus,
Leopardus pardalis,
L. tigrina, L. wiedii,
Panthera onca
Canis
familiaris
---
3
D - Presença forte de
atividade antrópica
no entorno
(madereira). Fortes
indícios de caça no
local.
Priodontes
maximus, Ateles
marginatus,
Leopardus pardalis
---
---
2
A - Alta integridade
dos hábitats.
239
Sítio
8
Faz. do
Barchet
Localização Altitude Sp. caracteísticas
maximus, Alouatta
belzebul, Ateles
marginatus,
Cerdocyon thous,
Leopardus
pardalis
Cyclopes
didactylus,
Bradypus
variegatus,
Alouatta belzebul,
Ateles marginatus,
Callitrix argentata
melanura,
Callicebus moloch,
Chiropotes
albinasus,
Leopardus
pardalis, L. tigrina,
L. wiedii,
Herpailurus
yagouarondi,
Panthera onca,
Tayassu tajacu,
Mazama
americana,
Sciurus aestuans,
Sylvilagus
brasiliensis
Cerdocyon thous,
Mus musculus,
Rattus rattus
Sp. ameaçadas
Sp. Exóticas Sp.
Categoria Impacto
exclusivas do ponto
Priodontes
maximus, Ateles
marginatus,
Leopardus pardalis,
L. tigrina, L. wiedii,
Panthera onca
---
---
2
B - Bom estado de
conservação. Sinais
de retirada seletiva
de madeira.
Canis
familiaris,
Bos taurus,
---
5
E – Alta pressão
antrópica. Sede de
fazenda.
240
Sítio
Localização Altitude Sp. caracteísticas
Sp. ameaçadas
Sp. Exóticas Sp.
Categoria Impacto
exclusivas do ponto
Mus
musculus,
Rattus
rattus
241
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
RESERVA BIOLÓGICA NASCENTES DA
SERRA DO CACHIMBO
CARACTERIZAÇÃO: LEVANTAMENTO SOCIOECONOMIA NA RESERVA BIOLÓGICA
NASCENTE DA SERRA DO CACHIMBO (PA)
(Relatório Final)
Responsável Técnico: Sociólogo Eduardo Audibert .
Realização:
INSTITUTO CENTRO
DE VIDA
Apoio:
W W F - BRASIL
Junho de 2006
242
Av. José Estevão Torquato, nº 999
Jd Vitõria
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2.6. Socieconomia
Responsável técnico: Sociólogo Eduardo Audibert
Colaboradores: Elizabeth da Silva Ramos, Jean Carlo Figueira
2.6.1. . APRESENTAÇÃO
São apresentados a seguir os resultados dos estudos socioeconômicos elaborados para
fins de avaliação ecológica da área denominada “Nascentes da Serra do Cachimbo”. Esta
área, posteriormente a uma primeira visita de campo, foi decretada como Reserva
Biológica, acirrando o conflito estabelecido entre os atuais ocupantes da área e as
demandas de preservação que o local requer, tendo em vista sua importância ecológica
para a região.
Os resultados deste relatório foram obtidos através de visita de campo realizada na região
entre os dias 29 de abril e 02 de maio de 2005 e através de informações e levantamentos
realizados por conta dos estudos técnicos que compuseram o EIA/RIMA para
asfaltamento da BR-163 e recente complementação deste EIA/RIMA no trecho referente à
sede do município de Guarantã do Norte até a divisa do Estado do Pará.
Com as informações preliminares obtidas por estas fontes, planejou-se e executou-se
novo levantamento em fonte primária na área. Para um melhor estudo e compreensão da
área e com base nas informações obtidas com informantes qualificados e nesta visita
anterior a campo, elaborou-se uma divisão da área de interesse em quatro sub-áreas, a
saber:
Vale do XV;
Estrada da Cabeceira Alta;
Estrada do Laranja;
Estrada da Bucha.
Ao todo, foram realizadas 29 entrevistas com produtores. Foram entrevistados,
também, representantes das seguintes instituições locais:
Associação do Vale do XV;
Sindicato Rural de Guarantã do Norte;
Comitê Pró-Regularização do Norte do Mato Grosso;
Prefeitura Municipal de Guarantã do Norte;
Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Guarantã do Norte;
Escritório local do INCRA;
Empresas locais.
As entrevistas foram realizadas entre os dias 12 e 22 de junho de 2005. O questionário
utilizado é apresentado ao final desse capítulo.
O foco desta abordagem recai sobre a tipificação e a identificação das opiniões e posturas
relevantes dos atores locais frente ao histórico de ocupação da área e sua condição atual
de unidade de conservação ambiental.
Sem a pretensão de esgotar os aspectos relevantes relacionados ao tema, foram
selecionados elementos históricos e informações consideradas indispensáveis para a
formação de um “cenário atual” da região e da área em estudo, com vistas a subsidiar a
definição de ações e de propostas para a implantação efetiva da Unidade de
Conservação na área.
243
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As informações aqui apresentadas requerem, ainda, aprofundamento e validação com
base em estudos mais detalhados e, principalmente, sua integração com os estudos de
ordem propriamente ecológica e de valores para conservação.
Este relatório segue uma linha de abordagem que procura diagnosticar a condição atual
dos atores locais e estabelecer um prognóstico dos possíveis impactos que a implantação
da Reserva Biológica terá sobre o ambiente societário, seja do ponto de vista das
dificuldades e das facilidades que irão se apresentar para a população diretamente
atingida pela implantação da UC, seja do ponto de vista das dificuldades e das facilidades
que a UC terá para se instituir e atingir seu objetivo de preservação da área.
Esta análise, parte do pressuposto de que, embora os atuais ocupantes constituam-se
apenas de posseiros sabedores de que seus direitos de ocupação da área são
questionáveis por esta condição, esta situação representa um requerimento de solução de
conflito social muito forte, ao mesmo tempo em que se reconhece que a simples
instituição formal da UC é insuficiente para assegurar que o ambiente natural seja
preservado, necessitando negociar sua condição de reserva com os atuais ocupantes da
área e com a comunidade da região como um todo.
Assume-se, portanto, previamente, uma diretriz que busca identificar os aspectos mais
relevantes para que uma negociação social seja estabelecida de forma que a área possa
ter maior segurança de sua preservação na medida em que os atuais ocupantes
encontrem alternativas para a saída da área.
2.6.2.
HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA REGIÃO
A região amazônica como um todo passou a sofrer ocupação mais intensa a partir dos
PNDs I e II (Planos Nacionais de Desenvolvimento) propostos e parcialmente
implementados durante o período de governo do Regime Militar no Brasil (1964-1981).
Com base nestes planos, foram traçadas vias de acesso rodoviário com o objetivo de
possibilitar a ocupação e exploração da região amazônica, incorporando-a ao mercado
nacional ainda muito concentrado no Sudeste e Sul do Brasil.
Estes planos foram cumpridos apenas parcialmente, o que, de um lado, possibilitou que o
ritmo de ocupação e conseqüente alteração do ambiente natural da região fosse refreado
em relação ao potencial que se apresentava com a infra-estrutura prevista completamente
implantada, e de outro, criou uma ocupação, por assim dizer, “precária” de grandes áreas
na região. Tal ocupação pode ser adjetivada como “precária” por vários motivos, a seguir
apenas indicados.
A abertura de rodovias de acesso à região apenas em leito natural, sem pavimentação,
tendo em vista as características de solo e clima, bem como a falta de manutenção nas
décadas de 1980 e 1990, possibilitou que houvesse deslocamento de populações
humanas que se instalaram na região, porém, em condições de manutenção muito ruins,
sem vias de escoamento para a produção e sem mercados consumidores próximos em
tamanho suficientemente grande para comportar modelos produtivos eficientes e
lucrativos.
Criou-se uma rede urbana formada por núcleos de pequeno porte isolados, distantes uns
dos outros, e com grande demanda de infra-estrutura de energia, saneamento, saúde,
educação e demais serviços de uso público.
A condição de ocupação das áreas prevista originalmente era através de assentamentos
agropecuários organizados por órgãos de governo e pela iniciativa privada. A falta de um
planejamento adequado e a descontinuidade da ação pública resultou na instalação de
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assentamentos de agricultura familiar com precária adaptabilidade ao ambiente local, uma
vez que “importou” modelos produtivos ajustados à região sul e sudeste do país.
Fora destes assentamentos “organizados” vem se registrando uma intensa ocupação e
exploração de recursos minerais com base em critérios estritamente econômicos e que
visam resultado imediato, entre os quais a mineração e o garimpo, a exploração de
madeira, a abertura de áreas para formação de pastagens, a especulação e grilagem de
terras e, somente de forma secundária, a extração de produtos vegetais como castanha e
borracha, bem como a implantação de agricultura comercial de grãos e outros produtos.
O movimento de ocupação “padrão” pode ser descrito como uma curva de “prosperidadedecadência” muito rápida. Com a implantação de uma rodovia de acesso, como, por
exemplo, a BR-163, em sua esteira eram deslocadas populações de “colonizadores” em
projetos de assentamentos rurais, seguidos de “pioneiros” que buscavam na região
oportunidades de enriquecimento e formação de patrimônio, além de população de
origem rural em busca de oportunidade de acesso à terra. A descoberta de ouro e outros
minerais atraía garimpeiros, os quais, dependendo do número e do volume extraível das
jazidas, alimentavam núcleos urbanos de rápido crescimento nas proximidades.
Acompanhando a exploração mineral, seguia-se a exploração de madeira, resultando em
derrubadas e formação de redes de acesso vicinais que ofereciam os vetores de
ocupação e interiorização em torno do eixo das rodovias. Iniciava-se, então, o processo
de abertura de áreas para formação de propriedades com vistas à exploração
agropecuária. Originalmente, este processo consiste na especulação para “colonização”,
ou seja, uma área era grilada, fracionada em lotes e comercializada ao público de
imigrantes que se deslocavam para a região. Grande número destas parcelas de terras
não se viabilizava para a exploração agropecuária, especialmente a formação de
pastagens. Contudo, uma vez implantada uma atividade produtiva de maior vulto, iniciavase uma intensa comercialização dos lotes originais, em geral, registrando um processo
inicial de concentração na mão de fazendeiros melhor sucedidos, que adquiriam lotes de
outros ocupantes originais que não lograram êxito no acúmulo de patrimônio, seguido de
um processo de fracionamento das grandes fazendas em virtude da sucessão geracional.
Atualmente, grandes áreas abertas nas décadas de 1980 e 1990 estão sendo parceladas
em “projetos de colonização”, por conta da morte do ocupante original e do fracionamento
da área entre os filhos, alguns dos quais não interessados no prosseguimento da
atividade. Ao longo de 10 ou 15 anos, ou menos ainda que isso, o ciclo inicial de geração
e acumulação de riqueza expropriativa se esgota e não é suficiente para financiar
modelos de ocupação e produção agropecuária permanentes, uma vez que a infraestrutura originalmente prevista não é completamente implantada. Muitos dos ocupantes
originais migram novamente para novas frentes de ocupação, permanecendo no local
uma população geralmente pequena e uma economia com fraco dinamismo.
Verificam-se, portanto, grosso modo, os seguintes sistemas de ocupação atualmente na
região de entorno da rodovia BR163:
Sistemas de exploração de madeira que articulam núcleos urbanos que concentram
grande número de serrarias com “equipes” de extração que se aprofundam na mata em
busca de madeiras nobres.
Sistemas de agricultura familiar, em geral de subsistência, vinculados ou não a
assentamentos originalmente organizados.
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Sistemas de especulação de terras, amplamente intensificados a partir do ano de 2000,
na medida em que a pressão pelo asfaltamento da rodovia até Santarém pelos produtores
de soja do norte do Mato Grosso criou uma real expectativa de conclusão da rodovia e
rápida valorização de imóveis nas proximidades. Estes sistemas de especulação ocorrem
por grilagem de terras, especialmente na região de Novo Progresso, e também por
“colonizações” privadas, isto é, fracionamentos ou abertura de novas áreas empreendidas
por moradores da região com consentimento tácito dos atuais ocupantes das áreas
próximas (ou seja, sem uso ostensivo de violência e de “jagunços”).
Sistemas de exploração agropecuária em grandes propriedades, através da formação de
fazendas para criação de gado com a expectativa de mecanização e exploração agrícola
futura.
Sistemas urbanos de prestação de serviços.
A integração entre estes sistemas é apenas parcial e registra uma série de conflitos.
Madeireiros e fazendeiros se associam apenas parcialmente. Atualmente, a atividade
madeireira é muito seletiva, interessando-se apenas por espécies vegetais com valor
comercial suficiente para custear o investimento de extração e beneficiamento, não
servindo, portanto, como forma barata de abertura de áreas, o que é realizado pelos
produtores basicamente através de queimadas.
A falta de mercados consumidores próximos estrangula a viabilidade econômica da
agricultura familiar. Os sistemas urbanos se articulam com os sistemas de exploração
agropecuária na medida em que parte do capital acumulado com a formação e exploração
de fazendas é investido em imóveis e estabelecimentos comerciais nos núcleos urbanos.
As disputas políticas locais não deixam de jogar papel importante na conformação dos
grupos e na capacidade associativa das lideranças locais em empreender ações
organizadas de ocupação e, atualmente, empreender ações de defesa frente à
fiscalização ambiental e de tributos. Atualmente, os sistemas públicos de controle e de
cobrança de impostos estão se aproximando da região que já conta com suficiente capital
acumulado para despertar o interesse da ação pública.
Um dos principais pontos de estrangulamento dos sistemas de ocupação listados, além
da já mencionada falta de infra-estrutura de equipamentos e serviços públicos, é a falta de
titularidade e reconhecimento legal das propriedades. O INCRA, quando fornece
titularidade, se limita a lotes de 100 ha localizados em seus assentamentos, modal de
tamanho de propriedade pouco viável nas condições atuais da região. A maior parte das
posses não dispõe de titularidade, não dispondo, portanto, de acesso a financiamentos
para produção. Na impossibilidade de acesso a crédito agrícola, o leque de investimentos
se reduz. Produtores e fazendeiros de outras regiões que dispõem de recursos próprios
para empreender unidades agropecuárias investem com cautela tendo em vista a falta de
titulação e o risco de perda do investimento. Produtores que não possuem este perfil, em
especial os ocupantes mais antigos que se capitalizaram, dispõem de recursos limitados
para diversificação da produção além das pastagens. Iniciativas tímidas estão sendo
tomadas com a produção de arroz de sequeiro e mesmo de soja na região, a qual
demanda ainda de maior desenvolvimento de tecnologia para sua adaptação às
condições climáticas e pedológicas locais.
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2.6.3. OCUPAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO
Compreende-se como área em estudo o polígono formado pelos municípios de Guarantã
do Norte, no Mato Grosso, e Altamira, no Pará, em sua porção sul, ao longo do eixo da
rodovia BR-163, da divisa entre os dois estados até a localidade de Cachoeira da Serra.
Embora a área em análise esteja localizada no Estado do Pará, o vínculo urbano e
institucional da população da região é com o município de Guarantã do Norte, sendo que
a constituição da localidade de Cachoeira da Serra como distrito de Altamira é recente,
além do obstáculo representado pela distância de mais de mil quilômetros entre este
distrito e a sede do município.
A origem histórica do município de Guarantã do Norte e abertura da região para ocupação
de população não indígena ocorreu com a chegada da BR-163, sendo que sua
inauguração data de 1975. A ocupação agropecuária da região possui relação direta com
a população da região Sul do Brasil. Lucas do Rio Verde é o resultado da migração de
produtores acampados da Encruzilhada Natalino, no Norte do Rio Grande do Sul, quando
aproximadamente 236 famílias vieram nos anos de 1982 e 1983. O INCRA criou o Projeto
Especial de Acampamento (PEA) Lucas. Na seqüência, vieram outros produtores sulistas
para a região norte do MT.
