r - morforetem

Transcrição

r - morforetem
Verbos deadjetivais em Romeno e Português.
Estruturas morfológicas com o sufixo -e(s)cer / -esc
Irina-Camelia Lupu
Institutul de Lingvistică al Academiei Române „Iorgu Iordan – Al. Rosetti”
1. Estrutura dos verbos deadjetivais (representação simplificada, onde X = a base adjetival)
Os principais processos morfológicos que acionam na formação dos verbos a partir de bases
adjetivais em romeno e português seriam a conversão, a prefixação e a sufixação.
A. X, morfema verbal (conversão):
Pt. X + morfema verbal (-ar, 1ª conjugação portuguesa): azedar, sujar, amarelar, vermelhar
[azed]RAdj à[azed]RV, [[[azed]RV a]TV r]V,
[amarel]RAdj à[amarel]RV, [[[amarel]RV a]TV r]V,
Ro. X + morfema verbal (-a, 1ª conjugação romena, -i, 4ª conjugação romena, com sufixo de
alargamento): a curăṭa, a răci, a roşi, a albăstri,
3. Flexão em Romeno
Tradicionalmente os verbos são classificados como em latim, a partir da desinência do infinitivo. Vamos
apresentar a seguir alguns modelos de flexão de verbos simples e derivados:
•  Em português, formada pela vogal temática -a-, -e-, -i- e pelo morfema –r (a VT cria o tema verbal
adicionando-se ao radical enquanto -r ocupa a posição da flexão:
[[X]RV aVT]-rMF]V (cantar) vs. [[X]RV aVT]-mosMF]V (cantamos)
[[X -ec-]RV eVT] -rMF]V (escurecer) vs. [[X -ec-]RV eVT] -euMF]V (escureceu)
•  Em romeno, formada somente pela vogal temática, -a, -e, -ea, -î, -i (a VT cria o tema verbal, a
posição do morfema flexional no infinitivo sendo ocupada por um constituinte nulo:
[[X]RV aVT]ØMF]V (cânta) vs. [[X]RV aVT]-țiMF]V (cântați)
[[X]RV iVT]ØMF]V (fugi `fugir`) vs. [[X]RV iVT]-mMF]V (fugim ´fugimos´)
Em romeno, segundo os sufixos de alargamento, os verbos foram classificados em paradigmas
diferentes. Os verbos em -i, -î, realizam-se quer com [-esc- /-eșt-, -ăsc- / -ășt-] quer com Ø,
delimitando-se assim 4 paradigmas flexionais diferentes, como ilustram as tabelas seguintes:
[curat]RAdj à[curat]RV, [[[curăț]RV a]TV Ø]V,
[roș]RAdj à[roș]RV, [[[roș]RV i]TV Ø]V,
B. Prefixo, X, morfema verbal (prefixação):
Pt. {a-, en-, es-}+ X + morfema verbal (-ar, 1ª conjugação): engordar, encurtar, adoçar,
aclarar, esfriar, esquentar, desfear, avermelhar, envermelhar
[[[enPREF [gord]RV]RV a]TV r]V
[[[aPREF [vermelh]RV]RV a]TV r]V
Ro. {în-, de-}+ X + morfema verbal (-a, 1ª conjugação, -i, 4ª conjugação) încălzi, a dedulci,
a îndrepta, a asigura, a înroşi, a îngălbeni
[[înPREF [călz]RV]RV i]TV Ø]V
[[înPREF [roș]RV]RV i]TV Ø]V
[[înPREF [drept]RV]RV a]TV Ø]V
C. X, sufixo, morfema verbal (sufixação):
Pt. X + {-ec-, -ej-, -e-, -iz-, -ific-}+ morfema verbal (-er, 2ª conjugação, -ar 1ª conjugação)
escurecer, robustecer, vermelhecer, doidejar, altear, clarear, suavizar, clarificar
[[[[escur]RV -ec-suf]RV e]TV r]V
[[[[doid]RV -ej-suf]RV a]TV r]V
[[[[alt]RV -e-suf]RV a]TV r]V
[[[[suav]RV -iz-suf]RV a]TV r]V
[[[[clar]RV -ific-suf]RV a]TV r]V
Ro. X +{-iz-, -ific-}+ morfema verbal (-a, 1ª conjugação) abstractiza, actualiza, clarifica,
complexifica
[[[[abstract]RV -iz-suf]RV a]TV Ø]V
[[[[clar]RV -ific-suf]RV a]TV Ø]V
D. Prefixo, X, sufixo, morfema verbal:
Pt. a[X]ejar, a[X]ear, a[X]ecer, en[X]ecer, en[X]ejar, es[X]ear, es[X]inhar, es[X]içar,
anegrejar, aformosear, apodrecer, envelhecer, empalidecer, enverdejar, esverdear, esbambear,
esbranquiçar, esverdinhar
[[[[aPREF[podre]RV]RV -ec-SUF]RV e]TV r]V
[[[[aPREF[negr]RV]RV -ej-SUF]RV a]TV r]V
[[[[aPREF[formos]RV]RV -e-SUF]RV a]TV r]V
[[[[enPREF[vermelh]RV]RV -ec-SUF]RV e]TV r]V
[[[[enPREF[verd]RV]RV -ej-SUF]RV a]TV r]V
[[[[esPREF[verd]RV]RV -e-SUF]RV a]TV r]V
[[[[esPREF[verd]RV]RV -inh-SUF]RV a]TV r]V
[[[[esPREF[branc]RV]RV -iç-SUF]RV a]TV r]V
2. O sufixo pt. -e(s)c- / ro. –esc
•  Origem comum: lat. -ēsc- / -ĭsc- (pattern of inchoatives in -ēscere/-ĭscere, active in form Allen
1993:2)
•  Sufixo derivacional em Português. Seleciona bases adjetivais e nominais. Constrói verbos de
mudança de estado, parafraseáveis como: Tornar X / Ficar X
•  Sufixo de alargamento em Romeno. Aparece somente na flexão de alguns verbos em -i, -î, na
1ª, 2ª, 3ª pessoa singular, na 3ª pessoa plural do indicativo presente e conjuntivo presente e na
2ª pessoa singular do imperativo, com as formas: -eșt (antes de -i, -e) e –easc (antes de -ă).
