Educação Clássica – Susan Wise Bauer

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Educação Clássica – Susan Wise Bauer
Educação Clássica – Susan Wise Bauer
A presente transcrição é de uso exclusivo dos seguidores do blog ​
Como Educar seus Filhos​
. Sua reprodução
total ou parcial não está autorizada.
O vídeo original encontra-se no endereço ​
https://vimeo.com/39664432
Autora e educadora Susan Wise Bauer foi oradora principal em Veritas Classical
Academy 2012 Constructing the Vision, dia 8 de março de 2012, em Oklahoma
City.
Obrigada por me convidarem. E tem sido particularmente agradável ter
meu marido junto nesta viagem, muitas vezes ele não está apto para vir. Então
eu quero agradecer Craig e outros organizadores por tornarem isso possível.
Darei a vocês uma breve introdução sobre como eu comecei a falar e
escrever acerca da educação clássica. Minha mãe foi a pioneira nesta área, ela
começou a nos ensinar em casa em torno de 1973 em um modelo clássico, e
quando meu filho mais velho tinha entre 6 e 7 anos, disse à minha mãe que
gostaria de seguir o mesmo padrão dela com meus filhos. Hoje, meu filho mais
velho tem 20 anos de idade e está no segundo ano na Universidade de Virginia,
os demais tem 18, 15 e 11. Passei por uma fase de 12 anos procurando por
recursos para substituir os que minha mãe usou, porque estavam na maioria fora
de impressão.
Eu tenho sido uma escritora profissional por vários anos, e meu agente
ouviu que nós estávamos fazendo isto, ele tinha crianças no sistema público
escolar de New York City. Ele disse que conhecia muita gente que estaria
interessada em meu trabalho e contatou os editores. Um dia ele me liga e diz que
tem grandes notícias, que W. W. Norton está interessado em publicar meu
material. Eles são um pouco contrários quando se trata de questões de educação,
e gostam de publicar material que vai contra o senso comum da educação atual.
Então ele diz que esta será um grande editora para o meu livro, mas que
havia apenas um problema, eles desejavam me conhecer. E quando perguntei
qual o motivo de quererem nos conhecer ele me disse que a editora tinha muito
interesse em educação clássica, mas estavam com receio quanto à educação
escolar domiciliar, a questão de morarmos no campo, o fato de não termos uma
TV em casa, e com o fato de eu ser casada com um pastor, parecia um pouco
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esquisito. Eles tinham receio que eu fosse muito estranha para promover o livro
com sucesso e por isso queriam que eu fosse até New York para me conhecerem
primeiro.
Eu e minha mãe compramos roupas, e nós fomos para New York para
encontrar com estes editores em Norton, e eu estava grávida de oito meses na
época. Se você quiser se sentir como um objeto que pode ser visto do espaço,
esteja grávida de oito meses em Manhattan. E nos sentamos neste grande
escritório na Fifth Avenue, e eles aos poucos se mostraram mais progressitas,
acolhedores e amigáveis, e enquanto nos despedíamos um dos editores
cumprimentou minha mãe pela mão dizendo que esperava que fôssemos rígidas e
infelizes, mas não, éramos até boas pessoas. Isso foi em 1996.
E desde que surgiu “The Well-Trained Mind: A Guide to the Classical
Education”, o livro que eles compraram, tive a oportunidade ao longo dos últimos
anos de estar envolvida em uma grande conversa sobre educação. Educação
clássica, educação domiciliar, e educação clássica cristã.
E nesta noite eu quero ter essa conversa mais uma vez. E falar sobre
educação clássica, o que isto está fazendo por seus filhos e por que vale a pena
investir tempo e empenho nisso. E gostaria de apresentar alguns desafios para
vocês, e com algumas observações sobre detalhes que eu penso que os pais e
educadores clássicos poderiam estar fazendo um pouco melhor.
Mas eu quero começar primeiro com o que eu vejo que é uma das forças
centrais do modelo de educação clássica. Eu tenho certeza que todos vocês estão
familiarizados com os 3 estágios básicos - fases - da educação clássica.
