Universidade federal do ABC Centro de Engenharia
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Universidade federal do ABC Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas Curso de Pós-Graduação em Energia MÁRCIO LUIZ PERIN SIMULAÇÃO DO DESEMPENHO ENERGÉTICO E DA DEMANDA DE ÁREA EM AGROSSISTEMAS INTEGRADOS À SUINOCULTURA Dissertação de Mestrado Santo André – SP 2010 i MÁRCIO LUIZ PERIN SIMULAÇÃO DO DESEMPENHO ENERGÉTICO E DA DEMANDA DE ÁREA EM AGROSSISTEMAS INTEGRADOS À SUINOCULTURA Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Energia como pré-requisito à obtenção do título de mestre em Energia. Área de concentração: Tecnologia, Engenharia e Modelagem. Orientador: Prof. Dr. Gilberto Martins SANTO ANDRÉ 2010 ii Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de pesquisa, desde que citada a fonte. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade Federal do ABC. PERIN, Márcio Luiz Simulação do desempenho energético e da demanda de área em agrossistemas integrados à suinocultura / Márcio Luiz Perin — Santo André: Universidade Federal do ABC, 2010. Orientador: Gilberto Martins Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal do ABC, Programa de Pós-graduação em Energia, 2010. 1. Suinocultura 2. Agrossistemas integrados 3. Análise energética I. MARTINS, Gilberto. II. Programa de Pós-graduação em Energia, 2010, III. Título. CDD 338.181 iii iv v DEDICATÓRIA a Deus... a minha família, pelo apoio e incentivo aos meus amigos e a todos que lutam por um mundo melhor ... ... vi AGRADECIMENTO Ao professor Gilberto Martins pela paciência e dedicação, sem a qual este trabalho não se realizaria. À Universidade Federal do ABC pela oportunidade e apoio financeiro por meio da bolsa de estudos oferecida durante todo o mestrado e auxílio na participação de congressos e desenvolvimento de estudos de campo. Aos professores Osmar Bueno e Juliana Toneli pelo aceite do convite para integrar a banca de avaliação deste trabalho e por suas valiosas contribuições. Aos pesquisadores Jorge Casaca e Osmar Tomazelli, Epagri/SC, pelas suas valiosas contribuições para a execução deste trabalho. Aos professores, funcionários e colegas da UFABC pelo apoio, incentivo e aprendizado durante este período de convivência. A minha família; aos amigos de perto, aos amigos de longe; aos amigos irmãos, aos amigos de festa; à amiga namorada; aos amigos de longa data e aos amigos conquistados durante esta jornada. Obrigado! Pela motivação, pelo apoio, inspiração e paciência nesta caminhada. Vocês foram fundamentais para a conclusão deste mestrado. E a todos os demais que, de alguma forma, contribuíram para este trabalho... O meu sincero agradecimento. A Deus, pela vida e inspiração, a minha devoção. vii Não haverá sustentabilidade enquanto nossas florestas arderem sob o fogo de nossa ignorância. Não haverá sustentabilidade enquanto nossos irmãos mais pobres passarem fome. Não haverá sustentabilidade enquanto vivermos financiados pela guerra. Não haverá sustentabilidade enquanto ficarmos calados, inertes à própria vida. Será a Sustentabilidade um sonho utópico? ? viii RESUMO PERIN, M. L. Simulação do desempenho energético e da demanda de área em agrossistemas integrados à suinocultura. 2010. 120 f. Dissertação (Mestrado) – Pósgraduação em Energia, Universidade Federal do ABC, São Paulo, 2010. Foram avaliados o fluxo energético e a demanda de área de três concepções de agrossistemas integrados à suinocultura. Na primeira concepção, ocorre a integração entre a suinocultura e a agricultura. A segunda concepção integra a suinocultura à produção de pescado em policultivo, enquanto na terceira concepção avaliada, a suinocultura é integrada à produção de biogás e à agricultura e piscicultura, conhecida como Bio-Sistema Integrado (BSI). A etapa suinocultura corresponde à produção do lote mínimo econômico de uma agroindústria localizada na região de Frederico Westphalen (500 suínos). As demais etapas produtivas dos sistemas integrados foram simuladas utilizando os roteiros técnicos preconizados para a execução de cada atividade. Todas as concepções foram modeladas para operar sob a óptica da preservação ambiental. As três concepções avaliadas nesta pesquisa foram comparadas utilizando indicadores de desempenho. Estes indicadores foram estruturados tendo como base os seguintes critérios: consumo específico de energia total e não-renovável; oferta de energia e de proteína pelo agrossistema integrado e demanda de área para a instalação das unidades produtivas. As entradas energéticas representam todos os insumos utilizados direta ou indiretamente no processo produtivo e energia depreciada pela utilização da infraestrutura necessária para operar os agrossistemas. Já as saídas energéticas, representam os produtos do agrossistema. Os resultados obtidos nas simulações indicam que as três concepções de integração melhoram o desempenho energético da suinocultura, aumentando a oferta de energia e de proteína das granjas suinícolas. O melhor desempenho energético foi observado para a integração suinocultura agricultura. Nesta concepção, o consumo específico de energia não-renovável da proteína foi avaliado em 58,74 MJ/kg, enquanto a integração suinocultura piscicultura, apresenta os valores mais elevados (101,13 MJ/kg) e o BSI apresenta resultados intermediários (73,14 MJ/kg). Quanto aos requisitos locacionais (disponibilidade hídrica e de área), as três concepções apresentam restrições. A integração da atividade suinícola com a agricultura demanda grandes áreas (47,45 ha). No caso da integração com a piscicultura, a demanda de área é menor (8,53 ha), no entanto, a atividade está sujeita a limitações de disponibilidade hídrica. Mesmo no BSI, que apresenta uma concepção produtiva inovadora, as demandas de área e a disponibilidade hídrica podem restringir a sua utilização. Nesta concepção estimou-se uma demanda de 25,46 ha (0,2 ha de suinocultura; 4,0 ha de lâmina de água e 21,26 ha de cultivo agrícola). Considerando a área média agricultável das propriedades da região (9,47 ha), verifica-se que a maior parte das propriedades da região não estaria apta a produzir o lote mínimo econômico, em nenhuma das três concepções de integração estudadas. Conclui-se assim que, sob a óptica ambiental e social, o lote mínimo estabelecido pela agroindústria é inviável para a realidade fundiária da região de Frederico Westphalen. Sugere-se a readequação do lote mínimo para que este seja compatível com a realidade suinícola desta região. Palavras-Chave: Suinocultura; agrossistemas integrados; análise energética; agricultura familiar. ix ABSTRACT PERIN, M. L. Simulation of energy performance and area demanded into agro systems integrated to the pig farming. 2010. 120 f. Dissertação (Mestrado) – Pós-graduação em Energia, Universidade Federal do ABC, São Paulo, 2010. The energy flux and the demanded land for three agro systems integrated to the pig farming were evaluated. In the first system, the pig production was integrated with agriculture. The second one integrated it with fish production in polyculture, while in the third system the swine was integrated to biogas production as well as to agriculture and fish production, a conception known as Integrated Bio-System (IBS). The swine phase, common to all integrated systems analyzed, was simulated based on the parameters of the minimal economic batch size determined by an agrobusiness located in the Frederico Westphalen region (500 pigs). The other productive processes were simulated based on technical procedures of the activities. All the procedures were proposed and modeled considering the environmental constraints. The performance of the three systems was compared using different indicators, which were based on the following parameters: specific total and non-renewable energy consumption, energy and protein output and demanded land for the activities. The energy income considered in the calculations were all the direct and indirect energy content of the inputs of the processes, besides the energy depreciated by the use of the infra-structure, while the energy outcome considered all the products of the integrated agro system in analysis. The results of the simulated activities indicated that all the three conceptions of integrated agro systems improved the energy performance of the pig production, increasing energy and protein output of the producer. The best energy performance was observed in the integration swine-agriculture. The specific non-renewable energy consumption for the protein obtained in the case was 58.54 MJ/kg, while the integration swine-fish production presented the highest value (101.13 MJ/kg) and the IBS obtained an intermediate value (73.14 MJ/kg). As to location requirements, (hydric and land availability), all the three conceptions presented some type of restriction. The integration of the pig production with the agriculture demanded the highest amount of land (47.45 ha). When it was integrated with fish production the demanded land obtained the smallest (8.53 ha) land area, nevertheless, the activity is highly dependent on water resources availability. Even in the IBS innovative conception, both demands can represent a restriction, since in the calculated land demand was 25.46 ha (0.2 ha for pig production, 4.0 ha for fish production and 21.26 ha for agriculture). Considering the average agricultural area of the rural properties in the region (9.47 ha), we observe that most of the local rural properties would not be able to produce the minimal economic batch size determined by the agrobusiness in any of three conceptions analyzed. The conclusion is that under the environmental and social perspective, the minimal economic batch size is not feasible to the agrarian reality of the Frederico Westaphalen region. A decrease in minimal economic batch size is recommended for the environmental and social adequacy of the pig production to the region. Keywords: pig farming; integrated agro systems; energy analysis; family farming. x LISTA DE FIGURAS Figura 2.1: Representação do sistema integrado suinocultura agricultura. ......................... 54 Figura 2.2: Representação do sistema integrado suinocultura piscicultura. ....................... 55 Figura 2.3: Representação do sistema de integração BSI. ...................................................... 56 Figura 2.4: Localização da região de Frederico Westphalen. ................................................. 57 Figura 2.5: Perfil de ocupação das terras na região de Frederico Westphalen........................ 58 Figura 2.6: Corte esquemático da esterqueira. ........................................................................ 67 Figura 2.7: Biodigestor tubular. .............................................................................................. 75 Figura 2.8: Corte esquemático do tanque de sedimentação. ................................................... 76 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1.1: Características dos dejetos suínos (fezes + urina), expressas por tonelada de peso vivo. .......................................................................................................................................... 20 Tabela 1.2: Estimativa média da quantidade de dejetos produzidos pelos suínos de acordo com a categoria. ........................................................................................................................ 21 Tabela 1.3: Extração média de nutrientes NPK por diferentes culturas agrícolas. ................. 28 Tabela 1.4: Produtividade do policultivo integrado à suinocultura em diferentes países. ...... 33 Tabela 1.5: Produtividade natural de viveiros fertilizados com dejetos suínos. ..................... 34 Tabela 1.6: Principais espécies utilizadas no policultivo integrado. ....................................... 36 Tabela 1.7: Quantidade de calcário utilizada para calagem em função da dureza da água. .... 37 Tabela 1.8: Balanço de nutrientes NPK no tanque de sedimentação. ..................................... 44 Tabela 2.1: Área de cultivo e valor da produção das principais atividades agrícolas na região. .................................................................................................................................................. 59 Tabela 2.2: Efetivo de animais de grande porte na região de Frederico Westphalen. ............ 59 Tabela 2.3: Composição do efetivo de suínos da região de Frederico Westphalen. ............... 60 Tabela 2.4: Caracterização dos dejetos suínos produzidos, avaliados para um lote de 500 animais, com massa média de 75 kg. ....................................................................................... 61 Tabela 2.5: Infraestrutura e equipamentos utilizados na produção de suínos. ........................ 63 Tabela 2.6: Insumos utilizados na produção de 500 suínos em um ano de produção. ............ 64 Tabela 2.7: Roteiro técnico adotado para a produção de 1,00 ha de milho em plantio direto, para um ano de produção (duas safras). ................................................................................... 68 Tabela 2.8: Especificações e tempo de uso dos equipamentos utilizados na execução do roteiro técnico da etapa agricultura (tabela 3.7). ...................................................................... 68 Tabela 2.9: Gasto de combustível para a execução do roteiro técnico para as duas safras, com plantio direto mecanizado......................................................................................................... 69 Tabela 2.10: Demanda de insumos para o cultivo de 1,0 ha de milho em um ano de produção (duas safras). ............................................................................................................................. 69 Tabela 2.11: Taxa de estocagem utilizada no policultivo integrado catarinense. ................... 71 Tabela 2.12: Infraestrutura da etapa piscicultura. ................................................................... 72 Tabela 2.13: Insumos utilizados na operação e manutenção da piscicultura. ......................... 73 Tabela 2.14: Composição do policultivo no BSI. ................................................................... 78 Tabela 2.15: Materiais utilizados na construção da infraestrutura pesqueira. ......................... 78 Tabela 2.16: Insumos utilizados na operação e manutenção do policultivo. .......................... 79 Tabela 2.17: Estruturação da matriz energética dos sistemas integrados. ............................... 81 Tabela 2.18: Coeficientes energéticos dos itens que compõem a infraestrutura produtiva..... 84 Tabela 2.19: Coeficientes adotados para a conversão energética dos agroquímicos. ............. 85 Tabela 2.20: Composição e energia metabolizável da carne de peixe. ................................... 86 xii Tabela 3.1: Matriz energética da etapa suinocultura. .............................................................. 91 Tabela 3.2: Indicadores energéticos da etapa suinocultura. .................................................... 91 Tabela 3.3: Valoração econômica dos nutrientes presentes nos dejetos suínos para um ano de produção três lotes de suínos. ................................................................................................... 93 Tabela 3.4: Produção total, concentração e valoração econômica dos dejetos suínos de acordo com a diluição. .......................................................................................................................... 93 Tabela 3.5: Balanço de nutrientes do milho no sistema integrado suinocultura agricultura. .................................................................................................................................................. 94 Tabela 3.6: Análise econômica da utilização dos dejetos suínos como fertilizante agrícola nas lavouras de milho em função da diluição. ................................................................................ 95 Tabela 3.7: Matriz energética da etapa agricultura para um ano de produção. ....................... 97 Tabela 3.8: Indicadores de desempenho da etapa agricultura integrada e não-integrada. ...... 99 Tabela 3.9: Matriz energética do sistema integrado suinocultura agricultura para um ano de produção. ................................................................................................................................ 100 Tabela 3.10: Indicadores de desempenho do sistema integrado suinocultura agricultura. 101 Tabela 3.11: Produção de energia e proteína no policultivo integrado. ................................ 103 Tabela 3.12: Matriz energética da etapa piscicultura integrada para um ano de produção. .. 104 Tabela 3.13: Matriz energética da etapa piscicultura não-integrada para um ano de produção. ................................................................................................................................................ 105 Tabela 3.14: Indicadores de desempenho da etapa piscicultura integrada e não-integrada. . 106 Tabela 3.15: Matriz energética do sistema integrado suinocultura piscicultura para um ano de produção............................................................................................................................. 107 Tabela 3.16: Indicadores de desempenho do sistema integrado suinocultura piscicultura. ................................................................................................................................................ 108 Tabela 3.17: Aporte de nutrientes e concentração do biofertilizante líquido no tanque de peixes. ..................................................................................................................................... 108 Tabela 3.18: Balanço de nutrientes do milho na etapa BSI. .................................................. 109 Tabela 3.19: Matriz energética da etapa biodigestor para um ano de produção. .................. 111 Tabela 3.20: Equivalente energético do biogás produzido na etapa biodigestor. ................. 112 Tabela 3.21: Produção de energia e proteína no policultivo integrado. ................................ 113 Tabela 3.22: Matriz energética da etapa piscicultura integrada no BSI para um ano de produção. ................................................................................................................................ 114 Tabela 3.23: Indicadores de desempenho da etapa piscicultura integrada e não-integrada. . 114 Tabela 3.24: Comparação entre o dejeto III e o biofertilizante. ............................................ 115 Tabela 3.25: Matriz energética da etapa agricultura no BSI para um ano de produção. ....... 116 Tabela 3.26: Indicadores de desempenho da etapa agricultura no BSI em comparação com a etapa no manejo em esterqueira.............................................................................................. 117 Tabela 3.27: Balanço energético para um ano de produção do BSI. ..................................... 118 Tabela 3.28: Indicadores de desempenho do sistema integrado BSI. ................................... 119 Tabela 3.29: Indicadores de desempenho das três concepções de sistemas integrados à suinocultura analisadas. .......................................................................................................... 120 xiii SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 18 1.1 SUINOCULTURA ............................................................................................................ 18 1.1.1 Produção e caracterização dos dejetos suínos............................................................. 19 1.1.2 Suinocultura e meio ambiente ...................................................................................... 21 1.1.3 Estratégias de gestão dos dejetos suínos e demanda de área ..................................... 23 1.2 SISTEMAS AGRÍCOLAS INTEGRADOS À SUINOCULTURA ............................. 25 1.2.1 Integração suinocultura agricultura ........................................................................ 26 1.2.2 Integração suinocultura piscicultura ....................................................................... 31 1.2.3 Integração suinocultura biodigestor piscicultura/agricultura........................... 38 1.3 ANÁLISE ENERGÉTICA .............................................................................................. 46 1.3.1 Delimitação do volume controle ................................................................................... 46 1.3.2 Classificação dos fluxos energéticos ............................................................................. 47 1.3.3 Indicadores de eficiência energética ............................................................................ 48 1.3.4 Balanço energético em sistemas agropecuários .......................................................... 50 1.3.5 Produção animal versus produção vegetal .................................................................. 52 2 METODOLOGIA................................................................................................................ 54 2.1 ESCOPO DESTE ESTUDO ............................................................................................ 54 2.2 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DE ESTUDO ..................................................... 56 2.3 SUINOCULTURA ............................................................................................................ 60 2.3.1 Configuração da etapa suinocultura ............................................................................ 60 2.3.2 Coeficientes técnicos da etapa suinocultura ................................................................ 62 2.3.3 Composição da ração suína .......................................................................................... 64 2.4 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURA AGRICULTURA ............................................ 65 2.4.1 Configuração do sistema integrado ............................................................................. 65 2.4.2 Coeficientes técnicos da etapa agricultura .................................................................. 66 2.5 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURAPISCICULTURA ............................................. 70 2.5.1 Configuração do sistema integrado ............................................................................. 70 2.5.2 Roteiro técnico da etapa piscicultura .......................................................................... 71 2.6 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURA BIODIGESTOR PISCICULTURA/ AGRICULTURA .................................................................................................................... 74 2.6.1 Etapa biodigestor ........................................................................................................... 74 2.6.2 Etapa piscicultura .......................................................................................................... 77 2.6.3 Etapa agricultura........................................................................................................... 79 2.7 ANÁLISE ENERGÉTICA .............................................................................................. 81 2.7.1 Composição da matriz energética nos sistemas integrados ....................................... 81 2.7.2 Coeficientes energéticos ................................................................................................ 82 2.8 INDICADORES DE DESEMPENHO ............................................................................ 87 xiv 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 90 3.1 ETAPA SUINOCULTURA ............................................................................................. 90 3.1.1 Avaliação energética ...................................................................................................... 90 3.1.2 Valoração econômica dos nutrientes presentes nos dejetos ....................................... 92 3.2 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURA AGRICULTURA ............................................ 93 3.2.1 Demanda por terras agriculturáveis ............................................................................ 93 3.2.2 Influência da diluição no desempenho do sistema ...................................................... 94 3.2.3 Análise energética .......................................................................................................... 96 3.3 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURA PISCICULTURA .......................................... 102 3.3.1 Demanda por terras agriculturáveis .......................................................................... 102 3.3.2 Influência da diluição no desempenho do sistema .................................................... 102 3.3.3 Análise energética ........................................................................................................ 102 3.4 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURA BIODIGESTOR PISCICULTURA/ AGRICULTURA .................................................................................................................. 108 3.4.1 Demanda por terras agriculturáveis .......................................................................... 108 3.4.2 Influência da diluição no desempenho do sistema .................................................... 110 3.4.3 Análise energética ........................................................................................................ 111 3.5 DISCUSSÕES GERAIS SOBRE OS SISTEMAS INTEGRADOS ........................... 120 3.5.1 Avaliação dos indicadores de desempenho ................................................................ 120 3.5.2 Influência das práticas de manejo no desempenho dos sistemas ............................ 124 CONCLUSÃO....................................................................................................................... 132 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 135 APÊNDICES ......................................................................................................................... 142 15 INTRODUÇÃO A carne suína é a principal fonte de proteína animal consumida no mundo. Em 2007, o consumo mundial deste produto ultrapassou a marca das 99 milhões de toneladas, representando 38% da demanda mundial de carne. O consumo médio per capita neste ano foi de 15 kg. No Brasil, a carne suína é a terceira fonte protéica mais consumida, representado 14% do mercado nacional. O consumo médio per capita do brasileiro em 2007 foi de 11 kg/ano (FAOSTAT, 2010). O Brasil apresenta o 4° maior rebanho suíno do mundo, com 35,95 milhões de cabeças, 3,9% do contingente mundial. Em 2007, a produção brasileira de carne suína foi de 2,9 milhões de toneladas, 2,8% da produção mundial (FAOSTAT, 2010). O Estado de Santa Catarina apresenta o maior rebanho nacional seguido do Rio Grande do Sul. Um dos maiores pólos suinícolas do país está localizado na Bacia do Rio Uruguai. Abrangendo as regiões noroeste do Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina, a Bacia do Alto Uruguai concentra um grande número de suinocultores e agroindústrias processadoras. Em muitos municípios, a concentração de suínos supera a população residente. O sistema produtivo é especializado, com alto padrão genético e de nutrição animal. Os animais são criados em confinamento, prevalecendo o regime de integração suinocultor/agroindústrias processadoras de carne. A suinocultura é uma atividade com grande importância econômica e social para os municípios da região Sul. A atividade é um importante vetor de desenvolvimento econômico, contribuindo para a fixação do homem no campo. A suinocultura prevalece em pequenas propriedades rurais, com emprego de mão-de-obra familiar. Além de agregar valor aos grãos produzidos na propriedade, a atividade tem permitido uma ocupação mais efetiva da mão-deobra familiar, com alto índice de economicidade. No entanto, é consenso que a prática da suinocultura sem observar os critérios de produção sustentável, a torna uma atividade com grande potencial de poluição. A criação de suínos em confinamento, sem as devidas precauções quanto ao tratamento dos dejetos produzidos, resulta em sérios impactos ao ecossistema. A criação de suínos sem o atendimento de critérios ambientais tem provocado a poluição das águas, do solo e do ar. O desconforto ambiental, provocado pela emissão de maus odores e pela proliferação de insetos é outro problema freqüente nas regiões produtoras. 16 Os dejetos suínos apresentam um grande potencial poluidor. No entanto, adotando-se tecnologias de manejo adequadas, estes dejetos constituem-se como um recurso de alto valor econômico. Na literatura estão disponíveis inúmeros trabalhos que apontam a efetividade agronômica, econômica e ambiental da utilização dos dejetos suínos em sistemas produtivos. Os dejetos suínos têm sido empregados para fertilizar lavouras de milho, cana-de-açúcar, pastagens e na fertilização de tanques de peixes. Independente da concepção utilizada para o manejo dos dejetos deve-se estar atento às restrições locacionais (terras, água, topografia, relevo), tecnológicas, culturais e econômicas das granjas suinícolas. Além disso, o volume de dejetos deve estar restrito à capacidade dos agrossistemas em reciclar os nutrientes presentes nos mesmos. A viabilidade ambiental para o uso dos dejetos suínos está limitada pelo déficit de planejamento da produção agropecuária. Geralmente, a execução das atividades agropecuárias dentro da propriedade não segue um planejamento adequado. As atividades agropecuárias são operadas individualmente, sem que haja um planejamento integrado em sua execução. A ausência de uma visão integrada dos processos tem sido apontada como sendo um dos maiores entraves ao desenvolvimento sustentável das propriedades suinícolas. A adoção de estratégias que visem à integração destes processos, com a maximização no uso dos recursos, pode melhorar a qualidade dos serviços prestados, além de aumentar a sustentabilidade destes agrossistemas. Neste sentido, diversas concepções de integração produtiva têm sido propostas. No entanto, poucos são os dados disponíveis na literatura que possibilitariam avaliar o desempenho energético e a demanda de área de cada tecnologia. O conhecimento dos limites e das potencialidades destas tecnologias é fundamental para o crescimento sustentável da suinocultura. A região de Frederico Westphalen faz parte da Bacia do Rio Uruguai, estando localizada a noroeste do Rio Grande do Sul. Nesta região, predomina a pequena produção, com administração familiar em uma área média agricultável de 9,47 ha. A suinocultura é um dos principais vetores econômicos dos municípios da região, com um efetivo de suínos que representa 10% do rebanho gaúcho. Responsável por 60,4% do efetivo da pecuária na região, a atividade representa 14,3% do valor agregado pela produção agropecuária na mesma (IBGE, 2006). A presença de uma grande agroindústria na região tem catalisado o desenvolvimento da atividade. Municípios sem tradição suinícola vêm aumentando exponencialmente o seu rebanho. No entanto, apesar da relevância socioeconômica da suinocultura, pouco tem sido pesquisado sobre as relações ambientais envolvidas com a sua execução. A ampliação da 17 produção suinícola nesta região sem um planejamento adequado pode provocar sérios danos aos ecossistemas locais. A inexistência de estudos sobre a suinocultura da região e o histórico de impactos ambientais provocados pelo não planejamento da suinocultura gera a necessidade de se avaliar os limites desta expansão. Neste sentido, a hipótese orientadora deste trabalho é que a integração de processos agropecuários melhora o desempenho energético da suinocultura, além de compatibilizar ambientalmente esta atividade com a realidade fundiária da produção familiar. Desta forma, o objetivo deste trabalho é avaliar o desempenho energético e o atendimento de restrições de disponibilidade de área agricultável para a produção do lote mínimo de suínos de uma agroindústria processadora localizada na região de Frederico Westphalen, em três concepções de integração: suinocultura agricultura; suinocultura piscicultura; suinocultura biodigestor agricultura/piscicultura. Para tanto, tem-se como objetivos específicos as seguintes etapas: Estimar a demanda de área para a implantação das três concepções de integração. Simular os fluxos de energia nos três agrossistemas, tendo como base os roteiros técnicos disponíveis para a execução de cada atividade. Comparar individualmente cada sistema integrado com o desenvolvimento de um roteiro técnico similar, sem integração. Construir indicadores de desempenho, tendo como base os resultados obtidos na simulação. Utilizar os dados simulados para avaliar a compatibilidade das tecnologias estudadas com a região de estudo. 18 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 SUINOCULTURA A suinocultura, desenvolvida na região Sul, possui alto grau de desenvolvimento tecnológico, tendo sua produção voltada ao mercado internacional. O padrão tecnológico desta região assemelha-se à dos sistemas produtivos encontrados nas regiões produtoras da Europa. A atividade é altamente competitiva, com margens de lucro reduzidas e severas restrições ambientais. Os suínos são criados em confinamento, com alto padrão genético e de nutrição animal. A rastreabilidade, padronização, qualidade e a redução nos custos de produção são demandas constantes no setor produtivo da região (KUNZ, MIELE e STEINMETZ, 2009; SANTOS FILHO e BERTOL, 2010). Willer et al. (2010) apontam que o setor suinícola brasileiro divide-se em dois grandes grupos de empresas. O primeiro grupo é composto por indústrias frigoríficas de grande porte. Estas empresas têm foco na exportação de grandes volumes de carne suína processada ou in natura, além de serem lideres no mercado nacional de proteína suína. Responsável por 40% do rebanho nacional, este grupo é responsável por 87% do abate inspecionado no país. Estas empresas atuam no regime de integração vertical suinocultor/agroindústria. As unidades suinícolas são altamente especializadas e com padrão tecnológico compatível com os maiores centros de produção da Europa e Estados Unidos. Os produtores são remunerados por critérios pré-estabelecidos em contrato. O segundo grupo de empresas é formado por pequenas e médias unidades de abate e/ou processamento, e pequenas cooperativas de produtores. O padrão tecnológico apresenta ligeira defasagem em relação ao primeiro grupo. Os suinocultores operam, normalmente, de forma independente. O nível de especialização é baixo e a produção é voltada aos mercados locais e/ou regionais. A remuneração dos produtores se dá a preços de mercado. No entanto, como menciona Willer et al. (2010), este sistema vem perdendo espaço, devido às constantes oscilações no mercado de carne suína. Para Cavalett, Queiroz e Ortega (2006), a integração suinocultor/agroindústria surgiu num movimento de verticalização da produção pela agroindústria, que passou a controlar todas as etapas da cadeia produtiva. A integração é regida por contratos firmados entre os agentes antes do início da operação. O produtor é dependente da agroindústria, tanto na comercialização da produção, quanto no fornecimento de insumos. A remuneração se dá por 19 um valor fixo, referente ao número de animais entregues ao fim do período de estada destes na propriedade (WILLER et al., 2010). Para Santos Filho e Bertol (2010), a verticalização da produção vem crescendo, sendo a modalidade predominante na suinocultura industrial. Nesta modalidade, a agroindústria fornece assistência técnica e os insumos necessários à produção (ração e medicamentos). Ao produtor, cabem os investimentos em infraestrutura, mão-de-obra e gastos com energia. Em muitos casos, a agroindústria atua também como fiadora na obtenção de financiamentos para a instalação da infraestrutura. A alimentação e as técnicas de produção e manejo da produção seguem o padrão estabelecido pela agroindústria. As unidades produtivas são especializadas, com divisão da produção de suínos entre iniciadores e terminadores. O processo de especialização da produção e integração à agroindústria teve início a partir da década de 70. Visando padronizar sua produção, aumentar a qualidade de seus produtos e reduzir os custos de produção, as granjas suinícolas passaram por um processo de reestruturação. Surgiram as Unidades Produtoras de Leitões (UPL) e as Unidades de Crescimento e Terminação (UCT). Os produtores que atuam em todas as etapas produtivas são denominados Unidades de Ciclo Completo (UCC). Esta modalidade é pouco comum entre os suinocultores industriais (SANTOS FILHO e BERTOL, 2010). Quanto ao tamanho da produção. As propriedades que atuam como UCC ou UPL apresentam um rebanho mais elevado. O investimento em infraestrutura é maior e os custos com energia também (tanto elétrica quanto térmica). As propriedades menores atuam, normalmente, como unidades terminadoras. O custo de investimento é menor e os gastos com energia também são reduzidos. 