Bodas de Titânio - Jornal do Site Odonto

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Bodas de Titânio - Jornal do Site Odonto
Legado de Branemark
é patrimônio da humanidade
Rev. ABO Nac. - vol. 13 nº 3 - Junho/julho - 2005
129
OSSEOINTEGRAÇÃO
..........................
Há 40 anos, o médico sueco
Per-Ingvar Brånemark descobria o
princípio do casamento perfeito do osso
com o titânio. A técnica revolucionou a
Implantodontia e revelou uma nova
alternativa para a reconstrução do
corpo humano. Para comemorar a
data, a escolha de Brånemark foi a
cidade de São Paulo, que reuniu 3.500
médicos e cirurgiões-dentistas do
mundo no Congresso da Celebração
dos 40 anos da Osseointegração, de 22
a 24 de setembro, no Anhembi. Nesta
matéria especial e entrevista exclusiva
com o porf. Branermak, acompanhe o
que foi evento e um pouco das idéias e
dos sonhos do pesquisador sueco que
fixou residência em Bauru, no interior
de São Paulo. Um privilégio para a
ciência, para os profissionais e para os
pacientes brasileiros
Por Marcelo de Andrade
Colaboraram Antonela Tescarollo, Cacá Sil
Garcia e Mariana Estevo
O
descobridor da osseointegração, o ortopedista
sueco Per-Ingvar Brånemark, ou simplesmente
dr. P-I (com a pronúncia em inglês Pi-Ai), revelou que além de
ser uma sumidade científica também é um ídolo de primeira grandeza entre os implantodontistas
brasileiros. No evento em São
Paulo, que reuniu 28 renomados
especialistas internacionais da
Odontologia e da Medicina, ninguém chamou mais a atenção dos
cerca de 3,5 mil participantes do
que este simpático e afável cientista de 75 anos, que já incorporou o
130
Fotos: Andréa Felizolla
Bodas de titânio
Brinde aos 40 anos: Carlos E. Francischone, Laércio Vasconcelos, Branemark e
jeitinho brasileiro marcado pela
simplicidade, alegria e emoção.
Brånemark é dono de uma estatura e comportamento pouco
usuais para um sueco. Tem menos de 1,70m, gesticula como um
latino e é bem-humorado como
um sul-americano. Sem qualquer
arrogância, o ar paternal é reforçado pelos cabelos brancos como
a neve de Gotemburgo, sua terra
natal, trocada recentemente pela
calorenta Bauru, no interior de
São Paulo. Ali fixou residência e
já se tornou uma figura pública
pitoresca por causa do inglês com
forte sotaque britânico com o
qual se comunica com todos e
que incorpora às poucas palavras
que aprendeu em português,
como “muitou oubrigadou”.
O tratamento respeitoso e ao
mesmo tempo carinhoso dedicado pelos pesquisadores, profissionais envolvidos na organização e congressistas ao veterano
era marca registrada em cada
momento da programação do
evento. Durante as palestras,
Brånemark, com sua indefectível
gravata borboleta, recebeu comovidas homenagens de seus convidados. Apesar da extenuante jornada científica, o pioneiro ainda
encontrava tempo para dar concorridos autógrafos nas brechas da
agenda.
Ambição e futuro
Na abertura do congresso, o
médico sueco afirmou querer
“compartilhar a ambição de levar
melhor qualidade de vida a todas
as pessoas que sofrem perdas de
dentição ou de movimento em
razão de doença ou amputação”.
No encerramento, Brånemark fez
um retrospecto de sua obra e apontou para a meta a ser perseguida
no futuro. Transformar a
osseointegração numa técnica
simples, segura, de baixo custo e
acessível. Além disso, o procedimento deve exigir o mínimo de
intervenção cirúrgica, solução
protética precisa e previsibili-
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OSSEOINTEGRAÇÃO
dade de resultados. “Se apenas
1% dos pacientes pode ter acesso a
isso, Hipócrates não gosta”, afirmou. No final da jornada, despediu-se da assistência, bastante emocionada. “Agora somos uma família integrada no mundo todo. Deus
abençoe vocês e a seus pacientes.”