Este modelo de flexão é muito usado em Romeno e foi assinalado por linguístas: The type of
frequency of weak verbs is very high in Romanian since they represent approximately 2/3 of all
Romanian verbs. (Sánchez Miret 2006 : 33)
Como Allen explica: During its historical
development, the suffix spreads to verbs that
indicate stages of humans and plants,
illnesses, and sensory or intelectual
perceptions: iuvenis “young man>
iuvenēscere “to grow up”, flōs, flōris >
flōrēscere “to begin to flower, tābēs “a
wasting disease” > tābēscere “to waste
away”, calēre “to be warm” > calēscere “to
grow warm”, scĭre “to know” > scīscere “to
seek to know, inquire. The stems of these verbs
have meanings that readily lend themselves to
a change of state compatible with the
inchoative meaning” (Allen 1993:3)
Fenômeno assinalado por vários linguistas, Meyer –
Lübke 1894, Lausberg 1956, Sánchez Miret 2006:
The suffix –SCERE generated into inchoative verbs.
Some Romance languages have kept those sufixes in
the derivational level and some others have changed
the derivational process into an inflectional
mechanism... Lausberg calls the second group
innovative. Romanian represents the most extreme
example of the innovative languages, since the new
microclasses have come to be the center of its
productive verbal morphology (Sánchez Miret
2006:33)
Seguindo o modelo de Villalva (2008:78), como oferece informações sobre o paradigma da flexão do verbo,
consideramos a vogal temática um integrador paradigmático pertencendo a flexão e não um sufixo derivacional. Nesta
aceitação, a desinência do infinitivo (em Português formada pela vogal temática e pelo morfema -r: como em secar,
escurecer e em Romeno somente pela vogal temática, como em curăța, acri) não apresenta valor derivacional. Neste
modelo, em Português o -r é um afixo de natureza morfossintática, ocupando a posição da flexão, tal como outros
sufixos flexionais do paradigma verbal (considerados afixos especificadores
Tanto o romeno quanto o português herdaram o infinitivo latino, mas de maneira diferente. Segundo Lausberg (1936):
Em Romeno (assim como em dialectos da Itália do Sul e do norte) há uma forma infinitiva abreviada que não
apresenta a sílaba -re. Em Romeno a forma completa é usada como substantivo feminino (cântare `cantiga, canção)
enquanto a forma abreviada se apresenta como infinitivo verbal (a maior parte das vezes com a < ad: a cânta ´cantar´)
(Lausberg 1963 / 1981 : 377)
Aceitamos o termo conversão como a reclassificação dos nomes ou dos adjetivos como verbos, um processo mental de
reintegração paradigmática, a vogal temática sendo uma consequência deste processo, conforme com o modelo de
Lieber (2005)
Indicativo coborî,
fugi, dormi,
Presente
omorî, doborî pieri, sări,
veni
citi, mări,
pietrui
hotărî, urî, zăvorî
sufixo
Ø
Ø
-esc- /-eșt-
-ăsc- / -ășt-
1ª eu
cobor
fug
citesc
hotărăsc
2ª tu
cobori
fugi
citești
hotărăști
3ª el / ea
coboară
fuge
citește
hotărăște
1ª noi
coborâm
fugim
citim
hotărâm
2ª voi
coborâți
fugiți
citiți
hotărâți
3ª ei / ele
coboară
fug
citesc
hotărăsc
Conjuntivo coborî,
omorî,
Presente
doborî
fugi, dormi,
pieri, sări,
veni
citi, mări, pietrui
hotărî, urî,
zăvorî
Sufixo
Ø
Ø
-esc- /-eșt- /-easc-
-ăsc- /-ășt- / asc-
Eu
să cobor
să fug
să citesc
să hotărăsc
Tu
să cobori
să fugi
să citești
să hotărăști
El / Ea
să
coboare
să fugă
să citească
să hotărască
Noi
să
coborâm
să fugim
să citim
să hotărâm
Voi
să
coborâți
să fugiți
să citiți
să hotărâți
Ei / Ele
să
coborâm
să fugă
să citească
să hotărască
Bibliografia:
Aito, E. (2004): “Morphologie dérivationnelle et construction de sens”,
consultado pela Internet em 25/01/2010,
http://www.linguistik-online.de/19_04/aito.html.