Quando da criação do núcleo de Guarantã do Norte, a cidade mais próxima era Sinop,
225 km ao sul. Em 1980, teve início o projeto de assentamentos de colonos de Peixoto de
Azevedo - PAC. Tratava-se de assentar agricultores que tinham sido desapropriados de
suas terras em razão do levantamento de uma barragem no rio Jacuí, no Rio Grande do
Sul, ou tinham sido obrigados a vender suas terras para saldar dívidas bancárias. O
INCRA e a COTREL – Cooperativa Tríticola de Erechim, no Estado do Rio Grande do Sul,
se uniram para trazer estas famílias de agricultores para a região norte do Mato Grosso.
Paralelamente, em decorrência de outro problema fundiário, famílias de “brasiguaios”,
alcunha dos agricultores brasileiros que moravam no Paraguai na região de fronteira,
perderam o arrendamento de terras, deslocando-se também para a região. Em 1981,
formou-se o PAC Braço Sul, para assentar os migrantes brasileiros vindos do Paraguai.
No total, o INCRA assentou 500 famílias de brasiguaios, ao todo 2.177 pessoas. No
mesmo ano chegaram as famílias do Sul do Brasil.
Na ata de fundação da localidade que era conhecida por “Cotrel” lê-se:
“Tendo em vista a localização da cidade, às margens da rodovia BR-163, que num futuro
próximo deverá ser asfaltada, as condições favoráveis de solo, clima, cobertura vegetal e
regime de águas, a experiência agrícola, o número e qualidade dos colonos a serem
assentados, enfrentando a adversidade da floresta pré-amazônica e o ônus do
pioneirismo, todos os presentes são unânimes em concordar com um futuro promissor
para a cidade que ora se funda, como pólo de inegável desenvolvimento econômico,
social e cultural, localizado na região compreendida entre o rio Peixoto de Azevedo e a
fronteira do estado do Pará”.
Iniciava-se, assim, o assentamento humano que deu origem ao município de Guarantã do
Norte, criado oficialmente em 13 de maio de 1983. O primeiro contato com os habitantes
originais da região ocorreu quando Cláudio Villas Bôas atravessou o rio Peixoto de
Azevedo no dia 2 de fevereiro, em 1973, ou seja, toda a história de ocupação atual da
região possui pouco mais de 30 anos.
O primeiro prefeito de Guarantã do Norte, José Humberto Macedo, tinha 25 anos e era o
executor do INCRA no Projeto de Assentamento Conjunto Incra-Cotrel. Os primeiros a vir,
em dezembro de 80, foram gaúchos de Erechim, cujas terras foram desapropriadas para
a construção da Barragem de Passo Real. Todos faziam parte desta cooperativa, que
criou uma filial no norte do país para fornecer algum tipo de infra-estrutura aos
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associados. Cada uma das 1.200 famílias gaúchas ganhou um lote de 100 hectares para
desmatar, semear, erguer casa e viver à beira da rodovia Cuiabá-Santarém.
Em 2000, Guarantã do Norte contava com 28.200 habitantes, registrando uma taxa de
crescimento de sua população no período 1991/2000 da ordem de 3,8% a.a., uma taxa
elevada considerando que neste período sofreu o desmembramento do município de
Mundo Novo.
Guarantã do Norte já é um município urbanizando, passando de uma taxa de urbanização
de 46,6% em 1991 para 68,7% em 2000. Contribui para esta urbanização acelerada, além
de elevadas taxas negativas de crescimento da população rural no período, o
desmembramento do município de Mundo Novo, o qual conserva seu perfil
predominantemente rural. A taxa de urbanização deste último em 2000 era de apenas
38,2%.
Quadro 1: População residente segundo situação de domicílio no período 1991-2000
Situação de
Guarantã do
Novo
Ano
Mato Grosso
domicílio
Norte
Mundo
Urbana
1991
1996
2000
11.097
12.902
19.365
1.068
1.909
1.485.110
1.695.548
1.987.726
Rural
1991
1996
2000
12.728
11.308
8.835
2.395
3.088
542.121
540.284
516.627
Total
1991
23.825
2.027.231
1996
24.210
3.463
2.235.832
2000
28.200
4.997
2.504.353
Fonte: IBGE - Censo Demográfico e Contagem da População
Nota: O município de Novo Mundo foi instalado em 1997. Para uma melhor análise
populacional, os dois municípios foram tratados como distritos em 1996, estimando-se a
população pela projeção da taxa de crescimento anual. Para conhecer a população de
Guarantã do Norte é preciso somar as duas colunas daquele ano.
Quadro 2: Taxas de crescimento anual da população residente, segundo situação (urbana
e rural) 1991-2000
Situação de
domicílio
Período
Guarantã do
Norte
Novo
Mundo
Mato Grosso
Urbana
1991-1996
1996-2000
1991-2000
3,1
10,7
6,4
15,6
-
2,7
4,1
3,3
Rural
1991-1996
1996-2000
1991-2000
-2,3
-6,0
-4,0
6,6
-
-0,1
-1,1
-0,5
Total
1991-1996
0,3
1996-2000
3,9
9,6
1991-2000
1,9
Fonte: IBGE - Censo Demográfico e Contagem da População
2,0
2,9
2,4
248
Av. José Estevão Torquato, nº 999
Jd Vitõria
Cuiabá-MT
CEP:78055-100
Av. Ariosto da Riva, nº 3473
Centro
Alta Floresta-MT
CEP: 78580-000
Fo ne: (65) 641-15 50
(66) 521-8555
w w w.icv.o rg.br
ic v @icv.o rg.b r
Nota: O município de Novo Mundo foi instalado em 1997. Para uma melhor análise
populacional os dois municípios foram tratados como distritos em 1996, estimando-se a
população pela projeção da taxa de crescimento anual. Para conhecer a população de
Guarantã do Norte é preciso somar as duas colunas daquele ano.
No percurso entre a sede do município de Guarantã do Norte e a divisa do Estado
existem algumas pequenas comunidades. A Linha 32, primeira comunidade após a cidade
de Guarantã; o Cristo Rei – Nossa Senhora do Carmo, a 14 km de Guarantã do Norte; a
comunidade São Roque ou Comunidade 54, localizada no km 25,5, a Serra do 45 ou
Comunidade 45 e a Comunidade Santa Ana (Sant’ana), no km 43.
Há também a Usina Braço Norte III, a qual possui acesso pela BR-163. O principal ponto
de turismo e lazer é a cachoeirinha no rio Braço Sul. Este rio serve de estação de
abastecimento da água da cidade. No km 22, há também a entrada para a Usina Braço
Norte II que é ligada ao Braço Norte III.
Os municípios da área de influência ainda carecem de infra-estrutura básica. Em 2000,
apenas um quinto dos domicílios urbanos de Guarantã do Norte (19,7%) possuíam
abastecimento domiciliar de água por rede geral. Poços ou nascentes abastecem quase
80% da população urbana da área de influência e quase a totalidade dos domicílios da
área rural.
Esta situação já deve ter se modificado atualmente, tendo em vista que a água da cidade
de Guarantã do Norte é aduzida há 18 km do rio Braço Sul. Possivelmente a rede geral de
abastecimento tenha se expandido significativamente neste período.
Fossas sépticas e rede geral de coleta de esgoto se restringem a 2,5% dos domicílios da
área de influência e 11,1% do total de domicílios da área de influência não possuem
instalações sanitárias, sendo 9,5% em áreas urbanas.
A coleta de lixo nas áreas urbanas abrange 85,0% dos domicílios, percentual próximo do
registrado para o conjunto dos municípios do Mato Grosso, que é de 87,8%. O
fornecimento de energia elétrica se estende a 97,4% dos domicílios urbanos e a apenas
42,0% dos domicílios situados na área rural em toda a área de influência.
Quadro 3: Domicílios particulares permanentes segundo situação (urbana e rural) e forma
de abastecimento de água – 2000
Domicílios particulares
permanentes
Situaçã
o
Guarantã do
Norte
Mato
Grosso
Rede geral
Urbana
Rural
Total
19,7
0,7
14,0
77,2
7,6
63,7
Poço ou nascente
Urbana
Rural
Total
79,3
98,8
85,1
20,9
85,0
33,3
Outra forma
Urbana
Rural
Total
1,0
0,5
0,8
1,9
7,4
3,0
Total
Urbana
Rural
Total
100
(4.897)
100
(2.099)
100
(6.996)
100
(52.0538)
100
(125.367)
100
(645.905)
249
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Fonte: IBGE - Censo Demográfico e Contagem da População
Nota: Total com valores absolutos entre parênteses
Quadro 4: Domicílios particulares permanentes segundo situação (urbana e rural) e tipo
de esgotamento sanitário – 2000
Domicílios particulares
permanentes
Situaçã
o
Guarantã do
Norte
Mato
Grosso
Rede geral ou pluvial
Urbana
Rural
Total
0,4
0,1
0,3
19,4
0,1
15,7
Fossa séptica
Urbana
Rural
Total
1,0
4,2
1,9
15,9
6,7
14,1
Fossa rudimentar
Urbana
Rural
Total
89,1
79,2
86,1
59,6
60,5
59,8
Outro tipo
Urbana
Rural
Total
1,6
3,8
2,3
1,9
3,7
2,2
Sem banheiro ou sanitário
Urbana
Rural
Total
7,9
12,8
9,4
3,3
29,1
8,3
100
100
(4.897)
(52.0538)
100
100
Rural
(2.099)
(125.367)
100
100
Total
(6.996)
(645.905)
Fonte: IBGE - Censo Demográfico e Contagem da População
Nota: Total com valores absolutos entre parênteses
Total
Urbana
Apesar da precariedade da condição de vida das populações residentes na região, ainda
registrada por uma série de indicadores sociais, verifica-se, também, um significativo
movimento de melhoria. As taxas de analfabetismo, embora ainda elevadas, diminuíram
(registro de 19,1%, em 1991, no município de Guarantã do Norte, passando para 11,3% 12,6%, em 2000), o que se deve a uma grande elevação do percentual de crianças
freqüentando a escola.
De maneira geral, Guarantã do Norte registrou uma sensível melhoria geral na qualidade
de vida da população, expressa em um grande crescimento do IDH – Índice de
Desenvolvimento Humano, embora, em 2000, este índice seja ainda menor que o
registrado para o conjunto dos municípios do Mato Grosso.
Quadro 5: Indicadores sociais 1991- 2000
Indicadores Sociais
% de pessoas de 15 ou + anos de idade analfabetas1
Ano
1991
2000
Guarantã
Mato
do Norte Grosso
19,1
11,3
18,9
...
250
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% de crianças de 7 a 14 anos de idade na escola2
1991
2000
75,5
93,1
Número de médicos residentes por mil habitantes
1991
2000
0,19
-
1991
34,97
20,90
2000
14,78
15,97
1991
2000
0,664
0,757
0,685
0,773
% crianças em domicílios com renda per capita menor que
R$37,753
Índice de Desenvolvimento Humano – IDH4
77,7
93,6
Fonte: IPEA - Dados Regionais, Indicadores Sociais
Nota: O universo de municípios da tabela é definido pelo IBGE no levantamento censitário
e não necessariamente coincide com o oficialmente existente ou instalado na data de
referência. Para obter mais informações metodológicas acesse www.undp.org.br.
1 - Percentual de pessoas nessa faixa etária que não sabem ler nem escrever um bilhete
simples.
2 - Percentual de crianças nessa faixa etária que estão freqüentando a escola,
independentemente do grau e série.
3 - Proporção dos indivíduos com idade de zero a 14 anos que têm renda domiciliar per
capita inferior à linha de pobreza de R$ 37,75 (1/4 do salário mínimo de agosto de 2000).
O universo desses indivíduos é limitado àqueles que vivem em domicílios particulares
permanentes.
4 - É obtido pela média aritmética simples de três sub-índices, referentes às dimensões
Longevidade (IDH-Longevidade), Educação (IDH-Educação) e Renda (IDH-Renda).
O universo de municípios da tabela é definido pelo IBGE no levantamento censitário e não
necessariamente coincide com o oficialmente existente ou instalado na data de referência.
Para obter mais informações metodológicas acesse www.undp.org.br.
Sem nenhuma dúvida, o item com maior impacto negativo sobre a qualidade de vida da
população é o atendimento público de saúde. Guarantã do Norte, por dispor de estrutura
de equipamentos e serviços de saúde instalados, acaba atendendo a toda a demanda da
região, inclusive de pessoas residentes no Estado do Pará, nas localidades de Castelo do
Sonho e Novo Progresso, além, obviamente, de Cachoeira da Serra e toda a população
residente na área em estudo, que se deslocam para lá em busca de atendimento. Esta
população se desloca até 380 km de chão batido, às vezes intransitável, para acessarem
os serviços de saúde em Guarantã. O atendimento de saúde nessas cidades do Pará é
insuficiente e o estado do Mato Grosso, através das cidades de Guarantã do Norte e
Peixoto de Azevedo, é quem acaba cumprindo a função de resolver estes problemas. É
comum as pessoas residentes no percurso da BR-163 possuírem casa em Guarantã para
os filhos estudarem, para irem ao banco e para fazerem tratamentos de saúde. A grande
maioria da população, contudo, não tem acesso a isso.
2.6.4. Economia local
Em 1996, a economia do município de Guarantã do Norte, ainda não desmembrada de
Mundo Novo, encontrava-se com fraco dinamismo em relação ao Estado do Mato Grosso.
O PIB – Produto Interno Bruto do município de Guarantã representava 0,37% do PIB do
Estado do Mato Grosso, enquanto sua população correspondia 1,24% da população total
do Estado.
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A economia da área de influência é essencialmente agropecuária e não conta com o
dinamismo proporcionado pela produção de soja concentrada atualmente na região do
entorno de Sinop e Lucas do Rio Verde. Mesmo assim, em 1996, o setor agropecuário
representou 50,4% do PIB de Guarantã do Norte, ao passo que no Estado do Mato
Grosso a participação deste setor foi de apenas 15,6%.
Quadro 6: Produto Interno Bruto (PIB) Municipal e Estadual, segundo setores da
economia - 1996 (mil R$ de 2000)
Valor
Guarantã do
Norte
Mato Grosso
Industrial
R$
(%)
1.571
4,2
2.155.647
20,9
Serviços
R$
(%)
17.161
45,4
5.757.683
55,7
Agropecuário
R$
(%)
19.029
50,4
1.611.876
15,6
R$
37.761
(%)
100,0
Fonte: IPEA - Dados Regionais, Contas Nacionais
Nota: O Município de Novo Mundo foi instalado em 1997
10.329.092
100,0
PIB
Total
As pastagens predominam como principal forma de ocupação da terra em volume de
área. A presença na região da agricultura familiar, oriunda dos assentamentos que deram
origem aos municípios da área de influência é perceptível na ocupação da área com
lavouras temporárias (6,6% em 1996), registrando percentual maior que o do conjunto do
Estado naquele mesmo ano (apenas 1,8%). Entretanto, a maior concentração das
lavouras temporárias está na faixa de estabelecimentos com mais de 500 ha, o que indica
que a agricultura familiar é pouco dinâmica em relação aos empreendimentos rurais
destinados à produção mecanizada.
A extração de madeira já registrava níveis elevados em 1996, restando apenas 43,2% da
área dos estabelecimentos rurais cobertos por matas e florestas, ao passo que no Mato
Grosso, este percentual era de 64,3% naquele mesmo ano.
