Baixar este arquivo PDF - Revistas Eletrônicas da UniRV
Transcrição
Baixar este arquivo PDF - Revistas Eletrônicas da UniRV
Universidade de Rio Verde DESIGN EDITORIAL EASOCIAL LINGUAGEM JORNALÍSTICA DO JORNADESIGUALDADE E DESIGUALDADE EDUCATIVA: O LISMO IMPRESSO PAPEL DA ESCOLA. UMA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES Umbelina do Rego Leite2 Valéria Cristina de Sousa Freitas Alves3 Resumo Abstract Andarilhos são pessoas que vivem na estrada, não tem moradia própria, vivem isolados do mundo, da sociedade e da família. Este estudo teve como objetivo investigar a história de vida, a valoração das relações da dinâmica familiar e a perspectiva de tempo de andarilhos, comparando com um grupo de moradores. Os participantes do estudo foram dez andarilhos, nove homens e uma mulher, que transitavam na rodovia nas imediações da cidade de Aparecida do Rio Doce – Goiás e um grupo para comparação, composto por dez moradores da mesma cidade. O instrumento continha: o Inventário de Perspectiva Temporal do Zimbardo – ZTPI (LEITE; PASQUALI, 2008) e questões sobre as relações familiares, história pessoal e social, dados sociodemográficos e história de errância. Encontrou-se como fator desencadeante da errância, a ruptura com a família, seguida de fatores socioeconômicos. O perfil da perspectiva de tempo dos andarilhos é diferente da dos moradores, e mostra que esses têm escores mais baixos em todos os fatores do ZPTI com exceção do presente-fatalista, ressaltando a diferença estatisticamente significativa no passado-positivo. Também, os andarilhos acreditam que não seja importante Highway wanderers are people who live on the road, do not own housing, live isolated from the world, society and family. This study aimed to investigate the wanderers’ life history, the valuation of family relations dynamics and time perspective, compared to a group of residents. Participants were ten highway wanderers, nine men and one woman, which pass on the highway near the city of Aparecida do Rio Doce - Goiás and a comparison group consisted of ten residents of the same city. The instrument contained: Zimbardo Time Perspective Inventory - ZTPI (LEITE; PASQUALI, 2008) and questions about family relationships, personal and social history, demographic data and wandering history. It was found as a trigger for wandering the family breakdown, followed by economic factors. The time perspective wanderers profile is different from residents, and shows that these have lower scores in all ZPTI factors but the present-fatalistic, thus highlighting the significant difference in the past-positive. Also, highway wanderers believe it is not important for family harmony to have a good economic situation and hope to eventually return to sedentary life or 1 2 3 Mestre em Educação (Ênfase a docência superior) pela UFU. Contato: [email protected] Fisioterapeuta. Contato: [email protected] Mestre em Fisioterapia pelo UNITRI, professor na Universidade de Rio Verde – UniRV. Contato: [email protected] REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 77 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES para a harmonia familiar ter uma situação econômica boa e esperam no futuro voltar à vida sedentária ou receber uma estrutura de assistência para seu estilo de vida. have a structure support for their life style. Palavras-chave: andarilhos de estrada, Inventário de Perspectiva Temporal do Zimbardo – ZTPI, Psicologia Social Keywords: highway wanderers, Zimbardo Time Perspective Inventory – ZPTI, Social Psychology INTRODUÇÃO Andarilhos de estrada são pessoas inconfundíveis, fazendo parte do cenário das rodovias brasileiras, andando lentamente pelo acostamento sem destino, sempre sozinhos carregando um saco às costas ou puxando um carrinho precário, em que levam todos os seus pertences, fazendo da caminhada uma estratégia de sobrevivência. Como eternos migrantes ou itinerantes, cortaram todos os laços com a vida sedentária, não tendo vínculo familiar, nem documentos, pouca ou nenhuma fonte de renda, usam os serviços de instituições assistenciais e mantendo-se como pessoas solitárias (JUSTO, 2005, 2011). No Dicionário Eletrônico Houaiss a palavra andarilho é um substantivo masculino, que descreve “que ou aquele que anda muito, andador, percorre muitas terras ou anda de forma erradia”; diz ainda que é diacronismo antigo, com o significado de “lacaio que acompanhava a pé os amos que viajavam de carruagem ou a cavalo” entre outros. E para Justo e Nascimento (2012) o andarilho de estrada se destaca como um padrão singular de mobilidade humana da vida social e da cultura no Brasil. O andarilho não deve ser compreendido dentro do mesmo grupo de moradores de rua, mendigos ou pedintes, sendo que o primeiro tem como característica principal uma vida errante, de constante deslocamento solitário entre as cidades e ainda o que o torna especial: a dromomania, que é o desejo incontrolável de se locomover (JUSTO, 2011). Mas o que os assemelha é que formam os grupos mais excluídos da sociedade e mais vulneráveis à violência e a vitimização, com taxa de mortalidade muito mais alta quando comparada com a população que possui a segurança da moradia fixa. Ape- sar da sua vulnerabilidade a sociedade mantém atitudes negativas e preconceituosas sobre moradores de rua e andarilhos. Não há pesquisas no Brasil sobre o número de andarilhos. No último Censo de 2010 eles não constam entre os habitantes contados pelo IBGE. Como as pesquisas do IBGE são de domicílio, a não ser que outra forma de contagem seja feita, este grupo não entrará nas estatísticas censitárias. Foi realizada uma pesquisa da população em situação de rua, pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome – MDS em 2006, em municípios com população igual ou superior a 300.000 habitantes, as capitais de estado e o Distrito Federal, totalizando 23 capitais e 48 municípios, que identificou 31.922 pessoas (maiores de 18 anos) em situação de rua. Considerado juntamente com as pesquisas de outras cidades que realizaram recentemente levantamento semelhante (Belo Horizonte-MG, São Paulo-SP, Recife-PE e Porto Alegre-RS), pode-se estimar um número aproximado de 50.000 pessoas. Apesar da pesquisa do MDS, não abordar andarilhos, alguns dados coletados trazem informações deste grupo. A maioria dos entrevistados (59,9%) viveu em sua vida em um número pequeno de cidades (até três cidades), 11,9% viveram em seis cidades ou mais, indicando um comportamento que pode ser caracterizado como o de “trecheiro”. Dos que já moraram em outra(s) cidade(s), 60,1% não dormiam na rua ou em albergue na cidade anterior. Dos que já moraram em outra(s) cidade(s), 44,8% se deslocaram em função da procura de oportunidades de trabalho. O segundo principal motivo foram as desavenças familiares (18,4%) (MDS, 2006). A falta de dados aponta para outro problema que 78 REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES é a falta de políticas públicas específicas para esse grupo, com particularidades importantes. Para se estabelecer políticas públicas demanda pesquisas para saber quem são essas pessoas e, principalmente, quantas são. Se andarilhos são quase invisíveis ao poder público o são também para mundo científico. Na revisão literária sobre andarilhos quando se busca no Google Acadêmico as palavras: andarilhos e psicologia, aproximadamente 3.930 resultados são recuperados, e com a busca com as palavras: psychology wanderer “road wanderer” “highway wanderer” aproximadamente 13 resultados. Ao se filtrar os estudos que se relacionam à literatura psicológica se constata que os estudos são resultado do esforço do Grupo de Pesquisa: Psicologia e Instituições, da Universidade