Quando nós falamos sobre educação clássica, nós estamos falando sobre
uma fase gramática - os anos primários - em que são dados aos alunos estes
conjuntos básicos fundamentais de informação, para que eles então possam se
desenvolver.
Nós estamos falando sobre um método que envolve muita memorização,
muita repetição, e não necessariamente pedindo que eles executem muito
pensamento crítico até que sejam maduros, apenas obtendo esta informação em
suas mentes.
Então nós pensamos em mover da gramática para a lógica, gastando mais
tempo ensinando o pensamento crítico, ensinando a eles a lógica. Dando a eles
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ferramentas para começar a analisar este conjunto de informações que
colocamos na mente deles.
E então seguimos para o colegial, nós começamos a concentrar em
permitir que eles expresassem suas opiniões sobre as coisas que aprenderam.
Nós concentramos em escrita e discurso persuasivos. É este padrão de
aprendizagem que uma vez que você atravessa, repete-se de novo e de novo no
resto da sua vida. Toda vez que surge um novo assunto, primeiro você tem a
informação básica, depois você encontra como esta informação se encaixa junto,
então você decide o que pensa sobre isso. Este padrão até se aplica quando você
está fazendo algo mais prático, com as mãos. Como a costura, primeiro você
aprende os pontos, é o estágio de gramática, então você aprende como juntar
estes pontos em um padrão, que é o estágio lógico, e então você aprende a como
criar seu próprio padrão, usando esta informação, é a retórica, terceiro estágio.
Logo, este padrão é algo em que retornamos a vida inteira como aprendemos.
Mas o que realmente me surpreende sobre isso é que o padrão não é
apenas sobre a mente, é sobre a pessoa inteira. E na verdade, a educação clássica
não é apenas sobre a mente, é sobre a pessoa por completo.
E o que eu encontrei novamente e novamente é que estes estágios
intelectuais correspondem às necessidades emocionais que os estudantes tem. E
é o que faz a educação clássica um método tão poderoso. Eu vou dar alguns
exemplos do que eu quero dizer.
Nós sabemos que o estágio de gramática é um momento para
conhecimento básico, para trabalho de memória, para entoações e repetições.
Muito importante lembrar é que quando se trabalha com um aluno de nível
primário, estas coisas não correspondem naquela expressão horrível que alguns
educadores usam, ​
“drill & kill”​
.
O ensinamento não é de qualquer forma laborioso ou inapropriado, é
exatamente onde a criança precisa estar naquele momento. Eu darei alguns
exemplos, e para isso utilizarei um de meus filhos, especialmente porque eles não
estão aqui e eu não estou sendo gravada.
Meu filho mais velho sempre foi muito esperto e esforçado, sempre
ansioso para agradar. Apresentei-lhe então um programa de ciência que prometia
ensinar aos estudantes pensar criticamente sobre ciência logo no início, projetado
para estudantes do primário. Mesmo eu sendo comprometida com a educação
clássica, pensei que seria interessante ter algo para pensar previamente. A
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primeira lição tinha a página coberta com pernas de inseto, sem explicitar que
eram pernas de inseto. O objetivo da lição era identificar as diferenças e em
seguida virar a página e descobrir o motivo de cada uma existir e sua função. Ele
olhou atentamente para a atividade, olhou pra mim e disse: Entendi! Aquela
perninha ali em cima é que está mais próxima da margem do papel do que todas
as outras, e aquela ali embaixo era felpuda. E por que estou citando esta
experiência? Bem, o garoto não tinha idéia do que estava procurando. Ele não
tinha idéia de que ele deveria estar procurando por articulações, características
diferentes, todas as diferentes maneiras as quais as pernas funcionavam. Foi
pedido para ele pensar de forma indutiva, mas ele não tinha de onde tirar as
informações necessárias. Ele não tinha fonte para procurar e identificar um
padrão. Agora, se eu tivesse dito: “olhe, aqui estão pernas de inseto, vamos
memorizar todos os tipos?”, isso preencheria a mente dele com informação
concreta que permitiria a ele pensar de maneira abstrata.
