orientações sexuais, evolução e genética

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orientações sexuais, evolução e genética
ISSN 1809-0362
ORIENTAÇÕES SEXUAIS, EVOLUÇÃO E GENÉTICA
Valter Forastieri*
*
Professor do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das Faculdades Jorge Amado – FJA. Mestre em Ensino, Filosofia e História
da Ciência pela Universidade Federal da Bahia - UFBA. E-mail: [email protected]
Resumo: A variedade de orientações sexuais pode ser explicada por fenômenos de vários níveis: genético, biológico, epigenético,
psicológico e cultu ral. Este a rtigo revisa, de um ponto de vista interacioni sta, a questão da evolução biológica da orientação sexual.
Também são sistematizadas as explicações de nível genético que foram propostas como explicações causais para a variedade de
orientações sexuais.
Palavras-chave: orientações sexuais; evolução biológica.
Abstract: The variety of sexual orientations may be explained by phenomena in several levels: genetic, biological, epigenetic,
psychological and cu ltural. This arti cle reviews, in an in teractive point of view, the matter of the biological evolution of the sexual
orientation. The explanations of genetic level that were proposed as causal explanations to the variety of sexual orientations are also
systematized.
Keywords: sexual orientations, biological evolution.
1 INTRODUÇÃ O
Os traços comportame ntais complexos, como a orientação sexual, caracte rística pe culiar da espé cie
humana, têm sido muitas vezes encarados pe los pesquisadore s como: (1) de origem gené tica, ou se ja,
como conseqüê ncias apenas de e ventos ao níve l ge né tico (re ducionismo ge né tico); (2) re sultado da ação
de fenômenos ao nível ambie ntal, que fariam com que pessoas com o mesmo genótipo, a depende r das
ações ex te rnas, pudessem apresentar grande variação de fenótipos, o que se ria, assim, uma visão
epigené tica, na medida em que o traço se ria fortemente influe nciado pe lo ambiente , porém sem que
pudessem se r removidas as influências ge né ticas (visão inte racionista); (3) ou, ainda, o traço estaria em
um nível mêmico. (W ER NER , 1998). Memes podem se r definidos como ce rtos comportamentos que
sofre ram intensa ação cultural, independe ntemente de uma base gené tica. De sse modo, essa última
posição congregaria as visões dete rm inistas ambientais. Em uma abordagem inte racionista, conside ra-se
que a orientação sexual é resultado da inte ração de fenômenos que têm lugar aos níve is gené tico,
epigené tico (fatore s biológicos não-ge né ticos) e mêmico. Neste artigo, discutiremos a base e volutiva da
orientação sex ual e as possíve is contribuições do níve l gené tico.
2 EVOLUÇÃO E ORIENTA ÇÕES SEXUA IS
Para um pesquisador que não se ja de te rm inista ambiental, um dos de safios da pesquisa sobre
orientação sexual é mostrar que há uma base biológica para o traço. Outro desafio é identificar os fatores
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se le tivos que re sultariam em uma chance supe rior de sobre vivência para os possuidores do traço.
(FUTUYMA; R ISCH, 1984). Sendo assim , ex istem duas questões a se rem respondidas na pesquisa sobre
base s biológicas da orientação sexual: uma sobre estrutura, outra sobre adaptação. (W ER NER, 1998).
Estas duas questõe s estão, contudo, intimamente re lacionadas, uma vez que a questão e volutiva
envolve ne cessariamente a questão da e strutura de um traço. As restrições estruturais associadas ao
‘design’ de um organismo produzido pe lo próprio proce sso e volutivo têm conse qüências para a e volução
futura, uma vez que lim itam quais mudanças são possíve is ou não na história filoge né tica. Na busca da
origem estrutural da orientação sexual, de ve-se analisar a e volução de comportamentos que se jam
homólogos à orientação sex ual humana. Como o registro fóssil dos hominídeos é pobre, os e studos se
concentram em comportamentos que possam se r ancestrais da orientação sexual. Vale deixar claro que
tais comportame ntos podem se r até similares, mas não são equivalentes à
homossexualidade ,
he te rossexualidade ou bissexualidade (W ER NER, 1998, p 15-16), que são caracte rísticas pe culiares da
espé cie humana. (BANCRO FT, 1994).
