Untitled - Centro Alberto Manzi

Transcrição

Untitled - Centro Alberto Manzi
ALBERTO MANZI,
história de um mestre multicultural
Cinquenta anos após a série de TV
“Nunca é tarde demais”, Alberto Manzi, mestre dos italianos por excelência,
continua a nos interpelar. Mas não o
faz somente com a Itália e seu mundo
pedagógico. O seu trabalho foi imbuído de um profundo sentido universal,
que se manifestava periodicamente
nas suas viagens pela América Latina.
E, nas terras andinas e amazônicas,
Alberto Manzi tentou acompanhar o
povo humilde no difícil caminho de
resgate pessoal, que consiste em “dar
a palavra.”
Dar voz aos adultos analfabetos é
reconhecer a dignidade de cada ser
humano. A timidez dos mais simples, o sentimentos de inferioridade,
a impossibilidade de se expressar
livremente, a incapacidade de fazer
valer os próprios direitos: eis aqui as
formas de “escravidão” mais mascaradas das nossas sociedades democráticas e modernas.
Alberto Manzi ofereceu este resgate em seu curso de alfabetização para
adultos na RAI, a televisão pública ita-
liana. Ele era um grande comunicador,
mas também um escritor, apresentador de televisão, roteirista, poeta, diretor e artista. Sua vida foi realmente um
exemplo de sua versatilidade.
Alberto Manzi nos ensinou a ler,
escrever e falar. Ele nos ensina hoje,
ainda, por meio de seus escritos e
seus vídeos, a refletir, pensar, raciocinar. Usando suas próprias palavras,
“a colocar-se livremente na sociedade.”
A tradução para o português da exposição ALBERTO MANZI, A HISTÓRIA
DE UM PROFESSOR, é um “muito obrigado” a esse educador que navegou os
mares da humanidade, com o claro
objetivo de torná-la melhor do que ele
havia encontrado.
Maria Pia Calisti
Consul da Itália em Belo Horizonte
Gianfranco Zavalloni
Diretor do Departamento de Educação do
Consulado da Itália em Belo Horizonte
ALBERTO MANZI,
storia di un maestro multiculturale
A 50 anni dall’inizio della trasmissione “Non è mai troppo tardi”, Alberto Manzi, il maestro degli italiani per
eccellenza, ci continua ad interpellare. Ma non lo fa solo con l’Italia e il
suo mondo pedagogico. Il suo lavoro
era impregnato di un profondo senso
universale, che si manifestava periodicamente nei suoi viaggi in America
Latina. E nelle terre andine e amazzoniche, Alberto Manzi cercava di accompagnare le persone umili in quel
difficile percorso di riscatto personale
che consiste nel “padroneggiare la parola”.
Dare la parola ad adulti analfabeti
vuol dire riconoscere la dignità umana di ciascun essere. La timidezza
dei semplici, il senso di inferiorità,
l’impossibilità ad esprimersi liberamente, l’incapacità di ribadire i propri
diritti: ecco le forme di “schiavitù” più
subdole delle nostre società democratiche e moderne.
Alberto Manzi ha offerto questo
riscatto nel suo corso di alfabetizzazione per adulti nella RAI, la TV pub-
blica italiana. Era un grande divulgatore, ma anche scrittore, conduttore
televisivo, sceneggiatore, regista, poeta e artista. La sua vita è stata davvero
un esempio di quella sua poliedricità.
Alberto Manzi ci ha insegnato a leggere, scrivere e parlare. E ci insegna
ancor oggi, attraverso le sue testimonianze scritte e video, a riflettere,
a pensare, a ragionare. Usando le parole stesse di Alberto “ad immetterci
con libertà nella società”.
La traduzione in portoghese della
mostra ALBERTO MANZI, STORIA DI
UN MAESTRO, vuol essere un “grazie”
a questo educatore che ha solcato i
mari dell’umanità, col chiaro intento
di renderla migliore di come l’aveva
trovata.