1.1.1 Produção e caracterização dos dejetos suínos O volume de dejetos produzidos pela granja depende das técnicas de manejo e de seu padrão tecnológico. A quantidade de fezes e urina produzida é afetada por fatores zootécnicos (tamanho, sexo, raça e categoria dos animais), ambientais (temperatura e umidade) e dietéticos (digestibilidade, conteúdo de fibra e proteína). Além disso, o volume total de dejetos produzidos pode aumentar devido aos desperdícios de água nos bebedouros e na higienização das baias (DARTORA, PERDOMO e TUMELERO, 1998). No entanto, a suinocultura industrial, em sistema de confinamento, com alimentação e genética padronizadas, apresenta pouca variância na quantidade de fezes e urina produzida, 20 bem como em suas características físico-químicas. Na literatura, existem trabalhos que fornecem dados que possibilitam estimar a produção e a caracterização dos dejetos suínos produzidos. Quanto aos aspectos físico-químicos dos dejetos, estes podem ser estimados com boa precisão utilizando-se a tabela 1.1 (ASAE, 2003). Esta tabela apresenta as características dos dejetos de suínos sem considerar sua diluição (considera apenas o esterco e a urina). Este procedimento também é utilizado por Perdomo, Lima e Nones (2001) e Oliveira (2001) em seus estudos sobre a suinocultura. Tabela 1.1: Características dos dejetos suínos (fezes + urina), expressas por tonelada de peso vivo. Item Densidade Sólidos totais Sólidos voláteis DBO5 DQO Nitrogênio total Fósforo total (P) Potássio total (K) P 2O 5 1 K2O 1 Fonte: Adaptado de ASAE (2003). Produção diária por tonelada de carne 990 kg/m3 11,00 kg 8,50 kg 3,10 kg 8,40 kg 0,52 kg 0,18 kg 0,29 kg 0,41 kg 0,35 kg O volume de dejetos produzidos em uma granja suinícola é influenciado pelo manejo, tipo de bebedouro e pelo sistema de higienização adotado (freqüência e volume de água utilizada), dentre outros fatores. Oliveira (1993) apresenta uma estimativa média do volume de dejetos produzidos pelos suínos de acordo com a sua categoria (tabela 1.2). O autor considera uma propriedade padrão, com boas práticas de manejo e sistema de produtivo com nível de tecnologia médio. 1 Para converter as formas elementares P e K em P2O5 e K2O, utilizam-se os fatores 2,29 e 1,20, respectivamente. 21 Tabela 1.2: Estimativa média da quantidade de dejetos produzidos pelos suínos de acordo com a categoria. Terminação 25 –100 kg 2,30 kg 4,90 kg Esterco+urina+ desperdícios de água 7,00 l Porcas em Gestação 3,60 kg 11,00 kg 16,00 l Porcas em Lactação 6,40 kg 18,00 kg 27,00 l Machos 3,00 kg 6,00 kg 9,00 l Leitão desmamado Fonte: Adaptado de Oliveira (1993). 0,35 kg 0,95 kg 1,40 l Categoria de Suínos Esterco Esterco+urina 1.1.2 Suinocultura e meio ambiente A poluição do ambiente por resíduos orgânicos de origem animal e vegetal, oriundos da exploração agropecuária ou industrial, vem colocando em risco o equilíbrio ecológico. A introdução de agentes patogênicos, a proliferação de insetos, a eutrofização dos corpos hídricos e a contaminação do solo, da água e do ar, estão entre os principais problemas provocados pela produção agropecuária (ESTEVES, 1998; ZHU, 2000). Nos últimos anos, a suinocultura brasileira vem passando por um processo de expansão da produção. A produção suinícola vem se modernizando, num processo de intensificação da produção. De acordo Kunz, Miele e Steinmetz (2009), este processo está sendo catalisado por restrições à produção de suínos na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, o manejo dos dejetos produzidos pelos suínos tem se tornando um sério problema tanto ambiental quanto econômico nas regiões produtoras. A suinocultura é uma atividade agropecuária intensiva, onde os animais são criados confinados. A criação de suínos por confinamento, sem as devidas precauções quanto ao tratamento dos dejetos produzidos, resulta em sérios impactos aos mananciais, tanto superficiais como subterrâneos (Seganfredo, 2000; CAVALETT, QUEIROZ e ORTEGA, 2006). Conforme menção de Berto (2004), a suinocultura é um setor produtivo com baixa qualidade ambiental. A criação de suínos sem o atendimento de critérios ambientais tem provocado a poluição das águas, do solo e do ar. Diariamente, são descarregadas extensas quantias de nutrientes (nitrogênio e fósforo), matéria orgânica e metais pesados (principalmente zinco, cobre e ferro). O desconforto ambiental, provocado pela emissão de maus odores e pela proliferação de insetos, é outro problema freqüente nas regiões produtoras (ZHU, 2000; HOODA et al., 2000). 22 Basset-Mens e van der Werf (2005) relatam que a suinocultura europeia provocou sérios impactos ambientais, com inúmeros danos ao ecossistema local. A crítica é compartilhada por Jongbloed et al. (1999) e Basset-Mens et al. (2007). Petit e van der Werf (2003) apontam que, na França, os impactos ambientais associados à suinocultura têm levado a mudanças no sistema produtivo. No entanto, a atual conjuntura produtiva da suinocultura europeia tem sido questionada. Pressões de entidades ambientais (ONG’s) e de associações de consumidores associadas às novas restrições da legislação ambiental têm levado os produtores a adotar sistemas de produção menos agressivos ao meio ambiente. No Brasil, a maior parte da produção suinícola está concentrada na região sul. Nesta região, prevalece o manejo líquido dos dejetos, que são coletados e armazenados em esterqueira. Após a sua estabilização, os dejetos são utilizados para adubação de culturas agrícolas. No entanto, a viabilidade ambiental e econômica desta tecnologia está limitada por um fator de escala suínos/área. A reduzida área disponível para aplicação nas propriedades e o relevo acidentado das regiões produtoras leva à insuficiência de áreas agrícolas para a aplicação agronômica do volume total de dejetos produzidos. Assim, uma grande quantidade de dejetos é aplicada sobre o solo sem passar por qualquer tipo de tratamento ou estabilização (SEGANFREDO, 2000; SCHERER, 1997). Em muitos casos, são aplicados volumes de dejetos superiores à capacidade das plantas em absorver os nutrientes presentes nos dejetos. Problemas como eutrofização dos corpos hídricos, emissão de odores desagradáveis, aumento na incidência de insetos e contaminação dos solos são freqüentes nas regiões com alta densidade de suínos (SEGANFREDO, 1999; HOODA et al., 2000; KUNZ et al., 2009). Quanto maior o número de animais numa suinocultura, maior deve ser a preocupação com o potencial poluidor do seu resíduo. Para Kunz, Miele e Steinmetz (2009), os impactos ambientais provocados pelo tratamento inadequado dos dejetos é um dos maiores problemas que a intensificação da produção trouxe para o meio ambiente e para a própria sociedade. Citando o caso de Santa Catarina, Seganfredo, (2000) discorre que a concentração da produção e o não atendimento de critérios de sustentabilidade ambiental provocaram diversos problemas ambientais no Estado. A proliferação de insetos, os maus odores e a contaminação de solos e dos rios atingiu índices alarmantes. Para Seganfredo (2001), nos últimos anos, com o aperfeiçoamento da legislação ambiental, este quadro começou a se alterar. O termo de ajustamento de conduta (TAC) visa readequar os sistemas de produção de suínos frente às novas restrições da legislação ambiental. O autor afirma ainda que seria necessária a adoção de sistemas de tratamento adequados, sob pena de inviabilizar a produção de suínos nas regiões produtoras. 23 A percepção de responsabilidade socioambiental por parte dos mercados consumidores é fator chave para a readequação ambiental dos sistemas produtivos. Os impactos ambientais da suinocultura foram, por muito tempo, ignorados. No entanto, nos últimos anos este cenário está se alterando. Krystallis et al. (2009) discorrem que os aspectos sociais e ambientais da produção de suínos têm apresentado influência nos hábitos de consumo dos europeus. Apesar de incipiente, esta nova percepção de qualidade tem provocado mudanças nos sistemas produtivos nestes países. Além disso, o aspecto ambiental é fator incisivo para a entrada de produtos suínos de outros países no mercado europeu. 1.1.3 Estratégias de gestão dos dejetos suínos e demanda de área A área necessária para instalar e operar os sistemas integrados à suinocultura depende do balanço de nutrientes do agrossistema. Quanto maior o efetivo de suínos na propriedade, maior será a produção de nutrientes, aumentado a demanda por áreas para a disposição dos dejetos. Assim, é necessário planejar o lote de suínos para que este esteja em conformidade com a capacidade de suporte da propriedade. Caso contrário, o sistema apresentará um excedente de nutrientes. Além disso, a escolha do sistema de manejo dos dejetos influencia diretamente no efetivo de suínos suportado pela propriedade. Caso a propriedade não disponha de área suficiente para a reciclagem dos nutrientes, devem-se adotar outras tecnologias de tratamento ou realocar estes nutrientes para propriedades vizinhas. No manejo dos dejetos suínos prevalece o uso de esterqueiras. Os dejetos são coletados na forma líquida e armazenados por certo período para estabilização. A legislação vigente nos estados do Sul do país prevê que este tempo de armazenamento deve ser de no mínimo 120 dias. Após este período, os dejetos são aplicados no solo para adubação agrícola. A simplicidade, o baixo custo e a possibilidade de redução dos custos agrícolas auxiliaram na difusão desta tecnologia de manejo (KUNZ, MIELE e STEINMETZ, 2009). As esterqueiras, quando dimensionadas e operadas de forma correta, são uma opção de baixo custo para produtores que possuem áreas de cultivo suficientes para a disposição destes resíduos. O problema é garantir a disponibilidade de área na propriedade para alocação correta dos dejetos (SEGANFREDO, 2000). Com o aumento da concentração dos animais na propriedade, muitos suinocultores não dispõem de área suficiente para a alocação dos dejetos dentro dos critérios ambientais. A região Sul é caracterizada pelo predomínio de pequenas propriedades, onde 90% das unidades produtoras possuem áreas inferiores a 50 ha 24 (CAVALETT, QUEIROZ e ORTEGA, 2006). Seganfredo, Soares e Klein (2003) apontam que, no Oeste Catarinense, a área média das propriedades é de 21,4 ha. Destes, 10,3 ha são agriculturáveis. O lote mínimo econômico2 exigido pelas agroindústrias integradoras excede a capacidade de suporte de grande parte das propriedades. Para atender os requisitos da legislação ambiental, estes produtores, contratam junto às propriedades vizinhas, áreas para a disposição dos dejetos. Como mencionado nas discussões anteriores, a tendência das agroindústrias processadoras de carne suína é pelo aumento de escala, com aumento na concentração de suínos por área. Berto (2004) alerta que a alta concentração de suínos na propriedade, associada à elevada diluição dos nutrientes nos dejetos, à topografia acidentada e à reduzida área agrícola na maior parte das propriedades, eleva os custos de armazenagem e transporte destes para as lavouras – em muitas situações, o custo destas operações excede os custos da adubação por fertilizantes químicos. Como conseqüência, as áreas mais próximas à criação recebem doses de aplicação acima da capacidade de assimilação das plantas, enquanto as áreas mais distantes são adubadas com fertilizantes químicos. O estrangulamento da relação suínos/área vem limitando a expansão da produção em muitas regiões consideradas tradicionais na produção suinícola. Surge, assim, a necessidade de novas tecnologias para o tratamento dos dejetos suínos. Kunz, Miele e Steinmetz (2009), avaliam que as estratégias de tratamento dos dejetos suínos são baseadas em processos físicos, químicos e/ou biológicos. Estes processos podem ser utilizados para converter o potencial poluidor dos resíduos em subprodutos, como biogás, fertilizante e créditos de carbono. Alguns processos, no entanto, têm por finalidade apenas reduzir o potencial poluente os dejetos. Neste caso, a suinocultura é o único vetor produtivo da propriedade. A adoção de tecnologias de manejo está limitada às restrições de capital e disponibilidade de área. A estes fatores, somam-se ainda restrições associadas à difusão das tecnologias e ao conhecimento sobre o seu uso eficiente. Na região Sul, grande parte das granjas suinícolas são familiares. O processo de modernização do setor intensificou a produção. No entanto, os ganhos econômicos obtidos pelas agroindústrias não refletem a realidade econômica dos suinocultores. Muitos produtores vêm enfrentando dificuldades em 2 Lote Mínimo Econômico corresponde ao menor efetivo de suínos que uma propriedade suinícola necessita para iniciar a sua produção. Este efetivo é definido pelas agroindústrias, tendo como critério a economicidade da produção. 25 manter-se na atividade. Neste caso, as dificuldades financeiras dos produtores limitam a adoção de novas tecnologias de gestão dos dejetos. Sistemas integrados à suinocultura surgem como alternativas para a produção de suínos. A integração de processos viabiliza o aproveitamento dos dejetos para fins produtivos. Existem diversas tipologias de produção que podem ser implantadas na produção de suínos. Destas, convêm destacar a integração suinocultura piscicultura (CASACA e TOMAZELLI JR., 2001; DEVENDRA, 2002; PREIN, 2002). Nesse sistema, os dejetos suínos são utilizados para fertilização dos tanques de peixes. As restrições locacionais estão associadas à disponibilidade água e de área para instalação dos tanques de peixes. Outra tipologia de integração é o sistema suinocultura biodigestor piscicultura/agricultura (TAKANATSU e OLIVEIRA, 2002; ANGONESE et al., 2006). Neste sistema, os dejetos são insumos de uma de cadeia de processos, gerando diferentes produtos com alto valor agregado. As restrições locacionais são a disponibilidade de água e área para o cultivo do pescado; e área utilizada na etapa agrícola. Destaca-se que a demanda de área é um fator importante na escolha de uma determinada concepção produtiva. A não observância deste critério pode comprometer a sustentabilidade da suinocultura nos sistemas de produção familiar. É importante conhecer as limitações de cada sistema e a aplicabilidade às propriedades suinícolas. Barreiras tecnológicas e de capital estão entre os principais limitantes para adoção de novas tecnologias. 1.2 SISTEMAS AGRÍCOLAS INTEGRADOS À SUINOCULTURA Geralmente, a execução das atividades agropecuárias nas propriedades não segue um planejamento adequado. As atividades agropecuárias são operadas individualmente, sem que haja um planejamento integrado em sua execução. A adoção de estratégias que visem à maximização no uso dos recursos pode melhorar a qualidade dos serviços prestados, aumentando a sustentabilidade dos agrossistemas. Os sistemas integrados visam agregar valor aos dejetos de suínos, com redução dos impactos ambientais da cadeia suinícola. Para Kumarezan et al. (2009), os agrossistemas integrados estão baseados no conceito de que não existem resíduos. "Resíduo é um recurso que está em local inadequado, podendo se tornar um insumo de outros processos produtivos, caso manejado corretamente‖ Nesta concepção, as atividades agropecuárias desenvolvidas na propriedade são integradas verticalmente. Assim, os resíduos de uma atividade são insumos de outros processos. 26 A integração de sistemas agropecuários pode reduzir os problemas ambientais e aumentar o nível de renda dos agricultores familiares, além de garantir a produção de alimentos com qualidade e baixo custo para sociedade. Sistemas agropecuários integrados à suinocultura podem aumentar a sustentabilidade das pequenas propriedades rurais familiares. No entanto, deve-se dispor de critérios que possibilitem a escolha de quais concepções de agrossistemas integrados são aplicáveis à pequena produção familiar. 1.2.1 Integração suinocultura agricultura No sistema integrado suinocultura agricultura, os dejetos suínos são utilizados para a fertilização agrícola. Quanto às tecnologias utilizadas para a coleta e armazenagem dos dejetos, destacam-se: Esterqueiras (SANTOS et al., 2007); Bioesterqueiras (GOSMANN, 1997); Compostagem de Dejetos Líquidos (DAI PRÁ et al., 2005); Biodigestores (OLIVEIRA e HIGARASHI, 2006) e o Sistema de Produção de Suínos em Cama Sobreposta (OLIVEIRA, 2001). O princípio básico de cada tecnologia é coletar e armazenar os dejetos para o posterior uso agrícola. O armazenamento em esterqueiras é uma das práticas de manejo mais difundidas no mundo (KUNZ, MIELE e STEINMETZ, 2009). As esterqueiras são depósitos utilizados para a armazenagem de dejetos, normalmente no estado líquido, provenientes de sistemas de produção de animais confinados ou semi-confinados (KUNZ et al., 2004). Na esterqueira, ocorrem reações de oxidação (superfície), fermentação e digestão (nas regiões intermediárias e no fundo), através de microrganismos aeróbicos, facultativos e anaeróbicos. Estas reações são responsáveis pela estabilização dos dejetos líquidos, transformando biologicamente a matéria orgânica em produtos finais mais estáveis (SANTOS et al., 2007). O tempo mínimo recomendado para estabilização é de 120 dias. Quando estabilizados, os dejetos podem ser utilizados como fertilizantes orgânicos na produção agrícola, em substituição aos fertilizantes químicos (KUNZ et al., 2004). Inúmeros trabalhos vêm aportando a viabilidade agronômica e ambiental deste procedimento. Aplicando diferentes doses de dejetos suínos na produção de milho, Daudén e Quílez (2004) não verificaram diferenças significativas em comparação com a fertilização mineral. Os autores realizaram testes com aplicações de 50 m 3 (com adubação química suplementar); 100 m3 (sem complementação) e 150 m3/ha. A fertilização química consistiu em doses de 275 kg de nitrogênio por hectare. O rendimento médio obtido, utilizando apenas adubação por dejetos suínos, foi de 10 t/ha. 27 Leite, Cunha Neto e Resende (2009) utilizaram os dejetos suínos para a fertilização da cana-de-açúcar. Os autores aplicaram diferentes doses de dejetos, comparando os resultados com a fertilização química testemunha. Os resultados obtidos demonstraram que os dejetos líquidos de suínos proporcionaram aumentos significativos na produtividade de colmos da cana-de-açúcar, não comprometendo a qualidade tecnológica. Vielmo et al. (2009) apontam que os dejetos suínos são eficientes para a adubação da gramínea Tifton. A aplicação promoveu aumentos na produção de matéria seca e melhorias no valor nutritivo da pastagem. A gramínea é utilizada para alimentação de gado leiteiro. Os melhores resultados fisiológicos foram obtidos com aplicações de 235 m3/ha de dejetos. Avaliando a produção de milho no cerrado, Konzen (2003) discorre que os dejetos suínos são eficientes como substitutos da fertilização química. Para o autor, as doses econômicas de dejetos de suínos para a produção de milho, em áreas de cerrado, em plantio direto, variam entre 50 e 100 m3/ha, dependendo do seu nível de diluição. Para a produção de soja, Konzen (2003) discorre que a adubação econômica de dejetos suínos ocorre com aplicações de 25 m3/ha. A recomendação é valida para o plantio direto em solos de cerrado. Scherer (1997) avaliou a eficiência dos dejetos suínos em comparação com a aplicação de diferentes suplementos minerais químicos na produção de milho no Oeste de Santa Catarina. O autor não verificou diferenças significativas na produtividade do milho para os diferentes fertilizantes. O autor concluiu que as doses de aplicação devem ser estimadas com base no balanço de nutrientes do milho, diluição dos dejetos e na fertilidade natural do solo. Avaliando os resultados aportados na literatura, verifica-se que a reciclagem dos nutrientes presentes nos dejetos suínos, para produção agrícola, proporciona redução nos gastos com fertilizante e melhora a qualidade microbiológica do solo. No entanto, deve-se respeitar a capacidade de assimilação dos nutrientes pelas plantas. 1.2.1.1 Planejamento da etapa agricultura: balanço de nutrientes. A utilização agrícola dos dejetos deve respeitar as recomendações agronômicas para fertilização dos solos. O volume de aplicação deve ser determinado pelo balanço de nutrientes, levando-se em consideração a sua concentração nos dejetos (diluição). O volume de dejetos a ser aplicado no solo deve atender às necessidades de nutrientes da cultura a ser produzida. Durante o cultivo, as plantas extraem nutrientes do solo. Estes nutrientes podem 28 ser exportados nos produtos ou retornar ao solo pelas partes não aproveitáveis das plantas. A extração de nutrientes varia de acordo com a cultura, sendo afetada pela produtividade, fertilidade natural do solo, manejo agrícola (plantio direto, plantio convencional) e das espécies cultivadas (BERTO, 2004). Os dejetos apresentam composição heterogênea. Assim, alguns nutrientes não estão prontamente disponíveis para as plantas, enquanto que, para outros, a capacidade de absorção pelas plantas é baixa. Os nutrientes para os quais a indicação agronômica não é atendida pela aplicação dos dejetos devem ser supridos por fertilização química (SEGANFREDO, 1999; OLIVEIRA, 1993; SCHERER, 1997). Aplicações acima da capacidade de suporte do solo podem causar sérias conseqüências ao ecossistema local, devendo ser alvo de constante monitoramento (KUNZ et al., 2004). A tabela 1.3 apresenta a extração de nutrientes NPK (nitrogênio, fósforo e potássio, respectivamente) por diferentes culturas. Tabela 1.3: Extração média de nutrientes NPK por diferentes culturas agrícolas. Produtividade Nutrientes extraídos (kg/ha) (t/hasafra) N P2O5 K2O 3,65 77,00 19,71 99,60 Milho Grão (i) 7,87 167,00 72,27 135,60 11,6 115 32,85 82,8 Milho Silagem (i) 15,31 181 45,99 255,6 Soja grão (ii) 2,7 93,0 18,3 78,7 (iii) 3 Gramíneas (MS) 25,8 332,0 121,4 498,0 (vi) 4 Cana-de-açúcar (colmo) 100 96,9 22,2 210,1 Fonte: (i) Coelho e França (1995); (ii) Caires e Fonseca (2000); (iii); Alencar (2000); (iv) Tasso Jr. et al. (2007). Tipo de exploração De acordo com Scherer (1997), não é recomendável a utilização de resíduos orgânicos, ricos em nitrogênio, na adubação de plantas leguminosas. Estas plantas apresentam normalmente boa capacidade de fixar este nutriente simbioticamente. O autor menciona que as culturas agrícolas mais indicadas para receber os dejetos suínos são o milho (produção de grãos ou silagem) e gramíneas, utilizadas no pastejo animal. 3 Média de extração das espécies: Brachiaria ruziziensis; Cynodon nlemfuensis; Pennisetum purpureum; Brachiaria mutica; Digitaria decumbens Panicum maximum e Melinis minutiflora. 4 Média de extração dos cultivares: RB855453; RB855156; RB835486; SP89-1115 e IAC 91-2195. 29 1.2.1.1.1 Critérios da legislação ambiental A legislação ambiental prevê limites quanto ao volume de dejetos que pode ser destinado à fertilização agrícola. Estes limites variam de acordo com a região produtora. No Brasil, cada unidade federativa dispõe de legislação própria, que regulamenta o volume de nutrientes aplicados no solo. Nos estados da região sul, o volume de nutrientes que pode ser aplicado é obtido pelo balanço de nitrogênio no solo. No licenciamento da atividade, o produtor deve apresentar projeto específico, onde o mesmo descreve a cultura que será produzida, condições do solo e o relevo (FEPAN, 2010; FATMA, 2010; IAP, 2010). Nos Países Baixos, o volume de dejetos a ser aplicado no solo é limitado pela sua concentração de fósforo. A aplicação está limitada a 52,6 kg de fósforo (P) por hectare para aplicações em pastagens e 43,8 kg/ha nos demais fins agrícolas (JONGBLOED et al. 1999). Na França, o volume de dejetos aplicado está limitado pela concentração de nitrogênio. Aplicações deste nutriente estão limitadas a 170 kg/ha. Este valor pode sofrer reduções quando o local de aplicação estiver próximo a cursos de água (DOURMAD et al. 1999). Na Alemanha, as restrições de utilização dos dejetos estão vinculadas à densidade de animais na propriedade (suínos/ha de cultivo). A legislação alemã permite densidades de 1,7 unidades animal por hectare. Uma unidade animal corresponde à produção de dejetos de 30 suínos em crescimento-terminação ou a três matrizes em uma UPL (incluindo os leitões entregues com 25 kg) (FERNANDEZ et al. 1999). Nas legislações consultadas está previsto que os produtores, que não dispuserem de áreas agrícolas suficientes em suas propriedades para a disposição dos dejetos, podem contratar a área remanescente. Esta área deve ser contratada junto às propriedades vizinhas. 1.2.1.1.2 Critérios de aplicação: nutrientes de base. A determinação da quantidade de dejetos a ser aplicada em uma determinada área de cultivo é um dos pontos mais críticos para a sustentabilidade deste procedimento. Na fertilização química, é possível formular a dosagem de nutrientes de acordo com a necessidade das plantas. Na fertilização orgânica, a composição química dos dejetos difere das necessidades fisiológicas das plantas. Assim, alguns nutrientes estarão em déficit, enquanto outros serão aplicados em excesso (SCHERER, 1997). 30 Seganfredo (1999) recomenda definir o nutriente que será integralmente suprido pela fonte orgânica (nutriente de base) e suprir os demais nutrientes com adubação química balanceada. Por este critério, definem-se as quantidades máximas de nutrientes a serem aplicados no solo. Os nutrientes que merecem maior atenção ambiental são o fósforo e o nitrogênio, por sua fácil lixiviação no solo. Em excesso nos ecossistemas aquáticos, estes nutrientes podem provocar a eutrofização deste ambientes. No entanto, deve-se monitorar a qualidade do solo, uma vez que o excesso dos demais nutrientes, presentes nos dejetos, pode levar ao desequilíbrio químico e biológico do solo, com perdas de produtividade das culturas (PERDOMO, LIMA e NONES, 2001). A legislação ambiental vigente nos estados do sul do país limita a aplicação dos dejetos pelo balanço do nitrogênio. Este critério é considerado ―econômico‖, uma vez que sua utilização supre as necessidades de praticamente todas as culturas agrícolas. Utilizando o critério do nitrogênio limitante na fertilização orgânica das culturas apresentadas na tabela 1.3 haverá excesso de fósforo. A utilização deste critério, mesmo considerada economicamente viável, provoca o acúmulo de nutrientes no solo. O caso mais crítico é o fósforo. Além disso, são grandes os riscos de contaminação dos solos e comprometimento da qualidade das águas, podendo contaminá-las com vários minerais (SEGANFREDO, 2001). Desta forma, a recomendação é utilizar o critério do fósforo limitante. Neste caso, haverá necessidade de suprir por adubação química as necessidades de nitrogênio e potássio. Apesar de ser considerado um método com menor atratividade econômica, sua utilização reduz os riscos de contaminação ambiental da aplicação dos dejetos (SEGANFREDO, 2001). 1.2.1.2 Influência da diluição no desempenho do sistema integrado No sistema integrado suinocultura agricultura os dejetos são utilizados como fertilizante agrícola, após um período de estabilização na esterqueira. O excesso de água, comum na maior parte das propriedades suinícolas, pode inviabilizar ou reduzir a atratividade econômica do aproveitamento dos dejetos como fertilizante agrícola. O volume de dejetos produzidos é utilizado como parâmetro de projeto para o dimensionamento da esterqueira. Aumentos no volume de água reduzem o tempo de retenção dos dejetos. Como conseqüência, os dejetos podem ser retirados da esterqueira sem que haja a completa estabilização. O período de estabilização na esterqueira é importante para reduzir a 31 relação C: N do biofertilizante. A fermentação dos dejetos reduz a sua carga orgânica. Os nutrientes são convertidos da forma orgânica para a forma mineral. Na forma mineral, os nutrientes são mais assimiláveis pelas plantas. Por isso, o período de permanência na esterqueira é importante para a qualidade fertilizante dos dejetos. No entanto, o problema mais crítico provocado pela diluição dos dejetos é referente à sua viabilidade para o uso como fertilizante agrícola. O volume de dejetos a ser aplicado por hectare de área plantada é função da sua concentração em nutrientes, que por sua vez, depende do conteúdo de água presente nos dejetos. Quanto maior a diluição dos dejetos, maior será o custo de aplicação, podendo inviabilizar economicamente o seu uso agrícola. 1.2.2 Integração suinocultura piscicultura Neste sistema, ocorre a integração entre a suinocultura e a piscicultura. Conforme menção de Prein (2002), a piscicultura integrada é um dos principais métodos de produção de proteína animal da Ásia. Seu princípio básico de operação é a produção consorciada de pescado com culturas agrícolas e/ou atividades da pecuária. Nestes sistemas, os resíduos oriundos destas atividades agropecuárias são utilizados para a adubação dos viveiros de peixes. Em alguns casos, a água dos viveiros é utilizada para a fertirrigação agrícola. Quando a piscicultura é desenvolvida integrada à produção pecuária, os dejetos são empregados para a fertilização de tanques de peixes. Em muitas situações, os dejetos podem substituir a utilização de ração para alimentação dos peixes. Operando adequadamente o sistema, o viveiro de peixes atua como uma lagoa de tratamento dos dejetos animais, reciclando o seu potencial energético. Para Kumaresan et al. (2009), a reciclagem dos dejetos melhora a qualidade ambiental da propriedade, além de aumentar a disponibilidade de alimentos. As principais configurações de sistemas agrícolas integrados à piscicultura desenvolvidos são: peixes-bovinos (leite ou de corte); peixes-suínos; peixes-patos; peixescoelhos; peixes-frangos; peixes-cabras, dentre outras configurações com atividades desenvolvidas na propriedade (PREIN, 2002). A piscicultura integrada pode ser desenvolvida em monocultivo (apenas uma espécie), bicultivo (duas espécies), ou em policultivo (onde são estocados três ou mais espécies diferentes) (KESTEMONT, 1995). Quando integrados à suinocultura, a produção ocorre, 32 normalmente, em policultivo (SILVA, 2005). Os dejetos podem ser utilizados in natura (PILARSKI et al., 2004) ou fermentados (BALASUBRAMANIAN e KASTURI BAI, 1996). No policultivo integrado à suinocultura, o viveiro recebe o aporte direto de dejetos da pocilga5 (esterco fresco), operando como uma ―lagoa de oxidação‖ da matéria orgânica (MATOS et al., 2006). Os nutrientes presentes no dejeto (principalmente o fósforo e o nitrogênio) atuam como catalisadores em um complexo metabolismo aquático, composto por três etapas principais: produção, consumo e decomposição (CASACA e TOMAZELLI JR., 2001; KUMARESAN et al., 2009). A inter-relação dos organismos nestas etapas do ecossistema é chamada de cadeia ou teia alimentar. Em termos energéticos, a cadeia alimentar representa o fluxo de energia entre os seres vivos no ambiente, sob os preceitos da Termodinâmica (ESTEVES, 1998). Num policultivo eficiente, o consumo do alimento natural (alimentos disponíveis no viveiro) pelos peixes contribui para o equilíbrio do corpo aquático, com remoção dos nutrientes. No entanto, para manter o equilíbrio entre a produção e consumo de alimento, deve-se estocar nos tanques peixes com hábitos alimentares diferentes. Assim, os peixes irão aproveitar toda cadeia alimentar do viveiro, consumindo tantos os organismos planctônicos (fitoplâncton e zooplâncton), quanto os bentônicos (organismos de fundo). A qualidade de água no policultivo é mantida através da correta taxa de estocagem de alevinos e de suínos, o que garante o equilíbrio do metabolismo aquático nos tanques (CASACA e TOMAZELLI JR., 2001; KUMARESAN et al., 2009). Na Índia, o policultivo integrado à suinocultura é desenvolvido com a estocagem de três a seis espécies de carpas, com densidades de 8.000-9.000 alevinos/ha. No policultivo desenvolvido na China, assume-se que 50 kg de dejetos líquidos podem ser convertidos em 1,0-1,5 kg de carpa comum (em monocultivo) ou 3,0 kg no policultivo de carpas. Em climas temperados, reporta-se que a produção de pescado varia de 9 a 21 kg/ha.dia, em policultivos de carpas (KESTEMONT, 1995). A tabela 1.4 apresenta as técnicas de cultivo e produtividade de sistemas integrados à suinocultura em diferentes países. No Brasil, o policultivo de peixes integrados à suinocultura, é desenvolvido em Santa Catarina. A inserção deste modelo de produção teve por objetivo ampliar as possibilidades de renda dos pequenos produtores rurais neste Estado. Estimativas apontam que o sistema está presente em 13 mil propriedades rurais (TOMAZELLI JR., CASACA e DITTRICH, 2007). Para Casaca e Tomazelli Jr. (2001), a utilização dos dejetos suínos para a fertilização dos 5 Pocilga é o termo técnico utilizado para designar o criatório de suínos. 33 tanques pode reduzir em até 70% o custo de produção. Segundo os autores, a fertilização do viveiro com dejetos suínos pode substituir o uso da ração, que é o item de maior representatividade nos custos de produção. Tabela 1.4: Produtividade do policultivo integrado à suinocultura em diferentes países. Densidade Estocagem (alevinos/ha) (suínos/ha) Hungria 3.500 36-60 Índia 8.500 354 Filipinas 20.000 75-100 China 60.000 45-75 Fonte: Adaptado de Kestemont (1995). País Tempo de cultivo (dias) 120-130 270-365 120-150 300 Produção anual (kg/ha) 6.700 6.700 8.000-10.000 2.000-18.000 A piscicultura integrada à produção de suínos, praticada no Estado de Santa Catarina, divide-se em duas tipologias básicas: o Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada (MAVPI) e o Policultivo Integrado do Oeste Catarinense (SILVA, 2005). O modelo MAVPI é desenvolvido no Alto Vale do Itajaí. O sistema consiste em produzir diferentes espécies de peixes em policultivo integrado à produção animal (suínos ou aves). A relação de estocagem é de 60 suínos/ha, com produtividade anual entre 8,5 a 14 t/ha. O viveiro recebe alimentação suplementar (ração peletizada), com a utilização de aeração mecânica (SOUZA FILHO, SCHAPPO e TAMASSIA, 2003). No Policultivo Integrado do Oeste Catarinense, a taxa de estocagem recomendada é de 60 suínos/ha (com peso entre 25 e 100 kg). A densidade de estocagem dos alevinos varia de 3.000 a 6.000 peixes/ha, de acordo com as espécies escolhidas para o povoamento. A produtividade anual varia de 2.000 a 8.000 kg/ha. Quando o policultivo é desenvolvido dentro das recomendações técnicas, é dispensada a utilização de alimentação suplementar e de aeração mecânica (TOMAZELLI JR., CASACA e WARKEN, 2005). 1.2.2.1 Planejamento do Policultivo Integrado Oeste Catarinense A descrição que se segue do policultivo integrado foi estruturada com base nas recomendações de Tomazelli Jr., Casaca e Warken (2005), com contribuição de outros trabalhos relacionados. Estes trabalhos, quando utilizados, serão citados ao decorrer do texto. No planejamento do policultivo integrado, é fundamental conhecer a produtividade natural dos viveiros. A produtividade natural representa a quantidade de pescado que pode ser 34 produzida utilizando apenas o alimento natural disponível no viveiro. A produtividade natural não considera a utilização de suplementação alimentar (ração). O único alimento disponível para os peixes são os organismos planctônicos que estão no tanque. Estes organismos podem estar suspensos na água (fitoplâncton e zooplâncton) ou no fundo do viveiro (os bentos). A produtividade dos viveiros de piscicultura pode ser aumentada pelo uso de fertilizantes orgânicos e inorgânicos. Os fertilizantes orgânicos e/ou inorgânicos (fertilizantes químicos) atua como catalisadores no desenvolvimento destes organismos. Assim, quanto o viveiro recebe aporte de fertilizantes, a produtividade natural aumenta proporcionalmente. No policultivo, a produtividade natural é utilizada como parâmetro para estimar a densidade de povoamento da espécie principal do cultivo. Este parâmetro está relacionado com o número de suínos por hectare. As variedades normalmente utilizadas como espécie principal são a carpa comum e a tilápia. A tabela 1.5 apresenta o indicador de produtividade para espécie principal (tilápia ou carpa comum) no policultivo, de acordo com a relação de estocagem de suínos. Tabela 1.5: Produtividade natural de viveiros fertilizados com dejetos suínos. Relação de estocagem de suínos 15 suínos/ha 30 suínos/ha 45 suínos/ha 60 suínos/ha 80 suínos/ha 100 suínos/ha Fonte: Tomazelli Jr., Casaca e Warken (2005). Produtividade natural por ano (tilápia ou carpa comum) 500 kg/ha 1.000 kg/ha 1.500 kg/ha 2.000 kg/ha 2.500 kg/ha 3.000 kg/ha No policultivo catarinense, a relação de estocagem de suínos recomendada é de 60 animais por hectare de área alagada (de 30 a 100 kg/ha, de acordo com o desenvolvimento do animal). Para esta estocagem, a produtividade estimada para espécie principal é de 2,0 t/ha. A produtividade total do viveiro irá depender das práticas de manejo, qualidade da água, e das espécies que irão complementar o policultivo. O tempo de cultivo varia de acordo com a escolha da espécie principal: seis meses para tilápia e de um ano para a carpa comum. Já a escolha das espécies complementares é função dos hábitos alimentares e de sua capacidade de desenvolvimento no viveiro. 