Estadual Paulista, campus Assis. Mesmo com os termos em inglês não gerou resultados de estudos fora do Brasil. Os pesquisadores, Justo, Nascimento e Peres realizaram quase que a totalidade dos estudos encontrados. Os estudos indicam que a errância é o estilo de vida dos andarilhos e que é impulsionada por multifatores e envolve fatores socioeconômicos e psicológicos, em que há uma densa interação entre os vários acontecimentos que podem atuar como motivadores da decisão de abandonar os referenciais da vida em sociedade (PERES; JUSTO, 2005). Justo e Nascimento (2012) apontam como fatores determinantes da errância: pobreza, desemprego, conflitos maritais, sofrimento emocional seguindo morte de pessoas significantes, desejo por aventura e liberdade; e símbolos culturais relacionados à migração, êxodo e outros modelos de deslocamento. No plano socioeconômico, estão pobreza e desemprego. Justo e Nascimento (2005) apontam que grande parte dos sujeitos que vivem na condição de andarilhos se desloca pelas rodovias do país à procura de trabalho, principalmente nas colheitas de grãos que, em determinadas regiões, ainda empregam mão-de-obra volante na agricultura. Em situações de extrema necessidade, recorrem à mendicância ou procuram ajuda em instituições filantrópicas das cidades por onde passam. São os mais pobres sendo desalojados dos nichos sociais. Há migrações constantes da família (deslocamentos do nordeste para o sudeste, mudanças de regiões ou de propriedades rurais, êxodo do campo para a cidade), baixa escolaridade e desqualificação da mão-de-obra. Justo e Rocha (2005) estudaram o papel do trabalho na errância e relatam que a grande maioria dos andarilhos pesquisados traz em suas histórias o registro das migrações regionais, do êxodo rural, do avanço da tecnologia no campo, da perda da estabilidade no emprego e do aparecimento da figura do trabalhador horista, free lance ou volante. Os autores discutem que com as mudanças das relações trabalhistas para mais sazonais e breves, o que eles denominam “liquefação do trabalho”, os demais relacionamentos sociais e afetivos também seguem os mesmo padrões e se tornam também mais provisórios. Além das questões socioeconômicas, os andarilhos apontam como os principais fatores associados à iniciação na errância, questões psicológicas (PERES, 2001, 2002b). Peres (2001) além de investigar os eventos que levaram andarilhos a abandonar os referenciais da vida em sociedade, analisou como são vivenciadas as pressões das circunstâncias características desse modo de existência. Encontrou que o uso abusivo de bebidas alcoólicas, conflitos familiares que incluem a morte dos pais e desentendimentos entre o casal, desemprego prolongado, desesperança, falta de seguridade social, desfiliação e tantos outros acontecimentos que tornam o sedentarismo insuportável, impulsionam o sujeito a buscar na estrada a chance de minimizar o sofrimento. Constata-se assim que as desavenças familiares são um dos principais fatores associados ao rompimento com os referenciais sociais característico do estilo de vida dos andarilhos de estrada. Sendo o laço com a família o último que se quebra antes da pessoa se tornar um errante (PERES, 2002b). Esses achados reacendem as reflexões sobre o papel da família, a unidade base da sociedade. Atenta-se para valoração da família que tem como uma das funções promover não só para criança, ou adolescente, mas para os adultos, sensação de segurança, pertencimento, companheirismo, responsabili- REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 79 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES dade e propósito para seus membros (ENRIQUE et al., 2007). Como reflete Formiga (2011), a família não se trata apenas de um somatório de pessoas, mas que, em seu sistema apresentam indicadores que contemplam tanto espaços subjetivos da conduta humana (por exemplo, afeto, confiança, compreensão) quanto aos espaços objetivos (por exemplo, relação conjugal, liberdade), os quais estão interrelacionados visando à melhoria da dinâmica familiar. Formiga e colaboradores (FORMIGA, et al. 2008; FORMIGA, 2004, 2011), perguntaram aos jovens sobre a importância da instituição família para eles, pedindo para elencar adjetivos que para esses jovens contribuiriam para uma boa relação familiar. A partir deste estudo desenvolveram uma escala denominada Indicadores da Valoração Interna da Família, que apresentou, em vários estudos, qualidades psicométricas quanto à sua validade e fidedignidade (FORMIGA et al., 2008; FORMIGA, 2004, 2011). Por fim, Formiga (2011) demonstrou que o construto medido pela escala é capaz de predizer condutas desviantes em adolescentes. Assim, justifica-se o uso da escala em estudos em que a dinâmica da relação familiar seja uma variável importante. Sendo a família uma instituição central no estudo da vida dos andarilhos, será importante avaliar qual a valoração que os andarilhos atribuem a ela. Voltando para outros fatores que explicam a errância, as doenças mentais são uma delas. Caton e colaboradores (1995) realizaram um estudo dos fatores de risco para a entrada na condição de moradores de rua ou de errância entre os transtornos mentais graves. Eles analisaram mulheres com esquizofrenia; 100 indigentes, moradoras de rua e 100 mulheres sem história de indigência. As mulheres foram recrutadas de abrigos, clínicas e programas de internação psiquiátrica em Nova York. Foram investigados três domínios de fatores de risco: gravidade da doença, antecedentes familiares e saúde mental antes do uso do serviço. O estudo revelou que as mulheres moradoras de rua tinham taxas mais elevadas de diagnóstico concomitante de alcoolismo, abuso de drogas e transtorno de personalidade antissocial e também tinham menos 80 REVISTA ONLINE UniRV/ apoio familiar adequado. Justo e Nascimento (2005) encontraram que o andarilho vivendo em situações extremas de isolamento, desassistência, solidão e desamparo, não é raro encontrar casos de andarilhos de estrada com manifestações de persecutoriedade e pensamentos delirantes de si e do mundo, bem como delírios derivados do consumo abusivo de álcool durante muitos anos. Boa parte desses andarilhos é formada por egressos de hospitais psiquiátricos que foram lançados ao mundo pelas políticas de desinstitucionalização estabelecidas para combater o modelo asilar de confinamento da loucura, vigente até tempos recentes. Justo e Nascimento (2005) investigaram possíveis conexões entre a movimentação constante dos andarilhos e a eclosão de delírios. Coletaram e analisaram narrativas de andarilhos, explorando especificamente os conteúdos alusivos à representação de si, de seu mundo e de sua caminhada pelas estradas. Ideias persecutórias, megalomaníacas e depressivas, superinvestidas afetivamente, aparecem com frequência nos pensamentos sobre o presente, o passado e nas reflexões sobre os motivos do deslocamento constante. Os resultados sugerem que há uma forte relação entre a movimentação constante e sem destino e as ideias e visões delirantes que os acometem. Justo e Nascimento (2005) apontam que não obstante os fatores socioeconômicos, grande parte dos andarilhos é formada por verdadeiros dromomanes, aqueles que já abandonaram todas as perspectivas de encontrar trabalho, restabelecer uma família, ter uma moradia e fixar-se num lugar. Dromomania é o desejo de viajar, visitar novos lugares ou mover constantemente de um lugar para outro. Na psiquiatria o termo dromomania - do grego, “correr” e “mania” - significa mania deambulatória, também chamada poriomania, às vezes se efetua sob a forma de fuga, de automatismo deambulatório; outras vezes, de simples corrida súbita, imotivada e precipitada (BALLONE, 2005). O nome foi cunhado em 1886, após o francês Jean-Albert Dadas retornar da viagem a pé da França para a República Checa, Alemanha, Rússia, Turquia e Áustria. Internado, seus sintomas psicológicos cha- Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES mavam mais atenção que os físicos, entre eles, não conseguia se lembrar de onde estava ou o que fez nesses países (HACKING, 2002). Outra característica pessoal desse grupo é que são altamente individualizados com alto hedonismo e autogratificação, características que são particularmente problemáticas para ocorrência de comportamento sexual de risco e uso de drogas (CASTEL, 1998). Também por estarem em um grupo excluído socialmente, podem demonstrar falta de planejamento para o futuro e tendência de se voltar para o presente (PLUCK, et al, 2003). A orientação para o presente em detrimento do futuro ou passado vem sendo observado em pessoas em outras situações adversas. Kurt Lewin (1942) discute como o ócio do desemprego prologando restringe as ações das pessoas mais do que deveriam. Mesmo com tempo suficiente, ela passa a negligenciar suas tarefas domésticas, deixa de sair de casa, e mesmos os desejos e pensamentos se tornam reduzidos. Isso se estende para a família. A análise deste comportamento mostra a importância do fator psicológico chamado esperança. É quando a pessoa deixa de ter esperanças que ela perde energia, para de planejar e finalmente para de esperar um melhor futuro. Esperança quer dizer que acreditamos que algo no futuro irá mudar para igualar aos nossos desejos. O indivíduo pode ver seu futuro mais colorido ou mais sombrio; variando entre a esperança e o desespero, mas independente se essa imagem do futuro é correta ou incorreta em um dado momento, ela afeta profundamente o humor e a ação do indivíduo no determinado tempo. O futuro psicológico é parte do conceito de perspectiva de tempo, popularizado por Kurt Lewin, na sua teoria de campo, quando afirma: “o espaço vital de um indivíduo não está limitado ao que ele considera a situação presente, mas inclui o futuro, o presente e também o passado. Ações, emoções e certamente o moral dos indivíduos em um dado momento depende da sua perspectiva de tempo total” (LEWIN, 1942, p. 104). Em outras palavras, a perspectiva de tempo é descrita como a totalidade da visão que um indivíduo tem do seu passado, presente e futuro psicológicos num determinado momento presente. Perspectiva de tempo é um conceito importante na psicologia, e mais recentemente o conceito foi explorado por Zimbardo, que vê a perspectiva de tempo como um processo fundamental no funcionamento tanto individual como social (ZIMBARDO; BOYD, 1999, 2009, LEITE, 2014). Zimbardo desenvolveu uma medida padronizada da perspectiva de tempo, com qualidade psicométrica, o Inventário de Perspectiva de Tempo do Zimbardo (ZTPI) (ZIMBARDO; BOYD, 1999, LEITE; PASQUALI, 2008), que tem sido amplamente utilizado para ampliar o entendimento do conceito, como também predizer uma variedade de características pessoais e comportamento (LEITE, 2014). Com seus estudos com o ZTPI, Zimbardo propõe a perspectiva de tempo com cinco dimensões: passado negativo, que reflete uma visão negativa aversiva do passado; passado positivo, que reflete uma visão do passado, mas contrária ao do primeiro fator; presente hedonista, medindo uma atitude de busca de prazer e de risco em relação ao tempo e à vida; presente fatalista que revela um fatalismo e uma atitude de falta de esperança com a vida e o futuro; e futuro, apresentando uma orientação para ações futuras de planejamento e expectativas. Todas as cinco dimensões da perspectiva de tempo estão presentes em nossas vidas, mas há uma tendência a se ter um viés em direção a uma ou duas, nas quais estamos mais concentrados. Uma perspectiva de tempo ideal deve ser equilibrada e flexível que permita transições rápidas entre orientações temporais. O perfil ideal é: passado-positivo alto, futuro moderadamente alto, presente-hedonista moderado e passado-negativo e presente-fatalista baixos. O passado nos conecta com a nossa identidade, o futuro nos leva a novos destinos e desafios. O presente nos dá energia para explorar lugares, pessoas, self e sensualidade. Identificar o viés é muito importante para esse processo. Idealmente, podemos aprender a mudar com facilidade a nossa atenção entre o passado, presente e futuro, e conscientemente, adaptar a nossa mentalidade para qualquer situação. Aprender a mudar as perspectivas de tempo nos permite participar plenamente em tudo que fazemos (BONIWELL; ZIMBARDO, 2003). REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 81 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES Estudos de perspectiva de tempo com andarilhos de estrada não foram encontrados, mas a relação da perspectiva de tempo com população em condições ambientais de extrema adversidade foi interesse desde o início dos estudos de perspectiva de tempo. Lewin (1942), o dos pioneiros, apresenta o caso dramático dos judeus sionistas na Alemanha, que ao contrário do comportamento dos empregados, o moral pode ser aumentada pela perspectiva de tempo. A grande maioria dos judeus na Alemanha acreditava que os pogroms - ataques violentos e maciços a judeus, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos) - que haviam acontecido na Rússia czarista entre 1881 e 1884, não iriam acontecer na Alemanha. Com Hitler no poder o cenário mudou e muitos ficaram desesperados e se suicidaram; sem nada para se apegarem, não vislumbravam um futuro que valeria à pena viver. Para um pequeno grupo de judeus, os sionistas, a realidade era diferente, eles também não consideravam a possibilidade dos pogroms na Alemanha, mas por décadas assumiam seus problemas sociológicos realisticamente, isto é, tinham uma perspectiva de tempo que incluíam um passado psicológico de sobrevivência em condições adversas e metas significativas e inspiradoras para o futuro. Este pequeno grupo foi importante para manter elevado o moral de uma grande proporção de judeus não-sionistas. Um dos primeiros estudos do Zimbardo com o ZTPI relacionou a perspectiva de tempo e autoeficácia à estratégia de enfrentamento em relação à obtenção de moradia e emprego em moradores de rua estadunidenses (EPEL; BANDURA; ZIMBARDO, 1999). Encontram que os participantes com alta autoeficácia e com alta orientação para a perpectiva de tempo futuro procuravam mais habitação e emprego e ficavam no abrigo por um período mais curto, e eram mais propensos a se inscrever em escolas e relatar benefícios positivos de sua situação. Enquanto que os maradores de rua com uma alta orientação para a perspectiva de tempo presente tiveram mais estratégias de enfrentamento de esquiva. No entanto, uma alta orientação presente previu obtenção de alojamento temporário. A perspectiva de tempo presente pode ser adaptativa 82 REVISTA ONLINE UniRV/ na busca de soluções de curto prazo para uma situação instável, como falta de moradia. Assim os autores concluíram que uma perspectiva de tempo depende das demandas da situação e sua estrutura de tarefas e recompensas. Mas também discutem se a orientação presente pode ser ambos, causa e consequência da condição de desabrigado. Fieulaine e Apostolidis (2015) realizaram uma revisão da literatura em como a pobreza e a insegurança social moldam a perspectiva de tempo dos indivíduos e apontam como esta tem suas raízes e ao mesmo tempo são moldadas pelas condições de vida. Os autores mostram que análises da relação entre a perspectiva de tempo e o status socio-econômico apontam a perspectiva de tempo como estratégias adaptativas em face a situações sociais. Neste sentido, a redução da perspectiva