Maria Pia Calisti
Console d’Italia a Belo Horizonte
Gianfranco Zavalloni
Dirigente Scolastico
Ufficio Scuola e Cultura
Consolato d’Italia di Belo Horizonte
1 | O estudante
Alberto Manzi
Alberto Manzi nasceu em Roma
no dia 3 de novembro de 1924, filho de
Ettore Manzi, motorneiro, e de Maria,
dona de casa. Alberto teve também
uma irmã chamada Elena. Alberto
Manzi teve, com sua primeira esposa Ida, quatro filhos: Alda, Massimo,
Roberta e Flavia. No seu segundo
casamento, com Sonia Boni, teve outra filha chamada Giulia. Com estas
últimas mudou-se em 1986 de Roma
para a cidade de Pitigliano, na província de Grosseto.
Ainda existem as primeiras fotografias do álbum de família, os livros e
os boletins escolares de Alberto Manzi.
Estes últimos com sua apresentação
gráfica e seu conteúdo são documentos interessantes - devido ao “estilo de
época” - e também como curiosidade
sobre o professor, quando este era
ainda um estudante. É divertido notar
como as notas de cada matéria no
final de cada ano eram “Louvável” exceto
em “Desenho e Caligrafia”, onde o resultado era apenas “Bom”.
Há muito tempo Alberto Manzi
já demonstrava que os boletins e as
fichas de avaliação raramente são
confiáveis.
2 | “Eu queria ser capitão...”
“O meu sonho de rapaz era ser
Capitão de Longo Curso, e por isso
estudei no Instituto Náutico, mas simultaneamente fazia o Magistério.
[...] Frequentava o Instituto Náutico
porque gostava [...] mas sempre pensando em ser professor”.
Alberto Manzi se diplomou em
1942.
Durante a Segunda Guerra Mundial prestou serviço nos submarinos da Marinha Militar Italiana e,
após 1943, ingressou no Batalhão
de Desembarque San Marco, divisão
agregada à VIII Armada Inglesa.
“Lutando na guerra descobri que
muito do que acreditava valesse à
pena ser vivido era apenas falsidade
[...] Principalmente após a experiência da guerra, a idéia fixa que eu tinha
era a de ajudar os jovens [...] renovar
um pouco a escola, para mudar certas
coisas que não me agradavam”.
[extraído da entrevista gravada em
vídeo em 13 de junho de 1997, concedida a Roberto Farné e inteiramente
transcrita em E. Morgagni [organizado
por] Adolescenti e dispersione scolastica, Carocci, Roma, 1998]
3 | Sermos homens
Alberto Manzi foi também um poeta. Os seus primeiros escritos tem a
forma e a métrica da poesia. Manuscritos em blocos de anotações e em
cadernos, posteriormente transcritos à máquina, com cópias feitas em
papel de seda: o arquivo do Centro
Alberto Manzi conserva alguns desses
escritos, que documentam a ebulição
no espírito passional - mas já bem
formado - de Alberto Manzi aos dezoito
anos. Não o intimismo do próprio “eu”
mas, ao contrário, o lirismo alimentado por um forte idealismo patriótico e civil [amor à Pátria, à bandeira,
honrarias a quem morre pelos ideais
comuns] se misturam com poesia
de análise atenta da sociedade e dos
vícios dos homens [italianúnculos],
com rimas de forte sotaque satírico,
num dialeto romano que remete naturalmente ao poeta Trilussa.
Manzi retornará à poesia escrita entre 1983 e 1984, com 16 poesias
dedicadas à mulher Sonia [publicação
póstuma em Essere uomo, Edizioni
Laurum, Pitigliano, 1998]. Poesia de
afeto mas, mais uma vez - fechando
um círculo da sua vida - Manzi rebate
os “fundamentos” da sua visão da vida
e do homem:
... porque assim seremos um,
sós, sob a sola do poder,
mas nós, todos, um, uno, múltiplo,
que cantamos a alegria
de sermos homens
(11/06/83)
4 | A escola do cárcere
Após a guerra e a graduação em
Biologia, entre 1946 e 1947, Alberto
Manzi foi “jogado” para ensinar no
cárcere de menores “Aristide Gabelli”
de Roma. Era uma sala enorme, sem
bancos, sem cadeiras, sem livros.
