Perfil de saúde bucal em crianças portadoras de cardiopatia

Transcrição

Perfil de saúde bucal em crianças portadoras de cardiopatia
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
]]]]
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE NOVA FRIBURGO
Faculdade de Odontologia - FOUFF/NF
DANIELLE SILVA NUNES
MAIARA ALVES FERNANDES
PERFIL DE SAÚDE BUCAL EM CRIANÇAS PORTADORAS DE
CARDIOPATIA
NOVA FRIBURGO
2015
DANIELLE SILVA NUNES
MAIARA ALVES FERNANDES
PERFIL DE SÁUDE BUCAL DE CRIANÇAS PORTADORAS
DE CARDIOPATIA
Monografia apresentada à Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal
Fluminense / Campus Universitário de Nova
Friburgo como Trabalho de Conclusão de
Curso de Graduação em Odontologia.
Orientador: Profa. Dra. APOENA AGUIAR RIBEIRO
Nova Friburgo
2015
N972p
Nunes, Danielle Silva.
Perfil de saúde bucal em crianças portadoras de cardiopatia. / Danielle Silva
Nunes ; Maiara Alves Fernandes ; Profª. Drª Apoena Aguiar Ribeiro,
Orientadora. -- Nova Friburgo, RJ: [s.n.], 2015.
47f. :
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) –
Universidade Federal Fluminense, Campus Nova Friburgo, 2015.
1. Odontopediatria. 2. Saúde bucal. 3. Cardiopatia. I. Fernandes, Maiara
Alves. II. Ribeiro, Apoena Aguiar, Orientadora. III. Título
CDD M617.645
DANIELLE SILVA NUNES
MAIARA FERNANDES ALVES
PERFIL DE SAÚDE BUCAL EM CRIANÇAS PORTADORAS DE CARDIOPATIA
Monografia apresentada à Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal
Fluminense / Campus Universitário de Nova
Friburgo como Trabalho de Conclusão de
Curso de Graduação em Odontologia.
Aprovado em: 07/11/2015
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. ____________________________________________________________
Instituição: Universidade Federal Fluminense Assinatura:______________________
Prof. Dr. ____________________________________________________________
Instituição: Universidade Federal Fluminense Assinatura:____________________
Prof. Dr. ____________________________________________________________
Instituição: Universidade Federal Fluminense Assinatura:_____________________
Nova Friburgo
2015
Dedicatória
Aos nossos pais, amigos e familiares por sempre, ao nosso lado, ajudando e tendo
compreensão. À nossa orientadora Prof. Apoena Ribeiro, pelos conhecimentos
compartilhados e ajuda para enfrentarmos nossas experiências.
Epígrafe
“Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele,o oceano seria menor.”
Madre Teresa
RESUMO
É de grande interesse de estudo o impacto causado pela doença sistêmica na saúde
bucal de uma criança. Sabe-se que pacientes cardiopatas apresentam condições
sistêmicas que os predispõem ao surgimento de infecções por patógenos que
podem estar presentes na cavidade oral. Nosso estudo abordou crianças
cardiopatas com a idade entre 0 e 12 anos, em busca de respostas quanto ao perfil
de saúde bucal, presença de maloclusões e hábitos perniciosos, enquanto fatores
de risco ao surgimento de complicações no estado de saúde geral destas crianças
com necessidades especiais. O presente estudo tratou-se do tipo caso-controle,
sendo a amostra por conveniêcia, com idade pareada. Os pacientes foram divididos
em dois grupos: 1) grupo caso: crianças cardiopatas, atendidas no Instituto Nacional
de Cardiologia (Rio de Janeiro) e no Ambulatório de Cardiopatia da Rede Nacional
de Nova Friburgo; 2) grupo controle: crianças clinicamente saudáveis, atendidas na
clínica de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia da UFF- Nova Friburgo.
Foram realizadas coletas de dados (anamnese e exame dos prontuários médicos) e
exame da cavidade bucal usando um protocolo clínico padronizado. Os resultados
indicaram que a prevalência de cárie no grupo controle é de 75% e se revelou maior
do que no grupo de estudo, com 35%, sendo que o índice de biofilme foi 60%(grau2)
no grupo controle e 70% do grupo caso (graus 2, 3 e 5). Observou-se que 80% do
grupo controle não apresentava maloclusão, no entanto 60% dos pacientes
cardiopatas portavam algum tipo de maloclusão, sendo a mordida aberta e mordida
cruzada as mais prevalente. Já o predomínio de hipoplasia do esmalte dentário foi
observado no grupo de estudo, não tendo nenhum caso em pacientes clinicamente
saudáveis. Ambos os grupos não exibiram m diferença quanto a presença de
hábitos deletérios.. Pode-se concluir que as crianças cardiopatas apresentaram
menor incidência de experiência de cárie e maior incidência de maloclusão e
hipoplasia de esmalte, sendo, talvez, fatores relacionados à condição cardiológica
dos pacientes estudados.
Palavras chaves: cardiopatia; saúde bucal; odontopediatria; cárie dentária;
maloclusão; placa dentária; hipoplasia do esmalte dentário.
ABSTRACT
It is of great interest to study the impact of systemic disease in the oral health of a
child. It is known that these patients have systemic conditions that predispose the
onset of infections by pathogens that may be present in the oral cavity. Our project
addressed children with heart disease at the age between 6 and 12 years old,
seeking answers for the presence of malocclusion, pernicious habits and oral health
index as risk factors to the emergence of complications in the cardiac health of these
children with special needs. This study was treated case-control sample for
coexistence with paired age. There will be a division into two groups, namely: 1) if
group: children with heart disease, attended the National Institute of Cardiology and
Heart Disease Clinic of Nova Friburgo National Network; 2) control group: clinically
healthy children attending the Pediatric Dentistry Clinic School of Dentistry UFFNova Friburgo data collection (history taking and examination of the medical records
of group 1) and examination of the oral cavity using a standardized clinical protocol.
The results indicated that the prevalence of caries in the control group is 75% and
proved higher than in the study group, with 35%, while the biofilm index was 60%
(grau2) in the control group and 70% of group study (grau2, 3 and 5). It was
observed that 80% of the control group did not show malocclusion, but 60% of
patients with heart disease obtained malocclusion, with an open bite and the most
prevalent cross bite. The predominance of enamel hypoplasia appeared in the study
group, having no case in clinically healthy patients. The deleterious habits show no
difference between the two groups. It can be concluded that it is important to the
understanding and knowledge of the dentist as systemic situation of a cardiac child to
meet it in a comprehensive manner, with respect and special care. Encouraging and
teaching the responsible the importance of proper oral hygiene and semi-annual
follow-up to health professionals, preventing future dental problems and decreasing
existence of infectious focus.
Key Words: coronary disease; oral health; pediatric dentistry; dental caries;
malocclusion; dental plaque; dental enamel hypoplasia
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................
08
2. REVISÃO DE LITERATURA..............................................................................................................
09
2.1 Cardiopatia congênita..............................................................................................................................
09
2.2 Cardiopatia adquirida..............................................................................................................................
10
2.3 A cardiopatia, a odontologia e o receio da endocardite infecciosa.........................................................
11
2.4 Odontologia em criança cardiopata.........................................................................................................
13
2.5 Fatores de Risco para crianças cardiopatas.............................................................................................
14
2.5.1 Doença cárie.........................................................................................................................................
