TCC05 - Faculdade de Biomedicina
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TCC05 - Faculdade de Biomedicina
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA FELIPE TUJI DE CASTRO FRANCO ANALISE BIOQUÍMICA DAS ENZIMAS β-GLICOSIDASE E QUITOTRIOSIDASE EM SANGUE IMPREGNADO EM PAPEL FILTRO EM DIFERENTES CONDIÇÕES CLÍNICAS. BELÉM 2011 FELIPE TUJI DE CASTRO FRANCO ANALISE BIOQUÍMICA DAS ENZIMAS β-GLICOSIDASE E QUITOTRIOSIDASE EM SANGUE IMPREGNADO EM PAPEL FILTRO EM DIFERENTES CONDIÇÕES CLÍNICAS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina. Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Santana da Silva. BELÉM 2011 2 FELIPE TUJI DE CASTRO FRANCO ANALISE BIOQUÍMICA DAS ENZIMAS β-GLICOSIDASE E QUITOTRIOSIDASE EM SANGUE IMPREGNADO EM PAPEL FILTRO EM DIFERENTES CONDIÇÕES CLÍNICAS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina, aprovado com o conceito: ________________________________ Belém (PA), 15 de Dezembro de 2011 BANCA EXAMINADORA: ______________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Santana da Silva (ICB – UFPA/Orientador) ______________________________________ Prof. Msc. Erik Arthur Cortinhas (UEPA – Membro) ______________________________________ Prof. Dr. José Ricardo dos Santos Vieira (UFPA – Membro) ______________________________________ Profa. Msc. Isabel Cristina Souza Neves (UFPA – Suplente) 3 "Lembre-se que as pessoas podem tirar tudo de você, menos o seu conhecimento. É o seu bem mais precioso. Explore, viaje, descubra, conheça." Albert Einstein 4 Dedico este trabalho a: A minha mãe, pessoa mais importante na minha vida, que sempre se esforçou para realizar meus sonhos, estando sempre do meu lado, me apoiando em todas as minhas decisões, com todo meu amor e carinho. 5 AGREDECIMENTOS A Deus, porque sem Ele nada disso seria possível. Aos meus pais, Selma Tuji e Hildener Franco, pelo amor e pelo incondicional apoio, que sempre torceram pelo meu sucesso e pelo meu bem estar. Ao meu orientador Prof. Dr. Luiz Carlos Santana da Silva, por ter acreditado no meu potencial, pelo apoio e incentivo, pelos ensinamentos e, principalmente, pela amizade. Aos amigos do Laboratório de Erros Inatos do Metabolismo da UFPA pela amizade, companheirismo, idéias e risadas compartilhadas durante todos esses anos. Em especial a Vaneisse Monteiro, Brenda Oliveira e Francília Silva, pois são amizades que certamente eu levarei comigo a minha vida toda. Aos meus amigos da Biomedicina Ana Paula Castro, Bárbara Brasil e o Geison Castro, não tenho palavras para expressar toda a nossa amizade durante esses 4 anos de curso. Aos meus amigos Laura Seiffert, Humberto Castro, Yuri Vidal, Alexandre Nogueira, Felipe Hage, Rodrigo Pará e Thaís Silva por estarem comigo durante esses anos da minha vida contribuindo de alguma forma para a minha felicidade. Aos meus amigos que conquistei durante todos esses anos durante o curso pelo companheirismo e, em especial, aquele que colaboraram com a coleta do grupo controle. As médicas Drª Saide Trindade e Drª Isabel Neves pelo auxilio na busca dos pacientes. A equipe do Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre por todo o conhecimento adquirido. Aos pacientes e pais dos pacientes por terem aceitado participar do nosso trabalho. E a todos aqueles que de forma direta e indireta contribuíram para a realização desse trabalho. Ao CNPq pelo apoio financeiro. 6 LISTA DE ABREVIATURAS EIM: Erros inatos do metabolismo DLD: Doença lisossômica de depósito GSI: Esfingolipídio DG: Doença de Gaucher IL-1α: Interleucina-1α IL-6: Interleucina-6 TNF-α: Fator de necrose tumoral alfa TRE: Terapia de reposição enzimática OLS: Oligossacarídios SOLS: Sialoligossacarídios QT: Quitotriosidase β-Gal: Beta-galactosidase SIPF: Sangue impregnado em papel filtro 7 LISTA DE FIGURAS E TABELAS Tabela 1 – Atividade das enzimas β-glicosidase e β-galactosidase em diferentes amostras......................................................................................25 Figura 01 – Via de degradação dos esfingolipídios nos lisossomos humanos: enzimas envolvidas e enzimas relacionadas às doenças de depósito...............................................................................................................6 Figura 02 – Degradação de glicosilceramida em glicose e ceramida..............................................................................................................7 Figura 03 – Células de Gaucher retiradas da medula óssea...................................................................................................................7 Figura 04 – Diferença no gene do QUIT normal e mutante. A: gene normal da QUIT; B: gene mutante da QUIT, com duplicação de 24 pb no exon 10.......................................................................................................................13 Figura 05 – Sangue impregnado em papel filtro usado nos ensaios enzimáticos........................................................................................................16 Figura 06 – Comparação das atividades enzimáticas da β-glicosidase (nmol/h/mL) em leucóctios de indivíduos normais e pacientes com DG......................................................................................................................23 Figura 07 – : Comparação das atividades enzimáticas da β-glicosidase (nmol/h/mL) em SIPF de indivíduos normais e pacientes com DG......................................................................................................................24 Figura 08 – Atividade da QT em plasma de pacientes com DG e indivíduos normais..............................................................................................................26 Figura 09 – Atividade de QT em SIPF de pacientes com DG e indivíduos normais..............................................................................................................27 8 SUMÁRIO RESUMO.................................................................................................11 1.0. INTRODUÇÃO........................................................................................13 1.1 Erros Inatos do metabolismo........................................................13 1.2 Doenças lisossômicas de depósito...............................................14 1.3 Esfingolipidoses............................................................................14 1.4 Doença de Gaucher......................................................................16 1.5 Aspectos fisiopatológicos.............................................................17 1.6 Aspectos genéticos.......................................................................18 1.7 Tratamento...................................................................................19 1.8 Diagnóstico...................................................................................20 1.9 Marcadores e monitoramento.......................................................22 1.10 Justificativa...................................................................................24 2.0. 