Editorial - AFAGO - Associação dos Filhos e Amigos de Gouveia
Transcrição
BOLETIM INFORMATIVO DA AFAGO - ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS E AMIGOS DA GOUVEIA ANO IV N° 04 -JULHO- AGOSTO 2011 Editorial Palavras do Presidente A Afago foi criada sob o idealismo de doutor Waldir de Almeida Ribas. Nós o perdemos em junho passado. Ficamos sem nosso líder maior, mas doutor Waldir criou a Afago em bases sólidas capaz de resistir às intempéries da vida. Ele soube juntar em torno de si um grupo de gouveianos que absorveu os seus ensinamentos e os seus ideais e se propôs a continuar sua obra. Em março passado eu fui elevado à honrosa posição de Presidente da Afago, função até a data ocupada por doutor Waldir. Pesei a responsabilidade, quase recuei, mas percebi que aquele grupo se mantinha coeso e disposto a continuar a obra do mestre. Afinal, eu também fazia parte do grupo e não podia abandonar o barco, agora, quando minha participação era cobrada. Nestes seis meses, a Afago vem dando continuidade ao seu programa, seguindo com passos firmes a direção traçada. A Assembléia, órgão máximo da entidade aprovou novo estatuto com alterações substanciais. O novo estatuto traz cravado no artigo 1º. “O objetivo maior é promover a integração da comunidade gouveiana da RMBH fortalecendo os laços de união com Gouveia e propugnar pelo desenvolvimento do município” esta é nossa primeira orientação. Neste estatuto, a composição do conselho de administração e do conselho fiscal foram, ambas, reduzidas. O conselho consultivo foi eliminado e criou-se o título de Presidente de Honra da Afago e o atribuiu ao doutor Waldir de Almeida Ribas, nesta data, já debilitado, lutando pela sua saúde.. A documentação da Afago está, agora, toda regularizada junto à Receita Federal e junto à Prefeitura Municipal, resultado de elogiável trabalho de doutor Milton Ferreira de Miranda, presidente do Conselho Fiscal. O site www.afagouveia.org.br, órgão de divulgação da Afago e de Gouveia, tem disponibilizado textos e fotos das comunidades rurais e da sede do município, vale citar A Escolinha do Adauto; o Turismo de Vilarejo de Cuiabá; o Jubileu do Cemitério do Peixe; as comunidades de Espinho, Engenho da Bilia e Engenho da Raquel, belo trabalho produzido pela Escola Municipal Profa. Zezé Ribas ao desenvolver o projeto “Valorização da Cultura Histórica do Município”; Literatura de Cordel, trabalho dos alunos das escolas de Camilinho e de Pedro Pereira; divulgação da Kobufest e fotos de obras civis sendo realizadas em Gouveia: Creche, Unidade Básica da Saúde e Farmácia de Minas. Reunião de Congraçamento, acontecimento relevante porque marca a hora do encontro, do abraço, da confraternização, quando se fala de Gouveia, quando se relembra dos tempos de mocidade ali vividos. Normalmente, se faz duas reuniões por ano. Neste ano far-se-ão três. A primeira realizou-se nos salões do PizzaBar. A segunda será realizada no próximo dia dezessete no sitio de doutor Manoel Luiz Ferreira de Miranda, diretor jurídico da Afago. O churrasco será oferecido pelos irmãos Miranda – Manoel Luis e Milton – Dois garotos originários de Camilinho e que se tornaram, hoje, respeitados advogados e empresários. O concurso Premio Afago de Literatura, lançado com sucesso em 2010, será realizado, também, em 2011. O edital do concurso foi publicado, as diretoras de escolas contatadas. A edição 2011 do concurso foi ampliada para incluir as Escolas Rurais. O desejo da Afago é alcançar as seis escolas do município que ensinam o ciclo final do ensino fundamental, e conseguir a maior participação de estudantes e professoras. Para isto, conta com a cooperação e apoio da Secretaria Municipal de Educação. A receita da Afago continua pequena, suficiente para as despesas rotineiras, mas continuamos com cessão gratuita da sede, concessão especial da Dona Elena Berenice. As despesas com impressão gráfica e prêmios são custeadas graças ao esforço de diretor de comunicação Professor José Moreira de Souza que consegue tirar leite de pedras. Finalmente, o Boletim Informativo distribuído graciosamente aos associados da Afago, à autoridades municipais, às escolas e ao comércio de Gouveia, segue a rotina traçada, periodicidade bimestral. Agora, com melhoria substancial na impressão e na qualidade do papel. Editou-se número especial lembrando doutor Waldir, trazendo artigos e mensagens mantendo o foco no querido mestre. Editou-se folheto em cores, transcrevendo mensagens de admiração e carinho, distribuído aos parentes e amigos do mestre reunidos para rezar a missa de sétimo dia. E ainda, livreto, em cores, contendo o Testamento do Sua Excelência Reverendíssima Dom Paulo Lopes de Faria. Três mil copias impressas e entregues ao pároco de Gouveia para distribuição. O número do Boletim Informativo, agora, distribuído trás três artigos sobre o Cemitério do Peixe, que precisam ser lidos. É um lugar místico que mexe com as pessoas. O jubileu anual que ali se realiza é um evento extraordinário engrandecido pela dedicação e coragem do Reverendíssimo Padre Carvalhaes. O artigo sobre empreendedorismo de Adilson Nascimento, autor brilhante, é uma lição para todos nós. Eu dei minha contribuição ao escrever, em parceria com Dona Ildete, sobre Theodulo Prado, gouveiano por adoção, mas que amou e trabalhou por Gouveia tanto quanto o melhor dos gouveianos. Raimundo Nonato de Miranda Chaves Notícias ¾ ENCONTRO DE CONFRATERNIZAÇÃO – 17 de setembro de 2011 Adilson do Nascimento: “A diretoria da AFAGO decidiu, por sugestão do diretor jurídico Manoel Luiz de Miranda e do presidente do conselho fiscal Milton Ferreira de Miranda, que o encontro de confraternização será realizado no sítio do Manoel, nos arredores de Belo Horizonte, no dia 17 de setembro de 2011, um sábado, durante o dia. Os associados que estiverem propensos a comparecer deverão fornecer os seus e-mails para [email protected] para que lhes sejam passados os convites e um mapa com o roteiro de como chegar ao local. Somente após recebermos os e-mails é que teremos condições de orientar os anfitriões e patrocinadores a respeito de quantos bois eles haverão de abater para o churrasco. Como já se sabe, desta feita, os comes e bebes serão pelo sistema de boca livre. Ao fornecer o seu e-mail seria interessante, também, que o associado dissesse se tem interesse em fazer o trajeto por transporte coletivo. Essa é uma preocupação com as penalidades da “Lei Seca”, porém a Afago irá estudar a possibilidade de contratar uma ou mais vans, dependendo da demanda, sem, contudo, financiar o seu custo que deverá ser repassado entre os ocupantes. Oportunamente poderemos retornar ao assunto. Para os dois próximos encontros já temos oferta de dois outros diretores que colocaram as suas propriedades à disposição, o que bem demonstra o espírito de congraçamento da equipe” ¾ Gouveano e Gouveiano Adilson do Nascimento: “Falando sério, eu ficaria imensamente agradecido se algum órgão da administração municipal gouveana, não sei se alguma secretaria municipal ou a própria secretaria da câmara municipal, me conseguisse uma cópia de um instrumento legal, não sei se Resolução da Câmara, ou Ato Legislativo, ou Lei Municipal, que estabelece que o cidadão que nasce em Gouveia é GOUVEANO (sem o I). Se alguém conseguir poderá informar-me por esta via que eu decido a melhor forma de apanhá-la. Saudações”. Nota: com todo o respeito da AFAGO aos vereadores que votaram a lei da grafia de “Gouveano” em respeito ao grande Ragosino Alves Ribeiro, nós preferimos a grafia de “Gouveiano”. Motivo: o nome oficial desde as primeiras cartas de sesmaria, em 1739 é Gouveia e não Gouvea. Por isso não se justifica o adjetivo toponímico de “Gouveano”, mesmo que alguns documentos oficiais do século XIX e XX tenham grafado “Gouvea”. Acontece algo semelhante com o que se deu com a leitura equivocada do historiador Augusto de Lima Júnior, respeitadíssimo no meio acadêmico. Ele leu o f. [efe minúsculo] em um documento em Portugal e interpretou que esse efe era de Francisca. Disso resultou que todos os historiadores de renome passaram a copiar o erro. Até mesmo aqueles especializados em paleografia não se deram conta de que o efe era minúsculo, e não autorizava qualquer interpretação de nome. Esse equívoco é tão pouco justificável porque o historiador ao ler um manuscrito e ver grafado Roiz, não se aventura a dizer que é Rodrigues, mesmo sabendo que o costume resume Rodrigues como Roiz. Boletim Informativo da AFAGO página 2 ¾ CENTENÁRIO DE THEÓDULO ALVES PRADO Em momento oportuno, nosso presidente traz à memória de Gouveia a figura de Theódulo Alves Prado. Exemplo de servidor público para Gouveia. Vejam artigo redigido em parceria com Ildete, filha do grande homenageado. No artigo foram inseridas fotos cedidas pela família. As duas últimas foram acrescentadas pelo diretor de Comunicação e exibem Theódulo na comemoração dos 80 anos de Flora Moreira e como prefeito de Gouveia juntamente com a Câmara Municipal. Os créditos dessa última se devem a Lucíola Gomes Rocha e consta no acervo de Efigênio Gomes Pereira. Note-se que Theódulo ocupa o centro da primeira fila e Efigênio está posicionado na segunda fila cujo centro é ocupado por Francisco Dória Alves Pereira do Cuiabá. ¾ Mais alegria para Guido e Marisa: “Aleluia! Aleluia! A famíliia Afago crescendo! O mais novo associado chegou hoje,06 de julho, chama-se BRUNO. Filho de Ana Luisa e Rodrigo. Rodrigo, por sua vez, filho de Marisa e Guido. Registro, nesta mensagem, por mim e pela Afago, boas vindas ao Bruno, parabéns aos orgulhosos pais, cumprimentos aos avós corujas e um abraço especial ao nosso dedicado diretor: Dr. Guido de Oliveira Araújo” Ass. Raimundo Nonato de Miranda Chaves. Confiram em destaques em www.afagouveia.org.br ¾ ¾ ¾ ¾ Obras da Prefeitura em Gouveia Escolinha do Adauto Engenho da Bilia e Engenho da Raquel. Comunidade do Espinho. ¾ Sala da AFAGO receberá placa com o nome do Doutor Waldir de Almeida Ribas. Em seção solene, por iniciativa e patrocínio do Diretor de Finanças, Adilson Nascimento, a família do Doutor Waldir foi convidada para descerrar a placa em sua homenagem no dia 15 de setembro próximo. Notícias ¾ Doutor Waldir: Mensagem de Dona Elena Berenice B. Ribas: em 11/07 “Aos afagouveanos Queremos externar nossa gratidão pelo tanto de mensagens e deferência à vida de Waldir.Agradecemos agora porque se assim não o fizemos foi por contingências alheias a minha vontade.Associada à dificuldade de me expresar nesse pequeno espaço de tempo, onde a falta fisica, companheira e amiga do Waldir me tem colocado num vazio existencial muito grande.Sei que ele está bem na dimensão que ora experimenta. Obrigada, em meu nome e de nosso filho Marcos, a todos vocês. Sei que, se ele não viu maiores resultados na AFAGO, em seu curto espaço de fundação até o presente momento, deve-se ao fato,certamente, pela dificuldade de agregar tantas pessoas (gouveianos,amigos) numa grande cidade como é Belo Horizonte, Gouveia e outras...Associados aos labores de cada um. Tenho certeza que ele se realizou por ver que -antes de sua partida- viu sua idéia (semente) estar germinando dentro do seu tempo e por certo os frutos surgirão vindouramente. Obrigada novamente em meu nome e de meus familiares! Elena(esposa) ¾ À dona Auxiliadora que, com tanto carinho, escreveu tantas mensagens poéticas e graciosamente ofereceu seu valiosíssimo Prêmio Literário, auferido em Portugal em homenagem a Waldir! Nosso eterno agradecimento.Obrigada,obrigado... Que Deus proteja você e seus familiares e toda a sua vida e jornada literária. Elena ¾ À dona Lindeia e seu Alberone Nossos agradecimentos pelo tão expressivo gesto cristão e de amizade dedicados a Waldir pela realização da missa de 30° dia, mandada celebrar por vocês na matriz de Santo Antonio. Obrigada e que Deus os proteja e abençoe a suas vidas! Elena ¾ Ao padre Silvio Moreira (Santo Antonio de Itambe,MG) e demais pessoas que mandaram celebrar missa de 7°dia em intenção de Waldir, nossos agradecimentos.Sei que muitas foram as missas celebradas -IGREJA DO CARMO,SÂO JOSE,SÃO SEBASTIÃO entre outras..