Sem nada. Havia 94 jovens, dos 9 aos
17 anos [pois aos 18 anos passavam
para o Regina Coeli], com níveis de
alfabetização e histórias diferentes.
Era uma turma difícil. Alberto Manzi
conseguiu obter a atenção dos alunos contando a história de um grupo de castores que lutava para salvar a própria liberdade. Funcionou.
Os jovens encarcerados escreve-
ram juntos a própria história e até a
encenaram. Por isso Alberto Manzi
reescreveu o seu primeiro romance:
Grogh, storia di un castoro (Grogh,
história de um castor). Em 1948 foi
agraciado com o premio “Collodi” para
trabalhos inéditos. Dois anos depois
foi publicado pela editora Bompiani.
Foi traduzido em 28 línguas e, em 1953,
a RAI elaborou uma resenha radiofônica do livro.
No cárcere “Gabelli” Alberto Manzi
deu vida, junto com os jovens, a “La
tradotta” o primeiro jornal mensal
redigido e impresso pelos internos de
um instituto penal.
5 | O que está errado
na escola de hoje
Alberto Manzi, no seu ofício de
professor, transbordava entusiasmo,
método, vontade de experimentar e
de recolocar continuamente tudo em
discussão e em jogo. Sua relação com
a instituição e com a hierarquia escolar nunca foi arrebatadora. Nem com o
poder em geral.
O mestre Alberto Manzi tinha idéias
- e ideais - muito claros. Enxergava
como as coisas infelizmente aconteciam - ou não aconteciam - tanto nas
escolas urbanas quanto nas rurais e o
que poderia acontecer, somente se...
ou se não...
Em 1950 escreveu uma feroz
“Carta aberta ao senhor Gonella,
Ministro da Instrução Pública” e duas
páginas de “Temas sobre a escola de
hoje”: a desanimada e desanimadora
radiografia de um doente que nunca
foi “imaginário”: ... São talvez maus
pensamentos... envenenados pela bílis
de um fígado podre.
Escola de hoje: a ruína de um próximo futuro.
O mal está na raiz, no tronco e nos
ramos: generalizado.
Está nos mestres, nos diretores,
nos inspetores, no ministro.
É assim que as nações prisões
regurgitam os menores.
Mestres despreparados e que não
querem se preparar inundam a escola,
arrastando os poucos honestos...
“Você está preparado?”
“Não. O que me importa?
Eu conheço o fulano...”
6 | Orzowei! Orzowei!
Em 1954 Manzi escreveu Orzowei e
venceu o “Prêmio Firenze” para obras
inéditas do Centro Didático Nacional.
No ano seguinte foi publicado pela
editora Vallecchi de Firenze e em 1956
entrou para o catálogo da editora Bompiani. No mesmo ano venceu o prêmio
internacional “H. C. Andersen”. Orzowei foi traduzido em 32 línguas.
Isa é um orzowei - uma criança
branca abandonada - e não saberemos nunca por quem - na tribo dos
Zulus.“... ali o excluído, o marginalizado,
o enganado e o insultado é um rapaz
branco numa aldeia de negros [...]
após tantas... caras vermelhas, caras negras, caras amarelas, eis [...]
uma cara branca”. Uma grande idéia.
Mais atual e eficaz do que quando foi
utilizada pelo autor deste livro”.
(A. Faeti, na introdução da 2a edição de Orzowei, na coleção “I Delfini”
da Fabbri Editori, Milano 2000)
7 | Orzowei gadget
Orzowei foi um estrondoso sucesso internacional. Em 1980 a RAI, em
uma co-produção com a Oniro Film,
conseguiu fazer 13 episódios para uma
versão reduzida para TV e uma versão
para o cinema. Até mesmo os mais
jovens se recordam da trilha sonora,
gravada em discos de 33 e 45 rpm, com
ótimos resultados de bilheteria. Isa,
o orzowei, o branco “achado” entre os
negros e rejeitado por todos, morreu
implorando que brancos e negros se
entendessem - apesar da cor da pele
e da tribo - tornou-se o herói de uma
outra geração. Com o seu arco, com a
flecha engatilhada ou por engatilhar e
a pele do leopardo em destaque, nos
cartazes dos cinemas e nas capas dos
discos, nos encartes para se recortar,
nas fotonovelas juvenis, nos pôsteres
e nos livros, ilustrados com as imagens das versões para a televisão de
Orzowei em todo o mundo.