Ao invés de achar aquilo interessante e desafiador, ele achou
incrivelmente frustrante, porque ele não sabia o que estava olhando. Eu sou uma
pessoa que ama gramática, e para cada aluno da escola primária que já tive eu
tento explicar o que significa o verbo estar. Não sei se vocês já tentaram fazer
isso. Você ensina a uma criança que um estado verbal de estar significa que você
é. Eles perguntam, o quê? Uma mãe? E você diz que não, diz que simplesmente é.
E aí perguntam, você é... faminta? E é muito difícil de ensinar isso, pois o estado
de ser é abstrato, e eles ainda não estão raciocinando de maneira abstrata.
Então como ensinar este estudante do primário a entender o estado
abstrato de ser? Você explica que o estado de ser é o estágio tal, representado
por: ​
eu sou, tu és, ele é, nós somos, vós sois, eles são​
. Agora repita isto quinze
vezes. Vejam que a repetição dará o alicerce para que eles comecem a pensar de
forma abstrata. Esta é a filosofia da educação clássica. O que eu amo neste tipo
de educação é também como os estudantes estão agindo emocionalmente e
espiritualmente, em termos de maturidade, em séries primárias.
As crianças aprendem abstrações através de repetições concretas. Se uma
criança de segundo ano pergunta em junho se vai nevar, você diz que não. É o
meu aniversário? Não, seu aniversário foi na semana passada. É Natal? Não. No
dia sequinte eles acordam e perguntam novamente: Hoje é meu aniversário? O
motivo de perguntarem isso é o fato de não terem vivido uma repetição concreta
lógica para começar a entender o padrão existente. Quando você resolve sair com
seu marido à noite eles começam a chorar perguntando se algum dia vocês
voltarão, o fazem porque ainda não vivenciaram o padrão. Aí fica a dica para
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resolver a questão, vocês precisam sair com mais frequência! Uma vez que eles
enxergam a repetição, começam a reconhecer o padrão. Este é o motivo de as
crianças sempre terem um livro favorito, eles precisam de repetição. Quando
você lê o livro e o tal inseto dourado está lá todas as vezes na mesma página que
estava antes, a sensação que as crianças tem é digna de festejo. Elas agem como
se tivessem grande convicção de que podem dizer que conseguem encontrar o tal
inseto nas páginas certas, até mesmo com o livro fechado. É uma informação
maravilhosa para as crianças, pois mostra que há coisas no mundo com que elas
podem contar. Crianças precisam de repetições. No nível educacional é usada a
repetição para estabelecer padrões que os estudantes possam começar a
reconhecer, levando-os ao pensamento crítico. Isso também ajuda a desenvolver
a mente de maneira apropriada, as maiores necessidades de um estudante neste
nível é repetição, ordem, estabilidade e monotonia. O mundo para eles é um
lugar caleidoscópico, caótico, e ainda não reconhecem os padrões, é o motivo de
o método clássico funcionar tão bem para estes estudantes primários.
Em torno da quarta ou quinta série isso começa a mudar. Então esta é a
diferença entre um estudante de primário e um estudante de estágio lógico. O
primeiro aluno vem e diz às nove e meia da noite, “um ladrão invadirá a casa?”. O
que eu geralmente não faço é contar a verdade, dizer “provavelmente não”. Não
dizemos isso, pois eles nunca dormiriam de novo, então mentimos para eles e
dizemos que não, um ladrão não invadirá nossa casa, agora volte a dormir. E o
que aquela criança está dizendo é “Eu estou salvo? As coisas continuarão a ser as
mesmas, o processo da noite e manhã, noite e manhã, continuará? Eu posso
contar com isso?”. E a responsabilidade como pais é de dizer que sim.
