ESTUDO DE 3 CASOS DO MÉTODO PILATES NA HÉRNIA DISCAL

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ESTUDO DE 3 CASOS DO MÉTODO PILATES NA HÉRNIA DISCAL
ESTUDO DE 3 CASOS DO MÉTODO PILATES NA HÉRNIA DISCAL
Fabiana Cardoso de Quadros1; Karine Jones dos Santos2; Msc. Ralph Fernando Rosas3
Introdução: A hérnia de disco consiste na propulsão de parte do núcleo pulposo através
do anel fibroso, envolvendo tipicamente um disco que demonstre sinais de degeneração
prévia. O Método Pilates no tratamento da hérnia discal busca o equilíbrio funcional da
musculatura envolvida na coluna trabalhando força, alongamento, flexibilidade e
equilíbrio, alongando os tônicos e contraindo os dinâmicos para garantir a melhora das
compensações preocupando-se em manter as curvaturas fisiológicas do corpo. A dor
lombar tem uma grande incidência dos 40 anos de idade em diante. Objetivo: Analisar
a eficácia do Método Pilates na flexibilidade em pacientes com hérnia de disco lombar.
Materiais e métodos: A população foi composta de todas as pacientes mulheres com
idade entre 40 e 50 anos diagnosticadas com hérnia discal lombar que constavam na
lista de espera da Clínica de Fisioterapia da Unisul de Tubarão. Foram avaliados 10
pacientes, contudo, 7 foram excluídas do estudo pois faltaram mais de 1 consulta. A
amostra então foi composta por 3 indivíduos. Foi medida a flexibilidade através do
Banco de Wells (BDW). Foram feitas dez consultas de tratamento, com uma avaliação e
uma reavaliação em separados. Foi realizado o teste de Wilcoxon (α=0,05) para a
análise dos valores iniciais e finais do BDW. Resultados: todas as pacientes obtiveram
melhora bruta na flexibilidade apesar de 1 delas obter ganho mínimo. Ao teste
mencionado, não houve diferença estatística no BDW (p=0,11), portanto, o método
Pilates não melhorou a flexibilidade da amostra estudada.
Palavras-chave: Hérnia de disco. Terapia por exercício. Fisioterapia.
_____________________
1 Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Unisul. Bolsista do artigo 170-pesquisa. Email: [email protected].
2 Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Unisul. Auxiliar de Iniciação Científica para
coleta de dados do estudo 170-pesquisa. E-mail: [email protected].
3 Professor do Curso de Fisioterapia da Unisul. E-mail: [email protected].
Introdução
A hérnia discal lombar é o diagnóstico mais comum dentre as alterações degenerativas
da coluna lombar e a principal causa de cirurgia de coluna na população adulta
(VIALLE et al., 2010).
A hérnia discal ocorre principalmente entre a quarta e quinta década de vida (idade
média de 37 anos), apesar de ser descrita em todas as faixas etárias (MAYER;
MELLEROWICZ; DIHLMANN, 1996; OBUKHOV, 1996).
Estima-se que 2 a 3% da população possam ser afetados, com prevalência de 4,8% em
homens e 2,5% em mulheres, acima de 35 anos. Por ser tão comum, chega a ser
considerada um problema de saúde mundial, em decorrência de incapacidade que gera
(SEGURA; ENRIQUE; ROBERTO, 2012).
As patologias que afetam a coluna são cada vez mais comuns no dia a dia. Elas estão
ligadas ao estilo de vida e em particular com o uso comum de automóveis, ônibus,
guindastes e esforços que envolvem levantamento de cargas (IZAMBERT et al., 2003).
Os princípios do método Pilates (PMP) têm sido extensivamente usados como
tratamento da dor lombar. Os exercícios podem ser realizados com um aparato
específico ou sem (Mat Pilates). Oito princípios básicos são considerados essenciais:
respiração diafragmática, controle, concentração, centralização, precisão, fluidez, força
e relaxação (MAURÍCIO et al., 2013).
Os estudos têm comparado os efeitos do Pilates com grupos controles de indivíduos
saudáveis. Os resultados têm um aumento significante na flexibilidade, composição
corporal e resistência abdominal e dos músculos extensores do tronco (GISELA et al.,
2011).
Dessa forma, pelo que foi dito acima, surge um problema: PMP melhoram
significativamente a flexibilidade em pacientes com hérnia lombar?