O estudo dos comportamentos sim ilares e a análise de seus pontos em comum com a orientação
sexual humana podem dar pistas de como a homossexualidade , por exemplo, é estruturada. Um
im portante passo para garantir a qualidade desses estudos consiste na preocupação em separar os
comportamentos que podem se r homólogos1 e , assim, podem re nde r informações pre ciosas a respeito da
origem e da estrutura da orientação sexual, de outros que são análogos2, não tendo, assim, re lação
filoge nética com este traço. (W ER NER , 1998). Por exemplo, ce rtos ve rmes marinhos (Moniliformis dubius)
come tem o chamado ‘estupro homossexual’, no qual um macho fe rtiliza a abe rtura genital de outro à
força. O espe rma do macho ‘estuprador’ bloque ia a abe rtura ge nital do macho ‘estuprado’, tornando-o
incapaz de fe rtilizar qualque r fêmea. Esta inte re ssante estratégia de elim inação de concorre nte s se repe te
em várias espé cie s, mas não passa, claramente , de um análogo da homossexualidade, não se ndo possíve l
de rivar informações realmente úte is sobre esta última a partir de seu estudo. (W ER NER , 1998).
Primatas
apre sentam
comportamentos
que
pode riam
dar
pistas
sobre
a
origem
da
homossexualidade humana, apesar de não se r justificada a afirmação de que indivíduos deste grupo, com
ex ce ção, obviamente, de humanos, podem se r homossexuais, nem a proposição, em te rmos ge rais, de
que tenham orie ntações sexuais no mesmo sentido em que os humanos as têm. We rne r (1998) realizou
um levantamento de comportamentos sexuais que pare cem se r os homólogos aos comportamentos
homossexuais humanos e notou que , entre primatas, comportamentos homossexuais são particularmente
dive rsos, incluindo práticas como a de um macho se r montado por outro (em Macaca nemestrina,
babuínos, orangotangos, chinpanzés e bonobos), monta com pe ne tração anal (em Macaca arct oides,
Saimiri sciureus) e monta com pene tração anal le vando à e jaculação (macacos japoneses, macacos
rhesus, gorilas). Masturbação de outros machos também são relatadas, incluindo masturbação mútua
1
Um traço é considerado homólogo a o utro traço quando sua origem é a mesma, mesmo nos casos em que, como conseqüência da história ev olutiva,
os traços se apresentem diferentes em organismos atuais. É o caso, por exemplo, das asas dos morcegos e dos membros anteriores da espécie
humana, que, apesar de terem aspectos di fere ntes, evoluíram da mesma estrutura ancestral e sã o, portant o, homólo gos.
2
Um traço é análogo a outro traço, quando, apesar das semel hanças e ntre am bos, eles nã o compartilham a mesma origem. É o caso, por exem plo, das
asas de borboletas e morcegos, que, a pesar de suas semelhanças, pr ovêm de ori gens m uito distintas.
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(nos Macaca arctoides), pode ndo chegar à e jaculação (gibões). Foram re latados, ainda, contato genitalge nital (nos bonobos) e fe lação (em Macaca arctoides). O utros comportamentos, talvez re lacionados,
incluem : cheirar/inspe cionar as regiões anal/genital de outros machos (Macaca arctoides), ex ibir o pênis
e re to para outros machos (Cercopithecus aethiops) e a prefe rê ncia de machos por copular com parce iros
do mesmo sexo e não do sexo oposto (rhesus). (W ER NER, 1998).
Os comportamentos apre sentados acima, assim como outros que não entraram nesta lista,
apare cem nas mais dive rsas situaçõe s, mais notadamente em brincadeiras e ntre jovens, em casos de
ex citação ge ral e em jogos de subm issão e dominância. Não pare ce have r re gras ge rais aplicáveis a todas
as espé cies que possam se r infe ridas a partir do apare cimento de um comportamento e seu significado
para uma dada e spé cie. Por exemplo, em de te rminadas espé cies, o macho mais velho monta seus
subordinados, enquanto em outras aconte ce o contrário. Para ce rtas espé cies, e jacular em outro macho
indica quem domina; para outros, indica quem é o dominado. (W ER NER , 1998). Isso contraria a visão de
senso comum de que indivíduos que aprese ntassem comportamento homólogo ao dos homossexuais
passivos humanos se riam os dominados e os que apresentassem homologia com os homossex uais ativos
humanos se riam os dom inadore s.
O estudo filogené tico do comportamento homossexual indica que este não é um fe nômeno re ce nte,
tendo suas origens no fim do Oligoceno, durante a dive rsificação dos Anthropoidea. O fe nômeno apare ce
junto com a flex ibilização comportamental em re lação ao sexo, caracte rizada pelo desacoplamento do
comportamento sexual da me ra reprodução, quando o sexo ganhou funções sociais dive rsas para os
grupos humanos. Os dois maiore s grupos de antropóide s do O ligoceno, os platirríneos (primatas do novo
mundo) e os catarríneos (primatas do velho m undo), mantidos em isolamento geográfico, desenvolve ram
padrões dife re ntes de
comportamento homossexual. Por exemplo: os platirríne os mode rnos não
demonstram comportamento homossexual fre qüente , não mantêm re lações duradouras com parce iros do
mesmo sexo e o comportamento homossexual pare ce estar re strito a brincade iras e relações de
dom inância. Já os catarríneos, além de de sacoplarem sexo de re produção e utilizarem o comportamento
homossexual na organização social, apre sentam uma sé rie de inte rações mais elaboradas, ex istindo
re latos de que chegam até a repe tir relações sexuais com os consortes do mesmo sexo por muitos anos,
algo que só e ra concebido para a espé cie humana.
