Resistance Maganize #9

Transcrição

Resistance Maganize #9
RESISTANCE
MAIO 2013
MAIO 2013
EDITORIAL
RESISTANCE MAGAZINE
D
RESISTANCE
A Capa
Gabriel Salvador
A Revisão
Andreia Fernandes, Adriana Correia, Karen Duarte,
Adriana Leal e Magda Silva
A Resistance Júnior Empresa é uma Júnior
Empresa de todas as faculdades e de todo
o país. Temos nos nossos quadros alunos
de diversas faculdades de Coimbra, assim
como de diversas Universidades do país.
Neste mundo digital, podemos facilmente
trabalhar com membros não presenciais.
Basta querer. E é isso que somos. Somos o
querer e coração. Queres resistir connosco?
O Design:
Pedro Silva, Felipe Trenk e Heloísa Sobral
*Por decisão editorial, cada artigo
nesta revista foi mantido na sua
ortografia .original.
A Resistance chegou a um ponto crítico da
sua existência: Crescer ou Morrer. A Revista
e os projectos em carteira chegaram a tal
dimensão que a Resistance não podia dar
resposta a tudo. Assim, decidimos dar o passo
em frente, crescer. O Futuro não passa de uma
série de obstáculos que a Resistance tem que
transpor sem medo de arriscar ou de inovar.
Assim, tornámo-nos numa Júnior Empresa.
Mas também aí decidimos ser diferentes.
A Edição:
Andreia Fernandes, Karen Duarte, Sara Frango
1
epois de anos de crise onde
a austeridade teima em não
funcionar, onde os governos
que necessitaram de pedir ajuda
económica estão perdidos e não
sabem o que fazer, Portugal,
que tem conseguido manter a
estabilidade política, que por sua
vez tem impedido de afectar os
mercados, começa a dar sinais
preocupantes. As medidas de
austeridade que Vítor Gaspar
quer continuar a implementar
começam a criar cissões dentro
do governo, tanto por parte do
CDS como do próprio PSD. O
problema reside no facto destas
facções não concordarem com
as medidas de austeridade e
não conseguirem apresentar
qualquer tipo de soluções.
Os economistas começam a
afirmar que a austeridade não
é o caminho a tomar, mas
não fazer nada não pode ser a
solução. Para bem de Portugal,
o governo tem de perceber se
ainda possui condições internas
para continuar, e, se sim, qual
o caminho a tomar. Um barco
à deriva nunca chega a bom
porto. Para piorar a situação, os
partidos da oposição encontramse igualmente perdidos (PS) ou
numa realidade alternativa sem
qualquer nexo (BE e PCP).
Uma solução seria um governo
composto pelos três partidos
(PS, PSD e CDS) para ver se
alguma ideia poderia surgir para
Portugal poder resolver os seus
graves problemas. Mas alguém
acredita que qualquer um destes
partidos irá colocar os interessas
nacionais à frente dos interesses
partidários ou de clubismos? O
Futuro é já amanhã.
T
he Color Run, também conhecida como os 5 km mais felizes do planeta, é uma corrida na
qual os participantes, de todas as idades, formas e feitios, partilham um momento colorido
de diversão. Em cada quilómetro do percurso existe uma Color Zone à qual está associada
uma cor diferente: amarelo, laranja, cor de rosa ou azul. Nesses locais os participantes são
pulverizados com tintas até que no final têm a oportunidade de participar numa grande festa
de cores. O The Color Run, fundado por Travis Snyder, nasceu nos EUA há pouco mais de um
ano. Foi em Tempe, no Arizona, em Janeiro de 2012 que surgiu a grande estreia que desde cedo
se revelou uma iniciativa promissora. Inicialmente o objetivo era levar o evento a 18 cidades.
No entanto, com todo sucesso e com os crescentes pedidos do público, acabaram por alargar a
mais de 40 cidades. Desde então, o The Color Run difundiu-se pelo planeta conseguindo atingir
mais de 250.000 likes na página de divulgação do Facebook em apenas 6 meses, e começaram
a surgir inúmeros pedidos vindos de todo o mundo para que o The Color Run se realize em
várias cidades. Assim, de forma a dar resposta aos pedidos dos seus seguidores, o The Color
Run cresceu e continua a espalhar cor de tal forma que, até hoje, quase 1 milhão de pessoas já
partilharam esta experiência. Em 2013 é tempo de alargar horizontes e o The Color Run chegará
à Austrália, Brasil, Chile e Nova Zelândia.
HELOÍSA
SOBRAL
The Co l o r Run
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A Europa é exceção e a estreia decorreu no passado dia 7 de Abril na cidade de Matosinhos. A corrida
foi um grande sucesso e contou com a participação de mais de 15.000 pessoas coloridas com cerca
de 4 toneladas de tinta. Mas porquê o nosso país para a grande estreia na Europa? “Porque Portugal
não pode ser o último em tudo”. Além disso “vivemos tempos cinzentos e quando soube da ideia fui
aos EUA e negociei o acordo de parceria (…) e conseguimos!”, afirmou Jorge Azevedo, responsável
pelo projeto em Portugal. No entanto, para quem não teve oportunidade de participar no The Color
Run em Matosinhos não está nada perdido! Os 5km mais coloridos do planeta vão chegar a Coimbra
(dia 4 de Maio), a Lisboa (dia 6 de Julho) e ainda a Braga e ao Algarve, levando o The Color Run de
Norte a Sul de Portugal. Relativamente à eleição de Coimbra, para além da sua localização, contou a
seu favor não só a beleza, mas também o facto de estar repleta de estudantes enérgicos, prontos para
uma grande mistura de cores… Não fosse esta a cidade dos estudantes. A longo prazo o The Color
Run pretende levar cor à Europa e “crescer por todos os países”. A meta a ultrapassar é juntar mais de
26.000 participantes numa só corrida, algo que até agora apenas foi possível em Filadélfia, nos EUA. A
Alemanha é já o próximo país europeu a receber a tour. O conceito desta corrida, para além de ser uma
forma saudável e divertida de fazer exercício físico, é uma atitude original e uma forma de ajudar quem
mais precisa, dado que parte do valor pago na inscrição reverte a favor de instituições de solidariedade
social locais. Para quem já é um seguidor ou para os que virão, a boa notícia é que o The Color Run vai
voltar a colorir as cidades portuguesas e terá edições anuais em várias cidades!
RESISTANCE
FÍSICA
CEMDRX
Centro de Estudos de Materiais por Difracção de Raios-X
_DR. JOSÉ PAIXÃO
O
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Centro de Estudos de Materiais
por
Difracção
de
Raios-X
(CEMDRX) é um centro de investigação
financiado pela Fundação para a Ciência e
Tecnologia (FCT) que alberga cerca de 20
investigadores que utilizam a difracção de
raios-X (DRX) como técnica principal para
o estudo das propriedades de uma variada
gama de materiais, dos semicondutores
aos cristais orgânicos supramoleculares,
incluindo materiais nanoestruturados
e outros desenhados para aplicações
específicas em química, farmacologia,
engenharia mecânica e noutros domínios.
A DRX é complementada com outras
técnicas tais como a difracção de neutrões,
radiação de sincrotrão, espectroscopia
µSR, Mössbauer e Raman. Para além dos
modernos meios experimentais de que
o centro dispõe no DF (departamento
de física), os investigadores do
CEMDRX participam frequentemente
em experiências realizadas em grandes
instrumentos disponíveis em institutos de
investigação europeus tais como o ESRF
(radiação de sincrotrão), ILL (neutrões),
PSI (µSR) e ISIS-RAL (µSR e neutrões).
Os grupos de investigação do CEMDRX
são:
I – Propriedades Electrónicas e Magnéticas
dos Materiais
II – Cristalografia de Raios-X e Engenharia
de Cristais
III – Tensões Residuais e Materiais para
Engenharia
De entre os projectos de investigação
actualmente em curso destacam-se os
relacionados com o desenvolvimento de
RESISTANCE
novos magnetes moleculares, materiais
com propriedades ópticas não lineares,
piezo e ferroeléctricos, com aplicações
na indústria electrónica, ligas metálicas de
alto desempenho, semicondutores e novos
materiais multifuncionais. A investigação
cobre não só aspectos de Física da Matéria
Condensada, mas também de Ciência
dos Materiais, Química-Física e Física
Aplicada, muitas vezes em contextos
interdisciplinares. Existem colaborações
com muitos grupos de investigação
nacionais e estrangeiros, sendo de realçar
a colaboração estreita com o grupo de
Física da Matéria Condensada do Centro
de Física Computacional (CFC) do DF.
A investigação fundamental recorre
a várias abordagens, experimentais
e
de
modelação
computacional.
Recentemente, têm sido estudados
magnetes moleculares de baixa dimensão,
materiais multiferróicos e o ordenamento
dos multipolos eléctricos e magnéticos
dos electrões 4f e 5f que ocorre a muito
baixas temperaturas (Fig. 1). As técnicas
que dão informação detalhada sobre os
arranjos multipolares são a difracção de
neutrões – que são sondas microscópicas
“ideais” do magnetismo atómico – e
a dispersão elástica ressonante de RX.
Para esta última técnica há que recorrer
a fontes sintonizáveis de fotões, de alta
intensidade, disponíveis em aceleradores
de partículas dedicados à produção de
RX – sincrotrões. Como exemplo de
sinergia entre a física computacional e a
física experimental, podemos destacar um
projecto comum com o CFC, financiado
pela FCT, das propriedades do hidrogénio
em óxidos de elevada permitividade
eléctrica (p. ex. ZrO2 e Y2O3), que são
materiais de grande interesse tecnológico,
onde a presença de hidrogénio como
impureza domina as propriedades
eléctricas.
Cálculos ab-initio baseados na teoria de
funcionais de densidade (DFT) permitem
determinar as energias e as densidades
de carga (Fig. 2) dos diferentes estados
possíveis do hidrogénio incorporado
como impureza. Estas informações
são comparadas com os resultados
experimentais de μSR, que se tornou a
técnica de eleição para o estudo de estados
isolados do hidrogénio em materiais e
que é acessível em grandes instalações
internacionais como o ISIS-RAL (fig. 3),
em Inglaterra, e PSI, na Suíça.
Num outro contexto, o hidrogénio é
um excelente meio de armazenamento
de energia, com aplicações no mercado
das energias renováveis em sistemas
integrados em que a energia de
consumo final é produzida por pilhas de
combustível alimentadas pelo hidrogénio
armazenado. No CEMDRX estudamos
ligas intermetálicas com alta capacidade de
absorção de hidrogénio e outros materiais
mais leves como zeolites e MOFs.
Abordamos problemas da tecnologia
de armazenamento de hidrogénio em
figura1_ Ordenamento antiferroquadrupolar eléctrico no
NpO2 , determinado por estudos com radiação de sincrotrão.
meio sólido, tendo como objetivo a
construção de uma unidade modular
de armazenamento de hidrogénio em
ligas metálicas (Fig. 4), com optimização
geométrica dos elementos estruturais
e desenvolvimento de dispositivos
termoreguladores para tirar o melhor
partido das propriedades do meio sólido.
Este é um projecto de doutoramento
figura2_ Isosuperfícies de densidade de carga para uma impureza de H em Y2O3, obtidas por cálculos baseados em DFT.
RESISTANCE
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FÍSICA
O know-how desenvolvido no CEMDRX na utilização de várias
técnicas experimentais (espectroscopias Raman, infravermelho,
visível e UV, reflectância, difracção e fluorescência de raios-X, etc.)
tem sido aplicado também a estudos de Património Cultural. São
disso exemplo os projectos em curso de estudo de obras de arte
de artistas dos sec. XV e XVI (fig. 5) e o estudo de revestimentos
de edifícios de habitação e de monumentos ou edifícios históricos
do Centro Histórico de Coimbra. Este trabalho tem permitido
estabelecer diversas parcerias e colaborações com Museus,
autarquias e outras instituições que têm a seu cargo a preservação
do património.
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figura3_ Uma das linhas de feixes de muões positivos do acelerador ISIS utilizadas no
estudo de hidrogénio em óxidos de elevada permitividade eléctrica.
actualmente em curso no CEMDRX. Ainda no campo da Física
Aplicada, existem várias colaborações com parceiros industriais
para a investigação das tensões residuais em componentes
mecânicos sujeitos a esforços continuados, como uma caixa de
velocidades de um automóvel ou a asa de um avião.
figura4_ Tanque de armazenamento de hidrogénio, utilizado como vector energético.