Quadro 7: Área dos estabelecimentos por utilização das terras e grupos de área total –
1996
Utilização das terras
Lavouras temporárias
Pastagens
Faixa em
ha/ área
em ha
< 500
500 a < 5
mil
5 mil e mais
Total
Total ha
< 500
500 a < 5
mil
Guarantã do
Norte
Mato Grosso
8,5
4,2
10,8
3,8
6,6
8.984
0,5
0,1
1,8
3.276.429
54,1
36,6
49,7
23,3
252
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Matas e florestas
Total
5 mil e mais
Total
Total ha
36,9
43,2
131.259
13,9
26,0
21.452.061
< 500
500 a < 5
mil
5 mil e mais
Total
Total ha
29,7
50,3
32,7
52,1
43,2
324.436
66,5
82,1
64,3
21.543.594
11,5
37,7
32,4
56,1
100
504.846
37,5
24,8
100
49.849.663
< 500
500 a < 5
mil
5 mil e mais
Total
Total ha
Fonte:IBGE - Censo Agropecuário
A economia do município baseia-se, portanto, no setor primário. A extração de madeira
ainda é a atividade mais importante, embora este setor apresente atualmente sinais de
uma séria crise. As madeireiras estão saindo dos limites dos municípios e buscando
matéria-prima em outras localidades da região. Atualmente, a região conta com 35
madeireiras em atividade. No final da década de 1990, eram 138.
O segundo ramo de atividade econômica com maior importância é a pecuária. Guarantã
do Norte possui um rebanho leiteiro numeroso, porém apresenta movimentos de “altos e
baixos” em virtude da concorrência com grandes centros produtores. O município possui 3
laticínios e a promessa de instalação de um frigorífico, buscando encontrar alternativas de
crescimento nesse setor. Na agricultura são produzidos principalmente arroz, soja e
milho.
A produção de madeira em toras, segundo dados da Produção Extrativa Vegetal do IBGE,
alcançou no ano de 2003 o valor de 2,3 milhões de reais gerados no município de
Guarantã do Norte. Ao todo, a produção dos municípios de Guarantã do Norte e Mundo
Novo corresponde a 2,63% do valor da produção de madeira em toras no Estado do Mato
Grosso neste mesmo ano. O item “madeira em toras” é responsável por 95,8% do valor
total obtido pela extração vegetal nestes municípios, ao passo que no Estado do Mato
Grosso como um todo, a participação deste item é de 88,9%, acusando a importância
relativa desta produção na economia local.
O desaquecimento da atividade madeireira no município de Guarantã do Norte pode ser
percebido na avaliação do crescimento anual do valor da produção de madeira em toras.
No município, o valor da produção deste item cresceu a uma taxa de 9,79% a.a. no
período 2000/2003, ou seja, um crescimento próximo do índice de inflação ou mesmo
inferior, dependendo do índice utilizado. No município de Novo Mundo, a taxa de
crescimento neste mesmo período foi de 31,71% a.a., ou seja, acusando crescimento real
acima da inflação, sendo que no Estado do Mato Grosso esta mesma taxa foi de 18,02%
a.a. no período 2000/2003.
Em relação à produção pecuária, Guarantã do Norte contava em 2003 com pouco mais
de 264 mil cabeças de gado bovino. O rebanho dos municípios de Guarantã do Norte e
Mundo Novo representava 2,09% do rebanho bovino do Estado do Mato Grosso no ano
de 2003, segundo a Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE.
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A taxa de crescimento anual do rebanho bovino no período 2000/2003 é menor em
Guarantã do Norte (13,37% a.a.) do que no município de Novo Mundo (39,02% a.a.),
embora ambos tenham acusado um crescimento maior que o do conjunto dos municípios
do Mato Grosso (9,16% a.a.). Ou seja, a atividade pecuária na área de influência
apresenta um ritmo de expansão superior ao registrado no Estado do Mato Grosso, fruto,
provavelmente, da possibilidade de abertura de novas áreas de pastagens.
Uma das maiores dificuldades apontadas pelos produtores da região reside na condição
das terras ocupadas não possuírem condição regular, ou seja, são ocupações que não
dispõem de documentação uma vez que as terras da região são consideradas devolutas,
pertencendo à União e não incidindo sobre elas direitos de posse e uso capião. Nesta
condição, os produtores da região não dispõem de documentação para solicitação de
financiamento, além das já conhecidas dificuldades de acesso e alternativas de
escoamento da produção. O único programa de financiamento da agricultura acessível
para os produtores da região é o PRONAF, o qual se limitou, no último ano, a valores
máximos próximos de 15 mil reais. Nas palavras de um entrevistado: “Estamos perto de 4
milhões de cabeças de gado e não temos financiamento”.
A exploração de madeira, por sua vez, além de não depender tão diretamente de
financiamento, ainda se beneficia da condição irregular das terras para exploração ilegal,
configurando-se como o único segmento econômico que poderia não ter interesse com o
asfaltamento da rodovia BR-163, o que provocaria uma imediata valorização das terras e,
conseqüentemente, do custo de extração da madeira, bem como uma maior formalização
dos processos e acréscimo de custos fiscais.
Diversos setores produtivos locais estão buscando alternativas que possibilitem a
diversificação da economia, seja em bases agropecuárias ou não. Estão sendo criados
comitês de estudos e novos projetos que permitam novas alternativas, principalmente no
que diz respeito à agricultura familiar, a qual já se configura como um delicado problema
social. Sem assistência técnica, grande parte dos proprietários dos primeiros
assentamentos não se viabilizaram e estão vendendo seus lotes e migrando para as
cidades ou para outras fronteiras agrícolas na região.
Em função da impossibilidade de regularização das terras, o município de Guarantã
apresenta uma característica peculiar em relação às áreas mais ao Sul. Não existem
grandes latifúndios na sua área, mas sim propriedades de médio e pequeno porte para o
padrão local. São 201 propriedades maiores e 1.809 propriedades que alcançam um
tamanho entre 50 a 100 hectares, segundo dados do sindicato de produtores local.
Guarantã abastece as cidades de Castelo do Sonho e Novo Progresso, no estado do
Pará, além do já mencionado papel de prestador de serviços públicos em âmbito regional.
A atividade comercial do município de Guarantã do Norte é uma das responsáveis pelo
processo de urbanização registrado no período recente. A extração de ouro no primeiro
estágio de ocupação da região deu início a este processo, que se manteve através da
oferta de bens e produtos para as populações residentes proximamente da divisa entre os
estados do Mato Grosso e do Pará.
Diversas empresas planejam uma instalação na área de influência, porém, não o fazem
alegando a dificuldade de estradas que permitam o escoamento da produção, o que torna
a reivindicação pelo asfaltamento da BR-163 praticamente unânime na região.
Segundo informantes qualificados entrevistados, existe uma articulação para a construção
portuária em Santarém/PA pela trainding ADM, BUNGE, CARGILL, DREIFUS (no Brasil
grupo COIMBRA) e a MAGGI, empresas multinacionais e uma nacional, do grupo Maggi,
que é do atual governador do Estado do MT, a qual atua no ramo da soja. Estes grupos
criaram uma cooperativa de produtores do Cerrado, chamada COAPRA. O primo do
254
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governador, Eraí Maggi, é o presidente e Gilson Pinesso é um dos diretores da
cooperativa. Assim que a estrada estiver concluída, esse grupo, através da cooperativa
Coapra, tem planos de dar início à construção de um importante porto que irá beneficiar
estas grandes empresas.
A região dispõe de fonte de abastecimento de energia elétrica firme, através das
hidrelétricas implantadas, resultando no pagamento de compensações financeiras e ICM
Ecológico aos municípios.
Na eminência do asfaltamento da rodovia e do potencial incremento de negócios que isso
poderá trazer para a região, atualmente se registra um grande acirramento do conflito
fundiário. A região entre os municípios de Diamantino e Guarantã do Norte é identificada
pelos produtores de soja como uma importante área de expansão a partir da
pavimentação da rodovia, a qual irá inverter o sentido de ocupação do sul para o norte. A
falta de documentação das propriedades leva a uma série de conflitos entre os produtores
sobre limites e direitos de ocupação. Tal condição de conflito e falta de segurança sobre
os investimentos têm representado um importante inibidor para a atividade produtiva na
região.
Segundo produtores e lideranças locais, a conclusão das rodovias BR-163, BR-364 e BR158 são fundamentais para permitir alternativas para o escoamento rápido da produção
de grãos, o que viabilizaria uma rápida expansão da atividade produtiva na região.
A área especificamente em estudo, localizada na região das nascentes, não faz parte dos
dados apresentados anteriormente. Tratamento idêntico em termos de dados seria
amplamente prejudicado pelas dimensões e diversidade do perfil do município de
Altamira, no qual estes dados estão agregados.
Contudo, como foi possível verificar em campo, embora descontínuo em termos políticoadministrativos, o território que compreende a região das nascentes no Estado do Pará,
incluindo a localidade de Cachoeira da Serra e o município de Guarantã do Norte,
constituem uma unidade econômica e cultural, podendo-se admitir com segurança que o
perfil geral registrado no município de Guarantã se repete na área das nascentes.
2.6.5. Conflitos e problemas atuais
Os maiores problemas do município e da região identificados pelos entrevistados estão
relacionados basicamente com a problemática econômica, ou seja, a falta de estradas
pavimentadas, de armazéns e estruturas para estocagem da safra (o que agrava a
dificuldade de escoamento, pois não há como transportar pela má qualidade das estradas
e não há como estocar por falta de estruturas).
Porém, o maior problema identificado é a regulamentação fundiária. Esse assunto foi
largamente abordado por diversos atores locais com os quais se teve contato e com os
entrevistados para os estudos relativos ao EIA/RIMA para pavimentação da BR-163. A
percepção da importância desse problema é praticamente unânime entre todos. A
maioria, que está na região há 24 anos, não possui nenhum tipo de documento,
impossibilitando a realização de empréstimos junto aos bancos. Os colonos e produtores
chegavam aqui e ganhavam um lote ou uma chácara e até hoje não conseguiram nenhum
documento.
O único financiamento disponível é o PRONAF - Programa Nacional de Agricultura
Familiar, que aceita uma declaração do INCRA, o que gera grandes pressões para o
órgão e se constitui em um foco de potencial corrupção (no sentido de formação de
documentação para comprovação de posse em processos futuros).
Grandes produtores da região, os quais possuem posse de grandes áreas, se dispõem a
ceder áreas gratuitamente para constituição de assentamentos da reforma agrária, desde
255
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que, em contrapartida, lhes sejam concedidos documentos relativos às terras
remanescentes. O INCRA é acusado de ser muito burocrático e pressionado a realizar a
regularização que era prevista desde a origem dos assentamentos.
Segundo lideranças de produtores, há uma grande quantidade de terras de produção
pecuária em degradação total por falta de manejo adequado. Estes pastos degradados
forneceriam área suficiente para a expansão da agricultura desde que lhes fosse
concedido acesso ao crédito, não necessitando, inclusive, que fossem desmatadas novas
áreas.
Os entrevistados identificam conflitos entre os diferentes atores produtivos. O pecuarista
prefere queimar a madeira a vender para o madeireiro. Segundo os primeiros, os
madeireiros atraem a fiscalização do IBAMA. Os colonos dos assentamentos,
pressionados pelas dificuldades para produzir, tendem a vender suas propriedades vindo
a engrossar as fileiras de potenciais reivindicadores de novas áreas para assentamento.
O problema da falta de regularização fundiária se expressa na fala de um entrevistado: “O
dinheiro está lá nos bancos e ninguém pode tirar”. Do lado dos produtores, há uma forte
tensão por conta do receio que o INCRA retome as terras, justamente as que foram
negociadas sem base legal. “Antes nos chamavam para integrar e não entregar”, lema
forjado pelo regime militar no período de implantação da rodovia e muitas vezes repetido
pelos entrevistados, afirmando que agora a intenção do órgão seria inversa. Segundo os
entrevistados, o INCRA já começou a retomar terras em 80 municípios no Estado do Mato
Grosso.
Além do INCRA, os produtores da região sentem-se ameaçados pelo IBAMA, tanto pelo
risco de autuação e multas quanto pela possibilidade de implantação de unidades de
conservação. Ainda está presente na memória dos atores locais a demarcação de terras
indígenas, as quais, segundo eles, jamais foram indenizadas.
Sem assistência técnica e sem regularização da documentação das terras, o agricultor,
especialmente o familiar, encontra grandes dificuldades para manter-se nas posses,
agravando ainda mais a situação registrada.
Diante de tamanha problemática, os atores sociais locais desenvolveram um vasta rede
associativa. É o caso do Comitê Pró-regularização Fundiária do Norte do Mato Grosso.
Este comitê nasceu em junho de 2003 e hoje abriga diversas entidades como Lyons
Clube, Rotary e diversas outras associações, como uma ONG chamada Fundação
Amazônia Floresta Viva, e abrange cinco municípios: Novo Mundo, Matupá, Guarita,
Terra Nova e Guarantã do Norte. Os diversos segmentos econômicos possuem suas
associações, como é o caso do Sindicato Rural, da Associação dos Madeireiros e da
Associação dos Criadores, além do Conselho Municipal de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável na área pública.
Os problemas ambientais graves e significativos, tais como o desmatamento, já em
estágio bem avançado, a destruição das matas ciliares, o fogo e a falta de conservação
dos solos, especialmente das pastagens, são agravados por constantes conflitos com os
órgãos de fiscalização ambientais. Os entrevistados relatam com satisfação os resultados
positivos que o Programa “PROSA” têm alcançado na redução dos focos de incêndio,
com base em um trabalho de esclarecimento e conscientização dos produtores, em
contraste com a postura atribuída como truculenta, punitiva e corrupta dos órgãos de
fiscalização ambiental. “Se há renda a gente não sobe a serra”, frase também
freqüentemente pronunciada.
Segundo um entrevistado, “todos dizem que há manejo florestal, mas ninguém faz isso
nas terras da união. Na verdade nossas terras são da união”. Os madeireiros são os
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maiores geradores de empregos urbanos, pois a agricultura familiar ocupa pessoal, mas
não paga os direitos trabalhistas aos empregados e não dá assistência nenhuma.
O licenciamento ambiental da atividade madeireira é uma quimera. “Os madeireiros
conseguem uma ATPF, nota fiscal, que é falsa, ilegal. A madeira não sai legalmente. O
IBAMA e o INCRA não trabalham em conjunto”.
Questionado sobre a existência de problemas ambientais um entrevistado relatou:
“Primeiro é a corrupção do IBAMA e da FEMA. Se o asfalto vir, vai ter violência. Nós
temos problemas de grilagem. O grileiro é quem coloca fogo. O IBAMA precisa fazer
alguma coisa. O fiscal vai recebendo propina. O desmatamento das matas pelos grileiros
é um sério problema, porque eles invadem sem nenhum documento que possa lhes dar
crédito, pois não são suas terras, então desmatam, plantam o capim e depois vendem
tudo.”
Como uma espécie de síntese deste problema fundiário e ambiental, a trajetória de José
Moreira e sua família é emblemática da condição de muitas das famílias residentes ao
longo do trecho não asfaltado da rodovia. José é casado com Maria Cirça Queiroz da
Silva. Tem nove filhos, seis homens e três mulheres. Moram com ele três filhos, de 15, 17
e 23 anos. Nenhum deles ajuda com as despesas da casa. Trabalham com serviços
temporários, empreitadas. José é um dos fundadores da comunidade onde reside. Está
na região desde o ano de 1981. Veio de Foz do Iguaçu, no Paraná. Quem o trouxe foi um
alemão, vizinho seu no Paraná. O alemão comprou uma terra que não existia. Acabaram
vindo e ficaram sem nada e nunca mais soube notícias dele. Seu José, contudo, ficou na
região. Ele tem 32 cabeças de gado. Como não consegue sobreviver dessa atividade,
acaba trabalhando por empreitada como lavrador nas terras de outros. No momento da
entrevista ele estava com a esposa na beira da estrada esperando uma carona para a
cidade.