14
2.5.2 Doença Periodontal..............................................................................................................................
16
2.5.3 Maloclusão...........................................................................................................................................
16
2.5.4 Hábitos.................................................................................................................................................
17
2.5.5 Hipoplasia do Esmalte..........................................................................................................................
18
4. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................................
21
4.1 Material...................................................................................................................................
21
4.1.1 População Estudada............................................................................................................
21
4.1.2 Critérios de inclusão.............................................................................................................
21
4.2 Métodos...........................................................................................................................
22
4.2.1 Coleta de dados...................................................................................................................
22
4.2.2 Exame dental.......................................................................................................................
22
4.2.3 Análise estatística................................................................................................................
23
5. RESULTADOS.........................................................................................................................
24
5.1 Característica da População estudada...................................................................................
24
5.2 Distribuição quanto ao perfil de saúde bucal..........................................................................
25
5.3 Distribuição em relação a presença de Maloclusão................................................................
29
5.4 Distribuição das amostras quanto aos hábitos deletérios.......................................................
30
5.5 Distribuição de amostra quanto à presença de hipoplasia de Esmalte..................................
32
6. DISCUSSÃO.............................................................................................................................
33
7. CONCLUSÃO...........................................................................................................................
38
8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.............................................................................................
39
8
1 INTRODUÇÃO
A saúde bucal é de fundamental importância para uma melhor qualidade de
vida, variando conforme as condições socioeconômicas dos indivíduos, seus hábitos
de vida (dieta, higiene, entre outros) e história médica. Em crianças com
necessidades especiais, outros fatores interferem na saúde bucal: a existência de
uma enfermidade grave e debilitante com necessidade frequente de hospitalização;
relações de superproteção ou desprezo em relação à criança; ingestão frequente e
prolongada de medicamentos açucarados, sob forma de xaropes e soluções, e
frequente redução do fluxo salivar, contribuindo para a ocorrência e evolução de
lesões de cárie (RIBEIRO, 2000).
Dentre o abrangente escopo de crianças com necessidades especiais, as
crianças portadoras de doenças cardíacas podem manifestar insuficiências
nutricional, circulatória e respiratória, que em alguns casos envolvem limitações que
restringem atividades físicas e motoras (MONTEIRO, 2003). O comprometimento da
saúde bucal, devido à higiene oral precária e presença de doenças como cárie e
gengivite, pode ocasionar diversos problemas a estas crianças, levando até mesmo
uma bacteremia, a qual pode se agravar com consequência de desenvolvimento de
Endocardite Infecciosa.
Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi avaliar as características
do perfil de saúde bucal de crianças cardiopatas e compara-lo com crianças
clinicamente saudáveis, da mesma faixa etária.
9
2 REVISÃO DE LITERATURA
O sistema cardiovascular realiza a circulação sanguínea através dos vasos e
capilares pulmonares e sistêmicos, com o propósito de troca de oxigênio, gás
carbônico, nutrientes, produtos de degradação e água nos tecidos periféricos e nos
pulmões (LEVITZKI, 1995; NUNN,1987). O sistema cardiovascular é composto pelo
coração e dois sistemas vasculares: as circulações sistêmica e pulmonar. O coração
possui os ventrículos direito e esquerdo que funcionam como bombas em série,
ejetando sangue através de dois sistemas vasculares – a circulação pulmonar de
baixa pressão, onde ocorre a troca gasosa, e a circulação sistêmica que distribui
sangue aos órgãos individuais, suprindo as suas demandas metabólicas. O fluxo e a
pressão sanguínea estão sob intenso controle do sistema nervoso autônomo.
(LEVITZKI, 1995).
O sistema cardiovascular tem diversas funções, dependendo dos tecidos e
órgãos que recebem seus suprimentos. A transferência de oxigênio e gás carbônico
entre os pulmões e os tecidos periféricos é a principal função deste sistema.
(LEVITZKI, 1995; NUNN JF,1987).
2.1 CARDIOPATIA CONGÊNITA
A cardiopatia congênita é uma má formação estrutural ou funcional do sistema
cardiovascular, com etiologia multifatorial, presente logo ao nascimento da criança
ou durante o período fetal. Esta pode ser classificada em cianótica e acianótica
(GASPARETO et al,2013).
Podem ser assintomáticas, permitindo que a criança tenha uma qualidade de
vida normal e melhor à criança, ou sintomáticas, acarretando um estilo de vida
atípico, com problemas ao se desenvolve o sistema psicomotor (juntamente com
cognitivo), presença de cianose, crises de dispneia e baixa resistência física
(SANTOS, 1997). Como exemplo de cardiopatias congênitas temos uma variedade
de malformações anatômicas e consequentemente funcionais (HARRYS, 2000).
10
Em diversos casos as crianças são submetidas a cirurgias de grande porte,
para que o coração possa ter sua função fisiológica em melhor andamento.
Entretanto, mesmo após a cirurgia, muitas crianças continuam necessitando de
assistência médica por tempo prolongado e/ou novas intervenções cirúrgicas
(SANTOS, 2000).
As crianças com cardiopatia congênita geralmente são desnutridas e
apresentam algum grau de comprometimento funcional e/ou estrutural dos órgãos
(VIEIRA, 2006). A sobrevida de crianças portadoras de cardiopatias congênitas teve
um aumento considerável devido ao avanço tecnológico (DAMAS et al,2009). No
entanto, o atendimento de suas necessidades (alimentação, atividade física, cuidado
à saúde bucal, etc) é um tópico que ainda merece atenção.
2.2 CARDIOPATIA ADQUIRIDA
As cardiopatias adquiridas ocorrem após o nascimento e incluem: febre
reumática, cardiomiopatias, endocardite bacteriana, miocardite, pericardite e doença
de Kawasaki (SILVA e PEREIRA, 1997).
A febre reumática é considerada uma das causas comum de doença cardíaca
infantil e juvenil adquirida e geralmente está associada à pobreza e, em especial, às
condições precárias de habitação e aos agrupamentos, e cuidados médicos
inadequados em países em desenvolvimento (SILVA e PEREIRA, 1997).
Caracteriza-se por uma doença inflamatória multissistêmica, com complicação tardia
de uma infecção da orofaringe, comprometendo as articulações, o coração, e, em
alguns casos, o sistema nervoso central, pele e tecido subcutâneo (TANAKA et al.,
2000).
A endocardite bacteriana é uma doença caracterizada pela infecção do
endocárdio, que leva ao aparecimento das chamadas vegetações e à destruição dos
tecidos cardíacos. Tal patologia representa uma causa importante de morbidade e
mortalidade, apesar de todos os avanços na terapia antimicrobiana; sendo, portanto,
de grande interesse na prática médica (DAJANI et al., 1997).
11
2.3 A CARDIOPATIA, A ODONTOLOGIA E O RECEIO DA ENDOCARDITE
INFECCIOSA
A cavidade bucal, considerada porta de entrada do corpo humano, é fonte
de milhares de microrganismos componentes do biofilme dental (PASTER et al,
2001). Com a saúde bucal comprometida e a presença de focos infecciosos na
cavidade bucal, como cárie e doença periodontal, bactérias migram para a corrente
sanguínea, caracterizando a bacteremia. Uma vez estabelecida, agentes infecciosos
podem invadir superfícies endocárdicas, causando a Endocardite Infecciosa, que
produz inflamação e danos que envolvem, geralmente, as válvulas cardíacas.
