Baixar - Programa de Pós-graduação em Crítica Cultural

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Baixar - Programa de Pós-graduação em Crítica Cultural
Fórum Nacional de Crítica Cultural 2
Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos
PÓS-CRÍTICA/DEDC/UNEB II, Alagoinhas – BA, 18 a 21 de novembro de 2010
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL
LETRAMENTO E VOZES DA CULTURA NO HIP HOP
Elizabete Bastos da Silva 1
Cosme Batista dos Santos2
1. CONTEXTUALIZANDO O MOVIMENTO HIP HOP
Marcas da colonização européia no Brasil são fortes tanto na educação, quanto na cultura, pois foi através de tais áreas que se evidenciam relações de poder que impuseram valores e
estereótipos como práticas de uma cultura que se configura como superior, considerando assim, outras culturas menores ou marginalizadas.
Historicamente tem-se uma dívida com a educação de negros e sua inserção no mercado
formal de trabalho. Tal atraso histórico e social confere uma sociedade brasileira onde negros
se encontram com baixo nível escolar e povoam grandes periferias das metrópoles. Como
também ainda, são vistos como exemplos da força para o trabalho “braçal”, em detrimento de
um trabalho dito como intelectual. Porém é necessário romper com tais estigmas como afirma
Frantz Fanon (1979), os descendentes dos mercadores de escravos, dos senhores de ontem,
não têm, hoje, de assumir culpa pelas desumanidades provocadas por seus antepassados. No
entanto, têm eles a responsabilidade moral e política de combater o racismo, as discriminações e, juntamente com os que vêm sendo mantidos à margem, os negros, construir relações
raciais e sociais sadias, em que todos cresçam e se realizem enquanto seres humanos e cidadãos. Não fossem por estas razões, eles a teriam de assumir, pelo fato de usufruírem o muito
que o trabalho escravo possibilitou ao país.
É nessa perspectiva de luta e resistência que o Movimento Hip Hop se apresenta caracterizando e identificando os sujeitos que participam das práticas e eventos. E considerando
tais marcas que representam o Hip Hop que falarei da condição do movimento que é muito
mais que música e arte: é intervenção social e cultural.
O hip hop também é compreendido como movimento a partir do momento
que promove articulações estéticas e críticas no campo artístico, social e político. Seja como fruição estética ou discurso engajado. Há uma linha de
1
Aluna regular do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural Pós-crítica Universidade do Estado da Bahia
(UNEB) CAMPUS II – Alagoinhas-BA, na linha de pesquisa Letramento, identidade e formação de professores.
Email: [email protected]
2
Doutor em Linguística – Unicamp. Professor do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural Pós-crítica /
Universidade do Estado da Bahia (UNEB) CAMPUS II – Alagoinhas-BA.
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pensamento corrente no âmbito dos adeptos da cultura que estabelece como
condição obrigatória, para que a experiência coletiva do hip hop seja aceita
como movimento, a presença de um quinto elemento, a responsabilidade social, chamado genericamente de trabalho social. Quando os ativistas do hip
hop, além de respeitar a articulação complementar dos quatro elementos artísticos em suas ações, mantêm compromisso com ou idênticos aos dos movimentos sociais, buscando colocar seus corpos, experiências, expressões e
práticas, individuais ou coletivas, a serviço de transformações sociais de base comunitária. (Maca, 2006)
Muitos se referem ao Hip Hop como literatura marginal, através do Rap, outros como
movimento social, aqui me reportarei ao Movimento Hip Hop enquanto agência de letramento, fundamentada nas discussões de letramento culturalmente relevante.
A década de 1960 é o marco do surgimento do Movimento Hip-Hop nos Estados Unidos. E surgiu com os elementos Rap (música), o breack (dança) e o grafitti (artes) e o objetivo
era denunciar a exclusão social e ressaltar identidade negra. Segundo Maca (2006), o hip hop
formatou-se, como cultura híbrida, nos Estados Unidos e sendo assim passou por um processo
de hibridização que relaciona “processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existem de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e
práticas” (Canclini, 2006:19). Pode-se observar que o Movimento Hip Hop chegou ao Brasil
no início dos de 1980 e sofreu influência da cultura local, assim apresenta características diferentes do movimento norte-americano. Segundo Mattos (2009:202), o RAP, por exemplo,
recebeu influência do samba e o breack tem um paralelo na capoeira.
