de não ser - Rosa dos Ventos Conclave de Bruxaria
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de não ser - Rosa dos Ventos Conclave de Bruxaria
PREFÁCIO Esse conjunto de poemas foi compilado e editado pelo Rosa dos Ventos Conclave de Bruxaria, com o intuíto de homenagear o Dia Internacional da Poesia. Nossa imensa gratidão a todas e a todos que participaram desse importante trabalho. Boa leitura! Maurício Melo Arauto Soberano do Rosa dos Ventos Conclave de Bruxaria O Invisível Denis Libório Tal como o vento toca a superfície do lago, Os efeitos do invisível sobre o visível se tornam evidentes. Não nasce fruto sem arvore, não nasce arvore sem semente. Não nasce a ideia sem pensamento, não nasce pensamento sem existência. 03 04 A Besta Lupina Christopher René Varjão O aroma da noite de luar que causa arrepio no mais nobre. Deixastes cair em tentação o teu filho, Agora, surge aquele que persegue tua luz todas as noites. Incansavelmente, seus olhos faíscam em cor anil. O riso insano quebra o silêncio que embalava protegidos de Pã. Passos pesados e respiração acelerada, assim anunciava a chegada do lupino. Atroz exilado da paz Caístes na própria loucura. Vassalo do tempo e senhor da sabedoria, Foste traído por tua inocência. Teu ódio é em vão. Manchastes tua alma. Lagrimas que agora alimentam o solo, Deixe crescer a esperança que ainda resta. Abrace-a, pois ganhastes mais uma chance de mudar os vértices 05 96 Sou Bruxa Cris Oliveira Sou bruxa sim Sou filha da Deusa Filha da lua Minha essência vem dos ancestrais Que aqui já não habitam mais Sou bruxa sim Minha força vem da Deusa, Meu lar é o universo Seus mistérios são minha escola Sou bruxa sim Meu orgulho é a Grande Mãe Seus elementos me sustentam O ar enche meus pulmões O fogo aquece meu ser A terra sustenta meus pés A água refrigera meu espírito Sou bruxa sim e assim sempre será. 07 08 PEREGRINO Luís Gustavo Pereira Sozinho sigo pelas estradas da noite. Perambulo passo a passo sem rumo. Sem rumo, não significa sem propósito. Não há rumo quando se trata de cuidar e vigiar, Aqueles que estão a viver e os que estão para partir. Sozinho sigo pelas estradas da noite; Por trás das portas desvelo e conservo o Poder. Além dos caminhos encontro meu bálsamo; Encontro-me com o Séquito de Espíritos; Com Eles eu sigo, na Vida e na Morte. O medo torna-se uma brisa. A dor nada mais é que uma palavra. E nada poderá ser rotulado em meu Ser, Pois vivo na mais clara das esferas; E trilho seguramente na mais profunda Escuridão. 09 10 Sou Heathen! Helena Pereira Honro minha palavra. Só eu sou responsável por mim e por meus atos. Eu não peco, não preciso de perdão. Não me ajoelho diante dos meus Deuses, Não espero que eles atendam meus desejos. Tenho coragem e enfrento meus desafios. Não vivo minha vida procurando batalhas, usando armas e sendo arrogante; Mas se preciso for defenderei a mim e aos meus Com fúria, mas nunca sem honra. Farei o meu melhor e sei que não estarei só. Minha honra não é doutrinação, ela aparece em meus atos; Minha coragem não é soberba é minha determinação; Minha fidelidade não é por interesse, mas sim por meus valores. Sou o que minhas ações representam E assim honro meus Deuses, meus Ancestrais e minha fé. Sim, sou Heathen com orgulho! 11 12 Conjuro Mauricio Melo Meia noite Minha hora Um sinal... Uma sina... Poder soturno que alucina! Vozes errantes, como lâminas a lapidar O picaresco em mim... Dança insana dos meus devaneios Anjo de ébano de joelhos Pedindo a mim o perdão... Acorrentado por antigas palavras Sigilos em sangue desenhados no chão! Dizem que com o diabo não se brinca Mas se existe verdade nisso, há algo muito pior... Com nascidos de águas profundas De onde a noite é oriunda Jamais se deve brigar! Pois têm nos lábios doçura Do veneno que perdura Mesmo depois de matar! 