FRBRIZANDO A OBRA MACUNAÍMA: uma análise da família de obras

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FRBRIZANDO A OBRA MACUNAÍMA: uma análise da família de obras
XXXIV Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia,
Documentação, Ciência da Informação e Gestão da Informação
Formação do profissional da informação: desafios, perspectivas e campos de atuação.
FRBRIZANDO A OBRA MACUNAÍMA: uma análise da família
de obras1
Vinicius de Souza Tolentino*
Gabriela Almendra**
Jessica Nogueira Gomes***
Luis Guilherme Gomes de Macena****
Resumo
Apresenta o modelo conceitual denominado Requisitos Funcionais para
Registros Bibliográficos (FRBR), proposto pela International Federation of
Library Associations and Institutions (IFLA). Analisa as entidades do grupo 1,
através dos conceitos presentes na obra Macunaíma, um herói sem nenhum
caráter. Examina a família de obras e discute os relacionamentos existentes
no romance e na sua adaptação para filme, simulando o resultado num
catálogo relacional. Finaliza explicitando a importância do profissional da
informação, em especial o profissional catalogador, em entender e dominar
os conceitos que vem trazendo um novo rumo para área de catalogação.
Palavras-chave: Catalogação; FRBR; Família de obras.
Introdução
A catalogação, com o passar dos anos, ganha mais força e espaço
para alcançar a melhor representação da informação. Esse processo de
evolução tem contribuído especialmente com a universalização de catálogos
para um melhor intercâmbio de informações entre as bibliotecas,
economizando o tempo da instituição e, principalmente, do bibliotecário.
Entretanto, outro fator que pode colaborar com a instituição é o
profissional da informação. Desta maneira, cabe ao mesmo ter
conhecimento dos suportes da informação para atender a demanda dos
usuários.
Sabendo desta importância, esse trabalho realiza um exercício para a
compreensão do modelo conceitual elaborado pela International Federation
1
Comunicação oral apresentada ao GT 04 – Temática livre.
* Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Graduação em Biblioteconomia. Monitor no Projeto de Ensino Representação Descritiva: novos parâmetros, novos conteúdos.
[email protected].
** Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Graduando em Biblioteconomia. Bolsista no Projeto de Extensão Universidade Cidadã: inclusão digital e geração de
conteúdos. [email protected].
*** Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Graduação em Biblioteconomia. Bolsista no Projeto de Extensão Universidade Cidadã: inclusão digital e geração de
conteúdos. [email protected].
**** Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Graduação em Biblioteconomia.
Bolsista no Projeto de Iniciação Científica Repositório Institucional ARCA da FIOCRUZ.
[email protected].
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XXXIV Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia,
Documentação, Ciência da Informação e Gestão da Informação
Formação do profissional da informação: desafios, perspectivas e campos de atuação.
of Library Associations and Institutions (IFLA), o qual busca
diretrizes para a catalogação, visando a elaboração de um código
internacional.
Como consequência dessa padronização, as bibliotecas podem
encontrar facilidade na recuperação do suporte e, principalmente, na
recuperação da informação desejada pelo usuário. Por este motivo, a IFLA
tem como objetivo criar um código internacional, tendo como um dos
primeiros passos o modelo conceitual dos Requisitos Funcionais para
Registros Bibliográficos (FRBR). Desta maneira, é essencial que as
bibliotecas percebam a necessidade dos sistemas terem interoperabilidade e
realizarem a relação entre todos os atributos propostos pelo modelo FRBR.
Percebendo a importância da recuperação da informação em um
catálogo relacional, a fim de atender a necessidade do usuário, este trabalho
tem como propósito exemplificar a obra Macunaíma: um herói sem nenhum
caráter, de Mário de Andrade, dentro dos FRBR. Pelo fato dos FRBR
abrangerem um vasto campo conceitual, este trabalho se restringirá aos
relacionamentos da entidade do grupo 1.