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CFC
Centro de Física Computacional_DR. CARLOS FIOLHAIS
T
em aumentado muito o interesse
entre nós pela história da ciência, em
particular a história da ciência em Portugal
e, dentro desta, pelo papel essencial
desempenhado pela Universidade de
Coimbra. Em Coimbra esse interesse é
ampliado pela candidatura da Universidade
de Coimbra a Património Mundial, cujo
resultado vai ser conhecido em Junho. O
Instituto de Investigação Interdisciplinar
da Universidade de Coimbra submeteu
com êxito um projecto sobre este
tema que tem produzido abundantes
frutos. Com efeito, meia centena de
investigadores das Universidades de
Aveiro, Coimbra e Évora têm trabalhado
desde 2000 no projecto História da
Ciência na Universidade de Coimbra
(1547-1933), que beneficia do apoio da
Fundação para a Ciência e Tecnologia.
No âmbito desse projecto, procedeu-se
à recolha de fontes documentais sobre o
tema em causa. Foi efectuada nos ricos
acervos das bibliotecas e arquivos de
Coimbra uma selecção de fontes históricas
a digitalizar, tendo sido contratada uma
bolseira que ficou a trabalhar na Biblioteca
Geral. Os documentos digitalizados foram
colocados no sítio http://almamater.
uc.pt (Repositório de Fundo Antigo da
Universidade de Coimbra), onde estão
acessíveis a todos. Por outro lado fez-se uma
selecção de peças das colecções do Museu
da Ciência para inventariar e fotografar,
tendo sido contratada uma segunda
bolseira que ficou a trabalhar no Museu
de Ciência. As imagens foram colocadas
no
sítio
http://museudaciencia.
inwebonline.net/ (Museu Digital) Dois
encontros internacionais foram realizados
no quadro do projecto. Teve lugar em
2010, na Biblioteca Joanina um Colóquio
e uma Exposição sob o tema Membros
Portugueses da Royal Society organizado
em colaboração com a Royal Society,
que deu origem a um livro com esse
mesmo título. E, em 2011, ocorreu em
Coimbra o Congresso Internacional de
História da Ciência (http://www.uc.pt/
congressos/clbhc#co).
Participaram
cerca de 200 investigadores de Portugal
e do Brasil, tendo sido publicadas actas
em formato electrónico (http://www.
uc.pt/cong ressos/clbhc/actas_
congresso/). O congresso foi um êxito
pela oportunidade que constituiu de
divulgar estudos recentes assim como
pelo encontro de historiadores da ciência
dos dois lados do Atlântico. Um livro
contendo as comunicações principais vai
aparecer em breve do prelo da Imprensa
da Universidade de Coimbra: História da
Ciência Luso-Brasileira: Coimbra entre
Portugal e o Brasil. Ainda no domínio
da edição, foram publicados em 2010
o livro Breve História da Ciência em
Portugal, a primeira síntese em livro da
história da ciência nacional, e o catálogo
Ver a República referente a uma exposição
realizada na Biblioteca Geral, no Museu da
Ciência e no Museu Nacional Machado de
Castro sobre o centenário da República,
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e foram concluídas várias teses doutorais.
Para além disso, foram publicados
numerosos trabalhos de investigação em
revistas internacionais e nacionais. A página
Web do projecto encontra-se em http://
www.uc.pt/org/historia_ciencia_na_
uc, podendo lá ler-se algumas sínteses
históricas sobre vários aspectos da história
da Universidade de Coimbra. Relacionado
com o trabalho realizado neste projecto,
foi aprovado um novo programa doutoral
em História das Ciências e Educação
Científica, organizado em conjunto pelas
Universidades de Aveiro e Coimbra. Agora
todos os interessados em aprofundar
estudos sobre história da ciência têm mais
uma oportunidade para o fazerem.
RESISTANCE
FÍSICA
Laboratório de Física Experimental de Partículas e
Instrumentação Associada_DR. RUI F. MARQUES
O
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LIP foi criado em 1986 no quadro da adesão de Portugal
ao CERN (Organização Europeia de Pesquisa Nuclear).
Ora o CERN foi a primeira grande organização científica
internacional a que o nosso país se ligou e o LIP surgiu como
instituição de referência para a colaboração com esse grande
laboratório. Formalmente, é uma associação científica e técnica
sem fins lucrativos e de utilidade pública para a pesquisa em
Física Experimental de Partículas e Instrumentação Associada,
reconhecido como Laboratório Associado. As Universidades de
Coimbra, Lisboa e Minho, bem como o Instituto Superior Técnico
são associadas do LIP desde o início de 2012, a par da Fundação
para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e da Associação Portuguesa
das Empresas do Sector Eléctrico e Electrónico (ANIMEE). Os
domínios de investigação do LIP incluem hoje um leque variado
de áreas que abrange desde a Física Experimental de Partículas
com e sem aceleradores (astropartículas), à Instrumentação de
Detecção de Radiação, Aquisição e Processamento de Dados,
até à Computação Avançada e a aplicações das tecnologias
desenvolvidas para a Física de Partículas, em particular à Física
Médica. A actividade regular do LIP cobre ainda a educação
e formação avançada, divulgação científica e apoio à educação
científica e tecnológica (as Masterclasses ou as actividades
com escolas secundárias), transferência de tecnologia e ligação
industrial com o CERN e outros laboratórios internacionais.
As actividades de investigação do LIP são desenvolvidas
principalmente
no
âmbito de colaborações
no CERN e noutras
instalações experimentais
ligadas a organizações
científicas internacionais,
como o GSI para a
Física com Aceleradores,
SNOLAB, LUX ou o
Observatório Pierre Auger
para as actividades de
Astropartículas e a própria
ESA (Agência Espacial
Europeia), para a qual
o LIP estuda ambientes
de radiação no sistema
solar. O LIP partilha
equipamentos e recursos
humanos com um grande
número de grupos de
investigação e instituições,
RESISTANCE
nacionais e internacionais, contribuindo com seus próprios
recursos técnicos e científicos para benefício de programas
científicos comuns. As infra-estruturas de computação,
nomeadamente de GRID, são usadas por múltiplas instituições
de investigação; as oficinas de mecânica de precisão, instaladas
no Departamento de Física da FCTUC, encontram-se
abertas às necessidades da comunidade científica nacional e
internacional; e o LIP tem ainda uma instalação no Laboratório
Tagus-LIP, para Física Médica, em conjunto com hospitais e
outras entidades. O LIP, Laboratório Associado desde 2001, foi
avaliado como “Excelente” em quatro avaliações sucessivas por
painéis internacionais. Criado com unidades em Coimbra e em
Lisboa, o mais recente pólo, na Universidade do Minho, está já
em pleno funcionamento, muito focado na colaboração estreita
entre físicos teóricos e experimentais com vista à exploração
dos dados do LHC. O LIP estabeleceu acordos específicos com
cada universidade para a partilha de recursos. No LIP trabalham
actualmente cerca de 170 pessoas, 87 com um grau de doutor,
incluindo investigadores nacionais e estrangeiros e professores
do Ensino Superior, e recebe por ano muitos estudantes de
mestrado e doutoramento para preparação das suas teses. O
LIP coordena uma rede internacional de formação avançada
em Física de Partículas, Astrofísica e Cosmologia (IDPASC). A
actividade científica actual do LIP-Coimbra será tema de textos
a incluir em futuras edições.
GIAN
Grupo de Instrumentação Atómica e Nuclear
_DR. FERNANDO AMARO E DRA. ANDRÊA GOUVÊA
figura1_ Vista área do PSI
A
Colaboração
CREMA
(Charge
Radius Experiment with Muonic
Atoms) tem como objectivo o estudo de
átomos exóticos, incluindo a determinação
do raio do protão usando a técnica de
espectroscopia laser. É composta por várias
instituições internacionais, sendo o GIAN
uma delas, e surgiu em 1998. As actividades
experimentais decorrem no Paul Scherrer
Institute (PSI), em Villigen na Suíça (Figura
1), que possui o acelerador de protões de
baixa energia mais intenso do mundo.
As primeiras medições recaíram sobre
o hidrogénio muónico. O muão é cerca
de 200 vezes mais pesado que o electrão
sendo o seu raio atómico de Bohr 200
vezes menor, o que o torna mais sensível à
distribuição da carga do protão. A diferença
entre os estados de energia 2S e 2P
corresponde ao chamado desvio de Lamb,
inicialmente obtido no hidrogénio em 1947
por Willis Lamb, e permite calcular o valor
do raio do protão. O hidrogénio muónico
é obtido fazendo incidir um feixe de muões
num alvo de hidrogénio colocado num
campo magnético. Após a sua formação
os átomos decaem rapidamente para o
estado fundamental, mas uma pequena
percentagem (≈1%) do total de átomos
produzidos decai para o estado metastável
2S. Se a energia do laser corresponder
exactamente à da transição entre o estado
2S e 2P (o desvio de Lamb), o muão será
excitado decaindo depois do estado 2P
para o estado fundamental com emissão
de raios-X de 2 keV (Figura 2 - esquerda).
A emissão destes raios-X em coincidência
temporal com os impulsos do laser vai
permitir estabelecer se a energia do
laser corresponde à do desvio de Lamb
e assim determinar esta quantidade
através da curva de ressonância (figura 2
- direita), para posteriormente se extrair
o valor para o raio do protão. A principal
contribuição do GIAN prende-se com o
desenvolvimento do sistema de detecção
dos raios X, fruto da sua vasta experiência
na área da detecção de raios-X de baixas
energias. Os detectores utilizados são
os Large Area Avalanche Photodiodes
(LAAPDs) que apresentam um óptimo
desempenho em campos magnéticos,
rápida resposta temporal (tempos de
subida ≈ 25 ns e resolução temporal < 30
ns), resolução em energia (≈ 25%) quando
operados a baixas temperaturas (entre os
-20 e os -30C) e eficiência de detecção (≈
90%). A primeira tentativa de medição,
em 2003, não permitiu obter uma curva de
ressonância. Após várias actualizações em
2007 e 2009, repetiu-se a experiência. A
curva de ressonância da figura 2 foi obtida
e consequentemente medido o desvio de
Lamb (Figura 2 - direita). O raio do protão
extraído é 10 vezes mais preciso mas
cerca de 4% inferior ao valor actualmente
tabelado (CODATA). Este resultado
surpreendeu a comunidade científica e
mereceu publicação na revista científica
Nature em 2010 e mais recentemente na
Science. Quase 3 anos após a publicação
dos resultados o mistério sobre esta
discrepância ainda se mantém sem que
qualquer uma das hipóteses teóricas
tenha sido confirmada. A colaboração
CREMA encontra-se a preparar uma nova
experiência para medição do desvio de
Lamb no hélio muónico que irá decorrer
durante o último trimestre de 2013 no PSI.
figura2_(Esquerda) Transição dos átomos de hidrogénio muónico do estado 2S para o estado 2P é induzida por um
laser com uma energia correspondente à diferença de energia entre estes dois estados. (Direita) Número de raios-X de
1.9 keV registados em coincidência com o disparo do laser, em função da frequência do laser
RESISTANCE
8
FÍSICA
GEI
Grupo de Electrónica e Instrumentação
_VÂNIA ALMEIDA
Ao longo deste texto queria deixarvos para além de uma descrição
científica do trabalho que tenho
vindo a desenvolver no Grupo
de Electrónica e Instrumentação
(GEI) - Centro de Instrumentação,
uma perspectiva do que é trabalhar
em investigação científica e
algumas informações, que
considero úteis, para quem
começa agora a pensar
numa carreira nesta área.
Vou começar por um
pequeno resumo do meu
percurso
académico:
sou
estudante
do
Departamento de Física
da Universidade de
Coimbra desde 2004,
ano em que ingressei
no Mestrado Integrado
em
Engenharia
Biomédica,
tendo optado pelo ramo de
Instrumentação Biomédica e
Biomateriais. No 5º ano optei
por escolher um dos projectos
apresentados pelo GEI, com
9
RESISTANCE
orientação do Prof. Carlos Correia,
relacionado com Avaliação de
Parâmetros
Hemodinâmicos,
no qual tive a oportunidade
de explorar conceitos, quer na
área de Electrónica, bem como
na de Processamento de Sinal.
Actualmente, sou aluna de
doutoramento e supervisora de
alguns projectos de mestrado
e como tal incito todos os
interessados a aproveitarem este
ano para se aproximarem da área
em que gostariam de trabalhar. No
que toca à investigação, a vossa
escolha pode mesmo ser o início
do vosso trabalho futuro, já que
mais facilmente poderão planear
uma candidatura a doutoramento,
se o ambicionarem.