Mas, o Movimento tornou-se um espaço para formação da identidade negra, envolvendo
a experiência de jovens que são “marginalizados” e vivem nas periferias das cidades. Segundo
Como pode-se observar:
De caráter contestatório, o Movimento Hip-Hop hoje se dedica às ações políticas, voltando-se para prática educativas e culturais na tentativa de minimizar a segregação e promover a cidadania à população negra e pobre do Brasil
(Mattos,2009:203).
É partindo justamente de considerações como a da citação acima que o propósito deste
trabalho se constitui, pois se apresentará aqui uma breve análise sobre as práticas e eventos de
letramento dentro do Movimento Hip Hop, o considerando como uma agência, já que utiliza
das práticas discursivas educativas e culturais, através dos seus elementos constitutivos (rap,
breack, graffiti) para exercitar a politização e conscientização da identidade negra,caracterizando-se como um movimento social organizado pois, é preciso ter consciência e
atitude para manifestar e para pertencer/participar do Movimento Hip Hop, é necessário hiphoptitude (Rocha, Domenich, Casseano: 2001: 61-62).
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2. CULTURA E LETRAMENTO
Considerando o Movimento Hip Hop de natureza híbrida, pode-se compreender que segundo Maca (2006), “a cultura do hip hop como construção de comunidades marginalizadas
socialmente”, pois as práticas e eventos do Movimento Hip Hop se caracterizam como algo
que definem identificam o sujeito, concedendo sentido a vida e as relações estabelecidas no
contexto, como afirma Chauí (2008):
A cultura passa a ser compreendida como o campo no qual os sujeitos humanos elaboram símbolos e signos, instituem as práticas e os valores, definem para si próprios o possível e o impossível, o sentido da linha do tempo
(passado, presente e futuro), as diferenças no interior do espaço (o sentido do
próximo e do distante, do grande e do pequeno, do visível e do invisível), os
valores como o verdadeiro e o falso, o belo e o feio, o justo e o injusto, instauram a idéia de lei, e, portanto, do permitido e do proibido, determinam o
sentido da vida e da morte e das relações entre o sagrado e o profano.
A forma como constituem símbolos e signos, leituras e escritas, caracterizam práticas e
eventos de letramento que caracterizam a ideologia e a condição de luta e resistência desses
sujeitos da periferia. Tais símbolos e signos, leitura e escrita, produzidos pelo grupo extrapola
a simples perspectiva do ler e escrever, mas ler e escrever para lutar, conduzir, registrar e manifestar uma cultura, trazer para o cenário as vozes esquecidas, “marginalizadas” e condicionadas, a luz de alguns segmentos, a uma “não-cultura”, por não pertencer a esse ou aquele
espaço dominado por uma hegemonia política e cultural vigente, num conceito mais restrito
de cultura.
Observa-se diante da citação Segundo Rojo (2009:99) “as práticas tão diferentes, em
contextos tão diferenciados, são vistas como letramento, embora diferentemente valorizadas e
designando a seus participantes poderes também diversos.” Assim, observa-se que para o
Movimento Hip Hop as práticas e eventos promovidos envolvem questões de luta e resistência que os impulsiona a persistir no movimento.
No texto “O que é letramento?”, a professora Angela Kleiman, fala da complexidade de
se conceituar o letramento, mas apresenta questões sobre eventos de letramento e prática discursiva de letramento. A autora afirma ainda que atualmente, pode se definir o letramento
como “práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia,
em contextos específicos, para objetivos específicos”.
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No decorrer do texto a autora afirma que o fenômeno do letramento extrapola o mundo
da escrita de acordo as instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos
no mundo da escrita, assim a escola é uma das mais importantes agências de letramento.
