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39 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 3.2.7 Secagem e desidratação Secagem e desidratação são processos termodinâmicos por meio do quais é possível reduzir o teor de umidade de materiais biológicos. O que possibilita a conservação. Normalmente, a secagem é realizada até ser atingido um nível de teor de umidade possibilita a conservação, enquanto que a desidratação configura pela remoção quase que total da água livre do material biológico. Para a perfeita conservação, o teor de umidade do produto deve ser reduzido a níveis que: (a) inviabilize o desenvolvimento de agentes responsáveis pela degeneração - fungos e bactérias, (b) reduza a taxa de respiração, e (c) bloqueie a ocorrência de reações enzimáticas e químicas que propiciam a autodegeneração e transformações. a) Fundamentos do processo de secagem O ar atmosférico é constituído de uma mistura de gases e vapor d’água. A porção referente aos gases é definida como ar seco cuja composição é apresentada na Tabela 4. A mistura ar seco e vapor d’água forma o ar úmido, ou melhor, o ar atmosférico. Tabela 4 – Composição do ar seco Substância Nitrogênio Oxigênio Argônio Dióxido de carbono Outros gases Fórmula N2 O2 Ar CO2 - Percentagem em volume (%) 78,01 21,00 0,93 0,03 0.03 Fonte ASHARE (1977) citado por PEREIRA e QUEIROZ (1986) A quantidade de vapor d’água presente na mistura pode variar de zero até a uma situação denominada condição de saturação do ar. Este estado é definido como a condição em que o ar pode suportar a máxima quantidade de vapor d’água. Com base nesta característica do ar úmido é definida a propriedade umidade relativa. Cada componente do ar exerce um valor pressão parcial que no somatório corresponde à pressão atmosférica. Deste modo, para cada estado do ar a quantidade de vapor presente exerce o que é denominada pressão de vapor. Assim a propriedade umidade relativa corresponde à razão percentual entre a pressão de vapor no estádio atual e de saturação. Desde modo, o valor de umidade relativa pode varia de 0 a 100%. Quanto mais seco o ar menor é a umidade relativa. Conseqüentemente, maior será o potencial de secagem do ar. A temperatura é um fator que altamente influencia a o potencial de secagem do ar. Pois, dada uma massa de ar, à medida que a temperatura é aumentada, há decréscimo da umidade relativa. . Os materiais biológicos possuem a propriedade de serem higroscópios. O que significa que entre estes e o ar são estabelecidos fluxos de vapor de água. O sentido e intensidade destes fluxos irão depender do gradiente imposto pela diferença dos valores da pressão de vapor na superfície do material biológico (Pvmb) e do ar (Pvar). Desta forma, dependendo das condições do produto e do ar podem ser estabelecidas umas das três situações. 40 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Caso, 1) Se Pvmb > Pvar, ocorre secagem do produto; 2) Se Pvmb < Pvar, ocorre umedecimento do produto; e 3) Se Pvmb = Pvar, ocorre Equilíbrio Higroscópio - não há fluxo. No processo de secagem, geralmente, o ar é utilizado como meio de transporte de calor e massa, ocorrendo os seguintes passos: (i) o ar cede calor para o material biológico, o que promove a migração da água contida nestes para a superfície, e então (ii) a massa de água é carreada pelo fluxo de ar (Figura 6). Sobre a superfície dos materiais biológicos é formado um microclima, em que uma das propriedades é da pressão de vapor na superfície do material biológico (Pvmb) . Pvmb Ar Exausto Ar de secagem Umidade Calor Pvar(1) Pvar(2) Vapor de Água Figura 6 – Demonstração do processo de secagem Quando a umidade do produto migra para superfície, ocorre na área do microclima sobre o material biológico o aumento da pressão de vapor Pvmb. E esta, tomando valor superior ao do ar de secagem, faz com que seja estabelecido um gradiente de pressão em que a direção do fluxo será produto ar. O que caracteriza o processo de secagem. Desta forma, quando o ar de secagem recebe o fluxo de umidade proveniente do produto a sua pressão de vapor aumentada (Pvar2) e passa ser denominado ar de exaustão ou ar exausto. Neste caso a umidade