13 14 NO MUNDO DA LUA Mirian Marclay Fraga Quando descobri na integralidade telúrica meus fins E dei a mim o princípio da dúvida, meditei a arte quase dúbia, Porém exata, das fórmulas abstratas que da energia surgiam. Mesclei estrelas mortas vindas das luzes findas, que salpicaram De poeira cósmica os meus receios. E nos seios das novas galáxias, Evoquei novas máximas a serem tidas pelo corte do punhal, Como um novo ritual de libertação. Quando o grande olho intercalou meu espírito entre Inquietude e desassossego, pratiquei o desapego material E evolui. Impregnou-se em meus veios o calor escarlate de sóis Transeuntes de outros mundos e planos. A esfera foi sorvida no cálice leitoso Que fomenta a sabedoria dos neófitos. E sob a frondosa árvore mediúnica Entoei minha divindade. Fruto das escolhas que sou É a bruxa Que sempre me habitou... 15 16 Os opostos Denis Libório Talvez a tua tempestade seja uma gota d’água, talvez a tua ventania seja somente suspiro, talvez o teu inferno seja o meu Paraíso. 17 18 O ultimo pedido do rei Christopher René Varjão Antigas escrituras que foram perdidas no tempo, Voltam em fragmentos, repletos de uma antiga historia. O amor proibido. Incompleto do completo Complexidade na simplicidade O sonho estampado na realidade. Ela levava o calor da vida por onde passava. Ele congelava tudo que já não havia mais vida. Ele era o rei que vivia apenas em proteger os mais fracos. Ela dançava pela floresta, protegia tudo que pertencia ali. Numa tarde, o rei saiu de seu castelo. Triste, pois estava amargurado de sempre viver sozinho. Ouvia de longe um cantar, era ela. Aproximava-se cada vez mais. Descalça e com flores vestindo seu corpo tão delicado. O rei, encantado, não soube como lidar, então apenas reverenciou. A ninfa sorriu e pediu para que ele não se se curva perante ela. Então se foi. 19 Todos os dias, o nobre espiava a bela mulher. Ele sabia que nunca iriam ficar juntos, pois ele era a morte. Aquilo o consumia, manchava sua alma. Mas ela não tinha culpa nenhuma. Invernos se passaram, o rei estava no seu fim. Mas ele não queria que tudo que sentiu fosse devorado pelo vazio. Invocou sua ultima gota de vida. Pousou seu punho junto a uma pena num papel velho, Ali gravou a declaração: “Não importa o quanto estudei o macrocosmo. Eu esqueci o que continha na essência de amar. Quando pensei, já era tarde demais. Não enxerguei que havia encontrado a última estrela da grande constelação. Ignorei todas as lições do amor, e definhei no tempo. Já é tarde demais para dizer que todos os verões desde aquele, Admirei seu amor pela vida, mas você podia me ver.” 20 Treze Bruxas em Reunião Luma Elora Aislin Uma bruxa prepara O fogo no caldeirão Duas bruxas purificam Cada mão Três bruxas rodam Batendo os pés no chão Quatro bruxas nos portais Saúdam o guardião Cinco bruxas formam O pentagrama de proteção Seis bruxas evocam Amor no coração Sete bruxas borrifam Água e sal para a purificação Oito bruxas entoam Uma suave canção Nove bruxas giram A roda em cada estação Dez bruxas evocam A Deusa com devoção Onze bruxas juntam Suas varas de condão Doze bruxas fazem Da magia uma oração Treze bruxas tramam Caminhos de evolução Na espiral da vida Que é movimento e ação As treze mulheres vivem Em união. 21 22 Aos Meus Dair Rofhessa Mac Morrigu Vivo Luto Lido Faço dessa terra meu abrigo Ponho-me de pé ao menor sinal de perigo Na minha porta, finco a cabeça do meu inimigo Vivo Luto Morro Sei que Ela virá em meu socorro E se não vier, de mim não verás choro Pois sei que me esperam do Outro Lado Ela com sua Lança Ele com seu Cajado E ali sim, deixo meu legado Pois sei que contra inimigo nenhum me acovardo. Vivo Luto Livre Corro pelo mundo como um tigre Ecoo pelo Universo no mais belo timbre E entendo que nada mais denigre Meu espírito Guerreiro. 