3.0. OBJETIVOS............................................................................................25 2.1 Objetivo geral................................................................................25 2.2 Objetivos específicos....................................................................25 MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................26 3.1 Caracterização de amostra...........................................................26 3.2 Aspectos éticos.............................................................................26 3.3 Coleta e armazenamento.............................................................27 3.4 Riscos e benefícios do estudo......................................................27 3.5 Separação de leucócitos..............................................................27 3.6 Dosagem de proteínas.................................................................28 3.7 Ensaios enzimáticos: Leucócitos..................................................29 3.7.1 β-Glicosidase................................................................................29 3.7.2 β-Galactosidase ...........................................................................29 3.8 Ensaios enzimáticos: Plasma.......................................................30 3.8.1 Quitotriosidase .............................................................................30 4.0. 3.9 Ensaio enzimáticos: SIPF.............................................................30 3.10 Análise estatística.........................................................................33 RESULTADOS........................................................................................34 4.1 Atividade enzimática de β-glicosidase (leucócitos e SIPF)..........34 4.2 Atividade da enzima Quitotriosidase............................................37 9 5.0. DISCUSÃO.............................................................................................39 6.0. CONCLUSÃO.........................................................................................43 7.0. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................44 8.0. ANEXOS.................................................................................................51 10 RESUMO Introdução: A doença de Gaucher (DG) é um erro inato do metabolismo de molécula complexa pertencente ao grupo das esfingolipidoses resultando no acúmulo lisossomal de glicosilceramida, este acúmulo se deve à ausência ou deficiência da enzima β-glicosidase. A quitotriosidase é um glicosil hidrolase sintetizada e excretada pro macrófagos ativados. Na década de 90, estudos mostraram que pacientes com DG possuíam níveis elevados de quitotriosidase no plasma. Objetivos: Implantar um protocolo laboratorial enzimático fluorimétrico utilizando sangue impregnado em papel filtro (SIPF) para mensurar a atividade enzimática da β-glicosidase e quitotriosidase. Material e métodos: Foram coletados 10 mL de sangue com heparina de 8 pacientes diagnosticados com DG, 6 heterozigotos obrigatórios e 30 indivíduos controle normais. Para a análise das enzimas β-glicosidase e quitotriosidase foram utilizados o método descrito por Civallero e colaboradores, 2006. Os resultados forem expressos em média ± desvio padrão. Resultados: A atividade enzimática da β-glicosidase em indivíduos normais foi de 7,84 ± 2,91 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, em heterozigotos foi de 4,82 ± 0,67 nmol de substrato hidrolisado/h/mL e em pacientes com DG foi de 0,71 ± 0,80 nmol de substrato hidrolisado/h/mL. A atividade enzimática da quitotriosidase em SIPF nos pacientes com DG foi de 277,93 ± 540,32 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, nos heterozigotos foi de 3,33 ± 2,82 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, enquanto nos indivíduos normais foi de 11,37 ± 10,78 nmol de substrato hidrolisado/h/mL. Conclusão: Indivíduos com DG apresentaram a atividade enzimática da β-glicosidase significativamente menor que aquelas encontradas nos controles e heterozigotos (p<0,001), e atividade enzimática da quitotriosidase significativamente maior quando comparadas com controles e heterozigotos (p<0,001). Não houve diferença significativa entre controles e heterozigotos (p=0,004) nas amostras. É viável a utilização de amostras de sangue em papel filtro para o rastreamento da DG no norte do país. Palavras-chaves: Doença de Gaucher, β-glicosidase, sangue impregnado em papel filtro. 11 ABSTRACT Introduction: Gaucher disease (GD) is an inborn error of metabolism of complex molecules and it belongs to sphingolipidosis group, resulting on lysosomal storage of glucosylceramide. The storage occurs because of the absence or deficiency of β-glucosidase enzyme. Chitotriosidase is a glucosyl hydrolase synthetized and excreted by active macrophages. In the 90’s decade, studies showed that GD patients had high levels of plasmatic chitotriosidase. Objectives: To implant a laboratorial protocol of enzymatic and fluorimetric assay using dried blood on filter paper (DBFP) to quantify the enzymatic activity of β-glucosidase and chitotriosidase enzymes. Material and methods: 10 mL of blood was collected with heparin of 8 patients diagnosed with GD, 6 obligatory heterozygotes and 30 healthy controls individual. To analyze the βglucosidase and chitotriosidase enzymes it was used the method described by Civallero and colleagues, 2006. Results were expressed in median ± standard deviation. Results: The enzymatic activity of β-glucosidase in normal individual was 7,84 ± 2,91 nmol of hydrolised substrate/mL, in heterozygotes it was 4,82 ± 0,67 nmol of hydrolised substrate/mL and in GD patients it was 0,71 ± 0,80 nmol of hydrolised substrate/mL. The enzymatic activity of chitotriosidase in DBFP of GD patients was 277,93 ± 540,32 nmol of hydrolised substrate/mL, in heterozygotes it was 3,33 ± 2,82 nmol of hydrolised substrate/mL, while in normal individual it was 11,37 ± 10,78 nmol of hydrolised substrate/mL. Conclusion: GD individual presented β-glucosidase enzymatic activity statistically smaller than controls and heterozygote individual (p<0,001), and chitotriosidase enzymatic activity is statistically higher than controls and heterozygotes (p<0,001). There was no statistical difference between controls and heterozygotes (p=0,004). Blood samples in filter paper have shown to be viable to keep track of GD patients in the northern Brazil. Key words: Gaucher disease, β-glucosidase, dried blood on filter paper 12 1. INTRODUÇÂO 1.1 Erros Inatos do Metabolismo Os erros inatos do metabolismo (EIM) são doenças metabólicas hereditárias, causadas pela deficiência de uma ou mais enzimas ou do defeito em uma proteína de transporte. Como conseqüência, podemos ter acúmulo de substrato, normalmente encontrada em concentrações mínimas, a deficiência de produtos intermediários críticos, a deficiência de produtos específicos ou ainda excesso nocivo de produtos de vias metabólicas associadas. Segundo Wajner e colaboradores (2001), os EIM são, na sua grande maioria de herança autossômica recessiva, com risco de 25% a cada gestação de pais heterozigotos. Alguns são ligados ao cromossomo X, sendo o risco de recorrência de 50% a cada gestação para o gênero masculino e de 50% das filhas serem portadoras. Ainda existem as heranças mitocondriais, onde o risco de recorrência de praticamente 100% para filhos de ambos os sexos. A incidência individual de cada EIM, de acordo com o autor, é relatada como rara, entretanto quando analisados em conjunto é de 1:5000 recém nascidos vivos, sendo assim, o diagnóstico precoce e tratamento adequado, podem reverter sintomas agudos e prevenir danos crônicos. Os EIM podem ser didaticamente divididos em dois grandes grupos: os de pequenas moléculas (aminoacidúrias, acidemias orgânicas, intolerância a açúcares, etc.) e os de moléculas complexas (doenças de depósito lisossômico, distúrbios peroxissomais). Pacientes portadores de defeitos do metabolismo de pequenas moléculas apresentam um quadro de intoxicação devido ao acúmulo de moléculas não metabolizadas corretamente, apresentando sintomas relacionados como vômito, convulsão, atraso no desenvolvimento psicomotor e físico, hipotonia, morte súbita na infância, entre outros. Os pacientes portadores de defeitos do metabolismo de moléculas complexas apresentam sintomas permanentes e progressivos, independente da ocorrência de infecções, jejum, cirurgias ou outras situações com 13 catabolismo acelerado e por não estarem relacionados à alimentação (Wajner et al., 2001). 