guia de leitura
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guia de leitura
+8 anos GUIA DE LEITURA Filipa Didier Histórias da bruxa Rabuja José Colaço Barreiros Ilustrações de Alain Corbel Apresentação da obra Três histórias em verso que contam episódios da vida de Rabuja, uma velha bruxa que, apesar do aspecto desagradável, nos faz simpatizar com ela devido ao seu temperamento ingénuo e – porque não? – até bondoso. Com efeito, quer ande à procura de um animal de companhia capaz de atenuar a solidão em que vive, quer corra pelos céus na vassoura motorizada que lhe permite competir com as motos mais velozes, ou ainda no sabate, a festiva reunião das feiticeiras, ocultas numa clareira do bosque em noites sem luar, Rabuja tem de enfrentar os mesmos problemas que a gente comum, mas as complicações em que se vê metida têm a particularidade de se mostrarem pelo lado divertido... Leitura da obra Objectivos da leitura Criar-se-ão, com a leitura desta obra, condições para se atingirem os seguintes objectivos: 1. explorar e estimular a capacidade imaginativa, com base no confronto entre elementos do mundo maravilhoso e do mundo real; 2. participar em experiências de audição, leitura e dramatização de textos; 3. aprender a organizar ideias com vista à construção de produções orais e escritas; 4. descobrir e experimentar as potencialidades do jogo ficcional e verbal; 5. aprender a questionar e a criticar; 6. descortinar a trama narrativa (espaço, tempo, personagens, problema/ /objectivo, acções/sequências, resolução/conclusão); 7. praticar jogos de palavras (rimas); 8. compor curtas narrativas a partir de uma lista de elementos. 2 Previsão do tempo e de sequências-tipo para as sessões de leitura Duas sessões de leitura em voz alta e uma sessão de leitura silenciosa de 45 minutos cada, seguidas de uma sessão de 30 minutos cada para as actividades de exploração textual. 1.ª sessão de leitura (em voz alta): primeira história – «A bruxa Rabuja e o mocho Thomaz, bicho de paz». 2.ª sessão de leitura (dialogada): segunda história – «A bruxa Rabuja e a sua vassoura automotora». 3.ª sessão de leitura (silenciosa): terceira história – «A bruxa Rabuja e a febre das sextas-feiras no bosque das feiticeiras». 1. Antes da leitura Antes de cada sessão, o educador poderá estabelecer um diálogo a propósito do que vai ser lido como forma de motivação e de apoio à leitura. Antes da 1.ª sessão de leitura a) A criança observa o livro enquanto objecto – formato e peso do livro, que favorecem o seu fácil manuseamento, os diferentes elementos da capa (nome da colecção, faixa etária a que se destina, título da obra, autoria do texto e da ilustração e nome da editora), as informações que constam da lombada, os textos da contracapa (sinopse da obra e nota biográfica do autor e do ilustrador), o frontispício, o índice, o formato dos textos, a ilustração e as pistas de leitura. b) Partindo do título da obra e da ilustração da capa, pede-se à criança que relembre algumas histórias com bruxas e as suas características, o que lhe permitirá tomar consciência do multifacetado simbolismo desta personagem (por exemplo, «A Branca de Neve e os sete anões» e «Rapunzel», com as terríveis madrastas-bruxas, «Hansel e Gretel», atraídos por uma deliciosa casa comestível e encarcerados por uma velha bruxa que pretende comê-los, «O feiticeiro de Oz», com uma bruxa má e outra boa, «Harry Potter» e as suas bruxas «humanizadas»…). 3 c) Com base no título da primeira história, «A bruxa Rabuja e o mocho Thomaz, bicho de paz», a criança levanta hipóteses acerca do teor desta narrativa: Qual o significado da palavra «rabuja»? Como será, então, esta bruxa? Que ligação existirá entre essa personagem e o mocho? Porque se chamará o mocho Thomaz, em vez de Tomás? O que significará «bicho de paz»? Antes da 2.ª sessão de leitura – Memórias e previsões – reconto e formulação de hipóteses. A criança relembra, com o apoio do adulto, sob a forma de reconto, a história que foi lida anteriormente. Percorre as páginas da história e, centrando-se no título e nas ilustrações, formula hipóteses acerca da relação desta história com a anterior – Haverá personagens comuns às duas histórias? Que outras personagens surgirão? Qual será o tema da história? Antes da 3.