Apesar de infecção incomum, é uma doença potencialmente fatal com taxa de
mortalidade de 27%. (PALLASCH, 1989; KUYVENHOVEN et al, 1994).
Uma estimativa revelou que cerca de 10.000 a 15.000 novos casos de
endocardite infecciosa são diagnosticados, anualmente, nos Estados Unidos
(BAYER, 1993). Foi verificado que a taxa de mortalidade da endocardite infecciosa
aumentava de acordo com a idade, variando de 40% para crianças a 80% em idosos
(WATANAKUNAKORN, 1973). Essa doença é caracterizada pelo surgimento de
manifestações clínicas cardíacas, podendo ainda ocorrer alterações pulmonares,
oftalmológicas e vasculares.
A endocardite subaguda é caracterizada por adinamia, perda de peso,
febrícula e palidez cutâneo-mucosa. Já os sinais e sintomas clínicos observados na
forma aguda são: início súbito de febre alta com calafrios, sudorese e fenômenos
trombo-embólicos, como Lesões de Janeway (máculas hemorrágicas, indolores, nas
plantas dos pés e palmas das mãos) e Nódulos de Osler (lesões endurecidas,
elevadas, dolorosas, observadas nas pontas dos dedos, palmas das mãos e plantas
dos pés). Também podem ser observadas alterações oftalmológicas, como Manchas
de Roth, que são caracterizadas por lesões pálidas e ovalares na retina
(HEIMDAHL, & NORD, et al., 1990). As manifestações clínicas podem ser
infecciosas, cardíacas, pulmonares, cutâneas, oftalmológicas, vasculares ou
abdominais. Os sintomas clássicos também incluem febre, anemia, culturas de
sangue positivas e sopro cardíaco (LITTLE et al., 2002). Além de outros sintomas,
de acordo com Lam et al, (2008) como a perda de peso, fadiga, sudorese noturna,
anorexia e artralgia.
12
Os pacientes cardiopatas possuem, como principais fatores de risco, as
lesões do endocárdio provocadas por doenças congênitas ou adquiridas, em que se
tem deposição de plaquetas e de fibrina, favorecendo a colonização bacteriana
(ROSE et al., 2002). Entretanto, estudos demonstram que a bacteremia transitória
atribuída aos procedimentos diários de mastigação e higiene bucal apresentam um
risco muito maior à endocardite bacteriana, em detrimento aos procedimentos
odontológicos (GUNTHEROTH, 1984). Assim, a endocardite bacteriana pode ser
resultado de uma simples falha das defesas do organismo em resposta a um dos
milhares de episódios de bacteremia que ocorrem durante toda a vida do indivíduo
(PALLASCH, 1989).
De acordo com a American Heart Association, em suas orientações
publicadas no ano de 2007, a bacteremia resultante de atividades diárias é muito
mais susceptível a causar endocardite infecciosa do que a bacteremia associada a
um procedimento dentário. Diante disto, as orientações sobre a profilaxia antibiótica
foram revistas. Inicialmente, nas diretrizes da American Heart Association (AHA) em
1997, era proposto uma profilaxia antibiótica, direcionada contra os microrganismos,
em sua maioria Streptococcus viridans (causa mais comum de endocardite
infecciosa), com uma dose de ataque (dose única) de antibióticos como amoxicilina,
ampicilina e penicilina V, sendo a amoxicilina mais indicada por ser melhor absorvida
pelo trato gastrointestinal a fim de reduzir as fontes potenciais de bacteremias
(DAJANI et al, 1997).
Atualmente
prevê-se apenas em pacientes com doenças cardíacas
subjacentes associadas ao alto risco de eventos adversos de endocardite infecciosa
em procedimentos odontológicos. Não é mais recomendado para aqueles com
qualquer outra forma de doença cardíaca congênita. É ainda recomendada para
todos os procedimentos odontológicos que envolvem a manipulação de tecido
gengival ou a região periapical dos dentes ou a perfuração da mucosa oral, mas
somente para pacientes com alto risco de eventos adversos de endocardite
infecciosa. Não é mais necessária para anestesias de rotina por meio de tecidos não
infectados, radiografias, colocação de aparelhos protéticos ou ortodônticos
removíveis, ajuste de aparelhos ortodônticos, colocação de braquetes ortodônticos,
extração de dentes decíduos ou hemorragias por trauma em lábios ou mucosa oral
(LAM et al., 2008).
13
Segundo Pallasch, (1989) o uso de antissépticos, como solução de
digluconato ou cloridrato de clorexidina a 0,2%, deve ser empregado imediatamente
antes dos procedimentos odontológicos na forma de bochechos suaves, reduzindo a
magnitude das bacteremias. Deve-se evitar, entretanto, o uso contínuo ou repetido
desses agentes em intervalos frequentes, pois isso pode ocasionar a seleção de
microrganismos residentes.
Dependendo do estado da saúde bucal do indivíduo de risco, as
endocardites podem se desenvolver a partir de bacteremias provocadas por
procedimentos usuais, como escovação dental e mastigação ou, principalmente, por
intervenções cirúrgicas; desde que haja envolvimento de superfícies mucosas ou
outros tecidos contaminados por microrganismos sabidamente envolvidos nessa
doença (DAJANI et al., 1997). Lam et al, (2008) diz que a manutenção da saúde e
higiene oral pode reduzir a incidência de bacteremia nas atividades diárias e é mais
importante do que os antibióticos profiláticos para um procedimento odontológico na
redução do risco de endocardite infecciosa.
Para o tratamento da Endocardite é preciso que o paciente seja internado,
onde irá receber antibióticos venosos e, em alguns casos necessitam de cirurgia
cardíaca, quando o quadro clínico for desfavorável. O prognóstico depende de
fatores como: virulência do microrganismo infectante; idade e estado geral do
paciente; estruturas valvares envolvidas; duração da infecção e presença de
complicações (MAGALHAES et al,2012)
2.4 ODONTOLOGIA EM CRIANÇAS CARDIOPATA
Os problemas dentários e doença cardíaca congênita são fatores
importantes que afetam adversamente a qualidade de vida da criança. Estima-se
que aproximadamente oito de mil nascidos vivos são portadores de doença cardíaca
congênita (CATEKIN et al,2015). De acordo com um estudo feito em 4.538
pacientes, no ambulatório de cardiologia pediátrica do Hospital Infantil Pequeno
Príncipe, Curitiba (PR), estima-se que 1.961 crianças (43,8%) apresentava
cardiopatia congênita, confirmadas ao menos pelo ecocardiograma com Doppler
colorido. (MIYAGE et al ,2003).
14
O diagnóstico precoce, os avanços na assistência neonatal e as taxas de
sucesso crescentes no tratamento cirúrgico resultaram na sobrevivência de recémnascidos com anomalias congênitas anteriormente
fatais. O
aumento
da
sobrevivência dessas crianças é uma especial luta entre os odontopediatras, que
precisa fornecer a essas crianças atendimento odontológico seguro e apropriado
(TASIOULA et al.,2008).
Alguns problemas odontológicos acarretados por causa da doença cardíaca
são de extrema relevância para os dentistas. Dentre eles, a endocardite bacteriana
frequentemente tem sido atribuída por procedimentos odontológicos (WAHL et
al.,2005).