1.2 Doenças lisossômicas de depósito A importância fisiológica das vias degradativas é revelada pela existência de no mínimo 50 EIM classificados como Doenças Lisossômicas de Depósito (DLDs) (Neufeld, 1991; Wilcox, 2004; Aerts et al., 2003). Os autores argumentam que a maioria destas doenças ocorre devido a vários fatores entre eles a deficiência enzimática lisossomal, transporte insuficiente dos substratos a serem hidrolisados ou dos produtos de hidrólise através da membrana lisossomal, a ausência de cofatores essenciais ou o defeito de proteínas ativadoras das enfingolipidoses. As DLDs, de acordo com o substrato acumulado são agrupadas em mucopolissacaridoses, esfingolipidoses, mucolipidoses, oligossacaridoses e glicogenoses (Neufeld, 1991). As DLDs são individualmente raras na população, com menos de 5 casos em cada 10.000 nascidos vivos, mas em conjunto têm uma incidência de 1 para cada 800 nascidos vivos (Meikle et al., 1999; Ballabio, 2009). Para a maioria das DLDs, o processo anormal de depósito começa no período fetal durante a gravidez e torna-se clinicamente evidente nos primeiros dois anos de vida, mas existem várias situações de início tardio. As DLDs são progressivas, graves e predominantemente incuráveis, para a maioria delas o diagnóstico permite apenas medidas preventivas como o aconselhamento genético, a detecção de heterozigotos e o diagnóstico pré-natal (Ballabio, 2009). 1.3 Esfingolipidoses Os esfingolipídios (GSls) são componentes essenciais da membrana de células eucarióticas, sintetizados no retículo endoplasmático e no complexo de Golgi. Localizados principalmente na camada externa da membrana plasmática 14 são internalizados por endocitoses e são degradados dentro dos lisossomos (Sillence e Platt, 2004). Os GSLs têm a função, entre outras, de colaborar nas propriedades físico-químicas da membrana celular. Eles apresentam cerca de 300 estruturas diferentes entre si e são compostos de pelo menos um resíduo de monossacarídeo glicosidicamente ligado a um aminoálcool ceramida – esfingosina ligada a um ácido graxo (Degroote et al., 2004; Wenneks et al., 2009). Como todos os constituintes celulares, os GSLs são continuamente sintetizados e degradados. Tanto a via de síntese como a via de degradação, contém uma série de enzimas, sendo o produto de uma reação o substrato para a próxima reação enzimática. Se uma das enzimas faltar ou sua atividade estiver comprometida, o produto não é sintetizado ou é inadequadamente sintetizado, fazendo com que essa molécula não seja degradada, gerando desordens metabólicas. Algumas dessas desordens metabólicas hereditárias são conhecidas por resultarem de defeitos nas enzimas lisossomais envolvendo a degradação dos GSLs (Kolter e Sandhoff, 2006). A degradação dos esfingolipídios ocorre, predominantemente, em endossomos e lisossomos. Huwiler e colaboradores (2000) e Walkley e Vanier (2009) sustentam que alterações nas múltiplas vias de síntese, degradação e reciclagem dos esfingolipídios podem gerar a produção e acúmulo secundário desses metabólitos, os quais podem contribuir diretamente para a patogênese de muitas doenças de depósito (Figura 1). 15 Figura 01. Via de degradação dos esfingolipídios nos lisossomos humanos: enzimas envolvidas e enzimas relacionadas às doenças de depósito. Fonte: Kolter e Sandhoff, 2006. 1.4 Doença de Gaucher A doença de Gaucher (DG) é um erro inato do metabolismo de molécula complexa pertencente ao grupo das esfingolipidoses resultando no acúmulo lisossomal de um material degradado incompletamente denominado de glicocerebrosídio dentro das células da linhagem monócito-macrófago. Este acúmulo se deve à ausência ou deficiência da enzima lisossomal β-glicosidase ácida (β-glico,D-glicosil-N-acilesfingosina glicohidrolase, EC 3.2.1.45). Em decorrência da deficiência da atividade da β-glicosidase, fica prejudicada a clivagem do glicocerebrosídio. Como resultado tem-se o acúmulo desse substrato no sistema mononuclear fagocitário (monócitos/macrófagos), originando células neste sistema denominadas de células de Gaucher (Grabowski e Horowitz, 1997) (figuras 2 e 3). 16 Figura 02.Degradação do glicosilceramida em glicose e ceramida. Fonte: Kolter e Sandhoff, 2006. Figura 03.Células de Gaucher retiradas da medula óssea. Fonte: Sobreira e Bruniera, 2008. 1.5 Aspectos fisiopatológicos As manifestações clínicas da DG são variadas e, às vezes até assintomáticas, as mais comuns são a hepatosplenomegalia, trombocitopenia, anemia, infecções recorrentes, alterações ósseas incluindo fraturas e osteoporose. Os pacientes com DG são, geralmente, divididos em três fenótipos de acordo com os sinais e sintomas clínicos apresentados: (Futerman et al., 2004). 17 DG tipo 1 ou forma não neuropática: caracterizada por hepatoesplenomegalia, anemia, plaquetopenia e degeneração óssea. A expressão clínica da doença pode variar desde os primeiros meses de vida até a oitava década de vida. O sistema nervoso não está envolvido nesse tipo. É a forma mais comum da doença correspondendo até a 99% dos casos e é, particularmente, prevalente entre os judeus Ashkenazi com uma incidência de cerda de 1:450 e de 1:40.000 em comparação com a população em geral. DG tipo 2 ou neuropática: os pacientes têm anormalidades nervocraniais e no tronco cerebral, hipertonia, retardo mental, apnéia e hepatoesplenomegalia. Idade de aparecimentos dos sintomas é em torno dos primeiros meses de vida. DG tipo 3 ou neuropática: pacientes têm sintomas similares ao tipo 1, mas os sinais neuropáticos (retardo mental, apraxia motora ocular) aparecem durante a adolescência. Na DG tipo 1, a glicosilceramida acumulada, principalmente nas células do sistema mononuclear fagocitário, é responsável pelo aumento e pela liberação mediada por macrófagos, muitas vezes acentuada, de citocinas pró e antiinflamatórias. Estas incluem entre outras citocinas a interleucina-1α (IL-1α), a interleucina-6 (IL-6), o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e a quemoquina CCL18/PARC. Tais mediadores podem contribuir para a patogênese da doença (Jmoundiak e Futerman 2005; Walkley e Vanier 2009). 1.6 Aspectos Genéticos A DG tem herança autossômica recessiva sendo caracterizada a presença de dois alelos mutantes para o gene da β-glico (GBA1), localizado na região q21 do cromossomo 1. Atualmente, são conhecidas mais de 200 mutações no gene GBA1 o que acarreta expressiva heterogeneidade nas manifestações fenotípicas da doença. 18 As mutações mais freqüentes são as denominadas N370S e L444P. A primeira é causada por uma troca de adenina por guanina no éxon 9 do gene, que determina a substituição do aminoácido asparagina por uma serina no resíduo 370 da proteína. A mutação L444P deve-se a troca de uma timina por uma citosina no éxon 10, o que leva a uma substituição do aminoácido leucina por prolina no resíduo 444 da proteína (Wennedes et al., 2009). De acordo com Charrow e colaboradores (2000) entre os judeus Ashkenazi, quatro mutações são responsáveis por 90% dos casos, N370S, 84GG, L444P e IVS2+1. Na população não judia, a doença apresenta baixa prevalência, e as mutações mais identificadas são as L444P, N370S, D409H, R463C e IVS2+119. No Brasil, as mutações mais freqüentes coincidem com as mais comuns referidas na literatura internacional: N370S e L444P (Pires e Sobreira, 2004). 