- e tambem agradeço! Obrigada a todos! Que Deus os abençoe! Quem faz o bem recebe o bem! Elena (esposa)” Boletim Informativo da AFAGO página 3 ¾ Luciola Gomes Rocha – em 27 de julho: “Acabei de ler agora o boletim que faz uma merecedora homenagem ao “pai” da AFAGO: Dr. Waldir. Sua voz mansa e suas palavras sábias estão aqui registradas. Como é importante deixar um rastro luminoso neste mundo! Foi tão atencioso com meu pai visitando-o todos os dias no CTI. Atendendo ao pedido do grande amigo dele e nosso, Zé de Flora, também repito: “Dorme, menino Waldir, dorme! Repousa o sono iluminado., Dorme, menino Waldir, dorme! Dorme na mão de Deus, eternamente!” Lucíola” ¾ Academia Mineira de Pediatria presta homenagem póstuma ao Doutor Waldir. Raimundo Nonato de Miranda Chaves: “Comunico aos associados da AFAGO e aos gouveianos em geral que a Academia Mineira de Pediatria realizará homenagem póstuma ao Doutor Waldir de Almeida Ribas. A homenagem será às 18:30 horas, do dia 11 de agosto, quinta feira, à Av. João Pinheiro, 161 (sede da Associação Médica de Minas Gerais).” ¾ Homenagem: Aconteceu em 11 de agosto, conforme programado, na sede da Associação Médica de Minas Gerais, a reunião da Academia Mineira de Pediatria. Dita reunião fora programada para homenagem póstuma ao Doutor Waldir de Almeida Ribas – fundador e presidente de honra da Afago. Da tribuna, diversos oradores enalteceram as virtudes e comentaram suas relações com o homenageado. Colegas de turma na faculdade, discípulos do mestre Waldir, companheiros de consultório e de hospital, gente que se irmanou com nosso presidente de honra na luta pela pediatria. Solenidade simples, sincera e emotiva. Ponto alto, o discurso da sobrinha Daniela, interrompido pela emoção; também, o presidente da mesa que lutou com as lágrimas quando do seu discurso. Auditório lotado de acadêmicos da pediatria e convidados, Dona Elena Berenice o filho Marcos, irmãos de doutor Waldir e de Dona Elena; de Gouveia a prima Margareth. A Afago se fez presente com pequena representação, mas desde algum tempo deixei de preocupar-me com quantidade. Ao final D. Elena e Marcos agradeceram a homenagem prestada. Encerrou-se a sessão e os presentes passaram ao hall para os comes e bebes ¾ Sala da AFAGO receberá placa com o nome do Doutor Waldir de Almeida Ribas. Dia 15 de setembro Notícias ¾ Espinho Comunidade Quilombola: Mensagem da professora doutora Miriam Virginia Ramos Rosa: “Olá, Zé tudo bem? Fiquei muito feliz ao saber que a Fundação Palmares reconheceu como quilombola a comunidade de Espinho. A publicação saiu em 04/11/2010. Há muito tempo que não tenho notícias do pessoal de Espinho. Em 2009 e 2010 eu havia entrado em contato com a Palmares para saber do pedido de certificação que eles haviam encaminhado por volta de 2004 e da última vez me disseram que haviam problemas na documentação e que isto tinha embargado o processo. Não sei se eles sabem desta conquista. Se puder, quando for à Gouveia, avisar alguém deste fato eu lhe agradeceria muito. Abraços, Muito Miriam Virgínia Ramos Rosa/Antropóloga Gerente de Projeto/Projeto TICS Educação e Graduação na UnB” Mensagem de Roberto Alves Nunes: “Primeiramente quero parabenizar o Prefeito de Gouveia e sua equipe, pelo ótimo trabalho que vem fazendo na área rural, em especial, na comunidade do Espinho, doando uma patrulha mecanizada, dentre outras ações. Em 2010 solicitei ajuda, utilizando este espaço, com a finalidade, juntar esforços para a busca da Regularização Fundiária daquela comunidade. A maior dificuldade de todos os moradores das áreas rurais, é ter o seu título da terra, para assim poderem exercer a sua cidadania. Infelizmente ter apenas o Reconhecimento como Remanescente de Quilombola (apesar de ser o primeiro passo), não irá mudar em nada, a atual situação destes. Contudo a ida à comunidade do diretor da Federação Mineira de Quilombolas, do prefeito municipal, do presidente da Câmara Municipal, da Secretária Municipal de Educação e de outras autoridades de Gouveia, foi um reconhecimento de que aquela comunidade necessita de ajuda. Devemos aproveitar este momento para juntarmos esforços. A título de informações, acho muito interessante navegar nos site do Ministério da Cultura – MINC >>regularização de terras quilombolas.MHT, ou pelo site Titulação terras quilombolas.MHT. Lá vocês terão os detalhes, passo a passo, e em que momento cada um poderia ajudar. Parabenizo também a AFAGO, pela cobertura. Roberto “ Boletim Informativo da AFAGO página 4 ¾ Festejos de Nossa Senhora das Dores: Correspondência de 23 de julho “Temos a alegria de participar aos nossos amigos que de 11 a 18 de setembro estaremos festejando Nossa Senhora das Dores, este ano como festeiros, Alberone e família. Queremos sugestões e participação de todo gouveiano em especial a sua que sempre acompanhou com tanto carinho todos os feitos desta comunidade. Temos saudades da caixa roca batida nesta ocasião e seria tão bom se pudéssemos lembrar dos tempos idos e da tradição dos mais antigos! Com sua memória fantástica e conhecimento em que pode nos ajudar? Teremos esta semana uma reunião com os moradores da rua para envolvê-los nos festejos e seria uma boa oportunidade para resgatarmos algum feito da época antiga. (...) O envolvimento da comunidade na Festa de Santo Antônio foi o ponto alto da festa, e estamos tentando repetir este feito o que leva muito tempo para convidarmos e fecharmos o programa. O tema central deste ano é “Maria e os Dons do Espírito Santo e no decorrer do septenário estaremos refletindo os Sete dons. No dia 31 de julho teremos a benção e envio de oito Imagens que visitarão as famílias do município No dia 07 de agosto Almoço no Casa Velha em comemoração aos pais, pois no próximo é festa do peixe. Durante todo o mês de agosto, após as celebrações dos finais de semana barraquinha, e quermesse ao lado da Matriz, e à partir de 01 de agosto estará sendo rifada uma colcha de retalhos, em beneficio da Festa, No dia 07 de setembro grande sorteio de prêmios estamos esperando confirmação do Ginásio Poliesportivo; Dia 11 de setembro alvorada festiva às 06:00 horas e as 18:00 horas procissão introdutória da festa saindo da Matriz até a Capelinha sendo o trajeto a Rua Nossa Senhora das Dores. As camisetas da Festa estarão à venda à partir de 06 de agosto. Manterei contato e gostaria que nos ajudasse a divulgar os festejos. Um abraço carinhoso. Lindeia e Alberone” Notícias ¾ Notícias do padre Sílvio: “1 Prestei vestibular e passei, vou cursar SERVIÇO SOCIAL, se Deus quiser começo em AGOSTO minha faculdade. Já sou calouro............... rsrssrsrsrrsrsrrsrs 2 Fui transferido de paróquia, estou indo para a cidade de Tres Marias, para a paroquia de N Senhora de Fátima, minha posse será nesta Sexta dia 1 de julho, reze por nós.” ¾ “Ars in Scena”, Arcena “ Barão de Guacuí, 18/06/2011. Querida Arcena, muita saúde e paz! Mais de oitenta motivos me trouxeram até aqui. Dezesseis razões, já devidamente encaminhadas na vida, me prendem a esta data. E duas criaturas – que nos deixaram há pouco tempo – sopraram nos meus ouvidos que não faltasse a este momento: Mamãe e Gilu. Não sei exatamente onde minha madrinha, “titia Maria de Pedro de Gina” foi buscar o nome Arcena. Tentei pesquisar e não encontrei referências. Também não constou dentre os milhares de alunos com quem trabalhei. Bom, mas se consegui ajudar a criar quatro filhos, não custa nada gerar uma explicação para mim mesmo, pelo menos. Talvez, numa visão profética, minha madrinha já antevia em você alguém fora de série, então: “Ars in Scena”, ou seja, a arte em Boletim Informativo da AFAGO página 5 ação, em cena, Arcena. Sim, minha prima, ao lado do seu (e de todos) querido Efigênio, vocês dois, tal qual Moisés, alimentaram, educaram e conduziram uma grande prole por caminhos nem sempre fáceis, em busca de uma Canaã onde a vida fosse melhor. Quantas pedras, quantos espinhos, quantas lágrimas para chegar até aqui. Quanta experiência, quanto valores adornando essas mais de oito décadas de vida! Quanta sabedoria e arte em cena! Existe, contudo, em sua vida, Arcena, um fio condutor, nunca quebrado, desde o seu endereço da Rua das Dores, em Gouveia, que se chama Fé. A Sagrada Família sempre capitaneou a nau de sua família. Seus filhos podem até não ser tão praticantes, mas religião nunca lhes faltou no lar. Quantos pais, hoje em dia, às voltas com a educação dos filhos! É que além de presença, colo e limite, falta Deus. Sim, Arcena, o shopping virou templo onde as “sacerdotisas da beleza” celebram o culto do consumo. Os valores humanos e cristãos estão sendo arquivados. Esquecem-se de ensinar aos filhos que tudo que temos nos é emprestado por Deus; que temos um Deus maravilhoso presente nos momentos de alegria, como este, mas também um Deus que desce às profundezas do abismo para de lá nos retirar. Que bom, Arcena, que você tenha criado sua família à sombra da cruz! Receba o carinho de todos nós e, de uma forma especial, de mamãe e Gilu que, lá de cima, também estão comemorando com toda a família Tameirão este precioso momento. Que o manto sagrado de Jesus e da Mãe de Misericórdia cubram de bênçãos a você e toda a sua descendência. Parabéns. Gil e família. SOLIDÃO X FIRMAMENTO! Maria Auxiliadora de Paula Ribeiro Pinta de encantamento A tua amarga solidão! Procura, a cada momento, Fantasiar de ternura, Teu solitário coração! Na festa da Natureza, Busca tua ventura, Matizando de beleza, Toda tua desventura! Do anoitecer de tua vida, Expulsa o tédio e a agonia, Buscando no espaço sideral, Suave e doce alegria E uma paz sem igual! Contempla os raios do sol poente E... Com a languidez de seu brilho, A se despedir do firmamento, Que pergunta é esta? Geraldo Pinto de Carvalho – Ponteiro – Gouveia 12 – maio – 2011 Até hoje em Diamantina Muito amigo me rodeia Perguntando pela faca Eta história feia. Meus filhos quando criancinhas De lá voltavam intrigados Papai, que pergunta é esta Que faziam tão interessados? Filhos, este é o caso de um zagueiro Que não suportava desaforo Os inimigos gratuitos Me juraram dar um coro. No escrete eu estava escalado Para enfrentar o campeão Aquela era a data Da prometida tentação. Quando o jogo começou Meu sangue não cabia na veia Eu só lembrava da faca Que estava guardada na meia. Despede, também, tua tristeza! Entrega ao passear da lua, Todos os teus sonhos! Com a estrela cadente, Faze terna amizade E no seu cair indolente, Afoga a tua saudade! Para teu acalento, Faze por compainha, Dos astros, a magia, No esplendor do firmamento! Os despeitados me fitavam Lá no meio da torcida Meu coração só pedia Que a bomba fosse logo explodida. Meu companheiro recebeu Uma entrada violenta Eu gritei com toda minha força Quebra desse rapaz a venta. Pelos apaixonados e torcida O campo foi logo invadido Me tendo como alvo Disso até hoje não duvido. Da perna saquei a faca Encostado em um canto Foi água fria na fervura Pra todos um grande espanto. Boletim Informativo da AFAGO página 6 Muitos, assustados, correram Aconteceu logo grande espalho Eu, semelhante a um cascavel, No canto batia chocalho. Assim terminava o jogo Promessa de grande emoção Mas esqueceram que o jovem zagueiro Era fruto do respeitado sertão. Papai, se a verdade é esta, Estamos todos a seu lado E lhe damos parabéns Por não ter apanhado. HOMENAGEM Theódulo Alves Prado Raimundo Nonato de Miranda Chaves e Ildete da Conceição Prado Lacerda Sebastião Lopes, melhor, professor Lopes, em Viçosa, mais conhecido do que moeda de dez centavos, mais querido do que nota de cem reais. Professor Lopes, no meio da tarde, pouco movimento, adentra a agência bancária, cumprimenta a todos, bancários e clientes, conforme seu costume; dirigindo-se, em seguida, ao caixa. Professor Lopes, em frente ao caixa, aguarda. Do outro lado do blindex, está a jovem, elegante e inteligente; funcionária recém contratada e já aprovada no concurso para caixas; com todas as normas e regras bancárias bem fresquinhas na memória; apenas levanta os olhos e exclama, pouco mais alto do que um murmúrio — A cédula de identidade! Professor Lopes, quase gritando: — O que? A jovem, impassível, sem alterar a voz, repete — A cédula de identidade, por favor! Professor Lopes, agora, com raiva – sentimento raro. — Moçoila, preste atenção! eu sou o professor Lopes; estou à sua frente em carne, osso e espírito. E você pedindo este pedaço de plástico enrugado acreditando que ele vai lhe dizer: que eu sou eu? As coisas estão totalmente invertidas. Eu dou aval a este plástico, eu mandei fazê-lo, eu existia muito antes dele! Você quer que ele me avalize? A bancária nem fé deu. Pois é, hoje me sinto como a carteira de identidade, o RG de Theódulo Alves Prado. Ele, no seu tempo, muito mais conhecido, mais admirado e mais votado. Então, eu é que vou