Revista 849 - Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro
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Revista 849 - Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro
Revista do Café Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro Ano 92 - Março 2014 - Nº 849 Museu da Imigração será reaberto em maio Sumário Revista do Café Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro Créditos: Thâmara Malfatti Ano 92 - Junho 2013 - Nº 846 Coordenadora Alessandra Rodrigues de Almeida 04 06 10 14 Editorial Natália Fernandes e Thâmara Malfatti Museu da Imigração será reaberto 20 24 26 28 Colaboradores Flávia Bessa, J. B. Matiello, Leila Vilela Alegrio, Luiz Carlos Cardoso Vale, Paulo A. C. Kawasaki , Rodrigo Prado Figueiredo, Rubens Barbosa, Sacha Calmon e Xico Graziano Feitos com um toque feminino Perspectivas do comércio internacional Rubens Barbosa 16 18 Reportagens Posse na Sociedade Rural Brasileira Capa Renata Motta, Coordenadora da UPPM da SEC-SP 06 Crédito da Capa Thâmara Malfatti Créditos: J.Reis Cadastro Ambiental e seus reflexos Diagramação, Arte e Projeto Gráfico Luiz Carlos Cardoso Vale Impressão Gráfica 15º Agrocafé 52 Gráfica e Editora Ltda. http://www.52grafica.com.br Hands-on Editoração Eletrônica Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro Femagri 2014 Insegurança geral - Sacha Calmon Artigo Jurídico Diretoria Biênio 2013/2015 Presidente: Guilherme Braga Abreu Pires Filho Diretor-Secretário: Batista Mancini Diretor-Tesoureiro: Alexandre Pires Diretor de Patrimônio: Ruy Barreto Filho Gerente Geral: Guilherme Braga Abreu Pires Neto 16 Rodrigo Prado Figueiredo 30 Tipos de irrigação suplementar Sindicato do Comércio Atacadista de Café do Município do Rio de Janeiro J.B. Matiello 32 34 36 38 42 53 Diretoria Quadriênio 2010/2014 Café - desempenho no esporte e benefício à saúde Presidente: Guilherme Braga Abreu Pires Filho Secretário: Batista Mancini Tesoureiro: Guilherme Braga Abreu Pires Neto Diretor de Patrimônio: Ruy Barreto Filho Água Seca – Xico Graziano Conselho Administrativo Dados Estatísticos Fazenda São João do Penedo CSB Trading S/A Exp. e Importação Warrant Exp. Importação Ltda. Sumatra Comércio Exterior Ltda. Agropecuária São Francisco de Paula Ltda. GBP Consultoria Empresarial Unicafé Comércio Exterior EISA Empresa Interagrícola S/A Stockler Comercial e Exportadora Ltda. Halley Exp. e Imp. Ltda. Três Aranhas Com. e Ind. Ltda. Valorização Empresa de Café S/A Agropecuária Pedra Lisa S/A 42 Créditos: Mariana Bassani Panorama Evento Cecafé Conceição das Pedras/MG 54 Ponto de Vista: Do porto do café para Rua Quitanda, 191 - 8º andar - Centro - CEP: 20091-000 Rio de Janeiro - RJ - Brasil Fone: (21) 2516-3399 / Fax: (21) 2253-4873 [email protected] / www.cccrj.com.br as páginas da história 47 Revista do Café | março 2014 Consumo em alta deve consolidar um equilíbrio no mercado O Secretariado da OIC publicou, recentemente, um estudo amplo e abrangente com foco nas principais situações que caracterizaram o negócio cafeeiro mundial nos últimos 50 anos. O material enfatiza os comportamentos nas áreas de produção, consumo e preços e, sobretudo, oferece uma visão objetiva das perspectivas para o futuro. Intitulado World Coffee Trade (1963-2013), o documento ICC 111-5 examina também as importantes transformações que se observam nos dias de hoje no mundo do café, os desafios decorrentes e as oportunidades que se definem a partir dessa nova realidade. 4 As grandes questões que dão contornos aos novos desafios envolvem os efeitos causados pelas indiscutíveis mudanças no clima, que impactam grandemente o atual sistema de produção, os persistentes aumentos dos custos de produção em praticamente todos os países, a gestão dos riscos trazidos pela excessiva volatilidade dos preços, o desenvolvimento do consumo mundial e, com mais destaque, as implicações do conceito de produção sustentável. Embora a relevância e o interesse que cada um dos temas encerrem, no momento, entusiasmado pela eloquência de seus resultados e pela consideração de que o consumo é atu- almente o indicador mais positivo da atividade cafeeira, quero me deter e comentar os números apresentados sobre o valor agregado do consumo mundial. O estudo conclui, a partir dos dados do consumo mundial estimado e da metodologia adotada, que o valor agregado do consumo de café no ano de 2012 (142 milhões de sacas), incluindo os valores gerados entre as etapas da produção até o consumo final, atingiu a impressionante cifra de US$ 173,4 bilhões. Desse valor, US$ 147,8 bilhões referem-se ao consumo dos países importadores (98,5 milhões de sacas), enquanto US$ 15,6 bilhões correspondem ao consumo nos países produto- Consumo Mundial de Café 2,1% Período: Ano Civil de 1964, 1990 e 2012 Milhões de sacas 60 Kg Taxa de Crescimento 142,1 1,7% Taxa de Crescimento Milhões de sacas 89,8 Milhões de sacas 57,9 Milhões de sacas 2012 1990 1964 1,9% Taxa de Crescimento Revista do Café | março 2014 Fonte: OIC Elaboração: CeCafé Mercados 1964 Importadores Emergentes Exportadores res (43,5 milhões de sacas). O Brasil, mostrando a vitalidade de seu consumo interno, exibe somas de 20,1 milhões de sacas consumidas e uma receita de US$ 10,1 bilhões. Conforme o detalhamento feito pela OIC (ver dados estatísticos nesta edição pag. 36 e 37), nos países importadores, em termos de valores, o consumo fora do lar corresponde a 67,4% do valor do consumo total e representa US$ 99,7 bilhões, enquanto nos países produtores esse montante é de 61,3% e US$ 9,862 bilhões, respectivamente. O Brasil, por sua vez, teria, pela estimativa da organização, 95% do volume consumido no lar, no valor de US$ 5,529 bilhões, e 5% consumido fora do lar, com uma receita de US$ 4,578 bilhões. Na série de 50 anos considerada no levantamento, é notável a evolução do consumo de café nos três grandes mer- Milhões de sacas 44,6 60,2 1,2% 70,7 0,7% 2,9 10,2 5,0% 27,9 4,7% 10,4 19,4 2,4% 43,5 3,7% cados, a saber: importadores tradicionais (Europa, USA e Japão), importadores emergentes (Leste Europeu, Coréia, China, Austrália e outros) e países exportadores, como se vê na tabela (ao lado). O consumo cresceu a uma taxa de 1,9% ao ano no período 1964/2012, que evoluiu para 2,1% no período 1990/2012 e para 2,4% entre 2000 e 2012. Observa-se que a evolução do consumo nos mercados tradicionais foi mais lenta em comparação às taxas de crescimento dos outros grupos. Nesses mercados, o consumo cresceu a taxas de 0,7% ao ano e, consequentemente, houve redução do consumo per capita. No período 1990/2012, no grupo dos dez maiores consumidores, com exceção de Japão (1,6%), Canadá (2,6%) e Espanha (1,1%), todos exibiram aumentos inferiores a 1% ao ano. Esse modesto desempenho foi compensado Crescimento do Consumo Período: Ano Civil de 2003 a 2012 (Index 2003 = 100) 150 140 130 120 110 100 2003 2004 2012 Taxa Média de Crescimento Anual Milhões de sacas Importadores Tradicionais 1990 Milhões de sacas pelos aumentos ocorridos nos países importadores emergentes e no grupo de países produtores. Em resumo, os países importadores tradicionais, embora mostrem nesses últimos 50 anos um consumo que evoluiu de 44,6 milhões de sacas para 70,7 milhões, em termos relativos representam atualmente cerca de 50% do consumo mundial, em comparação com 65%, em 1990, e 77%, em 1964, ano seguinte à vigência do Acordo Internacional do Café. Na avaliação do estudo, as projeções para o consumo continuam otimistas. Sustenta-se que os países produtores e importadores emergentes continuam a apresentar um bom potencial para manter o crescimento observado em anos anteriores, alavancado pelo aumento da renda. Nos importadores tradicionais, a despeito de perda de participação relativa, a tendência de recuperação das taxas de crescimento observada nos últimos três anos, apoiada na recuperação de suas economias, em marcha, sugere um cenário animador. Esses fatores, por certo, poderão respaldar previsões no sentido de que o consumo mundial em 2023 deverá se aproximar da formidável cifra de 200 milhões de sacas. Isso, naturalmente, se formos capazes de superar os desafios desse novo cenário. Fonte: OIC Elaboração: CeCafé 5 Guilherme Braga Abreu Pires Filho Presidente do Centro de Comércio de Café do Rio de Janeiro 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Importadores Tradicionais Importadores Emergentes Exportadores Fonte: OIC Revista do Café | Taxa Média de Crescimento Anual março 2014 e Diretor Geral do CeCafé crédito: Acervo Museu DA IMIGRAÇÃO 6 Fachada da Hospedaria de Imigrantes, c. 1936 Museu da Imigração do Estado de São Paulo será reaberto ao público em maio Thâmara Malfatti Após o período de restauro, instituição reabre com novo plano museológico, exposição de longa duração e agenda diversificada de programações culturais Revista do Café | março 2014 crédito: Thâmara Malfatti 7 fachada restaurada C om reinauguração marcada para 31 de maio de 2014, o Museu da Imigração, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, reabre suas instalações com novo plano museológico e exposição de longa duração, completamente reformulada. O prédio, tombado pelo Conpresp e pelo Condephaat, passou pelo primeiro restauro completo desde que teve sua construção finalizada, em 1888. Sediado no edifício da antiga Hospedaria do Brás - patrimônio público e importante ícone da história do Estado e da cidade de São Paulo – o Museu da Imigração retoma as atividades com o objetivo de compreender e refletir o processo migratório a partir da história das 2,5 milhões de pessoas, de mais de 70 etnias, que passaram pelo prédio entre os anos de 1887 e 1978. Para o evento de reabertura do Museu, além da solenidade de reinauguração no período da manhã, a programação do dia segue com apresentações teatrais, de dança e música das comunidades de imigrantes e descendentes e show de Arnaldo Antunes, que encerra as atividades da data. Exposição de Longa Duração Em destaque entre as novidades do MI, está a exposição de longa duração que, em oito módulos, conta por meio de documentos, fotos, vídeos, depoimentos e objetos, como o processo migratório é um fenômeno permanente na história da humanidade. Apresenta ainda, um panorama da grande imigração ocorrida nos séculos XIX e XX, abordando o início das políticas imigratórias do país e detalhando o cotidiano da Hospedaria de Imigrantes. O público encontra também espaços de imersão - como uma sala que recria um amplo dormitório da antiga Hospedaria, com projeções em grande escala de trechos de cartas e trilha sonora especial. Também estão contextualizadas as questões relativas ao trabalho e encaminhamento para o Revista do Café | março 2014 O Museu da Imigração é uma instituição cultural estratégica para a cidade e o estado de São Paulo, preservando a memória das pessoas que chegaram a São Paulo, vindas de mais de 70 países e de todas as regiões brasileiras. Está localizado no bairro do Brás no antigo edifício da Hospedaria de Imigrantes, onde foram abrigados mais de 2,5 milhões de pessoas que passaram a compor a diversidade étnica e cultural paulista. É esse edifício impregnado de memórias e muitas histórias de vidas, que está sendo integralmente requalificado e, em breve, será reaberto para a população. Pela importância estratégica e relevância cultural, as obras de restauro do edifício e as ações para a nova implantação do Museu da Imigração estão contando com a atuação de equipes técnicas especializadas, em um investimento importante do Governo do Estado de São Paulo. Trata-se do primeiro restauro completo realizado na Hospedaria de Imigrantes desde a conclusão da sua construção, em 1888. Além da recuperação das fachadas e dos telhados, o edifício está sendo adequado às normas técnicas e de segurança atuais, com intervenções na infraestrutura elétrica, hidráulica, acessibilidade e paisagismo. É importante também destacar a instalação de climatização e de controle de umidade, que proporcionarão a melhor preservação do acervo do Museu e maior conforto para os visitantes. O edifício e os jardins restaurados já valerão uma (ou várias) visitas. Mas o que poderá ser visto e experimentado no Museu? Com uma nova exposição permanente, exposições temporárias e uma programação cultural intensa, o Museu da Imigração reabre com uma proposta que valoriza o encontro das múltiplas histórias e origens que conformaram nossa identidade paulista, colocando o público em contato com as lembranças daqueles que passaram pela Hospedaria. Mas, o Museu também reabre olhando para o presente e o futuro, fomentando o diálogo sobre as migrações como um fenômeno atual, que ainda repercute nos deslocamentos da cidade e na configuração dinâmica das nossas identidades. Renata Motta Coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Secretaria da Cultura campo e, na sequência, o módulo “São Paulo Cosmopolita” apresenta a cidade pela perspectiva dos bairros Bom Retiro, Mooca, Brás e Santo Amaro, homenageando com imagens e vídeos as referências imigrantes inscritas nas festividades, nos traços arquitetônicos e nas transformações culturais presentes nessas regiões. E para reiterar que a história da migração humana não deve ser encarada como uma questão relacionada exclusivamente ao passado, o MI procura fomentar durante esse trajeto expositivo o diálogo sobre o tema como um fenômeno contemporâneo, reconhecendo a recepção dos milhões de imigrantes atuais e a repercussão deste deslocamento para a cidade. No módulo “Imigração hoje”, um painel interativo forma um mosaico de rostos de diversas origens que reproduzem depoimentos de pessoas que passaram recentemente pela experiência de deslocamento. No último módulo do percurso, encontra-se ainda um espaço educativo destinado a acolher grupos e promover o desenvolvimento de atividades, oficinas e discussões. Arte contemporânea No primeiro momento da nova exposição de longa duração, o visitante encontra no trajeto uma obra de Nuno Ramos – importante nome da arte brasileira contemporânea – que busca ressignificar a relação estabelecida entre o homem, o trabalho e a diversidade de línguas. Inspirada em um trecho do livro “Isto é um Homem?” do escritor italiano Primo Levi, a instalação homônima, recria uma caçamba tombada com quase 30 mil tijolos marcados com palavras em francês, tcheco, iídiche, alemão, húngaro e inglês mencionadas no texto de Levi. Em outro momento da criação de Nuno, um único tijolo, posto sobre uma cadeira, dialoga com gravações de áudio que emitem o mesmo trecho do livro citado acima. Para Nuno Ramos é “como se o esforço e derrisão dos que construíram a torre de Babel fosse proporcional, em sua desmesura e inutilidade, à incompreensão e falta de comunicação entre os homens. Embora pertencente a uma experiência extrema e quase impensável (o Holocausto), sem qualquer proporção com o tema da imigração, não resta dúvida que a maldição do trabalho e a diáspora das línguas entrelaçam-se na vida do imigrante”. Acervo Digital Uma ferramenta que revoluciona o acesso a fragmentos da história paulista e brasileira. Assim pode ser definido o projeto Memória da Imigração, que por meio de um banco de dados online integra o acervo digital do Museu da Imigração – antigo Memorial do Imigrante – e do Arquivo Público do Estado de São Paulo. No total, são cerca de 250 mil páginas para consultas e download gratuito. No ano de 2013, o site do Museu da Imigração, que disponibiliza todo esse conteúdo para público, ultrapassou 1,2 milhão de acessos. Coordenado pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo, o trabalho teve início em janeiro de 2011 e envolveu etapas de organização documental, intervenções de conservação e preservação, digitalização e tratamento das imagens digitais. Como resultado, o banco de dados desenvolvido oferece acesso amplo, público, democrático e organizado a um acervo de inestimável valor material e imaterial relacionado à memória da imigração no Brasil, garantindo ainda a preservação dos documentos originais. Além de oferecer um campo de pesquisa geral – por localidade ou período – a ferramenta permite buscas específicas entre os tipos documentais “lista de bordo”, “cartas de chamada”, “registros de matrícula”, “requerimentos da Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas (SACOP)”, “jornais” – publicados por colônias imigrantes entre 1886 e 1987 –, “acervo cartográfico” – mapas e plantas de núcleos coloniais – e “iconográfico” – retratos de imigrantes, cartões postais, fotografias de viagens e da antiga hospedaria de imigrantes do Bras. Programação e funcionamento Nos meses de junho e julho, os dois primeiros após a reabertura, o Museu da Imigração será totalmente gratuito. O ingresso oferece acesso aos espaços expositivos, jardim, café, loja, biblioteca e área de convivên- cia. A Maria Fumaça, gerida pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, permanece com saídas regulares e pagas. Para a retomada das atividades, o MI prepara uma programação cultural que contempla diversos públicos. A agenda conta com apresentações de teatro, dança, música, oficinas e palestras sobre o patrimônio relacionado aos processos migratórios ligados a São Paulo. A localização do Museu - entre a Mooca e o Brás - privilegia o debate que envolve questões relativas à memória da cidade. No entorno, a herança da grande imigração - que ocorreu no fim do século XIX e início do XX - convive com os fluxos contemporâneos e com os traços de outras regiões do País. De acordo com Marília Bonas, diretora executiva da instituição, “a proposta é que o Museu se torne um espaço de articulação, promovendo reflexões sobre a experiência do deslocamento e a construção da identidade paulista a partir de múltiplas origens”. O Museu da Imigração fica à Rua Visconde de Parnaíba, 1316, no bairro da Mooca, em São Paulo. Após sua reabertura, o horário de funcionamento será de terça a sábado, das 9h às 17h, e aos domingos das 10h às 17h. Durante os meses de junho e julho o acesso aos espaços expositivos será gratuito. Quinzenalmente, às sextas-feiras, o MI oferecerá visitação noturna, ampliando seu horário de atendimento até às 21h. Outras informações estão disponíveis no site www.museudaimigracao.org. br. Luiz Marcos Suplicy Hafers, é presidente do Conselho de Administração da AAMC AAMC-integração da Imigração e Café. Os caminhos do café e da imigração no Brasil voltam a se cruzar. Após ser selecionada em chamada pública realizada em 2011 pela Secretaria de Estado da Cultura, a Associação dos Amigos do Museu do Café, Organização Social de Cultura, passou a ser responsável pela gestão do novo Museu da Imigração. A AAMC foi criada em 1998 para impulsionar o desenvolvimento do Museu do Café, em Santos/SP, tendo como objetivo posicioná-lo como o principal responsável pela preservação e divulgação da história do produto no Brasil e no mundo. A Associação - com o apoio das principais entidades de classe, torrefadores, produtores, exportadores, comerciantes, corretores e instituições congêneres - desenvolveu um amplo levantamento histórico e documental relativo aos negócios de café e a história paulista (contextualizando as repercussões da economia cafeeira também na arquitetura da cidade de Santos), iniciando assim um referencial escrito, iconográfico e de história oral. Hoje, o trabalho é ampliado à cidade de São Paulo, e tem um importante papel de preservar, pesquisar e comunicar o patrimônio material e imaterial ligado aos processos de deslocamentos mais recentes e ao acervo museológico e documental da antiga Hospedaria de Imigrantes, como os documentos provenientes de órgãos do Governo do Estado de São Paulo, cujas atividades eram ligadas a políticas imigratórias. 10 Feitos com um toque feminino Natália Fernandes C om habilidades exclusivas, a liderança das mulheres no mercado mostra que a dedicação e a paixão pelo que fazem tem gerado resultados incomparáveis nos mais variados segmentos do setor cafeeiro Um blend de profissionalismo, superação, paixão, gestão, eficiência, dedicação, conhecimento, delicadeza, reconhecimento, prazer, responsabilidade e construção de parcerias, é o que representa grandes mulheres do setor cafeeiro. Além do importante papel das mulheres na estruturação da família, elas conseguem conciliar jornadas de serviços domésticos, estudos Revista do Café | março 2014 e filhos, e ainda se dedicam com toda paixão e responsabilidade aos seus desafios profissionais. Com grande tradição, o Brasil se destaca como grande player do mercado mundial de café, exportando em média 60% de sua produção e atendendo cerca de 30% no mercado mundial. Enquanto isso, grandes mulheres se destacam na ocupação de cargos de alta gestão nos mais variados segmentos do mercado. Com habilidades exclusivas, a liderança feminina mostra que a dedicação e a paixão pelo café tem gerado resultados extraordinários. Marília Bonas Conte Diretora Executiva da Associação dos Amigos do Museu do Café Diretora Executiva da Associação dos Amigos do Museu do Café, Marília Bonas Conte se desafia trabalhando com o patrimônio do café no Brasil, despertando o reconhecimento do público em relação à importância das riquezas, tradição e história da cultura. Há quatro anos ela atua como gestora de dois museus da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo: o Museu do Café, em Santos, e o Museu da Imigração, em São Paulo. Por ser neta de imigrantes italianos que vieram para o Brasil para trabalhar nas lavouras de café, ela sente que sua responsabilidade em relação ao patrimônio da imigração e do café torna-se ainda maior. Dividida entre São Paulo e Santos, apaixonada pelo que faz, ela se dedica à articulação, planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades de ambos os museus. Assim, diariamente, transmite muito conhecimento ao público, ensinando que o café não é uma simples bebida, e sim um patrimônio que se bebe. 11 Flávia Barbosa Paulino da Costa Gerente de exportação da área de comercialização da Exportadora de Café Guaxupé Também neta de um apaixonado por café, Flávia Barbosa Paulino da Costa nasceu envolvida pela cultura, cresceu recebendo visitas na fazenda, brincando do terreiro e admirando floradas e colheitas. Sua vida profissional se iniciou no mercado financeiro, até decidir ir trabalhar com seu avô, o Sr. Olavo Barbosa, que atuou no setor por mais de 70 anos. Hoje ela se destaca como gerente de exportação da área de comercialização da Exportadora de Café Guaxupé. Amante do que faz e apaixonada por café e pelo dinamismo do mercado, ela se entusiasma com a colaboração que pode dar aos seus clientes produtores e torradores, além da forma com que seu trabalho contribui para as exportações do País. “O mundo do café é meio mágico. Você entra nele e não consegue sair. Me inspira os relacionamentos dentro desse mercado. Você conhece as pessoas que você faz a maioria dos seus negócios. No café estamos sempre aprendendo”, comenta Flávia. Revista do Café | março 2014 Sandra Regina Buzelli Gerente administrativa da exportadora Terra Forte 12 Além de Flávia Paulino da Costa, também promovendo grandes negócios no mercado internacional e agregando resultados à balança comercial brasileira, a experiência de 26 anos de Sandra Regina Buzelli, somada à sua seriedade, responsabilidade e dedicação peculiar à equipe com quem trabalha, tem gerado excelentes resultados à empresa e ao setor. Buzelli administra uma das maiores exportadoras de café arábica do País, a Terra Forte Exportação e Importação, onde preza pela qualidade de vida das pessoas e comunidades envolvidas, acreditando que o engajamento da equipe garante sucesso para os negócios da empresa e para o setor. E com as mulheres já presentes por todo o agronegócio café, o setor de cafés especiais, um dos que mais cresce não País, não podia deixar de contar com uma liderança feminina. Revista do Café | março 2014 Vanúsia Nogueira Diretora Executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) Vanúsia Nogueira está há 20 anos no setor e podese dizer que nasceu quase debaixo de um pé de café. Filha e neta de produtores e importantes profissionais do setor, é com amor e dedicação que ela segue se destacando frente à diretoria executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). Com um toque de Vanúsia Nogueira, a mudança de percepção do mundo quanto à qualidade do café brasileiro aconteceu e o Brasil conquistou espaço no mer- cado de cafés FairTrade, já contando com mais de 6.000 famílias envolvidas no País. Influenciando diretamente a melhoria da qualidade de vida do produtor brasileiro, bem como o reposicionamento do produto no mercado, principalmente internacional, ela tem seus feitos muito bem reconhecidos pelo setor, porém acredita que há muito por fazer para o correto posicionamento do café brasileiro nos mercados internacional e nacional. Mulheres, por um setor cafeeiro melhor e diferenciado Eis que um toque feminino de competência, delicadeza, dedicação, carinho e responsabilidade na liderança de empresas e instituições se torna tão importante para o desenvolvimento do agronegócio café e do País. A qualidade do trabalho exercido por mulheres como essas tem estimulado e motivado equipes e profissionais que trabalham mantendo valores, respeito, dedicação, paixão e claro, promovendo o sucesso dos negócios e do setor cafeeiro. Cláudia Marinelli 13 Coordenadora Geral de Planejamento e Estratégias do Departamento do Café do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Um pouco de conhecimento e experiência em cada elo da cadeia é sempre bem vindo em qualquer setor. Acompanhar e participar da tendência de se trabalhar conjuntamente todos os segmentos da cadeia já é tarefa de muitas dessas mulheres, como é também para Cláudia Marinelli. Coordenadora Geral de Planejamento e Estratégias do Departamento do Café do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Cláudia Marinelli tem o privilégio de coordenar uma equipe composta somente por mulheres. Juntas, elas atuam com representantes do governo e de todos os segmentos da cadeia, o que permite uma visão completa do setor e da sua importância para o País. De acordo com Cláudia, a formulação de políticas governamentais de apoio à pesquisa, produção, indústria e exportadores é imprescindível para o crescimento do setor. Frente a isso, os programas, ações e projetos coordenados por ela levam em conta todos os setores que compõem a cadeia do café, em especial o produtivo, visando a agregação de valor à cadeia. Ela considera um privilégio poder atuar junto aos representantes do governo e de todos os segmentos da cadeia, o que lhe permite ter uma visão completa da cadeia e o que inclusive lhe proporcionou o hábito de apreciar um bom café. Revista do Café | março 2014 O Brasil e as perspectivas do comércio internacional 14 O s resultados da balança comercial nos primeiros dois meses do ano foram muito negativos, com déficit de US$ 6,2 bilhões. As importações continuam crescendo mais do que as exportações, como vem ocorrendo há algum tempo. Persistem grandes incertezas sobre o desempenho comercial externo brasileiro em 2014. Cresce a dependência das importações de petróleo e aumenta a incerteza quanto aos mercados venezuelano, em grande crise, e argentino, que consome 19,4% de nossas exportações industriais e onde poderá haver mais de US$ 2 bilhões de redução de nossas exportações. A volatilidade dos preços dos produtos agrícolas e minerais, além da do câmbio, agora novamente com tendência a perigosa valorização, preocupa os exportadores. É difícil prever como terminará a balança comercial este ano, sobretudo pela perda da credibilidade dos dados ofi- Revista do Café | março 2014 ciais, manipulados para esconder um forte déficit no final de 2013. Nesse contexto, a evolução do comércio internacional em 2014 poderia ter efeitos positivos sobre as exportações brasileiras. Recente relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostra estagnação no comércio internacional em 2014. Mas essa não é exatamente a percepção do governo brasileiro, que acredita numa rápida expansão das trocas e no seu impacto positivo para as exportações do Brasil no corrente ano. Segundo o documento, o comércio global cresceu em 2013 abaixo dos 2,5% que haviam sido projetados. Para 2014 a OMC menciona a possibilidade de um crescimento maior, mas que continuará abaixo da média histórica de 5,5% dos anos 1990. Essa expectativa se fundamenta nas estimativas de crescimento dos EUA em cerca de 3%; da Europa, em 1%; do Japão, em 1,5%; e da China, em 7,5%. O mais provável será um crescimento em 2014 da mesma ordem do ocorrido em 2013, em vista dos riscos que ainda afetam a economia global e que terão impacto sobre a evolução das trocas internacionais. A OMC menciona como fatores que dificultarão o crescimento do intercâmbio global a modificação d a política monetária dos EUA com a gradual retirada dos estímulos expansionistas, a negociação sobre o limite da dívida dos EUA, a ameaça de deflação e persistente baixo crescimento da zona do euro, a expectativa de consolidação fiscal no Japão e crescimento mais fraco dos países emergentes. Por outro lado, as turbulências na América Latina, na Ásia e na Ucrânia, caso persistam por mais algum tempo, vão enfraquecer a demanda por bens e serviços dos países desenvolvidos. De conformidade com a OMC, o comércio mundial estagnou entre o segundo trimestre de 2012 e o segundo trimestre de 2013. Nesse período, a maior contribuição para seu crescimento foi dada pelos países emergentes. A situação em 2014 parece modificar-se com a desaceleração dos emergentes e o dinamismo das trocas, se ocorrer, virá dos EUA, da Europa e do Japão. O baixo crescimento do comércio internacional reflete não apenas a redução da demanda nos países emergentes, em razão do baixo nível do seu crescimento, e o pequeno crescimento entre os desenvolvidos, mas também o número cada vez maior de restrições ao livre fluxo de comércio. O trabalho mostra ainda que há uma clara tendência de aumento de medidas protecionistas em grande número de países. Foram 407 novas medidas restritivas e investigações para frear as importações em 2013, um aumento de cerca de 30% em relação às 308 em 2012. Essas medidas, que afetaram 1,3% das im- portações mundiais (US$ 240 bilhões), se somam ao vasto arsenal, cada vez mais sofisticado, de regulamentações que restringem o livre-comércio. Registre-se que o relat ó r i o da OMC aponta o Brasil como o país que mais pediu abertura de investigações antidumping para limitar importações por preços desleais no período de outubro de 2012 a novembro de 2013. É bem verdade que, enquanto nesse período o número cresceu nos demais países, no Brasil caiu para 39, comparado com 45 em 2012. A Índia, os EUA e a Argentina foram os outros países que mais recorreram a essa medida de defesa comercial. Em outro estudo divulgado pela OMC são feitos comentários sobre o que significa, para os países-membros e para a própria Organização, a fragmentação da produção global, negociada nos acordos regionais e bilaterais em vigor que normatizam as regras das cadeias de valor agregado. O representante comercial dos EUA, Mike Froman, candidamente admitiu isso ao referir-se às negociações entre seu país e a Europa: “Vamos ampliar o alcance desse acordo e incluir cláusulas ambientais e sociais, além de maiores exigências na proteção de pa- tentes”. Nesse contexto, estão sendo ultimados estudos para o lançamento de negociação de acordo plurilateral, fora da OMC, para a eliminação de tarifas sobre produtos ambientais, como equipamentos solares e centrais eólicas. O Brasil, carregando o fardo do Mercosul, continua isolado, à margem das grandes transformações que estão ocorrendo no comércio internacional e nas negociações que se desenvolvem fora da OMC. A tendência dos EUA e da Europa, assim como dos EUA e da Ásia, de avançarem nos entendimentos para chegarem a um acordo regional de livre-comércio fora da OMC dificilmente será revertida. O desafio para a OMC será encontrar uma fórmula de multilateralizar as regras desses acordos, que, em muitos casos, vão além do que já está aprovado pelos 160 paísesmembros da Organização. Esse é um dos maiores desafios que o Brasil terá de enfrentar nos próximos meses e anos em termos de negociações comerciais externas. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), por meio do Conselho de Comércio Exterior, e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) formaram uma força-tarefa para examinar essa questão e encaminhar o resultado do trabalho ao governo a título de cooperação. O mundo não vai esperar pelo Brasil. Rubens Barbosa, é presidente do Conselho de Comércio Exterior da FIESP Revista do Café | março 2014 15 O novo presidente Gustavo Diniz Junqueira Autoridades prestigiam posse do novo presidente da Rural A 16 Gustavo Diniz Junqueira, Governador Geraldo Alckmin, Fernando Henrique Cardoso e Cesário Ramalho Crédito: J.Reis utoridades prestigiaram a cerimônia de posse do novo presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Diniz Junqueira, em São Paulo. Estiveram presentes o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; o senador Eduardo Suplicy; o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso; a secretária da Agricultura de São Paulo, Mônika Bergamaschi; bem como os deputados federais Guilherme Campos, Marcos Montes, Revista do Café | março 2014 Eduardo Sciarra e Duarte Nogueira; e os deputados estaduais de São Paulo, Barros Munhoz, Welson Gasparini e Itamar Borges. O ex-prefeito da cidade São Paulo, Gilberto Kassab; o ex-governador, José Serra; o pré-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha; e o presidente do Conselho de Administração do Museu do Café, Luiz Marcos Suplicy Hafers, também marcaram presença. A abertura da solenidade foi feita pelo ex-presidente da Rural, Cesario Ramalho da Silva. Em sua fala, Ramalho assinalou que a evolução do agronegócio no período em que esteve à frente da entidade foi clara, e descortinou um Brasil, até então, ainda desconhecido para a grande maioria da sociedade urbana. “E foi por isso e outras coisas que nunca o setor passou a ser tão cortejado no plano político como está sendo agora.” O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou “A Rural é exemplo de continuidade das instituições no Brasil”, acrescentando que a entidade é viva e ativa porque é capaz de fazer sucessores. Segundo o ex-presidente, as palavras ditas pelo Cesário e pelo Gustavo mostram a afirmação do Brasil nos últimos anos, de um país que evoluiu. Todavia, FHC ressalvou que o Brasil tem o desafio de passar agora da quantidade para a qualidade, e que é preciso acreditar que mudanças são necessárias. “E esta transformação precisa ocorrer com respeito às regras”, concluiu. Dep. Duarte Nogueira, Gilberto Kassab e Gustavo Diniz Junqueira Novo presidente “ É por isso que nós do agronegócio precisamos conceber uma visão para o Brasil. Um plano de ação, lastreado na ciência, direcionado e implementado nas próximas décadas por uma classe média dinâmica de produtores rurais jovens e preparados para esta missão. “ Em seu pronunciamento, o novo presidente da entidade, Gustavo Diniz Junqueira, acentuou que o Brasil tem que fazer escolhas e reformas. O agronegócio brasileiro, disse, é um grande produto de inovação, onde realmente somos competitivos. “O produtor rural é um verdadeiro empresário do campo, e seja ele pequeno, médio ou grande, é o principal fator de sucesso do agronegócio.” Contudo, ponderou o novo presidente da Rural, para continuar em sua missão, o produtor precisa de previsibilidade, segurança jurídica, tecnologia, infraestrutura logística, seguro, gestão e acesso a mercados. “O aumento de custos e o estrangulamento da renda do produtor tem que ser uma preocupação de toda a sociedade”, alertou. Gustavo Junqueira chamou a atenção para o fato de que independentemente de quem seja o futuro presidente da República, do Senado, da Câmara, do Supremo Tribunal Federal, o agronegócio tem que ser compreendido como essencial para o País. “Promover o agronegócio é uma questão de segurança nacional, e o setor tem que estar no centro do planejamento estratégico e do processo decisório do Brasil”, frisou. Segundo o novo presidente da Rural, a retomada do crescimento econômico com desenvolvimento social e maior bem-estar exige estabilidade, planejamento e excelência na execução. Gustavo Junqueira Revista do Café | março 2014 Cadastramento ambiental rural e 18 A discussão e a aprovação do novo Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.561/2012) constituem um grande marco na legislação ambiental brasileira. Com certeza, as discussões travadas em torno deste tema constituíram-se em um dos momentos marcantes em relação à legislação ambiental brasileira. Até então, as questões ligadas a proteção e conservação das áreas florestais e seus fragmentos remanescentes, bem como a preservação das áreas consideradas como de Preservação Permanente, estavam reguladas pela Lei nº 4.771/65 e suas modificações posteriores, com especial destaque para a Medida Provisória 2.166-67/2001. Esta legislação, considerada durante muitos anos por alguns especialistas como avançada e adequada, passou a ser contestada a partir do momento em que sua aplicação passou a ser exigida e verificou-se a grande dificuldade desta aplicação em áreas com histórico de ocupação mais antigo. A partir destas constata- Revista do Café | março 2014 ções, iniciou-se um amplo debate relativo ao Código Florestal, com diversas contestações em relação a sua viabilidade operacional e aos conceitos utilizados pela legislação, em especial àqueles referentes aos parâmetros utilizados para o estabelecimento das faixas de preservação. As discussões ocorridas tiveram um forte componente de passionalidade, com a formação de grupos antagônicos (ambientalistas e ruralistas), o que levou à promulgação de uma nova legislação muito mais preocupada em solucionar os passivos ambientais históricos do que em promover uma conjunto de normas de valorização dos recursos florestais. Importante lembrar que o Código Florestal Brasileiro é um importante instrumento para a regulação do ordenamento territorial do país, uma vez que estabelece as normas relativas à manutenção de áreas consideradas como de preservação e aquelas necessárias à composição das reservas com cobertura vegetal natural. Em que pesem os passionalismos e as divergências corporativistas, a nova legislação estabeleceu um novo pacto relativo ao ordenamento territorial e ao uso do solo. Entre as principais alterações oriundas deste pacto, merece destaque especial a introdução do conceito relativo à “área rural consolidada”. A introdução deste conceito na legislação brasileira serviu como base para a aprovação do novo texto legal, uma vez que permitiu a solução de passivos ambientais históricos sem perdas econômicas significativas para os produtores rurais. Nesse conceito, considera-se como “área rural consolidada” a área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio (art. 3º, inciso IV da Lei nº 12.651/2012). Embora esse conceito tenha sido considerado genérico e causador de perdas significativas para a restauração das áreas de preservação permanente, permitiu a preservação de importantes áreas de cultivo incorporadas ao sistema produção, entre as quais as atividades cafeeiras localizadas em encostas e topos de morro. A outra ferramenta introduzida pela nova legislação e considerada fundamental para a consolidação nas novas regras legais foi o Cadastro Ambiental Rural – CAR, que passa a ser o principal instrumento voltado à regularização ambiental das propriedades. A definição do CAR está contida no art. 29 do Código Florestal e é descrito da seguinte forma: É criado o Cadastro Ambiental Rural – CAR, no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente – SINIMA, registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo a base de dados para o controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento. Do ponto de vista prático, o CAR será realizado através de uma plataforma eletrônica, que permitirá que todas as propriedades e posses rurais, independente de seu tamanho ou situação geográfica, sejam localizadas e identificadas em imagens de satélite, onde serão demarcados os seus limites, as Áreas de Preservação Permanente (APP’s), as áreas destinadas às Reservas Legais (RL’s) os remanescentes de vegetação nativa e seus reflexos nas atividades rurais as áreas já antropizadas ou de ocupação consolidada. Este cadastro servirá como “um passaporte” que dará acesso a todos os instrumentos criados pela lei, quais sejam: - substituição do procedimento de Averbação de Reserva Legal em cartórios pelo cadastramento (§ 4º do art. 18); - adesão ao Programa de Regularização Ambiental – PRA para adequação das propriedades e posses rurais aos termos da nova legislação (§ 2º do art. 59); - continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e turismo rural nas Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d´água, desde que consolidadas até 22 de julho de 2008 (art. 61-A); - redução das áreas de recomposição obrigatória em APP’s localizadas aos longos dos cursos d’água, desde que consideradas como áreas consolidadas nos termos da lei (§§ 1º a 8º do art. 61-A); - manutenção das atividades florestais, culturas de espécies lenhosas, perenes ou de ciclos longo, nas Áreas de Preservação Permanente com ocupação consolidada localizadas nas encostas com declividade acentuada, nas bordas dos tabuleiros e chapadas, nos topos de morros, montes, montanhas e serras e nas áreas com altitude superior a 1.800 metros (§§ 1º a 3º e caput do art. 63). Importante destacar que o CAR não é um documento ou título de reconhecimento de propriedade ou posse (§ 2º do art. 29), mas um cadastro de informações ambientais que permitirá uma avaliação mais detalhada das condições ambientais e da ocupação do solo nas diversas regiões. Desta forma, poderão ser estimados os déficits de cobertura vegetal nas APP’s e RL’s, o que permitirá que o poder público estabeleça as estratégias para sua correção por meio do Programa de Regularização Ambiental – PRA. O PRA será um programa ao qual os proprietários poderão aderir, através de um Termo de Compromisso, e que tem por finalidade permitir que sejam desenvolvidas ações de recuperação ou restauração de áreas que não estejam em conformidade com a legislação vigente. Este programa será detalhado e estruturado pelos Estados e pelo Distrito Federal e, durante sua execução, nos prazos estabelecidos do Termo de Compromisso, o proprietário ou posseiro não poderá ser autuado por infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008. Da mesma forma, cumpridas as obrigações estabelecidas no PRA ou no Termo de Compromisso, as autuações realizadas por infrações anteriores a esta data serão consideradas como convertidas em serviços ambientais. No caso de propriedades familiares, conforme estabelecido na legislação vigente, a implantação do PRA será realizada com o apoio e subsídio do poder público. Para todas estas ações é condição essencial que a propriedade encontre-se regularizada junto ao CAR. Finalmente devem ser consideradas ainda duas situações criadas pela nova legislação e que também se vinculam ao CAR. A primeira refere-se à possibilidade de utilizar as áreas com cobertura vegetal nativa excedentes aos percentuais estabelecidos para a Reserva Legal e que não se localizem em Áreas de Preservação Permanente – APP’s – para a criação de Cotas de Reserva Ambiental – CRA’s. Estas cotas poderão ser comercializadas ou transferidas a terceiros, visando a compensação de Reserva Legal para aquelas propriedades que apresentem déficits destas áreas. Esta operação somente poderá ser realizada para as propriedades que se encontrem devidamente cadastrada junto ao CAR. Em segundo lugar, a concessão de crédito rural, em qualquer de suas modalidades, após cinco anos de promulgação do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), somente poderá ser realizada para as propriedades que estejam devidamente regularizadasjunto ao CAR. Como se pode verificar, o Cadastro Ambiental Rural – CAR - é um instrumento essencial para a implantação e a consolidação da nova legislação. Essa consolidação trará segurança jurídica para as atividades rurais e permitirá que o país alcance um modelo de ordenamento territorial mais adequado. Para tanto, é necessário que o CAR seja implementado, considerando que já são passados dois anos da promulgação da lei, sob o risco de colocar em descrédito todo o esforço realizado na aprovação desse instrumento legal. Essa legislação, em que pesem todas as polêmicas e divergências levantadas quando de sua discussão e aprovação, representa o acordo possível para a melhoria das condições ambientais do meio rural. 