As obras selecionadas para exemplificar as relações dos FRBR foram
retiradas da base de dados bibliográfica da Universidade de São Paulo, na
qual utilizou-se: a 1ª edição do livro de 1928, a 31ª edição do livro de 2000,
o filme, baseado nesse mesmo livro, em formato Video Home System (VHS)
de 1969 e, por fim, o filme em Digital Video Disc (DVD) produzido por volta
de 2006.
A produção deste trabalho surgiu como consequência do trabalho final
da disciplina Representação Descritiva V, do curso de Biblioteconomia da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Nesse trabalho foi
exposto os principais assuntos vistos durante todas as disciplinas da área de
Representação Descritiva, ministradas ao longo do curso. Em relação à
escolha da obra Macunaíma: um herói sem nenhum caráter, esta se deve
pelo fato da mesma caracterizar as propostas do movimento modernista,
sendo marcante para a cultura brasileira.
No primeiro momento, o estudo apresentará os princípios, conceitos e
métodos dos FRBR a fim de realizar um levantamento bibliográfico para
construir um referencial teórico. Em seguida, será exposta a biografia de
Mário de Andrade, sua obra Macunaíma: um herói sem nenhum caráter e o
filme Macunaíma para obter maior conhecimento sobre ambas e aplicá-la ao
modelo FRBR, com o intuito de interligar a parte teórica com a prática. Por
fim, o quadro da família de obras será analisado.
Os conceitos propostos dos FRBR
O estudo para o desenvolvimento da criação dos FRBR deu-se a
partir do objetivo de reestruturar os registros bibliográficos, de maneira a
refletir a forma como ocorre a busca pela informação, tendo em vista a
diversidade de usuários, materiais, suportes físicos e formatos. Para tornar
esse objetivo uma realidade, foi necessário a reunião do grupo de estudos
da Seção de catalogação e da Seção de Classificação e Indexação da IFLA,
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além da colaboração de consultores e voluntários de
diversas nacionalidades. Levantamentos foram feitos e no final de oito anos
foi apresentado, em 1998, um relatório com toda a pesquisa.
A apresentação do relatório final em 1998 oferece a compreensão de
que os
FRBR são um modelo conceitual do tipo entidaderelacionamento (E-R) porque representam e descrevem
simplificadamente o universo bibliográfico em nível teórico,
servindo como base para implementação de sistemas ou
bases de dados bibliográficas (SILVEIRA, 2007, p. 58).
Sua proposta é
primeiro, fornecer uma estrutura claramente definida e
estruturada para relacionar dados registrados em registros
bibliográficos às necessidades dos usuários destes
registros. O segundo objetivo é recomendar um nível básico
de funcionalidade para registros criados pelas agências
bibliográficas nacionais (IFLA, 1998, p. 7, tradução nossa).
Esse modelo entidade-relacionamento é constituído por três
elementos cruciais. São eles: as entidades, os atributos e os
relacionamentos.
Entidade pode ser entendida como “algo que possui um caráter
unitário e auto-contido; algo que tem existência independente ou separada;
uma abstração, conceito ideal, objeto de pensamento ou transcendental”
(IFLA, 2009, p. 10).
De acordo com Moreno e Márdero Arellano (2005, p. 26) “entidade é
aqui entendida como uma ‘coisa’ ou um ‘objeto’ no mundo real que pode ser
identificada de forma unívoca em relação a todos os outros objetos. Uma
entidade pode ser concreta ou abstrata”. Os conceitos dos atributos e dos
relacionamentos serão apresentados na parte da discussão, pois dessa
maneira juntamente com os exemplos elencados no levantamento
bibliográfico reunir-se-á teoria e prática.
Os FRBR são compostos por dez entidades que se dividem em três
grupos. São eles:
GRUPO 1 - as entidades que representam os produtos de trabalho
intelectual ou artístico: obra, expressão, manifestação e item. Esse grupo
será aprofundado adiante, visto que o presente artigo tem por objetivo
exemplificar os relacionamentos de conteúdo inerentes as entidades desse
grupo, logo o grupo 2 e 3 será tratado sucintamente.
GRUPO 2 - as entidades que representam os responsáveis pelo conteúdo,
produção, disseminação e guarda das entidades do primeiro grupo: pessoa
e entidade coletiva2.