1.7 Tratamento As opções terapêuticas para DLDs são relativamente limitadas e restringem na sua maioria a cuidados paliativos. Este fato decorre da dificuldade dos agentes terapêuticos desenvolvidos agirem no sistema nervoso central, local de manifestação na maioria das DLDs. Grupos de pesquisa concentram em desenvolver estratégias principalmente no transplante de medula óssea, terapia de reposição enzimática (TRE), terapia de redução de substrato e terapia gênica (Platt & Butters, 2000; Ozkara, 2002). O marco no processo no tratamento de DLDs foi feito há poucas décadas atrás, onde com o uso de técnicas de DNA recombinante, permitiu a produção de enzimas lisossomais in vitro. As enzimas recombinantes são conduzidas ao interior das células somáticas pelo receptor de manose, onde são transferidas para o lúmen dos lisossomos. Uma vez no lisossomo, estas enzimas degradam o substrato acumulado, repercutindo em uma melhora dos sintomas de várias DLD. Estudos demonstram o uso da TRE na melhora da qualidade de vida de pacientes com doença de Fabry, Mucopolissacaridoses do tipo I, II e VI, doença de Pompe e DG (Nakamura et al., 2011). 19 O uso da TRE é limitado, pois a enzima recombinante não melhora efetivamente todos os sintomas. Estudos clínicos mostram que alguns sintomas são irreversíveis em casos avançados, mesmo com o tratamento em longo prazo, portanto o diagnóstico precoce e tratamento são extremamente importantes. Além de que essas enzimas recombinantes não atravessam a barreira hematocefálica, mostrando que a TRE tem pouca ou nenhuma eficiência, em relação às manifestações no sistema nervoso central (Nakamura et al., 2011). 1.8 Diagnóstico O protocolo inicial de investigação das DLD inclui o teste do azul de toluidina (para investigação das Mucopolissacaridoses), bem como as cromatografias de oligossacarídios (OLS) e sialoligossacarídios (SOLS) e a medida das atividades das enzimas plasmáticas β-glicuronidase e das hexosaminidases totais. As cromatografias de OLS e SOLS realizadas em camada delgada detectam bandas correspondentes a oligossacarídeos que são o produto da degradação incompleta de cadeias laterais de glicoproteínas e glicolipídeos complexos. Na presença de bandas anormais e padrões sugestivos de uma ou outra doença, haverá a necessidade de confirmação da DLD através da medida da atividade enzimática, utilizando geralmente um substrato artificial com um radical fluorescente, em plasma, leucócitos ou cultura de fibroblastos e, atualmente, em sangue impregnado em papel filtro (Wajner et al., 2001; Civallero et al, 2006). Algumas dessas doenças não são detectadas por esses protocolos, é o caso, por exemplo, da DG (foco deste estudo), necessitando de uma suspeita clínica e posterior solicitação de ensaios enzimáticos específicos, sem necessidade de passar pelos protocolos já citados (Wajner et al., 2001). Antes da identificação da deficiência enzimática, o diagnóstico da DG era realizado através de exame histopatológico de biópsia de medula óssea ou, 20 em alguns casos, do fígado ou do baço. Entretanto, a presença de células semelhantes às de Gaucher (chamadas de pseudocélulas de Gaucher) em outras doenças, tais como leucemina mielóide crônica, mieloma múltiplo, talassemia e doença de Hodgkin, poderia muitas vezes levar a diagnóstico incorreto (Beutler, 2006). Atualmente, o diagnóstico laboratorial da DG é feito através da medida da atividade enzimática em leucócitos e/ou cultura de fibroblastos, obtidos a partir de sangue periférico e a partir de biópsia de pele, respectivamente (Michelin et al., 2004). No grupo dos EIM, na qual a maioria das doenças é de herança autossômica recessivas, a possibilidade de ter um novo filho afetado é de 25%. No momento em que é feito o diagnóstico de uma criança com EIM, é recomendado realizar o aconselhamento genético com a finalidade de informar à família sobre os riscos de recorrência, o prognóstico, a gravidade da doença em estudo e a possibilidade de realização do diagnóstico pré-natal. O diagnóstico pré-natal é possível para a doença de Gaucher. Podem-se realizar em diferentes tipos de amostras tais como: a) Vilosidades coriônicas, coletadas usualmente entre a 10ª e 11ª semana de gestação, e que permite a análise direta do material num período mais precoce da gestação; b) Líquido amniótico, que é geralmente coletado entre a 14ª e 16ª semana de gestação, e cuja análise requer o cultivo prévio das células, o qual leva em torno de 2 semanas; c) Sangue fetal, que é coletado do cordão umbilical a partir da 20ª semana de gestação. O diagnóstico pré-natal é geralmente realizado pelo ensaio enzimático especifico para a doença de Gaucher, mas também pode ser realizado pela pesquisa da mutação por diagnóstico molecular, quando esta já é conhecida na família (Sanseverino et al., 2001). 21 1.9 Marcadores e monitoramento Estudos sugerem que a análises de anormalidades secundárias, tais como a elevação nos níveis plasmáticos de determinadas proteínas, poderiam intervir no entendimento da fisiopatologia da DG, além de fornecer marcadores que possam auxiliar no momento do diagnóstico, bem como servir de parâmetro da efetividade das terapias utilizadas, o que conseqüentemente poderá auxiliar na otimização da dose para cada paciente, levando-se em conto o alto custo dos tratamentos (Aerts et al., 2003; Parrenti, 2009). A quitotriosidase (QT), também conhecida como quitinase humana (EC 3.2.1.14) é um glicosil hidrolase sintetizada e excretada pro macrófagos ativados e está, usualmente, presente no fígado, rins, baço, pulmão e medula óssea (Hollak et al., 1994; Aerts et al., 2008). Esta enzima é análoga a quitinases de não vertebrados. Na década de 90, estudos mostraram que pacientes com DG possuíam níveis elevados de QT no plasma (cerca de 100 a 500 vezes) e que após a introdução da TRE estes níveis diminuíam (Hollak et al., 1994; Pastores e Barnett, 2005). Acredita-se que, por ser sintetizada por macrófagos, a QT reflete processos inflamatórios (Van Eijk et al., 2005), o que está de acordo com achados prévios, demonstrando uma elevada atividade da QT em neonatos com infecções fúngicas e em outras patologias como a malária (Labadaridis et al., 2005; Muzzarelli, 2010). Estes mesmos autores destacam que apesar dos vários estudos já realizados, não se conhece ainda as funções da QT em seres humanos e, também, são desconhecidos os mecanismos exatos pelos quais a QT é produzida em altas quantidades na DG e em outras esfingolipidoses (Wajner et al., 2007). Alguns estudos relatam o aumento da atividade da quitotriosidase em algumas doenças lisossomais, este aumento é decorrente da ativação de macrófagos devido ao acúmulo de esfingolipídios que contem, no seu interior, ceramida, que é considerada imunogência (Wajner et al., Muzzarelli, 2010). 22 A quitotriosidase tem capacidade de clivar polímeros de quitina em oligossacarídeos de tamanhos variados e liberando monossacarídeos de glicosamina, a partir do final de uma molécula de quitina. A QT é mais ativa em pH entre de 4,0-5,0. A capacidade destas enzimas para degradar quitina é rotineiramente medida em ensaios que utiliza quitina fluorescente etiquetado como um substrato, em plasma ou soro (Ober e Chupp, 2009). Apesar da potencialidade da enzima QT como biomarcador para DG, Moyses (2003) evidenciou que a elevada atividade enzimática não constitui condição específica para esta patologia. Vários estudos indicam que a presença de polimorfismos no gene QUIT1 pode levar à deficiência da enzima QT no plasma, mesmo que não haja ainda nenhuma comprovação de que essa deficiência tenha alguma repercussão para saúde. O mais conhecido e freqüente destes polimorfismos é uma duplicação de 24 pb no éxon 10 do gene QUIT1 (Figura 04). Apesar de 6% de a população ser homozigota para o alelo mutante, a freqüência deste polimorfismo tem sido encontrada de forma heterogênea em várias populações. A freqüência alélica da duplicação é elevada em ameríndios da Amazônia Brasileira (61,0%) e Asiáticos (56,0%) e menores em Europeus (17,0%) e Africanos (7,0%) (Lee et al., 2007; Silva, 2010). Figura 04: Diferença no gene da QUIT normal e mutante. A: gene normal da QUIT; B: gene mutante da QUIT, com duplicação de 24 pb no exon 10. Fonte: Lee et al., 2007.. 