8 | Mestre, e muito mais,
na América do Sul
No verão de 1955 Alberto Manzi,
que também era biólogo e naturalista, com especialização em Geografia,
recebeu da Universidade de Genebra uma missão de pesquisas científicas na floresta amazônica. “E lá
fui eu [...] para estudar uma espécie
de formiga. Mas descobri tantas outras coisas que, para mim, valeram
muito mais. Descobri a vida dura dos
nativos, mantidos na ignorância para
que, mais fracos, seu trabalho fosse
melhor desfrutado. Todos os verões,
por mais de 20 anos Alberto Manzi ia
para a floresta amazônica. Ensinava
aos índios a ler e a escrever sozinho,
ou com a ajuda de estudantes universitários e posteriormente com o apoio
de missionários Salesianos. Deu ainda
impulso às cooperativas agrícolas e
conduziu os agricultores para pequenas atividades empresariais. Acusado
pelas autoridades de ser um “guevarista” associado aos subversivos, foi
preso e torturado, declarado “persona
non grata”, continuou suas viagens
clandestinamente até 1984.
As suas experiências sul-americanas revivem toda a sua densa realidade nos romances La luna nelle baracche [1974], El loco [1979], E venne
il sabato [2005], Gugù [2005].
9 | “Nunca é tarde demais”,
da Argentina
Em 1987 Alberto Manzi foi convidado a ministrar um curso de formação de 60 horas para os docentes universitários que deveriam elaborar o
“Plano Nacional de Alfabetização” que
o governo argentino queria implementar baseado no modelo de “Non è mai
troppo tardi” (Nunca é tarde demais).
Entre 16 a 25 de setembro, Manzi foi
o ilustre docente do curso. Dele res-
taram anotações detalhadas e muito
interessantes que confirmam a organização e a clareza com as quais Manzi
desenvolvia os temas e os trabalhos.
Em 1989 a Argentina, graças ao
mestre italiano, recebeu o reconhecimento da ONU e um prêmio internacional para o melhor programa de
alfabetização adotado em toda a América do Sul.
10 | Mestre, também no radio
Em 1951 Alberto Manzi venceu
um prêmio por um conto para jovens
apresentado no radio. Desde então
estabeleceu uma constante colaboração com a “Radio per le scuole” (Radio
para as escolas), que durou 40 anos,
de 1956 até 1996. Mas já em 1950,
Alberto Manzi havia idealizado para
a transmissão de “Il vostro racconto”
(A história de vocês). Era um romance
que seria escrito em capítulos, com
a contribuição da narrativa dos jovens ouvintes da radio, cujo título era
“Il tesoro di Zi Cesareo” (O Tesouro do
Tio Cesareo), que ele tinha escrito o
capítulo inicial.
Há muito tempo Alberto Manzi
compreendera o potencial da mídia
radiofônica: era um eficaz parceiro
didático e científico, ideal para es-
timular a fantasia e a criatividade.
A limitação da ausência de imagens
torna-se oportunidade de sugestões,
de promoções para os livros e a leitura,
de conhecimento e de aprofundamento da língua italiana. Manzi foi o autor
e o apresentador de transmissões
radiofônicas. Escreveu e re-elaborou
fábulas para crianças, textos científicos, didáticos e culturais. Experimentou a mídia radiofônica com crianças
pequenas e com adultos, com os italianos
emigrados e com seus filhos. Em 1996
as 40 transmissões de “Curiosità della
lingua italiana” (Curiosidades da língua italiana) - destinadas aos italianos que vivem no exterior e para os
estrangeiros que estudam o italiano
- foram a sua última colaboração com
a Radio RAI.
11 | Nunca é tarde demais
“Eu não ensinava a ler e a escrever:
despertava nas pessoas a vontade de
ler e de escrever”, disse Alberto Manzi
sobre o famosíssimo programa com a
qual tornou-se “o Mestre dos italianos”.