falar, melhor, escrever sobre ele? Sim! Vou fazê-lo, porque nós gouveianos temos o dever de passar aos mais jovens a história que vivemos, não podemos deixar que vultos do quilate de Theódulo fiquem esquecidos. Em dezembro de 2010, Gouveia em peso celebrou o centenário de nascimento de Efigênio Gomes Pereira. Tudo muito bem feito, homenagem merecida, Efigênio foi um grande gouveiano. E Theódulo? Nascido em 1º. de julho de 1910, portanto completou o centenário de nascimento seis meses antes de Efigênio. Nenhuma comemoração, nem um jornal nem uma frase sobre a ocorrência. E quem foi Theódulo Alves Prado? Boletim Informativo da AFAGO página 7 Para começar, gouveiano por adoção, foi eleito cinco vezes: vereador, inclusive, presidente da Câmara Municipal; vice-prefeito, duas vezes; prefeito, duas vezes. Bem! Um homem, eleito cinco vezes numa cidade, é pessoa respeitada, admirada e querida. Para escrever sobre Theódulo eu pedi ajuda a pessoas que conviveram com ele: a filha Ildete, o ex-vereador João de Miranda Chaves, Zico, colega da primeira Câmara Municipal, Geraldo Bitencourt, amigo e correligionário; Guido das Dores de Oliveira, funcionário da prefeitura, aposentado, escudeiro do prefeito Theódulo. Ildete escreveu um artigo sobre o pai ilustre, pronto para publicar, mas eu não quis me privar do prazer de escrever sobre Theódulo. Então, decidi fazer comentários, enquanto, apresento o artigo de Ildete. É uma espécie de diálogo ou talvez um jogral, sem música, com cada um escrevendo a seu tempo: A filha, e, o admirador de Theódulo Prado escrevendo a duas mãos. Fica combinado, a partir de agora, textos em itálico são da lavra de Ildete. Theodulo Alves Prado, nascido em 1º. de julho de 1910 em Corinto, criado na cidade de Buenópolis, até a sua adolescência. Veio para Diamantina bem jovem para trabalhar, aí se casou com Áurea Leão Prado, onde também nasceu o 1º .filho do casal: Dirceu Alves Prado. Dirceu é a senha para mudar de autor. Convivi, com Dirceu, em Diamantina de forma muito fraterna. Dividíamos, nós dois e mais Valmy de Mimi, um quarto no Hotel Central. Eles bancários, eu estudante. Durante o dia cada qual com a sua tarefa, mas à notinha nos reuníamos para jantar, no próprio hotel, e logo depois para o cinema Trianon, a menos de cem metros do hotel. Isto ocorria um dia sim e o outro também. Depois do cinema, bem! a zona boemia no quarteirão em frente! Nós jovens! Nível elevado de testosterona! Vamos? Eu recuava, tenho provas amanhã. Dirceu de um lado Valmy do outro me tomavam pelos braços e garantiam não vamos demorar e ainda vamos pagar as despesas. Eles bancários eu estudante. Fazer o que? De volta ao hotel, eles iam dormir e eu sentava na escadaria para rever a matéria da prova, sem incomodar os companheiros de quarto. O primeiro ano foi mais difícil porque chegando ao hotel eu já vestia minha garbosa farda verde oliva; o glorioso exército me chamava. Eu era o atirador cinqüenta e oito. Theódulo, na década de 40, mudou-se para Barão de Guaicui para trabalhar com seu sogro, lá nascendo o 2º. Filho Ildeu Alves Prado. Foi lá que conheceu Chiquinho de Nelo, que trouxe a família de Theódulo para Gouveia, para trabalhar com ele na sua transportadora. A senha, agora, é Chiquinho, Francisco Xavier de Oliveira, conhecido como Chiquinho de Nelo ou Chiquinho do Padre. Gouveiano empreendedor a HOMENAGEM quem temos, também, que fazer justiça. A sede da transportadora era em um galpão, na rua da frente, um imenso galpão para os padrões de construção que eu conhecia. Ali se depositavam mercadorias a serem transportadas, guardavam, quando em Gouveia, os caminhões de Chiquinho e ainda havia um escritório improvisado, á direita da entrada. Ali reinava Theódulo, ali eu o conheci. Pequena estatura, mas vigoroso e enérgico se fazia grande; movendo-se, rapidamente, de um lado para outro, vendo e fiscalizando tudo. Andava rápido para compensar as pernas curtas. Nada passava despercebido àquele nariz aquilino e olhar penetrante. Ali ele administrava, era o braço direito de Chiquinho, documentos, contas, e pessoas: motoristas, ajudantes, carregadores e clientes. Eu, então, moleque de ginásio, e recebia dele a mesma atenção, estando sozinho ou acompanhando meu pai. Em Gouveia nasceram as filhas Ildete da Conceição Prado Lacerda e Arlete Alves Prado Dória. Em pouco tempo Theódulo tornou-se gouveiano de coração, ajudando no engrandecimento da cidade. Foi um dos fundadores do Hospital Aureliano Brandão, sendo o seu 1º. Provedor, saindo depois de algum tempo para trabalhar na farmácia. Trabalhou na Farmácia Auxiliadora com seu compadre e amigo Efigênio Gomes Pereira por muitos e muitos anos, lá cuidando com dignidade, caridade e carinho dos pacientes que ali por ele procuravam. Quando Gouveia foi emancipada Theódulo elegeuse vereador, fazendo parte da 1ª. Câmara Municipal. Chegando a ser presidente da mesma. Daí pra frente não abandonou a política. Foi viceprefeito de Efigênio Gomes de 1963 a 1966. Foi prefeito em 1967 a 1970 e de 1977 a 1982 sendo seu vice o senhor Cupertino Pinto Ribas e de 1993 até seu falecimento foi vice de seu grande amigo Geraldo Bitencourt. Em todos os seus mandatos deixou sua marca em todas as comunidades como pontes, escolas, estradas, iluminação dentre outras inúmeras obras que não preciso citar. Assim também foi na sede do município, como a 1ª Feira de Produtor, Prédio da Ruralminas, hoje Prefeitura Municipal, a famosa Festa do Alho que chegou a ter fama nacional e tantas outras obras de que um prefeito tem obrigação de fazer. . Em qualquer lugar em que chegamos somos recebidos com agradecimentos, elogios e saudosismo pelo homem que Theódulo foi, honesto, trabalhador, humilde, ele foi um homem do povo. Agradecemos à Afago pela oportunidade de poder falar um pouco sobre Theódulo Prado. Chiquinho de Nelo organizou uma empresa de transporte, muito eficiente, e lutou com as estradas precárias e os atoleiros, a administração entregue a Boletim Informativo da AFAGO página 8 HOMENAGEM Theódulo e contando com a parceria dos irmãos: Antônio, José e Joãozinho. Todos, inclusive, Chiquinho dirigiam os caminhões. Final da década de quarenta, talvez, inicio dos anos cinqüenta Chiquinho dissolveu a empresa e mudou de atividades, adquirindo grande fazenda nas margens do Rio Pardinho – Fazenda do Bueno – tornando-se pecuarista. Neste tempo, Theódulo passou a trabalhar na Farmácia Auxiliadora. Ali, sempre conseguia ajudar, com seu dinheiro, às pessoas que não dispunham de crédito por se acharem endividadas. Além dos nomes, citados no inicio, ouvi outros e conclui que Theódulo é unanimidade como homem caridoso, sempre preocupado com pessoas pobres. Alguém comentou que ele, doava o salário de prefeito para pessoas necessitadas. Esta informação foi corrigida: Ele não distribuía o salário; ele doava dinheiro aos funcionários com dificuldades financeiras que lhe pediam vales – adiantamentos de salários - Theódulo era mão aberta com seu dinheiro, mas com o dinheiro público era rigoroso. Contam que, certa vez, procurado por uma produtora rural, com a lista de coisas que pretendia receber da Prefeitura Municipal, Theódulo respondeu: — A única coisa, da prefeitura, que tenho autorização para distribuir é Formicida Isca, do programa de combate à Saúva Boletim Informativo da AFAGO página 9 – e mandou que um auxiliar entregasse dois envelopes à senhora. Theodulo, vice prefeito de Geraldo Bitencourt, aposentado pelo INPS de onde recebia um salário mínimo, esposa D. Áurea doente, mesmo assim ele, logo que recebia o salário de vice prefeito, doava uma percentagem fixa para o Asilo, doava a cota reservada para cada neto e ajudava algumas famílias pobres. informação de Geraldo Bitencourt, então prefeito. Theódulo também é unanimidade quando se trata de zelo com a administração pública. Onde houvesse frente de obra da prefeitura, na cidade ou no campo, lá estava ele, vistoriando e orientando a tudo e a todos. Theódulo sabia da importância dos pagamentos da prefeitura para o comércio da cidade. Assim pensando é que compareceu, juntamente com Efigênio Gomes Pereira, em Camilinho, na fazenda de João Baiano, meu pai, em busca de recursos financeiros para cumprir compromissos da prefeitura. Meu pai não tinha, disponível, a quantia pedida. Então, mandou Zico, à fazenda de Francisco Rodrigues dos Santos – Chiquinho Teles –, em busca de auxilio. Meia hora depois, contando o tempo de saborear a deliciosa compota de figo com queijo minas, voltaram a Gouveia para cumprir os compromissos. Algumas ocorrências podem dizer muito da personalidade de uma pessoa. Theodulo era espírito atilado, resposta rápida. Certa vez, caminhando pela Av. Afonso Pena, surge, inesperadamente, à sua frente o cambista que lhe apresenta parte do bilhete de loteria e grita: —Tira do Galo — Theodulo, com o polegar apontando o cambista pergunta:: — E põe aonde? HOMENAGEM Theodulo era amável e gentil, mas às vezes se irritava. Era estopim curto. Abordado por uma mulher, com menino nos braços, a pedir-lhe — Seu Theodulo! O senhor ...- ele, cortou a fala da mulher e respondeu: — Já lhe disse, hoje não posso ajudar, já te ajudei na semana passada — a mulher insistiu: —— Mas seu Theodulo ... – ele, novamente, sem esperar a argumentação da mulher, falou: — Não posso! Já disse, não posso! —— a mulher, persistente, agora apontando o menino, questionou — Seu Theodulo o que eu faço com o menino? — e ele, irritado, pergunta: — Na hora de concebê-lo você me chamou? A família hoje? Dirceu reside em Cuiabá – Mato Grosso, casado com Antonieta (falecida) tem quatro filhos e três netos. Ildeu casado com Lourdinha (ambos falecidos) tem dois filhos, apenas um deles vivo. Ildete reside em Gouveia casada com José Batista Lacerda (falecido) tem quatro filhos e sete netos. Arlete casada com José Dória tem dois filhos. Residem em São Roque – São Paulo. Boletim Informativo da AFAGO página 10 ESPECIAL - FOLCLORE Folclore Raimundo Nonato de Miranda Chaves Agosto é mês do folclore, então, mestre Moreira pediu que eu escrevesse sobre folclore. É mais fácil escrever sobre “Como mentir com estatística”, mas Moreira mandou. Fazer o que? Na década de quarenta, minha idade próxima dos dez, meu pai estava construindo sua fazenda em Camilinho. Casa de tirar leite, currais de réguas, galpão: para máquinas, para carros de boi, para tralha de tropa. E mais, reforma na casa sede. Muitos peões, alguns com profissão definida como Manoel Saraiva que era carpinteiro, na época e no local, diziam Carapina. Manoel era sistemático e uma de suas idiossincrasias era manter pequena fogueira de cavacos, ali, no local de trabalho. Volta e meia ele atiçava o fogo, colocava mais lenha e acendia o cigarro de palha. À noite, sempre frias nos meses de seca, aumentava-se a fogueira, e os peões, acocorados ou sentados no que encontravam ao redor, se aqueciam. Este é o cenário, mas devo apresentar, ainda, o personagem: José Lopes. caboclo esperto, daqueles que enrolam água e dão nó, bem falante e ladrão como rato. Meu pai tinha venda de secos e molhados, ali na venda, José Lopes me convenceu que em se plantando um prato de amendoim era possível colher até um alqueire; considerando minha receptividade à conversa ele fez a proposta que foi imediatamente aceita: Eu lhe entreguei o prato de amendoim em troca de meia saca, na colheita, quatro meses depois. Bom negócio!, mas depois, ele me explicou: o amendoim era velho e poucas sementes germinaram, apareceram as saúvas e a seca. Meu consolo é que não fiquei com o saco cheio, mas José Lopes, certamente, saiu da venda já saboreando o amendoim e rindo da minha inocência. Meu pai e meu primo, Antônio Baiano, perceberam que alguém estava surripiando fubá lá no moinho de pedras. Desconfiaram de José Lopes, e ficaram atentos para dar o flagra. Antônio notou menos fubá do que o devido e deu busca nos possíveis esconderijos, encontrando o produto do roubo no pequeno canavial ao lado do curral. Combinou com meu pai e, à noitinha, ficaram num ponto de observação. José Lopes, esperto, percebeu a Boletim Informativo da AFAGO página 11 manobra e foi direto para sua casa. Dia seguinte, horário combinado, os pseudo detetives no ponto de observação e, para surpresa deles, o saco de fubá já havia desaparecido. Muito bem! reunidos, em volta da fogueira, José Lopes falava: —”Meia noite é hora das águas mortas” – e continuava – “Fica tudo paralisado, as águas só voltam a correr quando o galo cantar”. Eu ficava amedrontado, queria confirmar, mas como me levantar à meia noite e verificar? E se a entidade que determina a paralisação das águas não gostasse? Ficava, então, sob as cobertas, suando e rezando para que algum galo cantasse. Tinha o lobisomem que, durante a quaresma, ficava solto, quase sempre sob uma goiabeira, comendo goiabas. A história do lobo preto, feiticeiro, astuto, afirmava ele –”As galinhas que dormem na laranjeira e não no galinheiro, ali perto do curral, certamente, serão comidas pelo lobo; para ele não tem problemas com altura. O lobo preto vê a galinha no alto e, com o poder de feitiço, faz com que a penosa lhe caia na boca”. – naquela região não tem lobo preto, apenas, o guará que é vermelho, mas na minha imaginação de criança eu via lobos de todos os tamanhos e sentia todos os medos. São Cipriano, conhecido pelas fortes orações. José Lopes sabia muitas delas, dizia ele – “Para atravessar um rio, não importa quão largo e quanto está cheio de água, deve se dar as costas para o rio, fechar os olhos e fazer a oração de São Cipriano. Ao abrir os olhos já se está na margem oposta do rio”.