23 1.10. Justificativa Neste trabalho, será validada a metodologia de diagnóstico em SIPF para a investigação bioquímica da DG na região norte do país. Amostras em papel filtro apresentam um menor volume de sangue coletado e uma maior facilidade quanto ao transporte e acondicionamento. Este tipo de material é de fundamental importância quando se considera as grandes dimensões do Brasil e os custos envolvidos no transporte e materiais de coleta. Dessa forma, a determinação de atividade enzimática em amostras de SIPF poderia facilitar a detecção de pacientes afetados, pois a coleta e seu transporte envolvem um baixo custo. 24 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Implantar um protocolo laboratorial enzimático fluorimétrico em SIPF para a determinação da atividade das enzimas β-glicosidase e Quitotriosidase. 2.2 Objetivos Específicos Correlacionar os resultados obtidos na análise da β-glicosidase em SIPF com resultados obtidos em leucócitos; Correlacionar os resultados obtidos na análise da Quitotriosidase em SIPF com resultados obtidos em plasma; 25 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Caracterização da amostra Para o presente estudo, foram coletadas amostras de sangue total para a obtenção de SIPF, plasma e leucócitos. O grupo controle foi constituído de amostras de 30 indivíduos saudáveis (18-50 anos), de ambos os sexos. O grupo DG foi constituído de amostras de 8 pacientes previamente diagnosticados com DG, sendo 5 do gênero feminino e 3 do gênero masculino. A faixa etária dos pacientes variou de 11 a 43 anos. O grupo de heterozigotos (familiares do pacientes) foi constituído de 6 indivíduos, que apresentavam apenas um alelo mutante confirmado por análise molecular. 3.2 Aspectos Éticos Este trabalho levou em consideração os princípios éticos básicos das diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos: autonomia, beneficência, não maleficência e justiça, o que está de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Este projeto teve o parecer favorável e aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa do Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará – Fundação HEMOPA (anexo 01) A explicação detalhada dos objetivos do estudo foi realizada pelo médico envolvido no projeto ou pelo próprio pesquisador, através de um contato pessoal, e/ou uma carta convite com esclarecimento de todas as dúvidas levantadas pelo paciente ou seu responsável. Caso o convite para participação neste estudo por parte do paciente fosse aceito, foi fornecido o termo de consentimento livre e esclarecido (anexo 02), antes da coleta de qualquer material biológico. O material biológico coletado foi utilizado apenas neste estudo. Ele ficou armazenado sob a responsabilidade do pesquisador responsável (coordenador do estudo) no Laboratório de Erros Inatos da UFPA, sendo este também 26 responsável pela utilização do material. Após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido foi realizada a coleta de sangue. 3.3 Coleta e armazenamento das amostras Para os ensaios enzimáticos nas amostras foram coletados 10 mL de sangue venoso em seringa em tubo com heparina. Uma alíquota de 2 mL foi separada pra separar o plasma e fazer a impregnação no papel filtro Whatman 903 (Figura 05), sendo 8 mL destinados para a separação de leucócitos. As amostras de plasma e leucócitos foram armazenadas a –20ºC e o SIPF foi armazenado a 4°C até o momento dos ensaios enzimáticos. Figura 05: Sangue impregnado em papel filtro usado nos ensaios enzimáticos. 3.4 Riscos e benefícios do estudo A coleta da amostra biológica (punção venosa de sangue periférico) representa um risco mínimo para o paciente, visto que é um procedimento rotineiramente empregado em análises clínicas para medição de vários metabólitos no sangue. 3.5 Separação de leucócitos Os leucócitos foram isolados de sangue heparinizado de acordo com o método descrito por Skoog e Beck (1956), que consiste em transferir 10 mL de sangue total para um tubo de vidro grande e adição de 10 mL de uma solução 27 composta pela mistura dos seguintes reagentes: solução de ácido cítricocitrato-dextrose (ACD), dextran 6% e glicose 5%, diluídos em cloreto de sódio 0,9 %. Após misturar suavemente por inversão a amostra e s solução, essa mistura foi deixada à temperatura ambiente, até completar sedimentação das hemácias, por aproximadamente 1 hora. O sobrenadante foi transferido para um tubo cônico de plástico e centrifugado a 2000 rpm por 10 min a 4ºC. Após a centrifugação, o sobrenadante foi descartado e o precipitado, contendo os leucócitos foi lavado com 0.8 mL de solução de NaCl 0,9%, homogeneizando em agitador tipo vórtex. Foram adicionados 2,4 mL de água destilado gelada e novamente homogeneizado. Depois de 90 segundos foi adicionado 0,8 mL de NaCl 3,6%, misturado por inversão e centrifugado a 3000 rpm por 5 min a 4ºC. O sobrenadante foi descartado e o pellet de leucócitos foi armazenado a -20 ºC até o momento das análises enzimáticas. 3.6 Dosagem de proteínas No momento da análise, o pellet de leucócitos foi diluído em água destilada, em um volume que variou de 300 a 600 µL. Depois as amostras foram sonicadas em Sonicador Ultrassônico, por 2 ciclos de 25 segundos, intercalados por um período de descanso de 30 segundos, a fim de assegurar o rompimento das membranas celulares e a conseqüente liberação do material celular contido no interior dos lisossomos. Durante todo o procedimento, as amostras foram mantidas em recipiente com gelo para manter a estabilidade da atividade enzimática. Para a dosagem de proteínas nas amostras, foi utilizado o método descrito por Lowry, et al (1951). As amostras foram diluídas em água destilada (20 µL de amostra e 480 de água destilada). Foram adicionados, sob agitação em vórtex, 1,5 mL de reativo alcalino de cobre em todos os tubos, inclusive na curva-padrão de albumina 0,02%. Após 10 minutos de repouso, foi adicionada, sob agitação em vórtex, 150 µL de reativo de Folin-Ciocalteau em todos os tubos, inclusive na curva e, após 30 minutos a cor desenvolveu-se, sendo possível detectar a quantidade de proteína presente na amostra, através de um espectrofotômetro Spectra Max M2 com comprimento de onda de 750 nm, 28 usando como padrão uma curva preparada com albumina bovina nas concentrações 20, 40, 60, 80 e 100. O cálculo foi realizado a partir de curvapadrão de albumina e os resultados expressos em µg /100 µL. 3.7 Ensaios enzimáticos: Leucócitos 3.7.1 β-Glicosidase A atividade enzimática da β-glicosidase foi determinada de acordo com Peters e colaboradores (1976), utilizando-se uma mistura de 10 mmol/L de 4metilumbeliferil-β-D-glicosídio como substrato e 50 mmol/L de tauracolato de sódio como detergente. Para o ensaio foram utilizados 20 µL de leucócitos, 100 µL de substrato e 50 µL de tampão citrato-fosfato 0.54 mol/L pH 5,5. Os leucócitos foram incubados por 1 hora a 37ºC. A reação foi interrompida pela adição de 1500 µL de tampão glicina-NaOH 0,5 mol/L pH 10,3, e a fluorescência foi medida em um espectrofluorímetro Spectra Max M2 usando filtros de emissão e excitação de comprimentos de onda 450 nm e 365 nm, respectivamente. As leituras foram comparadas a uma curva de calibração 4metilumbeliferona. As atividades enzimáticas foram calculadas em nanomol de substrato hidrolisados por hora por miligrama de proteína (nmol/h/mg de proteína) 3.7.2. β-Galactosidase (Enzima de referência) Para o ensaio enzimático da β-galactosidase (β-gal) em leucócitos (enzima de referência) foi utilizado o método descrito por Suzuki, K. (1977), as amostras foram diluídas em cloreto de sódio 0,9% para uma concentração de proteína da amostras de 15 a 30 μg. O substrato 4-metilumberiferil-β-Dgalactosídeo foi diluído em tampão citrato-fosfato pH 4, numa proporção de 1 mg / 1,5 mL, que foi dissolvido através de aquecimento. No ensaio, foi utilizado um volume de 100 μL de amostra diluída e 200 μL de substrato, em tubos de vidro que foram incubados por 1 hora, a 37 ºC, com agitação suave. Após este período, a reação foi interrompida pela adição de 3 mL de tampão glicina29 NaOH pH 10,3. A fluorescência (excitação, 365nm; emissão, 450 nm) foi medida no espectrofluorímetro Spectra Max M2. A atividade enzimática foi expressa em nmol/h/mg de proteína. 