“Nosso sonho era o asfalto desde sempre, até Santarém. Quando o asfalto chegar,
nossas terras vão pegar valor. Mas por enquanto só tem promessa. Sou um assentado do
INCRA. Não sou invasor e nem grileiro. Eu já gastei foi muito para fazer documento das
minhas terras e nunca consegui foi nada. Fiquei num lote que foi repartido entre duas
famílias. Eram 42 alqueires. Ficaram 21 para cada família. Os lotes não foram
demarcados, mas a gente não brigou e dividiu direitinho. Com a BR-163 não vai vir a
destruição. A destruição se tiver que vir vem de qualquer jeito, de qualquer maneira.
A gente precisa de incentivos para as pequenas agriculturas. O nosso problema maior é a
falta de documentos da terra e é o que nos deixa sem nada. Busquei na Emater e no
Banco ajuda para o gado leiteiro, mas não dá, não consigo porque não tenho nenhum
documento.
Não concordo com o desmatamento. Conforme o nosso projeto de assentamento, a gente
recebia 42 alqueires e podia derrubar 30. Como a gente dividiu e ficou com 21, não teve
jeito, tivemos que derrubar tudo. E nós não respeitamos as beiras dos rios porque na
época não tinha a lei das matas. De negativo a estrada não tem nada. Eu moro a 22 anos
aqui e o que mais espero é a estrada. Tenho luz e água em casa.”
Em grande medida, a percepção atual da condição de vida na região é diretamente
influenciada pela expectativa de asfaltamento da BR-163. De maneira geral, para o futuro,
os atores entrevistados vêem Guarantã do Norte como um pólo com influência sobre toda
a região, inclusive no Estado do Pará. Os entrevistados rechaçam a idéia de que o
município passaria a ser apenas um “corredor de passagem” da BR. Novo Mundo, cidade
vizinha, também se vê como um município com potencial aglutinador de outras cidades.
“É só sair a BR que o resto a gente faz”, frase repetida por diversos entrevistados e que
condensa a idéia de que Guarantã do Norte passaria a ser uma cidade de apoio e não
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apenas um corredor de passagem. “Vamos sempre trabalhar para isso. Queremos que o
‘cavalo’ pare para pastar e a gente coloque alguma coisa no cavalo”.
A conclusão da BR-163 provavelmente irá permitir não apenas aumentar, mas diversificar
a economia local, transformando-a em um pólo importante do Norte do Mato Grosso.
A previsível e imediata valorização das terras provocada por um eventual asfaltamento irá
afetar diretamente os pequenos produtores. As terras mais valorizadas provavelmente
serão vendidas aos grandes produtores e os sitiantes irão se retirar, o que é visto por
alguns entrevistados como um preocupante problema a ser gerenciado agora, quando
ainda há o que se fazer.
Atualmente, o município de Guarantã do Norte se caracteriza como uma região de “ponto
de sistema”, ou seja, é o ponto mais distante para o qual se estendem as redes sociais e
institucionais que possuem seu centro no pólo dinâmico de produção de soja localizado
em Sinop e Lucas do Rio Verde. Com o eventual asfaltamento da BR-163, a posição
geopolítica do município deixaria de ser periférica e poderia vir a se tornar central em um
eixo de expansão a ser proporcionado pela acessibilidade da rodovia. Esta mudança de
papel estratégico possui, de um lado, um grande potencial de abertura de alternativas e
novas oportunidades para o desenvolvimento local, porém, de outro, oferece um horizonte
de agravamento de conflitos e surgimento de novas demandas sociais que necessitarão
ser atendidas por conta da falta de regularização fundiária e pelo afluxo de novas
populações migrantes para a região.
A área de estudo está sendo ocupada há mais de 15 anos por “pioneiros” que não
encontraram espaço para ocupar os assentamentos do INCRA em Guarantã e que se
deslocaram para o Norte, ultrapassando a divisa dos estados para se instalar na região. O
ritmo de ocupação da área manteve-se lento, ou pelo menos mais lento que o registrado
no trecho que fica no Mato Grosso, por conta da falta de asfaltamento (que vai apenas até
a sede urbana de Guarantã do Norte) e por conta da predominância de solos sem ou com
baixa aptidão agropecuária ou madeireira.
Inicialmente, segundo relatos, foram aproveitadas as manchas de terra fértil, com
vegetação natural de floresta, extraindo-se a madeira e implantando-se progressivamente
fazendas agropecuárias. Hoje, as principais áreas antropizadas incluem o Vale do XV (do
nome do rio XV de Novembro), vale de terra fértil onde foi implantada uma pequena
comunidade, que conta com um centro comunitário, comunicando com a região das
cabeceiras dos Rios Iriri e Ipiranga; um conjunto de fazendas ao longo da estrada vicinal
Cabeceira Alta e diversas áreas ao longo da BR-163.
Foram abertas várias estradas a partir da BR-163, no sentido leste, atravessando o
cerrado e interligando com as áreas de floresta. Na região a leste da área de estudo, um
grupo pessoas de Guarantã do Norte chegou a planejar e iniciar a execução de um
projeto de colonização, com base numa ocupação iniciada no final dos anos oitenta, mas
acabou sendo impedido pela homologação da Terra Indígena Panará, em 1996.
Atualmente, segundo relato dos produtores e residentes na área em estudo, há
convivência pacífica e cooperação mútua com os índios, não havendo registro de
invasões de terras.
No ano 2001, foi criada, através de um projeto de colonização privada, a cidade de
Cachoeira da Serra, hoje sub-prefeitura do município de Altamira, com mais de 3 mil
habitantes, a 12 km ao norte do limite da área de estudo.
A Associação Vale do XV, criada por volta de 1990, reúne os proprietários rurais de toda a
região em estudo. Esta associação formou-se na esteira da necessidade dos ocupantes
“pioneiros” da região defenderem-se das ameaças a suas posses, representadas,
segundo eles, inicialmente pela ação das Forças Aramadas que era hostil à ocupação de
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áreas na margem direita da rodovia e, posteriormente, dos órgãos de governo e de
fiscalização de tributos e ambientais. Esta associação compõe uma rede numerosa de
associações de interesse comuns na região, tendo tido experiências de vários tipos,
inclusive de criação de um banco de financiamento com registro no Banco Central e
demais condicionantes legais exigidos, o qual funcionou por mais de um ano.
A Associação contratou um estudo, realizado por uma equipe de agrônomos, resultando
em um Plano Integrado de Destinação – PID das Glebas Curuaés e Cachimbo. Essas
Glebas se estendem desde a Divisa de Estado até a cidade de Castelo dos Sonhos,
perfazendo uma área total de 639 mil hectares. O estudo, protocolado no Instituto de
Terras do Pará – Iterpa em 2002 e apresentado como relatório oficial do órgão, apresenta
um mapa e uma lista de 194 posseiros, sendo 96 no interior da área de estudo, com um
tamanho padrão das posses de 2500 hectares, e algumas áreas menores.
Um levantamento mais atualizado está sendo realizado por um escritório local de
mapeamento. Segundo foi possível aferir até o momento, a estrutura das posses atuais
tem aproximadamente as características a seguir apresentadas.
Quadro 8: Estrutura indicativa das posses na área de estudo
Tamanho da posse
Número de posseiros
Área total (ha)
Menor que 1 lote de 2.500 ha (média 1.000 ha)
8
8.000
1 lote de 2.500 ha
65
162.500
2 lotes de 2.500 ha
15
75.000
3 a 9 lotes de 2.500 ha (média de 12.500 ha)
6
75.000
Total (média de 3400 ha)
94
320.500
Fonte: ICV, 2005 - Levantamento sócio-econômico preliminar com base em informações da Ass.
Vale do XV
O PID também propõe a criação de nove “reservas ecológicas”, totalizando 119 mil
hectares, desenhadas com base em critérios de não-aptidão agropecuária, e sem
preocupação com a conectividade, mas que correspondem geralmente às áreas mais
elevadas e de maior concentração de nascentes.
Atualmente, o processo de titulação pelo Iterpa encontra-se paralisado e a área foi
indicada como UC de uso sustentável pelo Macro-Zoneamento do Estado do Pará. Diante
disso, a Associação estava procurando uma solução junto ao Governo Federal para a
regularização de suas posses na região quando a área foi decretada como Reserva
Biológica.
Foram identificadas algumas situações críticas que representam focos de conflito. Há
áreas de cerrado sendo ocupadas, com solo arenoso e impróprias à exploração
agropecuária. No levantamento mais recente citado acima, aparecem várias posses
localizadas em cima de áreas indicadas como “reservas” no PID.
Foram identificadas extensas áreas de cerrado derrubadas, queimadas ou degradadas
nos últimos dois anos, uma delas com 9,5 mil hectares, localizada na porção noroeste da
área de estudo, e há indícios concretos de novas áreas prestes a sofrerem o mesmo tipo
de degradação.
Verificou-se também um processo acelerado de ocupação de áreas ao longo da BR-163
por posseiros vindos de outras regiões, especialmente regiões de produção de soja no
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estado de Mato Grosso, que têm adquirido áreas a custo baixo (da ordem de R$ 100,00 /
hectare) e que estão construindo cercas e realizado derrubadas, visando experimentar
cultivos agrícolas e/ou assegurar suas posses.
Mesmo entre os posseiros mais antigos, que têm demonstrado atitude mais prudente e
maior respeito à limitação administrativa imposta desde fevereiro/2005, encontra-se em
alguns casos uma tendência a arriscar a derrubada – com fins de indenização ou visando
assegurar a posse, e/ou a retirada de madeira – visando realizar um lucro incerto no
futuro, inclusive incentivados por recentes declarações de representantes do órgão
fundiário na região de que somente haveria regularização fundiária onde a posse fosse
fisicamente estabelecida.
Foram retirados grandes volumes de mogno das áreas de floresta compreendidas na área
de estudo, bem como da região do Vale do XV e da região a leste desta, hoje Terra
Indígena, as quais vêm sendo exploradas desde a década de 1980. Foi com a exploração
do mogno que se abriu a maioria das estradas que hoje cruzam a área das Nascentes.
Atualmente, apesar da crise do setor, a exploração de florestas públicas ainda é a
atividade principal ao norte da área de estudo, em Cachoeira da Serra e arredores, o que
está paralisado atualmente pelo desmantelamento da venda ilegal de notas de
transferência de madeira. Avalia-se que a atividade de base florestal tem potencial para
se tornar um fator fundamental de sustentabilidade socioeconômica e ambiental da
região, caso seja adequadamente conduzida e acompanhada. De qualquer forma,
juntamente com a formação de pastagens, esta é a atividade mais impactante sobre os
recursos naturais da região.
A pecuária bovina de corte é o principal uso do solo em áreas antropizadas em toda a
região e o limitante da expansão da pecuária na área de estudo é basicamente a
condição de solo, sendo improdutiva no solo arenoso, que correspondem às áreas de
cerrado. Ao longo da rodovia BR-163, a maior parte das áreas com cobertura florestal,
aptas à pecuária, já foram convertidas. Porém, a falta de financiamento para a atividade
produtiva, fruto direto da falta de titulação da posse da terra, revela um grande fator de
contenção da atividade produtiva, que precisa ser integralmente autofinanciada pelos
produtores.
Existe atualmente especulação na região sobre a eventual aptidão das áreas de solo
arenoso para o cultivo de grãos. Produtores de grãos do centro-norte do Estado de Mato
Grosso têm adquirido terras e iniciado experimentos, porém ainda sem resultados
concretos.
2.6.6. Histórico de ocupação na perspectiva dos atores locais
A área de estudo, segundo os informantes, perfaz um total aproximado de 342 mil
hectares, que pertencia, na década de 1970, às Forças Armadas brasileiras. A
Aeronáutica ocupou a área que fica a oeste da BR-163 e o Exército e a Marinha ficaram
responsáveis pela área à leste, que coincide com a área da reserva. No início dos anos
1980, teve início a exploração do ouro na região e na cidade de Guarantã do Norte, cujo
nome é originário de uma madeira existente na região, a qual se consolidou como pólo de
abastecimento da região e onde, ainda hoje, a maioria dos proprietários das terras na
área de estudo mantém uma residência.
A partir da metade dos anos 1980, com o declínio da atividade de exploração do ouro,
alguns “garimpeiros”, homens oriundos principalmente da região sul do Brasil, começam
literalmente a se aventurar na produção agropecuária. Através de diversas picadas, já
abertas para extração de madeira, e outras novas que passaram a serem abertas, a área
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começou a ser ocupada de forma permanente. Desses ocupantes originais, alguns ainda
residem na área vivendo basicamente da pecuária.
No início da ocupação, o Exército exercia vigilância mais intensa e utilizava até armas de
fogo para combater as invasões e retirar os posseiros. A vigilância era feita com a
utilização de helicópteros. Conforme relato:
“Estou a 26 anos nesta região. Ocupei esta área perto da cachoeira do Curuá pra
aproveitar e colocar uma turbina e ter energia. Ocupei esta área que era da Marinha,
Aeronáutica e Exército. Fiquei cinco anos lutando contra as Forças Armadas que me
queriam tirar daqui. Nós éramos uns oito. Os que ainda não morreram vivem ainda aqui
na margem da BR 163 (Km 877) em direção a Guarantã. As Forças Armadas cuidavam,
mas não venciam cuidar e aí abandonaram a região. Somente a Aeronáutica ficou, mas
então ocupou aquela área do outro lado da BR onde fica a Base Aérea do Cachimbo. O
Governo estadual da época tinha que ter requerido estas terras da União para dar aos
civis. Aí começaram os problemas. A Aeronáutica, quando a gente fez o PID, também não
tinha os documentos da terra. Na época criamos a Associação dos Produtores da
Cachoeira do Curuá com o objetivo de representar a nossa demanda e contra a
desapropriação que a Base Aérea queria. Mas essa Associação não vingou e morreu e
então criaram a Associação do Vale do XV e depois outras duas que a gente acabou
deixando terminar também. Sobrevivemos sempre sobre o extrativismo da madeira”.
(Cachoeira do Rio Curuá – Proprietário de negócio).
O município de Guarantã do Norte nasceu a partir de dois projetos: Projeto de
Assentamento Braço Sul e Projeto de Assentamento Peixoto de Azevedo e com a vinda
dos Brasiguaios, trazidos pelas irmãs dominicanas. A COTREL foi também um dos
projetos que trouxe agricultores do Rio Grande do Sul (Erechim) que tinham que
desocupar as terras em função da construção de uma barragem. O garimpo foi a
alavanca da cidade: “eu criei a área daqui até a Serra do Cachimbo. Eu era o executor do
INCRA na época. Vi a primeira rua dessa cidade” (Prefeito Municipal de Guarantã do
Norte; 13/06/2005).
Também, segundo os relatos, houve uma chamada do Governo Federal para a ocupação
da região às margens da BR-163. Existia, na época, dois tipos de programas de ocupação
da Amazônia, um promovido pelo INCRA e outro pelos chamados colonizadores.
Guarantã originou-se de um programa que foi promovido pelo INCRA.
“Nunca esqueço do chamado do governo Geisel na década de 70: Quero aqui convocar
os homens sem terra do Brasil para ocupar as terras sem homem da Amazônia”
(ocupante original e proprietário de negócio).