— são coisas da religião, São Cristovão faz imenso esforço para ajudar os viajantes nas travessias dos rios e São Cipriano resolve o mesmo problema com facilidade. A moça que teve um romance com um padre e foi transformada em mula sem cabeça. Pergunto: e o padre ficou ileso nesta história ou quem sabe foi transformado no cavalo das patas de fogo? Ela, a mula sem cabeça trotava pelas estradas, conforme informava José Lopes, e assim perturbava mais os meus sonos. A fala de José Lopes não tinha limites, dizia ele —: “Exatamente, à meia noite, uma mulher, muito alta, toda vestida de branco, sai da Capela de N.S. das Dores e desce, vagarosamente, até o cruzeiro, ajoelha-se e reza. Volta, então, para a Capela e desaparece”. — terminada a reunião eu percorria os cem metros, até minha casa, mas sem olhar na direção da capela. E se a mulher tivesse saído mais cedo? As lendas quase sempre traziam a figura do demônio, pintado de diversas formas, e acontecia muitas vezes na casa de roda. Casa de roda é uma pequena fábrica de farinha, normalmente, de propriedade do fazendeiro. A fabricação da farinha era responsabilidade do meeiro que mudava, com a família, para um ou dois quartos anexos à fábrica. A fabricação de farinha tinha ação social interessante. Moças: filhas, sobrinhas e vizinhas do meeiro participavam e, os trabalhos se estendiam noite adentro. Os rapazes da vizinhança, terminada a tarefa ESPECIAL - FOLCLORE diária, iam para a fábrica e, ali, num ambiente alegre ajudavam no trabalho. A fase inicial da fabricação caseira de farinha é a raspagem da mandioca, a retirada da película externa, de cor marrom escuro. As pessoas gostavam de fazer esta tarefa atuando em dupla: o primeiro raspava metade e atirava a mandioca aos pés do parceiro que raspava a metade restante. Quando o primeiro era mais rápido as mandiocas, semi raspadas, acumulavam se aos pés do outro. Caso contrário o parceiro batia com a faca no toco reclamando pela moleza do primeiro. Em qualquer situação sempre havia gozação de todos que estavam em volta do monte de mandioca por raspar. Assim, estabelecia-se relacionamento de moças e rapazes e a brincadeira continuava. As crianças da fazenda também participavam, quase sempre apareciam, enquanto torravam as últimas fornadas do dia, trazendo queijo e rapadura e a senhora do meeiro, já esperando com a goma, fazia delicioso beiju, apreciado por todos. Ai vem a história de José Lopes: Nesta noite três rapazes levaram violão, cavaquinho e sanfona e proporcionaram momentos de alegria, mas a noite envelhecendo, as pessoas se cansando, alguns saíram outros se deitaram, apenas o trio permaneceu acordado e solando seus instrumentos> Um deles, o do violão, adormeceu, ali mesmo, sobre um couro de boi. Meia noite, certinha, entra no ambiente um frango pelado, sem uma pena sequer. Dois instrumentistas apavorados observam o grande frango caminhando lentamente na direção da prensa de massa, subiu na prensa olhou para os dois apavorados e falou – vai cair uma aza. O do cavaquinho, apavorado, — se perguntava: o que vai acontecerr? Meu Deus! E o frango: — vai cair outra aza. O da sanfona, quase morto de medo, se lembrou que assombração não aparece para três pessoas e sacudiu o dorminhoco do violão. O dorminhoco, em sono profundo, não acordava. E o frango, com voz lúgubre — vai cair uma perna.— Criava aquele suspense para a dupla de instrumentistas e para mim, imaginando a cena, vendo a prensa da fábrica de farinha de meu avo e o frango sobre ela, aquilo era o demônio, sem dúvida. Como isto vai acabar? Eu me perguntava. Finalmente, José Lopes terminava a história: o rapaz do violão acordou e o frango desapareceu. Boletim Informativo da AFAGO página 12 A Cerzideira Maria de Lourdes Camelo – Lorena – São Paulo Há quase cem anos, Maria das Neves abria as janelas coloniais e contemplava o vale florido. Sem que adivinhasse, fincava, em solo mineiro, o destino de uma família. Quando se fala dela, a boca tem mel. Quando se pensa nela, repousase. Quando se reza por ela, plantam-se esperanças. Boa Vista, distrito de Mariana, foi seu universo. Ali, bordou crivos e pontos de cruz. Cerziu roupas e vidas. Teceu mantas e toalhas, fiel ao gesto milenar de quem espera e confia. De sua casa se avistava, numa encosta, o pequeno cemitério onde estavam seus pais e avós. Por perto, alguns regatos de águas claras. Ao redor, brincos de princesa, parreiras de uva, uma horta, galinhas soltas. Majestosamente, no quintal, um pé de jatobá. Teve três filhas e um filho. Não chegou a envelhecer. Muito cedo deixou apenas seus rastros de luz. Ainda hoje, quando penso nos relatos de família, perco-me no devaneio. Uns diziam que era como uma manhã de outono; outros que tinha mãos de fada e os mais próximos lembravam-se da nobreza de sua alma. Quanto à sua vida, conheceu-se o trivial, o tangível; poucos souberam dos pequenos gestos, das sutilezas, da força de seu espírito. Bem cedo precisou assumir a casa, depois da viuvez. Aprimorou-se na arte de cerzir e ficou conhecida nas redondezas. Tinha mãos mágicas. As roupas voltavam perfeitas e restauradas. Não se achavam vestígios do estrago, pois, ela sempre usava a linha certa, no ponto certo. Havia arte em seu trabalho e em tudo o que fazia. Esta foi a face conhecida. Mas, para os mais íntimos, Maria das Neves não escondia alguns projetos. E duas eram suas prioridades. Já há algum tempo, mantinha em sua casa, num quarto limpo e arejado, sua irmã mais nova que chegara doente, com o corpo em feridas. Maria das Neves a acolheu com o coração cheio de amor. Cuidou das feridas com zelo de mãe. Lavava uma por uma, fazia chás de picão e camomila. Refrescava o corpo da irmã com folhas de bonina e, à noite, servia sopa de inhame. Ouviu seu choro, acalentou seu sono, ensinoulhe a bordar, à sombra das parreiras. Restaurou Nenzinha para o trabalho e para o amor. Guardou o segredo da irmã. Só ela sabia da paixão pelo viajante de armarinhos que nunca mais voltou. Inexplicavelmente, depois de curada, Nenzinha exalava perfume suave de sândalo que atraia pessoas, até mesmo as que antes a evitavam. Mas o projeto mais audacioso foi uma toalha de mesa, grande, de puro linho dos Açores. Minuciosamente planejada. Delicadamente sonhada. Cenas domésticas compunham o desenho: um vale florido, bangalôs, bichos e crianças saltitantes. Pensaríamos: inspiração divina? Profecia? Sabedoria de mãe? Diziam que era visível o prazer daquela hora em que todas as tardes, de frente para o vale florido, Maria das Neves ajeitava o linho branco no bastidor e perfurava-o como se ESPECIAL - FOLCLORE Agosto, mês do Folclore preparasse a terra para o plantio. Muitos e muitos meses, para transformar aquela estimada peça portuguesa, trazida pelos pais, em obra de arte. Depois de pronta, lavada, engomada e passada, fez-se uma reunião de família, na sala de jantar, com muitos bolos, tarecos, café e pão de queijo. Maria das Neves, pela primeira vez, pedia que lhe fizessem uma vontade. Abriu a bela toalha e expôs seu desejo: “esta toalha é para vocês. O primeiro que se casar deverá levá-la consigo. Quando for a vez do segundo, deverá ir para ele, e assim por diante. Meu desejo é que ela visite todas as casas, como se faz com os santos.” O desejo foi cumprido por várias gerações. De muitas formas a toalha foi exibida e cobiçada por sua beleza. Cobriu muitos altares em missas solenes, reverenciou o Santíssimo Sacramento, de muitas janelas, cobriu mesas de aniversários e jantares formais. Testemunhou todas as emoções familiares. Se fosse gente, dir-se-ia que era a mais feliz das criaturas. Humanizou-se sem o saber. Afinal, representava um projeto de amor. Como a percepção varia como variam os seres humanos, a bela toalha, em algum ponto de sua existência, sofreu as avarias do tempo e caiu em mãos insensíveis. Para nada mais serviu. Chegou a ser usada, dobrada ao meio, num almoço improvisado, foi emprestada para formaturas, voltou suja de vinho e tinta de caneta, amontoada com outros trapos. Assim, desapareceu do meio humano e familiar. Maria das Neves morria ali. Certo dia, pela providência divina, fui chamada para abrir uns sacos de roupas que iriam para o lixo. A velha empregada, de profundos sentimentos, sabia que os ares eram outros, que não mais contavam o passado e a memória. Eis que me deparo com a bela toalha de Maria das Neves, minha bisavó. Extasiei-me. Ela entraria em minha casa, definitivamente. Repetindo o gesto quase secular, lavei, alvejei, engomei e passei a toalha, como num ritual sagrado. Hoje, toda minha família ao redor da mesa, inauguro um novo tempo. Com a melhor louça, brindo à saúde de todos. Impecável, a toalha de crivo, cuidadosamente estendida, compartilha de nossa alegria. Na cabeceira, minha filha mais nova acaricia o bordado e esboça um sorriso, entretida. Estaria ela adivinhando um vale florido? Boletim Informativo da AFAGO página 13 José Moreira de Souza O mês de agosto é considerado como mês do Folclore. Nosso Boletim tem dedicado inúmeras matérias a esse assunto, visando a oferecer subsídio aos professores, aos alunos e também aos leitores em geral sobre o que deve ser de interesse do estudo do saber popular. Nosso saudoso Doutor Waldir – aqui o Doutor se incorporou ao nome e deve ser grafado com maiúscula se emocionou quando leu o artigo “Das muitas comidas que se fazem de milho” que reproduz um manuscrito originado por volta de 1749, no qual um autor anônimo dá conta da variedade de alimentos produzidos a partir do milho como alimento básico dos mineiros. Do mesmo modo, sem qualquer intenção de privilegiar o Folclore em Gouveia, em novembro de 2010, a comissão de avaliação do Prêmio Afago de Literatura conferiu o primeiro e o segundo lugares a dois contos que narram lendas locais de que são personagens o padre José da Mata – “Um milagre” - e a Cruz das Almas – “O cavalo de patas de fogo”. Embora o conto vencedor em primeiro lugar atribua ao padre José casos que se deram com o padre Afonso, vigário das Datas, a comissão atribuiu o prêmio maior ao conto que narra o milagre que converteu o farmacêutico ateu em virtuoso sacerdote. Ainda no ano de 2010, este Boletim dedicou duas edições a comentários e debates sobre lendas e crenças populares, nos quais se tomou como diretriz a lenda de “Cipriano o capador”. Esse assunto deu origem aos artigos sobre o lugar das mulheres e seu papel de líder nas comunidades. Além disso, basta ao leitor acessar nosso sítio WWW.afagouveia.org.br e se direcionar à coluna “Gouveia rural”, pressionar cada um dos pontos dispostos no mapa para ter acesso às informações sobre cada uma das localidades que compõem o município com suas características, história e peculiaridades. Eventualmente, no Boletim, foram apresentadas resenhas e notícias de obras e feitos de alguns autores ligados a uma ampla rede de pesquisas e estudos que interessam ao saber popular, ou seja ao Folclore. Nosso leitor já se familiarizou com nomes importantes como o do premiadíssimo Tião Rocha, fundador do CPCD – Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento -, Frei Chico – Frei Francisco Van der Poel e seu aguardado “Dicionário da Religiosidade Popular” -, Dêniston Diamantino – produtor de vídeos de primeira importância sobre a vida em Minas e nos sertões -, Domingos Diniz – um moço de Pirapora apaixonado pelo Rio de São Francisco e