2
Segundo Mey e Silveira (2009, p. 21) empregou-se “‘entidade coletiva’ por ser tradução
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GRUPO 3 - as entidades que representam os assuntos de
uma obra: conceito, objeto, evento e lugar.
A seguir, as quatro entidades pertencentes do grupo 1 dos FRBR.
FIGURA 1: Entidades do Grupo 1.
Fonte: Tillett (2003, p. 2).
A obra é a primeira entidade apresentada nos FRBR e tem por
definição ser abstrata e reconhecida através das realizações individuais ou
expressões da obra que só existem na comunhão de conteúdo entre e
dentre as diversas expressões da obra (IFLA, 1998, p. 17). Segundo Moreno
(2005, p. 27) “obra é uma entidade abstrata, uma criação intelectual ou
artística distinta”.
Os FRBR chamam de “obra” o que as pessoas
denominam “livro” no sentido de “quem o criou”, significando o mais alto
nível de abstração, o conteúdo conceitual subjacente a todas as versões
linguísticas, a história contada no livro, às idéias na cabeça de uma pessoa
para o livro (TILLETT, 2003, p. 3).
Quando a modificação de uma obra implica num esforço
intelectual ou artístico essa obra para os FRBR é
considerada uma nova obra. Assim como paráfrases,
reescritos, adaptações para crianças, paródias, variações
musicais sobre um tema e as transcrições livres de uma
composição musical são consideradas novas obras (IFLA,
1998, p. 18, tradução nossa).
A expressão para IFLA (1998, p. 19, tradução nossa)
Trata-se de uma realização intelectual ou artística de uma
obra sob a forma de notação alfa-numérico, musical ou
coreográfica, som, imagem, objeto, movimento, etc, ou
qualquer combinação de tais formas. Uma expressão é a
forma intelectual ou artística específica que assume uma
obra a cada vez em que é realizada.
consagrada de corporate body. Consideramos, porém, que sinônimos, como instituição,
organização ou mesmo estabelecimento ou organismo eliminariam a dúvida e a confusão
entre ‘entidade’ dos FRBR e a ‘entidade coletiva’”.
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De acordo com Moreno e Márdero Arellano (2005, p.
27) “a entidade expressão de uma obra é a realização intelectual ou artística
específica que assume uma obra ao ser realizada, excluindo-se aí aspectos
da alteração da forma física.”
Por serem abstratas, há dificuldades em determinar com exatidão
obra e expressão, assim como definir o que será considerado nova obra e
nova expressão. Para Silveira (2007) o limite entre expressão e obra está no
esforço intelectual originário, ou seja, quando uma idéia original, ou algo
novo e diferente é acrescentado à obra. A figura a seguir mostra esse limite.
FIGURA 2: Relationships in the Organization of Knowledge.
Fonte: Tillett (2003, p. 4).
Ao identificar uma obra listada, o consulente verá todas as obras,
expressões e manifestações relacionadas com a busca. No início da seta
vermelha encontram-se as obras originais, que se relacionam com as
expressões e manifestações partilhando dos mesmos conteúdos intelectuais
ou artísticos percebidos através do mesmo modo de expressão. O ponto de
corte é a separação da mesma obra transformando-se em nova obra, na
qual se encontra o relacionamento descritivo que envolve obras originais.
A expressão de uma obra é materializada por meio de outra entidade,
a manifestação, que se refere à materialização da expressão de uma obra,
ou seja, a qual tipo de meio físico ela se insere. Esta entidade compreende
materiais que incluem manuscritos, livros, periódicos, mapas, filmes, CDROMs etc. A manifestação representa todos os objetos físicos que carregam
as mesmas características, no que diz respeito tanto ao conteúdo intelectual
e quanto a forma física. A terceira entidade, manifestação, “pode incorporar,
uma coleção de obras, uma obra individual, ou uma parte de uma obra. As
manifestações podem aparecer em uma ou mais unidades físicas” (IFLA,
2009, p. 11).