3.8 Ensaios enzimáticos: Plasma 3.8.1. Quitotriosidase A atividade enzimática da quitotriosidase foi determinada segundo Hollak e colaboradores (1994), utilizando-se o substrato artificial 4-metilumbeliferil-βD-N-N'-N”-triacetilquitotriosísio 0,02 mmol/L. O material destinado ao ensaio continha 5 μL de plasma acidificado (50 μL de plasma adicionado de 5 μL de ácido cítrico 0,2 mol/L) e 100 μL de substrato, dissolvido em tampão citrato 10mmol/L-fosfato 200 mmol/L pH 5,2 em um volume total de 105 μL. Este material foi incubado por 15 minutos a 37ºC. A reação foi interrompida com 1000 μL de tampão glicina-NaOH 0,5 mmol/L pH 10,3, e a fluorescência foi lida com um espectrofluorímetro Spectra Max M2 com filtros de emissão e excitação de 450nm e 365nm, respectivamente. As leituras foram corrigidas com valores dos brancos comparadas a uma curva de calibração de 4-metilumbeliferona. Nas amostras em que atividade foi muito elevada (pacientes com DG), procedeu-se uma diluição prévia (1:50) da amostra em albumina 1% em água destilada para assegurar as condições de saturação do substrato. As atividades enzimáticas foram calculadas em nanomol de substrato hidrolisados por hora por mililitro de sangue (nmol/h/mL). 3.9. Ensaios enzimáticos: SIPF As amostras de SIPF foram obtidas de sangue total, utilizando-se papel Whatman nº 903, secas à temperatura ambiente, por um período de 4 horas, em superfície plana. Depois de secas, as mesmas foram acondicionadas em sacos plásticos e armazenadas a 4 ºC até o momento da análise. 30 3.9.1 β-Glicosidase Para este ensaio, foi utilizado o método descrito por Civallero et al. 2006. No ensaio foram utilizados discos de 3,0 mm de diâmetro, contendo SIPF (~ 3,6 µL de sangue total), em tubo eppendorf de 2,0 mL. Utilizou-se uma mistura de 10 mmol/L de 4-metilumbeliferil-β-D-glicosídio como substrato e 50 mmol/L de taurodeoxicolato de sódio como detergente. Para o ensaio foram utilizados 100 µL de substrato e 50 µL de tampão citrato-fosfato 0,54 mol/L pH 5,5 e incubados a 37 ºC por 5 horas, com agitação suave. Antes da adição do substrato, foram adicionados 1,5 mL de tampão glicina-NaOH 0,5M pH 10,3 aos tubos brancos. Após o período de incubação, a reação foi interrompida pela adição de 1,5 mL de tampão glicina-NaOH 0,5M pH 10,3 aos tubos testes. As amostras foram centrifugadas a 3000 rpm, por 10 min a 4 ºC. A fluorescência foi lida com um espectrofluorímetro Spectra Max M2 com filtros de emissão e excitação de 450nm e 365nm, respectivamente. A atividade enzimática foi calculada em nmol/h/mL. Em todos os ensaios enzimáticos as leituras foram corrigidas pelos brancos e comparadas com calibradores de 4-metilumbeliferona. 3.9.2 β-Galactosidase A medida da atividade da enzima β-galactosidase foi realizada para a avaliação da integridade das amostras em SIPF. Para este ensaio, foi utilizado o método descrito por Civallero et al. 2006. No ensaio foram utilizados discos de 3,0 mm de diâmetro, contendo SIPF (~ 3,6 µL de sangue total), em tubo eppendorf de 1,5 mL. Após a adição de 80 µL de tampão citrato-fosfato pH 4,4 0,05 M (líquido de diluição), foram adicionados 40 µL de substrato 4-metilumbeliferil-β-D-galactosídio 0,8 M/L com diluição em água destilada e aquecimento para completar a dissolução. Após a homogeneização, as amostras foram incubadas a 37 ºC por 3 horas, com 31 agitação suave. Antes da adição do substrato, foram adicionados 600 µL de tampão glicina-NaOH 0,085M pH 10,5 aos tubos brancos. Após o período de incubação, a reação foi interrompida pela adição de 600 µL de tampão glicina-NaOH 0,085M pH 10,5 aos tubos testes. As amostras foram centrifugadas a 3000 rpm, por 10 min a 4 ºC. A fluorescência foi lida com um espectrofluorímetro Spectra Max M2 com filtros de emissão e excitação de 450nm e 365nm, respectivamente. A atividade enzimática foi calculada em nmol/h/mL. Em todos os ensaios enzimáticos as leituras foram corrigidas pelos brancos e comparadas com calibradores de 4-metilumbeliferona. 3.9.3. Quitotriosidase Para este ensaio, foi utilizado o método descrito por Civallero et al. 2006. No ensaio foram utilizados discos de 3.0 mm de diâmetro, contendo SIPF (~ 3,6 µL de sangue total), em tubo eppendorf de 1,5 mL. Após a adição de 40 µL de tampão acetato de sódio 0,25 M/L pH 5,5, foram adicionados 40 µL de substrato 4-metilumbeliferil-β-D-N-N'-N”-triacetilquitotriosísio 0,19 M/L com diluição em água destilada e aquecimento para completar a dissolução. Após a homogeneização, as amostras foram incubadas a 37 ºC por 30 minutos, com agitação suave. Após o período de incubação, a reação foi interrompida pela adição de 600 µL de Etilenodiamina 0,13M pH 11,3 aos tubos testes. As amostras foram centrifugadas a 3000 rpm, por 10 min a 4 ºC. A fluorescência foi lida com um espectrofluorímetro Spectra Max M2 com filtros de emissão e excitação de 450nm e 365nm, respectivamente. A atividade enzimática foi calculada em nmol/h/mL. Em todos os ensaios enzimáticos as leituras foram corrigidas pelos brancos e comparadas com calibradores de 4-metilumbeliferona. 32 3.10. Análise Estatística Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão. O teste não-paramétrico de Mann-Whitney do software Bioestat 5.0 foi usado para determinação da diferença entre controles e paciente. Foi considerado p < 0,001 como sendo significante (Ayres et al., 2003). 33 4. RESULTADOS 4.1. Atividade enzimática de β-glicosidase (leucócitos e SIPF): Neste estudo foi realizada a medida da atividade enzimática da βglicosidase em leucócitos e em sangue impregnado em papel filtro em 8 indivíduos com DG (previamente diagnosticados), 6 indivíduos heterozigotos para a DG e 30 indivíduos normais. Como pode ser observado na Figura 06 a média das atividades da βglicosidase nos pacientes com DG foi de 1,06 ± 0,71 nmol de substrato hidrolisado/h/mg de proteνna, nos heterozigotos foi de 11,83 ± 5,4 nmol de substrato hidrolisado/h/mg de proteνna, enquanto nos indivνduos normais foi de 11,42 ± 5,93 nmol de substrato hidrolisado/h/mg de proteνna em leucσcitos. Figura 06: Comparação das atividades enzimáticas da β-glicosidase (nmol/h/mL) em leucóctios de indivíduos normais e pacientes com DG. Valores de referência: 10–25 nmol/h/mL 34 A medida da atividade enzimática da β-glicosidase em SIPF nos pacientes com DG foi de 0,71 ± 0.80 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, nos heterozigotos foi de 4,82 ± 0,67 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, enquanto nos indivíduos normais foi de 7,85 ± 2,91 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, conforme a Figura 07. Figura 07: Comparação das atividades enzimáticas da β-glicosidase (nmol/h/mL) em SIPF de indivíduos normais e pacientes com DG. Valores de referência: 3 – 18 nmol/h/mL. Após análise estatística foi verificado que os indivíduos com DG apresentaram uma atividade enzimática significativamente menor que aquelas encontradas nos controles e heterozigotos (p<0,001). Não houve diferença significativa entre controles e