Kleiman apresenta dois modelos de letramento: o autônomo e o ideológico. O modelo
autônomo é muito utilizado pela escola, reforça a dicotomia entre oralidade e escrita e pressupõe uma única maneira de letramento – associada ao progresso, civilização, ascensão social e
mobilidade social. Esse modelo autônomo de letramento atribui o fracasso e a responsabilidade por esse fracasso ao indivíduo que pertence ao grupo dos pobres e marginalizados nas sociedades tecnológicas. O modelo ideológico de letramento considera que as práticas de letramento são aspectos da cultura e das estruturas de poder numa sociedade. Assim, a autora aborda ainda práticas discursivas e eventos de letramento, no modelo ideológico, pois as práticas de letramento mudam conforme o contexto. Os eventos de letramento representam situações em que a escrita constitui parte essencial para fazer sentido a situação (de comunicação,
interação, fala/escrita). Na conclusão do texto, a autora, defende uma pedagogia culturalmente
relevante e crítica, na perspectiva do letramento ideológico, considerando a pluralidade e diferença dos sujeitos, das práticas sociais e contexto sociocultural.
É com base na perspectiva o letramento ideológico, que consideramos o Movimento do
hip hop em Alagoinhas como forma de agenciamento do letramento, ou seja, as práticas de
leitura e escrita do grupo e da comunidade, considera a pluralidade, a diferença e as práticas
sociais e culturais do contexto: a periferia de Alagoinhas, que como veremos na letras dos
rappers a seguir.
3. VOZES DA CULTURA: LETRAS DE RAP NO MOVIMENTO HIP HOP DE ALAGOINHAS – BAHIA
O Movimento Hip Hop de Alagoinhas/Bahia se caracteriza por um movimento de jovens da periferia da cidade que além de cantar, produzir letras do rap, grafitar também dançam, assim representam vozes e práticas da cultura da minoria no contexto da diversidade
social e cultural do litoral norte da Bahia, especificamente Alagoinhas.
Como recorte para esse trabalho me propus a apresentar algumas vozes, nas letras do
rap, de um exemplar das edições populares da Fábrica de letras/Usina de produção do Programa de Crítica Cultural de Alagoinhas /UNEB– 1º exemplar, e como forma de resistência e
luta através das letras, da escrita e da representação de fazer rap, assim, configurando como
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uma prática social de leitura e escrita é um prática de letramento, em contexto específico. Fazem assim, das suas vozes (música, dança, imagem/grafitagem) uma forma de luta, resistência
e se manifesta na produção de outra forma de manifestação política, cultural e ideológica.
Na apresentação do professor Osmar, coordenador do mestrado e organizador da edição,
e também na apresentação de Wilton, mestrando em crítica cultural e também organizador da
edição é notório as seguintes observações como críticos culturais:
“[...] que os rappers utilizando uma outra artilharia, a artilharia verbal como um modo de sobreviver.”3
“[...] se fazem existir através de uma maquinaria de resistência ao fetiche
burguês, com suas formas de encantamento, e pela afirmação e construção
de um povo revolucionário que não existe mais ou não existe ainda!” 4.
Apresenta-se nessa perspectiva da crítica cultural um olhar para as escritas dos rappers,
como literatura marginal e escrita de existência, resistência e sobrevivência no mundo desigual, comandado pelo capitalismo tardio e pelas formas de preconceito e discriminação que
assolam e envolvem toda uma sociedade, e só a crítica, o movimento e a luta podem construir
uma outra postura diante da diversidade, e ainda, trazer para o cenário as vozes silenciadas e
esquecidas pela hegemonia do branqueamento e da cultura eurocêntrica.