35 1.2.2.1.1 Espécies utilizadas e taxa de estocagem No policultivo integrado do Oeste Catarinense, o povoamento dos tanques deve consorciar espécies com hábitos alimentares diferentes. As espécies adotadas são classificadas em principal, espécie que entra em maior quantidade no policultivo, principalmente pelo valor de mercado ou disponibilidade de alimento no viveiro; secundária, espécie utilizada em quantidade intermediária no policultivo, exercendo papel de "filtradora", com a remoção do excesso de plâncton no tanque; complementares, espécies que entram no policultivo em pequenas quantidades, aproveitando alimentos naturais não utilizados por outras espécies, ou seus detritos. O desempenho de um policultivo integrado depende da escolha adequada das espécies e do controle do volume de dejetos aportado no viveiro. Os resultados obtidos por Zoccarato et al. (1995), utilizando os dejetos suínos para o cultivo de carpa comum e carpa capim em estágio de engorda (450 g), não foram satisfatórios. Os autores observaram alta taxa de mortalidade e baixo desempenho produtivo. A produtividade foi 96% inferior ao verificado no tanque de prova (alimentados com ração (3% do peso animal)). Dentre os motivos do baixo desempenho, destaca-se a não estocagem de espécies planctófagas (espécies que se alimentam de plâncton). A principal fonte de alimentação destas espécies são microalgas (fitoplanctófagas) e pequenos animais (zooplanctófagas). No policultivo estas espécies atuam como filtradoras, removendo o excesso de plâncton e material orgânico em suspensão. A escolha das espécies deve, ainda, atender às especificidades dos mercados locais. A viabilidade econômica do empreendimento depende da aceitabilidade do pescado produzido, ,bem como do seu valor agregado. É fundamental conceber o viveiro, não apenas como um sistema de tratamento, mas também como uma nova atividade econômica. O controle da sanidade dos suínos (evitando a propagação de pragas) é fundamental. Além disso, devem ser monitoradas as condições microbiológicas e físico-químicas da água, atendendo os critérios estabelecidos pela legislação ambiental. Na tabela 1.6 são apresentadas as principais espécies utilizadas no Policultivo do Oeste Catarinense, seus hábitos alimentares, posição no policultivo e as suas principais características. 36 Tabela 1.6: Principais espécies utilizadas no policultivo integrado. Espécie Hábito Alimentar Classificação Carpa comum Omnívero, bentófago Principal secundária Carpa prateada Fitoplantófago Secundária Filtradora; difícil manejo Carpa grande Zooplanctófago Secundária Filtradora; fácil manejo Carpa Capim Macrofitófago Complementar Tilápila nilótica Planctófago, omnívero Principal secundária Pacu Frutífero, omnívero Complementar Cascudo Perifitoplanctófago Complementar Bagre Americano Omnívero Complementar Bagre Africano Omnívero, nectófago Complementar Jundiá Omnívero Complementar cabeça ou Principais características ou Crescimento rápido; fácil manejo Crescimento rápido; necessita de águas claras Crescimento rápido, aceitação no mercado; se reproduz em cativeiro Restrições quando a carpa comum é espécie principal Boa aceitação no mercado; hábito de fundo Boa aceitação no mercado; resistente ao frio Restrições de mercado; controle da desova das tilápias Boa aceitação no mercado; hábito de fundo Fonte: Adaptado de Tomazelli Jr., Casaca e Warken (2005). 1.2.2.1.2 Manejo do policultivo O aporte de esterco nos tanques deve ter controle rígido. Aplicações deficitárias podem reduzir a disponibilidade de alimentos para os peixes, comprometendo a produtividade. Aplicações em excesso podem acarretar em baixos níveis de oxigênio dissolvido na água (OD) e altos teores de amônia, provocando redução na taxa de crescimento, ou mesmo levando à mortandade dos peixes. Um dos métodos de campo utilizados para controlar o volume de esterco aportado nos tanques é medir a transparência utilizando o disco de Sechi. A transparência deve ser mantida entre 20 e 30 cm. Em regiões onde a água apresenta baixa alcalinidade e dureza, é necessário realizar a calagem dos tanques, principalmente nos policultivos que dependem exclusivamente de fertilizantes orgânicos. A calagem é efetuada de acordo com os resultados de análise de água, sendo realizada uma calagem de fundo, antes do inicio do cultivo, e calagens de cobertura, durante o cultivo, para eventuais correções. A tabela 1.7 apresenta a recomendação de aplicação de calagem de acordo com os resultados de dureza da água. 37 Tabela 1.7: Quantidade de calcário utilizada para calagem em função da dureza da água. Dureza (mg CaCO3/L) <10 10-20 >20 (até 40) Fonte: Tomazelli Jr., Casaca e Warken (2005). Quantidade (g/m2) 300 200 100 Além disso, devem ser monitorados os parâmetros físico-químicos da água tais como: temperatura, pH, oxigênio dissolvido e ictiometria dos peixes (operação de acompanhamento do crescimento dos peixes). Os resultados ambientais do sistema são a remoção dos nutrientes presentes nos dejetos, que, se lançados no ambiente natural, seriam poluentes, e a produção de pescado com mínimo impacto sobre o meio ambiente. Outra vantagem ambiental deste sistema de produção é a utilização de nutrientes que já estão presentes nas microbacias, não havendo importação dos mesmos, além de contribuir para a mitigação dos impactos ambientais associados à atividade. A preservação do meio ambiente e a obtenção de bons índices de produtividade são os desafios enfrentados pelos piscicultores. O conhecimento e o controle da qualidade da água tornam-se indispensáveis para que esta atividade possa crescer de forma auto-sustentável. Diversos estudos foram realizados no âmbito de avaliar a qualidade microbiológica da carne produzida nos viveiros integrados à suinocultura. Nesses estudos, todas as amostras permaneceram dentro dos padrões estabelecidos pela vigilância sanitária. Além disso, os estudos demonstraram não haver diferença significativa na qualidade da carne produzida em viveiros alimentados com dejetos de suínos em comparação com os alimentados com ração comercial (PILARSKI et al., 2004; TOMAZELLI JR., CASACA e DITTRICH, 2007). Deve-se ressaltar que a piscicultura integrada à atividade suinícola não possui capacidade de absorver grandes quantidades de dejetos. Assim, o policultivo integrado à suinocultura não se constitui como uma solução para a utilização de grandes quantidades de dejetos. Sua inserção deve ser visualizada como uma atividade que utiliza uma pequena parcela dos dejetos (ou dejetos de pequenos lotes) para a fertilização dos tanques, reduzindo assim, os custos de produção da piscicultura. Ademais, o viveiro não deve ser interpretado como um local de descarte dos dejetos oriundos da suinocultura, mas como uma nova atividade econômica. O correto manejo do policultivo pode agregar renda, reduzir os 38 impactos ao meio ambiente, aumentando a sustentabilidade da propriedade (CASACA e TOMAZELLI JR., 2001). 1.2.3 Integração suinocultura biodigestor piscicultura/agricultura No sistema integrado suinocultura biodigestor piscicultura/agricultura, ocorre a junção dos sistemas suinocultura agricultura e suinocultura piscicultura. Há ainda, a inserção de uma nova unidade produtiva: o conjunto biodigestor / separador de fases. Este arranjo produtivo foi proposto pela Rede Paranaense de Projetos em Desenvolvimento Sustentável – Rede Telus, sediado no Instituto de Tecnologia do Paraná – TECPAR. Esta configuração de integração foi denominada pela Rede Telus de Biossistema Integrado à Suinocultura, ou BSI (TAKANATSU e OLIVEIRA, 2002). A concepção básica de operação deste sistema é encaminhar os dejetos suínos a um reator anaeróbico (o biodigestor). Este equipamento tem por função estabilizar os dejetos, tendo como produtos o biogás e lodo estabilizado. O lodo é então encaminhado a um separador de fases. Neste equipamento, ocorre a separação das frações sólida (biofertilizante sólido) e líquida (biofertilizante líquido). O biofertilizante sólido pode ser utilizado para adubação dos solos ou comercializado em propriedades vizinhas. Já o biofertilizante líquido é encaminhado a um tanque de algas, que promove a oxidação de seu afluente. No tanque de algas, ocorre a formação da cadeia planctônica (fitoplâncton e zooplâncton), que são utilizados para a alimentação de peixes. Operando dentro das especificações de projeto temse, ao final do sistema, a água tratada. Esta água está dentro dos padrões estabelecidos pela legislação ambiental, podendo ser lançada no ambiente natural (BEZERRA, 2002). Os produtos deste sistema são os suínos terminados, o biogás, o pescado e o a produção agrícola (neste estudo, o produto da etapa agrícola é o milho grão). Caso haja indisponibilidade de terras agrícolas e na existência de um mercado, o biofertilizante pode ser comercializado (TAKANATSU e OLIVEIRA, 2002). Neste caso, ter-se-ia como produto o biofertilizante. Diversos trabalhos foram realizados no sentido de avaliar a funcionalidade e eficiência do sistema BSI. Neste sentido, Bezerra (2002) desenvolveu um modelo para a gestão da propriedade suinícola, buscando reduzir os impactos ambientais. O autor fez estudos comparativos entre diferentes tecnologias de saneamento, concluindo que o BSI era a alternativa mais viável para aplicação nas propriedades suinícolas. Os resultados obtidos 39 demonstraram que o sistema foi eficiente tanto como sistema de tratamento, quanto como processo produtivo. Ostroski e Godoy (2002) avaliaram o estado da arte da situação ambiental das propriedades suinícolas no Estado do Paraná. Os autores concluíram que a atividade tem causado problemas ao ambiente e que o BSI poderia contribuir para melhorar a qualidade ambiental da atividade. Casagrande (2003) realizou um estudo de campo em duas propriedades suinícolas, localizadas no município de Toledo/PR. O estudo tinha por objetivo comparar o desempenho e a sustentabilidade organizacional de uma granja suinícola que utilizava os preceitos do BSI e outra granja, com manejo em esterqueiras. Com base nos resultados, o autor concluiu que o BSI é a tecnologia mais adequada a ser implantada nas propriedades suinícolas de Toledo. Rodrigues, Gomes e Pannir (2006), utilizando ferramentas de modelagem computacional verificaram que o BSI é uma tecnologia eficiente, tanto como sistema de tratamento, quanto como sistema produtivo. Os autores concluíra ainda que a tecnologia é uma alternativa viável para promover a sustentabilidade das propriedades suinícolas. Angonese et al. (2006) avaliaram os fluxos energéticos de uma granja de suínos operando sistema integrado nos preceitos do BSI. Os autores concluíram que a inserção do BSI melhorou a qualidade ambiental, além de aumentar a eficiência energética e a rentabilidade da granja suinícola. Os autores acima citados utilizaram em suas análises a concepção de BSI proposta pela Rede Telus. Neste trabalho, será utilizada uma concepção mais simplificada para a simulação do sistema. Os dados disponíveis na literatura sobre o BSI não descrevem claramente os procedimentos metodológicos utilizados para o dimensionamento e o desempenho do tanque de algas. A produtividade e o valor nutritivo das algas, como alimentação para os peixes em policultivo (carpas e bagres), não foram definidos por estes autores. Na tentativa de elucidar este gargalo na modelagem do sistema, foi efetivada uma pesquisa em literatura específica. Durante esta pesquisa foram encontrados diversos trabalhos que avaliam o cultivo de micro-algas em esterco animal. Alguns destes trabalhos utilizam esterco bovino (MULBRY et al., 2005); efluente da piscicultura (GÁL et al. 2007) e efluente doméstico (EL-SHAFAI et al., 2007). Os trabalhos encontrados que utilizam dejetos suínos ou operam com dejeto cru (KEBEDE-WESTHEAD, PIZARRO e MULBRY, 2007) ou utilizam dejetos em solução com água do mar para a produção de Spirulina (MEZZOMO et al., 2010). No entanto, nenhum destes trabalhos aborda a utilização de dejetos suínos 40 digeridos em biodigestores, com separação de fases, para alimentar viveiros de peixes. Além disso, não foram encontrados trabalhos que utilizam o cultivo de algas para a alimentação de carpas e bagres em policultivo. O que se percebe é que a utilização do cultivo de algas para o tratamento complementar de efluentes com alta carga orgânica é uma alternativa viável. Existe um grande número de pesquisas sobre o tema. O resultado destas pesquisas justifica o aprimoramento do uso do tanque de algas no BSI. O cultivo de algas pode catalisar novas atividades. Além de servir como alimento para os peixes, as algas poderiam ser utilizadas para a produção de biodiesel, fertilização agrícola, ou mesmo para alimentação humana (no caso da produção da espécie de alga Spirulina). Assim, no dimensionamento e simulação de desempenho do BSI, o biofertilizante líquido será direcionado diretamente para o tanque de peixes. O tanque de algas será suprimido do sistema. No entanto, a concepção de integração entre a suinocultura, biodigestor, piscicultura e agricultura será mantida. O tanque de peixes será dimensionado considerando as características do biofertilizante líquido, seguindo os preceitos adotados para o policultivo integrado Modelo Oeste Catarinense. 1.2.3.1 Unidade biodigestor Esta etapa é composta por duas unidades: o reator anaeróbico e o separador de fases. O primeiro equipamento é responsável pela estabilização da matéria orgânica presente nos dejetos, tendo como produtos do processo o biogás e o lodo estabilizado. O segundo equipamento é o separador de fases. Este equipamento tem como afluente o lodo estabilizado. Sua inserção no BSI tem por função separar os dejetos em duas fases: fração sólida e a fração líquida. O biodigestor é o elemento principal desta etapa, atuando como elo entre a suinocultura e as demais atividades desenvolvidas no sistema integrado (TAKANATSU e OLIVEIRA, 2002). O princípio básico deste equipamento é criar condições adequadas para a digestão anaeróbica da matéria orgânica dos dejetos (COMASTRI FILHO, 1981; LANSING, BOTERO e MARTIN, 2008). Para Chernicharo (2007), a digestão anaeróbica pode ser considerada como sendo um ecossistema onde diversos grupos de microorganismos trabalham interativamente na conversão da matéria orgânica complexa em metano, gás carbônico, água, gás sulfídrico e amônia, além de novas células (lodo). A formação de metano ocorre, 41 preferencialmente, em ambientes onde o oxigênio, nitrato e o sulfato não estejam prontamente disponíveis como aceptores de elétrons. Møller, Sommer e Ahring (2004) discorrem que a conversão dos compostos orgânicos em metano é eficaz na estabilização de matéria orgânica, apesar de não promover a sua oxidação completa. O interesse pela utilização da digestão anaeróbica no tratamento de efluentes de processos agroindustriais tem aumentado nos últimos anos, pois, além de reduzir a poluição ambiental, permite recuperar o potencial energético do resíduo em forma de fertilizante e biogás. A produção de biogás a partir de resíduos agropecuários pode representar uma importante fonte de receita para as propriedades rurais, especialmente em países em desenvolvimento (AMON et al., 2007; DEMIRBAS e DEMIRBAS, 2007). Além disso, o mercado dos créditos de carbono6 tem auxiliado no ―renascimento‖ do uso de biodigestores em propriedades suinícolas. O metano é 21 vezes mais eficaz que o dióxido carbono como gás gerador de efeito estufa. Assim, os projetos que capturam e queimam o metano podem receber compensação financeira, mesmo sem utilizar a energia térmica da combustão do gás. A utilização de biodigestores para estabilização da matéria orgânica na suinocultura reduz a DBO, DQO e o teor de sólidos dos dejetos, além de tornar os nutrientes inorgânicos mais disponíveis para as plantas (MØLLER, SOMMER e AHRING, 2004). Ademais, o biodigestor melhora o saneamento da propriedade, erradicando o mau cheiro, a proliferação de moscas, além de reduzir os riscos de contaminação dos recursos hídricos. A probabilidade de ocorrência de agentes parasitóides no biofertilizante é sensivelmente reduzida (OLIVEIRA e HIGARASHI, 2006). A eficiência do processo de digestão, no entanto, está condicionada à estabilidade de um conjunto de parâmetros operacionais, tais como temperatura, carga orgânica aplicada, diluição e presença de elementos inibidores. Estes parâmetros devem ser monitorados e mantidos dentro de uma faixa ótima durante o processo (WARD et al., 2008). No processo de digestão anaeróbica de compostos orgânicos, existe um consórcio entre microorganismos acidogênicos, acetogênicos e metanogênicos. O equilíbrio desse consórcio é fundamental para a eficiência do processo (CHERNICHARO, 2007). A não observância destes parâmetros pode reduzir a eficácia do processo, podendo até inviabilizá-lo. 6 O termo correto seria Certificados de Reduções de Emissões. No entanto, créditos de carbono é o termo mais popular. 42 1.2.3.1.1 Dimensionamento do biodigestor Existem diferentes concepções de biodigestores que podem ser utilizadas no BSI. No entanto, este deve atender às especificidades de cada sistema produtivo. Na suinocultura industrial, prevalece a utilização dos biodigestores plug-flow (termo inglês, sem tradução literal). No Brasil este modelo é conhecido como biodigestor tubular. Este modelo também é conhecido como ―biodigestor canadense‖, em referência à empresa que difundiu a tecnologia no país (OLIVEIRA e HIGARASHI, 2006). O volume do biodigestor é calculado com base na produção média diária de dejetos e no tempo de retenção hidráulica (TRH). A produção diária de dejetos é estimada com base na composição do lote de suínos (número de animais, fase produtiva e massa média) (ver item 1.1.1) e no sistema de manejo e higienização do lote. O TRH representa o tempo de permanência dos dejetos no biodigestor. Quanto menor o tempo de retenção hidráulica, menor o volume do biodigestor. No entanto, o TRH deve garantir que a biomassa permaneça no reator tempo suficiente para a sua estabilização. Na escolha deste parâmetro, deve-se levar em consideração a temperatura média da região, carga orgânica e os aspectos construtivos do reator (CHERNICHARO, 2007). Na região sul, Oliveira e Higarashi (2006) recomendam um TRH de 30 dias para a biodigestão de dejetos suínos em biodigestores plug-flow. 1.2.3.1.2 Produção de metano A digestão anaeróbica da matéria orgânica resulta em dois componentes gasosos principais - o metano (CH4) e o dióxido de carbono (CO2); com presença de traços de gás sulfídrico, vapor de água, dentre outros (MØLLER, SOMMER e AHRING, 2004). Na digestão anaeróbica de dejetos suínos em biodigestores tubulares PVC (Policloreto de Vinila), a concentração de metano no biogás é estimada em 66% (LANSING, BOTERO e MARTIN, 2008). O termo ―produtividade de metano‖ é utilizado para indicar o rendimento deste elemento em função de uma unidade (sólidos voláteis; sólidos totais; DBO, DQO, dentre outros). A produtividade de metano pode ser avaliada em função da concentração e composição da matéria orgânica presente nos dejetos. Os principais componentes são proteínas, carboidratos e lipídios, sendo que cada um destes elementos apresenta uma taxa de digestibilidade. Conhecendo a concentração destes componentes, pode-se estimar a 43 produtividade máxima teórica de metano dos dejetos. Este procedimento é de difícil operacionalização. Outras estimativas são avaliadas em função da redução de DBO ou DQO no substrato a após o processo de digestão (CHERNICHARO, 2007). A produtividade de metano pode ser avaliada, ainda, a partir da concentração de sólidos voláteis (SV) no substrato. Esta estimativa indica o rendimento máximo teórico de metano pela completa digestão da matéria orgânica de um substrato. Na estimativa desta produtividade, considera-se um TRH elevado, tendendo a infinito. Para dejetos suínos líquidos a produtividade máxima teórica de metano seria de 0,52 m3/ kg de SV (sólidos voláteis) (MØLLER, SOMMER e AHRING, 2004). No entanto, a produtividade real de metano é substancialmente menor. Uma fração do substrato é utilizada para sintetizar massa celular (reprodução da cadeia microbiológica no substrato). Além disso, nem toda matéria orgânica pode ser degradada. Inibições pela presença de amônia ou de algum componente tóxico podem reduzir a produção de metano no processo (CHERNICHARO, 2007). Comastri Filho (1981) apresenta uma estimativa de produção de biogás em 0,35 m3/kg de esterco seco. O autor discorre que a concentração de metano no biogás varia de 60 a 70%, não apresentando, porém, valores para o combustível oriundo do esterco suíno. Considerando que um suíno em terminação (massa média de 75 kg) produz em média 2,3 kg/dia de esterco seco (OLIVEIRA, 1993), estima-se uma produção de biogás de 0,81 m3/suíno.dia. Møller, Sommer e Ahring (2004) apresentam que a produção de metano pela digestão anaeróbica de dejetos suínos é de 0,36 m3/kg de SV. Considerando que um suíno em terminação (massa de 75 kg) produz diariamente 0,64 kg de SV (ASAE, 2003), tem-se uma estimativa de produção de metano avaliada em 0,23 m3/suíno.dia. Oliveira e Higarashi (2006), avaliando a suinocultura na região sul do Brasil, estimam uma produtividade de metano, em biodigestores tubulares, de 0,45 m3/kg de SV. Esta estimativa está de acordo com o preconizado nos projetos de MDL para a suinocultura (IPCC, 2006). Utilizando a estimativa ASAE (2003) para a produção de sólidos voláteis, estima-se uma produção média de metano de 0,29 m3/suíno.dia (massa média de 75 kg). Salomon e Lora (2009), avaliando potencial brasileiro para a produção de biogás, apresentam uma estimativa para a produção de metano em 0,84 m3/suíno.dia. Os autores consideram uma produção diária de 2,4 kg de dejetos secos por suíno alojado. Neste trabalho, optou-se por utilizar como parâmetro para a produtividade de metano o valor de 0,29 m3/suíno.dia. Este valor está sendo amplamente utilizado como parâmetro nos projetos de MDL. 44 1.2.3.1.3 Separador de fases O efluente do biodigestor é encaminhado ao tanque de sedimentação, para separação de fases (TAKANATSU e OLIVEIRA, 2002). O processo de decantação consiste em armazenar os dejetos em um reservatório, por determinado período de tempo (tempo de retenção hidráulica), suficiente para que a fração sólida em suspensão decante, separando o afluente em duas fases: fração sólida (biofertilizante sólido) e líquida (biofertilizante líquido), que são os produtos deste equipamento. O biofertilizante sólido representa 20,0% do volume inicial, enquanto o biofertilizante líquido representa 80% (OLIVEIRA, 1993). Quanto aos nutrientes, parte é sedimentada no tanque de sedimentação e parte permanece diluída no efluente líquido. A tabela 1.8 apresenta o balanço de nutrientes NPK do tanque de sedimentação. A fração sólida, conhecida como biofertilizante, pode ser utilizada para a adubação dos solos. Já o biofertilizante líquido pode ser utilizado para a adubação dos tanques de peixes. Tabela 1.8: Balanço de nutrientes NPK no tanque de sedimentação. Nutriente Nitrogênio Fósforo Potássio Sólidos totais Fonte: Adaptado de Bezerra (2002). Efluente líquido Biofertilizante 45% 55% 37 % 8% 55% 45% 63% 92% O dimensionamento do tanque de sedimentação deve ser feito com base na vazão diária de efluentes e na velocidade de sedimentação do efluente. A velocidade de sedimentação varia de acordo com a diluição do efluente: de 2,4 (dejetos diluídos) a 7,2 m/d (dejetos sólidos) (DARTORA, PERDOMO e TUMELERO, 1998). Perdomo, Lima e Nones (2001) recomendam adotar como parâmetro de projeto o valor de 2,4 m/d, efetuando as correções necessárias. 1.2.3.2 Etapa piscicultura A etapa piscicultura corresponde à produção de pescado em sistema de policultivo. Os tanques são alimentados com biofertilizante líquido, efluente do tanque de sedimentação. Os 45 nutrientes são facilmente assimilados pela cadeia planctônica, uma vez que estão mineralizados no afluente. O policultivo do BSI segue os mesmos preceitos do policultivo integrado à suinocultura com aporte direto de esterco. As diferenças restringem-se às peculiaridades de dimensionamento, uma vez que são alimentados com substratos diferentes. A escolha das espécies, a taxa de povoamento e a área de lâmina de água dependem do volume de nutrientes aplicados diariamente nos tanques (LIN et al., 1992). A produtividade de um policultivo depende da exploração eficiente de três cadeias de alimentação: consumo direto de partículas não digeridas da ração; cadeia planctônica (zooplâncton, fitoplâncton e bentos) e as bactérias e protozoários que colonizam o esterco (TOMAZELLI JR., CASACA e WARKEN, 2005). Casaca (2010) sugere que, no dimensionamento do policultivo, o biofertilizante seja avaliado como um fertilizante químico. O biofertilizante líquido apresenta baixa relação C: N, devido às perdas de carbono na etapa biodigestor. No entanto, quando se trabalha com fertilizantes químicos, a dinâmica alimentar é alterada. A utilização de fertilizantes químicos explora apenas a cadeia planctônica. Casaca (2010) discorre que a produtividade reduz de 20 a 30%, quando comparada com a utilização de fertilizantes orgânicos. As espécies utilizadas no policultivo são alteradas, optando prioritariamente por espécies filtradoras (carpas prateada e cabeça grande) como espécies principais. O autor sugere complementar o policultivo com espécies bentófagas (carpa comum) e perifitoplanctófago (cascudo). O cascudo tem função importante no policultivo. A espécie atua como ―faxineiro‖ do viveiro, consumindo as sobras alimentares das demais espécies. Os aspectos construtivos do tanque de peixes do BSI seguem a mesma concepção do aportado para o policultivo integrado, modelo catarinense. No entanto, a área dos tanques depende do balanço de nutrientes no tanque de sedimentação (tabela 1.7) e da produção diária de dejetos pelos suínos. Quanto maior o aporte de nutrientes nos tanques, maior a área de lâmina de água demandada. No BSI, o tanque de peixes funciona com ―sistema tampão‖, em relação às demais unidades: em situações onde ocorre redução na eficiência de uma das unidades, o tanque de peixes ―atenua‖ esta redução, garantindo a eficácia do sistema como um todo. Na saída do tanque de peixes, o efluente está em condições de ser lançado nos corpos hídricos, atendendo às restrições da legislação ambiental (TAKANATSU e OLIVEIRA, 2002). 46 1.2.3.3 Etapa agricultura O biofertilizante pode ser utilizado para a adubação agrícola ou comercializado para propriedades vizinhas. Neste estudo, o balanço de nutrientes da etapa agrícola será considerado sob as mesmas configurações adotadas no sistema integrado suinocultura piscicultura. Nesta etapa demanda-se um tanque para o depósito do biofertilizante. O tanque deve ser dimensionado para garantir a armazenagem do biofertilizante no período da entressafra – 6 meses (180 dias). O biofertilizante representa 20% do volume de dejetos produzido pela granja. 1.3 ANÁLISE ENERGÉTICA A análise energética de sistemas agropecuários utiliza o princípio da conservação energia para avaliar a eficiência dos processos produtivos. O agrossistema é modelado como sendo um volume de controle, onde são computadas suas entradas e saídas. As ―entradas‖ energéticas nos agroecossistemas são de três tipos: energia em forma de radiação solar e energia contida nos insumos e a depreciada pelo uso da infraestrutura produtiva. Já as ―saídas‖ energéticas podem ser consideradas basicamente de um só tipo, produtos provenientes de lavouras ou animais (BUENO, 2002; SOUZA et al., 2009). A matriz energética do agrossistema é composta pelos insumos, infraestrutura e produtos, convertidos de uma base material (massa ou volume) para uma base energética, através de fatores de conversão. A análise energética serve de base para avaliações de eficiência energética, produtividade e sustentabilidade de sistemas agropecuários (ANGONESE et al., 2006; SOUZA et al., 2009). A importância da análise do balanço energético é fornecer parâmetros necessários para mensurar, interpretar e subsidiar a tomada de decisões (COMITRE, 1993). 1.3.1 Delimitação do volume controle Uma das maiores dificuldades na montagem das matrizes energéticas é a delimitação do volume de controle a ser estudado. Quanto maior a abrangência do estudo, mais completa torna-se a análise. No entanto, a complexidade e o volume de dados a serem avaliados também aumentam. 47 A delimitação do volume de controle depende de cada situação, sendo determinada com base nos critérios utilizados pelo pesquisador. A abrangência do estudo irá depender da disponibilidade de recursos financeiros, banco de dados satisfatório, tempo disponível e do escopo do estudo. A seguir são apresentadas as principais abordagens utilizadas na avaliação energética de agrossistemas, seguindo as orientações de Campos e Campos (2004). A complexidade da avaliação energética aumenta no sentido de A para D. (i) Abordagem A: na matriz energética é computado apenas o poder calorífico dos bens comerciais fornecidos diretamente para a atividade em estudo. O volume de controle se dá em nível de produção apenas. (ii) Abordagem B: o volume de controle se expande, atingindo o sistema de produção, fornecimento e transporte dos insumos utilizados na atividade. São computados os dispêndios energéticos usados direta e indiretamente no sistema produtivo. (iii) Abordagem C: nesta abordagem, são adicionados ao balanço o trabalho muscular humano e a tração animal. Esta abordagem é conhecida como análise cultural. (iv) Abordagem D: Este escopo, conhecido como análise ecológica avalia todo o fluxo de energia, comercial e não-comercial. A radiação solar, que incide sobre o agrossistema, também é computada no balanço. Nos trabalhos que contemplam a avaliação energética de agrossistemas, prevalecem as abordagens C e D. O maior destaque se dá para a análise cultural (abordagem C), devido às dificuldades na obtenção de dados referentes à radiação solar nos agroecossistemas. Além disso, o ―sol‖ é uma fonte de energia gratuita e abundante (BUENO, 2002). 1.3.2 Classificação dos fluxos energéticos Os fluxos energéticos dos agrossistemas apresentam origem e formas diferenciadas. Desta forma, é necessário classificá-las, visando viabilizar a análise energética. Na literatura, podem ser verificados diferentes estilos de classificação, adotados nos trabalhos de avaliação energética dos agrossistemas. Uma das tipologias mais utilizada para a classificação das entradas energéticas é a categorização em entradas ―Biológicas‖, ―Fósseis‖ e ―Industriais‖ (COMITRE, 1993; BUENO, 2002; CAMPOS e CAMPOS, 2004), descritas a seguir: (i) Energia biológica: trabalho humano; tração animal; resíduos de animais e da agroindústria; material de propagação; alimentos para animais; biofertilizantes; biocombustíveis. (ii) Energia fóssil: combustíveis derivados do petróleo, gás natural e/ou carvão. 48 (iii) Energia industrial: energia depreciada pelas máquinas e equipamentos, utilizados na operacionalização dos agrossistemas; energia elétrica; agroquímicos. Outra classificação utilizada é a separação entre energia direta e energia indireta, conforme menção de Campos e Campos (2004). A energia direta representa os insumos que entram diretamente no processo produtivo. É computada a energia intrínseca dos produtos. O item energia indireta representa a energia agregada, que está embutida nas máquinas, implementos, insumos e construções. A medição dessa energia é mais complexa, pois implica em conhecer o ―rastro energético‖ dos insumos empregados. A energia ainda pode ser classificada em renovável e não-renovável, conforme indicação de Risoud (1999). Os recursos renováveis compreendem os produtos originários do processo fotossintético, como a lenha e dejetos agrícolas; energia solar, hídrica, eólica; tração animal; material de propagação. Os recursos energéticos não-renováveis englobam os combustíveis fósseis (derivados do petróleo, carvão e gás natural), combustíveis nucleares; e fontes minerais (potássio, fósforo, metais ferrosos e não-ferrosos, dentre outros) (Lammers et al., 2010). 1.3.3 Indicadores de eficiência energética Os indicadores de eficiência são utilizados para auxiliar na avaliação do desempenho energético dos agrossistemas. A tipologia dos indicadores é variável, sendo que sua construção depende do escopo da avaliação em que será empregue. A eficiência energética cultural é o indicador mais utilizado nas avaliações dos agrossistemas (expressão [1.1]). A ferramenta avalia a eficiência de exportação de energia pelo agrossistema, em relação às entradas comerciais. Outro indicador utilizado é a energia cultural líquida (expressão [1.2]). Este indicador avalia o fluxo líquido de energia que o agrossistema exporta. Estes indicadores são de fácil operacionalização e aplicáveis quando se deseja comparar dois processos produtivos semelhantes (BUENO, 2002; SOUZA et al., 2009; ANGONESE et al., 2006). No entanto, é pouco útil quando se compara processos produtivos cuja produção envolve bens diferentes, como ocorre nos sistemas avaliados. [1.1] 49 [1.2] Alguns autores sugerem a avaliação dos agrossistemas tendo como base a sua dependência frente às fontes de energia não-renovável. Este indicador é construído pela relação (expressão [1.3]) entre a produção total de energia útil pelas entradas de energia nãorenovável do agrossistema (RISOUD, 1999; FURLANETO, ESPERANCINI e BUENO, 2009). í ã [1.3] Um dos indicadores utilizados por Pimentel e Pimentel (2008) na avaliação dos agrossistemas é o custo de energia não-renovável para a produção de proteína (MJ/kg de proteína). A expressão [1.4] apresenta a equação utilizada pelo autor o custo de energia nãorenovável da proteína. ã í [1.4] LAMMERS et al. (2010) utilizam como indicador o índice de participação nãorenovável nas entradas energéticas do agrossistema (expressão [1.5]). Este indicador é útil para avaliar a dependência do agrossistema frente às fontes não-renováveis. Quanto mais próximo de 1 estiver o indicador, menor será a renovabilidade do agrossistema. ã [1.5] Conforti e Ciampietro (1997) utilizam diversos indicadores para avaliar o perfil da agricultura mundial. Dentre os indicadores, os autores citam a produtividade energética da área (saídas de energia por área de cultivo), e demanda energética (entradas de energia por área de cultivo). Estes índices são descritos pelas expressões [1.6] e [1.7], respectivamente. í [1.6] [1.7] 50 1.3.4 Balanço energético em sistemas agropecuários A avaliação energética de sistemas agrícolas começou a ser utilizada na década de 70 (BAILEY et al., 2003). Desde então, o balanço energético tem sido empregado para avaliar o desempenho de sistemas agropecuários. Serra et al. (1979), citados por Comitre (1993), utilizaram o balanço energético para comparar diferentes matérias-primas (cana-de-açúcar, mandioca, sorgo, eucalipto e pinus), possíveis insumos da produção de etanol. Os autores concluíram que, na conjuntura produtiva vigente na época, a madeira (eucalipto e pinus) era a matéria-prima mais eficiente para a produção de biocombustível. Castanho Filho e Charbaribery (1982) avaliaram o perfil energético de 21 atividades agropecuárias no Estado de São Paulo. Os autores concluíram que 80% do dispêndio energético da agricultura paulista era de origem não-renovável, sendo que os combustíveis contribuíam com 38%. Mello (1986), citado por Bueno (2002), aplicou a avaliação energética para analisar o perfil de produção de diferentes culturas no Estado de Santa Catarina. O autor conclui que os gastos energéticos não-renováveis são proporcionais ao nível de mecanização e de utilização de agroquímicos. Comitre (1993) avaliou os fluxos energéticos na cadeia produtiva da soja na região de Ribeirão Preto-SP. A autora concluiu que a cadeia produtiva da soja é energeticamente eficiente, com um índice de 5,77 (para cada unidade calórica investida, obteve-se 4,77 unidades calóricas nos produtos, descontando a unidade investida). No entanto, o sistema apresentava forte dependência de fontes não-renováveis, principalmente agroquímicos e combustíveis. Conforti e Ciampietro (1997) utilizaram a avaliação energética para analisar o perfil da agricultura mundial, identificando a sua dependência em relação às fontes não-renováveis. Os autores concluíram que os sistemas são altamente dependentes de fontes fósseis. Ademais, quanto maior a demanda por insumos agrícolas, maior será o consumo destas fontes energéticas. Bueno (2002) avaliou o desempenho energético da produção de milho em um assentamento rural, localizado no Estado de São Paulo. A eficiência energética cultural obtida foi de 9,01. O autor conclui seu trabalho afirmando que o sistema apresenta forte dependência de fontes energéticas não-renováveis, principalmente de agroquímicos e combustíveis. 51 Bailey et al. (2003) utilizaram o balanço energético para avaliar o desempenho energético de sistemas agrícolas integrados e não-integrados. Os autores concluíram que a integração melhora o desempenho energético dos agrossistemas. O consumo de energia por área de produção pode ser reduzido em 8%, quando ocorre a integração de processos agropecuários. Santos e Lucas Jr. (2004) avaliaram o fluxo de energia em galpão de frangos de corte, localizado no Estado de São Paulo. A partir da avaliação do fluxo de energia no agrossistema, os autores encontraram um índice de eficiência cultural de 0,28. O sistema demonstrou ser altamente dependente de energia. A ração foi o item com maior representatividade no dispêndio energético. Urquiada, Alves e Boodey (2005) utilizaram o balanço energético para comparar diferentes matérias-primas para a produção de biocombustíveis. A cana-de-açúcar foi considerada o insumo mais eficiente para a produção de biocombustíveis. Os autores discorrem que a ferramenta é a mais adequada para avaliar a eficiência das matérias-primas para a produção de energia. Angonese et al. (2006) avaliaram o desempenho energético de uma granja de suínos em terminação. Os dejetos suínos eram utilizados para a produção de biogás, biofertilizante (soma das frações sólidas e líquidas). Os resultados indicaram que a atividade importa grande parte da energia consumida, com um índice de eficiência energética de 38%. A ração foi o item com maior representatividade nas entradas energéticas. Pimentel e Pimentel (2008) utilizam o balanço energético para avaliar os fluxos energéticos na produção de alimentos para o consumo humano. Dentre as principais conclusões apresentadas, destacam-se: a produção de proteína vegetal é mais eficiente que a produção animal; os sistemas agrícolas são altamente dependentes de fontes de energia nãorenováveis; as técnicas de manejo, a localização geográfica e o tipo de cultivo influenciam diretamente na eficiência energética das atividades agropecuárias. Souza et al. (2009) avaliaram o custo energético (energia específica) da produção de suínos, em ciclo completo, e o balanço energético do sistema com reaproveitamento dos resíduos gerados como biofertilizante, em área de pastagem. Os autores obtiveram um índice de eficiência energética cultural de 0,31, sendo que o custo para a produção de um quilograma de suíno vivo foi de 53,35 MJ. Furlaneto, Esperancini e Bueno (2009) avaliaram a eficiência energética e a dependência de fontes fósseis no bicultivo de peixes. Os autores obtiveram eficiência energética cultural média de 0,84, com baixa dependência de energia fóssil. 