sua navegação -, Antônio de Oliveira Melo – o maior estudioso das comunidades do Sertão Noroeste de Minas cuja obra é lida em todo o Brasil. ESPECIAL - FOLCLORE Esta edição, como se vê, exibe vários artigos sobre Folclore. Começa com o da lavra de nosso presidente, professor doutor Raimundo Nonato de Miranda Chaves, prossegue com três artigos sobre a romaria e o jubileu do Cemitério do Peixe e encerra com a apresentação de dois autores estudiosos da cultura popular, da história local e regional: Antônio de Oliveira Mello, um moço de Paracatu, residente na cidade de Patos de Minas, e Maria Agripina Neves, pesquisadora e escritora da cidade de Ouro Preto . de Paracatu – 685 páginas –, Memória Cultural (A cultura em Paracatu) – 218 páginas –, De volta ao Sertão – Afonso Arinos e o Regionalismo Brasileiro – 215 páginas –, e Minha terra: suas lendas e seu folclore - 545 páginas. Antônio de Oliveira Mello Acompanhar a obra de Oliveira Mello é uma grande aventura. Esse autor começou a publicar livros no ano de 1960 e não parou mais. A cada ano surge pelo menos mais uma publicação. Centrado em Paracatu e o sertão noroeste de Minas, o autor produz alguns textos de interesse universal e é lido em todo o Brasil por leitores de primeira linha. Basta conferir comentários de personagens do porte de Alceu Amoroso Lima, Carlos Drummond de Andrade, Luiz da Câmara Cascudo, Francisco Iglésias, Mário Mendes Campos, Fábio Lucas e centenas de outros, até do exterior. Nada escapa à pesquisa atenta desse ilustre professor. Como professor, quer deixar seu legado para as crianças e os jovens. Para tal convenceu algumas prefeituras a editarem obras sempre atualizadas a cada nova edição e já lembradas neste Boletim, como Paracatu meu bem querer e Patos de Minas meu bem querer. São obras em que o aluno estuda a cidade, os povoados e os lugarejos inseridos na história e na geografia de Minas, do Brasil e do mundo. Preciosidades didáticas. Timidamente, mas com os devidos méritos, Gouveia ensaiou algo parecido no ano de 1997 com a publicação do Atlas escolar de Gouveia. Disse timidamente porque a elaboração dessa obra envolveu uma equipe enorme e o resultado ficou numa edição com enfoque exclusivo na geografia; não foi ampliada nem atualizada. O mérito está em ter inaugurado o gênero. Oliveira Mello realiza um feito pouco esperado. O leitor habituado a escolher obras segundo interesse temático, em dado momento, passa a receber contribuições para o estudo de sua própria cidade. Alguns exemplos, na obra de Oliveira Mello, encontram-se correspondências enviadas de Diamantina e que relatam o viver em nossa região; depara-se com discursos pronunciados na cidade do Serro sobre personagens que viveram entre nós; lêem –se crônicas de autores que editaram obras no jornal Estrela Polar de Diamantina e casos que poderiam ter acontecido em Gouveia. Entre as muitas dezenas de obras desse autor, seleciono e recomendo ao leitor gouveiano com prioridade, A Igreja Boletim Informativo da AFAGO página 14 A Igreja de Paracatu. É uma contribuição fundamental para a compreensão da formação do Noroeste de Minas, através da Igreja. Com efeito, todos os povoados de Minas se consolidaram em torno de uma capela. Mas, Paracatu tem uma história bastante diferente de capela que se transforma em sede de paróquia e, depois, catedral de diocese. Como capela e paróquia, a vila e, depois, a cidade tornaram-se desafio à administração eclesiástica. Embora distante, a região manteve- sua história muito próxima de Diamantina. A dificuldade administrativa cria uma instância anterior à diocese: a prelazia, algo como reconhecimento de uma região de missão. No Brasil, a história da Igreja se confunde com a do Estado e Paracatu é um exemplo sem par. A história da Igreja em Paracatu ajuda a esclarecer as peripécias do Grande Sertão, assunto presente em outras obras de Oliveira Mello. Padres proprietários de terra, padres comerciantes, padres em conflito direto com outros poderes do Estado, padres que constituem família, padres bandoleiros. Tudo isso se torna desafio à hierarquia eclesiástica e justifica a criação de uma prelazia. Afinal, o que é uma prelazia? É uma meia diocese. A opção encontrada para Paracatu foi a de criar essa instância vinculada ao que se pode chamar de abade-bispo. Tomar a região como terra de missão. Disciplinar, em primeiro lugar, o clero. Oliveira Mello narra com detalhes as peripécias na região. Melhor ainda, ao invés de fazer uma pura história dos bispos, desce aos pormenores de casos anedóticos, dando à obra um sabor próprio à leitura. Além disso, ocupa-se da formação regional e chama a atenção do leitor para a ESPECIAL - FOLCLORE formação de cada lugar que se torna paróquia a partir de pequenas capelas. Memória Cultural (A cultura em Paracatu). Esta obra fixa um contribuição que pode ser tomada como paradigma para todos os municípios elaborarem planos de desenvolvimento da cultura. É, de fato, um diagnóstico da Cultura em Paracatu e sua dinâmica. Após uma introdução bastante esclarecedora, o autor divide a obra em três partes. Na primeira apresenta os “Escritores de Paracatu”. São lembrados 38 escritores a partir do ano de 1755. Não se trata, como acontece em outras obras, de apenas mencionar nomes. Oliveira Mello vai fundo, traça biografias, comenta gêneros literários e exibe textos redigidos pelos autores selecionados. Nessa peripécia, chega até o ano de 1990. A segunda parte reúne “Viajantes estrangeiros e escritores de fora que falam de Paracatu”. São enumerados, examinados e exibidos 16 autores. Apenas para dar um saborzinho ao leitor gouveiano, transcrevo uma nota de Saint-Hilaire sobre um topônimo que ocorre em Paracatu e também em Gouveia: “Córrego do Menino Diabo”. Escreve Saint-Hilaire: “Eis, por fim, a origem do nome Menino Diabo, que recebeu ainda [e de córrego Pobre ou Superbo]. Nos primórdios de Paracatu, houve grande rivalidade entre os jovens que habitavam a parte baixa da vila, perto da igreja de Santana, e os que moravam no alto, perto da igreja. Uns e outros banhavam-se à tarde no córrego Pobre que se tornava teatro de suas disputas, e foi isto o que fez darem o nome ao riacho de Córrego do Menino Diabo” (p.174). Penso que Saint-Hilaire ouviu a primeira explicação e se deu por satisfeito. Vou me aventurar na existência de possíveis lendas, a partir do nome coincidente “Córrego do Menino Diabo” que aparece nas escrituras de Sesmarias do século XVIII em Gouveia. Em Paracatu, conforme registra o viajante, havia dois córregos com nomes contrários, o “Córrego Rico” e o “Córrego Pobre”. Esse último tinha também a designação de “Córrego Superbo”. A oposição entre rico e pobre se interpõe o superbo, dando origem ao “Menino Diabo”. Imagino que alguns garimpeiros, ao encontrarem ouro no que ficou sendo chamado “Córrego Rico”, o mesmo grupo, ou um grupo rival, esperava encontrar mais ouro no outro córrego o “Superbo”. Enganados, atribuíram a uma criança Boletim Informativo da AFAGO página 15 lendária a peripécia e o córrego passou a ter o nome de “Menino Diabo”. Veja-se a lenda conservada em Gouveia. No córrego do Menino Diabo aparecia uma criança, ou o diabo em forma de menino, que intrigava os garimpeiros aventureiros. Esses foram chamar o padre para exorcizar o menino diabo. Por mais que o padre jogasse água benta, exibisse a cruz e rezasse orações poderosas, o menino nem se movia. Intrigado, o padre arguiu a criança: “Você não teme a cruz?” e o menino respondeu prontamente: “Eu sou um diabo batizado”. Com essa eu me aventuro a interpretar a lenda de Gouveia. Certamente, esse menino da lenda era um indiozinho já catequizado. E isto traz muita fogueira para a compreensão da chegada das bandeiras em busca de ouro e, depois, de diamantes. Há que postular um trabalho de catequese de índios, anterior à chegada dos aventureiros em busca de ouro. Há que acreditar que a história de ocupação da região se vincula ao sertão do São Francisco, antes das Minas. A lenda do menino diabo favorece esta conjectura. Para ajudar mais ainda, o autor das Efemérides do Arraial do Tejuco a Diamantina – uma obra publicada sem qualquer estudo crítico – acusa a existência de Gouveia como povoado com lojas e vendas, já no ano de 1702 e a chegada dos primeiros escravos para a fazenda do português Joaquim Gonçalves Lopes, no ano de 1708. A terceira e última parte – “Paracatu evocada pelo paracatuense” – é uma pequena conclusão de percurso. Acredito que a obra editada por Adriles Ulhoa e Kleber Pereira e que já foi apresentada neste Boletim configura plenamente as intenções de Oliveira Mello. Paracatum.com. Um encontro virtual é exatamente a “Evocação de Paracatu”. De volta ao Sertão – Afonso Arinos e o Regionalismo Brasileiro Essa é a obra mais prezada pelo próprio autor; é a filha predileta. Eu lhe darei apenas meia razão. No conjunto, toda sua obra é preciosa, mas em “De volta ao sertão”, Oliveira Mello se dedica à obra de um único autor, o paracatuense mais consagrado, o que inaugura o tema Sertão como gênero literário, com orgulho, Afonso Arinos, o homem do “Buriti Perdido”, a prosa-poema mais reproduzida nas antologias escolares. ESPECIAL - FOLCLORE Há mais motivos para orgulho. Uma das apresentações é assinada por ninguém menos do que Tristão de Atayde – Alceu Amoroso Lima. Após a leitura dessa obra, o leitor sente-se obrigado a retornar aos Sertões de Euclides da Cunha, ao Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa, à Vila dos Confins de Mário Palmeiro e a todas narrativas e teses sobre o imaginário do Sertão como mote para compreender este “Sertão chamado Brasil”. Minha terra: suas lendas e seu folclore Deixei por último essa obra. É a obra máxima do folclorista Antônio de Oliveira Mello. Penso que, tanto quanto o “De volta ao Sertão”, deveria ser publicada por uma editora de porte nacional, como Martins Fontes ou Companhia das Letras. Mas não, os folcloristas, com raríssimas exceções publicam obras importantes como se fossem cordéis. Edição restrita de pequena circulação, chegam às mãos de uns poucos amigos. É mania. Hermes de Paula, de Montes Claros, publicou seu Montes Claros, sua gente e seu folclore em três volumes em edição independente. Outro grande ícone dos estudos folclóricos, o professor doutor Oswaldo Rodrigues Cabral da Universidade Federal de Santa Catarina, fez o mesmo com os quatro volumes de Noticia Histórica, Authentica, Sincera, Pictoresta e Sentimental da Villa, depois Cidade de Nossa Senhora do Destêrro da Ilha de Sancta Catharina, também conhecida e chamada dos Casos Raros Alcunhada Escripta por Oswaldo Rodrigues Cabral Douctor em Medicina, Licenciado em Cirurgia e Escriptor Publico da mesma cidade, na rua Esteves Junior, antiga Formosa, também chamada do Passeio, no Anno da Graça de Nosso Senhor Jesus Christo de MCMLXXI. Composta e Públicada com todas as Licenças Necessarias, ie, nenhumas E Memoria histórica pictoresta e sentimental de Muitos Factos Autehenticos Havidos (mas não de todos) e de Muitas Outras Coisas que se passaram na Villa, depois Cidade de Nossa Senhora do Destêrro da Ilha de Sancta Catharina, também conhecida e chamada dos Casos Raros recolhidos Narrados e Comentados por Oswaldo Rodrigues Cabral Auctor Boletim Informativo da AFAGO página 16 da Noticia Historica de Muitos outros, quem nem com estes se completam. Anno da Graça de Nosso Senhor Jesus Christo de MCMLXXI. Composta e públicada com as mesmas licenças do primeiro Mania de folclorista de obedecer à tradição da literatura de cordel. Contrasto a importância dessas obras com uma que se tornou clássica e que foi traduzida e editada no Brasil no ano de 2005. Título orignal: Street Cornel Society. Título da tradução da Jorge Zahar: Sociedade de esquina. Fico com a pergunta: o que explica essa modéstia de folcloristas de renome publicarem suas obras em círculo restrito? No caso dessa de Oliveira Mello, Minha terra: suas lendas e seu folclore prima pela originalidade no tratamento do tema, pela linguagem atraente, pela universalidade das questões locais exibidas e pelo apreço dos leitores selecionados que a apresentam. A leitura da obra de Oliveira Mello desperta o leitor gouveiano para muitas questões, entre elas a presença de alguns topônimos comuns, além do já referido Córrego do Menino Diabo. Na obra Unaí, rumo às veredas urucuianas encontramos topônimos Cafundó, Bocaina, Chapadinha e Manda Saia. Há que perguntar pela coincidência com os de Gouveia, mesmo que