De ve-se lembrar que a sexualidade dos macacos, apesar de incluir comportamentos sexuais que
lembram bastante os da espé cie humana, não incluem e lementos cognitivos importantes para a
caracte rização da orie ntação sexual. Apesar de ce rtos indivíduos ex ibirem comportamento homossexual
pe la maior parte do se u tempo de vida, o comportamento homossexual ex clusivo é um fenômeno ausente
entre os primatas não-humanos. Sua origem de ve te r ocorrido entre o fim do Mioce no e o começo do
Plioceno, com os hominídeos ou proto-hominídeos. (VASEY, 1995).
Os estudos sobre comportamentos sexuais em primatas não trouxe ram, até o momento, grandes
re ve lações sobre a orientação sexual humana. Pillard e Baile y (1998) afirmam que os cientistas que
estudam a sexualidade mantêm uma postura cé tica com re lação a e ste ramo de pesquisas. Porém , abre 52 | Candombá – Revista Virtual, v. 2, n. 1, p. 50–60, jan – jun 2006
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se atualmente uma nova área promissora para a investigação, a se r explorada nos próx imos anos:
animais pode riam se r usados para ve rificar se aumentos na taxa de comportamento homossex ual podem
se r manipulados por sele ção artificial. Tais pesquisas pode rão traze r mais informações sobre contribuiçõe s
biológicas e contribuiçõe s da estrutura social para o comportamento sexual de macacos.
Sobre os e studos atuais em comportamento animal, pode -se resum ir que, em todos os casos, o
comportamento homossexual tem uma função pacificadora no grupo, se ja e vitando agressão, criando
escalas de submissão ou formando alianças. Se as pesquisas sobre o comportamento sexual dos animais
estive rem apontando na dire ção corre ta, tudo indica que a homossexualidade está estre itamente ligada à
e volução de
comportamentos sociais mais complexos, provave lmente agindo como redutora
da
agre ssividade e ntre machos. (W ER NER , 1998).
Caso o comportamento homossexual de primatas atuais se ja semelhante ao dos grupos que de ram
origem à espé cie humana e a homossex ualidade humana te nha ne stes padrões de comportamento o se u
ancestral, é de se espe rar que os humanos apresentem maiores índices de indivíduos empenhados em
ações homossexuais do que qualque r outro animal. Essa hipótese se justifica pe la complex idade das
re lações sociais humanas. (W ER NER , 1998, p. 24).
Comparar o comportamento homossexual de animais com a homossexualidade humana é uma
tare fa que se complica à medida que se acresce ntam na análise os dive rsos e feitos do pre conce ito
humano. Nas sociedades ocidentais, as práticas homossexuais ocasionais são condenadas, le vando ao
ince ntivo da ex clusiva homossex ualidade ou ex clusiva hete rossexualidade . Em outras culturas, qualque r
comportamento
não-he te rossexual
é
firmemente
repreendido.
Em
algumas
culturas,
contudo,
comportamentos homossex uais são incentivados durante algumas fases da vida. (W ER NER , 1998, p. 24).
Analisar a orientação sexual humana com base apenas no comportamento das sociedades ocide ntais pode
le var ao e rro de se naturalizar os valores e comportamentos destas socie dades.
Pode -se te ntar e stabe le ce r uma re lação entre o e fe ito do comportamento homossexual na criação de
hie rarquias e coope ração social e as atitudes humanas re lativamente ao comportamento homossexual.
Damasio (1994) argumenta que o cé re bro é constituído por uma sé rie de camadas, sendo as camadas
centrais homólogas a cé re bros filogene ticamente mais antigos, enquanto que as outras camadas se riam
mais re cente s e fariam a mediação entre a camada central e a pe rcepção humana do mundo ex te rior. As
pe rcepções organizadas nas camadas ex te riores também podem agir de modo a alte rar as camadas
inte rnas. A força
dos impulsos sub-corticais nas dife re ntes culturas humanas foi estudada por
psicanalistas e antropólogos, os quais notaram a participação de sses impulsos nas mais dife rentes
linguagens. Isso pode ria justificar uma re lação entre o comportamento homossexual primitivo como
expre ssão de dominação/subm issão e a maneira como o comportamento homossexual é tratado pe la
linguagem, em dife rentes culturas, com te rmos tais como: ‘puxa-saco’, ‘tomar uma m ijada’, ‘tomar uma
com ida de rabo’, no Brasil; ‘ass k isse rs’, nos EUA; ‘lame culo’, no México; ‘Podliza’, na R ússia; ‘chupamedias’, no Uruguai. Talve z, palavrões e alguns gestos obscenos este jam expressando atitude s
profundamente e nraizadas na espé cie humana. (W ER NER, 1998).