52 O balanço energético é uma ferramenta útil para avaliar os fluxos de energia de um agrossistema. Os trabalhos acima mencionados demonstram a vasta aplicabilidade da análise energética como ferramenta para a avaliação de agrossistemas. Além de possibilitar a verificação da eficiência energética dos agrossistemas, a ferramenta pode auxiliar na identificação dos pontos com maior vulnerabilidade energética e ambiental. Campos e Campos (2004) afirmam que o balanço energético é uma ferramenta útil na avaliação de agrossistemas. No entanto, é necessário um aprimoramento nos métodos de análise. Existe uma infinidade de fatores que influenciam no desempenho energético, como o tipo de solo; a topografia; fertilidade natural do solo; índice pluviométrico da região, dentre outros fatores. Além disso, é necessário revisar os coeficientes energéticos adotados. Estes, em muitos casos, estão defasados, ou foram estruturados tendo como base situações muito específicas, não condizendo com a realidade do estudo. O referido acima, quando associado à subjetividade de muitas análises, limita a aplicação deste método. Mesmo considerando as referidas limitações, a análise energética pode constituir-se como uma importante ferramenta na avaliação da sustentabilidade de agrossistemas. 1.3.5 Produção animal versus produção vegetal A aplicação da avaliação energética em sistemas agropecuários que ocupam diferentes níveis da cadeia trófica implica em conhecer o fluxo energético nos ecossistemas. Os ecossistemas funcionam como uma rede, onde ocorrem fluxos de energia e de minerais. Nesta rede, os maiores componentes funcionais são as populações de plantas, consumidores, redutores e decompositores. A inter-relação entre estes organismos, dentro da cadeia trófica, é vital para a funcionalidade dos ecossistemas (ESTEVES, 1998). Em termos energéticos, a cadeia alimentar representa o fluxo de energia entre os seres vivos no ambiente. As plantas ocupam o topo da cadeia trófica. A partir da fotossíntese, estes organismos transformam a energia solar em energia química. Os organismos heterotróficos não são capazes de sintetizar seu próprio alimento. Os mesmos captam a energia de que precisam, consumindo os demais organismos da cadeia. Funcionalmente, os seres heterotróficos podem ser classificados em duas categorias: consumidores (primários, secundários e assim, sucessivamente) e decompositores. Quanto maior o nível da cadeia trófica explorada por um organismo, maior será a degradação da energia no sistema. 53 Aproximadamente 10% da energia se movem de um nível para o outro. O restante da energia é degradado (TOWNSEND, BEGON e HARPER, 2010). Assim, do ponto de vista energético, a produção de proteína vegetal sempre será mais eficiente que a produção de proteína animal. Na produção animal, vastas quantias de proteína vegetal (na forma de ração ou forragens) são utilizadas. O metabolismo animal converte parte desta energia em proteínas, carboidratos, lipídios (gordura). Outra parte desta energia é utilizada para a manutenção das funções vitais dos animais. E uma terceira parte da energia ingerida na alimentação é eliminada pela secreção de calor, urina e pelas fezes. Em média, para produzir um quilograma de proteína animal, são necessários cerca de seis quilogramas de proteína vegetal. Nos Estados Unidos, para produzir 1,0 kg de proteína vegetal são necessários cerca 41,87 MJ de energia fóssil. A demanda de energia nãorenovável para a produção animal varia de acordo com a espécie produzida, sendo na média de 418,4 MJ/kg de proteína. Para a produção de suínos, á média é de 234,3 MJ de energia fóssil para produzir um quilograma de proteína (PIMENTEL e PIMENTEL, 2008). Avaliando as relações de entrada e saída de energia para a produção de proteína animal e vegetal verificam-se grandes disparidades no balanço de energia. A produção de proteína animal apresenta uma relação energética de entrada/saída 10 vezes maior que a produção de proteína vegetal. No entanto, como alimento humano, a proteína animal é 1,4 vezes mais efetiva, quando comparada com a proteína vegetal (PIMENTEL e PIMENTEL, 2008). Além disso, o consumo de proteína animal, em suas diferentes formas, está relacionado com os hábitos culturais do consumidor. A opção por produzir determinada fonte protéica está mais vinculada às oportunidades de mercado (demanda, rentabilidade) do que à sua eficiência energética. Os sistemas integrados avaliados nesta pesquisa permeiam diferentes níveis da cadeia trófica. Ao avaliar o desempenho energético das tipologias de integração, devem-se considerar estas relações. Na produção de milho grão (ou de qualquer outro vegetal), a energia líquida produzida pelo sistema (saída - entradas) será sempre positiva (caso não se considere a energia solar incidente), uma vez que o sistema produz mais energia comercial do que consome (BUENO, 2002; PIMENTEL e PIMENTEL, 2008). No entanto, quando se avalia a produção de pescado ou a suinocultura (extensivo, semi-intensivo ou intensivo), esta relação normalmente se inverte, sendo negativa (o sistema consome mais energia do que é capaz de fornecer) (PIMENTEL e PIMENTEL, 2008; FURLANETO, ESPERANCINI e BUENO, 2009). 54 2 METODOLOGIA 2.1 ESCOPO DESTE ESTUDO Esta pesquisa busca avaliar o fluxo energético e a demanda por área em três sistemas agropecuários integrados que utilizam a suinocultura como principal componente produtivo. O primeiro sistema é a integração suinocultura agricultura, onde os dejetos produzidos pelos suínos são armazenados em esterqueiras para o posterior uso na adubação dos solos. Os produtos deste sistema são os suínos terminados e o milho grão. A figura 2.1 mostra uma representação do sistema integrado suinoculturaagricultura. Figura 2.1: Representação do sistema integrado suinocultura agricultura. O segundo sistema é a integração suinocultura piscicultura, onde os dejetos dos suínos são utilizados na fertilização dos tanques de peixes. Neste sistema, os produtos são os suínos terminados e o pescado. A figura 2.2 mostra a representação do sistema integrado suinocultura piscicultura. 55 Figura 2.2: Representação do sistema integrado suinocultura piscicultura. O terceiro sistema é a integração suinocultura biodigestores piscicultura/agricultura, no qual ocorre a junção dos sistemas suinocultura agricultura e suinocultura piscicultura. Há ainda a inserção de uma nova unidade produtiva: o conjunto biodigestor / separador de fases. Os produtos deste sistema são os suínos terminados, o biogás, o pescado e o milho grão. A figura 2.3 apresenta a concepção básica do BSI, e os produtos gerados. A suinocultura, padrão para os três sistemas, foi caracterizada com base nos parâmetros operacionais e tecnológicos de uma agroindústria integradora. A agroindústria está localizada na região de Frederico Westphalen7 – noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. O item 2.2 caracteriza a região em estudo, enquanto o tópico 2.3 apresenta as especificações da suinocultura avaliada neste trabalho. Nos itens 2.4, 2.5 e 2.6 são apresentados os coeficientes técnicos dos sistemas integrados neste estudo. Já o tópico 2.7 descreve os procedimentos metodológicos utilizados para realizar o balanço energético dos três sistemas e apresenta os coeficientes energéticos 7 A abrangência territorial da regional Frederico Westphalen, neste estudo, segue as definições do IBGE. A nomenclatura da regional no IBGE é Microrregião de Frederico Westphalen. Neste trabalho, por questões de simplicidade, adotara-se a definição ―região‖ ou regional. 56 utilizados para realizar a análise. Por fim, o item 2.8 apresenta os indicadores utilizados na avaliação dos sistemas integrados. Figura 2.3: Representação do sistema de integração BSI. 2.2 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DE ESTUDO Na caracterização da região de estudo foram utilizados os dados disponíveis em IBGE (2006). A regional de Frederico Westphalen integra a Bacia do Alto Uruguai, sendo localizada a noroeste do estado Rio Grande do Sul – RS (figura 2.4). A região abrange 27 municípios com população estimada em 181.900 habitantes e área territorial de 5.180 km2 (518.000 ha). Os municípios são pequenos, com população média de 6.377 habitantes. O município com maior população é Frederico Westphalen com 28.400 habitantes e o de menor população é Engenho Velho, com 1.400 habitantes. O PIB da região é estimado em R$ 1,88 bilhões e a renda per capita em R$ 10.472,00. Figura 2.4: Localização da região de Frederico Westphalen. 58 No povoamento da região prevaleceu o fluxo de migrantes dos municípios da região central do estado, visando a extração de madeira na mata nativa com o posterior uso agrícola dos solos já descampados. A população é composta principalmente por descendentes italianos, alemães, poloneses e por povos indígenas8. Quanto à renda média, 63% da população têm rendimento de até um salário mínimo per capita; 23% de até dois salários; 10% apresentam rendimentos acima de três salários e 3% não têm rendimento fixo. Na região de Frederico Westphalen, residem 54.525 famílias, sendo que 64% da população residem na zona rural e 36% na zona urbana, enfatizando a forte dependência agrícola da região. A agricultura familiar representa cerca 93% dos estabelecimentos agrícolas da região e 74% da área total ocupada. Na região, existem 24.816 estabelecimentos agropecuários registrados. Já a área agricultável é estimada em 235.026 ha. Considerando estas cifras, a área média agricultável das propriedades da região é de 9,47 ha. Quanto à ocupação do solo, prevalece a exploração de lavouras temporárias (lavouras com ciclo de plantio e colheita periódicos). As principais culturas exploradas na região são o milho e a soja, ocupando mais de 70% da área de cultivo na região. A figura 2.5 apresenta o perfil de ocupação das terras na região de Frederico Westphalen. Figura 2.5: Perfil de ocupação das terras na região de Frederico Westphalen. Fonte: IBGE (2006). 8 No Parque Florestal de Nonoai (maior parque florestal do Rio Grande do Sul), localiza-se uma das mais representativas reservas indígenas do estado, com uma área de 14.910,00 hectares, abrangendo os municípios de Nonoai, Planalto, Alpestre, Rio dos Índios e Gramado dos Loureiros. 59 A tabela 2.1 apresenta a área plantada e o valor da produção das principais atividades agrícolas exercidas na região. Tabela 2.1: Área de cultivo e valor da produção das principais atividades agrícolas na região. Lavouras Permanentes Área Plantada (ha) 6.523 Valor da Produção (R$ 103) 50.184,00 Lavouras. Temporárias 348.328 Milho Soja Item Outros Produção Total Fonte: IBGE (2006). % ha % R$ 1,8% 8,2% 562.788,00 98,2% 91,8% 114.120 132.499,00 32,2% 21,6% 143.805 181.798,00 40,5% 29,7% 90.403 248.491,00 25,5% 40,5% 354.851 612.972,00 100,0% 100,0% A pecuária responde por 30% do valor adicionado pela produção agropecuária da região. As principais atividades executadas na região são a suinocultura e a criação de gado (leite e carne). A tabela 2.2 apresenta a composição do efetivo de animais de grande porte na região de Frederico Westphalen. Tabela 2.2: Efetivo de animais de grande porte na região de Frederico Westphalen. Animal Suínos Efetivo (cabeças) 458.290 Bovinos Ovinos Outros Animais Total Fonte: IBGE (2006). Participação (%) 60,4% 281.021 37% 9.661 1,3% 10.263 1,4% 759.235 100,0% Responsável por 60,4% do efetivo da pecuária na região, a suinocultura representa 14,3% do valor agregado pela produção agropecuária e 47% da produção pecuária. A região é responsável por 10% do rebanho gaúcho de suínos. Na tabela 2.3 é apresentada a composição do rebanho de suínos na região, tendo como referência o ano de 2006. A suinocultura na região caracteriza-se por ser uma atividade altamente tecnificada, voltada para a produção de proteína animal, onde cerca de 90% do rebanho está em fase de engorda. Além disso, o número de animais comercializados é 50% maior que o efetivo fixo, revelando a alta rotatividade do efetivo na região. 60 Tabela 2.3: Composição do efetivo de suínos da região de Frederico Westphalen. Item Efetivo de suínos Efetivo (cabeças) 458.290 Participação (%) 100,0% Engorda 414.650 90,5% Varrões 7.261 1,6% Matrizes 36.379 7,9% Suínos comercializados Fonte: IBGE (2006). 688.503 cabeças 2.3 SUINOCULTURA A suinocultura é a primeira etapa dos três sistemas integrados em estudo. A descrição que se segue neste tópico é válida para a caracterização da etapa nos três agrossistemas integrados. A descrição desta etapa tem por base os parâmetros operacionais e tecnológicos de uma típica propriedade suinícola na região de Frederico Westphalen. Esta propriedade opera integrada a uma agroindústria processadora localizada nesta região. Durante a pesquisa foram realizadas visitas técnicas em propriedades suinícolas da região em estudo. Com base nas verificações destas visitas, foi elaborado o modelo de gestão e operação da suinocultura, adotado neste trabalho. Os coeficientes técnicos seguem as orientações da agroindústria integradora e são condizentes com as práticas agrícolas adotadas na região em estudo. Apesar de não ser um caso real, buscou-se simular uma propriedade que representa o modelo suinícola adotado na região de Frederico Westphalen. 2.3.1 Configuração da etapa suinocultura A propriedade simulada é uma Unidade de Crescimento e Terminação (UCT), onde o produtor atua apenas nas etapas de crescimento e engorda do animal. Os animais (leitões) entram no sistema com massa média (média do lote) de 20 kg e são entregues (suínos terminados) com massa média de 130 kg por animal. O tempo médio de permanência dos animais na propriedade é de 110 dias. A mortandade média estimada pela agroindústria para a região é de 10%. O lote mínimo econômico considerado é de 500 animais. Este valor é praticado na região pela agroindústria. Em condições normais de operação, são produzidos três lotes anuais. A alimentação e as técnicas de manejo e produção seguem o padrão estabelecido pela agroindústria. 61 A pocilga é dimensionada levando-se em consideração a orientação solar, a fim de se evitar que as baias recebam radiação solar nos períodos mais quentes do dia. Desta forma, é dispensado o uso de sistemas de refrigeração e aquecimento para a produção. O manejo dos dejetos se dá na forma líquida, utilizando o sistema de ―lâmina de gua‖. Esta lâmina se forma pela construção de uma pequena saliência no piso, próximo à tubulação de saída dos dejetos. A limpeza deve ser diária, sendo feita pela raspagem desta lâmina. Os bebedouros são do tipo ―chupeta pendular dupla‖ e os comedouros em concreto. Os suínos são alimentados duas vezes ao dia. 2.3.1.1 Produção e caracterização dos dejetos Os dejetos serão caracterizados tendo como base as tabelas 1.1 ―Características dos dejetos suínos (fezes + urina), expresso por tonelada de peso vivo‖ e 1.2. ―Estimativa média do volume de dejetos produzidos pelos suínos de acordo com a categoria‖. Para computar a produção dejetos por lote de suínos considera-se um rebanho de 500 animais, com massa média de 75 kg – massa média durante a permanência dos animais na propriedade. A tabela 2.4 apresenta a caracterização dos dejetos que será utilizada na simulação dos sistemas. Esta tabela foi estruturada com base nos dados fornecidos pela tabela 1.2, considerando uma massa média de 75 kg/animal. Tabela 2.4: Caracterização dos dejetos suínos produzidos, avaliados para um lote de 500 animais, com massa média de 75 kg. Produção diária por Produção diária tonelada de carne por animal (75 kg) Densidade 990 kg/m3 990 kg/m3 Sólidos totais 11,00 kg 0,83 kg Sólidos voláteis 8,50 kg 0,64 kg DBO5 3,10 kg 0,23 kg DQO 8,40 kg 0,63 kg Nitrogênio total 0,52 kg 0,04 kg P2O5 0,41 kg 0,03 kg K2O 0,35 kg 0,03 kg Fonte: Adaptado de ASAE (2003). Item Produção por lote (110 dias) 990 kg/m3 45,38 t 35,06 t 12,79 t 34,65 t 2,15 t 1,70 t 1,44 t Produção anual (três lotes) 990 kg/m3 136,13 t 105,19 t 38,36 t 103,95 t 6,44 t 5,10 t 4,31 t O volume de dejetos produzidos pelos suínos pode variar significativamente entre as propriedades com mesmo padrão tecnológico. Um dos principais fatores que influenciam o 62 volume de dejetos produzidos pela granja são os desperdícios de água durante processo. O tipo de bebedouro, sistema de higienização, vazamentos no sistema hidráulico e a entrada de águas das chuvas podem aumentar significativamente a produção de dejetos pela granja. O excesso de água nos dejetos é apontado por pesquisadores (MIRANDA, 2005; SCHERER, 1997; BERTO, 2004) e por técnicos da região como um dos principais entraves ao aproveitamento dos dejetos. Para avaliar a influência da diluição no desempenho dos três sistemas integrados serão utilizados cinco coeficientes de diluição (CL): 0%, 25%; 50%; 100% e 200% de diluição. A escolha destes índices se deu de forma aleatória, não representando nenhum caso em específico. A expressão [2.1] apresenta a equação utilizada para variar a produção total de dejetos. VT = (1 +CL) VP [2.1] Onde: VT: Volume total de dejetos produzido. VP: Volume de dejetos padrão, estimado com base na tabela 1.2 (7 litros). CL: Coeficiente de aumento da diluição: 0,0; 0,25; 0,5; 1,0 e 2,0 de diluição. No dimensionamento dos sistemas, será utilizado o coeficiente de diluição 50%, denominado dejeto III. Assim, o volume de dejetos produzido por animal é 10,5 l/dia, o que corresponde a uma produção diária de 5,25 m3/lote. Os demais coeficientes serão utilizados apenas para avaliar a influência da diluição dos dejetos no desempenho do sistema. 2.3.2 Coeficientes técnicos da etapa suinocultura Os coeficientes técnicos da suinocultura, que descrevem os procedimentos operacionais, a infraestrutura e a gestão da produção, foram obtidos junto à agroindústria integradora. Convém destacar que o itinerário apresentado representa os requisitos mínimos para que uma propriedade possa entrar em operação na região. No entanto, foram suprimidos deste estudo certos procedimentos, que são peculiaridades de cada propriedade suinícola: sistema de bombeamento de água; medicamentos; aplainagem e drenagem do terreno; dentre outros. Estes itens são avaliados com precisão apenas em estudos de caso. 63 2.3.2.1 Infraestrutura Os gastos de mão-de-obra e com maquinário, utilizados na instalação da infraestrutura da suinocultura, não foram computados. Estas operações consistem em preparar o terreno para a instalação da pocilga, que dependem do relevo e tipo de solo. Não foram encontrados na literatura dados que nos possibilitam estimar o gasto médio para a região, sendo desconsiderados neste trabalho. Além disso, a suinocultura é padrão para todos os sistemas integrados avaliados. Na tabela 2.5 são apresentados os itens de infraestrutura considerados para a etapa suinocultura. Tabela 2.5: Infraestrutura e equipamentos utilizados na produção de suínos. Item Pocilga Silo de ração – 16 t. Carrinho transporte Composteira Caixa de água – 15 m3 Quantidade 676,20 m2 9,00 t 20,00 kg 20,00 m2 226,00 kg Vida útil 20 anos 20 anos 20 anos 20 anos 20 anos Material Diversos Aço Aço Alvenaria Plástico 2.3.2.1 Insumos Os insumos energéticos, computados na etapa suinocultura, são referentes aos gastos com mão-de-obra; ração; energia elétrica e os leitões. A mão-de-obra operacional é referente às operações manuais e mecanizadas da produção. As principais atividades de uma granja UCT são: o recebimento e acomodação dos leitões; arraçoamento dos animais; limpeza e higienização das baias; tratamento sanitário (vacinas; controle sanitário dos animais); carregamento dos suínos terminados e a operação e manutenção das instalações. Rockenbach et al. (2005) estimaram que, para um lote de 350 animais, são necessárias 1.580 horas-homem (hh) por lote para a execução destas atividades. Considerando que este tempo é proporcional ao tamanho do lote, estima-se que para um lote de 500 animais seriam necessárias 2.257 hh/ano. A alimentação dos animais segue as prescrições técnicas adotadas pela agroindústria. A quantidade de ração fornecida aos animais varia de acordo com o desenvolvimento dos animais. O gasto médio de ração para um lote de 500 animais é de 138,1 t/lote, ou 414,13 t/ano. No apêndice A é apresentada a tabela utilizada pela agroindústria para estimar a quantidade de ração utilizada na alimentação dos animais. 64 Quanto aos gastos com insumos energéticos, estes são referentes à iluminação dos ambientes. No projeto luminotécnico da pocilga é prevista a instalação de 40 conjuntos lâmpadas-luminárias fluorescentes de 40 W cada. Na área externa, é prevista a instalação de oito conjuntos de 150 W em lâmpadas de mercúrio. A potência elétrica total instalada é de 2,80 kW. Estima-se um tempo médio de uso para as luminárias de 2,0 h/dia. Assim, o consumo de energia elétrica para um lote, com permanência de 110 dias, é estimado em 616 kWh/lote (1,85 MWh/ano). A tabela 2.6 apresenta os insumos gastos no sistema produtivo. Tabela 2.6: Insumos utilizados na produção de 500 suínos em um ano de produção. Item Consumo Mão-de-obra Ração Eletricidade Leitões 2.257,00 hh 414,13 t 1,85 MWh 30,0 t 2.3.3 Composição da ração suína Os principais ingredientes utilizados na composição da ração suína são o milho e a soja. O milho é utilizado como fonte de energia na formulação de rações, participando em até 90% da composição da alimentar dos suínos. Já a soja é utilizada como fonte protéica, na forma de farelo. O farelo de soja tem de 42 a 48% de proteína bruta e 2% óleo. No processamento da soja, aproximadamente 82% é transformada em farelo e 18% em óleo bruto (ZARDO e LIMA, 1999). Neste trabalho, para fins de cálculo, foi considerada a formulação de ração suína apresentada por Rodrigues et al. (2002). A formulação média9 apresentada pelos autores, para suínos em crescimento e terminação é de: 78% milho; 16% farelo de soja e 3% farelo de trigo; 5% outros (suplementos vitamínicos e minerais). A concentração média de proteína bruta na ração é de 14%. A energia bruta da ração pode ser calculada com base no teor energético de seus constituintes. Utilizando os dados fornecidos por Zardo e Lima para os constituintes da ração, estima-se que a energia bruta da ração é de 16 MJ/kg. O valor estimado é próximo ao encontrado por Oetting (2002), de 15 MJ/kg. Avaliando a composição centesimal da ração suína observa-se que 95% são de origem biológica e 5% é mineral. Portanto, no balanço energético, pode-se considerar que a ração 9 Média da composição utilizada pelos autores para suínos em crescimento e terminação. 65 suína é uma entrada energética renovável. No entanto, existem gastos energéticos nãobiológicos para o cultivo do milho, soja e do trigo. Gastos com combustível, fertilizantes químicos, defensivos agrícolas devem ser considerados. Além disso, existem os gastos energéticos relativos ao processo de produção da ração suína. Assim, será considerado um acréscimo de 2,0 MJ/kg de ração relacionado com os gastos de transformação, conforme preconizado por Angonese et al. (2006) e Souza et al. (2009). A energia total da ração foi estimada como sendo de 18 MJ/kg. A estimativa de dependência de fontes não-renováveis na produção de milho e soja, foi realizada com base no trabalho de MELO et al. (2007). Os autores avaliaram a eficiência energética da produção de soja e milho, em sistema de plantio direto mecanizado, no Estado do Paraná. Neste sistema de produção, as fontes não-renováveis representaram 21% da energia produzida pelo milho e 17% da energia da soja. Estes valores foram calculados pelo coeficiente entre o somatório das entradas não-renováveis pela energia total produzida pelos agrossistemas. Desta forma, considerando a composição centesimal da ração e a participação nãorenovável na produção dos grãos e nos processos de produção da ração, estima-se que: 33,0% da energia da ração são de origem não-renovável e 67% são de origem renovável. 2.4 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURA AGRICULTURA 2.4.1 Configuração do sistema integrado Nesta configuração de produção, a suinocultura é integrada à produção de milho grão. Os dejetos são coletados e armazenados em esterqueiras, dimensionadas para um tempo de retenção de 120 dias. A etapa suinocultura foi descrita no tópico 2.3. Na etapa agrícola, utiliza-se o roteiro técnico recomendado para a produção de milho grão em sistema de plantio direto mecanizado, preconizado pela Embrapa Milho e Sorgo (MATTOSO e MELLO FILHO, 2009). O milho foi escolhido por ser uma das culturas com maior difusão entre as propriedades suinícolas na região de estudo. Além disso, o milho é o item com maior representatividade na composição da ração suína. Na simulação será considerada a execução de duas safras anuais em plantio direto mecanizado. Na primeira safra (safra principal) a produtividade é estimada em 7,0 t/ha. Já na 66 segunda safra, conhecida como safrinha (ou safra secundária), a produtividade é estimada em 3,0 t/ha (MATTOSO e MELLO FILHO, 2009). A produção total, considerando a execução das duas safras, é estimada em 10 t/ha de milho com 12% de umidade (umidade do grão ao sair do secador de grãos). A concentração de proteína no milho foi estimada em 79,3 kg por tonelada de grãos (ZARDO e LIMA, 1999). O roteiro técnico utilizado considera a demanda anual de insumos e o tempo de uso dos equipamentos considerando das duas safras (1ª safra e safrinha) (apêndices D). A área de cultivo será avaliada pelo balanço de nutrientes o milho, tendo como critério a concentração de fósforo nos dejetos, conforme recomendação de Seganfredo (2001). A extração de nutrientes pelo milho será estimada utilizando a tabela 1.3 ―Extração média de nutrientes NPK na produção de diferentes culturas agrícolas‖. 2.4.2 Coeficientes técnicos da etapa agricultura 2.4.2.1 Infraestrutura A infraestrutura da etapa agricultura corresponde aos equipamentos e construções necessários para a execução de dois roteiros técnicos: a coleta e distribuição dos dejetos na lavoura; e a execução do itinerário agrícola. A estrutura necessária para a coleta, armazenagem e aplicação dos dejetos de suínos é composta de uma esterqueira; um tanque distribuidor e um trator de 85,00 cv. O volume da esterqueira é de 630 m3, calculado para uma produção diária de dejetos de 5,25 m3/dia. Para uma esterqueira com esta capacidade, necessita-se de 513,7 m2 de manta plástica em PEAD (Polietileno de Alta Densidade) com 0,80 mm de espessura, e 30 kg de canos PVC. A massa da manta plástica utilizada é de 392,5 kg (AVISERRA, 2010). A vida útil da esterqueira (manta e canos PVC) é de 20 anos (SOUZA et al. 2009). A figura 2.6 apresenta o corte esquemático da esterqueira utilizada para o armazenamento dos dejetos. O fabricante estima que são necessárias, ainda, 16 horas de mão-de-obra para a instalação da manta (quatro operários trabalhando 4 h). 67 Figura 2.6: Corte esquemático da esterqueira. O gasto com horas-máquina (hm), para a construção da esterqueira, será estimado com base no rendimento médio dos equipamentos utilizados para a execução das obras civis. O volume da esterqueira é de 630 m3. Para a construção da esterqueira, é necessário remover este volume de terra. O rendimento médio10 de remoção de terra foi estimado em 90 m3/h, tendo como base solos com média compactação. Desta forma, considerando a estimativa de rendimento médio da máquina, ter-se-ia um gasto de 7,0 hm para a construção da esterqueira. As operações de coleta e distribuição dos dejetos foram realizadas utilizando-se tanques com 3,0 m3 de capacidade, por serem os mais encontrados nas propriedades suinícolas da região em estudo. A massa do conjunto tanque-distribuidor é estimada em 1,30 t, com vida útil de 10.000 h (SOUZA et al. 2009). O tempo total de utilização dos equipamentos de distribuição dos dejetos é função do volume a ser aplicado no solo, e gasto de tempo para a aplicação de cada tanque de fertilizante. Quanto ao volume a ser aplicado, este depende do balanço de nutrientes do milho e da concentração dos dejetos. Na avaliação do balanço de nutrientes, foi utilizado o critério do fósforo como elemento de base. Os déficits de nitrogênio e fósforo devem ser fornecidos por suplementação química (uréia e cloreto de potássio, respectivamente). A concentração de fósforo é obtida pelo coeficiente entre a produção total do elemento (tabela 2.4) e o volume de dejetos produzidos. Para o dejeto III, a concentração de fósforo foi estimada em 2,95 kg/m3. Já o tempo gasto na fertilização das lavouras é referente às operações de coleta de dejetos na esterqueira, transporte até o local de aplicação e a sua distribuição nas lavouras. 10 Neste cálculo foi avaliada a utilização de uma escavadeira Case CX160B, motor de 120HP e caçamba com capacidade máxima de carga de 0,75 m3. A velocidade de remoção de material do solo foi estimada em 1,5 m3/min. (duas caçambas por minuto) (CASE, 2010). 68 Utilizando tanques com 3,0 m3, Miranda (2005) estima que são necessários, em média, 20 minutos para a coleta e distribuição dos dejetos (por tanque aplicado). Já a operação de transporte, é função da distância entre os pontos de coleta e aplicação. Considerando uma velocidade de deslocamento (velocidade do conjunto trator/tanque) de 20 km/h, estima-se um gasto médio de 3 minutos por quilômetro rodado. Para calcular a distância de deslocamento foi feita a seguinte consideração: o lote agrícola apresenta dimensões na forma de um quadrado e a pocilga/esterqueira está no centro da propriedade. Assim, a área agrícola está uniformemente distribuída em torno da pocilga. Assim, o tempo total gasto na coleta, transporte e aplicação dos dejetos, será referente aos 20 minutos (coleta e aplicação), somados ao tempo de deslocamento (km rodado.3 min./km). Na execução do roteiro técnico do cultivo agrícola, demandam-se equipamentos para o preparo do solo, plantio, cultivo e colheita do milho em plantio direto mecanizado. Estas operações estão descritas na tabela 2.7, que apresenta ainda, os equipamentos utilizados e o tempo médio gasto no cultivo agrícola e na distribuição dos dejetos. Já a tabela 2.8 apresenta a descrição dos equipamentos apresentados na tabela 2.7. Tabela 2.7: Roteiro técnico adotado para a produção de 1,00 ha de milho em plantio direto, para um ano de produção (duas safras). Atividade Equipamento Aplicação herbicida (i) Trator 85 cv Distribuição do calcário (i) Trator 85 cv Plantio mecânico (i) Trator 85 cv Aplicação inseticida (i) Trator 85 cv Colheita mecânica (i) Colheitadeira 160 cv Transporte Interno (i) Trator 85 cv Distribuição dos dejetos Conjunto Trator 85 / distribuidor Fonte: (i) Adaptado de Mattoso e Melo Filho (2009). Tempo gasto 0,75 hm/ha 0,13 hm/ha 1,60 hm/ha 0,90 hm/ha 1,45 hm/ha 1,20 hm/ha . 20 min. + (km rodado 3 min./km) Tabela 2.8: Especificações e tempo de uso dos equipamentos utilizados na execução do roteiro técnico da etapa agricultura (tabela 2.7). Item Massa Tempo de uso ii (i) Trator 85 cv traçado 2,90 t 4,58 hm/ha Lastro trator (contrapeso) 2,00 t (i) 4,58 hm/ha Colheitadeira 180 cv – plataforma 4m 9,10 t (i) 1,45 hm/ha Pulverizador barra 2.000 l 7,90 t (i) 1,65 hm/ha Plantadeira 7 linhas 2,90 t (i) 1,60 hm/ha Carreta transporte 2,0 t (iv) 1,20 hm/ha Distribuidor calcário 1,10 t (iv) 0,13 hm/ha . Conjunto Trator 85 / distribuidor 4,20 t (v) 20 min. + (km rodado 3 min./km) Fontes: (i) John Deere (2010); (ii) Mattoso e Melo Filho (2009); (iii) Souza et Marchesan (2010); (v) Soma da massa do trator e distribuidor de fertilizante. Vida útil iii 10.000,00 h 10.000,00 h 10.000,00 h 10.000,00 h 10.000,00 h 10.000,00 h 10.000,00 h 10.000,00 h al. (2009); (iv) 69 2.4.2.2 Insumos Quanto aos insumos utilizados na etapa agrícola, foram considerados: a mão-de-obra e o combustível gasto na aplicação dos dejetos, e os insumos necessários para a execução do roteiro técnico da produção de milho. O consumo de combustível depende da eficiência térmica do motor e da quantidade de energia solicitada para a execução da atividade. Na tabela 2.9 é apresentado o consumo médio de combustível, estimado pelo fabricante, para a execução das atividades citadas no “roteiro técnico” da tabela 2.7. Já a tabela 2.10, apresenta os insumos utilizados para a produção de 1,0 ha de milho grão em sistema de plantio direto mecanizado, para um ano de produção (duas safras). Tabela 2.9: Gasto de combustível para a execução do roteiro técnico para as duas safras, com plantio direto mecanizado. Operações Equipamento Aplicação herbicida Trator 85 cv Distribuição do calcário Trator 85 cv Plantio mecânico Trator 85 cv Aplicação inseticida Trator 85 cv Colheita mecânica Colheitadeira 160 cv Transporte Interno Trator 85 cv Trator 85 cv Distribuição do biofertilizante Fonte: Adaptado de John Deere (2010). Gasto horário 1,0 l/hm 1,0 l/hm 4,5 l/hm 1,0 l/hm 10,0 l/hm 1,0 l/hm 1,0 l/hm Consumo 0,75 l/ha 0,13 l/ha 7,26 l/ha 0,90 l/ha 14,50 l/ha 1,20 l/ha --- Tabela 2.10: Demanda de insumos para o cultivo de 1,0 ha de milho em um ano de produção (duas safras). Insumo Calcário (i) Sementes (i) Herbicida (i) Inseticida (i) Combustível: operações agrícolas (ii) Combustível: aplicação dos dejetos (ii) Mão-de-obra: operações agrícolas (i) Mão-de-obra: aplicação dos dejetos Fonte: (i) Mattoso e Melo Filho (2009); (ii) John Deere (2010). Quantidade 1,10 t/ha 40,00 kg/ha 8,30 l/ha 1,92 l/ha 24,74 l/ha 1,0 l/hm 17,23 hh/ha . 20 min. + (km rodado 3 min./km) Referente ao consumo de graxas e óleos lubrificantes, estes foram considerados como sendo itens de manutenção (MELLO, 1986, citado por BUENO, 2002). Assim, na contabilidade energética desta etapa, estes itens serão integrados aos 12% referentes aos gastos com manutenção dos equipamentos. 70 2.5 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURAPISCICULTURA Nesta configuração de integração, a suinocultura é integrada à produção de pescado em policultivo. O modelo de piscicultura adotado é o Policultivo Integrado do Oeste Catarinense. Este modelo foi escolhido por não demandar o uso de ração e aeração mecânica. O custo de produção e instalação é menor. Além disso, o Oeste Catarinense está localizado próximo à região de Frederico Westphalen, com condições geofísicas similares (solo; clima; regime de chuvas; relevo; etc.). 2.5.1 Configuração do sistema integrado A etapa piscicultura descreve o roteiro técnico utilizado para a produção pescado em policultivo integrado. A taxa de estocagem de suínos adotada foi de 60 animas por hectare de lâmina de água. Quanto à densidade de povoamento, este será composto por uma espécie principal, uma secundária, espécies filtradoras e de cultivo complementar. A expressão [2.2] apresenta a equação utilizada para calcular a densidade de estocagem da espécie principal (TOMAZELLI JR., CASACA e WARKEN, 2005). [2.2] Onde: TE: taxa de estocagem – espécie principal (alevinos/ha); P: produtividade natural do viveiro (kg/ha/ano). Valor adotado: 2,0 ton./ha/ano. MMF: massa média final esperada (kg/peixe); MMI: massa média inicial dos alevinos (kg/alevino). S: taxa de sobrevivência (%). Valor adotado: 80%. Neste estudo, optou-se por utilizar a carpa comum como espécie principal. A espécie é de fácil cultivo e com ampla difusão na região. Como espécie secundária, optou-se pela tilápia do Nilo (ou tilápia nilótica), por motivos similares aos da escolha da carpa comum. As espécies com função de ―filtradoras do viveiro‖ são a carpa prateada e a cabeça grande. O policultivo será complementado com carpa capim, o bagre africano, o bagre americano, o 71 jundiá e o cascudo. A taxa de estocagem destas espécies é obtida utilizando as recomendações de participação no policultivo (%TE da espécie principal). A tabela 2.11 apresenta a composição de um policultivo, tendo como base as recomendações de Tomazelli Jr., Casaca e Warken (2005). A produtividade esperada para o policultivo é de 6,00 t/ha/ano. Tabela 2.11: Taxa de estocagem utilizada no policultivo integrado catarinense. Participação (% Espécie principal) Carpa comum 100 Carpa prateada 30 Carpa cabeça grande 20 Carpa Capim 10 Tilápia nilótica 50 Cascudo 10 Bagre Americano 10 Bagre Africano 10 Jundiá 10 Povoamento Total: Espécie TE (alevinos/ha) 2.500 750 500 250 1.250 250 250 250 250 MMF Policultivo (kg/peixe) (%TEt) 1,0 a 1,5 40,00% 1,5 12,00% 2,0 8,00% 1,0 4,00% 0,4 20,00% 0,5 4,00% 1,0 4,00% 1,0 4,00% 1,0 4,00% 6.250 alevinos/ha Os alevinos utilizados no povoamento podem ser classificados, quanto ao seu tamanho e/ou peso, em alevinos I (com massa de 0,5 a 1,0 g) e alevinos II (com massa de 10,0 a 50,0 g). No entanto, recomenda-se povoar o viveiro com alevinos II, reduzindo a taxa de mortandade. A massa média adotada (MMI), nos planejamento do viveiro povoado com alevinos II, é 30g (0,03 kg). 2.5.2 Roteiro técnico da etapa piscicultura O roteiro técnico da etapa piscicultura é referente às operações de construção e operação dos tanques de peixes, aos insumos e equipamentos utilizados para a produção de 8,33 ha de lâmina de água. A área de lâmina de água foi calculada para um lote de 500 suínos em terminação, obedecendo à relação de 60 animais por hectare (TOMAZELLI JR., CASACA e WARKEN, 2005). 