se desprezem outros muito difundidos em diferentes lugares de Minas Gerais, como Lages, Quebra, Palmital, Olhos D’água e Água Fria. Maria Agripina Neves Maria Agripina Neves é uma professora da cidade de Ouro Preto e membro da Comissão Mineira de Folclore. Dentre as suas obras três merecem destaque; Segredos e Mistérios da arte de partejar, Engenho D’Água: sua gente e sua história e Do Monte Carmelo a Vila Tica: Aspectos históricos da Ordem Terceira e da Igreja do Carmo de Ouro Preto. Segredos e Mistérios receberam amplos elogios do professor doutor Saul Alves Martins, membro fundador e presidente de honra da Comissão Mineira de Folclore. No prefácio, Saul destaca a contribuição para um assunto pouquíssimo estudado, bem como o empenho da autora em conduzir uma pesquisa séria. Esse mesmo assunto, como sabemos foi objeto de ESPECIAL - FOLCLORE um belíssimo documentário de autoria de Dêniston Diamantino, no qual o autor recupera o saber das parteiras e acompanha todo o trabalho de parto, contracenando com o percurso das folias de Santos Reis. Em Engenho D’Água, Agripina se dedica a um pequeno povoado pertencente ao distrito de São Bartolomeu, município de Ouro Preto. A obra está dividida em duas partes. Na primeira, a autora apresenta as origens da comunidade, a escola local as manifestações culturais e religiosas, as tradições alimentares, Artesanato e costumes, causos e lendas; na segunda, recupera a História de Santo Antônio, a Festa do Divino e História do Rio das Velhas. Num município turístico e histórico como o de Ouro Preto a contribuição de Agripina se reveste de grande importância, posto que revela aos visitantes aspectos pouco enfatizados pelas políticas culturais. Do Monte Carmelo a Vila Tica comporta em 380 páginas toda a história da Ordem Terceira do Carmo de Ouro Preto. Nessa obra, o leitor obtém informações detalhadas desde o ano de 1744 até o de 2010. Este estudo se torna padrão para aprofundar a temática das associações e irmandades religiosas em Minas. Boletim Informativo da AFAGO página 17 Do ponto de vista deste leitor, se nós estudarmos com o devido cuidado o papel e a trajetória das Irmandades do Santíssimo, das Ordens Terceiras do Carmo e das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário teremos desvendado a maioria dos segredos da formação das Minas Gerais. Agripina deu um mergulho profundo em uma dessas associações. O cuidado em recuperar as fontes primárias e expô-las para interpretação do leitor merece rasgados elogios. Para isso a autora estudou e sistematizou os arquivos da Ordem dedicando mais de cinco anos intensivos à pesquisa e à transcrição paleográfica. A relação das fontes consultadas tornase um guia importante para outros estudos. Ressaltese também que a autora, após os esforços de busca de fontes, tratamento e organização das informações, elaboração de plano de redação, contou com a colaboração de Augusta de Castro Cotta, a qual aborda, no primeiro capítulo, os primórdios da formação da tradição carmelitana até sua fixação na Europa e que redigiu em parceria o capítulo IX que apresenta os símbolos do Carmelo. Generosamente, Agripina conferiu à colaboração de Augusta o posto de co-autora. ESPECIAL - FOLCLORE AQUELAS MÃOS Getulino do Espírito Santo Maciel – Lorena – São Paulo Eu tinha medo de passar em frente ao cemitério, à noite, e dos fogos fátuos que, terrivelmente, rolavam estalando o pasto seco de capim gordura. Mas, eu tinha mãos firmes apertadas às minhas enxugando-me os pavores; Tinha fome das “ patuléias” - um mexido de ovos fresquinhos com farinha de milho de moinhos de pedra - e mãos saborosas me serviam em um esfolado prato de ágate; Tinha machucados de espinhos de unha de gato e mãos milagrosas me curavam as feridas; Chegava sedento do futebol de bola de meia e, com uma caneca de limonada, aquelas mãos me saciavam; Eu tinha sono, abrindo a boca, à luz da lamparina e aquelas contas silvestres do terço me cantavam ave-marias e salverainhas deslizando suavemente por entre aquelas mãos. Estava sem rumo pelas incertezas e aquelas mãos postas, silentes, me indicavam o caminho. Ah! aquelas mãos ágeis mexendo tachos fumegantes e cheirosos de cravo e canela de doces de goiaba, limão vermelho, cidra, mamão ou cozinhando milhos verdes e embrulhando cuidadosas pamonhas de indeléveis aromas; Mãos lisas de seda me afagavam e, junto ao coração, amorosamente me apertavam; Mãos de jutas calejadas me silenciavam brandamente com um leve gesto nos lábios; Mãos, quais lenços alvejados, me enxugavam as lágrimas da última e merecida surra; Mãos com agulhas a costurar nossos destinos e a remendar nossas esgarçadas emoções; Mãos sempre abertas que um dia se fecharam definitivamente rodeadas pelo mesmo rosário de contas silvestres e se foram... não, não se foram...estão aqui, redivivas, leve, suave e eternamente. As mãos de minha mãe, a mãe de minhas mãos! Boletim Informativo da AFAGO página 18 ESPECIAL - FOLCLORE O Cemitério do Peixe. Luiz Dumont Quando se fala em Cemitério do Peixe, quem sabe, sabe e quem não sabe pergunta, o que é e onde fica. É um lugarejo, com uma Capela dedicada a São Miguel e Almas, um Cemitério e inúmeras casas, mais de 100, não habitadas, pertencentes aos moradores, fazendeiros e pequenos proprietários da região. De inabitada durante o ano, na época da festa, fica intransitável de tanta gente. Faz parte do Município de Conceição do Mato Dentro, ficando bem ao norte da sede Municipal, junto ao Rio Paraúna. O nome deriva do seguinte fato : Na primeira metade do século 19, esta região era ponto de passagem de mercadorias que iam para o sertão em lombo de burro. As famosas tropas. No ponto, hoje conhecido como Quartel do Peixe, foi estabelecido um pelotão de soldados, para fiscalização. Alguns desses soldados teriam se alimentado de uns peixes apanhados no rio Parauna, e que se estragaram. Sem recursos para tratamento, vieram a falecer e aí foram enterrados. Daí a região ficou sendo conhecida como – “Cemitério onde foram enterrados os soldados que morreram por causa dos peixes” - “ Cemitério dos que morreram por causa do peixe”, etc. até chegar à denominação de “Cemitério do Peixe”. Todos os sepultamentos da região passaram a ser feitos também no pequeno cemitério. Assim, as famílias tinham, ali bem perto, sepultados seus entes queridos. Por serem parentes e, sobretudo antepassados, criou-se tal devoção e confiança nas almas do Cemitério do Peixe que era comum, em qualquer dificuldade, exclamar “almas do Cemitério do Peixe valei-me”. E não raro, a ajuda vinha mesmo. A Dona Clodiana, esposa de Antônio Feliciano Coelho, fazendeiro da região, tinha muita pena daqueles que ali se encontravam enterrados. Mandou cercar a área dos sepultamentos e, anualmente, trazia de Diamantina, um Padre para celebrar Missa, por aquelas almas. Com a morte de Dona Clodiana, Antônio Francisco Pinto o famoso Caniquinho –( 1860 – 1941 ) então dono da Fazenda do Vassalo, em cujas terras se dera o sepultamento dos soldados e de falecidos da região, continuou a promover, junto com o Padre Ernesto, de Congonhas do Norte, a celebração de uma missa, que se dava ao ar livre, na data de 15 de agosto. Estima-se que isto se deu em torno do ano de 1890. Antônio Francisco Pinto – o Caniquinho – era um fazendeiro muito inteligente, astuto, de muita visão de negócios que amealhou grande fortuna. Era conhecido e respeitado em toda a região e tinha negócios até no Rio de Janeiro, onde ia com freqüência. Boletim Informativo da AFAGO página 19 Em 1910, Caniquinho pediu licença ao bispo de Diamantina para chamar os Padres Redentoristas de Curvelo para promoverem a celebração de Missões, no local, o que foi feito. Inicialmente, os Padres vinham a cavalo de Curvelo. Depois, com a construção do ramal férreo Corinto/ Diamantina, ele vinham até o Barão de Guacui, e acabavam de chegar a cavalo. Para tanto, construiu a Capelinha que dedicou a São Miguel, a casa para hospedar os Padres. Construiu também hospedagem para a Polícia, para as cantoras, para o barbeiro e outras instalações. Montou, inclusive, uma iluminação a carbureto, o que era usado na época. O povo simples e humilde da região, os trabalhadores nas fazendas, os pequenos proprietários e até os fazendeiros gostaram tanto da celebração que Caniquinho se viu obrigado a programar novas Missões para o ano seguinte e não teve como deixar de realizá-las nos demais. A data central da festa era 15 de agosto, começando uma semana antes. Sabendo disto, o povo, pela falta de padres, pela dificuldade de ir à cidade e pelo gostoso que era a festa, passou a marcar os casamentos, os batizados, a primeira comunhão para a data da festa que passou a ser conhecida como a Festa do Cemitério do Peixe ou, simplesmente, a Festa do Peixe. Caniquinho, em documento entregue ao Bispo de Diamantina, doou as terras vizinhas o Cemitério para as almas, indo do alto da porteira até a barra do Rio. Incluiu a nascente do córrego que forneceria água para os Romeiros, e o chamado “pasto das almas”, porque nele poderiam ficar os animais durante o jubileu, pagando um aluguel que era destinado à manutenção do Cemitério. O Jubileu do Peixe, como passou a ser chamado, se tornou uma festa de presença obrigatória, não só e sobretudo pela devoção, mas também como oportunidade de encontro de parentes e amigos, o que se dá até hoje. Nossos antepassados transpunham quaisquer dificuldades para estarem no Peixe, no 15 de agosto - Juca Rodrigues, Luiz da Serra, Levindo Pinto, Antonico Dumont, João Baiano, Cubertino Ribas, Gustavo Alves, os Vieira, o próprio Caniquinho, e muitos outros. Também os comerciantes de gado, de animais, de arreios, fotógrafos e tudo mais, aqui compareciam, pelas dimensões e quantidade de Romeiros participantes, e muitos negócios eram realizados. Muitos namoros e casamentos aqui nasceram. Caniquinho, o fundador do Jubileu do Peixe, morreu em 1941, mas a tradição da Festa do Peixe continuou, e continuará em sua homenagem e em homenagem às almas de todos os nossos antepassados, amigos e parentes aqui enterrados, sob a proteção de São Miguel e Almas. Texto escrito por Luiz Dumont, em 01/08/2004, mas pode ser usado, e reproduzido. ESPECIAL - FOLCLORE JUBILEU do CEMITÉRIO do PEIXE! Maria Auxiliadora de Paula Ribeiro Nascida em Gouveia, onde passei a mais feliz infância, como me lembro das pessoas se organizando em romaria para o Jubileu do Cemitério do Peixe! Na minha mente infantil, questionava sobre o nome e chegava, mesmo, a pensar que o local era assim chamado pelos peixes lá enterrados. Meus pais, Sr. Manoel/D.Antônia e Vina (nossa mãe por afeição ao lado de minha mãe biológica), quanto me contaram do Cemitério do Peixe, carinhosamente me ensinando que o nome nada tinha a ver com o que eu pensava, apesar de lá estarem sepultadas, pessoas eminentes e piedosas do lugar, o que nada tinha a ver com a romaria que se fazia todos os anos em louvor a São Miguel! Com que riqueza de detalhes eles me falaram dos padres redentoristas que, para celebrar as festividades do Jubileu, partiam de Curvelo de trem e paravam em Barão de Guaicuí de onde, montados em lindos e possantes cavalos, se dirigiam para o Camilinho. No Camilinho se hospedavam em casa do Sr. João Baiano/D.Zenília (falecidos), que deixaram nos seus filhos João (Zico), Amélia, Dr. Raimundo Nonato, emérito presidente da AFAGO, Maria José, e em memória de Maria Luiza, o seu legado de amor, paz, iniciativa, cultura e religiosidade. Como me era gratificante imaginar a capela de São Miguel Arcanjo e as casas por meus pais descritas, todas branquinhas à espera dos ocupantes, no Jubileu. Realmente, as casas do Cemitério do Peixe ficam vazias até hoje, o ano inteiro, à espera da data festiva, quando os moradores-romeiros para lá partem pra habitá-las nos dias da novena a São Miguel! Porém, antes mesmo da festa, o Cemitério do Peixe se transforma num vai e vem constante de pessoas munidas de instrumentos para o conserto e pintura das casas que dali a poucos dias se transformam no habitat dos romeiros, em busca das bênçãos de São Miguel. Quem não tem casa, arma barracas nos dias do tradicional evento. No meu tempo de criança, punha-me a imaginar toda essa movimentação e tinha uma vontade enorme de adentrar as casinhas. E, também, de rezar na Capela. Aos 11 anos, nos mudamos para Curvelo, cidade em que, me entretendo com o cantar das cigarras, julgava ter chegado, mesmo, ao sertão de que tanto, também, ouvira falar! Entretanto, na