23 24 Pacto de Lilith Raven Luques McMorrigú - Everson Romero Tu que és a Noite Eterna e Oscura, Ancestral Lilith do Negro Véu, Coruja, Bruxa, Vontade Nua, Mulher que urra debaixo do Céu... Da Serpente os Caminhos herdaste A Tortuosa Via da Iniciação, infinitas Legiões de Demônios geraste, Oh Vaso de Veneno, Sangue e Paixão... A Adão seduziu a carne e a alma, Soberbo, o deixaste, orgulhoso e sozinho, A Eva ensinaste a não mais esperar calma, Com o fruto feitiço, lucífero descaminho... Teu Voo Nocturno, Desejo e Vingança, A estrangular dos homens o pescoço e a natura, Feiticeira e Bruxa da Negra Aliança Perfume de olíbano, sangue e datura... Contigo sela o Satânico Pacto A Grei de Strigas e Lobos errantes, E em Orgia Sabática se encerra este Ato Oh Primeira Bruxa, Vampira e Amante! 25 26 Necromanteion Lucas Melo Em murmúrios inaudíveis se fez O feitiço injuriado e maldito. Do lado dela estavam os seus fiéis Em acrópole muda e sombria... De um reino funesto, pútrido, maligno. De onde se extrai a vida, Passado e futuro solvem-se No cálice de sangue ancião. Do santo nome, divina alma invoca. Alma não viva, alma no sangue morta. 27 28 Eu? Pedro Henrique Neves Trancado na casa perambulante: Uma mistura dos elementos das estrelas Com o abstrato que veio antes De qualquer manifestação de matéria. Retornar à origem que é o nada É vertigem, movimento, fluxo, Preocupada a mente, alucinada sente A materialização etérea. Sou eu, (o Nada) Passando pelo Tudo E retornando sem pressa. Morreu, (dá nada) Sou eu, o conteúdo Que realmente interessa. 29 30 Aviso Mauricio Melo Deixe-me com meus Santos Deixe-me com meus Anjos Com meus Deuses e Ancestrais... Antes que me volte em sua direção Não queira as palavras da minha oração Pois sei ferir a alma Destroçando o coração! Aviso dado por quem conjura O azedo azar como tortura Usando a morte como atadura Sempre pronto a costurar! Destinos teço em minha roca... Sabedoria que é minha Mas que posso partilhar! Só não venha aqui pedante Pois detesto arrogância Lanço-a as chamas para queimar! 31 32 Pedro Henrique Neves A luz me acompanha em meio a escuridão. Não quero caminhar na luz, na plena satisfação, Eu quero levar a luz comigo, pro fundo do poço E iluminar o rosto que quem caiu. Iluminar as trevas é melhor do que Estar em local já iluminado. Apontar a luz pro escuro E ajudar a libertar quem está aprisionado, A luz atinge o irmão do lado. Então, se és luz, que tal ir pra escuridão Que não seduz, mas é onde precisa de luz. Caminhemos na escuridão sendo luz, Tiremos todo capuz, Mostremos nossa esquizofrenia E pintemos o breu com poesia, Depois de já pintado e iluminado Iremos para outro breu, outro dia Sem levar eu, levando luz Levando alegria pro triste, Pro que vive no maior inferno que existe. 33 34 EXISTENCIALMENTE VAZIO DE NÃO SER Luís Gustavo Pereira O Frio transpassa meu Ser, A Luz novamente se faz aparecer; Há briga e dúvida entre o que é certo e errado; Mas no fundo sei que não estou enganado. Os sons que agora vibram no Ar, Ecoam traduzindo sentimentos de alguém que só sabe Amar. Por mais que se tente outro caminho buscar, Acabo sempre prezo àquilo que jamais tento Ousar. A benevolência dos Antigos não posso omitir: Concordam aqueles que comigo tudo puderam sentir, Quando o Reino da Escuridão se fez em mim emergir, A dor que rasgou meu peito transformou-me num sereno fluir. Aguçados sentidos que pela noite perambulam: Em vigília e cuidado àqueles que a tudo burlam. Anunciam a esses que o pior ainda está por vir; Mas jamais para aqueles que souberem ouvir. O Silêncio fala mais que qualquer palavra. A imensidão que o Calar provoca a mim desbrava. O Querer já não mais importa - já perpetuei minha lavra. Ao meu lado só tenho, mantenho e permito gente brava. 