Existem
alguns
concursos ao longo
do ano, promovidos
por
entidades
quer
nacionais,
como a Fundação
para a Ciência e
Tecnologia
(FCT),
ou
internacionais,
como os que podem
encontrar no Portal da
Comissão Europeia,
Euraxess, ou junto
da Fundação LusoAmericana
Fulbright,
que vos podem abrir portas,
muitas vezes basta apenas que
tomem a iniciativa de procurarem
um possível orientador que vos
ajudará a preparar a candidatura.
De facto, foi este contacto com o meu
actual orientador de doutoramento,
Prof. João Cardoso, durante o projecto
de mestrado, que proporcionou o
apoio necessário para me candidatar
ao concurso promovido pela FCT. E
assim, logo que acabei o mestrado, tive
a oportunidade de continuar no mesmo
grupo de investigação ingressando no
doutoramento em Física Tecnológica.
O foco do meu trabalho tem ido
ao encontro das preocupações da
comunidade médica focadas na grande
incidência das doenças cardiovasculares
na população mundial, nomeadamente
ao nível da rigidez arterial. Relativamente
aos meios instrumentais disponíveis
para investigadores e médicos, para uma
avaliação exacta do seu desenvolvimento,
a técnica preferível foca-se na reprodução
fiel da onda de pressão arterial.
De momento, dedico-me à escrita
da
minha tese de doutoramento,
na qual estarão descritas as quatro
direcções principais seguidas para
o desenvolvimento e teste de um
protótipo para o rastreio destas doenças
cardiovasculares: Desenvolvimento e
teste das bases sensoriais de um destes
sistemas não invasivos, baseado em
sensores piezoeléctricos.
Actualmente, o sistema
apresenta uma estrutura
modular, integrando outros
módulos
desenvolvidos
também no laboratório,
alguns deles por alunos
de Engenharia Biomédica
durante os seus projectos
de mestrado. Melhoria das
capacidades e exactidão
de um modelo de bancada
de testes, dedicado à caracterização e
calibração do sistema; Desenvolvimento
de algoritmos de processamento de sinal
para extracção de parâmetros relevantes.
Além disso, o uso de técnicas de machine
learning permitiu o desenvolvimento e
aplicação de uma análise multi-relacional
dos vários parâmetros. Condução de
uma série controlada de testes clínicos
para validação, controlados por médicos
em unidades clínicas, como o Serviço
de Cardiologia do Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra (CHUC).
RESISTANCE
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FÍSICA
Inteligência Artificial
Razão e consciência
É
11
inverno, chove imenso,
e está no seu local de
trabalho, numa pequena
cidade, um pouco
distante do
sítio onde
habita.
Recebe
uma
RESISTANCE
chamada no seu telemóvel
informando-o que a sua casa
está a ser roubada e que foi
feito um aviso à polícia. Mete-se no carro e segue a toda a
velocidade pela autoestrada.
Felizmente não tem “bicha”
no acesso, e o uso da Via
Verde ajudou-o a não perder
tempo. O mau tempo e a
velocidade a que conduz
causa o despiste do carro,
mas felizmente o sistema
de apoio à condução do seu
carro coloca-o de
novo no bom
caminho.
Para
descontrair liga o rádio e
ouve que a autoestrada está
fechada mais à frente devido
a um acidente. Usa então o
sistema de navegação para
encontrar um caminho
alternativo. Ao chegar à sua
cidade o funcionamento dos
semáforos ajuda-o a ganhar
tempo. Finalmente em casa,
verifica com a polícia o que
aconteceu. Agora, já sozinho,
vai relaxar jogando xadrez com
o computador, enquanto o seu
robot de limpeza trata do lixo
deixado pelos assaltantes. Mais
calmo, decide ler o correio.
Felizmente, o filtro contra o
correio indesejado evita que
tenha que ler lixo, e fica a saber
que livros lhe são sugeridos
pela sua livraria virtual. Está
na hora de voltar a pensar
no trabalho e faz uma
busca na internet sobre o
tema que lhe interessa,
não se admirando com
a correção automática
que foi feita à sua frase
nem com a qualidade
dos resultados
devolvidos. Ficção?
Não, pura realidade
E
R
N
E
S
T
O
C
O
S
T
A
nos dias de hoje. Limitou-se a tirar
partido da investigação em sistemas
inteligentes: visão e reconhecimento
de padrões, sensores inteligentes,
comunicação em linguagem natural,
raciocínio probabilístico, métodos
de procura, optimização heurística,
robots de limpeza autónomos,
resolução inteligente de problemas.
Tudo começou em Agosto de 1956,
nos EUA, quando um investigador
do Darmouth College, John
McCarthy, convence um conjunto
de nove colegas a participar
num seminário para debater
a hipótese de criação de
uma inteligência artificial
(IA). Acreditavam que todos
os aspetos da atividade
inteligente e da aprendizagem
podiam ser descritos de
forma a poderem ser
realizados num/por um
computador: demonstrar
teoremas, compreender
a linguagem natural,
reconhecer padrões, aprender
regras e conceitos, apoiar
a tomada de decisão, jogar
xadrez, diagnosticar doenças,
pintar, compor música, e o que
mais possamos imaginar que o ser
humano faz e que requer inteligência.
Procuravam concretizar as crenças
de antigos filósofos (Aristóteles,
Descartes, Pascal, Leibniz) e as
teorias de cientistas (Boole, Shannon,
Von Neumann, Turing), no sentido
de transformar o computador
num artefacto de novo tipo,
a quem um dia pudessem
gritar, como Miguel Ângelo perante
a estátua de Moisés: Pensa! Hoje,
passados quase 60 anos desde essa
data, a história da IA ilustra uma
combinação de muitas promessas,
algumas ainda por cumprir, e vários
sucessos. Para além das realizações
tecnológicas, há os que olham para
a IA como um modo alternativo de
tentar entender quem somos e como
funcionamos. A possibilidade de
construirmos seres inteligentes à
nossa imagem e semelhança levanta,
no entanto, muitas resistências.
Foi assim no passado, nos grandes
momentos de rutura epistemológica:
com Copérnico, que nos colocou
fora do centro do universo, com
Darwin, cuja teoria da evolução por
seleção natural retirou a dimensão
transcendente à nossa existência, ou
ainda com Freud, que questionou
a nossa racionalidade. Hoje,
a IA diz-nos que é possível
uma razão sem consciência,
mas também nos ensina
que somos bem mais do
que seres racionais: somos
seres imperfeitos, que têm
sentimentos e se emocionam,
somos seres conscientes.
Avançar na compreensão
do que é a consciência é o
grande desafio do futuro. Será
que amanhã existirão entidades
autónomas, embora criadas por
nós, que possam ter manifestações
de medo ou de tristeza, que se
emocionam, como o computador
HAL de 2001 Odisseia no Espaço
ou o replicante Batty de Blade
Runner? Muitos acreditam
nessa possibilidade. Alan Kay
disse que a melhor maneira
de prever o futuro é inventálo. Há quem o ande a fazer
agora. Por isso é melhor
estarmos preparados.
RESISTANCE
12
FÍSICA
A Física na Biologia e na
Medicina_DR. RUI TRAVASSOS
A
13
Física tem um papel importante tanto na Biologia como
na Medicina. Tradicionalmente, este papel reflete-se no
desenvolvimento de tecnologias que ajudam no laboratório ou
no melhor diagnóstico e tratamento de pacientes (por exemplo
através da radioterapia, Raios X, PET, IRM, OCT, etc., no caso
da Medicina; ou da eletroforese, espetrofotometria, citometria de
fluxo, etc., no caso da Biologia). No entanto nos últimos 5-10
anos, nas Ciências da Saúde, a Física passou de uma ciência que
desenvolve exclusivamente instrumentação, para uma ciência que
constitui parte essencial de equipas interdisciplinares que estudam
sistemas biológicos. Sintomática dessa alteração é, por exemplo, a
formação em 2010 de 10 centros denominados “Ciências Físicas
para a Oncologia”, em universidades de renome dos Estados
Unidos (como por exemplo em Berkeley, em Cornell ou no MIT).
De imediato surge a pergunta de porquê de um momento para o
outro se começa a financiar a investigação de sistemas biológicos
usando a Física? A Biologia tem sofrido uma revolução nos
últimos 30 anos e está a tornar-se numa ciência quantitativa. Onde,
no início do século XX, se enumeravam e descreviam os sistemas
do corpo humano, as espécies e a Natureza, hoje, cem anos depois,
medem-se concentrações precisas de proteínas dentro das células
em função do tempo, estabelecem-se relações de causalidade entre
os níveis de proteínas numa via de sinalização, medem-se as forças
que as células exercem num substrato, e conhece-se mais a fundo os
processos que ocorrem dentro da célula. Para organizar, compilar
e sistematizar a quantidade enorme de dados que as novas técnicas
geram, biólogos celulares e moleculares procuram a colaboração
de informáticos, matemáticos e físicos. Estes novos elementos
nos laboratórios trazem novas maneiras de abordar os problemas,
conduzindo a avanços mais rápidos. Do ponto de vista da Física,
também existe um interesse em Wse aliar à Biologia. A Física evoluiu
imenso durante o século XX. A teoria Quântica e a Relatividade
Geral conseguem prever, até ao limite da precisão experimental, as
propriedades de sistemas microscópicos e a dinâmica de sistemas
planetários, respectivamente. A partir destes sucessos, a Física
interessou-se pelo estudo de sistemas mais complexos, onde novas
propriedades emergem resultantes de correlações entre as várias
componentes do sistema, como ocorre em sistemas Biológicos. Os
modelos físicos acompanhados de um conhecimento experimental
do sistema em questão, conseguem trazer para a Biologia o
poder de previsão da evolução de tecidos e de patologias. Por
exemplo, no estudo do enrolamento de proteínas, são analisados
os mecanismos de enrolamento (por simulação de dinâmica
molecular), ajudando na previsão da formação de aglomerados
proteicos que estão na base do Alzheimer ou do Parkinson.
Outro exemplo é a simulação do funcionamento dinâmico de
redes de regulação genética, onde se pode compreender melhor
a regulação celular. A Física pode também ajudar no estudo dos
mecanismos que levam ao desenvolvimento tumoral, quer sejam
estes intra-celulares (vias de sinalização problemáticas, proliferação
desregulada, etc.), como inter-celulares (interações mecânicas entre
as células, locomoção célular, etc.). Para além destes exemplos, os
físicos têm estudado motores moleculares, propagação de sinais
entre neurónios, dinâmica de redes alimentares e de ecossistemas,
aquecimento global, propagação de epidemias, estratégias de
movimento de animais como o caracol, as formigas e as osgas, e a
fotossíntese, com o objectivo de melhorar os sistemas correntes de
produção de energia solar. A aplicação da Física na Biologia ainda
está no seu início, mas indicia um futuro promissor de colaboração
e descobertas.
2_Estrutura usada para uma simulação de um motor molecular deslocando-se sobre um microtúbulo, Kanada et al. (2013), PLoS Comput Biol 9(2): e1002907.
1_Simulação de crescimento de tumor, Shirinifard et al. (2009), PLoS ONE 4(10):
e7190.
RESISTANCE
Ilustração do início da propagação do vírus H1N1 por viajantes a partir da cidade do México,
Bajardi et al (2011), PLoS ONE 6(1): e16591.
Dr. Mário Bártolo
E
m 2002 ingressei em Engenharia Biomédica na Universidade de Coimbra e fiz
parte do primeiro grupo de alunos neste curso. Nessa altura muitas dúvidas
existiam sobre a real aplicabilidade e futuro nesta área. A verdade é que passados
estes anos, a Engenharia Biomédica se revelou de extrema importância e com
alto reconhecimento a nível nacional e internacional. Terminado o meu percurso
universitário, em que optei por me especializar em Imagem e Radiação, surgiram
as questões inerentes a esta nova fase: acabei parte da minha aprendizagem mas, e
agora? Onde aplicar este conhecimento? Foi quando, após algum tempo de reflexão,
optei por enveredar pelo doutoramento em Neurociências. E porquê fora de
Portugal? Porque sempre quis uma experiência internacional e tinha chegado a hora
de dar esse passo. Fui então para o Instituto de Neurociências da Universidade de
Newcastle upon Tyne, Reino Unido. Quando comecei a fazer o meu doutoramento
tinha um título bem definido: “Mechanisms of bottom-up attention investigated with
fMRI”. Mas cedo percebi que não iria estudar apenas os mecanismos da atenção e
aprofundar os meus conhecimentos em ressonância magnética funcional (fMRI), iria
estudar muito mais que isso. Um dos primeiros desafios a que fui sujeito foi aplicar
os conhecimentos que adquiri como engenheiro para desenvolver um sistema óptico.