A quarta e última entidade do grupo 1 é o item, um “exemplar
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específico de uma manifestação” (IFLA, 2009, p. 11).
Podem ser considerados exemplos de item: um livro autografado, com
marca d’água, carimbos, assinaturas, ex-libris, ex-dono, como também uma
página da internet impressa ou o documento em formato pdf arquivado num
computador. O item é físico, mesmo que seja digital, porque é a
exemplificação da manifestação. Há casos que um item pode ser composto
por mais de um objeto físico, como por exemplo, uma obra publicada em
dois volumes, ou em três DVD.
Dentre as entidades do grupo 1, apenas as duas últimas refletem a
forma física, uma vez que são concretos, diferente das duas primeiras que
apresentam conteúdo intelectual ou artístico.
Personalidade e sua obra
De acordo com o levantamento bibliográfico efetuado para a
explicação dos conceitos dos FRBR, a seguir apresentar-se-á um pouco da
vida de Mário de Andrade, assim como informações sobre uma de suas
obras mais conhecidas - Macunaíma, um herói sem nenhum caráter - e do
filme baseado nesse mesmo livro.
Mário de Andrade
Mário Raul de Morais Andrade (1893-1945), conhecido por Mário de
Andrade, nasceu em São Paulo, capital (NICOLA, 2002). Foi membro ativo
da Semana de Arte Moderna de 1922, um movimento artístico, político e
social, representando “a confluência das várias tendências de renovação
que vinham ocorrendo na arte e na cultura brasileira antes de 1922 e cujo
objetivo era combater a arte tradicional” (CEREJA; MAGALHÃES, 2003, p.
386).
Mário de Andrade foi um radicalista no que diz respeito ao uso de uma
linguagem tipicamente brasileira, mais próxima do povo, informal e distante
dos padrões normalistas (NICOLA, 2002). Devido a sua grande importância
para a construção de uma identidade brasileira, escolhemos essa figura,
cuja obra Macunaíma é um clássico da nossa literatura.
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter
Talvez seja a obra mais conhecida e comentada de Mário de Andrade.
Ela conta a história do “choque do índio amazônico [...] com a tradição e a
cultura europeia na cidade de São Paulo” (NICOLA, 2002, p. 301). Trata-se
de uma coletânea de mitos e lendas do folclore brasileiro.
Como o próprio título indica, a obra retrata um protagonista anti-herói,
desmitificando o índio como herói romântico – outra característica marcante
do estilo do autor: a ruptura com a tradição. Ademais, um ponto a ser
salientado é a incorporação do léxico africano e indígena à obra,
representando, assim, a formação da língua portuguesa no Brasil.
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Macunaíma, o filme
Com direção, produção e roteiro de Joaquim Pedro de Andrade, o
filme Macunaíma foi inspirado no romance de Mário de Andrade, sobre o
qual falamos a respeito no item anterior. Como parte de seu elenco, grandes
nomes da dramaturgia contracenaram: Grande Otelo, interpretando o próprio
Macunaíma, Paulo José, Dina Sfat, entre outros. Segundo Silva Neto (2002,
p. 485), o filme “[...] acabou se tornando um cult do Cinema Brasileiro e do
Cinema Novo”.
Na próxima seção, apresentaremos as relações entre o filme e os
livros, a partir das entidades do grupo 1 do quadro de famílias dos FRBR.
Discussão
Os atributos ligados às características físicas que compõem uma
expressão, manifestação e que identificam um item
são categorizados de acordo com as entidades, incluindo os
mais diferentes tipos de materiais e suas características.
Abrange desde registros sonoros tendo como atributos
modalidade de captação, meio físico, extensão do suporte,
velocidade de execução (no caso de uma manifestação), até
objetos cartográficos, por exemplo, que possuem, na
expressão, como atributos: escala, projeção, técnica de
apresentação, entre outros. Um recurso eletrônico de
acesso remoto, por exemplo, apresenta como atributos as
características do arquivo, forma de acesso, endereço de
acesso, e assim por diante (MORENO; MÁRDERO
ARELLANO, 2005, p. 33-34).