“Non è mai troppo tardi” (Nunca
é tarde demais) é considerado uma
das mais importantes experiências
de educação para adultos, conhecida
e citada pela literatura pedagógica
internacional sobre o tema. Foi totalmente inovadora em relação à tradicional televisão escolar, tanto no que
se refere ao esquema organizacional
quanto ao estilo de condução e à linguagem didática.
Em 1965 foi indicado pela Unesco
como um dos melhores programas de
televisão na luta contra o analfabetismo.
No Congresso Internacional das Organizações Radio - Televisivas, em Tóquio,
recebeu o prêmio da ONU.
“Non è mai troppo tardi” ficou conhecido e seu formato televisivo foi
imitado em outros paises, especialmente na América Latina.
O título foi criado pelo idealizador
do programa, Nazareno Padellaro,
diretor geral da Instrução Pública,
baseado, ao que parece, em um romance francês.
12 | A vitrine dos prêmios
As atividades de Alberto Manzi
foram muitas e variadas. Mas foram
tantos e também diversificados os
prêmios que lhe foram concedidos
pelos romances e contos, pelo radio e
pelos programas de televisão, pela atividade pedagógica e pelos textos para
a juventude. Os objetos que representaram estes prêmios foram troféus,
diplomas, placas, taças e medalhas.
O primeiro prêmio da série foi o
Collodi, para o romance à época inédi-
to “Grogh, storia di un castoro” [1948]
(Grogh, A história de um castor),
publicado em 1950 pela editora
Bompiani. O último foi o Bardesoni,
pelo resumo em forma comédia de
Tupiriglio, publicado em 1988. Além
destes, recebeu ainda vários prêmios
internacionais, da Presidência do
Conselho italiano, da ONU e pelo programa “Non è mai troppo tardi”.
Em 1962 foi nomeado Cavaleiro da
Ordem do Mérito da República Italiana.
13 | Aprendamos a aprender
“Eu, mesmo assim, tentava com
os meus jovens”. A experimentação,
a pesquisa e as verificações contínuas
são instrumentos fundamentais para
Alberto Manzi. Ele jamais quis que se
falasse de um seu modelo ou método, mas de uma metodologia sempre
aberta e dinâmica, em contínua evolução.
Prestava muita atenção em como
se formavam os conceitos. Um correto
processo formativo se realiza através
da prática e da experiência e não com
a passiva transferência de conceitos e
com a memorização de informações
desvinculadas da experiência.
Segundo Manzi, a educação científica era um dos pontos mais fracos da
escola italiana nos anos 50. A sua du-
pla formação, científica e psico-pedagógica, lhe permitia ter uma visão global.
Não deixava nada ao acaso: organizava, planejava e construía - para desconstruir logo em seguida. As perguntas, as armadilhas lógicas, a inversão,
a recolocação em discussão de pontos
fixos, o jogo: estes são os instrumentos úteis para ensinar as crianças e os
jovens. Partindo da sua “forma mentis” e da realidade que viviam e conheciam, ensinava a fazer raciocínios
lógicos, a adquirir um método para se
desvencilhar nos labirintos do saber
e da vida. “Partir de coisas simples e
concretas, para chegar gradualmente
em um princípio de abstração”, dizia a
apresentação do quarto livro “Primavera”, para a escola maternal.
14 | Os bons livros de texto
Manzi foi o responsável por algumas
coleções de livros de texto para todas
as séries iniciais da escola fundamental. Livros “prontos para o uso”, que
eram acompanhados por ele do início
ao fim do projeto: colecionava textos e
imagens, desenhava a diagramação,
dava instruções precisas aos gráficos
e aos tipógrafos sobre as dimensões
dos textos, sobre o posicionamento
das imagens, das quais frequentemente ele mesmo desenhava o modelo executivo ou o esboço.
Como é? ... O que faz? ... O que
você acha que é? ... O que você pensa
a respeito? ... Observe e responda ...