35 É chegado o momento de partir; Não me refiro para Outro Mundo ir; É sim chegado o momento de agir. Com o apoio de tudo aquilo que me fez surgir - e hoje existir Denso Amor que minh’alma lava; Rogo aos meus que mantenham de pé cada um sua clava. Aos imundos nada desejo - nem sequer nutro ou sinto raiva. Existo e simplesmente trilho o Caminho que meu destino rumava. Doce e Sagrada Morte, faça-me em Vida uno contigo! Que todo e qualquer recôncavo me sirva de abrigo. Que eu sempre possa estender minha mão a um amigo; Jamais de mim ouvirão: “eu obrigo”. Meu Ser vagarosamente passa a deslumbrar plenitude: Aos meus afirmo que o vazio também é uma virtude. Que não pequem por excesso nem por falta de atitude; Felizes são aqueles que diferem solidão de solitude. 36 Poema para Morrigan Claudia Bandeira Guerreira, Astúcia, força e nobreza É pura fortaleza Deusa forte Beleza em forma de morte Força em forma de mulher Das nossas guerras a certeza Da tua força encontrar A energia necessária Para continuar a lutar No lado escuro da roda No meio da escuridão Que tua lança seja nossa guia Nesse verso em forma de oração Agora e na hora de nossa morte Um brinde a Deusa a Morrighan Poder, força e proteção! 37 38 Raio Solar Diego Far’fetch Trevas Flechas luminosas crescem no horizonte O Zênite equatorial em céus cristalinos Verde azul turmalina do brilho opalino Das planícies de vento suspensas Erbúneo fulgor solar Devastação de fogo sopra ao vento Momento sereno do tempo Radiância sutil queima em anil o firmamento Reflexos áureos na linha do mar No tênue mármore suspenso em linhas no ar Refrata centelhas de cores no espelho das águas Luminares de fogo na crista das vagas Corona apolínea em esplêndido apogeu Descende flamas em achas no céu do equador Ardor em glória de ouro, aura de calor Espírito em vapor de água do chão ascendeu Império de luz que à terra se impõe Vive e morre com o passar das estações Mudança da vida, eterno pulsar cósmico 39 40 Filho da Lua Matheus Azevedo Eu sou o filho da Lua. Minh’alma é composta Por milhares de estrelas Que reluzem em meus olhos. Eu sou o filho da Lua. Sou o filho livre como Assim é a bela Ártemis. Miro o céu com o meu arco E, retesando-o, lanço uma Flecha de luz aonde bem quero. Eu sou filho da Lua. Eu habito as trevas e As domino assim como Hécate. Aos que desejo, levo o terror E os fantasmas atormentadores. Sou o lado negro da Lua e sou O cão infernal que uiva na noite. 41 Eu sou o filho da Lua. Meus olhos vêem nas trevas E meu corpo desperta os eu. Eu porto a semente que faz germinar. Assim como Lilith, a primeira, Jamais serei dominado e Jamais me submeterei a outrem. Assim como Lilith, a Mãe, Eu sou o portador da sedução. Eu sou o filho da Lua. Eu habito os infernos e Ando sobre a terra. Sobre a noite, espalho A minha semente em Corpos ainda imaculados. Eu sou o filho da Lua. Sob sua luz eu sou poderoso, Sob sua luz eu sou soberano, E sob a sua luz encantadora, Eu posso beber a vitalidade... 42 Pedro Henrique Neves Vou empurrado pelos ventos galácticos Até sua morada, como se estivesse ao lado, Mas não vim pela estrada, vim atravessado Pelo saudoso nada. Minha origem é longe: Lá onde se isolam os monges Para caminharem nas ruas e vielas Do próprio ser. A alma tem uma janela, São os olhos, pode ver. Eles fecham, Para não mais ver, Ou ver só dentro.. Vai saber.. Enfim, olha para mim, Vim só mostrar você a você mesmo, O lado bom do ruim E o ruim do bom. Conseguir ver tão claro assim Nessa terra é um dom. Tais ventos que me empurraram No caminho me mostraram A origem da flor da vida. 43 É o espírito entediado consigo, Envolto pela solidão do vácuo infinito, Querendo do seu lado um amigo, Ou o conhecimento da luz. Expansão! É a palavra chave Da criação! Eu tive que tirar Do meu olho uma trave Para poder remover o cisco do seu. Enfim, no fim, falei tudo isso a você Será que entendeu? Entendeu a origem da