Houve a necessidade em realizar este estudo devido a muitos relatos de pessoas que
possuem diagnóstico clínico de hérnia de disco lombar (HDL). São realizados diversos
tipos de tratamentos fisioterapêuticos com intuito de aliviar a dor e consequentemente
estagnar a hérnia de disco. Viu-se que esse método tem bastante influência na coluna
vertebral com isso ajudando no alívio de dores.
Sabendo que a Academia Americana de Ortopedia define a postura como o estado de
equilíbrio entre músculos e ossos com capacidade para proteger as demais estruturas do
corpo humano de traumatismos, seja na posição em pé, sentada ou deitada, esse estudo
visa mostrar o método Pilates e os benefícios que ele pode proporcionar às pessoas que
possuem o diagnóstico clínico de HDL como um método de tratamento fisioterapêutico.
A cada dia que passa o método Pilates está cada vez mais sendo usado e este estudo
pode ser mais uma fonte de informação para acadêmicos, profissionais e cidadãos.
Assim sendo, o objetivo geral deste trabalho foi analisar a efetividade de PMP na
flexibilidade de pacientes com HDL.
Metodologia
Este estudo foi do tipo estudo de casos. Foi realizado na Clínica Escola de Fisioterapia
da Universidade do Sul de Santa Catarina (CEFU). A pesquisa foi enviada para
apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Plataforma Brasil
(RES. 466/2012) e aprovada. Todos os participantes foram informados sobre os
procedimentos da pesquisa e assinarão um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
A população foi composta de todas as mulheres com diagnóstico de hérnia de disco
lombar presentes na lista de espera da Clínica Escola de Fisioterapia da Unisul (CEFU)
entre 40 e 50 anos. A amostra foi composta por 3 pacientes com o diagnóstico citado
que preencheram os seguintes critérios:
→ Inclusão: diagnóstico médico de hérnia de disco há pelo menos seis meses na região
lombar; idade de 40 a 50 anos.
→ Exclusão: faltar mais de 1 consulta, cirurgias prévias de coluna e dos membros
inferiores nos últimos 4 anos, índice de massa corporal que não seja grau III (obeso),
não praticar atividade física; apresentar condições que limitem ou incapacitem a
realização das atividades propostas, hérnia de disco em outras regiões da coluna, e ser
portador de doenças neurológicas e/ou neoplásicas.
Foram avaliadas 10 mulheres, mas 7 delas foram cortadas do estudo pois tiveram mais
de uma falta.
Foi feito um consulta inicial de avaliação, 10 consultas de um programa de treinamento
e 1 consulta final de reavaliação.
Foram utilizados os seguintes instrumentos para a coleta de dados: uma ficha de
avaliação (com os dados administrativos do indivíduo) e o banco de Wells (BDW)
(descrito abaixo).
Será feito também realizado a avaliação de flexibilidade utilizando o BDW, para
realizar o teste de flexibilidade, disponível na CEFU. Caracterizado por uma caixa de
madeira especialmente construída apresentando dimensões de 30,5 x 30,5 centímetros,
tendo a parte superior plana com 56,5 centímetros de comprimento, na qual é fixada de
medida sendo que o valor 23 coincide com a linha onde o avaliado deverá acomodar
seus pés. O avaliado deverá flexionar o tronco sobre o quadril, empurrando o taco de
madeira sobre a caixa que possui uma fita métrica milimetrada. Serão realizadas três
vezes este procedimento, e considerar-se-á a maior distância atingida.
A coleta será realizada nos períodos de setembro de 2013 a junho de 2014,. O programa
de PMP será realizado da seguinte forma: com uma frequência semanal de duas vezes
por semana com duração de 45 minutos, realizado sempre no horário de 18:00h (para
minimizar possíveis alterações circadianas). Realizar-se-á alongamentos de ísquiostibiais, roll-up, roll-over, bridge, one straight leg stretch ou tesoura, jacknife, spine
stretch, swan, spine twist, side kick, rocking, push-up, cat, rest position e double straight
leg stretch conforme descrito Ungaro (2009).
Para analisar os testes de flexibilidade antes e depois da aplicação dos PMP foi usado o
teste de Wilcoxon (α = 0,05). Os dados foram compilados no Microsoft Excel® e o
software usado para o teste estatístico foi o PAST®. O resultado final será divulgado aos
indivíduos que participaram e apresentados na Jornada de Iniciação Científica da
Unisul.
Resultados
Foram realizadas 10 consultas de PMP nas 3 pacientes mencionadas, 3 vezes por
semana, das 18 às 19h, na sala de mecanoterapia da CEFU.
As pacientes tinham média de idade 46,5 anos (±2,5 anos), sendo o valor
mínimo 43,63 anos e o valor máximo 48,24 anos.