Vejamos a letra de Rap produzida pelo Mc Mamah “Sujeito do gueto”, como o mesmo
apresenta questões de ordem política, critica e cultural do contexto da periferia negra em
questão:
Sujeito do gueto
sujeito do gueto não pode ter preconceito
sujeito do gueto é com a humildade e respeito
no gueto eu mim criei e tenho muito orgulho
pode acreditar é o melhor lugar do mundo
eu vivo nesse gueto com a paz sem preconceito
e sempre procurei ser um rapaz direito
a realidade das cidades e dos bairros
não é tão bela principalmente dentro da favela
as minas se perdendo os manos se acabando
cada dia que passa é o perigo dominando
3
MOREIRA, Osmar. Usina de Produção do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural Pós-crítica. Alagoinhas-BA: Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural Pós-crítica, Universidade do Estado da Bahia – UNEB,
2009.
4
SANTOS, Wilton Oliveira dos (org.) Usina de Produção do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural Póscrítica. Alagoinhas-BA: Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural Pós-crítica, Universidade do Estado da
Bahia – UNEB, 2009.
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a treita tá formada pra quem fala mal desse gueto
pode acreditar eu sou preto do gueto
sujeito do gueto não pode ter preconceito
sujeito do gueto é com a humildade e respeito
com a humildade e respeito eu te peço a união
as palavras são mandadas do fundo do coração
pra que roubar então o negócio é estudar o respeito
na quebrada com certeza eu vou botar
sujeito do gueto não pode ter preconceito
sujeito do gueto é com a humildade e respeito
Autor: mc mamah
Analisando alguns versos teremos:
“sujeito do gueto não pode ter preconceito/ sujeito do gueto é com a humildade e respeito/no gueto eu mim criei e tenho muito orgulho/pode acreditar
é o melhor lugar do mundo”
Tem-se aqui afirmação do contexto a periferia e de como esse espaço é carregado de
preconceito e discriminação, observa-se nesses versos ainda a identidade afirmada e reafirmada, o que demonstra uma intenção do rapper em desconstruir estereótipos negativos que condicionam o gueto de onde ele fala. O mesmo se assume enquanto sujeito de fala e voz da periferia.
Nos próximos versos temos:
“a realidade das cidades e dos bairros/não é tão bela principalmente dentro
da favela/as minas se perdendo os manos se acabando/cada dia que passa é o
perigo dominando/a treita tá formada pra quem fala mal desse gueto/pode
acreditar eu sou preto do gueto”
Aqui no rapper traz para o cenário o contexto de luta de quem vive na favela e ainda
nos alerta para as adversidades de quem vive nesse espaço, mas afirma também que existe um
movimento/intenção para condicionar a favela como um espaço negativo, observa-se assim,
um reconhecimento crítico e político sobre as condições sociais e governamentais do país,
bem como, a construção de negritude, pobreza, favela e periferia. Na conclusão do verso, o
rapper afirma: “pode acreditar eu sou preto do gueto”, ou seja, essa postura política e crítica
da escrita, da música, do movimento, surgem de um sujeito do gueto – uma prática de letramento ideológico, prática social de leitura e escrita, num contexto específico.
Nos próximos versos, que constituem o final do rap, Mc Mamah deixa o recado:
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“as palavras são mandadas do fundo do coração/pra que roubar então o negócio é estudar o respeito/na quebrada com certeza eu vou botar /sujeito do
gueto não pode ter preconceito/sujeito do gueto é com a humildade e respeito.”
O poeta condiciona as palavras como apelo e forma de resistência, pois segundo ele se
tenta roubar tal qualidade e tal valor do “gueto” , da “periferia”, como se lá só existisse miséria, marginalidade, violência, assim considera a necessidade do sujeito do “gueto” ser politizado, ter consciência da sua identidade social e cultural e urge respeito e humildade, principalmente respeito as diferenças.
As leituras aqui comentadas conferem ao estudante/pesquisador da área do letramento
um vasto conhecimento teórico contextualizado a luz de autores brasileiros que referenciam
autores estrangeiros e também outros nacionais. É possível concluir que na perspectiva dos
estudos culturais a dimensão do letramento ideológico é fundamental, considerando assim as
práticas, os usos, o contexto, a sociedade, as relações de poder e a cultura do ambiente discursivo pesquisado e analisado.