relativa do ar aumenta Importante – (1) quanto mais eficiente é o processo de secagem maior é a umidade relativa do ar de exaustão. O ideal é que a umidade relativa seja o mais próximo de 100%. (2) Durante o processo de secagem as transferências de calor e massa acontecem simultaneamente. Desta forma, o ar de secagem deve possuir: (i) quantidade de calor a ceder para os grãos, e (ii) condições de reter e transladar a massa de água na forma de vapor proveniente do material. Estas características definem o potencial de secagem do ar. É importante afirmar que o potencial de secagem do ar não deve ser demasiado, pois assim, o processo de secagem será realizado em curto período de tempo. Fato que poderá alterar as características organolépticas do material biológico. O aumento do potencial de secagem do ar, por meio do aumento de temperatura, pode ser realizado: (i) naturalmente por meio da radiação solar, ou (ii) artificialmente com o uso de equipamentos de queima de combustível (fornalhas) ou aquecedores elétricos. Na Figura 7 é apresentado um modelo secador que utiliza a energia solar para aquecer o ar de secagem. Este foi idealizado por pesquisadores da Appalachian State University, sendo aplicado à secagem de peixes, carnes e frutas. O secador possui um coletor solar que possibilita aquecer o ar a temperaturas de até 80 oC . O material a ser seco é colocado em bandejas. UFES - Universidade Federal do Espírito Santo 41 CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Figura 7 – Secador de bandejas com aquecimento do ar por radiação solar b) Secadores agroindústrias Devido à existência de vários tipos de produtos que em seus processamentos requerem cuidados específicos, faz com que existam uma variedade de tipos de secadores. Para o estudo didático destes autores classificam os secadores em: (i) os adiabáticos, e (ii) os com transferência de calor por superfície sólida. Os secadores adiabáticos são os que empregam o ar como veículo de transmissão de calor e carreador da umidade proveniente do material. Nesta categoria tem-se: (i) secador de cabine, (ii) secador de túnel, (ii) fornos secadores, (iv) atomizador, e (v) secador com leito fluidificado. i) secador de cabine ou armário (Figura 8) – os alimentos são colocados em bandejas ou prateleiras, que estão dispostas dentro da câmara de secagem. O ar de secagem é insuflado por meio de um ventilador. Este tipo de secador é empregado por pequenas agroindústrias, ou são utilizados em pesquisas como unidades protótipos para o estabelecimento de parâmetros de secagem. No Brasil estes secadores têm sido empregados para secagem de plantas medicinais. ii) secador de túnel (Figura 9) – consiste em um túnel que opera como uma câmara de secagem, por onde trafegam vagonetes com bandejas que contém o material a ser seco. O ar de secagem pode ser introduzido em sentido contrário ou a favor ao do fluxo dos vagonetes. Temperatura do ar de secagem, sentido do fluxo de ar, e velocidade de deslocamento dos vagonetes, são parâmetros definidos para cada tipo de produto a ser seco. iii) secador tipo forno (Figura 10) – são estruturas utilizados em alguns países na secagem de malte, maçã e batata. A câmara de secagem é colocada sobre uma fonte de geração de calor. O ar em contato com esta fonte é aquecido, então entra em movimento por ação da 42 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 convecção natural transpassando assim a câmara de secagem. Caso seja necessário pode ser utilizado um ventilador. Ar Exausto Bandejas com produto Telas Aquecedores Ar de Secagem Ventilador Ar Ambiente Figura 8 – Desenho esquemático de um secador de cabine (CAMARGO et. al., 1989) Aquecedores Ar Exauto Sentido dos vagonetes Ventilador E S Ar de Secagem Ar Ambiente Figura 9 – Secador de túnel em contracorrente (CAMARGO et. al., 1989) Ar exausto Produto Ar de secagem Fonte de aquecimento Figura 10 – Secador tipo forno. iv) Secador por aspersão ou atomizador – a secagem por atomização, pulverização ou spraydrying pode ser utilizado na secagem de pastas ou líquidos. O processo consiste na atomização do produto em um compartimento onde é aplicado o fluxo de ar aquecido. 