19 Luiz Carlos Cardoso Vale, é Engenheiro florestal do Instituto Terra Brasilis Revista do Café | março 2014 CRÉDITOS: divulgação Discurso de abertura do Governador Jaques Wagner 15º agr café Simpósio Nacional do Agronegócio Café 20 Café: A força de uma nação A necessidade urgente de revisão das estratégias governamentais para a administração da safra de café no mercado foi um dos temas mais recorrentes nos discursos de abertura do Agrocafé 2014, realizado no Bahia Othon Palace, em Salvador/BA. A 15ª edição do evento ocorre em um momento de repentina recuperação de preços, após três anos de queda. O público teve presença maciça de produtores da agricultura familiar. Destaques na solenidade de abertura o governador da Bahia, Jaques Wagner; o dep. federal e presidente do CNC, Silas Brasileiro; o presidente da Faeb, Revista do Café | março 2014 João Martins; o diretor geral do Cecafé, Guilherme Braga; o presidente da ABIC, Américo Sato; o presidente da Assocafé, João Lopes Araújo; e o presidente de honra da entidade, Eduardo Salles. O governador enfatizou em seu discurso a presença de mais de 300 agricultores familiares e pequenos no evento, o que foi possível através da mobilização de Assocafé com Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Faeb. “Tenho muito orgulho dos cafés de qualidade que produzimos na Bahia, tantas vezes reconhecidos como dos melhores do mundo. Vejo neste evento cafeicultores de todos os portes. Para os pe- quenos, que hoje se concentram na produção de cafés especiais, sempre digo que, quanto mais ligados a Federações e associações estiverem, mais fortalecidos serão. Um evento como esse é a chance de muitos desses pequenos terem acesso à informação. Grandes e pequenos têm muito a compartilhar”, disse o governador, lembrando que a Bahia é o quarto maior produtor do Brasil. Wagner elogiou o tema do evento, “A Força de uma Nação” e lembrou a importância do café para a geração de empregos e riquezas. “O café tem um papel reservado e consagrado na economia e na política brasileira”, disse. João Lopes Riqueza vulnerável De acordo com João Lopes Araújo, da Assocafé, o momento não é de entusiasmo. A Bahia, explica, está saindo da maior seca de sua história e o café, como cultura perene é, foi uma das culturas mais vulneráveis à estiagem. “Foram três anos difíceis, numa coincidência perversa de produção reduzida e preços baixos. Há dois anos, alertávamos para a responsabilidade de administrar a entrada no mercado da maior safra brasileira de todos os tempos, de 55 milhões de sacas. Falhamos. A safra grande se repetiu e as falhas na gestão da entrada da safra no mercado se ampliaram. Chegamos próximo do preço de 2002, o pior da história”, afirmou. Segundo Lopes Araújo, com as notícias dos problemas climáticos nos estados de Minas Gerais e São Paulo, o “suposto” grande estoque que derrubou os preços anteriormente, repentinamente, desapareceu. “O mercado mostrou um grande apetite para compra de café. As três milhões de sacas vendidas nos leilões de opções feitos em novembro para entrega agora, não foram entregues, pois deixou de ser interessante, diante de preços melhores no mercado”, explicou. “Somos uma riqueza vulnerável”, concluiu o presidente. Para o deputado Silas Brasileiro, o veranico, surpreendeu o Brasil, mas não foi a única causa da mudança no mercado. “Muitos estão dizendo que a reação dos preços foi em função do veranico, mas, na verdade, se deve à política governamental, que colocou os maiores recursos da história na cafeicultura. “A presidente Dilma autorizou a retirada através de leilões de opções de três milhões de sacas do mercado. Dissemos para ela que as opções não seriam atendidas, como não foram, pois os preços ficariam mais interessantes”, concluiu Silas Brasileiro. Homenagens João Lopes assinalou a decisão da Assocafé de incluir na programação do Simpósio uma homenagem da cafeicultura baiana às entidades do agronegócio café em reconhecimento ao papel desempenhado por essas associações ao longo dos anos, não só na representação de seus associados, mas, sobretudo, atuando junto às autoridades governamentais no compartilhamento das responsabilidades na formulação das decisões da política cafeeira. Foram contempladas, além das 04 representações dos segmentos cafeeiros – ABICS, ABIC, CECAFÉ e CNC – também o IAC, Embrapa e OCB, pela relevância de suas atuações. Prêmio Agrocafé João Lopes e Dep. Silas Brasileiro Programação No programa de trabalho do Simpósio foram incluídos Painéis voltados para a análise da produção de café arábica e robusta e seu consumo nos principais países, apresentado pelos especialistas Carlos Brando e Silvio Leite. O Painel Rumos do Agronegócio Brasileiro, apresentado pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, gerou grande interesse dos participantes pela abordagem ampla e abrangente sobre as potencialidades da agropecuária brasileira. Com a presença de representantes de toda a cadeia Café, e sob a coordenação de Florindo D’Alberto, do IAPAR, foi desenvolvido o Painel Proposta de Marketing do Café Brasileiro, onde foram debatidas a conveniência e a necessidade da adoção de um programa permanente de promoção do café brasileiro, buscando a formação de uma imagem do Brasil como fonte de fornecimento de cafés de alta qualidade e produzidos dentro de elevados padrões de sustentabilidade. Além da discussão desses temas, o 15º Agrocafé disponibilizou aos produtores participantes um grande número de cursos de treinamento e atualização. Entre esses cursos, temas ligados às atividades de produção, abrangendo desde aspectos relacionados ao manejo, tecnologia de produção, passando pela pesquisa, legislação trabalhista, melhoria de qualidade e arranjos produtivos da cafeicultura familiar. João Lopes, Guilherme Braga e Antônio Carlos Berenguer Mesa abertura Cooxupé divulga balanço da FEMAGRI 2014 24 Feira recebeu cerca de 23 mil pessoas e gerou R$ 55 milhões em volume de orçamentos. Apesar do momento cauteloso na cafeicultura, produtor está investindo para melhorar a produtividade A 13ª edição da FEMAGRI - Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas atingiu as expectativas da Cooxupé – Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé. Durante os três dias de evento, perto de 23 mil pessoas passaram pelo local, número superior ao ano passado. No total, a FEMAGRI 2014 gerou R$ 55.379.566,00 em volume de orçamentos, dos quais R$ 42,8 milhões foram comercializados pela Cooxupé. Revista do Café | CRÉDITOS: Ricardo Dias / Queila Panhotta março 2014 Já os tratores e colheitadeiras chegaram à ordem de R$ 12,5 milhões. Novidades em maquinário, implementos e insumos agrícolas foram apresentadas às famílias cafeicultoras que compareceram à Feira em busca de soluções para mecanizar suas lavouras e aumentar a qualidade de suas produções, nos 140 estandes sediados por 110 empresas expositoras. Numa área de 107 mil m², dos quais 20 mil correspondem à área coberta, a feira condicionou ao cafeicultor a oportunidade de negociar utilizando o café como moeda de troca num prazo de pagamento de três anos com valores pré-estabelecidos, de acordo com a cotação da saca de café. Com o tema “Infraestrutura Adequada: reduzindo custos e agregando valor à sua produção”, a FEMAGRI recebeu visitantes de 232 municípios de 13 estados brasileiros, além de outros países como Argentina, Estados Unidos, Itália, Inglaterra e México. Segundo Carlos Alberto Paulino da Costa (foto), presidente da Cooxupé, apesar do momento enfrentado pela cafeicultura ainda exigir certa cautela, o produtor – dentro de suas possibilidades – confiou na mensagem passada pela Feira. “Mesmo percebendo o cuidado do produtor em assumir compromissos financeiros, vimos o interesse dele em investir logo no primeiro dia do evento, quando registramos um volume de negócios maior comparado ao primeiro dia do ano anterior. REVOLVEDORA DE CAFÉ Esta edição da FEMAGRI trouxe para o produtor de café uma série de inovações que visam a diminuição dos custos de produção. Um dos destaques deste ano foi a “Revolvedora de Café” (foto abaixo), maquinário lançado durante a feira que promove a secagem de café no terreiro, tornando possível a automatização desta etapa de beneficiamento do café. “Com esta tecnologia, é possível mexer no terreiro o dia todo, revolvendo o grão, promovendo uma secagem mais eficiente e com menor custo, pois abre espaço para que o cafeicultor cuide de outras etapas da produção cafeeira”, explica Elmo Donizetti de Cistolo, Gerente de Planejamento, Administração e Serviços da Cooxupé. A tecnologia exclusiva, desenvolvida pela empresa Pergaminno em parceria com a Cooxupé, ficou exposta na Fazendinha da FEMAGRI, espaço do evento onde o produtor tem acesso ao funcionamento das máquinas. Além do custo baixo do produto, a “Revolvedora de Café RCR-14” quase não precisa de manutenção e é de fácil utilização e montagem. “Este equipamento chegou de acordo com a demanda e o próprio tema do evento, que é reduzir custos com soluções práticas, inteligentes e que cabem no bolso de nosso cooperado. Além de simples, a tecnologia realiza a secagem do grão com mais eficiência, contribuindo para a qualidade do grão, influenciando diretamente na melhoria do preço da saca”, avalia o Coordenador de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé, Mário Ferraz de Araújo. O projeto de pesquisa foi financiado pela Fapesp (Fundação de Pesquisa do Estado de São Paulo) e a Cooxupé colaborou indicando propriedades para testes e acompanhando o desempenho do equipamento, sugerindo mudanças para melhorias. O custo do maquinário pode ser pago em uma safra. A tecnologia ainda possui revolvimento regular e programável e funciona dia e noite, podendo reduzir o tempo de secagem do grão para até 7 dias. “É uma grande vantagem já que o tempo médio de secagem é de 22 dias”, explica FEMAGRI EM NÚMEROS Mário Ferraz. Segundo o parecer técnico da cooperativa, feito Público: perto de 23 mil pessoas. por técnicos da Cooxupé durante a pesquisa, a secaVisitantes de: 232 municípios, 13 estados do Brasil, 5 países. gem feita pela RCR14 contornou as dificuldades do processo realizado em terreiros convencionais, proVolume total de orçamentos: R$ 55,3 milhões porcionando grãos mais homogêneos, com umidade Comercializados pela Cooxupé: R$ 42,8 milhões ideal, resultando em uma bebida de maior qualidade. Tratores e colheitadeiras: R$ 12,5 milhões. Área: 107 mil m² | Coberta: 20 mil m². Estandes: 140. Empresas expositoras: 110 Estacionamento: 8.742 veículos e 61 ônibus e vans. Doses cafés e cappuccinos: mais de 34 mil. Insegurança geral D 26 a retina não me sai a presidente alisando a cabeça de Fidel Castro, do único país comunista do mundo ocidental. Ouvi sua condenação ao povo nas ruas a exigir a renúncia, sem golpe de Estado como na Ucrânia, do inepto Maduro a desgraçar a Venezuela. Trata-se de um regime ditatorial, violento, corrupto, populista, com “milícias paramilitares” e repressão policial, que fez do Judiciário uma sucursal do Executivo e “aparelhou” as Forças Armadas. Além disso, organizou “movimentos populares”, com políticas paternalistas para tornar as eleições “meras homologações” de projetos de poder, como os que se desenvolvem na Bolívia, na Nicarágua, no Equador e na Argentina, simulacros de regimes democráticos. O que há de comum entre eles é a incessante política assistencialista, por meio de caríssimos programas de transferência de renda patrocinados com o dinheiro das receitas e tributos do Estado para as classes mais pobres. “As eleições” são “sacralizadas” como sinônimo de democracia (eleitores “cativados” por mesadas e ignorância cultural). As instituições democráticas — menos as eleições viciadas — são vilipendiadas progressivamente (censura à imprensa, indicação de juízes “a dedo”, formação de “bases legislativas” em troca de favores e economia dirigida, com elevado teor de corrupção). Esse aligeirado apanhado tem sido referendado por analistas políticos independentes, sociólogos e historiadores não colonizados pelo “esquerdismo estatizante” que domina — para consternação do mundo — boa parte da imprensa e da academia nas américas Central e do Sul, as mais atrasadas politicamente, à frente apenas da África subsaariana. Para esses intelectuais, o Estado deve dominar a economia, dirigi-la a serviço das “classes despossuídas”, fruto da desigualdade secular que domina o continente, em nome do “socialismo do século 21”, que ninguém sabe o que é (ausência conceitual), mas cujos exemplos são ruins, como mostram a Venezuela, e, mais perto de nós, a Argentina. A nossa presidente, ao dizer — sem nenhuma censura ao Sr. Maduro — que “não se pode esquecer as conquistas sociais da República Bolivariana”, revelou o seu comprometimento. A PDVSA (empresa estatal petrolífera venezuelana) está falida e o povo de lá com as partes fedendo, pois lhe falta papel higiênico. Se tais são as conquistas sociais, já que não há educação, comida, saúde e segurança de qualidade, só temos a dizer que elas não nos interessam. Não queremos a Petrobras, que perdeu 80% do seu valor durante os três anos do governo Dilma, equiparada à PDVSA. O controle dos preços dos combustíveis, para garantir a reeleição, está a sacrificar o patrimônio público e privado dos acionistas e pode implicar responsabilidade cível e criminal. Não queremos que nossa imprensa, dúbia e respeitosa dos interesses do poder, pois são permitidas pelo governo como concessionárias, venha a calar-se ou a desfazer-se de suas “licenças” por imposição governamental, como ocorreu na Argentina. Não queremos a hiperinflação argentina ou venezuelana, em razão de inoperantes controles de preços e do câmbio. A presidente do Brasil está também segurando os preços administrados (combustíveis, energia elétrica, tarifas diversas) e “sujando” o câmbio com operações de contenção do Banco Central. O câmbio é livre, mas nem tanto, e são vários (comercial, turismo, paralelo). O secretário-geral da Presidência da República ocultou o caso da Sra. Rose, que o representava na cidade de São Paulo e agora vem a público dizer-nos que a Petrobras vai continuar a patrocinar eventos do MST e ONGS, em nome da “democracia popular”… Se já não bastassem as inseguranças jurídica, policial, da saúde, educacional, habitacional e da mobilidade urbana, ainda temos que suportar a insegurança político-institucional. Queremos ser uma democracia sem adjetivos, como a canadense, a chilena, a dos países europeus, sem sobressaltos. Queremos a prevalência do Art. 60, § 4º da Constituição, “verbis”: “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada (…) § 4º – Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos poderes; IV – os direitos e garantias individuais”. Tomemos cuidados. É hora de mudar os critérios de indicação dos ministros do Supre- mo Tribunal, guarda da Constituição. O chefe do Executivo não deve indicá-los, à vista do que ocorre no continente. O modelo das cortes constitucionais europeias nos cairia bem. O modelo americano que seguimos não está combinando mais com a nossa realidade. É preciso que a OAB, os conselhos nacionais de Justiça e do Ministério Público, o Congresso, o Colégio de Presidentes de Tribunais Estaduais e a Presidência, nessa ordem, indiquem os ministros para a Corte Suprema. Aperfeiçoaria a separação de poderes no Brasil, a bem da sociedade civil e da segurança jurídica. Sacha Calmon, é advogado tributarista, um estudioso de todas as religiões e mitos e um apaixonado fã de cinema, música, arte e do América 28 Processo administrativo tributário federal A través do presente artigo buscaremos abordar, sinteticamente, as possibilidades e os recursos cabíveis no âmbito do Processo Administrativo Tributário Federal, regulado através do Decreto nº 70.235/72 (e alterações posteriores), e pela Portaria nº 256/2009 (Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF). Neste particular, merece ser desde logo destacado que, apesar de existirem algumas semelhanças entre os ritos processuais das esferas administrativas e judiciais, quando analisados separadamente os Regimentos Internos dos Órgãos Julgadores competentes de ambas as esferas, assim como as normas que regem os seus respectivos recursos, substanciais diferenças se revelam, sendo que, no caso do Processo Administrativo Revista do Café | março 2014 Tributário Federal, iremos então destacar as suas principais particularidades. O Processo Administrativo Tributário Federal pode ser iniciado basicamente de 02 (duas) formas: 1ª) Por iniciativa dos contribuintes, quando estes apresentam Pedidos de Ressarcimento/Compensação, ou mesmo formulam Consultas acerca da interpretação da legislação tributária; e 2ª) Por iniciativa do Fisco, através da expedição de Notificações de Lançamento ou Autos de Infração. Relativamente aos Pedidos de Ressarcimento/Compensação, quando a Administração Tributária efetua a glosa parcial ou integral do direito creditório requerido pelo contribuinte, esta glosa é formalizada através de um Despacho Decisório, o qual posteriormente é submetido ao exame do Delegado da Delegacia da Receita Federal do Brasil, para fins de eventual aprovação. Após estes procedimentos, em sendo confirmada a glosa, o contribuinte então é intimado para apresentar no prazo de 30 (trinta) dias, a sua peça de manifestação de inconformidade em face do Despacho Decisório, questionando os seus fundamentos, a qual será submetida à apreciação da primeira instância administrativa, no caso, a Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento – DRJ. Destaque-se, ainda, que a DRJ também é órgão da Administração Tributária competente para o exame das defesas apresentadas em face de Notificações de Lançamento e/ou Autos de Infração, quando o contribuinte apresenta sua peça de impugnação contestando a cobrança de créditos tributários. Nestes termos, em prol da garantia ao duplo grau de jurisdição - garantia esta que também fora reconhecida quando da assinatura do Pacto de San José da Costa Rica (cuja Conferência foi ratificada pelo Brasil em 25.09.1992) -, na hipótese de o contribuinte não obter êxito quando do julgamento no âmbito das DRJ’s, lhe é facultado apresentar o Recurso Voluntário ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF, o qual será então apreciado com base nas regras esta- belecidas pelo Regimento Interno do referido órgão (Portaria nº 256/2009). Assim, tão logo recebido o Recurso Voluntário pelo CARF, o mesmo será então encaminhado para uma de suas 03 (três) Seções de Julgamento, de acordo com a matéria a ser examinada, conforme box abaixo: 1ª Seção de Julgamento – Compete julgar Recursos Voluntários que versem sobre a aplicação da legislação de IRPJ; CSLL; IRRF (quando se tratar de antecipação do IRPJ); SIMPLES; Empréstimos Compulsórios, e demais tributos e penalidades por descumprimento de obrigações acessórias reflexas aos tributos anteriormente citados. 