Que diferença você vê? ... Verdadeiro ou falso? ... Um destes desenhos
representa... qual é? ... Veja como nasce... Coloque junto... Separe... Encontre... são indicações recorrentes para
estimular, provocar e divertir, com o
objetivo de fazer crescer a capacidade de elaborar conceitos e de desenvolver a inteligência. Pois “inteligente
se torna”, escreveu mais de uma vez
Alberto Manzi. São necessários, porém,
bons mestres e bons livros de texto.
15 | Por que um novo livro
de literatura?
Por que um novo livro de literatura? Para responder a uma exigência
muito atual: os jovens não lêem, ou
lêem muito pouco. É na escola que,
geralmente, se ensina a técnica da leitura. Mas não o gosto pela leitura. [...]
Para a criança o livro de literatura
é o símbolo, o representante de todos
os livros do mundo: se ela aprende a
amar o seu livro, continuará a amar a
leitura. Quem lê é uma pessoa melhor
que as outras e participa ativamente e inteligentemente da vida de sua
comunidade [...]
Para o jovem o livro deve [...] ser
algo agradável, no qual se pode não
apenas ler, mas colorir, transformar,
fazer, desfazer, ampliar, rir, inventar,
refletir. [...] O livro se transforma assim em algo pessoal, e portanto, vivo.
Em síntese, os objetivos que os autores se propuseram são:
•desenvolver o gosto pela leitura;
•desenvolver a atividade lógica,
o raciocínio, a análise e a síntese;
•desenvolver a observação
e a reflexão;
•desenvolver a fantasia;
•desenvolver o senso de humor;
•desenvolver o gosto pela
pesquisa científica;
•estimular a fazer por si;
•ensinar a pensar. Principalmente ensinar a pensar [...]
16 | Era uma vez... a fábula
“... Dizemos que a fábula é “ciência” e não invenção fantástica. É ciência pois vê e procura analisar a realidade do mundo utilizando, em vez da
técnica, a fantasia...
... A fábula narrada pelo pai cria
uma atmosfera de amorosa cumplicidade entre o adulto e a criança...
... Infelizmente, era uma vez... um
papai, uma mamãe e uma vovó que
nos contavam fábulas...
... O disforme desenho animado,
poção envenenada abundantemente
oferecida pela televisão, coloca o herói em um mundo mecânico que não
é o mundo da criança... Dragon Ball Z,
ou aquele que aperta um botão e o raio
de luz ofusca, golpeia, destrói...
... É preciso que a fábula retorne
também à escola, mesmo porque a
criança se põe “as primeiras e eternas
questões... como os grandes filósofos.. e as fábulas fornecem a elas as
respostas à estas angustiantes questões” (Bettelheim)...
... Por isso a fábula não é, e não
será nunca, extemporânea. Por isso
seria não somente desejável, mas importante que à noite alguém se sentasse junto ao leito da criança e começasse novamente a dizer:
... Era uma vez....
17 | Primeiramente
respeite a criança
Alberto Manzi escreveu: “Tentei de
tudo para transformar essa bendita escola em algo de bom para os meninos,
porque eles são o ponto fundamental!”
Em junho de 1975 o professor
se recusou a classificar os alunos:
“Classificar significa impedir um desenvolvimento intelectual harmonioso
... significa impedir uma aprendizagem consciente... obrigar a aceitar as
definições pré-estabelecidas... educar na base da mentira e da falsidade... Se for obrigatória a classificação,
delegarei à secretaria da escola a
tarefa de dar a mesma nota para cada
aluno, em todas as matérias.”
Em 1976 escreveu ao seu diretor
didático e lhe disse que preencheria
os boletins do II quadrimestre somente se ele conseguisse demonstrarlhe que “dar notas e preencher uma
classificação (mesmo que só oral) é
um meio que auxilia as crianças no
crescimento da inteligência, da solidariedade, da amizade...”
Em 1981 ele foi suspenso pelo Secretário Geral da Educação de Roma.
Durante dois meses não pôde ensinar
pois tinha se recusado a preencher os
conceitos analíticos das fichas de avaliação dos alunos. Na imprensa nacional foram publicados artigos, os pais
dos alunos protestaram e o parlamento interveio.