2.5.2.1 Infraestrutura Os itens relativos à infraestrutura da etapa piscicultura são os equipamentos e maquinários utilizados na construção e operação dos tanques de peixes. Estes itens são descritos na tabela 2.12. 72 Tabela 2.12: Infraestrutura da etapa piscicultura. Quantidade por Massa/área por Vida Útil lote de suínos i lote de suínos Hora-máquina 896,00 h --20 anos Mão-de-obra – operações manuais 1.800,00 h --20 anos Caixa de Nível – parede de alvenaria 8,0 un 40,00 m² 20 anos ii Rede de arrasto – fibra têxtil 1,0 un 80,00 kg 5 anos Tarrafa de pesca – fibra têxtil 1,0 un 5,00 kg ii 5 anos ii Balança de Gancho – aço 1,0 un 1,50 kg 10 anos iii Botas e macacão emborrachado 1,0 un 5,0 kg 20 anos Tubos e Conexões de PVC --35,82 kg i 20 anos Tubos 200 mm – concreto pré-moldado 32,0 un 167,28 m² 20 anos Fonte: (i) Rockenbach et al. (2005); (ii) ENGEPESCA (2010); (iii) SULPESCA (2010). Item A demanda energética relativa à construção dos tanques de peixes (maquinário e mãode-obra do operador) será computada com base no custo energético da hora-máquina11. Além dos equipamentos serem locados, este item apresenta pouca representatividade no balanço energético, quando comparado às demais entradas de energia. Furlaneto, Esperancini e Bueno (2009), avaliando a eficiência energética do bicultivo de peixes, não computaram o dispêndio energético da construção dos viveiros. Os autores consideraram este item como de pouca representatividade no balanço energético. A área total ocupada por água foi distribuída em oito tanques com um hectare de lâmina cada. Os tanques foram dimensionados visando facilitar a despesca. Na despesca serão utilizadas redes de arrasto para a despesca com 50 m de largura. Desta forma, cada tanque terá as seguintes dimensões: 50 x 208 x 1,5 m. Além disso, cada tanque dispõe de uma caixa de nível tipo monge. O monge é construído em alvenaria com dimensões de 0,4 x 0,8 x 2,0 m. A drenagem da água dos tanques é realizada por quatro tubos de concreto com diâmetro de 0,20 m e 1,00 m de comprimento. A entrada de água nos tanques é realizada por corrente natural, sem a necessidade de bombeamento. São utilizados tubos e conexões em PVC. No cultivo, são utilizadas uma tarrafa de pesca, uma rede de arrasto e uma balança de metal. Os gastos com mão-de-obra referem-se às seguintes operações: avaliações preliminares; adaptação do sistema de abastecimento; construção da caixa de nível; plantação de grama e reforço do talude. 11 A energia associada às horas-máquina alocadas pelo produtor reflete os gastos com combustíveis, mão-de-obra operador, energia das máquinas, infraestrutura da empresa locadora das máquinas, dentre outros custos. 73 2.5.2.2 Insumos A tabela 2.13 apresenta os insumos necessários para a operação e manutenção da piscicultura. Os insumos são referentes às operações de gestão e operação do policultivo. O principal insumo energético são os alevinos. O viveiro é povoado com alevinos II (peixes com tamanho médio de 30,0 g) com a taxa de estocagem apresentada na tabela 2.11. Tabela 2.13: Insumos utilizados na operação e manutenção da piscicultura. Item Quantidade/área Calcário (i) Mão-de-obra (i) Peixes Alevinos II (30 g) (ii) Carpa comum Carpa prateada Carpa cabeça grande Carpa Capim Quantidade por lote de suínos 2,5 t/ha 20,83 t 247,2 hh/ha 2.059,18 hh -- --- 75 kg/ha 624,75 kg 22,5 kg/ha 187,43 kg 15 kg/ha 124,95 kg 7,5 kg/ha 62,48 kg 37,5 kg/ha 312,38 kg Cascudo 7,5 kg/ha 62,48 kg Bagre Americano 7,5 kg/ha 62,48 kg Bagre Africano 7,5 kg/ha 62,48 kg Tilápia nilótica Jundiá 7,5 kg/ha Fonte: (i) Rockenbach et al. (2005); (ii) Tomazelli Jr., Casaca e Warken (2005). 62,48 kg No policultivo integrado, é dispensada a utilização de ração para a alimentação dos peixes. A fonte de alimento são os alimentos naturais disponíveis no viveiro. Para a manutenção da alcalinidade da água em níveis satisfatórios, deve ser utilizado calcário agrícola (CaCO3). A recomendação de uso varia de acordo com a qualidade da água. Rockenbach et al. (2005) estimam o uso de 2,5 t de calcário por hectare de lâmina de água. Já o dispêndio em mão-de-obra para a operação do policultivo é referente às operações: (i) (ii) (iii) (iv) (v) (vi) (vii) Manejo inicial da água. Adubação pré-povoamento. Povoamento dos tanques. Fertilização dos tanques. Avaliação da produção. Manutenção dos tanques. Despesca. 74 No sistema integrado suinocultura piscicultura a mão-de-obra da etapa suinocultura corresponde ao item fertilização dos tanques (iv). Desta forma, no balanço energético deste sistema, a mão-de-obra da etapa suinocultura não será computada. 2.6 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURA BIODIGESTOR PISCICULTURA/ AGRICULTURA Nesta configuração de integração, os dejetos suínos são utilizados para produção de biogás e para fertilização de tanques de peixes e de áreas agrícolas. A concepção segue as orientações preconizadas por Takanatsu e Oliveira (2002). No entanto, foram realizadas algumas alterações, visando sua adaptação à realidade das granjas suinícolas da região de Frederico Westphalen. Os coeficientes técnicos da etapa suinocultura, padrão para os três sistemas integrados, foram descritos no item 2.3. 2.6.1 Etapa biodigestor 2.6.1.1 Infraestrutura Os equipamentos que compõem a infraestrutura desta etapa são um reator anaeróbico e um separador de fases. 2.6.1.1.1 Biodigestor O reator anaeróbico utilizado nesta etapa é um biodigestor tubular, constituído de uma câmara de fermentação e de um gasômetro, ambos em geomembrana de PEAD 1,0 mm. A câmara é escavada no solo, no intuito de reduzir as trocas térmicas com o ambiente. O fluxo hídrico é horizontal ascendente (diagonal): os dejetos entram na câmara pela extremidade inferior, percorrem o biodigestor e são extraídos pela extremidade oposta, no canto superior. A carga no biodigestor é diária, sendo realizada no momento da limpeza das baias dos suínos (AVISERRA, 2010). O volume do equipamento é estimado para o dejeto III (50% de diluição). Para o sistema suinícola modelado demanda-se um biodigestor com 157,5 m3, dimensionado para atender um fluxo diário de 5,25 m3, com TRH de 30 dias (figura 2.7). A expressão [2.3] foi utilizada para estimar o volume do biodigestor. 75 VB = TRH x PDe [2.3] Onde: VB: volume do biodigestor [157,5 m3]. TRH: tempo de retenção hidráulica [30 dias]. PDe: produção diária de dejetos [10,5 L x 500 suínos = 5,25 m3]. Figura 2.7: Biodigestor tubular. A construção do biodigestor demanda 550 m2 de geomembrana de PEAD – 250,90 m2 para a formação do gasômetro e 298,20 m2 para a impermeabilização da câmara de fermentação. A massa de manta plástica utilizada é 525 kg. Estima-se ainda, que serão necessários 50 kg de canos PVC, utilizados para a entrada e saída dos dejetos e para o gasoduto (AVISERRA, 2010). A vida útil dos componentes do biodigestor (manta e canos PVC) é de 20 anos (SOUZA et al., 2009). Quanto aos gastos com hora-máquina (hm) para a construção do biodigestor, será utilizado o mesmo critério utilizado na estimativa da demanda de hm para a construção da esterqueira. No caso do biodigestor é necessário remover um volume de 210 m3 (15,00 x 8,00 x 1,75 m). Estima-se que, utilizando um equipamento com rendimento médio na remoção de terra de 90 m3/h, seriam necessários 2,3 hm para a construção do biodigestor. O fabricante estima que são necessários, ainda, 16 horas de mão-de-obra para a instalação da manta (quatro operários trabalhando 4 h). 76 2.6.1.1.2 Separador de fases O separador de fases é um tanque horizontal com fundo ascendente, construído em alvenaria (figura 2.8). O equipamento será dimensionado utilizando a expressão [2.4]. [2.4] Onde: A: área de sedimentação do tanque = 26,25 m2. PDe: Produção diária de dejetos = 5,25 m3. toper: tempo de operação dos dejetos = 2,0 h/dia. No dimensionamento considera-se que o tanque irá operar apenas durante o período de limpeza das baias (duas limpezas diárias com duração de uma hora para cada operação). VS: velocidade de sedimentação do afluente: 0,1 m/h (PERDOMO, LIMA e NONES, 2001). Figura 2.8: Corte esquemático do tanque de sedimentação. Fonte: Adaptado de Takanatsu e Oliveira (2002). A relação entre largura (L) e comprimento (C) é L=1/3C. A profundidade adotada é 1,5 m na entrada e 2,0 m na saída (média de 1,75 m). Desta forma, o tanque de sedimentação terá as seguintes dimensões: 8,90 x 2,95 x 1,75 m. A área construída é estimada calculando o perímetro externo do tanque (paredes+piso). Efetivando os cálculos, encontra-se uma área de 67,70 m2 a ser construída em alvenaria. 77 No tanque de sedimentação, o efluente líquido sai pela sua extremidade superior e a fração sólida é removida pelo fundo do tanque. Os gastos com mão-de-obra são desprezíveis, destinados apenas às operações de manutenção. 2.6.1.2 Insumos Os insumos utilizados para a operação e manutenção do biodigestor e do separador de fases não serão considerados. Estes gastos são desprezíveis. O sistema opera com mínimo gasto com mão-de-obra. Este gasto é desprezível quando comparado às demais entradas. Já os reparos serão computados na depreciação energética dos equipamentos, posteriormente descrita. 2.6.1.3 Produtos O produto comercial desta etapa é o biogás, cujo componente de interesse é o metano. A concentração média de metano (CH4) no biogás é estimada em 66% para dejetos suínos (LANSING, BOTERO e MARTIN, 2008). A produção média diária de metano foi estimada em 0,29 m3/suíno. Este valor foi estimado com base nos valores apresentados pelo IPCC (2006) e em ASAE (2003). O biofertilizante não é considerado um produto, por ser utilizado nas demais etapas produtivas do BSI. 2.6.2 Etapa piscicultura Como mencionado no tópico 1.2.3.1, o tanque de algas não será utilizado na etapa piscicultura. Os procedimentos de dimensionamento do policultivo no BSI seguem as recomendações de Casaca (2010). Na tabela 2.14 é apresentada a composição do policultivo preconizada para a etapa piscicultura. A etapa piscicultura corresponde à produção de pescado em sistema de policultivo. Considerando estas características, optou-se por utilizar como espécies principais no policultivo espécies filtradoras (carpa prateada e cabeça grande). O policultivo será complementado com a carpa húngara, que consome plâncton, e o cascudo que se alimenta dos detritos dos demais animais na cadeia trófica. 78 Tabela 2.14: Composição do policultivo no BSI. Espécie Carpa prateada Carpa cabeça grande Carpa húngara Cascudo Povoamento TE (alevinos/ha) 1.200 1.000 1.000 500 MMi (g/alevino) 30,0 30,0 30,0 30,0 MMF (kg/peixe) 1,5 2,0 1,5 0,5 3.700 Policultivo (%TEt) 32,4% 27,0% 27,0% 13,5% 2.6.2.1 Infraestrutura Os aspectos construtivos do tanque de peixes do BSI são os mesmos do aportado no policultivo integrado, modelo catarinense. A profundidade média do tanque é de 1,5 m, com 50 m de largura. A área dos tanques depende do balanço de nutrientes no tanque de sedimentação (tabela 1.8) e da produção diária de dejetos pelos suínos. Quanto maior o aporte de nutrientes nos tanques, maior a área de lâmina de água demandada. Os itens relativos à infraestrutura da etapa piscicultura são os equipamentos e maquinários utilizados para a construção e operação dos tanques de peixes. A entrada de água nos tanques é realizada por corrente natural, sem a necessidade de bombeamento. São utilizados tubos e conexões em PVC. No cultivo são utilizadas uma tarrafa de pesca, uma rede de arrasto e uma balança de metal. A tabela 2.15 apresenta os materiais utilizados na construção da infraestrutura pesqueira. Tabela 2.15: Materiais utilizados na construção da infraestrutura pesqueira. Item Hora-máquina Caixa de Nível – parede de alvenaria Rede de arrasto – fibra têxtil Tarrafa de pesca – fibra têxtil Balança de Gancho – aço Botas e macacão emborrachado Tubos e Conexões de PVC Quantidade i Massa/área 107,00 hm/ha Vida Útil --- 20 anos 1,0 un./ha 5,00 m /ha 20 anos 1,0 un. 80,00 kg ii 5 anos 5,00 kg ii 5 anos 1,50 kg ii 10 anos 5,0 kg iii 20 anos i 20 anos 1,0 un. 1,0 un. 1,0 un. --- 2 4,48 kg/ha 2 Tubos 200 mm – concreto pré-moldado 4,0 un./ha 20,91 m /ha Fonte: (i) Rockenbach et al. (2005); (ii) ENGEPESCA (2010); (iii) SULPESCA (2010). 20 anos 79 2.6.2.2 Insumos Na tabela 2.16 são apresentados os insumos necessários para a execução do policultivo do Biossistema Integrado. Tabela 2.16: Insumos utilizados na operação e manutenção do policultivo. Item Calcário Quantidade/área i Mão-de-obra 2,5 t/ha i Peixes Alevinos 247,2 hh/ha -- Carpa prateada 36 kg/ha Carpa cabeça grande 30 kg/ha Carpa húngara 30 kg/ha Cascudo Fonte: (i) Rockenbach et al. (2005). 15 kg/ha 2.6.2.3 Produtos O produto desta etapa é o pescado, com produtividade média esperada, para um ano de cultivo, de 4,4 t/ha. A taxa de sobrevivência utilizada é de 80%. 2.6.3 Etapa agricultura A etapa agrícola do BSI será desenvolvida sob os mesmos conceitos utilizados para a etapa no sistema integrado suinocultura agricultura. A estimativa da área demandada pela etapa agrícola tem como base os balanços de nutrientes no tanque de sedimentação e no cultivo de milho. No tanque de sedimentação, parte dos nutrientes está disposta no biofertilizante líquido e parte na fração sólida (tabela 1.8). Na produção agrícola, o balanço de nutrientes é a relação entre os nutrientes aplicados (fração sólida) e o extraído pelo milho grão. No cálculo do volume de nutrientes aplicados, será utilizado o critério do fósforo limitante (P2O5). A concentração de fósforo no biofertilizante concentrado é de 6,69 kg/m3. 80 2.6.3.1 Infraestrutura Nesta etapa, a infraestrutura corresponde a um depósito de biofertilizante e os equipamentos utilizados para a execução do roteiro técnico de produção. 2.6.3.1.1 Depósito de biofertilizante Nesta etapa, demanda-se de um tanque para o depósito do biofertilizante. O tanque é construído em alvenaria. O volume do tanque foi estimado em 189,0 m3. A altura do tanque é de 2,5 m (mesma altura de uma esterqueira). Desta forma, o tanque de biofertilizante terá as seguintes dimensões: 8,7 x 8,7 x 2,5 m, com uma área construída de 163 m2 (paredes+piso). 2.6.3.1.2 Cultivo agrícola A infraestrutura produtiva desta etapa é igual à preconizada para o sistema integrado suinocultura agricultura, seguindo as orientações de Mattoso e Melo Filho (2009). A tabela 2.7 apresenta o roteiro técnico utilizado para o cultivo agrícola. Já a tabela 2.8 apresenta os equipamentos utilizados para a execução deste roteiro. 2.6.3.2 Insumos Os insumos utilizados nestas operações são a mão-de-obra e o combustível, gasto na distribuição do biofertilizante, e os insumos necessários para a execução do roteiro técnico da produção de milho. A tabela 2.10 apresenta os insumos utilizados para a produção de milho grão em sistema de plantio direto mecanizado, com adubação por biofertilizante. 2.6.3.3 Produtos O produto desta etapa é o milho grão, com produtividade esperada de 7,0 t/ha para a 1ª safra e 3,0 t/ha para a safrinha. A produtividade anual é estimada em 10 t/ha. 81 2.7 ANÁLISE ENERGÉTICA 2.7.1 Composição da matriz energética nos sistemas integrados As entradas energéticas representam todos os insumos utilizados direta ou indiretamente no processo produtivo e na instalação da infraestrutura do empreendimento. Já as saídas energéticas, representam os produtos do agrossistema. Neste trabalho, optou-se por classificar as entradas energéticas em fontes renováveis e não-renováveis. Como fontes renováveis consideram-se: mão-de-obra; material de propagação (sementes de milho, alevinos e leitões); ração e eletricidade. As fontes não-renováveis consideram os dispêndios de combustíveis, defensivos agrícolas; fertilizantes químicos; calcário; e a energia depreciada pela utilização da infraestrutura e equipamentos. A tabela 2.17 apresenta a composição da matriz energética dos sistemas integrados. Tabela 2.17: Estruturação da matriz energética dos sistemas integrados. Entradas Energéticas Sistema Saídas Energéticas Renovável Não-renovável Integração suinocultura agricultura Mão-de-obra; sementes de milho; leitões; eletricidade e 67% da ração. Combustíveis; fertilizantes; defensivos agrícolas; calcário; infraestrutura e 33% da ração. Suínos terminados e o milho. Integração suinocultura piscicultura Mão-de-obra; alevinos; leitões; eletricidade e 67% da ração. Calcário; infraestrutura 33% da ração. Suínos terminados e o pescado. Integração suinocultura biodigestor piscicultura/biofertilizante Mão-de-obra; sementes de milho; leitões; alevinos; eletricidade e 67% da ração. Combustíveis; fertilizantes; defensivos agrícolas; calcário; infraestrutura e 33% da ração. e Suínos terminados, biogás, pescado e o milho. Convém ressaltar que, da mesma forma como discutido na análise energética da ração suína, a eletricidade, os alevinos, os leitões e a semente de milho apresentam uma fração de energia não-renovável. Esta fração de energia não-renovável, entretanto, é minoritária na composição energética destes insumos. Além disso, ao contrário da ração, os insumos supracitados são pouco representativos dentre os dispêndios totais de energia dos agrossistemas integrados. Assim, estes elementos serão considerados como sendo de fontes de energia renovável. 82 2.7.2 Coeficientes energéticos Neste tópico, são descritos os coeficientes energéticos utilizados para converter os insumos e os produtos em fluxos de energia nos agrossistemas. 2.7.2.1 Infraestrutura produtiva A demanda energética das máquinas, implementos agrícolas e demais itens da infraestrutura produtiva serão calculados pelo método da depreciação energética, apresentado por Doering III (1980), citado por Bueno (2002). O método consiste em depreciar a energia contida nestes materiais durante a sua vida útil – similar ao método da depreciação econômica. A expressão [2.5] apresenta a demanda energética associada ao uso do maquinário, implementos agrícolas e distribuidor de fertilizante. Esta expressão foi estruturada com base nas orientações de Comitre (1993) e Bueno (2002), com algumas adaptações, visando à adequação as condições deste trabalho. [2.5] Onde: De maq. = demanda energética das máquinas e implementos agrícolas. m = massa do equipamento (i). CE = coeficiente energético do equipamento (i). b = reparos do equipamento (i): 5% de (m.CE). c = Gastos com manutenção do equipamento (i): 0,12. (m.CE + b). = vida útil do equipamento, em horas (i). A demanda energética dos demais itens da infraestrutura produtiva (tanque de peixes, esterqueira, redes de pesca, dentre outros materiais) será avaliada com base na expressão [2.6]. A expressão foi estruturada seguindo as orientações de Beber (1989), citado por Bueno (2002). [2.6] 83 Onde: De infr. = demanda energética associada aos itens de infraestrutura. mi = massa do item (i). Cei = coeficiente energético do item (i). t: tempo de utilização do item (i). i = vida útil do item, em horas (i). 3.7.2.1.1 A mão-de-obra Representa o dispêndio de trabalho humano para a implantação da infraestrutura produtiva. O coeficiente energético utilizado é 0,47 MJ/h (SANTOS e LUCAS Jr., 2004) com uma ―vida útil‖ de 20 anos. Este item foi avaliado utilizando a expressão [2.6]. 3.7.2.1.2 Hora-máquina Os maquinários utilizados na construção dos tanques de peixes; esterqueira e demais obras de infraestrutura, são locados12. Além disso, a sua representatividade no balanço energético é pequena, quando comparada às demais entradas de energia. Assim, neste trabalho, por conveniência, optou-se por computar no balanço energético o custo energético do capital investido na locação (custo energético da moeda). O custo energético da moeda pode ser definido como sendo o dispêndio econômico de um país para produzir uma unidade energética. Em situações onde o cálculo do fluxo energético de uma atividade não é viável, este fator pode ser adotado como um procedimento de aproximação na análise energética de uma atividade. Cook (1971), citado por Bueno (2002), frente às dificuldades encontradas na quantificação da energia utilizada por um trabalhador, propôs uma estimativa dessa quantidade, transformando o salário do trabalhador em unidades energéticas. Procedimento similar ao adotado neste trabalho. O custo energético da moeda é calculado pela relação entre o consumo anual de energia e o PIB do país, dados em MJ/R$. Neste trabalho, o custo energético da moeda obtido com base nos dados de 2008 foi de 3,15 MJ/R$13. O custo financeiro médio da hora-máquina 12 A energia associada às horas-máquina alocadas pelo produtor reflete os gastos com combustíveis, mão-de-obra operador, energia das máquinas; infra-estrutura da empresa locadora das máquinas, deslocamentos empresapropriedade, dentre outros custos. 84 na região de estudo é de R$ 150,00. Assim, o custo energético da hora-máquina é de 473,18 MJ/h. O custo da hora-máquina será depreciado utilizando a expressão [2.6]. 2.7.2.1.3 Coeficientes energéticos utilizados Na tabela 2.18 são apresentados os coeficientes energéticos dos materiais empregados nos agrossistemas, mão-de-obra e hora-máquina. Tabela 2.18: Coeficientes energéticos dos itens que compõem a infraestrutura produtiva. Item Coeficientes Unidade Método de cálculo Energético Plásticos 130,00 MJ/kg Expressão 2.6 Parede de alvenaria14 ii 1.208,17 MJ/m2 Expressão 2.6 PVC i 120,00 MJ/kg Expressão 2.6 Estrutura do galpão de suínos15 i 956,03 MJ/m2 Expressão 2.6 Aço i 62,78 MJ/kg Expressão 2.6 Borracha iii 85,81 MJ/kg Expressão 2.6 Fibra têxtil (náilon) iv 58,30 MJ/kg Expressão 2.6 Concreto pré-moldado i 0,62 MJ/kg Expressão 2.6 Mão-de-obra vi 0,47 MJ/hh Expressão 2.6 Hora-máquina 473,18 MJ/hm Expressão 2.6 Trator e Colheitadeiras v 69,83 MJ/kg Expressão 2.5 Implementos agrícolas v 83,71 MJ/kg Expressão 2.5 Distribuidor de fertilizante v 57,20 MJ/kg Expressão 2.5 Fontes: (i) Angonese et al. (2006); (ii) Campos et al. (2003); (iii) Bovolenta e Biaggioni (2009); (iv) Morris (1996); (vi) Santos e Lucas Jr. (2004); (v) Campos et al. (2005). i 2.7.2.2 Insumos e Produtos 2.7.2.2.1 Mão-de-obra Neste tópico, a mão-de-obra é referente às atividades de operação e manutenção dos agrossistemas, sendo considerado um insumo energético. O coeficiente energético relativo à energia do trabalho humano adotado neste trabalho será de 0,47 MJ/h, fornecido por Santos e Lucas Jr. (2004). 13 O PIB brasileiro no ano de 2008 foi de R$ 3,00 trilhões (IBGE, 2009), enquanto o consumo total de energia no país neste ano foi de 9,48 x 1012 MJ (EPE, 2009). 14 15 O coeficiente energético considera os materiais empregados na construção e a mão-de-obra. Galpão de suínos em alvenaria, coberto com telhas cerâmicas sobre estrutura de madeira e beiral de 0,90 m (ANGONESE et al. 2006). 85 2.7.2.2.2 Semente de milho Na etapa agrícola dos sistemas integrados suinocultura agricultura e suinocultura biodigestor agricultura/agricultura, a cultura avaliada é o milho. A energia associada à semente desta cultura abrange, além do seu conteúdo energético, a energia gasta durante o beneficiamento e transporte dos grãos da sementeira até a lavoura. O coeficiente energético do milho adotado foi 33,21 MJ/kg. Este valor foi apresentado por Bueno (2002). 2.7.2.2.3 Agroquímicos Nesta categoria, incluem-se os defensivos agrícolas, fertilizantes químicos e o calcário, utilizados na produção agrícola. Os defensivos agrícolas utilizados nesta simulação são os herbicidas (dessecantes e herbicidas pós-plantio) e os inseticidas. Já os fertilizantes químicos são utilizados no agrossistema para suprir os déficits de nutrientes na adubação por dejetos. O calcário (CaCO3) é utilizado para a correção da alcalinidade do solo (etapa agrícola) e da água (etapa piscicultura). A tabela 2.19 apresenta os coeficientes adotados para a conversão energética dos agroquímicos. Tabela 2.19: Coeficientes adotados para a conversão energética dos agroquímicos. Item Herbicidas Inseticidas N P 2O 5 K2O CaCO3 Coeficiente energético 288,0 237,0 73,00 13,00 9,00 0,17 Unidade MJ/l MJ/l MJ/kg MJ/kg MJ/kg MJ/ton. Referência Hülsbergen et al. (2001) Hülsbergen et al. (2001) Angonese et al. (2006) Angonese et al. (2006) Angonese et al. (2006) Bueno (2002) 2.7.2.2.4 Alevinos e pescado O coeficiente energético dos alevinos e peixes refere-se à energia metabolizável (EM) da sua carne. Este fator é calculado com base na concentração de proteínas, carboidratos e lipídios. Nepa (2006) fornece a relação 16,74; 16,74; 37,66 kJ/g para proteína, carboidrato e lipídios, respectivamente. As concentrações de proteínas e lipídios são fornecidas nas tabelas de composição de alimentos. Já a concentração de carboidratos é obtida por diferença, da concentração de proteínas, lipídios, cinzas e umidade, pela expressão [2.7] (NEPA, 2006). A tabela 2.20 apresenta a composição e a energia metabolizável da carne de peixe. 86 [2.7] Onde: C: concentração carboidrato (g/kg); U: umidade (%); P: concentração de proteína (g/kg); L: concentração de lipídios (g/kg); Ci: concentração de cinzas (g/kg). Tabela 2.20: Composição e energia metabolizável da carne de peixe. Item Umidade (%) Proteína (g/kg) Lipídeos (g/kg) Carboidrato (g/kg) Cinzas (g/kg) EM (MJ/kg) Carpa comum i 79,54 122,17 56,29 7,68 18,47 4,29 Tilápia ii 73,4 142,5 62,65 14,1 46,75 4,98 80,97 166,8 14,2 --- 12,1 3,33 79,28 160,69 29,50 5,49 14,26 3,89 77,34 193,1 18,0 3,3 12,2 3,96 77,7 121,44 38,44 27,22 35,33 3,94 Carpa Prateada iii Carpa cabeçuda iv Carpa Capim v Bagre16 vi Fontes: (i) Hasan, Macintosh e Jauncey (1997); (ii) Richter, Siddhuraju e Becker (2003); (iii) Siddaiah et al. (2001); (iv) média dos coeficientes adotados para a carpa comum, capim e prateada; (v) Scherer et al. (2006) e (vi) Kim e Lee (2005). 2.7.2.2.5 Leitões e suínos terminados O coeficiente energético dos leitões e suínos terminados é referente à energia da carne de suínos. O valor adotado neste trabalho é de 9,21 MJ/kg. Este valor também foi utilizado por Angonese et al. (2006) e Souza et al. (2009) em seus trabalhos sobre a suinocultura. 2.7.2.2.6 Ração para suínos O coeficiente energético da ração suína foi descrito no item 2.3.3 “Composição da ração suína”. O valor utilizado é 18,0 MJ/kg (67% renovável e 33% não-renovável). 16 O termo bagre, na tabela 4.5, engloba as variedades jundiá, cascudo, bagre americano e bagre africano. 87 2.7.2.2.7 Combustíveis e eletricidade Os coeficientes energéticos adotados para estes itens são fornecidos pelo Balanço Energético Nacional. O BEN (2009) apresenta o coeficiente de conversão de 3,6 MJ/kWh, para a eletricidade e 35,52 MJ/l para o óleo diesel. 2.7.2.2.8 Milho Grão O coeficiente energético adotado é de 16,5 MJ/kg, fornecido por Zardo e Lima (1999). Este coeficiente representa a energia metabolizável do grão e refere-se ao grão de milho com 12% de umidade. 2.7.2.2.9 Biogás A energia exportada pela produção de biogás depende da concentração de metano (CH4) no gás. O poder calorífico inferior (PCI) do metano é 33,94 MJ/Nm3 (MORAN e SHAPIRO, 2006). O poder calorífico do biogás com 66% de metano é de 22,40 MJ/Nm3. 2.8 INDICADORES DE DESEMPENHO As concepções de integração avaliadas nesta pesquisa serão comparadas com bases em indicadores de desempenho. Existem diversos indicadores disponíveis na literatura, cada qual construído visando viabilizar a análise dentro do escopo proposto por cada autor. Os indicadores propostos nesta pesquisa visam fornecer critérios de escolha para uma eventual tomada de decisão. Estes indicadores estão embasados nos seguintes critérios: consumo de energia não-renovável; oferta de energia e de proteína pelo agrossistema integrado e demanda de área para a instalação das unidades produtivas. A seguir são apresentados indicadores utilizados e a respectiva formulação matemática. A) Eficiência energética cultural ( C): [2.8] 88 B) Eficiência energética não-renovável ( NR): [2.9] C) Índice de participação de energia não-renovável (INR): [2.10] D) Custo energético da proteína (CE pr.): [2.12] E) Custo de energia não-renovável da proteína (CNR pr.): ã [2.13] F) Produtividade energética (PEn.): [2.14] G) Produtividade protéica (PPr.): [2.15] H) Intensidade de uso de energias não-renováveis (INR): ã [2.16] I) Proteína recuperada (PR): í [2.17] 89 I) Consumo de proteína de ração para produção de proteína animal/vegetal (1/PR): í [2.18] J) Demanda de área (DA): área total demandada para a instalação do sistema integrado. Os sistemas integrados avaliados apresentam a peculiaridade de envolverem a exploração de diferentes níveis da cadeia trófica. Além disso, existem restrições ambientais envolvidas, a principal delas relacionada a critérios para o despejo de nutrientes e matéria orgânica no ambiente natural. Outra restrição importante é de ordem locacional, envolvendo a disponibilidade de áreas para a execução das atividades produtivas. Restrições de ordem econômico-financeira também são importantes. No entanto, por motivos operacionais, neste trabalho estas restrições não serão consideradas. 90 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES No intuito de facilitar a visualização e viabilizar as análises dos três sistemas estudados, os resultados serão apresentados e discutidos em cinco momentos: o primeiro (item 3.1) apresenta os resultados da etapa suinocultura; os tópicos 3.2 a 3.4 apresentam os resultados para os três sistemas integrados avaliados. Finalizando as discussões deste capítulo, no tópico 3.5, são apresentadas as discussões gerais sobre o desempenho energético e a demanda de área dos sistemas integrados, restrições operacionais e de manejo e a sua aplicabilidade à produção suinícola. Convém ressaltar que os sistemas foram dimensionados tendo como base o dejeto III (com 50% de diluição em relação ao dejeto padrão). 3.1 ETAPA SUINOCULTURA Os dados apresentados neste tópico descrevem os obtidos na simulação da etapa suinocultura. Esta etapa é padrão para os três sistemas integrados, por isso será discutida neste tópico. No entanto, sua avaliação considera que ela está integrada a uma das atividades supracitadas. Os resultados descritos nesta etapa correspondem a um ano de produção da etapa suinocultura, com a produção de três lotes. A área total ocupada pelo galpão de suínos (676 m2) e arredores da pocilga foi estimada em 0,2 ha. A produção de suínos vivos para este período foi estimada em 101, 25 t (peso vivo), o que representa uma produção de proteína animal de 18,25 t. A oferta de proteína foi estimada com base no rendimento em carne, e a respectiva concentração de proteína. Monteiro (2007) discorre que um suíno terminado produz 52% de seu peso vivo em carne. Bragagnolo e Rodriguez (2002) apresentam que a concentração de proteína na carne é de 200 gramas por quilograma de carne. Assim, em cada 100 kg de peso vivo são produzidos 10,4 kg de proteína animal. 3.1.1 Avaliação energética As entradas energéticas correspondem às demandas por insumos (leitões, ração, eletricidade e mão-de-obra) e a energia depreciada pelo uso da infraestrutura suinícola. Para um ano de produção, foram estimadas entradas energéticas de 7,80 TJ/ano. O insumo 91 energético que apresenta a maior representatividade no sistema é a ração para suínos. O consumo de ração foi responsável por um dispêndio energético de 7,46 TJ/ano. A cifra representa 95,6% das entradas energéticas totais do sistema. Quanto à participação de fontes não-renováveis no consumo energético, este foi estimado em 32,3%, sendo que a fração não-renovável da ração foi o item com maior representatividade. A tabela 3.1 apresenta a composição da matriz energética da etapa suinocultura, enquanto a tabela 3.2 apresenta os indicadores energéticos da suinocultura. A memória de cálculos das entradas energéticas do sistema está disposta no apêndice B. Tabela 3.1: Matriz energética da etapa suinocultura. Item Energia Participação Entradas Energéticas 7.798,94 GJ 100% Renováveis Mão-de-obra Ração: fração renovável Eletricidade Leitões 5.280,83 GJ 1,06 GJ 4.996,82 GJ 6,65 GJ 276,30 GJ 67,71% 0,02% 94,62% 0,13% 5,23% Não-renováveis Ração: fração não-renovável Infraestrutura 2.518,10 GJ 2.461,12 GJ 56,98 GJ 32,29% 97,74% 2,26% Saídas Energéticas 1.616,36 GJ --- Tabela 3.2: Indicadores energéticos da etapa suinocultura. Indicador Eficiência cultural ( C) Eficiência não-renovável ( Valor 0,21 NR) Proteína recuperada (PR) Proteína ração / proteína suína (1/PR) 0,64 31,5% 3,18 Custo energético da proteína (CER pr.) 427,29 MJ/kg Custo não-renovável da proteína (CNR pr.) 137,96 MJ/kg Índice de participação não-renovável (INR) 32,3% Demanda de área (DA) 0,2 ha A energia produzida na etapa suinocultura foi estimada em 1,62 TJ/ano, com uma eficiência cultural de 0,21. Os resultados indicaram que a suinocultura se enquadra nas características de um agrossistema industrial: altamente especializada; importando grande parte da energia consumida no processo de produção. Para produzir 1,0 MJ de energia na forma de carne, é necessário investir 4,83 MJ de energia na forma de insumos e infraestrutura. Considerando apenas as entradas não-renováveis de energia a eficiência é de 0,64. Sendo 92 assim, são necessários 1,56 MJ de energia não-renovável para produzir 1,0 MJ na forma de carne. Para a produção de um quilograma de proteína suína seriam necessários 3,18 kg de proteína vegetal (proteína bruta da ração suína). O custo energético não-renovável desta produção foi estimado em 137,96 MJ/kg. Pimentel e Pimentel (2008) discorrem que, na suinocultura americana, o custo não-renovável da proteína é de 234,3 MJ/kg de proteína produzida, acima dos valores apresentados neste trabalho. O valor apresentado pelos referidos autores considera o ciclo completo do animal (da gestação à engorda). Neste trabalho, foram avaliadas apenas as fases de crescimento e terminação. O maior dispêndio energético ocorre na fase de gestação e lactação dos animais. Nesta fase animal, demanda-se grande volume de combustíveis para o condicionamento térmico das baias (aquecimento e/ou calefação). Na fase de terminação esta demanda é mínima. Além disso, na fase de gestação e lactação devese considerar a ração utilizada para a alimentação das matrizes e dos varões (reprodutor). Estas diferenças justificam a considerável diferença entre os resultados discutidos neste trabalho frente aos apresentados por Pimentel e Pimentel (2008). 3.1.2 Valoração econômica dos nutrientes presentes nos dejetos O valor econômico dos nutrientes pode ser obtido utilizando como base o preço de aquisição dos fertilizantes químicos correspondentes. Para os nutrientes NPK, os fertilizantes químicos correspondentes são a Uréia (45% de N), o Superfosfato triplo (46% P2O5) e o Cloreto de potássio (60% de K2O). Estes produtos são os fertilizantes mais utilizados para suprir as necessidades de NPK nos sistemas produtivos. Na região de Frederico Westphalen, a saca de 50 kg destes fertilizantes está cotada em R$ 41,30 para a Uréia; R$ 55,40 para o Superfosfato triplo e R$ 55,40 para o Cloreto de potássio. Na tabela 3.3 é apresentada a estimativa de oferta de nutrientes e a sua respectiva valoração econômica. Na tabela 3.4 é apresentada a influência da diluição na produção total e no valor econômico de um tanque de dejetos (3 m3). Esta tabela foi construída com base nos valores apresentados na tabela 3.3 e representam um ano de produção suinícola. 93 Tabela 3.3: Valoração econômica dos nutrientes presentes nos dejetos suínos para um ano de produção três lotes de suínos. Nitrogênio Nutriente Produção 6.435,00 kg Valor Econômico R$ 11.583,00 Fósforo (P2O5) 5.100,98 kg R$ 12.087,00 Potássio (K2O) 4.306,50 kg R$ 7.967,00 Total --- R$ 31.637,00 Tabela 3.4: Produção total, concentração e valoração econômica dos dejetos suínos de acordo com a diluição. Item Coeficiente de diluição CL (%) Dejeto I 0,0 Dejeto II 25,0 Dejeto III 50,0 Dejeto IV 100,0 Dejeto V 200,0 Produção anual de dejetos (m3) 1.155,00 1.445,40 1.732,50 2.310,00 3.465,00 117,86 94,29 78,57 58,93 39,29 11,30 9,00 7,50 5,70 3,75 Concentração N total (kg/m ) 5,57 4,46 3,71 2,79 1,86 Concentração P2O5 (kg/m3) 4,42 3,53 2,95 2,20 1,47 3,73 2,99 2,48 1,86 1,24 Valor econômico do tanque 3m (R$) 82,17 65,74 54,78 41,09 27,39 Variação em relação ao dejeto III (%) + 50% + 20% -25% -50% 3 Sólidos totais (kg/m ) Matéria Seca (%) 3 3 Concentração K2O (kg/m ) 3 --- A diluição diminui o valor econômico do m3 de dejetos, uma vez que os nutrientes estão diluídos no dejeto. Comparando com o dejeto III, parâmetro de projeto, o valor econômico dos dejetos pode variar em até 50%. 3.2 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURA AGRICULTURA 3.2.1 Demanda por terras agriculturáveis No sistema integrado suinocultura – agricultura, os requisitos de área são para a implantação da infraestrutura suinícola, esterqueira e as terras ocupadas pelas lavouras de milho. A área ocupada pela etapa agrícola, na produção de milho grão, depende do balanço de nutrientes da cultura. O balanço de nutrientes foi realizado utilizando o critério do fósforo (P2O5) como elemento de base. Assim, os nutrientes N e K2O não serão integralmente supridos pela aplicação de dejetos. O déficit destes elementos deve ser suprido por adubação química suplementar. Na tabela 3.5 é apresentado o balanço de nutrientes do milho, com produtividade média anual de 10,0 t/ha, produzido em duas safras anuais. 