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We rne r (1998) afirma que ex istem estudos que caracte rizam os homens homossexuais como mais
dóce is, subm issos, desinte ressados em esporte s e brincadeiras violentas durante a infância. Para e ste
pesquisador, a criança que futuramente se rá um homem homossexual aprese nta mais caracte rísticas de
submissão do que de feminilidade na infância. Um desses estudos foi de senvolvido por McConaghy e
colaboradores, em 1994, que te ve como foco pessoas com atração he te rossexual, mas que tinham
sentimentos homossexuais por outros homens. Eles concluíram que os se ntimentos homossexuais estão
fortemente corre lacionados ao desinte resse por atividade s esportivas ou mais rústicas durante a infância.
Não foi e ncontrada, nesta pe squisa, corre lação entre os se ntimentos homossexuais e brincade iras típicas
de menina (brincar de bone ca, cozinhar e tc.).
Independe ntemente de uma ex plicação e volutiva, o comportamento de pessoas homossexuais na
infância é um tema que preocupa pais e e ducadores. Muita polêm ica ex iste em torno do fenômeno
chamado de ‘atipicidade de gê ne ro’. Ape sar de pesquisas como as de McConaghy e colaboradore s, que
não indicaram corre lação entre a atipicidade e a orientação sexual, o pensamento do se nso comum e
alguns trabalhos em psicologia, como os de Biebe r, descre vem o futuro homossexual como uma criança
atípica ao gêne ro. Nos homens, durante a infância, a atipicidade se expressa pe la prefe rê ncia de brincar
com meninas usando brinquedos ou jogos típicos de menina, poucos amigos meninos, de sinte resse por
esportes e outras práticas mais violentas. Na idade adulta, a atipicidade é caracte rizada pe la e scolha de
profissões, obje tos, tre je itos e até comportamentos tipicamente femininos. (PILLAR D; BAILEY, 1998, p.
351).
Este fenômeno da atipicidade tem sido largamente estudado por mais de um sé culo. Whitam (1983,
1991 apud PILLAR D; BAILEY, 1998, p. 351) afirma que a relação entre atipicidade de gêne ro e
homossexualidade é comum a dive rsas culturas. A atipicidade emerge por volta dos 2 aos 4 anos de idade
e existem suspeitas de que , além da ex pressão comportamental, e la também se expresse na própria
fisionomia das crianças.
Não há, contudo, uma re lação ne cessária entre atipicidade de gêne ro na infância e orientação
homossexual,
uma
vez
que,
mesmo
sendo
a
atipicidade
de
gê ne ro
o
melhor pre ditor
de
homossexualidade na idade adulta, há muitos casos de crianças atípicas para o gêne ro que não se tornam
homossexuais, bem como de homossexuais que não foram crianças atípicas para seu gêne ro. Em vista da
suspe ita de que o que de nominamos ‘homossexualidade’ pode ria se r uma aglome ração arbitrária de
traços distintos e da correspondente ne cessidade, caso esta suspeita se ja confirmada, de dife renciar entre
tipos ou categorias de homossexuais, uma possibilidade imediata se ria a de dife re nciar homossexuais que
foram atípicos para seu gêne ro na infância de homossexuais que não o foram.
3 O NÍVEL GENÉ TICO
O problema da manutenção, durante a e volução, de traços que reduzem a fe cundidade tem
despe rtado o inte resse científico desde Darwin. Se o indivíduo possui um traço que re duz sua habilidade
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reprodutiva, este traço se rá sele cionado ne gativamente , embora possa reapare ce r por uma nova
mutação. Porém , a freqüê ncia ele vada da homossexualidade3 nas dive rsas populações do plane ta mostra
não se r plausível que esta venha sendo reposta por mutações aleatórias. A desvantagem se le tiva da
homossexualidade é grande na sociedade mode rna, dife rentemente do passado, quando a maioria dos
homossexuais se casava e tinha filhos para e sconde r sua homossexualidade, enquanto apenas poucos
re corriam ao celibato. (PILLARD; BAILEY, 1998). A partir daí, pode -se espe cular que o tempo que passou
desde que os homossexuais pararam de se casar e te r filhos é pequeno demais para que qualque r efe ito
se le tivo significativo tenha ocorrido. Pode se r que o traço te nha sido mantido porque os homossexuais
estavam tendo tantos filhos quanto os he te rossex uais. Por e sse raciocínio, com a mudança nas re lações
sociais na atualidade, pode se r que o traço tenha sua freqüência gradativamente dim inuída nas
populações humanas.