terra de São Geraldo, continuei ouvindo muito sobre o Jubileu do Peixe e quantas vezes admirei no Pe Mauro Carvalhaes, a dedicação não apenas aos Boletim Informativo da AFAGO página 20 romeiros de São Geraldo, mas a todas outras romarias! Com um desejo enorme de participar, acompanhei de longe a romaria por ele liderada a Rio Vermelho, sua terra natal, levando a imagem da Virgem Santíssima. Mas Padre Mauro Carvalhaes ainda guardava um atributo muito especial: era é até hoje o é, arauto de Deus em sua dedicação ao Jubileu do Cemitério do Peixe! O nosso Pe Carvalhaes, sim, nosso, pois o fizemos curvelano de coração e ainda não nos habituamos à idéia de que fora transferido para Juiz de Fora, sempre se dedicou inteiramente à causa do Cemitério do Peixe! E... Não se limita só à romaria, mas se integra a todo o trabalho, para trazer maior conforto aos romeiros de São Miguel. É da índole do Pe Carvalhaes se entregar, apaixonadamente, às tarefas que nos falam de DEUS enquanto nos tornamos cristãos, católicos praticantes e fervorosos pelo exemplo que dele emana! Artífice por excelência, carismático, piedoso e inovador, Pe Carvalhaes se dedica totalmente ao seu ministério, acolhendo com amor e dedicação a todos que o procuram! Saudade de ver o seu vulto a percorrer as ruas, praças e avenidas de nossa Curvelo! Saudade de ouvir a sua voz aveludada a discorrer sobre o evangelho e a fazer de suas homilias verdadeiras lições de vida, a partir da palavra de DEUS! Padre Carvalhais partiu, mas deixou nos curvelanos a marca de sua presença, a magia do seu conforto espiritual, a lembrança do seu sorriso acolhedor, a delicadeza do cavalheiro, a história de um cidadão! Eis que ele está de volta... O sol radiante pinta de mil cores o firmamento, o calor se faz sentir e os pássaros em debandada anunciam que agosto chegou. Com a chegada de agosto, chega, também, o Pe Carvalhaes para o Cemitério do Peixe. Com seu jubileu repleto de magia e encantamento, mas principalmente, de fé no anjo São Miguel, mais uma tradição se repete. Nesse ano de 2011, a festa ocorrerá entre os dias 07 e 15 de agosto, com outros piedosos e eloqüentes padres e com o Pe Carvalhais a liderar as orações, as bênçãos e as homilias! Não deixemos que tão maravilhosa tradição sucumba ao peso da nossa indiferença! Que participemos do Jubileu do Cemitério do Peixe! Que veneremos em São Miguel, o nosso Arcanjo! Curvelo, 29 de junho de 2011. ESPECIAL - FOLCLORE Cemitério de Muitas Lendas José Moreira de Souza Em atenção aos estudos publicados neste sítio pelo nosso presidente, professor doutor Raimundo Nonato de Miranda Chaves, acabo de retornar do Jubileu do Cemitério do Peixe (dia 15 de agosto). Retornei encantado. Fui acompanhado por minha esposa, Adélia e pela senhorita Lúcia Tânia. Tânia está interessada em estudar a romaria e o jubileu como objeto de sua dissertação de mestrado em Ciências Sociais. Ao longo de dois dias de visitas e conversas, pudemos vislumbrar a riqueza do estudo e a contribuição que poderá trazer para um melhor conhecimento da trajetória histórica do jubileu e do culto às almas. A memória das inúmeras lendas: guardas envenenados por peixes estragados, escravos enterrados vivos como lição para que os outros soubessem aceitar a escravidão, lugar privilegiado de culto às almas dos escravos, até chegar ao culto de São Miguel, a construção da capela e a aprovação pelo papa de um jubileu anual, tudo isto se põe como desafio a estudos aprofundados. - Não é São Miguel e Almas, como querem alguns, é Almas e São Miguel. Primeiro as almas, depois, São Miguel – afirmaram algumas pessoas entrevistadas. Privilegiamos entrevistar pessoas que visitaram o cemitério em diferentes épocas e cuidamos de estimular a memória remota e recente. O cemitério é cercado de cruzes. Ali a cruz substitui o pelourinho. Há um culto genérico às almas dos escravos, vindo depois o culto às almas dos mortos ilustres, ancestrais de famílias, sepultados após a construção da capela consagrada a São Miguel. Ao longo do dia pudemos acompanhar a chegada de quase uma dezena de cavalgadas provenientes de locais como Serra do Cipó, Camilinho, Mandaçaia, Pedro Pereira, Gouveia, Vila Alexandre Mascarenhas, Congonhas do Norte, Tombador, Fechados; além de ônibus, caminhões, automóveis e motos. A centralidade do Cemitério é chave para entender grandes segredos. Por exemplo, a formação do mercado moderno: - “Fomos ao Cemitério por volta de 1950. Em torno do cruzeiro, as pessoas depositavam: uma réstia de alho, outros, lata com andu, rapadura, prato de fubá, prato de feijão, de café limpo... Quem chegava trocava alho por rapadura, andu por fubá, café por feijão, assim por diante; e depositava no cofre uma importância para as almas”. No interior dessa prática do saber popular esconde-se o segredo da taxa de câmbio. Há duas operações: a troca de uma mercadoria por outra equivalente – o conhecido escambo -, e pagamento às almas pela possibilidade dessa troca. Um dos sacerdotes presentes – havia três – narrou que há mais tempo, a romaria possibilitava também o comércio de cavalos. Como grande número de romeiros se deslocava a cavalo, o lugar era ideal para isso. Não era, porém, o comércio semelhante ao que acontece nas exposições agro-pecuárias. Era o comércio abençoado pelas almas. Isto foi celebrado ao longo do dia 13 de agosto – sábado – deste ano de 2011. A chegada de cada grupo de cavaleiros Boletim Informativo da AFAGO página 21 era anunciada pelo padre Carvalhaes e encerrada com a benção aos cavaleiros e aos fogosos animais. O padre, ao final, se molhava com a água benta espargida sobre cada par – cavalo e cavaleiro – que se aproximava. Se alguém negociou algum cavalo nessa feira santa, não levou apenas um animal, mas um cavalo bento. Pesquisar o Cemitério do Peixe é brindar a academia com uma pérola de elevado brilho. A moça de Itabira, Lúcia Tânia, que está se propondo este estudo, mal suspeita da contribuição que trará à história cultural de Minas, e à nossa formação histórica. Com efeito, os primeiros levantamentos dão conta de que o Conde de Assumar, Dom Pedro de Almeida, concedeu uma sesmaria no ano de 1719 a “Manuel Pinto Chaves – [na] Parada onde faz barra o Rio Congonhas no Rio Paraúna”. Essa parada é exatamente onde se localizou posteriormente o Cemitério e as fazendas conhecidas como Vassalo e Capitão Felizardo. No ano de 1740, o governador de Minas, Gomes Freyre de Andrade, concedeu mais uma sesmaria nessas imediações a “João Bauptista Coelho – na Serra Grande dos Galheiros com Rio Congonhas”. São duas datas importantes e os nomes das famílias originais, Pinto Chaves e Coelho, fixam a marca de uma tradição que se institucionaliza a partir de meados do século XIX. A sesmaria de Manuel Pinto Chaves foi concedida antes da Capitania de Minas Gerais ser desmembrada da de São Paulo. Muito antes, portanto, da oficialização da descoberta dos diamantes por Bernardo Fonseca Lobo. Fixe-se o antes. Antes da demarcação do Distrito Diamantino. A sesmaria de João Bauptista Coelho é concedida poucos anos após a demarcação do Distrito dos Diamantes. Nas proximidades dessa última será instalado o registro da Contagem do Galheiro, plenamente visível para quem chega ou sai de Gouveia na grande reta da rodovia nas proximidades da Usina Eólica do Camilinho. Infelizmente, nenhum viajante ilustre percorreu as estradas que, saindo dos arraiais das Congonhas – hoje Congonhas do Norte –, de São Francisco do Paraúna – hoje Costa Sena –, até o povoado do Camilinho, localidade na qual se encontrava a estrada do sertão – leia-se Curvelo – com a do Serro e Conceição rumo à Gouveia e ao arraial do Tijuco. Nesse percurso o arraial mais importante que se formou foi o de São Gonçalo do Tombador, cuja capela era assistida pelo vigário de Gouveia logo que foi criada a paróquia em 1841. A convergência dessas estradas conferiu ao povoado do Camilinho uma importância como entroncamento dos estafetas que conduziam malas dos correios. A atenção para as lendas aponta para a pesquisa histórica. Localização de um quartel, em ponto altamente estratégico – ponto de ultrapassagem do rio Paraúna – primeira lenda -; local de enterro de escravos inicialmente punidos pelos senhores – segunda lenda -; local de reverência às almas dos escravos – terceira lenda. Local ARTIGOS onde foi enterrado um sacerdote que não resistiu aos rigores da jornada – quarta lenda que aponta para o início da sacralização do cemitério. A partir de 1850, a memória popular insere o Cemitério do Peixe nos registros históricos. Dona Clodiana, Antônio Feliciano Coelho, Antônio Francisco Pinto – o Caniquinho –; padre Ernesto de Costa Sena e Congonhas e os padres redentoristas do santuário de São Geraldo de Curvelo são figuras históricas. A visita ao cemitério dá conta de que a criação da capela em 1915 confirmou a sacralização progressiva do local. O exame das inscrições tumulares mostra que, a partir de 1920, pessoas ilustres foram enterradas no campo santo. Aconteceu com o cemitério do Peixe algo semelhante já antecipado pelo cemitério da cidade do Serro. Até 1850, naquela cidade, o lugar conhecido como “Morro da Forca” era utilizado como depósito dos corpos de escravos não filiados às irmandades. A partir dessa época a elite, juntamente com o vigário, começa a se preocupar com o cemitério e aponta como local mais adequado “o cemitério onde são enterrados os pobres e os escravos, vendo-se com dor as cinzas dos mesmos espalhadas na superfície do solo”.Trinta anos depois foi inaugurado o cemitério paroquial como se vê hoje. Note-se, além disso, que mais ou menos nessa mesma época foi construído o cemitério do Tigre, visitado por Richard Burton no ano de 1867. A preocupação maior com cemitérios se deu em toda a região com a notícia de surtos de cholera morbus. Esta é também uma senda importante para o estudo. Planejando O Amanhã Adilson do Nascimento O Boletim Informativo da Afago 03 – Maio/Junho 2011 – traz o Editorial Palavras do Presidente intitulado “Projeto Gouveia – uma sugestão”, onde descreve uma série de atividades que constituem o Projeto Turismo de Vilarejo Cuiabá e comunidades do entorno. Nós, gouveanos, deveríamos aplaudir esse tipo de iniciativa? Com certeza sim! Não só isso! Deveríamos parabenizar a Associação dos Moradores, liderada por Geraldo Arcanjo de Oliveira e ainda, deveríamos verificar como uma experiência comunitária desse tipo poderá ser utilizada em benefício da cidade. Congregar as entidades de classes, a administração municipal e a sociedade civil, para buscar e orientar possíveis empreendedores, não necessariamente gouveanos ou moradores do município, para o fortalecimento do empreendedorismo nas comunidades; não importando se urbana ou rural é um primeiro caminho. Procurar apoio do SEBRAE na orientação de pesquisa de mercado, ou seja, na melhor forma de investir em atividade lucrativa que proporcione resultado sustentável é o segundo. O eminente sociólogo José Moreira de Souza, gouveano de larga experiência e vasto prestígio, tem um exemplo que muito bem demonstra a falta de clareza de investimentos e de orientação para o empreendedorismo em Gouveia. Imaginemos um cidadão que tenha economizado certa quantia resolva investi-la em algum empreendimento e sem qualquer orientação e conhecimento do mercado abra um estabelecimento comercial para a venda de secos e molhados. Tão logo a vizinhança perceba que o empreendimento está apresentando algum retorno outros pseudos investidores virão Boletim Informativo da AFAGO página 22 a reboque do primeiro de forma que em pouco tempo todos estarão vendendo cachaça uns para os outros e assim teremos uma comunidade de bêbados e falidos, sem qualquer suprimento de caixa para honrar os seus compromissos. Outro exemplo, esse na contra mão do primeiro, que nos mostra como é ser um empreendedor e como se faz um empreendimento tem como pano de fundo a Companhia Industrial São Roberto, um investimento 100% gouveano, que tendo acumulado lucros expressivos, nos idos de 1940, a permitiu tornar-se sócia majoritária da Companhia Industrial de Estamparia, sediada em Contagem, nos arredores de Belo Horizonte. Isso hoje seria viável? Não acredito nessa possibilidade! Sabemos que a fábrica de tecidos atualmente, mesmo agregada das confecções, não representa para a economia do município o mesmo percentual de outros tempos. Em 1977, quando eu me mudei de Gouveia, a fábrica proporcionava empregabilidade para mais