94 Tabela 3.5: Balanço de nutrientes do milho no sistema integrado suinocultura agricultura. Nutriente Exportados (grão) Dejetos (esterqueira) Supridos por adubação química 11.272,50 kg 6.435,00 kg 4.837,50 kg Fósforo (P2O5) 5.100,98 kg 5.100,98 kg Potássio (K2O) 9.153,00 kg 4.306,50 kg Nitrogênio --4.846,50 kg A área agrícola necessária para a alocação dos dejetos é obtida pelo coeficiente entre a quantidade de fósforo produzida no ano e a quantidade do elemento extraída pelo milho (107,96 kg/haano). Efetivando os cálculos obtém-se uma demanda de 47,25 ha de terras agriculturáveis para a aplicação dos dejetos. A área total demandada pelo sistema integrado suinocultura agricultura é de 47,45 ha. Os produtores de suínos que não dispuserem desta área agricultável em suas propriedades devem contratar a área remanescente junto a terceiros. No entanto, deve-se avaliar a viabilidade da exportação dos dejetos. A alta diluição, comum na maior parte das propriedades, apontada por autores como Seganfredo (2000), Scherer (1997), pode inviabilizar esta prática. A influência da diluição na viabilidade técnica e econômica da integração suinocultura agricultura é discutida no tópico 3.2.2. 3.2.2 Influência da diluição no desempenho do sistema O problema mais crítico provocado pela diluição dos dejetos é referente à sua viabilidade para o uso como fertilizante agrícola, que depende da relação valor econômico dos nutrientes NPK versus custo de aplicação nas lavouras. O volume de nutrientes NPK aplicados por hectare cultivado equivale a 302,65 kg de uréia; 234,69 kg de superfosfato triplo e 151,90 kg de cloreto de potássio. Valorando estas quantias, estima-se uma economia de R$ 669,57 por hectare. No entanto, o ―lucro líquido‖ da aplicação do biofertilizante depende do custo de aplicação destes nutrientes nas lavouras. Este custo é influenciado pela diluição dos dejetos. Convém destacar que a quantidade de nutrientes a ser aplicado depende da extração de nutrientes pela cultura. Independente da diluição dos dejetos, estes nutrientes deverão ser supridos, sob pena de comprometer a produtividade da safra. A diluição aumenta o volume de dejetos a ser aplicado e não na quantidade de nutrientes a ser aplicada em determinada área. 95 O volume de dejetos a ser aplicado por hectare de área plantada é função da sua concentração em nutrientes, que por sua vez, depende do conteúdo de água presente nos dejetos. Como apresentado na tabela 3.4, a diluição reduz o valor econômico dos dejetos. Como referência, um tanque com 3,0 m3 de dejetos III tem um valor de R$ 54,80. O mesmo volume, utilizando o dejeto V, tem um valor de R$ 27,40. Quanto ao custo de aplicação, este é calculado com base na remuneração da hora máquina/operador do conjunto trator/distribuidor de fertilizante. Quanto maior a diluição, maior será o tempo de uso destes equipamentos, aumentando os custos de aplicação. Uma prática muito comum na região é locar as máquinas, uma vez que não são todos os produtores que dispõem destes equipamentos na propriedade. O custo de locação está cotado na região em R$ 50,00 por hora-máquina de trabalho. Já o tempo de aplicação depende das operações de coleta, transporte e distribuição, conforme menção no item 2.4.2 “Coeficientes técnicos da etapa agricultura”. No Apêndice C.1 é apresentada a memória dos cálculos do tempo de aplicação dos dejetos na lavoura. A tabela 3.6 apresenta a análise econômica da utilização dos dejetos suínos como fertilizante agrícola nas lavouras de milho. Tabela 3.6: Análise econômica da utilização dos dejetos suínos como fertilizante agrícola nas lavouras de milho em função da diluição. Item N° de tanques/ha Dejeto I Dejeto II Dejeto III Dejeto IV 8,15 10,19 12,22 16,30 Dejeto V 24,44 Tempo total (hm/ha) 3,47 4,34 5,21 6,94 10,42 Gasto de combustível: aplicação (l/ha) 3,47 4,34 5,21 6,94 10,42 173,60 1,64 217,00 1,32 260,40 1,08 347,20 0,82 520,81 0,53 Custo de aplicação do fertilizante (R$/ha) Tempo máx. aplicação / tanque (hm) O tempo médio de aplicação gasto para a coleta, transporte e distribuição dos dejetos na lavoura de milho foi estimado em 24,76 min./tanque aplicado. Este valor foi obtido do coeficiente entre o tempo total gasto na operação e o número de tanques aplicado. Este valor é igual para os cinco níveis de diluição estudados. O que varia é o gasto médio por hectare cultivado. Utilizando o dejeto I, demanda-se de 3,47 hm por hectare cultivado. Para o dejeto V, o tempo médio de aplicação é de 10,42 hm/ha. O custo de aplicação é estimado tendo como referência uma cotação da hora-máquina de R$ 50,00. Nesta cifra, cada tanque aplicado tem um custo de R$ 20,63. O dejeto I apresenta um custo de aplicação R$ 173,60 por hectare cultivado. O dejeto V apresenta um 96 custo médio de R$ 520,81 por hectare. Este valor representa três vezes o custo de aplicação do dejeto I. Nas cinco simulações de diluição avaliadas, a aplicação dos dejetos como biofertilizante é viável. No entanto, com o aumento do percentual de água, a atratividade é reduzida. Convém destacar que a distância máxima percorrida para a aplicação é de 590 m (percurso de ida e volta), com um tempo médio de aplicação de 25 minutos por tanque. No entanto, é improvável ocorrerem situações onde o lote de cultivo tenha dimensões na forma de um quadrado. Em terrenos com geometria irregular e com desníveis, o tempo de aplicação provavelmente será maior do que o encontrado nas simulações. Utilizando o dejeto I, o tempo máximo de aplicação (coleta, transporte e distribuição) é de 1,64 horas. Para o dejeto V, o tempo máximo estimado é de 0,53 h (32 minutos). 3.2.3 Análise energética O sistema integrado suinocultura agricultura é constituído por duas etapas: suinocultura e agricultura. As entradas de energia no sistema correspondem à energia consumida diretamente no sistema produtivo (insumos) e a energia depreciada pelo uso da infraestrutura produtiva, representada pelos equipamentos, construções, máquinas e implementos agrícolas. A avaliação energética da etapa suinícola foi apresentada no item 3.1.1. 3.2.3.1 Etapa agricultura Neste tópico é descrita a avaliação energética da etapa agricultura. Os resultados obtidos referem-se à produção de milho grão em sistema de plantio direto mecanizado. A produtividade é de 10,0 t/ha (12% umidade), obtidos em duas safras no ano, com uma área produtiva estimada em 47,25 ha. As máquinas e implementos agrícolas, uma esterqueira e um distribuidor de fertilizante compõem a infraestrutura do agrossistema. O tempo de uso dos equipamentos é proporcional à área de plantio (exceto esterqueira, que depende da produção de dejetos dos suínos). No caso do conjunto trator/distribuidor de biofertilizante, o tempo de uso depende ainda da diluição dos dejetos, que influencia no volume a ser aplicado. Utilizando o dejeto III, o volume a ser aplicado é de 1.733 m3/ano. Da tabela 3.6 se obtém que são necessários 5,21 97 hm/ha (246,08 hm/ano) para distribuir este volume de dejetos nas lavouras. O tempo total de uso do trator agrícola – para a execução das operações de preparo do solo, plantio, cultivo e distribuição do biofertilizante, é de 462,25 hm/ano (operações agrícolas + aplicação biofertilizante). Quanto aos insumos gastos na produção de milho, foram considerados os defensivos agrícolas, a semente de milho, o calcário, os fertilizantes (N e K2O) supridos por adubação química (tabela 3.5) e o combustível gasto nas operações agrícolas e na distribuição dos dejetos. A tabela 3.7 apresenta a composição da matriz energética da etapa agricultura. Os valores indicados nesta tabela representam as entradas e saídas de energia para uma área de cultivo de 47,25 ha, em um ano de produção (duas safras). A memória de cálculos das entradas energéticas do sistema está disposta no apêndice D. Tabela 3.7: Matriz energética da etapa agricultura para um ano de produção. Item Entradas Energéticas Renováveis Mão-de-obra Sementes Não-renováveis Defensivos Nitrogênio Potássio Combustível (L) Calcário Infraestrutura Saídas Energéticas n.r: não representativo. Energia Participação 809,72 100% 63,27 0,50 62,77 7,80% 0,79% 99,21% 746,57 268,89 353,14 38,76 50,26 0,01 35,51 92,20% 36,02% 47,30% 5,19% 6,73% n.r 4,76% 7.796,25 GJ --- Utilizando o critério do fósforo de base, a utilização dos dejetos suínos para fertilização do plantio de milho forneceu: 57% da demanda de nitrogênio, 47% do potássio e 100% das necessidades de fósforo. Mesmo assim, na composição da matriz energética do sistema milho, a fertilização continuou sendo o item com maior representatividade, 48,40%. Os fertilizantes representaram ainda 52,49% das entradas não-renováveis da etapa. O nitrogênio foi responsável por 47,30% das entradas não-renováveis. O nutriente contribuiu com 7,47 GJ/ha, o que representa 43,61% das entradas energéticas totais. Isto se deve às características do milho, que demanda de grandes quantias de nitrogênio e potássio para o seu 98 cultivo. Caso o critério de aplicação fosse o nitrogênio, não haveria gastos com fertilizantes. No entanto, o fósforo estaria em excesso no sistema, podendo contaminar o ecossistema local. O combustível contribuiu com 1,06 GJ/ha, que representa 6,21% das entradas totais de energia. O insumo contribuiu com 6,73% das entradas não-renováveis. Comparando as cifras apresentadas neste trabalho com dados da literatura, verifica-se que consumo de combustível tem baixa participação na matriz energética do agrossistema milho. No sistema avaliado por Bueno (2002), que emprega sistema de plantio convencional, o combustível contribuiu com 3,06 GJ/ha. A menor participação do combustível na produção agrícola deve-se ao sistema de plantio utilizado. No plantio direto, as operações de preparo do solo são reduzidas. Etapas intensivas, com a subsolagem e nivelamento do solo, que demandam alto consumo energético, são dispensados. Além disso, a aplicação de biofertilizante é uma etapa menos intensiva em energia quando comparada com as operações de preparo do solo. Na avaliação do índice de participação de fontes não-renováveis na matriz do sistema milho percebe-se baixa renovabilidade de seu sistema produtivo. As fontes não-renováveis representaram 92,20% das entradas energéticas. Estes resultados corroboram com o obtido por Bueno (2002), que em seu estudo, obteve 88% de participação de fontes de energia nãorenováveis. A produtividade energética (energia/área) encontrada foi de 165 GJ/ha, e a produção de proteína foi estimada em 790 kg/ha. Quanto ao custo não-renovável para produção de proteína, o valor encontrado foi de 13,43 MJ/kg, conforme tabela 3.8. A produção de milho com fertilização por dejetos suínos foi comparada com um roteiro técnico similar que emprega fertilizantes químicos. O roteiro técnico é o mesmo, seguindo as orientações de Mattoso e Melo Filho (2009). A operação de distribuição dos dejetos é substituída pela aplicação de adubação de cobertura. Neste novo roteiro, o gasto com combustível é menor. No entanto, aumenta-se a demanda por fertilizantes químicos. Esta comparação visa avaliar a contribuição da integração energética para o desempenho da etapa agricultura. Na agricultura integrada, a energia dos nutrientes fornecidos pelos dejetos suínos não é computada, pois o fluxo de nutrientes fica dentro dos limites do volume de controle. Na avaliação energética só se considera os fluxos que atravessam a fronteira do agrossistema. A reciclagem dos dejetos suínos como fertilizante agrícola aumenta em cerca 50% a eficiência energética da produção de milho, revelando a efetividade energética deste tipo de operação. A eficiência não-renovável da etapa agrícola integrada foi de 10,44, enquanto que no sistema não-integrado o índice foi avaliado em 6,64. O custo energético não-renovável da proteína vegetal produzida também menor (57,2% inferior). 99 Os valores aportados na literatura estão próximos aos dados estimados para a agricultura não-integrada. Estudando a produção de milho em plantio convencional no Estado de São Paulo, Bueno (2002) encontrou eficiência cultural de 9,01 e eficiência não-renovável de 10,22. MELO et al. (2007), avaliando o sistema de plantio direto no Estado do Paraná encontrou eficiência cultural de 4,85 e eficiência não-renovável de 4,97. Pimentel e Pimentel (2008), avaliando a produção americana encontraram eficiência cultural de 3,84 e eficiência não-renovável de 4,10. A tabela 3.8 apresenta os indicadores energéticos da produção de milho com e sem integração à etapa suinocultura. Ambos os sistemas têm uma produção energética de 7,80 TJ/ano. A produção anual de proteína vegetal (proteína do milho) foi estimada em 37,33 t. Tabela 3.8: Indicadores de desempenho da etapa agricultura integrada e nãointegrada. Indicador Eficiência cultural ( C) Eficiência não-renovável ( NR) Etapa agricultura sistema integrado 9,63 Agricultura não-integrada 6,30 10,44 6,64 Produtividade energética (PEn.) 165 GJ/ha 165 GJ/ha Produção de proteína por área (PPr.) 790 kg/ha 790 kg/ha 13,43 MJ/kg 31,35 MJ/kg 15,80 GJ/ha 23,86 GJ/ha 92,20% 94,90% 47,25 ha 47,25 ha Custo não-renovável da proteína (CNR pr.) Intensidade de uso não de energias nãorenováveis (INR) Índice de participação não-renovável (IR) Demanda de Área (DA) 3.2.3.2 Sistema integrado Neste tópico são apresentados os resultados para o sistema integrado suinocultura agricultura. A tabela 3.9 apresenta a síntese da matriz energética do sistema integrado. A suinocultura tem como produto os suínos terminados. A energia produzida pela etapa suinocultura é estimada em 1,62 TJ/ano. Já na etapa agrícola, que tem como produto o milho grão, a oferta de energia é estimada em 7,80 TJ/ano. Assim, energia total produzida pelo sistema integrado suinocultura agricultura é de 9,41 TJ/ano. A produção de suínos representa 17% da energia produzida pelo sistema integrado, enquanto que a agricultura representa 83%. A produtividade energética do sistema integrado é de 198,37 GJ/ha. O reaproveitamento dos nutrientes presentes nos dejetos suínos como fertilizante agrícola na produção de grãos, além de diminuir os impactos ambientais associados ao 100 lançamento dos efluentes da suinocultura no ambiente, aumenta a eficiência cultural energética da propriedade. A suinocultura é uma atividade deficitária sob o ponto de vista energético, importando grande parte de sua demanda. Tabela 3.9: Matriz energética do sistema integrado suinocultura agricultura para um ano de produção. Item Energia Participação Entradas Energéticas Etapa Suinocultura Renovável Não-renovável 7.798,94 GJ 5.280,83 GJ 2.518,10 GJ 90,6% 67,7% 32,3% Etapa Agricultura Renovável Não-renovável 809,72 63,15 746,57 9,4% 7,8% 92,2% Sistema Integrado Renovável Não-renovável 8.608,66 5.343,98 3.264,68 100% 62,1% 37,9% Etapa Suinocultura 1.616,36 GJ 82,8% Etapa Agricultura 7.796,25 GJ 17,2% Sistema Integrado 9.412,61 GJ 100% Saídas Energéticas No entanto, quando a atividade é integrada à produção de milho, nas condições propostas neste trabalho, os indicadores energéticos se invertem. Integrada com a produção de milho, o agrossistema passa a ser auto-suficiente em energia. O sistema integrado suinocultura agricultura apresenta uma eficiência cultural de 1,09. Assim, para cada MJ de energia investido no sistema, tem-se um retorno líquido de 0,09 MJ. Desta forma, o sistema deixa de ser um importador líquido para exportar energia. A eficiência não-renovável do sistema integrado foi avaliada em 2,88. A produção anual de milho foi estimada em 472,50 t. Na composição da ração suína, este produto representa em torno 79% dos insumos utilizados. Considerando uma demanda de ração de 414,33 t/ano estima-se que a demanda por milho seja 327,32 t/ano. Assim, em condições normais de safra, o sistema integrado seria auto-suficiente em milho, chegando a produzir um excedente de 145,18 t/ano. Este excedente poderia ser comercializado, abatendo as demandas por outros insumos, como o farelo de soja, por exemplo. No entanto, deve-se considerar que estes resultados consideram uma safra cheia, sem quebras de produtividade. 101 Eventuais intempéries ambientais e/ou manejo deficiente do sistema podem comprometer estes resultados. O sistema recicla 96% da proteína investida na etapa produtiva sob a forma de ração. O consumo de proteína na produção de suínos é de 58,00 t/ano. A produção foi estimada em 55,72 t/ano, sendo 34% de proteína animal e 66% de origem vegetal. A produção de proteína por área foi estimada em 1,17 t/ha, com uma demanda de energia não-renovável de 58,74 MJ/kg. A integração da agricultura com a produção de suínos reduziu em 57% as entradas não-renováveis da produção de milho, quando comparada à execução da atividade sem integração. Com a aplicação dos dejetos suínos na fertilização do milho, tem-se um aumento no consumo de combustível. No entanto, este aumento é compensado pela redução na demanda por fertilizantes químicos. No agrossistema milho, os fertilizantes (principalmente o nitrogênio) são os principais insumos energéticos. Reduções na demanda deste insumo implicam em aumentos da eficiência energética do sistema. A tabela 3.10 apresenta os indicadores de desempenho do sistema integrado, sintetizando o disposto nas discussões anteriores. Tabela 3.10: Indicadores de desempenho do sistema integrado suinocultura agricultura. Indicador Eficiência cultural ( C) Eficiência não-renovável ( Valor 1,09 NR) Produtividade energética (PEn.) Produtividade protéica (PPr.) Custo energético da proteína (CER pr.) 2,88 198,37 GJ/ha 1,17 t/ha 154,89 MJ/kg Custo energia não-renovável da proteína (CNR pr.) 58,74 MJ/kg Intensidade de uso não de energias não-renováveis (INR) 68,80 GJ/ha Índice de participação não-renovável (IR) 37,9% Proteína recuperada (PR) 96% Relação prot. vegetal cons. / prot. animal prod. (1/PR) 1,04 Demanda de Área (suinocultura + agricultura) (DA) 47,45 ha 102 3.3 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURA PISCICULTURA 3.3.1 Demanda por terras agriculturáveis A área ocupada pelo sistema integrado suinocultura piscicultura é função da infraestrutura da etapa suinocultura e dos tanques de peixes (etapa piscicultura). Neste estudo adotou-se a relação de 60 suínos/ha. Assim, para alocar um lote com 500 animais, os tanques de peixes ocupam uma área de 8,33 ha de lâmina de água. A área total de cultivo do sistema integrado é estimada em 8,55 ha (suinocultura+piscicultura). As restrições quanto à viabilidade deste sistema integrado são: disponibilidade de água para alimentar os tanques; disponibilidade de áreas para a construção dos tanques; solos acidentados ou com limitações para a prática da piscicultura; e limitações de mercado quanto à aceitabilidade do pescado produzido. Outra limitação é referente aos aspectos ambientais. As pesquisas da EPAGRI, apresentados nos trabalhos de Pilarski et al. (2004); Casaca e Tomazelli Jr. (2001); dentre outros, demonstraram a viabilidade ambiental, sanitária e econômica da produção de pescado em consórcio com a suinocultura. No entanto, é fundamental o emprego de técnicas de despesca sustentáveis, preconizadas nos trabalhos apresentados pelos referidos autores, sob pena de causar sérias agressões ao ambiente natural. Além disso, convém destacar que a piscicultura requer licenciamento ambiental específico para o funcionamento. Este licenciamento é específico da piscicultura, sendo independente da atividade suinícola. 3.3.2 Influência da diluição no desempenho do sistema O sistema integrado suinocultura piscicultura é dimensionado com base na produção total de matéria pelo lote, não sendo influenciado pela diluição dos dejetos. 3.3.3 Análise energética O sistema integrado suinocultura piscicultura é constituído por duas etapas: suinocultura e piscicultura. As entradas de energia no sistema correspondem à energia consumida diretamente no sistema produtivo (insumos) e a energia depreciada pelo uso da 103 infraestrutura produtiva das etapas suinocultura e piscicultura. A avaliação energética da etapa suinícola foi apresentada no item 3.1.1. 3.3.3.1 Etapa piscicultura Neste tópico, é descrita a avaliação energética da etapa piscicultura, para um ano de produção. O sistema de produção é o policultivo integrado com produtividade estimada em 6,0 t/ha. A área ocupada pelos tanques de peixes é de 8,33 ha de lâmina de água. Assim, espera-se uma produção anual de 50 t de pescado. No policultivo, são produzidas nove espécies diferentes de peixes. A composição da carne destas espécies influencia na produção energética e na oferta de proteína pelo sistema. A composição da carne de cada espécie é fornecida pela tabela 2.20. Já a tabela 2.12, fornece a estimativa da produtividade para cada espécie no policultivo. Com base nestas duas tabelas, pode-se estimar a produção de energia e oferta de proteína na etapa piscicultura (tabela 3.11). Tabela 3.11: Produção de energia e proteína no policultivo integrado. Espécie Carpa comum Produção 25,00 t/ano Energia 107,25 GJ Proteína 3.054,69 kg Carpa prateada 7,50 t/ano 16,60 GJ 475,00 kg Carpa cabeça grande 6,67 t/ano 24,98 GJ 1.250,16 kg Carpa capim 1,67 t/ano 25,93 GJ 1.071,25 kg Tilápia do Nilo 3,33 t/ano 6,60 GJ 321,88 kg Cascudo 0,83 t/ano 6,57 GJ 202,40 kg Bagre americano 1,67 t/ano 6,57 GJ 202,40 kg Bagre africano 1,67 t/ano 6,57 GJ 202,40 kg Jundiá 1,67 t/ano 3,28 GJ 101,20 kg 50,00 t/ano 204,34 GJ 6.881,35 kg Policultivo A energia total produzida pelo policultivo foi estimada em 204,34 GJ/ano, o que representa uma produtividade energética de 24,52 GJ/ha. A oferta de proteína foi estimada em 6,88 t/ano, o que representa uma produtividade protéica de 825,76 kg/ha. Quanto às entradas energéticas, estas foram estimadas em 31,09 GJ. As fontes nãorenováveis contribuíram com 75,73% das entradas energéticas. O principal componente energético desta etapa foi a energia depreciada pelo uso da infraestrutura (23,55 GJ/ano). Este item contribuiu com 99,98% das entradas não-renováveis e com 75,72% das entradas totais. A forte participação do item infraestrutura deve-se basicamente ao baixo consumo de insumos 104 no sistema produtivo. A demanda por nutrientes foi fornecida pelos dejetos suínos, restando como apenas suprir as necessidades de calcário. Os alevinos foram o item com maior representatividade nas entradas renováveis do sistema, contribuindo com 6,58 GJ/ano. A cifra representa 87,17% das entradas renováveis. Os alevinos contribuem com 21,15% dos dispêndios energéticos totais do policultivo. A tabela 3.12 apresenta a composição da matriz energética da etapa piscicultura no sistema integrado suinocultura piscicultura. Os dados são apresentados para um ano de produção, em uma área de 8,33 ha. A memória de cálculos das entradas energéticas do sistema está disposta no apêndice E. Tabela 3.12: Matriz energética da etapa piscicultura integrada para um ano de produção. Item Entradas Energéticas Energia Participação 31.089,99 MJ 100% Renováveis Mão-de-obra Alevinos 7.544,70 MJ 967,81 MJ 6.576,88 MJ 24,27% 12,83% 87,17% Não-renováveis Infraestrutura Calcário 23.545,29 MJ 23.541,75 MJ 3,54 MJ 75,73% 99,98% 0,02% Saídas Energéticas 204.341,67 MJ --- O policultivo integrado à suinocultura foi comparado com a execução de um policultivo não integrado. Neste caso, a adubação dos tanques é realizada pela aplicação de fertilizantes químicos. A adubação visa fornecer as necessidades de nitrogênio e fósforo, pela aplicação de uréia e superfosfato triplo. No entanto, quando se trabalha com fertilizantes químicos a dinâmica alimentar do viveiro é alterada. A utilização de fertilizantes químicos explora apenas a cadeia planctônica, reduzindo de 20 a 30% a produtividade do policultivo (CASACA, 2010). Como indicativo, será utilizada a composição do policultivo apresentado para a etapa piscicultura no BSI (tabela 2.15), com produtividade estimada em 4,4 t/ha. Quanto às entradas energéticas fazem-se as seguintes considerações. Os roteiros técnicos da piscicultura integrada e não-integrada são similares. A infraestrutura produtiva, o dispêndio de mão-de-obra e a demanda de calcário serão considerados iguais nos dois sistemas. No entanto, a quantidade de energia demandada para o povoamento dos viveiros (alevinos) e adubação dos tanques (nitrogênio e fósforo) diferem-se significativamente. O povoamento é diferente nos dois sistemas. Além disso, no policultivo integrado a energia dos 105 nutrientes fornecidos pelos dejetos suínos não é computada, uma vez que os nutrientes ficam dentro dos limites do volume de controle. No policultivo não-integrado, as entradas energéticas totalizaram 67,15 GJ/ha. A participação não-renovável nas entradas energéticas foi de 99,19%. Os itens com maior representatividade nos dispêndios energéticos foram os fertilizantes químicos, que contribuíram com 64,33 GJ/ha. A cifra representa 95% das entradas energéticas do policultivo. A produção energética é estimada em 16,96 GJ/ha, com uma oferta de proteína de 668,04 kg/ha. A tabela 3.13 apresenta a composição da matriz energética da piscicultura nãointegrada para um ano de produção em 8,33 ha de área de cultivo. Tabela 3.13: Matriz energética da etapa piscicultura não-integrada para um ano de produção. Item Entradas Energéticas Energia Participação 564.165,67 MJ 100,00% Renováveis Mão-de-obra Alevinos 4.552,70 MJ 968,20 MJ 3.584,50 MJ 0,81% 21,27% 78,73% Não-renováveis Infraestrutura Calcário Fertilizantes 912.750,47 MJ 23.541,75 MJ 3,54 MJ 889.205,18 MJ 99,19% 4,17% n.r 95,0% Saídas Energéticas n.r: não representativo. 141.297,81MJ --- Avaliando as tabelas 3.12 e 3.13, verifica-se que a reciclagem dos dejetos suínos como fertilizante nos tanques de peixes aumenta em 45% a produtividade energética do sistema. Além disso, a demanda por energias não-renováveis é reduzida em 95,8%. A eficiência nãorenovável do policultivo integrado foi de 8,68. No policultivo não-integrado este índice cai para 0,25. Convém destacar que a produção de pescado em policultivo com fertilização química não é uma atividade com grande difusão. Normalmente, é fornecida ração peletizada, visando aumentar a produtividade dos viveiros. Isto não garante, no entanto, que os sistemas sejam energeticamente eficientes. Exemplos disso podem ser encontrados na literatura. Pimentel e Pimentel (2008), avaliando a prática do policultivo em Israel, obtiveram uma eficiência cultural de 0,10. A eficiência não-renovável do sistema foi avaliada em 0,14. O sistema era adubado com fertilizantes químicos e os alevinos recebiam alimentação suplementar na forma de ração peletizada. 106 O custo não-renovável da produção da proteína foi reduzido em 96,6% com a integração do policultivo. No policultivo integrado, o custo não-renovável é de 3,42 MJ/kg. Para o policultivo não-integrado, este custo foi estimado em 10,52 MJ/kg. No policultivo israelense, Pimentel e Pimentel (2008) encontraram um custo não-renovável de 270,77 MJ/kg, acima dos valores aportados neste trabalho. A tabela 3.14 apresenta os indicadores energéticos do policultivo com e sem integração com a etapa suinocultura (no policultivo integrado considera-se apenas a etapa piscicultura do sistema integrado suinoculturapiscicultura, tanto na contabilidade energética, quanto na demanda de área). Tabela 3.14: Indicadores de desempenho da etapa piscicultura integrada e nãointegrada. Indicador Eficiência cultural ( C) Eficiência não-renovável ( Etapa piscicultura no policultivo integrado 6,57 Piscicultura não-integrada 0,25 NR) 8,68 0,25 Produtividade energética (PEn.) 24,52 GJ/ha 16,96 GJ/ha 825,76 kg/ha 668,04 kg/ha Custo energia não-renovável da proteína (CNR pr.) 3,42 MJ/kg 100,52 MJ/kg Intensidade de uso de energias não-renováveis (INR) 2,83 GJ/ha 67,15 GJ/ha Índice de participação não-renovável (IR) 75,73% 99,50% Demanda de Área (DA) 8,33 ha 8,33 ha Produtividade protéica (PPr.) 3.2.3.2 Sistema integrado Neste tópico são apresentados os resultados para o sistema integrado suinocultura piscicultura. A tabela 3.15 apresenta a síntese da matriz energética do sistema integrado. Os resultados são avaliados para um ano de produção, em área de cultivo de 8,53 ha. A suinocultura tem como produto os suínos terminados. A energia produzida pela etapa suinocultura é estimada em 1,62 TJ/ano. Já na etapa piscicultura, que tem como produto o pescado, a oferta de energia é estimada em 204,34 GJ/ano. Assim, energia total produzida pelo sistema integrado suinocultura agricultura é de 1,82 TJ/ano. Os suínos representam 82,8% da produção energética, enquanto que o pescado contribui com 17,2%. A produtividade energética do sistema integrado é de 213,36 GJ/ha. Já a produtividade protéica foi estimada em 2,95 t/ha. 107 Tabela 3.15: Matriz energética do sistema integrado suinocultura piscicultura para um ano de produção. Item Energia Participação Entradas Energéticas Etapa Suinocultura Renovável Não-renovável 7.798,94 GJ 5.280,83 GJ 2.518,10 GJ 99,6% 67,7% 32,3% Etapa Piscicultura Renovável Não-renovável 31,09 GJ 7,54 GJ 23,55 GJ 0,40% 24,3% 75,7% Sistema Integrado Renovável Não-renovável 7.830,03 GJ 5.288,38 GJ 2.541,65 GJ 100% 67,5% 32,5% 1.616,36 GJ 82,8% Etapa Piscicultura 204,37 GJ 17,2% Sistema Integrado 1.820,73 GJ 100% Saídas Energéticas Etapa Suinocultura Tal como no sistema integrado agricultura, o reaproveitamento dos nutrientes presentes para a adubação dos viveiros melhora o desempenho energético da granja. A eficiência cultural da etapa suinocultura é de 0,21. Quando integrada à piscicultura, o índice aumenta em 10%, passando a ser de 0,23. Já a eficiência não-renovável teve um incremento de 12,5%, passando de 0,64 para 0,72. O sistema integrado recicla 43,3% da proteína investida na etapa produtiva sob a forma de ração. O consumo de proteína investida no agrossistema é de 58,00 t/ano, enquanto a produção de proteína é estimada em 25,13 t (suínos+pescado). O custo de energia nãorenovável foi estimado em 101,13 MJ/kg. A integração reduziu em 36,42% a demanda não renovável para produzir a proteína animal. Na tabela 3.16, são apresentados os indicadores de desempenho do sistema integrado, sintetizando o disposto nas discussões anteriores. 108 Tabela 3.16: Indicadores de desempenho do sistema integrado suinocultura piscicultura. Indicador Valor Eficiência cultural ( C) Eficiência não-renovável ( 0,23 NR) 0,72 Produtividade energética (PEn.) 213,36 GJ/ha Produtividade protéica (PPr.) 2,95 t/ha Custo energético da proteína (CER pr.) 311,54 MJ/kg Custo não-renovável da proteína (CNR pr.) 101,13 MJ/kg Intensidade de uso não de energias não-renováveis (INR) 297,85 GJ/ha Índice de participação não-renovável (IR) 32,5% Proteína recuperada (PR) 43,3% Relação prot. vegetal cons. / prot. animal prod. (1/PR) 2,31 Demanda de Área (suinocultura +piscicultura) (DA) 3.4 INTEGRAÇÃO SUINOCULTURA 8,53 ha BIODIGESTOR PISCICULTURA/ AGRICULTURA 3.4.1 Demanda por terras agriculturáveis A área ocupada pelo BSI é função da infraestrutura das etapas suinocultura, biodigestor (biodigestor, tanques de sedimentação, depósito de biofertilizante), tanque de peixes e da área destinada às lavouras de milho. A área total das etapas suinocultura/biodigestor é estimada em 0,2 ha. A área ocupada pelo tanque de peixes é proporcional ao aporte de nutrientes no viveiro. A tabela 3.17 apresenta o aporte de nutrientes e a concentração do biofertilizante líquido afluente do tanque de peixes. A produção média diária de biofertilizante líquido é de 4,2 m3, representado 80% do volume total de dejetos suínos produzidos pela granja. Tabela 3.17: Aporte de nutrientes e concentração do biofertilizante líquido no tanque de peixes. Item Aporte diário Aporte anual Concentração Nitrogênio 8,78 kg 2.895,75 kg 2,09 kg/m3 Fósforo (P2O5) 8,50 kg 2.805,54 kg 2,02 kg/m3 Potássio (K2O) 4,83 kg 1.593,41 kg 1,15 kg/m3 33,00 kg 2.805,54 kg 7,86 kg/m3 Sólidos totais 109 O biofertilizante líquido, de acordo com a tabela 3.17, apresenta uma relação N: P de 2,36N: 1P. Nestas condições, Casaca (2010) estima que a área de cultivo da etapa piscicultura deve ser de 4,0 ha. Este valor foi estimado pelo referido pesquisador com base nas recomendações de Lin et al. (1992). Quanto à área ocupada pela etapa agricultura, esta depende do balanço de nutrientes do milho. Este balanço é realizado utilizando o mesmo procedimento apresentado para a cultura no item 3.1.1. No entanto, a oferta de nutrientes no biofertilizante é diferente do dejeto bruto, oriundo da esterqueira. No BSI, uma fração dos nutrientes está diluída no efluente líquido (biofertilizante líquido) e outra parte no biofertilizante sólido (fração sedimentada no tanque). A oferta de nutrientes no biofertilizante foi estimada com base nas tabelas 2.4 (características dos dejetos suínos) e 2.15 (distribuição média dos nutrientes NPK no biofertilizante e no efluente líquido). A tabela 3.18 apresenta o balanço de nutrientes do milho, com produtividade de 10,0 t/ha, produzido em duas safras anuais. Tabela 3.18: Balanço de nutrientes do milho na etapa BSI. Nutriente Nitrogênio Exportados (ano) 5.073 kg Biofertilizante (ano) 3.539 kg Fósforo (P2O5) 2.295 kg 2.295 kg Potássio (K2O) 4.119 kg 2.713 kg Supridos por adubação química 1.533 kg --1.406 kg A área agrícola necessária para a alocação do biofertilizante é obtida pelo coeficiente entre a quantidade de fósforo presente no biofertilizante e a quantidade do elemento extraída do solo pelo milho. Efetuando os procedimentos de cálculos, chega-se a uma demanda por área de 21,26 ha para a aplicação do biofertilizante. Assim, a área total demandada pelo sistema integrado suinocultura biodigestor piscicultura/agricultura é estimada em 25,46 ha. A principal restrição quanto à viabilidade do BSI é de ordem financeira, uma vez que os custos de implantação podem inviabilizar o projeto. A viabilidade econômica do BSI é função das viabilidades de mercado para os produtos gerados, principalmente o biogás. Apesar da importância desta avaliação, por motivos operacionais, a análise econômica não será considerada neste trabalho. Quanto às restrições territoriais, são apontadas duas potenciais limitações: disponibilidade de água para alimentar o tanque de peixes, e área agricultável para viabilizar a etapa agrícola. Caso a propriedade não disponha desta área para a prática da agricultura, o biofertilizante poderá ser comercializado para propriedades vizinhas. O biofertilizante 110 representa 20% do volume total de dejetos, podendo ser facilmente transportado. Neste caso, a área necessária para a operação do sistema integrado é estimada em 4,2 ha. 3.4.2 Influência da diluição no desempenho do sistema As principais influências do aumento na diluição dos dejetos recaem sobre o desempenho da etapa biodigestor e na viabilidade de utilização agrícola do biofertilizante. No biodigestor, o aumento a diluição afeta o tempo de retenção hidráulica (TRH). Para um volume fixo, operando em regime constante, o TRH é inversamente proporcional à vazão de fluido pelo mesmo. Se a vazão duplicar, o TRH cai pela metade. Para a eficiência do biodigestor, o TRH deve-se manter próximo de 30 dias. TRH muito baixo reduz a eficiência do processo, ao passo que um TRH muito elevado reduz a disponibilidade de biogás. O biodigestor foi dimensionado tendo como parâmetro o dejeto III. A produção diária é estimada em 5,25 m3. Se a propriedade dispuser do dejeto I (3,7 m3/dia), o TRH será de 45 dias. Com o dejeto V, o TRH passa a ser de 15 dias. O aumento da diluição, além de reduzir a produção de biogás, pode comprometer a sanidade ambiental do sistema. O processo de digestão dos dejetos pode não ser completo. Assim, os dejetos não devem ter sido totalmente estabilizados, podendo gerar problemas com maus odores, proliferação de insetos e redução na qualidade fertilizante de seu efluente. Quanto aos nutrientes, estes poderão não ser totalmente mineralizados, não estando prontamente disponíveis as plantas. Outro componente que pode sofrer influências no seu desempenho é o tanque de sedimentação. O aumento na vazão diária poderá reduzir a eficiência do equipamento na sedimentação do material sólido. Como conseqüência, o tanque de peixes poderá receber aporte de nutrientes acima do que foi projetado. O excesso de nutrientes no viveiro reduz a disponibilidade de oxigênio. A baixa qualidade da água pode reduzir a taxa de crescimento dos peixes, ou ainda, aumentar a mortandade do cultivo. As influências da diluição sob a etapa agrícola são similares ao verificado no sistema integrado suinocultura agricultura. No entanto, é difícil estimar o nível de influência que a diluição pode provocar sobre esta etapa. O funcionamento do separador de fases pode ser completamente comprometido com o aumento da diluição. Assim, é difícil prever se o balanço de nutrientes deste processo será preservado com o aumento da diluição. Além disso, as relações de volume podem influenciar no volume de lodo produzido no tanque. O que se 111 pode prever é que os custos de aplicação aumentam com a diluição e que a eficiência do sistema integrado pode ser seriamente comprometida. 3.4.3 Análise energética O sistema integrado suinocultura biodigestor piscicultura/agricultura é constituído por quatro etapas produtivas: suinocultura; biodigestor; piscicultura e agricultura. Visando facilitar a apresentação e análise dos resultados, cada etapa será apresentada separadamente. Após a apresentação dos resultados obtidos para cada etapa, será realizada a avaliação geral de desempenho do sistema integrado, considerando todas as etapas. A avaliação energética da etapa suinícola já foi apresentada e discutida no item 3.1.1. 3.4.3.1 Etapa biodigestor A matriz energética da etapa biodigestor é apresentada na tabela 3.19. O produto energético da etapa biodigestor é o biogás, cujo elemento de interesse é o gás metano. O lodo estabilizado, efluente desta etapa, não será computado como saída energética, pois não atravessa as fronteiras do volume de controle. A produção média diária de metano foi estimada em 0,29 m3/suíno. Considerando um lote de 500 animais e ano útil (tempo de permanência do lote) de 330 dias, a produção de biogás é de 47.334 m3/ano. A saída energética correspondente é de 1,61 TJ. A memória de cálculo está disposta no apêndice F. Tabela 3.19: Matriz energética da etapa biodigestor para um ano de produção. Item Energia Participação Entradas Energéticas 7,07GJ 100,00% Não-renováveis Biodigestor Tanque de sedimentação 7,07 GJ 3,39 GJ 3,68 GJ 100% 47,95% 52,05% Saídas Energéticas 1.606,53 GJ --- As entradas energéticas da etapa biodigestor correspondem à energia depreciada pelo uso dos equipamentos biodigestor e separador de fases. Como mencionado na metodologia, a mão-de-obra operacional destes equipamentos foi desconsiderada. 