A importância de um acompanhamento odontológico desde os primeiros
anos de vida, principalmente em pacientes sistemicamente comprometidos, se dá
porque há um maior risco de apresentar a doença cárie, tanto pela dieta infantilizada
quanto pelo uso crônico de medicamentos que contêm açúcar (ASSUNÇÃO et
al.,2008).
Além disso, crianças portadoras de doenças cardíacas podem manifestar
insuficiências nutricional, circulatória e respiratória, que em alguns casos envolvem
limitações que restringem atividades físicas e motoras (MONTEIRO, 2003).
2.5 FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À SAÚDE BUCAL, PARA CRIANÇAS
CARDIOPATAS
2.5.1 Doença cárie
A cárie é considerada uma doença causada por acúmulo de biofilme
(RIBEIRO, 2000) e os fatores de risco incluem a experiência com flúor, condições
socioeconômicas, uso de medicações, hábitos alimentares, fluxo salivar anormal,
presença de doença crônica, e técnicas de higiene oral (FOSTER e FITZGERALD,
2005).
Entendendo que a higiene bucal deficiente e infecções periapicais e
periodontais são fatores de risco para bacteremias, mesmo na ausência de
15
procedimentos odontológicos (DAJANI et al., 1997; HALLET, RADFORD e SEOW,
1992, YOUNESSI et al., 1998), os indivíduos com risco para a endocardite devem
ser orientados de forma a manterem sua cavidade bucal livre de doenças.
Porém, Berger (1978) e Hallet, Radford e Seow (1992), ao analisarem o
estado de saúde bucal de crianças com doenças cardíacos congênitas, verificaram
que estas apresentavam maiores índices de acúmulo de biofilme dental e
significantemente maior experiência de cárie, quando comparadas a pacientes
infantis clinicamente saudáveis. Dados epidemiológicos de crianças brasileiras
corroboram com esses estudos. Da Silva et al (2002) revelam que, das crianças
avaliadas que apresentaram risco de desenvolverem endocardite infecciosa, a
grande maioria, apresentava biofilme dental espesso (98%) e sangramento gengival
(99%). Do mesmo modo, a experiência de cárie observada nesse estudo foi elevada.
O índice ceod médio das crianças foi de 2,62 (a média de dentes decíduos cariados,
esfoliados ou obturados dividida pelo número total de dentes), enquanto a média de
dentes permanentes cariados, perdidos ou obturados, foi 3,97 (índice CPOD). Esses
autores também observaram que o conhecimento dos responsáveis por essas
crianças quanto à relação entre saúde bucal e o risco de desenvolvimento de
endocardite infecciosa também era limitado. Assim, foi observado que apenas 41,3%
dos responsáveis entendiam a importância de se manter saúde bucal para a
prevenção dessa doença, e somente 24,3% das crianças examinadas haviam ido ao
dentista previamente para receber tratamento e/ou educação em saúde bucal.
Esses dados são extremamente preocupantes, uma vez que, como já
mencionado, os procedimentos de rotina, como mastigação e escovação, podem
levar a bacteremias. E mais, a manipulação simples dos tecidos por profissionais,
como sondagem periodontal, anestesia local, extrações simples e restaurações,
pode promover sangramentos importantes, predispondo a bacteremias associadas a
cepas envolvidas em endocardite.
A saúde geral, assim como a qualidade de vida nessas crianças clinicamente
comprometidas pode ser significativamente afetada devido à cárie dentária não
tratada. A higiene oral é muitas vezes esquecida pelos pais das crianças que sofrem
cardiopatia devido as dificuldades da saúde sistêmica do filho. Visitas regulares ao
dentista devem ser realizadas semestralmente desde cedo, pois é importante para a
identificação precoce de risco de cárie dentária nessas crianças. A melhoria da
16
saúde bucal neste público infantil é uma prioridade para a qual devem ser
desenvolvidas algumas estratégias. Uma das principais razões para se concentrar
na prevenção da cárie é o aumento da vulnerabilidade global destas crianças para
procedimentos de tratamento que possam gerar estresse (GARG et al, 2015).
2.5.2 Doença Periodontal
A periodontite é uma infecção multifatorial, causada por um grupo de
bactérias gram-negativas presentes na superfície dos dentes e no biofilme da placa
bacteriana. O desenvolvimento da doença periodontal depende das respostas imune
do hospedeiro, tendo em vista que a crianças cardiopatas estão comprometidas
imunologicamente, já se encontram susceptíveis a esta doença bucal (BARROS,
2011).
Além desta visão, Barros, (2011) quando a doença periodontal se manifesta
na população infantil, a doença se desenvolve de maneira mais agressiva e de
rápida progressão, levando a perda do tecido de suporte ou até mesmo a perda do
elemento dental. Outro aspecto a ser observado, que tendo um reservatório mais
agressivo de bactérias no meio bucal, pode ocorrer um bacteremia agravando- se
para um Endocardite Infecciosa (HAAG, 2011).
2.5.3 Maloclusão
A oclusão dentária normal é um complexo estrutural constituído, pelos dentes
e maxilares, e tem como característica uma relação normal dos chamados planos
inclinados oclusais dos dentes que se acham situados, individualmente e em
conjunto, em harmonia arquitetônica com seus ossos basais e com a anatomia
cranial, que apresentam pontos de contatos proximais e posições axiais corretas, e
se acompanham com crescimento, desenvolvimento, posições e correlações
normais de todos os tecidos e estruturas circundantes (STRANG et al, 1957).
Segundo Angle (1907) a oclusão dentária normal pode ser definida como a relação
17
dos planos inclinados oclusais dos dentes, quando os maxilares estão fechados.
Já maloclusão é caracterizada por todo e qualquer desvio da oclusão dentária
denominada normal (STRANG, 1957).
Os resultados de um estudo realizado por Hallett e Radford, em 1992, ao
comparar a presença de maloclusão entre crianças cardiopatas e crianças
saudáveis verificaram que trinta e um (94 %) dos pacientes do grupo controle
apresentaram oclusão normal, e dois (6 %) tinham mesio-oclusão. Enquanto no
grupo caso, de crianças cardiopatas, apenas 26 (67%) apresentaram oclusão
normal, 11 (28%) mesio-oclusão, e dois (5%) disto-oclusão. Estes autores
concluíram que as diferenças na prevalência de maloclusões foram estatisticamente
significativas. Além disso, houve também uma maior prevalência de apinhamento no
grupo de crianças cardiopatas, em comparação ao grupo controle.
2.5.4 Hábitos bucais
Hábito é a repetição de um ato que, com o passar do tempo, pode levar a
consequências
indesejáveis.
Podem
ser
classificados
como
normais
ou
indesejáveis. Quando normais, contribuem para uma oclusão normal favorecendo o
crescimento facial, sem desvios. Quando indesejáveis, as funções bucais constituem
fatores etiológicos alterando a oclusão do padrão normal de crescimento
(BENGTSON, 2006).
Dentre os hábitos, a sucção é um reflexo inato que pode ser desenvolvido
pelo feto, ainda dentro do útero materno, durante a alimentação este reflexo visa à
ingestão do leite materno. Esse hábito é fisiológico em todas as crianças, desde o
nascimento até cerca de dois anos de idade, de acordo com a necessidade
individual de sucção e do desenvolvimento social da criança. Porém, quando o
hábito ultrapassa a fase de sucção, prolongando-se durante a fase de mastigação e
no período da dentição mista, pode ocasionar mudanças no crescimento e
desenvolvimento nas dentições e na face. Quando isso acontece, o hábito torna-se
nocivo e deve ser eliminado, porém deve-se considerar que a eliminação brusca ou
traumática pode ter uma resposta negativa e originar até um sentimento de
18
inferioridade ou culpa na criança, podendo levar ao desenvolvimento de um novo
hábito (VIEIRA, 2006).
