As mulheres já são fatia respeitável entre os

Transcrição

As mulheres já são fatia respeitável entre os
Sexo
oh, Yeees!!
As mulheres já são fatia respeitável entre os consumidores
da bilionária indústria de filmes pornô. Por causa delas,
as historinhas eróticas estão saindo das salas secretas
das videolocadoras e ganhando lugar no lar, sexy lar
tria que, no cômputo geral, movimenta 8 bilhões
de dólares por ano. Do outro lado do Atlântico,
na Inglaterra, de passado vitoriano, uma pesquisa feita no ano passado pelo tabloide The
Sun mostrou que 66% das súditas da rainha
assistem a filmes pornográficos. Dessas, 87%
são casadas ou têm um relacionamento estável e duradouro. Abaixo da linha do Equador,
aqui nesta terra em que Pero Vaz de Caminha
notou que as índias não “escondiam suas vergonhas”, uma pesquisa do Ibope realizada
em 2009 mostra que as mulheres correspondem a 28% do público de sites de conteúdo
exclusivamente erótico.
O que aconteceu para que elas engrossassem a audiência de produções que eram quase inteiramente feitas para homens e, obviamente, consumidas quase exclusivamente por
eles? A internet e os canais por pay-perview das TVs a cabo certamente contribuíram, ao facilitar o acesso a algo que, não
nina usa vestido Maalê , pulseira Fabrizio Giannone e meia Puket óleo sobre tela
A
pessoa chega ao quarto de hotel
e nem de longe se limita a bisbilhotar o frigobar. Tira os sapatos, refestela-se na cama macia
com o controle remoto na mão e
liga a televisão, em uma busca
cheia de curiosidade pelos canais de filmes pornográficos. É um homem, certo? Que nada. “Eu
amo filme pornô! E o que eu gosto nos hotéis é
a discrição. Todos os filmes, eróticos ou não,
custam o mesmo preço”, declarou recentemente a atriz Cameron Diaz numa entrevista a
um talk show americano.
A confissão da musa loira tem amparo em números que mostram que o hábito de espiar filmes
mais picantes não é só coisa de celebridade. Mais
e mais mulheres se divertem com as peculiaridades desse tipo de produção. Na América
puritana de Cameron, o acesso de espectadoras
a vídeos eróticos na internet chega a 30% do
total – um naco nada desprezível numa indús-
obra PRIMEIRA SINFONIA (2010), de rafael silveira, óleo sobre tela
por_carol vaisman • fotos_lamb taylor • ilustrações_Johanna Thomé de Souza
Nina Cerotto:
"A maioria dos
homens é careta"
Nina Cerotto, 37 anos,
produtora e escritora
“A brincadeira e a curiosidade começaram há uns
oito anos, com incentivo de um ex-namorido. Num
dia, ele deixou de propósito um vídeo na minha mesa. Nunca tinha pensado em ir a uma locadora só
para alugar um filme erótico, muito menos tinha
curiosidade de entrar na sala privê. Vi e adorei: dava
altas risadas e sempre achava uma nova posição. É
pura diversão. Eu adoro ver o making of, imaginar o
que passa na cabeça dos cameramen em certas cenas.
Assistíamos, eu e esse ex, para imitar as posições
ou, simplesmente, para deixar o ambiente erótico.
É claro que acho que admiração e companheirismo
são a base de uma relação. Mas, se acabam o sexo
e o tesão, vira amizade. E o filme tem um pouco
essa função, de fugir da mesmice. Quando o casal
convive diariamente, tem que usar a criatividade,
ser mais aberto... por isso, é um recurso bacana.
Hoje, que estou solteira, tenho que ir com calma.
Não fico sugerindo assistir a filmes eróticos a qualquer homem com quem eu saia. A maioria ainda é
careta! Até hoje, nunca comprei nenhum, nem tive
curiosidade de ir à banca ou baixar na internet. Meu
ex sempre trazia alguma novidade!”
“vejo com
meu marido e
sozinha tambéM”
Valeska Janczuk, 31 anos,
consultora comercial
“Eu tinha 20 anos quando assisti a um pornô pela primeira vez. Estava num motel. O cara com quem eu
estava gostava e achei que era uma boa forma de aprender mais coisas sobre sexo. Depois, comecei a ver
com meu marido, com quem passei a colecionar DVDs
quando o casamento começou a cair na rotina. E isso
aconteceu principalmente depois de termos nossa
filha. É aquela história: acabei pensando só na gravidez
e o sexo ficou em segundo plano. Precisávamos dar
roberta usa meia Puket, casaco Le Lis Blanc, vestido Bobô, sapato Guilhermina e pulseira Fabrizio Giannone óleo sobre tela
Valeska
Janczuk: "Se
estou sozinha,
prefiro com
historinhas
bonitinhas"
“Não assisto
aos filmes com
qualquer cara”
styling Mauricio Mariano (ABA mgt) ; produção de moda Alessandro Lázaro; assistente de moda Murilo Mahler; beleza Celso Ferrer (ABA mgt);
agradecimento Love Cupcakes/www.lovecupcakes.com.br. valeska usa vestido e meia Zank e pulseira Morana óleo sobre tela
faz muito tempo, ficava confinado na salinha secreta da videolocadora.