Colocando-se de lado a espe culação mencionada acima, pode -se afirmar que, caso um traço como a
homossexualidade, que tem um impacto ne gativo sobre o sucesso reprodutivo do indivíduo, este ja, de
alguma mane ira, ligado a genes, este traço deve traze r alguma outra vantagem para te r sido mantido ao
longo das ge rações. Entre as vantage ns hipoté ticas suge ridas, encontram-se as seguintes:
a) Vantagem do he te rozigoto: Alelos de le té rios para reprodução em homozigose podem pe rsistir caso
ha ja vantagem sele tiva para o he te rozigoto. Não é ne cessário que esta vantagem este ja relacionada à
atração sex ual. Ela pode envolve r outros atributos, tais como vantagem cognitiva, resistência a
doe nças endêmicas e tc. (FUTUYMA; RISCH, 1984). Uma das mais famosas espe culações re lacionadas
a esta hipótese foi a de que os ge nes re lacionados à homossex ualidade estariam também re lacionados
à subm issão. Os machos tendem a exe rce r relações de dom inação nos grupos em que vivem, de
forma que animais ex cessivamente dominantes acabariam por se e nvolve r em tantos conflitos que
suas chances de sobre vivência e reprodução bem sucedida pode riam se r dim inuídas. Assim, pode ria
se r vanta josa para alguns indivíduos uma tendê ncia de dom inação mode rada. He te rozigotos para
ge nes de te rminantes da homossexualidade pode riam ex ibir tal tendência mode rada. (W ER NER, 1998).
A partir daí, propôs-se um e lo hipoté tico e ntre possíve is gene s para dom inação e submissão e a
origem e pe rsistência da homossexualidade.
b) A pe rsistência de genes que , de ce rta forma, contribuíssem para a homossexualidade se ria causada,
para alguns pesquisadores, pe lo altruísmo das pessoas homossexuais. (PILLAR D; BAILEY, 1998). E. O .
W ilson, fundador da sociobiologia, de fende que a homossex ualidade se ria um traço adaptativamente
normal, que te ria sido um importante elemento no início da organização social dos humanos, uma vez
que homossexuais pode riam se r portadores ge né ticos de impulsos altruísticos raros na espé cie .
(FUTUYMA; RISCH, 1984). Sociobiólogos também afirmaram, em trabalhos polêmicos, que as pessoas
homossexuais são, em média, mais inte ligentes que os he te rossex uais. (FUTUYMA; RISC H, 1984).
3
Alguns estudos estimam que 5% da populaçã o é exclusivame nte homossexual. (BILLY, 1984 a pud TELLJOHANN et al., 1995). Outros, que 4% dos
homens e 2% das mulheres o são. (JOHNSON, 1994; LAUMANN, 1994 apud REIS, 1997). Ainda o utros estudos indicam que 10% da po pulaçã o é gay
ou lésbica. (CORBETT, 1993 apud FRI EDMAN; O’HARA; SETTEL,1996).
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c) Alelos ligados ao cromossomo X, que confe ririam maior vantagem reprodutiva a fêmeas do que a
machos, também foram conside rados como possíve is fatores re lacionados à homossexualidade .
(FUTUYMA; RISCH, 1984; PILLAR D; BAILEY, 1998). As fêmeas possuem um par de cromossomos X
em cada núcleo de células-padrão (ex cluindo-se cé lulas anucleadas e poliplóides), enquanto que os
machos possuem apenas um exemplar do cromossomo X por núcleo ce lular. Logo, as fêmeas podem
se r: homozigotas para a ausência de genes re lacionados à homossexualidade (possuindo duas cópias
do cromossomo X sem esses gene s); he te rozigotas, tendo um cromossomo X com tal gene (este
cromossomo confe riria, e ntão, as vantagens
fenotípicas relacionadas a esse ge ne) e outro
cromossomo X sem o gene re lacionado à homossex ualidade (que amenizaria os e feitos do gene do
outro cromossomo); homozigotas para a pre sença de genes re lacionados à homossexualidade
(possuindo duas cópias do cromossomo X com tais genes). Neste último caso, conje ctura-se , a fêmea
expre ssaria a homossexualidade . Os machos porém, como só possuem um cromossomo X , não
podem se r he te rozigotos, e, portanto, não pode riam bene ficiar-se do estádio inte rmediário.
Uma vez discutidas as possíve is causas para a manutenção de uma base gené tica para a
homossexualidade durante a e volução (a que stão adaptativa), de ve-se analisar as contribuições dos
estudos sobre fatore s ge né ticos associados ao traço (a questão estrutural).
O clássico trabalho de Richard Pillard e James We inrich, de 1985, foi o primeiro estudo mode rno
sobre a orientação sexual utilizando árvore s genealógicas de fam ílias de homossexuais, incluindo estudos
com gêmeos, irmãos frate rnos e adotados. (PILLAR D; W EINR ICH, 1985). Esses pesquisadores afirmaram
que os probandos, homens não-he te rossexuais, tendem a te r mais irmãos também não-he te rossexuais
(22%), enquanto o grupo controle de he te rossexuais apre sentava 4% de irmãos não-he te rossexuais.