A sucção digital é considerada comum, percebendo-se que muitos bebês
chupam o dedo no útero mesmo antes de nascer. O desenvolvimento de sucção até
uma fase da infância é normal e deve desaparecer entre 1 e 3 anos e meio de idade
(DELASSUS, 2001).
As formas mais comumente utilizadas para remoção do hábito de sucção são
a aplicação de substância com sabor desagradável nos dedos de sucção, a troca
pela chupeta com algodão na parte a ser succionada, o uso de esparadrapo, gaze
nos dedos comuns a sucção e o uso de pijamas de manga longa que ultrapasse
duas vezes o tamanho do braço da criança. Este hábito trará consequências
estéticas e funcionais maiores que o do uso da chupeta quando os dentes decíduos
começarem a erupcionar (CORRÊA, 2005).
Segundo Clemente et al., em um estudo realizado em 2001, a criança
portadora de cardiopatia pode apresentar características clínicas que geram
dificuldades para a sua alimentação, tais como problemas respiratórios e hipóxia.
Além disso, tem ganho de peso menor, quando comparado ao de crianças sem a
doença, pois sua taxa metabólica é aumentada pela má função cardíaca e
subsequentes aumentos das frequências cardíaca e respiratória. As mães dos
pacientes alegaram que as dificuldades respiratórias são de tal ordem, que causam
a interrupção da amamentação. Tal fato foi reforçado pelos depoimentos das mães
das crianças não cardiopatas, para as quais dificuldades respiratórias não foram
causa de desmame.
2.5.5 Hipoplasia do esmalte
Hipoplasia é o defeito quantitativo do esmalte, resultante da deposição
insuficiente de matriz orgânica durante a amelogênese. A deficiência nutricional é
um fator sistêmico de formação das hipoplasias. O leite materno é o primeiro veículo
de oferta de nutrientes para o indivíduo, porém, este nem sempre garante uma
nutrição completa do recém-nascido. Também está relacionada diretamente à
19
hipoplasia de esmalte, a deficiência de cálcio e fosfato no período neonatal em
crianças nascidas prematuramente abaixo do peso normal (VILLAS 2010).
Diversos fatores sistêmicos relacionados ao aumento na incidência de
hipoplasias de esmalte podem ser citados, como distúrbios neonatais, parto
demorado, estresse e sífilis congênita. Clinicamente pode apresentar-se como um
ponto ou uma linha horizontal, cuja superfície é rugosa a sondagem. O
manchamento do dente é geralmente de extensão delimitada, com formato oval ou
arredondado em superfícies lisas livres, (SHAFER et al., 1987), acometendo ambas
dentições, por vezes, acomete um único dente. (MCDONALD e AVERY,2001;
CAMPOS et al., 2004).
Os dentes hipoplásicos apresentam sulcos, depressões, fossetas ou, até
mesmo, grandes áreas de esmalte perdido, dependendo da intensidade e extensão
da agressão (SARNAT e SCHOUR, 1941; SARNAT e SCHOUR, 1942; GIRO, 1947;
SUCKLING, 1989; COSTA et al., 1997; NEVILLE et al., 1998; LASKARIS, 2000;
CAMPOS et al., 2004). A forma mais frequente de manifestação da hipoplasia é a
presença de sulcos ou depressões, organizados em fileiras horizontais ou verticais
na superfície do esmalte, cuja coloração pode variar do amarelo ao castanho-escuro
(COSTA et al.,1997)
Segundo MCDonald e Avery, em 2001, a hipoplasia leve gera fossetas na
superfície do esmalte ou no desenvolvimento de uma linha horizontal circundando a
coroa. Se a atividade ameloblástica for interrompida por um período mais longo,
poderá ocasionar a formação de áreas de esmalte irregular e imperfeito.
A localização da lesão vai depender do período de formação ou calcificação
da matriz do esmalte na qual o agente causal esteja interferindo, já a extensão da
lesão vai depender principalmente do tempo de atuação do agente agressor (Giro,
1947). A distribuição da hipoplasia do esmalte acontece mais no terço médio de
todos os dentes permanentes causando estética desfavorável, sensibilidade
dentinária aumentada, maloclusão e predisposição à cárie dentária (SARNAT e
SCHOUR, 1941; SARNAT e SCHOUR, 1942; COSTA et al., 1997). Através da
localização da hipoplasia do esmalte no dente irrupcionado, pode-se determinar a
idade aproximada em que ocorreu a alteração no órgão do esmalte, através da
utilização das tabelas de cronologia do desenvolvimento dentário (SUCKLING,
1989).
20
Se tratando de etiologia sistêmica estão envolvidos todos os dentes em
desenvolvimento durante a época de atuação do fator etiológico. Fissuras
labiopalatais, desordens nutricionais (deficiências das vitaminas A, C e D, cálcio e
fósforo), distúrbios metabólicos (hipotireoidismo, hipoparatireoidismo hipocalcemia,
hiperbilirrubinemia, distúrbios gastro intestinais, síndrome nefrítica e doenças
cardíacas), infecções (sífilis, rubéola, pneumonia, sarampo, varicela e escarlatina),
terapia antineoplásica, lesões cerebrais e defeitos neurológicos, são considerados
fatores etiológicos sistêmicos (COSTA et al., 1997; NEVILLE et al., 1998;
LASKARIS, 2000; MCDONALD e AVERY, 2001).
Em um estudo feito por Franco em 1996, observou-se um índice de cárie
elevado em crianças cardiopatas, associado a defeitos de desenvolvimento como
hipoplasias e descalcificações.
Os métodos de tratamento utilizados para reabilitação de hipoplasia de esmalte
sistêmica dependem da extensão do processo carioso associado à hipoplasia de
esmalte. Pequenas lesões de cárie e áreas pré-cariosas podem ser restauradas com
materiais resinosos, enfatizando que a restauração é sempre restrita a área
envolvida. Em caso de dentes decíduos e permanentes que apresentam amplas
áreas de esmalte defeituoso e dentina exposta, logo que irrompam podem se
apresentar sensíveis, nessa época restaurações satisfatórias são praticamente
impossíveis, então pode-se realizar a aplicação tópica de fluoreto etanoso a 8% para
provocar à redução da sensibilidade dos dentes afetados (MCDONALD , 1977;
COUTINHO e PORTELLA, 1995). Franco et al. (2001), citaram o uso de diversas
técnicas, propostas para resolver casos de manchamento dentário, tais como:
clareamento dental, restaurações diretas e indiretas em resina composta,
microabrasão
e
porcelana.
selecionadas
quando
o
Porém,
dente
não
técnicas menos invasivas podem ser
estiver
brutalmente
danificado,
pois
procedimentos restauradores estão indicados em casos de manchamento severo ou
perda de estrutura dentária.
21
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1 MATERIAL
4.1.1 População Estudada
Participaram do projeto crianças e adolescentes, com idade entre 0 e 20
anos, atendidas no ambulatório de cardiopatia da Rede Municipal de Saúde de Nova
Friburgo, RJ, e no Instituto Nacional de Cardiologia em Laranjeiras que apresentam
diagnóstico definitivo de cardiopatia e risco para o desenvolvimento de endocardite
infecciosa.