112 Avaliando a matriz energética da etapa biodigestor, pode-se constatar que a mesma apresenta um saldo energético líquido de 1.599,48 GJ. Comparando com a energia produzida na forma de carne suína (1,62 TJ), o metano aumenta em 99% a oferta de energia. As cifras apresentadas demonstram o potencial energético que é desperdiçado quando a granja não utiliza o biodigestor para a estabilização dos dejetos suínos. A energia do biogás pode ser utilizada para diversos fins, tais como cocção, aquecimento de água, calefação de ambientes, tração mecânica, ou ainda ser utilizado para geração de energia elétrica. A tabela 3.20 apresenta o equivalente energético do biogás para diferentes insumos utilizados nas propriedades. Tabela 3.20: Equivalente energético do biogás produzido na etapa biodigestor. Insumo Ano Biogás (66% CH4) Mês 3 3.769,1 m3 45.228,9 l 3.769 l 34.568,7 kg 2.880 kg 111,6 GWh 37,2 GWh 78.575,1 m Diesel (equivalente) GLP (equivalente) Energia Elétrica (equivalente) 17 Potência elétrica disponível 2h de uso diário 676,15 kW 4h de uso diário 338,07 kW 8h de uso diário 169,04 kW As estimativas apresentadas para a produção energética da etapa biodigestor representam o potencial energético e não a energia que realmente está disponível para o uso. Quedas bruscas de temperatura, excesso de diluição e a entrada de elementos tóxicos no reator podem comprometer significativamente a eficiência do processo. É pouco provável que, em nível de operação, o potencial energético seja totalmente explorado. No entanto, os valores apresentados servem como balizador para avaliar a energia que pode ser produzida pela inserção de um biodigestor em propriedades suinícolas. 3.4.3.2 Etapa piscicultura Neste tópico é descrita a avaliação energética da etapa piscicultura, para um ano de produção. O sistema de produção é o policultivo integrado com produtividade estimada em 4,4 t/ha. A área ocupada pelos tanques de peixes é de 4,0 ha de lâmina de água. Assim, 17 Eficiência de conversão do conjunto motor-gerador de 25%. 113 espera-se uma produção anual de 17,76 t de pescado. Convém destacar que, na concepção utilizada neste trabalho, o tanque de algas foi subtraído da etapa piscicultura. Na concepção original, preconizada pelo Tecpar, este componente estava presente. A inserção deste componente provavelmente iria modificar os resultados de desempenho energético e da demanda de área da etapa piscicultura. No policultivo do BSI, são produzidas quatro diferentes espécies de peixes. A produção energética e de proteína são apresentadas na tabela 3.21. O procedimento de cálculo foi descrito no tópico 3.3.3.1. Tabela 3.21: Produção de energia e proteína no policultivo integrado. Espécie Carpa comum Produção 4,80 t/ano Energia 20,59 GJ Proteína 586,50 kg Carpa prateada 5,76 t/ano 19,18 GJ 960,12 kg Carpa cabeça grande 6,40 t/ano 24,90 GJ 1.028,40 kg Cascudo Policultivo 0,80 t/ano 3,15 GJ 97,15 kg 17,76 t/ano 67,82 GJ 2.672,17 kg A energia total produzida pelo policultivo foi estimada em 67,82 GJ/ano, o que representa uma produtividade energética de 16,96 GJ/ha. A oferta de proteína foi estimada em 2,67 t/ano, o que representa uma produtividade protéica de 668,04 kg/ha. Quanto às entradas energéticas, estas foram estimadas em 14,24 GJ. As fontes nãorenováveis contribuíram com 84,65% das entradas energéticas. O principal componente energético desta etapa foi a energia depreciada pelo uso da infraestrutura. Contribuindo com uma entrada energética de 12,05 GJ/ano, o item contribuiu com 99,99% das entradas nãorenováveis e com 84,64% das entradas totais. A forte participação do item infraestrutura devese basicamente ao baixo consumo de insumos no sistema produtivo, uma vez que a demanda por nutrientes foi fornecida pelo biofertilizante líquido. Os alevinos foram o item com maior representatividade nas entradas renováveis do sistema, contribuindo com 1,72 GJ/ano. A cifra representa 78,7% das entradas renováveis. Os alevinos contribuem com 12,1% dos dispêndios energéticos totais do policultivo. A tabela 3.22 apresenta a composição da matriz energética da etapa piscicultura no BSI. Os dados são apresentados para um ano de produção, com área cultivo de 4,0 ha. A memória de cálculos das entradas energéticas do sistema está disposta no apêndice G. 114 Tabela 3.22: Matriz energética da etapa piscicultura integrada no BSI para um ano de produção. Item Entradas Energéticas Energia Participação 14.235,60 MJ 100% Renováveis Mão-de-obra Alevinos 2.185,30 MJ 464,74 MJ 1.720,56 MJ 15,35% 21,27% 78,73% Não-renováveis Infraestrutura Calcário 12.050,30MJ 12.048,60 MJ 1,70 MJ 84,65% 99,99% 0,01% Saídas Energéticas --- 204.376,71 MJ O desempenho energético do policultivo integrado do BSI é inferior ao verificado para o modelo catarinense de piscicultura (sistema integrado suinocultura piscicultura). Como preconizado por Casaca (2010), o desempenho ótimo do policultivo ocorre quando os viveiros são alimentados com o dejeto ainda fresco. A queda de produção foi de 27,67% (quebra da produção de carne), comprometendo a produtividade energética e a oferta de proteína. Mesmo considerando as perdas de produtividade, o sistema continua a exportar energia. A eficiência cultural do policultivo é de 4,76, enquanto a eficiência não-renovável é de 5,63. O custo nãorenovável da produção da proteína foi estimado em 4,51 MJ/kg. Na tabela 3.23, são apresentados os indicadores energéticos da etapa piscicultura do BSI em comparação com o policultivo catarinense. Tabela 3.23: Indicadores de desempenho da etapa piscicultura integrada e nãointegrada. Indicador Eficiência cultural ( C) Eficiência não-renovável ( NR) Produtividade energética (PEn.) Etapa piscicultura no policultivo catarinense 6,57 Etapa piscicultura no BSI 4,76 8,68 5,63 24,52 GJ/ha 16,96 GJ/ha 825,76 kg/ha 668,04 kg/ha Custo energia não-renovável da proteína (CNR pr.) 3,42 MJ/kg 4,51 MJ/kg Intensidade de uso não de energias não-renováveis (INR) 2,83 GJ/ha 3,01 GJ/ha Índice de participação não-renovável (IR) 75,73% 84,65% Demanda de Área (DA) 8,33 ha 4,0 ha Produtividade protéica (PPr.) 115 3.4.3.3 Etapa agricultura Neste tópico, é descrita a avaliação energética da etapa agricultura. Os resultados obtidos referem-se à produção de milho grão em sistema de plantio direto mecanizado. A produtividade é de 10,0 t/ha (obtidos em duas safras no ano). A área demandada pela etapa foi estimada em 21,26 ha. A infraestrutura utilizada para a execução do cultivo do milho é igual ao aportado para o manejo em esterqueira. No BSI, no entanto, a esterqueira é substituída pelo depósito de biofertilizante. Além disso, o tempo gasto para a aplicação do biofertilizante nas lavouras é menor, devido ao aumento da concentração dos nutrientes pela separação de fases. A tabela 3.24 apresenta a comparação entre o dejeto III e biofertilizante. Os procedimentos de cálculo do valor econômico são os mesmos utilizados para o dejeto III, discutidos no item 3.1.2. Referente ao volume de dejetos aplicados por hectare, este é estimado utilizando o balanço de nutrientes no tanque de sedimentação (tabela 1.7) e a extração de nutrientes pelo milho. Quanto ao tempo gasto na aplicação, este é calculado no apêndice C.2. Tabela 3.24: Comparação entre o dejeto III e o biofertilizante. Item 3 Produção anual (m ) Matéria Seca (%) Dejeto III 1.732,50 Biofertilizante 346,50 7,50 34,50 3 3,71 10,21 3 2,95 6,62 2,48 7,83 Valor econômico do tanque 3m (R$) 54,78 145,71 N° tanques de tanques aplicado / ha 12,22 5,43 Tempo total de fertilização (hm/ha) 5,21 2,15 Gasto de combustível para a fertilização (l/ha) 5,21 2,15 260,40 107,67 1,08 2,86 Concentração N total (kg/m ) Concentração P2O5 (kg/m ) 3 Concentração K2O (kg/m ) 3 Custo de aplicação do fertilizante (R$/ha) Tempo máx. aplicação / tanque (hm) Utilizando o biofertilizante, o volume a ser aplicado nas lavouras é de 346,50 m 3/ano. O tempo gasto para distribuir este volume de biofertilizante nas lavouras é estimado em 2,15 hm/ha. Para uma área de cultivo de 21,26 ha, estima-se uma demanda anual de 45,79 hm para a execução deste itinerário. O processo de separação de fases no tanque de sedimentação aumenta cerca 165% o valor econômico do biofertilizante. O custo de aplicação também reduz. O tempo máximo de 116 aplicação para o dejeto III é de 1,08 hm/tanque. Utilizando o biofertilizante, o tempo máximo de aplicação passa a ser de 2,86 hm. Quanto aos insumos gastos na produção de milho, foram considerados: a semente de milho, os defensivos agrícolas, o calcário, os nutrientes N e K2O, supridos por adubação química (tabela 3.18), e o combustível gasto nas operações agrícolas e na distribuição do biofertilizante. Na tabela 3.25, é apresentada a composição da matriz energética da etapa agricultura do BSI. Os valores indicados nesta tabela representam as entradas e saídas de energia para uma área de cultivo de 21,26 ha, em um ano de produção (duas safras). A memória de cálculos das entradas energéticas do sistema está disposta no apêndice H. Tabela 3.25: Matriz energética da etapa agricultura no BSI para um ano de produção. Item Energia Participação Entradas Energéticas 201.864,47 MJ 100% Renováveis Mão-de-obra Sementes 28.438,76 MJ 193,66 MJ 28.245,11 MJ 11,17% 0,68% 99,32% Não-renováveis Defensivos Nitrogênio Potássio Combustível Calcário Infraestrutura 226.224,49 MJ 60.501,17 MJ 111.936,38 MJ 12.651,80 MJ 20.310,35 MJ 3,98 MJ 20.820,83 MJ 88,83% 26,74% 49,48% 5,59% 8,98% n.r 9,20% Saídas Energéticas n.r: não representativo. 3.465.000 MJ --- A utilização do biofertilizante concentrado na adubação do milho forneceu: 69,8% da demanda de nitrogênio, 65,9% do potássio e 100% das necessidades de fósforo. Mesmo assim, na composição da matriz energética do sistema milho, a fertilização continuou sendo o item com maior representatividade, 48,9%. Os fertilizantes representaram, ainda, 55,1% das entradas não-renováveis da etapa. O nitrogênio foi responsável por 44,0% entradas totais de energia, numa demanda de 5,26 GJ/ha. As considerações levantadas na avaliação da etapa agrícola do sistema suinocultura agricultura são válidas para avaliar estes resultados. Os defensivos contribuíram com 2,85 GJ/ha, o que representa 26,7% das entradas energéticas não-renováveis. Na matriz energética, este insumo representa 23,8% das entradas totais do agrossistema. O combustível participou com 8,98% das entradas não-renováveis e 117 com 7,98% das entradas energéticas totais. A demanda média do insumo por hectare foi de 955,22 MJ. Comparando a etapa agrícola do BSI com o manejo em esterqueira, pode-se verificar que houve melhorias no desempenho energético. O índice de participação de fontes nãorenováveis no sistema produtivo diminuiu, motivado pelos seguintes fatores: redução no consumo de combustível e redução da demanda por fertilizantes químicos. A redução no consumo de combustível deve-se à redução no tempo de aplicação do biofertilizante em comparação com os dejetos brutos. Já redução na demanda por fertilizantes químicos foi resultado do balanço de nutrientes no tanque de sedimentação. O percentual de fósforo que foi direcionado para o tanque de peixes foi maior que o percentual de nitrogênio e potássio. Como o critério de aplicação de biofertilizante no solo é função da relação oferta/extração de fósforo, pode-se aumentar a taxa de fornecimento de NK por hectare, reduzindo a demanda externa e a contribuição destes nutrientes na matriz energética do sistema. No BSI, a eficiência não-renovável da etapa agrícola foi de 18,06 e a eficiência cultural foi de 17,16. O custo de produção não-renovável da proteína foi estimado em 11,52 MJ/kg. A produtividade energética e protéica nos dois sistemas é igual para as duas etapas. Na tabela 3.26, são apresentados os indicadores de desempenho da etapa agricultura no BSI e no manejo em esterqueira. Tabela 3.26: Indicadores de desempenho da etapa agricultura no BSI em comparação com a etapa no manejo em esterqueira. Etapa agricultura no BSI 13,78 Etapa agricultura no manejo em esterqueira 9,63 NR) 15,51 10,44 Produtividade energética (PEn.) 165 GJ/ha 165 GJ/ha Indicador Eficiência cultural ( C) Eficiência não-renovável ( Produtividade protéica (PPr.) 790 kg/ha 790 kg/ha Custo energia não-renovável da proteína (CNR pr.) 13,42 MJ/kg 13,43 MJ/kg Intensidade de uso não de energias nãorenováveis (INR) 10,64 GJ/ha 15,80 GJ/ha 88,83% 92,20% 21,26 ha 47,25 ha Índice de participação não-renovável (IR) Demanda de Área (DA) 118 3.4.3.4 Sistema integrado Neste tópico são apresentados os resultados para o sistema integrado suinocultura biodigestor piscicultura/agricultura. A tabela 3.27 apresenta a síntese da matriz energética do sistema integrado, para um ano de produção. Tabela 3.27: Balanço energético para um ano de produção do BSI. Item Energia Participação Entradas Energéticas Etapa Suinocultura Renovável Não-renovável 7.798,94 GJ 5.280,83 GJ 2.518,10 GJ 96,58% 67,71% 32,29% Etapa Biodigestor Não-renovável 7,07GJ 7,07 GJ 0,09% 100% Etapa Piscicultura Renovável Não-renovável 14,24 GJ 2,19 GJ 12,05 GJ 0,18% 15,35% 84,65% Etapa Agricultura Renovável Não-renovável 254,66 GJ 28,44 GJ 226,22 GJ 3,15% 11,17% 88,83% Sistema Integrado Renovável Não-renovável 8.074,91 GJ 5.311,46 GJ 2.763,45 GJ 100,00% 65,78% 34,22% Etapa Suinocultura 1.616,36 GJ 23,77% Etapa Biodigestor 1.606,53 GJ 23,63% Etapa Piscicultura 67,62 GJ 1,00% Etapa Agricultura 3.508,31 GJ 51,60% Sistema Integrado 6.799,02 GJ 100,00% Saídas Energéticas A suinocultura tem como produto os suínos terminados. A energia produzida nesta etapa é estimada em 1,62 TJ/ano. Na etapa biodigestor, que tem como produto o biogás, a produção energética foi estimada em 1,61 TJ/ano. A etapa piscicultura tem uma produção energética estimada em 67,62 GJ/ano. O milho grão, produto da etapa agricultura, contribui com uma produção energética de 3,51 TJ/ano. Totalizando as saídas energéticas do Biossistema Integrado obtém-se uma produção de 6,80 TJ/ano. A produtividade energética do sistema integrado foi avaliada em 267,02 GJ/ha. 119 Quanto às entradas energéticas do sistema, predomina a participação de fontes de energia renováveis (65,78%), de um total de 8,07 TJ/ano. O item com maior representatividade nos dispêndios energéticos do sistema é a ração suína. O insumo (soma das frações renovável e não-renovável da ração) representa 92,4% das entradas totais do BSI. Os animais estão confinados. Assim, toda a energia metabólica que o animal necessita deve ser fornecida pelo trato da ração. Este fato justifica a forte participação da ração nos dispêndios energéticos totais do BSI. Em criações não confinadas, parte desta energia poderia ser suprida por fontes energéticas não comerciais. O índice de eficiência cultural do sistema integrado foi avaliado em 0,84. Já eficiência não-renovável foi estimada em 2,46. Na tabela 3.28 são apresentados os indicadores de desempenho do sistema integrado BSI. Tabela 3.28: Indicadores de desempenho do sistema integrado BSI. Indicador Eficiência cultural ( C) Eficiência não-renovável ( Valor 0,84 NR) Produtividade energética (PEn.) Produtividade protéica (PPr.) 2,46 267,02 GJ/ha 1,48 t/ha Custo energético da proteína (sem considerar o biogás) (CER pr.) 213,70 MJ/kg Custo energético da proteína (com abatimento da energia do biogás) (CER pr.) 171,19 MJ/kg Custo não-renovável da proteína (sem considerar o biogás) (CNR pr.) 73,14 MJ/kg Custo não-renovável da proteína (com abatimento da energia do biogás) (CNR pr.) 30,62 MJ/kg Intensidade de uso de energias não-renováveis (INR) 108,53 GJ/ha Índice de participação não-renovável (IR) 34,2% Proteína recuperada (PR) 65,1% Relação prot. vegetal cons. / prot. animal prod. (1/PR) Demanda de Área (sistema integrado) (DA) 1,54 25,46 ha A produção anual de proteína foi estimada em 37,79 t/ano. Destes, 44,6% são de origem vegetal (milho) e 55,4% de origem animal (suínos e pescado). A produtividade protéica foi estimada em 1,48 t/ha. O índice de recuperação da proteína investida no agrossistema (proteína da ração) é de 65,1%, ou seja, para cada quilograma de proteína investido recuperam-se 651 gramas. O custo não-renovável da produção de proteína é de 73,14 MJ/kg. Considerando que parte do consumo não-renovável pode ser abatida pela produção de biogás ((consumo não renovável – energia do metano) / produção de proteína) o custo não-renovável reduz-se a 120 30,62 MJ/kg. Esta consideração avalia que a energia do biogás seria comercializada (na forma de combustível ou energia elétrica). Avaliando a configuração da matriz energética do sistema integrado pode-se verificar que: enquanto a suinocultura é etapa que mais ―gasta‖ energia, a agricultura é a etapa que mais produz energia. Este fato corrobora com o exposto no item 1.3.4 ―Produção animal versus produção vegetal‖. 3.5 DISCUSSÕES GERAIS SOBRE OS SISTEMAS INTEGRADOS 3.5.1 Avaliação dos indicadores de desempenho Neste tópico serão apresentados e discutidos os indicadores de desempenho das três concepções de sistemas integrados avaliados. Estes indicadores são apresentados na tabela 3.29. Tabela 3.29: Indicadores de desempenho das três concepções de sistemas integrados à suinocultura analisadas. Suinocultura Isolada 0,21 Indicador Eficiência cultural ( C) Manejo em Esterqueira 1,09 Policultivo Catarinense 0,23 BSI 0,84 NR) 0,64 2,88 0,72 2,46 Produtividade energética (PEn.) n.a 198,37 GJ/ha 213,36 GJ/ha 267,02 GJ/ha Produtividade protéica (PPr.) n.a 1,17 t/ha 2,95 t/ha 1,48 t/ha 31,5% 96% 43,3% 65,1% 3,18 1,04 2,31 1,54 Custo energético da proteína (CER pr.) 427,29 MJ/kg 154,89 MJ/kg 311,54 MJ/kg 213,70 MJ/kg Custo não-renovável da proteína (CNR pr.) 137,96 MJ/kg 58,74 MJ/kg 101,13 MJ/kg 73,41 MJ/kg 32,5% 37,9% 32,5% 34,2% n.a 68,80 GJ/ha 297,85 GJ/ha 108,53 GJ/ha 0,2 ha 47,45 ha 8,53 ha 25,46 ha Eficiência não-renovável ( Proteína recuperada (PR) Proteína ração / proteína suína (1/PR) Índice de participação não-renovável (IR) Intensidade de uso não de energias nãorenováveis (INR) Demanda de Área (sistema integrado) (DA) n.a: não se aplica. Como apresentado nas discussões anteriores, a suinocultura é um sistema produtivo intensivo, sendo a ração o componente energético mais importante da matriz. Este insumo contribuiu com 86,6% das entradas energéticas do sistema integrado à agricultura; 95,2% na 121 integração à piscicultura e com 92,4% na matriz do BSI. A forte participação da ração influencia no desempenho energético dos sistemas integrados. Avaliando os resultados obtidos, pode-se verificar que as três concepções produtivas melhoram o desempenho energético da atividade suinícola. O sistema com melhor desempenho energético é a integração suinocultura agricultura. Nesta tipologia de produção, o saldo energético é positivo: a energia produzida pelo sistema é maior que as entradas de energia comercial. Cada unidade energética tem uma produção líquida (descontada a energia investida) de 0,09. Considerando apenas as entradas não-renováveis do sistema integrado, são produzidas 1,88 unidades energéticas líquidas para cada unidade não-renovável investida. O sistema recupera 96% da proteína investida, sendo o custo não-renovável da proteína de 58,74 MJ/kg. O policultivo integrado, modelo catarinense, apresenta a maior produtividade protéica. A produção de proteína é estimada em 2,95 t/ha. A demanda de área de cultivo também é menor, sendo 82% inferior ao manejo em esterqueira; e 66% menor a demanda total de área nas etapas produtivas do BSI. No entanto, considerando os fluxos energéticos do sistema, o policultivo apresenta desempenho energético inferior aos demais sistemas integrados, sendo caracterizado como um sistema importador líquido de energia. O índice de recuperação de proteína é de 43,3%, inferior ao verificado nos demais sistemas. A melhor produtividade energética foi apresentada pelo BSI, com uma produção de 267,02 GJ/ha. Nos demais indicadores, o BSI apresenta desempenho intermediário em comparação com os demais sistemas integrados avaliados, uma vez que agrega atividades produtivas de diferentes níveis da cadeia trófica. Além disso, é inserido um sistema produtivo não alimentar, visando produzir um combustível – o biogás. A energia do biogás, se utilizada para abater as entradas não-renováveis do sistema integrado, reduz o custo protéico de 73,14 MJ/kg para 30,62 MJ/kg. Nesta consideração o BSI apresentaria o menor custo não-renovável de produção de proteína. Vale a ressalva de que nem todas as entradas não-renováveis podem ser substituídas pelo biogás, embora o referido cálculo leve isto em consideração (considera apenas a base energética). Os resultados dos indicadores apresentados neste trabalho corroboram com o disposto na literatura. Bueno (2002); Pimentel e Pimentel (2008) e Comitre (1993) já haviam mencionado que o agrossistema milho é um exportado líquido de energia comercial (ou energia cultural, como é apresentada nestes trabalhos). No mesmo sentido, Santos e Lucas Jr. (2004); Furlaneto, Esperancini e Bueno (2009) e Pimentel e Pimentel (2008), mencionaram que a produção animal importa energia comercial. 122 Como discutido no tópico 1.3.4 ―Produção animal versus produção vegetal‖, as diferenças devem-se ao fato de que o milho é um organismo autótrofo (que sintetiza a própria energia), enquanto os suínos e os peixes são seres heterotróficos (que consomem energia produzida pelas plantas). O fluxo energético na cadeia alimentar se dispersa, como mencionado por Townsend, Begon e Harper (2010). Quanto mais alto for o nível trófico explorado, menor será a eficiência energética da atividade. Quando se avalia a influência da utilização dos dejetos suínos como insumos produtivos nas atividades integradas à suinocultura, o desempenho dos sistemas integrados se inverte. A eficiência destes processos melhora significativamente quando integrados à suinocultura, reduzindo a demanda de energia não-renovável nestes agrossistemas. Nesta óptica, a integração é avaliada pela sua capacidade em melhorar o desempenho energético das atividades associadas à suinocultura. Neste sentido, a produção de milho integrada à suinocultura reduz em 57,2% o custo não-renovável de produção da proteína, quando em comparação com a atividade não integrada. No sistema policultivo catarinense, a integração chega a reduzir este custo em 96,6%, em comparação com a execução do policultivo sem integração. No BSI, além da proteína suína, são produzidos dois tipos de proteínas: a proteína da carne de pescado e a proteína vegetal do milho. A oferta desta proteína é estimada em 19,53 t, sendo 86,3% originária do milho. O custo não-renovável ponderado das etapas agricultura e piscicultura (considerando a participação de etapa produtiva na oferta de proteína pelo sistema integrado) são de 12,2 MJ/kg. Para produzir esta mesma quantidade de proteína em sistemas não-integrados ter-se-ia um custo de 40,82 MJ/kg. Assim, no BSI, a integração reduz o custo não-renovável em 70,1%, em comparação com a produção em sistemas não-integrados. Considerando que a energia líquida produzida pela etapa biodigestor pode ser utilizada para abater os custos não-renováveis das etapas agricultura e piscicultura, esta quantidade de proteína poderia ter custo não-renovável zero (a energia produzida pela etapa biodigestor é maior que demanda de energia não-renovável das etapas agricultura e suinocultura). Neste caso a redução seria de 100%. Uma avaliação mais geral nos possibilita obter algumas considerações sobre a aplicabilidade das concepções produtivas estudadas. Do ponto de vista energético, a integração suinocultura agricultura é a concepção mais eficiente de produção. Quando executada dentro dos preceitos utilizados neste trabalho, o sistema é auto-suficiente em energia. Além disso, a produção de milho recicla 96% da proteína investida no agrossistema. A implantação desta tipologia produtiva é recomenda para propriedades com áreas agrícolas 123 disponíveis. O controle no nível de diluição dos dejetos é fundamental para garantir a viabilidade econômica no uso dos dejetos como fertilizantes agrícolas. O policultivo modelo catarinense é a tipologia menos eficiente do ponto de vista energético. No entanto, comparando a execução da piscicultura integrada com um roteiro técnico similar não integrado, percebe-se que a integração proporciona ganhos significativos de eficiência. A reciclagem dos dejetos suínos para fertilização dos tanques de peixes reduz o custo de produção de pescado, tornando a atividade altamente eficiente. A implantação desta tipologia de produção é mais indicada em propriedades com pequenos lotes de suínos. Nesta situação, a suinocultura é uma a atividade suplementar. Casaca (2010) avalia que a piscicultura integrada não é a alternativa mais viável para grandes produtores de suínos. A atividade é vista como uma alternativa de aumento de renda para pequenos suinocultores. Comparado ao manejo em esterqueira e ao policultivo integrado, o BSI obteve resultados intermediários, tanto na efetividade energética quanto na área demandada. O biodigestor contribui significativamente para o aumento da oferta de energia líquida. A energia que potencialmente pode se ofertada pelo biodigestor é equiparada à energia produzida na forma de suínos terminados. No entanto, o potencial energético do biogás não garante a viabilidade de implantação do biodigestor. Esta energia pode ser utilizada, necessitando, porém, de uma análise de viabilidade econômica. Esta análise deve identificar se a economia gerada pela produção compensa os custos de instalação e operação do biodigestor. Na etapa agrícola, a redução da diluição do biofertilizante, pela inserção de um separador de fases, reduz os custos de aplicação do mesmo. O valor econômico do biofertilizante aumenta em 165% em comparação com o dejeto diluído fresco. Nas etapas agrícolas, destaca-se a redução na importação de nitrogênio. Esta redução é devida às diferenças no balanço de nutrientes no tanque de sedimentação. Os níveis de concentração de nitrogênio e potássio no biofertilizante aumentam acima do aumento de concentração de fósforo (quantidades maiores de fósforo ficam diluídas no biofertilizante líquido que é direcionado ao tanque de peixes). Na etapa piscicultura do BSI os resultados obtidos nas simulações são inferiores aos apresentados pela etapa no sistema integrado suinocultura piscicultura. As diferenças devem-se à menor qualidade do biofertilizante líquido em comparação com o dejeto fresco. No entanto, os resultados da piscicultura poderiam ser mais expressivos com a inserção do tanque de algas. Relembrando que esta unidade faz parte da concepção original do BSI, preconizada pela Tecpar. Neste trabalho, a não utilização deste componente na avaliação do 124 BSI, deve-se à inconsistência dos dados disponíveis. Os resultados verificados na literatura não nos possibilitaram modelar satisfatoriamente este equipamento. Ressalta-se a importância de se trabalhar sobre este equipamento. A produção de algas é uma atividade com alto potencial energético e econômico. Além de servirem de alimentos para os peixes, as algas podem servir de alimento humano, produção de biocombustíveis, ou ainda serem utilizadas como fertilizante agrícola. Este potencial vem sendo pesquisado e poderá tornar-se uma atividade com grandes potencialidades para integração com a suinocultura industrial. Quanto à demanda de área, observa-se que em ambas as concepções de integração, o lote mínimo econômico é inviável para a maior parte das propriedades suinícolas da região de estudo. Na produção de 1.500 suínos/ano, a oferta de nutrientes pelos dejetos supera a capacidade de reciclagem destes elementos por parte dos agrossistemas estudados. A área média das propriedades da região é de 9,47 ha. A menor demanda de área, verificada para o sistema suinocultura piscicultura, foi de 8,53 ha. No entanto, este valor representa apenas a área de lâmina de água. A este valor devem-se considerar as áreas circundantes ao viveiro. Considerando uma reserva técnica de 20% desta área, ter-se-ia uma demanda de 10,2 ha, valor acima da área média das propriedades da região. No sistema integrado suinocultura agricultura, a demanda de área foi estimada me 47,45 ha, enquanto que no BSI esta demanda foi avaliada em 25,46 ha. Estes valores estão bem acima da área média disponível para a prática agrícola nas propriedades da região. Para viabilizar ambientalmente a produção suinícola do lote ―mínino econômico‖ (500 suínos) nestas propriedades seria necessário investir em tecnologias de escala industrial para tratamento dos dejetos suínos. O custo destas tecnologias de tratamento para a pequena escala pode inviabilizar economicamente a atividade suinícola nestas propriedades. Assim, sob a óptica ambiental e social, o que se percebe é que o lote mínimo estabelecido pela agroindústria é inviável para a realidade fundiária da região. 3.5.2 Influência das práticas de manejo no desempenho dos sistemas Os resultados apresentados apontam que a integração energética melhora o desempenho dos sistemas agropecuários quando comparados a sistemas não integrados. A reciclagem dos dejetos proporciona ganhos de produtividade e redução na demanda nãorenovável dos agrossistemas. A oferta de proteína aumenta, e o custo não-renovável é reduzido. No entanto, existem restrições à implantação dos sistemas integrados. Estas 125 restrições estão relacionadas ao atendimento de critérios de viabilidade técnica (disponibilidade de tecnologia, água e áreas de cultivo) econômicas (mercado para os produtos gerados) e licenciamento das atividades desenvolvidas. Outra restrição está relacionada com as atividades de operação e manejo dos agrossistemas integrados. A operação dos sistemas é, talvez, a principal restrição para o correto funcionamento dos sistemas agrícolas. A não observância dos critérios técnicos pode comprometer a eficácia dos sistemas integrados, tanto no ponto de vista ambiental, quanto como sistema produtivo. Assim, durante a pesquisa foram realizadas incursões nas regiões produtoras de suínos, no intuito de visitar propriedade suinícolas que empregam as tipologias estudadas. As discussões que se seguem estão fundamentadas nas observações de campo, recomendações técnicas e em relatos de autoridades suinícolas e de produtores. As regiões estudadas foram: Toledo – PR, Chapecó – SC, e Frederico Westphalen – RS. As visitas foram realizadas durante o período desta pesquisa. 3.5.2.1 Integração suinocultura agricultura A utilização dos dejetos como fertilizante agrícola é a técnica mais difundida no mundo (KUNZ, MIELE e STEINMETZ, 2009). No entanto, o uso inadequado desta forma de manejo vem provocando inúmeros impactos ao ecossistema. A utilização dos dejetos como fertilizante implica na integração das produções vegetal e animal. Neste caso, o planejamento deve ocorrer de forma integrada. A capacidade das culturas em reciclar os nutrientes aplicados é fundamental para estimar o volume de dejetos aplicados. Quando o uso agrícola é o único destino destes dejetos, a disponibilidade de área agricultável passa a ser um critério limitante do número de animais que podem ser criados na propriedade. A aplicação do balanço de nutrientes é fundamental para mitigar os impactos ambientais da suinocultura quando integrada à produção agrícola. Os dejetos devem aplicados visando a reposição dos nutrientes extraídos pela planta. No entanto, nas observações em campo, pode-se verificar que a maior parte dos suinocultores não observa os critérios agronômicos para a fertilização do solo. Indagado sobre os critérios de aplicação utilizados, um produtor respondeu: ―Eu aplico até o solo ficar preto‖. Isto indica uma falta de informação por parte do produtor em relação aos critérios de utilização dos dejetos como fertilizantes agrícolas. A análise físico-química do solo, associada 126 com o balaço de nutrientes da cultura, poderiam predizer com precisão as necessidades do solo. No entanto, raramente são utilizadas pelos produtores. Esterqueiras subdimensionadas e a elevada diluição dos dejetos corroboram para o aumento dos problemas ambientais associados à atividade suinícola. Grande parte das propriedades localizadas nas regiões produtoras de suínos não possuem áreas agrícolas suficientes para dispor os resíduos da esterqueira, com critérios agronômicos adequados. Neste caso, a prática comum é a contratação da área remanescente em propriedades vizinhas. No entanto, como mencionado por entidades suinícolas das regiões produtoras, inclusive suinocultores e técnicos do órgão ambiental, é comum a prática da ―multiplicação de reas‖, ou seja, mesma área é contratada várias vezes, sendo que em alguns casos não chega a ser fertilizada por dejetos (principalmente quando esta área está distante da pocilga). Berto (2004) já mencionava que o maior problema a ser enfrentado pela suinocultura, é a concentração da produção. Normalmente, o volume de dejetos produzidos pelos suínos excede a capacidade agrícola da propriedade, gerando excedentes de nutrientes. Estes excedentes, se não forem manejados de forma adequada, podem contaminar o ecossistema local. O mau cheiro é outro problema comum nas granjas, principalmente durante a aplicação dos dejetos no solo. O odor emitido das instalações é derivado da decomposição anaeróbica da proteína presente nos dejetos e incluem a amônia e o sulfeto de hidrogênio. Em uma das propriedades suinícolas visitadas, incipiente na atividade, o odor desagradável da suinocultura tem motivado uma série de conflitos com a comunidade local. Alguns moradores organizaram vários abaixo-assinados visando paralisar a atividade, alegando que a mesma estava comprometendo a qualidade de vida da comunidade. Além disso, nas propriedades suinícolas são comuns problemas com a proliferação de insetos, principalmente moscas e mosquitos. A elevada produção de matéria orgânica proveniente dos dejetos animais, que nem sempre recebem o manejo adequado, constitui-se no substrato ideal para que ocorra uma grande proliferação de moscas. É muito comum no verão serem visualizadas quantidades significativas de larvas na esterqueira. Este fato pode ser visualizado durante as investigações de campo. Não obstante ao âmbito ambiental, deve-se atentar para os impactos socioeconômicos da atividade. A atividade é predominantemente desenvolvida pela agricultura familiar, sendo responsável pela sustentação de boa parte da população agrícola destas regiões. Ademais, Bezerra (2002) destaca que grande parte destas propriedades está com sua capacidade 127 produtiva estagnada, com mínimas condições de investimentos. Nestas condições, a adoção de novas tecnologias, menos impactantes ao ambiente, pode excluir os pequenos produtores. 3.5.2.2 Integração suinocultura piscicultura No policultivo integrado, as principais restrições também são de ordem locacional. Para atender um lote de 500 suínos, demanda-se uma área de 8,33 ha de lâmina de água, ou seja, 83.300 m2 de cultivo. Isto sem considerar as áreas circundantes ao cultivo. Para viabilizar o policultivo, é importante estar atento a alguns aspectos ligados ao local de implantação: disponibilidade de água, solo, topografia e aceitabilidade do mercado. A atividade de piscicultura demanda água de alta qualidade e em quantidades abundantes. Para um viveiro com 1,0 ha de lâmina de água e profundidade média de 1,5 m, são necessários 15.000 m3 de água para encher o viveiro. Tomazelli Jr., Casaca e Warken (2005) estimam que, para policultivos com baixa densidade de estocagem de alevinos (4.500 a 6000 alevinos/ha), o viveiro demanda uma vazão entre 2 a 3 l/haseg. Esta vazão representa um consumo diário entre 7,2 e 10,8 m3/hah. Para atender os 8,33 ha de lâmina de água, seriam necessários entre 60 e 90 m3/h. Considerando que a época do ano com maior taxa de evaporação nos viveiros (verão) coincide com o período seco da região sul, a demanda de água pode ser um fator crítico para a implantação do policultivo. Quanto aos requisitos de solo, este deve apresentar condições intermediárias entre o arenoso e o argiloso. Estas características são importantes para a escavação e para a compactação do viveiro. Um terreno muito argiloso aumenta os custos de escavagem, ao passo que terrenos arenosos aumentam a infiltração de água no solo. A topografia do terreno também influencia na viabilização do policultivo. A topografia determina o volume de terra que deverá ser movimentada para a construção do viveiro. Em terrenos acidentados, os custos de terraplanagem são mais elevados. Tomazelli Jr., Casaca e Warken (2005) avaliam que os terrenos com inclinação de até 5% são os mais indicados para a instalação do viveiro. Na operação do sistema, deve-se ter o cuidado quanto à aplicação de produtos químicos, como vermífugos, desinfetantes e antibióticos, no lote de suínos. Estes produtos podem ser tóxicos aos peixes, comprometendo a produtividade do policultivo. Em alguns casos, estes químicos podem aumentar a mortandade do cultivo. A qualidade da água (oxigênio dissolvido, pH e concentração de nutrientes) deve ser mantida dentro dos padrões 128 estimados para a piscicultura. Além disso, no cultivo é fundamental que suíno-piscicultor esteja atento para a saúde dos peixes, num trabalho de prevenção e controle de infecções, causados por organismos patogênicos. Outro requisito operacional é referente à despesca do pescado. Os nutrientes fornecidos pelos dejetos suínos não são totalmente consumidos pelos peixes. Parte destes nutrientes, matéria orgânica e fezes dos peixes são depositadas no fundo do viveiro. Durante o período do cultivo estes contaminantes são emitidos em baixa concentração. Cuidado especial deve ser dado ao momento da despesca. O manejo realizado durante a despesca traz para a coluna de água o material depositado no fundo dos viveiros. Por conseqüência, este material acaba sendo eliminado com os efluentes do viveiro. Tomazelli Jr., Casaca e Warken (2005) recomendam que a despesca seja realizada com redes apropriadas, sem liberar a água do viveiro, ou direcionar a água residual para um tanque de decantação. Ademais, existem restrições de ordem mercadológica. A produção do policultivo deve ser comercializada e a receita desta venda deve garantir a remuneração do investimento. A produção de pescado é estimada em 50 t/ano. Para colocar esta produção no mercado deve haver forte articulação dos agentes locais, sob pena de comprometer a comercialização desta produção. O que se percebe é que o policultivo integrado está longe de ser considerada uma solução para o destino dos dejetos suínos. Este sistema de produção é uma alternativa para que os agricultores familiares possam aumentar as suas fontes de renda. A integração com a suinocultura reduz o custo de produção do pescado. Nas palavras de Casaca (2010), o policultivo é indicado para atender pequenas criações de suínos (até 200 animais), em sistemas agrícolas onde a produção de pescado é o principal vetor econômico. A propriedade deve ter disponibilidade de água durante todo período de cultivo. Além disso, para o sucesso da atividade, o produtor deve ter vocação para o exercício da piscicultura. Por fim, ressalta-se que a piscicultura é uma atividade agroindustrial sujeita ao licenciamento ambiental. Este licenciamento independe da atividade suinícola. Na integração com a suinocultura, o viveiro não pode ser avaliado com um ‖depósito para lançamento de dejetos‖. Devem ser adotadas pr ticas de manejo e operação que atendam os critérios de produção sustentável. A não observância destes critérios compromete a qualidade ambiental. 