ª sessão de leitura – Com base no título da história, a criança formula hipóteses quanto ao teor do texto que irá ler: Por que motivo se realizará uma reunião de bruxas a uma sexta-feira? O que farão as bruxas quando se reúnem? O educador poderá registar as respostas das crianças, para que, no final da leitura silenciosa, se possa comparar as hipóteses levantadas pelas crianças com o conteúdo original e assinalar diferenças e semelhanças. 2. Durante a leitura Considerando o teor da narrativa e os objectivos a atingir, julgam-se pertinentes breves interrupções que permitam aos leitores esclarecer significados de vocábulos ou expressões que desconheçam, exprimir o seu ponto de vista acerca de determinadas situações da história e observar uma ilustração, relacionando-a com o texto (a actividade de análise da ilustração poderá ser orientada com questões como: A ilustração remete para uma situação em particular ou para um conjunto de acontecimentos? Qual [quais] a[s] estrofe[s] ilustrada[s] com esta imagem? O que denota[m] a[s] expressão[ões] da[s] personagem[ns] ilustrada[s]?). 3. Após a leitura Após a 1.ª sessão de leitura a) Pedir à criança que compare as hipóteses que levantou antes da leitura da história com o conteúdo da narrativa, referindo diferenças e semelhanças (características psicológicas da bruxa Rabuja, a sua relação com o mocho, justificação para o nome Thomaz e o significado de «bicho de paz»). b) Percorrer a história, analisando as várias estrofes. – Se a 1.ª estrofe fosse a resposta a uma questão, que questão seria? – «O que procura a bruxa Rabuja?» ✓ – Do que tratam as estrofes 2 a 12? – «Dos vários animais que a bruxa considera poderem vir a ser seus animais de estimação.» (Enumerá-los; identificar pontos a favor e pontos contra; esquematizar) ✗ – Atrai o azar … Coruja Polícia – Pio que amaldiçoa (pode virar-se o feitiço contra o feiticeiro) … 5 – A bruxa Rabuja leva para casa um gato preto – quais as estrofes onde surge descrita esta experiência? – «Estrofes 13 a 20.»; Quais as características positivas e negativas do gato enquanto animal de estimação? (Enumerá-las.) – O que aconteceu ao gato preto? (Consultar estrofe 20.); Qual o acontecimento descrito na estrofe 21? – «As amigas da Rabuja dão-lhe um presente.» – Da estrofe 22 à estrofe 31, encontramos a descrição do «presente», o mocho Thomaz. Como era este mocho? (Consultar estrofes 22 a 31.) Qual a relação entre o mocho Thomaz e a história do Gato das Botas? (Consultar estrofes 27 e 28.) – O que nos diz a última estrofe? – «A razão pela qual a bruxa resolveu ficar com o mocho.» (Consultar estrofe 32.) c) «[O mocho Thomaz] Leu um manual de ervanário, / tudo o que era dicionário / para as palavras entender / e alargar o seu saber.» (pág. 19) A curiosidade faz o sábio. Sugerir à criança que organize um glossário com todas as palavras desta história cujo significado desconheça. Poderá «alimentar» o seu glossário à medida que for lendo as restantes histórias. d) Mapa da história A actividade anterior preparou a criança para a construção, com a ajuda do educador, de um quadro-resumo da estrutura da história: «A bruxa Rabuja e o mocho Thomaz, bicho de paz» Espaço e tempo Personagens Introdução ___ Mundo fantástico; intemporal. ___ Bruxa Rabuja, mocho Thomaz, bruxas. Problema ou objectivo Est. 1 A bruxa Rabuja procura um animal de estimação que lhe faça companhia. Sequência 1 Ests. 2-12 Rabuja considera os vários animais possíveis (reais e fantásticos), considerando prós e contras. Sequência 2 Ests. 13-20 A bruxa pensa que um gato será uma boa solução e faz a experiência. O animal revela-se uma má escolha. Sequência 3 Ests. 21-31 As suas amigas oferecem-lhe um mocho de presente de aniversário. São apresentadas as características do mocho Thomaz. Resolução do problema Est. 32 Resume-se a razão pela qual o mocho Thomaz é o animal de estimação ideal para a bruxa Rabuja. Desenvolvimento Conclusão 6 e) Com base no «mapa da história» que elaborou, a criança poderá redigir o resumo da história. Após a 2.ª sessão de leitura a) Avaliar as dificuldades da criança relativamente ao vocabulário utilizado nesta história. Aconselhá-la a consultar o dicionário para explicitar os vocábulos que desconheça e a completar o seu glossário. b) Propor à criança que complete o retrato físico e psicológico da bruxa Rabuja com os novos dados fornecidos. c) Seleccionar três dos adjectivos que caracterizam a bruxa e pedir à criança que indique três sinónimos e três antónimos de cada uma dessas palavras. d) A criança coloca uma questão do tipo «O que aconteceria se…?» (O que aconteceria se o motor da vassoura não tivesse pegado? O que aconteceria se o Diabo tivesse conseguido impedir a Rabuja de fugir?) e imagina e conta oralmente um desenlace diferente para esta história. e) A leitura dialogada, distinguindo as intervenções das personagens, constituiu uma primeira abordagem à interacção que se estabelece numa dramatização. Assim, e face também ao carácter humorístico da história, a criança estará receptiva à exploração deste tipo de abordagem textual. Os colegas poderão, em seguida, emitir a sua opinião acerca da dramatização a que assistiram, apresentando eventuais sugestões de melhoria. Após a 3.