(PILLARD; BAILEY, 1998). Até a pesquisa de Pillard e We inrich, trabalhos sobre árvores genealógicas de
homossexuais raramente e ram encontrados na lite ratura. Este estudo estimulou a realização de m ais
pesquisas em busca de influê ncias ge né ticas para a homossex ualidade. Antes deste primeiro grande
estudo, Pillard já tinha sido o prime iro a re latar que , ge ralmente , as pe ssoas não-he te rossex uais têm
pare ntes não-he te rossexuais do lado mate rno. (PILLAR D; BAILEY, 1998). Após este estudo inicial de
1985, mais cinco trabalhos seme lhante s foram realizados até o início dos anos 1990.
O mé todo mais utilizado para analisar a participação de compone nte s biológicos e ambie ntais no
dese nvolvimento de um traço consiste na comparação das concordâncias para o traço entre gêmeos
monozigóticos, gêmeos dizigóticos, irmãos não-gêmeos e irmãos adotados. Caso ha ja contribuição
ge nética, os gêmeos monozigóticos te nde rão a te r e le vadas taxas de concordância, enquanto que os
irmãos não-gêmeos e os gêmeos dizigóticos de ve rão te r taxas semelhantes. Já os irmãos adotados
compartilham o ambie nte fam iliar, mas não as bases ge né ticas, então deve rão apresentar uma
concordância bem menor. (PILLAR D; BAILEY, 1998).
A base de dados obtida em tais estudos indica que, para home ns, 52% dos gêmeos monozigóticos,
22% dos gêmeos dizigóticos e
11% dos irmãos não-gêmeos dos homossexuais e ram
também
homossexuais, e nquanto que , para mulhe res, 48% das gêmeas monozigóticas, 16% das dizigóticas e 6%
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das irmãs não-gêmeas de homossex uais e ram também homossexuais. (BAILEY; PILLARD, 1991; BAILEY;
NEALE; AGYEI, 1993; BAILEY; NOTHNAGEL; WOLF, 1995; PILLAR D; BAILEY, 1998). A he rdabilidade
estimada para orientações não-he te rossexuais em homens, le vando em conta os vários vieses da
amostra, variou de 0,31 a 0,74, enquanto, em mulhe res, a he rdabilidade girou em torno de 0,50.
Contudo, dados mais re cente s, obtidos em população australiana por Baile y, em 1996, indicaram uma
he rdabilidade ze ro para orie ntações não-he te rossex uais em mulhe res. (PILLARD; BAILEY, 1998).
É importante salientar a crítica de W illiam Byne quanto à inte rpre tação desse s dados no sentido da
de te rm inação ge nética para a orientação sexual, uma vez que gêmeos dizigóticos e irmãos não-gêmeos
do sexo masculino de ve riam apresentar as mesmas proporções de concordância, e não dife re nças tão
grandes como as re latadas (de 24% para 13%). Logo, pode-se argumentar, ne sta base , que um
componente ambiental de ve e star fortemente implicado no desenvolvimento do traço, ao ponto de ge rar
tal dife rença. É mais comum que irmãos gêmeos dizigóticos compartilhem os mesmos ambie nte s sociais,
uma ve z que nasce ram na me sma época, têm a me sma idade e fre qüentemente são le vados juntos aos
dive rsos lugare s. Já irmãos que não são gêmeos nascem em é pocas dife rentes, dife rem em sua idade e ,
por te rem idades dife rente s, te ndem a freqüe ntar grupos sociais distintos. O utro aspe cto a se r
conside rado é o fato de Baile y e Pillard (1991) te rem encontrado uma incidência de 11% de homossexuais
em irmãos adotados, o que é muito maior que a taxa de homossexuais na população (por volta de 5%) e
seme lhante
à
taxa e ncontrada em
irmãos não-gêmeos. Mais uma e vidê ncia
contra a
simples
de te rm inação gené tica do traço se ria o fato de que 43% dos gêmeos monozigóticos, que , como se sabe ,
têm o mesmo patrimônio gené tico e as mesmas influências pré e pós-natais, te rem mostrado discordância
para a orientação sex ual. Logo, fatores ambie ntais podem te r sido a causa de tal discordância, faze ndo
com que um irmão dese nvolva uma orientação he te rossexual e , o outro, uma orientação homossexual.
(BYNE, 1994).