A criança pergunta novamente se o ladrão vai invadir a casa, e você
responde de novo que não, e pede para a mesma ir para cama. A resposta da
criança será “como você sabe?”. Esta é a transição do estágio da gramática para o
estágio da lógica. Eles viveram através do padrão tempo suficiente para saber que
em algumas vezes é quebrado, que em algumas vezes coisas ruins acontecem,
coisas inesperadas e ameaçadoras. O que eles precisam não é mais da
reafirmação, eles não precisam que você diga “não, tudo está bem”, pois eles
estão crescendo. O que eles precisam é de um plano, eles já sabem o que é o
padrão. O que eles querem saber é o que faremos caso o padrão se quebre. Este
é um pensamento crítico, a causa e o efeito. Isto claro, do ponto de vista
educacional, é onde queremos chegar dentro da sala de aula. Nós não mais
estamos dando a eles a repetição dos mesmos elementos de novo, e de novo,
eles já tiveram isso, e começam a se entediar e não mais prestam atenção. Ao
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invés, daremos ferramentas de educação e intelectuais, ferramentas de
pensamento crítico, assim estamos ensinando lógica. Introduziremos a eles
análises diversas.
Mas no desenvolvimento mental e emocional, eles têm a mesma
necessidade, que é, se “A” acontece, como eu poderia prever o que “B” deveria
ser? A necessidade emocional anda lado a lado com a necessidade intelectual, de
ser capaz de pensar criticamente para reconhecer o padrão, para entender o
motivo de um padrão estar quebrado, e o que fazemos a respeito. O educador
clássico nunca esquece que o ouro está em ensinar os estudantes, não apenas a
aprender com os livros, mas para entender e lidar com a vida. Quando você está
lidando com estudantes, em casa ou na sala de aula, estas são as coisas que a
educação clássica te ajuda a entender.
Darei mais um exemplo disto, e estão livres para discordar da forma como
eu lido com isso. Quando meus filhos estavam no jardim de infância e
perguntaram-me se eu morreria, eu disse que não. E não era o que eles estavam
me perguntando realmente. O que eles perguntavam é “você viverá? Você vai
desaparecer?”. Eles queriam saber se eu era alguém com quem eles poderiam
contar todos os dias. E após um tempo, quando meu filho estava no quinto ou
sexto ano perguntou-me novamente se eu morreria, e eu não diria que não. Não
é o que ele estava perguntando, nesta idade eles sabem que somos mortais, o
que eles desejam saber é o que acontecerá comigo, qual é o plano. Se o padrão é
quebrado, se coisas ruins acontecem, que planos foram feitos para o futuro?
Neste ponto eu diria que eu uso o cinto de segurança, eu não como muito açúcar,
eu tento cuidar de mim, mas qualquer um pode morrer. E se isso acontecer, você
viverá com seu tio Bob em Seattle. Isso é o que eles desejam saber.
Sendo assim, notamos que no estágio de gramática as crianças necessitam
de segurança, na etapa lógica a criança precisa de um plano, um senso de
controle, a habilidade de entender padrões e de entender por que estes mudam.
Então novamente o que acontece na sala de aula, e o que está acontecendo na
vida da criança, são situações simultâneas.
Quando movemos para a fase retórica, estamos indo para os anos de
colegial. A necessidade emocional da criança muda novamente. Eles não precisam
de tanta estabilidade, não precisam tanto de um plano, eles precisam dizer “este
sou eu, isto é o que eu sou, eu sou diferente dos meus irmãos, eu sou diferente
dos meus pais, diferente de meus primos, eu sou eu”.
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O currículo clássico nos anos de colegial move em direção à expressão e
ideias, ensinando aos alunos a como dizer de forma persuasiva, em escrita e
discurso, em que eles acreditam. E isso porque o que acreditamos - o que
achamos que seja importante, por que acreditamos no que fazemos - é uma parte
essencial do que somos como seres humanos. E até que você seja capaz de
articular o que acredita e o motivo disso, você ainda não tem um senso completo
de quem você é como ser humano. E isso é o que os estudantes necessitam. Eu
ensino para muitos calouros, e ensino para muitos que são maravilhosos,
animados, grandes jovens, e que são completamente não articulados. Eles não
conseguem me dizer o motivo de serem apaixonados por algo. Eles não
conseguem articular para mim o que farão em suas vidas. E por causa disso, eles
permanecem imaturos, e frustrados.