Nas outras letras dos rappers é possível observar uma postura política e crítica diante de
assuntos tensos como a droga, por exemplo:
Informe
autor: mano ed+
a maconha é droga sim, mas
não é mais droga que a droga do analfabetismo
não é mais droga que a droga da falta de atendimento médico
não é mais droga que a droga do preconceito (...)
O rapper consegue estabelecer uma relação entre a droga (substância/vício) com outros
vícios e práticas negativas que assolam a sociedade. É possível notar que o rapper apresenta
um posicionamento crítico e político, típico de um sujeito letramento, e que exerce sua prática
de letramento ideológico como forma de luta, manifestado/representado por suas escritas/músicas.
Nos versos a seguir de Mc Osmar, é possível observar a questão das identidades, além
de jovem, homem, negro, morador da periferia, é nordestino e por isso:
Descendente do cangaço
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autor: mc osmar
descendente atual do cangaço, à frente da revolução no sertão, tô na marcha dos injustiçados.
guerrilheiro dos versos sou ágil, nordestino que nem virgulino, também tenho o sexto sentido
aguçado (...)
O rapper caracteriza a luta do sertão, a questão do cangaço, para representar a luta e resistência de um povo. Mas, apresenta também a questão dos injustiçados e dos marginalizados
da sociedade atual, porém o rapper assume o papel de fazer a diferença, quando se assume
com sentido “aguçado”, que denota um sujeito político e crítico que faz o uso da sua voz e da
sua palavra para divulgar e trazer para o cenário as vozes silenciadas das periferias e das minorias sociais.
4. ALGUMAS (IN) CONCLUSÕES
É possível concluir aqui que as vozes da minoria são exemplos de práticas e eventos de
letramentos: seja pelas letras do rappers ou pelo próprio Movimento Hip Hop que se caracteriza muito mais que uma prática musical ou de escrita, mas uma prática de luta, resistência e
de ideologia, uma prática social de leitura e escrita, fora do ambiente escolar e em um contexto cultural específico. Tal trabalho não se apresenta completo, mas posso afirmar que RAP
também é educação, é letramento, é luta, é cultura, é resistência: são vozes que precisam ser
ouvidas, pois a crítica social e cultural parte do próprio ambiente social (periferia, favela) criticado, marginalizados e diminuído por muito, principalmente por uma “elite” política, social
e cultural hegemônica.
REFERÊNCIAS
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CAVALCANTI, Marilda C. O evento de Letramento como cenário de construção de identidades sociais. In: COX, Maria Inês Pagliarini. ASSIS-PERTERSON, Ana Antonia. (orgs).
Cenas de sala de aula. Campinas, SP: Mercado das letras, 2001.
CERTEAU, Michael de. Invenção do Cotidiano: 1. Artes de fazer. Trad. Ephraim Ferreira
Alves. 16ª.ed.Petropólis, RJ: Vozes, 2009.
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JUSTINO, Luciano Barbosa.Novos estatutos de memória na literatura brasileira contemporânea: os “marginais”. In: Anais XI Congresso Internacional da ABRALIC: Tessituras, Interações, Convergências. 13 a 17 de julho de 2008 - USP – São Paulo/Brasil.
KLEIMAN, Angela.O que é letramento? In: KLEIMAN, Angela (org.) Os significados do
letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita.Campinas,SP: Mercado das Letras, 1995.
MACA, Nelson. Em torno do Hip Hop. Entrevista sobre o Movimento Hip Hop. In: Revista
eletrônica
Overmundo
-26/05/2006.
Disponível
em:
http://www.overmundo.com.br/banco/em-torno-do-hip-hop-uma-entrevista-com-o-professornelson-maca#-banco-415. Acessado em 15/09/2010.
MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexto,
2009.
MOREIRA, Osmar. OLIVEIRA, Wilton (orgs). Letras de Rap de Alagoinhas: como literatura marginal. Alagoinhas, BA: Fábrica das letras – Usina de produção do Crítica Cultural,
2010.
ROCHA, Janaína. DOMENICH, Mirella.CASSEANO, Patrícia. Hip Hop: a periferia grita.
São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.
ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Párabola Editorial, 2009.
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