Para inserção no projeto, os responsáveis de todas as crianças deveriam
assinar o consentimento livre e esclarecido do responsável, permitindo a
participação da criança no presente projeto.
Os pacientes deste projeto foram estritamente tratados de acordo com a
resolução CNS 196/96, tendo a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa desta
Instituição, sob o parecer número 345.625, recebendo todas as informações
referentes ao estudo (processo CEP/UFF número 298.675).
4.1.2 Critérios de inclusão
1. Para participarem do projeto, os pacientes necessitavam apresentar condição
cardíaca, de acordo com os critérios descritos pela American Heart
Association (LAM et al, 2008):
1.1. Condições cardíacas com maior risco de efeitos adversos resultado de
endocardite infecciosa e para o qual procedimentos odontológicos profiláticos
são recomendados:
• Prótese de válvula cardíaca
• Endocardite infecciosa anterior
• Transplante cardíaco com subsequente valvulopatia cardíaca
•Doenças Cardíacas Congênitas:
- Doença cardíaca congênita cianótica não reparada, incluindo
desvios paliativos e condutas
22
- Defeito cardíaco congênito completamente reparado com
material protético ou dispositivo, seja colocado por cirurgia ou por
intervenção de cateter, durante os primeiros 6 meses após a
procedimento
- Doença cardíaca congênita reparada com defeitos residuais no
local ou adjacente ao local de uma prótese patch ou dispositivo
protético (que inibem endotelização)
4.2 MÉTODOS:
4.2.1 Coleta de dados
Após os responsáveis preencherem o consentimento livre e esclarecido e os
dados de identificação do paciente, o responsável participou de entrevista para o
preenchimento de uma ficha de anamnese, contendo perguntas de identificação do
paciente, informações importantes sobre a história médica e odontológica, hábitos
de saúde bucal e frequência com que visita o hospital.
4.2.2 Exame dental
Os exames das condições bucais foram realizados pelas alunas envolvidas,
previamente treinadas e calibradas pela orientadora deste estudo, e supervisionadas
pela professora orientadora. O exame foi efetuado nas clínicas da Faculdade de
Odontologia da UFF, Nova Friburgo-RJ e no Instituto Nacional de Cardiologia de
Laranjeiras.
Foram utilizados para os exames: espelhos planos, sondas periodontais,
sondas exploradoras e gaze, previamente esterilizados. Foram avaliados: índice de
acúmulo de biofilme, de acordo com Ribeiro et al. 1999 (tabela 1), presença de
doença cárie (de acordo com o critério da OMS modificado, considerando mancha
branca como lesão de cárie.); presença de doença periodontal (Ribeiro et al 2002);
presença de lesões em tecidos moles bucais (Ribeiro, 2000), maloclusão
(MOYER,1991) hábitos e necessidade de tratamento odontológico. Radiografias
foram realizadas, se necessárias.
23
As crianças que apresentaram presença de doença cárie, periodontal ou
lesões bucais tiveram o médico responsável notificado quanto à necessidade de
tratamento. Seus responsáveis e as próprias crianças receberam informações
quanto aos meios de manutenção de saúde bucal e prevenção, e encaminhadas
para atendimento e tratamento pelo projeto de extensão “Odontopediatria
Hospitalar”, da UFF-Nova Friburgo, sob coordenação da Profa. Apoena Ribeiro e no
Instituto Nacional de Cardiologia pela responsável da sessão de Odontopediatria
Dra. Elisângela Lins Pimentel.
4.2.3 Análise estatística
Análises de incidência e prevalência foram realizados utilizando o programa
Excel (Microsoft Co.).
24
5 RESULTADOS
5.1 CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ESTUDADA
Participaram deste estudo 20 pacientes cardiopatas, sendo 3 atendidos no
ambulatório de cardiopatia da Rede Municipal de Saúde de Nova Friburgo, RJ,
participantes do projeto “Odontopediatria Hospitalar” da UFF/NF e 17 atendidos no
Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras. Destes, 12 eram meninos (60%) e 8
eram meninas (40%), conforme o gráfico 5.1.1. Este grupo representou o grupo
caso.
O grupo controle constou de 20 pacientes sistemicamente saudáveis, com
idade entre 0 e 12 anos, atendidos na Clínica de Odontopediatria II da UFF de Nova
Friburgo. Dos 20 pacientes, 12 eram meninas (60%) e 8 meninos (40%), conforme
apresenta o gráfico 5.1.2.
Gráfico 5.1.1: Distribuição da amostra do grupo caso, de acordo com o gênero.
25
Gráfico 5.1.2: Distribuição da amostra do grupo controle, de acordo com o gênero.
Os pacientes que apresentavam dentição decídua no grupo caso eram 5 e 15
eram os pacientes que apresentam dentição mista. Os pacientes do grupo controle
que apresentavam dentição decídua eram 7 e 13 eram os pacientes que apresentam
dentição mista.
5.2 DISTRIBUIÇÃO QUANTO AO PERFIL DE SAÚDE BUCAL
Dos 20 pacientes do grupo caso, 7 apresentaram biofilme grau 2 (35%), 4
apresentaram biofilme grau 3 (20%), 3 apresentaram biofilme grau 1 (15%), 3
apresentaram biofilme grau 5 (15%) e 3 não apresentaram biofilme visível (15%),
conforme o gráfico 5.2.1.
Dentre os 20 pacientes do grupo controle, 12 apresentaram biofilme grau 2
(60%), 5 apresentaram biofilme grau 1 (25%) e 3 não apresentaram biofilme visível
(15%), conforme o gráfico 5.2.2
.
26
Gráfico 5.2.1: Distribuição da amostra do grupo controle, de acordo com biofilme dentário.
Gráfico 5.2.2:Distribuição da amostra do grupo controle, de acordo com biofilme dentário.
A prevalência de pacientes com atividade de cárie no grupo caso, como
podemos observar no gráfico 5.2.3, foi de 35%. Quanto à experiência de cárie, foi
observado menor índice tanto em dentes permanentes quanto em decíduos. O
27
índice CPOD-m observado foi 3,57 e cedo-m 2,25, conforme apresentado no
gráfico 5.2.5.
No grupo controle, a prevalência de pacientes com atividade de cárie, como
podemos observar no gráfico 5.2.4, foi de 75%. Quanto à experiência de cárie, foi
observado alto índice tanto em dentes permanentes quanto em decíduos. O índice
CPOD-m observado foi 7,23 e cedo-m 6,14, conforme apresentado no gráfico 5.2.6.
Gráfico 5.2.3: Distribuição da amostra do grupo caso, de acordo com a experiência de cárie.
Gráfico 5.2.4: Distribuição da amostra do grupo controle, de acordo com a experiência de cárie.
28
Grupo caso
Série1
3,57
2,25
CPOD-modificado
Ceod-modificado
Gráfico 5.2.5: Distribuição da amostra do grupo caso, de acordo com os índices CPOD-m e cedo-m.
Grupo controle
Série1
7,23
6,14
CPOD-modificado
Ceod-modificado
Gráfico 5.2.6: Distribuição da amostra do grupo controle, de acordo com os índices CPOD-m e ceod-m.