E os filmes? Mudaram? “Minhas clientes
gostam daqueles mais românticos – dentro do
possível, claro. Na Europa, já estão sendo
produzidos filmes com uma temática mais feminina, que não tenham apenas closes no ato
em si”, diz Luciana Keller, dona da sex shop
Constantine, em São Paulo. Trata-se do lendário pornô com história – não só aquela coisa
que nem chegou e já vai transando, sem mais nem
menos. É um apelo eminentemente feminino, porque mulheres tendem a gostar de enredos nos
quais o erotismo vai chegando aos poucos e o ápice é mais ou menos como o final feliz de um romance. “O público masculino, no entanto, ainda é majoritário. E, para eles, isso não importa,
eles querem é ver o close”, completa Luciana.
“Ainda há um tabu, assim como em relação ao uso de acessórios eróticos. Mas a mulher está mais aberta, mais segura e cada
vez mais se permite ousar e provar novas
sensações. Os filmes podem ser um �������
afrodisíaco poderoso na relação”, diz a sexóloga
Laura Muller. No depoimento de três mulheres ouvidas por LOLA, fica claro: a brincadeira
começa com o namorado ou o marido, justamente para apimentar a relação. Mas nada
impede que continue depois.
Roberta
Asciutti:
"Gosto de ver
tudo. Só não
curto com
animais"
uma apimentada. Hoje, assistimos sempre, temos uns
30 filmes. Adoro ver, mesmo sozinha, simplesmente
para ter prazer. A única diferença é que, a dois, vejo
qualquer coisa. Sozinha, prefiro filmes mais de mulherzinha, que tenham enredo, roteiro bom, historinhas
bonitinhas... e gente bonita no elenco! Muitas amigas
adoram assistir também... Sempre trocamos filmes e
debatemos algumas ideias e dicas... Um dia, em casa,
quando minha filha tinha 3 anos, ela ligou a televisão
e estava passando um filme no aparelho de DVD. Saí
correndo para desligar, apesar de saber que ela não
entenderia nada. Depois, descobri que foi meu ������
enteado, que na época tinha 11 anos, quem colocou o DVD.
Tinha ficado a noite toda assistindo com o primo enquanto estávamos fora de casa.”
“hoje, brincamos
de fazer nossos
próprios filmes”
Roberta Asciutti, 47 anos,
gestora de negócios
“Comecei a ver filmes pornô com meu marido. No
início, eu tinha muita vergonha quando íamos à sala
privê das locadoras, a famosa sala secreta. Hoje, gos-
to tanto e a coisa se tornou um hábito tão natural que
compro nas bancas de jornal, mesmo estando sozinha.
Temos uma coleção de uns 40 DVDs. Tudo faz parte
de um ritual: adoro sentar com meu marido na sala,
tomar um vinho, ver um filme e... brincar. Víamos
também os que passam na TV a cabo, mas eles não
são tão bons. Hoje, também fazemos nossos filmes:
como minha performance era baseada em toda essa
fantasia dos filmes, acabamos deixando a câmera ligada, como uma brincadeira. Gosto tanto que, quando estava grávida, via sozinha em casa. E qualquer
tema: vídeos só com mulheres, sexo grupal... Só não
curto coisa com animal. Outro aspecto bom é que,
com a internet, tudo ficou mais fácil. Entramos em
sites e temos um leque gigantesco de opções. Aí, é só
clicar para ver. Acho que assistir a filme pornô é
fundamental para uma relação longa. Sou casada há
14 anos e, além disso, meu marido é oito anos mais
novo. Esses filmes inspiram, ensinam novas posições.
É importante reciclar e ser diferente, fugir do óbvio,
da rotina do casal. Os homens veem de qualquer jeito,
porque o que eles querem é sexo. Então, é entrar na
onda, ser criativa e não cansar. Tenho uma filha de
20 anos e outra de 5. Quando a mais velha sai, é claro
que rola ‘festinha’ em casa. E vale até usar uma fantasia, para dar todo o clima! A minha filha caçula
ainda é muito nova para ter qualquer noção disso. A
mais velha sabe que eu curto filmes eróticos e, se ela
quer dicas, a gente conversa.”
palavra de especialista
Sexóloga e enfermeira de formação, a
canadense Sue Johanson fez história ao
responder, com seu jeitão de velhinha
acolhedora, às dúvidas sexuais de
telespectadores no programa Talk Sex with
Sue, que foi ao ar entre 2002 e 2008. Hoje,
com 80 anos, ela está longe das câmeras,
mas continua firme e forte, atuando na área.
Em entrevista a LOLA, garante que, sim, filme
pornô pode dar uma turbinada na libido
feminina. "Muitas mulheres ainda acham que
filme pornô é algo degradante e que elas
devem ser muito sensuais o tempo todo,
mesmo se for em uma relação sem intimidade
e bem casual. Outras acham que seu corpo
não se compara ao de Bambi Woods, atriz do
famoso Debbie Does Dallas. Por isso, relutam,
por achar que vão ficar em uma situação
embaraçosa. Porém, conheço mulheres que
adoram e viajam nessa fantasia erótica.”