heterozigotos em leucócitos (p=0,3202) e em SIPF (p=0,0048). Neste estudo foi realizada a medida da atividade enzimática de outra enzima em leucócitos e em SIPF para validação do procedimento e do material 35 biológico. A média das atividades da β-galactosidase nos pacientes com DG foi de 143,78 ± 62,83 nmol de substrato hidrolisado/h/mg de proteína, nos heterozigotos foi de 150,23 ± 48,65 nmol de substrato hidrolisado/h/mg de proteína, enquanto nos indivíduos normais foi de 214,09 ± 59,50 nmol de substrato hidrolisado/h/mg de proteína em leucócitos. A medida da atividade enzimática de β-galactosidase em SIPF nos pacientes com DG foi de 32,14 ± 21,22 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, nos heterozigotos foi de 44,46 ± 13,40 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, enquanto nos indivíduos normais foi de 44,17 ± 21,70 nmol de substrato hidrolisado/h/mL (Tabela 01). Tabela 01: Atividade das enzimas β-glicosidase e β-galactosidase em diferentes amostras. Método n Variação das atividades (média ± DP) p β-glicosidase Leucócitos Pacientes com DG Controles normais SIPF Pacientes com DG Controles normais 8 30 0,31 – 2 (1,06 ± 0,71) 5,35 – 28,5 (11,42 ± 5,93) < 0,001 8 30 0 – 2,5 (0,71 ± 0.80) 3 - 15.1 (7.84 ± 2.91) < 0,001 β-galactosidase Leucócitos Pacientes com DG Controles normais SIPF Pacientes com DG Controles normais 8 30 84,4 – 231,6 (143,78 ± 62,83) 101 - 336 (214,09 ± 59,50) > 0,05 8 30 10,44 – 73,94 (32,14 ± 21,22) 29 – 117,1 (44,17 ± 21,70) > 0,05 Após análise estatística foi verificado que os indivíduos com DG não apresentaram atividade enzimática de β-galactosidase diferentes da observada no grupo controle e heterozigotos (p>0,05). Não houve diferença significativa entre controles e heterozigotos em leucócitos (p=0,3202) e em SIPF (p=0,0048). 36 4.2. Atividade da enzima Quitotriosidase Neste estudo foi realizada a medida da atividade enzimática da QT em plasma e em SIPF em 8 indivíduos com DG, 6 indivíduos heterozigotos para a DG e 30 indivíduos normais. A média da atividade da QT nos 8 pacientes com DG foi de 13.977,80 ± 15.551,66 nmol/h/mL de plasma; nos heterozigotos foi de 59,35 ± 19,33 nmol/h/mL de plasma; nos 30 indivíduos do grupo controles foi de 27,20 ± 25.97 nmol/h/mL de plasma. A Figura 08 mostra a atividade plasmática de QT em indivíduos normais e pacientes com DG (dados representados em logaritmo decimal). Figura 08: Atividade da QT (nmol/h/mL) em plasma de pacientes com DG e indivíduos normais. Valores de referência: 8,85 – 132 nmol/h/mL. 100000 Atividade (nmol/h/mL) 10000 1000 100 10 1 0 5 10 15 20 25 30 Indivíduos 37 A medida da atividade enzimática da QT em SIPF nos pacientes com DG foi de 277,93 ± 540,32 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, nos heterozigotos foi de 3,33 ± 2,82 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, enquanto nos indivíduos normais foi de 11,37 ± 10,78 nmol de substrato hidrolisado/h/mL, conforme a Figura 09. Figura 09: Atividade de QT (nmol/h/mL) em SIPF de pacientes com DG e indivíduos normais. Valores de referência: 0 – 44 nmol/h/mL. 10000 Atividade (nmol/h/mL) 1000 100 10 1 0 5 10 15 20 25 30 35 Indivíduos Após análise estatística, foi constatado que os indivíduos com DG apresentaram uma atividade enzimática significativamente maior que aquelas dos controles e dos heterozigotos (p<0,001). Não houve diferença significativa entre controles e heterozigotos em leucócitos (p=0,0051) e em SIPF (p=0,2291). 38 5. DISCUSSÃO Este trabalho contou com amostras de sangue de pacientes com DG, onde foi confirmado o diagnóstico através da determinação enzimática, em leucócitos, da enzima β-glicosidase. Este diagnóstico foi realizado utilizando tampão citrato-fosfato pH 5,5 e o substrato artificial 4-metilumbeliferil-β-Dglicosídio (Peters et al, 1976; Michelin et al. 2004). Pacientes homozigotos para a DG tipo I são usualmente diagnosticados pela determinação enzimática, resultando em uma atividade quase ou totalmente deficiente da enzima β-glicosidase. No presente estudo, observouse que os indivíduos com DG tipo I apresentaram uma diminuição na atividade da β-glicosidase em, aproximadamente, 95% em leucócitos em relação à atividade média dos indivíduos normais (Figura 06), o que está de acordo com Michelin e colaboradores (2004). A deficiência relativa da atividade da β-glicosidase, utilizando-se para essa medida substratos artificiais em leucócitos ou em fibroblastos cultivados, não possui valor preditivo confiável para avaliar a gravidade clínica (prognóstico) e tampouco distinguir os subtipos e variantes neurológicas e não neurológicas da DG (Michelin et al., 2005). Com ênfase ainda na caracterização das amostras do presente estudo foi realizada a avaliação da atividade da enzima QT no plasma dos indivíduos analisados. Neste estudo, foi realizado o diagnóstico de um paciente com DG e deficiente da enzima QT, mostrando a importância da utilização de outro biomarcador no diagnóstico e monitoramento da DG. Pacientes com DG, homozigotos para duplicação dos 24 pb, não apresentam atividade de QT no plasma. A fim de validar o uso da atividade da QT como marcador de diagnóstico e monitoramento de terapias em pacientes com DG, é indispensável determinar a freqüência alélica e genotípica da duplicação de 24pb e de outros polimorfismos no gene QUIT1 nos grupos étnicos e avaliar a possibilidade de usar outros marcadores (citocinas 39 estimuladoras de macrófagos, enzima conversora de angiotensina, quemoquina CD163, CCL18, dentre outros) no monitoramento da DG. Para validação da técnica, foram medidas as atividades da β-glicosidase em amostras de leucócitos e SIPF e da QT em plasma e SIPF. Em todos os pacientes com DG, foi possível confirmar a deficiência da β-glicosidase em amostras de leucócitos e SIPF. Uma diferença estatisticamente significativa foi observada na atividade da β-glicosidase entre o grupo controle e pacientes com DG em ambas as amostras (SIPF e leucócitos) (Figura 06 e 07). Em relação à atividade enzimática de QT, foi detectado um aumento na atividade da enzima em amostras de plasma e SIPF. Esse aumento foi estatisticamente significativo entre os indivíduos normais e pacientes com DG em ambas as amostras (Figura 08 e 09). Deve-se considerar que a medida da atividade enzimática em SIPF não é sempre constante. Esta concentração depende principalmente dos procedimentos de coleta da amostra (Civellero et al, 2006). Para minimizar esta variação é recomendada a medida de uma enzima de referência em cada amostra, neste trabalho foi utilizada a enzima β-galactosidase para esta finalidade. Uma correlação positiva pode ocorrer entre a contagem de leucócitos no sangue e a diminuição da atividade enzimática medida em amostras de SIPF. A diminuição na atividade enzimática relatada para baixas contagens de leucócitos poderia ser facilmente identificada pelo ensaio simultâneo de outras enzimas, com a observação de suas médias (Chamoles et al., 2001). Nossos resultados encontrados para a dosagem da enzima βgalactosidase em SIPF se mostrou diferente daqueles encontrados por Chamoles e colaboradores (2002) e Civallero e colaboradores (2006). Em relação à β-glicosidase em SIPF, os valores também se encontraram diferentes dos encontrados por Civallero e colaboradores (2006), mas não foi possível comparar com os valores encontrados por Chamoles e colaboradores (2002), 40 uma vez que a metodologia utilizada foi diferente. Essa diferença pode ser explicada pela diferença nos equipamentos utilizados, reagentes e/ou diversidade étnica, uma vez que a população brasileira é conhecida devido à variabilidade genética dos grupos étnicos que a formaram. Os valores encontrados para a quitotriosidase não mostraram diferença estatística (p>0,05) quando comparados com os outros autores. Diversos estudos têm sido realizados para o melhor conhecimento do SIPF como uma ferramenta no rastreamento e no diagnóstico das DLDs tanto por fluorímetria como por espectrofotometria em Tandem (LC-MS/MS) (Civallero et al., 2006; Olivova et al., 2009; De Jesus et al., 2009). Este conhecimento torna o uso do papel filtro mais seguro e confiável, para a investigação das DLDs e demonstra sua importância no rastreamento e diagnóstico destas doenças na triagem neonatal. Levando em conta o novo tipo de metodologia apresentado neste trabalho, isso facilitaria a análise, diminuiria o custo e o tempo dos ensaios enzimáticos, e possibilitaria a implantação de triagem para algumas DLDs em populações de alto risco. Com a facilidade de coleta e transporte, o número de casos poderá aumentar fazendo com que a real incidência dessas doenças na população seja mais bem estimada, especialmente em países com grandes dimensões geográficas como o Brasil, ou onde as condições de coleta e envio de amostras de sangue heparinizado sejam limitadas. Atualmente apenas 3 DLDs são triadas pelo programa de Triagem Neonatal (PTN) de vários países. A doença de Pompe foi selecionada para fazer parte do PTN tailandês devido à alta prevalência da doença, em comparação com outras populações, 27,4% de todos os casos infantis da doença de Pompe são diagnosticados lá (Kishnani et al., 2006). A doença de Fabry foi escolhida em alguns países, como Itália e Tailândia, devido aos benefícios do tratamento e, também, pela não urgência em tratar pacientes diagnosticados na infância. Spada e colaboradores (2006) analisaram 37.104 neonatos do sexo masculino e foi diagnosticado 12 neonatos que apresentaram deficiência na atividade enzimática da α-galactosidase A e, 41 posteriormente, confirmados por diagnóstico molecular, estimando a freqüência da doença de Fabry na Itália em 1:3.100. Lin e colaboradores (2009) na população tailandesas analisaram 100.027 neonatos para a investigação da doença de Fabry e 45 neonatos foram diagnosticados para a doença, estimando uma incidência de 1:1.600 casos de homens diagnosticados com a doença. Outra doença selecionada foi à doença de Krabbe no estado de Nova York no EUA, devido ao transplante de medula óssea realizado nos primeiros meses de nascimento apresentar melhoras no quadro clínico da doença (Escolar et al., 2005). Burin e colaboradores (2010) realizaram o primeiro diagnóstico pré natal no Brasil. No estudo, a gravidez foi considerada de risco para a mucopolissacaridose tipo VI (MPS VI), pois já ocorrera o diagnóstico prévio de duas crianças com MPS VI. Devidos aos problemas de distância, a equipe médica decidiu enviar amostra de SIPF para o laboratório de referência para se realizar o diagnóstico, onde foi possível fazer o diagnóstico corretamente, relatando assim à importância da utilização de amostras de sangue impregnado em papel filtro. Este estudo indica que é viável a utilização de amostras de SIPF para o rastreamento da DG no Estado do Pará, possibilitando um rápido estabelecimento do diagnóstico da DG, tratamento por TRE e outras terapêuticas e seu posterior monitoramente via determinação da atividade de QT naqueles casos de DG que este marcador pode ser considerado. 42 6. CONCLUSÃO Neste trabalho foi possível a implantação de uma nova metodologia em amostras de SIPF para a identificação de pacientes com doença de Gaucher, como um método prático e seguro que poderia ser facilmente implantado em laboratórios de referência, possibilitando a identificação mais fácil de pacientes afetados, especialmente em áreas com dificuldades para a coleta e transporte de amostras líquidas. 43 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AERTS, J.M.; HOLLAK, C.; BOOT, R.; GROENER, A. Biochemistry of glycosphingolipid storage disorders: implications for therapeutic intervention. Trans. R. Soc. Lond. B.; 358:905-914; 2003. AERTS, J.M.; VAN BREEMEN, M.J.; BUSSINK, A.P.; GHAUHARALI, K.; SPRENGER, R.; BOOT, R.G.; GROENER, J.E. HOLLAK, C.E.; MAAS, M.; SMIT, S.; HOESLOOT, H.C.; SMILDE, A.K.; VISSERS, J.P.; DE JONG, S.; SPEIJER, D.; DE KOSTER, C.G. Biomarkers for lysosomal storage disorders: identification and application as exemplified by chitotriosidase in Gaucher disease. 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ANEXOS 51 Serviço Público Federal Universidade Federal do Pará Instituto de Ciências Biológicas TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário (a), da pesquisa: “DIAGNÓSTICO LABORATORIAL E MONITORAMENTO BIOQUÍMICO DA DOENÇA DE GAUCHER NA REGIÃO NORTE”, que é desenvolvida pelo Laboratório de Erros Inatos do Metabolismo (Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará). Para que você decida participar ou não da pesquisa lhe serão prestadas as seguintes informações. Este projeto tem como objetivo geral estabelecer mecanismos de validação de procedimentos laboratoriais envolvidos na investigação da Doença de Gaucher. A doença de Gaucher (DG) é uma esfingolipidose (lipidose) com herança autossômica recessiva, caracterizada peço acúmulo de substâncias no lisossoma (glicosilceramida) de vários órgãos como fígado, baço, ossos e medula óssea. Esse acúmulo é causado pela deficiência da enzima β-glicosidade ou glicocerebrosidase. Riscos e desconfortos potenciais: No momento da coleta de sangue poderá haver alguma dor decorrente da punção da pele. Complicações de coleta de sangue rotineira são raras e geralmente de pequeno porte. Benefícios esperados: Este estudo poderá no futuro beneficiar a investigação e o monitoramento da Doença de Gaucher, através de metodologias mais precisas. Procedimentos alternativos: Eu entendo que tive o direito de recusar a participar deste projeto, sem quaisquer prejuízos ou contrapartidas. Pelo presente Consentimento, declaro que fui esclarecido, de forma detalhada, livre de qualquer forma de constrangimento e coerção, dos objetivos, da justificativa, dos procedimentos que serei submetido, dos riscos, desconfortos e benefícios do presente projeto de pesquisa, assim como dos procedimentos alternativos aos quais poderia ser submetido, todos acima listados. Fui igualmente informado: 1. da garantia de receber esclarecimento a qualquer dúvida acerca dos procedimentos, riscos, benefícios e outros assuntos relacionados a pesquisa; 2. da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, e deixar de participar do estudo, sem que isso traga quaisquer prejuízos; 3. da segurança de que não serei identificado e que se manterá o caráter confidencial das informações relacionadas com a minha privacidade; 4. da natureza e objetivo do projeto de pesquisa; 5. que poderei não ter benefício direto por participar do estudo 6. que os possíveis riscos e/ou efeitos adversos, desconforto e inconveniências foram explicadas a mim; 52 7. que não serei remunerado financeiramente por participar deste estudo. 8. que o material (sangue) coletado seja utilizado somente no projeto supracitado 9. Autorizo o armazenamento das minhas amostras (sangue), obtidas nesse estudo, para utilização futura. Nesse caro, porém, entendo que serei recontactado para fornecer consentimento especifico. Belém, _____ / _____ / _______ __________________________________ Assinatura do Participante ________________________________ Assinatura do Responsável __________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável Nome: Luiz Carlos Santana da Silva End.: Av. Pedro Miranda, 1807 / 203, Bairro Pedreira, CEP. 66080-000 Fone 09132018030 Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do HEMOPA – Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará – Trav. Padre Eutíquio, N° 2109, Bairro Batista Campos, CEP. 66033600, Belém / Pará. Tele/Fax: 9132429100. 53