29
5.3 DISTRIBUIÇÃO EM RELAÇÃO À PRESENÇA DE MALOCLUSÃO
No grupo caso a presença de maloclusão foi observada em 12 pacientes
(60%) apresentaram pelo menos um tipo de maloclusão, conforme o gráfico 5.3.1.
Dentre os tipos de maloclusão, mordida cruzada, mordida aberta, disto-oclusão e
mésio-oclusão foram observadas.
A presença de maloclusão foi observada em apenas 4 pacientes (20%),
conforme o gráfico 5.3.2. Dentre os tipos de maloclusão, mordida cruzada e mordida
aberta foram observadas.
30
Grupo caso
Não
apresentam
maloclusão
(n=8)
40%
Apresentam
maloclusão
(n=12)
60%
Gráfico 5.3.1:Distribuição da amostra do grupo caso em relação à presença de maloclusão.
Grupo controle
Apresentam
maloclusão
(n=4)
20%
Não
apresentam
maloclusão
(n=16)
80%
Gráfico 5.3.2:Distribuição da amostra do grupo controle em relação à presença de maloclusão.
5.4 DISTRIBUIÇÃO DAS AMOSTRAS QUANTO AOS HÁBITOS DELETÉRIOS
Os 20 pacientes do grupo caso também foram avaliados em relação à
presença de hábitos deletérios. De acordo com o gráfico 5.4.1, observou-se que 7
crianças (35%) não possuem hábitos. Dentre os 13 pacientes (65%) restantes
concluiu-se que morder objetos constitui o hábito pernicioso mais frequentemente
31
encontrado, sendo seguido da respiração bucal, uso de chupeta, morder lábios,
sucção de dedos, bruxismo e onicofagia conforme apresentado no gráfico 10.
Os 20 pacientes do grupo controle foram avaliados em relação à presença de
hábitos deletérios. De acordo com o gráfico 5.4.2, observou-se que apenas 5
crianças (25%) não possuem hábitos. Dentre os 15 pacientes (75%) restantes
concluiu-se que morder objetos constitui o hábito pernicioso mais frequentemente
encontrado, sendo seguido da respiração bucal, uso de chupeta, morder lábios,
sucção de dedos, bruxismo e onicofagia conforme apresentado.
Bruxismo
(n=2)
5% Onicofagia
(n=2)
Sucção 5%
digital (n=4)
10%
Morder
lábios (n=5)
13%
Grupo caso
Respiração
bucal (n=8)
20%
Morder
objetos
(n=12)
30%
Uso de
chupeta
(n=7)
17%
Gráfico 5.4.1: Distribuição das amostras de grupo caso quanto aos hábitos deletério.
Bruxismo
(n=2) Onicofagia
4%
(n=3)
7%
Grupo controle
Respiração
bucal (n=10)
22%
Sucção digital
(n=5)
11%
Morder
lábios (n=6)
13%
Uso de
chupeta (n=7)
15%
Morder
objetos
(n=13)
28%
Gráfico 5.4.2: Distribuição das amostras de grupo controle quanto aos hábitos deletério.
32
5.5 DISTRIBUIÇÃO DAS AMOSTRAS QUANTO À PRESENÇA DE HIPOPLASIA
DE ESMALTE
Ao examinarmos as crianças do grupo de estudo, que é a hipoplasia de
esmalte, como representado no gráfico 5.5.1, onde, 12 (60%)
cardiopatas apresentavam a característica.
Grupo caso
Não
apresentaram
hipoplasia (n=8)
40%
Apresentaram
hipoplasia
(n=12)
60%
Gráfico 5.5.1: Distribuição das amostras quanto à presença de hipoplasia.
das 20 crianças
33
6 DISCUSSÃO
Diversos estudos, como por exemplo, como o de Franco et al., (1996),
apontam que crianças cardiopatas apresentam um índice elevado de cárie,
associado a defeitos de desenvolvimento como hipoplasias e descalcificações,
assim como Kenny e Somaya, (1989), associam doenças crônicas na infância à uma
saúde bucal deficiente e um aumento na experiência de cárie em comparação com
crianças saudáveis. No entanto, no presente estudo, a prevalência de cárie no grupo
controle se sobressaiu em relação à prevalência de cárie do grupo de estudo e, no
grupo controle o índice CPOD observado foi 7,23 e ceod 6,14; conforme
apresentado no gráfico 5.2.6 e, no grupo caso, O índice CPOD observado foi 3,57 e
ceod 2,25, conforme apresentado no gráfico 5.2.5.
As ações de promoção e proteção à saúde visam diminuir fatores de risco que
constituem uma ameaça à saúde das pessoas (REIS, 2010). Tendo em vista que a
cárie é considerada um fator de risco a população cardiopata a ação dos
profissionais de saúde se revela primordial. No Instituto Nacional de Cardiologia,
pelo menos uma vez na semana, a dentista odontopediatra, visita os internos
informando aos responsáveis a importância da escovação, visita ao dentista e o
risco de endocardite infecciosa. Acredita-se que outro fator que incentivou essa
diminuição no número de cárie, foi a realização, tanto na cidade de Nova Friburgo
quanto no Rio de Janeiro, do encaminhamento feito pelos médicos ao setor de
Odontologia assim que iniciavam seu tratamento. Enquanto as crianças do grupo
controle, no presente estudo, foram pacientes atendidos na disciplina de
odontopediatria da Faculdade de Odontologia da UFF/NF, podendo representar um
viés por serem crianças já com necessidade de tratamento, e por isso terem
procurado o serviço odontológico.
Segundo Vilela, (2003), Saúde é considerada uma área eminentemente
interdisciplinar e a integração de disciplinas no âmbito dos cursos que preparam
recursos humanos para atuar nesse campo, certamente poderá levar à formação de
profissionais mais comprometidos com a realidade de saúde e com a sua
transformação.
Pais de crianças cardíacas costumam atrasar ou evitar a busca de
tratamento dentário por causa de sua preocupação com o subjacente problema
34
médico, acreditando proteger a criança passar por mais do que é considerado
absolutamente necessário (Franco, 1996). No acompanhamento clínico do presente
estudo, foi notório que as mães entendem a necessidade do acompanhamento
odontológico e da escovação, no entanto, ao atuar no controle de biofilme do filho
ficam fragilizadas pelo choro da criança o que explicaria o alto índice de biofilme.
Urquhart e Blinkhorn, 1990, relatam que a quantidade de cáries em dentição
decídua foi maior em crianças com doença congênita cardíaca do que em crianças
saudáveis. Essa diferença se dá pelos problemas sociais e do tempo gasto no
hospital: crianças com doenças cardíacas de baixo poder sócio econômico, muitas
vezes passam mais tempo em ambulatório hospitalar do que crianças clinicamente
saudáveis. Em contra partida, Cantekin et al, 2015, conclui que não há nenhuma
diferença significativa entre as crianças com doença cardíaca congênita e crianças
saudáveis em termos de prevalência de cárie dentária ou defeito do esmalte.
A pesquisa de Cantekin et al, (2015) assim como no presente estudo tem
prevalência de cárie do grupo de estudo mais baixa que o grupo controle. Deve-se
salientar que mesmo em um ambiente de policlínica (municipal) e hospitalar (federal)
, as crianças que possuem prontuário são marcadas para consultas odontológicas
gratuitas, sendo acompanhadas semestralmente, recebendo a devida atenção na
saúde bucal. Enquanto no grupo controle, em muitas das vezes, as mães não
sabem da importância do acompanhamento ao cirurgião dentista, sem contar com
os inúmeros percalços enfrentados na faculdade pública e programas de atenção
básica, levando em consideração o mesmo fator socioeconômico.