Parte da minha investigação iria passar por usar um sistema óptico para mostrar
diversos estímulos visuais a macacos enquanto adquiria imagens funcionais do córtex
visual. O problema surgiu quando nos apercebemos que a qualidade da imagem do
sistema de projecção de imagem que tínhamos disponível não era a melhor e que
teríamos de fazer um upgrade ao sistema. Duas alternativas foram ponderadas: adquirir
um novo sistema óptico, o que seria bastante dispendioso, ou desenvolver um sistema
óptico “in-house”. Durante vários dias estive a rever todos os conceitos que tinha
adquirido de óptica e do que necessitaria para poder projectar uma imagem pequena
e em foco dentro de um scanner de 38 cm de diâmetro, de forma a poder estimular
o córtex visual de macacos. Depois de muitos cálculos e desenhos achei que seria
capaz e voluntariei-me para desenvolver um sistema constituído por um projector,
com lentes modificadas e um conjunto de espelhos capaz de guiar a imagem do
exterior do scanner até à retina dos animais. Posso dizer que este barato e prático
sistema óptico desenvolvido nos meus primeiros dias como aluno de doutoramento
em Neurociências ainda hoje é utilizado por todos os investigadores do Instituto
de Neurociências que necessitem de apresentar estímulos visuais. Ao fim de cinco
anos como investigador quase todos os dias aplico conceitos e princípios adquiridos
durante o curso de Engenheira Biomédica. O facto de trabalhar na área de imagem
médica faz com que tenha de acompanhar o desenvolvimento tecnológico na área de
aquisição, processamento e análise de imagem. Com frequência aplico transformadas
de Fourier, programo um novo estímulo visual, ou até uso um osciloscópio. Tudo
com a finalidade de compreender e identificar a rede neuronal envolvida na atenção.
Desta forma, posso afirmar que durante o curso de Engenharia Biomédica adquiri
as ferramentas base necessárias para ser um investigador na área das Neurociências e
Imagem Médica com capacidade de encontrar soluções para os problemas inerentes
a esta profissão.
14
Dr. Mário Bártolo
Research Associate in Institute
of Neurosciences, Newcastle
University, UK. Graduated
in Biomedical Engineering in
2007 and finished PhD in July,
2012.
RESISTANCE
FÍSICA
A FÍSICA na Pista do Crime
M
TI
FÁ
“In theory there is no difference
between theory and practice. In
practice there is”
A
O
AD
H
AC
M
E
15
Yogi Berra,
Jogador americano de baseball
scolhi estudar Física porque queria ser astrónoma, estudar a
origem do Universo e das coisas materiais. Acabei a estudar
crimes, através do estudo da prova material – os vestígios
deixados no Local do Crime - que permitem reconstituir
acontecimentos que não foram presenciados por ninguém e
que possibilitam estabelecer uma relação entre a vítima e um
suspeito de autoria de um crime ou entre a vítima, o suspeito e
um determinado local ou objecto. Tal como nas outras ciências,
onde se procura sempre provar algo desconhecido.
É este trabalho muito diferente do
realizado noutros laboratórios de
investigação ou industriais?
O trabalho num laboratório forense
_ Na abordagem ao caso, no manuseamento dos matériais e
na preparação das amostras a analisar, o maior problema são
as reduzidas quantidades de material e a opção por métodos de
análise não destrutiva, que possibilitem, caso seja necessário,
a repetição dos ensaios efectuados e a análise por métodos
alternativos que possam confirmar os resultados obtidos.
As séries televisivas do CSI, tão frequentes nos dias que correm,
dão uma percepção da relevância do estudo da prova material,
o objecto de estudo do perito forense. Dão também uma ideia
da diversidade de materiais que podem ser deixados no local
do crime, nas vítimas, nos suspeitos ou que foram manuseados
pelos diversos intervenientes. Confundem, no entanto, os papéis
dos vários atores e deixam a ideia de que os equipamentos
fazem tudo. Na verdade, os conhecimentos de base nas ciências
fundamentais numa perspectiva multidisciplinar, a experiência
e o rigor na abordagem dos problemas é que vão permitir o
estudo das evidências e delas extrair dados que vão ajudar a
esclarecer a forma como o crime ocorreu – quase como Poirot,
mas necessitando mesmo de verificar todos os dados antes
de anunciar uma descoberta, ou seja, de extrair conclusões
dos dados obtidos nas análises e observações efectuadas. Mas
antes do Laboratório, vem a Cena do Crime, com todo o
stress envolvido e também com os cenários tristes, violentos
ou degradantes a que quase nos tornamos imunes e que nos
podem levar às empolgadas observações “que interessante!”
quando algo é mais surpreendente. Depois da recolha no local
e da análise no laboratório, vem por vezes o Tribunal e os seus
interrogatórios, quase parecendo uma prova oral, onde o rigor e
a imparcialidade têm de estar sempre presentes.
RESISTANCE
Podemos admitir que sim em dois aspectos essenciais:
_ Se nos debruçarmos nas causas de cada caso, sabemos que
existe sempre um crime na origem do trabalho a realizar.
Assim, a actividade num laboratório forense é extremamente
diversificada e, mesmo considerando apenas o trabalho mais
diretamente relacionado com a Física e a caracterização de
materiais onde a avaliação de propriedades físicas está envolvida,
a Física é usada em peritagens de balística, por exemplo na
determinação de trajectórias, na análise de resíduos de disparos,
de vidros, fibras, tintas, materiais metálicos e poliméricos,
todos no âmbito da investigação de homicídios, violação,
contrafacção, assaltos à mão armada e outros. As técnicas
usadas são as contempladas na análise de materiais, como a
microscopia óptica, a microscopia electrónica com microanálise
por raios-X, a identificação e comparação de materiais por
técnicas de espectroscopia e por difracção de raios-X ou ainda
a determinação de índice de refracção de vidros. Em todas as
situações os conhecimentos de Física são fundamentais para
compreender os fenómenos estudados, o funcionamento dos
equipamentos usados e para avaliar os resultados obtidos de
uma forma crítica e imparcial na procura da verdade.
DOIS CASOS:
Fotografia 1: imagem
de papel obtida por
microscopia eletrónica
de varrimento (eletrões
secundários) no
âmbito de um estudo
de comparação de
papéis usados em
notas falsificadas com
o objetivo de comparar
o tipo de fibras
constituintes, as cargas
e respetiva distribuição.
16
Fotografias 2 e 3:
comparação de
partículas características
de resíduos de disparos
de armas de fogo num
caso que envolvia
dois suspeitos que
dispararam munições
de marcas diferentes. A
comparação destas com
as do alvo permitiu
identificar o autor do
disparo fatal.
Imagem e espectro de uma partícula característica de resíduos de disparo
recolhida em cápsula Fiocchi cal 6,35mm Br)
RESISTANCE
ISMO
DOR
EMPREENDE
A
17
SFT actua nas áreas de Medicina Física, Reabilitação e Fisioterapia e
dedica-se ao desenvolvimento de dispositivos médicos com um alto
grau de funcionalidade, inovação e aplicabilidade em ambiente clínico,
focando-se principalmente na quantificação de diversas grandezas físicas,
como: forças, ângulos, pressão, deslocamento e vibração, promovendo
biofeedback para situações de avaliação, treino e diagnóstico da condição
física do utente. A SFT providencia um valor acrescentado para profissionais
de saúde que acompanham os utentes no processo de reabilitação física e
para o próprio utente. A SFT tem experiência e alto nível de conhecimento
em instrumentação, sistemas de automação de leitura, aquisição e
processamento de dados e imagem, bases de dados, desenvolvimento de
aplicativos móveis e web. Este conhecimento é sustentado por técnicos
com conhecimentos sólidos nas áreas de tecnologia e de Engenharia
Mecânica, Biomecânica, Electrotécnica e Informática. A SFT dispõe ainda
de privilegiados contactos e parcerias, por fazer parte da sua definição
estratégica, com profissionais de saúde, instituições públicas e privadas
de saúde, bem como instituições de Ensino Superior. Promove-se a
transferência de conhecimento entre o pólo de saúde e o pólo da engenharia
e extraem-se as reais necessidades deste sector e dos seus profissionais,
das quais resultam soluções integradas com valor. Nestas áreas foram
identificadas várias necessidades não colmatadas pelos equipamentos
existentes no mercado, quer porque os produtos apresentam elevados custos
de aquisição, quer pela sua inadequação em termos de funcionalidade em
ambiente clínico, bem como pela elevada exigência técnica de manuseamento
e operação, ou até mesmo por não estarem disponíveis no mercado devido
à especificidade técnica necessária para os profissionais de saúde, abrindo
espaço para investigação e desenvolvimento e uma consequente inovação
em novos produtos. A aposta na área da saúde pela SFT não é ocasional
e encontra-se bem sustentada entre os promotores da empresa. Por outro
lado, a inserção da empresa na região centro, em particular em Coimbra,
permite aos promotores terem uma rede alargada de contactos no setor da
saúde, designadamente com profissionais de saúde e instituições de ensino,
nomeadamente a Universidade de Coimbra, a Escola Superior da Tecnologia
da Saúde de Coimbra e a Universidade de Aveiro. O facto de estar sediada
na zona centro permite à SFT alinhar estratégias em grupos e clusters
vocacionados para a área da Saúde como o Inov C.
Luís Ferreira e Pedro Mendes, alunos
do 3º ano de Engenharia Mecânica do
ISEC, frequentam diversos workshops
de empreendedorismo relativos ao
Poliempreende
RESISTANCE
Luís Ferreira e Pedro Mendes estão
agora no 4º ano do Mestrado Integrado
de Engenharia Mecânica da FCTUC.
Fruto de contactos exploratórios surge
uma proposta do primeiro projecto,
com a âmbição de obter um produto
comercial. Nesta fase definiu-se a área
de Medicina Física, Reabilitação e
Fisioterapia como área preferencial de
actuação.
A ambição de constituir uma empresa
está na ideia de todos. Efeturam-se
contactos e surge um novo e valioso
elemento para a equipa: a empresa
Controlar, que acrescenta uma vasta
experiência na realização de projectos,
gestão financeira e atuação comercial.
A equipa é então composta por: Luís
Ferreira e Pedro Mendes , Carlos Alcobia
(Docente) e a empresa Controlar.
Ficam classificados em 1º lugar na fase
regional, e vão representar Coimbra
na fase nacional onde conquistam o 1º
lugar. O concurso premiou-os com 12
mil euros e com um ano de incubação
física grátis no Instituto Pedro Nunes.
Foram incentivados a apresentar uma
ideia de negócio para concurso e
decidem explorar uma tecnologia
que estavam a aprender nas aulas.
Contactam o professor da cadeira,
Carlos Alcobia, para integrar a equipa.
Submetem uma ideia e um plano de
negócios a concurso.
Em Dezembro de 2011 a empresa
é formalmente constítuida:
uma
sociedade por quotas com o nome de
Sensing Future Technologies. Nesta
altura é incubada virtualmente na
Incubadora do Instituto Pedro Nunes.
Pedro Mendes e Luís Ferreira estão
agora no 5º ano do mestrado e fazem as
suas teses em torno do protótipo que
haviam desenvolvido. São desenvolvidos
estudos aprofundados a nível técnico,
científico e clínico.
Em Julho de 2012 dá entrada nas
instalações do Instituto Pedro Nunes
- Incubadora, sendo a sua sede social.
Fizeram-se melhoramentos ao protótipo,
desenvolveu-se um novo protótipo para
novos testes e entrou um colaborador
para a equipa: um engenheiro
informático. É nesta fase que se dá o
arranque para o desenvolvimento de um
produto comercial.
Definiram-se objetivos e iníciou-se o
desenvolvimento do 1º protótipo para
validação de conceito em ambiente
clínico.
NO FUTURO...
PATENTE
A Sensing Future Technologies vai
avançar com um pedido provisório
de patente do seu primeiro produto.
Apresentação
Produto
(Maio de 2013)
Entrada no mercado com um
produto inovador
Entrada no
mercado
(Julho de 2013)
O novo produto vai ser exposto e
apresentado ao mercado na Feira
NorMédica/Ajutec 2013 na Exponor
no Porto.
Principais desafios:
“A angariação de investimento implica idealizar, desenhar e planear cuidadosamente
um plano credível, realista, ambicioso e com valor que potencialmente convença os
“senhores do dinheiro” de que realmente é um projeto de valor e rentável. “
“Uma start-up muitas vezes não dispõe do know-how que incisivamente precisa.
Por isso escolhe parceiros-chave para concluir com sucesso determinadas tarefas.”