de mil famílias, não só da cidade, como também e, principalmente, da zona rural, além de outras localidades do seu entorno, como Datas e Presidente Kubitschek. Hoje, de acordo com a fonte que tenho esse número não passa de quatrocentas famílias. Poder-se-ia dizer com toda segurança que essa redução seja fruto da evolução tecnológica que possibilitou grande automação das tarefas manuais de outros tempos. Nada mais verdadeiro! Porém, também é verdade que a tecnologia aplicava em São Roberto até os dias de hoje não foi “essa Coca Cola toda” o que a torna um pouco inferiorizada em relação às suas principais concorrentes do mercado interno, quando podemos citar a título apenas de comparação a Cedro e Cachoeira e a Coteminas, além de sabermos dos conflitos que são impostos às três pela concorrência internacional, a exemplo da China. Eu iniciei a minha vida profissional na Fábrica São Roberto e ali cheguei a ocupar o segundo cargo da hierarquia local e por isso tenho para com ela um carinho muito especial e uma dívida de gratidão por ter sido onde adquiri meus primeiros conhecimentos que me proporcionaram, depois de alguma especialização, prosseguir na carreira de gestor de recursos humanos que escolhi. Esse reconhecimento e essa gratidão não podem, todavia, cegar-me da visão que tenho da possibilidade de que a fábrica possa vir cada vez mais a reduzir a sua representatividade econômica no nosso município, podendo, até mesmo, extingui-la. A direção da Estamparia S.A. poderia decidir, para dar equilibro aos seus custos de produção, pela transferência da sua linha de produção de tecidos em Gouveia para a fábrica instalada na Cidade Industrial. De imediato ela deixaria de contabilizar como despesa operacional os seus altos custos de transporte entre Gouveia e Contagem, feito por meio de veículo automotivo, ao longo dos mais de 230 quilômetros de rodovia. Sabemos que plantar uma indústria de tecidos em Gouveia naqueles primeiros tempos, tendo que adquirir maquinário europeu e depois de retirá-lo do porto conduzi-lo até São Roberto com a escassez e precariedade de transporte da época, tinha algumas determinantes como mão de obra barata, água em abundância para o funcionamento das máquinas movidas por força motriz, que foram fundamentais, além do idealismo dos gouveanos, seus fundadores. Num segundo momento, quando de sua arrematação e reforma, já nas mãos do mais expressivo gouveano adotivo, Alexandre Diniz Mascarenhas, além da mão de obra, também a ARTIGOS possibilidade, agora de geração de energia elétrica falaram alto. Hoje, sabemos, nenhuma das duas são expressivas. A mão de obra está equiparada aos valores dos centros maiores, embora o salário mínimo nacional seja uma excrescência, e a geração de energia elétrica já não é mais compatível com a exigência de consumo da fábrica. Alguém poderia dizer que seria desumano se os atuais administradores da fábrica concentrassem todos os seus investimentos em Contagem, deixando em Gouveia apenas um “elefante branco” representado pela Vila Operária de São Roberto, principalmente quando sabemos que ali está concretizado o sonho maior do grande Capitão da Indústria. Aprendi e sempre coloquei em prática que o bom administrador é aquele que administra com a cabeça. Se colocarmos o coração o negócio estará fadado ao fracasso. Por isso a possibilidade de transferência e desativação não é uma utopia, nem um agouro, e sim uma visão capitalista perfeitamente viável. Nessa hipótese quantos gouveanos ficariam sem sustento? Estatisticamente, sabe-se, que para cada trabalhador, em média, há mais quatro dependentes, de forma que o número de pobres miseráveis chegaria facilmente a dois mil com essa decisão. Será que a ASCIASGO, a Prefeitura, a Câmara Municipal, os sindicatos, a sociedade civil, a AFAGO, têm esse medo e se preocupam com isso? Se preocupam estão se preparando para uma solução que amenize o impacto da tragédia na economia do município? Haveria a possibilidade de transformar a vila operária em atração turística? E a Gouveia estaria preparada para atuar nesse tipo de turismo? Ou será que estamos todos a dormir em “berço esplêndido”, sonhando com um Brasil sem fome, sem miséria e sem corrupção? Não sei! Sinceramente não sei! Fica, no entanto, o alerta de quem, mesmo não servindo de exemplo, está preocupado com o futuro de tantos gouveanos que haverão de viver em Gouveia e conviver com o que ela possa lhes proporcionar. Estabelecer os estudos e a viabilidade de solução para esse tipo de situação é o que chamamos em administração empresarial de Planejamento Estratégico, o que se adapta também para a administração pública, e não deve restrita apenas à responsabilidade do prefeito e o do seu secretariado, devendo ser também uma atribuição da sociedade como um todo. Já ouvi dizer que em Gouveia não existe capital disponível para investimento, uma vez que todos aqueles que tinham uma disponibilidade já a investiu em alguma atividade proporcionando emprego e renda aos seus conterrâneos. Isso não passa do “efeito avestruz” que para fugir do perigo enterra a cabeça na areia. Será que a rentabilidade desses investimentos não comporta uma melhoria de forma a ser reinvestida no negócio? Por que não averiguar, por meio de pessoal e entidades especializadas, se empresas que exploram matéria prima nata de Gouveia e a industrializam em outras regiões poderiam investir em alguma atividade lucrativa em Gouveia, gerando emprego e renda para o pessoal da cidade? Recentemente ouvi de um comerciante gouveano, mas com atividade em Diamantina, que preferira se estabelecer ali para obter melhor retorno do seu investimento. Em minha mais recente visita a Gouveia encontrei um comerciante que vendia farta variedade de legumes e frutas e quando procurei saber de quem e de onde era a propriedade fui informado de que os produtos eram adquiridos na CEASA, em Contagem. Como pode! Gouveia, uma comunidade tipicamente rural adquirindo seus produtos agrícolas na central de abastecimento do estado. Nessa mesma ocasião procurei pelo molho de pimenta que era fabricado na Vila Alexandre Mascarenhas e me disseram que a fábrica havia encerrado as suas atividades, por questões familiares. Será que alguma entidade gouveana se mobilizou para, pelo menos, tentar solucionar o conflito e evitar que a indústria sucumbisse? Gouveia tem a maioria dos seus empreendimentos constituída por famílias. Essas famílias estão sendo orientadas para a sucessão? Já Boletim Informativo da AFAGO página 23 sugeri, na condição de executivo de RH, a um empresário já idoso, para que ele providenciasse a sua sucessão, pois eu temia que na hipótese da sua ausência a concorrência familiar, principalmente entre os primos, fosse prejudicial à saúde das suas empresas. Ele, em princípio, me questionou se eu o estava agourando. Eu então lhe disse: não senhor! Eu tenho certeza de que o senhor foi escolhido para semente. Pouco tempo depois lá estava ele convocando os seus herdeiros para uma assembléia e transferindo toda a administração dos seus negócios, para executivos não familiares, inclusive eu, e transformando a sua filha em acionista majoritária, não deixando qualquer possibilidade de questionamentos no futuro. Outra coisa que eu infelizmente não vejo é uma Gouveia envolvida em qualquer movimento que vise à melhoria da qualidade de ensino dos seus cidadãos. Todo gouveano que se dispôs ou foi dele exigida uma especialização, até o ano de 1958, acima do primário, de 1958 a 1972, acima do ginasial e daí para frente, acima do secundário, antigo científico ou colegial, não lhe restou alternativa que não fosse procurar outras paragens, ou então fazer um deslocamento diário cansativo e dispendioso para cidades vizinhas, como Diamantina e Serro e às vezes nem tão vizinhas como Sete Lagoas. Buscar uma escola de terceiro grau, ainda que pelo regime de extensão, do tipo franquia em uma universidade já existente em um centro maior poderia ser classificada como quase impossível. Porém, como canta Roberto Carlos “quase é só mais um detalhe”. Gouveia tem excelente “know how” na arte de criação, instalação e manutenção de novos estabelecimentos de ensino. Basta que retrocedamos a nossa visão para os idos de 1958 quando um grupo de abnegados, incomodados com, a falta de possibilidade das crianças gouveanas prosseguirem os seus estudo para além da quarta série primária, decidiu trazer para a cidade o Ginásio Santo Antônio, de grata lembrança, quando a cidade não dispunha de qualquer estrutura física para seu funcionamento, nem de profissionais disponíveis para a prática do ensino. Sobre esse assunto já produzi um artigo intitulado Ginásio Santo Antônio e que está publicado no site Portal Gouveia. Naqueles tempos até o quadro de alunos era deficitário. Fiz parte da sua terceira turma e chegamos à quarta série com um grupo de apenas dez formandos. As desistências, ao longo do caminho, tinham origem no sonho maior dos formandos do quarto ano primário de completar quatorze anos e arranjar serviço na fábrica. Se empregado estava, estudar para quê? Algumas dessas deficiências hoje talvez persistam, mas com certeza, serão infinitamente menores e muito mais fáceis de serem solucionadas. Depois, o prejuízo de se tentar será apenas a frustração de não haver conseguido. Porém, na hipótese de que alguém consiga haverá de ter o seu nome e o seu feito marcados indelevelmente na história da faculdade, assim como estão marcados Efigênio, Dôca e Raimundo Benedito, na história do Ginásio. No Roseiral da Esperança Aniversariantes Agosto José Raimundo Monteiro 1 Zayde Miranda Gomes Pereira 3 Adélia da Conceição Ribas – 7 Elza Dornas A.Martins – 7 Serafim Fernandes de Araújo (Dom) – 13 Adélia Anis Raies de Souza – 14 Diva Maria de Miranda – 15 Marcone Miranda Ribas – 20 Lívia Somalle Sai dos Santos – 21 Zuleima Buitrago de Miranda – 22 Alisson Wander Paixão – 23 Juliana Gomes – 24 Francisca Aparecida Lopes Bello – 27 Boletim da AFAGO Órgão Informativo da Associação do Filhos e Amigos da Gouveia Ano IV – N ° 04-11 - JULHO- AGOSTO 2011. Diretor Responsável – Raimundo Nonato de Miranda Chaves Editoração Gráfica: José Moreira de Souza Crédito das Fotos: Acervo de Theódulo Alves Prado, Efigênio Gomes Pereira, José Moreira de Souza Diretoria da AFAGO Presidente de Honra: Waldir de Almeida Ribas in Memoriam Presidente: Raimundo Nonato de Miranda Chaves Secretário: Guido de Oliveira Araújo Diretor de Finanças: Adilson Nascimento Comissão Editorial Guido de Oliveira Araújo. José Moreira de Souza Raimundo Nonato de Miranda Chaves Lynna Oliveira Santos – 28 Milton M. Ferreira de Miranda – 29 Nilton Bechara de Miranda - 29 Stela Carvalho Oliveira – 31 Setembro Magda Maria Gomes Monteiro – 1 Silvia Aparecida de Ávila Lacerda – 8 Dáfnis Raies Moreira de Souza – 8 Manoel Luiz Ferreira de Miranda – 9 Jadir José Ferreira de Miranda – 11 IMPRESSO Roseno Sergio Cordeiro Matos – 13 Maria Luiza Carvalho – 21 “Zé Gato” - 23 REMETENTE AFAGO - Associação dos Filhos e Amigos da Gouveia Avenida Amazonas 115 - sala 1709 CEP: 30.180 - 000 - BELO HORIZONTE - MG
Documentos relacionados
Boletim48 - AFAGO - Associação dos Filhos e Amigos de Gouveia
Participação Externa Vejam no sítio da AFAGO Raimundo Nonato de Miranda Chaves.
Leia maisBoletim13 - AFAGO - Associação dos Filhos e Amigos de Gouveia
Vale para qualquer área de sua vida, especialmente a profissional. E, lembre-se sempre: A alegria faz bem à saúde; estar sempre triste é morrer aos poucos.
Leia maisBoletim44 - AFAGO - Associação dos Filhos e Amigos de Gouveia
Agradecer a presença do Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal Geraldo de Fátima de Oliveira, do Vice-Prefeito Alfeu Augusto de Oliveira, do Vereador Adreilson Vieira, da Senhora Inspetora de Ens...
Leia maisEditorial - AFAGO - Associação dos Filhos e Amigos de Gouveia
BOLETIM INFORMATIVO DA AFAGO - ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS E AMIGOS DE GOUVEIA ANO VI N° 04 - JULHO - AGOSTO 2013
Leia maisEditorial - AFAGO - Associação dos Filhos e Amigos de Gouveia
O pré-escolar funciona nas comunidades de Cuiabá, Pedro Pereira, Engenho da Bilia, Vila Alexandre e Riacho dos Ventos. Todos, sob a supervisão da Escola Infantil Zulma Miranda. A professora Beatriz...
Leia maisEditorial - AFAGO - Associação dos Filhos e Amigos de Gouveia
BOLETIM INFORMATIVO DA AFAGO - ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS E AMIGOS DE GOUVEIA ANO V N° 02 -MARÇO- ABRIL 2012
Leia mais