2ª Seção de Julgamento – Compete julgar Recursos Voluntários que versem sobre a aplicação da legislação de IRPF; IRRF; ITR; Contribuições Previdenciárias, e penalidades por descumprimento de obrigações acessórias reflexas aos tributos anteriormente citados. 3ª Seção de Julgamento – Compete julgar Recursos Voluntários que versem sobre a aplicação da legislação do PIS e da COFINS; FINSOCIAL; IPI; Crédito Presumido do PIS/COFINS/IPI; CPMF; IPMF; IOF; CIDE; II; IE; Contribuições Previdenciárias; contribuições, taxas e infrações cambiais e administrativas relacionadas com a importação e a exportação, classificação tarifária de mercadorias; isenção, redução e suspensão de tributos incidentes na importação e na exportação, vistoria aduaneira, dano ou avaria, falta ou extravio de mercadoria; omissão, incorreção, falta de manifesto ou documento equivalente, bem como falta de volume manifestado; infração relativa à fatura comercial e a outros documentos exigidos na importação e na exportação; trânsito aduaneiro e demais regimes aduaneiros especiais, e dos regimes aplicados em áreas especiais, salvo a hipótese prevista no inciso XVII do art. 105 do Decreto-Lei n° 37, de 18 de novembro de 1966; remessa postal internacional, salvo as hipóteses previstas nos incisos XV e XVI, do art. 105, do Decreto-Lei n° 37, de 1966; valor aduaneiro; bagagem; e penalidades pelo descumprimento de obrigações acessórias pelas pessoas físicas e jurídicas, relativamente aos tributos anteriormente citados. Após o recebimento do recurso voluntário por uma das Seções do CARF, o mesmo será então distribuído a uma das Câmaras/Turmas julgadoras, composta por 06 (seis) Conselheiros, sendo 03 (três) representantes dos contribuintes, e 03 (três) representantes da Fazenda, a qual sempre é presidida por um representante da Fazenda Na hipótese de ser negado provimento ao recurso voluntário, após a formalização deste resultado, através do competente Acórdão, caberá, ainda, o Recurso Especial de Divergência, o qual será dirigido à Câmara Superior de Recursos Fiscais CSRF, sendo esta a ulterior instância administrativa. Ressalte-se que é prerrogativa da Câmara prolatora do acórdão recorrido, examinar a admissibilidade, ou não, do referido recurso, o qual será admitido, desde que demonstrada a divergência entre o acórdão recorrido e outro julgado, proferido por Câma- ra distinta. Caso contrário, o recurso será inadmitido, não cabendo reexame desta inadmissibilidade, situação esta que poderá vir a ser alterada, se for aprovado o Projeto de Lei do Senado nº 222/2013, na medida em que, em seu artigo 2º, inciso V, parágrafo 5º, tal possibilidade foi novamente incorporada ao texto legal. Por fim, lembramos que, em paralelo aos recursos anteriormente indicados, há também que se vislumbrar que, nos casos de irresignação do contribuinte contra atos ou despachos da Administração Tributária Federal, que não tenham sido formalizados através de Despachos Decisórios ou mesmo Acórdãos, o mesmo poderá alternativamente apresentar o Recurso Administrativo com fulcro no artigo 56 e seguintes da Lei nº 9.784/99, uma vez que sempre lhe será garantido o duplo grau de jurisdição. Em breve síntese, esta é a sistemática processual tributária na esfera federal, de onde se depreende a existência de 03 (três) instâncias julgadoras administrativas (Primeira Instância – DRJ’s; Segunda Instância – CARF; e Terceira Instância – CSRF), independentes entre si, porém, com uma hierarquia que permite aos contribuintes buscar a reforma de decisões desfavoráveis até a última instância administrativa. Rodrigo do Prado Figueiredo, é sócio do Escritório Lourenço & Rodrigues Advogados Tipos de irrigação suplementar, “de salvação”, em cafezais. J.B. Matiello e Rodrigo N. Paiva, Engs Agrs Fundação Procafé e Salvio Gonçalves, Eng Agr Consultor em cafeicultura D 30 iz-se que, nós brasileiros, só fechamos as portas depois do roubo acontecido, sendo que este dito também se mostra válido em relação ao uso de irrigação em nossos cafezais. A estiagem recente mostrou a nossa falta de prevenção, quanto aos riscos de escassez de chuvas e de suas perdas na produção de café. No campo, em muitas regiões, foi possível observar que um pequeno fornecimento de água, através de apenas 1-2 irrigações, em jan/fev, evitaria perdas significativas, em alguns casos de até de 100%, por falta de granação dos frutos, alem das perdas vegetativas. Pois bem, sabemos que dor de barriga não dá só uma vez. Por isso, preparamos um resumo do que poderá ser feito, para o futuro, em termos de suprimento de água aos cafezais, de forma mais econômica. Sabemos que a irrigação não é possível em todas as propriedades e lavouras. Por isso apresentamos alternativas de sistemas, que podem ser adequados às diferentes condições dos produtores. A irrigação suplementar ou de salvação, como o nome Revista do Café | março 2014 indica, visa atender apenas a períodos críticos da lavoura, para garantir sua produtividade, acudindo, principalmente, nos anos e em períodos nos quais a distribuição de chuvas venha a se mostrar insuficiente, para suprir bem a água ao cafeeiro. Na cafeicultura de regiões climaticamente aptas à cafeicultura, como o Sul de Minas, em condições normais, o balanço hídrico é adequado, com suficiente ou excedente hídrico no período entre setembro-outubro a maio e com um período seco, acumulando um pequeno déficit, de 100-120 mm, de junho a agosto. Nesta situação não seria necessário irrigar os cafezais. Nos últimos 10 anos, entretanto, vêm ocorrendo déficits hídricos em 3 períodos mais significativos, sendo: 1- No inicio do período chuvoso, com as precipitações muitas vezes atrasando, só começando em final de novembro - início de dezembro. 2- No final do período chuvoso, com o término das chuvas mais cedo, em abril. 3- Em veranicos, em jan-fev como ocorreu neste ano. Em função disto, os ensaios de irrigação suplementar, rea- lizados em Varginha, mostraram, de 2006 a 2011, um acréscimo médio de 14 sacas por ha/ano, equivalendo a um aumento de cerca de 28 % na produtividade(tabela 1). Lógico que o aumento produtivo pela irrigação vai depender muito do regime de chuvas a cada ano/período considerado. Fosse um ano como o atual, especialmente em cafezais mais jovens e em regiões de altitudes mais baixas, o diferencial produtivo seria muito maior. Nas regiões com períodos eventuais de déficits hídricos, conforme visto anteriormente, seria menos justificável investir em sistemas de irrigação que requerem maior uso de capital fixo, embora, mesmo assim, eles acabem sendo economicamente vantajosos. Deste modo, para suplementação, seriam menos indicados sistemas com pivôs, gotejamento e até a micro-aspersão, embora eles possam atender, operacionalmente, até melhor, nos deficits eventuais. A indicação de uso em suplementação seria, então, de sistemas mais simples e mais baratos, entre os quais destacam-se 4 tipos (ver box): 1- Instalação de aspersão em malha larga, sistema fixo, com tubos de terminais de maior diâmetro (50mm) e aspersores de maior vazão e com maior diâmetro molhado, podendo ficar distantes de cerca de 30x30 m. Este sistema é de baixo custo, podendo ficar na faixa de 2-2,5 mil reais por ha, sendo de fácil operação, um só operador podendo cuidar de 30-50 ha. Como distribui água em toda a área ele se adapta melhor a lavouras adensadas ou semi adensadas. 2- Instalação de tubos de distribuição fixos ou móveis e uso de terminais de distribuição através de mangueiras perfuradas. Este sistema é, ainda, mais econômico que o anterior na instalação, porém exige mais mão de obra operacional, sendo necessários 4-5 trabalhadores cada 30-50 ha. No entanto, tem a vantagem de gastar menos água, pois pode fazer uma irrigação localizada, junto à linha de cafeeiros. Detalhe do terminal de irrigação por aspersão em malha larga, vendo-se o tubo de subida, de 1 1/2” de diâmetro, o registro, e o aspersor (8 m3 /h).funcionando, a cada 30 m de distância. 3- Irrigação de aspersão móvel, com canhões aspersores, com custo comparável ou pouco mais baixo do que o anterior, porém exige muito trabalho para montagem e desmontagem. Tem a vantagem de poder ser usado, também, para outras áreas e outros cultivos. 4- Irrigação de micro-aspersão com micro-jets, sobre mangueiras semelhantes às de gotejamento, apenas são mais rústicos e não entopem com facilidade. Seu custo é ligeiramente inferior ao do gotejamento. Irrigação com micro-aspersão molhando uma faixa de cerca de 1m de largura, junto à linha de café novo, replantado no meio de lavoura velha recepada. Detalhe do micro Jet à direita. Na escolha de um dos sistemas deve-se observar os aspectos inerentes ao sistema (quanto aos seus custos de implantação e de operação e sua durabilidade). Deve-se considerar, ainda, o tipo de lavoura (espaçamento, idade, topografia) e a quantidade e qualidade de água disponível, relativamente ao uso de irrigação em área total ou localizada. Em lavouras em formação ou em sistema de plantio com espaçamentos um pouco mais largos pode-se implantar o sistema de malha (1), porém, operando, temporariamente, de forma localizada, trabalhando com terminais de mangueiras perfuradas (2). Tabela 1. Produção obtida em 6 safras em cafeeiros com e sem irrigação suplementar, no Sul de Minas Gerais, Varginha - MG, 2011 Produtividade, em scs/ha, nas safras Tratamentos 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Média 2006-11 Testemunha (sem irrigação) 60,3a 8,6b 68,0a 47,7b 48,1b 66,6b 49,9 Com irrigação suplementar(*) 63,4a 55,2a 68,0a 72,1a 43,5b 78,8a 63,5 Irrigação de salvação com terminal de tripa perfurada tipo Santeno, molhando 2 linhas de cafeeiros. 31 (*) - Lâminas de irrigação suplementar aplicadas em cada ano:2006: 60 mm (maio a junho) e 30 mm em setembro – 2007: 150 mm (abril a maio) e 150 mm em setembro – 2008: 40 mm (maio) – 2009: 50 mm (maio a junho) – 2010: 100 mm (maio a junho) e 60 mm em setembro – 2011: 30 mm (fevereiro) e 40 mm (junho) e 40 mm setembro Fonte – Paiva, Garcia, Matiello, Padilha, Figueiredo e Lacerda, Anais do 37º CBPC, Funprocafé, 2011, p. 315. Resultado do veranico, em jan-fev de 2014, um cafeeiro irrigado ao lado de outro(esq.) sem irrigação. Alfenas-MG No sistema de mangueiras, com terminais curtos de tubos pefurados, pode-se ver a saida das mangueiras, em engate rápido, das tubulações, e os esquichos, dos furos, a cada 30-40 cm, de onde a água sai até o solo. Cortando-se os frutos afetados pela seca pode-se ver o encolhimento das sementes e a formação de uma camada de ar no interior, o que levará ao chochamento. Revista do Café | março 2014 Café melhora o desempenho no esporte e traz benefício à saúde Flávia Bessa 32 A comunidade médica e de pesquisadores considera, há alguns anos, o café benéfico à saúde humana e eficaz na prevenção de doenças, se consumido em doses moderadas, de 3 a 4 xícaras diárias (500 mg/dia). Pesquisas realizadas no âmbito do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, comprovaram que o café possui, além da cafeína, vitaminas e nutrientes básicos como potássio, zinco, cálcio, ferro, magnésio e diversos outros minerais, além de compostos antioxidantes, entre eles os ácidos clorogênicos. (Para saber mais, acesse a publicação Café & Saúde Humana, do Consórcio Pesquisa Café). Estudos do Prof. Dr. Darcy Roberto Lima - divulgados no site da ABIC, entidade parceira do Consórcio - apontam a ca- Revista do Café | março 2014 feína como importante agente modulador do rendimento físico em vários tipos de atividades esportivas e potencializador da performance durante os exercícios. Em atletas que tomam café diariamente durante os treinos, na dose mínima de 4 xícaras, a cafeína atua como estimulante do sistema nervoso e, por retardar a sensação de fadiga, propicia o fortalecimento dos músculos. Ajuda, ainda, na mobilização de substratos de energia para o trabalho muscular. O resultado é mais rendimento físico e queima de gordura como fonte de energia em vez de açúcares encontrados nos carboidratos. Cafeína no esporte Nos últimos anos, a cafeína tem sido alvo de inúmeros estudos envolvendo práticas desportivas de resistência, como o ciclismo, o atletismo e a natação. No futebol, por exemplo, considera-se que a cafeína aumenta o desempenho, melhora o tempo de reação, atenção mental e pro- cessamento visual. De acordo com a nutricionista e coordenadora de projetos da ABIC, Mônica Pinto, a cafeína, ingerida nas doses recomendadas, aumenta a descarga de endorfinas no cérebro. As endorfinas são substâncias que dão sensação de prazer; portanto, com mais endorfinas, os atletas têm mais estímulo para prosseguir a atividade física. “Esse estímulo é a chamada autogratificação, cujo nível mais alto é alcançado no cérebro com o consumo do café. Os cérebros, ao receberem essa informação de presença mínima de cafeína por meio do consumo diário de pelo menos 4 xícaras de café, têm mais capacidade de produzir a autogratificação, melhorando, ao longo do tempo, de forma significativa, o desempenho dos atletas. Esse efeito é observado tanto em atletas profissionais como nos de fim de semana, sendo mais comum nos primeiros em função da disciplina que a atividade física impõe”, explica Mônica. Segundo artigos publicados nas Cartas Médicas Café & Saúde, a autogratificação faz com que o atleta treinado siga Café e futebol A relação entre café e esporte não se resume aos benefícios no desempenho e performance. Na Copa do Mundo de Futebol na Espanha em 1982, foi lançada a marca “Cafés do Brasil” para representar o patrocínio do Instituto Brasileiro do Café - IBC à Confederação Brasileira de Futebol - CBF. A marca, que ficou conhecida nos últimos 