Financiamento
Elevator Pitch
“Temos constantemente de nos apresentar a novas entidades. Muitas vezes só
temos uma oportunidade para abordar alguém e não podemos falhar! É imperioso
conseguir passar uma mensagem clara, simples e em menos de 1 minuto convencer
alguém que a nossa atividade e o que geramos tem realmente valor!”
Estado
“É verdade que ultimamente o estado tem potenciado ações de promoção de
empreendedorismo com medidas muito concretas. A SFT goza de beneficios fiscais
por ter jovens nos seus quadros, mas é também verdade que a contribuição para o
estado social continua a ter um enorme peso nas finanças da empresa.”
RESISTANCE
18
ISMO
DOR
EMPREENDE
Apoios:
Poliempreende
“O 6º Concurso Poliempreende foi o pontapé de saída para a ambição da
constituição da SFT. Este concurso permitiu, além de formação pessoal, o contacto
com diversas entidades que foram uma mais valia para a equipa e para o projeto.”
Controlar - Electrónica
e Sistemas
“A Controlar proporciounou todo um conjuto de transferência de conhecimentos e
de experiências de uma entidade com quase duas décadas de actividade e que actua
no mercado internacional e encontra-se em fase de expansão. Foi uma pedra basilar a
nível financeiro.”
Instituto Pedro
Nunes - Incubadora
19
Câmara de Comércio
e Indústria do Centro
Centro Terapêutico
Peroneo
Escola Superior de
Saúde da Universidade
de Aveiro e Escola
Superior de Tecnologia
da Saúde de Coimbra
RESISTANCE
“A Incubadora do IPN é um claro apoio contabilístico, jurídico, técnico e de
instalações. Permite ainda uma rede de contactos e eventos de áreas específicas.”
“Ao longo dos últimos meses colocou a SFT em contacto com entidades
internacionais selecionadas, permitindo não só a integração de concórcios, como a
geração de renome internacional.”
“Colocou vários desafios às capacidades técnicas da SFT conseguindo assim o
desenvolvimento de dispositivos médicos adaptados simultaneamente a profissionais
de saúde e utentes.”
“É através do conhecimento destas instituições que é possível ir mais além e
conseguir atingir novos objetivos. O conhecimento aliado à tecnologia apenas
poderia resultar em mais valias para todos os intervenientes.”
Estudante trabalhador
S
egunda-feira, o despertador
toca às 8:15 horas. Esperame mais um dia e uma semana
de trabalho. É assim desde há 1
ano e 10 meses, altura em que
comecei a colaborar com a ISA
– Intelligent Sensing Anywhere.
Esta
empresa
de
base
tecnológica, que trabalha na área
da telemetria, é conhecida pelas
suas soluções inovadoras na
área da Energia e do Oil & Gas e
por ter sido fundada por antigos
estudantes do Departamento
de Física da Universidade de
Coimbra, sendo um modelo
de sustentabilidade e sucesso.
Apesar de trabalhar em tempo
parcial, já que ainda me encontro
a terminar o meu curso, a
experiência com a ISA não
tem sido fácil, mas certamente
enriquecedora a muitos níveis.
Começa por ser complicado
conciliar a vida profissional com
a vida académica e os estudos.
Acabam-se as saídas à noite,
acabam-se os tempos mortos,
acaba-se grande parte daquilo
que caracteriza a vida académica
de um estudante de Coimbra.
Mas
ganha-se
certamente
uma coisa, uma grande dose
de experiência para o futuro.
Não só a nível profissional
mas também pessoal. Com
esta aventura abracei um novo
modo de encarar os problemas
e os desafios. Embora a minha
formação de base seja em
Engenharia Física, um ramo
tradicionalmente tecnológico, na
ISA trabalho como Innovation
Developer no Departamento
de Inovação. Apesar de ser
uma pessoa com relativamente
pouca experiência profissional,
a minha colaboração na ISA tem
sido em projectos desafiantes e
alguns deles internacionais. A
maioria destes desafios estão
ligados à gestão mas todo o
meu background tecnológico
permite-me não só visualizar os
projectos de forma diferente,
como também fazer uma ligação
mais precisa entre a gestão
e a tecnologia, característica
que hoje em dia é cada vez
necessária cada vez mais no
mercado. Pela diversidade do
trabalho e novidade de temas
vi-me imerso num mundo
completamente diferente, onde
a responsabilidade, o rigor e o
foco com que trabalhamos é
fundamental. Na Universidade
desenvolvemos trabalhos em
ecossistemas
controlados,
todos os cenários são à partida
previsíveis e muitas vezes já
executados por alguém no
passado. Apesar de termos
metas e horários a cumprir,
qualquer situação difícil é
resolvida com algumas horas
de dedicação ao problema sem
envolver grandes riscos mesmo
que a solução esteja longe da
realidade. Bem, no mundo real
não é bem assim. As decisões
têm de ser tomadas em tempo
real, há expectativas a cumprir
quer a nível de timing quer a nível
de qualidade. A uma certa altura
começamos a compreender
que as nossas decisões e todos
os problemas que resolvemos
influenciam o futuro, e muitas
vezes podem ter resultados
imprevisíveis, ou pelo menos
não são os esperados, gerando
novos problemas para resolver,
criando um ciclo vicioso e
a necessidade de planear e
executar o nosso trabalho com
a maior qualidade possível,
dando o máximo das nossas
capacidades. Mas este stress,
adrenalina e angústia vêm
acompanhados pela paixão
que temos quando fazemos
o nosso trabalho. E é esta a
moral da minha história, apesar
das dificuldades e de todos os
desafios desta etapa da minha
vida, sinto-me apaixonado
por aquilo que estou a fazer, e
sobretudo sinto-me feliz, tendo
esta experiência permitido não
só ganhar grandes competências
como também me fez perceber
o que quero fazer no futuro.
É por isso que sou da opinião
que todos os alunos assim que
entram no mestrado deveriam
procurar emprego, mesmo que
a tempo parcial, de forma a
descobrirem quem são, as suas
limitações, os seus limites mas
sobretudo o que os apaixona.
Acredito que um colaborador
feliz e apaixonado é priceless
para qualquer empresa. Durante
este período cresci mais como
pessoa, como estudante e como
profissional do que em 5 anos
de Universidade. Conciliar
trabalho,
aulas,
projectos,
exames, trabalhos em grupo,
programar, estudar, férias,
família, amigos, diversão, sair,
ler, brincar, rir, chorar e ainda
ter tempo para dormir é difícil.
Tão difícil que por vezes me
fez querer desistir. O que não
me fez desistir? A paixão! A
paixão por aquilo que faço e
que quero fazer. Estou assim
numa situação diferente, num
percurso académico diferente,
não porque fiz mais que os
outros, ou porque sou melhor
que os outros, mas sim porque
sempre procurei mais e mais.
Não foi sorte, foi trabalho e
paixão.
O trabalho que
desenvolvo envolve
diversas tarefas
como:
Desenvolvimento
do ISaLL –
Intelligent Sensing
and Smart Services
Living Lab,
plataforma de co-criaçao e inovação
aberta impulsionada
pela ISA;
Actividades de
apoio e suporte
na preparação
de candidaturas
a projectos de
financiamento
Europeu e Nacional;
Desenvolvimento
desses mesmos
projectos
com equipas
multidisciplinares e
internacionais;
Participação no
desenvolvimento
de um projecto
que engloba
gestão energética
e visualização de
dados.
JOÃO
NOGUEIRA
RESISTANCE
20
M
REPORTAGE
O ensino superior é
universal?
_FREDERICO BORGES
C
21
omparar a educação em Portugal com o resto da Europa é um
exercício interessante porque constatamos que estamos em
alta nos índices mais negativos (a taxa de abandono precoce é de
23.2 % atrás de Malta e da Espanha1) e em baixa nos índices mais
positivos (a população entre os 25 e os 64 anos que completou o
ensino secundário constitui apenas 35 % da população nacional,
apenas Malta assume uma posição estatística pior que Portugal1).
Apesar destes dados serem públicos, sempre que os governos
tentam mexer na educação os professores manifestam-se aos
milhares contra qualquer tipo de medidas. Como profissão que
garante o futuro de Portugal, os professores preocupam-se em
manter os direitos que adquiriram após o famoso 25 de Abril de
1974. Direitos como terem mais um dia de folga além do fim de
semana, não serem realmente avaliados, serem efetivos (e não
poderem ser despedidos independentemente do que façam) e
os casos de horário zero (apesar de não darem aulas receberem
como se dessem). Com todas estas preocupações com os
professores não podemos deixar de nos questionar quem é que
se preocupa com os alunos. Com todas estas manifestações,
quais os benefícios dos alunos? O que é que o futuro de
Portugal ficou a ganhar com isto? Uma das grandes queixas
dos professores com os cortes na educação é o elevado número
de alunos presentes nas salas de aula. Mas vemos que Portugal
possui 9,7 2 alunos por docente, somente acima de Estónia (9,1
2
), Holanda (6,9 2) e Irlanda (5,1 2). Uma das melhores educações
na UE é a Finlândia que conta com 16 2 alunos por docente,
e aí não existem manisfestações do corpo docente. Foi com
os estudantes portugueses em mente que a Resistance decidiu
fazer esta reportagem, com o objetivo principal de perceber se a
educação portuguesa é Universal como se diz. Sabemos através
do ranking das escolas do ensino secundário no ano de 2012,
que a média de exames das escolas portuguesas varia desde os
14 valores nas melhores escolas privadas (12,60 nas melhores
escolas públicas) até aos 7,44 valores. Em alguns distritos, as
escolas privadas possuem as melhores classificações na média
de exames. Desde logo, podemos verificar que estudantes com
famílias mais abastadas têm a possibilidade de frequentar escolas
com melhores médias, e assim têm mais possibilidades em entrar
no ensino superior. Mas o problema não reside nas
Fatores que o levaram a frequentar
escolas privadas, mas sim na falta de qualidade das
escolas públicas. O ensino privado existe porque o
a escola secundária:
ensino público não consegue fazer frente às exigências
das famílias portuguesas. Na Finlândia a qualidade
do ensino público é apontada como a principal razão
Proximidade da
pela qual o sector privado é quase inexistente 3. No
residência
entanto, 14.7 % dos nossos inquiridos formaram-se
no ensino privado. Segundo o nosso inquérito a média
Pessoas que já a
de exames das escolas secundárias dos estudantes da
frequentavam ou que a
Universidade de Coimbra é 10,44, sendo que a média
iriam frequentar
nacional é 9,5. Melhores escolas colocam mais alunos
Prestígio da escola
no ensino superior, e os alunos que são obrigados a
frequentar essas escolas têm menos possibilidades de
Disciplinas
entrar no ensino superior, pois 64.79 % dos inquiridos
afirmou que frequentou a escola secundária devido à
proximidade geográfica, e 14.08 % devido ao prestígio
da escola. Também verificamos que os distritos
menos populacionais possuem escolas com piores
RESISTANCE
Entrou no curso escolhido como
primeira opção?
Mesmo assim, 46 % dos inquiridos necessitou
de explicações extracurriculares para terminar
o ensino secundário com a média desejada.
A existência de explicações extracurriculares
significa que os alunos necessitam de mais tempo
que o existente para esclarecer todas as dúvidas
existentes, mas o facto de os docentes não abrirem
o espaço gratuito nas escolas para garantir que
os alunos possam tirar as suas dúvidas é uma
incógnita. Se cada professor dedicasse uma ou duas
Não
horas semanais a cada turma, poderíamos não ter
Sim
a necessidade de colocar os nossos estudantes em
explicações extracurriculares, onde só os alunos
cujas famílias têm mais posses podem assegurar as
explicações. Como vemos pelos inquiridos, de 46
% dos alunos com explicações, 61 % frequentou
explicações de Matemática, 20 % de Física e
Química, 10% de Biologia e 7% de Português, que
são as disciplinas leccionadas no curso de Ciências
e Tecnologia. Infelizmente, podemos concluir pelos resultados
obtidos através deste inquérito, que as possibilidades de um
aluno frequentar o ensino superior não são iguais para todos,
apesar da ajuda financeira aos alunos em % da despesa pública
em educação ser 14.8 % 2 no ensino secundário, relativamente
próximo da média da união europeia (17.2 % 2). Talvez um
dia, quando os professores se começarem a manifestar por
um aumento de qualidade educativa em vez de pensarem neles
próprios. É só o futuro de Portugal que está em questão.
médias nos exames, e a razão dada é que o insucesso escolar
se deve à distância geográfica, consequente de muito tempo e
dinheiro despendido em viagens, fatores muito mais evidentes
nos países nórdicos com as melhores taxas de sucesso escolar.