O trabalho mais significativo que investigou a possibilidade de ex istência de fatores ao nível
mole cular que possam te r algum peso causal na gê nese da homossexualidade foi realizado pe la equipe de
Dean Hame r. Este grupo, antes de dedicar-se ao estudo da e tiologia da orientação sexual, investigava
fatores de risco para alguns tipos de cânce r na população homossexual. (LEVAY; HAMMER , 1994). O
mé todo de estudo empregado por e les consistiu em uma análise de pedigree4, seguida por e studos
mole culares das fam ílias que tivessem pe lo menos um par de irmãos homossex uais e nas quais o padrão
de distribuição da homossex ualidade nas árvores genealógicas coincidisse com o padrão de he rança ligada
ao cromossomo X. Uma e nque te inicial realizada pe la equipe de Hamme r encontrou resultados
seme lhantes aos do estudo de Pillard e Weinrich (1985); porém, ao analisar dados de parente s distantes,
resultados inte ressantes foram obtidos: tios mate rnos apresentavam 7% de concordância com os
probandos quanto à homossexualidade, e primos que fossem filhos de tias mate rnas aprese ntavam 8% de
concordância, enquanto pare ntes do lado pate rno da família, assim como todas as outras possibilidade s
de primos (filho de tio mate rno, filho de tia pate rna, filho de tio pate rno), não apre sentavam corre lações
4
Análises de pedi gree são estudos de famílias. Nestes estudos, elaboram-se árvores genealógicas par a verificar como um traço se distribui nas
famílias, obtendo-se, a partir de tal análise, indícios de possíveis tipos de herança genética que poderiam estar relacionados a o traço.
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V. Forastieri. Orientações sexuais, evolução e genética
significativas. (HAMER e t al., 1993).
A partir dos estudos de pedigree, notou-se, portanto, que , na
população analisada, a maior parte dos homossexuais se conce ntrava no lado mate rno das famílias, o que
suge ria uma he rança ligada ao cromossomo X.5
Dentre as fam ílias nas quais a análise de he re dogramas suge riu uma possíve l transmissão mate rna
dos possíveis genes que contribuiriam para a homossexualidade , foram re crutadas quarenta para estudos
mole culares. Foram descartados parentes distantes por dois motivos. Prime iro, porque os estudos
ge néticos de traços em que podem e star envolvidos vários genes - que se expressam com dife rentes
intensidades - já mostraram que o uso de parentes m uito distantes pode tornar mais confusa a análise .
Segundo, porque é mais difícil garantir que pessoas mais afastadas do probando não mintam sobre sua
sexualidade , para esconde r uma orientação homo ou bissex ual. A pe squisa concentrou-se , desse modo,
em famílias nucleares que apresentavam dois irmãos gays. O estudo do cromossomo X foi viabilizado
pe los dive rsos marcadores informativos obtidos pelo Proje to Genoma Humano (PGH).
Os dados obtidos pe las té cnicas de biologia mole cular suge riram uma
corre lação entre a
homossexualidade nessas fam ílias e marcadores na região Xq28, uma região de aproximadamente 4
milhões de pares de base s no braço longo do cromossomo X. Em outro artigo, os mesmos pesquisadores
re lataram não te r encontrado corre lação entre marcadores na região Xq28 e a homossex ualidade
fem inina. (PATTATUCCI, 1998). A maioria dos marcadore s no cromossomo X apresentou distribuição
randômica. Porém , na ponta do braço longo do cromossomo, na região Xq28, a concordância foi muito
alta: 33 pare s de irmãos homossexuais compartilhavam o mesmo marcador, enquanto somente 7 pare s
não o compartilhavam . Em um grupo controle de 314 pares de irmãos he te rossexuais, os marcadores
Xq28 se distribuíram de forma randôm ica. (HAMER e t al., 1993). Deve -se te r o cuidado de ressaltar que
os 66 indivíduos homossexuais que compunham os 33 pares de irmãos e studados não compartilhavam os
mesmos marcadores da re gião Xq28 entre si. Cada indivíduo compartilhava os mesmos marcadores
ape nas com o se u irmão e não com os demais 32 pares. Nenhum marcador foi identificado como igual
para todos os 66 suje itos do estudo. (BYNE, 1994). Segundo Pattatucci, os pesquisadores tinham
consciência de que é altamente improváve l que uma única variação gené tica ou alelo e ste ja pre sente em
todos os indivíduos homossexuais e ausentes em todos os he te rossexuais. Então, o foco dos estudos em
ge nética mole cular não está na procura de um gene que apare ça em todos os indivíduos homossexuais,
mas na ide ntificação de loci que possam te r papel na variação individual da orie ntação sexual.
(PATTATUCCI, 1998, p. 368).