No currículo clássico, não são dadas apenas as ferramentas para eles
expressarem o que acreditam, mas é dado espaço também para especializar-se.
Este é o segundo aspecto do currículo clássico no colegial.
Dorothy Sayers costumava dizer que em assuntos onde está claro que o
estudante nunca irá se especializar, ou ser bom, ou ao menos gostar um pouco talvez ela estava pensando em algo como matemática -, que a ele deve ser
permitido o descansar seus remos. Não mais estudar aquilo, de modo a se dedicar
em alguns específicos aspectos dos seus estudos que ele ama, que é
absolutamente central para gozar a vida.
E é algo difícil para fazer, porque todos temos em mente que precisamos
de alunos que devem estudar um pouco de tudo. Este é o tradicional currículo
humanitário, e o que isso é capaz de produzir são estudantes que são tão
fragmentados, tão fracionados, tão sobrecarregados por um mundo de
atividades, que nunca possuem tempo para descobrir no que realmente são bons.
Pare um minuto e pense quanto da sua identidade como um ser humano está
associado ao que você sabe que faz bem. O que você faz melhor do que as outras
pessoas. O que as outras pessoas pedem para você fazer por elas. O currículo
clássico permite aos estudantes um “luxo” emocional de desenvolver este senso
de si.
Estas são algumas razões pelas quais eu acredito ser o currículo clássico
particularmente poderoso, onde o desenvolvimento intelectual e emocional de
estudantes andam de mãos dadas, onde a educação abrange o toda da criança,
não apenas a educação da mente. A educação clássica é fantástica por isso, mas
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como executamos as mesmas é o que eu pretendo falar rapidamente para
finalizarmos.
Há algumas áreas em que eu sinto que os educadores clássicos e os pais
poderiam fazer um pouco melhor. E eu quero rapidamente discursar sobre duas
delas.
A primeira delas é: precisamos trabalhar bem melhor na renúncia do
elitismo. Cada escola clássica que visita alega não ser elitista, e o elitismo é uma
atitude que se traduz por sermos melhores que outras pessoas. Confesso que fico
um pouco receosa, considerando que a educação clássica tem se implementando
de maneira cada vez maior e com cada vez maiores “expertises”, a visão de uma
educação melhor seja traduzida muito rapidamente para “somos melhores”. Me
pergunto por que muitas escolas clássicas começam a fazer a primeira série de
matemática no jardim de infância. Pense sobre isto por um minuto. Por que você
começaria um currículo de primeira série no jardim de infância? É por que muitas
destas crianças podem? Pois muitos não conseguem...
Bem no começo da primeira série, do jardim de infância, nós começamos a
lutar com um sistema que divide aqueles que podem fazer uma matéria em
formas mais avançadas, daqueles que não podem. E não se trata de uma questão
intelectual, moral, espiritual, é sobre maturidade. É, em outras palavras, algo que
os estudantes não têm absolutamente controle. Pense comigo, se você começar
com os seus alunos de jardim de infância a primeira série de matemática e você
permanecer neste caminho, os da sexta série farão pré-álgebra, os da sétima série
farão álgebra I, os da oitava geometria, e os da nona série farão álgebra II. Então,
ao final do colegial, os estudantes terminarão toda a matemática tipicamente
considerada necessária para admissão da faculdade.
Ok, isto é ótimo! Todavia questiono o que estamos ganhando com isso? O
que estes estudantes farão com estes anos remanescentes? Eles irão mais e mais
para matemática avançada? Poucos irão, e muitos não, porque desejarão parar.
Muitos terão desistido pelo caminho. Muitos pais terão decidido que a educação
clássica não eram para eles, porque seus filhos não conseguiram manter a
agenda. Paralelamente, em outro campo, questiono o porquê de os alunos da
sétima série serem freqüentemente exigidos a começar a ler os clássicos, numa
época em que o córtex cerebral fica tanto tempo desassociado isto pode ser
ativamente contraproducente.