32 anos como símbolo do café brasileiro, foi borda- da no escudo da CBF. Hoje a marca Cafés do Brasil, registrada no ano 2000 no Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI pela Associação Brasileira da Indústria do Café - ABIC, é utilizada para identificar, em todo o mundo, os cafés de origem brasileira. O logotipo “Cafés do Brasil” pode ser utilizado por entidades do Governo Brasileiro, empresários e exportadores, contanto que usem a marca corretamente para criar identidade para os cafés brasileiros e contribuir para o fortalecimento da imagem da cafeicultura brasileira no Brasil e no exterior. Café e Saúde Decifrar os efeitos do café na saúde humana tem sido objetivo da comunidade médica e de pesquisadores em nível internacional. Nesse contexto, entre os vários estudos estimulados ou patrocinados pelo Consórcio Pesquisa Café, há os que vêm comprovando que o café pode ser consumido por pessoas com problemas no coração. Pesquisas com esse objetivo, há quatro anos, vêm sendo desenvolvidas na Unidade Café e Coração do InCor por meio de parceria com o Consórcio. Outro exemplo de estudo é o que demostra os efeitos sensoriais causados pelo aroma do café no cérebro, especificamente nos mecanismos de recompensa (prazer) e motivação. Esses dois temas, coração e cérebro, estudados sob o ponto de vista do consumo de café, foram objeto de debate no Workshop Café & Saúde, patrocinado pela ABIC e Embrapa Café em São Paulo em 2012. Café, alimento funcional Estudos também realizados em parceria com o Consórcio pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ apontam que o café é uma bebida nutracêutica (nutricional e farmacêutica), rica em diversos compostos importantes para o organismo como minerais, vitamina B (niacina), ácidos clorogênicos (antioxidantes naturais formados no processo adequado de torra), e quinídeos. Os ácidos clorogênicos e os quinídeos também ajudam a prevenir doenças físicas, mentais e neurodegenerativas, como câncer de cólon/ reto, mama e fígado, diabetes, Parkinson, Alzheimer, depressão e suas consequências (tabagismo, alcoolismo, consumo de drogas e suicídio). “ Copa do Mundo de Futebol Em 2014, torcemos para que os Cafés do Brasil continuem campeões nos campos das principais regiões produtoras, mantendo o nosso País como maior produtor e exportador mundial do produto. Que o nosso País também assuma a primeira posição mundial de consumidor da bebida, hoje ocupada pelos EUA. Por fim, que esse sucesso nas lavouras melhore a renda dos produtores e dos demais elos do agronegócio café e também impulsione a vitória da nossa seleção nos campos de futebol durante a Copa do Mundo no Brasil. Revista do Café | março 2014 A marca ‘Cafés do Brasil’ foi utilizada na camisa 33 da seleção brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 1982 na Espanha “ adiante ao atingir um ponto máximo de cansaço, que leva todas as pessoas sem treinamento a pararem por fadiga. De acordo com as pesquisas divulgadas, a cafeína também estimula o cérebro aumentando o estado de alerta e o funcionamento do coração. Além disso, poupa a glicose do músculo esquelético (quanto mais glicose no músculo mais se retarda a fadiga) e facilita o aumento da quantidade de cálcio dentro do músculo. O músculo vira um supermúsculo e a pessoa não tem sono ou cansaço. “Os atletas passam a utilizar a gordura como fonte de energia em vez de açúcares encontrados nos carboidratos, reduz a sensação de fadiga, melhorando o rendimento físico”, destaca a nutricionista da ABIC. Estudos recentes demonstram também um aumento da força muscular, já que retarda a fadiga muscular, possibilitando um maior grau de carga e repetições de execução do exercício após a ingestão de cafeína. Esses efeitos podem variar de pessoa para pessoa, oscilando de acordo com o peso e a regularidade em que a bebida é consumida. A ação do café no organismo atinge o pico cerca de 15 a 120 minutos após a ingestão e pode causar tolerância. Ou seja, progressivamente, maiores doses de cafeína deverão ser ingeridas para que se possa atingir o mesmo efeito. Água seca P repare-se: vai faltar água na torneira. A situação é extremamente crítica. Em pleno verão, época de abundantes chuvas, os reservatórios estão minguados. Na agricultura, o forte calor associado às baixas precipitações estorrica as lavouras. Anda em busca de explicações o inusitado fenômeno climático. Prato cheio para o catastrofismo ecológico. Estrilam sua voz os que apregoam o fim do mundo pela nefasta ação do homem sobre o meio ambiente. Na teoria das mudanças climáticas, o efeito antrópico sobrepõe-se às causas naturais. E uma de suas consequências, nessa questão hídrica, seria a maior variabilidade na lavanderia de São Pedro: épocas muito chuvosas se alternariam com outras muito secas, no mesmo local. Tempo maluco. Em decorrência do aquecimento global, causado pelo acúmulo de CO2 na atmosfera, haveria também um deslocamento das zonas úmidas. No caso brasileiro, por exemplo, supõe-se que até o final deste século a floresta amazônica se transforme numa savana, um bioma árido semelhante ao cerrado do Centro-Oeste. Nesta região, inversamente, passaria a chover mais. Vai saber. Há quem, observando as margens dos mananciais, jogue toda a culpa da falta d’água na supressão das matas ciliares, aquelas que protegem as beiradas dos rios, córregos e nascentes. É exagero, mas a questão existe. Houve, nos campos e nas cidades, uma ocupação desordenada dessas áreas ribeirinhas, prejudicando os recursos hídricos. Pelo interior afora se contam inúmeras minas d’água que tristemente secaram por causa do intenso desmatamento. Hoje em dia, porém, a situação está melhorando. Aqui, no Estado de São Paulo, o desmatamento cresceu até os anos 1990, verificando-se um processo de recuperação ambiental desde então. Dados do Inventário Florestal indicam que a vegetação natural cobre atualmente uma área de 4,3 milhões de hectares, correspondente a 17,5% do território paulista. Antes eram 13,9%. Maior conscientização somada à repressão policial trocou a página da supressão vegetal, abrindo a da regeneração florestal. Com ajuda das áreas canavieiras, formam-se corredores de biodiversidade serpenteando os cursos d’água no campo. Fauna e flora agradecem. Pode ser que as mudanças climáticas e a ocupação humana estejam afetando o regime de chuvas. Seca, porém, não é privilégio contemporâneo. Na História da humanidade verificam-se terríveis períodos com pronunciada falta d’água. Sua repetida ocorrência é arrolada por Jared Diamond entre as explicações do colapso da civilização maia. Somados à exploração exaustiva dos recursos naturais na península mexicana de Yucatán, longos períodos de severa estiagem explicam a derrocada de Tikal, por volta de 600 d.C. Era apenas o começo da desgraça. Todo o povo maia acabou terrivelmente afetado por uma grande seca iniciada em 760, cujo auge se deu 40 anos mais tarde. Uma década depois, em 810, seguidos anos com pouquíssima chuva aniquilaram essa agricultura pré-colombiana. Ferozes reis guerreavam buscando alimento e água. Até que, a partir de 910, uma seca de seis anos seguidos arrematou a tragédia. Falar em seca aqui, no Brasil, lembra o Nordeste. Vem de longe o recorrente problema. O primeiro relato da falta de chuvas na região é de 1583, descrito pelo padre Fernão Cardim, então apiedado pelo sofrimento dos índios do sertão. Quase dois séculos depois, entre 1877 e 1879, parte importante dos moradores de Fortaleza pereceu em devastadora seca que afetou especialmente o Ceará. De tempos em tempos o nordestino padece no tórrido chão. Há dois anos, metade do gado bovino morreu no semiárido, durante a maior seca dos últimos 50 anos. Os eventos históricos mostram, à farta, que muito antes de os cientistas se preocuparem com o meio ambiente as secas já danificavam economias e arrasavam populações. Os dramas mais recentes, desnudados pela facilidade das comunicações, ganharam viés ecológico, impressionando a opinião pública. Mas, cientificamente, ninguém garante os motivos que levaram a Austrália a ver sua competitiva agropecuária decaída por uma década de atípica de chuvas no início deste século. Na Califórnia (EUA), atormentada pelo terceiro ano seguido extremamente seco, o fenômeno continua sem explicação. Pouco importa descobrir culpados, sejam humanos ou celestes. Em face do crescimento populacional e do consumo crescente, é imperativo investir seguidamente na proteção dos recursos hídricos, elevando a capacidade de “produção” e ar- mazenamento de água. No curto prazo, com a ameaça de a torneira secar, resta somente uma alternativa: combater desperdícios, reduzir o gasto do precioso líquido. Nessa hora, desgraçadamente, se descobre que nossa cultura beira o esbanjamento, não o racionamento. É terrível. Noutro dia, deparando com o zelador do prédio vizinho ao meu lavando a calçada com mangueira, tive a ousadia de interpelá-lo: “Vamos economizar água, meu amigo!” Tomei como resposta um xingo irônico: “Quem vai pagar a conta é você?”. O incauto não tinha a menor ideia da gravidade da situação de nossos mananciais. Desperdiçar água simboliza o passado. O Amazonas e os demais grandes rios brasileiros sempre transmitiram uma noção equivocada de fartura do precioso líquido, criando entre nós a impressão de ser a água um bem infinito. Essa incompreen- são só se conserta com educação ambiental. É nos bancos da escola que se descobre que apenas 2,7% de toda a água existente na Terra é doce e que os rios e lagos respondem por ínfimos 0,3% dessa quantidade. As crianças, educadas com novas atitudes, sabem que economizar água significa civilidade. Por isso não lavam calçadas. Xico Graziano, é agrônomo e foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. 35 Revista do Café | março 2014 dados estatísticos Valor de Consumo Agregado para o Setor Cafeeiro Global Período: Ano Civil 2012 US$ Mil Mundo Consumo em Mil sacas 60 Kg: 142.000 Consumo em Mil quilos GBE: 7.159.669 Consumo em Valores (US$ Mil): 173.383.864 63,2% Consumo fora do Lar (US$) US$ bi 109,552 36,8% Consumo no Lar (US$) US$ bi 63,831 Países Importadores 36 Consumo em Mil sacas 60 Kg: 98.533 Consumo em Mil quilos GBE: 4.968.073 Consumo em Valores (US$ Mil): 147.896.511 67,4% Consumo fora do Lar (US$) US$ bi 99,689 32,6% Consumo no Lar (US$) US$ bi 48,206 UE Alemanha Consumo Per Capita (Kg/ano) Consumo em sacas 60Kg Consumo em Mil Kg (GBE) 40.642 2.049.180 4,84 8.830 445.197 6,40 % do Consumo no Lar Preço no Varejo (US$/Kg) 85% 10,00 Valor Total do Consumo no Lar (US$ bi) Fonte: OIC % do Consumo fora do Lar Custo por Xícara (US$/Kg) 20,408 3,940 15% Valor Total do Consumo fora do Lar (US$ bi) Valor Total do Consumo (US$ bi) 49,784 70,192 2,0 8,211 12,151 França 5.790 291.941 5,43 81% 9,00 2,039 19% 2,0 6,739 8,778 Itália 5.731 288.970 5,63 77% 19,00 4,145 23% 2,0 8,113 12,258 E.U.A. 22.232 1.120.924 4,20 82% 13,00 11,450 18% 2,0 24,708 36,158 Japão 7.131 359.544 3,36 63% 17,00 3,773 37% 2,0 16,019 19,792 Revista do Café | março 2014 dados estatísticos Países Exportadores Consumo em Mil sacas 60 Kg: 43.467 Consumo em Mil quilos GBE: 2.191.596 Consumo em Valores (US$ Mil): 25.487.353 38,7% Consumo fora do Lar (US$) US$ bi 9,862 61,3% Consumo no Lar (US$) US$ bi 15,625 Brasil 37 Consumo em Mil sacas 60 Kg: 20.178 Consumo em Mil quilos GBE: 1.017.353 Consumo em Valores (US$ Mil): 10.107.199 45,3% Consumo fora do Lar (US$) US$ bi 4,578 54,7% Consumo no Lar (US$) US$ bi 5,529 Brasil Consumo em sacas 60Kg Consumo em Mil Kg (GBE) Consumo Per Capita (Kg/ano) % do Consumo no Lar Preço no Varejo (US$/Kg) Valor Total do Consumo no Lar (US$ bi) Fonte: OIC % do Consumo fora do Lar Custo por Xícara (US$/Kg) Valor Total do Consumo fora do Lar (US$ bi) Valor Total do Consumo (US$ bi) 10,107 20.178 1.017.353 6,09 95% 6,00 5,529 5% 1,5 4,578 Colômbia 1.439 72.575 1,81 95% 10,00 0,677 5% 1,5 0,326 1,003 Indonésia 3.584 180.681 0,87 95% 9,00 1,545 5% 1,5 0,813 2,358 Índia 1.917 96.655 0,09 95% 9,00 0,826 5% 1,5 0,435 1,261 México 2.354 118.689 1,17 95% 9,00 1,015 5% 1,5 0,534 1,549 Vietnam 1.583 79.815 1,05 95% 9,00 0,682 5% 1,5 0,359 1,041 Revista do Café | março 2014 fazendas Fazenda São João do Penedo Sede da Fazenda Profª. Leila Vilela Alegrio R 38 Escada dos fundos elatar a vida dos fazendeiros de café da antiga província do Rio de Janeiro, as descrições de seus bens, a formação de suas famílias e até mesmo a forma de vida e de enriquecimento pode parecer monótono, para muitos leitores. Porém, não têm ideia da vida dessa gente, que com bravura enfrentou, no início da fundação de suas fazendas, o desmatamento das matas virgens e todo o aparato necessário para o estabelecimento das Revista do Café | março 2014 edificações, além do trabalho desempenhado, dos sacrifícios exigidos e da luta diária no manejo da agricultura, que ia muito além da cultura do café, e da lida com um grande número de escravos. Ao longo dos últimos anos, tenho voltado minhas narrativas aos grandes cafeicultores, mas, entre estes, muitos outros, não tão abastados, contribuíram para o engrandecimento do Brasil. Alguns historiadores consideram importantes fazendeiros aqueles que tinham em sua posse mais de 50 cativos, entretanto, a realidade das fazendas em terras fluminenses, mostrada aqui, comprovam que estes poderiam ser considerados pequenos proprietários. A narrativa que lhes trago é sobre a fazenda São João do Penedo, outrora situada no município de Paraíba do Sul, hoje, município de Três Rios. É provável que José Antonio de Castilhos tenha vindo habitar as terras onde fundou a sua fazenda de café pelos idos de 1830. Por ocasião do registro de suas terras, em 1857, declara possuir 623 braças de terras, na localidade denominada Penedo, e anexa a estas terras uma “sorte” de terras com 125 braças de frente, com 750 de fundos. José Castilhos era casado com dona Anna Cândida Barbosa, e com ela teve cinco filhos. Em 1859, ao ser aberto o inventário post-mortem de dona Anna, algumas curiosidades foram encontradas. Na ocasião, seu filho mais velho tinha de 27 anos, e os bens arrolados na avaliação revelavam que a família ainda não tinha alcançado, podemos dizer, um grande status na sociedade: móveis simples, pouca prataria, 124 escravos, 145 mil pés de café e a casa de vivenda avaliada em 9 contos de réis. fazendas José Antonio de Castilhos, um incógnito para a historiografia, teria o que para nos contar? Se formos associar fazendeiros a homens rústicos, grosseiros, vamos nos surpreender. Esses homens, passados os momentos de privação, acreditamos que tinham o desejo de se tornar pessoas de fino trato, e o modo de mostrarem este requinte poderia ser constatado pelos bens e utensílios do serviço da casa, e de sua decoração, pela riqueza de alfaias das capelas, joias, prataria que serviam não só para indicar o seu entesouramento. As descrições das peças de prataria traduzem o viver, a sofisticação de quem as possui, o refinamento nas refeições, os castiçais de prata, que revelam o uso contínuo de velas, consideradas raras e caras naquele tempo, e, principalmente, a posse de residência na corte, que permitia a aproximação de uma sociedade mais sofisticada. Em 1883, nos bens arrolados no inventário post-mortem de José Antonio Castilhos, grandes surpresas são reveladas. A prataria chega ao extraordinário peso de 25.271 gramas, composta de 16 casti- çais, 7 salvas, 2 paliteiros, facas trinchantes, trinchantes, garfos, colheres, facas, várias conchas, além de uma escrivaninha