18 | Na história da televisão
e da Itália
Alguém disse que, entre os protagonistas do progresso da Itália no pós
segunda guerra, Alberto Manzi e sua
escola “Non è mai troppo tardi” tem
um lugar de honra garantido.
Por toda a vida Manzi também
colaborou com a televisão: idealizou
programas, escreveu histórias e textos, apresentou programas e propôs
novas atrações. Radio e televisão
eram os parceiros naturais para o seu
projeto de estimular o desenvolvimento intelectual das crianças através da
leitura, dos jogos e da fantasia.
Juntamente com essa potencialidade, percebeu a tempo as possíveis fraquezas e degenerações. Respondendo à pergunta “a televisão é
educativa?” Manzi afirmou: “... este
‘instrumento’ é válido se coloca o
indivíduo em movimento, se o incentiva a fazer, visto que todos os nossos
conceitos derivam da experiência. Mas
se temos apenas um conhecimento derivado da simples informação,
tornamo-nos somente “repetidores
de coisas” e não criadores, em nós
mesmos, de cultura.
19 | Eu.. você... nós...
aprendemos juntos
“Insieme” (Juntos) para Alberto
Manzi sempre foi uma de suas palavras mágicas preferidas. Desde os
primeiros textos, dos primeiros livros. Juntos na mesma comunidade,
na mesma pátria do homem: o mundo. “Insieme” foi também o título dos
programas pensados - baseados no
exemplo da famosíssima escola televisionada para os italianos - para
ensinar italiano para os imigrantes.
“Juntos para aprender a nos comunicar (ler e escrever), para conhecer o
mundo onde vivemos, as pessoas com
as quais vivemos, abandonando a passividade mental do telespectador...”
escreveu Alberto Manzi na proposta
para a RAI. Segundo o próprio Manzi,
devido ao fato de poucos imigrantes
possuírem televisão e poderem assistí-la no horário do almoço - que era o
destinado às aulas - e sem a possibilidade de interação, a transmissão não
funcionou como poderia ter funcionado caso tivesse sido melhor programada.
Esta foi a última apresentação
televisionada de Alberto Manzi.
20 | Alberto Manzi,
prefeito de Pitigliano
Em 1994 Alberto Manzi aceitou
ser candidato e se elegeu prefeito de
Pitigliano, na província de Grosseto.
Assim se fechou o círculo da atuação
social e civil que caracterizou - juntamente com a atuação educacional no
cárcere e nas salas de aula, no radio,
na televisão e na produção literária a sua rica biografia.
Nem mesmo os compromissos
quotidianos de prefeito bloquearam
sua capacidade e a sua vontade de
analisar e de projetar, tanto para a
cidade de Pitigliano quanto para a
escola e para as crianças. Entre sua
papelada de prefeito foi encontrada a ilustração do projeto Azil, para
um museu a céu aberto. Partindo do
mal utilizado patrimônio arqueológi-
co etrusco de Pitigliano, favoreceu o
desenvolvimento do turismo no município e também a descoberta do passado, da relação entre história e ambiente e entre o ambiente e o homem.
Havia ainda um outro projeto, “Città
dei bambini - Ponte d’oro - Centro di
educazione ambientale” (Cidade das
crianças - Ponte dourada - Centro de
educação ambiental), subdividido em
três setores distintos porém complementares.
Desde 4 de dezembro de 1997 data de seu falecimento - até hoje,
tudo o que se escreveu sobre Alberto
Manzi foi insuficiente para dar uma
idéia completa do que ele realizou ao
longo dos seus 73 anos de vida.
A realização da Exposição Alberto Manzi foi uma iniciativa de
No Brasil, este evento contou com a parceria de
Coordenação Geral
Gianfranco Zavalloni
Tradução
Silvia Maggioni - Paulo Antônio Barbosa
Apoio Especial
Sonia Manzi - Daniela Cassiano - Alessandra Falconi
Legendas em Português do filme “TV, Boa Mestra”
Patrizia C. Bastianetto - Gilberto L. Goulart - Karine Locatelli Piva
Projeto Gráfico
Albarez / Fabbrini
Para maiores informações
www.scuolabh.org
www.consbelohorizonte.esteri.it

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