Qual será o resultado disso? Mais uma vez nós terminaremos com um
grupo de elite, e um grupo de elite de menor força, com a maturidade sendo a
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única coisa que os separa. E quanto mais eu ensino, e eu diria que minhas visões
de mudança nisto é por parte do que vejo em meus filhos, mais percebo que
ainda precisamos desenvolver a maturidade emocional de nossos alunos. Estamos
ansiosos para mostrar que nós temos uma visão melhor para educação, e estas
coisas são importantes.
Creio que o movimento de escola clássica tem sido desnecessariamente
afetado pela mentalidade de que o rápido é o melhor. O que na educação se
traduz em: mais cedo, melhor. De volta na década de 1970, no começo do
movimento de escola clássica, algumas escolas estavam entre as primeiras a
ensinar escrita cursiva, ao invés de impressão, na primeira série. Eles não tinham
razões educacionais de competição para fazer isso, exceto que os mesmos
estavam na defensiva, prontos a provar que a educação cristã poderia não ser
apenas suficientemente boa, mas melhor que as salas de aulas que eles estavam
se comparando. E como uma forma de fazer isso, eles começaram a pegar
habilidades que normalmente se ensinavam na terceira série e movendo-as para
a primeira série. Me preocupo com o fato que algo do tipo tenha entrado na
educação clássica de hoje. Então eu encorajo você a pensar sobre elitismo, e
sobre o padrão muito comum em escolas clássicas, e perguntar a si mesmo o que
estamos ganhando com isso, e o que possivelmente estaríamos perdendo.
Nós vivemos em uma sociedade que tem sido muito influenciada pela
tecnologia de computador, todos na casa tem um bom computador e um
computador ruim. E o bom computador - aquele que todos querem usar - é o
mais rápido. Pense como é fácil usarmos as palavras, bom e ruim, sobre a
velocidade. O mundo em que vivemos recompensa a velocidade porque é mais
produtiva. Nós vivemos em uma sociedade capitalista, e isso é ótimo, é onde
estamos posicionados, e temos que lidar com isso. Mas é uma sociedade que
recompensa velocidade porque o quão rápido você faz as coisas, mais você faz
delas, e melhores coisas você tem disponível e para todos. Nós estamos muito
rápidos para absorver esta ética em nós mesmos, e para pensar o rápido como
bom, e o devagar como ruim.
O que necessitamos é pegar uma página da educação clássica e nos
lembrar que compreender não pode ser apressado, que o verdadeiro
entendimento apenas vem com tempo, e com reflexão. A velocidade e
produtividade não são bens morais, não se trata de ética superior fazer algo mais
rápido, fazer mais disso. Então eu desafio vocês a pensarem sobre isso, avaliarem
o currículo.
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A segunda coisa é que precisaremos fazer um trabalho melhor com ciência
do que estamos fazendo atualmente. Há duas coisas que temos que estar
dispostos a fazer. Temos que ser capazes de articular a ciência no padrão da
educação clássica, e eu tenho me esforçado para oferecer uma lista de ciência
retórica. Mas a educação clássica permanece uma iniciativa de foco humano, e
nós precisamos de ajuda com as ciências. A segunda coisa que precisamos é fazer
as pazes com a ciência.
Estou certa de que todos sabem disso. Eu quero sugerir rapidamente dois
princípios que devemos entrar em acordo. Como nós trabalharemos com ciência
e com cientistas junto aos nossos estudantes? Mesmo que nunca cheguemos a
nenhum acordo relacionado com a ciência, se ao menos colocarmos estes dois
princípios em fato, nossas escolas clássicas serão mais fortes. O primeiro princípio
seria este, vamos tentar não usar nenhuma argumentação que conclua que
determinadas teorias científicas são motivadas por rebelião contra Deus. Os
cientistas estudam o mundo físico. Nós podemos examinar a evidência e dizer se
esta teoria pode ser provada, ou esta teoria não pode ser usada. A evidência é
forte, a evidência é fraca, é conclusiva, não é conclusiva. Nós podemos fazer isso
sem concluir. Portanto, qualquer um que vier com uma conclusão oposta está
motivado pelo pecado. Número 1: isso infringe a Escritura, apenas Deus conhece
o coração, nós não somos chamados para julgar; Número 2: a argumentação é
desleixada; Número 3: nos impede de fazer ciência, porque nosso foco
permanece em outras pessoas que estão fazendo ciência, ao invés de no trabalho
em si. Eu trago isso em questão, porque eu vejo isso como a maior falta
educacional das escolas clássicas no momento.