Por meio deles podemos estabelecer distinções entre uma obra e
outra, entre uma obra e sua expressão e/ou manifestação. Nos
relacionamentos de conteúdo os atributos das entidades dos grupo 1 podem
ser classificados como obras equivalente, derivada e descritiva. Segundo
Tillett (2001, p. 19-20 apud Moreno, 2006, p. 59) as
relações de equivalência [são] aquelas existentes entre
cópias exatas da mesma manifestação de uma obra ou
entre um item original e suas reproduções, desde que o
conteúdo intelectual e a autoria sejam preservados;
relações derivadas [são] aquelas existentes entre uma obra
bibliográfica e uma modificação baseada nesta obra;
relações descritivas [são] aquelas existentes entre uma
entidade bibliográfica e a parte componente desta entidade.
Para este trabalho, foram escolhidas duas obras: Macunaíma
romance e Macunaíma filme. Como a obra é abstrata, recorreu-se a quatro
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documentos (manifestações), o primeiro se refere à
primeira publicação do livro Macunaíma, datada de 1929. No quadro da
família de obras, esta manifestação referir-se à obra original, como
visualizado no quadro a seguir:
Macunaíma:
um herói sem
nenhum
caráter
Macunaíma
(VHS) – filme
de 1969
Macunaíma: um
herói sem nenhum
caráter – 31. ed.
Macunaíma (DVD) –
versão restaurada do
filme de 1969
FIGURA 3: Relationships in the Organization of Knowledge.
Fonte: Adaptação de Tillett (2003, p. 4).
O segundo trata-se de uma nova expressão, pois quando um texto é
revisto ou modificado sofrendo pequenas mudanças, como correções de
ortografia e pontuação, pode ser considerado variação dentro de uma
mesma expressão (IFLA, 1998). Sendo o atributo edição ligado à
manifestação, a 31ª edição caracteriza-se como uma nova expressão por
sofrer modificação da 1ª edição. Uma vez que surge uma nova expressão a
manifestação também será outra.
O terceiro corresponde a uma nova obra, pois sua criação teve um
significativo esforço intelectual e artístico para adaptar o romance a um filme.
O quarto apresenta uma nova expressão do filme por apresentar
versão restaurada e acrescida de extras como o curta inédito: Brasília:
contradições de uma cidade nova, o making of da restauração digital e uma
seleção de doze cenas censuradas no ano de sua produção pelo regime
militar. Com esses acréscimos o atributo extensão da expressão aumentou
em minutos. No atributo manifestação temos o suporte físico e data de
distribuição como elementos mais significativos. No terceiro documento aqui
analisado o filme está no suporte VHS com a data de distribuição por volta
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do ano de 1980 enquanto que no quarto o DVD é o meio
físico e a data de distribuição por volta de 2006.
No quadro família de obras os três últimos itens compreendem obras
derivadas, por estarem no conjunto de novas expressões “que se movem ao
longo do continuum numa linha mágica” (TILLET, 2003, p. 4) transformandose em novas obras não obstante relacionadas à mesma obra original.
O romance e o filme distinguem-se em nova obra pelo atributo
manifestação, no qual o suporte físico torna-se evidente para a
diferenciação. Contudo a definição de responsabilidade é o atributo da
manifestação mais característico para a transformação em uma nova obra.
O filme é uma obra derivada do romance, que seria a obra original.
Com a discussão acima, podemos chegar ao seguinte esquema.
O1 – Romance Macunaíma, o herói sem nenhum caráter
E1 – Plano de 19073
M1 – 1.ed. ; São Paulo
I1- Biblioteca do Inst. Estudos Brasileiros
E2 – Acordo ortográfico de 19914
M1 – 31.ed. ; Coleção dos autores modernos da literatura
brasileira ; volume 1 ; Andrade, Mário de 1893-1945 ; Belo Horizonte
I1 – Biblioteca da Escola Engenharia de São Carlos
O2 – Filme Macunaíma
E1 – 103 min.