de tempo futura em contextos desfavorecidos socialmente constitui uma forma de adaptação para as condições de vida impostas. As condições de vida desses indivíduos afetam sua habilidade de ver o futuro; eles, portanto adotam uma estratégia mais realista excluindo todos os planos para o futuro. Tantos nos casos de situações que são cronicamente difíceis (pobreza e exclusão) como também as de natureza temporária (prisão, doença e eventos traumáticos) este fenômeno aconteceria. Neste sentido a perspectiva de tempo é mais facilmente considerada como um recurso ativo para lidar com situações difíceis do que como resultado mecânico das condições de vida. Os diversos estudos realizados com andarilhos de estrada enfatizam vários aspectos dessa problemática, mas nenhum teve o seu enfoque dado à perspectiva de tempo. Entretanto é preciso dedicar maior atenção às peculiaridades sociais e psicológicas desse grupo para que seja possível uma compreensão mais abrangente desse complexo fenômeno e, consequentemente, o aprimoramento das estratégias de intervenção dedicadas a essa população socialmente marginalizada. Este estudo pretende ampliar o entendimento da personalidade dos andarilhos focando na perspectiva de tempo. Baseando-se na literatura, espera-se que os andarilhos quando comparados com o grupo de moradores apresentem diferenças na perspectiva Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES de tempo. Espera-se que sejam mais focados no tempo presente, esta tendência pode ser atribuída aos problemas e experiências de vida do dia-a-dia que são voltados para resolução de problemas imediatos. Também se espera que estejam mais voltados para o passado-negativo, fruto da história de vida de muitas perdas e falta de vínculos afetivos. Como há comprovadamente uma forte associação entre moradores de rua e andarilhos com alcoolismo, isto pode ser associado a uma perspectiva de tempo presente-hedonista. De fato, teorias que explicam a dependência química mostram associação com o principio do hedonismo, também presente nos andarilhos. Assim, o presente estudo teve como objetivo investigar a história de vida, procurando compreender os fatores desencadeantes da errância, o uso de álcool e outras drogas, o histórico de saúde mental, a valoração e das relações da dinâmica familiar e a perspectiva de tempo de andarilhos, comparando com um grupo de moradores. MÉTODO No presente estudo utilizou-se a abordagem de método misto concomitante (quantitativo e qualitativo) (CRESWELL, 2003) para a coleta e análise dos dados. A escolha do método quantitativo se deu pelo referencial teórico, e a abordagem qualitativa se deu pelas peculiaridades do grupo alvo da pesquisa – os andarilhos: baixa escolaridade, baixa cognição e dificuldade de aproximação. Primariamente foi utilizado o método qualitativo para coleta de dados pela tradição da abordagem dos estudos com a população de andarilhos. Outro argumento para o uso deste método é de que é mais adequado com uma população que não tem tradição com pesquisa (DITTMANN-KOHLI; WESTERHOF, 1997). Por outro lado os estudiosos desse grupo afirmam que a comunicação verbal deles sujeitos é extremamente estereotipada e marcada pela insinceridade, evasão, desconfiança e utilização intensa de mecanismos de defesa (PERES, 2001; NASCIMENTO; JUSTO, 2000), assim o uso de técnicas mistas podem aumentar a eficácia. A pesquisa foi realizada na cidade de Aparecida do Rio Doce, situada no sudoeste goiano, com 2.830 habitantes e localizada a 290 km de Goiânia, às margens da rodovia GO-174. A cidade não oferece abrigos ou possui alguma instituição governamental ou da sociedade em que os andarilhos recebam apoio e que poderiam ser coletados os dados. Assim a pesquisa foi realizada na praça em frente à rodovia, no período de março a maio de 2011. Os andarilhos foram abordados quando acampados na praça ou trafegando na rodovia, e o grupo de moradores, nas cercanias da praça. Grupo 1: O grupo de andarilhos, foram nove homens e uma mulher, com idade variava de 30 a 64 anos (M=49,4; dp=10,5); quanto ao estado civil, oito afirmaram ser solteiros, um casado e dois separados. Eram naturais de vários estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Acre e estados do Nordeste. Quanto à escolaridade sete afirmaram ser analfabetos e três de terem cursado a primeira fase do ensino fundamental. Grupo 2. O grupo de moradores foi escolhido dentre os transeuntes da cidade de forma a serem equivalentes com a amostra de andarilhos, assim foram eram nove homens e uma mulher, com a idade entre 36 e 64 anos (M=46,4; dp=10,59), sendo cinco solteiros e cinco casados, com a renda familiar na maioria entre 1 a 2 salários, e um de 3 a 5 salários, com o grau de escolaridade: um analfabeto, dois do ensino médio, sete do ensino fundamental; com naturalidade de Minas Gerais e Goiás. Foi utilizada a técnica da entrevista semiaberta para colher a história de vida pessoal e social para caracterizar tanto a população de andarilhos da região quanto o grupo de moradores. Com o questionário biográfico se obteve os dados demográficos e econômicos: sexo, idade, local de nascimento, religião, escolaridade, renda familiar. A entrevista constava de perguntas sobre lugares que já morou, laços familiares, histórico de doenças, internações e uso de álcool e outras drogas, planos futuros (10 anos). Somente para o grupo de andarilhos foi investigado a história da errância: quando tempo está na condição de andarilho, formas de sobrevivência na estrada, motivos para ter se tornado andarilho e rota (trecho que percorrem). A segunda técnica de investigação utilizada neste estudo foi aplicação de escalas. Para acessar a REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 83 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES perspectiva de tempo foi utilizado o Inventário de Perspectiva Temporal do Zimbardo – ZTPI. O ZTPI foi validado por Leite e Pasquali (2008), com 56 itens que representam proposições sobre crenças, preferências e valores de experiências temporais, com cinco subescalas distintas: 1) Passado-negativo que refletem uma visão negativa aversiva do passado; 2) Presente-hedonista, medindo uma atitude hedonista e de risco em relação ao tempo e à vida; 3) Futuro com itens apresentando uma orientação para ações futuras de planejamento e expectativas; 4) Passado-positivo que reflete uma visão do passado, mas contrária ao do primeiro fator; e 5) Presente-fatalista revela um fatalismo e uma atitude de falta de esperança com a vida e o futuro. Neste estudo foi aplicada a versão reduzida composta por 15 itens. Para construí-la, se utilizou o critério de Van Ittersum (2012) de incluir os três itens com maior carga fatorial, totalizando 15 itens (Em ANEXO). Também foi utilizada a Escala sobre a Valoração Interna da Família (FORMIGA, 2004, FORMIGA et al. 2008). O instrumento é composto por oito itens: Compreensão, Afeto e carinho, Disposição ao perdão, Ter uma situação econômica boa, Confiança, Liberdade, União entre toda a família e Boa relação conjugal entre os pais. Esses itens são avaliados quanto ao grau de importância que têm para a relação familiar (atual ou anterior). Os dois instrumentos são autoaplicáveis, mas pela dificuldade de leitura e o analfabetismo na maioria dos casos, a pesquisadora aplicou o questionário. No ZTPI as respostas são registradas indicando quão característica cada afirmação é para o respondente em uma escala Likert de 5 pontos, de absolutamente não característico = 1 a muito característico = 5. Nos indicadores da relação familiar, o participante deve indicar o grau de importância que eles teriam para sua relação familiar, em uma escala Likert, de cinco pontos, a qual variava de 1= Nada importante a 5 = Muito importante. Dentre o grupo de andarilhos, três participantes não conseguiram responder ao protocolo de 84 REVISTA ONLINE UniRV/ pesquisa plenamente. Um deles tinha sinais de demência, outro mais jovem de retardo mental e a mulher, estava muito alcoolizada. Assim parte dos dados não tinha como ser coletado. Então esses participantes entram em algumas análises, outras não. Foram seguidas todas as normas éticas científicas para a realização de pesquisa com seres humanos. Antes do início da aplicação do questionário pela pesquisadora, era apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Aos participantes analfabetos ou/e portadores de perturbação ou doença mental ou retardo, o TCLE era lido na frente de uma testemunha que não tinha envolvimento direto com o projeto de pesquisa. Essa pessoa assinava o documento certificando que todas as informações foram dadas ao participante. Os moradores eram recrutados dentre os pedestres na mesma região que transitam os andarilhos, nas proximidades da rodovia e o mesmo procedimento realizado para os andarilhos era aplicado. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Rio Verde (Protocolo 062/2011). RESULTADOS E DISCUSSÃO No período da coleta de dados andarilhos, coincidiu com o período de chuvas o que pode ter dificultado a mobilidade dos andarilhos que costumam transitar na região da pesquisa. Assim foram encontradas, apenas dez pessoas na condição de andarilhos, sendo nove homens, e somente uma mulher. Três participantes do grupo de andarilhos tiveram sua participação limitada, devido algumas dificuldades intrínsecas ao grupo: um deles tinha sinais de demência, outro, mais jovem de retardo mental e a mulher estava muito alcoolizada. Por este motivo parte dos dados não tinha como serem coletados, então estes participantes entram em algumas análises, outras não. Para a melhor descrição do perfil demográfico e econômico dos participantes, andarilhos e moradores, estão dispostos na Tabela 1 os dados por participante. Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES Quanto ao sexo dos participantes, quase totalidade era do sexo masculino, o dado confirma Araújo e colaboradores (2011), que argumentam que este fenômeno pode demonstrar que a maioria das mulheres se encontra geralmente inserida no contexto familiar, sendo membros ativos de famílias. Quanto à idade dos participantes do grupo de andarilhos tinham dois idosos, um jovem com aparência de aproximadamente 30 anos e a maioria, sete, tinham entre 40 e 55 anos. Verifica-se que os achados abrangem uma diversidade de idade, mas com maior grupo com idade referente à força de trabalho, confirmando achados de Justo e Rocha (2005, p.1), que afirmam: “os andarilhos da atualidade são tomados como caso paradigmático da itinerância desencadeada a partir do trabalho assalariado, cada vez mais volátil, provisório, volante e submetido ao mercado”. E França (2007, p.8) que afirma que o desemprego tem um papel crucial na determinação da errância, porque se por um lado expulsa o sujeito da vida sedentária e, por outro, obriga-o a vagar incessante e incertamente em busca de oportunidades de trabalho. Justo e Nascimento (2005) afirmam que é constante as migra- REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 85 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES ções da família (deslocamentos do nordeste para o sudeste, mudanças de regiões ou de propriedades rurais, êxodo do campo para a cidade), baixa escolaridade e desqualificação da mão-de-obra. Na investigação do histórico da vida social, e saúde e abuso de substâncias, primeiramente investigou-se sobre as atividades recreativas e de lazer, o grupo de andarilhos relatou não ter nenhum lazer. Mas o grupo de moradores também não se diferenciou muito, estes relataram poucas atividades de lazer: dois afirmaram que faziam caminhadas, e um, que pescava. Os andarilhos não possuíam animais de estimação, enquanto que entre os moradores, a maioria afirmou que possuía cachorro ou gato. Um afirmou que possuía uma égua e outro, pássaros. Quanto à história de saúde, no relato de doenças atuais, andarilhos e moradores não diferiram, 60% em cada grupo disse não ter nenhuma doença. Entre os andarilhos foram relatados: Pressão baixa, doença chamada “muquiana”, dor nas pernas, paralisia nas mãos. Entre os moradores, uma pessoa disse ter colesterol alto, sinusite, labirintite e hipertensão, e as outras três: dor de coluna, dor de cabeça e hipertensão. No relato de doenças anteriores, dentre os andarilhos, seis relataram não ter tido doenças, e os quatro relataram ter tido: “meningite aos 3 anos”, “bebida”, “facada no sem- terra” e um relatou ter tido: “sarampo, catapora e caxumba”. Entre os moradores somente três relataram não tido doenças, os outros relataram: “bebida”, “dengue”, “pedra na vesícula e depressão”, “enxaqueca e furúnculo”, “infecção de garganta”, “gastrite crônica” e dois que afirmaram ter tido “dengue”. Observa-se que os moradores relataram ter tido mais doenças que os andarilhos, o que pode ser pela falta de percepção da própria condição e falta de cuidados dos andarilhos. É possível identificar no relato dos andarilhos delírios ou alucinações, mas isto não é mencionado por esses como sintomas de doenças, mesmo pelo participante 1, que relatou internação em hospital psiquiátrico. Outro participante, quando lhe foi oferecido assistência médica, recusou afirmando que não confiava, iriam injetá-lo veneno e matá-lo. Já quanto a internações mais andarilhos (sete) 86 REVISTA ONLINE UniRV/ afirmaram ter sido internados e por várias vezes, contra seis moradores. Os motivos de internação entre os andarilhos: três afirmaram ter tido várias internações por alcoolismo, um em hospital psiquiátrico, outro por pneumonia, outro por ter quebrado a perna, e outro, várias vezes sem identificar as causas. Dentre os moradores os motivos da internação eram: acidente e hipertensão. Observa-se a distinção nos motivos das internações que confirmam o uso abusivo de bebidas alcoólicas apontados em outros estudos (NASCIMENTO; JUSTO, 2000, JUSTO; NASCIMENTO, 2005). No uso de medicações, foi outro quesito que se verificou diferença entre os dois grupos. Dentre os andarilhos, um relatou utilizar anador e “pinga” para dor de dente, outro usa café com sal como medicamento e um relatou que não consegue os medicamentos que precisa. Entre os moradores seis relataram não utilizar medicamentos e quatro relataram utilizar medicamentos para hipertensão, gastrite, labirintite e anti-depressivo. Nas observações do estado geral dos andarilhos eram visíveis as deficiências físicas e mentais. Além de delírios, alucinações, estado alcoolizado, havia sintomas físicos crônicos como: paralisia nas mãos que dificultava até a alimentação e problemas nas pernas que dificultava a locomoção. Pode-se observar a precariedade da assistência médica recebida, ou dos cuidados pelos andarilhos, mesmo os que ainda tinham a capacidade de perceber seu estado de saúde, afirmaram não conseguir os remédios que necessitavam. Quanto ao uso do fumo, o mesmo número de entrevistados dos dois grupos, equivalente a 33%, relataram fazer uso contínuo e de longo tempo. Já em relação ao uso do álcool, 70% dos andarilhos relatou fazer uso contínuo, contra 20% dos moradores que faziam uso esporádico. Um dos moradores relatou ter tido problemas com alcoolismo, mas agora não tem. As bebidas consumidas pelos moradores é cerveja, enquanto que pelos andarilhos é cachaça, “uma bebida quente”, mas essencialmente o que conseguem, até etanol com Coca-Cola, a “maria doida”. Quanto às drogas ilícitas, um dos andarilhos afirmou ter usado e outro que ainda usa maconha. Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES Como previsto na literatura o uso (abuso) do álcool prevalece em relação às outras drogas, confirmam outros estudos. Peres (2002a) afirma que os andarilhos de estrada têm seu estilo de vida baseado na seguinte tríade: bebida, migração e trabalhos temporários e eventuais. Conforme achados de Nascimento e Justo (2000) o uso do álcool, é visto pelos andarilhos como uma necessidade para esquecer problemas, em geral, conflitos afetivos não resolvidos, que possuem como centro a infidelidade conjugal. Os fatores desencadeantes ou motivadores da errância relatados pelos participantes foram categorizados da Tabela 2. Seguiu-se a categorização de Peres (2002) dos fatores desencadeantes da errância em dois planos: psicológico e socioeconômico. Assim observou-se que os participantes apontam mais de um fator, mostrando uma interação entre o psicológico e o socioeconômico. Dentre os dez participantes, seis apontaram a ruptura com a família como um fator desencadeante. Os outros, apesar de não mencionarem esse fator como importante, relatam falta de vínculos familiares, como afirmou o participante 10: “Às vezes você confia demais na sua família e ela te acha boba”. O relato deste outro participante aponta os dois planos, incluindo busca por trabalho, falta de apoio trabalhista, como também problemas com a família: “Eu era segurança, inspetor de segurança e fazia um curso de arma, ai teve uma greve e eu fiquei desempregado. Tentei fazer curso de cabo. A minha vida era um mar de rosa, minha mãe morreu eu tinha 23 anos, ela não era ruim pra mim não, eu era casado e tinha 4 filhos. Foi na época do Collor, fiquei desempregado, e comecei a pedir esmola, fui para Brasília a pé e deixei a mulher e meus 4 filhos, o meu primeiro salário eu mandei para eles, ai descobri que ela tinha arrumado outro marido. Ai eu fui para a usina, lá eu cortei uma veia do braço, ai eu acabei assim” (P. 9). Observa-se também nesse relato a perda da coerência na fala, o que pode ser efeito do tempo nas estradas. Cinco participantes apontaram o plano econômico tanto para o início como na permanência da errância. Dois participantes mostravam avançado estado de doença mental, um de retardo e outro de demência, e não responderam à pergunta sobre a história da errância, mas se pode deduzir que estes, aliados à falta de apoio familiar e governamental, podem ser os motivos da errância. Outro participante (P. 1) deixa claro no relato a doença mental como fator predominante na errância: perdeu os pais com 15 anos, se envolveu com drogas, foi preso por isto, ficou perturbado ouvindo voz e não se adaptou aos empregos que teve. Em 2008, arrumou um trabalho, mas não deu certo por causa dessa voz que continua a lhe manda fazer coisas erradas. O participante 3 quando questionado sobre os motivos para a errância, afirmou: “É o destino, passear conhecer as cidades, isso aliado à sua história de vida de não ter formado vínculos ou casado, mostra evidências de que grande parte dos andarilhos, como afirmam Justo e Nascimento (2005) é formada por verdadeiros dromamanes, que já abandonaram todas as perspectivas e sonhos de encontrar trabalho, restabelecer uma família, ter uma moradia e fixar-se num lugar. E que a própria errância se torna uma forma de conforto e estilo de vida para amenizar o sofrimento dos andarilhos. REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 87 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES Foi observado em dois participantes, o que parece o início do processo do fenômeno da errância. Um deles andava sem camisa, de bermudão. Ao ser informado que a pesquisa abordava as pessoas que andam a pé, respondeu: “Eu não sou andarilho, eu estou indo pra Bahia. Eu morava na Bahia, era amasiado, ai descombinei com a minha mulher e fui embora para o Mato Grosso”. Lá ele trabalhava em uma carvoeira e como não estava sendo pago, resolveu voltar para terra de origem. Trilhando, segue sem dinheiro, sem documentos, sem vínculos familiares uma “volta” errante para casa. Os participantes não souberam informar a rota ou cidades que percorriam. Quanto às coisas que carregavam, dois participantes (P. 9 e P. 10) foram os que mais tinham bagagens. P.9 empurrava uma bicicleta, que havia ganhado, e nela havia uma caixa de plástico amarrada na garupa e mais sacos e objetos pendurados abriam para os lados, até uma vara de pescar. P. 10 carregava treze sacos, sacolas, varas para armar barraca e outros objetos. Para carregar tudo, ele trançava as varas na cabeça e dependurava os sacos e objetos nas estacas e nos ombros. Observa-se no grupo de andarilhos estudado a heterogeneidade desta população, apesar do número pequeno de participantes, que corroboram a literatura quanto à descrição da composição deste grupo. Encontra-se no grupo pessoas com problemas mentais, outro, típico dromomane e aqueles que parecem ter sidos empurrados para errância por problemas de conflito familiar, estes ainda sonham em voltar ao lar e recomeçar a vida ao lado da própria família ou começar outra. 88 REVISTA ONLINE UniRV/ Quanto ao perfil de perspectiva de tempo, os andarilhos apresentaram o futuro mais alto (M=3,16), seguido do presente-hedonista (M=2,67; dp=1,55), do passado-negativo (M=2,61; dp=1,08), presente-fatalista (M=2,50; dp=0,62) e passado-positivo (M=2,28, dp=1,16) (Figura 1). Quando avaliado o perfil dos andarilhos isoladamente, a perspectiva de tempo futuro foi mais alta que a perspectiva de tempo presente. Este resultado não foi o esperado conforme estudos relatados na literatura. Estudos com moradores de rua e outros grupos de nível socioeconômico mais baixo, mostra que estes são associados com a orientação presente. Este resultado precisa ser mais explorado em futuros estudos. Uma das explicações pode estar nas questões culturais. Os estudos encontrados apresentam a realidade dos Estados Unidos ou da Europa, assim possivelmente questões culturais podem estar envolvidas. A pobreza e a desigualdade são uma realidade constante na vida do brasileiro que podem atuar como um agente de resiliência, fazendo com que as pessoas não caiam em desespero, mas mantenha a esperança. Por outro lado, nos últimos anos houve um crescimento acompanhado por condições macroeconômicas e políticas positivas que podem também ter o efeito de aumentar a perspectiva de tempo futuro neste grupo. Mas quando comparado com o perfil dos moradores, os andarilhos apresentaram médias mais baixas no passado positivo, passado negativo e futuro, e médias mais altas no presente hedonista e presente fatalista (Figura 1) como esperado. Mas somente a diferença do passado positivo foi estatisticamente significativa (p<0,10) (Tabela 2). Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES Comparando com o perfil da perspectiva de tempo balanceada proposto por Zimbardo e Boyd (2008), os dois grupos apresentam discrepâncias, mas o grupo dos andarilhos apresentou maiores discrepâncias. Quando se investigou a perspectiva de tempo futuro, perguntando como se imaginavam ou o que esperavam daqui a dez anos, três participantes do grupo de andarilhos apontaram a necessidade de ter uma estrutura de amparo para seu atual estado de mendicância (P1, P3, P4). Previram que não conseguirão mais andar e necessitarão de um abrigo. Outro espera entrar no sistema de assistência social pagando a previdência. Dois participantes esperam reconstruir a vida, ter família, emprego e morada fixa (P6 e P8), mas um deles apresentava uma atitude fatalista, de que jamais conseguiria realizar seus sonhos. Um deles apresentou delírios e desejo de morte (P10). Entre os dez participantes moradores da cidade, somente dois apresentaram uma perspectiva de tempo futuro diminuída, um afirmando que Deus é que sabe e o outro que só vive o presente. Os outros oito todos mencionaram família como componente principal nas suas expetativas futuras. Eles esperam constituir uma família, casando-se e/ ou mantendo em harmonia a família constituída. A preocupação com a moradia também está presente, quando relatam que querem manter o lugar em que moram ou procurar melhoras. Como afirmam Fieulaine e Apostolidis (2015), es- tamos em uma época de crise ambiental, social e econômica causada pelas evoluções do capitalismo moderno, por isto se torna fundamental medidas a longo prazo ao invés de se implementar apenas soluções paliativas no presente imediato. Além disso, manter a direção para o futuro, apesar da imprevisibilidade do presente, é uma exigência para se tornar consciente e lutar contra a injustiça e as desigualdades. A perspectiva de tempo, reiteram os autores, não é somente um arcabouço teórico, mas é também é uma via de saída da alienação para emancipação. Comparando a dinâmica das relações familiares (Tabela 3), não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre os moradores e os andarilhos nos itens: compreensão, afeto e carinho, disposição ao perdão, confiança, liberdade, união entre toda a família e boa relação conjugal entre os pais, visam a uma boa relação familiar. Estes indicadores não diferenciaram os dois grupos. Observou-se uma diferença significativa em um indicador da relação da dinâmica familiar: ter uma situação econômica boa (p<0,05). O que os diferenciam é que os andarilhos não deram importância a ter uma situação econômica boa como um fator para uma boa dinâmica familiar. REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 89 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES Uma estrutura econômica é importante para que a família sobreviva com suas funções sociais (FORMIGA, 2011), mas considerando esses resultados, para os andarilhos não parece um indicador primordial para que a família tenha uma boa relação interna de harmonia e comportamento social aceitável, mas para os moradores sim. Pode-se concluir que tanto para os moradores como para os andarilhos a família é a base para um funcionamento adequado entre dimensões que visam a uma formação moral, social e psicológica (FORMIGA, 2004), considerando as dimensões: compreensão, afeto e carinho, disposição ao perdão, confiança, liberdade, união entre toda a família e boa relação conjugal entre os pais, visam a uma boa coesão familiar. Apesar das mudanças e crises da família vivenciadas na contemporaneidade, a família ainda é o principal suporte, sendo o último vinculo a ser desfeito pelo andarilho. Assim é a instituição mais capacitada para receber e reintegrar o andarilho. De fato no documento da Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua (BRASIL, 2008) é feito o reconhecimento da família como ponto de partida para (re)integração dessas pessoas à sociedade. Neste estudo a grande maioria dos pesquisados parecia ter sido empurrada para errância por 90 REVISTA ONLINE UniRV/ problemas de conflito familiar, e apresenta o desejo em voltar ao lar e recomeçar a vida ao lado da própria família ou começar outra, como também valorização a integração familiar. Por outro lado já se espera que nos casos dos andarilhos haja a vulnerabilidade do sistema familiar que pode ter sido desencadeador da errância. É importante a possibilidade de se intervir na conduta das pessoas para o retorno da harmonia e organização familiar. Como foi encontrado neste estudo, não houve disparidades entre a dinâmica familiar para os andarilhos e moradores, a não ser para o quesito condição econômica, contribuindo para uma percepção mais ampla dos problemas que a família e seus participantes possam enfrentar e, que possibilite a inserção dos andarilhos na família. Para Justo (2011), os andarilhos representam um extremo da vida contemporânea e também um modelo de mobilidade. E entender as razões desses homens pode ser um grande aprendizado para entender nosso tempo. Conforme Julião (2013) estudiosos defendem que esse modo de vida deve ser respeitado e que a pessoa tenha condições dignas de vida. Mas, faltam políticas públicas para quem quer deixar a errância e se estabelecer nas cidades; como também falta apoio para quem optou pela vida em trânsito manter a sua escolha com Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES dignidade. É necessário que se garanta as moradias sociais e as repúblicas, casas que pertencem ao poder público, mas onde moradores possam levar uma vida autônoma e que preze a sua individualidade. Atualmente, mesmo esse modelo das casas de passagem [albergues], estes são poucos e somente em cidades de grande porte, e entre os existentes chega a haver os que abrigam mil pessoas de uma vez, tirando o direito de privacidade, o que os afugenta. Julião (2013) explica que em 2004, a Lei Orgânica de Assistência Social mudou o tratamento dado aos migrantes com a criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), passando a ser encaminhado ao Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social). Desta forma o andarilho só tem um lugar para ficar se estiver doente, por exemplo. Do contrário, recebe uma passagem de ônibus para outra cidade. Muitos serviços sociais municipais possuem escritórios nas rodoviárias para impedir que os pardais entrem nas cidades. Além de não ter o direito à assistência governamental, o direito à liberdade para essas pessoas fica restrito. Aliás, a política de assepsia dos lugares públicos é uma prática comumente adotada pelos municípios nos espaços urbanos, em que utilizam até de jatos d’água para retirar mendigos e moradores de rua da rua. E atualmente incorporada pelas concessionárias das rodovias. Justo afirma que é política de toda cidade se livrar dessa população. Os especialistas concordam que sempre haverá pessoas vivendo nas ruas ou nas estradas, mas que essa deve ser a última opção quando houver o máximo de alternativas (JULIÃO, 2013). Conclusões Conclui-se que a falta de apoio da família, a morte de um ente querido, a pobreza, e as doenças mentais empurram os andarilhos para a estrada, carregando quase nada, somente o de extrema necessidade para sua sobrevivência. Uma vez na estrada, a bebida, além dos problemas mentais, que também podem ter sido adquiridos nas condições de vida na estrada, os acompanham. Os andarilhos são voltados para o futuro e o presente hedonista. Apostam em um futuro com estrutura de assistência com abrigo e alimentação quando não conseguirem mais andar. Alguns nutrem a esperança de reconstruir a vida fora da errância, casar e ter uma família. Os andarilhos, apesar de não terem vínculos familiares atuais dão importância à família, e acreditam que não seja importante para a harmonia familiar ter uma situação econômica boa. Os andarilhos são uma parte da sociedade que se direcionou para um caminho que os tornam excluídos. Os governos fazem pouco ou nada para amparar esse grupo que merece ser respeitado, e necessita ser amparado. A sociedade civil age de diferentes formas: alguns os ignoram, outros lhes fecham as portas, outros fogem de medo, e alguns agem pela compaixão e ajudam dando um alimento, água ou até mesmo uma roupa. Espera-se que o presente estudo traga mais uma voz a este grupo que parece não ter a sua própria. Que embalado nas memórias passadas, considerando um futuro distante, o presente traga mudanças sociais urgentes. REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 91 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, C. L. DE O.; SILVA, M. S.; JEREMIAS, S. S., SANTOS, V. L. Para um perfil do idoso-andarilho. Revista Kairós Gerontologia, v. 14, n. 2, p. 175-185, 2011. BALLONE G. J. Alterações da Atividade Voluntária. Em PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005. BRASIL, Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua, 2008, Disponível em: http://www.mds.gov.br/backup/arquivos/versao_da_pnpr_para_consulta_publica.pdf, Acesso em: Novembro, 2014. BONIWELL, I., ZIMBARDO, P. (2003). Time to find the right balance. The Psychologist, v. 16, pp. 129131. CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário (I. D. Poletti, Trad.). Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. CATON,C. L., et al.. Risk factors for homelessness among women with schizophrenia. American Journal of Public Health, v. 85, n. 8, pp. 1153-1156, 1995. Disponível em: http://ajph.aphapublications.org/cgi/ content/abstract/85/8_Pt_1/1153 Acesso em: 20 out. 2010 CRESWELL, J. W. Research design: Qualitative, quantitative and mixed method approaches. Thousand Oaks: SAGE Publications, 2003. DITTMANN-KOHLI, F.; WESTERHOF, G. J. The SELE sentence completion questionnaire: A new instrument for the assessment of personal meaning in research on aging. Anuario de Psicologia, 1997, v. 73, pp. 7–18. ENRIQUE, J.; HOWK, H.; HUITT, W. (2007). An overview of family development. Educational Psychology Interactive. Valdosta, GA: Valdosta State University. Disponível em: http://www.edpsycinteractive.org/ papers/family.pdf Acesso em: 20 jan. 2014 EPEL, E. S., BANDURA, A., ZIMBARDO, P. G. Escaping homelessness: The influence of self-efficacy and time perspective on coping with homelessness. Journal of Applied Social Psychology, v. 29, pp. 575596, 1999. FIEULAINE, N.; APOSTOLIDIS, T. Precariousness as a time horizon: how poverty and social insecurity shape individuals time perspectives. In: M. Stolarski et al. (eds.), Time Perspective Theory, Review, Research and Application: Essays in Honor of Philip G. Zimbardo, Switzerland: Springer International Publishing, p. 213-228, 2015. FORMIGA, N. S. Um estudo intracultural dos indicadores da relação familiar. Psic: Revista da Vetor Editora, São Paulo v. 5, n. 1, 2004. FORMIGA, N. S., SILVA, N. L. SILVA-NETA, A. B. Escala sobre a dinâmica interna da família: sua validade fatorial a partir da modelagem de equação estrutural. Psicologia.com.pt, 2008. 92 REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES FRANÇA, A. A. (2007). Trechos de vidas errantes no tempo e no espaço do movimento: estudo com andarilhos de estrada. Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - Departamento de Psicologia e Educação. Ribeirão Preto - São Paulo. HACKING, I. Mad travelers: reflections on the reality of transient mental illnesses, New York: Harvard University Press, 2002. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Censo Demográfico 2010 - Resultados do universo. Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.b, Acesso em: 20 dez. 2012. JULIÃO, A. Vidas errantes. Unesp Ciência. setembro de 2013. Disponível em: http://www.unesp.br/ aci_ses/revista_unespciencia/acervo/45/estudo-de-campo. Acesso em: 20 dez. 2014. JUSTO, J. S. Andarilhos e trecheiros – Errância e nomadismo na contemporaneidade Maringá: Eduem, 2011. JUSTO, J. S. Errância e errantes: um estudo sobre os andarilhos de estrada. Em: J. S. Justo & R. Y. Sagawa (Orgs.) Rumos do saber psicológico (p. 125-139). São Paulo, SP: Arte & Ciência,1998. JUSTO, J. S., NASCIMENTO, E. C. Errância e delírio em andarilhos de estrada. Psicologia: Reflexão e Crítica,v.18, n.2, pp. 177-187, 2005. JUSTO, J. S., NASCIMENTO, E. C. Road wanderers in Brazil: A study on modern psychosocial human mobility. International Journal of Sociology and Anthropology, v. 4, n. 5, p. 165-171, 2012. JUSTO, J. S.; ROCHA, L. C. Dromologia e trabalho na contemporaneidade: o caso dos andarilhos. São Paulo: Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar. Assis, SP: Unesp. 2005. Disponível em: http://www2.assis.unesp.br/encontrosdepsicologia/ ANAIS_DO_XIX_ENCONTRO/143_JOSE_STERZA_ JUSTO.pdf Acesso em: 12 dez. 2013 LEITE, U. R. Perspectiva de tempo: teoria, medida e impacto no estresse. Tese (Doutorado em Psicologia). Programa de Pós-Graduação de Psicologia Social das Organizações e do Trabalho – PSTO - Universidade de Brasília, UnB, Brasília, 2014. Disponível em: http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/17149/1/2014_UmbelinadoRegoLeite.pdf Acesso em: 20 dez. 2014 LEITE, U. R., PASQUALI, L. Estudo de validação do Inventário de Perspectiva de Tempo do Zimbardo. Avaliação Psicológica, v. 7, n. 3, p. 301-320, 2008. LENNINGS, C. J. Self-efficacy and temporal orientation as predictors of treatment outcome in severely dependent alcoholics. Alcoholism Treatment Quarterly, v 14, n. 4, 71-79, 1996. LEWIN, K. Time Perspective and Morale. In: G. W. Lewin (Ed) Resolving social conflicts, selected papers on group dynamics.1935-1946. New York: Harper , (pp. 103-124), 1942. MDS - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. Relatório do I Encontro Nacional sobre População em Situação de Rua. Secretaria Nacional de Assistência Social. Secretaria de REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004 93 PERDIDOS NO TEMPO E NO ESPAÇO: UM ESTUDO DO PERFIL, DA PERSPECTIVA DE TEMPO E DA IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES DE ANDARILHOS EM COMPARAÇÃO A MORADORES Avaliação e Gestão da Informação. Novembro de 2006. http://www.mds.gov.br/biblioteca NASCIMENTO, E. C.; JUSTO, J. S. FRANCA, S. A. M. Errância e normalização social: um estudo sobre andarilhos de estrada Psicologia em Estudo, Maringá, v.14, n.4, pp. 641-648, 2009. NASCIMENTO, E. C.; JUSTO, J. S., Vidas errantes e alcoolismo: uma questão social. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 13, n.3, pp. 529-538, 2000, PERES, R. S. Andarilhos de estrada: estudo das motivações e da vivência das injunções características da errância. Psico-USF v. 6, n. 1, p., 67-75. 2001. PERES, R. S. JUSTO, J. S. Contribuições das técnicas projetivas gráficas para a compreensão da personalidade de andarilhos de estrada. Estudos de Psicologia (Natal), v.10, n.2, pp. 305-312, 2005. PERES, R. S. O Desenho da Figura Humana de Machover aplicado em andarilhos de estrada1. Psicologia: Teoria e Prática, 2002a, v. 4, n.1, p. 81- 92. PERES, R. S. Tão longe, tão perto: andarilhos de estrada e a vivência do distanciamento familiar. PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, 2002b, v. 3, n.2, p. 6-13 PETRY, N. M., BICKEL, W. K., ARNETT, M. Shortened time horizons and insensitivity to future consequences in heroin addicts. Addiction, 93(5), 729, 1998. PLUCK, G., et al Time perspective, depression, and substance misuse among the homeless. The Journal of Psychology, 2008, v. 159, n. 10. Acesso em: 25/10/2010. Disponível em: legroup.com.proxy.library. vanderbilt.edu/itx/start.do?prodId=ITOF>. REDANTE, D.; et al. Cuidando o idoso e a família. Família, Saúde e Desenvolvimento, v. 7, n. 2, p. 158-63, 2005. TAVARES, E. C. Roteiro Básico para Elaboração do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Disponível em: http://www.fumec.br/anexos/pesquisa/roteiro_basico_TCLE.pdf VAN ITTERSUM, K. The effect of decision makers’ time perspective on intention–behavior consistency. Mark Lett, 2012, v. 23, p. 263–277. ZIMBARDO, P. G., BOYD, J. N. O paradoxo do tempo: A nova psicologia do tempo que mudará sua vida. Adriano S. Trad. Fontanar: São Paulo, 2009. ZIMBARDO, P. G., BOYD, J. N. Putting time in perspective: A valid, reliable individual-differences metric. Journal of Personality and Social Psychology, v 77, 1271-1288, 1999. 94 REVISTA ONLINE UniRV/ Ano 1, Número 1, Janeiro/2015 Universidade de Rio Verde ISSN: 2359-4004