Junto, portanto, com as famílias de reassentados, vieram outros ocupar terras “já que era
tudo da União; vinham com seus próprios recursos; era década de 80 e todos tinham
liberdade de ocupar as terras” (ocupante original e atual Secretário Municipal).
Com o fim do governo militar na década de 1980, a política de ocupação da região
modificou-se. Na verdade, o governo federal se retirou da região, não destinando mais
recursos e não oferecendo serviços e infra-estrutura. As estradas vicinais e grande parte
das obras de transposição de rios e outras passaram a ser custeadas pelos próprios
ocupantes.
A atividade agropecuária que caracteriza hoje a região foi organizada com base em ciclos.
O primeiro foi o de exploração de madeira, seguida da abertura de áreas para formação
de pastagens, sendo que a agricultura é ainda incipiente.
A atividade pecuária na região de Guarantã conta com a produção de leite como forma
alternativa para a produção de gado de corte, o qual tem custos provenientes da distância
de mercados consumidores e falta de infra-estrutura de escoamento. Os próprios
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produtores reconhecem a necessidade de maiores investimentos na modernização, tanto
das matrizes do rebanho, quanto da tecnologia de manejo, sofrendo o impacto da falta de
competitividade da carne e do leite locais. A produção de leite ainda não possui os
controles sanitários adequados.
É possível observar pelo menos três movimentos de ocupação da região a partir do qual
os atores locais se referenciam. O primeiro é o do “garimpo”, o qual se iniciou ainda antes
da construção da rodovia e persistiu até o início dos anos 1980. É relativamente pequeno
o número de atuais ocupantes da área que se identificam como ex-garimpeiros, ou seja,
ao que tudo indica o declínio da atividade do garimpo não resultou em um fator importante
de fixação de população no local. O perfil geral deste migrante é o de um explorador com
recursos limitados, sejam financeiros, sejam culturais, e sem vínculo significativo com a
produção agropecuária, sendo constituído de ex-trabalhadores rurais, trabalhadores
urbanos em atividades de pouca qualificação e mesmo pessoas envolvidas em atividades
ilegais e irregulares.
O segundo é o movimento desencadeado pela abertura da rodovia e pelo “chamado” do
governo federal para ocupação agrícola da região. Esta é a referência de muitos dos
ocupantes mais antigos da região, os quais se declaram “abandonados” ou mesmo
“traídos” pelo governo, que os chamou para desenvolver a região, não forneceu a infraestrutura prometida e ainda por cima não concedeu a titulação da terra, deixando-os à
mercê e sem condições de produzir e desenvolver a região. Este pode ser chamado de
“argumento da cumplicidade”, ou seja, o governo sabia que, com o tempo, os posseiros
seriam titulados e incentivou que a ocupação ocorresse, mesmo que ilegal, ou como eles
preferem denominar, “irregular”.
O perfil do ocupante oriundo deste segundo ciclo é o de produtores rurais ou pessoas
com vínculo com a atividade agropecuária que identificaram maiores oportunidades do
que riscos na abertura da fronteira agrícola. Partiam do princípio de que, com um
investimento menor, construiriam um patrimônio que, com o tempo, alcançaria grande
valorização imobiliária. Desta leva de migrantes que ainda permanecem na área, há um
grupo que prosperou, em geral partindo originalmente de condições melhores por já
contarem com recursos financeiros acumulados, e há um grupo que não prosperou e hoje
vive em condições relativamente precárias, em geral, vindo originalmente para área com
recursos menores ou simplesmente com a “coragem”.
O extrativismo de madeira teve um papel importante na abertura inicial da área da
Reserva, porém, foi, desde o início, mais seletivo em relação a espécies de valor
comercial maior. A atividade de beneficiamento de madeira em Guarantã do Norte está
em franco declínio atualmente, o que foi amplamente intensificado neste último ano por
conta do desmantelamento das ATPFs falsificadas. A área da Reserva não é identificada
como de grande valor para exploração de madeira e as derrubadas se motivam mais pela
abertura de pastagens do que pela exploração intensiva de recursos florestais.
O terceiro movimento de ocupação é mais recente, intensificando-se a partir do ano de
2000, estimulado pela expectativa de asfaltamento da BR-163. Este último movimento se
caracteriza pela aquisição da posse de áreas já abertas e demarcadas, mais do que a
abertura de novas áreas. Pela falta de titulação das terras, seu valor de mercado é menor,
tornando acessível a um investimento inicial menor a possibilidade de aquisição de áreas
relativamente grandes. Dentro deste último movimento de ocupação registra-se,
conjuntamente com a ocupação com finalidade produtiva, uma ocupação com fins
especulativos, ou seja, posseiros que buscam principalmente assegurar uma posse em
uma área de rápida valorização para revendê-la posteriormente com lucro especulativo,
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ou simplesmente buscam receber indenizações por áreas que efetivamente não tem
interesse de explorar.
Estes três ciclos de ocupação representam um importante fator de diferenciação interna
do grupo de ocupantes. Os ocupantes oriundos do ciclo de abertura da rodovia possuem
uma bagagem considerável de experiência com organização e mobilização de recursos e,
de maneira geral, estão melhor estruturados e com uma condição de vida média melhor
que os ocupantes oriundos do ciclo recente de expectativa de asfaltamento, o qual possui
um perfil desagregado e de maneira geral não dispõe de experiência organizativa,
aceitando participar da instâncias coletivas com vistas a se beneficiar com elas, porém
constituindo com estas mesmas instâncias um vínculo precário.
A atividade organizativa e a capacidade empreendedora coletiva do grupo de ocupantes é
considerável. No âmbito político destaca-se a formação de associações de produtores
com existência jurídica e articulação com as esferas de poder governamental municipal,
estadual e federal. O motor deste histórico de organização política foi, no primeiro
momento, a defesa frente à retomada da área pelas forças armadas (enfrentar as forças
armadas brasileiras deve ser considerado no mínimo como um ato corajoso) e,
posteriormente, as tentativas de obtenção de titulação das áreas.
No âmbito econômico, boa parte da infra-estrutura de acesso, incluindo pontes e redes
alternativas de energia existente na região atualmente, foi implantada com recursos
próprios dos ocupantes da região, o que é percebido como um investimento econômico
que valoriza os imóveis e possibilita a exploração da área, bem como um investimento
político e institucional que consolida a ocupação da área.
Outro aspecto que parece contribuir para a atual situação na qual se encontram as
negociações sociais com vistas à implantação da Reserva, considerando que a própria
associação de produtores buscou o governo e mediadores como o ICV para lograr
soluções alternativas à falta de titulação das áreas, é a presença mais marcante do poder
público na fase de ocupação original por ocasião da abertura de BR-163. Os
assentamentos de famílias de produtores foram, na grande maioria das situações,
intermediado pelo INCRA, diferentemente do que ocorreu no sul do Pará, na região de
Novo Progresso, na qual os “colonizadores” e a grilagem tiveram papel predominante. A
própria presença das forças armadas na área também acaba influenciando este histórico.
Dificilmente o exército seria tolerante a grupos de grilagem em suas áreas como acabou
sendo com produtores isolados.
Hoje, o processo de ocupação da área continua ocorrendo em um modelo de
“colonização” muito mais do que de grilagem. Agentes de mercado locais identificam
áreas de abertura para propriedades ou mesmo áreas de ocupação original antiga que,
por herança, acabam sendo fracionadas, implantam infra-estrutura de acesso, muitas
vezes incluindo pontes de relativo grau de complexidade e custo, e vendem parcelas a
novos produtores que chegam à região. Ao que tudo indica, este é um processo que não
se vale de violência ostensiva ou mesmo de intimidação e há um certo consenso e
respeito com relação às posses, ou seja, não há registros importantes de conflitos de
demarcação de áreas, grilagem de áreas já ocupadas e múltiplas vendas de uma mesma
área, situações que foram detectadas como freqüentes mais ao norte na própria BR-163.
Neste sentido, explica-se o ambiente relativamente favorável a negociações institucionais
e à participação de mediadores externos ao grupo de atores locais.
2.6.7. Sistemas de produção
Com o intuito de aprofundar um pouco o perfil geral dos atuais ocupantes da área e
identificar melhor suas diferenciações internas, o que é fundamental para a definição de
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estratégias eficazes de negociação e busca de soluções, operou-se uma análise
preliminar dos sistemas de produção locais.
O levantamento dos principais sistemas de produção deu-se através de uma abordagem
de perfis típicos, isto é, partindo-se da indicação prévia e da consulta com informantes
qualificados (técnicos e representantes institucionais com amplo conhecimento da
realidade regional) estruturou-se uma abordagem na forma de estudo de caso voltada
para o levantamento de situações particulares, características específicas e opiniões
gerais que representam um caso típico comum e recorrente na área.
Assim, os resultados compilados do conjunto das entrevistas realizadas possuem menor
interesse enquanto uma tabulação do conjunto das respostas (tabelas de freqüência). O
interesse maior é estabelecer as características gerais que compõem o perfil de cada tipo
(abordagem caso a caso), confrontando os aspectos identificados como mais importantes
nesta abordagem com o conhecimento geral disponível sobre a área, seja em termos
históricos e perfil de opiniões de outros atores sociais, seja em termos de informações
obtidas em fontes secundárias sobre características de uso e ocupação do solo, produção
agropecuária, entre outras.
A abordagem dos atores sociais da área da reserva e do seu entorno na perspectiva dos
sistemas de produção se justifica pela riqueza e importância que este conceito adquiriu,
tornando-o consagrado para aplicações em situações como esta.
A partir da década de 80, o enfoque sistêmico passou a ser aplicado, no caso brasileiro, a
contextos agrários e agrícolas (MIGUEL, 2000). Concomitante à disseminação deste novo
enfoque passaram a ser estabelecidos distintos contornos para a denominada análise
sistêmica (ALMEIDA, 2002; PINHEIRO e SCHIMIDT, 2001; INCRA/FAO,1999),
desenvolvendo-se uma gama abordagens que enfatizavam aspectos muito variados. Esse
leque de possibilidades, tanto enriquece a noção Sistemas de Produção, quanto torna
necessários esclarecimentos prévios, a fim de demarcar as noções utilizadas.
Sob a ótica dos sistemas de produção, no contexto agrário, a agricultura não é uma
simples justaposição de atividades produtivas e fatores de produção, mas sim um sistema
organizado entre seus múltiplos componentes (WÜNSCH, 1995). A agricultura é vista
como um sistema técnico-econômico e social organizado para produzir alimentos e
insumos, onde se conjugam três grandes componentes: o ambiental ou ecológico, o
tecnológico e o econômico (SANOJA; 1985, apud CHONCHOL, 1994).
DUFUMIER (1996) define Sistema de Produção como a combinação, no espaço e no
tempo, de determinados recursos visando à obtenção das produções vegetais e animais.
Conciliando a construção de agricultura apresentada e a definição de Dufumier, os
componentes ambiental, técnico e socioeconômico assumem a condição de substrato
para tais recursos combinados nos sistemas de produção.
O estudo de Sistemas de Produção está centrado, portanto, na unidade de produção.
Para LIMA et al. (1995), a unidade de produção é um sistema que se relaciona com o
meio ambiente físico, socioeconômico, cultural; derivando deste conjunto os elementos
determinantes do seu funcionamento. De forma contemplar à família, os sujeitos
integrantes do sistema, nem sempre presentes em abordagens sistêmicas do contexto
agrário, constituem o núcleo de diferenciação entre os denominados “soft-systems” e os
“hard-systems” (PINHEIRO e SCHIMIDT, 2001). A abordagem de sistemas de produção
utilizada aqui busca uma aproximação com os denominados “soft-systems”,
contemplando, portanto, a unidade familiar em suas análises.
DUFUMIER (1996), ao especificar os itens a serem observados em um sistema de
produção cita: a família e a mão-de-obra disponível; a unidade de produção; os sistemas
de cultivo; os sistemas de criação; as atividades complementares. Para o estudo a ser
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apresentado selecionou-se, em cada item, elementos de interesse. No primeiro item,
família e mão-de-obra, são contemplados aspectos da trajetória familiar e a
caracterização da mão-de-obra – familiar ou não. O segundo, aborda os recursos
disponíveis (terra, benfeitorias e equipamentos) e o aceso a recursos externos. Os
sistemas de cultivo destacam as produções, o nível e o destino das mesmas. Os sistemas
de criação seguem igual perspectiva, centrados nas criações. As atividades
complementares englobam o extrativismo, atividades necessárias à subsistência da
família, prestação de serviços ou trabalho fora da propriedade.
De posse de tais eixos analíticos, unidade familiar, sistemas de cultivo, sistemas de
criação, atividades complementares, busca-se elaborar uma tipificação dos Sistemas de
Produção encontrados na área.
Associada à tipificação dos sistemas de produção, utilizou-se uma tipificação dos
produtores, podendo determinado tipo de produtor estar associado a distintos Sistemas
de Produção (INCRA/FAO, 1999). Racionalidades socioeconômicas diversas induzem
produtores à realização de escolhas diferentes no que se refere às culturas, criações, à
forma de utilização de técnicas e práticas agrícolas e outros.
Estudos realizados pela FAO identificam, em sua maioria, três grandes tipos de
produtores: os familiares, os patronais e os capitalistas (INCRA/FAO, 1999), baseada na
caracterização da mão-de-obra, familiar ou contratada (sendo que no pólo familiar
prevalece a primeira e no pólo capitalista a segunda, ficando os patronais caracterizados
pela combinação das duas).
Para a seleção dos produtores a serem entrevistados utilizou-se esta categorização geral
de tipos de sistemas de produção, optando-se por uma formulação mais genérica e
consagrada. Os tipos de sistemas de produção utilizados na pesquisa com os atores
produtivos agropecuários combina o tipo de produção principal – pecuária bovina,
agricultura, etc. – com o modelo de organização da produção, a saber:
Agricultura familiar: proprietário se ocupa principalmente na atividade fim, geralmente
reside na propriedade (em alguns casos pode residir próximo) e ocupa outros membros
da família na atividade produtiva (eventualmente não, o que é normalmente associado a
condições de maior pobreza). A agricultura familiar se subdivide nos seguintes tipos:
Subsistência: não possui produção comercial; eventualmente vende ou troca pequenos
excedentes; membros do grupo familiar podem ser trabalhadores eventuais para outros
produtores ou em atividades nos setores secundário (construção civil, principalmente) e
de serviços (manutenção, jardineiro);
Familiar comercial: possui cultura comercial, ou seja, organizada para vender a produção
no mercado, podendo ser monocultivo/pecuária ou diversificada (mais de uma cultura
organizada para o mercado); em geral não contrata trabalho fora da família, exceto
tarefas ou diaristas no auge da colheita;
Familiar empresarial ou patronal: proprietário se mantém principalmente na atividade fim
de sua propriedade, mas contrata regularmente força de trabalho (empregados
permanentes e mais eventuais nos períodos de safra); pode reunir outras atividades afins,
tais como produção e intermediação da produção de outros produtores (normalmente por
estar capitalizado e dispor de caminhão e outros equipamentos de transporte e
armazenagem próprios).
Agricultura capitalista: proprietário não se ocupa principalmente da atividade fim,
trabalhando principalmente nas atividades meio (gerenciamento, compra de insumos,
venda da produção, etc.); contrata mão-de-obra para trabalho e possui organização
empresarial (capatazia, horários de trabalho, etc.)
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Para auxiliar na identificação dos produtores a serem entrevistados foram utilizados
informantes qualificados que acompanharam as entrevistas, facilitando o acesso e
auxiliando na identificação de diferenciais de localização e perfil.