A platéia, emocionada, despediu-se do “astro” escandinavo
com uma efusiva salva de palmas. Dificilmente o público brasileiro voltará a ter a oportunidade de ver um elenco tão grande e
qualificado de especialistas reunidos, capitaneados pelo seu
mentor e inspirador. Sua generosidade e cordialidade mostram
que este sueco, além de precursor
da osseointegração, é um doutor
também em integração.
O democrata da saúde
ENTREVISTA
Norberto Lubiana
O sonho de Per-Ingvar Brånemark é tornar a osseointegração
cada vez mais acessível ao cidadão comum. Por isso ele deixou o
posto que ocupava em uma fabricante internacional de implantes há sete anos para pesquisar
novas soluções: mais simples, de
baixo custo e que possam ser
eventualmente até concluídas em
um dia. Em 23 de setembro, data
que marcava o 40º aniversário
da osseointegração, ele concedeu rápida entrevista exclusiva na qual explica por que escolheu o Brasil para dar continuidade às suas pesquisas.
Qual
o
futuro
da
osseointegração nos próximos
40 anos?
Per-Ingvar Brånemark - Se
olhar para trás, para Hipócrates,
verá que houve contínuas mudanças, maiores ou menores, mas
a maior delas é que mais pessoas
puderam se beneficiar de um procedimento. E isto requer uma cobertura para os custos, que o procedimento seja seguro e que possa ser
levado aonde os pacientes estão.
Esta é a razão de minha vinda ao
Brasil. Acreditamos que podemos
atingir muitos pacientes. E agora
temos colegas trabalhando também na China. Não podemos ter
algo sofisticado para milhões de
pacientes. Precisamos de algo
simples, seguro e acessível. E
deveria ser oferecido por médicos locais e não por hospitais
universitários. Isto é democracia
em assistência à saúde.
Já formou um grupo de seguidores para também divulgar
a osseointegração no mundo?
P. I. Brånemark – Eu já formei um grande número de equipes pelo mundo, do Japão ao
Chile, e continuamos a formar
novos grupos. Há algumas semanas estive na Alemanha e um
pesquisador russo me sugeriu criar um grupo em seu país. Este é o
motivo pelo qual teremos também um núcleo em Moscou. Os
problemas na boca, na face e nas
mãos são os mesmos em todo o
mundo. Somos muito similares.
É um erro achar que existe uma
coisa muito específica para suecos, brasileiros ou chineses.
Como classifica a Odontologia Brasileira, em termos de
osseointegração?
P. I. Brånemark – Comecei a
trabalhar aqui em 1992 e decidi
mudar o centro global de Gotemburgo para o Brasil. Você acha que
eu faria isso se não acreditasse que
o Brasil é o futuro não só para a
Odontologia, mas em assistência à
saúde? Se continuarmos a trabalhar juntos teremos muito o que
aprender e compartilhar.
O senhor acredita que as células-tronco são uma “ameaça”
à osseointegração?
P. I. Brånemark – Se você
quiser um bom dente, você pode
reconstituí-lo com uma boa restauração. O problema é que estamos falando agora sobre o que
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nós podemos fazer pelos nossos
pacientes pelos próximos 20
anos, com previsibilidade. E alguém tem que pagar por isso.
Veja que estão gastando US$ 24
bilhões para mandar aquela coisa para o espaço. Dê-me US$ 24
bilhões e lhe farei um dente novo.
Você tem células-tronco circulando pelo seu corpo a todo momento. Eu comecei estudando a
medula óssea e pude vê-las nascendo, se formando. Se fizer uma
cirurgia bem sutil, o sangue pode
alcançar de forma natural qualquer lugar. Então deixe com a
Mãe Natureza e seu corpo porque
pode contar com eles. São como
as plaquetas. Seu corpo é uma
fábrica de plaquetas. Você não
pode permitir que as companhias
comerciais tratem seu corpo, não.
É sério, é perigoso. Células-tronco
são o futuro para as companhias
que querem convencer os pacientes a comprá-las. Mas você as tem
em seu próprio corpo. Se não as
tem, precisa tratar a medula para
que volte a produzi-las, por que
são parte normal do seu sistema
circulatório. É por isto que este
encontro é tão importante. Ele traz
as Ciências Básicas para as disciplinas de Medicina e Odontologia. Por isso também é relevante ter
essa rede internacional que se comunica conosco a todo momento.