Na Tabela 1, encontra-se os valores das 3 pacientes e sua estatística descritiva.
Tabela 1 – Idade.
Valor
Paciente 1
47,63
Paciente 2
43,63
Paciente 3
48,24
Média
46,50
Moda
ND
Mediana
47,63
Desvio-padrão
2,50
Mínimo
43,63
Máximo
48,24
Fonte: dados coletados pelo pesquisador (2014).
Na Tabela 2 abaixo, encontra-se a estatística descritiva sobre os valores do BDW
das pacientes.
Tabela 2 – BDW.
AVALIAÇÃO
REAVALIAÇÃO
Paciente 1
13,5
37,5
Paciente 2
24
37,5
Paciente 3
37,5
39,5
Média
25
38,16
Moda
ND
37,5
Mediana
24
37,5
Desvio-padrão
12,03
1,15
Mínimo
13,5
37,5
Máximo
37,5
39,5
Fonte: dados coletados pelo pesquisador (2014).
O teste de Wilcoxon não encontrou diferença estatística entre a avaliação e a
reavaliação, tendo como resultado um p igual a 0,11. Contudo, vê-se pelos dados brutos
que todas as pacientes melhoraram sua flexibilidade ao BDW e que a variação, medida
pelo desvio-padrão, na reavaliação foi pequena, mostrando que as pacientes tinham
flexibilidades próximas ao fim das 10 consultas de tratamento.
O gráfico abaixo simplifica a visualização dos dados apresentados na tabela
acima.
Gráfico 1 - BDW.
45
BDW, à avaliação e reavaliação, em cm
40
37.5
39.5
37.5
35
30
25
Paciente 1
24
Paciente 2
20
15
Paciente 3
13.5
10
5
0
Avaliação
Reavaliação
Fonte: dados coletados pelo pesquisador (2014).
Discussão
Os resultados obtidos no presente estudo demonstraram que o PMP aplicados ao
tratamento da HDL em pacientes mulheres acima de 40 anos não melhorou
estatisticamente a flexibilidade das 3 pacientes do estudo.
De acordo com Molinari (2000), a flexibilidade é um importante aliado na
correção postural, pois hábitos posturais estão intimamente ligados á limitação da
amplitude das articulações da extensibilidade dos músculos e da plasticidade dos
ligamentos e tendões. Os autores abaixo relacionados conferem que o método Pilates é
um programa completo de condicionamento físico e mental, uma técnica dinâmica que
visa trabalhar força, alongamento, flexibilidade e equilíbrio, preocupando-se em manter
as curvaturas fisiológicas do corpo (MUIRHEAD, 2004; MIRANDA; MORAIS, 2009;
SACCO et al., 2005; BERTOLLA et al., 2007).
O sistema básico do Pilates inclui um programa de exercícios que fortalecem a
musculatura abdominal e paravertebral, bem como os de flexibilidade da coluna, além
de exercícios para o corpo todo. Já no sistema intermediário-adiantado são introduzidos,
gradualmente, exercícios de extensão do tronco, além de outros exercícios para o corpo
todo, procurando melhorar a relação de equilíbrio agonista-antagonista (KOLYNIAK et
al., 2004).
Não obstante ao resultado encontrado neste estudo, Phrompaet et al. (2011)
encontraram melhor flexibilidade em um grupo após ser tratado com os PMP do que
um grupo controle que não realizou nenhum tipo de tratamento . No tocante à
flexibilidade, que é o que este estudo avaliou, não foi possível obter melhora da
flexibilidade nas 3 pacientes do estudo, mas não houve comparação com um grupo
controle e foi usado outro teste para medir a flexibilidade que não o BDW.
Conclusão
A partir dos dados obtidos neste estudo, pode-se comprovar que, neste e estudo
os PMP aplicados ao tratamento da HDL em pacientes mulheres acima de 40 anos não
foram efetivos.
Diante disso, enfatiza-se a importância da realização de mais estudos na área,
com um número maior de indivíduos participantes, e inclusive talvez por mais tempo,
pois foi uma limitação desse estudo o pequeno número da amostra já que houve um
grande número de exclusões.
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Ungaro A. Pilates ao seu alcance. São Paulo: Marco Zero, 2009. 128p.
FOMENTO
O trabalho teve a concessão de Bolsa concedida pela Secretaria do Estado da
Educação de Santa Catarina - SED, pela Bolsa de Pesquisa do Artigo 170 da
Constituição Estadual de Santa Catarina.

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