Assunção et al, (2008) mostra em um estudo de caso clínico que dentes com
defeitos de desenvolvimento de esmalte são comuns em crianças com doenças
sistêmicas durante o período neonatal e em crianças prematuras, apesar de citar
que por causa desses problema, há um maior risco de aparecimento de cárie severa
da infância em crianças com doenças sistêmicas devido susceptibilidade de um
maior acúmulo de placa bacteriana, podendo levar a uma progressão mais rápida da
doença cárie. Estudos apontam que diversos fatores que envolvem o estado de
saúde do paciente como o uso prolongado de medicamentos açucarados,
constantes episódios de internações, relações de superproteção ou desprezo dos
responsáveis, podem ser fatores influenciadores neste dinâmico processo de saúdedoença. (BERGER, 1978; HALLET, RADFORD e SEOW,1992).
35
Hawary et al, 2014, fez uma micro-análise onde conduz resultados
recentes que mostram crianças com cardiopatia uma maior alteração na estrutura do
esmalte e dentina, além de uma redução significativa no conteúdo mineral do
esmalte decíduo e dentina quando comparado com controles saudáveis, tornando a
dentição em risco aumentado de cárie dentária, citando fatores relacionados com a
doença pode estar envolvida na produção destas alterações.
Entretanto,
Hawary,
2014,
assim
como
Assunção
et
al,
2008,
recomendaram que a cooperação entre pediátrica cardiologistas e odontopediatras
deve ser aumentada espalhando a consciência de risco à saúde e cárie dental entre
as crianças, aumentando a atenção dos seus pais tornando-se uma prioridade.
Apesar de apresentar um número pequeno de candidatos, a pesquisa mostra no
resultado a aparição de hipoplasia do esmalte no grupo de estudo, porém, não teve
no grupo controle o que enfatiza essa realidade.
Assim, conclui-se que a manutenção da saúde bucal deve ser enfatizada ao
máximo e este fato promete assumir o papel de destaque na prevenção desta
doença (BASILIO, 2004; MAGALHÃES, 2000). Estes estudos complementam
Volchan et al 2001, que mostra que a manutenção a saúde bucal é mais importante
que a profilaxia antibiótica para reduzir a incidência de bacteremias diárias e,
consequentemente, minimizar o risco de endocardite infecciosa. Os pacientes com
mau controle de biofilme dental e saúde bucal comprometida com abscessos e
gengivite oferecem a entrada perfeita para os microrganismos à corrente sanguínea.
Hallet et al., 1992, esclarece em seus estudos que as crianças cardiopatas
sofrem uma prevalência significativamente maior de maloclusão em comparação
com crianças saudáveis. Cantekin et al, 2015, completa dizendo que em crianças
com doença cardíaca congênita quando tem dentes decíduos com infecção pulpar
deve ser extraído ao invés de restaurado, isso porque não pode ter risco de
endocardite infecciosa devido a infecção residual em raízes dos dentes. Alencar et
al, 2007, ressalta a importância da dentição decídua para o desenvolvimento correto
da dentição permanente, pois é substancial a manutenção do dente decíduo até a
época de sua esfoliação natural. Tagliaferro e Guirado, 2002, concluíram que a
perda precoce de dentes decíduos, especialmente dos molares, leva à redução do
espaço disponível nos arcos dentais para a erupção dos dentes permanentes
sucessores.
36
De fato, no atual estudo, o número de maloclusões presentes foram
mais evidenciadas no grupo de estudo do que no grupo controle. Em muitos os
casos, os pacientes apresentavam síndromes, principalmente a trissonomia do
cromosso 21, Down, o que chamava atenção para o resultado de maloclusão.
Segundo Morato et al.,2014, as cardiopatias congênitas ocorrem em 40 a 60%
dos portadores da síndrome, dos quais o desenvolvimento, de maneira geral, teria
alguma diferença dos padrões normais. Marques et al,2015, diz que a má
oclusão, em particular, exerce um impacto negativo considerável na qualidade de
vida, causando problemas relacionados com o desempenho de diária atividades,
como a fala, deglutição, mastigação. Ainda ressalta que pacientes com Síndrome
de Down apresentam um posicionamento anormal da a língua, deformidades
craniofaciais (redução no tamanho da maxila e mandíbula e orofaringe estreita) e
alterações dentárias (número e tamanho dos dentes).
O
projeto
de
Odontologia
Hospitalar
teve
como
iniciativa,
a
conscientização dos responsáveis e da criança em relação à importância da
saúde bucal íntegra, principalmente para essas crianças cardiopatas, com a
necessidade da higienização oral adequada, prevenindo a instalação de focos
infecciosos, minimizando assim o risco de bacteremia, por conseguinte de
endocardite bacteriana e problemas futuros com a maloclusão.
O grande desafio, porém, trata-se de buscar através de conjunto do nosso
conhecimento uma melhora na qualidade de vida dessas crianças. Alguns fatores,
como a organização profissional, a educação odontológica da população, a própria
complexidade do diagnostico, exigem cuidados que nem sempre são levados em
consideração naquele afã de simplesmente se executar alguma coisa já
tradicionalmente conhecida.(ARAÚJO et al,2004).
Portanto, para falar sobre essas crianças especiais, há uma gama de
conhecimentos nessa pesquisa que serão postas em práticas. Teremos então uma
sensibilidade social, para entender, que muitas vezes pequenas intervenções podem
pelo menos, minimizar o desenvolvimento de problemas de oclusão.
Dentre as limitações e dificuldades encontradas durante a realização deste
projeto, são dignos de registro as barreiras políticas no Município com troca da
gestão pública, dificultando o acesso aos serviços nas Unidades de Saúde, a greve
das universidades federais e, consequentemente, poucos pacientes foram
atendidos. Mesmo o atendimento sendo também realizado no Instituto Nacional de
37
Cardiologia, o número continuou baixo, porque foi realizado em um curto espaço
de tempo (devido as necessidades burocráticas e ser em outra cidade). No entanto,
mesmo diante de um número reduzido de pacientes avaliados, observou-se uma
tendência dos pacientes cardiopatas apresentarem maior frequência de hipoplasias
de esmalte, sendo este um fator tradicionalmente associado ao rico de
desenvolvimento de lesões cárie, por facilitar o acúmulo de biofilme. Diante do
exposto, mais pesquisas se fazem necessárias, com uma população maior de
pacientes afetados, para que esta associação possa ser verificada.
38
7 CONCLUSÃO
Diante dos resultados observados, este estudo concluiu que:
1. O presente estudo não encontrou diferença significativa entre as
crianças com doença cardíaca congênita e crianças saudáveis em
relação ao estado de saúde bucal e experiência de cárie.
2. Quanto a presença de hábitos bucais deletérios, também não foi
possível perceber a diferença entre os dois grupos na pesquisa.
3. A frequência da presença de maloclusões entre crianças com
cardiopatia foi significantemente maior do que entre crianças
clinicamente saudáveis, da mesma faixa etária (3 vezes maior);
4. Os resultados do estudo indicaram que crianças com problemas
cardíacos conduzem a uma alteração na estrutura do esmalte e dentina,
de forma que não acontece no grupo controle.
39
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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