Eles estão presentes agora na China, Hong Kong, Tóquio e em todo
lugar. Acredito que isso é uma segurança contra essas empresas comerciais espertas. (Marcelo de
Andrade)
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OSSEOINTEGRAÇÃO
O homem de titânio
Do implante dental à reabilitação
extra-oral, a osseointegração é
empregada na reconstrução de
diversas partes do corpo humano
Conferência de Branemark sobre uso da técnica no corpo humano
A
Celebração Mundial
dos 40 Anos da
Osseointegração
apresentou os últimos
avanços da técnica
aplicada à Odontologia, mas também permitiu aos cirurgiões-dentistas especializados em implantes e demais profissionais da saúde conhecer outros empregos na
área da Ortopedia, Cirurgia Plás-
tica e Otorrinolaringologia. As
próteses somáticas ou extra-orais
servem como alternativa para reabilitar não só partes do corpo humano como também a auto-estima
de seus usuários. O leque de aplicações inclui próteses faciais, aparelhos auditivos, próteses de articulação de dedos e fixação de polegares e membros inferiores.
Desde 1965, a Odontologia
foi a Ciência da Saúde que mais
se beneficiou dos avanços trazidos pela osseointegração e continua em expansão. “Fora da Odontologia, a osseointegração está
restrita à reabilitação de amputa-
dos e ancoragem de próteses
somáticas. O número de profissionais que a dominam ainda é
limitado e o procedimento é restrito a poucos pacientes. Mas em
Odontologia, está se tornando
uma rotina. Até recentemente, a
técnica era praticada por especialistas em cirurgia e prótese. Mas
o clínico-geral está percebendo
que a técnica não é tão difícil
assim. Pouco a pouco, ela está
entrando no currículo dos profissionais”, avalia o professor
George Zarb, da Faculdade de
Odontologia da Universidade de
Toronto (Canadá).
Integração entre Medicina e Odontologia
Alckmin no
estande da
ABO, com
dirigentes
do evento e
da entidade
Na abertura do congresso, que
teve a presença do governador do
Estado Geraldo Alckmin, o presidente do congresso e diretor do
Brånemark Osseointegration
Center de São Paulo, Laércio
Vasconcelos, afirmou que “o trabalho do prof. Brånemark permitiu a integração entre a Medicina
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e a Odontologia nos tratamentos
reabilitadores, além de um grande crescimento científico e
tecnológico”. Vasconcelos é um
dos principais responsáveis pela
vinda do ortopedista ao Brasil,
no final da década de 80, para
operar pacientes no interior de
São Paulo, e pela divulgação da
técnica no País.
Estiveram presentes na solenidade também o secretário estadual de Saúde, Luiz Roberto
Barradas Barata; o coordenador
nacional de Saúde Bucal do Ministério da Saúde, Gilberto Pucca
Jr.; a embaixadora da Suécia no
Brasil, Margareta Winberg;
George Zarb, representando os
ministradores e o presidente da
ABO e assessor da Presidência do
evento, Norberto Francisco Lubiana, entre outras autoridades.
Qualidade de vida
“A osseointegração representou
uma revolução para as reabilitações
orais, muitas vezes dificultadas pela
ausência de debtes estratégicos como
pilares das próteses fixas. Hoje a reabilitação se tornou um procedimento
mais simplificado com o uso de implantes, facilitou a vida do profissional e proporcionou melhor qualidade
de vida para os pacientes reabilitados”
Norberto Francisco Lubiana, da 1ª turma
de especialistas em Implantodontia (ProfisNorberto eFrancisco
USP-Bauru)
presidente daLub
ABO
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OSSEOINTEGRAÇÃO
Osseointegração no Brasil
Na década de 80, a Odontologia Brasileira “descobre” a técnica
A
repercussão provocada pela osseointegração chegou ao
Brasil na década de
80. Até então, a Implantodontia não dispunha de
protocolos cirúrgicos e controle
de qualidade. “Não havia crédito
e os resultados a longo prazo não
eram previsíveis”, recorda Carlos
Eduardo Francischone. Os tratamentos beiravam o empirismo e
as primeiras notícias que circularam na comunidade odontológica
brasileira, por volta de 1986, também foram encaradas com uma
certa desconfiança.
