Eternamente Chic, eternamente Yves Saint Laurent
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Eternamente Chic, eternamente Yves Saint Laurent
escalaparis por stella pelissari correspondente internacional fotos fondation pierre bergé - yves saint laurent Ao anúncio da morte desse artista da moda, uma multidão de imagens e de palavras me atravessou o espírito. Logo lembrei do tailleur-calça que nos legou, do seu sorriso incrivelmente tímido, de Pierre Bergé, que esteve ao seu lado todos esses anos, a sensualidade da saharienne, a modernidade do seu vestido Mondrian, os seus desconcertantes arquivos que eu tive a possibilidade de visitar apenas alguns dias antes de monsieur YSL nos deixar. Por seu incansável amor pelas mulheres, nós muito lhe devemos. O gênio nos deixou, mas cada uma de nós continuará com o pensamento em você cada vez que vestir um casaco de smoking… Obrigada! O talento deste artista dispensa apresentação. O famoso costureiro francês, que abandonou a alta costura em 2002 ao completar 40 anos de sucesso e, infelizmente, faleceu em junho passado, recebeu-me em seu arquivo secreto pouco antes de nos deixar. Um dia inesquecível no qual fui convidada a penetrar no ambiente confidencial de um dos maiores mitos da costura francesa. Iniciamos um passeio pelos grandes salões nos quais antigamente as coleções eram apresentadas às clientes. Ambiente luxuoso e mágico, nos faz pensar quantas mulheres suspiraram pelos tapetes espessos ao olharem as criações surpreendentes de monsieur YSL. Em seguida, passamos ao segundo andar, onde funciona o ateliê de restauração. Ao entrar, a sensação é de emergir num sofisticado laboratório: toda equipe usando aventais brancos, luvas e calçados protegidos. Debruçadas sobre grandes mesas, as talentosas mãos manuseiam delicadamente as obras de arte a serem restauradas. Trabalho meticuloso, de técnica e paciência. Cada bordado, cada fio deve voltar ao devido lugar. Algumas peças levam meses, outras necessitam apenas de limpeza e proteção apropriada para validar que essas roupas e acessórios provenientes do mundo inteiro e usadas por celebridades recebam a garantia de vida longa. Desde o início de sua carreira, Yves Saint Laurent e Pierre Bergé, seu colaborador inseparável, tiveram o cuidado de conservar os modelos mais importantes das coleções, bem como a totalidade dos desenhos e croquis. A Fondation Pierre Bergé – Yves Saint Laurent possui mais de 5 mil itens de vestuário e 50 mil acessórios, desenhos, moldes em papel e objetos diversos. Uma equipe espalhada pelo mundo busca peças do costureiro para o acervo de maneira criteriosa. É preciso, sobretudo, certificar-se da autenticidade. O sofisticado acervo de Saint Laurent pode rastrear a origem de cada peça por ele produzida em vida. É possível saber tudo: desde a boutique onde ela foi vendida, o nome da vendedora, o valor, até a costureira responsável pela confecção... Um verdadeiro exame de DNA! A fundação dispõe ainda da integralidade das reportagens e artigos de imprensa, dos vídeos das coleções e das Fondation Pierre Bergé - Yves Saint Laurent 5, avenue Marceau, 75116, Paris Tel.: 01 44 31 64 28 eternamente Yves Saint Laurent REVISTA VERSATILLE Eternamente Chic, entrevistas concedidas no mundo inteiro. Após o ateliê de restauração, passamos à visita ao “compactus”. Um corredor longo que nos leva a outra porta fortificada com código de caixa forte. Ao abrir, monumentais armários com indicadores de datas. Novamente, senhas são digitadas e novas portas abrem-se sobre rodízios e impulsionadas por manivelas. A respiração pára. Surge, em cada porta, um novo corredor. Desta vez, a sensação é de estar num sonho. Uma explosão de matérias preciosas, cores, idéias absolutamente diferentes nos embargam. Peças conservadas a 15°C e 50% de umidade, em condições perfeitas de museologia, nos prometem outro momento de emoção. Um assistente, então, começa a mostrar cada uma das criações emblemáticas da carreira de Saint Laurent. O primeiro vestido de YSL, ainda na Maison Dior, em 1958, o pretinho de Catherine Deneuve em A Bela do Dia, o vestido Mondrian, o primeiro smoking feminino. Permaneci, obviamente, longos minutos admirando a peça-culto do guarda-roupa inventada por Yves Sant Laurent: a saharienne, criada em 1968 para uma capa de Vogue. Tornou-se um mito e, 40 anos depois, reside e resiste em modernidade total, assim como todas as peças icônicas que, durante décadas, acompanhamos em revistas de moda, desfiles e filmes passados na televisão. Para quem vem a Paris, e não pode passar por tais portas secretas, fica o convite: apreciar parte do acervo de YSL nos 200m2 exclusivos às exposições temporárias que a fundação organiza em homenagem ao mestre da costura. Até 31 de agosto, os espaços para mostras serão dedicados ao Marrocos, com a apresentação de 40 caftans antigos, vestuários e acessórios do artista, para redescobrir o esplendor deste país tão caro a Pierre Bergé e Yves Sant Laurent. É provável que, após esta data, seja organizada alguma retrospectiva em homenagem a YSL, tendo em vista a comoção da sua morte em toda a Europa. 36 37