O estudo realizado por Hame r e sua equipe, apesar de se r o trabalho mais significativo sobre causas
re lacionadas à orientação sexual no campo da ge nética mole cular, pode se r criticado por várias lacunas
me todológicas. A equipe não estudou a região Xq28 dos irmãos he te rossexuais dos homossexuais
estudados, não se de vendo esque ce r, assim, a possibilidade de que os irmãos he te rossexuais também
compartilhassem com se us irmãos homossex uais os mesmos marcadores na região Xq28. Hame r justifica
5
Duas outras hipóteses também foram formula das como alternativas à herança ligada ao X. Primeiro, a de que as pessoas conheciam mais seus
parentes maternos. Segundo, a de que a base genética da homossexuali dade poderia ser transmitida por ambos os pais, porém só se expres sava em
um sexo (no caso, masculino). (LEVAY; HAMMER, 1994).
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V. Forastieri. Orientações sexuais, evolução e genética
o fato de irmãos he te rossexuais não te rem sido incluídos no estudo com base no argumento de que estes
pode riam aprese ntar os tais marcadores, mas os genes re lacionados a e ssas áreas pode riam te r
pe netrância incomple ta6, não te ndo, por este motivo, exe rcido qualque r efeito nesses indivíduos, sendo
esta a razão pe la qual eles se riam he te rossexuais. Como isso dificultaria a inte rpre tação dos dados, eles
tomaram a de cisão de não incluir os irmãos he te rossexuais. Para Byne (1994) isso só viria mostrar que
mais fatores, além dos ge nes, se riam responsáve is pe la orie ntação sexual. Além disso, Ne il Risch, um dos
criadores dos mé todos estatísticos usados por Hame r e sua equipe , questionou a significância estatística
dos resultados obtidos. (BYNE, 1994). Como outros limites a se rem conside rados na inte rpre tação dos
resultados obtidos neste e studo, tem-se que os próprios autores assumem que só pude ram estudar
famílias com pe lo menos dois irmãos homossexuais (logo, estão ex clusos homossex uais filhos únicos) e
que a me todologia não pe rm ite estudar os homossex uais que , nos estudos de fam ília, apare cem do lado
pate rno. (PATTATUCCI, 1998).
Mary-C laire King, do Departamento de Biologia Ce lular e Mole cular da Unive rsidade da Califórnia,
em uma carta publicada na re vista Science, comenta os achados da equipe de Hame r, afirmando que
estes de vem se r e ncarados com caute la, porque , além dos problemas me todológicos já comentados, há
também lim ites quanto à capacidade de ge rar informação com base nesse tipo de dados. Afinal, estudos
de história familial e pesquisas com dados sobre ligação ge né tica não podem estimar a magnitude da
influência gené tica sobre um traço em uma população. As e nque tes sobre história familial não conseguem
separar as influências gené ticas das influê ncias do ambiente compartilhado (família) e não compartilhado
(outros grupos sociais). As análises mole culares de 40 pares de irmãos homossexuais se ria um dado mais
inte ressante se estes não tive ssem sido sele cionados de mane ira enviesada para a pesquisa, o que
dificulta a gene ralização das conclusões obtidas por Hame r e sua e quipe. Conside rando-se os problemas
me todológicos e os limites de ste trabalho, King conje ctura sobre possíve is papéis para a região Xq28. Ela
argumenta que esta região pode ria não te r influência sobre a orientação sexual, ou ainda te r uma leve
influência nas fam ílias estudadas. (KING, 1993). Fica ainda em abe rto a conje ctura de que, mesmo que os
marcadores da re gião Xq28 te nham algum peso causal na e tiologia da homossexualidade masculina, ele s
não possam explicar todos os casos de homens homossexuais. Porém , de vemos tomar cuidado para não
cair na inte rpre tação de que existe uma homossexualidade masculina que não se ria de te rm inada por
ge nes na região Xq28 e uma outra de te rm inada por estes. Este tipo de raciocínio apare ceu, por exemplo,
em artigo publicado por Turne r, que propôs a ex istência de dois tipos de homossex ualidade: um tipo que
não se ria de te rminado por ge nes e um tipo que se ria de te rm inado por gene s da região Xq28. (TUR NER,
1995).
A idéia de que os genes podem de te rm inar comportamentos tão complexos é controve rsa,
mostrando-se, para alguns autore s, forte demais para se r ve rdadeira. Pode-se valorizar os achados da
biologia mole cular como candidatos a causas com pode r explanatório, que , junto com outras causas,
também possuidoras deste pode r, pode riam resultar na homossex ualidade masculina. Vale lembrar que a
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Um ge ne tem pe netrância i ncompleta qua ndo ele não se ex pressa em alguns indivíduos que o apr esentam.
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V. Forastieri. Orientações sexuais, evolução e genética
inte ração desse tipo de fator causal (gené tico) com outros fatores causais é, em muitos casos, de
natureza não-aditiva. Portanto, estudos mole culares são importantes para discrim inar as possíve is
contribuições gené ticas para a orientação sexual, de ve ndo-se te r muita caute la no que tange a
inte rpre tações no sentido de uma de te rm inação gené tica.
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