Wilson Roberto Sendyk,
Cláudio Luiz Sendik, Marek
Sendik, Laércio Vasconcelos,
Carlos Alberto Dotto, Marco Antônio Bottino, Jurgen Jacobsen,
Vicente de Souza Pinto entre outros, fazem parte da primeira leva
Wilson Sendik
Carlos Alberto Dotto
RESUMÉ - OSSEOINTEGRATION
40thth anniversary
Titanium 40
Orthopedist Per-Ingvar Brånemark brought together in the State of São Paulo,
Brasil, as from 22nd to 24th of September, at a congress intituled World Celebration of
the 40 years of Osseointegration, 28 international specialists. The event was an evident
proof of the prestige of this charismatic scientist who transferred his centre of researches
in Gotemburg, in Switzerland, to the city of Bauru located in the countryside of the State
of São Paulo. Besides the scientific interchange there remained enough time for emotion
in order to render a series of homages to the father of Osseointegration.
On September 26th, in Bauru, Brånemark inaugurated a new center of the Institute
Per-Ingvar Brånemark so as to give continuity to his researches in the area of
Osseointegration and to assist monthly around 100 needy patients, free of payment. With
the presence of the Scandinavian physician, Brasil has started to become a world
reference in this technique that is being used in several countries not only to provide a
third dentition to patients with partial or total dental absence but also to fix extra-oral
prosthesis.
More than rebuilding the physical body, Brånemark greatest legacy is the self-steem
recovery of the patients whom he has helped and continues helping direct or indirectly,
through his works and that of his followers too.
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Laércio Vasconcelos
de profissionais que foram ao exterior para travar contato mais
íntimo com a obra de Brånemark
e ajudaram a disseminar o protocolo no Brasil. “Os pacientes, em
virtude dos tratamentos anteriores, tinham medo da técnica e os
cirurgiões-dentistas também”,
lembra Wilson Roberto Sendyk.
A partir de 1988, a osseointegração começa a ganhar espaço em eventos e cursos. “Em
todo curso que ministrávamos,
incluíamos um apêndice sobre
osseointegração”, lembra Cláudio Luiz Sendyk.
Em 1992, a convite de Laércio Vasconcelos, que tinha participado de um curso de credenciamento em Osseointegração
na Suécia, Per-Ingvar Brånemark passou a colaborar com o
Hospital de Reabilitação de
Anomalias Craniofaciais, o
Centrinho, unidade ligada à Faculdade de Odontologia de
Bauru, da USP. O médico sueco
também passou a lecionar em
cursos de pós-graduação da
Universidade Sagrado Coração,
consolidando um intercâmbio
que culminou com a mudança
de Brånemark para a cidade
neste ano.
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OSSEOINTEGRAÇÃO
Obra da providência
Cientista pesquisava células
sanguíneas no interior da
tíbia de coelhos quando
percebeu que a câmara de
observação feita de titânio
se fixava no osso da cobaia
Branemark é homenageado por 3.500 profissionais
Per-Ingvar Brånemark acredita na providência e que as descobertas acontecem quando a
“Mãe Natureza” ou “alguém acima dela” consente. Pois foi com
uma mãozinha do imprevisto que
ele realizou seu maior feito científico.
Na década de 50, quando lecionava na Universidade de Gotemburgo, sua pesquisa versava
sobre o comportamento de células sanguíneas. Uma das questões que mais lhe chamavam a
atenção era como as células sanguíneas eram produzidos na me-
dula óssea. Para fazer suas investigações em tíbia de coelhos, ele
usava uma câmara de observação
em titânio. Durante estas experiências, percebeu que o instrumento permanecia fixado ao osso
dos animais.
Assim, por acidente, o
ortopedista desvendou o fenômeno da osseointegração, que
permite a integração do titânio
ao osso como se fosse parte de sua
estrutura. O resultado redirecionou as pesquisas do jovem
cientista. Estudantes voluntários se ofereceram para experiências que comprovariam a união perfeita entre o metal e o osso. E,
além de tudo, o titânio não causa-
Paciente histórico
O cidadão sueco Gösta Larsson (foto) foi o primeiro
paciente no mundo a receber um implante
osseointegrado, aplicado em 1965 pelo próprio
médico Per-Ingvar Brånemark. Ele também teve
seu minuto de fama durante a Celebração Mundial
dos 40 Anos de Osseointegração e foi homenageado no dia 23 de setembro
durante os trabalhos. A programação científica foi especialmente interrompida
para uma cerimônia breve, porém singela. Mesmo sem poder estar presente ao
evento, ele recebeu uma longa salva de palmas da platéia de congressistas.