3.4.1. Caracterização das propriedades segundo os sistemas de produção
Familiar comercial pecuária (11 casos)
Predominou amplamente no perfil de entrevistados. Se caracterizam pela organização
familiar, com pelo menos um membro da família residindo de forma permanente na
propriedade, em áreas que variam, na média de 1.300 a 2.400 ha, embora se registrem
propriedades menores de 870 e 525 ha e propriedades com até 3.500 ha. Uma parcela
destas propriedades, que varia de pouco mais de 100 ha podendo chegar a 1.300 ha nas
propriedades maiores, é composta de pastagens que abrigam rebanhos à razão de 1,6
cabeças em média por ha. Trata-se de rebanhos bovinos de corte, em diferentes fases de
manejo (cria, recria, engorda), destinados ao mercado, constituindo-se na única atividade
comercial da propriedade.
É fundamental para este perfil típico de produção a presença de empregados, em número
proporcional ao tamanho do rebanho, não ultrapassando o número declarado de 4.
Contudo, a presença destes empregados não se deve à uma organização capitalista da
produção, mas a uma divisão de tarefas com a família produtora, sendo delegado aos
empregados as tarefas rotineiras de cuidado do gado.
O desenvolvimento de atividades agrícolas é estritamente complementar e destinado ao
consumo próprio e ao tratamento de animais também destinados ao consumo próprio ou
uso produtivo na propriedade (aves, suínos e eqüinos).
Este perfil é observado nas propriedades com investimento consolidado, ou seja, que já
dispõem de porte e recursos financeiros para operar o sistema de produção em uma
escala viável.
O transporte do gado se dá através da formação de boiadas que se deslocam nas
estradas vicinais até chegarem a mercados e abatedouros próximos, geralmente evitando
a fiscalização, mesmo a sanitária.
Familiar comercial pecuária (arrendante com atividade terciária)
Registrou-se um caso, (não incluído nos 11 já mencionados) de uma propriedade com o
perfil descrito anteriormente, porém sendo gerenciada por um arrendatário. O proprietário
desenvolve atividades comerciais em outra cidade e apenas arrenda o pasto para um
produtor, indicando a existência de lucratividade suficiente no negócio para permitir este
tipo de relação de produção.
Familiar comercial pecuária (pequena, quase subsistência)
Em duas outras propriedades menores, uma de apenas 145 ha e outra de 1.200 ha,
porém com apenas 180 ha de pastagens formadas, registrou-se o perfil de pecuária
familiar comercial de pequena escala. Estes dois casos foram mantidos no grande grupo
da pecuária familiar comercial pelo fato de possuírem a mesma estrutura de operação,
embora em escala mais reduzida e sem o apoio de empregados permanentes. Contudo,
não se trata de uma produção de subsistência, uma vez que há uma produção regular
comercial.
Familiar comercial pecuária (em fase de implantação)
Quatro propriedades se destacaram por contar com este perfil de pecuária familiar
comercial, porém em fase de implantação, ou seja, com aquisição recente da área (2
anos ou menos) e pequenas áreas de pastagens formadas ou áreas maiores, porém
ainda sem gado ocupando. Este perfil reflete tipicamente a onda mais recente de
imigração, que chega numa área com um mercado local tanto de terras quanto de
insumos relativamente organizado, porém ainda com custo para aquisição relativamente
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baixo por falta de titulação, tornando o investimento inicial acessível a produtores com
pouca acumulação de capital. Todos os entrevistados deste perfil revelaram-se surpresos
com a implantação da Reserva, diferenciando-se do perfil especulativo justamente por
isso, ou seja, por não acreditar que sua atividade fosse inviabilizada na área, caso
contrário não teria investido nela.
Ao todo, portanto, este sistema de produção e suas variantes somaram 18 casos entre os
29 pesquisados, isto é, praticamente dois terços (62,1%).
Familiar de subsistência com produção pecuária
Mesmo os sistemas de produção familiar de subsistência possuem relação com a
atividade pecuária, caracterizando-se por um rebanho muito reduzido (no máximo 100
cabeças), o que oferece uma pequena renda anual insuficiente para a manutenção da
família. A relação de integração com o mercado local se dá pela venda deste pequeno
excedente e aquisição de sal, açúcar e medicamentos.
Nestas propriedades a atividade agrícola e a criação de animais para consumo é central
para a manutenção do grupo familiar, que em geral habita em condições precárias e está
à mercê de situações de risco alimentar em casos de doença.
Duas propriedades foram entrevistadas nesta condição com registro de pecuária de
bovinos e uma com pequena produção de suínos.
Familiar de subsistência com produção de arroz
Em uma das propriedades entrevistada registrou-se o mesmo perfil descrito
anteriormente, porém tendo como atividade produtiva central o plantio de arroz de
sequeiro e não a pecuária, o qual sequer é comercializado, sendo principalmente trocado
por outros produtos com os vizinhos.
Familiar subsistência com atividade setor terciário
Em duas propriedades registrou-se outro sistema de produção familiar de subsistência.
Neste caso a atividade de integração com o mercado local ocorre através da atividade no
setor terciário (comércio e setor de serviços). A residência na propriedade permite uma
produção de subsistência que compõe a atividade terciária o padrão de vida destas
famílias, o qual não pode ser considerado precário comparativamente ao perfil médio
observado.
Ao todo, portanto, este sistema de produção e suas variantes somaram 6 casos entre os
29 pesquisados, isto é, um quinto do total (20,1%).
Familiar comercial agrícola diversificada
Foi registrado um caso do sistema de produção familiar comercial de produção agrícola
diversificada, ou seja, que possui uma área considerável de lavouras temporárias,
mecanizada, com produção voltada para o mercado local e regional (perfil clássico da
agricultura familiar muito comum nas regiões sudeste e sul do Brasil).
A atividade produtiva é executada inteiramente pelo grupo familiar, na verdade um
conjunto de 3 famílias que racionalizam a aquisição e utilização de equipamentos,
máquinas e insumos. Trata-se de um modelo que destoou muito do perfil predominante
do entorno.
Outros dois casos neste mesmo perfil diferem do anterior por possuírem menor grau de
mecanização e portanto de volume de produção, sendo que em um deles ainda se
consorcia a produção agrícola com um pequeno rebanho bovino de 70 cabeças. Porém,
embora em menor escala, registra-se um alto grau de integração ao mercado local. Estes
três casos representam 10,3% do total.
Pecuária capitalista de bovinos
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Duas propriedades apenas entre todas as entrevistadas foram identificadas com a
pecuária capitalista, isto é, na qual o proprietário está mais focado sobre as atividades
meio e mesmo em outras atividades comerciais urbanas, sendo que a produção na
propriedade é realizada por empregados supervisionados por capataz contratado.
Os proprietários encontram-se mais ou menos distantes da atividade produtiva na
propriedade, dependendo do desempenho financeiro que o conjunto de atividades
econômicas que ele gerencia apresenta. Quando o preço do gado é vantajoso, o esforço
e o interesse pela atividade na propriedade se intensifica, assim como em períodos de
comercialização do gado. Quando o preço do gado não é vantajoso ou nos períodos
normais, o proprietário se dedica a outras atividades econômicas fora da propriedade,
delegando as tarefas produtivas ao grupo de empregados contratados.
2.6.8.
Opiniões e posicionamento dos atores locais
2.6.8.1. Conflito fundiário
De maneira geral, a principal preocupação e o principal problema que os atores sociais
locais identificam é a regularização fundiária. Na perspectiva dos atores locais a posse da
terra já está dada pelo investimento realizado e pelo tempo de presença na área, faltando
a titulação que irá garantir sua propriedade.
Embora alguns não acreditassem que fosse um risco efetivo a perda das terras, todos
sabiam que as terras ocupadas pertenciam à União. O enfrentamento com as forças
armadas dá uma idéia da perspectiva de posse dos atores locais, os quais se impunham
como ocupantes de uma área da qual eram sistematicamente expulsos e ameaçados.
Sob este manto geral e unificador da regularização fundiária, que na perspectiva dos
atores locais significa a titulação de sua atual condição de posse, encobrem-se uma série
de interesses diferenciados conforme o sistema de produção no qual se encontra inserido.
Para a atividade pecuária comercial predominante na área, tanto a familiar como a
capitalista, a falta de titulação representa um importante obstáculo para o
desenvolvimento de suas atividades produtivas, barrando o acesso a financiamentos e
outros recursos formais. Nesta condição, é atraído para a região apenas o produtor que
tem uma percepção de custo/benefício positiva frente ao risco de investir suas economias.
Produtores que dispõe de recursos próprios suficientes preferem investir em áreas
tituladas, as quais dão segurança quanto ao investimento e permitem acesso à
financiamento.
O valor de “aquisição” da posse na área pode ser dividido nas seguintes parcelas:
1. Custo de aquisição da propriedade do solo: este custo não é realizado, pois as terras
são de propriedade do governo; na verdade a ausência deste custo é o principal atrativo
diferencial para comercialização e grilagem de áreas na região e representa no maior
motivador de conflitos com a perspectiva de asfaltamento da BR-163 e rápida valorização
das posses, as quais poderão ter seu valor muito aumentado se os posseiros lograrem
sucesso na titulação.
2. Custo de implantação da atividade produtiva: consiste na delimitação da área (que
pode ser pelas usuais picadas abertas a trator ou através de cercas, utilizadas apenas em
áreas de pastagem), instalação de domicílio e outras construções e principalmente a
formação de pastos (derrubada e queima da mata; destoque e regularização do terreno, o
que muitas vezes é feito através de queimadas consecutivas e lançamento de sementes
de pastagens, levando diversos anos, conforme o tipo de solo, para se estabilizar;
implantação e manutenção da pastagem).
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3. Custo de aquisição de rebanho: que se constitui na aquisição de matrizes e transporte
para o local.
Considerando as práticas de manejo descritas, o volume de investimento inicial
necessário para o desenvolvimento de uma pastagem lucrativa (que comporte pelo
menos 300 a 400 cabeças de gado) é menor, havendo mercado próximo relativamente
grande para absorver a produção. Os valores monetários envolvidos são muito
controversos, uma vez que as informações fornecidas pelos produtores tendem a refletir
mais sua ansiedade e suas dificuldades do que seus custos efetivos.
Para o desenvolvimento da atividade agrícola, a falta de financiamento constitui um
obstáculo maior do que para o desenvolvimento da pecuária, bem como a falta de aptidão
de muitas áreas (especialmente por declividade e qualidade dos solos) e a falta de infraestrutura de escoamento da produção, além da distância dos mercados consumidores.
Algumas manchas de solo de maior aptidão agrícola tem dado espaço para uma
agricultura comercial incipiente, voltada principalmente para o atendimento do crescente
mercado local em expansão pela expectativa de asfaltamento da BR-163. Contudo, o
perfil de ocupante local atual não está capacitado para o desenvolvimento de uma
agricultura comercial competitiva por não ser uma atividade usual na região.
Por fim, por um lado, para os produtores do sistema de produção de pecuária familiar
comercial e de pecuária capitalista, a titulação de suas posses representa um valor de
grande interesse, seja para permitir a expansão de sua produção pelo acesso ao
financiamento, seja para valorizar seu patrimônio, o qual passaria a contar com um fator
de composição de preço a mais. Por outro lado, a falta de titulação representa um risco
considerável para o seu investimento. A maioria dos produtores do sistema de produção
pecuária familiar comercial vive exclusivamente da atividade produtiva em sua posse e
tem nela reinvestido todo o seu patrimônio acumulado, já que não dispõe de acesso a
financiamento. Perder sua posse, mesmo que seja acompanhada de indenização,
representa no mínimo a não realização do preço de aquisição da propriedade, ou seja, a
não remuneração dos riscos enfrentados e das dificuldades para grilagem e viabilização
econômica das áreas.
Este será o grupo de ocupantes da área mais resistentes e mais descontentes com
qualquer solução que implique remoção e não titulação de suas posses. Para o grupo de
ocupantes mais antigos, ainda, pesa a negação do vínculo cultural com o local, o qual foi
construído em grande medida por eles.
Mesmo na perspectiva de um cálculo de indenização justa, há o problema dos
investimentos em infra-estrutura externa à posse. Em uma condição de titulação, as
vantagens locacionais de uma propriedade são remuneradas pelo mercado como
incorporadas ao custo de aquisição da área no local em que ela se encontra,
independentemente do que foi investido nela e mesmo de muitas de suas características
internas em termos de aptidão produtiva.
No caso dos posseiros da área da Reserva, como este valor não é reconhecido, seus
investimentos na abertura de acessos e construção de infra-estrutura não têm como ser
mensurados e remunerados, o que certamente irá representar um importante foco de
conflito entre qualquer avaliação patrimonial e o valor efetivamente investido pelos
produtores, principalmente os mais abastados.
A relocação dos produtores deste sistema de produção pecuária familiar comercial em
áreas próximas se demonstra de pouca viabilidade se não for acompanhada de algum
ganho diferencial, tal como o acesso a uma infra-estrutura de transporte melhor ou a
titulação de sua posse, ainda que com alguma redução em relação a área atual. Mesmo
assim, haveria pouca oferta de áreas adequadas com o mínimo de infra-estrutura
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demanda. A cessão de áreas por produtores que ficaram fora do perímetro da Reserva se
revela pouco eficaz na medida em que não seja introduzido ao processo, tanto dos
relocados como dos cedentes de área, a titulação de suas posses. Esta, sem dúvida, é
uma negociação difícil e que conta com poucos parâmetros usuais de legislação e prática
de manejo por parte dos órgãos de governo, o que limita muito sua capacidade de
mediação.
Para os sistemas de produção familiares agrícolas, por serem mais recentes e por
contarem com maior investimento inicial para formação das lavouras e pela possibilidade
de transferir maquinário e mesmo algumas instalações para outra área, o impacto da
indenização e remoção tende a ser menor. A presença deste tipo de produção na área é
mais recente, o que faz com que o vínculo cultural local seja menor. Provavelmente, os
produtores enquadrados neste sistema de produção darão preferência por sua relocação
em outra área próxima, já que o volume de área necessário para retomada de sua
produção é menor que o exigido para a atividade pecuária, mantendo o vínculo que já
possui com os canais de distribuição de sua produção.
Para os sistemas de produção de subsistência e para o sistema de produção familiar
comercial de pecuária em fase de implantação o mecanismo de indenização pode
representar uma boa alternativa de solução, uma vez que provavelmente irá ao encontro
dos interesses dos posseiros.
Contudo, o mecanismo indenizatório, se não acompanhado de programas que auxiliem e
orientem adequadamente a transição, oferecendo alternativas eficientes de reposição das
condições anteriores à remoção, pode representar para todos os sistemas de produção
identificados um elevado risco de perda de status social e de empobrecimento e perda de
patrimônio.
Tais alternativas implicariam na possibilidade de oferecer arranjos de relocação que
sejam acompanhados de instalação de infra-estrutura de acesso, eletrificação e produção
suficientes para assegurar maior competitividade para sua produção, compensando a
desarticulação produtiva que a mudança irá provocar.
O oferecimento de titulação de outras áreas para relocação dos posseiros que ocupam
atualmente a área da Reserva sem o oferecimento de programas complementares,
principalmente se a nova área for sensivelmente menor que a atual, provavelmente
tenderá a estimular a comercialização da nova propriedade como forma de realização do
investimento realizado na área original, seguida da busca de uma nova área em
condições similares com menor custo inicial e com o objetivo de reproduzir a trajetória
registrada na área da Reserva.
4.2.