E porque isso mostra algo sobre nós no mundo clássico cristão, nós
tendemos a ser bastante protetores de Deus e Seu Poder, e com muito medo, de
que se não darmos continuamente as respostas certas para as questões que são
perguntadas, que de alguma forma a coisa toda vai desmoronar. A fé na Bíblia
desaparecerá. O Reino do Céu na Terra declinará, e será nossa culpa. Na verdade
eu estou muito certa que Deus pode conduzir sem a gente. Ele nos deu o
privilégio de ser parte na educação de Seus filhos. Mas Sua mão está sobre eles. E
Ele não vai deixá-los cair. Porque nós permitimos a eles lerem um livro que nós
podemos discordar em algumas áreas.
Então estas são as duas áreas que eu encorajaria vocês a pensar sobre.
Pense sobre como nós fazemos ciência, e como poderíamos fazê-la melhor. Pense
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sobre o motivo de irmos rapidamente, e o que estamos ganhando e o que
estamos perdendo a partir disso. E vou finalizar com uma exortação para vocês.
Como nós continuamos a apoiar, colocamos nosso tempo, nosso esforço, e
finanças neste projeto de educação clássica, continuemos a examinar a nós
mesmos. E a perguntarmos o motivo de estarmos apaixonados sobre este
empreendimento. Se for porque estamos reproduzindo algum tipo de sistema, de
um tempo passado que pensamos haver sido melhor, esta não é uma boa razão.
Eu sou uma historiadora, não há uma época no passado que tenha sido melhor.
Por milênios, as pessoas tem olhado de volta para uma época anterior,
dizendo que se nós apenas pudéssemos voltar para lá, as coisas seriam tão
melhores. Isto nunca é o caso. Sempre houve alguma ideologia que se levantava
para destruir o mundo como se conhecia. Não é o motivo de estarmos envolvidos
com educação clássica, para recapturar alguma época de ouro perdida. Não
houve tempo no passado em que era mais fácil ser cristão, ou que os humanos
eram melhores do que são agora.
Nós não devemos amar a educação clássica porque nós queremos ser
melhores. Eu espero ter ilustrado isso como sendo uma atitude muito perigosa.
Deixe-me sugerir que a única real razão para estar envolvido na educação clássica
é porque nós entendemos que isso nos ajudará a sermos humanos. Nisto, ajudará
a entender o chamado que recebemos, compreendendo a nós mesmos, para
entender quem somos, para articular o que acreditamos, e porque acreditamos.
Aristóteles falou sobre os objetivos da educação, que é absurdo defender que um
homem deve se envergonhar da inabilidade de se defender com seus membros,
mas que não se deve envergonhar da inabilidade de defender-se com discurso e
razão; pois o uso do discurso racional é mais distintivo de um ser humano do que
o uso de seus membros.
Em outras palavras, o que nos faz humanos, o que nos faz o que devemos
ser, é a habilidade de colocar isso em palavras, o que acreditamos, e porque
acreditamos. Isto é o tesouro da educação clássica, este é o tesouro do padrão de
juntar fatos, avaliar os mesmos e expressar nossas opiniões sobre.
O apóstolo Paulo diz que nós sempre devemos ser capazes de responder a
razão para a esperança que existe em nós. E este é o objetivo da educação
clássica. Este é o único motivo para dispor seu tempo, finanças, e seu esforço
nisso. Então, obrigada!
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