Bastante emocionado, o professor Brånemark fez questão de ressaltar que,
passados 40 anos, seu primeiro paciente de implante tem vida normal e
saudável. Em Gotemburgo, onde reside, Gösta Larsson ganhou um jantar
oferecido por seu benfeitor.
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va rejeição nem inflamações nos
tecidos vivos, como ocorriam
com outros materiais.
O avanço das pesquisas e o
aprimoramento do titânio abririam terreno para uma nova possibilidade. P-I Brånemark e equipe
queriam testar o potencial da
osseointegração como técnica de
ancoragem de partes do corpo
humano e juntas. O caminho mais
viável apontava para os ensaios
iniciais para os implantes dentais. Testes foram feitos com cachorros. Um cão de caça chamado Niklas teve parte da tíbia retirada e substituída por duas barras
de titânio paralelas. Três dias após,
o animal caminhava normalmente sem demonstrar sinal aparente
de desconforto. Em um filme feito na época, é mostrado o animal
caminhando sobre as patas traseiras. O teste da carga havia sido
um sucesso. Depois, disso, foram
feitos testes com implantes dentais nos animais. Em outro
documentário da época, o implante fixado em um cachorro
suporta um peso de 10 kg.
Gösta Larsson, então com 34
anos, havia perdido os dentes da
mandíbula e sofria com diversos
outros problemas dentais, incluindo fissura palatina. Soube da
experiência de Brånemark na Universidade de Gotemburgo e apresentou-se como voluntário para
o procedimento que mudaria a
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OSSEOINTEGRAÇÃO
história da Odontologia mundial. Larsson recebeu quatro implantes na mandíbula e uma
prótese fixa que reabilitaram
completamente sua função
mastigatória até hoje.
Apesar do futuro promissor
da descoberta, P-I Brånemark quis
primeiro fundamentar uma sólida base científica, com estudos
multicêntricos e longitudinais,
para a osseointegração antes de
divulgá-la amplamente para o
mundo.
Em 1979, o cirurgião-dentista Torgny Haraldson descreveu
uma resposta sensorial em pacientes com próteses osseointegradas. Os indivíduos que receberam este tipo de implante tinham a habilidade de identificar estímulos táteis transmiti-
dos através de suas próteses.
“Pacientes com pontes osseointegradas recuperaram um nível de capacidade funcional do
sistema mastigatório equivalente aos indivíduos com uma dentição natural e reduzida como a
do grupo de osseointegração”. O
mesmo fenômeno foi verificado
posteriormente também na área
da Ortopedia.
Os resultados alcançados na
Escandinávia atiçaram a curiosidade de um eminente pesquisador da Universidade de Toronto
(Canadá), George Zarb. Ele investigava substitutos artificiais
de raízes dentais e, com uma certa
dose de ceticismo, resolveu apurar in loco os estudos do
ortopedista sueco que se aventurava no reino exclusivo dos cirur-
giões-dentistas.
Depois de constatar a consistência dos dados coletados pela
equipe sueca, repetiu o protocolo com sucesso em seu próprio
país. Foi ele quem convenceu o
meticuloso Brånemark a compartilhar sua experiência com centros de outros países e organizou,
em maio de 1982, a mítica conferência sobre Osseointegração na
Clínica Odontológica em Toronto, em parceria com a Universidade de Gotemburgo. A apresentação surpreendeu a audiência e
desde aquele evento pesquisadores e instituições de diversas
partes do globo passaram a estudar e a utilizar o protocolo de
osseointegração desenvolvido
por P-I e colegas, tanto na Odontologia quanto fora dela.
O desafio do Centrinho
Fotos: Divulgação
retenção de próteses dentárias. O implante osseointegrado constituiu-se, então, na grande perspectiva de tratamento daquelas pessoas e, conseqüentemente, na única alternativa de melhora
da qualidade de vida delas”, relata o superintendente do Centrinho/USP, professor José Alberto
de Souza Freitas. Hoje, o setor de Implantodontia
do Centrinho realiza, em média, 40 implantes
dentários por mês.