Allen, Andrew S. 1995: “Regrammaticalization and
degrammaticalization of the inchoative suffix”. In: Henning
Andersen (ed.), Historical linguistics 1993. Selected papers
from the 11th
International Conference on Historical Linguistics,
Los
Angeles, 16-20 August 1993. Amsterdam: John Benjamins,
1-8.
Almeida Coelho, C. (2003): Formação de verbos em -ar em português,
Dissertação de Mestrado em Linguística Portuguesa
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra, Coimbra.
Aronoff, M. (1994): “Stems in Latin Verbal Morphology”, in
Morphology by itself. Stems and Inflectional Classes,
Cambridge-MA: MIT Press, pp. 31-59
Aronoff, M. & K.A. Fudeman (2005): What is Morphology, Oxford:
Blackwell Publishing.
Arim, E. & Freitas, T. (2002): “Parassíntese e conversão: uma nova
explicação para um velho problema”, in Actas do 18o
Encontro da Associação Portuguesa de Linguística, pp.
145-160.
Corbin, D. (1987): Morphologie dérivationnelle et structuration du l
exique, Tübingen: Max Niemeyer Verlag.
Corbin, D. (1989): “Form, Structure and Meaning of Constructed Words i
n an Associative and Stratified Lexical Component”, in Geert
Booij, Jaap van Marle (eds.) Yearbook of Morphology 2,
Dordrecht: Foris Publications, pp. 31-54.
Croitor, B (2008): “Construcṭii cauzativ-factitive”, in Gramatica Limbii
Române, Bucureṣti: Editura Academiei Române, vol. II, pp. 172-188
Cuniţă, A.(2004): “Din nou despre sufixul verbal -iza”, in Pană
Dindelegan, G. (eds.) (2004)Aspecte ale dinamicii limbii române actuale,
Bucureşti, Editura Universităţii, pp. 520-526.
Lausberg, H. (1981): Linguística Românica, tradução de Marion
Ehrbardt e Maria Luísa Schemann. 2a ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian.
Manea, D., Pană Dindelegan, G., Zafiu, R. (2008): “Verbul”, in
Gramatica Limbii Române, Bucureṣti: Editura Academiei Romane, Vol.
I, pp 323-585.
Pană Dindelegan, G. (2008a): “Grupul verbal”, in Gramatica Limbii
Române, Bucureṣti: Editura Academiei Române, vol. II, pp.
47-72.
Pereira, R. A. (2004): “Condições estruturais de formação de verbos em
Português”, in Rio-Torto, G. (coord.), Verbos e nomes em
português, Coimbra: Livraria Almedina, pp.91-129.
Pereira, R. A.: (2007): Formação de verbos em Português. Afixação
heterocategorial, Lincom Europa: Lincom Studies in Romance
Linguistics.
Rio-Torto, G.M. (1998a): Morfologia Derivacional. Teoria e aplicação,
Porto: Porto Editora.
Rio-Torto, G. M.(1998b): “Operações e paradigmas genolexicais do
português”, in: Filologia e Lingüística (Universidade de São Paulo)
2, p. 39-60.
Reinheimer-Ripeanu, S. (1974): Les dérivés parasynthétiques dans les l
angues romanes: roumain, italien, français, espagnol, Haga – Paris:
Mouton.
Sanchez-Miret, F. (2006): “Productivity of the Weak Verbs in
Romanian”, in Folia lingüística: Acta Societatis Linguisticae
Europaeae, Vol. 40, No 1-2 (Ejemplar dedicado a: Natural
Morphology), pp. 29-50.
Scalise, S. & E. Guevara (2005): “The lexicalist approach to
wordformation and the notion of lexicon”, in Stekauer, P., Lieber, R.
(eds.), Handbook of Word- Formation, Amsterdam: Springer, pp.
147–186.
Serrano-Dolader, D. (1995): Las formaciones parasintéticas en español,
Madrid, Arco/Libros.
Villalva, A. (2008): Morfologia do Português, Lisboa: Universidade
Aberta.

Documentos relacionados