M1 – VHS; Data de distribuição [198-] ; Andrade,
Joaquim Pedro de, 1932-1988, diretor
I1 – Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes
E2 – 105 min.
M1 – DVD; Data de distribuição [200-] ; Andrade,
Joaquim Pedro de, 1932-1988, diretor
I1 – Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes
Analisando as relações da obra Macunaíma (romance) e de sua obra
derivada (Macunaíma, filme), pode-se observar que um catálogo construído
com relacionamentos mais claros entre as entidades possibilitaria melhor
recuperação da informação e navegação pelo catálogo, ampliando as
opções de escolha do usuário.
3
De acordo com Lima Sobrinho a Academia Brasileira de Letras (ABL) iniciou em 1907 um
processo de simplificar suas publicações com a iniciativa de Medeiros e Albuquerque. Em
1911, um trabalho de uniformização do uso ortográfico da língua em publicações oficiais e
educacionais foi instaurado em Portugal, porém essa reforma não chegou ao Brasil. Com
isso a ABL tentando unificar as ortografias brasileira e portuguesa, no ano de 1943,
realizou uma reunião em Lisboa com o objetivo de planejar uma padronização dos
vocábulos. Da Convenção de 1943 é que se firmou o Acordo de 1945 entre a Academia de
Ciências de Lisboa e a ABL.
4
Assinado em Lisboa no dia 16 de dezembro de 1990. Aprovado para ratificação pela Resolução da Assembleia da República n.º 26, em 23 de agosto de 1991.
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Considerações finais
A apresentação dos conceitos dos FRBR definem as entidades e os
atributos propondo um relacionamento de diversas formas, o que contribui
para um melhor resultado na busca dos usuários em catálogos. A aplicação
na obra Macunaíma: um herói sem nenhum caráter, permitiu o entendimento
dos conceitos entidades e atributos e seus relacionamentos na família de
obras que virão a ser resultados de buscas em um catálogo relacional.
No decorrer do trabalho, a aplicação do filme Macunaíma rendeu
discussões, pois nos conceitos dos FRBR os atributos inerentes à
identificação de obras cinematográficas não apresentavam com clareza a
que entidade pertenceriam. A pesquisa em bibliografias que tratam desse
material foi utilizada e percebeu-se que no Brasil a literatura que aborda
exatamente materiais especiais no modelo dos FRBR ainda é incipiente.
As questões relativas aos FRBR ainda devem ser repensadas. Muitos
são os pontos positivos, porém outros geram discussões. Por isso o modelo
FRBR vem sofrendo revisões e atualizações desde sua apresentação em
1998. Uma de suas contribuições foi o despertar do profissional da
catalogação e cabe a ele fazer parte delas ou prostrar-se à margem. Esperase que as dificuldades encontradas e o estudo sobre materiais especiais
passem a ser objeto de pesquisadores e bibliotecários catalogadores que
trabalham com esses materiais bibliográficos.
Findando, o presente trabalho elencou apenas as entidades do Grupo
1, por entender que a explanação das demais entidades e da tarefa do
usuários demandaria a confecção de um novo trabalho, segundo os FRBR,
uma nova obra.
Referências
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Documentação, Ciência da Informação e Gestão da Informação
Formação do profissional da informação: desafios, perspectivas e campos de atuação.
2007. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.puccampinas.edu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=343>. Acesso em: 12
jun. 2010.
TILLETT, Barbara. O que é FRBR? Um modelo conceitual para o universo
bibliográfico. Tradução de Lídia Alvarenga e Renato Rocha Souza.
Disponível em:
<http://www.loc.gov/catdir/cpso/o-que-e-frbr.pdf>. Acesso em: 12 maio 2010.
Texto originalmente publicado em Technicalities, v. 25, n. 5, sept./oct. 2003.
YEE, Martha M. FRBR and moving image materials: content (work and
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California, 2007. Disponível em: <http://escholarship.org/uc/item/60t54503>.
Acesso em: 10 mar. 2011.
Anais do XXXIV Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência da Informação e Gestão da Informação
25 a 30 de julho de 2011 – Manaus/AM

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