ª sessão de leitura a) A criança poderá terminar o seu glossário, clarificando e registando o sentido dos vocábulos cujo significado desconhece. b) Pedir à criança que organize, em torno de um vocábulo recolhido da história, uma lista de palavras segundo um critério pré-definido (por exemplo: sabate → palavras que rimem → abacate, alfaiate, alicate, biscate, debate, disparate, rebate, tatibitate). 7 4. Fechar o ciclo Depois de ter lido e trabalhado as três histórias da bruxa Rabuja, a criança formou já uma ideia consistente acerca do carácter da personagem, e está preparada para estabelecer uma comparação entre ela e as bruxas das histórias que relembrou na primeira abordagem a esta obra. O educador poderá pedir à criança que estabeleça esse paralelismo, orientando-a no sentido de enumerar e explorar «pontos em comum» e «pontos divergentes» entre as personagens. 5. Histórias para além da história Redigidas numa linguagem que remete para o romance tradicional, as histórias da bruxa Rabuja estimulam e captam a atenção das crianças através da recuperação de elementos tradicionalmente característicos dos contos de fadas e das narrativas da tradição oral e da sua adaptação a um argumento repleto de referências sociais e emocionais próprias do nosso tempo. Rodeada de personagens fantásticas, Rabuja, capaz de bruxedos e poções mágicas sem igual, depara-se com um dos sentimentos mais característicos do mundo actual: a solidão. Desloca-se, como qualquer bruxa que se preze, de vassoura voadora, mas o cansaço que sente por ter de «pedalar / com os pés sempre no ar» leva-a a inventar uma vassoura… automotora! Após o sabate, as bruxas recolhem-se num bar e jogam à sueca… não sem lançar bruxedos que impeçam as outras de ganhar! Num ambiente característico dos contos de fadas, as referências a factos do quotidiano sucedem-se, diluindo a fronteira entre os dois mundos. Esta articulação inteligentemente humorística entre o mundo maravilhoso (que a criança, ser criador e imaginativo, reconhece e vive interiormente) e o mundo real (que lhe é próximo pela sua vivência social) facilita a apropriação da história por parte da criança e devolve-lhe o àvontade necessário para criar livremente, ela própria, histórias ricas em magia, com o apoio de referências mundanas que lhe são próximas. 8 Assim, o educador poderá: a) propor à criança que se imagine a bruxa Rabuja, solitária e em busca de um animal de estimação que lhe faça companhia. Que animais consideraria? Quais as características positivas de cada um desses animais, e quais as negativas? Qual dos animais acabaria por escolher? Porquê? b) sugerir à criança que invente e descreva oralmente um outro objecto utilitário para a bruxa Rabuja, para além da vassoura automotora. Para que serve? Quais os cuidados necessários na sua utilização? Poderá esse objecto pôr a bruxa «em maus lençóis»? c) propor à criança que redija uma história fantástica na qual surjam, como na obra Histórias da Bruxa Rabuja, a par com personagens maravilhosas (poderá inspirar-se nas que são mencionadas ao longo da obra: bruxas, tritões, sereias, dragões, Gato das Botas, centauros…), elementos e acontecimentos do quotidiano. Dependendo do grau de aprendizagem / faixa etária / nível de desenvolvimento da criança, poder-se-á fornecer um quadro de referência para a construção da história, que facultará elementos-chave em torno dos quais o texto será edificado. Por exemplo: fada Internet piquenique cavalo alado cadeado fundo do mar É importante que a criança seja estimulada a guardar as suas memórias de leitura: comentários a personagens, episódios, lugares…; textos inspirados nas histórias lidas; descobertas motivadas pelas actividades realizadas; ilustrações… A organização, pela criança, de uma sequência de registos e de documentos que considere interessantes permitir-lhe-á construir um memorando de acontecimentos significativos na sua aventura pelo mundo da ficção.