estrutura? Corpo e mente São os dois que você sente, Mas quem é você que sente? É a origem da estrutura, O ponto inicial que expandiu É o protagonista da loucura Desse planeta denso Onde você caiu. 44 Osonmilu Argdão Nas conjunturas dos sois, que com mesma força se atraem, se chocam, quem de vós poderás impedir meu calor sobre teu corpo? Sobre ele percorro a serpente mais sagaz e assim te envolvo lhe mordo o pescoço, a cada abraço lhe mato, lhe liberto. Quiseras tu fugir, até onde meus pensamentos não te encontrem, tão densos que tu podes sentir, renuncia a tudo menos aos abismos que coloco em teus pés e as chamas que ergo em teu coração. Se um dia me levar à ruína como previ em visão, que o nosso mundo se torne escombros entre o encontro de dois sois. Sou teu vicio mais mortal! E você meu desejo mais letal! E assim matamos um ao outro. Por tudo que não dizes... Por tudo que não omito... Pelos confrontos e conflitos... Amamo-nos sobre abismos... Amaldiçoou a tua chegada Amaldiçoo a tua partida A mesma lança que te fere é a mesma que me abre as feridas... Bebe da minha dor, da minha luxuria e do meu desejo, pois também bebo de ti. Dessa sombria alquimia de provocar dor em amor, deitamos em uma cama de áspides e escorpiões. Encha a taça! 45 46 14 Poema para Airmid Morrighan Brigante Beleza e palidez em um largo sorriso Amou os mortais e fez deles seus preciosos amigos Ombro estreito e esguia Cabelo baio Da cor das éguas de soberania Escorrem pelas costas Tocam a terra Solo querido que ela tanto ama De onde brotam suas filhas Vive abaixada a catar o chão Com as mãos ligeiras Mãos maternas de gratidão Afaga suas crias Lindas crias Doces e amagas crias Tudo podem curar Tinha um irmão de habilidade tamanha Que o próprio pai se pôs a invejar O ciúme é perfídia E sem nenhum aviso A espada viu fincar E a maestria do irmão findada Até virar a página seguinte Onde a vida ele retornara Sempre a natureza volta Ao seu antigo curso Como espiral Abre e fecha E o rio no leito corre seu rumo Viu suas filhas amadas Que nasceram do corpo 47 Entregue ao chão Serem lançadas ao vento Gritar 365 lamentos dentro do seu coração Osso para osso Veia para veia Sangue para sangue Tendão para tendão Essa era sua magia Na mais feliz companhia Do loiro e adorado irmão Ao perceber que a vida lhe retornara Mas não era mais querida e amada Foi para longe e não mais quis voltar A fim de esquecer a grande dor Que em seu peito trazia a encerrar Mais ainda hoje ela é vista Embora muito bem disfarçada Para não ser reconhecida Não se mostra verdadeiramente a danada Não vive escondida E sim em lugares a vista Por todas as sendas da fé Na simples rezadeira com a arruda Na xícara de chá que me deixa muda E finge ser uma mulher mortal E quem dele com coragem se aproxima Recebe centenas de presentes Ganha a cura do corpo O alívio da alma E a calma na mente 48 O Rio da Morte Diego Far’fetch Trevas A água macabra que corre nos rios do nada Se derrama em minha boca aberta desdentada Esquecido e frio nas terras do pesadelo Volto e acordo desmembrado pelo medo Cadência errática, passo claudicante Sufoco engolfado na garganta berrante Ardência na pele, atmosfera estafante Queima meus olhos, o sonho inconstante Como o dia escorre em horas de luz Nuvens vagando nos céus da mente Corroem a lembrança vaga evanescente Do mundo do além, do real inconsciente Raiva, medo, a saliva escura e amarga Frustração e estranhamento, desgraça Maldição de existir nessa plaga Escuridão me leva de volta ao mundo das almas Trovão de arco voltaico reverbera em meus nervos Agora tão cedo, não voltarei à terra do pesadelo A riqueza, tesouro da mente ao meu alcance esteve Parece que nunca mais volverá a estar em meus dedos 49 50 Vênus Escura Matheus Azevedo Escavei meu Jardim Selvagem. Abri mil túmulos - inclusive o