Percepção da reserva e da problemática ambiental
A trajetória da maioria dos posseiros residentes na área é marcada pela luta pela
apropriação do ambiente natural e sua transformação em um espaço produtivo. O
ambiente, portanto, é percebido como reserva de patrimônio a ser apropriado por quem
atue sobre a área e o explore comercialmente.
A idéia de preservação é diretamente associada com áreas sem patrimônio natural,
desprovidas de interesse por não apresentarem recursos com valor para apropriação. Se
é uma área inútil para exploração econômica então deve ser destinada para a
preservação.
O próprio conceito de “reserva” é decodificado pelos atores locais a partir desta
percepção. Uma reserva é uma unidade de área que oferece um patrimônio natural para
ser explorado que deve ser manejado para que a exploração não seja ameaçada por ser
muito intensa. Não há a compressão de que uma reserva possa conter patrimônio natural
para não ser utilizado, apropriado e explorado.
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O processo de educação ambiental dos atores locais representa um considerável desafio,
uma vez que não há a menor referência a uma representação da natureza como um
ecossistema ameaçado, ou seja, uma rede interdependente que se desorganiza e se
degrada na medida em que seus processos naturais de reprodução não são respeitados.
O foco da Reserva sobre o papel de abrigar nascentes de rios importantes da região se
revela como uma possível alternativa de construção negociada de significado para a
preservação. A água é um patrimônio natural que é apropriado, mas que não pode ser
esgotado. Através da construção simbólica da água como valor ambiental para
preservação, outros significados e o conceito de ecossistema tem maior oportunidade de
ser introduzido.
A forma como a Reserva foi instituída foi amplamente rechaçada pelo grupo de posseiros.
Porém, qualquer forma de instituição tenderia a provocar o mesmo tipo de reação na
medida em que não há consenso mínimo sobre sua importância e sua relevância por
qualquer interesse de parte dos atuais ocupantes da área e da comunidade do entorno,
exceto raras e honrosas exceções.
A própria proposta de negociação da Associação do Vale do XV não está fundamentada
no reconhecimento da importância de se ter uma reserva natural na área, mas antes de
tudo no reconhecimento da incapacidade de obtenção da titulação em uma área de
interesse para preservação e na constatação de que há áreas de interesse para
preservação que não interessam para apropriação e incorporação ao mercado de terras,
ou que interessam pouco.
De forma nenhuma esta afirmação deve ser identificada com o desmerecimento da
iniciativa de negociação dos posseiros da área. Pelo contrário, revela uma grande
capacidade de articulação destes produtores apesar da quase completa falta de
identidade de objetivos.
Contudo, esta avaliação remete diretamente para a necessidade de incorporação dos
atuais ocupantes ao processo de instituição da Reserva e para a dificuldade do grupo de
mediadores de estabelecer fóruns eficientes de negociação. Como foi dito, o processo de
educação ambiental desta população representa um grande desafio e de forma nenhuma
pode ser pensado na simples transferência de informações técnicas.
2.6.8.2.
CENÁRIOS FUTUROS PARA A ÁREA DA REBIO
A formulação de cenários futuros para a área da Rebio, mais do que um exercício de
“futurologia”, requer que seja feita uma projeção de alguns aspectos relacionados com o
perfil da atividade econômica local supondo duas situações. A primeira situação
compreende a continuidade do processo atual na área como se a reserva não fosse
instituída e tem como finalidade ressaltar aspectos que, na segunda situação, com a
instituição da Rebio, poderão assumir um comportamento diferenciado.
Esta segunda situação projetada, isto é, com a instituição da Rebio, irá contar com duas
condições diferenciadas com o mesmo objetivo de salientar potenciais comportamentos.
Na primeira condição, a instituição da Rebio é projetada como ineficaz e sem efetividade
em seus programas de manejo e relacionamento com a comunidade local. Na segunda
condição, são consideradas possíveis alternativas de manejo as quais, embora
hipotéticas e eventualmente não vindo a ser aplicadas no formato proposto, deverão
cumprir o papel de indicar um processo de manejo e relacionamento eficaz com as
comunidades locais.
O enfoque em termos de cenário será sobre o sistema produtivo local, sem dúvida o fator
mais importante de alteração do ambiente natural da área, porém, aspectos propriamente
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culturais e sociais também serão abordados em conexão com o desenho do sistema
produtivo traçado.
.
Cenário 1
Situação de continuidade do processo de ocupação simulada a partir da hipótese de não
implantação de uma unidade de conservação na área.
Neste cenário que supõe a continuidade da situação atual como se a Rebio não houvesse
sido implantada presume-se a continuidade e crescente aceleração do processo de
acumulação de riqueza na área baseado em duas ordens de fatores: de um lado, a
intensificação da abertura de áreas para pastagens, fruto da consolidação do mercado de
produção pecuária que abastece a região; de outro, a intensificação do mercado de
terras, fruto da valorização das áreas pelo aumento da infra-estrutura de acesso e de um
grau incipiente de economia de escala proporcionado pela concentração crescente de
atividade pecuária na região, facilitando e barateando alguns insumos.
A base de expansão de riqueza neste cenário constitui-se, precisamente em sua maior
fragilidade e principal reivindicação dos posseiros atuais. O mercado de Guarantã do
Norte, principalmente, e secundariamente o mercado do sul do Estado do Pará (o qual
vem registrando rápido crescimento), demanda ser abastecido de carne para consumo e
de rebanho para a expansão e reposição da produção leiteira. A atual área da reserva,
por não contar com o custo de aquisição da terra para formação das pastagens, atua
como área de cria, recria e engorda de gado para abastecimento deste mercado.
Simultaneamente, a maior reivindicação dos produtores locais é pela titulação das suas
terras, o que acarretaria em uma imediata valorização de suas posses, as quais poderão
ser comercializadas a preços mais elevadas ou mantidas como patrimônio assegurado.
Ou seja, de um lado, a área se beneficia da falta de titulação na medida em que se reduz
o custo de implantação de pastagens, mesmo que algumas dificuldades adicionais de
infra-estrutura tendam a encarecer a produção. De outro lado, em havendo a titulação das
áreas, os atuais posseiros teriam seu patrimônio assegurado e a possibilidade de
incorporação da área ao mercado de terras em condições valorizadas.
Neste contexto, no âmbito da pecuária familiar comercial predominante na área, o
estímulo à continuidade do processo de ocupação e ao reinvestimento dos lucros
auferidos na abertura de novas áreas na mesma condição é muito grande, sendo que o
risco de perda da área pela falta de titulação é proporcional ou menor que o ganho
possível de ser obtido caso as posses venham a ser tituladas.
Este, sem nenhuma dúvida, é o motor de expansão da ocupação na área que se deu a
partir do ano 2000, na esteira da expectativa de asfaltamento da BR163, tendendo a ser
fortemente acelerado de novos eventos indicarem a eminência disso ocorrer. O
asfaltamento da rodovia ampliaria muito a acessibilidade da área, reduzindo ainda mais
seus custos de produção e possibilitando a exportação da produção local para mercados
mais distantes. Da mesma forma, e isso já ocorreu principalmente de 2002 para cá,
mesmo sem a titulação, mas com documentos de protocolo de registro das posses e com
a crença no breve asfaltamento da rodovia, as áreas já abertas sofreram uma grande
valorização, permitindo que alguns dos posseiros mais antigos realizassem parcialmente
os lucros de seus investimentos na formação de áreas de pastagens no local.
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.
Cenário 2
Situação de descontinuidade do processo de ocupação devido a implantação da Rebio,
porém, sem eficácia no manejo efetivo da unidade
A formulação deste cenário não pretende afirmar que implantação da Rebio será ineficaz,
mas tão somente presumir que isso ocorra para salientar alguns aspectos negativos que,
em diferentes graus e intensidade, poderão ocorrer na área no futuro próximo.
Neste cenário será registrada a desorganização do processo de acumulação de riqueza
que estava em curso até o presente, acarretando a redução gradativa da renda dos
posseiros com o início dos processos de desapropriação e a falta de segurança na
realização de novos investimentos. O valor de indenização das posses tenderá a ser
insuficiente para a recomposição da produção em bases similares (investimento inicial
para instalação em outras áreas com características similares) uma vez que grande parte
do investimento a título de “benfeitorias” ocorreu fora da posse, na abertura e implantação
de acessos, bem como pela não remuneração da terra como bem patrimonial, impedindo
a realização do investimento de ocupação e consolidação desta ocupação implícito na
expectativa dos posseiros de virem a titular suas posses algum dia.
A possibilidade de reassentamento dos posseiros em módulos padrão do INCRA (100 ha)
revela-se adequada apenas para os sistemas de produção familiar de subsistência
registrados no diagnóstico, ou seja, para uma minoria dos posseiros afetados pela
implantação da Reserva. Neste cenário não há possibilidade de reassentamento dos
atuais posseiros enquadrados no sistema de produção de pecuária familiar comercial em
áreas com tamanho similar e suficiente para reorganização da produção em bases
próximas às que dispõem atualmente.
Registraria-se, também, um grande número de conflitos desencadeados a partir da
implantação formal da unidade de conservação sem o acompanhamento real de ações de
manejo eficientes. Entre estes conflitos, merecem destaque como mais prováveis:
• A instauração de um grande número de processos jurídicos questionando desde a
implantação da reserva propriamente dita, até os métodos e valores resultantes dos
processos de desapropriação;
• Manutenção da maioria dos atuais posseiros na área fruto da ineficiência e
morosidade do processo de desapropriação;
• Falta de segurança mínima dos atuais ocupantes da área em sua condição de
ocupação e falta de um horizonte de resolução da situação, provocando grande
desestímulo ao investimento e a prática predatória sobre eventuais recursos
madeireiros ainda existentes;
• Degradação do patrimônio dos posseiros e perda de grande parte de seu
investimento na área;
• Risco de novas ocupações e invasões de áreas ou mesmo o estímulo disso pelo
interesse dos atuais posseiros de criarem obstáculos à efetivação da área como
Reserva Biológica; parentes dos atuais posseiros ou mesmo terceiros, aproveitandose da retirada gradativa dos atuais posseiros, passariam a reocupar a área (basta
lembrar que os posseiros pioneiros “tomaram” a área das Forças Armadas através
destas táticas de saída e retorno); posses lindeiras da UC tenderiam a continuar
utilizando as áreas da Reserva;
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• Estímulo ao direcionamento da capacidade de ação coletiva dos atuais posseiros
no sentido de tentar minar e inviabilizar a implantação efetiva da unidade,
desconsiderando qualquer critério de controle sobre o patrimônio ambiental da área e
estimulando um processo de ocupação ainda mais desordenado e impactante sobre o
ambiente local.
A situação descrita neste cenário tenderá a reduzir o nível de atividade econômica
produtiva na área nos moldes atuais, ou seja, de um sistema produtivo relativamente
organizado e voltado para a lucratividade da atividade pecuária. Porém, o grau de
agressão ao ambiente e de degradação dos recursos naturais talvez não registre redução
na mesma proporção. É possível prever que se intensificaria a extração ilegal de
madeiras remanescentes, a utilização do fogo seria ainda mais descontrolada e o
abandono de áreas abertas tenderia a atrair outros ocupantes que buscariam adquirir
direitos de posse justamente através de “benfeitorias” sobre estas áreas, ou seja, maior
desmatamento e utilização ostensiva de fogo.
O maior obstáculo para um processo mais intenso de degradação ainda é o custo
relativamente elevado mesmo para as práticas de manejo produtivo mais incipientes.
Porém, um eventual asfaltamento da BR-163 provocaria uma nova “corrida de ocupação”
certamente com grande efeito degradante sobre o ambiente.
.
Cenário 3
Situação de descontinuidade do processo de ocupação devido a implantação da Rebio,
porém, contando com um manejo efetivo e eficaz da unidade
Neste cenário, o processo de retirada os atuais ocupantes seria mais efetivo e rápido,
sendo acompanhado de programas e de fiscalização eficaz que assegurariam que a área
não fosse novamente ocupada.
As perdas dos atuais posseiros seriam menores que no cenário anterior e a maior
agilidade do processo de indenização, bem como negociações complementares com os
atuais posseiros, possibilitariam que sua atividade econômica pudesse ser retomada mais
rapidamente, evitando um maior empobrecimento desta população por conta desta
demora.
Contudo, o conjunto de riscos e ameaças à integridade da área da Reserva, em especial
o uso descontrolado do fogo, a reocupação da área por novos posseiros e a degradação
dos recursos naturais, necessitará ser gerenciado com eficácia, com custo elevado e em
curto espaço de tempo através de programas de manejo e de controle da área.
2.6.9.
SUGESTÕES DE MANEJO
Tendo em vista os cenários futuros desenhados para a área a proposição de sugestões
de manejo considera basicamente duas condições, a saber:
• Mesmo que a condição de implantação da Reserva não seja a descrita no cenário
2, dificilmente, em curto espaço de tempo, o gestor da unidade, no caso o IBAMA,
poderá contar com recursos suficientes para a implementação de programas
adequados em qualidade e quantidade conforme descrito no cenário 3, bem como
dificilmente poderá contar com apoio institucional suficiente de órgãos como o Incra
para a minimização dos conflitos para desapropriação.
• O conjunto dos posseiros que ocupam atualmente a área dispõe de um mediador,
no caso a Associação do Vale do XV, com um grau relativamente elevado de
legitimidade e capacidade de implementação de decisões junto ao grupo de
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ocupantes.
Considerando, portanto, os cenários formulados e as condições acima, observa-se que a
retirada imediata dos atuais posseiros e a descontinuidade de sua atividade produtiva
pode acarretar maiores ameaças à integridade da área e maior grau de conflito e atraso
na implementação da Reserva Biológica do que a sua permanência em determinadas
condições.
Tais condições consistiriam no estabelecimento de um acordo no qual os atuais
posseiros contariam com um horizonte de médio prazo para a continuidade de sua
atividade produtiva na área, mantendo seus níveis de renda com a atividade produtiva e
podendo redirecionar os recursos acumulados neste período para a reorganização de sua
atividade produtiva em outra área.
Para que os atuais posseiros pudessem se beneficiar deste acordo, estes se
comprometeriam com a não abertura de novas áreas nas suas atuais posses, bem como
o auxílio ao Ibama no controle das invasões por novos posseiros. A utilização do fogo se
restringiria apenas ao manejo das pastagens já implantadas (seria necessária uma
avaliação agronômica sobre a viabilidade do manejo das atuais pastagens sem a
utilização do fogo antes dessa prática ser sumariamente proibida) ou mesmo seria
abolida.
Um programa de relacionamento e de educação ambiental com os atuais posseiros
auxiliaria na minimização dos conflitos, na negociação da retirada da área em momento
oportuno para os posseiros, na mediação de soluções coletivas para a relocação em
novas áreas fora da Reserva, além de possibilitar condições menos impactantes de
presença dos mesmos, especialmente no que se refere à caça de animais silvestres e a
supressão de vegetação de interesse para a conservação, especialmente na área mais
próxima das nascentes.
Caso o histórico de relacionamento com os posseiros e seu mediador legítimo (a
associação) seja positivo e apresente resultados de interesse para a preservação da área
da UC, ficarão estabelecidas melhores condições para a proposição de mudanças de
perímetro da Reserva ou mesmo mudança de sua categoria de manejo.
Este processo, tendo sucesso, oportunizará maior tempo para a organização de sistemas
eficazes de controle da área para retirada dos atuais posseiros e reduzirá o risco de
degradação da área, ou mesmo oportunizará uma menor degradação comparativamente
a uma nova “onda de ocupação” da área.