129 3.5.2.3 Integração suinocultura biodigestor piscicultura/agricultura As observações realizadas para os sistemas integrados anteriormente citados são válidas para o BSI. O atendimento de critérios agronômicos na aplicação do biofertilizante e a observação de práticas sustentáveis no manejo do policultivo são fundamentais para a viabilidade ambiental do BSI. Além destas observações, cuidado especial deve ser dado à etapa biodigestor, composta pelo reator anaeróbico e pelo tanque de sedimentação. O biodigestor é a unidade responsável pela estabilização da matéria orgânica. O correto funcionamento deste equipamento, além de aumentar a oferta de gás, melhora a qualidade do biofertilizante e reduz significativamente problemas com insetos e mau cheiro. Já o tanque de sedimentação é o equipamento responsável por reduzir a diluição do biofertilizante. A concepção de integração utilizada no BSI foi introduzida pela Tecpar, no Paraná, no final dos anos 90. O conceito de BSI, preconizado pela Tecpar, era agregar valor aos dejetos suínos pela sua transformação em produtos tais como: o gás, fertilizantes e produção de peixes, algas e vegetais. Nesta concepção, os problemas ambientais da suinocultura seriam sanados. O biodigestor é o ―coração‖ do sistema, servindo de elo entre as atividades agropecuárias. No intuito de conhecer o funcionamento dos Biossistemas Integrados, foi realizada uma visita técnica ao município de Toledo, PR. Durante a visita, foram observadas algumas granjas suinícolas que implantaram os conceitos de BSI. O que se pode verificar é que, apesar da concepção interessante e avançada, sua implantação sofreu uma série de problemas que ainda não foram adequadamente sanados. Problemas operacionais e de manutenção comprometeram a difusão da tecnologia. O sistema parece não ter sido dimensionado de forma a atender a realidade das granjas suinícolas de sua região de implantação. No Paraná, foram instaladas oito unidades demonstrativas. Durante a pesquisa, foram visitadas quatro destas unidades, constatando-se que todas operavam com problemas. O excesso de diluição, a complexidade dos processos envolvidos e a falta de assistência técnica têm comprometido a eficácia desta tecnologia. Além disso, as cifras envolvidas na implantação do projeto são elevadas. No caso do biodigestor, o modelo escolhido tem custo elevado e a sua operação e manutenção são de difícil execução. Em muitas situações, o volume de dejetos aplicado no biodigestor estava acima de sua capacidade operacional. O aumento da vazão no biodigestor 130 provoca redução do THR. Assim, os dejetos passavam pelo equipamento sem sofrer a devida estabilização. Esses problemas observados na operação comprometem o desempenho da cadeia de processos que se seguem. O tanque de sedimentação também apresentava problemas de operação. A inexistência de uma rotina de manejo e operação ocasionava problemas na separação adequada das fases, provocando sobrecarga no tanque de algas. Esta sobrecarga desbalanceava os processos bioquímicos responsáveis pelo crescimento da cadeia planctônica. O excesso de matéria orgânica no viveiro compromete a qualidade da água que, por conseqüência, reduz a produtividade do policultivo. Feitas as devidas ressalvas, o BSI é uma tipologia de produção com grandes potencialidades. No entanto, a sua implantação deve ser planejada dentro da realidade suinícola da granja e com acompanhamento técnico contínuo. No BSI são desenvolvidas diferentes atividades agropecuárias, onde é fundamental o conhecimento dos limites e das potencialidades de cada atividade. Entre as unidades produtivas do BSI, o biodigestor é a que apresenta maiores potencialidades. Como aportado nas discussões anteriores, a energia potencialmente disponível no biogás é da ordem de grandeza da energia da carne suína. Assim, o aproveitamento do biogás praticamente duplica a oferta de energia do sistema. No entanto, a utilização dos biodigestores nas granjas suinícolas ainda é pouco representativa. Nas granjas onde está presente, sua utilização está vinculada ao mercado de créditos de carbono. Na maior parte destes sistemas, o biogás é queimado em flares, sem o aproveitamento energético. O aproveitamento energético do biogás só se viabiliza se houver um mercado economicamente atrativo para este insumo energético. Kunz e Oliveira (2006) reforçam que o biogás apresenta um vasto potencial para tornar as granjas suinícolas auto-suficientes em energia elétrica e térmica. No entanto, devem-se criar mecanismos econômico-financeiros que viabilizem este aproveitamento. Os autores citam o caso da Austrália, onde as concessionárias de energia elétrica devem contabilizar no mínimo 2% de energia de fonte renovável. Isso faz com que o valor de mercado para esse tipo de energia seja mais atrativo. Além da Austrália, alguns países europeus também garantem incentivos econômicos para o aproveitamento do biogás. No Brasil, o maior potencial de aproveitamento energético do biogás está em granjas UCT (Unidades de Crescimento e Terminação). Nestas unidades, são produzidos diariamente grandes volumes de dejetos, que podem ser utilizados para produzir biogás. No entanto, o consumo de combustível é baixo. A implantação de um biodigestor apenas para suprir esta 131 demanda energética não se justifica. Para a viabilização econômica desta implantação, o excedente energético deve ser comercializado a preços competitivos. Incentivos econômicos como os utilizados na Europa e Austrália poderiam garantir preços mais atrativos para o biogás ou para a eletricidade gerada a partir deste. Na inexistência de um mercado para o biogás, o combustível poderia ser utilizado para evaporar parte do volume de água presente no biofertilizante. Neste caso, ter-se-ia um rearranjo das unidades produtivas, com eliminação da etapa piscicultura. O biofertilizante concentrado poderia ser utilizado na propriedade ou comercializado. Considerando a energia disponibilizada pelo biogás (4,87 GJ/dia) e a demanda térmica para vaporização da água 18, estima-se que poderiam ser evaporados 1,89 m3 de água por dia. Para uma produção diária de dejetos de 5,25 m3, o volume de biofertilizante a ser transportado poderia ser reduzido em 36%. Nesta configuração, o tanque de sedimentação e a etapa piscicultura seriam suprimidos do sistema. No entanto, haveria meios mais nobres de se utilizar o biogás produzido. A redução de volume poderia ser alcançada reduzindo os desperdícios de água nos processos produtivos. Novas configurações de integração poderiam ser utilizadas visando reduzir a demanda de área das etapas produtivas, ou mesmo para aumentar a eficiência energética. Dentre as configurações, aponta-se a utilização da fração líquida do separador de fases para a fertirrigação do milho. Neste caso, o biogás poderia ser utilizado como combustível para a operação de bombeamento. A fração sólida poderia ser utilizada nas áreas mais distantes, ou comercializada. Nesta configuração, a demanda de área seria mais flexível, variando entre aquela do sistema suinocultura agricultura e a resultante da concepção original do BSI. No entanto, destaca-se que, independente da configuração de BSI adotada, os projetos devem ser estruturados levando em consideração a realidade suinícola da granja. A não observância de restrições locais pode inviabilizar a adoção de novas tecnologias de produção. 18 A demanda térmica de vaporização da água é soma do calor latente (entalpia de vaporização) e sensível (Q = m.CP.T). Na temperatura ambiente e pressão atmosférica (1,0 bar) são necessários 2,53 GJ de energia para vaporizar 1,0 m3 de água (densidade da água 1.000 kg/m3). 132 CONCLUSÃO O objetivo deste estudo foi analisar os fluxos de energia em três concepções de sistemas integrados à suinocultura e estimar a demanda de área para implantação das etapas produtivas. Os sistemas integrados foram simulados utilizando o roteiro técnico preconizado por agentes do setor, visando avaliar o desempenho dos sistemas em condições ideais de operação. Os resultados obtidos nas simulações indicam que as três concepções de integração melhoram o desempenho energético da suinocultura. Operando sob as condições preconizadas nas simulações, os sistemas aumentam a oferta de energia, minimizando os impactos ambientais associados. Quanto ao desempenho energético, os melhores resultados foram avaliados para a integração suinocultura agricultura. Operando dentro dos preceitos utilizados neste trabalho, o sistema é auto-suficiente em energia. Para cada unidade investida no agrossistema, tem-se um retorno de 0,09 unidades líquidas (descontada a unidade investida). A eficiência não-renovável do sistema integrado foi avaliada em 2,88. O sistema recicla 96% da proteína investida na forma de ração suína, a um custo não-renovável de 58,74 MJ/kg. No entanto, a concepção tem a maior demanda de área dos sistemas integrados estudados. Estima-se que seriam necessários 47,45 ha para a instalação das unidades produtivas. Sua implantação é recomendada para propriedades com áreas agrícolas disponíveis. Ademais, o controle no nível de diluição dos dejetos é fundamental para garantir a viabilidade econômica no uso dos dejetos como fertilizantes agrícolas. O sistema integrado suinocultura piscicultura obteve os resultados menos expressivos no desempenho energético. Para cada unidade energética investida no agrossistema recuperam-se 0,23 unidades. No entanto, quando se compara o policultivo integrado com um roteiro técnico não-integrado, percebe-se que a integração reduz em até 96,6% o custo não-renovável de produção de proteína. Nesta concepção tem-se a menor demanda de área, estimada em 8,53 ha, sendo que, destes, 8,33 ha são de lâmina de água. O policultivo integrado catarinense é indicado para atender pequenas criações de suínos (até 200 animais), em sistemas agrícolas onde a produção de pescado é o principal vetor econômico. Além disso, a propriedade deve ter disponibilidade de água durante todo período de cultivo e o terreno deve apresentar condições geológicas favoráveis. 133 Em comparação com os sistemas integrados anteriormente citados, o BSI apresenta resultados intermediários, tanto no desempenho energético quanto na demanda de área. A tecnologia apresenta a maior produtividade energética, estimada em 267,02 GJ/ha. O custo não-renovável de produção da proteína é de 73,14 MJ/kg. Se a energia do biogás for utilizada para abater as demandas de energia não-renováveis do sistema, este custo é reduzido a 30,62 MJ/kg de proteína produzida. A demanda de área foi estimada em 25,46 ha, sendo 4,0 ha de lâmina de água e 21,26 ha de cultivo agrícola. O biodigestor contribui significativamente para o aumento da oferta de energia líquida. A energia que potencialmente pode ser ofertada pelo biodigestor é equiparada à energia produzida na forma de suínos terminados. No entanto, o aproveitamento energético do biogás só se viabiliza se houver um mercado economicamente atrativo para este insumo energético. Este mercado poderia ser catalisado por meio de incentivos econômico-financeiros, como os utilizados na Europa e Austrália. Kunz e Oliveira (2006) argumentam que o subsídio econômico para o aproveitamento do biogás poderia viabilizar a implantação dos biodigestores nas propriedades suinícolas. Além de melhorar a sanidade ambiental das granjas, o biodigestor poderia tornar as regiões produtoras de suínos auto-suficientes em energia. A reciclagem dos dejetos proporciona ganhos de produtividade e redução na demanda não-renovável dos agrossistemas. A oferta de proteína aumenta e o custo não-renovável é reduzido. No entanto, existem restrições à implantação dos sistemas integrados. Estas restrições estão relacionadas ao atendimento de critérios de viabilidade técnica (disponibilidade de tecnologia, água e áreas de cultivo) econômicas (mercado para os produtos gerados), de licenciamento das atividades e manejo e operação dos sistemas. Quanto aos requisitos locacionais, as três concepções de integração apresentam restrições. A integração da atividade suinícola com a agricultura demanda grandes áreas. No caso da integração com a piscicultura, a demanda de área é menor, no entanto está sujeita a limitações de disponibilidade hídrica. Mesmo no BSI, que apresenta uma concepção produtiva inovadora, as limitações de área e a disponibilidade hídrica podem restringir a sua utilização. Na região de Frederico Westphalen a área agrícola média das propriedades rurais é de 9,47 ha. Considerando esta área, verifica-se que as tecnologias avaliadas não estariam aptas a serem instaladas na maior parte das propriedades suinícolas da região. Para viabilizar ambientalmente a produção suinícola do lote ―mínino econômico‖ (500 suínos) nestas propriedades seria necessário investir em tecnologias de escala industrial para tratamento dos dejetos suínos. O custo destas tecnologias de tratamento para a pequena escala 134 pode inviabilizar economicamente a atividade suinícola nestas propriedades. Assim, sob a óptica ambiental e social, o que se percebe é que o lote mínimo estabelecido pela agroindústria é inviável para a realidade fundiária da região. A suinocultura no sul do país tem suas origens em minifúndios, sendo caracterizada como uma atividade tipicamente familiar. O mercado suinícola está em expansão e a tecnificação da atividade é importante para o desenvolvimento do setor. Neste cenário, a tendência da atividade é concentrar ainda mais a produção, o que tenderia a aumentar o lote mínimo econômico. No entanto, este crescimento deve respeitar os limites ambientais e socioeconômicos das regiões produtoras. A participação da pequena produção no setor suinícola é fundamental para garantir a estabilidade social, cultural, fundiária e econômica das regiões produtoras. Como discutido por Perin, Martins e Dias (2010) a produção familiar tem papel importante no cenário agrícola brasileiro. No entanto, com a modernização da agricultura brasileira, a modalidade vem perdendo espaço. Os sistemas agrícolas estão, cada vez mais, especializados e a produção tem se concentrado em grandes propriedades. Segundo os autores, é fundamental o fortalecimento das unidades familiares, sob pena de comprometer a sustentabilidade do setor agrícola brasileiro. Assim, para a viabilização econômica, social e ambiental da indústria da carne suína na região de Frederico Westphalen, deve-se conciliar a existência de produtores de larga escala com a pequena produção, em lotes que sejam adequados à realidade local. 135 REFERÊNCIAS ALENCAR, C. A. B. Pastagem e cana-de-açúcar, irrigados por aspersão de baixa pressão. II Simpósio de Produção de Gado de Corte. Viçosa. Anais... 2000. AMON, T. et al. Biogas production from maize and dairy cattle manure – Influence of biomass composition on the methane yield. Agriculture, Ecosystems and Environment, 118, 173–182. Elsevier, 2007. ANGONESE, A. R.; et al. Eficiência energética de sistema de produção de suínos com tratamento de resíduos em biodigestor. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.10, n.3, p.745-750. Campina Grande, 2006. ASAE - American Society of Agricultural Engineers. Manure Production and Characteristics. ASAE D384.1 FEB03. ASAE, 2003. AVISERRA. 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Porto Alegre: s.n., 2007. 142 APÊNDICES 143 APÊNDICE A – Gasto de ração na alimentação dos suínos Tabela A.1: Planilha utilizada para o arraçoamento dos suínos. 1a7 Consumo diário por suíno 1,30 kg 8 a14 1,51 kg 755,00 kg 9,84 t 15 a 21 1,70 kg 850,00 kg 15,79 t 22 a 28 1,86 kg 930,00 kg 22,30 t 29 a 35 2,00 kg 1.000,00 kg 29,30 t 36 a 42 2,12 kg 1.060,00 kg 36,72 t 43 a 49 2,25 kg 1.125,00 kg 44,59 t 50 a 56 2,36 kg 1.180,00 kg 52,85 t 57 a 63 2,56 kg 1.280,00 kg 61,81 t 64 a 70 2,66 kg 1.330,00 kg 71,12 t 71 a 77 2,74 kg 1.370,00 kg 80,71 t 78 a 84 2,80 kg 1.400,00 kg 90,51 t 85 a 91 2,80 kg 1.400,00 kg 100,31 t 92 a 98 2,80 kg 1.400,00 kg 110,11 t 99 a 105 2,80 kg 1.400,00 kg 119,91 t 106 a 112 2,80 kg 1.400,00 kg 129,71 t 113 a 120 2,80 kg 1.400,00 kg 138,11 t Dias Consumo diário por Consumo lote acumulado por lote 650,00 kg 4,55 t Consumo total em um ano de produção (três lotes): 414,33 t 144 APÊNDICE B - Memória de cálculo das entradas e saídas e saídas energéticas da etapa Suinocultura. Tabela B.1: Coeficientes técnicos e o valor energético dos elementos que compõem a infraestrutura da etapa suinocultura, para um ano de produção. Item INFRAESTRUTURA Pocilga Silo de ração Carrinho transporte Composteira Caixa de água Coeficientes técnicos Coeficientes Energéticos --- --2 676,20 m 9,00 t 20,00 kg 20,00 m2 226,00 kg 2 956,03 MJ/m 62,78 MJ/t 62,78 MJ/kg 1.208,17 MJ/m2 130 MJ/kg Uso anual Vida útil Energia Depreciada --- --- 56,98 GJ 29.091,04 MJ 25.425,90 MJ 56,50 MJ 1.087,35 MJ 1.322,10 MJ 1 ano 1 ano 1 ano 1 ano 1 ano 20 anos 20 anos 20 anos 20 anos 20 anos Tabela B.2: Coeficientes técnicos e o valor energético dos insumos gastos em um ano de produção (três lotes de suínos) da etapa suinocultura. Item INSUMOS Mão-de-obra Ração: fração renovável Ração: fração não-renovável Eletricidade Leitões Coeficientes Técnicos --6.771,00 hh 277,60 t 136,73 t 1.848,00 kWh 30,00 t Coeficientes Energéticos --0,47 MJ/hh 17 MJ/kg 17 MJ/kg 3,6 MJ/kWh 9,21 MJ/kg Energia 7.329,75 GJ 3,18 GJ 4.996,82 GJ 2.461,12 GJ 6,65 GJ 276,30 GJ Saídas Energéticas: A suinocultura tem como produto os suínos terminados. Os suínos são entregues com uma massa de média/lote de 130 kg por suíno. Considerando um lote com 500 animais e mortandade de 10%, estima-se uma produção de 58,50 t/lote (peso vivo). Cada lote demanda 110 dias para ser entregue. Assim, em um ano pode-se produzir três lotes, com uma entrega de 175,50 t de suínos terminados. Convertidos em energia, esta produção corresponde a 1,62 TJ/ano. 145 APÊNDICE C - Memória de cálculo do tempo de deslocamento trator/distribuidor para aplicação dos dejetos/biofertilizante, de acordo com a diluição. Apêndice C.1: Cálculo do tempo de rodagem em cada hectare de cultivo agrícola. Tabela C.1: Tempo para aplicação de um tanque (3 m3) em cada hectare de cultivo. Área de plantio (ha) (m2) Diagonal (m) Percurso (ida e volta) (m) Deslocamento total (2 diagonais) (m) Tempo de deslocamento (min./tanque) 1,0 10.000 100,00 200,00 400,00 1,20 2,0 20.000 141,42 282,84 565,69 1,70 3,0 30.000 173,21 346,41 692,82 2,08 4,0 40.000 200,00 400,00 800,00 2,40 5,0 50.000 223,61 447,21 894,43 2,68 6,0 60.000 244,95 489,90 979,80 2,94 7,0 70.000 264,58 529,15 1.058,30 3,17 8,0 80.000 282,84 565,69 1.131,37 3,39 9,0 90.000 300,00 600,00 1.200,00 3,60 10,0 100.000 316,23 632,46 1.264,91 3,79 11,0 110.000 331,66 663,32 1.326,65 3,98 12,0 120.000 346,41 692,82 1.385,64 4,16 13,0 130.000 360,56 721,11 1.442,22 4,33 14,0 140.000 374,17 748,33 1.496,66 4,49 15,0 150.000 387,30 774,60 1.549,19 4,65 16,0 160.000 400,00 800,00 1.600,00 4,80 17,0 170.000 412,31 824,62 1.649,24 4,95 18,0 180.000 424,26 848,53 1.697,06 5,09 19,0 190.000 435,89 871,78 1.743,56 5,23 20,0 200.000 447,21 894,43 1.788,85 5,37 21,0 210.000 458,26 916,52 1.833,03 5,50 22,0 220.000 469,04 938,08 1.876,17 5,63 23,0 230.000 479,58 959,17 1.918,33 5,75 24,0 240.000 489,90 979,80 1.959,59 5,88 25,0 250.000 500,00 1.000,00 2.000,00 6,00 26,0 260.000 509,90 1.019,80 2.039,61 6,12 27,0 270.000 519,62 1.039,23 2.078,46 6,24 28,0 280.000 529,15 1.058,30 2.116,60 6,35 29,0 290.000 538,52 1.077,03 2.154,07 6,46 30,0 300.000 547,72 1.095,45 2.190,89 6,57 31,0 310.000 556,78 1.113,55 2.227,11 6,68 32,0 320.000 565,69 1.131,37 2.262,74 6,79 33,0 330.000 574,46 1.148,91 2.297,83 6,89 34,0 340.000 583,10 1.166,19 2.332,38 7,00 35,0 350.000 591,61 1.183,22 2.366,43 7,10 146 36,0 360.000 600,00 1.200,00 2.400,00 7,20 37,0 370.000 608,28 1.216,56 2.433,11 7,30 38,0 380.000 616,44 1.232,89 2.465,77 7,40 39,0 390.000 624,50 1.249,00 2.498,00 7,49 40,0 400.000 632,46 1.264,91 2.529,82 7,59 41,0 410.000 640,31 1.280,63 2.561,25 7,68 42,0 420.000 648,07 1.296,15 2.592,30 7,78 43,0 430.000 655,74 1.311,49 2.622,98 7,87 44,0 440.000 663,32 1.326,65 2.653,30 7,96 45,0 450.000 670,82 1.341,64 2.683,28 8,05 46,0 460.000 678,23 1.356,47 2.712,93 8,14 47,0 470.000 685,57 1.371,13 2.742,26 8,23 Apêndice C.2: Etapa agricultura no sistema integrado suinoculturaagricultura Tabela C.2: Tempo gasto no transporte dos dejetos da esterqueira até o ponto de aplicação de acordo com a diluição. Tempo de Área de plantio deslocamento (ha) (min./tanque) 1,0 1,20 Dejeto I (min./ha) Dejeto II (min./ha) Dejeto III (min./ha) Dejeto IV (min./ha) Dejeto V (min./ha) 13,69 17,11 20,53 27,38 41,07 2,0 1,70 19,36 24,20 29,04 38,72 58,08 3,0 2,08 23,71 29,64 35,56 47,42 71,13 4,0 2,40 27,38 34,22 41,07 54,76 82,13 5,0 2,68 30,61 38,26 45,91 61,22 91,83 6,0 2,94 33,53 41,91 50,30 67,06 100,59 7,0 3,17 36,22 45,27 54,33 72,43 108,65 8,0 3,39 38,72 48,40 58,08 77,44 116,15 9,0 3,60 41,07 51,33 61,60 82,13 123,20 10,0 3,79 43,29 54,11 64,93 86,58 129,86 11,0 3,98 45,40 56,75 68,10 90,80 136,20 12,0 4,16 47,42 59,27 71,13 94,84 142,26 13,0 4,33 49,36 61,69 74,03 98,71 148,07 14,0 4,49 51,22 64,02 76,83 102,44 153,66 15,0 4,65 53,02 66,27 79,53 106,03 159,05 16,0 4,80 54,76 68,44 82,13 109,51 164,27 17,0 4,95 56,44 70,55 84,66 112,88 169,32 18,0 5,09 58,08 72,60 87,12 116,15 174,23 19,0 5,23 59,67 74,59 89,50 119,34 179,01 20,0 5,37 61,22 76,52 91,83 122,44 183,66 21,0 5,50 62,73 78,41 94,10 125,46 188,19 22,0 5,63 64,21 80,26 96,31 128,41 192,62 147 23,0 5,75 65,65 82,06 98,47 131,30 196,95 24,0 5,88 67,06 83,83 100,59 134,12 201,18 25,0 6,00 68,44 85,56 102,67 136,89 205,33 26,0 6,12 69,80 87,25 104,70 139,60 209,40 27,0 6,24 71,13 88,91 106,69 142,26 213,39 28,0 6,35 72,43 90,54 108,65 144,87 217,30 29,0 6,46 73,72 92,15 110,58 147,43 221,15 30,0 6,57 74,98 93,72 112,47 149,95 224,93 31,0 6,68 76,22 95,27 114,32 152,43 228,65 32,0 6,79 77,44 96,80 116,15 154,87 232,31 33,0 6,89 78,64 98,30 117,96 157,27 235,91 34,0 7,00 79,82 99,77 119,73 159,64 239,46 35,0 7,10 57,85 72,31 86,77 115,69 173,54 36,0 7,20 58,67 73,33 88,00 117,33 176,00 37,0 7,30 59,48 74,34 89,21 118,95 178,43 38,0 7,40 60,27 75,34 90,41 120,55 180,82 39,0 7,49 61,06 76,33 91,59 122,12 183,19 40,0 7,59 61,84 77,30 92,76 123,68 185,52 41,0 7,68 62,61 78,26 93,91 125,22 187,82 42,0 7,78 63,37 79,21 95,05 126,73 190,10 43,0 7,87 64,12 80,15 96,18 128,23 192,35 44,0 7,96 64,86 81,07 97,29 129,72 194,58 45,0 8,05 65,59 81,99 98,39 131,18 196,77 46,0 8,14 66,32 82,90 99,47 132,63 198,95 8,23 67,03 45,36 83,79 56,70 100,55 68,04 134,07 90,72 201,10 136,08 47,0 Média (min./ha) --- Tabela C.3: Tempo total gasto para a coleta, transporte e aplicação dos dejetos de acordo com a diluição. Item Dejeto I 3 Volume a ser aplicado (m ) N° de tanques / ha Tempo de aplicação (min./ha) Tempo de deslocamento (min./ha) Tempo total (min./ha) Tempo total (hm/ha) Dejeto II Dejeto III Dejeto IV Dejeto V 1.155,00 1.443,75 1.732,50 2.310,00 3.465,00 8,15 10,19 12,22 16,30 24,44 162,96 203,70 244,44 325,93 488,89 54,31 67,88 81,46 108,61 162,92 208,32 260,40 312,48 416,65 624,97 3,47 4,34 5,21 6,94 10,42 Obs.: O tempo de aplicação considera o tempo de coleta na esterqueira e aplicação no solo. Na estimativa foi considerado um tempo de 20 minutos por tanque de 3,0 m 3. O cálculo do tempo de deslocamento foi efetivado considerando uma velocidade de deslocamento de 3 min./km. Além disso, considera-se que o lote de plantio apresenta o formato de um quadrado. 148 A pocilga está no centro, sendo que as distâncias de deslocamento são iguais em todos os sentidos (figura C.1). Esta consideração também é valida para o cálculo do tempo de transporte do biofertilizante na etapa agricultura do BSI. Figura C.1: Posicionamento da esterqueira e deslocamentos para o transporte dos dejetos no solo. 149 Apêndice C.3: Etapa agricultura do sistema integrado BSI. Tabela C.4: Tempo gasto no transporte dos dejetos do depósito de biofertilizante até o ponto de aplicação de acordo com a diluição. Área de plantio (ha) 1,0 Tempo de deslocamento (min./tanque) 1,20 Biofertilizante (min./ha) 9,13 2,0 1,70 12,91 3,0 2,08 15,81 4,0 2,40 18,25 5,0 2,68 20,41 6,0 2,94 22,35 7,0 3,17 24,14 8,0 3,39 25,81 9,0 3,60 27,38 10,0 3,79 28,86 11,0 3,98 30,27 12,0 4,16 31,61 13,0 4,33 32,90 14,0 4,49 34,15 15,0 4,65 35,34 16,0 4,80 26,07 17,0 4,95 26,88 18,0 5,09 27,66 19,0 5,23 28,41 20,0 5,37 29,15 21,0 5,50 29,87 Média (min./ha) --- 20,56 Tabela C.5: Tempo total gasto para a coleta, transporte e aplicação do biofertilizante no BSI, de acordo com a diluição. Item Volume a ser aplicado (m3) N° de tanques / ha Tempo de aplicação (min./ha) Tempo de deslocamento (min./ha) Tempo total (min./ha) Tempo total (hm/ha) Biofertilizante 346,50 5,43 108,64 20,56 129,21 2,15 150 APÊNDICE D - Memória de cálculo das entradas e saídas energéticas da etapa Agricultura, no sistema integrado Suinocultura Agricultura. Tabela D.1: Demonstrativo do cálculo das saídas energéticas do sistema integrado suinocultura agricultura. Item Produção 1 Suínos Terminados Milho grão Produção 2 58,50 t/lote 10 t/ha/ano 175,50 t/ano 472,50 t/ano Coeficiente Energético 9,21 GJ/t 16,50 GJ/t Energia Produzida 1,62 TJ 7,80 TJ Tabela D.2: Roteiro técnico para a produção de milho em plantio direto mecanizado, 1ª safra (7 t/ha), safrinha (3 t/ha) e total anual (adaptado de MATTOSO e MELLO FILHO, 2009). Operação 1ª safra 0,60 hm 0,13 hm 0,80 hm 0,60 hm 0,85 hm 0,60 hm 10,22 hh Aplicação herbicida Distribuição do calcário Plantio mecânico Aplicação inseticida Colheita mecânica Transporte Interno Mão-de-obra total Insumos 1ª safra 1,10 t/ha 20,00 kg/ha 6,30 l/ha 1,32 l/ha Calcário Sementes Herbicida Inseticida Duração Safrinha 0,15 hm --0,8 hm 0,3 hm 0,6 hm 0,6 hm 7,01hh Quantidade Safrinha 20,00 kg/ha 2,00 l/ha 0,60 l/ha Total ano 0,75 hm 0,13 hm 1,60 hm 0,90 hm 1,45 hm 1,20 hm 17,23 hh Total ano 1,10 t/ha 40,00 kg/ha 8,30 l/ha 1,92 l/ha Tabela D.3: Coeficientes técnicos e o valor energético dos elementos que compõem a esterqueira. Item INFRAESTRUTURA Hora-máquina Manta PVC Mão-de-obra Massa / quantidade Tempo de utilização anual --7,0 hm 392,5 kg 30,0 kg 16 hh Coeficientes Energéticos --- 1 ano 1 ano 1 ano 1 ano 473,18 MJ/hm 130,0 MJ/kg 120,0 MJ/kg 0,47 MJ/hh Unidade física depreciada --30,43 hm 405,00 kg 0,90 kg 0,90 hh Energia Depreciada 2,61 GJ 149,05 MJ 2.296,13 MJ 162,00 MJ 0,34 MJ 151 Tabela D.4: Coeficientes físicos e o valor energético dos elementos que compõem a infraestrutura da etapa agricultura. Item INFRAESTRUTURA Esterqueira Trator Colheitadeira Pulverizador Carreta Distribuidor de calcário Plantadeira Lastro trator Distribuidor de Biofertilizante Massa / quantidade Tempo de utilização anual Coeficientes Energéticos --- --- Unidade física depreciada --- Energia Depreciada 1 un. 2,90 t 9,10 t 7,90 t 2,00 t 1,10 t 2,90 t 2,00 t 1 ano 462,25 h 68,51 h 77,96 h 56,70 h 5,91 h 75,60 h 462,25 h --69,83 MJ/kg 69,83 MJ/kg 83,71 MJ/kg 83,71 MJ/kg 83,71 MJ/kg 83,71 MJ/kg 62,78 MJ/kg ---157,65 kg 73,32 kg 72,43 kg 13,34 kg 0,76 kg 25,78 kg 83,21 kg 35,51 GJ 11.008,40 MJ 5.119,89 MJ 6.063,14 MJ 1.116,34 MJ 63,96 MJ 2.158,26 MJ 5.223,61 MJ 2.151,92 MJ 1,30 t 246,08 h 57,20 MJ/kg 37,62 kg 2.607,52 MJ Tabela D.5: Gasto de combustível nas operações do itinerário da etapa agricultura. Operações Aplicação herbicida Distribuição do calcário Plantio mecânico Aplicação inseticida Colheita mecânica Transporte Interno Aplicação Biofertilizante Total Tempo de operação 35,44 hm/ano 5,91 hm/ano 75,60 hm/ano 42,53 hm/ano 68,51 hm/ano 56,70 hm/ano 246,08 hm/ano --- Equipamento Trator 85 cv Trator 85 cv Trator 85 cv Trator 85 cv Colheitadeira 160 cv Trator 85 cv Trator 85 cv --- Consumo horário 1,0 l/hm 1,0 l/hm 4,5 l/hm 1,0 l/hm 10,0 l/hm 1,0 l/hm 1,0 l/hm --- Consumo/ano 35,44 l 5,91 l 343,22 l 42,53 l 685,13 l 56,70 l 246,08 l 1.415,00 l Tabela D.6: Coeficientes técnicos e o valor energético dos insumos gastos em um ano de produção (duas safras) da etapa agricultura. Item INSUMOS Mão-de-obra Sementes Defensivos Herbicida Inseticida Nitrogênio Potássio Combustível Calcário Coeficientes Técnicos Coeficientes Energéticos --- --- 1.059,96 hh 1.890,00 kg --784,35 l 181,44 l 4.837,50 kg 4.306,50 kg 1.415,00 l 51,98 t 0,47 MJ/hh 33,21 MJ/kg --288,00 MJ/l 237,00 MJ//l 73,00 MJ/kg 9,00 MJ/kg 35,52 MJ/l 0,17 MJ/t Energia 774,32 GJ 498,18 MJ 62.766,90 MJ 268.894,08 MJ 225.892,80 MJ 43.001,28 MJ 353.137,50 MJ 38.758,50 MJ 50.260,77 MJ 8,84 MJ 152 APÊNDICE E - Memória de cálculo das entradas e saídas energéticas da etapa Piscicultura, no sistema integrado Suinocultura Piscicultura. Tabela E.1: Coeficientes técnicos e o valor energético dos elementos que compõem a infraestrutura da etapa piscicultura, para um ano de produção. Item INFRAESTRUTURA Hora-máquina Mão-de-obra Caixa de Nível – Alvenaria Rede de arrasto – Fibra têxtil Tarrafa de pesca – Fibra têxtil Balança de Gancho – Aço Botas e macacão – Borracha Tubos e Conexões - PVC Tubos 200 mm – Concreto pré-moldado Massa / quantidade Período de uso anual --- Unidade física depreciada --- Coeficientes Energéticos --- Energia Depreciada 896,0 hm 1.800,0 hh 1 ano 1 ano 473,18 MJ/hm 0,47 MJ/hh 40,32 hm 81,00 hh 23,54 GJ 19.078,62 MJ 38,07 MJ 40,0 m2 1 ano 1.208,17 MJ/m2 1,80 m2 2.174,71 MJ 80,0 kg 1 ano 85,81 MJ/kg 14,40 kg 1.235,66 MJ 5,0 kg 1 ano 85,81 MJ/kg 0,90 kg 77,23 MJ 1,5 kg 1 ano 62,78 MJ/kg 0,27 kg 16,95 MJ 5,0 kg 1 ano 85,81 MJ/kg 0,90 kg 77,23 MJ 35,8 kg 1 ano 120 MJ/kg 1,61 kg 193,43 MJ 1 ano 2 2 649,86 MJ 2 167,3 m 86,33 MJ/m 7,53 m Tabela E.2: Coeficientes técnicos e o valor energético dos insumos gastos em um ano de produção da etapa piscicultura. Item INSUMOS Calcário Mão-de-obra Alevinos Carpa comum Carpa prateada Carpa cabeça grande Carpa Capim Tilápia nilótica Cascudo Bagre Americano Bagre Africano Jundiá Coeficientes Técnicos Coeficientes Energéticos --- --- 20,83 t 2.059,18 h --- 0,17 MJ/t 0,47 MJ/hh ---- 3,54 MJ 967,81 MJ 6.576,88 MJ 624,75 kg 187,43 kg 124,95 kg 62,48 kg 312,38 kg 62,48 kg 62,48 kg 62,48 kg 62,48 kg 4,29 MJ/kg 3,33 MJ/kg 3,89 MJ/kg 3,94 MJ/kg 4,98 MJ/kg 3,94 MJ/kg 3,94 MJ/kg 3,94 MJ/kg 3,94 MJ/kg 2.680,18 MJ 624,14 MJ 486,06 MJ 246,17 MJ 1.555,65 MJ 246,17 MJ 246,17 MJ 246,17 MJ 246,17 MJ Energia 7,55 GJ 153 APÊNDICE F - Memória de cálculo das entradas energéticas da etapa Biodigestor, no sistema integrado Suinocultura Biodigestor Piscicultura/Agricultura. Tabela F.1: Coeficientes técnicos e o valor energético dos elementos que compõem o biodigestor. Massa / quantidade Item Período de uso anual --- INFRAESTRUTURA Hora-máquina Manta PVC 19 Mão-de-obra Unidade física depreciada --- Coeficientes Energéticos --- 2,3 hm 525,0 kg 50,0 kg 16,0 hh 1 ano 1 ano 1 ano 1 ano 473,18 MJ/hm 130,0 MJ/kg 120,0 MJ/kg 0,47 MJ/hh 0,10 hm 0,72 kg 23,63 kg 2,25 hh Energia Depreciada 3,39 GJ 48,97 MJ 3.071,25 MJ 270,00 MJ 0,34 MJ Tabela F.2: Coeficientes técnicos e o valor energético dos elementos que compõem o tanque de sedimentação. Massa / quantidade Item Período de uso anual --- INFRAESTRUTURA Hora-máquina Unidade física depreciada --- Coeficientes Energéticos --- 2 67,70 m 1 ano 2 1.208,17 MJ/m 2 3,05 m Energia Depreciada 3,68 GJ 3.680,69 MJ Tabela F.3: Cálculo da produção de metano e energia associada. Item Produção específica de metano Produção diária de SV Produção diária de CH4 Ano útil Produção anual de CH4 Produção anual de biogás (66% CH4) Coeficiente energético do biogás Produção anual de energia Produção média diária de energia 19 Valor 0,45 m3/kg SV 318,75 m3 143,44 m3 330 dias 45.900,00 m3 78.575,06 m3 22,40 MJ/Nm3 1.606.528,69 MJ 4.868,27 MJ A energia depreciada pelo uso do PVC, utilizado na construção dos tanques de sedimentação e depósito de biofertilizante, foi computada na avaliação energética do biodigestor. 154 APÊNDICE G - Memória de cálculo das entradas energéticas da etapa Piscicultura, no sistema integrado Suinocultura Biodigestor Piscicultura/Agricultura. Tabela G.1: Coeficientes técnicos e o valor energético dos elementos que compõem a infraestrutura da etapa piscicultura, para um ano de produção. Item Massa / quantidade INFRAESTRUTURA Hora-máquina Mão-de-obra Caixa de Nível – Alvenaria Rede de arrasto – Fibra têxtil Tarrafa de pesca – Fibra têxtil Balança de Gancho – Aço Botas e macacão – Borracha Tubos e Conexões - PVC Tubos 200 mm – Concreto pré-moldado Período de uso anual --- Unidade física depreciada --- Coeficientes Energéticos --- Energia Depreciada 428,0 hm 900,0 hh 1 ano 1 ano 473,18 MJ/hm 0,47 MJ/hh 19,26 hm 40,50 hh 12,05 GJ 9.113,45 MJ 19,04 MJ 40,0 m2 1 ano 1.208,17 MJ/m2 0,90 m2 1.087,35 MJ 80,0 kg 1 ano 85,81 MJ/kg 14,40 kg .235,66 MJ 5,0 kg 1 ano 85,81 MJ/kg 0,90 kg 77,23 MJ 1,5 kg 1 ano 62,78 MJ/kg 0,27 kg 16,95 MJ 5,0 kg 1 ano 85,81 MJ/kg 0,90 kg 77,23 MJ 4,48 kg 1 ano 120 MJ/kg 0,81kg 96,77 MJ 1 ano 2 2 324,93 MJ 2 20,91 m 86,33 MJ/m 3,76 m Tabela G.2: Coeficientes técnicos e o valor energético dos insumos gastos em um ano de produção da etapa piscicultura. Item INSUMOS Calcário Mão-de-obra Alevinos Carpa comum Carpa prateada Carpa cabeça grande Cascudo Coeficientes Técnicos Coeficientes Energéticos --- --- Energia 2,19 GJ 10 kg/ano 988,8 kg/ano --- 0,17 MJ/t 0,47 MJ/hh --- 1,70 MJ 464,74 MJ 1.720,56 MJ 144 kg/ano 120 kg/ano 120 kg/ano 60 kg/ano 4,29 MJ/kg 3,33 MJ/kg 3,89 MJ/kg 3,94 MJ/kg 617,76 MJ 399,60 MJ 466,80 MJ 236,40 MJ 155 APÊNDICE H - Memória de cálculo das entradas energéticas da etapa Agricultura, no sistema integrado Suinocultura Biodigestor Piscicultura/Agricultura. Tabela H.1: Coeficientes técnicos e o valor energético dos elementos que compõem a infraestrutura da etapa agricultura. Item Massa / quantidade Tempo de utilização anual --- INFRAESTRUTURA Depósito de biofertilizante Trator Colheitadeira Pulverizador Carreta Distribuidor de calcário Plantadeira Lastro trator Distribuidor de Biofertilizante Coeficientes Energéticos Unidade física depreciada Energia Depreciada --- --- 163 m2 2,90 t 9,10 t 7,90 t 2,00 t 1,10 t 2,90 t 2,00 t 1 ano 143,06 hm 30,83 hm 35,08 hm 25,52 hm 2,66 hm 34,02 hm 143,06 hm 1,20 GJ/m2 69,83 MJ/kg 69,83 MJ/kg 83,71 MJ/kg 83,71 MJ/kg 83,71 MJ/kg 83,71 MJ/kg 62,78 MJ/kg 7,34 m2 32,99 kg 32,59 kg 6,00 kg 0,34 kg 11,60 kg 25,75 kg 7,00 kg 20,82 GJ 8.861,93 MJ 3.407,03 MJ 2.303,95 MJ 2.728,41 MJ 502,35 MJ 28,78 MJ 971,22 MJ 1.616,67 MJ 1,30 t 45,79 hm 57,20 MJ/kg 48,79 kg 400,40 MJ Tabela H.3: Gasto de combustível nas operações do itinerário da etapa agricultura. Operações Aplicação herbicida Distribuição do calcário Plantio mecânico Aplicação inseticida Colheita mecânica Transporte Interno Aplicação Biofertilizante Total Equipamento Trator 85 cv Trator 85 cv Trator 85 cv Trator 85 cv Colheitadeira 160 cv Trator 85 cv Trator 85 cv --- Tempo de operação 15,95 hm/ano 2,66 hm/ano 34,02 hm/ano 19,14 hm/ano 30,83 hm/ano 25,52 hm/ano 45,79 hm/ano --- Consumo horário 1,0 l 1,0 l 4,5 1,0 l 10,0 l 1,0 l 1,0 l --- Consumo/ano 15,95 l 2,66 l 154,45 l 19,14 l 308,31 l 25,52 l 45,79 l 571,80 l Tabela H.2: Coeficientes técnicos e o valor energético dos insumos gastos em um ano de produção (duas safras) da etapa agricultura. Item Coeficientes Técnicos Coeficientes Energéticos --- --- INSUMOS Mão-de-obra Sementes Defensivos Herbicida Inseticida Nitrogênio Potássio Combustível Calcário 412,03 hm 850,50 kg --- 0,47 MJ/hh 33,21 MJ/kg --- 176,48 l 40,82 l 1.533,38 kg 1.405,76 kg 571,80 l 23,39 t 288,00 MJ/l 237,00 MJ/l 73,00 MJ/kg 9,00 MJ/kg 35,52 MJ/l 0,17 MJ/t Energia 233,84 GJ 193,66 MJ 28.245,11 MJ 60.501,17 MJ 50.825,88 MJ 9.675,29 MJ 111.936,38 MJ 12.651,80 MJ 20.310,35 MJ 3,98 MJ