e uma campainha, ambas também de prata. E mais: aparelhos de porcelana, espelhos, candelabro, relógio de parede, tapete e enfeites para os consoles. Joias não foram citadas, mas seria necessário citá-las para a nossa compreensão do crescimento do patrimônio da família e de seu gosto pelo luxo? Para alguns estudiosos do modus vivendi, a compra de objetos de prata variados e abundantes nem sempre correspondia ao requinte na maneira de viver. Era, sim, uma forma segura de fazer investimentos. Os trajes, no entanto, seriam talvez o maior indício do gosto requintado das famílias. No caso de José Antonio de Castilho, infelizmente, não foram citadas nem as roupas pessoais nem as de cama e mesa, o que poderia nos dar mais informações sobre a família. Com relação aos demais bens, o que podemos assinalar? Uma casa de sobrado, na rua Conde de Bonfim, no 49, além da fazenda do Penedo, as fazen- das Monte Alegre e Floresta, a plantação de café, que somava 353 mil pés, e o número de escravos, que era de 195. As propriedades foram repartidas entre seus herdeiros. No recenseamento rural de 1920, consta que a fazenda Floresta pertencia a Emilia de Castilho Barbosa, a Monte Alegre, a Virgilio de Castilho Barbosa, e a fazenda do Penedo, a Manoel Henrique da Silva. No entanto, quando a fazenda foi vendida, em 1941, para o Sr. Álvaro Monteiro de Barros Catão, a escritura de venda mostra que os transmitentes eram: José de Castilho Barbosa, Dr. Manoel Henrique da Silva e sua mulher, Maria José Castilho Barbosa e Maria Ylka de Castilho Barbosa, o que comprova que até aquela data a fazenda ainda encontrava-se em nome dos herdeiros de José Antonio de Castilho. Recentemente, a propriedade foi adquirida pelo casal Dominique Duvivier, que vem cuidadosamente restaurando-a, para que ela possa ainda permanecer por mais cem anos como patrimônio da nossa história cafeeira. Revista do Café | março 2014 Vista dos Fundos 40 Revista do Café | dezembro 2013 41 Revista do Café | dezembro 2013 panorama PANORAMA Campeã do Cup of Excellence Late Harvest receberá mais de US$ 2 mil por saca Leilão dos 23 vencedores gerou receita superior a US$ 302 mil, a uma média de US$ 6,95 por libra-peso, o que representou alta de 255,4% sobre a bolsa de NY 42 Em meio a 275 amostras de cafés naturais inscritas no 3º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil - Cup of Excellence Late Harvest, a de Cínthia Dias Villela, da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, situada em Carmo de Minas, região da Mantiqueira de Minas Gerais, destacou-se. Com a nota 92,22 (escala de 0 a 100), esse café foi o campeão do principal concurso de qualidade destinado a grãos colhidos e secos com casca no País, recebendo o lance de US$ 15,60 por libra-peso (+ 697,75% ante NY), no valor equivalente a US$ 2.063,66 por saca e gerando uma receita total de US$ 28.891,20, pelo lote de 14 sacas. O anúncio ocorreu em Espírito Santo do Pinhal (SP), em janeiro, durante a cerimônia de premiação do certame organizado por BSCA, Apex-Brasil e Alliance for Coffee Excellence (ACE), com patrocínio do Sebrae. Colômbia suspende subsídio para cafeicultores e produção sobe A Colômbia suspendeu temporariamente o pagamento de subsídio para os cafeicultores devido à recuperação dos preços internacionais do produto e à desvalorização do peso em relação ao dólar, de acordo com informações da Federação Nacional de Cafeicultores. O subsídio criado em 2012 garantiu aos cafeicultores colombianos o recebimento de um pagamento de até 165 mil pesos (80 dólares) sempre que a carga de 125kg (2,083 sacas de 60kg) for negociada no mercado interno abaixo de 700 mil pesos (342 dólares). Segundo o ministro das Finanças, Mauricio Cárdenas (foto), só em 2013, o governo destinou mais de 500 milhões de dólares para pagar subsídios aos agricultores, informando que o subsídio será restabelecido quando o preço doméstico cair abaixo de 700 mil pesos por carga de 125 kg. A Federação Nacional dos Cafeicultores declarou que a produção da Colômbia recuperou seus níveis históricos, após 4 anos consecutivos sem atingir volumes esperados. O aumento da safra foi consequência da melhoria da produtividade por hectare, resultado do programa de renovação de plantações, que tem permitido árvores mais jovens e resistentes a doenças e aos efeitos climáticos, passando de 11,1 sacas de café verde por hectare produtivo em 2012 para 14,1 sacas ao final de 2013. Revista do Café | março 2014 panorama Buenos Aires quer transformar hábito de tomar café em patrimônio cultural Créditos: Arquivo CCCRJ Interior do tradicional Café Tortoni A Prefeitura de Buenos Aires decidiu propor para a Unesco que o ritual diário de sair para tomar um café, feito com cerimonial singular, seja considerado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O secretário de Cultura municipal, Hernán Lombardi, defende “Não estamos falando de cafeterias históricas, de espaços físicos. Queremos mostrar as pessoas, as características comuns que existem nesse hábito de tomar café para que ele seja considerado único. É algo que também agrega a literatura e a música”. Em novembro próximo a Unesco deverá anunciar a sua decisão. As cafeterias e bares clássicos de Buenos Aires, como o Café Tortoni, já são reconhecidos como patrimônios culturais da cidade pela prefeitura. São manifestações como essa que conferem ao consumo do café a classe e a sofisticação que o tornam a bebida mais desejada no mundo. 43 SUNTORY visita o CECAFÉ Yota Yanagi, da Suply Chain Management Division, da Suntory Business Expert Ltd., acompanhado de Taihei Jikuya do Coffee Dept da Mitsui & Co. Ltd e Kenji Suenaga da Mitsui Alimentos, visitaram o CECAFÉ, durante recente estada no Brasil. Enalteceram, na oportunidade, a ação do CECAFÉ na condução das questões relacionadas com o Programa Café Seguro, que permitiu dar pronta solução às pendências surgidas. Destacaram, também, a atuação da SUNTORY no segmento de cafés em lata, onde é uma das líderes do mercado. Revista do Café | março 2014 Créditos: daniel dutra panorama MAPA decreta estado de emergência nas lavouras de café de MG Através da Portaria 188, de 13/março, o Ministro da Agricultura decretou estado de emergência fitossanitária para a produção de café em MG, em face dos riscos iminentes de infestação das lavouras pela broca do café (hypothemus hampei, 1867). A medida permite ao MAPA superar obstáculos burocráticos na viabilização de alternativas de médio e longo prazos no sentido da aprovação de novo medicamento para combate à praga. Com efeito, em face da proibição do uso do princípio ativo endosulfan que vinha sendo largamente utilizado pelos cafeicultores dada a sua comprovada eficácia, com a sua produção vedada 44 desde 31 de julho de 2012 e comercialização desde 31 de julho de 2013, a inexistência no mercado de produto eficaz e a morosidade dos órgãos competentes de decidir sobre produtos alternativos em fase de avaliação não deixaram opções aos produtores. Não obstante solicitações aos órgãos competentes venham sendo feitas há muitos meses, nada foi feito. Agora, com a decretação do estado de emergência, espera-se rapidez do MAPA na adoção de medidas para o controle da infestação, tendo presente que as ações devem alcançar todas as regiões produtoras, já que a incidência da broca está disseminada nas demais áreas. Bolsa de Nova York Manual para muda diferenciais para reflorestamento de entrega de café arábica fazendas de café do Brasil e da Colômbia A Bolsa de Nova York (ICE Futures US) vai reduzir o desconto sobre o café arábica brasileiro entregue na bolsa para cumprir contratos. A partir de maio de 2016, o produto entregue sofrerá desconto de 6 cents por libra-peso, ante os atuais 9 cents. Já o café colombiano terá um prêmio de 4 cents, acima dos atuais 2 cents. Após uma intensa gestão conduzida pelo Cecafé junto à Bolsa, inclusive superando-se as fortes objeções colocadas pelos países produtores da América Central e Colômbia, a Bolsa de Nova York autorizou a inclusão do café arábica brasileiro para entrega junto a posições vendidas. Revista do Café | março 2014 A marca de café illycaffè e o Instituto Terra lançaram o manual para reflorestamento de fazendas de café, de autoria da pesquisadora Lina Inglez de Sousa. A publicação estabelece diretrizes para o plantio e a conservação de Reservas Legais que agora podem servir de modelo e estímulo aos demais produtores, situados em áreas da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados de extinção no planeta. O guia reflete o entendimento comum entre illycaffè e Instituto Terra de que é preciso desenvolver modelos para uso e ocupação da terra que permitam aliar conservação ambiental com produção agrícola e desenvolvimento econômico. A publicação (acima fax símile da capa) será enviada gratuitamente a cafeicultores e parceiros da illycaffè. panorama Créditos: antonio cruz / agência brasil Neri Geller toma posse como ministro da Agricultura O secretário de Política Agrícola do MAPA, Neri Geller foi nomeado pela presidente Dilma Rousseff como novo ministro da pasta no lugar do atual titular, Antônio Andrade. Neri Geller é deputado federal pelo PT, originário do Rio Grande do Sul radicouse no Mato Grosso como agricultor e empresário. Foi vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do estado do Mato Grosso (Aprosoja). produtor informado sustentabilidade empresarial | inclusão digital Créditos: Lara Carvalho Formatura do Projeto Produtor Informado em Andradas/MG O Projeto Produtor Informado, desenvolvido pelo Cecafé, formou mais 19 produtores rurais no curso de iniciação à informática. Após 06 meses, sob a monitoria de Fábio Luiz Gonçalves, a Escola Municipal Francisca Vilela Peçanha, em Andradas, celebrou a inclusão digital desses produtores rurais. Presentes: Ronaldo Taboada, Luciana Alves e Juliana Buton, do Cecafé, Euvira Maria Ansani Nogueira, Secretaria Municipal de Educação, Eliana Bosso, Maria Eugênia Moraes Marques e Dorotéia Diogo Marcondes, Diretora e Supervisoras Pedagógicas, respectivamente. Francisco Sérgio de Assis é reeleito presidente da ASCOM Créditos: Arquivo CCCRJ A Assembleia Geral Ordinária da Federação dos Cafeicultores do Cerrado realizada no dia 12 de março do corrente reelegeu, por unanimidade, para o triênio 2014/2017 a diretoria liderada pelo cafeicultor Francisco Sérgio de Assis e integrada por dois vice-presidentes, Gláucio de Castro e Alberto Adhemar do Valle Júnior, além de Juliano Tarabal, Superintendente da entidade. A Federação é composta por 9 cooperativas e 7 associações e responsável pelo Programa Denominação de Origem – Região do Cerrado Mineiro. Revista do Café | março 2014 45 panorama illycaffè anuncia vencedores do 23º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade do Café para Espresso O 23º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade do Café para Espresso tem uma vencedora: Simone Dias Sampaio Silva, de Araponga (MG). A cafeicultora recebeu um cheque no valor de R$ 60 mil por sua amostra ter sido considerada a melhor dentre as mais de 500 analisadas pela Comissão Julgadora. No total, a illycaffè distribuiu mais de R$ 200 mil aos produtores que ocuparam as melhores colocações nas edições nacional e regionais. O vice-campeão foi Cláudio Esteves Gutierrez, da Chapada de Minas, premiado com R$ 35 mil. O terceiro colocado foi Clóvis Carvalho, do Cerrado Mineiro, agraciado com R$ 18 mil. Em quarto e quinto, dois cafeicultores das Matas de Minas: José Roberto da Silva Gomes, que recebeu R$ 9 mil, e José Carlos Pereira, 46 A vencedora Simone Silva e os irmãos Andrea e Anna Illy contemplado com R$ 5 mil. Os produtores que ocuparam da 6ª à 40ª colocação ganharam R$ 1.200. Além dos vencedores da edição nacional, foram premiados ganhadores regionais no Estado de São Paulo, Estado do Rio de Janeiro, região Centro-Oeste, regiões Norte e Nordeste, região Sul, Matas de Minas, Chapada de Minas, Cerrado Mineiro e Sul de Minas. “As categorias regionais visam proporcionar uma maior participação de produtores de todo o Brasil, tanto que novamente recebemos amostras de todas as áreas participantes. Vamos seguir incentivando a participação desses fornecedores”, afirmou Andrea Illy, CEO da illycaffè, durante o seu discurso. Revista do Café | março 2014 Andrea Illy Crédito das fotos: Antonio Carlos Carreiro/ illycaffè. panorama Setor busca definir uma política de longo prazo para o café O setor cafeeiro, dando continuidade às reuniões de trabalho, iniciadas no Seminário promovido pelo CNC, levado a efeito no último dezembro na sede da OCB em Brasília, em mais uma etapa realizou um encontro no Cecafé em São Paulo, ocasião em que foram discutidas as diretrizes gerais que o documento a ser apresentado as autoridades e ao Governo deve conter. O coordenador dos trabalhos, Carlos Brando, ficou encarregado da consolidação dos textos, estando prevista a reunião final para o dia 03 de abril próximo, em Brasília. 47 OIC decide realizar reuniões na Itália e Etiópia Durante a 112ª reunião de seu Conselho, em Londres, a Organização Internacional do Café decidiu realizar a 4ª Conferência Mundial do Café em Adis Abeba, Etiópia, em março de 2016, a primeira que se realiza na África. Evento realizado em intervalos de 5 anos , a 1º Conferência foi realizada em Londres, Créditos: Mariana Bassani em 2000, sede da Organização, a 2ª Conferência em Salvador, Brasil, em 2005, e a 3ª na Guatemala, em 2011. O Conselho decidiu também acolher a proposta da Itália, no sentido de que a tradicional reunião do Conselho, em setembro de 2015, seja realizada em Milão, por ocasião da EXPO MILÂO, desta vez dedicada à alimentação, sob o tema “Nutrir o Planeta, Energia para a Vida”. A Exposição deverá reunir cerca de 150 países, além de inúmeros organismos internacionais ligados à área, com uma duração prevista de 6 meses. Os espaços expositivos ocorrerão em 5 pavilhões, onde serão desenvolvidos os temas da nutrição e sustentabilidade em diferentes âmbitos: a experiência dos alimentos e o futuro, a ligação entre nutrição e a infância, a possibilidade de uma alimentação sustentável, a relação entre comida e arte, e o modo de produção dos alimentos. Na mesma ocasião e local, o Governo da Itália irá sediar, em acordo com a União Européia, um Fórum Global do Café, com a participação dos membros da OIC. Revista do Café | março 2014 Aniversário de 16 anos do Museu tem oficina e visita especial com personagens do café Para comemorar seus 16 anos, o Museu do Café, preparou uma série de atividades. Celebrado no dia 12 de março, o aniversário do Museu teve uma visita especial com alguns dos principais personagens da história do café, uma Oficina de Café Caseiro e a tradicional visitação gratuita para o público. Além disso, um flashmob com bailarinos e música ao vivo foi realizado em frente ao Museu, que surpreendeu os visitantes e também os trabalhadores e moradores do Centro, remetendo ao trabalho nas fazendas e no porto. créditos: karina frey ”Drink da Copa” da Cafeteria do Museu Depois de mais de 60 anos, a Copa do Mundo volta ao Brasil. E a ligação do esporte mais famoso do mundo com o café vem de longa data. Na década de 60, os craques Pelé e Garrincha foram garotos-propaganda do Instituto Brasileiro do Café (IBC) e, na Copa de 82, a seleção brasileira era patrocinada pelo mesmo IBC e jogou a competição com um ramo de café ao lado do escudo da CBF. Este ano, o Museu do Café propõe uma programação para manter essa forte ligação e comemorar