Recomenda-se que o cadastramento fundiário (entendido aqui como a valoração dos
itens indenizáveis aos posseiros antes de sua retirada) seja precedido por um
cadastramento dos atuais ocupantes da área, no qual será levantado o volume declarado
das posses e relacionados seus detentores no momento da instituição da UC. Este
cadastro teria a função de definir um marco de instituição da Reserva, possibilitando um
instrumento de controle sobre novas ocupações sem gerar o desgaste e desencadear
conflitos implícitos aos processos de desapropriação.
Neste cadastro, os posseiros seriam inquiridos formalmente sobre sua intenção em
relação à área, ou seja, seu interesse de transferir brevemente sua atividade produtiva
para outro local ou seu interesse de permanecer explorando por maior tempo sua área,
mesmo sem a abertura de novas áreas e com o compromisso de aceitar maior controle e
a utilização de práticas menos impactantes.
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Com base nos resultados deste cadastramento, o IBAMA iria dispor de informações mais
precisas e consistentes para planejar a desocupação da área e decidir sobre qual seria o
período mais indicado para isso.
O relacionamento com o mediador local seria fortalecido com sua participação na
elaboração deste cadastro. Sugere-se como metodologia para este cadastramento a
abertura de uma rodada de inclusão espontânea no mesmo, mediada e estimulada pela
Associação do Vale do XV. A aceitação das informações prestados pelos atuais posseiros
não equivaleria a um reconhecimento por parte do Ibama com relação ao que foi
informado. As informações prestadas pelos posseiros, mesmo que imprecisas ou
“inflacionadas” não teriam maiores conseqüências sobre o processo de desapropriação, o
qual se obriga a realizar um detalhado levantamento in loco nas posses.
O que o processo de cadastramento espontâneo possibilitaria é precisamente uma base
mais efetiva e de baixo conflito para permitir o estabelecimento de termos de
compromisso com cada posseiro com relação à não abertura de novas áreas e a adoção
de práticas menos impactantes, além de baratear e agilizar significativamente o processo
de confecção do cadastro.
Na etapa seguinte, os posseiros que não se declararam espontaneamente seriam
procurados com esta finalidade, em um primeiro momento com a mediação ainda da
Associação e, posteriormente, no caso dos mais resistentes, como uma ação de
fiscalização e controle da área.
Em suma, se reconhece que a retirada dos atuais posseiros e a desarticulação do
sistema produtivo na área, não no que se refere a novos investimentos na abertura de
acessos e de áreas para pastagens, mas no que diz respeito à continuidade da
exploração das áreas já abertas, pode acarretar maior degradação que a manutenção dos
atuais posseiros em uma condição negociada e num horizonte de médio prazo. Esta
talvez seja a melhor forma de aproveitar-se positivamente a condição dos posseiros da
área contarem com um mediador com legitimidade ou, pelo menos, neutralizar a
possibilidade deste mediador vir a se organizar no sentido de dificultar ainda mais o
processo de implantação da Rebio.
Estima-se que este horizonte possa se estender pelo período de 6 a 12 anos, permitindo
que os atuais posseiros possam manter sua renda e o efetivo controle sobre a área até
que venham a se instalar em uma outra área.
QUESTIONÁRIO INSTITUCIONAL APLICADO NA REGIÃO DA RESERVA BIOLÓGICA
DAS NASCENTES
INSTITUIÇÃO:
Q1 QUAL SUA VISÃO SOBRE O HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA REGIÃO E CRIAÇÃO DO
MUNICÍPIO? COMO O SR(A) DESCREVERIA AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS QUE
MARCARAM A MANEIRA COMO O MUNICÍPIO SE ORIGINOU E RESULTOU NO QUE É HOJE?
Q2 NA SUA OPINIÃO, QUAL O PAPEL QUE OS RECURSOS NATURAIS DESEMPENHARAM
NESTE PROCESSO E COMO ELES PARTICIPAM NA DEFINIÇÃO DA SITUAÇÃO ATUAL DA
REGIÃO?
Q3 DO PONTO DE VISTA DA SUA INSTITUIÇÃO/ORGANIZAÇÃO, QUAL A AVALIAÇÃO DA
SITUAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS NA REGIÃO ATUALMENTE?
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Q4 QUAIS OS MAIORES PROBLEMAS RELACIONADOS COM OS RECURSOS NATURAIS DA
REGIÃO ATUALMENTE?
QUAL SUA OPINIÃO SOBRE CADA UMA DAS SEGUINTES ÁREAS NA REGIÃO ATUALMENTE:
Q5 INFRA-ESTRUTURA DE ESTRADAS
Q6 ATIVIDADE AGROPECUÁRIA
Q7 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
Q8 EXPLORAÇÃO DE MADEIRA
Q9 MEIO AMBIENTE
Q10 TURISMO
Q11 ABASTECIMENTO DE ÁGUA, ESGOTAMENTO SANITÁRIO E SANEAMENTO
Q12 SAÚDE E EDUCAÇÃO
Q13 QUAIS SÃO HOJE, NA SUA OPINIÃO, OS PRINCIPAIS CONFLITOS PRESENTES NA
REGIÃO?
Q14 QUAL SUA OPINIÃO GERAL SOBRE A IMPLANTAÇÃO DA RESERVA BIOLÓGICA DAS
NASCENTES NA REGIÃO PRÓXIMA DO VALE DO XV?
E QUAIS SÃO OS RESULTADOS, AS CONSEQÜÊNCIAS, POSITIVAS OU NEGATIVAS, QUE A
IMPLANTAÇÃO DA RESERVA BIOLÓGICA DAS NASCENTES TERÁ PARA A REGIÃO?
Q15 RESULTADOS POSITIVOS
Q16 RESULTADOS NEGATIVOS
Q17 QUAIS DEVERIAM SER AS DIRETRIZES E PRIORIDADES PARA O PLANO DE MANEJO
DA RESERVA BIOLÍGICA DAS NASCENTES?
Q18 COMO O SR(A) AVALIA O DESEMPENHO DOS ÓRGÃOS E INSTITUIÇÕES QUE ESTÃO
ATUANDO NA ÁREA DE MEIO AMBIENTE NA REGIÃO? (Identificar qual o órgão ou órgãos aos
quais se refere a avaliação – especificar órgão a órgão se for o caso)
Q19 QUAIS AS MODIFICAÇÕES OU NECESSIDADES QUE, AO SEREM ATENDIDAS,
MELHORARIAM A ATUAÇÃO DOS ÓRGÃOS DA ÁREA AMBIENTAL NA REGIÃO?
Q20 EM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO, O SR(A) CLASSIFICARIA A SITUAÇÃO ATUAL
DO SEU MUNICÍPIO COMO
Q21 POR QUE AVALIA DESTA FORMA? QUAIS OS ASPECTOS, AS CARACTERÍSTICAS MAIS
IMPORTANTES DA SITUAÇÃO ATUAL DE DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO?
Q22 NA SUA OPINIÃO, QUAIS SÃO OS MAIORES PROBLEMAS DOS MUNICÍPIOS E DAS
COMUNIDADES DA REGIÃO ATUALMENTE? (APROFUNDAR MAIS SE RELACIONADO AOS
RECURSOS HÍDRICOS DIRETAMENTE)
Q23 NA SUA OPINIÃO, QUAL É OU QUAL DEVERIA SER O TIPO DE DESENVOLVIMENTO
MAIS ADEQUADO PARA O MUNICÍPIO? (Descrever o processo que resultaria na situação ideal
de desenvolvimento. Se for o atual descrever sua visão das características atuais do
desenvolvimento que o tornam adequado ao município)
Q24 QUAIS SERIAM AS DIRETRIZES
DESENVOLVIMENTO PARA A REGIÃO?
E
PRIORIDADES
PARA
UM
PROJETO
DE
2.6.10. QUESTIONÁRIO PRODUTORES APLICADO NA REGIÃO DA RESERVA
BIOLÓGICA DAS NASCENTES
PRODUTOR:
PESSOAS RELACIONADAS COM A PROPRIEDADE E O PROPRIETÁRIO
Utilizar uma coluna para cada pessoa
(...)
(anotar 1º nome para facilitar)
Q1 Parentesco / relação com o proprietário:
1 Proprietário 2 Cônjuge 3 Filho
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4 Outro parente 5 Empregado 6 Outro
Q2 Reside na propriedade 1 Sim 2 Não
Q3 Se envolve com trabalho na propriedade 1 Sim 2
Não
Q4 Grau de instrução
1. Até 4ª série 2. De 5ª a 8ª 3. 2º grau 4. Superior
Q5 Idade
Q6 Tempo que reside na região (anos)
Q7 Tempo que está nesta ou em
outras propriedades (na área de estudo)
DISTRIBUIÇÃO DA ÁREA DA PROPRIEDADE
Q8 Área total
Q9 Agricultura
Pecuária Q10 campo nativo
Q11 pastagem plantada
Matos:
Q12 nativo
Q13 Plantado: Espécie________________
Q14 Várzea e banhado:
Q15 Outros:
Hectares
Q16 Cultura (colocar o nome e utilizar uma coluna para 1
cada cultura)
Q17 Área plantada ou a ser plantada
Q18 Sistema 1.Rudimentar 2.Consórcio 3.Convencional
4.Direto 5.Muda 6.Pré-germinado 7.Estufa
Q19 Utilizou adubação nesta lavoura
1.Adubo mineral 2. Adubo orgânico 3. Não
Q20 Recebeu assistência técnica 1.Emater
2.Fornecedor/agropec. 3.Associações/coop./ONGs
4.Contratada particular 5.Não
Q21 Origem dos recursos financeiros para plantio
1.Próprios 2.Banco 3.Outras instituições 4.Terceiros
particular
Q22 Destino 1.Mercado 2.Consumo e venda excedente
3.Só consumo
(Se destino mercado ou excedente) Comercializa
1.Sim
2.Não
Q23 Direto consumidor
Q24 Intermediário, atacadista
Q25 Varejo, comércio
Q26 Indústria, agroindústria
2
3
1.Sim
2.Não
1.Sim
2.Não
Q27 QUAIS DESTES EQUIPAMENTOS SÃO UTILIZADOS EFETIVAMENTE EM SUA
PROPRIEDADE
[
] TRATOR ESTEIRA
[
] TRATOR PNEU
[
] COLHEITADEIRA MECÂNICA
[
] CAMINHÃO
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[
[
] PULVERIZADOR DE TANQUE
] ARMAZEM /DEPÓSITO /PRÉDIO DE BENEFICIAMENTO PRÓPRIO
Q28 Espécie animal
Q29 Tipo 1.Cria 2.Recria 3.Engorda 4.Leite 5.Ovos
Q30 Nº de cabeças
Q31 Destino
1.Mercado 2.Consumo e venda excedente 3.Só consumo
Utiliza como alimento neste rebanho
1
2
3
1.Sim 1.Sim 1.Sim
2.Não 2.Não 2.Não
Q32 Ração industrial comprada
Q33 Ração própria feita com triturador, desintegrador
Q34 Pasto, resteva, alimentos sem beneficiamento
Q35 Resíduos de outras culturas ou animais
Q36 Recebeu assistência técnica 1.Emater 2.Fornecedor/agropecuária
3.Associações/coop./ONGs 4.Contratada particular 5.Vigilância sanitária 6.Não
Q37 Origem dos recursos financeiros para criação 1.Próprios 2.Banco 3.Outras
instituições 4.Terceiros particular
Q38ALÉM DA ATIVIDADE AGROPECUÁRIA, SÃO DESENVOLVIDAS ALGUMAS DAS
SEGUINTES ATIVIDADES COM O OBJETIVO DE OBTER MAIOR RENDIMENTO PARA A
MANUTENÇÃO DA FAMÍLIA?
[
] ARRENDAMENTO PARA AGRICULTURA
[
] ARRENDAMENTO PARA PECUÁRIA
[
] COLETA DE ALGUM PRODUTO SILVESTRE (Se sim)
QUAL?_________________________
[
] PRODUÇÃO DE DOCES, QUEIJOS, BISCOITOS, ETC.
[
] CORTE DE MADEIRA PARA VENDA
Q39 QUAIS ATIVIDADES PRODUTIVAS OU PROFISSIONAIS, ALÉM DO TRABALHO NA
PROPRIEDADE, QUE O SR(A) OU ALGUÉM DE SUA FAMÍLIA PARTICIPA?
Q40 QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS INVESTIMENTOS QUE VOCÊ REALIZOU EM SUA ÁREA?
(ANOTAR AS QUANTIDADES, POR EXEMPLO FORMAÇÃO DE 200 HECTARES DE PASTO,
ABERTURA DE ACESSO DE 3 KM PELA MATA, NÚMERO DE PRÉDIOS, GALPÕES, CURRAIS,
ETC.)
Q41 O QUE MOTIVOU VOCÊ A VIR ATÉ AQUI? CONTE RAPIDAMENTE SUA HISTÓRIA ATÉ O
MOMENTO ATUAL (APROFUNDAR).
Q42 NA SUA OPINIÃO, QUAIS SÃO OS MAIORES PROBLEMAS DOS MUNICÍPIOS E DAS
COMUNIDADES DA REGIÃO NO MOMENTO ATUAL? (APROFUNDAR)
Q43 QUAIS AS SOLUÇÕES PARA ESTES PROBLEMAS? (APROFUNDAR)
Q44 EM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO, O SR(A) CLASSIFICARIA A SITUAÇÃO ATUAL
DO SEU MUNICÍPIO COMO
Q45 NA SUA OPINIÃO, QUAL É OU QUAL DEVERIA SER O TIPO DE DESENVOLVIMENTO
MAIS ADEQUADO PARA O MUNICÍPIO?
Q46 O SR(A) OU ALGUÉM DE SUA FAMÍLIA PARTICIPA DE ALGUMA ATIVIDADE
COOPERATIVADA PARA PRODUÇÃO? QUAL E DE QUE FORMA OS PRODUTORES
PARTICIPAM DA COOPERATIVA?
Q47 EXISTE ALGUM GRUPO COMUNITÁRIO AQUI NA REGIÃO? O SR(A) OU ALGUÉM DE
SUA FAMÍLIA PARTICIPA?
Q48 QUAL SUA OPINIÃO SOBRE A IMPLANTAÇÃO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DA
RESERVA DA NASCENTES? (APROFUNDAR SOBRE QUAIS AS PRINCIPAIS
PREOCUPAÇÕES EM RELAÇÃO A ELA)Q49 SUPONDO QUE A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
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DA RESERVA DA NASCENTES VENHA A SER IMPLANTADA EFETIVAMENTE, O QUE
DEVERIA SER FEITO PARA COMPENSAR AS PERDAS DOS PRODUTORES E DAS PESSOAS
QUE POSSUEM POSSES NA ÁREA? (APROFUNDAR SOBRE QUAIS AS SOLUÇÕES
POSSÍVEIS COM A IMPLANTAÇÃO DELA)
Q50 NA SUA OPINIÃO EXISTEM PROBLEMAS AMBIENTAIS NA REGIÃO? QUAIS? (DETALHAR
CADA ITEM – HISTÓRICO, ENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE, CAUSAS E
CONSEQÜÊNCIAS...)
Q51 QUAIS AS INICIATIVAS QUE DEVERIAM OU ESTÃO SENDO TOMADAS PARA
SOLUCIONAR OS PROBLEMAS AMBIENTAIS INDICADOS? (RELACIONAR PROBLEMA
INDICADO COM SOLUÇÃO)
A PARTIR DESTAS ÚLTIMAS QUESTÕES, PROVOCAR QUESTIONAMENTOS E REGISTRAR
OPINIÕES DO ENTREVISTADO SEM ROTEIRO PRÉ-DETERMINADO.
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