Os nossos inquiridos também avaliam muito positivamente os
docentes, tendo em conta os conhecimento e o empenho dos
mesmos, 4.2 em 5, que é um valor bastante positivo sobre a
qualidade dos docentes nas respetivas escolas secundárias, já
que 52.11 % atribuiu a nota 4 e 30.99 % a nota 5. A avaliação
da qualidade da escola secundária tendo
Considera que a escola onde
e conta as infraestruturas também foi
bastante positiva, com uma nota de
concluiu o ensino secundário efectua
3,55 em 5, e com nota semelhante 3,19
alguma espécie de selecção quanto
esteve a nota das escolas em termos de
actividades extracurriculares. Através
aos alunos que nela entram?
desta análise podemos observar que
apesar dos inquiridos terem estudado
em escolas secundárias com uma boa
qualidade em termos de infraestruturas
e atividades extracurriculares, parece
que os docentes que os acompanharam
Sim
tinham uma qualidade acima do nível
Não
da escola. Isto poderá significar que os
Sem Resposta
alunos poderão ter apanhado alguns
dos melhores professores da respectiva
escola. Graças a isso, 63% dos inquiridos
entrou no curso como primeira opção,
conseguindo ingressar no curso e
estabelecimeno de ensino pretendido.
1
2
Dados no www.pordata.pt – relativos a 2011
Dados no www.pordata.pt – relativos a 2010
3
Dados na www.apagina.pt
RESISTANCE
22
24 Frames/s
o
Sandr
Leitão
23
Cinema é arte. Não é negócio, não é um fazer
dinheiro, não é produto intelectualmente infértil
para adolescentes, não é blockbusters cheios
de efeitos especiais mas sem conteúdo. É arte,
é cultura, é magia. Escolho falar-vos não de
um filme mas de filmes pois são estes que
constituem, em parte mas não por completo,
o cinema. Cinema no seu sentido artístico está
sempre associado a cultura e o género de cinema,
que no fundo não é bem um género mas sim
uma designação, sobre a qual estas linhas vão
incidir são os chamados Filmes de Culto. Filme
de culto, é o termo que designa aquele filme
que não tem preocupação em agradar o público
Mainstream, tem um roteiro original, às vezes
transgressor contendo o bizarro, violência,
apelam para uma estética alternativa, costumam
ter personagens estranhas, cultuados pelos
cinéfilos. Os filmes de culto também costumam
ser confundidos com “filme cabeça”, ou seja,
aqueles com conteúdo intelectual e filosófico.
Muitas vezes são filmes mal recebidos pela
crítica, crítica esta que, anos mais tarde, lhes
reconhece o devido valor artístico e cultural, são
filmes que, por norma, não têm grande sucesso
de bilheteiras, sucesso no imediato mas que o
tempo, que é o melhor juiz de todas as coisas, no
seu veredito final lhes atribui a melhor distinção:
no fundo, a intemporalidade. Quem não conhece
filmes como Fight Club, Clockwork Orange
ou American History X ? Estes são só alguns
exemplos de filmes de culto que acabaram por se
tornar conhecidos pela maioria do público mas
que na altura do seu lançamento não atingiram
esse sucesso. Mas isto nem sempre acontece, isto
é, outros filmes como por exemplo, Erasehead
de 1977, Akira de 1988 ou Freaks de 1932 são
considerados filmes de culto mas ainda hoje não
são conhecidos da maioria do público. Tudo
depende da sorte, da cultura, no fundo, do
tempo. Nunca se esqueçam: Cinema é arte. A
sétima.
O Segredo dos seus Olhos
Filme vencedor do Óscar de Melhor Filme
Estrangeiro em 2010, conta-nos a história de
Benjamin Esposito, um detetive reformado que
decide ocupar o seu tempo livre com a escrita
de um livro sobre um antigo caso policial, que
ficou por resolver. A história é-nos contada à
medida que o livro avança, utilizando flashbacks
para contar os desenvolvimentos do caso. O que
aparenta ser um filme policial é na verdade uma
busca pessoal de Benjamin, para tentar perceber
o que correu mal na sua vida amorosa. E é nesta
busca que o filme se torna uma obra-prima.
Depois do fantástico zoom-in (que já faz parte da
história do cinema), o espetador fica agarrado
ao ecrã e nem se apercebe que ainda faltam dois
terços do filme, pois o filme passa, infelizmente,
a correr. A fotografia do filme é fantástica
RESISTANCE
porque foca os olhos das personagens para que
estes sejam uma segunda forma de comunicação
entre as personagens. Aliás, o argumento do
filme é um policial. É o olhar que estabelece
a verdadeira comunicação entre elas mesmas.
Este é um dos grandes filmes da década de
10’s, que se afasta do público português porque
não é falado em inglês, nem é de uma grande
produtora americana. Pelas mesmas razões não
esteve nas grandes salas de cinema mas, nas
poucas que se dedicam a mostrar o bom cinema,
em vez da palhaçada de sempre. Felizmente,
com a internet à disposição, este filme está a um
clique de distância.“Um homem muda de casa,
mulher, religião e sexo. Mas não muda a sua
paixão”. O cinema é a minha paixão, querem
acompanhar-me?
rico
Frede
s
Borge
Django - Unchained
Três anos depois de Sacanas Sem Lei, Quentin
Tarantino, dono de clássicos como Kill Bill e
Pulp Fiction, regressa com um western que, no
mínimo, não deixa ninguém indiferente. O papel
parece assentar bem a Jamie Foxx (Django)
que liberta a sua Broomhilda. Mas engane-se
quem pensa que esta é apenas uma história
de amor, sangue ou vingança, protagonizado
pelos principais rostos desta história (Jamie
Foxx, Leonardo DiCaprio e Christoph Waltz).
Ele aborda inevitavelmente assuntos como
o racismo e a escravidão, temas que parecem
incomodar secretamente aqueles que atribuem
a principal crítica do filme à violência. É com
Django, o herói negro, que nasce a história que
nos faz recuar até 1858, mas é principalmente
a personagem de Christoph Waltz (que já antes
tinha brilhado em Sacanas sem lei e que surge
aqui como aliado improvável da personagem de
Jamie Foxx) que nos agarra ao ecrã à espera de
mais um monólogo brilhante que salva todo o
rumo das personagens. Apresenta-se-nos ainda
DiCaprio, responsável pela representação de
um homem que parece ter parado de crescer
na sua infância, cuja sua principal preocupação
é satisfazer os seus caprichos comprando e
vendendo homens como se de mercadoria se
tratasse, que faz de Stephen (Samuel L. Jackson)
como que parte da sua consciência. É obvio
que este filme contém sangue e que o tema
“escravatura” é uma ferida aberta pronta a
suscitar uma polémica cruzada nos EUA. Mas são
os diálogos e as relações entre as personagens,
constantemente interrompida por uma banda
sonora esquizofrénica, que tornam Django o
Libertado um grande filme que, sem deixar de
ser um filme do Oeste Selvagem, se distingue por
tornar a exploração dos negros o tema central.
O filme que facilmente descreveríamos como
a história de um homem que luta contra tudo e
todos para resgatar o seu amor, transforma-se
(mesmo - talvez - contra a vontade de Tarantino)
naquilo que podia bem ser um filme de denúncia,
sem pretensões de se colar demasiado à
história real que remonta a guerras e descrições
certamente menos românticas que as feitas em
Django o Libertado. No final de contas, não
deixamos de ter um filme de ficção.
Ana
Garcia
24
Ferrugem e Osso - Surpreendente
Pedro
Vaz
Para quem esteja mais alienado do propósito
e contexto de “De Rouille et d’Os”, a palavra
que salta instantaneamente durante a assistência
do filme é “surpreendente”. Este drama
com D grande e romance com r pequeno é
construído de encontros e desencontros entre
duas pessoas tão diferentes quanto perdidas,
ele emocionalmente e ela fisicamente. De
fácil compreensão e sem azo para grandes
imaginações torna-se simples de seguir sem
“perder o fio à meada”. O desempenho humano
de Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts
está bem presente durante todo o filme sendo
este, não completamente mas quase, focado nas
diferenças e na relação das duas personagens. A
sua envolvência parece tão natural que não são
precisas palavras para se compreenderem um ao
outro. As cenas de forte carácter físico, sempre
demonstrando a força dos seres humanos,
estão presentes durante todo o desenrolar da
acção e constituem a identidade deste drama.
Sem conservadorismos e onde tudo o que o
realizador sentiu necessidade de mostrar está
presente. Um filme muito realista e que faz uso
de bons efeitos de imagem para o conseguir.
Também a banda sonora, que mistura temas
originais com músicas bem conhecidas está
bem adequada a cada momento e sentimentos
a transmitir. Um filme que vale a pena ver
atentamente porque não se limita a penas a
dramatizar mas também a encontrar alternativas.
Não ficará para a história mas não é nenhum
filme de domingo à tarde e não é só para quem
gosta de cinema Francês.
RESISTANCE
78 Rotações por minuto
Late of the Pier
Fantasy Black Channel
25
Os Late of the Pier são um grupo proveniente de Castle
Donington, bem no centro de Inglaterra. O seu som provém
de guitarra, baixo, bateria e do uso (e abuso) de sintetizadores.
Produzido por Erol Alkan, o primeiro (e único, até hoje) álbum
de originais dos LOTP, Fantasy Black Channel, saiu em 2008
para boa recepção da crítica e do público. O álbum começa
¬¬Hot Tent Blues a fazer uma introdução para Broken e as
suas guitarradas a relembrar um Bowie astronauta. Segue-se
Space and the Woods, um dos hits imediatos deste álbum.
Sintetizadores poderosos, um ritmo contagiante, um refrão a
pedir uns saltos e a voz trágica de Sam Eastgate tornam este
um dos momentos (mais) altos do álbum. Não há tempo para
pausas, e The Bears are Coming mostra um lado mais exótico
da sonoridade do grupo. Se Random Firl quase que passa
despercebida, Heartbeat entrega mais uma dose de energia a
quem ouve. Whitesnake continua a mesma toada, libertando
o lado mais rock dos quatro jovens, sendo seguida de VW,
que faz a transição instrumental para Focker, outro grande
momento musical deste álbum. Electrónica de primeira classe,
um refrão de tributo à pop, e muita imprevisibilidade fazem
desta música a bandeira do álbum. Mas não acaba por aqui:
The Enemy are the Future e Mad Dogs and Englishmen
são menos carregadas, com menor dose de electrónica mas
igualmente bem desenhadas. E no final outro dos temas mais
reconhecidos dos LOTP, Bathroom Gurgle. O baixo e os
sintetizadores a delinear um ritmo negro e dramático, claras
referências ao som dos anos 80, pop e soul espremidas numa
só música. E assim acaba um álbum marcado pela década de
80 (intencionalmente ou não), em que a estrutura das músicas
raramente segue o convencional verso-refrão (apesar de nunca
esquecer as raízes da pop) e um estilo eclético, inventivo, com
personalidade definida. Criatividade parece não faltar: os quatro
jovens possuem uma clara identidade sónica, sem que isso os
limite a fazer 10 músicas iguais. Ao vivo descarregam toda a
energia que o álbum transporta, proporcionando um grande
espectáculo de música e dança (comprovado pessoalmente).
Esperemos que ainda tenham mais a dar.
Por Gonçalo Louzada
RESISTANCE
The Joy Formidable
The Wolf’s Law
Talvez desconhecidos em grande parte do solo europeu (para
já), os The Joy Formidable são uma das bandas emergentes
no universo rock da Grã - Bretanha. Formados em 2007 no
País de Gales, apresentam um som que oscila entre o rock
alternativo e o grunge, pontualmente temperado com algumas
doses de experimentalismo noise pop. O seu primeiro álbum de
originais foi o aclamado The Big Roar (2011), e Wolf ’s Law é
o trabalho que procura dar continuidade a um bom álbum de
estreia. A abertura fica a cargo de “This Ladder Is Ours”, que
é um excelente indicador do que são os The Joy Formidable,
na maior parte das situações. Um rock direto, in-your-face, mas
que por vezes se perde no experimentalismo exaustivo e
com resultados variáveis. Por resultados variáveis, podemos
entender o brilhantismo de “Maw Maw Song”, e a dispensável
mímica a Sigur Rós de “The Turnaround”. Noutros terrenos
mais próximos da área de conforto dos galeses, “Cholla”,
“Tendons” e “Bats” seguem um som mais agressivo e difuso
e o single “Little Blimp” é um pop/rock dançável de bater o
pé. “The Leopard and The Lung” é o melhor trunfo do álbum,
remanescente dos The Smashing Pumpkins pré-1995. O álbum
apresenta alguns momentos menos conseguidos, que quebram
o ritmo e consistência (“Silent Treatment, “The Hurdle”).