o Dia Nacional do Café (24/05), o concurso cultural “Drink da Copa”. A competição que elegerá uma nova bebida composta por café e ingredientes brasileiros, para ser comercializada na Cafeteria do Museu durante o período do Mundial. O drink será escolhido por quatro jurados profissionais renomados e mais uma pessoa da plateia, após a apresentação de dez baristas previamente selecionados. Os três primeiros colocados serão premiados e a bebida vencedora será comercializada na Cafeteria do Museu durante o período da Copa. Os interessados poderão baixar o regulamento e a ficha de inscrição pelo site www.museudocafe.org.br. panorama Shopping Frei Caneca/SP recebe atividades educativas créditos: karina frey Em parceria com o Shopping Frei Caneca/SP, o Museu do Café preparou uma nova edição do projeto “Museu do Café vai ao shopping” e levou à capital paulista a mostra itinerante “Conhecendo o café”, peças do acervo, dois jogos educativos, atividade musical para as crianças e também o “Dica do Barista”, projeto voltado para adultos. A mostra “Conhecendo o Café” apresenta toda a parte morfológica do cafeeiro, explicando a estrutura e formação da planta, as fases de crescimento, floração e frutificação. Um painel giratório ilustra todas as partes de uma planta de café e o “Jogo da Fazenda” leva o participante a identificar qual a sequência de ações que ocorrem em uma fazenda de café. Foram realizadas atividades lúdicas com música e coreografia para as crianças com idade entre 3 e 10 anos e apresentações voltadas para adultos, com as principais dicas e os diferentes modos de como preparar um bom café em casa. Completando a programação, um painel educativo em formato de xícara foi colocado para que o público pudesse interagir. A frase “O que o café te faz lembrar?” instigou o observador a refletir e escrever em papéis coloridos suas lembranças relacionadas ao grão e fixá-los no painel. Aline Fagundes lança livro em Brasília Retomando a sua vocação literária, Aline Fagundes, lançou o seu segundo livro, Relicário, no dia 18/03, em Brasilia, na presença de amigos e familiares. O livro foi editado pela Virtual Books Editora e Livraria Ltda. Aline é Corrdenadora de Planejamento e Orçamento do Departamento do Café do MAPA, com intensa atuação na organização de eventos institucionais ligados ao café. Como o primeiro livro, Ensaios sobre uma vida, Relicário, com um texto leve e agradável, retrata os sonhos e experiências de vida da autora. Fundação Procafé A Fundação Procafé, a mais importante entidade de pesquisas na área da experimentação, anunciou o seu calendário de eventos para o ano de 2014, aberto aos interessados: - Dia de Campo na Fazenda Experimental de Boa Esperança: 14/05/2014 - Dias de Campo na Fazenda Experimental de Varginha: 28/05 e 29/05/2014 - Curso de Atualização Manejo Tecnológico da Lavoura Cafeeira: 30/07 e 31/07/2014 - 40º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras: 28/10 a 31/10/2014 Informações adicionais pelo e-mail: [email protected] ou telefone: (35) 3214-1411 Revista do Café | março 2014 49 créditos: Marcelo de Freitas Ribeiro Estande da Secretaria de Agricultura de MG 18º Simpósio sobre Cafeicultura de Montanha A Associação Comercial, Industrial e Agronegócios de Manhuaçu (ACIAM), com o objetivo de difundir conhecimento, novas pesquisas e informações sobre cultivo, beneficiamento, qualidade e comercialização do café, principalmente para os produtores familiares, realizou nos dias 19 a 21 de março, em Manhuaçu/MG, a 18º edição do Simpósio sobre Cafeicultura de Montanha. O Simpósio, considerado um dos mais importantes da Zona da Mata, recebeu cerca de 1.500 visitantes por dia, que puderam participar de vinte palestras, minicursos e da Rodada de Negócios do Café das Matas de Minas. Produtores de café e as principais lideranças do setor debateram sobre questões que podem garantir a qualidade, produtividade e mercado para a cafeicultura na região de montanha. No primeiro dia as palestras discorreram sobre o mercado, as políticas cafeeiras e a qualidade sensorial dos cafés das Matas de Minas. Já no segundo, os temas foram: cooperativismo; sucessão familiar e as diversidades de cafés colhidos no estado de minas, com destaque para a região, além de mecanização da colheita na cafeicultura de montanha; novas técnicas de controle da broca do café e a ocupação da região das Matas de Minas. Paralelamente aos debates do auditório principal, foram realizados minicursos em parceria com a Emater-MG, Epamig, IAC-SP, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Embrapa, Exportadora O-LAM e o Instituto Federal do Sul de Minas – Campus Machado. Valorização do café das Matas de Minas Estrategicamente planejado para o mês de março, o Simpósio sobre Cafeicultura de Montanha é responsável por preparar o setor para a safra cafeeira, apresentando aos produtores e técnicos informações sobre mercado, resultados de pesquisas e técnicas para o manejo das lavouras. A cafeicultura é a principal atividade agropecuária na região de Manhuaçu, que tem cerca de 20 mil propriedades cafeeiras. O número representa 71% das propriedades produtoras de café na Zona da Mata, a segunda região produtora de café no estado. A área plantada na região é de aproximadamente 115 mil hectares, responsáveis pela produção de 2,8 milhões de sacas. A região das Matas de Minas, formada pelos polos cafeeiros de Manhuaçu, Muriaé e Viçosa, tem expectativa de produção de 6,2 milhões de sacas de café, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra deste ano. Esse volume, somado ao das regiões do Rio Doce e Central, representa 24% da produção mineira e 12% do Brasil. Cláudio Garcia, presidente da ACA, na abertura da Feira Fenicafé 2014 gera mais de R$ 32 milhões em negócios A Panorama 19ª edição da Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura, a Fenicafé, promovida pela Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA), teve como objetivo divulgar a importância da irrigação e seus sistemas, mostrando lançamentos de produtos e equipamentos, bem como os resultados de pesquisas para o incremento da produtividade e da qualidade do café do cerrado brasileiro. A feira congrega simultaneamente três eventos: 19º Encontro Nacional de Irrigação da Cafeicultura do Cerrado; - 17ª Feira de Irrigação em Café do Brasil; e 16º Simpósio Brasileiro de Pesquisa em Cafeicultura Irrigada. Na cerimônia de abertura, o diretor executivo da OIC, Robério de Oliveira Silva, destacou a importância de implantação de uma política de sustentabilidade na produção agrícola nacional e internacional, incluindo a cultura do café. “Há a necessidade de mais educação, com bom uso de informações disponíveis na Feira e, principalmente, da conscientização dos produtores para a implantação cada vez maior do sistema sustentável de produção em nosso planeta”, afirmou Silva. Lílian Rodrigues Já o diretor do Departamento de Café (Dcaf) do MAPA, Jânio Zeferino, transmitiu a recomendação do Ministério no sentido de que o cafeicultor aumente sua produtividade, não sua área. “Um crescimento de área sinalizaria ao mercado que haveria mais café vindo por aí e o preço cairia. Avaliem muito bem a situação antes de a incrementarem”, alertou. O presidente do CNC e deputado federal, Silas Brasileiro, salientou que cada vez mais cafeicultores estão tendo acesso à irrigação graças a recursos disponibilizados pelo BNDES. Brasileiro exaltou também que o momento da cafeicultura é próspero, mas que o setor necessita de políticas duradouras que permitam a manutenção desta rentabilidade. “Se queremos continuar a ser competitivos e a manter nosso lugar no mercado internacional, precisamos de ainda mais investimentos em excelência e pesquisa”. Considerou as certificações de origem obtidas pelos produtores do cerrado mineiro como um “acontecimento grandioso”. Durante o evento, que recebeu mais de 22 mil visitantes, foram proporcionados palestras, seminários, debates e workshops, para produtores, técnicos, pesquisado- res e lideranças do agronegócio. Por possibilitar um melhor aproveitamento de terras aparentemente inaproveitáveis para a agricultura e reduzir os riscos de quebra de safra, a irrigação é a tecnologia que tem despertado maior interesse para investimentos. Ao final do evento, o presidente da ACA, Cláudio Morales Garcia, fez um balanço desta edição, que gerou mais de R$ 32 milhões em negócios com seus 84 expositores e informou que no ano que vem, no aniversário de 20 anos da Fenicafé a programação de palestras contará com uma data dedicada especialmente a palestrantes internacionais. ”Dentro de um mês já nos reuniremos para discutir a Fenicafé 2015, inclusive levantaremos nomes internacionais da cafeicultura que possivelmente estarão aqui na próxima edição”, ressalta Garcia, que complementa: “Em muitos países com pouca água disponível o café é cultivado com produtividade maior do que aqui na nossa região. Por isso, vamos trazer especialistas destes países para nos ensinar como eles fazem”. Ainda não há data definida para o evento de 2015, mas será no mês de março. “Muito em breve a data será divulgada”, adianta. Revista do Café | Créditos: Divulgação Fenicafé março 2014 51 crédito: Divulgação / Associação Comercial de Santos Roberto Clemente Santini é o novo presidente da ACS O 52 diretor-presidente da TV Tribuna e candidato da Chapa 2, Roberto Clemente Santini, foi eleito o presidente da ACS para mandato de três anos. Doze votos separaram Santini do segundo colocado, Ronaldo Jamar Taboada. Foram apurados 154 votos, sendo dois nulos, 70 para a Chapa 1 e 82 para o vencedor. Pela primeira vez na história da instituição, a assembleia geral foi coordenada por uma mulher, a presidente da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Lúcia Maria Teixeira, e secretariada pelo gerente executivo da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres (ABTTC), Wagner Rodrigo Cruz de Souza. Durante a posse, Santini afirmou que é uma honra representar a entidade. “Agradeço a todos que votaram em mim para presidir essa instituição centenária. A Associação Comercial é a Casa do Empresário e nós vamos trabalhar em favor de todos os setores”. O presidente eleito também lembrou que o primeiro desafio será a realização do Seminário Internacional de Café, promovido pela ACS e que ocorre em maio. “Nós vamos dar continuidade à organização e fazer de tudo para que tenhamos um excelente evento, afinal, todos os olhos do café estarão voltados para nós”. Integrantes da chapa eleita Nova Diretoria Executiva Roberto Santini Presidente Roberto Clemente Santini 1.º vice-presidente John Olav Wolthers 2.º vice-presidente Ramiro Manuel Martins Marote 1.º secretário Henry James Robinson 2.º secretário Alexandre Garrido Ehrenberger 1.º diretor financeiro André Luiz Marques Canoilas 2.º diretor financeiro Vicente de Paulo Vieira do Valle 1.º suplente Edison da Silva Monteiro 2.º suplente Martin Alexandre Aron Conselho Fiscal Revista do Café | março 2014 Titulares: Vítor de Souza, Pedro Veras dos Anjos e Italino Staniscia Filho. Suplentes: Gustavo Assef Pierotti, José Américo Trindade e Fabrício Guimarães Julião. cRIANÇA DO CAFÉ NA ESCOLA | inclusão digital sustentabilidade empresarial Laboratório digital é inaugurado em Conceição das Pedras/MG A partir de uma parceria entre as empresas CarmoCoffees e Interagrícola (EISA), o Cecafé com o apoio da Prefeitura Municipal, levou à Conceição das Pedras/MG o Projeto “Criança do Café na Escola”, inaugurando no Telecentro Cafeicultor Cirilo Alves Ferreira o laboratório digital que atenderá 240 crianças de 3 a 10 anos. 53 A inauguração do 131ºlaboratório digital contou com a presença de Ronaldo Taboada e Luciana Alves, do Cecafé, Jacques Pereira Carneiro, Luiz Paulo Pereira Filho, diretores da CarmoCoffees, Carlos Santana, diretor da Interagrícola (EISA), Edicássio Raimundo, Prefeito Municipal, Maria Aparecida Ferreira de Faria, Secretaria de Educação e Diretora da Escola, professores, alunos, comunidade em geral. Créditos: Assis Bonette Fotos & Videos Revista do Café | março 2014 ponto de vista Mulheres: do Porto do Café para as páginas da História A s revoluções ocorridas nos séculos XVIII e XIX, tanto industriais como políticas, difundiram mundialmente uma série de novas práticas culturais que levou a mulher da esfera privada para a esfera pública, ocupando papeis antes prioritariamente masculinos. Como a reflexão histórica acompanha as discussões contemporâneas, a atuação das mulheres no processo histórico passa a ser uma das preocupações dos historiadores. Surgem novas interpretações, questionando as imagens de pacificidade, ociosidade e confinação do lar 54 Costureiras e cerzideiras de sacaria Catadeiras de café crédito: Acervo Museu do Café Revista do Café | março 2014 à medida que são analisados testemunhos da participação feminina na História. Quando o comércio do café se expande no final do século XIX, as mulheres santistas já estavam inseridas no universo do trabalho, tanto nos estabelecimentos comerciais familiares, quanto nas fábricas e atuando como cozinheiras, lavadeiras e outras funções geralmente de baixa remuneração e rejeitadas pelo trabalhador masculino. A sazonalidade do ganho dos trabalhadores do café – como estivadores e carregadores – fragilizava o orçamento familiar. Isso impulsionava as mulheres a buscarem formas de complementar a renda. Com necessidade de conciliar o trabalho externo com atividades domésticas, essas mulheres escolhiam trabalhos ocasionais, com expedientes flexíveis e sem vinculação, em locais próximos à sua residência. Dentre as principais profissões no comércio do café em Santos que tinham perfis predominantemente femininos, duas se destacam: as catadeiras e as cerzideiras. A profissão das catadeiras estava muito ligada à classificação comercial do café, pois eliminava os grãos defeituosos de um lote e aumentava o valor do café a ser exportado. Era um trabalho muito custoso, pois a catação era feita manualmente por mulheres, eliminando um a um, os grãos defeituosos e outras impurezas – o que lhes deu o apelido de “pianistas”. A remuneração era por saca cata- da, por vezes trabalhando mais de 12 horas, de acordo com a demanda. Em condições semelhantes trabalhavam as costureiras e cerzideiras. Como as sacarias novas eram priorizadas no momento do embarque, dado seu alto custo para fabricação, preferia-se o uso de sacas reutilizadas para o transporte interno do café. Até a década de 1920 era um trabalho manual e domiciliar, executado por mulheres em São Paulo e Santos. A sazonalidade da demanda favorecia os empregadores, pois mantinham uma mão de obra avulsa, e desencorajava o investimento em maquinário. Mas para maior controle da produtividade, as fábricas absorveram essas trabalhadoras, substituindo a costura à mão pela máquina. A catação manual entrou em declínio na década de 70, quando as seletoras eletrônicas começam a aparecer no mercado, com menor custo e uma produtividade superior. Já o trabalho de costura de sacaria acompanhou o deslocamento dos armazéns para o interior. O trabalho feminino nos últimos anos mostrou um grande avanço. A mulher hoje se destaca nas principais atividades, entre as quais, a responsabilidade pelas operações comerciais, nas áreas jurídica e tributária e de gestão superior das empresas (ver matéria nesta edição). Bruno Bortoloto do Carmo e Pietro Marchesini Amorim, são Pesquisadores do Museu do Café
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