meuSimplesmente para inalar o passado E constatar que nada daquilo me era Mais tão familiar como fora uma vez. Lancei-me à ela e àquele fogo alaranjado. Queimei e cai ao chão, abraçado aos Mortos do meu Jardim Selvagem. Beijei a todos eles e a seus ossos Impregnados pelo tempo que morreu. A estrela matutina brilhou no céu Desanuviado e ofuscou as duas luas Tão amantes e amadas por mim. Algo estalou em minha mente e Meus sentidos e minha 2ª pálpebra cerrou-se. Ali deixei-me ficar, aos olhos da Vênus Escura Que perpetuou sua dança ofídica e fez ressoar Sua gargalhada indubitavelmente misteriosa. Ouvi um canto silencioso que parecia Emergir das águas frias e mortas. Um perfume selvagem como o meu Jardim despertou-me e diante de Meus olhos resplandecia uma Vênus Escura, Nascida do fogo que crepitou sem Combustível aparente a alimentá-lo. Ela gargalhou docemente e dançou Ao som de uma música que só ela ouvia. “Venha! Venha! O fogo lhe chama, não ouves?” 51 52 Paula Machado A espada gira, fazendo o ar gemer As Nornes resolveram olhar para você Com seus terríveis olhos negros As Valquírias despertam e olham para a Terra Com seus profundos olhos azuis A Terra estremece embebedada pelo sangue dos homens Não cruzei seu caminho ali, e saí ilesa a tudo Hail Freyja! Uma lâmina qualquer rasgará sua carne! Uma lâmina qualquer perfurará suas entranhas! Hoje é o seu dia! Caminhando na densa névoa Com o ódio esfriando por todo o corpo Um corvo voa à minha frente Abrindo a cortina de fumaça Vejo então sua carcaça podre estendida Visão doce da vingança Hail Oden! Nenhuma Valquíria te buscou Ali eu pude sentir Grudada em sua carcaça Seu espírito atormentado Tormento de uma alma sem honra E meu repúdio a ti, Dará a força que falta Para te levar ao Salão de Hella 53 54 Maldição Mauricio Melo Insossa ovelha de pentagrama Feliz a pastar no prado da ignorância... Marcada pelo ferrete forjado do vil metal Oriundo das trinta moedas de Judas Traição é seu legado! Destino traçado ao sem rumo Pois não há caminhos para quem trai... Amaldiçoada por sua indolência Seguirá sempre falsos profetas Que tem como meta os bolsos forrar... E quando no vale da sombra da morte Sua triste sorte findar Hécate, a escura rainha Na treva que sempre caminha A paga lhe conferirá! 55 56 Rhiannon Mauricio Melo Égua alada da meia noite Banhada no sangue dos inocentes... Me lava com água fluída Prata líquida de tuas correntes! Cavalgo contigo na relva abissal Despido dos medos e anseios... E nos seios de Gaia nos fartamos Como animais que somos O abandono do mundo, há um segundo deixei Permiti licorosa loucura Bebi dos sonhos de Érebo E com ele me deitei! 57 58 AMOR POR AMOR Erika Bokel Schoellkopf Reflete o amor, arte do mistério. É tão livre e profundo, o amor rima com tudo. Amor é canção, não força a barra, não escora e, Se chora é por ter alcançado um coração. Dono de si mesmo voa livre de proibições. Na brisa do vento pega carona em tempestade de ilusões. Elevado e humilde lá estão o amor. Vem até nós, Seres de certo torpor. No cenário da vida, o amor não se repete, ama sempre de novo. Presente, o amor não se desfaz e não se prende à própria falta que ele faz. Ensina o amor a qualquer um... Como canto dos anjos e cheiro de flor, está porque é. Simples assim: Amor por amor. 59 60 pela última vez, adeus. Gabriel Leal De joelhos sob a Grande Senhora Entre lágrimas sorri Questionei-a onde encontrar O amor que outrora vivi Respondeu-me a Bela Rainha: - Siga as trilhas que lhe ponho e teu sonho irás de alcançar Desvairado me ergui e andei a buscar Tomado de desejo, por vastos caminhos te procurei E a cada ladrilho um pedaço perdi Foi assim, quando finalmente encontrei Oh Deuses, logo notei Que já não restava nada de ti 61 62 Diagramação e identidade visual por Gabriel Leal - Membro do Conventículo da Serpente