Além disso, não convida ao típico rewind ad infinitum, como
acontecia com o trabalho anterior, o que pode indicar uma
fórmula já gasta em certos aspetos. Ou um álbum que não
corresponde ao anterior. Ou ambos. Wolf ’s Law não é um mau
álbum, longe disso. Mas não posso deixar de compará-lo com
o álbum anterior, por ser claramente inferior. Deixa a pairar no
ar a ideia do que esteve bem próximo de ser mais um registo a
adicionar à lista dos Sophomore Slump, como se diz na crítica
internacional quando o segundo álbum falha em relação ao
primeiro. Não deixa, no entanto, de merecer uma audição, não
só para introduzir à banda, mas também porque há momentos
de relativo brilhantismo entre os mais dispensáveis.
Por João Borba
Jazz em Portugal no Feminino
Por Dr. José Paixão
Testemunhando
a vitalidade do
Jazz em Portugal,
surgiram nos
últimos anos
vários jovens
músicos de
grande qualidade,
com propostas
inovadoras,
que têm ganho
visibilidade em Portugal e no estrangeiro. Para isso têm contribuído os circuitos e festivais de Jazz promovidos por entidades como
a Fundação Serralves ou o JACC – Jazz ao Centro Clube, mas também editoras portuguesas como a Clean Feed, TOAP ou JACC
Records. Não obstante as dificuldades crescentes no mercado da edição discográfica, estas editoras têm mantido uma produção regular
e dado oportunidades aos jovens intérpretes e compositores de gravarem e difundirem o seu trabalho. Também os “veteranos”
têm apoiado a nova geração, em projectos onde a tradição do Jazz se tem cruzado com propostas mais irreverentes e arrojadas. No
feminino, também surgiram vários nomes, com destaque para cantoras como Sara Serpa e Elisa Rodrigues. Elisa Rodrigues editou
o seu primeiro disco pela JACC Records (uma editora de Coimbra) com o título “Heart Mouth Dialogues”. É um disco fresco e
acessível, com interpretações bem conseguidas de alguns standards como “Ain’t no sunshine” ou “Cry me a river”, mas também temas
dos Beach Boys e Nirvana. Destaca-se também neste disco o jovem pianista Júlio Resende, uma das muitas boas revelações dos últimos
anos, que abrilhanta a prestação fluida e segura da cantora. Sara Serpa, jovem cantora actualmente a residir em Nova Iorque, tem já
vários discos gravados e reconhecimento internacional, como atestam as recentes boas críticas ao seu mais recente trabalho no New
York Times, que a caracteriza assim: “Sara Serpa is cool all over, from concept to execution.” No disco intitulado “Aurora” , editado
pela Clean Feed, Sara Serpa interpreta de forma delicada e sensível, acompanhada unicamente ao piano pelo veterano Ran Blake, um
conjunto de temas que incluem “Strange Fruit” e “When Autumn Sings”, celebrizados por Billie Holiday e Abbey Lincoln. A voz de
Sara Serpa, limpa, sem vibrato, e o acompanhamento delicado de Blake conferem a este disco uma atmosfera mágica, simultaneamente
fresca e despojada mas densa e hipnótica. Por último, uma referência para os Ogre, um projecto original em que a veterana cantora
Maria João se junta a um trio de jovens “rebeldes”: Júlio Resende no piano, João Farinha noutros teclados, Joel Silva na bateria e André
Nascimento em “electrónica”. O seu disco “Electrodoméstico” editado pela JACC Records, e parcialmente gravado ao vivo no Salão
Brazil em Coimbra, agrada logo numa primeira audição .
Death Grips _The Money Store
Por Andrey Solovov
Acho que não será um exagero extremo dizer que o epicentro da cultura da Internet é o 4chan
e que /mu/core é o acompanhamento musical, por extensão. Ainda não concluo que /mu/
core transcendeu para o quotidiano, mas o The Money Store, dos Death Grips, foi distribuído
pela Epic Records, uma divisão da Sony. E estamos a falar de pessoal subsequentemente
expulso da editora ao lançar o No Love Deep Web gratuitamente, um ano antes da sua data
de lançamento. Isto após ter obrigado o /mu/ a passar por um ARG no Tor que culminou no
dia 1 de Outubro de 2012 em que mais de 30 milhões de pessoas “sacaram” um álbum cuja capa é uma pénis. Mas não quero divulgar
esse infame, mas sim o anterior, The Money Store, o que efectivamente lhes arranjou os catalisadores para tal proeza. Em “Get Got”
a introdução à paisagem sonora é breve: aos 10 segundos já se está rodeado pelo rítmico caos lo-fi que é a sonoridade prevalente, e
passado um minuto a ciclicidade das 13 faixas pode tratar-se por apresentada. Daqui seguem-se 40 e tal minutos de salva atrás de salva
de sons distorcidos, sintéticos, gravados com um iPhone enquanto se passava pela rua, adulterados com delays e reverbs que nem a
Behringer incluiria nas suas mesas por tão deveras rançosos serem. Tudo pontuado por batidas ambíguas a induzir claustrofobia e
liderado por um vadio a gritar através de inundações de efeitos feios e duas bolas de golfe na boca. O álbum concentra-se exclusivamente
no som. No entando é de hip-hop e tem letras, sobre as quais digo o seguinte: o Stefan Burnett tem um chapéu de papel de alumínio.
Não que isto seja uma crítica, pois tal registo literário enquadra-se bem na música: é directo, confuso e desorientante. A estrutura
das músicas é uma reflexão disto. Enfim, The Money Store funciona pela originalidade com que exibe as suas ideias. É imprevisível
com gosto e infeccioso. Diria até que revoluciona o hip-hop se soubesse mais acerca do mesmo. E não, eles não imitam os Dälek.
RESISTANCE
26
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! AAhh! AAhh! AAhh!
Ah! Ah! Ah!Ah! Ah! ! ! !
Abrir cervejas no tampo da
mesa, à homem!
Jo
ão
Fe Ped
rr ro
ei
ra
HOW TO OPEN A
BEER WITH A TABLE
27
PLACE BEER
THRUST DOWNWARD
ENJOY BEER
RESISTANCE
S
e recentemente foste obrigado pela
tua namorada a assistir ao concerto do
Justin Bieber, lavar a loiça ou até, Deus
tenha misericórdia, pintar-lhe as unhas dos
pés, este artigo é para ti, um compêndio de
medidas que podes tomar para manteres a
virilidade aos olhos dos teus amigos.
No café_Em primeiro lugar, quando
estiveres com os teus amigos a tomar
café, por amor de Deus não espetes o
dedo mindinho ao segurar a chávena. Em
segundo, tomar café deve significar sempre
beber finos à homem! Já agora, o que é
uma imperial? Um homem bebe finos!
A ver a bola_Se ela te ligar quando estás a
ver a bola com os teus amigos não atendas
e fazes de seguida uma piada machista
sobre a situação. (Nota: tens dois minutos
contados para arranjar uma desculpa
qualquer sobre ir mudar a água às filhoses e
ir de imediato à casa de banho ligar-lhe de
volta!) Ao ver a bola, o jogador nunca pinta
o cabelo, faz tranças ou faz desenhinhos
no cabelo e na barba, simplesmente
abichanou.
Em casa_Podes até ceder a lavar a loiça
mas nunca com detergente e parte sempre
um ou dois pratos, à homem! Levar o lixo
à rua sim mas nada de reciclagem; e se
for à luz do dia com pessoas a ver só se
levam as garrafas de cerveja e as caixas de
pizza! Se ela te obrigar a mudar o rolo do
papel higiénico deixa de fazer a cama; e
vice versa. Quando ela se queixar dos teus
pêlos no lavatório e na banheira PEDE
SEMPRE DESCULPA mas depois queixate junto dos teu amigos; riam-se da ironia
desta situação. Se fores forçado a usar
avental compensa com um ou dois dias
em roupa interior pela casa. Se te apetecer
beber leite bebes do pacote e arrotas na
mesma a seguir; o pacote do leite é para se
abrir com os dentes!
Na rua_Em caso de estar a chover, o teu
guarda-chuva deve dizer de ti nada menos
do que “quando bato com a porta a casa
até cai”, caso contrário vais à chuva depois
de o destruires contra um muro, à homem!
Se fores obrigado a transportar a mala
dela compensa com algo mais másculo do
outro lado como um garrafão de vinho, um
capacete de uma mota ou um pau.
No carro_Ao conduzir com o auto-rádio
ligado é janela fechada com Ala dos
Namorados, janela aberta com Xutos
e Pontapés e porta aberta com Quim
Barreiros! Não há cá cães a abanar a cabeça
na chapeleira a menos que sejam cães
verdadeiros; cães mais pequenos que um
gato vão na mala(!); Caso sejas forçado a
ter um desses cães pequeninos a abanar a
cabeça compensa com um saco de cimento
ao lado, por exemplo. Se por acidente
deixares o carro ir a baixo finge que foi
de propósito: grita com quem lá estiver
dentro, bate com a porta e vai-te embora a
pé. Caso viajes sozinho opta por mudar o
pneu, à homem!
Às compras_Se a lista de compras for dela
considera comprar online com entrega ao
domicílio. Caso contrário só se aparece
na caixa com pelo menos duas grades de
cerveja por cada embalagem de quatro
iogurtes de aloé vera!
Após uma discussão com ela_Já sabemos
quem é que ganhou a discussão, de
qualquer maneira dizes aos teus amigos
que és demasiado maduro para continuar
uma discussão sem sentido nenhum e que
quando chegarem a casa é ela quem vai
dormir no sofá.
FIM (murro na mesa!)
Jogos
Portal 2
_Beatriz Gomes
Q
uando um dos
melhores jogos
de sempre retorna
à ribalta com uma
sequela, as expectativas
são altas e Portal 2
não lhes ficou aquém.
Após uma excitante
primeira aventura onde tentamos ficar livres do centro de testes
científicos da Aperture Science, acabamos por nos encontrar
à superfície e, pensamos nós, longe do poder da companhia,
há um bocadinho extra de história, acrescentado após a
criação da sequela, onde podemos ver que somos de novo
arrastados para o edifício. Acordar no mundo de Portal 2 é ver
um quarto fechado, diferente do já familiar centro de testes.
Aqui, recebemos instruções e notamos que nos encontramos
numa espécie de clínica. Após indicações básicas, voltamos a
adormecer. Ao acordar novamente, notamos mudanças drásticas
que nos fazem crer que estamos num mundo pós apocalíptico e,
na verdade, temos conhecimento do mesmo pois conhecemos
uma nova personagem, Wheatley, cuja voz pertence a Stephen
Merchant, um dos escritores da famosa série britânica “The
Office”. Wheatley é a personagem que nos acompanha no início
do jogo e que nos indica onde está a portal gun e podemos
retomar o modo de jogo da prequela. São puzzles de física que
nos fazem considerar as leis da mesma enquanto mexemos com
portais que nos fazem pensar em como chegar ao próximo
nível. Este jogo tem a mesma dinâmica do primeiro mas
apresenta uma história diferente com surpresas e novas adições
ao fantástico mundo da Aperture Science. Como não podia
deixar de ser, vemos presentes a GLaDOS, as turrets e o nosso
companion cube. Contudo, a maior adição no jogo é o modo
de co-op, onde há todo um novo conjunto de puzzles que só
podem ser feitos com a ajuda de um amigo que também tenha
o jogo. Todas as componentes adicionais tornam o Portal 2 uma
experiência divertida e interessante que nos capta do primeiro
ao último nível. O novo leque de personagens apresentado é
inovador e dá sentido a toda a história que rodeia GLaDOS e a
Aperture Science. Considerado um dos melhores jogos de 2011,
faz valer os prémios e dá vontade de continuar a jogar até se
conseguir desvendar todos os puzzles, níveis e desafios que se
atravessam no nosso caminho.