43 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Normalmente a água do produto é evaporada rapidamente de maneira que as partículas têm contato com altas temperaturas por um curto espaço de tempo. O que preserva as qualidades dos produtos. Este tipo de secagem é aplicado na produção de leite em pó e café solúvel, como também, em indústrias farmacêuticas. A secagem por atomização é realizada em quatro fases: (i) atomização do produto, (ii) contato do produto atomizado com o ar quente, (iii) evaporação da água, e (iv) separação do produto em pó do ar de exaustão. Na Figura 11 é apresentado o desenho esquemático de um atomizador. Saída do ar Ar aquecido Câmara de Secagem Ciclone Ciclone Pó Pó Produto Figura 11 – Desenho esquemático de um atomizador v) Secador com transferência de calor por superfície – Os secadores com transferência de calor por superfície sólida, ou também denominado secadores por contacto têm por principal modelo o secador de tambor, Figura 12. Tambor aquecido Tambor aquecido Raspador Produto úmido Câmara de vácuo Raspador Produto úmido Produto seco Produto seco Figura 12 – Diagramas de secadores de tambor Neste tipo de secador o calor é transferido ao produto por meio de uma superfície metálica, que é o tambor. Este é aquecido por meio de vapor e acionado por um motor elétrico. O material a ser seco, geralmente uma solução contendo água e soluto, é distribuído na superfície externa do tambor tomando a forma de uma película. Esta recebe o calor pelo processo de condução promovendo assim a evaporação da água. Isto ocorre durante o UFES - Universidade Federal do Espírito Santo 44 CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 movimento giratório tambor. O produto seco é removido do tambor por meio de um raspador. O tambor pode funcionar em ambiente aberto ou a vácuo. vi) Secador de leito fluidificado (Figura 13) – este é um sistema de secagem contínuo, em que o material é introduzido dentro da câmara de secagem, por onde o produto é forçado a fluir: (i) por gravidade sobre uma chapa perfurada, ou (ii) pela a ação de um transportador que permite a passagem de ar. Este tipo de secador pode ser utilizado na secagem de produtos como ervilhas, amendoim, cogumelos, frutas e hortaliças em pedaços. (Modelo – Dupla passagem) (Modelo – Com reaproveitamento de ar) 1 – Alimentador de produto 2 – Registro do fluxo de produto 3 – Fluxo de produto seco 5 – Ar de secagem 6 – Ar ambiente 7 – Ar de exaustão 8 – Sistema de reaproveitamento de ar 9 – Sistema direcionador do ar de exaustão Figura 13 – Secador de leito fluidificado 3.2.8 Liofilização Nas últimas décadas com o desenvolvimento de eficientes bombas de vácuo, sistemas de refrigeração e tipos de vidros, fez com que surgisse novos métodos de processamento de alimentos. Um destes foi à liofilização. 45 UFES - Universidade Federal do Espírito Santo CCA - Centro de Ciências Agrárias - ERU - Departamento de Engenharia Rural ENG O5212 Tecnologia de Produtos de Origem Animal I – I/2008 – Prof. Luis César – Website: http://www.agais.com/tpoa1 Liofilização ou criosecagem (freeze-drying) fundamenta em promover a desidratação de produtos por meio do processo de sublimação. Ou seja, o produto previamente congelado é exposto a baixa pressão (<= 4,7 mm Hg), o que faz a água em estado sólido passar para o estado gasoso. Veja a representaçã do ponto triplo na Figura 14. Pressão ão Fus Líquido Sólido Su blim çã iza por Va o o açã Gás Temperatura Figura 14 – Representação do ponto triplo O equipamento, Figura 15, possui uma câmara de secagem, onde é colocado o produto disposto em bandejas. Nesta câmara o produto ligeiramente é ligeiramente aquecido para favorecer o processo de sublimação. Na câmara de condensação, o vapor d’água proveniente do produto é condensado. Vapor Câmara de condensação Produto Câmara de secagem Bomba de vácuo Compressor Produto Figura 15 – Representação esquemática e foto de um liofilizador Pelo fato do processo ser realizado à baixa temperatura e na ausência de ar atmosférico, as propriedades químicas e/ou organoléticas do material são praticamente inalteradas. No Brasil o processo tem sido mais aplicado na área de farmácia.