Nomes estranhos mas acertados

Transcrição

Nomes estranhos mas acertados
a missão é simpática
Nomes estranhos mas acertados
texto Norberto Louro ilustração Mário JoSÉ TEIXEIRA
Aí está mais um ano! A roda
do tempo não pára. O tempo
passa. “Fugit!”, isto é foge,
como diziam os romanos.
Desmontou-se o tempo em
horas, minutos, segundos e
até os próprios segundos em
fracções de centésimas e milésimas. Inventaram-se máquinas para medir o tempo.
Mas amarrá-lo? Isso não!
Ao notar que um lampadário
suspenso do tecto da catedral de Florença se deslocava
adiante e atrás com regularidade exacta, Galileu inventou
o pêndulo para medir e marcar o tempo. A partir daí, no
seu tic-tac imparável, o pêndulo martela o tempo, mas
não o pára. Einstein aplicou a
lei da relatividade ao tempo,
insinuando que ele nem sempre corre com a mesma regularidade e velocidade. Assim
– dizia ele – temos a sensação
que os momentos tristes e funestos nunca mais passam. O
tempo parece parar. Ao passo
que os momentos agradáveis
e aprazíveis somem-se e es­
coam-se num abrir e fechar
de olhos. Quando se espera
uma coisa prazenteira, o tempo nunca mais passa. Pura
ilusão! O tempo não se amarra. Esvai-se com regularidade
estonteante, numa fuga incontrolável para a frente.
Tão para a frente que, um dia,
alguém ficou embasbacado
com a resposta de Galileu,
à pergunta: Quantos anos
tem? Respondeu ele: “Oito
ou dez”. Idade em evidente
contradição com as barbas
farfalhudas e brancas do sábio, que explicou: “De facto,
tenho os anos que me restam
de vida, porque os já vividos
não os tenho mais, como não
temos mais as moedas que já
gastámos”. E é verdade!
Tantas vezes dizemos espantados: “Como passa o tempo!”. Na verdade, somos nós
que passamos. O astrónomo
italiano sabia que estamos
aqui de passagem. Somos
peregrinos e é bom pensar
na meta que nos espera. A
certeza de que o nosso caminhar terreno tem um final, é
o melhor recurso para valorizarmos mais cada dia que
percorremos. Só podemos
aproveitar o que realmente
temos: “O presente!”. Convém desfrutá-lo como se fosse a última oportunidade. O
ontem já se foi e o amanhã
ainda não chegou.
Nada de ser como os velhos,
que gostariam de voltar ao
passado para corrigir o que
não viveram bem. Nada de
ser como os jovens, que só
esperam pelo futuro para serem melhores.
Ano novo, vida nova! Então
será verdadeiramente Ano
bom! Talvez gasta pelo uso,
esta expressão faz-me lembrar certos nomes estranhos
que, em Moçambique, alguns
pais costumavam dar aos filhos, atribuídos em função das
circunstâncias e dos tempos
em que eles nasceram. Eram
comuns os nomes: “Miséria”,
“Castigo” e tantos outros. Há
dois que se fixaram indelevelmente na minha mente: “Ano
Bom” e “Faria Pouco Mais ou
Menos”. Ambos mexeram
muito comigo. O primeiro
deu que falar. Ajudei-o nos
estudos primários e secundários, e cursou Relações Internacionais na faculdade de
Direito de Maputo. Pediu-me
dinheiro emprestado para
conseguir o curso, mas nunca
mais mo restituiu. O que interessa é que tenha singrado na
vida. Aplicando o seu nome a
cada ano que começava, acabou bem.
Quanto ao segundo nome,
também coincidiu bem com a
pessoa a quem foi atribuído.
Simples coincidência de nomes? A verdade é que o “Pouco Mais ou Menos” lhe assentou como uma luva. Como o
Ano Bom que vai começar irá
assentar em todos nós. Tenho
a certeza! Assim seja.
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JANEIRO 2011
FÁTIMA MISSIONÁRIA