Heavy Rain
_André Bernardes
Aqui o jogador enfrenta um dos desafios
mais arriscados planeados pelo Assassino do
Origami
C
riado pela empresa Quantic Dream
este drama narrativo explora
temas adultos e profundos. Heavy rain
apresenta um enredo pesado onde são
raros os momentos de alegria. Mas
calma, não pensem que o público-alvo
são apenas as pessoas que preferem
ambientes mais sombrios e noturnos,
onde quem manda é o suspense e o
terror, simplesmente envolve áreas
delicadas da vida e pretende que
o jogador se coloque no papel das
personagens e sinta aquilo que elas
sentem. A história começa com uma
família feliz onde Ethan Mars é casado
e pai de dois filhos. Infelizmente a
harmonia sentida no início do jogo
rapidamente deixa de existir quando
o filho mais velho morre por um
pequeno descuido do pai. Ambos os
pais entram num estado de depressão
extrema, levando à sua separação e a
um “afastamento psicológico” do filho
mais novo, Shaun. Mas logo quando
a relação entre pai e filho começa a
progredir, Shaun é raptado pelo infame
Assassino do Origami, um homicida em
série que vitimiza jovens rapazes. Na
sua procura incessável por Shaun, este
terá que passar por inúmeros obstáculos
e desafios provando o seu amor por
Shaun, e esta é a mensagem central da
história - “Até onde estás disposto a ir
para salvar alguém que amas?”. Apesar
de Ethan ser a personagem principal, há
outras quase tão importantes, também
jogáveis e cruciais para o desenrolar
da ação: Norman Jayden é o agente
do FBI responsável pela investigação
do criminoso; Madison Paige é uma
jornalista que tenta descobrir a todo
o custo a identidade do assassino e
Scott Shelby que é um detetive privado
contratado pelas famílias das vítimas
anteriores. Mas o que é que torna
este jogo tão especial? Ao longo do
jogo somos colocados na pele das
personagens e é-nos dado um leque
variadíssimo de hipóteses que irão
influenciar o resto da progressão da
história, havendo então mais de 10
finais possíveis! Por fim resta-me dizer
que Heavy Rain foi um dos jogos mais
marcantes que já joguei (e acreditem que
já joguei imensos :) ), não só pela sua
história envolvente, como também pela
qualidade de imagem e som.
RESISTANCE
28
CRÓNICAS
Esperança_TIAGO GOMES
O tempo urge. Esperança de um dia,
força de uma mente, repouso de uma
alma. Os dias são difíceis, marcados
pela impetuosa crise que faz questão
de revelar uma presença quotidiana e
constante. Sofre-se com o presente,
desenhando um futuro pouco promissor
e inseguro. Fala-se da dívida e da crise,
da obrigação e da necessidade, do
desemprego e do medo; sempre num
pesado ambiente de desânimo e de
desespero, padecendo da falta de vigor,
apenas contrariado por uma finíssima
réstia de otimismo que se desprende
da grande corrente da vida. Esperança
designa essa escassa, mas arrebatadora,
força que reina nos âmagos dos homens,
constituindo-se ao mesmo tempo pilar
29
e corpo, que ignora que se desfaz pelo
sismo e pelo gládio, agarrando-se a todo
o custo à glória dos acasos do Fado que
prometem melhores dias, novos apogeus
e triunfos, tempos áureos e apoteóticos;
procurando coordenar acontecimentos,
jurando prosperidade e fortuna. De
essência e matéria desconhecida, da
esperança apenas se conhecem os efeitos,
apresentando componentes fundamentais
como a fé, a crença ou a sólida
expetativa, uma incessante chama que
arde no âmago de cada um, conduzindoos pelos fragosos e íngremes troços da
existência. Esperança por si só, pura e
plena, ausente de dogmas e preconceitos,
resplandecente sopro que transforma
um derrotado traste num aguerrido
combatente, moldando-lhe a mente e
a visão da vida, metamorfoseando-se
num credo pio, justo e leal, incitando à
perseverança e à resistência. De verde
se orna a difusa essência de névoa,
levantando os ânimos àqueles que não
mais contavam ver o seu esbelto vulto,
possibilitando o alcançar do impossível
infinito que divaga nos confins do frígido
Universo, libertando a humana condição
de se ver cativa dos seus próprios limites.
A esperança é o fulgor dos deuses, o
inexplicável que move e prende, que faz
pela vida e que a preserva. É ela que a
ordena e justifica. Esperança de ser,
de amar e de viver. Esperança louca e
irracional, desmensurada e desmedida.
Esperança imortal.
O pulsar PSR J1614-2230 e a força forte
_DRA. CONSTANÇA PROVIDÊNCIA
Em 2010 é publicado na Nature o trabalho de uma equipa de
cinco físicos que determina com uma grande precisão a massa
do pulsar PSR J1614-2230: 1,97 0.04 MSol [1,2]. Este pulsar
tem um período de 3,15 ms, um raio de 13 2 km e pertence
a um sistema binário, sendo a outra estrela uma anã branca com
uma massa de 0,500 0,006 MSol. Um pulsar emite radiação
numa grande gama de comprimentos de onda ao longo do seu
eixo magnético. Como o eixo magnético e o eixo de rotação não
estão alinhados o sinal chega regularmente ao observatório
com a frequência de rotação da estrela, como se fosse um farol.
A equipa de cientistas verificou que o sinal chegava atrasado
quando a anã branca se posicionava entre o pulsar e o
observatório. Este atraso, conhecido por atraso de Shapiro, é
um efeito previsto pela relatividade geral e permitiu determinar
a massa do pulsar com uma grande precisão. Porque é que esta
medição é tão importante, de tal modo que o artigo já foi citado
em mais de 340 trabalhos científicos? Um pulsar é uma estrela
muito compacta com propriedades muito especiais. O PSR
J1614-2230 tem uma massa dupla da do Sol mas com um raio
de apenas 11-15 km. Uma massa tão grande num volume tão
pequeno implica a existência de densidades muito altas no
interior: poderão ser até cerca de 10 vezes maiores que a
densidade no centro de um núcleo. São densidades que
presentemente nenhum laboratório internacional consegue
atingir. Por exemplo, no Large Hadron Collider (LHC) atingemse temperaturas muito altas e densidades muito baixas. A altas
densidades poderão existir graus de liberdade exóticos: além
dos usuais protões, neutrões, electrões e muões, também bariões
com estranheza, conhecidos por hiperões e que incluem os
Lambda, Sigma e Cascata, ou condensados de Kaões, mesões
que também têm estranheza, ou matéria de quarks desconfinada.
As mais variadas equações de estado com diferentes graus de
liberdade têm sido propostas para descrever estrelas compactas,
mas desde a publicação do trabalho de Demorest et al [1]
apenas as teorias que conseguem prever uma massa da ordem
de 1,97 MSol ou superior são aceitáveis. A “simples” medida da
massa de um astro possibilitou estabelecer fortes restrições a
nível das teorias microscópicas, incluindo a Cromodinâmica
Quântica (QCD), e excluir todas as teorias que não permitem
descrever uma estrela como o PSR J1614-2230.
1- P. D. Demorest, T. Pennucci, S. M. Ransom, M. S. E. Roberts, J. W. T. Hessels, Nature 467, 1081 (2010)
2- http://en.wikipedia.org/wiki/PSR_J1614%E2%80%932230
RESISTANCE
Uma simples reclamação_BERNARDO FABRICA
Estes são os fatos: na nossa vida nunca teremos férias no
espaço. Nunca teremos uma daquelas mochilas com um
motor a jato todas fixes que vimos sempre nos filmes, muito
menos um carro voador. A SIDA muito provavelmente não
terá cura definitiva antes da nossa morte, a gripe comum
igualmente, o cancro muito menos. Isto não vos incomoda?
Em Portugal morrem por ano em acidentes de automóvel
aproximadamente 1000 pessoas. Ou melhor, aquilo que a
chamamos acidentes. Nós metemo-nos conscientemente
dentro de balas que podem pesar até 3 toneladas, que não
somos capazes de controlar a 100% e depois questionamonos como é que algo pode correr mal. Podem-se estar a
perguntar por que razão estou eu a reclamar com isto. Afinal
o mundo não é perfeito, nunca o foi, e provavelmente nunca o
será. Sim, ainda existem crianças a morrer de diarreia devido
a consumo de água pouco potável, mas que fazer? Acontece
que vivemos no século XXI. Para todos os efeitos vivemos
no futuro. Temos máquinas nos nossos bolsos que nos
mantêm contatáveis a toda a hora. Temos computadores com
milhentas vezes mais poder de processamento que aqueles
que levaram o homem à Lua em ’69. Podemos ligar-nos
a uma rede que quebra qualquer fronteira, nos dá qualquer
informação que queiramos. Não há muito tempo atrás uma
mensagem demorava meses a atravessar o mundo. Qualquer
pensamento estúpido de qualquer indivíduo pode atravessar
o globo numa questão de segundos. Imaginámos sempre o
futuro com carros voadores, escravas sexuais robôs (ok, isto
talvez só eu), viagens interestelares e nem nos damos ao
trabalho de olhar para os nossos Iphones. Nascemos com
eles? Não. Nós somos personagens de ficção científica, nós
vivemos no futuro. Mas onde está a minha pistola de raios?
As minhas férias na Lua? A minha nave espacial? Este não é o
futuro que nos foi prometido, alguém o roubou… Ninguém
se pergunta quem?
D. Sebastião ou José Sócrates?_DANIEL MATOS
Mitos: numa manhã de nevoeiro? Enganese pois o caro leitor que acha possível isto
acontecer com o regresso de D. Sebastião.
É uma história bonita mas não passa de
orvalho, humidade e manhãs sem sol,
pois o verdadeiro retornado regressou
num dia limpo, com muito sol e com
uma chuvinha ao cair da noite. Está feito
o anúncio... resta saber se o homem vai
mesmo aparecer. Chama-se José, como o
pai de Jesus, e a sua aparição tem um q.b.
de santidade, pois acontece dias depois
de o novo papa ser eleito (claramente
um sinal de Deus), e no qual a revolta
social e a crise parecem piores do que
nunca. Eis que volta, José Sócrates, com
o nome de filósofo grego e um bonito
primeiro nome, aparece vestido de
comentador político (a segunda aparição
mais usada pelos santos de Deus, a seguir
à virgem Maria) e vem conhecer o céu e
o esplendor da televisão pública, depois
de crucificado pelos Portugueses. Já se
sabia que era um Mártir, já se sabia que
estava em Paris a perceber os porquês da
sua crucificação e até que tinha enviado
um seu discípulo (também ele perito
em cursos instantâneos), um tal de
Miguel Relvas, e por fim volta para ser
canonizado pela RTP, televisão (ainda) do
estado. Talvez aí Miguel Relvas tenha por
objectivo ajudar na santificação do seu
ídolo. Sócrates, Socrátes, Trocaste, Socras
ou Socas, nomes carinhosos dados pelo
seu querido e religioso povo, promete
não receber qualquer remuneração pelo
seu comentário político (excepto aquelas
viagenzinhas para Paris, alimentação e
todas essas “pequenas coisas”), o que
é de louvar, uma coisa que hoje em dia
apenas os santos conseguem fazer, nessa
consciência de não cuspir no prato que já
comeu. Sócrates não quer meter qualquer
euro ao bolso porque os tem ocupados:
no esquerdo terá o seu primeiro diploma
universitário realmente válido (será?)
e no direito terá rendimentos extra do
governo que liderou enquanto pôde e o
FMI não lhe cortava os subsídios. É um
princípio da gatunagem: ladrão não rouba
ladrão. Sinceramente, na minha singela
opinião, José não terá dificuldades para se
habituar a este clima político, uma vez que
o país continua com a corda ao pescoço,
o primeiro ministro não faz nada de
especial para resolver a crise, há sempre
alguém no governo que gosta de fazer
umas brincadeiras e umas gaffes (ah e os
cursos que tira!) e Cavaco Silva continua
a falar imenso. É neste ambiente familiar
que José Sócrates regressa activamente a
Portugal. No entanto terá um trabalho
árduo, José Sócrates, uma vez que se
vê ligeiramente ultrapassado pelo seu
discípulo Miguel Relvas no âmbito das
gaffes políticas e do seu curso. Terá de
se esforçar, mas com determinação pode
obter vitórias importantes neste campo,
pois estará mais tempo exposto a falar
de coisas que julga conhecer. Há ainda
Cavaco Silva que tecerá sempre duras
considerações sobre coisa nenhuma, o
que pode levar a silêncios dolorosos que
José não está habituado a enfrentar. José
Sócrates não terá no entanto o chefe
da oposição a enfrentar, que sempre
conseguiu ludibriar as aspirações de
José e que conseguiu incendiar as suas
palavras. Falo, claro, de Marcelo Rebelo
de Sousa, o professor que não descansa e
que já não fala na RTP, tendo optado pela
TVI. Percebe-se a posição de Marcelo,
uma vez que alguma cultura tinha de ser
dada à TVI nestes últimos anos. Cabe
agora decidir ao leitor se vai consentir
a ascensão de José, Superstar, ou vai
continuar a escutar cultura e comentário
do líder da oposição a qualquer governo,
Marcelo. Será no mínimo espectacular a
disputa das audiências. Salvé José!
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