O setor de Implantodontia do Centrinho foi
criado no início da década de 90 com o objetivo de reabilitar com alto grau de eficiência o
edentulismo total ou parcial, por meio de instalação cirúrgica de implantes em forma de
parafuso e de titânio puro, nos rebordos
alveolares edêntulos. “Os nossos pacientes não
tinham condições anatômicas pra suporte e
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Livro registra
experiência
A parceria de
Brånemark com o
Centrinho foi documentada no livro
“Reabilitação das
Fissuras Palatinas
Complexas e Defeitos Craniofaciais – A
Experiência
de
Bauru”, publicado
em 1999 pela editora
Quintessence Books.
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OSSEOINTEGRAÇÃO
A Suécia é aqui
Inauguração do Instituto P-I Brånemark transforma Bauru em
referência mundial em osseointegração
Sede em Bauru: Laércio Vasconcelos, Antônio
Ayub, Branemark e Carlos E. Francischone
D
istante 325 km de São Paulo, Bauru tornou-se no
último dia 26 de setembro
a capital mundial da
osseointegração. Nesta
data, foi inaugurado o Instituto
P-I Brånemark, no qual o maior
pesquisador da osseointegração,
Per-Ingvar Brånemark, vai dar
continuidade aos seus estudos e
atender a pacientes carentes que
precisem de reabilitação intra e
extra-oral. O complexo tem dois
centros cirúrgicos, seis consultórios em uma área de 1.100 m² e
oferecerá atendimento para cerca
de 100 pacientes carentes/mês.
Na cerimônia de inauguração
havia cerca de 250 pessoas. Destas, 70 eram estrangeiras. Presentes o prefeito de Bauru, Tuga
Angerami; o secretário estadual
da Saúde, Luiz Roberto Barradas
Barata; o presidente da celebração Mundial dos 40 Anos da
Osseointegração e diretor do
136
Brånemark Osseointegration
Center (BOC) São Paulo, Laércio
Vasconcelos, e o vice-presidente
do evento e diretor do BOC
Bauru, Carlos Eduardo Francischone; Antonio Ayub, vice-presidente Regional da ABO e
Ricardo Calazans Duarte, assessor da Presidência da ABO, entre
outras autoridades.
Antes do momento programado para o seu discurso, Brånemark
levantou-se e tomou o microfone
dizendo que “o instituto tem que
aproveitar o clima de colaboração, para unir forças para melhorar a qualidade de vida das pessoas”. Neste momento, aproximouse dele Débora Rocha Dutra, que
teve o nariz e a parte superior da
boca, interna e externamente,
reconstruídos por Brånemark. A
ex-paciente abraçou e agradeceu
o médico sueco.
Brånemark inaugurou o prédio e descerrou placa com as pa-
lavras “Welcome to become
integrated” (Bem-vindo para tornar-se integrado). Em seguida, os
presentes assistiram no auditório
à aula inaugural sobre implante
de titânio, ministrada por Bjorn
Rydevik, da Universidade de Gotemburgo.
Foi também preparada no local uma surpresa para Brånemark:
um vídeo contando a história do
pesquisador em Bauru, que ele
visitou pela primeira vez em
1992, para conhecer o Hospital
do Centrinho. Foi outro momento de grande emoção entre os
presentes. O presidente do Instituto Brånemark na Suécia, Per
Ulof Geantz, parabenizou, na ocasião, com bom humor, a “ingenuidade” do pioneiro por acreditar na viabilidade do projeto.
Laércio Vasconcelos entregou a Brånemark um cheque simbólico de R$ 800 mil, equivalente à arrecadação estimada da Celebração Mundial dos 40 Anos
da Osseointegração.
Equipe - Uma equipe inicial
vai trabalhar com o ortopedista
no atendimento e pesquisa. O grupo é formado pelos cirurgiõesdentistas Carlos Eduardo
Francischone, Carlos Eduardo
Francischone Filho, Ricardo Falcão Tuler, Renato Savi de Carvalho, Marcelo Ferraz de Oliveira e
o cirurgião plástico Antônio Assunção, do Centrinho.
Mais informações
O Instituto P-I Brånemark localiza-se na Av. Nações Unidas,
27-28, Vila Universitária, Bauru.
Tel.: (+14) 2106.0006.
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